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Atenciosamente
ANDRE
[André Bueno]
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Mulheres na China imperial, Página
ÍNDICE
De Francisco Rego
Sobre conhecer
A importância do estudo
Sacrifício aos ancestrais
Servidão aos sogros
Aconselhando
Na cozinha
Da ocupação das mulheres
Prática do Luto
Boas maneiras
Como recepcionar
Compartimentos interiores
Cunhados, cunhadas e criados
Filhos, filhas, noras e genros
Os cinco deveres femininos
A Verdadeira Harmonia
Os deveres femininos
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As três obediências
De Lin Yutang
Extratos do Livro das Canções
A Lenda de Ch'ienniang
Cinderela Chinesa
O Julgamento de duas Mães
Um Corpo de Mulher
A Morte de uma Rainha
Sobre como se deve amar uma mulher
A Respeito do Amor
Pensamentos profanos de uma monja
A uma Bela
Em Memória de uma mulher
Em Memória de uma criança
Uma carta de amor
Uma canção de morte
Uma Poetisa Chinesa
Sobre o infanticídio e o salvamento de crianças
A origem do enfaixamento dos pés
Mercado de Concubinas
Do encantamento as mulheres
Uma carta familiar sobre uma jovem esposa
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SOBRE CONHECER
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NA COZINHA
banquetearem.
Em dia propício, a Imperatriz dobrava três meadas de nós de seda
e dividia os casulos pelas três rainhas e vinte e sete concubinas, a
fim de que estas completassem a dobragem.
O vermelhão e o verde, o preto e o amarelo eram as cores
consideradas de maior elegância para bordados e aplicações nos
trajes próprios para os sacrifícios. Estes trajes, feitos de seda
preparada pelas senhoras do harém, eram usados pelo Imperador,
por ocasião da oferta de sacrifícios aos seus antepassados.
As mulheres, presentemente, de modo geral, são preguiçosas e
gostam do descanso, levantando-se tarde do leito e freqüentando
os teatros.
Devem todas atentar no exemplo da Imperatriz e das rainhas, no
cuidado com que alimentavam os bichos-da-seda, não se furtando
ao trabalho, fiando tecidos finos e grosseiros.
Porque será que, presentemente, tanto as mulheres das classes
elevadas, como as do povo, vivem na indolência, procurando o
descanso?
Nesses tempos antigos, logo que surgia o terceiro mês do ano, um
decreto imperial proibia terminantemente que fossem maltratadas
as amare iras e os lugares da criação dos bichos-da-seda. A caça
era defesa nas matas imperiais, e as rainhas e concubinas não a
comiam.
Era a Imperatriz quem, primeiramente, virada para o nascente, se
debruçava e colhia as primeiras folhas de amoreira. E, então,
incumbia as rainhas e as concubinas de procederem à colheita,
recomendando-lhes que fossem simplesmente vestidas, não
levando consigo criadas, que pudessem auxiliá-las, a fim de que só 13
elas pudessem seguir seus bons exemplos.
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Inicia o verdelhão
Seu cantar anunciador.
As raparigas transportam,
Em seus braços, fundos cestos, Por carreiros apertados,
Em busca das tenras folhas
Das amoreiras dispersas".
PRÁTICA DO LUTO
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BOAS MANEIRAS
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COMO RECEPCIONAR
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CUNHADOS, CUNHADAS E CRIADOS
Sendo assim, a nova filha será como que mais uma luz brilhante a
dar claridade e alegria ao lar e honra à família.
Toda, aquela, que assim não proceder, será portadora da desgraça,
e não só causará todos os possíveis danos, como ainda será motivo
da ruína da família que a recebeu em seu seio.
As cunhadas são geralmente amigas da discórdia. Se os irmãos
não podem viver juntos em paz e harmonia, devido às respectivas
mulheres, melhor é que se espalhem pelos quatro oceanos.
Esta separação pode, em muitos casos, despertar-lhes sentimentos
adormecidos e torná-los desejosos de voltarem a encontrar-se.
Raras são as mulheres que tem mão em si, e a causa de todas ali
questões é sempre o egoísmo, a inveja e a vaidade (defeitos
gêmeos).
Se as mulheres pudessem desculpar os defeitos das outras, como
perdoam os próprios, nunca haveria nota discordante na
harmonia do lar.
A mulher, como todo o animal fraco que não pode vencer pela
força, procura dominar pela astúcia, se o marido não se prepara
para isso com inteligência e oportunidade o antídoto do veneno
que pouco a pouco, lhe é ministrado, em pouco tempo está
envenenado pela mulher que, separando-o da família, o coloca em
situação de poder ser vencido com relativa facilidade.
