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ao EVANGELHO
SEGUNDO
JOÃO
EDITORA ACADEMIA CRISTÃ
Editores responsáveis
Luiz Henrique Alves da Silva
Dr. Paulo Cappelletti
Prof. Dr. Waldecir Gonzaga (PUC-Rio, Brasil)
CONSELHO EDITORIAL
COMENTÁRIO
ao EVANGELHO
SEGUNDO
JO Ã O
Volume 1 (112)־
Introdução, Tradução e Notas
Tradutor:
Valter Graciano Martins
Santo André - SP
2020
CRISTÃ PAULUS
© by Yale University as assignee from Doubleday, a division of Randon House, Inc.
© by Editora Academia Cristã
Supervisão editorial:
Luiz Henrique Alves da Silva
Dr. Paulo Cappelletti
Diagrnnmção:
Cicero Silva - (11) 97463-6460
Revisão:
Pe. Mizael A. Silva
Rogerio de Lima Campos
Capa:
lames Valdana
Bibliografia
ISBN 978-65-5562-096-2
Título original: The Gospel According to John (I-XII)
CDD 226.5077
20-3498 CDU 226.5
CRISTÃ PAULUS
E ditora A cademia C ristã P a u lu s Editora
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S umário
I. PRÓLOGO
44. Uma avaliação do ministério de Jesus entre seu próprio povo (12,37-43).....780
45. Um diálogo de Jesus usado como um resumo de sua proclamação
(12,44-50).......................................................................................................................... 787
A pêndices
I: Vocabulário Joanino......................................................................................................794
II: A "P alavra".....................................................................................................................823
III: Sinais e Obras................................................................................................................. 831
IV: Egõ Eimi - "Eu S ou ".................................................................................................. 841
que B rown faz e nos apresenta uma grande síntese de todas as colabo-
rações anteriores a ele e lança luzes sobre as produções posteriores a
esta obra, como podemos conferir pelo seu amplo uso. Ele, mais que
ninguém de sua época, soube meditar e refletir sobre a riqueza da lite-
ratura joanina e, em especial, sobre o Quarto Evangelho e tudo aquilo
que ele representa em paralelo aos três outros Evangelhos no Novo
Testamento, da literatura Sinótica, trazendo/ dando/conferindo outra
tonalidade e riqueza de detalhes sobre a vida e a obra do Mestre.
Nos últimos séculos foram realizadas grandes descobertas bíbli-
cas que trouxeram luzes para os estudos bíblicos, os quais avançaram
e muito em suas pesquisas e investigações. Sobremaneira recordamos:
a) Guenizá do Cairo (Egito: 1896); Nag Hammadi (Egito: 1945) e
Qumran (Israel: 1947). Porém, alguns falam também do valor dos 70 li-
vros de metal com bíblicos, encontrados na caverna da Jordânia (2011).
Mas em nada todas essas descobertas afetaram os textos bíblicos. Pelo
contrário, toda a literatura encontrada até então tem ajudado ainda
mais os sérios trabalhos realizados nos estudos bíblicos, com muitas
dissertações e teses que são produzidas dentro de nossas inúmeras
Universidades espalhadas pelos cinco continentes do orbe terrestre.
Se os sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) produziram a sua teolo-
gia própria, como, aliás, todos os autores bíblicos - com maior apro-
ximação de temas, linguagem, fatos da vida de Cristo - , o autor do
Evangelho de João seguiu um caminho diverso, com temas, vocabu-
lário e narrativas próprias, diferenciando dos sinóticos, com igual ou
superior riqueza de dados e teologia, mas não entrando em contradi-
ção e sim completando ainda mais os dados da revelação que o Verbo
Encarnado veio nos trazer. A riqueza teológica de João completa a
grandeza dos dados sobre a vida do Mestre e da Igreja nascente, sem
a qual não teríamos o mesmo acesso a tão fina teologia sobre Jesus
Cristo, como o Quarto Evangelho nos apresenta.
No que diz respeito ao trabalho de R aymond E dward B rown. Comen-
tário ao Evangelho segundo João. Volume 1: Introdução, Tradução e No-
tas (1-12). Santo André: Academia Cristã / São Paulo: Paulus, 2020,
a obra apresenta uma introdução geral ao Evangelho de João, tradução do
texto bíblico, comentários e notas ao texto grego dos capítulos 1 a 12 do
Quarto Evangelho, que conta com o Prólogo e o Livro dos Sinais. Ou-
tro aspecto muito positivo é toda a parte introdutória, com um status
cjuaestionis sobre o Quarto Evangelho, destinatários, data, autoria, local
XII Comentário ao evangelho segundo João
2. Publicações
3. Versões
4. Outras Abreviações
NT Novo Testamento
AT Antigo Testamento
Aram. Aramaico
Boh. Bohairic (Cópta)
Et Etíope
Gr. Grego
Heb. Hebreu
OL [Latim antigo]
OS [Siríaco antigo[ (OS1 ״r; OSsin denote the Curetonian and Si-
naiticus mss. Respectivamente)
XVIII Comentário ao evangelho segundo João
BIBLIOGRAFIA
POLLARD, T. E., "The Fourth Gospel: Its Background and Early Interpreta-
tion", Australian Biblical Review 7 (1959), 4 1 5 3 ־.
ROBINSON, John A. T., "The New Look on the Fourth Gospel", StEv, I,
pp. 33850־. Now in Robinson's TNTS, pp. 94-106.
II
UNIDADE E COMPOSIÇÃO
DO QUARTO EVANGELHO
A. O PROBLEMA
B. S O L U Ç Õ E S P O S S ÍV E IS
(1) T e o r ia s d o s d e s l o c a m e n t o s a c id e n t a is
Todavia, até o final deste segundo estágio, formas escritas do que foi
pregado e ensinado tomaram corpo.
Este estágio foi decisivamente formativo para o material que fi-
nalmente entrou no evangelho. Alguns dos relatos dos milagres de
Jesus, provavelmente aqueles mais usados na pregação, foram desen-
volvidos em dramas majestosos, por exemplo, capítulo 9. (Ver E. K.
L ee, "The Drama of the Fourth Gospel" [O Drama do Quarto Evange-
Iho], ET 65 [1953-54], 173-76). Os ditos de Jesus foram entretecidos em
extensos discursos de um caráter solene e poético, muito parecidos
com os discursos de Sabedoria personificada no AT (ver Oitava Parte,
p. 114s). Todas as técnicas do conto joanino, como equívoco ou ironia
(Nona Parte, p. 145s), foram introduzidas ou, ao menos, desenvolví-
das na forma como as conhecemos agora. Vários fatores contribuíram
para a fusão de sinal e discurso interpretativo. Isto não foi necessa-
riamente uma fusão artificial, pois mesmo no Primeiro Estágio, um
milagre às vezes levava consigo palavras de explanação. Agora, po-
rém, as necessidades de pregar e, talvez, em algumas cenas (cap. 6),
as necessidades de liturgia incipiente exigiam explicações mais longa
e um arranjo mais unificado.
Que esta pregação e este ensino foram obras de mais de um ho-
mem, foi sugerido pela existência de unidades do material joanino,
como o capítulo 21, que é diferente em estilo do corpo principal do
material. Pode ter havido muitas unidades que não sobreviveram. En-
tretanto, as que tiveram acesso no evangelho parecem originar-se em
grande parte de uma fonte dominante. Visto que os fios gerais do pen-
sarnento joanino são tão claros, mesmo nas unidades que mostram
diferenças menores de estilo, provavelmente pensaríamos em uma
escola intimamente unida de pensamento e expressão. Nesta escola, o
principal pregador era um dos responsáveis pelo principal corpo de
material do evangelho. Também é provável que em tal escola possa-
mos achar a resposta ao problema de outras obras joaninas, como as
Epístolas e o Apocalipse, as quais partilham pensamentos e vocabulá-
rio comuns, porém mostram diferenças de estilo.
Terceiro estágio: A organização deste material do Segundo Estágio
em um evangelho consecutivo. Esta seria a primeira redação do Quar-
to Evangelho como uma obra distinta. Visto que temos proposto no
Segundo Estágio um pregador dominante ou mestre e teólogo que deu
forma ao principal corpo de material joanino sobrevivente, parece
22 Introdução
lógico pressupor que foi ele quem organizou a primeira redação do evan-
gelho; neste comentário, é a ele que nos reportamos quando usamos o
termo "evangelista". É impossível dizer se ele escreveu fisicamente
o próprio evangelho ou usou os serviços de um escriba. Mais prova-
velmente, esta primeira redação estava em grego e não em aramaico
(ver Nona Parte, p. 145ss).
Como o esboço do evangelho (Décima Parte, p. 158ss) mostrará,
há coesão no plano global da obra como chegou até nós, e suspeita-
mos que esta coesão básica estivesse presente na primeira redação do
evangelho. Assim, nós discordamos de uma teoria como a de W ilkens,
que veria na primeira redação apenas uma coleção de sinais. Também
diferimos de P arker, que propõe uma primeira redação em que não
há ministério na Galileia. Nutrimos a dúvida de que qualquer redação
substancial de um evangelho que seja baseado finalmente em uma
tradição histórica das obras e palavras de Jesus pudesse ter ignorado
o ministério na Galileia, o qual foi parte intrínseca da vida de Jesus. Se
o plano da primeira redação do evangelho teve por tema a presença
de Jesus em várias festas dos judeus, como o presente esquema do
evangelho nos capítulos 5-10, então a cena na Galileia no cap. 6 teria
sido parte da primeira redação, pois aquele capítulo tem Jesus substi-
tuindo o maná associado com o tempo do Êxodo e a Páscoa.
A organização da primeira redação do evangelho implicava sele-
ção, e nem todo o material joanino que provém da pregação do evange-
lista teria sido incluído. Se o evangelista pregou em diversos anos, pro-
vavelmente teria fraseado a tradição das palavras de Jesus em formas
diferentes e em tempos diferentes. Assim, teria havido em circulação
diferentes versões de discursos, adaptados a variadas necessidades e
auditórios. Veremos a importância deste ponto no Quinto Estágio.
Quarto estágio: Redação secundária elaborada pelo evangelista. É
possível que o evangelista reeditasse seu evangelho diversas vezes ao
longo de sua vida, como Boismard tem sugerido; mas muitas das ca-
racterísticas que parecem requerer uma redação secundária podem ser
explicadas em termos de uma só reelaboração redacional. Quando discu-
timos o propósito pelo qual o Quarto Evangelho foi escrito (Quinta Par-
te, p. 63s), veremos que ele se propunha a responder a objeções ou difi-
culdades de diversos grupos, por exemplo, os discípulos de João Batista,
judeus-cristãos que ainda não tinham deixado a sinagoga, entre outros.
Sugerimos que a adaptação do evangelho a diferentes metas implicava
II · Unidade e composição do quarto evangelho 23
ceia nos capítulos 15-17. Que esta redação foi obra do redator e não
do evangelista parece provável à luz do fato de que o término original
do último discurso em 15,31 não foi introduzido ou adaptado à nova
inserção. Entre o material assim adicionado está 16,4-33, uma variante
duplicada do discurso no capítulo 14.
O redator foi também o provável responsável por anexar ao es-
quema do evangelho o material nos capítulos 11 e 12. No comentário
(p. 696), sugerimos que o término original do ministério público veio
em 10,40-42, e salientamos o problema histórico causado pela apre-
sentação do relato de Lázaro em 11 como a principal causa da execu-
ção de Jesus. Se os capítulos 11 e 12 representam uma adição tardia
do material joanino, não é impossível que esta adição fosse feita na se-
gunda redação do evangelho (Quarto estágio). Não obstante, o uso do
termo "os judeus", em 11-12, difere daquele do restante do evangelho,
fato esse que é menos difícil de conciliar se o relato sobre Lázaro teve
uma história independente e foi agregado pelo redator.
A inserção do tema de Lázaro em 11-12 no relato dos últimos dias
antes da Páscoa parece ter levado o redator a mudar o incidente da
purificação do templo, originalmente associado à entrada de Jesus em
Jerusalém, a outra seção do evangelho (agora no cap. 2). O interesse
litúrgico parece ter sido um fator na mudança do material eucarístico
associado às palavras de Jesus sobre o pão e o vinho na última ceia da-
quele lugar para 6,51-58. Nesta sugestão da recolocação do material nos
estreitamos com W ilkens, embora não encontremos nada que nos dê o
motivo que o levou a atribuir tais mudanças; a saber, manter presente
o tema da Páscoa por todo o evangelho. Ao contrário, é bem provável
que a Páscoa já fosse mencionada em 2 e 6, e que o redator estivesse
simplesmente deslocando o material de uma festa pascal na vida de
Jesus para outra. Visto que comentaremos estas passagens em sua atual
sequência, também estaremos aptos a salientar os temas teológicos
naquela sequência que motivaram a recolocação.
Algum do material que o redator anexou parece ser mais forte em
sua referência aos sacramentos do que o restante do evangelho. Embo-
ra nas pegadas de Bultmann, não obstante, não cremos que o propósi-
to do redator fosse inserir referências sacramentais em um evangelho
não sacramental, mas, ao contrário, produzir mais clareza ao sacramen-
talismo latente já no evangelho (Oitava Parte, p. 114s). Cremos que o
sacramentalismo pode ser encontrado em todos os estágios que temos
II · Unidade e composição do quarto evangelho 25
BIBLIOGRAFIA
BECKER, H., Die Reden des Johannesevangeliums und der Stil der gnostischen
Offenbarungsreden (Göttingen: Vandenhoeck, 1956).
BOISMARD, M.-E., "Saint Luc et la rédaction du quatrième évangile", RB 69
(1962), 185-211.
II · Unidade e composição do quarto evangelho 27
uma vez, nos últimos dias de sua vida. Reiterando, há a bem notória
dificuldade de conciliar as atividades que os evangelhos descrevem
como ocorrendo na sexta-feira santa com a datação sinótica daquele
dia como sendo a Páscoa.
Jo 5-10 é o produto de muita reflexão feita pelo autor, em uma tenta ti-
va de captar a significação de Jesus e seu ministério.
Se tudo isto significa que João (e isto é também procedente dos
outros evangelhos) é um tanto distante de uma história ou biografia
de Jesus, Jo 20,30-31 tem deixado claro que a intenção do autor era
produzir um documento não com base na história, e sim na fé. To-
davia, Sanders, art. cit., está plenamente certo em insistir que João é
profundamente histórico - histórico no sentido em que a história diz
respeito não só ao que aconteceu, mas também ao significado mais
profundo do que aconteceu.
(c) A redação final do evangelho, Quinto Estágio da composição,
põe ainda mais obstáculos a utilização de João na reconstru-
ção do ministério de Jesus. O material extra joanino que foi
inserido na narrativa do evangelho não foi necessariamente
arranjado em alguma ordem cronológica; e deveras, segundo
nossa hipótese, a adição do material causou a recolocação de
cenas tais como a purificação do templo. Assim, não é possí-
vel uma aceitação absoluta do presente arranjo do evangelho
como realmente cronológico.
João menciona ao menos três Páscoas (2,13; 6,4; 11,55) e, portanto,
implica ao menos um ministério de dois anos. Os biógrafos de Jesus
têm usado esta indicação para formar um esquema do ministério, di-
vidindo o material encontrado nos evangelhos para as atividades do
primeiro e segundo (e terceiro) anos. Por exemplo, é possível que nos
digam que o Sermão do Monte (Mt 5-7) ocorreu no primeiro ano do
ministério, pouco depois da Páscoa (Jo 2,13). Tal procedimento não é
válido. Não só ignora o fato de que o próprio material sinótico não
é ordenado cronologicamente (p. ex., o Sermão do Monte, como agora
se encontra, é um composto de palavras ditas em várias ocasiões),
mas também ignora o fato de que os próprios evangelhos não dão
indicações reais para tal sincronização da data joanina e sinótica. Ava-
liada com propriedade, a tradição sinótica e a tradição joanina não são
contraditórias; às vezes iluminam uma à outra através de compara-
ção, como M orris, art. d t., tem realçado. Entretanto, o fato de que ne-
nhuma tradição mostra interesse científico em cronologia se percebe
quando buscamos combiná-las em um quadro consecutivo. Mesmo os
poucos pontos de possível contato cronológico entre as duas tradições
oferecem dificuldade. Por exemplo, na primeira parte do ministério
III · A tradição por detrás do quarto evangelho 41
descrita em João, Jesus faz diversas viagens à Judeia e volta outra vez
à Galileia, mas é muito difícil combinar alguma das viagens com a
tradição sinótica de um retorno à Galileia depois do batismo por
João Batista. A multiplicação dos pães encontrada em todos os qua-
tro evangelhos pode parecer oferecer possibilidade de sincronização,
mas o resultado é confundido pela presença de dois relatos da multi-
plicação em Marcos-Mateus.
Entretanto, ainda que houvesse possibilidade de sincronização,
uma teoria de um ministério de dois ou três anos como uma estru-
tura para dividir as atividades de Jesus ignora o problema gerado
pelo propósito para o qual o Quarto Evangelho foi escrito. Visto que
Jo 20,30 declara especificamente que o evangelho não é um relato
completo das atividades de Jesus, não há como saber que as três Pás-
coas mencionadas eram as únicas Páscoas naquele ministério. Não
há razão real para que alguém não possa postular um ministério de
quatro ou cinco anos. Além do mais, visto que a primeira Páscoa
mencionada em João é finalmente conectada à cena da purificação
do templo, uma cena que, provavelmente, foi deslocada, alguns têm
questionado o valor da referência a esta primeira Páscoa como uma
indicação cronológica.
A luz de todas estas observações, seria claro por que devemos
ser mui cautelosos acerca do uso de João em reconstruir cientifica-
mente, com detalhe, o ministério de Jesus de Nazaré, ainda quando
devemos ser cuidadosos em usar assim os outros evangelhos. Cre-
mos que João é baseado em uma tradição sólida das obras e palavras
de Jesus, uma tradição que às vezes é muito primitiva. Cremos que
amiúde João nos dá informação histórica correta sobre Jesus que ne-
nhum dos outros evangelhos preservou, por exemplo, que, à seme-
lhança de João Batista, Jesus teve um ministério de batismo por um
período antes de começar seu ministério de ensino; que seu minis-
tério público durou mais de um ano; que foi várias vezes a Jerusa-
lém; que a oposição das autoridades judaicas, em Jerusalém, não se
confinou aos últimos dias de sua vida; e muitos detalhes acerca da
paixão e morte de Jesus. Todavia, ao avaliar a descrição joanina de
Jesus, não podemos negligenciar as inevitáveis modificações feitas
nos vários estágios da composição joanina.
42 In tro d u çã o
B IB L IO G R A F IA
O v a lo r h is tó r ic o d e João
João e o s s in ó tic o s
OSTY, E., "Les points de contact entre le récit de la passion dans saint Luc et
dans saint Jean", Mélanges J. Lebreton (RSR 39 [1951]), 146-54.
WILKENS, W., "Evangelist und Tradition im Johannesevangelium'',
TZ 16 (I960), 81-90.
IV
IN F L U Ê N C IA S P R O P O S T A S
SO B R E O P E N S A M E N T O R E L IG IO S O
DO QUARTO EVANGELHO
A. GNOSTICISMO
B. PENSAMENTO HELENISTA
entrelaçam (p. ex., vocabulário como "lu z", "vida", "palavra") são
ambas dependentes de uma terminologia teológica mais antiga que
qualquer uma delas; a saber, a terminologia que dependia da combi-
nação de especulação sobre Sabedoria e pensamento grego abstrato.
Tal combinação já é exemplificada no período pré-cristão no deutero-
canônico Livro de Sabedoria. Que esta base comum foi construída de
duas maneiras tão diferentes como agora vemos na Hermética e João,
sugere que as duas literaturas tinham pouco a ver uma com a outra
nos estágios formativos. Assim, concordaríamos com K irkpatrick de
que podemos avaliar a Hermética no mesmo nível que os escritos man-
deus e que outras evidências do gnosticismo, isto é, como constituin-
do não de parte significativa do pano de fundo do evangelho.
C. JUDAÍSMO PALESTINO
BIBLIOGRAFIA
João e Gnosticismo
BARRETT, C. K., "The Theological Vocabulary of the Fourth Gospel and of the
Gospel of Truth", CINTI, pp. 210-23.
BROWN, R. E., "The Gospel of Thomas and St. John's Gospel", NTS 9
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DODD, Interpretation, pp. 97-114.
QUISPEL, G., "Het Johannesevangelie en de Gnosis", Nederlands Theologisch
Tijdschrift 11 (1956-57), 173-203.
João e Filo
João e a Hermética
BARRETT, C. K., "The Old Testament in the Fourth Gospel", JTS 48 (1947),
155-69.
BRAUN, JeanThéol, II: Les grandes traditions d'Israel.
DODD, Interpretation, pp. 74-96.
ENZ, J. }., "The Book of Exodus as a Literary Type for the Gospel of John",
JBL 76 (1957), 208-15.
GLASSON, Moses.
GRIFFITHS, D. R., "Deutero-Isaiah and the Fourth Gospel", ET 65
(1953-54), 355-60.
62 Introdução
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SMITH, R. H., "Exodus Typology in the Fourth Gospel", JBL 81 (1962), 329-42.
VAWTER, B., "Ezekiel and John", CBQ 26 (1964), 450-58.
YOUNG, F. W., "A Study of the Relation of Isaiah to the Fourth Gospel",
ZNW 46 (1955), 215-33.
João e Qumran
Os com entaristas sobre João têm sugerido muitos motivos que po-
deriam ter inspirado a composição do evangelho. Talvez houvesse
uma advertência contra exagerar a necessidade de encontrar obje-
tivos específicos no evangelho. Se João tem por base uma tradição
histórica e uma visão teológica genuínas, então uma das razões pri-
mordiais para escrever o evangelho poderia ter sido preservar esta
tradição e esta teologia. Mas, uma vez observada esta advertência,
surge a questão dos objetivos imediatos que poderíam ter guiado a
escolha do m aterial e a orientação que o autor lhe deu.
Muitos têm encontrado um motivo apologético ou missioná-
rio no Quarto Evangelho. Os grupos propostos a quem a argumen-
tação poderia ter sido dirigida inclui os adeptos de João Batista,
"os jud eu s", e vários grupos heréticos, gnósticos ou docéticos. Ou-
tros estudiosos ressaltam que João foi escrito para confirmar cris-
tãos em sua fé. S chnackenburg tem proposto sabiamente que um
erro insistente tem sido a tentativa de interpretar tudo no evan-
gelho em termos de um desses objetivos, e o fracasso de reconhe-
cer que as distintas redações do evangelho podem representar a
adaptação da mensagem central a uma nova necessidade. Assim, é
perfeitamente legítim o falar dos diversos objetivos do evangelho.
Distinguiremos quatro.
64 Introdução
Ora, como temos enfatizado, a atitude de João para com "os ju-
deus" não é missionária, e sim apologética e polêmica. A violência
da linguagem no capítulo 8, comparando os judeus a raça do diabo,
raramente se destina a converter a sinagoga, a qual, no pensamento
joanino, é agora a "sinagoga de Satanás" (Ap 2,9; 3,9). Não é acidental
que algumas das discussões em João entre Jesus e os judeus anteci-
pam a clássica apologética que J ustino dirigiu a T rifo em meados do
2Ωséculo. Assim, juntamente com Schnackenburg, "Messiasfrage", rejei-
tamos, ao menos em parte, a tese de John A. T. R obinson e V an U nnik
de que o propósito principal e quase exclusivo de João era servir como
um manual missionário para converter os judeus da Diáspora. Se a
linguagem do argumento joanino contra os judeus serve como guia, o
propósito teria sido o de opor-se à propagando judaica, e não de per-
suadir os judeus com uma esperança de conversões em massa.
Todavia, podería ter havido um grupo de judeus ao qual o evan-
gelho foi dirigido com certa perspectiva promissora; a saber, o peque-
no grupo de judeus que criam em Jesus, mas que ainda não tinham
rompido sua relação com a sinagoga. Nos anos 80 e 90 do I a século,
estes cristãos judaicos ainda enfrentavam uma crise.
Nos primeiros anos após a morte de Jesus, seus discípulos se de-
pararam com oposição da parte dos líderes hierosolimitanos, justa-
mente como Jesus enfrentara oposição. Atos preserva memórias de
conflitos entre os líderes cristãos e o Sinédrio (4,1-3; 5,17-18). A deci-
são de Gamaliel em At 5,33-40 parece haver marcado uma encruzilha-
da para a comunidade cristã judaica de Jerusalém e haver iniciado um
período de relações mais pacíficas entre ela e o Sinédrio. É verdade
que At 8,1 se reporta a uma perseguição da Igreja em Jerusalém, mas
os que foram dispersos eram os cristãos helenistas que antagonizaram
as autoridades judaicas por sua oposição ao templo. Em anos subse-
quentes, houve casos isolados de violência, como a execução de Tiago,
filho de Zebedeu, e a prisão de Pedro, da parte de Herodes (At 12,2-3),
mas, diferentemente, a comunidade hierosolimitana parece ter vivido
em paz com as autoridades judaicas. Não há indício de perseguição
em 49 d.C., quando o concilio de Jerusalém foi convocado. Tiago foi
muito cuidadoso em juntar a observância de alguns pontos básicos
do ritual mosaico a todos os cristãos, inclusive gentios, no território
da Palestina e Síria (At 15,22ss.), provavelmente com a intenção de
evitar atrito com o judaísmo. Em 58, quando Paulo veio a Jerusalém
V · Destinatários e propósito do quarto evangelho 73
(At 21,188s.), era ainda costumeiro aos cristãos judaicos oferecer sacri-
fício no templo. A subsequente execução de Tiago nos anos 60, sob a
ordem do sumo sacerdote, marcou a abertura de um novo período de
hostilidade.
Não obstante, como C arrol, art. cit., tem ressaltado, foi somente
o judaísmo encurralado dos dias depois da destruição do templo que
pensavam ser absolutamente necessário eliminar os judeus que criam
em Jesus. O perigo de extinção geralmente força uma religião a tornar-
se mais rigidamente ortodoxa a fim de sobreviver, e o judaísmo não
era exceção. Com o templo e o sacrifício extintos, a devoção à Lei era
o fato principal que mantinha o judaísmo unido. A atitude de Paulo
para com a Lei e, deveras, a própria liberdade do comportamento de
Jesus teriam sido bem notórias; e, portanto, na situação perigosa que
o judaísmo enfrentou depois de 70, os judeus que criam em Jesus fo-
ram considerados como um fator possivelmente subversivo a respeito
da importantíssima questão da Lei. Ao longo dos anos 80 houve uma
tentativa organizada de forçar os judeus cristãos a abandonar as sina-
gogas. Vemos um eco disto no Shemoneh Esreh ou Eighteen Benedictions
recitado pelos judeus como a principal oração nas sinagogas. A refor-
mulação dessas bênçãos ocorreu depois de 70; e a décima segunda
bênção, mais ou menos em 85, era uma maldição sobre os minim ou he-
reges, primariamente judeus cristãos. (Ver W. D. D avies, The Setting of
the Sermon on the Mount JO Cenário do Sermão do Monte] [Cambridge:
1964], pp. 275-76). Visto que esta maldição tinha de ser recitada pelos
judeus nas sinagogas, um judeu que cria em Jesus seria forçado a amai-
diçoar a si mesmo ou ainda admitir publicamente sua crença, recusan-
do-se a recitar a maldição. Em torno de 90, enquanto o Rabi Gamaliel
II era presidente da assembléia de Jâmnia, a excomunhão formal veio a
ser de uso mais frequente como uma arma contra os dissidentes.
Já explicamos esta sequência de eventos com detalhes por causa
de sua importância para a datação do Quarto Evangelho (ver Parte
VI, p. 80ss). Há indicações mais claras de que o Quarto Evangelho
faz um apelo a estes judeus que criam em Jesus e que estavam dividi-
dos entre sua fé e um desejo natural de não desertarem do judaísmo.
O ataque geralmente hostil contra "os judeus" não se aplicaria a eles,
pois foram precisamente os judeus hostis a Jesus que estavam causan-
do problema aos judeus com tendências cristãs. A forte ênfase sobre
Jesus como o Messias (especialmente 20,31) se destinaria a fortalecer
74 Introdução
sua fé nesta confissão crucial que tinha se tornado duro teste da contí-
nua admissão às sinagogas. O tema da substituição que Jesus fez das
instituições e festas judaicas seria para eles um estímulo, pois teriam
de deixar tais práticas para trás se fossem afastados das sinagogas.
Mais especificamente: em três ocasiões (9,22; 12,42; 16,2), João men-
ciona excomunhão da sinagoga. Duas vezes João se refere àqueles que
criam em Jesus porém não tinham coragem de confessar sua fé. Em
12,4243־, esta referência é combinada com amargo sarcasmo; em 19,38,
José de Arimateia é apresentado como exemplo de alguém que vencera
este temor e publicamente reconhecido como seguidor de Jesus. O tema
da excomunhão é mais forte no capítulo 9; e nesta narrativa, como A llen,
art. cit., tem mostrado, o protagonista é um homem que veio a crer em
Jesus mesmo à custa de sua expulsão da sinagoga. João está convidando
os judeus cristãos nas sinagogas da Diáspora a seguirem seu exemplo.
BIBLIOGRAFIA
ALLEN, E. L., "The Jewish Christian Church in the Fourth Gospel", JBL 74
(1955), 88-92.
BOWKER, J. W ., "The Origin and Purpose of St. John's Gospel", NTS 11
(1964-65), 398-408.
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Synagogues", BJRL 40 (1957-58), 19-32.
GRÄSSER, E., “Die Antijüdische Polemik im Johannesevangelium", NTS 11
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JOCZ, J., "Die Juden im Johannesevangelium", Judaica 9 (1953), 129-42.
ROBINSON, John A. T., "The Destination and Purpose of St. John's Gospel",
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SCHNACKENBURG, R., "Das vierte Evangelium und die Johannesjünger",
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VAN UNNIK, W. C., "The Purpose of St. John's Gospel", StEv, I, pp. 382-411.
VI
DATA DA REDAÇÃO FINAL
DO EVANGELHO
A g o ra é a v e z d e a b o rd a r a q u e s tã o d a d a ta a se r a tr ib u íd a à forma
escrita final d o e v a n g e lh o . D ev e re ssa lta r-se q u e n ã o e s ta m o s in d a -
g a n d o q u a n d o a tra d iç ã o h istó ric a p o r d e trá s d o Q u a rto E v a n g e lh o
to m o u fo rm a , o u q u a n d o o e v a n g e lh o foi p rim e iro e scrito e re d a ta -
d o - e m o u tra s p a la v ra s , p rim a ria m e n te , a q u i n ã o e sta m o s p re o c u -
p a d o s e m d a ta r o s E stág io s 1-4 e m n o ssa te o ria d a c o m p o siç ã o d o
e v a n g elh o , p o is, a lé m d o m ais, e ste s e stá g io s são h ip o té tic o s. A q u i,
a q u e s tã o d iz re s p e ito à d a ta s o m e n te d o e stá g io d o e v a n g e lh o q u e
n ã o é c la ra m e n te h ip o té tic o , a sa b er, a fo rm a fin a l q u e c h e g o u a n ó s,
in clu siv e o c a p ítu lo 21.
BIBLIOGRAFIA
Geral
ANDREW S, M ary E., " The authorship and Significance of the Gospel of John",
JBL 64 (1945), 183-92.
G O O D EN O U G H , E. R., "John a Primitive Gospel", JBL 64 (1945), 145-82.
TURNER, G. A., "The Date and Purpose of the Gospel of John", Bulletin of the
Evangelical Theological Society 6 (1963), 82-85.
VI · Data da redação final do evangelho 89
n ã o h aja m e n c io n a d o João, m a s d e v e m o s n o ta r q u e a v id a u m
ta n to le n d á ria d e P olicarpo, p o r P io n io , n ã o faz refe rê n c ia a Po-
LiCARPO c o m o te n d o c o n h e cid o João, d e ta lh e q u e é b ásico p a ra
a e v id ê n c ia d e I rineu.
N e n h u m a rg u m e n to d e ev id ên cia n e g a tiv a é n a tu ra lm e n te con-
clusivo, e h á a lg u m a ev id ên cia im p re ssio n a n te d e q u e João, o filho d e
Z eb ed eu , re a lm e n te estev e e m Éfeso. Justino, em Éfeso e m to m o d e 135,
fala d e João u m d o s a p ó sto lo s d e C risto, com o h a v e n d o resid id o ali
(Trypho 81,4; PG 6:669; com E usébio Hist. 4,18:6-8; G CS 9’:364-66). P ode-
ria u m a tra d içã o e sp ú ria ter se d e sen v o lv id o tã o d ep ressa? O apócrifo
Atos de João, escrito e m to rn o d e 150, p o r L eucius C harinus, m enciona o
m in istério d e João e m Éfeso. P olicrates, b isp o d e Éfeso, escrev en d o ao
p a p a V ítor e m to rn o d e 190 (E usebius, Hist. 5, 24:3; GCS 9 4 9 0 :)י, afirm a
que João foi s e p u lta d o em Éfeso. E scavações e m Selçuk, u m a colina nas
p ro x im id a d e s d e Éfeso, em baixo d a basílica rec e n te m e n te co n stru íd a
em h o n ra d e João, tê m m o stra d o a existência d e u m m a u so lé u d o 3Ωsé-
culo; e B raun, JeanThéol, 1, p . 374, p e n sa q u e isto c o n firm a o teste m u n h o
de P olicrates. A ssim , a objeção à tra d içã o d e Irineu com b ase e m qu e
João n u n c a estev e e m Éfeso é escassam en te conclusiva.
b. H á u m a tra d iç ã o d e q u e João, filh o d e Z e b e d e u , m o rre u a in d a
jo v em . A s e v id ê n c ia s s u m a ria d a s , e x tra íd a s ta n to d e P hilip de
S id e (430) co m o d e G eorge H amartolus (9 q século), a trib u e m a
P apias a tra d iç ã o d e q u e João foi m o rto p e lo s ju d e u s , ju n ta m e n -
te co m s e u irm ã o T iago (q u e m o rre u n o s a n o s 40). D u a s m ar-
tiro lo g ia s d e E d e ssa e C a rta g o (5Ω-6Ωséculos) tra z e m a m esm a
tra d iç ã o . É p o ssív e l e n c o n tra r u m a d isc u ssã o c o m p le ta em Ber-
nard, I, p p . XXXVII-XLV, m a s a c o n fia b ilid a d e d e ssa s fontes
n ã o é p a rtic u la rm e n te im p re ssiv a . E m p a rte , a tra d iç ã o p ro v a -
v e lm e n te re s u lta d e u m a c o n fu sã o d e João B atista com João o
filh o d e Z e b e d e u , e e m p a rte d e u m a in te rp re ta ç ã o p o r d e m a is
lite ra l d e M c 10,39, o n d e Jesu s p re d iz q u e os filhos d e Z e b e d eu
p a rtilh a ria m d e s e u so frim e n to . E ste a rg u m e n to c o n tra a tra d i-
ção d e Irineu é m u ito fraco.
c. T em -se s u g e rid o q u e Irineu e sta v a e rra d o acerca d a relação d e
P olicarpo co m João, co m o a p a re n te m e n te e sta v a e rra d o e m o u-
tro s casos. E m Contra Heresias 5, 33:4 (PG 7:1214), ele d iz que
P apias o u v iu João; m a s isto c o n tra d iz a p ró p ria e v id ê n c ia d e
P apias, co m o E usébio (Hist. 3, 39:2; G C S 92:286) foi p r o n to em
94 Introdução
N ã o o b sta n te , n ó s p e rg u n ta m o s se n ã o é m a is lógico p re s s u p o r q u e
o D A seja a lg u é m q u e n ã o é m e n c io n a d o n o e v a n g e lh o , m a s e ra b e m
c o n h ecid o ao s leitores.
Terceiro, João M arco s é o u tro p o ssív e l c a n d id a to p a r a o p a p e l
d o DA . P arker e Sanders id e n tific a ra m o a u to r d o Q u a rto E v a n g e lh o
co m o se n d o João M arco s (p a ra Sanders, o e v a n g e lista n ã o é o m es-
m o p e rs o n a g e m q u e o D A se ria L ázaro ), p o n to d e v ista m a n tid o a n o s
a trá s p o r W ellhausen. H á u m n ú m e ro d e fato re s q u e p a re c e m p re s s u -
p o r isto e faz e r d e João M arco s u m b o m c a n d id a to :
um dos Doze. Sua intimidade com Jesus parece ter-lhe dado uma po-
sição ao lado de Pedro como uma das figuras mais importantes no
ministério. Estes são os primeiros dois discípulos a serem informados
do túmulo vazio em 20,2. A posição do DA junto a Jesus na última
ceia é outra indicação, pois os evangelhos sinóticos descrevem esta
refeição como uma das partilhadas por Jesus com os Doze (Mc 14,17;
Mt 26,20). Como, pois, poderia o DA ter sido João Marcos (ou, por
essa razão, Lázaro), que nunca é mencionado no relato sinótico do
ministério? Isto significaria que o discípulo que estava mais próxi-
mo a Jesus nem mesmo fosse lembrado nas listas de seus discípulos
especialmente escolhidos! Todo o mundo cristão estava aguardando
com expectativa que Jesus voltasse antes da morte do DA (Jo 21,23);
todavia, se o DA fosse João Marcos, os registros cristãos nem mesmo
registra o fato que Jesus o conhecera.
Q u a r t o , João, filho de Zebedeu, parece preencher muitos dos re-
quisitos básicos para a identificação como o DA. Ele era não só um
dos Doze, mas, juntamente com Pedro e Tiago, um dos três discípu-
los constantemente selecionados por Jesus a estar com ele. A íntima
associação com Pedro proposta na descrição do DA não se enquadra
com nenhuma outra figura neotestamentária tanto quanto se enqua-
dra com João, filho de Zebedeu. Nos sinóticos, João aparece com Pedro
mais amiúde do que qualquer outro discípulo; e na história primitiva
descrita em Atos, João e Pedro são companheiros em Jerusalém (caps.
3 4 )־e na missão a Samaria (8,14). A última missão é muito importante
à luz do que o Quarto Evangelho diz sobre uma missão entre os sa-
maritanos (ver p. 402).
Um fator extremamente importante ao estudar a identidade
do DA é que o Quarto Evangelho alega preservar suas memórias
de Jesus. Se estas são realmente suas memórias, elas sobreviveram
mesmo quando amiúde fossem muito diferentes das memórias que
introduziram o querigma petrino que subjaz a Marcos e, através de
Marcos, influenciou Mateus e Lucas. Em outras palavras, a tradição
histórica de João aparece assim como um desafio à tradição geral
partilhada pelos sinóticos. Não parece provável que o homem por
detrás dela devesse ser um homem de efetiva autoridade na Igreja,
um homem de um status não diferente do de Pedro? Neste aspecto,
João, filho de Zebedeu, seria um candidato mais provável do que
uma figura menor como João Marcos.
104 Introdução
• Jo ã o e ra G a lile u , m a s e ste é u m e v a n g e lh o q u e d á m áx im a
a te n ç ã o ao m in is té rio h ie ro s o lim ita n o d e Jesu s. A ex p licação
u s u a l é q u e , c o m o u m d o s trê s e sc o lh id o s d e Jesu s, João o
a c o m p a n h a v a a J e ru s a lé m e m se u s v á rio s itin e rá rio s. Se João
e ra s o b rin h o d e M a ria , p o d e m o s ta m b é m re le m b ra r q u e M a-
ria tin h a p a re n te s n a Ju d e ia (Lc 1,39). A ra z ã o p o r q u e o Q u a r-
to E v a n g e lh o c e n tra a a te n ç ã o e m Je ru s a lé m , e m p a rte é teoló-
gica; n ã o h á im p lic a ç ã o n e c e ssá ria d e q u e o a u to r n ã o tiv e sse
c o n h e c im e n to d o e x te n so m in is té rio g alileu .
• A t 4,13 d e s c re v e o filh o d e Z e b e d e u c o m o " ile tra d o e se m
p o s iç ã o s o c ia l", a trib u to s d ific ilm e n te d a d o s ao q u a rto ev a n -
g e lista . N ã o o b s ta n te , a u to ria , c o m o m e n c io n a m o s n o início
d e s ta p a rte , n ã o sig n ific a n e c e s s a ria m e n te q u e João e screv es-
se fis ic a m e n te o e v a n g e lh o o u lh e d e sse e x p re ssã o g ráfica re-
la tiv a m e n te flu e n te . O e v a n g e lh o a le g a q u e D A foi a fo n te d e
s u a tra d iç ã o , e é isso q u e n o s p r e o c u p a a q u i.
• D u a s d a s p rin c ip a is c e n a s d e q u e João foi te s te m u n h a , a
T ra n s fig u ra ç ã o e a a g o n ia n o ja rd im , n ã o sã o m e n c io n a d a s
n e s te e v a n g e lh o . Isto é e s tra n h o , a m e n o s q u e a c eite m o s a
s u g e s tã o u m ta n to fo rç a d a d e q u e a p a ix ã o d o D A p e lo an o -
n im a to o le v o u a o m itir c e n a s q u e n ã o p u d e s s e m se r d es-
c rita s s e m a u to -id e n tific a ç ã o . E n tre ta n to , se n o ta rá q u e os
e le m e n to s q u e a p a re c e m n a s d e sc riç õ e s sin ó tic a s d a tra n sfi-
g u ra ç ã o e d a a g o n ia ta m b é m a p a re c e m n o Q u a rto E v an g e-
lh o (v e r c o m e n tá rio so b re 12,23.27-28); e, d e certos aspectos,
c o m o e s p e ra m o s m o s tra r, o tra ta m e n to d e q u e o m a te ria l no
Q u a r to E v a n g e lh o p o d e ria se r m a is o rig in a l d o q u e o tra ta -
m e n to sin ó tico .
reflete o te s te m u n h o d e u m a te s te m u n h a o cu lar. N a tu ra lm e n te , o p ró -
p rio fato d e q u e p ro p o m o s tra d iç ã o h istó ric a ao m e n o s to rn a p o ssív e l
q u e João esteja p o r trá s d e ste e v a n g e lh o , m a s a in d a ex istem dificul-
d a d e s. D odd p ro v a v e lm e n te seja o m a io r d e fe n so r m o d e rn o d e u m a
tra d içã o h istó ric a in d e p e n d e n te n a b a se d e ste e v a n g e lh o , e, to d av ia ,
ele n ã o c o n s id e ra co m o p ro v á v e l a a u to ria jo a n in a (Tradition , p. 171)·
A d ific u ld a d e fu n d a m e n ta l é q u e , e n q u a n to em a lg u n s casos a fo rm a
d e u m a n a rra tiv a o u d ito su b ja c e n te o re la to jo a n in o seja m ais p rim i-
tiv o q u e a fo rm a su b ja c e n te a o re la to sin ó tico , e m o u tro s casos ela é
m ais d e s e n v o lv id a . C o m o p o d e tal d e se n v o lv im e n to co n ciliar-se com
a teo ria d e q u e a fo rm a se o rig in a d e u m a te s te m u n h a o c u la r q u e p re-
su m iv e lm e n te re c o rd a ria e x a ta m e n te o q u e aco n teceu ?
A o tr a ta r d o s e v a n g e lh o s sin ó tico s, o n d e h á ta m b é m m a rc a n te
d e s e n v o lv im e n to n a tra d iç ã o h istó ric a su b ja c e n te , os crítico s e n fa ti-
z a m q u e o s p r ó p rio s e v a n g e lis ta s n ã o fo ra m te s te m u n h a s o c u la re s
e q u e a s tra d iç õ e s q u e u s a ra m p e rm a n e c e ra m , e m s u a m a io r p a rte ,
em a lg u m a d is tâ n c ia n o te m p o e m a tu r id a d e d o te s te m u n h o o cu lar.
E n tre ta n to , e m M a rc o s p a re c e h a v e r c o m fre q u ê n c ia c e n a s q u e ap a -
re n te m e n te tê m c a ra c te rístic o s o c u la re s d ire to s, p re s u m iv e lm e n te
p o rq u e , n e s te s ca so s, M a rc o s e stá se v a le n d o d o te s te m u n h o o c u la r
d e P e d ro . A lg u n s d o s a s p e c to s n a tra d iç ã o h istó ric a q u e su b ja z a
João d e n u n c ia m m e m ó ria s q u e p o d e m te r v in d o , se m a lte ra ç ã o , d e
u m a te s te m u n h a o c u la r (v er P a rte III:A , p . 29). M as se a lg u é m a tri-
b u i to d a a tra d iç ã o h istó ric a a u m a te s te m u n h a o c u la r, e n tã o esse
m esm o p r o p o r ia q u e e sta te s te m u n h a o c u la r e x e rc e u c o n sid e rá v e l
lib e rd a d e e m a d a p ta r e d e s e n v o lv e r s u a s m e m ó ria s d o q u e Jesus
d isse e fez. Isto n ã o p a re c e im p ro v á v e l se n o s le m b ra rm o s d e q u e
u m q u e se p r e s u m e se r a te s te m u n h a o c u la r, Jo ão , filh o d e Z ebe-
d e u , e ra ta m b é m a p ó s to lo c o m is s io n a d o a p r e g a r Je su s ao s h o m e n s.
N e c e s sa ria m e n te , ele te v e q u e a d a p ta r ao se u a u d itó r io a tra d iç ã o
d a q u a l e le e ra u m a te s te m u n h a v iv a . A c o n c ep ç ã o d a te s te m u n h a
a p o s tó lic a c o m o u m r e p o r ta r im p a rc ia l cujo p rin c ip a l in te re sse era
a d e ta lh a d a e x a tid ã o d a s m e m ó ria s q u e ele re la to u c o n s titu i u m
a n a c ro n is m o . (S obre e sta q u e stã o , a d isc u s s ã o d a C o m issã o Bíblica
P o n tifícia C a tó lic a d e 21 d e a b ril d e 1964 é d e in te re s s e p a ra d e ix a r
b e m c la ro q u e a s te s te m u n h a s a p o stó lic a s n ã o fo ra m c a n a is p a ssiv o s
d a tra d iç ã o : " In te rp r e ta ra m s u a s p a la v ra s e feito s e m c o n fo rm id a d e
co m a s n e c e s s id a d e s d e s e u s o u v in te s " ).
108 Introdução
n e c e s s id a d e s d a c o m u n id a d e à q u a l m in istra v a m . V isto q u e o e v an g e-
lh o p a re c e im p lic a r q u e o D A v iv e u m ais te m p o d o q u e a m a io ria d a s
o u tra s te s te m u n h a s o c u la res, n ã o p re c isa m o s p r e s s u p o r q u e a fonte
d a tra d iç ã o h istó ric a h a v ia c e ssa d o n o início d a p re g a ç ã o d o s d isc íp u -
los, p o is p o d e ria m v o lta r ao s e u m e s tre e c o m p a rtilh a r g ra n d e p a rte
d e s u a s e x p e riê n c ia s co m o m in isté rio d e Jesus. (Em p a rte , isto p o d e
ex p licar o fato d e q u e a lg u n s d o s rela to s jo an in o s m o stra m m a io r p o -
lid e z e d e s e n v o lv im e n to d o q u e o u tro s relatos). E m p a rtic u la r, p ro p o -
ría m o s um só discípulo principal cuja tra n sm issã o d o m a te ria l h istórico
rec e b id o d e Jo ão foi c a ra c te riz a d a p o r u m g ên io d ra m á tic o e p ro fu n d a
v isão teo ló g ica, e é a p re g a ç ã o e e n sin o d e ste d isc íp u lo q u e d e ra m
fo rm a a o s re la to s e d isc u rso s o ra e n c o n tra d o s n o Q u a rto E v an g elh o .
Em s u m a , este d isc íp u lo te ria sid o re sp o n sá v e l p e lo s S e g u n d o Está-
gio a té o Q u a rto E stág io n a c o m p o siç ão d o e v a n g e lh o co m o os tem os
p ro p o sto . F oi s u g e rid a u m a a n a lo g ia p o r G äechter (ZKT 60 [1936],
161-87): a rela çã o e n tre o d isc íp u lo q u e e scre v e u o Q u a rto E v an g elh o
e a te s te m u n h a o c u la r q u e foi s u a fo n te n ã o é d ife re n te d a relação
e n tre M arco s e P e d ro . (D isp e n sa r d iz e r q u e e sta a n a lo g ia teria d e ser
q u alificad a). N ã o d a m o s n o m e ao d isc íp u lo -e v a n g e lista d o Q u a rto
E v an g elh o , a in d a q u e a lg u é m se d eix e a tra ir p e la h ip ó te se d e João
o P resb ítero .
P o d e -se s u s c ita r a objeção d e q u e , se João, filho d e Z e b e d e u , foi
a p e n a s a fo n te d a tra d iç ã o h istó ric a , e n tã o o d isc íp u lo -e v an g e lista
foi o a u to r re a l d o e v a n g e lh o ; e n a re a lid a d e o e v a n g e lh o n ã o seria o
E v an g elh o s e g u n d o João. A m e sm a a n a lo g ia d e M arco s e P e d ro p o d e
ser u s a d a c o n tra n o ssa teo ria, p o is, a lé m d o m ais, o se g u n d o ev an -
gelh o n ã o s u rg iu co m o o E v a n g e lh o se g u n d o M arco s, n e m com o o
e v a n g elh o s e g u n d o P e d ro . H á d o is p o n to s q u e p o d e m ser fo rm u la d o s
em re s p o s ta a esta objeção.
Primeiro, n a m e n ta lid a d e c ristã p rim itiv a , as raíz es ap o stó lic a s d e
u m a o b ra re a lm e n te e ra m m ais d ig n a s d e n o ta d o q u e as c o n trib u i-
ções d o s q u e re a lm e n te c o m p u s e ra m e e sc re v e ra m a o b ra. O s estu -
d io so s d ife re m e m se u s c ritério s so b re a a u to ria d o N T , m a s alguns
e v o c aria m ta l p rin c íp io p a ra ex p lic ar a a trib u iç ã o d e 2 P e d ro a P e d ro
e as P a sto ra is a P au lo . O fato d e q u e o se g u n d o e v a n g e lh o foi atri-
b u íd o a M a rc o s e n ã o a P e d ro p ro v a v e lm e n te n ã o d e v a se r reso lv id o
em te rm o s d e q u a n to o u q u ã o p o u c o M arco s e x a m in o u d e tid a m e n -
te a tra d iç ã o d e P e d ro , e sim em te rm o s d o fato d e q u e M arcos era
110 Introdução
D . L O C A L D A C O M P O S IÇ Ã O
e s tu d io so s q u e m a n tê m q u e o e v a n g e lh o foi in flu e n c ia d o p o r u m a ou
o u tra d e ssa s esco las d e p e n sa m e n to .
Antioquia d a Síria é o u tra c a n d id ata, e u m a e n d o ssa d a p o r W . B auer
e B urney . A p o s s ib ilid a d e d e q u e Inácio d e A n tio q u ia se v a le sse de
João é u m im p o rta n te fato r a q u i. Se h á o u n ã o d e p e n d ê n c ia literá-
ria d ire ta , o fato d e q u e h á sim ila rid a d e s n a teo lo g ia d e I nácio com
os tem a s jo an in o s é b a s ta n te p a ra su sc ita r a q u e s tã o d e se v ie ra m d a
m esm a reg ião . H á e v id ê n c ia d e u m a tra d iç ã o e n tre e sc rito re s latin o s
d e q u e I nácio foi d isc íp u lo d e João (p a rá fra se s p o r R ufino d e E usébio
Hist. Ill 36:1-2 [GCS 9 2 7 5 : ]וe p o r J erônimo d e E usébio Crônicas [GCS
47:193-4]). P a ra e v id ê n c ia siríaca d a m e sm a tra d iç ã o n o s sécu lo s q u a r-
to e sex to , v e r C. F. B urney , The Aramaic Origins of the Fourth Gospel
[As O rig en s A ra m a ica s d o Q u a rto E v an g elh o ] (O xford: C la re n d o n ,
1922), p. 130. O u tro s e x tra em u m a rg u m e n to d a s relaçõ es e n tre 1 João
e M ateu s, v isto q u e o ú ltim o é g e ra lm e n te tid o co m o se n d o u m ev a n -
g elh o d a Síria. N ã o o b sta n te , a falta d e p a ra le lo s e stre ito s e n tre João e
M a te u s tem to m a d o a rg u m e n to d u v id o so . T o d a v ia, o u tro a rg u m e n to
está b a s e a d o n a s se m e lh a n ç a s e n tre João e as Odes de Salomão, u m a
o b ra siríaca; re a lm e n te n a d a existe a q u i q u e n o s c o n v e n ç a d e q u e o
e v a n g elh o fo sse escrito n a Síria.
Éfeso a in d a p e rm a n e c e te n d o a p rim a z ia p a ra a id en tifica ç ã o com o
se n d o o local o n d e João foi co m p o sto . A lém d isso , a v o z q u a se u n â n i-
m e d a s an tig a s te ste m u n h a s q u e tra ta m d o tem a , tem o s u m a rg u m e n -
to d o s p a ra lelo s e n tre João e o A p o calip se, p o is a ú ltim a o b ra p e rte n -
ce c la ram e n te à á re a d e Efeso. O m o tiv o a n ti-sin a g o g a n o e v a n g elh o
(ver Sexta P arte, p. 80ss) faz se n tid o n a reg ião d e Éfeso, p o is A p 2,9
e 3,9 a te sta a m a rg a s p o lêm icas a n ti-sin a g o g as n e sta á re a d a A sia M e-
nor. Se h á n o e v a n g elh o u m a p o lêm ic a c o n tra os d isc íp u lo s d e João
B atista, só h á m en ç ã o n e o te sta m e n tá ria d e d isc íp u lo s b a tiz a d o s com
o b a tism o d e João e m u m lu g a r fora d a P a lestin a - E feso (A t 19,1-7).
Se h á p a ra lelo s e n tre João e os ro lo s d e Q u m ra n , acaso é a c id e n ta l q u e
p a ra lelo s sejam q u a se v isív eis e m C olo ssen ses e E fésios, e p ísto la s di-
rig id a s à reg ião efésia? Q u a lq u e r in cip ien te p o lêm ic a a n ti-d o cé tic a e
an ti-g n ó stica ta m b é m teria sid o n u m a cena d o m éstic a d e Éfeso.
A q u e s tã o d o local d a co m p o siç ão d o e v a n g e lh o n ã o é d e e x tre m a
im portância; p o ré m n a d a h á n a evidência in tern a q u e d ê m aio r su p o rte
a q u a lq u e r o u tra teo ria d o q u e a d e u m a a te staç ã o a n tig a ; a sa b er, q u e
o e v a n g elh o foi c o m p o sto e m Éfeso.
VII · Identidade do autor e local da composição 113
BIBLIOGRAFIA
A. ECLESIOLOGIA
a p a la v ra y a h a d , q u e é o n o m e p a ra c o m u n id a d e , e n fa tiz a a u n id a d e
d o s m e m b ro s. U m fa to r m u ito im p o rta n te n e sta u n id a d e é a aceitação
d e u m a in te rp re ta ç ã o p a rtic u la r d a Lei. Mutatis mutandis, a m esm a
id eia se ria a p lic áv e l à c o m u n id a d e c ristã e à a d e sã o d o s m e m b ro s a
Jesus. U m a d a s lições d o sím b o lo d a v id e ira e d o s ra m o s é q u e , se al-
g u é m d e v e p e rm a n e c e r n a v id e ira co m o u m ram o , esse a lg u é m d ev e
p e rm a n e c e r n o a m o r d e Jesu s (15,6). T o d a v ia, esse a m o r d e v e se r ex-
p re sso e m a m o r p a ra co m o c re n te co m o ir m ã o /ir m ã (15,12). N e n h u m
e v a n g e lh o e n fa tiz a ta n to q u a n to faz João, a p o n to d e q u e o a m o r cris-
tão seja u m a m o r d e c o -d isc íp u lo d e Jesu s e, p o rta n to , u m a m o r no
in te rio r d a c o m u n id a d e cristã.
T a m p o u c o a v id e ira é a ú n ica m etá fo ra im p o rta n te d o ev an g elh o
em relação ao co n ceito jo an in o d e c o m u n id a d e . H á ta m b é m a im ag em
d o re b a n h o e d o a p risc o n o c a p ítu lo 10. A lg u n s têm o b jetad o q u e nes-
ta p a rá b o la " re b a n h o " o u " o v e lh a " é m e n c io n a d o so m e n te u m a v ez
(10,16). M as a im a g e m d o ap risco q u e p e rc o rre im p lic ita m en te o to d o
é ta m b é m sím b o lo d a c o m u n id a d e . N o c o rp o m a io r d a lite ra tu ra joa-
n in a, e n c o n tra m o s u m a forte ê n fase so b re a c o m u n id a d e cristã, l jo 2,19
d escrev e os a n tic risto s co m o a q u e le s q u e têm se ex clu íd o d a com uni-
d a d e cristã. A p 19,6-8 e 21,2 u sa a im a g e m d a n o iv a d e C risto (tam bém
Jo 3,29); e A p 21,3 se re p o rta ao p o v o d e D eu s, a p re s e n ta n d o im plici-
tam e n te os cristão s co m o os h e rd e iro s d o Israel d e o u tro ra . E v e rd a d e
q u e n o Q u a rto E v an g elh o n ã o h á ên fa se so b re a c o n tin u id a d e d e san-
g u e co m Israel, u m p ro b le m a q u e d e ix o u P a u lo a tu rd id o . P a ra João, o
v e rd a d e iro isra e lita é N a ta n a e l (1,47) q u e crê em Jesus. O v e rd a d e iro
israelita n ã o n asce d a lin h a g e m c a rn a l (1,13), m as é g e ra d o d a á g u a e
d o E sp írito (3,5); é filho d e D eu s, n ã o p o rq u e Israel seja filho d e D eus,
m as p o rq u e ele é c re n te (1,12). M as estes c re n tes estã o a ta d o s à com u-
n id a d e a tra v é s d a fé e m Jesus e s e u a m o r u n s p a ra c om os o u tro s, e são
a ju n ta d o s d o m u n d o in te iro e m u m só p o v o (11,52).
(2) A questão da ordem eclesiástica. A fig u ra jo a n in a d a v id e ira é
s a lie n ta d a (p. ex., Schweizer , p . 236), a sa b er, e n q u a n to a m b a s as fi-
g u ra s r e tra ta m Jesu s co m o a fo n te d a v id a , n ã o h á n e n h u m a ênfase
n o sím b o lo d e João so b re as d ife re n te s fu n çõ e s d o s v á rio s m em b ro s
d a c o m u n id a d e . P a ra João, o im p o rta n te é q u e os m e m b ro s estejam
u n id o s a Je su s, e n ã o h á ên fa se d e q u e a lg u n s ra m o s são os canais
a tra v é s d o s q u a is a v id a p a ssa d e Je su s p a ra os o u tro s. A tra v é s d o ar-
g u m e n to d o silên cio, isto p o d e im p lic a r q u e n ã o h á e m João n e n h u m
120 In trod u ção
B. SACRAMENTALISMO
C. ESCATOLOGIA
D. OS MOTIVOS SAPIENCIAIS
• ·
m as n ã o h á d e se n v o lv im e n to lin e a r to d o -a b ra n g e n te n o p e n sa m e n to
n eo te stam e n tá rio . R econhecer isto to rn a m u ito c o m p re en sív e l o lu g ar
d o p e n s a m e n to teológico a lta m e n te p e c u lia r co m o o d e João.
Q u e João te m m u ito e m c o m u m co m o u tra s o b ra s d o N T já foi en-
fatiza d o e m a rtig o s c o m p a ra tiv o s recen tes. A lé m d o s e s tu d o s d e João
e d o s sin ó tico s m e n c io n a d o s n a T erceira P a rte , tê m h a v id o e s tu d o s so-
b re João e P a u lo , p o r exem plo: A. F ridrichsen, e m The Root of the Vine
(N ova York: P h ilo so p h ic al L ib rary , 1953), p p . 3 7 6 2 ;־e P. B enoit, N TS
9 (1962-63), 193-207 (re su m id o e m in g lês e m TD 13 [1965], 135-41).
E stes a rtig o s e n c o n tra m m u ita s sim ila rid a d e s su b ja c e n te s e n tre o p e n -
sarn en to jo a n in o e p a u lin o , a d e sp e ito d a a rtic u la ç ã o m u ito d ife ren te .
Q u a n d o c o n s id e ra rm o s o P ró lo g o , sa lie n ta re m o s q u e esse h in o joani-
n o a p a re n te m e n te ú n ico tem p a ra lelo s d e fin id o s c om o s h in o s p a u lin o s
em C o lo ssen ses e F ilipenses.
E m se u e x au stiv o co m en tário so b re a E pístola aos H e b re u s, C.
Spicq (Paris: G ab ald a, 1952), I, p p . 109-38, d ed ica u m e stu d o m u ito inte-
ressan te a u n s d ezesseis p aralelo s e m p e n sa m e n to e n tre João e H ebreus.
E ag o ra a lg u é m p o d e ria ad icio n ar a esta lista as a fin id ad e s d e Q u m ra n
e n co n trad as em a m b a s a s obras. Spicq, I, p . 134, o b serv a q u e d estes con-
tato s p arece q u e H e b re u s rep re sen ta u m elo e n tre as elaborações teoló-
gicas d e P au lo e João. P o d eria tam b ém ser ex traíd a u m a lo n g a lista de
p aralelo s e n tre João e as E pístolas G erais, e sp ecialm en te 1 P ed ro . A ssim ,
e n q u a n to o q u a rto evangelista p o d e ria ser "o T eólogo", ele n ã o e ra tão
solitário n e m tão d e satu a liz ad o com o m u ito s q u e re m nos fazer crer.
BIBLIOGRAFIA
Eclesiologia
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H e rd e r a n d H erd er, 1965), especialm ente p p. 103-17.
SCHW EIZER, E., "The Concept of the Church in the Gospel and Epistles of St.
John", in New Testament Essays in Memory of T. W. Manson, ed. A. J. B.
H igg in s (M anchester U niversity, 1959), p p. 230-45.
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origins de VEglise (Recherches Bibliques, VII: Louvain: Desclee de
B rouw er, 1965), p p. 65-85.
VIA, D. O ., "Darkness, Christ, and the Church in the Fourth Gospel", Scottish
Journal of Theology 14 (1961), 172-93.
