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GOSPEL BOOK BRASIL
51
o
COMENTARIO
de
ISAIAS
Dados Internacionais dc Catalogação na Publicação (CIP)
Angélica Ilacqua CRB-8/7057
Motycr.J. Alee
O comentário de Isaías / J. Alee Motyer ; tradução de Regina Aranha e
I-Ielena Aranha. — São Paulo : Shedd Publicações, 2016.
728 p.
Bibliografia
ISBN: 978-85-8038-053-8
Título original: The Prophecy of Isaiah: an introduction and commentary
ISAÍAS
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O
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T ra d u ç ã o
R egina & H elen a A ran h a
SHEDD
O rig in a lly p u b lis h e d b y I n te r V a r s ity P r e s s as The Prophecy o f Isa ia h b y J.
A le c M o ty e r. © 1993 b y j . A le c M o ty e r. T ra n sla te d a n d p r in te d b y p e r-
m is s io n o f In te rV a rsity P re s s -U K , P N o r to n S tre e t, N o ttin g h a m ,
N F 7 3 H R , E n g la n d
I a E d iç ã o - S e te m b ro d e 2 0 1 6
P ro ib id a a r e p r o d u ç ã o p o r q u a is q u e r
m e io s (m e c â n ic o s, e le trô n ic o s , x e ro g rá fic o s,
fo to g rá fic o s , g ra v a ç ã o , e s to c a g e m e m b a n c o d e
d a d o s , etc.), a n ã o s e r e m c ita ç õ e s b re v e s
c o m in d ic a ç ã o d e fo n te .
IS B N 9 7 8 -8 5 -8 0 3 8 -0 5 3 -8
T r a d u ç ã o & R e v is ã o : R eg in a & H e le n a A ra n h a
D ia g r a m a ç ã o & C a p a : E d m ils o n F ra z ã o B iz e rra
Sumário
Prefácio do a u to r ....................................................................................................................... 9
Bibliografia sele c io n a d a ......................................................................................................... 13
Principais a b rev iaçõ es........................................................................................................... 15
In tr o d u ç ã o ................................................................................................................................ 17
1. A literatura de Is a ía s ................................................................................................... 17
2. Isaías co m o a u to r .......................................................................................................... 33
3. O livro de Is a ía s ............................................................................................................ 39
4. O texto de Isa ía s..........................................................................................................43
1Desde Duhm, o curso dos estudos de Isaías está bem catalogado em B. S. Childs, Introduc-
tion to the O ld Testam ent as Scripture (SCM, 1979) e em R. K. Harrison, Introduction to the O ld
Testament (Tyndale Press, 1970). O estudo, de Wclhauscn (1869) em diante, conccntrou-sc em
penetrar por trás do texto como recebido para a fundamentação ela fc de Israel e o cenário
original dos oráculos proféticos. Esse processo, no livro de Isaías, recebeu um impulso
importante da obra de B. Duhm (1892), cuja preocupação era principalmente com as
situações subjacentes e os processos de redação, sendo a forma final de menor importân-
cia; cf. R. L·. Clements, “Beyond tradition-history”, J S O T y 31 (1985). Λ fama merecida do
IC C perpetuou a mesma ênfase com considerável preocupação com o aperfeiçoamento.
Assumiu-se que os livros proféticos eram antológicos c a tarefa de dividir obliterava qual-
quer visão do todo. Gunkel e os críticos da forma ajudaram a focar a tenção na perícope
individual; cf. S. Mowinckcl, D ie K om position des Jesaja-buches (Acta Orientaba, 1933). Mais
rcccntemcntc, os comentários de Clements, Whybray, Kaiser c Wesfermann, embora in-
dividualmente repletos de discernimento, trazem pouco sentido de inteireza, c o mesmo
é verdade em relação à grande obra de Wilderberger. Um 1969, J. Muilenberg cunhou a
expressão “crítica retórica” (“Form criticism and beyond”, //!/., 88/1 [1969J) e introduziu
10
A lee M olyer
Bishopsteignton
Bibliografía selecionada
1. A literatura de Isaías
E m b o ra o e stu d o especializado talvez n ão c o n c o rd e acerca d o lugar a ser
dado a Isaías de Jeru salém n o livro q u e sem p re levou seu n o m e , agora é m ais acci-
tável que em qualquer outra época nos últim os cem anos falar d e u m a só literatura.
A o lo n g o d o e stu d o d o A n d g o T e sta m e n to , re c o n h e c e-se que, in d e p e n d e n -
tem en te d a p e rc e p ç ã o a d o ta d a acerca da p ré -h istó ria d e u m tex to , é tarefa d o
estud o acadêm ico b u scar um e stu d o holístico. Isso significa b atalhar co m o texto
com o foi receb id o relutando em p resu m ir q u e os ed itores an tig o s o rd en aram
seu trab alho co m p o u c o e n te n d im e n to d o q u e estavam faz e n d o e p ro c u ra n d o
a m en sag em q u e su rg e a p a rtir d a to talid ad e c o n sid erad a c o m o u m a un id ad e
da E sc ritu ra Sagrada. O seg u in te c o m e n tá rio te n ta c u m p rir essa tarefa co m de-
talhes, m as u m a p e rc e p ç ã o inicial estab elecerá o cen ário tra ç a n d o cin co linhas
unificadoras q u e u n e m a literatu ra d e Isaías: a e sp eran ça m essiânica, o tem a da
cidade, o sa n to d e Israel, h istó ria e fé e características literária e estru tu rais.
a. A esperança messiânica
A literatu ra d e Isaías, c o m o o c o m e n tá rio m o s tra e m detalh es, é c o n stru íd a
em to rn o de três re tra to s m essiânicos: o Rei (caps. 1— 37), o S erv o (caps. 38—
55) e o C o n q u ista d o r U n g id o (caps. 56— 6 6).1 E le ta m b é m m o s tra c o m o cada
um desses re tra to s é fu n d a m e n ta l p ara o “livro” in tegral n o qual está in serid o .12
C o n tu d o , a fa sta n d o -n o s d o s retrato s, e n c o n tra m o s as m e sm a s características
em cada um deles, um in d ic a d o r d e q u e se p re te n d ia q u e esses re tra to s fo ssem
facetas d a p e sso a m essiânica. A ssim :
1 .0 Messias, em cada retrato, é revelado com o provido d o Espírito e da palavra.3
2. O co n ceito d e “ justiça” é rec o rre n te em to d o o livro, característico d o
tro no e d o Rei (9.7) e a n atu reza de seu g o v e rn o (11.4). D a m esm a m aneira, a
justiça está n o cern e da o b ra d o S ervo (53.11; 54.17), d o caráter d o C o n q u istad o r
U ngido (61.10 63.1) e d o resu ltad o d e sua atividade (61.3,11).
3. E m b o ra seja n a tu ra lm e n te en fatizad o q u e o Rei é d a d e sc e n d ê n c ia daví-
dica (9.6,7) — n a v erd ad e, é “ D av i” (11.1) — ta m b é m é v erd ad e q u e a o b ra da
aliança d o S erv o 4 é a realização da “ fidelidade p ro m e tid a a D a v i” (55.3). A lém
1 As principais passagens messiânicas são: 7.10-15; 9.1-7; 8.23— 9.6; 11.1-16; 14.28-32;
24.21-23; 32.1-8; 33.17-24 (sobre o Rei); 42.1-4; 49.1-6; 50.4-9; 52.13— 53.12 (sobre o
Servo); e 59.21; 61.1-3; 61.10—62.7; 63.1-6 (sobre o Conquistador Ungido).
2 Veja p. 47, 97,175, 387, 437, 617,659.
311.1,2,4; 42.1; 49.1-3; 50.4; 59.21; 61.1-3.
4 42.6; 49.8; 54.10; 55.3.
INTRODUÇÃO 18
1 Sobre a interpretação dos cânticos do Servo, veja North, Suffering Servant; Η. Η. Rowley,
The Servant o f the 1 and (Lutterworth, 1952), p. 3 8 8 ;־E. J. young, Studies in Isaiah (Tyndale
Press, 1954), p. 103-141. A principal tendência de interpretação é considerar o Servo como
a Israel personificada ou idealizada ou uma personificação do “remanescente” (percepções
coletivas); como o próprio profeta (percepção autobiográfica); ou como um indivíduo, quer
seja uma pessoa conhecida na história de Israel quer seja o Messias antevisto (percepções
individuais). As percepções coletivas encontram dificuldade na perfeição atribuída ao Servo,
como “Israel”, incluindo o remanescente, é sempre classificado como pecaminoso e neces-
sitado diante de Deus. Sobre as convoluçõcs a que um coletivista é guiado, veja a tabulação
de Wade do seis contrastes entre Israel e o Servo seguida de sua notável conclusão de que
eles, não obstante, são o mesmo! (Wade, p. 267). A percepção autobiográfica enfrenta difi-
culdade no capítulo 53, no qual o Servo morre, contudo, vive e, claro, em 49.3, passagem na
qual o Servo é chamado de “Israel” (veja Whybray). A tentativa de identificar o Servo com
indivíduos conhecidos (jeremias) e desconhecidos (o “rabí leproso” de Duhm) zomba de
todo o exercício de interpretação, pois nenhum indivíduo consegue sustentar a comparação
e teríamos de concluir que o Servo veio e foi sem ser reconhecido ou sem ter realizado a
tarefa atribuída a ele. Aqui Duhm também começa os estudos de Isaías sobre um rastro
improdutivo ao isolar os cânticos de seu contexto e tratá-los como acréscimos posteriores.
Nem todo comentarista que adotou uma percepção “messiânica” retifica essa falha ou mos-
tra a integração da sequência toda dos capítulos 40—55. Só quando isso é feito, o Servo é
visto corretamente no tipo de luz de desenvolvimento que Rowley delineou. Veja também
M. D. Hooker, Jesus and lhe Sem ant (SPCK, 1959).
INTRODUÇÃO 20
0 Conquistador Ungido
59.21 61.1-3 61.10—62.7 63.1-6
Biografia Autobiografia Autobiografia Autobiografia
A s d u as ap re se n ta çõ e s são:
1. Contínua n o fato d e q u e a “ se m e n te ” d o S e rv o aparece p ela p rim eira vez
n o cân tico final d o S erv o (53.10) e reap arece n o p rim e iro c â n tic o d o C o n q u is-
ta d o r U n g id o (59.21).
2. Paralela, c o m o in d icad o acim a, m as o b se rv e ta m b é m que, em cad a série,
n ã o se c o n h e c e a p rim eira aparição d o p e rso n a g e m m essiânico: d e re p e n te ,
ele su rg e n o palco. E m cada caso, o terceiro cân tico é a n ô n im o ; só o c o n te x to
deixa claro q u e m c o lo cu to r.
3. Contrastante n o fa to de cjue na série d o S erv o h á u m a u m e n to n a ên fase
à su bm issão, alc a n ç an d o seu p o n to cu lm in an te n o s dois ú ltim o s cân tico s, ao
p asso q u e n a série d o C o n q u ista d o r a u m e n ta a ênfase n a ação, alc a n ç an d o seu
ápice n o s ú ltim o s do is cânticos.
A m u d a n ç a d e b io g rafia p a ra a u to b io g rafia n o q u a rto cân tico deve se r en-
ten d id a c o m o u m a atitu d e d elib erad a a fim de salien tar esse m e sm o c o n tra ste
e n tre aqu ele q u e “ n ã o a b riu a sua b o c a ” n a execução final de sua ta re fa e aquele
q u e leva a o b ra d e v in g an ça e re d e n ç ã o a sua e m o c io n a n te co n clu são . A cx-
plicação m ais ó b v ia p a ra a m an eira c o m o as duas figuras são a p re se n ta d as é
q u e u m a é a c o n stru ç ã o literária c o n sc ie n te d esenv olvida de fo rm a d eliberada.
E la se ajusta aos c o n te x to s, resp ectiv am en te os cap ítu lo s 40— 55 e 56— 66,
a p re se n ta d o s c o m o livros co m um p lan o , e s tru tu ra e e sb o ç o d o a u to r. F m co n -
trap artid a, a a p re se n ta ç ã o difusa d o Rei, n o s capítu lo s 1— 37, tra n sm ite m u ito
m ais a sen sação de u m p e n h o r escrito resu ltan te de um m in istério oral.
21 Introdução
E ssas sem elh an ças e c o n tra ste s devem se r resp o n sáv eis p o r q u a lq u e r per-
cepção sin tética d a literatu ra d e Isaías. O Rei, o S erv o e o C o n q u ista d o r U n -
gido, c o n tu d o , fo rm a m u m a única p in tu ra n a qual cad a u m deles p recisa d o s
outros. T a n to o Rei (9.1-5) q u a n to o S ervo (53.12; cf. 49.24-26; 52.3-6) são vence-
dores, m as sem o C o n q u istad o r, a vitória n ã o é explicada nem co n su m ad a. ( ) Rei
governa em ju stiça so b re u m a c o m u n id a d e justa (32.1-8), m as c o m o ele p o d e
fazer isso se o S erv o n ã o fo rn e c e r ju sd ça aos serv o s d o S e n h o r (53.11; 54.17) e
o C o n q u ista d o r n ã o e fe tu a r a justiça e n ã o d e rro ta r os in im ig o s deles (63.1-6)?
O Rei g o v e rn a so b re o m u n d o to d o (veja as referên cias acim a), m as c o m o ele
p o d e g o v e rn a r se o S ervo n ã o ab rir o c a m in h o p ara to d o s q u e vão p ara a festa
e d esfru tam a “ fidelidade p ro m e tid a a D a v i” (55.1-5) e se o C o n q u ista d o r n ão
criar u m m u n d o livre de o p o sição ?
b. O tema da cidade
Jerusalém en tro u na tradição d o p ovo de D eus co m a pessoa de M elquiscdc-
que (G n 14.18) e o re c o n h e c im e n to p o r A b ra ã o de seu sa c e rd ó c io real. D a í em
diante, n ad a relevante a c o n te c eu até a c a p tu ra c o c u p a ç ã o d a cid ad e p o r D av i
(2Sm 5.6-10) c a centralização política e religiosa d a cid ad e e m Israel (2Sm
6). C o n fo rm e 2Sam uel 7.10,11 revela, D av i e n te n d ia a cid ad e c o m o o lu g ar
escolhido p e lo S enhor. Jo su é 10.1 fo rn e c e u m in d ício de q u e a trad ição de
M e lq u ise d e q u e /A d o n i-Z e d e q u e foi m a n tid a em Je ru sa lé m e, se fo r esse o caso,
então, D av i, a o e stab elecer seu tro n o ali, ele m e sm o se to rn o u o su c e sso r d e
M elquisedeque. E sse fato fo rn e c e o p a n o d e fu n d o p a ra o uso , c m S alm os 110,'
da tradição de M elq u ised eq u e c o m o veículo d a esp e ra n ç a m essiân ica d a m es-
m a m aneira c o m o a trad ição abraâm ica leva a S alm os 47, 87, etc. A ssim , p o r
in term éd io d e D a v i (e N atã) e so b D e u s, a m o n a rq u ia davídica, o sacerd ó cio
de M elqu isedeque, as p ro m e ssa s abraâm icas e a cid ad e esco lh id a, to d o s se reú-
nem . M as c o u b e a Isaías se to rn a r o prin cip al p ro p a g a n d ista d essa escato lo g ia
real baseada n a cidade. A literatu ra d e Isaías p o d e se r d e sc rita de fo rm a c o rre ta
co m o “ o livro da cid ad e” . Seu e sco p o , co m c erteza, é “Ju d á e Je ru sa lé m ” (1.1),
m as o d e stin o d e ju d á , em sua visão, é selado na cidade, e a re sta u ra ç ão d a cida-
de n ão é apenas a re sta u ra ç ão d o povo, m as d o m u n d o . Q u a tro linhas d e Isaías
são en tretecid as n esse u so d o tem a d a cidade em q u e Je ru sa lé m , Sião, m o n t e /
m o n ta n h a e cidade são te rm o s m u itíssim o intercam biáveis: ju lg a m e n to divino,12
1Veja A. R. Johnson, Sacral K ingship in A n cien t Israel (University of Wales Press, 1967).
21.8; 3.1,8,16; 4.3,4; 10.12,24,25,32; 22.1-14; 64.10; 66.6. Esse temade julgamento sc reflete
na cidade arruinada de 49.14-21; 54.1,11.
INTRODUÇÃO 22
c. O Santo de Israel
O p o n to central d o c h a m a d o d e Isaías é a sa n tid a d e d e D eu s. E a única
co isa cap az d e d eix ar “ a te rra in teira [...] cheia” e a ú n ica q u alid ad e em to d o o
A n tig o T e sta m e n to q u e te m de ser ex p ressa três vezes a fim d e ex p rim ir ade-
q u a d a m e n te seu v alo r e m a g n itu d e (6.3). N a narrativ a d o c h a m a d o (6.1-13), a
n o ç ã o de san tid ad e é aplicada em três direções. P rim eira d ireção, a sa n tid a d e e a
tran scen d ên cia. A p e rc e p ç ã o é d o S o b e ra n o exaltado (Senhor, '“dõnãy, n o versí-
cu lo l;R e ¿ n o versículo 5), e a n a tu re z a d essa so b e ra n ia é d efin id a n o in cessan te
clam o r d o s serafins d e q u e o S e n h o r é santo. S eg u n d a d ireção, a sa n tid a d e e
0 julgam ento. A clareza d a reação d o p ro fe ta n o v ersícu lo 5 c o m p e n sa qual-
q u e r in certeza na tra d u ç ã o d o versículo 4. E algo m o rta l p ara o p e c a d o r estar
n a p re se n ç a d o Santo. N e n h u m a se n te n ç a p recisa ser p ro n u n c ia d a d o tro n o ;
a co n sciên cia declara a cu lp a p esso al e n acio n al e su a c o n seq u ên cia. T erceira
direção, a sa n tid a d e e a salvação. A fum aça d e san tid ad e (cf. E x 19.18) deixa os
m eio s de salvação (o altar) ainda em vista (v. 6), e um serafim , a p a rtir d a p re-
sen ça d o S an to e p ela v o n ta d e dele, v o a para ser o m in istro d e p u rificação e de
expiação d o p ecad o r. T o d a a lite ra tu ra d e Isaías tem u m a teologia d e san tid ad e
e x a ta m e n te c o m o se ela to d a d e p e n d e sse d a v erd ad e an u n ciad a n o c a p ítu lo 6.
1 A preservação da cidade (1.8; 26.1; 29.1-8; 31.5-9; 36.15; 37.10,32-35; 38.6); sua restaura-
ção (40.2,9; 52.1; 57.13; 61.3; 66.8); a restauração davídica (1.21,26,27 ;24.23; 33.20); uni-
versai (2.2-4; 11.9; 27.13; 60.14; 62.12; 65.25) redimido (51.17; 52.1,2,7,8; 59.20; 62.11);
Ciro (45.13); santuário/moradia divina (4.3-5; 12.6; cf. 30.19).
2 Por exemplo, 14.25; 41.27; 46.13; 60.14; 62.1,6; 65.18,19; 66.13.
3 No entanto, observe o reaparecimento dc 35.10 em 51.11 e de 11.6-9 em 65.25.
23 Introdução
d. História e fé
Isaías de Jeru salém m in istro u a p a rtir d o an o em cjuc o rei U zias m o rre u
(7 4 0 /7 3 9 ) e ao lo n g o dos reinados de Jo tã o (7 4 0 /3 9 -7 3 2 /3 1 ), d e A cax (7 3 2 /3 1 -
7 1 6 /1 5 ) e d e E xequias (7 1 6 /1 5 -6 8 7 /8 6 ).' Λ pax que, em geral, prevaleceu du-
ran te o reinado de U zias foi p o litic a m e n te o c a sio n a d a pela c o n d iç ã o inativa d o
Im p é rio A ssírio. E m 745, todavia, o v ig o ro so im perialista T ig latc-P ileser III
(744-727) su b iu ao tro n o e foi seg u id o p o r três reis ig u alm en te am b icio so s: Sal-
m a n e se r V (726-722), S arg o m II (721-705) e S en aq u erib e (704-681).12 A p re ssã o
d a A ssíria n a d ireção o e ste to c o u p rim e iro A rã e o R ein o d o N o r te d e I s r a e l/
E fra im , m as lo g o ficou claro q u e Ju d á tin h a d e to m a r u m a decisão so b re em
q u e m d e p o sita r sua seg u ran ça em um a é p o c a d e am eaça. Foi n esse cen ário
q u e Isaías p a sso u a m in istra r em duas crises paralelas, a p rim e ira so b Acax e a
seg u n d a so b E xequias.
1 Veja Erlandsson.
2J. Bright,./! H isto ry o f Isra el(SCM, 1972); Η. H. Rowley, “Hezekiab’s reform and rebellion”,
M en o f G od, ed. Η. H. Rowley (Nelson, 1963); L. L. Honor, Sennacherib’s Invasion o f Palestine
(New York, 1926); B. S. Childs, Isaiah and the A ssyria n C risis (SCM, 1967); R. E. Clements,
Isaiah a n d the Deliverance o f Jerusalem , J S O T S , 13 (1980).
27 Introdução
contudo, ele escreve: “As passagens que falam da Babilônia devem ser atribuídas, no máxi-
mo, ao século VI a.C.” Isso reflete uma ambivalência generalizada entre os comentaristas.
1 Veja Erlandsson. Childs (Introduction ) parece entender equivocadamente o propósito de
Erlandsson, que não é apenas descobrir o cenário histórico original de Isaías 13— 14, mas
de mostrar a extensão da ameaça que a Babilônia, sob o comando de Merodaque-Baladã,
representava para a predominancia assíria. Nisso, ele é bem-sucedido.
29 Introdução
1 2.2-4; 4.2-6; 9.1-7; 8.23— 9.6; 11.1-9; 12.1-6; 21.1-10; 25.1-10; 26.1-6; 33.17-24; 35.1-10;
40—55 (em certos trechos); 60.1-22; 61.1-3; 62.1— 63.6.
2 O senhor dos anéis, dc J. R. R. Tolkien, contém elevada poesia e estilos de prosa variados. Cf.
também “UAllegro” e “An Ode on the Morning of Christ’s Nativity”, de John Milton,
com a majestade de “Paraíso Perdido” e a prosa rítmica de “Aeropagitica”; e o prefácio do
Livro de oração comum do arcebispo Cranmer (“A respeito do culto da igreja” e “Sobre
cerimônias”) e a Oração de humilde acesso — ou Tabela de parentesco c afinidade.
31 Introdução
1Veja meus comentários disponíveis sobre Sofonias c Ageu na série dos profetas menores
da Baker Book House, cd. T. McComiskey; J. Baldwin, Zecbariah ( Tyndale O ld Testam ent
C om m entary, IVP, 1972), ρ. 85-86. Sobre questões gerais de estrutura, veja D. Clines e e ta l.,
A r t anã M eaning, J S O T S, 19 (1952); House, Zephaniah e The U nity o f the Twelve; P. Cotterell
e M. Turner, lin g u istic s a n d B iblical A n a ly sis (SPCK, 1989); T. Longman, IJlera ry A pproaches
to B iblical Interpretation (Apollos, 1987). Para a aplicação consistente dos principios “es-
truturalistas”, veja D. W. Gooding, lh e G ospel o f L u k e (IVP, 1989) c True to fa ith : A Fresh
A pproach to the A c ts o f the A p o stles (Hodder e Stoughton, 1990).
2 Por exemplo, 16.13; 21.1,2; 22.4; 30.25,26; 35.4; cf. 40.2; 40.20-30; 41.11,12; 47.11; 49.19;
60.19c,20; 63.9.
3 Por exemplo, 1.9cd,13cd,25; 5.14cd,27cd; 6.1 le ; 10.6ab; 17.10 (rima de quiasma); 33.22
(com aliterações cruzadas); 41.2cf,17de; 46.1 led; 49.10cd,19 (a-b-<b>-a); 53.6ab; 57.6ab;
66. Ide.
4 Por exemplo, 1.7,18; 7.23; 13.12 (rima); 14.25; 11.13 (quiasma); 35.5; 40.19; 42.13; 49.13;
54.13; 57.1,20,21; 60.16; 66.2.
5Por exemplo, 1.21; 5.7,16,30; 7.9; 8.12,22; 14.23; 15.9; 24.1,3,4,6,16,23; 27.7; 35.9; 37.30;
40.31; 41.2; 50.4; 54.11; 58.12; 59.7,11; 60.18 (quiasma).
6 Por exemplo 1.17,18 (oito imperativos); 2.12-16 (dez coisas exaltadas); 3.2; 10.9 (seis no-
mes de lugar); 10.28-32; 11.11; 15.1-9 (dezessete nomes de lugar); 21.15 (quatro “de”);
24.2 (seis comparações); 24.7-12 (treze itens de infortúnio, pesar); 33.15,16 (seis qualifica-
ções); 37.33 (quatro “não”); 41.11,12 (quatro declarações de destruição); 44.24-28 (treze
cláusulas de atributos); 52.7 (quatro participios); 65.11,13-16 (cinco contrastes).
33 Introdução
O. T. Allis, The U nity o f Isaiah (Tyndalc Press, 1951). Veja também a defesa da unidade na
introdução de Oswalt.
8Veja II. Harris, i he l'iibinjiet¡ School (!\ç>o\\o% 1990).
9Smart, ρ. 236.
10R. S. Poster, lh e R estoration o f Israel (D u tto n : Longman and Todd, 1970).
11Johnson, “From chaos to restoration” mostra que os ventos do estudo de Isaías estão
soprando na direção certa.
INTRODUÇÃO 34
a. Literatura
A lém da q u e stã o de estilos c o n sid e ra d a acim a, o u tra s características têm
de ser co n sid erad as.1 O re sto d o s livros p ro fé tic o s m o s tra q u e a co n v en ção
literária so b a qual o A n tig o T e sta m e n to foi re u n id o era p re se rv a r a id en tid ad e
separada, em vez d e p e rm itir q u e a o b ra d e u m p ro fe ta se fu n d isse c o m a d e o u -
tro — até m e sm o fra g m e n to s c o m o o livro d e O b a d ia s.12 N o caso d o p in ácu lo
da profecia d o A n tig o T e sta m e n to , n o e n ta n to , so m o s co n v id a d o s a a cred itar
que esse p ro c e d im e n to foi ab an d o n ad o . E fácil m o n ta r h istórias em to rn o da
suposta an o n im ía d o s capítulos 40— 55, c o m o a de que, u m a vez que está p ro fe-
tizando d o exílio a q u e d a da B abilônia, o a u to r acha c o n v e n ie n te e sc o n d e r seu
nom e. M as m e sm o q u e fo sse esse o caso (e é u m caso claro d e p e tiç ã o especial),
um a coisa é e sc o n d e r a id e n tid ad e, o u tra co isa é o n o m e se p e rd e r e ain d a o u tra
coisa é a p ró p ria o b ra se r a b so rv id a em o u tra o b ra. A p e rc e p ç ã o de C lem en ts,
m encionada acim a, d e q u e Isaías d e Jeru salém precisava d o “ Isaías” d o exílio
para co m p letar sua m en sag em e, daí, o caso d o tex to d o p ro fe ta p o ste rio r te r sido
acrescentado ao d o a n te rio r é igualm ente u m caso de histórias escritas para sus-
tentar teorias. A lém d o que, c o m o “A união d o s d o z e ” de H o u se m o stra , p o d e
ter havido p re o c u p a ç ã o e m d esen v o lv er a integridad e da m en sag em profética
sem sacrificar a identidade d isü n ta d o s livros e d o n o m e d e seus au to res. C o n tu -
do, n ão h á n e n h u m a a u to rid a d e ex te rn a n e m q u a lq u e r m a n u sc rito p ara su p o r
a existência se p a ra d a em q u a lq u e r é p o c a d e algum a das três su p o sta s divisões
de Isaías. N o caso d o p rim e iro m a n u sc rito d e Isaías d o s p e rg a m in h o s d o m ar
M orto (Q*), p o r exem plo, 40.1 co m e ç a n a ú ltim a lin h a d a co lu n a q u e c o n té m
38.9— 39.8.
b. Geografia
A questão d o contexto topográfico dos capítulos 40— 55 é im portante. Elli-
son com enta q u e “ e m b o ra o p a n o d e fu n d o da Palestina te n h a se esm aecid o , o
da B abilônia n ã o ficou e v id e n te ” .3 A últim a p a rte d essa declaração é v erdade,
a prim eira n ã o é. A. L o d s achava a evidência g eo g ráfica tão c o n siste n te que,
igualm ente p re ssio n a d o p o r sua in cap acid ad e p ara aceitar a p ro fe c ia preditiva,
insistiu q ue o “ D e u te ro ls a ía s ” residia na Fenicia o u n a Palestina. E le escreveu:
c. História
N a passagem 43.14, o p ro fe ta en tra n o reino da h istória e das alusões, em
princípio, feitas em 40.1— 43.13 e tidas c o m o se referin do ao cativeiro babilônio,
e a razão para isso, sua d uração lim itada e té rm in o v in do u ro . G . E . W rig h t ex-
p resso u de fo rm a tip icam ente lúcida o princípio so b re o qual o e stu d o m o d e rn o
in terp reta esse fato: “A profecia é a n te rio r ao q u e prediz, m as c o n te m p o râ n e a o u
mais tardia ao q u e ela p re ssu p õ e ” .12 C o m base nisso, conclui-se q ue o p ro fe ta res-
ponsável pelos capítulos 40— 55 devia m o ra r na B abilônia p o rq u e ele p ressu p ô s
o cativeiro e, a p a rtir de sua colocação nele, olha adiante para sua conclusão. O
assunto, c o n tu d o , n ã o p o d e ser resolvido de fo rm a tão célere.
