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Desigrejados.

A nova moda entre


os crentes deste século
perturbado!

Não abandonando a nossa congregação, como é costume de alguns,


antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que
se vai aproximando aquele dia (Hb 10:25).

Os “sem igreja” ou mais comumente denominados de


“desigrejados” não são oficialmente filiados a qualquer
instituição convencional de culto religioso cristão; mas nem por
isso se consideram desviados e menos ainda excluídos do Reino de
Deus. O entendimento dos novos adeptos deste “movimento de uma
igreja personalizada e doméstica” é que foram eles que se
desvincularam da “igreja dos homens” e do profano sistema religioso de
Babilônia, preconizado e denunciado no Livro das Revelações; alardeiam
os novos posicionados eclesiológicos, se é que os posso chamar assim?

E todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar, e de


anunciar a Jesus Cristo (At 5:42).
Desigrejado é um recente fenômeno conceitual de cunho
religioso e “interpretação aberta”; melhor classificado como
movimento ideológico – rasamente bíblico, equivocadamente
histórico e como nova “logia da igreja” é sistematicamente
contraditório. A proposta “desigrejada” apela ao comportamento de
oposição de seus intérpretes e proponentes à eclesiologia congregacional
e institucionalizada pelas denominações evangélicas; provocando uma
nova tendência relacional entre alguns crentes quanto à igreja: a de
tentarem praticar e viver a “fé e a vida discipular” fora do
cristianismo. Termos como evangélico, protestante, tradicional,
pentecostal, carismático e neopentecostal foram repugnados por esses
retirantes. Na concepção dos “sem igreja”, foi necessário despojarem-se
desses sistemas, concílios, dogmas, lideranças e responsabilidades de
membresia local que caracterizam a igreja constituída para enfim,
alcançarem o verdadeiro sentido de crer e viver como a eclésia de Cristo
nesta terra.

Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos
constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou
com seu próprio sangue (At 20:28).

O conceito de “desigrejado” que supostamente foi


referenciado no modo de ser da igreja primitiva (os crentes se
reuniam geralmente em casas) e nas missivas paulinas e
joaninas formataram uma disfunção e desconcreção do conceito
tradicional de “igreja” entendido e praticado por nós. Esta
corrente interpretativa fornece não apenas uma supervalorizada visão
individualista e independente de “ser igreja”; cunha não apenas um
neologismo de referência ao desligamento total do mundo
eclesiástico. Sua postura propõe refluxos ideológicos quando
afirma que a grande maioria de cristãos que ainda permanece
nessas “assembleias do sistema religioso minado da besta”,
devem também desligar-se daí o quanto antes e citam como
embasamento profético para tal conclamação o texto de Apocalipse 18:4
– “Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus
pecados, e para que não incorras nas suas pragas”.

Os “desigrejados” acham que tem fundamentos suficientes para


posicionarem-se contra as igrejas convencionais, históricas,
tradicionais, clássicas e recentemente instituídas como organizações de
interesses e motivações puramente humanas e capciosas. Pra falar a
verdade até tem “uns ajuntamentos e umas empresas” que
querem se passar por igrejas, pregando somente um “evangelho de
prosperidade” seco de santidade e encharcado de prazeres terrenais.
Mas daí a dizer que todas as igrejas evangélicas juridicamente
constituídas, adequadamente sob formas de governo transparentes e
biblicamente praticantes são iguais a àqueles grupos que se vendem na
TV e promover com isso, uma variação interpretativa exagerada e uma
nova polaridade do que é “ser igreja” é no mínimo incoerência e exagero
injustificável!

Porque vale mais um dia nos teus átrios do que em outra parte mil.
Preferiria estar à porta da casa do meu Deus, a habitar nas tendas da
perversidade (Sl 84:10).

A razão do ato de “desigrejar-se” não é motivado por nova revelação


bíblica; por movimento de retorno à Palavra ou clamor pela chegada de
avivamento. Evidenciam-se como motivação saliente de
descontentamento pessoal e também de conveniência própria
(insatisfação e aspiração). Apesar disso, eles defendem uma vida
religiosa mais familiar (caseira) e uma profissão de fé doméstica
(descaracterizada de igreja organizada). Para justificar sua saída,
sustentam que os escândalos nas igrejas e os desvios bíblicos do
papel e da função da mesma, são a causa para tal decisão. Esses
crentes que já estão na “saideira gospel” precisam considerar não
apenas os fatores “escandalosos e escatológicos da religião” para
fazerem suas promulgações de êxodo; carecem estudar a própria
doutrina da igreja. A eclesiologia bíblica e teológica não deixam ninguém
com dúvidas quanto ao fundamento da igreja (Mt 16:18; 1 Co 3:11),
sua composição mística e universal (Hb 12:23) e sua presença
organizada como congregação local de cristãos (At 11:26).

Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor (Sl 122:1).

A igreja universal de Cristo (que não é a denominação), aquela que o


mesmo virá ao seu encontro no arrebatamento é composta por crentes
vivos e até mortos (mas que no dia de sua vinda ressuscitarão) que
foram salvos por Ele em todas as eras e tempos. Mesmo assim, existe
a inegável realidade da igreja local organizada com cultos,
liturgias, ministérios, lideranças, coletas, contribuições e etc. (At
2:46,47; 1 Co 14:6; 6:1-6; 13:1-2; Ef 4:11-12; Hb 13:17; 1 Co 16:1;
Rm 15:26; 2 Co 9:1-13; Hb 7:8; Lc 11:42). Finalizando, chamo à
atenção daqueles que estão pretendendo sair de suas igrejas e fixarem-
se nessa nova posição de “desigrejados”; asseguro-lhes que tal
decisão não será o melhor para a vida de vocês.

Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo
adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das
trevas para a sua maravilhosa luz (1 Pe 2:9).

Reconsiderem a conclusão de saírem da igreja; é uma decisão


importante que se existir realmente a necessidade justificável de
desligar-se, recomendo-vos a buscarem em oração e em visitação outra
igreja que prega verdadeiramente a Palavra do Senhor, para lá
continuarem a servir a Deus.

Desigrejados
Apologética, Igreja, Jovens, Vida Cristã
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O termo “desigrejado” tem se tornado cada vez mais popular em nossos dias. O movimento de pessoas
feridas com a instituição, que buscam a comunhão em reuniões informais é crescente.

O crescimento desenfreado de denominações, a abertura a diversas doutrinas que não tem amparo bíblico,
os desmandos dos “autointitulados” bispos e apóstolos de nossos dias, os excessos das lideranças
manipuladores, são razões pelas quais muitas pessoas têm se decepcionado com a Igreja institucional e
organizada.
Sim, eu sei que existem muitos que vivem em torno da instituição, que omitem a compaixão para acatar
ao pragmatismo religioso. Não estou fechando meus olhos a esta realidade. Claro que compreendo a dor
de quem sofre na instituição. Praticamente todos os dias atendo vítimas de líderes que não entendem nada
do Evangelho e estão despreparados para pastorear pessoas. Realmente não é fácil lidar com estas
decepções e traumas.

Porém, frutos dessas circunstâncias, surgem pessoas que buscam a comunhão com outras, mas longe da
instituição. E dentre os diversos grupos que surgem, existem aqueles que almejam comungar como Corpo
de Cristo, observando todo o contexto da organização da Igreja ao longo do Novo Testamento, sem
vínculo institucional. Estes, não vejo como desigrejados.

Desigrejados são aqueles que abandonam a comunhão e tentam se reunir sem observar as diretrizes
eclesiásticas do Novo Testamento. Fazem o que querem, usando como desculpa as mazelas da igreja
institucional, que na maioria dos casos exageram no criticismo apontando os erros da igreja moderna, mas
que não oferecem o verdadeiro Evangelho de Cristo como solução.

Vamos aos pontos que a maioria dos desigrejados defendem:

– O fato de Jesus não ter fundando uma igreja institucional, ou denominação, assim por dizer;

– A influência de doutrinas de homens, no que diz respeito à hierarquia e organização estrutural que a
igreja incorporou em seus hábitos ao longo da história;

– A demonização dos templos, ou o fato de associarem o templo em si mesmo como sendo ele
a IGREJA;
– Onde dois ou três estiverem reunidos em nome de Cristo, ali Ele está, logo, isto significa que basta estar
juntos em nome de Jesus.

Evidentemente que concordo com boa parte das críticas que os desigrejados fazem. Principalmente no
que diz respeito a prioridades do Evangelho, que são as pessoas. Sou totalmente contra ao terrorismo da
“cobertura espiritual” que pentecostais, G12, MDA e afins fazem, amaldiçoando quem sai de
denominação X e vai para denominação Y. Sei que tem muita gente que defende mais a sua denominação
do que o Evangelho, e que fazem questão de exibir para todos seus cargos eclesiásticos.

A desonestidade financeira de pastores, que andam de jatinhos e carros importados, enquanto muitos
membros não têm nem o que comer em casa, também contribuiu para o aumento dos desigrejados.
Honestamente, não há como concordar com essas coisas sem um mínimo de indignação.

Ainda assim, não leio na Bíblia nenhum versículo que autorize o abandono da comunhão, mesmo com
essas mazelas sórdidas que acontecem em algumas denominações.

Com isso, não quero dizer que você deve ir congregar em um circo de horrores onde heresias explícitas
são pregadas. Mas, afirmo que não devemos abdicar a comunhão, porque é bíblico que não a
abandonemos.

Se você está em uma igreja que não pregam o Evangelho, vá para uma que pregue. Problemas na Igreja
sempre foram presentes, basta ler as epístolas de Paulo e saberá que ali havia muita instrução para
correção de problemas. Isso não é novidade.

O ponto crucial é: desigrejados usam suas frustrações para não se submeter a limites descritos na própria
Palavra de Deus. Como se o fato do sofrimento individual pudesse dar validade a levar um cristianismo
“ao seu jeito”, ou seja, querem servir a Deus do jeito que entendem, desconsiderando diversos contextos,
colocando “vírgulas” onde a Palavra de Deus coloca “pontos finais”. A título de se dizer “livre da
instituição” muitos fazem o que querem, oferecendo um Evangelho a partir de uma percepção pessoal,
que por si só, em muitos casos, apresenta distorções sérias.
Obviamente, concordo que Jesus não deixou uma Igreja Institucional. Mas é impossível não ter um nível
organizacional, por menor que seja, para seguir algumas instruções claras de Jesus e dos apóstolos, no que
diz respeito aos irmãos em Cristo.

Levemos em consideração os seguintes textos e contextos:

“Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? E Simão Pedro,


respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. E Jesus,
respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to
não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também
eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as
portas do inferno não prevalecerão contra ela; E eu te darei as chaves do
reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o
que desligares na terra será desligado nos céus.” (Mateus 16:15-19).

“E, chegando-vos para ele, pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens,
mas para com Deus eleita e preciosa, Vós também, como pedras vivas, sois
edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios
espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo. Por isso também na Escritura
se contém: Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e
preciosa; e quem nela crer não será confundido. E assim para vós, os que
credes, é preciosa, mas, para os rebeldes, a pedra que os edificadores
reprovaram, essa foi a principal da esquina, E uma pedra de tropeço e rocha
de escândalo, para aqueles que tropeçam na palavra, sendo desobedientes;
para o que também foram destinados.” (1 Pedro 2:4-8)
O Senhor Jesus diz que a igreja seria fundada sobre essa verdade contida na declaração de Pedro acerca
de dEle. Fora dessa verdade, só existem mentiras, e mentiras não podem ter espaço no Evangelho. Logo,
há uma clara observação que devemos fazer aqui no sentido de rejeitar qualquer ensinamento que venha
contra a Palavra de Deus e a doutrina dos apóstolos (eles dedicaram um bom tempo ensinando que a
Igreja deve rejeitar qualquer tipo de pensamento que fosse contrário ao Evangelho) no Novo Testamento.

“E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos


contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles.” (Romanos 16: 17-
17). “Mandamo-vos, porém, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo,
que vos aparteis de todo o irmão que anda desordenadamente, e não segundo
a tradição que de nós recebeu.” (2 Tessalonicenses 3:6-6)
Ou seja, filosofias que promovem o liberalismo, a falta de doutrina, ou de prestação de contas a irmãos
mais maduros e experimentados não tem amparo bíblico, como afirmam alguns do movimento dos
desigrejados. Não vejo a menor possibilidade de estarmos firmes no Evangelho sem um estudo
sistemático e frequente da Palavra. Cabe aqui citar a Escola Dominical, por exemplo, quando esta é
eficiente, ensinando os novos convertidos a caminhar e mostrando o que deve ser rejeitado. Como tal
ensino pode funcionar sem organização?

Ainda sobre a Igreja, o Senhor Jesus e os Apóstolos colocaram em evidência que há uma ligação direta e
estreita entre Cristo e a ela, e não há nenhum versículo na Bíblia que aponte para a possibilidade de
dissociar um do outro.

“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Toda a vara em mim,
que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais
fruto. Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado. Estai em mim, e
eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na
videira, assim também vós, se não estiverdes em mim.” (João 15:1-4)
Notáveis são as observações dessa relação nos ensinos dos apóstolos:

“E sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu


como cabeça da igreja, Que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre
tudo em todos.” (Efésios 1: 22,23)

“Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor; Porque o


marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja,
sendo ele próprio o salvador do corpo.” (Efésios 5: 22,23)
E quando alguém comete algum pecado? Leiamos:

“Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te
ouvir, ganhaste a teu irmão; Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou
dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja
confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a
igreja, considera-o como um gentio e publicano. Em verdade vos digo que
tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na
terra será desligado no céu. Também vos digo que, se dois de vós
concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será
feito por meu Pai, que está nos céus. Porque, onde estiverem dois ou três
reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.” (Mateus 18:15-20)
O versículo, que muitos desigrejados usam para se isolar em suas reuniões, na verdade mostra a atuação
de servos que vão cuidar do irmão que estava em pecado, exortando, para reconduzi-lo ao convívio da
Igreja. O próprio Senhor Jesus disse que se o irmão não ouvir a repreensão, que o mesmo não seja
considerado como integrante da Igreja. Como seria possível realizar esse processo sem o mínimo de
organização, ou, com limites claramente estabelecidos na Palavra?

E a hierarquia na Igreja? Claramente sabemos que há necessidade de pastores/presbíteros para cuidar das
Ovelhas de Cristo. Na Bíblia temos diversas referências da utilidade dos tais para a Igreja e até mesmo
das qualificações dos destes.

“Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos
constituiu presbíteros, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou
com seu próprio sangue.” (Atos 20:28-28).
Na Igreja de Cristo, houve e há a necessidade dos tais:

“Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as
coisas que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros,
como já te mandei.” (Tito 1:5-5)
Estes devem ser qualificados de acordo com o que lemos:

“Esta é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra


deseja. Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher,
vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; Não dado ao
vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não
contencioso, não avarento; Que governe bem a sua própria casa, tendo seus
filhos em sujeição, com toda a modéstia (Porque, se alguém não sabe
governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?); Não neófito,
para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo. Convém
também que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia
em afronta, e no laço do diabo. Da mesma sorte os diáconos sejam honestos,
não de língua dobre, não dados a muito vinho, não cobiçosos de torpe
ganância; Guardando o mistério da fé numa consciência pura. E também
estes sejam primeiro provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis.” (1
Timóteo 3:1-10)
A hierarquia e liderança são necessárias para a Igreja de Cristo, por esta razão os apóstolos ensinaram
tanto sobre isso. Irmãos, sejamos honestos, querer ser Igreja sem observar todos os contextos, é pura
hipocrisia, por mais bem intencionado que alguém possa estar.

Então os desigrejados que afirmam que estão buscando o modelo da Igreja Primitiva (sem parede), mas
que não observam todos os textos bíblicos relacionados ao assunto, na verdade, não estão vivenciando a
experiência de ser Igreja, pois adaptaram as partes que mais foram convenientes a si mesmos e ignoraram
o resto, como se a reunião, em si mesma, pudesse englobar todo o contexto de Atos 2:42. Da mesma
forma os que demonizam o templo e entendem como um pecado mortal se reunir um lugar que não seja
uma casa, por exemplo.

Com certeza concordo que o Senhor não pediu para construirmos templos de milhares de reais e muito
menos que vivêssemos com esse objetivo em prioridade. Mas por exemplo, há uma reunião de Igreja em
uma residência, e que o número de pessoas cresceu naturalmente. Supondo que o número de pessoas não
caiba mais dentro de uma residência, e que tenham crianças pequenas que não conseguem ficar muito
tempo em um ambiente de aprendizado; esta comunidade local chega ao entendimento que um lugar mais
amplo se faz necessário para que o culto seja mais produtivo. Um lugar simples, pequeno até. Se o Senhor
deu o crescimento a esta Igreja (só para constar que nenhuma igreja histórica começou com milhares de
membros) como podemos demonizar algo desta forma?

Por fim, lemos:

“Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes


admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai
aproximando aquele dia”. (Hebreus 10: 25-25)
Então, concluo esse artigo dizendo que a Igreja Brasileira não é 100% perfeita, e na verdade ela está
muito longe disso. Concordo que existem muitos erros básicos que podem e devem ser solucionados, e
critico esses erros abertamente. MAS, AINDA ASSIM, isso não serve de justificativa para abandonar a
Igreja e criar uma reunião qualquer sem observar todos os âmbitos da Igreja ao longo do Novo
Testamento.
Qualquer um que diga que está “plantando” uma igreja nos moldes da Igreja Primitiva ou orgânica, que
não leva estes textos em consideração, está cometendo um equívoco.

Soli Deo Gloria.

Marco Cicco.

Uma breve análise do movimento


dos “desigrejados”
19:45 Rafael Dantas Apologética, Evangelicalismo pós moderno 5 comments

por Rafael de Lima

Os últimos anos têm sido marcados por mudanças profundas no


panorama religioso mundial e, particularmente, brasileiro. A Europa,
outrora marcada intensamente pelos conceitos e fundamentos do
cristianismo é hoje chamada de pós-cristã, transformou-se de celeiro de
missionários em campo missionário. Por outro lado, o Brasil experimenta
um crescimento (ou inchaço) exponencial do número de evangélicos,
alcançando o percentual de 22,2% da população brasileira segundo o
Censo Demográfico 2010[1].
Apesar deste crescimento notável, um outro fenômeno é percebido
no cenário religioso brasileiro, o crescimento dos chamados “sem
religião”. O Censo 2010 apresenta números relevantes a respeito deste
grupo e, segundo os dados apresentados, estes já somam 8,0% da
população[2]. É possível que neste percentual estejam inseridos aqueles
que formam o agrupamento que tem sido intitulado de “desigrejados”.
Os “desigrejados” seriam, nas palavras Rev. Augustus Nicodemus,
pessoas que “[...] querem ser cristãos, mas sem a igreja”[3]. Este grupo
seria formado basicamente por pessoas que, na sua caminhada cristã,
foram profundamente decepcionadas, sobretudo, por líderes, e ainda de
pessoas que estão certas de que a igreja institucional e organizada
fracassou e que ela tem sido, na verdade, um empecilho para o
crescimento do “verdadeiro” cristianismo.
Participando de debate realizado pelo Centro Presbiteriano de Pós-
Graduação Andrew Jumper a respeito do tema e respondendo ao
questionamento “A igreja atrapalha o cristianismo? ”, o professor Tarcízio
Carvalho fez a seguinte análise:
É uma avaliação que eu tenho que dizer: sim e não. As vezes a igreja atrapalha o
cristianismo, porque ela se engessa, se torna não atraente, machuca as pessoas... tudo
isto é verdade. Mas, em termos de fenômeno vale a pena observar o fenômeno e ver se a
resposta adequada é exatamente a saída, a porta de saída, porque, afinal de contas, a
gente vive no país do futebol e a maioria das pessoas não troca de time porque fica
decepcionado com eles, não é? Então pode ser que haja uma razão, e uma razão
teológica, mesmo que a pessoa não saiba dar nome a isto porque ela não abandona
algumas coisas, mas alguns aspectos que são estruturais e estão associados mais
próximos a Deus, como casamento e igreja, as pessoas têm tido facilidade em abandonar.
(informação verbal)[4]

Sem entrar em pormenores da resposta dada pelo Prof. Tarcízio


Carvalho percebemos que, realmente, existe um certo desdém quando o
assunto em questão é a igreja. De fato, existe mais fidelidade ao time de
futebol do que à igreja local. Troca-se de igreja como que se troca de
roupa e, ainda, abandona-se a igreja como quem abandona o “grupo de
estudos de literatura escandinava” ou o “clube de treinamento de tênis de
mesa”. Abandonam-se estas coisas simplesmente porque não se
mostram mais como importantes e que não satisfazem mais os anseios
dos participantes. Assim também, muitos têm feito à igreja.
A ideia aqui não é propor que a igreja institucional e organizada
não tenha problemas. É inegável as muitas deficiências que ela
apresenta e nisto, sem dúvidas, os “desigrejados” têm razão.
Infelizmente, quando nos debruçamos sobre a igreja organizada temos
encontrado características que não condizem com aquelas que ela
deveria ter e que são apresentadas nas Sagradas Escrituras. Entre elas
pode-se destacar: Os escândalos sistemáticos que dia após dia surgem
no seio da igreja institucional; O controle, quase que hipnótico, que
muitos líderes exercem sobre os seus liderados causando-lhes danos
emocionais, financeiros e, até mesmo, físicos; Os jogos políticos e de
poder; A ênfase nas questões de ordem administrativa, em detrimento
daquelas ligadas, de fato, à vida e a espiritualidade da igreja; A afeição
mais pelas coisas do que pelas pessoas; O materialismo e o
consumismo que arrasam os arraiais evangélicos; A teologia
desvinculada da piedade cristã; para mencionar apenas algumas.
Estas características danosas estão amplamente presentes nos
vários agrupamentos evangélicos brasileiros e transitam desde as
chamadas Igrejas Históricas e Tradicionais, passando pelos Pentecostais
Clássicos e chegando aos Neopentecostais e a herética Teologia da
Prosperidade. Donde concluímos que o fenômeno dos “desigrejados”
não é produto simplesmente dos desiludidos vindos de igrejas
neopentecostais (ainda que seja possível inferir que estas têm se
apresentado como o principal motor deste fenômeno), mas de outros
grupos de evangélicos.
Todavia, parece-nos que a questão vai muito além das mazelas
que podem ser encontradas na igreja organizada. Existem muito de uma
ideologia danosa que fundamenta o modo de pensar e agir dos
“desigrejados”. O Dr. Nicodemus traz certa luz a esta questão quando
afirma:
Ao final, parece que a revolta deles não é somente contra a institucionalização da Igreja,
mas contra qualquer coisa que imponha limites ou restrições a sua maneira de pensar e
agir. Fico com a impressão de que eles querem se livrar da igreja para poderem ser
cristãos do jeito que entenderem, acreditarem no que quiserem, sendo livres-pensadores
sem conclusões ou convicções definidas, fazendo o que sentem vontade, a fim de
experimentarem de tudo na vida sem receio de penalizações e correções.
Não quero generalizar. Existem claramente exceções ao que estou dizendo. Mas esse tipo
de atitude anti-instituição, antidisciplina, antirregras, antiautoridade antilimites de todo o
tipo se encaixa perfeitamente na mentalidade secular e revolucionária de nosso tempo,
que entra nas igrejas travestida de cristianismo. [5]

Muitas vezes o debate se insere em expressões como: “Você não


vai à igreja, você é a igreja”. E isto é, por vezes, compartilhado por
cristãos, membros de igrejas locais, sem que estes percebam que os
pressupostos que alicerçam esta afirmação, muitas vezes, partem de
círculos de “desigrejados”. Aqui vale um breve esclarecimento do que em
teologia chamamos de “Igreja Invisível” e “Igreja Visível”.
Quando falamos de “Igreja Invisível”, estamos fazendo alusão a
todas as pessoas que foram compradas pelo precioso sangue de Cristo,
sendo propriedade exclusiva Dele. Esta igreja é invisível aos olhos
humanos, mas totalmente visível aos olhos do Deus que a
escolheu. Esta é a Igreja de Cristo, Seu Corpo e Sua Noiva; a santa e
sem mácula Igreja Universal, que é coluna e baluarte da verdade. Fora
desta, certamente, não há salvação.
Por outro lado, o que chamamos de “Igreja Visível”, “[...]consiste
dos que fazem profissão de fé, são batizados e arrolados como membros
da igreja institucional” [6]
Obviamente é possível ser salvo sem fazer parte da “Igreja
Visível”, isto é, de uma igreja local, organizada. Existem muitos casos em
que isto, de fato, acontece seja por motivo de enfermidade ou num
contexto de perseguição religiosa, por exemplo. Também é verdade
que, como já dissera Douglas Meador: “Ser membro de uma igreja não
faz de alguém um cristão, da mesma forma que ter um piano não faz de
alguém um músico”[7].
Todavia, um cristão verdadeiro ansiará por estar em comunhão e
inserido em uma igreja local. O ato de congregar sempre foi uma
característica marcante das comunidades cristãs. Na verdade, o Novo
testamento está repleto de referências que tratam de como a Igreja
Cristã se organizava desde os seus primeiros anos. Vemos a elaboração
de documentos de fé (Rm 10:9; 1Jo 4:15; At 8:36,37; Fp 2:5-11, etc.); a
estruturação da igreja, possuindo diáconos, presbíteros, mestres, etc.
(1Tm 3:1; 5:17,19; Tt 1:5; Fl 1:1; 1Tm 3:8,12; 5:9; 4:14); a instituição e os
passos do processo disciplinar (Mt 18:15-20); a ordem de Cristo para que
os discípulos se reunissem e rememorassem o seu sacrifício através da
Ceia (Lc 22:14-20); a referência às “igrejas” como corpos estabelecidos
nas cidades (At 15:41; 16:5; Rm 16:4,16; 1Co 7:17; 11:16; 14:33; 16:1;
etc.).[8]
Na igreja nos reunimos para adorar a Deus, buscamos o
crescimento mútuo, aprendemos a amar uns aos outros, servir e ali ser
instruídos. Na igreja somos fortalecidos através da pregação da palavra,
somos corrigidos e exortados para que nos tornemos mais parecidos
com Cristo e crescemos em graça quando são administrados o batismo e
a ceia. Sem dúvidas, sabemos que é a vontade de Deus que estejamos
envolvidos em uma igreja local, como já afirmava o autor da carta aos
Hebreus: “Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o
costume de alguns, mas encorajemo-nos uns aos outros, ainda
mais quando vocês vêem que se aproxima o Dia”. (Hb 10:25 – NVI)
Disto concluímos que fora da Igreja Visível há salvação, porém da
Invisível não há. Ainda assim, fazer parte da Igreja Invisível nos levará a
congregarmos na Igreja Visível, como afirma coerentemente Vance
Havner:“Creio em lealdade à igreja local. Não creio na teoria da igreja
invisível que nos torna invisíveis na igreja”[9].

Notas

[1] CENSO DEMOGRÁFICO 2010. Características gerais da população, religião e


pessoas com deficiência. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. Disponível em: <
ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/Caracteristicas_Gerais_Religia
o_Deficiencia/caracteristicas_religiao_deficiencia.pdf>. Acesso em: 16 out. 2015. p.
91.

[2] Ibidem, p. 91.

[3] NICODEMUS, Augustus. O ateísmo cristão e outras ameaças à Igreja. São


Paulo: Mundo Cristão, 2011, p. 153.

[4] MEISTER, Mauro; CARVALHO, Tarcízio. Debate. [maio 2014]. Mediador: Augustus
Nicodemus. São Paulo: CPAJ, 2014. Debate realizado pelo Programa Academia em
Debate do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper.

[5] NICODEMUS, Augustus. Op., cit., p. 156.


[6] SPROUL, R. C. Verdades essenciais da fé cristã. 3º caderno. 4ª ed. São Paulo:
Editora Cultura Cristã, 2010, p. 07.

[7] BLANCHARD, John. E-book. Pérolas para a Vida. São Paulo: Vida nova, 1993, p.
216.

[8] Para maiores detalhes conferir: NICODEMUS, Augustus. Op., cit., pp. 157-161.

[9] BLANCHARD, John. Op., cit., p. 215.

