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#2 O Que é a Fé?

Leitura Bíblica: Hebreus 11.1-3

A primeira palavra do Credo Apostólico é “creio”. Portanto, nosso estudo


nesta oportunidade será exatamente sobre a fé. Quando o apóstolo Paulo
elencou as chamadas virtudes cristãs, ele assinalou que devem permanecer
a fé, a esperança e o amor.

O último censo brasileiro, que aconteceu em 2010, afirma que a grande


maioria dos brasileiros é religiosa e diz acreditar em Deus. O problema é
que muita gente pensa que simplesmente acreditar na existência de Deus
já basta, sendo somente esta crença o suficiente para alguém ser salvo.

O exame que faremos nesta noite tem a ver com a natureza da fé e seus
resultados. Uma vez que este documento tão importante na história da
igreja menciona a importância da fé logo em seu princípio, compreender o
verdadeiro sentido do crer, conforme as Escrituras, será fundamental para
toda o entendimento do Credo.

I. O VERDADEIRO SENTIDO DO “CREIO”


1. Fé significa conhecimento: fé começa com uma verdade
pregada, esclarecida e explicada. Ela começa com aprender e com um
objeto a ser conhecido e aprendido. É por isso que Jesus disse para irmos
por todo mundo e pregar o evangelho. Ele enfatizou a pregação e não a
operação de milagres.

É por isso que Romanos 10.17 diz que “a fé vem por ouvir a mensagem, e
a mensagem é ouvida mediante a palavra de Cristo.” A fé começa com
notitia, com conhecimento. A fé não vem pela emoção, mas pela razão, pela
cabeça, pela mente. Ainda que também toque nas emoções, ela não opera
exclusivamente pelas emoções.

Há tantos crentes com uma fé baseada só na emoção. Eles não leem e


estudam a Bíblia e pegam versículos bonitinhos sem analisar seu contexto.
Isso gera uma fé baseada só na emoção. Esse tipo de fé é como um rojão:
explosiva, forte, barulhenta, mas passageira e temporária. O camarada
entra na igreja detonando e todos acham que ele vai ser pastor. É uma
bênção no começo, mas na primeira dificuldade, quando percebe a
realidade da vida da igreja, que não é oba-oba toda hora, que não é sempre
que o Espírito Santo age daquela forma, a pessoa começa a murchar e,
daqui a pouco, está pior do que era antes.

2. Fé significa aceitação: fé entra pela mente, mas tem que


descer para o coração. Na fé verdadeira que agrada a Deus, a verdade
pregada da Palavra de Deus, além de conquistar a mente da pessoa,
conquista a emoção e o coração da pessoa.

Isso é importantíssimo, porque na igreja há pessoas que aceitaram o


evangelho só com a cabeça, mas não com o coração. Elas não são
apaixonadas pela verdade e pelo Deus da verdade, mas frias e meramente
racionais. A fé verdadeira, adquirida pela mente, impacta as emoções.

Veja o exemplo que Lucas dá no último capítulo de seu evangelho. Ele


conta sobre dois discípulos andando na estrada de Emaús, após Jesus ter
sido traído e morto. Alguns discípulos, que só viram Jesus sendo
sepultado, voltavam para casa, derrotados. “Mataram nosso Cristo.
Acabou o sonho. Nós tínhamos esperança que ele seria o Libertador de
Israel. Os romanos provaram que ele era apenas outro homem. O nosso
líder foi derrotado”.

Lucas relata que enquanto aqueles discípulos voltavam deprimidos, Jesus


chega e anda ao lado deles pela estrada. O Salvador percebe que o
problema é que eles não tinham uma mente informada por toda a Palavra
de Deus, conhecendo só parte da verdade. Naquela caminhada, Jesus
começa a explicar por Moisés e todos os profetas que pelos decretos de
Deus era necessário que o Filho do Homem fosse traído, torturado, morto
e crucificado, mas que ressuscitaria com poder e grande glória.

Desta forma, Jesus infundiu neles a informação bíblica, a verdade de que o


Messias, com certeza, ressuscitaria. Quando anoitece e eles vão passar a
noite, quando Jesus dá graças na hora de partir o pão, os olhos deles são
abertos, Jesus desaparece e eles percebem que o próprio Cristo que estava
lá. A Bíblia fala que eles olham um para o outro e dizem: “Não estavam
ardendo os nossos corações dentro de nós, enquanto ele nos falava no
caminho e nos expunha as Escrituras” (Lucas 24:32).

