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A IDENTIDADE LUTERANA E A NOSSA LIBERDADE

NA PRÁTICA DA SANTA CEIA


Rev. Silvio F. da Silva Filho
Vila Velha - ES
INTRODUÇÃO

Uma congregação não é uma associação de pessoas que pensam da mesma forma e por isso
desejam se ajuntar por causa dos seus interesses comuns. Não são as pessoas que formam a congregação.
É Deus quem as reúne para alimentá-las na sua palavra e sacramentos. Nas Escrituras Sagradas, Deus
estabelece os princípios pelos quais alguém deve receber a santa ceia. Essa tarefa é de Deus. A
congregação, em obediência a palavra de Deus, administra a santa ceia conforme a expressa vontade de
Deus. Os membros da congregação e o seu pastor não podem entender que têm o direito de determinar
critérios diferentes dos estabelecidos por Deus, pelos quais deveriam receber as pessoas na santa ceia.
Porque Deus criou a congregação, pelo seu gracioso chamado, pelo Espírito Santo, através do Evangelho,
ele faz questão de orientar quem recebe dignamente o sacramento da santa ceia. A prática da comunhão
fechada toma espaço no contexto do cuidado pastoral. Esse cuidado começa quando é feito um claro
ensino de profissão de fé da nossa igreja, assim que aqueles que não crêem na presença real, venham a
confiar nessa verdade e, então, publicamente confessem a sua fé de forma consistente.
A presente pesquisa não pretende abordar todos os assuntos relativos à santa ceia, especialmente
aqueles pontos comuns, de fácil entendimento. Concentra-se, isto sim, naqueles que trazem mais
preocupações e angústias para nós, no dia a dia do nosso trabalho pastoral.
Deus nos faça cientes do quanto é importante ter compreensão correta do sacramento e o quanto
nos cumpre ensina-la de forma clara e pura, para que nossas congregações possam crescer no recebimento
do perdão dos pecados que Cristo oferece e dá na santa ceia e no testemunho dessa verdade ao mundo.
Com humildade e alegria, confessamos que só podemos receber a verdadeira compreensão da
santa ceia, quando o Espírito Santo diariamente abrir o nosso entendimento para compreendermos as
Escrituras. Esse foi o caminho que conduziu Lutero na compreensão do Sacramento. Não há outro
caminho para nós.

A PALAVRAS DA INSTITUIÇÃO DA SANTA CEIA – CONTEXTO

Em todos os cultos, na liturgia da Santa Ceia, repetimos a fórmula: “Nosso Senhor Jesus Cristo, na
noite em que foi traído, tomou o pão...”. Assim, fazemos uso das palavras dos três evangelistas e do
apóstolo Paulo, que confessa: “Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei” (1 Co 11.22).
Desta forma, o texto de Paulo é o primeiro comentário das palavras de Jesus na noite em que foi traído, e
note-se também que a primeira carta de Paulo aos Coríntios, cuja data tem concordância dos principais
estudiosos da isagoge, entre 54-57, de Éfeso, é anterior aos evangelhos, cujo consenso entre os estudiosos
colocam a sua data para período posterior.
O contexto histórico da instituição da Santa Ceia é a Páscoa, conforme celebrada pelos judeus, que
rememorava o significativo ato da libertação dos israelitas da escravidão de 430 anos a que foram
submetidos no Egito. Isso fica claro nos relatos bíblicos Mt 26.17-19; Mc 14.12-16; Lc 22.7-13, quando
Jesus orienta seus discípulos a preparar a celebração da Páscoa, que queria comer com eles.
Olhando para a história de Israel – povo de Deus do Antigo Testamento, vemos como esse evento
foi significativo para a instituição da Santa Ceia. Como os israelitas foram libertados da escravidão
egípcia, assim, Jesus, com seu sofrimento, morte e ressurreição, nos libertou do poder do diabo e da
morte, e nos deu vida; como os israelitas eram alimentados miraculosamente no deserto pelo maná que
Deus fartamente lhe concedia e bebiam da água da rocha, assim, a Igreja, pela sua história da escravidão
do pecado à liberdade, na sua jornada rumo à vida eterna, é sustentada pelo pão e pelo vinho, neles o
corpo e sangue de Jesus, que é, ao mesmo tempo, o Cordeiro Pascal da Nova Aliança e o Pão da Vida (1
Co 10.1 ss; Jo 6).
Quanto às palavras de Jesus, nenhum teólogo da Igreja Antiga duvidou que o pão consagrado por
ocasião da celebração da santa ceia é o corpo de Cristo e, por conseguinte, o vinho é o sangue de Cristo.
Os problemas vieram depois, especialmente na Idade Média e, pode-se, por isso, dizer que a doutrina da
Santa Ceia é o único Dogma que a Igreja Medieval produziu.
Quando Jesus tomou o pão e, “tendo dado graças o partiu e disse: Isto é o meu corpo” (1 Co
11.24) estava realmente dizendo que em, com e sob o pão estava dando aos seus discípulos – e a toda a
cristandade posterior, o seu verdadeiro corpo. Muito embora os adversários – assim chamados por Lutero,
negam presença real de Cristo na Ceia, alegando que essas palavras não devem ser tomadas literalmente e
que o estin (“é”) não poderia ter sido dito em aramaico – língua original a qual Jesus falava, há provas
gramaticais fartas que o conectivo “é” está contido no predicado, e a tradução grega que conhecemos é
indubitavelmente correta.
Outra questão nas palavras de Jesus diz respeito ao cálice. Evidentemente trata-se aqui de uma
figura de linguagem (sinédoque) que indica o conteúdo pelo que o contém, e que o conteúdo,
textualmente chamado de fruto da videira obviamente refere-se ao vinho de uva. Fato esse também
provado pelo contexto histórico da páscoa, quando os judeus usavam o cálice de vinho, e o relato de 1 Co
11, quando Paulo atesta a embriaguez daqueles que excediam no uso do vinho na Ceia.
Por isso, quando somos questionados hoje porquê mantemos a doutrina da presença real de Cristo
na Ceia, dizemos como Lutero que, Cristo não nos deu outra explicação para essas suas palavras e, por
isso, devemos mantê-las com firmeza. O apego à Palavra de Deus é o fundamento da nossa fé. Dela não
podemos abrir mão. Nesse sentido, a história parece não ter passado, pois, como em Marburgo, ainda
somos questionados por acreditar que o Cristo, parado à frente dos seus discípulos, distribui-lhes o pão e
o vinho e, neles, o seu corpo e sangue. Como isso pode ser possível? Se os nossos modernos adversários
repetem os mesmos argumentos de outrora, devemos relembrar as verdades fundamentais da nossa fé e,
como Lutero, responder que todos os mistérios e milagres de Deus são incompreensíveis à nossa razão. É
o Espírito Santo que nos leva a crer de coração.
No ano de 1533, Lutero afirmou: “Essa instituição de Cristo faz com que administremos e
recebamos não apenas o simples pão e vinho, mas seu corpo e sangue, como suas palavras afirmam... de
modo que não é nossa obra ou nosso falar, mas o mandamento e a ordem de Cristo que fazem do pão o
corpo e do vinho o sangue, desde o início da primeira Ceia até o fim do mundo, e que, em nosso culto,
são distribuídos diariamente” (FCDS, VII, 77). E, a isso vem o selo do apóstolo Paulo: “Porventura, o
cálice da bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é a
comunhão do corpo de Cristo?” (1 Co 10.16).