O s cap ítu lo s 40— 55 refletem m u ito p o u c o ta n to d o a m b ie n te social e his-
tó ric o d a B abilônia q u a n to da g eografia babilônia. O s cap ítu lo s n ã o tê m cená-
rio b ab ilô n io , e m b o ra 43.14— 48.22 te n h a o rie n ta ç ã o babilônia. A B ab ilô n ia é
m e n c io n a d a q u a tro vezes — c o m o o lugar d e cativeiro (43.14), c o m o u m a cida-
d e c o n d e n a d a a cair (47.1), c o m o local da ação divin a p u n itiv a (48.14) e c o m o
0 p o n to d e p a rtid a d o s q u e v o lta rã o p a ra Je ru sa lé m (48.20). D o c o n trá rio , h á
p o u c a coisa cjue seja exclusiva o u típica d a B abilônia em relação aos cap ítu lo s
salvo q u e C iro é m e n c io n a d o c o m o c o n q u ista d o r d a B abilô n ia (44.28; 45.1). E
p a rtic u la rm en te im p o rta n te m e n c io n a r q u e q u a n d o o s cap ítu lo s falam so b re
as c ircu n stân cias d o s exilados (p o r exem plo, 42.22; 51.14), eles n ã o su ste n ta m
n e n h u m a relação co m o q u e sa b e m o s d a v erd ad eira ex p eriên cia d o s q u e fo ra m
levados p ara a B abilônia (cf. J r 29; em c e rto s tre c h o s d e E z). N isso , o p ro fe ta ,
c o m o d e fato o faz n a “ d escrição ” d a q u e d a da B abilônia (46.1,2; 47.1-15),
n ã o está fo rn e c e n d o in fo rm a ç õ e s d o local, m as u sa n d o e ste re ó tip o s c o n v e n -
cionais. “ Q u a n d o p ro c u ra m o s evidência da residên cia d o p ro fe ta n a B ab ilô
d. Profecia
Q u a n d o d iscu tim o s a su ste n ta ç ã o da p ro fe c ia p red itiv a n a q u e stã o d a au-
toria de Isaías, te m o s de elim in ar d e u m a vez as c o n sid e ra ç õ es baseadas em
fatores de tem p o . E c o m u m p e rg u n ta r se u m p ro fe ta p o d ia, o u m e lh o r, p o d e ria
predizer u m ev e n to q u e deveria a c o n te c e r u m sécu lo e m eio d e p o is d e seu
tem po c, d ep o is, p e g a r esse e v e n to fu tu ro e o lh a r m ais p a ra a fre n te ain d a, mais
setenta anos adiante.-5 E possível p re d iz e r n essa escala d e tem p o ? E relevante
fazer isso — d iz e r aos p ró p rio s c o n te m p o râ n e o s: “ S inta-se re c o n fo rta d o d aqui
duzentos a n o s tu d o ficará b e m ” ? C o n tu d o , é im p o rta n te le m b ra r q u e os “ du-
zentos a n o s” são n o ssa co n trib u ição para a discussão, n ã o a d e Isaías. Isso vem
de nossa visão em retro sp ectiv a, n ã o d a p rev isão dele. E le n ão disse n ad a so b re
isso e, p o r tu d o q u e sab em o s, n ã o sabia n ad a so b re esse assu n to .
C o m o o c o m e n tá rio insiste, a passag em 39.1-8 satisfaz to d a s as co n d içõ es
estabelecidas p elo e n te n d im e n to m o d e rn o d o s p ro fe ta s c sua o b ra . A B abilônia
é ap resentada a Isaías c o m o u m tó p ico ; ele re sp o n d e in cisiv am en te, tra ta n d o
1 S m art, p. 20
2 W hybray, p. 196.
3 A m era p a s s a g e m d o te m p o p o d e n ã o c o n s titu ir u m p r o b le m a . Isa ías c o n s tr ó i e m fa to re s
d o te m p o q u a n d o lh e c o n v é m ( p o r e x e m p lo , 16.1; 2 1 .1 6 ), m as o te m p o d e c u m p r im e n to ,
em g eral, é a b e rto . D e m o r o u 130 a n o s a n te s q u e 5 .1 -7 fo ss e c u m p rid o . A p a s s a g e m 4 4 .2 8
lida c o m a q u e s tã o d a p r e d iç ã o d o n o m e p e sso a l d e C iro.
INTRODUÇÃO 38
e. Teologia
PI. H . R ow ley foi u m v erd a d e iro p ro fe ta da trad ição d e e stu d o s d e Isaías n a
qual p e rm a n e c e u q u a n d o escreveu so b re o s c a p ítu lo s 40— 55 q u e “ to d o o te o r
d a m e n sa g e m e das idéias p o r trás d ela e, so b re tu d o , o p e n sa m e n to d e D e u s e
suas c o n clu sõ es, aqui, são d istin ta s” d o q u e e n c o n tra m o s n o s cap ítu lo s 1— 39.12
M as sim p le sm e n te n ã o é isso q u e a c o n te c e ta n to n o exam e m ais a b ra n g e n te
q u a n to n o m ais m in u cio so , d o s detalhes. A id e n tid a d e teoló g ica a b ra n g e n te d a
literatu ra d e Isaías é assegurada p o r sua quase exclusiva declaração d o títu lo “ o
S an to de Israel” (veja item “ c” acim a). Q u a n d o c o n sid e ra m o s q u e essa in sisten -
cia d istintiv a s o b re u m D e u s p a rtic u la r e n acio n al n ã o se ajusta n e m u m p o u c o
sim plicid ade p a ra explicar o livro resu ltan te disso — d e sd e q u e a p e sso a esteja
p re p a ra d a p ara fazer, ao m e n o s, d u as suposições. P rim eiro, existe a su p o sição
(to talm en te sem a p o io ex tern o , m as essencial p ara a teoria) de u m a co n tín u a
“ escola” d e discípulos de Isaías,1 p re o c u p a d a co m a p e rp e tu a ç ã o da m en sag em
de seu m e stre e o c u p a d a em ad ap tá-la à situação deles. S egu n d o , h á a su p o sição
(validada pela existência m esm a d o A n tig o T e sta m e n to c o m o u m to d o ) d e q u e
ho u v e, n a igreja d a antiga aliança, a a a ia ç ão d e arquivistas e c o n se rv a c io n ista s
cu id ad o so s q u e reu n iram e finalizaram esse m aterial cada vez m aior. A p e rc e p -
çao d e W atts d e u m e d ito r e colegas em o p e ra ç ã o em 435 é p arecid a co m essa:
um g ru p o c o n tín u o d e d isc íp u lo s-p re g a d o re s e a u n ificação final d o c o rp o d e
m aterial cad a vez m a io r e m u m c o m p ê n d io co m u m a visão de d o z e a to s e u m a
p e rc e p ç ão c o e re n te d e D e u s c da história.
M as c o m o fica a literatu ra se p ro c u ra m o s o lu gar da m e n te q u e o rig in o u
e o rg a n iz o u n o co m eço , em vez de n o fim da o b ra — o p ró p rio Isaías n o sé-
cu lo VITI e início d o V II a .C , e m vez d o e d ito r a n ô n im o d e W atts n o fim d o
século V?
E m u ito difícil e n te n d e r a relutância de especialistas e co m en taristas em ver
os p ro fetas c o m o seus p ró p rio s editores, e isso se deve, p rin cip alm en te, a n ão
to m a r c o n h e c im e n to das suposições dos p ró p rio s p ro fetas so b re si m esm o s e
sua ob ra. H oje, m uitos achariam im possível p en sar n os livros d o s p ro fetas c o m o
inspirados v erbalm ente p o r D eus, o u seja, que o agente h u m a n o esco lh id o não
só receb eu 'd e D eu s (p o r m eio de processos nu n ca revelados) a essência e o “ sen-
tid o ” d a m en sag em que tinha d e transm itir, m as tam b ém foi tão incitado c su-
perv isio n ad o p o r D eu s q u e as palavras que expressaram a m en sag em (palavras
naturais ao h o m e m daquela ép o c a e co m aquela personalidade) tam b ém eram as
p róp rias palavras de D e u s m esm o.12 E ssa é u m a declaração tão im p ressio n an te
que n ão é de ad m irar q u e os especialistas que exam inaram os p ro fetas em m eio
ao racionalism o d o século X IX sim plesm ente a ten h am descartado. T a m p o u c o , é
de adm irar que até o m o m e n to ain d a exista m u ita relu tân cia acerca d o assu n to .
N o e n ta n to , n o ssa obrigação, nesse p o n to , não é inquirir se Isaías estava c e rto o u
externo s d o texto d e Isaías, o Targum de Isaías1 (um a p aráfrase aram aica antiga)
parece te ste m u n h a r de um texto subjacente pró x im o d o T M , se n ã o id ên tico a
d e . É m ais difícil discernir a influência da Septuaginta (L X X )12 e d o Q a. O ttley
arriscou-se a dizer q u e L X X B, e m b o ra se n d o o m an u scrito g re g o que g eralm en te
é co n sid erad o o m ais im p o rtan te, n ã o o b stan te, é “ pelo c o n se n so c o m u m um a
das p iores p artes traduzidas da L X X ” .3 C laro q u e esse julg am en to p re su m e q ue
os trad u to res d a L X X trabalharam a p a rtir d o T M e cu m p riram m al sua tarefa.
Talvez isso esteja co rreto , pois m uitas das variantes da L X X su rg em em lugares
em q u e o p ró p rio T M envolve o hebraico in co m u m nas ex p ressõ es idiom áticas
o u vocabulário e a pesso a (em b o ra co m ousadia) pergu nta-se se os trad u to res
estavam lingüísticam ente prep arad o s para o trabalho. Adas, agora, a possibilidade
ventilada co m m ais firm eza é q u e a L X X seguiu u m original h eb raico diferen te
d o 'I'M .4 T odavia, m e sm o que fosse esse o caso, a tarefa de recu p erar o original
heb raico co m base na L X X seria m uito incerta. O Q " c n o sso m an u scrito hebrai-
co m ais antigo, d a ta n d o possivelm ente de 100 a.C. e n o s lev an d o d e v olta mil
anos an tes d o texto d o T M de B em A sher (1009 d .C ). Λ iden tid ad e esm ag ad o ra
desse texto co m o T M indica a confiança q u e p o d e m o s te r n o q u e h e rd a m o s e o
esp an to so cuidado e exatidão d o s copistas. A o m esm o tem p o , o e stu d o das varia-
ções d o texto d e Q a q u a n d o c o m p a ra d o co m o tex to de T M sugere aos especialis-
tas que tem o s aqui re p resen tan tes d e d u as fam ílias d istin tas d e m an u scrito s. O s
p o n to s em q u e Q :l p arece te r um sen tid o relevante para no ssa c o m p re e n sã o de
Isaías foram levados em consideração em n o sso co m en tário .5 A ten d ên cia o b ser-
vável em estu d o s especializados d o te x to d o A n tig o T e sta m e n to é o afastam en -
to d a p aixão p o r reescrev er o q u e foi h e rd a d o e a d o ta r um a atitu d e b a sic a m e n te
m ais rev eren te, e m b o ra ainda alerta, co m o te x to c o n fo rm e receb id o . U m a ge-
ração a n te rio r de c o m e n ta rista s cham ava de “ e m e n d a ” o q u e m u itas vezes na
m e lh o r das h ip ó te se s era u m a d e m o n stra ç ã o d e e n g e n h o sid a d e linguística c,
na p io r das h ip ó teses, a indulgência d e um risco o cu p acio n al. “ N o s s a o rd e m ” ,
diz sab iam en te O sw alt, “ é in te rp re ta r o te x to c o m o está d ia n te d e n ó s a m e n o s
q u e haja in d ício n o m a n u sc rito para co rrig ir o texto. F azer algum a co isa m ais é
c o n stru ir n o ssa in te rp re ta ç ã o n o a r” .6
a. Capítulos 1—5
Isaías, co m frequência, p e rm ite que tem as im p o rta n te s en trem de fo rm a
discreta em seu texto. O tem a d o rei ilustra isso. N o capítulo 1, Isaías parece ab-
sorver a atual d ecad ên cia d e Je ru sa lé m (w . 21-23) e sua inevitável p u n iç ã o (w .
24,25), m as ele, c o m a b ru sq u id ã o q u e m uitas vexes caracterix a sua m e n sa g e m
de esperança, d iscern e ta m b é m u m a restau ração v in d o u ra q u a n d o tu d o será
“com o n o p a ssa d o |...| c o m o n o p rin c íp io ” (v. 26). U m a vex q u e esse “ princí-
pio” aco n teceu so b D a v i q u a n d o ele c a p tu ro u a fortalexa d e Sião c to rn o u -a
0 foco p olítico e religioso de seu re in o (2Sm 5), a g lória d av íd ica está d e volta.
N os capítulos 2— 4, a glória d e Sião c o m o cidade in te rn a c io n a l d a p ersp ectiv a
religiosa e política (2.2-4) está m u ito d ista n te d o q u e o p ro fe ta vê (2.5— 4.1). A
realidade atual d e c e p c io n a a expectativa, n ã o o b sta n te , h á u m a g ló ria v in d o u ra,
um ato criativo d o S e n h o r (4.5) p o r m eio d o qual ele dirigirá a cid ad e de Sião
renovada à antiga glória de sua p re se n ç a n a n u v e m e n o fo g o em m eio a seu
povo (cf. Ê x 13.21,22; 40.34-38).
b. Capítulos 6—12
N esses cap ítu lo s, o te m a é d efin id o m ais estreitam en te. N o q u e acab a sen-
do um sím b o lo a d e q u a d o p a ra a casa d e D av i, a m o rte im in e n te d o rei Uxias
(6.1; cf. 2R s 15.5; 2 C r 26.16-18). M as a o lado d o rei m o rib u n d o e c o rro m p í-
do há o S anto, “ o Rei, o S e n h o r d o s E x é rc ito s” (6.5). A in te ra ç ã o d esses dois
reinados — o Rei sa n to e divino e a casa davídica c o m d o e n ç a te rm in a l — e
sua fusão p rev ista em um Rei divino da lin h ag em d e D a v i (7.14; 9.6,7; 11.1,10)
tom a-se o te m a u n iíicador. O s cap ítu lo s 6 e 12 fo rn e c e m u m a e stru tu ra co m
sua ênfase c o m u m n o S an to exaltado em Sião (6.1,3; 12.6) e, in te rn a m e n te ,
duas sub seções cu lm in am co m a visão d o Rei q u e está p o r v ir (9.1-7; 11.1-10).
Podem os ver a glória de sua p esso a, a p e rfe iç ão d e seu re in o c seu d o m ín io
mundial (9.7; 11.10). E sse ú ltim o fo rn e c e a ligação c o m os cap ítu lo s seguintes.
O LIVRO DO REI 48
c. Capítulos 13—27
E ssa seção é e stru tu ra d a de fo rm a a revelar o p o v o dc D e u s ro d e a d o p elos
p o v o s d o m u n d o . E les, aos o lh o s exteriores, são c o m o q u a lq u e r o u tro p o v o ,
p e g o nas m u d an ças h istó ricas e n o s acasos da ex p eriên cia te rre n a e ta m b é m
en v o lv ido em fracasso e decadência. N o e n ta n to , h á u m a h istó ria n a história:
o S e n h o r n ã o a b a n d o n o u seus p la n o s c en tralizad o s em D avi. A din astia ainda
será p ro d u tiv a (14.29) e a cidade ideal d e Sião, alcan çad a (14.32). E Sião q ue
p o d e ría e sp alh ar ainda a g o ra suas p ro m e ssa s p a ra os necessitados (15.1— 16.14)
acolherá, u m dia, as nações q u an d o o S e n h o r vier para g o v e rn a r (24.23), estab e-
lecer seu b a n q u e te m essiânico d ia n te de to d o s (25.6-9) e re c e b e r os p ro sc rito s
para a d o ra r em seu m o n te sa n to (27.13).
d. Capítulos 28—35
E ssa seção, a p re se n ta d a c o m o u m a série de d en ú n cias so len es (28.1;
29.1,15; 30.1; 31.1; 33.1), le m b ra o s cap ítu lo s 6— 12 em sua c o m b in a ç ã o de
p olítica atual e im ag en s visionárias. Λ é p o c a era d e desafio p a ra o p o v o de
D e u s, e sua g aran tia de p o sse d a te rra foi q u estio n ad a. N ã o o b sta n te , eles te re m
falh ad o so b pressão , d e ix a n d o o cam in h o da fé p e lo d a c o n v en iên cia p o lítica, a
p ro m e ssa d o S e n h o r n ã o falha: um rei reinará (31.1), o o b je to d a ad m iração de
seu p o v o (33.17). N a v erdadeira cid ad e de Sião, o S e n h o r será rei (33.20-22) e
seus red im id o s e n tra rã o n a cidade co m alegria (35.9b, 10).
e. Capítulos 36—37
Finalm ente, a ro ch a da história c p o sta so b o edifício da visão. Aqui h o u v e
um a ocasião específica q u a n d o o rei davídico e sua cidade ficaram so b am eaça,
m as as p ro m essas d o S enhor, cjuando testadas, provaram ser durad o u ras. O Se-
n h o r ficou firm e p o r seu rei e su a cidade e fez isso p o r causa d e D av i (37.35).
2. Estrutura
A unidade d o “ livro d o Rei” , todavia, é m ais q u e apenas u n id ad e de tem a. H á
tam b ém u m a e stru tu ra unida e um a integração de p artes b em co ncebida. D iscu -
tirem os agora os m otivos para co n sid erar q u e os capítulos 1— 5 são prefácio. P o r
ora, deixarem os esses cap ítu lo s de lado e e x am in arem o s os cap ítu lo s 6— 37.
N esses cap ítulos, c o n fo rm e o b se rv a m o s, há q u a tro b lo c o s d e m aterial: 6— 12,
13— 2 7 ,2 8 — 35 e 36— 37. E ssas divisões são ditad as p elo p ró p rio tex to , co m o ,
na v erd ad e, o é a se p aração d o s capítulos 1— 5. A g o ra, em sua d ivisão q u á d ru -
pia, os cap ítu lo s 6— 12 e 28— 35 casam uns co m os o u tro s. N eles, Isaías lu ta
co m du as crises h istó ricas e espirituais idênticas. E le dirig e-sc d ire ta m e n te aos
atuais líderes e p olíticos, c o m p a ra n d o -o s o te m p o to d o co m p red içõ es rela-
clo nad as à glória p o r vir; c o n tra b a la n ç a n d o a in c o n stâ n c ia da h u m a n id a d e so b
c o n d e n a ç ã o co m a firm eza de D e u s m a n te n d o firm e m e n te suas p ro m essas.
49 O LIVRO DO REI
1.1- 31 P e c a d o e experiencia.
A deserção nacional, religiosa e social, co m o p o v o se d istan cian d o do
S enhor, resu lto u cm devastação.
2.1— 4.6 P ecado e eleição.
O p o v o d o S en h o r, c o m o h erd e iro s d a p ro m e ssa ab raâm ica, foi cha-
m a d o a se r u m a b ê n ç ã o p a ra to d o s os p o v o s d a terra, m as, em vez
disso, eles esc o lh e ra m o c a m in h o d a rebelião.
5.1 -30 P ecad o e graça.
O S e n h o r e sb a n jo u seu cu id a d o co m seu p o v o a p o n to d e p o d e r
p e rg u n ta r: “ O q u e m ais?” (5.4). E les, c o n tu d o , d eg e n e ra ra m em
p e c a d o e p ro d u z ira m u m a safra d e injustiça.
E ssas três seçõ es têm em c o m u m o c o n tra ste e n tre o ideal e o real. O Se-
n h o r p re te n d ia q u e to d o s de seu p o v o vivessem c o m o seus filhos (1.2), q u e eles
fossem a c id a d e -c o m u n id ad e d e b ê n ç ã o m undial (2.2-4) e q u e p ro d u z isse m o
fru to d a justiça (5.1-7). A realidade p ro v o u ser m u ito d ife re n te d isso e tem o s
de p e rg u n ta r c o m o o S e n h o r reage q u a n d o seu ideal é p e rv e rtid o ? E m 1.24-
31 e 3.13— 4.6, a reação divina d e ira e a p u n iç ã o e n c h e m o p rim e iro plan o ,
m as o p a n o d e fu n d o está re p le to da luz d a esp eran ça (cf. 1.24 c o m vv. 25,26
e 3.13— 4.1 co m 4.2). O c a p ítu lo 5, c o n tu d o , é m u ito diferen te. T e m o s d e te r
cu id ad o acjui ao e n tra r n o q u e Isaías sentia acerca de sua n ação q u a n d o lan ço u
seu m inistério. A rebelião, c o m c erteza, é re c o m p e n sa d a c o m d esastre, m as isso
ainda n ã o exaure a cap acid ad e d o S e n h o r de red im ir e re sta u ra r (1.26,27). D a
m esm a m an eira, o fracasso d e Israel em atrair as n açõ es p a ra a cid ad e d e Sião
(2.2ss.) é lam en táv el e culpável, m as, n ã o o b sta n te , n ã o é n ad a q u e n ã o p o ssa
ser lim p a d o (4.4). O S e n h o r criará u m a nova cidade e u m n o v o p o v o a d e q u a d o s
p ara q u e p o ssa m o ra r n o m eio dele (4.3-6). M as q u a n d o o S e n h o r te m d e dizer:
O que m ais pode serfeito por minha vinha além do q u e jâ fitff (5.4), a situ ação é d e fato
diferente! A ausência d a n o ta d e esp eran ça n o capítulo 5 incita a qu estão so b re se
o p ecad o anulou a graça. N e sse sentido, o capítulo 5 é culm inante. A espada (1.20)
p o d e ser desviada com a volta à obediência. E m 3.25,26, a situação é m ais deses-
peradora: o ataque inim igo é inevitável, tra z e n d o casualidades a m e d ro n ta d o ra s
(4.1); m as o inim igo, agora, está à p o rta e as trevas e aflição estão se fe c h a n d o
so b re a te rra (5.24-30).
E n tã o , as trevas tê m a últim a palavra? O p e c a d o fin alm en te te rm in a em
m o rte? E se esse fo r o caso, o q u e foi feito de to d as as p ro m e ssa s d e D e u s? E
co m essas p e rg u n ta s q u e Isaías estab elece o c en ário d o m in istério p a ra o qual
foi cham ado.
53 ISAÍAS 1.1-2
LO título (1.1)
Para a historia d o s q u atro reis so b cujo rein ad o Isaías p ro fetizo u , veja a In-
trodução (d. H isto ria e fé) acim a. T odas as 35 oco rrên cias de visão (hãzôm) e 36 das
48 de viu (ihãzà) referem -se à verdade revelada p o r D eus; n ão necessariam ente em
experiência visual (por exem plo, D n 8.2), m as p o r m eio d e rev elação so b reñ a-
tural (cf. IS m 3.1; SI 89.19; Is 30.10). O títu lo c o b re a d e q u a d a m e n te to d o s os
66 capítulos de Isaías. A o lo n g o d o livro, o p o v o d e D e u s e sua c id ad e co n sti-
tuem a “ lin h a d a h istó ria ” d e Isaías e é c o n so a n te c o m sua m e n te o fa to de te r
planejado essa d escrição inicial de sua o b ra .1 O s a rg u m e n to s p ro p o s to s c o n tra
essa p e rc e p ç ão n ã o são c o n v in cen tes. A rg u m en ta-se, p o r ex em p lo , q u e Isaías
sem pre fala de “Je ru sa lé m e de Ju d á ” (p o r exem plo, 3.1) ao p a sso q u e o título
inverte a o rd em . M as é natural que, p o r m inistrar em Jeru salém c o m o ele fazia,
se dirigisse prim eiro à audiência im ediata antes de ex p an d ir sua referência, ao
passo que, ao m en cio n ar reis, o país destes te n h a n atu ralm en te preced ên cia so b re
a cidade deles (cf. 36.7).
A1 A in tim a ç ã o (2a)
A c o rte reunida. A dig n id ad e d o S e n h o r cuja voz c o m a n d a to d a a
criação.
B A acu sação (2b-8)
B 1 O la n ç a m e n to da acusação: rebelião c o n tra o S en h o r. O p e c a d o
c o n trá rio à n a tu re z a (2b,3)·
B 2 A culpa exposta. O a b a n d o n o d o Senhor. O p ecad o co n trário ao
privilégio (4).
B3 A exp erien cia ignorada. A rebelião c o n tra a discip lin a divina. O
p e c a d o c o n trá rio à razão e p r o d u to r d e d e sa stre (5— 8).
A2 ( ) co m en tário .
A situação revista. A fidelidade d o S e n h o r p re se rv a n d o u m rem a-
n e sc e n te (9).
seu deus p o r m eio d e algum ato quase físico de procriação, Israel era a filha do
Senhor p o r m eio d a h istó ric a esco lh a div in a e d o ê x o d o c o m o u m a o b ra de
redenção. A re d e n ç ã o iniciou um p ro c e sso d e cu id ad o div in o p ro v id en cial. A
im agem d o pai a te n c io so e d o filho em c re sc im e n to c o b re to d o o p e río d o his-
tórico que vai de E x o d o a Isaías. A g raça q u e salvou e o a m o r q u e c u id o u fo ram
igualm ente re c u sa d o s q u a n d o eles se revoltaram. O “ eles” é en fá tic o — “ eles de
todos os p o v o s” , o s h e rd e iro s d a red en ção , os recip ien tes d o c u id a d o p atern o .
N o vocab ulário de rebelião, esse v e rb o (p a sa )׳e seu su b sta n tiv o (pesa') ex p res-
sam d e sp re z o o b stin a d o pela a u to rid a d e (cf. n o u so secular em lR s 12.19).
3 Isaías usa ricas ilu straçõ es e, m uitas vezes, c o m o aqui, explica a alusão
(por exem plo, 8.7). A c o n d u ta d o S e n h o r c o m seu p o v o são p lanejadas p ara
desenvolver o s verd ad eiro s in stin to s espirituais, u m a m en talid ad e d e ap eg o ao
Senhor tão a u to m ática e e sp o n tâ n e a q u a n to a v ista n a criação d e anim ais. O s
substantivos Israel e m e u povo são en fatizad o s e q u ip a ra n d o -se a o “ eles” d e to -
dos os p o v o s d o versícu lo 2. Israel é o h o m e m a q u e m o S e n h o r to r n o u n o v o
(G n 32.27,28) e meu povo in d ica eleição exclusiva (Ê x 6.6,7) c o m sua c o n sc q u e n -
te expectativa de vida d iferen ciad a (Ê x 19.4-6).
O saber ((yã d a ') fre q u e n te m e n te ultrap assa o c o n h e c im e n to m en tal para
incluir re la c io n a m en to s pessoais (G n 4.1; “ teve relaçõ es”) e c a rreg a a in d icação
de um estilo d e vida d istin to (IS m 2.12). O compreender (i/nn) significa “ en x erg ar
ou discern ir o c e rn e d e um a ssu n to ” .
4 A acusação (2b,3) continua à m edida que quatro substantivos descrevem o
privilégio e q u a tro adjetivos d escrev em c o m o este foi c o rro m p id o . A nação, cujo
prop ósito era p a ra se r d iferen ciad a em san tid ad e (Ê x 19.6), to rn o u -se (lit.) a
“nação p e c a d o ra ” (p articip io d e ih ã tã ’, “ e rra r o alvo ” ; J z 20.16); o povo red im id o
e único (D t 4.4-6; 2S m 7.23,24) to rn a -se “ c a rre g ad o d e in iq u id ad e” , c o m o se
o S enh or q u e o s carreg a (46.3,4; Ê x 19.4) sentisse ele m e sm o o fardo. A ’aôm
(¿»^)«/“ in iq u id ad e”) é p e c a d o c o m o c o rru p ç ã o de ca rá te r e d a n atu reza, em
vez de um e le m e n to d e c o m p o rta m e n to . “ R aça ״/ descendência é a palavra para
descendência ab raâm ica (41.8), m as, aqui, é traçad a a lin h ag em de malfeitores. O
term o crianças/“filhos” (cf. v. 2b) indica o relacio n am en to d o redim ido co m D eu s
(Êx 4.22) q ue estava d e stin ad o a fo rn ecer um a vida d iferenciada (D t 14.1,2), m as
agora se m anifesta em corrupção (jsãhat, “ estragar o u arru in ar”). E les foram desig-
nados para ser especiais c o m o a nação c o povo únicos e especiais para D eu s co m o
a “sem en te” de A b ra ã o e seus p ró p rio s “ filhos” — e o p e c a d o a rru in o u tudo!
Mas o cern e d essa p e c a m in o sid a d e c a atitu d e atual deles e m relação ao Senhor.
Só o c o m p ro m isso co m D e u s assegura o s v erd ad eiro s valores de vida; q u a n d o
o co m p ro m isso acaba, os valores seguem o m e sm o cam inho. A b an d o n ar o Se-
nhor é o o p o sto de buscá-lo. D a m esm a m aneira q u e “ b u scar” n ã o é procurá-lo,
com o se estiv éssem o s p e rd id o s, m as m o s tra r d e te rm in a ç ã o e m e sta r co m ele.
