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Título: A Alegria da Salvação Autor: Ernesto Ferreira

Direitos para Tradução e Publicação em Língua Portuguesa reservados


à:

PUBLICADORA ATLÂNTICO, S.A.

Rua da Serra, l

SABUGO

2715-398 Almargem do Bispo

PORTUGAL

Director Geral: Enoque Pinto Capa e Paginação: António Barradas


Impressão e Acabamento: Tipografia Peres

Venda Nova - Amadora

la Edição: Julho, 2002


3000 Exemplares

A tradução da Bíblia usada neste livro é a de João Ferreira de Almeida, revista e


corrigida, publicada pela Sociedade Bíblica de Portugal.

A Alegria da
Salvação
Depósito Legal - 182598/02 ISBN - 972-8358-90-3

Ernesto Ferreira
índice
A Vida não Devia ser Assim

Um Universo Maravilhoso 13

Dissonância na Harmonia do Universo 19

Atitude Divina Perante a Rebelião Satânica 25

Preenchimento do Vazio Deixado pela Rebelião 29

A Criação da Terra e dos Seus Habitantes 35

Intervenção Satânica na Degradação do Homem 45

Consequências Desastrosas de uma Infeliz Opção 53

Arautos de Boas Novas 59

Novas de Grande Alegria

A Encarnação do Verbo de Deus 69

O Calor Humano de Jesus 75

A Missão Expiatória de Cristo 85

A Missão Redentora de Cristo 95

Uma Nova Aliança 1O3

Um Novo Principio 1O9

Um Novo Nascimento 115

Uma VidaNova 125

O Dom da Vida Eterna 135

ARestauraçãoFinal 141
A Alegria da Salvação na Vida do Crente

Cristo Alegria da Vida 151

A Alegria da Salvação na Vivência Diária 155

Altos e Baixos na Alegria da Salvação 163

A Alegria da Salvação no Relacionamento Social 169

A Alegria da Salvação no Sofrimento e na Morte 177

A Alegria da Salvação no Reino da Glória 185

Introdução
ANTÓNIO e Ana Maria, nascidos na mesma terra, foram baptizados
na mesma pia baptismal. Ele, dois anos mais velho, filho de um
serralheiro, passou os primeiros anos com a família, na devida
altura foi para a escola e com mais ou menos dificuldade
completou o nono ano. Como não sentisse inclinação para
prosseguir nos estudos, durante algum tempo trabalhou com o pai,
que entretanto se especializara como mecânico de automóveis. Ela,
filha de uma empregada de escritório, depois de ter passado a
meninice num berçário e num jardim de infância, completou o
ensino básico e empregou-se na Junta de Freguesia. Na devida
altura, António e Ana Maria casaram-se. Possuíam casa própria,
criaram filhos. Os dias da semana eram passados no trabalho; nos
Domingos, de manhã iam à igreja. Tudo correu calmamente, até
que chegou a velhice e eles morreram, cada um por sua vez. Aos
seus funerais acorreu grande parte da população da terra. E agora
a pergunta que se levanta é esta: Afinal a vida é apenas isto?

Eunice e Orlando licenciaram-se em Medicina. Como tantos outros


licenciados em Medicina, Direito, Engenharia e nos mais diversos
cursos superiores hoje acessíveis, exerceram com êxito a sua
profissão, progrediram financeira e socialmente, aposentaram-se,
viajaram por diferentes países do globo, enve-
(5)
A Alegria da Salvação

Iheceram e, em idade avançada, morreram como toda a gente. E a


mesma pergunta se levanta: Afinal a vida é apenas isto?

Francisco, tendo seguido um percurso semelhante, tornou-se


conhecido em todo o mundo como grande político, vindo a exercer
durante anos a magistratura suprema da Nação como presidente
da República Francesa. Quem não ouviu falar deste Francisco - o
célebre presidente François Mitterrand? Foi ele que declarou, no fim
do seu segundo septénio no poder, minado pela doença que em
breves dias o iria vitimar: ”Sinto a morte invadir-me. Isso não me
preocupa. O que me perturba é não saber o que se lhe segue.”
Mais uma vez surge a pergunta: Afinal a vida é apenas isto?

O célebre poeta francês Alfredo de Vigny resumiu a vida em dois


simples versos: ”On sort, on crie - c’est la vie; / on crie, on sort -
c’est la mort” (Saimos, choramos - é a vida; choramos, saímos - é a
morte). Mas, na realidade, a vida é apenas isto?

Ramón y Cajal, prémio Nobel de Medicina, em 1906, notável


descobridor da anatomia neuronal, confidenciava na sua obra O
Mundo visto aos Oitenta Anos: ”O terrível da senectude é carecer
de amanhã.” : Mas continua a ser pertinente a pergunta: Afinal a
vida é apenas isto?

Alberto Einstein, prémio Nobel de Física, em 1921, considerado por


muitos como a figura mais representativa do século XX a nível
mundial, apesar de todos os êxitos obtidos ao longo de um dilatado
percurso dedicado ao estudo e ao ensino, declarou na sua obra
Como Vejo o Mundo: ”Um Deus que recompensa e castiga é
inconcebível, porque o homem age segundo uma necessidade
imperiosamente imposta por leis exteriores, e não poderá,
portanto, assumir responsabilidades perante Deus, da mesma
maneira que qualquer objecto inanimado não poderá ser
responsável pelos movimentos que lhe imprimam.”2 Mais uma vez
se levanta a pergunta: Afinal a vida é apenas isto, no caso
concreto, a submissão a uma impessoal religiosidade cósmica?

Alberto Camus, prémio Nobel de Literatura, em 1957, considerava


este mundo como sendo ”um mundo absurdo, ateu”. Numa
conferência sobre o tema ”A Crise do Homem”, proferida
Introdução

em Nova Iorque, na Columbia University, em 1946, dizia ele com


extrema sinceridade: ”Se não se acredita em coisa alguma, se nada
faz sentido e não se consegue encontrar um valor seja no que for,
então tudo é permitido e nada importa. ...E, consequentemente, o
mundo deixa de estar dividido entre justos e injustos, mas entre
senhores e escravos. Tem razão aquele que domina.”3 Perante
estas afirmações, também Camus pergunta, ao falecer em 1960
num desastre de automóvel: Mas, afinal, a vida é apenas isto?

A humanidade, porém, não é composta apenas de pessoas com


vidas mais ou menos normais, como as que acabamos de
mencionar.

Há toda uma incontável multidão de entes sofredores de todas as


fases etárias, de todos os níveis culturais, económicos e sociais,
para quem a vida se tornou um fardo insuportável.

Em vastas zonas do globo a pobreza já atingiu os confins da


miséria, com milhões de crianças morrendo de fome ou de doenças
que sem grande dispêndio poderiam ter sido evitadas ou curadas;
de adolescentes e de mulheres que, espontaneamente ou iludidas
por falsas promessas de emprego, caíram na prostituição, como
último recurso de sobrevivência; de pessoas idosas votadas ao
abandono, a começar por parte dos próprios familiares. Em relação
a todos estes casos continua de pé a pergunta: Mas afinal a vida é
apenas isto?

As rápidas mudanças decorrentes da actual revolução electrónica,


principalmente nos domínios da informática e dos média; o
descontrolado crescimento urbano, com o inevitável fenómeno de
vastos bairros degradados na periferia das grandes cidades; a
globalização tecnológica e económica de poderosas empresas
multinacionais, com a progressiva eliminação das pequenas e
médias empresas; o escandaloso contraste entre o mundo
industrializado e o terceiro mundo, com países e habitantes
extremamente ricos e, por outro lado, com países e habitantes
extremamente pobres. Mas todas estas situações levam à mesma
pergunta: Afinal a vida é apenas isto?
8

A Alegria da Salvação

E que dizer da desagregação actual da vida familiar, com os


problemas que todos conhecemos: mães solteiras, uniões de facto
sem cobertura legal, elevada percentagem de divórcios, filhos
famintos de calor humano, entregues a si próprios e à
aprendizagem de contravalores através da TV, de videos, internet
e, sobretudo, de colegas igualmente desorientados?

Quem não se sente chocado com o papel deixado aos pais por
certo jovem suicida: ”Gosto muito do Pai e da Mãe. Desculpem o
desgosto que lhes dou, mas não encontro sentido para a vida.”

Que tragédia não revela o desabafo deixado na secção ”Faça-se


Ouvir” do magazine Notícias, de Lisboa: ”Acabou-se a nossa vida a
dois. ...Não tivemos tempo para dar as mãos e conduzir os
sentidos, o amor, o carinho, o respeito, a ternura. Através do nosso
tacto fizemos amor como se abre uma torneira ou se rega a relva
seca de um jardim. Tentámos falar de nós, dos outros e de tudo,
transformando cada palavra num tijolo duro, erguendo um muro
cada vez mais alto, deixámos cada dia temendo a noite e o absurdo
de estar juntos num leito instável, afagando a nossa alma cansada
de tudo, o nosso corpo esvaziando uma paixão de meras
ilusões. ...E agora, passados dez anos, sem lar, sem emprego, sem
amigos, sós e sozinhos, que vamos fazer das nossas vidas?”

Mais uma vez, persistente, teimosamente, perfila-se a inevitável


pergunta: Mas afinal a vida é apenas isto?

E a lista levar-nos-ia longe, com todas as vítimas de violência, de


terrorismo, de guerrilhas, de guerras, de refugiados sem abrigo,
nem pão nem condições sanitárias; com as vítimas de acidentes de
viação, de enchentes, sismos, furacões, erupções vulcânicas; e,
finalmente, com as vítimas das mais diversas doenças, desde a
simples diabetes até ao fulminante golpe cardiovascular, desde a
incipiente SIDA até à devastadora expansão de um cancro terminal.
E a pergunta, em demanda de uma resposta satisfatória, não
desiste: Mas afinal a vida é apenas isto?
A mesma pergunta se dirige, pessoalmente, ao atento leitor destas
linhas. Ao olhares para a tua vida, com os seus êxitos e fracassos,
com as suas alegrias e tristezas, com os seus dias e

Introdução

horas e minutos transcorridos em absorvente trabalho e em


descontraído lazer, com os anos a avançarem numa corrida que irá
findar no seu esperado - ou, quem sabe?, inesperado termo, mais
uma vez se levanta, enigmática, perturbante, insatisfatória, a
inevitável pergunta: Mas, afinal, a vida é apenas isto?

Não, a vida não devia ser apenas isto. Pode não ser apenas isto.
Para todos quantos queiram aceitar a solução oferecida por Jesus
Cristo, a vida não será apenas isto.

Esperamos encontrar surpreendentes respostas no estudo que


passamos a empreender.
Referências

(1) Santiago Ramón y Cajal, El Mundo Visto a los Ochenta Anos. Madrid: Colección Austral,
n°214, 8a ed., pág. 48.

(2) Albert Einstein, Como Vejo o Mundo. Lisboa: Empresa Nacional de Publicidade, 2a ed.,
1962, págs. 20-26.

(3) citado por mons. Nicolino Sarade, na apresentação da obra de João Paulo II, A Igreja e a
Verdade, trad, port., Lisboa: Livros do Brasil, 1995, págs. 5, 6.
oUmm universo
mmaravilhosoaravilh
oso
se estivermos no campo e, numa noite sem luar, olharmos
para o céu recamado de estrelas, sentimo-nos maravilhados
perante o deslumbrante esPectáculo com que nos
deparamos.

Número Incontável de Astros

Lemos em Génesis 15:5 que certa noite o Senhor Se dirigiu a


Abraão, ”levou-o fora, e disse: Olha agora para os céus, e conta as
estrelas. Se as podes contar.”
Tão numerosas eram que, certamente, Abraão não conseguiu
contá-las.
Mas, por numerosas que se apresentassem à vista desarmada, eis
que, no dizer de Job, ”isto são apenas as orlas dos Seus caminhos”.
Job 26:14.

Desde então, cerca de quatro mil anos se passaram, e hoje


potentíssimos telescópios conseguem descortinar o que era
inacessível a Abraão.
Sabemos hoje que o sistema solar em que estamos integrados faz
parte da galáxia conhecida pela designação de Via Láctea.
Cari Sagan, célebre astrónomo, astrofísico da NASA e professor
universitário, falecido em 1996, escreve na sua obra

(13)
14

A Alegria da Salvação

Cosmos ”A Via Láctea contém cerca de 400 000 milhões de estrelas


de todas as espécies, que se movem com uma elegância complexa
e ordenada.”:

Mas não existe apenas esta galáxia. Na mesma obra diz ainda C.
Sagan: ”Há cerca de 100 mil milhões de galáxias (IO11), cada uma
com uma média de 100 mil milhões de estrelas. Em todas as
galáxias, há também tantos planetas quantas estrelas,
IO11 = IO11, 10 milhões de triliões.”2

Deus Criador

São numerosos os textos em que a Bíblia Sagrada apresenta Deus


como sendo o Criador do Universo. Recordemos apenas alguns:

”Eis que os céus e os céus dos céus são do Senhor teu Deus.”
Deuteronómio 10:14.

”O Norte estende sobre o vazio; suspende a Terra sobre o nada....


Pelo Seu espírito ornou os céus; a Sua mão formou a serpente
enroscadiça. Eis que isto são apenas as orlas dos Seus caminhos; e
quão pouco é o que temos ouvido d’Ele! Quem, pois, entenderia o
trovão do Seu poder?” Job 26:7, 13, 14.

”Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a


obra das Suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma
noite mostra sabedoria a outra noite. Sem linguagem, sem fala,
ouvem-se as suas vozes.” Salmo 19:1-3.

”Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército


deles pelo espírito da Sua boca.... Porque falou, e tudo se fez;
mandou, e logo tudo apareceu.” Salmo 33:6, 9.

”Teus são os céus, e Tua é a terra; o mundo e a sua plenitude Tu os


fundaste.” Salmo 89:11.

”Levantai ao alto os vossos olhos, e vede quem criou estas coisas,


quem produz por conta o seu exército, quem a todas chama pelos
seus nomes; por causa da grandeza das Suas forças, e pela
fortaleza do Seu poder, nenhuma faltará.” Isaías
40:26.

Um Maravilhoso Universo

15

O Filho de Deus Agente da Criação

Se é verdade que a Bíblia Sagrada nos apresenta Deus como sendo


o Criador do Universo, é verdade também que, dentre as pessoas
da Divindade, de acordo com os seguintes textos, o agente da
Criação foi o Filho de Deus, também designado como sendo o Verbo
de Deus.

”No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era
Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram
feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez.” João 1:1-3.

”O qual [o Filho de Deus] é imagem do Deus invisível, o


primogénito de toda a criação; porque n’Ele foram criadas todas as
coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam
tronos, sejam denominações, sejam principados, sejam potestades:
tudo foi criado por Ele e para Ele. E Ele é antes de todas as coisas,
e todas as coisas subsistem por Ele.” Colossenses
1:15-17.

”A nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, a quem constituiu


herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo.” Hebreus 1:1, 2

O Trono de Deus

As Escrituras revelam-nos ainda que Deus não só criou o Universo


mas soberanamente o sustém e governa desde o Seu celeste trono.

Numa situação crítica da história de Israel, disse o profeta Micaias


ao rei Acab: ”Vi ao Senhor assentado sobre o Seu trono, e todo o
exército do céu estava junto a Ele, à Sua mão direita, e à Sua
esquerda.” l Reis 22:19.
Num dos seus belos cânticos, declara David: ”O Senhor tem
estabelecido o Seu trono nos céus, e o Seu reino domina sobre
tudo. ”Salmo 103:19.

Por sua vez, o profeta Isaías teve o privilégio de contemplar ”o


Senhor assentado sobre um alto e sublime trono” (Isaías 6:1) e
mais tarde ouviu, proferidas pelo próprio Deus, as seguintes
palavras: ”O Céu é o Meu trono, e a terra o escabelo dos Meus
pés”. Isaías 66:1.
16

A Alegria da Salvação

Finalmente, o divino Mestre admoesta-nos a este respeito: ”De


maneira nenhuma jureis: nem pelo céu, porque é o trono de
Deus...” Mateus 5:34.

O Senhor dos Exércitos

No Antigo Testamento, esta expressão aplicada a Deus aparece


nada menos do que 267 vezes. Pode referir-se a três diferentes
espécies de seres: os exércitos de Israel (l Sam.
17:45), os astros (Isa. 40:26; Jer. 31, 35) e os anjos (l Reis 22:19;
Sal. 103:20, 21; Luc. 2:13).

Haverá outros Mundos Habitados?

Cari Sagan repete esta mesma pergunta depois de se referir aos


milhões de galáxias no seu texto acima citado. Pergunta ele:
”Perante números tão esmagadores, que probabilidade há de
apenas uma única estrela comum, o Sol, ser acompanhada por um
planeta habitado? Por que seríamos nós, aconchegados num canto
esquecido do cosmos, tão afortunados? A mim parece-me mais
provável que o universo esteja transbordante de vida. Mas nós,
homens, ainda não o sabemos.”3

Será, realmente, verdade que não sabemos?

Na Bíblia Sagrada encontramos esclarecedoras pistas a este


respeito.

No livro de Job, pergunta Deus: ”Onde estavas tu, quando Eu


fundava a Terra? Quando as estrelas da alva juntas alegremente
cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam?” Job 38:4, 7.

No mesmo livro, é-nos mencionada uma reunião ”em que os filhos


de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor”. Job 1:6. Passado
algum tempo, efectua-se nova comparência dos mesmos ”filhos de
Deus”. Job 2:1.
Em l Cor. 4:9, esta terra é comparada a um teatro do Universo, em
que ”somos feitos espectáculo ao mundo, aos anjos e aos
homens”. Vemos aqui que o mundo perante o qual somos feitos
espectáculo é constituído por seres inteligentes distintos dos anjos
e dos homens.

No livro de Apocalipse é feito o convite: ”Alegrai-vos, ó céus, e vós


que neles habitais.” Apõe. 12:12. A este propósito obser-

Um Maravilhoso Universo

17

va H. M. S. Richards, em The Stars and the Bible: ”Há, pois,


habitantes nos céus - não céu, singular, mas céus, plural.”

Tudo nos leva pois a crer que Deus tem, disseminados pelo vasto
Universo, inumeráveis mundos obedientes a Suas leis e exultantes
arautos da Sua glória.

Perfeita Harmonia no Universo

”Enquanto todos os seres criados reconheceram a lealdade pelo


amor, houve perfeita harmonia por todo o universo de Deus. Era a
alegria da hoste celestial cumprir o propósito do Criador.
Deleitavam-se em reflectir a Sua glória, e patentear o Seu louvor. E
enquanto foi supremo o amor para com Deus, o amor de uns para
com os outros foi cheio de confiança e abnegado. Nenhuma nota
discordante havia para deslustrar as harmonias celestiais.
Sobreveio, porém, uma mudança neste estado de felicidade. Houve
um ser que perverteu a liberdade que Deus concedera às Suas
criaturas. O pecado originou-se com aquele que, abaixo de Cristo,
fora o mais honrado por Deus, e o mais elevado em poder e glória
entre os habitantes do céu.” 4
Referências

(1) Cari Sagan, Cosmos. Trad, port., Ijsboa: Gradiva, 5a ed., 1927, pág. 21.

(2) Op. cit., pág. 20. . .•.,.••.••

(3)Op. cit., pág. 21. ,

(4) E. G. White, Patriarcas e Profetas. Trad. port. São Paulo: Casa Pubtícadora Brasileira,

2a ed., s/d, págs. 14, 15. , ,


Dissonância

na Harmonia do

Universo
a O referir-se a Deus, o apóstolo João resume
[ os Seus múltiplos atributos numa simples frase: ”Deus é amor.” l
João 4:8,16. E é como
Deus de amor, para amar e ser amado, que Ele criou os seres
inteligentes que povoam o vasto Universo, aos quais a Bíblia
Sagrada
chama ”filhos de Deus”. Job 1:6; 38:7.

Deus e os Seus filhos constituem assim uma família governada por


normas de sabedoria e amor, em que reina a harmonia e a paz.

Em dado momento da história, surgiu, porém, no seio desta família,


um filho rebelde, Lúcifer, mais tarde chamado Satanás, que não só
se revoltou contra o Altíssimo, mas conseguiu arrastar após si, na
sua rebelião, numerosos outros membros da família.

A Rebelião de Lúcifer

Três textos fundamentais - Isaías 14:12-14; Ezequiel


28:12-17; Apocalipse 12:7-9 - derramam alguma luz sobre este
assunto.

É verdade que o texto de Isaías é dirigido ao rei de Babilónia

(19)
20

A Alegria da Salvação

e o de Ezequiel ao rei de Tiro. É de notar, porém, que vários


pormenores desses versículos só são compreensíveis se referidos a
um poder sobrenatural que os dominava e cujo carácter era
reflectido pelos reis em causa.

Temos assim as expressões: ”Como caíste do céu, ó estrela da


manhã [Lúcifer], filha da alva! ...Tu dizias no teu coração: Acima
das estrelas de Deus exaltarei o meu trono. ...Serei semelhante ao
Altíssimo” (Isaías 14:12-14).

”Tu és o aferidor da medida, cheio de sabedoria e perfeito em


formosura. Estavas no Éden, jardim de Deus; toda a pedra preciosa
era a tua cobertura: a sardónia, o topázio, o diamante, a turqueza,
o ónix, o jaspe, a safira, o carbúnculo, a esmeralda e o ouro.... Tu
eras querubim ungido para proteger. ...No monte santo de Deus
estavas, no meio das pedras afogueadas andavas. Perfeito eras nos
teus caminhos desde o dia em que foste criado até que se achou
iniquidade em ti. ...Pecaste; pelo que te lançarei profanado fora do
monte de Deus, e te farei perecer, ó querubim protector, entre
pedras afogueadas. Elevou-se o teu coração por causa da tua
formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu
resplendor. Por terra te lancei” (Ezequiel
28:12-17).

Compreendemos que estas expressões se referem não


directamente aos reis de Babilónia e de Tiro mas ao poder
sobrenatural que os dominava, se nos lembrarmos de que
expressões, em sentido oposto, por exemplo no caso do rei David,
se referem não a ele, literalmente, mas ao Messias vindouro por ele
representado. Assim sucede quando David, em textos como estes,
aplica, como dizendo respeito a si mesmo, expressões que os
autores do Novo Testamento apresentam como cumprindo-se
em Cristo: ”O ajuntamento de malfeitores me cercou,
traspassaram-me as mãos e os pés” (Sal.22:16; cf. João
19:18); ”Todos os que me vêem zombam de mim, estendem os
beiços e meneiam a cabeça, dizendo: Confiou no Senhor, que o
livre; livre-o, pois nele tem prazer” (Sal. 22:7, 8; cf. Mat. 27:39-44);
”Repartem entre si os meus vestidos e lançam sortes sobre a
Dissonância na Harmonia do Universo

21

minha túnica” (Sal. 22:18; cf. Mat: 27:35); ”Não deixarás a minha
alma no inferno [gr. hades, sepultura], nem permitirás que o teu
santo veja corrupção” (Sal. 16:10; cf. Act. 2:25-32). O mesmo se
poderia dizer das palavras de Jesus a Pedro, quando este procurava
dissuadi-1’O de sujeitar-Se à morte: ”Para trás de mim, Satanás,
que Me serves de escândalo” (Mateus 16:23), e as que proferiu
referindo-Se a Judas, que o havia de trair: ”Um de vós é um diabo”
(João 6:70, 71).

Como acima mencionamos, referem-se à rebelião de Lúcifer não só


os citados textos de Isaías e Ezequiel, mas também a perícope de
Apocalipse 12:2-12. A tessitura deste capítulo merece especial
atenção. Os versículos l a 6 focam os ataques de Satanás contra
Cristo desde o Seu nascimento até à Sua morte, e depois à Igreja
durante um determinado período de tempo. Os versículos 13 a 17
focam os ataques finais de Satanás contra a Igreja. Usando um
método frequente nas Escrituras Sagradas, o apóstolo João introduz
no meio da sua narrativa o parêntese dos versículos 7-12 para focar
como a ira de Satanás contra o Filho de Deus se originou no Céu.
Eis as suas palavras: ”E houve batalha no céu. Miguel [o Filho de
Deus - arcanjo = chefe dos anjos. Cf. Judas 9, ”o arcanjo Miguel”; l
Tessalonicenses 4:16, Jesus ”descerá do céu com voz de arcanjo”] e
os Seus anjos batalhavam contra o dragão, e batalhava o dragão e
os seus anjos mas não prevaleceram, nem mais o seu lugar se
achou nos céus. E foi precipitado o grande dragão, a antiga
serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo.
Ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com
ele.” Um pouco atrás, no versículo 4, somos informados de que o
dragão ”levou após si a terça parte das estrelas do céu”.

Com base nestes textos de Isaías, Ezequiel e Apocalipse, podemos


esquematizar em breves alíneas os traços gerais da rebelião.

a) A rebelião começou com Lúcifer, também chamado estrela da


manhã, filha da alva.

b) Lúcifer era um querubim, e como tal desempenhava


22

A Alegria da Salvação

Dissonância na Harmonia do Universo

23

funções intimamente associadas com o governo do Universo.

c) Perfeito era nos seus caminhos até que nele se achou


iniquidade.

d) Elevou-se o seu coração por causa da sua formosura.

e) A Sua rebelião exacerbou-se até ao ponto de dizer: ”Acima das


estrelas de Deus exaltarei o meu trono. Serei semelhante ao
Altíssimo.”

f) Lúcifer arrastou na sua rebelião uma terça parte dos anjos.

g) Em defesa do trono de Deus, levantou-Se Miguel [o Filho de


Deus] e os Seus anjos.

h) Lúcifer, o antigo dragão, também chamado Satanás e Diabo, e


os anjos que o acompanharam na rebelião, foram derrotados.

Além destes textos, várias expressões soltas permitem-nos


entrever o verdadeiro carácter do rebelde. Por exemplo, em João
8:44, Jesus diz que Satanás ”não se firmou na verdade, porque não
há verdade nele; quando ele profere mentira, fala do que lhe é
próprio, porque é mentiroso e pai da mentira”; diz também que ”ele
foi homicida desde o princípio”. Neste mesmo versículo, Jesus diz
que Lúcifer alimentou os seus próprios ”desejos”. Na língua original
do Novo Testamento, o vocábulo aqui usado é epithumia (do verbo
epithumeo). Há uma epithumia boa (por exemplo, Luc. 22:15; Fil.
1:23; l Tess. 2:17). Mas em geral o vocábulo é usado num mau
sentido - desejo desordenado (por exemplo, Rom. 7:7 [Não
cobiçarás, décimo mandamento na trad, dos LXX]; Rom. 6:12; Efés.
4:22; Col. 3:5; l Tim. 6:9; 2 Tim. 2:22; Tito 2:12; l Ped. 2:11; 2 Ped.
1:4 e 2:10; l João 2:16, textos estes em que o vocábulo grego é
traduzido por concupiscência). O desejo desordenado de Lúcifer
levou-o a enaltecer-se. Ao falar das qualificações do bispo, ou
ancião,

Paulo usa esta linguagem: ”Não neófito, para que, ensoberbecendo-


se, não caia na condenação do diabo.” l Tim. 3:6. Por aqui vemos
que o pecado de Lúcifer foi a soberba. Recorrendo de novo ao texto
original aqui usado, deparamo-nos com o verbo typhoomai, inchar-
se com soberba ou orgulho. Segundo o comentador M. R. Vincent, o
sentido original é ”um nublado e estúpido estado de espírito como
resultado de soberba, orgulho”. (1)

Perante a rebelião de Lúcifer e dos anjos que o seguiram, que


atitude assumiu Deus? É o que vamos tentar descobrir no próximo
capítulo.
Referências

(1) M. R. Vincent, Word Studies in the New Testament. Wilmington: Associated


Publishers and Authors, 1972. pág. 1027.
Atitude Divina

Perante a Rebelião

Satânica
PÓS a rebelião contra o governo divino, Deus podia ter aniquilado
Lúcifer e os seus seguidores. Sem dúvida, Ele podia ter assumido
essa
atitude. Todavia, não a assumiu. Porquê?

O Carácter de Deus

Quando um dia Moisés pediu a Deus que lhe mostrasse a Sua


glória, a manifestação do Seu carácter, Jeová, o Senhor, revelou-Se-
lhe como sendo um Deus que, apesar de não ter o culpado por
inocente e, consequentemente ter de defender a justiça, é
”misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em
beneficência”, e é um Deus ”que perdoa a iniquidade e a
transgressão e o pecado”. Êxodo 34:6-7.

No livro de Salmos Ele continua a ser considerado como tal:


”Misericordioso e piedoso é o Senhor, longânimo e grande em
benignidade.” Salmo 103:8.

Nos profetas continuamos a verificar a mesma apresentação do


carácter de Deus. Para citar apenas um texto, lemos no livro de
Ezequiel: ”Desejaria Eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio?
Diz o Senhor Jeová; não desejo antes que se converta dos seus
caminhos e viva?” Ezequiel 18:23.

(25)
26

Como manifestações do carácter de Deus, recordemos alguns


exemplos registados no Antigo Testamento: como Ele concedeu aos
antediluvianos cento e vinte anos de oportunidade para se
arrependerem e não serem atingidos pela iminente catástrofe que
os veio a submergir (Génesis 6:3); como procedeu com David
perante as suas quedas e o seu sincero arrependimento (Salmos
32:5); como, apesar de a ”malícia” dos Ninivitas ter atingido o
auge, Deus os poupou ao ver ”como se converteram do seu mau
caminho” (Jonas 3:10).

Mas a revelação suprema do carácter de Deus encontra-se na


pessoa do Seu Filho. No primeiro capítulo do evangelho de João,
escreveu o apóstolo: ”Deus nunca foi visto por alguém. O Filho
unigénito, que está no seio do Pai, esse O fez conhecer.” João 1:18.

Quando um dia Filipe rogou a Jesus: ”Senhor, mostra-nos o Pai, o


que nos basta”, Jesus simplesmente respondeu: ”Quem Me vê a
Mim, vê o Pai”. João 14:8-9.

O testemunho do próprio Jesus acerca do carácter do Pai é bem


claro: ”Deus enviou o Seu Filho ao mundo, não para que
condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele.
”João: 3:17.

E que manifestação mais terna do carácter de Deus, do que a que


foi apresentada por Jesus na parábola do Pai e do seu pródigo filho?
Lucas 15:11-32.

O Carácter de Satanás

A inveja e hostilidade contra o Filho de Deus manifestada por


Lúcifer no Céu patenteou-se na Terra, de maneira atroz, desde o
nascimento de Jesus até à Sua morte na cruz do Calvário.

Após o nascimento de Jesus, serviu-se de Herodes que, a fim de


atingir o recém-nascido Salvador, ”mandou matar todos os
meninos que havia em Belém, e em todos os seus contornos, de
dois anos para baixo” (Mateus 2:16).

Alegria da Salvação Atitude Divina Perante a Rebelião Satânica


27

Para o mesmo efeito se serviu dos dirigentes do povo que


”procuravam matá-lO, na sequência de milagres tão maravilhosos
como a cura do paralítico de Betesda (João 5:18) e até a
ressurreição de Lázaro (João 11:53).

Finalmente, o próprio Satanás ”entrou em Judas” (Lucas


22:3) e levou-o a entregar o Mestre aos algozes que, como loucos
instrumentos do ”homicida desde o princípio” (João
8:14), levaram à morte ”o Príncipe da vida” (Actos 3:15). Podemos
assim dizer que Satanás foi o verdadeiro assassino de Jesus.

O Governo de Deus não é uma Ditadura

Na sua obstinada impenitência e persistente rebelião, Lúcifer e os


seus seguidores automaticamente se desvincularam da família
divina, defendendo uma alternativa de vida frontalmente em
oposição à ordem estabelecida pelo governo de Deus.

Se Deus fosse um tirano egoísta, como era acusado por Lúcifer,


podia com um simples gesto ter aniquilado para sempre toda a
oposição.

Mas o governo de Deus é um governo baseado no amor e não uma


ditadura. Ninguém pode ser obrigado a amar. O amor é espontâneo
e livremente assumido.

Se Lúcifer e os seus simpatizantes tivessem sido aniquilados,


poderiam levantar-se na mente dos anjos e de outros seres
inteligentes algumas dúvidas acerca do carácter de Deus.

Foi essa uma das razões por que Deus concedeu à oposição
satânica plena liberdade para provar se a sua alternativa era
melhor do que a do governo divino.

E é assim que vemos Satanás continuando a ter acesso a


assembleias dos filhos de Deus, como consta dos dois primeiros
capítulos do livro de Job, e a receber de Deus permissão para
”cirandar” os discípulos de Jesus, como lemos em Lucas 22:31-32.
28 A Alegria da Salvação

Por outro lado, é-lhe dada liberdade para acusar o sumo sacerdote
Josué ”junto do anjo do Senhor” (Zacarias 3:1-7) e no livro de
Apocalipse ele é chamado ”o acusador dos irmãos”, ”o qual diante
do nosso Deus os acusava de dia e de noite”. Apõe.
12:10.

Paciente Longanimidade Rejeitada


Em presença das declarações e dos factos aduzidos e tendo em
conta a imutabilidade do carácter de Deus, não é arriscado pensar
que Ele tenha manifestado paciente longanimidade para com
Lúcifer e seus seguidores, aguardando, mas em vão, que se
arrependessem e se submetessem, a fim de serem perdoados e
restabelecidos na sua anterior posição.

Preenchimento do

Vazio Deixado pela

Rebelião POSSIBILIDADE da defecção de Lúcifer e

dos seus simpatizantes e do vazio criado porí essa ocorrência no


seio da família celeste

não foi algo que Deus não tivesse previsto ao


criá-los como seres morais livres.

Para preencher, porém, esse vazio Deus já tinha estabelecido desde


”antes dos tempos dos séculos” a criação de outros seres morais
livres - de Adão e seus descendentes.
Vislumbres do Plano Divino
Na Bíblia Sagrada encontramos várias referências ao
estabelecimento e à realização desse plano.

Na epístola do apóstolo Paulo aos Efésios encontra-se um texto


com várias expressões que ousamos salientar em itálico: ”Bendito
o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou
com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo,
como também nos elegeu n’Ele antes da fundação do mundo e nos
predestinou para filhos por adopção de Jesus descobrindo-nos o
mistério da Sua vontade, segundo o Seu beneplácito, que
propusera em Si mesmo de

(29)
Jf
30

tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação


da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos Céus como
as que estão na Terra, n’Ele em quem também fomos feitos
herança.” Efésios 1:6-14.

Através deste texto captamos a visão de vários pormenores. É


digno de nota que para tornar a congregar é usada a palavra
grega anakephalaiósasthai, que pode ser traduzida em
português por recapitular, repetir, voltar ao começo.

Notemos, em segundo lugar, que esta recapitulação,


poderíamos dizer também restauração, se refere tanto às
coisas, às realidades, que estão nos Céus como às que estão
na Terra.

E, finalmente, deve ter-se presente que nesta recapitulação,


nós, seres humanos, fomos feitos herança.

Neste contexto, revestem-se de particular significado as


palavras dirigidas por Jesus ao ser consumada a salvação dos
crentes: ”Vinde, benditos de Meu Pai, possuí por herança o
reino que vos está preparado desde a fundação do mundo.”

À luz destes textos, ficamos a compreender melhor a razão por


que, no dizer de Jesus, os remidos ”serão como os anjos de
Deus”. Mateus 22:30.

Isso explica, finalmente, o interesse manifestado pelos anjos,


incluindo o nosso anjo pessoal, na salvação de seres humanos
como seus futuros companheiros, a tal ponto que ”há alegria
diante dos anjos de Deus por um [simples] pecador que se
arrepende”. Lucas 15:10.

Uma Crença Mantida ao longo dos Séculos

O tema que estamos a examinar tem chamado a atenção de


numerosos escritores eclesiásticos, entre os quais Agostinho
de Hipona, Anselmo de Cantuária, Bernardo de Claraval,
Isidoro de Sevilha, Tomás de Aquino, Guilherme Parisiense,
Francisco
Alegria da Salvação Preenchimento do Vazio Deixado pela Rebelião

31

Suárez, Dionísio de Petau e, no território português, Martinho


de Dume, Manuel Bernardes e Gonçalo Alves.

Passamos a registar o que sobre o assunto escreveram alguns


destes autores.