ANÁLISE DE 1 CO 11.17-34

Introdução à carta: A dupla saída que tinha para o mar tornava a cidade de Corinto peculiar, em todos os
sentidos, visto que seus dois portos eram movimentadíssimos e, conforme iam e vinham mercadorias,
riquezas, cultura, também iam e vinham costumes e crenças. Paulo chegou em Corinto, por volta do ano
50, depois da sua estada em Atenas. Ali foi fundada uma congregação composta, basicamente, por
pessoas simples, de origem gentílica. Paulo permaneceu um ano e meio ali e, depois da sua partida,
começaram a eclodir os problemas. Pode-se dizer que a congregação de Corinto serve de arquétipo para
qualquer congregação cristã, de todos os tempos. Ela sumariza os problemas que enfrentamos no dia a dia
do nosso ministério.
Entre problemas como divisões, partidarismos, imoralidade, eles enfrentavam também sérias
dificuldades com respeito a Santa Ceia. No capítulo 11, Paulo trata do assunto da Santa Ceia, que entre
eles foi rebaixada a uma ceia comum, não discernindo eles o corpo e o sangue de Cristo. Eis o texto e sua
simples exposição:
V. 17 – “Nisto, porém, que vos prescrevo, não vos louvo, porquanto vos ajuntais não para melhor, e
sim para pior”.
Paulo deixa claro que o encontro deles para culto estava tendo resultado negativo. Por quê?
V. 18 – “Porque, antes de tudo, estou informado haver divisões entre vós quando vos reunis na igreja;
e eu, em parte, o creio”.
A Congregação de Corinto, como tantas outras, era uma congregação dividida, e isso emperra o
crescimento da Igreja e dificulta a sua atuação no mundo.
V. 19 – “Porque até mesmo importa que haja partidos entre vós, para que também os aprovados se
tornem conhecidos em vosso meio”.
Paulo é um pouco sarcástico aqui. O uso do termo “partido” é mais forte do que divisões.
Divisões pode dar a entender o que conhecemos como panelinhas. O termo “partidos” inclui separações,
pessoas que se separam das demais por questões doutrinárias.
V. 20 – “Quando, pois, vos reunis no mesmo lugar, não é a ceia do Senhor que comeis”.
Por que? Quando se reuniam no mesmo lugar, deveriam mostrar que eram um corpo (1 Co 12.12).
Não interessava o grau de instrução ou a posição social de alguém. Eles eram um corpo em Cristo,
membros uns dos outros, irmãos. Mas a desordem que se manifestava, especialmente na celebração do
“ágape,” mostrou que não eram um corpo.
Eles se reuniam para culto. Havia instrução na palavra de Deus, seguido do ágape, a refeição de
amor. As pessoas traziam alimentos. Os ricos, mais; os pobres, pouco e os escravos que nada tinham, não
traziam nada. Colocavam tudo sobre uma mesa. Esperavam uns pelos outros. E então todos comiam.
Anexa a esta refeição de amor, era celebrada a Santa Ceia. Mas, devido ao comportamento desordenado
por causa das divisões e dos partidos, a celebração da Santa Ceia tornou-se impossível.
V. 21 – “Porque, ao comerdes, cada um toma, antecipadamente a sua própria ceia; e há quem tenha
fome, ao passo que há também quem se embriague”.
Paulo chama a atenção para os contrastes daquela ceia. Enquanto alguns passavam fome, outros
chegavam a embebedar-se. O que era celebrado era uma “festa do eu”, rompendo com a comunhão da
igreja, com o vínculo da paz e do amor que deve prevalecer entre os cristãos.
V. 22 – “Não tendes, porventura, casas onde comer e beber? Ou menosprezais a igreja de Deus e
envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto, certamente, não vos louvo”.
O sarcasmo inicial e Paulo passa agora para um julgamento severo: “Nisto não vos louvo”. O
problema de compreensão doutrinária se revelava nos grupos que dividiam a congregação de Corinto e,
tomar a ceia como estavam fazendo, poderia tranqüilamente ser feito em casa, sem o caráter sacramental.
Ou seja, eles não estavam tomando a santa ceia.
V. 23 – “Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em
que foi traído, tomou o pão”.
Depois da diagnose do problema e de abrir a ferida, Paulo aplica o bálsamo. Ele começa a ensinar.
Eles não conheciam a doutrina da santa ceia? Evidente que sim. Mas, como pastor, Paulo se afadiga no
ensino (1 Tm 5.17).
“Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei...” O que Paulo “entrega” aos
cristãos coríntios não provinha dele mesmo. A palavra de Paulo era a palavra de Cristo! Paulo as expressa
com a sua autoridade apostólica. Prossegue, como historiador que tem fontes – a instituição de Cristo, e
diz: “Na noite em que foi traído”. Ele situa o fato histórico da instituição da santa ceia. O contexto é o
que vimos acima: A Páscoa dos judeus. O que os discípulos tinham diante de si era bem real: O Cordeiro
sacrificado – Jesus – entrega seu corpo e sangue no pão e no vinho para os discípulos. Quando Jesus deu
graças, preparou o momento e os discípulos para receberem a ceia.
“Jesus partiu o pão.” Não com o propósito de um sacrifício, mas simplesmente para distribuir.
Muitos dão uma ênfase errada ao quebrar do pão consagrado. Não temos ordem para tal. Algo semelhante
não ocorreu, por exemplo, com o vinho, um derramar do vinho. Jesus quebrou o pão para ser distribuído e
comido. Agora, não era somente pão, mas pão para uso sacramental, a respeito do qual Jesus afirmou:
“Tomai, comei; isto é o meu corpo.” Muito já foi escrito sobre o “isto é”. O verbo “ser” nunca
foi, não é e nunca será, em idioma algum do mundo, sinônimo de simbolizar. “Isto” é neutro e não se
refere ao “pão” que é masculino, mas ao corpo. “Meu corpo”, diz o que as palavras expressam. Não o
corpo místico ou a igreja de Cristo, mas o verdadeiro corpo real de Cristo. O corpo que é “dado e o
sangue que é derramado, por vós,” como sacrifício na cruz, para perdão dos pecados.
Como ele poderia dar o seu corpo se estava ali? Crescem as divagações racionais. Alguns dizem:
Eles receberam só o corpo (transubstanciação); outros, que só simboliza o corpo (Zwinglio e Calvino). O
dar o seu corpo é um ato do divino, onipotente e gracioso Deus. Isto não pode ser compreendido por
nossa razão. São palavras que só podem ser recebidas por fé. Jesus declarou o fato: “ Isto é o meu corpo.”
Ele conhece o mistério de sua dádiva; nós não. Todo o raciocínio que isto envolve, se isto é um comer
carnal, um mastigar e digerir o corpo de Cristo, como indagaram os cafarnaítas (Jo 6.52), não faz sentido.
Precisamos permanecer nas palavras de Cristo: “Isto é o meu corpo, isto é o meu sangue.” Recebemos o
seu corpo e o seu sangue, dado e derramado por nós, para perdão dos pecados.
Os apóstolos, que ainda não tinham visto a profundidade da humilhação de Cristo, sabiam, no
entanto, o que estavam recebendo e o que as palavras diziam: “Isto é o meu corpo. Isto é o meu sangue,
dado e derramado por vós.” Não o Cristo inteiro, corpo e alma, para uma união mística, mas o seu corpo
e sangue, dado e derramado por nós” (FCDS VII, 42). Assim os apóstolos o descreveram nos seus
evangelhos e o apóstolo Paulo em sua carta aos Coríntios, sem nenhum comentário em especial, porque o
entenderam literalmente assim.
V. 26 – “Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do
Senhor, até que ele venha”.
Quando os cristãos se reúnem para celebrar a santa ceia eles estão, entre outras coisas, anunciando
a morte de Jesus. O Cordeiro de Deus, que deu a sua vida à morte na cruz do Calvário, sob Pôncio Pilatos,
está presente realmente na ceia. Nós comemos a carne do verdadeiro Cordeiro de Deus, do qual o
cordeiro da páscoa era um tipo.
“Até que ele venha” – há uma conexão entre a santa ceia e a Escatologia. O Batismo olha na
direção da ressurreição do corpo, e o mesmo faz a santa ceia. Que esses dois sacramentos são
antecipações da nossa ressurreição no dia da volta de Cristo, é verdade que nos traz extremo consolo.
Essa é a doutrina do Novo Testamento.
V. 27 – “Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do
corpo e do sangue do Senhor”.
Há duas palavras fortes aqui: indignamente, réu. O conceito de “indigno” aqui refere-se à negação
da presença real do corpo e do sangue de Cristo. Não se trata simplesmente de violar um testamento e
com isso ofender o autor do testamento; isso também, mas não somente isso. A expressão chave é “comer
e beber”. Quem come o pão, que é o corpo, e quem bebe o cálice, que é o sangue de Cristo realmente
participa da santa ceia e quem confia nas palavras “dado e derramado por vós para remissão de
pecados” tem o que elas dizem e expressam. Quem, por outro lado, participa da santa ceia de modo
indigno, ou seja, não confia nessas palavras, o faz para juízo. Lutero afirma: “Quem come este pão
indignamente não peca simplesmente contra a santa ceia, contra a palavra de Deus, contra a lei ou a
promessa de Deus, contra os irmãos ou a ordem de Jesus. Não! Quem come indignamente torna-se
culpado em relação ao que ele comeu e bebeu, a saber, o corpo e o sangue de Cristo”.
V. 28 – “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice”.
Com vistas a não se tornar indigno, é necessário que o comungante examine-se. Examinar-se
significa fazer um teste. Isso implica em ser instruído, ter conhecimento e ter capacidade de
discernimento. O conteúdo desse exame, depreende-se do contexto: A doutrina da santa ceia e,
especificamente, a presença real de Cristo na ceia.
V. 29 – “Pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si”.
O que acontece ao que come e bebe sem discernir? Paulo responde objetivamente: Come e bebe
juízo para si. Ou seja, não há um estado neutro; não há a possibilidade de uma avaliação subjetiva.
Objetivamente, Paulo aponta para o juízo de Deus.
Por que juízo? Porque não “discerne” o corpo e o sangue de Cristo, por não crê nas palavras claras
da instituição de Cristo: “Isto é o meu corpo, isto é o meu sangue”. O juízo pode ser removido por
sincero arrependimento, confiança na graça de Deus revelada em Jesus e a ação do Espírito Santo,
moldando uma nova vida.
Nos versículos seguintes, Paulo mostra como o juízo, em parte, já se fazia sentir entre os coríntios.
Eles já estão sofrendo castigos temporais, para que se arrependessem, pois a vontade de Deus é que
nenhum se perca (2 Pe 3.9).