Essa d e te rm in a ç ão su rg e d e u m a m u d a n ç a de co ra ç ã o p o r m eio da qual ele que
O LIVRO DO REI 56
1 Veja m ais e m Η . H . Rowley, The U nity o f the Bible (C arey K in g sg ate, 1953), p. 30ss.;J. L in d b lo m ,
Prophecy in A ncient Israel (Blackwell, 1963), p. 351 ss.; J. A . M otyer, “ P ro p h e c y ” e “ P ro p h e ts ” ,
IB D .
59 ISAÍAS 1.10-20
1 D . K id n e r, N B C , p. 59 2.
2 C f. v. 2 7 ; 5 .7 ,1 6 ; 9 .7 ; 16 .5; 2 6 .9 ; 2 8 .1 7 ; 3 2 .1 ,1 6 ; 3 3 .5 ; 51.4,5; 56.1; 58.2; 5 9 .9 ,1 4 .
63 ISAÍAS 1.21-26
1 O títu lo “ P o d e r o s o d e J a c ó ” o c o r r e c m G n 4 9 .2 4 ; SI 132.2,5.
2 Veja ta m b é m J r 6 .9; F.7. 3 8 .1 2 ; A m 1.8; Z c 13.7. C o n tr a e sse h is tó r ic o d e u so , é im p re ss io -
n an te o s o m im e d ia to d e u m a n o ta d c e s p e ra n ç a e m Isaías, u m e x e m p lo d e su a b rilh a n te
hab ilid ad e lite rária.
3 Para bõr, veja J ó 9.3 0 . S c o tt m u d a a p a la v ra p a r a bakkâr (“ n a f o r n a lh a ” ), u m a a m p lia ç ã o
trivial da id eia d c “ re fin a r” Λ B I IS , s a b ia m e n te , s e g u e o T M .
O LIVRO DO REI 64
A1 O ju lg a m e n to am e a ç ad o (24,25a)
B 1 A restauração: a cidade restau rad a (25b,26)
B 2 A restau ração : a Sião red im id a (27)
(a) A re d e n ç ã o c o n so a n te co m a justiça (divina)
(b) O a rre p e n d im e n to c o n so a n te co m a retid ão (divina)
Λ2 O ju lg am en to am eaçad o (28-31)
(a) Seu fu n d a m e n to m o ra l na rebelião e n o p e c a d o (28a)
(b) Seu fu n d a m e n to relacionai n o a b a n d o n o d o S e n h o r (28b)
(c) Seu fu n d a m e n to religioso (29-31)
(i) A safra pessoal co lh id a da falsa religião (29)
(ii) Λ a u to d e stru tib ilid a d e d a falsa religião (30,31)
a. Sobrescrito (2.1)
E sse sobrescrito, afora 1.1, é o ú nico na literatura d e Isaías, e isso levanta a
questão de p o r q u e ele acontece aqui. E le deve indicar um a coletânea d e m aterial
de Isaías que antes tinha circulação in d e p e n d e n te e q ue foi sim p lesm en te incor-
porado aqui. São feitas m uitas sugestões q u a n to à exten são desse livro antes sepa-
rado, m as o m ais sa tisfa tó rio é p e n sa r na p o rç ã o d e 2.1— 4.6 c ircu lan d o c o m o
um “jornal” o u p u b licad a c o m o um “ m ural” (cf. c o m e n tá rio so b re 8.1; 30.6)
sob a sanção d e Isaías.1 (3 se n tid o literal d e isto que Isaías /.../ viu é: “A palavra
que Isaías v iu ” (cf. 1.1; A m 1.1). “ P alavra” significa “ m e n sa g e m ” o u “ v erd a d e ”
e viu quer d izer “ p e rc e b e u p o r revelação divina” . A ssim , Isaías re p e te su a co n -
vicção de que a revelação m o tiv o u sua m en sag em , e a in sp iração d eu o rig em a
suas palavras.
1 C f. J. G ra y (“ T h e k in g s h ip o f G o d in th e P r o p h e ts a n d P s a lm s ” , V T , 11 (19 6 1 ), p. 15)
diz: “A m b o s o s p r o f e ta s u s a m u m a p a s s a g e m q u e sc to r n o u p a r te d a litu rg ia n o sé c u lo
V I U ” . l is s e c o n tr a s te , q u a n to à d a ta ç ã o , c o m a s u p o s iç ã o a n te s a x io m á tic a d e q u e o q u e
é e s c a to ló g ic o d e v e s e r p o s te r io r (cf. K a ise r). G . v o n R a d , ao c o n tr á r io , d iz (“ T h e city o n
th e h ill” , The Problem o f the H exateuch and Other Tissays [O liv er e B o y d , 1 966], p. 2 3 2 -2 4 2 )
q u e e ssa c “ a p rim e ira e [ ...] m ais a n tig a e x p re s s ã o d e u m a c re n ç a n a g lo rific a ç ã o e s c a to -
ló g ica d o m o n te s a n to . [...] N ã o sc p o d e d u v id a r q u e o te x to é d e Isa ía s [lid a n d o c o m ] u m a
c o n c e p ç ã o e s c a to ló g ic a f ir m e m e n te e n ra iz a d a e já a ce ita ” .
2 O s a r g u m e n to s q u a n to a se a p a s s a g e m e s tá m ais e n c a ix a d a e m Isa ías o u e m M iq u e ia s sã o
ig u a lm e n te e q u ilib ra d o s , m as a c o m p a r a ç ã o d o s d o is te x to s p e s a m u ito a fa v o r d a o rig e m
e m Isaías. P o r e x e m p lo , a a b e r tu r a d e M iq u e ia s (yihry e h h a r b ê yt y a h w e h nãkôn) é triv ial
e m c o m p a r a ç ã o c o m a e s c rita c h eia d e e s tilo c b e m típ ic a d e Isaías: nãkô n y i h y e h h a r b êyt
y a h w eh . A v a ria ç ã o d a s p a la v ra s d c M iq u e ia s q u a n d o c o m p a r a d a c o m Isa ías 2 .2 b ,3 a ,4, su a
in tr o d u ç ã o d a c o n ju n ç ã o d c o “ te m p lo d o D e u s d c J a c ó ” ( 4 .2 < 3 > ) e se u u s o d a f o r m a
p a r a g o g e y iln fd ú n a p o n ta p a ra u m a c ita ç ã o livre.
3 C ita d o p o r S k in n e r, v o l. 1, p. 15.
69 ISAÍAS 2. 1 4 ־
P ré -c o m p ro m isso d e a p re n d e r c o m o S e n h o r e d e a n d a r e m seus
c a m in h o s (3b)
A realid ad e d a revelação em Sião (3c)
C A b ên ção : o Sião, c e n tro m u n d ial d e paz (4)
A a u to rid a d e divina im p o sta (4a)
A re sp o sta in tern acio n al: a tra n sfo rm a ç ã o de arm as (4b)
O fim d a g u e rra em a to o u in te n to (4c)
1 É p o ss ív e l q u e a p r o v a d e riq u e z a e a u to c o n f ia n ç a n a c io n a is d a te m e sse s o rá c u lo s d o
in íc io d o m in is té rio d e Isa ías, a n te s d a s in v a s õ e s s iro -e fra im ita s (2 R s 1 5 .2 7 -3 0 ). O p o e m a
( w . 1 0 -2 1 ), c o n tu d o , é g e n é r ic o e p o d e p e r te n c e r a q u a lq u e r p e r ío d o d o m in is té rio d e
Isaías. E le fo i b r ilh a n te m e n te e d ita d o e m se u lu g a r atual.
71 ISAÍAS 2.5-4 .I
0 m undo b u sca b e n eficio espiritual (3); Sião acu m u la riq u eza m aterial (7a); (iii)
a consequência d a v in d a p a ra Sião é a p az m u n d ial (4); Sião está cheia d e arm a-
m entos (7b); (iv) o m u n d o q u e r c o n h e c e r o v erd ad eiro D e u s e se c o m p ro m e te r
de antem ão a o b e d e c e r a ele (3); o p o v o d e D e u s está o c u p a d o c ria n d o os p ró -
prios bens (8); (v) o m u n d o é rec e b id o d ia n te d o trib u n a l d o S e n h o r (4); o p o v o
de D eus é a b a n d o n a d o e lh e é n e g a d o o p e rd ã o (6,9).
6 N ã o p recisam o s n o s in q u ie ta r c o m a sú b ita m u d an ça d o o b je to — d o se
dirigir ao p o v o (5) p a ra o se dirigir ao S e n h o r {tu tens é lit. “ p o is tu te n s”). E ssas
m udanças d e p o n to d e v ista são fre q u e n te s n o s p ro fe ta s (c fam iliares aos p re-
gadores). A qui, Isaías sim p lesm en te ju n ta passag en s an te s d e sc o n e c ta d as um a
da outra em u m a n o v a passagem e m fo rm a d e m osaico. D e u s os abandonfou]
{'inatas), d eix o u -o s p o r c o n ta p ró p ria , d e ix o u -o s livres p a ra seguir seu p ró p rio
caminho.
O sen tid o literal d a frase eles se encheram de superstições dos povos do leste é
“cheios p ro v e n ie n te s d o le ste ” . O v e rb o “ se e n c h e ra m ” ('jm ã lê’, a palavra lem a
dessa seção) n ã o é u sad a em n e n h u m a o u tra passag em c o m “ p o is” . Se essa é
uma o m issão relev an te,1 ela deve se r e n te n d id a c o m o “ e n c o n tra ra m sua pleni-
tude p ro v en ien te d o ” leste, o u seja, o b tiv e ra m tu d o q u e p recisav am em fo n tes
orientais. T alvez haja a ideia d o leste c o m o a fo n te d e luz e m c o n tra p o siç ã o
com a lu \ do Senhor (5). O s filisteus (cf. IS m 6.2; 2R s 1.2-6) p o d e m b e m te r sido
escolhidos c o m o o o este se n d o a c o n tra p a rtid a d o leste a fim d e m o s tra r a apa-
rência co sm o p o lita de Sião p ro n ta a e n c o n tra r p e rc e p ç õ e s o n d e elas são o fe-
recidas. O m ais provável é q u e Isaías esp erasse c u tu c a r seu s o u v in tes, dizen d o ,
com a exp ressão como osfilisteus, q u e eles d esceram até o re fu g o ao se id entificar
com o m u n d o (Jz 14.3). A frase segue costumes estrangeiros (N T L H ) é o u tra expres-
são única, talvez co m o se n tid o de “ fazer a c o rd o c o m ” . U m a vez que o v e rb o
(jsãpaq), em geral, tem o se n tid o de “ b a te r p alm as” (N m 24.10), ele p o d e ría sig-
nificar “ en volvido em ad o ra ç ã o religiosa c o m ” (apesar d e SI 47.1 u sar u m v erb o
diferente). A K fí registra um v e rb o d istinto, “ a b u n d a r em , se r rico e m ” , o u seja,
rico n o que os pagãos (lit. “ filhos de e stra n g e iro s” , e stran g eiro s n a cultu ra, em
vez de pagãos na religião) tâm a o ferecer.12
7,8 A escala a sc e n d e n te d e c o n d e n a ç ã o (riqueza, a rm a m e n to s, idolatria) c
aum entada p ela re p e tiç ã o 3 da e x p ressão está cheia de e p e lo fato de que, inespe-
radam ente, o versículo 8b n ã o re p e te a frase não têm fim , u sad a d u as vezes no
1 Q u a n d o o v e r b o “ p a r a r ” v e m a c o m p a n h a d o d c “ d e ” , o s e n tid o d e p e n d e d o c o n te x to .
E m Ê x o d o 1 4 .1 2 , ele sig n ifica “ p a r a r d e n o s p r e o c u p a r m o s ” ; e m IS a m u c l 9 .5 , “ n ã o ficar
ansioso a r e s p e ito d e ” ; e a q u i, “ p a r e m d c c o n f ia r ” .
O I.IVRO DO REI 76
A1 O a to d o S en h o r, o S e n h o r d o s E x ército s (la)
B ' O co la p so da lid eran ça e a d e so rd e m social (lb -5 )
C 1 A v in h eta: a lid eran ça c o rro m p id a (6,7)
D 1 O co la p so d e Je ru sa lé m é explicad o (8)
D 2 ( ) ju lg am en to d c Je ru sa lé m é p ro n u n c ia d o (9-11)
B2 A o p re ssã o social e os líderes e n g a n o so s (12)
C 2 A vinheta: a liderança levada a ju lg am en to (13-15a)
A2 A palavra d o S en h o r, o S e n h o r d o s E x ército s (15b)
O im in e n te co lap so d a so c ie d a d e (3.1-7)
0 S en h o r tira a liderança estável (1-3) e in tro d u z líderes im atu ro s (4). C o m o
resultado disso, co m eça a fragm entação m oral c social (5) e to d a n o ção d e lide-
rança cai em d e sc ré d ito (6,7).
1 O te rm o Sen h o r (ARC) {haãdôn) significa “ o S o b e ra n o ” ao p a sso q ue
a ex p ressão 0 Senhor dos E xército s/‘‘to d o -p o d e ro s o ” é “ la v é ” , o D e u s d c Israel
da aliança (veja o c o m e n tá rio so b re 1.9). A so b eran ia d c D e u s n ã o é só o p o d e r
q u e g a ra n te o fim da h istó ria, m as ta m b é m é o p o d e r em o p e ra ç ã o n a o rd e m
d etalh ad a d o s assu n to s te rre n o s de a c o rd o c o m seus im utáveis p rin cíp io s de
justiça. A q ui, q u a n d o líderes cacm , e líderes su rg em , é ele q u e m o s re m o v e (1)
c os d esig n a (4). E le n ã o faz isso de m o d o arbitrário , m as p o r m eio d e p ro c e sso
77 ISAÍAS 2.5-4.1
1 O u so d e f o r m a s e te m a s d e “ s a b e d o ria ” n ã o in d ic a m u m a d a ta ta rd ia . P a ss a g e n s c o m o
2 8 .2 3 -2 9 c 3 2 .3 -8 m o s tr a m a fa cilid a d e d e Isa ías c o m e sse g ê n e ro .
79 ISAÍAS 2. 5-4 .1
1 O v ersícu lo 10 d o T M n ã o p re c is a d e a p e r f e iç o a m e n to , m a s h á a s u g e s tã o a tra e n te d e q u e
p o r “ d ig am ” Çimrú) p o d e m o s le r 'a srê (“ sã o f e liz e s /a b e n ç o a d o s ”). A a lte ra ç ã o é p e q u e n a ;
e o c o n tra s te c o m o “ a i” d o v e rsíc u lo 11, e x ce le n te.
2 Se o T M é o p a d rã o , n f ‘ô lê l te m d e e s ta r re la c io n a d o c o m i ‘ü l (“ c u id a r d e b e b ê ”) e a ‘õlêl
(criança); cf. 13.16. A L X X tra z kalamontai (“ r e c o lh e r; c o lh e r ”), e a V u lg a ta tra z spoliaverunt
(“ ser d e s p o ja d o ” ). É p o ss ív e l q u e ‘0/7w d e v a s e r tr a d u z id o p o r “ r e c o lh e v o c ê ” — p o d e -
m o s d iz e r “ e s p o lio u - o ” .
O LIVRO DO REI 80
A R E T R IB U IÇ Ã O D IV IN A S O B R E S 1 Ã O P E R S O N IF IC A D A E M S U A S M U L H E R E S ( 3 . 1 6 — 4 . 1 )
pecado term ina em m o rte. Para portas (26) cf. L am entaçõ es 1.4 e p ara se assentará
no chão cf. 47.1.
4.1 E m 3.6, o s h o m e n s “ a g a r r a r lo ] ” (Ίtãpas) u m h o m e m à p ro c u ra d e u m
governante; em 4.1, as m u lh eres agarrarão (ihãzaq) u m h o m e m , p o r esta re m à
procura d e u m m arido. O s h o m e n s p u se ra m sua co n fian ça n a fo rç a social m u n -
dana só para acab ar d e sc o b rin d o q u e essa co n fia n ç a se m p re p erece p o r falta de
pessoas em q u e m se p o ssa co n fiar; as m u lh eres d ed icam -se p le n a m e n te à se-
dução só p a ra te rm in a r p o r d e sc o b rir q u e n ã o h á n in g u é m a co n q u istar. C o m o
Isaías co m eça b e m essa seção co m o ch a m a d o p a ra re c u sa r p ô r a co n fian ça
no h o m em (2.22)! A s m u lh eres p ro v e n d o sua p ró p ria comida e roupas (4.1) é o
reverso d a o rd e m a p ro p ria d a d o c a sa m e n to (E x 21.10).
N o ta a d ic io n a l so b re 4.2
A s frases 0 Renovo do Senhor e 0fru to da terra re c e b e m várias in te rp re ta çõ e s:
(a) A vegetação: am b as as frases e x p ressam a ab u n d â n c ia m essiân ica (cf.
3 0 .2 3 -2 6 ;Jr 31.12; O s 2.21-23; A m 9.13-15). O p e c a d o d im in u iu e re strin g iu o
m u n d o n a tu ra l (G n 3.17-19), m as q u a n d o o p e c a d o é rem o v id o , a n a tu re z a será
ren o v ad a e liberada. (C o m o C alvino, S kinner, K issane, S c o tt e K aiser.) C o n tra
essa p e rc e p ç ão está a c o n sid e ra ç ão de q u e os q u a tro su b sta n tiv o s “ a d o rn o ” ,
“g ló ria” , “ o rg u lh o ” e “ b eleza” p a re c e m u m ta n to excessivas c o m o d escrição de
(m era) vegetação. A passagem 28.5 su g ere um a referên cia m ais exaltada.
(b) O re m a n e sc e n te e a vegetação. O Renovo refere-se a o re m a n e sc e n te fiel
de Israel d a m e sm a m an eira c o m o 5.7 fala d o p o v o c o m o v in h a (cf. 60.20;
61.3). O fruto é a a b u n d â n c ia m essiânica. (C o m o B arn es e M auchline.) C o n tu d o ,
h á u m a e stra n h e z a n essa percep ção . O v e rb o s o z in h o d a se n te n ç a exige q u e
ta n to o R en o v o q u a n to o fru to sejam “ p a ra ” os so b rev iv en tes. C o m o o rem a-
n e sc e n te p o d e se r p a ra o re m an escen te?
(c) A salvação e a vegetação. O Renovo é a salvação m essiân ica q u e o S e n h o r
fez b ro ta r d e p o is d o ju lg am en to , e a veg etação fértil é o sinal q u e a c o m p a n h a
(cf. 45.8, p assag em q u e tem o m e sm o v erbo). (C o m o O relli e L e u p o ld .) E ssa
p ercep ção , c o m o tal, n ã o p o d e se r o m itid a, m as p o r que, à luz das referen cias
ao “ R e n o v o ” em Jerem ias e Z acarias, Isaías deveria se r o ú n ic o a te r u m a n o ç ã o
tão vaga q u a n to “ a salvação m essiânica” ?
(d) O M essias e a vegetação. B irks, sensivelm en te, e n te n d e q u e n ã o h á m o -
tivo p a ra se p a ra r a referên cia d e Isaías so b re o R en o v o das referên cias em Jere-
m ias e em Z acarias. A ssim , aqui, 0 Renovo é o M essias, e 0fru to é a p le n itu d e q u e
ele traz. O b se rv e , em 11.1-5,6-9, o m e sm o equilíbrio e n tre p e sso a e plen itu d e.
(e) O M essias. E m c o m p a ra ç ão c o m o que p re c e d e , p e rm itir q u e am b as as
frases se refiram ao M essias, d á aos q u a tro su b sta n tiv o s im p ressiv o s a re fe rê n
C 2 O ju lg am en to ap ro p riad o :
o rá p id o d e sa stre (24a) retrib u i
o cham ado do Senhor por
rap id ez (19); a co n c o rd â n c ia
em p e c a r (18,20) resu lta
em cair in d e fe so em ju lg am en to
(24bcd)
D 2 O ju lg a m e n to total: o S e n b o r
c o n v o ca o in im ig o invencível
(25-30)
A1 A m o rte d o rei (1 a)
B 1 R e sp o n d e n d o à san tid ad e divina (lb -7 )
O S e n h o r e m sua san tid ad e (1 b-4)
Isaías p ro n u n c ia sua p ró p ria se n te n ç a c a d o p o v o (5)
A p ro v isã o divina (6,7)
B2 R e sp o n d e n d o à p re o c u p a ç ã o divina (8-10)
O S e n h o r é o u v id o aleato riam en te (8a)
Isaías se v o lu n ta rio u (8b)
A co m issão d o S en h o r: a m en sag em (9) e a tarefa (10)
B 3 R e sp o n d e n d o ao p ro p ó s ito divino (11-13a)
Isaías inquire so b re o c u rso d o s ev en to s (1 la)
A in te n ç ã o d o S e n h o r de d e stru iç ã o to tal (1 lb -1 3 a )
A2 O c arv alh o c o rta d o e a vida q u e co n tin u a (13b)
a. O c h a m a d o d e Is a ía s (6 .1 -8 )
l a O ano em que o rei Libias morreu foi p o r v o lta d e 740 a.C. Seu re in a d o
n o ta v e lm e n te lo n g o e p ró s p e ro (2R s 15.1-7; 2 C r 26) e n tro u em ág u as in te rn a -
c io n ais tu rb u le n ta s q u a n d o d a a scen são , e m 745 a.C ., d o v ig o ro so im p erialis-
ta T ig la te -P ile se r III, d a A ssíria, am e a ç an d o a so b e ra n ia d o s estad o s israelitas.
Se Isaías se c o n so lo u c o m o fato d e q u e o rei te rre n o estav a m o rre n d o , ele teve
u m a visão d o rei celestial, ele n ã o diz isso.
Isaías, de a c o rd o c o m 1.1, iniciou o ofício p ro fé tic o e n q u a n to U zias ainda
estava vivo. P o r que, e n tã o , ele n ã o d a ta seu ch a m a d o d e u m p e río d o a p a rtir do
1 A e s tru tu ra estilística d e “ d u p lo s ” (c o b rin d o o m e s m o fu n d a m e n to d u a s v ezes, c o m o em
B e C d e sse d iag ra m a ) c c ara c te rístic o d e Isaías (p o r e x em p lo , caps. 28— 35; 4 2 .1 8 — 44.23;
44.24— 55.13; 51.1— 52 .12). V eja ta m b é m o s “ trip lo s ” c m 13.1— 27.13. E m t o d o s esses
c aso s, a se g u n d a d e c la ra ç ã o n ã o é u m a m e ra re p e tiç ã o d a p rim e ira , m as ta m b é m u m d e se n -
v o lv im e n to dela.
99 ISAÍAS 6 . 1 8 ־
1 A AV traz: “ E u ta m b c m v i” e m u m a i n te r p r e ta ç ã o e q u iv o c a d a d o h e b ra ic o .
2 O “ e sc ab e lo ” d o S e n h o r, às v e z e s, é a te r r a (66.1), a a rc a ( l C r 2 8 .2 ; SI 1 3 2 .7 ), J e ru s a lé m
(Lm 2.1) o u o te m p lo (6 0 .13 ).
O LIVRO DO REI 100
1 O u s o d e sâ rã p e m c o n e x ã o c o m s e rp e n te s ( p o r e x e m p lo , 30.6) le v o u a lg u n s a p e n s a r
e m s e r p e n te s g u a rd ia s d a p r e s e n ç a s a n ta (cf. K a ise r, “ s e r p e n te s n u a s, alad as, c o m m ã o s e
p é s h u m a n o s ”), sâ rã p , p o r ta n to , n ã o te m c o n e x ã o n e c e s s á ria c o m s e r p e n te s e, c o m o diz
K is s a n e , o se ra fim “ n ã o te m n a d a e m c o m u m c o m s e rp e n te s , a n ã o s e r o n o m e ” . N o T M ,
n ã o h á a rtig o d e fin id o ; “ in c a n d e s c e n te s ” é u m a d e sc riç ã o , n ã o u m títu lo .
2 F.m G ê n e s is 1 4 .1 0 , “ p o ç o s , p o ç o s ” é tr a d u z id o p o r “ c h e io d e p o ç o s ” , e e m 2 R eis 25.15,
“ o u ro , o u r o ” é tr a d u z id o p o r “ o u r o p u r o ” .
3 C f !,e u p o ld : “ O s se re s celestia is [...j u sa m e ssa re p e tiç ã o . P a ra eles, e ssa r e p e tiç ã o p o d e
re fle tir su a p e rc e p ç ã o d a T r in d a d e ” .
4 O “ n o m e ” d e D e u s é q u a lific a d o p e lo a d je tiv o “ s a n to ” n o A n tig o T e s ta m e n to c o m m ais
fre q u ê n c ia q u e p o r t o d o s o s o u tr o s q u a lific a d o re s ju n to s .
־C f. T. C. V ric z c n , A n O utline o f O ld Testam ent Theology (B lackw ell, 1 960), p. 149; N . H .
S n a ith , The D istinctive Ideas o f the O ld Testam ent ( E p w o r th , 1 944), p. 24ss.
ΙΟΙ ISAÍAS 6.1-8
1 P a ra k õ p e r cf. Ê x o d o 2 1 .3 0 ; 3 0 .1 2 -1 6 e o b s e r v e a id eia d e p a g a m e n to . P a ra o v e r b o c o m a
m e s m a id eia d e p a g a m e n to e q u iv a le n te , v e ja Ê x 3 0 .1 5 ,1 6 ; N m 5.8; 31.50.
2 K B , p. 4 5 2 b .
103 ISAÍAS 6 .9 -13
1 S m ith , p . 82.
2 Q uando são derrubados é a tra d u ç ã o c o r r e ta d e i f sa llekei. O s s u b s ta n tiv o s d e ssa f o r m a ç ã o
re p re s e n ta m u m a c o n d iç ã o d e n ã o s e r (c o m o R D B , K B ) u m a a tiv id a d e (“ s e n tim e n to ” ).
105 ISAÍAS 7 ·I - 9.7
A1 A cabeça de A rão é D a m a sc o
B 1 E a cabeça d e D a m a sc o é R ezim
C 1 E E fraim , em 65 anos, será d isp erso , n ã o será m ais u m p o v o
A2 E a cabeça d e E fra im é Sam aria
B 2 E a cabeça d e Sam aria é o filho de R em alias
C 2 Se vocês n ã o ficarem firm es na fé, n a v erd ad e n ã o resistirão
d e m an eira algum a
A única m aneira pela qual podem os ter D eus é dependendo dele e usando-o.
Pois, de acordo com a divindade de D eus, a única m aneira em que isso é
possível é usando-o e p o n d o a vida na palavra de D eus confiando em suas
prom essas e ob ed ecen d o à revelação de sua vontade.
0 ju lg a m e n to (7 .1 8 —8 .8 )
O c a m in h o da fé foi rejeitado. O rei d a A ssíria foi c o n sid e ra d o u m a segu-
ran ça m a io r q u e o S e n h o r e suas p ro m essas. O q u e se segue ag o ra tem a inevita-
b ilidade d a lógica bíblica: as alternativas p ara o c a m in h o d a salvação são sem p re
c a m in h o s d e d e stru iç ã o ; o s q u e o d eiam a sab ed o ria am am a m o rte (P v 8.36).
E sse m o saico d e o rácu lo s segue o p ro g ra m a e sb o ç a d o n o s v ersículos 15-
17: o esv a z ia m e n to e o e m p o b re c im e n to d o c a m p o , a p o b re z a , a elim inação
d o s p o d e re s d o n o rte (A rã e Israel) e a su b m e rsã o de Ju d á n a in u n d a ç ã o assíria.
A c a tá stro fe é total. A caz p o d e te r tid o to d a habilidad e política, lógica e os
resu ltad o s c o lh id o s da experiência d ip lo m ática — to d o s “ os fato s d o m u n d o
real” — m as q u a n d o o p o v o de D e u s o p e ra p elo “ racio cín io ” , em vez d e pela
fé, q u a n d o eles b u sc a m a segurança n o s recu rso s, n a p o lítica e n o s p o d e re s d o
m u n d o — o rei da A ssíria, em vez d e “ o Rei, o S e n h o r d o s E x é rc ito s” (6.5)
— as coisas em q u e c o n fia m g a ra n te m a calam idade. O te m a d o m in a n te é a
A ssíria (7.18) e seu rei (7.20; 8.4,7). E sse era o p o d e r e a p e sso a n o s quais A caz
confiava; esse era o p o d e r e a p e sso a d a d estru ição .
O s versículos 18-25, p ro v av elm en te, p e rte n c e m ao d isc u rso c o m o o m eio
(7.4ss.); e 8.1-8, a o m o m e n to im e d ia ta m e n te segu in te; o versícu lo 17 an u n cia
m aldição “ so b re o seu p o v o ” , e Isaías a d o ta as m ed id as p ara a le rta r o p ú b lico 1
1 C f. H e r b e r t K is s a n e , B H S , e tc. D e litz s c h c o m e n ta c o m g r a n d e d is c e r n im e n to s o b r e a
“ p e n e tr a n te f o r ç a ” d a s p a la v ra s “ o rei d a A ssíria ” , p o s ta s n o fim d o v e rsícu lo .