Agostinho de Hipona (354-430), cuja influência se repercutiu


através de toda a Idade Média, abordou o tema em várias
obras. Na Cidade de Deus escreveu: ”[Deus] com a Sua graça
vai recrutando entre esta raça justamente condenada um
povo tão numeroso, que vem a ocupar a vaga que deixaram
os anjos. E assim esta Cidade amada e soberana, longe de se
ver defraudada no número de cidadãos, regozija-se de reunir
talvez um número mais crescido”.1

No século XI, Anselmo de Cantuária (1033-1109), na sua obra


Cur Deus Homo, na qual discute as razões que levaram o Filho
de Deus a assumir a natureza humana, dedica ao assunto todo
o capítulo 16, intitulado ”A razão por que o número de anjos
que caíram deve ser preenchido por seres humanos”.2

Tomás de Aquino (1225-1274), grande expoente da teologia


escolástica, escreve na sua Suma Teológica: ”Qual seja o
número de todos os homens predestinados, dizem alguns que
se salvarão tantos quantos os anjos que caíram e acima disso
tantos quantos foram os anjos criados. Mas será melhor dizer
que só de Deus é conhecido o número dos eleitos que vão ser
colocados na suprema felicidade.”3

Martinho de Dume (m. em 580), embora nascido no Oriente,


na Panónia, exerceu o seu ministério em Portugal,
desempenhando um papel decisivo na conversão dos Suevos
ao Catolicismo, primeiro como simples monge, e depois como
bispo de Dume e, finalmente, arcebispo de Braga. Escreveu
ele: ”Vendo o Diabo que o homem fora criado para suceder no
reino de Deus no lugar de que ele descaíra, comido de inveja
persuadiu ao homem que violasse os mandamentos de Deus.
32

E por este pecado foi o homem lançado fora do paraíso para o


degredo deste mundo, onde houvesse de padecer muitos
trabalhos e dores.” 4

No século XVII, o erudito e fecundo escritor P. Manuel


Bernardes (1644-1710) resume o assunto em três pontos:
”Das Escrituras e Santos Padres nos consta de três coisas.
Primeira, que Deus criou anjos inumeráveis; segunda, que
Lúcifer arruinou consigo a terça parte deles; terceira, que os
homens hão-de encher os lugares que eles perderam.”5

E nos nossos dias, o P. Gonçalo Alves (1870-1932), que depois


de aturado estudo da Bíblia publicou várias obras sob o
pseudónimo de Paulo Timóteo, na obra intitulada O Fim dos
Tempos ou o Fim Próximo do Mundo, escreveu por sua vez:
”Os eleitos da humanidade devem ocupar no céu os lugares
dos anjos caídos.”6

A este propósito não podemos deixar de citar Ellen G. White


(1827-1915), bem conhecida autora de numerosas obras
traduzidas em português. Cerca de uma dezena de vezes ela
se refere, nos seus escritos, ao tema em causa.

Eis apenas duas citações:

”Deus deseja cumprir por nós o Seu propósito de graça. Pelo


poder do Seu amor, mediante obediência, o homem caído, um
verme de pó, deve ser transformado, habilitado a ser um
membro da família celestial, um companheiro através das eras
eternas de Deus, de Cristo e dos santos anjos. O Céu triunfará,
pois as vagas deixadas pelos anjos caídos de Satanás e a sua
hoste serão preenchidas pelos remidos do Senhor.” 7

”Amor infinito - quão grande ele é! Deus fez o mundo para


alargar os Céus. Ele deseja uma maior família de inteligências
criadas. ...Deus criou o homem para Sua própria glória, para
que, depois de provada e experimentada, a família humana se
tornasse una com a família do Céu. Era o propósito de Deus
Preenchimento do Vazio Deixado pela Rebelião

33

repovoar o Céu com a família humana, se se mostrasse


obediente a todas as Suas palavras.”8

Referências

(1) De Civitate Dei, Lib. XXII, cap. 1.

(2) Cur Deus Homo, caps. 16 a 18.

(3) Summa Theologica, I, q. 23, 7.

(4) Claude W. Barlow, Martini Episcopi Bracarensis Opera Omnia. New Haven: Yale University
Press, 1950, pág. 185.

(5) Manuel Bernardes, Exercícios Espirituaes, Parte II, 4a ed. Lisboa: na officina de Miguel
Rodrigues, 1758, págs. 475, 476.

(6) Padre Gonçalo Alves, O Fim dos Tempos ou o Fim Próximo do Mundo. Porto: Imprensa
Nacional, s/d (1910 ?), pág. 117.

(7) Ellen G. White, Olhando para o Alto. Trad. Port., Sacavam: Publicadora Atlântico, 1983 pág.
55.

(8) Ellen G. White, Carta 91, 1900, in Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 1
Washington, DC.: Review and Herald Publ. Assn., 1953, pág. 1081, 1082.
A Criação

da Terra e dos Seus


Habitantes
1 A sequência da rebelião satânica, Deus pôs em execução o plano
estabelecido ”antes da fundação do mundo” (Efésios 1:4), de f
”rE^i’f criar a Terra para ser habitada por seres inteligentes,
seres humanos, que, se se provassem decididos a pautar as
suas
vidas e a formar os seus caracteres de acordo com os princípios do
governo divino, viriam a ser recebidos como membros da celeste
família de Deusf

A Criação da Terra

A Bíblia Sagrada, no primeiro livro do Antigo Testamento, começa


com a majestosa declaração: ”No princípio criou Deus os Céus e a
Terra.” Génesis 1:1.

No Novo Testamento, o apóstolo João começa também o seu


evangelho com quase idênticas palavras: ”No princípio era o Verbo,
e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus, Ele estava no
princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele
nada do que foi feito se fez.” João 1:1-3

Em presença do que acabamos de ler, três perguntas se levantam.


(35)
A Criação da Terra e dos Seus Habitantes

37

A primeira é: Que entender por: No princípio? Será o princípio da


existência de todo o Universo? Será o princípio da existência da
Terra? Será o princípio da História da Humanidade? Será o princípio
da História da Salvação?

A segunda pergunta, relacionada com esta, é a seguinte: Que


entender por os Céus e a Terra? Será todo o Universo? Só a Terra?
O sistema solar, com todos os seus planetas, incluindo a Terra, e
todos os seus satélites, incluindo a Lua? Que relação tem com esta
pergunta a razão para ser ordenada a observância do Sábado:
”porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra”? Êxodo 8:11.

Em resposta a estas duas perguntas, são dignas de reflexão as


seguintes considerações:

Que a Terra não existe desde o princípio da existência do Universo


parece deduzir-se da pergunta feita por Deus a Job: ”Onde estavas
tu quando Eu fundava a Terra? ...Quando as estrelas da alva juntas
alegremente cantavam e todos os filhos de Deus rejubilavam?” Job
38:4, 7.

Vemos, pois, que quando foi fundada a Terra, já havia ”as estrelas
da alva” e ”os filhos de Deus”.

Por outro lado, lemos no relato da Semana da Criação: ”Disse Deus:


Haja luz. E houve luz. E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus
separação entre a luz e as trevas. E Deus chamou à luz Dia; e às
trevas chamou Noite. E foi a tarde e a manhã o dia primeiro.”

Se recordarmos que o dia e a noite são o resultado da incidência da


luz solar sobre a Terra enquanto esta dá uma volta completa sobre
o seu eixo, temos de reconhecer a interdependência existente entre
a Terra e o Sistema Solar em que está integrada. Tudo leva pois a
crer que ”os Céus e a Terra” abrangem o Sistema Solar, com os
seus planetas e satélites. 1

Chegados a este ponto, uma terceira pergunta se levanta: E que


entender por criou?
A actuação de Deus no registo da Semana da Criação é expressa,
na língua hebraica, por dois verbos distintos: barah e

asah. O termo barah, na forma aí usada, é traduzido por criar, sem


a necessidade de uma matéria pré-existente. Por sua vez, o termo
asah, traduzido por fazer, refere-se a actividades que implicam
matéria pré-existente. *

Na descrição da Semana da Criação, encontramos os dois termos


assim distribuídos:

”Criou (barah) Deus os Céus e a Terra”. Génesis 1:1.

”Deus criou (barah) os monstros dos mares, e toda a criatura


vivente que se move ...e toda a ave de asas.” Vers. 21.

”E criou (barah) Deus o homem à Sua imagem.” Vers. 27.

”Fez (asah) Deus a expansão e fez (dividiu) as águas que estavam


debaixo da expansão e as águas que estavam sobre a expansão.”
Vers. 7.

”E fez (asah) Deus os dois grandes luminares; o luminar maior,


para governar o dia; o luminar menor para governar a noite, e fez
(este vocábulo não se encontra no original, mas foi introduzido pelo
tradutor) as estrelas.” Vers. 1:16.

”E fez (asah) Deus as bestas feras da terra.” Vers. 25. ”Façamos


(asah) o homem à nossa imagem”. Vers. 26.

”E viu Deus tudo quanto tinha feito (asah) e eis que era muito
bom.” Vers. 31.

”E havendo Deus acabado no dia sétimo a Sua obra que tinha feito
(asah), descansou no sétimo dia de toda a Sua obra que tinha feito
(asah).” Cap. 2:2.

”Abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele


descansou de toda a Sua obra que Deus criara (barah) e fizera
(asah).” Vers. 3.
Devemos ter presente o facto de que esta distinção nem sempre é rigorosa ao longo da Bíblia,
com especial destaque para o Livro de Salmos.
Por vezes Barah e Asah são usados sem referência necessária à ausência ou presença de
matéria pré-existente. Em relação tanto a este como a outros termos bíblicos, torna-se
necessário atender sempre ao contexto em que cada vocábulo é empregado.
38

«« A Alegria da Salvação

Reflexões sobre a Semana da Criação

O relato da Semana da Criação sugere-nos algumas reflexões que


consideramos dignas de registo.

Notemos, em primeiro lugar, que esta semana é constituída por


dias: o dia um, o dia dois, o dia três, etc. A palavra hebraica usada
para dia é yom. Ora é uma constatação assente que, na Bíblia,
quando a palavra yom é acompanhada por um numeral,
- um número defenido usado como adjectivo - designa sempre um
dia literal, e nunca um longo período de anos.2

Além disso, lê-se que cada dia é constituído por uma tarde e uma
manhã, ou seja, noite e dia, o que também mostra que se trata de
dias literais.

Note-se, ainda, como na Terra aparecem, sucessivamente, os


elementos básicos necessários para a manutenção da vida: a água,
no primeiro dia; o ar atmosférico, no segundo dia; a vegetação
indispensável para a alimentação, no terceiro dia; a radiação solar
com as suas múltiplas funções essenciais para a vida vegetal e
animal, no quarto dia; tudo culminando, nos dias quinto e sexto,
com o aparecimento da vida animal, tendo o seu clímax no
aparecimento da vida humana.

E foi neste contexto que Deus ”abençoou o dia sétimo, e o ;


santificou, porque nele descansou de toda a Sua obra, que Deus
criara (barah) e fizera (asah) - sem a necessidade de qualquer
material pré-existente e sem o recurso a milhões de anos de
evolução.

Formação do Ser Humano

No capítulo l de Génesis, diz Deus: ”Façamos (asah) o homem à


nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (vers.
26); ”E criou (baraK) Deus o homem à Sua imagem, à imagem de
Deus o criou; macho e fêmea os criou” (vers. 27).
No vers. 7, do capítulo 2, são acrescentados alguns pormenores,
com o emprego de um novo vocábulo - yasar, formar:

A Criação da Terra e dos Seus Habitantes

39

”E formou (yasar) Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus


narizes o fôlego da vida e o homem foi feito alma vivente.”

Através destes textos, vemos que Deus criou (baraíi) o homem à


Sua imagem e semelhança. Cursoriamente, notemos o emprego
simultâneo do singular e do plural, tanto no que diz respeito à
Divindade (criou, façamos^), como à Humanidade (criou o homem,
macho e fêmea os criou).

No processo da formação do homem, Deus, com matéria


preexistente (o pó da terra, ou, noutros termos, oxigénio,
hidrogénio, cálcio, carbono, azoto, etc.), moldou, formou (yasar) o
ser humano com as suas diversas células, tecidos e órgãos; e em
seguida, com algo não pre-existente, o divino fôlego da vida,
soprou em seus narizes, e o homem foi feito (asah) alma vivente.

A operação é assim descrita por E. G. White: ”Na criação do


homem, manifestou-se a actuação de um Deus pessoal. Havendo
Deus feito o homem à Sua imagem, a forma humana estava
perfeita em todo o seu conjunto, mas jazia inanimada. Então um
Deus pessoal, de existência própria, inspirou naquela forma o
fôlego da vida, e o homem tornou-se um ser vivo, inteligente. Todas
as partes do seu organismo se puseram em acção. O coração, as
artérias, as veias, a língua, as mãos, os pés, os sentidos, as
faculdades da mente, tudo se pôs a funcionar, sendo tudo
submetido a uma lei. O homem tornou-se alma vivente.”3

Sob o ponto de vista ontológico, o homem no seu todo, não numa


das suas componentes, tornou-se, ele próprio, uma alma (nephesh)
vivente, um ser vivente.

Sob o ponto de vista psicológico, podem-se, porém, classificar no


homem três componentes distintas: o espírito, a alma e o corpo. É
neste contexto, que lemos em l Tessalonicenses
5:23: ”Todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente
conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus
Cristo.” A este texto do Novo Testamento corresponde outro do
Antigo Testamento: ”Amarás o Senhor teu Deus de
1
40
todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder.”
Deuteronómio 6:5.

Nestes textos, como aliás em toda a Bíblia Sagrada, a alma nunca é


considerada como uma entidade independente, imortal. E por isso
que, segundo a Palavra de Deus, a única esperança de vida após a
morte está na ressurreição. É também por essa razão que o
apóstolo Paulo pondera que ”se os mortos não ressuscitam,
também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a
vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E também os
que dormiram em Cristo estão perdidos. Se esperamos em Cristo
só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens. Mas
agora Cristo ressuscitou dos mortos, e foi feito as primícias dos que
dormem. ...Porque assim como todos morrem em Adão, assim
também todos serão vivificados em Cristo. Mas cada um por sua
ordem: Cristo as primícias, depois os que são de Cristo na Sua
vinda.” l Coríntios
15:16-23.

A Palavra de Deus ou o Big Bang?

Como solução para equacionar o problema da origem da Terra e do


Homem são xtremamente limitadas as tomadas de posição até
hoje apresentadas e defendidas.

Para o teísta, que acredita que Deus existe e Se revela aos homens
a solução é simples - o Criacionismo.

Para o ateu, que não acredita na existência de um Deus criador, a


única alternativa é o Evolucionismo.

Dentre os deístas, que admitem a existência de um distante Deus


criador, totalmente alheado das suas criaturas, uns acreditam no
Criacionismo e outros numa forma mitigada de Evolucionismo.
Em suma, as únicas alternativas conhecidas são o Criacionismo ou
o Evolucionismo.

De acordo com o Criacionismo, a origem da Terra e do Homem


obedece a um plano concebido e executado por Deus, cuja
actividade é caracterizada pela manifestação de omnipotência,
sabedoria, providência e exuberante amor.

A-Alegria da Salvação A Criação da Terra e dos Seus Habitantes

41

O Criacionismo baseia-se no documento histórico da revelação


divina, no qual se encontram declarações como estas: ”Pela fé
entendemos que os mundos pela palavra de Deus foram criados;
de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente.”
Hebreus 11:3. No Salmo 33:5-9, o crente expande o seu júbilo
perante as obras da criação nos seguintes termos: ”A Terra está
cheia da bondade do Senhor. Pela palavra do Senhor foram feitos
os céus, e todo o exército deles pelo espírito da Sua boca. ...Porque
falou e tudo se fez; mandou e logo tudo apareceu.”(4)

De acordo com grande número de defensores do Evolucionismo, a


origem da Terra e do Homem remonta a um longínquo passado, em
que um átomo altamente comprimido - o ovo cósmico - explodiu a
uma temperatura de milhões de graus. Ao expandir-se, arrefeceu e
transformou-se em matéria. Essa grande explosão é conhecida pela
designação de Big Bang e ensinada em muitas escolas como facto
cientificamente demonstrado.

Note-se, porém, que nem o Big Bang nem a sucessiva evolução de


biliões de anos até se chegar ao homo sapiens de hoje são factos
cientificamente estabelecidos. Na realidade, o Evolucionismo não é
uma ciência, mas uma simples hipótese.

A hipótese, como interpretação antecipada, é um ensaio de


explicação e, como tal, pode ser um útil instrumento de trabalho,
mas só pode assumir o estatuto de conhecimento científico
adquirido quando for confirmado pela realidade objectiva.

Ora o Evolucionismo ainda se encontra na fase de simples hipótese.


Isso explica a extrema variedade e discrepância das idades
atribuídas desde o Big Bang, há 15 000 milhões de anos, até aos
antigos antepassados humanos de há 4,4 milhões de anos, lidando-
se com biliões de anos como se se tratasse de simples dezenas de
meses ou semanas.

Contra o Criacionismo, o Evolucionismo apresenta fortes objecções,


baseadas nas transformações ocorridas na crosta terrestre,
aparentemente inexplicáveis sob o ponto de vista da Geologia e da
Paleontologia dentro do esquema cronológico bíblico.

Como resposta a essas objecções, os criacionistas apresentam a


realidade do Dilúvio universal, assombrosa catástrofe
42
---

que por completo subverteu a configuração da crosta terrestre. A


este propósito, advertiu o apóstolo Pedro que ”nos últimos dias”
surgiriam ”escarnecedores”, que ”voluntariamente ignoram isto:
que pela palavra de Deus já desde a antiguidade existiram os céus
e a terra, que foi tirada da água, e no meio da água subsiste. Pelas
quais coisas pereceu o mundo de então, coberto com as águas do
Dilúvio”. 2 Pedro 3:3-5.

Por sua vez, o Criacionismo e os criacionistas levantam contra o


Evolucionismo objecções de não menor peso.

Como já foi referido, a impressionante discrepância de biliões e


milhões de anos atribuídos às diferentes fases do processo,
provam, contundentemente, a insegurança das posições
assumidas.

Se a isso acrescentarmos que tanto a datação radiométrica como a


datação radiocarbónica ainda estão sujeitas a muitas perguntas
sem resposta, a insegurança continua.

Mas a insegurança ainda mais se abala com uma declaração do


próprio Charles Darwin. Escreveu ele: ”Se se pudesse demonstrar a
existência de qualquer órgão complexo que não pudesse de
maneira alguma ter sido formado por inúmeras e sucessivas
modificações, então a minha teoria falharia em absoluto. Mas eu
não consigo encontrar nenhum caso desses.”(5)

O que Darwin não conseguiu encontrar é precisamente o que se


revela na complexidade irredutível que se observa na
interdependência das diferentes células, tecidos e órgãos com as
suas respectivas funções específicas na intrincada anatomia e
fisiologia do ser vivo. Com efeito, que sentido faria, por exemplo, o
independente processo evolutivo, ao longo de milhões de anos, de
cada órgão constitutivo dos sistemas nervoso, circulatório e
digestivo quando todos devem ter surgido simultaneamente a fim
de cada um deles cumprir a sua respectiva função?

É por isso que, em presença destas e de outras objecções sem


resposta satisfatória, a própria hipótese evolucionista, com a recusa
de um inteligente plano preconcebido, está hoje a ser abandonada
por numerosos investigadores.

Na realidade, torna-se necessária muito mais fé para acreditar num


remoto e fortuito Big Bang e nos sucessivos estádios

A Alegria da Salvação A Criação da Terra e dos Seus Habitantes


43

de desenvolvimento requeridos pela hipótese evolucionista do que


para acreditar que na origem, planeamento e criação da Terra e do
Homem se encontra Deus com a Sua omnipotência, providência,
sabedoria e comunicativo amor.

Não sentimos a Sua existência e amorosa providência ao


ponderarmos na maravilhosa constituição e funcionamento do
nosso próprio corpo, desde os mais perfeitos e poéticos pormenores
do sistema nervoso até às mais prosaicas actividades do aparelho
digestivo?

Não constitui uma prova da existência de Deus criador a presença


de uma simples flor, com a sua minuciosa perfeição, a sua
aveludada contextura e o seu delicado perfume?

Quando a mãe contempla o seu bebé e nele descobre o primeiro


sorriso, o primeiro dealbar de inteligência, o primeiro movimento de
curiosidade, e depois o ajuda nos seus primeiros passos e o
acompanha no balbuciar das suas primeiras palavras, pode ela
acreditar que o seu filho não é mais do que o resultado de um
longínquo Big Bang e de um longo processo de evolução desde os
peludos e feios primatas até àquele precioso fruto do seu ventre?
Não é mais lógico acreditar que na origem da Terra e do Homem,
incluindo o seu lindo bebé, se encontra um Deus criador, um Deus
amoroso e digno de ser amado?
Referências

(1) Este é o parecer de Coffin ao afirmar que ”é razoável pensar que o nosso sistema solar
- sol, planeta e seus satélites - tenha sido criado como um todo (as a unit)”. Harold G. Coffin -
Creation - Accident or Design? Washingtn, D.C.: Review and Herald Publishing House, 1969, pág.
21

(2) SDABC, pg. 51.

(3) E. G. White, Testemunhos Selectos, Vol. III. São Paulo; CPB, 1954, pág. 262.
(4) É vasto na literatura produzida sobre o Criacionismo. Tomamos a liberdade de mencionar
desses livros recentes sobre o assunto: In Six-Days - Why Fifty Scientists choose to believe in
Creation. Edited by John Ashton. Green Forest, AR: Master Books, 2001; e Creation, Catastrophe,
and Calvary - Why a Global Flood is Vital to the Doctrine of Atoucment. Edited by John Tenefleton
Baldwin - Hagerstown, M.D.: Review and Herald Publi. House, 2002. Para vasata normalização
sobre o Criacionismo, contactar com o Seoscience Research Institute, através da Internet
(www.grisda.org)

(5) Charles Darwin, On the Origin of Glacies, edição facsimile da primeira edição. Cambridge.
Harvard University, 1981, pág. 189.
Intervenção Satânica

na Degradação do

Homem
O seu estado original, criados à imagem de
.1 Deus, Adão e Eva desfrutavam de indescrití-
vel PerfeiÇão e felicidade.
A sua escultural beleza física, as suas po-derosas faculdades
espirituais, intelectuais
emocionais, as suas potencialidades inatas,
habilitavam-nos para o desempenho das privilegiadas funções de
representantes de Deus no domínio da Terra (Salmos 8:6) e de
fecundos progenitores de venturosos membros da família divina.

Um Enclave Paradisíaco

No início da sua existência, foi-lhes oferecido como local de


residência um belíssimo enclave conhecido pela designação de
Jardim do Éden (Génesis 2:15), repleto de lindas e perfumadas
flores, de árvores com fragrantes e saborosos frutos, de produtivo
terreno para cultivar, com a frequente visita de inofensivos
representantes do reino animal.

Dentre as árvores, duas são particularmente mencionadas.

Uma delas é chamada ”árvore da vida” (Génesis 3:22, 24), cujo


fruto daria acesso ao dom de uma vida eterna.
(45)
46 A Alegria da Salvação

Acerca da outra ordenou Deus, dizendo: ”De toda a árvore do


jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do
mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres,
certamente morrerás.” Génesis 2:16, 17.

Primeira Sessão de Voto na História da


Humanidade
Como já tivemos ocasião de observar, o governo de Deus não é
uma ditadura, mas um governo moral, baseado no amor e na
justiça, tendo como súbditos seres morais livres dotados da
faculdade de amar ou não amar, de obedecer ou de optar por uma
alternativa supostamente melhor do que a da obediência à
revelada vontade de Deus.

E por isso que Deus não destruiu Satanás e os seus seguidores


após a rebelião, mas lhes deu a oportunidade de mostrar perante
todo o Universo se a sua alternativa era preferível à do governo
divino.

Também Adão e Eva, assim como os seus futuros descendentes,


foram criados como seres morais livres, dotados do poder de
escolha entre a obediência ou a desobediência aos princípios do
governo de Deus.
Neste contexto, Satanás, sabendo que o homem fora criado para
ocupar os lugares deixados vazios pela rebelião, não se poupou a
esforços para contrariar o propósito divino e para obter a adesão de
Adão e Eva, e da futura humanidade, à sua causa.

Em Génesis 2:15, lemos que ”tomou o Senhor Deus o homem, e o


pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar”.

Mas aqui surge a pergunta: O guardar de que perigos? O guardar


da interferência de que opositor ou opositores?

A resposta é simples: o guardar da perversa e sedutora


aproximação de Satanás e dos seus anjos.

Intervenção Satânica na Degradação do Homem


47
Ao lermos em Génesis 3:8-19 que, no jardim do Éden, Deus Se
comunicava pessoalmente com Adão e Eva, não é de admirar que
Ele, directamente e por intermédio dos Seus anjos, os aconselhasse
a acautelarem-se das seduções satânicas e a não se deixarem
arrastar pelos seus astutos argumentos e sedutoras promessas.

É neste contexto que aparece a ”árvore da ciência do bem e do


mal”.

Junto dela, como da mesa de uma sessão eleitoral, Adão e Eva vão
votar a favor do partido a que decidiram aderir - ou o do bem, pela
obediência aos princípios do governo de Deus, ou o do mal,
seduzidos pela proposta de Satanás de uma vida melhor a preço da
desobediência.

A TENTAÇÃO,SEQONDO
MITO .5UMERIAÍ1O

Esta gravura é a reprodução de um selo-cilindro babilónico, do terceiro milénio


antes de Cristo, que se encontra no Museu Britânico, de Londres (BM893260,
altura 2.7 cm). Publicado emAncien Near East in Pictures relating to the Old
Testament, por James B. Pritchard, 2a ed. Princeton, N.J.: Princeton University
Press, 1969, n° 858. Segundo alguns autores, representa o mito sumeriano da
tentação. A árvore é uma tamareira, com dois cachos de tâmaras. Ao lado
esquerdo assenta-se a mulher e atrás dela está a serpente. O homem ao lado
direito é Adapa, o Adão da mitologia sumeriana. O chapéu com chifres
simboliza a divindade adquirida pelas façanhas de Adapa. Longe de ter servido
de base ao relato bíblico, o mito de Adapa revela apenas que a Queda foi um
facto real cujo conhecimento se transmitiu aos vindouros por duas vias
diferentes: uma vaga tradição oral deformada pela tendência mitogénica dos
povos primitivos e a tradição autênctica veiculada pelos descendentes directos
de Adão e registada, Por inspiração divina, no livro de Génesis.
48
.-ç-j-^w* utcA (^/CiiVCK^ClL

E eis que chega o momento da votação decisiva.

Aproveitando a ocasião em que Eva se encontrava sozinha junto da


árvore, aparece-lhe uma brilhante e formosa serpente.
Surpreendente maravilha: aquela serpente fala-lhe, como se fosse
uma pessoa, em voz perfeitamente audível e inteligível:

”É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do


jardim?” Pergunta esta à qual Eva respondeu com as seguintes
palavras: ”Do fruto das árvores do jardim comeremos, mas do fruto
da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis
dele, nem nele tocareis, para que não morrais.”

A serpente, porém, na realidade Satanás transfigurado em serpente


e mais tarde referido por Jesus como sendo ”mentiroso e pai da
mentira” (João 8:44), retorquiu, proferindo três fatídicas mentiras:

1. ”Certamente não morrereis”;

2. ”Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os


vossos olhos”;

3. ”E sereis como Deus.”

Teve então lugar a trágica decisão de voto. Apesar da segura


promessa de vida feliz e imortal sob a condição de obediência aos
princípios do governo de Deus, Adão e Eva optaram pela fascinante
e enganadora promessa de uma vida melhor, condicionada pela
desobediência a Deus.

”Vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e


agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento,
tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele
comeu com ela.” Génesis 3:1-6.

Reflexões sobre a Decisão Tomada


A decisão tomada por Adão e Eva no referido acto eleitoral trouxe
para si próprios e para os seus descendentes a situação de ficarem,
a partir de então, sujeitos, não só ao domínio de Satanás, mas
também ao sofrimento e, por fim, à morte eterna. Alegria dajSalvação
intervenção Satânica na Degradação do Homem

49

Em presença destes resultados, muitos têm sido levados a crer que,


embora a desobediência à lei divina deva ser seguida pela
aplicação de uma pena adequada, a pena de morte para tão
simples transgressão é, segundo eles, absolutamente
desproporcionada e irrazoável e, por isso, razão tinha Satanás para
acusar Deus como sendo um Deus egoísta e déspota.
Se, porém, Deus fosse egoísta e déspota, teria destruído Satanás
após a sua rebelião, mas, como atrás referimos, não o fez. Deixou
que o rebelde continuasse a desfrutar de liberdade e provasse,
perante todo o Universo, se a sua concepção de vida feliz era
preferível à que Deus havia estabelecido para a felicidades dos
seres inteligentes por Ele criados.
Na realidade, porém, a lei divina, expresa aqui pelo mandamento
”Do fruto da árvore que está no meio do jardim, não comereis dele,
nem nele tocareis, para que não morrais” era uma segura barreira
de protecção contra uma eventual arremetida satânica. O não do
mandamento era um não de amor, como o não da mãe dirigido ao
seu filho quando ele está em perigo de dar um passo ou de assumir
uma atitude que o levaria a morte certa.
Por outro lado, o não comer o fruto de uma única árvore quando
havia uma imensa variedade de outros frutos à sua disposição, não
constituía uma prova difícil de cumprir, como o seria no caso, hoje
tão comum, de milhões que estão sofrendo de fome, por absoluta
carência de alimentos.
A morte eterna, como consequência de se comer um simples fruto,
não é a aplicação de uma pena imposta por um Deus egoísta e
cruel.
Na realidade, o acto cometido por Adão e Eva não se enquadra
dentro dos parâmetros da pura jurisprudência humana. Faz parte de
uma problemática de projecção muito mais ampla.
O que está em jogo é a escolha entre Deus e Satanás, entre a
lealdade e a deslealdade, entre a obediência e a desobediência,
entre a vida e a morte.
”1”
50

A Alegria da Salvação

Cedendo à proposta satânica, os nossos primeiros pais perderam o


domínio desta Terra, a imunidade à dor e, porque a rebelião é por
natureza autodestruidora, o privilégio de uma vida eterna.
Em toda esta tragédia, o déspota não é Deus, mas sim Satanás,
que pela mentira levou os nossos primeiros pais (e hoje está
levando muitas pessoas) a aceitarem a alternativa por ele
preconizada e a perderem os bens preternaturais de que podiam
desfrutar.
O autor da morte não foi Deus, mas Satanás. Ele é chamado por
Jesus ”homicida desde o princípio” (João 8:44). Segundo a epístola
aos Hebreus, é o diabo que tem ”o império da morte” (Hebreus
2:14).

A morte não foi uma pena imposta por Deus, mas o resultado da
cedência à tentação de Satanás que levou Adão e Eva a perderem
a oferta da vida eterna. É por isso que a morte eterna é chamada
’’eterna perdição” (2 Tess. 1:9), ”perdição dos homens ímpios” (2
Ped. 3:7) e os que não se salvam são designados como perdidos -
os que perderam tão preciosa dádiva.

Diferença entre a Rebelião de Satanás e a


Queda do Homem
O pecado de Satanás foi qualitativamente diferente do pecado dos
nossos primeiros pais.
Com efeito, ninguém tentou a Satanás. O seu pecado, constituído
por orgulho e rebelião, cometido por um espírito puro, desinibido de
quaisquer limitações corporais, foi absolutamente espontâneo.
Pelo contrário, os nossos primeiros pais, de natureza inferior à de
Satanás, foram por ele arrastados, sob o fascínio de afirmações
mentirosas, a aceitar como preferível um modo de vida diferente do
que fora estabelecida por Deus. 1

algria da Salvação intervenção Satânica na Degradação do Homem

51
A este propósito escreveu E. G. White: ”Cono pecador, achava-se o
homem, para com Deus, em posição diversa da de Satanás. Lúcifer
pecara, no Céu, em face da glória divina. A ele, como a nenhum
outro ser criado, se revelou o amor de Deus. Compreendendo o
carácter do Senhor, conhecendo a Sua bondade, preferiu Satanás
seguir a sua própria vontade independente e egoísta. Essa escolha
foi decisiva. Nada mais havia que Deus pudesse fazer para o salvar.
O homem, porém, foi enganado; obscureceu-se-lhe o espírito pelo
sofisma de Satanás. A altura e a profundidade do amor divino, não
as conhecia o homem. Para ele, havia esperança no conhecimento
do amor de Deus. Contemplando-Lhe o carácter, podia ser
novamente atraído para Ele.”2

E foi assim que, logo após a queda dos nossos primeiros pais, lhes
foi aberta uma porta de esperança, nas seguintes palavras
proferidas pelo próprio Deus: ”Porei inimizade entre ti [Satanás] e a
mulher [Eva]; e entre a tua semente [os ímpios] e a sua semente
[Jesus]; esta te ferirá a cabeça [derrota de Satanás e sua sentença
de morte eterna] e tu Lhe ferirás o calcanhar [morte de Cristo
tentada por Satanás, mas vencida pela Sua ressurreição].” Génesis
3:15. ’
Referências

(1) Este pensamento foi extensamente aprofundado por Emil Brunner, Dogmatique, tomo II, ”La
Doctrine de la Redemption”. Geneve: Labor et Fides, 1965, págs. 160-166.

(2) E. G. White, ”O Desejado de Todas as Nações”. Sacavém: Publicadora Atlântico, ed. Popular,
pág. 732.^
Consequências

Desastrosas de uma

Infeliz Opção
UANDO Adão e Eva, cedendo às fascinantes promessas de Satanás,
optaram por desobedecer à revelada ordem de Deus, criaram para
si mesmos e para os seus descendentes uma trágica situação
repleta de desastrosas consequências. Vejamos, sumariamente,
algumas dessas
consequências.

Cativeiro sob o Domínio de Satanás


A primeira consequência foi que, pela sua desobediência, o homem
se tornou literalmente cativo de Satanás, porque ”de quem alguém
é vencido, do tal faz-se também servo”. 2 Pedro
2:19.

Adão perdeu assim o domínio da Terra, em favor do usurpador. Nela


instituiu este os seus princípios de governo.

O próprio Jesus Se referiu mais tarde ao enganador como sendo ”o


príncipe deste mundo”. João 12:31; 14:30; 16:11. Por sua vez, o
apóstolo Paulo designou-o como sendo ”o deus deste século”. 2
Coríntios 4:4.

Tão cônscio se considerou Satanás desta posição que, mostrando


ao Salvador ”todos os reinos do mundo”, Lhe disse:
(53)
54

_A_Alegria da Salvação Consequências desastrosas_de umainfeliz_Opção

55

”Dar-Te-ei a ti todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi


entregue, e dou-o a quem quero; portanto, se Tu me adorares, tudo
será Teu.” Mateus 4:8; Lucas 4:4, 7.

Com razão escrevia o discípulo amado: ”Todo o Mundo está no


maligno”, ou, como sugere o texto grego, ”todo o Mundo está sob o
poder do maligno.” l João 5:19. A tal ponto que todo o que for salvo
terá de passar ”do poder de Satanás a Deus”. Actos 26:18.

E, pois, evidente que na situação de pecador o homem ficou cativo


de Satanás.

O Sofrimento e a Perda da Imortalidade

O sofrimento já é uma espécie de cumprimento da sanção penal. A


obediência à lei traria felicidade. A desobediência, quando a lei é
perfeita, não pode deixar de produzir sofrimento. Por isso, logo
após o pecado de Eva, Deus disse-lhe: ”Multiplicarei grandemente a
tua dor.” Gén. 3:16. E a Adão foi dito acerca da terra, agora atingida
por sua causa: ”Do suor do teu rosto comerás o teu pão.” Gén.
3:19. Depois de Adão, todo o sofrimento tem tido como causa,
remota ou próxima, o pecado: ”A maldição sem causa não virá”,
ensinou o Sábio. Prov.
26:2. Ou, como lemos em Galatas 6:7: ”O que o homem semear,
isso também ceifará.”

Outra consequência da desobediência foi a morte, ou seja, a perda


da vida eterna: ”No dia em que dela comeres, certamente
morrerás.” Gén. 2:17. ”Não comereis dele, nem nele tocareis, para
que não morrais.” Gén. 3:3. Cedendo à tentação de Satanás que,
para abater a resistência e contrariando as próprias palavras de
Deus, disse: ”Certamente não morrereis” (Gén.
3:4), os nossos primeiros pais desobedeceram e com o seu pecado
entrou a morte no mundo. Com efeito, ”o salário do pecado é a
morte”. Rom. 6:23. Tal é, segundo o apóstolo Paulo, ”a lei do
pecado e da morte”. Rom. 8:2.
E como a situação de pecado não foi limitada aos nossos primeiros
pais mas se transmitiu a toda a humanidade, todos

nós temos de sofrer, pela morte, a perda da vida eterna. ”Como por
um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte,
assim a morte passou a todos os homens, por isso que todos
pecaram.” Rom. 5:12.