OS ELEMENTOS VISÍVEIS DA SANTA CEIA

Os elementos e a palavra de Deus são a essência do sacramento. Temos dois elementos visíveis na
santa ceia: O Pão e o Vinho. Podemos traçar um paralelo entre os elementos visíveis da santa ceia e o do
batismo. Nós não temos o direito de questionar se a água deve ser usada no batismo, ou se podemos
substituí-la. Assim também não podemos ceder ao argumento que manter pão e vinho é expressão de
fundamentalismo. Não! É simplesmente questão de fidelidade a palavra do Senhor Jesus.
As Confissões não especificam o tipo de pão ou vinho. Jesus usou o pão sem fermento, ou asmo,
que tinha disponível naquela ceia. Não há uma ordem específica de Jesus para usar aquele tipo de pão
sem fermento. O texto bíblico simplesmente diz que ele tomou o pão.
Jesus tomou o copo e ordenou beber o conteúdo. O copo continha o “fruto da videira” (Mt 26.29).
Devido a época, isto exclui qualquer outro produto não fermentado. A palavra “há quem se embriague”,
(1 Co 11.21), mostra que se tratava de vinho. Vinho é, pois, legitimamente, o referente para a expressão
“fruto da videira”. Visto que um testamento não pode ser alterado, pois se o for, é inválido, o testamento
de Cristo deve permanecer como foi instituído, não pode ser alterado ou adaptado a costumes ou
caprichos locais, como alguns o querem, usando bebida não alcoólica ou do local. Usar suco de uva no
mínimo torna incerta a validade do sacramento.
Uma prática sobre a distribuição dos elementos que precisa ser considerada é a intinção, que é o
ato em que o ministro, na santa ceia, molha ou coloca o pão ou a hóstia, ou fração deles, no vinho para,
então, dá-lo ao comungante. O parecer da CTRE, aprovado pela 53ª Convenção Nacional da IELB, com
base na Fórmula de Concórdia , declara que não existe sacramento fora do uso divinamente instituído.
Diz ainda que, para se ter verdadeiramente a Santa Ceia, é necessária a presença dos elementos usados
por Jesus: o pão e o vinho, e que eles precisam ser comido e bebido. A intinção, como alteração do
comer e do beber, foge do padrão do uso instituído. Mesmo que possam ser listados vários motivos, tais
como a impossibilidade de tomar vinho, racionamento de vinho ou, o que é mais problemático, a crença
de que, derramando o vinho, se estaria derramando o sangue de Cristo que teria surgido de uma
transubstanciação, tal prática não se justifica.
O mesmo parecer da CTRE é de que nenhum dos motivos supracitados justifica a prática da
intinção, pois a santa ceia não é o único meio da graça. Não é a sua falta que condena, mas o seu
desprezo, o que seria o mesmo que desprezar o evangelho. Onde não há vinho, ou mesmo onde se entende
que não se deva tomar vinho por motivos clínicos, não haverá santa ceia. A pessoa será consolada,
perdoada e crescerá na fé pelo anúncio do evangelho. A intinção, portanto, pelo fato de não corresponder
à instituição do comer e beber, não é recomendada.

