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Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
Santo Agostinho diz que nenhuma coisa é tão útil para alcan-
çar a salvação eterna quanto a meditação diária sobre as penas
que Jesus Cristo padeceu por nosso amor: “Nada é tão salutar
quanto pensar diariamente em tudo que por nós padeceu o
Deus-Homem”.1 E, antes disso, Orígenes já havia escrito que
certamente o pecado não pode reinar numa alma que medita
frequentemente a morte do seu Salvador: “É certo que o pe-
cado não pode reinar numa alma revestida da morte de Cris-
to”.2 O Senhor também revelou a um santo eremita que não há
exercício mais apto a acender num coração o amor divino que
a meditação da Paixão do nosso Redentor.
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CO N S I D ERAÇÕ ES E A F E TO S S O B RE A PA I XÃO D E J ES U S C RI S TO
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I n t ro d u ção
Que espanto seria ver um rei que se fizesse verme, que se ar-
rastasse pela terra, que habitasse numa caverna lamacenta e de
lá promulgasse leis, elegesse ministros e governasse o reino! Ó
sagrada fé, revela-nos quem é Jesus Cristo! Quem é esse ho-
mem que se apresenta vil como todos os outros homens? “E
o Verbo se fez carne” (Jo 1, 14). São João nos atesta que ele é
o Verbo eterno, o Unigênito de Deus. E qual foi a vida deste
Homem-Deus sobre a terra? Eis como no-la refere o profeta
Isaías: “Não tinha graça nem beleza para atrair o nosso olhar,
o seu aspecto não excitava o nosso amor. Era desprezado, o
último dos homens, homem de dores” (Is 53, 2-3).
Ele quis ser o homem das dores: virum dolorum; isso significa
que Jesus Cristo quis ser afligido por todas as dores, e que para
ele não houve um instante em que estivesse livre de dores. Foi
o homem das dores e o homem dos desprezos: Despectum et
novissimum virorum; sim, porque Jesus foi o mais desprezado
e maltratado, como se fosse o último e o mais vil de todos os
homens. Um Deus preso por soldados como um malfeitor! Um
Deus flagelado como escravo! Um Deus zombado como rei!
Um Deus pregado num madeiro infame! Que impressão esses
feitos admiráveis não deveriam causar num fiel? E que desejos
de sofrer por Jesus Cristo não lhe deveriam infundir?
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sados pelo mesmo fogo que abrasa o nosso Deus! E que alegria
é poder unir-se a Deus com as correntes do amor!”
Mas por que tantos fiéis olham com indiferença Jesus Cristo
sobre a cruz? Por que participam da celebração de sua mor-
te na Semana Santa sem qualquer sentimento de compaixão
nem de gratidão, como se ali fossem recordadas coisas falsas
ou indiferentes a nós? Será que não sabem ou não creem no
que os Evangelhos narram sobre a Paixão de Jesus Cristo?
Eu respondo e digo que bem o sabem e o creem, porém não
meditam! Pois se alguém crê e medita, certamente se inflama
para amar um Deus que tanto padece e morre por seu amor:
“O amor de Cristo nos impele”, escreveu o Apóstolo (2Cor 5,
14). Com isso, quer dizer-nos que, na Paixão do Senhor, deve-
mos considerar mais o amor com o qual ele sofreu, do que as
dores e desprezos que padeceu. Pois não foi apenas para salvar-
-nos que Jesus Cristo quis sofrer tantas dores, já que para sal-
var-nos bastaria uma simples oração sua; na verdade, ele quis
fazer-nos entender o afeto que tem por nós, para assim ganhar
os nossos corações. Ah sim! Uma alma que pensa neste amor
de Jesus Cristo, não pode fazer menos que amá-lo. “O amor
de Cristo nos impele”: esta alma se sentirá obrigada e quase
forçada a dedicar-lhe todo o seu afeto. Foi para este fim que
Jesus Cristo morreu por todos nós: para que não vivamos mais
para nós, senão apenas para este amantíssimo Redentor, que
por nós sacrificou sua vida divina.
