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Porque não quero ser membro da

Igreja…
Não quero ser membro da Igreja porque posso participar dos ministérios, da Santa Ceia, ser
dizimista, estar nos cultos sem a necessidade de um ritual ou um pedaço de papel que me diga
o que sou ou não. Se você pensar bem, esta é a mesma razão pela qual as pessoas querem
“morar junto” hoje em dia, sem estar casadas legalmente. É ter as recompensas sem o peso
dos deveres. O outro nunca pode exigir nada, porque, se eu não gostar mais, posso
simplesmente ir embora sem ter de dar satisfações a ninguém.
Não quero ser membro da Igreja porque gosto de circular por aí, conhecer novas ideias e novas pessoas. Ser

membro significa aderir a um conjunto de preceitos e eu não gosto que ninguém me diga o que pensar ou não.

Existem coisas com as quais eu não concordo na Igreja, até mesmo doutrinárias. Sem ser membro, não tenho

compromisso com nada disso.

Não quero ser membro da Igreja para não ter a responsabilidade pessoal de zelar pelo meu testemunho em

relação a ela. Se alguém me perguntar alguma coisa, digo simplesmente que frequento, estou visitando, vendo

“qual é”.

Não quero ser membro da Igreja para não ter a responsabilidade pessoal de zelar pelo meu testemunho em

relação a ela. Se alguém me perguntar alguma coisa, digo simplesmente que frequento, estou visitando, vendo

“qual é”.

Não quero ser membro da Igreja para não ter de sustentar as coisas chatas que toda Igreja tem. Posso fazer o

que quiser, sem ser requerido. Não tenho a obrigação de amar ninguém nem de sustentar ninguém com minhas

orações. Se alguém pegar no meu pé, posso ameaçar ir para outra comunidade, quem sabe fazer alguma pressão

por causa do dízimo que entrego. Ao fazê-lo, fico aparentemente mais fiel do que aquele que, sendo membro,

não faz tudo o que eu faço.

Só que há alguns problemas… mas eu não gosto de pensar muito sobre isso.

Quando não assumo integralmente meu papel como membro da Igreja, vivo parcialmente o amor de Cristo.

Não serei nunca capaz de “alegrar-me com os que se alegram e chorar com os que choram” (Rm 12.15), porque

meu envolvimento é sempre parcial. Sem conhecer o amor verdadeiro, posso ter todos os demais dons, mas de

nada eles me adiantarão (1Co 13).


Quando eu entrego fielmente o dízimo, compareço aos cultos e participo dos ministérios, não estou fazendo

favor algum à Igreja, ao pastor ou pastora, nem sendo mais santo que os membros assumidos que não o fazem.

O erro deles não justifica minha arrogância. De certo modo, eu fico parecendo o fariseu que subiu ao templo

para orar (Luc 18.9-14). Estou apenas cumprindo meu dever cristão, mas se faço isso apenas para não ser

cobrado, então “já recebi minha recompensa” (Mt 6.6).

Quando eu não me torno membro da Igreja, torno-me uma anomalia, uma parte do corpo de Cristo que quer

viver de si mesma. Mas um membro não pode ser separado do corpo sob o risco de morte, assim também, fora

do corpo de Cristo, morremos, uma vez que a comunhão plena alimenta a espiritualidade saudável (1Co 12-14).

Se Cristo amou a Igreja e chegou a ponto de morrer por ela, quando não assumo integralmente meus votos

numa comunidade local, corro o risco de situar-me fora desta esfera de amor, de santidade e de

incorruptibilidade, mesmo considerando os defeitos e infortúnios que ela, como comunidade humana, santa e

pecadora (no dizer de Martim Lutero) pode conter (Ef 5.25-27). Ao contrário, importa-me sofrer por ela:

“Regozijo-me agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu

corpo, que é a igreja” (Cl 1.24).

