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Deus, o Todo-Poderoso Pt 2

Leitura Bíblica: Efésios 5.1,2

Em nosso último encontro, vimos os chamados atributos


incomunicáveis de Deus, que correspondem àqueles atributos que
somente a divindade possui condições de manifestar. Agora será o
momento de considerarmos os atributos de Deus em uma outra
perspectiva, a dos chamados atributos comunicáveis, que são aqueles que
podem ser refletidos nos seres criados. Neste aspecto é válido observar
que os atributos divinos podem ser até certo ponto imitados pelos seres
humanos, mas não podem ser plenamente experimentados em sua
natureza.

No texto de Efésios 5.1,2, Paulo nos estimula a sermos imitadores de


Deus, oferecendo-nos um claro exemplo de como podemos fazê-lo:
andando em amor sacrificial. A partir destes versículos, podemos
entender que em certos sentidos podemos ser imitadores de Deus,
manifestando alguns aspectos de Seu caráter em nossas vidas.

I. SANTIDADE
As Escrituras dizem que Deus é santo. O vocábulo santo, conforme
usado na Bíblia para descrever a Deus, se refere tanto à sua natureza
quanto ao seu caráter. a palavra santo, conforme aplicada a Deus, se
refere à sua pureza, sua absoluta excelência moral e ética. Isto é o que
Deus tem em mente quando ordena a suas criaturas: “Sede santos,
porque eu sou santo” (Lv 11.44; 1 Pe 1.16).
Quando somos enxertados em Cristo, somos renovados
interiormente pelo Espírito Santo. A terceira pessoa da Trindade é
chamada “santo” em parte porque sua tarefa primária na obra trinitária
de redenção é aplicar a obra de Cristo a nós. O Espírito Santo é aquele
que nos regenera e aquele que atua para a nossa santificação. O Espírito
Santo age em nós e por meio de nós para levar-nos à conformação com a
imagem de Cristo, para que cumpramos o mandato de santidade que
Deus nos impôs.
Os crentes da nova aliança também devem seguir “a paz com todos
e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor”(Hb 12.14) e saber
que a disciplina de Deus vem para que sejamos “participantes da sua
santidade” (Hb 12.10). Paulo encoraja os cristãos a apartar-se da
influência dominadora que vem da íntima associação com os incrédulos
(2Co 6.14-18) e depois exorta: “Purifiquemo-nos de toda impureza, tanto
da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de
Deus” (2Co 7.1; cf. Rm 12.1). Deus quer que a própria igreja cresça “para
santuário dedicado ao Senhor” (Ef 2.21), e Cristo busca hoje santificá-la
“para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa [...] santa e sem defeito”
(Ef 5.26-27). Não só as pessoas individualmente, mas também a igreja
precisa crescer em santidade!

II. AMOR
Quando Paulo fala sobre nossa responsabilidade de sermos
imitadores de Deus, ele menciona que somos chamados a manifestar
amor (Ef 5.2). As Escrituras nos dizem que Deus é amor (1 Jo 4.8, 16). O
amor de Deus é descritivo de seu caráter; é um de seus atributos morais e,
por isso, é uma qualidade que não pertence somente a Deus, mas é
comunicada a suas criaturas. Deus é amor, e o amor é de Deus, e todo
aquele que ama no sentido do amor ágape, do qual a Escritura fala, é
nascido de Deus. O amor de Deus é um atributo que pode ser imitado, e
somos chamados a fazer isso.
Dizer que Deus tem o amor como atributo é dizer que ele se doa
eternamente aos outros. Essa definição interpreta o amor como uma
doação de si mesmo em benefício dos outros. Esse atributo de Deus
mostra que faz parte da sua natureza doar-se a fim de distribuir bênçãos
ou o bem aos outros.
Imitamos esse atributo comunicável de Deus, antes de tudo, amando
também a Deus, e depois amando os outros assim como Deus os ama.
Todas as nossas obrigações diante de Deus podem ser resumidas da
seguinte forma: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de
toda a tua alma e de todo o teu entendimento [...] Amarás o teu próximo
como a ti mesmo” (Mt 22.37-39). Se amarmos a Deus, então
obedeceremos aos seus mandamentos (1Jo 5.3) e, portanto, faremos o que
lhe é agradável. Amaremos a Deus, não o mundo (1Jo 2.15), e tudo isso
faremos porque ele nos amou primeiro (1Jo 4.19).
Nossa imitação do amor divino também se revela no nosso amor
pelos outros. João deixa isso bem claro: “Amados, se Deus de tal
maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros” (1Jo
4.11). De fato, nosso amor pelos outros dentro da comunhão dos crentes é
uma imitação de Cristo tão evidente, que por ele o mundo nos
reconhecerá como cristãos: “Nisto conhecerão todos que sois meus
discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13.35; cf. 15.13; Rm
13.10; 1Co 13.4-7; Hb 10.24). O próprio Deus nos dá seu amor,
possibilitando assim que nos amemos uns aos outros (Jo 17.26; Rm 5.5).
Além do mais, o amor pelos inimigos reflete especialmente o amor de
Deus (Mt 5.43-48).
III. BONDADE
A bondade de Deus é outro atributo moral que somos chamados a
imitar, embora as Escrituras apresentem uma descrição desagradável de
nossa capacidade de praticar bondade. Um jovem rico perguntou a Jesus:
“Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” Jesus respondeu: “Por
que me chamas bom? Ninguém é bom senão um, que é Deus” (Mc 10.17-
18). Jesus não estava negando aqui a sua deidade, mas apenas afirmando
a bondade suprema de Deus. Em outra passagem, o apóstolo Paulo,
citando o salmista, diz: “Não há justo, nem um sequer” (Rm 3.10). Em
nossa condição caída, não imitamos nem refletimos este aspecto do
caráter de Deus. Mas os crentes são chamados a uma vida de boas obras;
por isso, com ajuda do Espírito Santo, podemos crescer em bondade e
refletir este aspecto da natureza de Deus.
A misericórdia, a paciência e a graça divinas podem ser tidas como
três atributos separados ou como aspectos particulares da bondade de
Deus. As definições dadas aqui apresentam esses atributos como casos
especiais da bondade de Deus quando empregada em benefício de
categorias específicas de pessoas.
• A misericórdia de Deus é a bondade divina para com os
angustiados e aflitos.
• A graça de Deus é a bondade divina para com os que só
merecem castigo.
• A paciência de Deus é a bondade divina no sustar a punição
daqueles que persistem no pecado por determinado tempo.