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I n t ro d u ção
suas culpas, sabendo que o Eterno Pai pôs todos os nossos pe-
cados sobre este Amado Filho a fim de que ele os satisfizesse
por nós? “E o Senhor pôs sobre ele todas as nossas iniquida-
des” (Is 13, 6).
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1. JESUS ENTRA EM JERUSALÉM
Ecce rex tuus venit tibi mansuetus sedens super asinam, et pul-
lum filium subiugalis — Eis que teu rei vem a ti cheio de man-
sidão, montado sobre uma jumenta e um jumentinho, filho da
que tem jugo (Mt 21, 5).
Ó Jerusalém, eis o teu rei, como ele vem humilde e manso. Não
temas que ele venha para reinar sobre ti e apossar-se de tuas
riquezas; não, ele vem todo cheio de amor e piedade para sal-
var-te e trazer-te a vida com sua morte.
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1 . J es u s en t r a em J er u s a lém
Agora, eles se despojam de suas próprias vestes; mas depois, vos des-
pojarão das vossas, para vos flagelar e crucificar. Agora, eles cortam as
palmas para as colocar debaixo dos vossos pés; mas depois, cortarão
ramos de espinhos para perfurarem a vossa cabeça. Agora, vos bendi-
zem e louvam; mas depois, vos encherão de humilhações e blasfêmias.
Ao menos tu, minha alma, dize-lhe com amor e gratidão: Bendito o que
vem em nome do Senhor. Meu amado Redentor, sede sempre bendito, já
que viestes salvar-me: se não tivésseis vindo, estaríamos todos perdidos.
— Eterno Pai, por aquelas lágrimas que vosso Filho derramou sobre
mim, dai-me a dor de meus pecados. E vós, ó amoroso e terno Coração
de meu Jesus, tende piedade de mim, pois eu detesto acima de todos
os males os desgostos que vos dei e estou resolvido a nada mais amar
além de vós.
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2. O CONSELHO DOS JUÍZES
E A TRAIÇÃO DE JUDAS
Ah, judeus, não temais, pois este vosso Redentor não vos fugirá,
não, ele veio expressamente à terra a fim de morrer e por meio
de sua morte vos libertar e a todos os homens da morte eterna.
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3. ÚLTIMA CEIA DE JESUS CRISTO
COM SEUS DISCÍPULOS
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Oh, como sois feliz, amado João, que, apoiando a cabeça sobre
o peito de Jesus, compreendestes então a ternura que este amo-
roso Redentor alimenta em seu Coração para com as almas
que o amam.
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3 . Ú lt i m a C ei a d e J es u s C r i s t o co m s e u s d i s c í p u l o s
Mas não, ele quis lançar-se aos pés de seus servos, para deixar-nos no
fim de sua vida este grande exemplo de humildade, e mais este sinal do
grande amor que consagra aos homens.
E nós, Senhor, continuaremos a ser sempre tão soberbos que não pode-
remos suportar uma palavra de desprezo, uma pequenina desatenção
sem nos ressentirmos subitamente, sem que nos venha o pensamento
de vingança… nós, que por causa dos nossos pecados, merecemos ser
esmagados pelos demônios no inferno?
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4. A INSTITUIÇÃO DO
SANTÍSSIMO SACRAMENTO
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4 . A i n s t i t u i ção d o S a n t í s s i m o S ac r a m en t o
Vós dissestes que quem se alimentar de vós, viverá só por vós: “Aquele
que come de mim, viverá também por mim” (Jo 6, 58). Visto que tantas
vezes me admitistes a alimentar-me de vossa carne, fazei-me morrer a
mim mesmo, para que eu viva só para vós, só para vos servir, só para vos
agradar. Ó meu Jesus, eu quero colocar em vós todos os meus afetos,
ajudai-me a ser-vos fiel.
São Paulo nota o tempo em que Jesus instituiu este grande sa-
cramento e diz: “Jesus, na noite em que ia ser entregue, tomou
o pão e disse: Tomai e comei, isto é o meu corpo” (1Cor 11, 23).