Sacramentalismo
Escatologia
Temas Sapienciais
A . O ID IO M A O R IG IN A L D O E V A N G E L H O
C o m o já m e n c io n a m o s, Bultmann m a n té m q u e a fo rm a g reg a
d o s d isc u rs o s e m João te m em su a m a io r p a rte p re s e rv a d o o fo rm a to
p o é tic o d a F o n te d o D isc u rso R e v e lató rio o rig in al. A seleção e p u -
b licação q u e D. M. S mith faz d o m a te ria l q u e B ultmann a trib u i a
esta fo n te (v er Composition, p p . 2 3 3 4 )־m o stra , n u m p rim e iro relance,
q u ã o b o m se ria p u b lic a r João n o fo rm a to p o ético . E su g e rim o s q u e
isto se p ro v a v e rd a d e iro m e sm o q u a n d o n ã o re c o rre m o s aos su p o sto s
o rig in a is a ra m a ic o s o u a in d a s e p a ra r as b a tid a s rítm icas. N a s v á ria s
seções d e d is c u rs o d o e v a n g e lh o h á u m c o n sta n te efeito rítm ico d e
lin h a s d e a p ro x im a d a m e n te a m esm a e x ten são , c ad a u m a c o n stitu in d o
u m a c lá u su la. P o ssiv e lm e n te, isto reflete u m ritm o fo rte n u m original
a ra m aic o , m a s o p a d rã o g eral é to ta lm e n te o b se rv á v e l n o grego. Dois
asp ecto s d o a rra n jo d e B ultmann são m ais a b e rto s a d ú v id a . Ele ju n ta
o P ró lo g o co m o re sta n te d o m a te ria l d e d isc u rso , m as o p aralelism o
" e sc a lo n a d o " d o P ró lo g o re p re se n ta u m estilo p o ético m u ito m ais cui-
d a d o s a m e n te e la b o ra d o d o q u e q u a lq u e r p a ssa g e m n o s d iscu rso s. Em
n o ssa o p in iã o , o P ró lo g o e ra u m h in o , e n q u a n to os d isc u rso s n ã o o
eram . S e g u n d o , e m su a rec o n stru ç ã o d o fo rm a to p o ético , B ultmann
é m ais a rb itrá rio e m su a excisão d a s g lo sas q u e ele a trib u i ao re d a to r
final. N ã o e sta m o s certo s d e q u e o fo rm a to p o ético seja tão fixo o u es-
trito q u e lin h a s d e s a rru m a d a s p o ssa m se r tra ta d a s co m o adições.
E m su a tra d u ç ã o d e João p a ra a "B íblia d e Je ru sa lé m " francesa,
D. M ollat n o s d e u os d isc u rso s n u m fo rm a to p o ético - u m a d a s p o u cas
te n ta tiv a s m o d e rn a s d e faz e r isto e m u m a Bíblia d e s tin a d a a o p ú b lic o
geral. E le n u n c a fo rm u la se u s p rin c íp io s p a ra d iv id ir os v erso s; m as,
co m o se d á co m B urney e B ultmann, faz su a s d iv isõ e s d e a c o rd o com
o s e n tid o . A s v e z es, e m se u esforço p a ra a p re s e n ta r os v e rso s equili-
b ra d o s n a tra d u ç ã o fran cesa, M ollat sacrifica o e q u ilíb rio d o s v erso s
g reg o s. B ultmann n ã o tev e d e e n fre n ta r este p ro b le m a d e tra d u ç ão ,
po is ele im p rim e em g re g o os v e rsíc u lo s d o e v a n g elh o . M ollat ad o -
to u a fo rm a d e b lo co p a ra se u s v e rso s p o ético s, e n q u a n to B ultmann o
q u e b ra a o p o r os v e rso s e m p o siçõ es su b o rd in a d o s.
É u m exercício m u ito in te ressa n te fazer u m e s tu d o co m p arativ o
d e sta s v á ria s te n ta tiv a s d e p ô r os d isc u rso s jo an in o s n u m fo rm a to
p o ético . T a lv ez d o is terço s d a s v ezes, B ultmann e M ollat e sta rã o de
ac o rd o so b re o n ú m e ro d e lin h a s e m q u e u m v e rsíc u lo d e v a ser di-
v id id o . T o d a v ia , m e sm o co m u m terço d e v a ria çã o , eles e stã o m u ito
m ais p e rto u m d o o u tro d o q u e d e G ächter. T o m a n d o a p e n a s u m
152 Introdução
exem plo, em 6,35, am bos, M ollat e B ultmann, têm três versos, en-
quanto G ächter tem cinco.
E difícil d a r a lg u m a p ro v a conclusiva d e q u e u m fo rm a to po ético
é justificado. T alvez tu d o o q u e se p o ssa d ize r é que, q u a n d o se e lab o ra
o m aterial p o r certo tem p o , p ro c u ra n d o ach ar u m a e stru tu ra poética,
en tão acaba sen tin d o -se en v o lv id o p o r u m ritm o. E assim , com a lg u m a
hesitação, tem os d ecid id o u sa r o fo rm ato poético e m n o ssa p ró p ria tra-
d u ção a fim d e oferecer ao leitor u m a o p o rtu n id a d e d e ju lg a r p o r si m es-
m o se h á o u n ão u m equilíbrio rítm ico nos v erso s joaninos. M as tem o s
d e fazer u m a ad vertência. N ossa div isão d o s v ersos n a p re se n te obra
p erm an ece fiel à d iv isão n o g reg o (com ocasional in v ersão d e versos); e
assim , visto ser p reciso v árias p a la v ras p o rtu g u e sa s p a ra tra d u z ir u m a
p a la v ra grega, n em sem p re será p o ssível ap arecer o eq u ilíb rio e n tre os
versos n a tra d u ç ão p o rtu g u e sa . P ara se o b terem m ais lin h as se faz ne-
cessário ig n o ra r o equilíbrio grego, com o M ollat tem feito d e te m p o
em tem po. T em os tra d u z id o com o u m só v erso o d u p lo " a m é m " (p ara
trad u ção , v e r n o ta sobre 1,51), u sa d o tão a m iú d e pelo Jesus jo an in o p a ra
in tro d u z ir u m discurso. E stritam ente, ele n ão é p a rte d a p oesia, m a s n ão
parecia v aler a p e n a m a n te r u m fo rm ato especial p a ra a ú n ica linha.
N ã o h e sita m o s c o n su lta r as re c o n stru ç õ e s d e B ultmann, M ollat e
Burney, n e m h e sita m o s em d isc o rd a r com su a d iv isã o e m v e rso s o n d e
crem o s se ju stificav a o u tra d iv isão . E m a lg u n s caso s difíceis, u m a su -
g estão d e a lg u m e stu d io so é tão b o a co m o o u tra , e re c o rre r a u m ori-
g in al a ra m aic o h ip o té tic o re a lm e n te n ã o é d ecisiv o . A lg u m a s v e z es,
a d iv isã o d o s v e rso s tem d e se r d e te rm in a d a p e la d iv isã o q u e se en-
c o n tra n o co n tex to. P o r ex em p lo , o q u e a g o ra te m o s co m o os q u a tro
p rim e iro s v e rso s d e 12,26 re a lm e n te p o d e ria se r im p re sso co m o dois:
Se a lg u é m q u e r se rv ir-m e, e n tã o m e siga;
e o n d e e u e stiv e r, aí ta m b é m e sta rá m e u serv o .
I II
vs. 1 vs. 7
vs. 2 vs. 6
vs. 3 vs. 5
vs. 4
154 Introdução
e m b a ix o d a p á g in a co m o n o ta s d e r o d a p é , c o m o faz E. V. R ieu em su a s
tra d u ç õ e s d o N T . N ã o o b sta n te , isto c ria u m p ro b le m a d e versificação;
e a s sim te m o s a d o ta d o o ra z o á v e l c o m p ro m isso d e u s a r p a rê n tese s,
ex ceto p a ra a n o ta o casio n al q u e n ã o p u d e rm o s tra b a lh a r u n ifo rm e -
m e n te n a n a rra tiv a . E stas n o ta s às v e z e s são in d ic a tiv a s d o p ro cesso
re d a c io n a l e m a tiv id a d e n a co m p o siç ão d o e v a n g elh o .
BIBLIOGRAFIA
Idioma original
BROW N, Schyler, "From Burney to Black: The Fourth Gospel and the Aramaic
Question", CBQ 26 (1964), 323-39 - boa bibliografia.
GUNDRY, R. H ., "The Language Milieu of First-century Palestine", JBL 83
(1964), 404-8.
Texto grego
ZIM M ERM AN N, H v "Papyrus Bodmer II und seine Bedeutung für die Text-
geschickte des Johannesevangeliums'' BZ 2 (1958), 214-43.
Em 1958, R. K asser p u blicou P ap y ru s B odm er III, u m a versão d e João do
4a século Boh. (Cópta) tra d u z id a d iretam en te do grego. Em u m artigo
museon 74 (1961), 423-33, K asser estu d a este m an u scrito em relação a
outras testem u n h as cópticas de João.
2. C itações patrísticas
BIRDSALL, J. N., "Photius and the Text of the Fourth Gospel", NTS 4 (1957-58),
61-63.
BOISMARD, M.-E., "Critique textuelle et citations patristiques", RB 57
(1950), 388-408.
___________ "Lectio Brevior, Potior", RB 58 (1951), 161-68.
___________ "Problèmes de critique textuelle concernant le quatrième évangile",
RB 60 (1953), 347-71.
Formato poético
Característicos de estilo
Ambas as grafias são usadas pelo autor em suas próprias obras publicadas.
IX · Idioma, texto e formato literário do evangelho 157
1.1- 18: PR Ó L O G O
Os te m a s d a s p a r t e s i n d i v i d u a i s d o L i v r o d o s S in a i s
E m A: os d isc íp u lo s c re e m e m C a n á d a G alileia
N a T ra n siç ão d e 2,23-25, m u ito s e m Je ru sa lé m creem in ad e-
q u a d a m e n te e m se u s sin a is
E m C: N ic o d e m o s, e m J e ru sa lé m , crê in a d e q u a d a m e n te
E m D: a m u lh e r s a m a rita n a crê co m d ú v id a s (4,29); a p o p u la -
ção s a m a rita n a crê m ais p le n a m e n te (4,42)
N a T ra n siç ão d e 4,43-45, m u ito s d e n tre o s g a lile u s c reem ina-
d e q u a d a m e n te e m se u s sin a is
E m E: o o ficial d o re i e s u a casa p a s s a m a cre r com b a se n a p a-
la v ra e sin a l d e Jesu s
BIBLIOGRAFIA
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I
PRÓLOGO
U m p r i m i t i v o h in o c r is tã o , p r o v a v e l m e n t e o r iu n d o d o s c ír c u lo s jo a n i-
n os, 0 q u a l f o i a d a p ta d o p a r a s e r v ir c o m o a b e r tu r a à n a r r a tiv a e v a n g é -
lic a d a c a r r e ir a d a P a l a v r a e n c a r n a d a .
1. HINO INTRODUTORIO
( 1 , 1 ־18 )
Primeira Estrofe
1 1N o p rin c íp io e ra a P a lav ra ,
A P a la v ra e sta v a n a p re se n ç a d e D eu s,
E a P a la v ra e ra D eus.
2N o p rin c íp io , ele e sta v a p re s e n te co m D eus.
Segunda Estrofe
3T o d as as coisas v ie ra m a ex istir a tra v é s d ele,
à p a rte d ele, n a d a v eio a existir.
4A q u ilo q u e v ie ra a ex istir n e le e ra a v id a ,
e esta v id a e ra a lu z d o s h o m en s.
5A lu z b rilh a so b re as tre v a s,
to d a v ia as tre v a s n ã o a v e n c era m .
Terceira Estrofe
10Ele e sta v a n o m u n d o ,
e o m u n d o foi feito p o r ele;
to d a v ia , o m u n d o n ã o o reco n h eceu .
11V eio p a ra o q u e era seu ,
to d a v ia os se u s n ã o o ac eita ra m .
1 · Hino introdutório 171
12M as a to d o s o s q u e o a c e ita ra m
ele d e u p o d e r p a ra se to rn a re m filhos d e D eus.
Isto é, o s q u e c re e m e m se u n o m e - 13os q u e fo ra m g e ra d o s, n ã o p o r
m eio d o sa n g u e , n e m p o r m eio d o d esejo carn al, n e m p o r m eio d o
d esejo d o h o m e m , m a s p o r D eus.
Quarta Estrofe
14E a P a la v ra se fez ca rn e
e fez s u a h a b ita ç ã o e n tre nós.
E te m o s v isto su a glória,
a g ló ria d e u m F ilho ú n ic o v in d o d o Pai,
c h e io d e a m o r co n sta n te.
16E d e s u a p le n itu d e
to d o s n ó s tiv e m o s p a rtic ip a ç ã o -
a m o r p o r a m o r.
NOTAS
1.1. No princípio. Na Bíblia hebraica, o prim eiro livro (Gênesis) é denom inado
por suas palavras iniciais: "N o princípio portanto"; o paralelo entre o
Prólogo e Gênesis seria facilmente visto. O paralelo continua nos versí-
culos seguintes, onde os tem as da criação e da luz e as trevas são um a
lem brança do Gênesis. A tradução que João faz da frase de abertura de
Gn 1,1, que é a m esm a da LXX, reflete um a com preensão daquele ver-
sículo evidentem ente m uito difundido nos tem pos neotestam entários;
172 I. Prólogo
"o m undo", a esfera do hom em , cuja menção se fará nos vs. 9-10.0 verbo
"veio a existir" é egeneto, usado constantem ente para descrever criação
na LXX de Gn 1.
à parte dele. Boismard, p . 11, in siste q u e " s e m ele " n ã o é u m a tr a d u ç ã o a d e -
q u a d a , p o is e s tá im p líc ito n ã o só c a u s a lid a d e , m a s ta m b é m p re s e n ç a .
3b-4. Estas linhas costum am ser divididas de outra m aneira, assim: "3be à
parte dele não veio à existência algo que não existia. / 4Nele estava a
vida". Nessa divisão, a cláusula "que veio a existir" - em vez de começar
v. 4 - com pleta o v. 3. Esta divisão alternativa se encontra na Vulgata
Clementina; e de acordo com M ehlmann , "De mente", foi a divisão do
próprio J erônimo (exceto em um caso). Mas D e la P otterie, "De interpre-
tatione", insiste que J erônimo só m udou para esta divisão c. 401 d.C. por
razões apologéticas. Com entaristas m ais m odernos usam a divisão que
temos escolhido em nossa tradução; M arrett e H aenchen constituem ex-
ceções. N um a tentativa para provar que nossa divisão é a m ais antiga,
Boismard, p. 14, dá um a im pressionante lista de escritores patrísticos que
a usam; e sugere que a tradução alternativa acima só foi introduzida no
4a século como apologética anti-ariana. Os arianos usaram nossa divisão:
"Aquilo que veio a estar nele era a vida", para provar que o Filho passara
por m udança e, portanto, realm ente não era igual ao Pai. Para opor-se a
isto, os Pais ortodoxos preferiram a tradução alternativa, a qual rem oveu
a base da interpretação ariana. Não obstante, nem todos os estudiosos
aceitam essa explicação da origem da divisão alternativa. M ehlmann ,
"A Note", tenta m ostrar que ela era pré-ariana; e H aenchen sugere que
nossa pontuação teve origem entre os gnósticos. Seja como for, a poesia
do Prólogo favorece nossa divisão, pois o paralelism o climático ou "es-
calonado" das linhas requer que o final de um a linha se contraponha
com o início da próxim a. Em nossa divisão, o "veio a existir", no final do
v. 3, contrapõe-se a "veio a existir" no início do 4. Além do mais, há um
interessante paralelo em Q um ran para 3b que ajuda a confirm ar nossa
redação (1QS 11,11): "E por Seu conhecimento tudo veio a existir, e por
Seu pensam ento Ele dirige tudo o que existe, e sem Ele nada é feito [ou
m anufaturado]". Ver D e la P otterie para um a exaustiva discussão de
todo o problem a.
4a. Aquilo que veio a existir nele era a vida. H á nesta linha cinco problem as
m uito difíceis: (a) "Aquilo que viera a existir". O Prólogo m uda do ao-
risto egeneto, "veio a existir", que foi usado duas vezes no v. 3, para um
gegonen perfeito "viera a existir". A lguns creem que isto constitui um a
tentativa de d ar um a ideia genérica de ser criado: "tudo aquilo que viera
à existência". Entretanto, norm alm ente a ênfase no tem po perfeito está
1 · Hino introdutório 175
A linha 9a pode significar: "A luz verdadeira era", ou, se suprirm os um su-
jeito da forma verbal: "Ele era a luz verdadeira". O significado seria em par-
te determ inado pelo que é feito com 9c onde a forma verbal é simplesmen-
te um particípio ("vindo ao m undo"), provavelm ente m odificando "luz".
Se lermos 9a como "Ele era a luz verdadeira", então o particípio separado
em 9c é m uito desajeitado; note como isso tem de ser artificialmente evita-
do acima suprindo outro "ele era" em 9c. Se lermos 9a como "A luz verda-
deira era", então o particípio de 9c é a continuação perifrástica do verbo:
"A luz verdadeira estava... vindo ao m undo". A circunlocução perifrástica
é conhecida no grego clássico, mas sua frequência no NT pode estar sob a
influência aram aica (BDF, § 353). O uso perifrástico de einai ("ser") m ais
um particípio presente como um a circunlocução para o imperfeito ocorre
nove vezes em João. A dificuldade especial em 1,9 é que o verbo "era" é
separado do particípio por cláusula, embora tenham os exemplos de sepa-
ração similar em 1,28; Mc 14,49; Lc 2,8 (ver ZHB, § 362). Talvez o motivo
por detrás da separação no vs. 9 fosse term inar o versículo sobre o tem a de
"o m undo" que se resum e no vs. 10. Além do mais, se com base em BDF,
§ 3531se quisesse enfatizar que em tais casos de perífrase separada há certa
independência concedida ao verbo principal, então a ideia é que havia um a
luz verdadeira e ela estava vindo ao m undo.
Juntamente com Bernard, G ächter, K äsemann, entre outros, pensam os
que a evidência é fortemente para não considerar o v. 9 como parte da
poesia do Prólogo. Ele não tem a partícula conjuntiva kai que é tão comum
nas partes poéticas do Prólogo; ele usa a subordinação que estas não têm.
1 · H in o in trod u tório 179
separada da poesia, visto que ela se une tão estreitam ente com 16. Parece
preferível aceitar a totalidade do v. 14 como poesia, e este é o ponto de
vista da maioria dos críticos.
se fez carne. "Carne" significa aqui o hom em por inteiro. E interessante que
mesmo na elem entar term inologia cristológica do l 2 século não se diz
que a Palavra veio a ser um hom em , m as equivalentem ente que a Palavra
veio a ser homem.
fez sua habitação. Skênoun, relacionada a Skêriê, "tenda", literalm ente é
"fincar um a tenda". No NT, o term o se encontra som ente aqui e no Apo-
calipse; ver comentário para o pano de fundo veterotestam entário.
entre nós. Literalmente, "em nós"; com pare Ap 21,3: "Eis que a habitação
de Deus está com os homens; ele habitará com eles". Aqui, a prim eira
pessoa faz sua aparição no Prólogo; "nós" se refere à hum anidade.
nós. Este é um uso mais restringido da prim eira pessoa, pois o "nós" não
é a hum anidade, e sim as testem unhas apostólicas, como no Prólogo de
1 João. E esta m udança de significado refletida em "nos" e "nós" que
levam alguns a pensar no v. 14c-d como sendo um a adição.
visto. Para theasthai, ver Apêndice 1:3, p. 794ss. C om pare ljo 1,1: "... algo
que temos visto [hõran] com nossos próprios olhos; algo que realm ente
visualizamos ftheasthai], e sentim os com nossas próprias m ãos". D e A u-
sejo, pp. 406-7, pensa que esta é um a referência a ver o Cristo ressurreto,
m as tal salto desde a encarnação é abrupta demais.
glória. Para doxa, ver Apêndice 1:4, p. 794ss.
de um filho único. Literalmente, "como de um único Filho"; as versões (OS,
Copt, Eth.) e T aciano parecem ter lido o "com o" antes na linha: "como
a glória de um único Filho". K acur , art. cit., pensa que esta é a redação
original. Não obstante, as versões não seriam precisas sobre um ponto
como este; além do mais, pode ter sido teologicam ente desejável evitar
a redação "como de um único Filho", para que alguém não o interprete
para significar "como se fosse um Filho único". O significado de "com o"
é, naturalm ente, não "como se", m as "na qualidade de".
Filho único. Para um tratam ento completo deste term o monogenês, ver D.
M oody, JBL 72 (1953), 213-19. Literalmente, o grego significa "de um tipo
[£e«os] singular [monos]". Embora genos se relacione distintam ente com
gennan, "gerar", há pouca justificativa grega para a tradução de monogenês
como "único gerado". A Vetus Latina o traduziu corretam ente como
unicus, "único", e assim fez J erônimo onde não se aplicava a Jesus. Mas,
para responder à alegação ariana de que Jesus não foi gerado, m as fei-
to, J erônimo o traduziu como unigenitus, "único gerado", em passagens
como esta (também 1,18; 3,16.18). A influência da Vulgata sobre o KJ fez
1 · Hino introdutório 185
sua com unidade era um a aliança de hesed. A ’emet de Deus é Sua fi-
delidade às prom essas pactuais. Traduções sugeridas são: "fidelidade,
constância, lealdade". Em Ex 34,6, ouvim os esta descrição de Iahweh
como Aquele que faz um a aliança com Moisés no Sinai: "Oh! Senhor,
Deus compassivo e gracioso, tardo em irar-te e rico [rab] em hesed e
'emet". Ver tam bém SI 25,10; 41,7; 86,15; Pr 20,28. K uyper, art. cit., fornece
um a abordagem profunda.
A objeção real de ver charis e alêtheia no Prólogo como um a tradução
de hesed e 'emet é que hesed norm alm ente é traduzido na LXX por
eleos, "misericórdia", não por charis. Não obstante, o uso que João faz
da Escritura com frequência não fiel à LXX. J. A. M ongomery , "H ebrew
Hesed and Greek Charis", HTR 32 (1939), 97102־, tem m ostrado que
charis é um a excelente tradução tanto de hesed como de 'emet do AT
e charis e alêtheia de Jo 1,14 pelas m esm as palavras (taibütâ e qushtâ).
O dialeto cristão siro-palestino traduz charis por hasdâ (= hesed). Como
para alêtheia, num a passagem como Rm 15,8, representa claram ente a
fidelidade à aliança do AT. E interessante notar que a Palavra de Deus
que desce do céu no Ap 19,11-13 é cham ado "fiel e verdadeiro [pistis...
alêthinos ]", que provavelm ente é outra reflexão do tema hesed e 'emet.
15. João Batista faz esta afirmação de Jesus em 1,30. Hoje se concorda que
este versículo é um a adição ao hino original, um a adição do m esm o tipo
que os vs. 6-8(9), interrom pendo bruscam ente os vs. 14 e 16.
testificou. Literalmente, presente histórico, embora H aenchen , p. 353, o trate
como um presente real no sentido que João Batista está agora dando tes-
tem unho juntam ente com a comunidade. O uso de um presente para um
tempo aoristo em narrativa vivida é comum no NT. Alguns o consideram
como um sinal de influência aramaica, porém se encontra tam bém em es-
critores clássicos. Black, p. 94, diz que nada há de especialmente semítico
sobre seu uso, embora seja excessivo em Marcos e João. Provavelm ente
deva ser considerado como um exemplo de escrito menos polido. Notare-
mos os presentes históricos nas notas textuais da tradução.
proclamando. Literalm ente, tem po perfeito: "e tem proclam ado": aqui, o
perfeito tem sim plesm ente o valor de um tem po presente (BDF, § 341).
O presente do verbo krazein é raro, e o perfeito é usado em seu lugar (BDF,
§ 101). O testemunho de João Batista acerca de Jesus e a proclamação dele
são vistos ainda em vigor frente as reivindicações dos sectários.
eu disse. Mesmo em 1,30, a referência a um a afirmação prévia por João Ba-
tista é confusa; aqui é lógica e o sinal de edição, indubitável.
16. Uns poucos com entaristas (Bernard, K äsemann ) excluiríam este versículo
do hino original. Em contrapartida, o v. 16 está estreitam ente ligado ao 14,
1 · Hino introdutório 187
Em João não há sugestão de que, quando a Lei foi dada através de Moisés,
esse não foi um ato magnificente do am or de Deus. Um contraste similar,
em espírito, ao de jo 1,17 se encontra em Hb 1,1: "H avendo Deus antiga-
m ente falado m uitas vezes, e de m uitas maneiras, aos pais, pelos profetas,
a nós falou-nos nestes últim os dias pelo Filho". Boismard, pp. 62-64, argu-
m enta que o am or duradouro não é tanto um atributo divino, e sim uma
referência às qualidades inerentes no hom em e plantadas ali por Jesus
Cristo. A distinção é provavelm ente dem asiadam ente sutil.
18. A lguns estudiosos que consideram o v. 17 como redacional aceitam o
18 como parte do poem a original, p. ex., D k A usejo e Bernard . Pode ser
m ontado em quatro linhas em form a poética, assim:
COMENTÁRIO: GERAL
n o e n ta n to , se u p ró p rio p o v o n ã o o recebeu. O v. 12 c o b re o L iv ro
d a G lória (caps. 13-20), o q u a l c o n té m as p a la v ra s d e Jesu s ao s q u e o
rec e b e ra m e in fo rm a co m o ele re to rn o u ao se u P ai a fim d e d a r-lh e s
o d o m d a v id a e fazê-lo s filh o s d e D eu s. J. A. T. R obinson , p . 122,
in siste so b re o n ú m e ro d e tem a s p a rtilh a d o p e lo P ró lo g o e o re s ta n te
d o ev an g elh o : p ree x istê n c ia (1,1=17,5); a lu z d o s h o m e n s e d o m u n d o
(1,4.9=8,12; 9,5); o p o sição e n tre lu z e tre v a s (1,5=3,19); v e n d o s u a gló-
ria (1,14=12,41); o ú n ico F ilho (1,14.18=3,16); n in g u é m , sa lv o o F ilho,
tem v isto a D e u s (1,18=6,46). E, n a tu ra lm e n te , as d u a s in te rru p ç õ e s
so b re João B atista se rela cio n a m com o q u e o e v a n g e lh o d irá so b re ele
(1,7 e re to m a d o e m 1,19; 1,15=1,30). A ssim , ao m e n o s e m su a fo rm a
a tu al, n ã o se p o d e d iz e r q u e o P ró lo g o seja to ta lm e n te e s tra n h o ao
ev an g elh o .
N ã o o b sta n te , h á a lg u m a s d ife ren ç a s e n tre o P ró lo g o e o e v a n g e -
lh o q u e têm d e se r ex p licad as. H á n o P ró lo g o lin h a s a lta m e n te p o é -
ticas, e x ib in d o u m p a ra le lism o clim ático o u " e sc a lo n a d o " , o n d e u m a
p a la v ra p ro e m in e n te e m u m v e rso (às v e z e s o p re d ic a d o o u a ú ltim a
p a la v ra) é e la b o ra d a n o v e rso s e g u in te (às v ezes co m o su jeito o u p ri-
m eira p a la v ra). E ste p a ra le lism o , e n q u a n to e n c o n tra d o ta n to n o A T
(SI 96,13) co m o em o u tro lu g a r em João (6,37; 8,32), n u n c a a tin g e a
perfeição ilu s tra d a n o s vs. 1-5 d o P rólogo. E m João, os d isc u rso s d e
Jesus têm u m a s o le n id a d e e lin g u a g e m q u e v ã o a lém d a p ro s a o rd in á -
ria, m as n a d a h á p o r ex ten so n o e v a n g e lh o q u e se ig u a le à e s tru tu ra
p o ética d o P ró lo g o . (Isso se d á p o rq u e , e m b o ra o v. 15 seja o m e sm o
q u e o v. 30, e la b o ra m o s o v. 15 co m o p ro v a , p o is ele n ã o se ig u a la com
o estilo p o ético d o P rólogo; to d a v ia , e s tru tu ra m o s o v. 30 n o fo rm a d o
sem i-p o ético d o s p ro n u n c ia m e n to s solenes).
A lém d e u m a d ife ren ç a d e fo rm a to , h á ta m b é m co n ceito s e ter-
m o s teo ló g ico s n o P ró lo g o q u e n ã o tê m eco n o e v a n g e lh o . A fig u ra
cen tral d o P ró lo g o é a P a lav ra , u m te rm o q u e n ã o o c o rre co m o u m
títu lo cristo ló g ico n o e v a n g elh o . O s im p o rta n te s te rm o s ch a ris, " a m o r
p a c tu a i" , e p lêro m a , " p le n itu d e " , d o s vs. 15 e 16 n ã o o c o rre m n o e v a n -
gelho; e a leth eia , " fid e lid a d e c o n sta n te " , tem u m sig n ific a d o d ife re n -
te (" v e rd a d e " ) n o ev an g elh o . O q u a d ro d e Jesus co m o o T a b e rn á c u lo
("h a b ita r e m te n d a " ), n o v. 14, n ã o o co rre n o e v a n g e lh o , o n d e Je su s é
o tem p lo (2,21).
A co n fu sa c o m b in ação d e sim ila rid a d e s e d iss im ila rid a d e s e n tre
o P ró lo g o e o e v a n g elh o tem sid o in te rp re ta d a d e d ife re n te s fo rm as.
1 · Hino introdutório 193
A formação do prólogo
Se a c e ita rm o s a e v id ê n c ia d e q u e a b a se d o P ró lo g o c o n sistiu de
u m h in o c o m p o s to n a igreja jo an in a , q u a is v e rsíc u lo s p e rte n c e ra m a
este h in o e co m o fo ra m a n e x a d o s ao ev a n g elh o ? N ã o h á co n co rd ân -
cia so b re a m b a s as q u e stõ e s. N a ú ltim a q u e stã o , h á q u e m p e n se q u e
h o u v e d o is e stá g io s d e re d a ç ã o d o h in o p a ra a d a p tá -lo ao ev an g e-
lho; h á q u e m p e n se q u e h o u v e u m , e este foi feito p e lo re d a to r final.
G âechter s u g e re q u e a a d a p ta ç ã o foi feita p e lo tra d u to r q u e trab a-
lh o u co m João e e x p re sso u se u p e n s a m e n to e m grego. B oismard p e n sa
q u e L u cas r e d ig iu e ste h in o p o rq u e e n c o n tra e x p re ssõ e s lu c a n a s nos
vs. 14 e 17; as s im ila rid a d e s com os h in o s p a u lin o s ta m b é m explica-
ria m a in te rv e n ç ã o d e Lucas.
N a p rim e ira q u e stã o co n cern en te ao q u e p e rte n ce ao h in o origi-
nal, h á in clu siv e m ais d eb ate. D am o s abaixo u m q u a d ro com a opi-
n ião d o s críticos. T o d o s os citad o s c o n sid e ram os vs. 6-8 e 15 com o
ad içõ es se cu n d á ria s; e m u ito s an e x aria m os vs. 9,12-13,17-18. A ún ica
c o n co rd ân cia g eral é so b re os vs. 1-5,10-11 e 14 com o p a rte s d o p o em a
original. O p rin c ip a l critério é a q u a lid a d e po ética d o s v erso s (exten-
são, n ú m e ro d e acentos, c o o rd en ação etc.). E n tretan to , com o H aenchen
tem sa lie n ta d o c o n tra os a d e p to s e x tre m a d o s d e ste critério (G âechter,
B ultmann , K äsemann , Schnackenburg ), o tip o d e re g u la rid a d e q u e exi-
gern n ã o se e n c o n tra n a m aio ria d o s h in o s p a u lin o s. A lém d o m ais, se o
critério p o ético for p o sto com o b a se d e u m o rig in al aramaico h ipotético,
n o s situ a m o s e m u m a p o s tu ra e x a g era d am e n te subjetiva. O u tro crité-
rio em d e te rm in a r os v erso s d o o rig in al é o d a s idéias, p o r exem plo,
196 I. Prólogo
£
aceita
t—ג
Bernard 1־5, 18.
Ο1
//
Bultmann 1-5, 9-12b, 14, 16.
D e A usejo ״ 1־5, 9-11, 14, 16, 18.
//
G aechter 1־5, 10-12, 14, 16, 17.
//
G reen 1, 3-5, 10-11, 14a-d, 18.
//
H aenchen 1־5, 9-11, 14, 16, 17.
//
K äsemann 1, 3-5, 10-12. (incerteza sobre 2)
SCHNACKENCURG ״ 1, 3-4, 9-11, 14abe, 16.
C O M E N T Á R IO : D E T A L H A D O
Quarta Estrofe: A p a r t ic i p a ç ã o d a c o m u n i d a d e n a P a la v r a - q u e - s e - f e z - c a r n e
(vs. 14 e 16).
M e sm o a o n ip re se n ç a d e D eu s q u e n e n h u m s a n tu á rio p o d e a b arcar
n o T a lm u d e é c h a m a d a S ua shekinah. A in d a q u e a lg u m a s d e ssa s o b ras
te n h a m s u a o rig e m n u m p e río d o a p ó s o I a sécu lo d.C ., a teo lo g ia d a
shekinah e ra c o n h e cid a n a q u e le tem p o ; e é b e m p o ssív e l q u e n o u so
d e skên ou n o P ró lo g o está re fle tin d o a id eia d e q u e Jesus é a g o ra a
shekinah d e D eu s, o locus d e e n c o n tro e n tre o Pai e a q u e le s h o m en s
e n tre os q u a is ela se rá Seu d eleite. Veja L. Bouyer, " Le Schékinah, Dieu
avec nous ״, BVC 20 (1957-58), 8-22.
O p e n s a m e n to d a p re se n ç a d iv in a em Jesus q u e a g o ra se rv e com o
o T a b e rn á c u lo e, talv ez, co m o a shekinah tra n sb o rd a n o v. 14c: "T em os
v isto su a g ló ria ". N o AT, a glória d e D e u s (heb. kãbôd-, gr. doxa - veja
A p ê n d ic e 1:4, p. 794ss) im p lica u m a m an ifestaç ã o visível e p o d e ro -
sa d e D e u s ao s h o m en s. N o T a rg u m , " g ló ria " tam b é m se to rn o u um
s u b s titu to , co m o memra e shekinah, p a ra a p rese n ç a visível d e D eus
e n tre os h o m e n s, e m b o ra seu u so n ã o fosse tão fre q u e n te co m o o d os
o u tro s s u b s titu to s . (Se em Ex 24,10 so m o s in fo rm a d o s q u e M oisés e os
an cião s v ira m o D eu s d e Israel, n o T a rg u m O n k elo s o u v im o s q u e "vi-
ram a g ló ria [aram . q a r ] d o D eu s d e Israel"). N ã o o b sta n te , n o q u e
p rim a ria m e n te e sta m o s in te re ssa d o s é a c o n sta n te co n ex ão d a glória
d e D eu s co m S ua p rese n ç a n o ta b e rn á c u lo e n o tem p lo . Q u a n d o M oi-
sés s u b iu ao M o n te Sinai (Ex 24,15-16), so m o s in fo rm a d o s q u e u m a n u -
v e m c o b riu o m o n te e a g ló ria d e D eu s p a iro u ali e n q u a n to D eu s falava
com M o isés so b re a c o n stru ç ã o d o tab e rn ác u lo . Q u a n d o o tab e rn ác u lo
foi e rig id o , a n u v e m o c o b riu e a g ló ria d e D eu s o en c h eu (Ex 40,34).
O m e sm o fe n ô m e n o é re g is tra d o q u a n d o o te m p lo d e S alo m ão foi de-
d ic a d o (lR s 8,10-11). Ju sta m e n te a n te s d a d e stru iç ã o d o te m p lo p elos
b a b ilô n io s, Ez 11,23 n o s in fo rm a q u e a g ló ria d e D e u s a b a n d o n o u a
cid ad e; m a s n a v isã o d o tem p lo r e s ta u ra d o E zequiel v iu a glória d e
D eu s u m a v ez m ais e n c h e n d o o edifício (44,4). A ssim , é b em ap ro -
p ria d o q u e , d e p o is d a d escrição d e co m o a P a lav ra e d ifico u u m taber-
n á c u lo e n tre os h o m e n s n a c a rn e d e Jesus, o P ró lo g o m en c io n aria q u e
su a glória se to rn o u visível.
O s v e rs o s 14c e d se refe re m a u m a m an ifestaç ã o p a rtic u la r da
g ló ria d a P a la v ra e n c a rn a d a ? Já m en c io n am o s n a n o ta q u e " te m o s vis-
to " p a re c e s e r u m a referên cia a te s te m u n h a a p o stó lic a , co m o o "n ó s"
d o P ró lo g o a 1 João. P o rta n to , m u ito s s u g e re m q u e o h in o está se re-
p o r ta n d o ao m o m e n to e m q u e P e d ro , João e T iago te s te m u n h a ra m a
T ra n sfig u ra ç ã o d e Jesus, u m a cen a n ã o re g is tra d a e m João, p o ré m
212 I. Prólogo
BIBLIOGRAFIA
Esta Parte tem sua conclusão em 2,1-11, a cena em Caná onde Jesus m anifesta
sua glória e seus discípulos creem nele. Esta cena em Caná tam bém serve
como a cena de abertura da Segunda Parte e será discutida ali.
2 · O testemunho de João Batista: acerca de sua função 219
NOTAS
1.19. Ora. Esta seção começa com um kai, como tam bém serve de abertura
em m uitos dos livros da LXX (2Sm, 1 e 2Rs). Antes que o Prólogo fosse
prefixado, é possível que este versículo servisse de abertura do evan-
gelho, em bora um a possibilidade mais provável seja que os vs. 6 8 )7)?־
precedessem o v. 19 e constituíssem a abertura original.
este é 0 testemunho. Nos vs. 6-7 ou vimos que João Batista foi enviado a
testificar da luz, e agora, aqui, é o testem unho acerca de si próprio. Espe-
ram os um testem unho acerca de Jesus, m as esse só vem nos vs. 29-34 no
dia seguinte. A sequência original provavelm ente fosse confundida pela
ação redacional; ver pp. 252-257 abaixo.
os judeus. Para o uso deste term o como um a referência às autoridades reli-
giosas hostis a Jesus, particularm ente as de Jerusalém, veja Introdução,
Parte V:B.
enviaram. M uitas boas testem unhas anexam "a ele"; m as isto está perdido
em ambos os papiros Bodmer e, provavelm ente seja um esclarecim ento
redacional.
sacerdotes e levitas. Com o fim de indagar sobre sua função de batizar, en-
viam os especialistas em purificação ritual. Esta é um a interessante con-
frontação de João Batista e os sacerdotes em vista da tradição lucana de
que João Batista era filho de sacerdote (Lc 1,5). N orm alm ente, "levitas"
se referem a um a classe sacerdotal inferior, m as algum as vezes, nos do-
cum entos rabínicos, à guarda do templo. São raros no cenário do NT
(somente em Lc 10,32; At 4,36).
Jerusalém. No grego de João, esta é sem pre a Hierosolyma helenizada; no
Apocalipse, sem pre a Hierousalêm mais prim itiva - certam ente, um a in-
dicação de diferentes escribas.
20. declarou sem qualquer restrição, confessando. Literalm ente, "Confessou, e
não negou, confessou" - tautológico mesm o para João. É bem provável
que este seja um sinal de elaboração redacional, pois não há em João
outro exemplo desta dupla combinação de positivo, negativo, positivo.
Eu não sou 0 Messias. Há quem sugira que o "Eu" é enfático: Eu não sou, mas
outro é. No entanto, não há muita evidência de que João Batista identificou
aquele que vem após ele como o Messias no sentido estrito, i.e., o ungido rei
davídico. Jo 3,28 é a única referência específica a João Batista como a prepa-
rar o caminho para o Messias; pode estar implícito em Lc 3,15-16.
21. Então. Oun é a partícula conectiva favorita de João (195 vezes); nunca
ocorre em 1 João - reiterando, um a interessante indicação de diferentes
copistas nas obras joaninas.
2 · O testemunho de João Batista: acerca de sua função 221
quem és tu? Elias? O utras separações destas palavras são atestadas, mas
esta é endossada pelos papiros Bodmer.
23. A forma com um no NT de citar Is 40,3 vem substancialm ente da LXX,
onde "no deserto" modifica a "voz", e não do TM, onde "no deserto" é
parte do que é dito, assim:
O fato de que João Batista estava num a região desértica quando fez ecoar
sua voz profética fez a leitura da LXX mais adequada aos propósitos do
NT. O sim bolism o de p reparar um cam inho para Iahw eh provavelm ente
seja extraído das preparações para as procissões em honra das estátuas
dos deuses ou em honra de potentados visitantes. G arofalo, art. cit., in-
dica um bom paralelo em um papiro ptolem aico do 3“ século a.C. que
descreve preparações sendo feitas para a visita do capitão da guarda real.
As instruções são que "se faça um a estrada" para sua chegada (G renfell.
H unt, Greek Papyri, Series II [1897], p. 28, xivB).
uma voz. A gostinho (Sermons 293:3; PL 38:1328) observa poeticam ente que
João Batista foi um a voz por certo tem po (Jo 5,35), m as Cristo é a eterna
Palavra desde o princípio.
24. os emissários dos fariseus. Esta é um a tradução um tanto am bígua que tra-
ta de captar as possibilidades oferecidas pelas duas diferentes redações
gregas deste versículo e as várias interpretações que os estudiosos fazem
delas: (a) "E os enviados eram da parte dos fariseus" - um artigo antes
do particípio. Isto tem um a atestação mais fraca. Presum ivelm ente, "os
enviados" seriam um a referência aos sacerdotes e levitas mencionados
no v. 19, em bora Bernard veja nesta redação um a tentativa de introduzir
um novo grupo. A dificuldade básica é que sacerdotes e levitas normal-
m ente pertenceríam ao partido saduceio. L agrange, p. 37, dá evidência
para m ostrar que alguns sacerdotes viviam de mãos dadas com os fari-
seus, m as dificilmente isto seja um a explicação satisfatória da presente
passagem . O utros usam isto como prova de que o evangelista nada co-
nhecia da Palestina. Entretanto, o evangelista nunca entra em detalhes
sobre os vários grupos na Palestina (mesmo os coletores e os herodia-
nos estão ausentes em João) porque, no tem po em que este evangelho
foi escrito, estes grupos não mais eram tão significativos. O judaísmo
que sobreviveu à destruição do tem plo era de uma forte m atiz farisaica,
e para um evangelho escrito com esta situação em mente, "fariseus" e
222 II. O Livro dos Sinais
Justam ente como Josué conduziu o povo através do Jordão à terra prome-
tida, assim Jesus está percorrendo a terra prom etida à frente de um novo
povo. A tradição peregrina identifica o mesm o lugar junto ao Jordão
para ambos: a travessia de Josué e o batism o de Jesus. No entanto, pode
ser que este sim bolismo bem plausível torne o nom e parcam ente atesta-
do de Betábara ainda m ais suspeito. M esmo o nom e de Betânia é aberto
à interpretação simbólica; K rieger, art. cit., sugere que ele se deriva de
bet-aniyyah, "casa de resp osta/testem unha/testem unho", um a derivação
que faria o nom e apropriado para o lugar onde João Batista dava teste-
m unho de Jesus. Sobre esta base, K rieger e outros negam a realidade
geográfica do local; m as onde há sim bolismo em João, geralm ente ele
se origina de um a interpretação engenhosa do fato, em vez de criação
m eram ente imaginativa. Os estudiosos têm se tornado mais cautelosos
agora de que alguns nom es joaninos de lugares, um a vez considerados
m eram ente simbólicos (p. ex., Betesda em 5,2), têm se revelado factuais.
COMENTÁRIO: GERAL
COMENTÁRIO: DETALHADO
H á do is in terro g ató rio s n o p rim e iro dia: vs. 19-23 e 24-27. N o p rim e iro ,
João B atista n eg a p a ra si q u a lq u e r u m d o s p a p é is trad icio n ais escatoló-
gicos com n eg ativ as p ro g re ssiv a m en te m ais co n tu n d e n tes: "E u n ã o so u
o M essias... e u n ão sou... N ão!" Ele reiv in d ica p a ra si a p e n a s a fu n ção
d e a ra u to , assim focan d o to d a a aten ção so b re a q u e le q u e e sta v a ehe-
g an d o . N o se g u n d o in terro g ató rio , ele justifica su a fu n ção d e b a tiz a r
tam b ém em term o s d e p re p a ra ç ã o p a ra aq u e le q u e h a v ia d e vir.
U m a v o z n o d e se rto clam an d o :
" P re p a ra i o c a m in h o d o S enhor;
fazei re ta su a [LXX: d e D eus] v e re d a " .
Segundo Interrogatório: João Batista descreve seu próprio batismo como prelimi-
nar e exalta aquele que vem (1,24-28)
"E is o C o rd e iro d e D eu s
q u e tira o p e c a d o d o m u n d o .
30E so b re q u e m e u disse:
'A p ó s m im v e m u m h o m e m
q u e m e p re c e d e u ,
p o is a n te s d e m im ele existia.'
NOTAS
A razão real para os com entaristas evitarem a referência tem poral, na ter-
ceira cláusula, é que ela põe o tema da preexistência de Jesus nos lábios
de João Batista (veja comentário). A tentativa de Dodd de evitar isto é
prim orosa (T r a d itio n , p. 274): "H á um hom em em m eus passos que assu-
m iu a precedência sobre mim, porque ele é e sem pre foi essencialm ente
m eu superior". O utros atribuem a João Batista som ente as duas prim ei-
ras linhas, e a últim a ao evangelista. Isto deixaria João Batista com um
contraste entre seguir no tem po e preceder em posição; a últim a linha
que diz respeito à precedência no tem po parece essencial.
31. e b a tiza r. Literalmente, "batizando"; veja ZGB, § 283-84, para o possível
tem po futuro: "Eu vim para batizar".
com á g u a . Em vista da fraca evidência patrística, Boismard, "Les tr a d itio n s " ,
p. 10, om ite isto como um a glosa.
revelo u . P h a n ero u n é frequente em João (9 vezes quando contrastado com
um a vez nos sinóticos, Mc 5,22), particularm ente para a saída de Jesus da
obscuridade e ser visto pelos homens.
Israel. Em geral, este term o, no uso joanino, tem um a boa conotação (como
oposto a "os judeus"), e se refere ao povo de Deus.
32. ten h o v is to . O tem po perfeito indica que a ação, que presum ivelm ente
ocorreu no batism o de Jesus, ainda está tendo seu efeito, a saber, o Espíri-
to ainda está com Jesus. Para o verbo th ea sth a i, veja Apêndice 1:3, p. 794ss;
na referência paralela no v. 33 para ver o Espírito, usa-se h oran (e id e in ).
com o p o m b a . Esta frase é om itida em OS; e há m enos hesitação em sua se-
quência nos mss. gregos. Para alguns, isto é evidência de que ela foi in-
terpolada dos sinóticos. No entanto, pode ser que a confusão foi causada
pela ausência da frase no v. 33; a hesitação sobre a sequência pode re-
fletir a influência de diferentes sequências sinóticas nos copistas do ms.
3 · O testemunho de João Batista: Acerca de Jesus 239
Por que um a pom ba seria o símbolo do Espírito, não é totalm ente claro.
Talvez o pairar do espírito sobre as águas prim evas, em Gn 1,2, tenha su-
gerido o pairar de um a ave (como em Dt 32,11); esta observação aparece
na tradição judaica (B ernard, I, p. 49). A. F euillet, RSR 46 (1958), 52444־,
dá um tratam ento com pleto da questão e sugere que o símbolo da pom ba
é um a alusão ao povo do novo Israel como o fruto do Espírito.
v e io re p o u sa r so b re ele. Esta frase tam bém se encontra na descrição do batis-
mo no e v a n g e lh o s e g u n d o o s H e b re u s (Jerônimo In Isaia 20, 2; PL 34:145). Se
apoia o Evangelho segundo aos H ebreus na tradição joanina? Sabemos
dos paralelos relativam ente poucos entre duas obras, e é mais provável
que am bos, João e esse escrito, estão extraindo da tradição não sinótica.
33. A q u e le q u e m e e n v io u . Veja nota sobre 1,6.
co m á g u a . Boismard trata como um a glosa; veja nota sobre v. 31.
m e d is se . João Batista é aquele a quem a palavra de Deus veio (Lc 3,2).
a q u ele q u e v e m b a tiz a r co m u m E sp ír ito sa n to . Boismard trata isto também
como um a glosa. Não obstante, a sugestão de que foi interpolado dos
sinóticos se depara com a objeção de que a forma joanina não é a mesma
que quaisquer das form as sinóticas da cláusula. Em particular, Mateus
e Lucas m encionam o batism o "com um Espírito santo e fo g o " . Estas
são realm ente alternativas, pois o batism o com um Espírito santo é um
purificação benéfica, enquanto o batism o com fogo é um a purgação des-
trutiva (Is 4,4) - P. van I mschoot, " B aptêm e d 'ea u e t b a p tê m e d 'e s p r it sa in t" ,
ETL 13 (1936), 65366־. O "e fogo" poderia ter sido parte do logion origi-
nal, pois a om issão cristã da frase é m ais fácil de explicar do que a adição.
34. te n h o v is to ... te n h o te stific a d o . Tem pos perfeitos; a ação continua.
0 e sc o lh id o d e D e u s . Esta leitura se encontra na escritura original do Co-
dex Sinaiticus, OL, OS e em alguns Pais, e pode ter o apoio do Papyrus
O xyrhynchus 208 (3 טséculo). A vasta maioria das testem unhas gregas
lê "o Filho de Deus", como fazem com entaristas como B ernard, B raun,
B ultmann, entre outros. No entanto, com base nas tendências teológi-
cas, é difícil im aginar que escribas cristãos m udassem "o Filho de Deus"
para "o escolhido de Deus", enquanto um a m udança na direção opos-
ta seria totalm ente plausível. A harm onização com os relatos sinóticos
do batism o ("Tu és [Este é) m eu F ilho am ado") tam bém explicaria a in-
trodução de "o Filho de Deus" em João; o m esm o fenôm eno ocorre em
6,69. Portanto, a despeito da evidência textual mais fraca, parece pre-
ferível - com L agrange, Barrett, Boismard, entre outros - aceitar "o es-
colhido de Deus" como original. Para um interessante paralelo para as
duas redações, contraste Lc 18,35 com Mt 27,40. Em um texto aramaico
de Q um ran, um a figura que parece ter um papel especial no plano
240 II. O Livro dos Sinais
COMENTÁRIO
3,5: "E b em sabeis que ele se m anifestou p ara remover nossos pecados".
3,8: "P a ra isto o F ilho d e D e u s se m a n ifesto u : p a ra destruir as
obras do diabo".
PR IM E IR A C L Á U S U L A
v. 15: a q u e le q u e v e m d e p o is d e m im
v. 30: a p ó s m im v e m u m h o m e m
v. 27: a q u e le q u e h á d e v ir a p ó s m im
248 II. O Livro dos Sinais
SE G U N D A C LÁ U SU LA
vs. 15, 30: tem p rec e d ê n cia so b re m im
v. 27: n e m m esm o so u d ig n o d e d e s a ta r as c o rre ia s d e su a
sa n d á lia
Crítica literária
V E R SÃ O X VERSÃO Y
6O ra , h o u v e u m h o m e m e n v ia d o p o r D eu s cujo n o m e e ra João 7que
v eio co m o te s te m u n h a p a ra testificar da lu z p a ra q u e, a tra v é s dele,
to d o s o s h o m e n s v iesse m a crer. 8M as so m e n te p a ra testificar d a luz,
p o is ele m e s m o n ã o e ra a luz. 19O ra, este é o te ste m u n h o q u e João d e u
q u a n d o os fa rise u s [ju d e u s n o tex to Yj e n v ia ra m d e Jeru salém sacer-
d o te s e lev ita s a p e rg u n ta r-lh e q u e m ele era: 20ele d e c la ro u sem qual-
q u e r restriç ão , c o n fe ssa n d o : "E u n ã o sou o M essias". 21Eles o in terro -
g a ra m m ais: "E n tã o , q u e m és tu? E lias?" "E u n ão so u ", ele re sp o n d e u .
"É s tu o p ro fe ta ? " "N ã o !", rep lico u .
25T o rn a ra m a p e rg u n ta r-lh e : "Se 22E n tão lh e d isseram : " Q u e m és
n ão és o M essias, n e m Elias, n e m tu p re c isa m e n te - p a ra q u e p o ssa-
o p ro fe ta , e n tã o o q u e e stá s fazen- m o s d a r a lg u m a re sp o sta aos qu e
d o b a tiz a n d o ? " n o s e n v ia ra m . O q u e ten s a d ize r
d e ti m esm o ? "
2 6 a ! ״. sr
João lh es re s p o n d e u 23Ele d isse, c ita n d o o p ro fe ta
Isaías: "E u sou 'u m a v o z n o de-
se rto q u e clam a: P re p a ra i o cam i-
n h o a o S en h o r!'
26cH á u m e n tre v ó s a q u e m n ão 30bA p ó s m im v e m u m h o m em
reco n h eceis; q u e tem p rec e d ê n cia so b re m im ,
p o is já existia a n te s d e m im .
31Eu m e s m o n u n c a o conheci, 33E eu m esm o n ã o o conhecia,
m u ito e m b o ra a p ró p ria ra z ã o m as A q u e le q u e m e e n v io u a ba-
p o r q u e e u v im e b a tiz a v a foi p a ra tiz a r m e disse:
q u e ele fosse re v e la d o a Israel". 'Q u a n d o vires o E spírito descer e
32João d e u ta m b é m este teste m u - re p o u sa r so b re alg u ém , esse é ele.'
nho: "E u v i o E sp írito d e sc e n d o ///34O ra , e u m esm o te n h o v isto e
co m o p o m b a d o céu e v eio re p o u - te n h o testificado: Este é o escolhí-
sa r so b re ele". d o d e D e u s'" .
28Foi e m B etânia q u e isto a c o n te c eu , d a lé m d o Jo rd ã o , o n d e João cos-
tu m a v a b a tiz ar.
35N o d ia se g u in te , João foi p a ra lá 29N o d ia s e g u in te , q u a n d o tev e
com s e u s d isc íp u lo s, 36 e o b ser- a v isã o d e Je su s v in d o p a ra ele,
v a v a Je su s p a s s a n d o , e disse: "E is d isse: "E is a q u i o C o rd e iro d e
a q u i e stá o C o rd e iro d e D e u s D eus
q u e re m o v e o p e c a d o d o m u n d o " .
256 II. O Livro dos Sinais
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4. OS DISCÍPULOS DO BATISTA
VÃO A JESUS: - OS PRIMEIROS DOIS
DISCÍPULOS E SIMÃO PEDRO
( 1 ,35-42 )
1 35N o dia seg u inte, estava ali João o u tra vez com dois discípulos; 36e
o b se rv a n d o Je su s p a ssa r, exclam ou: "E is a q u i o C o rd e iro d e D eus".
37O s d o is d isc íp u lo s o u v ira m o q u e ele d isse e se g u ira m a Jesus.
38Q u a n d o Jesu s o lh o u ao re d o r e os n o to u se g u in d o -o , lh es p er-
g u n to u : " o q u e b u sc ai? " Eles lh e d isse ram : "R abi, o n d e estás m o-
ra n d o ? " ("R ab i" q u e significa "M estre"). 39"V in d e e v e d e ", res-
p o n d e u ele. E n tão fo ra m v e r o n d e ele m o ra v a e ficaram com ele
a q u e le d ia (era cerca d e q u a tro d a tard e).
40U m d o s d o is q u e o se g u ira m , d e p o is d e o u v ir João, era A n d ré,
irm ã o d e S im ão P ed ro . 41A p rim e ira coisa q u e ele fez foi e n c o n tra r
s e u irm ã o S im ão, e disse-lhe: "E n c o n tra m o s o M essias!" (T rad u zi-
d o , "M e ssia s" significa "U n g id o "). 42Ele o lev o u a Jesus q u e olh o u
p a ra ele e disse: "T u és S im ão, filho d e João; te u n o m e será C efas"
(q u e q u e r d iz e r " P e d ro " ).
NOTAS
1.35. estava ali. Literalmente, "estava em pé"; Bernard, I, p. 53, toma-o no sentido
de que o Batista estava em pé, aguardando Jesus. Mais provavelmente, o
verbo simplesmente implica que ele estava presente; veja BAG, p. 383 (II 2b).
260 II. O L ivro d o s S in ais
d o is d isc íp u lo s.Um deles era A ndré (v. 40); o outro não tem seu nom e ex-
presso. Deveria ser identificado com o "outro discípulo" = "o discípulo
a quem Jesus am ava" (tradicionalm ente identificado com João, filho de
Zebedeu; veja acima p. 98)? O escriba que foi o responsável pelo capítulo
21 podería ter pensado assim, pois ele descreve o Discípulo A m ado em
um a situação m uito semelhante à que temos aqui (21,20). Todas as listas
dos Doze trazem Simão, André, Tiago e João como os quatro primeiros;
os sinóticos mencionam estes mesmos quatro (Lucas omite André) como
os primeiros discípulos chamados enquanto pescavam no M ar da Galileia
(Mc 1,16-20 e par.). A p rio ri, pois, pode haver certa probabilidade de que o
discípulo não mencionado nom inalm ente fosse um dos quatro, especial-
m ente visto que o Quarto Evangelho cita nom inalm ente A ndré e Pedro
como dois dos primeiros três chamados. Assim, há algum a base para a
identificação do discípulo não nom eado desta passagem como sendo João.
Boismard, D u B a p tê m e , pp. 72-73, argum enta que Filipe é o discípulo sem
menção nom inal, ressaltando que Filipe e A ndré estão sem pre juntos nes-
te evangelho (6,5-9; 12,21-22) e procedem da m esm a vila (1,44). Pode-se
tam bém salientar que A ndré e Filipe estão juntos na lista dos Doze em
Mc 3,18 (os dois nom es são adjacentes em At 1,13, porém não unidos por
um a conjunção como um par). Não obstante, a lista em M ateus e Lucas
separam seus nomes. A verdadeira dificuldade para Boismard é que 1,43
parece introduzir Filipe pela prim eira vez e torna difícil de crer que ele já
fosse m encionado. Alguns têm sugerido que esta cena em João constitui
num a adaptação da cena sinótica onde o Batista envia seus discípulos a
fazer perguntas a Jesus (Mt 11,2; Lc 7,19). Há bem poucas sim ilaridades
entre as duas cenas.
d is c íp u lo s. Todos os evangelhos concordam que o Batista tinha discípulos.
Aparentem ente, p or seu batismo, form am um grupo separado, com suas
próprias regras de jejum (Mc 2,18 e par.; Lc 7,29-33) e inclusive suas pró-
prias orações (Lc 5,33; 11,1). Jo 3,25 e 4,1 sugerem certa rivalidade entre
os discípulos do Batista após a m orte deste.
36. o b se rv a n d o . O verbo e m b le p e in (duas vezes em João, aqui e v. 42) significa
fixar o olhar em alguém e, assim, olhar com penetração e discernim ento.
Esse significado é mais apropriado para o v. 42 do que aqui.
37. Os d o is d is c íp u lo s. Os mss. gregos leem "seus dois discípulos"; m as a po-
sição de "seus" varia tanto que provavelm ente se deva considerar um a
clarificação posterior.
38. n o to u . Para th e a sth a i, veja A pêndice 1:3, p. 794ss. Aqui, o verbo não tem
significado especial; a descrição paralela mais próxim a em 21,20 usa o
b lepein simples.
4 · Os discípulos do batista vão a Jesus: Os primeiros dois discípulos... 261
buscai. Em seu esforço por estabelecer o substrato aram aico de João, Bois-
m a r d , Du Baptême, p. 73, insiste que o verbo aram aico be 'â significa tanto
m as Jesus diz que o Filho do Hom em não tem onde reclinar sua cabeça.
Isto é seguido por outro incidente, onde Jesus diz a um discípulo: "Se-
gue-me". Note os paralelos nestas cenas sinóticas ao relato de João.
39. quatro da tarde. Literalmente, "a hora décim a"; presum ivelm ente, João está
com putando as horas a partir do am anhecer, às 6 da m anhã. N. W alker,
"The Reckoning of H ours in the Fourth Gospel", NovT 4 (1960), 69-73,
tem revivido a sugestão de B elser e W estcott de que, diferente dos evan-
gelhos sinóticos, João com puta as horas a partir do meio dia, segundo o
costume dos sacerdotes rom anos, dos egípcios etc. Ele alega que 10 da
m anhã faria m elhor sentido no presente contexto. Não obstante, é bem
claro no relato joanino da m orte de Jesus que o dia seguinte, a Páscoa,
começaria no início da noite, e não ao meio dia; este detalhe favorece
um a com putação das horas vespertinas a partir das 6 da tarde, e as horas
m atutinas a partir das 6 da manhã.
A indicação de tem po tem algum a importância? A lgum as vezes, as ano-
tações joaninas sobre o tem po parecem ter im portância especial, p. ex.,
"meio dia" em 19,14; outras vezes, não, p. ex., "m eio dia" [hora sexta]
em 4,6. O fato de que dez é um núm ero significativo no AT e um nú-
mero perfeito para os pitagóricos e F ilo tem levado Bultmann, p. 70, a
sugerir que João menciona a hora décim a como a hora do cum prim ento.
Uma sugestão mais im portante é que aquele dia era um a sexta-feira, daí
a véspera do sábado; assim, os discípulos ficaram com Jesus desde as 4
da tarde de sexta-feira até a noite de sábado, quando o sábado já havia
expirado, pois não podiam se m over a algum a distância, um a vez que o
sábado começava na noite de sexta-feira. Veja nota sobre 2,1.
40. irmão de Simão Pedro. Presumivelmente, Pedro seria bem conhecido do leitor.
João mostra uma marcante preferência pelo nome combinado, Simão Pedro.
Como o restante do NT, exceto 2Pd 1,1 (e talvez At 15,14), João usa para
Pedro "Simão", e não "Simeão". ("Simão" era um genuíno nome grego; "Si-
meão" seria uma transliteração preferível para o nome hebraico Sim'öri).
Mt 10,2 e Lc 6,14 concordam que André e Pedro eram irmãos.
41. A primeira coisa que ele fez foi. Há diversas redações e traduções possíveis:
(a) prõton. O uso adverbial do neutro do adjetivo (= A ndré primeiro en-
controu seu irm ão antes de fazer algum a outra coisa) é a redação mais
bem atestada, apoiada por P“ ·75; é adotada aqui. A bbott, JG, § 1901b, in-
terpreta prõton como acusativo m odificando Simão e indicando que Pe-
dro tem o prim eiro lugar; assim tam bém C ullmann, Peter (2 ed., 1962),
p. 30; (b) prõtos. O adjetivo m asculino nom inativo m odificando "A ndré"
é encontrado em mss. sináiticos e gregos posteriores. Esta redação (A ndré
foi o prim eiro a encontrar seu irm ão Simão Pedro) tem sido tom ada por
4 · Os discípulos do batista vão a Jesus: Os primeiros dois discípulos... 263
COMENTÁRIO: GERAL
COMENTÁRIO: DETALHADO
A n d r é e n c o n t r a S im ã o e 0 le v a a J esu s 0 M e s s i a s (1,40-42)
43: encontrou, disse; 45: encontrou, disse; 46: disse; 47: exclamou; 48: perguntou; 51: disse.
No tempo presente histórico.