O LIVRO DO REI 116
1. A c o m p le tu d e d a c o n q u ista (18-20)
a. A te rra é to ta lm e n te o c u p a d a (18,19)
b. ( ) p o v o d e sp ro v id o e h u m ilh a d o (20)
2. O s resu ltad o s da c o n q u ista (21-25)
a. O p o v o n a p o b re z a (21,22)
b. A te rra em d ecad ên cia (23-25)
3. O c u rso da c o n q u ista (8.1-8)
a. A d e stru iç ã o im in e n te d e A rã e d e Israel (1-4)
b. O p ro g re sso assírio através de Israel e m d ireção a j u d á (5-8)
1 K is s a n e d iz q u e “ e s te p o v o ” é u m t e r m o té c n ic o p a ra J u d á . M as n ã o é isso : e m 2 3 .1 3 , a
e x p re s s ã o r e fe re -s e a u m p o d e r e s tr a n g e ir o e, e m 9 .1 6 , a o R e in o d o N o r te . M as c o m o
c o n s e q u ê n c ia d e in te r p r e ta r “ e s te p o v o ” c o m o J u d á , a le g ro u -s e (n fsô s) é c o r rig id o p a ra
“ c o n s u m iu - s e ” (d e m e d o ) (n fsô s). V eja a RSV. Λ ú n ic a v a n ta g e m d e ssa m u d a n ç a é fo c a r o
c e rn e d a e s c o lh a q u e A caz te m d ia n te d e si: a a p a r e n te frag ilid ad e d o c a m in h o d a fé (o fio
d e á g u a d e S iloé) e a a p a r e n te c e rte z a d o c a m in h o d a fo rç a m u n d ia l (o E u fra te s ).
O LIVRO DO REI 120
O remanescente (8.9-22)
(Veja o e sb o ç o d a página 97.) A s duas referências a “ E m a n u e l” ligam essa
seção à últim a. E m 8.8, E m a n u e l c o m p a rtilh a o s o frim e n to de sua te rra e, em
8.9,10, e m b o ra as n açõ es d o m u n d o se p re p a re m p ara a b atalh a seu p la n o será
fru stra d o , “ p o is D e u s está c o n o s c o ” (kí 'imm õnú ,St). E m a n u e l é u m a v erd ad e
e ta m b é m um n o m e — a verd ad e d a p re se n ç a d o S e n h o r c o m seu p o v o e a
segu ran ça q u e isso traz.
Alas q u e m está seguro? A c o n fro n ta ç ã o d e Isaías c o m A caz tro u x e a q u es-
tão da fé pessoal e d o c o m p ro m isso à to n a e e x p ô s o líd er e ta m b é m a n ação
esta n d o cien te d e u m esp írito d e aliança m u n d a n a e de falta d e co n v icção es-
piritual. O im p o rta n te d essa seção é q u e ela traz isso ao p o n to d e se r d efin id o
n a d o u trin a d o rem an escen te. “ U m re m a n e sc en te v o ltará” (Sear-Jasube; cf. 7.3;
10.20s.) n ã o significa m ais apenas q u e se m p re haverá so b rev iv en tes p ara co n ti-
n u ar a n ação na terra, m as q u e há u m a d istin ção e n tre o p o v o d e D e u s p ro fe sso
secu larizado e p o litiz a d o e aqueles, d esse p o v o , q u e se v o ltam p a ra ele a rre p e n -
dido s e c o m fé, q u e o lh am sua palavra e o b e d e c e m a ela.
A1 O co la p so in te rn a c io n a l (9)
B1 A co n su lta estéril (10)
C1 Isaías é se p a ra d o d o p o v o pela palavra d o S e n h o r (11)
D1 O m e d o d o ím p io (12)
E1 O m e d o d o p ie d o so (13)
E2 O privilégio d o p ie d o so (14a)
D2 O d e stin o d o ím p io (14b ,15)
C2 Isaías e o g ru p o separado para a palavra d o S en h o r
(16-18)
B2 A co n su lta estéril (19,20)
A2 O co la p so nacional (21,22)
possível q u e se [...] não seja a e x p ressão idiom ática p ara fazer v o to s afirm ativ o s
e lutç é a m e tá fo ra p a ra um fu tu ro p ro m isso r. Se fo r esse o caso, p o d e m o s tra-
d u z ir a frase p o r: “ P o r c e rto eles falariam de a c o rd o co m essa palavra q u a n d o
n e n h u m deles te m fu tu ro ” (ou seja, eles to m ariam c o n h e c im e n to d o q u e D e u s
fala tard e dem ais). U m a trad u ção alternativa p o d ería ser: “ N a v erd ad e, d e acor-
d o co m essa palavra eles disseram q u e m são, cada um sem fu tu ro ” (ou seja,
“ na v erd ad e, eles falaram ” (20) faz paralelo co m “ q u a n d o d isseram ” (19) e seu
c o m p ro m isso c o m o e sp iritism o o s deixa fo ra d a esfera d e esp eran ça); ou: “ Se
eles n ã o falarem de a c o rd o co m essa palavra, co m certe z a n e n h u m deles tem
fu tu ro ” ; ou: “ o re su lta d o é q u e n e n h u m deles tem fu tu ro ” .1 E ssa é a g a m a d e
possib ilidades n o h eb ra ic o d e Isaías c o n fo rm e chega a nós. D e a c o rd o c o m as
d uas p rim eiras, ab ra ç a r u m a sab ed o ria m e ra m e n te h u m a n a (m esm o c o n su lta n -
d o o s espíritos) revela a co n d iç ã o d e sesp eran çad a e a p e rd a d e p o ssib ilid ad e de
a rre p e n d im e n to ; d e a c o rd o co m as duas últim as, rejeitar a palavra d o S e n h o r
equivale a a b raçar a desesp eran ça. D e to d o jeito, a d e se sp e ra n ç a é u m fato ob je-
tivo; n o s versículos seguintes, Isaías fala d isso c o m o u m a exp eriên cia subjetiva.
21 ,22 A ssim , eles fo ram para o exílio, p a ssa n d o p rivação (21a), exaspc-
rad o s política e e sp iritu alm en te (21b) sem esp eran ça d o céu (21d) e d a te rra
(22a) o u d o fu tu ro (22b). T o d o s os v e rb o s d esses v ersículos e stã o n o singular,
in d iv id u alizan d o a sina em co m u m : “ o p o v o ” (N T I.H ).
21 E les estarão aflitos efam intos, q u e é a sina d o cativo; sim b o licam en te, a
re te n ç ã o d o s b e n s d a te rra p a ra aqueles q u e rejeitaram o D eu s d a te rra (cf. G n
3.17-19; A m 8.13s.). A ex p ressão pela terra é um a tra d u ç ã o d e “ através d ela” ,
q u e p o d e ría se referir à te rra q u e atravessam n o exílio o u o p e río d o d e d esesp e-
ran ça q u e en fre n ta m . K a ise r c o n sid era q u e “ p ela” q u e r d izer “ em c o n c o rd â n c ia
c o m ” , refe rin d o -se à lei e aos m a n d a m e n to s, a palavra rejeitada d o versícu lo 20;
eles, ao recu sar a verd ad e d a palavra, so fre m suas co n d en açõ es. A ex p ressão
amaldiçoarão 0 seu é (lit.) “ am ald iço ad o p o r ” , o u seja, eles in v o carão o rei e D e u s
ao p ro n u n c ia r u m a m aldição. A fó rm u la q illêl be n ã o é usad a em n e n h u m o u tro
sentido. E la, co m certeza, a u m e n ta a ca tá stro fe e o d e se sp e ro d a situ ação se o u -
vem o p o v o in v o c a n d o u m a m aldição em seu d e stin o em n o m e de u m sistem a
(o rein ad o davídico) q u e eles tin h a m tra íd o e de u m D e u s n o qual se recu saram
a confiar.
1 S c o tt o b s e r v a o s se g u in te s te m a s d a v íd ic o s: o a lv o re c e r d e g r a n d e lu z (cf. 2 S m 2 3 .4 ; SI
1 1 0 .3 ; 1 1 8 .2 4 ,2 7 ); o re g o z ijo (cf. SI 1 1 8 .1 5 ,2 4 ; 13 2 .9 ,1 6 ); a d e r r o t a d o s in im ig o s (cf. SI
2 .2 ,8 ,9 ; 7 2 .4 ,1 4 ; 8 9 .2 3 ; 1 1 0 .1 ,5 ,6 ; 132.18); o q u e im a r c o m fo g o (cf. 2 S m 2 3 .7 ; SI 2 1 .9 ;
1 1 8 .1 2 ) ; a c o n tin u a ç ã o re a l p a ra s e m p re (cf. SI 2.8 ,9 ; 2 1 .4 ; 6 1 .6 ,7 ; 8 9 .3 ,4 ,2 8 ,2 9 ,3 6 ,3 7 ;
1 3 2 .1 1 .1 2 ) .
131 ISAÍAS 7 . I - 9.7
é inflam ável vai p ara a fogueira o u para a lareira d o m éstica; a g u e rra acab o u
(cf. Z c 9.10). M as o p o v o n ã o lu to u a b atalh a final, ele só e n tro u n o c a m p o de
b atalh a d e p o is d e te rm in a d a a luta.
6 < 5 > A terceira explicação rastreia to d as suas últim as raízes. A ên fase n ão
cai n o q u e a crian ça fará q u a n d o crescer, m as n o m e ro fato d e seu n ascim en to .
C o m sua v in d a, tu d o q u e resulta d e sua v in d a é ¡m ed iatam en te g aran tid o . A
ênfase h eb raica n ã o está em nos, m as n aq u ele q u e vem . A palavra m ança (yeled )
a relacion a c o m seus ancestrais; filh o ex p ressa sua m ascu lin id ad e e d ig n id ad e
d e lin h ag em real. E le nasceu c o m o d e d e sc e n d ê n c ia h u m a n a e foi dado c o m o d e
D eu s. O te rm o misrâ (governo) só é e n c o n tra d o aqui e n o v ersícu lo 7 e se rela-
cio n a c o m sãr (“ p rín c ip e ” , “ ex ecutivo”). C o m essa fo rm ação , q u e r d iz e r o n d e
é e p ito m a d a a m ajestad e o u a u to rid a d e executiva. A ex p ressão seus ombros é u m
sím b o lo de “ s u ste n ta r o g o v e rn o ” (cf. 22.22). O b s e rv e ta m b é m c o m o “ seus
o m b ro s ” são lib erad o s d o jugo (v. 4) q u a n d o ele su ste n ta o fard o d o g o v ern o .
R ing gren, ao c o m e n ta r e ele será cham ado/“ e alguém ch am ará seu n o m e ” o u “ e
ele será c h a m a d o p elo n o m e ” , o b se rv a um c o stu m e e n tre os v izin h o s d e Israel
de d a r “ n o m e s d e tr o n o ” , u m “ p ro to c o lo real” “ c o m freq u ên cia, co m in te n ç ã o
p ro g ra m á tic a ” . E le sugere q u e esse p o d e ser o se n tid o d e “ d e c re to ” em Sal-
m o s 2.7, u m n o m e d iv in a m e n te d a d o — indicativo d e c o m o d eve ser o n o v o
rei e seu g o v e rn o .12Só S alo m ão (cf. v. 3), en tre o s filhos de D av i, teve u m n o m e
d e n a sc im e n to d a d o p o r D eus. D avi, re sta u ra d o à p az c o m D e u s, c h a m o u o
filho d e S'lõmõh, “ o h o m e m de p a z ” ; o S e n h o r c h a m o u -o d e Jed id ias, “ am a d o
p elo S e n h o r” . D e ssa m aneira, a criança é o n o v o Salom ão, o h e rd e iro p e rfe ito
de D avi.
O livro d e Isaías é c o n h e c id o p o r n o m e s relevan tes (cf. 7.3; 8.1ss.) ta n to p o r
an u n ciar ev e n to s p re d ito s relevantes p o r vir q u a n to ta m b é m p o r “ in c o rp o ra r”
a palavra d o S enhor. N o n o m e q u á d ru p lo d o Rei, os d o is p rim eiro s e le m e n to s
casam c o m seu n o m e a n te rio r d e E m a n u e l e o s dois se g u n d o s m e n c io n a m as
co n d iç õ e s q u e ele executará. O títu lo M aravilhoso Conselheiro1 é (lit.) “ asso m -
b ro so c o n se lh e iro ” e “ a sso m b ro s o ” (veja a n o ta adicional) significa algo c o m o
“ so b re n a tu ra l” . A s duas p ossibilidades são o u “ u m c o n se lh e iro so b re n a tu ra l”
o u “ algu ém q u e d á c o n se lh o s so b re n a tu ra is” . E ssa foi a p rim eira p ro m e ssa de
Isaías em relação à n o v a Sião (1.26). N a c o rte d e D avi, havia o m ais q u e h u -
m a n a m e n te d o ta d o A itofel (2Sm 16.23) e a sab ed o ria d e Salom ão, n o in ício d e
seus dias, exigiu explicação so b re n a tu ra l (lR s 3.28). Isaías, ao p articu larizar essa
dádiva d o Rei p o r vir, estava c o m p re e n siv e lm en te reag in d o a A caz, o rei q u e
foi capaz e e sp e rto , m as n ã o sábio. N o e n ta n to , ele, m u ito m ais q u e isso, ia ao
receber seu sen tid o estrito, (ii) Isaías, à luz da ligação d e gibbôr co m vários apelos
ao D e u s de Israel, n ão p o d ia d e sc o n h e c e r o fato de que ’êl-gibbôr seria en ten d í-
do em seu sentido claro. E le, ao usar o título id ên tico para o S e n h o r em 10.21,
não p erm ite qualquer equívoco q u a n to a esse assunto. E zeq u iel 32.21, às vezes, é
ap resen tado c o m o evidência c o n tra “ D e u s P o d e ro so ” c o m o u m sen tid o possível
em Isaías. N e sse versículo de E zequiel, os q u e m o rre ra m em b atalha e, agora,
vivem n o Sheol são descritos c o m o ’êlê gibbôrim (as m esm as palavras na m esm a
o rd em de Isaías, m as n o plural e ev id en tem en te ligadas em u m a relação geniti-
va) os “ p o d e ro so s líderes” ; E ic h ro d t o ferece “ heróis sem elh an tes a D e u s” co m o
um a possível tradução, m as n ão acrescenta n e n h u m co m en tário .1 E ssa tradução
é im provável à luz d o uso bíblico ex am in ad o acim a. W evers c o m e n ta q u e “ po d e-
rosos líderes” é o plural d o título m essiânico de Isaías 9.6 e p o d e r ser trad u zid o
p o r “p o d e ro so s deuses” . E le su sten ta q u e o m o n o te ísm o exigia a m inim ização
desses seres, que en traram n o p e n sa m e n to p o p u lar para m a n te r u m a influência
lim itada n o H ades.12
E m o u tra s palavras, ’êl tem d e ser e n te n d id o c o m o “ d e u s” , m as o co n tex -
to d ecid e q u e tip o de deus. E im provável q u e Isaías p e n sa sse n o M essias em
analogia c o m o s d euses p ag ão s e n ã o h á fu n d a m e n to p a ra re d u z ir o sen tid o
p len o das palavras d o p ro fe ta . A luz d o ím p e to d a p rov a, e p a rtic u la rm en te à
luz da p ró p ria m e n te c o n fo rm e o b se rv a d o e m seu u so das palavras idênticas
em 10.21, é difícil aceitar q u e se p o ssa d a r a um versículo re m o to d e E zeq u iel
de se n tid o in c e rto u m a v o z d eterm in ativ a.
b. A p a la v r a p a r a Is ra e l ( 9 .8 < 7 > — 11 .1 6 )
O s p ro fe ta s viam re g u la rm e n te a m b o s os rein o s div id id o s n a esfera d e seu
m inistério. T eo lo g icam en te, o m o tiv o p a ra isso é q u e os p e c a d o s e e rro s h u m a-
nos n ã o p o d e m fru stra r os p ro p ó s ito s n e m reescrev er as p ro m e ssa s d e D eus.
As trib o s d o R eino d o N o r te se livraram d e sua aliança davídica (lR s 12.16) e
ap o stataran ! d o S e n h o r (lR s 12.25ss.), m as o S e n h o r n ã o m u d a seus p lan o s à
luz disso. T o d o s q u e estiverem in scrito s e n tre o s vivos (Is 4.3) serão levados
para casa, p a ra o Sião, p o r in te rm é d io d a m e sm a p o lítica m essiân ica e o m es-
m o rei p ro m e tid o . P o r co n seg u in te, Isaías, agora, atravessa p o r Israel ( E f r a im /
Jacó) o c h ã o q u e acabara d e c o b rir p o r Ju d á , m as n ã o é u m a m era repetição.
C o m o se m p re n o s pares de Isaías, h á p o n to s relevantes d e d esen v o lv im en to .
1. O s p ro p ó sito s im ed iato s d o S e n h o r p a ra Ju d á e Israel n ã o são idênticos.
Para Israel, a A ssíria é o c o n q u ista d o r (10.4,9,11), m as p a ra Ju d á , ela é o p u n i-
d o r (10.12,24s.).
2. E m Sião, a A ssíria so fre rá um g o lp e d o qual n ã o h á re c u p e raç ã o possível
(10.12,16-19,27-34).
1 W. E ic h r o d t, E z e k i e l ( S C M , 1970).
2 J. W W ev e rs, E z e k ie l ( N C B , N e ls o n , 1969).
O LIVRO DO REI 140
1 O t e r m o ta h a ( c o m o s u fix o p r o n o m in a l é u s a d o p a ra e x p r e s s a r “ o n d e x e sta v a ” e m , p o r
e x e m p lo , 2 S m 2 .2 3 . M as s e rá q u e é p o ss ív e l e s te n d e r e s s e s e n tid o p a ra u m c a s o c o m o o
a tu a l s e n d o s e g u id o d e u m su b s ta n tiv o ?
2 P a ra tah at c o m o a d v é rb io , v eja G n 4 9 .2 5 ; D t 33.13.
149 ISAÍAS 9 .8 1 1 .1 6 ־
O julgamento (10.5-15)
N o lu g ar d e q u a lq u e r fim q u e o p o e m a p re c e d e n te p o d ia te r tid o original-
m e n te (veja o Comentario adirional acim a), Isaías declara a v in d a d o ju lg am en to
so b re Israel p o r in te rm é d io d esse m agnífico o rá c u lo das d u as so b eran ías: a
so b eran ia d o S e n h o r Çadõnãy) e a d o rei d a A ssíria (12). A o fazer isso, ele cria
um d o s p ro n u n c ia m e n to s centrais d a Bíblia so b re a relação e n tre o céu e a te rra
na h istó ria h u m an a.
ordem” não deve ser entendido como uma ordem dada abertamente para o rei
da Assíria que este, depois, não obedeceu (7). Antes, ouvimos aqui o Senhor
declarar seu segredo, o que ele pretende realizar soberanamente por intermé-
dio da Assíria. Nessa passagem os quatro verbos referentes ao Senhor: envio e
e s tá /“ ordeno” no versículo 5 e term inar e castigar no versículo 12. A autorida-
de divina inicia (envia) ordens (comandos), estabelece limites (termina) e julga
(castiga). Para a palavra ímpia (hanêp ), veja o comentário sobre 9.17< 16>. A
frase um povo que me enfurece é (lit.) “povo da minha ira”, ou seja, aqueles que
merecem justamente minha ira. E uma ira Ç ebrg; cf. 9.19< 18>) que não pode
ser contida. Na frase p a ra saqueá-lo e arrancar-lhe os bens (lislõ l sã lã l w ^lãbõz ba¿),
os dois elementos de Maher-Shalal-Hash-Baz (8.1ss.) indicam o cumprimento
contínuo da mensagem que se tornou carne no filho de Isaías. A palavra do
Senhor não volta vazia (55.11). Assim, ela não pode ser recusada impunemente
porque carrega seu próprio poder de cumprimento. A propriedade e também
as pessoas perecem no julgamento.
7 Isaías aponta a disparidade entre os motivos da Assíria e os do Senhor.
Aqui os aspectos compatíveis com o versículo 6 são o segredo e as ambições
totalmente egoístas dos assírios. O comandante Rabsaqué (“comandante de
campo”; 36.4) transformou a obediência em um meio de conseguir um ponto
conflitante (36.10). Para ele, o Senhor não era nada além de um joguete em um
jogo de guerra psicológica. Talvez até mesmo suas fontes de informação dei-
xassem “escapar” algo da palavra de Isaías. Mas não foi uma ordem do céu que
levou a Assíria a ir contra o oeste da Palestina e de Sião; foi a própria autocon-
fiança deles. Pois o que têm planejado,/ “têm em seu coração” e 0 seu p ro p ó sito /“e.stá
em seu coração”, veja comentário sobre 9.9<8>.
8 A expressão eles perguntam é (lit.) “pois ele diz”; há fundamento para a
confiança do versículo 7. O rei tem muito sucesso para contar, reinos que
caíram para ele e os reis desses reinos que se tornaram seus com andantes (sã rim ),
executivos que executam seus decretos. Com certeza, agora nada pode detê-lo!
9 E mais provável que não aconteceu seja “não é”. O rei olha adiante, vendo o
futuro à luz do passado. Seis cidades são mencionadas aos pares. Em cada par,
a primeira fica mais a sul que a segunda, e o rei está raciocinando: “Tomei essa,
posso tomar aquela”. C arquem is é uma cidade do alto Eufrates bem ao norte
da Palestina; C alno e A rp a d e ficam oitenta quilômetros mais ao sul; H a m a te fica
160 quilômetros a norte de D am asco. A lista (cf. w . 28ss.) não é uma descrição
histórica da marcha, mas uma expressão impressionista da ideia de avanço ine-
xorável; de desastre cada vez mais próximo — a próxima é SamanaX
10,11 Samaria e Jerusalém são as mais indefesas, comenta ironicamente
Isaías, uma vez que elas não eram idólatras tão exímias. O versículo 11 conclui a
série ao inferir a queda de Samaria e tencionar a de Jerusalém. A sequência im a-
O LIVRO DO REI 152
O remanescente (10.16-34)
Essa seção está unida e suas subseções são marcadas por 0 Senhor, 0 Soberano
(1h ã 'ã d ô n ya hw eh f b a o t nos versículos 16 e 33 e
d òn ã y yahw eh f b a ô t nos versí-
culos 23 e 24). Cada seção (16-23 e 24-34) começa com p o r isso (lãkêri) e contém
uma divisão anunciada pela expressão naquele dia (20,27).
16 P or isso, ou seja, uma vez que o que veio antes nos versículos 5-15 é o
verdadeiro entendimento da história mundial e o verdadeiro relacionamento
do divino com a soberania humana, seguem-se as consequências. Isaías começa
sutilmente com um lembrete de quem é o Deus soberano: 0 Soberano, 0 Senhor
dos E xércitos. O Senhor é h a ã d ò n (cf. v. 33), “O [verdadeiro] Soberano”, “o So-
berano por excelência”. Esse título solene olha em retrospectiva de maneira
desconfiada para a vazia soberania do rei assírio! O Senhor dos E xército s é lavé,
adequado a essa passagem, o Deus do êxodo que salva seu povo e domina seus
inimigos. Ele é o Soberano/“ Senhor dos Exércitos” (veja comentário sobre 1.9),
ou seja, possui todas as potencialidades e poderes. Para enviará veja comentá-
rio sobre versículo 6. Ele dirigiu o curso da Assíria; ele direciona seu fim. Λ
expressão idiomática hebraica para expressar totalidade por um par contras-
tante acontece duas vezes: enferm idade e fogo são os agentes interno e externo de
destruição e, portanto, representam toda força da destruição; os termos fo rtes
guerreiros e glória representam o arsenal da monarquia em seus recursos externos
e suas dignidades pessoais e, por isso, expressa perda total.1
17 (Cf. 30.27-33.) Os assírios marchando triunfalmente sobre Jerusalém
estão na verdade pulando em uma fogueira. As trevas são um dos temas de
Isaías para os tempos dos assírios: a reunião das trevas de 5.30 e o êxito nas
trevas de 8.20-22. Mas a L us^ de Israel não foi embora.*12 A luz que em seu sen-
tido mais amplo ainda está por vir (9.1<8.23>; 30.26) já está presente. A fé,
nas trevas da calamidade, caminha na luz. Para a ligação entre luz e santidade,
veja 6.3. Ali a “glória” expressou a presença do Senhor em toda sua glória em
todo lugar; aqui a luz é a presença do Senhor em toda sua santidade inacessível.
Mas ele está presente como 0 seu Santo , o Deus sempre do lado de seu povo,
independentemente de quanto eles sejam indignos disso. A expressão num único
dia (cf. 9.14<13>; 10.3) é muito apropriada para o julgamento assírio (37.36).
18 O contraste entre florestas (terreno não habitado com vegetação natu-
ral) e campos férteis, “seu jardim”, (cultivo ordenado) expressa a totalidade da
destruição. O termo totalm ente é (lit.) “alma e também carne”. A palavra definha
(m esõs) é de im ã sa s, “consumido”. Em Josué 2.11, ela aparece na frase “o povo
desanimou-se completamente”/ “consumiu-se”. Encontramos a palavra tradu-
zida por enfermo (nõsès) aqui e talvez seja (B D B ) um participio de in ã sa s, (“estar
doente”). A palavra incomum, sem dúvida, foi escolhida para produzir a asso-
nância estilística n fs õ s nõsès.
19 Isaías acrescenta uma úlüma metáfora. A Assíria, em seguida ao fiasco
em Sião, continuou avançando em direção a sua morte (37.36ss.), mas foi tão
diminuída que até mesmo um a criança podia conduzir um censo! Isaías recorre
a outro tema das histórias de Gideão para auxiliá-lo (Jz 7.14; cf. Is 9.4<3>;
10.26).
20-23 O pensamento, como nos versículos 16-19, ainda se concentra no
Santo (20), de modo relevante sob o título dado por Isaías que o relaciona di-
retamente ao seu povo, o Santo de Israel. Embora comece o julgamento na casa
de Deus, permanece um remanescente. Eles são os sobreviventes (20), caracteri-
zados pela fé (20) e pelo arrependimento (21).
20 O contexto desse versículo é a aliança Arã-efraimita. O Reino do Norte
(Jacó... Israel), ameaçado pelo poder cada vez maior da Assíria, procurou uma
nação que tinha sido inimiga durante um século em busca de força (veja co-
mentário sobre 9.12<11>). Mas naquele dia renunciar-se-á a essa tolice e um
remanescente [...] confiarão no Senhor /.../ com toda fidelidade. O termo sobreviventes é
(lit.) “os que escaparam”; o sentido de ameaça e julgamento é forte nesses ver-
sículos. C onfiaré, “contar com, depender de” (cf. 2Sm 1.6 para um exemplo da
fraqueza descansando na força). A própria experiência de Isaías tinha mostrado
que o Santo de Israel, o Deus cuja santidade condena (1.4) é o Deus que perdoa
e reconcilia (6.3-7). Ele vê essa obra em escala nacional.
21 A frase um remanescente voltará é a mensagem de Sear-Jasube aplicada aqui
às pessoas do Reino do Norte. O verbo voltar (cf. 1.27) enfatiza o lado ativo do
arrependimento em contraposição ao lado mental: uma virada e retorno. O
título D eus Poderoso Ç èl g ib b ô r) é o mesmo de 9.6<5>. O uso desse título dire-
tamente para o Senhor mostra que ele não pode ser reduzido com integridade
a “herói semelhante a Deus” em 9.6<5>. O título não podería ser usado tão
cedo se não com o sentido pleno pretendido ali. A referência ao Senhor como
um Deus guerreiro é adequada a esse contexto em que o povo está sob o espo-
rão de um conquistador e precisa de libertação. Ele é um “Deus guerreiro de
valentia”, como em Josué 5.13— 6.27, e quando Isaías o vir de novo em 59.15b-
20. Sempre que o povo de Deus precise, como o Senhor “dos Exércitos” tem
toda potencialidade e poder para atender, ele se lança no papel apropriado.
22 Há uma continuação do tema de Sear-Jasube do versículo 21. A con-
junção embora é um sentido possível da conjunção k í 'im (por exemplo, Am
5.22), mas seu principal sentido não é como concessivo, mas como uma firme
conjunção adversativa: “mas”. Nesse contexto, a palavra “mas” contraria qual-
quer indicação de que o remanescente, mencionado duas vezes no versículo 21,
indica pequeno número. Ao contrário, a promessa para Abraão continua e “o
O LIVRO DO REI 156
seu povo, ó Israel” será como a areia das p ra ia s do m ar (Gn 22.17). É nesse sen-
tido que (lit.) “um remanescente entre eles voltará”. O termo apenas é uma
adição interpretativa presumindo que a palavra remanescente é usada aqui em um
sentido ameaçador, mas isso não se ajusta à referência à promessa abraâmica.
A destruição (killá yô n ) significa a “chegada a um fim”, do lado negativo, “um
fracasso” (sua única outra ocorrência é em D t 28.65). Outra forma da mesma
palavra (k ã i) é traduzida por “destruição” no versículo 23. Nos dois lugares a
palavra podería ser traduzida por “fim” ou “consumação”; o Senhor consuma-
rá o que decretou, quer por promessa quer por ameaça, e o que ele fizer será
(lit.) “repleto de justiça”. Completamente dominado/ “transbordante” (isã fap)
é usado característicamente em Isaías para a “inundação” assíria (cf. 8.8; 10.22;
28.2,15,17,18; 30.28). A misericórdia que salvaguarda o remanescente não será
menos abundante! A “justiça” é o resultado externo da santidade na aplicação
de princípios justos no governo do mundo (cf. 5.16).
