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Com liberdade

&
justiça para todos

Política cristã simplificada

Joseph Morecraft, III

Introdução pelo dr. Rousas John Rushdoony


Copyright © 1991 de Joe Morecraft, III
Publicado originalmente em inglês sob o título
With Liberty & Justice For All: Christian Politics Made Simple
pela Chalcedon Presbyterian Church,
302 Pilgrim Mill Rd., Cumming, Geórgia, 30040, EUA.

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por


EDITORA MONERGISMO
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1a edição, 2016

Tradução: Charles Grimm e Felipe Sabino de Araújo Neto


Revisão: Felipe Sabino de Araújo Neto e Maria Isabel Faria Corcete Dutra
Capa: Filipe Schulz
Para a glória de Deus

Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos advertir, juízes


da terra. Servi ao SENHOR com temor e alegrai-vos nele com
tremor. Beijai o Filho para que se não irrite, e não pereçais
no caminho; porque dentro em pouco se lhe inflamará a ira.
Bem-aventurados todos os que nele se refugiam.
― Salmos 2.10-
12
Dedicado
a minha amável esposa, Becky
Sumário
Prefácio à edição brasileira
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO QUINTO
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO CATORZE
CAPÍTULO QUINZE
Prefácio à edição brasileira

A presença de uma introdução feita por alguém tão ilustre e competente como o
dr. R. J. Rushdoony quase me dissuade de tentar escrever este prefácio. Contudo, darei
apenas algumas explicações e farei agradecimentos.
O livro do dr. Morecraft pode ser considerado um texto sobre a relação Igreja-
Estado, e nele o autor refuta críticas e desmistifica questões de um modo simples e
bíblico. Com certeza esta obra será de grande utilidade para os cristãos brasileiros, que
vivem num país onde o mito de que “religião e política não se misturam” é perpetuado
em livros, nos púlpitos e nas conversas do dia a dia.
Na verdade, o preconceito, procedente de ignorância, é tão grande para com o
assunto que este livro corre o risco de ser pouco lido pelo fato de o título revelar seu
conteúdo. Porém, assim como o autor, reconhecemos a soberania e supremacia de Deus
em todas as coisas, inclusive em conduzir os seus a toda a verdade. Que seja do agrado
de Deus utilizar este “Com liberdade e justiça” para nos livrar do “ateísmo político”.
[1]
Resolvi preservar os exemplos dados pelo autor, em vez de adaptá-los ao
cenário brasileiro, posto que uma das tantas coisas demonstradas neste livro é a
aplicabilidade universal da Palavra de Deus, que não está restrita a nenhum período da
história nem a determinada nação ou região. Além do mais, os exemplos não são de
todo diferentes da nossa realidade aqui no Brasil.
Por fim, gostaria de agradecer à secretária do dr. Morecraft, Zemmie Fleck,
pela solicitude em atender os meus muitos pedidos.

— Felipe Sabino de Araújo Neto


Brasília, 27 de julho de 2016
INTRODUÇÃO

A teologia da política
Dr. Rousas John Rushdoony

Uma área de estudo muito negligenciada nos dois séculos passados ou mais é a
teologia da política. O pensamento político tem se tornado secularizado e humanista a
ponto de que falar sobre a relação entre Deus e política ser para muitos introduzir um
fator estranho na discussão. Segundo vários pastores, a extensão da preocupação
política pela Igreja deveria ser limitada a orar pelas autoridades. Essa é uma redução
miserável do significado da fé.
O ponto de partida do pensamento bíblico é o fato da criação. “No princípio,
criou Deus os céus e a terra” (Gênesis 1.1). O Deus criador não é alguma divindade
não partidária que tolere igualmente uma variedade de religiões e filosofias. Ele é o
Deus trino; é o Pai de Jesus Cristo. Deus o Filho, em sua existência eterna, é aquele por
quem todas as coisas foram criadas. João começa seu evangelho fazendo tal
identificação:
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era
Deus.
Ele estava no princípio com Deus.
Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que
foi feito se fez. (João 1.1-3)
Assim, política não pode ser uma esfera neutra. Num universo que é totalmente
criação de Deus, não pode existir nenhuma esfera neutra, e nenhum pensamento ou
átomo neutro. Todas as coisas estão sob Deus e o seu governo.
Além do mais, somos claramente informados: aquele que é o bendito e único
Soberano, Reis dos reis e Senhor dos senhores (2 Timóteo 6.15) é o nosso Senhor Jesus
Cristo. Significa que, primeiro, não pode existir nenhum sistema político religiosamente
neutro. Todos estão submissos a Cristo ou contra ele. Pode existir liberdade religiosa,
mas não neutralidade. Imaginar que Deus tenha deixado algumas áreas de sua criação
fora do seu propósito e governo não tem base na Escritura.
Segundo, significa que devemos ter uma teologia de política, baseada sobre
toda a Palavra de Deus. Tal teologia deve aplicar a Escritura a cada faceta da vida
política. Deve enfatizar o dever a Deus de todos os que ocupam algum ofício. A
Constituição dos Estados Unidos fornece um voto de ofício; os que ajudaram a escrever
a Constituição consideravam os votos como um fato bíblico; um voto coloca o ofício, o
oficial, e a ordem social, sob Deus.
Terceiro, porque a ordem social é um fato moral, e a moralidade é um ramo da
teologia, uma falta de fé entre o povo, e uma indiferença à ordem teológica pelo Estado,
logo significarão uma decadência moral e, então, o colapso social.
Quarto, um governo civil não é uma igreja e, assim, não se deve envolver nas
questões da igreja ou em doutrinas eclesiásticas, porém, deve afirmar uma fé bíblica, se
quiser evitar o colapso social. A política divorciada de Deus e de sua Palavra não pode
fornecer uma ordem moral válida. Pelo contrário, ela se torna uma força corrosiva que
leva a decadência. Isso não significa que basta um credo para o Estado. Afinal, não são
poucas as igrejas que professam grandes credos e não creem em nenhum deles. Uma
teologia de política sadia deve começar na vida das pessoas e manifestar-se nas
igrejas. Se não estiver no povo nem na Igreja, não estará no Estado.
Quinto, em termos da Escritura, a Igreja e o Estado são ministros sob Deus. A
Igreja é um ministro de graça, e o Estado, um ministro de justiça. Observe que em
nenhum caso devemos limitar os ministérios. Embora a igreja seja o principal meio do
ministério da graça, não ousamos esquecer que a graça de Deus alcança homens por
meio de vários canais. O mesmo é verdade quanto ao governo civil; o mundo seria um
lugar sombrio e terrível se a justiça existisse somente dentro do maquinário do Estado.
Nossos pais administravam rotineiramente a justiça em nós, assim como as igrejas, os
patrões e uma variedade de grupos e pessoas. Para ser eficaz, a graça e a justiça devem
estar presentes em cada esfera da vida. Não devemos restringir a obra de Deus aos
canais oficiais! Fazê-lo é limitar a Deus, uma coisa perigosa de se tentar. Precisamos
ver a natureza ministerial do governo civil sem limitar a justiça ao Estado.
Na década de 1600, Richard Steele escreveu The Religious Tradesman [O
comerciante religioso], uma aplicação da Escritura ao mundo dos negócios. Começou
declarando que a religião, significando o cristianismo, é “o maior negócio da vida”.
Qualquer teoria de política que negligencie a fé bíblica como sua premissa resultará em
engano e produzirá desordem social.
Joe Morecraft, III escreveu um estudo de teologia política. E nos diz que a
liberdade e a justiça têm como sua premissa necessária o cristianismo, e que sem essa
fé, a sociedade termina em escravidão e injustiça. Escreve com habilidade, inteligência
e franqueza. Sua fé não é limitada, nem sua trombeta soa escapismo. Antes, com fé no
Deus trino e soberano, Morecraft é um guerreiro da verdade.
CAPÍTULO UM

A origem do governo civil


Política e fé cristã

Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há


autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram
por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à
ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos
condenação. Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o
bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o
bem e terás louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para
teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que
ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que
pratica o mal. É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por
causa do temor da punição, mas também por dever de consciência. Por
esse motivo, também pagais tributos, porque são ministros de Deus,
atendendo, constantemente, a este serviço. Pagai a todos o que lhes é
devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem
respeito, respeito; a quem honra, honra. (Romanos 13.1-7)

Aqui está a base bíblica para uma visão cristã da política. Permita que ela
modele todas as suas visões sobre candidatos, legislação, política pública e todas as
questões críticas que enfrentamos hoje.
Podemos entender Romanos 13.1-7 claramente, apenas quando lemos essa
passagem à luz de Romanos 12.1-2 e no contexto dos capítulos 12 e 13.
Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o
vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso
culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-
vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a
boa, agradável e perfeita vontade de Deus. (Romanos 12.1-2)
Quando nos tornamos cientes de que somos recipientes da misericórdia
salvadora de Deus em Cristo, isso terá um impacto dramático sobre a inteireza das
nossas vidas. Entregaremos nossas vidas e pensamentos incondicionalmente ao serviço
de Jesus Cristo, tornando-nos mais e mais renovados e governados por sua Palavra
revelada. Esse é o ponto principal de Romanos 12.1-2.
Romanos 12 e 13 salientam o fato de que essa devoção total a Jesus Cristo
controlará toda a nossa vida, por dentro e por fora. Governará nossos relacionamentos
com outros cristãos na igreja (12.3-16) e com não cristãos no mundo (12.17-21). Além
do mais, essa devoção se manifestará em nossas visões políticas (13.1-7) e em nossas
interações com as pessoas em geral (13.8-10).
Se cremos que a misericórdia de Deus nos faz uma reivindicação total, e que
nossa devoção ao governo de Cristo tem de ser sem limites, isso fará uma diferença na
forma como olhamos para a autoridade e as exigências do governo civil, e na natureza e
extensão da nossa lealdade ao governo civil.
Envolvimento completo na política e pensamento cuidadoso e correto sobre
questões políticas não são opções para o cristão. A vida cristã como um todo tem de ser
dedicada ao Senhor. Toda ela tem de ser governada por sua Palavra. Cada faceta da
existência humana tem de ser dedicada àquele que é o Soberano dos reis da terra
(Apocalipse 1.5).
Ser descuidado ou omisso em questões políticas é ser descuidado e omisso em
nossa obediência a Cristo, e ser ingrato quanto a sua misericórdia redentora, que, tendo
nos comprado, exige tudo o que temos, tudo o que somos e tudo o que fazemos — “não
sois de vós mesmos… porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a
Deus no vosso corpo” (1 Coríntios 6.19-20).
Romanos 13.1-7 apresenta dois deveres: (1) o dever dos cidadãos para com o
governo civil e (2) o dever do governo civil para com Deus. Visto que o governo civil
foi instituído e autorizado por Deus para a manutenção de sua ordem moral e para a
punição de criminosos que violam essa ordem, o governo civil está obrigado a
submeter-se a Deus, assim como os cidadãos estão obrigados a submeterem-se ao
governo civil. O que não significa dizer que o governo civil nunca possa ser criticado,
a despeito do que faça. Nem significa que deva ser obedecido, não importa o que exija.
Nossa lealdade primária deve ser sempre a Deus em Cristo. A lealdade a Deus
excede e determina todas as outras lealdades. Portanto, se as exigências do Estado
(governo civil) entram em conflito com as exigências de Deus, a lealdade do cristão a
Deus deve ter precedência sobre sua lealdade ao Estado. Quando proibidos, pelas
autoridades municipais, de pregar o evangelho, Pedro e João, não obstante tal
proibição, continuaram a pregar o evangelho, respondendo: “Antes, importa obedecer a
Deus do que aos homens” (Atos 5.29). (Veja também Atos 4.19s; Êxodo 1.17, 20;
Daniel 3.16s.)
A Igreja e os cristãos têm uma responsabilidade profética para com o governo
civil. Como fizeram Isaías, Jeremias, Daniel e Elias, devemos chamar o governo civil
ao arrependimento, quando aprova legislações e institui políticas contrárias à lei de
Deus.
Elias confrontou o Rei Acabe, porque o rei tinha deixado os mandamentos do
Senhor (1 Reis 18.18). Encontramos servos de Deus dirigindo-se aos poderes políticos
nessa mesma forma profética e corrigindo-os por seu afastamento da lei de Deus. O
exemplo mais familiar é João, o Batista, repreendendo Herodes por seu adultério e, por
isso, perdendo sua cabeça. Martinho Lutero disse que a Igreja é chamada a “lamber a
pele” do Estado, isto é, mantê-lo limpo.
Porque se diz do Estado que ele é um “ministro de Deus”, não significa que o
Estado deve ser obedecido a despeito do que faça. Dizer que o Estado é um “ministro
de Deus” não é dizer que ele é necessariamente isso em todos os pontos.
Por meio do pecado o Estado pode tornar-se o oposto do que deveria ser, assim
como ministros na igreja, ao ensinar heresia, podem tornar-se “anjos de luz” (2Co
11.14), que devem ser combatidos, evitados e expulsos da igreja. No livro de
Apocalipse, um Estado anticristão, como Roma com Nero em seus últimos dias, é
chamado de uma “besta” (Apocalipse 13), porque é uma ameaça à liberdade, à justiça e
à Igreja de Cristo.
Não há nada em Romanos 13.1-7 que não seja ensinado no Antigo Testamento.
A doutrina de Paulo sobre o governo civil, inspirada pelo Espírito Santo, está
firmemente fundamentada na perspectiva do Antigo Testamento inspirado pelo Espírito
Santo. Em seu livro, Theonomy in Christian Ethics [Teonomia na ética cristã],[2]
Greg Bahnsen apontou os paralelos políticos entre o Antigo e o Novo Testamento:
(1) Deus soberanamente aponta e remove governantes políticos. (2) A
governantes políticos não se deve resistir. (3) Eles são portadores de
títulos religiosos. (4) Agem por Deus na execução de penas de morte. (5)
Devem deter o mal e honrar o bem. (6) Devem governar de acordo com a
lei de Deus. (7) Estão sujeitos a crítica sempre que desobedecem à lei de
Deus.
Esses paralelos entre Romanos e o Antigo Testamento provam que a Bíblia é
unificada em seu ensino sobre a natureza e o papel do governo civil. O Antigo e o Novo
Testamento não estão em contradição quanto a esse assunto. O Novo constrói sobre o
Antigo. Portanto, o assunto política é uma questão altamente espiritual, um assunto
“espiritual” é um assunto “produzido pelo Espírito”, isto é, uma verdade retirada da
Palavra de Deus, que foi produzida pelo Espírito (1 Coríntios 2.13).

A supremacia de Deus

Romanos 13.1-2 apresenta-nos a premissa básica da política cristã: “Não existe


poder, senão o poder vindo de Deus. Os poderes que existem foram ordenados por
Deus”. “Poderes” refere-se a autoridades civis com o poder e o direito, dado por Deus,
de governar na jurisdição de questões civis atribuídas a elas, pelo próprio Deus, na
Bíblia.
A ênfase aqui é na supremacia de Deus, não na supremacia do Estado. A
questão não é: todas as instituições civis foram estabelecidas por Deus, portanto, são
supremas e acima de crítica. Antes, o ponto principal é: todas as instituições civis
foram ordenadas por Deus, portanto, Deus é supremo sobre elas todas e ele está acima
de crítica.
Deus é supremo sobre todos os indivíduos e instituições (Jeremias 10.6s). Ele é
a fonte de toda autoridade civil. E seu governo sobre os homens e nações é universal,
ilimitado e irrestrito. Mais especificamente, Jesus Cristo é o Rei dos reis, e Senhor dos
senhores (Apocalipse 19.16). Toda autoridade no céu e na terra foi dada a ele (Mateus
28.18). Ele é o soberano dos reis da terra (Apocalipse 1.5).
Há uma diversidade de governos humanos: autogoverno, governo da família,
governo da igreja e governo civil. Cada esfera tem suas funções, limites e poderes
claramente definidos. Uma instituição não pode usurpar os direitos e poderes de outras,
com impunidade. Todas devem prestar contas a Deus, que é a sua origem suprema. O
controle governante de Deus é sobre todas elas (Isaías 9.6). Portanto, todos são
igualmente responsáveis diante dele. A igreja é institucional e funcionalmente separada
do Estado, porém, não é mais responsável diante de Deus que o Estado, pois ambos são
igual e totalmente responsáveis diante dele.
Tanto cidadãos quanto Estado estão sujeitos à autoridade de Deus. Ambos, sob
compromisso com seu Senhor e sua vontade revelada. Os cidadãos têm de submeter-se
à autoridade política porque ela se origina de Deus. As instituições políticas devem
submeter-se à vontade revelada de Deus, pois ele é seu originador, proprietário e
Senhor.
Todas as formas de governo humano derivam sua autoridade, poder e jurisdição
da parte de Deus, não da vontade do povo ou do consentimento dos governados, pois os
governos não se originam com o povo, mas com Deus. A voz do povo NÃO é a voz de
Deus. A voz de Deus é sua vontade revelada, que é a Santa Bíblia (2 Timóteo 3.16).
Portanto, as autoridades civis, políticas e judiciais devem obedecer a Deus somente, a
despeito da vontade e preferências dos povos. Deus chama todos os seus eleitos e
oficiais designados a estudar sua lei
todos os dias da sua vida, para que aprenda a temer o SENHOR, seu Deus, a
fim de guardar todas as palavras desta lei e estes estatutos, para os
cumprir. Isto fará para que o seu coração não se eleve sobre os seus
irmãos e não se aparte do mandamento, nem para a direita nem para a
esquerda; de sorte que prolongue os dias no seu reino, ele e seus filhos no
meio de Israel. (Deuteronômio 17.19-20)
A Constituição dos Estados Unidos reflete essa premissa básica em seu
estabelecimento de uma república sob Deus, e não de uma democracia. Os dois não são
sinônimos. Uma democracia é uma nação governada pela maioria; e uma república é
uma nação governada por lei. Uma república cristã é uma nação governada por uma
constituição baseada na lei bíblica, administrada por representantes da constituição
democraticamente eleitos pelos cidadãos.
Numa democracia, os caprichos e fantasias da maioria, manipulada pela mídia
ou por uma elite corrupta, tornam-se a lei da nação. Em tal situação, nem nossas vidas
nem propriedades privadas estão a salvo. Numa democracia, se a maioria das pessoas
acredita que o aborto deliberado é permissível, a vida de todos os cidadãos em
gestação está em risco. Se a maioria das pessoas quer usar a força política para
repartir, com os burocratas, a riqueza de produtores e investidores, a propriedade de
ninguém está segura. Se a maioria crê que toda pessoa acima de 65 anos de idade deve
ser constrangida a cometer suicídio, para que não seja um dreno nos recursos da
sociedade, nenhum idoso está seguro.
Porém, numa república cristã, governada por lei constitucional baseada na lei
bíblica, toda vida e propriedade estão a salvo. Se a maioria exige o aborto, a
redistribuição de riqueza ou a morte dos idosos, nenhuma dessas coisas acontecerá,
pois, numa república, a lei governa, não a maioria.
Uma constituição baseada na Bíblia protegerá a santidade da vida humana e a
legitimidade do direito de propriedade privada. Além do mais, se a maioria quiser
relaxar as leis de divórcio e a legalização da pornografia, tal imoralidade não será
permitida por causa da proteção constitucional da família.
Se a maioria quiser que a educação dos filhos seja controlada pelo Estado, e
não pela família, tal assalto contra a autoridade paternal não acontecerá também, por
causa da proteção dos poderes da família dados por Deus.
Se a maioria quiser que o Dia do Senhor semanal seja infringido pela indústria
e legislação, o Dia do Senhor será, todavia, preservado, por causa da proteção
constitucional do Sabbath cristão. (Pessoas vivendo numa república cristã
experimentam verdadeira liberdade, enquanto os que vivem sob a “oclocracia”
[domínio das plebes] das democracias tornam-se escravos, pois as democracias logo se
degeneram em Estados e ditadores socialistas.)
Porque autoridade e poder político procedem de Deus, todas as instituições
políticas têm de submeter-se ao governo de Deus e reconhecer sua total
responsabilidade para com a soberania absoluta de Deus e para com as exigências
dessa soberania registradas na Bíblia. Se as instituições escolhem não fazê-lo, devem
preparar-se para sofrer sob o julgamento de Deus, por causa de sua rebelião contra o
governo de Deus. Nenhum Estado pode assumir uma posição neutra para com o governo
do Deus da Bíblia e sobreviver (Salmos 2). Todos os Estados têm de “beijar o Filho”
ou perecer!
Essa ênfase na supremacia política de Deus sobre o Estado é o que distingue a
política humanista da política cristã. O cristianismo crê que, nas questões políticas,
Deus e sua vontade escrita são supremos. Assim, o humanismo é uma tentativa fútil, da
parte do homem não regenerado, de banir a Deus da sociedade humana.
A política humanista (anticristã) toma duas formas básicas: coletivismo e
libertarianismo. O coletivismo enfatiza o “grupo” (Estado) sobre os membros
individuais do grupo. Acredita que a autoridade política é derivada do Estado e que as
liberdades humanas são concedidas pelo Estado ao indivíduo. Essas liberdades podem
ser tiradas pelo Estado, que as deu, se for para o bem do grupo. O poder dita o que é
correto numa ordem social sem Deus. Na União Soviética, exemplo supremo de
coletivismo, milhões de indivíduos foram assassinados para o “bem do Estado”.
O libertarianismo enfatiza o indivíduo sobre o grupo. Acredita que a autoridade
política é derivada do indivíduo, não do grupo. Não se deve permitir que nada restrinja
a liberdade individual, nem mesmo um sistema de ética absoluto da parte de Deus.
Portanto, de acordo com o libertarianismo, é errado condenar o aborto ou a
homossexualidade, porque fazê-lo seria infringir a liberdade individual.
O coletivismo crê na soberania suprema do Estado. O libertarianismo crê na
soberania suprema do indivíduo. E as formas não cristãs de capitalismo creem na
soberania suprema do mercado. Mas o cristianismo crê somente na soberania suprema
do Deus trino, diante de quem o indivíduo e o grupo são obrigados a se curvar.
Tanto o libertarianismo quanto o coletivismo são idólatras, escravizantes,
desumanos, assassinos e suicidas. O coletivismo/comunismo é responsável pela morte
de 200 milhões de pessoas desde a revolução bolchevista sob Lênin. Nos Estados
Unidos, o libertarianismo resultou no assassinato legal de quase 20 milhões de pessoas,
por meio de aborto. O humanismo é mortífero! “Os que odeiam a Deus amam a morte”,
diz Provérbios 8.36.
A supremacia de Deus em todas as questões políticas tem implicações na
responsabilidade do cidadão para com o Estado, e na responsabilidade do Estado para
com Deus. O cidadão, cristão e não cristão, deve estar em sujeição ao governo civil e
deve respeitá-lo, lembrando que está submetendo-se ao governo civil por causa de
Cristo e que sua lealdade a Cristo excede sua lealdade ao Estado.
Reconhecemos alegremente a jurisdição e autoridade do magistrado civil e
oferecemos, ativamente e com disposição, nossa lealdade a essa autoridade sob Deus.
Além do mais, reconhecemos que resistir às autoridades civis de forma ímpia e
antibíblica é na verdade resistir à ordenança de Deus, que trará seu julgamento sobre
nós. Por outro lado, o governo civil deve estar em sujeição a Deus e à sua lei-ordem.
Deve sujeitar-se à sua supremacia, obedecer e reforçar sua lei dentro da nação.
Como cidadãos, devemos estar certos de entender claramente o que isso
significa para nós: “O que resiste à autoridade opõe-se à ordenança de Deus”. O que
faz isso, coloca a si mesmo em rebelião contra a ordem de Deus para a vida e a
sociedade. Se Deus é supremo sobre todos, então cada indivíduo deve estar em
submissão respeitosa ao governo civil.
Alguns cidadãos patriotas, que se consideram conservadores, têm uma atitude
irreverente e desdenhosa para com o governo civil. Mas a Bíblia nos diz que essa é
uma atitude imprópria e perigosa para um cristão. Visto que os poderes políticos são
estabelecidos por Deus, devemos submeter-nos alegremente à sua autoridade. A
palavra sujeição nos versículos 2 e 5 de Romanos 13 é mais inclusiva que a palavra
obediência. Noutras palavras, os cristãos não têm apenas o dever de obedecer às
autoridades civis, mas temos de reconhecer também sua autoridade sobre nós e temos
de participar ativa e alegremente no dever de submeter-nos a elas.
Quais os poderes que existem nos Estados Unidos? Alguns tentam fugir da força
do nosso texto dizendo que esses poderes são, exclusivamente, a Constituição dos
Estados Unidos. Mas é óbvio a partir de Romanos 13.1-7 que esses poderes também
devem incluir os magistrados civis que administram essa Constituição, isto é, os que
foram eleitos para governar sobre nós na posição de autoridade civil.
Observe o que acontece conosco se não nos submetermos à ordenança política
de Deus: “Os que resistem à autoridade… receberão condenação sobre si mesmos”. É
uma coisa séria não se submeter ao governo civil. Se não o fazemos, Deus vê nossas
ações e atitudes como resistência à sua ordem política e moral. Tal recusa em honrar o
governo civil traz “condenação” ou juízo divino sobre nós.
Conservadores e liberais que agem irreverente e desdenhosamente para com o
governo civil estão plantando para si o julgamento terrível do Deus Altíssimo. Alguns
“conservadores” têm uma atitude hostil para com o governo civil, pois sustentam a
ideia de que o governo civil é um mal menor que a anarquia, algo que devem tolerar
para ter harmonia social.
Enquanto tiverem essa ideia, terão um entendimento menos que adequado de sua
responsabilidade para com o governo civil. A ordenança do governo civil não é um mal
menor. É ordenança por Deus. É um dom de Deus para ajudar na manutenção de sua
ordem moral sobre a terra, de forma que as pessoas possam viver em liberdade e
dignidade, cumprindo suas vocações sob a bênção de Deus, sem perturbações. A
submissão às autoridades civis significa recebê-las como dons de Deus para o nosso
benefício.
Após purificar a terra com um dilúvio, Deus deu esse novo mundo a Noé e fez
um pacto com ele, no qual disse o equivalente a isto: “Noé, quero que você conquiste
esta nova terra, e lhe darei algumas instituições para ajudá-lo a fazer isso. Mantenha
essas instituições e você terá sucesso. Eu velarei por isso” (cf. Gênesis 8-
9).
As instituições embrionárias que Deus deu a Noé para a preservação da
sociedade humana foram a família, o governo civil e o mandado de domínio (ou
trabalho ético). Enquanto Noé e sua família respeitassem essas instituições, essa nova
ordem mundial, que começou com o término do dilúvio, continuaria no devido lugar à
medida que o reino de Cristo progredisse na conquista de todos os reinos opostos.
Assim, o governo civil não é um mal menor que somos obrigados a tolerar. É,
porém, um dom gracioso da parte de Deus para o seu povo, de forma que possamos ser
protegidos dos ímpios para viver nossas vidas em paz (1 Timóteo 2.1). Quando
entendemos essa verdade, ela nos motivará a sermos mais consistentes em nossa
submissão respeitosa às instituições políticas.
Estamos vivendo durante a década mais crítica na história da nossa república. A
menos que os cristãos possam chegar ao poder nos Estados Unidos nos próximos anos,
para dar à Igreja espaço e tempo para proclamar o evangelho de Cristo livremente,
veremos muitos anos de devastação em nossa amada nação.
Estes são tempos solenes para a nossa nação, porém, isso não implica em que
tenhamos de agir como revolucionários, por pânico e desespero. A influência
anticristianismo em nossa nação deve ser eliminada, mas não por um método qualquer.
Só a aplicação fiel da Bíblia aos nossos problemas e estratégias funcionará, e só então
um Deus gracioso escolherá abençoar nossos esforços. Devemos nos assegurar de
termos uma base bíblica para tudo o que fazemos com o fim de salvar a América ou não
chegaremos em lugar algum.
Assim, não devemos agir e pensar como revolucionários que usam a violência
para alcançar seus objetivos. Devemos ser verdadeiros reformadores que tomam a
Palavra de Deus e trabalham intensa, vigorosa e perseverantemente em direção à
reconstrução cristã da nossa cultura apóstata, começando com a captura dos corações e
mentes de homens e mulheres, com o evangelho.
A segunda grande implicação da supremacia de Deus sobre a política aplica-se
ao dever da instituição política, bem como ao dever do cidadão como indivíduo. O
dever do indivíduo é claro: ele deve submeter-se aos poderes que existem. O dever do
Estado é igualmente claro: deve submeter-se ao Deus Todo-poderoso. Se Deus é
supremo, o Estado precisa curvar-se à supremacia de Deus sobre ele.
Jesus nos ensina que devemos dar a César (i.e., ao governo civil) as coisas que
pertencem a ele (Mateus 22.21). Para entender essa declaração, devemos observar o
contexto no qual foi feita. Jesus e seus seguidores estavam olhando para uma moeda
romana. Estavam preocupados em pagar impostos. Jesus lhes perguntou: “De quem é a
imagem na moeda?”. Responderam: “de César”. Jesus replicou: “Então, dai a César as
coisas que são de César e a Deus as coisas que são de Deus”.
O que César deve dar a Deus? Que imagem César carrega? Ele foi criado à
imagem de Deus. Portanto, César, assim como cada outro indivíduo sobre a terra,
incluindo todo oficial eleito e todas as instituições humanas, deve dar a Deus o que é
devido a ele. E o que é devido a Deus da parte de César, se Deus é supremo?
Submissão à autoridade de Deus, confissão da supremacia de Deus e cumprimento da
lei de Deus. O governo civil fazer algo menos que isso será resistir à ordem de Deus e
incorrer no julgamento de Deus.
Para resumir: Se Deus é supremo, temos de submeter-nos a todas as suas
instituições. Além disso, se Deus é supremo, todas as suas instituições têm de
submeter-se a ele. Têm de reconhecer a supremacia de Deus e não a supremacia
simulada do homem. Têm de obedecer e reforçar a vontade de Deus. Qualquer
instituição política sobre a terra, quer municipal, estadual ou federal, que se recuse
a fazê-lo está em conflito com a ordem de Deus à criação e Deus a julgará por sua
desobediência irracional e inescusável.
James Henley Thornwell foi um grande pregador presbiteriano durante a Guerra
entre os Estados (Guerra da Secessão). Após a guerra ser declarada, Thomwell pediu
ao Congresso da Confederação que adotasse a seguinte emenda à sua Constituição:
Nós, o povo desses Estados Confederados, reconhecemos distintamente
nossa responsabilidade diante de Deus e a supremacia do seu Filho, Jesus
Cristo, como Rei dos reis e Senhor dos senhores; e pelo presente
ordenamos que nenhuma lei inconsistente com a vontade de Deus, como
revelada na Sagrada Escritura, será aprovada pelo Congresso destes
Estados Confederados.[3]
Nada menos que uma confissão similar e sincera hoje, da parte do eleitorado e
dos oficiais eleitos, salvará esta nação.
Uma questão controversa nos aguarda: há alguma situação em que a
desobediência civil seja permissível ao cristão? A resposta a essa pergunta deve
começar com uma nova declaração da responsabilidade, dada por Deus ao cidadão, de
submeter-se à autoridade governante do Estado, por causa do seu amor a Deus. Porém,
não significa que se algum dia e por qualquer razão, quebrarmos qualquer lei civil,
estaremos pecando contra Deus, que nos julgará por isso. A Bíblia qualifica a natureza
e a extensão da nossa submissão ao governo civil.
E se o governo civil desrespeita a supremacia de Deus e aprova leis que
estejam em conflito com as leis de Deus? Qual é o dever do cristão nesse caso? Se
alguma instituição política exige que obedeçamos a uma lei civil, cuja obediência
implica necessariamente em desobediência à lei revelada de Deus, TEREMOS de
desobedecer a essa lei civil. Não temos escolha. Deus deve ser obedecido. Devemos
desobedecer ao Estado sempre que ele exigir desobediência a Deus. Se obedecemos ao
Estado a esse ponto, estaremos em rebelião contra Deus mesmo. A lealdade a Deus tem
prioridade sobre todas as outras lealdades.
Em Êxodo 1 vemos que o Estado emitiu uma lei exigindo o infanticídio de todos
os bebês do sexo masculino. Nessa situação lemos sobre um grupo de hebreias
piedosas que criam na supremacia de Jeová sobre os poderes políticos do Egito.
Quando ordenado pelo Faraó que cometessem assassinato, as parteiras piedosas
violaram a lei e enganaram o Faraó, pelo que Deus as abençoou ricamente.
As parteiras, porém, temeram a Deus (não temeram o Faraó) e não
fizeram como lhes ordenara o rei do Egito; antes, deixaram viver os
meninos… E Deus fez bem às parteiras; e o povo aumentou e se tornou
muito forte. (Êxodo 1.17-20)
O exemplo de Daniel também é pertinente. Embora não idêntica, a situação por
que Daniel passou é muito similar à situação em que se encontravam os cristãos nos
Estados Unidos, na década de 1990 ― cativeiro da Igreja numa cultura e Estado
humanista. Daniel tratou com respeito os que o capturaram, não obstante serem
totalitaristas. Não perdeu o controle, ofendendo-os. Não usou de violência ou rebelião
civil, nem deixou de cooperar com o fim de arruiná-los. Daniel estava disposto a fazer
tudo o que pudesse para não ofendê-los e para ajudá-los na administração eficaz da
nação. Todavia, quando lançaram um regulamento que proibia a oração pública, Daniel
fez como sempre tinha feito: violou a lei civil, orou como de costume, e Deus o
preservou e abençoou-o por isso.
Considere Sadraque, Mesaque e Abde-Nego. A lei babilônica exigia que todos
os cidadãos se prostrassem diante da imagem de Nabucodonosor, confessando sua
supremacia. Observe, em Daniel 3.16, o que esses jovens fizeram:
Responderam Sadraque, Mesaque e Abede-Nego ao rei: “Ó
Nabucodonosor, quanto a isto não necessitamos de te responder. Se o
nosso Deus, a quem servimos, quer livrar-nos, ele nos livrará da fornalha
de fogo ardente e das tuas mãos, ó rei. Se não, fica sabendo, ó rei, que
não serviremos a teus deuses, nem adoraremos a imagem de ouro que
levantaste”.
Que fé e que coragem! Esses três jovens nem mesmo comeram a comida do rei
para dar testemunho ao mundo de que o bem-estar deles não dependeria de um Estado
totalitário. Opuseram-se ao rei e Deus os manteve fortes. Violaram a lei civil, mesmo
sendo uma ofensa capital, pois se não a tivessem violado, teriam sido culpados de
violar o primeiro mandamento.
Em Atos 5 encontramos um poder municipal lançando uma lei que proibia a
pregação pública do evangelho dentro dos limites da cidade. Todavia, os discípulos de
Jesus, mesmo conhecendo essa lei, começaram a pregar o evangelho, violando dessa
forma a lei civil. Em Atos 5.28 as autoridades municipais falaram: “Expressamente vos
ordenamos que não ensinásseis nesse nome; contudo, enchestes Jerusalém de vossa
doutrina; e quereis lançar sobre nós o sangue desse homem”.
A questão é clara. Nunca podemos violar a lei de Deus para obedecer à lei do
Estado. As parteiras hebreias, Daniel, Sadraque, Mesaque, Abde-Nego, Pedro e João,
estavam simplesmente tomando seriamente o fato de que Deus é supremo sobre todas as
instituições políticas. É algo bem mais terrível cair nas mãos de um Deus irado do que
cair nas mãos de um Estado irado.
CAPÍTULO DOIS

A função do governo civil


Para que Deus instituiu o governo civil?
Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim
quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás
louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem.
Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a
espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o
mal. (Romanos 13.3-4)
Aqui temos, no Novo Testamento, uma clara afirmação da função do governo
civil apontada por Deus: aterrorizar os que praticam o mal.
Antes de considerarmos mais adiante a função bíblica do governo civil,
consideremos quais funções Deus não atribuiu ao governo civil. Observe em nossa
passagem que não há nenhuma menção a responsabilidade por saúde, educação ou bem-
estar. Deus não atribuiu essas responsabilidades ao governo civil. Elas pertencem ao
indivíduo, à família, à igreja, e às associações voluntárias.
No Antigo Testamento descobrimos que, em tempos de emergência nacional, o
governo civil pode assistir no tratamento de pragas assegurando a quarentena
misericordiosa dos infectados, para proteger os saudáveis. Em 1990 a América é
menos saudável, visto que o Estado tem tentado controlar e melhorar nossa saúde.
O mesmo é verdade quanto à educação. A Bíblia deixa claro que é
responsabilidade dos pais (Deuteronômio 6.7s), com a assistência da Igreja (Mateus
28.18s), educar seus filhos. Em nenhum lugar na Bíblia Deus atribui ao governo civil a
autoridade ou a competência para fornecer uma educação geral a seus cidadãos.
Contudo, o Antigo Testamento atribui ao governo civil o dever de educar seus
cidadãos nas exigências, proibições e sanções específicas da lei civil (2 Crônicas
17.9). O Rei Josafá entendeu que uma cidadania bem informada em sua constituição e
fundação pactual era uma cidadania forte, não facilmente influenciada ou intimidada.
Desde que o governo civil se envolveu numa tentativa de fornecer e controlar a
educação, os americanos têm se tornado mais ignorantes, mal-educados e iletrados.
E o mesmo é verdadeiro quanto ao bem-estar. A Bíblia não dá ao governo civil
a responsabilidade de fornecer bem-estar e segurança social a seus cidadãos. Essa
responsabilidade vital foi dada à família, ao diaconato da Igreja e à comunidade em
associações voluntárias (de caridade). De fato, a América tornou-se mais pobre desde
que o governo civil passou a tentar fornecer e controlar o bem-estar.
Qual é a razão desse fracasso em fornecer bem-estar? Para que forneça bem-
estar e segurança a uma pessoa, o Estado tem de forçosamente tirar a segurança de
outra. Para redistribuir riqueza a uma pessoa, tem de confiscar a riqueza de outra
pessoa. Não existe almoço grátis!
A Constituição dos Estados Unidos reflete essa ordem política bíblica. Declara
que o dever do governo civil é “promover” o bem-estar geral de todos os seus cidadãos
por meio da defesa comum, sem patrocinar nenhum grupo de interesse especial,
certificando-se de que todos os nossos cidadãos estejam seguros, defendendo-os de
criminosos e subversivos dentro nos nossos limites e de invasores e terroristas de fora.
A Constituição dos Estados Unidos não dá ao governo federal a
responsabilidade por saúde, educação ou bem-estar, o que significa que em sua vasta
maioria o trabalho do Congresso hoje é anticonstitucional e antibíblico.
O que mais Romanos 13 exclui das funções apropriadas do governo civil? Deus
não deu ao Estado a responsabilidade de planejar, regulamentar e controlar pessoas,
propriedades, contratos, escolas, igrejas, comércios e indústrias. A própria ideia de
que o Estado tem esse poder para regulamentar e controlar implica em que, se não há
tal planejamento e controle pelo Estado, não existe plano nem ordem na sociedade. O
Estado tem de se tornar o Estado predestinador, pois não existe nenhuma predestinação,
nenhuma ordem fora do Estado. Essa visão de política é ateísta. Nega uma das verdades
fundamentais da Bíblia: Deus é o grande predestinador (Isaías 46.10-11). A vida é
governada por seu plano. Submissão à sua supremacia e obediência à sua lei trazem
ordem, paz, liberdade e prosperidade a uma sociedade.
Quando regulamenta e controla, o Estado oprime, empobrece e escraviza.
Assim, a ideia humanista de que o propósito do Estado é regulamentar e controlar tudo,
incluindo a economia, descansa sobre o princípio anticristão de que Deus não está no
controle deste mundo e que a vida não se move de acordo com o plano de Deus. Trata-
se de uma negação da realidade de que a submissão voluntária de homens e instituições
à autoridade reguladora da Palavra de Deus assegura liberdade e justiça para todos.
Qual é, portanto, a função do governo civil, de acordo com Romanos 13.1-7? É
um dever simples: Deus comissionou o governo civil para proteger os cidadãos que
cumprem a lei, punindo os malfeitores, mantendo assim a lei-ordem de Deus numa
sociedade.
Três textos bíblicos corroboram a ideia. Romanos 13.3 diz que “os magistrados
são para temor dos malfeitores”. 1 Timóteo 2.1s diz que “os reis e todos os que se
acham investidos de autoridade” devem assegurar que os que cumprem a lei possam
“levar uma vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito”. Em 1 Pedro 2.13s,
recebemos uma ordem:
Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor, quer seja ao
rei, como soberano, quer às autoridades, como enviadas por ele, tanto
para castigo dos malfeitores como para louvor dos que praticam o bem.
Logo, a função bíblica do Estado é dominar, pelo temor, os malfeitores e punir
todos os que impedem os cidadãos que cumprem a lei de viver uma vida pacífica,
quieta, piedosa, tranquila e digna em submissão a Deus.
Imagine quão pequeno seria o orçamento do governo civil, se ele
desempenhasse essa única função bíblica! Imagine quão pequenos seriam nossos
impostos! Imagine como estaríamos seguros!
Os nomes dados ao governo civil em Romanos 13 revelam muita coisa sobre
sua função e propósito. No versículo 1, ele é chamado de “as autoridades superiores”.
No versículo 3, é chamado de um “magistrado”, isto é, alguém a quem Deus colocou no
poder e deu autoridade para governar.
No versículo 3 também é chamado de “um temor quando se faz o mal”, isto é,
deve aterrorizar os que fazem o mal ou que o fariam. Se um Estado não impõe temor
aos malfeitores pela aplicação da lei de Deus, o Estado e a sociedade serão
aterrorizados pelos malfeitores, como acontece hoje.
No versículo 4, o Estado é chamado de um “ministro de Deus” que deve agir
como vingador de Deus para trazer a ira de Deus “sobre [para castigar] o que pratica o
mal”. À luz dessas designações, o propósito do Estado é vingar a supremacia de Deus
sobre aqueles que se rebelam contra a ordem de Deus. E no versículo 6, esses
magistrados são chamados de “os servos [ministros] de Deus”. O Estado deve proteger
o homem que presta serviço a Deus.
Todos esses nomes são dados ao Estado, por Deus, para nos impressionar com a
responsabilidade do Estado de nos proteger dos violadores da lei, sendo esse Estado
um terror para os que transgridem a lei de Deus e um servo de Deus que executa sua
vontade revelada. Noutras palavras, o propósito do governo civil é retribuição ou
restituição: assegura-se de que a justiça de Deus seja pontualmente honrada, que
qualquer injúria feita seja reparada, e que os criminosos sofram a força plena da lei,
recebendo o castigo que seus crimes merecem.
O livro de Deuteronômio diz que os tribunais nunca devem mostrar misericórdia
a criminosos condenados (Deuteronômio 19.18-21). Quando condenado, um criminoso
deve sofrer o peso total do castigo que seu crime merece. A justiça exige isso!
O castigo deve equivaler ao crime. Os tribunais não podem mostrar
misericórdia. Juízes não têm opção, se os tribunais hão de ser um terror real para os
malfeitores. Tivessem os criminosos certeza de que seriam punidos caso cometessem
um crime, o Estado seria um terror para eles e, portanto, um dissuasor.
Onde é mostrada misericórdia ao criminoso, a vítima do seu crime fica sem
misericórdia. A misericórdia será mostrada ao ofensor ou à vítima. É apropriado
mostrar misericórdia à vítima, mas, se o tribunal mostra misericórdia para com o
ofensor, a vítima é ofendida e sofre duas vezes. Por exemplo, se um assassino
condenado recebe uma sentença de vida, e não a execução, os impostos dos cidadãos
que cumprem a lei, incluindo os da vítima da família, serão usados para o sustento
desse criminoso.
Além do mais, o propósito dos tribunais do país não é aconselhamento marital,
mudança social ou reabilitação dos criminosos. Sem sombra de dúvida, a Bíblia é clara
em apresentar o dever único dos tribunais: “A justiça seguirás, somente a justiça…”
(Deuteronômio 16.20). Quando um juiz perde de vista esse objetivo e passa para a
esfera de afetar mudanças sociais por suas decisões, então se perverte a justiça e a
liberdade desaparece.
Pediu-se a um famoso juiz federal que descrevesse a constituição do judiciário
federal moderno. Ele respondeu que há dois tipos de juízes federais hoje: um é o juiz
que vê a si mesmo como o agente de transformação social imediata; e o outro é o juiz
que vê a si mesmo como tendo tal responsabilidade, mas não tão enfaticamente. Noutras
palavras, há apenas um tipo de juiz federal na América hoje, com umas poucas
exceções: o que vê a si mesmo como um agente de mudança social (numa direção
esquerdista).
A única diferença entre eles é que alguns são mais zelosos e mais consistentes
que outros. Até onde diz respeito à Bíblia, qualquer juiz que não veja a si mesmo como
um defensor da lei revelada de Deus, cujo dever é administrar a justiça de Deus, é um
matador profissional cruel e injusto em acordo com o status quo humanista, e deve ser
desprezado pelos amantes da liberdade e da justiça.
A visão de que o propósito do tribunal é reabilitar o criminoso baseia-se na
velha heresia da salvação pela(s) lei(s), e não pela graça por meio da fé em Cristo. A
lei não tem a capacidade de reabilitar, como os muitos estudos em justiça criminal
confirmam. Nem a criação de leis ou sua aplicação pode tornar um homem mau em
bom, ou melhorar um homem bom. Somente o evangelho de Jesus Cristo pode fazê-lo.
O propósito do tribunal, e do governo civil, é restringir o mal, não mudar os homens.
Ao desempenhar essa função retributiva, o governo civil está preocupado com
ações, não com pensamentos ou crenças particulares de alguém. Não deve tentar
controlar nossos pensamentos ou fé, ou transformar nossos pensamentos em
conformidade com a “política pública”.
No versículo 3, afirma-se que o Estado é um terror para o “comportamento
mau”, não para pensamentos maus. Também no versículo 3, somos instados a “fazer o
bem…”. E no versículo 4, somos advertidos de que se “fizermos o mal”, devemos
temer; e que a ira de Deus é administrada pelo Estado “para castigar o que pratica o
mal”. A questão é que só Deus pode julgar o coração, e ele o faz.
Portanto, o propósito do governo civil não é julgar opinião. Não é julgar o
coração. Não é controlar o pensamento. Sua preocupação é julgar ações,
comportamento e práticas exteriores. O Estado não deveria estar preocupado em
controlar pensamento, mas em controlar ações iníquas e julgar o comportamento contra
a lei. E sempre que fizer isso de maneira justa, estará agindo como agente e
representante de Deus. Torna-se o ministro de Deus.
Em Romanos 12.19, Deus diz: “A mim me pertence a vingança; eu é que
retribuirei, diz o Senhor”. A vingança é prerrogativa pessoal de Deus. Ele é o único que
pode executar a vingança. Porém, em Romanos 13.4 descobrimos que o governo civil é
“um vingador que traz a ira (divina) sobre aquele que pratica o mal”. A vingança
pertence a Deus. Porém, Deus concedeu, a um Estado piedoso, a autoridade para
administrar sua vingança. Sempre que um governo civil pune justamente um criminoso,
é Deus agindo por meio dele. Esse governo civil executa a ira de Deus.
Deus coloca “a espada” nas mãos do Estado, que a usa em seu nome. Assim,
então, quando está agindo própria e biblicamente, quando não está deslizando seu pé
pelo socialismo, hedonismo ou pragmatismo, quando está mantendo a ordem moral
revelada de Deus, o governo civil é o representante oficial do Deus Todo-poderoso.
Quando administra sanções e castigos a criminosos, é Deus administrando essas
sanções.
Essa é a razão de a Bíblia dizer que, se o governo civil não executa aqueles que
merecem a pena de morte, Deus fará que a pena de morte caia sobre toda a sociedade.
Deus terá sua vingança!
Se o Estado não vê a si mesmo como o responsável por nos proteger pela
administração da justiça e da ira de Deus sobre os malfeitores, então a Bíblia diz que o
próprio Deus desempenhará essa função e trará sua terrível pena de morte sobre essa
nação. Deus conseguirá o que quer (Deuteronômio 28).
Deus vindicará seu nome e sua ordem moral. Executará sua santa vingança
sobre indivíduos e instituições que a ele desobedecem. Por meio de um governo civil
piedoso, Deus age, julga, protege e vinga. Portanto, o Estado é o “servo” e “ministro”
de Deus, representando-o e a sua ordem moral.
A implicação óbvia disso é que um governo civil não pode ser religiosamente
neutro. Não pode e não consegue ser religiosamente neutro. Ao se dirigir aos juízes,
Deus diz:
Não estabelecerás poste-ídolo, plantando qualquer árvore junto ao altar
do SENHOR… Nem levantarás coluna, a qual o SENHOR, teu Deus, odeia.
(Deuteronômio 16.21s.)
Como o Estado pode ser religiosamente neutro, se foi instituído pelo Deus da
Bíblia para ser seu servo, seu ministro, seu representante com o fim de agir em seu
nome, aplicar sua lei, administrar sua ira, dotado de sua autoridade para manter sua
ordem moral sobre a terra?!
Se faz tudo isso fielmente, o Estado está favorecendo o cristianismo. Se faz algo
menos ou diferente, está favorecendo o anticristianismo. É impossível que um Estado
não favoreça nenhuma religião. Um Estado é um Estado idólatra, sob o julgamento
divino, se favorece qualquer outro deus que não o Deus trino da Bíblia, e qualquer
outra religião que não o cristianismo bíblico.
Comprometimentos e perspectivas religiosas em relação à vida são
inescapáveis. Mudam e colorem tudo o que fazemos. O que cremos sobre a vida nos
níveis mais profundos do nosso ser afetará tudo o que fazemos e cada opinião que
sustentamos, incluindo nossas perspectivas políticas. Não podemos escapar da nossa
religião. Todo mundo tem uma. A questão é: qual religião alguém sustenta ―
cristianismo ou humanismo, isto é, anticristianismo? Assim como um indivíduo não
pode escapar de suas pressuposições religiosas, um governo civil não pode escapar de
favorecer uma religião em detrimento de outra.
A América foi fundada como nação cristã, favorecendo o cristianismo ortodoxo.
B. F. Morris escreveu em seu livro de 800 páginas, The Christian Life and Character
of The Civil Institutions of The United States [A vida cristã e o caráter das
instituições civis dos Estados Unidos] (1863):
A história do cristianismo na América é um dos capítulos mais
impressionantes nos anais da história do mundo. Os eventos da
Providência em reservar e preparar o país desses Estados Unidos, para
ser o teatro do seu desenvolvimento e triunfo, constituem uma das
passagens mais notáveis da história moderna.
Esta é uma nação cristã, primeiro no nome, e segundo por causa dos
muitos e poderosos elementos de um cristianismo puro que lhe deu caráter
e mudou seu destino desde o princípio. Ela é preeminentemente a nação
da Bíblia, da Igreja cristã, e do Sabbath cristão. A principal segurança e
glória dos Estados Unidos da América tem sido, é agora, e será para
sempre, a prevalência e o domínio da fé cristã.
O propósito da Primeira Emenda à Constituição não foi secularizar ou
descristianizar o governo dos Estados Unidos. Isso nunca foi o pretendido pelos autores
daquela Emenda. A visão secular é sobreposta à Constituição por aqueles cuja agenda é
a descristianização das instituições civis e sociais da América. Joseph Story, que serviu
no Superior Tribunal de Justiça de 1811 a 1845, refutou essa abordagem secular à
Primeira Emenda:
Provavelmente no tempo da adoção da Constituição, e da Primeira
Emenda a ela… o sentimento geral, se não universal, na América, era que
o cristianismo deveria receber encorajamento do Estado até onde não
fosse incompatível com os direitos privados de consciência e a liberdade
de culto religioso. Qualquer tentativa de nivelar todas as religiões, e
tornar uma questão de política do Estado manter todas em neutralidade
total, teria criado desaprovação total, se não indignação universal… O
objeto real da emenda não foi permitir, muito menos promover, o
islamismo, ou o judaísmo, ou o ateísmo, arruinando o cristianismo;
porém, sim, excluir toda rivalidade entre as seitas cristãs, e impedir
qualquer estabelecimento eclesiástico nacional que daria a uma
hierarquia o apoio exclusivo do governo nacional.[4]