Niilismo eclesiástico: uma análise do movimento dos desigrejados


17/06/2014 10:06:42

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No ano de 2010 o Instituto Brasileiro de


Geografia e Estatística divulgou os dados censitários de uma ampla análise desenvolvida pelo
POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), onde, entre outros temas, avaliou a performance
da religiosidade do brasileiro. Na pesquisa foi apontada que, em termos de identidade religiosa,
o grupo que mais cresceu foi dos que se declararam “sem religião”. Algo surpreendente no
Brasil, que sempre se orgulhou de ser o “o maior país católico do mundo”. Além disso, outro
dado divulgado e que muito chamou a atenção foi a identificação de um ator social até bem
pouco tempo inexistente no extrato religioso em nosso território: o evangélico nominal, isto é,
sem vínculo eclesiástico, ou, como ficou conhecido, desigrejado. De acordo com o IBGE, já são
mais de quatro milhões de evangélicos em tal situação. São cristãos protestantes, identificados
com as doutrinas fundamentais de fé cristã (creem, portanto, no nascimento virginal de Cristo,
na sua morte expiatória, na ressurreição, na Segunda Vinda e na vida eterna aos fiéis;
celebram a Ceia e passam pelas águas do batismo), mas que se recusam a congregar, pois
não acreditam mais na necessidade e relevância da igreja institucional.

A amostragem dos dados que comprovam o fenômeno chamou a atenção da mídia cristã
especializada1 e também da secular2, pois, historicamente era conhecido no que tange ao
comportamento dos evangélicos no Brasil, por duas características que sobressaíam: o hábito
da leitura da Bíblia e a pertença eclesiástica. Contudo, com a revelação do contingente
impressionante de desigrejados3, a noção e o valor da pertença entre os evangélicos já vem
sendo questionada, aproximando-se, portanto, dos católicos nominais, despertando a
curiosidade de pesquisadores das Ciências da Religião e dos próprios órgãos de imprensa.

A repercussão
Assim que os dados foram divulgados, uma série de reportagens, livros e sites começou a
circular, tentando entender o fenômeno. A Revista Cristianismo Hoje, prestigiada publicação
cristã e braço brasileiro da Christianity Today, publicou duas matérias sobre o assunto4. Até aí,
nada surpreendente, visto ser natural que um periódico cristão de linha protestante
repercutisse um assunto que atinge em cheio a realidade eclesiástica no Brasil. Entretanto, as
Revistas Isto É e Época (esta última de responsabilidade das Organizações Globo) e também o
importante jornal Folha de São Paulo publicaram matérias sobre o assunto, evidenciando a
importância do movimento para a compreensão do fenômeno religioso brasileiro. Editoras
cristãs também entraram em cena, propondo reflexões sobre a tendência e, como não poderia
ser diferente em tempos virtuais, sites e blogs também resolveram contribuir e/ou tumultuar o
debate.

O histórico da repercussão no Brasil

a) Augustus Nicodemus Lopes publica no blog Tempora-Mores, em abril de 2010, um artigo


intitulado “Os Desigrejados” e populariza tanto o conceito quanto o uso do termo no Brasil.
Início de minha pesquisa.

b) Maurício Zágari publica em 2010, na revista Cristianismo Hoje, artigo intitulado:


“Decepcionados com a Igreja”.

c) Em 2010 a Revista Época publica matéria de capa, “A Nova Reforma Protestante”, com
evangélicos insatisfeitos com os modelos tradicionais de igreja.

d) Jornal Folha de São Paulo publica, em 2011, matéria intitulada “Cresce o número de
evangélicos sem ligação com igrejas”.

e) Revista Isto É publica, em 2011, matéria de capa “O Novo Retrato da Fé no Brasil” –


nomadismo religioso.

f) Sites como Genizah e Púlpito Cristão multiplicam o assunto nas redes sociais.

Um fenômeno mundial (pós-modernidade)


Há no mundo contemporâneo uma crise de pertença, sobretudo, religiosa. Nos Estados Unidos
da América (a maior nação protestante do mundo) e na Europa (berço das mais conhecidas
denominações cristãs, como as Igrejas Anglicana, Luterana, Presbiteriana, Batista,
Congregacional e Metodista, Exército da Salvação, entre outras) a marcha dos desigrejados é
um fenômeno conhecido e discutido. Obras importantes 5 e outras polêmicas6 já vieram a lume
para esclarecer e/ou polemizar a questão. Portanto, longe de ser um movimento isolado
manifesto apenas em nosso país, o que vem ocorrendo é uma expressão nacional de onda de
deserção institucional de grandes proporções que alcança o mundo inteiro, consequência, sem
dúvida, da pós-modernidade que questiona e relativiza afirmações e conteúdos antes
considerados absolutos e inegociáveis, gerando, assim, desencaixe em todas as esferas da
sociedade, atingindo todas as expressões institucionais: partidos políticos, sistemas de
governo, utopias, convenções familiares, casamento, religião, igrejas etc., pois, conforme
denunciou Zygmunt Bauman, “as estruturas estão se decompondo em face dos Tempos
Líquidos”.7

Os números do fenômeno no mundo8

a) Estados Unidos da América - 20 milhões de desigrejados* (pouco mais de 13% da


população protestante que é constituída por mais de 154 milhões de americanos- 51% do total
da população do país que está acima de 308 milhões) -

b) França /1990 – 80% da população se declarava cristã. Em 2007 o percentual caiu para
57%.

c) Inglaterra / 1999-2000 - 56 % dos entrevistados se declararam ateus ou agnósticos.

d) Continente Europeu - Apenas 21% dos entrevistados reconhecem a relevância da religião


para a vida.

Os números do fenômeno no Brasil9


a) 4 milhões são os brasileiros que se declaram evangélicos, mas não têm vinculação
eclesiástica; o percentual de evangélicos nesta situação é de 10%.

b) 62% dos desigrejados são egressos de denominações neopentecostais, cuja ênfase é a


teologia da prosperidade;

c) 63% dos respondentes declararam que voltariam a se vincular a uma comunidade que não
apresentasse os vícios e malversações que os afastaram da comunhão;

d) 29% dizem que não pretendem manter vínculo com outra igreja novamente;

e) 5,6 anos é o tempo médio de conversão dos desigrejados.

As causas do niilismo eclesiástico e quem são os desigrejados?

Por Niilismo Eclesiástico podemos entender como a proposta de muitos cristãos que

“advogam um cristianismo totalmente despido de formas, estruturas e concretude

institucional”10. O termo foi empregado por Émile G. Léonard, na obra O Protestantismo

Brasileiro11. O historiador empregou o termo a referir-se aos darbistas, movimento

religioso inglês do século XIX, praticante do niilismo eclesiástico.

Quais as causas e/ou razões para o desengajamento eclesiástico? Por que tantos

cristãos contemporâneos rejeitam o modelo institucional de igreja?

A decepção e a crítica

Quando analisamos de perto o fenômeno dos desigrejados, a partir de entrevistas e

publicações editoriais e/ou virtuais, podemos perceber a consolidação de dois grupos

majoritários no cenário: os decepcionados com a liderança e os críticos do modus

operandi da institucionalização da igreja.12 Os decepcionados são aqueles que sofreram

abuso espiritual por parte das lideranças eclesiásticas (pastores, bispos e apóstolos)

nas comunidades de fé onde congregavam ou que se frustraram com promessas (de

cura, libertação, bem-estar pessoal/familiar ou prosperidade financeira) realizadas em

nome de Deus e que nunca se cumpriram. A jornalista Marília de Camargo César e o

teólogo Paulo Romeiro escreveram obras de referência13 quanto ao tema do abuso


espiritual e da decepção consequente gerada nos crentes. Casos de despotismo,

dinastia familiar, acepção de pessoas, intrigas, disputas, coação, manipulação,

constrangimento, humilhação, ofensas, ameaças, mentiras, além do enriquecimento

ilícito por parte das lideranças pastorais, são apresentados na comovente obra de

Marília, explicando o porquê muito dos entrevistados que aparecem em seu livro ficaram

profundamente decepcionados com o que viram, ouviram, presenciaram e

experimentaram nas greis em que dedicaram parte de suas vidas e decidiram, então,

abandoná-las.

O livro da jornalista é ao mesmo tempo denúncia, alerta e apelo. Denúncia, pois revela o

que acontece nos bastidores de muitas igrejas, lideradas por figuras personalistas que

usam as pessoas da congregação como massa de manobra para se promoverem e

enriqueceram e pouco se importam com as necessidades e demandas espirituais dos

seus membros. É também um alerta para que outras pessoas não sejam enganadas e

submetidas a uma liderança pastoral que comece a demonstrar os mesmos sinais no

ministério. Serve para os próprios pastores, porquanto é notório que muitos começam

no pastorado tendo em mente as melhores aspirações de serviço e vocação, desejosos

de fazerem um trabalho digno e para a glória de Deus, mas que, por motivos variados,

terminaram mudando o foco de seus ministérios, agindo mais como empresários da fé

do que como legítimos pastores, despenseiros da graça de Deus. Mas a obra de Marília

é, ainda, um apelo. Um apelo para aqueles que estão nas igrejas a olharem com

misericórdia para muitos daqueles que desertaram e que estão longe de serem apenas

pessoas “complicadas” ou “esquisitas”. Que há muitas pessoas assim em nossas

igrejas (e que as deixaram) é indiscutível, mas o que Marília faz é nos chamar a atenção

para muitos que estão fora da igreja e relutam contra a ideia de um retorno, pois estão

machucados, com enormes feridas ainda abertas e sangrando. Como poderiam, então,

retornar para um ambiente que, ao invés de ser uma comunidade terapêutica por

excelência, foi, na prática, causadora de dor, frustração e mágoa? Não seria, destarte,

necessária uma prática pastoral carregada de amor, perdão, paciência e graça para com

os que se encontram em tal situação?


Há também os que se decepcionaram com aquilo que lhes foi prometido e que não

aconteceu. São muitos os casos trazidos à tona pelo pastor, teólogo e doutor em

Ciências da Religião, Paulo Romeiro que, em seu instigante livro, “Decepcionados com a

Graça”, revela em suas páginas a saga de muitos cristãos sinceros que caíram nas teias

ministeriais de pastores e líderes comprometidos com a Teologia da Prosperidade e que

acreditaram piamente que, seguido um esquema fixo de obediência irrestrita ao pastor

mais a fidelidade / regularidade dizimal, alçariam uma vida de bem-estar físico,

psicológico, familiar e social, com uma inevitável e inquestionável prosperidade

financeira. Entretanto, como se sabe, como tal, em grande medida, não ocorre, o que

vem é frustração, raiva e, em muitos casos, deserção. Romeiro, inclusive, propõe uma

sequência: primeiro “ocorrem o deslumbramento, a expectativa e a entrega pessoal pela

causa e a confiança despreocupada na proposta do grupo”, mas, conforme declara,

“com o tempo, porém, vêm os questionamentos relativos à linha de pregação, à

administração financeira ou às questões éticas, provocando o rompimento”.15

Contudo, não só de decepcionados o movimento dos desigrejados engrossa, porquanto

nas suas fileiras existem muitos que não possuem nenhum histórico de decepção (até

onde assumem), mas que são ou se tornaram detratores do sistema, ou seja, críticos do

modos operandi e da institucionalização da igreja. Algumas destas vozes são

conhecidas por aqui,16 enquanto, que, outras, são famosas nos Estados Unidos da

América,17 mas também já formam discípulos no Brasil.18 Neste caso específico o

problema não está, segundo eles, nas lideranças eclesiásticas arbitrárias (estes são

apenas parte do problema do cristianismo contemporâneo), mas sim nas engrenagens

funcionais que mantém a igreja em operação no mundo, pois em face da necessidade de

manutenção institucional, a igreja terminou perdendo seu vigor espiritual e sua

dimensão profética, tornando-se mais um clube de encontros religiosos, onde se canta,

se aplaude, faz-se doações em dinheiros e assiste-se a palestras irrelevantes.

Templos, os pastores e seus sermões: o X da questão


Para os críticos do modus operandi da institucionalização da igreja, há vários problemas

na igreja como a conhecemos hoje que a prejudica e a distancia do alvo planejado por

Jesus Cristo. Segundo os mesmos, entre os pontos críticos da igreja contemporânea

está a necessidade de construção dos templos. Talvez nada cause mais urticária em um

desigrejado do que um típico templo de alvenaria. Para os desigrejados o templo

“construído por mãos humanas”, não passa de uma corrupção dos propósitos de Deus

para a sua igreja e de uma maldita influência do paganismo grego que existe desde os

primórdios da era constantiniana19 e que entrou no cristianismo, gerando aquilo que um

dos mais habilidosos críticos da igreja contemporânea20 chama de “complexo

arquitetônico”21. Frank Viola, é um escritor norte-americano conhecido por sua

indignação com o cristianismo, sendo autor de algumas obras que propõe um total

desmoronamento da igreja como é conhecida hoje. 22 Aliás, segundo o polêmico escritor,

a igreja como a conhecemos não tem direito algum de continuar existindo e uma das

infames práticas que a prejudicam completamente é a construção de templos, porquanto

carrega o conceito de que igreja é um lugar onde se vai e não os filhos de Deus, que

juntos foram a verdadeira e única eclésia de Jesus Cristo. Tal conceito, explica Viola, de

igreja como lugar sagrado, deriva do ano 190 d.C., em que Clemente de Alexandria (150-

215 d.C.) passou a ensinar em tais termos, ganhando força, quando da ocasião da

conversão ao cristianismo do Imperador Constantino, no século IV, porquanto, ao

tornar-se cristão, promulga o famoso Edito de Milão (313 d.C), no qual a liberdade do

culto cristão foi assegurada, abrindo passagem para a oficialização do cristianismo

como religião do Império Romano em anos subsequentes.23 Com o fim da perseguição,

os cristãos, antes reunidos em casas, cavernas e outros lugares seguros, passaram a

fazer as reuniões em lugares públicos, estendendo para construção de templos, os quais

muitos foram incentivados e até mesmo financiados pelo Império Romano.

Quanto aos pastores, no niilismo eclesiástico não há lugar para ministros ou pastores

ordenados. Como a igreja é apenas espiritual e logo, imaterial, sendo, destarte, despida

de sacramentos e ordenações, não há, obviamente, necessidade para pastores

ordenados. Este, então, configura em outra tensão para os desigrejados, pois, conforme
acreditam, o pastor, conforme se conhece hoje, não é bíblico, porquanto a única vez em

que o termo aparece no singular no Novo Testamento é atribuída a Jesus Cristo (Jo 10.