23 Um “porque” (ARC) inicial (omitido na NVI) transforma esse versí-
culo em explicativo do tema consumação/julgamento. Este não se realiza pela
vontade humana (por exemplo, o imperialista Império Assírio) tampouco por
acaso nem por operação mecânica de forças históricas, mas pelo decreto divi-
no. Para a expressão 0 Senhor, 0 Senhor dos E xércitos, veja a nota introdutória na
página 153 e os comentários sobre o versículo 16. A frase sohre todo 0 p a ís /“n o
meio de toda a terra” indica que os atos de Deus acontecem na realidade da
história e na vida deste mundo. O termo “todo” é apropriado, pois seus atos
abrangem não só Judá e Israel, mas simultaneamente os povos conglomerados
do Império Assírio; todos estão sujeitos aos decretos do Senhor.
24 Isaías volta-se para outro reino do povo de Deus: Sião. Para Judá, a
esperança ocupa o primeiro plano à medida que eles foram com certeza casti-
gados, mas poupados da destruição. Nessa conjuntura, fazia parte da sabedoria
soberana decretar que o reino, não obstante a descrença decisiva de Acaz, não
seria exterminado pela Assíria. O juiz de toda a terra (Gn 18.25) frustra nossa
lógica com suas decisões, mas ele faz o que é certo. P or isso uma vez que a des-
truição é decretada (23), o Senhor tem de continuar e dizer como a executará.
Além da nota de esperança que o título 0 Senhor, 0 Senhor dos E xército s (veja v.
16) contém, também há outros sinais positivos. Primeiro, Deus lembra-os do
contínuo relacionamento da aliança (eles são povo meu) e da promessa davídica
sob a qual eles vivefm / em Sião (a frase “vive em Sião”, em que simplesmente “em
Sião” teria bastado, é claramente enfática). Segundo, a sugestão das palavras
comofenço E g ito traz à mente a aterrorizante experiência que finalmente terminou
em redenção e vitória. Isaías exorta o Sião: N ã o tenham medo dos assírios. Ele sabe
que o fim será a destruição e a deportação (6.1 ls.), mas também sabe que os
assírios não serão os agentes disso. Eles espancam, mas, em última instância, não
são um motivo de medo.
157 ISAÍAS 9 .8-11.16
0 termo “fértil” traduz ‘filho do óleo”. Será que havia uma riqueza ou for-
ça inerente em Sião que a tornava invencível para a Assíria? Se esse fosse o
caso, é possível que fossem as promessas davídicas do Senhor (28.16; 37.33-35;
38.5,6). A tradução da ARC indica isso: “por causa da unção”. Mas embora se
usasse óleo na unção, a palavra não se destaca em outras passagens como uma
figura de unção. Contudo, é provável que esse sentido do texto esteja mais per-
to de ser satisfatório à medida que se destaca1e casa com a expressão um tanto
enfática que vive em Sião do versículo 24. A poesia é inerentemente alusiva e o
pensamento aqui não é diferente de 2Samuel 1.21, passagem em que Davi la-
menta a morte de Saul na batalha “que nunca mais será polido com óleo” — um
comentário igualmente conciso (cf. SI 89.20<21>). A referência a óleo liga com
a seção de abertura do poema. N o versículo 16, o Senhor envia uma eliminação
entre seus “gordos” (m ism annãw ) em que o vocabulário de “óleo” (sem en) está
evidente. Eles não têm óleo preservador, mas o Sião tem.
28 Os verbos entram e passam estão no tempo perfeito e provavelmente
deviam ser traduzidos no passado, indicando que a marcha já está em seu cami-
nho. E provável que A iate seja a cidade de Ai (Js 7.2), 24 quilômetros a norte de
Jerusalém. A cidade de M igrom , se é aquela de 1Samuel 14.2, é a sul de Micmás,
mas o verbo passam pode indicar que aqui ela é antes o nome de uma região.
Em guardam , o tempo muda para imperfeito. Os tempos perfeitos representam
relatos trazidos da frente do que já aconteceu; o tempo imperfeito (por assim
dizer) tem o sentido de alarme à medida que as pessoas tomam conhecimento
de que a passagem-chave para Micmás caiu. E possível que a frase guardam
suprim entos seja mais provavelmente “ele revê ou examina suas armas”, ou seja,
preparação para o ataque final.
29 A frase “atravessaram o vale” refere-se a Micmás. A introdução da fala
quase direta (Passarem os a noite acampados em G eb a / “Geba nosso alojamento”)
acrescenta vivacidade e expressa a autoconfiança do inimigo. Eles, longe de se
demorar em Micmás para estabelecer uma base de suprimento, continuaram
a fim de atravessar a passagem descendo 91 metros no vale e planejam a ocu-
pação de Geba, 152 metros acima do outro lado do vale. Agora, o inimigo já
entrou em Judá e está a 9 quilômetros de Jerusalém. R am â e G ibeá eram ambas
1 S o b e ja m as r e c o n s tr u ç õ e s d o te x to . E m v ez d o “ e se u ju g o d e se u p e s c o ç o ; e [o] ju g o
se rá d e s tr u íd o ” d o T M , o u tr a p o s s ib ilid a d e é: “ e o ju g o d e le e m s e u p e s c o ç o s e rá d e s-
t r u íd o / c e s s a r á ” (o u seja, c m v e z d e vfhubbal leia yhubbal o u yehdal). U m a a lte rn a tiv a
p a ra o “ ju g o p o r c a u s a d a u n ç ã o ” d o T M Çôl mippf nê semen) é: “ ele s u b iu d e R i m o m / d e
S a m a ria ” ( ‘a tó m ipffnê rimmón/sõrrfrôri). (P a ra R im o m , v e ja J z 2 0 .4 5 .) A N V I (porque vocês
estarão muito gordos) p r e s e r v a o T M , m a s e m d e tr im e n to d o s e n tid o ( e m b o ra Y o u n g a p o ie
isso: “ Isra e l é u m a n im a l g o r d o , n a v e rd a d e , tã o g o r d o q u e su a p r ó p r ia g o r d u r a q u e b r a
o ju g o ”). A T B , c o m u m a r d e p e g a r o u larg ar, o f e re c e u m v ig o r o s o “ se rá q u e b r a d o p o r
causa da g o rd u ra ” .
159 ISAÍAS 9 .8-11.16
cidades fortalezas na estrada direta para a capital, mas longe de se preparar para
deter o inimigo, “Ramá treme; Gibeá de Saul foge [foi evacuada]”.
30 A cidade de Anatote, oito quilómetros a noroeste de Jerusalém, não
teria estado na linha direta da marcha, mas ela caiu para o invasor junto com
as provavelmente vizinhas G alim e I m í s . Para o termo clam em /“gritem com
sua voz”, diriamos “com a potência máxima de sua voz”. Na expressão pobre
A n a to te /“ò afligida”, o “ó ” alude às consequências da chegada da tropa assíria.
A guerra é “uma infâmia interminável disfarçada sob um nome respeitado, mas
obsoleto”.1
31 D o contrário a cidade de M adm ena seria desconhecida e foi possível-
mente escolhida pelo efeito de assonância n ã ctd à m adm ênâ (“Madmena está em
fuga”). D o contrário também a cidade de G ebim seria desconhecida.
32 O termo hoje significa “antes de hoje está fora”. Sem dúvida, a cidade
de N o b e é identificada com a que fica a um pouco mais de 1,6 quilômetros de
Jerusalém. Com a frase eles vão p a r a r /“ a intenção é parar”, ouvimos mais uma
vez o relato trazido por espiões e batedores.12
33,34 E muito provável que esses versículos tenham origem como a linha de
abertura do poema real messiânico de 11.1-16. Se o todo for agora uma entrada
em uma antologia fica difícil saber o que representa a parte podada e a derrubada
de árvores dos versículos 33 e 34 à parte de sua óbvia relevância no esclarecí-
mento do fundamento para o “broto” do “tronco de Jessé” (11.1). N o entanto,
0 poema, à medida que continua, está intimamente integrado ao contexto em
que começou em 9.8<7> e, em última análise, em 7.1. Os versículos 33 e 34,
no contexto imediato, equilibram-se com o versículo 27. O corte das aldvas
árvores só pode se referir à destruição da Assíria.3 Isso fornece o contraste
perfeito para o broto messiânico, mas é extremamente surpreendente depois
de cinco versículos de autoconfiança, progresso inexorável e afronta assírias!
Em contrapartida, a falsa soberania do rei, o verdadeiro Soberano (h a ã d ô rí)
assume o centro do palco. (Sobre esse título divino, veja o esboço na página
153 e os comentários sobre o versículo 16.) A derrubada da floresta casa com o
incêndio da floresta dos versículos 16b e 17 como o tema da destruição assíria.
Oferece uma adaptação irônica do machado imaginário do versículo 15. Está
em vista uma derrubada de árvores tão colossal como a derrubada do U bano.
A frase vejam ! O Soberano, 0 Senhor dos H xércitos, na verdade, é “pelo Poderoso”;
para um inclusio [criar uma estrutura ao pôr material similar no inicio e no final
de uma seção] com os versículos 15 e 16 em sua referência ao dia (no v. 16,
quando é (lit.) “no dia em que”, assim o grande dia futuro casa com o grande dia
passado), braço, o remanescente, A ssíria , E g ito e m ar (a reunião dos povos do outro
lado do mar é possível ao secar o mar). Portanto, a gloriosa esperança é de um
mundo reconstituído sob um rei perfeito.
C f. J r 3 0 .9 ; Ez. 3 4 .2 3 ,2 4 ; O s 3.5.
O LIVRO D O REI 162
monarquia não sobrevivería à descrença de Acaz. Por isso, a predição atual não
precisa da queda histórica da monarquia a fim de induzi-la. Isaías seria uma pes-
soa muito estranha na verdade se não tivesse consciência de uma tensão em sua
própria mensagem entre a predita glória davídica (1.25-27) e a predita queda
davídica (por exemplo, 7.17). Dessa tensão surgiram profecias como a de 9.1-7
e de 11.1-16. O Senhor tem de rememorar suas promessas ou afirmá-las e a fi-
delidade de Deus exige essa última. O termo ramo (h ô fer ) só é encontrado aqui e
em Provérbios 14.3 e significa “crescimento novo” ou “galho fino”. Para tronco
(g e z a '), veja 40.24 e Jó 14.8. O renovo (nêçer) é do verbo “ficar verde”, por isso,
significa “um broto”. Não é a palavra usada em 4.2, mas é a mesma metáfora, a
“árvore da família”, referindo-se aqui à descendência humana do Messias. Em
9.1 ss., a ênfase está no nascimento do Messias; aqui ela está no fru to de sua vida
adulta e de seu caráter.
2 A principal impressão adquirida do Antigo Testamento é de que o E sp í-
rito do Senhor1 capacita as pessoas escolhidas para tarefas especiais (por exemplo,
Ex 31.2,3;Jz 6.34), mas também há indivíduos que desfrutam da habitação per-
manente do Espírito: Moisés (Nm 11.17); Josué (Nm 27.18); Davi (ISm 16.13)
e possivelmente Elias e Eliseu (2Rs 2.15). Em Isaías, o Messias é o Espírito
provido (42.1; 59.21; 61.1). A sétupla elaboração do Espírito e sua obra come-
çam aqui com sua pessoa divina como 0 E sp irito do Senhor e continua com três
pares de características. Primeiro, ele é 0 E sp írito que dá sabedoria e entendim ento.
Esses são atributos judiciais e governamentais como em Deuteronômio 1.13 e
em IReis 3.9,12. (Em IReis 3.9, “distinguir” reflete o substantivo “entendimen-
to” e, no versículo 12, os adjetivos correspondem aos substantivos de Isaías.)
Quando as palavras são usadas juntas, “sabedoria” é a característica mais geral,
enquanto “entendimento” é mais particularmente o poder de enxergar o cerne
da questão; a primeira é o reservatório; e a última, o fluxo dirigido de maneira
prudente. Essas provisões mentais de sabedoria e entendimento contrastam
com a vangloria orgulhosa do rei da Assíria (10.13). Segundo, ele é 0 E sp írito que
tr a z conselho e poder. As palavras traduzidas aqui por conselho2 e poder3 aparecem
como “estratégia e força militar” em 36.5. Esse dom prático é a capacidade de
planejar um curso certo de ação acompanhada da bravura pessoal de não se
iludir. Terceiro, ele é o E sp írito que dá conhecimento e tem or do Senhor. O conhecí-123
substituirá (1.21ss.), dará toda sua atenção à causa deles (SI 72.2-4,12-14). Mas
nem o favor aos necessitados nem o desfavor aos ímpios subverte o equilibrio
preciso da justiça. Sob esse Rei, será executada a justiça ideal conforme consa-
grado na le x talionis (lei da retaliação): a punição tem que se equiparar ao crime
(Ex 21.23ss.). A justiça tem de ser imparcial com todos (Lv 24.15ss.) e, assim,
demonstra-se a honra da lei (Dt 19.20s.). Os necessitados (dal) aparecem como
os pobres Ç anw ê ), praticamente idênticos aos oprim idos ( <aniyyê) de 10.2 (veja o
comentário ali). Λ frase com suas palavras, como se fossem um cajado e com 0 sopro de
sua boca são abreviações para o pronunciamento da sentença. O Rei não precisa
de outra demonstração de poder nem de outra arma de coação além da simples
palavra que ele diz (Ap 19.15,21). O termo so p ro /“e spírito” ou “vento” é uma
poderosa força invisível. Quando a referência é para o Espírito do Senhor, há a
sugestão constante de poder para efetuar a mudança, de impor a vontade divina
e a ordem sobre as coisas (SI 33.6). Assim, a palavra do Rei é plena de eficácia
divina.
5 O tema de “vestimenta” sempre tem a mesma relevância: os trajes ex-
pressam as realidades inerentes e a capacidade de uma pessoa e os propósitos
com os quais se compromete (59.16,17; 61.10; SI 132.9,16,18). O cinturão sim-
boliza prontidão para a ação. Assim, o versículo 5, casando o que o versícu-
lo 3 diz sobre as emoções do Rei, descreve o que é observável: um propósito
constante para agir na causa da retidão e da fid e lid a d e A retidão é aquela “que
segue a norma inviolável da vontade divina”; a fidelidade é aquela “que mantém
inalterável o curso divinamente apontado” (Delitzsch) ou, respectivamente, “a
integridade moral e a firme lealdade” (Mauchline).
6-9 Há um elemento “edênico” no pensamento de Isaías (veja comentário
sobre 2.4b) e não há fundamento para negar a autoria dessa passagem atual a
ele.
Em 9.1-7<8.23— 9.6>, Isaías viu a luz irrompendo nas trevas da terra,
prosseguindo para iluminar as pessoas e encontrar sua explicação no nascimen-
to do Messias. Agora essa ordem é revertida: primeiro o Messias brota e depois
é possível que as pessoas em escala mundial recebam nova vida por intermédio
dele e a própria vida da natureza é transformada. Os versículos 6-8 oferecem
três facetas da criação renovada, e o versículo 9 é um resumo de conclusão.
Primeiro, no versículo 6, há a reconciliação de antigas hostilidades, a ameniza-1
habita há “gloria”, pois Deus está ali em toda sua gloria (cf. comentário sobre
4.5; 6.3). Em 9.1-7<8.23— 9.6>, á medida que a luz dispersa as trevas, ela tarn-
bém alcança a “Galileia dos gentios/nações”; aqui as nações vieram em busca do
Messias. O que começa um poema (o brilho excedente de sua luz) termina o
outro poema (a reunião do povo).
11-16 Esses versículos casam com a garantia de 9.7<6> de que “o zelo do
Senhor dos Exércitos fará isso”. O foco de atenção passa do ramo e da Raisç de
Jesse' (1,10) para o braço e a mão do Senhor (11,15), símbolos de ação pessoal. O
Messias governava com justiça o povo (3-5) — agora o Senhor reúne o povo e
renova-os (6-9) — agora o reino mundial é realizado (14). Essa edição sutil é a
marca de Isaías.
11 A expressão naquele dia liga ao versículo 10. Em ambos os versículos
a fórmula enfatiza a natureza escatológica da visão. N o TM (lit.) “o Sobera-
no acrescentará um segundo tempo [com] sua mão para tomar posse de...” A
expressão idiomática “acrescentar para fazer” significa “fazer de novo”, aqui
“tomarão posse de novo de”. Para esse verbo no contexto de êxodo-conquista,
veja Êxodo 15.16; Salmos 74.2; 78.54. O termo braço é usado adverbialmente,
como em Salmos 44.2<3> (“Com a tua própria mão expulsaste”), no sentido
de “em sua própria pessoa e força”. O “braço” do Senhor é o principal tema
do êxodo (veja Êx 3.19,20; 6.1; 13.3; D t 6.21). A expressão segunda vesçenfatiza o
pensamento de uma ação repetida e contrasta deliberadamente o ato vindouro
com o ato clássico do Senhor no êxodo (cf. v. 16b). Mas esse será um êxodo
mais abrangente de uma dispersão mundial. A A ssíria e o E g ito são menciona-
dos primeiro como os “grandes poderes” da época de Isaías e também como
os inimigos contemporâneos e originais do povo do Senhor. Assim, nenhuma
força mundial nem nenhuma oposição mundial pode impedir a nova reunião.
Mais a sul fica Patros (no alto Egito) e E tió p ia (Cuxe) — mais a leste que a Assí-
ria, ficam E lã o e Sinear (Babilônia). A seguir para completar foram acrescentados
bem distante a norte H am ate e bem longe as ilhas \ã yyim \ do mar. (Para ’iyyim , veja
comentário sobre 40.15.)1 A Babilônia está dissimulada sob o antigo nome he-
braico Sinear (cf. Gn 11.1-9; Zc 5.5-11). Não há motivo para Isaías ter evitado
uma referência à Babilônia de sua época. O nome Sinear deve ter sido usado
(de acordo com as referências fornecidas) como símbolo do mundo autocon-
fiante e ímpio, do qual também o povo de Deus será reunido.
12 Sobre a bandeira cf. versículo 10. A expressão as nações são convocadas
na grande reunião (cf. 19.23-25; 45.22-24). O tema da bandeira é desenvolvido
1 O t e r m o ih ã r a m o c o r r e 2 9 v e z e s n o s liv ro s d e Ê x o d o c J o s u c e 2 4 v e z e s n o r e s to d o A n -
tig o T e s ta m e n to . O s u b s ta n tiv o hêrem o c o r r e 21 v e z e s n o s liv ro s d e N ú m e r o s e J o s u é e
17 v e z e s e m o u tr a s p a ssa g e n s .
169 ISAÍAS 1 2 .1 - 6
S é rie 1 S é rie 2
B abilônia (13.1— 14.27) O d e se rto d o m a r (Babilônia) (21.1-10)
Filístia (14.28-32) O silêncio (E d o m ) (21.11,12)
M o a b e (15.1— 16.14) A n o ite (A rábia) (21.13-17)
D a m a s c o /Is ra e l (17.1— 18.7) O vale da V isão (Jerusalém ) (22.1 -25)
E g ito (19.1— 20.6) T iro (23.1-18)
A B C
Babilônia (13.1— 14.27) O deserto à beira d o m ar A cidade vazia (24.1-20)
(Babilônia) (21.1-10)
R uina política R uína religiosa Ijeis desobedecidas (5), portas
quebradas (12)
Filístia (14.28-32) Silêncio (E dom ) (21.11,12) O Rei de Sião (24.21-23)
E sse d iag ram a só o b se rv a as p rin cip ais ligações e n tre as três séries, m as
m e sm o co m base n isso a in te n ç ã o de Isaías fica clara. N a p rim eira série (a co-
lun a d a esq u erd a), o b se rv a m o s q u e a h istó ria universal é o rg an izad a d e fo rm a a
cu id ar d o p o v o d o S e n h o r (B abilônia, 14.1,2), e as p ro m e ssa s de D e u s, e m b o ra
p areçam e n fraq u ecer, serão c u m p rid a s (Filístda, 14.28-32). A s n a ç õ e s p o d e m
e n c o n tra r ab rig o em Sião, m as o o rg u lh o é o inim ig o delas (M oabe, 16.6) e há
até m e sm o u m v e n e n o em ação em m eio ao p o v o d e D e u s — u m a d e p e n d ê n c ia
das o b ras h u m a n a s q u e só p o d e m te rm in a r em d e stru iç ã o (E fraim , 17.7-11).
N o e n ta n to , em ú ltim a in stân cia o S e n h o r tra n sfo rm a rá to d o s em u m ao u n ir
to d o s a ele m e sm o (E gito, 19.18-25).
N a seg u n d a série (a co lu n a d o m eio), Isaías c o m eça a p ro je ta r esses prin cí-
pios n o fu tu ro . E le p assa de n o m e s h istó ric o s c o n c re to s p ara alu sõ es en ig m á-
ticas c o m o se p a ra d iz e r q u e m e sm o q u a n d o o fu tu ro se m o v e além d a n o ssa
c o n te m p la ç ã o ainda há u m “ p rin cíp io B abilônia” em o p e ra ç ã o n o m u n d o em
179 ISAÍAS 1 3 .1 2 7 .1 3 ־
Poderiam os argum entar que a história anterior das seções individuais não
tem relevância para o en ten d im en to da com posição co m o a possuím os,
pois cm to d o caso elas recebem nova relevância nela.12
comentário sobre 39.1ss.), ela era uma importante ameaça para a soberania as-
síria e, do ponto de vista político, um Império Babilônio era uma probabilidade
real na época de Isaías. As circunstâncias da delegação babilônia (39.1-7; c. 702)
exigiu que Isaías dissesse algumas palavras e, pelo que sabemos, foi nesse ponto
que o problema de 6.11,12 foi resolvido.
Isaías sabia desde o início de seu ministério que Judá seria deportada. Ele
veio a saber que a Assíria não realizaria isso, mas que, ao contrário, a ameaça
da Assíria ao Sião, na verdade, marcaria o início do declínio do império.1Talvez
a passagem 39.6,7 tenha sido a primeira vez em que ele conseguiu dar nome
ao poder das trevas cuja tarefa que lhe fora destinada ele conhecia então havia
trinta anos. Claro que, uma vez que ele tinha dado o nome da Babilônia como
o destruidor, podia estar sob pressão para dizer mais. Seria irrealista achar que
o grupo de discípulos não o pressionaria (8.9ss.) precisando saber como as
promessas de Deus aconteceriam quando a própriajerusalém, sob uma ameaça
ainda maior que a Assíria, caiu para o inimigo. Essa investigação não seria mera
curiosidade sobre o futuro; seria essencial para a fé, uma vez que tocava na
confiabilidade das promessas por meio das quais o remanescente vivia. Assim,
as circunstâncias compeliram Isaías a incluir a Babilônia em seu pensamento
e pregação. Portanto, não podemos hesitar quanto ao relato de que Isa ías [...]
recebeu em visão (cf. 1.1; 2.1). A sugestão dessa nota de autoria é que 13.1— 14.27
alcançou algum tipo de publicação contemporânea ou circulação — um pen-
sarnento razoável à luz do capítulo 39 e da notoriedade concedida à delegação
babilônia e à coisa chocante que Isaías tinha dito.
O Dia do Senhor: 0 propósito universal declarado (13.2-16)
Isaías fica com a tradição de Amós do Dia do Senhor (cf. Am 5.18-20) e o
que ele descreve casa com o que diz em outras passagens.*2 N o entanto, aqui há
um notável equilíbrio de interferência divina e humana (cf. 22.5,6). O conflito é
universal sendo que nem um lado nem o outro é arma do Senhor (1 -5). Antes, o
conflito como tal é promovido por ele e os exércitos são seus instrumentos um
contra o outro. Em uma palavra, a culminação da história está nos princípios de
10.5-15. Naquele dia, toda destruição inerente ao pecado até agora manifestada
em todo ato individual de animosidade e em todo simples ato de guerra, alean-
çará uma violência sem precedentes de destruição mútua. Mas, acima de tudo
isso, há a direção de um Senhor supremo e administrador moral do mundo.
Há uma descrição da convocação a uma guerra santa (2,3) e a inspeção de um
exército universal (4,5), o terror que isso inspira (6-8) e o propósito moral em
tudo isso (9-13). Será um dia do qual não se pode escapar (14-16).
de confusão e indecisão; eles estão desnorteados para saber para onde se voltar.
Oswalt, comentando sobre a expressão os rostos em jo g o / “face de chamas, seus
rostos”, diz: “Eles olharão uns para os outros em agonia tanto de indecisão
quanto de reconhecimento” — o reconhecimento de terem confiado nos re-
cursos errados traz vergonha tardia, faz seu rosto ficar em fogo de embaraço.
Kaiser sugere “suar por causa do medo”.
9 Veja comentário sobre os versículos 6-13 acima. Para cruel/ “selvage-
ria” Ç a kzã n ) cf. Jeremias 6.23; para ira Çebrâ) veja 9.19<18>; 10.6; e para fu ro r
Çap) veja 10.5. As palavras, por sua vez, falam da punição cruel de uma raiva
transbordante que não pode mais ser contida, expressão de uma paixão pes-
soai ardente. A expressão a terra podería ser traduzida por “o mundo” (cf. v.
5). O ambiente é envolvido na pecaminosidade humana e também carrega as
consequências disso. Pela primeira vez no poema, a motivação moral do dia
é declarada, sugerida até aqui pela ideia de “guerra santa” (2,3) e a indignação
divina (5). O dia é o ponto em que o pecado fica face a face com a santidade, e
os pecadores são destruídos (cf. v. 10).
10 Muitas idéias se justapõem nesse versículo: a negação aos pecadores
de todas as influências benéficas da criação, simbolizada pela Ju% a visita da ira
sobre toda a criação corrompida pelo pecado (cf. 2.12ss.; 5.5,6,10); a retirada da
luz, um símbolo apropriado da aproximação das trevas do julgamento divino
(cf. 5.30); o pensamento de treva como uma aproximação do Deus de absoluta
santidade (Ex 19.16; Dt 4.11); e a praga das trevas do êxodo (Ex 10.21ss.), que
falava do merecido julgamento sobre os adversários do Senhor, mas também
da separação das pessoas que ele determinou para a salvação. As trevas, mesmo
do Dia do Senhor, estão no propósito de 14.1,2.
11 O termo castigarei é “visitar”. A expressão 0 m undo (teb et) se refere ao
mundo habitado, o mundo dos seres humanos e dos assuntos humanos (cf. SI
24.1b). A mudança do original hebraico “mal” para sua m aldade é simples e co-
mum, mas desnecessária. A expressão os ím pios (psõTim ) com frequência, é usada
com força judicial (por exemplo, lRs 8.32) com o sentido de “os considerados
culpados pela lei”. O dia não é um derramamento indiscriminado de ira; cada
um é julgado e a sentença é pronunciada à luz da evidência. Para in iq u id a d e/
“pecados” veja comentário sobre 6.7. A palavra arrogância vem de um verbo
com o sentido de “fervura ou ebulição” e, por isso, significa “insolente, cheio
de arrogância, soberbo”. O termo cruéis ( ‘ãrlsim , “tirânico”) se refere à arrogân-
cia que faz uma pessoa dominar a outra.
12 Essa é uma imagem terrível de exterminação: as pessoas com a mesma
escassez são tão valorizadas quanto o metal mais precioso. O jir , cuja localização
é incerta, era famosa pelo ouro fino (cf. lRs 9.28; Jó 28.16).
13 Esse versículo forma o sumário e a conclusão. Porque o Senhor apon-
tou sua mão para o julgamento moral que é cósmico (10) e de extensão uni-
O LIVRO D O REI 186
versal (11), o céu trem er[á] e a terra se moverá. O movimento ordenado do céu e a
estabilidade da terra, tudo que foi alcançado por meio da criação, será desfeito
no julgamento. A ira e o fu r o r (como no v. 9) agem como um inclusio [criar uma
estrutura ao pôr material similar no início e no final de uma seção] para essa
subseção.
14-16 A imagem dos exércitos reunidos — com a qual o poema do Dia do
Senhor se iniciou (2-5) — é contrabalançada por essa imagem concludente de
povo dispersado pelo desastre — e sendo superado por ele.
14 As frases como a gaséela perseguida e como a ovelha que ninguém recolhe são
cópias complementares. O primeiro animal está em risco por causa da atenção
das pessoas, o segundo corre risco sem a atenção delas. Assim, a humanidade,
encontrando o Senhor como inimigo dela e perdendo-o como seu pastor, está
de fato indefesa e sem esperança, com tudo para fugir disso e sem nenhum
lugar para o qual fugir. Eles se reuniram com “exultante arrogância” (3), mas
agora tudo que eles conseguem pensar em fazer é ir para casa, para 0 seu povo c
a sua terra.
15 N o versículo 14 não há defensor; o versículo 15 acrescenta que não
há saída. A expressão todo 0 que fo r capturado/ “todos que forem encontrados”,
com frequência, é usada com o sentido de “quem acontecer de estar ali”, tendo
sobrevivido à batalha. A frase todo 0 que fo r capturado significa “todos que forem
eliminados”, ou seja, na fuga da batalha. Independentemente de como for eli-
minado — na batalha, como sobrevivente ou na fuga, um destino que aguarda
a todos.