A religião dominará a política e as instituições políticas. A questão não é se a


religião influenciará a política, porém, sim, qualreligião influenciará a política ― o
cristianismo ou o humanismo. Se há de servir como um ministro de Deus e, assim,
preservar liberdade e justiça para todos, o governo civil dos Estados Unidos deve ser
cristianizado institucionalmente, isto é, deve permitir que as verdades bíblicas deem
forma e conteúdo às nossas instituições políticas. Isso de forma nenhuma significa que
alguma denominação cristã deveria funcionar como igreja estatal, que todos devam
financiar com impostos. A América não é o Irã. A Bíblia não é o Corão. E cristianismo
não é islamismo. Porém, queremos que o governo civil da nossa nação favoreça o
cristianismo novamente. Queremos que pare de favorecer o humanismo, isto é, o
anticristianismo, como está fazendo atualmente, em especial no sistema de escolas
públicas (do governo).
O humanismo leva à morte da humanidade. Leva ao assassinato de 20 milhões
de bebês em quinze anos, por aborto. Leva à propagação de doenças venéreas e da
AIDS. Quando uma nação favorece o humanismo, essa nação perecerá, a menos que se
arrependa. Numa nação humanista, milhões de pessoas morrem por doença, fome,
aborto, eutanásia, infanticídio, guerras injustas, terrorismo, assassinato e suicídio, em
cumprimento de Deuteronômio 28 e Levítico 26.
No cerne dos nossos problemas políticos, econômicos, sociais e morais como
nação, está nossa tentativa de romper com nossas raízes bíblicas, romper com as
exigências que o Deus supremo colocou sobre nós. E como justa consequência, Deus
está começando a julgar nossa nação (Isaías 3). O salário do pecado ainda é a morte! O
Salmo 2 ainda é verdadeiro!
O que acontece quando uma nação é fiel a Deus? O que acontece quando um
governo civil confessa genuinamente que Deus é supremo no sentido pleno da palavra?
A resposta é encontrada em Provérbios 20.2: “Como o bramido do leão, é o terror do
rei (piedoso); o que lhe provoca a ira peca contra a sua própria vida”. Quão diferente
seria Atlanta, Geórgia e Washington, D.C. se, quando a iniquidade ocorresse nessas
cidades, o leão do governo civil rosnasse tão ferozmente que incitasse terror no
coração dos criminosos que assaltam a ordem moral de Deus.
Provérbios 20.8 diz: “Assentando-se o rei no trono do juízo, com os seus olhos
dissipa todo mal”. Esse rei piedoso que administra a justiça de Deus é uma visão tão
aterrorizadora quando enfurecido pela violação da lei, que, se um criminoso sequer
olha em seus olhos, isso lhe causa horror e o dissuade. Esse é o tipo de governo civil
que agrada a Deus.
Contudo, se o governo civil usa a força mortal para impor qualquer outro
sistema de justiça que não o da Bíblia, isso aterrorizará os justos. O criminoso, não o
cidadão, deve tremer diante de um policial, soldado, governador ou presidente. Num
Estado verdadeiramente cristão, o cidadão piedoso pode olhar para esses homens com
um sorriso de respeito e apreciação. Porém, quando olhasse para essas autoridades
políticas, o malfeitor deveria tremer por saber que esse governo civil está
comprometido em manter a paz, preservar a justiça e que os que provocam esse “rei”
com seus atos de iniquidade, pecam contra a própria vida.
Se fosse fazer como Deus ordena, o governo dos Estados Unidos procuraria
preservar a ordem moral de Deus, sua paz, sua justiça e, fazendo-o, protegeria o
piedoso. Liberdade e justiça para todos abundariam. Haveria um ambiente propício à
disseminação do evangelho pela igreja.
A comunidade cristã seria capaz de desenvolver e florescer em suas atividades,
sem qualquer restrição do Estado a suas escolas, lares, propriedades, vocações e
desenvolvimento econômico. Veríamos o reino de Cristo capturar e transformar mais e
mais áreas da cultura americana à medida que os cristãos trabalhassem para reconstruir,
pela Palavra de Deus, mais e mais instituições americanas na educação, economia, lei,
mídia, medicina e tecnologia.
Começaríamos a ver, em nossos corações e sociedade, a vontade de Deus feita
na terra assim como é no céu. Ore para que esse dia chegue em nossa geração. Trabalhe
por este grande objetivo: a cristianização de cada face da sociedade e cultura
americana e a evangelização de cada cidadão e família americana.
Quando esse dia chegar, você e eu seremos capazes de gastar todos os nossos
dias trabalhando duro em nosso chamado, adorando a Deus com nossas famílias em
nossas igrejas, recebendo o que merecemos, conservando o que fazemos, gastando
como desejamos, sendo capazes de dar os nossos dízimos, fazendo com a nossa
propriedade o que quisermos e o que for agradável a Deus, e educando nossos filhos no
caminho em que pensamos dever educá-los. Teremos uma nação forte, segura, próspera,
livre, justa e piedosa, abençoada pelo Deus Todo-poderoso.
À medida que o governo civil preserva a ordem numa sociedade pela
manutenção da ordem moral de Deus segundo o padrão divino de justiça, a Igreja pode
trabalhar para salvar essa sociedade pela propagação do evangelho de Jesus Cristo no
poder do Espírito Santo. Essas duas instituições, Igreja e Estado, devem manter a
ordem de Deus numa sociedade, restringindo a ilegalidade nessa sociedade. Quando
uma ordem piedosa é mantida, a Igreja tem, então, lugar e liberdade para aplicar o
mandamento que Deus lhe deu de fazer das nações do mundo discípulos de Cristo.
Pense seriamente nestas palavras poderosas de A. A. Hodge, um pregador
presbiteriano do século XIX:
Se Cristo é realmente rei, exercendo jurisdição original e imediata sobre
o Estado, como faz na verdade sobre a Igreja, segue-se necessariamente
que a negação ou negligência geral de seu senhorio por direito, qualquer
recusa de obedecer à Bíblia que é o livro-lei aberto de seu reino, serão
obrigatoriamente seguidas por ruína política e social, bem como moral e
religiosa.
Se os crentes professos são infiéis à autoridade do seu Senhor em sua
condição de cidadãos do Estado, não podem esperar serem abençoados
pela habitação do Espírito Santo em sua condição de membros da Igreja.
O reino de Cristo é um e não pode ser divido em vida ou em morte.
Se a Igreja se debilita, o Estado não pode estar com saúde, e se o Estado
rebela-se contra seu Senhor e Rei, a Igreja não pode desfrutar do favor de
Deus. Se o Espírito Santo se afasta da Igreja, não estará presente no
Estado, e se ele, o único Senhor e Doador da vida, está ausente, então
toda ordem é impossível e os elementos da sociedade voltam à escuridão
e caos primitivo.
Em nome de vossos próprios interesses, eu vos imploro; em nome do
tesouro dos vossos lares e celeiros; de vossas ricas fazendas e cidades;
de vossos acúmulos no passado e esperanças no futuro, eu vos advirto —
vós nunca estareis seguros se não mantiverdes fielmente todos os direitos
régios de Jesus, o Rei dos homens.
Em nome de vossas filhos e da preciosa herança da civilização cristã que
lhes cabe; em nome da Igreja cristã, vos advirto: o privilégio sagrado, a
liberdade religiosa, não pode ser retida por homens que em questões civis
negam sua fidelidade ao Rei. Em nome de vossas próprias almas e de
vossa salvação; em nome da adorável Vítima daquele sacrifício
sanguíneo e agonizante do qual extraí todas as vossas esperanças de
salvação; pelo Getsêmani e o Calvário; eu vos advirto, cidadãos dos
Estados Unidos, flutuai no vosso amplo mar de política, existe outro Rei,
um Jesus: A segurança do Estado pode ser assegurada somente na
forma de lealdade humilde e total à sua pessoa e de obediência à sua
lei.[5]
CAPÍTULO TRÊS

O poder de um ministro de Deus


Deus concedeu ao governo civil três poderes, de forma que o governo possa ser
eficaz em cumprir sua responsabilidade de manter a ordem moral de Deus. Esses três
poderes, mencionados em Romanos 13.1-7, são: (1) o poder de um ministro de Deus;
(2) o poder da espada; e (3) o poder de cobrar impostos. Trataremos de cada um deles
nos próximos três capítulos.
O primeiro poder que Deus deu ao Estado é o poder de um ministro de Deus. O
uso fiel desse poder torna o Estado um terror real para os malfeitores. Em Romanos
13.4 o Estado é duas vezes chamado de um “ministro de Deus”.
Quando age como tal, o Estado promove o bem-estar, a segurança e a felicidade
dos cidadãos que cumprem a lei. Porém, se uma pessoa comete atos ilegais, esse
mesmo ministro-servo de Deus tem poder e autoridade para lançar a ira de Deus sobre
essa pessoa, a fim de deter seu assalto contra a ordem moral de Deus e a perturbação
que causa a uma sociedade pacífica.
O Estado está capacitado a fazer isso como um ministro de Deus, porque aplica
a lei bíblica. Tem o poder e a responsabilidade ministerial de diferenciar biblicamente
entre certo e errado, com o fim de punir o errado e honrar o certo.
A autoridade do Estado é “ministerial”. O Estado tem uma autoridade na esfera
civil similar à do ministro-pregador na esfera eclesiástica. Na Bíblia, tanto políticos
eleitos quanto pregadores são chamados de “ministros de Deus”. Cada um tem
diferentes responsabilidades e deveres oficiais, porém um tipo similar de autoridade.
Ambos têm autoridade ministerial, porém, não autoridade legislativa.
Ao pregador não foi dada autoridade legislativa para criar novas doutrinas e
legislar novas éticas pelo fiat “ex nihilo”. O pregador é chamado por Deus para
ministrar o evangelho que encontra na Bíblia, sem subtração ou adição.
Alguns pregadores são criadores de novas doutrinas, no entanto, ao fazê-lo, têm
ido além dos limites de sua autoridade e têm renunciado à supremacia de Deus sobre
eles. O pregador verdadeiro deve ministrar a verdade bíblica em sua pregação e
ensino. Ele é um ministro da verdade, e não uma fonte da verdade.
O mesmo é verdade a respeito do Estado. Sua autoridade é ministerial, não
legislativa. Deus não lhe deu o direito de criar leis, legislações e políticas pelo fiat ex
nihilo. O Estado não pode inventar regulamentos baseados na última opinião eleitoral
ou na dica mais recente de um expert. O Estado pode ministrar e aplicar à nossa
situação moderna as leis que encontra escritas na Bíblia, leis de governo da esfera
civil.
O Estado é o ministro da lei e da justiça, não a fonte de ambos. O Estado não é
o ministro do homem, nem da maioria, nem dos poderosos. É o ministro de Deus.
Representa a Deus. Representa a lei moral de Deus e, portanto, pode legislar somente
aquelas leis que são aplicações verdadeiras da lei bíblica do Deus Todo-poderoso.
Dizer que precisamos de leis adicionais, extra-bíblicas e antibíblicas, para
satisfazer as necessidades da nossa era moderna, é negar a suficiência total da Bíblia,
sua autoridade eterna para toda a vida em todas as épocas (Deuteronômio 4.1s; 8.12-
32; 29.29). A Bíblia nos diz tudo que precisamos saber para sermos plenamente
equipados com o fim de manter uma sociedade bem ordeira, pois a Bíblia não é a
palavra do homem, nem a palavra do Estado, mas a eterna Palavra escrita de Deus.
Deus concedeu ao governo civil, como ministro de Deus, a autoridade para
obedecer e aplicar a lei bíblica. Não lhe concedeu a autoridade para fazer algo mais ou
menos. Se faz algo além de obedecer e aplicar a lei bíblica, o Estado está usurpando
uma autoridade que Deus não lhe deu. Portanto, torna-se óbvio que esse poder dado por
Deus é também uma limitação dada por Deus ao poder do Estado. A transgressão dessa
limitação traz o julgamento de Deus.
Colocando de outra forma: o Estado está envolvido em questões concernentes a
bem e mal, certo e errado. Contudo, algumas pessoas querem que o Estado tome uma
postura “neutra” com respeito a questões morais, e apenas se ocupe de questões
políticas. Dizem: “A moralidade é para a Igreja. Vamos mantê-la fora da política”.
Há dois problemas sérios com esse ponto de vista:
(1) É impossível separar moralidade, religião e política. George Washington
viu isso claramente, conforme seu discurso de despedida:
De… todas as disposições e hábitos que levam à prosperidade política, a
religião e a política são indispensáveis. Em vão invocará o tributo de
patriotismo, o homem cujo trabalho subverta esses grandes pilares da
felicidade humana, esses mais firmes sustentáculos dos deveres dos
homens e cidadãos. E tenhamos cuidado com a suposição de que a
moralidade pode ser mantida sem a religião. Não importa no que
podemos concordar quanto à influência da educação refinada sobre as
mentes de estrutura peculiar, a razão e a experiência nos proíbem de
esperar que a moralidade nacional possa prevalecer com a exclusão do
princípio religioso… virtude ou moralidade é uma mola necessária do
governo popular.
Quando falou de religião, Washington quis dizer religião cristã, como John
Eidsmoe documenta, em seu livro, Cristianismo e a constituição.[6]
(2) Romanos 13.3-4 não permite nenhuma dicotomia entre moralidade e
política.
Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim
quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás
louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem.
Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a
espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o
mal.
Por sua própria natureza, instituições políticas estão intimamente envolvidas em
questões de bem e mal. Estão inescapavelmente preocupadas com moralidade e
comportamento. De fato, não existe uma questão política que não seja, no cerne, uma
questão moral. O aborto é um problema político e moral. O assassinato de pessoas que
ainda não nasceram é algo mal.
Imposto, inflação e bem-estar são questões políticas e morais. Usar o poder
político para tirar a propriedade de alguém e dar a outro é roubo. É pilhagem legal.
Questões de defesa nacional (a saber, tratados, defesa estratégica, combate a
terroristas) são questões políticas e morais. As famílias americanas devem ser deixadas
sem defesa em face do crescente terrorismo e do armamento de várias nações? Nossa
estratégia de defesa está baseada em retaliação ou numa defesa que realmente defende?
Essas são questões morais.
O ponto principal é que, a despeito da natureza da questão política, ela lida com
certo e errado, bem e mal, moralidade e imoralidade. Assim, nesse sentido, é
responsabilidade do Estado legislar a moralidade bíblica. Não devemos hesitar nesse
ponto. Para uma nação permanecer livre e justa, seu governo civil deve aplicar a lei
bíblica.
O Estado deve realmente “legislar moralidade”? Tudo depende do que se quer
dizer com essa frase. Se legislar moralidade refere-se ao esforço de tornar as pessoas
boas, criando leis, então, sem dúvida, como cristãos, devemos discordar dessa visão.
Os cristãos creem que somente Jesus Cristo pode salvar pecadores. Somente ele pode
tornar as pessoas boas.
Os humanistas, por outro lado, creem que o Estado pode tornar as pessoas boas,
criando leis. Creem, por exemplo, que se as armas forem banidas, haverá menos crime.
Mas as armas não causam crime. Pessoas más causam crimes. Banir armas não fará que
pessoas más fiquem melhores. “Armas causam crimes assim como moscas causam
lixo.”
Em que sentido, então, o Estado deve legislar moralidade? Neste sentido: cada
item da legislação representa o entendimento de alguém sobre certo e errado. De quem
é o entendimento, de quem são os padrões a que vamos permitir determinarem o rumo
da legislação dos Estados Unidos: padrões do homem ou padrões revelados de Deus?
O propósito do governo civil é assegurar que o sistema de moralidade pública
de Deus seja firmemente estabelecido e mantido numa cultura, pois se a lei de Deus não
permanece no fundamento da vida de uma nação, essa nação não durará muito. Assim,
temos uma escolha. Ou teremos uma sociedade cristã onde a lei de Deus governa todas
as coisas e onde é propósito do Estado obedecer e aplicar essa lei, ou podemos ter um
Estado humanista e anticristão.
O primeiro protege e aumenta vida e liberdade. Alguém poderia afirmar ser um
exagero dizer que o humanismo produz culturas sanguinárias; porém, vinte milhões de
bebês brutalmente abortados dizem que não é um exagero!
A legislação da moralidade pública cristã preserva liberdade e justiça para
todos. A legislação da (i)moralidade pública humanista destrói a ambos, pois o
humanismo chama de bom o que Deus chama de mau. E o mal é oposto a tudo o que
Deus é e a tudo que o homem deveria ser.
Para alguns, poderia soar peculiar ouvir que a responsabilidade do governo
civil é obedecer e reforçar a lei bíblica. Soaria muito arcaico, muito legalista. Seria
arcaico, e mesmo estúpido, se as leis morais e civis da Bíblia tivessem se originado
com o homem e fossem úteis somente numa cultura hebraica primitiva e agrária. Mas a
Bíblia é a Palavra do Deus Eterno e dura para sempre.
A Bíblia é verdadeira e aplicável em todas as eras, precisamente porque é a
revelação escrita de Deus. E quanto à lei bíblica ser “legalista”, compare as poucas
centenas de leis da Bíblia com os milhares e milhares de novas leis e regulamentações
passadas pelo Congresso todo ano. Adicione a isso os milhares de ordens executivas e
políticas anuais, da presidência. Conte as páginas do Registro Federal.
Não é a lei bíblica que é “legalista” e restritiva, mas, sim, a lei humanista e
estatista, que impõe injustiça e restrição às nossas vidas, liberdade, negócios e
propriedades. Se o governo federal fosse anular todas as leis legisladas nos últimos
cem anos e colocar em vigor as poucas centenas de leis morais da Bíblia, este país
teria mais liberdade, força, segurança, prosperidade, justiça, retidão, amor e felicidade
do que jamais teve em sua história. Sem dúvida, isso não aconteceria até que o coração
dos americanos fosse convertido a Jesus Cristo.
Uma república cristã tem bem menos leis, bem menos funcionários públicos, e é
bem menos onerosa que qualquer democracia humanista, i.e., estado socialista (2
Crônicas 12.8). O humanismo no controle do nosso governo federal está falindo a
América.
Foi ordenado a Israel que obedecesse e reforçasse a lei de Deus na esfera
política. Em 2 Crônicas 34.31, lemos:
O rei se pôs no seu lugar e fez aliança ante o SENHOR, para o seguirem,
guardarem os seus mandamentos, os seus testemunhos e os seus estatutos,
de todo o coração e de toda a alma, cumprindo as palavras desta aliança,
que estavam escritas naquele livro.
Temos de orar seriamente para que da próxima vez que estiver prestando
juramento para assumir o cargo, colocando sua mão sobre a Bíblia, o Presidente dos
Estados Unidos diga: “Faço por meio disto um pacto diante de Deus, de andar e
governar segundo seus estatutos e testemunhos, com todo o meu coração e alma”.
Quando coloca sua mão sobre a Bíblia, e não faz esse pacto com Deus, um Presidente é
um hipócrita e não é digno desse alto ofício.
Por toda a vida de Israel, seus líderes políticos eram responsáveis diante de
Deus quanto a reforçar a lei de Deus e manter sua ordem moral sobre todas as outras.
Em Ezequiel 44.24, Deus diz aos poderes políticos:
Quando houver contenda, eles assistirão a ela para a julgarem; pelo meu
direito julgarão; as minhas leis e os meus estatutos em todas as festas
fixas guardarão e santificarão os meus sábados.
Os profetas de Israel não poderiam conceber uma sociedade ordeira, justa e
livre, a menos que os líderes políticos estivessem comprometidos com obedecer e
reforçar as leis de Deus, e nenhuma outra. Algumas pessoas tentariam refutar a força
desse argumento, dizendo que, embora isso pudesse ter sido esperado de Israel, não era
esperado das nações não israelitas do Antigo Testamento. Facilmente se vê que tal
visão é um erro. No Antigo Testamento, Deus estava exigindo das outras nações do
mundo tanto quanto exigia de Israel. Isaías 13-23 e Jeremias 45-51 descrevem
vividamente o julgamento de Deus sobre a Babilônia, Assíria, Egito, Edom, Moabe e
várias outras nações do mundo — por elas não terem obedecido e reforçado a lei
bíblica.
Provérbios 14.34 diz: “A justiça (i.e., a conformidade à lei de Deus) exalta as
nações, mas o pecado (i.e., a transgressão da lei Deus) é o opróbrio dos povos”.
Qualquer nação que vive em conformidade com a Palavra revelada de Deus será
exaltada por Deus; e qualquer nação que negligencie ou negue essa Palavra divina será
desfavorecida por Deus. O Salmo 2.10s aborda o assunto quando se dirige a todos os
juízes e líderes políticos da Terra:
Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos advertir, juízes da terra.
Servi ao SENHOR com temor e alegrai-vos nele com tremor. Beijai o Filho
para que se não irrite, e não pereçais no caminho…
O mesmo ponto é estabelecido em Levítico 18.24-28:
Com nenhuma destas coisas vos contaminareis, porque com todas estas
coisas se contaminaram as nações que eu lanço de diante de vós. E a terra
se contaminou; e eu visitei nela a sua iniquidade, e ela vomitou os seus
moradores. Porém vós guardareis os meus estatutos e os meus juízos, e
nenhuma destas abominações fareis, nem o natural, nem o estrangeiro que
peregrina entre vós; porque todas estas abominações fizeram os homens
desta terra que nela estavam antes de vós; e a terra se contaminou. Não
suceda que a terra vos vomite, havendo-a vós contaminado, como vomitou
o povo que nela estava antes de vós.
Quando entrou na terra de Canaã, Israel passou a ter uma vizinhança cheia de
nações idólatras não israelistas e não “cristãs”. Deus julgou aquelas nações
precisamente porque contaminaram a terra com desobediência abominável às suas leis.
Assim, quer seja Israel, quer as nações gentias, todas as instituições políticas por todo
o mundo são responsáveis diante de Deus quanto a obedecer e cumprir sua lei. Fazer
algo diferente é trazer o juízo de Deus sobre aquela cultura.
Romanos 13.1-7 nos apresenta um relacionamento pactual genuíno. Uma
república cristã é baseada num pacto triplo: (1) O pacto que os cidadãos fazem com
Deus quando dizem: “Por meio disso nos comprometemos a ser governados
inteiramente pela Palavra de Deus”. (2) O pacto entre o Estado e Deus, no qual o
cabeça do Estado diz: “Prometo que governarei exclusivamente em função da lei do
Deus Todo-poderoso”. (3) O pacto entre o Estado e os cidadãos, onde eles se
comprometem mutuamente a: o Estado — a administrar a justiça de Deus em favor dos
cidadãos; e o povo — a obedecer ao Estado enquanto ele permanecer fiel às
obrigações pactuais (Josué 1.17).
Há um totalitarianismo crescente por parte do governo federal, dos governos
estaduais e municipais em nosso país, que é inevitável quando uma nação rejeita a lei
de Deus como base de sua vida e ordem. A tirania é uma ordem política na qual a fonte
final da lei, o padrão final de certo e errado, é o homem ou a própria ordem política.
Para muitos, o que a Corte Suprema diz ser legal é moral. Alguns têm ido mais
longe a ponto de dizer que antes acreditavam que o aborto estava errado, até que a
Corte Suprema o tornou legal. Tal pessoa é um escravo e essa mentalidade gera o
totalitarianismo.
Nações livres são nações que tomam, da lei de Deus, sua definição de bom e
mau, não da subjetividade humana ou dos objetivos do Estado. Críticos diriam: “O que
você está propondo soa como uma teocracia”. A palavra teocracia tem uma variedade
de significados e conotações. Teocracias como a do regime islâmico totalitalitário do
Irã do Aiatolá Khomeini são repulsivas para todos os que amam a verdade, a liberdade
e a justiça. Na verdade, não é uma teocracia, porém, uma ditadura.
Muitas pessoas pensam que uma teocracia é uma ordem política governada
ditatorialmente por líderes de igreja, simplesmente pelo fato de serem líderes da igreja.
Mas a Bíblia não ensina que o Estado deveria estar sujeito à Igreja, não mais do que
ensina que a Igreja deveria estar sujeita ao Estado.
Teocracia é uma descrição muito apropriada de uma ordem política piedosa,
quando essa palavra é definida corretamente. Israel no Antigo Testamento era uma
teocracia verdadeira e saudável, e havia também uma clara separação institucional e
funcional entre Igreja e Estado. Nem a Igreja nem o Estado eram totalitários.
Uma teocracia, no sentido bíblico da palavra, é uma nação onde a lei revelada
de Deus é suprema sobre todas as leis humanas, e é a fonte de todas as leis.
Um rótulo descritivo de tal ordem, o qual poderia substituir o termo teocracia, é
república cristã. No Antigo Testamento, Israel tinha uma república constitucional. Em
seus dias melhores, era uma república, governada por representantes eleitos, onde a lei
de Deus era a base para sua união constitucional e pactual (confederação). Israel
deveria ser uma nação santa, onde Deus reinasse por meio dos seus representantes, que
executassem fielmente sua lei. E onde Deus reina, aí, liberdade, justiça, força, paz e
prosperidade abundam.
Em seu livro com o mesmo nome, E. C. Wines refere-se à teocracia do Antigo
Testamento como “a república hebraica”. Mostra como a origem dessa república
americana não está na Grécia ou em Roma, mas nas leis teocráticas de Moisés:
Então, como entendo, eram as grandes ideias, os princípios fundamentais,
que estavam na base do Estado hebraico. A unidade de Deus, a unidade
da nação, a liberdade civil, a igualdade política, uma magistratura eletiva,
a soberania do povo, a responsabilidade dos oficiais públicos para com
seus eleitores, uma administração rápida, barata e imparcial da justiça, a
paz e a amizade com outras nações, uma indústria agrícola universal, a
inviolabilidade da propriedade privada, a santidade da relação familiar, a
santidade da vida humana, a educação universal, a união social, um bem
ajustado equilíbrio de potências, e uma opinião pública iluminada,
dignificada e venerável, eram os elementos vitais da constituição de
Moisés.[7]
Caso se recuse a obedecer e cumprir as leis reveladas de Deus, o governo civil
degenera-se em ministro de Satanás. Quando se perguntou a um pregador batista russo
que passara seis anos num campo de trabalho forçado siberiano como ele interpretava
Romanos 13.1, sua resposta foi: “Eu lhe direi como todo cristão verdadeiro na Rússia
entende Romanos 13.1 Entendemos que o texto diz que a autoridade governamental
recebe de Deus a ordem para fazer a vontade de Deus, mas quando o governo nega a
existência de Deus e persegue o povo de Deus, tal governo não é de Deus, mas do
diabo”.
Esse pregador batista russo entende Romanos 13 melhor que muitos americanos,
e bem melhor que todos os cristãos alemães que venderam tudo aos nazistas sob Hitler.
Quando se volta para outra lei ou ordem que não a da Bíblia, o Estado deixa de ser
ministro de Deus e torna-se ministro de Satanás. Como cristãos, nunca podemos prestar
obediência ou lealdade não qualificada a tal governo civil. De fato, devemos trabalhar
com diligência contra seus esforços por se livrar do cristianismo. Nossa lealdade a
Jesus Cristo sempre define a natureza e a extensão da nossa submissão ao Estado.
A Bíblia descreve tal Estado anticristão como uma “Besta” terrível e assassina
(Apocalipse 13). Em Apocalipse 13, o governo civil, concedido por Deus para
promover sua paz e justiça, é chamado de uma Besta abominável, assustadora e
terrível, que ameaça e amedronta seus cidadãos.
Quando o Estado se torna essa Besta? Quando o Estado deixa de ser um
ministro de Deus e se torna um ministro de Satanás? Isso acontece quando o Estado
aterroriza os cristãos, quando traz vingança sobre os cristãos, e não sobre os
malfeitores. O que levaria um governo civil a agir assim? Quando se torna bestial?
Resposta: quando nega, negligencia ou repudia sua responsabilidade de obedecer e
cumprir a lei bíblica, um governo civil torna-se um inimigo cruel e bestial dos seus
cidadãos que guardam a lei, aterrorizando-os e a seus filhos.
O governo federal dos Estados Unidos terá se tornado um inimigo dos seus
cidadãos piedosos? Tornou-se um “Estado terrorista” contra seus cidadãos, ameaçando
a nossa liberdade, prosperidade, segurança e nossas próprias vidas; porque claramente
virou as costas para sua responsabilidade diante da supremacia do Deus Todo-
poderoso.
O que acontece quando um Estado se torna uma Besta? O que acontece quando
não mais cumpre a lei de Deus, mas se compromete com uma lei ou ordem humanista,
anticristã e satânica? Liberdade e justiça para todos são redefinidas como sem sentido.
A paz desaparece. A prosperidade murcha. Vinte milhões de bebês são abortados.
Igrejas e escolas cristãs são perseguidas.
Os cristãos são os primeiros a sofrer, pois esses cristãos, que tomam a Palavra
de Deus com seriedade, são sempre a maior ameaça a qualquer Estado que pensa ser
Deus. Os cristãos são vistos pela Besta como os reais terroristas e como extremistas
fanáticos. Esse era o motivo por que a antiga Roma alimentava os leões com cristãos.
Não era porque eles adorassem a Jesus. Mas porque adoravam somente a Jesus, e não a
César. Porque não prostituiriam sua lealdade a Jesus Cristo.
Não se curvariam diante de nenhuma autoridade governamental em suas vidas,
exceto a autoridade do Senhor Jesus Cristo. Isso explica porque, quando um Estado se
torna uma Besta, apostatando de sua base bíblica, os lares, indivíduos, igrejas, escolas
e organizações cristãs são os primeiros a serem perseguidos ou desacreditados.
Os cristãos, juntamente com outros, é que serão aterrorizados e penalizados com
maior severidade, com impostos altos, inflações, regulamentos burocráticos, falsas
acusações e aprisionamentos, enquanto malfeitores são protegidos e bem cuidados.
Tudo fica de cabeça para baixo num Estado que se tenha tornado uma Besta.
Assim, em termos bíblicos, nos deparamos com os que carregam a marca da Besta
(Apocalipse 13.17), em oposição aos que levam o selo de Deus (Apocalipse 14.1, 12).
As vertentes são delineadas. A Bíblia diz em Apocalipse que a Besta tem uma marca
que coloca na testa e na mão dos seus escravos. A menos que carregue essa marca, uma
pessoa não pode fazer nenhum comércio, mas se tornará um proscrito de sua sociedade.
Contra a Besta e aqueles a quem ela marca como seus, estão os que pertencem
exclusiva e totalmente a Deus, que carregam a marca de Deus em suas testas e mãos. A
que se refere isso? Qual é essa “marca” e esse “selo”?
Deuteronômio é a chave para entender essas figuras. Em Deuteronômio, Deus
diz a seu povo, em termos figurados, para colocarem sua lei em suas testas, mãos,
ombreiras de portas, bocas e corações (Deuteronômio 6.8s).
Devem manter a lei de Deus diante de seus olhos, em suas mentes, e em suas
mãos, porque somente à medida que, por causa de Jesus, vivemos em submissão alegre
a essa lei, é que somos um povo livre e abençoado. Assim, em Apocalipse, a marca da
Besta não é um cartão de crédito de plástico e a Besta não é um computador gigante na
Bélgica.
Carregar a marca da Besta é entregar-se a outra lei ou ordem que não a da
Bíblia. O cidadão que exibe a marca da Besta em sua testa e mão é uma pessoa que
vive segundo as leis totalitárias do homem e de Satanás, em vez das leis perfeitas e
libertadoras de Deus (Tiago 1.25). É a pessoa que se recusa a governar seus próprios
pensamentos e vida pela Bíblia, escolhendo em vez disso submeter-se aos ditames
anticristãos e bestiais das decisões judiciais, legislações, preceitos e políticas públicas
da Besta.
Quem é a pessoa que carrega o selo de Deus? É o homem, a mulher ou o jovem
que tem a lei de Deus escrita em sua cabeça, coração e mãos. Para essa pessoa, um
crente em Jesus, a lei bíblica é o princípio regulador de toda a sua vida. Trabalha para
vencer as tramas e esquemas da Besta, e restaurar seu Estado a seu fundamento na
Palavra de Deus. Os que carregam a marca da Besta serão recompensados e
defraudados pela Besta. Serão também amaldiçoados por Deus. Os que carregam o selo
de Deus serão perseguidos pela Besta, mas serão recompensados e protegidos por
Deus. E finalmente, triunfarão sobre a Besta. Louvado seja Deus!
Nos Estados Unidos há uma guerra entre os que exercem o poder político e seus
“idiotas úteis” que carregam a marca da Besta, e estão comprometidos com uma lei ou
ordem humanista, em oposição aos que carregam o selo de Deus, comprometidos com a
lei ou ordem de Jesus Cristo revelada no Antigo e no Novo Testamentos. Nessa guerra,
a Besta tem de ser contida pela Noiva. Se a Noiva de Cristo não resiste à Besta,
ninguém mais o fará, pois ninguém mais tem poder para matar a Besta.
Políticos meramente conservadores não têm o poder de resistir à Besta. Grupos
de ação política meramente conservadores não têm o poder de fazê-lo. São importantes
em seu lugar, porém, há somente uma força nos Estados Unidos poderosa o suficiente
para deter, pela raiz, o terrorismo da Besta morta: a Igreja do Senhor Jesus Cristo
usando a Palavra do Espírito, que é a Palavra de Deus (Efésios 6.17; 2 Coríntios 10.4).
Quando viola seu pacto com Deus e não mais obedece ou cumpre a lei de Deus,
um governante perdeu seu direito de governar. Quando um governante perde seu direito
de governar, é dever dos cristãos resistir a ele e removê-lo do cargo. Quando falhamos
em fazer isso, quando falhamos em nos opor à Besta com métodos e estratégias
bíblicas, nós nos tornamos cúmplices do seu crime, e Deus nos punirá e a toda a nação,
por nosso silêncio, covardia e cumplicidade.
Simplesmente cooperando, pacificando a Besta, não se opondo e resistindo ao
inimigo da liberdade e justiça de Deus e dos nossos filhos, estaremos cometendo um
pecado suicida. A Besta deve ser combatida pela Noiva com a espada da Palavra de
Deus, e somente com a espada da Palavra de Deus, em sua mão.
Somente você e eu, como Igreja de Jesus Cristo, temos o poder de deter a Besta
na América e no mundo. Se não começarmos a enterrar a Espada do Espírito no
coração de seus líderes e instituições, em breve a Besta haverá de tragar nossos filhos.
CAPÍTULO QUATRO

O poder da espada
Esse poder do Estado concedido por Deus é mencionado em Romanos 13.4: “…
a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque
não é sem motivo que ela traz a espada”. Qual é esse poder da espada? Qual é seu
propósito? Como é usada sem motivo?
Uma espada de metal não é usada para passar manteiga num pão. A “espada”
representa o uso, pelo Estado, de força legal e, quando necessário, de força mortífera,
para desempenhar sua função definida por Deus. Deus mesmo deu ao governo civil a
autoridade para usar a força legal (mortal) para reforçar sua lei e proteger os
benfeitores, dos malfeitores.
Deus coloca a espada na mão do Estado e diz: “Use isto de acordo com minha
definição de certo e errado, para manter minha ordem moral e proteger os cidadãos que
cumprem a lei”. A espada, então, significa coerção. Portanto, para administrar a justiça
e manter a paz, o Estado recebeu o poder de coerção, a fim de suprimir os malfeitores.
Esse é um dever inescapável num mundo caído. Quando um governo civil
renuncia a essa responsabilidade, o malfeitor suprimirá e coagirá o benfeitor. Quando
uma nação se recusa a suprimir os atos de ilegalidade, como definidos pela Bíblia
(pois somente o Criador pode definir o que é ilegal e o que é legal), o cidadão que
guarda a lei é que é reprimido e aterrorizado, enquanto a ilegalidade reina suprema.
A razão pela qual o Estado deve usar, com frequência, a coerção legal para
manter a ordem moral de Deus é que a única forma de pessoas iníquas serem impedidas
de atos ilegais é coagindo-as por força legal, algumas vezes mortal, a fim de deter sua
atividade ilegal. Deus não deu ao Estado o poder da espada para converter o mundo ao
cristianismo. E a espada não foi dada para conquista. O propósito da espada não é
conquistar o mundo para a América. Essa é a visão islâmica de Gaddafi, Khomeini e
Hussein, porém, é anticristã.
O propósito da espada pode ser definido de três formas. Primeiro, o propósito
da espada é capacitar o Estado a proteger os benfeitores, dos malfeitores. Se há de
fornecer essa proteção, o Estado precisa ter força superior à do malfeitor. Se alguém
procura nos ferir com uma metralhadora, o Estado não será de nenhuma ajuda se tiver
apenas um espanador.
O Estado piedoso deve ter força superior à força de homens e nações perversos.
Esse é o ensino do próprio Jesus:
Ou qual é o rei que, indo para combater outro rei, não se assenta primeiro
para calcular se com dez mil homens poderá enfrentar o que vem contra
ele com vinte mil? (Lucas 14.31)
Segundo, uma república cristã com uma espada em sua mão é um terror santo
para os malfeitores. Romanos 13.3 diz justamente isso: o poder da espada é para
despertar terror no coração dos que ao menos projetem quebrar a lei. Quando não mais
desperta terror no coração dos malfeitores, um governo civil não tem mais capacidade
de proteger seus cidadãos que guardam a lei, dos que os prejudicariam.
Terceiro, o poder da espada é para ser usado com o propósito de administrar a
justiça de Deus, assegurar que a ordem de Deus seja mantida, e que a reparação seja
feita sempre que a lei de Deus for violada. Quando crimes são cometidos contra a lei
de Deus, a reparação tem de ser feita a Deus, à sociedade, e à vítima do crime (ou a sua
família), para que a paz e a ordem continuem. A função do Estado é punir os erros
cometidos e corrigi-los.
A espada deve ser usada com este propósito: punir o criminoso e assegurar à
vítima a reparação e a compensação que merece como resultado da injúria sofrida.
Além do mais, a espada deve ser usada para satisfazer a justiça de Deus e vindicar a
ordem da sua criação.
Em nossa sociedade hoje, mais pessoas estão falando sobre o valor da
reparação, mas poucos sabem o que é a verdadeira reparação à vítima de um crime.
Obrigar que os criminosos paguem multas à corte judicial (o Estado) não é reparação.
A reparação é feita à vítima ou a sua família.
Em nossa cultura não é a vítima que é protegida e objeto de piedade, mas, sim,
o criminoso. Por essa razão, a Bíblia instrui o sistema judiciário a não mostrar
misericórdia para com o criminoso. O Estado não tem a opção de perdoá-lo pelos
crimes cometidos. O criminoso precisa receber a punição que merece, se a justiça há de
ser feita. Por quê? Porque mostrar misericórdia para com o criminoso é não mostrar
misericórdia pela vítima.
Recentemente, numa grande cidade americana, a filha de um pregador foi
violentamente estuprada, torturada e assassinada. Em vez de receber a pena de morte
que merecia, a corte sentenciou o assassino a viver na prisão. “As misericórdias dos
ímpios são cruéis” (Provérbios 12.10, ARC). Quando a lei de Deus é rejeitada nos
tribunais, a vítima é a brutalizada. Quem pagará agora o quarto e as refeições (a vida)
do assassino daquela jovem? Serão os pais da vítima, seus amigos e parentes — por
meio dos impostos.
Pelo restante da vida do assassino na prisão, o dinheiro ganho com muito custo
pela família entristecida da vítima, será direcionado ao sustento e conforto do
assassino. Isso é compaixão? Não, é perversão!