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5. A ORAÇÃO DE JESUS NO
HORTO E O SUOR DE SANGUE
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Assim suplica Jesus; mas não tanto para ver-se livre, senão para
fazer-nos compreender a pena que sofre e abraça por nosso
amor. Suplica também assim para nos ensinar que, nas tribula-
ções, podemos pedir a Deus que nos livre delas; mas, ao mes-
mo tempo, devemos em tudo nos conformar com sua divina
vontade e dizer como ele: “Todavia, não se faça como eu quero,
mas como tu queres” (Mt 26, 39). E durante todo aquele tempo
repetiu sempre a mesma oração: “Seja feita a tua vontade… e
orou terceira vez, dizendo as mesmas palavras” (Mt 26, 42).
Sim, meu Senhor, eu abraço por vosso amor todas as cruzes que quiser-
des enviar-me. Vós, inocente, tanto sofrestes por meu amor. E eu, peca-
dor, depois de haver merecido tantas vezes o inferno, recusarei sofrer
para vos agradar e alcançar de vós o perdão e a vossa graça? — Não seja
feita a minha vontade, mas a vossa!
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5 . A o r ação d e J es u s n o h o rt o e o s u o r d e s a n g u e
Eterno Pai, olhai para a face de vosso Cristo. Não olheis as minhas ini-
quidades. Olhai esse vosso Filho querido, que treme, que agoniza, que
sua sangue para obter-me de vós o perdão. Contemplai-o e tende pie-
dade de mim: “E seu suor tornou-se como gotas de sangue correndo
sobre a terra” (Lc 22, 44). Olhai para ele e tende piedade de mim!
Mas, ó meu Jesus, nesse jardim não existem algozes que vos flagelem,
nem espinhos, nem cravos. E que vos faz derramar tanto sangue? Ah,
eu compreendo, não foi tanto a previsão dos sofrimentos iminentes
que vos afligiu, pois já vos havíeis oferecido para sofrer essas penas; mas
foi a vista de meus pecados. Eles foram a prensa cruel que espremeu o
sangue de vossas sagradas veias. Ó meu doce Salvador, não foram tão
cruéis os carrascos, não foram tão atrozes os flagelos, os espinhos, a
cruz, como o foram os meus pecados que tanto vos afligiram no horto.
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6. JESUS É PRESO E AMARRADO
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6 . J es u s é p r es o e a m a r r a d o
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7. JESUS É APRESENTADO
AOS PONTÍFICES E POR ELES
CONDENADO À MORTE
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7 . J es u s é a p r es en ta d o ao s p o n t í f ic es
Ah, meu Jesus, agora que vos vejo cercado, não de anjos que vos louvam,
mas desse povo vil que vos odeia e despreza, que farei? Continuarei talvez
a desprezar-vos como no passado? Ah não! Na vida que me resta, que-
ro estimar-vos e amar-vos como vós mereceis: e vos prometo não amar
ninguém fora de vós, nem pretender ser amado por outros além de vós.
Direi, com Santa Inês: Nenhum amor permitirei, exceto vós. Vós sereis
meu único amor, meu bem, meu tudo. Deus meus, et omnia.
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Ah, meu amável Redentor, vós sofreis tudo para pagar as afrontas que
eu fiz à divina majestade com os meus pecados. Ah, perdoai-me, pelo
merecimento desses mesmos ultrajes que por mim sofrestes.
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7 . J es u s é a p r es en ta d o ao s p o n t í f ic es
— Ah, meu Jesus, esquecei-vos dos desgostos que vos dei, e olhai-me
com um olhar amoroso, como olhastes para Pedro depois que ele vos
renegou, pois desde então ele não cessou de chorar seu pecado enquan-
to viveu.
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beijassem os vossos pés. Mas, oh Deus, quem vos levou a este ponto tão
humilhante de ser feito joguete da gente mais vil do mundo? Dizei-me,
ó meu Jesus, que posso eu fazer para compensar-vos a honra que esses
vos roubam com seus opróbrios? Sinto que me respondeis: “Suporta os
desprezos por amor de mim, como eu os suportei por ti”. Sim, meu Re-
dentor, quero obedecer-vos. Meu Jesus, desprezado por amor de mim,
desejo e contento-me com ser desprezado por amor de vós, tanto quan-
to vos aprouver.