16 Sem proteção (14), sem escapatória (15) e agora sem misericórdia. Se
alguém conseguisse chegar a sua casa seria só para ver tudo que amavam des-
truído: os filhos que geraram, as casas que construíram, as esposas que ama-
vam. Como será que tudo isso deve ser entendido como o dia do Senhor (6)? Em
uma palavra, a resposta é que é assim que as pessoas são umas com as outras
(cf. v. 18). Quando consideramos o encaixe da interferência humana e da divina
como essa passagem descreve, precisamos nos lembrar do que aprendemos
com a passagem fundamental de 10.5-15: que não devemos pensar nos seres
humanos como fantoches com o Senhor como o fantoche mestre deles. Ao
contrário, eles estão sendo eles mesmo por completo, cumprindo os propósitos
do Senhor com seus atos naturais. Portanto, em um sentido muito real, o que
a Bíblia fala de sua “mão estendida” (14.26) seria mais facilmente entendido
se pensássemos nela como o recu[o] de sua mão — para deixar os pecadores
implementarem toda a selvageria da natureza humana caída, destituída da efi-
cácia humanizadora e refreadora da graça comum. O Criador constituiu a hu-
manidade de maneira que o pecado deixa as pessoas progressivamente menos
humanas e, portanto, menos humanitárias. N o entanto, o processo não segue
187 ISAÍAS I 3 . I - I 4 . 2 7
seu curso lógico de sua forma lógica ou, do contrário, a raça teria perecido tão
logo o pecado entrou no mundo (Gn 2.16,17). O Senhor continua soberano,
operando suas próprias regras, dirigindo, restringindo e incitando. Mas virá o
tempo — o Dia do Senhor — em que o pecado, em clima de culminância, as-
sumirá o palco como o destruidor total que sempre é e os pecaminosos seres
humanos, que determinaram seu destino sem Deus por tanto tempo, terão per-
missão para agir dessa maneira; na verdade, serão dirigidos a fazer isso.
A ruína da Babilônia: o fim do reinado (13.17-22)
O Dia do Senhor tem muitos cumprimentos intermediários. A passagem
14.24-27 encontra um cumprimento desses na destruição da Assíria. Mais
adiante na história, ele será prenunciado mais uma vez na queda da Babilônia.
Dessa maneira, os versículos 17-22 estão relacionados aos versículos 2-16. Não
é o caso de Isaías estar aqui denominando retrospectivamente os guerreiros
que foram convocados nos versículos 2-5; essa convocação aguarda o dia em
que, mesmo no nosso tempo, ainda está por vir. Mas os mesmos princípios
que operam naquele dia de culminação da história operam ao longo dela. O
Deus a quem aquele dia revela é o Deus que dirige a história agora, e a natureza
humana pecaminosa, que será então vista em sua verdadeira cor, é a natureza
que guia as pessoas hoje. Contra o pano de fundo desse dia, podemos ler a his-
tória contemporânea de olhos abertos. Assim, aqui, Isaías nos mostra a direção
divina e a motivação humana em operação (17), a selvageria entre os povos
(18), a destruição do orgulho (19) e a interminável desolação que o pecado traz
(20- 22).
17 E o Senhor despertarla] [...] os medos (cf. v. 3). Ele está no controle executi-
vo de todos os movimentos da história, da mesma maneira que estará no último
dia. A referência aos medos como os destruidores da Babilônia é surpreendente
à primeira vista uma vez que estamos acostumados a atribuir a conquista a Ciro,
0 persa. N o entanto, as frases que dão prioridade aos medos sobre os persas
(por exemplo, “a lei dos medos e dos persas”, Dn 6.8,12,15; cf. Et 10.2) e a
misteriosa descrição do conquistador da Babilônia como “Dario, o medo” (Dn
5.30)1 indica no mínimo que os medos não foram de maneira alguma meros
adjuntos opacos de uma vitória persa.1 2 Isaías, sem dúvida, tem suas próprias ra-
zões contemporâneas para escolhê-los. Eles não se interessam p e la / “não pensam
nada da” p ra ta , ou seja, não podem ser subornados. A única motivação deles é
a conquista.
1 V eja D . J. W is e m a n , N otes on Some Problem s in the B o o k o f D a n ie l (T y n d ale P re ss , 1 965), p.
9 -1 6 .
2 O s q u e q u is e r e m d a ta r e sse o rá c u lo c o m a lg u m a p ro x im id a d e d a q u e d a d a B a b ilô n ia d e -
v e m a c h a r u m a g ra n d e d ific u ld a d e e ssa re fe rê n c ia a o s m e d o s e a a u sê n c ia d e re fe rê n c ia
a o s p e rsas.
O LIV RO DO REI 188
1 A fra s e “ f r u to d o v e n tr e ” é s e m p r e u sa d a p a ra filh o s e m g e ra l e n ã o p a re c e se re fe r ir à
a tro c id a d e d e e s tr ip a r a s m u lh e re s g ráv id as.
189 ISAÍAS 1 3 .I - I 4 .2 7
ção de serviço alegre por parte dos p o vo s/ “nações” e Israel “possuirá os po-
vos”. Eles tomarão posse das riquezas das nações (como em Ex 12.33-36) e
exercerão domínio doméstico (servos e servas), militar (farãoprisioneiros) e político
{dom inarão/ “governarão sobre”), ou seja, eles terão força total. N o entanto, a
realidade de tudo isso é que a propagação do reino de paz (9.7<6>) no que o
convertido pressiona alegremente e por escolha (1) e toma o lugar do servo na
comunidade da graça.
A destruição da Babilônia: o fim do rei (14.3-23)
Veja a página 180 para o esboço e a natureza composta dessa subseção.
Sua peça central é o “cântico do rei caído” nos versículos 4b-21. O cântico
é fornecido com uma introdução (3,4a) combinado com o tema precedente
da restauração do povo do Senhor (1,2) e uma conclusão (22,23) utilizando o
pensamento final do cântico (20b,21) e transformando-o em uma afirmação
divina. E inútil tentar associar o cântico com algum rei conhecido. Se o cântico
já tivesse tido esse tipo de conexão, então a relação, como nos salmos com tí-
tulos históricos, é alusiva, e o poeta está mais preocupado em extrair princípios
que em narrar uma história. E muito mais satisfatório ver aqui um poema do
gênero “o Dia do S e n h o r ” . Da mesma maneira que a passagem 13.2-6 é um
poema que usa a imagem do “Dia do S e n h o r ” e, depois, associa-a com a queda
da Babilônia (13.17-22) como um “dia de intervalo”, também aqui a ideia geral
de um poder mundial hostil é personalizada no retrato imaginário do fim do rei
mundial, e isso, por sua vez, recebe realização intermediária no fim da dinastia
imperial da Babilônia (22,23). Quanto mais pensamos nos capítulos 13— 27
como um estudo dos princípios da história mundial se fundindo adiante na
escatologia, fica mais fácil perceber que desde o começo a Babilônia carrega
nuanças da “cidade vã” (24.10), cuja queda representa o fim de tudo que se
opõe ao governo do Senhor.
Introdução (14.3,4a)
3 Tanto Davi (2Sm 7.1) quanto Salomão (lRs 8.56) estavam enganados ao
pensar que o momento chegara na época deles. A plenitude aguarda o Dia do
Senhor. Esse esperado descanso (Inüah, o mesmo verbo para “estabelecerá” no v.
1) inclui libertação do sofrimento, da perturbação e da cruel escravidão. A palavra para
sofrim ento (cõ seb) remonta ao anseio expresso por Lameque quando deu o nome
de N oé (“descanso”) a seu filho esperando alívio dos “trabalhos e das fadigas
de nossas mãos” (cissã b ô n , Gn 5.29; ARA) e antes disso remonta ao resultado
da “dor” (cissã bô n , Gn 3.16; ARC), conforme a maldição. A palavra relacionada
aqui significa alegria na maldição removida. A perturbação (rõ gez, irõ g a z, veja
2Sm 7.10) é a insegurança da perda da própria terra. Portanto, aqui, o descanso
da rõ g ez é a segurança total. A expressão cruel escravidão traduz “dura servidão”,
191 ISAÍAS I 3 . I - I 4 . 2 7
que é exatamente a expressão de Exodo 1.14 (ARC). Portanto, seu fim é o sinal
de que a redenção completa foi efetuada.
4a Aqui a palavra jam bará não transmite o sentido do hebraico. Não é um
exercício de escárnio ou zombaria. A palavra m ã sã l é a palavra hebraica gené-
rica para “provérbio” ou “parábola”, um dito ou uma forma de colocar algo
por meio do qual a verdade interior vem à luz. A frase “pronunciou este orá-
culo”, em Números 23.7,18; 24.3,15, significa “explicar as coisas como ele as
entendia”. Por isso, uma tradução melhor aqui seria “você trará à luz a verdade
interior sobre o rei”.
O cântico do rei caído (14.4b-21)
Nenhuma tradução consegue reproduzir o movimento e a oscilação desse
poema verdadeiramente magnífico. E a obra de um mestre. Entre os escrito-
res conhecidos da Bíblia, nenhum deles além de Isaías poderia ser o autor do
poema.1 Ele é apresentado em quatro partes das quais a primeira e a última (A1
e A2) acontecem na terra, e as seções do meio (B1 e B2) acontecem no Sheol.
Reações (4b-10)
A 1 A reação da terra ao fim da opressão (4b-8)
B1 A reação do Sheol à chegada do rei (9,10)
Contrastes (11-21)
B2 Ambição e realização. Não o ápice do céu, mas o nadir do
Sheol (11-15)
A2 A expectativa e atualidade. Sem continuação de tumba ou linhagem
(16-23)
1 S ó h á o c o r rê n c ia d a p a la v ra m u rd òp (“ p e rs e g u iç ã o ”) a q u i, e K is s a n e o u tr o s a c o rrig iría m
p a ra m ird a t (“ d o m ín io ”), p a la v ra n ã o e n c o n tr a d a e m n e n h u m o u t r o tre c h o . O s s u b s ta n ti-
v o s d e m e s m a f o r m a ç ã o d e m u rd ò p o c o r r e m e m 8.23; 29.3.
193 ISAÍAS 1 3 . 1 1 4 .2 7 ־
13 A ênfase do versículo está em você, aos céus e em acima das estrelas de D eus.
Enquanto os versículos 11 e 12 lidaram principalmente com os fatos públicos,
a transformação na posição e influência do rei, o versículo 13 nos leva ao co-
ração dele, o lugar da ambição secreta. Para D eu s Ç êl), veja o comentário sobre
5.16. Por trás da frase no m onte da assembléia está a ideia mitológica de que os
deuses viviam nos montes. A assembléia é o panteão reunido. Sobre a expressão
m onte sagrado (ya rkftè sãpôri), veja a nota de rodapé da NVI. O monte Safom fica
no norte da Palestina e, na mitologia cananeia, era o assento dos deuses. Sal-
mos 48.2<3> usa a mesma expressão com a indicação de que se existisse um
lugar como “o ponto mais elevado do Safom”, esse lugar seria o Sião.
14 Para o termo A ltíssim o je ly ò n , veja Gênesis 14.18,19,22 (cf. Dn
4.17,24,25; 2Ts 2.4).
15 O termo S heo ltraduz “a sepultura”, e o abism o traduz ya rkfjê , que é “mais
elevado” no versículo 13. A palavra significa qualquer coisa que esteja mais
distante em qualquer direção que o contexto exija. Assim, o rei tentou alcançar
o ponto mais alto do céu e foi ao ponto mais fundo do abism o, um sinônimo de
Sheol em seus aspectos mais ameaçadores (SI 28.1; 143.7; Is 38.18).
16-21 O elemento de contraste é mais ampliado quando o poema volta à
cena terrestre: o que o rei pode ter esperado e o que aconteceu de fato. Não há
uma sepultura imposta nem uma linha contínua comemorando-o.
16,17 O termo olham (Jsãgah ) é usado em Salmos 33.14 para o olhar pe-
netrante de Deus e, em Cântico dos Cânticos 2.9, para o olhar andante do
amante. O contraste entre a expectativa e a realidade fica aparente quando eles
p o n d era m / “consideram” a situação do rei. Será que esse homem pode ter rea-
lizado tal depredação na obra de Deus (ele fançia trem er a terra e fesç do m undo um
deserto) e do povo (ele abalava os reinos e conquistou cidades)? Será que ele exerceu
de fato um controle desumano sobre o povo e não deixou que os seus prisioneiros
voltassem p a ra casai Contudo, foi isso que ele fez e, como todos que fazem isso,
caiu por causa deles (veja v. 20).
18-20a O termo túm ulo/ “casa” significa “mausoléu” aqui — as casas gran-
diosas do morto que os grandes da terra constroem. A expressão m as você é
enfática, exatamente como no versículo 13. A frase seu próprio túm ulo (qebet) é a
palavra usual para “sepultura”. Ele é um galho (nêser ) rejeitado/ “detestado” em
contraste com o “ramo” reverenciado “do tronco de Jessé” (11.1). O rei é um
“ramo” de reis, mas calcula-se que se adeque apenas para o monte de esterco.
A frase como as ro u p a s/ “vestido” dos m ortos é notável. O rei, sem seus mantos
reais, agora não tem nada para vesti-lo além do corpo daqueles que morreram
na batalha, amontoados de maneira desonrosa. A s pedras da cova é a rocha no
fundo do abismo do Sheol (cf. v. 15). Seu túmulo não identificado e, portanto,
involuntariamente pisoteado, pisado. A expectativa de outro enterro real operou
no sentido inverso (53.9). Não há ninguém preocupado em garantir um enterro
195 I S A ÍA S 1 3 . I - 1 4 . 2 7
A 1 A ru ín a c e rta de M o a b e (15.1)
B1 A d o r ex p ressa d e M o ab e (2-4)
C1 A d o r d o S e n h o r em relação a M o a b e (5-9)
D1 O p e d id o de ab rig o d e M o ab e (16.1-4a)
E A seguran ça em Sião (4b,5)
D2 O o rg u lh o de M o ab e (6)
B2 O p e sa r de M o ab e ex plicado (7,8)
C2 A d o r d o S e n h o r em relação a M o a b e (9-12)
A2 A ru ín a im in e n te d e M o ab e (13,14)
1 M a u c h lin e , p. 150.
201 ISAÍAS I 5 . l - l 6 . i 4
b íssim a” . O s três p rim eiro s su b stan tiv o s são variantes d a raiz ga â sig n ifican d o
“estar e lev ad o ” . P o d e ser u sad o n o b o m se n tid o co m o significado d e “ exalta-
çào” o u “ m ajestad e” (2.10; 4.2), m as ta m b é m n o m au sen tid o , sig n ifican d o “ al-
tivez” (2.12). O te rm o raiva Ç ebrâ) aparece em 10.5 c o m o “ fu ro r” , m as aquí ele
significa “ a fro n to s o ” , um a m o r p ró p rio q u e n ã o p o d e se r co n tid o . S o b re isso,
Isaías c o m e n ta : “Λ sua jactância é vã” (A RC). O te rm o jactancia é d e u m v erb o
que tem o se n tid o d e “ inventar, p lan ejar” , daí, viver em u m m u n d o irrealista. A
sug estão de Isaías é q u e o c a m in h o da fé é o c a m in h o d o realism o, d e e n fre n ta r
os fatos c o m o são. R ejeitar o cam in h o de fé em fav or da au to c o n fia n ç a equivale
a se re tira r para um m u n d o de so n h o s — ex ceto p elo fato de q u e as c o n se q u ê n -
cias d isso (7,8) e stã o m u ito d ista n te s de se r u m so n h o .
7,8 E ssa c a p rim eira das três seções “ p o r isso ” (7,8; 9,10; 11,12). A se-
g u n da e a terceira seções registram as reações d o S e n h o r; a p rim eira registra
as c o n seq u ên cias de recu sar a segurança em Sião. ( ) se n tid o literal d a frase
p o r isso choram os m oabitas é “ p o r isso c h o ra M oabe; to d o s c h o ra m p o r M o a b e ” .
O b se rv e c o m o o v e rb o c o m eça e te rm in a a linha, a g ru p a n d o M o ab e e to d o s
que são seus. O s bolos de p assas (veja n o ta de ro d a p é d a N V I)1 eram feitos de
uvas secas p ren sad as, m as p o r q u e eles são m e n c io n a d o s aqui? Isaías co n tin u a
para v er as v inhas d e M o ab e c o m o um a im agem d e influência d ifu n d id a (8).
Talvez os b o lo s d e passas, em c o n tra p a rtid a , re tra te m o a n tig o d e sfru te p átrio
de p ro sp erid ad e.
8 A exata localização ta n to de H esbom (15.4) q u a n to d e Sibm a (Js 13.19;
K m 32.38) são desco n h ecid as. A ex p ressão governantes das nações só é e n c o n tra -
da aqui. J a ^ a r (K m 21.32; Js 13.25) ficava além d a fro n teira n o rte d e M o ab e; o
deserto e ste n d ia a leste, e o m ar ficava a oeste. A ssim , chegava-se a M o ab e p o r
to d o s o s lados (cf. SI 80.8ss.).
1 O t e r m o homens d a N V I p ro v a v e lm e n te s u rg e d a a c o m o d a ç ã o d o te x to d e Isaías a o d e
J e re m ia s 48.31 c d a leitu ra d e ’arise, e m v e z d e '“sisê. N ã o h á ju sd fic a ç ã o p a ra fa z e r isso.
O LIV RO DO REI 206
Cf. as outras cidades com o m esm o nom e, em A rnom (N m 32.34), mais a norte, em Rabá
(Js 13.25) e em S. Judá (ISm 30.28).
O LIVRO DO REI 210
O po v o re sta u ra d o ao S e n h o r (17.7,8)
E ssa é a seg u n d a seção “ n aq u ele dia” e se v o lta p ara a q u e stã o d a co n fian -
ça. O o lh a r de expectativa e d e co n fian ça se fixará a p en as n o S en h o r, ex clu in d o
to d o s os o u tro s possíveis o b je to s de d e v o ç ã o religiosa (cf. 2.8; 31.7).
1 Para a imagem de colheita cm Isaías, veja 9.3< 2> ; 16.8; 17.11; 18.4s.; 23.3; 37.30.
211 ISAÍAS 1 7 . I - 1 8 . 7
1 Veja “Asera”, etc. no Theological Dictionary o f the Old Testament, eds. G. j. Botterweck c H.
Ringgren (F.erdmans, 1974), vol. 1, p. 438ss.
O LIV RO D O REI 212
1 Λ R S V in te r p r e ta d e s n e c e s s a r ia m e n te m a r c o m o o N ilo , e isso é a p o ia d o p o r K a is e r, q u e
aleg a q u e o s b a r c o s d e p a p ir o n ã o p o d ia m se a v e n tu r a r a lé m d o d e lta . V eja T. H e y e rd h a l,
The R a E x p e d itio n (P e n g u in , 1970).
2 O te r m o im a sa k (“ a lo n g a d o ” ) n u n c a é e n c o n tr a d o c o m o se n tid o d e alto. “A n tiq u a d o ” , o u
seja, t e n d o u m lo n g o re g is tro n a h istó ria é s u s te n ta d o p o r, p o r e x em p lo , J r 31.3. M acia (m ôrãt)
sign ifica a m a cia d a o u p o lid a c o m o d e u m a e sp a d a a fiad a p e la açã o ( liz 2 1 .9 ,2 8 < 1 4 ,3 3 > ) e
p o ss iv e lm e n te a q u i significa “ e m d isp o siç ã o d e b a ta lh a ” , “ d e s p ro v id o p a ra a a ç ã o ” . A frase
pelos que estão perto e pelos que estão longe n ã o q u alifica o “ te m id o ” , m as a o rd e m : Vão.
217 ISAÍAS 1 9 . I - 2 O.6
4 O Senhor observa, sem ser visto, “como o ardor do sol reluzente, como
a nuvem de orvalho no calor do tempo da colheita”. Tão natural e inevitável
quanto há o ardor do sol e orvalho na época da colheita, também o Senhor está
presente, sem ser visto, olhando quieto. Ele olha não de, mas “onde moro”, pois
ele não só é o Deus transcendente no céu, mas também o Deus presente nos
assuntos da terra. Mas o ardor e o orvalho não são apenas acidentais na colheita,
eles são de fato fatores auxiliares no amadurecimento. Desse modo, o Senhor é
mais que um observador, ele comanda o processo.
5 O Senhor escolhe seu momento quando a colheita está pronta. A palavra
do Senhor sobre si mesmo (4) aqui se torna a palavra de Isaías sobre o Senhor;
não se pretendia nenhuma distinção. N o milagre da inspiração o que o Senhor
diz o profeta diz, e o que o profeta diz o Senhor disse. Lendo os versículos 5
e 6 juntos, fica claro que a colheita que o Senhor colhe e, depois, deixa para as
aves e os animais é aquela que os governantes da terra, os que ficam implícitos,
pretendiam colher para eles mesmos. Eles observaram seus planos amadurece-
rem, mas assim que pegaram a foice para colher sua recompensa, a mão divina
os precedeu — o ato súbito do verdadeiro governante do mundo (cf. 17.12-14).
Isso foi perfeitamente ilustrado no episódio de Senaqueribe.
6 O perigo acabará completamente não restando poder suficiente nem
mesmo para impedir os animais de se banquetear. As tentativas das pessoas de
governar o mundo — com base ou nos propósitos de imperialismo como os da
Assíria ou nos esquemas de segurança coletiva como os do Egito — fracassa-
rão totalmente. Todo 0 verão e todo 0 inverno indicam que não será uma trégua mo-
mentânea do confronto de superpotências, mas um verdadeiro fim, o ano todo.
7 Esse versículo descreve a consumação. A expressão naquela ocasião Ç êj; cf.
0 sentido do gr. ka iro s no Novo Testamento) não se refere a uma “data”, mas a
uma “estação” quando será adequada e característica para dádivas, em especial
“uma dádiva de reverência”,1 trazidas ao Senhor da parte de um povo [ ...] perto e
/.../ longe (cf. v. 2b). Haverá pessoas do mundo inteiro que esperaram a bandeira
ser levantada e a trombeta soar (3) e agora eles se tornarão peregrinos ao local
do nome do Senhor dos E xército s (“Todo-Poderoso”; veja 1.9), ou seja, m onte Sião\
A promessa de um remanescente gentio foi autenticada no nome do “Senhor
dos Exércitos” (17.3) e as espigas respigadas de Efraim foram garantidas pelo
“Senhor, o Deus de Israel” (17.6). O título atual, Senhor dos E xércitos, completa
as séries e conclui o oráculo. O Senhor onipotente traz o mundo para casa no
monte Sião, pois só ali ele fez a moradia de seu nome.
e. Egito: um Deus, um mundo, um povo (19.1—20.6)
A sequência coerente dos oráculos continua. Seguindo a visão de um re-
manescente tanto de gentios quanto de Israel atraídos para o Senhor em Sião
(caps. 17— 18), resta perguntar em que termos os gentios entram. Será de fato
com igual glória, como prevê 17.3? Isaías, para responder a essa pergunta, pega
o candidato mais improvável, o Egito, o primeiro e mais memorável adversário
do povo do Senhor. N o ponto culminante do oráculo (19.23-25), ele liga o
Egito com a Assíria, o atual opressor. Se essas duas nações podem ser trazidas
em igualdade com Israel, então o mundo será de fato um! O oráculo cai em três
seções: um poema sobre o colapso do Egito (19.1-15), uma seção de prosa com
cinco declarações “naquele dia” com o Egito como o sujeito delas (19.16-25)
e um “cumprimento de interim” (20.1-6, veja p. 179s.) envolvendo a Assíria e
0 Egito. As questões levantadas sobre se todo esse material pode ser atribuído
a Isaías, mas nem os argumentos são convincentes nem os especialistas con-
cordam.1 As dificuldades individuais serão discutidas conforme elas surgem,
mas não há barreira insuperável para a autoria de Isaías. Conforme o oráculo se
apresenta, as três seções oferecem uma declaração equilibrada:
A mensagem duradoura de uma passagem como essa não está nos deta-
lhes, que são peculiares a sua situação e época, mas na insistência de que os
problemas, económicos e políticos, da sociedade têm uma causa espiritual. Eles
são o resultado dos propósitos divinos e são diretamente rastreáveis até a mão
de Deus, e não sendo o resultado de leis sociológicas, forças de mercado ou
destino político. E só podem ser resolvidos recorrendo ao Senhor.
In tro d u ç ã o (19.1)
O primeiro movimento do Senhor em julgamento é enfraquecer o estado
de espírito nacional: a religião deixa de incitar e ajudar e há uma perda de vita-
lidade e adquire-se um espírito de derrotismo. O lema do Senhor, a “cavalgada
nos céus”, expressa a soberania divina, mas a única passagem em que o cava-
leiro divino e as nuvens aparecem encontra-se em Salmos 18.10-15, quando
o Senhor desce para salvar Davi e derrotar os inimigos deste. Esse é o pano
de fundo aqui (cf. SI 68.33<34>). O Egito, posando de amigo, é uma ameaça
mortal para o reinado de Davi. Assinar um tratado, diz Isaías (28.14s.) é assinar
sua sentença de morte, mas o Senhor é velo:£ em vir em auxílio de seu povo. Para
ídolos ( ,'M im , “não deuses”) veja o comentário sobre 2.8. O julgamento dos
deuses do Egito é um tema de êxodo (Ex 12.12). Diante do Senhor, os deuses
e também os seres humanos ficam imobilizados. Tremem (in ú T ) é “vagar, cam-
balear” (por exemplo, 28.7). Aqui eles estão desorientados pela (mera) vinda do
Senhor. Para derretem veja comentário sobre 10.18.
O colapso social (19.2-4)
Quando o espírito nacional colapsa (1), a ação divina provoca a divisão so-
ciai (2), a frustração se estabelece (3a) e nada segue de acordo com o plano (3b).
Há decadência, em que as pessoas se voltam para o charlatanismo religioso (3c)
e o país cai na ditadura (4).
O LIV RO D O REI 220
rio, ele estaría usando “atalhos” para dizer que sabe que é o Senhor dos E xército s
e que eles deviam pelo menos discernir como as coisas são amoldadas. A frase
que lhe m ostrem é (lit.) “anunciem-te, agora, ou informem-te”. A expressão que lhe
m ostrem é uma emenda minúscula que pode ser corrigida. “Mostrem”, contudo,
expressa uma ideia distinta — eles não podem dizer, eles nem mesmo sabem.
O termo planejado é verdadeiramente “aconselhado”.
13 Para tolos e Z o ã veja comentário sobre o versículo 11. M ê n fis/ “N ofe”, no
delta sul, foi uma capital do Egito. A palavra enganados (in ã s a ; cf. 36.14; 37.10)
é usada em Gênesis 3.13 para a ação da serpente. A expressão in d u zira m i...j
ao erro é usada metaforicamente para “líderes” (Jz 20.2), “chefes” (ISm 14.38,
ARC), etc.
A ação do Senhor (19:14,15)
14 O poema começa quando o Senhor aborda o Egito. Agora, ele está em
operação nos líderes, transmitindo-lhes um espírito que os deixou desorientados ou
perplexos/desnorteados. A palavra (jiw lm ) só ocorre aqui. C am balear ( jcãw ã)
tem “desvio” como a raiz da ideia (cf. 21.3). Portanto, a ideia é de líderes “sem
saber que caminho seguir”. Esse é um aspecto da santa atividade de julgamento
do Senhor (lRs 22.21-23; 2Ts 2.11).
15 Veja o comentário sobre 9.14,15. Líder e liderado, alto e baixo, todos
são impotentes para resolver o problema do Egito.
A cura do Egito (19.16-25)
A oposição aparentemente inflexível do Senhor ao Egito no poema per-
manece em um maravilhoso contraste com a passagem atual sobre a restau-
ração do Egito e sua reunião no povo de Deus. A conjunção de “ferirá” e
“curará”, que fornece o título para as duas seções, aparece no versículo 22.
Vimos um lado da ação divina, aqui está o outro. Conforme Isaías se dirige a
seus contemporâneos, seu principal pensamento nos versículos 1-15 era expor
a insensatez da aliança com o Egito. Juntar-se ao Egito seria se associar com
uma nação sob a ira divina (1), confiar nas promessas de um povo dividido (2),
buscar ajuda em uma economia em colapso (5-10), esperar sabedoria onde só
havia insensatez (11-13) e acreditar que aqueles que não conseguiam resolver
seus próprios problemas (15) conseguiríam resolver os problemas dos outros!