Ai da mulher que dá ouvidos às criadas e que se esquece de que a
função destas é servir e não conversar.
As criadas são quase sempre o rastilho da discórdia, que
repentinamente surge numa família, sem que se saiba de onde e 24
como apareceu.
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FILHOS, FILHAS, NORAS E GENROS
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OS CINCO DEVERES FEMININOS
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AS TRÊS OBEDIÊ
OBEDI ÊNCIAS
Lá no meio do Ho.
Ele era meu companheiro,
E até a morte continuarei desolada.
Ó Mãe! Ó Deus!
Por que é que não quereis compreender?
Oh, deixá-lo vogar, aquele barco de madeira de cipreste,
Lá no meio do Ho.
Ele era meu rei.
Juro que não farei essa maldade. Ó Mãe! Ó Deus!
Por que é que não quereis compreender?
8. Escrito em 718 A. C.
Não posso ir a teu encontro. Tenho medo.
Não irei a teu encontro. Eis tudo, já disse.
Embora a noite inteira eu fique desperta e saiba
Que tu também estás deitado e desperto.
Embora, dia a dia, tu sigas a estrada, solitário,
E voltes, ao cair a noite, para um lar sombrio.
Contudo mesmo assim és meu amigo, na verdade,
Depois, no fim,
Há uma estrada, uma estrada que eu nunca percorri.
E por essa estrada não passarás sozinho.
E lá, certa noite, encontrar-me-ás a teu lado.
A noite em que me disserem que morreste.
9. Escrito c. 605 A. C.
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19. No Pântano.
No pântano onde mais exuberante cresce
A relva rasteira, curvada com o peso do orvalho,
Ali um belo rapaz aproximou-se,
Sob cuja testa, alta e larga,
Brilhavam os olhos límpidos e vivos.
Foi por acaso que nos encontramos;
Fiquei satisfeita por alcançar o que desejara.
Onde a relva cresce rastejante no pântano, Toda coberta pelo
orvalho,
Ali encontrei o mais belo rapaz,
Sobre cujos olhos límpidos e vivos,
Erguia-se a testa, larga e alta. 49
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Certa vez, antes de Ch'in (222-206 a.C.) e Han havia um chefe das
cavernas da montanha a quem os nativos chamavam chefe Wu.
Ele se casou com duas mulheres uma das quais morreu deixando-
lhe uma menina chamada Yeh Hsien. Essa menina era muito
inteligente e habilidosa no bordado a ouro e o pai amava-a
ternamente, mas, quando ele morreu, viu-se maltratada pela
madrasta que seguidamente a forçava a cortar lenha e mandava-a
a lugares perigosos para apanhar água em poços profundos.
Um dia, Yeh Hsien pescou um peixe com mais de duas polegadas
de comprimento e que tinha as barbatanas vermelhas e os olhos
dourados. Trouxe-o para casa e o pôs numa vasilha com água.
Cada dia o peixe crescia mais e tanto cresceu que, finalmente, a
vasilha não lhe serviu mais e a menina o soltou numa lagoa que
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havia por trás de sua casa. Yeh Hsien costumava alimentá-lo com
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O JULGAMENTO DE DUAS MÃES
Do “Fengshu t’ung”, século II
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UM CORPO DE MULHER
"Miscelâneas" ("Tsai Shih Min Shin")
Fragmento do Séc. II d.C.
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A MORTE DE UMA RAINHA
Hanshu, por Panku (d.C. 32-92)
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És tu? És tu realmente?
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A RESPEITO DO AMOR
Chou Chuan, aprox.1600
Amitabha! Amitabha!
Não paro de rezar
Estou cansada do murmúrio dos tambores e do retinir dos sinos
Estou cansada do zumbido de orações na melopéia dos priores
Do lamentoso remoer de incompreensíveis sortilégios,
do clamor e do clangor de cânticos intermináveis,
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Ó, Deus!
De onde vem, a queimar, sufocante, este ardor?
De onde vem este estranho, este infernal ardor?
Rasgarei o meu hábito de monja
e do budismo enterrarei os sutras;
afogarei os peixes de madeira
e fugirei dos monásticos putras.