Separação entre o Homem e Deus

Outra consequência do pecado foi ter ficado o homem separado de


Deus. Antes da sua queda, falavam com Deus os nossos primeiros
pais. Mas logo que pecaram, ao ouvirem a voz do Senhor,
”escondeu-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus”.
Gén. 3:8. Quando alguém é desleal para com um amigo inocente já
não consegue falar-lhe sem que a sombra da sua deslealdade se
interponha entre ambos. Assim sucedeu ao homem depois do
pecado. Como o exprime Isaías, ”as vossas iniquidades fazem
divisão entre vós e o vosso Deus”. Isa. 59:2. Para realçar a tragédia
desta separação, o apóstolo Paulo chega a dizer que ficámos
”inimigos de Deus”. Rom. 5:10; 8:7.
Mas a divisão não se operou apenas no campo afectivo; atingiu a
própria realidade ontológica. Como o ramo cortado do tronco já não
participa da sua seiva e acaba por secar, assim também o homem,
cortado de Deus pelo pecado, já não participa da Sua vida.
Segundo o apóstolo Paulo, com o pecado ficámos ”separados da
vida de Deus”. Efésios 4:18.

Perda da Visão Clara das Realidades Espirituais e


Eternas

Começando por não compreender nitidamente a anomalia da sua


situação, o homem termina por não saber qual a verdadeira
solução para os seus problemas espirituais. O exame das diferentes
religiões antigas e modernas, com as suas concepções trágicas ou
ridículas, mas sempre contraditórias, com as suas Práticas
ascéticas ou dissolutas, mas sempre ineficazes, revela cono, em
consequência do pecado, os homens ficaram ”entenebrecidos no
entendimento”. Efés. 4:18. Os próprios filósofos, depois de
dedicarem o seu tempo e inteligência ao estudo dos Problemas da
origem, comportamento e destino do homem, con-
56 Alegria da Salvação Consequências Desastrosas de uma Infeliz opção

57

tradizendo-se mutuamente, não conseguindo uma resposta


satisfatória, chegam a propor explicações e soluções pueris.
”Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos.” Rom. 1:22. Resumindo,
declara o apóstolo Paulo: ”O homem natural não compreende as
coisas do Espírito de Deus.” l Corintos 2:14. Ou como afirma noutro
texto: ”O deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos,
para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de
Cristo, que é a imagem de Deus.” 2 Coríntios 4:4.

Incapacidade do Homem para Corrigir Sozinho a


sua Natureza Corrompida
Quanto mais conhecemos o nosso íntimo melhor sabemos que
somos intrinsecamente maus. ”Enganoso é o coração, mais do que
todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” Jeremias 17:9.

Com os seus esforços naturais para corrigir-se, o homem consegue


apenas modificar o exterior, a ponto de ser considerado como justo
pelos seus semelhantes. No foro íntimo, ele continua a ser sempre
um derrotado. Na realidade, ”pode o etíope mudar a sua pele, ou o
leopardo as suas manchas? Nesse caso também vós podereis fazer
o bem, sendo ensinados a fazer o mal” (hebr., ”estando habituados
a fazer o mal”). Jeremias 13:23. ”Quem do imundo tirará o puro?” -
pergunta Job. E ele mesmo responde: ”Ninguém.” Job 14:4.

Esta impossibilidade de transformação já era reconhecida pelos


antigos pagãos. Lamentava-se Ovídio: ”Vejo o que é bem. E aprovo-
o; mas sigo o que é mal.”1

Não necessitamos, porém, de recorrer aos pagãos para chegar a


essa conclusão. Ouçamos as confidências do apóstolo Paulo: ”O
que faço, não o aprovo; pois o que quero isso não faço, mas o que
aborreço isso faço. ...Eu sei que em mim, isto é, na minha carne,
não habita bem algum: e com efeito o querer está em mim, mas
não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas
o mal que não quero esse faço. ...Vejo nos meus membros outra lei,
que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende
debaixo da lei do pecado que está
nos meus membros.” Rom. 7:15, 18, 19, 23. Descreve ele a mesma
luta, noutra epístola, nestes termos: ”A carne cobiça contra o
espírito, e o espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro,
para que não façais o que quereis.” Gál. 5:17.

Interpretando os sentimentos de toda a humanidade decaída,


incapaz, pelos seus próprios recursos, de se transformar, exclama:
”Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta
morte?” Rom. 7:24.

Em tal situação o homem tem uma vida insatisfeita e vazia. Na


verdade, ele não foi criado para se sentir feliz com as coisas
transitórias deste mundo, ”porque tudo o que há no mundo, a
concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba
da vida, não é do Pai mas do mundo. E o mundo passa e a sua
concupiscência.” l João 2:16, 17.

O homem foi criado para viver em harmonia com Deus e não vive.
Destinado a uma nobre posição, vive uma vida falhada, ”destituído
da glória de Deus” (Rom. 3:23), ”não tendo esperança e sem Deus
no mundo”. Efésios 2:12. Daí a tragédia da sua existência.
Mas não desanimemos. Se há motivo para alarme, há também
possibilidade de remediar a situação. Talvez não nos tivéssemos
dado conta de que estamos tão doentes. Na nossa ignorância
caminhávamos para a morte. Sabemos agora que a nossa doença é
grave. Não há cura humana para ela. Há, porém, um médico capaz
de nos curar. Esse médico é Jesus.
Referências

(1) Ovídio, Metamorfoses, Uv. VII, 19, 20.


11’

Arautos de Boas
Novas
dEPOIS da Sua morte e ressurreição, Jesus apareceu
a dois discípulos que se dirigiam
a aldeia de Emaús e ”começando por
Moisés e todos os profetas, explicava-lhes o
que d’Ele se achava em todas as Escrituras”.
Lucas 24:27.
No mesmo dia, manifestando-Se aos apóstolos que se achavam
reunidos no Cenáculo, disse-lhes: ”São estas as palavras que vos
disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse
tudo o que de Mim estava escrito na Lei de Moisés, e nos Profetas e
nos Salmos. Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem
as Escrituras.” Lucas
24:44, 45.

As Escrituras do Antigo Testamento eram então, como aliás ainda


hoje entre os judeus, divididas em três partes: a Lei (Torah), os
Profetas (Nebhiim) e os Agiógrafos (Kethubhim), Parte esta também
conhecida pela designação de Os Salmos, Pelo facto de começarem
pelo livro de Salmos.

Não sabemos exactamente quais foram os textos citados por Jesus,


mas sabemos que a Ele se referem numerosos textos do Antigo
Testamento.

(59)
60
Referências a Cristo nos Livros da Lei

Como já tivemos a oportunidade de registar, logo após a defecção


de Adão e Eva, foi proferida por Deus a primeira grande promessa:
”Porei inimizade entre ti [Satanás] e a mulher [Eva]; e entre a tua
semente [os ímpios] e a sua semente [Jesus]; esta te ferirá a
cabeça [derrota de Satanás e sua sentença de morte eterna] e tu
Lhe ferirás o calcanhar [morte de Cristo tentada por Satanás mas
vencida pela Sua ressurreição].” Génesis 3:15.

Promessas aos Patriarcas

Ao patriarca Abraão, como antepassado do vindouro Messias, foi


renovada a promessa: ”Em tua semente serão benditas todas as
nações da Terra.” Génesis 22:18. Idênticas palavras foram dirigidas
ao seu filho Isaac (Gen. 26:4) e ao seu neto Jacob. Gén. 28:14.

Ao seu bisneto Judá foi, por sua vez, prometido: ”O ceptro não se
arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha
Shiloh1 e a Ele se congregarão os povos.” Gén. 49:10. Sacrifícios e
Festividades Rituais

Após a desobediência de Adão e Eva, foi instituído o sistema de


ofertas sacrificiais, de modo que a morte, em vez de sobrevir
imediatamente ao transgressor, fosse transferida para uma vítima
que devia prefigurar a grande e perfeita oferenda do Filho de Deus.

Tal foi a oferta ”dos primogénitos das ovelhas” de Abel, da qual é


referido que ”atentou o Senhor para Abel e a sua oferta”. Gén. 4:4.

Só mais tarde, por intermédio de Moisés, foi o sistema


institucionalizado no ritual do santuário, através dos mais variados
sacrifícios, especificados em pormenor nos primeiros sete capítulos
do livro de Levítico.

Nesses sacrifícios estava sempre presente a figura do sacerdote


oficiante que, por sua vez, prefigurava o ministério sacerdotal de
Cristo.

A Alegria da Salvação Cautos de Boas Novas

61
Durante o ano eclesiástico, várias solenidades apontavam
igualmente para o papel de Cristo no glorioso plano da salvação: a
Páscoa (Êxodo 1:28; Levítico 23:4-8); a oferenda das Primícias (Lev.
23:9-14); a festa das Semanas ou Pentecostes (Lev. 23:15-25); a
solenidade das Expiações (Lev. 23:26-32); a festa das Tendas ou
Tabernáculos (Lev. 23:33-42). Referências a Cristo nos Profetas

Dentre as numerosas predições referentes ao Messias,


destaquemos apenas algumas.

1. Descenderá de David: ”Naqueles dias e naquele tempo farei que


brote a David um Renovo de Justiça, e Ele fará juízo e justiça na
terra. ...E este será o nome que Lhe chamarão: O Senhor é nossa
justiça.” Jeremias 33:15,16 (cf. Mat. 1:6; Luc.
4:31).

2. Nascerá de uma virgem: ”Eis que uma virgem conceberá, e dará


à luz um filho, e será o Seu nome Emanuel [Deus connosco].” Isaías
7:14 (cf. Mat. 1:18).

3. Local do Seu nascimento: ”E tu, Belém, Efrata,(3) posto que


pequena entre milhares de Judá, de ti Me sairá o que será Senhor
em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os
dias da eternidade.” Miqueias 5:2 (cf. Mat. 2:3-
6).

4. O Seu precursor - João Baptista: ”Eis que Eu envio o Meu anjo,(4)


que preparará o caminho diante de Mim.” Malaquias
3:1. ”Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor,
endireitai no ermo vereda ao nosso Deus.” Isaías
40:3 (cf. Mat. 3:3).

5. O ano em que devia começar o Seu ministério - 27 da era cristã:


”Desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém
até ao Messias o Príncipe, sete semanas e sessenta e duas
semanas”.(5) Daniel 9:25.

6. O Seu ministério começaria na Galileia: ”A terra, que foi


angustiada, não será entenebrecida. Ele envileceu, nos primeiros
tempos, a terra de Zebulon, e a terra de Naftali, mas nos últimos a
enobreceu, junto ao caminho do mar, além do Jordão, a Galileia dos
gentios. O povo que andava em trevas
62

viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra


da morte resplandeceu a luz.” Isaías 9:1, 2 (cf. Mat.
4:12-16).

7. Características do Seu ensino e das Suas obras: a) Conteúdo da


Sua pregação: ”O Espírito do Senhor Jeová está sobre Mim, porque
o Senhor Me ungiu para pregar boas novas aos mansos; enviou-Me
a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos
cativos, e a abertura de prisão aos presos; a apregoar o ano
aceitável do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar
todos os tristes.” Isa. 61:1,2 (cf. Luc. 4:16-21). b) Humildade no Seu
trabalho: ”Não clamará, não Se exaltará, nem fará ouvir a Sua voz
na praça.” Isa. 42:22 (cf. Mat. 12:19). c) Sua ternura e compaixão:
”A cana trilhada não quebrará, nem apagará o pavio que fumega.”
Isa. 42:3 (cf. Mat. 12:20). d) Sua solicitude: ”Como pastor
apascentará o Seu rebanho; entre os Seus braços recolherá os
cordeirinhos, e os levará no Seu regaço; as que amamentam, Ele
guiará mansamente.” Isa. 40:11 (cf. JoãolO:ll, 12).

8. Data da Sua paixão e morte - 31 da era cristã: ”Ele firmará um


concerto com muitos por uma semana; e na metade da semana
fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares.” (6) Daniel 9:27.

9. O chamado Evangelho de Isaías, com pormenores da Sua paixão.


Isaías 52:13-15; 53:1-12.

10. Semana da paixão - a) Sua entrada em Jerusalém: ”Alegrate


muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém; eis que o teu rei
virá a ti, justo e salvador, pobre e montado sobre um jumento,
sobre um asninho, filho de jumenta.” Zacarias
9:9 (cf. Mat. 21:1,4, 5). b) Traição de Judas: ”Se parece bem aos
vossos olhos, dai-me o que é devido; e, se não, deixaio. E pesaram
o meu salário, trinta moedas de prata. O Senhor pois me disse:
Arroja isso ao oleiro, esse belo preço em que fui avaliado por eles. E
tomei as trinta moedas de prata, e as arrojei ao oleiro na casa do
Senhor.” Zac. 11:12,
13 (cf. Mat. 26:14,15; 27: 7, 9,10). c) Abandonado pelos discípulos:
”Ó espada, ergue-te contra o meu pastor, e contra

_A_Alegria_da_Salvação Arautos de Boas Novas


o varão que é o meu companheiro, diz o Senhor dos Exércitos; fere
o pastor, e espalhar-se-ão as ovelhas.” Zac.
13:7 (cf. Mat. 26:31, 56). d) Seu silêncio perante provocações: ”Ele
foi oprimido, mas não abriu a Sua boca; como um cordeiro foi
levado ao matadouro, e, como a ovelha muda perante os seus
tosquiadores, Ele não abriu a Sua boca.” Isaías 53:7 (cf. Mat. 26:63;
27:12-14). e) Batido no rosto: ”Ferirão com a vara no queixo ao juiz
de Israel.” Miqueias 5:1 (cf. Mat. 26:67; 27:30). f) Açoitado e
cuspido: ”As Minhas costas dou aos que Me ferem, e as Minhas
faces aos que Me arrancam os cabelos e Me cospem.” Isaías 50:6
(cf. Marcos 14:65).

11. Sua morte: ”Foi cortado da terra dos viventes; pela


transgressão do Meu povo foi Ele atingido.” Isaías 53:8. ”E olharão
para Mim, a quem traspassaram.” Zac. 12:10 (cf. João 19:34, 37).

12. Não será sepultado, como seria de esperar dada a Sua morte
ignominiosa, numa vala comum, mas numa sepultura honrosa: ”E
puseram a Sua sepultura com os ímpios, e com o rico na Sua
morte, porquanto nunca fez injustiça, nem houve engano na Sua
boca.” Isaías 53:9 (cf. Mat. 27:57-60).

Referências a Cristo nos Salmos

No livro de Salmos, encontram-se vários Salmos messiânicos. Entre


eles, merecem menção particular os Salmos 2,22,45,69,72 e 110.

Nestes e noutros Salmos, episódios e sentimentos experimentados


na vida de David são citados no Novo Testamento como sendo
aplicados ao próprio Jesus Cristo.

Eis alguns exemplos:

1. Crucificado entre dois malfeitores: ”O ajuntamento de


malfeitores me cercou, traspassam-me as mãos e os pés.” Salmo
22:16 (cf. João 19:18; 20:25).

2. Escarnecido: ”Todos os que me vêem zombam de mim,


estendem os beiços e meneiam a cabeça, dizendo: Confiou no
Senhor, que o livre; livre-o pois nele tem prazer.” Salmo
22:7, 8 (cf. Mat. 27:39-44).
64

3. Deram-Lhe a beber fel e vinagre: ”Deram-me fel por


mantimento, e na minha sede deram-me a beber vinagre.” Salmo
69:21 (cf. Mat. 27:34).

4. Lançaram sortes sobre a Sua túnica: ”Repartem entre si os meus


vestidos, e lançam sorte sobre a minha túnica.” Salmo
22:18 (cf. Mat. 27:35).

5. Sua ressurreição: ”Não deixarás a minha alma [nephesh, vida] no


inferno [sheol, sepultura], nem permitirás que o teu santo veja
corrupção.” Salmo 16:10 (cf.Actos 2:31, 32).

6. Sua ascensão: ”Tu subiste ao alto, levaste cativo o cativeiro;


recebeste dons para os homens.” Salmo 68:18 (cf. Actos 1:9;
Efésios 4:8).

_A_Alegria_da_Salvação Hino SUBIMEMOIU Continiiação)

65
F. M. L.

Sublime Amor
The Love of God

Frederick M. Lehman (1868-1953)

1. Su - bli-mea-mor, oa-mor de Deus, Que a li - rã não tra-du - zi-

2. Seem tin-ta o mar se trans-for-mas-se, E em pa-pel o céu tam-

3. Ex - eel-so a-mor, oa-mor de Deus, Que nos re-miu da per- di -

J
rá! Mai-or que o mar, mai-or que o céu, Já-mais ai - guém compreen-debém.Ea pé - na á- gil dês- li - zás-se, Di-
zen-doo que es-sea-mor conção! Emgra- ti - dão pró-cia-ma - re-mosTãogran-dea-mor e sal- va-

João 15:13

3
d
i 11

i3^:
7

Ao pécador em aflição, têm, Daria fim ao grande mar, Cão. E quando enfim no lar dos Céus,

Seu Filho, Deus entreão esse amor dêscréEm gozoe glória e-ter-

b
8
E?

gou; Ao sófredor deu-lhE a mão, E as culpas lhe perdoou, E o céu seria mui péqueno Pra tal réI atoconnal, Pra
sempré ali desfrutarémós Do grande amor divino.

ter. Sublime amor, o amor de Deus Oh! marãvilha semnal.

pari Por esse amor, eternamente, A Deus irémós louvar.


66

A Alegria da Salvação

O Desejado de Todas as Nações

Alguns destes textos foram sem dúvida recordados pelo Divino


Ressuscitado na Sua conversa com os dois discípulos a caminho de
Emaús e com os apóstolos reunidos no Cenáculo.

Não é, pois, de admirar que os dois discípulos, quando se lhes


abriram os olhos, e O reconheceram, e Ele lhes desapareceu,
tenham comentado ums para os outros: ”Porventura não ardia em
nós o nosso coração quando pelo caminho nos falava e quando nos
abria as Escrituras?” Lucas 24:32.

E será de admirar que a suprema esperança de todo o Antigo


Testamento se concentre na vinda do Salvador, mencionando-O
como sendo, em três simples palavras, ”o Desejado de todas as
nações?” Ageu 2:7.
Referências

(1) Tradução Interconfessional: ”O ceptro não será tteádo a Judá nem o bastão de comando que
ele tem nas mãos, até que venha aquele a quem ele pertence, a quem os povos devem
obediência.”.

Novas

de Grande
Alegria
(67)
A Encarnação

do Verbo de

Deus
4 encarnação do Verbo de Deus - Verbo, Palavra, revelação
suprema do carácter e pensamento divino - é a mais assombrosa
manifestação de amor jamais observada no longo percurso da
História do Mundo. Ela faz parte do ”mistério, que desde os séculos
esteve oculto em Deus, que tudo criou”. Efésios 3:9.

Insere-se no ”mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e


em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos Seus santos”.
Colossenses 1:26.
Ela é o cumprimento da ”graça que nos foi dada em Cristo Jesus
antes dos tempos dos séculos”. 2 Timóteo 1:9.
Ela traz até nós o Salvador que ”em outro tempo foi conhecido,
ainda antes da fundação do Mundo, mas manifestado nestes
últimos tempos por amor de vós” - na realidade, por amor de nós.
Prolepticamente, a encarnação do Verbo de Deus, coloca no Seio da
humanidade ”o Cordeiro que foi morto desde a fundação do
mundo”. Apocalipse 13:8.
No insondável mistério da encarnação, também chamado ”o
jjústério da piedade” (l Timóteo 3:16), vemos o Filho de Deus
numilhar-Se até ao ponto de assumir a natureza humana, em con-
(69)
70

_A Alegria da Salvação Encarnação do Verbo de Jesus_

traste com ”o mistério da iniquidade” (2 Tessalonicenses 2:7), em


que o ser criado se exalta até querer parecer Deus. Neste mistério,
o divino Verbo manifestado em carne coloca-nos em presença dos
inesgotáveis tesouros da Sua misericórdia, compaixão e abnegado
amor: a Sua misericórdia - a abordagem da miséria humana pelo
calor do coração divino; a Sua compaixão - o pulsar do coração
divino em uníssono com o sofrimento humano; o Seu abnegado
amor - a renúncia à glória do Céu posta ao serviço da restauração
humana.

Objectivos da Encarnação

Planeada pela omnisciência e previdência divina, antes da rebelião


de Lúcifer e dos seus anjos no Céu e da defecção de Adão e dos
seus descendentes na Terra, a encarnação do Filho de Deus
obedeceu a múltiplos propósitos, alguns deles extensivos a todos
os seres inteligentes do vasto Universo.
Dentre esses objectivos, ousamos atrever-nos a descortinar alguns.

1. Revelar o verdadeiro carácter de Deus - não o désposta egoísta e


opressor como era descrito por Lúcifer, mas um Deus repleto de
expansivo amor e de abnegado espírito de serviço.

2. Provar que os princípios legislativos do governo de Deus são


justos e adequados à felicidade dos seres inteligentes, e não
ditatoriais e impossíveis de cumprir como pretendia Lúcifer na sua
rebelião.

3. Tornar patente o verdadeiro carácter de Satanás - a sua soberba,


a sua inveja, a sua ambição, o seu constante recurso à mentira e à
crueldade.

4. Oferecer a possibilidade de recuperação à humanidade


enganada, seduzida e escravizada por Satanás, e por ele imergida
no sofrimento e na perda da vida eterna.

5. Evitar que outros seres inteligentes e livres, habitantes de outros


mundos não caídos, venham a cair no erro cometido por Lúcifer e
os seus anjos.
6. Restaurar a harmonia do Universo, temporariamente afectada
pela rebelião satânica e as suas nefastas repercussões.

O Plano Divino em Acção

Na sua epístola aos Filipenses, capítulo 2, versículos 5 a 8, escreveu


o apóstolo Paulo: ”Haja em vós o mesmo sentimento que houve
também em Cristo Jesus que, sendo em forma de Deus, não teve
por usurpação ser igual a Deus, mas aniquilou-Se a Si mesmo
tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens; e
achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo
obediente até à morte, e morte de cruz.”

Neste texto várias palavras merecem uma atenção especial no


âmbito do estudo que estamos fazendo.

Salientemos, em primeiro lugar, a palavra ”forma” (gr. morphé). No


versículo 6 é atribuída a Jesus a ”forma de Deus” da mesma
maneira que no versículo 8 Lhe é atribuída a ”forma [não apenas a
aparência] de homem”. Na realidade, Cristo, sendo verdadeiro
Deus, tornou-Se verdadeiro homem.
Mas era Ele verdadeiro Deus? Sim! No dizer do apóstolo, Jesus, ao
afirmar-Se igual a Deus, não estava cometendo nenhuma
usurpação, nenhum roubo, de algo que Lhe não pertencia. Ele era,
de facto, divino.
E que fez Ele? ”Aniquilou-Se (gr. ekénosen, esvaziou-Se) a Si
mesmo. Noutros termos, esvaziou-Se por completo dos atributos
divinos, passando a viver como um simples homem, na humilde
condição de servo, ”sendo obediente até à morte, e morte de cruz”.
E foi assim que, ”vindo a plenitude dos tempos” (Galatas
4:4), ”o Verbo Se fez carne e habitou entre nós, e vimos a Sua
glória, como a glória do unigénito do Pai, cheio de graça e de
verdade” - cheio de graça como Salvador e de verdade como
Mestre.

Novas de Grande Alegria

A origem sobrenatural do nascimento de Jesus encontra-se


registada, sobretudo, nos evangelhos de Mateus e de Lucas.
72

Segundo o evangelho de Lucas, cap. l, vers. 26-38, ”o anjo Gabriel


apareceu certo dia a uma virgem que morava em Nazaré, na
Galileia, desposada com José” - mas ”antes de se ajuntarem”,
segundo informa Mateus (1:18) - e saudou-a, dizendo: ”Salve,
agraciada; o Senhor é contigo; bendita és tu, entre as mulheres.”

Perante aquele inesperado aparecimento e aquela estranha


saudação, Maria ficou profundamente perturbada, mas o anjo
acalmou-a, dizendo: ”Não temas, Maria, porque achaste graça
diante de Deus; e eis que em teu ventre conceberás e darás à luz
um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus. Este será grande, e será
chamado filho do Altíssimo.”

Maria, porém, retorquiu: ”Como se fará isto, visto que não conheço
varão?”

Mas o anjo uma vez mais a apaziguou, dizendo: ”Descerá sobre ti o


Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a Sua
sombra; pelo que também o Santo, que de ti há-de nascer, será
chamado Filho de Deus.”

E o encontro terminou com a submissão de Maria, disposta a


desempenhar, como hoje se diria e com o devido respeito, a função
de mãe de empréstimo do esperado Messias, anuindo com as
singelas palavras: ”Eis aqui a serva do Senhor, cumpra-se em mim
segundo a tua palavra.” E o anjo ausentou-se dela.

Passados nove meses, enquanto os pastores de Belém guardavam


durante as vigílias da noite o seu rebanho, ”eis que o anjo do
Senhor veio sobre eles, e a glória do Senhor os cercou de
resplendor”.

Atemorizados, o anjo os tranquilizou, dizendo: ”Não temais, porque


eis aqui vos trago novas de grande alegria que será para todo o
povo; pois na cidade de David vos nasceu hoje o Salvador, que é
Cristo, o Senhor. E isto vos será por sinal: Achareis o Menino
envolto em panos e deitado numa manjedoura.”

”E, naquele mesmo instante, apareceu com o anjo uma multidão


dos exércitos celestiais, louvando a Deus, e dizendo:
Alegria da Salvação A Encarnação do Verbo de Deus

’Glória a Deus nas alturas, paz na Terra, boa vontade para com os
homens’.”

E, tendo-se ausentado os anjos, disseram os pastores uns aos


outros: ”Vamos até Belém, e vejamos isso que aconteceu, e que o
Senhor nos fez saber.”

”E foram apressadamente, e ali acharam Maria, e José, e o Menino


deitado numa manjedoura.” Lucas 2:8-16.
O Calor

Humano de

Jesus
NQUANTO esteve aqui na Terra, Jesus, embora sem (lual(quer
atitude de usurpação, tivesse pleno direito de ostentar a Sua
divindade e e como tal reclamar o tratamento de Filho de Deus,
porque na verdade o era, sempre Se referiu a Si mesmo como
sendo o Filho do homem. Mais de oitenta vezes no Novo
Testamento Se atribui a Si mesmo esse título, o que mostra até que
ponto Ele Se identificou com a humanidade. Daí o calor humano
que irradia da Sua pessoa.

Já no Antigo Testamento se pressente essa tão atraente


característica do prometido Messias Salvador.
Dentre os profetas veterotestamentários ninguém melhor do que
Isaías captou e registou essa realidade.
Segundo ele, o Messias vindouro ”não Se exaltará”, ”a cana
trilhada não quebrará, nem apagará o pavio que fumega”, predição
essa evocada pelo evangelista Mateus ao descrever a maneira
como Jesus Se relacionava com os pecadores. Isaías 42:1-3; cfr.
Mateus 12:17-21.

Na Sua boca põe o profeta as amorosas palavras: ”Pode uma


mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que se não com-
(75)
76
padeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se
esquecesse, Eu, todavia, Me não esquecerei de ti. Eis que nas
palmas das Minhas mãos te tenho gravado.” Isaías 49:17,18.

Ao narrar a paixão do Salvador, no chamado proto-evangelho do


Antigo Testamento, Isaías apresenta-O como ”homem de dores e
experimentado nos trabalhos; como um de quem os homens
escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos d’Ele caso
algum. Verdadeiramente Ele tomou sobre Si as nossas
enfermidades, e as nossas dores levou sobre Si; e nós O reputámos
por aflito, ferido de Deus e oprimido. Ele foi ferido pelas nossas
transgressões, e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos
traz a paz estava sobre Ele, e pelas Suas pisaduras fomos
sarados.... Ele foi oprimido, mas não abriu a Sua boca; como um
cordeiro foi levado ao matadouro, e, como ovelha muda perante os
seus tosquiadores, Ele não abriu a Sua boca” Isaías 53:3-7.

O próprio Senhor Jesus, ao abrir na sinagoga de Nazaré, num dia de


Sábado, o livro do profeta Isaías, leu nele, como aplicando-se a Si
mesmo, as seguintes palavras: ”O Espírito do Senhor é sobre Mim,
pois que Me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-Me a curar os
quebrantados do coração, a apregoar liberdade aos cativos, e dar
vista aos cegos; a pôr em liberdade os oprimidos; a anunciar o ano
aceitável do Senhor.” Isaías 61:1, 2; cfr. Lucas 4:18, 19.

Finalmente, condensando em breves palavras a maneira como


Jesus Se identificaria com a humanidade caída, afirma o profeta:
”Em toda a angústia deles foi Ele angustiado. Pelo Seu amor e pela
Sua compaixão Ele os remiu.” Isaías 63:9.

Depois de Isaías, outro profeta põe na boca dos remidos, em


conversa com o Salvador no Reino da Glória, ao observarem nas
Suas mãos as cicatrizes dos cravos: ”Que feridas são essas nas
Tuas mãos?” Ele dirá: ”São as feridas com que fui ferido na casa
dos Meus amigos.” Zacarias 13:6.

Mas, como é lógico, é no Novo Testamento que podemos sentir,


palpitante, o calor que irradia da pessoa de Jesus. Mencionemos
apenas alguns exemplos.

A. Alegria da Salvação O Calor Humano de Jesus


77

Suas Carências e Manifestações Humanas

a) Como nós, Jesus experimentou fome e sede. No deserto, Ele


”teve fome”. Mateus 4:2. Na cruz, exclamou: ”Tenho sede.” João
19:20.

b) Sentiu, como nós, a necessidade de dormir. Quando se levantou


no mar da Galileia uma grande tempestade, Jesus ”estava
dormindo”. Mateus 8:24.

c) Também Se cansava como nós. ”Jesus, pois, cansado do


caminho, assentou-Se assim junto da fonte.” João 4:6.

d) Também Ele soube o que era sentir-Se triste. No Getsémane, o


Salvador ”começou a entristecer-Se e a angustiar-Se muito. Então
lhes disse: A Minha alma está cheia de tristeza até à morte.”
Mateus 26:37, 38.

e) Ele sabia o que era chorar: ”Jesus chorou.” João 11:35. ”E


quando ia chegando, vendo a cidade, chorou sobre ela.” Lucas
19:41.

f) Como nós, Ele foi tentado. No deserto, ”quarenta dias foi tentado
pelo diabo”. Lucas 4:2. Lemos na epístola aos Hebreus: ”Não temos
um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas
fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem
pecado.” Hebreus 4:15.

g) Também Ele sentiu a necessidade de orar. ”Levantando-Se de


manhã muito cedo, fazendo ainda escuro, saiu, e foi para um lugar
deserto, e ali orava.” Marcos 1:35. ”E aconteceu que naqueles dias
subiu ao monte a orar, e passou a noite em oração a Deus.” Lucas
6:12.

h) Na Sua aflição, o organismo reagiu com suor: ”Posto em agonia,


orava mais intensamente. E o Seu suor tornou-se em grandes gotas
de sangue, que corriam até ao chão.” Lucas 22:44.
m
78

A Alegria da Salvação

Sua Paixão

a) Jesus foi preso. ”Lançaram-Lhe as mãos, e O prenderam.” Marcos


14:6.

b) Foi esbofeteado. ”Um dos criados que ali estavam deu uma
bofetada em Jesus.” João 18:22. ”E davam-Lhe bofetadas.” João
19:3.

c) Ataram-Lhe as mãos. ”Anás mandou-O, maniatado, ao sumo


sacerdote Caifás.” João 18:24.

d) Foi açoitado. ”Pilatos pois tomou então a Jesus, e O açoitou.”


João 19:1.

e) Foi escarnecido e cuspido. ”Vestiram-n’O de púrpura, e, tecendo


uma coroa de espinhos, Lha puseram na cabeça. E começaram a
saudá-lO, dizendo: Salve, Rei dos Judeus! E feriram-n’O na cabeça
com uma cana, e cuspiram n’Ele, e, postos de joelhos, O
adoraram.” Marcos 15:17-19; João
19:2,3.

f) Crucificaram-n’O. ”E havendo-O escarnecido, despiram-Lhe a


púrpura, e O vestiram com os Seus próprios vestidos; e O levaram
fora a fim de O crucificarem.” Marcos 15:20. ”E quando chegaram
ao lugar chamado a Caveira, ali O crucificaram, e aos malfeitores,
um à direita e outro à esquerda.” Lucas 23:33.

g) Sua morte. ”E clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas
Tuas mãos entrego o Meu espírito. E, havendo dito isto, expirou.”
Lucas 23:46 cfr. Romanos 5:8; 2 Coríntios 5:14, 15.
h) Sua sepultura. ”E José, tomando o corpo, envolveu-o num fino e
limpo lençol, e o pôs no seu sepulcro novo, que havia aberto em
rocha, e, rodando uma grande pedra para a porta do sepulcro, foi-
se.” Mateus 27:59, 60.

O Calor Humano de Jesus

79

Seu Relacionamento com o Próximo

a) Perante a multidão. ”Vendo a multidão, teve grande compaixão


deles, porque andavam desgarrados e errantes, como ovelhas que
não têm pastor.” Mateus 9:36.

b) No trato com as crianças. ”Trouxeram-Lhe então alguns meninos,


para que sobre eles pusesse as mãos, e orasse; mas os discípulos
os repreendiam. Jesus, porém, disse: Deixai os meninos, e não os
estorveis de vir a Mim; porque dos tais é o reino dos céus.” Mateus
19:13, 14.

c) Na maneira como observou a viúva pobre. ”Vindo, porém, uma


pobre viúva, deitou duas pequenas moedas, que valiam um
quadrante. E, chamando os Seus discípulos, disse-lhes: Em verdade
vos digo que esta pobre viúva deitou mais do que todos os que
deitaram na arca do tesouro; porque todos ali deitaram do que lhes
sobejava mas esta, da sua pobreza, deitou tudo o que tinha, todo o
seu sustento.” Marcos 12:42-44. Ver também o Seu relacionamento
com o lar de Betânia. João
11:5.

d) Sua simpatia para com as mães, ”A mulher, quando está para


dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas, depois
de ter dado à luz a criança, já se não lembra da aflição, pelo prazer
de haver nascido um homem no mundo. Assim também vós agora,
na verdade, tendes tristeza; mas, outra vez vos verei, e o vosso
coração se alegrará e a vossa alegria ninguém vo-la tirará.” João
16:21, 22.

e) Solicitude para com a Sua própria mãe. ”Ora Jesus, vendo ali Sua
mãe, e que o discípulo a quem Ele amava estava presente, disse a
Sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí
tua mãe.” João 19:26, 27.
80

A Alegria da Salvação

Declarações de Jesus

As palavras saídas dos lábios de Jesus na hora suprema do Juízo


tomam evidente até que ponto o Salvador Se identifica com os
representantes mais carenciados da família humana: ”Então dirá o
Rei aos que estiverem à Sua direita: Vinde, benditos de Meu Pai,
possuí por herança o reino que vos está preparado desde a
fundação do mundo; porque tive fome, e destes-Me de comer; tive
sede, e destes-Me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-Me;
estava nu, e vestistes-Me; adoeci, e visitastes-Me; estive na prisão,
e fostes ver-Me. Então os justos Lhe responderão, dizendo: Senhor,
quando Te vimos com fome, e Te demos de comer? Ou com sede, e
Te demos de beber; e quando Te vimos estrangeiro, e Te
hospedámos; ou nu, e Te vestimos; e quando Te vimos enfermo, ou
na prisão, e fomos ver-Te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em
verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes Meus
pequeninos irmãos, a Min o fizestes.” Mateus 25:34-40.

Por outro lado, como é possível resistir ao calor humano de


declarações de Jesus, tais como estas, registadas pelo evangelista
João:

”O que vem a Mim de maneira nenhuma o lançarei fora.” João 6:37.

”Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância... Eu


sou o bom Pastor, e conheço as Minhas ovelhas, e das Minhas sou
conhecido, ...e dou a Minha vida pelas ovelhas. E dou-lhes a vida
eterna, e nunca hão-de perecer, e ninguém as arrebatará da Minha
mão.” João 10:10,14,15, 28.

E que dizer do Seu desejo de nos ter consigo por toda a eternidade?
”Vou preparar-vos lugar... Virei outra vez, e vos levarei para Mim
mesmo, para que onde Eu estiver estejais vós também.” João 14:2,
3. E da oração que nesse sentido dirigiu a Seu Pai! ”Pai, aqueles
que Me deste quero que, onde Eu estiver, também eles estejam
comigo.” João 17:24.

E quem se não sentirá tocado com o tranquilizador convite de


Jesus: ”Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e
O Calor Humano de Jesus 81

Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim que
sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as
vossas almas. Porque o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve.”
Mateus 11:28-30.

Parábolas de Jesus

Ao lermos algumas parábolas de Jesus não podemos deixar de ficar


impressionados com os tesouros de ternura nelas contidos.
Leiamos, uma vez mais, as seguintes parábolas:

a) O bom Samaritano. Lucas 10:25-37.

b) A ovelha perdida. Lucas 15-4-7.

c) A dracma perdida. Lucas 15:8-10.

d) O Filho Pródigo. E seu Pai. Lucas 15:11-32.