O uso da espada nas questões domésticas

Deus concedeu ao governo civil autoridade para usar a espada a fim de


preservar a justiça em nossas relações interpessoais , dentro de nossa própria nação.
Mas para que esse poder seja usado eficazmente, há certas coisas que devem estar
presentes também. Sem essas outras coisas no lugar certo e funcionando
apropriadamente, qualquer tentativa por parte do Estado de administrar a espada será
exagerada e frustrante.
Para que o governo civil trabalhe eficazmente, o indivíduo deve agir de maneira
apropriada. O indivíduo precisa praticar o autogoverno e a autodisciplina sob a
Palavra de Deus. Precisa haver amor verdadeiro pelo próximo, que nos mova a cuidar
do seu bem-estar e de sua proteção.
Se vemos uma pessoa mais fraca sendo atacada ou maltratada, não devemos
fechar nossos olhos e seguir nosso caminho.
Devemos socorrê-la. A Bíblia nos ensina que se podemos deter a prática de um
crime e não fazemos nada, nós nos tornamos cúmplices desse crime (Deuteronômio
22.1s, 19.18s).
Sem amor pelo próximo que nos faça cuidar dos interesses e do bem-estar uns
dos outros, o governo civil não será capaz de nos proteger. Juntamente com o amor ao
próximo, é preciso haver amor verdadeiro pelo Deus vivo e por sua ordem para as
nossas vidas. Precisamos ser devotados a isso. Precisamos lutar para preservar isso.
Sem o autogoverno, o amor pelo próximo, e o amor por Deus e sua ordem
revelada, o Estado não será capaz de deter o crime.
A Igreja também está diretamente envolvida no refreamento da desordem numa
sociedade. Refreia a desordem e desobediência às leis, pela disciplina eclesiástica.
Quanto mais guarda seus membros, pratica a disciplina eclesiástica com amor, prega e
ensina toda a Palavra de Deus, e observa os sacramentos, mais eficaz em refrear o
crime a Igreja de Jesus Cristo será. Quanto mais fiel e eficaz a Igreja se tornar no uso
das “chaves do reino”, mais eficaz o Estado se tornará pelo “poder da espada”.
A família tem um papel central em refrear o crime e a desobediência às leis
numa sociedade. À medida que os pais começam a entender suas responsabilidades uns
para com os outros e para com seus filhos, a praticar mais fielmente a disciplina
familiar, e criar seus filhos como filhos do pacto na disciplina e na admoestação do
Senhor, mais prontamente o crime diminuirá numa comunidade. À medida que os pais
educam seus filhos em escolas cristãs, em vez de jogá-los em escolas humanistas,
sustentadas pelo Estado, repletas de crimes e cheias de drogas, o crime diminuirá.
Os pais restringirem a impiedade em seus lares, as Igrejas restringirem a
impiedade em suas congregações, e o Estado restringir a impiedade em sua jurisdição
não é o suficiente. Uma sociedade sempre será marcada por crimes, a menos que seja
dominada pela fé, porque o caráter mal do homem pode ser reformado apenas pelo
evangelho de Jesus Cristo.
Nem a disciplina eclesiástica, nem as sanções civis têm o poder de mudar o
caráter caído e mau de uma pessoa. A única forma de um indivíduo experimentar
mudança substancial e duradoura na direção correta, nos níveis mais profundos de sua
vida, é por meio da graça redentora de Deus em Cristo, mediante a fé. A menos que seja
dominada por essa fé, uma cultura nunca será protegida da impiedade desenfreada.
Muitos hoje estão tentando restringir a impiedade, deter o tráfico de drogas, pôr
fim ao aborto, preservar a justiça nos tribunais, edificar nossa defesa nacional, e manter
a paz, sem este ingrediente indispensável: Jesus Cristo.
Nenhum desses empreendimentos funcionará a menos que nós, como nação,
sejamos motivados interiormente pela fé de que é somente Cristo quem pode salvar
pessoas e nações pecadoras. Enquanto as pessoas olharem para o Estado, a família, a
Igreja, a escola, ou para a ciência e a tecnologia para reformar e reabilitar os homens
de seus maus caminhos, essas pessoas não vão conseguir nada quanto a se proteger da
tempestade de impiedade.
A Igreja tem de fazer sua parte. O indivíduo tem de fazer sua parte. E a família
tem de fazer sua parte, se o Estado há de ser bem sucedido em fazer a sua parte. O
governo civil está fundamentado no autogoverno. Para que qualquer uma dessas
instituições aja eficazmente, toda essa sociedade deve estar comprometida com a fé de
que somente Jesus Cristo é o Salvador do mundo: “… não há salvação em nenhum
outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo
qual importa que sejamos salvos” (Atos 4.12).
O uso doméstico [dentro do país] da espada inclui a legitimidade da pena de
morte. Esse é sempre um assunto controverso. O que a Bíblia diz? Deus diz que o
Estado deve usar a espada para condenar à morte os cidadãos sob esse governo que
tenham cometido crimes merecedores de morte. Gênesis 9, Êxodo 13 e Romanos 13
podem ser usados como nosso apoio bíblico para crer que “o poder da espada” inclui a
autoridade (e dever) de executar criminosos condenados por crime capital.
Há três razões fundamentais pelas quais a pena de morte é essencial para a
justiça pública: (1) o caráter santo de Deus; (2) o mandamento santo de Deus; e (3) a
sacralidade (santidade) da vida humana, da família e da ordem moral de Deus.
Primeiro, o caráter santo de Deus é a base da pena de morte. O caráter de
Deus é de tal natureza santa e justa que incita à repulsa e intolerância absoluta contra
qualquer coisa que se oponha ou contradiga esse caráter (Romanos 1.18). Em santa ira
Deus é impelido a destruir aquilo que se opõe a ele (Josué 7.1). Se Deus não punisse o
mal naquilo que ele criou, significaria que considera muito pouco seu próprio caráter
como Deus e sua ordem estabelecida para a criação.
O fato de Deus ser santo e justo, de não tolerar a impiedade, e de buscar puni-la
e expurgá-la das sociedades colocando a espada na mão do Estado, são princípios
fundamentais para nosso entendimento da legitimidade da pena de morte.
Em Gênesis 9 somos informados de que se assassinar outra pessoa, o cidadão
deve perder sua própria vida. Portanto, o governo civil tem o dever de condenar à
morte os assassinos (Números 35.30s). Assassinato não é o único crime capital na
Bíblia (Mateus 15.4; Marcos 7.10; Deuteronômio 24.7; Levítico 20.10-21;
Deuteronômio 22.23-27; Êxodo 22.18; Deuteronômio 21.18-21; Levítico 24.11-24;
Êxodo 35.2; Deuteronômio 13.1-10).
Essa abordagem bíblica da pena de morte reflete-se na América de hoje. Entre
nossos vários estados há diversos crimes considerados capitais: assassinato, estupro,
certos crimes sexuais, criminalidade incorrigível, para citar alguns. São remanescentes
de uma cultura cristã em nossa terra.
Quando um governo civil negligencia ou nega sua responsabilidade de condenar
à morte criminosos capitais, o crime se alastra. Quando a Corte Suprema declarou
inconstitucional a pena de morte, dentro de um ano os Estados Unidos experimentaram
mais sequestros e assassinatos que em qualquer ano anterior em sua história. Nos anos
em que a pena de morte foi prescrita, sequestros e assassinatos dobraram.
Segundo, o santo mandamento de Deus é a base da pena de morte. Deus
ordena que o Estado condene à morte os criminosos culpados de crimes capitais.
Números 35.30-33 declara:
Todo aquele que matar a outrem será morto conforme o depoimento das
testemunhas; mas uma só testemunha não deporá contra alguém para que
morra. Não aceitareis resgate pela vida do homicida que é culpado de
morte; antes, será ele morto. Também não aceitareis resgate por aquele
que se acolher à sua cidade de refúgio, para tornar a habitar na sua terra,
antes da morte do sumo sacerdote. Assim, não profanareis a terra em que
estais; porque o sangue profana a terra; nenhuma expiação se fará pela
terra por causa do sangue que nela for derramado, senão com o sangue
daquele que o derramou. Não contaminareis, pois, a terra na qual vós
habitais, no meio da qual eu habito; pois eu, o SENHOR, habito no meio dos
filhos de Israel.
Deus diz que crimes capitais contaminam a terra e a única forma de
“descontaminá-la” é derramando o sangue do ofensor que cometeu o crime. Quão
contaminada é a América!
Deuteronômio 19.18-21 diz:
Os juízes indagarão bem; se a testemunha for falsa e tiver testemunhado
falsamente contra seu irmão, far-lhe-eis como cuidou fazer a seu irmão; e,
assim, exterminarás o mal do meio de ti; para que os que ficarem o
ouçam, e temam, e nunca mais tornem a fazer semelhante mal no meio de
ti. Não o olharás com piedade: vida por vida, olho por olho, dente por
dente, mão por mão, pé por pé.
Os criminosos devem ser punidos justa, certa, rápida e severamente, para que o
mal seja removido da sociedade e o crime, desencorajado. A pena de morte é um
inibidor do crime, quando administrada bíblica, pública, rápida e com clareza. Deus
diz isso!
Além do mais, esse texto em Deuteronômio nos dá o princípio pelo qual um
crime deve ser considerado uma ofensa capital: a atrocidade do crime determina a
severidade da punição. A punição sempre deve ser apropriada ao crime.
Terceiro, a sacralidade (santidade) da vida humana e da família é a base da
pena de morte. Criminosos capitais devem ser executados pelo Estado por causa da
sacralidade da vida humana e da família. Visto que homens e mulheres foram criados à
imagem de Deus, a vida humana é tão sagrada que, se alguém assassinar outro, esse
assassino, que assaltou a imagem de Deus no homem, deve perder sua própria vida. “Se
alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu; porque Deus fez
o homem segundo a sua imagem” (Gênesis 9.6).
Além do mais, porque a família é santa no plano e aos olhos de Deus, algumas
das mais severas leis e punições na Bíblia são destinadas aos que assaltam a unidade
da família, que é central para a santa ordem moral de Deus na sociedade humana.
O Estado recebeu o sacerdócio de justiça. A justiça exige que o criminoso
receba a punição que merece. É simples assim. O propósito da pena de morte é
administrar uma penalidade merecida, com justiça, por um criminoso, para que seja
feita a reparação à lei ou ordem de Deus para a vida. Seu propósito é satisfazer a
justiça de Deus e vindicar a lei de Deus contra o desafio dos ímpios que tentam
subverter essa lei.
A preocupação da pena de morte não é a retaliação. Não é nem mesmo, em
primeiro lugar, a dissuasão. Ela é pura justiça. Portanto, somente Deus pode definir
crimes capitais, e ele o fez claramente na Bíblia.

O uso da espada nas questões internacionais

Deus concedeu ao Estado o poder da espada nas questões internacionais, para


proteger seus cidadãos dos invasores ilegais e terroristas de fora das suas fronteiras. O
que se refere à defesa nacional das famílias de uma nação.
Por que tal defesa é necessária? A resposta é óbvia para o cristão. Este mundo
no qual vivemos não é perfeito. Não é uma utopia sem pecado, e nunca será até que
Jesus Cristo retorne à Terra. Sempre haverá ameaças à paz e à moralidade num grau ou
noutro de intensidade. Portanto, porque vivemos num mundo caído, e porque sempre
haverá indivíduos, movimentos, instituições e países que procuram causar dano à vida e
à propriedade de outras pessoas e nações, sempre haverá necessidade de o governo
civil defender seus cidadãos com capacidade militar e estratégias de defesa adequadas.
Para nós hoje na América, há uma razão mais específica pela qual Deus colocou
a espada nas mãos do governo civil: a ameaça global do comunismo marxista-leninista.
Ele é uma ameaça real às nações com uma herança cristã ou até mesmo semi-cristã. Por
quê? Por que deveríamos considerar o marxismo-leninismo como uma ameaça para nós
e nossa forma de vida? Entender a natureza do marxismo nos ajudará a entender a
resposta a essa pergunta.
Lênin disse que marxismo é humanismo. O marxismo é o que o humanismo
aparenta ser ao conquistar poder militar e político total. O humanismo é a crença de que
o homem é Deus, que o homem tem a capacidade de determinar e definir o bem e o mal
por si mesmo, sem nenhuma referência a Deus e à Bíblia. O marxismo é a aplicação
política do humanismo, usando a estratégia do leninismo, que é o uso do terrorismo
para alcançar os objetivos da pessoa.
Um estado comunista é um estado onde o humanismo tem o controle absoluto de
uma sociedade; onde o homem representado por uma pequena elite no poder procura
predestinar e controlar o homem representado nas massas de homens escravizados pela
elite, para os propósitos do homem, isto é, da elite no controle.
Quais os princípios básicos do marxismo?
Primeiro, o marxismo crê que o poder determina o curso da história. Crê que ter
o poder produz o correto;[8] que todo aquele que está no poder determina o que é certo
e errado e então impõe esse ponto de vista à população. O propósito do marxismo é
usar o poder político para impor seu entendimento de moralidade a milhões de pessoas
escravizadas por esse poder.
O comunismo é uma religião que adora o poder. Para o marxismo-leninismo, o
poder puro e aterrorizante controla e determina o curso da história. A melhor ilustração
desse tipo de religião do poder é vista no romance de Orwell, 1984, onde seu
personagem O’Brien diz a Winston:
Se ele não sofrer, como você pode ter certeza de que obedecerá à sua
vontade e não a ele próprio? Poder é infligir dor e humilhação. Poder é
estraçalhar a mente humana e depois juntar outra vez os pedaços, dando-
lhe a forma que você quiser. E então? Está começando a ver que tipo de
mundo estamos criando? Exatamente o oposto das tolas utopias hedonistas
imaginadas pelos velhos reformadores. Um mundo de medo e traição e
tormento, um mundo em que um pisoteia o outro, um mundo que se torna
mais e não menos cruel à medida que evolui. O progresso, no nosso
mundo, será o progresso da dor… Mas sempre — não se esqueça disto,
Winston —, sempre haverá a embriaguez do poder, crescendo
constantemente e tornando-se cada vez mais sutil. Sempre, a cada
momento, haverá a excitação da vitória, a sensação de pisotear o inimigo
indefeso. Se você quer formar uma imagem do futuro, imagine uma bota
pisoteando um rosto humano — para sempre.[9]
Segundo, o marxismo acredita que a política mundial deve ser polarizada. O
mundo deve ser dividido entre Oriente e Ocidente, entre a livre-iniciativa e o
socialismo. Segundo o marxismo, há dois grandes antagonistas neste mundo ― o
oprimido e o opressor, o ocidente cristão, capitalista, e o comunismo, o oriente não
cristão.
Terceiro, o marxismo acredita no princípio “divida e conquiste”. É
imperialista, por natureza. Seu objetivo é conquistar o mundo por meio de revolução e
da destruição do capitalismo. Por meio de sofrimento, opressão e insatisfação no
mundo, procura tirar vantagem da situação: polarizando e causando conflitos,
intensificando o sofrimento e a frustração, com a finalidade de criar uma explícita
revolução e uma possível conquista de uma nação por militantes comunistas.
Quarto, o marxismo acredita que haja uma guerra irreconciliável entre o sistema
cristão de vida e o sistema marxista. O marxismo acredita que deve, inevitavelmente,
destruir o cristianismo. Na base de toda a sua doutrina está a crença de que para que o
mundo conheça a paz e todos os homens sejam livres da opressão, o cristianismo com
sua forma de vida, demonstrada na história norte-americana, deve ser extirpado da
terra.
O comunismo é a tentativa do homem de construir um mundo sem Deus. Tem o
evangelho da dialética e da revolução. Acredita que toda a história está em conflito: em
determinada situação surge, na história, a TESE, e numa situação contrária, a
ANTÍTESE, e então, ambos entram em conflito e uma nova situação ocorre como
resultado desse conflito, a SÍNTESE. O processo então se reinicia, repetidamente, ad
infinitum.
Isso torna o marxismo essencialmente revolucionário e violento. Toda a
história está encerrada nesse eterno processo revolucionário. A única esperança do
homem para a paz e a liberdade é a revolução completa. Esse é o “evangelho” do
comunismo.
É óbvia a estratégia do comunismo em sua busca por atingir seu objetivo. Já
tem sido assim desde 1917. O comunismo procura destruir os Estados Unidos, como
emblema de tudo o que deseja destruir, visto que para os comunistas os Estados Unidos
são o principal exemplo de política cristã no mundo. A estratégia comunista é
perfeitamente sintetizada por Fred Schwarz da Cruzada Anticomunista:
Cerco externo somado à desmoralização interna, acrescida de chantagens
termonucleares acabam levando os Estados Unidos a uma rendição
progressiva.
Em setembro de 1990, referindo-se à situação do Iraque, o presidente Bush
afirmou: “Agora temos uma Nova Ordem Mundial”. Esse incidente fortaleceu as
Nações Unidas e propiciou a “união” da antiga União Soviética, dos Estados Unidos e
praticamente de todos os demais governos do mundo, sob a bandeira da ONU. Essa tem
sido a meta do “Governo Mundial” esperado por décadas.
Alguns especialistas pensam que a terceira guerra mundial terminou e que nós
a perdemos. A Fase I foi a Guerra Fria da década de 1960. Nós a perdemos. A Fase II
foi a Distenção ou Détente[10] na década de 1970. Nós a perdemos. Fase III, na década
de 1980, houve o cerco, o isolamento, o apavoramento e o estrangulamento dos Estados
Unidos. Fase IV, na década de 1990, ocorre uma progressiva rendição dos Estados
Unidos à globalização. Isso acabou demandando uma gradual abolição da nossa
soberania como nação.
O princípio da Tese-Antítese-Síntese tem sido aplicado. A América do Norte
foi transformada de uma República Cristã Constitucional para uma Democracia e,
depois, num “Socialismo Democrático”. Perdemos muito da nossa liberdade individual
e de nosso sistema de livre-iniciativa privada. A Rússia e seus países satélites
aparentemente desistiram de seu agressivo e sanguinário reino de terror em favor do
“Socialismo Democrático”. Dessa forma, a Tese (Liberdade) foi transformada pela
Antítese (Comunismo) e o resultado foi a Síntese (Socialismo Democrático) no governo
de Obama.
Quando o comunismo ateísta e totalitário se estabelece, sempre que possível
assassina milhões de pessoas. Desde a Revolução Bolchevique em 1917, mais de 200
milhões de pessoas morreram em consequência do comunismo.
Deveria ser óbvia a razão pela qual Deus concedeu ao Estado o poder da
espada em questões internacionais. O Estado deve ser o defensor e protetor que se
coloca entre as forças hostis, violentas e iníquas (como o comunismo) e as famílias
cumpridoras da lei numa nação (Provérbios 24.11- 12).
Humanamente falando, nada mais está entre nós e um mundo hostil senão o
poder defensivo de uma nação temente a Deus. Um povo somente estará seguro contra
seus invasores e terroristas destruidores da sua forma de vida cristã, quando o governo
federal dessa nação perceber e implementar a responsabilidade, que lhe foi dada por
Deus, de usar a espada para proteger o povo desses inimigos.
A Bíblia ensina que a forte defesa de uma nação dissuade a agressão e ajuda a
preservar a paz ― uma paz por meio de uma força militar, estratégica e espiritualmente
superior. Quanto mais forte espiritual e militarmente for, mais segura será a nação
temente a Deus.
Isso também é ensinado no Novo Testamento (Lucas 11.21; 14.31). Em Lucas
11 encontramos Jesus chamando a atenção para a questão de que ele será vitorioso
sobre Satanás, e que sua capacidade de expulsar demônios era uma prova desse fato.
Jesus utilizou uma analogia militar, um princípio facilmente compreensível nos seus
dias: uma força militar superior detém a agressão contra uma nação:
Quando o valente, bem armado, guarda a sua própria casa, ficam
em segurança todos os seus bens. Sobrevindo, porém, um mais
valente do que ele, vence-o, tira-lhe a armadura em que confiava
e lhe divide os despojos. (Lucas 11.21-22)
Jesus não estava preocupado essencialmente com a defesa militar, mas estava
utilizando uma analogia que considerava correta. Para proteger o que é seu, um valente
precisa ter um poder superior ao de qualquer um que o quisesse assaltar ou fazer-lhe
mal. Se não possuir força superior, não terá capacidade de proteger aquilo por que é
responsável.
Em Lucas 14.31-32, lemos:
Ou qual é o rei que, indo para combater outro rei, não se assenta
primeiro para calcular se com dez mil homens poderá enfrentar o
que vem contra ele com vinte mil? Caso contrário, estando o outro
ainda longe, envia-lhe uma embaixada, pedindo condições de paz.
Se um exército está prestes a invadir uma nação, seria melhor contar com uma
defesa mais poderosa que o poder ofensivo do invasor, ou então, dar início imediato a
negociações de paz.
Outra perspectiva diferente da que Jesus mantinha dominou a política
estrangeira norte-americana por décadas, chamada por seus proponentes de “Destruição
mútua assegurada”. Essa política foi construída com base em um princípio de retaliação
em vez de uma real defesa dos cidadãos. Fez os Estados Unidos tornarem-se indefesos
contra os ataques de mísseis. Ela mantinha a paz tornando o povo norte-americano
totalmente vulnerável a qualquer primeiro ataque nuclear contra os Estados Unidos.
Até o presente momento, não temos quaisquer meios que nos defendam de um
ataque nuclear, o que é uma consequência da política deliberada tanto da administração
republicana quanto da democrata. Se qualquer poder lançasse um míssil contra nós,
tudo que poderíamos fazer seria absorver a morte de milhões e, então, decidir entre
retaliar, matar milhões de seus homens, mulheres e crianças, ou render-nos.
A política externa está em desobediência direta à Palavra de Deus.
Negligencia ou nega o poder e a responsabilidade de nos proteger, que Deus concedeu
ao Estado. Essa política externa não é apenas imoral; tem o potencial de ser mortal para
nossas famílias. Deus deu ao Estado o poder da espada para proteger as famílias de
quem lhes poderia causar o mal ou destruí-las.
Contudo, não podemos perder de vista o fato de que, em último caso, a
segurança e o poder da nação não estão em seus carros de combate e poder nuclear.
Precisamos de carros de combate. Precisamos de programas de defesa que realmente
nos defendam, como a Iniciativa de Defesa Estratégica (SDI ― High Frontier).
Precisamos de um “Escudo de Paz”, uma base espacial, não nuclear, um sistema capaz
de nos proteger dos mísseis lançados contra nós, que possam tornar obsoleto o
armamento nuclear.
No entanto, numa última análise, não devemos depositar a nossa fé em mísseis,
ou no SDI, ou no poder militar convencional, ou em tratados militares. Nossa última e
final segurança é o Deus Todo-Poderoso, nosso maior Escudo de Paz (Salmo 3.3s), se
nós, como nação, formos fiéis a ele.
Isso não implica em podermos descansar e dizer: “Bem, vamos confiar em
Deus, e por isso somos a favor do desarmamento nuclear e a paralisação de programas
nucleares”. Alguém que o diga é como o que se assenta sobre os trilhos de trem e diz:
“Confiarei em Deus para me guardar enquanto me assento nestes trilhos. Ele me
protegerá do trem para que não me atinja”.
A Bíblia, contudo, nos ensina que somos responsáveis diante de Deus por
nossas ações, seja como indivíduos, seja como nações. Somos responsáveis por
obedecer a Bíblia da mesma forma como confiamos nela. Devemos “confiar em Deus e
manter a nossa pólvora seca” como Oliver Cromwell falou a suas tropas.
É a responsabilidade dada por Deus ao Estado: confiar somente em Deus e
estar adequadamente preparado para proteger seus cidadãos, contra criminosos,
terroristas e invasores. Caso contrário, seria imoral agir de modo diferente.
Porém, tendo dito isso, precisamos compreender claramente que uma nação
com os melhores escudos de defesa e capacidades convencionais superiores e
estratégicas, que tenha, contudo, abandonado a Deus, é insegura e cairá. Se, por outro
lado, uma nação estiver fazendo o melhor para se proteger, mas sua capacidade de
defesa for relativamente baixa, sendo ela fiel a Deus, nenhum poder superior na Terra
poderá fazer mal a um só fio de cabelo de um cidadão seu, à parte da vontade do nosso
Pai que está nos céus.
Rand escreveu bem:
O maior exército do mundo com os melhores equipamentos, apoiado por
uma força aérea insuperável em número e em poder de ataque, qualquer
combinação que possa ser mandada pelos ares contra esse exército, com
uma marinha inexpugnável, incluindo todos os meios auxiliares de
transporte, todo esse poder, apoiado ainda pela genialidade militar de um
líder que não possa ser comparado ou excedido por táticas militares,
ainda seria incapaz de derrotar seu povo [um povo de Deus], se tiverem
posto sua própria casa em ordem. Pois quando Israel estava
espiritualmente bem com Deus, seus líderes podiam declarar com
autoridade: “que não desfaleça o vosso coração; não tenhais medo, não
tremais, nem vos aterrorizeis diante deles, pois o SENHOR, vosso Deus, é
quem vai convosco a pelejar por vós contra os vossos inimigos, para vos
salvar”, nenhuma combinação de poder militar sobre a face da Terra pode
derrotá-los. (Digest of Divine Law, Destiny Publishers)
Essa deve ser a nossa fé (Deuteronômio 20). Não devemos colocar a nossa fé
em bombas ou munições. Conclamamos nosso governo federal a ser fiel à missão que o
próprio Deus lhe deu, e que utilize o poder da espada para nos proteger dos terroristas
internacionais. Uma nação que conserva essa espada guardada, em razão de
parcialidade, uma nação que sobeja em cruel impunidade, que recolhe sua espada por
conta de um sentimento humanista, que nega o direito da existência dessa espada, ou a
utiliza além do seu domínio, estará condenada pelo Deus Todo-Poderoso.
Sem um profundo e genuíno retorno a Deus por meio de Cristo como nosso
Senhor e Salvador, e à Palavra de Deus como fonte da lei e da salvação, a nossa
superioridade militar não será suficiente para nos proteger de qualquer meio que Deus
utilizar para trazer o juízo sobre nós, tal como usou os babilônios no juízo de Israel, por
conta de sua rebelião. Sem um arrependimento nacional, todo o nosso poder não nos
protegerá.
A Bíblia deixa clara a legitimidade das guerras justas e de defesa, após a
diplomacia ter falhado e, caso necessário, para proteger cidadãos quando for a única
alternativa restante de preservar a ordem moral cristã. Mesmo sendo horrível como é,
neste mundo caído algumas vezes a guerra é a único caminho para impedir e refrear a
impiedade da revolta dos homens contra Deus e o homem.
Há coisas piores que a guerra: uma delas é a escravidão, outra é o assassinato
da família. De fato, a Bíblia chega até a declarar que é pecaminoso recusar-se a lutar
para proteger seu povo numa guerra justa. Números 32.20-23 afirma que seus pecados
o encontrarão se você se recusar a lutar numa guerra justa:
Então, Moisés lhes disse: Se isto fizerdes assim, se vos armardes para a
guerra perante o SENHOR, e cada um de vós, armado, passar o Jordão
perante o SENHOR, até que haja lançado fora os seus inimigos de diante
dele, e a terra estiver subjugada perante o SENHOR, então, voltareis e
sereis desobrigados perante o SENHOR e perante Israel; e a terra vos será
por possessão perante o SENHOR. Porém, se não fizerdes assim, eis que
pecastes contra o SENHOR; e sabei que o vosso pecado vos há de achar.
Não somente a recusa de lutar é pecaminosa, mas também, se o governo nos
conclamar a lutar numa guerra injusta, seria pecaminoso fazer qualquer coisa senão
opor-se conscientemente. Um cristão não pode lutar numa guerra injusta. Por quê?
Porque a Bíblia diz, “não matarás”.
Muitas pessoas se opõem a essa visão de uma “autodefesa” nacional e de uma
guerra justa. Alguns dizem: “Nos Dez Mandamentos, a Bíblia não condena o ato de
matar?”. O sexto mandamento literalmente diz: “Não cometerás assassinato” (Êxodo
20.13).
Mais tarde, em Êxodo 21.12, Deus, por meio de Moisés, declara que o
governo civil foi estabelecido para condenar à morte qualquer um que cometesse
assassinato. Portanto, o sexto mandamento não deve ser interpretado como uma
proibição a qualquer forma de morte legal, como o caso da pena capital. A pena de
morte, como vimos, é ensinada na Bíblia como essencial para manter uma ordem de
temor a Deus. Autodefesa e guerras defensivas e justas também são aprovadas na
Bíblia. Porém, a Bíblia claramente proíbe o assassinato de inocentes sem um motivo
válido e legal, por exemplo, o aborto.
Outros fazem objeções afirmando que o poder da espada é contrário ao ensino
de Jesus sobre o amor. Dizem: “O amor e o perdão não deveriam direcionar a vida?
Jesus não disse para amarmos os nossos inimigos”? Essa não foi, porém, a única coisa
que Jesus falou ou fez a respeito. Em João 2.13-16, Jesus fez uso de força violenta e
potencialmente letal, ao expulsar os ladrões e cambistas do templo. Foi uma
prerrogativa sua agir desse modo como o Cabeça da Igreja e Rei dos reis da Terra
(Apocalipse 1.5).
Em João 2.15, lemos: “tendo [Jesus] feito um azorrague de cordas…”. Não se
tratava de um espanador de pó. Um “azorrague de cordas” são várias tiras de couro
com peças duras e pontiagudas de osso e metal na extremidade final de cada uma delas.
Quando atingia uma pessoa, poderia não só rasgar e cortar a carne, mas facilmente
matar, cegar, mutilar ou fraturar ossos.
Assim, em João 2.14-16, lemos:
E encontrou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas e também
os cambistas assentados; tendo feito um azorrague de cordas, expulsou
todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, derramou pelo chão o
dinheiro dos cambistas, virou as mesas e disse aos que vendiam as
pombas: Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai casa de
negócio.
Imagine a cena. Mesas viradas! Pessoas provavelmente pulando fora pelas
janelas e correndo para fugir, pelas portas, das chicotadas do azorrague de Jesus. Esse
foi um uso de força violenta para manter a ordem moral de Deus. Não foi discrepante
de qualquer coisa que Jesus tivesse dito, e visto ser ele o Filho de Deus, tudo que fez
era plenamente justo, e tudo que falou era completamente infalível.
Em Lucas 22, encontramos Jesus enviando seus apóstolos ao mundo. Ele sabia
que estava prestes a deixá-los e, assim, mandou-os para um mundo hostil, a fim de
pregar o evangelho. Sabia que seria um mundo perigoso para eles. Por isso, lhes disse
que adquirissem armas, isto é, espadas. Em Lucas 22.35-36, declara:
Quando vos mandei sem bolsa, sem alforje e sem sandálias, faltou-vos,
porventura, alguma coisa? Nada, disseram eles. Então, lhes disse: Agora,
porém, quem tem bolsa, tome-a, como também o alforje; e o que não tem
espada, venda a sua capa e compre uma.
Não há nada em oposição aos Dez Mandamentos ou aos ensinos de Jesus sobre
o amor, na utilização justa e piedosa da espada, feita pelo Estado, para manter a ordem
moral de Deus e proteger pessoas cumpridoras da lei. Na verdade, se o Estado não usar
a espada para aplicar a lei bíblica, Deus fará que a espada seja usada contra o Estado,
no juízo.
Precisamos nos lembrar de que Jeová, o Senhor de Israel e de todas as nações,
está em guerra contra seus inimigos. Ele disse que não iria descansar em sua guerra
contra os amalequistas (terroristas do Antigo Testamento), até que a simples memória
daquele povo fosse apagada da face da terra (Deuteronômio 25.17-19).
Lembre-se de que Jesus Cristo está em guerra com os que persistem em
rebelião contra a ordem de Deus. Em Apocalipse 19 Cristo é retratado sobre um cavalo
e com sangue dos seus inimigos salpicado em suas vestimentas, após ter acabado de
derrotá-los.
Precisamos também lembrar que foi Jesus quem disse: “não vim trazer paz,
mas espada” (Mateus 10.34). O maior exemplo de sua guerra contra os que se lhe
opõem foi sua morte sobre a cruz e sua ressurreição dentre os mortos, meio pelo qual
lutou contra Satanás e o derrotou (Hebreus 2.14).
Por toda a história, por meio da Providência, e por meio da fidelidade dos
cristãos em aplicar a Palavra de Deus em cada área da vida, Jesus Cristo continua a
guerrear contra seus inimigos até que todos sejam esmagados em cada esfera da
existência (1 Coríntios 15.25s).
Temos de nos exercitar mais em oração, clamando pela restauração de uma forte
defesa dos cidadãos norte-americanos por meio do nosso governo federal; pela
restauração da justa utilização da espada na proteção de nossas vidas, famílias, bens e
liberdades; pela manutenção da ordem e da paz; pela aplicação da lei bíblica; pelo
castigo dos criminosos, terroristas e invasores; e pela reformulação da nossa política
externa quanto ao comunismo, a partir de sólidos princípios bíblicos. Se, como nação,
não nos voltarmos a esses princípios e deveres bíblicos, a espada será utilizada contra
nós (Isaías 10.5-6).
CAPÍTULO QUINTO

O poder de cobrar impostos


“Por esse motivo, também pagais tributos, porque são ministros de Deus, atendendo,
constantemente, a este serviço.” (Romanos 13.6)

Deus concedeu ao Estado o poder de cobrar impostos, junto com a


competência para administrar a lei de Deus e com o poder da espada. Esse poder de
tributar foi dado com a finalidade específica de possibilitar que o Estado aplique a lei
bíblica e proteja sua população. Portanto, os impostos, quando bíblicos, não devem ser
vistos como tirania.
Conforme Romanos 13.6, há o que se chama de tributo justo que é utilizado
com vistas a permitir ao Estado cumprir seus encargos como servo de Deus e ministro
da justiça, infundindo terror aos criminosos e aplicando a retribuição da ira de Deus a
toda má conduta. É necessário dinheiro para manter adequadamente uma força policial,
uma força militar e um sistema judiciário.

O fundamento da tributação

A Bíblia nos ensina que o poder de cobrar impostos pressupõe o direito de


propriedade e soberania. Os poderes de tributação são a reivindicação de controle e
posse sobre os homens e seus bens, ou de tudo que seja tributável. Por exemplo, quando
um governo civil injustamente alega ter o direito de privar um homem de sua liberdade
e propriedade, porque esse homem se recusa a pagar impostos, esse Estado está
alegando ser proprietário desse homem e possuir o domínio final sobre ele e seus bens.
Quando cria um sistema injusto de tributação do povo, o Estado está pressupondo
ser proprietário da população e de seus bens. Impostos pressupõem domínio e poder de
controle. Se você pensa tratar-se de um exagero, experimente não pagar os impostos
sobre seus bens e veja com quem ficará sua casa.
O fundamento dos impostos de renda, ou sobre bens imóveis e herança é que o
Estado reconhece, como dele, a renda que você tem, sua propriedade, o futuro de sua
família e tudo que o envolve.
O que é um imposto? É um tributo imposto pelo Estado, pelo qual a riqueza do
cidadão lhe é tomada à força, para utilização pelo Estado. Todos os impostos não
bíblicos pressupõem que você seja propriedade do Estado, o qual se dá o direito de
controlá-lo. O princípio é: o Estado pode confiscar sua propriedade por qualquer razão
que achar conveniente.
Porém, obviamente, visto que o homem é uma criatura de Iavé, submisso a Iavé
e um administrador da criação de Iavé, ninguém mais além do seu Senhor, isto é,
ninguém e nenhuma instituição humana, incluindo o Estado, tem o direito de tributar
qualquer pessoa além do estabelecido por Deus.
Há apenas um proprietário absoluto e soberano no universo: o Deus Todo-
Poderoso. Portanto, somente ele tem a propriedade e o controle exclusivos de todos os
homens e todas as instituições humanas. Somente Iavé tem o direito de governar e
regulamentar nossas vidas e propriedades. Somente Iavé é seu dono. Somente Iavé é
soberano.
Nem o indivíduo, nem o Estado são soberanos diante dele. Ele é o Senhor.
Toda a Terra e tudo que nela há pertencem somente a ele. Toda a autoridade nos céus e
na terra pertencem a ele e a seu filho, Jesus Cristo. “Ao SENHOR pertence a terra e tudo
o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam” (Salmo 24.1) .
Que implicações tudo isso traz? Somente Iavé pode exigir tributos! Quando
qualquer homem ou instituição humana reivindica impostos não fundamentados na lei de
Deus, esse homem ou instituição está negando que Deus tenha a posse de sua criação,
buscando, assim, estabelecer sua autonomia à parte de Deus e de sua soberania sobre o
homem.
Todas essas tentativas devem ser vistas como rebelião contra o Deus Todo-
Poderoso, o soberano do universo. Cristãos professos que se recusam a se opor a tais
reinvindicações de homens e do Estado podem estar carregando a marca da Besta e
podem ser considerados cúmplices de ladrões que se colocam no lugar de Deus.
Quando se pretende Deus por meio de uma cobrança de impostos injusta, o
governo civil deve ser combatido pelo povo de Deus. É um ato de idolatria curvar-se
diante de uma instituição humana aceitando como válida a alegação de senhorio e de
proprietária de sua vida. “Não terás outros deuses diante de mim”, afirmou Iavé, o
único verdadeiro Deus.
Tributação humana é idolatria. É uma reinvindicação de sua pessoa, sua renda,
seus bens e seu futuro. É uma tentativa direta de roubar o domínio de Deus sobre a sua
criação. Isso é uma negação do fato de que toda a propriedade e vida na América
pertence a Iavé. Por reconhecer esse princípio bíblico, a constituição dos Estados
Unidos não permite que o governo federal seja proprietário de terras, exceto se
necessário para instalações militares e prédios governamentais. Contudo, atualmente, o
governo federal tem mais terras na América do que a extensão de terra que há a leste do
Rio Mississipi.
O governo norte-americano está assumindo o papel de Deus ao alegar ser
proprietário e soberano sobre as pessoas e as terras da América. A Constituição dos
Estados Unidos também não permite a arrecadação de impostos pelo governo federal.
O IRS[11] é uma clara acusação contra a América por sua rebelião contra Deus.
Em 1 Samuel 8.9s vemos que Israel tinha se aborrecido por terem a Deus
governando-os. Queriam um rei humano como as nações vizinhas tinham. Estavam
constrangidos diante do mundo porque Deus era seu soberano. Então, rejeitaram o
governo de Deus, optando pelo domínio do homem.
Tornaram-se um Estado humanista, em que o homem, e não Iavé, é o juiz,
legislador e rei. Nos versículos 9-15, Deus advertiu Israel do que aconteceria quando
mudassem de deuses:

Agora, pois, atende à sua voz, porém adverte-o solenemente e explica-lhe


qual será o direito do rei que houver de reinar sobre ele. Referiu Samuel
todas as palavras do SENHOR ao povo, que lhe pedia um rei, e disse: Este
será o direito do rei que houver de reinar sobre vós: ele tomará os vossos
filhos e os empregará no serviço dos seus carros e como seus cavaleiros,
para que corram adiante deles; e os porá uns por capitães de mil e
capitães de cinquenta; outros para lavrarem os seus campos e ceifarem as
suas messes; e outros para fabricarem suas armas de guerra e o
aparelhamento de seus carros. Tomará as vossas filhas para perfumistas,
cozinheiras e padeiras. Tomará o melhor das vossas lavouras, e das
vossas vinhas, e dos vossos olivais e o dará aos seus servidores. As
vossas sementeiras e as vossas vinhas dizimará, para dar aos seus oficiais
e aos seus servidores.

Isso é o que acontece à nação sempre que vira as costas a Deus, em favor do
homem, como a fonte da lei: o crescimento, em grande escala, da burocracia regulando
tudo, a socialização da agricultura e da indústria, os projetos políticos de lutas injustas
entre homens e mulheres, o estabelecimento de um sistema opressor de tributação que
roubará um décimo ou mais da renda dos cidadãos.
Este foi um dos sinais de que Israel tinha rejeitado a Deus e de que Deus
estava julgando Israel: a cobrança de impostos da décima parte de suas rendas. Noutras
palavras, quando o Estado o tributa em um décimo da sua renda, ou mais, Deus
considera que esse Estado está agindo como Deus, pois o próprio Deus exige apenas
um décimo. Nos Estados Unidos, em 1991, a soma total de impostos pagos pela média
dos trabalhadores por cidade, distrito, estado e nacionalmente, além de tributação sobre
vendas e outros, era a renda total de janeiro a junho de cada ano. Isso evidencia uma
sujeição involuntária, isto é, escravidão ou trabalho forçado em favor do Estado, na
metade de nossas vidas, a cada ano. Você se alegra em ser um escravo do Estado? O
que tem feito a respeito disso?

A natureza da tributação

Visto que tributação humana é idolatria, imitando o verdadeiro Deus, ela busca
abranger todas as coisas. Há uma tentativa de cobrir todas as áreas da vida, sem deixar
“buracos”. Em alguns estados, pipoca coberta por caramelo é tributada, enquanto
pipoca com manteiga, não. Noutros estados, cubos de gelo em bebidas alcoólicas são
tributados, enquanto cubos de gelo em bebidas leves, não. Poderíamos continuar a ver,
mais e mais, impostos sobre áreas específicas da vida, uma vez que o objetivo do
Estado que pensa ser Deus é o total controle e a total tributação, pois acredita possuir a
propriedade e a soberania total.
Durante o governo “conservador” de Ronald Reagan e George Bush, os
americanos experimentaram a maior tributação jamais imposta a eles. Espera-se pagar
mais impostos no futuro. Por quê? Porque para uma nação que crê que seja Deus, a
única maneira de obter o controle total sobre todos nós é impondo uma tributação total,
o que é coerente com a crença implícita de que o Estado seja proprietário de tudo e de
todos.
Assim, torna-se óbvio que a tributação humanista não é apenas idólatra e de
todo envolvente, como um polvo, mas também destrutiva e empobrecedora do homem.
R. J. Rushdoony e Edward Powell escreveram um excelente livro chamado
Tithing and Dominion [Dízimo e domínio], que trata da questão dos impostos. Meus
comentários sobre a tributação são grandemente influenciados por esse livro. É uma
obra perspicaz em seus insigths como fica demonstrado na citação seguinte:

Esse princípio destrutivo de cobrança de impostos por um Estado ímpio


pode ser visto em cada área da vida. Os negócios e as instituições de
caridade, etc. são licenciados (uma forma pagã de tributação), o que
significa que funcionam ao bel-prazer do Estado, sendo, portanto,
propriedade do Estado.

Médicos, dentistas, professores, mecânicos, encanadores, etc. também são


licenciados pelo Estado (uma forma pagã de tributação), exceto que
nestes últimos casos, o Estado reivindica a propriedade de alguém,
quando alega ser proprietário de sua profissão e negócios. A herança é
tributada para demonstrar que a família é propriedade do Estado.

Visto que o Estado nunca deseja que qualquer família, ou grupo de


família, se torne muito poderosa (a menos que façam parte da elite do
Estado), a tributação sobre a herança das famílias é opressiva e
destrutiva. Cobrando impostos sobre os bens, o Estado reinvindica ser o
proprietário da casa de um homem. O “proprietário” apenas está alugando
sua casa do Estado.
Tributos sobre os bens empobrecem especialmente os idosos e os
membros mais pobres da sociedade, visto que sua renda raramente se
mantém com o crescimento da carga tributária. Impostos sobre venda
empobrecem os membros da sociedade de baixa renda e classe média, já
que precisam gastar da sua renda maior porção do que as classes mais
altas. O Estado tributa eletricidade, vestuário, alimentação, remédios,
pneus, etc.