NOTAS
para o sujeito. Entretanto, enquanto João poderia nos dizer que Pedro
encontrou Filipe, dificilmente ele se deteria para nos dizer que Pedro
queria ir para a Galileia. Na presente sequência, provavelm ente Jesus
está im plícito como o sujeito, em bora em um estágio anterior da narra-
tiva A ndré poderia ter sido o sujeito (veja comentário).
ir. A parentem ente, Jesus ainda está na região de Betânia, a um a distância
de dois dias da Galileia (2,1).
encontrou. Os que pensam que Filipe era um dos dois discípulos mencio-
nados em l,35ss., interpretam isto no sentido de "encontrou outra vez".
A pontam para o uso de "encontrar" em 5,14 e 9,35, onde Jesus sai em
busca de um hom em que estivera com ele há pouco tem po antes. Não
obstante, nesses casos a conotação peculiar de "encontrar outra vez" é
clarificada pelo contexto. O v. 43 parece não ser diferente do v. 41, onde
"encontrar" é usado para introduzir um personagem .
Filipe. Ele é o terceiro discípulo a ser m encionado nom inalm ente em João,
depois de A ndré e Simão Pedro; a m esm a ordem se encontra na lista que
P apias faz dos anciãos a quem ele consultou (acima, pp. 94-95). Embora
Filipe seja m encionado nom inalm ente em todas as listas dos Doze, so-
m ente João lhe dá algum papel na narrativa do evangelho (6,5-7; 12,21-22;
14,8-9). A m em ória de Filipe foi honrada em Hierápolis, a sé de P apias, e
ali se m enciona a presença das filhas de Filipe (E usébio Hist. 3, 31:3; GCS
91: 264). É bem provável que o últim o detalhe aponta para um a confusão
acerca de Filipe, um dos sete líderes helenistas (At 6,5), que viveu em
Cesareia com quatro filhas (21,8-9).
44. Ora. Ou, talvez, "pois", se o fato de que Filipe era da Galileia foi a razão
por que Jesus o cham ou antes de sair para a Galileia.
Betsaida. João pensa em Betsaida como estando na Galileia (explicitamente,
em 12,21); na verdade, era em Gaulanitis, território de Filipe além da
fronteira da Galileia de Herodes. A localização de João pode refletir o
costum e popular: ela aparece tam bém na Geografia de Ptolom eu (5,16:4);
Josefo, Ant. 18.1.1; 4, fala de Judas, o revolucionário, como de Gaulanitis,
m as em 1.6; 23 o chama de galileu. Também a informação de João pode
refletir as divisões políticas de um período posterior (B ernard, 11, p. 431,
sugere que em torno de 80 a extensão da Galileia incluía Betsaida).
a mesma vila de André e Pedro. O território de Filipe era densam ente gen-
tílico, um fato que pode explicar por que judeus como A ndré e Filipe
tivessem nom es gregos (veja tam bém nota sobre Sim ão/Sim eão, 1,40).
Q ue o lar de A ndré e Pedro fosse em Betsaida não se harm oniza com Mc
1,21.29, que parece localizar seu lar em Cafarnaum . Seguindo O rígenes,
Boismard, D u Baptême, p. 90, sugere que Betsaida foi introduzida no relato
272 II. O Livro dos Sinais
nele não existe dolo. Não fica claro o que há sobre Natanael para provocar
esta observação. Teria sido sua prontidão em crer quando indicado?
48. Como me conheces? Literalmente, "De onde me conheces?"; Jesus respon-
derá quanto ao onde ele o viu. Para paralelos semíticos e clássicos para
o intercâm bio de palavras interrogativas como "donde" e "com o", veja
Barrett, p. 154.
debaixo da figueira. João sublinha a habilidade de Jesus conhecer coisas além
da condição hum ana normal. Todavia, a im pressão de que a afirmação de
Jesus causa em N atanael tem levado com entaristas a especular sobre o que
N atanael estaria fazendo debaixo da figueira. Algum as vezes os rabis en-
sinavam ou estudavam debaixo de um a figueira (Midrásh Rabbah sobre
Eclesiastes v. 11) e inclusive com paravam a Lei à figueira (TalBab Erubin
54a); e assim surge aí um a tradição de que Natanael era um escriba ou rabi.
A m enção da Lei, no v. 45, tem sido usada para endossar isto; e é com
base nisso, de que Natanael era erudito, que levou A gostinho a excluí-lo
dos Doze! J eremias, art. cit., pensa no sim bolismo da árvore do conhe-
cim ento no Paraíso. Ele sugere que provavelm ente N atanael estivesse
confessando seus pecados a Deus debaixo da árvore e que Jesus lhe está
assegurando que seus pecados foram perdoados por Deus (veja SI 32,5).
C. F. D. M oule, art. cit., recorda o relato de Suzana (deuterocanônico
Dn 13), onde as testem unhas são testadas com perguntas concernentes
à árv o re debaixo da qual ocorreu o adultério. Ele cita evidência tal-
m údica para a fórmula: "Debaixo de qual árvore?", como um a prova de
evidência; e pensa ser possível que Jesus estivesse m ostrando que ele
tem conhecim ento acurado de Natanael. Por causa da referência a Nata-
nael como um israelita (Israel = Jacó), ainda outros sugerem que ele es-
tava lendo os relatos de Gênesis sobre Jacó. O utros nos lem bram que em
Mq 4,4 e Zc 3,10, "assentar debaixo da figueira" é um símbolo de paz e
abundância messiânicas. Estamos longe de exaurir as sugestões, todas
elas frutos de m era especulação.
49. Rabi. Os discípulos continuam a cham ar Jesus de "M estre", ainda quan-
do lhe aplicassem títulos m uito mais significativos. Este é um elemento
de rem iniscência histórica dentro do tem a teológico de conhecim ento
intensificado.
50. C om pare este versículo com 11,40: "Eu não te disse que, se creres, verás
a glória de Deus?" A prom essa de ver em 1,50 se cum pre em 2,11 com a
m anifestação da glória de Jesus em Caná, onde os discípulos creram.
51. Verdadeiramente, eu asseguro a todos vós. Usaremos esta expressão e variantes
como: "Que eu vos assegure firmemente"; "solenemente vos asseguro"
para a tradução de "Amém, amém". Os sinóticos usam ou "Eu vos digo"
274 II. O Livro dos Sinais
C O M E N T Á R IO : G ER A L
40 ־42 4 5 -5 0
Um dos dois, André, encontra Simão Filipe encontra Natanael
André: "Encontramos o Messias" Filipe: "Encontramos aquele
descrito"...
"Vem e vê"
Jesus olha para Simão Jesus vê Natanael vindo
Jesus saúda Simão como Cefas Jesus saúda Natanael como um
genuíno israelita
C O M E N T Á R IO : D E T A L H A D O
c o n h e c im e n to p ro g re ssiv o . N o e n ta n to , co m o m o stra m as p a la v ra s d e
F ilip e a N a ta n a e l, tem h a v id o , re sp e c tiv a m e n te , d o is n o v o s títu lo s e
h á u m c o n h e c im e n to m ais p ro fu n d o . A id en tificação d e Jesus com o
" a q u e le d e s c rito n a Lei m osaica e n o s p ro fe ta s" , p ro v a v e lm e n te seja
u m a a firm a ç ão g eral d e q u e Jesu s é o c u m p rim e n to d e to d o o AT.
Lc 24,27 in d ic a q u e , a p ó s a ressu rre içã o , os d isc íp u lo s v iera m a ter
u m a c o m p re e n s ã o m ais p le n a d e Jesus, p o is Jesu s ex p lico u aos dois
d isc íp u lo s n a e s tra d a d e E m a ú s co m o to d a s as coisas na E scritu ra se
refe ria m a ele m esm o : "co m e ç a n d o p o r M oisés e to d o s os p ro fe tas".
(A tra d iç ã o tem c o n e cta d o as cen as jo an in a s e lu ca n a s, id en tifica n d o
N a ta n a e l co m o u m d o s dois: E eifânio Adv. Haer. 23,6; PG 41:305). Em
Jo 5,39, so m o s in fo rm a d o s q u e as E scritu ras testificam e m fav o r de
Jesus; e m 5,46, q u e M oisés e scre v e u so b re ele; em 6,45, q u e o q u e está
escrito n o s p ro fe ta s é re p re s e n ta d o e m se u m in istério .
A caso se p re te n d e alg o m ais específico n a d escrição d e Filipe?
A frase " a q u e le d e sc rito n a Lei d e M oisés" p o d e ría m u ito b e m iden-
tificar Je su s c o m o o P ro feta-co m o -M o isés d e D t 18,15-18. O "aq u e -
le d e s c rito p e lo s p ro fe ta s" é m ais difícil d e id en tificar: p o d e ria ser o
M essias, o F ilh o d o H o m e m (D aniel) o u in clu siv e Elias (M alaquias).
A ú ltim a p o s s ib ilid a d e é su g e stiv a , p o is e n tã o F ilipe esta ria identifi-
c a n d o Je su s co m o o P ro feta-co m o -M o isés e Elias - os d o is g ra n d e s
re p re s e n ta n te s d a Lei e d o s p ro fe tas. A d ic io n a n d o isto à id en tificação
d e Jesu s co m o o M essias, n o v. 41, teríam o s e n tã o os d isc íp u lo s d o
B atista re c o n h e c e n d o Jesu s sob os m e sm o s três títu lo s q u e o B atista
h a v ia n e g a d o - m a s p o d e ser q u e isto seja ir lo n g e d em ais.
N a ta n a e l rea g e às notícias d e Filipe so b re Jesus com d ú v id a avil-
tan te, u m a reação q u e Jesus e n c o n trará com m u ita frequência e n tre os
q u e creem n a Lei e n o s p ro fetas (p. ex., 7,15.27.41). M as q u a n d o Filipe
insiste, N a ta n ae l se d isp õ e a ir e ver; p o rta n to , ele n ão é com o "os ju-
d e u s " d o c a p ítu lo 9 q u e aleg am aceitar M oisés (9,29), p o rém rejeitam o
d esafio d e Jesu s d e v e r e, p o r isso, caem n a cegueira (9,41). Em razão
d a d isp o siç ão d e N a ta n ae l d e v ir à luz, Jesus o enaltece com o u m ge-
n u ín o rep re sen ta n te d e Israel. A q u i João p o d e estar p e rto d a distinção
q u e P a u lo faz em R m 9,6: "N e m to d o s os q u e d esce n d e m d e Israel [Jacó]
p e rte n ce m a Israel"; o v e rd a d e iro israelita crê em Jesus.
A p ro c la m a ç ã o d e N a ta n a e l c o m o g e n u ín o isra e lita sem d o lo é
o u tro e x e m p lo d a fó rm u la re v e la tó ria iso la d a p o r M. D e G oedt (veja
p. 240 acim a). Q u a l é o p o n to e x a to d e s ta d e s ig n a ç ã o d e N a ta n ae l?
278 II. O Livro dos Sinais
BIBLIOGRAFIA
ry
O ra , n o te rc e iro d ia h o u v e u m c a s a m e n to e m C a n á d a G ali-
leia. A m ã e d e Je su s e s ta v a lá, 2e o p r ó p r io Je su s e s e u s d is c íp u -
lo s ta m b é m fo ra m c o n v id a d o s p a ra a c e le b ra ç ã o . 3Q u a n d o o vi-
n h o fic o u e sc a sso , a m ã e d e Je su s lh e falo u : "E le s n ã o tê m v in h o " .
4M as Je su s re s p o n d e u -lh e : " M u lh e r, o q u e isto te m a v e r c o n tig o
e c o m ig o ? M in h a h o ra a in d a n ã o c h e g o u " . sS u a m ã e i n s t r u iu os
s e rv e n te s : " F a z e i tu d o o q u e e le v o s d is s e r" . 6C o m o p r e s c r ito p a ra
as p u rific a ç õ e s ju d a ic a s , h a v ia à d is p o s iç ã o se is ta lh a s d e p e d r a
co m á g u a , c a d a u m a c o n te n d o d e 90 à 100 litro s. 7" E n c h e i es-
sas ta lh a s co m á g u a " , o r d e n o u Je su s, e as e n c h e ra m a té a b o r d a .
8" A g o ra " , d is s e -lh e s , " tira i a lg u m a e le v a i-a a o m e s tre -s a la " .
E fiz e ra m a ssim . 9M a s tã o lo g o o m e s tre -s a la p r o v o u a á g u a tra n s -
fo rm a d a em v in h o (na v e r d a d e ele n ã o tin h a id e ia d e o n d e e la v eio ;
s o m e n te o s s e rv e n te s s a b ia m , v is to q u e h a v ia m tir a d o a á g u a ), o
m e s tre -s a la c h a m o u o n o iv o , 10e lh e s a lie n to u : " P rim e iro , to d o s ser-
v e m o v in h o se le to ; e n tã o , q u a n d o o s c o n v id a d o s já te n h a m b e b id o
à s a c ie d a d e , o v in h o in fe rio r. T u , p o ré m , g u a r d a s te o v in h o se le to
a té a g o ra " . ' 1O q u e Je su s fez e m C a n á d a G a lile ia m a rc o u o p rin -
c íp io d e s e u s sin a is; a ssim ele re v e lo u su a g ló ria e s e u s d is c íp u lo s
c re ra m n ele.
NOTAS
2.1. no terceiro dia. T eodoro de M opsuéstia (In Joanne [Syr.] - CSCO 116-39)
conta este dia como o terceiro dia após a cena batismal de 1,29-34, com
o prim eiro dia m encionado em 1,35, e o segundo em 1,43. Embora isto
certam ente seja exegese possível, m uitos exegetas agora contam do dia
do cham ado de Natanael e Filipe, sugerindo que aquele dia e o seguinte
(ou talvez dois dias intervenientes) foram gastos na viagem do vale do
Jordão à Galileia. Visto que o segundo m ilagre de Caná também ocorre
"depois de dois dias" (4,43), alguns sugerem que há aqui um a referência
m eram ente simbólica à ressurreição.
um casamento. As festividades usuais consistiam de um a procissão em que
os am igos do noivo traziam a noiva à casa do noivo, e então um a ceia
nupcial; aparentem ente, as festividades duravam sete dias (Jz 14,12;
Tb 11,19). A M ishnah (Kethuboth 1) ordenava que o casam ento de uma
virgem ocorresse na quarta-feira. Isto concordaria com a conjetura de
que 1,39 precedeu im ediatam ente o sábado; a ação de 1,40-42 teria ocorrí-
do no sábado até a tarde de dom ingo; a de 143-50, de dom ingo até a tarde
de segunda-feira; de segunda-feira até a tarde de terça-feira teria sido o
segundo dia da jornada; e Jesus teria chegado em Caná na terça-feira à
tarde ou na m anhã de quarta-feira.
Caná. No NT, esta vila é m encionada som ente por João (também 21,2); Jose-
fo a m enciona em seu Life 16 (# 86). O local indicado aos peregrinos des-
C O M E N T Á R IO
R e c o n s tr u in d o 0 r e l a to b á s ic o
Dos sete sinais miraculosos narrados por João (veja Apêndice III,
p. 841ss), três são relatos variantes de incidentes narrados nos sinóti-
cos, e três são milagres de um tipo encontrado nos sinóticos. Somen-
te o milagre de Caná não tem paralelo na tradição sinótica. Assim,
Bultmann, entre outros, sugere forte influência pagã na formação do
relato, especialmente a influência do culto de Dionísio, o deus da vin-
dima. A festa de Dionísio era celebrada no 6“ dia de janeiro, enquanto
o registro de Caná se tornou parte da epifania litúrgica celebrada na
mesma data. Durante a festa, as fontes dos templos pagãos sobre o
Andros emanavam vinho em vez de água.
Embora esta evidência seja interessante, dificilmente é conclusiva
para as origens da narrativa joanina. Devemos ter em mente que tanto
as datas como os motivos das festas cristãs eram com frequência delibe-
radamente selecionadas para substituir as festas pagãs. Além do mais,
pode-se indagar legitimamente se o evangelista, que mostrou que se
move dentro da estrutura geral dos milagres tradicionais de Jesus em
seis de suas sete narrativas, seria plausível introduzir uma sétima nar-
rativa de uma tradição estranha? Quanto à singularidade do milagre,
acaso transformar água em vinho é tão diferente da multiplicação dos
pães? Ambos têm eco na tradição Elias-Eliseu que fornece o pano de
fundo para os milagres de Jesus, provavelmente porque somente neste
ciclo de relatos o AT narra numerosos milagres realizados em favor
de indivíduos. A multiplicação dos pães é antecipada em 2Rs 4,42-44,
e talvez a transformação de água em vinho para suprir a festa de ca-
sarnento possa ser comparada ao miraculoso ato de Elias fornecendo
carne e azeite em lRs 17,1-16, e o ato de Eliseu suprindo azeite em
2Rs 4,1-7. Todos estes são milagres que atendem a uma inesperada
necessidade física que nas circunstâncias particulares não poderíam
satisfazer por meios naturais. Outro obstáculo à tese de que o relato de
Caná foi emprestado das lendas helenistas de milagre para a narrati-
va - tão atípicas da atmosfera dos prodígios helenistas. João não nos
conta como ou quando a água se converteu em vinho, mas revela o
milagre quase de passagem. P.-H. M enoud, RHPR 28-29 (1948-49), 182,
ressalta o quanto Caná difere de uma metamorfose pagã.
Assim, parece que não podemos escapar tão facilmente do pro-
blema da tentativa de reconstruir uma narrativa básica subjazendo
aos temas teológicos. Podemos começar com o escassez de vinho
que alguns sugerem foi causado pela inesperada presença de Jesus e
6 · O primeiro sinal em Caná da Galileia - Transformação da água em vinho 295
p o d e s e r e n te n d id a c o m o a p ro c la m a ç ã o d a c h e g a d a d o s d ia s m es-
siâ n ic o s. À lu z d e s te tem a , a d e c la ra ç ã o d e M a ria , "E les n ã o têm
v in h o " , se to rn a u m a p u n g e n te reflex ã o so b re a e s te rilid a d e d a s p u -
rificaçõ es ju d a ic a s , tão d o e stilo d e M c 7,1-24.
A a b u n d â n c ia d e v in h o (450 litro s - v e r n o ta so b re o v. 8) ag o ra
se to rn a in telig ív el. U m a d a s fig u ra s c o n sisten te s d o A T p a ra a alegria
d o s d ia s fin ais é a a b u n d â n c ia d e v in h o (A m 9,13-14; O s 14,7; Jr 31,12).
1 Enoque 10,19 p r e d i z q u e a v id e ir a p r o d u z i r ía v in h o c o m a b u n -
d â n c ia ; e e m 2 Baruque 29,5 (u m ap ó crifo ju d a ic o q u a se c o n te m p o râ -
n eo d o Q u a rto E v an g elh o ) e n c o n tra m o s u m a d escrição e x u b e ra n te -
m e n te fan tá stica d e sta a b u n d â n c ia : a te rra p ro d u z irá seu fru to d ez
m il v e z e s m ais; c a d a v id e ira terá 1.000 ram o s; c a d a ram o 1.000 cachos;
cad a cach o 1.000 u v a s; e c a d a u v a cerca d e 450 litro s d e v in h o . (I rineu
Contra Heresia 5, 33:3-4; PG 7:1213-14, a trib u i esta p a ssa g e m a P apias
d e H ie rá p o lis, o q u a l está in tim a m e n te asso c ia d o com as a n tig a s tra-
d içõ es so b re João).
A tra v é s d e s se sim b o lism o , o m ila g re d e C a n á p ô d e se r e n te n d i-
d o p e lo s d isc íp u lo s co m o u m sin a l d o s te m p o s m essiân ico s e a n o v a
d isp e n sa ç ã o , e m g ra n d e m e d id a d a m esm a m a n e ira q u e teriam en-
te n d id o a d e c la ra ç ã o d e Jesu s so b re o n o v o v in h o n a tra d iç ã o sinótica.
A re fe rê n c ia n o v. 11 ao a to d e Jesu s re v e la r su a g ló ria se a d e q u a a
este tem a, p o is a rev e laç ã o d a g ló ria d iv in a h av ia d e ser a m arca d o s
ú ltim o s tem p o s. E m SI 17,32 o u v im o s q u e o M essias fará com q u e a
g ló ria d o S e n h o r seja v ista p o r to d o s so b re a terra. O 49,2 fala d a gló-
ria d o E sco lh id o (Jo 1,34), o F ilho d o H o m e m ; e o 102,6 p ro m e te q u e o
S en h o r a p a re c e rá em S ua g ló ria (ta m b ém o SI 97,6; Is 60,1-2 etc.).
(2) Como Caná completou 0 chamado dos discípulos? O evangelista não
só in d ica q u e o m ilag re d e C an á d e v e ser conectado aos sinais qu e se-
guem ; tam b é m (v. 1) o relaciona com o q u e p recede, d a ta n d o -o em refe-
rência ao c h a m a d o d o s discípulos. A o en fatizar a relação d e fé d a p arte
dos d iscíp u lo s, o evangelista m o stra q u e n ão se esqueceu d o tem a da
evolução d o d isc ip u la d o q u e foi e lab o rad o n o cap ítu lo 1. Seguir a Jesus é
u m p ro cesso , q u e com eçou e m 1,37 q u e c u lm in a n a fé; o q u e veem agora
em C a n á c u m p re a p ro m e ssa d e 1,50 (e 51). Veja nota sobre o v. 11.
A lg u n s e s tu d io so s p ro p õ e m u m a co n ex ão a in d a m ais elab o ra-
d a d e C a n á co m o c a p ítu lo 1. B ernard , B oismard, Strathmann , e n tre
o u tro s, c re e m q u e e m su a fre q u e n te m en ç ã o d e d ias, em 1 e 2,1, o
Q u a rto E v a n g e lh o deseja re p re s e n ta r u m a se m a n a d e sete d ia s p a ra a
300 O Livro dos Sinais
BIBLIOGRAFIA
NOTAS
2.12. Depois disto. Isto não é a vaga expressão meta tanta, e sim a mais precisa
meta touto. B ernard, I, p. 83, e Lagrange, p. 63, tomam o segundo termo para
significar sequência cronológica real; B ui.tm ann , p. 85״, e Barrett, p. 162, afir-
mam que não há diferença entre as duas expressões, e que ambas são vagas.
irmãos. Os m anuscritos recentes trazem "seus"; os papiros Bodmer favo-
recem a om issão do possessivo. A tradição sinótica dá nom es (Tiago,
José ou Joses, Simão, Judas - Mt 13,55; Mc 6,3) a um grupo de irm ãos
de Jesus, João, porém , não dá nomes. São estes adelphai, irm ãos de san-
gue de Jesus? O grego adelphos norm alm ente se refere a um irm ão real.
O hebraico 'ah cobre parentes m asculinos de graus variados (irmão,
meio irmão, prim o, cunhado), e a LXX usa adelphos para traduzir todas
essas nuanças de significado - veja BAG, p. 15; J. J. C ollins, TS 5 (1944),
484-94. Os cristãos que aceitam a antiga tradição de que Maria perm ane-
ceu virgem consideram estes adelphoi como sendo supostos meio irm ãos
(filhos de José por um casam ento anterior - teoria de E itfânio ) o u pri-
mos (filhos do irm ão de José - ou da irmã de Maria: teoria de Jerônimo ).
O anglicano B ernard , I, p. 85, comenta: "É difícil entender como a dou-
trina da virgindade de Maria podería ter se desenvolvido já no 2Üséculo,
7 · Jesus vai para Cafarnaum 309
COMENTÁRIO
NOTAS
2.13. "dos judeus"; esta expressão modifica Páscoa em 6,4 e 11,55, e Taberná-
culos em 7,2. Pode indicar hostilidade para com estas festas que haviam
de ser substituídas por Jesus. Para a possibilidade de um a Páscoa cristã,
veja capítulo 6.
312 O Livro dos Sinais
Páscoa. Esta é a prim eira das três Páscoas m encionadas em João (6,4; 11,55).
Alguns estudiosos as consideram como tendo m ero valor simbólico; ou-
tros as aceitam como indicações de tem po e propõem que Jesus exerceu
um m inistério que durou ao m enos dois anos. A localização sinótica des-
ta cena antes da últim a Páscoa da vida de Jesus seria correta, e a presente
posição da cena em João seria o resultado de transposição redacional;
todavia, é possível que a tradição joanina preservasse a m em ória de um a
viagem de Jesus a Jerusalém em um a prim eira Páscoa em seu m inistério,
e que originalm ente este foi o cenário para o capítulo 3.
lesus. O nome pessoal aparece em diferente sequência nas várias testem u-
nhas. Talvez, antes que o v. 12 fosse anexado, o sujeito original fosse
sim plesm ente "ele", um sujeito que não fosse am bíguo depois do v. 11.
A inserção do v. 12 poderia ter levado copistas a inserirem o nom e, mo-
tivados pela clareza.
subiu. Este é o verbo norm al para um a viagem à cidade santa situada sobre
um monte.
14. recintos do templo. O hieron significa o átrio externo do tem plo, o Átrio dos
Gentios. O tem plo propriam ente dito, o edifício ou santuário (naos), é
m encionado nos vs. 19-21.
bois, ovelhas e pombas. Os anim ais eram vendidos para serem sacrificados;
as pom bas ou pom bos eram os sacrifícios dos pobres (Lv 5,7), e isto po-
deria explicar o tratam ento mais brando aos vendedores de pom bas. So-
m ente João m enciona os anim ais maiores.
trocando moedas. Por causa das im agens im periais ou pagãs que elas porta-
vam, o uso dos denários rom anos e das dracm as áticas não era perm itido
em pagam ento do im posto do tem plo de meio estáter (Mt 17,27; meio
estáter era igual a dois denários ou um a dracma). Os cam bistas trocavam
estas m oedas pela m oeda legal tíria e na transação tiravam um pequeno
proveito.
15. \tipo de]. Os papiros Bodmer endossam a evidência de versões antigas em
prol desta redação.
chicote de cordas. Nem bastões nem arm as eram perm itidos nos recintos
do templo. E possível que Jesus tenha fabricado seu chicote de fibras de
plantas usadas como leito para os animais. Somente João m enciona isto.
lançou fora toda a súcia deles. Aparentem ente, Jesus usou o chicote nos m er-
cadores.
com suas ovelhas e bois. B u it m a n n , p. 86'°, considera esta frase como um a
adição secundária; ele sugere que o resto deste versículo, bem como o
início do 16, foi em prestado de Mc 11,15 ou Mt 21,12. O conectivo te, in-
comum em João, ocorre nesta frase.
8 · A purificação do templo em Jerusalém 313
e por causa de 8,57 ("A inda não tens cinquenta anos"), Loisy e outros
aceitam 46 como a idade de Jesus, sugerindo que ele m orreu no Jubileu
de 50. O fato de que as letras gregas no nom e de A dão têm o valor de
46, serviu de base para a interpretação de m uitos Padres, especialm ente
A gostinho , que via este núm ero com o um a referência à natureza hu-
m ana de Jesus; veja V ogels. Em bora não considerem os "quarenta e seis
anos" como um a referência à idade de Jesus, de m odo algum excluímos
a possibilidade de que Jesus fosse consideravelm ente m ais velho do
que a aproxim ação de Lucas, de "cerca de trinta anos de id ad e" (3,23),
poderia indicar.
tem levado. Literalm ente, aoristo "levou". O tem plo não foi com pletado
até 63 d.C. sob o P rocurador A lbinus (Josefo , Ant. 20.9.7; 219). A lguns
veriam aqui um chocante erro do evangelista retratando a construção
como estando com pletada em 28 a.D. Temos tom ado o aoristo como
complexo, resum indo todo o processo de construção que ainda não es-
tava com pletada. Um paralelo perfeito se encontra na LXX em Esd 5,16:
"... desde aquele tem po até agora [o tem plo] esteve em construção [ao-
risto; m esm o verbo] e ainda não term inou". Veja tam bém Jo 4,3 (nota),
20 ("adorado").
21. estava falando. O im perfeito pode ser modal: "queria referir-se".
0 templo de seu. Há algum a evidência patrística para a om issão destas pa-
lavras, propiciando assim a redação: "ele estava falando sobre o corpo"
(assim Τ ατιλνο , Irineu, T ertuliano, O rígenes).
22. depois de sua ressurreição. Literalmente, "quando ele foi ressuscitado [i.e.,
pelo Pai]" ou "quando tiver ressuscitado". Egerthê é passivo na forma,
mas pode ser ou passivo ou intransitivo no significado (ZCB, § 231;
C. F. D. M oule ,Idiom Book of New Testament Greek [2 ed.; Cam bridge, 1963],
p. 26). Nos evangelhos mais antigos, provavelm ente o passivo deva ser
preferido, em consonância com as dezenove vezes que o NT diz que
Deus o Pai ressuscitou Jesus dentre os m ortos. Mas no Q uarto Evangelho
se fez claro que o poder do Pai é tam bém o poder de Jesus (veja comen-
tário sobre 10,30), e João insiste que Jesus ressuscitou por seu próprio
poder (10,17-18).
na Escritura. N ão fica claro se isto é um a referência ao AT, em geral, ou a
um a passagem particular, p. ex., SI 16,10, ou, talvez, ao SI 69,9, citado no
v. 17. Na pregação, os apóstolos encontraram bem depressa testem unhos
veterotestam entários à ressurreição (IC or 15,4: "... ele ressuscitou ao ter-
ceiro dia de conform idade com as Escrituras").
8 · A purificação do templo em Jerusalém 3J5
COMENTÁRIO
A cena q u e João n a rra tem p aralelo s em três n a rra tiv a s sinóticas dis-
tin tas. (1) O s sinóticos d escrev em u m a purificação sim ilar d o s re-
cin to s d o tem p lo so m e n te d u ra n te o m in istério d e Jesus em Jerusa-
lém , p rec isam e n te a n te s d e su a m orte. Em M t 21,10-17 e Lc 19,45-46,
Jesu s faz isto n o d ia em q u e ele e n tra triu n fa n te m e n te em Jerusalém ;
em M c 11,15-19, ele faz isto n o d ia a p ó s su a e n tra d a triu n fa n te em Jeru-
salém . (2) P o r o casião d a p u rific a ç ão , a ação d e Jesus n ã o é d esafiad a;
m as a lg u m te m p o d e p o is os p rin c ip a is sa ce rd o te s, escrib as e anciãos
in d a g a ra m : " P o r q u a l a u to rid a d e fazes e sta s coisas?" (Mc 11,27-28 e
p ar.). Jesu s se re c u sa a re s p o n d e r, a m en o s q u e eles se d efin issem com
re sp e ito a João Batista. (3) N o ju lg a m e n to d e Jesus p e ra n te o S inédrio,
falsas te s te m u n h a s se r e p o rta ra m d iz e n d o q u e Jesus a m e a ç o u d e s tru ir
o te m p lo e rec o n stru í-lo em três d ias (M c 14,58; M t 26,61). O u v im o s
o u tro s ecos d e s ta am e a ç a a trib u íd a a Jesus p e lo s tra n s e u n te s ao p é d a
c ru z (M c 15,29; M t 27,40). R eap arece no ju lg a m e n to d e E stêvão em
A t 6,14 (ú n ica refe rê n c ia lucana).
O s re la to s sin ó tico s, a in d a q u e n ã o em p e rfe ita h a rm o n ia e n tre si,
a p re s e n ta m a lg u m a s m a rc a n te s d ife ren ç a s d e João. P o d e m o s d isc u tir
estas d ife re n ç a s sob os tó p ico s d a cro n o lo g ia e d a p ro b a b ilid a d e de
João c o n te r tra d iç ã o in d e p e n d e n te e confiável.
Cronologia: no início ou no final do ministério? P o s te rio rm e n te d is-
c u tire m o s a q u e s tã o d e se a a ção a trib u íd a a Je su s é u m a p ro b a b ili-
d a d e h istó ric a . S u p o n d o , p o r u m m o m e n to , q u e seja, q u e localização
c ro n o ló g ic a é a m a is p la u sív e l? Q u e n ã o p o d e m o s h a rm o n iz a r João
e o s s in ó tic o s, p r o p o n d o d u a s p u rific a ç õ e s d o s re c in to s d o tem p lo ,
p a re c e ó b v io . A s d u a s tra d iç õ e s d e sc re v e m b a s ic a m e n te n ã o só as
m e s m a s a çõ es, m a s ta m b é m n ã o é p ro v á v e l q u e tã o sé ria a fro n ta
p ú b lic a a o te m p lo fosse p e rm itid a d u a s v ezes. V isu a liz e m o s os ar-
g u m e n to s q u e fa v o re c e m a d a ta ç ã o d e Jo ão e a q u e le s q u e fav o re c em
a d a ta ç ã o sin ó tica .
M u ito s e s tu d io so s (J. W eiss, L agrange, M c N eile, Brooke, J. A. T.
Robinson, V. T aylor) p e n s a m q u e a d a ta ç ã o jo an in a é a m ais p lau sív el.
S a lien tam q u e n a tra d iç ã o sin ó tica há so m e n te u m a v ia g e m a Jerusa-
lém , a v ia g e m q u e p re c e d e a m o rte d e Jesus; e, v isto q u e o tem p lo está
316 O Livro dos Sinais
F alsas te s te m u n h a s n o ju lg a m e n to :
M c 14,58: " N ó s o u v im o s-lh e d izer: Eu d e rrib a re i este tem p lo ,
c o n s tru íd o p o r m ã o s d e h o m en s, e em trê s d ia s ed ificarei ou-
tro , n ã o feito p o r m ão s d e h o m e n s" .
M t 26,61: "E d isse ram : Este disse: E u p o sso d e rrib a r o tem p lo
d e D eu s, e reed ificá-lo em trê s d ias".
O s tra n s e u n te s n a cru cifix ão (Mc 15,29; M t 27,40):
"E d izen d o : T u, q u e destróis o tem plo, e em três d ias o reedificas".
F alsas te s te m u n h a s a trib u e m a E stêv ão o s e g u in te (A t 6,14):
"E ste Jesu s d e N a z a ré d e s tru irá e ste lu g a r" .
O p ró p rio Jesu s (Jo 2,19):
" D e s tru í e ste te m p lo , e e m trê s d ia s eu o lev a n ta re i" .
João cita somente 9a, mas o Salmo era conhecido dos primeiros
cristãos e é possível que o contexto do versículo estivesse claramente
em pauta. A separação dos irmãos em 8 pode ser significativa em re-
lação a Jo 2,12; Jesus deixou seus irmãos para ir a Jerusalém, e teriam
se separado dele movidos pela incredulidade durante o ministério.
O v. 9b do Salmo é também apropriado, posto que em João a purifica-
ção do templo vai unida com a interpelação de "os judeus".
Ao citar o v. 9a, João o adapta à ação de Jesus, traduzindo-o como
futuro (veja nota sobre v. 17) e, assim, fazendo dele uma profecia. Ser
"consumido" já não é uma simples referência à intensidade do ardor do
zelo; João interpreta o Salmo no sentido de que o zelo pelo templo des-
truirá Jesus e acarretará sua morte. Assim, mesmo que João não coloque
a purificação dos recintos do templo imediatamente antes da morte de
Jesus como fazem os sinóticos, seu relato ainda preserva a memória que
a ação acarretou sua morte. Na presente sequência, a interpretação da
purificação em referência à morte de Jesus prepara para a interpretação
do dito sobre o templo em referência à sua ressurreição.
Retornando agora ao v. 21, descobrimos que João assumiu uma
interpretação ligeiramente diferente do dito de Jesus sobre a re-
construção do templo daquela encontrada em Mc 14,58. Ao buscar
explicar o que Jesus tinha em mente por um templo reconstruído,
8 · A p u rificação d o te m p lo em Jerusalém 325
BIBLIOGRAFIA
NOTAS
2.23. durante a festa da Páscoa. Literalmente, "na Páscoa na festa". Barrett, p. 168,
interpreta a última expressão como uma referência à multidão congregada
para a festa, citando 7,14, o que ele interpreta da mesma maneira. Histórica-
mente, a festa da peregrinação tem sido a do Pão Azimo, mas a Páscoa lhe era
combinada para formar uma só festa. João não fala da Festa do Pão Azimo
como fazem os sinóticos; Lc 22,1 toma os dois nomes como equivalentes.
creram em seu nome. Esta expressão em 1,12 descreve um a fé que é adequa-
da; aqui, aparentem ente, não faz isso.
ver. Theõrein (veja Apêndice 1:3, p. 794ss); a tradução "notar", sugerida por
Bernard, I, p. 99, parece casual demais.
sinais. N unca somos inform ados em que estes consistiam, mas, obviamen-
te, eram miraculosos. Em 4,45 ouvirem os outra vez sobre tudo o que
Jesus fizera em Jerusalém durante a festa; todavia, 4,54 parece ignorar
estes sinais quando conta da cura do filho do oficial régio como sendo o
segundo sinal que Jesus fizera.
24. confiava. Este é o m esm o verbo, pisteuein (Apêndice 1:9, p. 794ss), que
significa "creram " no versículo anterior; ao pisteuein deles Jesus não res-
ponde com pisteuein.
25. sobre a natureza humana... no coração do homem. Literalmente, "sobre o
homem... no hom em ".
328 O Livro dos Sinais
COMENTÁRIO
3 1O ra , h a v ia u m fa rise u c h a m a d o N ic o d e m o s, m e m b ro d o S in é d rio
ju d e u , 2q u e v e io a ele d e n o ite. "R a b i" , d isse e le a Je su s, " sa b e m o s
q u e és m e s tre e q u e v ie ste d e D eu s; p o rq u e , a m e n o s q u e D e u s esteja
com ele, n in g u é m p o d e re a liz a r o s sin a is q u e re a liz a s " . 3Je su s lh e
re s p o n d e u :
" S o le n e m en te e u te a sse g u ro ,
n in g u é m p o d e v e r o re in o d e D eu s
se n ã o for g e ra d o d e cim a".
NOTAS
reino com a revelação trazida por Jesus, revelação que tem de ser vista,
percebida, crida.
0 reino de Deus. Esta expressão, tão frequente nos sinóticos, aparece em João
som ente aqui nos vs. 3, 5 (sinal de que há m aterial tradicional no diálogo
com Nicodemos?). Veja pp. 339-340.
gerado. O passivo do verbo gennan pode significar ou "nascer", como de
um particípio fem inino, ou "ser gerado", como de um particípio mascu-
lino; os dois significados são possíveis para a raiz hebraica yld. As ver-
sões antigas tom aram gennan, aqui, no sentido de "ser nascido", e, mais
precisam ente, no AT, "ser renascido" (renasci=anagennan - há vestígios
desta interpretação tam bém na OSsin, na Vulgata, nos Padres gregos).
A despeito do fato de que o Espírito, m encionado no v. 5 como o agente
deste nascim ento ou geração, no hebraico é fem inino (em grego, neu-
tro), tu d o indica que o significado prim ário é "gerado". Nos evangelhos
não há nenhum a atribuição ao Espírito de característicos femininos; e
há paralelos joaninos que se referem claram ente ao ser gerado, em vez
de ser nascido (1,12; ljo 3,9). Não é impossível que o significado "ser
[rejnascido" seja a intenção de João em um nível secundário e sacramen-
tal - veja com entário.
de cima. O grego anõthen significa tanto "outra vez" como "de cima", e o
significado du p lo é usado aqui como parte de m al-entendido técnico.
Embora no v. 4 Nicodem os tome Jesus como a dizer "outra vez", o signifi-
cado prim ário de Jesus, no v. 3, era "de cima". Isto é indicado do paralelo
em 3,31, tam bém dos outros dois usos joaninos de anõthen (19,11.23).
Tal m al-entendido só é possível em grego; não conhecemos nenhum a
palavra hebraica ou aram aica de significado similar que teria esta am-
biguidade espacial e tem poral. Uma vez mais, não é impossível que o
significado "outra vez" seja a intenção de João em nível secundário e
sacram ental.
5. reino de Deus. O Codex Bezae e algum as outras testem unhas trazem "reino
do céu", e Lagange aceita isto com base em que "Deus" é um a harm oni-
zação com o v. 3. Bui.tmann, p. 98', todavia, sugere que "céu" foi intro-
duzido no m odelo de Mt 18,3, "a não ser que vos converteis e vos torneis
como crianças, não entrareis no reino do céu".
da água e do Espírito. Os dois substantivos são governados pela mes-
m a preposição. Para um paralelo de ser gerado do Espírito temos
Mt 1,20, em relação a Jesus: "O que é gerado nela [Maria] é de um Espí-
rito santo".
6. Carne gera carne. Literalm ente, "O que é gerado de carne é carne". O AT
e o OS [siríaco antigo] agregam cláusulas explicativas: "O que é gerado
334 O Livro dos Sinais
13. tem subido. O uso do tem po perfeito traz um a dificuldade, pois parece
im plicar que o Filho do H om em já subiu ao céu. Pois os estudiosos
que creem que quem está falando aqui é o evangelista, e não Jesus,
afirm am que o evangelista está sim plesm ente retrocedendo à ascensão
de Jesus. O utros, com o Lagrange e Bernard, pensam que o pretérito
está im plícito som ente para negar que até aquele tem po ninguém nun-
ca subira ao céu para conhecer as coisas celestiais, e que o que espe-
cialm ente se refere ao Filho do H om em é a descida, e não a subida.
É possível que este fosse o significado original, m as que no curso da
pregação pós-ressurreição a cláusula veio a ser entendida com o um a
referência à ascensão. N as referências joaninas a Jesus há um a estra-
nha d escontinuidade ou indiferença à sequência do tem po norm al que
deve ser considerada (4,38).
Filho do Homem. E. M. Sidebottom, " The Ascent and Descent of the Son of Man
in the Gospel of St. John", ATR 39 (1957), 115-22, ressalta que som ente em
João o Filho do Hom em é retratado como descendo. 1 Enoque (p. ex.,
48.2-6) retrata o Filho do Hom em como preexistente no céu (e isto parece
estar implícito em João), porém não fala de sua descida. Sidebottom des-
cobre a falta de paralelos supostam ente helenistas e gnósticos. Ef 4,9 faz
referência à descida e subida de Jesus, m as aparentem ente em referência
à sua descida às regiões inferiores após a morte. Todo o propósito do v.
13 em João é enfatizar a origem celestial do Filho do Hom em.
[que está no céu]. Esta frase se encontra em uns poucos m anuscritos gregos,
latinos e em algum as versões siríacas. A evidência textual não é forte,
m as a frase é tão difícil que é bem provável ter sido om itida na maio-
ria dos m anuscritos para evitar dificuldade. Lagrange, Boismard e W ire-
nhauser estão entre os que a aceitam. O Filho, em João, perm anece junto
ao Pai m esm o quando esteja na terra (1,18).
14. Moisés levantou a serpente. Tanto no TM como na LXX de Nm 21,9ss. ou-
vimos que Moisés colocou a serpente em um a haste bem visível; m as os
Targuns (Neof. I; Pseudo-Jonathan) dizem que ele "colocou a serpente
sobre um lugar elevado" ou que a "suspendeu". Boismard, RB 66 (1959),
378, ressalta ser possível que Jesus esteja citando o Targum (veja tam-
bém 7,38). Em ambos, TM e LXX, a palavra para "haste", literalm ente,
é a palavra para "sinal". (Este podería ter sido um dos fatores que le-
varam ao uso joanino de "sinal" para os m ilagres de Jesus?) Mt 24,30
menciona o "sinal do Filho do Homem" como a parousia. Em Sb 16,6-7,
temos um a midrásh (i.e, um a explicação popular para propósitos didáticos)
do relato da serpente: "Tinham um símbolo de salvação como m emorial
do preceito de vossa lei. Pois aquele que se volvia para ela era salvo,
10 · Diálogo com Nicodemos em Jerusalém 337
não pelo que via, m as por ti, o Salvador de todos". Isto se adequa bem
ao pensam ento joanino de que o Jesus levantado veio a ser a fonte de
salvação para todos (12,32), e todo aquele que vê Jesus vê o Pai (14,9).
O Targum também interpreta o significado de olhar para a serpente: sig-
nifica volver o coração para a memra de Deus (veja Apêndice II, p. 823ss).
O Targum Pseudo-Jonathan menciona 0 nome da memra, justamente
como Jo 3,18 menciona 0 nome do Unigênito de Deus. A Epístola de Bar-
nabé 12,5-6 usa a tipologia da serpente, talvez em dependência de João
- veja Braun, JeanThéol, I, pp. 83-85; tam bém G lasson, pp. 33-39.
15. crê/tenha a vida eterna. C om pare N úm ero 21,8: "aquele que olhar para ela
[a serpente] viverá".
vida eterna. Este é o prim eiro uso da expressão em João; veja Apêndice 1:6,
p. 794ss.
nele. Esta palavra pode ser posta com "crê"; contudo, a m elhor leitura é en
auto (P75; Vaticanus), não eis auton, que é comum na frase "crer nele".
Para a ideia de ter vida em Jesus, veja 20,31; 16,33 |Vol. 2],
16. amou. O aoristo implica um ato suprem o de amor. Cf. ljo 4,9: "desta ma-
neira foi o am or de Deus revelado em nosso meio: Deus enviou Seu Filho
unigênito ao m undo para que tivéssemos vida através dele". Note que
em 1 João o am or é direcionado para os cristãos ("nós"), enquanto em
Jo 3,16 Deus am a o m undo. Em todos os dem ais casos em João, o am or de
Deus é dirigido aos discípulos, pois em seu dualism o João não menciona
o am or de Deus para com os injustos, como faz Mt 5,45. Veja Barrossr,
art. cit. Aqui, o verbo é agapatv, e se Spicq está certo (veja Apêndice 1:1,
p. 794ss), tem os um exemplo perfeito de agapan se expressando em ação,
pois o v. 16 se reporta ao am or de Deus que se expressa na Encarnação e
na m orte do Filho.
tanto/que. A cláusula, na sequência seguinte, está no indicativo - o único
tem po em João. O uso clássico desta construção tem o propósito de enfa-
tizar a realidade do resultado: "que ele deu realmente o Filho unigênito".
deu. Aqui, o verbo didonai se reporta não só à Encarnação (Deus enviou o
Filho ao m undo; v. 17), mas tam bém à crucifixão (entregou à m orte - a
ideia encontrada em ser "levantado" nos vs. 14-15). E sim ilar ao uso de
paradidonai em Rm 8,32; G1 2,20; e didonai em Cl 1,4. O pano de fun-
do pode ser o do Servo Sofredor de Is 53,12 (LXX): "ele foi entregue
[paradidonai] pelos pecados deles".
o Filho unigênito. Esta é a leitura mais bem atestada, embora posteriorm en-
te copistas, provocados pela estranheza da frase, a m udaram para "Seu
Filho unigênito". Veja nota sobre "único Filho" em 1,14; tam bém NtooDY,
art. cit.
338 O Livro dos Sinais
COMENTÁRIO: GERAL
Historicidade
A estrutura do diálogo
COMENTÁRIO: DETALHADO
12 3
46. E u v im ao m u n d o co m o lu z 19. A lu z v eio ao m u n d o
p a ra que, aquele qu e crê em m im 15. p a ra q u e to d o o q u e n ele crê
te n h a n ele a v id a etern a.
16. p a ra q u e to d o a q u e le q u e n ele
n ã o p e rm a n e ç a n a s trevas. crê n ã o p ereça.
47. E u n ã o v im p a ra c o n d e n a r o 17. D eu s n ã o e n v io u o F ilho p a ra
m undo condenar o m undo,
m as p a ra q u e o m u n d o seja
m a s p a ra sa lv a r o m u n d o . sa lv o a tra v é s dele.
48. T o d o a q u e le q u e m e rejeita, e 18. Q u e m se recu sa a crer
n ã o aceita m in h a s p a la v ra s, já já e stá ju lg a d o (krinein ).
te m s e u ju iz (krinein).
356 O Livro dos Sinais
A d e n d o à S e g u n d a D i v i s ã o . A id e n t i d a d e d o q u e f a la
29O n o iv o é q u e m tem a n o iv a.
M as o m e lh o r h o m e m d o n o iv o ,
q u e o assiste e o o u v e,
se reg o zija a ssim q u e o u v e a v o z d o noivo.
Eis m in h a aleg ria, e ela é co m p leta.
30E n e c essá rio q u e
Ele cresça,
e n q u a n to e u d im in u a " .
360 O Livro dos Sinais
NOTAS
3.22. Depois disto. Um conectivo vago sem qualquer precisão cronológica real.
Todo este versículo é um a fórm ula itinerária como aquelas que Marcos
usa para elaborar um a narrativa. D odd, Tradition, p. 279, sugere que ele
tem por base um a tradição pré-canônica.
território da judeia. Jesus já estava na Judeia, em Jerusalém. Bultmann,
p. 1238, argum enta que a inferência real é que Jesus saiu da cidade rum o
a distritos rurais da Judeia; e cremos que este poderia ser o significado
adaptado no presente contexto. Entretanto, é bem provável que gê sig-
nifique, originalm ente, "território", e não "distrito rural", traduzindo o
hebraico ’eres ; em 4,3, que só pode referir-se à Judeia como um território,
a tradição ocidental adicionou gê. O lugar não é dado, porém m uitos
pensam que seja o vale do Jordão.
passou algum tempo. Este não é o menein joanino usual, e sim diatribein. Que
esta é a única ocorrência do verbo em João, pode ser endossado pela teo-
ria pré-canônica form ulada por D odd.
batizando. Os verbos são imperfeitos, fato que indica ação reiterada. Em-
bora este versículo diz que Jesus batizava, 4,2 agrega, à m oda de modifi-
cação, que ele m esm o não batizava. A tentativa usual em harm onização
m antém que a afirmação de que Jesus batizava era no sentido de que os
discípulos batizavam em seu nom e. N aturalm ente, João não dá a enten-
der isto. Provavelm ente, não se deve im aginar que este batism o fosse o
batism o cristão que no NT recebe sua eficácia da crucifixão e ressurrei-
ção; este é sem elhante ao batism o do Batista.
23. Enon. O nom e provém do plural aram aico da palavra para "nascente",
enquanto "Salim" reflete a raiz semítica para "paz". Há três im portantes
tradições para a localização destes sítios, (a) N a Pereia, a Transjordânia.
Sabemos que o Batista era atuante nesta região (1,28), e a referência à
Judeia, no v. 22, poderia im plicar que ele ficava nas proxim idades (Pe-
reia é justam ente dalém do rio). O m apa mosaico M adeba do 6“ século
(BA 21 [1958], No. 3] traz um Enon justam ente a nordeste do M ar M orto,
oposto a Bethabara (veja nota sobre 1,28); há indicações de peregrinos
contem porâneos para o m esm o sentido. (b) Ao norte do vale do Jordão,
à m argem ocidental, a uns 13 km ao sul de Scythopolis (Bethshan). No 4a
século, Eusébio (Onomasticon, em GCS l l 1, p. 40:1-4; p. 153:6-7) tem esta
tradição, como a peregrina Aetheria. O m apa M edeba tem outro Enon
nesta vizinhança. Eusébio fala de Salim em referência a Salumias, e há
na área um nom e árabe m oderno de Tell Sheikh Salim. Não há rem anes-
cente do nom e Enon na área. Um a objeção a ambos estes locais no vale
11 · O testemunho final do batista 361
do Jordão é que, com o rio Jordão nas proxim idades, a menção que João
faz da disponibilidade de água parece supérflua, (c) Em Samaria. Uns 7
km a leste-sudeste de Siquém há um a cidade de Sâlim conhecida desde
os tem pos antigos; a 13 km a nordeste de Sâlim fica a m oderna ‘Ainün
(1:100,000 m apa: 187190). Na vizinhança geral há m uitas nascentes, em-
bora a ‘Ainün m oderna não tenha água. W. F. A lbright defende esta lo-
calização em HTR 17 (1924), 193-94. Ela concordaria m uito bem com os
fortes laços tradicionais que conectam o Batista com Samaria.
Aqui se faz a tentativa usual de descartar a informação geográfica pecu-
liarm ente joanina como m ero simbolismo. K rieger, ZNW 45 (1954), 122,
fala de nascentes fictícias (Enon) junto à salvação (Salim). É bem possível
que se pergunte por que João teria associado o batism o do Batista, e não
o de Jesus, com o local simbólico da salvação. Se somos inform ados que
o Batista estava junto à salvação, isto é, junto a Jesus, então podem os in-
dagar por que Jesus não é posto em Salim, em vez da Judeia. Bultmann,
p. 1245, crê que os nom es são reais, m as que possivelm ente teve um
significado simbólico para o evangelista.
25. controvérsia acerca da purificação. A relação dessa controvérsia com o que
segue no v. 26 não é clara. Devemos pensar sobre o valor relativo dos
batism os do Batista e de Jesus? Ou, visto que a palavra "purificação" nos
lem bra a água "prescrita para as purificações judaicas" em 2,6, talvez de-
vam os pensar num a disputa sobre o valor relativo do batism o do Batista
e das lavagens-padrão judaicas de purificação? Estaria este judeu pro-
pon d o questões acerca do batism o do Batista como aquelas apresentadas
pelos fariseus em 1,25? Ou havia um a controvérsia geral sobre o valor
de todos os tipos de purificação por meio de água (os vários batismos; as
lavagens dos fariseus; as purificações essênias)?
certo judeu. Há boa evidência, inclusive P66, para a leitura "os judeus"; mas
as m elhores testem unhas, inclusive P75, leem o singular que é a leitura
m ais difícil. O plural podería introduzir-se por analogia com Mc 2,13 e
par. que associa os fariseus e os discípulos do Batista sobre a questão legal
do jejum. (B oismard , contudo, aceita o plural, sugerindo que o singular
Ioudaiou é por analogia com Iõanou). Se lerm os o singular, a conexão
do versículo com o que segue não é totalm ente clara. Loisy, p. 171, jun-
tam ente com outros (B auer , G oguel), pensa que o texto originalm ente
trás "Jesus", m as que piedosas razões levaram copistas a expurgar uma
referência a um a disputa entre os discípulos do Batista e Jesus. Não há
endosso textual para essa leitura, m as daria excelente sentido.
26. Rabi. João reflete a m em ória de que o Batista era visto como mestre, e
igualm ente como profeta (Lc 11,1).
362 O Livro dos Sinais
COMENTÁRIO: GERAL
COMENTÁRIO: DETALHADO
NOTAS
3.31. Aquele que vem. João Batista usa isto com o título para aquele a quem
ele está esperando; veja nota sobre 1,30. Também Mt 11,3; Lc 7,19: "É s tu
aquele que havia de vir?"
de cima. Aqui, anõthen (veja nota sobre 3,3) obviamente significa "d e cim a",
visto formar paralelo com "d o céu " no mesmo versículo.
12 · A conclusão do diálogo 369
está acima de todos. Rm 9,5 fala de "Cristo [que é?l Deus sobre todos, bendito
para sem pre". É difícil decidir se o "tod os" em João é masculino (acima
de todos os mestres) ou neutro (acima de todas as coisas). Provavelmen-
te, João quer dizer "acim a de toda esfera hum ana".
da terra. "T erra", em João, usualmente não tem sentido pejorativo que
implica o termo "m undo" (veja Apêndice 1:7, p. 794ss). Refere-se ao ní-
vel natural da existência do homem (Deus criou o homem do pó da ter-
ra - LXX de Gn 2,7) com o contrastado com o sobrenatural ou celestial.
O "m undo" tem em si a ideia de hostilidade satânica (ljo 5,19). Para ilustrar
a diferença (que nem sempre é preservada), podemos contrastar "aquele
que é da terra", em nossa passagem atual, com os falsos profetas e anticristos
de ljo 4,5, que são "do mundo e falam em um plano mundano". Como pa-
ralelo a Jo 3,31, podemos citar 4 Esdras 4,21: "Os que habitam na terra podem
compreender somente o que está sobre a terra, enquanto os que estão acima
dos céus podem compreender o que está acima das alturas celestiais".
em um plano terreno. Literalmente, "d a terra".
](,que) está acima de todos], Há duas leituras possíveis para o final do v. 31 e
início do 32: (a) "Aquele que vem do céu está acima de todos; o que ele
tem visto e ouvido, é disto que ele testifica", (b) "Aquele que vem do
céu testifica do que tem visto e ouvido". As testemunhas em prol das
duas leituras estão uniformemente divididas, com o os papiros Bodmer
(com P75, bastante curiosamente, do lado das testemunhas ocidentais).
Há bons argum entos lógicos em prol de ambas as redações.
32. visto e ouvido. "V isto" é de tempo perfeito, enquanto "ouvido" é aoristo;
BDF, § 3422, diz que tal com binação de tempos põe a ênfase em "ver".
Temos um interessante paralelo em ljo 1,3, "O que temos visto e ouvido
por nossa vez vos proclam am os", onde ambos os tempos são perfeitos.
Em 1 João estão envolvidas testemunhas humanas, e "v er" e "ouvir" es-
tão em um mesmo plano.
33. certificado. Literalmente, "selado"; a metáfora é a de pôr um selo indicando
aprovação em um documento legal. Veja 6,27, onde "posto um selo" signifi-
ca creditar. Este uso de "selo" pode ser mais semítico (hãtam ) do que grego.
34. sem limite. Literalmente, "não por m edida"; embora ek metrou não se en-
contre em outro lugar nos escritos gregos, a expressão equivalente, "por
m edida", não é incomum na literatura rabínica. Na Midrásh Rabbah sobre
Lv 15,2, o rabino Aha diz: "O Espírito Santo repousava sobre os profetas
por m edida". Se um a ideia similar jaz por detrás da afirmação em João,
então Jesus está sendo contrastado com os profetas (com o em Hb 1,1).
Entretanto, a afirmação pode simplesmente significar que com Jesus te-
mos o transbordam ento escatológico definitivo do Espírito.
370 O Livro dos Sinais
seu dom. Literalmente, "concede [tempo presente] não por m edida". Al-
guns manuscritos posteriores identificam o sujeito da concessão: "Deus
d á"; mas é bem provável que isto seja uma tentativa de um copista para
dar clareza. No com entário discutiremos o problema de se o "sujeito" é
o Pai ou o Filho. Entretanto, podem os notar que os dons do Pai e do Fi-
lho normalmente são expressos em João pelo perfeito (17 vezes) ou pelo
aoristo (8 vezes), e somente uma vez pelo tempo presente (6,37). Assim,
aqui o uso do tempo presente sugere que o Filho é o doador. Para um es-
tudo do verbo "d a r" (didonai), em João, veja C.-J. P into de O liveira, RSPT
49 (1965), 81-104.
do Espírito. Esta frase é omitida no original do Codex Vaticanus e no OSsin;
Bui.tmann, p. 1191, pensa que a omissão pode ser original.
35. ama. O verbo é agapan, enquanto em 5,20 é philein.
entregou-lhe todas as coisas. Literalmente, "deu em sua m ão"; tam bém em
13,3 com o plural, "m ãos".
36. desobedece. A tradição latina traz "d escrê" na analogia de 3,18 e porque
isto dá um melhor contraste com "crê " na primeira linha do v. 36. "De-
sobedece", a redação mais difícil, ocorre somente aqui em João; sua in-
trodução por copistas não é facilmente explicado, e assim provavelm ente
seja o original.
vê a vida. Em 3,3 ouvimos de "v e r" o reino de Deus; para João, vida eterna
e reino de Deus são estreitam ente conceitos aliados.
deve suportar a ira de Deus. Literalmente, "a ira de Deus perm anece sobre
ele"; o tempo presente indica que a punição já com eçou e durará. Os si-
nóticos usam a frase "a ira por vir" na predição do Batista do que aconte-
cerá quando vem aquele para quem ele está preparando. Para João, este
tema escatológico é realizado aqui e agora.
COMENTÁRIO: GERAL
COMENTÁRIO: DETALHADO
BIBLIOGRAFIA
NOTAS
COMENTÁRIO
Introdução
Cena 1
"Se co n h ecesses o d o m d e D eu s
e q u e m é q u e te p e d e d e b eb er,
p o r tu a v e z lh e p e d iria s
e ele te d a ria á g u a v iv a".
11"Senhor", ela lhe falou, "n em m esm o tens u m a vasilha, e este poço
é fundo. O n d e, pois, estás indo obter esta ág u a corrente? 112S eguram ente,
" T o d o a q u e le q u e b e b e r d e sta á g u a
terá s e d e o u tra vez.
14M as to d o a q u e le q u e b e b e r d a á g u a q u e eu lhe d e r
n u n c a m ais terá sede.
A o c o n trá rio , a á g u a q u e e u lh e d e r
se to rn a rá n ele u m a fo n te d e á g u a
q u e salte p a ra a v id a e te rn a " .
15: disse; 16: falou; 17: exclamou; 19: respondeu; 21: falou; 25: disse; 26: declarou;
28: disse. No tempo presente histórico.
380 O Livro dos Sinais
24D e u s é E spírito,
e os q u e O a d o ra m
d e v e m a d o ra r em E sp írito e v e rd a d e " .
Cena 2
"E u te n h o u m a c o m id a p a ra co m er
d a q u a l n a d a co n h eceis".
"F azer a v o n ta d e d a q u e le q u e m e e n v io u
e lev ar Sua o b ra à co n clu são -
eis m e u alim en to .
35V ós n ã o te n d e s u m dito:
'[m ais] q u a tro m eses
e a ceifa e sta rá a q u i'?
Eis q u e e u vos digo:
A b ri v o sso s olh o s
e v e d e os cam p o s;
já estã o m a d u ro s p a ra a ceifa!
Conclusão
NOTAS
4.4. tinha que passar. Esta não é um a necessidade geográfica; porque, embora
a rota principal da Judeia para a Galileia fosse através de Samaria (Josefo,
Ant. 20.6.1; 118), se Jesus estava no vale do Jordão (3,22), poderia facil-
mente ter ido rum o ao norte através do vale e então subir para a Galileia
através da garganta de Bethshan, evitando Samaria. Em outro lugar do
evangelho (3,14), a expressão de necessidade significa que estava envoi-
vida a vontade ou o plano de Deus.
5. Siquém. Quase todos os manuscritos trazem "Sychar"; uma testemunha si-
ríaca traz Siquém, e J erônimo identificou Sychar com Siquém. E plausível
um equívoco que pode ter corrom pido o grego Sychem (= Shechem) em
Sychar, talvez sob a influência do som ar em Samaria. A leitura "Sychar"
cria um problema; porque, embora haja alguns vestígios nas antigas no-
tícias da existência de uma Sychar, nenhum vestígio de tal cidade foi en-
contrado na correspondente área de Samaria. A identificação de Sychar
com a m oderna 'Askar, cerca de 1,5 km a nordeste do poço de Jacó,
382 O Livro dos Sinais
que nos deu este poço. Embora não haja no AT referência a este evento, tal-
vez tenham os aqui um eco do relato de Jacó e ο ροςο de Harã. J. Ramón
Diaz, " Palestinian Targum and the New Testament", NovT 6 (1963), 76-77,
cita o Targum Palestinense de Gn 28,10 concernente ao ροςο de Harã:
"Depois que «osso ancestral)acó levantou a pedra da boca do ροςο, elevou
sua superfície e transbordou, e esteve transbordante vinte anos". N ote que
em João Jesus fornece água viva (corrente) que é eterna.