Milagres de Jesus

Notemos como a compaixão foi o motivo que levou Jesus a operar


muitos dos Seus milagres. Alguns exemplos:

a) Ressurreição do filho da viúva de Nairn. ”Vendo-a, o Senhor


moveu-se de íntima compaixão por ela, e disse-lhe: Não chores.”
Lucas 7:13.

b) Por altura da primeira multiplicação dos pães. ”E Jesus saindo,


viu uma grande multidão, e possuído de íntima compaixão para
com ela, curou os seus enfermos.” Mateus 14:14.

c) Por altura da segunda multiplicação dos pães: ”Jesus, chamando


os Seus discípulos, disse: Tenho compaixão da multidão, porque já
está comigo há três dias e não tem que comer; e não quero
despedi-la em jejum, para que não desfaleça no caminho.” Mateus
15:32.
d) Os dois cegos de Jericó. ”Então Jesus, movido de íntima
compaixão, tocou-lhes nos olhos, e logo virm; e eles O seguiram.”
Mateus 20:34.
82

A Alegria da Salvação

O Calor Humano de Jesus

Jesus no Céu
Depois da Sua ascensão à glória do Pai, Jesus não deixou arrefecer
os laços afectivos que O ligam àqueles em favor de quem ofereceu
a Sua vida em sacrifício na cruz do Calvário. De maneira nenhuma!
Os Seus remidos podem ser desprezados aqui na Terra, mas Ele, o
Rei da Glória, ”não Se envergonha de lhes chamar irmãos”.
Hebreus 2:11.

No Céu, ”não temos um sumo sacerdote que não possa


compadecer-se das nossas fraquezas; porém um que, como nós,
em tudo foi tentado, mas sem pecado. Cheguemos pois com
confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar
misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo
oportuno.” Hebreus 4:15, 16.

Estando o apóstolo João exilado na ilha de Patmos, Jesus ditou- lhe


sete cartas dirigidas a sete igrejas da Ásia Menor, cartas essas que
ao mesmo tempo retratavam as condições da Igreja cristã ao longo
de sete períodos da sua história. A carta à igreja de Smirna abarca
o período das perseguições movidas pelo Império Romano, entre as
quais sobressaiu a que se iniciou com Diocleciano em que os
crentes foram perseguidos durante dez anos, de 303 a 313. Em
todas as outras cartas Jesus dirige algumas palavras de censura,
alertando os crentes quanto ao eventual arrefecimento da sua fé.
Mas na carta à igreja de Smirna não se encontra a mínima palavra
de censura. Como podia Jesus deixar de Se enternecer pelos fiéis
amigos que por Ele estavam sofrendo e morrendo? Por isso, em vez
de os censurar, limita-Se a dirigir-lhes palavras de terno
encorajamento: ”O diabo lançará alguns de vós na prisão, para que
sejais tentados; e tereis uma tribulação de dez dias (dez dias
proféticos - dez anos). Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da
vida.” Apocalipse 2:8-11.

Conclusão
Ao sentirmo-nos tão tocados na vida presente pelo calor humano
de Jesus, como nos não sentiremos quando tivermos o privilégio de
O contemplar face a face! Ditoso o dia em que, como nos é
prometido em Isaías 33:17, ”Os teus olhos verão o Rei na Sua
formosura; e verás a Terra que está longe!”
A Missão

Expiatória de

Cristo
pERANTE a desobediência dos nossos primeiros pais, seduzidos e
enganados pelas mentirosas afirmações e decepcionantes
promessas de Satanás, chegou o momento de pôr em execução o
plano que ”desde os tempos eternos” fora estabelecido entre o Pai
e o Seu unigénito Filho - não a expressão de um Deus irado, mas a
manifestação de um extremoso amor.

Esse divino plano encontra-se condensado em palavras tão simples


como estas:

”Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigénito,
para que todo aquele que n’Ele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna. Porque Deus enviou o Seu Filho ao mundo, não para que
condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele.”
João 3:16,17.

”Deus prova o Seu amor para connosco, em que Cristo morreu por
nós, sendo nós ainda pecadores.” Romanos 5:8.

”Nisto se manifestou o amor de Deus para connosco: que Deus


enviou o Seu Filho unigénito ao mundo, para que por Ele vivamos.
Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas
em que Ele nos amou a nós, e enviou Seu Filho para propiciação
pelos nossos pecados.” l João 4:9,10.

No cumprimento desse plano, o imaculado Filho de Deus,


(85)
86

A Alegria da Salvação

87

identificando-Se com o homem caído, solidarizando-Se com ele em


busca de uma solução para os seus problemas, torna-Se seu
Substituto e Fiador, oferecendo-Se para levar uma vida de
obediência como a que Adão devia ter vivido se não tivesse pecado
e para suportar a angústia da segunda morte em seu lugar, a fim
de que ele possa desfrutar de uma vida digna de ser vivida no
presente e recuperar no futuro a vida eterna, desastrosamente
perdida como resultado da desobediência.

A este propósito é impressionante a frequência com que aparece


nas Escrituras, com relação à obra de Jesus em favor da
humanidade, a expressão ”deu-Se a Si mesmo”, ”entregou-Se a Si
mesmo”.

Apenas alguns exemplos: ”Há um só Deus, e um só Mediador entre


Deus e os homens, Jesus Cristo, homem, o qual Se deu a Si mesmo,
em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu
tempo” (l Timóteo 2:5); ”O qual Se deu a Si mesmo por nós para
nos remir de toda a iniquidade, e purificar para Si um povo Seu
especial, zeloso de boas obras” (Tito 2:14); ”O qual Se deu a Si
mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século
mau, segundo a vontade de Deus, nosso Pai” (Galatas 1:4); ”A vida
que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me
amou, e Se entregou a Si mesmo por mim” (Gál. 2:20).

Esta transacção, em que o Filho de Deus Se torna nosso Substituto,


e em nosso lugar leva, na condição humana, uma vida de
inabalável obediência aos princípios do governo de Deus e sofre,
em nosso lugar, a angústia da segunda morte na cruz do Calvário é
designada nas Escrituras com o nome de Expiação.

Conceito Bíblico de Expiação

As consoantes kpr aparecem em vários vocábulos hebraicos


relacionados com o conceito bíblico de expiação. Assim, kaphar é a
forma kal ou simples do verbo que significa cobrir; kipper é a forma
piei ou intensiva do mesmo verbo, com o mesmo significado; koper
é o correspondente substantivo (donde deriva o yom kippur, como
se diz hoje e o yom ’há kippurim, como vem na Bíblia, o dia 10 do
sétimo mês hebraico em que o santuário e o

A Missão Expiatória de Cristo 87

povo arrependido eram cobertos, purificados); daqui deriva


também o vocábulo kapporet (a tampa que cobria a arca da
aliança). O complemento directo do verbo, com raríssimas
excepções, não é o pecado, mas o pecador e o santuário nas suas
várias componentes. Precedido por ’ai, também não se refere ao
pecado, mas ao pecador e ao santuário.

Ao traduzirem a Bíblia hebraica para o grego, os autores da Versão


dos Setenta (Septuaginta - LXX) tiveram de recorrer à terminologia
das religiões pagãs. Assim foram empregues os verbos hilaskomai
para kaphar, exilaskomai para kipper, o substantivo hilasmos para
koper e kippurim, que significam, respectivamente, apaziguar e
propiciar, apaziguamento e propiciação.

Na Vulgata latina, são empregues os verbos eocpiare, propitiare, e


os substantivos expiatio e propiliatio, donde a tradução portuguesa
de expiar e propiciar, expiação e propiciação.

Na teologia pagã, a salvação é antropocêntrica - baseia-se na


tentativa humana de aplacar a ira divina por meio de ofertas,
sacrifícios e até pela morte de inocentes vítimas humanas.

Na teologia bíblica, a salvação é Cristocêntrica - baseia-se num


Deus que ama o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho
unigénito para que todo aquele que n’Ele crê não pereça, não se
perca, mas tenha a vida eterna.

Os judeus que traduziram a Bíblia para o grego e os autores do


Novo Testamento que usaram a LXX, estavam certamente cônscios
de que embora, à falta de terminologia mais adequada,
empregassem vocábulos das religiões pagãs, se esforçavam por
manter sempre o seu sentido bíblico.

Se nos ativermos ao sentido corrente dos vocábulos expiar e


propiciar, expiação e propiciação, corremos o risco de perder o
verdadeiro sentido bíblico do conceito hoje expresso por essas
palavras. Daí a necessidade de, ao empregá-las, ter sempre
presente o conceito bíblico subjacente.

Através da imolação de um animal inocente, o pecador arrependido


das suas transgressões, coloca toda a confiança no Salvador
vindouro que, como amoroso e abnegado Substituto, pelo sacrifício
da Sua morte vicária, o purifica dos seus pecados e o cobre com a
Sua própria justiça.
88

Como acabámos de ver, o pecador, desde que esteja arrependido


de todas as suas transgressões e se tenha entregue sem reservas
ao seu Salvador, pode ter a certeza, pela fé, de que os seus
pecados estão perdoados e de que ele próprio está coberto pela
justiça de Cristo.

Esta salvação, embora certa no presente, pode, porém, ser perdida


se o pecador voltar à sua anterior atitude de voluntária
desobediência.

A Palavra de Deus é bem clara a este respeito: ”O Senhor falará de


paz ao Seu povo e aos Seus santos contanto que não voltem à
loucura.” Salmo 85:8.

”Desejaria Eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? diz o Senhor


Jeová; não desejo antes que se converta dos seus caminhos e viva?
Mas, desviando-se o justo da sua justiça, e cometendo a iniquidade,
fazendo conforme todas as abominações que faz o ímpio,
porventura viverá? De todas as suas justiças que tiver feito não se
fará memória; na sua transgressão com que transgrediu, e no seu
pecado com que pecou, neles morrerá, ...Mas, convertendo-se o
ímpio da sua impiedade que cometeu, praticando o juízo e a
justiça, conservará este a sua alma em vida; pois que reconsidera,
e se converte de todas as suas transgressões que cometeu,
certamente viverá, não morrerá.” Ezequiel 18:23, 24, 27, 28.

O mesmo pensamento é expresso nas seguintes palavras da


epístola aos Hebreus: ”O justo viverá da fé, e, se ele recuar, a
Minha alma não tem prazer nele.” Hebreus 10:38.

Daí a advertência de Jesus: ”Mas aquele que perseverar até ao fim


será salvo.” Mateus 10:22; 24:13.

E por isso que o processo da salvação não termina, de uma vez


para sempre, no altar do pátio. Transita para o interior do santuário,
aguardando a decisão final no Dia das Expiações.

Nesse dia, ”se fará expiação por vós, para purificar-vos; e sereis
purificados de todos os vossos pecados perante o Senhor. ...[o
Sumo Sacerdote], havendo vestido os vestidos de linho, os vestidos
santos, expiará o santo santuário; também expiará a tenda da
congregação e o altar; semelhantemente, fará a expiação pelos
sacerdotes e por todo o povo da congregação.” Levítico 16:30, 32 e
33.

AAlegria_da Salvação A Missão Expiatória de Cristo

89

No Dia das Expiações, que ainda hoje para os Judeus prefigura o


Juízo, termina o ano judaico. Todo o membro da congregação que,
arrependido, afligir a sua alma é purificado dos seus pecados; por
sua vez, ”toda a alma que naquele mesmo dia se não afligir, será
extirpada do seu povo”. Levítico 23:29.

Com os seus pecados perdoados, alcançada a restauração, começa


para o povo de Israel um novo ano, uma nova vida.

O que nesse dia se passava na purificação do santuário terrestre


era apenas uma figura do que havia de passar-se na purificação do
santuário celeste. Como lemos na epístola aos Hebreus, cap. 9,
vers. 23: ”De sorte que era bem necessário que as figuras das
coisas que estão no Céu assim se purificassem; mas as próprias
coisas celestiais com sacrifícios melhores do que estes.”

Antes da restauração da harmonia universal, quebrada pela


rebelião satânica, tem lugar o Juízo, primeiramente referido pelo
profeta Daniel que, depois de descrever a majestosa presença de
Deus no Seu trono, prossegue a narrativa nos seguintes termos:
”Milhares de milhares O serviam e milhões de milhões estavam
diante d’Ele; assentou-se o Juízo e abriram-se os livros.” Daniel
7:9, 10.

Mais tarde, continua a referir-se ao Juízo o apóstolo João, no livro de


Apocalipse: ”Vi um grande trono branco, e o que estava assentado
sobre ele, de cuja presença fugiu a Terra e o Céu; e não se achou
lugar para eles. E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam
diante do trono, e abriram-se os livros, e abriu-se o outro livro, que
é o da vida. E os mortos foram julgados, pelas coisas que estavam
escritas nos livros, segundo as suas obras.” Apocalipse 20:11, 12.

A primeira fase do Juízo, a dos salvos, que serão levados para o Céu
na segunda vinda de Jesus, é descrita no livro de Daniel; a segunda
fase, a dos ímpios, que não terão parte na vida eterna, é descrita
no livro de Apocalipse.

Acerca do livro da vida, lemos que os nomes dos salvos, cobertos


pelo sacrifício de Jesus, ”estão escritos no livro da vida do Cordeiro,
que foi morto desde a fundação do mundo”. Apocalipse
13:8.

Os ímpios não têm os seus nomes escritos no livro da vida (cf.


90

. A Alegria da Salvação

o mesmo verso.). Aliás, nomes que já lá estiveram podem vir a ser


eliminados. Após a apostasia do povo de Israel junto do Monte
Sinai, Moisés rogou ao Senhor: ”Este povo pecou pecado grande,
fazendo para si deuses de ouro. Agora, pois, perdoa o seu pecado;
se não, risca-me, peço-Te, do Teu livro, que tens escrito. Então disse
o Senhor a Moisés: Aquele que pecar contra Mim, a este riscarei do
Meu livro”. Êxodo 32:32, 33.

Além do livro da vida, no Juízo estão também os livros em que se


encontram registadas as obras, boas ou más, de cada ser humano.

No caso dos salvos, as transgressões do pecador arrependido que


sem reservas se entregou ao seu Salvador, encontram-se
registadas como estando perdoadas, lavadas pelo sangue de Jesus
(cf. l João 1:9; Apõe. 1:5). A propósito lemos em Malaquias
3:16-18): ”Há um memorial escrito diante d’Ele, para os que temem
ao Senhor e para os que se lembram do Seu nome. Naquele dia que
farei serão para Mim particular tesouro; poupálos-ei como um
homem poupa a seu filho, que o serve. Então vereis outra vez a
diferença entre o justo e o ímpio, entre o que serve a Deus e o que
O não serve.”

No caso dos perdidos, que rejeitaram, implícita ou explicitamente,


os convites do Espírito Santo, eles ficam reduzidos às
consequências inevitáveis da sua rebelião - à ”segunda morte”.
Apõe. 20:14.

A Obra Expiatória de Cristo na História da Salvação

A obra expiatória de Cristo, com o clímax na Sua morte e


ressurreição, desempenha um papel fundamental na História da
Salvação.

1. Em primeiro lugar, através da morte de Cristo foi satisfeita,


diríamos, foi paga, a sanção resultante da desobediência à Lei
perfeita do governo de Deus.
Como lemos na epístola aos Colossenses, capítulo 2:14, Cristo,
”havendo riscado a cédula (gr. cheirógraphon, nota de débito ’),
que era contra nós, ...a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz.”

Lemos ainda que, antes de expirar, Jesus exclamou: ”Está con-

A Missão Expiatória de Cristo 91

sumado” (gr. tetélestai). João 19:30. Se bem que essa expressão se


refira, de maneira geral, ao cumprimento da missão de Cristo (cf.
João 17:4), é digno de registo que o verbo teléo, aqui traduzido por
consumar, também tem o sentido forense de pagar,2 o que levaria
neste caso à tradução ”está pago”.

2. Como resultado da expiação, Deus pode, sem qualquer limitação


imposta pela justiça, mostrar ao pecador arrependido os tesouros
do amor divino e o perdão dos seus pecados.

No dizer do apóstolo Paulo, foram cumpridas plenamente as


condições para que Deus seja ”justo e justificador daquele que tem
fé em Jesus” (Romanos 3:26) -justo, porque foi dada plena
satisfação à Lei transgredida, e justificador, porque, sem
quebrantar no mínimo ápice a santidade e perenidade da Lei, pode
plenamente assegurar ao pecador arrependido o perdão dos seus
pecados.

Este pensamento foi traduzido em cinco breves palavras pelo Dr.


William Temple, ao afirmar que a cruz ”torna justo o poder
perdoador de Deus”.3

No mesmo sentido, escreveu também Ellen G. White: ”Por motivo


do sacrifício feito por Cristo em favor dos homens caídos, Deus
pode com justiça perdoar o transgressor que aceite os méritos de
Cristo. Cristo foi o instrumento do qual a misericórdia, amor e
justiça puderam fluir do coração de Deus para o coração do
pecador.”4

3. Na morte e ressurreição de Cristo ocorreu o cumprimento da


primeira promessa registada na Bíblia, segundo a qual Satanás
tentou a morte de Cristo, ferindo-Lhe o calcanhar, e Cristo venceu
Satanás e sentenciou a sua morte, ferindo-lhe a cabeça.
Com efeito, lemos que Jesus Se identificou connosco, ”para que
pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o
diabo, e livrasse todos os que, com medo da morte, estavam Por
toda a vida sujeitos à servidão”. Hebreus 2:14, 15 (cf. Luc. !0:18;
João 12:31; Col. 2:15; Apõe. 12:10).
92

A Alegria da Salvação A Missão Expiatória de Cristo

93

E, com a vitória sobre Satanás, Cristo dá início ao reino da graça.

”Quando o Salvador rendeu a vida, e em Seu último alento clamou:


’Está consumado’, assegurou naquele instante o cumprimento do
plano da redenção. Ratificou-se a promessa de libertamente feita,
no Éden, ao casal pecador. O reino da graça, que antes existira pela
promessa de Deus, foi então estabelecido.” 5

Isto leva-nos a dizer, com o apóstolo Paulo: ”Longe esteja de mim


gloriar-me a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual
o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Galatas
6:14) e com os remidos na glória eterna: ”Digno é o Cordeiro, que
foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e
honra, e glória, e acções de graças” (Apocalipse 5:12).

Projecção Cósmica da Expiação

A obra expiatória de Cristo, abrangendo a assombrosa


manifestação de amor da Sua encarnação, da Sua vida de
obediência até à morte e morte de cruz, da Sua ressurreição,
ascensão e ministério no Santuário Celeste, não se confina apenas
aos habitantes deste minúsculo planeta, mas tem que ver com
todos os seres inteligentes de todo o Universo.

Através do Juízo fica bem patente perante todo o Universo, e de


uma vez para sempre, o verdadeiro carácter de Deus e o
verdadeiro carácter da rebelião satânica.

1. Deus é um Deus de amor que ama todas as Suas criaturas. A


obra expiatória de Cristo defende a honra de Deus, perante a falsa
acusação satânica de que Deus é um Deus egoísta e déspota.

2. A Lei de Deus é uma lei perfeita e perene. Perante a falsa


acusação satânica de que essa lei é imperfeita e deve ser
substituída, a obra expiatória de Cristo glorifica essa lei,
salientando a sua perfeição e perenidade.
3. Perante a enganadora proposta satânica de uma forma de
governo melhor do que a de Deus, a obra expiatória de Cristo
exalta o governo de Deus como sendo o mais adequado à
felicidade de todos os seres inteligentes.

4. Contra a acusação satânica de que Deus é injusto ao perdoar


transgressores que vão preencher o vazio ocasionado pela rebelião,
Cristo declara que ninguém pode arrebatar da Sua mão e da mão
do Seu Pai esses transgressores que, arrependidos do seu passado
e decididos a submeter-se inteiramente às normas do governo
divino, aceitaram, pela fé, a satisfação da sanção correspondente
às suas transgressões por Ele prestada na cruz do Calvário. Assim,
pela Sua obra expiatória, Cristo prova que o próprio Deus é justo e
ao mesmo tempo, sem infringir no mínimo ápice a santidade e a
imparcialidade da lei, é justificador daquele que tem fé em Jesus.

5. Finalmente, como vítima de um assassínio de que Satanás foi o


autor, a obra expiatória de Cristo alienou para sempre a simpatia
por Satanás dos seres inteligentes de todo o Universo, justificou a
eliminação perpétua da rebelião e assegurou a restauração final e
definitiva da interrompida harmonia universal.
Referências

(1) ver textos em Norbert Hugedé, L’Epitre aux Colossiens. Geneve: Labor et Fides, 1968, págs.
134, 135.

(2) Walter Bauer, Greek- English Lexicon of New Testament and Other Early Christian Literature.
The University of Chicago Press, 14a impres. 1973, verbo Teleo, 3.

(3) Citado por L. E. Froom, The ConditionaMst Faith of Our Fathers, Vol. 2. Washington, D.C.:
Review and Herald, Publ. Assn., 1965, pág. 750.

(4) E. G. White, Mensagens Escolhidas, Livro l, pág. 396.

(5) C. S. br. 376.


A Missão

Redentoraperen de

Cristo
eira epístola (cap. 3:8), o apósto-

i j; do João sintetiza a missão redentora de

Cristo nas seguintes palavras: ”Para isto o

Filho de Deus Se manifestou: para desfazer

as obras do diabo.”Na realidade, Satanás foi o autor da rebe-

lião que conseguiu a adesão de grande número de anjos no Céu e


que, pelo recurso a falsos e sedutores argumentos e promessas,
provocou a desobediência de Adão e Eva aos princípios do governo
de Deus, desobediência cujas desastrosas consequências atingiram
não só os primeiros pais da humanidade, mas todos os seus
descendentes ao longo dos séculos e o próprio planeta em que
habitamos.

Satanás tornou-se assim, pela mentira e usurpação, o ”príncipe


deste mundo” (João 12:31), ”o deus deste século” (2 Cor. 4:4), a tal
ponto que no dizer do apóstolo João ”todo o mundo está no
maligno” (l João 5:19).

Ora foi, precisamente, para desfazer as obras de Satanás e


restaurar a harmonia original no Céu e na Terra, que Jesus
empreendeu a Sua missão redentora.
Numerosa Família Semântica
O conceito de redenção faz parte de uma numerosa família
semântica, principalmente representada pelos seguintes ter-
05}
96

A Alegria da Salvação A Missão Redentora de Cristo

97

mós: resgate, resgatar; redenção, redimir, remir, redentor; comprar,


adquirir; libertar, libertação; salvar, salvação, salvador; restaurar,
restauração.

Examinemos alguns destes termos nas línguas originais da Bíblia


Sagrada.

No Antigo Testamento

As duas palavras hebraicas mais usadas, no âmbito do estudo que


estamos realizando, são gaal e padah.

Gaal, nas suas diversas formas, aparece na Concordância de Young


101 vezes. Na correspondente versão inglesa de King James, esse
vocábulo é traduzido l vez por comprar, l por resgatar, 43 por
redimir, 21 por redentor (goeí), 15 para designar a pessoa e acção
do parente chegado (como no livro de Rute), 13 por vingador de
sangue (como no contexto das cidades de refúgio).

A este propósito, observa R. B. Girdlestone: ’O Antigo Testamento


leva-nos a olhar para a redenção sob muitos aspectos. Pode ser
libertação física da doença e da morte; libertação social de
barreiras convencionais ou legais entre homem e homem, entre os
sexos, entre várias classes da sociedade ou várias nações do
mundo; ou pode ser libertação moral e espiritual do poder do mal
no coração, e dos efeitos desse mal diante de Deus.’1

Padah, também nas suas diversas formas, aparece 62 vezes, dentre


as quais 5 traduzidas por libertar, 3 por resgatar, e 51 por redimir e
seus derivados.

Segundo Girdlestone, Padah não é usada nos sentidos técnicos


peculiares que gaal expressa, mas refere-se especialmente à
libertação de cativeiro.2

No Novo Testamento
Dadas, por um lado, as condições históricas, sociais, culturais e
religiosas dos Israelitas no decurso do Antigo Testamento, e, por
outro, as características peculiares da civilização helenística e da
sua língua (o koine), não é de admirar que os termos hebraicos
tenham adquirido novas tonalidades na tradução grega dos Setenta
e, sobretudo, nos escritos do Novo

Testamento, em que os conceitos evangélicos tanto se distanciam


dos conceitos das religiões pagãs.

Tendo em conta esta situação, examinemos as três palavras gregas


que mais de perto se relacionam com as duas palavras hebraicas
do Antigo Testamento que acabamos de examinar.

As três palavras em causa são lutron, lutroun e apolutrosis.

Segundo a observação de William Barclay, no grego


contemporâneo do Novo Testamento, o substantivo lutron a) é
regularmente usado em relação com o preço a pagar para
recuperar algo que está retido em penhor; b) utiliza-se, também
com regularidade, com referência à importância paga ou recebida
pela libertação de um escravo.

Quanto ao verbo lutroun, deve ter-se em conta que no grego os


verbos têm três vozes: activa, passiva e média. No caso presente,
lutroun significa, na voz activa, resgatar; na voz passiva, ser
resgatado; na voz média, resgatar para si, ou seja, resgatar ou
redimir, pagando o preço estipulado. O pano de fundo da palavra é
o cativeiro. Tem sempre que ver com o resgate, a redenção, a
libertação de um homem ou de uma coisa das mãos de um poder
hostil. Mas o verbo lutroun é também usado na LXX para indicar
outro tipo de libertação - a libertação e preservação de Israel,
operada por Deus numa ocasião em que o povo estava atribulado e
angustiado.

A outra palavra é apolutrosis, que só aparece no grego tardio com


referência ao resgate de prisioneiros de guerra. No Novo
Testamento é ainda usada para significar a libertação da culpa e do
poder do pecado, a fruição de uma nova vida na Terra e,
finalmente, a glória celestial.
Outras palavras gregas do Novo Testamento relacionadas com as
que acabam de ser referidas são agorazein ou exagofazein, que
significam comprar e time, que significa preço, e eleutheria, que
significa a liberdade obtida por meio de Cristo.3

Textos Bíblicos sobre a Missão Redentora de


Cristo
v Na impossibilidade de registar todas as referências bíblicas a
missão redentora de Cristo, limitamo-nos a citar apenas
9Alegria da Salvação

alguns textos, de acordo com a versão de Almeida, editada pela


Sociedade Bíblica de Portugal.

Resgate, resgatar

Mateus 20:28 - ”O Filho do homem não veio para ser servido, mas
para servir, e dar a Sua vida em resgate de muitos.”

Actos 20:28 - ”Olhai por vós, e por todo o rebanho sobre que o
Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de
Deus, que Ele resgatou com Seu próprio sangue.”

l Pedro 1:18 - ”Não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro,
que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por
tradição recebestes dos vossos pais, mas com o precioso sangue de
Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado.”

Redimir, remir, redenção, redentor, comprar, adquirir Job 19:25, 26 -


”Eu sei que o meu Redentor vive, e que por

fim Se levantará sobre a Terra. E depois de consumida a minha


pele, ainda em minha carne verei a Deus.”
Salmo 49:7, 8 - ”Nenhum deles [dos que confiam nas suas
riquezas] de modo algum pode remir a seu irmão ou dar a Deus
o resgate dele, pois a redenção da sua alma é caríssima e seus
recursos se esgotariam antes.”
Isaías 43:1 - ”Não temas, porque Eu te remi; chamei-te pelo teu
nome, tu és Meu.”
Isaías 63:9 - ”Em toda a angústia deles foi Ele angustiado, e o anjo
da Sua face os salvou; pelo Seu amor e pela Sua compaixão Ele os
remiu; e os tomou, e os conduziu todos os dias da antiguidade.”

Jeremias 14:8 - ”Oh! Esperança de Israel, Redentor seu no tempo


da angústia!”

Oseias 13:14 - ”Eu os remirei da violência do inferno [sheol,


sepultura], e os resgatarei da morte. Onde está, ó inferno
[sepultura], a tua perdição?”

Lucas 2:38 - ”Ela [Ana] dava graças a Deus, e falava d’Ele [Jesus, o
Redentor] a todos os que esperavam a redenção em Israel.”
Romanos 3:24 - ”Sendo justificados gratuitamente pela Sua

A Missão Redentora de Cristo

99

graça, pela redenção que há em Cristo Jesus.”

l Coríntios 1:30 - ”Vós sois d’Ele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi
feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação e redenção.”

l Coríntios 6:20 - ”Porque fostes comprados por bom preço; não vos
façais servos dos homens.”

Efésios 1:7 - ”[Jesus Cristo], em quem temos a redenção pelo Seu


sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da Sua
graça.”

Efésios 1:14 - ”O qual é o penhor da nossa herança, para redenção


da possessão de Deus, para louvor da Sua glória.”

Efésios 4:30 - ”Não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual


estais selados para o dia da redenção.”

Colossenses 1:14 - ”Em quem temos a redenção pelo Seu sangue, a


saber, a remissão dos pecados.”

l Timóteo 2:6 - ”O qual Se deu a Si mesmo em preço de redenção


por todos.”

Tito 2:14 - ”O qual Se deu a Si mesmo por nós para nos remir de
toda a iniquidade, e purificar para Si um povo Seu especial, zeloso
de boas obras.”

Hebreus 9:12 - ”Nem por sangue de bodes e bezerros, mas por Seu
próprio sangue entrou uma vez [apax, uma vez por todas] no
santuário, havendo efectuado uma eterna redenção.”

l Pedro 2:9 - ”Vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação


santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes d’Aquele
que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz; vós que
antes não éreis povo, mas agora sois povo de Deus; que não tínheis
alcançado misericórdia, mas agora alcançastes misericórdia.”

Apocalipse 5:9 - ”Com o Teu sangue compraste para Deus homens


de toda a tribo, e língua, e povo e nação.”

Apocalipse 14:3 - ”Estes são os que dentre os homens foram


comprados como primícias para Deus e para o Cordeiro.” Salvar,
Salvador, livrar, libertador, restaurar, restauração

Mateus 1:21 - ”Chamarás o Seu nome Jesus; porque Ele salvará o


Seu povo dos seus pecados.”
A Alegria da Salvação

A Missão Redentora de Cristo

101

Mateus 8:11 - ”Porque o Filho do homem veio salvar o que se havia


perdido.”

Marcos 16:16 - ”Quem crer e for baptizado será salvo.” João 3:17 -
”Deus enviou o Seu Filho ao mundo, não para
que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo
por Ele.”

João 8:36 - ”Se pois o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis


livres.”

Actos 3:21 - ”O qual convém que o Céu contenha até aos tempos
da restauração de tudo.”

Actos 4:12 - ”E em nenhum outro há salvação, porque também


debaixo do Céu nenhum outro nome há, dado entre os homens,
pelo qual devamos ser salvos.”

Actos 16:31 - ”Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo.” Romanos


1:16 - ”Não me envergonho do evangelho de
Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que
crê.”

Galatas 5:1 - ”Estai pois firmes na liberdade com que Cristo nos
libertou, e não torneis a meter-vos debaixo do jugo da servidão.”

Efésios 2:8 - ”Pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem
de vós; é dom de Deus.”

Colossenses 1:13 - ”O qual nos tirou [vers. rev., libertou] da


potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do
Seu amor.”

1 Timóteo 1:15 - ”Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os


pecadores, dos quais eu sou o principal.”
2 Timóteo 2:26 - ”E tomarem a despertar, desprendendo-se [vers.
rev., livrando-se] dos laços do diabo, em que à vontade dele estão
presos.”

Hebreus 2:3 - ”Como escaparemos nós, se não atentarmos para


uma tão grande salvação?”

Hebreus 2:15 - ”E livrasse todos os que, com medo da morte,


estavam por toda a vida sujeitos à servidão”.

Hebreus 5:9 - ”E, sendo Ele consumado, veio a ser a causa de


eterna salvação para todos os que Lhe obedecem.”

Hebreus 9:28 - ”Cristo, oferecendo-Se uma vez para tirar os


pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que O
esperam para salvação.”

l João 4:14 - ”E vimos e testificamos que o Pai enviou Seu Filho para
Salvador do mundo.” (No Novo Testamento, Jesus é chamado
Salvador pelo menos 23 vezes.)

Apocalipse 1:5, 6 - ”Àquele que nos ama e em Seu sangue nos


lavou [vers. rev, nos libertou] dos nossos pecados, e nos fez reis e
sacerdotes para Deus e Seu Pai; a Ele glória, e poder para todo o
sempre. Amen.”

Síntese da Missão Salvífica de Cristo


Conjugando os vários contextos em que os vocábulos resgate,
redenção, salvação e os seus numerosos sinónimos se encontram
inseridos, somos levados a concluir esta nossa análise com a
seguinte síntese:

1. Satanás escravizou a humanidade com base na desobediência


de Adão e Eva, e seus descendentes, à ordem perfeita do governo
de Deus.

2. Cristo resgatou-nos do cativeiro de Satanás e das suas imediatas


e remotas consequências: a) da vã maneira de viver que por
tradição recebemos dos nossos pais; b) da presença e do poder do
pecado em nossas vidas; c) da morte eterna.
3. Esse resgate, também chamado redenção, foi obtido pelo preço
da encarnação, vida de obediência e morte vicária de Cristo.

4. Pela redenção passámos a pertencer a Cristo como propriedade


Sua e, por Seu intermédio, a ser admitidos na família divina.

5- Pelo cabal cumprimento da Sua dupla missão expiatória e


redentora, Jesus Cristo, nosso bendito Salvador, é digno de toda a
nossa gratidão e amor.

Em presença de tão grande salvação e de tão amoroso alvador,


podemos concluir com o apóstolo Paulo: ’Quem nos eParará do
amor de Cristo? ...Estou certo de que, nem a morte,
JSB

102

A Alegria da Salvação

nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades,


nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade,
nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus,
que está em Cristo Jesus nosso Senhor’ Romanos 8:35, 38, 39.
Referências

(1) Robert Baker Girdlestone, Synonims of the Old Testament. Grand Rapids: Wm B Eerdmans,
1897, págs. 120, 121.

(2) Op. cit., pg. 120. ;

(3) William Barclay, Palabras Griegas del Nuevo Testamento. Casa Bautista de Publicaciones,
1977, pags. 144-149.

Uma Nova Aliança


IO instituir a Santa Ceia, em substituição da Ceia Pascal, Jesus
”tomou o cálice, dizendo: ”Este cálice é o Novo Testamento no Meu
sangue; fazei isto todas as vezes que beberdes, em memória de
Mim.” l Coríntios
11; 25; cf. Mateus 26:27, 28.

Notemos que a palavra grega aqui traduzida por Testamento é


diatheke, que significa concerto ou aliança, assim como a
correspondente palavra hebraica berith com referência ao Velho
Testamento, significa, igualmente, concerto ou aliança.

Podemos, pois, afirmar que, no Seu sangue, Jesus estabeleceu uma


Nova Aliança.

O conceito de aliança insere-se no quadro do conflito cósmico em


que nos encontramos envolvidos - nós, seres humanos; Satanás e
os seus anjos, mais poderosos do que nós; e o omnipotente Deus e
os Seus anjos, empenhados em proteger-nos e defender-nos dos
nosssos ameaçadores inimigos. (”Fiel é o Senhor, que vos
confortará, e guardará do maligno.” 2 Tess. 3:3.)

Na sua essência, esta aliança tem-se manifestado desde a queda


de Adão e Eva no Jardim do Éden até aos nossos dias. E Por isso é
com razão designada na carta aos Hebreus (cap. 13:20), Corn
sendo um ”concerto eterno”, uma ”aliança eterna”.

Sob o ponto de vista cronológico, esta aliança eterna foi

(103)
104

A Alegria daSalvação yma Nova Aliança

105

sucessivamente confirmada, por exemplo, no tempo de Abraão


(Gén. 15:9-21; 17:13) e de Moisés (Êxodo 24:1-8), antes de ter
chegado a plenitude dos tempos, sendo então conhecida por Velha
Aliança e, finalmente, confirmada e ampliada por Jesus, no Seu
sangue, recebendo a designação de Nova Aliança.

A Presença de Cristo na Nova Aliança

Desde que Adão e Eva foram enganados e vencidos por Satanás,


Deus não nos deixou sozinhos.

Ele nos ama com terno e eterno amor. Ele ama-nos como ama a
Seu unigénito Filho. O próprio Jesus o disse: ”Os tens amado a eles
como Me tens amado a Mim.” João 17:23.

Se o divino Pai tivesse encarnado, teria vivido exactamente como


viveu Jesus, manifestando pela humanidade perdida o mesmo
amor. O sofrimento de Jesus na Sua paixão e morte foi partilhado
pelo Pai. O amor de Jesus por nós é a manifestação visível do amor
que nos dedica o próprio Deus. Como escreveu o apóstolo Paulo,
”Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem
resplandeceu em nossos corações, para iluminação do
conhecimento da glória de Deus na face de Jesus Cristo”. 2 Cor. 4:6.

