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APOIO CULTURAL:

Existem sete dife-


rentes espécies de
Tridacna gigas – A tartarugas marinhas.
Ostra Gigante do No Brasil ocorrem
Pacífico é a maior cinco delas. O Mu-
concha bivalve do seu possui os crânios
mundo! Esta belíssi- e as carapaças das
ma peça veio direta- espécies: tartaruga
mente da Indonésia verde, tartaruga oliva,
para o Museu. tartaruga de pente,
tartaruga cabeçuda e
a tartaruga de couro.

Av. Sambaqui, 318 – B. Santo Antônio – Balneário Piçarras – Fone: (47) 3261-1403
O MAIOR MUSEU OCEANOGRÁFICO
DA AMÉRICA LATINA ESTÁ EM
BALNEÁRIO PIÇARRAS.

HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO:

TERÇA A SEXTA:
DAS 14:00 ÀS 20:00

SÁBADOS E DOMINGOS:
DAS 10:00 ÀS 18:00

VALOR DO INGRESSO:
R$ 20,00 INTEIRA – R$ 10,00 MEIA

Feto de Pinguim de
Painel com Humboldt, em expo-
maxilas de sição na ala das aves
diversos tubarões. marinhas. É uma
Entre elas, as cinco das espécies mais
espécies com vulneráveis, pois são
mais registros nativas da América
de ataques a do Sul, encontradas
humanos. apenas na costa do
Chile e do Perú.

www.univali.br/institucional/museu-oceanografico-univali
www.historiacatarina.com.br
EXPEDIENTE ÍNDICE ANO XI ED. 86 2017

MATÉRIA DE CAPA
EDITOR
Cláudio R. Silveira

REVISÃO DE TEXTOS
Teresa Setti de Liz

ARTE E DIAGRAMAÇÃO
Franciele Schneider

PARCERIA CULTURAL:
- Arquivo Histórico Eugênio Victor Schmöckel
Jaraguá do Sul
- Arquivo Público de Blumenau
- Arquivo Público de Joinville
- Arquivo Público de Rio do Sul
- FCC – Fundação Catarinense de Cultura
- Fundação Cultural de Lages
- Fundação Genésio Miranda Lins – Itajaí
- IHGSC – Instituto Histórico e Geográfico A porcelana em Santa Catarina, e em algumas outras partes do Brasil, carrega
de Santa Catarina um simbolismo de bom gosto e afetuosidade que tem sido repassado, geração após
- IHGL – Instituto Histórico e Geográfico de geração. Além de sua utilidade a porcelana contém o trabalho de arte de vários artistas
Lages e Serra Catarinense
anônimos.
- INGESC – Instituto de Genealogia de SC
- Museu Thiago de Castro
- Museu Histórico de São Francisco do Sul

CONSELHO CONSULTIVO
- Jornalista Marli Cristina Scomazzon
- Historiador Jali Meirinho 06 NEM TODOS SABIAM QUE...
- Geógrafo Augusto Zeferino
10 NOTÁVEIS HISTORIADORES
DEPARTAMENTO COMERCIAL
Juliana Franklin da Silveira
Afonso Taunay
historiacatarina@gmail.com
Distribuição para todo o Estado 12 EMINENTES PENSADORES
Fernando Pessoa
EDITORA LEÃO BAIO
LAGES – Rua Amapá, 405 14 ARTE E MULTIDISCIPLINARIDADE
São Cristóvão – CEP: 88509-140 Victor Meirelles
Fone: (49) 3225.3475
16 A ORIGEM JUDAICA DOS BANDEIRANTES E A INQUISIÇÃO
Como a Inquisição pode explicar a fúria das bandeiras de
São Paulo contra os jesuítas
26 A PORCELANA
História e beleza
36 A PORCELANA EM SANTA CATARINA
/Historiacatarina
Histórias de Família
48 MAYDAY! MAYDAY! MAYDAY!
A chamada que salva vidas
APOIO:
52 ARAUCARIA ANGUSTIFOLIA:
Milhões de anos de história

IHGSC IHG-Lages
Instituto Histórico e Instituto Histórico e
Geográfico de Santa Catarina Geográfico de Lages

NOSSA CAPA
Jogo de porcelana
chinesa, a mãe de
todas as porcelanas do
mundo.
Foto divulgação/
Skinner.
ISSN 1980-1637 Banco de Memória Histórico e Cultural de Santa Catarina

EDITORIAL

A HISTÓRIA REALÇADA POR NOSSOS SENTIDOS

As histórias de vida, as histórias de famílias, as histórias dos imigran-


tes são todas tão delicadas como as finas porcelanas que, ao longo dos
séculos, enfeitaram mesas e realçaram o sabor de chás e cafés e de exó-
ticas comidas servidas sobre pinturas de grandes mestres da porcelana
chinesa, coreana, japonesa e europeia!
Se essas peças pudessem falar, quanto teria para dizer aquele jogo
de porcelana recebido como presente de casamento lá nos anos 50 e
60 do século passado? Enquanto editávamos a seção sobre a história da
porcelana, desta edição, vimos a nostalgia entre colegas da Editora que
paravam algum tempo para comentar a respeito da relação familiar com
estes objetos de saudosismo que fez parte de seu cotidiano!
Santa Catarina tem uma longa história da relação de seu povo com
a porcelana fabricada neste Estado. Seja por qual razão for, será que
alguém poderia contrariar o fato de que é muito mais saboroso tomar
um café ou um chá em uma xícara de porcelana do que tomá-lo em uma
caneca qualquer?
Esse sabor, que transcende a essência, em si, do líquido tomado,
revela certamente que nossa sensibilidade gustativa é estimulada pelo
tato e pela visão. Pense nisso quando tomar seu próximo café ou chá em
uma fina porcelana!
Nesta edição destacamos a história biológica da preciosa araucária.
A origem da árvore, a maturação para a produção de pinhas. As imagens
facilitam bastante a compreensão. Nossa velha araucária catarinense e
paranaense foi usada aos milhões para a construção de Brasília e ainda
hoje faz parte do cotidiano de milhares de famílias que dela aproveitam
sua semente na culinária, e inclusive na fabricação de cerveja artesanal,
e por isso é grande fonte de renda. Boa leitura!

Cláudio Rodrigues da Silveira


Historiador/Editor
historia@historiacatarina.com.br
Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Lages
Membro Emérito do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina

Os artigos assinados não expressam a opinião ou as


ideias do Editor da Revista História Catarina. A res-
ponsabilidade por conteúdos assinados é dos au-
tores. É permitida a reprodução parcial dos artigos
com a devida indicação da fonte. Esta obra está sob
o controle bibliográfico mundial de publicações por
meio de um código único, do International Stan-
dard Serial Number, ISSN 1980163-7.
HC – 6 Ed. 86 - 2017

EFEMÉRIDES DE
JUNHO

Dia 01 – ANO 1750 Dia 02 – ANO 1950

Assume seu cargo o primeiro Ou- Registrado, nesta data, no Tribunal Eleitoral de
vidor nomeado para Santa Catarina, Santa Catarina, o Diretório Seccional do Partido So-
Dr. José Manuel de Faria. cial Progressista.

Dia 04 – ANO 1688


Nasce, em Santos, Joana Gomes de Gusmão, filha de Francisco Lourenço Rodrigues e Maria Álvares.
Era irmã de Alexandre de Gusmão e do “padre voador” Bartolomeu de Gusmão. Viúva do fazendeiro
Antônio Ferreira da Gamboa, Joana decidiu tomar o hábito da Ordem Terceira da Penitência e, como tal,
passou a recolher esmolas para os pobres pelo litoral sul do Brasil. Na vila de Desterro fundou uma escola
para meninas, construiu a igrejinha do Menino Deus, que deu origem à Irmandade de Nosso Senhor Jesus
dos Passos. Ficou conhecida como a Beata Joana de Gusmão, falecendo aos 92 anos, na vila de Desterro,
a 16 de novembro de 1780.

Dia 05 – ANO 1904 Dia 08 – ANO 1871

Circula, em Itajaí, o número inaugural do jornal Na cidade de Desterro, o Teatro Santa


Novidades, fundado por Tibúrcio de Freitas, depois Isabel, mesmo antes de estar concluído é
dirigido por Victor e Adolfo Konder. Tradicional ór- aberto ao público, com exibições da Asso-
gão da imprensa catarinense, circulou até 1917. ciação Bohemia Dramática Paulista.

Dia 14 – ANO 1963

Morre, em Itajaí, Marcos Konder. Empresário e político, com influente atuação


no cenário catarinense como vereador e prefeito municipal de Itajaí e deputado es-
tadual em sucessivas legislaturas entre 1913 e 1937. Publicou vários livros e discur-
sos parlamentares, inclusive o ensaio bibliográfico Lauro Müller, premiado pela Aca-
demia Brasileira de Letras, em 1953. Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico
de Santa Catarina e ocupante da Cadeira 08 da Academia Catarinense de Letras.

Dia 16 – ANO 1958

Em desastre aéreo nas proximidades de Curitiba, perdem a vida o gover-


nador Jorge Lacerda, o ex-presidente da República Nereu de Oliveira Ramos,
e Leoberto Leal, deputado federal por Santa Catarina. Jorge Lacerda foi um
político brasileiro, filho de imigrantes gregos. Foi governador de Santa Ca-
tarina no período de 1956 a 1958, quando faleceu, aos 43 anos de idade,
nesse acidente. Estudou Medicina na Universidade do Paraná. Também cur-
sou Direito na Faculdade de Niterói, antes de entrar definitivamente para a
Política, tendo sido, duas vezes deputado federal.
Para saber mais sobre este assunto, leia a edição no 06 da HC.
Ed. 86 - 2017 7 – HC

Dia 27 – ANO 1897 Maestro Heinz Heinrich Geyer


O Maestro Heinz Heinrich Geyer nasceu no dia 27 de junho de
1897, na cidade de Mülheim an der Ruhr, Renânia – Alemanha. Depois
de formado pelo Conservatório de Música de Duisburg, aos 16 anos de
idade, veio para o Brasil com 24 anos de idade, radicando-se em Blume-
nau onde dirigiu a Orquestra Sinfônica e lecionou música. No dia 08 de
agosto de 1963 recebeu o título de Cidadão Blumenauense, pela Lei No
1.175. Compositor, foi autor de várias óperas, entre elas a ópera Anita
Garibaldi e a ópera O Imigrante, além de várias outras composições. Fa-
leceu no dia 13 de junho de 1982.

Dia 17 – ANO 1910 Dia 17 – ANO 1961

Tendo os trilhos da es- Instalação, pelo governador Celso Ramos, da Comissão fun-
trada de Ferro São Paulo-Rio dadora do Banco do Desenvolvimento do Estado de Santa Cata-
Grande alcançado as mar- rina, criado pelo Decreto N. GE-16-06-61/149. Esta Comissão foi
gens do rio Uruguai, em ter- integrada pelo Secretário da Fazenda, Geraldo Wetzel, como pre-
ritório catarinense, chega ali, sidente, e por Guilherme Renaux, presidente da Federação das
nesta data, o primeiro trem, Indústrias, Haroldo Soares Glavan, presidente da Federação do
procedente de Porto União. Comércio; Oscar Schwister e Plínio Arlindo de Nez, empresários.

Dia 18 – ANO 1963 Dia 21 – ANO 1959

Lei no 889 cria o mu- Morre, em Florianópolis, Henrique Rupp Júnior. Bacharel em
nicípio de Herval Velho, Direito, atuou na política catarinense como deputado estadual em
desmembrado de Cam- sucessivas legislaturas. Como professor, participou da fundação da
pos Novos. Faculdade de Direito de Santa Catarina, onde exerceu a cátedra.
Na imprensa, fundou os jornais O Estado (1915) e A Pátria (1930).

Dia 22 – ANO 1885 Dia 23 – ANO 1958

Morre, em Blumenau, Pedro Cristiano Fe- Instalação do município de Jacinto Macha-


dersen, um dos líderes do desenvolvimento do, criado pela Lei nº 348 de 21 de junho de
do Vale do Itajaí. Foi deputado estadual. 1958. Desmembrado de Turvo.

Dia 24 – ANO 1976 Dia 25 – ANO 1890

Lei Municipal no 1.229 cria a Fundação Edu- Lei no 08, desta data, cria a Comarca
cacional do Planalto Central Catarinense – FE- de Araranguá, a primeira a ser criada
PLAC – com sede na cidade de Curitibanos. sob o Regime Republicano.

Dia 30 – ANO 1886 Dia 30 – ANO 1890

Lei no 1.109 cria a Comar- Inauguração do prédio da Hospedaria dos Imigrantes, no


ca de São Paulo Apóstolo, de continente fronteiro à capital catarinense. A edificação his-
Blumenau. tórica, ainda existente na atualidade como “Portal Turístico”,
também serviu como “Escola de Aprendizes de Marinheiros”.