IV. JUSTIÇA/RETIDÃO
Há outros atributos comunicáveis de Deus que devemos imitar.
Quando a Bíblia fala de justiça, nunca o faz como um conceito abstrato
que existe acima e além de Deus e ao qual Deus mesmo está obrigado a se
conformar. Pelo contrário, nas Escrituras, o conceito de justiça está ligado
à ideia de retidão e está baseado no caráter íntimo de Deus. O fato de que
Deus é justo significa que ele sempre age de acordo com a retidão.
Os teólogos fazem uma distinção entre a justiça ou retidão interna de
Deus e a justiça ou retidão externa de Deus. Quando Deus age, ele
sempre faz o que é correto. Em outras palavras, Deus sempre faz aquilo
que se conforma com sua justiça. Na Bíblia, a justiça é distinguida de
misericórdia e graça. Eu costumava dizer ao meus alunos que nunca
pedissem a Deus que fizesse justiça, porque eles mesmos poderiam tê-la.
Se tivéssemos de ser tratados de acordo com a justiça de Deus, todos
pereceríamos. Essa é a razão por que, quando nos apresentamos diante de
Deus, apelamos que ele nos trate de acordo com sua misericórdia e sua
graça.
Justiça define a retidão de Deus. Ele nunca pune pessoas mais
severamente do que merecem os crimes que elas cometeram. E Deus
nunca falha em recompensar aqueles a quem a recompensa é devida. Ele
sempre age com justiça. Deus nunca faz qualquer coisa que seja injusta.
Há duas categorias universais: justiça e não justiça. Tudo que está
fora do círculo de justiça está na categoria de não justiça. Mas há
diferentes tipos de não justiça. A misericórdia de Deus está fora do
círculo de justiça, é um tipo de não justiça. Também nesta categoria está a
injustiça. Injustiça é má; um ato de injustiça viola princípios de
retidão. Se Deus fizesse algo injusto, estaria agindo com injustiça. Abraão
conhecia a impossibilidade disso quando falou: “Não fará justiça o Juiz
de toda a terra?” (Gn 18.25). Porque Deus é um juiz justo, todos os seus
julgamentos são de acordo com a retidão; portanto, ele nunca age de uma
maneira injusta. Deus nunca comete injustiça.
No entanto, pessoas ficam confusas quando consideram isto em
relação à misericórdia e à graça de Deus, porque graça não é justiça.
Graça e misericórdia estão fora da categoria de justiça, mas não estão
dentro da categoria de injustiça. Não há nada errado em Deus ser
misericordioso; não há nada mau em ele ser gracioso. De fato, em um
sentido, temos de ampliar isto. Embora justiça e misericórdia não sejam a
mesma coisa, justiça está ligada à retidão, e a retidão pode incluir, às
vezes, misericórdia e graça. A razão por que precisamos distinguir entre
elas é que justiça é necessária à retidão, mas misericórdia e graça são
ações que Deus realiza espontaneamente. Deus nunca está sob a exigência
de ser misericordioso ou gracioso. No momento que pensamos que Deus
nos deve graça ou misericórdia, não estamos mais pensando em graça e
misericórdia. Nossa mente tende a tropeçar nesse ponto porque
confundimos misericórdia e graça com justiça. Justiça pode ser devida,
misericórdia e graça são sempre espontâneas.
Em termos de retidão ou justiça externa de Deus e de sua retidão ou
justiça interna, Deus sempre faz o que é certo. Suas ações, seu
comportamento externo, sempre correspondem ao seu caráter interno.
Jesus expressou isso de modo simples quando disse a seus discípulos que
uma árvore má não pode produzir fruto bom; fruto mau procede de uma
árvore má, e fruto bom procede de uma árvore boa (Mt 7.17-18). Assim
também, Deus sempre age de acordo com seu caráter, e seu caráter é
completamente reto. Portanto, tudo que ele faz é reto. Há uma distinção
entre sua retidão interna e sua retidão externa, entre quem ele é e o que
ele faz, embora estejam conectados.
O mesmo é verdade a nosso respeito. Não somos pecadores porque
pecamos; pecamos porque somos pecadores. Há algo defeituoso em
nosso caráter interior. Quando o Espírito Santo nos muda interiormente,
essa mudança é evidenciada em uma mudança de comportamento
exterior. Somos chamados a nos conformar exteriormente com a retidão
de Deus porque fomos feitos criaturas à imagem de Deus, com a
capacidade para a retidão. Fomos feitos com a capacidade de fazer o que
é certo e de agir de modo justo. O profeta Miqueias escreveu: “Que é que
o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e
andes humildemente com o teu Deus” (Mq 6.8). A justiça e a retidão de
Deus são atributos comunicáveis que somos chamados a imitar.

Soli Deo Gloria!

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