Dificilmente há alguma área da vida de que o Estado não alegue ser


proprietário por meio do seu poder de tributar. A lista de itens tributados
somente é limitada pela imaginação e energia da burocracia do Estado.
[12]

O sistema humanista de tributação empobrece o homem em todos os aspectos e


é destrutivo em cada esfera da existência: sociedade, moralidade e economia.
Considerando o imposto de renda: É baseado no princípio marxista de que é
responsabilidade do Estado tomar à força a riqueza dos que produzem e redistribuí-la
às pessoas necessitadas, quando, na verdade, a maioria da riqueza fica nas mãos dos
burocratas federais e do Estado. Esse sistema pune muito bem homens e mulheres que
trabalham duro. Isso é um atravancamento, é opressivo e injusto. Faz a produção decair,
causa desemprego, eleva os preços e os custos, diminui os ganhos e gera inveja.
Considerando os tributos das empresas: A atual prática é cobrar impostos das
grandes empresas com fins lucrativos. Mas empresas não pagam impostos; apenas
pessoas pagam impostos. Quando se cobra imposto de uma empresa, o dinheiro
destinado à nova tributação é assegurado por preços mais altos, salários mais baixos e
menor produção.
Considerando o imposto sobre a propriedade: É um ataque direto tanto à
família quanto ao soberano domínio de toda a Terra por Deus. Nem o governo de um
estado, nem o governo federal tem o direito de tributar os bens dos cidadãos, pois, na
realidade, o governo civil não possui bens tributáveis. “Ao SENHOR pertence a terra e
tudo o que nela se contém” (Salmo 24.1). “Pois são meus todos os animais do bosque e
as alimárias aos milhares sobre as montanhas” (Salmo 50.10). Quando o Estado tributa
os seus bens, ele está tirando a máscara, e revelando que presume ser Deus.
Considerando o imposto sobre heranças: É um claro ataque contra a família e
seu futuro. Esse imposto destrói o futuro da família; o que é expressamente proibido em
Ezequiel 46.18.
Impostos retidos na fonte também são proibidos. A Bíblia ensina que os
primeiros frutos dos nossos trabalhos pertencem ao Senhor, não ao Estado. No Antigo
Testamento o que era retirado como principal da renda das pessoas, não era um imposto
retido na fonte, porém, uma oferta das primícias ao Senhor, representando que tudo o
que possuíam e produziam pertencia a Iavé, não ao Estado. Os rendimentos retidos na
fonte antes que alguém possa dizimá-los, colocam Deus em segundo lugar, atrás do
Estado.
Impostos ocultos, como um tributo de valor embutido, são desonestos e
associados a fraude e injustiça. Impostos da previdência social sobre as igrejas e sobre
indivíduos também são destrutivos. Os tributos previdenciários sobre indivíduos
tiveram um aumento de mais de 650% desde o começo desse programa, o que tem feito
o desemprego crescer significativamente. Tem diminuído a capacidade de economia
dos norte-americanos. Tem resultado em 97% de todos acima de 65 anos totalmente
dependentes de um Estado humanista por toda a sua existência. Tem também defraudado
e roubado jovens adultos que nunca verão seu dinheiro retornar num programa de
previdência social que também está para falir antes da metade do século 21. (Na
verdade já faliu, contudo, ninguém admitirá isso.)
O mais destrutivo, o mais perverso e bem encoberto de todos os tributos
humanos, é a inflação, o aumento da oferta monetária pelo Estado e pelo Federal
Reserve (uma empresa privada que controla o dinheiro dos Estados Unidos).
Empobrece toda a sociedade visto que destrói a economia a partir da qual a sociedade
toma suas decisões e faz avaliações econômicas.
Assim como uma moeda se vai, assim também uma nação. Precisamos ser
claros sobre isto: a inflação não é gerada por altos salários e aumento de preços, como
somos levados a crer. A inflação é o crescimento da oferta de dinheiro pelo Estado por
meio da emissão de papel-moeda, aumento de crédito e liquidez das dívidas, por
decreto.
A inflação é a incrementação monetária sem lastro em ouro ou prata. À medida
que a oferta de dinheiro aumenta, o valor do dólar diminui e os preços começam a se
elevar. Porém, embora isso seja verdade, também precisamos perceber que o Estado
tenta ser Deus pela inflação e o controle monetário, porque os cidadãos praticam uma
“apropriação indevida em seus corações”, isto é, o amor ao dinheiro, que é a raiz de
todos os males.
Isaías 1 declara que uma das razões de Deus castigar Israel foi que os líderes
políticos inflacionaram sua oferta de dinheiro e, assim, criaram uma economia
desonesta que arruinou os que dependiam de renda fixa — por exemplo, as viúvas —,
depreciando sua produção. Os líderes de Israel geraram uma economia corrupta, pois o
povo de Israel já era corrupto. Deus teve de intervir e queimar toda a impureza daquela
cultura a fim de restaurá-la. Para um livro com análise aprofundada sobre a inflação,
veja a obra The Roots of Inflation [As origens da inflação] de R. J. Rushdoony.[13]
O sistema bíblico de tributação

O poder de cobrar impostos é o poder de abençoar ou destruir. Os impostos


podem ser uma bênção quando utilizados para fornecer fundos, permitindo ao Estado
ser o ministro da justiça de Deus; ou podem ser uma maldição quando utilizados para
qualquer outra finalidade.
O que determinará se o sistema de tributação será bênção ou maldição é o
fundamento moral sobre o qual é construído. A quem o Estado, que impõe os impostos,
reconhece como supremo soberano e dono do homem e da criação? A si mesmo ou a
Iavé?
O sistema bíblico de tributação é construído com base na soberania e no
domínio do Deus revelado na Bíblia, que é o Criador do universo. Portanto, é uma
bênção para a nação que o coloca em prática.
Em princípio, Deus tributa todas as coisas. Não tributa especificamente tudo.
Portanto, a tributação bíblica não é destrutiva nem empobrecedora. Deus tributa tudo,
em princípio, com três impostos básicos revelados na Bíblia.
Em primeiro lugar, o imposto do Sabbath [o “sábado” cristão, ou seja, o
domingo]. O sábado cristão é um tributo do nosso tempo e energia. Deus afirma que
devemos a ele um dia em sete, para adorá-lo e descansar dos seis dias de cumprirmos a
nossa vocação sob seu governo e bênção.
Em segundo lugar, o imposto do dízimo. Esse é o tributo de Deus sobre as
nossos bens, produção e ganhos. Ele nos ordena a entrega de 10% do que recebemos,
para o avanço do Reino de Deus e o cumprimento da Grande Comissão. Esse é o
imposto de Deus por nosso uso da sua terra.
Em terceiro lugar, o imposto per capita de Êxodo 30.11-16. Esse é o único
tributo na Bíblia que o Estado pode arrecadar de seus cidadãos. É um imposto de taxa
fixa: todos pagam o mesmo montante reduzido. Individualmente cada cidadão de Israel
pagava um imposto de 110 grãos de prata anuais, para manter o governo civil como
ministro da justiça de Deus.
Os dízimos e ofertas, não o imposto per capita, eram aplicados na saúde, na
educação e no bem-estar dos cidadãos de Israel. Observa-se também que o dízimo não
era pago ao governo civil.
O imposto per capita era uma contribuição fixa independente do que se
ganhasse. Era um mesmo valor cobrado de todos os cidadãos. Não havia imposto de
renda, imposto sobre bens, nem sobre herança, nem tributos embutidos, nem imposto
sobre vendas, nem tributos para previdência social, nem taxa de inflação. Todos
pagavam o mesmo valor, e isso amparava a manutenção do sistema judicial, a força
policial e a militar.
Por que Deus benignamente impôs esses três tributos: o sábado cristão, o
dízimo e o imposto per capita? Essas são formas práticas pelas quais Deus declara seu
domínio e soberania sobre nós. É como se ele afirmasse: “Dê-me um dia dentre sete
para demonstrar que você crê que sou dono de cada segundo de sua vida. Dê-me um
décimo de toda a sua renda para demonstrar que você crê que sou dono de tudo que
você é e de tudo que possui. Dê ao Estado o tributo demandado per capita, para que
assim possam administrar meu governo e aplicar a minha lei”.
Eis por que é uma rebelião contra Deus recusar-se a pagar-lhe qualquer um
desses tributos divinamente revelados. Se nos recusarmos a guardar o sábado cristão ou
a dizimar ou a pagar a contribuição per capita, estamos declarando não crermos que
Deus seja soberano. E se o Estado aplicar qualquer outro tributo além dos únicos que
Deus tenha demandado, o Estado está declarando que Deus não é soberano. E se
defendermos o suposto direito do Estado de cobrar impostos antibíblicos, sem reprová-
lo por assim fazer, estamos declarando crermos que o Estado é soberano.

A reconstrução do sistema tributário dos Estados Unidos

Como podemos reformar o sistema tributário injusto e humanístico, nos


Estados Unidos da América? Como podemos abolir o imposto de renda? A menos que
seja radical e biblicamente reformulado, nosso sistema tributário acabará levando a um
controle total da parte de um Estado todo-abrangente que pensa ser Deus e que destruirá
a nossa economia.
O sistema tributário dos Estados Unidos não pode ser desmantelado pela
violência ou revolução. Havia zelotes, ou ex-revolucionários, entre os próprios
discípulos de Jesus. Eles viam que Roma era totalitária em seu comando. Pensavam que
Roma teria de ser derribada a fim de que o povo fosse liberto. Porém, em lugar de agir
por meio do método de Deus descrito na Bíblia, isto é, a reconstrução cristã de cada
área da existência e do pensamento pela Palavra de Deus, queriam fazê-lo por meio de
violência e revolução imediata.
A situação é descrita em Mateus 22.15-17:
Então, retirando-se os fariseus, consultaram entre si como o
surpreenderiam em alguma palavra. E enviaram-lhe discípulos,
juntamente com os herodianos, para dizer-lhe: Mestre, sabemos que és
verdadeiro e que ensinas o caminho de Deus, de acordo com a verdade,
sem te importares com quem quer que seja, porque não olhas a aparência
dos homens. Dize-nos, pois: que te parece? É lícito pagar tributo a César
ou não?
Esses revolucionários estavam orientando as pessoas a não pagar, a César,
impostos de qualquer tipo, visto que César era um ditador anticristão e seus tributos
(tributum capitis) não eram ordenados pela Bíblia. Estavam dizendo que pagar esses
impostos era colocar Deus em descrédito.
Na verdade, contudo, esses homens eram hipócritas, buscando apenas escapar
do pagamento de impostos e constranger Jesus. A resposta de Jesus, em Mateus 22.18-
21, foi bem direta:
Jesus, porém, conhecendo-lhes a malícia, respondeu: Por que me
experimentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo. Trouxeram-lhe
um denário. E ele lhes perguntou: De quem é esta efígie e inscrição?
Responderam: De César. Então, lhes disse: Dai, pois, a César o que é de
César e a Deus o que é de Deus.

O que significa dar a Deus o que é de Deus? O que pertence a Deus? Tudo!
Portanto, o princípio fica estabelecido aqui: dar a Deus o que lhe é devido, isto é, tudo.
Aqui, somos convocados, por Jesus, a darmos para Deus absolutamente tudo, com uma
fidelidade sem reservas em tudo que fizermos.
Ora, o princípio do argumento de Jesus é este: Visto que a imagem de César
está na moeda em questão, ela pertence a César. E visto que carrega a imagem de Deus,
seu Criador, César pertence a Deus. Sendo imperador de Roma, César deve dar a Deus
o que lhe é devido: tudo o que César é e possui. Chefes de Estado, portadores da
imagem de Deus, devem dar a Deus o que lhe é devido: obediência à sua vontade
revelada, reconhecimento de sua supremacia e total lealdade ao seu comando.
Jesus determina a seus questionadores, em algumas palavras: “Deem a César o
que lhe é devido. Essa é a sua moeda. Seu reino é opressor e injusto. Seu governo e
impostos são antibíblicos. Ele precisa ser impedido. Seu reino deve ser transformado e
cristianizado. Mas isso deve ser feito da minha maneira, não da forma de vocês. A
revolução não atingirá os meus objetivos. Se vocês não pagarem esse imposto, os
soldados de César vão colocá-los na prisão, e então vocês não poderão ajudar a
ninguém, mas serão apenas um fardo para sua família. Portanto, paguem o imposto”.
A lealdade a Cristo tem prioridade sobre todas as outras formas de lealdade.
Por isso, essa advertência de Jesus sobre o denário é relevante. Tributos humanos
devem ser pagos, exceto quando pagá-los nos impede de obedecermos a Jesus.
Logo, como podemos derrubar nosso atual sistema tributário?
Em primeiro lugar, substituindo cada líder político que vota pensando que o
Estado tenha originalmente o domínio e a soberania sobre nossas vidas, renda, bens e o
futuro. Um líder assim é mais adequado a uma nação comunista que aos EUA.
Em segundo lugar, começando a obedecer, você mesmo, ao sistema tributário
de Deus do sábado cristão e do dízimo. Dando-lhe o imposto do seu tempo e da
utilização da sua terra. Seja o que você tenha de reajustar, mudar, ou a que renunciar, dê
a Deus o que lhe é devido. Passe os domingos descansando e adorando junto com sua
família e amigos cristãos. Dê ao Senhor 10% da sua renda.
Em terceiro lugar, a única forma de abolir o imposto de renda e reconstruir o
sistema tributário dos Estados Unidos é por meio de evangelismo. Não há outra maneira
de fazê-lo. Revolta tributária não o fará. Nossos atuais políticos não aceitariam isso.
Nem os atuais eleitores o fariam.
Numa sociedade que acredita que o Estado tem o direito de propriedade,
soberania e controle sobre nós, a única coisa que nos levaria de volta ao imposto per
capita de Deus ― e não a outros tributos civis ― é o seguinte: nós, como a Igreja de
Jesus Cristo, e como cidadãos cristãos, no poder de Deus, persuadirmos homens e
mulheres a crerem que todo domínio e autoridade pertencem a Jesus Cristo (Mateus
28.18), não ao homem ou ao Estado.
Até que os cidadãos norte-americanos parem de olhar para o Estado com seu
senhor e salvador, e até que se oponham a essa visão, não haverá mudança no atual
sistema tributário ou no rumo suicida do nosso governo civil. Caso contrário, o Estado
crescerá cada vez mais onerosa e opressivamente.
Escrever cartas aos congressistas e senadores é importante, mas não o
suficiente. Reclamar do imposto de renda não é o suficiente. Não podemos esperar por
socorro, a menos que trabalhemos pessoalmente, semana a semana “rogando” (2
Coríntios 5) às pessoas que se tornem verdadeiros cristãos, que creiam que Jesus
Cristo tem todo o domínio, soberania e a salvação que é recebida por meio da graça
através da fé.
Jesus Cristo é o Senhor e o Salvador do mundo. Essa é a verdade que
extinguirá o imposto de renda; quando os cidadãos dos Estados Unidos começarem a
crer novamente nisso.
CAPÍTULO SEIS

A contraproducência de não vincular


cristianismo e política

Uma resposta ao Senador Mark Hatfield, publicada em The Theology of Christian


Resistance [A teologia da resistência cristã], um simpósio editado pelo dr. Gary
North, Geneva Divinity School Press, Texas (1983)
“Hoje, antes de esperarem fazer qualquer contribuição para solucionar os males
sociais e políticos que afligem a nossa nação, este é um imperativo: os cristãos
precisam descartar o mito humanista da neutralidade da política no que concerne à
religião.”[14]
O que é neutralidade religiosa na política? Hebden Taylor responde: “De
acordo com esse princípio de neutralidade, os cristãos podem participar no processo
político somente como cidadãos, jamais como crentes”. Assim é que Walter James, em
seu livro The Christian in Politics [O cristão na política], argumenta:
O cristão é convocado a agir ao lado de outros homens e nenhuma
garantia lhe é dada de que ele entenderá o propósito de Deus melhor que
os outros. Não pode aspirar a ser um político cristão mais do que a ser
um engenheiro cristão. A política tem a qualquer tempo suas próprias
técnicas, finalidades e padrões e, embora possam variar, à luz disso e ao
longo do tempo, o esforço do cristão deve ser apenas em ser um bom
político e nada mais.
O cristão está em pé de igualdade com os não cristãos, assim como não há
denominações na ciência da física. Sua religião não lhe poderá ser um
guia especial em seu serviço público, como poderá sê-lo em seus
relacionamentos mais próximos…[15]
Defendendo que os cristãos devem agir em conformidade com a doutrina
predominante da neutralidade, que busca excluir religião de política, e propondo que os
cristãos restrinjam sua religião ao campo das relações pessoais ― James está caindo
diretamente na armadilha do humanismo secular liberal que busca colocar a religião
junto de outras atividades e interesses humanos tais como os acadêmicos, os sociais,
econômicos, políticos ou artísticos.
Esse conceito moderno da religião é o que hoje o mundo secular apóstata, ao
nosso redor, adora que os cristãos aceitem. Os humanistas seculares não têm nenhuma
objeção à nossa fé cristã, desde que a reservemos estritamente para nós mesmos, na
privacidade de nossas casas e igrejas, e não procuremos viver conforme nossos
princípios cristãos em nossos negócios e vida públicos.
De modo nenhum ao Espírito e à Palavra do Senhor Jesus Cristo deve ser
permitido entrar na cabine de votação ou no supermercado, onde as decisões reais da
vida moderna são feitas, nem ainda a religião pode interferir em questões como
educação, política, relações trabalhistas, lucros e salários. Essas atividades são todas
supostamente “neutras” e, portanto, podem ficar fora de influências sectárias, para que
o espírito secular da comunidade possa vigorar. Esse é o espírito da razão, da ciência e
da técnica pura do pragmatismo. Para esse pensamento, a verdade é apenas o que
funciona na prática e o Deus da Bíblia é considerado uma projeção da imagem paterna
ou, ao menos, um ser construído a partir da imagem que o homem faz de si mesmo ou da
sociedade em que vive.[16]
Bernard Zylstra também declarou em Challenge and Response [Desafio e
resposta]:
O neutralismo é a visão de que o homem pode viver total ou parcialmente
sem levar em conta a Palavra de Deus. Os que reverenciam a ficção da
neutralidade sustentam que muitos segmentos da cultura moderna são
meramente técnicos. Pensa-se, então, que uma empresa, sindicato, escola,
governo, podem ser administrados apenas por meio de informações,
decisões técnicas que não tenham nenhuma relação com uma perspectiva
final sobre questões básicas… Esse “tecnicismo” é o resultado de uma
filosofia pragmática. Os defensores do “tecnicismo” estão entre os mais
perigosos guias de um mundo completamente secularizado. Pois é
inevitável que o domínio do “neutro” e dos “fatos” cresça cada vez mais
até que isso acabe fazendo desaparecer tudo de moralidade humana e fé.
[17]

A neutralidade religiosa na política foi defendida recentemente no


Congressional Record (Volume 126, Número 66) pelo senador Mark Hatfield, que
adota o cristianismo “evangélico”. O título do artigo (p. S4271) revela sua motivação
principal: The Counterproductive Linking of Religion and Politics [A
contraproducência de vincular religião e política]. Nesse discurso, que é uma resposta
a Washington pelo evento Jesus Rally [Comício Jesus] em 29 de abril de 1980, o
senador Hatfield elogia os líderes do evento por não “associarem seus interesses
religiosos às chamadas questões políticas”. Hatfield disse: “Quero felicitá-los por
perceberem o perigo dessa estratégia e por colocarem de lado os esforços de apoiar
questões em que as pessoas de boa vontade têm opiniões diferentes”. Tenhamos em
mente que esses participantes do evento eram irmãos “evangélicos”.
O senador Hatfield incluiu em seu discurso um artigo de Stanley Mooneyham,
denominado United We Fall [Unidos perderemos]. Nesse artigo, com o fim de defender
sua posição, Mooneyham interpreta mal e aplica mal vários textos bíblicos:
Estou assustado com um bloco de poder evangélico assim como de
qualquer outro […] Embora não seja impossível conciliá-los em algumas
situações, há de fato um conflito básico entre compromisso cristão e
poder político. A força da fé está em suas torrentes da fraqueza, nas
forças das ondas do amor. Se a política é a arte de alcançar o possível, a
fé é a arte de atingir o impossível. A política diz “destrua seus inimigos”.
A fé cristã diz “ame seus inimigos”. A política diz “o fim justifica os
meios”. A fé cristã diz “os meios justificam o fim”. A política diz “o
primeiro deve ser o primeiro”. A fé cristã diz “o último deve ser o
primeiro”.

Essa redefinição de fé e a dicotomia entre fé e política são o mesmo que fazer


da fé algo irracional, vazio, irrelevante e tornar a política autônoma, pragmática e
soberana. Parece que Mooneyham encontrou sua definição em Karl Marx ou em algum
outro defensor do pragmatismo secular. Além disso, o homem como indivíduo ou em
sociedade é dependente do Deus Todo-Poderoso, o único autônomo e soberano —
assim crê o cristão.
O senador Hatfield faz referência ainda a um segundo artigo — escrito por
Charles Bergstrom e denominado When the Self-Righteous Rule, Wacth Out! [Quando
os religiosos hipócritas governam, tome cuidado!]. Esse artigo é um ataque aos cristãos
que creem que a Bíblia pode ser utilizada como uma cartilha política, como nossos pais
fundadores [da nação dos Estados Unidos] criam. O sr. Bergstrom inventa um
espantalho e então o ataca. O exagero de sua confrontação demonstra que Bergstrom
não compreendeu de fato essa posição.
Bergstrom identifica esses cristãos como “os que leem a Bíblia sem um senso
de mistério e ambiguidade”, os quais deram origem “às cruzadas, à inquisição
espanhola e à condenação das bruxas de Salém”. Segue insinuando que esses cristãos
são hipócritas por defenderem tal posição. E eu pensava que somente Deus pudesse ver
o coração!
Há dois pontos fracos fundamentais nessa posição defendida pelo senador
Hatfield quanto à neutralidade religiosa na arena política. Primeiro, há uma má
compreensão da relação entre religião e cultura (vida, inclusive a política). Segundo,
há uma negação (intencional) de dois princípios básicos do cristianismo:
1. o senhorio de Jesus Cristo sobre a vida completa;
2. a autoridade total da lei de Deus sobre todas as coisas.

Qual a relação da religião com a cultura (vida), conforme os ensinamentos da


Bíblia, e reconhecida por muitos cristãos e também não cristãos? Esse não é um debate
teológico irrelevante. É central para toda a discussão sobre o papel dos cristãos e do
cristianismo na política dos Estados Unidos. Um equívoco aqui pode ser, como tem
sido, devastador para os norte-americanos.
O que queremos dizer com “religião”? De acordo com F. Nigel Lee, religião é
“a firme disposição de todo homem de devotar-se com todo o coração ao verdadeiro
Deus ou a um ídolo”.[18] Nesse sentido, todos os homens são religiosos, pois nenhum
homem pode escapar de ser imagem de Deus criado para adorar e servir a Deus,
mesmo sendo rebelde e não regenerado. Romanos 1.25 afirma: “… pois eles (os
homens) mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em
lugar do Criador”. O homem é inevitavelmente religioso.
O que pretendemos dizer com a palavra “cultura”? Cultura é a religião
externalizada. Conforme Lee, cultura
é o resultado inevitável dos esforços do homem, necessários para usar e
desenvolver o mundo no qual ele vive, sob a direção do Senhor ou sob a
influência do pecado, de acordo com qualquer dos dois que controle seu
coração. Sendo assim, cultura inclui todas as obras humanas ― artes,
ciência, agricultura, literatura, linguagem, pesquisas na astronomia, rituais
de culto, vida doméstica, costumes sociais (suas políticas) ― em resumo,
os produtos culturais de toda a vida humana seja servindo a Deus, seja
servindo um ídolo.[19]

O homem foi criado por Deus para cultura, isto é, para “cultivar” o jardim
(Gênesis 2.15), para multiplicar-se e ter domínio sobre a terra (Gênesis 1.28). Não
pode fugir do seu chamado, embora os homens não regenerados pervertam isso,
enquanto os homens regenerados o fazem para a glória de Deus e em submissão ao
domínio de Deus.
Agora discorramos sobre a relação da religião com a cultura. Trata-se
de algo semelhante à relação entre fé e obras. As obras surgem a partir da raiz da fé e
são expressão dessa fé. “A fé sem obras é morta”, conforme Tiago 2.26. A cultura é a
religião externalizada. É resultado e expressão da religião das pessoas.
Então, todas as culturas são profundamente religiosas e nunca podem ser não
religiosas. (Não se trata de afirmar que sejam todas teístas. Por exemplo, o humanismo,
como reconhecido pela Suprema Corte dos EUA [Torcaso vs. Watson], é uma religião
não teísta, que acredita apenas no homem).
Cada aspecto da vida de uma nação refletirá — e não poderá deixar de refletir
― a religião dos seus cidadãos, seja ela qual for. A neutralidade religiosa na política
― e em cada faceta da cultura e vida de uma nação — é um mito. Visto que a religião
(fé) envolve tudo, toda a atividade humana terá as cores da religião (fé) que alguém
sustente. Não há ações culturais neutras, assim como não há “obras” neutras; elas são
“boas obras” ou “más obras”, feitas para a glória do Deus da Bíblia ou para a glória de
um ídolo (o não deus). Henry Van Til escreveu sobre essa questão:

A cultura não é algo neutro, sem conotação ética ou religiosa. As ações


humanas não são realizadas sem propósito, mas buscam alcançar certos
fins, que podem ser tanto bons quanto ruins. (Para o cristão, o único
padrão de moralidade, público ou privado, é a Bíblia). Visto que o
homem é um ser moral, sua cultura não pode ser amoral.
Porque o homem é um ser religioso, sua cultura, também, acaba sendo
religiosamente orientada. Não há cultura pura como se fosse
religiosamente neutra ou sem uma ética positiva ou negativa. Embora a
prática dos valores numa cultura possa superficialmente parecer apenas
preocupada com coisas temporais e materiais, trata-se mesmo apenas de
uma aparência, pois o homem é um ser espiritual feito para ser eterno,
completamente responsável diante de seu Criador ― o Senhor. Tudo o
que o homem realiza está envolvido com toda a sua natureza como
homem.
Cultura, contudo, não inclui religião. Essa noção é o erro básico de
praticamente todos os nossos antropologistas culturais, o que de fato pode
ser comprovado ao examinar casualmente qualquer obra de referência em
antropologia, de autores como Vander Leeuw, Malinowsky e outros.
Mas a pressuposição fundamental subjacente a essa ideia renega o
cristianismo e é profundamente naturalista. Para a posição do antropólogo
cultural, a religião é simplesmente uma projeção do espírito humano, uma
tentativa de manipular o invisível por meio da mágica, ou, de qualquer
forma, o homem cria deuses à sua própria imagem, o que acaba
mostrando-se uma conquista cultural. Essa é também a atitude geral do
liberalismo religioso que utiliza a religião para atingir objetivos do ideal
humano, como a paz mundial […].
A razão pela qual religião não pode ser associada a cultura é que,
enquanto o homem como ser religioso transcende todas as suas atividades
debaixo do sol, a cultura é apenas um aspecto da soma total de todas
essas atividades e seus resultados na formação da história. Dividir a vida
nas esferas do sagrado e do secular, deixando nossas devoções restritas
ao sagrado enquanto se transformam secularmente durante a semana, é não
compreender o verdadeiro propósito do homem.[20]

Precisamos compreender que o homem nunca pode deixar de lado a sua


religião e agir como uma pessoa irreligiosa. Ele pode mudar de religião, mas não pode
agir ou pensar de forma irreligiosa, visto que a religião é o princípio que rege tudo o
que o homem faz, é, e diz. A religião é como o coração, do qual fluem as decisões da
vida, comprometendo todas as esferas do conhecimento e do pensamento humanos.
O que é reafirmado por Jesus, quando ensinou que é o coração que afeta o
pensamento e o comportamento, e não o inverso (Marcos 7.20). A implicação, então, é
clara: o cristão não pode nunca pensar ou viver de qualquer outro modo senão como
governado pela Palavra de Deus. Nunca pertence a si mesmo, mas “foi comprado por
preço” (1 Coríntios 6.20).
O cristão não pode reivindicar direitos de domínio sobre sua própria opinião
ou comportamento: é uma pessoa submissa a uma autoridade, e está trabalhando para
levar “cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2 Coríntios 10.5), inclusive sua
forma de pensar política.
Tentar agir de forma neutra em qualquer esfera é cometer o erro de Eva que,
após Deus ter dito “Não coma!” e após o diabo ter dito “Coma!”, presumiu que deveria
tomar uma posição neutra e decidir por si mesma e por si mesma falar a verdade.
Portanto, numa condição caída, Eva foi a primeira humanista, presumindo ter autonomia
e responsabilidade para determinar por si própria o “bem e mal” (Gênesis 3.5). Os
cristãos perguntam: “quem é o homem para tomar uma posição neutra diante do domínio
do Deus vivo?”. Neutralidade é desobediência.
O outro lado da moeda também pode parecer óbvio. Visto que a neutralidade
religiosa é um mito, os que se dizem neutros, na verdade estão colocando de lado seus
pressupostos cristãos e (inconscientemente) assumindo outra religião. Os humanistas
não põem de lado seus pressupostos, metas e objetivos pessoais. E quando faz o
mesmo, o cristão acaba caindo bem na armadilha humanista. Na verdade, junta-se aos
humanistas na busca por suas metas e objetivos. Adota, na área política, o pressuposto
humanista, que é a crença em que o homem em comunidade poderá resolver seus
problemas sem referência a Deus ou a sua revelação escrita.
A neutralidade religiosa na política é particularmente perigosa, por causa do
impacto de longo alcance da legislação e das leis. A fonte da lei para a sociedade é o
deus dessa sociedade. Se a fonte da lei for a Bíblia, então o Deus Todo-Poderoso é o
Deus dessa sociedade.
Contudo, se a fonte da lei é o homem, então o homem se torna o deus, e isso
demonstra a escravidão e o caos dessa sociedade. Como Rushdoony escreveu:
Em todas as culturas, a lei é religiosa em sua origem. Visto que governa o
homem e a sociedade, visto que estabelece e declara o sentido da justiça
e do que é correto, a lei é inevitavelmente religiosa, e institui de maneira
prática os objetivos principais da cultura. Portanto, uma premissa
fundamental e necessária em todo e qualquer estudo da lei deve ser, em
primeiro lugar, um reconhecimento de sua natureza religiosa.
Em segundo lugar, deve-se reconhecer que em qualquer cultura a fonte da
lei é o deus dessa sociedade. Se a lei tem sua fonte na razão humana,
então a razão humana é o deus dessa sociedade. Se a fonte é uma
oligarquia, ou um tribunal, senado, ou líder, então essa fonte é o deus
desse sistema.
O humanismo moderno, a religião do Estado, baseia a lei no Estado e,
assim, torna o Estado, ou as pessoas que se expressam por meio do
Estado, o deus do sistema. Na cultura ocidental, cada vez mais a lei tem
se afastado de Deus e se aproximado mais do povo (ou do Estado) como
sua fonte, embora o poder histórico e a vitalidade do Ocidente tenham
sido a fé e a lei bíblica.
Em terceiro lugar, em qualquer sociedade, qualquer mudança de lei é
uma transformação explícita ou implícita da religião. Na verdade, nada
revela mais claramente a transformação religiosa de uma sociedade do
que uma revolução jurídica. Quando os fundamentos legais se modificam
da lei bíblica para o humanismo, essa mudança significa que a sociedade
agora extrai sua vitalidade e força do poder do humanismo e não mais do
teísmo cristão.
Em quarto lugar, a desvinculação da religião como tal é impossível em
qualquer sociedade. A Igreja pode ser desvinculada do Estado, e uma
religião específica pode ser substituída por outra, mas essa mudança é
simplesmente uma outra religião. Visto que os fundamentos da lei são
necessariamente religiosos, nenhuma sociedade existe sem uma base
religiosa ou sem um sistema legal que codifique a moralidade de sua
religião.
Em quinto lugar, num sistema legal não pode haver tolerância para outra
religião. A tolerância é um dispositivo utilizado para introduzir um novo
sistema legal como prelúdio para uma nova intolerância. O direito
positivista, uma fé humanista, tem sido brutalmente hostil ao sistema
bíblico-legal e tem reivindicado ser um sistema “aberto”.[21]

“A neutralidade religiosa na política” é um princípio subversivo,


revolucionário e anticristão!
O segundo ponto fraco desse princípio é que ele trai duas verdades
fundamentais da religião cristã: (1) o senhorio completo de Cristo sobre a vida; e (2) a
autoridade total da Bíblia sobre todas as coisas, como a Palavra de Deus escrita.
Um dos mais claros ensinamentos do cristianismo é que Jesus Cristo é o Rei.
Foi aclamado como tal em seu nascimento (Lucas 2.11). Durante toda a sua vida,
declarou que o era (Marcos 2.10, 28). Cristo morreu como um rei, tendo o controle
total da situação (Colossenses 2.15). Ressuscitou dentre os mortos como um rei
majestoso (Atos 2.32-36). Reina hoje sobre tudo e está trabalhando para estabelecer
seu reino sobre toda a terra (1 Coríntios 15.23-28). E no final da História, Jesus Cristo
voltará, para consumar seu reinado (Filipenses 2.9-11).
A fé é descrita em termos de submissão ao senhorio de Jesus Cristo (Romanos
10.9). Duas coisas, portanto, tornam-se absolutamente claras:
1. O senhorio de Cristo é ilimitado e irrestrito, isto é, inclui, sem exceção,
todas as áreas da vida. Não há nenhuma esfera da vida humana ou de toda a criação que
não esteja sob seu senhorio e responsabilidade.
2. O senhorio de Cristo é de especial importância para a esfera política. O
Apocalipse demonstra que o governo de Cristo inclui a área política, quando Cristo é
chamado “O Soberano dos reis da terra” (Apocalipse 1.5). O Salmo 2 trata diretamente
dos governos civis e conclama: “Beijai o Filho para que se não irrite, e não pereçais no
caminho” (Salmo 2.12). O livro de Atos aponta que os governos civis da época de
Cristo foram intimidados pelas implicações políticas do senhorio universal de Cristo.
A Igreja primitiva estava certamente consciente do conflito com Roma quanto
ao problema que o senhorio de Cristo tinha trazido a eles.
Porém, não os encontrando, arrastaram Jasom e alguns irmãos perante as
autoridades da cidade, clamando: Estes que têm transtornado o mundo
chegaram também aqui, os quais Jasom hospedou. Todos estes procedem
contra os decretos de César, afirmando ser Jesus outro rei. (Atos 17.6-7)
A questão parece óbvia. Jesus Cristo é o rei inigualável do processo político
dos Estados Unidos da América. Os cristãos têm o dever de declarar o senhorio de
Cristo na esfera política norte-americana; não podem descansar até que os direitos
divinos de Cristo e sua autoridade absoluta sejam reconhecidos e obedecidos nas
esferas do executivo, do legislativo e do judiciário do nosso governo civil, nas
instâncias nacional, estadual e municipal.
Para um cristão, buscar qualquer coisa menos que isso é agir como se Cristo
fosse menos do que de fato é — Rei dos reis e Senhor dos senhores, que possui toda a
autoridade e poder no céu e na terra (Mateus 28.18). A neutralidade na política é
rebelião contra o Senhor Jesus Cristo.
Um exemplo de zelo apropriado em defesa dos direitos régios de Jesus Cristo
foi o do rev. James Henley Thornwell, que, em 1861, lutou pela inclusão do seguinte
preâmbulo na constituição da Confederação:
Todavia nós, o povo dos Estados Confederados, reconhecemos
claramente a nossa responsabilidade perante Deus, e a supremacia de seu
Filho, Jesus Cristo, como Rei dos reis e Senhor dos senhores; e por meio
desta estabelecemos que nenhuma lei incompatível com a vontade de
Deus revelada nas Escrituras Sagradas seja aprovada pelo Congresso dos
Estados Confederados.[22]
Isso nos conduz a outra verdade cardeal em jogo nessa questão, que é a
autoridade da Bíblia, acima de todas as coisas, como a Palavra de Deus escrita. Desde
o desembarque do navio dos “pais peregrinos”, os cristãos norte-americanos estavam
comprometidos com a autoridade da lei bíblica como o único fundamento para uma
sociedade justa, ordeira e próspera (Deuteronômio 28-30). Se Jesus Cristo é o Senhor,
ele nos deu uma lei que deve ser obedecida por todos os homens e por todas as nações
(Êxodo 20.1). Visto que Cristo é o Rei, é impossível que exista uma associação sem a
lei revelada. A lei de Deus foi dada para governar, de forma completa, a vida, a mente
e a economia de uma nação temente a Deus.
“A justiça (isto é, estar em conformidade com lei bíblica) exalta as nações,
mas o pecado é o opróbrio dos povos” (Provérbios 14.34).
Em Deuteronômio 4.8, Deus declara a Israel que não existe um código legal ou
sistema jurídico tão justo quanto a lei de Deus revelada. Por todo o Antigo Testamento,
Deus julga Israel e muitas outras nações — como nações — se ignorassem ou
transgredissem a lei bíblica.
O Novo Testamento diz que o governo civil é o “ministro de Deus para teu
bem… e… vingador, para castigar o que pratica o mal”. Ambas as frases são
encontradas em Romanos 13.1-7. E salientam que Deus deu ao governo civil a
responsabilidade de administrar a justiça apenas em termos de certo e errado.
Para o cristão, bem como para os escritores do Novo Testamento, o único
padrão de certo e errado é a Palavra escrita de Deus. Como um “ministro”, o governo
civil tem, perante Deus, a responsabilidade de administrar a sua lei. O governo civil
não tem o direito de legislar elaborando leis por decreto. Sua autoridade é ministerial,
e não legislativa, conforme a Bíblia. Estude o livro de Deuteronômio para ver a
natureza da lei de Deus sobre todas as coisas.
Isso torna a Bíblia de fundamental importância na política, pois a justiça é
impossível, a menos que se fundamente na autoridade final da lei bíblica (Provérbios
28.4, 5; 29.4, 14). Jesus declara especificamente, em João 10.35, que as Escrituras, que
jamais podem falhar, foram especialmente dirigidas aos oficiais civis.
Observe estes exemplos da atitude que os “pais fundadores” dos Estados
Unidos tiveram com respeito à lei bíblica. Antes de tudo, trazemos uma citação das
Ordens fundamentais de Connecticut (1638):
… sabendo bem que onde um povo se reúne, a Palavra de Deus exige que,
para que se mantenham a paz e a união desse povo, deve haver um
governo ordeiro e digno, estabelecido em conformidade com Deus, para
ordenar e dispor as questões do povo em todas as situações, conforme a
ocasião exija; e que, assim, nos associemos e nos unamos num único
Estado público ou comunidade; e… entremos em aliança e na
confederação, para manter e preservar a liberdade e a pureza do
evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo que hoje professamos […].[23]
Em seguida, temos a citação da colônia de New Haven:
2 de março de 1641: E conforme o acordo fundamental feito e publicado
com pleno e geral consentimento, quando a colonização começou e o
governo foi estabelecido, que a lei judicial de Deus dada por Moisés e
explanada em outras partes da Escritura, tanto quanto for uma salvaguarda
e proteção à lei moral, e nenhum cerimonial nem simbolismo com
qualquer referência apenas a Canaã, tem nela [na lei judicial de Deus]
uma eterna justiça, e deve ser a norma das ações deste povo.
03 de abril de 1644: Foi ordenado que as leis jurídicas de Deus, como
foram entregues por Moisés… sejam uma norma para todos os tribunais
nesta jurisdição no processo contra os infratores.[24]

Por último, temos uma citação do Address to Reader por Aspinwall no


Abstract of the Laws of New England de John Cotton (1655):
Este modelo excede em muito todas as leis municipais e estatutos
de qualquer uma das nações dos gentios e sociedades abaixo dos
céus. Pelo que considerei não ser inadequado publicá-lo à vista
de todos, para o bem comum… Julguem de forma igual e
imparcial se há alguma lei de algum país do mundo que seja tão
justa e eficiente quanto estas. As quais, quando foram
devidamente cumpridas, sem dúvida, mantiveram inviolável a
liberdade do indivíduo contra todos os poderes tirânicos e
usurpadores… Este resumo pode servir a esse propósito,
principalmente, para demonstrar a suficiência completa da
Palavra de Deus para conduzir seu povo no juízo de todas as
causas, tanto civis quanto criminais… Mas a verdade é que tanto
eles como nós, e outras nações dos gentios, estamos relutantes em
ser persuadidos a deixar de lado… as nossas velhas formas
mundanas de governos, para submeter-nos ao governo de Cristo.
[25]

Para que os Estados Unidos sobrevivam, prosperem e desfrutem de paz sob a


bênção de Deus Todo-Poderoso, devemos, como um povo e como uma estrutura política
confessar que “o SENHOR é o nosso juiz, o SENHOR é o nosso legislador, o SENHOR é o
nosso Rei; ele nos salvará” (Isaías 33.22).
O cristão precisa trabalhar em favor da revogação de todas as leis originadas
do humanismo e pela restauração da lei bíblica como base para as leis e a legislação
dos Estados Unidos. A neutralidade religiosa equivaleria aqui ao questionamento da
justiça e integridade da lei revelada de Deus.
Rushdoony enfatiza dramaticamente, em seus comentários sobre Deuteronômio
6.4-9, conhecido como o Shema Israel:
O primeiro princípio do SHEMA ISRAEL é dessa forma um
único Deus, uma única lei. É a declaração de uma ordem moral
absoluta a que o homem deve se conformar. Se não pode admitir
outro deus e outra ordem legal, Israel não pode admitir nenhuma
outra religião ou ordem legal válida para si ou para qualquer
outra pessoa. Visto que Deus é um só, a verdade é uma só.
Tudo isso ilustra um segundo princípio do SHEMA ISRAEL: um
Deus absoluto, imutável significa uma lei absoluta e imutável. As
aplicações e aproximações humanas da justiça de Deus podem
mudar, variar e oscilar, mas a lei absoluta não.
Falar da lei como sendo “para Israel” mas não para os cristãos
não é apenas abandonar a lei, mas abandonar o Deus da lei. Visto
que há um só Deus verdadeiro, e sua lei é a expressão da sua
natureza justa e imutável, abandonar a lei bíblica em troca de
outro sistema legal é mudar de deus. O colapso moral do
cristianismo é um produto desse atual processo de mudança de
deuses.
Um terceiro princípio do SHEMA ISRAEL é que “um único
Deus, uma única lei” exige uma obediência total, imutável e sem
reservas. Significa que o homem deve obedecer a Deus
completamente, em toda e qualquer circunstância, com todo o seu
ser. Visto que o homem é inteiramente uma criatura de Deus, e
visto que não há uma partícula do seu ser que não seja obra das
próprias mãos de Deus e, portanto, sujeita à totalidade suprema
da lei de Deus, não há uma área da vida e da existência humana
que possa ser mantida à parte de Deus e de sua lei.[26]
Isso deveria ser o suficiente para nos impactar com a realidade de que um
cristão não pode, entrando no campo político, pôr de lado a lei de Deus. Fazê-lo é pôr
em risco seu próprio bem-estar e abandonar esse guia dado por Deus para melhorar a
vida, para gerar a prosperidade e a paz de uma nação, conforme Deuteronômio 28. Que
isto fique bem claro: “Cristo não pode ser aceito se sua soberania, sua lei e sua Palavra
forem negados”. [27]
Concluindo, espero que tenha sido demonstrado que a neutralidade religiosa
como princípio político é destrutiva para a justiça e o cristianismo. Essa neutralidade é
mais um mito do humanismo secular. Deve ser repudiada por todos os cristãos.
Minha sincera oração é que o senador Mark Hatfield reavalie sua posição à
luz dos princípios que estabelecemos aqui, tanto quanto estão de acordo com a Palavra
de Deus. Oro sinceramente para que o senador Hatfield, na reconstrução de sua posição
política em termos exclusivamente cristãos e bíblicos, seja ricamente abençoado por
Deus para ser um dos homens mais influentes no Congresso como alguém que Deus
esteja usando na reedificação cristã dos Estados Unidos como uma república
verdadeiramente cristã.
Que todos os cristãos, em todos os lugares e pela graça de Deus, voltem a
comprometer-se com orar e trabalhar diligentemente para o estabelecimento dos
direitos régios de Jesus Cristo sobre toda a terra e para a reconstrução de todos os
aspectos da sociedade e da cultura norte-americana pela inerrante e todo-suficiente
Palavra de Deus, no poder do Espírito Santo, para a glória do Deus Todo-Poderoso.
CAPÍTULO SETE

As chaves e a espada
A relação entre Igreja e Estado
Os Estados Unidos crescerão em direção a uma renovada grandeza ou cairá no
caos e esquecimento, conforme sua resposta a uma pergunta: Qual a relação entre Igreja
e Estado? Não se trata de um exagero, pois o problema diz respeito a soberania e
salvação. Há alguma instituição humana soberana sobre todas as demais? Alguma
instituição humana poderia trazer salvação à sociedade? Quem ou o quê é a origem da
ordem social? De quem provém a palavra de autoridade para a Igreja e o Estado? A
quem todas as instituições e indivíduos devem obediência total: a Cristo ou a César?
O humanismo e o cristianismo dão duas respostas completamente diferentes a
essas perguntas. O humanismo atribui soberania e salvação ao homem e ao Estado. O
cristianismo declara que ambos residem exclusivamente no Deus trino:
Eu sou o SENHOR, este é o meu nome; a minha glória, pois, não a darei a
outrem. (Isaías 42.8)
Porque o SENHOR é o nosso juiz, o SENHOR é o nosso legislador, o SENHOR é
o nosso Rei; ele nos salvará. (Isaías 33.22)
E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe
nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos
salvos. (Atos 4.12)
Essas duas religiões estão envolvidas numa guerra total uma contra a outra nos
Estados Unidos da América, incluindo todas as suas instituições políticas, sociais,
educacionais e eclesiásticas. Esse conflito vai muito além de um debate escolástico,
sectário — é uma questão de vida ou morte. É a diferença entre a liberdade e a
escravidão, entre o severo julgamento de Deus e a prosperidade sob a autoridade de
Deus.
Se o homem é a origem do poder soberano e da salvação, então, por meio do
Estado, avançará em sua reivindicação de jurisdição total e total controle de uma esfera
após outra, até que toda a sociedade humana, incluindo a Igreja, seja dominada.
Então, o que é que a Bíblia, a Palavra de Deus, ensina-nos a respeito da
política, isto é, sobre a relação entre Igreja e Estado?