Referência: Datas Históricas de Santa Catarina - 1500/2000/Jali Meirinho, 2a. ed. rev.aum. atualizada. Florianópolis: Insular, Ed. UFSC, 2000.
• Exposição Histórico-Jurídica. Mafera, Manoel da Silva, 1831-1907.
HC – 8 Ed. 86 - 2017

Você sabia que o estado de San-


ta Catarina também foi, de algu-
ma forma, atingido pela Segunda
Guerra Mundial?

No ano de 1942 o presidente


Você sabe o que é fazer política? Getúlio Vargas, em nome do Bra-
sil, declarou Guerra aos países
“Quando se fala em Política é comum algu- do Eixo: Alemanha, Itália e Japão.
mas pessoas pensarem em deputados, verea- Ainda hoje Santa Catarina é co-
dores ou outros cargos políticos, na cidade de nhecida por ter em sua população
Brasília, ou em algo que está “distante” daque- um grande número de imigrantes
les que exercem outros tipos de trabalho na destes países e, naturalmente, os
sociedade. Política, no entanto, se faz a todo seus descendentes. Assim, decla-
instante e em todas as relações da sociedade. rada a guerra, as ações governa-
Aristóteles já dizia que o homem é um animal mentais voltaram-se para os “pe-
político e social por natureza. O que ele quis di- rigos” representados na imagem
zer? O que seria então, política?” “construída” dos estrangeiros
oriundos desses países. Legitima-
Saiba mais na Edição no 58 da Revista HC. das por Editais e por Decretos vá-
rias ações instauraram um clima
de denúncias, violências e prisões,
estas sem direito a habeas-corpus
Você sabia que já houve um “Ciclo das Balsas do
e “legalizadas” por uma simples
Rio Uruguai”?
suspeita. Em Florianópolis, Join-
Esse “ciclo” ocorreu entre o início do século XX e ville, Itajaí e em outras cidades
o final da década de 1960, período em que ainda catarinenses houve atos públicos
havia abundância de madeira nobre. Devido à pre- contra os estrangeiros.
cariedade do sistema de transporte então existente, Saiba mais na Edição no 05 da Revista HC.
grande quantidade dessa madeira foi transportada
por meio das balsas que navegavam pelo Rio Uru-
guai, graças aos bravos balseiros daquela época. O
Goio-En – água grande ou água funda na linguagem
indígena – tornou-se um porto estratégico e os “pi-
rangueiros”, precursores dos balseiros, legaram a es-
tes o conhecimento de que as enchentes do Uruguai
eram, na verdade, suas aliadas, pois tornavam o rio
navegável, condição imprescindível ao transporte da
madeira pelas balsas. O número de balseiros neces-
sários para a condução das balsas dependia do ta-
manho destas, que podiam transportar até mais de
mil dúzias de madeira serrada.

Saiba mais na Edição no 60 da Revista HC.


Ed. 86 - 2017 9 – HC

Você sabia que Napoleão Bona-


parte, imperador dos franceses, Você sabia que Cultura e Educação Na-
preso pelos ingleses na lha de San- zista eram Temáticas discutidas por
ta Helena, planejou fugir desta Nietzsche e Foucault?
ilha para Pernambuco, no Brasil?
Nietzshe, o homem que mudou o con-
O plano de fuga foi projeta- ceito alemão de Educação, acreditava
do por ocasião da proclama- que os modos de vida inspiram maneiras
ção da Revolução Republica- de pensar e os modos de pensar criam
na, em Pernambuco, em 1817. maneiras de viver. Infelizmente, os ide-
O propósito dos franceses era ais que Nietzsche defendia foram maldo-
levar Napoleão de Recife para samente distorcidos. Foucault verificou
os Estados Unidos. Os bonapar- que, em algumas sociedades, caso da
tistas contavam com as simpatias alemã nazista de Hitler, o governo conse-
de dez mil emigrados franceses, guiu, por meio de um mecanismo forma-
sempre prontos a se sacrificarem do pela exaltação à soberania, à rigidez
pelo seu imperador. Os detalhes disciplinar e ao biopoder, alienar grande
do plano de fuga de Napoleão, or- parte da população. Os nazistas que-
questrado pelo irmão dele, José Bo- riam “purificar” a raça ariana dos “genes
naparte, só vieram a ser conhecidos ruins”. Esses genes estariam nos judeus,
em 1853. nos ciganos, nos homossexuais e nas pes-
Saiba mais na Edição no 26 da HC.
soas com qualquer forma de deficiência.
Os oficiais nazistas planejavam esvaziar
os asilos de doentes mentais e pacientes
incuráveis.

Saiba mais na Edição no 42 da Revista HC.


Você já ouviu falar na E.E.B. “Hilda Te-
odoro Vieira”?

A história desta Escola mescla-se


com a da formação escolar dos bair-
Você sabia que o movimento do Contesta-
ros da Trindade e da Agronômica, em do – 1912/2012 – pode ser um motivo para
Florianópolis. Fundada em 1950, esta balanço e reflexão?
Escola foi de muita importância para a
formação dos alunos residentes nesses Por muito tempo o estudo sobre o conflito
citados bairros e, até hoje, grande par- do Contestado refletiu todos os preconceitos
te dos seus alunos são provenientes do que existem contra as populações rurais em
Morro da Penitenciária, que fica próxi- geral e, em especial, contra os caboclos.
mo à Escola. Em 1967 houve, nesta Es- “Matutos”, “tabaréus” e outras denomi-
cola um grande incêndio que destruiu nações pejorativas, dirigidas aos habitantes
suas dependências e boa parte dos do- nacionais, indicavam uma mistura de precon-
cumentos ali guardados. ceito racial (contra negros, indígenas e mes-
tiços) associado ao preconceito urbano e de
Saiba mais na Edição no 56 da Revista HC.
classe, contra os camponeses em geral.
Saiba mais na Edição no 42 da Revista HC.
HC – 10 Ed. 86 - 2017

Notáveis Historiadores

Afonso Taunay
Afonso d'Escragnolle Taunay a 1910. Foi diretor do Museu Paulista
nasceu em 11 de julho de 1876, no (conhecido como Museu do Ipiran-
Palácio-sede do Governo, conhecido ga), entre 1917 e 1945. Reorganizou a
como Palácio Rosado em virtude da biblioteca e o arquivo do Ministério
cor utilizada na parte externa da casa, das Relações Exteriores, em 1930. De
na antiga Vila do Desterro, atual Flo- 1934 a 1937 foi professor na Faculda-
rianópolis, e faleceu em São Paulo, de de Filosofia, Ciências e Letras da
SP, em 20 de março de 1958. Universidade de São Paulo.

Filho do então presidente da Sua atuação no Instituto Históri-


província de Santa Catarina, Alfredo co e Geográfico Brasileiro, no Institu-
d'Escragnolle Taunay, e de Cristina to Histórico e Geográfico de São Pau-
Teixeira Leite, visconde e viscondessa lo, na Academia Paulista de Letras,
de Taunay, este historiador era neto, na Academia Portuguesa de História
pelo lado materno, do barão de Vas- e como correspondente de Institu-
souras, bisneto do barão de Itambé e tos Históricos estaduais possibilitou
sobrinho-bisneto do barão de Aiuruo- a Afonso Taunay grande dedicação
ca. Pelo lado paterno era sobrinho- aos estudos historiográficos, especial-
-neto do barão d'Escragnolle, bisneto mente ao bandeirismo paulista, ao
do conde d'Escragnolle, neto do pin- período colonial brasileiro e à Lite-
tor, professor e diretor da Academia ratura, Ciência e Arte do Brasil. Teve
Imperial de Belas Artes, Félix Emílio destaque também como lexicógrafo
Taunay e bisneto de outro conceitua- especializando-se sobretudo na termi-
do pintor, Nicolas-Antoine Taunay. nologia científica e escreveu diversos
estudos de genealogia.
Afonso d'Escragnolle Taunay for-
mou-se em engenharia civil pela Es- Casou-se com Sara de Souza
cola Politécnica do Rio de Janeiro, em Queiroz (Sara de Souza d'Escragnolle
1900. Foi professor na Escola Politéc- Taunay, após o casamento), filha de
nica de São Paulo no período de 1904 Vitalina Pompeu de Camargo e An-
Ed. 86 - 2017 11 – HC

tônio de Souza Queiroz, neta dos Ba-


rões de Souza Queiroz, com a qual
teve cinco filhos: Ana d'Escragnole
Taunay, casada com Francisco Pedro
Berrettini; Paulo d'Escragnolle Tau-
nay, casado com Kitty Taunay; Maria
Egídia d'Escragnolle Taunay; Augus-
to d'Escragnolle Taunay, casado com
Angélica (Lili) Ulhôa Cintra, e Claris-
se d'Escragnolle Taunay, casada com
Pedro Alcântara Taques Horta.

Obras publicadas
• Leonor de Ávila, romance brasi-
leiro seiscentista.
• Ensaios de bibliografia (2ª parte:
língua estrangeira); • História seiscentista da vila de
• Nicolau A. Taunay (documentos São Paulo, 4 vols. (1926-1929);
sobre sua vida e sua obra); • História antiga da abbadia de
• São Paulo nos primeiros anos São Paulo: escripta á vista de
(1920); avultada documentação inedita
• São Paulo no século XVI (1921, (1598-1772), (1927)
reeditado conjuntamente com a • História do café no Brasil, 11 vols.
obra acima pela editora Paz e Ter- (1929-1941);
ra, 2004) • O Rio de Janeiro de antanho: im-
• Pedro Taques e seu tempo, (1923); pressões de viajantes estrangei-
• A vida gloriosa e trágica de Bar- ros, (1942).
tolomeu de Gusmão, biografia; • Pequena história do café no Bra-
• Obras diversas de Bartolomeu de sil (1727-1937), (1945).
Gusmão; • Zoologia fantástica do Brasil (sé-
• A missão artística de 1816 (reedi- culos XVI e XVII)
tado pela Editora Universidade de • Rio de Janeiro de antanho: im-
Brasília, 1983); pressões de viajantes estrangei-
• Non ducor, duco: notícias de São ros (1942);
Paulo (1565-1820), (1924); • Lexicografia: Léxico de termos
• Escritores coloniais (1925); técnicos e científicos;
• Visitantes do Brasil colonial (sé- • A terminologia científica e os
culos XVI-XVIII), (1933); grandes dicionários portugueses.
• História geral das bandeiras • História da Cidade de São Paulo
paulistas, 11 vols. (1924-1950); (1953)
HC – 12 Ed. 86 - 2017

Fernando Pessoa
Às vezes ouço passar o
vento; e só de ouvir o
vento passar, vale a pena
ter nascido.

O poeta é um fingidor /
Finge tão completamente /
Que chega a fingir que é dor /
A dor que deveras sente.

A liberdade é a
possibilidade do
isolamento. Se te é impossível
Bruno Maio.

viver só, nasceste escravo.