3. Fé significa compromisso: Lembremos que a fé que agrada


a Deus impacta primeiramente a mente. Gosto da frase de John Stott que
diz que não podemos ter Jesus em nosso coração se não o tivermos em
nossa mente. Aqueles que rejeitam a teologia, afirmando que só querem
sentir “Jesus no coração”, não entendem que primeiro o Salvador tem de
estar na sua mente. Você precisa ser informado. A cabeça precisa
compreender que ele é o Rei dos reis, Senhor dos senhores, a imagem do
próprio Deus, o Criador e sustentador de todas as coisas.
Depois, isso precisa descer para o coração e impactar a volição, ao ponto
de apostarmos as nossas vidas e decidirmos por Jesus em todas as
circunstâncias da vida. Na fé verdadeira, a verdade apreendida pela
mente, impacta o coração, a vontade, o querer, as decisões e as ações.

Mas isso não seria salvação pelas obras? Não! A Bíblia fala que somos
salvos pela graça através da fé. Porém, a Bíblia fala que a fé verdadeira é o
todo do nosso ser abraçando tudo o que Cristo é! A fé verdadeira é Cristo
sendo inteiramente abraçado por minha mente, emoções e volição – todo o
meu ser e não só parte dele.

Neste momento, o Espírito Santo pode estar falando com você que diz crer
em Cristo, mas tem seu coração em suas próprias coisas – na sua namorada
ou namorado, no seu carro, no seu emprego, na sua poupança, no seu
futuro. Sua mente diz crer em Deus, mas seu coração não está nele.

II. OS TIPOS DE FÉ
1. Fé Histórica ou Especulativa: Ela é caracterizada pela crença
intelectual na veracidade de um acontecimento tido como histórico.
Quando, por exemplo, estudamos os eventos da História, na realidade
estamos exercitando a nossa fé histórica, crendo que de fato os episódios
se deram conforme os registros históricos.

Alguém pode ter sido criado na igreja, aprendido as histórias bíblicas, estar
socialmente integrado na igreja e, no entanto, só dispor de uma crença
puramente intelectual que, em nada afeta a sua existência

2. Fé Temporal: Este tipo de fé é decorrente, por graça, da


consciência da realidade das verdades religiosas. Num primeiro momento,
ela manifesta frutos semelhantes aos da fé salvadora; todavia, por ela não
estar amparada no genuíno conhecimento da Palavra e não proceder de
um coração regenerado, é ineficaz e não permanece; falta-lhe raiz (Mt
13.20-21).

De quando em quando, surgem pessoas na Igreja cheias de entusiasmo,


julgando que tudo está errado, querendo transformar as estruturas,
achando que podem fazer melhor o trabalho, etc. De repente, de modo
abrupto ou gradativo, elas perdem o primeiro vigor e se afastam: sua fé
aparentemente tão fervorosa se apagou. Era uma fé cheia de adjetivos
contudo, não dispunha de substância. Esta é uma forma característica da
fé temporal se manifestar (cf. Jo 2.23-25; At 8.13,18-24; 2Tm 4.10; 1Jo 2.19).
3. Fé Milagrosa: É caracterizada pela persuasão intelectual de
que eu serei o instrumento ou o beneficiário de um milagre. Dessa
conceituação, podemos distinguir esta fé em dois tipos: Ativa: É a certeza
de que Deus operará um milagre através de mim (Mt 7.21-23; 10.1; 17.20);
Passiva: É a convicção de que Deus operará um milagre em mim (Mt 8.10-
13; Lc 17.11-19; At 14.8-10).

Esta fé pode estar acompanhada da fé salvadora, porém não


necessariamente; no caso do leproso que foi curado e voltou para “dar
glória a Deus”, há evidência da fé salvadora (Cf. Lc 17.19), enquanto que
no caso dos outros nove, ao que parece, havia apenas a fé milagrosa.
Observemos que Deus é soberano para agir como Ele quiser; inclusive
capacitando os homens para serem seus agentes ou beneficiários dos
milagres; por isso, não nos iludamos com os “sinais” alegados por tantos
pregadores.
4. Fé Salvadora: Fé Salvadora é um dom da graça de Deus,
através do qual somos habilitados a receber a Jesus Cristo como nosso
único e suficiente Salvador e, a crer em todas as promessas do Deus Triúno,
conforme estão registradas nas Escrituras.
O Catecismo Menor (1647) na questão 86, assim define: “Fé em Jesus
Cristo é uma graça salvadora, pela qual o recebemos e confiamos só nele
para a salvação, como ele nos é oferecido no Evangelho”.