1) A Noite nupcial
Foi a 16 de julho de 1775. No verão desse ano uma de minhas
primas ia casar-se e tornei a acompanhar minha mãe a sua casa
natal. Yun era da mesma idade que eu, apenas dez meses mais
velha, e como, desde a infância, nos havíamos acostumado a
chamar-nos "irmã mais velha" e "irmão mais moço", continuei a
chamá-la de "lrmã Su".
Naquela ocasião, todos os hóspedes da casa usavam roupas
brilhantes; somente Yun vestia trajes de cor suave e trazia um par
de sapatos novos. Notei que o bordado de seus sapatos era muito
fino, e soube que ela mesma o fizera assim, comecei a dar-me 75
conta de que ela era dotada também para outras coisas, além de
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ler e escrever.
De talhe delgado, tinha ombros caídos e pescoço um tanto
comprido, magro, mas não a ponto de sobrar pele. Suas
sobrancelhas eram arqueadas e havia em seus olhos um brilho de
viva inteligência e suave requinte. O único defeito era serem seus
dois dentes da frente um pouco inclinados para diante, o que não
era sinal de bom augúrio. Todo o seu ser irradiava uma ternura
que me fascinava completamente.
Naquela noite, quando voltei a casa, vindo da residência dos meus
parentes no interior, aonde fora acompanhar minha prima que se
casara, já era quase meia-noite e, sentindo muita fome, pedi
alguma coisa para comer. Uma criada deu-me umas passas de
tâmaras, que achei excessivamente doces. Yun puxou-me em
segredo pela manga e levou-me a seu quarto. Vi que ela escondera
uma terrina de mingau quente de arroz e alguns pratos para
acompanhá-lo. Eu estava começando a pegar dos pauzinhos para
comer com o maior gosto quando o primo de Yun,
Yuheng, chamou:
- Irmã Su, venha depressa!
Yun fechou a porta com rapidez e disse: - Estou muito cansada e
vou deitar-me.
Yuheng empurrou a porta, abriu-a e, vendo a situação, disse a
Yun, com malicioso sorriso:
- Está bem! Há pouco, pedi mingau e você disse que não havia
mais. Na verdade você queria guardá-lo para seu futuro marido.
Yun ficou toda confusa e todos se riram dela, até mesmo as 76
criadas. De minha parte, saí correndo para meus aposentos, com
Mulheres na China imperial, Página
da cama; Yun tirara a veste nupcial, mas ainda não havia ido
deitar-se. Seu belo pescoço branco se inclinava diante das velas
brilhantes; absorvia-se na leitura de um livro. Bati-lhe no ombro e
disse:
- Irmãzinha, por que ainda trabalha tanto? Você deve estar bem
cansada, com o dia cheio que tivemos.
Rapidamente Yun virou a cabeça e levantou-se, dizendo:
- Eu ia deitar-me, quando abri a estante e vi este livro. Comecei a
ler e não tive vontade de deixá-lo. Há muito tempo eu ouvira falar
de O quarto do oeste, mas hoje o vejo pela primeira vez. É,
verdadeiramente, obra de um gênio; apenas, acho que o estilo é
um pouquinho picante demais.
- Só gênios podem escrever em estilo picante - respondi, sorrindo.
A criada perguntou se íamos deitar-nos, deixou-nos e fechou a
porta. Comecei por sentar-me ao lado dela e pilheriamos juntos
como velhos amigos após uma longa separação. Toquei-lhe no
peito, de brincadeira, e disse que sentia estar seu coração também
palpitando. Inclinei-me e sussurrei-lhe ao ouvido: "Por que está o
coração da irmã batendo assim?" Yun fitou-me com um sorriso e
nossas almas foram transportadas num nevoeiro de paixão.
Depois, deitamo-nos. O alvorecer chegou depressa demais.
Como noiva, Yun a princípio era muito quieta. Nunca se
mostrava tristonha ou contrariada e, quando lhe falavam,
simplesmente sorria. Era respeitosa para com os superiores e
bondosa para com os subordinados. Tudo quanto fazia, fazia-o
bem e era difícil achá-la em falta. Quando viu a cinzenta alvorada
a brilhar pela janela, quis levantar-se e vestir-se, como se tivesse
recebido ordem para isso.