Ainda com o mesmo apóstolo podemos, pois, exclamar: ”Graças a


Deus pelo Seu Dom inefável.” 2 Cor. 9:15.

Vemos assim que logo após a queda de Adão e Eva Jesus entra na
história humana, aliando-Se com os nossos primeiros pais na luta
em que ficaram envolvidos e anunciando-lhes a vitória final.

Essa aliança foi selada com o sangue da Sua morte vicária,


prefigurada pelo sacrifício de animais imaculados, pelo
estabelecimento de um ritual simbólico e anunciada por intermédio
de inspirados profetas.
Chegada, porém, a ”plenitude dos tempos” (Galatas 4:4), ”um
menino nos nasceu, um filho se nos deu” (Isaías 9:6) - ”Emanuel,
que traduzido é: Deus connosco” (Mat. 1:23; cf. Isa. 7:14).

”E, achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo


obediente até à morte, e morte de cruz” (Fil. 2:8), ”para que pela
morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto
é, o diabo, e livrasse todos os que, com medo da morte, estavam
por toda a vida sujeitos à servidão” (Heb. 2:14).

Vemos pois que, através da Sua encarnação, vida imaculada, morte


expiatória e gloriosa ressurreição, Jesus obteve a vitória sobre
Satanás, e com a vitória deste poderoso Aliado podemos passar a
viver uma vida vitoriosa.

Razão tinha, então, o apóstolo Paulo ao exclamar: ”Posso todas as


coisas n’Aquele que me fortalece” (Fil. 4:13), e com ele cantar o
vitorioso pean grego: ”Graças a Deus que nos dá a vitória por nosso
Senhor Jesus Cristo” (l Cor. 15:57).

Mas a obra de Jesus, nosso Aliado, não terminou aqui. Na conversa


que teve com os entristecidos discípulos quando lhes anunciou que
ia de novo para junto do Pai, acalmou-os com a apaziguadora
promessa: ”Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para
que fique convosco para sempre.” João 14:16. Ao afirmar que seria
dado outro Consolador, subentendia Jesus que Ele próprio era um
Consolador.

A palavra usada no original é Parácletos [do gr. kaleo, chamar; e


para, para junto de].

No século XIX, uma missionária na África Equatorial estava a


traduzir o Novo Testamento para a língua daquele país. Não
conseguia, porém, encontrar uma palavra adequada para a
tradução. Depois de explicar o que significava no original, ”Oh”,
exclamaram por fim os nativos, se alguém fizesse tudo isso por nós
diríamos que ele é ”o que cai ao nosso lado”.

Que queriam eles dizer com isso? No tempo em que longas filas de
carregadores carregavam pesadas cargas, através da selva africana
até à costa marítima, se um deles adoecia, a sua carga era
repartida por outros, e ele ali ficava prostrado, ataque naturalmente
morresse ou fosse devorado por uma fera durante a noite. \

Se alguém passasse por ali e compassivamente se abeirasse dele,


e o ajudasse a levantar-se e o levasse para uma aldeia próxima
para ali receber tratamento adequado, esse alguém era chamado
”aquele que cai ao nosso lado”. E foi essa a expressão Que a
missionária usou para traduzir a palavra parákletos.
if!’!

106

Jesus foi aquele que, assumindo a natureza humana, caiu ao nosso


lado para nos ajudar.

Agora que ia ausentar-Se para o Céu e ali continuar a desempenhar


a Sua função de nosso poderoso Aliado, deixaria connosco outro
Consolador, o Espírito Santo, que igualmente ficaria ao nosso lado
para nos ajudar.

A Presença do Espírito Santo na Nova Aliança

Jesus, Deus connosco em carne, viveu na Palestina há vinte


séculos, e ali realizou a Sua missão expiatória e redentora em favor
de toda a humanidade. O Espírito Santo, Deus connosco em
espírito, está hoje presente na vida de cada crente.

Jesus, o Consolador, através da Sua encarnação, vida, morte e


vitoriosa ressurreição, caiu ao nosso lado para ajudar a
humanidade perdida. O Espírito Santo, outro Consolador,
comunicando com o nosso espírito (Romanos 8:16), cai junto de
cada crente para o ajudar individualmente.

Jesus, no templo celeste, como nosso Aliado, está a tomar todas as


providências para que, segundo a Sua expressão, ”onde Eu estiver
estejais vós também” (João 14:3).

Entretanto, aqui na Terra, cada crente torna-se um templo, em que


o Espírito Santo, nosso divino Aliado, nos está a transformar para a
glória da salvação eterna. A este propósito pergunta o apóstolo
Paulo: ”Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito
Santo, que habita em vós, e que não sois de vós mesmos? Porque
fostes comprados por bom preço; glorificai pois a Deus no vosso
corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.” l Cor. 6:19,
20.

Sendo tão importante a presença do Espírito Santo na nossa vida,


uma pergunta se levanta: Como poderei eu ter a presença do
Espírito Santo na minha vida? A Palavra de Deus apresenta-nos
cinco condições:
1. Arrependimento - ”Arrependei-vos, e cada um de vós seja
baptizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e
recebereis o dom do Espirito Santo.” Actos 2:38.

Alegria da salvação Uma Novaliança_

107
Mto Santo lhe Deus deu àqueles que Lhe obedecem. Actos 5:32.

3. Consagração (entrega total) - ”Não sabeis que a amizade do


mundo é inimizade contra Deus? Portanto qualquer que quiser ser
amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. Ou cuidais vós que
em vão diz a Escritura: O Espirito que em vós habita tem ciúmes?”
Tiago 4:4, 5.

4. Fé - ”Para que pela fé nós recebamos a promessa do Espírito.”


Galatas 3:14.

5. Deve ser pedido em oração - ”Se vós, sendo maus, sabeis dar
boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o
Espírito Santo àqueles que Lho pedirem?” Lucas 11:13.

Assim como o Pai e o Filho nos amam, assim nos ama também o
Espírito Santo. Ele atrai-nos, insiste connosco para que aceitemos a
oferta de tão grande salvação. Que sucede quando o amor não é
correspondido? Quem ama fica triste se o seu amor não é
correspondido.

É por isso que a Palavra de Deus nos dá o amoroso conselho: ”Não


entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o
dia da redenção.” Efésios 4:30; cf. Isaías 63:10.

Presença dos Anjos na Nova Aliança

O envolvimento dos anjos na Nova Aliança é evidente através de


todos os escritos neotestamentários.

Vemo-los por ocasião do nascimento de Jesus, das Tentações no


deserto, do Seu ministério público, na TransfiguraçãoAno
Getsémane, junto do sepulcro vazio do triunfante vencedor da
morte, na nuvem que O cobriu na Sua ascensão. ’
Vemo-los profundamente interessados na protecção dos seus
futuros companheiros: ”Não são porventura todos eles espíritos
roinistradores, enviados para servir a favor daqueles que hão-de
herdar a salvação?” Hebreus 1:14.

Vemo-los, exultantes de alegria, perante a notícia do


arrependimento de um pecador: ”Assim vos digo que há alegria
diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende.” Lucas

Vemo-los libertando os apóstolos da prisão. Em certa ocasião, de


noite um anjo do Senhor abriu as portas da prisão, e tirando-
108

-os para fora, disse: Ide e apresentai-vos no templo, e dizei ao povo


todas as palavras desta vida”. Actos 5:19, 20.

Noutra ocasião, ”Eis que sobreveio o anjo do Senhor, e


resplandeceu uma luz na prisão; e tocando a Pedro na ilharga, o
despertou, dizendo: Levanta-te depressa. E caíram-lhe das mãos as
cadeias. E disse-lhe o anjo: Cinge-te, e ata as alparcas. E ele fez
assim. Disse-lhe mais: Lança às costas a tua capa, e segueme. E
saindo, o seguia. E não sabia que era real o que estava sendo feito
pelo anjo; mas cuidava que via alguma visão. E quando passaram a
primeira e a segunda guarda, chegaram à porta de ferro, que dá
para a cidade, a qual se lhes abriu por si mesma; e, tendo saído,
percorreram uma rua e logo o anjo se apartou dele.” Actos 12:7-10.

Como nos recuados tempos do Antigo Testamento, na Nova Aliança


”o anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que O temem e os
livra”. Sal. 34:7.

”Aos Seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em


todos os teus caminhos.” Sal. 91:11.

Finalmente, na gloriosa parusia do Rei dos reis, ”o Filho do homem


virá na glória de Seu Pai, com os Seus anjos.” ”Ele enviará os Seus
anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os Seus
escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade
dos Céus.” Mat. 16:27; 24:31.

_A Alegria da Salvação

Um Novo Princípio
1 nO princípio criou Deus os céus e a

Como clímax da maravilhosa obra

dacriação, surge o homem, a que,


na sUa qualidade de mordomo, é con-

fiadp o domínio deste planeta, com a

sede no belíssimo enclave do Éden.

No Seu amor para com os nossos primeiros pais, Deus falava com
eles, informou-os acerca da rebelião de Lúcifer e advertiu-os de que
se acautelassem (na expressão de Génesis 2:15, que ”guardassem
o Éden”) contra uma eventual e sedutora intromissão do Rebelde.
Eram dotados de livre arbítrio, mas podiam estar certos de que as
normas do governo divino eram inspiradas pelo amor, fáceis de
cumprir e originadoras de perene felicidade, e que a alternativa
oferecida por Satanás, baseada na mentira e na desobediência,
originaria resultados nefastos - o sofrimento na vida presente,
seguido pela morte no sentido absoluto da palavra.

Apesar de todas essas advertências, a verdade é que, certo dia,


Satanás se aproximou de Eva, levando-a a acreditar que, se
desobedecesse, não só não morreria, mas seria ”como Deus” e,
sem dúvida, muito mais feliz. Génesis 3:4, 5.

(109)
110

_A Alegria da Salvação

Um Novo Princípio

111

Infelizmente, Eva cedeu e, pior ainda, levou também o seu marido


a ceder, ficando ambos, assim como os seus descendentes, sob o
domínio ou, noutros termos, sob o cativeiro de Satanás que, por
usurpação, se tornou ”o príncipe deste mundo”. João 12:31.

Prevendo tal ocorrência e para remediar tal situação, o unigénito


Filho de Deus, inefável expressão do Seu amor, solidarizou-Se com
o homem seduzido e arruinado pelo Enganador, assumindo a
natureza humana e tornando-Se seu Substituto e Fiador -
satisfazendo a pena que a humanidade devia sofrer pela sua
transgressão, libertando-a do cativeiro satânico e restaurando-a,
através dos membros arrependidos e incondicionalmente
identificados com o seu Redentor, à gloriosa posição para que fora
chamada à existência.

E foi assim que, para a execução do maravilhoso plano


estabelecido antes da fundação do mundo (Efésios 1:4), o Verbo de
Deus Se fez carne e habitou entre nós (João 1:14).

Um Novo Princípio

Com a encarnação do Filho de Deus, começou uma nova época na


História deste mundo. Dentre os evangelistas, talvez nenhum tenha
captado melhor esta realidade do que ”o discípulo amado”, o
apóstolo João.

Assim como o livro de Génesis começa com as palavras No


princípio, desde a criação do homem até à sua desastrosa queda,
assim também o evangelho de João começa com as palavras no
princípio, desde o aparecimento de um segundo Adão, originador
de novos membros da família humana elevados à excelsa posição
de membros da Família Divina.

O poderoso agente da criação que operou no primeiro princípio é o


mesmo que opera neste novo princípio.
No primeiro, ”tudo foi criado por Ele” - o Filho de Deus, ”a imagem
do Deus invisível, o primogénito de toda a criação”
(Colossensesl:15, 16).

No segundo, ”todas as coisas foram feitas por Ele” - o Filho de Deus


- ”e sem Ele nada do que foi feito se fez” (João 1:1-3).

No primeiro, como deslumbrante manifestação de expansivo amor


e poderosa energia, ”disse Deus: Haja luz. E houve luz.” Génesis
1:3.

No segundo, ”N’Ele [o Verbo de Deus] estava a vida, e a vida era a


luz dos homens; e a luz resplandeceu nas trevas, e as trevas não a
compreenderam.” João 4:5. ”Ali estava a luz verdadeira, que alumia
a todo o homem que vem ao mundo. Estava no mundo e o mundo
foi feito por Ele, e o mundo não O conheceu. Veio para o que era
Seu, e os Seus não O receberam.” João 1:9-11.

Uma Nova Descendência

Do primeiro Adão, os descendentes nascem por nascimento carnal


genético.

Do segundo Adão, os que n’Ele crêem ”não nasceram do sangue,


nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus”
(João 1:13) - nascimento espiritual pela fé.

Descendentes genéticoos do primeiro Adão, como de um pai rico


mas dissipador dos bens patrimoniais, todos ficámos pobres, sem
nenhuma culpa da nossa parte.

Descendentes espirituais do segundo Adão, que viveu como Adão


devia ter vivido se não tivesse pecado, ficámos ricos, sem nenhum
mérito da nossa parte.

Esta situação foi magistralmente sintetizada pelo apóstolo Paulo,


ao declarar na epístola aos Romanos 5:19 - ”Como pela
desobediência de um só homem muitos foram feitos pecadores,
assim pela obediência de um muitos foram feitos justos.”
Na mesma ordem de ideias, observa o apóstolo das gentes na
primeira epístola aos Coríntios 15:22 - ”Assim como todos morrem
em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo.”

E mais adiante, no mesmo capítulo, versículos 45 a 49, diz ele


ainda: ”O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; último
Adão em espírito vivificante. Mas não é primeiro o espiritual, senão
o animal; depois o espiritual. O primeiro homem, da terra, é
terreno; o segundo homem, o Senhor, é do Céu. Qual o terreno, tais
são também os terrenos; e, qual o celestial, tais também os
celestiais. E, assim como trouxemos
112


A Alegria da Salvação

a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do


celestial.”

E foi assim que, para a execução do glorioso plano estabelecido


antes da fundação do mundo (Efésios 1:4), o Verbo de Deus Se fez
carne e habitou entre nós”. João 1:14.

Neste novo princípio, como lemos no relato evangélico, o Filho de


Deus ”veio para o que era Seu, e os Seus não O receberam, mas a
todos quantos O receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos
de Deus, aos que crêem no Seu nome.” João
1:11, 12.

A Maravilhosa Adopção na Família Divina

É de notar a frequência com que, a partir de Jesus, ”o segundo


Adão”, Deus é chamado nosso Pai - só no evangelho de João nada
menos de 120 vezes e em todo o Novo Testamento mais de 250
vezes.

Recordemos alguns textos em que esta gloriosa verdade da nossa


adopção na família divina é salientada.

João 20:17 - Palavras de Jesus, depois da Sua ressurreição, a Maria


Madalena: ”Vai para Meus irmãos e dize-lhes que Eu subo para Meu
Pai e vosso Pai, Meu Deus e vosso Deus.”

Romanos 8:14-17 - ”Todos os que são guiados pelo Espírito de Deus


esses são filhos de Deus. Porque não recebestes o espírito de
servidão, para outra vez estardes em temor, mas já recebestes o
espírito de adopção de filhos, pelo qual chamamos: Abba, Pai. E,
se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de
Deus e co-herdeiros de Cristo: se é que com Ele padecemos, para
que também com Ele í sejamos glorificados.” (Cf. vers. 19 e 29.)

2 Coríntios 6:17, 18 - ”Pelo que saí do meio deles, e apartaí-vos, diz


o Senhor, e não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei. E Eu serei
para vós Pai, e vós sereis para Mini filhos e fi- < lhas, diz o
Senhor todo-poderoso.”

Galatas 4:4-9 - ”Mas vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou o


Seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que
estavam debaixo da lei, a fim de receberem a
adopção de filhos. E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos
corações o Espírito do Seu Filho, que clama: Abba, Pai. Assim que já
não és mais servo, mas filho, e, se és filho, és também herdeiro de
Deus por Cristo.” (Cf. 3:26.)

Efésios 1:3-6 - ”Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,


o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares
celestiais em Cristo; como também nos elegeu n’Ele antes da
fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis
diante d’Ele, em caridade; e nos predestinou para filhos de adopção
por Jesus Cristo, para Si mesmo, segundo o beneplácito da Sua
vontade, para louvor e glória da Sua graça, pela qual nos fez
agradáveis a Si no Amado.” (Cf.
3:14, 15; 5:1.)

Filipenses 2:14-16 - ”Fazei todas as coisas sem murmurações nem


contendas, para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus
inculpáveis, no meio de uma geração corrompida e perversa, entre
a qual resplandeceis como astros no mundo, retendo a Palavra da
vida.”

Hebreus 2:10 e 11, 17 e 18 - ”Porque convinha que Aquele, para


quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe, trazendo
muitos filhos à glória, consagrasse pelas aflições o príncipe da
salvação deles. Porque assim o que santifica como os que são
santificados são todos de um; por cuja causa não Se envergonha de
lhes chamar irmãos. ...Pelo que convinha que em tudo fosse
semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo
sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo,
porque naquilo que Ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode
socorrer aos que são tentados.
l João 3:1-3 - ”Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai:
que fôssemos chamados filhos de Deus. Por isso o mundo nos não
conhece; porque O não conhece a Ele. Amados, agora somos filhos
de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas
sabemos que quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a
Ele; porque assim como é O veremos. E qualquer que n’Ele tem
esta esperança purifica-se a si mesmo, como também Ele é puro.”

Apocalipse 21:7 - ”Quem vencer, herdará todas as coisas; e eu


serei seu Deus, e ele será Meu filho.”
114 A Alegria da Salvação

Um Novo Nascimento

A adopção na Família Divina corresponde a um novo nascimento na


vida do crente. Dada a decisiva importância desta realidade, vamos
debruçar-nos sobre este tema no próximo capítulo.

Um Novo
Nascimento
COM a encarnação do Filho de Deus - um segundo Adão - é levada
a efeito a missão expiatória e redentora de Cristo e oferecida, ao
homem perdido, uma nova oportunidade de salvação. Para a
consecução de tal objectivo torna-se, porém, necessária a condição
de nascer de novo.

O Privilégio de Nascer de Novo

Assim como no capítulo 3 de Génesis é descrita a maneira como o


homem ficou sujeito à morte eterna, assim também, no capítulo 3
de João, é descrita a maneira como o homem pode recuperar a vida
eterna.

Certa noite, um príncipe dos judeus, chamado Nicodemos, foi ter


com Jesus e saudou-O com as palavras: ”Rabi, bem sabemos que
és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais
que Tu fazes, se Deus não for com ele.”

Sem inúteis preâmbulos, Jesus foi logo ao encontro da necessidade


vital do Seu interlocutor: ”Na verdade, na verdade te digo, que
aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.”
Mas, pergunta Nicodemos, ”como pode um homem nascer sendo
velho? Porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe e
nascer?”

(115)

tu és rabi
t

116 A Alegria da Salvação

No capítulo 1:12,13, já se lia: ”A todos quantos O receberam, deu-


lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; aos que crêení no Seu
nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da
carne, nem da vontade do varão, mas de Deus.”

Aqui Jesus amplia o mesmo ensino com as palavras: ”Na verdade,


na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do
Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da
carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te
maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo. O vento
assopra onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem
nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.”

Mas como é isso possível?

No capítulo 1:14, revela-se quem está na base desta extraordinária


operação: ”O Verbo de Deus Se fez carne, e habitou entre nós, e
vimos a Sua glória, como a glória do unigénito do Pai, cheio de
graça e de verdade.”

Neste encontro de Nicodemos com Jesus, a realidade em causa é


sintetizada nas seguintes palavras: ”Porque Deus amou o mundo
de tal maneira que deu o Seu Filho unigénito, para que todo aquele
que n’Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus
enviou o Seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo,
mas para que o mundo fosse salvo por Ele” (vers. 16, 17).

O novo nascimento no processo da salvação foi salientado não só


por Jesus mas também pelos Seus apóstolos.

O apóstolo Pedro afirma que somos ”de novo gerados, não de


semente corruptível, mas da incorruptível pela Palavra de Deus,
viva, e que permanece para sempre.” l Pedro 1:23.
Por sua vez, declara o apóstolo João: ”Qualquer que é nascido de
Deus não comete pecado; porque a Sua semente (grsperma)
permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus.” l
João 3:9. ”Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, é nascido de
Deus; e todo aquele que ama ao que o gerou, também ama ao que
d’Ele é nascido. ...Porque todo o que é nascido de Deus vence o
mundo; e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé.
...Sabemos que todo aquele que é nascido de

Um Novo Nascimento

117

Deus não peca; mas o que de Deus é gerado conserva-se a si


mesmo, e o maligno não lhe toca.” l João 5:1, 4, 18.

Esta tem sido a realidade salientada por notáveis pregadores do


evangelho. O texto favorito de Jorge Whitefield, o grande
colaborador de John Wesley, parece ter sido: ”Necessário vos é
nascer de novo.” Consta que ele pregou mais de 600 sermões
baseados nesse texto. Alguém lhe perguntou um dia qual a razão
por que ele pregava tanto sobre aquele versículo. A sua resposta foi
muito simples: ”Porque necessário vos é nascer de novo.”

A Fé em Jesus e o Novo Nascimento


Quando um dia perguntaram a Jesus: ”Que faremos para executar
as obras de Deus?” - Jesus respondeu: ”A obra de Deus é esta: Que
creiais n’Aquele que Ele enviou.” João 6:28, 29.

Quando, mais tarde, o carcereiro de Filipos perguntou a Paulo e


Silas: ”Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar?” -
eles disseram: ”Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo.” Actos
16:30, 31.

Na epístola aos Efésios, explicou o apóstolo Paulo: ”Pela graça sois


salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós; é dom de Deus. Não
vem das obras para que ninguém se glorie.” Efésios 2:8, 9.

Elementos Constitutivos da Fé em Jesus


A fé em Jesus abrange aspectos que, à primeira vista, podem
passar despercebidos. Com efeito, se creio em Cristo como meu
Salvador (e tudo quanto esse facto implica), imediatamente
repudio o pecado que Lhe ocasionou a morte, passo a obedecer
onde antes desobedecia e procuro viver uma vida nova com Ele.

Vemos, pois, como a fé em Jesus se encontra estreitamente


relacionada com a experiência que no texto bíblico é designada por
metánoia, palavra esta que já começou a ser usada em Português,
mas com nova pronúncia (metánoia) e que é traduzida, em geral,
por arrependimento e, algumas vezes, por conversão.
118

Não é pois de admirar que na Sagrada Escritura o requisito da fé


em Jesus se encontre formulado no binómio: arrependimento e fé
em Jesus.

Apenas alguns exemplos:

Marcos 1:14, 15 - ”Veio Jesus para a Galileia, pregando o evangelho


do reino de Deus, e dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de
Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho.”

Actos 2:37, 38 - ”Ouvindo eles isto, compungiram-se em seu


coração, e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que
faremos, varões irmãos? E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos e cada
um de vós seja baptizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos
pecados.”

Actos 20:18-21 (versão Almeida, revista, publ. Brasil) - ”Vós bem


sabeis como foi que [eu, Paulo] me conduzi entre vós, ...
testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento
(metánoid) para, com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo.”

Grandíssimas e Preciosas Promessas


Desde o momento em que o pecador se arrepende; e procura
remediar o seu pecaminoso passado por meio da confissão e,
nalguns casos, da restituição, quando e na medida em que isso for
possível; e toma a decisão de obedecer, a partir da hora presente,
definitivamente e sem reservas, à conhecida vontade de Deus; e se
entrega com toda a confiança a Jesus como seu Salvador pessoal,
pode estar certo do perdão dos seus pecados e da sua aceitação
como filho na Família de Deus.

Esta certeza está baseada em ”grandíssimas e preciosas


promessas” (2 Pedro 1:4), dentre as quais passamos a recordar
apenas algumas.

”Desfaço as tuas transgressões como a névoa, e os teus pecados


como a nuvem; torna-te para Mim, porque Eu te remi.” Isaías
44:22. ”Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus
pensamentos, e se converta ao Senhor, que se compadecerá dele;
torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar.” Isa.
55:7. ”Quando Eu disser ao ímpio: Certamente

A Alegria da salvação Novo Nascimento

119

morrerás; se ele se converter do seu pecado, e fizer juízo e justiça,


restituindo esse ímpio o penhor, andando nos estatutos da vida, e
não praticando iniquidade, certamente viverá, não morrerá. De
todos os seus pecados com que pecou, não se fará memória contra
ele.” Ezequiel 33:14-16. ”Jamais Me lembrarei de seus pecados e de
suas iniquidades.” Hebreus 10:17.

Na expressiva linguagem de Miqueias, Deus ”lançará todos os


nossos pecados nas profundezas do mar”. Miq. 7:19. O mar atinge
algures a profundidade de cerca de dez quilómetros. Qualquer
objecto que ali caísse, não mais poderia voltar a ver-se. Assim se
passacom os pecados que foram perdoados.

O nosso Deus ama-nos cóm um amor mais terno do que aquele


com que o mais extremoso pai ama o seu filho. ”Misericordioso e
piedoso é o Senhor; longânimo e grande em benignidade. Não
repreenderá perpetuamente, nem para sempre conservará a Sua
ira. Não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos retribuiu
segundo as nossas iniquidades. Pois quanto o Céu está elevado
acima da Terra, assim é grande a Sua misericórdia para com os que
O temem. Quanto está longe o Oriente do Ocidente, assim aparta
de nós as nossas transgressões. Como um pai se compadece de
seus filhos, assim o Senhor Se compadece daqueles que O temem.”
Salmos 103:8-13.

A fim de salientar a verdade do amor de Deus para com o pecador


que se arrepende, Jesus apresentou as tocantes parábolas da
ovelha e da dracma perdidas, e, sobretudo, a do filho pródigo.
Lucas 15.

Este ingrato jovem, depois de ter desperdiçado a fortuna que levara


da casa paterna, vê-se reduzido à mais extrema pobreza e
abjecção. Pela sua mente, durante os longos dias transcorridos a
guardar animais imundos, perpassam as saudosas figuras da sua
infância - os campos, as árvores, o lar, os plácidos animais, os
criados fiéis, o irmão mais velho, a mãe e, acima de todos, o
ofendido pai. Quanto desejaria regressar, mas receia não ser
recebido. Entretanto, imaginamos o venerável ancião, de precoces
cãs, perguntando a si próprio ou à animada esposa, onde estaria o
pródigo filho, o seu coração adivimhando os dias maus que ele
devia estar a passar. ”Quem dera que ele voltasse!” - eis o seu
constante desejo. Um dia, o man-
120

A Alegria da salvação

cebo não pode resistir mais; levanta-se com a decisão de voltar


para casa. Se o pai o não receber como filho, recebê-lo-á ao menos
como um dos seus trabalhadores. Põe-se a caminho. O coração em
sobressalto, revê os familiares panoramas da sua infância. E,
”quando ainda estava longe, viu-o seu pai e se moveu de íntima
compaixão, e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. E o
filho lhe disse: Pai, pequei contra o Céu e perante ti, e já não sou
digno de ser chamado teu filho. Mas o pai disse aos seus servos:
Trazei depressa o melhor vestido, e vesti-lho, e ponde-lhe um anel
na mão, e alparcas nos pés; e trazei o bezerro cevado, e matai-o, e
comamos e alegremo-nos; porque este meu filho estava morto e
reviveu, tinha-se perdido e foi achado.” Lucas 15:20-24.

Em presença das disposições divinas reveladas por esta parábola,


haverá ainda algum pecador arrependido que receie não ter sido
aceite por Deus? Expulse de vez tais temores e viva em paz, pois
que ”sendo justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso
Senhor Jesus Cristo”. Romanos 5:1.

No seu livro Grandes Vocábulos do Evangelho, conta H. A. Ironside


que um evangelista francês, chamado Paul J. Loizeaux, estava a
realizar uma série de reuniões evangelísticas, quando um dia
alguém se aproximou dele e lhe perguntou: ”Poderia vir comigo,
para visitar uma senhora que se encontra muito doente? Deve
estar muito perto da morte. Sente-se muito perturbada quanto à
sua relação com Deus. Parece que não compreende o caminho.”

Loizeaux aproveitou prontamente a oportunidade que se lhe


oferecia.

Quando entrou no quarto e se sentou junto à cama da doente, esta


questionou-o: ”Diga-me, que devo fazer para que os meus pecados
sejam perdoados e me salve?”

O evangelista contou-lhe a velha história, a história da CruzContou-


lhe como Deus provou o Seu amor para connosco, pelo facto de
Cristo ter morrido em nosso favor, sendo nós ainda pecadores. E
como, na qualidade de nosso Substituto, sorveu o amargo cálice
que merecíamos, pagando completamente a nossa dívida e como
agora Deus pode justificar todos os que,

Um Novo Nascimento

121

arrependidos dos seus pecados, confiam n’Aquele a quem Deus


ressuscitou dentre os mortos.”

Quando ele terminou, a senhora disse: ”Oh, sim, eu sei, eu


compreendo tudo isso; só não consigo perceber como é que
poderei saber que os meus pecados foram perdoados.”

Para dissipar qualquer duvida, o evangelista recontou


pacientemente a história, mas tentou expô-la sob um ângulo um
pouco diferente. Disse-lhe que o Senhor Jesus era o grande
sacrifício pelo pecado, que Ele Se ofereceu a Si mesmo por nossos
pecados, que Ele foi feito pecador em nosso lugar, Ele que não
conhecia pecado, a fim de que pudéssemos ser justificados pela fé
em Cristo.

Quando terminou a sua exposição, ela replicou: ”Sim, compreendo;


mas é só isso que é necessário?”

O evangelista saltou da cadeira. Ele era arrebatado por natureza, e,


às vezes, o seu arrebatamento manifestava-se mesmo depois de se
ter convertido a Cristo. E, sem se poder conter, exclamou num tom
de voz que sacudiu o quarto: ”Mulher perversa e vil! Perguntou-me
o que era necessário para se salvar. Eu disse-lhe como Deus
esvaziou o Céu para salvar a sua alma culpada. Disse-lhe como
Deus enviou o Seu próprio Filho para dar a Sua vida por si. Disse-
lhe como Deus abandonou o Seu Filho sobre a cruz, e ainda tem a
insolência de olhar para o próprio rosto de Deus e dizer: É só isso?
Que mais quer? Isso é tudo quanto Deus podia fazer.”

A senhora chorando, exclamou: ”Oh, agora compreendo. Eu não


sabia o que estava a dizer. Oh, agradeço a Deus pelo que Ele fez. É
suficiente. Se é suficiente para Deus, certamente é suficiente para
mim.”’
O Baptismo como Instrumento Jurídico da
Adopção na Família Divina
No próprio dia da Sua ressurreição, Jesus apareceu aos discípulos e
disse-lhes: ”Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a
criatura. Quem crer e for baptizado, será salvo; mas quem não crer
será condenado.” Marcos 16:15, 16.
TH
122

Poucos dias depois, desta vez num monteada Galileia, o divino


Mestre repetiu e ampliou o mandato: Ӄ-Me dado todo o poder no
Céu e na Terra. Portanto ide, ensinai todas as nações, baptizando-as
em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-as a
guardar todas as coisas que vos tenho mandado, e eis que Eu estou
convosco todos os dias, até à consumação dos séculos.” Mateus
28:18-20.

Estava assim instituído o baptismo cristão - em nome do Pai, e do


Filho e do Espírito Santo.

Para compreender o verdadeiro significado do baptismo torna-se


necessário um breve exame às palavras ”em nome de”. Esta
expressão aparece em grego sob duas formas diferentes: en to
onomati e eis to onoma.

En to onomati quer dizer ”pela autoridade de”, ”por ordem de”. É o


que se lê em Marcos 16:17, logo a seguir ao mandato evangélico:
”E estes sinais seguirão aos que crerem: Em Meu nome (en to
onomati) expulsarão os demónios, etc.”

Mas no mandato evangélico propriamente dito, a expressão


empregada é diferente: ”Baptizando-as em nome (eis to onoma’)
do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Eis to onoma, tanto neste
texto como noutros textos neotestamentários e em vários escritos
profanos extrabíblicos, significa ”para a posse de”. Na correcta
observação de W. Bauer, ”pelo baptismo eis to onoma quem é
baptizado torna-se propriedade daquele cujo nome leva e fica sob a
sua protecção”.2

Somos assim postos em presença da importância do baptismo


relacionado com a redenção levada a efeito por Cristo e com o
ingresso na Família cristã.

Pela redenção, o crente é libertado do cativeiro de Satanás como


seu senhor, e passou para o nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo a quem a partir de agora pertence de direito.
Pelo ingresso na Família divina, o crente respondeu ao chamado de
sair do domínio de Satanás e das trevas do erro para entrar na
comunidade dos remidos.

O baptismo reveste-se pois de um significado legal, como


instrumento jurídico de posse por parte do redentor e de integração
de pleno direito na Família divina.

A Alegria da Salvação U1*1 Novo Nascimento

123

A partir de agora, no dizer/do apóstolo Paulo, já não sois


estrangeiros nem forasteiros/mas concidadãos dos santos e da
família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos
profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra de esquina; no qual
todo o edifícic\bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor,
no qual também vós sois edificados para morada de Deus em
Espírito.” Efésios 2:19-22.

Em conclusão, talvez não seja descabido fazer uma comparação, se


tivermos em conta as respectivas e grandes diferenças. Assim
como no baptismo do nosso Irmão mais velho o Pai declarou: ”Este
é Meu Filho amado, em quem Me comprazo”, também no baptismo
de cada um de nós, Deus alegra-Se em poder dizer: ”A partir de
agora, este é, por direito, o Meu filho muito amado.”
Referências

(1) H. A. Ironside, Great Words of the Gospel. Chicago: Moody Press, s/d. Eon0 188 da Moody
Colportage Library. Na tradução portuguesa que neste momento não temos presente, este
episódio é mencionado nas págs. 36, 37.

(2) Walter Bauer, Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian
Literature. Trad, e Ed. W. F. Arndt e F.W. Ginrich, 14a Impressão. Chicago: The University

it__ of Chicago Press, 1973, pág. 575.


Uma Vida Nova
com os seus pecados perdoados e reconciliado com Deus;
havendo selado pelo baptismo e o poder do Espírito Santo o
seu novo nascimento

e a sua adoPÇão na família divina; o crente toma a


imabalável decisão de passar a viver uma vida
nova, em voluntária obediência de amor aos princípios do
governo de Deus, de acordo com a verdade revelada na Sua
Santa Palavra, em suma, a viver como Adão devia ter vivido se
não tivesse pecado, e como Cristo, segundo Adão, viveu,
sendo obediente até à morte e morte de cruz.

Vida Nova após a Reconciliação

”Separados da vida de Deus” (Efésios 4:18), devido à sua


desobediência, foi dada aos crentes a oportunidade de viver
uma nova vida, graças ao ministério da reconciliação.

Nesta importante transacção, não é Deus que Se reconcilia


connosco, pois Ele sempre nos tem amado com um inalterável
amor, mas somos nós que nos reconciliamos com Ele.

A este propósito declarou o apóstolo Paulo: ”Deus prova o Seu


amor para connosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós
ainda pecadores. ...Se nós, sendo inimigos, fomos
reconciliados com Deus pela morte de Seu Filho, muito mais,
estando já reconciliados, seremos salvos pela vida. E não
somente isto,

.. : ...” (125)
126

_A Alegria
_da Salvação,

mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus


Cristo, pelo qual agora alcançámos a reconciliação.” Rom 5’»
10, 11. ’ ’

Ao tema do ministério da reconciliação dedica o mesmo apóstolo


um longo trecho na segunda epístola aos Coríntios (cap. 5:11-21),
que termina com o pedido: ”Rogamo-vos da parte de Cristo que vos
reconcilieis com Deus” (vers. 20) e do qual destacamos, para o
tema que estamos a tratar, o versículo
17: ”Se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já
passaram; eis que tudo se fez novo.”

Vida, Nova após o Baptismo


Na epístola aos Romanos, o apóstolo Paulo torna clara a relação
que existe entre o baptismo e uma vida nova em Cristo. Escreve
ele: ”Não sabeis que todos quantos fomos baptizados em Jesus
Cristo fomos baptizados na Sua morte? De sorte que fomos
sepultados com Ele pelo baptismo na morte; para que como Cristo
ressuscitou dos mortos, assim andemos nós também em novidade
de vida.” Romanos 6:3,4.

Sendo assim, ”considerai-vos como mortos para o pecado, mas


vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor. Não reine portanto o
pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas
concupiscências; nem tão-pouco apresenteis os vossos membros
ao pecado por instrumentos de iniquidade; mas apresentai-vos a
Deus, como vivos dentre mortos, e os . vossos membros a Deus,
como instrumentos de justiça.” Romanos 6:11-13; cf. Galatas 3:26,
27.

