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Os desigrejados

O que é o movimento desigrejados?

A ideia dos desigrejados é que, “quanto mais pudermos distanciar de todas


as doutrinas feitas por homens, dos rituais e das estruturas da igreja como a
conhecemos, mais próximos estaremos co- nhecendo a Deus” (DEYOUNG;
KLUCK, 2010, p. 18). Esse movimento de abandono das igrejas tem
consequências.

O fenômeno dos desigrejados surge com a interpretação de que toda


estrutura religiosa apresenta-se como “instituição desnecessária”,
defendendo que a fé cristã pode ser exercida desvinculada da comunhão da
igreja.

1 – Introdução

Ultimamente tem se ouvido falar muito no âmbito eclesiástico sobre os


“desigrejados”, que segundo definições teológicas, são pessoas que por
descontentamento com a liderança local de sua congregação e com a estrutura
rígida das igrejas onde frequentavam, resolveram rejeitar a prática litúrgica do
culto, abandonar o templo e consequentemente a comunhão com os irmãos da
fé, tornam-se em evangélicos nominais, isto é, sem vínculo eclesiástico. Idauro
Campos, em seu livro Desigrejados – teorias, história e contradições do
niilismo eclesiástico, descreve os principais motivos que levaram evangélicos a
saírem de suas igrejas e muitas vezes largar a própria fé.

Dr. Augusto Nicodemus Lopes prefaciou o livro, onde constatou:

(As razões básicas para as críticas passam pela decepção com promessas
feitas em nome de Deus e que nunca se cumpriram, além das práticas e
ensinos questionáveis ministrados em ambientes eclesiásticos e a repulsa com
os maus exemplos das lideranças (pastores, bispos e )apóstolos), resultando
na deserção de milhões de cristãos protestantes que engrossam a fileira dos

descontentes com a igreja. Nicodemus (2005 apud ROMEIRO 2005)

De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em


2010 foi feito uma pesquisa para avaliar a performance da Religiosidade no
Brasil. Segundo a publicação, o grupo que mais cresceu foi os que se
declararam “sem religião”. Sendo assim, dos 40 milhões de evangélicos do
Brasil, 10%, ou seja, 4 milhões, se auto intitulam como desigrejados.
Percebe-se aqui algo inédito, pois se antes só ouvíamos falar de cristãos
católicos não praticantes, hoje, também estamos ouvindo: sou evangélico não
praticante! Realmente é novidade para o “mundo gospel.”

Segundo CAMPOS (2014), os desigrejados não aceitam qualquer forma de


igreja organizada e institucionalizada, uma vez que, segundo seus conceitos,
Jesus também não organizou e nem construiu templos.

>Para eles a igreja verdadeira não tem templos, cultos regulares aos
domingos, tesouraria, hierarquia, ofícios, ofertas, dízimos, clero oficial,
confissões de fé, rol de membros, propriedades, escolas, seminários.

>Em seus relatos descrevem que um dos piores erros é a ineficiência da


liderança eclesiástica, haja vista que a organização humana tem falhado e
caído em muitos erros, pecados e escândalos, e prestado um desserviço ao
Evangelho, chegando ao ponto de afirmarem: “Precisamos sair dela para
podermos encontrar a Deus”.

>Paulo Romeiro, em seu livro Decepcionados com a Graça, inclusive,


propõe uma sequência: primeiro “ocorrem o deslumbramento, a expectativa e a
entrega pessoal pela causa e a confiança despreocupada na proposta do
grupo”, mas, conforme declara, “com o tempo, porém, vêm os questionamentos
relativos à linha de pregação, à administração financeira ou às questões éticas,
provocando o rompimento”. (ROMEIRO, 2005, p. 42).

>Quando analisamos os verdadeiros motivos pelos quais os desigrejados se


privam da comunhão fraternal com o Corpo de Cristo, algumas reflexões
necessitam serem feitas dentro de nós enquanto líderes, enquanto pastores,
enquanto discipuladores, enfim, precisamos rever os nossos conceitos de Sal
e Luz deste mundo (Mt 5:13-16), o conceito de embaixadores de Cristo em
uma terra que não é nossa (2 Co 5:20), precisamos realizar uma práxis da
nossa conduta cristã e ética, pois percebemos claramente, que ao invés de
convergir os corações das pessoas à Deus, estamos expelindo-as e as
privando da convivência com o verdadeiro Corpo de Cristo.