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- Por quê? - indaguei. - Não precisas ter receio de maledicências,
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2) O velório
Sua doença foi piorando de dia para dia. Quis chamar um médico,
mas Yun me deteve, dizendo:
- Sabes que comecei a ficar doente em conseqüência da morte de
minha mãe depois da fuga de Kehchang; depois, a doença se
agravou em vista do que sofri por causa de Han e, finalmente,
tornou-se pior em razão do meu pesar neste caso recente. Além
disso, muitas vezes fui cautelosa demais, temendo cometer
enganos. Tentei fazer o melhor que podia para ser uma boa nora e
falhei. Por isso passei a ter tonteiras e palpitações do coração. A
doença, agora, aprofundou-se em mim e nenhum médico valerá
de nada; bem podes poupar essa despesa. Ao olhar para trás, para
os vinte e três anos de nossa vida de casados, sei que me amaste e
tens sido muito cheio de consideração por mim, apesar de todas
as minhas faltas. Sinto-me feliz por morrer com um marido e um
amigo compreensivo como tu, e não tenho pesares. Sim, por vezes
fui feliz como uma fada, tendo quentes roupas de algodão, e 79
refeições frugais, mas completas, e o lar feliz que foi o nosso.
Mulheres na China imperial, Página
cuidado: vi as duas luzes das velas saltarem mais alto cada vez
mais alto, até passarem de um pé de altura, pondo o forro de
madeira empapelado em perigo de pegar fogo. O cintilar súbito
das luzes iluminou o quarto inteiro, permitindo-me ver em volta
claramente; de repente, elas ficaram pequenas e escureceu como
antes. Nessa hora eu me senti em estado de grande excitação e tive
vontade de chamar meu companheiro, quando pensei que seu
delicado espírito feminino bem podia assustar-se com a presença
de outro homem vivo. Baixinho, em tom calmo, chamei-lhe o
nome e dirigi-lhe uma oração, mas todo o quarto ficou sepultado
em silêncio e não pude ver coisa alguma. Então, as luzes das velas
voltaram a brilhar, mas não saltaram tão alto como antes. Saí e
contei tudo a Yumen. Ele achou que eu era muito corajoso. Não
sabia que eu estava, simplesmente, apaixonado.
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Mulheres na China imperial, Página
EM MEMÓRIA DE UMA CRIANÇA
Shen Chunlieh, aprox. 1624
e, agora, que não tens companhia aí, deves ligar-te à tua irmã. Tu
já sabes caminhar, mas tua irmã mal pode ficar firme de pé. Deves
pegá-la pela mão, andando juntas, sendo muito boas uma para
com a outra, não brigando nunca. Se encontrares tua ama
(Chouma), poderás fazer-lhe perguntas, dizendo - "Papai tinha
uma mulher chamada Koo e uma mamãe chamada Min". Pede-
lhe que te leve a elas, pois certamente tomarão conta de ti. Podes
ficar lá por enquanto e estarás perto de Koo. A irmãzinha é
pequenina e deves guiá-la; és pequenina e Koo te protegerá. Mais
tarde, acharei um lugar adequado e enterrarei as três no mesmo
túmulo.
Estou pensando em ti agora e é penoso esquecer-te. Se puderes
ouvir minha oração, vem ver-me em meus sonhos. Se o destino
decretar que deves ainda viver uma vida terrena, retorna então ao
ventre de tua mãe. Estou oferecendo sacrifícios e orações budistas,
tenho sopa aqui à tua espera e queimo notas de dinheiro para que
os uses. Quando vires o Juiz do Mundo Inferior, Junta as mãos e
suplica-lhe: “Sou jovem, sou inocente, nasci numa família pobre e
sempre me contentei com escassas refeições. Nunca pus fora um
só grão de arroz e nunca fui caprichosa ou descuidada com meus
sapatos e roupas. Seja o que for que ordenes, sou apenas uma
criancinha. Se algum espírito mau vier ameaçar-me, protege-me!"
Dize isto, justamente assim, e, não chores nem faças muito
barulho. Lembra-te de que estas num estranho mundo inferior e
aí não é como em tua casa, com tua gente. Agora estou escrevendo
isto, mas ainda não sei como o irei ler. Quero apenas gritar: "Ah
Chen, teu pai está aqui!" Mas só posso chorar por ti e chamar teu
nome.
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UMA CARTA DE AMOR
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UMA CANÇÃO DE MORTE
De “O Sonho do quarto vermelho”
Cao Xueqin, aprox. 1717-1763
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Eis que à porta do quarto a jovem aparece;
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Neste tempo, ora cálido, ora frio,
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SOBRE O INFANTICÍDIO E O
SALVAMENTO
SALVAMENTO DE CRIANÇAS
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A ORIGEM DO ENFAIXAMENTO DOS PÉS
"Nota sobre os Sapatos e Meias das Mulheres"
Yu Huai (1617 - depois de 1697)
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Mulheres na China imperial, Página
MERCADO DE CONCUBINAS
De “Memórias Sonhadas do Lago Ocidental”
Chang Tai 1597-1689
olhava, com o canto dos olhos. Seus olhos eram mostrados. "Qual
é a idade da kuniang?" Ela respondia. Sua voz era mostrada.