Há uma separação devida entre Igreja e Estado

Afirmar que há uma separação, de forma nenhuma implica numa antítese


radical entre Deus e o Estado, ou o Cristianismo e o Estado, ou a moralidade e o
Estado, ou a Bíblia e o Estado. O entendimento humanista é que é dramático. Não pode
haver coisa tal como neutralidade filosófica, religiosa ou política nessa área, ou em
qualquer esfera dessa questão. A neutralidade religiosa na política é um mito que os
humanistas tentam impor aos cristãos, quando eles mesmos jamais são neutros. Os
cristãos nunca devem ser neutros, pois Jesus disse que somos ou por ele ou contra ele;
entre esses dois polos, não há terreno neutro.
Essa separação é institucional e funcional. Na Bíblia há claramente duas
instituições separadas, com duas funções diferentes: a Igreja (Mateus 16.18; 28.18) e o
Estado (governo civil) (Romanos 13.1). A função dada por Deus à Igreja é a de cumprir
a Grande Comissão, indo, fazer discípulos, batizar e ensinar as nações (Mateus 28.19).
A tarefa da Igreja é ser um ministério de graça (2 Coríntios 5.20).
A função dada por Deus ao Estado é administrar a justiça, ou seja, punir os
transgressores, protegendo os que cumprem a lei; e preservar a ordem moral de Deus
(Romanos 13.4, 1 Pedro 2.13, 1 Timóteo 2.1, Deuteronômio 16.17-18.20). A tarefa do
Estado é ser um ministério que aplique a justiça.
Essa separação está firmemente enraizada na Bíblia. No Antigo Testamento
encontramos a separação funcional entre a Igreja e o Estado do antigo Israel.[28] Havia
uma distinção entre o trabalho de Moisés, líder civil, e Arão, o sacerdote levítico
(Êxodo 16.33; 29.1 ). Durante o período de restauração, após o cativeiro babilônico,
havia uma distinção clara entre Neemias, o governador, e Esdras, o escriba.
Mesmo após o êxodo e o Monte Sinai, as funções litúrgicas foram atribuídas
aos sacerdotes (Êxodo 28.29), enquanto a autoridade judicial e civil repousava sobre
os anciãos e chefes de famílias (1 Samuel 8.4; 10.20; 2 Samuel 3.17; 5.1). As únicas
vezes em que os sacerdotes levitas envolveram-se em questões políticas foram nos
casos extraordinários (I Reis 1.38).
No Novo Testamento essa separação é definida de maneira ainda mais
especifica. À Igreja, e não ao Estado, é que foi dado o poder das “chaves” (Mateus
16.18), ou seja, a autoridade para pregar, ensinar e aplicar a Palavra de Deus a todas as
áreas da vida. Esse poder concedido por Deus inclui a autoridade para se fazer
diferença entre o certo e o errado a partir da revelação bíblica. O poder das chaves
inclui também o poder de “fechar esse reino aos impenitentes… pela Palavra… e de
abri-lo aos pecadores penitentes, pelo ministério do Evangelho” (Mateus 18.17; João
20.21; 2 Coríntios 2.6).[29]
Ao Estado, não à Igreja, foi dado o poder da “espada” (Romanos 13.4). Deus
concedeu o poder da execução por meio da espada e a força justa para serem utilizados
na administração fiel da justiça divina dentro de uma nação. A função dada por Deus ao
Estado é a de punir os transgressores na forma da lei moral de Deus, protegendo os
cidadãos que cumprem a lei. O Estado não deve utilizar o poder da espada para
converter a população, mas para punir o crime; e, desse modo, manter a paz e a ordem
divina. É para usar a espada,, a fim de que a Igreja possa ter a liberdade para usar as
chaves. 1 Timóteo 2.1-2 diz:
Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de orações […]
em favor […] dos reis e de todos os que se acham investidos de
autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda
piedade e respeito.

Há uma coerência peculiar entre Igreja e Estado

Ambos, Igreja e Estado, estão estreitamente relacionados, uma vez que têm
algo em comum. Ser coerente significa estar conectado logicamente, formando um todo
unido ou ordenado. Por coerência entende-se a qualidade ou estado do relacionamento
ordenado das partes.
Tal coerência não implica numa confusão de instituições e funções. Nem
implica em que o Estado possa utilizar seu poder para impor, a seus cidadãos, uma
denominação cristã em particular. Nem significa que toda a sociedade deva estar sob
uma Igreja institucional.
A estreita relação entre Igreja e Estado existe pelo que ambos têm em comum.
Ambos estão submissos a Deus e são responsáveis perante sua Palavra revelada. O
cabeça da Igreja não é o Estado, mas é Deus, por meio de Cristo (Efésios 1.22; 5.23). A
liderança de Estado não é da Igreja, mas pertence a Deus, por meio de Cristo
(Apocalipse 1.5, Provérbios 8.15; Daniel 2.20).
A Bíblia deixa inequivocamente claro que o domínio de Cristo inclui o cenário
político, quando Cristo é chamado “o Soberano dos reis da terra”, em Apocalipse 1.5.
No Salmo 2.10-12, Deus dá esta ordem a todas as autoridades políticas:
Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos advertir, juízes da
terra. Servi ao SENHOR com temor e alegrai-vos nele com tremor.
Beijai o Filho para que se não irrite, e não pereçais no caminho;
porque dentro em pouco se lhe inflamará a ira.

Tanto a Igreja quanto o Estado são responsáveis diante de sua origem, que é o
Deus vivo, o Senhor dos exércitos. A Igreja nasceu na mente de Deus e foi dada a seu
povo para ser o corpo de Cristo (Efésios 1.3). Assim também, o governo civil nasceu
na mente de Deus e foi dado à humanidade a fim de manter a ordem divina (Gênesis
9.6).
E Romanos 13.1 declara mais especificamente:
Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não
há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que
existem foram por ele instituídas.
Então, a autoridade do Estado é derivada de Deus, e não da vontade da
maioria.
O magistrado é, portanto, responsável perante Deus pelo modo como
administra esse poder. O governo civil é totalmente responsável diante do seu Criador
por todos os seus projetos, ações e legislação. O governo civil é obrigado a governar
somente em conformidade com os termos da vontade e da autoridade de Deus. Isso
igualmente é verdade quanto à Igreja em sua esfera.
A questão é a seguinte: uma nação abençoada por Deus não é uma democracia,
ou seja, uma nação governada pela maioria. Uma nação abençoada por Deus é uma
república, ou seja, uma nação governada por uma constituição baseada na lei de Deus.
“Feliz a nação cujo Deus é o Senhor” (Salmo 33.12).
Tanto a Igreja quanto o Estado têm prescrições específicas definidas pelo
próprio Deus na Bíblia. Ambos são limitados em suas funções, poderes, e a fonte de
verdade e lei (Isaías 33.22). Deus não só estabeleceu essas duas instituições, mas lhes
deu instruções escritas na Bíblia acerca de seus deveres e de como devem cumpri-los
de forma justa e eficaz, para que assim sua ordem da criação seja respeitada e mantida.
Ambos são limitados em suas funções.
O Estado deve ser um temor para os transgressores, um vingador da ira de
Deus sobre os injustos (Romanos 13.3). As funções do Estado não incluem saúde,
educação e bem-estar. Essas são responsabilidades da família e da diaconia da Igreja.
A Igreja deve ser um ministro do evangelho — a portadora das boas novas de Jesus
Cristo e do seu reino para um mundo perdido, que pertence a Deus (Mateus 28.19).
Ambos são limitados em seu poder. A Igreja não tem autoridade para aplicar a
pena de morte, embora possa administrar a disciplina da igreja (Mateus 18.15), e
inclusive a excomunhão (1 Coríntios 5.1-13). O Estado tem a autoridade concedida por
Deus para utilizar a espada (força legal, mortal) e para cobrar impostos de forma justa
e bíblica.
A autoridade do Estado não substitui a utilização justa do poder por parte do
pai, dos mais velhos, do diretor, ou do empregador. O Estado pode fazer uso do poder
apenas na administração de sanções civis e não por meio de decretos de controle
burocrático e governamental da sociedade, da economia, da Igreja, da escola ou da
família. Seu poder não deve ser utilizado para restringir ou delimitar o poder
concedido por Deus aos indivíduos cristãos, às famílias, igrejas, escolas ou empresas:
noutras palavras, a Igreja e o Estado estão circunscritos cada um a sua jurisdição.
A Igreja, diretamente subordinada a Cristo, seu Rei, é um domínio
independente, assim como o Estado. A igreja é uma instituição independente, com suas
próprias funções e leis. E o Estado tem sua própria esfera. Deve ser o ministro da
justiça para todos. Tanto a Igreja quanto o Estado são responsáveis por Cristo e sua lei.
Nem Igreja, nem Estado são soberanos supremos sobre o homem. Nem podem usurpar a
plena autoridade de Cristo sobre a vida.
Podem exercer autoridade somente dentro da jurisdição que lhes foi concedida
por Cristo, o Rei. Rejeitar essa delimitação é um suicídio político, cultural e
eclesiástico. A jurisdição da Igreja limita-se à pregação e ao ensino da Bíblia. A
jurisdição do Estado precisa ser limitada à administração da justiça, tal como definida
pela lei bíblica.
Isso nos conduz a uma delimitação final a respeito da Igreja e do Estado: a
fonte de verdade e de direito de ambos. A Igreja e o Estado devem confessar: O
Senhor é o nosso Legislador! (Isaías 33.22, Tiago 4.12). Visto que há um só Deus
(Deuteronômio 6.4), somente pode haver uma lei. Um único Deus absoluto e imutável
significa uma única lei absoluta e imutável, igualmente obrigatória tanto para a Igreja
quanto para o Estado.
Deuteronômio 6.4-9 é “a declaração de uma ordem moral absoluta a que o
homem deve se conformar”, escreveu R. J. Rushdoony.[30]
Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR. Amarás,
pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua
alma e de toda a tua força. Estas palavras que, hoje, te ordeno
estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos…

A escolha do homem ou é Cristo, sua lei e “liberdade e justiça para todos”,


[31] ou é a lei humanista e o caos.
Afirmar que a lei de Deus não é relevante, pertinente, para a moderna política
estadunidense é declarar que Deus está morto para as questões mais importantes do
complexo mundo de hoje. Visto que a lei bíblica é um reflexo do caráter de Deus,
rejeitá-la é rejeitar o próprio Deus. Afirmar que a lei bíblica é irrelevante, é declarar
que Deus é irrelevante. Sem a lei de Deus como fundamento, uma nação é ingovernável
e acabará perecendo sob o julgamento de Deus, a menos que se arrependa.
Cristo não pode ser aceito se sua soberania, sua lei e sua Palavra forem
negadas!
Somente quando a Igreja cumpre a tarefa a ela concedida por Deus, bem como
o Estado exerce sua missão — ambos delimitando-se ao que Deus revelou e ordenou —
é que a nossa nação conhecerá a paz e a prosperidade sob as bênçãos de Deus.
Se a Igreja não está sendo fiel e poderosa na Palavra do Senhor, uma nação
não terá direção e orientação. Se o Estado não está administrando fielmente a justiça do
Senhor, a Igreja será a primeira a sofrer quando a liberdade começar a desaparecer.
O único evangelho que a Igreja deve ministrar é o que foi revelado na doutrina
escrita do Deus Todo-Poderoso. O único padrão de justiça que o Estado pode aplicar é
o que está revelado na Palavra de Deus. No Novo Testamento, tanto a Igreja quanto o
Estado são chamados de “ministros” (Romanos 13.3).
Um ministro do evangelho não cria doutrinas por decreto: ele ministra o que
Deus escreveu. O mesmo é verdadeiro quanto ao magistrado civil — o Ministro da
Justiça não pode estabelecer leis por decreto. Sua autoridade é ministerial, não
legislativa. Sua legislação deve estar alicerçada no que Deus escreveu. O Ministro da
Justiça deve ministrar a lei de Deus expressa na constituição da nação e, não, criar suas
próprias leis.
Que pela graçade Deus, todos os cristãos em todos os lugares voltem a
comprometer-se, com orar e trabalhar para o estabelecimento dos direitos da coroa de
Jesus Cristo sobre toda a terra e para a reconstrução cristã de todos os aspectos da
sociedade e da cultura norte-americana, pela infalível Palavra de Deus e pelo poder
invencível do Espírito Santo, para a glória do Deus trino.
Que não descansemos até que vejamos, sob a bênção do Senhor, indivíduos
cristãos em famílias cristãs, igrejas cristãs e escolas cristãs, empresas cristãs, numa
república verdadeiramente cristã, com políticos eleitos, genuinamente cristãos, e juízes
cristãos exercendo a lei bíblica e aprovando uma legislação cristã.
Que esse dia venha quando nossa amada nação honesta e publicamente
confessar:
Nós, o povo dos Estados Unidos da América, reconhecemos claramente a
nossa responsabilidade perante Deus, e a supremacia de seu Filho, Jesus
Cristo, como Rei dos reis e Senhor dos senhores; e por meio desta
exigimos que nenhuma lei incompatível com a vontade de Deus revelada
nas Escrituras Sagradas seja aprovada pelo Congresso dos Estados
Unidos.[32]
CAPÍTULO OITO

A importância da vida e morte de Larry McDonald

Este capítulo surgiu pela primeira vez como um artigo em The Counsel of Chalcedon
vol. V, Nº 8, de outubro de 1983.
Se quando pensa em Larry McDonald, você só pensa em anticomunismo, você
não o compreendeu bem. Sua fervorosa vocação e o objetivo de sua vida eram
preservar e restabelecer a constituição dos Estados Unidos e a herança bíblica distinta
que lhe deu origem e a carregou de significado. Larry McDonald viveu e morreu
defendendo-a contra qualquer um que conspirasse para destruí-la, dentro ou fora do
nosso país.
Larry compreendia que a preservação e o avanço do legado desse modo de
vida, e do Estado de direito da constituição são absolutamente essenciais para a
liberdade e a justiça de todos. Para uma nação garantir sua própria segurança,
liberdade e prosperidade sob a bênção de Deus, seu governo civil deve limitar-se à
administração fiel da função que Deus lhe atribuiu na Bíblia, refletida em nossa
Constituição: a administração da justiça — e não de saúde, educação e bem-estar, mas,
sim, de castigo dos ímpios e proteção para os que cumprem a lei.
Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem,
e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade?
Faze o bem e terás louvor dela, visto que a autoridade é ministro
de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque
não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus,
vingador, para castigar o que pratica o mal. (Romanos 13.3-4)

Isso demonstra claramente que a manutenção de um forte e eficiente programa


de defesa, suficiente para proteger os cidadãos de qualquer invasor criminoso, é
essencial ao domínio divino. Agir de forma oposta — permitindo que as famílias do
país fiquem numa situação vulnerável — é irresponsável e imoral. Esse poder da
espada concedido por Deus foi conferido ao Estado para que o Estado seja um
vingador eficaz que aplique a ira de Deus sobre quem pratica o mal.
Noutras palavras, enquanto um governo civil é fiel a Deus na aplicação da
verdadeira justiça e da justa restituição, Deus aplica sua santa vingança contra os que
tentam destruir sua ordem moral na criação. Uma nação que guarda essa espada em
razão da parcialidade, que sobeja em cruel impunidade, que recolhe sua espada por
conta de um sentimento humanista, que nega o direito da existência dessa espada, ou a
utiliza além do seu domínio, estará condenada pelo Deus Todo-Poderoso.
Larry compreendeu que quando os autores da constituição dos EUA falaram da
lei, queriam dizer “a lei de Deus” revelada na Bíblia. Ouvi-o repetir muitas vezes que
com a lei bíblica é que devemos refutar a lei relativista humanista. Tal visão foi
confirmada pelo Congresso dos Estados Unidos em 4 de outubro de 1982, quando
ambas as Casas aprovaram a Lei Pública 97-280 afirmando que “os ensinamentos
bíblicos inspiraram os conceitos do governo civil contidos em nossa Declaração de
Independência e na Constituição dos Estados Unidos”, que “a Bíblia é ‘a rocha sobre a
qual se fundamenta a nossa República’”, que “a história da nossa nação demonstra
claramente o valor de livremente aplicar os ensinamentos das Escrituras na vida dos
indivíduos, das famílias e sociedades”, que “a renovação do nosso conhecimento e fé
em Deus por meio das Sagradas Escrituras pode nos fortalecer como nação”, que o
Congresso reconhece “a influência normativa que a Bíblia tem sido para a nossa nação,
e a necessidade nacional de estudarmos e aplicarmos os ensinamentos das Sagradas
Escrituras”.
Em Romanos 13, Deus descreve o Estado como “um ministro de Deus”. No
Novo Testamento, tanto a Igreja quanto o Estado são chamados ministros. Assim como
uma Igreja não tem autoridade para criar doutrinas por decreto, do mesmo modo o
Estado não recebeu de Deus nenhuma autorização para aplicar qualquer outra norma de
justiça pública que não seja a lei de Deus.
A autoridade do Estado é ministerial, não inventivamente legislativa. Sua
legislação deve fundamentar-se nas leis de Deus. Se o Estado não está administrando
fielmente a justiça em conformidade com a lei bíblica, a Igreja será a primeira a sofrer,
quando a liberdade começar a desaparecer.
A razão disso é evidente: a fonte da lei de qualquer sociedade é o deus dessa
sociedade. E esse deus não há de tolerar deuses rivais. Uma Igreja cristã firme e
inflexível é uma ameaça a um Estado que se considera um deus.
Mostre-me de onde provêm as leis de uma nação e vou mostrar-lhe o deus que
ela adora, independente do que esteja escrito em suas moedas.
Portanto, o problema enfrentado por nossa nação, a questão que nos divide,
não são as muitas leis e regulamentos versus menos leis e regulamentações. É um
assunto bem mais profundo: estamos sendo governados pela lei dos homens ou pela lei
de Deus? Se o homem é o deus, a servidão e o caos vão reinar. Se o Senhor é Deus, a
paz reinará. “Feliz a nação cujo Deus é o Senhor” (Salmo 33.12).
Se, quando você pensa no assassinato de Larry McDonald, apenas sente raiva
dos soviéticos que o assassinaram, você perdeu o significado mais profundo desse
incidente, para seu futuro como um norte-americano.
Por toda a nossa história os nossos pais creram na Divina Providência — que
a condutora mão de Deus repousa sobre os negócios das nações e dos homens. O que
produziu, nos que criam nisso, um senso de confiança no futuro e um estímulo à
responsabilidade. Hoje, essa mesma confiança na Providência deve produzir em nós
uma determinada solenidade.
A nossa nação, em todos os níveis, está num estado de rebeldia contra esse
Deus da Providência. Temos “misturado nossa prata com escória” (Isaías 1.22).
Fizemos alianças com os representantes de ordens jurídicas anticristãs. Temos juízes
mais preocupados com a transformação social revolucionária do que com a aplicação
da justiça simples e justa. Sucumbimos a uma vida voltada ao consumismo. Temos
vivido para o lazer e a riqueza, em vez vivermos para o trabalho duro, para a
produtividade útil e a glória de Deus.
Temos buscado por segurança, do "berço ao túmulo", no homem e nas suas
instituições, como sendo a salvação, e, não, no Deus vivo, por meio de Jesus Cristo.
Abandonamos a nossa herança e cultura cristã que fez de nossa nação a maior na Terra.
Temos desvalorizado a família e nos entregado a imoralidade e pornografia.
Estamos roubando, cada vez mais, direitos e liberdades da Igreja e da escola
cristã. Trocamos de deuses, e as nossas novas divindades, deuses impotentes, nos têm
arruinado. Temos elegido para os cargos públicos homens que não têm nenhum
compromisso com Deus e nenhum senso de responsabilidade para legislar segundo
Deus e sua lei.
E agora todos estão começando a ver a bancarrota desses novos e falsos
deuses. Todos sabem que o rei está nu. Estamos revoltados com o assassinato de 269
pessoas, pelos soviéticos; porém, não estamos igualmente indignados com o assassinato
de milhões de fetos, pelos norte-americanos.
Esses abomináveis pecados nacionais e pessoais nos põem sob o juízo severo
do Deus Todo-Poderoso:
Portanto, diz o Senhor, o SENHOR dos Exércitos, o Poderoso de
Israel: Ah! Tomarei satisfações aos meus adversários e vingar-
me-ei dos meus inimigos. Voltarei contra ti a minha mão,
purificar-te-ei como com potassa das tuas escórias e tirarei de ti
todo metal impuro. Restituir-te-ei os teus juízes, como eram
antigamente, os teus conselheiros, como no princípio… (Isaías
1.24-26)

Como alguém pode saber se Deus já começou ou não a lançar seu juízo sobre a
sociedade? Há algum sinal de que o julgamento já começou? A resposta pode ser
encontrada em Isaías 3.1-5:

Porque eis que o Senhor, o SENHOR dos Exércitos, tira… o


sustento e o apoio…; o valente, o guerreiro e o juiz; o profeta, o
adivinho e o ancião; o capitão de cinquenta, o respeitável, o
conselheiro, o hábil entre os artífices e o encantador perito. Dar-
lhes-ei meninos por príncipes, e crianças governarão sobre eles.
Entre o povo, oprimem uns aos outros, cada um, ao seu próximo;
o menino se atreverá contra o ancião, e o vil, contra o nobre.
Então, quais são os sinais de que Deus começou seu juízo sobre os Estados
Unidos, em razão de nossa rebeldia contra ele? Ele está privando a nossa nação de seus
meios mais necessários de vida, política, militar, economicamente, e na agricultura, e
ainda social, educacional, e moralmente; e da vida religiosa. Tudo aquilo em que a
nossa nação confiava — seja bom ou ruim — está sendo tirado.
Estamos assistindo a um declínio da nossa saúde nacional, vitalidade e
esperança. Aliado a isso, a eliminação de uma boa liderança, líderes em quem
poderíamos confiar, líderes que não nos trairiam — como o congressista Lawrence
Patton McDonald. O sentimento que fica neste distrito congregacional é que o único
homem que nunca nos decepcionou e sempre nos conduziu no caminho certo se foi.
Grande parte do restante da liderança é, como Isaías 3 descreve, de homens a quem
falta sabedoria, maturidade, coragem, determinação, compreensão e um senso de
direção.
Muitos não valorizam o legado do nosso passado, nem se comprometem com o
nosso futuro como uma república cristã. Estão vivendo e legislando apenas para o
presente. Essa atitude gera irresponsabilidade e um planejamento míope e egocêntrico.
Como um deles disse, quando questionado sobre as consequências das suas políticas
inflacionárias, a longo prazo, para os nossos netos: “A longo prazo, eu estarei morto”.
Esse capítulo da Bíblia [Isaías 3] continua descrevendo outros sinais do
julgamento de Deus sobre uma nação. Haverá um crescimento da anarquia, da confusão
e da perda de unidade e liberdade. Homens responsáveis abdicarão da posição de
poder, e mulheres tomarão as rédeas. Haverá um declínio moral entre as mulheres, bem
como entre os homens, tal como demonstrado no feminismo e na Equal Rights
Amendment [Emenda da igualdade de direitos].
Então virão os horrores da guerra e, com isso, o desaparecimento trágico de
homens e meninos. Em uma nação onde Deus está morto, ou considerado irrelevante, o
homem está morto.
Esse vai ser o nosso futuro, a não ser que verdadeiramente nos arrependamos
de nossos pecados, tanto individual quanto nacionalmente. Isaías 1.16-20 declara:

Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de


diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal. Aprendei a fazer o
bem; atendei à justiça, repreendei ao opressor; defendei o direito
do órfão, pleiteai a causa das viúvas. Vinde, pois, e arrazoemos,
diz o SENHOR; ainda que os vossos pecados sejam como a
escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam
vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã. Se quiserdes
e me ouvirdes, comereis o melhor desta terra. Mas, se recusardes
e fordes rebeldes, sereis devorados à espada; porque a boca do
SENHOR o disse.

Deus apresenta-lhes, senhoras e senhores, duas alternativas: obedecer-lhe e


prosperar, ou desobedecer-lhe e serem devorados pela espada!
Líderes políticos: Arrependam-se de seus pecados que nos levaram a tal
situação. Voltem-se a esta proposição: “Porque o Senhor é o nosso juiz, o Senhor é o
nosso legislador, o Senhor é o nosso rei; ele nos salvará” (Isaías 33.22). Prostrem-se
perante a supremacia do Filho de Deus. Cuidem para que “nenhuma lei inconsistente
com a vontade de Deus revelada nas Sagradas Escrituras seja aprovada nos Estados
Unidos”.
Líderes da Igreja: Arrependam-se de seus pecados que nos levaram a esta
situação. consagrem-se à pregação ousada e eficaz de todo o conselho de Deus
revelado na Bíblia e que se aplica a cada esfera da vida. Não temam os homens.
Estejam confiantes em que o poder da Palavra de Deus pode e vai derrubar todos os
“ismos” de homens. Preguem toda a Bíblia e somente a Bíblia. Resgatem seu
negligenciado papel de profetas. Confrontem as instituições políticas e os atuais agentes
do poder, chamando-os à responsabilidade diante da lei de Deus e a Jesus Cristo, que
afirmou ser o Soberano dos reis da terra (Apocalipse 1.5). Permaneçam juntos com o
velho Jeremias; com a Palavra de Deus em sua boca e, como um martelo, despedaçando
as rochas do humanismo e do comunismo! (cf. Jeremias 23.29).
Cidadãos: arrependam-se de seus pecados que nos levaram a esta situação.
Parem de olhar para o governo civil como salvação e meio de subsistência. Abandonem
a apatia e engajem-se na batalha pela sobrevivência dos Estados Unidos. Arrependam-
se de suas vidas voltadas ao consumismo. Arrependam-se de terem estabelecido o
conforto e a riqueza, como prioridade de suas vidas. Estejam dispostos a dar tudo o que
são e tudo o que têm a Cristo e ao avanço do seu reino.
No último discurso que fez, no sábado à noite antes de sua morte, Larry
Mcdonald disse que se quisermos ganhar esta batalha que está diante de nós, devemos
nos entregar abnegada e inexoravelmente ao avanço da causa de Deus, da justiça e da
verdade, até que uma das duas coisas aconteça: vencermos ou sermos sepultados em
nossos túmulos.
A última coisa que Larry me pediu que lhe fizesse era escrever algum material
que ele pudesse utilizar para motivar os cristãos a se envolverem mais, de forma
consistente e perseverante, na batalha decisiva por nosso futuro e dos nossos filhos.
Isso foi o que tentei fazer por ele e para a glória de Deus.
Se Cristo é de fato rei, exercendo sua jurisdição originária e imediata sobre o
Estado, tal como faz sobre sua Igreja, segue-se necessariamente que a negação completa
ou negligente de seu senhorio legítimo e qualquer recusa prevalecente de obedecer à
Bíblia que é o livro aberto da lei de seu reino, terá por consequência a ruína política e
social, bem como moral e religiosa.
Sendo infiéis à autoridade de seu Senhor como cidadãos do Estado, os cristãos
professos não podem esperar serem abençoados pela presença do Espírito Santo, como
membros da Igreja.
O reino de Cristo é um só e não pode ser dividido na vida ou na morte. Se a
Igreja enfraquece, o Estado não pode estar saudável; e se o Estado se rebela contra seu
Senhor e Rei, a Igreja não pode desfrutar de seu favor. Se o Espírito Santo for retirado
da Igreja, não estará presente no Estado; e se ele, o único “Senhor da vida” estiver
ausente, então tudo mais será inviável, e os elementos da sociedade voltarão à noite e
ao caos primitivo.
Em nome de seus próprios interesses faço-lhes um apelo; em nome de suas
preciosas casas e celeiros, de suas ricas fazendas e cidades, e de suas economias do
passado e esperanças no futuro — exorto-os, vocês nunca estarão seguros se não
mantiverem fielmente todos os direitos da coroa de Jesus o Rei dos homens.
Em nome de seus filhos e da herança que lhes cabe da preciosa civilização
cristã, que vocês por seu turno receberam de seus antepassados; em nome da Igreja
cristã, — exorto-os: seu santo direito, sua liberdade religiosa, não pode ser mantido
por homens que quanto a questões civis rejeitam lealdade ao Rei.
Em nome de suas próprias almas e de sua salvação; em nome da adorada e
preciosa vítima do cruento e agonizante sacrifício de sangue, de onde vocês obtêm
todas as suas esperanças de salvação; pelo Getsêmani e o Calvário, exorto-os,
cidadãos dos Estados Unidos: navegando no vasto mar da política há outro rei, Jesus
somente; a segurança do Estado só poderá ser assegurada no caminho da humilde e
completa fidelidade da alma à pessoa do Rei e de obediente à sua lei.[33]

Nota do Editor: O Dr. Larry McDonald, de Atlanta, Geórgia, era membro do Congresso
dos EUA quando de sua morte. Estava a bordo da Korean Airlines Flight 007
(Companhia Aérea Coreana no Voo 007), quando o avião foi derrubado pela Rússia
comunista. Duzentos e sessenta e nove pessoas perderam a vida. Visto que nem o avião,
nem os corpos nunca foram encontrados, há alguma especulação quanto ao avião ter de
fato pousado; e a Rússia manteve em segredo os fatos que cercaram esse voo
malfadado. Mesmo que os Estados Unidos — repetidamente — apoiem uma queda do
sistema comunista, não temos exigido que a verdade seja revelada quanto a esse
incidente.
CAPÍTULO NOVE

O que você está fazendo a respeito do holocausto


norte-americano?

Este capítulo surgiu inicialmente como um artigo em


The Counsel of Chalcedon,
Vol. X, Nº 10, dezembro de 1988.
Um holocausto é uma terrível e massiva destruição da vida humana. O primeiro
grande holocausto registrado é o massacre de crianças, ordenado pelo Faraó, conforme
descrito em Êxodo 1.15. O holocausto do Novo Testamento foi o massacre de crianças
sob o governo de Herodes (Mateus 2.16). Os holocaustos modernos ocorreram sob
ordens de Hitler, Stalin e Mao. Estima-se que 150 milhões de pessoas morreram no
século 20, em virtude do totalitarismo comunista. Também estamos passando por um
novo holocausto nos Estados Unidos.
A Suprema Corte dos EUA tomou duas decisões históricas que têm aumentado
a destruição massiva e terrível da vida humana na América. Em 1973, na decisão Roe
versus Wade, a Suprema Corte criou, a partir do nada, o direito de a mulher abortar,
conforme sua própria conveniência. De acordo com essa decisão, os bebês em gestação
não são “pessoas”, portanto, não estão sob a proteção da lei. Soberana e
irresponsavelmente declarou que “quando começa a vida” não é a questão. O juiz
Byron White chamou essa decisão de “um exercício de poder judicial cruel”.
Em 1983, a Suprema Corte proferiu uma decisão quanto às restrições às
clínicas de aborto em Ohio, Missouri e Virgínia. Os juízes dissidentes eram Sandra Day
O'Connor, William Rehnquist e Byron White. Essa decisão derrubou as restrições
estaduais ao aborto, alegando serem inconstitucionais. Faye Wattleton, presidente da
Federação de Planejamento Familiar da América, como citado no jornal The
Washington Times em 16 de junho de 1983, afirmou a respeito dessa decisão:
"Parabenizamos a Corte por seu firme compromisso com a defesa dos direitos de cada
um de nós, e por sua condescendência às necessidades humanas fundamentais".
Vejamos, então, a “compaixão” da Suprema Corte. Quando o fizermos,
descobriremos que “as misericórdias dos ímpios são cruéis” [Provérbio 12.10, ARC],
para citarmos o Livro dos Provérbios. Nessa decisão de 1983, a Corte derrubou as leis
estaduais que tentaram exigir que:
• Os abortos realizados após os primeiros três meses de gravidez serão
feitos em hospitais, com tratamento completo.
• Todos os menores devem ter o consentimento de um dos pais ou de uma
vara juvenil, antes realizar o aborto.
• Um médico deverá ler uma descrição específica do feto e do
procedimento de aborto à mulher que deseje abortar.
• Os médicos devem aguardar pelas 24 horas seguintes após a mulher ter
assinado um termo de consentimento, antes de realizar um aborto.
• Os restos de material fetal devem ser eliminados de uma “forma humana
e higiênica”.[34]

Por causa dessas duas decisões, milhões de fetos foram legalmente


assassinados nos Estados Unidos. Esses bebês são incapazes ou “sem direitos” para se
proteger e há poucas pessoas tentando defendê-los. Esse é o nosso holocausto
americano moderno — o problema do século 21. Esse problema certamente trará o
juízo rápido e decisivo de Deus sobre nós, se não nos arrependermos, pois Deus
declarou: “O Senhor abomina…mãos que derramam sangue inocente…” (Provérbios
6.16-17).
Em 18 de junho de 1981, o The Atlanta Journal publicou um artigo com este
título Defective Twin Fetus Killed by MDs [Fetos gêmeos deficientes mortos por
médicos]. Relatava que:
Os médicos perfuram o coração de um feto defeituoso de cinco meses de
gestação, e o deixaram definhar no útero ao lado de seu gêmeo que era
normal, porque ― conformes os médicos ― a mãe decidiu que “não
poderia encarar a responsabilidade de cuidar de uma criança anormal”.

E prosseguia:

Os médicos disseram que “por excesso de precaução” obtiveram um


parecer do tribunal estadual de Nova York reconhecendo sua razão para
fazer a operação. “Queríamos ter a confirmação do tribunal de que os
pais tinham o direito de fazer isso em nome do feto normal”, disse
Kereny.

Mas, e quanto aos direitos do feto e à compaixão pelo feto com Síndrome de
Down? A compaixão do ímpio é cruel! Além disso, parece que os médicos envolvidos
consideravam o tribunal estadual outorgante dos direitos, senhor e doador da vida. A
Suprema Corte Federal dá e a Suprema Corte tira, bendito seja o nome da Suprema
Corte Federal (cf. Jó 1.21)
O boletim do “Comitê do direito à vida” da Geórgia, de maio de 1983, trazia a
seguinte manchete: “14 nascidos vivos em três anos no Hospital Midtown”. O artigo
assinalava:

Conforme as estatísticas no arquivo do Departamento de Recursos


Humanos do Estado da Geórgia, um total de 14 nascimentos ocorreram no
Hospital Midtown de Atlanta, durante um período de três anos, 1980-
1982. ― Atestados de morte dos 14 bebês abortados indicam tanto o
intervalo aproximado entre o início do processo de aborto e a morte da
criança, bem como o período de tempo que a criança vivia. O período de
tempo máximo de um bebê abortado mantido vivo fora do útero, segundo
os estudos do Midtown durante três anos, é de 13 horas e 5 minutos. De
acordo com a certidão de óbito, datada de abril de 1981, a causa imediata
da morte foi “insuficiência pulmonar, aborto terapêutico”.

A compaixão do ímpio é cruel!


Estatísticas da A.L.L. “About Issues”, boletim do “Lobby da Vida Americano”,
em junho de 1983, demonstrou que os abortos superam em número os nascimentos em
14 cidades dos Estados Unidos. A compaixão do ímpio é cruel!
Como é que vamos avaliar esses terríveis fatos? Para os cristãos, a verdadeira
questão é: O que Deus nos diz, na Bíblia, sobre o aborto? Considere atentamente as
seguintes informações bíblicas:
Aquele que nos limitou a vida com seus termos, ao mesmo tempo,
depondo diante dele nossa solicitude, proveu-nos de meios e recursos de
conservá-la; também nos fez capazes de antecipar os perigos; para que
não nos apanhassem desprevenidos, ministrou-nos precauções e
remédios. Agora, pois, salta à vista qual é nosso dever, isto é, se o Senhor
nos confiou a proteção de nossa vida, então que a cerquemos de cuidados;
se oferece recursos, então que os usemos; se nos previne dos perigos,
então não nos lancemos temerariamente a eles; se fornece remédios, não
os negligenciemos.[35]

Essa posição “pró-vida”, de João Calvino, um representante do cristianismo


bíblico, está fundamentada no fato de que Deus é o Criador de toda a vida humana e o
Recriador da vida em Cristo (João 17.2). Deus fez o homem e a mulher à sua imagem
(Gênesis 1.27), para refletir seu caráter e glória. Jesus Cristo veio para restaurar a
imagem que tinha sido arruinada pelo pecado (Efésios 4.24; Colossenses 3.10). Isso
confere santidade a toda vida humana, isto é, uma inviolabilidade sagrada estabelecida
pela Palavra de Deus. Portanto, a vida humana, em todas as suas fases, deve ser tratada
com dignidade e respeito. “Não matarás” significa, positivamente, que devemos
preservar, elevar e proteger a vida dos outros.
Porque fez o homem à sua imagem, Deus concede à vida humana a sua
particular proteção especial. Vê a agressão à vida humana como uma agressão
audaciosa em si mesma. Gênesis 9.6-7 apresenta isso claramente:
Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu;
porque Deus fez o homem segundo a sua imagem. Mas sede fecundos e
multiplicai-vos; povoai a terra e multiplicai-vos nela.
E o próprio Jesus disse a Saulo de Tarso quando a caminho de Damasco para
prender os cristãos (Atos 9.4): “Saulo, Saulo, por que me persegues?”. A vida humana
é tão sagrada para Deus que, se um homem tira a vida de alguém de forma ilegal, esse
homem deveria perder sua própria vida.
A questão do momento é esta: O feto está resguardado pela proteção especial
de Deus? O feto é uma pessoa à imagem de Deus?
A Bíblia é clara ao responder a essas questões cruciais. Não deixa dúvidas
sobre a extensão da personalidade que inclui o feto. A Bíblia ensina que no momento da
concepção (mais precisamente, no momento da fertilização), o feto é uma pessoa à
imagem de Deus e, portanto, sob sua proteção especial. Essa questão está fundamentada
de várias maneiras convincentes:
A declaração expressa do início da vida humana (Jó 3.3).
A continuidade ininterrupta da personalidade, desde a concepção até
a idade adulta (Salmo 139. 13-16).
A continuidade ininterrupta da pecaminosidade, desde a concepção
até a idade adulta (Salmo 51.5).
A continuidade ininterrupta da experiência do viver humano, desde a
concepção até a idade adulta (Lucas 1.15, 41, 44).
A natureza da concepção como um ato gracioso de Deus (I Samuel
1.19).
O caso prescrito nas normas da lei a respeito do aborto (Êxodo
21.22-25).

1. A Bíblia identifica o início da vida humana na concepção


Deus define o homem (do hebraico, “Adão”) como “a imagem de Deus”
(Gênesis 1.26), enaltecendo-o, assim, como a coroa da criação (Salmo 8.5). Esse
primeiro indivíduo homem é chamado “Adão”, e de um dos seus lados (do hebraico,
iysh em 2.23), Deus retirou uma costela para criar um indivíduo mulher, chamada Eva
(Gênesis 2.23). Após terem recebido a dádiva divina e o mandato da procriação
(Gênesis 1.28), “Adão conheceu sua esposa, Eva, e ela concebeu e deu à luz a Caim”
(Gênesis 4.1).
Quando Eva deu à luz o seu filho, fez esta confissão de fé: “Adquiri um varão
[iysh], com auxílio do Senhor” (Gênesis 4.1). Observe duas coisas sobre essa
confissão. Em primeiro lugar, Eva confessou que a concepção e o nascimento resultam
da ação soberana de Deus na sexualidade humana. Em segundo lugar, essa criança
deve ser vista como “homem” ― como portadora da imagem divina desde o
nascimento.
Contudo, a Bíblia vai além do nascimento e identifica o nascituro como
portador da imagem de Deus desde a sua concepção. Em Jó 3.3, encontramos Jó
declarando: “Pereça o dia em que nasci, e a noite em que se disse: ‘foi concebido um
homem” (do hebraico, geber).
Simplesmente observando a depressão de Jó, podemos prosseguir e ver que Jó
considerou sua humanidade tendo início na mesma noite em que foi concebido. A
palavra hebraica para “homem” ou “menino” nesse versículo não é o termo mais
comum para homem como iysh e adam, mas uma palavra mais específica e distinta,
geber.
Esta palavra diz respeito especificamente a um homem no ápice de suas
forças. Como tal, descreve a humanidade no seu nível máximo de
competência e capacidade.[36]
Esta palavra, geber, claramente denota a humanidade do homem em sua
posição elevada como a coroa da criação (Salmo 34.8; 37.23), e imagem de Deus.
(“Adão”, iysh e geber são termos intercambiáveis para “homem”, o portador da
imagem divina, Salmo 37.23, 37; 32.2). Em Jó 3.3, onde se refere a si mesmo quando
foi concebido, Jó se considera plenamente humano, completamente imagem de Deus.
Este último ponto é óbvio também pelo fato de a forma da palavra, geber, ser utilizada
várias vezes em referência a Deus como uma de suas perfeições (Jó 12.13, Provérbios
8.14, Isaías 9.6). Portanto, o caráter do Criador se reflete (imageia) no homem, sua
criatura, desde a concepção.

2. A Bíblia identifica uma continuidade ininterrupta da personalidade desde a


concepção até a idade adulta

O Salmo 139.13-16 é central para qualquer discussão sobre o aborto:


Pois tu formaste o meu interior, tu me teceste no seio de minha mãe.
Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me
formaste; as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem;
os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado e
entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos me viram a
substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus
dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia
ainda.

Observe duas ênfases desse texto. Em primeiro lugar, a vida, incluindo a vida
pré-natal, é vista como um dom de Deus. (“Substância ainda informe”, no hebraico, é
golem, literalmente traduzido embrião ou feto). Em segundo, Davi insiste em enfatizar a
ininterrupta continuidade de sua personalidade desde sua existência como embrião até
sua vida adulta. Em 139.13, declara: “Tu me teceste no seio de minha mãe”. Em 139.15,
acrescenta: “Os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado”.
Davi podia falar de si mesmo como tendo um “Eu” fora do útero, mas também no
interior do útero, apontando para o fato de que o “Eu” existia como ser humano mesmo
em seu estado embrionário.

3. A Bíblia identifica a continuidade ininterrupta da pecaminosidade desde a


concepção até a idade adulta

No Salmo 51.5 lemos: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu


minha mãe”.
Além de enfatizar mais uma vez a ininterrupta continuidade de sua humanidade
desde a concepção, Davi também demonstra que tem sido um pecador, não só desde o
seu nascimento, mas desde a sua concepção. Foi concebido como um pecador, tendo
herdado a natureza pecaminosa de seus pais desde Adão (Romanos 5.12). Agora a
questão é esta: só os seres humanos podem pecar! Criaturas não humanas não pecam.
Somente aqueles que possuem um aspecto espiritual e físico do seu ser, podem pecar
(Gênesis 2.7). Somente os homens feitos à imagem de Deus podem transgredir a
vontade do seu Criador. Somente os criados com conhecimento, justiça, santidade e
domínio são capazes de pecar. Daí por que, ao dizer que é um pecador desde a
concepção, Davi está afirmando que era um ser humano criado à imagem de Deus desde
a concepção, necessitando da misericórdia de Deus.

4. A Bíblia identifica a continuidade ininterrupta da vida humana desde a concepção


até a idade adulta

Embora muitas vezes sejam atribuídas emoções e experiências humanas a


criaturas não humanas, há algumas alegrias e experiências que são únicas para os seres
humanos. Por exemplo, a rica bênção do enchimento do Espírito Santo (Efésios 5.18) é
uma das maiores bênçãos espirituais que um regenerado portador da imagem de Deus
pode experimentar. A alegria que uma pessoa regenerada experimenta pelo poder do
evangelho de Jesus Cristo é também uma bênção de experiência única (Lucas 2.10).
O Novo Testamento ensina que os nascituros são capazes de experimentar
essas duas bênçãos ainda no útero. Em Lucas 1.15, encontramos o anjo profetizando a
Zacarias sobre o nascimento de seu filho, João Batista. Anuncia que “ele será grande
diante do Senhor… será cheio do Espírito Santo, já do ventre materno”. Mais adiante,
em Lucas 1.44, durante o anúncio da concepção do Messias, se diz que o nascituro João
sentiu “alegria”: “Pois, logo que me chegou aos ouvidos a voz da tua saudação, a
criança estremeceu de alegria dentro de mim”. Ser capaz de ser “cheio do Espírito
Santo”, e experimentar da “alegria do evangelho”, enquanto era ainda um feto, confirma
que João não só já era totalmente humano no útero, mas também já regenerado no útero.