14. que salte. O verbo hallesthai é usado para m ovim ento rápido por seres
vivos, como saltadores; este é o único caso de sua aplicação na ação da
água, embora sua contraparte latina, salire, tenha am bos os usos. N a LXX,
hallesthai é usado para o "espírito de Deus", como ocorre em Sansão, Saul
e Davi, que é o pano de fundo para a tese de que em João a "água viva" é
o Espírito. Inácio, Romanos 7,2, parece evocar este versículo em João: "...
água viva e falando em m im e dizendo-m e em m eu interior: 'V inde ao
Pai'"; tam bém J ustino, Trifo 69,6 (PG 6:637): "Com o um a fonte de água
viva procedente de Deus... nosso Cristo a tem jorrado".
16. chama teu marido. Seria inútil indagar o que teria acontecido se ela voltasse
com seu companheiro.
18. cinco maridos. Aos judeus se permitia somente três casamentos (StB, II,
p. 437); se o mesmo padrão era aplicável entre os samaritanos, então a vida
da m ulher fora m arcantemente imoral. Não há razão particular por que
a conversação entre Jesus e a m ulher, sobre sua vida, tenha mais de uma
implicação óbvia. Entretanto, desde os tempos mais remotos, m uitos têm
visto um simbolismo nos maridos. O rícenes (In ]0 . 13,8; GCS 10:232) viu
uma referência ao fato de que os samaritanos m antinham como canônicos
somente os cinco livros de Moisés. Hoje, outros pensam em 2Rs 17,24ss.,
onde lemos que os colonizadores estrangeiros introduzidos pelos conquis-
tadores assírios vieram de cinco cidades e trouxeram consigo seus cultos
pagãos. (Na verdade, 17,30-31 menciona sete deuses que eles cultuavam ,
mas Josefo, Ant. 9.14.3; 288 subentende um a simplificação para cinco deu-
ses). Visto que a palavra hebraica para "esposo" (ba'al, "mestre, senhor")
era também usada como um nome para uma divindade pagã, a passagem
em João é interpretada como um jogo de palavras: a m ulher representan-
do Samaria teve cinco be'ãlim (os cinco deuses previam ente cultuados), e
o ba'al (Iahweh) que ela agora tem na realidade não é seu ba'al (porque
o javismo dos samaritanos era im puro - v. 22). Essa tentativa alegórica é
possível; porém João não fornece evidência de que essa fosse sua intenção,
e não estamos certos de que tal alegoria era um fato bem conhecido na
época, a qual teria sido reconhecida sem explicação. Buch , pp. 335-36, tem
um a interpretação curiosa. Ele crê que, ao alegar que não tinha nenhum
14 · Diálogo com a mulher samaritana junto ao Poço de Jacó 385
marido, a mulher estava mentindo para Jesus porque ela tinha intenções
matrimoniais sobre ele; ele salienta que nas cenas paralelas no AT, de ho-
mens e mulheres junto ao poço (veja nota sobre v. 7) há uma situação ma-
trimonial, e que Jesus foi descrito como um noivo em 3,29.
19. Senhor. Veja nota sobre "senhor" no v. 11.
profeta. Esta identificação de Jesus se origina do conhecimento especial que
ele exibia, mas pode também referir-se ao desejo óbvio da mulher de
transform ar sua vida. Os sam aritanos não aceitavam os livros proféti-
cos do AT, então a imagem do profeta provavelm ente tenha sua origem
em Dt 18,18 (veja supra, p. 228s.), uma passagem que no Pentateuco
Samaritano, bem com o no material de Qumran, vem após Ex 20,21b.
Este profeta-sem elhante-a־Moisés teria sido esperado para estabelecer
questões legais, donde a lógica da questão implícita no v. 20. Também
Bowman, "Eschatology'', p. 63, diz que os sam aritanos esperavam que o
Taheb (veja nota sobre o v. 25) restaurasse o culto legítimo.
20. neste monte. No Pentateuco Samaritano lemos em Dt 27,4 a instrução mi-
nistrada a Josué para erigir um santuário sobre o Garizim, o monte sa-
grado dos sam aritanos. E bem provável que esta leitura seja correta, pois
a leitura "Ebal" no TM bem que pode ser uma correção anti-samaritana.
Os sam aritanos incluíam também no Decálogo a obrigação de cultuar
sobre o Garizim. Em contrastar cf. 2Cr 4,6.
0 lugar. O Codex Sinaiticus omite isto. Ele se refere ao tempo (11,48).
21. mulher. Normalmente, Jesus usa esta forma de falar ao se dirigir as mulhe-
res (ver nota sobre 2,4). "M ulher" não é uma tradução inteiramente feliz e
é um tanto arcaica. Todavia, na linguagem moderna é deficiente como um
título cortês ao dirigir-se a uma mulher que já não é uma "senhorita". Tan-
to "senhora" com o "m adam e" têm assumido um tom desprazeroso quan-
do usado com o uma abordagem sem um nome próprio o acompanhe.
a hora. No original vai sem o artigo ou um possessivo, em João "h ora" não
é necessariamente a hora da glória (ver Apêndice 1:11, p. 794ss); contudo,
é bem provável que aqui tenha esse significado.
22. não conheceis. Neste versículo, a antítese é expressa na forma semítica tipi-
cam ente forte, sem nenhum significado entre ignorância e conhecimento.
conhecemos. B ultmann , p. 139h, toma o "nós" implícito como sendo os cristãos
em oposição tanto a samaritanos quanto a judeus; naturalmente, esse tipo
de exegese não toma seriamente o cenário histórico dado ao episódio.
além do mais. Literalmente, "porque".
a salvação é dos judeus. Cf. SI 76,1: "Em Judá Deus é conhecido". Bui.tmann re-
duziria isto a uma glosa, visto que não se adequa à hostilidade que João
aplica a "os judeus". Entretanto, os judeus contra quem Jesus, em outro
386 O Livro dos Sinais
lugar, fala asperamente se refere àquele setor do povo judeu que é hostil
a Jesus, e especialmente aos seus líderes. Aqui, falando a um a estrangeira,
Jesus dá aos judeus um a significação diferente, e o term o se refere a todo o
povo judeu. Este verso é um a clara indicação de que a atitude joanina para
com os judeus não implica um antissemitismo ao estilo m oderno nem um
ponto de vista que rejeita a herança espiritual do judaísmo.
23. é vindo a hora e agora está aqui. Q uando contrastam os isto com o v. 21,
descobrimos em João a m esm a tensão escatológica que se percebe nas
referências sinóticas ao reino - é futuro, e todavia é eminente. A ideia
parece ser que está presente aquele que, na hora da glorificação, tom ará
possível a adoração em Espírito por seu dom do Espírito.
em Espírito e verdade. Ambos os substantivos são sem artigo, e há um a só
preposição.
24. Deus é Espírito. Esta não é um a definição essencial de Deus, e sim um a
descrição do trato de Deus com os homens; significa que Deus é Espírito
para com os hom ens, porque Ele dá o Espírito (14,16) que os gera de
novo. Há outras duas descrições como esta nos escritos joaninos: "Deus
é luz" (ljo 1,5), e "Deus é am or" (ljo 4,8). Estes tam bém se referem ao
Deus que age; Deus dá ao m undo Seu Filho, a luz do m undo (3,19; 8,12;
9,5) como sinal de Seu amor (3,16).
25. 0 Messias. Ver nota sobre 1,41. Os sam aritanos não esperavam um Mes-
sias no sentido de um rei ungido da casa davídica. Esperavam um Taheb
(T a’eò=verbo hebraico s/i&=aquele que retorna), aparentem ente o profe-
ta sem elhante a Moisés. Esta crença era o quinto artigo no credo samari-
tano. Bowman, " Studies", p. 299, mostra que a conversação em Jo 4,19-25
se adequa ao conceito sam aritano do Taheb como um m estre da Lei (ver
nota sobre "profeta" no v. 19), ainda quando a designação judaica m ais
familiar do Messias é posto nos lábios da m ulher.
explicará. OSsin e T aciano leem "dá". Black, p. 183, e Boismard, Evjean, p. 46,
sugerem a possibilidade de um aram aico original com confusão entre as
raízes fn3, "anunciar", e ntn, "dar".
26. Sou eu. Para ego eimi, ver Apêndice IV, p. 841ss; não é impossível que
este uso seja proposital com ressonância de divindade. É interessante
que Jesus, que não aceita sem matizações ao título de Messias, quando
lhe é dado pelos judeus, aceita -0 de um a sam aritana. Talvez a resposta
esteja nas conotações nacionalistas régias, que tivesse o term o no judaís-
mo, enquanto o Taheb sam aritano (embora não destituído de m atizes
nacionalistas) tivesse mais o aspecto de um m estre e legislador. J. M a-
c donald, The Theology of the Samaritans (Londres: SCM, 1964), p. 362, diz
que os sam aritanos não esperavam que o Taheb fosse um rei.
14 · Diálogo com a mulher samaritana junto ao Poço de Jacó 387
27. ficaram chocados. Tem po imperfeito, indicando mais que surpresa momen-
tânea. Siraque 9,1-9 descreve o cuidado de alguém não se deixar enredar
por um a m ulher; e docum entos rabínicos (Pirqe Aboth I 5; TalBab 'Erubin
53b) adverte que não se deve falar com m ulheres em público.
ninguém perguntava. Para um a hesitação similar à pergunta de Jesus, ver 16,5.
O que desejas? Isto foi dirigido à m ulher (assim Bernard, I, p. 152)? Algu-
m as testem unhas antigas veem isto desta forma: como variantes, indi-
ca, p. ex., "o que ela queria?". Todavia, estas variantes poderíam vir de
T aciano que, como um encratista, fizesse igualm ente parecer que Jesus
não tom ou a iniciativa de conversar com um a m ulher. Q uase certamente,
como sugerido em v. 34, a questão diz respeito a Jesus, com a implica-
ção de que, talvez, lhe pedisse alim ento depois de já ter obtido algum.
É curioso, como Bultmann salienta, que eles se sentissem mais chocados
em razão de Jesus estar falando com um a m ulher do que se estivesse
falando com um a sam aritana.
28. deixando sua vasillm. Não devemos buscar uma razão prática para isto (p. ex.,
que ela a deixou para Jesus beber; que ela se apressou em voltar à cidade).
Este detalhe parece ser o m odo de João enfatizar que aquela vasilha seria
inútil para o tipo de água viva que Jesus tinha interesse que ela bebesse.
povo. Literalmente, "hom ens"; todavia, qualquer sugestão maliciosa de
que os homens estavam interessados em descobrir a vida pregressa da
m ulher está fora de questão.
29. É possível que este seja 0 Messias? Literalmente, "o Ungido", como no v. 25.
A pergunta em grego, com mêti, implica um a im probabilidade (BDF,
§ 42T ); portanto, a fé da m ulher não parece estar completa. Todavia, ela
expressa um a nuança de esperança. Bultmann, p. 142, sugere que a per-
gunta está form ulada a partir do ponto de vista do povo.
30. [Então] Isto tem boa atestação, incluindo P66; e Bernard, I, p. 153, mostra
como poderia ter-se perdido na transm issão do texto. O utros preferem
a leitura mais bem atestada e mais abrupta sem um conectivo, com base
no princípio de que a redação mais difícil usualm ente é a m ais original.
32. comida. A parentem ente, há pouca distinção entre o brõsis do v. 32 e o
brõm a do 34, em bora Simcq, Dieu et 1'homme, p. 9 T, alegue que o último
tem um a conotação especial de nutrição. É possível que o uso de brõma,
no v. 34 deva ser explicado sim plesm ente por um desejo de assonância
com thelêma, "vontade", no m esm o versículo. Brõma nunca é usado ou-
tra vez em João, enquanto brõsis aparece em 6,27.55.
34. fazer a vontade daquele que me enviou. Tanto esta frase (como "realizar as
obras") (cf. 5,30; 6,38) e "levar Sua obra à conclusão" (cf. 5,36; 9,4; 17,4)
são descrições joaninas da natureza do m inistério de Jesus. Nos sinóticos,
388 O Livro dos Sinais
cena sam aritana, isto seria m uito mais provável do que os quatro meses
m encionados acima. A ceifa se refere prim ariam ente aos cidadãos que
estão vindo a Jesus, m as a m etáfora pode ter sido sugerida à vista das la-
vouras m aduras nas proxim idades de Siquém. Então o tem po seria maio
ou junho. Se a sequência das narrativas em João for cronológica, então o
interlúdio sam aritano tam bém não se deu m uito tem po depois da Pás-
coa (março ou abril) m encionado no capítulo 2; certam ente, 4,43-45 tenta
criar esse efeito.
36. já. A lguns colocam esta palavra com a últim a cláusula do v. 35: "já estão
m aduros para a ceifa". C om parar ljo 4,3.
recolhendo seus salários. O grego misthos significa tanto "salário" quanto
"galardão".
colhendo fruto para a vida eterna.Tosephta Peah 4,18, citado por Dodd, Inter-
pretation, p. 146, é um paralelo interessante: "M eus pais colheram tesou-
ros nesta era; eu tenho garantido tesouros na era futura".
semeador e ceifeiro. T hüsinc, p. 54, conectando isto de volta ao v. 34, sugere
que o Pai é o sem eador e Jesus é o ceifeiro. Isto significaria, porém , que as
identificações do sem eador e o ceifeiro, no v. 36, são diferentes daquelas
em 37-38, pois em 38 os ceifeiros obviam ente são os discípulos.
38. Eu vos enviei. O "Eu" é expresso e talvez enfático: "fui eu quem os enviei".
vós. Na tradição prim itiva das parábolas do evangelho am iúde há uma
aplicação da parábola a um auditório e situação particulares.
0 fruto de seu trabalho. Literalmente, "seu trabalho"; m as o contexto deixa
claro que a intenção é o p roduto do trabalho.
39. das palavras da mulher. Há um contraste entre esta fé com base na palavra
da m ulher e a fé com base na palavra de Jesus (v. 41) - seria isto um es-
boço do conceito de logos que aparece no Prólogo?
40. ficasse. Menein; ver Apêndice 1:8, p. 794ss.
42. disseste. Aqui, a palavra grega é latia, não o logos dos vs. 39,41.
Salvador. No AT (SI 24,5; Is 12,2; tam bém Lc 1,47), Iahweh é a salvação
de Israel e do israelita individual. O rei Messias não é cham ado salva-
dor (ver, porém , Zc 9,9, onde a LXX traz "salvando" para "vitorioso".
1 Enoque 48,7 fala do Filho do Hom em que salva os homens. Qual seria o
significado do título nos lábios dos sam aritanos? Talvez para a Samaria
helenizada buscaríam os o significado do term o no m undo grego onde
era aplicado aos deuses, im peradores (Adriano era cham ado "Salvador
do m undo") e heróis. O term o "Salvador" era um título comum pós-res-
surreição para Jesus, particularm ente nas obras lucanas e paulinas, mas
este é o único caso nos evangelhos de sua aplicação a Jesus durante o
m inistério público.
390 O Livro dos Sinais
COMENTÁRIO: GERAL
COMENTÁRIO: DETALHADO
S e g u n d o , vs. 11-15:
vs. 11-12. A mulher c o n fu n d e a á g u a e m u m n ív el m a te ria l e ter-
reno; d a í c o n fu n d ir Jesu s co m o m e n o r q u e Jacó.
13-14. Jesus esclarece q u e ele e stá fa la n d o d a á g u a celestial
d a v id a e te rn a.
15. A mulher, in trig a d a , pede essa água, assim c u m p rin d o
u m a p a rte d o desafio d e Jesus m en c io n ad o n o v. 10.
E n tre ta n to , re sta a re sp o sta à o u tra p a rte d o d esafio , p o is a m u -
lh e r a in d a n ã o re c o n h e c e u q u e m é Jesus. Ela e n te n d e q u e ele
está fa la n d o d e u m tip o in c o m u m d e á g u a , m a s su a s a sp ira çõ e s
a in d a e stã o n o n ív el terren o .
Cena lb: O v e rd a d e iro culto ao Pai (vs. 16-26). Isto tam b é m consiste
d e dois diálogos curtos, cada u m com três jogos d e p e rg u n ta e resposta:
14 · Diálogo com a mulher samaritana junto ao Poço de Jacó 393
S e g u n d o , vs. 19-26:
vs. 19-20. A mulher o lh a p a ra a lu z, a in d a q u e d esejaria d e sv ia r
os raio s p a ra alg o m e n o s p esso al. A o a b o rd a r o tem a
d o cu lto , ela está c o m e ç a n d o , com h esitação , a p en -
sa r e m u m n ív el e sp iritu a l e celestial, e m b o ra ain d a
haja m u ito d e te rre n o e m se u s conceitos.
21-24. Jesus ex p lica q u e o v e rd a d e iro c u lto só p o d e v ir da-
q u e le s q u e fo ram g e ra d o s p e lo E sp írito d a v e rd a d e .
S o m en te a tra v é s d o E sp írito é q u e o Pai g era v e rd a -
d e iro s a d o ra d o re s.
25-26. A mulher, fin alm en te, reconhece quem é jesus (o q u a n to
lh e é p o ssív el) e Jesus a ssim o afirm a.
(2) O segundo provérbio e seu com entário se en co n tram nos vs. 37-38.
A d istin çã o e n tre o s e m e a d o r e o ceifeiro tem m u ito s a n te c e d e n te s n o
A T (Dt 20,6; 28,30; Jó 31,8); m a s a refe rê n c ia ali é p e ssim ista , a sa b er,
q u e u m a c a tá stro fe in te rv é m a im p e d ir o h o m e m d e c o lh e r o q u e h a-
via se m ead o . M q 6,15 é u m exem plo: "S em earás, p o ré m n ã o colhe-
rás". P o rta n to , é b e m p ro v á v e l q u e o p ro v é rb io q u e Jesu s cita, " u m
sem eia, o o u tro co lh e", o rig in a lm e n te fosse u m a reflex ão p e ssim ista
so b re a in ju stiça da v id a . (Barrett, p. 203, cita p a ra le lo s g re g o s q u e
em su a estim a são m u ito se m e lh a n te s à fo rm a jo a n in a d o p ro v é rb io ;
to d av ia , é b e m p ro v á v e l q u e esse a fo rism o fosse a reflex ão c o m u m d e
m u ito s p o v o s an tig o s). É in te re ssa n te n o ta r q u e u m c o n tra ste e n tre
se m e a r e c o lh er a p a re c e em M t 25,24: "É s u m h o m e m sev ero ; ceifas
o n d e n ã o sem easte".
N o v. 38, Jesus aplica o p ro v é rb io em u m se n tid o o tim ista. Q u e os
d isc íp u lo s são e n v ia d o s a ceifar o n d e n ã o se m e a ra m é o u tra reflexão
d e a b u n d â n c ia escatológica. H á d iv e rsa s d ific u ld a d e s n e ste v ersícu lo .
Jesu s d iz ao s discípulos: "E u v o s enviei jaoristo] a ceifar"; q u a n d o ele
fez isso? P o u co co n sisten te a su g e stã o d e Bligh d e q u e esta é u m a alu -
são ao fato d e q u e fo ram e n v ia d o s à c id a d e a b u sc a r a lim en to . O texto
n ão só d iz q u e foram e n v ia d o s a ceifar, m as ta m b é m n ã o há n a d a na
d escrição d e s u a id a à c id a d e (v. 8) q u e d iz q u e foram enviados. A o con-
trário , a m issão m e n c io n a d a n o v. 38 p a re c e ser d e c a rá te r relig io so .
H á d u a s p ro v á v e is p o ssib ilid a d es. Primeira, h á q u e m s u g ira q u e
d e v e m o s co lo car-n o s n a p e rsp e c tiv a p ó s-re ssu rre iç ã o d o e v a n g elista .
O en v io é a g ra n d e m issã o p ó s-re ssu rre iç ã o d e 20,21 q u e c o n v e rte u
os d isc íp u lo s em ap ó sto lo s, isto é, os e n v ia d o s (v er n o ta so b re 2,2).
P arece q u e, p o r an te c ip a ç ã o , esta m issão se re p o rta a 17,18 ta m b é m
n o p reté rito : "E u os e n v ie i ao m u n d o " . Segunda, h á a p o s s ib ilid a d e
d e q u e 4,38 seja u m a referên cia a u m a m issã o d o s d isc íp u lo s d u r a n te
o m in isté rio d e Jesus, u m a m issã o q u e n ã o foi n a rra d a . A tra d iç ã o
sin ó tica relata essas m issõ es d o s d isc íp u lo s n a s c id a d e s a d ja c e n te s a
p re g a r e a c u ra r (Lc 9,2; 10,1). N a tu ra lm e n te , é se m p re u m risco ex-
p lic a r João m e d ia n te alg o p ro v e n ie n te d a tra d iç ã o sin ó tica; c o n tu d o ,
o fato d e q u e o v. 38 p o d e ter sid o u m a v ez u m d ito in d e p e n d e n te , ao
m en o s to rn a esta in te rp re ta ç ã o p o ssív el. C itam o s a n te rio rm e n te u m
p a ra le lo lu c a n o (Lc 10,1-2) com Jo 4,35 so b re ceifa a b u n d a n te e a es-
cassez d o s tra b a lh a d o re s; n o te m o s q u e o v e rsíc u lo se g u in te em L ucas
tem estas p a la v ras: "E is q u e e u v o s en v io "... É p o ssív e l q u e João n o s
14 · Diálogo com a mulher samaritana junto ao Poço de Jacó 401
p re s e rv a d a c o m o u m a rg u m e n to c o n tra a q u e le s n a ig reja e m J e ru sa lé m
q u e re p ro v a ra m a a titu d e d o s h e le n is ta s c o n tra o te m p lo e in c lu siv e
p o d e ría m te r p re te n d id o q u e os c o n v e rso s s a m a rita n o s m u d a s s e m
se u c o m p ro m is so p a ra J e ru s a lé m co m o p a rte d a p rá tic a c ristã (v er
A t 2,46 so b re a p rá tic a c ristã n o c u lto d iá rio n o te m p lo ). O v. 21 m o stra -
ria q u e tal a titu d e e a q u e la s d is p u ta s n ã o o c o rre ra m n a n o v a e ra q u e
Jesu s c o m eçara. A rica ceifa d o v. 35 re fle tiría o ê x ito d a m issã o d e F ilip e
e m S a m aria, e o " e u e n v ie i" d e 38 re fe riría a u m a faceta p a rtic u la r d a co-
m issã o p ó s -re s s u rre iç ã o , a sa b e r, q u e a o g u ia r o d e s tin o d a Igreja Je su s
u s a ra a p e rs e g u iç ã o p a ra e n v ia r s e u s d isc íp u lo s n a m issã o s a m a rita n a .
A ên fa se so b re a im p o rtâ n c ia d o E sp írito (nos vs. 2 3 2 4 ־e so b a im a -
g e m d a " á g u a v iv a " e m 10-14) a s su m iría n o v o sig n ific a d o à lu z d a
v in d a d e P e d ro e João p a ra o u to rg a r o E sp írito a S a m a ria e a c o n tro -
v e rs a co m S im ão M ag o , q u e q u e ria p a ra si p o d e r p a ra d a r o E sp írito .
Se o c o n te x to d a c o n v e rsã o d e S a m a ria e x p lica m u ito d a c e n a q u e
e stiv e m o s e s tu d a n d o em Jo 4, n ã o se p o d e fa z e r ju stiç a a o s e le m e n -
to s d e a u te n tic id a d e q u e te m o s v isto a s u g e rir q u e to d o o re la to é
p u r a m e n te im a g in a tiv a e c o m p o siç ã o fictícia ad hoc. A s o lu ç ã o a d e -
q u a d a p a re c e se r q u e o m a te ria l tra d ic io n a l co m u m a b a se h istó ric a
tem sid o re p e n s a d o e f o rm u la d o p a ra u m a sín te se d ra m á tic a co m
p ro p ó s ito teo ló g ico .
NOTAS
COMENTÁRIO
M arco s 4,2: muitos ficam atônitos ante 0 conhecimento que Jesus pos-
sui, Jo 7,15
3: Jesus é uma figura local cujos parentes são conhecidos,
Jo 6,42
6: Jesus se aborrece pela falta de fé, Jo 4,48
BIBLIOGRAFIA
NOTAS
COMENTÁRIO
R e la ç ã o c o m o s s i n ó t i c o s
O V isto q u e n a ép o ca d e I ri-
r e la to d a c u r a d o m e n i n o d o c e n tu r iã o .
neu (C o n t r a H e r e s ia , II 22:3; PG 7:783), os e stu d io so s s u g e rira m q u e
o rela to q u e João faz d o filh o d o oficial é u m a terceira v a ria n te d o
412 O Livro dos Sinais
se g u n d o m ilag re e m C an á a d ic io n o u significação à lu z d e s u a a tu a l
p o sição s e g u in d o as a tiv id a d e s d e Jesu s na Ju d e ia e S am aria. O p re -
sen te a rra n jo d e ste s d o is m ilag re s p o d e e sta r re la c io n a d o co m o re-
lato d e 3,22-30. Se, co m o tem o s su g e rid o , e sta cena final p e rte n c e n te
ao B atista foi em o u tra o casião e stre ita m e n te a sso c ia d a co m o m a te ria l
d o c a p ítu lo 1, e n tã o p ro v a v e lm e n te p e rd e u a q u e la asso ciação q u a n d o
a p rim e ira cena em C a n á foi in tro d u z id a p a ra c o m p le ta r o c h a m a d o
d o s d isc íp u lo s e in tro d u z iu a S e g u n d a P arte. N a tu ra lm e n te , tu d o isto
é h ip o tético , e n ã o d e v e d e sv ia r-n o s d e b u sc a r o sig n ific a d o n a a tu a l
seq u ên cia d o ev an g elh o .
g en érico , a q u al, sem estes versículos, seria to talm en te sim ilar ao relato
sin ó tico d o m e n in o d o cen tu rião . C e rta m en te , se 50 se g u iu 47, a n arra-
tiva fluiría m u ito su a v e m e n te e n u n c a p e rd e ría 4 8 4 9 ־. E n tretan to , o fato
d e term o s u m p a ra lelo à rejeição d e u m p e d id o (48) na n a rra tiv a sinóti-
ca d a [m u lh er] siro-fenícia nos acau tela a ir com m en o s pressa.
B oismard te m o u tra a b o rd a g e m p a ra estes v ersícu lo s. Ele crê q u e
os vs. 4 8 4 9 ־e 51 53 ־r e p re se n ta m a re d a ç ã o lu can a d o rela to jo an in o ori-
g in al. E ste é o u tro e x e m p lo d e su a teoria: q u e L ucas foi o re d a to r final
d e João, u m a teo ria q u e n ã o a c h am o s c o n v in c e n te q u a n d o ap licad a
e m o u tro lu g ar. U m d e se u s a rg u m e n to s é q u e 48 é o ú n ico ex em p lo
em Jo ão d a c o m b in a çã o "sin a is e p ro d íg io s " , e n q u a n to o c o rre n o v e
v e z e s e m A tos. N ã o o b sta n te , esse a rg u m e n to v o lta-se c o n tra si, p o r-
q u e to d o s o s caso s em A to s e m p re g a m a c o m b in ação fav o ra v e lm en te ,
e n q u a n to João o e m p re g a d e sfa v o ra v e lm e n te . B oismard tam b é m usa
o a rg u m e n to d e q u e e m João Jesus ra ra m e n te ch a m a se u s m ilag res de
" sin a is " , co m o faz n o v. 48 (Jesus m esm o fala d e "o b ras"). E n tretan to ,
ta n to a q u i c o m o em 6,26, as p a la v ra s d e Jesus refletem n ão su a s p ró p ria s
id éias, m a s a m e n ta lid a d e d e seu a u d itó rio . Em referên cia aos vs. 5 1 5 3 ־,
Boismard e n c o n tra o ato d e fé (53) tau to ló g ico , v isto q u e o oficial já
c re u n o v. 50; m as, co m o já ex p licam o s acim a, isto n ã o p ro ce d e , pois
a fé n o v. 53 é p ro g re ssiv a - a g o ra o oficial c h eg o u , a tra v é s d o sinal, a
crer e m Je su s co m o o d o a d o r d a v id a. A lém d o m ais, a trib u ir 5 1 5 3 ־a
L u cas é n e g lig e n c ia r o fato d e q u e em 53 ("e ta m e n te n a q u e la h o ra")
João c o n c o rd a m ais com a fo rm a m a te a n a d o q u e com a lu can a no
re la to d o c e n tu riã o .
V ale a p e n a c o n sid e ra r a tese q u e B oismard e la b o ra, a sab er, q u e a
co n fissão d e fé n o v. 53 seria m ais n a tu ra l e m u m estág io p o ste rio r d o
C ris tia n is m o d o q u e n o c o n te x to v is u a liz a d o n a n a rra tiv a d o ev a n -
g elh o . Q u a s e se p o d e ria tra d u z i-lo "E le e to d a su a casa se c o n v e rtera m
ao C ristia n ism o " . O s m elh o re s p a ra le lo s se e n c o n tra m em A tos, o n d e
tem o s u m a série d e in d iv íd u o s q u e se to rn a m c re n tes ju n ta m e n te com
(to d as) s u a s casas (10,2; 11,14; 16,15.31.34, e sp ec ialm en te 18,8). T odos
estes in d iv íd u o s são g en tio s, e d isc u tire m o s ab aix o a im p o rtâ n c ia teo-
lógica d isto . N ã o o b sta n te , d ific ilm e n te isto seria b a s ta n te p a ra p ro v a r
q u e L u cas re d ig iu a cena em João; d e fato, há u m a p e q u e n a , p o rém
sig n ificativ a, d ife ren ç a e n tre João e A tos, m esm o a q u i, p o is João usa
oikia p a ra "casa [fam ília]", e n q u a n to A to s u sa oikos. B oismard d iz que,
ao u s a r oikia, L u cas está a d a p ta n d o su a re d a ç ã o ao estilo jo an in o , m as
418 O Livro dos Sinais
BIBLIOGRAFIA
A. 5: JESUSE O SÁBADO
Jesus realiza obras que som ente Deus pode fazer no Sábado.
1-5: Cenário.
6-7: Cura milagrosa.
8-34: Interrogatórios ao cego:
8- 12: Interrogando vizinhos e familiares.
13- 17: Interrogatório preliminar da parte dos
fariseus.
18-23: Parentes do homem interrogados pelos
judeus.
24-34: Segundo interrogatório ao hom em pelos
judeus.
35-41: Jesus leva o cego àquela visão espiritual que é a fé;
os fariseus estão em pedernidos em sua cegueira.
NOTAS
5.1. uma festa dos judeus. O Codex Sinaiticus diz "a festa", o que provavelmente
era um a referência ou à festa dos Tabem áculos (B ernard ) ou à Páscoa
(L agrange ); m as a evidência para a om issão do artigo é esmagadora.
Uma tradição antiga na igreja grega identifica esta festa sem nome como
sendo o Pentecoste, um ponto de vista aceito por alguns estudiosos mo-
dernos (ver F.-M. B raun , RThom 52 [1952], 263-65). Isso explicaria as
referências a Moisés no discurso (5,46-47); pois, naquele processo que
conectava as festas originalmente agrícolas a eventos na história de Israel,
a Festa das Sem anas (Pentecoste) era identificada com a celebração da
entrega da Lei a Moisés no M onte Sinai. Não estam os certos quão antiga
é esta identificação; para um a discussão completa que favorece um a data
antiga, ver B. N oack , "The Day of Pentecost in jubilees, Qumran, and Acts",
Annual of the Swedish Theological Institute 1 (1962), 72-95. Não obstante, a
única identificação dada em João é que a festa foi num sábado (5,9); ou-
tras identificações já não são de interesse senão secundário.
a jerusalém. Os judeus eram obrigados a ir a Jerusalém para as três principais
festas: a Páscoa, Pentecoste e Tabemáculos, daí as sugestões acima. Jesus es-
teve a última vez em Jerusalém para a Páscoa (2,13); e se ele voltou em maio
para Galileia através de Samaria (ver nota sobre 4,35: "campos... maduros"),
identificar esta festa como Pentecoste implicaria uma estada muito curta em
Galileia. Naturalmente, esta é uma questão aberta: a de averiguar até que
ponto a sequência cronológica foi preservada nestas narrativas.
2. junto ao Tanque das Ovelhas. A evidência m anuscrita é m uito confusa; os
m elhores m anuscritos trazem estas palavras, mas com duas possíveis
interpretações: (a) Em Jerusalém, junto a Ovelhas, há um tanque com o
nom e hebreu... (b) Em Jerusalém , junto ao Tanque das Ovelhas, há um
tanque que se chama "em hebreu"... Cada redação parece exigir que su-
pram os a palavra que foi deixada subentendida. Nós optam os pela se-
gunda, suprindo o substantivo geral "lugar". Os que optam pela primeira
interpretação costum eiram ente suprem "porta", pois temos conhecimen-
to de um a Porta das Ovelhas junto ao templo. Haveria m enos violência
428 O Livro dos Sinais
10. os judeus. Um caso óbvio onde este termo (ver Introdução, p. 75s.) não
significa o povo judeu, visto que o (ex) paralítico certam ente era ele mes-
mo um judeu.
carregar esse leito. C arregar coisas de um lugar para outro é a última das 39
obras proibidas no tratado da Mishnah sobre o Sábado 7:2; carregar leitos
vazios é implicitamente proibido em 10:5.
12. te disse que a tomasse. A cura m aravilhosa foi perdida de vista; para as
autoridades, só é importante a violação do sábado.
13. Jesus se retirou. Especialmente em M arcos, é característico de Jesus evitar
cham ar a atenção pública para seus milagres (7,33; 8,23).
14. recintos do templo. O tanque ficava justamente na parte noroeste da área
do templo - outra indicação do conhecimento que o evangelista tinha de
Jerusalém nos dias anteriores à destruição romana.
Não peques mais. Em outro lugar, Jesus não aceita a ideia de que, só porque
um homem estava enfermo ou sofrendo, era um sinal de que havia co-
metido pecado (Jo 9,3; Lc 13,1-5). N ão obstante, num nível mais geral, ele
indica uma conexão entre pecado e sofrimento. (Mais tarde a teologia di-
ria que o sofrimento é uma consequência do pecado original e que alguns
sofrimentos são a pena do pecado concreto e pessoal). Os milagres de
cura de Jesus nos evangelhos sinóticos eram parte de seu ataque ao reino
pecaminoso de Satanás (ver nosso artigo "The Gospel Miracles", BCCT,
pp. 184-201). No relato sinótico do paralítico baixado pelo teto, o poder
de perdoar pecados é o ponto primordial da narrativa.
COMENTÁRIO
A v a li a ç ã o d a tr a d iç ã o
em C a fa rn a u m , e sp e c ia lm e n te co m o se e n c o n tra em Mc 2,1-12. N ão
o b sta n te , a p a rte o fato b ásico d e q u e a p e sso a e n fe rm a é u m h o m em
q u e n ã o p o d e c a m in h a r e q u e Jesus lhe m a n d a q u e se lev an te, p e g u e
seu leito e a n d e (u m a o rd e m n ã o in e s p e ra d a p a ra u m p a ra lític o cura-
do), os d o is re la to s são b em d iferen tes:
É v e rd a d e q u e o h o m e m aleijad o o u p a ra lític o se a p re s e n ta co m o
u m a p e sso a m ais d e sta c a d a q u e o c o stu m e iro n a s n a rra tiv a s sin ó ti-
cas. T o d av ia, d ificilm en te se p o d e falar d e u m e ste re ó tip o jo an in o ;
em su a o b tu sid a d e , este h o m e m é, p o r ex em p lo , m u ito d ife re n te d o
cego p e rsp ic a z a q u e m Jesu s cu ra n o c a p ítu lo 9. O s tra ç o s d e p e rso -
n a lid a d e q u e ele rev ela n ã o se rv e m a p ro p ó sito s teo ló g ico s p a rtic u -
lares e são tão v e ro ssím e is q u e p o d e ría m ta m b é m te r sid o p a rte d a
tra d içã o p rim itiv a . Se a d o e n ç a d o p a ra lític o n ã o fosse tão trág ica,
p o d e ría q u a se d iv e rtir-se a n te a falta d e im a g in a ç ã o d o h o m e m em
a p ro x im ar-se d a s á g u a s c u ra tiv a s. Seu a m u a d o re s m u n g o so b re os
" e s p e rta lh õ e s" q u e o p re c e d ia m à á g u a trai u m a crô n ica in c a p a c id a -
d e d e a sse n h o re a r-se d a o p o rtu n id a d e , u m a p e c u lia rid a d e refletid a
o u tra v ez em su a re sp o sta in d ire ta à o ferta d e c u ra d a d a p o r Jesus.
O fato d e q u e d e ix a ra se u b e n fe ito r e sc a p a r sem n e m m esm o p e rg u n -
tar seu n o m e é o u tro e x em p lo d e o b tu sid a d e . N o v. 14, é Jesu s q u e m
to m a a in iciativ a d e e n c o n tra r o h o m em , e n ã o vice-versa. F in a lm en -
te, ele p a g a seu b e n fe ito r n o tific a n d o -o a "o s ju d e u s" . Isto n ã o é u m
ex em p lo d e traição (com o T eodoro d e M o p su éstia su g e riu : In Jo. [Si-
ríaco]; C SC O 116:73) se n ão d e traço d e in g e n u id a d e a to d a a p ro v a .
U m c a rá te r tal co m o este p o d e ria ter sid o in v e n ta d o , p o ré m se e sp e ra -
ria v e r m o tiv aç ã o m ais clara d e tal criação.
In tro d u ç ã o
P r im e ir a D iv is ã o : A d u p l a a tu a ç ã o d e J e s u s n o S á b a d o
19E n tã o Je su s re to m a n d o a p a la v ra lh es disse:
" S o le n e m en te v o s a sse g u ro ,
o F ilh o n ã o p o d e fazer n a d a
p o r si m e sm o -
s o m e n te o q u e v ê o P ai fazen d o .
P o is tu d o o q u e Ele faz,
o F ilh o ig u a lm e n te faz.
436 O Livro dos Sinais
NOTAS
22. Ele entregou ao Filho todo julgamento. Ver com entário sobre 8,15 para o
quadro completo de Jesus e o juízo em João. Se a festa anônima de 5,1 é
o Pentecostes, então o tema do juízo se deveria à relação existente entre
esta festa e a entrega da lei no Sinai.
23. para que todos honrem 0 Filho. Bligh, p. 128, insiste que ambos os versícu-
los, 20 e 21, formam a base desta cláusula: a honra flui tanto do poder
de dar vida quanto do poder de juízo. Isto é certo, mas crem os que sua
crítica da versão NEB é injustiçada. "Julgam ento", no v. 22, é julgamen-
to salvífico que inclui o poder de dar vida; e assim, gram aticalm ente, a
cláusula final em discussão pode ser deixada dependente som ente do
v. 22 e ainda que reflete as duas idéias.
Aquele que se recusa. Esta sentença é uma variante do dito encontrado em
Lc 10,16 (cf. Mt 10,40): "Aquele que me rejeita, rejeita aquele que me en-
viou". Em Jo 15,23, temos "Aquele que me odeia, odeia também a meu
Pai"; ver ljo 2,23. Talvez estes ditos joaninos sejam parte de uma apoio-
gética contra alguns cristãos da época do evangelista que recusavam dar
a devida honra ao Filho.
24. Solenemente eu vos asseguro. Que ambos os versículos, 24 e 25, com eçam
assim é um sinal de que ditos isolados foram reunidos. Há uma inclusão
com o v. 19.
que ouve... e tem fé... possui vida eterna. A m esma prom essa é dada a todos os
que creem no Filho, em 3,16.36.
não sofre condenação. O tema do livrar-se da condenação se encontra em
3,18. Isto não é só um tema joanino, pois Rm 8,1 diz: "A gora já nenhum a
condenação há para os que estão em Cristo Jesus".
18 · Jesus e o Sábado: Discurso sobre sua atuação no Sábado 439
passou da morte para a vida. 1J0 3,14: "Sabemos que já passam os da morte
para a vida".
25. vem a hora, e já está aqui. Ver nota sobre 4,23; tam bém Apêndice 1:11,
p. 794ss.
mortos. A referência é prim ariam ente aos espiritualm ente m ortos (Ef 2,1:
"Ele vos deu vida, quando estáveis m ortos através de delitos e peca-
dos".) Entretanto, os vs. 26-30 m ostram que os fisicamente m ortos não
são esquecidos.
ouvirão... ouvirem. O m esm o verbo grego com duas conotações, como tam-
bém em M t 13,13.
26. possui vida. A posse comum da vida, por meio do Pai e do Filho, era usa-
da nos tem pos patrísticos como um argum ento anti-ariano. Entretanto,
"vida", aqui, não se refere prim ariam ente à vida eterna da Trindade, mas
a um poder criativo de dar vida, exercido para com os homens. SI 36,9:
"Contigo está a fonte da vida; em tua luz vemos a luz". Q uanto ao Filho
possuindo vida, Ap 1,18 chama Jesus Cristo "aquele que vive".
27. porque ele é 0 Filho do Homem. A expressão "Filho do H om em " é sem ar-
tigo; é a única vez, nos evangelhos, que não há artigo antes de qualquer
substantivo. Há quem sugira que a expressão, aqui, significa simples-
m ente "hom em ", assim: "passar juízo que [ho ti por hoti] hom em é".
Em nossa opinião, o contexto torna isto improvável. Não há artigo no
grego de Dn 7,13 (ver comentário). No quadro sinótico do juízo final e da
separação dos bons e dos m aus, o Filho do Homem exerce um im portan-
te papel (Mc 13,26; Mt 13,41; 25,31; Lc 21,36).
28. não há necessidade de que vos admireis nisto. Isto podería ser um a questão
negativa: "N ão estais surpresos nisto, estais?" (BDF, § 4271), mas o impe-
rativo fica bem.
nisto. C risóstomo (In ]0. 39,3; PG 59:223) entendeu a surpresa como se
referindo ao que precede (ele é o Filho do Homem); a maioria dos estu-
diosos m odernos o tom am como um a referência ao que segue (seu papel
na ressurreição dentre os mortos). Ao encerrar a sentença assim, tenta-
m os preservar a am biguidade, pois o evangelista pode ter visto a surpre-
sa como um a referência a todo o complexo de idéias.
porque. A palavra podería ser traduzida "que", e toda a sentença se conver-
teria em um a explanação aposicional "disto" na linha precedente.
29. para a vida... ser condenados. Q ue os hom ens serão recom pensados ou pu-
nidos de acordo com seus feitos é com um em João, Paulo (Rm 2,6-8) e nos
sinóticos (Mt 25,31-46); isto é com plem entar à recom pensa ou punição de
acordo com a fé (Mc 16,16).
praticado 0 que é mau. Ver p. 357s. e nota sobre 3,20.
440 O Livro dos Sinais
COMENTÁRIO
P r im e ir a D i v i s ã o . A d u p l a o b r a d e J e s u s n o s á b a d o , a s a b e r , d a r v i d a e j u l g a r -
e s c a to lo g ia r e a liz a d a (5,19-25)
Negação: Um filho não pode fazer nada de si mesmo - somente o que ele
vê seu pai fazer.
Afirmação: Tudo o que o pai faz, o filho igualmente faz.
Explicação: Pois o pai [ama a seu filho e] mostra a seu filho tudo o que
ele está fazendo.
D u p l i c a t a d a P r im e ir a D i v i s ã o . O s m e s m o s te m a s e m te r m o s d e e s c a t o lo g i a
fin a l (5,26-30)
N o ta r-s e -á q u e a se q u ên c ia d a s id é ia s p rin c ip a is é a p ro x im a d a -
m e n te as m e s m a s e m a m b a s as fo rm a s d o d isc u rso , se n d o a ú n ica
ex ceção o p a ra le lism o e n tre 30 e 19. Esta exceção p o d e se r ex p licad a
co m o u m a te n ta tiv a re d a c io n a l d e p r o d u z ir u m a in clu sã o q u e unifi-
q u e a p a s s a g e m co m o u m to d o . L éon -D ufour, art. cit., v ê u m p a d rã o
lig e ira m e n te d ife re n te d a q u e le q u e tem o s su g e rid o . Ele faz d o v. 24 o
v e rsíc u lo m é d io e m u m q u ia sm a (v er s u p ra , p. 153s.); to d a v ia , seus
p a ra le lo s n ã o re s u lta m c o n v in c e n te s, e se d e p a ra com a d ific u ld a d e d e
te r os vs. 25 e 28 d o m esm o la d o d a d iv isão .
Se as p a la v r a s e p e n s a m e n to s d a s d u a s fo rm a s d o d isc u rs o são
n o ta v e lm e n te a s m e sm a s, a ê n fa se teo ló g ic a d ife re m a rc a n te m e n te .
N o s v s. 26-30, ex c eto o v. 26, n ã o e n c o n tra m o s a te rm in o lo g ia pecu -
lia r F ilh o -P a i q u e é tã o c a ra c te rístic a d e João. A n tes, e n c o n tra m o s o
"F ilh o d o H o m e m " , títu lo b e m n o tó rio n a tra d iç ã o sin ó tica , m as n ão
tã o fre q u e n te e m Jo ão (v er n o ta so b re 1,51). C o m o o títu lo a p a re c e
n o v. 27, p a re c e e c o a r o locus classicus d o A T, D n 7,13, o n d e a fig u ra
d e " u m filh o d e h o m e m " a p a re c e n o c o n te x to d o ju íz o d iv in o final.
E tu d o in d ic a q u e é o ju íz o final q u e está n a m e n te d e Jo 5,26-30.
N o v. 28 o u v im o s q u e "a h o ra e stá c h e g a n d o " , m a s o "e já e stá a q u i"
d o v. 25 se p e rd e u . R e ite ra n d o , e m 28, q u a n d o o u v im o s d e re ssu r-
reiç ão , n ã o é u m a q u e s tã o d o s e s p iritu a lm e n te m o rto s co m o em 25,
m a s d o s q u e já a c h a m n o tú m u lo . E sta é a re s s u rre iç ã o d o s fisica-
m e n te m o rto s , e su a sa íd a d o tú m u lo à v o z d e Je su s é u m a cena
a p o c a líp tic a d a v isã o d e E z eq u iel d a v iv ific a ç ão d o s o sso s m o rto s
(37,4: "O h! o sso s secos, o u v i a p a la v ra d o S e n h o r"). O s re s u lta d o s
d o ju íz o , n o v. 29, é u m eco c la ro d e D n 12,2, a p rim e ira p a ssa g e m
v e te ro te s ta m e n tá ria a p ro c la m a r c la ra m e n te u m a re s s u rre iç ã o p a ra
o p ó s -v id a : " M u ito s d o s q u e d o rm e m n o p ó d a te rra se d e s p e rta -
rão : a lg u n s p a ra a v id a e te rn a ; o u tro s , p a ra a v e rg o n h a e d e sg ra ç a
e te rn a s " . E m n o s so c o m e n tá rio so b re o c a p ítu lo 11, sa lie n ta re m o s
q u e o re la to d e L á z aro , em q u e u m h o m e m m o rto c o n c re ta m e n te sai
d o tú m u lo à p a la v ra d e Jesu s, ecoa m u ito d a s p a la v ra s e id é ia s d o s
vs. 26-30.
P o rta n to , o c o n tra ste e n tre a escato lo g ia final d o s vs. 26-30 e a
escato lo g ia re a liz a d a d e 19-25 é m u ito m arc an te . P ara Bultmann, o Re-
d a to r E clesiástico se o c u p o u d e 26-30, e sp ecificam en te d o 28-29, ten-
ta n d o c o n fo rm a r a escato lo g ia re a liz a d a d e João à escato lo g ia oficial
d a Igreja. E n tre ta n to , co m o tem o s in sistid o (p. 129ss.), tal d ico to m ia
446 O Livro dos Sinais
M u d a n d o o v. 30 p a ra o final, n ã o só p ro p ic io u u m a in clu sã o , m as
ta m b é m p e rm itiu q u e o v. 30 fosse c o m o u m a e sp éc ie d e re s u m o
d o s v á rio s te m a s d o d isc u rso . E a ssim o r e d a to r re a liz o u u m a ex p o -
sição c o m p le ta d a o b ra q u e o Pai d e u a Je su s p a ra fazer, ta n to em
seu m in is té rio c o m o n o fu tu ro , o b ra q u e e x c e d e u a im p o rtâ n c ia d o
d e s c a n s o sa b ático .
Segunda Divisão
a. T e s te m u n h o s e m f a v o r d e J e su s
37E o Pai q u e m e e n v io u
Ele m e sm o te m d a d o te ste m u n h o em m eu favor.
N u n c a o u v iste s S ua voz;
ta m p o u c o te n d e s v isto q u e a p a rê n c ia Ele tem ;
38e s u a p a la v ra n ã o tem p e rm a n ê n c ia em v o sso s corações,
p o r q u e n ã o c re d e s
n a q u e le q u e Ele en v io u .
b. A t a q u e à I n c r e d u lid a d e J u d a ic a
41N ã o q u e e u aceito o lo u v o r h u m a n o -
42E n tre ta n to e u sei q u e vós, p o v o
e e m v o sso s corações n ã o te n d e s v ó s o a m o r d e D eus.
43E u v im n o n o m e d e m e u Pai;
to d a v ia , n ã o m e aceitais.
M as q u e a lg u m o u tro v e n h a e m seu p ró p rio n o m e,
e o aceitareis.
44C o m o p o d e c re r p e sso a s co m o vós,
q u a n d o aceitais lo u v o r u n s d o s o u tro s,
p o ré m n ã o b u sc a is a q u e la g ló ria q u e p ro c e d e d o Ú nico [D eus]?
45N ã o p e n s e is q u e eu serei v o sso a c u sa d o r d ia n te d o Pai;
o q u e v o s ac u sa é M oisés
e m q u e m d e p o sita ste s v o ssas e sp eran ças.
46P o is se crésseis em M oisés,
crerieis em m im ,
v isto q u e é a m eu re sp e ito q u e ele escrev eu .
47M as, se n ã o c re d e s n o q u e ele escrev eu ,
co m o p o d e is c re r n o q u e eu d ig o ?"
450 O Livro dos Sinais
NOTAS
tampouco tendes visto que aparência Ele tem. Uma vez mais, o pano de fundo
pode ser o Sinai. Ex 19,11 prometeu: "Ao terceiro dia, o Senhor descerá
sobre o Monte Sinai à vista de todo o povo"; e a Midrásh Mekilta comenta so-
bre isto: "Ensina que naquele momento viram o que Isaías e Ezequiel nunca
viram". Assim, parece ter havido um a tradição popular sobre ouvir e ver a
Deus no Monte Sinai, e João apresenta Jesus como a argum entar contra isto.
(A apresentação de João parece mais em harmonia com Dt 4,12.15, onde se
afirma que o povo não viu a Deus, embora ouvissem Sua voz; o que se nega
esse privilégio em Dt 5,23-27). O argum ento seria particularm ente adequa-
do se a festa não especificada de 5,1 fosse o Pentecostes, quando a doação
da Lei no Sinai havia de ser celebrada. Para o tema de que ninguém (exceto
Jesus) realmente jamais viu a Deus, ver 1,18; 6,46; ljo 4,12).
38. e sua palavra não tem permanência em vossos corações. E possível que as duas
últim as linhas do v. 37 sejam um parêntese, e que esta prim eira linha do
v. 38 começasse com um "todavia" e continue a linha dois do v. 37: "O
Pai... Ele m esm o deu testem unho em m eu favor; todavia não tendes a
Sua palavra perm anente em vossos corações". Neste versículo, a impli-
cação é que o crente tem a palavra de Deus perm anente em seu coração;
o mesm o se diz da palavra de Jesus em 15,7.
39. Vós. Isto é dirigido a "os judeus" (v. 18). No Papirus Egerton 2 (ver abai-
xo, p. 458) é dirigido a "os líderes do povo" - um a interessante confirma-
ção do que João tem em m ente quando fala de "os judeus".
Vós examinais. O rígenes, Tertuuano, Irineu e a Vulgata tom am o verbo
como um im perativo, desafiando os judeus a exam inarem as Escrituras.
Entretanto, o indicativo se ajusta m elhor a linha de argum ento, e a maio-
ria dos com entaristas m odernos o prefere. M.-E. Boismard dedicou um
artigo a este versículo em RB 55 (1948), 5-34, rem ontando a duas tra-
dições textuais, am bas oriundas do m esm o suposto original aramaico:
(a) "Vós examinais as Escrituras porque pensais ter a vida eterna";
(b) "Examinais as Escrituras nas quais credes ter vida". Em sua opinião,
o presente texto é um a combinação de ambas. O verbo "exam inar" repre-
senta o verbo hebraico técnico daras usado para o estudo da Escritura.
Escrituras/nas quais credes ter a vida eterna. No pensam ento hebraico, a Lei
era p or excelência a fonte de vida. No tratado Pirqe Aboth 2,8 diz: "Aque-
le que tem adquirido as palavras da Lei tem adquirido para si a vida do
m undo por vir"; 6,7: "G rande é a Lei para dar aos que a praticam vida
neste m undo e no m undo p or vir". Em G13,21; Rm 7,10, Paulo argum en-
ta contra tal concepção. Uma vez mais, este versículo de João teria signi-
ficado especial se a festa em que o discurso é enunciado for tida como o
Pentecostes, a festa da Lei.
19 · Jesus e o Sábado: Discurso sobre sua atuação no Sábado (c o n tin u a ç ã o ) 453
não buscais aquela glória... É provável que aqui tam bém Jesus esteja impli-
citamente apresentando-lhes o exemplo de Moisés, pois este buscava a
glória de Deus e recebia a glória de Deus (Ex 34,29).
[Dews], Isto é omitido pelas testemunhas mais importantes, inclusive no Vati-
canus e ambos os papiros Bodmer. Não obstante, Bernard, I, p. 256, mostra
como isso podería ter sido facilmente perdido por omissão de algum copista.
45. 0 que vos acusa. Literalmente, um particípio presente: "alguém vos acu-
sando". Não é impossível que o evangelista pensasse em Moisés como já
havendo começado sua acusação; entretanto, BDF, § 3392b, salienta que
tal particípio tem a m esm a função futura como o verbo anterior: "Eu
serei vosso acusador".
Moisés. No final de Deuteronôm io (31,19.22), lemos que Moisés escreveu
um cântico que serviría como testem unha contra os israelitas se violas-
sem a aliança; e deveras todo o Livro Mosaico da Lei visava a servir de
testem unha (31,26).
46. a meu respeito que ele escreveu. Isto poderia ser um a referência a um a passa-
gern específica como Dt 18,18; ou poderia ser um a referência m ais geral
ao cum prim ento de Jesus de toda a Lei.
COMENTÁRIO
S e g u n d a D iv is ã o (a ). J esu s e n u m e r a a s te s te m u n h a s q u e e n d o s s a m su a
r e i v in d i c a ç ã o (5,31-40)
A d e n d o : P a p y r u s E g e r to n 2
BIBLIOGRAFIA
NOTAS
6.1. Depois disto. Uma vaga referência sequencial (meta tauta - ver nota sobre
2,12). N ão se explica como Jesus regressou à Galileia.
[para a m argem]. Esta frase, encontrada no Códices Bezae e Koridethi, C ri-
sóstomo e a versão Eth, pode ser original (ver Boismard, RB 64 [1957],
369). O problem a sobre o lugar onde a multiplicação ocorreu será dis-
cutido abaixo sobre o v. 23. Se o relato joanino originalm ente situou a
multiplicação nas proxim idades do Tiberíades na praia sudeste do lago, a
om issão da frase indicando esta localização pode representar um a tenta-
tiva do copista de conform ar João com Lc 9,10, que situa a localização em
Betsaida, no litoral nordeste. Marcos não partilha da tradição de Lucas,
pois em Mc 6,45 só depois da multiplicação que os discípulos atravessam
o lago para Betsaida. A invenção de um a segunda Betsaida se harm oniza
com Marcos e Lucas, de m odo que a multiplicação podería ter ocorrido
em Betsaida e os discípulos poderíam subsequentem ente rem ar para o
outro lado, é docum entado em C. M cC own, JPOS 10 (1930), 32-58. Anti-
gas fontes peregrinas, começando com Aetheria, associam a multiplica-
ção com H eptapegon ("Sete Fontes") ou a m oderna et-Tabgha no litoral
noroeste (ver H. Sknès, Estúdios Eclesiásticos 34 [1960], 873-81).
de Tiberíades. Sem a frase entre colchetes temos dois genitivos em sequên-
cia, d an d o am bos o nome do lago. Marcos e M ateus falam de "o Mar
da Galileia"; Lc 5,1 fala de "o Lago de Genesaré (do nom e hebraico
Chinnereth; Josefo e 1 Macabeus falam de "o Lago [ou água] de Gennesar");
no NT, som ente João (também 21,1) lhe dá o nom e de Tiberíades. Visto
que H erodes acabara de com pletar a construção da cidade de Tiberíades
nos anos 20, provavelm ente só foi depois do tem po de Jesus que o nome
"Tiberíades" veio a ser com um para o lago. O nom e se encontra na lite-
ratura judaica do 1“ século (Josefo; Oráculos Sibilinos).
2. viram os sinais. O im perfeito do verbo theorem parece ser a m elhor reda-
ção; este verbo foi usado em 2,23, onde a visão dos milagres de Jesus
pro d u ziu um entusiasm o que não m ereceu a aprovação de Jesus. Na ver-
dade, som ente um sinal realizado sobre o enferm o foi registrado como
462 O Livro dos Sinais
C O M EN TÁ R IO
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20 · Jesus na Páscoa: A m u ltip lic a çã o d o s p ã e s 475
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476 O Livro dos Sinais
com o d iscu tid o abaixo (p. 501ss.)· A ssim , a m enção d a Páscoa certam ente
e n q u a d ra to d a a p erspectiva teológica d o capítulo. Sua presença n ão é
u m ato isolado d o redator; e n a d a há qu e co n trad ig a a p o ssib ilid ad e de
q u e a cena foi o riginalm ente conectada à Páscoa.
(2) A identificação de Filipe e André em #7, 8. E stu d io so s re p e te m
categ o ricam en te q u e a in tro d u ç ã o d e n o m es p e sso a is n u m a n a rra tiv a
é fre q u e n te m en te o sin al d e u m im ita d o r ta rd io te n ta n d o d a r à su a
obra u m a r d e a u te n tic id a d e . Se isto é ap licáv el a João, e n tã o se a d m iti-
ria, p o rém , q u e o e v a n g elista o esco lh eu e stra te g ic a m en te , p o is F ilipe e
A n d ré estão e n tre os m em b ro s m ais o b sc u ro s d o s D oze. O fato d e q u e
am b o s estes d isc íp u lo s e ra m h o n ra d o s n a Á sia M en o r, o locus trad icio -
nal d o E v an g elh o d e João (ver n o ta so b re 1,43) é d ig n o d e c o n sid e ra-
ção. A lg u n s p e n sa m q u e esses n o m e s fo ram in tro d u z id o s p a ra fazer o
e v a n g elh o m ais aceitável n a Á sia M enor; o u tro s são m ais in clin a d o s
a p e n s a r d e q u e esses d isc íp u lo s e sta v a m o rig in a lm e n te e n v o lv id o s
n a n a rra tiv a e a m em ó ria d isto foi p re s e rv a d a so m e n te n a tra d iç ã o d e
u m a c o m u n id a d e q u e tin h a especial d e v o ç ão p a ra co m eles.
(3) Os detalhes especiais de #8. João especifica q u e u m moço (paidarion)
tin h a cinco p ã e s d e ce v ad a e p eix es (opsarion ) secos. N a d a h á d e im -
p la u sív e l so b re q u a lq u e r d e ste s d e ta lh e s, m a s o "m o ç o " e o s " p ã e s
d e c e v a d a " ev o cam o rela to d e E liseu e m 2Rs 4,42. R e c o rd am o s q u e o
N T estab elece u m p a ra le lism o e n tre Jesus e as fig u ra s e stre ita m e n te
c o n e cta d as d e E lias e E liseu. Bultmann , p. 1573, q u e stio n a as conexões
d o re la to d e João com o re la to e m 2 Reis, m a s os p a ra le lo s são su r-
p re e n d e n te s . U m h o m e m v e m a E liseu com v in te pães de cevada (um
d o s q u a tro u so s d e " c e v a d a " co m o u m a d je tiv o n a LXX). E liseu diz:
"D á ao s h o m e n s p a ra q u e c o m a m ". H á u m se rv o p re s e n te (aq u i de-
sig n a d o c o m o leitourgos, m a s co m o paidarion cinco v e rsíc u lo s a n te s, e a
ú ltim a é su a d e sig n a ç ã o n o rm a l - v e r n o ta so b re v. 9). O se rv o in d a g a
"C o m o v o u p ô r isto d ia n te d e cem h o m e n s? " - u m a q u e s tã o sim ila r
ao v. 9 d e João. E liseu re p e te a o rd e m d e d a r o a lim e n to ao s h o m e n s,
e co m em e a in d a so b ra algo.
O u tro p a n o d e fu n d o p a ra a m en ção d e João d e p ã o d e c e v ad a foi
p ro p o sta p o r D aubh, p. 42, e G ärtner, p. 21. Em R t 2,14, Boaz d á a R ute
a lg u m g rão to sta d o p a ra com er; ela co m e u e se sacio u e alg o sobrou.
E m bora o g rão u su a lm e n te seja tid o com o d e trigo, n o m o m e n to a ação
se d á n a colheita d e cevada; e estes e stu d io so s su g e re m q u e o q u e estav a
en v o lv id o era o p ã o d e cevada. O teor teológico esta ria n a in te rp re ta ç ã o
20 · Jesus na Páscoa: A multiplicação dos pães 479
NOTAS
C O M E N T Á R IO
Cenário:
sinóticos: Jesus faz os discípulos em barcar enquanto ele despede a multi-
dão e perm anece no m onte em oração.
João: Jesus foi para o m onte fugindo da m ultidão. Os discípulos descem à
praia e em barcam por sua própria iniciativa.
Tempo:
sinóticos: À tard in h a, saem ao m ar - Mt 14,15 inclusive fixa a hora
p ara a m ultiplicação, no m om ento em que vem chega a tardinha
(Mc 6,35: q u an d o a hora já estava avançada)! A m bos os evangelhos
trazem Jesus in do aos discípulos p erto da qu arta vigília da noite (3 da
m anhã).
João: Ao entardecer, eles descem à praia. Provavelm ente, escurece depois
que em barcam (ver nota sobre v. 17); Jesus só vai a eles depois que rema-
ram até certa distância.
Tempo climático:
sinóticos: O vento lhes é contrário. M ateus acrescenta que estão sendo açoi-
tados pelas ondas; Marcos acrescenta que estão rem ando com dificuldade.
João: Sopra um vento forte; o m ar fica encapelado.
Posição:
sinóticos: M arcos diz que saem ao m ar, porém Jesus pode vê-los da terra.
M ateus diz que estão a m uitos estádios longe da terra.
João: C hegaram a rem ar vinte e cinco ou trinta estádios, m as a distância da
terra não é especificada.