"Caminhe mais um pouco, por favor." Desta vez, a mulher erguia-
lhe as saias. Seus pés eram mostrados. Há um segredo para julgar
os pés das mulheres. Quando se ouve o roçagar de suas saias ao
começar ela a andar, pode-se imaginar que tem pés grandes, mas,
se usar as saias relativamente altas e mostrar os pés ao dar um
passo para a frente, já se sabe que tem um par de pés pequenos, de
que se orgulha. "Kuniang, pode retirar-se."
Logo que a moça saía, outra vinha e a mesma coisa se repetia.
Costumeiramente havia cinco ou seis moças numa casa. Se o
cavalheiro decidisse ficar com determinada jovem, colocar-lhe-ia
no cabelo um alfinete de ouro ou outro ornamento; isto se
chamava “tsatai”. Se nenhuma lhe parecesse satisfatória, uma
gorjeta de algumas centenas de moedas era dada à agenciadora ou
às criadas da casa e outra casa lhe era mostrada. Quando uma
agenciadora completava o giro das casas com que operava, outras
agenciadoras vinham. Isto continuava por um, dois, talvez quatro
ou cinco dias. Era uma coisa sem fim e os agentes nunca se
cansavam. Mas, depois que alguém via cinqüenta ou sessenta
moças, todas eram mais ou menos parecidas, de cara pintada e
vestido vermelho. É como escrever letras; quando se fez o mesmo
sinal cem ou mil vezes, não é mais possível distingui-lo. O cliente
não sabe o que decidir, ou qual preferir, e acaba por escolher
qualquer uma delas.
Depois de feita a escolha, confirmada pelo tsatai, a dona da casa
aparecia com uma folha de papel vermelho e um pincel de
escrever. No papel estavam escritos os itens: sedas, flores de ouro,
presentes em dinheiro e peças de pano. A dona mergulhava o 108
pincel em tinta e deixava-o pronto para que o freguês preenchesse
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DO ENCANTAMENTO AS MULHERES
De “A arte de viver” [Shin Ching Ouchi]
Li Liweng, 1611-1679
primeira vista, que após vistas não mais são esquecidas, que levam
os homens a arriscarem tudo o que têm, glória, riqueza, até
mesmo a vida, a fim de possuí-las. Tal é o estranho poderio da
fascinação da mulher, algo de fugitivo, que desafia qualquer
explicação.
De todas as coisas por que admiro o criador do universo, e de
todos os mistérios do universo, o encanto da personalidade
coloca-se no plano mais alto. Se eu fosse Deus, poderia dar a
minhas criaturas forma corpórea, sabedoria e conhecimento, mas
não lhes poderia dar essa coisa que é invisível e, contudo,
aparentemente palpável, que existe e, todavia, não tem forma
corporal, que é vista por um momento e torna a desaparecer - a
saber, o encanto. Pois o encanto não se limita a salientar a beleza e
a atração nas mulheres; pode fazer o que é velho parecer novo, o
que é feio parecer belo, o que é insípido tornar-se excitante.
Silenciosa e secretamente, fascina um homem sem que ele o note.
Uma moça que tenha apenas uma beleza facial de terceiro grau é
tão fascinante quanto outra que tiver melhor aparência, bastando
para isso que tenha encanto. Tomai duas moças, uma que tenha
apenas um "aspecto" comum de terceira categoria, mas tenha
encanto, e outra que não tenha encanto, mas tenha melhor
"aspecto"; colocai-as lado a lado. Gostarão todos da beldade de
terceira categoria e não da de segunda. Ou ainda, tomai uma
mulher de aspecto moderadamente bom, sem encanto, e outra
que tenha encanto, mas seja completamente deficiente em bom
aspecto; ponde-as juntas e deixai que sejam trocadas algumas
palavras com cada uma delas. Todos se apaixonarão pela que tem
encanto, e não pela que simplesmente tem bom aspecto, o que
vem provar que o encanto pode substituir a total ausência de boa 111
aparência. São conhecidas moças que em quase tudo são de
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UMA CARTA FAMILIAR SOBRE UMA JOVEM ESPOSA
De “Cartas familiares de Tseng”
Tseng Kuofan, 1811-1872