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editorapadrepio.org
AUTOR IA
Douglas Abreu
JUDAS NO INFER NO: CAPA
NOTAS BÍBLICAS Klaus Bento
DIAGRAMAÇÃO
© Todos os direitos desta edição Eduardo de Oliveira
pertencem e estão reservados à
Editora Padre Pio DIR EÇÃO DE CR IAÇÃO
Luciano Higuchi
Redempti ac vivificati Christi sanguine, Christo nihil EDIÇÃO E R EVISÃO
præponere debemus, quia nec ille quidquam nobis præposuit. Éverth Oliveira
Abreu, Douglas
Judas no inferno [livro eletrônico] : notas
bíblicas / Douglas Abreu. – 1. ed. –
Londrina, PR : Instituto Padre Pio, 2023.
2023.
PDF
Bibliografia.
ISBN: 978-85-52993-12-4
1. Catolicismo 2. Teologia cristã I. Título.
23-178772 CDD-230
I. Denúncia do traidor .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
V. Pecados de Judas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
VI. Objeções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
VII. Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
Apêndice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
SE JUDAS FOI CONDENADO
AO INFERNO
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I. Denúncia do traidor
( Jo 13, 1-21)
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I . D en ú n c i a d o t r a id o r
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II. Prenúncio da condenação
(Mt 26, 22-25)
3.Cf. Santo Tomás de Aquino, STh II-II 108, 4 ad 5: “Pelo pecado de Judas
turbaram-se os demais Apóstolos, assim como pelo pecado de um é punida
a multidão, a fim de inculcar [sua] unidade”.
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“se diz […] que é muito melhor não existir do que existir mal”
(São Jerônimo, ibid.), isto é, na condição de condenado. — V.
25. Judas, o traidor, tomou a palavra e disse: Sou eu porventura,
Mestre? Pergunta-o não por ignorá-lo, mas para averiguar com
cinismo se Jesus realmente sabia do crime a ser cometido e
para afastar de si, traiçoeiro que era, a suspeita dos discípulos.
Jesus respondeu-lhe, provavelmente em voz baixa, para que o
não ouvissem os demais (cf. Jo 13, 23-30):4 Tu o disseste.
4. Cf. Id., STh II-II 33, 7 ad 2: “O Senhor, enquanto Deus, conhecia o pecado
de Judas como público, por isso podia imediatamente proceder a manifestá-
-lo. No entanto, não o manifesta, mas com palavras obscuras o advertiu de
seu pecado”.
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III. Jesus o exclui da oração sacerdotal
(Jo 17, 12)
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5. Cf. Id., STh III 81, 2 ad 1: “Cristo fala aos discípulos, de cujo colégio foi
Judas quem se separou, e não Cristo quem o excluiu. E por isso Cristo, de
sua parte, também com Judas bebeu vinho no reino de Deus, mas o próprio
Judas repudiou esse convívio”.
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IV. Desespero de Judas
(Mt 27, 3-10)
6. Cf. Id., Catena in Matth. 27, l. 1.: “Orígenes: Assim como àquele que pri-
meiro teve a mulher de seu pai e depois se arrependeu deste mal […] depois
o diabo quis exagerar esta mesma tristeza, para que a própria tristeza, feita
mais abundante, absorvesse o entristecido; algo semelhante sucedeu em Ju-
das: de fato, depois que ele se arrependeu, não guardou seu coração, mas re-
cebeu mais abundante tristeza do diabo, pois o queria absorver [na tristeza];
donde se segue: Retirou-se e foi pendurar-se de um laço. Se no entanto tivesse
procurado fazer penitência e observado o tempo da penitência, talvez tivesse
encontrado aquele que diz: Não quero a morte do pecador” (Ez 33, 11)”; Cor-
nélio a Lapide, In Matth. 27, 4, p. 51, afirma que a penitência de Judas não
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V. Pecados de Judas
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8.Cf. Id., STh II-II 118, 8c.: “Se o dolo for cometido por obra, então, se for
contra coisas, será fraude; se for, porém, contra pessoas, traição, como se vê
em Judas, que por avareza traiu a Cristo”; cf. De malo 13, 3c.
9. Cf. Nicolau Orano, Hom. 38, em Conciones triginta de Iudæ proditoris
apostasia. Montibus, apud Lucam Riuium, 111, p. 344: “Vede neste maldito
como ao pecado responde a pena. Com efeito, procurou a própria morte
e extinguiu de todo a vida o que, traidor da Vida e seguidor da morte, se
empenhou em acabar com a Vida verdadeira e essencial. Porque levantou-se
impiamente o ímpio [discípulo] contra o Mestre piedosíssimo e inocente, e
contra o Humilde inchou-se soberbamente, por isso fez-se réu de morte eter-
na, de modo que rebentou ao meio, derramadas as vísceras. Era justo, pois,
que morresse sufocado pela efusão das entranhas e do sangue o que tivera
sede de derramar sangue [alheio]”.