Adoramos a perfeição,
Amo como ama o amor. Não porque não a podemos ter;
conheço nenhuma outra razão repugna-la-íamos se a tivésse-
para amar senão amar. Que queres que mos. O perfeito é o desumano
porque o humano é imperfeito.
te diga, além de que te amo, se o que
quero dizer-te é que te amo?
O próprio viver é morrer,
porque não temos um dia
Matar o sonho é ma- a mais na nossa vida que não
tarmo-nos. É mutilar a tenhamos, nisso, um dia a
nossa alma. O sonho é o que menos nela.
temos de realmente nosso,
de impenetravelmente e
inexpugnavelmente nosso. Tudo vale a pena quando a
alma não é pequena.
Ed. 86 - 2017 13 – HC

Fernando António Nogueira Pes-


soa (Lisboa, 13 de junho de 1888 – O meu passado é tudo quanto
Lisboa, 30 de novembro de 1935), não consegui ser. Nem as sensa-
foi poeta, escritor, publicitário, crí- ções de momentos idos me são saudo-
tico literário, inventor, empresário, sas: o que se sente exige o momento;
tradutor, correspondente comercial,
filósofo e comentarista político por-
passado este, há um virar de página e
tuguês. a história continua, mas não o texto.
Fernando Pessoa é o mais uni-
versal poeta português. Por ter sido
educado na África do Sul, numa es- Querer não é poder. Quem pôde,
cola católica irlandesa, chegou a ter quis antes de poder só depois de
maior familiaridade com o idioma
inglês do que com o português e
poder. Quem quer nunca há-de poder,
seus primeiros poemas foram es- porque se perde em querer.
critos na língua inglesa, ainda na
infância, quando já começou a criar
seus diversos heterônimos. O crítico Tenho pensamentos que, se pu-
literário Harold Bloom considerou desse revelá-los e fazê-los viver,
Pessoa como "Whitman renascido", acrescentariam nova luminosidade
e o incluiu, no seu cânone, entre os
26 melhores escritores da civilização
às estrelas, nova beleza ao mundo e
ocidental, não apenas da literatura maior amor ao coração dos homens.
portuguesa mas também da inglesa.
Das quatro obras que publicou
em vida, três são na língua inglesa.
Fernando Pessoa traduziu várias
obras em inglês (geralmente de
Shakespeare e de Edgar Allan Poe)
para o português, e obras portugue-
sas (nomeadamente de António Bot-
to e Almada Negreiros) para o inglês.
Pessoa é reconhecido pela for-
ma como construía seus heterôni-
mos, cada um deles com biografias
específicas, personalidades e estilos
próprios, além de textos com temas
e opiniões diferentes. Entre outros,
os heterônimos mais conhecidos
são Ricardo Reis, Álvaro de Campos
e Alberto Caeiro, sendo estes obje-
to da maior parte dos estudos so-
bre a sua vida e obra. Robert Hass,
poeta americano, diz: "Outros mo-
Alberto Caeiro

dernistas como Yeats, Pound, Elliot


inventaram máscaras pelas quais
falavam ocasionalmente... Pessoa
inventava poetas inteiros".
HC – 14 Ed. 86 - 2017

A Arte de

Victor Meirelles
Victor Meirelles de Lima nasceu em Desterro, em 18 de agosto de
1832. De origem humilde, cedo seu talento foi reconhecido, sendo admi-
tido como aluno na Academia Imperial de Belas Artes. Especializou-se em
pintura histórica e, ao ganhar o Prêmio de Viagem ao Exterior, passou vá-
rios anos em aperfeiçoamento na Europa. Lá pintou sua obra mais conhe-
Ed. 86 - 2017 HC na Arte – Estudo Multidisciplinar 15 – HC

História da Arte
Multidisciplinaridade
Batalha Naval do Riachuelo, 1882/83.
Acervo: Museu Histórico Nacional/IBRAM/MinC.

cida, A Primeira Missa no Brasil. Voltando ao Brasil o primeiro dos pintores nacionais a conquistar
tornou-se um dos pintores preferidos de D. Pedro II. admissão no Salão de Paris. É um dos principais
Tornou-se estimado professor da Academia, for- pintores do século XIX, para muitos o maior de
mando uma geração de grandes pintores, e continuou todos, sendo autor de algumas das mais célebres
seu trabalho pessoal realizando várias outras pinturas recriações visuais da história brasileira, que per-
históricas importantes. Em seu apogeu foi conside- manecem vivas na cultura nacional e são inces-
rado um dos principais artistas do Segundo Reinado. santemente reproduzidas em livros escolares e
Com frequência recebendo elogios pela perfeição de uma variedade de outros meios. Morreu em 22
sua técnica, recebeu condecorações imperiais e foi de fevereiro de 1903, no Rio de Janeiro.
HC – 16 Ed. 86 - 2017

Mario Cesar Carvalho

A ORIGEM JUDAICA
DOS BANDEIRANTES
E A INQUISIÇÃO
Como a Inquisição pode explicar a fúria das
bandeiras de São Paulo contra os jesuítas.
Ed. 86 - 2017 A partida dos bandeirantes. Clóvis Graciano. Acervo: Salão Nobre da CMSP. 17 – HC


A origem nobre dos
primeiros portugue-
ses que chegaram a São
Paulo é uma ‘balela’. Aque-
les que exibem brasão de
armas para comprovar
nobreza estão mostrando
uma fantasia”.
HC – 18 Ed. 86 - 2017

Quem quiser encarar o historiador Marcelo


Meira Amaral Bogaciovas, autor dessas provoca-
ções, precisa ter fôlego para mergulhos longos: ele,
que tem 52 anos, pesquisa genealogia há 35 anos. "Quatrocentão é a
Um interessante artigo publicado na Folha de São forma usada pelos
Paulo, em 2004, chama a atenção para este novo
paulistas para de-
olhar sobre os quatrocentões paulistas.
signar famílias que
"A maior parte dos que se dizem quatrocen- estão no Estado há
tões são judeus convertidos ao cristianismo", diz 400 anos ou mais.
Bogaciovas. "Quatrocentão” é a forma usada pelos Muitas delas são
paulistas para designar famílias que estão no Esta-
do há 400 anos.As famílias Cerqueira César, Toledo
constituídas por cris-
Piza e Almeida Prado são de cristãos novos. tãos novos”.

As provas de nobreza eram falseadas em cartó-


rios portugueses. "Os cartórios eram corruptos. Esta-
vam preocupados com dinheiro, não com correção".
Ed. 86 - 2017
Bandeirantes. Clóvis Graciano. Acervo: Salão Nobre da CMSP. 19 – HC

Pesquisadora afirma que a Inquisição pode explicar a


fúria das bandeiras de São Paulo contra os jesuítas

Os historiadores nunca prima- Portugal, segundo os quais Raposo


ram pelo equilíbrio ao retratar An- Tavares teria razões religiosas para
tônio Raposo Tavares (1598-1658), queimar igrejas: a madrasta dele,
um dos mais mitológicos bandeiran- Maria da Costa, foi presa pela In-
tes. Ou era guindado ao céu como o quisição em 1618 sob a acusação de
"bandeirante magno, vulto formidá- "judaísmo" e só saiu do cárcere seis
vel", segundo a descrição de Affon- anos depois.
so Taunay, ou era jogado no inferno
como assassino, herege e matador de Em 1496, D. Manuel, rei de Por-
padres. tugal, decretou que os judeus de-
veriam ser expulsos do país. Só po-
A historiadora Anita Novinsky, deriam ficar os chamados “cristãos
professora de pós-graduação na USP, novos”, ou seja, os que aceitassem a
reuniu documentos, encontrados em conversão ao catolicismo.
HC – 20 Ed. 86 - 2017

Raposo Tavares foi criado até


os 18 anos na casa da madrasta, uma
cristã nova que seguia a tradição reli-
giosa como "uma judia fervorosa", na
definição de Novinsky. A mãe de Ra-
poso Tavares também era cristã nova.
"Há razões ideológicas na fúria dos
bandeirantes contra a igreja. Ela re-
presentava a força que tinha destru-
ído suas vidas e confiscado seus bens
em Portugal", diz Novinsky, autora de
oito livros sobre a Inquisição. Raposo
Tavares matou jesuítas porque eles
eram comissários da Inquisição na
América, segundo a historiadora.

Os documentos encontrado por


Novinsky foram debatidos, em 2004,
no Simpósio O Legado dos Judeus
para a Cidade de São Paulo, em no-
vembro daquele ano, simpósio esse
promovido pela USP, mais especifica-
mente, pelo Laboratório de Estudos
sobre a Intolerância, dessa Universi-
dade, e pelo clube A Hebraica. Raposo Tavares. Fonte: Editora Abril, década de 1970.

Uma outra história "Há razões ideoló-


gicas na fúria dos
Segundo a nova perspectiva, Raposo Ta-
bandeirantes contra
vares e outros bandeirantes que atacavam
igrejas podem ser vistos, na visão de No- a igreja. Ela repre-
vinsky, como "subversivos", desafiadores da sentava a força que
hegemonia católica. Entre os bandeirantes, havia destruído suas
eram cristãos novos Raposo Tavares, Fernão vidas e confiscado
Dias Paes e Brás Leme. Baltazar Fernandes,
fundador de Sorocaba, matou com um tiro
seus bens em Portu-
na cabeça o padre Diogo de Alfaro, que tinha gal".
sido enviado pela Inquisição para investigar
os paulistas.
Ed. 86 - 2017 21 – HC

"A história do período colonial pre-


cisa ser reescrita", defende Novinsky. De
acordo com a historiadora, os novos docu-
mentos mudam as histórias das “bandei-
ras” e do Brasil. Os ataques das “bandei-
ras” às reduções, áreas em que os jesuítas
agrupavam os índios para catequizá-los,
ocorreram na primeira metade do século
17. O mais célebre dos ataques foi contra
as reduções na região de Guairá, hoje terri-
tório paraguaio, em 1628. Raposo Tavares
teria saído de São Paulo com 900 homens
brancos e 3.000 índios.

Foi nesse episódio que, na visão de


Novinsky, Raposo Tavares fez a sua con-
fissão de judaísmo. Segundo a pesquisado-
ra, uma carta de Francisco Vasques Tru-
jillo, escrita em 1631, menciona que, ao ser
questionado com que autoridade moral os
paulistas atacavam os índios, ele responde
que era com a autoridade "que lhes davam
os livros de Moisés".

O saldo da mencionada batalha foi,


Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera.
para os bandeirantes, a escravização de Acervo: Museu Paulista USP.
2.000 índios que estavam sendo catequi-
zados. Com a expulsão dos jesuítas espa-
nhóis, Portugal ganhou o território onde
ficam os Estados do Paraná, de Santa Cata- Com a expulsão dos
rina, do Rio Grande do Sul e de Mato Gros- jesuítas espanhóis,
so. A escravização dos índios acabou con- Portugal ganhou o
sagrando a teoria de que os bandeirantes território onde ficam
eram movidos por razões econômicas.
os Estados do Para-
O historiador John Monteiro, profes- ná, de Santa Cata-
sor da Unicamp (Universidade Estadual rina, do Rio Grande
de Campinas), autor da obra Negros da do Sul e de Mato
Terra: Índios e Bandeirantes nas Origens
Grosso.
de São Paulo, diz que os documentos reu-
nidos por Novinsky mostram que a razão
HC – 22 Ed. 86 - 2017

econômica é insuficiente para expli- A questão religiosa pode expli-


car os embates entre colonos e jesu- car a ferocidade, afirma Monteiro. É
ítas. Não há dúvida de que ambos lu- uma peculiaridade da colonização de
tavam para usufruir da mão de obra São Paulo que não se repete em ou-
barata, obtida com o trabalho dos ín- tros lugares: "Tenho certeza de que
dios. Mas por que os confrontos com as disputas não eram só econômicas.
os bandeirantes paulistas foram os Passavam por alianças de famílias e
mais cruentos? pela identidade religiosa".
Ed. 86 - 2017 23 – HC

Fonte: http://www.camara.sp.gov.br

Fuga para São Paulo


“A questão religio-
Paulo Prado (1869-1943), o milionário sa pode explicar a
do café e patrono da Semana de Arte Mo- ferocidade dos ban-
derna, de 1922, foi o primeiro a mencio- deirantes Paulistas,
nar a influência dos judeus na São Paulo
dos séculos XVI e XVII. No livro Paulística
afirma o historiador
Etc. (1925), Prado cita Atas da Câmara, de John Monteiro”.
1578 e 1582, que fazem referências a "ju-
deus cristãos".
HC – 24 Ed. 86 - 2017

Estudo para Partida da monção, 1897, de Almeida Júnior. Os bandeirantes saíam de


Porto Feliz rumo ao Centro-Oeste. Acervo: Pinacoteca do Estado de SP.

O isolamento de São Paulo, se- São Paulo haviam sido executados


gundo Prado, levava judeus de Per- pela Inquisição: Theotonio da Cos-
nambuco e da Bahia a migrar para a ta, em 1686, e Miguel de Mendonça
cidade: "(...) nenhum outro sítio po- Valladolid, em 1731.
voado do território colonial oferecia
melhor acolhida para a migração No livro Rapôso Tavares e a
judia. Em São Paulo não os perse- formacão territorial do Brasil, pu-
guia esse formidável instrumento da blicado em 1958, o historiador por-
Inquisição, que nunca chegou aqui". tuguês Jaime Cortesão levantou a
hipótese de que este bandeirante era
Prado não sabia, à época, que cristão novo e que já tivera proble-
dois cristãos novos que moravam em mas com a Inquisição.
Ed. 86 - 2017 25 – HC

Onze anos depois, Mario Cesar Carvalho é um jorna-


José Gonçalves Salvador, lista brasileiro. Atua como repórter es-
professor aposentado da pecial do jornal Folha de S. Paulo, para
USP, escreveu o primeiro o qual trabalha desde fevereiro de 1984.
artigo sobre cristãos no- Foi editor dos cadernos Informática e
vos em São Paulo e sobre Ilustrada na década de 1980.
a origem judaica do ban-
deirante Raposo Tavares.