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8. JESUS DIANTE DE PILATOS,
DE HERODES E DO POVO
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8 . J es u s d i a n t e d e Pi l at o s, d e H ero d es e d o p ovo
Ó santa fé! Como pode um homem que crê nessas coisas, não
transformar-se todo em fogo para amar um Deus que tanto
ama as criaturas? Oxalá tivesse eu sempre diante dos olhos esta
imensa caridade de Deus!
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9. JESUS É FLAGELADO
NUMA COLUNA
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9 . J es u s é f l ag el a d o n u m a co lu n a
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10. JESUS É COROADO DE
ESPINHOS E CAÇOADO
COMO REI
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dentor. Sim, meu Jesus: nós, com nossos perversos consentimentos, te-
cemos a vossa coroa de espinhos. Agora eu os detesto e os odeio mais
do que a morte ou outro mal qualquer. E a vós, ó espinhos consagrados
pelo sangue do Filho de Deus, volto-me novamente, humilhado: trans-
passai a minha alma e fazei-a sentir sempre a dor de ter ofendido um
Deus tão bom! E vós, Jesus, meu amor, já que tanto padeceis por mim,
desprendei-me das criaturas e de mim mesmo, para que em verdade eu
possa dizer que já não sou mais meu, mas somente vosso e todo vosso.
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11. PILATOS MOSTRA JESUS AO
POVO DIZENDO: ECCE HOMO!
Olha também, minha alma, para aquele terraço e vê teu Senhor amar-
rado e conduzido por um carrasco: vê como está meio despido, ain-
da que coberto de chagas e de sangue; com as carnes dilaceradas, com
aquele pedaço de púrpura que lhe serve unicamente de escárnio, e com
aquela horrenda coroa que o atormenta sem cessar. Contempla a que
foi reduzido teu pastor para te encontrar a ti, ovelha perdida.
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— Ah, meu Jesus, sob quantos aspectos os homens vos fazem aparecer,
mas todos são de dor e de infâmia! Ah, meu doce Redentor, vós causais
compaixão até às feras, mas aqui não encontrais piedade! Eis o que res-
ponde essa gente: “Ao verem-no, os pontífices e ministros clamavam di-
zendo: Crucifica-o, crucifica-o” (Jo 19, 6). Mas que dirão eles no dia do
juízo final, quando vos virem glorioso, sentado como juiz num trono de
luz? Ó meu Jesus, também eu durante muito tempo exclamei: Crucifi-
ca-o, crucifica-o, quando vos ofendi com os meus pecados. Agora, po-
rém, me arrependo de todo o meu coração e vos amo acima de todos os
bens, ó Deus de minha alma. Perdoai-me pelos méritos de vossa Paixão,
e fazei que naquele dia eu vos veja aplacado e não irritado contra mim.
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1 1 . Pi l at o s m o s t r a J es u s ao p ovo d i z en d o : Ecc e H o m o !
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12. JESUS É CONDENADO
POR PILATOS
São Lucas escreve que Pilatos entregou Jesus nas mãos dos ju-
deus para que fizessem com ele o que desejavam: “Entregou
Jesus à sua vontade” (Lc 23, 25). De fato, é isso que acontece
quando se condena um inocente: ele é abandonado nas mãos
de seus inimigos, para que o façam morrer, e morrer da manei-
ra que for do gosto deles.
Pobres judeus, vós ali dissestes: “Seu sangue caia sobre nós e
nossos filhos” (Mt 27, 25)... e assim chamastes sobre vós o cas-
tigo, e este já vos alcançou: vossa nação já carrega e carregará
até ao fim do mundo a pena daquele sangue inocente.