III. A FÉ SALVADORA
1. Origina-se no próprio Deus: A fé salvadora é produto da graça
de Deus que age por meio da sua Palavra registrada na Bíblia (At 3.16;
18.27; Rm 10.17; Ef 2.8; 6.23; Fp 1.29; Hb 12.2; Tg 1.18; 1Pe 1.23). É por meio
da Palavra que Deus nos gerou espiritualmente, tornando-nos seus filhos.

A fé salvadora exige conhecimento da Palavra de Deus. A fé é uma relação


de confiança; como acreditar em alguém que não conhecemos? A fé
consiste no conhecimento do Pai e do Filho pelo testemunho do Espírito
(Jo 17.3; Jo 15.26; 16.13-14).

2. É direcionada para Deus e Sua Palavra: Biblicamente falando,


a fé salvadora é uma fé Teológica e Cristocêntrica. A Teocentricidade da fé
é Cristocêntrica. Crer no Pai é o mesmo que crer no Filho (Jo 5.24; 12.44;
14.1; Mc 11.22; At 20.21; Rm 3.22, 26; 4.24; Gl 2.20; 1Pe 1.21; 1Jo 3.23). Sem
Jesus Cristo o Pai continua inacessível a nós (Lc 10.22; Jo 8.12; 14.6; 1Tm
2.5; 6.16). Uma fé supostamente depositada no “Pai” sem a aceitação do
Filho como Senhor e Salvador, não é a genuína fé bíblica: É impossível ter
a Deus como Pai sem o Filho como irmão primogênito (Rm 8.29). O objetivo
final de nossa fé é Deus mesmo; mas vemos a sua glória através de Cristo,
o qual é o caminho divinamente designado para revelar a glória de Deus.
A Palavra de Deus reclama a nossa fé (Vd. Mc 1.15; Jo 5.45-47; 17.20; At 4.4;
Rm 10.8,14,17; Ef 1.13; 1Tm 1.15; 4.9).35 O que Deus revelou e prometeu é
para ser crido (Rm 4.20). Jesus Cristo é o autor e o conteúdo,36 o
substantivo da Promessa; por isso, crer no Evangelho, significa crer em
Jesus Cristo (Mc 1.15; Rm 15.20; At 16.31).37 Jesus Cristo conforme o
conhecemos no Evangelho é a Palavra Final de Deus: nele conhecemos o
que Deus quer que saibamos e o que deseja que sejamos nesta vida.

3. A nossa fé encontra o seu amparo na veracidade e fidelidade


de Deus. A fidelidade de Deus se revela nas suas promessas, como
expressão de sua fidelidade a si mesmo. A fé verdadeira é aquela que ouve
a Palavra de Deus e descansa em sua promessa.

Deus sabe das nossas necessidades. O saber de Deus não é apenas


intelectual: Deus sabe e por isso cuida (Mt 6.8). Ele não dorme, antes, sabe
do que necessitamos antes mesmo que tenhamos consciência de nossas
necessidades: A Bíblia também nos ensina que Deus nem sempre nos dá
aquilo que pedimos; entretanto, sempre nos dá aquilo de que necessitamos
de fato e de verdade, mesmo que nem ainda tenha penetrado em nosso
coração a realidade da carência... A nossa demorada consciência de nossas
próprias carências não escapa à Providência de Deus, nem à sua graciosa
provisão.

As Escrituras nos desafiam a confiar em Deus, depositando no Deus


soberano toda a nossa ansiedade. É importante que tenhamos sempre
diante de nós a certeza de que o poder de Deus é algo concreto e real em
nossa vida diária, no nosso sustento e preservação. Essa compreensão de
fé deve guiar a nossa perspectiva da realidade e, consequentemente a nossa
atuação no mundo.

Soli Deo Gloria!

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