A COMUNHÃO FECHADA

Vivemos um contexto pluralista, onde as religiões são buscadas de acordo com a conveniência de
quem as procura. Nosso mundo é relativista, onde a verdade parece variar de acordo com a mente e o
coração de cada um. Não é fácil confessar a nossa fé, especialmente, manter a posição da comunhão
fechada num mundo assim. Isso aos ouvidos do mundo poderá soar como arrogância ou monopólio da
verdade. No entanto, devemos firmemente responder: “Nós cremos assim”. É importante dizer isso sobre
a santa ceia do mesmo modo que fazemos quando dizemos que cremos em Jesus Cristo, verdadeiro Deus
e verdadeiro homem, que derramou seu sangue e nos dá seu verdadeiro corpo e sangue na santa ceia para
perdão dos pecados, vida e salvação. Nós cremos numa única Santa Igreja Cristã, na qual Cristo nos reúne
pelo evangelho, dando-nos suas dádivas de perdão, vida e salvação e trazendo-nos a comunhão consigo
mesmo, fazendo-nos parte do seu corpo, do qual ele é a cabeça. Praticar a comunhão fechada é ser fiel a
essa confissão.
Também não foi cômodo para Lutero confessar a sua fé no tempo em que viveu. Especialmente,
não foi fácil ensinar a verdade, contrariada por interesses religiosos, políticos e econômicos. Mas, ele o
fez, com a ajuda de Deus! O assunto santa ceia foi um dos mais controversos da sua época, tanto no que
diz respeito ao catolicismo, com sua prática da transubstanciação, quanto no diálogo com os reformados,
com a sua visão racionalista do sacramento.
Martinho Lutero expôs a doutrina da santa ceia, de forma clara e pura, no Catecismo Menor onde,
entre outras coisas, ele nos ensinou a refletir sobre a dignidade do comungante:
Quem recebe dignamente esse sacramento? Jejuar e preparar-se corporalmente é, sem
dúvida, boa disciplina externa. Mas verdadeiramente digno e bem preparado é aquele que tem fé
nestas palavras: “dado em favor de vós” e “derramado para remissão dos pecados”. Aquele,
porém, que não crê nessas palavras ou delas duvida, é indigno e não está preparado, pois as
palavras “por vós” exigem corações verdadeiramente crentes”. (Catecismo Menor, Livro de
Concórdia, Arnaldo Schüler, tradutor)
A pergunta que fica é: Isso é tudo o que precisamos saber? Essas palavras encerram o assunto
acerca da comunhão aberta ou fechada? O professor Joel Biermann, diz que “A explanação de Lutero no
Catecismo Menor provê parte da resposta – mas não toda a resposta”. Ele afirma que a explicação de
Lutero responde plenamente a pergunta: Será que eu sou digno de participar da Santa Ceia? Embora, não
forneça toda a resposta a pergunta: Quem deve participar da Santa ceia na nossa congregação? (Biemann,
Joel. Step Up to the Altar. CTQ, 72, April 2008, pp. 151-162).
A resposta para essa questão necessita de uma análise séria em algumas áreas da teologia. A
questão em foco não é apenas fornecer subsídios para que os membros das nossas congregações
verifiquem seu arrependimento, sua confiança na presença real de Cristo na Santa Ceia e seu desejo
sincero de mudar de vida, com o auxílio do Espírito Santo. O foco é na verdade, o quanto estamos sendo
zelosos pelo ensino claro da palavra de Deus, pois para sermos despenseiros fiéis, é necessário distinguir
o fato que, nem todo o comungante digno, segundo os princípios do Catecismo Menor, é necessariamente
um irmão cristão que deveria comungar em nosso altar.
Segundo o professor Biermann, nos Estados Unidos há apenas alguns poucos pastores e
congregações que questionam a posição oficial da Igreja sobre a santa ceia, que é a comunhão fechada.
Embora isso, é também significativo o número de congregações e pastores que, na verdade, estão
praticando algo que pode ser chamado de “comunhão funcionalmente aberta”. O que é “comunhão
funcionalmente aberta”? É a prática de deixar nas mãos do indivíduo a decisão se ele pode ou não
participar da santa ceia, sem se preocupar com a confissão daquela pessoa. Em outras palavras, professar
concordância com a idéia da comunhão fechada é irrelevante se, na prática, a congregação deixa ao
encargo do indivíduo determinar se ele deveria comungar ou não.
É evidente que não estamos discutindo aqui se uma pessoa não cristã deveria participar da santa
ceia em nossas congregações, ou não. A questão é mais delicada, quando o seu foco está no fato de que,
como igreja confessional, devemos dizer a alguns irmãos cristãos, de outras denominações religiosas, que
eles não devem participar da santa ceia em nossa congregação.
Parece que a principal razão pela qual uma congregação é levada a discutir esse assunto é a
necessidade de ser gentil e ter uma atuação “politicamente correta”. Assim, muitos luteranos que levam a
sério 1 Coríntios 11 e reconhecem a necessidade de manter afastadas da comunhão as pessoas que não
“discernem o corpo de Cristo” são chamados de ultrapassados e antiquados. Os que querem apenas ser
gentis se esquecem que, deixar um visitante despreparado comungar para sua própria condenação,
definitivamente não é ser gentil.
O professor Gerson Linden, nos ajuda a compreender o assunto, dizendo que
“A ceia é “do Senhor”. Não é um direito dos homens; é dádiva. São convidados aqueles que o
Senhor convida. Por isso, a participação na santa ceia não deve ser vista como um “direito” do
visitante, quando este se sente adequadamente preparado. Sendo do Senhor, a ceia é administrada
pelo povo do Senhor. Que a Igreja tem não só o direito, mas o dever de desempenhar este papel,
fica claro pelos imperativos apostólicos, referentes ao tratamento da Igreja com indivíduos
membros (1 Co 5.9-13; 11.19; 2 Co 2.5-11; 2 Ts 3.14,15)” (Aspectos Quanto à Administração da Santa
Ceia. Igreja Luterana. Junho de 2001. V.60. Nº1. LINDEN, Gerson L.).
O professor Linden atinge o coração do assunto, quando fala da importância da instrução na
palavra de Deus. Essa é a função primordial do ministro: Ele foi chamado para exercer publicamente o
Ofício das Chaves. É sua tarefa essencial pregar a palavra e administrar os sacramentos, não conforme ele
quer ou pretende, mas conforme Cristo ensinou e instituiu. Para isso, ele dispõe das Escrituras Sagradas,
como única fonte e norma de doutrina e fé, e os escritos confessionais reunidos no Livro de Concórdia de
1580, como exposição correta das Escrituras. Linden diz:
A instrução na doutrina cristã é importante para que a pessoa que pretende participar do
sacramento esteja em efetiva união confessional com o povo de Deus reunido. Divisão na confissão
estabelece divisão no sacramento. Em 1 Co 10.16,17 Paulo vincula a união com os irmãos à união no
sacramento. Além disso, a comunhão fechada traz consigo um aspecto de proteção ao “visitante”. O
participar indignamente, a falta do “examinar-se” e de “discernir o corpo”, que estão ligados à
instrução na fé, trazem ao participante juízo, ao invés de bênção. (Aspectos Quanto à Administração
da Santa Ceia. Igreja Luterana. Junho de 2001. V.60. Nº1. LINDEN, Gerson L.)
Quando nós pastores seguimos a prática da comunhão fechada, conscienciosamente o fazemos
com temor a Deus e amor ao próximo e, procuramos, com humildade, ser bons despenseiros dos mistérios
de Deus. O verdadeiro amor ao próximo nos leva a advertir as pessoas a não participarem de forma
indigna do sacramento, nem expressar uma unidade que não existe. Convidamos as pessoas para
receberem a devida instrução, oferecemos boas oportunidades para que elas aprendam a palavra de Deus
e, então, que elas venham ao altar do Senhor em comunhão de fé com os irmãos.
É provável que alguém questione: Não estaria um visitante, alguém que não pertence a
congregação, melhor preparado que um membro da congregação? A isso, o professor Linden nos ajuda,
ao dizer que:
Só Deus conhece os corações. Por isso, a Igreja e os ministros não têm o direito de julgar a fé
“interior” daqueles que a confessaram, segundo o correto ensino, negando-lhes o sacramento, a