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1 2. J es u s é co n d en a d o p o r Pi l at o s
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13. JESUS LEVA A CRUZ
AO CALVÁRIO
Jesus abraça a cruz com amor: “E, levando sua cruz às costas,
saiu para aquele lugar que se chama Calvário” (Jo 19, 17). Eis
que a justiça sai com os condenados, e entre esses vai também o
nosso Salvador, carregando o próprio altar em que deve sacri-
ficar sua vida. Muito bem considera um piedoso autor que, na
Paixão de Jesus Cristo, foi tudo maravilhoso e excessivo como
Moisés e Elias o afirmaram no Tabor: “E falavam de seu exces-
so, que iria realizar em Jerusalém” (Lc 9, 31). Quem poderia
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13 . J es u s leva a c r u z ao Ca lvá r i o
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— Ah, meu Jesus, com que sentimentos de amor para comigo vós ca-
minháveis para o Calvário, onde devíeis consumar o grande sacrifício
da vossa vida!
Minha alma, abraça também a tua cruz por amor de Jesus, que por teu
amor padece tanto. Observa como ele vai adiante com sua cruz, e te
convida a segui-lo com a tua: “Quem quiser vir após mim, tome sua
cruz e siga-me” (Mt 16, 24).
— Sim, meu Jesus, não quero deixar-vos, quero seguir-vos até à morte.
Vós, porém, pelos merecimentos de vossa subida tão dolorosa ao Cal-
vário, dai-me a força de levar com paciência as cruzes que me enviardes.
Oh! vós tornastes muito amáveis as dores e os desprezos, abraçando-os
com tanto amor por nós.
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13 . J es u s leva a c r u z ao Ca lvá r i o
E foi essa a razão por que lhe tiravam a cruz dos ombros: para
que chegasse vivo ao Calvário, e assim tivessem o gosto de vê-
-lo morrer crucificado.
— Ah, meu Jesus desprezado, vós sois a minha esperança e todo o
meu amor.
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14. JESUS É CRUCIFICADO
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1 4 . J es u s é c r u ci f ica d o
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CO N S I D ERAÇÕ ES E A F E TO S S O B RE A PA I XÃO D E J ES U S C RI S TO
pecados. Este sangue não vos pede vingança, como pedia o sangue de
Abel, mas vos pede perdão e misericórdia para nós. É o que o vosso
Apóstolo me anima a esperar, quando diz: “Vós, porém, vos aproximas-
tes do mediador da Nova Aliança, Jesus, e da aspersão do sangue mais
eloquente que o de Abel” (Hb 12, 24).
Assim, Jesus na sua cruz procura mais o nosso afeto que a nos-
sa compaixão; e se pede compaixão, pede-a unicamente para
que ela nos induza a amá-lo. Pela sua bondade, ele já merece
todo o nosso amor; mas agora procura ser amado ao menos
por compaixão.
— Ah, meu Jesus, tivestes muita razão de afirmar, antes da vossa Pai-
xão, que uma vez levantado na cruz havíeis de atrair para vós todos os
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1 4 . J es u s é c r u ci f ica d o
corações (cf. Jo 12, 32). Oh! quantas flechas de fogo enviais desse trono
de amor aos nossos corações! Oh! quantas almas felizes atraístes dessa
cruz a vós, livrando-as das profundezas do inferno. Permiti-me, pois,
dizer-vos: com razão, meu Senhor, vos colocaram no meio de dois
ladrões, pois vós, com vosso amor, santamente arrancastes de Lúcifer
tantas almas que por justiça lhe pertenciam em razão de seus pecados;
e eu espero ser uma destas. Ó chagas de meu Jesus, ó belas fornalhas
de amor, recebei-me no meio de vós, para que eu não mais arda nas
chamas do inferno como mereço, mas arda em santas chamas de amor
por Deus, aquele mesmo Deus que por mim quis morrer consumido
de tormentos.
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15. PALAVRAS DE JESUS NA CRUZ
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recordai-vos da morte tão cruel que por mim sofrestes: e por ela dai-me
o vosso reino na outra vida, e na presente fazei reinar em mim o vosso
santo amor. Que somente o vosso amor domine o meu coração, e seja
ele o meu único senhor, meu único desejo, meu único amor. Ó feliz la-
drão, que mereceste acompanhar com paciência a morte de Jesus! E fe-
liz de mim, ó meu Jesus, se tiver a sorte de morrer amando-vos e unindo
a minha morte à vossa santa morte.