Uma crítica devastadora! Mas o uso de Isaías dos versículos 1.15 em seu con-
texto atual tem um propósito mais profundo. O Egito auxilia o mundo gentio,
levando-o ao declínio irreversível. Seu verdadeiro problema é a oposição divina
e, ainda assim, nenhum pecado é especificado para explicar a hostilidade do
Senhor. Em uma palavra, temos aqui a situação, vista pela primeira vez em Ba-
bel (Gn 11), em que a determinação da humanidade de ser a solução para seus
próprios problemas e governar o mundo sem Deus fica automaticamente sob
223 ISAÍAS 1 9 . 1 2 0 .6 ־
U m a lín g u a, u m S e n h o r (19.18)
O s detalh es d esse se g u n d o o rá c u lo “ naquele dia” p e rm a n e c e im p cn etrá-
vcl, m as a fo rç a p ro p u lso ra d o o rá c u lo está clara e é ad eq u ad a. S eg u in d o no
te m o r d o S e n h o r (16,17) há u m a volta ao S e n h o r m arcad a p rim e iro pela ado-
ção d e a língua de C a n a ã A fo rm a verbal fala rão en fatiza a c o n tin u a ç ã o e, p o r
c o n seg u in te, significa “ a d o ta rã o ” . É típico de Isaías (cf. 6.5,7) q u e o p rim eiro
sinal d a v erd ad eira religião seja a fala (cf. T g 1.26). A ex p ressão é “ o láb io de
C an aã” e ela re m e m o ra a ex periência d o p ró p rio Isaías e reflete o início d e u m a
v olta à co n d iç ã o em q u e “ n o m u n d o to d o havia ap enas u m a lín g u a” (G n 11.1;
cf. v. 24). O se g u n d o sinal d essa vo lta ao S e n h o r é ju rar o b ed iên cia a ele. O he-
b raico d istin g u e e n tre “ jurar p o r” (be), a g aran tia em q u e re p o u sa o ju ram en to ,
e “ jurar p a ra ” (/*), a p e sso a a q u e m a p ro m e ssa é feita. (Veja a m b o s o s u so s em ,
p o r exem plo, 45.23; E x 32.13.) A qui, p o rta n to , o se n tid o é d e fazer a p ro m e ssa
d e o b e d iê n c ia ao S enho r. A ssim , o E g ito c o m eça o p ro c e sso d e v o lta r p a ra o
S e n h o r q u e os o rá c u lo s “ naquele d ia” restan tes d esenv o lv em . M as Isaías, além
disso, m e n c io n a detalh es sem d ú vida significantes p ara ele m e sm o q u e é im -
provável q u e e n te n d a m o s. O te rm o cinco deve ser e n te n d id o c o m o se re fe rin d o
a cin co cidades específicas o u é u sa d o co m o se n tid o d e “ alg u m as” (cf. 17.6;
30.17)? O u Isaías está re m e m o ra n d o as cin co cidades d e stru íd a s n a p rim eira
c a m p a n h a im p o rta n te d e Jo su é, vista c o m o um a g aran tia d a c o n q u ista to tal p o r
vir (js 10.22-43)? K issan e p ro p õ e essa últim a persp ectiv a, e n ã o seria a d eq u ad o
para u m p ro fe ta c o m o Isaías q u e am a se in sp irar em trad içõ es h istó ricas, m as
p arece u m a b ag atela o b sc u ra c o m o u m a referên cia sem m ais explicação. E p o r
q ue um a (ou “ ca d a ” , co m o , p o r exem plo, em E x 36.30; N m 7.3,85) delas será
chamada cidade do Solé A in certeza d o te x to acjui n ã o ajuda, m as m e sm o se ado-
tá sse m o s tex to s altern ativ o s (“ C idade da D e stru iç ã o ” , “ C id ad e d e Ju stiç a ”) n ão
ch eg aríam o s m ais p e rto de e n te n d e r.12 C o n tu d o , em m eio a to d a essa o b scu rid a-
1 M u ito s c o m e n ta r is ta s a s s u m e m q u e a re fe rê n c ia d e v e s e r a im ig ra n te s d e J u d á n o E g ito ,
p o r m e io d a q u a l as v o z e s a d o r a n d o sã o o u v id a s n a te rra . C h a m a a a te n ç ã o , p o r e x e m p lo ,
p a ra as q u a tr o c id a d e s d e Jr. 4 4 .1 , c m q u e o s fu g itiv o s d e J u d á se e s ta b e le c e ra m . M a s à
p a r te d o f a to d e q u e o s fu g itiv o s d e J r 4 4 e sta v a m m ais in te re s s a d o s n a R a in h a d o s C é u s
( jr 4 4 .1 7 ss.) q u e n o S e n h o r, a c lara e x p e c ta tiv a d a p a s s a g e m a tu a l é q u e c o lig i t o q u e se
v o lta à a d o r a ç ã o d o S e n h o r.
2 O t e r m o h eres d o T M n ã o é e n c o n tr a d o e m o u tr a s p a ssa g e n s , m a s é u m s u b s ta n tiv o
c o r r e ta m e n te f o r m a d o c o m o s e n tid o d e “ d e s tr u iç ã o ” . Q a tra z heres (“ o s o l”), e a L X X
tra z “ a c id a d e d e re tid ã o (a se d e k )” , p re s u m iv e lm e n te u m a tra n s lite ra ç ã o d o t e r m o h e b ra i-
c o h a ssed eq c u jo s e n tid o é “ r e tid ã o ” . M a s p o r q u e a L X X tra n s lite ra e m v ez d e tra d u z ir
essa p a la v ra m u itís s im o c o n h e c id a ? I s s o ab ala q u a lq u e r c o n fid ê n c ia q u e a lg u é m p o d e r ía
225 ISAÍAS I9.I-2O.6
R econciliação (19.19-22)
O q u e c o m e ç o u a se r verd ad e n o caso das cin co cidades virá a se r verd ad e
do to d o , d o cen tro /“n o m e io ” a sua fronteira. A re c ip ro c id ad e d e relacio n am en to
é a n o ta chave: a o ra ç ã o e n c o n tra u m a re sp o sta (20); a rev elação leva ao reco-
n h ecim en to , à ad o ra ç ã o e à fidelidade (21); a disciplina divin a leva ao a rrep en d í-
m en to (se voltarão p a ra 0 Senhor) e o p e d id o é re sp o n d id o co m cu ra (22). H á cinco
sinais de religião verdadeira:
1. O altar. E ssa era o lu g ar d e reconciliação (19,20a; cf. 6.6s.). O monumento
(m assêbã) em sua fro n teira sinaliza o lu g ar em q u e o S e n h o r h ab ita (G n 28.16-19)
e sua esfera d e influência (G n 31.51 s.), m as (lit.) “ n o c e n tro ” ficava u m altar.
E sse altar, se n d o ta n to q u a n to u m lugar de sacrifício e, p o rta n to , d e reco n ci-
liação d o p e c a d o r c o m o D e u s san to , era um sin a l e um testemunho. Isso lem b ra o
altar c o n s tru íd o pelas trib o s q u e v o ltaram à T ra n sjo rd ân ia (Js 22) a fim d e q u e
no fu tu ro a b a rre ira d o J o rd ã o n ã o as sep arasse d a u n id ad e d o p o v o d e D eus.
O altar delas era u m te ste m u n h o (Js 22.34) d a realidade d o fato d e serem m em -
bros de Israel. T a m b é m o será para o s g en tio s, re p re se n ta d o s aqui p elo E gito.
2. A oração. O s egípcios têm de te r u m re la c io n a m en to d e fala co m o Se-
n h o r (20b). O p e n sa m e n to de Isaías foi d o livro de J o su é p ara o d e Ju izes (p o r
exem plo, J z 3.9; IS m 12.10,11). O s egípcios tê m de se r trazid o s a viv er em co-
m u n h ão c o m o S e n h o r e a d e sc o b rir q u e a o ra ç ã o é o m eio eficaz d e lidar co m
os p ro b lem as d a vida, de q u a lq u e r fo rm a “ reais” .
3. A revelação. O S e n h o r se revelará, e eles, c o m o re su lta d o disso, (lit.)
“saberão q u e m é o S e n h o r” (21a). A v erdadeira religião n ã o é p esso as b u sc a n d o
p o r D eu s, m as p esso as re s p o n d e n d o à v erd ad e revelada.
te r d e q u e o te x to h e b r a ic o já t e n h a s id o lid o c o m o “ r e d d â o ” . A d ife re n ç a e n tr e o T M e
Q a é m ín im a . E m a is fácil im a g in a r u m a m u d a n ç a d o T M p a ra o Q a q u e v ic e -v e rs a , e m
especial u m a v e z q u e a c id a d e e g íp c ia d e H e lio p o lis (“ C id a d e d o S o l” ) é b e m c o n h e c id a .
G ra y a r g u m e n to u q u e a “ r e tid ã o ” o rig in a l fo i m u d a d a p a ra “ d e s tr u iç ã o ” a fim d e re m o v e r
a p e rc e p ç ã o c o n d e n á v e l d e q u e o E g ito p o d e r ía s e r tã o fa v o re c id o . Q u e tolice! O d e s te -
m id o e d ito r te ria d e r e e s c re v e r to d a a p a s s a g e m . M a s, a p e s a r d e e sse p r o c e d im e n to se r
lam e n tá v el, a d e s fa v o rá v e l p a la v ra “ d e s tr u iç ã o ” p o d e te r s id o m u d a d a p a ra “ r e tid ã o ” a fim
de re m o v e r a ú n ic a p a la v ra n a p a s s a g e m h o s til a o E g ito . M as a ú n ic a fin a lid a d e e m d iz e r
tu d o isso é m o s tr a r e m q u e m u n d o d e s u p o s iç ã o e n tra m o s . N o e n ta n to , t e m o s u m s ó lid o
fu n d a m e n to e m d iz e r q u e “ se rje m o s] c h a m a d o s ” (cf. 4.3; 6 1 .6 ), in d ic a n d o q u e u m n o m e
está s e n d o d a d o a fim d e r e s s a lta r u m a n o v a situ aç ão . I s s o d e s c a r ta H e lió p o lis. D e litz s c h
o b s e rv a q u e ih ã r a s é u s a d o às v e z e s p a ra d e s tr u iç ã o d e íd o lo s (Jz 6 .2 5 ; l R s 19.10,14) e
a rg u m e n ta q u e as c id a d e s a d q u ire m s e u n o v o n o m e a o se p u r g a re m d o s a n tig o s o b je to s
d e a d o ra ç ã o . I s s o se a ju s ta a o c o n te x to , m a s é u m a v ã te n ta tiv a d e ex p licar.
O LIV RO DO REI 226
H a rm o n ia n a a d o ra ç ã o (19.23)
A v erd ad eira relação d o s o rácu lo s q u e focam o E g ito é q u e o E g ito é u m
“ ex em p lo cara c terístic o ” d o p ro p ó s ito d o S e n h o r d e u n ir o m u n d o n a ad o -
ração a ele. A religião v erd ad eira cura as feridas e n tre as p essoas. O final d o
século V III a.C. foi cheio d e te n sã o e n tre as duas ditas su p e rp o tê n c ia s, E g ito
e A ssíria, m as o q u e a am b ição m undial separa, a religião b asead a n a revelação
(co m o acim a; cf. 2.2-4) une. E ste é o terceiro estágio n a p ro p a g a ç ã o d o rein o
d e paz: p rim e iro um as p o u cas cidades (18), d e p o is u m país in te iro (19) e ag o ra
o m u n d o to d o . A ên fase aqui está na u n ião q u e os p o v o s se n ü a m u n s c o m os
o u tro s, e a livre ex p ressão q u e d ã o a ela.
A estrada (n fs illâ , “ u m a trilha o u e stra d a lev an tad a” , visível e inequívoca)
exp ressa p o ssib ilid ad e d e acesso. O m o v im e n to livre e m ú tu o e n tre o E g ito e a
A ssíria m o stra os egípcios e os assírios d e sfru ta n d o -a . A frase cultuarão ju n to s ex p res-
sa o fu n d a m e n to d a u n id ad e deles, o m a g n e tism o q u e o s une: eles aceitam cada
um ao o u tro p o rq u e cada um é aceito p e lo S e n h o r (cf. R m 14.1-3).
C o ig u a ld a d e n o S e n h o r
A últim a seção “ naquele d ia” é o p o n to crucial. A c o m u n h ã o q u e eles
se n te m (23) é o b jetiv am en te ratificada q u a n d o o S e n h o r diz: 0 E gito, m eu povo, a
A ssíria , obra de m inhas mãos, e Israel, m inha herança. N o início, Ju d á foi u m objete)
de m e d o para o s egípcios (17). Isso é c o rre to , po is o v e rd a d e iro re c o n h e c í-
m e n to d o S e n h o r significa re c o n h e c im e n to e su b m issã o àqueles q u e já são seu
p o v o (cf. I C o 14.24,25). M as o c o n v e rtid o d e sfru ta d e im ed iato a m e m b re sia
coigual. O s três títu lo s povo, obra de m inhas mãos e herança se m p re p e rte n c e ra m a
Israel. N o E gito, a palavra an tes era: “ D eixe o m e u p o v o ir” (E x 5.1), m as agora
o E g ito é m eu povo. N a d a p o d e ría sinalizar de fo rm a m ais m arav ilh o sa q u e D e u s
está em o p e ra ç ã o .1
1 E r la n d s s o n , p. 91.
231 ISAÍAS 2 1 . 1 - 1 0
1 K a ise r, p. 124.
2 A frase todo gemido que ela provocou d e p e n d e d e a s s u m ir q u e a e x p r e s s ã o ’an h ã tâ d o T M te m
d e s e r c o n s tr u íd a c o m o t e n d o u m s u fix o p r o n o m in a l fe m in in o . O s u b s ta n tiv o , cla ro , p o d e
s e r to m a d o c o m o u m a f o r m a fe m in in a e s te n d id a (G K C 90g) s ig n ific a n d o s im p le s m e n te
“ to d o g e m id o ” . E s e m p r e a p r o m e s s a d o p r ó x im o g o v e r n o n ã o s ó d e s f a z e r o d a n o d o
a n te rio r, m a s ta m b é m d e ix a r tu d o p e rfe ito .
233 I S A ÍA S 2 1 .1 - 1 0
1 S eale, p. 97.
2 A frase então 0 vigia d a N V I se g u e o Q s n a le itu ra d e w eh (“ u m o b s e r v a d o r ” ), c m v e z d o
’aryêh (“ u m le ã o ”) d o T M .
235 I S A ÍA S 2 1 . 1 1 - 1 2
1 A fra s e “A v is ã o d e I d u m e ia ” d a L X X n ã o a c re s c e n ta n a d a a o n o s s o e n te n d im e n to . E r -
la n d s s o n (ad. loc.) a p o n ta f o n te s a c a d ia n a s q u e c h a m a m E d o m d e udumu, m a s ele e n te n d e
o n o m e D u m á c o m o u m a a lu s ã o c o n s c ie n te a o c o n te ú d o d o o rá c u lo . C f. E ic h r o d t.
2 O s e n tim e n to d e d e s o la ç ã o q u a n d o e m a p u r o é a u m e n ta d o p e lo “ e n f ra q u e c i m e n t o ” d a
s e g u n d a lin h a , a lc a n ç a d o p e lo u s o d a p a la v ra m a is c u r ta p a r a “ n o i te ” Çsõmêr-màmillayâ,
sõmêr mah-millêl) e p e lo u s o d e fo r m a s e s te n d id a s e d e rim a n o fin al d a lin h a Çim- tib'áyún
V ã y ü subü ’êtãyü).
3 A s fo r m a s v e rb a is {tib 'a yü n t f ’a y i i . . . ’êjãyu) e x ib e m a r e te n ç ã o d o “ y” o rig in a l d o v e r b o
lamed/be ( G K C \ 7 5 u ).
237 I S A ÍA S 2 1 . 1 3 - 1 7
A situação (21.13-15)
A l A p alavra so b e ra n a (16a)
a. Sua o rig e m divina
b. Sua re c e p ç ão pela h u m a n id a d e
BI O fim im in e n te (16bc)
a. O fa to r te m p o
b. ( ) fim d a p o siç ã o (“ p o m p a ”) d e Q u e d a r
B2 O fim d a p o tê n c ia de Q u e d a r (17ab)
Λ 2 A palavra divina (17c)
a. A id e n tid a d e d o D e u s q u e fala
b. A p ersp ectiv a da qual ele fala 1
A c id a d e a u to ss u fic ie n te (2 2 .1 -1 4 )
A in te rp re ta ç ã o d essa seção d e p e n d e d a m an eira q u e e n te n d e m o s os tem -
p o s verbais p e rfe ito s d o h eb ra ic o n o s versículos 3-7 e, se c u n d a ria m en te , os
p a rticip io s h e b ra ic o s d o versículo 2b. C o m o o te m p o p e rfe ito ex p ressa um
tipo d e ação (c o m p le ta o u definida), e m vez d e u m tempo d e ação, te m -se q ue
re s p o n d e r à q u e stã o d e se o c o n te x to se ajusta m e lh o r a u m a ação p a ssa d a o u
a u m a ação fu tu ra c o m o tã o c e rta d e a c o n te c e r q u e p o d e se r ex p ressa c o m o já
co m p letad a. O s p articip io s, se n d o se m e lh a n te m e n te “ a te m p o ra l” , p e g a m sua
o rie n ta ç ã o d e te m p o de seu co n tex to .
A lguns fazem o s versículos re m e m o ra re m o p a ssa d o ,1 p a ra u m a é p o c a em
q u e S en aq u erib e (2Rs 18.13— 19.37) tin h a v in d o e id o e, e m b o ra te n h a havi-
d o h u m ilh ação e p e rd a , o fim da am eaça p ro v o c o u u m a ex p lo são d e alegria,
d e ix a n d o o p ro fe ta nau sead o . E ssa p e rc e p ç ã o tem u m a sim p licid ad e louvável,
m as ao m e sm o te m p o é q u estio n áv el se esse foi o to m d o m in isté rio d e Isaías
d e p o is d o q u e ele sabia te r sid o um a to de sinal de lib e rta ç ã o divina. E le p o d e
b e m te r d isc e rn id o u m e le m e n to d e falsidade n a alegria nacio n al, m as a evidên-
cia d o c a p ítu lo 37 sugere q u e ele capitalizou a situação, n ã o ta n to ao ressaltar
0 p e c a d o de au to ssu ficiên cia q u a n to ao se e sfo rç a r p a ra m o s tra r c o m o a fé foi
justificada e c o m o a co n fia n ç a n o S e n h o r e v a p o ro u a am eaça. O u tra o b jeção ,
e m b o ra m e n o r, é q u e n ã o h á o u tra evidência d e q u e os g o v e rn a n te s evacu aram
a cidade so b a p re ssã o de S en aq u erib e (3).
1 O s com entaristas propõem reconstruções m uito elaboradas dos versículos 1-14. Cie-
m ents entende o versículo 1 com o a condenação de Isaías p o r causa da alegria subse-
quente à libertação da captura de Senaqueribe, em 701. O versículo 4, um acréscimo
deuteronôm ico, provavelmente lam enta a queda da cidade em 587, e os versículos 8 b -11
refletem um com entário pós-587 sobre a confiança na defesa militar. K aiser discerne ca-
madas aqui. O s versículos 1-4,12-14 são as camadas de Isaías; os versículos 7,8b, 1 lb são
a obra do “prim eiro intérprete” rem em orando os eventos de 587 n o espírito de Isaías; os
versículos 9-11 a são mais tarde no exílio, e os versículos 5,6, que são ainda mais tarde, são
a obra de um “escritor protoapocalíptico” tornando os eventos da queda de Jerusalém
relevantes para sua própria época e usando o passado com o o m odelo do tum ulto escato-
lógico po r vir. Precisamos nos lem brar que esse tipo de reconstrução não se fundam enta
no m anuscrito nem em outra evidência objetiva, mas é um exercício interpretativo con-
form e os com entaristas lutam com o que percebem ser os problem as inerentes do texto.
241 ISAÍAS 22 .I-2 5
mais o b sc u ra s d a vida (cf. SI 23.4). Isaías e n fre n to u a “ n o ite escu ra d a alm a” en-
q u a n to c o n te m p la v a o inevitável ju lg a m e n to q u e viria so b re sua cidade. Q ue tens
agora (ARC) é u m a tra d u ç ã o e stra n h a u m a vez q u e o b v ia m e n te o p o v o estava
d esp reo cu p ad o ! Significa (lit.) “ E q u a n to a você?” “ V ocê” é singular fem inino,
ou seja, a cidade p e rso n ificad a e “ a g o ra ” é lógico, n ã o tem p o ral. A fo rm a “ e
q u a n to a v o c ê ” é u rn a fó rm u la d e re p u d io (cf. J r 2.18; O s 1 4 .8 < 9 > ) significan-
do “ qual é seu a ssu n to ? ” , ou: “ O q u e v ocê q u e r d iz e r co m ...?” , su g e rin d o que
nada justifica esse c u rso d e ação (veja 52.5). E m 15.3 os terraços/ “ te lh a d o s”
eram o lu g ar de la m e n to co m u n al; aqui eles são lugares d e alegria co m u n al.
2 ,3 O te rm o agitação (tisu 'o j) é u sa d o em J ó 36.29 p ara o b a ru lh o d o tro v ão
e em Jó 39.7 p ara o reb u liço da vida na cidade. E m Z acarias 4.7, c o m o aqui, ele
se refere a o b a ru lh o de u m a m u ltid ão e n tu siasm ad a. O te rm o tum ulto (/h a m o ) é
usado p ara o e n tu sia sm o alegre (cf. 1Rs 1.40,41, em q u e é tra d u z id o p o r “ ba-
ru lh o ”). D e a c o rd o co m o versícu lo 7, seus m ortos m o rre ra m c o m o re su lta d o d o
cerco, m as aqui a causa n ã o é c o m e n ta d a , é sim p le sm e n te d eix ad o n o a r que
o fim d o a ssu n to será a m o rte . A frase todos os seus líderes fu g ira m é d e 4na dad ,
que significa “ fugir” n o se n tid o d e “ d isp e rsa r” d essa e d aq u ela m aneira. Isaías
não está re g istra n d o o p assado, m as p re v e n d o o fu tu ro c o m o se este estivesse
diante d e seus o lhos. O c u m p rim e n to veio em 2R eis 25.4. N ã o fo ra m m ortos à
espada/ “ [longe] d o a rc o ” significa sem d isp a ra r u m tiro, q u e r d e d efesa q u er
pelo inim igo. Q u a n d o o fim veio, Isaías n ã o viu n ad a d a ex u ltan te co n fian ça na
cidade c o n te m p o râ n e a . N ã o h á so lu ção para su ste n ta r n e m co ra g e m p ara lutar.
O m e sm o v e rb o (4 ,ã sa r, “ o b rig ar, ligar”) é u sad o d u as vezes p ara capturados e
presos. E ssa re p e tiç ã o enfatiza a ideia d e q u e até m e sm o a lu ta era inútil. O acrés-
cim o in te rp re ta tiv o da N V I, ainda c¡ue tivessem fugido p a ra bem longe/ “ fugiram
\4bãrãh\ p a ra lo n g e ” , é d esnecessário.
4 P or isso, o u seja, em c o n se q u ê n c ia d essa visão d o fim , o s a ta re fad o s pia-
nos d o p o v o p a ra a vida (9-11) te rm in a ra m em m o rte e se n d o a b a n d o n a d o s
p o r aqueles em q u e m c o n fiaram (3). E les tin h am p la n e ja d o p a ra u m cerco (9-
11), em vez d e c o n fia r n o S en h o r, e um c erco eles c o n se g u ira m in teg ralm en te
e em abundância! A fastem -se é (lit.) “ afaste o o lh a r” (4 sa ‘â , cf. 17.7). Isaías n ão
quer a c u rio sid ad e (4a) n e m o c o n so lo (4b) d o p o v o q u e está tão claram en te
desligado d o q u e ele sen te e vê. N ã o tentem é (lit.) “ n ã o se p re c ip ite m ” o u “ n ão
se ap re sse m ” . A ex p ressão do m eu p o v o / “da filha d o m e u p o v o ” é u m sin ô n im o
p a ra je ru sa lé m c o m o a filha d o S e n h o r (cf. J r 8.19). E la só é e n c o n tra d a aqui em
Isaías. A d escrição é cheia de e m o ç ã o pela cidade c o m o u m a filha am ada, sem
esperanças e à m ercê d o im piedoso.
O LIV RO DO REI 244
1 V eja H . S h a n k s, lh e C ity o f D a v id (Tel Aviv: Bialik In s titu te -D v ir, 1973), p. 72; M . B u rro w s,
“ JerusalenF (ID E ), p. 851a.
247 ISAÍAS 22 .I-2 5
escolheu, o oleiro a fez cm seu torno. Ele não deixou sua cidade com falta de
água; Ezequias não melhorou o suprimento de água, apenas redirecionou-o.
Mas o Senhor arranjou o suprimento de tal maneira que a vida em Jerusalém
era um exercício perpétuo de fé, um perpétuo desafio para encontrar segurança
no Senhor — e o túnel de Ezequias contradizia o caminho de fé.
A alegria questionável (22.12-14)
( ‘ãw ôn, “iniquidade”) veja 6.7. Onde não há a i de m im (6.5; cf. v. 12) não há anjo
enviado em luta misericordiosa. O pecado da descrença — expresso aqui no ig-
norar o Senhor (11 b) e na confiança na dependência de si mesmo (8-11 a) — é o
pecado imperdoável. Essa passagem inteira é uma mensagem sobre o contraste
entre a salvação pela fé e a salvação pelas obras.
Um estudo em confiança (22.15-25)
Pode parecer uma poderosa queda passar de altos assuntos de Estado para
as preocupações de indivíduos, mas os oráculos de Sebna e Eliaquim (os únicos
oráculos sobre indivíduos nos caps. 13— 27) servem a dois propósitos. Pri-
meiro, eles mostram que a escolha entre a fé e as obras é individual e também
nacional e que o julgamento divino alcança o plano individual; e, segundo, eles
fornecem um dos cumprimentos de ínterim de Isaías. Se os dois homens são os
mencionados em 36.3,11,22; 37.2, as pessoas não têm mais de esperar para ver
o início do rebaixamento de Sebna e a certeza da palavra do Senhor.
Sebna encontrou sua identidade como uma pessoa nos benefícios “deste
mundo” de seu cargo e dedicou-se a assegurar seu “lugar na história” por seu
próprio esforço. Ele desfrutava de uma posição como a mão direita do rei no
cargo de administrador do palácio (15). Ele dedicava tempo à ostentação (poderosos
carros; 18) e pretendia perpetuar sua memória em um grandioso túmulo (16).
Ele era, portanto, individualmente o que a nação era coletivamente: casado com
as satisfações atuais e autoconfiante em face do futuro. Por isso, Isaías levanta
um espelho para seus contemporâneos.
Eliaquim, em contrapartida, corria o risco de se tornar aquele em quem
os outros confiavam (veja abaixo o comentário sobre os w . 23b-25) e, nis-
so, expõe outra alternativa para o caminho da verdadeira fé. Aquele indivíduo
confiável que mantém o cargo atrai para si mesmo o respeito e a confiança das
pessoas, mas caso essa confiança na pessoa humana substituísse a confiança no
Senhor, o fim seria a calamidade (25) — tanto para a pessoa em que se con-
fia insensatamente assim quanto para os que encontram sua segurança nesse
indivíduo. Portanto, os seres humanos não são autossuficientes (Sebna) nem
suficientes para os outros (Eliaquim). Em cada caso, há uma usurpação fatal
do lugar devido só ao Senhor. Isaías reitera a mensagem de 2.22: “Parem de
confiar no homem”.
A forma literária que esse trecho atrai envolve a teorização,' e compreen-
sivelmente quando consideramos a ordem (15) que produz censura (16ab) e o
comentário para a terceira pessoa (16cd). Os versículos 17,18 descrevem o que
0 Senhor fará a você (masculino singular); os versículos 19-23a traz o sujeito na1
o Senhor permitirá isso. O poderoso título Senhor dos fzx érá to s expõe a tolice de
confiar em um ser humano quando o Senhor está ali para que se confie nele.
A força do compromisso divino com essa verdade é mais intensificada pela
declaração final que é (lit.) “pois é o Senhor quem fala”.
e. Tiro: orgulho e santidade (23.1-18)
“O mundo ñas sombras” provou ser um título apropriado para esse ciclo
de oráculos. O “anoitecer” da Babilonia (21.4), a voz solitária na noite de Edom
(21.11ss.), as tribos gentias inquietas se alojam para passar a noite (21.13ss.), a
treva espiritual do pecado imperdoável de Jerusalém (22.14) e agora, prantean-
do a queda de Tiro (23.1,14). Ainda assim, também há centelhas de luz. A notí-
cia da Babilonia foi trazida, como se para conforto, para esmagar Israel (21.10),
a voz de Seir foi convidada a voltar porque o dia era obrigado a vir (21.1 ls.) e
agora, urna grande surpresa, o comércio de Tiro ainda se tornará “separados
para o Senhor” (23.18).
Davi e Salomão mantinham relações amistosas com Tiro, frustrada ape-
nas pelo descontentamento do povo de Tiro com as cidades cedidas a eles
por Salomão (lRs 9.10-22.). Hirão, de Tiro, “sempre tinha sido amigo leal de
Davi” (lRs 5.1) e renovou sua aliança com Salomão (lRs 5.12), cooperando
comercialmente com o templo (lRs 5.6ss.). Mas havia outro lado da história.