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V. P e ca d o s d e J u da s
10. Cf. Santo Tomás de Aquino, STh III 81, 2c.: “Deve-se dizer que o que
Hilário sustentou em Sobre Mateus, [a saber:] que Cristo não deu a Judas seu
corpo e sangue, teria de fato sido conveniente, considerada a malícia de Ju-
das. Mas porque Cristo devia ser para nós exemplo de justiça, não convinha
ao seu magistério separar Judas, pecador oculto, da comunhão dos demais
sem acusador e prova evidente, para não dar com isso exemplo aos prelados
da Igreja para agirem assim, nem para que Judas, exasperado, tomasse daí
ocasião de pecar. E por isso se deve dizer que Judas, com os outros discípu-
los, recebeu o corpo e o sangue do Senhor, como diz Dionísio no livro Da
hierarquia celeste e Agostinho em Sobre João”; Super Matth. 26, 2, n. 2179:
“Quando diz a seus discípulos, pergunta-se se Judas ali estava. Todos dizem
que [Cristo] deu ao mesmo tempo a todos, e também a Judas, e isto para o
demover a pecar por sua benignidade. Igualmente, para dar à Igreja a lição
de que, enquanto fosse pecador oculto, não estaria proibido de receber este
sacramento: aos homens, com efeito, não compete julgar do que é oculto.
Hilário diz aqui que Judas não estava, porque já saíra. E quer prová-lo por
aquilo que se diz em Jo 13, 25, quando pediram os discípulos: Senhor, quem
é esse?, aos quais disse: É aquele a quem eu der o bocado que vou molhar. Por
isso mostra que ele já tinha saído. Mas se deve sustentar antes o que dizem
os outros”.
11.Ensina a doutrina católica que um só pecado mortal não perdoado
quanto à culpa é suficiente para condenar a alma ao inferno; ora, ainda que
Judas se tivesse arrependido do pecado de traição, não consta que se tenha
arrependido de outros, e o arrependimento, como se sabe, deve ser universal,
ao menos virtualmente.
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VI. Objeções
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V I . O b j e çõ es
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VII. Respostas
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12. Ao que se soma certa imprecisão terminológica, pois não falta entre os
teólogos quem chame revelado formal-implícito ao que outros chamam im-
plícito-virtual. A dificuldade agrava-se quando se consideram algumas pro-
priedades da linguagem humana, capaz de conotar in concreto, em virtude
do contexto elocucional e de sinais paralinguísticos, mais do que (e às vezes
até contra) o denotado pelas palavras tomadas isoladamente, das quais só
poderia derivar-se in abstracto por ilação. Assim, p. ex., C. Mazzella, De vir-
tutibus infusis. Romæ, 1879, p. 247s, n. 448: “Embora aquele que diz algo
explicite não tencione necessariamente dizer as coisas virtualiter ali contidas,
todos concedem que a intenção dele pode referir-se também a elas. Essa in-
tenção pode ser conhecida já porque o falante emprega aqueles sinais que,
apesar de significarem em si mesmos só, p. ex., a essência de alguma coi-
sa, não obstante, por força de uso comum e da acepção dos ouvintes, sig-
nificam também o que se segue a tal essência; já porque concorrem aquelas
circunstâncias pelas quais se torna manifesto que o falante quis manifestar
tanto o objeto quanto as coisas com ele conexas. Neste caso, dado que Deus
fala aos homens de modo adequado a eles [isto é, por acomodação ao modo
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15. Van Noort, Tractatus de fontibus revelationis. 3.ª ed., Hilversum in Hollan-
dia, 1920, n. 103, apud Id., p. 35. A interpretação da Escritura, além de pre-
servar o sentido que a Igreja mesma atribui aos textos, não contradizer a
interpretação unânime dos Padres em matéria de fé e moral e conformar-se
à analogia da fé, deve ainda levar em conta o contexto não só dos textos par-
ticulares, mas de toda a Escritura, que do primeiro v. do Gênese até o último
do Apocalipse conforma uma unidade de sentido: “Começando por Moisés,
e discorrendo por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se encontrava
dito em todas as Escrituras” (Lc 24, 27).
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16. A razão é que, “morto no ventre da mãe, teria incorrido somente na pena
de dano, com os infantes incircuncisos no limbo; mas agora há de incorrer
também em tal e tamanha pena de sentido no inferno” com os condenados
(Caetano, In Matth. 26, 24).