11) e quando Paulo aplica a funcionalidade do “dom de pastor” à igreja, ele o faz

empregando o termo no plural (pastores = Ef 4.11), sugerindo, então, que a prática

neotestamentária do pastorado era exercida em conjunto pelos cristãos dotados com a

capacidade de cuidar24 dos demais irmãos, não havendo naqueles tempos, em igreja

alguma, a figura do pastor único (pastor - titular; pastor-presidente; pastor-sênior).

Finalmente, na tríade maligna, os desigrejados também criticam o sermão, visto que na

época de Jesus Cristo as pregações não eram sistematizadas, mas, ao contrário,

realizadas de forma espontânea e inesperada, tendo como ponto de partida o cotidiano

real das pessoas nos contextos onde os encontros casuais com Jesus aconteciam. Os

desigrejados, então, veem nesta forma a única legítima para instruir o povo de Deus.

Destarte, nada de liturgia, sermões com introdução, desenvolvimento e conclusão e,

muitos menos elaborados como se fosse uma palestra. Como não poderia ser diferente,

enxergam também neste ponto as garras do Lúcifer, porquanto afirmam que o sermão

estruturado entrou nas comunidades cristãs por causa dos sofistas gregos, mestres da

retórica e que quando se tornaram cristãos levaram para o ambiente da fé a prática dos

discursos eloquentes, estruturados e comoventes. Nada tendo de cristão, portanto, o

sermão é também pagão (segundo os desigrejados).

Críticos no Brasil?

As vozes discordantes do cristianismo oficial não emitem seus sons apenas dos

Estados Unidos. Há, no Brasil, líderes conhecidos que demonstram sua insatisfação

com os modelos institucionais de igreja cristã. O caso mais conhecido e polêmico é do

pastor Caio Fábio D’Araújo Filho, que, em recente entrevista concedida aos repórteres

de Cristianismo Hoje, declarou que mais de três milhões de pessoas, muitas delas

desigrejadas, abastecem-se de tudo o que é produzido em seu ministério, o Caminho da

Graça, uma alternativa de comunhão cristã, que tem em Caio Fábio o seu mentor

principal.25 Caio Fábio é hoje um crítico dos mais intensos da igreja evangélica, e sem
cerimônia afirma que o cristianismo, seja em sua expressão católica ou protestante, não

passa de um fenômeno sociológico, tendo suas raízes históricas em Constantino. Em

seu atual ministério, não há templos construídos, pastores ordenados, estatutos.

Contudo, há locais e horas de celebração, pregação, louvor e ofertório. Uma

demonstração prática que ainda que se esforcem ao máximo, teóricos do niilismo

eclesiástico jamais conseguiram eliminar por completo formas e estruturas. Pelo

contrário, um mínimo delas sempre permanecerá, pois é inevitável aos ajuntamentos.

Outro desigrejado celebrado por estas terras tupiniquins é Paulo Brabo, autor de A Bacia

das Almas – Confissões de ex-dependente de Igreja, publicada em 2009, pela editora

Mundo Cristão.

Nada há, pois, de novo abaixo do sol (Ec 1.9) - O que diz a História da Igreja?

Afinal, o movimento dos desigrejados é novo? Ou, conforme asseverou George Barna,

um entusiasta do movimento nos Estados Unidos, trata-se uma revolução? Nada como

a História da Igreja para ajudar a acalmar os ânimos e colocar sob perspectivas mais

sóbrias determinadas manifestações no seio do cristianismo. Ao analisar os dois mil

anos de história, podemos alistar nada menos que dez movimentos de deserção

eclesiástica. Isso mesmo, dez! E dez, entre outros! De Montano (século II) a Dietrich

Bonhoeffer (século XX), a igreja de Jesus Cristo se deparou com críticos de seu sistema,

ensino, dogmas, doutrina e instituição.

Às vezes por motivos corretos e outras vezes nem tanto, o fato é que muitas vozes

importantes dentro da igreja se levantaram para atacar sua estrutura. Não apenas

propondo uma purificação e santidade, mas até o seu total desaparecimento

institucional. Muitas destas vozes apontaram para algo que hoje os desigrejados

pensam que são os primeiros a fazerem. De quem eram essas vozes? E que movimentos

foram estes? Alistaremos três, em épocas estanques da história: o montanismo, o

joaquimismo e o darbismo.

A insatisfação de Montano (Século II)


Montano foi um sacerdote pagão da região da Frígia (atual Turquia) que se converteu ao

cristianismo por volta do século II. Ao lado de duas profetisas (Priscila e Maximila)

organizou, no ano de 155,27 um movimento de reação ao cristianismo ensinado pelos

bispos, herdeiros espirituais dos apóstolos, por considerá-lo por demais formal,

dependente de uma liderança humana e pouco aberto à direção do Espírito Santo.

Acreditando que a igreja estava espiritualmente morta e acusando os bispos cristãos de

“destituídos de vida, corruptos e apóstatas”,28 Montano se apresentava como alguém

que passava por experiências extáticas, declarando que o Espírito Santo o usava para

falar diretamente aos homens e relativizava o conceito já crescente na época de que os

escritos apostólicos seriam o caminho mais seguro para se conhecer a vontade de Deus.

Aliás, quanto a este ponto, o sacerdote da Frígia acreditava ser exagerada a ideia de uma

supremacia dos textos sagrados quanto à vontade revelada de Deus, pois, alegava que

isto terminaria restringindo a atuação do Espírito a um mero texto escrito em papel.

Além da indisposição com a institucionalização do cristianismo, cujas expressões eram

o fortalecimento do clero e o conceito de uma ortodoxia, Montano também afirmou que a

segunda vinda de Cristo aconteceria na Frígia.

O montanismo cresceu29 e se tornou uma alternativa vigorosa na época, uma vez que os

seguidores de Montano conseguiram fundar diversas congregações que rivalizaram com


30
as comunidades dirigidas por bispos ligados ao cristianismo oficial. O movimento

era chamado de Nova Revelação e Nova Profecia. 31 Sendo acusado de heresia, Montano

e todos os seus discípulos foram excomungados da Igreja Cristã, configurando, assim,

no primeiro caso de divisão da história do cristianismo.

Ecclesia Spirituallis: o sonho de Joaquim de Fiore (século XII)

Após a virada do milênio muitos foram os questionamentos sobre os rumos do

cristianismo. Havia uma intensa inquietação com o poder e a projeção que a igreja e o

papado alcançaram no mundo. Muito mais do que uma agência de propagação do

Evangelho do Senhor Jesus Cristo e encarnação dos valores do Reino de Deus, a igreja
havia se tornado uma potestade com fortíssima presença na condução da política dos

reinos que existiam na Idade Média. Preocupado com essa presença institucional foi que

um monge cisterciense, nascido na Calábria em 1135, chamado Giovanni dei Gioachini e

conhecido historicamente como Joaquim de Fiore, começou a pregar e ensinar que

haveria de se manifestar no mundo uma nova igreja, despida de toda materialidade e

sem qualquer necessidade clerical e que seria trazida através da religião dos monges,

sendo, destarte, “uma nova Igreja, livre e espiritual, humilde e silenciosa”, 32 substituindo

a “Igreja dos Clérigos e dos doutores”.33 As ideias de Joaquim de Fiore germinaram,

produzindo muitos joaquimitas que, no decorrer dos anos, especialmente após a sua

morte, em 1202, resistiram fortemente à hierarquia eclesiástica da igreja romana.

O sectarismo de John Nelson Darby (século XIX)

Nas ilhas britânicas do século XIX, um grupo de cristãos insatisfeitos com o estado da

igreja protestante que consideravam formal e sem vigor espiritual, começou a ler as

Escrituras Sagradas e celebrar a Ceia do Senhor, sem a presença de um ministro

ordenado. Tais manifestações foram espontâneas e descentralizadas, mas, sem dúvida,

o grupo praticante dessa forma livre e desengajada de igreja que ficou mais conhecido

na Inglaterra e, posteriormente, em toda Europa, tornando-se proeminente, foi o de

Plymouth.34 Seus participantes ficaram conhecidos como os Irmãos de Plymouth, que

mais tarde receberam a alcunha de darbistas, por causa de um dos seus membros que

se tornou um grande defensor das ideias do movimento, chamado John Nelson Darby

(1800-1882). Advogado e teólogo anglicano, John Nelson Darby uniu-se aos Irmãos em

1821, ao decepcionar-se com a degradação espiritual da igreja inglesa. Dono de uma

mente brilhante, Darby pregava fluentemente em alemão, francês e, claro, inglês,

idiomas em que traduziu o Novo Testamento. Publicou mais de 50 livros e, em 1848, se

tornou a mais importante voz do movimento dos Irmãos de Plymouth. 35

Os darbistas acreditavam que a igreja nunca conseguiu se livrar totalmente das

tradições humanas que surgiram no seio da mesma após a morte dos apóstolos e no

início da Patrística. Essas tradições atravessaram os séculos com os escolásticos, 36 os


reformadores,37 e mesmo entre os puritanos38 estiveram presentes. Destarte,

propuseram uma eclesiologia que asseveravam estar mais condizente com o Novo

Testamento do que os modelos de igrejas cristãs vigorantes e conhecidas na Inglaterra

até então.

O darbismo insistia no fim do clericalismo e da institucionalização da igreja, o que

considerava graves distorções e desvios dos ensinos do Senhor Jesus Cristo e dos

apóstolos. Entendiam que a igreja é tão somente composta por aqueles que foram

alcançados com a graça de Deus e inseridos em uma grande assembleia de remidos, e

que as tentativas de oferecer a essa experiência real, mas invisível, qualquer forma

concreta de organização eclesiástica (as denominações) não passavam de invenções

humanas.

O darbismo não possuía “organização definida, ordem clerical, confissão de fé nem

qualquer vínculo visível de união”39 (exceto a Ceia do Senhor), e tampouco presidente

ou ministros ordenados”,40 o que terminou gerando desconfianças por parte de muitos

quanto ao seu futuro e sobrevivência. Entretanto, a despeito disso, o movimento cresceu

e se espalhou por toda a Anglo-saxônica, chegando à Rússia e demais países do Leste

Europeu, além de Iraque, Japão, China, Índia, Espanha, Austrália, Nova Zelândia,

Estados Unidos, Canadá, Ilhas Caraíbas, países da África, da América do Sul e de outros

do Extremo Oriente.41

No Brasil, as ideias darbistas chegaram através de Richard Holden, clérigo inglês que

trabalhou como pastor auxiliar do Dr. Robert Reid Kalley42 na Igreja Evangélica

Fluminense, nos idos de 1871.43 Com o desligamento, a pedido próprio, de Ricardo

Holden de suas funções pastorais diante da Igreja Evangélica Fluminense, um grupo de

doze pessoas decidiu também seguir esse caminho,44 formando um núcleo dos Irmãos

no Brasil em 07 de julho de 1878.45 Posteriormente, em 1896, Stuart Edmund McNair, um

inglês de 29 anos de idade, desembarcou no Brasil, organizando escolas bíblicas onde

morava, trabalhando também na área da literatura cristã.46


Os três movimentos alistados acima e descritos propositalmente em épocas distintas da

história, revela-nos de que a deserção institucional no cristianismo não é nova e que sua

proposta é persistente, pois reapareceu diversas vezes por parte de grupos cristãos

insatisfeitos.

Afinal, a institucionalização foi/é maligna?

Os desigrejados enxergam na institucionalização do cristianismo a origem de todos os

males da igreja. É inegável que muitos dos problemas enfrentados pela igreja cristã no

decorrer dos séculos, tais como corrupção, mundanismo, proximidade com poderes

temporais, fascínio pela riqueza e, principalmente, pela política, tiveram, sim, sua fonte e

origem em meio a um processo de institucionalização, em que, gradualmente, perdeu-se

a dimensão e horizonte proféticos. Contudo, isto é apenas parte da história. E,

certamente, tais envolvimentos têm pouca relação com a instituição e muito mais com a

pecaminosidade do coração humano.

Há legados importantíssimos deixados para a posteridade e que foram elaborados em

meio aos processos institucionais pelos quais a igreja passou e que sem esses legados

(que podem ser vistos como instrumentos da providência divina) o cristianismo

ortodoxo dificilmente sobreviveria até o século XXI, haja vista que nos primeiros séculos

da era cristã o mundo era povoado por religiões de mistério que se aproximaram

perigosamente do cristianismo. Muitas heresias procuravam emitir compreensões

acerca da pessoa de Jesus Cristo e não foram poucos os cristãos que se sentiram

atraídos por explicações esotéricas acerca do Salvador, a ponto dos próprios apóstolos,

como Paulo e João, escreverem cartas (colossenses e 1 e 2 epistolas joaninas),

condenando heresias que estavam entrando no seio da igreja.

Uma destas heresias perigosas foi o gnosticismo, uma fórmula que mesclava conceitos

do judaísmo, cristianismo, dualismo grego e religiões de mistério que formavam uma

mistura bombástica que poderia destruir as bases teológicas do cristianismo se não


fossem os Pais Apostólicos,47 os apologetas48 e os polemistas.49 Além do gnosticismo, o

cristianismo recebeu também ataques heréticos do ebionismo50 e marcionismo.51 Uma

vez que após a morte52 de João, o último dos apóstolos, a igreja não poderia contar mais

com aqueles que receberam o Evangelho diretamente de Jesus Cristo, a necessidade de

explicar a fé e de preservar o conteúdo bíblico sem quaisquer impurezas, levou os Pais

da Igreja a tomarem medidas institucionais para que a verdade sobre Jesus Cristo,

ensinada pelos apóstolos, não se perdesse em meio a tantas afirmações conflitantes

sobre o salvador. Que medidas institucionais foram essas?

