I. O documento discute o significado da frase "desceu à mansão dos mortos" no Credo dos Apóstolos, apresentando diferentes interpretações históricas.
II. Uma interpretação é que Jesus sofreu as dores do inferno na cruz, outra é que desceu literalmente ao inferno para derrotar Satanás.
III. O documento defende que a frase se refere à morte de Jesus e que Ele foi imediatamente à presença de Deus após sua morte, preparando para a ressurreição.
I. O documento discute o significado da frase "desceu à mansão dos mortos" no Credo dos Apóstolos, apresentando diferentes interpretações históricas.
II. Uma interpretação é que Jesus sofreu as dores do inferno na cruz, outra é que desceu literalmente ao inferno para derrotar Satanás.
III. O documento defende que a frase se refere à morte de Jesus e que Ele foi imediatamente à presença de Deus após sua morte, preparando para a ressurreição.
I. O documento discute o significado da frase "desceu à mansão dos mortos" no Credo dos Apóstolos, apresentando diferentes interpretações históricas.
II. Uma interpretação é que Jesus sofreu as dores do inferno na cruz, outra é que desceu literalmente ao inferno para derrotar Satanás.
III. O documento defende que a frase se refere à morte de Jesus e que Ele foi imediatamente à presença de Deus após sua morte, preparando para a ressurreição.
Dando continuidade aos nossos estudos no Credo Apostólico,
agora chegamos à sua parte onde há mais debate sobre o significado das palavras. Até o presente momento, vimos: Creio em Deus, o Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra. E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu à mansão dos mortos
Note que agora estamos no centro do Credo, na porção o Deus
Redentor, o Senhor Jesus é descrito quanto ao seu caráter e ministério. Jesus Cristo veio ao mundo com plena humanidade, dentro de um momento específico da história. Ele foi concebido miraculosamente, viveu uma vida justa, sem pecado, foi afligido por diversos sofrimentos, sendo morto e sepultado. O Credo dá ênfase à morte de Jesus, afirmando que Ele desceu à mansão dos mortos. Há muito debate aqui, sobre esta expressão. Afinal, o que significa dizer que Jesus foi ao mundo dos mortos, ou desceu ao inferno, como alguns interpretam?
I. BREVE HISTÓRICO DE INTERPRETAÇÃO
Mesmo acreditando que a origem do Credo Apostólico remonta-nos aos primeiros séculos da fé cristã, não devemos ter a ingenuidade de pensar que cada uma de suas sentenças foi elaborada por um dos apóstolos. Este pensamento não resiste a uma pesquisa história honesta, mas também não seria fundamentalmente nesta realidade que consideramos esta confissão apostólica. Entendemos que o Credo foi uma confissão primeiramente oral de nossos primeiros irmãos e que as doutrinas expostas por meio dele refletem o que as Escrituras ensinam e o que sempre a cristandade afirmou ser o eixo teológico central de seu pensamento. A frase “desceu à mansão dos mortos” não aparece nas versões mais antigas que temos do Credo, como aquela citada por Irineu de Lyon e Tertuliano de Cartago, nas primeiras décadas do segundo século da era cristã. Ela aparece pela primeira vez em um dos dois credos recitados por Rufino de Aquileia, no fim do século IV, já no ano de 390 d.C. Quando Rufino menciona esta informação no Credo, ele faz uma adaptação, substituindo a expressão “morto”, por “desceu ao mundo dos mortos”, de forma que ficaria algo parecido com: “[Jesus Cristo] foi crucificado, desceu ao mundo dos mortos e foi sepultado”.
II. INTERPRETAÇÕES SOBRE A DESCIDA DE CRISTO
Alguns tem tomado esta expressão no sentido de que Cristo sofreu as dores do inferno sobre a cruz. Calvino, por exemplo, interpreta desta forma: “Jesus sofreu não apenas a morte física, mas que esta serviu como meio pelo qual Ele suportou a severidade da vingança de Deus, aplacou sua ira e satisfez seu justo julgamento”. O Catecismo de Heidelberg parece seguir o mesmo raciocínio: “Jesus desceu ao inferno para que em minhas mais duras tribulações eu esteja certo de que Cristo, o meu Senhor, redimiu-me das angústias e dos tormentos do inferno por sua indizível angústia, dores e terrores que se sofreu em sua alma, tanto sobre a cruz, quanto antes”.
No entanto, não parece ser este o conceito defendido pelo
Credo: a descida de Cristo ao mundo dos mortos, ou ao inferno acontece após sua morte e seu sepultamento. Não parece ser este o pensamento que o Credo parece transmitir.
Uma interpretação mais ousada que aparece em nossos dias é a
de que Jesus foi ao inferno, literalmente. Ainda que não seja impossível encontrar esta definição em algum documento teológico, este entendimento faz parte do imaginário de muita gente, principalmente por causa de canções que mencionam esta descida ao inferno. Jesus teria morrido e descido ao inferno onde, após ser torturado pelos demônios, ele venceu Satanás e tomou de suas mãos as chaves da morte e do inferno.