5. A Bíblia descreve a concepção como uma dádiva da obra e da graça de Deus


Na Bíblia, a concepção e o nascimento nunca são vistos como meros
acontecimentos humanos. A Bíblia enfatiza a atividade soberana de Deus na concepção
e no nascimento. Sem essa intervenção soberana de Deus, a concepção não ocorre. A
concepção deve ser vista, à luz da Bíblia, como uma bendita dádiva de Deus.
Está escrito que na gravidez de Sara: “… o SENHOR cumpriu o que lhe havia
prometido” (Gênesis 21.1-2). Em Gênesis 30.1-2 ouvimos Jacó repreendendo Raquel
por se queixar contra ele por não ter filhos: “Acaso, estou eu em lugar de Deus que ao
teu ventre impediu frutificar?”.
Em 1 Samuel 1.19, encontramos Ana concebendo porque Lembrou-se dela o
Senhor. Jó confessa que Deus o “formou” no útero (Jó 31.15), e que “o Espírito de
Deus me fez, e o sopro do Todo-Poderoso me dá vida” (Jó 33.4). Por essas razões é
que os Salmos declaram: “foi ele (Deus) que nos fez, e dele somos” (Salmos 100.3). E,
“herança do SENHOR são os filhos; o fruto do ventre, seu galardão” (Salmo 127.3).
À luz desses versículos, só podemos concluir que:
Seria um ato de deliberada rebelião contra o Criador matar
propositalmente um feto cuja concepção é tão intrisicamente um
ato divino quanto humano.[37]

6. O caso prescrito nas normas da lei a respeito do aborto: Êxodo 21.22-25

Se homens brigarem, e ferirem mulher grávida, e forem causa de que


aborte, porém sem maior dano, aquele que feriu será obrigado a indenizar
segundo o que lhe exigir o marido da mulher; e pagará como os juízes lhe
determinarem. Mas, se houver dano grave, então, darás vida por vida,
olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por
queimadura, ferimento por ferimento, golpe por golpe.

Esse texto não ensina que o feto tem menos valor que uma criança após o
nascimento, como sustentado, de forma imprecisa, no relatório sobre aborto, pela
Presbyterian Church in the United States (1973). A exposição do texto a seguir foi
extraída do relatório sobre aborto da Presbyterian Church in America (1978):
O termo yeled no versículo 22 nunca se refere, em lugar nenhum, à
criança ainda sem forma humana reconhecível, ou a um incapaz de existir
fora do útero. O possível uso aqui, como a interpretação em questão
exige, é ainda menor, pelo fato de que se o escritor quisesse falar de um
embrião ou feto não desenvolvido, havia disponível para ele uma outra
terminologia. Existia o termo golem (Salmo 129.16), que significa
“embrião, feto”. Mas nos casos de morte de um feto, a Escritura o designa
comumente não por Yeled, nem mesmo por golem, mas por nefel (Jó 3.16,
Salmo 58.8; Eclesiastes 6.3), “um aborto”. Portanto, o uso de yeled no
versículo 22, indica que a criança em vista não é resultado de um aborto
espontâneo, como a interpretação em questão supõe; pelo menos essa é a
interpretação mais natural, na ausência de considerações decisivas em
contrário.
Além disso, o verbo yatza no versículo 22 (“sair”, traduzida por “partir”
na KJV) não sugere, em si, a morte da criança em questão, e é geralmente
utilizado para descrever nascimentos normais (Gênesis 25.26, 38.28.30;
Jó 3.11; 10.18; Jeremias 1.5; 20.18). Com a possível exceção de Números
12.12, que quase certamente se refere a um natimorto, tal termo jamais se
refere a um aborto espontâneo. O termo que o Antigo Testamento
normalmente utiliza para aborto e aborto espontâneo, tanto de humanos
quanto de animais, não é yatza mas skakol (Êxodo 23.26; Oseias 9.14,
Gênesis 31.38, Jó 2.10, 2 Reis 2.19, 21; Malaquias 3.11). A interpretação
mais natural da frase weyatz'u yeladheyha, portanto, será não um aborto
induzido, não a morte de um feto, mas um nascimento prematuro induzido,
em que a criança nasce viva, mas antes do tempo previsto.
Devemos também observar que o termo ason (dano), encontrado tanto no
versículo 22 quanto no 23, é indefinido em sua referência. A expressão
“lah” (para ela), que restringiria os danos apenas à mulher, em distinção
do filho, não está presente. Dessa forma, a interpretação mais natural
seria considerar o “dano” como sendo tanto da mulher quanto da criança.
O versículo 22, portanto, descreve uma situação em que nem a mãe nem a
criança ― ou ambos ― sofrem algum "dano", isto é, em que a mãe sofre
uma lesão e a criança nasce com vida. O versículo 23 descreve uma
situação em que algum dano ocorreu ― contra a mãe, contra criança, ou
contra ambos […] Um aborto induzido dificilmente poderia ser descrito
como uma situação em que “não haja dano”. O versículo 22, portanto,
descreve, não um aborto induzido, mas um nascimento prematuro
induzido.
Sob essa luz, as traduções que utilizam a palavra “aborto” ou equivalente
são tanto imprecisas quanto enganosas. O sentido dessa passagem aparece
na seguinte paráfrase: “E se os homens brigarem e um ferir uma mulher
grávida, de forma que a criança acabe nascendo prematuramente, mas nem
a mãe nem a criança sofrerem algum dano, ele certamente será multado de
acordo com o que o marido da mulher o obrigar; e pagará conforme os
juízes determinarem. Mas se a mãe ou a criança sofrerem algum dano,
então darás vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão,
pé por pé, etc”.[38]

Conclusão

A posição que defende que “o aborto não é uma solução desejável, embora
possa ser, por vezes, uma opção necessária”[39] vai de encontro à Palavra de Deus.
Sustentar essa posição ou aceitar o aborto por razões sócio-econômicas ou
psicológicas é ignorar flagrantemente o mandamento de Deus de proteger a vida humana
por causa da santidade que ele lhe concedeu: “Não matarás” (Êxodo 20.13).
A Palavra de Deus declara plena e ininterrupta continuidade da personalidade,
tanto antes como depois do nascimento. O aborto, o homicídio intencional de um
nascituro, é a destruição dessa continuidade. O aborto dá fim à vida de um indivíduo,
de um portador da imagem de Deus que está sendo divinamente formado e preparado
para exercer uma função concedida por Deus neste mundo.[40]
De acordo com a Bíblia, aborto é assassinato. E assassinato é um crime
passível de pena de morte.
O ódio de Deus aos abortistas está claro quando declara: [Deus abomina]
“mãos que derramam sangue inocente” (Provérbios 6.16, 17).
O Senhor declarou:
Por três transgressões dos filhos de Amom e por quatro, não
retirarei o castigo, porque fenderam as grávidas de Gileade, para
dilatarem os seus termos. Por isso, porei fogo ao muro de Rabá.
(Amós 1.13s)

Essa é uma linguagem forte. Mas devemos sentir a repulsa de Deus ao aborto.
Temos de reconhecer completamente seu horror e criminalidade. Portanto, qual deve
ser a nossa resposta a este holocausto moderno — a matança de fetos? A Bíblia
responde em Provérbios 24.10-12:
Se te mostras fraco no dia da angústia, a tua força é pequena.
Livra os que estão sendo levados para a morte e salva os que
cambaleiam indo para serem mortos. Se disseres: Não o
soubemos, não o perceberá aquele que pesa os corações? Não o
saberá aquele que atenta para a tua alma? E não pagará ele ao
homem segundo as suas obras?
Em obediência a esse provérbio inspirado por Deus, devemos:
1. Perceber a urgência da situação: a cada ano mais de um milhão e meio de
bebês em gestação são abortados.
2. Perceber que o juízo de Deus está sobre uma nação que permite ou aceita o
assassinato, a menos que ela de fato se arrependa. Números 35.33 adverte:
Assim, não profanareis a terra em que estais; porque o sangue
profana a terra; nenhuma expiação se fará pela terra por causa do
sangue que nela for derramado, senão com o sangue daquele que
o derramou.
3. Comunicar aos agentes públicos e legisladores eleitos que Deus tem seus
próprios padrões morais, que devemos honrá-los, e que uma das normas desses padrões
condena o aborto.
4. Ensinar e organizar nossos amigos cristãos para permanecerem abertamente
firmes em favor da sacralidade da vida humana em nossas próprias comunidades e
diante de nossos legisladores estaduais.
5. Envolver-nos em ministérios de gravidez de risco em nossa igreja local,
aconselhando mulheres com gravidez indesejada.
6. Verificar com as agências cristãs de adoção locais as possibilidades de
adoção de recém-nascidos rejeitados.
7. Considerar a possibilidade de ajudar a cuidar de meninas com gravidez
indesejada, em nossa casa.
8. Ensinar nossos filhos sobre a sexualidade no casamento, sobre como a vida
humana é sagrada e a alegria e a beleza da castidade pré-conjugal.
9. Saber se o nosso ginecologista faz abortos. Se o faz, deixar de ser seu
cliente e incentivar outros cristãos a fazerem o mesmo.
10. Realizar funerais de crianças que morrem antes de nascer.
11. Estar alertas ao envolvimento da instituição March of Dimes no holocausto
moderno.[41]
12. Mostrar que a Planned Parenthood Federation [Federação do
planejamento familiar] é cúmplice nesse holocausto.
13. Escrever cartas sobre o holocausto aos editores de jornais e políticos
eleitos.
14. Orar o Salmo 58 contra os abortistas.
15. Distribuir cópias deste livro. Você pode adquirir mais publicações em
nosso sítio: www.editoramonergismo.com.br.
CAPÍTULO DEZ

Mulheres como magistrados civis?

Sermão pregado na Chalcedon Presbyterian Church [Igreja presbiteriana


Calcedônia], em 14 de setembro de 2008
Como alguém pode não gostar de Sarah Palin? Pode alguém deixar de admirá-la como
uma mãe de cinco filhos e como esposa, por sua aparente fé em Cristo, sua posição pró-
vida, sua inteligência, eloquência, sua eficácia como governadora do Alasca, seu
apreço por caçar alces e sua beleza, embora não seja uma constitucionalista? Eu
poderia defendê-la em lugar de Obama, Biden e McCain a qualquer momento. É uma
mulher cristã extraordinária e talentosa, que não daria certo nos Estados Unidos na
vice-presidência mais do que como governadora do Alasca. Oro para que Deus lhe dê
um papel significativo e bíblico para o avanço do seu reino em sua família, igreja e
nação.
Contudo, devo dizer que questiono seu bom senso em dar esse apoio todo a
John McCain para presidente, em função de suas soluções socialistas, inconstitucionais
e antibíblicas e, portanto, impraticáveis diante dos graves problemas dos Estados
Unidos; e ainda à luz do seu histórico de longa data pró-aborto quanto às nomeações de
autoridades do judiciário, pesquisas com células tronco e financiamento para a Planned
Parenthood [Federação de Planejamento Familiar], e muito mais.
Agora, não me entendam mal. Não estou sugerindo que vocês votem em Obama
com suas soluções socialistas, inconstitucionais e antibíblicas frente aos problemas dos
Estados Unidos, ou ainda seu posicionamento pró-aborto de há muito tempo, ou também
seu desejo manifestado em Berlim, Alemanha, de que fossem derrubados todos os
muros entre cristãos, muçulmanos e judeus, por conta da igualdade de todas as
religiões.
Além do mais, não pretendo indicar em quem votar. Este sermão de hoje não é
propaganda política e, sim, a pregação da Palavra todo-suficiente de Deus. E peço a
Deus que abençoe o coração de vocês. Visto que a Bíblia é a inerrante Palavra de
Deus, tudo o que ela declara ser verdade sobre qualquer assunto é verdadeiro. A Bíblia
é a autoridade divina em tudo o que afirma e ela fala sobre tudo. Vocês acreditam
nisso? Você estão dispostos a olhar seriamente para o que ela diz sobre mulheres como
magistrados civis? Vocês estão dispostos a submeter todos os seus pensamentos ao
governo dessa Palavra? Vocês estão dispostos a terem suas mentes transformadas por
essa Palavra, não importa o que quanto isso lhes custe?
Quando ouvirem sobre o assunto à luz da história do calvinismo e do
presbiterianismo, este sermão não parecerá radical. Será algo bem comum se o
compararmos às gerações passadas da pregação reformada. Mas hoje, infelizmente, tal
assunto é controverso entre os cristãos evangélicos e reformados; esse tema irritará
alguns e fará que alguns irmãos e irmãs me vejam como um criador de divisões, e
destrutivo para a causa conservadora nos Estados Unidos.
Sem dúvidas, o livro mais famoso sobre o ensino da Bíblia a respeito das
mulheres como magistrados civis foi escrito pelo grande reformador escocês do século
16, John Knox, cuja teologia teve influência dominante sobre o pensamento norte-
americano de 1776. Seu livro, escrito em 1558, recebeu o título Against the Monstrous
Regiment of Women [Contra o monstruoso governo das mulheres]. e caiu como uma
bomba nuclear na Escócia e na Inglaterra. Seu alvo era Mary Guise, a rainha regente da
Escócia; e, mais tarde, Mary, Rainha da Escócia; ambas inimigas da Reforma
Protestante; e Mary Stuart, a Sanguinária, Rainha da Inglaterra, digna de seu nome por
ser perseguidora do protestantismo. (A quarta Mary [Maria] que atormentava Knox era
a do culto católico-romano à Virgem Maria, “Rainha do Céu”, que continua ainda hoje a
ter esse lugar central na Igreja Católica Romana).
A razão para essa rejeição à nossa posição é, em grande parte, o pragmatismo,
o igualitarismo, a ignorância bíblica e a falta de disposição de serem coerentes com a
Bíblia, falta de disposição presente nas igrejas americanas, hoje. Por pragmatismo,
refiro-me à ideia de que os fins justificam os meios, de que o que funciona é o melhor.
Por igualitarismo, refiro-me à crença fundamental da sociedade estadunidense de que
todas as pessoas são iguais, qualquer área de interesse aberta aos homens também está
aberta às mulheres, incluindo a política e a militar. Por ignorância bíblica, refiro-me à
ignorância abissal entre os cristãos a respeito do que a Bíblia ensina sobre política,
governo civil, governo da igreja e a organização da sociedade em geral. E quanto à
falta de vontade de aplicarem a Bíblia aos problemas críticos de hoje, de forma
coerente, refiro-me aos que não estão dispostos a desafiar o status quo, ou o consenso
de opinião, por medo das repercussões.
Contudo, devo acrescentar que alguns cristãos coerentes têm honestamente
discordado de minha exposição de alguns dos nossos textos bíblicos hoje. São os que
realmente desejam fazer o que é correto. São corajosos, permanecendo firmes no que é
certo; mas não concordam com a nossa interpretação. Oro para que eu possa lançar
alguma luz sobre sua posição que os ajude a mudar de ideia sobre algumas questões.
Oro para que Deus me dê humildade, sabedoria e discrição neste meu sermão de hoje e
que seu Espírito me guie em sua verdade, protegendo a mim e a todos nós de cair no
erro. Oro por vocês hoje, para que tenham uma mente receptiva à verdade de Deus e
estejam dispostos a seguir a verdade onde quer que ela os conduza.
Minha questão hoje é que, assim como a Bíblia não permite que as mulheres
usurpem a liderança dos maridos em seu lar (Efésios 5) ― e também da mesma forma
que a Bíblia não permite que as mulheres sejam pastoras/presbíteras usurpando o
governo da igreja (1 Timóteo 3) ― igualmente a Bíblia não permite que as mulheres
sejam magistrados civis, usurpando o governo do Estado. Gostaria de ir um passo além
e dizer que, visto que o voto é um elemento-chave do governo civil, o voto feminino
também não é bíblico. A Reformed Presbyterian Church in the United States é uma
das poucas denominações que não têm a participação do voto das mulheres em suas
reuniões congregacionais.
Não há nada de novo nesse posicionamento, tampouco isso é chauvinismo. No
século 19, essa visão era consensual entre as mulheres piedosas e esclarecidas deste
país. Essa atitude quase esquecida pode ser belamente ilustrada por Augusta Jane
Evans, natural de Columbus, Geórgia. Foi escritora e uma das mulheres mais célebres
do século 19, que lutou pela melhoria da educação das mulheres. Em sua excelente
obra, Southern Tradition At Bay, Richard Weaver escreveu:
Ela foi a primeira de uma longa linhagem de novelistas mulheres do Sul,
que […] conseguiu captar a imaginação popular e criar personagens de
apelo universal[42] desde 1833 até o século 20. Seus romances,
explicitamente cristãos, também revelam duas das convicções mais sérias
que manteve: a moral da Bíblia é imutável, absoluta e permanente; e “a
emancipação das mulheres [defendida pelas feministas radicais de sua
época] implicaria na degradação e dissolução da sociedade.[43]
Em seu grande romance, St. Elmo, por meio de seu principal personagem,
Edna Earle, ela luta pela preservação de uma ordem moral e social cristã, “defendendo
o princípio de que a mulher pode ser mais influente na sociedade sendo mulher”.[44]
Crendo que as inteligentes, refinadas e modestas mulheres cristãs eram as
guardiãs reais da pureza nacional, e as únicas que poderiam deter a maré
da desmoralização que desaguava sobre o país, ela dirigiu-se às esposas,
mães e filhas da América, conclamando-as a abaterem seus falsos deuses
e purificarem os santuários em que adoravam. Diligentemente trata do
direito de cada mulher que Deus e a natureza tinha concedido a seu sexo.
O direito de serem instruídas, sábias, nobres, úteis na esfera divinamente
delimitada à mulher. O direito de influenciar e enobrecer o círculo em que
vive. O direito de juntar gravetos santos de sua própria lareira de pedra;
o direito de modificar e orientar a opinião de seu marido, se ele a
considerasse digna e capaz para guiá-lo; o direito de fazer de seus filhos
adornos de sua nação, e uma coroa de glória para seu povo; o direito de
aconselhar, de clamar, de orar;… o direito de ser tudo o que significa a
frase "nobre mulher cristã". Contudo, não o direito ao voto; de fazer
discursos políticos; de se colocar, com a sua celestial pureza, entre o pó e
a lama da luta política; subindo à tribuna dos estadistas, para onde ela
pode enviar um marido digno, filho ou irmão, onde, porém, ela nunca
deveria estar, sem aviltar toda a sua feminilidade.[45]
Em seu livro, A Speckled Bird, publicado em 1902, a personagem de Augusta
Jane Evans, Eglah Allison, neta de um general confederado, resume a visão de Evans
sobre a esfera adequada à mulher:
De fato, tenho a mais afetuosa relação e ciúme por todo o direito inerente
aos meus dotes de feminilidade americana. Reivindico e desfruto do
direito de ser tão culta, tão instruída, tão útil e ― se vocês permitirem ―
ser como um ornamento da sociedade e do lar, conforme as minhas
limitações pessoais permitem. Não cometo nenhum equívoco, não tenho
queixas, nem necessidade de reclamar para ultrapassar as linhas de
trabalho que romperiam as barreiras que Deus estabeleceu entre homens e
mulheres. Não estou em rebelião contra sistemas legais, nem contra os
cânones da decência bem estabelecidos e refinados da maneira feminina
de ser e, por fim, estou extremamente orgulhosa por ser uma mulher do
sul, bem-nascida, com uma geração cheia de honrosas bisavós de sangue
nobre, bisavós cândidas, de forma que não tenho nenhuma pretensão nem
inclinação para revoltar-me contra a humanidade .[46]

Em seu último romance, Devota, publicado no início do século 20, escrito aos
72 anos, ela desenvolve a tese “de que é traição para uma mulher abandonar a sua
esfera que divinamente lhe foi concedida”.[47] (Essas são as descrições da típica
mulher cristã do sul há cem anos. Poucas mulheres têm sobrevivido à devastação do
século 20).
Aliás, considere-se o que a rainha Victoria disse em 1870:
A rainha é a mais ansiosa para engajar alguém que possa falar ou escrever
acompanhando essa loucura terrível dos “direitos das mulheres”, com
todos os horrores resultantes, em que seu sexo frágil é pressionado,
esquecendo todo o senso de sensibilidade feminina e recato.

Onde foi que se originou essa visão moderna e humanista da participação das
mulheres na política? Surgiu do igualitarismo anticristão do Iluminismo (na verdade,
Obscurantismo) europeu do século 18, que levou a Europa a sair de seu fundamento
cristão em direção ao humanismo e à sangrenta Revolução Francesa de 1789, que
buscou erradicar o cristianismo da França com seu grito de guerra: “Liberdade,
fraternidade, igualdade”.
Essa crença revolucionária acredita que as leis e os direitos humanos devem
ignorar todas as distinções de sexo e tratar ambos os sexos com plena igualdade em
todos os aspectos. Essa teoria radical dos direitos humanos, em que a maioria das
pessoas do nosso país crê, incluindo a maior parte dos cristãos, ensina que
todo ser humano é naturalmente independente, não deve nada à sociedade
civil ou eclesiástica exceto o que for admitido livremente por “contrato
social”; isso é devido à igualdade intrínseca de todos os humanos, a
menos que ele ou ela perca a liberdade em razão de crime.
Se essas proposições forem verdadeiras, então, de fato, sua aplicação às
mulheres seria indiscutível. ― Pode-se citar a Declaração de
Independência, na concepção que estes radicais defendem:
“Consideramos estas verdades autoevidentes; que todos os homens são
iguais por natureza e inalienável direito à vida, à liberdade e à busca da
felicidade”.
É verdade que esse documento, interpretado racionalmente, ensina algo
totalmente diferente da igualdade absurda defendida pelos radicais, que
exigem para cada membro da sociedade todas as características
[privilégios, liberdades e direitos] que qualquer um tenha. Os sábios de
1776 discerniam que os homens não são naturalmente iguais em força,
talento, virtude ou habilidade; e que os diferentes tipos de seres humanos
naturalmente herdam bem diferentes conjuntos de direitos e privilégios…
Mas o que eles queriam ensinar era que num sentido muito importante
todos são naturalmente iguais. ― É a igualdade representada na grande
máxima da constituição britânica que: “perante a lei todos são iguais”.
[48]
Essa é a igualdade por meio da qual a organização social é possível —
igualdade de todo consistente com a ampla diversidade de habilidades
naturais, virtudes, posição, sexo, bens herdados, que são fatos inexoráveis
revelados em todos os lugares. No entanto, em lugar disso… nossa
política moderna ensina agora, sob o mesmo nome, a igualdade apregoada
dos jacobinos… que absurdamente reivindicava a todos os seres humanos
os mesmos aspectos de poder e direitos. — Nossos pais valorizavam a
liberdade, mas a liberdade que pleitearam era privilégio de cada pessoa
de fazer essas coisas para as quais apenas a lei e a providência de Deus
lhes dava uma correta moral.
A liberdade natural que os homens modernos defendem é a licença
absoluta: o privilégio de realizar aquilo que a vontade corrupta deseje
[…] Os fundadores do nosso país poderiam ter adotado as sublimes
palavras… Lex Rex, a Lei é o rei. — Porém agora… a suprema lei é a
vontade ou capricho da maioria das pessoas, a sugestão do demagogo que
for mais ardiloso para seduzir.[49]

Não sou ingênuo quanto a este sermão ser aceito por algumas pessoas, ou a
respeito de como isso afetará a reputação da nossa igreja; e assim, não prego sobre este
assunto de um modo despreocupado, pois acredito que a eleição de 2008 será uma das
eleições mais destrutivas da nossa história, seja quem for o eleito. E o apoio
entusiástico a Sarah Palin da parte dos cristãos evangélicos e reformados é o mais
desconcertante. Doug Phillips está totalmente correto ao dizer que
a aceitação generalizada de uma convicta pró-vida [antiabortista]
republicana cristã, autoproclamada mãe feminista de um bebê e quatro
filhos, como candidata ao cargo mais alto do país é o evento singular
mais perigoso para a consciência da comunidade cristã dos, pelo menos,
últimos dez anos. ― Para vencer uma eleição, acabaram vendendo a
essência do que é certo e do que é verdade a respeito daquilo que define
o que é a família em nossa geração! Uma vez que esse limite é
ultrapassado, será praticamente impossível um arrependimento
generalizado de volta a esse fundamento.

Se a Sra. Palin for eleita vice-presidente e, talvez daqui a quatro anos,


presidente, ela trará mais um golpe sobre a família, tal como definida na Bíblia, embora
ela nunca fizesse intencionalmente algo assim. O que dividirá as igrejas, e fará que as
igrejas abram concessões à sua postura histórica. Seu marido é um “Senhor Mãe dono
de casa”, o que certamente não é o papel de um marido e pai, de acordo com Efésios 5.
Seja o que for que pense, a Sra. Palin acabou colocando sua carreira
sobremodo exigente, acima da vocação que Deus lhe deu de criar cinco filhos. Está
deixando a impressão de que é a isso que as mulheres jovens devem aspirar, mais do
que aspiram a ser as auxiliadoras idôneas de seus maridos, as educadoras de seus
filhos, e as guardiãs de seus lares. Assim como Tito 2.4-5 exorta as mulheres mais
velhas
a fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus
filhos, a serem sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas
ao marido, para que a palavra de Deus não seja difamada.
Garanto-lhes que, com todas as pesadas demandas de um cargo nacional, uma
mãe que é vice-presidente não será capaz de criar os filhos com fidelidade e eficácia.
Como Bill Einwechter escreveu
Ao defenderem a adequação de uma mãe de crianças pequenas governar o
país, minou-se a doutrina da liderança masculina e das mulheres como
donas de casa.[50]

Consideremos agora alguns textos bíblicos relacionados ao nosso tema.

I. A ordem social de Deus para homens e mulheres está claramente revelada na


Bíblia, e isso exclui a liderança oficial das mulheres no lar, na Igreja e no Estado.

A. A ordem social revelada em 1 Coríntios 11.1-12


Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo. De fato, eu vos
louvo porque, em tudo, vos lembrais de mim e retendes as tradições assim
como vo-las entreguei. Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça
de todo homem, e o homem, o cabeça da mulher, e Deus, o cabeça de
Cristo. Todo homem que ora ou profetiza, tendo a cabeça coberta, desonra
a sua própria cabeça. Toda mulher, porém, que ora ou profetiza com a
cabeça sem véu desonra a sua própria cabeça, porque é como se a tivesse
rapada. Portanto, se a mulher não usa véu, nesse caso, que rape o cabelo.
Mas, se lhe é vergonhoso o tosquiar-se ou rapar-se, cumpre-lhe usar véu.
Porque, na verdade, o homem não deve cobrir a cabeça, por ser ele
imagem e glória de Deus, mas a mulher é glória do homem. Porque o
homem não foi feito da mulher, e sim a mulher, do homem. Porque
também o homem não foi criado por causa da mulher, e sim a mulher, por
causa do homem. Portanto, deve a mulher, por causa dos anjos, trazer véu
na cabeça, como sinal de autoridade. No Senhor, todavia, nem a mulher é
independente do homem, nem o homem, independente da mulher. Porque,
como provém a mulher do homem, assim também o homem é nascido da
mulher; e tudo vem de Deus. (1 Coríntios 11.1-12)

Observemos os principais pontos desse texto:


Primeiro, o apóstolo Paulo nos diz para recebermos este texto, visto que é a
verdade que ele próprio recebeu de Cristo pelo Espírito Santo, a qual o apóstolo nos
transmite por inspiração do Espírito. Essa é a “tradição revelada” contraposta às
tradições dos homens. Paulo vai tão longe a ponto de dizer em 1 Coríntios 14.37: “Se
alguém se considera profeta ou espiritual, reconheça ser mandamento do Senhor o que
vos escrevo”.
Segundo, Deus, que criou todos os seres humanos — “homem e mulher os
criou” (Gênesis 1.27) ― determina uma ordem e arranjo pelos quais quer que a
sociedade humana seja estruturada. Rejeitar isso significa a morte da sociedade. Deus
revelou todos os elementos necessários de sua ordem social na Bíblia, a qual é a sua
vontade revelada a nós. Esse arranjo social funciona, por natureza, por meio de um
representante ou de modo pactual, baseado no princípio “liderança”:

Deus é o cabeça de Cristo.


Cristo é o cabeça de todo o homem.
O homem é o cabeça da mulher.

Assim como Jesus é o cabeça de todo homem, seja ele solteiro ou casado,
salvo ou perdido, sem importar se é reconhecido como tal, assim também o homem é o
cabeça da mulher. A palavra usada para o sexo masculino na primeira frase — “Cristo
é o cabeça de todo homem” — é a mesma palavra usada na segunda frase — “e o
homem é o cabeça de uma mulher”. Sobre isso Wayne Mack escreveu:
Cristo é o cabeça de todo homem, seja um cristão ou não, seja marido ou
não. Da mesma forma, no plano de Deus, o homem deve ser o cabeça da
mulher seja marido ou não, sendo a mulher esposa ou não. Ele [o
apóstolo] está tratando da relação entre os sexos e afirma muito
claramente que o cabeça da mulher é o homem. Não está se limitando a
dizer que o cabeça da mulher é o marido.[51]
Portanto, assim como Deus tem autoridade sobre Cristo, Cristo tem autoridade
sobre todos os homens; e o homem tem a autoridade dada por Deus sobre a mulher.
Assim como o homem é o reflexo da imagem de Deus, a mulher é o reflexo da imagem
de Deus em sua função de contraparte do homem, completando-o. Assim como a
fidelidade da vida do homem traz louvor e honra a Deus, a vida fiel da mulher traz
louvor e honra ao homem submisso a Deus. A mulher é a glória do homem, porque ele é
incompleto sem ela: “No Senhor, todavia, nem a mulher é independente do homem, nem
o homem, independente da mulher. Porque, como provém a mulher do homem, assim
também o homem é nascido da mulher; e tudo vem de Deus” (1 Coríntios 11.11-12).
Contrariando todas as teorias radicais da igualdade humana, que
fervilham ao nosso redor dando aos seres humanos autonomia intrínseca e
absoluta, a Bíblia nos ensina que existem ordens de seres humanos
naturalmente desiguais quanto a seus direitos herdados, assim como em
suas características físicas e mentais; que Deus não estabeleceu que um
ser humano fosse orgulhosamente independente, mas pôs todas as coisas
subordinadas a autoridade: a criança submissa a sua mãe, a mãe a seu
marido, o marido submisso aos magistrados eclesiásticos e civis, e estes,
por sua vez, submissos à Lei cujo guardião e vingador é o próprio Deus.
[52]

Essa submissão da mulher ao homem, que não implica em inferioridade da


mulher em relação ao homem, está relacionada à sociedade humana em geral: lar, igreja
e Estado.
Terceiro, a mulher dá testemunho público de sua grata submissão à ordem
social de Deus revelada na Bíblia ao ter um símbolo de autoridade sobre sua cabeça (1
Coríntios. 11.10). Esse símbolo de autoridade é seu belo cabelo longo, em contraste
com o cabelo mais curto do homem.
Ou não vos ensina a própria natureza ser desonroso para o homem usar
cabelo comprido? E que, tratando-se da mulher, é para ela uma glória?
Pois o cabelo lhe foi dado em lugar de mantilha. (1 Coríntios. 11.14-15)

B. A ordem social implícita em Efésios 5.22-25


As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido, como ao Senhor;
porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça
da igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo. Como, porém, a igreja
está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo submissas
ao seu marido. Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a
igreja e a si mesmo se entregou por ela…
Esse texto deixa claro que no lar o marido é o responsável pela liderança, isto
é, o representante pactual que tem autoridade para governar, liderar, proteger e prover
sustento. E a esposa tem de ser amorosa e respeitosamente submissa à liderança do
marido.
Porém, esse texto ainda tem implicações quanto ao lugar da mulher na Igreja e
no Estado, pois ela deve estar submissa a seu marido “em tudo” (v. 24). Isso abrange o
que ocorre tanto dentro quanto fora de casa, na igreja, na sociedade e em suas
respectivas instituições. Assim como é impróprio que uma mulher tenha domínio sobre
seu marido na privacidade do lar, também o é exercer domínio sobre o marido na Igreja
ou Estado. Se ela não pode ser o líder de uma família, também não pode exercer
liderança sobre um número de famílias. Em outras palavras, uma mulher não deve
ocupar na Igreja ou no Estado um cargo que não possa ocupar em sua própria casa. Se
não pode decidir em casa, não pode liderar na igreja ou no Estado.
Assim como Cristo é o cabeça pactual da sua Igreja, sendo seu representante,
amando-a e sendo responsável por ela, assim o marido é o cabeça pactual de sua
esposa, representando-a e a todos os seus filhos e dependentes. Douglas Wilson
escreveu:
Cada casa tem de ser uma pequena república, com um representante
cabeça dessa família, e que num sentido pactual é essa família. Porém, a
família moderna, mesmo quando não desintegrada, insiste na paridade
funcional entre marido e mulher. Contudo, apesar do que se pensa, um
marido é o cabeça e o senhor ― seu feudo pode ser pequeno, e com
frequência ele não o merece ― O homem é um indivíduo, uma pessoa
privada, no entanto, como marido também cumpre uma função pública…
Ele e sua esposa são ambos cidadãos dessa pequena república, e cada um
tem suas perspectivas individuais. Mas ele é uma pessoa pública, e é
chamado a exercer esse papel como o cabeça representante da sua
família. Quando concebidas na família, as aplicações dessa verdade
fundamental [da liderança pactual], surpreendentemente não podem ser
encontradas em todos os lugares. E em cada ponto se revelará o quanto
esse conhecimento a respeito de liderança e submissão está
completamente fora de sintonia com o espírito da época.[53]

Ensinavam-nos que “nos velhos tempos” a sociedade não se importava com o


que as mulheres pensavam sobre as coisas, que só ouvia o que os maridos tinham a
dizer. Agora, estamos mais esclarecidos, queremos ouvir as esposas e os maridos. O
problema com esse ponto de vista é que ele deixa de reconhecer a relação pactual entre
marido e mulher como uma família. Pensemos na verdadeira questão — o que torna
uma família uma república familiar. Descobrimos perguntando-o ao porta-voz
representante, o cabeça pactual.
Ele responderia por sua família e, falando, os representaria. Em outras
palavras, a questão não é se os homens votam em vez das mulheres. A
questão é saber se as famílias podem votar. Em nossa cegueira moderna e
louca, não emancipando as mulheres, acabamos marginalizando a família.
E pensar que isso nos tem seduzido. Quando maridos e mulheres estão de
acordo entre si e votam da mesma forma, o que estamos fazendo é
multiplicar a contagem dos votos por dois. E quando não concordam entre
si, o que ocorre é que seus votos anulam a voz de sua família.[54]

Algumas pessoas utilizam Efésios 5.21, de forma equivocada, para ignorar a


nossa interpretação: “… sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo”. Contudo,
esse importante texto nos ensina que a submissão ao marido, que Deus requer da
esposa, surge da disposição mútua na igreja em renunciar a sua própria vontade pessoal
em razão dos outros, por causa de sua submissão comum à vontade revelada de Cristo.

II. A razão para a submissão funcional das mulheres no lar, na Igreja e no Estado
está na ordem da criação e na natureza do envolvimento de Eva na Queda

A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a


mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em
silêncio. Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não
foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. (1
Timóteo 2.11-14)

O Novo Testamento é explícito quanto à questão da submissão funcional das


mulheres aos homens, no governo da igreja: as mulheres não devem participar do
governo da Igreja, nem devem assumir qualquer papel de autoridade sobre os homens
na igreja: não podem ensinar, ocupar cargos oficiais ou conduzir o culto:
conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é
permitido falar; mas estejam submissas como também a lei o determina.
Se, porém, querem aprender alguma coisa, interroguem, em casa, a seu
próprio marido; porque para a mulher é vergonhoso falar na igreja. (1
Coríntios 14.34-35)

Nesse texto, “mulheres” significa “mulheres”, e não simplesmente “esposas”


(cf. Mateus 9.20; 27.55); e a palavra grega traduzida por “maridos” é, na realidade, a
forma comum para “homens”. Noutras palavras, se as mulheres têm alguma dúvida,
devem tratar delas com “seus próprios homens, em casa”, o que pode incluir seu
marido, seus irmãos, tios, pais, filhos ou os anciãos da família; elas, porém, não devem
tratar suas questões publicamente, quando a igreja se reúne.
Por que tais restrições às mulheres na igreja? Elas devem “aprender em
silêncio com toda a submissão”. Não lhes é “permitido ensinar ou exercer autoridade
sobre um homem, mas devem permanecer em silêncio”. Devem “ficar em silêncio nas
igrejas”. Não têm “permissão para falar”. Em lugar disso, “estejam submissas […] e se
querem aprender alguma coisa, interroguem, em casa, a seu próprio marido; porque
para a mulher é vergonhoso falar na igreja”.
Agora, qual a razão para essas restrições? Seria em razão de uma
inferioridade das mulheres? Ou porque a masculinidade seja superior ou mais avançada
que a feminilidade? Absolutamente não. Essas não são as razões que a Bíblia apresenta.
Os motivos que a Bíblia dá para essa submissão funcional das mulheres aos
homens na família, na igreja e no Estado são dois: a criação e a queda. “Porque,
primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo
enganada, caiu em transgressão” (1 Timóteo 2.13-14).

1. A ordem da criação: Adão foi criado, e depois Eva

A organização de Deus para a sociedade requer a submissão da mulher à


liderança dos homens por causa da ordem da criação: primeiro foi formado Adão, e
depois Eva foi criada. Noutras palavras, a razão para essa ordem da sociedade não é
porque as mulheres sejam o sexo frágil, mas por causa do soberano ordenamento divino
da criação e da sociedade, conforme seu desejo. Esse princípio exclui especificamente
as mulheres de ocupar cargos ou votar na igreja, uma vez que ambas as ações são
elementos-chave de governo. E, por implicação, exclui as mulheres de ocupar cargos
públicos ou votar em questões civis, visto que fazê-lo seria exercer autoridade sobre o
homem, que foi criado primeiro na ordem das coisas de Deus.
Deus criou o homem primeiro, e então criou a mulher, que foi feita a partir do
corpo do homem (Gênesis 2.22). O propósito da criação e existência da mulher é ser
uma auxiliadora para o homem,
no sentido de que o homem não foi originalmente concebido para
ser auxiliador da mulher. Por isso, Deus, desde o início da
existência do homem como um pecador, coloca a mulher sob a
dócil autoridade do marido, fazendo dele o cabeça e dela a
subordinada na sociedade doméstica.[55]

A respeito disso, William Hendriksen escreveu:


Em sua soberana sabedoria, Deus fez o casal humano de tal forma
que é natural para ele liderar, e para ela seguir; para ele ser
aguerrido e para ela, ser receptiva […] A inclinação para seguir
foi incorporada à alma de Eva quando criada pelas mãos de seu
Criador. Por isso, não seria certo o contrário. Por que uma
mulher seria incentivada a fazer coisas contrárias à sua natureza?
Seu próprio corpo, longe de preceder ao de Adão na ordem da
criação, foi tomado do corpo de Adão. Seu próprio nome Ish-sha
— provém do nome dele: Ish (Gênesis 2.23). Quando a mulher
reconhece essa distinção fundamental e vive em conformidade
com isso, pode ser uma bênção para o homem, pode exercer uma
doce, porém, muito poderosa e benéfica influência sobre ele, e
pode promover a sua própria felicidade, para a glória de Deus.
[56]

Robert L. Dabney explica as implicações da frase macho e fêmea os criou


(Revista e Corrigida) em Gênesis 1.27:
A fim de fundamentar a sociedade humana, Deus viu que era
necessário moldar uma companhia para o homem, não à sua
imagem exata, mas sua correspondente. Uma identidade
desfiguraria totalmente o companheirismo, e seria uma maldição
sobre ambos. Mas fora dessa diversidade em semelhança,
sucederá obviamente que cada um pode praticar atos e assumir
responsabilidades inadequados para o outro. Não é degradação
para a mulher que o homem faça algumas coisas melhor que ela,
nem para o homem, que a mulher seja naturalmente superior em
outras coisas. Mas alguém gritará: “Sua doutrina bíblica faz do
homem o governante e a mulher a liderada”. Verdade. — É
essencial para o bem-estar de ambos, marido e mulher, e também
dos filhos, que haja um cabeça humano em algum lugar. — […]
ser liderado sob sábias condições da natureza é, geralmente, um
privilégio maior que governar. — Agora, um Deus sábio não
projetaria nenhum atrito entre o ordenamento doméstico, político
e eclesiástico. Ele determinou que o homem fosse o cabeça da
família e da comunidade; seria uma grande confusão e dano fazer
da mulher uma líder na esfera eclesiástica.[57]

2. A natureza da Queda: Eva foi enganada, e Adão não.

Eva caiu porque foi enganada por Satanás, enquanto Adão pecou sem ser
enganado (1 Timóteo 2.14). Isso significa que seja qual for sua capacidade, a mulher
não é essencialmente apta para ser líder oficial na igreja ou no Estado. Ela ouviu a
Satanás e pecou antes de Adão, a quem deu o fruto proibido. Eva foi a líder e Adão foi
quem seguiu. Como Hendricksen afirmou:
Ela guiou, quando deveria ser guiada, ou seja, ela guiou no
caminho do pecado, quando deveria ter seguido a vereda da
retidão […] Portanto, que nenhuma de suas filhas a siga
invertendo a ordem divinamente estabelecida por Deus.[58]
Eva foi enganada ao liderar quando deveria ter seguido. Assim, vemos o que
acontece com a inversão de papéis entre homens e mulheres: desastre! Adão tinha a
responsabilidade de liderar, e estava apto para tratar das tentações de Satanás. Ele não
foi enganado. Ele pecou deliberadamente contra um conhecimento mais profundo. Não
foi concedido a Eva o papel de líder e ela, na verdade, estava despreparada para
discernir as mentiras de Satanás. Foi enganada por Satanás.
Satanás viu que a melhor maneira de seduzir Adão era por meio de Eva. A
mulher representa a graça e a beleza humana num sentido especial. O que é belo na
criação aparentemente a fascina mais do que fascina o homem, (Gênesis 2.9; 3.6). Sua
apreciação da beleza e suas sensibilidades estéticas eram mais suscetíveis e alertas às
impressões daquilo que era atraente. Isso não significa que a mulher seja
instintivamente menos santa ou mais pecadora.
Em seu livro, The Language of Love [A linguagem do amor], num capítulo
intitulado: “Os homens realmente têm um cérebro defeituoso?” —, Trent e Smalley
explicam que entre a 18ª e a 26ª semana de gestação, acontece algo que distingue para
sempre os sexos. Pesquisas observaram um banho químico de testosterona e outros
hormônios vinculados ao sexo lavando o cérebro de um menino. Isso não ocorre com o
cérebro de uma menina. Aqui está o que acontece:
O cérebro humano é dividido em duas partes, ou hemisférios,
ligados por tecido fibroso… Os hormônios e substâncias
químicas vinculados ao sexo encharcam o cérebro do menino
fazendo que o lado direito recue um pouco, destruindo parte da
conexão das fibras. Um das consequências é que, na maioria dos
casos, um menino começa a vida com o cérebro orientado mais
ao lado esquerdo.
Porque não passam por esse banho químico, as meninas
preservam a posição inicial muito mais num processo bilateral
em sua mente. E enquanto os impulsos elétricos e informações
percorrem indo e vindo pelos dois lados do cérebro de um bebê
menino, essas mesmas informações podem atravessar mais rápido
e podem ser menos interdidatas no cérebro de uma menina. —
Isso que ocorre no útero somente cria as condições para homens
e mulheres, “especializando” duas maneiras diferentes de pensar.
E essa é a principal razão pela qual homens e mulheres precisam
tanto um do outro.
O lado esquerdo do cérebro abriga mais os centros lógicos,
analíticos, reais e agressivos, de pensamento. É o lado do
cérebro que a maioria dos homens utiliza na maior parte do
tempo quando acordados. É o lado do cérebro que gosta de
conquistar 800 quilômetros por dia nas viagens de férias com a
família; que prefere fórmulas matemáticas a romances do tipo
água com açúcar e geralmente favorece o pensamento analítico
“preto no branco”. É o lado do cérebro de um homem que o faz
não poder aguardar a última publicação de um manual de “faça
você mesmo” com a última técnica de reparos; que faz memorizar
médias de gols e as tabelas dos jogos; que o faz gostar de sentar-
se por horas, assistindo a jogos, um atrás do outro, e gritando
com os juízes.
Por outro lado, a maioria das mulheres passa a maior parte dos
seus dias e noites no lado direito do cérebro. É o lado que abriga
o centro das emoções, bem como as bases relacionais, a
linguagem e as habilidades da comunicação; permite que elas
façam trabalhos com detalhes minuciosos; tenham imaginação
brilhante; e que as faz dedicarem-se por uma tarde inteira à arte e
à boa música como algo realmente agradável. O lado direito é
que as faz parar em marcos históricos propositalmente; que
apenas vagamente as faz preocuparem-se com futebol ou fórmula
1, a não ser que conheçam pessoalmente os jogadores ou suas
esposas… e preferem ler a revista Caras à Quatro Rodas, já que
a Caras é mais relacional.[59]

O que acabamos de dizer não implica em inferioridade ou superioridade


sexual de homens ou de mulheres. O papel bíblico da mulher não é desprezível, nem é
uma posição menos digna que a do homem.
Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com
discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher
como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois,
juntamente, herdeiros da mesma graça de vida… (1 Pedro 3.7)

Alguns têm tentado usar Gálatas 3.28 para refutar a nossa posição: “não pode
haver judeu nem grego, nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos
vós sois um em Cristo Jesus”. Contudo, esse versículo não está dizendo que essas
distinções não tenham nenhum significado; ao contrário, está dizendo que as bênçãos da
salvação são igualmente desfrutadas por todos que estão em Cristo por meio da graça
mediante a fé, seja qual for a raça, a condição social ou o sexo. Embora as
responsabilidades do governo da igreja e do Estado estejam sobre os ombros dos
homens, os privilégios de salvação na igreja são igualmente compartilhados e
desfrutados por homens e mulheres. Não existe conflito entre Gálatas 3 e 1 Coríntios 14
ou 1 Timóteo 2 . O texto de Gálatas 3 demonstra os privilégios da salvação partilhados
por todos os crentes em Cristo; e 1 Coríntios 14 e 1 Timóteo 2 expõem os deveres e
responsabilidades de que nem todos os crentes compartilham.
As mulheres, em vez de restringidas e limitadas pelas exigências do
ordenamento social de Deus, ao contrário, são de fato livres da exigência de governar
ao entregarem-se inteiramente à alta vocação de ser uma auxiliar idônea. A respeito
disso Susan Hunt e Peggy Hutcheson escreveram: “Quando as mulheres insistem na
intercambialidade dos papéis… todos perdem”.[60]
Para uma visão mais ampla, deve-se salientar que a nem todos os membros
masculinos da igreja também é permitido exercerem um cargo ou votarem na igreja e
isso pelas implicações da situação.
Em ambos os Testamentos, vemos o princípio da maturidade e da piedade na
liderança (Êxodo 12, Isaías 3, I Timóteo 3, e I Tessalonicenses 5.12s). Em Isaías 3,
aprendemos duas coisas sobre um governo nas mãos de homens imaturos e ímpios: (1).
É prejudicial à sociedade; e (2). É um sinal do juízo de Deus sobre a sociedade. O
Senhor declarou a respeito da desobediência de Israel: Dar-lhes-ei meninos por
príncipes, e crianças governarão sobre eles. (Isaías 3.4). Paulo disse a Timóteo a
respeito dos que lideram a igreja:
… que governe bem a própria casa, criando os filhos sob
disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe
governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?) (1
Timóteo 3.4, 5)

Esse princípio de liderança com maturidade significa que devem ser


colocados em posição de autoridade ou ter permissão para votar, na igreja ou no
Estado, apenas homens adultos, chefes de famílias — e não os que sejam dependentes
de seus pais ou estejam sob a autoridade de seu pai; ou que não tenham domínio próprio
e sejam, portanto, ímpios. O governo da igreja e do Estado precisa estar nas mãos de
líderes piedosos, maduros e responsáveis, e não nas mãos de pessoas imaturas ou
ímpias. Logo, assim como no exercício de um cargo oficial, o exercício do voto é,
essencialmente, uma expressão de governar; por isso, deveria ser restrito aos homens
cristãos maduros, responsáveis, e não a meninos.