Vida Nova como Membros da Família


Divina )
Ao ser adoptados na Família, os crentes, talvez habituados a i
viver noutro ambiente, procuram agora viver de acordo com os
princípios seguidos pela família em que foram adoptados.

A partir de agora, como lembra o apóstolo Paulo, ”Já não sois


estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e da
família de Deus.” Efésios 2:19. Por isso, torna-se necessário que
”quanto ao tempo passado, vos despojeis do velho homem, que

Líina Vida Nova 127

corrompe pelas concupicências do engano; e vos renoveis no


espírito do vosso sentido; e vos revistais do vosso homem, que
gegundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade.” gfésios
4:22-24. Para vossa segurança, continua o apóstolo, ”não deis lugar
ao diabo.” Vers. 27. ”Sede pois imitadores de Deus, como filhos
amados.” Efés. 5:1.

Noutra epístola, recorda o apóstolo que ”Deus é o que opera em


vós tanto o querer como o efectuar segundo a Sua boa vontade” e,
por isso, ”fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas;
para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus
inculpáveis no meio de uma geração corrompida e perversa, entre
a qual resplandeceis como astros no mundo, retendo a Palavra da
vida”. Filipenses 2:13-16.

Em conclusão, mais uma vez nos exorta o apóstolo João: ”Vede


quão grande amor nos tem concedido o Pai: que fôssemos
chamados filhos de Deus. Por isso o mundo nos não conhece;
porque O não conhece a Ele. Amados, agora somos filhos de Deus,
e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos
que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele; porque
assim como é O veremos. E qualquer que n’Ele tem esta esperança
purifica-se a si mesmo, como também Ele é puro.” l João 3:1-3.

Uma Vida em Harmonia com a Vontade de Deus

O propósito de cumprir em tudo a vontade de Deus é uma das


principais características de uma nova vida em Cristo.
Já o divino Mestre nos advertia: ”Nem todo o que Me diz: Senhor,
Senhor! entrará no reino dos céus; mas aquele que faz a vontade
de Meu Pai, que está nos céus.” Mateus 7:21.

Jesus amava tanto a Sua Mãe que, na Sua extrema agonia, ainda Se
lembrou dela, confiando-a ao cuidado de João, o discípulo amado.
No entanto, quando um dia Lhe disseram: ”Eis que estão ali fora
tua Mãe e Teus irmãos que desejam falar-Te”, Ele, respondendo,
disse ao que Lhe falara: ”Quem é Minha Mãe? E quem são Meus
irmãos? E, estendendo a Sua mão para os Seus discípulos, disse:
Eis aqui Minha mãe e Meus irmãos.

128

AAlegria da Salvação

Porque, qualquer que fizer a vontade de Meu Pai que está nos céus,
este é Meu irmão e irmã e mãe.” Mateus 12:46-50.

Por sua vez, insistia o apóstolo Paulo: ”Rogo-vos, pois, irmãos, pela
compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício
vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não
vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela
renovação do vosso entendimento para que experimenteis qual
seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” Romanos 12:1,
2.

Na mesma ordem de ideias, lembrava o apóstolo João, em fase


adiantada da Sua vida: ”Não ameis o mundo nem o que no mundo
há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque
tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a
concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do
mundo. E o mundo passa e a sua concupiscência; mas aquele que
faz a vontade de Deus permanece para sempre.” l João 2:15-17.

Uma Vida Pautada pela Verdade Bíblica


Para a fruição de uma autêntica nova vida, torna-se necessário que
prestemos atenção à advertência de Jesus quando acautelou os
Seus ouvintes contra os que ”em vão Me adoram, ensinando
doutrinas que são preceitos dos homens” (Mateus
15:9); advertência esta repetida pelo apóstolo Pedro referindo-se à
”vã maneira de viver, que por tradição recebestes dos vossos pais”,
l Pedro 1:18. /

Daí o imperativo de aceitarmos e seguirmos ”a-verdade como está


em Jesus” (Efésios 4:21) e de, ao testemunharmos a nossa fé,
procedermos, não com hostilidade contra os que de nós discordam,
mas ”seguindo a verdade em caridade”. Efésios
4:15.
É digna de registo a importância atribuída por Jesus ao papel da
verdade na vida cristã.

Com efeito, no cumprimento da Sua missão a este mundo, ”o Verbo


de Deus Se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a Sua glória,
como a glória do unigénito do Pai, cheio de graça [como Salvador]
e de verdade [como Mestre].” João 1:14.

Ele próprio declarou de Si mesmo: ”Eu sou o caminho, e a

Uma
Vida Nova

129

verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por Mim.” João


14:6.

Ensinava Ele: ”Se vós permanecerdes na Minha palavra,


verdadeiramente sereis Meus discípulos; e conhecereis a verdade,
e a verdade vos libertará.” João 8:32.

Na Sua oração sacerdotal, orou Ele: ”Santifica-os na verdade; a Tua


palavra é a verdade.” João 17:17. E acrescentou: ”Por eles Me
santifico a Mim mesmo, para que também eles sejam santificados
na verdade.” E, a propósito, qual deve ser a nossa abordagem ao
estudarmos a Palavra de Deus? Uma abordagem histórico-crítica?
De maneira nenhuma. A abordagem correcta é a indicada pelo
próprio Senhor Jesus: ”Se alguém quiser fazer a vontade d’Ele, pela
mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus.” João 7:17.

Na sua primeira epístola, cap. 1:22, o apóstolo Pedro tem a


seguinte frase: ”Purificando as vossas almas na obediência à
verdade.” Com efeito, essa é a base segura em que deve firmar-se
a preparação de um carácter perfeito - o único tesouro que
podemos levar deste reino para o reino da glória.

Presença de Cristo na Vida Nova do Crente

Em 2 Coríntios 4:6, o apóstolo Paulo escreveu estas luminosas


palavras: ”Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é
quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do
conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo”.
Depois de vermos a glória de Deus reflectida no rosto de Jesus
Cristo, já não podemos continuar como antes. Cristo torna-Se o
Senhor da nossa vida. A partir desse momento, como lemos num
texto já atrás citado, ”se alguém está em Cristo nova criatura é; as
coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” 2 Cor. 5:17.

Ao escrever estas palavras, o apóstolo Paulo recordava, sem


dúvida, a sua própria experiência pessoal.

Talvez nenhuma epístola traduza melhor essa experiência do que a


epístola aos Galatas - a epístola da cruz. Nela se encontram frases
como estas:
130 A Alegria da Salvação

”Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo
vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho
de Deus, o qual me amou, e Se entregou a Si mesmo por mim.
”Gál. 2:20.

”Os que são de Cristo crucificaram a sua carne, com as suas


paixões e concupiscências.” Gál. 5:24.

”Longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso


Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e
eu para o mundo.” Gál. 6:14.

E nas suas epístolas da prisão - aos Efésios, aos Filipenses e aos


Colossenses - repete-se o mesmo pensamento.

Na sua oração pelos Efésios, ele põe-se ”de joelhos perante o Pai de
nosso Senhor Jesus Cristo, do qual toda a família nos céus e na
terra toma o nome, ”para que, segundo as riquezas da Sua glória,
vos conceda que sejais corroborados com poder pelo Seu Espírito
no homem interior, para que Cristo habite pela fé nos vossos
corações, a fim de, estando arraigados e fundados em amor,
poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual
seja a largura e o comprimento, a altura e a profundidade, e
conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendi- i mento,
para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus.” Efésios 3:14-
19. \

Na epístola aos Filipenses.ao referir-se à sua conversão, recorda


ele: ”O que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na
verdade, tenho ambém por perda todas as coisas, pela excelência
do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a
perda de todas as coisas, e as considero como esterco, para que
possa ganhar a Cristo.” Filipenses 3:7, 8.

E na epístola aos crentes de Colossos, aponta ele para ”Cristo em


vós, esperança da glória”. Colossenses 1:27.

Em suma, para ele - e também para nós - ”Cristo é tudo em todos”.


Col. 3:11.
O Espírito Santo - Penhor da nossa Herança

Antes de subir ao Céu, para ali prosseguir em nosso favor o glorioso


plano da salvação, o divino Mestre pediu ao Pai que nos

uma Vida Nova

131

enviasse ”outro Consolador, para que fique convosco para sempre”.


João 14:16. Em resposta à Sua oração, ”Deus enviou aos nossos
corações o Espírito de Seu Filho”. Galatas 4:6. Também Ele Deus
connosco, o Espírito Santo, por ser o representante de Jesus junto
de nós, é por vezes chamado o Espírito de Jesus. É-nos assim dito
que somos ajudados ”pelo socorro do Espírito de Jesus Cristo”
(Filipenses 1:19) e que ”se alguém não tem o Espírito de Cristo,
esse tal não é d’Ele”. Romanos 8:9.

Na vida nova que passámos a viver após o novo nascimento, ”o


Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus”.
Rom. 8:16. A Sua relação connosco é tão íntima que o nosso corpo
pode ser considerado como sendo um Seu templo: ”Ou não sabeis
que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós,
proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” l Coríntios
6:16.

É-nos assegurado que ”o Espírito ajuda as nossas fraquezas”, e a


tal ponto que, embora seja verdade que nem sequer ”sabemos o
que havemos de pedir como convém, o mesmo Espírito intercede
por nós com gemidos inexprimíveis”. Romanos 8:26.

E quando permitimos que o Espírito Santo dirija as nossas vidas, o


resultado ver-se-á no fruto em nós produzido: ”Caridade, gozo, paz,
longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança”.
Galatas 5:22.

Finalmente, é a presença do Espírito Santo nas nossas vidas que


nos autentica como crentes. Da mesma maneira que um
documento, para ser considerado autêntico, deve ser selado, assim
também nós o temos de ser. Por isso dizem as Escrituras que fomos
”selados com o Espírito Santo da promessa”. Efésios 1:13; cf. 4:30.
E o facto de nos ter sido outorgado o Espírito Santo e de Ele habitar
em nós, constitui a garantia dada pelo Céu de que herdaremos a
salvação se nos mantivermos fiéis. Ele é ”o penhor da nossa
herança”. Efésios 1:14; cf. 2 Coríntios 1:22; 5:5. A palavra grega
para penhor, arrabón, era usada para significar a caução, ou o sinal
pago adiantadamente, como prova de que a Quantia final seria
satisfeita.

O Espírito Santo em nós dá-nos a certeza de que não esta-

a
132 A Alegria da Salvaçãr,

mós a viver uma ilusão. Depois da vida, depois da morte,


desfrutaremos da eterna herança dos santos.

Galeria de Vidas Transformadas

Só a eternidade nos revelará a assombrosa galeria de vidas


transformadas pela graça e poder de Jesus e do Espírito Santo.

Nos tempos do Novo Testamento, que maravilhosas


transformações!

Do impetuoso João Boanerges, o filho do trovão, no discípulo


amado, o apóstolo do amor;

Da prostituta de Magdala, na arrependida crente que ungiu os pés


do Salvador com as suas lágrimas e o conteúdo de um vaso de
dispendioso nardo, e foi a primeira pessoa a quem Jesus falou
depois da Sua ressurreição;

Do odiado Levi, cobrador de impostos, no fidedigno autor do


evangelho de Mateus;

Do rico Zaqueu, chefe de publicanos, no crente que, ao aceitar a


salvação através de Cristo, decidiu dar aos pobres metade dos seus
bens e restituir em quadruplicado as vítimas da sua cobiça que
como tais pudessem ser por ele identificadas;

De Nicodemos, príncipe dos Judeus e mestre em Israel que, após


um encontro nocturno com Jesus, ocultamente manteve a sua fé
até que, após a crucifixão do divino Mestre, se uniu a José de
Arimateia, e ”levando quase cem arráteis de mirra e aloés,
tomaram o corpo de Jesus, e o envolveram em lençóis com
especiarias e o depositaram num sepulcro novo, onde ainda
ninguém havia sido posto”;

De Saulo, o enfurecido perseguidor dos cristãos, no incansável e


terno apóstolo Paulo, morto ao fio da espada por ordem do cruel
Nero.

E que dizer da Igreja primitiva? Ao escrever aos crentes de


Corinto, lembrava-lhes o mesmo apóstolo: ”Não erreis: nem os
devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efemina-
dos, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem
os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão

o reino de Deus. E é o que alguns têm sido, mas haveis sido


lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados
em nome do Senhor Jesus, pelo Espírito do nosso Deus.”

1 Coríntios 6:10, 11.

Ao longo dos séculos e nos nossos dias a lista continua.

O evangelista H. M. S. Richards, saudoso fundador das conhecidas


emissões de rádio da ”Voz da Profecia”, iniciadas em
1937, recorda no seu livro Feed My Sheep um curioso episódio
ocorrido em Londres. Há já algumas décadas - e ocasionalmente
isso ainda sucede hoje - era frequente evangelistas, ou simples
crentes leigos, pregarem no Hyde Park a grupos de pessoas que ali
se ajuntavam para os ouvir. Em certa ocasião um céptico ouvinte,
escarnecendo do orador, perguntou a um homem, aparentemente
ignorante, que se encontrava no grupo:

”Afinal, que sabe você acerca do Cristianismo?”

A resposta foi: ”Não sei muito. Não sou uma pessoa instruída.”

Então o céptico perguntou: ”Quando nasceu Cristo?”

”Não sei quando nasceu.”

”Quando morreu?”

”Não sei exactamente quando morreu.”

”Onde nasceu?”

”Não sei ao certo.”

”Na realidade, não sabe muito acerca disso, não é verdade?”


escarneceu o descrente.
”Não”, disse ele, ”não sei muito acerca dessas coisas, mas sei que
jesus fez algo por mim. Há poucos meses o meu lar era um
autêntico manicómio, um inferno na terra. Os meus filhos corriam e
escondiam-se quando eu chegava a casa. A minha mulher andava
mal vestida, chorando todo o tempo. Eu batia-lhe. e nos filhos. Eu
praguejava. Eu ficava com todo o dinheiro e gastava-o na bebida. A
vida era um inferno na terra Para eles e para mim. Mas Jesus entrou
no meu coração. Eu ouyi a pregação deste homem, e ela
transformou toda a minha vida. Agora há bastante para comer em
nossa casa. A minha
134

A Alegria da Salvação

esposa é feliz e canta todo o dia, e anda bem vestida. Quando


chego a casa, os filhos correm ao meu encontro e lançam os braços
em volta de mim. ”O papá chegou a casa!” dizem eles contentes.
Jesus fez isso por mim

Como podia alguém contestar a uma testemunha como esta? E


como este inveterado alcoólico foi transformado num sóbrio chefe
de família, milhares e milhares de transviados seres humanos se
têm convertido ”das trevas à luz e do poder de Satanás a Deus”
(Actos 26:18) - de infiéis adúlteros em reconciliados esposos; de
vítimas do tabaco, do álcool e da droga em felizes libertos dos seus
maus hábitos; de humilhadas prostitutas e de escravizados
praticantes de desvios sexuais em purificados e normais seres
humanos; de médiuns e feiticeiros dominados pelo Maligno em
ditosos servos do Deus Altíssimo.

Neste momento e a este propósito, estou a recordar-me de


Namutoca, inteligente e activa feiticeira quioca, convertida à fé
cristã em 1933. Tive o privilégio de a conhecer na década de 60.
Era então uma simpática velhinha, feliz mãe do Pastor Jereminas
Minganjo, dirigente da Igreja Adventista em Angola, e avó de
alguns netos que, como catequistas, estavam também
empenhados na expansão do Evangelho.

Graças sejam dadas ao Senhor por tão maravilhosas


transformações!
Referências

(1) H. M. S. Richards
1958, págs, 17-19.

O Dom da Vida
Eterna
a
nA introdução deste livro, ao recordarmos a
brevidade, a fragilidade, a insegurança, osofrimento e, por vezes, o
aparente absurdo
da vida humana, com o seu desfecho no pro-
gressivo esgotamento causado pela fome,
nos horrores de uma doença terminal, num

inesperado acidente de viação, num ambiente de hostilidades


bélicas, ou, simplesmente, na gradual extinção da chama vital, é
feita a pergunta: Mas afinal a vida é apenas isto?

Não, a vida não devia ser apenas isto.

Deus criou-nos para desfrutarmos de vidas felizes, coroadas pelo


dom de uma vida eterna, se, como seres morais livres,
decidíssemos viver em voluntária e perseverante obediência às
normas de governo da gloriosa família divina de que passaríamos a
ser membros.

Após a criação da humanidade, destinada a ocupar os lugares


deixados vazios pela rebelião ocorrida no Céu, Lúcifer, o filho da
luz, tornado Satanás, o rebelde, por meio de mentiras e falsas
promessas, conseguiu levar os nossos primeiros pais a aceitarem a
alternativa de governo por ele oferecida, perdendo, ftessa condição
os dons preternaturais da imunidade ao sofrimento e à morte, e
tornando-se cativos daquele que, por Usurpação, se tornou o
”príncipe deste mundo”.
(135)
136

136 A Alegria da Salvação

Neste contexto, em que a rebelião de Lúcifer foi absolutamente


espontânea e a queda de Adão e Eva foi levada a efeito pelas
mentiras e falsas promessas do Arqui-rebelde, é que o Filho de
Deus Se identificou com a escravizada humanidade, e encarnou,
sendo obediente até à morte, e morte de cruz, a fim de lhe
conceder a oportunidade de recuperar a felicidade perdida e o dom
da vida eterna.

O Príncipe da Vida

Ao referir-se ao Verbo de Deus, o apóstolo João afirma que ”n’Ele


estava a vida” (João 1:4) e o apóstolo Pedro distingue-o com o
cognome de ”Príncipe da Vida” (Actos 3:15).

Por sua vez, o apóstolo Paulo declara que Deus ”nos salvou, e
chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras,
mas segundo o Seu próprio propósito e graça que nos foi dada em
Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos; e que é manifesta agora
pela aparição de nosso Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte,
e trouxe à luz a vida e a incorrapção pelo evangelho.” 2 Timóteo
1:9, 10.

Jesus, Fonte da Vida

Como Filho de Deus, tendo a vida em Si mesmo, Jesus apresenta-Se


como Fonte da Vida.

Um dia, quando Tomé perguntou a Jesus qual o caminho a seguir, o


Mestre respondeu-lhe: ”Eu sou o caminho, e a verdade e a vida.
Ninguém vem ao Pai senão por Mim.” João 14:6.

Depois da cura do paralítico de Betesda, confirmou Jesus a mesma


afirmação: ”Assim como o Pai tem a vida em Si mesmo, assim deu
também ao Filho ter a vida em Si mesmo.” João 5:26.

No discurso proferido na sinagoga de Cafarnaum após a primeira


multiplicação dos pães, disse Jesus aos Seus ouvintes: ”Meu Pai vos
dá o verdadeiro pão do céu. Porque o pão de Deus é Aquele que
desce do céu e dá vida ao mundo. ...Eu sou o pão da vida; aquele
que vem a Mim não terá fome.” João 6:32, 35.

Num capítulo em que Jesus é apresentado como sendo o bom


Pastor, declarou Ele: ”Eu vim para que tenham vida, e a tenham
com abundância.” João 10:10.

137

O Dom da Vida Eterna 137

Por ocasião da morte de Lázaro, disse Jesus a Marta: ”Eu sou a


ressurreição e a vida; quem crer em Mim, ainda que esteja morto
(’ainda que morra’, vers. rev. Almeida, Brasil), viverá. E todo aquele
que vive, e crê em Mim, nunca morrerá (’não morrerá
eternamente’, mesma versão)” João 11:25, 26.

Em suma, tudo se sintetiza numa simples frase do apóstolo João:


”Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não
tem a vida.” l João 5:12.

O Detentor do Império da Morte

A imortalidade, ou seja, a vida eterna, não era, nem é, uma


condição inata do ser humano. Por natureza, o homem é mortal.
Mas se decidisse, por amor, levar uma vida de voluntária
obediência à conhecida vontade de Deus, receberia o dom da vida
eterna.

Infelizmente, o homem decidiu optar pela desobediência, e por


esse facto perdeu o dom da vida eterna e ficou sujeito à morte
eterna.

O autor da morte não foi Deus, mas Satanás. ”O Filho de Deus


manifestou-Se”, porém, ”para desfazer as obras do diabo” (l João
3:8), e ”para que, pela morte, aniquilasse o que tinha o império da
morte, isto é, o diabo, e livrasse todos os que com medo da morte,
estavam por toda a vida sujeitos à servidão”. Hebreus 2:14, 15.

Na linguagem bíblica, perdição corresponde à perda da vida eterna


e perecer corresponde a perder a vida eterna e, como
consequência, ter a morte eterna; por outro lado, salvação
corresponde à recepção do dom da vida eterna através da obra
expiatória e redentora do Filho de Deus.

Nesta ordem de ideias, os que perderam para sempre a vida eterna


são os perdidos; os que cumprem as condições para> receberem,
pelos méritos de Cristo, o dom da vida eterna são os salvos. No
primeiro caso, ocorre a perdição eterna; no segundo, a salvação
eterna.
138
a Alegria da Salvação

A Promessa de Vida Eterna

Embora nos Evangelhos sinópticos apareçam algumas referências


ao dom da vida eterna (p. ex., Mat. 19:16, 17, 29; Mar.
10:30; Luc. 18:29, 30), esse dom é salientado sobretudo pelo
apóstolo João, tanto no seu Evangelho, como na sua primeira
Epístola.

A Vida Eterna no Evangelho de João

Em dado momento da Sua conversa com Nicodemos, disse Jesus:


”Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o
Filho do homem seja levantado, para que todo aquele que n’Ele crê
não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus amou o mundo
de tal maneira que deu o Seu Filho unigénito, para que todo aquele
que n’Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3:15, 16.

No Seu encontro com a Samaritana, declarou Ele: ”Aquele que crê


no Filho tem a vida eterna, mas aquele que não crê no Filho não
verá a vida.” João 4:14.

No discurso do Pão da Vida, pronunciado na sinagoga de Cafarnaum


depois da primeira multiplicação dos pães, disse Jesus: ”Trabalhai,
não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para
a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará. ...A vontade
d’Aquele que Me enviou é esta: que todo aquele que vê o Filho, e
crê n’Ele, tenha a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último
dia. ...Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em Mim
tem a vida eterna.”

Ao apresentar-Se como o Bom Pastor, disse Jesus acerca das Suas


ovelhas: ”Dou-lhes a vida eterna, e nunca hão-de perecer, e
ninguém as arrebatará da Minha mão.” João 10:28. i

Finalmente, Jesus dirigiu-Se ao Seu Pai, na Sua oração sacerdotal:


”Pai, é chegada a hora; glorifica a Teu Filho, para que também o Teu
Filho Te glorifique a Ti; assim como lhe deste poder sobre toda a
carne, para que dê a vida eterna a todos quantos Lhe deste. E a
vida eterna é esta: que Te conheçam, a Ti só, por único Deus
verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.” João 17:1-3.

A Vida Eterna na Primeira Epistola de João

Na sua primeira epístola, o apóstolo João refere-se várias vezes ao


dom da vida eterna: ”A vida foi manifestada, e nós a vimos, e
testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com
o Pai, e nos foi manifestada.” l João 1:2.

”O testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida
está em Seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida, quem não tem o
Filho de Deus não tem a vida. Estas coisas vos escrevi para que
saibais que tendes a vida eterna e para que creiais no nome do
Filho de Deus.” l João 5:12, 13.

”Sabemos que já o Filho de Deus é vindo, e nos deu entendimento


para conhecermos o que é verdadeiro, e no que é verdadeiro
estamos, isto é, em Seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus
e a vida eterna.” l João 5:20.

A Vida Eterna Desde Já

Desde o momento em que, arrependidos no sentido mais


compreensivo da palavra, aceitamos pela fé a salvação
gratuitamente oferecida pelos méritos do Filho de Deus, passamos -
maravilha do amor divino! - da morte para a vida. Como afirmou o
próprio Senhor Jesus: ”Na verdade, na verdade vos digo que quem
ouve a Minha palavra e crê n’Aquele que Me enviou, tem a vida
eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a
vida.” João 5:24.

A experiência de um novo nascimento e de uma vida nova é já um


começo da vida eterna: ”Na verdade, na verdade vos digo Que
aquele que crê em Mim tem (já, no presente) a vida eterna.” João
6:47.

O sono da morte é apenas um curto intervalo inconsciente, do qual


acordamos para contemplar o Rei na Sua formosura e Participar na
glória da restauração final.
1
A Restauração Final
UMPRIDOS na Terra os objectivos da Sua encarnação, do Seu
ministério docente e da Sua missão expiatória e redentora, Jesus
regressou ao Céu como Precursor de todos quantos aceitassem a
salvação por Ele oferecida, tendo previamente deixado a
enternecedora promessa: ”Virei outra
vez, e vos levarei para Mim mesmo, para que onde Eu estiver,
estejais vós também.” João 14:3.

A Bem-Aventurada Esperança

Na sua epístola a Tito, recorda o apóstolo Paulo que ”a graça de


Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens,
ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências
mundanas, vivamos, neste presente século, sóbria, e justa, e
piamente, aguardando a bem-aventurada esperança e o
aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus
Cristo; o qual Se deu a Si mesmo por nós, para nos remir de toda a
iniquidade, e purificar, para Si, um povo Seu especial, zeloso de
boas obras.” Tito 2:11-14.

Esta bem-aventurada esperança da Segunda Vinda de Jesus


encontra-se expressa ao longo de todo o Novo Testamento.

Nas epístolas paulinas, a Segunda Vinda de Jesus é uma presença


constante. Citemos agora alguns textos, quase ao acaso:

(141)
142

AAlegria da_Salvação
v-ici oeuvação

”Quando Cristo, que é a nossa vida, Se manifestar, então também


vós vos manifestareis, com Ele, em glória.” Colossenses 3:4. ”Todo
o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados
irrepreensíveis, para a vinda do nosso Senhor Jesus Cristo.” I
Tessalonicenses 5:23.

De acordo com o ensino de Paulo, só na Segunda Vinda de Jesus


será consumado o plano da salvação: ”Cristo, oferecendoSe uma
vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem
pecado, aos que O esperam para salvação.” Hebreus

9:28.

É na Segunda Vinda de Jesus que os crentes serão imortalizados


pela ressurreição se estiverem mortos, pela transformação se
estiverem vivos: ”Assim como todos morrem em Adão, assim,
também, todos serão vivificados em Cristo. Mas cada um por sua
ordem: Cristo as primícias, depois os que são de Cristo, na sua
vinda.” l Coríntios 15: 22, 23.

”Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos


dormiremos, mas todos seremos transformados; num momento,
num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a
trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós
seremos transformados. Porque convém que isto, que é corruptível,
se revista da incorruptibilidade, e que isto, que é mortal, se revista
da imortalidade. E, quando isto que é corruptível se revestir da
incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade,
então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte
na vitória.” l Coríntios 15:51-54.

É então, na Segunda Vinda, que cada um receberá a recompensa:


”Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o
Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim,
mas, também, a todos os que amarem a Sua vinda.” 2 Timóteo 4:8.
Por sua vez, Tiago assim se refere à Segunda Vinda- ”Sede, pois,
irmãos, pacientes até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador espera
o precioso fruto da terra, aguardando-o com paciência, até que
receba a chuva têmpora e serôdia. Sede vós, também, pacientes,
fortalecei os vossos corações; porque já a vinda do Senhor está
próxima” Tiago 5:7, 8.

Predizia o apóstolo Pedro que ”nos últimos dias virão


escarnecedores, andando segundo as suas próprias
concupiscências, e UPW”!IIVft«liJ..|t|

A Restauração Final

143

dizendo: onde está a promessa da Sua vinda?” 2 Pedro 3:3, 4. Ou,


apesar da aparente e, para muitos, incompreensível demora, ”O
Senhor não retarda a Sua promessa, ainda que alguns a têm por
tardia; mas é longânimo para convosco, não querendo que alguns
se percam, senão que todos venham a arrepender-se.” 2 Pedro
3:9.

Finalmente, na sua primeira epístola, o apóstolo João tem os olhos


postos, com confiança, nesse glorioso dia: ”Agora, filhinhos,
permanecei n’Ele; para que, quando Ele Se manifestar, tenhamos
confiança, e não sejamos confundidos por Ele na Sua vinda.” l João
2:28.

No Novo Testamento encontramos uma palavra aramaica


Maranatha - que, com razão, exprimia a fé da igreja apostólica (l
Coríntios 16:22), significando ”O Senhor vem”. Constituía a
saudação mais apropriada com que os crentes, que se escreviam
ou falavam, mutuamente comunicavam a razão da alegria e
esperança que lhes iluminava a peregrina passagem pela Terra.

Sendo assim, não é de estranhar que o livro de Apocalipse, e com


ele a própria Bíblia, termine, com a segura promessa de Jesus:
”Certamente cedo venho”, e a Igreja Lhe responda, com palpitante
expectativa: ”Ora vem, Senhor Jesus!” Apocalipse
22:20.

A Parusia do Rei dos Reis

A palavra grega usada com frequência, no Novo Testamento, para


designar a Segunda Vinda de Jesus é parusia,1 que
etimologicamente implica a ideia da presença ou chegada É
empregada em contraste com outros vocábulos que significam
ausência. Assim, ao desaparecimento actual do Salvador suceder-
se-á uma Presença visível com a Sua Segunda Vinda.

Além deste sentido ordinário, parusia designa no estilo técnico


oficial a entrada solene de um soberano numa cidade ou num
reino.2 O termo adaptava-se, pois, expressivamente, à vinda de
Jesus a esta Terra, não já sob a forma humilde de que Se revestiu
na- Palestina, mas com todo o esplendor e glória, como Rei dos reis
e Senhor dos senhores.
144

O próprio Senhor Jesus Se referiu a esse aspecto da Sua Segunda


Vinda: ”Assim como o relâmpago sai do Oriente e se mostra até ao
Ocidente, assim será, também, a vinda do Filho do homem.
...Aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, ...vindo sobre as
nuvens do céu, com poder e grande glória. E Ele enviará os Seus
anjos, com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os seus
escolhidos, desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade
dos céus.” Mateus 24:27, 30, 31.

Ao mesmo resplendor da Segunda Vinda de Jesus se refere também


o apóstolo Paulo numa das suas cartas: ”O mesmo Senhor descerá
do céu, com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de
Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois
nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com
eles, nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos
sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com
estas palavras.” l Tessalonicenses
4:16-18.

E, por fim, no livro de Apocalipse é igualmente afirmado: ”Eis que


vem com as nuvens, e todo o olho O verá, até os mesmos que O
traspassaram.” Apocalipse 1:7.

A Restauração Final

É com a Sua majestosa vinda, como Rei dos reis e Senhor dos
senhores, que se inicia o Reino da Glória, e com ele a restauração
da harmonia temporariamente interrompida pela dissonância da
rebelião satânica.

A esse futuro acontecimento se referia o apóstolo Pedro, num


discurso proferido no pórtico de Salomão, situado na área do
Templo, após a cura de um pedinte, que desde o ventre da sua mãe
era coxo: ”Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam
apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do
refrigério, pela presença do Senhor, e envie Ele a Jesus Cristo, que
já dantes nos foi pregado, o qual convém que o Céu contenha até
aos tempos da restauração (apokatástasis) de tudo, dos quais Deus
falou, pela boca de todos os seus santos profetas, desde o
princípio.” Actos 3:19-21.

145

I Esta restauração é também chamada regeneração (no grego,


polingenesia. Não sugere esta palavra um novo génesis?)

Assim, quando um dia Pedro perguntou a Jesus: ”Eis que nós


deixámos tudo, e Te seguimos; que receberemos?”, o Mestre
respondeu: ”Em verdade vos digo que vós, que Me seguistes,
quando na regeneração, o Filho do homem Se assentar no trono da
Sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar
as doze tribos de Israel.” Mateus 19:27, 28.

Ainda outra palavra usada no mesmo sentido é recapitular


(kefalaiosasthal), tal como aparece em Efésios 1:9, 10:
”Descobrindo-nos o mistério da Sua vontade, segundo o Seu
beneplácito, que propusera em Si mesmo, de tornar a congregar
(recapitular, kefalaiosasthai) em Cristo todas as coisas, na
dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus
como as que estão na terra.”

Finalmente, refere-se à mesma restauração a herança preparada


para os salvos desde a fundação do mundo. Essa é a palavra usada
por Jesus nas boas-vindas aos súbditos do reino da glória: ”Vinde,
benditos do Meu Pai, possuí por herança o reino que vos está
preparado, desde a fundação do mundo.” Mateus
25:34.

E essa herança que encontramos em Colossences 1:12 ”Dando


graças ao Pai, que nos fez idóneos para participar da herança dos
santos na luz.” Cf. Efésios 1:14; Hebreus 9:15; Apocalipse 21:7.

Essa é a herança de que fala também o apóstolo Pedro, na sua


Primeira epístola: ”Bendito seja o Deus e Pai do nosso Senhor Jesus
Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo,
para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo de entre
os mortos, para uma herança incorruptível, incontânúnável, e que
se não pode murchar, guardada nos céus para vós, que, mediante a
fé, estais guardados, na virtude de Deus, Para a salvação, já
prestes para se revelar no último tempo, em que vós grandemente
vos alegrais.” l Pedro 1:3-6.
146 A Alegria da Salvação

Novos Céus e Nova Terra

Concluído o glorioso plano da salvação, na execução do qual o


amor de Deus se manifestou de tal maneira que deu o Seu Pilho
unigénito, para que todo aquele que n’Ele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna (João 3:16);

Aniquilado para sempre ”o que tinha o império da morte, isto é, o


diabo” (Hebreus 2:14);

A Bíblia Sagrada, que se inicia com a majestosa afirmação de que


”No princípio criou Deus os Céus e a Terra”, onde, pela rebelião
satânica, passou a reinar a desobediência, também referida com a
designação de injustiça, chega ao seu termo com a declaração do
apóstolo Pedro de que agora ”nós, segundo a Sua promessa,
aguardamos novos Céus e nova Terra, em que habita a justiça.” 2
Pedro 3:13.

Desde o tempo do profeta Isaías, já Deus prometera: ”Eis que Eu


crio novos Céus e nova Terra; e não haverá lembrança das coisas
passadas, nem mais se recordarão.” Isaías 65:17; cf. 66:22.

Mas é nos dois últimos capítulos de Apocalipse, com que termina a


Bíblia, que é afirmada a existência e são descritas em pormenor as
características físicas e espirituais da restauração final.

Revela o profeta João: ”Vi um novo Céu e uma nova Terra. Porque já
o primeiro Céu e a primeira Terra passaram.” Apocalipse 21:1.

Nada do que é negativo na presente dispensação se encontrará ali:


”Não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor;
porque já as primeiras coisas são passadas.” Apocalipse 21:4.

”Quanto aos tímidos (vers. rev. Brasil, ”quanto aos cobardes”)) aos
incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos fornicários, e
aos feiticeiros, e aos idólatras e a todos os mentirosos, a sua parte
será no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda
morte.” Verso 8.
Sob o ponto de vista positivo, ouviu João ”uma grande voz do Céu
que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com
eles habitará, e eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará com
eles, e será o seu Deus.” Apocalipse 21:2.

”E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas
todasas coisas. ...E disse-me mais: Está cumprido. Eu sou o Alfa e o
Ómega, o princípio e o fim. ...Quem vencer, herdará todas as
coisas; e Eu serei seu Deus, e ele será Meu filho.” Versos
5-7. Cf. 22:12-14.

Finalmente, ”o grande conflito terminou. Pecado e pecadores não


mais existem. O Universo inteiro está purificado. Uma única
palpitação de harmonioso júbilo vibra por toda a vasta criação.
D’Aquele que tudo criou emanam vida, luz e alegria por todos os
domínios do espaço infinito. Desde o minúsculo átomo até ao maior
dos mundos, todas as coisas, animadas e inanimadas, em sua
serena beleza e perfeito gozo, declaram que Deus é amor.”{3)
Referências

(1) Mat 24:3, 27, 37, 39; l Cor. 15:23; l Tess. 2:19; 3:13; 4:15; 5:23; 2 Tess. 2:1, 8; Tiago
5:7, 8; 2 Ped. 1:16; 3:4; l João 2:28. Cf. também 2 Ped. 3:12.

(2) Ver textos em Adolf Deissmann, Light From the Ancient East, Translated by L.R.M.
Stranshan. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1965, págs.
268-375.

(3) E. G. White, O Grande Conflito, trad, portuguesa, editada pela Publicadora


Atlântico, 1975, pág. 542. ........
John Newton (1725-1807)

Graça Excelsa
Amazing Grace

Melodia Tradicional Americana

1. Oh, graça excelsa2. A graça

3. Mil iu - tas,

4. E quan - doao

eel - sa de Je

II - ber - tou - me as

do - res, ten - ta

Céu em gló - riaeu

sus! Per -

sim, E

coes Ca -

for, Ao

di - do, meu te í - ram lar de

me en - con - trou! mor lê - vou. só - bre mim, Paz e luz,

Es - tan - do ce . go,

Oh! quão pré - cio-sã é o0 - rem’ a gra - ca

Pra sem - pre.en - tão eu

A Alegria

da Salvação
na Vida

do Crente
me pa me can

fez rã sal ta

ver; Da mor - te

mim A ho - rã em

vou! Fe - liz eu

rei Da gra - ça

me li - vrou!

que me a - chou!

sou, en - fim!

de Je - sus!