Havia razões sérias As perguntas desta seção


constituem apenas sugestões
para que cristãos novos para professores e alunos.

escondessem suas raízes


judaicas, diz o historia- 01) Conforme Bogaciovas, o que são, na
dor Paulo Valadares, um verdade, os chamados “quatrocentões” e
qual o significado desta expressão?
dos autores do Dicionário
02) Onde as provas de nobreza eram fal-
Sefaradi de Sobrenomes. seadas?
Sefaradi ou sefaradita é a
03) Como o bandeirante Antônio Raposo
forma como são designa- Tavares foi visto pelos historiadores?
dos os judeus da penínsu-
04) Quais seriam as razões de Raposo
la Ibérica. Tavares para queimar igrejas e matar
padres?

"A Inquisição foi uma 05) Cite, entre os bandeirantes, alguns


forma de ‘apartheid’. Os “cristãos novos”.

que tinham origem judai- 06) O que você sabe sobre Baltazar Fer-
nandes?
ca tinham de pagar mais
tributos e não tinham 07) Como teria ocorrido a confissão de
Raposo Tavares sobre o fato de ser judeu?
acesso a certos cargos",
afirma Valadares. Para in- 08) Com a expulsão dos jesuítas espa-
nhóis, que território Portugal ganhou?
gressar em Ordens Religiosas ou no
exército, o candidato precisava pro- 09) De acordo com o historiador John
Monteiro que causa pode explicar a fero-
var que não tinha antepassado judeu, cidade dos bandeirantes em seus embates
com colonos e jesuítas bandeirantes?
árabe, negro ou índio, por até sete
gerações. 10) Quem foi Paulo Prado, o que ele dis-
se a respeito dos bandeirantes e o que ele
não sabia, na época?
Assim, para ascender, era ne-
11) O que Jaime Cortesão e José Gonçal-
cessário renegar o passado. A prática ves Salvador disseram sobre Raposo Ta-
era corrente em São Paulo desde sua vares?
fundação, em 1554. Segundo Vala-
dares, a mãe de Anchieta era cristã Para saber mais
nova e seu trisavô foi queimado pela • FOLHA DE SÃO PAULO. http://www1.folha.uol.com.
Inquisição. HC br/fsp/cotidian/ff0509200416.htm
HC – 26 Ed. 86 - 2017

Org. por Cláudio Rodrigues da Silveira

A Porcelana História e beleza


Aporcelana é um produ-
to branco, impermeável
e translúcido. Ela se distingue
de outros produtos cerâmi-
cos, especialmente da faiança
e da louça, pela sua vitrifica-
ção, transparência, resistência,
completa isenção de porosidade
e sonoridade.
Ed. 86 - 2017 27 – HC

Do Italiano porcellana, a porcelana é uma


variedade de cerâmica, dura e resistente, bran-
ca, às vezes translúcida, que é preparada a par-
tir de uma mistura triaxial, sua matéria-prima
básica é constituída por argila, caulim, feldspa-
to e quartzo.

Todas as evidências apontam para o surgi-


mento da porcelana na China da época "Tang",
tendo tido na época "Song" a sua mais refinada
produção com o afinamento da massa, elegân-
cia de formas e introdução de novos vernizes,
culminando, na época "Ming", com expansão e
desenvolvimento até o século XIX.

Da China a porcelana foi se difundindo e,


por volta do século XVI, obteve grande desen-
volvimento na Coreia e no Japão, de onde foi
abundantemente importada sendo reconhecida
pelo nome de “Imari”, do porto de Imari que es-
coava a produção da zona de Arita e Kutani.
HC – 28 Ed. 86 - 2017

Desde o século XVI, graças às Conta-se que Luís XVI, o último


importações pelas Companhias das monarca da França, fiel ao hábito de
Índias, a produção europeia se limi- seus predecessores, sempre presen-
tou a copiar toscamente a porcelana teava os dignitários de outros países
oriental, como a produção de Flo- com porcelanas de Sèvres e tapeça-
rença, até quando, no fim do século rias de Gobelin, fato que, no fundo, se
XVII, iniciou-se a produção francesa constituía em propaganda da excelên-
em Rouen e Saint-Cloud, resultando, cia destes produtos.
em 1725, na manufatura Chantily, e,
em 1738, na manufatura Vincennes, COMPOSIÇÃO DA MASSA
depois transformada em manufatura DE PORCELANA:
Real, a famosa porcelana de Sèvres.
Argila - 10%
Dessa época para cá, as técnicas Caulino - 40%
se aprimoraram na Inglaterra, Por- Feldspato - 25%
tugal, Espanha e, especialmente, na Quartzo - 25%
Alemanha, na Europa. Com a pros-
pecção e seleção de novas jazidas de Existem dois tipos de “massa”: a
caulino(caulim), no final do século pastosa e a líquida.
XVIII a qualidade da porcelana desses
países chegava a equiparar-se à quali-
dade da produção oriental.
Ed. 86 - 2017 29 – HC

MASSA PASTOSA
A massa pastosa é utilizada
em peças modeladas em tornos.
Depois de misturada, a massa é pe-
neirada, em seguida é colocada em
filtroprensas (equipamento de fil-
tragem da água sob pressão), que
tem por finalidade retirar o excesso
de água deixando aproximadamen-
te 25% de umidade.

A massa prensada é retirada


e acondicionada em depósitos de
envelhecimento, para sua conser-
vação até à etapa subsequente, a de
vácuo, que transforma a massa em
uma mistura homogênea e sem ar.
Neste momento, essa massa atinge
maior grau de plasticidade, poden-
do ser torneada.
HC – 30 Ed. 86 - 2017

MASSA LÍQUIDA
Trata-se da mesma massa, porém
diluída. Contém aproximadamen-
te 30% de água. Também é chamada Na confecção da
de “barbotina” e é usada na fabrica- porcelana a massa
ção das peças para as quais se usa um pastosa é utilizada
molde. O molde é preenchido com a em peças modela-
massa líquida, e depois de um breve das em tornos. A
tempo de secagem parcial, esse molde
massa líquida tem
é aberto para a retirada, de seu inte-
a mesma compo-
rior, da peça já moldada.
sição da massa
pastosa, porém
MODELAGEM AUTOMÁTICA diluída.

Esse tipo de modelagem é res-


ponsável por 90% do processo de fa-
bricação de peças de porcelana, sendo
utilizado para produzir pratos, pires,
xícaras, tigelas e saladeiras pequenas.
Ed. 86 - 2017 31 – HC

MODELAGEM MANUAL
É utilizada para as peças de maior dimensão,
como: saladeiras, prato de arroz e prato de bolo. As peças ovais,
retangulares,
redondas e ocas –
PEÇAS MOLDADAS A LÍQUIDO: OCAS, bules, travessas,
OVAIS E RETANGULARES. sopeiras, mantei-
gueiras e similares
Este processo também é chamado de “cola- – são moldadas a
gem”. Consiste em encher formas de gesso com a
líquido: enche-se
massa líquida. Após decorrido o tempo necessário
as formas de gesso
para formação das paredes na espessura desejada
(absorção da água pelo gesso), o excesso de massa
com essa massa
é despejado. Os cabos e alças passam pelo mesmo e descarta-se o
processo e são colados manualmente. excesso quando as
paredes do objeto
As peças obtidas por colagem são: bules, leitei- atingem a espessu-
ras, cafeteiras, sopeiras, manteigueiras, açucareiros, ra desejada.
travessas, etc. Após a secagem todas as peças são es-
ponjadas para corrigir eventuais imperfeições.
HC – 32 Ed. 86 - 2017

QUEIMA
Depois de secas as peças so-
frem a primeira “queima”, deno-
minada “biscoito”, a 900°C, com
o objetivo de dar às peças resis-
tência e porosidade para a perfeita
absorção do verniz. Nesta etapa as
peças adquirem um tom rosado.

VERNIZ
O verniz é composto pelos
mesmos materiais da massa, em
quantidades diferentes.

Através de um processo ma-


nual de imersão, o verniz adere
à superfície da peça, formando TIPOS DE QUEIMA
uma película de cobertura. Após
a aplicação do verniz ocorre uma O processo de aplicação do decalque
segunda queima, que é realizada na porcelana pode ter dois tipos de quei-
a uma temperatura que varia en- ma: um, em que a peça é levada ao forno
tre 1.300 °C a 1.350 °C. a uma temperatura de aproximadamente
800°C, é chamado "sobre esmalte".
Nesta fase a massa torna-
-se completamente compacta, O outro tipo é uma tecnologia cha-
totalmente sem porosidade, ad- mada "fogo forte", ou seja, a peça é quei-
quirindo cor branca e vitrificada mada a uma temperatura de aproxi-
(fusão do verniz sobre a massa). madamente 1.200°C. Com este tipo de
Esta segunda queima dura em queima o decalque se funde com o esmal-
média 31 horas, podendo che- te da porcelana, garantindo que a decora-
gar até 89 horas, dependendo do ção nunca sofra desgaste.
forno utilizado.
DECORAÇÃO
As peças já prontas são enca-
minhadas para o setor de classi- A decoração da porcelana é feita de
ficação, que controla a qualidade diversas formas: com o uso de “pintura
do produto. Então este é lixado e à mão livre”, uso de “estanhola” (mol-
fica pronto para ser decorado. de vazado), a aplicação de decalque, de
Ed. 86 - 2017 33 – HC

“transfer” e a de “filetes” (ou listel). Algu-


mas peças recebem mais de um processo
durante sua decoração.

A decoração da
Como o processo de decoração feito
com pintura manual demanda muitos arte-
porcelana é feita
sãos qualificados, e maior tempo de execu- de diversas formas:
ção, não é mais praticado em larga escala, com o uso de “pin-
exceto por algumas poucas fábricas que têm tura à mão livre”,
na decoração manual o seu diferencial. uso de “estanhola”
(molde vazado), a
A “estanhola” nada mais é que um aplicação de decal-
molde vazado, que serve de máscara para a que, de “transfer”,
aplicação da tinta à mão, com uso de pincel e a de “filetes” (ou
ou aerógrafo. listel). Algumas pe-
ças recebem mais de
O “decalque” é um adesivo impresso
um processo duran-
em gráficas, em um papel adesivo especial,
que é removido do suporte quando mergu-
te sua decoração.
lhado em água, e é, então, aplicado na peças
de porcelana. Após ser colocado na posição
correta, passa-se uma borracha para alisá-
HC – 34 Ed. 86 - 2017

-lo e fixá-lo. Na queima final da peça Os “filetes” são aplicados com


de porcelana, o papel adesivo é car- dois tipos de pincéis: a trincha (pincel
bonizado, restando apenas a tinta im- largo e sem ponta) e o pincel fino (de
pressa no decalque, que se funde ao ponta fina e delicada). As peças são
verniz da porcelana. colocadas em um torno para que pos-
sam girar livremente, e assim a mão
O transfer é um processo simi- do filetador pode ficar apoiada e fixa
lar ao “decalque”, pois também é uma evitando falhas no filete.
imagem impressa sobre um papel (ou
tecido, forma mais antiga de aplicação Após a decoração, as peças pas-
de transfer). Mas enquanto o “decal- sam pelo controle de qualidade e a
que” é aplicado após a vitrificação da seguir sofrem a segunda queima para
porcelana, o transfer é aplicado an- fixação da decoração. Atualmente, em
tes. Desta forma fica por baixo do ver- algumas decorações o “filete” já está
niz final ("baixo verniz"), sendo mais no decalque (adesivo), reduzindo as-
resistente ao desgaste. Geralmente sim o processo a apenas uma queima.
é monocromático, e é a forma tradi-
cional de decoração das peças "azul e Após as queimas a porcelana é
branco", e de todas as decorações que lixada para retirar algum resíduo do
costumam recobrir em larga escala decalque e, depois desta operação a
uma peça, como cenas inglesas, pa- mercadoria já pode ser embalada e
drões florais, e outras deste tipo.. comercializada. HC
Ed. 86 - 2017 35 – HC

As perguntas desta seção


constituem apenas sugestões
para professores e alunos.