>Não obstante, segundo as Escrituras, sabemos que isso é impossível, logo


esta classe de pessoas irá perecer, morrer espiritualmente, apodrecerão numa
sociedade que se diz cristã.

>Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês. Nenhum ramo pode


dar fruto por si mesmo se não permanecer na videira. Vocês também não
podem dar fruto se não permanecerem em mim.

>Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e


eu nele, esse dará muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa
alguma. Se alguém não permanecer em mim, será como o ramo que é jogado
fora e seca. Tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados. (Jo
15:4-6)

Elas precisam voltar, precisam novamente serem impactadas pelo grande


amor de Cristo, e também pelo grande amor da igreja para com o próximo.

Nós precisamos buscá-las. Sobre seu retorno, a jornalista Marília de


Camargo Cézar, citou em seu livro Feridos em Nome de Deus, um livro que ao
mesmo tempo, denuncia, alerta e apela:

2 – Atitudes pautadas na coerência da conduta ética-cristã:


2.1 – Dá a devida atenção e respeito aos membros de forma individual

Muitas vezes o ativismo faz com que as necessidades, carências emocionais


e espirituais dos membros não sejam observados e valorizados a ponto de
terem prioridade no tratamento e atenção. Sabe-se que o objetivo primário da
igreja, é a glorificação de Deus, mas a igreja também deve ministrar aos seus
membros, em suas carências de relacionamento, emocionais e espirituais. Um
outro aspecto muito importante diz respeito a oportunidade que os membros,
deveriam ter na igreja, afim de desenvolver suas habilidades e dons dados pelo
Senhor, e que muitas vezes não ocorre.

Muitos membros estão perecendo espiritualmente por falta de oportunidade para


servirem à Deus com seus talentos.

2.2 Preparar os novos convertidos através do Discipulado

>Na maioria das igrejas se verifica um grande paradoxo. Essas igrejas fazem
investimento na área da evangelização, de trazer novas famílias e pessoas
para Cristo.

>A liderança ensina e prega a respeito deste assunto, oferecendo cursos,


utilizando publicações e estimulantes sobre o assunto, incentivando a levar as
boas novas com estratégia pessoal e em grupos. Enfim, faz-se um esforço para
alcançar as pessoas.

>Assim, logo que essas pessoas se convertem e estão na igreja, elas são
quase que esquecidas e caem na rotina da vida da igreja.

>Como já estão dentro, se entende que não precisam de tanta atenção


assim. É assim que muitos novos convertidos passado algum tempo se
decepcionam, perdendo o entusiasmo e abandonando a eclesia. Isso mostra a
necessidade de complementar a estratégia de evangelismo, que é o
discipulado dos novos convertidos.
>A igreja precisa criar mecanismos pelos quais aqueles que ingressaram na
comunidade possam receber um acompanhamento adequado nos primeiros
meses e anos de sua vida cristã.

>Vale lembrar que o intuito do verdadeiro discipulado, é fazer discípulos de


Jesus, pessoas que se espelham em Cristo e ao mesmo tempo refletem a Sua
glória. Sendo assim, o discipulado tem que ser transmitido por ministro
autêntico e firmado na Palavra de Deus, o qual honra o Senhorio e a Soberania
de Cristo em sua vida.

>Além disso, a pedagogia do discipulado tem que trazer disciplinas que


realmente frisam e evidenciam a importância do “nascer de novo”, do
arrependimento, do fruto do Espírito, da mordomia cristã, dentre outros, e ainda
precisa descortinar para o novo convertido o plano geral de salvação
providenciado por Deus através de Seu Filho Jesus Cristo para ele como para
toda a humanidade, levando-o a aspirar por missões e vidas perdidas.

>2.3 Viver o verdadeiro pastoreio

>Precisamos lembrar que não somente os novos convertidos, mas também


os que já caminham com a igreja há um tempo, precisam de cuidado, zelo e
pastoreio com amor. Paulo exorta aos líderes da igreja de Éfeso a respeito:

<>Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos
constitui bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou
com o seu próprio sangue” (At 20.28).