Efésios2:7

(151)
Cristo Alegria da Vida
4 vida de Jesus no seio da humanidade, apesar de agitada pela
violência de ventos contrários, foi sempre caracterizada por uma
paz inabalável e por uma comunicativa alegria. Após a última Ceia
com os discípulos, Jesus dirigiu-lhes, em conversa repleta de
ternura e encorajamento, palavras que jamais esqueceriam e que
podiam reproduzir, quase literalmente, enquanto vivessem.

Precisamente sobre a paz e alegria que desejava transmitirlhes,


disse o Mestre:

”Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou: não vo-la dou como o
mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.”
João 14:27. ”Tenho-vos dito isto para que em Mim tenhais paz; no
mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, Eu venci o mundo.”
João 16:33.

Tenho-vos dito isto, para que a Minha alegria permaneça em vós, e


a vossa alegria seja completa.” João 15:11.

”Na verdade, na verdade vos digo que vós chorareis, e vos


lamentareis, e o mundo se alegrará; e vós estareis tristes, mas A
palavra grega chará é traduzida, na versão Almeida que estamos usando, umas vezes Por
alegria e outras por gozo. Neste capítulo tomamos a liberdade de a traduzir sempre por alegria.

(151)
152

_ A Alegria da Salvaçâo

a vossa tristeza se converterá em alegria. A mulher, quando está


para dar à luz sente tristeza, porque é chegada a sua hora’ mas,
depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pela
alegria de haver nascido um homem no mundo. Assim também vós
agora, na verdade, tendes tristeza; mas outra vez vos verei, e o
vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará.”
João 16:20-22.

Depois de ter conversado com os discípulos, Jesus comunica ao Pai


o Seu desejo de que ”eles tenham a Minha alegria completa em si
mesmos.” João 17:13.

A Alegria de Cristo
Em que se baseava a alegria de Cristo, ao referir-Se a ela como
sendo ”a Minha alegria”?

Tendo vindo à Terra para ”buscar e salvar o que se havia perdido”


(Lucas 19:10), a maior alegria de Jesus consistia, sem dúvida, em
saber que a Sua encarnação, o Seu ministério docente, e a Sua
missão expiatória e redentora teriam como resultado a salvação
eterna de todos quantos, arrependidos e decididos a levar uma vida
em harmonia com a vontade de Deus, O aceitassem como seu
Salvador pessoal.

Essa alegria já era anunciada pelo profeta Isaías ao afirmar que ”o


trabalho da Sua alma Ele verá e ficará satisfeito” (Isaías
53:11) e encontra-se também presente na epístola aos Hebreus, ao
revelar que Jesus ”pela alegria que Lhe estava proposta, suportou a
cruz, desprezando a afronta”. Hebreusl2:2.

Alegria dos Anjos


A alegria de Jesus é igualmente partilhada pelos anjos, ao
contemplarem, nos salvos, futuros membros da sua família.
Essa foi a alegria por eles manifestada aos pastores de Belém por
ocasião do nascimento do Salvador. Depois de um anjo lhes ter
anunciado: ”Eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será
para todo o povo; pois na cidade de David vos nasceu hoje o
Salvador que é Cristo, o Senhor”, ”no mesmo instante, apareceu
com o anjo uma grande multidão dos exércitos i

Cristo Alegria da Vida

153

celestiais, louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus nas alturas,


paz na terra, boa vontade para com os homens”. Lucas
2:10, H, 13.

E de tal maneira estão os anjos interessados na salvação dos


homens que, segundo o testemunho do Senhor Jesus, ”há alegria
diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende”. Lucas
15:10.

Alegria dos Crentes


Na Igreja primitiva, a alegria de Cristo era intensamente reflectida
na vida dos crentes.

Apesar de toda a oposição, os apóstolos estavam cheios de alegria,


”regozijando-se de terem sido julgados dignos de padecer afronta
pelo nome de Jesus”. Actos 5:41.

Ao ser pregado o Evangelho em Samaria, ”havia grande alegria


naquela cidade”. Actos 8:8.

O mesmo sucedia nas cidades da Ásia Menor: ”Os discípulos


estavam cheios de alegria e do Espírito Santo.” Actos 13:52.

O apóstolo Paulo não se cansava de repetir: ”Resta, irmãos meus,


que vos alegreis no Senhor.” ”Alegrai-vos sempre no Senhor; outra
vez digo, alegrai-vos.” Filipenses 3:1; 4:4.

Por sua vez, o apóstolo Pedro, aos destinatários da sua primeira


epístola, exalta o Salvador Jesus Cristo, ”ao qual, não O havendo
visto, amais; no qual, não O vendo agora, mas crendo, vos
regozijais com alegria inefável e gloriosa; alcançando o fim da
vossa fé, a salvação das almas”, l Pedro 1:8,8, 9.

Em resumo, na pessoa de Cristo foi concedido aos homens o maior


Dom de Deus: ”Alegria aos pobres; pois Cristo viera torná-los
herdeiros do Seu reino. Alegria para os ricos; pois lhes ensinaria a
obter as riquezas eternas. Alegria para os ignorantes; torná-los-ia
sábios para a salvação. Alegria para os instruídos; desvendar-lhes-
ia mistérios mais profundos do que Os Que já haviam penetrado;
verdades ocultas desde a fundação do mundo seriam reveladas aos
homens mediante a missão do Salvador.”:
154

A Alegria da Salvação

Jesus, Fonte de Alegria

Jesus amado,

Razão tinha o anjo celeste ao anunciar aos pastores Quando


humildemente nasceste em Belém: ”Aqui vos trago novas de
grande alegria”; Razão tinhas Tu ao declarar Como objectivo da Tua
identificação connosco: ”Para que tenham a Minha alegria
completa em si mesmos.” Sim, Tu nos trouxeste

A alegria da expiação do nosso estado pecaminoso Pela Tua morte


vicária na cruz do Calvário; A alegria do perdão total do nosso
passado; A alegria da nossa libertação do cativeiro do Maligno; A
alegria de nos cobrires com o Teu manto de justiça; A alegria da
nossa adopção na Família Divina; A alegria da Tua paz, Tão
diferente da que o mundo oferece; A alegria da aliança
Que nos outorga poder para uma vida vitoriosa; A alegria do
aperfeiçoamento do carácter Por meio do sofrimento; A alegria de
podermos servir e ser úteis; A alegria de termos em Ti Um poderoso
defensor no Juízo; A alegria da certeza De que aboliste a morte

E trouxeste à luz a vida e a incorrupção pelo evangelho; E, por fim,


a alegria sem par De podermos viver contigo para sempre.
Referências *

(1) Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações. Lisboa: Publicadora Atlântico,


Primeira Edição Portuguesa, s/d, pág. 201.

A Alegria da
Salvação na Vivência
Diária
1 alegria da salvação na vida diária é o resultado de um
processo nem sempre espontâneo e uniforme.

Algumas almas sinceras, inteiramente arrependidas e decididas a


obedecer, até no - - mínimo pormenor, à revelada vontade de
Deus, e que, além disso, entregaram sem reservas a sua vida a
Jesus, vivem desassossegadas, na incerteza de que Deus as tenha
aceitado e também tenha perdoado os seus pecados.
Inconscientemente, fazem suas as palavras de David: ”As minhas
iniquidades me prenderam, de modo que não posso olhar para
cima; são mais numerosas do que os cabelos da minha cabeça;
pelo que desfalece o meu coração.” Salmo 40:12.

Essa foi a experiência de notáveis servos de Deus do passado,


antes de encontrarem a paz e a alegria da salvação.

l
Experiência de Lutero
Apesar de ter sido criado numa família cristã e de ter procurado
benefíício espiritual seguindo as normas da vidamonástica,
Martinho Lutero não conseguiu encontrar a paz de espíri to, até que
o piedoso João Staupitz interveio levando -o a depositar toda a sua
confiança nos sofrimentos de Cristo

- Oh! o meu pecado, o meu pecado, o meu pecado! - excla-

(155)
156

mou um dia Lutero na presença do seu superior hierárquico.

- Quererias tu não ser mais do que um pecador em aparência,


replicou Staupitz, e não possuir também senão somente um
Salvador em aparência? 1

Chamado a exercer o professorado na Universidade de Wittenberg,


à medida que Lutero passa a ministrar o ensino, primeiro em 1513,
sobre os Salmos, depois sucessivamente sobre as epístolas aos
Romanos e aos Galatas, mais e mais se torna clara na sua mente e
real na sua vida a verdade de que, para a sua santificação, paz
espiritual e salvação, o homem não pode basear-se em quaisquer
obras, sejam elas as aparentemente mais virtuosas, mas apenas na
graça de Cristo recebida pela fé.

E a sua experiência vai-se aperfeiçoando até àquela para sempre


lembrada ”Turmerlebnis” (descoberta da torre), no Outono de 1514,
em que na torre negra do convento apostiniano de Erfurt Lutero,
sentado diante de uma Bíblia aberta, permitiu que Deus Se dirigisse
a ele, por assim dizer, face a face.

É da iluminação espiritual da ”Turmerlebnis” que verdadeiramente


devia ser datado o início da Reforma. A essa experiência se referiu
mais tarde Lutero numa das suas conversas à mesa: ”Noite e dia
meditava até que vi a conexão entre a justiça de Deus e a
declaração de que ’o justo viverá pela fé’. Então aprendi que a
justiça de Deus é a justiça pela qual, mediante a Sua graça e
profunda compaixão, Deus nos justifica pela fé! Imediatamente me
senti renascer e me pareceu ter entrado, através das portas
abertas, no próprio paraíso. Toda a Escritura tomou para mim um
novo sentido, e assim como antes a ’justiça de Deus’ me tinha
enchido de terror, agora se me revelava como inexprimivelmente
doce e repleta de amor. O texto de Paulo tornou-se para mim uma
porta do Céu.”2

Lutero tinha, finalmente, encontrado a alegria da salvação.

Experiência de John Wesley


Apesar de ter sido o grande líder do reavivamento religioso inglês
do século XVIII, que deu origem à Igreja Metodista, John Wesley
(1703-1791) também passou alguns anos de ministério antes de
encontrar a verdadeira alegria da salvação. Depois da sua curta
experiência missionária na Georgia, Estados Unidos

. Alegria da Salvação na Vivência Diária 157

(1735-1738), ao regressar à Europa em Fevereiro de, 1838,


escreveu no seu diário: ”Fui à América para converter os índios;
mas oh, quem me converterá a mim!3

Três meses depois, operou-se na sua vida espiritual uma


transformação fulgurantemente decisiva, que o levou a renunciar a
depender das suas próprias obras para obter a justiça e a aceitar
confiantemente a salvadora graça de Cristo. Ocorreu essa
experiência durante uma reunião da Sociedade Moravia, na
Aldersgate Street, de Londres, em 24 de Maio desse mesmo ano e
precisamente às 20,45 h. Escreve ele no seu diário que, enquanto
alguém estava a ler o prefácio de Lutero à epístola aos Romanos,
em que se descrevia a mudança que Deus opera no coração pela fé
em Cristo, ”senti o meu coração estranhamente aquecido. Senti
que tinha confiado em Cristo, apenas em Cristo, para a salvação; e
foi-me concedida a certeza de que Ele tirara os meus pecados, sim,
os meus, e me salvara da lei do pecado e da
morte.”4

Nesse dia e nessa hora, chegou finalmente, para Wesley, o


momento em que experimentou a alegria da salvação.

Experiência de Francês R. Havergal

Frances Ridley Havergal (1836-1879) foi uma notável poetisa e


autora da letra de numerosos hinos cantados nas igrejas
evangélicas.

Eis como ela conta a sua transformação espiritual5: ”Em Fevereiro


de 1851 tive várias conversas com Miss Cooke, das quais saía mais
fervorosa e cheia de esperança. Uma tarde, sentei-me com ela no
sofá do salão, e disse-lhe mais uma vez quanto ansiava por saber
se já estava perdoada. Ela fez-me uma pergunta que levou à
resposta de que eu estava certa de que essa era a coisa que mais
desejava na terra, em comparação com a qual o meu precioso papá
nada era, e que estava disposta a perder irmãos e irmãs e tudo o
que amava, se tão-somente a pudesse alcançar.

”Ela fez uma pausa, e depois disse vagarosamente: ’Então, f anny,


estou certa de que não tardará muito até que o teu desejo seja
atendido e de que a tua esperança seja cumprida.’

”Depois de mais algumas palavras, ela disse: ’Porque não te


confias agora mesmo ao teu Salvador, imediatamente? Supondo
que agora, neste momento, Cristo viesse, e levasse os Seus ré-
158

AAlegria da_Salvaçâo alegria da Vivência Diária

159

dimidos, não podias confiar n’Ele? Não seria suficiente para ti o Seu
chamado, a Sua promessa? Não podias confiar a tua alma a Ele, ao
teu Salvador, a Jesus?’

”Então brilhou sobre mim um raio de esperança, que me fez sentir


literalmente sem respiração. Recordo como o meu coração
palpitava.

” ’Eu podia, certamente’, foi a minha resposta.

”Deixei-a subitamente e subi a escada que levava ao meu quarto


para ali pensar sobre o assunto. Ali me lancei de joelhos e busquei
uma compreensão plena da súbita esperança. Por fim, senti-me
muito feliz. Podia confiar a minha alma a Jesus. Não temia, não
necessitava de temer a Sua vinda. Podia confiar-me, com tudo o
que era meu, a Ele, por toda a eternidade. Era para mim uma coisa
completamente nova ter qualquer pensamento brilhante acerca da
religião que dificilmente podia crer que pudesse ser assim, que na
realidade eu tinha dado um tal passo. Então e ali, confiei a minha
alma ao Salvador, não devo dizer que sem algum tremor e temor,
mas isso fiz - e a terra e o céu me pareceram brilhantes desde esse
momento confiei no Senhor Jesus.

”Durante os poucos dias que se seguiram manteve-se a minha


felicidade. Repetidas vezes, recusei aquela entrega da minha alma
ao Salvador que havia permitido a minha entrada na alegria. Pela
primeira vez a minha Bíblia era doce para mim, e o primeiro texto
que distintamente recordo ter lido, sob uma nova e alegre luz, foi o
capítulo 14 e os seguintes do evangelho segundo João. Li esses
belos capítulos, sentindo quão maravilhosamente doces e ternos
eles eram, e que agora também eu podia participar da sua beleza e
consolação.”

Falsa Alegria da Salvação

É extremamente importante ter em conta que nem sempre é


genuína e segura a chamada experiência da alegria da salvação.
A alegria da salvação está por vezes baseada apenas numa
experiência puramente emocional, criada pelo fascínio de certos
pregadores, pela vibração de certos ritmos musicais, pelo ambiente
eufórico de certas reuniões religiosas, e pela simples afirmação
categórica de que basta crer para estar salvo - e salvo para
sempre.

1. Quando a experiência espiritual se baseia apenas, ou


principalmente, em emoções, facilmente se desvanece ao se
extinguirem tais emoções.

2. Não basta a pessoa sentir-se bem na vida que está a levar. Torna-
se necessário investigar se os seus sentimentos estão firmados em
bases seguras. Como observa Edmund Way Teale, na sua obra
Circle of Seasons, ”é moralmente tão mau não nos preocuparmos
em saber se uma coisa é verdadeira ou não, desde que nos faça
sentir bem, como não querermos saber de que maneira arranjamos
dinheiro, desde que o arranjemos.”6

3. Não é pois de admirar que Jesus tenha orado: ”Santificaos na


verdade; a Tua palavra é a verdade” (João 17:17), e que o apóstolo
Pedro tenha acrescentado: ”Purificando as vossas almas, na
obediência à verdade” (l Pedro 1:22).

4. Há sempre motivo para desconfiar de uma alegria da salvação


que não seja acompanhada pela obediência à conhecida vontade
de Deus. Como ensinou Jesus, ”Nem todo o que Me diz: Senhor,
Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade
de Meu Pai que está nos céus. Muitos Me dirão naquele dia: Senhor,
Senhor, não profetizámos nós em Teu nome? e em Teu nome não
expulsámos demónios? e em Teu nome não fizemos muitas
maravilhas? E então vos direi abertamente: Nunca vos conheci;
apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniquidade.” Mateus 7:21-
23.

Cuidado! Podemos pensar que estamos no Evangelho e no entanto


persistir ainda na desobediência...

Decálogo da Alegria da Salvação


Na Palavra de Deus encontramos, entre muitas outras, dez
afirmações que estão na base da alegria da salvação.

1. ”Deus é amor”, l João 4:8.

2. ”Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho


unigénito, para que todo aquele que n’Ele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna.” João 3:16.

3- ”Deus enviou o Seu Filho ao mundo, não para que condenasse o


mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele.” João 3:17.
160

__ A Alegria da Salvação

4. ”Pois que com amor eterno te amei, também com amorável


benignidade te atraí.” Jeremias 31:3; cf. João 12:32.

5. ”O que vem a Mim, de maneira nenhuma o lançarei fora” João


6:37; cf. Mat. 11:28-30.

6. Palavras de Jesus: ”Arrependei-vos e crede no evangelho.”


Marcos 1:15; cf. 16:16. Palavras de Pedro: ”Arrependei-vos e cada
um de vós seja baptizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos
pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.” Actos 2:38. Estou
eu arrependido no sentido mais compreensivo da palavra?

7. ”Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos


perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça.” l João 1:9;
cf. Isa. 44:22.

8. ”Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai; que fôssemos
chamados filhos de Deus. Por isso o mundo nos não conhece;
porque O não conhece a Ele. Amados, agora somos filhos de Deus,
e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos
que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque,
assim como é, O veremos. E qualquer que n’Ele tem esta
esperança purifica-se a si mesmo, como também Ele é puro.” l João
3:1-3; cf. João 1:12.

9. ”As Minhas ovelhas ouvem a Minha voz, e Eu conheço-as e elas


Me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hãode perecer, e
ninguém as arrebatará da Minha mão.” João
10:27, 28.

10. ”Virei outra vez, e vos levarei para Mim mesmo, para que onde
Eu estiver estejais vós também.” João 14:3.

Duas Concepções da Alegria da Salvação

Conta-nos Henry Drummond que dois pintores pintaram, cada um


deles, o seu quadro para ilustrar a sua concepção de repouso.
O primeiro escolheu para a sua cena um lago tranquilo e isolado no
meio de longínquas montanhas. O segundo lançou na sua tela uma
estrondosa catarata, com um frágil arbusto curvando-se sobre a
espuma; na bifurcação de um ramo, quase molhado com a espuma
da catarata, repousava um pássaro no seu ninho.
i

A Alegria da Salvação na Vivência Diária 161

No primeiro havia apenas estagnação; no segundo um verdadeiro


repouso - no meio da agitação das águas, do forte balouçar
causado pela deslocação do ar, numa situação tremendamente
ameaçadora.

A verdadeira alegria dasalvação não se retraía na estagnação do


primeiro quadro. E traduzida, pelo repouso do segundo quadro,
numa vida que, no meio da agitação do mundo, repousa numa
atmosfera celeste - atmosfera essa que dá saúde ao corpo, vigor ao
intelecto e alegria à alma.
Referências

(1) J. H. Merle D’Aubigne, History of the Reformation of the Sixteenth Century. Edinburg:
Published by Oliver & Boyd, s/d, pág. 62.

(2) Luthers Werke, ed. de Weimar, vol. LIV, pág. 185.

(3) The Journal of John Wesley, Vol. 1. London: J. M. Dent & Sons, 1930, pág. 74. , •

(4) Op. Cit., pág. 102. , ,

(5) Memorials of Francis Ridley Havergal, by her sister M.V.G.H. London: James Nisbet & Co.,
253° milhar, s/d, págs. 31, 32.

(6) Citado por Carl Sagan, Um Mundo Infestado de Demónios. Lisboa: Gradiva, 1997, pág. 27.

(7) Henry Drummond, The Greatest in the World and 21 Other Addresses. London and Glasgow:
Collins, 1966, pág. 125.
Altos e Baixos

na Alegria da

Salvação
< EPOIS de, arrependidos e justificados pela fé em

Jesus, iremos desfrutar de um feliz período de j paz e alegria da


salvação. Sucede, com frequência, ao constatarmos os nossos
involuntários e inesperados fracassos, perguntarmos a nós mesmos
se na realidade estamos convertidos. Não devemos esquecer,
porém, que a vida cristã é uma vida de luta, envolvidos como
estamos num conflito que só terminará na restauração final.

Com efeito, embora nascidos de novo espiritualmente como


descendentes do segundo Adão, continuamos ainda a viver
geneticamente como descendentes do primeiro Adão.

Continuando com o mesmo corpo que tínhamos antes da nossa


conversão, não é pois de admirar que continuemos a sofrer os
efeitos de tendências hereditárias, de perturbações orgânicas
traduzidas em temperamento ciclóide, de ajustamentos mal feitos
durante a infância e juventude, de uma eclusão imperfeita cujos
resultados ainda persistem, de um ambiente saturado de
constantes solicitações para o mal, e, finalmente, da acção pessoal
de Satanás, que ”anda em derredor, bramando como leão,
buscando a quem possa tragar.” l Pedro 5:8.

Há, pois, uma luta a travar connosco mesmos, ”porque a carne


cobiça contra o espírito e o espírito contra a carne, e estes
opõem~se um ao outro para que não façais o que quereis” (Galatas
5:17) e contra as astutas ciladas do diabo” (Efésios 6:11).

(163)
164_a alegria da salvação___

Nesta luta não necessitamos de ficar vencidos. Disso temos a


certeza: ”Fiel é Deus, que vos não deitaráde novo o

alltos e Baixos na Alegria da Salvação

165
i

m us que o que está no mundo.” l João 4:4.

”Em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por Aquele
que nos amou.” Romanos 8:37. ”Posso todas as coisas n’Aquele
que me fortalece.” Filipenses 4:13.

Como Vencer?

Ao contrário dos sábios deste mundo que com muitas palavras


dizem pouco, Jesus, o Grande Mestre, com poucas palavras muito
diz.

O ensino de Jesus a este respeito está contido numa simples


fórmula,- ”Vigiai e orai, para que não entreis em tentação: na
verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca.” Mateus
26:41.

Na palavra ”vigiar” está contido tudo o que podemos fazer por nós
mesmos; mas isso não basta. Como temos de lutar contra forças
superiores a nós mesmos, temos de recorrer ao auxílio do nosso
poderoso Aliado. Noutros termos, necessitamos de orar.

Vigiar

1. A primeira coisa sobre que devemos vigiar é o nosso próprio


coração: ”Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração,
porque dele procedem as saídas da vida.” Provérbios 4:23.

2. Fugir da ocasião favorável à queda. ”Não entres na vereda dos


ímpios, nem andes pelos caminhos dos maus. Evita-o, não passes
por ele: desvia-te dele e passa de largo.” Prov. 4:14,15. ”Tomará
alguém fogo no seu seio, sem que os seus vestidos se queimem?
Ou andará alguém sobre as brasas, sem que se queimem os seus
pés?” Prov. 6:27, 28. Foi isso que levou à queda de Eva junto da
árvore, de David ao contemplar o banho de Batseba, de Pedro ao
sentar-se na roda dos escarnecedores.

3. Resistir no princípio. ”Quem é fiel no mínimo, também é fiel no


muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito.”
Lucas 16:10.

4. Fugir de más companhias. ”Filho meu, se os pecadores te


quiserem tentar, não consintas Filho meu, não te ponhas a caninho
com eles; desvia o teu pé das suas veredas.” Provérbios
1:10, 15.

5. Subjugar o próprio corpo. ”Todo aquele que luta, de tudo se


abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós,
porém, uma incorruptível. Pois eu assim corro, não como a coisa
incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes subjugo o
meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros,
eu mesmo não venha, de alguma maneira, a ficar reprovado.” l
Coríntios 9:25-27.

Mas isto são tentativas humanas, por natureza limitadas. Como


constatou Jeremias, ”Pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo
as suas manchas? Nesse caso, também vós poderíeis fazer o bem,
sendo ensinados a fazer o mal.” Jeremias 13:23.

Orar

Por mais que façamos, não conseguimos vencer sozinhos.


Necessitamos da intervenção de um poder superior - do nosso
divino Aliado.

”Eu sou a videira verdadeira e Meu Pai é o lavrador. ...Estai em Mim


e Eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não
estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em Mim.
Eu sou a videira, vós as varas; quem está em Mim e Eu nele, esse
dá muito fruto; porque sem Mim nada podeis fazer.” João 15:1-5.

”Qualquer que permanece n’Ele não peca (no grego, não persiste
no pecado); qualquer que peca (gr., que persiste no pecado) não O
viu nem O conheceu.” l João 3:6.

”Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos


aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim que sou
manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as
vossas almas. Porque o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve.”
Mateus
11:28-30.

A Vitória é Progressiva

A perfeição do carácter, noutros termos, a santificação, não é uma


consecução repentina. É uma operação progressiva, que se estende
ao longo da vida. Como lemos em Provérbios: ”A vereda dos justos
é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia
perfeito.” Provérbios 5:18.

E como recorda o apóstolo Paulo: ”Todos nós, com cara descoberta,


reflectindo como um espelho, a glória [o carácter] do Senhor,
somos transformados de glória em glória, na mesma imagem,
como pelo Espírito do Senhor.” 2 Coríntios 3:18.

Sendo assim, diz ainda o apóstolo: ”Irmãos, quanto a mim, não


julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que,
esquecen-
166

A Alegria da Salvação

do-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão
diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prémio da soberana
vocação de Deus em Cristo Jesus.” Filipenses 3:13, 14.

Uma Coisa te Falta

Apesar de todo o cuidado, é possível que a paz não seja completa,


e que a alegria da salvação não seja ainda um estado de espírito
plenamente desfrutado.

Ao aproximar-se de Jesus, o desejo do mancebo rico era possuir a


alegria da Salvação. O Mestre, porém, conhecendo o que se
passava no seu coração, disse-lhe: ”Uma coisa te falta.” O que lhe
faltava era simplesmente desfazer-se de um ídolo - o amor à
riqueza. Não estando disposto a desfazer-se desse ídolo, ”retirou-se
triste”, sem a alegria da salvação. Marcos 10:21, 22.

O mesmo pode suceder, talvez inconscientemente, a cada um de


nós. No seu livro The Christian’s Secret of a Happy Life \ Hannah S.
Smith escreve o que sucedeu na sua própria vida.

”Mudáramos para uma nova casa, e ao examiná-la a fim de ver se


estava em ordem para ser ocupada, deparei, na arrecadação, com
um pequeno barril, limpo e de óptimo aspecto, aparentemente bem
fechado. Argumentei comigo mesma se deveria tirá-lo da
arrecadação e abri-lo para ver o que continha, mas concluí que, em
virtude de parecer estar vazio e limpo, era melhor deixá-lo ali
mesmo, especialmente considerando o trabalho de levá-lo escada
acima. Sempre no Outono e na Primavera eu me lembrava daquele
barril com uma pequena dor na consciência de dona de casa,
sentindo-me desassossegada sob o pensamento de que, enquanto
ele permanecesse fechado, não seria possível ter uma casa
perfeitamente limpa. Quem sabe se não haveria algum mal
escondido debaixo daquele óptimo aspecto exterior? Consegui mais
uma vez acalmar os escrúpulos sobre o assunto, pensando sempre
na dificuldade que a investigação acarretaria, e durante dois anos o
barril de inocente aparência permaneceu calmamente na
arrecadação.
Em dada altura, a casa começou a ser invadida por traças. Tomei as
mais severas precauções contra elas, e fiz tudo ao meu alcance
para as erradicar, mas tudo em vão. Elas multiplicavam-se
rapidamente e ameaçavam arruinar tudo quanto possuíamos.

Suspeitei das alcatifas como sendo a possível causa, e mandei


limpá-las completamente. Suspeitei da mobília, e mandei estofá-la
de novo. Suspeitei de tudo, até do impossível.

167

Altos e Baixos na Alegria da Salvação 167

Finalmente, o meu pensamento voou para o barril. Imediatamente


mandei tirá-lo da arrecadação e abri-lo. Penso ser desnecessário
dizer que milhares de traças se espalharam por todos os lados. O
antigo ocupante da casa deve ter fechado o barril, deixando no seu
interior algo que nutriu as traças, e esta foi a causa da minha
tribulação.”

Quem sabe se algo oculto, quase inconscientemente, e ainda não


confessado e deixado, estará minando a nossa paz e privando-nos
da alegria da salvação?

”Torna a dar-me a alegria da salvação”

Apesar da sua habitual consagração, alguns servos de Deus


experimentaram, ocasionalmente, nas suas vidas, lamentáveis
quedas.

Registemos apenas dois casos - o de David, causando a morte de


Unas para casar com a sua esposa Batseba, e o de Simão Pedro,
negando, hipocritamente, a sua ligação com Jesus.

Ambos, porém, se arrependeram.

Do arrependimento de David dá testemunho o Salmo 51, em que


ele extravasa o seu pesar: ”Tem misericórdia de mim, ó Deus,
segundo a Tua benignidade; apaga as minhas transgressões,
segundo a multidão das Tuas misericórdias. ...Contra Ti, contra Ti
somente pequei. ...Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e
renova em mim um espírito recto. Não me lances fora da Tua
presença, e não retires de mim o Teu Espírito Santo. Torna a dar-me
a alegria da Tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário.
Então ensinarei aos transgressores os Teus caminhos, e os
pecadores a Ti se converterão.” Salmos 51:1, 4, 10-13.

Por sua vez, ao sentir os olhos de Jesus fixados sobre os seus olhos,
não com uma expressão de censura e desprezo, mas de compaixão
e puro amor, ”saindo Pedro para fora, chorou amargamente.” Lucas
22:62.

Perante a afirmação de que ”Deus é longânimo para convosco, não


querendo que alguns se percam, senão que todos venham a
arrepender-se” (2 Pedro 3:9), estamos certos de que tanto David
como Pedro vieram a recuperar a alegria da salvação.

Cristo, Nossa Justiça

Sintetizemos, mais uma vez, em poucas palavras, o que se toma


necessário para que experimentemos a alegria da salvação.
168 A Alegria da Salvação

1. Deus requer obediência, não com o propósito de impor a Sua


autoridade, mas para que formemos caracteres que nos habilitem a
viver, para sempre, como filhos na Família celeste.

2. A justiça ensinada por Cristo é a harmonia de coração e de


comportamento com a revelada vontade de Deus.

3. A revelada vontade de Deus é também conhecida pela designação de


Lei de Deus. E a obediência à Lei de Deus é também conhecida pela
designação de justiça

4. Na situação actual da natureza humana, não conseguimos alcançar,


por nós mesmos, essa justiça.

5. Como nosso Substituto e Fiador, Cristo foi obediente até à morte e


creditou-nos Sua própria justiça.

6. Quando, sinceramente arrependidos da nossa desobediência,


tomamos a firme decisão de passar a viver de acordo com a revelada
vontade de Deus, Cristo supre a imperfeição da nossa obediência com a
perfeição da Sua obediência, e a imperfeição da nossa justiça com a
perfeição da Sua justiça.

7. Nestes termos, somos justificados pela fé e temos paz com Deus por
nosso Senhor Jesus Cristo.

8. Embora a vitória sobre o pecado exija vigilância e luta da nossa


parte, nunca experimentaremos a alegria da salvação se concentrarmos
a atenção em nossos próprios defeitos ou supostos êxitos.

9. De acordo com a expressiva frase de certo humilde crente, quando


olho para mim, não vejo como possa salvar-me; quando olho para
Cristo, não vejo como possa perder-me.

10. Fortalecidos assim pela fé em Cristo, podemos ter a certeza de que


Satanás não consegue vencer uma única alma que se rende confiante a
Jesus.

A nossa alegria da salvação repousa, pois, inteiramente, em Cristo


justiça nossa.

”Regozyar-me-ei muito no Senhor, a minha alma se alegra no meu


Deus; porque me vestiu de vestidos de salvação, me cobriu com o
manto de justiça, como um noivo que se adorna com atavios, e como
noiva que se enfeita com as suas jóias.” Isaías 61.10.
Referências

(1) Hannah Wlutall Smith, Christian’s Secret of a Happy Life. New York: Flenvming H. Rekell Co.,
1941, págs. 141, 142.

Relacionamento

Social
9 crente que se regozija na alegria da salvação não vai desfrutá-la,
egoisticamente, numa encantada torre de marfim ou numa
desabitada ilha perdida no Oceano. Ele vive integrado numa
sociedade e, como tal, tem de se relacionar com outros membros
da mesma sociedade - quer no círculo restrito do lar, da escola, da
igreja, quer no seu local de trabalho e na esfera ainda mais ampla
da sociedade em geral.

A Alegria da Salvação na Vida do Lar

A alegria da salvação manifesta-se espontaneamente no


relacionamento entre marido e esposa, relacionamento esse
maravilhosamente comparado, pelo apóstolo Paulo (Efésios
5:21-33), ao que existe entre Cristo e a Sua Igreja.

Manifesta-se também no relacionamento dos pais com os filhos.

Como seria belo se de cada pai e mãe pudesse ser dito, como foi
dito de Abraão, por Deus, que tudo conhece: ”Eu o tenho
conhecido, que ele há-de ordenar a seus filhos e a sua casa depois
dele, para que guardem o caminho do Senhor.” Génesis
18:19.

Dois preciosos conselhos são dados a esse respeito: ”Instrui

(169)
170

- . „ A Alegria da Salvação

ao menino no caminho em que deve andar; e até quando


envelhecer não se desviará dele.” Provérbios 22:6. ”Vós, pais, não
irriteis os vossos filhos, para que não percam o ânimo.”
Colossenses 3:21.

E que alegria será se, quando lhes for perguntado: ”Onde está o
rebanho que te foi confiado, o teu lindo rebanho?” (Jeremias 13:20,
Ed. Rev. Actual. - Brasil), puderem responder: ”Eis-me aqui, com os
filhos que me deu o Senhor.” Isaías 8:18; cf. Hebreus 2:13.

A propósito da alegria da salvação no lar, recordo uma experiência


ocorrida com Moisés Nigri, pastor adventista reformado, felizmente
ainda vivo.

Um dia, quando ia a entrar no carro para regressar a casa, foi


abordado por dois jovens armados que o obrigaram a levá-los com
ele até à casa onde vivia.

Ali chegados, percorreram todas as divisões, escolhendo e


apanhando tudo o que lhes agradou, e em seguida - sempre
armados - obrigaram Nigri a colocar no seu carro os objectos
roubados.

Mas o incidente não termina aqui. A Sra. Nigri dirigiu-se aos jovens
e convidou-os a jantar com eles. Desceram todos para a cozinha,
onde ela preparara uma deliciosa refeição caseira. Depois de se
terem sentado, o chefe da casa convidou cada um a inclinar a
cabeça enquanto ele orasse pedindo a bênção de Deus sobre a
refeição. O que é verdade é que os jovens inclinaram as suas
cabeças. Finalmente, depois de terem desfrutado a saborosa
refeição e a agradável conversação, os jovens ”ladrões” pediram
licença, foram até ao carro e trouxeram de novo tudo para casa!

Moisés Nigri perguntou-lhes então porque é que tinham mudado de


plano. Eles responderam que tinham ficado sensibilizados com a
atitude do idoso casal e - quem tal esperaria? que o rosto da Sra.
Nigri lhes fazia recordar os das suas pró- ; prias mães.
A Alegria da Salvação na Escola
Depois do lar, é na escola que a criança e o jovem passam a
!

A Alegria da Salvação no Relacionamento Social

171

maior parte do seu tempo. Feliz a escola em que o relacionamento


entre professores e alunos é inspirado pela alegria da salvação.

Nos conturbados tempos em que vivemos, ainda haverá escolas


dessas? Sim, ainda as há, e conhecemos algumas delas.

E como são os professores dessas escolas? Num inquérito realizado


não há muito, entre alunos de escolas secundárias adventistas, eis
as características, reais ou ideais, que eles apreciavam nos seus
professores:

1. Compreensão. O educador que compreende é alguém que


encontra tempo para estar com os jovens a fim de os ouvir. Se
deseja tornar-se eficiente, deve tornar-se acessível.

2. Carácter íntegro. Os jovens percebem rapidamente a


superficialidade moral do seu educador. Mas respeitam e desejam
imitar o professor que consideram um gigante na integridade do
carácter.

3. Conhecimento. Os alunos são atraídos para professores que são


cultos, organizados e que sabem o que estão a fazer.