01) Qual a matéria-prima da porcelana e O transfer é um


como ela é preparada?
processo similar ao
02) Onde surgiu a porcelana e quais as
épocas mais marcantes no seu desenvolvi-
“decalque”, pois
mento? também é uma ima-
03) Da China, para onde a porcelana se gem impressa sobre
difundiu e por quais nomes se tornou co-
nhecida?
um papel (ou tecido,
forma mais antiga
04) Do século XVI a 1738, quais os fatos
importantes em relação à porcelana? de aplicação de
05) Dessa época até final do século XVIII o transfer). Mas en-
que ocorreu no que se refere à porcelana? quanto o “decalque”
06) Qual a composição da massa da porce- é aplicado após a
lana, quais os tipos de massa e qual a utili-
zação de cada uma? vitrificação da por-
celana, o transfer é
07) Quais os tipos de modelagem?
aplicado antes.
Para saber mais
• https://pt.wikipedia.org/wiki/Porcelana
• MALLALLIEU, Huon. História Ilustrada das Antiguida-
des. São Paulo: Nobel, 1999.
HC – 36 Ed. 86 - 2017

Angelina Wittmann

A Porcelana em
Santa Catarina
Histórias de Família
O s períodos de festas e encontros de famílias re-
metem-nos à tradição e à história da fábrica de
Porcelana Schmidt, a partir das histórias das famílias
que estiveram presentes no início desta empresa.
Ed. 86 - 2017 37 – HC

Nesses encontros lembramo-nos da


mesa, na qual se reuniu e ainda se reúne a
família. Não há residência na região ou no
Estado de Santa Catarina que não conheça
a Porcelana Schmidt, tradição repassada de
geração em geração, de pai para filho, há al-
gumas décadas.

Por exemplo, meu esposo e eu comple-


tamos e comemoramos as Bodas de Prata –
25 anos de casamento – em 2009, e fomos Jogos de xícaras, nas comemorações das Bodas de Prata
presenteados com um par de xícaras de chá, de três gerações da mesma família. Porcelana Schmidt.
Fonte: Angelina Wittmann.
decoradas com os motivos da celebração
das bodas de prata, da tradicional porcelana
produzida em Pomerode.

Um dia depois, a mãe do meu marido


nos presenteou com o jogo de um par de xí-
caras que ela e nosso sogro receberam no dia
das comemorações de seu casamento de pra-
ta. Nesse dia, também repassou para nosso
cuidado o par de xícaras que sua mãe e seu
pai receberam nas comemorações de seu ca-
samento de prata – jogo pertencente à Oma
e ao Opa (avó e avô) do marido dela – Sr. e
Sra. Goll. A Oma nasceu no século retrasado,
Prato de Bodas de Prata, recebido pela Sra. Frida Goll e
em 1898, na cidade de Dresden – Alemanha. Sr. Erwin Goll – avós do esposo de Angelina.
Fonte: Angelina Wittmann.

Também, conversando com um ma-


estro, sobre a Porcelana Schmidt, ele nos
contou que seus avós maternos presente-
aram as três filhas, no dia do casamento
delas, com um jogo completo de jantar da
Porcelana Schmidt, entre elas a mãe dele,
que guarda o jogo, com grande zelo, até os
dias atuais. Faz parte da tradição das mesas
daqueles que formavam e formam sua casa
ter um jogo de jantar da Porcelana Schmidt
para melhor servir seus visitantes, através
de uma mesa bonita e bem "vestida" com
Presente da Sra. Orla Kadletz – parte de seu enxoval.
toalhas bordadas com motivos florais. Fonte: Angelina Wittmann.
HC – 38 Ed. 86 - 2017

A mãe do meu esposo também


contou uma história, ocorrida alguns
anos atrás. Comentou que uma ami-
ga de sua mãe e colega de trabalho
na Cia. Hering decidiu deixar de ser
umas das tecelãs da Cia. Hering e se
juntar à sua família para fundar a
Porcelana Schmidt, em 1945. Guar-
damos esta informação para averi-
guar – historicamente.

Estivemos outro dia em Pome-


rode, na fábrica, e queremos conhe-
cer um pouco mais sobre esta histó-
Prato de comemoração adquirido na Associação da
ria e sua tradição. Empresa aniversariante. Fonte: Angelina Wittmann.

A imigração
Como em todas as antigas Co-
lônias, na Colônia Blumenau os imi-
grantes, alemães e italianos rece-
biam lotes coloniais para se instalar
com suas famílias.

Nesses lotes, os imigrantes obti-


nham, a partir da agricultura e da pe-
cuária de subsistência, seus primeiros
sustentos. Isso aconteceu também
no Vale do Testo. Os rios eram os
Paisagem do Vale do Rio do Testo – Virada do Século XIX
primeiros caminhos e a partir deles para o Século XX. Fonte: Angelina Wittmann.
eram desenhados os lotes coloniais,
com a devida acessibilidade.

Os primeiros colonos, como Os imigrantes obtinham o seu


eram conhecidos estes imigran-
sustento por meio da agricultura
tes, cultivavam arroz, fumo, batata,
e da pecuária de subsistência.
mandioca, cana de açúcar, milho e
feijão, e também criavam gado lei-
Ed. 86 - 2017 39 – HC

teiro e suíno. A comunidade de Pomerode,


pertencente à Colônia Blumenau, era uma
comunidade voltada apenas para a produção
da agricultura e da pecuária de subsistên-
cia, tendo, até bem pouco tempo – início do
século XX – um pequeno comércio na área
central da comunidade.

A partir do início do séc. XX surgiram as


primeiras indústrias na região, como: Weege
Indústria Alimentícia e a Porcelana Schmidt.
A indústria da porcelana chegou à Europa so-
mente dois séculos e meio antes da fundação
da Porcelana Schmidt, em Pomerode.

Johann Friedrich Böttger. Fonte: Wikipedia.


Na Alemanha, a porcelana ficou conheci-
da e foi produzida somente no século XVIII,
mais ou menos na mesma época em que os
primeiros imigrantes se deslocaram para a Em Pomerode, Santa Catarina,
região do Vale do Itajaí – Colônia Blumenau. as primeiras indústrias surgi-
Nessa época, a porcelana era algo muito novo, ram no início do século XX, en-
que teve origem no Oriente, mais especifica- tre elas a Porcelana Schmidt.
mente na China, entre os séculos VII e X.

A título de informação, a porcelana nas-


ceu da mistura de dois minérios: feldspato e
caulim. Quando estes eram aquecidos a gran-
de temperatura, o feldspato vitrificava e o
caulim viabilizava a forma. Atualmente, são
usados na fórmula, de maneira básica: quart-
zo, caulim, feldspato e argila.

Marco Polo, viajante/mercador/explo-


rador/veneziano (1250/1324), conhecendo o
yao (expressão chinesa para a porcelana) ba-
tizou as peças de porcellana (fazendo alusão
a um molusco de concha branca e brilhante).
Tentando imitar a porcelana chinesa, os ita-
lianos descobriram outra fórmula, à base de
argila e vidro, fabricada em Florença, por vol-
ta de 1575. Ehrenfried Walther von Tschirnhaus. Fonte: Wikipedia.
HC – 40 Ed. 86 - 2017

Este tipo de porcelana tinha


uma estrutura mais maleável e frá-
gil. Foi somente em 1707 que o Sr.
Johann Friedrich Böttger e o Sr.
Ehrenfried Walter von Tschirnhaus
– químicos alemães – conseguiram
desvendar a fórmula da verdadeira
cerâmica chinesa.

Isso ocorreu dois séculos e meio


antes dos estudos de um jovem de
16 anos, que saiu de Blumenau, para
estudar todo este processo, na Ale-
manha, e ajudou a criar uma tradi- Porcelana produzida na Alemanha e em outros países da
ção no sul do Brasil. Europa. Fonte: Angelina Wittmann.

Cerâmica Bunzlau
Em 1929, o imigrante alemão
Fritz Lorenz, patrocinou os estudos
de seu sobrinho, Sr. Fritz Erwin Sch-
midt, que embarcou para a Alemanha
no dia 08 de abril daquele ano, com
16 anos de idade, para estudar na ci-
dade alemã de Bundslau, onde per-
maneceu por quatro anos. Na Alema-
nha, o jovem Fritz estudou as técnicas
de fabricação de artigos de barro, tipo
Bunzlau, uma espécie de grês fino,
técnica muito conhecida na época.

Em 1933 o jovem Fritz Erwin


Schmidt concluiu o curso na cidade
alemã de Bundslau, formou-se e re-
tornou ao Brasil, no dia 02 de junho,
com o diploma de ceramista, ativida-
de industrial esta que era ainda muito
recente na Alemanha do Século XVIII. Cerâmica Bunzlau. Fonte: Divulgação.
Ed. 86 - 2017 41 – HC

Com o retorno de seu sobrinho


ceramista, da Alemanha para o Brasil,
o Sr. Fritz Lorenz abre uma fábrica de
cerâmicas de Bundslau, na cidade de
Blumenau. A fábrica não vingou. O
Sr. Lorenz montou, então uma fábrica
de Grés, em Mauá, no estado de São
Paulo, fundada no dia 13 de setembro
de 1933. Fabricava uma porcelana a
partir de pastas de quartzo, feldspato
e caulino. No entato, sua nova tentati-
va de fazer uma fábrica de porcelana,
também não teve êxito. Caminhões na frente da Porcelana Schmidt. Pomerode, 1950.
Fonte: Angelina Wittmann.

O Sr. Lorenz concluiu que o pú-


blico brasileiro não apreciava este
produto. Observando toda esta movi-
mentação, o Sr. Hans Altenburg – co-
lega do Sr. Lorenz – sugeriu-lhe que
abrisse uma fábrica de porcelana de
laboratório. Foi a primeira fábrica a
produzir estes produtos no Brasil.

O Sr. Lorenz inaugurou a fábrica


– Porcelana Mauá – em 1937 e con-
tava com o trabalho e conhecimento
de seu sobrinho, Sr. Fritz Erwin Sch-
midt. Neste momento também foram
empregados outros membros da Fa-
mília Schmidt, que foram formados
pelo Sr. Fritz a partir do repasse do
conhecimento técnico.

Em 29 de março de 1941, Fritz


Erwin Schmidt casou-se com Gertrud
Bieging, e seu primogênito foi Frede-
rico João Schmidt.

A fábrica teve sucesso, até seu


idealizador falecer. Em 1942, o Sr.
Schmidt desentendeu-se com os her- Publicidade de 1958. Fonte: Angelina Wittmann.
HC – 42 Ed. 86 - 2017

Vista aérea da fábrica da Porcelana Schmidt, em Pomerode. Foto: Divulgação.

deiros da Porcelana Mauá e pediu Hans Ernst Schmidt, Sr. Ailhen Krä-
demissão, no dia 28 de maio daquele mer, Sr. Arthur Leopold Schmidt, e
ano, e, com ele, os demais familiares, Rodolph Pedro Schmidt. A Porcelana
técnicos especializados que trabalha- Schmidt foi a 3a fábrica de cerâmica
vam na Indústria. A empresa chegou do Brasil.
a parar a produção, por algum tempo,
em função do ocorrido. A nova fábrica de porcelana ini-
ciou suas atividades instalada em um
O Sr. Fritz Schmidt e seus irmãos, galpão de madeira, na cidade de Po-
após trabalharem em outras cerâmi- merode, Santa Catarina.
cas, como Céramus e Matarazzo, fun-
daram, em 23 de setembro de 1943, Em pouco tempo de atividade a
a Porcelana Real S/A, em Mauá – no empresa teve acentuado crescimento,
local da Porcelana de seu tio. Também motivado pela moderna tecnologia e
em 1943 foi fabricado o primeiro jogo aumento de sua capacidade produti-
de jantar completo de porcelana bran- va, mesmo com as dificuldades no pe-
ca, no país e na América do Sul. ríodo do pós-guerra.

Em 1945, a Família Schmidt de- Voltando ao início, muitas his-


cidiu mudar-se novamente para Santa tórias pessoais se entrecruzam com a
Catarina, com a ideia fixa de fundar a história da Porcelana Schmidt. Entre
Porcelana Schmidt, fato que aconte- elas, a história da amiga da Oma (avó
ceu no dia 19 de dezembro do mesmo do meu esposo), que trabalhava na
ano. Os fundadores, juntamente com Cia. Hering e saiu para fundar a Por-
o Sr. Hans Herwig Schmidt, foram celana Schmidt. Nessa narrativa há
Ed. 86 - 2017 43 – HC

um sentido histórico. A Família


Schmidt era grande e a maioria
de seus membros se mobilizaram
para o êxito da fábrica, trabalhan-
do nela. Provavelmente esta se-
nhora, a amiga da Oma do meu
esposo, era uma das mulheres da
família, entre outras que fizeram
parte da equipe Schmidt e que
construíram esta tradição, nos pri-
meiros momentos da fábrica, em
Pomerode.