menos que seus atos (frutos) deponham contra sua integridade. Da mesma forma, Igreja e ministros
não têm o direito de julgar os que não foram devidamente instruídos e examinados, considerando-
os aptos a participarem da Ceia, sem que tenham confessado sua fé. (Aspectos Quanto à
Administração da Santa Ceia. Igreja Luterana. Junho de 2001. V.60. Nº1. LINDEN, Gerson L.).
Alguém outro poderia questionar: Mas, agindo assim, não estaríamos nós, luteranos, insistindo
que apenas nós somos cristãos verdadeiros e que apenas nós vamos para o céu? O professor Linden
responde:
A prática da comunhão fechada não implica considerar somente os participantes como
“verdadeiros cristãos”. Paulo alerta suas igrejas de que em alguns casos é necessário deixar de
“associar-se” com irmãos (1 Co 5.9,11; 2 Ts 3.14). Os textos apontam para situações de pecado
manifesto, de um viver desordenado e de desconsideração pela palavra do apóstolo. Chama a
atenção que em 1 Co 5.11 Paulo acrescenta, “com esse tal nem ainda comais”. Se este comer é um
ato comum de comunhão (amizade), em uma refeição comum, ou a celebração do sacramento, é
questão que pode ser debatida. Werner Elert defende a segunda explicação, lembrando que, ao
ordenar que a Congregação expulsasse o ímpio de seu meio, estaria tirando-o da participação da
Santa Ceia. (Aspectos Quanto à Administração da Santa Ceia. Igreja Luterana. Junho de 2001. V.60.
Nº1. LINDEN, Gerson L.).
O Pastor David Karnopp, em artigo escrito sob o tema: A IELB e a sua Prática da Comunhão
Restrita, nos ajuda a compreender esse ponto, ao dizer:
Quando negamos a santa ceia para pessoas de outras denominações, não estamos dizendo
que elas não sejam cristãs ou que não tenham fé. Em muitas igrejas, prega-se a palavra de Deus de
forma suficiente para que pessoas possam chegar à fé em Cristo. Assim, pela fé em Cristo são
nossos irmãos. Mas é preciso lembrar que santa ceia requer unidade de doutrina e confissão.
(KARNOPP, David. A IELB e a sua Prática da Comunhão Restrita).
O Professor Joel Biermann diz que
O administrador dos mistérios de Deus precisa educar seu povo sobre a importância do
sacramento em muitos níveis e particularmente precisa enfatizar os aspectos corporativos e
confessionais do sacramento que estão presentes junto com a comunhão individual com Cristo.
Basicamente, o alvo é ajustar a cultura da igreja da forma que pessoas gentis sejam aptas a
reconhecer que uma pessoa não deveria esperar comungar em todo e qualquer altar onde ele
porventura esteja presente. (Biemann, Joel. Step Up to the Altar. CTQ, 72, April 2008, pp. 151-162).
Ele exemplifica isso, dizendo:
Um visitante presente numa cerimônia de batismo certamente não iria pensar que fosse
apropriado trazer seu próprio filho imediatamente a pia batismal para que ele também pudesse
participar nas atividades da comunidade, e nem o pastor e os que estivessem sentados próximos ao
visitante o encorajariam para que fizesse isso. Esse processo de reeducação, necessariamente,
progredirá lenta e sensivelmente, onde despenseiros fiéis estão honrando o chamado do Senhor.
(Biemann, Joel. Step Up to the Altar. CTQ, 72, April 2008, pp. 151-162).
Ele chama a atenção para o fato que, em muitos casos, pastores e membros das congregações
Trivializam essa função de despenseiro e a reduzem a tarefa de contar cálices ou hóstias
para garantir que não haverá faltas embaraçosas durante a distribuição. Por outro lado, a função
de despenseiro pode ser entendida como encontrar formas criativas para “agilizar” a liturgia
sacramental e a distribuição, para que possa ser feita mais eficientemente e dentro dos limites da
sagrada “regra dos 60 minutos”. (Biemann, Joel. Step Up to the Altar. CTQ, 72, April 2008, pp. 151-
162).
Ser despenseiro fiel é tarefa difícil, pois haverá pessoas dentro da congregação que irão questionar
as razões pelas quais seus parentes e amigos cristãos não podem participar da santa ceia em nosso altar.
O professor Paul Gehrard Pietsch, em sua tese de doutorado sobre a santa ceia, quando trata do
assunto da comunhão aberta ou fechada, diz que
A participação na santa ceia está, de algum modo, ligada à profissão de fé. A IELB não
admite a participação de pessoas de outras denominações da santa ceia, prática essa denominada de
“comunhão fechada”. Em defesa da comunhão fechada, Mueller argumenta:
Assim fez Cristo: deixou que a pregação fosse multidão adentro sobre cada um, bem como
depois também os apóstolos, de sorte que todos a escutaram, crentes e incrédulos; quem a
apanhava, apanhava-a. Assim também devemos nós fazer. Todavia não se deve atirar o sacramento
multidão adentro. Ao pregar o evangelho, não sei a quem atinge; aqui, porém, devo ter para mim
que atingiu aquele que vem ao sacramento; aí não devo ficar em dúvida, mas ter certeza de que
aquele, a quem dou o sacramento, aprendeu e crê corretamente o evangelho .
Segundo Koehler, a santa ceia foi instituída para cristãos, para seus discípulos, não para o
público em geral. Mueller insiste que a igreja cristã não deve praticar comunhão livre, mas
privativa, visto que é da vontade de Deus que só crentes se aproximem da Mesa do Senhor.
Enquanto que o santo Evangelho deve ser pregado indiferentemente a crentes e incrédulos (Mc
16.15,16), a Santa Ceia se destina somente aos regenerados, conforme comprovam as palavras da
instituição de Cristo e a praxe normativa dos apóstolos (1 Co 10.16; 11.26-34). (PIETZSCH, Paul
Gehrard. A Prática da Santa Ceia)
Certamente, uma preocupação daqueles que advogam a comunhão aberta é transformar a santa
ceia um elemento evangelístico. Pensam que a comunhão fechada é um empecilho para a missão e que
pode afastar muitas pessoas da igreja. O Pastor David Karnopp nos ajuda a entender que
A santa ceia, bem como o culto todo, não tem a finalidade primeira de ser evangelística. É
verdade que toda a vida do cristão quer ser um testemunho da fé em Jesus. Sob esse prisma, o
culto também é. Mas acima disso, o culto tem a finalidade de receber os fiéis para fortalecê-los na
fé, através da palavra e sacramentos e renová-los no perdão, no amor e na graça de Deus e na
decisão de servir ao Senhor com alegria. A evangelização é decorrente do culto e não exatamente
direcionada ao culto. É a partir do culto que os filhos de Deus manifestam a sua confissão de fé e o
seu ensino cristão ao mundo. Como exemplo, podemos dizer que quando nos sentamos à mesa para
fazer uma refeição, não estamos ali realizando o trabalho do dia-a-dia, mas sendo fortalecidos para
o trabalho que vem a seguir.  A Santa Ceia tem a finalidade de fortalecer os fiéis no amor de Deus,
e que, firmados neste amor, dêem testemunho da verdade. (KARNOPP, David. A IELB e a sua
Prática da Comunhão Restrita).
A Comissão de Teologia e Relações Eclesiais (CTRE), no parecer de 26/08/1991, nos ajuda a
compreender quem pode ser recebido à mesa do Senhor.
Dos cristãos: a - aqueles que já são batizados, e, portanto, receberam a fé cristã; b - que têm
condições de se examinarem a si mesmos a respeito de sua fé; c - os que crêem que na Santa Ceia
receberam o verdadeiro corpo e verdadeiro sangue de Cristo em, com e sob o pão e o vinho para
perdão de seus pecados; d - os que querem viver a sua fé em amor .
O Parecer encerra-se afirmando que:
Por isso, a igreja não tem a liberdade de dar a santa ceia para quem a receberia para juízo
(1 Co 11.29). Para termos uma celebração abençoada da santa ceia, a igreja pratica a comunhão
privativa e não uma comunhão aberta. Com o costume da inscrição para a santa ceia, onde a
comungante anuncia ao seu pastor ou outra pessoa consignada, com antecedência, a sua intenção de
participar da santa ceia, a igreja procura evitar que pessoas inelegíveis e pessoas fora da igreja
participem da mesa do Senhor.
Dessa forma concluímos, pois, que não existe precedentes na tradição do ensino e prática
ortodoxos para o acesso irrestrito a santa ceia.

