Você está na página 1de 4

A Disciplina do Descanso: Equilibrando Espiritualidade e Bem-Estar

Leitura Bíblica: Gênesis 2.1-3

O que vem à sua mente quando você pensa em “descanso”?


Falar sobre “descanso” pode ser um tabu em nossa sociedade atual,
especialmente neste contexto em que se procura cada vez mais o oásis da
produtividade. “Faça mais em menos tempo” é um dos grandes lemas que tem
prevalecido. “Trabalhe enquanto eles dormem. Estude enquanto eles se
divertem. Persista enquanto eles descansam”: e, então, morra com diversas
doenças ou de forma repentina, sem ter aproveitado absolutamente nada do
que construiu, sem ninguém ao seu lado e infeliz.
O insight para este assunto partiu de duas leituras que realizei neste ano:
um livro que fala sobre gestão do tempo, chamado “Quatro Mil Semanas”, de
Oliver Burkeman e um livro sobre liderança, “Os Desafios da Liderança Cristã”,
de John Stott. No livro “secular”, a ideia que prevalece é de que ficamos
andando em círculos, buscando sempre fazer mais em menos tempo e nesta luta
acabamos por perder o sentido de porque estamos neste tipo de esforço. Trago
uma citação desta obra:
O fato de se tornar mais eficiente — ou implementando várias técnicas de
produtividade, ou se esforçando mais — em geral não resultará no
sentimento de ter “tempo suficiente”, porque, se todo o resto continuar
igual, as demandas vão aumentar e contrabalançar quaisquer benefícios.
Longe de estar terminando de fazer as coisas, você está criando coisas para
fazer.

Da metade para o final do livro, ele trabalha um pouco a respeito do


descanso, de como a vida moderna entende o descanso: mais como uma
preparação para mais trabalho do que algo a ser desfrutado.
E é aqui que o trabalho do John Stott entra em ação. Para Stott, um
expositor bíblico, descanso é prazer, descanso é mandamento, descanso é
disciplina. Aliás, este último aspecto me pegou demais: descanso é disciplina. É
a falta de disciplina quanto ao descanso que tem causado estagnação espiritual
nas vidas das pessoas.
É sobre isso que desejamos conversar hoje. O motivo de tratar este assunto
em um encontro junto a um grupo de pessoas que servem na igreja local é
óbvio: estamos administrando várias coisas ao mesmo tempo, não é verdade?
Família, ministério, amizades, trabalho (e cada trabalho com suas diversas
características), uma série de contratempos que surgem etc. etc etc. E em meio a
tudo isso, podemos deixar de lado a disciplina do descanso.
Notem que o próprio Deus descansou de sua obra no sétimo dia e, assim,
o santificou. E, tal como Ele o fez, é dever nosso nos dedicarmos ao descanso.
Não podemos nos tornar ativistas religiosos, workaholic da igreja; é necessário
pedirmos ao Senhor para desfrutarmos do descanso. E aqui proponho, em
caráter devocional, quatro aspectos sobre este assunto.

I. NOSSA NATUREZA COMPLEXA


Reconhecendo que somos seres psicossomáticos (corpo r alma/espírito),
devemos considerar como nossa condição física afeta nossa espiritualidade. Ao
enfrentar problemas espirituais, lembre-se de que cuidar de sua saúde física
também é essencial para sustentar seu fervor.
Logo, cabe a nós reservarmos tempo para cuidar do seu corpo através de
exercícios físicos regulares, boa alimentação e descanso adequado. Isso não
apenas beneficia sua saúde, mas também fortalece sua comunhão com Deus.

II. NOSSA NECESSIDADE DE DESCANSO


A disciplina do descanso envolve não apenas obedecer ao mandamento do
sábado, mas também entender que o descanso é necessário para restauração e
crescimento espiritual. Jesus se retirava para descansar e orar, mostrando a
importância do equilíbrio entre atividade e repouso.
Logo, precisamos reservar momentos regulares para descanso e oração,
seguindo o exemplo de Jesus. Tire intervalos ao longo do dia para se refrescar e
reconectar-se com Deus, permitindo que Ele renove sua energia.

III. NOSSA NECESSIDADE DE RECREAÇÃO


Participar de atividades recreativas e apreciar a natureza não apenas ajuda
no relaxamento, mas também nos conecta com a criação de Deus. Observar a
beleza da natureza pode inspirar gratidão e meditação.
Logo, precisamos reservar tempo para atividades ao ar livre que o ajudem
a relaxar e a apreciar a criação de Deus. Isso não apenas promove seu bem-
estar, mas também pode ser um momento de louvor e contemplação.

IV. NOSSA NECESSIDADE DE RELACIONAMENTOS SAUDÁVEIS


A importância da família e dos amigos não deve ser subestimada. Eles
oferecem suporte emocional, compartilham alegrias e proporcionam um
ambiente de aceitação.
Logo, precisamos reservar momentos de qualidade com sua família e
amigos, criando laços mais profundos e fortalecendo sua rede de apoio. Ore por
relacionamentos significativos que o edifiquem espiritualmente.

 Somos seres criados por Deus, cada aspecto de nossa vida – corpo,
mente e relacionamentos – merece atenção e cuidado. Ao aplicar esses
princípios, nos fortaleceremos espiritualmente e encontraremos equilíbrio em
nossa jornada cristã.

No momento derradeiro de sua vida, aos 29 anos, Robert Murray


McCheyne, um jovem pastor da Escócia, compartilhou com um amigo uma
reveladora reflexão: "Deus me confiou uma mensagem para transmitir e um
cavalo para cavalgar. Infelizmente, acabei exaurindo o cavalo e agora me vejo
impossibilitado de entregar a mensagem." Essa situação ilustra de maneira
marcante como uma paixão espiritual intensa pode eventualmente levar ao
esgotamento. É um alerta poderoso sobre a importância de cuidar tanto do
chamado que Deus nos confia quanto de nosso próprio bem-estar físico e
emocional.
A imagem vívida de um cavalo exaurido nos lembra que, mesmo com as
mais nobres intenções e a maior das missões, nosso vigor e energia são recursos
limitados. McCheyne, em seu fervor por disseminar a mensagem divina,
negligenciou o equilíbrio vital entre a dedicação ao ministério e o cuidado
pessoal. Essa advertência transcende gerações e nos ensina que a paixão pelo
serviço a Deus deve ser acompanhada pela prudência em administrar nossos
recursos físicos e emocionais.
Ao analisar essa história, somos instados a refletir sobre nossas próprias
vidas e ministérios. Como aqueles que aspiram a servir ao Senhor e
compartilhar sua mensagem, devemos ser diligentes em manter o equilíbrio.
Reconhecer nossos limites não é uma demonstração de fraqueza, mas sim uma
atitude sábia que permite que a chama do ministério arda de maneira constante,
ao invés de se consumir rapidamente.
Que possamos abraçar a disciplina do descanso em nossa jornada
espiritual e encontrar equilíbrio duradouro!

Você também pode gostar