Em 1948, a Família Schmidt


admitiu novos acionistas e com o
novo quadro de entrada de capi-
tal, adquiriu o restante das ações Evolução da logomarca da Porcelana Schmidt. Fonte: Angelina Wittmann.
da Porcelana Real Ltda., de São
Paulo. Em 02 de janeiro de 1954 foi fundada
a Porcelana Steatita e, em 1956, a Porcelana
Schmidt adquiriu o controle acionário da Ce-
râmica Brasileira de Campo Largo, no Paraná,
transformando-a também em fábrica de cerâ-
mica – a Porcelana Steatita. Em 1972, as três
empresas se fundiram, surgindo o Grupo Sch- Em 1972 surgiu o
midt a partir de três fábricas, em três cidades e Grupo Schmidt,
três estados: Pomerode/SC; Campo Largo/PR a partir da fusão
e Mauá/SP.
de três fábricas,
Nesse período, a empresa chegou a pro- em três cidades
duzir mais de um milhão de peças de porcela- e três estados:
na por mês, em uma estrutura de 60.000 m2 e Pomerode/SC;
com aproximadamente 1.500 funcionários.
Campo Largo/
Em 1991, as três fábricas passaram por PR, e Mauá/SP.
uma reestruturação e não usaram mais as
marcas Steatita e Real, trabalhando todas sob
a Marca Porcelana Schmidt e sob o símbolo da
Coroa. Durante a década de 1990, a Schmidt
detinha 80% do mercado nacional do setor de
porcelana.
HC – 44 Ed. 86 - 2017

Graças à intervenção da Sra. Si-


mone Westphal e do Pastor Hugo
Westphal, foi viabilizada uma visita à
fábrica, por um grupo de pessoas entre
as quais a Autora. O Sr. Rodolph Otto
Schmidt, neto do fundador e que nutre
grande carinho pelo patrimônio fami-
liar, recebeu pessoalmente os visitan-
tes. Naquele momento, o Sr. Rodolph
estava fazendo um levantamento da
História da Porcelana Schmidt e tam-
bém fomando um acervo tanto para
publicar quanto para expor no museu
que está em fase de montagem. Funcionárias da Porcelana Schmidt. Fonte: Angelina Wittmann.

Crise
A abertura do mercado chinês No 57, de 24 de julho de 2013, a qual
e a mudança do padrão de consumo aplica direito de antidumping provi-
foram fatores que contribuíram para sório, por prazo de até seis meses, às
uma crise na empresa, a partir dos exportações brasileiras de objetos de
anos 90 do século passado. Houve em louças para mesa, originários da Chi-
torno de 2.500 demissões no campo na. O setor entrou, então, em fran-
fabril de Campo Largo e a queda de ca recuperação. De acordo com o Sr.
20% para 5% das exportações, como Rodolph Otto Schmidt, no mês de se-
também a queda de 2,4 milhões de pe- tembro de 2013, as vendas dobraram,
ças cerâmicas/mês para 1.9 milhão/ para Japão, Alemanha e França.
mês, em 2010. Também em 2010,
houve atraso de salários e a empresa
entrou em Recuperação Judicial, para
evitar a falência. Uma tradição e uma
história estavam em crise e ninguém
queria acreditar no que ouvia.

Mas o setor conseguiu se recupe-


rar. Um dos fatores que, entre outros,
contribuíram para esta recuperação
foi a Lei Antidumping, medida do go-
verno brasileiro, a partir da Resolução Fabricação da Porcelana Schmidt. Fonte: Angelina Wittmann.
Ed. 86 - 2017 45 – HC

Fachada da loja da Porcelana Schmidt, em Pomerode. Fonte: Angelina Wittmann.

Rodolph Otto Schmidt


O Sr. Rodolph nasceu em Mauá,
em 1944, e sua família veio para Po-
merode, em Santa Catarina quando
Rodolph estava com menos de um
ano de idade. No período de 1964 a
1968, ele estudou na Alemanha. Em
2000, o Sr. Rodolph saiu da empresa,
na gestão do seu tio Arthur, e só re-
tornou 10 anos mais tarde.

O Sr. Rodolph lembra da época


do seu retorno e conta que "A concor-
rência desleal dos produtos chineses
havia afetado drasticamente as em-
presas do setor cerâmico, então rece-
bi o convite para retornar à empresa
Sr. Rodolph Otto Schmidt no espaço idealizado por seus
como consultor". antepassados. Fonte: Angelina Wittmann.
HC – 46 Ed. 86 - 2017

Questionado sobre um momen- a tentativa de recuperar o mercado.


to marcante na empresa durante es- "Com a união e esforço de todos con-
tes anos como Engenheiro Cerâmico, seguimos solucionar os problemas
profissão na qual se formou na Ale- imediatos, então a maior emoção foi
manha, Rodolph lembrou do Natal de anunciar aos funcionários que os pa-
2010: "Quando voltei para a empre- gamentos atrasados seriam pagos,
sa, os salários dos funcionários esta- inclusive o 13o. Creio que aquele Na-
vam três meses atrasados. Mas como tal foi um dos melhores para todos
a marca é forte, topei o desafio de nós da Porcelanas Schmidt". Atual-
tentar colocar a fábrica nos trilhos mente a fábrica de Pomerode produz
novamente". cerca de 500 mil peças/mês e a fábri-
ca de Campo Largo, 700 mil peças/
Rodolph reuniu os funcionários, mês. A produção é de 65% da linha
os quais estavam em suas residên- branca e a linha Pomerode, que leva
cias devido aos atrasos salariais. Os o nome da cidade, continua liderando
funcionários toparam o desafio de as vendas, sendo a mais vendida por
trabalhar enquanto a diretoria fazia mais de 30 anos. HC
Ed. 86 - 2017 47 – HC

Louças da Porcelana Schmidt. Fotos: Divulgação.

Com a união e esforço de todos As perguntas desta seção


constituem apenas sugestões
para professores e alunos.
conseguimos solucionar os pro-
blemas imediatos, os pagamentos
01) Em Pomerode, os períodos de festa e
atrasados foram pagos, inclusive o encontros de família remetem a quê?

13o salário. 02) Que presentes a autora recebeu em


suas Bodas de Prata, e de quem?

03) O que os imigrantes recebiam ao che-


garem nas Colônias e como sobreviviam?
Angelina Wittmann é Arquiteta, Urba- 04) Quando a Porcelana Schmidt surgiu
nista e Professora. É Mestre em Urbanismo, na região de Pomerode, em Santa Cata-
História e Arquitetura das Cidades pela UFSC. rina?

05) Quem foi estudar na Alemanha e o


que estudou lá?
Para saber mais 06) Onde a fábrica de porcelana se insta-
• WITTMANN, Angelina. Porcelana Schmidt. https://an- lou, inicialmente?
gelinawittmann.blogspot.com.br
HC – 48 SELEÇÕES Ed. 86 - 2017

Mayday! Mayday! Mayday!


a chamada que salva vidas
F ogo e fumaça tomaram
conta do navio pesqueiro
Nautical Legacy. Todo mundo a
bordo estava em sério perigo. “Se
o capitão não tivesse feito a cha-
mada ‘Mayday’, o navio nunca
teria sido encontrado”, disse um
funcionário da Guarda Costeira
do Canadá, que atendeu o chama-
do sem demora e conseguiu sal-
var toda a tripulação.
Ed. 86 - 2017 49 – HC

“MAYDAY! Mayday! Mayday!” Quando se


ouvem essas palavras pelo rádio, sabe-se que há
uma emergência envolvendo risco de vida e que
precisa de socorro imediato. Será que a chama-
da Mayday funciona? Em 2008, a Guarda Cos-
teira dos EUA realizou mais de 24 mil missões
de resgate. Ela salvou 4.910 vidas — uma média
de 13 por dia — e ajudou mais de 31 mil pessoas
em perigo.

Mas por que se usa a palavra Mayday? E


antes da invenção do rádio, como os navios em
perigo pediam ajuda?

Métodos antigos
MAYDAY! é um
Em 1588, o Santa Maria de la Rosa, da Ar-
pedido de so-
mada Espanhola, disparou seus canhões para
pedir ajuda quando ficou à deriva no meio de
corro, conhecido
uma tempestade violenta. O navio afundou, e internacional-
não houve sobreviventes. Em outros casos, an- mente. Graças a
tigos marinheiros içavam bandeiras específi- ele, em 2008 a
cas para solicitar ajuda. Até hoje, uma bandeira Guarda Costeira
branca com uma cruz vermelha em diagonal é dos EUA realizou
reconhecida internacionalmente como um pedi-
mais de 24 mil
do de socorro.
missões de resga-
Na década de 1760, marinheiros começaram te, salvou 4.910
a usar um código visual chamado de “semáfo- vidas – uma mé-
ro de bandeirolas”. Nesse código, o sinaleiro usa dia de 13 por dia
uma bandeirola em cada mão como se fossem – e ajudou mais
ponteiros de um relógio. Cada posição dos “pon-
de 31 mil pessoas
teiros” indica uma letra e um número diferente.
em perigo.
Mas bandeiras, tiros de canhão e sinais vi-
suais funcionavam apenas se houvesse pessoas
perto o suficiente para ver ou ouvir o chamado
de socorro. Muitas vezes, a tripulação em perigo
tinha pouca esperança de receber ajuda. Como a
situação melhoraria?
HC – 50 Ed. 86 - 2017

Métodos mais eficazes


Um progresso gigantesco na tec- Felizmente, a versatilidade e o al-
nologia de comunicação aconteceu cance dos sinais para pedir ajuda não
na década de 1840. Samuel Morse in- pararam aí. Guglielmo Marconi en-
ventou um código que permitia que viou o primeiro sinal de rádio através
telegrafistas enviassem mensagens do oceano Atlântico, em 1901. Men-
por meio de um fio, usando um botão sagens de S.O.S. agora podiam ser
transmissor operado manualmente. enviadas por meio de ondas de rádio
Quando o operador pressionava o bo- em vez de sinais de luz. Mesmo as-
tão, a pessoa do outro lado detectava sim, operadores de rádio ainda não
um impulso elétrico. Morse criou uma podiam vocalizar uma chamada de so-
combinação única de sons curtos e corro. A expressão “Mayday! Mayday!
longos, ou pontos e traços, para cada Mayday!”ainda estava por vir.
letra e número.
Finalmente, em 1906, foi possí-
Para usar o “código Morse” no vel, através de ondas de rádio, ouvir
mar, os marinheiros usavam sinais palavras faladas, quando Reginald
fortes de luz no lugar dos sons en- Fessenden transmitiu um programa
viados por telegrafistas. Sinais curtos de conversas e música. Marinheiros
de luz representavam o ponto, e si- com equipamento de rádio ouviram
nais longos, o traço. Logo os sinalei- a transmissão de Fessenden a 80 qui-
ros começaram a usar uma chamada lômetros de distância. Em 1915, um
simples e inconfundível para pedir número muito maior de pessoas fi-
ajuda, formada de três pontos, três cou fascinado ao ouvir uma transmis-
traços e três pontos, representando são ao vivo, do condado de Arlington,
as letras S.O.S. Virgínia, EUA, para a Torre Eiffel,
Ed. 86 - 2017 51 – HC

em Paris, França — uma distância de Internacional resolveu esse problema


mais de 14 mil quilômetros. Em 1922 ao adotar Mayday como chamada de
foi realizada a primeira conversa via socorro internacional.
rádio entre navio e continente — en-
tre o S.S. América e a cidade de Deal Devemos ser gratos pelo fato
Beach, Nova Jersey, EUA. Imagine a de os meios de comunicação have-
empolgação dos marinheiros, que es- rem continuado e ainda continuarem
tavam a mais de 600 quilômetros da a se desenvolver. Por exemplo, o ra-
costa! dar e o Sistema de Posicionamento
Global substituíram a sinalização por
meio de canhões e bandeiras. Além
Padronização da disso, o rádio se tornou um equipa-
mento comum, e agências de resgate
chamada de socorro monitoram as ondas de rádio e ficam
em constante estado de alerta. Como
Nas décadas de 20 e 30 do século aconteceu no caso do Nautical Legacy,
XX o uso do rádio como meio de co- ao surgir uma emergência – não im-
municação cresceu rapidamente. Mas, porta onde ou quando – é provável que
visto que as tripulações eram de paí- se ouça o chamado Mayday! Mayday!
ses diferentes, como um capitão con- Mayday! No passado, quando alguém
seguiria enviar uma chamada urgente estava em risco no mar, a esperança
de socorro e ser entendido por qual- de ser salvo era remota. Hoje, porém,
quer um, não importa o idioma? Em você pode aguardar confiantemente a
1927, a Convenção Radiotelegráfica ajuda chegar. HC

Fonte: Revista Despertai 10/2010, página 27. Esta publicação é distribuída pelas Testemunhas de Jeová.
HC – 52 Ed. 86 - 2017

Gil Karlos Ferri

Araucaria Angustifolia:
MILHÕES DE ANOS DE HISTÓRIA
E ste artigo foi elaborado em
resposta aos instigantes ques-
tionamentos do prof. Dr. Valberto
Dirksen sobre a origem, a evolução e
a dispersão da espécie Araucaria an-
gustifolia, feitos por ocasião da defesa
da Monografia de Gil Karlos Ferri, na
UFSC, em 18 de agosto de 2014.
53 – HC

Foto: Dario Lins.