Jesus vem:
sinóticos: Ele anda sobre o mar; Marcos acrescenta que sua intenção era
passar p o r eles.
João: Não esclarece se o veem andando sobre o m ar ou pela praia.
Reação:
sinóticos: Pensam ser um fantasm a e ficam aterrorizados. Jesus lhes reasse-
gura: "Sou eu; não temais".
João: Ficam atemorizados, porém Jesus lhes tranquiliza: "Sou eu! não temais".
488 O Livro dos Sinais
Conclusão:
Somente Mateus: O relato de Pedro indo ao encontro de Jesus.
sinóticos: Jesus entra no barco e o vento se acalma. M ateus acrescenta que
os discípulos adoram a Jesus, glorificando-o como o Filho de Deus.
João: Não fica claro se Jesus entra no barco; o barco chega na praia de re-
pente e talvez m iraculosam ente.
O significado da cena
NOTAS
6.22. No dia seguinte. Isto não precisa ser entendido como um a indicação cro-
nológica real; mas, como os "dias" do capítulo 1, pode ter sido usado
sim plesm ente para dar ao capítulo um a estrutura literária unificada.
observou. Com o construída, esta afirmação é ilógica. O que está implícito
é que no dia seguinte se lem braram de que no dia anterior tinham visto
som ente um barco ali.
barco. Ploiarion, literalm ente "um pequeno barco", dim inutivo de ploion;
porém é dúbio se tal dim inutivo designa um tipo diferente de barco,
como pensa Bernard, I, p. 188. Nos vs. 17, 19, 21, João usou ploion para
o barco dos discípulos. Ploiarion descreve o m esm o barco, cuja m udança
do term o indica um a diferente m ão joanina em 22-24? As testem unhas
textuais para o v. 22 variam entre ploiarion e plorion, a segunda redação
revelando o desejo dos copistas de harm onizar. Depois de "barco" algu-
m as das testem unhas textuais ocidentais e o Sinaiticus acrescentam para
clarificar: "aquele em que os discípulos de Jesus haviam em barcado".
23. Tiberíades, próximo do lugar. Deliberadam ente, temos deixado o texto obs-
curo. Enquanto as m elhores testem unhas do texto parecem im plicar que
os barcos vieram de Tiberíades a o lugar próxim o da m ultiplicação (uma
descrição um tanto estranha), outras testem unhas dizem : "Tiberíades,
que ficava próxim a ao lugar". A segunda redação fixa Tiberíades na vizi-
nhança da multiplicação (ver nota sobre v. 1).
[depois que 0 Senhor dera graças]. Esta sentença não se encontra em Bezae, OL
e OS. O uso absoluto de eucharistein aqui é quase litúrgico, e o uso de "o
Senhor" não é joanino. Algum as testem unhas da Vulgata têm a m ultidão
dando graças, em vez de Jesus.
24. embarcaram. Literalmente, "entraram no barco" (o qual viera de Tiberíades).
C O M E N T Á R IO
" N a v e rd a d e v o s a sse g u ro ,
n ã o m e b u sc a is p o rq u e v iste s sinais,
m a s p o rq u e co m e stes d o s p ã e s e v o s saciastes.
27N ã o tra b a lh e is p e la c o m id a p erecív el,
e sim p e la c o m id a q u e d u ra p a ra a v id a e te rn a,
c o m id a q u e o F ilho d o H o m e m v o s d a rá ;
p o is é n e le q u e o P ai tem p o sto Seu selo".
28N isto , eles lh e d isse ram : " Q u e d e v e m o s fazer, p o is, p a ra 'tra b a lh a r'
n as o b ra s d e D eu s?"
29Jesu s rep lico u :
" N a v e rd a d e , e u v o s a sse g u ro ,
n ã o foi M o isés q u e m v o s d e u o p ã o d o céu,
m a s é m e u P ai q u e m v o s d á o v e rd a d e iro p ã o d o céu.
496 O Livro dos Sinais
NOTAS
C O M E N T Á R IO
Versículos 24-27
Versículos 28-31
Versículos 32-34
h o m e m n ã o v iv e só d e p ã o , se n ão q u e ele v iv e d e tu d o q u a n to [ou de
to d a p a la v ra que] p ro ce d e d a boca d o S enhor". Esta in terp retação do
m an á ecoa e m Sb 16,20 (ver nota so b re v. 31) q u e fala d o m an á e 16,26
q u e diz: "P ara q u e v ossos filhos, aos q u a is a m aste, a p re n d a m , ó Senhor,
q u e n ão são os d iv erso s tip o s d e fru to s q u e alim en tem o h o m em , m as
é tu a p a la v ra q u e p rese rv a os q u e creem em ti". T alvez a m esm a ên-
fase é co n seg u id a no equilíbrio d a s sentenças em N e 9,20: "D este teu
b o m e sp írito p a ra instruí-los, e n ão su b traíste teu m an á d e sua boca, e
lhes d e s te á g u a p a ra sua sed e". F ilo aleg o rizo u o m an á com o u m a re-
ferência à sab ed o ria. A ssim , h av ia certa p re p a ra ç ã o p a ra o sim bolism o
q u e Jesu s iria u s a r na aplicação d o m an á ou p ão d o céu à sua revela-
ção. (N a tu ra lm e n te , Jesus vai além d e to d o o p a n o d e fu n d o vetero-
te sta m e n tá rio ao falar d e si m esm o com o o p ã o d o céu e, assim , iden-
tifican d o -se co m o a revelação e n carn ad a). M as, com o m o stra o v. 34,
a m u ltid ã o falha c o m p le ta m en te em e n te n d e r o sim bolism o e fica com
u m a c o m p re en sã o m era m e n te m aterialista d o p ão. Esta in co m p reen são
leva Jesu s a co m eçar o g ra n d e d iscu rso so b re o P ão d a V ida.
R e c e n te m en te , e stu d io so s, tais co m o G ärtner e K ilmartin, têm
v isto u m a ap lic aç ã o p a sco a l a d ic io n a d a ao s vs. 25-34, p o is creem q u e
e n c o n tra ra m n o e sq u e m a p e rg u n ta e resp o sta d e ste s e v e rsíc u lo s su-
cessiv o s u m eco d a P áscoa ju d aic a, Haggadah. D u ra n te a litu rg ia da re-
feição p a sca l, q u a tro m e n in o s p e rg u n ta m o q u e está se n d o o rd e n a d o ;
e G ärtner e n c o n tra p a ra le lo s p a ra estas q u a tro p e rg u n ta s n o s vs. 28,
32, 42, 52. (P o d e m o s n o ta r q u e a a n á lise d a s p e rg u n ta s d a Haggadah
p o r D aube, p p . 158-69, é lig e ira m e n te d ife re n te d a d e G ärtner). Por
e x em p lo , n a p rim e ira p e rg u n ta d u r a n te a refeição o ju d icio so m eni-
n o p e rg u n ta so b re as o rd e n a n ç a s d e D eus; assim no v. 28 a m u ltid ã o
p e rg u n ta so b re a o p e ra ç ã o d a s o b ra s d e D eus. A u m m en in o ten ro
d e m a is p a ra fo rm u la r p e rg u n ta s é in stru íd o so b re u m a p a ssa g e m da
E scritu ra; assim , no v. 32, Jesu s in te rp re ta a p a ssa g e m d a E scritura
c o n c ern e n te ao m an á . A p e rg u n ta z o m b e te ira n o v. 42 é e q u ip a ra d a
à p e rg u n ta p ro p o s ta na refeição p e lo m e n in o ím p io . P re su m e -se que
u m a q u a rta p e rg u n ta d u ra n te a refeição é u m a p e rg u n ta p rática so-
b re o v iv e r feita p o r u m m e n in o sincero; fo rç a n d o u m ta n to a im a-
g in ação , isto se e n c o n tra n o v. 52. T o d a esta co rrelação p a re c e artifi-
ciai e fo rç a d a d e m a is, e d u v id a m o s q u e a e sp in h a d o rsa l d o rela to d e
João fo sse s u p rid a p e la s p e rg u n ta s ritu a is d a refeição pascal (em bora
os te m a s p a sc a is estejam p re se n te s em to d o o cap ítu lo ). T em os q u e
504 O Livro dos Sinais
João 6 João 4
P: 25 "R abi, q u a n d o c h e g astes P: 9 "T u és ju d e u , c o m o p o d e s,
aq u i?" p e d ir-m e , u m a s a m a rita n a , d e
b e b er?"
R: 27 " N ã o tra b a lh e is p e la c o m id a R: 13 "T o d o a q u e le q u e b e b e d e sta
p erecív el". á g u a terá s e d e o u tra v ez".
P: 30-1 "Q u e sin al e stá s fa z e n d o P: 11-2 " A o n d e e stá s in d o p a ra
p a ra lev arm o s? N o sso s ances- o b te r esta á g u a c o rre n te ? Se-
trais tin h a m o m an á p a ra c o m e r g u ra m e n te , n ã o p re te n d e s se r
n o d e serto ". m a io r q u e n o sso a n c e stra l Jacó
q u e n o s d e u este p o ç o ? "
R: 32-3 "M eu Pai v o s d á o p ã o d o R: 14 "A á g u a q u e e u lh e d e r se rá
céu. Pois o p ã o d e D eu s d esce to rn a rá n ele u m a fo n te d e á g u a
d o céu e d á v id a ao m u n d o " . q u e salta p a ra a v id a e te rn a " .
Reação: 34 "S en h o r, d á -n o s sem - Reação: 15 "D á -m e , d e sta á g u a ,
p re d e ste p ã o ". S en h o r, p a ra q u e e u n ã o te n h a
m ais se d e".
P = Pergunta
R = Resposta
24. JE SU S N A P Á S C O A :
- D IS C U R S O SO B R E O P Ã O D A V ID A
(6,35-50)
6 35Jesu s lh es d eclaro u :
"E u so u o p ã o d a v ida.
T o d o a q u e le q u e v em a m im jam a is terá fom e,
e to d o a q u e le q u e crê em m im jam ais terá se d e o u tra vez.
36M as, co m o v o s te n h o d ito ,
a in d a q u e |m e] te n d e s visto, c o n tu d o n ã o credes.
37T o d o s q u a n to s o Pai m e d á v irã o a m im ;
e to d o s os q u e v êm a m im jam ais lan ç a re i fora,
38p o rq u e n ão é p a ra fazer m in h a p ró p ria v o n ta d e
q u e d escí d o céu,
m a s p a ra fazer a v o n ta d e d a q u e le q u e m e en v io u .
39E a v o n ta d e d a q u e le q u e m e en v io u
é q u e eu n a d a p e rc a d o q u e Ele m e d e u ;
ao c o n trá rio , e u o re ssu sc ita re i n o ú ltim o dia.
40A liás, esta é a v o n ta d e d e m eu Pai:
q u e to d o a q u e le q u e vê o Filho
e crê n ele
te n h a a v id a e te rn a.
E e u o ressu sc ita re i no ú ltim o d ia".
44" N in g u é m p o d e v ir a m im ,
a n ã o se r q u e o Pai, q u e m e e n v io u , o atraia.
E eu o ressu sc ita re i n o ú ltim o dia.
4-1E stá escrito n o s p ro fetas:
Έ to d o s se rã o e n sin a d o s p o r D e u s.'
T o d o a q u e le q u e tem o u v id o o Pai
e a p re n d id o d ele
v e m a m im .
46N ã o q u e a lg u é m haja v isto o Pai -
so m e n te a q u e le q u e é d e D eus
tem v isto ao Pai.
47D eix ai-m e a s se g u ra r-v o s firm em en te:
o c re n te p o s su i a v id a e te rn a.
48Eu so u o p ã o d a v id a.
49V ossos ancestrais com eram o m an á n o deserto, p o ré m m o rreram .
?üE ste é o p ã o q u e d esce d o céu
p a ra q u e o h o m e m q u e o co m e jam ais m o rra ".
NOTAS
6.35. Eu sou. Embora tenham os traduzido o "Eu" enfaticam ente como exi-
ge o contexto, este é um tipo frequente da expressão egõ eimi em João
(ver Apêndice IV, p. 841 ss). O egõ eimi com um predicado não revela a
essência de Jesus, m as reflete sua relação com os hom ens; neste caso,
sua presença é alim ento para os hom ens. Borgen , "Observations", p. 238,
ressalta que as palavras de Jesus, aqui, são ilustrativas da exegese judaica
(ver nota sobre v. 32). Jesus está se identificando como o pão m encionado
na citação bíblica de Êxodo citado no v. 31, justam ente como o Batista se
identificou como a voz m encionada em Is 40,3 (Jo 1,23). Borgen fornece
im pressionantes paralelos judaicos.
0 pão da vida. Isto significa o pão que dá vida. Com parar 6,51: "o pão vivo".
vem a mim... crê em mim. Estes estão em paralelism o, como tam bém em
7,37-38; significam a mesma coisa (ver supra, p. 267). Estas duas linhas
do vs. 35 ecoa Siraque 24,21: "Aquele que come de m im [a Sabedoria]
ainda terá fome; aquele que bebe de mim terá mais sede". Embora a pri-
meira vista as palavras de Jesus pareçam negar Siraque, o significado
de ambos é o mesmo. Siraque quer dizer que os hom ens nunca terão
tanta Sabedoria e sem pre desejarão mais; as palavras de Jesus de que os
24 · Jesus na Páscoa: Discurso sobre o pão da vida 507
h o m e n s n u n c a terã o fo m e o u s e d e d e n a d a m a is a lé m d a p ró p ria re v e-
la ç ã o d e Jesu s. J o ã o ta m b é m p o d e e c o a r Is 4 9,1 0 (" n ã o terã o fo m e , n e m
terã o s e d e " ), p a s s a g e m su p r a c ita d a (p. 4 7 9 s.) c o m o p a n o d e fu n d o v e te -
r o te sta m e n tá r io p ara a m u ltip lic a ç ã o .
36. como vos tenho dito. A bbott, JG, § 2 1 89-90, e n fa tiz a q u e o hoti q u e in tr o d u z
o d is c u r s o é fr e q u e n te m e n te u s a d o e m João q u a n d o J esu s está cita n d o
s u a s p r ó p r ia s p a la v ra s; à s v e z e s n ã o fica cla ro s e está in tr o d u z in d o d is-
c u r s o d ir e to o u in d ir e to . N a v e r d a d e , p r e s s u p õ e -s e q u e a s p a la v r a s q u e
J esu s tem d ito n ã o s e e n c o n tr a m c o m o tais n o q u e p r e c e d e . N o v e r síc u lo
2 6 , o u v im o s : " N ã o me b u sc a is p o r q u e vistes sinais"; m a s is s o está a in d a
m u ito lo n g e d o q u e le m o s n o v . 36. Bultm ann , p. 163, p õ e 36-40 d e p o is
d e 41 -4 6 , o b te n d o a ssim u m a m e lh o r se q u ê n c ia . O u tra p o s s ib ilid a d e é o
V. 36 d e p o is d o v . 40. E n tretan to, e m n e n h u m a d e sta s tr a n sp o siç õ e s su -
g e r id a s s ã o as p a la v r a s d o v . 3 6 e n c o n tr a d a s n o q u e J esu s d isse . Borgern,
"Observations", p . 239, s u g e r e o u tra tra d u ç ã o p ara 36: "M as e u te n h o d ito ,
'Vós', p o r q u e [hoti c a u sa tiv o , n ã o c o n s e c u tiv o !, a in d a q u e te n d e s v isto ,
c o n tu d o n ã o cred es" . Ele p e n s a n o v. 3 6 c o m o p a rte d a e x e g e s e técn ica já
d is c u tid a na n o ta so b r e v . 32. J esu s sig n ific a q u e , q u a n d o e m 3 2 e le d e u a
e x e g e s e d a E scritura cita d a p e lo s g a lile u s e m 31, e le d is s e "vos" e m v e z d e
" lhes" (v. 31 - E scritura citad a: "Ele lh e s d e u p ã o d o c é u para co m erem " ;
v . 32 - " n ão é M o isé s q u e m vos d e u o p ã o d o céu" ). A r a z ã o p o r q u e e le
a p lic o u a E scritura a s e u s o u v in te s fo i su a falta d e fé.
ainda que... não. Para esta tr a d u ç ã o d e kai... kai, v e r A bbott, JG, § 2169; BDF,
§444\
[me]. O s d o is p a p ir o s B o d m e r a c u m u la m n o v a s p r o v a s p ara esta leitura;
a o m is s ã o p o d e r e p r esen ta r u m d e se jo d e c o p ista d e d e ix a r o v. 36 m a is
v a g o p ara q u e s e u a n te c e d e n te f o s s e e n c o n tr a d o n o v. 26.
37. todos os que. E m a m b o s, João (ta m b é m v . 39; 17,2.24) e 1 João (5,4), e n c o n -
tr a m o s o sin g u la r n e u tr o o n d e e sp e r a r ía m o s o p lu r a l m a sc u lin o . BDF,
§ 138', o fe r e c e u m a e x p lic a ç ã o p la u sív e l: " a lg u m a s v e z e s , o n e u tr o é
u s a d o c o m referê n c ia a p e s s o a s , s e n ã o a in d iv íd u o s , m a s b e m e m u m a
q u a lid a d e g er a l é q u e d e v e se r e n fa tiz a d a " . Z erwick (Analysis Philologien)
s u g e r e in flu ê n c ia se m ític a ; p o is kol de , " to d o a q u e le q u e " , n ã o d istin -
g u e g ê n e r o o u n ú m e r o . E n treta n to , p o d e -s e in d a g a r s e o e v a n g e lis ta (q u e
sa b e m u ito b e m c o m o d iz e r " to d o a q u e le q u e" n o v. 40) n ã o p o d e r ia q u e -
rer d a r u m a m a io r força c o le tiv a a q u i. B ernari), I, p. 200, cita o e x e m p lo
d o e m p r e g o e m 17,21: "para q u e to d o s seja m u m [n eu tro]" .
me dá. C o n tra sta r o p e r fe ito , " tem d a d o " , n o v. 39; a a çã o d e D e u s n ã o está
a tre la d a p e la s c a te g o r ia s d e te m p o . Q u e o s c r e n te s sã o d a d o s a J esu s p e lo
P ai, m e n c io n a -s e e m 10,29; 17 passim; 18,9.
508 O Livro dos Sinais
38. minha própria vontade... a vontade daquele que me enviou. O m esm o contraste
se encontra na descrição sinótica da agonia no jardim (Mc 14,36; espe-
cialmente Lc 22,42). Para a relação de João à cena da agonia, ver abaixo,
pp. 765-766.
desci. Este é um dos poucos ecos do tem a do pão do céu (v. 33) que se en-
contram nos vs. 36-40.
39. último dia. Aqui, como em 11,24 e 12,48, faz-se referência ao dia do juízo.
Este versículo fala da ressurreição do justo; com parar com a dupla res-
surreição de m aus e bons em 5,28-29.
40. vê. Theorem (ver Apêndice 1:3, p. 794ss) - não só fisicamente, m as o co-
nhecim ento espiritual.
0 Filho... nele. Nestes dois versos, Jesus de repente passa a falar de si mesmo
na terceira pessoa, enquanto o resto dos vs. 36-40 está na prim eira pes-
soa. Pode ser que tenham os um a coleção de ditos de estrato diferente da
tradição joanina, embora a diferença de pessoa não seja necessariam ente
um critério absoluto.
E eu. A últim a frase do v. 40 parece constituir um a sentença independente,
diferente a sentença sim ilar na últim a linha do v. 39, que é explicativa da
vontade de Deus. No v. 40, a m udança de pessoa para a prim eira pessoa
é abrupta, e o "Eu" é enfático.
41. os judeus. Esta é a prim eira vez em João que o povo da Galileia é reporta-
do como "os judeus", um term o que geralm ente se refere aos que eram
hostis a Jesus em Jerusalém. Não se pode supor que estes são dirigentes
judeus de Jerusalém (como em Mc 7,1), porque conhecem os detalhes
locais da vida da vila de Nazaré. Pode ser que esta objeção tenha sido
introduzida aqui de outra cena.
Murmuravam. A m esm a palavra aparece no relato que a LXX tem da mur-
m uração dos israelitas durante o êxodo (Ex 16,2.7.8); IC or 10,10 tam bém
a usa para descrever esta situação. A im agem é a de um crítico compla-
cente mais que um a hostilidade franca.
porque alegava. Borgen , ,,Observations'', pp. 235-37, ressalta que este tipo de
objeção tem paralelos na exegese judaica contem porânea. Pensando na
objeção de Ex 16 que propuseram no v. 31, estão objetando à exegese
radical proposta por Jesus nos vs. 32, 35.
42. este. Há neste pronom e um elemento de depreciação: "este indivíduo".
Jesus, 0 filho de José. O paralelo nos sinóticos se encontra na rejeição de Jesus
de Nazaré:•
46. Não que alguém haja visto 0 Pai. E ste é o m e s m o tem a q u e e m 1,18; e o c o n -
traste c o m M o is é s s u g e r id o a li (p. 213) p r o v a v e lm e n te ta m b é m esteja e m
m e n te a q u i, e m v ista d o v. 32. V er ta m b é m n o ta so b r e 5,37.
49. Vossos ancestrais. L itera lm en te, "pais". E ste é u m d o s e x e m p lo s d e " v o sso "
in d ic a n d o a c is ã o m a is p r o fu n d a q u e e x is te e n tr e Igreja e S in a g o g a n o
te m p o e m q u e o e v a n g e lis ta e stá e s c r e v e n d o ; v e r " v o ssa Lei" e " v o s so
p a i A b raão" e m 8,56.
morreram. N o v . 49, está im p líc ita a m o r te física; n o v. 5 0 , a m o r te e s p ir itu a l.
C o m p a ra r 11,25-27.
50. Este é 0 pão. A fr a se o lo g ia s e a p r o x im a m a is d e Ex 16,15; v e r n o ta so b r e
v. 31.
C O M E N T Á R IO : G E R A L
C O M E N T Á R IO : D E T A L H A D O
Versículo 35
Versículos 36-40
Versículos 41-43
Versículos 44-50
Jesus n u n c a re sp o n d e à p e rg u n ta so b re su a s o rig en s e m u m p la n o
h u m a n o ; su a s p a la v ra s n o s vs. 44-46 c o n stitu e m u m a re sp o sta , p o -
ré m em u m p la n o teológico. Ele é e n v ia d o p o r D e u s (44) e p ro c e d e d e
D eu s (46) e é p o r isso q u e p o d e a le g a r q u e d e sce u d o céu. Se os ju d e u s
24 · Jesus na Páscoa: Discurso sobre o pão da vida 517
d e sistisse m d e su a m u rm u ra ç ã o , a q u a l é in d ic a çã o d e u m a recusa de
crer, e se a b risse m à ação d e D eu s, Ele os a tra iría a Jesus. Esta é a era
in d ic a d a p e lo p ro fe ta Isaías, q u a n d o estã o se n d o e n sin a d o s p o r D eus,
se a p e n a s o u v ire m . E ste e n sin o tem seu a sp e c to e x te rn o n o se n tid o de
q u e é in c o rp o ra d o e m Jesu s q u e a n d a e n tre eles, m as é tam b é m inter-
n o n o s e n tid o d e q u e D eu s age em se u s corações. É o c u m p rim e n to
d o q u e Jr 31,33 p ro m e te u : "P o rei n eles m in h a lei, e em se u s corações a
in sc re v ere i" (John Bright, T he A n c h o r Bible, vol. 21). E ste m o v er inte-
rio r d o co ração , d a p a rte d o Pai, os c a p acitaria a cre r no F ilho e, assim ,
a p o s s u ir a v id a e te rn a.
O s vs. 48-50 c o n stitu e m u m a in clu são , p o is re su m e m a in tro d u ç ã o
ao d isc u rs o e se u s v ersícu lo s iniciais. O v. 48 é u m a in clu são com o 35;
os vs. 49-50 c o m p õ e m os tem as d e 31-33. A m u ltid ã o tin h a ap re se n ta -
d o a Jesu s o e x e m p lo d e se u s a n cestrais q u e co m e ram d o m an á no de-
serto, m as Jesu s (49) a d v e rte q u e isto n ã o sa lv o u seu s a n te p a ssa d o s da
m o rte. E e n tã o (50), to m a n d o u m a v ez m ais a citação d a E scritura d o
v. 31 ("E le lh es d e u p ã o d o céu a co m er"), Jesus d iz q u e o p ã o realm en-
te q u e v e m d o céu é u m p ã o q u e n ã o p e rm ite q u e o h o m e m m orra.
te c e n tra n d o a á rv o re d o c o n h e cim e n to d o b e m e d o m al n o Ja rd im
d o P araíso :
6 ^1"E u s o u o p ã o v iv o
q u e d esceu d o céu.
Se a lg u é m co m e e ste p ã o , 152
v iv e rá p a ra sem p re.
E o p ã o q u e eu d a re i
é m in h a p ró p ria ca rn e p a ra a v id a d o m u n d o " .
155]
54Aquele que come de minha carne
e bebe do meu sangue
tem vida eterna.
E eu o ressuscitarei no último dia.
[56]
55Pois minha carne é verdadeira comida,
e meu sangue é verdadeira bebida.
[57]
,6Quem se alimenta de minha carne
e bebe do meu sangue
permanece em mim e eu nele.
158]
57Assim como o Pai que tem vida me enviou,
e eu tenho em por causa do Pai,
assim o homem que se alimenta de mim
terá vida em virtude de mim.
[591
,8Este é o pão que desceu do céu.
Diferente daqueles ancestrais que comeram e ainda morreram,
o homem que se alimenta deste pão viverá para sempre".
NOTAS
6.51. pão vivo. Q uanto a alternativa entre "pão da vida" (vs. 35, 48) e "pão
vivo", com parar tam bém entre "água da vida" (Ap 21,6; 22,1.17) e "água
viva" (Jo 4,10). Entretanto, Jesus nunca se identifica com a água viva.
desceu. Aqui, o aoristo pode ser com parado com o presente "desce", no
V. 50; vim os a m esm a variação concernente a "dá" e "tem dado", nos vs.
37, 39. Provavelm ente, nos cansaríam os de pôr tanta ênfase sobre o uso
do aoristo, m as o "descer" inclui a Encarnação.
come... viverá para sempre. Pode haver um eco disto em Barnabé 11,10. Citan-
do a passagem de Ez 42,1-12, onde um rio flui do tem plo e belas árvores
crescendo à sua m argem , Barnabé interpreta estas como sendo árvores da
vida e diz: "Todos quantos com erem delas viverão eternam ente". Barna-
bé pode estar associando o pão da vida e a árvore da vida de João, uma
associação que, como temos visto, pode ter sido inspirada pelas leituras
pascais da sinagoga.
eu der... minha própria carne. C om parar a descrição da m orte voluntária em
IC or 13,3: "Se entregar m eu próprio corpo para ser queim ado"... Assim,
524 O Livro dos Sinais
pode bem ser que a conexão entre a eucaristia e a morte de Jesus esteja
sendo sugerida em João.
para a vida do mundo. O Codex Sinaiticus coloca esta frase com o verbo
"dar", e não com "carne". Esta leitura "eu darei pela vida do mundo"
pode ser uma tentativa de conformar mais estreitamente a uma fórmula
eucarística como a de Lc 22,19: "m eu corpo que é dado por vós".
52. Disputar. O grego sugere uma disputa violenta.
ele. Literalmente, "este [um]" - provavelmente com uma nota de menos-
prezo, como no v. 42.
[sMfl]. Há boas testemunhas para inclusão e para omissão, respectivamente.
53. comerdes... beberdes. Em 6,26.50, o verbo "com er" (esthiein, phagein) toma
e k e o genitivo antes de seu objeto; ele é usado com o acusativo direto em
6,23.49.53. J. J. O'R ourke, CNQ 25 (1963), 126-28, vê uma diferença sig-
nificativa nesta variação, como também faz entre pinein ("beber") usado
com e k e o genitivo no capítulo 4, e com o acusativo aqui. A diferenciação
parece sutil demais.
carne... sangue. No estilo hebraico, "carne e sangue" significa o homem por
inteiro. Nos dias da Reforma, os vs. 53-55 se tornaram o centro de uma
disputa teológica sobre se era necessário receber a eucaristia sob ambas
as espécies. Tudo o que se pode decidir à luz deste texto é que é neces-
sário receber Cristo por inteiro. F euillet, p. 82 2 , sugere que, se o maná
era o pano de fundo do AT para o tema pão/carne, a menção do sangue
da aliança no Sinai (Ex 24,8) inspirou o tema do sangue à maneira da
fórmula eucarística "meu sangue da [nova] aliança" ou "a nova aliança
em meu sangue".
0 Filho do Homem. Ver o v. 27. Este é o único versículo, nesta seção, em que
Jesus fala de si mesmo na terceira pessoa; contudo, isto não é estranho
nas passagens sobre o Filho do Homem.
não tendes vida em vós. A universalidade e incondicionalidade desta afir-
mação têm levado algumas igrejas a adotar a prática de dar a eucaristia
às criancinhas. Põem esta afirmação em pé de igualdade com a incon-
dicionalidade da exigência de ser gerado da água e o Espírito (batismo)
em 3,5.
54. come. No grego secular, este verbo trõgein era originalmente usado para
animais; mas, ao menos desde o tempo de Heródoto, era também usado
para a alimentação humana. Ele tinha uma conotação rude (ver Mt 24,38)
refletida nas traduções como "roer, mascar". Alguns estudiosos negam
isto, mantendo que João simplesmente o usa no tempo presente de
esthiein, o verbo normal "com er". Entretanto, parece mais provável que
o uso de trõgein seja parte da tentativa de João de enfatizar o realismo
25 · Jesus na Páscoa: discurso sobre o pão da vida (c o n tin u a ç ã o ) 525
C O M E N T Á R IO : G ER A L
D esejam o s p r o p o r a q u i a h ip ó te s e d e q u e a e s p in h a d o rs a l d o s
vs. 51-58 é e la b o ra d a d e m a te ria l d a n a rr a tiv a jo a n in a d a in stitu iç ã o
d a e u c a ris tia q u e o rig in a lm e n te se s itu a v a na cen a d a ú ltim a ceia, e
q u e este m a te ria l foi re fu n d id o e m u m a d u p lic a ta p a ra fa z e r d e le s
u m a d u p lic a ta d o d isc u rs o so b re o P ão d a V ida. E sta h ip ó te s e ex-
p lica d iv e rs o s fatos: (a) A a u sê n c ia d e u m re la to d a in stitu iç ã o n o
c a p ítu lo 13, a cen a d a ú ltim a ceia o n d e to d o s o s d e m a is e v a n g e lh o s
co lo cam a in stitu iç ã o . O d e s lo c a m e n to d o m a te ria l in s titu c io n a l te m
d e ix a d o s u a s m a rc a s em 13, p o r e x e m p lo , a re fe rê n c ia a c o m e r o p ã o ,
com o u s o d o v e rb o trõgein em 13,18. ( b) A e s tre ita s im ila rid a d e d e
6,51 com u m a fó rm u la in stitu c io n a l, (c) A clara re fe rê n c ia à e u c a ris-
tia, n o s vs. 51-58, teria sid o c o m p re e n s ív e l n a ú ltim a ceia. À m a n e i-
ra d e s u p o rte , d o q u e d isse m o s p o d e m o s n o ta r q u e já e n c o n tra m o s
u m p o ssív e l e x e m p lo d e u m a c e n a o rig in a lm e n te a sso c ia d a à ú ltim a
P ásco a d a v id a d e je s u s se n d o tra n s p o s ta p a ra o c o rp o d o m in is té rio
e u m a P ásco a a n te rio r, a s a b e r, a p u rific a ç ã o d o te m p lo .
25 · Jesus na Páscoa: d iscu rso sob re o p ã o da v id a (c o n tin u a ç ã o ) 531
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25 · Jesus na Páscoa: discurso sobre o pão da vida ( c o n tin u a ç ã o ) 533
5
534 O Livro dos Sinais
C O M E N T Á R IO : D E T A L H A D O
1-21 26-70
(a) Multiplicação dos pães =(a) 26-35: A natureza do pão
(b) Tentativa de fazer jesus rei - (b) 36-47: O Pai deve trazer homens a Jesus
(c) Travessia do mar =(c) 48-70: Necessidade de uma compreensão
espiritual (Jesus vem em outra
forma)
q u e o e v a n g elista faz d e ste núcleo: 36-40, 44, 46, 61-65; (c) u m a ho-
m ília eu carística: 48-59. Ele v ê d ife re n te s a sp ec to s lite rá rio s e teoló-
gicos e m cad a u m d o s níveis.
P. Borgen , Bread, p p . 59-98, p ro p õ e u m a d iv isã o b a s e a d a n o m o d e lo
m id rá sh ic o hom ilético: (a) 31-33, a citação b ásica d o p e n ta tê u c o ,
c o rrig id a p o r Jesus; (b) 34-40, ex p o sição siste m á tic a d o s te rm o s d a
citação; (c) 41-48, d isc u ssã o exegética; (d) 49-58, m ais e x p o siç ã o d e
term o s d a citação.
J. Bligh p ro p õ e u m a d u p la q u e ab arca 26-65: (a) 26-47, (b) 48-65. Em
c a d a u m a d e s ta s Jesu s faz u m a o ferta (p ão , carne); os o u v in te s são
in c ré d u lo s e m u rm u ra m (41-42, 60-61); e n fa tiz a -se a fé c o m o u m
d o m d e D eu s (43-47, 61-65).
T. W orden e n c o n tra d o is n ív eis b ásico s d e m a te ria l e m 26-59, q u e
c o n stitu e m d isc u rso s p aralelo s: D isc u rso A: 26, 30-35, 37-39, 41-44,
48-50, 58-59. D iscurso B: 27-29, 36, 40, 45-47, 51-57.
H . Schürmann re p a rte o m esm o m a te ria l em d u a s d iv isõ es: (a) 26-52,
(b) 53-58. Ele crê q u e 51c se refere p rim a ria m e n te à m o rte n o C al-
v ário , e n ão à e u c aristia , e assim ele com eça a p a rte e u c arístic a d o
d isc u rso com 53.
E. G albiati com eça o d isc u rso com 32: (a) 32-50, (b) 48-58. N o te q u e
48-50 são lista d o s e m a m b o s os e stág io s, fec h a n d o u m e a b rin d o o
o u tro . O v. 50 fo rm a u m a in clu sã o com 32; 48 c o m b in a 58.
X. L éon-D ufour e D. M ollat co m eçam o d isc u rso com 35, m a s p õ e m
a d iv isã o d e p o is d e 47: (a) 35-47, (b) 48-58. O s u p o rte p a ra e sta di-
v isão é e x tra íd o d a sim ila rid a d e d e 35 e 48. O s te m a s d e " d a r " e
"co m e r" m a rc a m a se g u n d a m eta d e.
A m aio ria d o s e stu d io so s q u e d iv id e m , c o m o fazem os, e m 35-50 e 51-58
com eça a d iv isã o n a ú ltim a se n te n ç a d e 51 (51c). C o m e ç a m o s a di-
v isão co m o início d e 51.
(De fato, Jesus sabia desde o início quem se recusava a crer, e também
quem o entregaria). 6",1661Então ele passou a dizer:
NOTAS
virdes. Theõrein; ver nota sobre v. 40. Note que Jesus não diz categórica-
m ente que veríam esta ascensão; isso é deixado como hipotético.
subindo para onde estava antes. Isto significa para o Pai (17,5). Há um a im-
plicação de que o Filho do Hom em desceu, um a noção que já vim os (ver
nota sobre 3,13) ser m uito incomum. Esta ascensão ao Pai é através da
crucifixão e ressurreição.
63. £ 0 Espírito. B ui.tmann, pp. 341-42, m enciona a possibilidade de que a
prim eira parte deste versículo seja um a proposição defendida pelos ou-
vintes: "Vós dizeis: Έ o Espírito que dá vida; a carne é sem proveito'; eu,
porém , digo: 'As palavras que eu vos falei são ambos: Espírito e vida"'.
Entretanto, o versículo como um todo é perfeitam ente inteligível como
sendo o próprio ensino de Jesus.
dá vida. Este verbo foi usado em 5,21; aparece sete vezes nos escritos pauli-
nos. Os seguintes são de particular interesse: 2Cor 3,6: "A letra m ata, m as
o Espírito dá vida"; IC or 15,45: "O últim o A dão veio a ser um Espírito
que dá a vida".
carne. O contraste entre a carne que é sem proveito e as p alav ras de
Jesus que têm o p o d er do Espírito que dá vida não é um contraste
diferente en co ntrado em Is 40,6-8: "Toda carne é erva... A erva m ur-
cha; a flor fenece; m as a palavra de nosso Deus d u rará p ara sem pre".
Esta passagem de Isaías foi usada nos círculos cristãos p rim itivos
(lP d 1,24-25).
palavras. A lguns dos que conectam os vs. 60ss aos vs. 51-58 e ao tem a da eu-
caristia se sentem confusos pela referência a "palavras" como a fonte de
vida aqui e no v. 68. E como se Jesus voltasse ao tema sapiencial de 35-50,
e não ao tema sacram ental de 51-58. Para evitar esta dificuldade, estes
intérpretes recorreríam a um a exegese do grego à luz do hebraico dãbãr,
que significa ambos, "palavra" e "coisa"; assim, traduzem : "As coisas
[i.e., a eucaristia - carne e sangue] das quais eu tenho falado". Dodd,
Interpretation, p. 342\ adm ite que isto é temerário.
eu tenho falado. O "eu" é enfático. Recordando a menção do m aná dado
por Moisés (31-32) e rem em orando que Dt 8,3 relaciona o m aná com
as palavras de Deus, alguns m antêm que Jesus está enfatizando o va-
lor de suas próprias palavras como contrastadas com as de Moisés.
Jesus poderia estar desafiando o tipo de pensam ento judaico que en-
contramos exemplificado posteriorm ente na Midrásh Mekilta sobre
Ex 15,26: "As palavras da Lei que eu vos tenho dado vos são vida". Neste
mesmo padrão de contraste, compare Jo 6,68 que atribui as palavras de
vida a Jesus com a afirmação em At 7,38, onde é Moisés quem recebeu as
palavras vivas a fim dá-las ao povo.
26 · Jesus na Páscoa: Reações ao discurso sobre o pão da vida 543
são ambos Espírito e vida. Literalmente, "são Espírito e são vida". Todavia,
Dodd, Interpretation, p. 342, está certo em ver "Espírito e vida" como uma
hendíadis. Ver comentário.
64. Jesus sabia. C om pare 2,25: "Pois estava bem ciente do era o coração do
hom em ".
desde 0 início. Literalm ente, "desde o princípio". Este não é o princípio
m encionado em 1,1, onde está envolvida a preexistência da Palavra, e
sim o princípio do m inistério ou da vocação dos discípulos (ver 16,4).
Um a vez m ais, com o em 6.6, esta é um a tentativa redacional de preve-
nir q u alq u er concepção equivocada que pudesse im plicar que Jesus co-
m etera um equívoco. C elso u s o u o exem plo da escolha de Judas como
argum ento de que Jesus não tinha conhecim ento divino (O rígenes,
Celsus I I 11; GCS 2:138).
0 entregaria. Um particípio futuro, um a forma gram atical que é rara no NT
fora dos escritos lucanos. O verbo grego paradidonai significa "entregar,
ceder"; não tem necessariam ente um a conotação de traição, ou insídia.
Em Mc 9,31 e 10,33, é usado na segunda e terceira predições da paixão.
65. Eis por que. Presum ivelm ente, o "eis" se refere à falta de fé m encionada
na prim eira parte do v. 64.
eu vos disse. Uma vez m ais (ver nota sobre v. 36), o que segue não é um a
citação exata de algo que Jesus teria dito, em bora seja quase um a combi-
nação do que é dito nos vs. 44 e 37. Podem os contrastar isto com os casos
em João onde Jesus cita suas próprias palavras com exatidão (8,24 citan-
do 21; 13,33 citando 8,21; 15,20 citando 13,16; 16,15 citando 14).
66. Nisto. Literalmente, "disto". Estaria João exibindo a noção de que os dis-
cípulos o abandonaram porque o Pai não os havia escolhido, em cujo
caso "isto" se refere ao térm ino do v. 65? Ou "isto" se refere à totalidade
do diálogo e a dificuldade do ensino de Jesus.
se apartaram. Literalmente, "voltaram atrás"; Bui tmann, p. 3435, aponta para
a expressão idiomática hebraica nãsõg 'ãhõr, "retroceder" (ver Is 1,5).
acompanham. Literalmente, "andar com" - outro semitismo. Embora o alvo
im ediato deste versículo diga respeito à situação histórica do ministério
de Jesus, João poderia tam bém estar pensando nos apóstatas do final do
l u século (ljo 2,19).
67. aos Doze. Esta é a prim eira vez que são m encionados em João.
quereis vós também? A fraseologia da pergunta implica uma resposta negativa.
68. palavras de vida eterna. Ver nota sobre v. 63.
69. nós. O "nós" é enfático: os Doze contrastados com aqueles discípulos cuja
fé tem provado ser insuficiente. No v. 67, Jesus se dirigira aos Doze, e
então Pedro fala por eles; no v. 70, Jesus continua falando aos Doze.
544 O Livro dos Sinais
C O M E N T Á R IO
pois, encontrar este mesmo tom em Jo 6,66, visto que o relato sinóti-
co do ministério na Galileia terminou em um tom de incredulidade.
Os Doze creem, mas a maioria das pessoas, não. Depois deste capí-
tulo, Jesus irá para Jerusalém a fim de ensinar, e em 12,37 descobrire-
mos que o ministério hierosolimitano termina no mesmo tom: ainda
quando haja uns poucos no Sinédrio que creem, a maioria dos líderes
e o povo, não.
É interessante comparar Jo 6,65-66 com Mt 11,20-28. Em Mt 11,20-24,
Jesus emite um juízo sobre as cidades galileias que se recusaram a crer
em seus poderosos feitos; mesmo assim, em Jo 6,66 os discípulos não
creem nele. Em Mt 11,27, que é parte do "logion joanino" encontrado
em Mateus e Lucas, ouvimos: "Todas as coisas me foram entregues
por meu Pai. Ninguém conhece o Filho exceto o Pai, e ninguém co-
nhece o Pai exceto o Filho e aquele a quem o Filho escolhe para revelá
-Lo"; isto é bem parecido com Jo 6,65.
A reação de incredulidade e a recusa de ir a Jesus se adequa bem
com o que conhecemos do tema da Sabedoria personificada que ma-
tiza a apresentação joanina de Jesus e, em particular, oferece um pano
de fundo para o aspecto sapiencial do discurso do pão da vida. Os con-
vites da Sabedoria de vir para comer e beber (p. ex., Siraque 24,19-20)
não são aceitos por todos; há sempre o néscio que rejeita a Sabedoria
e segue outro caminho.
Os vs. 67-71 volvem nossa atenção para a diferente reação dos
Doze que creem em Jesus. Pode haver pouca dúvida de que este
é o paralelo joanino com a cena sinótica em Cesareia de Filipe
(Mc 8,27-33 e par.) que é parte da sequência seguindo a segunda
multiplicação dos pães (ver supra, p. 469). João tem paralelos não só
com a forma marcana mais breve da cena, mas também com a forma
mateana mais longa:
B IB L IO G R A F IA
FEUILLET, A., "Les themes Biblicjues majeurs du discours sur íe pain de vie
(Jean 6)'', NRT 82 (I960), 803-22, 918-39, 1040-62. Em inglês, em JohSt,
pp. 53-128.
GÄCHTER, P., "Die Form der eucharistischen Rede Jesu", ZKT 59 (1935),
419-41.
GÄRTNER, B., John 6 and the Jewish Passover (Coniectanea Neotestamentica,
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GALBIATI, E., Ί l Pane della Vita", BibOr 5 (1963), 101-10.
GOLLWITZER, H., " Zur Auslegung Von Joh. 6 bei Luther und Zwingli",
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H A EN C H EN , E., "Johanneische Probleme", ZTK 56 (1959), especialm ente
pp. 31-34.
JEREMIAS, J., "Joh. 6, 51c-58 - redaktionell", ZN W 44 (1952-53), 256-57.
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- a n Independent Tradition?" NTS 8 (1961-62), 151-54.
K1LMARTIN, E. J., "Liturgical Influence on John 6", CBQ 22 (1960),
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LEENHARDT, F. J., "La structure du chapitre 6 de l'Evangile de Jean”, RHPR
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LÉON-DUFOUR, X., "Le myst'ere du pain de vie (Jean VI)”, RSR 46 (1958),
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pp. 251-53 sobre 6.36-40.
MACGREGOR, G. H. C., "The Eucharist in the Fourth Gospel", NTS 9 (1962-63),
111-19.
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MOLLAT, D., "Le chapitre VI de Saint Jean", Lum Vie 31 (1957), 107-19.
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RUCKSTUHL, E., "A u sein an d ersetzu n g m it Joachim Jerem ias ü b e r die
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pp. 220-72.
RULAND, V., "Sign and Sacrament: John's Bread of Life Discourse", Interp 18
(1964), 450-62.
SCHNEIDER, J., "Zur Frage der Komposition von Joh. 6, 27-58 (59) - Die
Himmelsbrotrede", IMEL, pp. 132-42.
26 · Jesus na Páscoa: Reações ao discurso sobre o pão da vida 553
" A in d a n ã o é c h e g a d o m eu tem p o ,
p a ra vós, p o ré m , está se m p re d isp o n ív e l.
7O m u n d o n ã o v o s p o d e o d ia r, m a s o d e ia -m e
p o rq u e d o u te ste m u n h o c o n tra ele
p o rq u a n to su a s o b ras são m ás.
NOTAS
daqueles que se apartaram (6,66) ido (de volta) para a Judeia? O u esta é
uma referência aos crentes de 2,23 e 4,1?
as obras. Até este m om ento no relato joanino, os m ilagres mais im pressivos
foram realizados na Galileia (água em vinho; cura à distância; multiplica-
ção dos pães; caminhar sobre a água).
4. publicamente. Este convite ao profeta provincial de buscar publicidade na
m etrópole esconde um desafio mais teológico à Luz para que se mani-
feste ao m undo.
5. seus irmãos. Aparentem ente, os irm ãos se tornaram crentes depois da res-
surreição, pois são m encionados em At 1,14 juntam ente com os Doze.
Tiago e Judas vieram a ser em inentes figuras na Igreja.
6. tempo. Esta palavra, kairos, em geral tem um teor teológico m ais profundo
como um m om ento salvífico decisivo do que a palavra chronos, que sig-
nifica tem po ordinário do calendário. "Tem po" é um a alternativa joanina
para a "hora" (com parar 2,4); encontram os exatam ente a m esm a alter-
nância em Mt 26,18 e 45. Aqui, no v. 6, há diferentes significados nos dois
usos de "tem po"; o prim eiro é um a referência à hora salvífica da m orte
de Jesus; a segunda é mais geral.
7. O mundo. Em 7,1 ouvim os do ódio de "os judeus" da Judeia para com
Jesus; aqui é o m undo que odeia Jesus. Embora sejam um g rupo histórico
no m inistério de Jesus, "os judeus" são tam bém os porta-vozes de um a
oposição mais am pla da parte do m undo, um a oposição bem evidente no
tem po do evangelista.
8. Eu não subo para esta festa. As m elhores testem unhas agregam "ainda"; é
om itido no Codex Sinaiticus e Bezae, o latino e a OS. Provavelm ente,
"ainda" foi inserido por um copista para solucionar a dificuldade de que,
após declarar absolutam ente que ele não estava subindo, depois Jesus
subiu. Ver comentário.
chegado. Literalmente, "cum prido". O tem a do cum prim ento escatológico
do AT ou do plano divino é com um no NT, especialm ente com respeito
à paixão (19,24.36).
9. tendo dito. A lgum as im portantes testem unhas, incluindo P75, trazem
"com eles".
permaneceu. Um aoristo complexivo; ver nota sobre 2,20 para reflexões so-
bre sua qualidade incompleta.
10. [por assim dizer]. Om itido em im portantes testem unhas relacionadas à
tradição ocidental, esta frase pode ter sido inserida por um copista para
evitar a im pressão de decepção da parte de Jesus.
11. esse homem. C risóstomo entendeu este pronom e (ekeinos) de um a m aneira
m arcantem ente hostil ("esse indivíduo", como o uso hostil de houtos);
27 · Jesus na festa dos tabernáculos: Introdução 557
C O M E N T Á R IO
João Tentações
6,15: O p o v o q u e r fazê-lo rei - S a tan á s lh e oferece o s re in o s d o
m undo
6,31: O p o v o b u sc a u m p ã o m ira- - S a tan á s o c o n v id a a tra n s fo rm a r
cu lo so p e d ra s e m p ã o
7,3: O s irm ã o s q u e re m q u e Jesus - S atanás leva Jesus ao te m p lo em
v á a Je ru sa lé m e exiba ali Jeru salém e o c o n v id a a exibir
seu p o d e r seu p o d e r, sa lta n d o d o p in ác u lo
NOTAS
de todo. Este é um argum ento a minori ad maius (do m enor para o maior),
m uito comum na lógica rabínica. A circuncisão afeta somente um a parte
do corpo; se isso é perm itido, seria perm itida um a ação que afeta o bem de
todo o corpo. Realmente, os rabis perm itiam práticas de cura no sábado,
quando houvesse perigo im ediato à vida. Mas, no presente caso, no capí-
tulo 5, o homem fora doente por m uito tem po (5,6), e eles argum entariam
que Jesus podería ter adiado até o dia seguinte para curá-lo (Lc 13,14).
24. julgueis... reta justiça. Temos tentado preservar a nuança do im perativo
presente na prim eira linha, e o im perativo aoristo na segunda. Um ape-
lo similar por reto juízo se encontra no AT: Is 11,3 (do rei messiânico);
Zc 7,9; Dt 16,18.
25 .0 povo de Jerusalém. Estes parecem com por um grupo especial na m ultidão
m aior (v. 12) que conteria tam bém visitantes. Tabernáculos era a festa
judaica mais im portante e assistida por inúm eras pessoas. N ote que João
apresenta estes hierosolim itanos plenam ente cientes de que há um com-
plô para m atar Jesus da parte das autoridades.
26. não lhe dizeis sequer uma palavra. Há um a expressão rabínica sem elhante,
que reflete aprovação tácita.
as autoridades. Literalmente, "governantes", palavra usada para descrever
Nicodemos em 3,1. Estes são "os judeus", mas particularm ente os m em -
bros do Sinédrio.
27. de onde vem este homem. Em um a civilização prim itiva, sem nom es fami-
liares, o lugar de origem é equivalente a um nom e identificador, p. ex.,
José de Arimateia, Jesus de Nazaré. Este é não só o uso bíblico (Jz 13,6;
Gn 29,4), m as tam bém o uso corrente entre os beduínos que costum am
perguntar pela identidade de um a pessoa, indagando: "De onde você é?"
ninguém saberá de onde ele vem. Ver pp. 233-234 para a teoria do Messias
oculto. Os hierosolimitanos pensam que o fato bem notório de que Jesus
é de Nazaré milita contra ser ele identificado como o Messias oculto.
28. verdadeiramente. Alêthinos, tom ado adverbialm ente. O Codex Sinaiti-
cus e o P* dizem: "Aquele que me enviou é verdadeiro [ou fidedigno -
Alêthês[”; esta redação pode vir sob a influência de 7,26.
Um que me enviou. Aqui o verbo "enviar" é pempein; no v. 29, é apostellein,
um indício de que os dois verbos são intercambiáveis.
29. é da parte dele que eu vim. Literalmente, "Eu sou dele [para com genitivo]".
O Sinaiticus diz "com [para com dativo] Ele", um a redação endossada por
OS, Sah. B o i s m a r d , Prologue, p. 91, prefere isto como a leitura mais difícil.
30. eles tentaram prendê-lo. Ao que parece, o "eles" se refere ao povo de Je-
rusalém, pois esta tentativa parece ser distinta daquela das autoridades
no v. 32.
28 · Jesus na festa dos tabernáculos: Cena I 565
COMENTÁRIO
E sta é a p a rte d o d isc u rso com u m a relação m ais e stre ita com
o c a p ítu lo 5; co m o m e n c io n a m o s n a p. 458, m u ito s c o m e n tarista s o
tra n sfe riría m p a ra o final d o c a p ítu lo 5. N a p re se n te se q u ên cia do
e v a n g e lh o , tem tra n s c o rrid o te m p o c o n sid e rá v e l d e s d e o m ilag re re-
g istra d o e m 5 ,1 1 5 ( ־cerca d e q u in z e m eses, se a q u e la festa era P ente-
costes); to d a v ia , esse m ilag re p a re c e se r em g ra n d e m e d id a o tem a
d a c o n v e rsa ç ã o em 7,21. (V er ta m b é m n o ta s so b re v. 15, " e d u c a ç ão ",
v. 18, "g ló ria "). E n tre ta n to , e n q u a n to João fez a c u ra n o sá b a d o do
c a p ítu lo 5 o foco d a d isc u ssã o e m 7,21 ss., fazem o s b e m em su sp e ita r
q u e te m o s a q u i u m a lim itação d o tem a p a ra p ro p ó sito s d ram ático s.
O e v a n g e lis ta selecio n o u c rite rio sa m e n te u n s p o u c o s sin ais q u e ele
n a rra (20,30-31); e, a fim d e sim p lificar o q u a d ro h istó rico , ele m o stra
estes sin a is co m o as c a u sa s d ire ta s d o q u e a c o n te c eu a Jesus. A g in d o
co m o u m b o m d ra m a tu rg o , o e v a n g elista n u n c a o c u lta os fios d a tra-
m a d e s u a n a rra tiv a com ta n to s p e rso n a g e n s o u d e ta lh es. O s evan-
g elh o s sin ó tico s n o s d e m o n s tra m q u e a acu sa ç ã o d e v io la r o sá b ad o
q u e foi la n ç a d a c o n tra Jesu s n ã o tin h a p o r b a se u m a c u ra em u m só
sá b ad o , m a s e m u m a p rática c o n sta n te. A o u s a r u m m ila g re co m o o
e x em p lo esp ecífico em q u e o a rg u m e n to se b a sea v a , João co n d e n sa
em u m só a c o n te c im e n to to d o o u m m in istério . M esm o q u a n d o João
co lo q u e os a rg u m e n to s d o s c a p ítu lo s 7 a 8 em u m c o n tex to histórico
específico, a av a liaç ã o d e ste s c a p ítu lo s com o u m a coleção d e polêm ica
típ ica n o s a d v e rte c o n tra u m a d e p e n d ê n c ia tão p recisa d a s relações
cro n o ló g icas e n tre a c u ra d o c a p ítu lo 5 e a d isc u ssã o d o c a p ítu lo 7.
N ã o é n e c essá rio q u e n o s p re o c u p e m o s se "o s ju d e u s " q u e v ira m o
m ilag re m u ito te m p o a n te s a in d a e sta ria m p e n s a n d o nele; o leitor
cristão , p a ra q u e m o e v a n g e lh o foi o rg a n iz a d o (20,31) v eria facilm en-
te a rela çã o e x iste n te e n tre este d isc u rso e o m ila g re d e q u e ele lera
a n te s n u m a s m e ra s cem linhas.
568 O Livro dos Sinais
As p rim e ira s lin h a s d e sta cen a d o d isc u rso (v. 15) estã o c e n tra d a s
na acu sação d e q u e Jesus era u m m e stre irre g u la r, v isto q u e n ã o h a v ia
receb id o su a d o u trin a d e u m m e stre rec o n h ecid o . A re s p o s ta d e Jesus
(16) é q u e ele rec e b e u su a d o u trin a d e u m m e stre re c o n h e c id o , a sa-
b er, seu Pai celestial. Ele fre q u e n to u as m elh o re s d e to d a s as escolas
rabínicas. A ú n ica p ro v a q u e ele oferece em p ro l d e su a reiv in d ic a çã o
(17-18) é o m esm o tip o d e te ste m u n h o q u e ele ofereceu n o c a p ítu lo 5.
H av ia u m a q u e stã o d e ter a lg u é m o a m o r o u a p a la v ra d e D e u s n o co-
ração (5,42.38) e d e a te n ta r b em n a b u sc a d a g ló ria d e D eu s (v. 44), p o is
tais traço s ca p ac ita ria m os h o m e n s a reco n h ecerem q u e Jesus v iera no
n o m e d o Pai (5,43). Em 7,17, so m o s in fo rm a d o s q u e a q u e le q u e faz a
v o n ta d e d o Pai reco n h ecerá a q u e le q u e fala p o r D eus. F a z e r a v o n ta d e
d e D eu s é m ais d o q u e o b ed iên cia ética; e n v o lv e a aceitação, p e la fé, d e
to d o o p la n o d iv in o d a salvação, in clu siv e a o b ra d e Jesu s (5,30). P o d e-
m o s n o ta r q u e fazer a v o n ta d e d e D eu s é tam b é m m e n c io n a d o n a tra-
dição sinótica, m as ali co m o u m a co n d ição p a ra e n tra r no rein o d o céu
(M t 7,21). C o m o já o b serv am o s, a d escrição sinótica d o rein o d o
céu p a rtilh a m u ito s asp ecto s com a d escrição jo an in a d o p ró p rio Jesus.
A referên cia a M oisés e à Lei, n o v. 19, é o u tra ra z ã o p o r q u e
e s tu d io so s su g e re m q u e esta p a rte d o d isc u rso foi u m a v e z conec-
tad a ao final d o c a p ítu lo 5, o n d e M oisés é m e n c io n a d o . E n tre ta n to ,
é b e m p o ssív e l q u e o c o n tra ste e n tre a fo rm a çã o d e Jesu s e o tre in a-
m en to p a d rã o d o s m e stre s ju d aic o s p o d e ría te r lo g ic a m e n te le v a d o a
u m a referên cia a M oisés, p o is a Lei d e M oisés era a b a se d a e d u c a ç ã o
form al. Q u a l é a ra z ã o p a ra a acu sação d e Jesus d e q u e "o s ju d e u s "
não estã o g u a rd a n d o a Lei? P o d e se r q u e e sta fosse u m a d e n ú n c ia
g eral n o estilo d e Jr 5,5; 9,4-6 etc. A lg u n s têm p e n s a d o q u e Jesu s está
a cu san d o os ju d e u s d e q u e b ra re m o e sp írito d o sá b ad o , n ã o d esejan-
d o v e r u m h o m e m c u ra d o n o sá b a d o (ver v. 23). M ais p ro v a v e lm e n -
te, a lin h a fin al d o v. 19 seja a ch av e p a ra a re sp o sta . A o d e seja re m
m a ta r Jesu s (5,18; 7,1), e stã o v io la n d o u m d o s m a n d a m e n to s . E staria
João n o s d a n d o u m a rem in iscên cia h istó rica e m r e tra ta r a ssim u m a
p ro lo n g a d a h o s tilid a d e a Jesu s e m Je ru sa lé m , ao p o n to d e tira r-lh e
a v id a? N a tu ra lm e n te , os sin ó tico s n ã o n o s d ã o in fo rm a ç ã o so b re o
m in istério h iero so lim itan o , exceto n o s ú ltim o s d ia s, e c o n c e n tra m su a
d escrição d o p la n o d e m a ta r Jesu s n a q u e le p e río d o final. N ã o o b sta n -
te, Lc 4,29 reg istra u m a te n ta d o c o n tra a v id a d e Jesu s n a G alileia, re-
gião o n d e p o d e ria m o s e s p e ra r q u e o se n tim e n to relig io so fosse m e n o s
28 · Jesus na festa dos tabernáculos: Cena I 569
c o n te m p la r e x te n d id o n o im p é rio ro m a n o é g ra n d e m e n te gentílica,
e a D iá sp o ra d o s filhos d e D eu s d isp e rso s e c o n g re g a d o s p o r Jesus
(11,52) re a lm e n te te m sid o u m a D iá sp o ra d o s gregos.
A o c o n c lu irm o s n o ssas o b serv açõ es so b re esta se g u n d a p a rte da
C e n a I d o d isc u rso , tem o s d e sa lie n ta r q u e o tem a d e Jesus com o a
S a b e d o ria d iv in a é m u ito fo rte aq u i e se e n c o n tra no fu n d o d e m ui-
tas d a s s u a s afirm açõ es. A q u e stã o so b re d e o n d e Jesu s v em , n os vs.
27ss., n o s lem b ra d e Jó 28,12ss., q u e su scita a q u e stã o so b re o n d e a
S a b e d o ria p o d e se r e n c o n tra d a ; ta m b é m B a ru q u e 3,14-15: " A p ren -
d ei o n d e está a S ab ed o ria. ... Q u e m p o d e d e sco b rir su a localização?"
A ssim co m o Jesus foi e n v ia d o d e D e u s (29) p a ra e sta r com os ho-
m e n s (33), a ssim n o A T o h o m e m ro g a a D eus p a ra q u e a Sabedo-
ria seja e n v ia d a d o céu a fim d e e sta r com ele (Sb 9,10; S iraq u e 24,8).
O te m a d e b u s c a r e a c h a r (34) é fre q u e n te n o AT. Em a lg u n s d o s li-
v ro s b íb lico s, o tem a se c e n tra n u m a b u sc a p elo S en h o r, p o r exem plo,
Is 55,6: "B u scai o S e n h o r e n q u a n to se p o d e a c h a r" (ta m b ém O s 5,6;
D t 4,29). M as n a lite ra tu ra sa p ien cial o tem a é tra n sfe rid o p a ra a Sa-
b e d o ria . Em Sb 6,12, o u v im o s q u e a S a b ed o ria "é facilm en te v ista p o r
a q u e le s q u e a a m a m , e e n c o n tra d a p o r a q u e le s q u e a b u sc am ". As
p a la v ra s d e Jesu s n o v. 34 são m u ito p a re c id a s com as d a S ab ed o ria de
P r 1,28-29: "E les m e b u sc arã o , m a s n ã o m e a c h arã o , p o rq u e o d e ia m o
c o n h e c im e n to e n ã o e sco lh e ra m o te m o r d o S en h o r".
NOTAS
fonte para outros. O utro texto citado, 14,12, parece geral demais para ser
probatório. Tendo em conta tudo isto, o m elhor argum ento para esta in-
terpretação é o forte endosso patrístico que ela tem tido. Todavia, muito
deste endosso flui do ím peto inicial do próprio influente O rícenes. Ele
viu em 7,37-38 um eco da doutrina de F ilo de que o perfeito gnóstico po-
deria se tornar, através de sua com preensão espiritual da Escritura, uma
borbulhante fonte de luz e conhecimento para outros. Tal entendim ento
de João não é m uito convincente.
(c) H á ainda um terceiro m odo de traduzir o grego, um que não dá indica-
ção definida quanto à identidade da fonte da água:
Se alguém [temj sede, que venha a m im e beba (i.e., que creia em mim).
Com o diz a Escritura: "De seu interior fluirão rios de água viva".