A SANTA CEIA E O CUIDADO PASTORAL

Todas as reflexões feitas até este momento têm sua razão de ser, especialmente, quando lidamos
com questões práticas, situações do dia a dia do ministério que nos desafiam. É no momento da
administração da santa ceia, quando a igreja está cheia, e há visitantes, que surgem as dúvidas: A quem
devemos convidar para o altar? Quem devemos admitir? A quem devemos negar? Questões importantes
que atordoam e perturbam não só pastores, mas também membros das congregações.
Nós, pastores, no exercício fiel do ministério a nós confiado pelo Senhor Jesus, estamos no olho
do furacão. É preciso, portanto, contínuo estudo da palavra de Deus e das Confissões, para abalizar nossas
decisões. Ajuda-nos muito olhar para o exemplo de João Crisóstomo (CA XXIV, 36), que disse que o
pastor está diariamente no altar, convidando alguns para a santa ceia e deixando outros de fora.
Também é digno de referência o exemplo da Igreja Primitiva que tinha suas celebrações em dois
momentos: A missa dos catecúmenos e a missa dos fiéis. Na primeira parte, nas leituras, nos cânticos e
nas orações, todos poderiam permanecer; no momento da celebração da santa ceia, os visitantes eram
dispensados e ficavam apenas os cristãos aptos para aquele momento.
Lutero também sempre teve uma grande preocupação em relação a quem pode ser admitido à
santa ceia. Ele tinha uma compreensão clara da distinção entre pregação da palavra e participação na ceia.
Embora ambos sejam meios nos quais Deus oferece e opera sua graça, há uma diferença que não pode ser
ignorada e que deve ser levada em consideração por aqueles que administram estes sacramentos: A
palavra pode e deve ser lançada para todos, a fim de que seja ouvida e o Espírito Santo possa criar a fé
nos corações dos ouvintes. Era essa a prática de Jesus. Porém, a santa ceia só deve ser dada para quem já
é cristão, pois, ela indica uma comunhão já existente, tanto entre o crente e seu Senhor, quanto entre
aqueles que crêem neste mesmo Senhor. Esse cuidado e distinção estão ao encargo dos pastores,
chamados precisamente para essa função. Lutero fala diretamente a nós, pastores, dizendo:
Em resumo... apavora-me ouvir que nas igrejas dum mesmo grupo, ou junto ao altar de um
mesmo grupo, ambos os partidos pegam e recebem o sacramento desse um partido, e que um
grupo deve acreditar que está recebendo mero pão e vinho enquanto o outro grupo acredita que
está recebendo o verdadeiro corpo e sangue de Cristo. Pergunto-me muitas vezes se é crível que um
pregador ou Seelsorger possa ser tão calejado e perverso a ponto de conservar silêncio sobre este
assunto e permitir que venham ambos os grupos, cada um com sua ilusão de que pode receber sua
própria espécie de sacramento conforme sua própria crença.... Por isso, qualquer que tem tais
pregadores ou que deles possa esperar tal coisa, que esteja advertido quanto a eles, como sobre o
próprio diabo encarnado! (Martin Wittemberg: Comunhão Eclesiástica e Comunhão de Altar a Luz da
História da Igreja)
A grande preocupação quanto à pessoa que vem à santa ceia é, sem dúvida, em relação à maneira
com que ela se aproxima para receber a ceia, ou seja, o seu preparo e dignidade. A pessoa que vem para
receber a ceia está na fé e irá recebê-la para bênção e salvação ou para juízo e condenação? Como
podemos saber?
O convite evangélico aos pecadores penitentes e de consciência triste, aflita, perturbada, confusa e
errada deve ser acompanhado da advertência da lei aos impenitentes: Se ele não vier com essa disposição
(em busca do consolo e fortalecimento da fé), é melhor que não participe da ceia, pois, sem dúvida,
participará dela para juízo. Jamais se evitará, na igreja, a presença de hipócritas ou falsos irmãos, mas
quando o pecado é notório, medidas devem ser tomadas para impedi-lo de ser admitido na igreja e na
comunhão.
Quanto aos visitantes, Joel Biermann nos orienta:
Numa sociedade que celebra o indivíduo, desconsidera a função da comunidade e age com
uma mentalidade do direito, oferecer uma decisão como essa ao indivíduo é razoável e fácil. É um
pensamento comum: ‘Deixa cada um decidir. Isso é assunto entre o visitante e Deus. Eu estou
apenas ministrando o evangelho, apenas entregando as hóstias’. Errado. O pastor é o mordomo. É
sua a responsabilidade convidar pessoas ao altar, excluir aqueles que não deveriam comungar e,
claro, até mesmo recusar a comunhão àqueles que se apresentam de forma inapropriada. Isto não é
fácil e nem divertido. Praticar a supervisão e administrar o sacramento pode ser desconfortável e
ter um alto grau de exigência. O pastor faria bem, então, em relembrar aqueles profetas antigos
que freqüentemente se viam executando tarefas desagradáveis e impopulares, não por causa de sua
escolha pessoal ou suas preferências, mas pela vontade do Senhor que os chamou e a quem eles
eram compelidos a responder. Assim acontece com os servos do Senhor no século XXI, ou pelo
menos assim deveria ser. O corretivo para isto não é pastores agindo como ditadores, mas como
despenseiros responsáveis administrando diligentemente os meios da graça de Deus, a fim de que o
quebrantado seja curado e o impenitente seja admoestado. Como despenseiros, os pastores
cuidarão também para que a santa ceia, a refeição que alimenta e liga a igreja a Cristo e um ao
outro na unidade de sua confissão, seja celebrada por aqueles a quem ela é prometida: aos
membros da igreja naquele lugar. Aqueles que não fazem parte daquela comunidade de fé
específica, mas que estão presentes na celebração do sacramento, deveriam aprender a perceber
sua participação como privilégio e não como um direito. Eles deveriam pressupor que esta
celebração não os inclui a não ser que eles sejam especificamente convidados a participar—vem daí
o antigo costume, agora, porém, tipicamente desconsiderado, da prática de falar com o pastor antes
da celebração. Para deixar mais claro ainda, supondo que essa conversa ocorra, é imperativo que o
pastor não perpetue a noção errada de que se o visitante “crê em Jesus e na presença real”, então
ele é bem-vindo. Há muito mais envolvido nisso. Ao pastor foi confiado pelo seu Senhor esta
responsabilidade e o sacerdócio naquele lugar. Ele deverá prestar contas por sua prática na
administração do Sacramento. (Biemann, Joel. Step Up to the Altar. CTQ, 72, April 2008, pp. 151-
162).
Nesta administração da ceia a congregação tem um papel importante, que ela exerce através do
ofício das chaves, reconhecendo o ministério instituído por Deus. Portanto, devidamente chamado, cabe
aos ministros administrar a admissão à ceia.
O Professor Linden diz:
A ceia do senhor, como dádiva de perdão e vida para a Igreja, faz parte do pastoreio... As
Confissões Luteranas afirmam o papel do ministério pastoral na administração da ceia do senhor.
CA XIV; XXVIII 5; Ap XXIV 80. Especialmente as palavras do artigo XIV da CA são pertinentes:
“Da ordem eclesiástica se ensina que sem chamado regular ninguém deve publicamente ensinar ou
pregar ou administrar os sacramentos na igreja.” Questões concernentes ao ministério pastoral
estão, pois, no contexto do estudo sobre a administração da santa ceia... Constitui-se parte da
administração fiel do sacramento, por parte do ministro, “convidar uns à comunhão e a outros
proibir que se aproximem” (CAXXIV 36 - texto alemão). Note-se que isto é reconhecido não como
novidade na igreja, mas algo que existe “na igreja desde tempos antigos” (CA XXIV 40 - texto
alemão). Os confessores luteranos reconheceram o papel do ministério, de modo que “conserva-se
entre nós o costume de não dar o sacramento àqueles que não foram previamente examinados e
absolvidos.” (CA XXV 1 - texto alemão). (Aspectos Quanto à Administração da Santa Ceia. Igreja
Luterana. Junho de 2001. V.60. Nº1. LINDEN, Gerson L.).
A esse respeito, Wittemberg cita Balthasar Mentzer, quando este diz:
Um pastor cristão honesto jamais deve agir de tal modo que ofereça e administre o precioso
tesouro da ceia do Senhor àqueles que sobre a mesma não pensam e acreditam de modo correto.
Em prova do que digo que eu mesmo tenho esta opinião que na eternidade jamais deva ante Deus
ser responsabilizado por ter dado a santa ceia do Senhor Jesus Cristo a alguém que zomba das
palavras do Senhor Jesus Cristo e deseja dar cabo da minha confissão e doutrina e lutar contra
elas. (Martin Wittemberg: Comunhão Eclesiástica e Comunhão de Altar a Luz da História da Igreja)
Este cuidado pastoral com relação ao preparo daqueles que vêm para receber a santa ceia somente
é possível se o pastor conhece tais pessoas. Quando se pratica a comunhão aberta, dando a ceia para todos
aqueles que quiserem, independentemente se são membros da mesma congregação ou igreja, não há como
o pastor saber quem são essas pessoas, se são verdadeiramente crentes em Jesus e qual o seu
entendimento sobre a santa ceia. Mesmo que entre os membros de uma mesma igreja e congregação possa
haver hipócritas e não crentes, fica mais fácil para o pastor administrar esse sacramento, que, como visto,