Ed. 86 - 2017

Dentre todas as espécies vegetais da Flores-


ta Ombrófila Mista (FOM), a Araucaria angus-
tifolia (Bertol.) Kuntze se destaca por seu valor
econômico, paisagístico e ecológico. A descrição
botânica e a reconstituição do passado evolutivo
desta espécie permitem compreender a sua im-
portância para a fitofisionomia na qual se insere.

A taxonomia da espécie foi inicialmente ela-


borada por Giuseppe Bertolini, em 1819, quan-
do ele a classificou como Columbea angustifolia
Bert. Posteriormente foi redescrita por Achille
HC – 54 Ed. 86 - 2017

Rich, em 1922, como Araucaria bra- configuram uma copa caliciforme, em


siliana Rich., e retificada por Carl forma de candelabro, umbela ou co-
Ernst Otto Kuntze como Araucaria rimbo (com pedúnculos florais se ele-
angustifolia (Bertol.) Kuntze. vando todos à mesma altura).

Em condições normais, seu


tronco é cilíndrico e reto, rara-
O termo genérico Arau-
mente apresentando ramifica-
cária possui seu radical na
ções, e é coberto por uma casca
palavra Arauco (na língua
grossa, podendo essa casca atin-
mapuche, “água calcária”),
gir até 18 cm de espessura, com
uma região do Chile, e o
a parte externa muito rugosa e
termo específico angusti-
gretada (com fissuras), podendo
folia provêm do latim, “folhas
ser lisa e avermelhada ou áspera
estreitas”. É conhecida popularmen-
e de cor marrom arroxeada. A
te no Brasil como pinheiro-brasileiro,
casca interna é resinosa, esbran-
pinheiro-do-brasil, pinheiro-nacional,
quiçada e com tons róseos.
pinheiro-do-paraná, pinho ou araucá-
ria. Em tupi-guarani, é chamada de curi
Comumente esta árvore
ou curiy. No Norte da Argentina, onde
apresenta de 10 a 35 m de altu-
também ocorre, é chamada de pino de
ra e 50 a 120 cm de DAP (diâ-
las misiones. E, internacionalmente,
metro medido a 1,3 m de altura
seu nome aparece como brazilian pine,
do solo), podendo atingir ou ul-
parana pine e candelabra tree (1).
trapassar 50 m de altura e 250
cm de diâmetro à altura do pei-
to. Seus ramos primários são ci-
A Araucaria angustifolia (Ber- líndricos e verticilados (inseridos em
tol.) Kuntze (doravante apenas volta de um eixo, no mesmo ponto ou
“araucária”) é uma espécie de árvore “nó”) e seus ramos secundários (cha-
com estruturas unissexuadas, dióica mados de grimpas) alternos (inseri-
(com sexos masculino e feminino se- dos nos dois lados do caule), caducos
parados em indivíduos diferentes) e (com folhagens que caem ocasional-
raramente monóica (com órgãos se- mente), agrupados no ápice dos ra-
xuais dos dois sexos) em decorrência mos primários.
de traumas ou doenças.
A araucária é uma espécie pe-
Na juventude os indivíduos apre- renifólia e aciculifoliada (com folhas
sentam copa cônica, com os ramos pontiagudas), e suas folhas possuem
primários curvados para cima e ramos dimensões de 8-35×3-10 mm, com
inferiores maiores que os superiores. formatos oval-lanceoladas a estreito-
Na maturidade, os ramos ascendentes -lanceoladas (arredondadas ou finas,
Ed. 86 - 2017 55 – HC

MORFOLOGIA DA ARAUCÁRIA
HC – 56 Ed. 86 - 2017

com a ponta em forma de lança), ápi- A estrutura reprodutora da arau-


ce agudo (extremidade pontiaguda), cária apresenta cones polínicos ou
pungente (com ponta rígida e afiada), ovulíferos, conforme o sexo do indi-
margem inteira (limbo normal), base víduo. Nos indivíduos masculinos, os
decurrente (com a base do limbo uni- cones polínicos isolados (chamados
da ao caule), côncava (com superfície de mingotes) possuem dimensões de
da folha ligeiramente escavada ou re- 4,5-11×1-2 cm, esporofilos patentes
entrante), glabras (sem pelos), quina- à raque, com 6-7 mm, ápice romboi-
das na face abaxial (com saliências na de (em forma de losango) e 6-12 mi-
parte inferior), estômatos alinhados crosporângios (órgão que contém os
longitudinalmente e coriáceas (com gametas), lineares, na face abaxial.
textura semelhante ao couro e que se Nos indivíduos femininos, os cones
quebra facilmente) (2). ovulíferos apresentam característi-

Cone masculino

Araucária Cone feminino


Adulta (sexos
separados)
Grãos
de pólen
Ilustração: Daniela Dalmina.

Araucária adulta
(sexos separados)
Gametas
feminino

Semente
(pinhão)
Germinação
jovem
Gametas
masculinos
Fecundação

Embrião
Ed. 86 - 2017 57 – HC

O CRESCIMENTO

cas ovóides a globosos, com 9 cm de As sementes (pinhões), possuem


diâmetro, raque fusiforme (alongado forma obovóide, com ápice terminan-
e com as extremidades estreitas), es- do com um espinho achatado, colora-
cama ovulífera concrescida ao óvulo, ção branca, pesando cerca de 08 g e
com dimensões de 3,5-5,5×1,7-2 cm, medindo entre 03 e 06 cm. A amên-
obovoide (ovalado com a extremidade doa branca ou rósea-clara é constitu-
afunilada), marrom, coriácea a lenho- ída principalmente por amido, e no
sa no ápice, ápice rombóide, apicula- seu centro encontra-se o embrião com
do, apículodeflexo (curvado para fora os cotilédones. Os pinhões são ricos
e para baixo), com formato triangular em reservas energéticas, principal-
e medindo cerca de 04 mm. mente amido e aminoácidos (3).
HC – 58 Ed. 86 - 2017

A reprodução das araucárias se- mais, sobretudo por aves e roedores.


gue o padrão das gimnospermas. Na O período de maior liberação de se-
estrutura reprodutiva masculina, as mentes, também chamado de debu-
escamas localizam-se em forma de lha, ocorre nos meses de abril e maio.
espiral e se abrem para que o pólen
seja transportado pelo vento até ao Alguns dos animais que mais con-
estróbilo feminino. A estrutura re- tribuem no processo de dispersão das
produtiva feminina, conhecida como sementes são: caxinguelê ou serelepe
pinha, localiza-se no ápice do ramo e (Guerlinguetus ingrami), gralha-azul
é formada por inúmeras brácteas co- (Cyanocorax caeruleus), gralha-picaça
riáceas com o óvulo, inseridas sobre (Cyanocorax chrysops), papagaio-de-
um eixo central. -peito-roxo (Amazona vinacea), cutia
(Dasyprocta azarae), rato-do-mato
Geralmente, a produção de pi- (Oryzomys ratticeps), paca (Agou-
nhas se inicia por volta dos 16 anos de ti paca), ouriço (Coendou villosus) e
idade da árvore, e cada pinha demora esquilo brasileiro (Sciurus aestuans).
até 2,5 anos para estar madura, po- No planalto, em condições naturais,
dendo conter entre 10 e 150 pinhões. pode haver de um até 200 indivíduos
Após a polinização e a formação das de araucária por hectare, sendo razo-
sementes, estas são dispersas por ável a média de 24,2 indivíduos por
meio dos eventos climáticos e por ani- hectare (4).
Ed. 86 - 2017 59 – HC

A Araucaria angustifolia é uma & Allen, com ocorrência exclusiva no


espécie que pertence à família botâni- Sudeste da Austrália.
ca das Araucariaceae, que fazem par-
te do filo Coniferophytas (coníferas), As análises moleculares indicam
as quais, por sua vez, pertencem ao que cada um desses gêneros é mono-
grupo das gimnospermas. Atualmen- filético, isto é, possui um único ances-
te, a família das Araucariaceae englo- tral comum. Portanto, na dificulda-
ba cerca de 40 espécies, divididas nos de de estabelecer qual gênero é mais
gêneros Araucaria, Agathis e Wolle- antigo do ponto de vista evolutivo,
mia. Os gêneros Araucaria e Agathis o mais apropriado é que Araucaria,
são representados por várias espécies, Agathis e Wollemia sejam considera-
e o gênero Wollemia possui apenas a dos como grupos irmãos, de igual im-
espécie Wollemia nobilis Jones, Hill portância (5).

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA E NO DE ESPÉCIES DOS


GÊNEROS MODERNOS DE ARAUCARIACEAE

A história evolutiva das araucá- passaram a ocupar gradativamente


rias se entrelaça com a própria evo- as áreas continentais do Planeta. O
lução dos vegetais, milhões de anos sucesso dessa dispersão relaciona-se
atrás, quando as plantas passaram a com o desenvolvimento do grão de
dominar a superfície do Planeta. No pólen, capaz de ser levado pelo vento
final da era Paleozoica, os vestígios in- aos gametas femininos, e à produção
dicam que as plantas gimnospermas de uma semente elaborada (6).
HC – 60 Ed. 86 - 2017

A evolução legou às gimnosper- das, ou em regiões de altitude, em zo-


mas uma maior independência da nas caracterizadas pela presença de
água, garantindo seu sucesso adap- boa umidade atmosférica. Apesar de
tativo na era Mesozoica, caracteri- sua ampla distribuição no passado,
zada pelo supercontinente Pangea e ocorrendo em ambos os hemisférios,
sua fragmentação. As gimnospermas modernamente as famílias Araucaria-
se expandiram pelo supercontinen- ceae, Podocarpaceae e Cupressaceae
te, apesar da predominância do clima são exclusivamente austrais (8).
árido, pois havia importantes áreas
subtropicais. As recém-criadas áreas A Araucariaceae é considerada a
elevadas e o aparecimento de grandes família de coníferas mais antiga ain-
sistemas fluviais também proporcio- da existente, com início de desenvol-
naram a expansão das gimnospermas vimento marcado após a extinção do
frente às antigas pteridospermas. Permiano-Triássico, entre as eras Pa-
leozoica e Mesozoica, há cerca de 251
Com os eventos tectônicos do milhões de anos. Alguns pesquisadores
Jurássico, as gimnospermas conífe- sugerem que a origem das Araucaria-
ras foram favorecidas pela criação de ceae/coníferas tenha ocorrido na Gon-
ambientes instáveis e solos desnuda- dwana Oriental (porção separada da
dos, pois possuem grande capacidade Pangea, ao Sul), por esta região do atu-
adaptativa ao estresse e a solos finos. al Oeste do Pacífico possuir represen-
Neste período, as coníferas espalha- tantes de todos os gêneros da família,
ram-se por todo o globo terrestre (7). uma indicação da variedade biótica e
possível centro de origem e dispersão.
As coníferas representam o grupo
mais abundante e de maior distribui- Como qualquer teoria que traba-
ção das gimnospermas. Conhecidas lha na escala de milhões de anos, esta
popularmente como “pinheiros”, con- também é contestada. Na época geoló-
seguiram resistir à competição exercida gica, as massas terrestres estavam uni-
pela chegada das angiospermas (plan- das no supercontinente Pangea. Sua
tas mais evoluídas, com flores e frutos), fragmentação há 200 milhões de anos
pois se refugiaram em zonas secas, frias explicaria a distribuição das espécies
ou de solos impróprios, onde as angios- desta família em áreas desconexas e
permas não se adaptavam tão bem. distantes. Ao longo do tempo o clima
passou por diversas oscilações, fazen-
A partir do período Terciário, com do as Araucariaceae passarem vários
a separação dos continentes e o sur- períodos de trocas florísticas, expansão
gimento de condições globais menos e retração geográfica, dos quais os fós-
aquecidas, o grupo das coníferas pas- seis encontrados em lugares como An-
sou a se distribuir preferencialmente tártica, África, Índia, Europa e Améri-
em latitudes subtropicais e tempera- ca do Norte são testemunhas (9).
Ed. 86 - 2017 61 – HC

Araucaria araucana,
Araucariaceae. Cone maduro.
Jardim botânico Karlsruhe,
Alemanha. Foto: H. Zell.
HC – 62 Ed. 86 - 2017