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norte, onde cair, aí ficará” (Ecle 11, 3) etc.; ora, Judas morreu
impenitente, como se vê pelo gênero de morte — suicídio, pe-
cado em si gravíssimo — e pelas circunstâncias em que se ma-
tou, isto é, sem haver impetrado perdão, como o confirmam as
palavras acima expostas Nenhum deles se perdeu, exceto o filho
da perdição etc.; logo, Judas condenou-se ao inferno.
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Apêndice
Espicilégio de exemplos
17. Tradução portuguesa extraída de: Dante Alighieri, A Divina Comédia (Tra-
dução de Vasco Graça Moura). São Paulo: Editora Landmark, 2005, p. 305.
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Ap ên di c e
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Eis, ó cristão, que enorme espetáculo! Vede como Judas, após ter
sido chamado, se tornou ingrato e, tendo recebido a remissão de
seus pecados, caiu depois em outros maiores, por isso deu fim à
vida desesperado […]. Primeiro, porque os maus cristãos, como
outro Judas, estão deformados pela ignomínia da apostasia, pois
Judas foi considerado apóstata da fé, e estes também, se não pela
incredulidade do coração, ao menos pela das obras. Mas que é
apostasia? […] É o afastamento temerário do estado de fé e de
obediência eclesiástica, ou da religião cristã. Destas palavras de-
preende-se que são três as espécies de apostasia […]. Na primeira
[a fide] estão todos os hereges e quem quer que renegue a fé, como
Juliano e muitos outros, como Judas […]. A segunda é a ignomínia
da abnegação. Com efeito, o mau cristão, como outro Judas, nega
Cristo, seu Deus, ao menos por obras, como diz o Apóstolo (Tt 1,
16): “Confessam conhecer a Deus, mas o negam pelas obras” […].
Terceira ignomínia, da traição, pois todo mau cristão, como outro
Judas, é considerado traidor de Cristo, porque entrega ao diabo a
casa de Cristo, isto é, o seu coração, do qual o expulsa pelo peca-
do, crucificando-o em si mesmo. Hb 6, 6: “Crucificam novamente
a Cristo em si mesmos”. Por fim, tal [cristão], como outro Judas,
serve-se dos recursos de Cristo, de quem recebe sustento, agasalho
e todo bem, e não obstante não se peja de o ofender […]. Quarta
ignomínia, da derrisão, pois o mau cristão, como outro Judas, é
justamente vituperado e escarnecido por todos, qual um monstro
ridículo, porque é em parte cristão, em parte pagão, em parte bru-
to, em parte diabo, e até pior que um diabo […]. Sexta ignomínia,
da destruição, pois o mau cristão, como outro Judas, perde toda a
graça, todo o mérito e todo o bem que alguma vez adquiriu, por-
que o pecado dá morte a tudo. E tudo o que aproveita aos bons
[cristãos] prejudica o mau, como é patente no caso da recepção
da Eucaristia e dos outros sacramentos. Quem, com efeito, comer
indignamente, tornar-se-á réu do corpo e do sangue de Cristo,
como Judas […]. Sétima ignomínia, da condenação, pois assim
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Ap ên di c e
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18. A rigor, é impróprio dizer que Deus se valha de um mal moral como
“meio” ou “instrumento” para obter certo bem. É mais adequado dizer que
Deus se aproveita do fato de um mal moral (previsto e não impedido) ter-se
produzido como de uma ocasião favorável, mas não necessária nem condi-
ção sine qua non, para obter certo bem. Noutras palavras, nenhum mal de
culpa é em si mesmo meio ou condição sem a qual Deus não possa obter um
determinado bem, ainda que Ele, por ocasião de tal mal, possa obter tal bem.
Assim, p. ex., entre o mal da traição de Judas e o bem da redenção de Cristo
há conexão causal de facto, mas não de iure ou simpliciter necessária.
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Ap ên di c e
19. Outros autores propõem outras razões mais, p. ex.: e) para mostrar que
não é a dignidade de estado que santifica o homem, mas a correspondência
à graça; f) para mostrar que em toda multidão há sempre algum mau, inclu-
sive na Igreja; g) para que ninguém, por melhor que seja entre os santos, se
fie muito de si mesmo, porque todos, enquanto vivem, podem cair; h) para
mostrar que Deus dá graças e confere às vezes dignidades eminentes, mesmo
sabendo que o homem irá abusar do livre-arbítrio e se perderá por causa
destes mesmos dons: de sua parte, com efeito, Deus concede as graças ne-
cessárias, mas não impõe ao homem necessidade alguma, senão que o atrai
e urge, sem porém coagi-lo.
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