foi dado por Cristo apenas para os cristãos e não cabe a ele julgar a fé interna de alguém.
Além disso, a comunhão fechada traz consigo um aspecto de proteção ao visitante, pois impede
que ele participe indignamente, sem ter se examinado, o que traria para si, ao invés de bênção, juízo e
condenação.
Wittemberg cita Lutero, quando este diz:
Pelo que sempre foi, e ainda é, nossa convicção firme que do recebimento da ceia do Senhor
não se deve fazer um brinquedo, de tal maneira que alguém confessasse uma coisa por sua
participação na ceia do Senhor, e ainda mantivesse em seu coração algo outro. (Martin Wittemberg:
Comunhão Eclesiástica e Comunhão de Altar a Luz da História da Igreja)
Por isso, é dever dos pastores, como “despenseiros dos mistérios de Deus”, não apenas se
preocupar com a questão da admissão à santa ceia de pessoas que ele não conhece, e que ele fica em
dúvida se tais pessoas a receberiam dignamente, mas também, acima de tudo, orientar e instruir com
diligência aquelas pessoas que são membros de sua congregação, que Deus confiou aos seus cuidados,
para que estas também venham ao sacramento dignamente, a fim de que recebam o corpo e sangue de seu
Senhor, que tão amavelmente a elas se oferece nesta ceia, conferindo bênçãos inúmeras, fortalecendo a
sua fé, perdoando os seus pecados, dando vida e salvação.
Era esse também o apelo de Lutero aos pastores e pregadores sobre a instrução do povo. Dizia ele:
Por essa razão, quero deixar expresso aqui, tanto a mim mesmo como a todos os pastores e
pregadores, o meu pedido insistente, fraternal e muito sério: Junto comigo, zelem com dedicação a
esse respeito pelo povo, que Deus adquiriu como propriedade sua, através do sangue de Seu Filho,
tendo-o chamado e trazido para o Batismo e o seu Reino, e no-lo encomendou, de sorte que sobre
ele se exigirá de nós rigorosa prestação de contas, como o sabemos muito bem.
Wittemberg cita Willhem Lohe que, tratando desse assunto, no viés da unidade da Igreja, faz uma
vibrante exposição:
Será que se pode ir a santa ceia sob a aparência de unidade e ainda assim estar desunido na
ceia? Será que quando não se enxerga outras diferenças como sendo um impedimento para uma
comunhão de altar, no mínimo, uma diferença de opinião sobre a ceia não devia ser um
impedimento? Não pode haver nada mais indigno do que um “sim” e um “não” ante o mesmo altar,
isto é, uma divisão quanto ao sacramento diante do sacramento! É indigno – e é pecado! Pecado
contra Verba de Cristo. Pecado contra a Santa Refeição. Pecado contra a igreja que foi moldada
em seu caráter singular primeiramente através de sua luta pela ceia, que perde tudo que é seu
quando ela perde seu precioso tesouro... Um pecado contra as congregações que nesta trilha foram
tornadas incapazes de chegar a qualquer espécie de apreço pela santa ceia, visto que esta trilha não
conduz para uma distinção. Um pecado contra os heterodoxos que, desta forma carecem do
testemunho correto a respeito da santa ceia, e não o podem receber. Um pecado contra nossas
próprias pobres almas visto que, sem muito prejuízo de nossas almas, não podemos permanecer em
tantos pecados depois que chegamos a saber o que estamos fazendo. (Martin Wittemberg: Comunhão
Eclesiástica e Comunhão de Altar a Luz da História da Igreja)
Wittemberg faz uma reflexão extremamente feliz:
Penso que somente seremos capazes de enfrentar, com uma visão promissora do futuro, os
problemas e as necessidades de hoje, se nossos passos iniciais forem tomados com toda a seriedade,
agindo como Seelsorger – isto é, se agirmos de modo firme e conservarmos a coragem e a força para
atuar fielmente junto à família de Deus. Uma coisa (entre outras) que Wolfram von Krause
enfatizou de modo incansável dentro da estrutura do circulo dos irmãos luteranos, foi que a ceia de
Jesus não é a propriedade das “amadas almas;” antes ela foi dada e continua sendo dada à igreja
com este motivo especial: porque é Coena DOMINI. (Martin Wittemberg: Comunhão Eclesiástica e
Comunhão de Altar a Luz da História da Igreja)
As palavras do professor Linden são conclusivas, quando diz:
O assunto tem um enfoque evangélico. Os luteranos mantém a confissão, não por causa da
enumeração de pecados, mas “por causa da absolvição - que é sua parte principal e mais
importante - para consolo das consciências aterrorizadas” (CA XXV 13 - texto alemão). Portanto, a
função de “cura d’almas” se manifesta também na administração da Santa Ceia. Santa Ceia é
evangelho. (Aspectos Quanto à Administração da Santa Ceia. Igreja Luterana. Junho de 2001. V.60. Nº1.
LINDEN, Gerson L.).
Nossa função e trabalho como pastores é ensinar a igreja a guardar todas as coisas que Cristo
ordenou (Mt 28.20). Como fazer isso? É preciso que nos afadiguemos no ensino, na catequese e na
arrojada e alegre proclamação do evangelho, que anuncia a boa nova que Deus nos dá o perdão dos
pecados de uma maneira extraordinária no corpo e sangue de seu filho Jesus Cristo, na santa ceia.
Quando o ensino da palavra de Deus ocupa espaço na vida da congregação, aqueles que se juntam a nossa
congregação irão conhecer a maravilhosa dádiva da graça de Deus no sacramento, e irão, então, tratar o
sacramento com o respeito que lhe é devido. Uma contínua pregação sobre a santa ceia irá criar e
sustentar continuamente a reverência de coração naqueles que estão se achegando a congregação, assim
que eles continuarão em penitência e, assim, na digna recepção do sacramento.
Comunhão Fechada – Teses do Dr. F.C.W. Walther
Como parte conclusiva desse trabalho, não posso deixar de citar as teses do Dr F.C.W. Walther,
precisamente sobre o assunto em questão:
1. A verdadeira Igreja visível, num sentido absoluto, ou como parte da mesma, é aquela Igreja na qual a
Palavra de Deus é pregada puramente e os santos sacramentos administrados conforme instituídos por
Cristo.
2. A Comunidade na qual a palavra de Deus é fundamentalmente negada, ou na qual é tolerada uma
negação fundamental da Palavra de Deus, não é a verdadeira, ortodoxa Igreja, mas uma comunidade
heterodoxa, isto é, falsa, uma seita.
3. Cada cristão tem a obrigação de reconhecer a Igreja visível verdadeira, e, tendo oportunidade, filiar-se
a ela.
4. Cada cristão tem a obrigação de evitar igrejas heterodoxas e no caso de pertencer a uma igreja
heterodoxa, renunciar e separar-se dela.
5. Encontramos verdadeiros cristãos também em igrejas heterodoxas, que pertencem à comunhão dos
santos por sua fé verdadeira, apesar dos erros nos quais labutam por fraqueza.
6. Mas aquelas pessoas que, cônscias dos erros e mesmo assim continuam a pertencer à igrejas
heterodoxas, não podem ser consideradas como fracas no conhecimento, mas mornas em relação ao
Senhor Jesus, que os cuspirá de sua boca no dia do juízo final.
7. O propósito principal da santa ceia é ser um meio pelo qual a promessa da graça é oferecida, dada e
selada, como um selo, para garantia e penhor pelo qual a promessa é confirmada. Além deste propósito
maior, no entanto, a santa ceia é um sinal distintivo de confissão, união de fé e comunhão de culto. Por
isso comunhão na mesa do sacramento é comunhão de igreja.
8. A santa ceia não foi instituída para fazer das pessoas discípulos, cristãos, mas para fortalecimento da fé
daqueles que são verdadeiros cristãos. Por isso, a santa ceia deve ser administrada a nenhuma pessoa que
tenha sido revelada como falso cristão (que não tenha o conhecimento da verdadeira fé cristã ou que não
professa a verdadeira fé cristã).
9. Na santa ceia o verdadeiro corpo e sangue de Cristo estão presentes (presença real), são distribuídos e
recebidos por todos os comungantes. Por isso a santa ceia não pode ser administrada a ninguém que não
confessa a fé neste mistério, sem cometer grave pecado.
10. A santa ceia é um marco confessional da unidade de fé e doutrina entre aqueles que celebram juntos.
Por isso, a admissão de membros de igrejas heterodoxas para celebrarem a santa ceia na Igreja Luterana,
conflita com:
a) a instituição de Cristo;
b) o mandamento da unidade da Igreja na fé e conforme as Confissões Luteranas;
c) nosso amor para com aquele a quem o sacramento é administrado;
d) o amor a nossos irmãos na fé, especialmente os fracos, aos quais este ato será uma séria ofensa; e
e) o mandamento para não sermos participantes nos pecados e erros de outros.
11. Ao negar a santa ceia a pessoas heterodoxas e/ou heréticos não estamos excomungando, nem
condenando os mesmos, nem dizendo que tais pessoas não tenha fé em Cristo; mas estamos simplesmente
separando estas pessoas temporariamente, enquanto não se separam das doutrinas falas e comunhão com
heréticos.
12. Os próprios heterodoxos reconhecem que lhes é impróprio comungar com os ortodoxos. Sua
participação não é somente prejudicial a eles por desconhecerem as verdadeiras implicações, como ainda
para os próprios membros da comunidade.
13. O pecado do unionismo e sincretismo é o pecado de nossos dias, a fidelidade dos ortodoxos requer
que a santa ceia não seja mal usada como meio para uma união externa sem unidade interna de fé.