Esta tradução evita a objeção suscitada por K irkpatrick contra a tradução
anterior: o particípio ho pisteuõn não é mais longo que o sujeito antecipa-
do da citação bíblica, e sim um esclarecimento do sujeito dos verbos "vir"
e "beber". K irkpatrick mostra que o particípio pode servir como sujeito
de ambos os verbos, mas seus exemplos de tal particípio que resum e o
"alguém " indefinido são fracos. Blenkinsopp, "Crux", defende um a tradu-
ção sim ilar a esta, porém insiste que "aquele que crê em m im " não tem
nexo sintático com a sentença - é m eram ente um parênteses explicativo
extraído de "aquele que crê" no v. 39. Há algum a evidência de versão no
latim e siríaco para om itir "aquele que crê em mim"; esta evidência não é
suficientem ente forte para fazer o particípio textualm ente duvidoso, mas
pode d ar apoio para vê-lo como m eram ente o parênteses. Naturalmente,
esta tradução do grego perde o paralelism o quase perfeito que temos pro-
posto em nossa tradução. Ela nada faz para identificar o "ele" da citação
bíblica; mas parece que quando o particípio é tratado como um parênte-
ses, há pouca razão para presum ir-se que o "ele" da citação é o crente.
Segundo, que passagem da Escritura é citada no v. 38? Obviam ente, a resposta
a esta pergunta refletirá na prim eira também. As palavras citadas em
João não refletem exatam ente qualquer passagem no TM ou na LXX, e
assim os com entaristas têm que usar certa engenhosidade para rastrear
passagens que são ao m enos similares.
Os que pensam no crente como a fonte da água frequentem ente suge-
rem Pr 18,4: "As palavras da boca de um hom em são águas profundas;
a fonte da sabedoria é m anancial que jorra". Is 58,11 é digno de consi-
deração como pano de fundo; ali Deus prom ete ao israelita dos tem pos
escatológicos: "serás como um jardim regado, como um a fonte transbor-
dante, cujas águas nunca faltam ". Siraque 24,30-33 (28-31) faz do disci-
pulo da Sabedoria um canal que conduz águas da Sabedoria para outros.
576 O Livro dos Sinais
1QH 8.16 diz: “Tu, ó m eu Deus, tem posto em m inha boca, por assim
dizer, chuva para todos [os que têm sede], e um a fonte de águas vivas
que não falharão". Uma passagem que tem sido citada com frequência é
Provérbio 5,15: "Bebe água da tua cisterna, a água que jorra de teu poço";
m as a semelhança com João é apenas verbal, pois o texto de Provérbios é
um a injunção contra o adultério ("cisterna/poço" = a esposa de alguém ).
Uma orientação plausível em que buscar o pano de fundo da citação bíbli-
ca de João está nas várias descrições da cena que ocorreu d urante o êxodo,
quando Moisés feriu a rocha e água jorrou dela. Esta rocha era vista na
Igreja prim itiva como um tipo de Cristo (IC or 10,4), e por isso este pano
de fundo favorecería a interpretação cristológica da fonte na citação de
João. Bkaun, JeanThéol, 1, p. 150, m enciona que a rocha das peregrinações
no deserto era o símbolo mais frequentem ente pintado nas catacum bas
veterotestam entárias. Frequentem ente, ele era conectado com o batism o
através da interpretação de Jo 7,38. Tal sim bolismo se adequaria bem
com a predileção de João p or símbolos tom ados das narrativas do Êxodo
(1,29: o cordeiro pascal; 3,14: a serpente de bronze; 6,31: o m aná; 6,16-21:
a travessia do M ar Vermelho?) Pode ser que esteja nos com entários
poéticos encontrados nos Salmos sobre o tema da água-da־rocha os me-
Ihores paralelos para o vocabulário de Jo 7. O SI 105,40-41 diz: "Ora-
ram, e ele fez vir codornizes, e os fartou de pão do céu. A briu a penha,
e dela correram águas; correram pelos lugares secos, com o um rio".
Esta sequência de pão do céu e de água da rocha é exatam ente a se-
quência que temos nos capítulos 6 e 7 de João (incidentalm ente, um a
razão a mais para não m udar a presente sequência dos capítulos). Ou-
tras passagens que descrevem a água da rocha são Is 43,20; 44,3; 48,21;
Dt 8,15; A ileen G uilding, p. 103, tem ressaltado que m uitas das passa-
gens eram usadas como leituras na sinagoga no m ês em que [a festa dos]
Tabernáculos era celebrada. O SI 114, cujo v. 8 menciona como Deus
converteu a rocha fendida em m anancial de água, era um dos salm os
do H allel cantados pelos peregrinos nas procissões diárias d urante
a festa dos Tabernáculos.
A passagem trata da rocha no deserto que, possivelm ente, seja o mais
estreito paralelo verbal para João é o SI 78,15-16: "Fendeu as penhas no
deserto; e deu-lhes de beber como de grandes abismos. Fez sair fontes
da rocha, e fez correr as águas como rios”, (uns poucos versículos mais
adiante no Salmo, o v. 24, ouvimos: "E chovera sobre eles o m aná para
comerem, e lhes dera do trigo do céu" - ver nota sobre 6,31). Embo-
ra esta tradução do hebraico do salmo já seja como Jo 7,38, a semelhança
pode manifestar-se grandem ente se alguém aceita a tese apresentada por
29 · Jesus na festa dos tabemáculos: Cena II 577
mãos. No v. 30, o singular foi usado (traduzim os por "dedo"); aqui se usa
o plural.
45. quando a guarda do templo voltou. Segundo a cronologia do v. 37, este é o
quarto dia depois que foram enviados. Obviam ente, o arranjo é artificial.
os principais sacerdotes e fariseus. Um só artigo governa dois substantivos,
um detalhe que dá a im pressão de que eles estão m uito unidos nesta
ação.
46. falou como este. Em Mt 7,29, as m ultidões galileias exclamaram que ele os
ensinava como se tivesse autoridade, e não como os escribas.
48. Sinédrio... fariseus. Literalmente, Sinédrio equivale a "autoridades". Havia
m em bros do partido dos fariseus no Sinédrio, aqui, porém , está implícito
o partido geral dos fariseus. O v. 50 ressalta que, ironicam ente, um do
Sinédrio creu nele; ver tam bém 12,42.
49. esta plebe que nada sabe da Lei. Ver StB, II, p. 494, para passagens rabínicas
que atestam o desdém dos que eram educados na Lei para com o povo
comum sem qualquer cultura Vam hWãres, "povo da terra") que às ve-
zes eram displicentes quanto à Lei. Este "povo da terra" era contrastado
com os "estudantes dos sábios", e Pirqe Aboth, 2,6, diz que os prim eiros
não podiam ser santos. (Os pobres que eram ignorantes da Lei já tinham
tido problem a no tem po de Jeremias - ver Jr 5,4, onde ele busca escusá
-los). De fato, por certo que m uitos dos fariseus não teriam partilhado
deste desdém para com o povo.
e estão condenados. Pode ser que esta m aldição esteja associada com passa-
gens como Dt 37,26; 28,15; SI 119,21, as quais am aldiçoam os que não se
conform am com a Lei.
50. Um de seu próprio número. Esta frase está em outra ordem em alguns ma-
nuscritos, e está faltando em parte da tradição siríaca; é possível que seja
um a glosa de esclarecimento.
(0 homem que viera ter ele). Uma indicação adicional como "previam ente",
"de noite" ou "prim eiro" aparece em m uitas testem unhas, m as a varian-
te sugere que estam os tratando com esclarecim entos de copistas. Este pa-
rêntese é um caso da prática joanina com um de identificar personagens
já encontrados; ver 19,39.
51. sem primeiro ouvi-lo. (Há pouca evidência nas versões para om itirem
"prim eiro"). Ex 23,1 ad v erte contra falsas denúncias; Dt 1,16 tem
um a orientação im plícita de ouvir am bas as p artes de um caso. O
p rincípio rabínico se encontra nas p alav ras do Rabi Eleazar ben Pe-
d ath na Midrásh Rabbah sobre Ex 21,3: "A m enos que um m o rtal ouça
as alegações que um hom em tenha a ap resen tar, esse não está ap to a
em itir juízo".
29 · Jesus na festa dos tabernáculos: Cena II 581
C O M E N T Á R IO
H á u m n ú m e ro d e d e ta lh e s n o c o n tex to im e d ia to q u e co n firm a
isto. V im os q u e o tem a d e b u sc a r e a c h a r d e 7,34 era u m tem a sa p ie n -
ciai (p. 570). E p rec iso n o ta r q u e n o v. 37 João d iz q u e Jesu s se p ô s
em p é e ex clam o u . P o d e m o s c h a m a r a a te n ç ã o p a ra as p a s sa g e n s em
P ro v érb io s o n d e a S abedoria entoa seu convite aos h o m e n s (1,20; e 8,2-3,
o n d e ela se p õ e em p é e canta). Em P r 9,3ss. a S ab ed o ria c o n v id a o s sím -
plices: "V inde, com ei d e m eu a lim en to e beb ei d o v in h o q u e e u m istu -
rei" (tam b ém S iraque 51,23); tais convites se a ssem elh am ao d e Jesus e m
37-38. Som os lem b rad o s ain d a d o convite p a ra a obten ção d e sabe-
d o ria em is 55,1: "T o d o s os q u e têm sed e, v in d e às á g u a s" . Já m en -
cio n am o s o u so em Q u m ra n e círculos rabínicos d e á g u a (viva)
com o sím b o lo d a Lei. P assag en s d o A T com o Jr 2,13 p o d e m ser re-
in te rp re ta d o s à lu z d essa sim bologia: "Eles m e a b a n d o n a ra m , a fon-
te d e ág u a s v iv as e c a v ara m p a ra si cisternas, cistern as ro tas, q u e
n ão p o d e m rete r a ág u a ". (D e ac o rd o com Miss G uii.ding, p. 105, Jr 2
era u m d o s haphtaroth d a sin ag o g a p a ra a festa d o s T ab e m á c u lo s, e m u i-
tos o têm citad o em relação à citação bíblica d e Jo 7,38). O sim b o lism o
joanino o n d e a á g u a flui d o v e n tre d e Jesus (ver n o ta so b re v. 38, " d e
seu in terio r") n ão oferece d ific u ld a d e a u m a in te rp re ta ç ã o sap ien cial d a
água; p o r ex em p lo, SI 40,8 diz: "V ossa lei está em m e u v e n tre ". A ssim , a
ap resen tação q u e Jesus faz d e su a rev elação c o m o á g u a v iv a p o d e se r a
m o d o d e co n traste com o p e n sa m e n to ju d aico so b re a Lei. H á d iv e rsa s
referências à Lei n e ste m esm o c a p ítu lo d e João (7,19.49).
Se a ág u a é u m sím bolo d a revelação q u e Jesus d á aos q u e creem
nele, é tam b ém u m sím bolo d o E spírito q u e o Jesus re ssu rre to d a rá ,
com o v. 39 especifica. N o m o m e n to d e su a m orte, Jesus re n d e rá o
E spírito (19,30), p recisam en te com o á g u a fluirá d e seu lad o (19,34).
l jo 5,7 re ú n e os tem as d o E spírito, d o sa n g u e e á g u a d o lad o d e Je-
sus: "H á três testem u n h as: o E spírito, a á g u a e o sangue; e estes três
são u m só". N a p. 347 d e m o s u m n ú m e ro d e textos d o A T q u e u sa m
a im ag em d e ág u a p a ra o d e rra m a m e n to d o esp írito d e D eus. A estes
p o d e m o s an ex ar Is 44,3, que, se g u n d o Miss G uilding, p. 105, p o d e ria
ter sid o u m haphtarah d a sinagoga p a ra o m ês d a festa d o s T ab em ácu -
los: "E u d e rra m a rei á g u a sobre a terra sed en ta, e m an an ciais n o solo
seco; d e rra m a rei m eu espírito sobre vossos d e scen d en tes". E m conexão
com as cerim ô n ias d e ág u a na festa d o s T ab em ácu lo s, o T aljer (Sukkah
55a) afirm a q u e a p a rte d o s recintos d o tem p lo p e rc o rrid a s d u ra n te a
p rocissão com a ág u a era ch a m a d a "L u g a r d a E xtração", p o rq u e d ali
29 · Jesus na festa dos tabernáculos: Cena II 585
B IB L IO G R A F IA
NOTAS
C O M E N T Á R IO
O significado do Relato
B IB L IO G R A F IA
BECKER, U., Jesus und die Ehebrecherin (Beihefte z u r ZN W , No. 28; Berlin:
T öp elm an n , 1963).
BLINZLER, J., " Die Strafe für Ehebruch in Bibel und Halacha zur Auslegung von
Joh. viii 5", NTS 4 (1957-58), 32-47.
DERRETT, J. D. M., " Law in the Neio Testament: The Story of the Woman
Taken in Adultery", NTS 10 (1963-64), 1-26. A bbreviated in StEv, II,
p p . 170-73.
JEREMIAS, J., " Zur Geschichtlichkeit der Verhörs Jesu vor dem Hohen Rat",
Z N W 43 (1950-51), especialm ente pp. 148-50.
M A N SO N , T. W., "The Pericope de Adultera (Joh 7, 53-8, 11)", ZN W 44
(1952-53), 255-56.
RIESENFELD, H., "Die Perikope Von der Ehebrecherin in der
frühkirchlichen Tradition", Svensk Exegetisk Arsbok 17 (1952), 106-11.
SCHILLING, F. A., “The Story of Jesus and the Adulteress", ATR 37 (1955),
91-106.
3 1 . JE SU S N A F E S T A D O S T A B E R N Á C U L O S :
- C E N A III
( 8, 12- 20)
Discursos Mistos
a. J e s u s c o m o a l u z d o m u n d o ; 0 te s te m u n h o q u e J e su s d á d e s i m e s m o .
D i s c u r s o e n u n c ia d o j u n t o a o te s o u r o d o t e m p l o
"E u so u a lu z d o m u n d o .
Q u e m m e se g u e n ã o a n d a rá n a s trev as;
m as terá a lu z d a v id a " .
18E u s o u te s te m u n h o d e m im m esm o ,
e ta m b é m o Pai, q u e m e e n v io u , d á te ste m u n h o d e m im ".
14E ntão lhe p erg u n ta ra m : " O n d e está este teu 'p a i? " Je su s replicou:
NOTAS
8.12. lhes falou. Esta é um a referência vaga, visto que (se visualizarm os no
relato interpolado da m ulher adúltera) Jesus não falava desde 7,38, onde
parece ter-se dirigido à m ultidão de peregrinos nos recintos do templo.
Agora ele se encontra outra vez na área do tem plo (ver v. 20), e é possível
que esteja se dirigindo m ais um a vez à m ultidão. Entretanto, m uito estra-
nham ente, "a m ultidão" que foi m encionada oito vezes no capítulo 7 já
não é m encionada no capítulo 8 (e de fato não até o cap. 11,42). É também
possível que o "lhes" se refira aos fariseus. Se 8,12 seguiu im ediatam ente
7,52, os fariseus eram o últim o grupo a ser m encionado (7,47), e serão
m encionados outra vez no versículo seguinte.
luz do mundo. Em Mt 5,14 os discípulos são informados: "Vós sois a luz do
m undo". N ão há contradição aqui, pois os discípulos são a luz do m undo
som ente enquanto refletem Jesus.
andará nas trevas... a luz da vida. Qual é o pano de fundo deste contraste
dualístico entre trevas e luz? No AT ouvim os de "luz da vida", i.e., a luz
que dá vida (SI 56,13; Jó 33,30). O SI 27,1 diz: "O Senhor é m inha luz";
Baruque 5,9 diz: "Deus guiará Israel com júbilo, pela luz de Sua glória".
Todavia, no AT luz e trevas não são opostos como princípios do bem e
do m al como o são em João; e para essa oposição dualística os Rolos do
M ar M orto oferecem um paralelo m uito m elhor para o uso joanino. Os
essênios de Q um ran são os filhos da luz; seus corações foram ilum inados
com a sabedoria da vida (1QS 2,3); e podem contem plar "a luz da vida"
(i.e., a interpretação que Q um ran faz da Lei - 1QS 3,7). O bom espírito
que guia sua vida é cham ado, entre outros títulos, "o príncipe das luzes",
600 O L ivro d o s S inais
enquanto o m au espírito que luta contra eles é "o anjo das trevas" (3,20-21),
e os hom ens andam segundo um ou outro destes espíritos de luz e trevas.
Ver H. Braun, ThR 28 (1962), 218-20, para discussão e bibliografia. Como
observação final podem os m encionar que a atual sequência nos m anus-
critos de João, onde 8,12 segue o relato da m ulher adúltera, é interessante
quando com parado com 1QS 3,6-7, que fala de "o perdão de pecados
para que vejam a luz da vida".
13. teu testemunho não é válido. Para esta objeção e a resposta de Jesus, ver as
notas sobre 5,31. A Mishná Kethuboth 3:9 reza: "N enhum hom em pode
aduzir testem unho em prol de si m esmo".
14. meu testemunho é válido. Esta é um a contradição formal de 5,31: "Se sou
minha própria testem unha, meu testem unho não pode ser válido". Toda-
via, a ideia em ambos os versículos é realm ente a mesma: seu testem unho
é válido porque seu Pai está por detrás dele (com parar 5,32 e 8,16.18).
15. julgais segundo os padrões humanos. Literalm ente, "segundo a carne"; este
é outro caso implícito do dualism o entre os m undos da carne e o espírito
que vimos em 3,16 e 6,63. Em IC or 1,26 e 2Cor 5,16, Paulo usa a expres-
são "segundo a carne" como um falso padrão de julgam ento. Lembra-
mos que em Jo 7,24 Jesus advertiu a m ultidão que não julgasse pelas
aparências.
eu a ninguém julgo. (Este versículo pode ter inspirado a inserção do relato
da m ulher adúltera em sua presente posição). W ikenhauser, p. 168, crê
que isto significa: "a ninguém julgo segundo a carne"; todavia, há um
núm ero de afirmações em que Jesus nega que é juiz, sem tais qualifi-
cações, e é duvidoso se a qualificação está implícita aqui. Uma solução
mais plausível é a sugerida por Loisy, p. 2 8 8 , de que há dois tipos dife-
rentes de julgam ento envolvidos nas duas frases do v. 15. O julgam ento
dos fariseus c o d e avaliação; enquanto que o julgam ento de Jesus é o jul-
gam ento que situa no plano de salvação e condenação. Ver comentário.
16. verdadeiro. Isto é alêthinos (que am iúde traduzim os por "verdadeiro" -
ver Apêndice 1:2, p. 794ss); nos vs. 13 e 14, a questão era de o testem unho
ser "verificado" (alethês , "verdadeiro"), e a palavra retorna no v. 17. João
nem sem pre m antém distintos alethês e alêthinos.
mas comigo está Aquele [0 Pai] que nie enviou. Literalmente, "m as eu e Aquele
que me enviou". D odd, Interpretation, pp. 94-96, salienta que a divina afir-
mação egõ eimi, "Eu sou [Ele]", que exerce um im portante papel em João
(ver Apêndice IV, p. 841 ss), frequentem ente aparece na form a hebraica
pós-bíblica "eu e ele". De fato, há evidência de que a segunda forma foi
usada na festa dos Tabernáculos na cerimônia de dar voltas em torno do
altar (ver p. 583 acima). "Eu e ele" parece sublinhar a quase identidade
31 · Jesus na festa d o s tabernáculos: C ena III 601
de Deus e Seu povo. Assim, segundo D odd , ao dizer "comigo está Aque-
le que me enviou", Jesus está usando um a forma do nom e divino e im-
plicando sua solidariedade com seu Pai.
[0 Pai]. Esta leitura (omitida em Sinaiticus*, Bezae e OS) é endossada por
testem unhas significativas, incluindo P* e P75. Bernard, I, p. 296, entre-
tanto, sugere que é um em préstim o que o copista tom ou do v. 18.
17. vossa própria Lei. Para esta aparente dissociação de Jesus da herança ju-
daica, ver nota sobre 7,19. C harlier, p. 506, insiste que a função real do
"vossa" não é expressar qualquer hostilidade ou superioridade para com
a Lei, e sim dizer a "os judeus": "É a Lei que vós m esm os aceitais". Jesus
deseja tornar seu argum ento irrefutável e, assim, levar os judeus a con-
tradizer-se. A interpretação de C harlier tem considerável validade para
tais afirmações, quando são consideradas no contexto histórico da vida
de Jesus. Mas, como estas afirmações aparecem em um evangelho poste-
rior ao l u século, contra o pano de fundo da hostilidade judaico-cristã, o
"vossa Lei" tem um a conotação hostil.
se declara. Literalm ente, "escrito"; m as a forma do verbo (gegraptai) é dife-
rente da construção perifrástica (gegrammenon + einai) que João usa seis
vezes em outra ocasião [rubrica] introdutória para citações bíblicas.
duas pessoas. Em geral isto significa duas pessoas um a colocada exatamente
ao lado da outra; todavia, no v. 18 o próprio Jesus é um a das duas teste-
m unhas, de m odo que, realmente, ele só tem um a testem unha adicional,
o Pai. (surpreende que ele não mencione o Batista, que foi enviado para
testificar da luz - 1,7). Há algum as exceções na jurisprudência rabínica
em que o testem unho de um a testem unha adicional era considerado su-
ficiente, p. ex., era suficiente o testem unho de um parente de que este era
seu filho ou filha. Mas seria estranho que Jesus citasse a lei geral de duas
ou mais testem unhas, e então provasse sua tese m ediante um a exceção.
C harlier, p. 514, sugere que Jesus é apresentado como realm ente citan-
do duas testem unhas, mesm o quando se m enciona ele m esm o no v. 18.
João apresenta Jesus, não só como um homem, mas tam bém como Filho
de Deus; portanto, não é Jesus como homem que está dando testemu-
nho de si m esmo, m as o Filho de Deus que está dando testem unho. As
d uas testem unhas são o Filho de Deus e o Pai, ou, como o expressa Loisy
(1 ed.), p. 555, a Palavra-feita-carne e o Pai que o enviou. No entanto, esta
interpretação pode ser sutil demais.
18. Eu sou. Em linha com esta interpretação, C harlier, p. 513, trata isto como
um uso divino de egõ eimi.
testemunho de mim mesmo. Em Ap 3,14, Jesus fala como "a fiel e autêntica
[alêthinos] testem unha".
602 O Livro d o s S inais
C O M E N T Á R IO : G ER A L
Análise literária
Capítulo 7 Capítulo 8
27-28 de o n d e Jesus veio 14c,d
33-35 p ara o n d e Jesus está indo
24 julgam ento pelas aparências, p ad rõ es hum an o s 15
28 conhecendo Jesus e A quele qu e o enviou 19
30 incapacidade de prendê-lo; ainda não chegou a hora 20
C O M E N T Á R IO : D E T A L H A D O
3,17: P o rq u e D e u s n ã o e n v io u o Filho ao m u n d o p a ra c o n d e n a r
o m u n d o , m a s q u e o m u n d o seja sa lv o a tra v é s dele.
12,47: Pois eu n ã o v im p a ra c o n d e n a r o m u n d o , m a s p a ra sa lv a r
o m undo.
a q u e le ju lg a m e n to q u e o P ai lh e e n tre g a rá (5,27), u m ju lg a m e n to q u e
é d o P ai, p o r q u e Je su s ju lg a s o m e n te co m o o u v e (5,30). A ssim tam -
b é m e m 8,16, a ra z ã o d e Je su s p o d e r a s se v e ra r q u e ele p ro v o c a u m
ju lg a m e n to v á lid o e n tre o s h o m e n s é a p re se n ç a c o rro b o ra n te d o Pai.
Discursos mistos
b. A t a q u e a o s j u d e u s in c r é d u lo s ; q u e s t ã o s o b r e q u e m é J e s u s
"E u m e v o u , e m e b u scareis,
m as m o rre re is e m v o sso p e c ad o .
P ara o n d e e u v o u v ó s n ã o p o d e is ir".
"V ós so is d a q u i d e baixo;
eu so u d e cim a.
V ós so is d e ste m u n d o -
eu n ã o so u d e ste m u n d o .
24Eis p o r q u e e u v o s d isse q u e m o rre rie is em v o sso s p e c a d o s.
A m en o s q u e v e n h a is a c re r q u e EU SO U,
s e g u ra m e n te m o rre re is e m v o sso s p e c a d o s".
" Q u a n d o le v a n ta rd e s o F ilho d o H o m e m ,
E n tã o c o m p re e n d e re is q u e EU SO U,
e q u e n a d a faço d e m im m esm o .
N ã o , e u só d ig o a q u e la s coisas
q u e o P ai m e e n sin o u .
29E A q u e le q u e m e e n v io u está com igo.
E le n ã o m e d e ix o u só,
p o rq u e eu faço o q u e L he a g ra d a .
NOTAS
8.21. ele lhes disse. A forma inicial desta seção é m uitíssim o parecida com a
seção anterior (§ 31). Na divisão anterior vimos um a inclusão no "falou...
falou" dos vs. 12 e 20; há tam bém um a inclusão entre 21 e 30, m as não tão
regular: "disse... falava".
morrereis em vosso pecado. O restante das palavras de Jesus, no v. 21, é mui-
tíssim o parecido com 7,33b-34, com a exceção desta frase. Temos esta
expressão na LXX: Ez 3,18; Pr 24,9.
pecado. Aqui, no singular; no v. 24, porém , citando este versículo, usa o
plural.
Para onde eu vou. "Ir" aparece tam bém em 13,33; contrastar com "onde eu
estou" em 7,34 e ver nota ali.
23. Vós sois... eu sou. Literalmente, "ser do". Pode-se formular a pergunta
se "eu sou \egõ eimi\ do que é de cima" é um caso especial de ego eimi
(ver Apêndice IV, p. 841 ss). De um lado, a ênfase clara sobre egõ eimi,
nos vs. 24 e 28 dá apoio à sugestão; do outro, o contraste em 23 com
610 O L ivro d o s S in ais
" Vós sois do que é de baixo" faz um a ênfase especial em "eu sou" m enos
provável.
de baixo... de cima; deste mundo... [não para] este mundo. O m esm o dualism o
se encontra no "de cima... da terra" em 3,31· Em 17,16, os discípulos são
incluídos na m esm a esfera que Jesus: "não pertencem ao m undo, como
tam bém eu não pertenço ao m undo". Cl 3,1 oferece um interessante pa-
ralelo a esta terminologia: "Se fostes ressuscitados com Cristo, buscai as
coisas que são de cima".
24. crer. Algum as testem unhas im portantes acrescentam "em mim ".
seguramente. Esta é a única vez que João usa o indicativo na apódosis deste
tipo particular de condição negativa, e temos buscado indicar a ênfase
especial implícita.
25. O que vos tenho dito desde 0 princípio. Este versículo representa um a fa-
mosa dificuldade. Nossa tradução é mais branda do que o grego per-
mite. As palavras gregas realm ente não são um a sentença com pleta, e
tem havido m uitas tentativas para interpretá-las: ( a ) Como uma afirmação:
(1) "Prim ariam ente, [eu sou] o que vos digo". (2) "Antes de tudo, [eu
sou] o que vos digo". (3) "[Eu sou] desde o princípio o que vos digo".
Ao comentarm os, devem os notar que as palavras "Eu sou" não estão no
grego, m as devem ser subentendidas. O grego sim plesm ente diz "o prin-
cípio", e assim a ideia expressa por adição, "desde", realm ente é um a
interpretação. (Há um a base gram atical para esta interpretação [BDF,
§ 160], porém é mais norm al que João usasse a preposição, p. ex., 6,64;
8,44 etc.). Da m esm a forma, literalm ente, o verbo grego é "eu falo", não
"eu digo", (b) Como uma pergunta: "Como é m esm o o que eu vos falo?"
A frase traduzida "absolutam ente, de m odo algum ", aqui em (c) abaixo,
norm alm ente não significa "absolutam ente", exceto com um a negativa.
A interrogativa, "Como é isso" implica o uso de um a interrogativa grega
que não é tão frequente (BDF, § 3002). (c) Como uma exclamação: "É preci-
sam ente isso que eu vos falo!" Cada um desses três tipos de traduções
tem tido seus defensores, desde a antiguidade. N o n n u s de Panópolis
dá um a tradução sem elhante a (03); C risóstomo e C irilo de Alexandria
estão na tradição de (c). As traduções latinas dão proem inência a um a
redação equivocada que não pode ser justificada pelo grego. Tom am "o
princípio" como um norm ativo, em vez de um acusativo, e traduzem :
"[Eu sou] o princípio que tam bém vos fala" ou ["Eu sou] o princípio por-
que vos falo". A valiando as traduções possíveis, o fato de que a questão
seja form ulada na prim eira parte do v. 25 pode dar um a leve m argem
à possibilidade de que temos um a afirm ação a m odo de resposta. Para
obter um a afirmação do que ora se encontra no texto grego, há que suprir
32 · Jesus na festa d o s tabernáculos: C ena III (c o n tin u a ç ã o ) 611
C O M E N T Á R IO
A n á l i s e li te r á r ia
C a p ítu lo 7 C a p ít u lo 8
33b Eu m e vou 21a
34a M e b u s c a r e is 21a
34b P a r a o n d e eu v o u n ã o p o d e is ir 21c
35 In co m p reen sã o da p a rte d o s ju d e u s 22
36 Os ju d e u s r e p e te m a a firm a ç ã o d e Jesus 22
C O M E N T Á R IO D E T A L H A D O
Discursos mistos
c. Jesus e Abraão
"Se p e rm a n e c e rd e s em m in h a p a la v ra ,
re a lm e n te sereis m e u s d iscíp u lo s;
32e co n h ecereis a v e rd a d e ,
e a v e rd a d e v o s lib e rta rá ".
47Q u e m é d e D eu s
o u v e as p a la v ra s d e D eus.
A ra z ã o p o r q u e n ã o m e o u v is
é q u e v ó s n ã o sois d e D eu s".
"E u n ão so u louco,
m as h o n ro a m e u Pai,
e n q u a n to v ó s n ã o c o n se g u is h o n ra r-m e .
50E u n ã o b u sco g ló ria p a ra m im m esm o;
H á Q u e m a b u sq u e , e ju lg u e.
51S o le n em e n te vos asseg u ro :
se a lg u é m g u a rd a m in h a p a la v ra ,
esse jam a is v erá a m o rte ".
NOTAS
8.31. à q u e le s j u d e u s q u e h a v ia m c r id o n e le . Q u e a s o b se r v a ç õ e s q u e se g u e m sã o
d ir ig id a s a o s cren tes é m u ito d ifícil d e co n cilia r c o m a a g u d a d isco rd â n cia
ex p re ssa p o r e s s e s "crentes" n o v. 33 e se u d ese jo d e m atar J esu s n o v. 37.
A lg u n s têm sa lien ta d o q u e é d ito q u e e ste s "judeus" p u n h a m fé n ele (da-
tivo); n ã o é d ito q u e criam n ele (e is c o m o a cu sa tiv o , q u e é u m a ex p re ssã o
m a is d en sa ). T o d a v ia , D odd , a r t . c i t ., p. 6, in siste q u e a varia çã o n ã o tem
a q u i n e n h u m a im p ortân cia; e m e sm o q u e esteja im p lícita u m a fé parcial,
d ific ilm e n te isto p o d e ser c o n c ilia d o co m o d esejo d e m atar J esu s u m a s
p o u c a s lin h a s d ep o is. Q u a se certa m en te as p a lav ra s d e Jesus, n esta seção,
foram d ir ig id a s a o m e s m o tip o d e in c r é d u lo s q u e d e p a r a m o s a o lo n g o d e
to d o o d iscu rso . N ã o o b sta n te , q u a n d o a red a çã o d o v. 30 foi in ser id o para
in terro m p er o d isc u r so , era n ece ssá r io a crescen tar u m a frase n o v . 31 in-
tr a d u z in d o p a la v ra s d e Jesus. V isto q u e a referência n o v. 30 d e q u e h avia
a lg u n s q u e creram e m Jesus, o c o m p o sito r d o v . 31 (o red ator final?) p e n so u
ser r a z o á v el fa zê -lo s o a u d itó r io p ara o q u e se se g u ir ía e n ã o v ia m n en h u m a
co n tra d içã o e m d e sc r e v e r e ste s cren tes c o m o "judeus". H o u v e u m b lo co
d o m aterial jo a n in o o u u m e stá g io d a red a çã o joanin a na q u a l "os ju d eu s"
fo ra m u s a d o s sim p le sm e n te para d esc re v er o s h a b ita n tes d e Jerusalém o u
Ju d eia, e n ã o s e referia n ec e ssa r ia m e n te à s a u to r id a d e s h o stis a Jesus (ver
p. 85). V er em o s o u tr o s e x e m p lo s d e ste u so d o s "judeus" n o s c a p ítu lo 11-12.
p e r m a n e c e r d e s e m m in h a p a l a v r a . E m 2Jo 9 o u v im o s : " A q u e le q u e n ã o p er-
m a n e c e n o e n s in o d e C r isto n ã o te m D eu s" . Em o u tr o lu g a r , s e in v e r te m
o s te r m o s, e a p a la v r a d e D e u s p e r m a n e c e n o cr e n te (Jo 5,38). B ernard, II,
p. 3 0 5 , e s tá ce rto q u a n d o d iz q u e r e a lm e n te isto é a m e sm a c o isa q u e
p e r m a n e c e r na p a la v r a e ter a p a la v r a d e D e u s p e r m a n e n te n o cren te.
32. a v e r d a d e v o s lib e r ta r á . A "verd ad e" im p lícita é a re v ela çã o d e Jesus, c o m o v e-
m o s co m p a r a n d o isto c o m o v . 36, o n d e é o F ilh o q u e m liberta. O fre q u en te
620 O L ivro d o s S inais
filho se com porta como seu pai; e embora “os judeus", por direito, sejam
filhos de Abraão, suas ações delatam que o diabo é seu pai (44).
Não tivemos um nascimento ilegítimo. Literalmente, "de fornicação". A inter-
pretação usual é que "os judeus" veem na insinuação, de que o diabo é o
pai deles, um a acusação de que Abraão não é seu pai e que são ilegítimos.
Nesta interpretação, seu "nós" é sim plesm ente um a resposta ao "vós [plu-
ral]" na últim a afirmação de Jesus. Mas há outra possibilidade: os judeus
poderíam ter recorrido a um argum ento ad hominem contra Jesus. Ele esti-
vera falando sobre seu Pai celestial e sobre o pai deles, mas acaso não havia
rum ores acerca de seu próprio nascimento? Não havia algum a dúvida se
ele era realmente o filho de José? (Ver nota sobre 1,45). Os judeus pode-
riam estar dizendo: " Nosso nascimento não é ilegítimo [mas o teu foi]". Há
um a testem unha antiga dos ataques dos judeus sobre a legitimidade do
nascim ento de Jesus em O r í c e n e s , Contra Celso 128 (GCS 2:79); e os Atos de
Pilatos II 3, tem os judeus acusando Jesus: "Nasceste de fomicação".
42. Eu saí de Deus. A frase "de Deus" encontrou sua via no credo niceno, na
expressão "D eus de Deus". Os teólogos têm usado esta passagem como
um descrição da vida interna da Trindade, indicando que a referência é
antes à m issão do Filho, i.e., a Encarnação. "Eu vim e estou aqui" é uma
ideia todo inclusiva. Isto é confirm ado pelo mesm o uso do aoristo de
exerchesthai em 17,8, onde o paralelism o m ostra que saí refere à missão:
"Realm ente eles têm com preendido que eu saí de ti, e têm crido que tu
me enviaste".
estou aqui. O verbo é atestado no uso religioso pagão; refere-se à vinda
de um a deidade que faz um a aparição solene. Ele aparece outra vez em
ljo 5,20: "Sabemos que o Filho de Deus estava aqui".
não vim de mim mesmo [de iniciativa própria], O mesm o vocabulário de 7,28;
note um a vez mais que estes discursos da festa dos Tabernáculos parti-
lham tem as comuns.
43. ouvir. Isto é akouein com o acusativo, um a construção que usualm ente se
refere à audição física, em vez de escutar com entendimento. Eles se torna-
ram tão obstinados que não podem nem mesmo ouvi-lo; são surdos.
44. do diabo, vosso pai. O grego tam bém pode ser lido: "o pai do diabo"; e os
gnósticos o tom aram assim em sua oposição ao Deus do AT, a quem
consideravam como sendo a fonte do mal, porque era responsável pela
existência da matéria.
vós sois. Literalmente, "vós sois de"; ver o contraste com "Quem é de Deus"
no v. 47.
Ele foi homicida desde 0 princípio. E bem provável que esta seja uma referência
ao homicídio de Abel por Caim (Gn 4,8; ljo 3,12-15). Em NovT 6 (1963),
624 O L ivro d o s S inais
56. exultou-se... alegrou-se. E estranho que o prim eiro verbo seja mais forte do
que o segundo, pois esperaríamos o cum prim ento ser mais forte do que
a esperança. Há considerável evidência de versões e da patrística para a
leitura "desejou" em lugar de "exultou-se". Isto pode ter sua origem da in-
fluência cruzada de Mt 13,17 (= Lc 10,24): "Muitos profetas e justos têm de-
sejado ver o que vedes". Mas estudiosos como Torrey, Burrows e Boismard
sugerem que as variantes gregas de João representam um m al-entendido
de um texto aramaico original. Ver Boismard, Evjean, pp. 48-49.
a esperança de. Literalmente, esta é um a cláusula de propósito, m as há um a
ideia tácita de desejo e esperança; a cláusula de propósito assum e colori-
do do verbo principal, "regozijou-se" (ZGB, § 410). O utros pensam que o
hina que introduz a cláusula está para hote, "quando" (ZGB, § 429).
quando ele 0 viu. Até o tem po de M aldonatus (16a século), os exegetas eram
quase unânim es em assum ir que isto se referia a um a visão que ocorreu
durante a vida de Abraão. Entretanto, mais recentem ente a interpretação
que tem conquistado terreno de que João tem em m ente que, depois que
Abraão m orreu, ele viu o dia de Jesus. Bernard, II, p. 321, sugere que
isto poderia ser um a referência à alegria entre os santos veterotestam en-
tários quando as notícias chegaram no H ades de que Jesus nascera. To-
davia, a forma que João usa do AT milita contra este ponto de vista. Em
12,41, somos inform ados que Isaías viu a glória de Jesus, e a referência
é a um evento na vida de Isaías, a saber, sua visão inicial no tem plo. Se
um evento na vida de Abraão está implícito, poderia ser o nascim ento de
Isaque que era o cum prim ento inicial das prom essas de Deus a Abraão,
o prim eiro na cadeia de ações que finalm ente conduziram ao advento
de Jesus. Isto se adequa ao tema de alegria, pois em Gn 17,17 som os in-
form ados que, no anúncio do nascim ento de Isaque, Abraão caiu por
terra e riu (de incredulidade, m as os rabinos o tom aram como alegria);
ver tam bém Gn 21,6. jubileus 16,17-19 diz que Abraão foi inform ado que
seria através de Isaque que o santo povo de Deus seria descendente, e
que ambos, Abraão e Sara, se alegraram nas notícias. Há tradições rabí-
nicas posteriores de que Abraão viu toda a história de seus descendentes
33 · Jesus na festa d o s tabernáculos: C ena III (c o n t i n u a ç ã o ) 627
em um a visão (Midrásh Rabbah 44,22 sobre Gn 15,18); 4 Esdras 3,14 diz que
Deus revelou a Abraão o fim dos tem pos. C avaletti, art. cit., sugere em
particular a tradição de que Abraão viu o tem plo construído e conecta
8,56 com 2,19 (ver nota seguinte, sobre 8,57 e 2,20). Isto evocaria o tema
da ressurreição (Jesus ressurreto = tem plo construído) como um comen-
tário sobre a afirmação em 8,51 sobre não ver a morte.
57. ainda não tens cinquenta anos. Já vim os que a referência a quarenta e seis
anos, em 2,20, não foi interpretada plausivelm ente como um a estima da
idade de Jesus (ver nota ali). Lc 3,23 diz que Jesus tinha cerca de trinta
anos quando começou o ministério. I rineu, seguindo João, diz que Jesus
não tinha m uito m enos de cinquenta quando m orreu (Contra Heresias,
II 23:6; PG 7:785). C risóstomo e outras testem unhas leem "quarenta" no
texto de Jo 8,57, provavelm ente um a tentativa de harm onizar-se com Lu-
cas. Para um a discussão completa, veja G. O cc, " The Age of Jesus When He
Taught", NTS 5 (1958-59), 191-98.
Conto podes ter visto Abraão? Embora a maioria das testem unhas favoreça
esta leitura, há boa evidência, incluindo P75, em prol da leitura: "Como
pode Abraão ter-te visto?" Isto é endossado por B ernard, II, p. 321, e
explica como a tradução que escolhemos pode refletir um equívoco em
copiar. Entretanto, a segunda tradução parece ser um a adaptação ao vo-
cabulário do v. 56. Seria mais provável que "os judeus" dessem priorida-
de a ver Abraão em vez de ver Jesus.
58. antes de Abraão vir à existência. Algum a evidência ocidental, inclusive o
Bezae, om ite o verbo (ginesthai ) e tem sim plesm ente: "Antes de Abraão
eu sou". Neste versículo, a distinção é óbvia entre ginesthai, que é usa-
do para m ortais, e o uso divino de einai, "ser", na forma de "EU SOU".
Esta m esm a distinção foi vista no Prólogo: a Palavra era, m as através
dela todas as coisas vieram a ser. No AT, a mesma distinção é encontrada
no discurso a Iahweh no SI 90,2: "Antes que os m ontes viessem a ser... de
eternidade a eternidade tu és".
59. pegaram pedras. O tem plo de Herodes ainda não estava term inado, e te-
ria havido pedras expostas ao redor entre os m ateriais de construção.
Para um apedrejam ento nos recintos do templo, ver J osefo, Ant. 17.9.3;
216. Uma passagem como esta não lança nenhum a luz acerca da questão
se o Sinédrio tinha ou não poder de punição capital; esta era apresentada
como um ato espontâneo de indignação, e não é provável estar restringí-
da pelas provisões da lei rom ana, se tal lei existia.
recintos do templo. No fim do versículo um a tradição grega posterior acres-
centa: "passando no meio deles, e assim ele se foi". A prim eira des-
tas frases adicionadas é de Lc 4,30; a segunda representa um a divisão
62 8 O L ivro d o s Sinais
C O M E N T Á R IO
Análise literária
C O M E N T Á R IO : D E T A L H A D O
(3) 48-59: A s re iv in d ic a ç õ e s q u e ] e s u s f a z d e s i m e s m o e a c o m p a r a ç ã o c o m A b r a ã o
B IB L IO G R A F IA
CHARLIER, J.-P., "Vexégèse johannique d'un précept legal: Jean VIII 17",
RB 67 (I960), 503-15.
DAHL, N. A., "Der Erstgeborene Satans und der Vater des Teufels (Polyk. 7:1
und Joh 8:44)", Apophoreta (H aenchen Festschrift; Berlin: T öpelm ann,
1964), pp. 70-84.
DODD, C. H., “A Barriere plan d'un dialogue johannique", RHPR 37 (1957),
5-17 on viii 33-47.
FUNK, R. W., "Papyrus Bodemer II (P66) and John 8, 25", H TR 51 (1958),
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KERN, W., "Die symnmetrische Gesamtaufbau von Joh. 8, 12-58", ZKT 78
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M EH LM A N N , John, "John 8,48 in Some Patristic Quotations", Bib 44
(1963), 206-9.
SMOTHERS, E. R., "Two Readings in Papyrus Bodmer II", 51 (1958),
especialm ente p p. 111-22 sobre 8,25.
3 4 .0 C L IM A X Ν Α F E S T A D O S
TA BER NÁCULO S: - A C U R A DE U M CEGO
(9,1-41)
C o m o u m s in a l d e q u e e le é a lu z , J e su s d á v is ã o a u m c e g o d e n a sc e n ç a
9 1O ra , e n q u a n to ele c a m in h a v a , v iu u m h o m e m q u e fo ra cego d e sd e
o n a sc im e n to . 2S eus d isc íp u lo s lh e p e rg u n ta ra m : "R abi, q u e m p eco u
p a ra q u e ele n ascesse cego, e le o u se u s p a is? " 3" N in g u é m " , re sp o n d e u
Jesus:
NOTAS
Nós sabemos. O uvim os este "nós" de erudita autoridade judaica nos lábios
de Nicodemos em 3,2; será confrontado com o prim eiro "eu sei" do cego
no v. 25.
25. pecador ou não. O hom em parece saber que a lei do sábado tem sido que-
brada, e adm ite que os fariseus são autoridades sobre esse tema. Mas,
como m ostram suas próprias palavras em seguida, ele está se pergun-
tando se Jesus não estaria acima da Lei, visto que anteriorm ente agiu
corretam ente restaurando sua vista.
27. não prestais atenção. Literalmente, "ouvis"; algum as testem unhas leem
"credes", assim tentando interpretar o ouvir. P 6 e algum as testem unhas
ocidentais inferiores om item a negativa, dando a conotação: "Eu vos dis-
se, e m e ouvistes".
28. discípulos de Moisés. B arrett, p. 300, indica que este não era um título regu-
lar para os eruditos rabínicos, embora seja usado para os fariseus em um a
baraitah em Yoma 4a. O exemplo posterior do princípio do pensam ento en-
volvido aqui se encontra na Midrásh Rabbah 8,6 sobre Deuteronômio, onde
os judeus são advertidos que há somente um a Lei e Moisés a revelou. Não
vai haver outro Moisés que descerá do céu com um a lei diferente.
29. Deus falou a Moisés. Ex 33,11: "O Senhor costum ava falar a Moisés face
a face"; igualm ente Nm 12,2-8. O utros exemplos do argum ento con-
cernente à relação de Jesus com Moisés são vistos em 1,17; 5,45-47;
7,19-23. E interessante que os Papiros Egerton 2 associam Jo 5,45 e 9,29
(ver p. 458).
nem mesmo sabemos de onde esse sujeito vem. Em 7,27, o povo de Jerusalém,
equivocadamente, pensava que sabiam de onde Jesus veio, a saber, da Ga-
lileia (17,41). A resposta de Jesus sem pre foi insistir que ele vem de cima
e do Pai, e é esta origem celestial que "os judeus" não conhecem (8,14).
Aqui, os fariseus parecem estar questionando sua reivindicação de vir de
Deus, visto que o contrastam com a conhecida relação entre Moisés e Deus.
Acaso há também um a insinuação de ilegitimidade (ver nota sobre 7,41)?
30. nem mesmo sabeis. O espanto sarcástico do cego lem bra o de Jesus em re-
lação a Nicodem os em 3,10.
31. Sabemos. O hom em adotou o "nós" dos fariseus (v. 24), precisam ente
como em 3,11 Jesus adotou o "nós" de Nicodemos. Sem dúvida, tais pas-
sagens foram usadas nas polêm icas entre os judeus e os cristãos.
Deus não dá ouvidos a pecadores. Este é um princípio bíblico com um , p. ex.,
Is 1,15; ljo 3,21. "Pecadores" se referem àqueles indispostos a converte-
rem-se.
temente e obedece àSua vontade. "Temente", theosebês, é um term o com um nos
círculos religiosos helenistas para descrever a piedade; ocorre som ente
34 · O clím ax da festa d o s tabernáculos: A cura d e um ce g o 647
38-39. [eu... disse Jesus], As palavras entre colchetes são om itidas no Codex
Sinaiticus, P75, o OL, Taciano, Achmimic - um a am pla difusão das tes-
tem unhas prim itivas. Como se verá abaixo, estes versículos contêm
algum as peculiaridades não joaninas. Talvez tenham os aqui um a adi-
ção oriunda da associação de Jn 9 com a liturgia batism al e a catequese.
O v. 38 descreve um gesto de caráter bem mais litúrgico.
38. ele disse. A forma grega ephe é rara em João (somente 1,23). Não obstante,
algum as testem unhas tam bém a leem no v. 36, e seu uso aqui poderia ser
copiado dali.
curvou-se para adorá-lo. Esta é a reação padrão do AT no tocante a um a teo-
fania (Gn 17,3), e João usa o mesm o verbo, proskynein, em 4,20-24 para
descrever o culto devido a Deus (tam bém 12,20). A ação de curvar-se
para adorar Jesus não é incom um nos sinóticos, especialm ente em Ma-
teus, m as em João só ocorre aqui.
39. vim a este mundo para juízo. Ver p. 606. Aqui, a atitude é m uito m ais pare-
cida com a de 3,19-21.
tornem-se cegos. Ver a passagem isaiana citada em 12,40. A linha de distin-
ção entre o resultado do m inistério de Jesus e seu propósito não é traçada
com nitidez p or causa da perspectiva sim plista que atribui tudo o que
acontece ao propósito de Deus. Mt 23,16 denom ina os fariseus de guias
cegos; igualm ente Mt 6,23: "Se, pois, a luz que há em ti são trevas, quão
grandes tais trevas serão!"
40. fariseus que estavam ali com ele. Sua presença parece um tanto forçada se
termos em conta a situação descrita no v. 35.
41. vosso pecado permanece. Em Mc 3,29, lemos que aquele que blasfem a contra
o Espírito Santo nunca recebe perdão, ljo 5,16 tem ciência de um "peca-
do para morte". Para o agravo da culpa, ver Jo 15,22 [Vol. 2], O tem a da
perm anência é com um em João, aqui, porém , é o pecado que perm anece
em vez de um dom de Deus.
C O M E N T Á R IO
C o n te x to e e s tr u tu r a
Afs) parábola(s)
E as o v e lh a s o u v e m su a vo z
q u a n d o ele c h a m a p e lo seu n o m e a q u e la s q u e lhe p e rte n c e m
e as lev a p a ra fora.
4Q u a n d o ele as fizer sair [todas] as su a s,
ele c a m in h a a d ia n te delas;
e as o v e lh a s o se g u em
p o rq u e rec o n h e c em su a voz.
5M as n ã o se g u irã o u m e stra n h o ;
F u g irã o d ele
p o rq u e n ã o reco n h ecem a vo z d o s e stra n h o s" .
As Explanações: a. A porta
b. O pastor
11Eu so u o b o m p a sto r:
o b o m p a s to r d á su a v id a p e la s o v elh as.
12O m erc en á rio , q u e n ã o é o p a sto r,
e n ão cu id a d a s o v elh as,
v ê v ir o lobo
e foge, d e ix a n d o q u e as o v e lh a s
sejam a rre b a ta d a s e d isp e rsa s p e lo lobo.
'3E isto se d á p o rq u e ele tra b a lh a p o r salário
e n ão se p re o c u p a com as o v elh as.
14Eu so u o b o m p asto r:
C o n h eço m in h a s o v e lh a s
e elas m e co n h ecem ,
' 5assim co m o o Pai m e conhece
e e u co n h eço o Pai.
E p e la s o v e lh a s eu e n tre g o m in h a v id a.
35 · O clím ax da festa d o s tabemáculos: Jesus com o a porta d o Aprisco... 659
16Eu te n h o ta m b é m o u tra s o v e lh a s
q u e n ã o p e rte n c e m a e ste aprisco.
D ev o c o n d u z ir tam b é m a estas,
e ela s o u v e m m in h a voz.
E n tã o h a v e rá u m só re b a n h o , u m só p asto r.
17Eis p o r q u e o P ai m e am a:
p o rq u e e u d o u m in h a v id a
a fim d e reto m á-la d e volta.
18N in g u é m a to m a d e m im ;
A n tes, e s p o n ta n e a m e n te a e n tre g o .
T e n h o p o d e r p a ra d á-la
e te n h o p o d e r p a ra a to m á-la d e volta.
E ste m a n d a d o e u recebi d e m eu Pai".
NOTAS
d a p a rá b o la u m q u a d r o c o n s is te n te . S e J esu s f o s s e a o m e s m o te m p o por-
ta e p a sto r (1 1 ,1 4 ), is s o ca u sa r ia p r o b le m a .
8. Todos. Isto é o m itid o p e lo C o d e x B e z a e e a lg u m a s v e r s õ e s e cita ç õ e s p a-
trística s. S e " v ier a m a n te s d e m im " fo i e n t e n d id o c o m o u m a referên cia
a o p e r ío d o v e te r o te sta m e n tá r io , e n tã o a a fir m a ç ã o d e q u e to d o s (n o A T )
fo ra m la d r õ e s e s a lte a d o r e s p r o v a v e lm e n te p a r e c e u d u r o d e m a is.
[antes de mim]. E n d o s s a d o p e lo C o d e x S in a itic u s e fo rte e v id ê n c ia d a s v er-
s õ e s , a o m is s ã o d e s ta s p a la v r a s a g o ra tem o a p o io d e P75. A s p a la v r a s sã o
u m a g lo s a e x p lic a tiv a in te r p r e ta n d o o p reté rito "veio" ? O u a o m is s ã o é
o u tr o r e fle x o d a d ific u ld a d e re cé m m e n c io n a d a ?
9. a porta. E s u fic ie n te m e n te cla ro q u e a q u i a im a g e m é a d a p o rta a tra v és
d a q u a l a s o v e lh a s en tra m e sa e m . Bishop, art. cit., d á u m in te r e ssa n te
e x e m p lo m o d e r n o d o p a sto r d o r m in d o b e m na en tra d a d o a p risc o e,
a s s im , s e n d o p ara a s o v e lh a s , r e s p e c tiv a m e n te , c o m o p a sto r e p orta. Em
a lg u m a s d a s r a m ific a ç õ e s d o Isla m , o títu lo Bãb ("p orta", p . e x ., para o
c o n h e c im e n to ) te m s id o a p lic a d o a o s g r a n d e s líd e r e s r e lig io so s.
10. O ladrão. A q u i, p r o v a v e lm e n te , o a r tig o d e fin id o é e s tilo p a r a b ó lic o , c o m o
"o se m e a d o r " , e m M c 4,3.
matar. Thyein n ã o é o v e r b o u s u a l p ara "m atar" ( apokteinein) u sa d o e m o u -
tro lu g a r e m João; e le te m a c o n o ta ç ã o d e sa c r ifíc io e b e m q u e p o d e r ía
se r u m a su til re ferê n c ia à s a u to r id a d e s sa c e r d o ta is. V er o su b sta n tiv o
s e m e lh a n te e m M t 9,13; 12,7.
tenham com abundância. H á a lg u m a e v id ê n c ia (P66*, B eza e) para a o m issã o
d e sta s e n te n ç a , u m a o m is s ã o p o r h a p lo g r a fia , v is to q u e a s d u a s ú ltim a s
fr a se s d o v . 10 te r m in a m a m b a s c o m o v e r b o g r e g o echousin ("ter"). Para
u m a e x p r e s s ã o sim ila r d a tr a n sb o r d a n te p le n itu d e tra z id a p o r C risto,
v e r R m 5,20.
11. bom. O u "nobre"; p o d e ser q u e "nobre" seja m a is e x a to aq u i e " m od elo"
m a is e x a to n o v. 14. O g r e g o kalos sig n ific a " b eleza b o n ito " n o se n tid o d e
u m id e a l o u m o d e lo d e p erfeiçã o ; v im o -lo u s a d o n o " v in h o seleto " d e
2,10. F ilo ( De Agric. 6,10) fala d e u m bom (agathos) p astor. N ã o há d istin ç ã o
a b so lu ta en tre kalos e agathos, p o rém p e n sa m o s q u e "nobre" o u " m od elo" é
u m a tra d u çã o m a is p rec isa d o q u e "bom " para a frase d e João. N a Midrásh
Rabbah II 2 so b re Ex 3,1, D a v i q u e era o g r a n d e p a sto r d o A T é d escrito
c o m o yãfeh rô'eh, lite ra lm en te , "o p a sto r fo rm o so " (v er IS m 16,12).
dá sua vida. E sta é u m a e x p r e s s ã o jo a n in a (13,37; 15,13; l j o 3 ,1 6 ), c o m o co n -
trastad a c o m "d ar a v id a d e a lg u é m " (M c 10,45). "D ar a v id a " é u m a
e x p r e s s ã o rara n o g r e g o se c u la r , e o u s o d e João p o d e refletir o e s tilo
h eb ra ic o ra b ín ic o , m ãsar nafsõ, " en treg ar a lg u é m su a v id a " . A s u g e s-
tã o d e q u e a q u i d e v e m o s tr a d u z ir p o r "arriscar su a v id a " (v er Jz 12,3),
662 O L ivro d o s S inais
C O M E N T Á R IO : G E R A L
Sequência
Já v im o s q u e o s rela to s jo an in o s, p a rtic u la rm e n te a q u e le s q u e fo rm am
a s d iv is õ e s m a io re s n o L ivro d o s Sinais, te n d e m a o lh a r p a ra fren te e
p a ra trás; re s u m e m te m a s já v isto s e a n u n c ia m tem a s q u e se rã o trata-
d o s a d ia n te . E ste p a re c e se r o caso com o d isc u rso so b re a p o rta d a s
o v e lh a s e o p a s to r q u e , a in d a q u e n ão seja u m a d iv isã o m a io r d o livro,
te rm in a os d isc u rs o s d a festa d o s T a b e rn á c u lo s e in tro d u z o d isc u rso
d a festa d a D ed icação. C re m o s q u e ao se tere m em co n ta essa d u p la
o rie n ta ç ã o d o d isc u rso a ju d a a re so lv e r m u ito s d o s p ro b le m a s n a se-
q u ê n c ia q u e te m s e m p re p re o c u p a d o os c o m e n tarista s.
P rim e iro , p a re c e b e m c la ro q u e ele d e v e re la c io n a r-se co m o q u e
p r e c e d e u n o c a p ítu lo 9. N ã o se su g e re u m n o v o a u d itó rio ; e com o
o e v a n g e lh o o ra se e n c o n tra n ã o há ra z ã o p a ra c re r q u e Jesu s n ão
e stá c o n tin u a n d o s u a s o b se rv a ç õ e s re la tiv a s a o s fa rise u s d e q u e m
ele e s ta v a fa la n d o em 8,41. A liás, e m 10,21, d e p o is d e Je su s h a v e r
fa la d o s o b re a p o r ta d a s o v e lh a s e o p a s to r, se u a u d itó r io ev o ca o
e x e m p lo d o ceg o , e n q u a n to o u tro s re p e te m as a c u sa ç õ e s d e lo u c u ra
q u e o u v im o s la n ç a d a s so b re Je su s d u r a n te os d isc u rs o s n a festa d o s
T a b e rn á c u lo s .
T o d av ia, há d u a s objeções p rin cip ais so b re conectar este d iscu rso
d a p o rta d a s o v e lh a s e o p a sto r com o anterior, (a) Em 10,1-18 há u m a
m u d a n ç a a b ru p ta d e tem a. T o d o o tem a d o cap. 9 foi o d a luz; n ão h o u v e
66 4 O Livro d o s S inais
Parábola e alegoria
u n ic a m e n te u tiliz a n d o o q u e m o d e rn a m e n te se e n te n d e p o r p a rá b o la
é u m a criação d a crítica d o sécu lo 19.
V o ltan d o à q u e stã o d e p a rá b o la e alegoria em Jo 10, esp eram o s
m o stra r ab aix o q u e 10,1-5 consiste d e v árias p aráb o las, en q u a n to
10,7ss. co n siste d e explicações alegóricas. Este ú ltim o asp ecto n ão é u m
in d ício a priori d e q u e o m aterial n ã o p o d ia ter v in d o d o p ró p rio Jesus.
C o m o v erem o s, alg o d o m aterial em 10,7ss. p o d e re p re se n ta r u m a ex-
p a n s ã o p o ste rio r d a s o bservações d e Jesus. T am bém nos evangelhos
sinóticos, a m aio ria d o s e stu d io so s reconhece q u e n as explicações das
p a rá b o la s (p. ex., M c 4,13-20; M t 13,37-43) tem h a v id o certa ex p an são
n o s in teresses d a cateq u ese cristã p rim itiv a; m as, com o tem os tenta-
d o p ro v a r em n o sso artig o su p ra c ita d o , sob esta am p liação e aplicação
cateq u éticas se e n co n tra vestígios d e u m a explicação q u e p o d e m u ito
b e m o rig in ar-se d o p ró p rio Jesus. A ssim tam b é m em Jo 10, en q u an -
to q u e n e m to d a a explicação d e 7ss. n ecessariam en te v en h a d e um a
ép o ca o u d e u m a situação, n ão há raz ã o p a ra excluir a p o ssib ilid ad e
d e q u e p o d e m o s e n c o n tra r e n tre eles os traços d a p ró p ria expücação
aleg ó rica sim p les d e Jesus d a s p a rá b o las em 10,1-5. É im p o rta n te n o tar
com Schneider, art. cit., q u e as explicações são c e n trad a s em três term os
q u e a p a re c em n a s p a rá b o las d o s vs. 1-5: (a) a p o rta é e xplicada em 7-10;
(b) o p a s to r é ex p licad o em 11-18; (c) as o v elh as são explicadas em 26-30.
O reco n h ecim en to d e ste p la n o no cap ítu lo 10 é o fator decisivo que,
com o vim o s, m ilita co n tra a reo rg an ização d o s versículos. U m m o d o
efetivo d e v e r q u e tem os u m a sim ples alegoria na explicação d as pará-
b o las é c o n tra sta r o q u e lem os n o e v an g elh o sobre a p o rta, o p a sto r e as
o v elh as com as e lab o rad as alegorias p atrísticas c o n stru íd a s em torno de
Jo 10 (ver Q u asten , art. cit.). C ornelius Lapide, q u e reflete a exegese pa-
trística n o 17“ século, n os inform a q u e 0 rebanho é a Igreja, 0 proprietário
d o reb a n h o é o Pai, a porta das ovelhas é o E spírito Santo etc. Este tipo de
alegoria é o q u e resu ltaria em u m an acro n ism o nos lábios d e Jesus.
C O M E N T Á R IO : D E T A L H A D O
Versículo 6: A reação
B IB L IO G R A F IA
BISHOP, E. F., " The Door of the Sheep - John x. 7-9", ET 71 (1959-60), 307-9.
35 · O clím ax da festa d o s tabemáculos: Jesus com o a porta d o Aprisco... 6 79
BRUNS, J. E., "The Discourse on the Good Shepherd and the Rite of
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SCHNEIDER, J., "Zur Komposition Von Joh. 10", Coniectanea Neotestamentica
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36. JE SU S N A F E S T A D A D E D IC A Ç Ã O :
- JE SU S C O M O M E S S IA S E F IL H O D E D E U S
(10,22-39)
39E ntão ten taram [outra vez] p rendê-lo, m as ele escapou d e suas m ãos.
NOTAS
"um a" seja neutra, não masculina. No outro extremo, os arianos inter-
pretaram este texto, que era frequentem ente usado contra eles, em ter-
mos de unidade moral da vontade. O com entarista protestante B k n g e l ,
seguindo A g o s t i n h o , resum e a posição ortodoxa: "Através da palavra
'som os', S a b é l i o é refutado; através da palavra "um ", assim é Á r i o " .
31. [oMfra vez\. A lgum as testem unhas têm esta leitura "outra vez"; outras,
têm "portanto"; O utras têm ambos; ainda outras, não têm nenhuma.