Os registros fósseis indicam que Na América do Sul, fósseis das


o gênero Araucaria aparece estabe- Araucariaceae datados do período
lecido no período Jurássico, sugerin- Triássico foram encontrados em di-
do também que a seção Columbea versas e amplas áreas da Argentina e
(das espécies Araucaria araucana e do Chile, demonstrando que, no pas-
Araucaria angustifolia) surgiu nesse sado, estas plantas ocuparam uma
período. Com a fragmentação do su- área muito maior do que suas atuais
percontinente Gondwana no início do regiões de ocorrência. Tais fósseis
período Cretáceo, as coníferas se esta- sugerem que as espécies Araucaria
beleceram nas terras com climas frios araucana e Araucaria angustifolia
ou secos, e solos menos férteis, pois as podem ter uma origem comum, ape-
regiões mais favoráveis passaram a ser sar de atualmente estarem isoladas, a
domínio das plantas angiospermas. grande distância uma das outras (10).
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Atualmente a família Araucaria- A Araucaria araucana (Mol.) K.


ceae está distribuída no Hemisfério Koch ocorre nas regiões montanho-
Sul, nas regiões da Nova Caledônia, sas e de clima temperado do Chile e
Nova Guiné, Austrália, Nova Zelândia da Argentina, entre os paralelos 37°
e América do Sul. As coníferas pos- e 40° Sul, em regiões relativamente
suem uma distribuição dominante- pequenas de ambos os lados da Cordi-
mente austral, com a maior parte de lheira dos Andes (13).
seus representantes vivendo em flo-
restas úmidas de clima mesotérmico A Araucaria angustifolia (Ber-
subtropical ou temperado. Na América tol.) Kuntze ocorre naturalmente no
do Sul os representantes das conífe- Brasil e em pequenas manchas na
ras distribuem-se em áreas elevadas e Argentina e no Paraguai. No Brasil,
bem iluminadas, submetidas a um tec- até o século XIX a área original, de
tonismo ativo e dotadas de solos de pe- formato irregular nas regiões Sul e
quena espessura, litólicos e ácidos, em Sudeste, cobria cerca de 200 mil qui-
zonas de clima oceânico mesotérmico, lômetros quadrados, e o seu ecossis-
nas latitudes subtropicais a tropicais. tema original, a Floresta Ombrófila
Mista, ocupava cerca de 20 milhões
Os sistemas de ventos alísios e de hectares.
contra-alísios, as frentes polares, os
efeitos do El Niño e da Convergência A araucária, espécie dominan-
do Atlântico Sul possuem importante te da FOM, distribuiu-se nos estados
efeito sobre a distribuição das conífe- do Rio Grande do Sul, Santa Catari-
ras no Sul do Brasil e Oeste do Chile, na e Paraná, em aproximadamente
pois estas regiões concentram bons 25%, 40% e 31% de suas superfícies,
teores de umidade. No continente sul- respectivamente. Também ocorre em
-americano, a seção Columbea do gê- manchas esparsas no Sul de São Pau-
nero Araucaria possui como princi- lo (3%) e no sul de Minas Gerais e Rio
pais espécies a Araucaria araucana e de Janeiro, em áreas com altitude su-
a Araucaria angustifolia (12). perior a 500 m (1%) (14).
HC – 64 Ed. 86 - 2017

Estudos sobre o paleoambiente do


Sul do Brasil indicam que a região pas-
sou por uma mudança fitofisionômica
posterior ao fim da última era glacial.
Durante o mais recente ciclo glacial
antropológico, ocorrido no período do
Pleistoceno Superior, entre 100 mil e
11,5 mil anos atrás, a vegetação de
campos dominou a paisagem do
planalto meridional brasileiro,
com a ocorrência de poucas arau-
cárias, restritas aos vales.

No Holoceno Superior, com o fim


da glaciação, a expansão da Floresta
Ombrófila Mista está relacionada com a
mudança para um clima mais úmido na
região, com chuvas bem distribuídas e
estações secas mais curtas, pois as arau-
cárias não toleram médias pluviométri-
cas inferiores a 1.400 mm/ano.

O favorecimento das condições


climáticas úmidas possibilitou que as
florestas de araucária se expandissem
sobre as áreas de vegetação campestre,
a partir de 3 mil anos atrás, expandin-
do-se plenamente há cerca de mil anos
A.P (16). Amostras de pólens coletados no
solo de Urubici (SC), próximo ao Mor-
ro da Igreja, indicam que a expansão da
floresta de araucárias é relativamente
recente na região serrana, não ultrapas-
sando os dois mil anos de idade (17).

A Araucaria angustifolia é decisi-


va no processo de sucessão da Floresta
Ombrófila Mista. Por ser considerada
uma espécie emergente e determinan-
te da fitofisionomia, sua dinâmica po-
pulacional possibilita colonizar áreas
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CICLO DE VIDA DA ARAUCÁRIA


Árvore ou Escama ovulífera Gametófito haplóide
esporófito Megasporócito
maduro
Megáspora

MEIOSE
Inflorescência feminina Microsporócitos MITOSE

Saco embrionário
ou gametófito
POLINIZAÇÃO feminino
Estame ou
microsporófilo
Micrósporos
Flor masculina ou cone MITOSE
portador de pólen

Plantula Grão de pólen ou


gametófito masculino
Escama seminífera
FECUNDAÇÃO Arquegônio

Semente
Embrião
Proembriões

Poliembrionia
Esporófito diplóide Cone maduro

abertas ou campos, criando, assim, a fim de reduzir a competição com as


as condições de umidade e fertilida- espécies arbóreas da Floresta Esta-
de que facilitam o recrutamento de cional Decidual do Paraná-Uruguai
outras espécies arbóreas(18). Acre- (Mata Branca) e da Floresta Ombrófi-
ditou-se, por muito tempo, que a la Densa da Costa Atlântica. O conta-
araucária fosse totalmente pioneira to da FOM com as florestas decidual e
e heliófita, porém estudos recentes densa dificulta a regeneração natural
constataram que a espécie apresen- das araucárias, pois a espécie apre-
ta tolerância à sombra em ambiente senta menor capacidade competitiva
natural, podendo se estabelecer em para ocupação de zonas de transição
condições de sub-bosque (19). entre tipologias florestais, ambientes
em que as espécies angiospermas fo-
Considerando-se a dinâmica re- lhosas são mais eficientes na ocupa-
cente da Floresta Ombrófila Mista, ção territorial (20). HC
destacam-se duas tendências com-
portamentais: o avanço dos pinheiros Gil Karlos Ferri é Bacharel e Licen-
sobre os campos e o recuo dos pinhais ciado em História pela Universidade Fe-
na mata branca. A araucária tende a deral de Santa Catarina. Mestrando em
se expandir sobre os campos de alti- História Ambiental na Universidade Fede-
tude aproveitando os espaços abertos, ral de Fronteira Sul.
HC – 66 Ed. 86 - 2017

As perguntas desta seção


constituem apenas sugestões
para professores e alunos.

07) Qual o período de “debulha” e o que


01) Na Floresta Ombrófila Mista, qual a provoca a dispersão das sementes?
espécie que se destaca e por quê?
08) Quais os animais que mais contri-
02) Por quem foi elaborada a taxonomia buem na dispersão das sementes?
desta espécie e qual a origem dos nomes
que lhe foram dados? 09) Qual família Araucariaceae é consi-
derada a família de coníferas mais antiga
03) Qual a diferença na copa de espécies ainda existente e o que explicaria a distri-
jovens e maduras? buição desta família em áreas desconexas
e distantes?
04) Como é o tronco desta árvore?
10) Em que países/regiões/estados ocorre
05) Como são as sementes da araucária? a Araucaria araucana (Mol.) K. Koch, e a
Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze?
06) Com que idade a araucária começa a
produzir pinhas, qual o tempo de matura- 11) No Sul do Brasil, o que favoreceu a
ção das pinhas e quantas sementes cada expansão das florestas de araucárias, e
uma produz, em média? quando?

Para saber mais


• (1) – SOLÓRZANO-FILHO, Jorge A.; KRAUS, Jane E. Breve • (8) – Idem (04), 2008, p.155
história das matas de araucária. Revista Forest 99, RJ, • (9) – Idem (7), 2003. p. 293-351 e p. 2, 11-14.
1999. http://www.eco21.com.br/textos.asp?ID=33 • (10) – Idem (7), 2003. p. 293-351 e p. 15 e 27.
• (2) – GARCIA, Ricardo José Francischetti. Gimnospermas: • (11) – Idem (4), 2008, p.153
Araucariaceae. In: WANDERLEY, Maria das Graças Lapa; • (12) – Idem (7, 2003. p. 293-351 e p. 28-29
SHEPHERD, George John; GIULIETTI, Ana Maria. Flora Fa- • NOTA 13 – EARLE, Christopher (ed.). Araucaria arau-
nerogâmica do Estado de São Paulo. São Paulo: FAPESP: cana. The GymnospermDatabase, 2012. Disponível
HUCITEC, 2002. GUERRA, Miguel Pedro; MANTOVANI, em: <http://www.conifers.org/ar/Araucaria_arauca-
Neusa Steiner Adelar; NODARI; Rubens Onofre; REIS, na.php/>. Acesso em: 08 mar. 2017.
Maurício Sedrez dos; SANTOS, Karine Louise dos. Araucá- • (14) – Idem (4), 2008, p.156
ria: evolução, ontogênese e diversidade genética. In: BAR- • (15) – Idem (4), 2008, p.156
BIERI, Rosa Lía; STUMPF, Elisabeth Regina Tempel. Origem • (16) – Idem (7), 2003. p. 293-351 e p. 27; MAIS
e evolução de plantas cultivadas. Brasília: Embrapa Infor- BERTOLDO, Édson; PAISANI, Júlio César ; OLIVEIRA,
mação Tecnológica, 2008. SOARES, Thelma Shirlen; MOTA, Paulo Eduardo de. Registro de Floresta Ombrófi-
José Hortêncio. Araucária: o pinheiro brasileiro. Revista la Mista nas regiões sudoeste e sul do Estado do
Científica Eletrônica de Engenharia Florestal, ano II, 2004. Paraná, Brasil, durante o Pleistoceno/Holoceno.
• (3) – Idem (2) Hoehnea[online], São Paulo, vol. 41, n. 01, 2014. p.
• (4) – GUERRA, Miguel Pedro; MANTOVANI, Neusa Stei- 05-06. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ho-
ner Adelar; NODARI, Rubens Onofre; REIS, Maurício Se- ehnea/v41n1/01.pdf>. Acesso em: 17 fev. 2017.
drez dos; SANTOS, Karine Louise dos. Araucária: Evolu- • (17) – BEHLING, Hermann; JESKE-PIERUSCHKA, Vi-
ção, Ontogênese e Diversidade Genética. In: BARBIERI, vian; SCHÜLER, Lisa; PILLAR, Valério de Patta. Dinâ-
Rosa Lia; STUMPF, Elisabeth Regina Tempel. Origem e mica dos campos no sul do Brasil durante o Quater-
Evolução de Plantas Cultivadas. Brasília: EMBRAPA IN- nário Tardio. In: PILLAR, Valério de Patta;MÜLLER,
FORMAÇÃO TECNOLÓGICA, 2008. P. 158. Sandra Cristina; CASTILHOS, Zélia Maria de Souza;
• (5) – Idem (04), 2008, p. 153 JACQUES, Aino Victor Ávila. Campos Sulinos: Conser-
• (6) – Idem (04), 2008, p. 154 vação e Uso Sustentável da Biodiversidade. Brasília:
• (7) – DUTRA, Tânia Lindner; STRANZ, Anamaria. História Ministério do Meio Ambiente, 2009.
das Araucariaceae: a contribuição dos fósseis para o en- • (18) – Idem (16) BERTOLDO, etc, Hoenea [online]
tendimento das adaptações modernas da família no He- idem, vol. 41, n. 01, Disponível – idem. Acesso – idem.
misfério Sul, com vistas a seu manejo e conservação. In: • (19) – Idem (4), 2008, p.166
RONCHI, Luiz Henrique; COELHO, Osmar Gustavo Wöhl • (20) – REITZ, Raulino; KLEIN, Roberto Miguel. Arauca-
(ed.). Tecnologia, diagnóstico e planejamento ambien- riaceae. Itajaí: Herbário Barbosa Rodrigues, 1966.
tal. São Leopoldo: UNISINOS, 2003. • Infográficos: Todos foram enviados pelo autor.
MEMÓRIA ICONOGRÁFICA DE SANTA CATARINA

RIO DO SUL

Fundição Estrela
na década de 1950,
a empresa existe
até hoje.

Acervo: Nilton Custódio Luz Tino


Fonte: Antigamente em Rio do Sul
https://www.facebook.com/
groups/Antigamenteemriodosul/

MAFRA – Praça Hercílio Luz, em 1928.


Acervo: Fotos Antigas de Santa Catarina/facebook.

PARTICIPE ENVIANDO FOTOS PARA: historia@historiacatarina.com.br

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