O fato de ser membro de uma Igreja é consequência do fato de que me entreguei a Cristo, vivo por ele. É uma

manifestação visível da transformação invisível que Deus opera no meu interior. Devo me alegrar por isso, e

não achar-me sob o peso de uma obrigação. Damo-nos primeiro a Deus e depois uns aos outros na comunidade

de fé (2Co 8.5). Como poderei dar-me por inteiro a alguém se não quero assumir publicamente meu

compromisso para com essa pessoa ou grupo, de todos os meios e formas pelas quais me for possível fazê-lo?

Somente o fato de ser membro de uma igreja me dará a autoridade do reconhecimento que vem dos irmãos e

irmãs, legitimando meu ministério junto a eles e tornando mais amplo o espectro da minha ação. Por ter-me

como seu igual, companheiro de jugo e de lutas, com maior profundidade poderão testemunhar de mim e sentir

que estou 100% com eles, como aconteceu com Tito (2Co 8.16-23). Os membros da Igreja são neste texto

chamados de “companheiros no desempenho da graça”, “companheiros e colaboradores”, “mensageiros da

Igreja”, “glória de Cristo”. E Paulo lhes exorta a demonstrar “a prova do amor e da exultação” perante a Igreja

quando membros desse porte estiverem diante dela.

Se há sobre a comunidade um pastor ou pastora fiel, com amor no coração, atenção e fidelidade para com os

princípios bíblicos e doutrinários, minha insubmissão é sinal de rebeldia ao Senhor e ao seu corpo. Tenho de

considerar profundamente as motivações que me levam a não querer uma autoridade espiritual sobre mim. É

claro que há os que abusam, mas a Bíblia chama a estes de mercenários. Os pastores e pastoras verdadeiros são
reconhecidos por sua autoridade vinda do Espírito, seu amor e zelo pela comunidade, sua seriedade no

testemunho e na oração. A estes, a carta aos Hebreus recomenda obediência e submissão (Hb 13.17). Tenho de

admitir se não quero que o pastor ou pastora me oriente espiritualmente porque ele ou ela não é uma pessoa de

Deus (e isso não cabe a mim, individualmente, decidir) ou se é porque esta liderança espiritual me confronta

diretamente em meu coração endurecido, em meus pecados de estimação ou na confrontação da entrega total a

Cristo, que ainda resisto a fazer. Se for assim, é para pensar profundamente a minha vida, pois “se alguém não

sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?” (1Tm 3.5)! Esta reflexão e constatação

cabem somente a mim e somente o Espírito pode revelar-me inteiramente isso. Mas se me nego a pensar,

também me nego a ser transformado…

Cristo edifica a sua igreja e afirma que as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt 16.18). Como eu

posso ser edificado se não quero afirmar categoricamente que faço parte da Igreja? Como poderei, assim, fazer

com que o inferno não prevaleça contra mim? Preciso estar na igreja para saber “como convém andar na casa

de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade” (1Tm 3.15)

Como disse alguém, a Igreja não é para ser conveniente, nem condescendente, mas contundente. Se eu quiser

ser mais um na multidão, posso estar na igreja sem assumi-la. O problema disso é que Cristo não vai me

conhecer quando isso for necessário (Mt 25). Mas se quiser ser discípulo, não devo fazer o que eu quero – sou

instado a deixar o meu eu e assumir o fardo do meu irmão (Gl 6.2). Ser membro da Igreja é um passo

fundamental e um grande desafio. Paulo concorda: “Além das coisas exteriores, me oprime cada dia o cuidado

de todas as igrejas” (2Co 11.28), porque não basta estar no rol, é preciso estar por inteiro, pela vida inteira, com

a inteira vida. Mas o resultado do compromisso pleno é, igualmente, grandioso: “Para que agora, pela igreja, a

multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus” (Ef 3.10).

“A graça seja com todos os que amam sinceramente a nosso Senhor Jesus Cristo” (Efésios 6.24)

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