"O utra vez" pode representar um a harm onização de copista com 8,59.
32. boas. Literalmente, "nobres"; kalos; seria este um eco do pastor nobre ou
bom (kalos) que dá sua vida por suas ovelhas (10,11)?
do Pai. Algum as testem unhas, inclusive aparentem ente ambos os papiros
Bodmer, dizem "m eu Pai".
33. fazes a ti mesmo Deus. Contra a evidência da vasta maioria de testemu-
nhas, P66 dá evidência de ler o artigo antes de theon ("Deus"); para ho
theos como "Deus, o Pai", ver 1,1.
34. em vossa Lei. Aqui, "Lei" se refere ao AT em geral, e não apenas ao Pen-
tateuco, pois o que está sendo citado é um salm o (mesmo uso am plo da
expressão em 12,34; IC or 14,21). Entretanto, pode ser que a interpretação
judaica do salmo como se referindo ao que Deus disse no Sinai (onde a Lei
foi dada) fosse considerada - ver comentário. O "vossa" é om itido por al-
gum as testem unhas im portantes, mas não por ambos os papiros Bodmer.
Tanto B a r r e t t , p. 319, como B u l t m a n n , p. 296״, se inclinam em favorecer a
omissão, m as tal omissão bem que poderia ter provindo de um a tentativa
de copista para abrandar a aparente aspereza da atitude de Jesus para
com o AT e sua tendência de dissociar-se da herança judaica (ver a nota
sobre 7,19). É ainda possível que o "vossa" tenha tido um a função argu-
m entativa, sendo equivalente a "a Lei que inclusive vós admitis".
35. chama deuses. Além deste exem plo onde os juizes eram cham ados deu-
ses, Jesus poderia tam bém ter citado Ex 7,1, onde Moisés foi cham ado
deus.
a palavra de Deus foi dirigida. Esta expressão conota um cham ado divino;
encontram o-la usada por hom ens como Oseias (1,1), Jeremias (1,2) e João
Batista (Lc 3,2).
a Escritura. O salmo citado no v. 34, ou Escritura em geral?
anular. Literalm ente, lyein é "interrom per, pôr de lado"; aqui é passivo. As
vezes se pressupõe que esta passagem reflete um a reverência pelos de-
talhes da Lei (Escritura) que não devem ser postos de lado (Mt 5,17-18).
J u n g k u n t z , pp. 559-60, ressalta que, em referência à Escritura, lyei
battel, que parece ser o equivalente aram aico de lyein, significa "anular,
invalidar". O uso de lyein em Jo 7,23 significa que um hom em recebe a
circuncisão até m esm o no sábado para que o cum prim ento da Lei não
fosse frustrado.
36. consagrou. Hagiazein, "consagrar, santificar", é usada na LXX em N m 7,1
para descrever a consagração do Tabem áculo através de Moisés, enquan-
to enkainizein (ver nota sobre v. 22 acima) é usada em N m 7,10-11 para a
dedicação do altar. Os dois verbos são sinônimos. N m 7 era um a leitura
na sinagoga para a festa da Dedicação ( G u i l d i n g , pp. 127-28). Aqui, o
Pai consagrou Jesus; em 17,19, Jesus diz: "Eu me consagrei"; 6,69 chama
Jesus "o Santo de Deus [/!agios].
37. não ponhais fé. Aqui e no versículo seguinte se usa o im perativo presente
com valor de duração.
38. mesmo quando não colocais fé em mim. O Codex Bezae e o Latino trazem
"ainda que não quereis pôr fé".
[e entender]. Esta é a leitura das m elhores testem unhas; outros substituem
"e crer"; Bezae, OL e OS têm ambos. "Conhecer e entender" representam
o aoristo e presente do mesm o verbo ginõskein; é possível que algum
copista achasse a expressão pleonástica.
39. Então. O m itido em im portantes testem unhas, m as talvez por
homoioteleuton: ezêtoun oun.
[outra vez]. Faltando em algum as im portantes testem unhas e num a dife-
rente sequência em outras. Com o o "outra vez" no v. 31, isto pode re-
presentar um a tendência para harm onizar-se com a m enção de outras
tentativas de prendê-lo (7,30.32.44; 8,20).
mãos. Literalmente, "de sua m ão [singular]"; há variantes com o plural,
provavelm ente porque, enquanto o idiom a hebraico tende a usar o sin-
guiar, o idiom a grego usa o plural. Ver nota sobre 7,44.
C O M E N T Á R IO
afirm ação d e q u e ele estava se fazendo D eus. Para João, Jesus n u n c a faz
ab so lu tam en te n a d a p o r si m esm o; tu d o o q u e ele é p ro v é m d o Pai. Ele
n ão é u m h o m em q u e se fez D eus; ele é a P alav ra d e D eu s q u e se fez
ho m em . Eis p o r q u e o v. 36 realm en te re sp o n d e à acusação judaica: foi o
Pai q u e co n sag ro u Jesus. A lém d o m ais, d e v e m o s ser cautelosos e m ava-
liar a aceitação joanina d e Jesus com o d iv in o o u ig u al a D eus. C o m o ve-
rem o s abaixo ao d iscu tirm o s o v. 37, essa descrição d e Jesus não é d ivor-
ciada d o fato d e q u e ele foi en v ia d o p o r D eus e agia em n o m e d e D eu s e
n o lu g ar d e D eus. P o rtan to , em b o ra a descrição e aceitação jo an in as da
d iv in d a d e d e Jesus ten h a m im plicações ontológicas (com o N iceia reco-
n h eceu ao confessar q u e Jesus C risto, o Filho d e D eus, é em si m esm o
v erd a d e iro D eus), em si m esm a esta descrição p e rm a n ec e p rim a riam e n -
te funcional, e n ão m u ito d ista n te d a form ulação p a u lin a d e q u e "D eu s
estava em C risto reconciliando consigo o m u n d o " (2C or 5,19).
V im os q u e a q u e stã o d a m e s s ia n id a d e d e Jesu s, n o v. 24, se as-
sem e lh av a à q u e stã o fo rm u la d a a Jesu s p e lo su m o sa c e rd o te no
ju lg a m e n to sin ó tico, e em p a rtic u la r à fo rm a d a p e rg u n ta e resp o s-
ta d e Lucas. E n q u a n to M c 14,61 e M t 26,63 fo rm u la m u m a q u e stã o
q u e m en cio n a o M essias, o Filho d e D eu s (ou d o B endito), Lc 23,67,
em su a p rim e ira p e rg u n ta , m en c io n a so m e n te o M essias. Lc 22,70 tem
u m a s e g u n d a p e rg u n ta feita p e lo su m o sacerd o te: "T u és o F ilh o de
D eu s?" A ssim , u m a v ez m ais, L ucas se a p ro x im a m a is d e João o n d e
a q u e stã o d e se fazer D e u s o u o F ilho d e D eus (33, 36) é s e p a ra d a da-
q u ela d e ser o M essias. P. W inter, Studia Theologica 9 (1955), 112-15,
su g e re q u e a tra d içã o lu ca n a se a p o ia na d e João; m a s isto n ã o é im-
p o ssív el n o q u e se refere ao s d e ta lh e s, m a s o n ú m e ro d e p a ra lelo s
jo an in o s com o ju lg a m e n to sin ó tico p e ra n te o S in é d rio su g e re um a
situ a ç ão m ais co m p lex a (v er n o ssa d isc u ssã o em C B Q 23 [1961],
148-52, e a d isc u ssã o ab aix o n a p. 728ss.).
Em re s p o s ta à ac u sa ç ã o d e "o s ju d e u s " d e q u e ele está se fazen d o
D eus, Jesu s re s p o n d e com u m racio cín io e x tra íd o d o AT. Ele cita um a
frase d o SI 82,6, e m b o ra a q u i, co m o em o u tro lu g a r n o N T , n ã o só
a frase c ita d a, m as ta m b é m o resto d o v e rsíc u lo e até m e sm o o contex-
to são im p o rta n te s p a ra o a rg u m e n to . T o d o o v e rsíc u lo diz: "E u digo:
'V ós so is d e u ses, e to d o s v ó s filhos d o A ltíssim o '" . Jesu s e stá interes-
s a d o n ão só n o u so d o te rm o " d e u s e s " , m as ta m b é m n a expressão
sin ô n im a "filh o s d o A ltíssim o ", p o is n o v. 36 ele se refere a si com o 0
F ilho d e D eus.
36 · Jesus na festa da d ed icação: Jesus co m o M essia s e Filh o d e D eu s 691
e u m d o s a trib u to s m ais im p o rta n tes d o rei d av íd ico era ser u m juiz jus-
to, a E scritura tam b ém tra z o conceito d e juiz ao c u m p rim e n to no Mes-
sias, o rei-juiz p o r excelência. E m bora n e n h u m a d essas sugestões seja
p assív el d e p ro v a, m o stram q u e o a rg u m e n to d e Jesus p o d ería ter sido
m ais su til e co nvincente d o q u e a p rin cíp io p arece aos olhos ocidentais.
S eg u in d o em frente, agora v o lvem os nossa atenção p a ra o uso da
p a la v ra "co n sag rar", no v. 36. N a sequência d e festas ao longo da Ter-
ceira P arte d o Livro d o s Sinais (caps. 5-10), tem os visto que, vez outra,
se m p re reap arecerá o tem a d e substituição. N a festa d o S ábado (cap. 5),
Jesu s insistiu q u e n o sáb ad o não p o d e ría haver descanso p a ra o Filho, já
q u e ele co n tin u aria a exercer até m esm o no sáb ad o os p o d e re s d e vida e
juízo co n fiad o s a ele p elo Pai. N a Páscoa (cap. 6, Jesus su b stitu iu o m aná
n o relato d a Páscoa-Exodo, m u ltip lican d o a p ã o com o sinal de qu e ele
era o p ã o d a v id a q u e desceu d o céu. N a festa d o s T abernáculos (7-9), a
cerim ô n ia d a á g u a e lu z foi su b stitu íd a p o r Jesus, a v erd a d e ira fonte das
ág u a s v iv as e a luz d o m u n d o . Então, na festa da D edicação, evocando
em p a rticu la r a d ed icação o u consagração m acabeia d o altar d o tem plo,
p o ré m m ais g eralm en te rem iniscente d a dedicação ou consagração de
to d a a série d e tem p lo s q u e foram edificados em Jerusalém (ver notas
so b re vs. 22 e 36), Jesus p ro clam a q u e ele é a q u ele q u e realm ente foi con-
sa g ra d o p o r D eus. Isto p arece ser u m exem plo d o tem a joanino de que
Jesus é o n o v o T abernáculo (1,14) e o n o v o T em plo (2,21).
A a firm a ç ão d e q u e Jesu s foi c o n sa g ra d o p o r D eu s n ão teria sido
e s tra n h a n a e s tru tu ra d o p e n s a m e n to israelita trad icio n al. N o AT, o
te rm o " c o n s a g ra r" era a p lic a d o aos h o m e n s se p a ra d o s p a ra im p o r-
ta n te o b ra o u e le v a d o ofício. Foi u s a d o com referên cia a M oisés (Si-
ra q u e 45,4), a Jerem ias (Jr 1,5), aos sa c e rd o te s (2C r 26,18) e a o u tro s.
O u s o d e s te te rm o p a ra Jesus (ver n o ta so b re v. 36) c o n stitu i u m a alu-
são jo an in a ao sacerd ó cio d e Jesus, u m tem a q u e se e n c o n tra em H e-
b re u s (u m a o b ra com p a ra le lo s em João)? H b 5,5 en fatiza q u e Jesus foi
feito s u m o s a c e rd o te p o r se u Pai, a ssim co m o João en fatiza q u e o Pai
c o n s a g ro u Jesus. N o ju d a ísm o d o s d ia s d o N T, os sa ce rd o te s e ra m os
e x e m p lo s p rim á rio s d e h o m e n s cuja c o n sag ra ç ão os h av ia se p a ra d o
co m o " sa n to s " ; Jesu s era o S an to d e D e u s p o r excelência (6,69). P ara
o u tro possível e x e m p lo d o tem a d e Jesu s co m o sa ce rd o te , v e r com en-
tá rio so b re 19,23 (no v o lu m e II).
N o v. 37, Jesu s v o lta ao tem a d a s o b ras q u e o u v im o s no v. 25.
A q u i, a refe rê n c ia às o b ras é e sp ec ia lm e n te a p ro p ria d a : Jesus acabou
694 O Livro d o s S inais
BIBLIOGRAFIA
Jesus se retira ao outro lado do Jordão onde seu ministério teve início
NOTAS
10.40. onde João a princípio estivera batizando. Betânia, como em 1,28; ver nota ali.
ficou. Se aqui o im perfeito é a redação correta, este é o único uso de menein
em João desse tem po. Todavia, há boas testem unhas, inclusive P 6, para
o aoristo que então teria de ser tom ado em um sentido complexo, como
se dá am iúde no grego dos papiros.
41. muitas pessoas. Provavelmente se deva concluir que estes sejam os seguido-
res do Batista, que deixaram suas casas assim que ouviram que Jesus re-
gressara à área onde o Batista fora atuante. Que um a colônia dos discípulos
do Batista se estabeleceram perm anentemente na área parece menos prová-
vel, a não ser que pensemos em um grupo como a com unidade de Qumran.
nunca realizou nenhum sinal. Os sinóticos não atribuem m ilagres ao Batis-
ta, m uito em bora H erodes dissesse ter concluído que Jesus, que estava
operando milagres, era João Batista ressuscitado (Mc 6,14). A implicação
ali provavelm ente não que houvesse m ilagres associados ao Batista, mas
alguém ressuscitado possuísse poderes miraculosos.
696 O L ivro d o s S inais
tudo 0 que João disse sobre este homem era verdade. Todavia, até este m om ento
Jesus não se m ostrara como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do
m undo (1,29); nem batizara com o Espírito santo (1,33), pois o Espírito
ainda não fora dado (7,39). Talvez devam os pensar nestas coisas como a
se concretizarem na hora da glória de Jesus que logo começaria.
C O M E N T Á R IO
A. 11,1 -54: Jesus dá vida aos homens; os homens condenam Jesus à morte
(1-44) Jesus dá vida a Lázaro - um sinal de que Jesus é a
vida. (§ 38)
1-6: Cenário.
7-16: Jesus subiría para a Judeia?
7-10.16: Para morrer.
11-15: Para ajudar Lázaro.
17-33: Jesus chega em Betânia:
17-19: C hegada e cenário.
20-27: Marta sai ao encontro de Jesus.
28-33: Maria sai ao encontro de Jesus.
34-44: A Ressurreição de Lázaro:
34-40: Cenário e prelim inares.
41-44: O milagre.
(45-54) O Sinédrio condena Jesus à morte; retirada para
Efraim. (§ 39)
45-53: Sessão do Sinédrio presidida por Caifás.
54: Jesus se retira para Efraim.
11,55-57: Transição - Jesus irá a Jerusalém para a Páscoa? (§ 40)
B. 12,1-36: Cenas preparatórias para a Páscoa e Morte
(1-8) Em Betânia, Jesus é ungido para a morte. (§ 41)
(9-19) As m ultidões aclamam Jesus enquanto entra em
Jerusalém. (§ 42)
9-11: Introdução: a m ultidão saindo para ver Lázaro.
12-16: Aclamação de Jesus e sua reação.
17-19: Conclusão: a m ultidão testificando de Lázaro.
(20-36) A vinda dos gregos marca a chegada da hora. (§ 43)
3 8 . JE SU S D Á V I D A A O S H O M E N S :
- O RELATO DE LÁ ZAR O
(11,1-44)
" N ã o h á d o z e h o ra s d e d ia claro?
Se u m h o m e m c a m in h a d u ra n te o d ia, ele n ão tro p eça,
p o rq u e p o d e v e r a lu z d e ste m u n d o .
C rês tu isto ?" 27"Sim , S e n h o r", rep lico u , " e u creio q u e és o M essias, o
F ilho d e D eu s, q u e h a v ia d e v ir a o m u n d o " .
28O ra, q u a n d o ela d isse isto, sa iu a c h a m a r s u a irm ã M aria. " O M es-
tre está a q u i e te c h a m a " , s u s su rro u . 29A ssim q u e M aria o u v iu isto , er-
g u e u -se d e p re s s a e sa iu ao e n c o n tro dele. (311N a v e rd a d e , Je su s ain d a
n ão h a v ia e n tra d o n a a ld e ia, m as [ainda] e sta v a n o local o n d e M arta
NOTAS
que ele seja um a figura m eram ente simbólica. N otam os que o evangelis-
ta não explica o nome de Lázaro.
Betânia. Alguns sugeriríam um papel figurativo deste nome, interpretado como
a refletir Bêt-‘anyã, "Casa de aflição"; ver nota sobre a Betânia dalém do Jor-
dão em 1,28. Não obstante, a Betânia próxima a Jerusalém é bem atestada
como o lugar onde Jesus residia quando visitava Jerusalém (Mc 11,11; 14,3);
e, portanto, Betânia como o local do relato de João é bastante plausível sem
recorrer-se a simbolismo. E bem provável que Betânia seja identificada com
a Ananyah mencionada em Ne 11,32; a sequência das cidades mencionadas
antes de Ananyah (Anatote e Nobe) sugere que ela deve ser localizada justa-
mente a leste de Jerusalém. Ver W. F. A lbright, BASOR 9 (1923), 8-10. Hoje, a
cidade é chamada El 'Azariyeh, nome derivado de "Lázaro".
Maria e sua irmã Marta. Estas duas irmãs, com Marta m encionada prim eiro
(como em Jo 11,5.19), aparece na tradição sinótica somente em Lc 10,38. A
sequência geográfica em que Lucas menciona o incidente que as envolve,
como parte da viagem de Jesus a Jerusalém, sugeriría que sua aldeia ficava
na Galileia ou Samaria. Não obstante, o relato lucano da viagem a Jerusa-
lém é um amálgama de cenas, muitas das quais Lucas não podería localizar
com precisão, ou cronologicamente, ou geograficamente. E interessante que
o relato lucano segue a Parábola do Bom Samaritano que envolve a viagem
de um homem de Jerusalém a Jerico - viagem que o faria passar pela Be-
tânia descrita em João. Assim, poderia haver algum a reminiscência latente
na sequência lucana da localização da aldeia de Marta e Maria nas proximi-
dades de Jerusalém. Que João identifique Betânia como a aldeia de Maria e
Marta pode indicar que o leitor, que nada soubesse de Lázaro, esperava-se
que estivesse familiarizado com os nomes das duas irmãs. O OSsin e, talvez,
T a c i a n o trazem: "Ele era de Betânia, o irmão de Maria e Marta".
pp. 592-607, para costum es fúnebres; tam bém E dersheim, Life and Times of
)esus (Nova York, 1897), I, pp. 554-56; II, pp. 316-20.
20. Jesus estava chegando. É hipercriticism o dizer que isto contradiz a afirma-
ção do v. 17 de que ele havia chegado; descrição de eventos simultâneos
é sem pre incômodo.
Maria ficou sentada quietamente. As m ulheres de luto sentavam-se no chão
da casa (ver Ez 8,14). Do v. 29 deduzim os que Maria não fora informada
da chegada de Jesus.
21. Senhor. Isto é om itido no Codex Vaticanus e no OSsin.
23. ressuscitará. As palavras usadas nos vs. 23-25 são anastasis e anistanai,
como em 5,29 e 6,39-45; a única vez em João que um a palavra desta raiz
é usada para a ressurreição de Jesus é em 20,9, embora esse uso seja fre-
quente em Atos. O verbo egeirein no passivo é o term o comum para a
ressurreição de Jesus nos evangelhos.
25. [e a vida]. Isto é om itido em P45, um a parte da OL e da OSsin e algumas
vezes em O rígenes e C ipriano. Na verdade, é mais difícil explicar omissão
do que adição, a m enos que a menção isolada da ressurreição no v. 24
tivesse tido algum a influência. Não obstante, por outro lado, a frase con-
corda logicam ente com o fluxo de idéias - ver comentário.
ainda que morra. O aoristo aponta para a com preensão disto como um a refe-
rência à m orte física; o que vai contra a tradução "ainda que esteja morto
[i.e., em pecado]".
26. todo aquele que está vivo. E um a referência à vida física, ou à vida espiri-
tual? B ultmann, L agrange e H oskyns pensam que o v. 26 se refere à vida
espiritual, e entendem a com paração entre 25 e 26 assim:
25: A fé, a despeito da m orte física, levará à vida eterna.
26: Vida física com binada com a fé não está sujeita à morte.
B ernard e outros m antêm que o v. 26 se refere à vida espiritual ou eterna.
Então, a com paração seria:
25: O crente, se m orrer fisicamente, viverá espiritualm ente.
26: O crente que está vivo espiritualm ente, jamais m orrerá espiritualm ente.
Um argumento para este ponto de vista é que um só artigo governa os dois
particípios "vivendo e crendo" no v. 26, uma indicação de que ambos se en-
contram no mesmo plano. Além do mais, o verbo "viver" se relaciona com
zõê, "vida", termo que em João é a palavra chave para vida etema. Então,
parece que este segundo ponto de vista é o mais convincente dos dois. Em
ambos, 25 e 26, vida é espiritual ou etema; em 25, morte é física, enquanto em
26 é morte espiritual. O mesmo uso duplo de morte se encontra em 6,49-50.
em mim. Isso acom panha "crê", m as tam bém pode estar implícito acom-
p an h ar "vivo"; para os dois particípios que governam a m esm a frase
70 8 O Livro d o s S in ais
preposicional, ver 1,51. Estar vivo em Cristo certam ente significaria estar
vivo espiritualm ente, em vez de fisicamente.
27. 0 Messias, 0 Filho de Deus. Isso é m uito sem elhante à confissão petrina em
Mt 16,16; contrastar Jo 6,69.
que havia de vir ao mundo. Jo 6,14: "Este é sem dúvida o Profeta que havia de
vir ao m undo"; ver nota ali. M arta parece associar diferentes expectati-
vas aqui; podem os com parar isto com os diferentes títulos dados a Jesus
em 1,41.45.49.
28. O Mestre. Dado como o equivalente grego de rabi em 1,38 e 20,16, "Mes-
tre" é usado para Jesus em 3,2.10; 13,13.14. Em discurso direto no presen-
te capítulo, as irm ãs se dirigem a Jesus como "Senhor".
30. ainda não havia entrado na aldeia. A perm anência de Jesus fora da cidade e
o cauteloso sussurro sobre sua presença, no v. 28, sugerem a alguns que
há um a tentativa de conservar a presença de Jesus de ser tão am plam ente
conhecida. Evocamos o elem ento de perigo m encionado no v. 8.
31. pensando. P66 e m uitos m anuscritos posteriores dizem "dizendo".
chorar ali. Isso significa lam entar; ver o com portam ento de M aria M adalena
junto ao túm ulo de Jesus em 20,11.15.
33. se estremeceu, movido das mais profundas emoções. Isso traduz duas expres-
sões gregas. A prim eira, traduzida por "m ovido com as m ais profundas
emoções", é o aoristo m édio do verbo embrimasthai, que aparece tam-
bém no v. 38; aqui, o verbo é usado com a expressão tõ pneumati, "em
espírito", enquanto em 38 é usado com en heautõ, "em si" - estes são
semitismos para expressar o im pacto interior das emoções. O significa-
do básico de embrimasthai parece im plicar um a expressão externa de
angústia. Na LXX, o verbo, juntam ente com seus cognatos, é usado para
descrever um a dem onstração de indignação (p. ex., Dn 11,30), e este uso
tam bém se encontra em Mc 14,5. O verbo descreve tam bém a reação de
Jesus para com os necessitados (Mc 1,43; Mt 9,30). Nestes últim os exem-
pios, o verbo expressa ira? Embora não pareça que Jesus teria se irado
para com os afligidos, é bem provável que se irasse com a enferm idade
deles e doenças que eram tidas como m anifestações do reino do m al de
Satanás. (Deve notar-se tam bém que o uso do verbo nessas passagens si-
nóticas está associado à severa ordem de m anter em segredo o que Jesus
fizera e o que ele é). Voltando à passagem em João, descobrim os que os
Padres gregos a entendiam no sentido de ficar irado, em bora a maioria
das versões ameniza a emoção, tornando-a em preocupação. P45, P66 e o
Codex Bezae oferecem um a redação que tam bém am eniza o impacto;
dizem "como se" antes do verbo. Tradutores m odernos oferecem inter-
pretações tais como "gem er, suspirar, im pacientar-se".
38 · Jesus dá v id a a o s h om en s: O relato d e Lázaro 7 09
fende outra redação: "fica perto de m im ". Uma vez mais, o apoio textual
para sua proposta é fraco.
43. clamou. O verbo kraugazein ocorre somente oito vezes em toda a Bíblia gre-
ga, seis das quais estão em João. Nos capítulos 18-19, ele é usado quatro
vezes para brados da m ultidão para que crucificassem a Jesus. Assim, po-
de-se traçar um contraste entre o brado da m ultidão que traz m orte a Jesus
e o brado de Jesus que traz vida a Lázaro. Todavia, que o evangelista ten-
cionava tal contraste é m uito duvidoso, pelo uso do verbo em 12,13, onde
a m ultidão entoa o louvor de Jesus, ainda que com intenções nacionalistas.
44. ligados com faixas. Esta é um a palavra grega rara, usada para a cobertura
do leito em Pr 7,16; presum ivelm ente, em João se refira a um determ ina-
do tipo de bandagem . A dúvida cética de como Lázaro sairia do túm u-
lo se suas mãos e pés estavam atados é realm ente bastante estulta em
um relato que obviam ente pressupõe o sobrenatural. Poderia haver uma
razão teológica para m encionar as indum entárias fúnebres. Em 20,6-7
somos inform ados que as vestes fúnebres de Jesus perm aneceram no tú-
mulo, talvez com a conotação de que não havería m ais utilidade para
elas, já que ele jam ais m orrería outra vez. Portanto, alguns estudiosos
sugerem que, visto que Lázaro m orrería outra vez, por isso ele saiu com
suas vestes fúnebres. Todavia, não há outra evidência de que o futuro
destino do Lázaro ressurreto entra na perspectiva do evangelista.
38 · Jesus dá v id a a o s h om en s: O relato d e Lázaro 711
C O M E N T Á R IO : G ER A L
C O M E N T Á R IO : D E T A L H A D O
B IB L IO G R A F IA
NOTAS
11.45. muitos dos judeus que. Bernard, II, pp. 401-2, insiste que o grego significa
"m uitos dos judeus, i.e., os que tinham vindo"... - tradução que sugere
39 · O s h o m e n s co n d en a m Jesus à m orte: O sin éd rio 725
que todos os judeus que vieram visitar M aria creram em Jesus. Essa tra-
dução provavelm ente põe exagerada confiança na exatidão da concor-
dância do particípio no grego koinê. A indicação no v. 46 é que alguns
dos judeus que estiveram ali não creram , e esta é a m aneira do Codex
Bezae in terp retar o v. 45.
Maria. O fato de que som ente Maria é m encionada aqui serve de apoio
aos que pensam que M arta foi um a adição posterior ao relato de Lázaro.
N ão é m enos plausível, contudo, que este seja um exemplo da memória
da M aria m ais famoso (que ungiu Jesus) prefigurando aquele de Marta.
viram. O verbo é theasthai, que às vezes conota visões perceptivas. Ver Apên-
dice 1:3, p. 794ss.
46. aos fariseus. Somente no v. 54 as autoridades judaicas hostis são chamadas
"os judeus", e que o versículo não tem conotação necessária com a reunião
do Sinédrio. Em 9,13 e 18, os fariseus e os judeus são expressões sinônimas.
47. os principais sacerdotes e os fariseus. Isto seria um equívoco? Os fariseus não
tinham autoridade para convencer o Sinédrio. As três classes que integra-
vam o Sinédrio eram os sacerdotes, os anciãos e os escribas. Todavia, a
maioria dos escribas eram fariseus, e bem podem os suspeitar que o Si-
nédrio não teriam agido contra Jesus se os fariseus não lhe fizessem opo-
sição a Jesus. João teria sido mais exato ao falar dos sacerdotes e escribas
(Mc 14,43.53); mas, como temos enfatizado, João não pretende ser preciso
sobre os grupos judaicos existentes antes da destruição do templo. O judaís-
mo dos fariseus sobreviveu, e foi este judaísmo que apresentou o desafio
ao cristianismo quando o Quarto Evangelho estava sendo escrito. Assim, a
referência aos fariseus é mais uma questão de simplificação do que de erro.
convocaram. O m esm o verbo é usado no v. 52, e ali pode m uito bem ser um
contraste intencional entre os dois grupos: o Sinédrio se reuniu para ma-
tar Jesus; enquanto que os filhos de Deus são congregados para que lhes
fosse dado o dom da vida. Ver tam bém 6,12-13.
0 Sinédrio. Embora tenham os tido referências implícitas a esta instituição
(p. ex., 7,45ss.), esta é a única ocorrência do nom e próprio em João.
O que havemos de fazer. Interpretam os esta pergunta em sentido deliberativo
com um raro uso do tem po presente (BDF, § 3664). Bernard, II, p. 403, e
B arrett, p. 338, estão entre os que a tomam como um a pergunta retórica:
"O que vam os fazer agora?", esperando a resposta: "Nada!" Em outras
palavras, para eles equivale "Por que não estam os fazendo nada?" En-
tretanto, Schlatter, pp. 256-57, e L agrange, p. 313, citam bons paralelos
rabínicos para a construção: "O que havem os de fazer agora que...?"
muitos sinais. Na presente cronologia joanina, Jesus havia realizado dois
sinais m agistrais em m enos de seis meses (o cego em 9 e Lázaro em 11).
72 6 O L ivro d o s Sinais
COMENTÁRIO
E d e v e m o s te r e m m e n te q u e o ju lg a m e n to final d ia n te d o Siné-
d rio , c o m o d e sc rito n o s e v a n g e lh o s sin ó tico s, p ro v a v e lm e n te rep re-
s e n ta u m a coleção d e a cu sa ç õ e s q u e fo ram feitas em d istin to s m o m en -
to s (p a ra tra ç o s d e e le m en to s d isp e rso s q u e se a sse m e lh a m aos do
ju lg a m e n to , v e r d isc u ssõ e s d e Jo 1,51; 1 0 ,2 4 3 9 )־. D e m u ita s m an e ira s
(v er C B Q 23 [1961], 148-52, o u N TE, p p . 1 9 8 2 0 3 )־, o q u a d ro jo an in o
q u e p ro p ic ia u m a d istrib u iç ã o m ais a m p la d e sta s acu saçõ es realm en -
te é m a is p la u sív e l. E in te re ssa n te , p o r e x em p lo , q u e o tem a d a des-
tru iç ã o d o te m p lo q u e o c u p a u m im p o rta n te p a p e l no ju lg a m e n to si-
n ó tic o fin al (M c 14,57-58) ta m b é m a p a re ç a n e sta sessão em João (v. 48:
"e re m o v e rã o n o sso lu g a r sa n to " ), m as d e u m a m a n e ira d ife ren te e
m a is realista. A ssim , a sim ila rid a d e d o p re se n te m a te ria l h istó rico na
cen a d e João n ã o p o d e se r d e c id id a com b a se n a c o n fo rm id a d e com a
tra d iç ã o sin ó tica, p o is n in g u é m p o d e p r e s s u p o r q u e o m ate ria l sinóti-
co p e rtin e n te à s sessõ es d o S in é d rio é a b so lu ta m e n te confiável.
A in tro d u ç ã o à cena em João relaciona a sessão d o S inédrio com
o m ilag re d e L ázaro, e isto cria o p a ra d o x o d e q u e o d o m d a v id a pro-
c e d e n te d e Jesus c o n d u z à su a p ró p ria m orte. A qui, n a tu ra lm e n te , es-
tam o s tra ta n d o d a p e rsp ectiv a teológica d o ev an g elh o . O m ilag re de
L ázaro , co m o tan to s d o s feitos e d ito s d e Jesus, cria u m a d iv isão en tre
os h o m e n s q u e se ju lg am p o r su a reação a Jesus. O fato d e q u e alg u n s
estã o c re n d o em seu s sin ais força as a u to rid a d e s ju d aicas a agirem
(v. 47). Isto co n c o rd a com o q u e se e n co n tra e m M c 11,18, o n d e, ap ó s a
p u rific a ç ão d o tem p lo , so m o s in fo rm ad o s: "O s p rin cip ais sacerd o tes e
o s escribas... b u sc a v a m u m a m a n e ira d e d estruí-lo... p o rq u e to d a a m ui-
tid ã o esta v a a tô n ita a n te seu en sin o ". O p o n to básico q u e p arece estar
p o r d e trá s d e to d a s estas afirm ações d o e v a n g elh o é q u e o e n tu siasm o
q u e Jesu s d e s p e rto u p e rtu rb a v a as a u to rid a d e s h ierosolim itanas.
C. H. D odd, art. cit., tem a n a lisad o o c a rá te r literário d a cena em João
e tem m o stra d o c u id a d o sa m e n te q u e ele se encaixa n o fo rm ato c o m u m
d o s relato s p rim itiv o s so b re Jesus. E u m relato d e afirm ação, isto é, u m
rela to p re s e rv a d o na c o m u n id a d e cristã p o r c o n ter u m d ito com u m a
p ro fu n d a reflexão d a c o m u n id a d e . O relato em João c o n d u z ao d ito de
g ra n d e im p o rtâ n c ia no v. 50: "N ã o c o m p re en d e is q u e convém ter u m
só h o m e m m o rto [pelo povo] d o q u e terd e s to d a a nação d e stru íd a?".
L em o s n o c o m e n tário e m fo rm a d e p a rê n tese s n o s vs. 51-52 p o r q u e este
p ro n u n c ia m e n to e ra tão im p o rta n te p a ra os círcu lo s cristão s p rim iti-
v o s, a sa b er, p o rq u e ele era c o n s id e ra d o u m a p ro fecia in co n scien te
730 O L ivro d o s S inais
Marcos João
11,18 F errenha oposição dos sacerdotes e escribas 11,47
(fariseus).
11,30-33 U ltim a m enção d e João Batista. 10,40-42
12,1-11 R esponsabilidade d os líderes d e Israel pela m orte 11,46-52
d e Jesus e a escolha de D eus de u m novo povo.
12,12 T entativa de p re n d e r Jesus. 10,39
12,18-27 Jesus afirm a a ressurreição dos m ortos. 11,1-44
12,31 M an d am en to d o am or. (13,34-35)
12,38-40 A taq u e d os escribas (fariseus). 9,40-10,18
12,43 Ensino junto ao teso u ro d o tem plo. 8,20
13,1-2 D estruição do tem plo. 11,48
B IB L IO G R A F IA
NOTAS
C O M E N T Á R IO
NOTAS
COMENTÁRIO
O relato de João
B IB L IO G R A F IA
"H o san a!
B en d ito é a q u e le q u e v e m n o n o m e d o S enhor!
B en d ito é o Rei d e Israel!"
NOTAS
quando Jesus chamou Lázaro. Há um sólido suporte ocidental, mais P66, para a
redação "que" em vez de "quando", assim: "A m ultidão que estava com
ele começou a testificar que ele cham ara Lázaro"... Esta redação faz sen-
tido e rem ove qualquer obstáculo de identificar a m ultidão no v. 17 com
o d o v. 9. Todavia, provavelm ente seja mais sábio optar pela redação
m ais difícil.
continuava testificando. Presum ivelm ente, devem os entender que as teste-
m unhas oculares tinham começado seu testem unho, convencendo aque-
les de quem fala o v. 9 (e que são parte desta m ultidão).
18. [também]. Esta palavra se encontra em diferentes posições ou é om itida
em algum as testem unhas gregas bem antigas. Todavia, o problem a das
várias m ultidões poderia ter sido responsável pela omissão.
19. vedes. Isto pode ser traduzido como im perativo.
0 mundo. Há boa evidência na tradição ocidental para a redação "todo o
m u ndo" ou "o m undo inteiro". "Todo o m undo" é um a expressão idio-
mática semítica, como o francês tout le monde, "todo o m undo". Lc 19,39
registra indignação entre os fariseus ante o entusiasm o com que Jesus
era aclamado.
C O M E N T Á R IO
Je su s c o rta v a m fo lh as e ra m o s e os e s p a lh a v a m so b re a e stra d a ; em
Jo ão , o p o v o q u e saía ao e n c o n tro d e Jesus tra z ia ra m o s d e p alm ei-
ra s (p re s u m iv e lm e n te c a rre g a n d o -o s em s u a s m ãos). N estes d e ta lh es,
p o is, a d e scriçã o d e João é m e n o s e sp e ta c u la r d o q u e os d o s sinóticos.
H á u m a c erta e x te n sã o , a ação d e sc rita p o r João se a sse m e lh a a u m a
d a s p ro c is s õ e s p a d rã o d a festa d o s T a b e rn á c u lo s o u d a festa d a De-
d ica ç ã o o n d e o p o v o c a rre g a v a o lulab d e m u rta , sa lg u e iro e p a lm e ira
(v er p. 582s.).
(4) O g rito d a m u ltid ã o (SI 118,25-26): (a) Hosana. E n co n trad o em
M arcos, M ateu s, João (Lucas sim p lesm en te m enciona seu louvor a
D eus). M t 21,9 acrescenta "ao filho d e D avi", q u e n ão é p a rte d o salm o,
(b) Bendito aquele que vem no nome do Senhor. A m esm a coisa em M arcos,
M ateu s, João (Lucas tem "o rei" em lu g ar d e "ele"). F reed, p. 332, de-
fe n d e a tese d e q u e "B endito" não se en co n tra em o u tro lu g ar em João.
T o d av ia, v isto q u e to d o s os ev an g elh o s e stão c ita n d o a LXX neste ponto,
esta p a la v ra n ão p ro v a a d ep e n d ên c ia joanina d o s sinóticos. (c) M ar-
cos acrescen ta o u tra benção: "B endito é o rein o q u e vem , d e nosso pai
D avi!". João acrescenta "B endito é o Rei d e Israel". M ateu s e L ucas não
têm esta p a rte essencial. N e n h u m d o s e v an g elh o s seg u e o salm o: "N ó s
v o s b e n d iz e m o s d e sd e a casa d o S enhor", (d) O s sinóticos ag reg am um
" H o s a n a " final o u "G lória n as m aiores a ltu ras" q u e João não tem .
A m o d o d e a v aliação , d e v e -se n o ta r q u e João só é m ais fam i-
lia r co m os sin ó tico s e m (a) e (b ) o n d e todos se a p ro x im a m d o salm o.
A fo rm a d e Jo ão d e (c) p o d e ria se r u m re a rra n jo im a g in a tiv o b a se a d o
e m " o re in o d e D av i" d e M arcos, o u a m en ç ã o q u e L ucas faz d e "o rei"
e m (b ), m a s esta p o ssib ilid a d e d ific ilm e n te é co n v in cen te.
(5) A citação bíblica: A m b o s, M a te u s e João, cita m Zc 9,9. M t 21,5
o cita p o r o c a siã o e m q u e Jesu s o rd e n a aos d isc íp u lo s a irem a B etfagé
e p ro v id e n c ia re m o(s) an im al(s); Jo 12,15 o cita p o r o casião d e Jesus
rec e b e r o ju m e n to . P ara a d is s im ila rid a d e e n tre as d u a s citações, v er
a re s p e c tiv a n o ta. N ã o h á e v id ê n c ia só lid a em a p o io d a c o n te n d a d e
F reed (p. 595ss.) d e q u e João está a d a p ta n d o a fo rm a d e M a te u s d a ci-
tação . O v o c a b u lá rio q u e d e scre v e o a n im a l p o d e ria co n ceb ív elm en te
s e r u m a c o m b in a çã o d a s d u a s d escriçõ es m ate a n a s, m a s p o d e ria tam -
b é m p ro v ir d e u m a tra d u ç ã o e co m b in a çã o d ire ta s d o s term o s h eb rai-
cos n o TM . C e rta m e n te , a c o m p re e n sã o q u e João tev e d a p a ssa g e m é
d ife re n te d a d e M a te u s (dois anim ais).
(6) N ã o h á n a d a n o s sin ó tico s q u e se a sse m e lh e a Jo 12,16.
754 O L ivro d o s Sinais
BIBLIOGRAFIA
FARMER, W. R., "The Palm Branches in John 12,13", JTS N.S. 3 (1952), 62-66.
FREED, E. D., "The Entry into Jerusalem in the Gospel of John", JBL 80 (1961),
329-38.
SMITH, D. M., ״John 12, 12jf. and the Question of John's of the Synoptics",
JBL 82 (1963), 58-64.
43. C E N A S P R E P A R A T Ó R IA S P A R A A P A S C O A
E A M ORTE: - A C H E G A D A D A H O R A
(12,20-36)
"É c h e g a d a a h o ra
p a ra o F ilh o d o H o m e m se r g lo rificad o .
24S o le n e m e n te v o s asseg u ro :
a m e n o s q u e o g rã o d e trig o caia n a terra e m o rra ,
ele p e rm a n e c e a p e n a s u m g rã o d e trigo.
M as se ele m o rre r,
g e ra m u ito fru to .
25O h o m e m q u e a m a su a v id a ,
a p e rd e ;
e n q u a n to q u e , o h o m e m q u e o d e ia su a v id a n e ste m u n d o ,
a p re s e rv a p a ra v iv e r e te rn a m e n te .
26Se a lg u é m m e se rv ir,
q u e m e siga;
e o n d e e u e s to u
e sta rá ta m b é m m e u serv o .
O Pai h o n ra rá
à q u e le q u e m e serve.
27A g o ra m in h a a lm a está c o n tu rb a d a .
T o d a v ia, o q u e e u d iria -
'P ai, sa lv a -m e d e sta h o ra '?
N ão , esta é ju sta m e n te a ra z ã o p o r q u e e u v im p a ra e sta h o ra.
28'P ai, g lorifica o teu n o m e'!"
"E u o te n h o g lo rificad o
e o g lo rificarei n o v a m e n te " .
31A g o ra é o ju lg a m e n to d e ste m u n d o .
A g o ra o P rín c ip e d e ste m u n d o será ex p u lso .
32E q u a n d o e u for le v a n ta d o d a terra,
A trairei to d o s os h o m e n s a m im ".
NOTAS
12.20. Ora... havia alguns. Para este estilo na abertura da narrativa, ver 3,1.
gregos. Hellenes ou gentios (neste caso, prosélitos), não Hellênistai ou ju-
deus d e fala grega. Ver nota sobre 7,35. Somente a com preensão de que
os prim eiros gregos que foram a Jesus explica sua exclamação de que é
chegada a hora (v. 23).
21. Betsaida na Galileia. Ver nota sobre 1,44. Há quem pense que aqui se men-
ciona a Galileia em razão de sua associação com os gentios (Mt 4,15, ci-
tando Is 9,1).
ver Jesus. "Ver" pode ter o sentido de "visitar com, encontrar" (BAG,
p. 220, eidon § 6), como em Lc 8,20; 9,9. Todavia, no contexto teológico
joanino é possível que "ver" signifique "crer em".
23. lhes respondeu. O "lhes" se refere a Filipe e A ndré ou aos gregos? Na ver-
dade, a resposta de Jesus é um com entário sobre toda a cena e não uma
resposta direta a qualquer dos dois grupos.
glorificado. A m enção de "glória" im ediatam ente após a aclam ação com
palm as [ramos] tem um interessante paralelo em Lc 19,38, onde, du-
rante a en trad a em Jerusalém , a m ultidão grita: "glória nas m aiores
alturas".
24.0grão. Um uso parabólico do artigo (Lc 8,5.11: "o semeador... a semente").
trigo. Sitos pode significar "trigo", em particular, ou "grão", em geral. É
usado na parábola do trigo e do joio em Mt 13,25.
caia na terra. Literalmente, "caindo na terra, m orre"; a ênfase está em morrer.
permanece apenas um grão de trigo. Literalmente, "perm anece sozinho".
O verbo menein (ver Apêndice 1:8, p. 794ss), em João, é usado em relação
a pessoas, o Espírito, amor, alegria, ira e a palavra.
25. ama... odeia. O uso semítico favorece contrastes vividos para expressar
preferências. Dt 21,15; Mt 6,24; Lc 14,26 são m ais exemplos disto.
sua vida. Psychê às vezes tem sido traduzida por "alm a", m as a antropolo-
gia judaica não continha o dualism o de alma e corpo que esta tradução
podería sugerir. Psyche se refere à vida física; pode tam bém significar o
ego de alguém (Heb. nefes). Em 10,15 se refere à vida, e esse parece ser
tam bém o significado aqui.
a perde. Appolynai pode significar "perder" ou "destruir"; o último parece que
propicia um m elhor contraste com "preserva". Alguns manuscritos têm
um tem po futuro aqui, mas isto constitui uma harmonização com os sinó-
ticos onde se usa o futuro em sua forma desta afirmação - ver comentário.
viver eternamente. Literalm ente, "para a vida eterna"; isto é zõe, a vida que
o crente recebe do alto.
7 62 O L ivro d o s Sinais
26. se alguém. Enquanto o dito tem paralelos sinóticos (ver comentário), este
tipo particular de condição indefinida é joanino. O utros aspectos joani-
nos no grego deste versículo são o quiasm o e o uso do adjetivo possessi-
vo pronom inal.
0 Pai honrará. Temos ouvido da honra que os hom ens rendem a Jesus ou ao
Pai (5,23; 8,49), aqui, porém , tem os um exemplo da reciprocidade na vida
eterna prom etida em João.
27. alma. Psychê como no v. 25; aqui, porém , o perigo de interpretação dua-
lística equivocada não parece tão grande. Poderiam os traduzir isto "es-
tou agitado"; m as quando estão envolvidas as emoções, "alm a" ajuda a
expressar os aspectos sensitivos do homem.
salva-me. Em Hb 5,7 há um a referência à angústia de Jesus diante da morte:
"Jesus ofereceu orações e súplicas Aquele que tinha poder de salvá-lo da
m orte". Isto se assem elha à tradição encontrada em João, pois as narrati-
vas sinóticas da agonia não usam o verbo "salvar".
esta é justamente a razão. A lguns o traduziríam na forma de pergunta: "Foi
por esta razão que eu vim para esta hora [i.e., ser salvo da hora]?"
28. teu nome. Há uma evidência respeitável para a redação "teu Filho", mas,
provavelm ente, esta seja um a evidência cruzada de 17,1. Aqui, o Codex
Bezae adiciona um a cláusula de 17,5.
uma voz veio do céu. Bernard, II, p. 438, sugere que isto é um qõl ("um a filha
da voz" - um tipo de inspiração divina inferior, o produto da palavra de
Deus que outrora vinha aos profetas, mas agora já não era ouvida em Israel
em sua prístina força). Não obstante, este termo rabínico realmente não se
adequa ao quadro neotestamentário onde a voz de Deus é vista como uma
manifestação suprem a, p. ex., no batismo de Jesus. O paralelo mais estreito
seria no Testamento de Levi 18,6-7: "Os céus serão abertos e a santificação virá
sobre ele desde o templo da glória com a voz do Pai, como de Abraão para
Isaque; e a glória do Altíssimo será enunciada sobre ele".
0 tenho glorificado/e 0 glorificarei. Com nenhum tem po do verbo sendo o ob-
jeto expresso.
29. trovão. No AT, seja de forma popular ou poética, o trovão era descrito
como a voz de Deus (ISm 12,18). A intenção de João é que pensem os que
o trovão acom panhava a voz, ou que o som da voz foi confundido com
o trovão? A sugestão alternativa de que um anjo estava falando favorece
a última. N enhum a sugestão da m ultidão indica que a voz foi entendida
(ver At 9,7; 22,9).
um anjo que lhe falou. Para vozes angélicas vindas do céu, ver Gn 21,17;
22,11. A teoria de que este versículo em João form a um a inclusão com a
menção de anjos em 1,51 parece im provável.
43 · C en a s prep aratórias para a p á sco a e a m orte: A ch eg a d a da hora 7 63
31. Príncipe deste mundo. Este é um term o joanino para Satanás (14,30; 16,11),
m as talvez ocorra tam bém em IC or 2,6-8, onde Paulo fala dos príncipes
ou poderes deste m undo condenados. Em 2Cor 4,4, Paulo fala do hostil
"deus deste m undo"; Ef 2,2, fala de "o príncipe do poder do ar"; e Ef 6,12,
fala de "os dom inadores deste m undo tenebroso". Inácio de Antioquia
usa o term o joanino várias vezes em seus escritos. O equivalente hebrai-
co, sar h a ‘õlãm , se encontra em escritos rabínicos como um a referência
a Deus, não a Satanás. Barkktt, p. 355, conclui que João, aparentem ente,
não está, neste ponto, em estreito contato com o pensam ento judaico.
Entretanto, o dualism o m odificado implícito no perfil que João traça de
um a luta entre o Príncipe deste m undo e Jesus é m uito estreito com o
qu ad ro de Q um ran de um a luta entre o anjo das trevas e o príncipe das
luzes (ver CBQ 17 [1955], 409ss., ou NTE, p. 109ss.).
expulso. Há nas versões respeitável evidência em prol da leitura "lançado
fora". O fato de que "lançado fora [expulso]" é o vocabulário joanino
m ais com um (6,37; 9,34; 15,6) dá origem à possibilidade de que a redação
mais bem atestada seja o produto de um a tendência de copista para a
conform idade.
32. da terra. Há forte evidência patrística, mas praticam ente nenhum a evidên-
cia de manuscrito; para a omissão destas palavras, ver RB 57 (1950), 391-92.
atrairei. Ver nota sobre 6,44 para possível relação com Jeremias. Tal relação
fornecería um pano de fundo do am or divino pactuai para o levantam en-
to de Jesus e seus efeitos.
todos os homens. Há interessante atestação, incluindo Ρ Λ, para um a leitura
plural neutra que faria o levantam ento de Jesus eficaz sobre todas as
coisas. Não obstante, BDF, § 138', sugere que é sim plesm ente um neutro
usado para um a referência m asculina geral.
33. indicava. O verbo é sêmainein, relacionado com sêmeion, "sinal". O sinal
se encontra na expressão que Jesus usa: "levantado" é um sinal da cruci-
fixão. Nesta passagem não há nada que endossaria a tese de que a morte
de Jesus era em si um sinal; antes, como parte de ser levantado, a morte
de Jesus pertence à gloriosa realização do plano de Deus, não aos sinais
dessa realização.
tipo de morte. O parênteses explicativo relaciona ser levantado com ser cru-
cificado; isto se fará evidente em 18,31-32, que indica um a punição roma-
na. Q ue a crucifixão não exaure o conceito de ser levantado foi m ostrado
na p. 354. E possível que o redator que inseriu o v. 33 estivesse pensando
que a crucifixão não só levantaria o corpo de Jesus, mas também esten-
deria seus braços a atrair os homens. Ver um a referência sim ilar à cruci-
fixão de Pedro em 21,19.
764 O L ivro d o s Sinais
34. da Lei. Com o m encionam os na nota sobre 10,34, "Lei" pode referir-se a
todo o AT. Mas, m esm o com este sentido am plo, é difícil encontrar uma
passagem particular que diga que o Messias há de perm anecer para sem-
pre. Barrett, p. 356, parece inclinado a decidir pelo ensino messiânico
com um das Escrituras, em vez de um a passagem individual. É verdade
que há m uitas passagens que concernem ao eterno governo da linhagem
ou rei davídico (SI 89,4; 110,4; Is 9,7; Ez 32,25), e outras passagens que
concernem ao eterno governo do (ou de um) Filho do Hom em (Dn 7,14;
1 Enoque 49,1; 62,14). Mas não há texto que diga que o Messias perma-
nece para sem pre. De fato, "perm anecer para sem pre" é um a expressão
que o AT aplica a Iahweh, Sua justiça, verdade, louvor etc. V an U nnik,
art. cit., tem apresentado a m elhor sugestão feita até então. Ele aponta
para o SI 89,36, o qual diz que "a sem ente de Davi perm anece para sem-
pre". Este é um Salmo que é interpretado m essianicam ente tanto no NT
(At 13,22; Ap 1,5; 3,14) como nas fontes rabínicas (StB, IV, p. 1308;
Midrásh Rabbah 95,20 sobre Gênesis, Soncino ed., p. 901). Em bora o v. 36
fale da "sem ente", o v. 51 fala do "ungido" (messias).
quem é este Filho do Homem. Na verdade, é a m ultidão e não Jesus que men-
ciona o Filho do Hom em. Seria este um pedido para identificar o Filho
do Hom em, dando o nom e da pessoa que é o Filho do Hom em ? Ou seria
este um a solicitação sobre sua natureza e relação com o Messias? Ver
comentário
35. entre vós. Literalmente, "em vós"; em At 4,34 "em " significa "entre".
O "convosco" da texto padrão bizantino é um esclarecim ento de copista
im itando o estilo joanino.
as trevas virão sobre vós. Este verbo, katalam banein, aparece como "vencer"
em 1,5; ver nota ali.
O homem que... Este dito é quase idêntico com ljo 2,11.
36. saiu para ocultar-se. Assim tam bém após [a festa dos] Tabem áculos (8,59).
C O M E N T Á R IO
2. P re se rv a r a v ida:
(a) M as q u e m p e rd e r (a p o lly n a i ) su a v id a p o r m in h a c a u sa a sal-
v a rá (sõzein ).
(b ) E o h o m e m q u e p e rd e (a p o lly n a i) su a v id a p o r m in h a c a u sa a
e n c o n tra rá (eu rein ).
(c) E q u em p e rd e [a] (apollynai) a conservará viva (zõogonein ).
N o ta m o s q u e, e n q u a n to (a) e (b ) u sa m os m e sm o s v e rb o s co m o
em 1, s im p le sm e n te in v e rte n d o -o s, (c) in tro d u z u m n o v o v e rb o n a
ap ó d o se. Em (a ) e ( b ) h á u m a frase e x p licativ a n a p ró ta se , a sa b er, " p o r
m in h a c a u sa " (ou "p elo e v a n g e lh o " e m im p o rta n te s te s te m u n h a s d e
Mc 8,35); e m (c) n ão h á essa frase e, d e v e ra s, n e n h u m o bjeto p a ra o
v erb o d a p ró ta se . Em (b) e (c), " e " in tro d u z a se n te n ç a, e n q u a n to e m
(a) u sa -se "m a s".
F az e n d o u m a c o m p a ra ç ã o geral, (a) e (b ) têm m u ito e m c o m u m ,
se n d o a d iferen ça p rin c ip a l a d e v o c a b u lá rio . O v o c a b u lá rio e m (c)
exibe eleg ân cia lu can a. Em c o n tra p a rtid a , a o m issã o d a frase e m 2 (c)
p arece m u ito p rim itiv a . N em u m ú n ico p a d rã o re p re s e n ta a fo rm a
o rig in al d o d ito .
V o ltem o s a g o ra à fo rm a q u e João d á às a titu d e s a lte rn a tiv a s p a ra
com a v id a:
1. O h o m e m q u e a m a (p h ilein ) su a v id a , a p e rd e (a p o lly n a i );
2. e o h o m em q u e od eia (m isein ) su a v id a n e ste m u n d o a p re se rv a
iphylaxein) p a ra v iv e r e te rn a m e n te .
O e sq u em a d e João, e m b o ra ta m b é m co n sista em p a ra le lism o a n ti-
tético com m e m b ro s b e m b a la n c e ad o s, é tão d ife re n te d e q u a lq u e r u m
d o s e s q u e m a s sin ó tico s co m o são d ife re n te s e n tre si. E m ais p a re c id o
com o e sq u em a sin ó tico (c) em q u e u sa m ais d e d o is v e rb o s b ásico s
- q u a tro v e rb o s, c o m p a ra d o s aos três em (c) - , to d a v ia , os v e rb o s joa-
n in o s são v e rb o s sim p les sem a eleg ân cia lu ca n a d e (c). O v e rb o " p re -
s e rv a r", d e João, é e q u iv a le n te ao " sa lv a r" d e (a). C o m o (a) e (b ), João
anexa e m 2 u m a frase e x p licativ a n a p ró ta s e (" n e ste m u n d o " ) co m o
c o m p a ra d o à sin ó tica " p o r m in h a c a u sa " , m a s João ta m b é m n iv e la isto
com a frase ex p licativ a n a a p ó d o se , " v iv e r e te rn a m e n te " . E stas frases
re p re s e n ta m o fam iliar c o n tra ste jo a n in o e n tre a v id a n e ste m u n d o e a
v id a e te rn a (v er A p ê n d ic e 1:6, p . 794ss). C o m o (b ), João u sa o p a rtic íp io
geral, em v ez d o rela tiv o in d e fin id o , p a ra o su jeito d e 1. D e tu d o isto,
tem o s d e c o n c o rd a r com D odd d e q u e n ã o h á p ro v a re a l p a ra tra ta r a
fo rm a jo an in a d o d ito co m o u m a a d a p ta ç ã o d e u m e s q u e m a sinótico.
43 · C en as p rep aratórias para a p á sco a e a m orte: A ch eg a d a da hora 771
A c a b a m o s d e m e n c io n a r q u e o p a ra le lo m a rc a n o (8,35) com
Jo 12,25 so b re p re s e rv a r e d e s tru ir a v id a é im e d ia ta m e n te p rec e d í-
d o (8,34) p e la afirm ação : "Se a lg u é m deseja v ir a p ó s m im , n e g u e -se
a si m e sm o , to m e su a c ru z e sig a -m e ". E ste é o p a ra le lo p a ra Jo 12,36.
772 O Livro d o s S inais
B IB L IO G R A F IA
DODD, C. H., " Some Johannine 'Hernworte' with Parallels in the Synoptic
Gospels", NTS 2 (1955), especialm ente p p. 78-81 sobre 12,25. A gora em
Tradition, p p . 338-43.
GOURBILLON, J.-G., "La parabole du serpent d'airain", RB 51 (1942), 213-26.
RASCO, A., “Christus, granum frumenti (Jo. 12, 24)", VD 37 (1959), 12-25,
65-77.
VAN U N N IK , W. C., "The Quotation from the Old Testament in John 12:34",
N ovT 3 (1959), 174-79.
O LIVRO DOS SINAIS
"S en h o r, q u e m c re u o q u e tem o s o u v id o ?
A q u e m o p o d e r d o S e n h o r foi rev e la d o ? "
NOTAS
0 louvor dos homens... à glória de Deus. Doxa é usada duas vezes, m as com
duas diferentes conotações (ver nota sobre 5,41.44). A glória de Deus,
provavelm ente, foi sugerida pela cena de Isaías no v. 41.
C O M E N T Á R IO
V e r s íc u lo 4 1 : A v is ã o d e I s a ía s d a g ló r ia d e j e s u s
NOTAS
Ί 2.45. vê. Theorein (ver A pêndice 1:3, p. 794ss), um verbo que às vezes impli-
ca visão com profundidade espiritual. Cf. 14,9: "Todo aquele que me tem
visto [horan] tem visto o Pai".
47. ouve minhas palavras. Aqui, rema é o objeto do verbo "escutar, ouvir",
como tam bém em 8,47. Cerca de um as dez vezes logos ou phõnê ("voz")
servem como objeto.
sem guardá-las. Há respeitável evidência (P**1; Bezae) para om itir a negati-
va. O resultante "e guardá-las" dá um arranjo louvável ao versículo.
48. rejeita. O verbo athetein ocorre som ente aqui em João. Ele ocorre cinco
vezes em Lucas - um a de três de suas ocorrências neotestam entárias.
aceita minhas palavras. Para um a expressão sim ilar nos sinóticos, ver Mt
13,20.
já tem seu juiz. Literalmente, "tem aquele que [ou quem ] o julga". Recorda-
mos as duas nuances de significado, "julgar, condenar", no uso joanino
de krinein (ver nota sobre 3,17).
49. não tenho falado de mim mesmo. Literalm ente, "de [ek] mim m esm o"; outras
treze vezes em João a preposição usada é apo.
falado. "Eu vim " é um a variante escassam ente atestada. B ultm ann , p. 263,
pensa que, originalm ente, a prim eira linha do v. 49 corria com a última
linha do 50, e que tudo entre eles é com entário do evangelista.
50. significa. Literalmente, “é".
quando eu falo. Literalmente, "tudo o que eu falo". Cf. 8,28: "Eu só digo
aquelas coisas que o Pai me ensinou".
C O M E N T Á R IO
e te rn a , ele é in fo rm a d o q u e, se g u a rd a r o m a n d a m e n to d e D e u s escri-
to n a Lei, e n tã o v iv erá.
E n tre tan to , e m João fica m u ito claro q u e o m a n d a m e n to d e D eus
q u e sig n ifica v id a e te rn a é m ais q u e o m a n d a m e n to d o AT. É a p a la v ra
d e D eu s falad a a tra v é s d e Jesus, q u e a g o ra re s u m e as o b rig a ç õ es que
d a a lian ça se d e riv a m p a ra o c ren te. E m 5,39, Jesu s c ritic o u a ineficácia
d o s ju d e u s d e b u sc a r as E sc ritu ra s d o AT, n a s q u a is c o n c lu íra m que
tin h a m a v id a e te rn a. A g o ra Jesu s e x p re ssa d e u m a m a n e ira p o sitiv a
q u e é e m s u a p a la v ra q u e os h o m e n s têm a v id a e te rn a . E a ssim , a seu
p ró p rio m o d o , este b re v e d isc u rso d e Jesu s, p o sto co m o u m a afirm a-
ção s u m a ria d a n o final d o m in isté rio p ú b lic o , é a fo rm a c ristã d o que
M oisés p ro c la m o u " q u a n d o te rm in o u d e fala r to d a s e sta s p a la v ra s a
Israel" (D t 32,45-47):
Aplicai vosso coração a todas as p alav ras q u e hoje testifico contra vós,
p a ra q u e as re c o m e n d e is a v o sso s filhos,
p a ra q u e te n h a m c u id a d o d e c u m p rir
to d a s as p a la v ra s d e sta lei.
P o rq u e esta p a la v ra n ã o v o s é vã,
a n te s é a v o ssa v id a;
e p o r esta m esm a p a la v ra
p ro lo n g a re is os d ia s n a te rra a q u a l,
p a s s a n d o o Jo rd ã o , id es a p o ssu ir.
BIBLIOGRAFIA
BOISMARD, M.-E., "Le caractère adventice de Jo., XII, 45-50", SacPag, II,
p p . 188-92.
__________ "Les citations targumiques dans le quatrièrne évangilc", RB 66
(1959), especialm ente p p. 376-78 sobre 12,48-49.
APÊNDICES
APÊNDICE I: VOCABULÁRIO JOANINO
(1) agape, agapan; philein = "am or" ("am ado", "am igo")
FREQUÊNCIA DE OCORRÊNCIA
1 ,2 ,3 Total Total
Sinótico João João Apocalipse Joanino NT
agapan 26 36 31 4 71 141
agape 2 7 21 2 30 116
philein 8 13 2 15 25
A p ê n d ic e I: V ocab ulário jo a n in o 795
E m uito óbvio que João prefere o uso de verbos para expressar o concei-
to de "am ar"; e, em particular, prefere agapan a philein. A m édia do uso no
Evangelho do verbo agapan ao substantivo agape é especialm ente interes-
sante quando contrastado com o uso paulino que dá mais ênfase ao subs-
tantivo (75 vezes contra 33 para o verbo). O conceito que João tem de am or
parece d ar m ais ênfase ao elem ento ativo.