III. A Bíblia Estabelece a Autoridade e o Ministério Cristão das Mulheres na


Igreja e na Sociedade

Em primeiro lugar, uma mulher piedosa é a coroa e a alegria do seu marido -


A mulher virtuosa é a coroa do seu marido (Provérbios 12.4). Ela tem um valor
incalculável para o marido - Mulher virtuosa, quem a achará? O seu valor muito
excede o de finas jóias (Provérbios 31.10).
Em segundo lugar, os filhos do pacto devem honrar sua mãe tanto quanto
honram seu pai - Honra teu pai e tua mãe... (Êxodo 20.12). Devem submeter-se ao
ensino de sua mãe tanto quanto ao de seu pai - Filho meu, ouve o ensino de teu pai e
não deixes a instrução de tua mãe (Provérbios 1.8). O olho que desdenha do pai, e
despreza a obediência à mãe, que os corvos o arranquem e as águias o devorem
(Provérbios 30.17 - Bíblia de Jerusalém).
Terceiro, 1 Timóteo 5.9-15 nos ensina muitas coisas sobre o que as mulheres
cristãs fazem por Jesus Cristo:
Não seja inscrita senão viúva que conte ao menos sessenta anos
de idade, tenha sido esposa de um só marido, seja recomendada
pelo testemunho de boas obras, tenha criado filhos, exercitado
hospitalidade, lavado os pés aos santos, socorrido a
atribulados, se viveu na prática zelosa de toda boa obra. Mas
rejeita viúvas mais novas, porque, quando se tornam levianas
contra Cristo, querem casar-se, tornando-se condenáveis por
anularem o seu primeiro compromisso. Além do mais, aprendem
também a viver ociosas, andando de casa em casa; e não
somente ociosas, mas ainda tagarelas e intrigantes, falando o
que não devem. Quero, portanto, que as viúvas mais novas se
casem, criem filhos, sejam boas donas de casa e não dêem ao
adversário ocasião favorável de maledicência. Pois, com efeito,
já algumas se desviaram, seguindo a Satanás.

O que aprendemos aqui a respeito das responsabilidades e dos ministérios das


mulheres cristãs: (1). Elas devem ter uma reputação por boas obras. Na verdade,
dedicarem-se a toda boa obra. (2). Devem educar os filhos. Na verdade, [a mulher]
será preservada através de sua missão de mãe, se ela permanecer em fé, e amor, e
santificação, com bom senso (I Timóteo 2.15). (3). Devem mostrar hospitalidade para
com as pessoas. (4). Devem servir as pessoas, atendendo às necessidades dos outros,
dentro de suas capacidades. (5). Devem ajudar os que estão atribulados. (6). Devem
praticar a autodisciplina. (7). Não devem ser ociosas nem negligenciar suas
responsabilidades em casa. Não devem ir de casa em casa fazendo fofoca, porém, sim,
ir de casa em casa, para encorajar, confortar e servir. (8). Devem ser boas donas de
casa. O lar de uma mulher é
seu reino e não a comunidade secular ou eclesiástica. Seus
deveres em casa servem para mantê-la longe das funções
públicas. Ela não deve governar os homens, mas estar em dócil
submissão a seu marido.[61]

Tito 2.3-5 nos mostra mais outras responsabilidades das mulheres cristãs no
lar e na igreja: Quanto às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias em seu
proceder, não caluniadoras, não escravizadas a muito vinho; sejam mestras do bem,
a fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus filhos, a
serem sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para
que a palavra de Deus não seja difamada.
Observemos: (1). As mulheres mais velhas devem ser sérias e respeitosas em seu
procedimento, como modelos para as mais jovens. (2). As mulheres mais velhas devem
incentivar e ensinar as mais jovens a serem fiéis mulheres cristãs, esposas, filhas, mães
e donas de casa. (3). As casadas devem amar seus maridos e filhos. Devem ser
sensatas, honestas, boas donas de casa. E (4). As esposas devem ser submissas a seus
maridos para que a palavra de Deus não seja difamada.

IV. As Qualificações para Cargos Públicos Conforme a Lei de Deus

A Lei de Deus no Novo Testamento claramente exige que o exercício de cargos


na igreja seja apenas dos homens piedosos e com maturidade (I Timóteo 3). O Novo
Testamento proíbe que as mulheres sejam pastoras, presbíteras ou diaconisas. Por
implicação, também não podem ser "anciãos nas portas", ou seja, anciãos civis[62],
que não devem possuir menos qualificações que os presbíteros da igreja. Mas não
ficamos apenas com implicações.
Alguns evangélicos hoje dizem que conquanto apresente qualificações para
liderança no lar e na igreja, a Bíblia não apresenta qualificações para os magistrados
civis. O argumento é que, visto que a magistratura civil é uma instituição secular, Deus
não exige que os titulares de cargos públicos apresentem um caráter, cosmovisão e
opinião política cristãos. Da mesma forma, dizem que, embora o diaconato na igreja
deva ser reservado aos homens, não há na Bíblia nenhuma restrição de gênero, para o
exercício da magistratura civil.
Nada poderia estar mais distante da verdade! Como o pastor Bill
Einwechter claramente demonstrou em seu artigo, Sarah Palin
and the Complementarian Compromise: A Response to Our
Brothers Al Mohler and David Kotter [Sarah Palin e o
Compromisso Complementarista: Uma Resposta aos nossos
irmãos Al Mohler e David Kotter] ... A Bíblia ensina
explicitamente a respeito das qualificações dos magistrados
civis. Os dois textos principais são Êxodo 18.21 - Procura
dentre o povo homens capazes, tementes a Deus, homens de
verdade, que aborreçam a avareza; põe-nos sobre eles por
chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinqüenta e chefes de
dez. - e Deuteronômio 1. 13 - Tomai-vos homens sábios,
inteligentes e experimentados, segundo as vossas tribos, para
que os ponha por vossos cabeças. Esses textos ensinam que, se o
povo de Deus tem o privilégio de escolher seus magistrados,
deve escolher homens sábios e capazes, que temem a Deus. De
forma significativa, ambos os textos especificam que os líderes
civis devem ser homens. Há uma série de outros textos que
ensinam o que Deus requer dos magistrados civis (Deuteronômio
16.18-20, 17.14-20; II Samuel 2.23; II Crônicas 19.6-7; Neemias
7.2; Provérbios 29.2; Romanos 13.1-6), e em cada um desses
textos são os homens, e não as mulheres, que estão em vista.[63]

O ensino da Bíblia é explícito e amplo sobre as qualificações para os cargos


públicos e civis. Os não-cristãos são desqualificados. Mulheres são desqualificadas,
mesmo que sejam mulheres cristãs. As mulheres cristãs, portanto, não devem
apresentar-se como candidatas a cargos de liderança civil.
Você pode perguntar: à luz de todos esses textos que especificam as
qualificações para uma posição de liderança pública, como ainda os evangélicos
podem afirmar que a Bíblia não dá essas qualificações? É por causa de sua
hermenêutica bíblica falha, dezendo que os textos do Antigo Testamento não se aplicam
mais. Dizem: visto que a lei mosaica foi reservada a Israel na dispensação do Antigo
Testamento, essa lei está agora revogada para os cristãos de hoje. Contudo, Jesus tinha
uma opinião bem diferente e declarou em Mateus 5.17-19:
Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para
revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que
o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da
Lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes
mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos
homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele,
porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande
no reino dos céus.

Quando entramos na cabine de votação, não devemos fazer como a maioria dos
cristãos professos nos Estados Unidos, hoje - deixar a Bíblia do lado de fora da cabine
de votação. Em lugar disso, como cristãos, desejamos que todos os nossos pensamentos
e ações sejam levados cativos pela Palavra de Deus. Assim, a questão sobre como
precisamos votar, não é se tal pessoa sairá vitoriosa, nem votaremos para que uma tal
pessoa derrote seu adversário, mas, sim, consideraremos: tal candidato ao cargo atende
às qualificações bíblicas para magistrados civis ou não? Você está disposto a ser fiel a
Cristo em outubro deste ano?[64]

V. E quanto ao Caso de Débora no Antigo Testamento...


A. O Papel Civil de Débora na História de Israel Durante a Época dos Juízes
(Juízes 4.1-5, 31)

1. O Contexto Histórico

Outra vez Israel caiu na apostasia. Outra vez o povo se arrependeu e clamou
ao Senhor por libertação do seu pecado e do juízo que seu pecado trouxe sobre eles
(4.3). Por graça e em resposta ao clamor de Israel por libertação, o Senhor mostrou-se,
mais uma vez, um Deus de misericórdia e fiel à aliança, fornecendo a Israel
libertadores como uma grande mulher chamada Débora e seu marido, além do general
Baraque, a quem Deus usaria para derrotar os inimigos de Israel; e dando-lhes vitória e
paz.

2. A importância de Débora

Débora põe à sombra qualquer mulher de hoje com cargo público! Juízes 4.4
descreve-a como uma profetisa, mulher de Lapidote, [que] julgava a Israel naquele
tempo. Foi designada por Deus e cumpriu suas funções: atendia debaixo da palmeira
de Débora, entre Ramá e Betel, na região montanhosa de Efraim; ou seja, no coração
do território israelita, onde a vida ainda ocorria com alguma tranquilidade (4.5). Os
filhos de Israel subiam a ela a juízo (4.5). Débora também era talentosa como
compositora e cantora, e foi coautora, com Baraque, da canção registrada em 5.1s,
cantando-a junto com ele.
Embora fosse uma "profetisa", ou seja, uma porta-voz inspirada pelo Espírito
de Deus, com o dom divino da profecia, aplicando a justiça; e uma libertadora de
Israel, pelo menos no sentido espiritual e moral; além de ser uma personalidade
popular em todo o Israel, a Bíblia destaca o fato de que Débora era uma mulher ... a
mulher de Lapidote. Ela se identifica como uma mãe em Israel (5.7). É muito
interessante notar no hino de Débora (5.24) que, em vez de identificar-se como a
mulher mais bendita em Israel, a quem Deus tinha levantado como juíza e libertadora de
Israel, Débora identificou a Jael, que não tinha nenhuma outra posição além de ser a
mulher de Heber, o queneu, [como] bendita sobre as mulheres.

3. A Importância de Baraque
Baraque significa "relâmpago". Historicamente os rabinos o têm identificado
como Lapidote, o marido de Débora. Seja qual for o caso, ela não governaria sem
Lapidote, estando sempre associada a ele (4.4, 6, 9; 5.1, 12) Embora fosse uma juíza
em Israel, Débora pediu a Baraque que liderasse os exércitos de Israel na batalha
contra Sísera. Recusou-se a exercer ela própria o papel de comandante-em-chefe do
exército de Israel. Contudo, concordou em estar presente na batalha como uma figura
popular e símbolo da libertação de Deus.

4. A Importância e a Função de Um "Juiz"

Os juízes "não eram oficiais meramente civis que tomassem decisões a


respeito de disputas; eram principalmente "libertadores" ou "salvadores", capacitados
pelo Espírito Santo, os quais Deus levantou para libertar o seu povo da aliança de
forma espiritual e nacional, e muitas vezes militarmente, em tempos de desastre
nacional. Sobre isso Juízes 2.18 traz:
Quando o SENHOR lhes suscitava juízes, o SENHOR era com o juiz e
os livrava da mão dos seus inimigos, todos os dias daquele juiz;
porquanto o SENHOR se compadecia deles ante os seus gemidos,
por causa dos que os apertavam e oprimiam.

Os juízes tinham funções civis e espirituais: eram árbitros e profetas. Não


eram considerados chefes de Estado ou reis. Na verdade, em algumas situações, Israel
tinha mais de um juiz. Simplesmente dizer que um juiz era um magistrado civil não é
apropriado. Israel não teve magistrados civis até os dias dos reis.

B. A Verdadeira Identidade de Débora e Seu lugar no Plano de Deus

Por que o Senhor levantou Débora, uma mulher, para julgar e libertar Israel?
Essa é uma pergunta apropriada à luz da legislação mosaica, da ordem social de Deus
que convocou homens para liderar a família, a Igreja e o Estado. Como podemos
explicar, então, o caso de uma juíza, profetisa e salvadora de Israel? Há, pelo menos,
duas respostas a essas duas questões:

1. Lembrar Israel do Juízo de Deus


Quando Débora sobe ao poder, Israel estava sob juízo divino, em razão de sua
apostasia. Textos como Isaías 3 nos ensinam que um dos sinais do juízo de Deus sobre
uma nação apóstata é: Os opressores do meu povo são crianças, e mulheres estão à
testa do seu governo (Isaías 3.12). Deus desejou lembrar a Israel que a sua graça era
livre e imerecida, mas não barata. O juízo está sempre presente para os que não se
arrependem.
O mais certo é que Débora fosse a resposta de Deus ao clamor de seu povo
(4.3), assim como o rei Saul foi a resposta de Deus ao clamor de Israel por um rei (1
Samuel 8.5; 9.16). Dando Débora e Saul a Israel, Deus agiu soberanamente: Débora era
desqualificada por seu gênero e Saul, por seu caráter. Ambos os clamores foram
respondidos por Deus de tal maneira a lembrar Israel do justo juízo de Deus sobre
todos aqueles que escolheram confiar no Estado e não na bondade e fidelidade de Deus.

2. Para Humilhar Israel

Deus estava usando essa mulher, Débora, para humilhar Israel, especialmente
sua liderança masculina, para que Israel olhasse totalmente para Deus como seu
Libertador, que engrandece sua própria força e humilha a força humana, utilizando uma
mulher como seu instrumento para derrotar os inimigos de Israel e salvar seu povo.
Foram estas as palavras de Débora ao general Baraque – o qual lhe pedira que, como
uma figura popular e símbolo da presença de Deus, fosse à batalha com ele:
Certamente, irei contigo, porém não será tua a honra da
investida que empreendes; pois às mãos de uma mulher o
SENHOR entregará a Sísera. E saiu Débora e se foi com Baraque
para Quedes (Juízes 4.9).

Na verdade, Deus salva o seu povo e derrota seus inimigos por meio de duas
mulheres piedosas: Débora e Jael (5.24).

C. O Uso de Débora pelos Críticos da Posição Bíblica quanto a Mulheres como


Magistrados Civis

A primeira reação da maioria das pessoas diante da nossa posição de que a


Bíblia desqualifica mulheres como magistrados civis é: "Mas e Débora?" Isso
geralmente não vem tanto como uma pergunta, mas como uma refutação: "Como a sua
posição pode ser correta, visto que Débora foi um magistrado civil designado por
Deus?"
1. A Aplicação Falha de um Princípio Básico da Hermenêutica Bíblica

Essas são questões justas, embora geralmente representem uma falha na


aplicação de um princípio básico da hermenêutica bíblica: as partes legais e didáticas
da Bíblia devem ser usadas para explicar os trechos históricos, e não o inverso.
A Bíblia contém muitos fatos históricos. Quais devem e quais não devem ser
utilizados como exemplos e modelos para o nosso comportamento? Dependemos dos
mandamentos e proibições da Lei de Deus, dos textos doutrinários e dos que trazem
instruções que interpretam esses fatos históricos para nós.
Usamos esse princípio no outro domingo, quando estudamos o Salmo 30, o
qual tem por contexto histórico os eventos descritos em II Samuel 24 e I Crônicas 21.
Como vimos, esses dois capítulos históricos têm várias divergências numéricas em
relação a detalhes dos eventos descritos. Como lidamos com essas divergências?
Em primeiro lugar, fomos às partes didáticas da Bíblia para demostrar que a
própria Bíblia ensina sua infalibilidade, ou seja, que o que ela declara ser verdade
sobre qualquer assunto é verdadeiro, e que o que ela descreve como tendo acontecido,
de fato ocorreu.
Em segundo lugar, quando chegamos às divergências numéricas entre II
Samuel 24 e I Crônicas 21, não as interpretamos de modo a parecer que a Bíblia de fato
tem erros; em lugar disso, tentamos honestamente explicar e harmonizar esses dois
capítulos de uma forma que exige o ensino da Bíblia a respeito de sua própria
inerrância. Em outras palavras, buscamos interpretar a história à luz da didática.
Inverter esse princípio básico de que "o legal e o didático interpretem o
histórico" por "o histórico interpreta os textos legais e didáticos" leva a muitas
doutrinas falsas e heresias. Por exemplo, o princípio inverso é a base do movimento
carismático. O argumento deles é: no livro de Atos percebemos fatos históricos de que
a igreja apostólica experimentou o falar em línguas desconhecidas e a realização de
milagres, por isso, esses mesmos fatos devem ser vivenciados e praticados pela igreja
hoje; e as porções dos textos legais e didáticos devem ser interpretadas de forma que
apóiem esse ponto de vista.
Mas a hermenêutica bíblica exige que os acontecimentos históricos da Bíblia
não permaneçam sozinhos, isolados de sua divina interpretação dada. É interpretação
revelada de Deus que dá a qualquer fato histórico o seu significado. Que Jesus foi
crucificado é um fato histórico. Sabemos do significado de sua morte somente em razão
das porções legais e didáticas da Bíblia. Removendo esse fato que por si só é o
principal, alguns têm utilizado a crucificação apenas para significar quão longe o amor
pelos outros deve ir, ou ainda algum outro significado moral.
Agora, apliquemos esse princípio de interpretação, no caso de Débora. As
porções legais e didáticas do Antigo Testamento - a legislação mosaica no Pentateuco -
ensinam que só homens, e não mulheres, devem ser eleitos para assumir um cargo civil.
Quando chegamos em Débora, não devemos interpretar esse acontecimento histórico de
modo que contradiga o que aprendemos na Lei mosaica: as mulheres não devem ser
escolhidas para uma posição pública de liderança.
Por isso, Deus soberanamente levantou Débora para assumir uma função
pública, cumprindo seus propósitos predestinados de não apresentá-la como um modelo
às mulheres, da mesma forma que não são modelos para nós os casos em que Deus
predestinou as ações de Judas na traição a Jesus ou as ações de Pilatos na crucificação.
Deus faz o que lhe agrada. Como diz Deuteronômio 29.29:
As coisas encobertas pertencem ao SENHOR, nosso Deus, porém
as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para
sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei. Assim,
de tudo o que Deus determinou soberanamente realizar, o nosso
claro dever é cumprir todas as palavras desta lei.

2. O Governo Incomum de Débora e o Período Anormal dos Juízes na História de


Israel

Praticamente não há dúvidas de que o papel de Débora na história de Israel


foi algo incomum. É igualmente verdade que o período dos juízes foi um tempo
anormal e temporário na história de Israel. A Lei mosaica já havia criado as bases de
uma forma mais estável e madura para o governo civil de Israel após a época dos juízes
(Deuteronômio 16 e 17). Embora houvesse períodos de curta duração de
arrependimento superficial, toda a era dos juízes foi marcada pela descrição registrada
na última frase do livro de Juízes: Naqueles dias, não havia rei em Israel, porém cada
um fazia o que parecia reto aos seus olhos (Juízes 21.25) [Revista e Corrigida].
Portanto, não deveríamos usar como modelo de governo civil, o governo civil de Israel
durante esse período sombrio.

3. O Argumento de que Tempos de Desespero Exigem Medidas Desesperadas

Alguns tentam justificar Débora e Sarah Palin, com o argumento de que


"tempos desesperadores exigem medidas desesperadas”. Tenho vários problemas
quanto a essa afirmação aplicada a Débora e Sarah Palin.
Em primeiro lugar, essa é apenas uma simples afirmação sem nenhuma base
bíblica.
Em segundo lugar, se no caso de Débora, o princípio ― “tempos
desesperadores exigem medidas desesperadas” - justifica mulheres assumindo um
cargo político hoje, então como isso se aplicaria à igreja em tempos de desespero?
Débora também foi uma profetisa. Isso significaria que, em tempos de tribulação,
mulheres pregadoras, presbíteras e diaconisas seja algo justificável quando os homens
se eximem de seu papel? Os tempos de angústia justificam a desobediência à Palavra
de Deus? Ou não seriam os tempos de desespero causados justamente pela
desobediência à Palavra de Deus?
Becky, minha esposa, respondeu a essa objeção:
“O que está na raiz de toda essa controvérsia, no meio cristão, a respeito
uma mulher concorrer a um cargo político? Posso entender a razão do
mundo em discordar da perspectiva bíblica de que as mulheres não
devem ocupar cargos civis. As pessoas que não dobram seus joelhos
perante o rei Jesus não têm escrúpulos em contestar a ordem de Deus para
a vida. Mas quando os cristãos buscam desculpas para se
justificarem ― 'tempos desesperados exigem medidas desesperadas' é o
lema ― sua crença na suficiência da Palavra de Deus entra em questão.
DEUS NÃO ESTÁ DESESPERADO! Ele tem um plano que 'não falha'.
De nossa parte, só contribuímos com o lado vencedor, quando seguimos
as instruções reveladas de Deus para nós, em sua Palavra. A vida torna-se
complicada demais, quando criamos atalhos para tentar 'ajudar a Deus'
em sua obra de fazer nossa vida melhor. Por que não nos humilhamos e
nos lembramos do que nos ensinaram quando crianças? Crer e observar
pois não há outro caminho...”[65]

D. A aplicação adequada do caso de Débora à eleição nos Estados Unidos em 2008

Então, como aplicar de forma adequada o caso de Débora à eleição nos


Estados Unidos em 2008? Não por meio de concessões, nem incentivando e apoiando
que mulheres concorram a cargos políticos! Mas de duas maneiras:
Em primeiro lugar, a eleição de mulheres a cargos políticos, bem como o
exercício de mulheres no ofício de presbítero e diácono na igreja, são um sinal do
julgamento de Deus sobre a América! Não pintem de rosa o que Deus diz em Isaías 3
sobre o que ele faz quando começa a julgar uma sociedade em razão de sua apostasia:
Porque eis que o Senhor, o SENHOR dos Exércitos, tira de Jerusalém e de
Judá o sustento e o apoio, todo sustento de pão e todo sustento de água; o
valente, o guerreiro e o juiz; o profeta, o adivinho e o ancião; o capitão de
cinquenta, o respeitável, o conselheiro, o hábil entre os artífices e o
encantador perito. Dar-lhes-ei meninos por príncipes, e crianças
governarão sobre eles. Entre o povo, oprimem uns aos outros, cada um,
ao seu próximo; o menino se atreverá contra o ancião, e o vil, contra o
nobre. … Porque Jerusalém está arruinada, e Judá, caída; porquanto a sua
língua e as suas obras são contra o SENHOR, para desafiarem a sua gloriosa
presença. … Os opressores do meu povo são crianças, e mulheres estão à
testa do seu governo. Oh! Povo meu! Os que te guiam te enganam e
destroem o caminho por onde deves seguir. Isaías 3.1-12

Para algumas pessoas, a pior coisa que poderia acontecer em 2008 seria a
eleição de Obama para a presidência dos Estados Unidos. A realidade da situação é
que, seja quem for o eleito neste outono[66], a pior coisa que pode acontecer é a
continuação e intensificação do juízo de Deus caindo sobre nós, em razão da nossa
apostasia nacional, de longa data.
Justamente nesta manhã, recebi um e-mail de Doug Phillips que não só
confirma que a eleição [de Sarah Palin] seria um sinal do juízo divino sobre a nossa
nação, mas que também apresenta um outro ponto de vista intimamente relacionado:
Creio que a questão Sarah Palin não é apenas um juízo, mas é uma grande
bênção do Senhor. Não preciso de jeito nenhum explicar para vocês como
é um juízo. Deixem-me expor as minhas ideias sobre por que ela também
seria uma bênção.
Sob meu ponto de vista, esse assunto tem forçado longas questões. E
revelou a verdadeira lealdade de líderes cristãos aos partidos políticos,
acima da exegese histórica, saudável e bíblica. É o que está separando os
homens das “mulheres-homens”, e as mulheres dos “homens-mulheres”…
Os argumentos pobres, ilógicos e ridículos de homens que deveriam saber
mais, abriram a porta para que tivéssemos uma base para elaborar
argumentos inteligentes, bíblicos e sistemáticos, em defesa da ortodoxia e
de uma visão bíblica de família. Nunca tivemos uma oportunidade melhor
para tratar desse caso, e devemos continuar a fazê-lo.
Este não é um tempo de apenas encorajamento ― devemos lutar, articular,
defender e aproveitar essa oportunidade histórica. Tendo lido muitos dos
argumentos produzidos por antissufragistas antes da aprovação da emenda
19, fiquei triste com o fato de que havia poucas vozes claramente bíblicas
naquela época. Desta vez, pudemos tratar da questão. Pelo menos,
deixamos um registro de uma época menos emotiva.
Em segundo lugar, a eleição de mulheres a cargos públicos, como oficiais
mulheres na igreja, serve para humilhar os homens norte-americanos e os
homens cristãos. Onde estão hoje os homens cristãos nas principais
batalhas que temos lutado em favor do futuro da nossa nação? Como Gary
DeMar acertadamente questiona: “Por que Sarah Palin busca liderar o
PTA [Parent Teacher Association ― Associação de Pais e Mestres]?
Onde estavam os homens dignos? Por que ela se candidatou à prefeitura
de Wasilla? Onde estavam os homens dignos? Como ela conseguiu vencer
um governador em exercício nas eleições primárias e foi eleita
governadora? Onde estavam os homens dignos nesse longo processo
eleitoral? ― A candidatura de Sarah Palin é uma acusação contra muitos
homens que têm feito concessões em seus princípios”.
Homens desta congregação, onde VOCÊS estão nesta batalha pelo futuro da
América?
Becky responde:
Talvez a artimanha de Satanás para dividir os cristãos nessa questão saia
pela culatra. Talvez haja alguns homens cristãos tão distraídos em levar
adiante seus próprios negócios, ou pensando que cumprem seu dever civil
simplesmente por meio de um voto (isso, se estiverem com tempo)[67],
que agora sejam grandemente incentivados a fazer algo e a concorrer às
eleições locais, estaduais ou nacionais. Talvez isso acabe resultando em
que uma mulher corajosa, mas equivocada, os envergonhe! Há homens
reagindo às opções desastrosas que enfrentamos nesta eleição? Eu os
desafio a dar aos eleitores uma alternativa: em lugar de uma mulher
concorrendo; candidatem-se ou pelo menos, financiem e promovam
homens firmes que possam concorrer. - Se abandonasse sua candidatura
por estar convicta de que foi chamada a reinar noutra esfera, sendo rainha
de seu lar e do coração de seu marido, Sarah Palin faria muito mais pela
reconstrução da nossa nação do que qualquer coisa que espere realizar
num cargo público, optando pelas abundantes riquezas à sua disposição e
confessando corajosamente o domínio de Deus sobre sua vida como
esposa e mãe. Meu coração ficou apertado quando assistia ao noticiário e
vi uma menina por trás do jornalista que fazia a reportagem. A menina
segurava um cartaz: “Quando crescer, quero ser como Sarah Palin”.
Multiplicar isso quantas vezes? - e pensem no futuro…

Orem para que Sarah Palin honre a Deus com sua vida. Orem para que igrejas
evangélicas e reformadas não sejam varridas pela maré da opinião pública, mas
estejam firmes sobre a sólida rocha da Bíblia. Orem para que os cristãos voltem a suas
raízes. Orem para que Deus levante homens cristãos em posição de influência no
governo civil. Orem para que os homens não abdiquem mais de seu papel de governar o
lar. Orem para que as igrejas escolham ministros, presbíteros e diáconos que sejam
verdadeiros, profundos e firmemente reformados pela Palavra de Deus. Orem para que
os cristãos americanos aprendam a votar e governar como cristãos, permanecendo
cativos à Palavra de Deus. Orem para que Deus nos faça crescer grandemente em
número.
Para encerrar, se vocês acham que a nossa posição sustenta uma visão inferior
sobre as mulheres, ouçam estas palavras comoventes de Robert L. Dabney, atribuindo
às mulheres cristãs uma das maiores honras e responsabilidades na restauração da
república americana. Dabney escreveu logo após a devastação do Sul na “Guerra entre
os Estados”[68], em seu artigo The Duty of the Hour [O dever deste momento]:
[…] Nunca antes o bem-estar de um povo foi tão dependente de suas
mães, esposas e irmãs, como aqui e agora. Declaro abertamente que
abaixo de Deus, minha principal esperança para meu arruinado país está
em suas mulheres. No início da guerra, quando a corrente do nosso nobre
sangue começou a correr desenfreadamente no campo de batalha, eu disse
a um cidadão honrado do meu Estado, que essa situação tornava-se tão
comum que os nossos melhores homens estavam sendo sacrificados e que
por isso não havia razão para esperar outra coisa senão que as fibras e
medula do povo do Sul acabassem sendo permanentemente
menosprezadas. E sua resposta foi: ‘Não há perigo, enquanto as mulheres
do Sul forem o que são. Tenha a certeza de que as mães não permitirão
que os filhos desses touros-mártires sejam menosprezados’.
Mas desde então, esse inesgotável rio de sangue cresceu tornando-se uma
inundação. O que é pior, o restante dos sobreviventes, poucos,
subjugados, desanimados, quase desesperados e, infelizmente,
desonrados, porque não desprezaram a vida, na situação em que nos
deixaram, estão sujeitos a todas as influências externas, que podem ser
malignas e concebidas para minar os alicerces de sua masculinidade e
degradá-los a ponto de tornarem-se escravos. Se as nossas mulheres não
lhes derem suporte, eles afundarão. A menos que os “anjos” que regem e
alegram seus lares saibam reanimar sua autoestima, aceitando sua
determinação, sustentando sua honra pessoal, os homens se tornarão
completamente escravos tal como seus inimigos desejam. Fora de suas
casas, tudo conspira para deprimi-los, tentá-los e seduzi-los. ― Só dentro
de suas casas lá está, sob os céus, um raio de luz ou calor, para impedir
seu congelamento em desespero.
Lá, em suas casas, é o seu domínio. Lá é você que reina com o cetro de
afeto, e não os nossos conquistadores. Nós lhes rogamos, exerçam esse
suave império em nome dos princípios, do patriotismo, da religião que
herdamos de nossas mães. Ensinem aos que são do nosso sexo destemido
e valoroso que só por um amor imortal desses, o amor de uma mulher
querida, merecem ou devem ganhar. Aquele que for fiel a essa coroa e
com o seu favor. Deixem que o desgraçado que as trai seja exilado para
sempre do paraíso dos seus braços. Então seremos salvos, salvos de uma
degradação mais imunda que uma sepultura. Que seja de vocês o dever de
proteger, mais que uma vestal resguardada por vigias, a chama sagrada da
nossa virtude agora tão sufocada. Sua missão é discreta, realizada na
privacidade do lar e pelas suaves porções de amor todos os dias. É esse
o trabalho mais nobre que um mortal pode realizar, pois fornece as pedras
polidas, com a quais o templo de nossas liberdades pode ser reparado. ―
Esse é o seu trabalho; a casa e a lareira são o cenário de sua indústria.
Mas os produtos que vocês produzem são as almas dos homens, que
devem compor o tecido de nossa igreja e de nosso Estado. Os políticos,
os profissionais, são apenas os mais baratos, grosseiros trabalhadores
comuns que pegam e movem os tijolos prontos para o seu lugar. Vocês são
as verdadeiras artistas, que os revestem de forma adequada e com beleza;
e, portanto, sua tarefa é a mais nobre.[69]
A respeito disso, R. J. Rushdoony escreveu no último capítulo de seu livro,
Intellectual Schizophrenia [Esquizofrenia intelectual]:
O fim de uma era é sempre um momento de turbulência, guerra, catástrofe
econômica, cinismo, ilegalidade e angústia. Mas também é uma época de
elevados desafios, criatividade e de intensa vitalidade. E por causa da
intensificação dos problemas, e do seu alcance mundial, nunca houve uma
época que enfrentasse tamanha complexidade e comovente crise.
CAPÍTULO ONZE

Agentes de transformação social


Na Grande Comissão, de Mateus 28.18-20, Cristo chama os cristãos a serem agentes de
transformação social em culturas não cristãs. Fazer as nações do mundo discípulos de
Cristo exige que os cristãos se vejam comissionados por Jesus Cristo, para agirem e
falarem na autoridade dele, como seus instrumentos, capacitados por seu Espírito para
promoverem mudanças sociais nessas nações, em conformidade com sua Palavra.
Hoje, na política norte-americana, tudo é a respeito de transformação social,
mesmo se alguém for democrata ou republicano, liberal ou conservador, cristão ou
anticristão. Essa tem sido uma verdade da nossa nação desde o surgimento do
Movimento do Evangelho Social, em meados do século XIX.
O Evangelho Social foi … uma tentativa de socializar o
Evangelho, para dar-lhe um molde sociológico de referência e de
propósito, e para torná-lo uma força decisiva na formação da nova
América do século XX. Nesse intuito, o Evangelho histórico foi levado a
um relacionamento harmonioso com [a teoria da] evolução de tal forma
que fosse cientificamente respeitável …][70]
Porém, nem todas as mudanças sociais são boas. Algumas acabam devastando
uma ordem social livre e justa. O fato de um candidato dizer que algo vai mudar a
sociedade para melhor não significa que ele deva receber o voto dos cristãos. Os
marxistas e os muçulmanos também estão trabalhando por uma transformação social.
Então, como saberemos quando uma mudança social é boa ou ruim? Como
saberemos quando uma transformação é necessária? Como podemos determinar o
objetivo e os métodos de mudança social? Será que isso é mesmo possível? Por onde
começamos? O cristão busca na Bíblia as respostas a essas perguntas, visto que ela é a
inerrante e suficiente revelação escrita do Criador, sob cuja vontade todos os seres
humanos são responsáveis por viver submissos. Submissos à vontade do Criador,
revelada em todas as facetas da vida do homem na Terra.
Uma sociedade, como os Estados Unidos, precisa ser transformada quando
abandona sua origem cristã em troca de uma nova base construída a partir de um
princípio de revolta contra o Todo-Poderoso Deus e sua ordem moral. Essa substituição
de fundamento se manifestará através de toda a cultura.
Nossa análise a respeito das necessidades da sociedade tem de ser baseada
nos critérios de Deus quanto ao homem e sua sociedade, revelados na Bíblia. A Palavra
de Deus fala com autoridade absoluta e abrangente de todos os aspectos da sociedade
e da atividade humana. A lei bíblica tem de ser sempre nosso único padrão para
determinar a direção e a natureza da transformação social.
O objetivo de uma mudança social tem de ser uma civilização cristã livre,
justa, próspera, segura e encantadora — uma segunda cristandade. Nossos métodos,
bem como nossos propósitos precisam ser tomados da Bíblia, visto que os objetivos de
Deus só podem ser alcançados pelas formas e meios revelados de Deus. Propósitos
piedosos não podem ser atingidos com métodos ímpios, porque isso equivaleria a
“abandonar Cristo pelos métodos de seus inimigos”.[71] Além do mais, os fins de
Deus podem ser alcançados por causa da sua promessa: E não nos cansemos de fazer o
bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos (Gálatas 6.9).
Por onde começaremos nosso trabalho de transformação social? A resposta a
essa questão vai determinar a natureza, o objetivo e a moralidade ou imoralidade da
mudança social que se procura realizar. Visto que muitos cristãos não pensam de forma
consistente sobre essas questões, “um dos nossos problemas recorrentes hoje, é que
tanto ‘a reforma’, aceita por cristãos e não cristãos e esquerdistas, bem como por
conservadores, é simplesmente imoral”.[72] Isso é verdade por duas razões principais,
além do fato de muitos cristãos não levarem a revelação bíblica a sério.
Em primeiro lugar, muito do pensamento de uma reforma social pressupõe que
a política, a economia e o meio social são a causa dos problemas do homem. Nos é
ensinado que os seres humanos são basicamente bons e vítimas de seu ambiente
corrupto. Jesus refutou esse argumento, em Marcos 7.14-15: Ouvi-me, todos, e
entendei. Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que
sai do homem é o que o contamina. Portanto, “grande parte da nossa atual ‘reforma’
legislativa justifica o pecador em seu pecado. Conforme a lógica dessa argumentação,
o Tentador, e não Adão e Eva, é que, no mínimo, deveria ter sido expulso do Éden, se
não, morto; a árvore do conhecimento do bem e do mal deveria ter sido rechaçada e
processada por criar a possibilidade de tentação e pecado”.[73] Contudo, em última
análise, essa posição faz que o Criador soberano seja o culpado final. Por isso, grande
parte da reforma social busca remover Deus das instituições da sociedade, a fim de
escapar de sua ordem moral, para que o homem caído seja livre para criar sua própria
ordem imoral (Salmo 2). Isso equivale não a liberdade, porém, a escravidão.
Em segundo lugar, muitos cristãos não reconhecem que os seres humanos são
intrinsecamente pecaminoso e estão em rebelião contra Deus, e que por isso a
transformação social deve começar, não com a política, mas com a regeneração do
coração. Significa que a mudança política, social, econômica, institucional e social
precisa ser conduzida por meio de evangelização e educação cristã.
Basicamente, a diferença entre todos esses planos de salvação e o cristianismo
é a seguinte: essas esperanças não-cristãs acreditam que o problema não está no
homem, mas em algo fora dele, em seu ambiente, família, hereditariedade, escolaridade
ou algum fator externo. Desse modo, para transformar o homem, primeiro você precisa
mudar o mundo ao seu redor.
A expressão mais lógica e arraigada de tal crença é a revolução. Sustenta-se
que a transformação do homem deve começar com a transformação radical de sua
ordem social. Somente então o homem será transformado. A Teologia da Libertação é a
aplicação desse pensamento dentro da igreja: mudar o mundo ― como eles sustentam
― e então o homem se tornará um cristão. Essa é a mesma fé proposta pelo Tentador a
Jesus no deserto, Mateus 4.1-11.
A fé bíblica mantém uma posição contrária. Para o cristianismo, o homem
deve ser transformado pela graça soberana de Deus por meio de Jesus
Cristo. E assim, o homem transformado pode mudar o mundo. A salvação
não chegará ao homem nem à sociedade, à parte da expiação de Cristo e
do seu poder regenerador. A dinâmica da sociedade provém de Deus para
o homem e do homem para o mundo.[74]
A reforma social que começa com a transformação da sociedade -
transformação “de cima para baixo”, ou seja, começando com uma legislação política e
diretrizes - é “prejudicial e ameaçadora aos que estão abaixo, e o resultado é a criação
de uma população sem raízes, cujo estilo de vida foi destruído, lealdades rompidas e
condições bem pouco melhoradas. ― Chegou o momento para um forte e viril
cristianismo, um firme compromisso com a lei bíblica para ordenar o dia. Nada mais
pode fornecer uma força motriz comparável à reconstrução de todas as coisas. A
mudança é certa, mas se vai ou não progredir depende de quem a controla”.[75]
Como aplicaremos tudo isso em nossa escolha dos candidatos, quando todos
dizem que são favoráveis a transformar a sociedade para melhor? Os cristãos devem
votar apenas em candidatos que não se vejam como agentes de mudança social, mas
como homens que sustentem e defendam a Constituição dos Estados Unidos em
conformidade com sua intenção original, e que não tenham medo de confessar
publicamente que o Deus da Bíblia é a fonte soberana do direito, da liberdade e da
justiça para todos. Como Rushdoony nos ensinou, políticos eleitos ou são grandes
defensores da lei bíblica ou matadores profissionais contratados em favor do status
quo humanista.
Para mais estudos aprofundados sobre o tema da transformação social, consulte:
(1). R. J. Rushdoony, False Morality and False Reform [Falsa moralidade e falsa
reforma], Revolution or Regeneration [Revolução ou regeneração], Responsibility and
Change [Responsabilidade e mudança], Rational Reforms [Reformas racionais] em seu
livro Roots of Reconstruction [Raízes da reconstrução]; (2). Garry Moes, ed, Journal
of Christian Reconstruction: Symposium On Change In The Social Order [Simpósio
sobre mudança na Ordem Social], vol. 13, No. 1, 1990-1991; e (3). C. Gregg Singer,
The Social Gospel and its Political Effects in American Life [O evangelho Social e
seus efeitos políticos na vida americana], em sua obra A Theological Interpretation Of
American History [Uma interpretação teológica da história americana].
CAPÍTULO DOZE

A agenda social do novo governo[76]


O cristão que crê na Bíblia precisa — corajosamente, em alta voz e sem
constrangimento — confessar que a agenda social do novo governo deve ser feita a
partir da Palavra de Deus escrita, especialmente Romanos 13.1-7. Por quê? A resposta
é encontrada no livro de Provérbios.