Parece que os administradores da igreja em Éfeso tinham dificuldades no


pastoreio, embora muito preocupados com a doutrina, pois Paulo, que os
advertira sobre a necessidade dos cuidados pastorais em Atos 20, também os
advertira sobre a necessidade de pastorear com amor, conforme o capítulo 4,
verso 15 “seguindo a verdade em amor”.
>Provavelmente, tal como parece acontecer em nossos dias, os bispos de
Éfeso não deram muita importância à exortação Paulina, pois ao final do I séc.,
em outra carta enviada ao anjo da igreja em Éfeso, agora escrita pelo apóstolo
do amor, João, conforme Apocalipse 2, o Senhor ressalta o trabalho
incansável desses pastores, seu zelo pela Escritura e assim desmascarando os
falsos apóstolos.

> Porém o principal ficou esquecido, aquilo que a tornaria uma comunidade
aprovada por excelência, deixaram de lado e não aprenderam a lição mais
importante ensinada pelo apóstolo Paulo: “o amor”: “Tenho, porém, contra ti
que deixaste o teu primeiro amor”. Apocalipse 2:4.

>A repentina ausência de pessoas e famílias nos cultos é um caso


clássico. Muitas vezes indica um sinal de alguma dificuldade enfrentada por
aquela família e deve haver uma intervenção rápida por Pastores e líderes.

>As não é preciso acontecer algo para que a pessoa seja atendida, ou
simplesmente ouvida e visitada. O verdadeiro pastoreio, antecede aos
problemas vividos pela suas ovelhas.

>A igreja institucional tem como um de seus propósitos atender às


necessidades dos seus membros, para que vivam vidas plenas em Cristo, sem
se afastar da comunidade da fé, mas estando integrados nela.

>Não podemos esquecer, que o pastoreio não deve acontecer somente no


âmbito espiritual, mas de forma completa e complexa.

>O ser humano é composto por espírito, alma e corpo, por isso, não
somete seu espírito precisa de cuidado, mas também seu corpo através de
atendimento em suas necessidades básicas, tais como alimentação, roupas,
sapatos.
>A alma ou o psique do homem também precisa de zelo, através de curas
interiores, auxílio na liberação de perdão, atendimento psicológicos, dentre
outras coisas.

>Desta forma, concluo, não criticando ou simplesmente “apontando o dedo”


para as lideranças eclesiásticas, mas exortando e apelando para uma
verdadeira e transparente práxis do seu ministério cristão, deixando
prevalecer sempre através da atenção e respeito, do discipulado e do
pastoreio, o dom mais sublime que existe: o amor. “(…) Agora, pois,
permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é
o amor”. (1Co 13:1-13).

3 – Referência bibliográfica:

BAXTER, Richard. Manual pastoral do discipulado. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.

BRABO, Paulo. Bacia das Almas: Confissões de um Ex-Dependente de Igreja. São Paulo: Mundo
Cristão, 2009.

BUREAU DE PESQUISA E ESTATÍSTICA CRISTÃ. Disponível em: www.bepec.com.br. Acesso em:


07 nov 2013.

CAIRNS, E. E. O Cristianismo Através dos Séculos. São Paulo:


Vida Nova, 1995.

CAMPOS, Idauro. Desigrejados – Teoria, história e contradições do niilismo eclesiástico. São


Gonçalo: Editora Contextualizar, 2014.

CÉSAR, Marília de Camargo. Feridos em Nome de Deus. São Paulo: Mundo Cristão, 2009.

FERNANDES, Carlos. Desigrejados, fenômeno que Cresce. Cristianismo Hoje. Niterói, edição 37,
ano 7, p. 18-25, 2013.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível em: www.ibge.gov.br.


Acesso em: 30 set 2013.

LÉONARD, Émile G. O Protestantismo Brasileiro. São Paulo: Aste, 2002.

LOPES, Augustus Nicodemus. Os Desigrejados. São Paulo. Disponível em: http://tempora-


mores.blogspot.com.br Acesso em: 14 abr 2011.

MATOS, Alderi. Artigo Científico: “Não deixemos de congregar-nos”: Enfrentando o Problema da


Evasão de Membros: FIDES Reformata XIX, n° 1(2014):21-33. Disponível em
www.cpaj.mackenzie.br/fidesreformata/arquivos/edicao_35/artigos/249.pdf. Acesso em 30/01/2016.
NICODEMUS, Augusto. Prefácio. In: CAMPOS, Idauro. Desigrejados- Teoria, história e contradições
do Niilismo Eclesiástico. São Gonçalo: Editora Contextualizar, 2014.

ROMEIRO, Paulo. Decepcionados Com a Graça: Esperanças e Frustrações no Brasil


Neopentecostal.São Paulo: Mundo Cristão, 2005.

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