Credo, Cânon e Concílios: legados da institucionalização do cristianismo

Pense em uma época em que qualquer pessoa poderia fazer qualquer afirmação acerca

de Jesus Cristo. Imagine alguém em uma praça pública ensinando que Jesus Cristo não

foi uma pessoa de carne e osso, mas, que, na verdade, possuía apenas uma aparência

humana, quase como a de um fantasma!53 Semelhantemente, fantasie uma espécie de

monge ministrando uma palestra para jovens e crianças, ensinando que o Deus do

Antigo Testamento era mal, caprichoso e violento, mais parecido com um demiurgo54 e

que o Deus do Novo Testamento, o pai amoroso de Jesus Cristo, era outro Deus

absolutamente diferente daquele ser perverso!55 Ou, para espanto geral, considere um

pastor ensinando que Jesus de Nazaré era a encarnação do Pai, isto é, que quem sofreu

na cruz não foi o Filho de Deus56 e, se não bastasse, afirmasse também que o Espírito

Santo fora criado pelo Filho e que era uma espécie de servo do Pai e, também, do

próprio Filho!57 Como avaliar tais declarações em uma época em que os apóstolos não

estavam mais vivos para refutá-las e onde não havia instrumentos que servissem de

análise e crivo? Como defender a fé cristã contra os ataques que vinham de todas as

direções e de diferentes formas?58 A resposta da igreja veio de forma gradual, pensada e

sistematizada. Primeiramente, desenvolveram uma síntese doutrinária, em que uma série

de afirmações teológicas sobre Deus Pai, Filho, Espírito Santo e da obra da redenção

entre os homens foi elaborada com a finalidade de tentar explicar o mistério da fé cristã,

defendendo-a das heresias, preservando o conteúdo bíblico, garantindo-o para toda a

posteridade. A síntese ficou conhecida como o Credo Apostólico.


O Credo dos Apóstolos foi parte do “desenvolvimento da uma regra de fé”, 59 ou seja,

“uma declaração de fé para uso público”,60 sendo o mais antigo documento que contém

as doutrinas fundamentais do cristianismo61 e uma evidência da necessidade de

instrumentalização da igreja para lidar com os ataques heréticos, uma vez que não

contava mais com a presença dos apóstolos para orientá-la. Roger Olson, autor da

excelente História da Teologia Cristã, reconhece que sem a estrutura organizacional, da

qual o Credo Apostólico foi uma das expressões, “qualquer pessoa podia corromper os

ensinos da igreja pela persuasão e carisma”.62

Outra medida por demais importante que preservou a igreja cristã, sendo um marco na

história do cristianismo, foi a oficialização do Cânon do Novo Testamento. Obviamente,

os vinte e sete livros que o compõem não caíram milagrosamente sobre a cabeça dos

cristãos daqueles primórdios e difíceis tempos. Talvez muitos desigrejados assim

pensem! Todavia, a verdade é que o Cânon foi uma medida institucional para

combate/defesa contra heresias, especialmente, o marcionismo que elaborara um Cânon

próprio, onde continham apenas uma variação do Evangelho de Lucas e as cartas

paulinas (sem as epístolas pastorais). Percebendo o risco de não se ter uma regra de fé

que fosse uma verdadeira âncora para o cristianismo, os Pais da Igreja iniciaram um

processo de identificação e reconhecimento dos textos que verdadeiramente poderiam

ser considerados como inspirados pelo Espírito Santo e reunidos em uma obra e que, à

semelhança do Antigo Testamento, pudesse ser lida, consultada e estudada para

explanação, deleite e edificação da igreja. O processo de canonicidade foi demorado,

sendo concluído apenas no século IV, no ano de 397, quando houve a oficialização do

Cânon do Novo Testamento, promulgado no Concílio de Cartago (atual Tunísia, no Norte

da África).

E falando em concílio, há também uma terceira contribuição extraordinária do

cristianismo organizado / oficial/ ortodoxo / institucional (escolha o termo preferido) para

a história da igreja e também da teologia. Trata-se da realização dos Concílios


Ecumênicos! Na verdade, reuniões em que pensadores e bispos dos primeiros séculos

da Era Cristã, em longas e detidas sessões, elaboram os principais conceitos teológicos

do cristianismo. Doutrinas como Trindade e a dupla natureza de cristo, por exemplo,

pertencentes ao núcleo central da fé evangélica, foram amplamente estudadas,

sintetizadas, definidas e explicadas em tais reuniões, garantindo de forma definitiva uma

base teórica extremamente sólida, demarcando o que era, de fato, o cristianismo bíblico,

delineando o que pode ser chamado de ortodoxia cristã. Os Concílios mais importantes

e considerados como normativos para a igreja são os de Nicéia (325), Constantinopla I

(381), Éfeso (431) e Calcedônia (451).

Considerações finais

Concluímos, portanto, que o movimento dos desigrejados é tão somente a versão cristã

protestante de um fenômeno mais amplo de desvinculação institucional que vem

ocorrendo mundialmente em diversos segmentos da sociedade, sobretudo, no campo da

religião, sendo, destarte, um reflexo da pós-modernidade. Sendo assim, não há nada de

original na tendência. Também não se trata de uma novidade ou revolução dentro do

cristianismo, pois no decorrer da história diversos movimentos tentaram despir a igreja

de sua materialidade e concretude. Finalmente, a institucionalização do cristianismo,

longe de ser uma obra de satã (conforme os desigrejados parecem sugerir), trouxe, na

verdade, contribuições para a igreja, ajudando os cristãos, através do Credo Apostólico,

da oficialização do Cânon do Novo Testamento e das afirmações doutrinárias elaboradas

nos Concílios, a identificarem o que, de fato, era a “fé que uma vez por todas foi

entregue aos santos” (Jd 3). Neste ponto específico, fica exposta a contradição dos

desigrejados contemporâneos, pois se a institucionalização da igreja foi um dano para o

cristianismo, por coerência, então, o movimento deveria rejeitar consequentemente seus

legados diretos (Credo, Cânon e Concílios). Contudo, por inconsistência ou

conveniência jamais escreveram (até onde se sabe) uma só linha contra tais expedientes

da fé cristã.

O futuro do movimento
Qual será o futuro dos desigrejados? É provável que muitos permaneçam desiludidos e

reticentes em retornar à frequência eclesial. Preferirão permanecer no ceticismo

comunitário. Outros, talvez encontrem modelos mais espontâneos e informais para

compartilhar a fé cristã. Há ainda aqueles que retornarão às comunidades históricas.

Após um período de desilusão institucional e de passarem por experiências sofríveis no

anseio de praticar o cristianismo, é provável que cheguem à conclusão de que a igreja,

mesmo com seus defeitos (expressão de nossa pecaminosidade), é o melhor lugar para

congregar, compartilhar e defender a fé. Previsões e literaturas já foram apresentadas

tratando deste problema. O falecido ministro da Convenção Batista Brasileira, Darcy

Dusilek, alertou sobre a necessidade de as igrejas desenvolverem ferramentas para

trabalhar com aqueles que se desiludiram com o cristianismo e que se tornaram

agnósticos religiosos. O alerta foi dado em 1997. Não se falava em desigrejados e

tampouco é o público a quem Dusilek se refere, porquanto seu foco é o crente que se

desapontou com o neopentecostalismo 63 e que sem forças para recomeçar a jornada

espiritual poderá ser auxiliado pelas comunidades mais equilibradas liturgicamente e

saudáveis em sua teologia e prática missional, na esperança e tentativa de uma nova

caminhada nas veredas do Evangelho. Contudo, o alerta de Darci Dusilek pode ser

aplicado também em relação aos desigrejados, isto é, muitos dos atuais desencantados

com a igreja, uma vez percebendo o equívoco do abandono institucional, poderão

recomeçar a vida nas igrejas mais sadias, haja vista que uma parcela significativa dos

desigrejados é constituída por aqueles que sofreram abuso espiritual ou que tiveram de

lidar com ensinos e práticas controvertidas (talvez, até mesmo heréticas), conforme

relatado no primeiro capítulo desta pesquisa. Assim, ao encontrarem uma comunidade

que seja uma antítese a tudo que antes viveram, a reaproximação eclesial poderá ser

provável ou, até mesmo, inevitável.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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WALKER, W. História da Igreja Cristã. São Paulo: Aste, 2006.

_____________________________

Revistas Cristianismo Hoje, Igreja e Defesa da Fé.


1

Revistas Isto É, Época e o Jornal Folha de São Paulo.


2

O Bureau de Pesquisa e Estatística Cristã, um instituto privado de pesquisa, radicado


3

em São Paulo, pontua que já se aproxima de nove milhões o número de desigrejados no

Brasil. Cf. www.bepec.com.br. Acessado em: 07 nov. 2013.

Entre os anos de 2010 e 2013.


4

5 O Peregrino e o Convertido, por exemplo. Obra de Danièle Hervieu–Lèger, socióloga

francesa e especialista nos estudos sobre religião.

6 Cristianismo Pagão é um exemplo. O livro foi escrito nos Estados Unidos da América

por Frank Viola, um dos mais ferrenhos defensores do movimento dos desigrejados.
7 BAUMAN, Zygmunt. Tempos Líquidos. Rio de Janeiro: Zahar, 2007, p.7.

8 Fonte: Barna Research / www.missaoeuropa.com.br.

FERNANDES, Carlos. “Desigrejados, fenômeno que cresce”. Cristianismo Hoje. Niterói,


9

edição 37, ano 7, 2013. p. 23. Informações complementares quanto à pesquisa aplicada

pelo BEPEC poderão ser encontradas nos sites: www.bepec.com.br ou

www.genizahvirtual.com.br.

10
CAMPOS, Idauro. Desigrejados – teoria, história e contradições do niilismo

eclesiástico. São Gonçalo: Editora Contextualizar, 2013.p.27.

11 LÉORNARD, Émile G. O Protestantismo Brasileiro. São Paulo: Aste, 2002.p.84.

12 CAMPOS, Idauro. Op. Cit. P. 33-87.

13 Feridos em Nome de Deus e Decepcionados com a Graça, respectivamente.

14 ROMEIRO, Paulo. Decepcionados com a Graça. São Paulo: Mundo Cristão, 2005.p.42

15 Ibid.

16 Reverendo Caio Fábio, por exemplo.

17
Frank Viola e George Barna.

18
Há muitos leitores brasileiros das obras de Frank Viola. Seu best-seller, Cristianismo

pagão, é amplamente divulgado na Internet, onde circula livremente versões em PDF.

19 A controvertida “conversão” do Imperador Constantino ao cristianismo aconteceu no

ano 312.

20 Frank Viola.

21 VIOLA, Frank. Cristianismo pagão. São Paulo: Abba Press, 2008.p.41.


22
Cristianismo Pagão, Reimaginando a Igreja, Repensando o Odre.

23
Ocorrido em 380, com o Imperador Teodósio.

24 Os presbíteros ou anciãos (2Tm 5.17; 1Pe 5.1).


25
FERNANDES, Carlos. Op.Cit.p. 23.

26 BARNA, George. Revolução. São Paulo: Abba Press, 2007.

27
OLSON, Roger. História da Teologia Cristã. São Paulo: Vida, 1999.p.30.

28 Ibid.p.31.

29 WALKER, W. História da Igreja Cristã. São Paulo: Aste, 2006.p.86.


OLSON, Roger. Op.Cit.p.30.
30

Ibid.
31

DELUMEAU, Jean. Mil Anos de Felicidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
32

p.48.

Ibid.
33

Cidade do Sudoeste da Inglaterra, às margens do rio Plym.


34

PFANDL, Gerhard. Rapto Secreto: As surpreendentes origens da visão teológica


35

dispensacionalista. Disponível em: http://www.monergismo.com.br/ Acesso: 17 fev. 2012.

Monges que desenvolveram uma abordagem metódica que visava à conciliação entre fé
36

e razão. O método foi amplamente empregado nas Universidades da Europa na Idade

Média.

37 Grupo de líderes cristãos dos séculos XVI e XVII que promoveram o movimento

historicamente conhecido como Reforma Protestante.

Clérigos da Igreja Anglicana que, insatisfeitos com a reforma da igreja inglesa, que
38

julgavam por demais filocatólica, romperam com a mesma em busca de uma igreja mais

“pura”. Nesse núcleo de clérigos encontram-se as raízes de importantes grupos cristãos

protestantes como os congregacionais, batistas e presbiterianos.

MILLER, Andrew. Os Irmãos. Diadema: Depósito de Literatura Cristã, 2005.p.25. O autor


39

foi testemunha do movimento darbista.

Ibid.
40

DOOLAN, Arnold. Um esboço Histórico do Movimento Conhecido como


41

Irmãos. Disponível em www.irmaos.net/historia/plymouth.html Acesso: 17 de fev. 2012.

ROCHA, João Gomes da. Lembranças do Passado: Robert Reid Kalley. Rio de Janeiro:
42

Novos Diálogos, 2013.p.253.

FORSYTH, Willian B. Jornada do Império: vida e obra do Dr. Kalley no Brasil. São José
43

dos Campos: FIEL, 2006.p.194-195.

44 Primeira divisão dentro do protestantismo brasileiro.

Disponível em www.ultimato.com.br. Acesso em 17.02.2012.


45

Ibid.
46

Termo histórico aplicado a alguns dos líderes cristãos, discípulos dos apóstolos (como
47
Policarpo e Clemente de Roma) e também a escritos que circulavam antes da

oficialização do Cânon do Novo Testamento (Didaquê e a Epístola de Barnabé, são

exemplos) e que auxiliaram a igreja no combate a determinadas heresias esotéricas e

legalistas que circulavam já no final do século I.

Escritores cristãos do século II que procuram defender o cristianismo de críticos


48

pagãos, argumentando às autoridades (Justino Mártir é um dos mais conhecidos).

Escritores cristãos que dirigiam seus textos diretamente aos mestres heréticos (Irineu
49

de Lião é o nome de maior destaque entre os polemistas).

Heresia judaico – cristã do século I que defendia a salvação pela obediência à lei.
50

Marcion (85-160 d.C), armador cristão de Sínope (Atual Turquia) que ensinava a
51

existência de dois deuses antagônicos (o da velha aliança e o Pai amoroso de Jesus

Cristo), defendendo também a noção de incoerência entre o Antigo e o Novo

Testamentos. Elaborou um Cânon próprio das Escrituras do NT.

52 Final do século I, provavelmente.

53
Afirmação do Docetismo.

Entidade menor do panteão de deuses do gnosticismo.


54

55 Afirmação do marcionismo.

Heresia patripassianista. Ensinada por Noeto de Esmina e Práxeas no final do século II.
56

Heresia pneumatomaquista. Ensinada por Macedônio I, no século IV.


57

De autoridades seculares (Celso e Imperadores Romanos), líderes religiosos heréticos


58

(Valentino, por exemplo) e legalistas (os ebionitas).

CAIRNS, Earle E. O Cristiansimo Através dos Séculos. São Paulo: Vida Nova, 1995.p.95.
59

60 Ibid.

61 Ibid.

62 OLSON, Roger. Op. cit. p. 129.

63 DUSILEK, Darcy. O Futuro da Igreja no Terceiro Milênio. Rio de Janeiro: Horizonal

Editora, 1997.p.94-95.

Os desigrejados
por Artigo compilado - qui out 03, 9:30 am
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No ano de 2010 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgou os dados censitários


de uma ampla análise desenvolvida pelo POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), onde,
entre outros temas, avaliou a performance da religiosidade do brasileiro. Na pesquisa foi
apontada que, em termos de identidade religiosa, o grupo que mais cresceu foi dos que se
declararam “sem religião”. Algo surpreendente no Brasil, que sempre se orgulhou de ser o “o
maior país católico do mundo”. Além disso, outro dado divulgado e que muito chamou a
atenção foi a identificação de um ator social até bem pouco tempo inexistente no extrato
religioso em nosso território: o evangélico nominal, isto é, sem vínculo eclesiástico, ou, como
ficou conhecido, desigrejado. De acordo com o IBGE, já são mais de quatro milhões de
evangélicos em tal situação. São cristãos protestantes, identificados com as doutrinas
fundamentais de fé cristã (creem, portanto, no nascimento virginal de Cristo, na sua morte
expiatória, na ressurreição, na Segunda Vinda e na vida eterna aos fiéis; celebram a Ceia e
passam pelas águas do batismo), mas que se recusam a congregar, pois não acreditam mais
na necessidade e relevância da igreja institucional.
A amostragem dos dados que comprovam o fenômeno chamou a atenção da mídia cristã
especializada1 e também da secular2, pois, historicamente era conhecido no que tange ao
comportamento dos evangélicos no Brasil, por duas características que sobressaíam: o hábito
da leitura da Bíblia e a pertença eclesiástica. Contudo, com a revelação do contingente
impressionante de desigrejados3, a noção e o valor da pertença entre os evangélicos já vem
sendo questionada, aproximando-se, portanto, dos católicos nominais, despertando a
curiosidade de pesquisadores das Ciências da Religião e dos próprios órgãos de imprensa.
A repercussão
Assim que os dados foram divulgados, uma série de reportagens, livros e sites começou a
circular, tentando entender o fenômeno. A Revista Cristianismo Hoje, prestigiada publicação
cristã e braço brasileiro da Christianity Today, publicou duas matérias sobre o assunto4. Até aí,
nada surpreendente, visto ser natural que um periódico cristão de linha protestante
repercutisse um assunto que atinge em cheio a realidade eclesiástica no Brasil. Entretanto, as
Revistas Isto É e Época (esta última de responsabilidade das Organizações Globo) e também o
importante jornal Folha de São Paulo publicaram matérias sobre o assunto, evidenciando a
importância do movimento para a compreensão do fenômeno religioso brasileiro. Editoras
cristãs também entraram em cena, propondo reflexões sobre a tendência e, como não poderia
ser diferente em tempos virtuais, sites e blogs também resolveram contribuir e/ou tumultuar o
debate.

O histórico da repercussão no Brasil

a) Augustus Nicodemus Lopes publica no blog Tempora-Mores, em abril de 2010, um artigo


intitulado “Os Desigrejados” e populariza tanto o conceito quanto o uso do termo no Brasil.
Início de minha pesquisa.

b) Maurício Zágari publica em 2010, na revista Cristianismo Hoje, artigo intitulado:


“Decepcionados com a Igreja”.

c) Em 2010 a Revista Época publica matéria de capa, “A Nova Reforma Protestante”, com
evangélicos insatisfeitos com os modelos tradicionais de igreja.

d) Jornal Folha de São Paulo publica, em 2011, matéria intitulada “Cresce o número de
evangélicos sem ligação com igrejas”.

e) Revista Isto É publica, em 2011, matéria de capa “O Novo Retrato da Fé no Brasil” –


nomadismo religioso.

f) Sites como Genizah e Púlpito Cristão multiplicam o assunto nas redes sociais.
Um fenômeno mundial (pós-modernidade)
Há no mundo contemporâneo uma crise de pertença, sobretudo, religiosa. Nos Estados Unidos
da América (a maior nação protestante do mundo) e na Europa (berço das mais conhecidas
denominações cristãs, como as Igrejas Anglicana, Luterana, Presbiteriana, Batista,
Congregacional e Metodista, Exército da Salvação, entre outras) a marcha dos desigrejados é
um fenômeno conhecido e discutido. Obras importantes 5 e outras polêmicas6 já vieram a lume
para esclarecer e/ou polemizar a questão. Portanto, longe de ser um movimento isolado
manifesto apenas em nosso país, o que vem ocorrendo é uma expressão nacional de onda de
deserção institucional de grandes proporções que alcança o mundo inteiro, consequência, sem
dúvida, da pós-modernidade que questiona e relativiza afirmações e conteúdos antes
considerados absolutos e inegociáveis, gerando, assim, desencaixe em todas as esferas da
sociedade, atingindo todas as expressões institucionais: partidos políticos, sistemas de
governo, utopias, convenções familiares, casamento, religião, igrejas etc., pois, conforme
denunciou Zygmunt Bauman, “as estruturas estão se decompondo em face dos Tempos
Líquidos”.7
Os números do fenômeno no mundo8

a) Estados Unidos da América – 20 milhões de desigrejados* (pouco mais de 13% da


população protestante que é constituída por mais de 154 milhões de americanos- 51% do total
da população do país que está acima de 308 milhões) –

b) França /1990 – 80% da população se declarava cristã. Em 2007 o percentual caiu para
57%.
c) Inglaterra / 1999-2000 – 56 % dos entrevistados se declararam ateus ou agnósticos.

d) Continente Europeu – Apenas 21% dos entrevistados reconhecem a relevância da religião


para a vida.
Os números do fenômeno no Brasil9

a) 4 milhões são os brasileiros que se declaram evangélicos, mas não têm vinculação
eclesiástica; o percentual de evangélicos nesta situação é de 10%.

b) 62% dos desigrejados são egressos de denominações neopentecostais, cuja ênfase é a


teologia da prosperidade;

c) 63% dos respondentes declararam que voltariam a se vincular a uma comunidade que não
apresentasse os vícios e malversações que os afastaram da comunhão;

d) 29% dizem que não pretendem manter vínculo com outra igreja novamente;

e) 5,6 anos é o tempo médio de conversão dos desigrejados.


As causas do niilismo eclesiástico e quem são os desigrejados?
Por Niilismo Eclesiástico podemos entender como a proposta de muitos cristãos que “advogam
um cristianismo totalmente despido de formas, estruturas e concretude institucional” 10. O termo
foi empregado por Émile G. Léonard, na obra O Protestantismo Brasileiro 11. O historiador
empregou o termo a referir-se aos darbistas, movimento religioso inglês do século XIX,
praticante do niilismo eclesiástico.

Quais as causas e/ou razões para o desengajamento eclesiástico? Por que tantos cristãos
contemporâneos rejeitam o modelo institucional de igreja?
A decepção e a crítica
Quando analisamos de perto o fenômeno dos desigrejados, a partir de entrevistas e
publicações editoriais e/ou virtuais, podemos perceber a consolidação de dois grupos
majoritários no cenário: os decepcionados com a liderança e os críticos do modus operandi da
institucionalização da igreja.12 Os decepcionados são aqueles que sofreram abuso espiritual
por parte das lideranças eclesiásticas (pastores, bispos e apóstolos) nas comunidades de fé
onde congregavam ou que se frustraram com promessas (de cura, libertação, bem-estar
pessoal/familiar ou prosperidade financeira) realizadas em nome de Deus e que nunca se
cumpriram. A jornalista Marília de Camargo César e o teólogo Paulo Romeiro escreveram
obras de referência13 quanto ao tema do abuso espiritual e da decepção consequente gerada
nos crentes. Casos de despotismo, dinastia familiar, acepção de pessoas, intrigas, disputas,
coação, manipulação, constrangimento, humilhação, ofensas, ameaças, mentiras, além do
enriquecimento ilícito por parte das lideranças pastorais, são apresentados na comovente obra
de Marília, explicando o porquê muito dos entrevistados que aparecem em seu livro ficaram
profundamente decepcionados com o que viram, ouviram, presenciaram e experimentaram nas
greis em que dedicaram parte de suas vidas e decidiram, então, abandoná-las.

O livro da jornalista é ao mesmo tempo denúncia, alerta e apelo. Denúncia, pois revela o que
acontece nos bastidores de muitas igrejas, lideradas por figuras personalistas que usam as
pessoas da congregação como massa de manobra para se promoverem e enriqueceram e
pouco se importam com as necessidades e demandas espirituais dos seus membros. É
também um alerta para que outras pessoas não sejam enganadas e submetidas a uma
liderança pastoral que comece a demonstrar os mesmos sinais no ministério. Serve para os
próprios pastores, porquanto é notório que muitos começam no pastorado tendo em mente as
melhores aspirações de serviço e vocação, desejosos de fazerem um trabalho digno e para a
glória de Deus, mas que, por motivos variados, terminaram mudando o foco de seus
ministérios, agindo mais como empresários da fé do que como legítimos pastores,
despenseiros da graça de Deus. Mas a obra de Marília é, ainda, um apelo. Um apelo para
aqueles que estão nas igrejas a olharem com misericórdia para muitos daqueles que
desertaram e que estão longe de serem apenas pessoas “complicadas” ou “esquisitas”. Que há
muitas pessoas assim em nossas igrejas (e que as deixaram) é indiscutível, mas o que Marília
faz é nos chamar a atenção para muitos que estão fora da igreja e relutam contra a ideia de um
retorno, pois estão machucados, com enormes feridas ainda abertas e sangrando. Como
poderiam, então, retornar para um ambiente que, ao invés de ser uma comunidade terapêutica
por excelência, foi, na prática, causadora de dor, frustração e mágoa? Não seria, destarte,
necessária uma prática pastoral carregada de amor, perdão, paciência e graça para com os
que se encontram em tal situação?
Há também os que se decepcionaram com aquilo que lhes foi prometido e que não aconteceu.
São muitos os casos trazidos à tona pelo pastor, teólogo e doutor em Ciências da Religião,
Paulo Romeiro que, em seu instigante livro, “Decepcionados com a Graça”, revela em suas
páginas a saga de muitos cristãos sinceros que caíram nas teias ministeriais de pastores e
líderes comprometidos com a Teologia da Prosperidade e que acreditaram piamente que,
seguido um esquema fixo de obediência irrestrita ao pastor mais a fidelidade / regularidade
dizimal, alçariam uma vida de bem-estar físico, psicológico, familiar e social, com uma
inevitável e inquestionável prosperidade financeira. Entretanto, como se sabe, como tal, em
grande medida, não ocorre, o que vem é frustração, raiva e, em muitos casos, deserção.
Romeiro, inclusive, propõe uma sequência: primeiro “ocorrem o deslumbramento, a expectativa
e a entrega pessoal pela causa e a confiança despreocupada na proposta do grupo”, mas,
conforme declara, “com o tempo, porém, vêm os questionamentos relativos à linha de
pregação, à administração financeira ou às questões éticas, provocando o rompimento”. 15
Contudo, não só de decepcionados o movimento dos desigrejados engrossa, porquanto nas
suas fileiras existem muitos que não possuem nenhum histórico de decepção (até onde
assumem), mas que são ou se tornaram detratores do sistema, ou seja, críticos do modos
operandi e da institucionalização da igreja. Algumas destas vozes são conhecidas por
aqui,16 enquanto, que, outras, são famosas nos Estados Unidos da América,17 mas também já
formam discípulos no Brasil.18 Neste caso específico o problema não está, segundo eles, nas
lideranças eclesiásticas arbitrárias (estes são apenas parte do problema do cristianismo
contemporâneo), mas sim nas engrenagens funcionais que mantém a igreja em operação no
mundo, pois em face da necessidade de manutenção institucional, a igreja terminou perdendo
seu vigor espiritual e sua dimensão profética, tornando-se mais um clube de encontros
religiosos, onde se canta, se aplaude, faz-se doações em dinheiros e assiste-se a palestras
irrelevantes.
Templos, os pastores e seus sermões: o X da questão
Para os críticos do modus operandi da institucionalização da igreja, há vários problemas na
igreja como a conhecemos hoje que a prejudica e a distancia do alvo planejado por Jesus
Cristo. Segundo os mesmos, entre os pontos críticos da igreja contemporânea está a
necessidade de construção dos templos. Talvez nada cause mais urticária em um desigrejado
do que um típico templo de alvenaria. Para os desigrejados o templo “construído por mãos
humanas”, não passa de uma corrupção dos propósitos de Deus para a sua igreja e de uma
maldita influência do paganismo grego que existe desde os primórdios da era
constantiniana19 e que entrou no cristianismo, gerando aquilo que um dos mais habilidosos
críticos da igreja contemporânea20 chama de “complexo arquitetônico”21. Frank Viola, é um
escritor norte-americano conhecido por sua indignação com o cristianismo, sendo autor de
algumas obras que propõe um total desmoronamento da igreja como é conhecida hoje.22 Aliás,
segundo o polêmico escritor, a igreja como a conhecemos não tem direito algum de continuar
existindo e uma das infames práticas que a prejudicam completamente é a construção de
templos, porquanto carrega o conceito de que igreja é um lugar onde se vai e não os filhos de
Deus, que juntos foram a verdadeira e única eclésia de Jesus Cristo. Tal conceito, explica
Viola, de igreja como lugar sagrado, deriva do ano 190 d.C., em que Clemente de Alexandria
(150-215 d.C.) passou a ensinar em tais termos, ganhando força, quando da ocasião da
conversão ao cristianismo do Imperador Constantino, no século IV, porquanto, ao tornar-se
cristão, promulga o famoso Edito de Milão (313 d.C), no qual a liberdade do culto cristão foi
assegurada, abrindo passagem para a oficialização do cristianismo como religião do Império
Romano em anos subsequentes.23 Com o fim da perseguição, os cristãos, antes reunidos em
casas, cavernas e outros lugares seguros, passaram a fazer as reuniões em lugares públicos,
estendendo para construção de templos, os quais muitos foram incentivados e até mesmo
financiados pelo Império Romano.
Quanto aos pastores, no niilismo eclesiástico não há lugar para ministros ou pastores
ordenados. Como a igreja é apenas espiritual e logo, imaterial, sendo, destarte, despida de
sacramentos e ordenações, não há, obviamente, necessidade para pastores ordenados. Este,
então, configura em outra tensão para os desigrejados, pois, conforme acreditam, o pastor,
conforme se conhece hoje, não é bíblico, porquanto a única vez em que o termo aparece no
singular no Novo Testamento é atribuída a Jesus Cristo (Jo 10. 11) e quando Paulo aplica a
funcionalidade do “dom de pastor” à igreja, ele o faz empregando o termo no plural (pastores =
Ef 4.11), sugerindo, então, que a prática neotestamentária do pastorado era exercida em
conjunto pelos cristãos dotados com a capacidade de cuidar24 dos demais irmãos, não
havendo naqueles tempos, em igreja alguma, a figura do pastor único (pastor – titular; pastor-
presidente; pastor-sênior).

Finalmente, na tríade maligna, os desigrejados também criticam o sermão, visto que na época
de Jesus Cristo as pregações não eram sistematizadas, mas, ao contrário, realizadas de forma
espontânea e inesperada, tendo como ponto de partida o cotidiano real das pessoas nos
contextos onde os encontros casuais com Jesus aconteciam. Os desigrejados, então, veem
nesta forma a única legítima para instruir o povo de Deus. Destarte, nada de liturgia, sermões
com introdução, desenvolvimento e conclusão e, muitos menos elaborados como se fosse uma
palestra. Como não poderia ser diferente, enxergam também neste ponto as garras do Lúcifer,
porquanto afirmam que o sermão estruturado entrou nas comunidades cristãs por causa dos
sofistas gregos, mestres da retórica e que quando se tornaram cristãos levaram para o
ambiente da fé a prática dos discursos eloquentes, estruturados e comoventes. Nada tendo de
cristão, portanto, o sermão é também pagão (segundo os desigrejados).
Críticos no Brasil?
As vozes discordantes do cristianismo oficial não emitem seus sons apenas dos Estados
Unidos. Há, no Brasil, líderes conhecidos que demonstram sua insatisfação com os modelos
institucionais de igreja cristã. O caso mais conhecido e polêmico é do pastor Caio Fábio
D’Araújo Filho, que, em recente entrevista concedida aos repórteres de Cristianismo Hoje,
declarou que mais de três milhões de pessoas, muitas delas desigrejadas, abastecem-se de
tudo o que é produzido em seu ministério, o Caminho da Graça, uma alternativa de comunhão
cristã, que tem em Caio Fábio o seu mentor principal. 25 Caio Fábio é hoje um crítico dos mais
intensos da igreja evangélica, e sem cerimônia afirma que o cristianismo, seja em sua
expressão católica ou protestante, não passa de um fenômeno sociológico, tendo suas raízes
históricas em Constantino. Em seu atual ministério, não há templos construídos, pastores
ordenados, estatutos. Contudo, há locais e horas de celebração, pregação, louvor e ofertório.
Uma demonstração prática que ainda que se esforcem ao máximo, teóricos do niilismo
eclesiástico jamais conseguiram eliminar por completo formas e estruturas. Pelo contrário, um
mínimo delas sempre permanecerá, pois é inevitável aos ajuntamentos. Outro desigrejado
celebrado por estas terras tupiniquins é Paulo Brabo, autor de A Bacia das Almas – Confissões
de ex-dependente de Igreja, publicada em 2009, pela editora Mundo Cristão.
Nada há, pois, de novo abaixo do sol (Ec 1.9) – O que diz a História da Igreja?
Afinal, o movimento dos desigrejados é novo? Ou, conforme asseverou George Barna, um
entusiasta do movimento nos Estados Unidos, trata-se uma revolução? Nada como a História
da Igreja para ajudar a acalmar os ânimos e colocar sob perspectivas mais sóbrias
determinadas manifestações no seio do cristianismo. Ao analisar os dois mil anos de história,
podemos alistar nada menos que dez movimentos de deserção eclesiástica. Isso mesmo, dez!
E dez, entre outros! De Montano (século II) a Dietrich Bonhoeffer (século XX), a igreja de Jesus
Cristo se deparou com críticos de seu sistema, ensino, dogmas, doutrina e instituição.

Às vezes por motivos corretos e outras vezes nem tanto, o fato é que muitas vozes importantes
dentro da igreja se levantaram para atacar sua estrutura. Não apenas propondo uma
purificação e santidade, mas até o seu total desaparecimento institucional. Muitas destas
vozes apontaram para algo que hoje os desigrejados pensam que são os primeiros a fazerem.
De quem eram essas vozes? E que movimentos foram estes? Alistaremos três, em épocas
estanques da história: o montanismo, o joaquimismo e o darbismo.
A insatisfação de Montano (Século II)
Montano foi um sacerdote pagão da região da Frígia (atual Turquia) que se converteu ao
cristianismo por volta do século II. Ao lado de duas profetisas (Priscila e Maximila) organizou,
no ano de 155,27 um movimento de reação ao cristianismo ensinado pelos bispos, herdeiros
espirituais dos apóstolos, por considerá-lo por demais formal, dependente de uma liderança
humana e pouco aberto à direção do Espírito Santo. Acreditando que a igreja estava
espiritualmente morta e acusando os bispos cristãos de “destituídos de vida, corruptos e
apóstatas”,28 Montano se apresentava como alguém que passava por experiências extáticas,
declarando que o Espírito Santo o usava para falar diretamente aos homens e relativizava o
conceito já crescente na época de que os escritos apostólicos seriam o caminho mais seguro
para se conhecer a vontade de Deus. Aliás, quanto a este ponto, o sacerdote da Frígia
acreditava ser exagerada a ideia de uma supremacia dos textos sagrados quanto à vontade
revelada de Deus, pois, alegava que isto terminaria restringindo a atuação do Espírito a um
mero texto escrito em papel. Além da indisposição com a institucionalização do cristianismo,
cujas expressões eram o fortalecimento do clero e o conceito de uma ortodoxia, Montano
também afirmou que a segunda vinda de Cristo aconteceria na Frígia.
O montanismo cresceu29 e se tornou uma alternativa vigorosa na época, uma vez que os
seguidores de Montano conseguiram fundar diversas congregações que rivalizaram com as
comunidades dirigidas por bispos ligados ao cristianismo oficial.30 O movimento era chamado
de Nova Revelação e Nova Profecia.31 Sendo acusado de heresia, Montano e todos os seus
discípulos foram excomungados da Igreja Cristã, configurando, assim, no primeiro caso de
divisão da história do cristianismo.
Ecclesia Spirituallis: o sonho de Joaquim de Fiore (século XII)
Após a virada do milênio muitos foram os questionamentos sobre os rumos do cristianismo.
Havia uma intensa inquietação com o poder e a projeção que a igreja e o papado alcançaram
no mundo. Muito mais do que uma agência de propagação do Evangelho do Senhor Jesus
Cristo e encarnação dos valores do Reino de Deus, a igreja havia se tornado uma potestade
com fortíssima presença na condução da política dos reinos que existiam na Idade Média.
Preocupado com essa presença institucional foi que um monge cisterciense, nascido na
Calábria em 1135, chamado Giovanni dei Gioachini e conhecido historicamente como Joaquim
de Fiore, começou a pregar e ensinar que haveria de se manifestar no mundo uma nova igreja,
despida de toda materialidade e sem qualquer necessidade clerical e que seria trazida através
da religião dos monges, sendo, destarte, “uma nova Igreja, livre e espiritual, humilde e
silenciosa”,32 substituindo a “Igreja dos Clérigos e dos doutores”.33 As ideias de Joaquim de
Fiore germinaram, produzindo muitos joaquimitas que, no decorrer dos anos, especialmente
após a sua morte, em 1202, resistiram fortemente à hierarquia eclesiástica da igreja romana.
O sectarismo de John Nelson Darby (século XIX)
Nas ilhas britânicas do século XIX, um grupo de cristãos insatisfeitos com o estado da igreja
protestante que consideravam formal e sem vigor espiritual, começou a ler as Escrituras
Sagradas e celebrar a Ceia do Senhor, sem a presença de um ministro ordenado. Tais
manifestações foram espontâneas e descentralizadas, mas, sem dúvida, o grupo praticante
dessa forma livre e desengajada de igreja que ficou mais conhecido na Inglaterra e,
posteriormente, em toda Europa, tornando-se proeminente, foi o de Plymouth.34 Seus
participantes ficaram conhecidos como os Irmãos de Plymouth, que mais tarde receberam a
alcunha de darbistas, por causa de um dos seus membros que se tornou um grande defensor
das ideias do movimento, chamado John Nelson Darby (1800-1882). Advogado e teólogo
anglicano, John Nelson Darby uniu-se aos Irmãos em 1821, ao decepcionar-se com a
degradação espiritual da igreja inglesa. Dono de uma mente brilhante, Darby pregava
fluentemente em alemão, francês e, claro, inglês, idiomas em que traduziu o Novo Testamento.
Publicou mais de 50 livros e, em 1848, se tornou a mais importante voz do movimento dos
Irmãos de Plymouth.35
Os darbistas acreditavam que a igreja nunca conseguiu se livrar totalmente das tradições
humanas que surgiram no seio da mesma após a morte dos apóstolos e no início da Patrística.
Essas tradições atravessaram os séculos com os escolásticos, 36 os reformadores,37 e mesmo
entre os puritanos38 estiveram presentes. Destarte, propuseram uma eclesiologia que
asseveravam estar mais condizente com o Novo Testamento do que os modelos de igrejas
cristãs vigorantes e conhecidas na Inglaterra até então.

O darbismo insistia no fim do clericalismo e da institucionalização da igreja, o que considerava


graves distorções e desvios dos ensinos do Senhor Jesus Cristo e dos apóstolos. Entendiam
que a igreja é tão somente composta por aqueles que foram alcançados com a graça de Deus
e inseridos em uma grande assembleia de remidos, e que as tentativas de oferecer a essa
experiência real, mas invisível, qualquer forma concreta de organização eclesiástica (as
denominações) não passavam de invenções humanas.
O darbismo não possuía “organização definida, ordem clerical, confissão de fé nem qualquer
vínculo visível de união”39 (exceto a Ceia do Senhor), e tampouco presidente ou ministros
ordenados”,40 o que terminou gerando desconfianças por parte de muitos quanto ao seu futuro
e sobrevivência. Entretanto, a despeito disso, o movimento cresceu e se espalhou por toda a
Anglo-saxônica, chegando à Rússia e demais países do Leste Europeu, além de Iraque, Japão,
China, Índia, Espanha, Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos, Canadá, Ilhas Caraíbas,
países da África, da América do Sul e de outros do Extremo Oriente.41
No Brasil, as ideias darbistas chegaram através de Richard Holden, clérigo inglês que
trabalhou como pastor auxiliar do Dr. Robert Reid Kalley42 na Igreja Evangélica Fluminense,
nos idos de 1871.43 Com o desligamento, a pedido próprio, de Ricardo Holden de suas funções
pastorais diante da Igreja Evangélica Fluminense, um grupo de doze pessoas decidiu também
seguir esse caminho,44 formando um núcleo dos Irmãos no Brasil em 07 de julho de
1878.45 Posteriormente, em 1896, Stuart Edmund McNair, um inglês de 29 anos de idade,
desembarcou no Brasil, organizando escolas bíblicas onde morava, trabalhando também na
área da literatura cristã.46

Os três movimentos alistados acima e descritos propositalmente em épocas distintas da


história, revela-nos de que a deserção institucional no cristianismo não é nova e que sua
proposta é persistente, pois reapareceu diversas vezes por parte de grupos cristãos
insatisfeitos.
Afinal, a institucionalização foi/é maligna?
Os desigrejados enxergam na institucionalização do cristianismo a origem de todos os males
da igreja. É inegável que muitos dos problemas enfrentados pela igreja cristã no decorrer dos
séculos, tais como corrupção, mundanismo, proximidade com poderes temporais, fascínio pela
riqueza e, principalmente, pela política, tiveram, sim, sua fonte e origem em meio a um
processo de institucionalização, em que, gradualmente, perdeu-se a dimensão e horizonte
proféticos. Contudo, isto é apenas parte da história. E, certamente, tais envolvimentos têm
pouca relação com a instituição e muito mais com a pecaminosidade do coração humano.

Há legados importantíssimos deixados para a posteridade e que foram elaborados em meio


aos processos institucionais pelos quais a igreja passou e que sem esses legados (que podem
ser vistos como instrumentos da providência divina) o cristianismo ortodoxo dificilmente
sobreviveria até o século XXI, haja vista que nos primeiros séculos da era cristã o mundo era
povoado por religiões de mistério que se aproximaram perigosamente do cristianismo. Muitas
heresias procuravam emitir compreensões acerca da pessoa de Jesus Cristo e não foram
poucos os cristãos que se sentiram atraídos por explicações esotéricas acerca do Salvador, a
ponto dos próprios apóstolos, como Paulo e João, escreverem cartas (colossenses e 1 e 2
epistolas joaninas), condenando heresias que estavam entrando no seio da igreja.
Uma destas heresias perigosas foi o gnosticismo, uma fórmula que mesclava conceitos do
judaísmo, cristianismo, dualismo grego e religiões de mistério que formavam uma mistura
bombástica que poderia destruir as bases teológicas do cristianismo se não fossem os Pais
Apostólicos,47 os apologetas48 e os polemistas.49 Além do gnosticismo, o cristianismo recebeu
também ataques heréticos do ebionismo50 e marcionismo.51 Uma vez que após a morte52 de
João, o último dos apóstolos, a igreja não poderia contar mais com aqueles que receberam o
Evangelho diretamente de Jesus Cristo, a necessidade de explicar a fé e de preservar o
conteúdo bíblico sem quaisquer impurezas, levou os Pais da Igreja a tomarem medidas
institucionais para que a verdade sobre Jesus Cristo, ensinada pelos apóstolos, não se
perdesse em meio a tantas afirmações conflitantes sobre o salvador. Que medidas
institucionais foram essas?
Credo, Cânon e Concílios: legados da institucionalização do cristianismo
Pense em uma época em que qualquer pessoa poderia fazer qualquer afirmação acerca de
Jesus Cristo. Imagine alguém em uma praça pública ensinando que Jesus Cristo não foi uma
pessoa de carne e osso, mas, que, na verdade, possuía apenas uma aparência humana,
quase como a de um fantasma! 53 Semelhantemente, fantasie uma espécie de monge
ministrando uma palestra para jovens e crianças, ensinando que o Deus do Antigo Testamento
era mal, caprichoso e violento, mais parecido com um demiurgo54 e que o Deus do Novo
Testamento, o pai amoroso de Jesus Cristo, era outro Deus absolutamente diferente daquele
ser perverso!55 Ou, para espanto geral, considere um pastor ensinando que Jesus de Nazaré
era a encarnação do Pai, isto é, que quem sofreu na cruz não foi o Filho de Deus56 e, se não
bastasse, afirmasse também que o Espírito Santo fora criado pelo Filho e que era uma espécie
de servo do Pai e, também, do próprio Filho! 57 Como avaliar tais declarações em uma época
em que os apóstolos não estavam mais vivos para refutá-las e onde não havia instrumentos
que servissem de análise e crivo? Como defender a fé cristã contra os ataques que vinham de
todas as direções e de diferentes formas?58 A resposta da igreja veio de forma gradual,
pensada e sistematizada. Primeiramente, desenvolveram uma síntese doutrinária, em que uma
série de afirmações teológicas sobre Deus Pai, Filho, Espírito Santo e da obra da redenção
entre os homens foi elaborada com a finalidade de tentar explicar o mistério da fé cristã,
defendendo-a das heresias, preservando o conteúdo bíblico, garantindo-o para toda a
posteridade. A síntese ficou conhecida como o Credo Apostólico.
O Credo dos Apóstolos foi parte do “desenvolvimento da uma regra de fé”, 59 ou seja, “uma
declaração de fé para uso público”,60 sendo o mais antigo documento que contém as doutrinas
fundamentais do cristianismo61 e uma evidência da necessidade de instrumentalização da
igreja para lidar com os ataques heréticos, uma vez que não contava mais com a presença dos
apóstolos para orientá-la. Roger Olson, autor da excelente História da Teologia Cristã,
reconhece que sem a estrutura organizacional, da qual o Credo Apostólico foi uma das
expressões, “qualquer pessoa podia corromper os ensinos da igreja pela persuasão e
carisma”.62

Outra medida por demais importante que preservou a igreja cristã, sendo um marco na história
do cristianismo, foi a oficialização do Cânon do Novo Testamento. Obviamente, os vinte e sete
livros que o compõem não caíram milagrosamente sobre a cabeça dos cristãos daqueles
primórdios e difíceis tempos. Talvez muitos desigrejados assim pensem! Todavia, a verdade é
que o Cânon foi uma medida institucionalpara combate/defesa contra heresias, especialmente,
o marcionismo que elaborara um Cânon próprio, onde continham apenas uma variação do
Evangelho de Lucas e as cartas paulinas (sem as epístolas pastorais). Percebendo o risco de
não se ter uma regra de fé que fosse uma verdadeira âncora para o cristianismo, os Pais da
Igreja iniciaram um processo de identificação e reconhecimento dos textos que
verdadeiramente poderiam ser considerados como inspirados pelo Espírito Santo e reunidos
em uma obra e que, à semelhança do Antigo Testamento, pudesse ser lida, consultada e
estudada para explanação, deleite e edificação da igreja. O processo de canonicidade foi
demorado, sendo concluído apenas no século IV, no ano de 397, quando houve a oficialização
do Cânon do Novo Testamento, promulgado no Concílio de Cartago (atual Tunísia, no Norte da
África).

E falando em concílio, há também uma terceira contribuição extraordinária do cristianismo


organizado / oficial/ ortodoxo / institucional (escolha o termo preferido) para a história da igreja
e também da teologia. Trata-se da realização dos Concílios Ecumênicos! Na verdade, reuniões
em que pensadores e bispos dos primeiros séculos da Era Cristã, em longas e detidas
sessões, elaboram os principais conceitos teológicos do cristianismo. Doutrinas como Trindade
e a dupla natureza de cristo, por exemplo, pertencentes ao núcleo central da fé evangélica,
foram amplamente estudadas, sintetizadas, definidas e explicadas em tais reuniões, garantindo
de forma definitiva uma base teórica extremamente sólida, demarcando o que era, de fato, o
cristianismo bíblico, delineando o que pode ser chamado de ortodoxia cristã. Os Concílios mais
importantes e considerados como normativos para a igreja são os de Nicéia (325),
Constantinopla I (381), Éfeso (431) e Calcedônia (451).
Considerações finais
Concluímos, portanto, que o movimento dos desigrejados é tão somente a versão cristã
protestante de um fenômeno mais amplo de desvinculação institucional que vem ocorrendo
mundialmente em diversos segmentos da sociedade, sobretudo, no campo da religião, sendo,
destarte, um reflexo da pós-modernidade. Sendo assim, não há nada de original na tendência.
Também não se trata de uma novidade ou revolução dentro do cristianismo, pois no decorrer
da história diversos movimentos tentaram despir a igreja de sua materialidade e concretude.
Finalmente, a institucionalização do cristianismo, longe de ser uma obra de satã (conforme os
desigrejados parecem sugerir), trouxe, na verdade, contribuições para a igreja, ajudando os
cristãos, através do Credo Apostólico, da oficialização do Cânon do Novo Testamento e das
afirmações doutrinárias elaboradas nos Concílios, a identificarem o que, de fato, era a “fé que
uma vez por todas foi entregue aos santos” (Jd 3). Neste ponto específico, fica exposta a
contradição dos desigrejados contemporâneos, pois se a institucionalização da igreja foi um
dano para o cristianismo, por coerência, então, o movimento deveria rejeitar
consequentemente seus legados diretos (Credo, Cânon e Concílios). Contudo, por
inconsistência ou conveniência jamais escreveram (até onde se sabe) uma só linha contra tais
expedientes da fé cristã.
O futuro do movimento
Qual será o futuro dos desigrejados? É provável que muitos permaneçam desiludidos e
reticentes em retornar à frequência eclesial. Preferirão permanecer no ceticismo comunitário.
Outros, talvez encontrem modelos mais espontâneos e informais para compartilhar a fé cristã.
Há ainda aqueles que retornarão às comunidades históricas. Após um período de desilusão
institucional e de passarem por experiências sofríveis no anseio de praticar o cristianismo, é
provável que cheguem à conclusão de que a igreja, mesmo com seus defeitos (expressão de
nossa pecaminosidade), é o melhor lugar para congregar, compartilhar e defender a fé.
Previsões e literaturas já foram apresentadas tratando deste problema. O falecido ministro da
Convenção Batista Brasileira, Darcy Dusilek, alertou sobre a necessidade de as igrejas
desenvolverem ferramentas para trabalhar com aqueles que se desiludiram com o cristianismo
e que se tornaram agnósticos religiosos. O alerta foi dado em 1997. Não se falava em
desigrejados e tampouco é o público a quem Dusilek se refere, porquanto seu foco é o crente
que se desapontou com o neopentecostalismo63 e que sem forças para recomeçar a jornada
espiritual poderá ser auxiliado pelas comunidades mais equilibradas liturgicamente e saudáveis
em sua teologia e prática missional, na esperança e tentativa de uma nova caminhada nas
veredas do Evangelho. Contudo, o alerta de Darci Dusilek pode ser aplicado também em
relação aos desigrejados, isto é, muitos dos atuais desencantados com a igreja, uma vez
percebendo o equívoco do abandono institucional, poderão recomeçar a vida nas igrejas mais
sadias, haja vista que uma parcela significativa dos desigrejados é constituída por aqueles que
sofreram abuso espiritual ou que tiveram de lidar com ensinos e práticas controvertidas (talvez,
até mesmo heréticas), conforme relatado no primeiro capítulo desta pesquisa. Assim, ao
encontrarem uma comunidade que seja uma antítese a tudo que antes viveram, a
reaproximação eclesial poderá ser provável ou, até mesmo, inevitável.
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2Revistas Isto É, Época e o Jornal Folha de São Paulo.

3O Bureau de Pesquisa e Estatística Cristã, um instituto privado de pesquisa, radicado em São

Paulo, pontua que já se aproxima de nove milhões o número de desigrejados no Brasil. Cf.
www.bepec.com.br. Acessado em: 07 nov. 2013.
4Entre os anos de 2010 e 2013.

5O Peregrino e o Convertido, por exemplo. Obra de Danièle Hervieu–Lèger, socióloga francesa

e especialista nos estudos sobre religião.


6Cristianismo Pagão é um exemplo. O livro foi escrito nos Estados Unidos da América por

Frank Viola, um dos mais ferrenhos defensores do movimento dos desigrejados.


7BAUMAN, Zygmunt. Tempos Líquidos. Rio de Janeiro: Zahar, 2007, p.7.
8 Fonte: Barna Research / www.missaoeuropa.com.br.
9FERNANDES, Carlos. “Desigrejados, fenômeno que cresce”. Cristianismo Hoje. Niterói, edição
37, ano 7, 2013. p. 23. Informações complementares quanto à pesquisa aplicada pelo BEPEC
poderão ser encontradas nos sites: www.bepec.com.br ou www.genizahvirtual.com.br.
10CAMPOS, Idauro. Desigrejados – teoria, história e contradições do niilismo eclesiástico. São

Gonçalo: Editora Contextualizar, 2013.p.27.


11LÉORNARD, Émile G. O Protestantismo Brasileiro. São Paulo: Aste, 2002.p.84.

12
CAMPOS, Idauro. Op. Cit. P. 33-87.
13Feridos em Nome de Deus e Decepcionados com a Graça, respectivamente.

14ROMEIRO, Paulo. Decepcionados com a Graça. São Paulo: Mundo Cristão, 2005.p.42

15Ibid.

16
Reverendo Caio Fábio, por exemplo.
17Frank Viola e George Barna.

18Há muitos leitores brasileiros das obras de Frank Viola. Seu best-seller, Cristianismo pagão, é

amplamente divulgado na Internet, onde circula livremente versões em PDF.


19A controvertida “conversão” do Imperador Constantino ao cristianismo aconteceu no ano 312.

20Frank Viola.

21VIOLA, Frank. Cristianismo pagão. São Paulo: Abba Press, 2008.p.41.

22Cristianismo Pagão, Reimaginando a Igreja, Repensando o Odre.

23
Ocorrido em 380, com o Imperador Teodósio.
24Os presbíteros ou anciãos (2Tm 5.17; 1Pe 5.1).

25FERNANDES, Carlos. Op.Cit.p. 23.

26BARNA, George. Revolução. São Paulo: Abba Press, 2007.

27
OLSON, Roger. História da Teologia Cristã. São Paulo: Vida, 1999.p.30.
28Ibid.p.31.

29
WALKER, W. História da Igreja Cristã. São Paulo: Aste, 2006.p.86.
30
OLSON, Roger. Op.Cit.p.30.
31Ibid.

32DELUMEAU, Jean. Mil Anos de Felicidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p.48.

33Ibid.

34
Cidade do Sudoeste da Inglaterra, às margens do rio Plym.
35PFANDL, Gerhard. Rapto Secreto: As surpreendentes origens da visão teológica

dispensacionalista. Disponível em: http://www.monergismo.com.br/ Acesso: 17 fev. 2012.


36Monges que desenvolveram uma abordagem metódica que visava à conciliação entre fé e

razão. O método foi amplamente empregado nas Universidades da Europa na Idade Média.
37Grupo de líderes cristãos dos séculos XVI e XVII que promoveram o movimento

historicamente conhecido como Reforma Protestante.


38Clérigos da Igreja Anglicana que, insatisfeitos com a reforma da igreja inglesa, que julgavam

por demais filocatólica, romperam com a mesma em busca de uma igreja mais “pura”. Nesse
núcleo de clérigos encontram-se as raízes de importantes grupos cristãos protestantes como
os congregacionais, batistas e presbiterianos.
39MILLER, Andrew. Os Irmãos. Diadema: Depósito de Literatura Cristã, 2005.p.25. O autor foi

testemunha do movimento darbista.


40Ibid.

41DOOLAN, Arnold. Um esboço Histórico do Movimento Conhecido como Irmãos. Disponível

em www.irmaos.net/historia/plymouth.html Acesso: 17 de fev. 2012.


42ROCHA, João Gomes da. Lembranças do Passado: Robert Reid Kalley. Rio de Janeiro:

Novos Diálogos, 2013.p.253.


43FORSYTH, Willian B. Jornada do Império: vida e obra do Dr. Kalley no Brasil. São José dos
Campos: FIEL, 2006.p.194-195.
44Primeira divisão dentro do protestantismo brasileiro.

45Disponível em www.ultimato.com.br. Acesso em 17.02.2012.

46
Ibid.
47Termo histórico aplicado a alguns dos líderes cristãos, discípulos dos apóstolos (como

Policarpo e Clemente de Roma) e também a escritos que circulavam antes da oficialização do


Cânon do Novo Testamento (Didaquê e a Epístola de Barnabé, são exemplos) e que
auxiliaram a igreja no combate a determinadas heresias esotéricas e legalistas que circulavam
já no final do século I.
48Escritores cristãos do século II que procuram defender o cristianismo de críticos pagãos,

argumentando às autoridades (Justino Mártir é um dos mais conhecidos).


49
Escritores cristãos que dirigiam seus textos diretamente aos mestres heréticos (Irineu de Lião
é o nome de maior destaque entre os polemistas).
50Heresia judaico – cristã do século I que defendia a salvação pela obediência à lei.

51Marcion (85-160 d.C), armador cristão de Sínope (Atual Turquia) que ensinava a existência de

dois deuses antagônicos (o da velha aliança e o Pai amoroso de Jesus Cristo), defendendo
também a noção de incoerência entre o Antigo e o Novo Testamentos. Elaborou um Cânon
próprio das Escrituras do NT.
52Final do século I, provavelmente.

53
Afirmação do Docetismo.
54Entidade menor do panteão de deuses do gnosticismo.

55
Afirmação do marcionismo.
56Heresia patripassianista. Ensinada por Noeto de Esmina e Práxeas no final do século II.

57
Heresia pneumatomaquista. Ensinada por Macedônio I, no século IV.
58De autoridades seculares (Celso e Imperadores Romanos), líderes religiosos heréticos

(Valentino, por exemplo) e legalistas (os ebionitas).


59
CAIRNS, Earle E. O Cristiansimo Através dos Séculos. São Paulo: Vida Nova, 1995.p.95.
60Ibid.

61Ibid.

62OLSON, Roger. Op. cit. p. 129.

63
DUSILEK, Darcy. O Futuro da Igreja no Terceiro Milênio. Rio de Janeiro: Horizonal Editora,
1997.p.94-95.

Extraído do link teologiabrasileira.com.br/teologiadet.asp?codigo=390 em 13/11/2014

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