4. Personalidade. Os alunos querem pessoas felizes e radiantes


como professores. Os inquiridos foram francos em afirmar que
alegria, felicidade e qualidades espirituais assinalam a
personalidade de que mais gostam.

A propósito da alegria da salvação nas escolas, ocorre-nos a


seguinte experiência contada pelo orador de uma recente Semana
de Oração:

”Li em certo lugar acerca de um jovem pai que se tinha afastado de


Deus. Tinha chegado ao termo da sua resistência. Chegou até a
pensar em suicidar-se. Deus, porém, tocou na sua vida, e ele iniciou
uma nova relação com o seu Salvador.

”Aquele homem tinha um filho de 14 ou 15 anos que nunca tinha


aceitado a Cristo. O rapaz notou a transformação operada em seu
pai. Passadas apenas duas semanas, perguntou-lhe: ’Papá, que se
tem estado ultimamente a passar contigo?’

”Procurando as palavras exactas, o pai disse-lhe: ’Olha, filho, penso


que estava a pôr toda a minha vida numa grande desordem, e
decidi pedir a Deus que interviesse e me ensinasse a correcta
maneira de viver.’
172

”O jovem fixou os olhos no chão. ’Papá,’ disse ele calmamente,


’penso que também gostaria de fazer o mesmo.’

”O pai sentiu as lágrimas a deslizarem no seu rosto, e ali choraram


os dois - pai e filho.

”No dia seguinte o pai empreendeu uma viagem de negócios, que


se estendeu por duas semanas.

”Anelava chegar a casa. Quando o avião em que viajava chegou ao


aeroporto, o filho logo que pôde correu ao encontro do pai. Os seus
olhos brilhavam de excitação. ’Papá’, disse ele, sustendo a
respiração numa voz que traduzia espanto, ’sabes o que Deus fez?’

” ’Não, filho, que fez Ele?’

” ’Ele transformou todos os colegas da minha classe!”

Sim. A alegria da salvação é comunicativa!

A Alegria da Salvação no Seio da Igreja


Se existe algum lugar onde a alegria da salvação se deva
manifestar na sua plenitude é precisamente no seio da igreja cristã.

E porquê?

No Salmo 126:3 encontramos a resposta: ”Grandes coisas fez o


Senhor por nós, e por isso estamos alegres.”

E que grandes coisas fez o Senhor por nós?

Enumeremos apenas algumas:

1. O próprio Filho de Deus identificou-Se connosco para nos salvar.

2. Pela Sua morte satisfez a pena das nossas transgressões.

3. Libertou-nos do cativeiro de Satanás.


4. Atraiu-nos para Si.

5. Passámos das trevas para a luz.

6. Foram perdoados os nossos pecados.

7. Fomos adoptados na Família Divina.

8. Entrámos numa aliança em que recebemos graça e poder para


vencer.

9. Foi-nos dada uma vida abundante, digna de ser vivida.

10. Foi-nos dada a vida eterna.


174 A Alegria da Salvação

Esta reverente e, no entanto, expansiva alegria, ”reflectindo como


um espelho a glória do Senhor” (2 Coríntios 3:18), manifesta-se no
caloroso acolhimento dado pelos recepcionistas, na expressão feliz
dos membros sentados nos seus lugares, no relacionamento dos
oficiais da igreja com os membros e visitantes, e no rosto do
pregador ou de qualquer outra pessoa que tenha de falar em
público.

Embora reverentes, serão igualmente alegres os seus cânticos, de


acordo com o conhecido texto de Isaías 65:14 - ”Eis que os Meus
servos cantarão por terem o seu coração alegre.”

”Quando a luz do céu incidir no instrumento humano, a sua


fisionomia exprimirá a alegria do Senhor na alma. É a ausência de
Cristo na alma que torna as pessoas tristes e de espírito duvidoso.
É a falta de Cristo que entristece o semblante, e a vida se torna
uma peregrinação de suspiros. Alegrar-se é a própria nota tónica da
Palavra de Deus para todos quantos O recebem. Porquê? Porque
têm a luz da vida. A luz traz alegria, e essa alegria exprime-se na
vida e no carácter.1

A Alegria da Salvação na Expansão do Evangelho

O primeiro impulso do crente que experimenta a alegria da


salvação é comunicar, a todos quantos lhe seja possível, a preciosa
descoberta que acabou de fazer.

É o impulso de um mendigo que o leva a dizer a outro mendigo


onde pode encontrar pão de graça.

É o impulso que leva o nómada do deserto a encaminhar o sedento


recém-chegado para uma fonte de límpida água fresca.

Quando no século XIX se iniciaram as missões evangélicas em


Angola, um dos primeiros conversos foi um jovem chamado Sanji.

Durante algum tempo viveu com os seus parentes e vizinhos sem


ser molestado, dando sempre um bom testemunho da sua fé. Mas,
decorrido poucos meses, começaram a maltratá-lo, até que um dia
deixaram-no na floresta, ferido e coberto de sangue.
Aconteceu que por ali passou outro crente e o levou para a missão,
onde foi tratado dos seus ferimentos.

A Alegria da Salvação no Relacionamento Social

175

Depois de curado, manifestou a intenção de voltar para a sua


aldeia, para lá continuar a pregar o evangelho.

Ao chegar à sua aldeia, reuniu um grupo de pessoas e contou-lhes


uma fábula, no estilo africano de então.

”Vou contar-vos uma história. Houve em tempos uma seca tão


grande que todos os habitantes da Terra sofreram sede e todas as
colheitas se perderam. Por esse motivo, muitos animais, entre os
quais o elefante, o leão, as cabras de todas as variedades e até
uma simples tartaruga, cheios de sede, reuniram-se na selva,
formando um grande círculo.

”Enquanto os animais discutiam o assunto da seca e, também, o


que poderiam fazer para resolver esta grande dificuldade, a
tartaruga adiantou-se e disse: ’Ouçam o que vos digo: Eu sei onde
há água.” Ao ouvir estas palavras, o leopardo zangou-se, achando-
as atrevidas na tartaruga, e atirou-a para fora do círculo. Mas como
a tartaruga tem as costas muito duras, a queda não a magoou. Por
isso, entrando novamente no círculo donde a havia expulsado,
repetiu a afirmação: ”Eu sei onde há água.” Desta vez foi o elefante
que se zangou e pisou com as fortes patas o pobre animal. Mas,
devido à resistência das suas costas, nada sofreu com a brutalidade
do elefante. E, saindo ilesa, pela terceira vez ela repetiu: ”Eu sei
onde podem achar água.” Ao ouvir novamente estas palavras,
disse-lhe uma cabra: ”Olha lá, ó tartaruga, se tu sabes onde há
água, ensina-me o caminho.” Então a humilde e mansa tartaruga,
com muita paciência, ensinou a todos os animais o caminho para a
água que se achava numa caverna e todos assim escaparam a uma
morte certa.

Ao terminar a fábula, Sanji prosseguiu, dizendo: ”Meus amigos,


podeis falar mal de mim, podeis perseguir-me, podeis até espancar-
me, mas isso não me faz diferença nenhuma. Tenciono continuar
aqui e anunciar o evangelho, porque já encontrei a bendita água da
vida eterna. O meu maior desejo é que também vós encontreis esta
água da vida eterna.”2

Essa é a água a que se referiu o profeta Isaías quando escreveu: ”E


vós com alegria tirareis águas das fontes da salvação.” Isaías 12:3.

Também a essa água Se referiu Jesus, ao dizer: ”Aquele que beber


da água que Eu lhe der nunca terá sede, porque a água
176

A Alegria da Salvação

que Eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida
eterna.” João 4:14.

Quando alguém encontrou o pão da vida e a água da vida, já não


pode conter-se.

Ao sentir a alegria que vai em sua alma, entusiasma-se e põe em


execução as últimas palavras proferidas por Jesus antes de subir ao
Céu: ”Ser-Me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda
a Judeia e Samaria, e até aos confins da Terra.” Actos 1:8.

E qual será o resultado?

O mesmo que se observou na cidade de Samaria, quando Filipe


anunciou ali as boas novas da salvação: ”Havia grande alegria
naquela cidade.” Actos 8:8.

E também o mesmo que se encontra registado no Salmo


126:6 - ”Os que semeiam em lágrimas, segarão com alegria.
Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará
sem dúvida com alegria trazendo consigo os seus molhos.”

Como é sabido, evangelho significa boas novas, e as boas novas


causam alegria. Sendo assim, o anúncio do evangelho da salvação
causa alegria, e essa alegria produz entusiasmo, e esse entusiasmo
desperta potencialidades latentes, e desencadeia sinergias
colectivas, sobretudo no seio da juventude, o que nos leva à
seguinte conclusão: ”Com tal exército de obreiros como o que
poderia fornecer a nossa juventude devidamente preparada, quão
depressa a mensagem de um Salvador crucificado, ressuscitado e
prestes a vir poderia ser levada a todo o mundo!”3
Referências

(1) E. G. White, Filhos e Filhas de Deus, trad. port. São Paulo: Casa Publiicadora Brasileira,
1956, pág. 200.

(2) Duane V. Walne, in Raio de Sol, publicação mensal, Porto, Julho de 1946, pág. 51.

(3) E. G. White, Educação, trad. port. São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, s/d, pág. 271.
A Alegria da
Salvação

I no Sofrimento e na
Morte
uM dos versículos mais estranhos na tradução
jf M Almeida que temos usado ao longo deste nosso
estudo é o que se encontra em Tiago 1:2 -

•Hf m ”Meus irmãos, tende grande gozo quandoVós cairdes


em várias tentações.”

Como é isso possível? Não nos ensinou o divino Mestre a orar: ”Não
nos induzas à tentação” (Mateus
6:13), ou, como se diz correntemente, ”Não nos deixes cair em
tentação”?

E o que ainda é mais estranho é que a palavra grega peirasmós,


traduzida por tentação, é a mesma nos dois textos.

O que sucede, porém, neste como em muitos outros casos, é que o


mesmo vocábulo pode ter vários significados. No caso concreto,
peirasmós, em qualquer bom dicionário, tanto significa tentação,
como prova, provação.

É por isso que na tradução Almeida revista e actualizada, do Brasil,


se lê assim: ”Meus irmãos, tende por motivo de toda a alegria o
passardes por várias provações, sabendo que a prova da vossa fé,
uma vez confirmada, produz perseverança.”

Ora uma das mais frequentes, e por vezes mais duras, provações
por que passa o ser humano é, precisamente, o sofrimento.

(177)
’! ’Tl

178

_A Alegria da Salvação

Origem do Sofrimento
1. Disciplina do Amor

Para o aperfeiçoamento do nosso carácter todos necessitamos de


ser disciplinados. Alguns textos bíblicos são bem explícitos a este
respeito:

Apõe. 3:19 - ”Eu repreendo e castigo a todos quantos amo.” Heb.


12:5, 6 - ”Já vos esquecestes da exortação que argumenta
convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a correcção do
Senhor, e não desmaies quando por Ele fores repreendido; porque o
Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho.
Se suportais a correcção, Deus vos trata como filhos; porque, que
filho há a quem o pai não corrija?”

Sal. 119:67, 71 - Antes de ser afligido andava errado, mas agora


guardo a Tua palavra.” ”Foi-me bom ter sido afligido, para que
aprendesse os Teus estatutos.”

2. Por vezes Deus, permite que Satanás faça sofrer, para defender a
causa dos justos

r Um dos exemplos mais conhecidos é o de Job. Nos capítulos l e 2,


Satanás afirma que Job serve a Deus por interesse, mas que se for
atingido pelo sofrimento deixará de O servir e chegará até a
amaldiçoá-1’0. Para provar o contrário, e em defesa de Job, Deus
permite que Satanás o faça sofrer.

Job 1:11, 12 - ”Mas estende a Tua mão e toca-lhe em tudo quanto


tem, e verás se não blasfema de Ti na Tua face. E disse o Senhor a
Satanás: Eis que tudo quanto tem está na tua mão; somente contra
ele não estendas a tua mão.” Cf. 2:5, 6 ”Estende, porém, a Tua mão
e toca-lhe nos ossos e na carne, e verás se não blasfema de Ti na
Tua face! E disse o Senhor a Satanás: Eis que ele está na tua mão;
poupa, porém, a sua vida.”
3. Satanás é o grande causador do sofrimento a) Levando o homem
a pecar, é ele que está por detrás do uso e abuso do fumo, do
álcool, da droga, da imoralidade, da infidelidade conjugal, da
delinquência juvenil, da ociosidade, da violência em todas as suas
vertentes, da corrupção finan-

A Alegria da Salvação no Sofrimento e na Morte

ceira, etc. E qual é o resultado? ”Não erreis: Deus não Se deixa


escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também
ceifará.” Galatas 6:7.

b) Doenças atribuídas por Jesus a Satanás. Por exemplo, a mulher


encurvada, que ”há dezoito anos Satanás tinha presa”, t „ Luc.
13:16. Nos Evangelhos nunca lemos que Jesus tenha causado
alguma enfermidade, mas sessenta vezes O vemos relacionado
com ”cura” e ”curar”.

c) Infelizmente, é frequente atribuir-se a Deus o que é causado por


Satanás. ”Pretendendo para si os atributos de misericórdia,
bondade e verdade, Satanás atribuía os seus próprios atributos a
Deus. Esses enganos deviam ser demonstrados como falsos por
Cristo em Sua natureza humana.”1

d) Ao longo dos séculos, Satanás tem sido o autor de todas as


perseguições contra os crentes, causando-lhes sofrimento e até a
morte.

Alegria no Sofrimento
Em todo o Novo Testamento são frequentes as referências de Jesus
e dos Apóstolos à alegria no meio do sofrimento. /^

No Sermão da Montanha, são numerosos os que passam pelo


sofrimento a quem Jesus chama felizes, bem-aventurados: ’ . ”Bem-
aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus. Bem-
aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis fartos.
Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir.
Bem-aventurados sereis quando os homens vos aborrecerem e
quando vos separarem, e vos injuriarem, e rejeitarem o vosso nome
como mau, por causa do Filho do homem. Folgai nesse dia e
exultai; porque eis que é grande o vosso galardão no céu, pois
assim faziam os seus pais aos profetas.” Lucas 6:20-23.

No livro de Actos, vemos os primeiros crentes ”regozijandose de


terem sido julgados dignos de padecer afronta pelo nome de
Jesus”. Actos 5:41.

E impressionante o filme de desastres que Paulo faz correr diante


de nossos olhos em 2 Cor. 11:24-28: ”Recebi dos judeus cinco
quarentenas de açoites menos um. Três vezes fui açoita-

is
180

A Alegria da Salvação

do com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio,
uma noite e um dia passei no abismo. Em viagens muitas vezes,
em perigo de rios, em perigos de salteadores, em perigos dos da
minha nação, em perigos dos gentios, em perigos na cidade, em
perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre os falsos
irmãos; em trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e
sede, em jejum muitas vezes, em frio e nudez. Além das coisas
exteriores, me oprime cada dia o cuidado de todas as igrejas.” E
como se sentia Paulo no meio de todos os seus sofrimentos?
”Superabundo de gozo em todas as nossas tribulações” (2 Cor.
7:4); ”E disse-me: A Minha graça te basta, porque o Meu poder se
aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade pois me gloriarei nas
minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. Pelo
que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas
perseguições, nas angústias por amor de Cristo.” (2 Cor. 12:9, 10).
Paulo não queria beneficiar apenas à custa do sacrifício de Cristo;
desejava também participar nos Seus sofrimentos. Por isso
escreveu: ”Na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo.”
(Col. 1:24). Por sua vez, exortava o apóstolo Pedro: ”Alegrai-vos no
facto de serdes participantes das aflições de Cristo, para que
também na revelação da Sua glória vos regozijeis e alegreis.” l
Pedro 4:13.

Apesar de toda a sua coragem, o grande reformador Martinho


Lutero também por vezes teve os seus períodos de depressão. Um
dia, ao entrar em casa desanimado e abatido, encontrou sua
esposa vestida de luto. Perguntou: ”De que se trata, Catarina?
Quem morreu? Que aconteceu?”

Ela não respondeu - limitou-se a andar na sala com os seus trajes


pretos de viúva. Lutero perguntou-lhe outra vez: ”Quem morreu?”

Então sua esposa disse: ”Deus morreu”.

”Deus morreu!”, exclamou Lutero. ”Deus não pode morrer. Deus é


imortal!”

”Não”, disse ela. ”Deus morreu, Deus morreu, Martinho.” ”Mas não.
Não sejas doida. Deus não pode morrer.”
181

A Alegria da Salvação no Sofrimento e na Morte


v juA~e,x.~- - .-

”Oh”, disse ela, ”Ele deve ter morrido, pois caso contrário o meu
Martinho nunca se teria sentido tão desanimado como tem estado
durante a última semana.”

Escusado será dizer que Lutero aprendeu a lição, e recuperou a sua


habitual coragem e alegria.2

Há tempos li a experiência de uma jovem de 18 anos que já tinha


passado por seis grandes operações e ainda não estava bem. ”Ela
morrerá a não ser que faça outra operação”, disse um dos mais
competentes cirurgiões,” e ela morrerá se fizer outra

operação.”

Contou ela: ”Eu estava no hospital aguardando a minha sétima


operação. Estava tão nervosa e cheia de dores desde a cabeça até
aos pés que me parecia impossível resistir a esta prova. Peguei na
minha Bíblia e disse: ’Querido Jesus, dize-me por favor algo que me
ajude a passar pela operação a que hoje vou ser submetida.’ Abri a
Bíblia ao acaso, e meus olhos caíram nas palavras de Job 5:17-19:
’Eis que bem-aventurado é o homem a quem Deus castiga; não
desprezes, pois, o castigo do Todo-poderoso. Porque Ele faz a chaga
e Ele mesmo a liga; Ele fere, e as Suas mãos curam. Em seis
angústias me livrará, e na sétima o mal te não tocará.’ Eu disse:
’Obrigada, Jesus; eu sei

que resistirei.’” ^ Na ocasião em que esta experiência foi


registada, escreveu

• o autor: ”E resistiu. Há 40 anos que O está servindo fervorosaH


mente desde então.”

• No seu livro Though the Winds Blow, conta Robert Pierson H a


seguinte experiência. ”Há algum tempo atrás no Estado Livre de
Orange, África do Sul, encontrei a Sra. Ellen Dippenaar. Ela
estava radiante com uma alegria interior, tudo em volta dela
difundindo felicidade. Mas a Sra. Dippenaar era cega e confinada a
uma cadeira de rodas, com as mãos muito desfiguradas. Anos
antes Ellen Dippenaar tinha contraído lepra. Durante o tempo que
passou na leprosaria sobrevieram-lhe sofrimentos à escala de Job:
O seu único filho morreu de poliomielite, o seu marido sucumbiu
devido a cancro, uma irmã morreu num acidente de automóvel.
-i
182

E um dia, enquanto punha gotas nos olhos de Ellen, a enfermeira


cometeu um erro terrível - as ’gotas para os olhos’ eram ácido
carbólico, um desinfectante venenoso - e a vista de Ellen ficou
destruída. Pouco depois a gangrena tornou necessária a amputação
de uma perna. Durante os primeiros cinquenta e cinco anos de sua
vida a Sra. Dippenaar tinha tido cinquenta e seis operações, e
parecia incrível que uma pessoa pudesse ter tido tanto sofrimento,
tantas calamidades, no decurso de uma vida.

O que esperaríeis de uma pessoa que tinha experimentado tantas


tragédias? De que falaria ela? Dos seus infortúnios? Da sua má
sorte? Da injustiça de tudo isso? Não Ellen Dippenaar. Ela falava
das suas bênçãos, da bondade de Deus, de tudo o que Ele tinha
feito por ela. Não era fingimento. Não era simulação. O rosto
radiante de Ellen confirmava toda a palavra que ela dizia.

A Sra. Dippenaar tinha aprendido a fonte de alegria justamente


como outro cristão chamado Bill Kinsey a tinha descoberto.

”Eu penso que Bill Kinsey vai ao céu todas as noites”, exclamava
Betty, uma simples criança.

”Por que dizes isso?” perguntou a mãe.

”Mamã, o Sr. Kinsey deve ir ao céu cada noite, porque ele é tão
feliz cada dia!”

Bill Kinsey tinha a sua própria explicação para a alegria que ele
conhecia: ”Alegria”, dizia Bill, ”é a bandeira hasteada no castelo do
coração quando o Rei ali está a residir.”3

Alegria na Morte

Lemos no Salmo 103:3 - Ӄ Ele que perdoa todas as tuas


iniquidades e sara todas as tuas enfermidades.”
É absolutamente certo que Deus perdoa todas as nossas
iniquidades; mas será mesmo verdade que Ele cura todas as
nossas enfermidades? Sem dúvida alguma, é verdade.

Não sei quantas doenças já teve o leitor desde que nasceu.

A_Alegria da Salvação | A Alegria da Salvação_no_Sofrimento e_ na Morte

183

Até aqui todas foram curadas. As que ainda não foram vão ser com
o tempo. Chegará, porém, uma altura em que o Divino Cirurgião,
lhe dirá: ”Isto agora só vai com uma operação. Mas é tudo muito
simples. Depois de uma anestesia geral, a que alguns também
chamam morte, vou operar-te, e acordarás completamente
curado/curada.”

É assim que, ao ressuscitarmos, ”quando isto que é corruptível se


revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da
imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita:
Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão?
Onde está, ó sepultura, a tua vitória? ... graças a Deus que nos dá a
vitória por nosso Senhor Jesus Cristo.” (l Cor.
15:54-57.)
Referências

(1) E. G. White, Christ Triumphant. Hagerstown, M.D.: Review and Herald Publ. Assn., 1999,

pág. 246.

; (2) Anna J. Katterfeld, The Morning Star of Wittenberg. Washington, B.C.: RHPA, 1956, pág. !
144. Relato ampliado H.M.S. Richards, Feed My Sheep. Washington, D.C.: RHPA, 1958.

( (3) R. H. Pierson, Through the Winds Blow. Nashville, Tennessee: Southern Publishing f
Association, 1968, pags, 19-21.
A Alegria da Salvação

no Reino da

Gloria
entrada dos salvos no reino da glória é assinalada pelas alegres
palavras de boas-vindas proferidas por Jesus: ”Vinde benditos de
Meu pai Pkossuí Por herança o reino que vos está jJf^^^Hl
preparado, desde a fundação do mundo.”

Esta saudação de boas-vindas leva os nossos pensamentos para o


início do grande conflito e a execução do eterno e glorioso plano de
Deus de preencher, superabundantemente, com fiéis seres
humanos os lugares deixados devolutos pela rebelião satânica.

A essa herança se referem os apóstolos Paulo e Pedro como sendo


”as riquezas da glória da Sua herança nos santos” (Efésios 1:18); ”a
herança dos santos na luz” (Col. 1:12); e ”uma herança
incorruptível, incontaminável e que se não pode murchar, guardada
nos céus para vós.” I Pedro 1:4.

Na parábola dos talentos, a saudação assume, porém, um sentido


ainda mais pessoal: ”Entra na alegria do teu Senhor.” Mateus
25:23.

A Alegria de Contemplar o Rosto de Jesus


Segundo a epístola aos Efésios 3:17, os crentes, aqui na Terra,
limitaram-se apenas a tê-1’O presente pela fé nos seus corações.

(185)
186

A Alegria da Salvação

Apesar disso, escreve o apóstolo Pedro, ”não O havendo visto,


amais; no qual, não O vendo agora, mas crendo, vos alegrais, com
gozo inefável e glorioso.” l Pedro 1:8.

Que alegria, porém, será quando, pessoalmente, pudermos ver o


rosto de Jesus, ao entrarmos no Seu precioso reino!

No seu livro Reach Out \ refere Virgil Robinson que embora Jorge
tenha nascido cego, esforçava-se por viver uma vida tão normal
quanto possível. A sua esposa, Mildred, não era cega, e tinham
quatro filhos perfeitamente normais - dois rapazes e duas meninas.

Quando tinha 38 anos de idade, Jorge decidiu submeter os olhos a


uma operação cirúrgica, em virtude de o médico lhe dar
esperanças de que podia obter a vista. Chegou o dia em que os
pensos foram tirados. O ansioso médico estava junto do seu leito. A
sua esposa estava também ali, segurando-lhe, ternamente, a mão.
Em silêncio, os filhos olhavam também.

Os pensos foram removidos. Subitamente, Jorge compreendeu que


a operação tinha sido um êxito. Ele podia agora ver o rosto da sua
esposa.

”Oh, Mildred”, exclamou ele, ”és mais bela do que nunca tinha
imaginado!”

O mesmo sucederá connosco, quando, pela inexcedível graça de


Deus, se tornar realidade a promessa que se encontra em Isaías
33:17 - ”Os teus olhos verão o rei na Sua formosura”!

A Alegria de Conviver com os Anjos


Os anjos sempre tiveram um profundo interesse pelos seres
humanos, em quem viam futuros companheiros, tanto nos novos
Céus, como na nova Terra.
A seu respeito, pergunta o autor da epístola aos Hebreus: ”Não são
porventura todos eles espíritos ministradores, enviados para servir
a favor daqueles que hão-de herdar a salvação?” Hebreus 1:14.

Não é, pois, de admirar que tanto se alegrem quando um pecador


se arrepende e se torna um candidato a participar da sua
companhia. O próprio Senhor Jesus o reconheceu quando afirmou:
”Vos digo que há alegria, diante dos anjos de Deus, por um pecador
que se arrepende.” Lucas 15:10.

187

A Alegriada salvação no Reino da Glória 187

E essa alegria atingirá o auge quando o Filho do homem vier ”sobre


as nuvens do céu, com poder e grande glória” e enviar ”os Seus
anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os Seus
escolhidos desde os quatro ventos, desde uma à outra extremidade
dos céus.” Mateus 25:31, 32.

A partir da Sua entrada na glória, os crentes, segundo as palavras


de Jesus, ”são iguais aos anjos, e são filhos de Deus.” Lucas 20:36.

Que alegria não será passarmos a viver com os anjos, integrados,


com eles, como filhos de Deus, na gloriosa família divina!

Alegria de Conviver com os Remidos


E que pensar da alegria de podermos conviver, eternamente, com
parentes queridos que se salvaram, com amados crentes com
quem estivemos associados aqui na Terra, com os nobres heróis da
fé mencionados no capítulo 11 de Hebreus, e com a ”multidão, a
qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e
línguas, que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro,
trajando vestidos brancos, e com palmas nas suas mãos” e que
”clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que
está assentado no trono, e ao Cordeiro. ...Louvor, e glória, e
sabedoria, e acção de graças, e honra, e poder e força ao nosso
Deus, para todo o sempre. Ámen.” Apocalipse
7:9-12.

Estudos Superiores
Durante a nossa peregrinação aqui na Terra pudemos obter apenas
alguns vislumbres das realidades espirituais, em parte devido à
nossa limitada capacidade natural e em parte - devemos confessá-
lo - devido ao superficial estudo que fizemos da Bíblia Sagrada
como fidedigno documento histórico da revelação divina.

Quantos problemas por solucionar! Quantas perguntas para as


quais ainda não encontrámos respostas! Que vastas áreas dos
nossos conhecimentos ainda por explorar!

Tendo terminado o nosso tempo de prova, e tendo, pela graça de


Deus, passado no nosso exame ad hoc, esperamos matricular-nos
na Universidade da Nova Jerusalém, sob a direcção do magnífico e
incomparável Mestre - o Senhor Jesus Cristo.
188

AAlegria da Salvação

Interessantes Conversas
Ali teremos a oportunidade de manter interessantes conversas com
Jesus, com os anjos e com os remidos de todos os tempos e
quadrantes.

A Jesus talvez perguntemos: ”Que feridas são essas nas Tuas


mãos?” E não só dirá Ele: ”São as feridas com que fui ferido em
casa dos Meus amigos” (Sofonias 13:6), mas talvez expanda o
oceano de amor concentrado na curta revelação registada por
Isaías: ”Pode uma mulher esquecer-se tanto do seu filho que cria
que se não compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que
esta se esquecesse, Eu, todavia, Me não esquecerei de ti. Eis que
nas palmas das Minhas mãos te tenho gravado.” Isaías 49: 15, 16.

Quanto ao meu anjo, em particular, tenho eu, pessoalmente,


muitas perguntas a fazer, muitas informações a receber, muitas
graças a dar, e uma profunda amizade a estreitar para sempre.

E que dizer das conversas que poderemos manter, com alguns dos
inspirados colaboradores da Bíblia Sagrada, incluindo, sem dúvida,
Moisés, David e Isaías, Pedro, João e Paulo!

Fantasia de uma Possível Conversa


O célebre escritor cristão do século XIX Henry Drummond (1851-
1897), cita uma velha poesia intitulada ”Contenda no Céu” 2, em
que o poeta se imagina a andar nas ruas da Nova Jerusalém e dá
com um grupo de santos absorvidos numa forte discussão. Ele
aproxima-se, e ouve. O assunto que estão a discutir é: Qual deles é
o maior monumento da salvadora graça de Deus. Depois de um
longo debate, em que cada um apresenta o seu caso
separadamente, e cada um pretende ter sido de longe o mais
maravilhoso trofeu do amor de Deus em toda a multidão dos
remidos, concordam finalmente em decidir o assunto por votos. É
tomado voto a voto, e a lista da competição é reduzida até que
restam apenas dois. Permite-se aos dois que contem de novo o seu
caso, e o grupo está pronto para se unir no voto final. O primeiro a
falar é um homem muito velho. Ele começa por dizer que é um
verdadeiro desperdício de tempo avançar
T

A Alegria da Salvação no Reino da Glória 189

mais; é absolutamente impossível que a graça de Deus pudesse ter


feito mais por qualquer homem no Céu do que por ele. Ele conta de
novo como levou a mais ímpia e viciosa vida - uma vida cheia de
paixões e manchada com todos os crimes: Ele tinha sido um ladrão,
um mentiroso, um blasfemo, um bêbado, um assassino. No seu
leito de morte, à undécima hora, Cristo veio a ele e ele foi
perdoado. O outro é também um velho que diz, em poucas
palavras, que foi levado a Cristo quando era menino. Tinha levado
uma vida sossegada e sem acontecimentos dignos de registo, e
tinha olhado para o céu desde há tanto tempo quanto podia
lembrar-se.

O voto foi tomado; e, sem dúvida, diríeis que resultou em favor do


primeiro. Mas não, os votos foram todos dados ao último. Podíamos
ter pensado, talvez, que o que levou a vida desregrada e ímpia - o
que tinha mentido, roubado, blasfemado, assassinado; o que foi
salvo pela pele dos seus dentes, apenas um momento antes de
poder ter sido demasiado tarde tinha mais motivos para agradecer
a Deus. Mas o velho poeta conhecia a verdade mais profunda.
Requeria grande graça verdadeiramente o arrebatar o tição prestes
a consumir-se no incêndio. Requeria profundezas, profundezas
absolutamente insondáveis de misericórdia, para perdoar aquele
veterano no pecado no final de todos aqueles pecaminosos anos.
Mas requeria mais graça salvá-lo dos pecados da sua mocidade, e ’
manter pura a sua juventude cristã, governá-lo incólume através
dos tentados anos da idade madura, coroar os seus dias com
utilidade, e a sua velhice com paciência e esperança. \ Ambos
iniciaram a vida juntos; para um a graça veio no fim, para o outro
no começo. O primeiro foi salvo da culpa do pecado, o segundo
também do poder do pecado. O primeiro foi salvo de morrer no
pecado. Mas o que se tornou cristão na sua mocidade foi salvo de
viver em pecado. Um requereu apenas i um grande acto de amor
no fim da vida; o outro teve uma vida cheia de amor -foi de longe
uma salvação maior. A sua alma foi perdoada como a outra, mas a
sua vida foi redimida da destruição.
190

Conclusão
Perante a manifestação do amor de Deus para connosco, (Rom.
5:8); l João 4:9);

Perante o facto de que o Filho de Deus nos foi dado (João


3:15), para Se tornar nosso Irmão a fim de que onde Ele estiver
estejamos nós também (João 14:1-3);

Perante a misteriosa e constante operação do Espírito Santo nas


nossas vidas, a ponto de Se tornar o penhor da nossa herança
(Efésios 1:14);

Que mais podemos fazer do que simplesmente repetir com o


apóstolo João: ”Nós O amamos a Ele, porque Ele nos amou
primeiro.” l João 4:19.

”Louvor, e glória, e sabedoria, e acção de graças, e honra, e poder


e força ao nosso Deus, para todo o sempre. Ámen.” Apocalipse
7:12.
Referências:

(1) Virgil E. Robinson, Reach Out. Washington, D.C.: Review and Herald Pnhi Acer, 10
r^nrí OA

_ A-Alegriada Salvação
\JUA. wasiungton, JJ.(J.: Review and Herald Publ. Assn., 1970,

” ’ pág. 20.

(2) Henry Drummond, The Greatest Thing in the World and 21 Other Addresses. London and Glasgow: Collins,
1966, págs. 194,195.

Trabalhar e Orar
Yo Quiero Trabajar

Pedro Grado

I. Baltzell

1. Eu que-ro tra-ba-lhar por meu Se-nhor, Con-fiante em Seu poder, em Seu a-mor

2. Eu que-ro ca-da di - a tra-ba-lhar,do pe-ca-dojesusme li-ber-tar

3. Eu que-ro ser o-brei-ro de va - lor, Con-fian-te no poder do Sal-va-


dor;
meu anelo é orare ocupado sempre es-
tar,na seara do senhor.
Vou orar e traba-lhar, E o-cupado sempre es-tar Na se-a-ra do Semhor. Eu quero ser obreiro de
va-lor Je-sus, Nos-so Gui-a, nos-sa luz, Nos-so a–rado e quem qui-ra tra-ba-lhar, A-cha-rá
também lu-gar Na se-a-ra do Se-
senhor.

nhor. Tra-ba-lhar e o - rar Fi-el- men-te na se-a-ra do Se-nhor; Meu a

nhor.

o-rar Eo-cu- pa-do sem-pre es-tar, Na se - a-ra do Se-


nhor.
3

jo ão 9:’
1 - ACHEI O CAMINHO, por Leonard C. Lee. Esgotado.

2 - VIDA DE JESUS, por Ellen G. White

3-0 SENHOR VEM, por Ernesto Ferreira ,

4-0 CAMINHO PARA CRISTO, por W. H. Branson. Esg. ; ;

5 - LUZ PARA O NOSSO TEMPO. Esg.

6 - UMA VERDADE DESCONHECIDA, por Charles L. Taylor. Esg.

7 - A SUPREMA ESPERANÇA DO HOMEM, por Carlos A. Trezza. Esg.

8 - ESCRAVOS DO SÉCULO XX, por Edgard M. Berger e Oldemar BescoiV

9 - JUVENTUDE AMEAÇADA Esg.

10 - AOS PÉS DE CRISTO, por Ellen G. White.

11 - O APOCALIPSE REVELADO, por Roy A. Anderson. Esg.

12 - ASSIM FALAVA JESUS, por Jean Zurcher. Esg.

13 - DANIEL REVELADO, por Roy A. Anderson. Esg. ,,

14 - PENSAMENTOS SOBRE O SERMÃO DÁ MONTANHA, por Ellen G. Whitó. Esg.

15 - PAZ NA ANGÚSTIA, por Fernando Chaij. Esg.

16-0 DEDO DE DEUS ESCREVEU LIBERDADE, por James Londis. Esg.


17-0 TRIUNFO SOBRE A DOR, por Luís Waldvogel. , :

18 -MUNDOS MARAVILHOSOS, por Phillip L Knox. ;, ..’;

19 - DAS RAÍZES AO PORVIR, por Herman Smit.

20 - EDIFICADOS SOBRE A ROCHA, por Ernesto Ferreira.

21 -VIDAS TRANSFORMADAS, por Charles L. Taylor. ”.;’

22 -CRISTO NOSSA JUSTIÇA, por Arthur G. Daniells. .

23 - PREPARE O AMANHÃ, por AliLohne. Esg.

24 - COMO CONHECÊ-UO EM CINCO DIAS, por Morris L. Venden.

25 - PROFECIAS CRONOLÓGICAS NA HISTÓRIA DA SALVAÇÃO, por Ernesto Ferreira.

26 - ENCONTROS, por Roberto Badenas.

27 - UM MUNDO EM TRANSIÇÃO, por Hanz Heinz.

28 -E DEPOIS DA MORTE?, por Robert Leo Odom. ,.’, i .


29 -NAS TEIAS DA NOVA ERA, por WiUBaron. ’.’•”’

30 - COMANDADOS À DISTÂNCIA, por Joe L. Wheeler.

31 - RESPOSTAS INCRÍVEIS À ORAÇÃO, por Roger Morneau.

32 - BOAS NOVAS DE DEUS, por David Marshall.

33 - COMO CONHECER A VONTADE DE DEUS, por Morris L. Venden.

34 - A ALEGRIA DA SALVAÇÃO, por Ernesto Ferreira.

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