Esta interpretação fantasiosa da obra de Cristo não encontra
defesa na Bíblia. Por vários fatores: (1). A morte de Cristo não foi sua derrota, mas sua vitória; (2). A Bíblia não define o inferno como o imaginário das pessoas concebe: um lugar de fogo, com um grande caldeirão e o chefe dos demônios torturando as pessoas. O inferno é um destino de sofrimento, mas quem inflige o sofrimento sobre os indivíduos é o próprio Deus, não o diabo; (3). Os demônios não estavam em festa em lugar algum, muito menos no inferno. Quando Paulo fala sobre nossa batalha espiritual (Ef 6), há uma menção das forças espirituais do mal, nas regiões celestiais. E não houve festa entre as forças opostas ao Reino de Deus; afinal, a Bíblia não menciona isto em lugar algum.
A afirmação presente no Credo, onde afirma que Jesus Cristo foi
crucificado, morto e sepultado, desceu à mansão dos mortos não significa que Ele foi para um lugar de tormento, como alguns pensam.
III. INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS SOBRE O TEMA
Leiamos 1Pe 3.18-20 mais uma vez. Alguns entendem que Pedro está falando aqui de Cristo indo ao inferno e pregando aos anjos que ali estavam (proclamando sua vitória ou dando uma segunda oportunidade de arrependimento aos seus ouvintes). Todavia, esta é uma interpretação fora do contexto do próprio texto. Jesus não foi ao inferno como alguns podem pensar. Lembre- se do que ele disse ao ladrão arrependido: “Hoje estarás comigo no Paraíso”. A Bíblia interpreta a própria Bíblia, e as Escrituras afirmam que não existe uma nova oportunidade de arrependimento após a morte. A passagem em apreço não se refere a algo que Cristo fez entre sua morte e ressurreição, mas ao que ele fez por meio do Espírito Santo nos dias de Noé. Cristo pregou através de Noé nos tempos próximos ao grande dilúvio; todavia, seus interlocutores não creram na mensagem e por isso foram mortos no dilúvio.
Mas e os espíritos em prisão, mencionados no v. 19? Pedro
assim os chama porque estes incrédulos agora estão em prisão no inferno; talvez para que nossa versão em língua portuguesa ficasse melhor situada, poderíamos dizer: “Cristo pregou aos espíritos agora em prisão”. Podemos falar do mesmo modo: “Conheci o Presidente quando ele era universitário”. Óbvio que esta é uma declaração apropriada, mesmo reconhecendo que ele não fosse presidente enquanto estava na faculdade. O significado da frase é este: “Conheci o homem que é agora Presidente quando ele era ainda aluno de faculdade”. Assim, “Cristo pregou aos espíritos em prisão”, significa que “Cristo pregou às pessoas que agora são espíritos em prisão, mas que um dia foram pessoas sobre a terra”.
IV. O SIGNIFICADO DO “DESCEU À MANSÃO DOS MORTOS”
Seguindo o princípio de que quando a Bíblia fala, nós falamos, mas que quando ela se cala, nós também nos calamos, é prudente afirmar que a descida de Cristo ao mundo dos mortos, para o Credo Apostólico, tem um só significado: trata-se de uma ênfase quanto à Sua morte, preparando o caminho para a poderosa afirmação que aparece logo na sequência: “ressurgiu dos mortos ao terceiro dia”. Cristo, em sua morte, experimentou o mesmo que nós, os crentes da presente era, experimentaremos quando morrermos: nosso corpo morto permanecerá na terra, será sepultado, mas nosso espírito estará com Deus; passaremos imediatamente à presença de Deus após a morte. No terceiro dia, Jesus ressuscitou; e nós também ressuscitaremos quando o Senhor voltar e estaremos para sempre com o Senhor que nos salvou, de corpo e alma.
Como esta verdade pode impactar nossas vidas?
Entender que Jesus veio ao mundo e morreu pode dar um significado de como nós também enfrentamos a morte. Em dias de doença, como os nossos, é impossível ficar sem pensar na morte. Outra coisa: não é comum tratar sobre a morte e o medo que ela pode causar em nossas conversas informais; falar da morte é “um papo ruim”. Quando vou morrer? Do que vou morrer? Como vão ficar minha esposa, meus filhos? Um certo receio quanto ao processo da morte é até legítimo, racional, compreensível, mesmo para um cristão. Mas o que não pode passar em nossos corações é a dúvida sobre o que acontecerá conosco após a nossa morte. A Bíblia fala apenas de dois destinos: céu e inferno. O inferno é um lugar de condenação, de tormento, de angústia; de dores provocadas pelos próprio Deus, contra todos aqueles que pecaram e não reconheceram o que Ele mesmo fez para salvá-los. Um lugar de consciência e de choro e ranger de dentes. O céu, por sua vez, é o lugar preparado por Deus para os salvos. Um lugar realmente de descanso e prazer. Um lugar para se desfrutar a presença de Deus, para ter comunhão com Deus, para aprender de Deus. O destino entre céu e inferno não é definido por méritos, mas por um favor de graça que Deus garante. Não é por pontos, ou para os mais inteligentes. Jesus enfrentou a morte exatamente para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna.