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Teoria do Estado

Moderno
2ª aula

Prof. Natanael Gomide Junior


Idade Média (séculos V-XV)
• Forma de organização política, econômica e social dominante na Europa
Ocidental → Feudalismo (Alta Idade Média): agricultura como principal
atividade produtiva; sociedade hierarquizada (indivíduos subordinados
uns aos outros por laços de dependência); poder político fragmentado
entre os senhores feudais e o rei;

• Constituição de Feudos;

• Clero, nobreza e camponeses;

• Igreja Católica como detentora de grandes extensões de terra (cerca de


1/3) na Europa Ocidental e detentora do conhecimento/explicações sobre
o mundo terreno e espiritual;

• Característica central: dispersão do poder entre os senhores feudais, que


faziam a administração da justiça em suas propriedades e os reis, que
possuíam uma autoridade mais simbólica (AZEVEDO;
Fonte: Domínio Público
SERIACOPI, 2007), bem como a influência da Igreja Católica.
Prof. Natanael Gomide Junior
• Últimos anos do século X (Renascimento Comercial e Urbano): estabilidade e
crescimento demográfico; elevação da quantidade e qualidade da produção
agrícola; circulação do dinheiro (monetarização); migração dos camponeses
para as cidades;

• Nobres traziam das Cruzadas produtos do Oriente, notadamente especiarias →

Idade aumento do comércio e crescimento das cidades; expansão dos burgos


(aglomerações em torno de abadias e castelos);

Média • Passagem de uma economia quase que exclusivamente agrária para uma

(séculos caracterizada pela crescente participação das atividades urbanas;

V-XV)
• Mudanças culturais e intelectuais (ex: criação de escolas independentes;
surgimento das primeiras universidades);

• Igreja Católica ainda detinha grande poder: Cruzadas (a partir de 1095),


criação do Tribunal do Santo Ofício (1233); 1252: uso da tortura como forma
de confissão autorizado pelo Papa Inocêncio IV (AZEVEDO; SERIACOPI,
2007).
Prof. Natanael Gomide Junior
Idade Média (séculos V-XV)
• Crise a partir do século XIV → instabilidade econômica gerada pela perda de territórios do
Império Bizantino; seca e fome (canibalismo); Peste Bubônica (1347): morte de cerca de 25
milhões de pessoas entre 1340 e 1350; Guerra dos Cem Anos (1337-1453);

• Crescente insatisfação popular: no campo os senhores feudais não conseguiam impedir a fuga
dos camponeses para os centros urbanos e aumentavam os impostos. Nas cidades, a alta
burguesia impedia os artesãos de conquistar maior espaço nas decisões políticas → revoltas
urbanas camponesas e o enfraquecimento das relações feudais → paulatina centralização
administrativa em torno dos reis por meio da constituição das monarquias nacionais europeias
(ex: França, Inglaterra) (AZEVEDO; SERIACOPI, 2007).
Prof. Natanael Gomide Junior
Em resumo...

• Características do Antigo Regime:

❑Modelo feudal;

❑Dispersão do poder político;

❑Economia agrícola e baseada na lógica de troca;

❑Organização social estática


Transição

→ Transição do feudalismo para o capitalismo:

❑ trabalho assalariado;

❑ economia de mercado;

❑ trocas monetárias;

❑ grandes empresas 🡪 preocupação com o lucro;

❑ surgimento de novas classes sociais e mobilidade social


Modernidade (séculos XV até XVIII)
• Emerge a partir do Renascimento, da Reforma Protestante e da Revolução

Científica → transformação radical no mundo literário, artístico, religioso e

do conhecimento;
• Tais eventos representam uma contraposição à autoridade e à tradição;

• Humanismo surgiu no século XIV na Península Itálica, dando origem a um

movimento de renovação intelectual e artístico conhecido como

Renascimento (termo cunhado por Giorgio Varsari) → racionalismo (busca

por explicações racionais) ≠ explicações baseada na fé (THIELE, 2002);

• Nicolau Copérnico (1473-1543): heliocentrismo: Terra gira em torno do Sol ≠

geocentrismo: Terra enquanto centro do Universo;


Fonte: Domínio Público. Prof. Natanael Gomide Junior
Modernidade (séculos XV até XVIII)
• Galileo Galilei (1564-1642): figura central da Revolução Científica, defendeu a teoria de
Copérnico e em oposição à Aristóteles argumentou que os corpos não caem em
velocidade proporcional aos seus pesos;

• Francis Bacon (1561-1626): desenvolvimento da lógica da indução (do particular para o


geral) → conhecimento a partir da observação de fenômenos particulares "pai da filosofia
experimental" ≠ especulações metafísicas;

• Isaac Newton (1643-1727): publicação do livro "Principia" em 1687 → fundamentos da


Física Moderna (teoria dos movimentos dos corpos e princípio das leis dos movimentos);

• Inovação nas Artes (ex: realismo);

• Emergências de novas formas literárias e poéticas (ex: soneto);

• Características do Modernismo: (i) cientificismo; (ii) humanismo → antropocentrismo ("o


homem é a medida de todas as coisas"); (iii) progressismo: ideia de que o mundo estaria
em constante evolução (ex: Condorcet) (THIELE, 2002).
Fonte: Domínio Público. Prof. Natanael Gomide Junior
Reforma Protestante
• Em outubro de 1517, Martinho Lutero (1483-1546) expôs cerca de 95 teses, onde
denunciava a venda de indulgências pela Igreja Católica e outras práticas de corrupção do
alto clero → início da Reforma Protestante, que conseguiu mobilizar um amplo apoio
popular;

• Conotação política a partir do ano de 1520 (ex: levantes populares na Alemanha


organizados por Thomas Müntzer);

• Lutero afirmava a completa separação entre o Reino de Deus (alma: liberdade, graça e
misericórdia) e o Mundo (corpo: servidão, cólera, rigor, castigo) → cristão deve obedecer
às decisões dos príncipes e aos "golpes da história e da sociedade" (ordem temporal) →
ideia de que “não se deve resistir à ordem dos reis”;
Fonte: Domínio Público.
• Ideia "meu reino não é deste mundo" trazido por Lutero deixa de certo modo o campo
livre para a atuação do Estado no plano terreno (CHÂTELET et. al. 2000).
Reforma Protestante
• Na França, João Calvino (1509-1564) aderiu ao movimento reformador em 1533,
iniciando uma nova corrente religiosa, o calvinismo → ideia de predestinação:
somente as pessoas predestinadas teriam direito à salvação eterna (CHÂTELET et.
al. 2000);

• Sinais da predestinação: sucesso no trabalho e nos negócios → ascese (disciplina


para o cumprimento das tarefas mundanas);

• Cristão calvinista deve servir à autoglorificação de Deus no mundo;

• Trabalho como moralmente positivo → racionalização do tempo e do exercício


profissional;

• Segundo Weber (1967), o protestantismo favoreceu o "espírito do capitalismo"


Fonte: Domínio Público.
(organização, racionalização dos ganhos, trabalho constante e "incansável")
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Período Moderno

→ Novo sistema internacional: relações formais complexas entre os Estados


(diplomacia e instituições diplomáticas);

Tratado de Westfalia (1648): regras gerais do ordenamento mundial:
❏ soberania territorial;
❏ igualdade formal entre os Estados;
❏ autonomia → não intervenção nos assuntos domésticos de outros Estados
reconhecidos internacionalmente;
❏consentimento do Estado como fundamental dos acordos jurídicos internacionais
Pensamento Político Antigo e Medieval

• Platão (427-347 a.C.): mito da caverna → elaboração de uma


doutrina política de que somente os filósofos, que seriam
"amantes" da verdade, possuiriam condições de se libertar da
caverna das ilusões e atingir o mundo luminoso da sabedoria e da
realidade. Desta forma, o autor em "A República" idealiza uma
sociedade governada pelos "reis-filósofos", que seriam capazes
de atingir o mais alto conhecimento do mundo das ideias, que
consistiria na ideia de bem (COTRIM; FERNANDES, 2016)

Fonte: Domínio Público.


Pensamento Político Antigo e Medieval

• Aristóteles (384-322 a.C.): homens como "animal político" → os seres humanos foram
feitos naturalmente para a sociedade política. Primeiro propósito da natureza: a
constituição de um Estado/sociedade política;

• Importância da virtude como forma de alcance do bem-estar ("melhor vida possível").