CONCLUSÃO
“A santa ceia é o Evangelho”. Essa era a grande descoberta de Lutero e a sua grande confissão de
fé. De onde ele procedia tal confiança? De nenhuma fonte desconhecida. Não procedeu do seu interior.
Não foi influenciada pelos filósofos e teólogos antigos. Mas, procedeu da Palavra de Deus – fonte, norma
e regra inquestionável de fé.
A teologia e prática da santa ceia é um assunto carregado de sérias questões e preocupações
doutrinárias. Por isso, precisamos estuda-la a cada 40 dias, como disse Lutero. Tomo as palavras
conclusivas do professor Biermann, e as faço minhas: “De fato, se este estudo teve um pouco de sucesso
em persuadir, mesmo que seja um só leitor, da séria importância da doutrina correta para uma prática
correta, então seu propósito foi alcançado. A doutrina da igreja tem tudo a ver com a vitalidade da igreja e
sua fidelidade. Não podemos nos permitir o esquecimento desta verdade em nossa consideração da
teologia e prática da Ceia do Senhor”.
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Lutherischer Rundblick, vol 9, nº 3&4, 1961. Trad. Pelo Rev. Eugenio Dauernheimer.
ZIMMER, Rudi. A Centralidade da eucaristia no Culto. Igreja Luterana.

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