Os que desamparam a lei louvam o perverso, mas os que guardam a lei se


indignam contra ele. Os homens maus não entendem o que é justo, mas os
que buscam o SENHOR entendem tudo. Provérbios 28.4-5
Quando se multiplicam os justos, o povo se alegra, quando, porém,
domina o perverso, o povo suspira. Provérbios 29.2
Não havendo profecia, o povo se corrompe; mas o que guarda a lei, esse
é feliz. Provérbios 29.18

O que esses provérbios nos dizem? Quando abandonam a Lei de Deus revelada
na Bíblia, o magistrado civil e/ou os eleitores vão enaltecer políticos ímpios, a
legislação e as políticas; mas quando o magistrado civil obedece à lei de Deus, está
protegendo os cidadãos, trabalhando contra os transgressores e os criminosos. Quando
os líderes que buscam pessoalmente e na política estar em conformidade com a lei
revelada de Deus, os cidadãos se alegrarão pela liberdade, justiça, prosperidade e
segurança; mas quando os líderes políticos tentam governar sem a lei de Deus ou em
oposição a ela, o povo geme sob a tirania desses líderes. Onde não há revelação de
Deus que governe os que governam, o povo não tem limites e é incontrolável; mas
felizes são aqueles pelos quais a Lei de Deus é honrada.
Em Romanos 13.1-7, somos apresentados a três princípios fundamentais da
política cristã: a origem do governo civil (13. 1-2); a função do governo civil (13.3-5);
e os poderes do governo civil, (13.4-7). Esses princípios se originam com Deus. Sua
função é proteger os bons cidadãos causando terror aos malfeitores. Seus poderes são:
o poder de um ministro de Deus, o poder da espada e o poder para tributar. Cada um
desses conceitos deve ser definido biblicamente e aplicado de forma consistente.
Em primeiro lugar, visto que a origem do governo civil está no Deus Todo-
Poderoso e visto que todos os governos civis são responsáveis perante a origem de sua
autoridade e poder, o novo governo tem de reconhecer a supremacia do Deus da Bíblia
em todas as coisas e estar mais preocupado com cumprir a vontade de Deus do que a
vontade dos eleitores. Significa que o governo deve tomar medidas imediatas quanto a
confessar publicamente que o Deus da Bíblia é a única fonte de justiça para a lei, a
liberdade e o governo. O governo civil deve empenhar-se em restringir o papel
imperialista do judiciário federal e suas tentativas de descristianizar os Estados
Unidos. Para cumprir essas duas coisas, o novo governo deve incentivar a aprovação
da “Ato de restauração da Constituição de 2004” (S. 2082), que diz:
[...] a Suprema Corte não tem competência para rever, por meio de
recurso, writ of certiorari [petição de revisão], ou por outros meios,
qualquer matéria em que se busque recurso contra um elemento do
governo federal, estadual ou local, ou contra um oficial da União, dos
Estados ou do governo local (atuando, ou não, em caráter oficial), em
virtude de um reconhecimento básico e oficial de Deus como a fonte
soberana de direito, liberdade ou governo.
Deve-se fazer todo o esforço para regular todas as esferas do governo civil
por seus poderes definidos e funções descritas na Constituição dos Estados Unidos, em
conformidade com a intenção original de seus autores.
O novo governo deve trabalhar para desmontar todas as burocracias federais,
cargos ministeriais, políticas e legislação que não estejam de acordo com a visão de um
governo constitucional baseado e delimitado pela Palavra de Deus, especialmente nas
áreas de saúde, educação, assistência social, recursos humanos e naturais. O presidente
deve deixar claro que, sob sua administração, o governo civil não usurpará poderes e
competências não concedidas pela Constituição dos Estados Unidos e que fará a
aplicação plena da Décima Emenda:
Os poderes não delegados aos Estados Unidos pela Constituição, nem por
ela negados aos Estados, são reservados aos Estados ou ao povo.[77]
Em segundo lugar, visto que ao governo civil é dada por Deus a função
singular de proteger os cidadãos que cumprem a lei e de aterrorizar os criminosos e o
comportamento criminoso, devem-se aumentar os esforços para defender os mais
indefesos dos nossos cidadãos, os nascituros. O presidente deve tomar medidas
imediatas para proibir o aborto como um crime capital. Todas as leis que proíbem o
aborto deveriam se firmemente defendidas e diligentemente executadas. O novo
presidente deveria designar para o judiciário federal apenas os juízes pró-vida e que
serão defensores da Lei de Deus, visto que os juízes que não o sejam, são matadores
profissionais em favor do status quo humanista.
Em terceiro lugar, visto que o poder do governo civil é o poder de um
ministro de Deus (Romanos 13.4), que tem a autoridade para só aprovar e fazer cumprir
as leis com base na Lei de Deus conforme a Bíblia - o único padrão infalível pelo qual
se pode distinguir entre o bom e mau comportamento (Romanos 13:.3) -, o novo
governo não deve aprovar nenhuma lei nem estabelecer normas que não estejam
fundamentados na Lei de Deus contida na Sagrada Escritura. Uma cultura que aceita a
homossexualidade é vista por Deus como moralmente destruída e sob seu juízo
(Romanos 1.26s), o novo governo deve trabalhar duro para desencorajar e proibir o
comportamento homossexual, assim como a união civil de pessoas do mesmo sexo.
Em quarto lugar, visto que seu poder inclui o poder da espada,
o governo civil precisa trazer imediata, justa e severa punição sobre os
criminosos condenados. Esse poder não tem de ser visto como um agente
de transformação social, nem como um conselheiro familiar ou conjugal,
mas, sim, como o que administra a justiça e apenas a justiça
(Deuteronômio 16.20). Tem de ser cego diante de raça, riqueza, posição
econômica ou gênero. Todas as pessoas têm de ser iguais perante a lei.
Nem rico nem pobre, nem negro nem branco, nem trabalhador nem
administrador, devem receber tratamento preferencial por qualquer ramo
do governo. Além do mais, visto que… o crime, na maioria dos casos,
deve ser tratado pelos governos estaduais e locais. O governo federal
acaba sendo reponsável pelo crescimento da delinquência cada vez mais
destrutiva a cada ano, na medida em que ― na sua forma de legislar, em
suas ações judiciais, em seus regulamentos e no seu exercício do Poder
Executivo ― interfere na competência das pessoas para prender, julgar e
penalizar os infratores acusados em suas comunidades. Somos a favor do
direito irrestrito dos estados e municípios de executarem criminosos
condenados por crimes capitais e exigir a reparação às vítimas dos
criminosos, as quais não atentam contra a vida ou a integridade física de
outros. A interferência federal nos processos criminais locais deve ser
delimitada pelo que é constitucionalmente exigido.[78]

O poder da espada também deve ser pronta, justa e severamente utilizado de


forma defensiva e constitucional, contra todos os terroristas ou nações que prejudicam
ou ameacem prejudicar os cidadãos americanos. O novo comandante-em-chefe deve
comprometer-se a nunca colocar soldados americanos em perigo por razões políticas,
nem por qualquer outra finalidade senão a defesa da vida e do bem-estar dos cidadãos
dos Estados Unidos; nem deve colocar as forças armadas dos Estados Unidos sob a
autoridade das Nações Unidas ou permitir que as forças armadas sejam obrigadas a
responder a qualquer tribunal internacional.
Em quinto lugar, visto que o poder do governo civil inclui a competência de
tributar, o novo governo deve certificar-se de que todos os impostos que incidem sobre
os cidadãos norte-americanos sejam justos, isto é, bíblicos. O novo governo deve
abolir o imposto de renda, impostos sobre a propriedade, impostos sobre as
sociedades, impostos sobre vendas, impostos sobre lucros, impostos de valor agregado
e qualquer outro tributo que seja prejudicial aos cidadãos dos Estados Unidos, a seus
familiares ou a seus negócios. Isso significa a criação de um imposto individual per
capita que exigiria que todos tributassem a mesma pequena quantia necessária para que
o governo civil realizasse sua tarefa de aplicação da justiça (Romanos 13.6; Êxodo
30.11-16).
Em sexto lugar, sem se intimidar com interpretações falsas e não-históricas da
Primeira Emenda, que demandam a secularização do governo civil dos Estados Unidos,
o presidente deveria fazer um pacto público com Deus e com o povo, para governar
estritamente nos termos revelados da Lei de Deus e publicamente prometer sua
fidelidade ao Senhor Jesus Cristo, o Soberano dos reis da terra (Apocalipse 1.5) e o
Rei dos reis e Senhor dos senhores (Apocalipse 19.16). Por quê? A resposta é
encontrada no Salmo 2.10-12:
Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos advertir, juízes da terra.
Servi ao SENHOR com temor e alegrai-vos nele com tremor. Beijai o Filho
para que se não irrite, e não pereçais no caminho; porque dentro em
pouco se lhe inflamará a ira. Bem-aventurados todos os que nele se
refugiam.
CAPÍTULO TREZE
A fonte da lei

Um discurso apresentado à Câmara dos Deputados da Geórgia pelo Pastor Joe


Morecraft, em 2 de março de 1998
Sr. presidente, senhoras e senhores deputados, vamos ouvir a Palavra de Deus: o
SENHOR é o nosso juiz, o SENHOR é o nosso legislador, o SENHOR é o nosso Rei; ele nos
salvará (Isaías 33.22).
Deus concedeu à Câmara dos Deputados da Geórgia, a grande
responsabilidade de promulgar boas leis civis para proteger o povo da Geórgia. Essa é
certamente uma elevada vocação que merece grande respeito, porque a lei é essencial
para a justiça e a liberdadede todos. Toda organização da sociedade implica num
conjunto de normas que regem toda a vida e atividade social.
A questão aqui é esta: qual é sua fonte de lei? A quê ou qual padrão de certo e
errado os senhores, como indivíduos e legisladores, utilizam para determinar se a
resolução posta diante dos senhores é moralmente boa ou má, benéfica para os
cidadãos da Geórgia ou prejudicial a suas vidas e liberdades? Esse é um problema que
nunca passou pela mente de muitos políticos eleitos em nossa nação, os quais estão
intensamente envolvidos nessa atividade de leis sendo apresentadas, debatidas e
votadas, leis que acabam afetando milhões de pessoas todos os dias. Sendo assim,
pergunto-lhes hoje: qual é sua fonte de lei para seu próprio comportamento pessoal e
para o desempenho do seu papel como deputado estadual?
Faço-lhes essa pergunta porque a fonte da lei para uma sociedade é o deus
dessa sociedade. Não há como ser diferente. O poder e sentido de toda lei é derivado
de uma autoridade suprema, e a fonte da lei de uma cultura é o seu deus. Então,
pergunto novamente, porém, de outra forma: quem ou o quê é o seu deus? Ele é o único
a quem os senhoress recorrem toda vez que determinam como votarão nesta honrosa
Casa, independente do que professem crer. As leis que os senhores apoiam ou rejeitam
dizem mais sobre o deus a quem servem do que o que os senhores professam em seus
cultos.
Mesmo com todas as suas experiências, investigações científicas, estatísticas,
pesquisas de opinião e instituições, os seres humanos não estão em posição de ser uma
fonte confiável de lei que assegure a liberdade e a justiça a todos. Certamente todos
reconhecemos um dos traços mais evidentes dos seres humanos: somos criaturas,
finitos, seres caídos, essencialmente pecaminosos e, portanto, fontes totalmente não
confiáveis de leis que outros serão obrigados a obedecer ou de que sofrer as
consequências.
A História tem demonstrado repetidamente que a crença em que o homem é sua
própria fonte de lei, seu próprio legislador, produz tirania e escravidão. Tem sido
sempre assim. É hoje. E sempre será. Quando reduz a lei às suas próprias opiniões
moralistas subjetivadas, o homem destrói a lei como norma que rege a sociedade e
garante liberdade e justiça aos membros dessa mesma sociedade. Quando o homem
coloca a si mesmo como sua única fonte de lei, reduzindo a lei à sua própria vontade,
crendo que não existe nenhuma lei acima do homem, o padrão de lei elaborado por esse
homem para uma sociedade torna-se o princípio “o poder faz o direito”, isto é, está à
mercê dos caprichos dos que controlam o poder político, militar ou financeiro impondo
as leis ao restante da sociedade, muitas vezes às custas de sangue inocente.
Mesmo que a experiência humana como a fonte de lei seja arbitrária e
irracional, sempre acabando em racismo, distorcendo a justiça, levando ao
desaparecimento da liberdade, trazendo o declínio da produtividade e a degeneração
cultural e moral, muitos políticos eleitos ― seja por não terem coração ou cérebro, ou
com agendas que servem a si próprios ― persistem em propostas e aprovação de leis
que têm como único fundamento a opinião subjetiva de um homem ou mulher. Quando
isso ocorre ― mais vezes do que não ― acabam chamando ao bem mal e ao mal, bem
(Isaías 5.20).
A única fonte de lei que preserva a liberdade e a justiça para todos está no
Soberano Criador do Universo, que revelou sua vontade aos indivíduos e às nações em
sua lei escrita, sem a qual a humanidade não teria nenhuma base de moralidade ou
conhecimento neste mundo. Deus é o legislador do universo, estando ele próprio acima
da lei. Na verdade, sua lei é o limite entre ele e sua criação, à qual o homem não pode
transcender em sua condição de criatura. Ou seja, o homem terá de prestar contas a esse
Deus diante do qual estará um dia. O pecado do ser humano é o desejo de cruzar ou
aniquilar esse limite, definindo por si mesmo o bem e o mal, sem qualquer relação com
o Criador ou sua Bíblia. Seria esse o propósito principal da sua vida? Ou você
alegremente reconhece a supremacia de Deus e da sua Lei sobre você em sua condição
de homem, de mulher, de legislador?
Deus deu à humanidade ― a cada indivíduo, raça, nacionalidade e língua na
Terra ― a sua l, para proteger a sociedade humana do mal da falta de leis e da
violência. Sem uma lei que governe a sociedade, a anarquia reina. E a menos que a lei
esteja fundamentada na ordem eterna de Deus para a sua criação, a sociedade humana
não terá limites justos e libertadores contra as más ações da humanidade. Se Deus não
for a fonte de lei para nós, então o caos e o mal dominarão.
Uma sociedade em rebelião contra a lei de Deus é “como um
peixe fora d'água”, agitando-se com violência, mas destinado a
morrer rapidamente.[79]

Toda a humanidade, inclusive todas as nossas instituições, estão sujeitas a leis.


Essa é uma inescapável realidade da vida, ainda que tentemos suprimi-la como
quisermos. E mais especificamente, toda a humanidade está sob a lei do Criador
revelada no Monte Sinai. Se os seres humanos são criaturas de um Criador
sobrenatural, então os seres humanos estão submetidos a Deus, seu Criador, e sob a lei
de Deus. Juntamente com todas as suas instituições, os homens são obrigados a
obedecer a Deus observando sua lei em todas as esferas da vida. Toda a vida humana e
a sociedade estão igualmente submetidos à lei absoluta do Criador.
Visto que o homem está sob a lei de Deus, a relação dos legisladores com a
lei, torna-se, em última análise, ministerial e não legislativa. O homem não cria lei.
Não decreta o que é certo ou errado, baseado simplesmente em sua própria vontade.
Todo o seu processo legislativo deve estar de acordo com a lei de Deus, ou será falso.
Em Romanos 13, a Bíblia os chama de magistrados civis eleitos, os ministros de Deus.
O cerne da questão é que os senhores devem obedecer, administrar e aplicar a lei de
Deus, e não a sua própria lei. Os senhores não devem impor, aos outros, suas próprias
leis fabricadas. Isso é arrogância e tirania. Impor ao povo da Geórgia qualquer outra lei
além da lei do seu Criador e Senhor, é irresponsabilidade, um equívoco, uma usurpação
perniciosa. Distanciar-se da lei perfeita de Deus é distanciar-se da liberdade e da
justiça para todos os cidadãos que os senhores representam.
Isso também significa que a liberdade está sob a lei, que os seres humanos
encontram a liberdade de serem o que Deus quer que sejam ao não se afastarem da lei
de Deus ou não se rebelarem contra ela. Os seres humanos devem submeter-se
alegremente à lei de Deus, após serem libertos de sua condenação por meio da obra
redentora de Cristo, pela fé. Uma pessoa livre, portanto, é obediente à lei, ou seja, é
alguém cuja vida, desde as suas raízes, está feliz em submeter-se à vontade de Deus
revelada em sua lei perfeita. Isso também significa que a justiça é impossível, exceto
quando aplicada nos termos da lei de Deus; pois sem o padrão infalível dessa lei
distinguindo o crime do bom comportamento e definindo as merecidas punições pelos
crimes, a justiça será vazia, arbitrária e cruel.
A crítica mais frequentemente levantada contra essa posição apresentada aqui
hoje aos senhores é: “Você não pode legislar a moralidade”. Já ouvi isso um milhão de
vezes. E, em certo aspecto, concordo com essa posição. O Estado não pode transformar
ninguém em pessoas boas, por meio de aprovação deleis! A lei não pode salvar
indivíduos ou nações. Como cristão, creio que é verdade o que Deus declara:
Não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não
existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual
importa que sejamos salvos. (Atos 4.12)

Contudo, noutro sentido, este clichê popular, “Você não pode legislar
moralidade”, é ingênuo. Por que digo isso? Toda lei e legislação estão baseadas na
compreensão de algum legislador a respeito do que é certo e errado, ou seja,
conforme o padrão moral que ele tem. Um legislador apresenta um projeto de lei por
pensar que seja "bom" para o povo da Geórgia. E vota contra outro projeto de lei por
achar que seja "ruim" para o povo. O que o legislador está fazendo? Está usando suas
próprias convicções morais como base para aprovar ou rejeitar a lei. Toda a lei e
legislação estão promulgando padrões morais, isto é, moralidade legislada. A questão,
portanto, não é se os senhores vão legislar moralidade, pois o farão cada vez que
criarem uma lei; mas sob qual padrão moral promulgarão essa lei: do homem caído ou
de Deus? Além disso, toda moralidade repousa sobre profundas convicções religiosas
a respeito de Deus e da vida. Como alguém disse (a quem cito sarcasticamente):
Nenhuma sociedade solucionou ainda o problema de como
ensinar moral sem religião.[80]

Portanto, uma vez mais, a questão não é se a religião será mesclada às leis
desta honrada Casa; mas qual religião será promulgada aqui: a de Satanás ou a de
Deus? A escolha é dos senhoress!
Em nome de seus próprios interesses faço-lhes um apelo; em
nome de suas preciosas casas e celeiros, de suas ricas fazendas e
cidades e de suas economias do passado e esperanças no futuro,
exorto-os: Os senhores nunca estarão seguros se não mantiverem
fielmente todos os direitos da coroa de Jesus, o rei dos homens.
Em nome de seus filhos e do legado da preciosa civilização
cristã que receberam de seus antepassados; em nome da igreja
cristã, exorto-os: seu santo direito, sua liberdade religiosa, não
podem ser mantidos por homens que, quanto a questões civis,
negam lealdade ao Rei. Em nome da própria alma dos senhores e
de sua salvação; em nome da adorada e preciosa vítima do
sacrifício cruento de sangue e agonizante de onde os senhores
obtém todas as suas esperanças de salvação; pelo Getsêmani e
pelo Calvário, exorto-os, cidadãos dos Estados Unidos:
navegando no vasto mar da política há outro rei, Jesus somente; a
segurança do Estado só poderá ser assegurada no caminho de
uma humilde fidelidade de toda a alma à sua pessoa e obediência
à sua lei.[81]

Levantemo-nos para orar:


Deus Todo-Poderoso, louvamos-te por tuas ricas bênçãos tão abundamente
derramadas sobre nós a cada dia. Rogamos encarecidamente a tua proteção sobre os
membros desta Casa e suas famílias. Tu nos ensinaste que o coração do rei é como
ribeiros de água nas mãos do Senhor; Ele o inclina para onde desejar (Provérbios
21.1); e assim, rogamos-te, com todo o nosso coração, que faças este augusto conjunto
de homens e mulheres reconhecerem e confessarem a supremacia de Jesus Cristo, o
Filho de Deus encarnado, sobre suas vidas e decisões, movendo seus corações para
que não criem, para o nosso amado estado, leis contrárias à tua vontade revelada
registrada na Bíblia Sagrada. Que os membros desta honrada Casa sejam prudentes,
deixando-se advertir, servindo ao SENHOR com temor e jurando fidelidade ao seu
Filho com tremor para que se não irrite, e estes homens não pereçam no caminho;
porque dentro em pouco se lhe inflamará a ira (cf. Salmo 2.10-12). Ó Senhor, quão
bem-aventurados todos aqueles que nele se refugiam. É isso que oramos em nome de
Cristo, o Soberano dos reis da terra (Apocalipse 1.5).
Amém.
CAPÍTULO CATORZE

A mensagem dos céus aos políticos


Um discurso apresentado à Câmara dos Deputados da Geórgia pelo Pastor Joe
Morecraft, em 26 de março de 2003
Sr. Presidente, senhoras e senhores desta Casa, ouçamos a Palavra de Deus no Salmo 2:
Por que se enfurecem os gentios e os povos imaginam coisas vãs? Os reis
da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o SENHOR e contra o
seu Ungido, dizendo: Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as
suas algemas. Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles. Na
sua ira, a seu tempo, lhes há de falar e no seu furor os confundirá. Eu,
porém, constituí o meu Rei sobre o meu santo monte Sião. Proclamarei o
decreto do SENHOR: Ele me disse: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei.
Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra
por tua possessão. Com vara de ferro as regerás e as despedaçarás como
um vaso de oleiro. Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos
advertir, juízes da terra. Servi ao SENHOR com temor e alegrai-vos nele
com tremor. Beijai o Filho para que se não irrite, e não pereçais no
caminho; porque dentro em pouco se lhe inflamará a ira. Bem-aventurados
todos os que nele se refugiam.

Eu gostaria de destacar quatro pontos do Salmo 2, rapidamente, porque sei que


os senhores têm uma agenda cheia.
Primeiro: o Salmo 2 apresenta os poderes políticos e instituições do mundo
fazendo um esforço desesperado para se libertarem dos absolutos morais de Deus
registrados na Bíblia, e das consequências que advêm de menosprezo ou transgressão
desses absolutos morais. Oro para que este não seja um retrato dos senhores!
Segundo: Deus, que está entronizado como o Soberano e Juiz de todos os seres
humanos e nações, ri, com desdém, dos esforços patéticos de quererem libertar-se das
restrições e direção de sua lei, buscando, assim, construir um mundo sobre qualquer
outro fundamento que não o das definições de certo e errado reveladas por ele. Oro
para que ele nunca ria dos senhores!
Terceiro: Deus faz que os esforços desses rebeldes tenham um efeito inverso
ao daquilo que intentavam. E traz à cena uma força muito mais poderosa que o poder
político e financeiro deles. Confunde-os e assusta-os com uma mensagem do céu para
os políticos: Deus estabeleceu seu Filho como o soberano dos poderes políticos da
terra, perante quem todos os agentes políticos e instituições são responsáveis. Somente
quando reconhecerem a supremacia de Deus sobre os senhores é que os cidadãos, as
pessoas representadas pelos senhores, desfrutarão de prosperidade, segurança e paz
“com liberdade e justiça para todos”. Dentre os senhores, os que decidirem ignorar as
reivindicações do Filho, seja qual for a razão, serão destruídos e despedaçados por ele
como vasos de barro baratos. Oro para que o Senhor nunca tenha de fazer isso com os
senhores!
Quarto: este salmo está falando diretamente dos céus aos senhores:
Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos advertir, juízes da terra.
Servi ao SENHOR com temor e alegrai-vos nele com tremor. Beijai o Filho
para que se não irrite, e não pereçais no caminho; porque dentro em
pouco se lhe inflamará a ira. Bem-aventurados todos os que nele se
refugiam.
A questão é, ilustres senhoras e senhores, que, na competência civil que lhes
cabe, os senhores são diretamente responsáveis diante de Deus. Conclamo-os a fazerem
do padrão da lei do Senhor o único padrão para distinguirem o bem do mal, a justiça da
injustiça e as boas leis das más. Se os senhores não se submeterem a esse padrão em
todas as suas deliberações, a norma torna-se tirânica: “o poder faz o direito”.
Empenhem-se numa aliança irrestrita e total com o Senhor. Não temam
confessar a supremacia do Senhor sobre esta Casa. Comprometam-se, aqui e agora, em
comandar sempre em grata obediência a ele e fazer sempre o seu melhor para que
nenhuma lei que contrarie a lei de Deus registrada na Bíblia seja promulgada nesta
honrosa Casa.. Comprometam-se, aqui e agora, com não ceder a nenhuma intimidação
ou pressão para ignorar, abrir concessões ou transgredir os absolutos morais de Deus,
por cuja obediência e cumprimento os senhores sabem que são responsáveis.
Porque Nabucodonosor,da antiga Babilôn,a recusou-se a fazer isso, Deus o
afligiu com uma demência, tirando-o da sociedade humana para viver como um animal
selvagem durante sete anos. Por quê? O profeta Daniel responde:
Este é o decreto do Altíssimo, que virá contra o rei, meu senhor: serás
expulso de entre os homens, e a tua morada será com os animais do
campo, e dar-te-ão a comer ervas como aos bois, e serás molhado do
orvalho do céu; e passar-se-ão sete tempos por cima de ti, até que
conheças que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens e o dá
[poderes políticos] a quem quer. (Daniel 4.24-25)
Ao final desses sete anos, o rei Nabucodonosor aprendeu muito bem a lição,
como ficou evidente no seu próprio testemunho:
Mas ao fim daqueles dias, eu, Nabucodonosor, levantei os olhos ao céu,
tornou-me a vir o entendimento, e eu bendisse o Altíssimo, e louvei, e
glorifiquei ao que vive para sempre, cujo domínio é sempiterno, e cujo
reino é de geração em geração. Todos os moradores da terra são por ele
reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do
céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe
dizer: Que fazes? Agora, pois, eu, Nabucodonosor, louvo, exalço e
glorifico ao Rei do céu, porque todas as suas obras são verdadeiras, e os
seus caminhos, justos, e pode humilhar aos que andam na soberba. Daniel
4.34-35,37

Então, rogo-lhes, em nome do Deus vivo, aprendam bem a lição que


Nabucodonosor teve de aprender da maneira mais dura. Façam o seu dever diante do
Deus Altíssimo que lhes concedeu o poder político para usar em conformidade com a
vontade dele e para sua glória, para que sua ira não se acenda em breve. Bem-
aventurados todos os que nele se refugiam.[82]
Levantemo-nos para orar:

Deus Todo-Poderoso, louvamos-te por tuas ricas bênçãos tão abundantemente


derramadas sobre nós a cada dia. Rogamos-te, encarecidamente, que protejas os
membros desta Casa e suas famílias. Tu nos ensinaste que o coração do rei é como
ribeiros de água nas mãos do Senhor; ele o inclina para onde desejar (Provérbios 21.1);
e assim, rogamos-te, com todo o nosso coração, que faças este augusto conjunto de
homens e mulheres reconhecer e confessar a supremacia de Jesus Cristo sobre suas
vidas e decisões; movendo seus corações a não criarem leis para o nosso amado estado
contrárias à tua vontade revelada e registrada na Bíblia Sagrada. Ensina-lhes a crer que
tu honras os que te honram.
É isso que oramos em nome do teu Filho, o Soberano dos Reis da terra,[83]
perante quem todos estaremos um dia.
Amém.
CAPÍTULO QUINZE

A obra cristã de reconstrução funcionará no


século 21? Sim e não!

Originalmente publicado em Faith For All of Life [Fé para toda a vida] pela Chalcedon
Foundation, Vallecito, CA. Mar/Abr 2005.
Os princípios bíblicos da reconstrução cristã funcionarão no século 21? Sim e não!
Sim, eles funcionarão, porque são verdadeiros. São extraídos da eterna e todo-
suficiente Palavra de Deus e, portanto, aplicáveis em todos os tempos e a todas as
culturas, mesmo no século 21 e nos Estados Unidos.
O que é Reconstrução Cristã? Embora o rótulo possa ser uma novidade, (e não
estamos defendendo rótulos), os pressupostos, a cosmovisão, a teologia, a ética, a
estratégia e o propósito da reconstrução cristã são tão antigos quanto a Bíblia. A
Reconstrução Cristã não é nova nem radical; ao contrário, está enraizada no
cristianismo histórico de forma geral; e, em particular, na Reforma Protestante: por
exemplo, no livro de Martin Bucer, De Regno Christi. O extremismo está nos olhos de
quem vê; e a religião e a cosmovisão da Bíblia sempre foram consideradas
radicalismos por parte dos que não acreditam nelas. Ignorando o assunto, alguns
cristãos têm apoiado os críticos da Reconstrução Cristã, por não estarem cientes de que
esse movimento interdenominational, transnacional e transracial é parte de sua herança,
como cristãos.
A Reconstrução Cristã é fiel ao Mandato da Criação de Gênesis 1.28 e à
Grande Comissão em Mateus 28.18-20, que envolve ganhar pessoas, (evangelismo e
discipulado), ganhar famílias (plantação de igrejas e educação cristã), e ganhar culturas
(missões mundiais, evangelização do mundo e reconstrução cristã da sociedade
humana). Esse “Mandato” e “Comissão” compõe uma unidade. Ambos não podem ser
colocados um contra o outro. A Grande Comissão é uma declaração de Cristo que
reafirma o Mandato da Criação visando o homem decaído e necessitado de redenção.
Portanto, devemos estar comprometidos com nada menos do que fazer das nações do
mundo discípulas de Cristo.
A Reconstrução Cristã é o trabalho de reedificar e renovar cada ideia,
atividade, relacionamento, motivação e instituição da existência humana e da
sociedade, pela Palavra e pelo Espírito de Deus, começando pelo coração humano.
Nossa motivação é a pessoa de Cristo. Nosso fundamento é a obra de Cristo. Nosso
poder é o Espírito de Cristo. Nosso padrão é a humanidade de Cristo. Nossa proteção é
o Pai de Cristo. Nossa autoridade governante é a divindade de Cristo. Nossa estratégia
é a Palavra de Cristo. Nossa esperança é a vitória de Cristo. Nosso mandato é a Lei de
Cristo. Nossa comida são os sacramentos de Cristo. Nosso objetivo é a glória de
Cristo. (Extraído de um artigo apresentado na Reformed Presbyterterian Church in the
United States).
Os cristãos reconstrucionistas buscam pensar, viver, relacionar-se e
influenciar outros de forma consistente com os princípios fundamentais da Bíblia:
1. O Deus Trino da Bíblia é o único Deus vivo e verdadeiro, o Criador do
universo, além dele não há outro (Isaías 45.21).
2. A Bíblia é a revelação inerrante e a autenticação pessoal do caráter e da
vontade de Deus (2 Timóteo 3.16-17). Abrange todos os aspectos da vida e é completa
em sua autoridade divina, perante a qual todos os seres humanos são responsáveis
(Salmo 119.128).
3. A humanidade, à parte da graça salvadora de Deus, está caída e em rebelião
contra Deus, rebelião que é castigada por Deus, na história e na eternidade (Romanos
1-2).
4. A única esperança de salvação do homem caído em pecado e do juízo agora
e na eternidade está na pessoa e obra do Senhor Jesus Cristo (Atos 4.12).
5. A fé em Cristo, o arrependimento do pecado e a obediência à Lei de Deus
são a maneira designada por Deus pela qual as pessoas e as nações podem escapar da
ira e da maldição divina em razão de seus pecados (João 3.16; Atos 17.30; João
15.14). Essa fé, o arrependimento e a obediência são totais, exigindo tudo que uma
pessoa seja e tenha (Romanos 12.1-2). Exigem uma renovação completa da mente,
levando cativo todo pensamento a Cristo (2 Coríntios 10.5). Como povo redimido de
Deus, ele nos chama a proclamar seu senhorio e a servi-lo fielmente em todas as
esferas da vida (Romanos 10.9).
6. As únicas alternativas à Lei e ao Evangelho da Bíblia são a morte, a
escravidão, o caos e a ignorância (Romanos 6.23). Portanto, as nações ou indivíduos
que vivem em rebeldia contra Deus e sua Lei são suicidas e corrompidos (Provérbios
8.36).
7. Deus prometeu vitória ao Reino de Cristo na história, contra toda a
oposição e por meio da Palavra e do Espírito de Deus (1 Coríntios 15.24-25). Essa
vitória é o propósito para o qual trabalhamos e oramos:
Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre
abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho
não é vão. (1 Coríntios 15.58)
Em nenhum momento da história humana essas verdades reveladas jamais
foram provadas como falsas. A Palavra de Deus jamais será destruída. Será sempre
relevante, abrangente, normativa e final em sua autoridade. Por desobedecerem a ela,
pessoas incrédulas e sociedades ficarão em pedaços.
Como representantes de Cristo neste mundo, devemos proclamar essas
verdades às nações, refutando seus compromissos religiosos e chamando-as à rendição
incondicional ao Senhor Jesus Cristo como a única esperança do mundo para a paz.
Dessa forma, devemos demostrar, a partir da Bíblia, como essa paz ― pessoal e
nacional ― pode ser obtida. Isaías 2.3 o apresenta:
Irão muitas nações e dirão: Vinde, e subamos ao monte do SENHOR e à
casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos
pelas suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e a palavra do SENHOR, de
Jerusalém.

A questão é: esses princípios bíblicos da Reconstrução Cristã funcionarão no


século 21?
Por outro lado: Não, os princípios bíblicos da Reconstrução Cristã não
funcionarão no século 21 se as pessoas que estamos tentando alcançar, na igreja e na
sociedade, permanecerem como estão ― na incredulidade e na apostasia. O que
Robert L. Dabney disse sobre liberdade e republicanismo constitucional nos Estados
Unidos crescentemente apóstata no século 19, também podemos dizer sobre os
princípios bíblicos da Reconstrução Cristã numa América apóstata no século 21:
A situação da sociedade humana se desenvolveu de tal modo, que torna o
sistema de nossos antepassados livres claramente impraticável […] E
essa realidade é assim, não porque as antigas formas não sejam boas o
suficiente para hoje, mas porque são boas demais para isso.[84]
Por este motivo é que a Reconstrução Cristã não funcionará na América no
século 21 - sem o trabalho regenerador do Espírito de Deus transformando os
corações, mentes e vidas das pessoas, numa grande escala. A eficácia da reconstrução
cristã advém da regeneração. Nunca a precede.
O rei Joás, sob a influência de Joiada, governou Judá pela Lei de Deus (2
Crônicas 23.16-21, 24.4-14). Trabalhou duro para reformar a igreja e a sociedade, para
conformar suas vidas externas e suas práticas à Palavra de Deus. Procurou fazer, em
Judá, uma reconstrução baseada na lei, contrastando com o que o rei Acabe fazia em
Israel - revolução. Mas visto que seu caráter era fraco e que o povo de Judá ainda
estava dividido e era idólatra, a tentativa de reforma fracassou. O próprio Joás
experimentou declínio moral. Seu governo passou de coragem e dedicação aos
princípios, o pragmatismo, concessões e covardia (24.15-22). Visto que os corações
das pessoas não foram transformados, nenhuma reconstrução profunda e duradoura
ocorreu em Judá. O juízo de Deus caiu sobre o rei e a nação (24.23-27). Como o
profeta Zacarias corajosamente declarou à nação:
Assim diz Deus: Por que transgredis os mandamentos do SENHOR, de modo
que não prosperais? Porque deixastes o SENHOR, também ele vos deixará.
2 Crônicas 24.20
Qual o ponto relevante na história do rei Joás? Sem a obra regeneradora do
Espírito Santo transformando os corações dos políticos e do povo, levando-os da
desobediência à obediência da lei de Deus e submissos à supremacia de seu domínio
sobre a nação, será impossível uma transformação duradoura e profunda na política, na
sociedade, na economia e na moral de uma nação.
O Espírito Santo regenera as pessoas em conexão com a pregação e o ensino
da Palavra de Deus; e a evidência da regeneração é a obediência à verdade revelada:
Tendo purificado a vossa alma, pela vossa obediência à verdade, tendo
em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração, uns aos
outros ardentemente pois fostes regenerados não de semente corruptível,
mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é
permanente… esta é a palavra que vos foi evangelizada. 1 Pedro 1.22-23,
25
Assim, é com a fé no Cristo triunfante ― e confiando na fidelidade de sua
Palavra ― que levaremos adiante a Reconstrução Cristã, na dependência do Espírito
Santo para atrair as pessoas a Cristo. Sabemos que um dia, na providência de Deus,
com a sua Palavra avançando em poder, as profecias de Isaías se cumprirão
verdadeiramente:
[Os povos e as nações] converterão as suas espadas em relhas de arados
e suas lanças, em podadeiras; uma nação não levantará a espada contra
outra nação, nem aprenderão mais a guerra. (Isaías 2.4)
Assim o SENHOR Deus fará brotar a justiça e o louvor perante todas as
nações. (Isaías 61.11)

[1] Expressão utilizada por Stoffels, para referir-se à eliminação de Deus dos assuntos humanos. Veja R. J.
Rushdoony, Sovereignty (Vallecito, CA: Ross House Books, 2007), p. 193-201.
[2] Greg Bahnsen, Theonomy in Christian Ethics (Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed Publishing
Company, 1977), p. 317-401.
[3] Presbyterian Heritage, Vol. I, Nº. I (Atlanta Christian Training Seminars).
[4] John Whitehead, The Second American Revolution (Elgin, IL: David C. Cook Publishing Co., 1982,), p. 97-98.
[5] A. A. Hodge, Popular Lectures On Theological Themes (Philadelphia: Presbyterian Board of Education, 1887),
p. 285-287.
[6] Christianity and the Constitution (Grand Rapids, MI.: Baker Book House, 1987), p. 113-143.
[7] E. C. Wines, The Hebrew Republic (Uxbridge, MA: American Presbyterian Press, 1980), p. 63.
[8] Jogo de palavras: might makes right. [N. do T.]
[9] George Orwell, 1984 (São Paulo: Companhia das Letras, 2009), p. 311-312.
[10] Política de aproximação diplomática entre Soviéticos e Norte-Americanos. [N. do T.]
[11] Internal Revenue Service — Serviço de arrecadação interno. [N. do T.]
[12] R. J. Rushdoony e E. A. Powell, Tithing and Dominion (Vallecito, CA.: Ross House Books, 1979), p. 57.
[13] The Roots of Inflation (Vallecito, CA.: Ross House Books, 1982).
[14] E. L. Hebden Taylor, The Myth of Religious Neutrality in Politics, p. 1, não publicado.
[15] Walter James, The Christian In Politics, Oxford University Press, 1962, p. 191.
[16] The Myth of Religious Neutrality in Politics, p. 1.
[17] Bernard Zylstra, Challenge and Response, p. 2.
[18] F. N. Lee, The Central Significance of Culture (Nutley, N. J.: Presbyterian and Reformed Publishing Co.,
1976), p. 121.
[19] Ibid., p. 123.
[20] H. Van Til, The Calvinistic Concept of Culture (Nutley, N. J.: Presbyterian and Reformed Publishing Co.,
1972), p. 27.
[21] R. J. Rushdoony, The Institutes of Biblical Law (Nutley, N. J.: Craig Press, 1973), p. 4.
[22] Thornwell’s Theocracy in Presbyterian Heritage, Vol. 1, No. I (Atlanta, GA: Atlanta Christian Training
Center).
[23] R. Walton, Fundamentals for American Christians [Princípios fundamentais aos cristãos americanos],
Vol. 1 (N. H.: Plymouth Rock Foundation), p. 44.
[24] R. J. Rushdoony, The Institutes of Biblical Law (Nutley, N. J.: Craig Press, 1973), p. 1.
[25] Greg Bahnsen, Theonomy in Christian Ethics (Nutley, N. J.: Craig Press, 1977), p. 549.
[26] Rushdoony, The Institutes of Biblical Law, p. 18.
[27] Ibid., p. 667.
[28] Greg Bahnsen, Theonomy In Christian Ethics, p. 401-433.
[29] Confissão de fé de Westminster, XXX, artigo 2.
[30] lnstitutes Of Biblical Law, p. 18.
[31] Liberty and justice to all. Últimas palavras do juramento à bandeira dos Estados Unidos. [N. do T.]
[32] James H. Thornwell in Presbyterian Heritage, Vol. I, No. I, Atlanta Christian Training Seminars.
[33] A. A. Hodge, Popular Lectures On Theological Themes [Exposições populares sobre temas teológicos]
(Philadelphia: Presbyterian Board of Education, 1887), p. 285-287.
[34] The Washington Times, 16 de junho de 1983, p. 12a.
[35] João Calvino, As institutas. I, XVII, IV. Edição clássica (São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2006), p. 209-210.
[36] Geber (homem). Verbete 310a in R. Laird Harris (org.), Dicionário Internacional de Teologia do Antigo
Testamento (São Paulo: Vida Nova, 1998), p. 242.
[37] Report of the Ad Interim Committee on Abortion, Minutes of the Sixth General Assembly of the Presbyterian
Church in America, 1978.
[38] Ibid.
[39] PCUS Report on Abortion, 1973. [Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos, Relatório sobre Aborto, 1973].
[40] PCUS Report on Abortion, 1973.
[41] March of Dimes. Organização criada por Frank Roosevelt em 1938 de combate à poliomelite, mas que nas
últimas décadas tem promovido abortos de fetos deficientes. [N. do T.]
[42] Richard M. Weaver, The Southern Tradition At Bay, ed. by George Core e M.E. Bradford (Washington, DC:
Regnery Gateway, [1968] 1989), p. 273.
[43] Ibid, p. 274.
[44] Ibid, p. 275.
[45] Ibid, p. 395.
[46] Augusta Evans Wilson, A Speckled Bird (New York: G.W.: Dillingham Co., 1902), p. 119-120.
[47] Richard M. Weaver, The Southern Tradition At Bay, p. 279.
[48] Dabney, Discussions: Evangelical and Theological [Debates evangélicos e teológicos] (London: Banner of
Truth Trust, [1891] 1967), 2:114-16.
[49] Dabney, Discussions: Secular [Debates: Secular], ed. por C. R. Vaughan (Sprinkle Publications, [1897]
1979), 4:6-7.
[50] Bill Einwechter, Sarah Palin and the Complementarian Compromise: A Response to Our Brothers Al
Mohler and David Kotter [Sarah Palin e o compromisso complementarista: uma resposta aos nossos irmãos Al
Mohler e David Kotter], 8 de Setembro 8 de 2008.
[51] Wayne Mack, The Role of Women in the Church (Cherry Hill, NJ: Mack Publishing, [1972] 1973), p. 13.
[52] Dabney, Discussions [Debates], 2:107.
[53] Douglas Jones e Douglas Wilson, Angels in the Architecture, p. 113ss.
[54] Ibid., p. 116-117.
[55] Dabney, Discussions, 2:106.
[56] William Hendriksen, New Testament Commentary: Thessalonians, Timothy & Titus [Comentário do Novo
Testamento: Tessalonicenses, Timóteo e Tito] (Grand Rapids, MI: Baker Book House, [1955–1957] 1979), p. 109-10.
[57] Dabney, Discussions, 2:111-112.
[58] William Hendricksen, Comentário do Novo Testamento — 1 e 2 Timóteo e Tito. 1ed. (São Paulo: Editora
Cultura Cristã, 2001), p. 142.
[59] Gary Smalley & John Trent, The Language of Love (CA: Focus on the Family, 1998), p. 35-36.
[60] Susan Hunt e Peggy Hutcheson, Leadership for Women in the Church (Atlanta, GA: Christian Education and
Publications, 1991), p. 10-11.
[61] Dabney, Discussions, 2:106.
[62] “Anciãos nas portas”. Cf. Deuteronômio 21.19s; 22.15; 25.7; Rute 4.1, 2; Provérbios 31.23. [N. do T.]
[63] Einwechter, Bill. Sarah Palin and the Complementarian Compromise: A Response to Our Brothers
Al Mohler and David Kotter [Sarah Palin e o Compromisso Complementarista: Uma Resposta aos Nossos Irmãos Al
Mohler e David Kotter] 8 de Setembro 8 de 2008.
[64] Orig. “novembro”, quando ocorrem as eleições nos Estados Unidos. [N. do T.]
[65] Trust and obey for there's no other way. Referência ao refrão original do hino “Crer e observar” de John H.
Sammis e Daniel B. Towner (trad. Salomão Luiz Ginsburg), nº 110-A do hinário da IPB, Novo Cântico. [N. do T.]
[66] Outono. As eleições dos EUA, no hemisfério norte, são em novembro, quando ainda é outono. [N. do T.]
[67] O voto nos Estados Unidos não é obrigatório. [N. do T.]
[68] “Guerra de Secessão”, conflito civil dos Estados Unidos entre os anos 1861 e 1865. [N. do T.]
[69] Dabney, Discussions, 4:120-122.
[70] Singer, C. Gregg, A Theological Interpretation of American History, p. 150.
[71] Rushdoony, R.J., Roots of Reconstruction, p. 427.
[72] Ibid, p. 391.
[73] Ibid, p. 393.
[74] Ibid, p. 426.
[75] Ibid, p. 925-926.
[76] Governo de George W. Bush.
[77] http://www.embaixada-americana.org.br/government/ch7.htm [N. do T.]
[78] U.S. Taxpayers Party Platform, 1992
[79] Rushdoony, R.J. Politics Of Guilt And Pity (Fairfax, VA: Thoburn Press, 1978), p. 114.
[80] Devlin, Sir Patrick in The Enforcement of Morals, p. 25, (London: Oxford University Press, 1959), citado por
R.J. Rushdoony em Politics Of Guilt And Pity, p. 141.
[81] Hodge, Archibald Alexander. Popular Lectures On Theological Themes, p. 287, (Philadelphia: Presbyterian
Board of Publication and Sabbath-School Work, 1887).
[82] Salmo 2.12.
[83] Apocalipse 1.5.
[84] Dabney, Robert L. Dicussions. Vol. IV, p. 5.

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