Felicidade como o maior bem;

• Ética como parte da política;

• Importância do conhecimento das leis e do exercício da justiça;

• Desígnios da natureza "marcou" alguns para mandar e outros para obedecer → mútua
conservação (ARISTÓTELES, 1988);

• Pensamento organicista: o todo precede as partes (BOBBIO, 2000)


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Fonte: Domínio Público


O Pensamento de Maquiavel
• Foi o primeiro grande pensador político moderno. Considerado por muitos como primeiro "mestre" da Ciência
Política (SFORZA, 1975);

• O autor rejeita a tradição idealista dos filósofos políticos clássicos, como Platão, Aristóteles e Santo Tomás de Aquino
e segue o caminho de pensadores como Tácito, Políbio, Tucídides e Tito Lívio → foco na Política como ela é ≠ visão
idealista (SADEK, 2001);

• Rompe com uma visão que enxerga a Política como algo natural e eterno → A POLÍTICA É CONSTRUÇÃO
HUMANA, e está sujeita à reveses (dinâmica);

• Ao lado de Tucídides (pensador político da Grécia Antiga que escreveu "História da Guerra do Peloponeso"),
Maquiavel segue a corrente do Realismo Político → foco no poder, cálculo político e militar, estratégia;

• Maquiavel recorre às evidências históricas para fundamentar os seus argumentos


Prof. Natanael Gomide Junior
Política Moderna

• Política para os antigos: desigualdade natural e naturalização das


relações de poder; ideia de predestinação e resignação;
indissociação entre poder temporal e poder espiritual;
• Eixo da Política para os modernos: “bottom-up” (ideia de que o
poder emana do povo): garantia de direitos fundamentais;
preocupação com a legitimidade do exercício do poder político
Jusnaturalismo
• Autores pertencentes ao Jusnaturalismo: Hobbes, Locke, Kant, Pufendorf, Rousseau;
• O Jusnaturalismo é uma doutrina que entende que todos os homens, de forma
indiscriminada e independente da vontade própria, possuem certos direitos
fundamentais que derivam da própria natureza humana: vida, liberdade, segurança,
felicidade;
• Direito natural (universal, imutável) ≠ Direito Positivo (relativo, leis como criações
voluntárias);
• Estes direitos naturais independem da instituição de um soberano/Estado e devem ser
respeitados, ou seja, não invadidos por parte de quem detém o poder político legítimo,
que por sua vez, deve ser responsável por impedir que terceiros os desrespeitem
Jusnaturalismo

• Os homens nascem livres e iguais (igualdade absoluta e eterna da natureza


humana);
• Surgimento do conceito de sujeito moderno (ideia de agência, direitos);
• Característica central do jusnaturalismo: racionalismo → busca pela
construção de uma ética racional a respeito da universalidade dos
princípios da conduta humana. Ideia de encontro de uma ordem racional
no cosmo (sistema universal de direito, que seria válido para qualquer
tempo e lugar)
Jusnaturalismo
• Em suma, o jusnaturalismo pontua que os Δ são portadores de alguns direitos
fundamentais inalienáveis, intransferíveis e irrenunciáveis, como o direito de
conservação da natureza humana;
• “Pode-se definir o jusnaturalismo como a doutrina segundo a qual existem leis não
postas pela vontade humana - que por isso mesmo precedem à formação de todo
grupo social e são reconhecíveis através da pesquisa racional - das quais derivam,
como em toda e qualquer lei moral ou jurídica, direitos e deveres que são, pelo
próprio fato de serem derivados de uma lei natural, direitos e deveres naturais”
(BOBBIO, 2000, p. 12);
• É a natureza humana que permite a posse destes direitos;
Características dos Estados Modernos
• Centralização da autoridade;
• Laicismo;
• Crescente impessoalidade do comando político;
• Racionalização da gestão do poder e da organização política;
• Possuem fronteiras/limites geográficos determinados;
• Soberania como atributo central 🡪 poder supremo sobre uma determinada
jurisdição, é o reconhecimento dos limites territoriais e da não-interferência
externa;
• Monopólio legítimo do poder coercitivo/uso da força (BARRY, 1995).
Referências bibliográficas

• ARISTÓTELES. Política. Madrid: Gredos, 1988.

• AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. História. São Paulo: Editora Ática, 2007.

• BARRY, Norman P. An Introduction to Modern Political Theory. Hampshire: Macmillan Press, 1995.

• BOBBIO, Norberto. Liberalismo e democracia. São Paulo: Editora Brasiliense, 2000.

• CHÂTELET, François; DUHAMEL, Olivier; KOUCHNER-PISIER, Evelyne. História das Ideias Políticas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2000.

• COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia. São Paulo: Editora Saraiva, 2016.

• SADEK, Maria Tereza. Nicolau Maquiavel: o cidadão sem fortuna, o intelectual de virtù. In: WEFFORT, Francisco C. Os Clássicos da
Política. São Paulo: Editora Ática, 2001.

• SFORZA, Conde Carlo. O pensamento vivo de Maquiavel. São Paulo: EDUSP, 1975.

• THIELE, Leslie Paul. Thinking Politics: perspectives in ancient, modern and postmodern political theory. Washington: CQ Press, 2002.

• WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira, 1967.

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