Acaso agapan e philein são sinônimos? Em seu famoso Synonyms of the New
Testament, T rench estabelece um a distinção entre os dois. Agapan (= diligere na
Vulgata) significa am or forte, mas ao mesmo é reverente e ponderado; philein
(= amare na Vulgata) se refere ao am or mais forte e íntimo. Assim, segundo
T rench, em Jo 21,15-17, Jesus pergunta a Pedro duas vezes: "Tu me amas
[agapan]?" Pedro, porém , em sua resposta, continua insistindo que ama
(philein) Jesus mais intim am ente. Q uando Jesus pergunta a Pedro, pela ter-
ceira vez, "Tu m e am as [philein]?", ele está adm itindo a alegação de Pedro de
ardente afeição. No entanto, W estcott, em bora tam bém distinga os dois ver-
bos, interpreta a cena de outra m aneira. Em sua visão, Pedro responde em
term os de philein porque não se atreve a alegar que atingira o mais elevado
am or de agapan. Evans, art. cit., pensa que o verbo agapan implica certa supe-
rioridade, pois conota o relato de um superior a um inferior. Em sua visão,
a recusa d e Pedro de usar agapan é um a expressão de hum ildade. (Natural-
m ente, visto que a diferenciação está no grego, estes escritores na verdade
estão discutindo a m entalidade do autor m ais que a das figuras históricas na
cena). Assim, m esm o os que distinguem os dois verbos não estão de acordo
sobre qual deles expressa a forma mais elevada de amor.
Em anos recentes, tem-se posto mais ênfase sobre agapan, desde que A nders
N ygren escreveu seu m agistral Agapê e Eros. N ygren enaltece agapê como o
único am or que é possível através de Jesus - am or espontâneo, imerecido,
criador, que abre a via para a com unhão com Deus e o fluxo de Deus para o
cristão e do cristão para seu semelhante. Spicq, art. cit., pensa no agapan-agapê
joanino como representante de um am or constante, generoso e fecundo. E um
am or incansável até que se revele, como na afirmação: "Deus am ou [agapan]
o m u ndo de tal m aneira que deu seu Filho unigênito" (Jo 3,16; ljo 4,9). E em
Jesus este am or alcança seu auge de eficácia em m orrer e ressuscitar pelos
homens: "como havia am ado os seus que estavam no m undo, amou-os até o
fim" (13,1). E o am or que chega ao ponto de enfrentar a m orte (15,13). Assim,
toda a relação salvífica de Deus com os hom ens pode ser expressa pela afir-
mação: "D eus é am or" (ljo 4,8.16). O cristão ideal é apresentado em termos
de am or através da figura do Discípulo Amado.
Teorias como a de Spicq são m uito atraentes; m as é preciso reconhecer
que um cuidadoso estudo dos usos joaninos de agapan e philein m ostra que
os verbos às vezes são usados intercam biavelm ente, de m odo que estudiosos
796 A p ê n d ic e s
BIBIOGRAFIA
FREQUÊNCIA DE OCORRÊNCIA
1 ,2 ,3 Total Total
Sinótico João João Apocalipse Joanino NT
aletheia 7 25 20 45 109
alêthês 2 14 3 17 26
alethinos 1 9 4 10 23 28
e 'emet. Expressões como "age em verdade" (ver nota sobre 3,21; também
ljo 1,6) e "andar na verdade" (2Jo 4; 3Jo 3) refletem o uso hebraico. O pró-
prio Dodd (pp. 17475 )־aponta para paralelos do AT com Jo 4,23-24 e 17,17.
O pano de fundo semítico tem sido grandem ente am pliado pelas desco-
bertas de Qum ran; e, como verem os no Apêndice V (no vol. 2), estes rolos
nos dão os prim eiros exemplos extra joaninos de "o espírito da verdade"
(Jo 14,17; 15,26; 16,13; ver com entário sobre 4,24).
Levando em conta estas passagens, nos convém agora perguntar se o uso
joanino mais característico de aletheia para realidade celestial é um reflexo
de influência helenista direta. D e la P otterie, “L'arrière-fond", tem argu-
m entado insistentem ente contra a tese de D odd e Bultmann. Ele indica que,
enquanto na literatura apocalíptica e sapiencial do AT "verdade" costum a
referir-se sim plesm ente ao estado coração e com portam ento m oral corre-
to, "verdade" tam bém serve como sinônim o de sabedoria. Pr 23,23 coloca o
m andam ento de com prar a verdade em paralelism o com o m andam ento de
com prar a sabedoria; em Eclo 4,28 o sábio diz a seus discípulos que lutem
até a m orte pela verdade. Além do mais, "verdade" é associada com "misté-
rio" ou o plano oculto divino da salvação, de m odo que conhecer a verdade
equivale a conhecer os planos de Deus (Sb 6,22). O "livro da verdade", em
Dn 10,21, é um livro em que estão registrados os desígnios de Deus para os
tem pos da salvação. Sb 3,9 prom ete aos que confiam em Iahweh um enten-
dim ento da verdade. Também em Q um ran, além de um tom m oral, "verda-
de" está vinculada com mistérios. "O m istério [su>d] da verdade" aparecem
(1QH 1,26-27,10,4-5,11,4) como fazem "os mistérios \rzy\ de Sua Sabedoria"
(lQ pH ab 7,8). O salmista de Q um ran (1QH 7,26-27) agradece a Deus porque,
"Tu me tens dado um a com preensão de tua verdade e me tens feito conhecer
teus m aravilhosos mistérios". A equação de v erdade com sabedoria e misté-
rios significa que no pano de fundo semítico do NT há um a tensão em que
a verdade se refere à realidade celestial como faz a sabedoria. Não é preciso
que avancemos para além deste pano de fundo semítico para descobrir a
verdade usada em referência ao plano divino da salvação que é revelado
aos homens.
Assim, D e la Potterie pensa que m uitas das passagens joaninas que Dodd
e Bultmann relacionam a um pano de fundo grego ou gnóstico realm ente
são herdeiras da associação apocalíptica e sapiencial da verdade com sabe-
doria e mistérios. Por exemplo, Jo 17,17 diz: "A tua palavra é a verdade";
a expressão "palavra de verdade" ocorre nas passagens sapienciais do AT,
p. ex., SI 119,43; Ecl 12,10. No am biente joanino, a verdade não é vista por
meio de contem plação, como é no helenista, m as é ouvida (Jo 8,40). No AT, a
Sabedoria fala aos hom ens, e Deus ou os anjos falam m istérios aos hom ens,
para que os hom ens escutem a verdade.
A p ê n d ic e I: V ocab u lário joan in o 7 99
BIBLIOGRAFIA
Cinco verbos são usados em João para expressar visão [óticaj, m as é di-
fícil decidir quantas destas form as representam verbos distintos no pensa-
m ento do evangelista. Blepein é usado som ente no futuro e no perfeito; idein
(eidon) é usado som ente no aoristo. Podería se pensar que estes três verbos
80 0 A p ê n d ic e s
FREQUÊNCIA DE OCORRÊNCIA
1, 2, 3 Total
João João Apocalipse NT
blepein 17 1 13
theasthai 6 3 22
theorem 24 1 2 58
idein feidon] 36 3 56
horan 31 8 7 114
PHILLIPS, G. L., "Faith and Vision in the Fourth Gospel", SFG, pp. 83-96.
FREQUÊNCIA DE OCORRÊNCIA
1 ,2 ,3 Total Total
Sinóticos João João Apocalipse Joanino NT
doxa 23 18 17 35 165
na nuvem através da qual sua presença se torna visível aos israelitas em suas
peregrinações pelo deserto (Ex 16,10) e tam bém no fogo (Ex 24,17).
Visto que Jesus é a Palavra de Deus encarnada, ele é a incorporação da
glória divina (1,14). Os dois elem entos da kãbõd estão presentes nele. Ele re-
presenta a presença divina visível em atos poderosos. Mais que os sinóticos,
João insiste que esta doxa era visível durante seu m inistério e não só depois
da ressurreição. É verdade que João não descreve a Transfiguração que para
os sinóticos é realm ente a única m anifestação de glória durante o ministério
público (Lc 9,32). Todavia, João enfatiza que a doxa divina resplandeceu atra-
vés dos sinais m iraculosos de Jesus (2,11; 11,40; 17,4).
Todo o NT concorda que o Jesus ressurreto foi o veículo da doxa, posto
que a ressurreição foi o poderoso ato de Deus por excelência. Visto que João
concebe da paixão, m orte e ressurreição como sendo aquela "hora", João vê
o tem a da glória como sendo a totalidade daquela hora. De fato, a hora é o
tem po de o Filho do Hom em ser glorificado (12,23.28; 13,32; 17,1). Jesus ora
ao Pai no meio da hora: "Agora, glorifica-me, ó Pai, em tua presença com
aquela glória que eu tive contigo antes que o m undo existisse" (17,5).
FREQUÊNCIA DE OCORRÊNCIA
1, 2, 3 Total Total
Sinóticos João João Apocalipse Joanino NT
entolê 16 11 18 2 31 68
ordenou a Jesus o que fazer, especialm ente em face de sua aproxim ação da
morte quando luta com o príncipe deste m undo; em 10,18, a ordem que Jesus
recebeu do Pai abrange a entrega de sua vida e de tomá-la de volta. Assim,
todo o ministério de Jesus é de submissão à ordem do Pai - suas palavras; seus
atos; e especialmente o mais im portante de seus atos: sua paixão, m orte e res-
surreição. E porque Jesus cum priu este m andam ento, ele perm anece no am or
do Pai (10,17). É óbvio, pois, que o m andam ento dado a Jesus diz respeito à
sua relação com os homens, i.e., sua missão. E este m andam ento tem um efeito
sobre os homens: "Eu sei que o seu m andam ento significa vida eterna" (12,50).
Voltemos agora ao uso de entolê por m andam ento por parte de Jesus a seus
discípulos. Precisamente como a própria vida de Jesus está sob o m andam ento
do Pai, um m andam ento dado em am or e que se cum pre em aceitação amoro-
sa, assim também o crente que vai a Jesus e quer ser seu discípulo deve viver
sua vida sob o m andam ento de Jesus. Uma vez mais, a obrigação deste man-
damento é a de amor, cujo padrão é o am or que une Pai e Filho: "Permanece-
reis em meu amor, se guardardes m eus m andam entos, assim como eu guardei
os m andam entos de meu Pai e perm aneço em seu am or" (15,10). Aliás, o cerne
do m andam ento que Jesus dá encontra sua expressão no am or de seus segui-
dores, uns para com os outros (13,34; 15,12.17). O que é novo sobre este man-
dam ento não é a substância dele nem a intensidade exigida, mas, antes, sua
motivação cristológica que o eleva a uma maneira de vida m odelada na vida
de Jesus. A ordem que Jesus recebeu do Pai diz respeito especificamente à sua
morte pelos homens; o am or exigido entre os cristãos tem de ser m odelado
neste exemplo (15,12-13). E o entolê é não só m odelado no exemplo de Jesus,
mas inclusive é em preendido em um espírito de am or para com ele (14,15.21).
Como devem os interpretar esta ordem de am ar uns aos outros? Signi-
fica que não há outra obrigação na vida cristã, ou significa que as m uitas
obrigações m orais da vida cristã devem ser im pregnadas com am or como
sua inspiração e elem ento unificador (como em Mt 19,18-19)? Talvez a
variação entre plural e singular no uso de entolê indique que o últim o se
aproxima mais da intenção de Jesus. (Esta variação é discutida m ais deta-
lhadam ente no com entário sobre 1 João). As ordens (plural em 15,10) que
Jesus recebeu do Pai concernia a todo o m odo de vida. Assim tam bém o
m andam ento dado por Jesus constitui um m odo de vida pelo qual a es-
sência do m andam ento é o espírito de am or que se irradia nessa vida. Ao
enfatizarm os a relação entre m andam ento e m odo de vida, podem os no-
tar que 14,21 e 23 equiparam claram ente guard ar os m andam entos de Je-
sus e guardar sua palavra (Têrein , "guardar", rege entolas [sem pre plural]
9 vezes nos escritos joaninos, enquanto rege logon e logous "palavra[s]"8 ׳
vezes). Se a ordem que abrange o m inistério de Jesus significa vida eterna
para os hom ens (12,50), assim tam bém as palavras que ele fala aos hom ens
A p ê n d ic e I: V ocab u lário jo a n in o 805
significa vida para eles (6,63). É interessante que o m esm o verbo didonai,
"d ar", que é constantem ente usado para os dons salvíficos neste evangelho
(água viva, pão da vida, palavra de Deus), é usado em 13,34 em relação à doação
do m andam ento de Jesus a seus discípulos. Em sum a, podem os dizer que
em João o entolê de Jesus a seus discípulos abarca um a forma de vida que
leva à salvação dos hom ens; é dada am orosam ente, aceita em am or e vivida
com am or em imitação ao de Jesus.
Em um artigo em CBQ 25 (1963), 77-87, intitulado "The Ancient Near
Eastern Background of the Love of God in Deuteronomy", W. L. M oran tern mos-
trado que o am or está intim am ente relacionado com o conceito de aliança
em D euteronôm io. Em um estilo sem elhante, em seu artigo " The Concept
of Commandment in the Old Testament", TS 21 (1960), 351-403, artigo desti-
n ad o a ser um prolegôm eno ao estudo de entolê em João, M. J. O 'C onnell
salientou quão p rofundam ente o conceito joanino de m andam ento se acha
rad icad o no AT, especialm ente em D euteronôm io, que é o "últim o dis-
curso" de M oisés ao seu povo. “Entolê expressa o fato de que a vontade
g erad o ra de vida do Deus pessoal apresenta um a exigência à totalidade
da existência do hom em , cuja exigência o hom em deve cum prir para si
tanto com am or íntim o e reverência quanto com conform idade externa
aos preceitos de Deus. Entolê tem como sua significação m áxim a unir o
hom em a D eus a ponto de levá-lo a 'seguir Iahw eh"׳. Com o O 'C onnell
salienta, o AT oferece notável pano de fundo para os conceitos joaninos
de entolê com o um a revelação do que Deus é, da íntim a associação de
entolê e am or e a identificação de entolê com palavras dadas p o r Deus
p ara serem ditas a outros.
FREQUÊNCIA DE OCORRÊNCIA
1 ,2 ,3 Total Total
Sinóticos João João Apocalipse Joanino NT
16 36 13 17 66 135
que Jesus oferece na terra através das águas vivas do batism o e a vida no fim
dos tem pos quando a Nova Jerusalém descer do céu e através de suas ruas
corre a água da vida que sai do trono do C ordeiro (Ap 22,1). No evangelho,
vida eterna e filiação divina são dons já de posse do cristão (em bora haja
lugar para futura perfeição quando a própria m orte física não m ais existir
5,28-29).
Visto que a diferença entre vida divina e vida n atu ral seja p rim aria-
m ente qualitativa, a m elhor tradução de zõê aiõnios é "vida eterna", em
vez de "vida d u radoura", tradução que colocaria a ênfase na duração. No
entanto, não negam os que não haja conotação de "eterno" na com preensão
que João tem desta vida. Se a m orte não pode destruí-la, obviam ente não
tem um térm ino definido. Em 6,58, ouvimos: "Aquele que se alim enta deste
pão viverá eternamente". Mas, diferente dos conceitos platônicos e herm éticos
da vida, o conceito joanino de vida eterna não exclui a relação de tempo.
A vida eterna do cristão chegou através da ação do Filho de Deus que se fez
homem no tempo. Só se pode possuir esta vida eterna quando se é um ram o
da videira que é Jesus (15,5). M esmo a afirmação mais "gnóstica" no evange-
lho, "a vida eterna consiste nisto: que te conheçam como o verdadeiro Deus,
e aquele a quem enviaste, Jesus Cristo" (17,30), tem suas raízes em um even-
to histórico de um a m aneira em que o pensam ento gnóstico não está. Aqui,
"conhecer" significa viver em um a relação vital e íntim a com o Pai e com
Jesus, e tal relação vem através da fé em Jesus e de ouvir suas palavras. João
nunca sugere que esta relação pode vir através de contem plação estática da
divindade, como na Hermética, nem através de visão mística de Deus, como
nas religiões de mistério.
A ênfase sobre a vida é m uito mais clara em João do que nos sinóticos.
Todavia, um a vez mais podem os suspeitar que o quarto evangelista não está
inventando um tema, e sim destacando um tem a que fazia parte da tradição
das palavras do próprio Jesus, a julgar pelos dados que temos. Em Mc 9,43
(também Mt 25,46), Jesus fala de entrar na vida depois da ressurreição do
corpo. Em um a passagem encontrada em Mc 10,17, e em um a forma variante
em Mt 19,16 (que pode representar "Q"), um hom em pergunta a Jesus o que
fazer para herdar a "vida eterna". A linguagem de "entrar na vida", "herdar
a vida" é sim ilar à linguagem que os sinóticos usam para o reino (Mt 19,24;
25,34). Lc 18,29-30 associa claram ente vida eterna com o reino de Deus.
O quarto evangelista, que diz pouco sobre o reino, parece ter tom ado um a
expressão associada com o reino, a saber, "vida" ou "vida eterna", e fez dela
o principal tem a do evangelho. A m aior adaptabilidade do tem a da vida em
sua ênfase sobre a escatologia realizada, sem dúvida foi um fato na esco-
lha. O fato de que o AT retrata a Sabedoria como a guiar os hom ens à vida
(Pv 4,13; 8,32-35; Siraque 4,12; Baruque 4,1) e im ortalidade (Sb 6,18-19)
A p ê n d ic e I: V ocab u lário jo a n in o 809
provavelm ente era outro fator, pois os tem as da Sabedoria são im portantes
neste evangelho (Introdução, VIII:D).
BIBLIOGRAFIA
FEUILLET, A., "La participation actuelle à la vie divine d'après le quatrième évan-
gile ", StEv, I, pp. 295-308. Agora em inglês em JohSt, pp. 169-80.
FILSON, F. V., "The Gospel of Life", CINTI, pp. 111-23.
MUSSNER, F., ZOE, Die Anschauung vom "Leben" im vierten Evangelium unter
Berücksichtigung der lohantiesbriefe (Munique: 1952 - Theologische Studien 15).
SIMON, U. E., "Eternal Life in the Fourth Gospel", SFG, pp. 97-109.
FREQUÊNCIA DE OCORRÊNCIA
1 ,2 ,3 Total Total
Sinóticos João João Apocalipse Joanino NT
kosmos 14 78 24 3 105 185
e sua fé nele há de vencer o m undo (ljo 5 ,4 5 )־. Seu propósito é levar o m undo
a crer em Jesus e reconhecer que ele é enviado da parte do Pai (Jo 17,21.23).
Diante d o desafio deles, o m undo, com todos os seus atrativos, há de passar
(1J0 2,17).
BIBLIOGRAFIA
BENOIT, P., "Le monde peut-il être sauvé?", La Vie lntellectuelle 17 (1949), 3-20.
BRAUN, F.-M., "Le 'monde' bon et mauvais de 1'Evangile johannique’', La Vie
Spirituelle 88 (1953), 580-98; 89 (1953), 15-29.
FREQUÊNCIA DE OCORRÊNCIA
1 ,2 ,3 Total Total
Sinóticos João João Apocalipse Joanino NT
menein 12 40 27 1 68 118
João gosta de usar o verbo menein para expressar a perm anência da re-
lação entre Pai e Filho e entre Filho e o cristão. Não obstante, João não faz
uso dos m uitos com postos de menein (epimenein aparece no relato da m ulher
adúltera) que são frequentes nos outros escritos do NT (55 vezes).
No AT, perm anência é um a característica de Deus e o que lhe pertence,
q u an d o contrastado com o aspecto tem porário e transitório do homem. Nas
palavras de Dn 6,26, "Ele é o Deus vivo que perm anece [menõn ] para sem-
pre". A Sabedoria tam bém é em si m esm a perm anente e renova todas as coi-
sas (Sb 7,27). No NT, citando o AT, a palavra de Deus perm anece para sem-
pre (lP d 1,25). Esta atm osfera da perm anência do divino teve sua influência
na predileção joanina por menein. As m ultidões em 12,34 citam como um
axiom a "o Messias há de perm anecer para sem pre"; e visto que João apre-
senta Jesus como o Messias e como o Filho de Deus, tudo o que pertence a
Jesus tem de ser perm anente e persiste para sempre. O Espírito foi dado aos
profetas por certo tem po, m as o Espírito perm anece em Jesus (1,32). O ho-
m em que im ita Jesus, fazendo a vontade de Deus, perm anece para sempre
(ljo 2,17). Ver tam bém Jo 6,27; 15,16.
M as o uso joanino de menein é m ais complexo; pois o estudo deste verbo,
especialm ente na fórm ula menein en, nos introduz à totalidade do proble-
m a da teologia joanina da im anência, i.e., um a m aneira de perm anecer um
no o u tro que une Pai, Filho e o crente. Em João, ouvim os que assim como
o Filho está no Pai, e o Pai, no Filho (14,10-11), tam bém o Filho estaria nos
81 2 A p ê n d ic e s
hom ens, e os hom ens estariam no Pai e no Filho (17,21, 23). Aqui, o verbo é
einai en, "estar em ", m as este é sinônim o de menein en, com a exceção que
menein tem a nota anexa de perm anência. Menein é usado nas epístolas
mais frequentem ente para esta perm anência. O uso de menein para habi-
tação recíproca propicia a possibilidade de um significado secundário e
espiritual pelo uso m ais ordinário de menein, p. ex., Jo 1,39, onde os dis-
cípulos ficam com Jesus. Antes de analisar o conceito joanino de habitação
recíproca, podem os indagar sobre o pano de fundo de tal ideia. O q uadro
veterotestam entário da habitação de Deus no tabernáculo ou no tem plo, no
meio de Israel, na verdade não ajuda, pois em João esta é um a questão de
Deus habitar em um indivíduo. Talvez o m elhor paralelo possa ser achado
nas inúm eras passagens do AT, onde o espírito ou a palavra de Deus são
dados a um profeta. Há tam bém um a passagem , como Sb 7,27, onde somos
inform ados que a Sabedoria é em si m esm a perene, habita entre os ho-
m ens e transform a as alm as santas. A ideia de estar "em D eus" se encontra
no m undo helenista. Dodd, Interpretation, pp. 187-92, discute a união com
Deus em F ilo e na Hermética, distinguindo em particular casos onde estar
em Deus implica êxtase ou um a visão panteísta. N enhum a das passagens
joaninas parece ser um a referência à experiência extática, e a união de João
não é a de identidade entre Deus e o hom em . Os cristãos perm anecem um
no outro seguindo o m odelo da unidade de Pai e Filho (17,21), todavia João
nunca pressupõe que se tornam o Pai e o Filho.
O paralelo neotestam entário m ais aproxim ado com a im anência joanina
é a frequente fórm ula paulina "em C risto" e sua fórm ula correspondente
"Cristo em nós". Os exegetas não concordam sobre a im plicação precisa da
fórm ula paulina; todavia, m uitos a associariam com o conceito que Paulo
tinha do corpo de Cristo. A fórm ula paulina de u n id ad e não tem o m esm o
m odelo na relação P ai/F ilh o que é característico da teologia joanina da
imanência. Entretanto, há um paralelo parcial entre o pensam ento paulino
de que o Espírito de Deus habita (oikein - Rm 8,9) no cristão e o pensa-
m ento joanino de que o Parácleto perm anece com ou no discípulo de Jesus
(14,16-17).
Talvez não seja possível encontrar um pano de fundo com pleto para o
conceito joanino de imanência sem a vincular a outros pontos teológicos já
discutidos, p. ex., vida eterna, escatologia realizada. Isto é pressuposto pelo
fato de que os escritos joaninos usam menein e seus sinônim os não só para a
habitação do Pai e o Filho no cristão, m as tam bém para a habitação dos atri-
butos, dons e poderes divinos. Note os seguintes equivalentes:
A p ê n d ic e I: V ocab ulário joan in o 813
D iz - s e q u e e s te s m o ra m ou
O c r is tã o m o ra em ou p e r te n c e a :
p e rm a n e c e m n o c ristã o :
a(s) palavra(s) de Deus ou de a palavra de Jesus: 8,31·
Jesus: 5,38; 15,7; ljo 2,14.24.
vida eterna: ljo 3,15. luz: ljo 2,10; ver Jo 12,46.
am or divino: ljo 3,17. amor: Jo 15,9-10; ljo 4,16.
verdade: ljo 1,8; 2Jo 2. verdade: ljo 3,19.
testem unho divino: ljo 5,10. ensino de Cristo: 2Jo 9.
unção divina: ljo 2,27.
sem ente divina: ljo 3,9.
BIBLIOGRAFIA
FREQUÊNCIA DE OCORRÊNCIA
1 ,2 ,3 Total Total
Sinóticos João João Apocalipse Joanino NT
pisteuein 34 98 9 107 241
Até certo ponto, "conhecer" e "crer" são intercam biáveis em João. As últi-
m as linhas de 17,8 introduzem paralelism o ao conhecimento ("com preender"
= ginõskein) de que Jesus veio do Pai e a convicção de que Jesus foi enviado
pelo Pai. Uma com paração de 14,7 e 10 m ostra as sim ilaridades entre os dois
verbos, "conhecer" (ginõskein e eidenai) e o verbo "crer". Se "ir a" é sinô-
nimo com o elem ento ativo no conceito de crer, "conhecer" é parcialm ente
sinônim o com o elem ento receptivo em crer. Enfatizam os que a área semân-
tica coberta por estes verbos só é parcialm ente a mesma; pois enquanto se
pode dizer que Jesus conhece o Pai (10,15), nunca lemos que ele crê no Pai.
Diretamente, só Jesus conhece o Pai, m as através dele esse conhecim ento é
oferecido aos hom ens (14,7).
Os dois verbos "conhecer" ocorrem com a seguinte frequência:
1 ,2 ,3
João João Apocalipse
ginõskein 56 26 4
eideinai [oida] 85 16 12
Uma vez mais, m ostrando certa preferência pelos verbos, os escritos joa-
ninos nunca usam o substantivo gnõsis, "conhecim ento". D e la P otterie, art.
cit., tem feito grande esforço para distinguir entre os dois verbos. Em sua
visão, ginõskein se refere à aquisição de conhecimento; ele abrange o campo
do conhecimento experim ental que um hom em tem que ganhar através de
longo esforço. Em contrapartida, eidenai (oida) não significa "vir a conhe-
cer", m as sim plesm ente "conhecer"; refere-se à certeza im ediata possuída
com segurança. Spicq, Dieu et l'homme, p. 991, m antém o m esm o tipo de dis-
tinção: ginõskein se refere ao conhecimento através da instrução, enquanto
eidenai se refere ao conhecimento através da visão (oida e eidon, "eu vi", se
relacionam). Basicamente, a mesma ideia se encontra em A bbott, Vocabulary,
§§ 1621-29, que traduz ginõskein como "adquirir conhecim ento sobre", e
eidenai como "conhecer tudo sobre".
Há algum a base para a distinção. Ginõskein é preferido por João para o
conhecimento que Jesus adquire por meios hum anos, p. ex., 5,1; 6,15. Entre-
tanto, nem sem pre é fácil certificar-se de que o evangelista quer que pense-
mos que Jesus adquiriu conhecim ento por meios hum anos. Por exemplo,
A p ê n d ic e I: V ocab ulário joan in o 817
em 5,5 Jesus sabe que o paralítico fora doente por m uito tem po; em 16,19, ele
sabe que os discípulos queriam interrogá-lo. Estes são exemplos de conhe-
cim ento ordinário, ou da capacidade divina de ler os corações dos homens
(2,25)? Devem os ser cuidadosos com raciocínio circular, quando estuda-
m os tais usos de ginõskein. Um bom exemplo de conhecim ento espiritual
profu n d o adquirido pela experiência se encontra no uso que Pedro faz de
ginõskein em 6,69: "Estam os convencidos de que tu és o Santo de Deus".
Podem os conceder ainda que eidenai é frequentemente usado para o co-
nhecim ento intuitivo que Jesus tem do Pai e das coisas de Deus. Não obstante, a
distinção cai por terra quando compreendem os qu e ginõskein é usado em mui-
tos dos mesmos casos onde se usa eidenai. Notemos os seguintes exemplos:
• Jesus conhece o Pai: eidenai em 7,29 e 8,55; ginõskein em 10,15 e 17,25.
• Jesus conhece todas as coisas ou todos os homens: eidenai em 16,30 e
18,4·,ginõskein em 2,24.
• "Se me conhecésseis, conhecerieis tam bém a meu Pai: eidenai em am-
bas as partes de 8,19; ginõskein e eidenai em 14,7.
• O m undo ou os pecadores não conhecem o Pai ou Jesus: eidenai em
7,28; 8,19; 15,21·, ginõskein em 1,10; 16,3; 17,25; ljo 3,1.6.
Os partidários da distinção têm elaborado várias explicações para os
exem plos quando um ou o outro verbo é usado de um a m aneira que parece
violar o significado proposto para ela. Contudo, há tantas exceções que pro-
vavelm ente seja preferível chegar à m esm a decisão aqui que alcançamos so-
bre as tentativas de distinguir os vários verbos "am ar" e "ver". Pode ser que
João tenda usar um verbo de um a m aneira e o outro de outra m aneira, mas
é realm ente um a questão de ênfase e não de distinção incisiva. O evangelista
não é tão preciso como querem seus comentaristas.
BIBLIOGRAFIA
FREQUÊNCIA DE OCORRÊNCIA
1 ,2 ,3 Total Total
Sinóticos João João Apocalipse Joanino NT
phos 15 23 6 4 33 73
skotia 3 8 6 14 17
Nos outros escritos neotestam entários que tendem a usar skotos para "tre-
vas" - das 30 vezes som ente 2 correspondem aos escritos joaninos. Muitos
dos usos que o NT faz de "luz" e "trevas" se referem sim plesm ente a fenô-
meno físico; aqui não nos interessa o uso simbólico. O contraste dualista
entre luz e trevas é preponderantem ente joanino, em bora apareça ocasional-
mente em outras obras do NT (Lc 11,35; 2Cor 6,14; Ef 5,8; lT s 5,4; lP d 2,9).
Luz é um fenômeno natural que em si tende para o simbolismo. Com sua
claridade e calor, obviam ente ela é algo desejável e bom , enquanto as tre-
vas são espontaneam ente tem idas como más. Com o E. A chtemeier, art. cit.,
tem dem onstrado, o AT fez bom uso deste sim bolismo (jó 30,26). A vida era
associada com a luz solar, enquanto que o reino da m orte era retratada como
trevas lúgubres (Jó 10,21; SI 143,3). O SI 49,19 diz que o hom em que m orre
nunca mais verá a luz. Todavia, no AT luz e trevas não passam de símbolos
poéticos para o bem e o mal.
À luz dos escritos de Q um ran, agora sabem os que nos tem pos que pre-
cedem o NT este sím bolo assum iu novas dim ensões, pois nos Rolos do Mar
M orto luz e trevas se converteram em dois princípios m orais atracados
em um a luta ferrenha pelo dom ínio da raça hum ana. Para cada princípio
há um líder angélico pessoal criado por Deus, a saber, o príncipe da luz
A p ê n d ic e I: V ocab u lário joan in o 819
(presum ivelm ente Miguel) e o anjo das trevas (Belial). Luz é o equivalente
de verdade; trevas, de perversão; e os hom ens cam inham em um ou outro
desses princípios, segundo sua aceitação ou rejeição da interpretação que
a com unidade faz da Lei, se tornam filhos da luz ou filhos das trevas. Em
últim a análise, Deus destruirá o mal e, então, a perversidade desaparecerá
diante da justiça, como as trevas diante da luz. Este dualism o modificado
("m odificado" porque os princípios são criados) se aproxim a m uito mais da
atm osfera do Q uarto Evangelho do que qualquer outro texto no AT.
No pensam ento joanino, Deus é luz e nele não há nenhum as trevas (ljo 1,5).
A Palavra, que é Deus (Jo 1,1), vem ao m undo como a luz do m undo (8,12;
9,5), trazendo aos hom ens vida e luz (1,4; 3,19). A vinda desta luz se fez
necessária em virtude do pecado do hom em que trouxe trevas sobre o mun-
do, trevas que tudo fizeram para vencer a luz que foi deixada ao hom em
pecam inoso (Jo 1,5). Assim, para João o líder das forças da luz é a Palavra
incriada - um a significativa diferença da teologia de Q um ran -, enquan-
to o líder das forças das trevas é o Príncipe deste m undo (Lc 22,53 fala de
"o poder das trevas").
À m aneira de resposta à vinda da luz, os hom ens se alinham como fi-
lhos da luz ou filhos das trevas, d ependendo se vão para a radiante luz em
Jesus, ou fogem dela. Tudo isto tem sido docum entado pelas referências ci-
tadas acim a, q u an d o discutim os sobre o kosmos. Aqui devem os apenas no-
tar que, en q u an to em Q um ran a aceitação da Lei separava os filhos da luz
e os filhos das trevas, para João é a aceitação ou a rejeição de Jesus. Como
já m encionam os, m ais para o final do m inistério e nos últim os dias da vida
de Jesus, o term o "m undo" é crescentem ente em pregado para aqueles que
se afastam de Jesus, e então "m undo" e "trevas" se tornam praticam ente
sinônim os. As trevas se tornam m ais intensas no m om ento em que Jesus é
en tregue à m orte por Judas por instigação de Satanás (13,27); então João,
dram aticam ente, com enta: "E era noite" (13,30). Estava ainda escuro na
m anhã pascal q u an do M aria foi ao túm ulo (20,1), m as tudo isto foi m udado
pela ressurreição de Jesus.
Com o a fé em Jesus começa a vencer o m undo (1Jo 5,4), ljo 2,8 exclama:
"porque vai passando as trevas, e já a verdadeira luz alum ia". Os cristãos
devem andar na luz m ediante um a vida pura e com am or uns pelos outros
(ljo 1,6-7; 2,9-10). Finalmente, na Jerusalém celestial, virá o dia em que a luz
terá triunfando completam ente e nunca mais haverá trevas. "E a cidade não
necessita de sol nem de lua, para que nela resplandeçam , porque a glória de
Deus a tem ilum inado, e o Cordeiro é sua lâm pada. E as nações dos salvos
andarão em sua luz; e os reis da terra trarão para ela sua glória e honra. E suas
portas não se fecharão de dia, porque ali não haverá noite" (Ap 21,23-25).
82 0 A p ê n d ic e s
BIBLIOGRAFIA
ACHTENNEIER, E., “Jesus Christ, the Light of the World. The Biblical
Understanding of Light and Darkness", Interp 17 (1963), 439-49.
FENASSE, J. M., “La lumière de vie”, BVC 50 (1963), 24-32.
WEISENGOFF, J. P., “Light and Its Relation to Life in Saint John", CBQ 8 (1946),
448-51.
Embora a frequência desta palavra em João (26 vezes) não seja extraordi-
nária tratando-se de um evangelho, a conotação especial dada a "a hora", em
João, é digna de nota. Nos outros evangelhos, hora quase sem pre se refere à
hora do dia, m as João usa a palavra com frequência para designar um perío-
do particular e significativo na vida de Jesus. Podem os determ inar preferi-
velmente o conteúdo de "a hora", alinhando (a) as passagens que dizem que
a "hora" ainda não chegou ou que ainda está vindo; e (b) as passagens que
dizem que ela já chegou.
db) 12,23: "É chegada a hora em que o Filho do hom em há de ser glorifi-
cado" - em Jerusalém. Antes disto o Sinédrio delineou o plano
de matá-lo (11,53); ele foi ungido por Maria com perfum e para
o dia de seu em balsam am ento (12,7); e os gentios pediram para
vê-lo (12,21).
12,27: "Pai, salva-me desta hora? Mas para isto vim para esta hora".
13,1: A últim a ceia começa com Jesus - "Sabendo Jesus que já era ehe-
gada sua hora de passar deste m undo para o Pai".
17,1: "Pai, é chegada a hora; glorifica teu Filho para que tam bém teu
Filho te glorifique".
N ão existe nen h um paralelo sem ítico que explique com pletam ente o
uso que o Prólogo faz de "a Palavra", m as tom ados juntos em conjunto, os
seguintes pontos que oferecem considerável pano de fundo contra a qual
tal uso torna-se bem m ais inteligível.
(1) "A palavra do Senhor" (debar YHWH; logos kyrioü). Já mencionamos o he-
braico dãbãr. Isto significa mais do que "palavra falada"; significa também "coi-
sa", "atividade", "evento", "ação". E porque ela abrange ambos, palavra e ato,
no pensam ento hebraico dãbãr tinha inerentemente certa energia e poder dinâ-
micos. Quando nos livros proféticos do AT ouvimos que "a palavra do Senhor"
veio a um profeta particular (Os 1,1; J1 1,1), não temos de pensar simplesmente
em revelação informativa. Esta palavra desafiava o próprio profeta; e, quando
ele a aceitava, a palavra o impelia a avançar e a passar a outros. Esta era uma
palavra que julgava os homens. Para o Deuteronomista, a palavra é um fator
gerador de vida (Dt 32,46-47); e, para o salmista (107,20), a palavra de Deus tem
o poder de curar o povo. Sb 16,26 diz que a palavra (rema) do Senhor preserva
os que creem nele, assim como a palavra (logos) de Deus curou os picados por
serpentes no deserto (16,12 - Jo 3,14). Vemos aqui muitas das funções atribuídas
à Palavra no Prólogo: "A palavra do Senhor" do AT também veio, foi aceita,
aparecia dotada de força e comunicava vida. Além do mais, a palavra de Deus
foi também descrita no AT como a luz dos homens (SI 119,105; 130; 19,8). Que
outros autores do NT viram a similaridade entre a palavra profética e Jesus Cris-
to pode ser visualizado em Hb 1,1-5, um pequeno hino não destituído de seme-
lhanças com o Prólogo: "De muitas e de várias maneiras Deus falou outrora aos
pais pelos profetas; nestes últimos dias, porém, Ele nos falou por meio do Filho".
826 A p ê n d ic e s
A Sabedoria é também similar à Palavra, sendo ela luz e vida para os homens.
Ecl 2,13 diz: "Eu vi que a sabedoria é mais proveitosa que a loucura, assim
como a luz é mais proveitosa do que as trevas". (Ver tam bém Pv 4,18-19).
Em Pr 8,35, a Sabedoria diz: "Aquele que me encontra, encontra a vida"; e
Baruque 4,1 prom ete que todo aquele que aderir à Sabedoria viverá.
O Prólogo diz que a Palavra veio ao m undo, som ente para ser rejeitada
pelos hom ens, especialm ente pelo povo de Israel. A Sabedoria tam bém veio
aos homens; p. ex., Sb 9,10 registra a oração de Salomão para que a Sabedoria
fosse enviada do céu para estar com ele e agir com ele. Provérbios afirm a que
a Sabedoria se deleitou em estar com os hom ens. H ouve hom ens insensatos
que rejeitaram a Sabedoria (Siraque 15,7); e 1 Ettoque 42,2 afirm a com toda
clareza: "A Sabedoria veio para fazer-se um lugar habitável entre os filhos
dos hom ens e não encontrou nenhum lugar perm anente". Baruque 3,12 se
dirige a Israel em particular: "Tu rejeitaste a fonte da sabedoria".
A Palavra arm ou sua tenda ou tabernáculo entre os hom ens; então Si-
raque 24,8ss. diz que a Sabedoria arm ou seu tabernáculo em Jacó (Israel).
Se alguém viu a glória (doxa) da Palavra cheia de am or pactuai (charts), a
Sabedoria é como um a árvore que estende seus ram os de doxa e charts (Si-
raque 24,6).
Assim, na apresentação que o AT faz da Sabedoria, há bons paralelos
para quase cada detalhe da descrição que o Prólogo faz da Palavra. O Pró-
logo efetua mais personificação do que fez o AT ao descrever a Sabedoria,
m as esse desenvolvim ento se origina da Encarnação. Se indagarm os p or que
o hino do Prólogo escolheu falar da "Palavra" em vez da "Sabedoria", deve-
se considerar o fato de que, no grego, a prim eira é m asculina, enquanto a
segunda é feminina. Além do mais, a relação da "Palavra" com o querigm a
apostólico constitui um a consideração relevante.
(3) A especulação judaica sobre a Lei (Torá). Ver G. F. M oore, Judaism
(Harvard, 1927), I, pp. 264-69; StB, II, pp. 353-58; Boismard, Prologue, pp. 97-98.
Em escritos rabinicos posteriores, a Lei é retratada como tendo sido criada
antes de todas as coisas e servido de m odelo na criação do m undo por Deus.
O "no princípio" de Gn 1,1 era interpretado no sentido de "na Torá". Esta
idealização da Lei provavelm ente tivesse seu princípio nos últim os séculos
pré-cristãos. Siraque 24,23ss. dá evidência da identificação da Sabedoria com
a Torá. Baruque 4,1, tendo falado da Sabedoria personificada, diz: "Este é
o livro dos m andam entos de Deus, e a Lei que durará para sem pre". Em
m uitos casos, a Torá e "a palavra do Senhor" são quase intercambiáveis,
p. ex., no paralelism o de Is 2,3, "De Sião sairá a Lei, e de Jerusalém , a pa-
lavra do Senhor". Assim, a especulação sobre a Lei tem m uito em comum
com os outros tem as que temos citado como pano de fundo para o uso de
"a Palavra" no Prólogo.
A p ê n d ic e II: A "palavra 829
M uitas enferm idades que estão associadas com o pecado e o mal. O ato de
ressuscitar pessoas à vida constitui um ataque à m orte que é o reino peculiar
de Satanás. M esmos os m ilagres na natureza, como o acalm ar da tem pesta-
de, constituem um ataque às desordens introduzidas na natureza por Sata-
nás. Para detalhes, ver nosso artigo citado na bibliografia, pp. 186-99.
A função dos milagres como atos de poder que acom panham o reinado
de Deus dom ina a perspectiva sinótica, m as há uns poucos m ilagres que
não parecem ajustar-se a este quadro. Nestes casos, o propósito prim ário
do milagre parece ser o de simbolismo. A m ultiplicação dos pães parece ser
um eco pedagógico de tem as veterotestam entários, p. ex., Deus alim entando
Israel no deserto; a prom essa de Ezequiel de que Deus m esm o pastorearia o
rebanho (cf. Ez 34,11; Mc 6,34). Assim, este m ilagre sim boliza o cum prim en-
to das profecias do AT. A pesca m iraculosa em Lc 5,1-11 é sím bolo do grande
núm ero de pessoas a serem pescadas pelos discípulos como pescadores de
homens. A figueira que m urcha de repente (Mc 11,12-14.20-21) é um símbolo
profético da rejeição do judaísmo.
Há mais m ilagres que são prim ariam ente atos de poder, m as secundaria-
m ente exercem um papel simbólico. E possível que a cura de enferm os e a
ressurreição de m ortos tenham um sim bolismo secundário de cum prim ento
do quadro profético do AT do dia em que o Senhor confortaria seu povo,
dando vida aos mortos, vista aos cegos etc. (Is 26,19; 35,5-6; 61,1-3). Em sua
resposta aos emissários do Batista (Mt 11,2-6), Jesus denom ina este simbo-
lismo de cum prim ento para m ostrar que ele é aquele que havia de vir. Em
Mc 8 (cf. 22-26 no cenário de 11-21 e 27-30), o ato de abrir os olhos ao cego é
usado para sim bolizar o desenvolvim ento da fé. O sim bolismo da conversão
dos gentios dá colorido à cura do filho do centurião em Mt 8,5-13 e a cura da
filha da m ulher siro-fenícia em Mt 15,21-28.
Passando dos evangelhos sinóticos para João, encontram os um a ênfase di-
ferente na função dos milagres. João não fala muito do reinado ou reino de
Deus, e por isso não apresenta os milagres como atos de poder (dynameis) que
ajudam a estabelecer o reino. Talvez o mais perto que João chega do concei-
to sinótico de milagre como dynamis seja em 5,19: "O Filho não pode fazer
[dynamis] nada por si mesmo - somente o que vê o Pai fazer" - esta afirmação
se encontra na explicação do milagre de cura do paralítico feito no sábado. Em
harmonia implícita com a tradição sinótica, João pensa no Filho agindo com
o poder do Pai na realização de seus milagres, e João considera estes milagres
como sendo parte integral do ministério ou "obra" de Jesus. Entretanto, que a
ênfase é diferente, vê-se no fato de que João não faz aparente conexão entre os
milagres e a destruição do poder de Satanás. A completa ausência de exorcis-
mos em João chama a atenção. Naturalm ente, João fala de um a hostilidade en-
tre Jesus e Satanás (14,30; 15,33); aliás, o pensam ento joanino é mais dualístico
A p ê n d ic e III: S inais e obras 833
do que o dos sinóticos, m as os milagres não são vistos como armas que servem
para essa luta. Uma exceção possível é o milagre de Lázaro, no qual a emoção
de Jesus em face da morte (ver nota e comentário sobre 11,33) pode represen-
tar ira ante o poder de Satanás.
Em João, a função prim ária dos m ilagres parece ser a de simbolismo, fun-
ção esta que percebem os ser prim ária para uns poucos m ilagres nos sinóti-
cos, e secundária para m uitos outros. Talvez a m elhor abordagem para se
com preender o conceito joanino da função dos m ilagres seja através do voca-
bulário usado para os m ilagres de Jesus. Jesus m esm o se refere consistente-
m ente a eles como "obras" (17 vezes, Jesus em prega o singular ou o plural de
ergon; som ente em 7,3 os outros falam de suas "obras"). O utros personagens
no evangelho e o redator se referem aos milagres de Jesus como "sinais", um
term o que Jesus não usa em referência aos seus milagres.
As obras de Jesus
não está em sua forma, e sim em seu conteúdo; a obra m iraculosa nos lembra
que a palavra não é vazia, e sim um a palavra ativa, enérgica, designada para
transform ar o m undo.
Os sinais de Jesus
inform a sobre Jesus e sua relação com o Pai. Não obstante, esses crentes im-
perfeitos deram um passo adiante no cam inho da salvação; são totalmen-
te diferentes dos voluntariam ente cegos que se recusam term inantem ente
a ver os sinais (3,19-21; 7,37-41). Os que pedem sinais, na tradição sinótica
(Mt 16,1-4), estão próxim os dos voluntariam ente cegos.
O em prego joanino mais característico de "sinal" é como um a designa-
ção favorável para um milagre, e este em prego não é diferente de (c) acima.
O evangelista se refere ao que aconteceu em Caná como o prim eiro dos si-
nais de Jesus (Jo 2,11), e à cura do filho do oficial em Caná no segundo dos
sinais (4,54). Ele diz que o Batista não operou nenhum sinal (10,41), enquanto
Jesus realizou m uitos (20,30). É interessante, contudo, que João não demons-
tre favorecer a combinação "sinais e prodígios". Ela aparece somente em
4,48: "Se não virdes sinais e prodígios, jamais crereis". Essa afirmação reflete
a suspeita joanina quanto ao elem ento prodigioso no milagre.
Sêmeion, "sinal", é um term o m enos am plo que ergon, "obra"; enquan-
to am bos são em pregados para milagres, sêmeion não é em pregado para
a totalidade do m inistério de Jesus. Todavia, inclusive palavras podem ser
sinais; p. ex., em 12,33 (18,32) e 21,19 há um a afirmação que serve como sinal
(sêm ainein ) de como Jesus ou Pedro hão de morrer. De m odo semelhante,
F ilo usa o verbo sêmainein para o significado simbólico de passagens ve-
terotestam entárias, embora, certam ente, em João um elem ento de profecia
esteja incluso em tais afirm ações simbólicas. Exceto para a afirm ação sinté-
tica em 20,30, o em prego que João faz de "sinal" se limita aos capítulos 1-12,
d onde a designação "O Livro dos Sinais". Com o capítulo 13 e "a hora", João
passa do sinal para a realidade.
Em João existem sinais não miraculoso? Cada em prego de sêmeion se re-
fere a um feito m iraculoso; mas, por exemplo, D odd sugere que o evangelista
considerava como sinais ações tais como a purificação do templo. E possível
que ele, sim; todavia os judeus, não (2,18). O fato de que a purificação do
tem plo seja seguida de 2,23, o qual menciona que Jesus não fez m uitos si-
nais em Jerusalém , na realidade não prova que a purificação fosse um sinal.
Vimos que 2,23-25 é sim plesm ente um a transição redacional para o capítulo 3.
Além do mais, 4,54 parecería indicar que não houve sinal no período entre
os dois m ilagres em Caná. O utro possível sinal não m iraculoso podería ser
3,14-15, onde a ressurreição do Filho do Hom em é com parada à elevação
da serpente no relato do Êxodo. A com paração é extraída de N m 21,9, onde
(LXX) lem os que Moisés fixou a serpente em um sêmeion.
Ainda não discutimos a relação do sinal joanino com o emprego no grupo
sinótico (a), o emprego escatológico de sinal. João não usa sinal para referir-se
a m ilagres ou prodígios fazendo a intervenção final de D eus no fim dos tem-
pos ou na segunda vinda do Filho do Hom em. Talvez o próprio fato de que
836 A p ê n d ic e s
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Ver também pisteuein, "crer", no Apêndice 1:9.
APÊNDICE IV: E G O E IM I - ״EU SOU״
Emprego Joanino
O grego egõ eim i, “Eu sou", pode ser sim plesm ente um a frase de lingua-
gem com um , equivalente a "sou eu" ou "eu sou ele". Todavia, a frase tem
tido um em prego solene e sacro no AT, no NT, no gnosticismo e nos escritos
religiosos d o paganism o grego. Bultmann, p. 1672, classificou quatro diferen-
tes em pregos da fórmula: (a) Präsentationsformel, ou um a introdução, respon-
dendo à pergunta: "Quem é você?" Assim: "Eu sou Sócrates"; ou em Gn 17,1:
"Eu sou El Shaddai". (b) Qualifikationsformel, ou como um a descrição do sujei-
to, respondendo à pergunta: "O que você é?" Assim: "Eu sou um filósofo"; ou
em Ez 28,2, o rei de Tiro diz: "Eu sou um deus", (c) Identißkationsformel, onde
o orador se identifica com outra pessoa ou coisa. Bultmann cita um dito de
Isis: "Eu sou tudo o que já foi que é e que será". O predicado resum e a iden-
tidade do sujeito, (d) Rekognitionsformel, ou um a fórmula que separa o sujeito
dos demais. Responde à pergunta: "Quem é aquele que...?" com a resposta:
"Sou eu". Este é um caso em que o "Eu" realmente é um predicado.
Ora, m antendo em m ente esta gama de uso, estendendo do banal ao sa-
cro, considerem os o uso de egõ eim i em João. Gram aticalm ente, podem os
distinguir três tipos de uso:
( 1 ) 0 uso absoluto sem predicado. Assim:
8,24: "a m enos que venhais a crer que EU SOU, seguram ente m orrereis
em vossos pecados".
8,28: "Q uando levantardes o Filho do Hom em, então com preendereis
que EU SOU".
8,58: "antes m esm o de Abraão vir à existência, EU SOU".
13,19: "quando acontecer, creiais que EU SOU".
Há um a tendência natural de sentir que estas afirmações são incompletas;
p o r exemplo, em 8,25 os judeus respondem com um a pergunta: "Quem és
tu?" Visto que este em prego vai além do linguajar ordinário, todos reconhe-
cem que o egõ eim i absoluto tem em João um a função revelatória especial.
Segundo D aube, art. cit., p. 325, T. W. M anson tem proposto que a fórmula
realm ente significa: "O Messias está aqui". O significado é pressuposto por
Mc 13,6 (Lc 21,8): "M uitos virão em m eu nome, dizendo: Eu sou" - aqui,
842 A p ê n d ic es
aceitação de suas palavras (Ex 6,6; 20,1.5; Lv 18,5). A fórm ula assegura o ou-
vinte de que o que é afirm ado tem autoridade divina e vem de Deus. Assim,
este uso tem um valor revelatório, ainda que limitado.
Um uso que é m ais estreitam ente associado com revelação é onde Deus
prom ete: "Saberás que eu sou Iahweh". Este conhecimento de Iahweh será
conquistado através do que Ele faz (Ex 6,7; 7,5). M uitas vezes o que Deus
faz ajudará ou salvará; outras vezes é o juízo punitivo de Deus que levará os
hom ens a saberem que Ele é o Senhor. Este uso do AT oferece interessantes
paralelos para a classe (1) das afirmações joaninas "EU SOU". Ali Jesus diz
que os hom ens virão a conhecer ou a crer que "EU SOU". Em Jo 8,24, isto se
relaciona com o juízo punitivo de Deus; em 8,28 se relaciona com a grande
ação salvífica da m orte, ressurreição e ascensão.
O uso m ais im portante da fórmula veterotestam entária "Eu sou Iahweh"
enfatiza a unicidade de Deus: Eu sou Iahweh e não há outro. Este use ocor-
re seis vezes no Deuteroisaías, bem como em Os 13,4 e J1 2,27. O hebraico
’αη ϊ YHW H, em Is 45,18 é traduzido na LXX sim plesm ente como egõ eimi.
Neste uso que enfatiza unicidade, um a alternativa hebraica para ’anT YHWH
é ,anT hü ("Eu (sou] Ele"), e a últim a expressão é sem pre traduzida na LXX
como egõ eimi. Ora, como a fórm ula está no texto hebraico de Isaías, eviden-
tem ente se propõe a enfatizar que Iahweh é o único Deus. Ao discutirm os o
uso banal de egõ eimi, salientam os que norm alm ente ele significa "Eu sou
ele" ou "Eu sou esse", e assim é mui apropriado como um a tradução para
'anT hü. Não obstante, visto que o predicado "Ele" não está expresso no gre-
go, como a fórm ula está na LXX, houve um a tendência para enfatizar não
só a unicidade de Deus, m as tam bém sua existência.* Vemos esta mesma
tendência em ação na tradução que a LXX fez de Ex 3,14, o im portantíssim o
texto para o significado de "Iahw eh". Se entenderm os "Iahw eh" como de-
rivado de um a forma causativa (ver F. M. C ross, J r ., HTR 55 [1962], 225-59),
o hebraico lê "Eu sou 'quem causa o ser'"; ou, talvez mais originalm ente
na terceira pessoa, "Eu sou 'Aquele que faz existir"'. Mas a LXX lê: "Eu sou
o Existente", usando um particípio do verbo "ser", e assim enfatizando a
existência divina.
Há ainda evidência de que o uso de egõ eimi na LXX de Deuteroisaías
chegou a ser entendido não só como um a afirmação da unicidade e existência
* Toda esta d iscu ssão está pressuposta no p onto d e vista m ais usual d e que hü no
hebraico 'anT hü é o pronom e "ele", d e m od o que, literalm ente, tem os no hebraico
"Eu Ele" com a cópula subentendida. O grego egõ eimi então neste caso teria um
alcance ligeiram ente diferente do hebraico. Mas alguns estu diosos pensam que hü
tinha sim p lesm en te a função copulativa, e que o hebraico significava exatam ente o
m esm o que o grego. Ver W. F. A lbright, VT 9 ( 1959), 342.
846 A p ê n d ic e s
divinas, m as tam bém como um nom e divino. O texto hebraico de Is 43,25 lê:
"Eu, Eu sou Aquele que apaga as transgressões". A LXX traduz a primeira parte
desta afirmação, usando egõ eimi duas vezes. Isto pode significar "Eu sou
Ele, Eu sou Aquele que apaga as transgressões"; m as pode tam bém ser inter-
pretado: "Eu sou 'EU SOU ׳quem apaga tuas transgressões", tradução que
faz de egõ eimi um nome. Temos o m esm o fenôm eno no texto da LXX de
Is 51,12: "Eu sou 'EU SOU' quem vos conforta". Em Is 52,6, o paralelism o
sugere um a interpretação similar: "M eu povo conhecerá meu nome; naquele
dia (conhecerão) que eu sou Aquele que fala". A LXX pode ser lida: "o egõ
eimi é aquele que fala"; e assim egõ eimi se torna o nom e divino a ser conhe-
cido no dia do Senhor. D odd, Interpretation, p. 94, cita evidência rabínica do
2“ século d.C. onde a passagem é tom ada neste sentido: "N aquele dia conhe-
cerão que 'EU SOU' lhes está falando". D odd fornece outras passagens para
m ostrar que não só a forma grega egõ eimi, m as tam bém a form a hebrai-
ca 'anl hü serviram como o nom e divino na liturgia. Uma forma variante,
'anl wehõ, "Eu e ele", foi tam bém usada, e Dodd pensa que ela indicava a
estreita associação ou quase identificação de Deus e Seu povo. (Para possível
relevância em João, ver nota sobre 8,16). D aube, art. cit., aponta para a ênfase
na fórmula "Eu sou" na Páscoa Haggadah, onde Deus está dizendo que Ele, e
não outro, libertou Israel: "Eu, e não um anjo... Eu, e não um m ensageiro; Eu
Iahweh - isto significa EU SOU, e não outro".
Contra este pano de fundo, o uso absoluto joanino de egõ eimi se torna
m ui inteligível. Jesus é apresentado como a falar da mesma m aneira como
Iahweh fala em Deuteroisaías. Em 8,28, Jesus prom ete que, quando o Filho do
Hom em for levado (de volta para o Pai), "então conhecereis que egõ eimi".
Em Is 43,10, Iahweh diz que Ele escolheu seu servo Israel, "para conhecerdes
e crerdes em mim e entendais que egõ eimi". João chama a atenção para as
implicações da divindade no uso de egõ eimi da parte de Jesus. Após o uso
em 8,58, os judeus tentaram apedrejar Jesus; após o uso em 18,5, os que o
ouvem caem por terra.
O uso de "EU SOU" como um nom e divino no judaísm o tardio pode
explicar as m uitas referências joaninas ao nom e divino que Jesus porta. Em
seu ministério, Jesus fez conhecido e revelou a seus discípulos o nom e do
Pai (17,6.26). Ele veio no nom e do Pai (5,43) e fez suas obras no nom e do Pai
(10,25); aliás, ele diz que o Pai lhe deu seu nom e (17,11.12). A hora que traz a
glorificação de Jesus significa a glorificação do nom e do Pai (12,23.28). Após
a vinda desta hora, os crentes podem pedir coisas em nom e de Jesus (14,13;
15,16; 16,23). No nom e do Jesus glorificado, o Pai envia o Parácleto (14,26).
O grande pecado consiste em recusar crer no nom e do unigênito Filho de
Deus (3,18). Qual é este nom e que foi dado a Jesus e o qual ele glorifica atra-
vés de sua morte, ressurreição e ascensão? Em Atos e em Paulo (p. ex., F1 2,9)
A p ê n d ic e IV: e g o e i m i - "eu sou 847
o nom e dad o a Jesus ante o qual todo joelho se dobrará é o nom e kyrios ou
"Senhor" - o term o usado na LXX para traduzir "Iahw eh" ou "Adonai".
M uito em bora João tam bém use o título kyrios para Jesus (20,28; ver também
nota sobre 4,11), é bem possível que João esteja pensando em egõ eimi como
o nom e divino dado a Jesus. Se este nom e tem de ser glorificado através da
hora da m orte e ressurreição, Jo 8,28 diz: "Q uando levantardes o Filho do
H om em , então sabereis que 'EU SOU'".
Já vim os que o uso absoluto de "Eu sou", em João, é a base para outros
usos, em particular para o uso na classe (3) com um predicado nominal. Se o
pano de fundo do uso na classe (1) é o judaísm o veterotestam entário e pales-
tino, som os justificados em suspeitar o m esm o para a classe (3). Já menciona-
m os que a m aioria dos predicados nom inais usados em João são adaptações
de sim bolism o veterotestam entário. O AT oferece exemplos onde Deus usa a
fórm ula "Eu sou" com um predicado nom inal descritivo da ação de Deus em
favor dos hom ens; p. ex., "Eu sou a tua salvação" (SI 35,3); "porque eu sou
o Senhor que te sara" (Ex 15,26). Ver tam bém os paralelos no AT supracita-
dos p ara as afirm ações d o "Eu sou" encontrados no Apocalipse. Ocasional-
m ente, um a fórm ula verbal oferece um paralelo semântico a um a afirmação
joanina de "Eu sou"; p. ex., "Eu m ato e faço viver" (Dt 32,39) com parado
com João "Eu sou a vida". Com o pano de fundo adicional do AT para o uso
joanino, podem os m encionar os discursos na prim eira pessoa da Sabedoria
em Provérbios e Siraque. Embora a Sabedoria não fale na fórm ula "Eu sou",
o costum e da Sabedoria falar no estilo "Eu" (Pv 8; Sir 24) em parte pode ex-
plicar a preferência que Jesus tem em dizer "Eu sou a videira", em vez de "o
reino de Deus é sem elhante a um a vinha".
O uso sinótico
Mt 14,27 (Mc 6,50): Q uando Jesus vem cam inhando sobre a água, ele
diz aos discípulos no barco: "Egõ eim i ; não temais". Este é o m esm o
uso que vimos em Jo 6,20. Que M ateus tenciona mais que um sim ples
"sou eu" é pressuposto pela confissão de fé que fazem os discípulos
(Mt 14,33): "Verdadeiram ente, tu és o Filho de Deus!"
Lc 24,36 (alguns manuscritos): Após a ressurreição, Jesus aparece a seus
discípulos e diz: "Egõ eim i ; não tem ais". Um a vez mais, isto poderia
sim plesm ente significar "sou eu" (ver 24,39); m as o contexto pós-res-
surreição pressupõe um a revelação do Senhorio de Jesus.
Há um exemplo de um a afirmação "Eu sou" nos evangelhos sinóticos que
se aproxima m uito do uso joanino absoluto da classe (1). Ao falar dos sinais
dos últimos dias, Jesus adverte: "Muitos virão em meu nome, dizendo egõ
eimi" (Mc 13,6; Lc 21,8). Alguns supriríam um predicado; p. ex., "Eu sou ele,
i.e., Jesus ou o Messias". Mt 24,5 supre o predicado: "Eu sou o Messias". Não
obstante, o contexto não pressupõe claramente o predicado; e a justaposição
de egõ eimi e "meu nome" nos deixa m uito perto do em prego joanino.
Assim, o uso absoluto de João de "Eu sou", nas classes (1) e (2), podem ser
um a elaboração de um uso de "Eu sou" atribuído a Jesus tam bém na tradi-
ção sinótica. Uma vez mais, em vez de criar do nada, a teologia joanina pode
ter revalorizado um tem a válido da tradição prim itiva. Não há paralelos si-
nóticos explícitos com a classe (3) dos ditos de Jesus "Eu sou", m as esta cias-
se, como temos visto, é um a possível variação do tem a parabólico sinótico.
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1 Coríntios Gálatas