Stabant autem juxta crucem Jesu mater eius etc. — Estava, po-
rém, ao pé da cruz de Jesus, sua Mãe (Jo 19, 25).
Mas aqui devemos considerar quem seja essa Mãe e quem seja
esse Filho. Maria amava esse Filho imensamente mais do que
todas as mães amam os seus filhos. Ela amava Jesus por ser ao
mesmo tempo seu Filho e seu Deus: Filho sumamente amá-
vel, incomparavelmente belo e santo, Filho que lhe fora sempre
respeitoso e obediente, Filho que tanto a amara e que desde a
eternidade a escolhera por mãe. E essa Mãe foi quem teve de
ver morrer de dores um tal filho, diante de seus olhos, naquele
lenho infame, sem que lhe pudesse dar o menor alívio. Ao con-
trário, sua presença aumentava o tormento do Filho ao vê-la
padecer assim por seu amor.
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1 5 . Pa l av r a s d e J es u s n a c r u z
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— Meu doce Redentor, esse vosso abandono me faz esperar que Deus
não me abandonará, apesar de tê-lo traído tantas vezes. Ó meu Jesus,
como pude viver tanto tempo esquecido de vós? Agradeço-vos por vos
não terdes esquecido de mim. Suplico-vos que me façais recordar sem-
pre da morte cruel que sofrestes por meu amor, para que eu não me
esqueça mais de vós e do amor que me consagrastes.
Ó santa vontade de Deus, vós que sois a feliz fonte que saciais as almas
enamoradas: saciai-me também, e sede o alvo de todos os meus pensa-
mentos e de todos os meus afetos.
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16. MORTE DE JESUS
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Foi essa a última palavra que Jesus disse na cruz. Vendo que sua
alma estava prestes a separar-se de seu corpo dilacerado, disse
todo resignado à vontade divina e com confiança de Filho: “Pai,
eu vos entrego o meu espírito”, como se dissesse: “Meu Pai, eu
não tenho vontade própria, não quero nem viver nem morrer;
se vos apraz que eu continue a padecer nesta cruz, eis-me aqui,
estou pronto; nas vossas mãos entrego o meu espírito, fazei de
mim o que vos aprouver”.
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1 6 . M o rt e d e J es u s
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1 6 . M o rt e d e J es u s
Ó eterno Pai, vede Jesus morto por mim; e pelos méritos desse Filho,
usai de misericórdia comigo.
Minha alma, não percas a confiança por causa dos delitos cometidos
contra Deus: esse Pai é o mesmo que entregou seu Filho ao mundo para
nossa salvação; e esse Filho, é o mesmo que voluntariamente se ofere-
ceu para pagar por nossos pecados.
Ah, meu Jesus, já que para me perdoar, vós não vos poupastes, olhai para
mim com aquele mesmo afeto com que me olhastes quando outrora ago-
nizáveis na cruz. Olhai-me e iluminai-me. Perdoai-me especialmente as
ingratidões que vos mostrei no passado, por tão poucas vezes pensar na
vossa Paixão e no amor que nela me mostrastes. Agradeço-vos a luz que
me concedeis ao abrir-me as janelas de vossas chagas e membros lacera-
dos, que me revelam o terno afeto que tendes por mim.
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Ah, por que não nos lançamos então sobre Jesus crucificado,
para morrer na cruz com aquele que quis morrer por amor de
nós? Eu o prenderei — devemos dizer — e não o abandonarei
jamais: morrerei com Ele, e me abrasarei nas chamas de seu
amor. O mesmo fogo consumirá esse divino Criador e a sua
miserável criatura.
Concluamos, dizendo:
— Ó Cordeiro divino, que vos sacrificastes por nossa salvação! Ó vítima
de amor, que fostes consumida de dores sobre a cruz! Oxalá soubesse
eu amar-vos como vós o mereceis! Oxalá pudesse eu morrer por vós,
como vós morrestes por mim! Eu, com os meus pecados, vos causei so-
frimentos durante toda a vossa vida; fazei que eu vos agrade no resto de
minha vida, vivendo só para vós, meu amor, meu tudo.
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