Salomão tomou esposas fenicias e importou o culto sidônio de Astarote (lRs
11.1,5). Esses altares permaneceram (2Rs 23.13) e Isaías crescería com a cons-
ciência da corrupção por Tiro do rei mais querido de Israel. A influência fenicia
também era um tipo de gênio do mal para o Reino do Norte, a ponto de quase
substituir lavé por Baal de Sidom (lRs 16,18). Em Salmos, no entanto, embora
encontremos Tiro em uma coalisão hostil contra Israel (SI 83.7), ainda assim o
salmista ora para que as nações gentias venham a conhecer o nome do Senhor
(SI 83.18). Em Salmos 45, a “cidade de Tiro” traz um presente para o casamen-
to real (v. 12<13>); e em Salmos 87, é acordado que será dada a Tiro as honras
da primogenitura em Sião (v. 4). Por fim, nos profetas, as referências são em
sua maior parte hostis (Jr 47.4; Am 1.9ss.; J1 3.4 <4.4>; Zc 9.2-4) e é só de Tiro
que Ezequiel não diz que eles ainda “saberão que eu sou o Senhor” (Ez 25.7,11;
30.26). Isaías, no entanto, aguarda a consagração da riqueza de Tiro ao Senhor e
seu povo (23.18), e ele, assim, vive na tradição do que é herdeiro e, na verdade,
voltando aos tempos normativos de Davi.
Embora o primeiro ciclo de oráculos (caps. 13-20) situem o povo de Deus
em meio às sublevações políticas do mundo, a ênfase no segundo ciclo é reli-
giosa: a queda dos ídolos da Babilônia (21.9) e o pecado imperdoável (22.14).
Portanto é adequado no fim chegarmos a Tiro, a corruptora religiosa. Mas
da mesma maneira como o Egito, o opressor político, ainda alcançará uma
253 ISAÍAS 2 3 . I - 1 8
posição igual no Senhor (19.25), também Tiro ainda alcançará uma relação de
santidade. O que Tiro deu nos tempos antigos para o templo foi em uma base
comercial (lRs 5.6ss.), mas o Antigo Testamento nutre a esperança de algo me-
lhor. As mulheres de Tiro seduziram Salomão, mas a filha de Tiro ainda viria ao
casamento do rei. Isaías coloca o assunto de modo lacônico: o corruptor trará
mercadoria santa. O cuidado de uma viúva fenicia dado certa vez a um profeta
(lRs 17.8-16) será a norma dos relacionamentos por vir.
0 oráculo sobre Tiro consiste de um poema sobre a queda de Tiro (w.
1-14) e um apêndice predizendo o reavivamento e a obediência suprema ao
Senhor e seu povo (w. 15-18).
0 lamento por Tiro (23.1-14)
A1 O lamento dos navios de Társis: o porto destruído (1)
B A queda de Tiro e Sidom (2-7)
B1 Tiro. Silêncio: contrastando com o antes
movimentado porto internacional (2,3)
B2 Sidom. Esperanças frustradas: é como se
o passado nunca tivesse acontecido (4,5)
B3 Tiro. Evacuação: lamento pelo passado (6,7)
C Interferências, final e próxima (8-13)
C1 Tiro. O plano do Senhor (8,9)
C2 Sidom. A ordem do Senhor (10-12b)
C3 Tiro. O agente do Senhor (12c, 13)
Λ2 O lamento dos navios de Társis: sua fortaleza destruída (14)
é que Isaías queria assentar suas predições. Nos capítulos 21— 23, e ainda mais
nos capítulos 24 — 27, sua contemplação estava sondando mais e mais as né-
voas do futuro e talvez ele tenha querido manter a consciência de que a escato-
logia acontece para as “pessoas reais”. Λ força demonstrada de Tiro tornou-a
um bom teste da soberania do Senhor sobre a história, sua transformação, à
luz da experiência, transformou-a em um exemplo impressionante da sobera-
nia de misericórdia. Os navios de Társis eram a maior classe de navio de carga
das antigas frotas. Sem Tiro, muito de seu comércio seria perdido. A maio-
ria das referências a Társis seriam satisfeitas pela identificação tradicional com
Tartessos, na Espanha,1 mas se 2Crônicas 20.36,37 significa “fossem a Társis”
(ARC), então é necessário um lugar no mar Vermelho ou na África. Em todo
caso, os “navios de Társis” vieram a significar um navio capaz das mais longas
viagens (veja também 2.16). Imaginativamente, Isaías pensa na frota (lit.) “de
Chipre” ou “fora de Chipre” dirigindo-se para Tiro só para ser satisfeito com
uma mensagem de que “ela” {Tiro é uma adição da NVI) não existia mais! Não
é necessário nenhum nome. A cidade {casa) e o porto se foram.
2 A expressão fiqu em calmos {idãm am ) tem dois sentidos, o de “calma”, ou
seja, inércia e o de silêncio. Esse começo da estrofe contrasta com a impressão
seguinte de um movimentado porto internacional. Regiões litorâneas (7; cf. 11.11;
20.6) aqui é a cidade e ilha de Tiro e é mencionada como (lit.) “vocês, mercado-
res de Sidom, os viajantes pelo mar, enriquecidos”.
3 Quanto à gramática, essa é a terceira pessoa do vocativo (veja comentário
sobre 22.16cd); (lit.) “|vocês são|, ela cuja renda, em grandes águas, era...”. Sior
é um sinônimo para o Nilo (Js 13.3; lCr 13.5; Jr 2.18). O Egito era proverbial-
mente fértil e era o celeiro do mundo antigo. A palavra suprimento {sahar, veja v.
18; 45.14; Pv 3.14; 31.18) significa mais exatamente “ganho” e refere-se a lucro
do comércio. Tiro era uma fonte de renda internacional.
4 () silêncio do movimentado porto, descrito no versículo anterior, é igua-
lado pelo sentido de esperanças destruídas e frustradas que prevalecem. O ter-
mo envergonhe-se ultrapassa o sentimento de embaraço para a ideia mais pública
de “colher vergonha”, de expectativa que não deu em nada e se torna objeto
de zombaria. Mais uma vez a rica imaginação de Isaías assume e ele ouve o
mar pranteando sua perda. Esse versículo tem sido objeto de muita alteração
desnecessária do TM, incluindo a NVI. Uma tradução literal seria: “Pois o mar
falou, a fortaleza do mar, dizendo...”. Conseguimos imaginar que as pessoas,
com frequência, falam do mar como a força delas, “o fosso defensivo de uma
casa”, a porta de suprimento sempre aberta devia ser sitiada na terra, a fonte
constante da riqueza dessas pessoas. Mas agora o mar só pode relatar de modo
amedrontador a perda de seus filhos. A fortalece do m ar é um genitivo apositivo,
V eja J. A . T h o m p s o n , “ T a r s h is h ” , IR D , p. 1517.
255 ISAÍAS 2 3 . I - 1 8
“a fortaleza [a saber], o mar”. A frase não estive [...] nem é (lit.) “estou como se
nunca tivesse [...]” (cf. 1.2). Esse é o primeiro indício de que Tiro caiu no ataque
militar com perdas imensas.
5 Esse versículo começa (lit.) com a frase: “quando a notícia chegar ao
Egito, ficarão angustiados com as novidades de Tiro”, significando: “quando
a notícia chegar ao Figito, eles se torcerão de dor como quando a notícia veio
a Tiro”, (i) mar ainda está falando, contemplando como o Egito também será
perturbado como Tiro o foi. A intenção da referência é criar a impressão da
magnitude do desastre.
6,7 O silêncio da cidade estilhaçada (2,3) deu lugar à dor sobre a perda da
vida (4,5) c agora à evacuação de refugiados, seguindo (como acontecia com
tanta frequência a busca do lucro, mas agora para a perda) para Társis. Uma
excelente imagem de virada da sorte! h s ta é a cidadejubilosa que existe desde tempos
muito antigos é (lit.) “jubilosa cuja antiguidade é dos tempos antigos”. Havia uma
imensa vitalidade em Tiro que a expandiu de uma pequena base para se tornar
uma potência de relevância mundial, mas nunca com ambições imperialistas,
nunca com a intenção de conquistar terras distantes. Era o comércio, não as con-
quistas, que guiavam os habitantes de Tiro; não o senhorio, mas o dinheiro. O
oráculo paralelo do Egito (19.1— 20.6) representa o poder do mundo pressio-
nando o povo de Deus. Tiro representa os caminhos do mundo exercendo sua
influência.
8,9 A mudança de tópico do que aconteceu (2-7) para a razão por que isso
aconteceu (8-13) e, acima de tudo, a mente por trás da mudança da sorte de
Tiro: o plano do Senhor. Quando Tiro fundava colonias, elas eram governadas
por reis designados por Tiro, daí a cidade ser chamada de aquela que dava coroas.
Não só isso, mas príncipes e os “famosos em toda terra” estavam a serviço de
Tiro. O pensamento não é da possível tentação de Tiro de ser orgulhosa, mas
de que com toda essa exibição de grandiosidade mundial, Tiro é finalmente
confrontada com o “árbitro supremo” — 0 Senhor dos B xércitos. Por que ele
planejou assim, não somos informados, ele é “juiz de toda a terra” e faz o certo
(Gn 18.25). Ele decreta “abater todo orgulho e vaidade e humilhar todos os que
têm fama na terra”.
10-12b O versículo 12 devia ser traduzido por: “Atravessa sua terra como
o Nilo, filha de Társis; não há mais restrição”. Társis pode se movimentar sem
restrição através de sua própria terra como o Nilo corre através do Egito des-
de que o poder de Tiro foi quebrado. A NVI entende a palavra m ezah como
porto, mas se ela tiver alguma coisa que ver com navegação, é “construção de
navio”, não ancoragem (veja K B ). A palavra é encontrada em Jó 12.21 e no
Salmos 109.19 como “cinto” e aqui é usada metaforicamente para a posse de
O LIV RO D O REI 256
justificação para um oráculo sobre Tiro. Ele, em certo sentido, estaria deficiente
em relação às questões do dia se não incluísse Tiro em seu campo de ação. Até o
ponto em que diz respeito à previsão de Isaías da queda de Tiro, se a captura da
cidade na rocha é necessária, então ela só foi cumprida com Alexandre. A força
propulsora do oráculo, no entanto, é que Tiro se torna insegura para a navegação
e seu comércio seja levado à paralisação com perda de vida em grande escala e
muitos refugiados. À luz disso, a referência no versículo 13 à Assíria como o
agente tem o mérito da simplicidade. As devastações operadas por Sargão no sul
da Mesopotamia foram notórias. Sete reis de Chipre estavam presentes em sua
coroação na Babilônia, e Sargão registra que quando eles ouviram o que estava
fazendo na Caldeia, “o coração deles se partiu, o medo caiu sobre eles”. Se Isaías
aqui aguardava Senaqueribe, ele podia bem ter dito: O lhem para a terra dos habilô-
nios (lit., caldeus) como uma advertência. Isso fornece todo contexto histórico
de que o versículo 13 precisa. Se os refugiados se perguntam por que não serão
recebidos nem terão permissão para descansar em nenhum lugar, eles só teriam
de perguntar quem ousaria provocar a Assíria ao recebê-los. A tradução de esse é 0
povo que não existe m ais é um tanto parafrástica, mas a frase em hebraico (zeh ha ãm
10' hãya) é sucinta, significando talvez: “Esse povo não existente”. A Babilônia,
graças ao empenho cruel da Assíria, transformou-se em um lugarp a ra as m aturas
do deserto. A expressão 0 deixaram (jyã sa d , “edificou-a”) é usada no sentido de dar
um novo começo a algo (cf. 2Cr 24.27; 31.7 na RV). Esse verbo e o último ver-
bo, fizera m dela, estão no singular, denotando as ações da Assíria personificada;
os verbos intermediários, ergueram e despojaram , estão no plural, denotando as
ações dos aliados e dos exércitos da Assíria. A expressão torres de vigia é (lit.) “as
torres de vigia |da Assíria]”. A palavra hahün é desconhecida em outras passa-
gens, mas pode estar relacionado com buhan (“torre de sentinela”) em 32.14.1A
palavra cidadelas Ç a rn fn ô t) seria mais bem traduzida por “palácios”.
14 Esse versículo é um inclusio |criar uma estrutura ao pôr material similar
no início e no final de uma seção] com o versículo 1. A única alteração aqui é a
menção a Tiro como uma fo rta leza ou “lugar seguro” para os navios de Társis.
A própria Társis pode ter a liberdade recém-encontrada (10) restrita agora que
Tiro se foi, mas o comércio de Tiro era o bastião financeiro para a navegação.
Sem isso, eles estão expostos e fragilizados. Se o versículo 1 diz que eles não
têm para onde ir, então o versículo 14 diz que eles não têm segurança alguma
para trabalhar.
O b s e rv e que:
a. A s p a rte s A '- E 1 estã o p re o c u p a d a s c o m o m u n d o ex terio r; e as E 2-A 2,
co m o p o v o d o S enhor. O m o n te Sião é central p a ra am b o s, daí o c u m p rim e n to
d a v isão d e 2.2— 4.5. A p a rte F en fatiza a universalidade d e “ to d o s o s p o v o s”
(25.6,7), “ to d a s as n a ç õ e s” (25.7), “ to d o o ro s to ” e “ to d a a te rra ” (25.8).
b. E n q u a n to o m u n d o é atraíd o p ara o m o n te Sião (A ’- E 1), o p o v o d o
S e n h o r co m e ç a ali (E 2). Para co m eçar, o s c ren tes c o n h e c e m a fo rça d a cidade
(26.1), m as ta m b é m sab em q u e é n ecessário te r fé e p aciên cia p ara h e rd a r as
p ro m e ssa s (D 2). A s g ra n d e s q u e stõ e s espirituais têm d e ser a ssen tad as (C2) e,
e m b o ra eles estejam so b o c u id a d o d o S e n h o r (B2), o ju lg am en to , an tes d o final
da colheita, deve v ir à casa d o S e n h o r (A2).
c. A s p a rte s E 1 e E 2 refletem essa situação. O m u n d o re m a n e sc en te está
cien te d o q u e foi salvo; o p o v o d o S e n h o r está p re o c u p a d o em g a ra n tir tu d o
que foi p ro m e tid o aos crentes.
d. A s p a rte s C 1 e C 2 n ã o só têm tem as casados, m as c o m p a rtilh a m o s tem as
de dilúvio (24.18b) e d e m a r (27.1).
261 ISAÍAS 2 4 .I-2 7.I3
1 Johnson liga os versículos 14-16a com o versículo 16bss. com o reações contrastantes,
comparáveis às de 22.1-14, em que o profeta se desassocia da alegria superficial da cidade,
considerada prejudicial. Mas a alegria dos versículos 13-16a é muito distinta daquela evi-
denciada no capítulo 22. Ali, o sentim ento expresso era de com er e beber “porque ama-
nhã m orrerem os” (22.13), ao passo que aqui é a “glória [...] dada ao Ju sto ” . Será que Isaías
podería ter falhado nisso? Segundo, ligar essas duas seções (w . 13-16a e 16bss.) destrói o
equilíbrio interno dessa seção (veja o esboço na p. 263). Finalmente, o clam or do versícu-
lo 16b tem de ser ligado a 21.2 se quiserm os respeitar a coesão total dos capítulos 13— 17.
2 O te m p o p e rfe ito (sãtflü) é c o m fre q u ê n c ia (BHS, Johnson) alterado para imperativo
p o r meio de um simples ajuste de uma vogal. Se isso é feito, o term o por isso (v. 15, ARC)
271 ISAÍAS 2 4 . I - 2 O
tem de ser cortado ou corrigido, c a dram aticidade do cham ado do profeta no vcrsícu-
lo 15 fica arruinada. O tem po perfeito pode ser entendido com o um uso participial cir-
cunstancial (veja Driver, p. 163; D avidson, p. 41; cf. SI 7.7; 11.2; 57.4<5>).
' O hino “Para todos os santos que descansam de sua labuta” . O s versos sete e (tito do hino
são um glorioso com entário sobre essa passagem.
2 Kaiser, p. 188.
O LIVRO DO REI 272
isso (20d). A seção ab re co m duas sen ten ças (18ef) a firm a n d o as forças físicas
da d e stru iç ã o e te rm in a c o m d u as sen ten ças (20cd) a firm a n d o a fo rça m o ral da
d estru ição. N o intervalo, vêm três sen ten ças (19) u n id as p elo ad v érb io “ total-
m e n te ” (veja abaixo) e seguidas p o r do is sím iles (20ab).
18ef A palavra trad u zid a p o r comportas é (lit.) “ janelas” c o m o em G ê n e -
sis 7.11 (A RC). E sse a taq u e e x te rn o (p o r assim dizer) d o alto casa co m o de-
se n c a d e a m en to das forças d o te rre m o to em b aix o da terra. O c o n tra ste ex p res-
sa totalid ade. N ã o h á referên cia na n arrativ a d o d ilúv io aos alicerces d a terra
(lit.) “ tre m o r” . E m 2Sam uel 22.8 ta n to o su b sta n tiv o (alicerces) q u a n to o v erb o
(irã‘as, “ tre m e r”) são u sa d o s c o m o tem as de teo fan ia (cf. J z 5.4; SI 6 8 .8 < 9 > ).
E ssa é a in te n ç ã o aqui, p e g a n d o o te m a d o s versículos 1 -3 d e q u e o S e n h o r é
ele m e sm o o a g en te n essa destruição.
19,20b E sse s versículos são ligados pelas três fo rm a ç õ e s p arelh as d o infi-
nitivo a b so lu to — “ d e sp ed açad a, [...] d e stru íd a , to ta lm e n te ab alad a” . Se p en -
sarm o s em u m p ré d io alto, v e m o s o d e se n v o lv im e n to d a im agem : co m o pri-
m eiro v erb o (ira a, “ fragm entar-se”) 1 a fenda aparece, co m o seg u n d o (ipãrar,
“ser m o v im e n ta d o ”) é vista a m u d a n ç a d a p o siç ã o p e rp e n d ic u la r e co m o ter-
ceiro (imüt, “ e sc o rreg ar, d eslizar”) o s se g m e n to s co m e ç a m a cair até o to d o
ter se acabado. A im agem inteira (cf. J r 4.23-25) é d a te rra m ais u m a vez se
to rn a n d o tõhü (veja v. 10). E les esco lh eram isto: u m m u n d o sem a o rg an ização
da m ão d e D e u s, e isso, n a fiel justiça divina, foi o q u e eles co n seg u iram . O s
dois sím iles (20ab) acre sc en ta m ais d im e n sõ e s à im ag em de co lap so . O bêbado1 2
cai pela p e rd a d e fatores in te rn o s d e equilíbrio e c o o rd e n a ç ã o ; a cabana, e m b o ra
essencialm ente frágil (cf. 1.8), só é estilhaçada pelo s fato res e x te rn o s d o v e n to
e da tem p estad e.
20cd “ E ” esse é o se n tid o literal d a c o n ju n ç ã o u sad a p ara in tro d u z ir um a
a culpadesua rebeliãoé (lit.)
explicação, daí, “ p o rq u e /v e ja , en tão , c o m o ” . A frase
sim plesm ente “ sua reb elião ” (pesa‘),a causa ab so lu ta e ú n ica d e to d o o infor-
túnio. Para a palavra (pesa1),veja c o m e n tá rio so b re ipãsa‘ em 1.2. A ex p ressão
sobreelain d ica u m fard o esm agador. D e a c o rd o co m o versícu lo 18ef, a p ró p ria
criação é o adversário, m as n o fim (20c) a c o n d e n a ç ã o vem sim p le sm e n te p o r
in term éd io da teim o sia — e é irrecuperável, nuncamaisselevantará.
1 A form a aqui (rõ‘â) c “bem incom um ” para o infinitivo absoluto qal (G K C 113w). Claro
que o “h ” final pode ser uma form ação paragógica (por motivos literários ou retóricos)
como encontram os em imperativos de verbos duplos ayin (por exemplo, N m 22.11; 23.7).
Sobre o uso do infinitivo absoluto qal com um indicativo não qal, veja C,K(. \ 13w.
2 É interessante o fato de que o hebraico para cambaleia (nôa‘ t a n í t a outra construção no
infinitivo absoluto com o sentido de “cambaleia de form a incontrolável”) é rem iniscente
do nom e N oé (nôah). C om o ouvido agudo de Isaías para palavras, isso pode ser proposi-
tal. A passagem abre rem em orando o dilúvio (v. 18c) c term ina ao praticam ente mencio-
nar o bêbado N oé, cuja bebedeira reintroduziu a maldição na terra.
O LIV RO DO REI 274
A 2 O re in a d o d iv in o (23b-d)
b2 E m Jeru salém
a2 E m gloria
1 A s “ c id a d e s ” , d a L X X , é e r r o n e a m e n te se g u id a p e lo B U S . E p ro v á v e l q u e a L X X te n h a
s u p o s to e q u iv o c a d a m e n te q u e m è l r (“ d e s e n d o u m a c id a d e ”) d e v ia s e r r e a r r a n ja d o p a ra
‘ãr7m. I s s o d e s tr ó i o te m a d a c id a d e n e s s e p o n to .
279 ISAÍAS 2 5 . I - 1 2
As b ênção s em S iã o (2 5 .6 -8 )
Isaías rememora o banquete da aliança de Êxodo 24.11. Moisés tinha pro-
metido ao povo que a exclusão deles do monte santo era temporária (Êx 19.11),
mas a subida de toda a Israel nunca foi uma opção prática, e os anciãos desfru-
tavam a refeição como representantes do todo. Mas no verdadeiro Sião (cf. Hb
12.22-24) não há elemento de representação; todos vêm, todos participam. Es-
ses versículos são a contraparte de 2.2-4. As nações reunidas não fazem ofertas
nem servem (cf. 60.9,10), mas desfrutam do que o Senhor provê: a aliança se-
lada no banquete. O contraste com a passagem relacionada (21.13-17) só pode
ser deliberado: os gentios acossados precisando do escasso socorro de pão e de
água são comparados com todos os povos e todas as nações na festa do Senhor, sem
dinheiro e sem preço. Os versículos são divididos em duas ações do Senhor
neste monte, o ato de provisão (6) e o ato de destruição (7,8). O tema da univcr-
salidade é enfatizado — todos os povos (duas vezes), todas as nações, todo rosto, toda a
tena. Observe a sequência — povos (grupos étnicos), nações (entidades políticas),
rosto (indivíduos) — e como todos esses elementos se tornam seu povo (8b).
6 Nem aqui nem no versículo 7 a expressão neste m onte tem bem a ênfase
que a NVI lhe concede. Aqui ela é simplesmente uma parte de uma declaração
tripartida: convidados (para todos os povos), lugar (neste monté) e provisão (um ban-
quete). A expressãofa rto banquete é (lit.) “alimento saboroso, cheio de tutano”, ou
seja, uma imagem de nutrição e sustento. A frase vinho envelheádo pode significar
o sedimento (borra) que se forma quando o vinho, no processo de fermenta-
ção, é deixado para assentar (cf. Sf 1.12), mas aqui é o próprio vinho, maduro
O LIVRO DO REI 280
1 A rg u m c n ta -s e c o m fre q u ê n c ia q u e a id eia d a c o n q u is ta d a m o r te é u m a d v e n to ta rd io
( in tro d u z id o , d e a c o r d o c o m S k in n e r, “ e m e ta p a s e e m u m p e r ío d o p o s te r io r ” ) n o p e n s a -
m e n to h e b ra ic o , p o s s iv e lm e n te c o m lo n g e v id a d e (Z c 8.4) c o m o u m p o n t o c e n tra l d o p r o -
c esso . I s s o n ã o faz se n tid o . O s m e s m o s e sp e c ia lista s n o s fa ria m a c re d ita r, p o r e x e m p lo ,
q u e a e s p e ra n ç a d e u m r e a v iv a m e n to (m e s siâ n ic o ) d o t r o n o d e D a v i p re c isa v a d o d e s a s tre
d e 5 8 6 p a r a p ro v o c á -lo , a in d a q u e p a re c e a c h a r q u e as p e s s o a s v iv ia m e m c o n ta t o d iá rio
c o m a e x p e rie n c ia d e m o r te e c o n h e c ia m o S e n h o r c o m o o D e u s v iv o c n u n c a s o m a v a m
d o is e d o is! N e m m e s m o Isaías!
281 IS A ÍA S 2 5 . I - I 2
(lied ), destruindo a segurança feita por eles mesmos (12ab) e acabando com
ela (12cd).
lObc M oabe foi o sujeito do oráculo paralelo na primeira série (caps. 15—
16).1 Moabe, como no caso de Tiro (veja p. 252), é mencionado aqui pelo nome
a fim de nos lembrar que o desastre escatológico acontece a pessoas reais. O
mesmo orgulho que impediu Moabe de buscar segurança nas promessas di-
vinas em uma crise terrena (cf. 16.6) o impedirá de participar das promessas
celestiais. Essa é a suprema urania das escolhas falsas. A NV1 traduz a pala-
vra hebraica ta h tâ w como debaixo dele (ARC), referindo-se à ação punitiva do
Senhor, mas a palavra também pode significar “em seu próprio lugar” (por
exemplo, Êx 16.29). Moabe escolheu permanecer fora, e, nesse lugar, ele esco-
lheu ser “pisoteado”. O primeiro símile nos desagrada, como se pretendia que
desagradasse. A alternativa ao banquete (6,7) é a esterqueira (10c),12 o mundo de
podridão e corrupção, o mundo sem Deus. O banquete é real e, infelizmente,
também o é a esterqueira.
11 O segundo símile põe o dedo exatamente no caráter de Moabe. N os ca-
pítulos 15— 16, a alternativa de se proteger em Sião era a autoconfiança e o es-
forço próprio. Também aqui, Moabe, caído na esterqueira, encontrará (é claro)
forças em si mesmo para nadar para fora dali. Ele pode prevalecer sobre suas
circunstâncias, conquistar seu ambiente. A natação fornece uma ilustração fan-
tástica de uma política de se virar sozinho. Mas o Senhor não admira a habilidade
de Moabe.3*5Na verdade, exatamente aquilo que em termos humanos salvaria é
o próprio cerne da ofensa a Deus, personificando o orgulho (g a ’aw â , como em
16.6), sempre competente, autoconfiante, sem necessidade de salvação externa.
12 Aqui três substantivos de alto são emparelhados por três verbos com o
sentido de derrubar, levando à destruição total. A expressão altos m uros é (lit.)
“o lugar fortificado no alto de seus muros de alta segurança”. Nem mesmo as
ruínas de um forte sobrarão, nem um monte de entulho. Apenas a o nível solo,
o p ó da terra.
1 J o h n s o n d iz q u e r “ a m a io ria d o s e s tu d io s o s re c o n h e c e a p c r íc o p e d e M o a b e [...] c o m o
u m a i n tr u s ã o p o lê m ic a n o te x to q u e n ã o te m n a d a q u e v e r c o m o c o n te x to e n ã o é c ara c-
te rís tic o d o r e s to d a c o m p o s iç ã o ; ela te m d e s e r e x tirp a d a ” . E s s a p e r c e p ç ã o d ific ilm e n te
c o n s e g u e se s u s te n ta r à lu z d o p a ra le lo c o m o s c a p ítu lo s 15— 16 n a p e r íc o p e to ta l d o s ca-
p ítu lo s 13— 2 7 . A p a s s a g e m 2 5 .1 0 b - 12 c c la ra m e n te p o s ta c m se u lu g a r a tu a l c o m g ra n d e
a g u d ez a.
2 O s m a s s o re ta s in d ic a m q u e as c o n s o a n te s bmy (q u e s u g e re t f m e, “ n a s á g u a s d e ” ) fo s s e m
lid as c o m o bmu> (tfm ô , “ e m ”). Q J s u s te n ta “ n a s ág u as d e ” , q u e te m a v a n ta g e m d e a u m e n -
ta r a n a tu r e z a d e sa g ra d á v e l d a im a g e m d e Isaías. T alv e z fo ss e p a ra n o s p o u p a r d is s o q u e
o s m a s s o re ta s o r d e n a r a m o te x to c o m o o fize ram .
5 A p a la v ra Ç a rb ô t) n ã o p re c is a m a is s e r q u e s tio n a d a (cf. K f í), s e n d o c o n h e c id a d e fo n te s
á ra b e s (K a iser).
283 ISAÍAS 2 6 .1 - 2 1
B2 D o pó (16-19)
O povo de Deus se encontra com frequência em extrema
aflição (16), triste, mas estéril (17,18a), não alcançando
salvação para o mundo nem domínio sobre o mundo (18b).
Contudo, a esperança é certa: a ressurreição do pó da terra
A2 Seguros da ira (20,21)
As portas estão fechadas por um último breve período de espera
enquanto a ira é descarregada sobre toda a terra
Nenhum tema podería ser mais adequado para o lugar desse oráculo no
esquema dos capítulos 13— 27 que o do povo de Deus dever tudo a ele e que,
em última análise, nenhum crédito, mérito ou realização possam ser creditados
a eles. Deve ser por isso que a peça central do oráculo (D, w . 10,11) é a ceguei-
ra impenetrável do ímpio. Nenhuma experiência terrena pode abrir os olhos
deles para ver o Senhor, e parece que eles estão irremediavelmente destinados
ao julgamento. Então, como pode ser de haver uma entidade como o povo do
Senhor que caminha pelas leis deste e deseja e anseia por ele (O , w . 7-9)? A paz
deles com o Senhor (C2, v. 12a) é explicada no versículo 12b, que é (lit.) “pois,
na verdade, todas nossas obras o Senhor fez para nós”. Por conseguinte, o
olhar adiante (B1, B2) está totalmente voltado para o que Senhor, na conquista
(w. 5,6) e ressurreição (w. 16-19), fará por seu povo indefeso e estéril. Nesse
interim, eles mesmos estão seguros (A1, A2).1
A seg u ra n ça n a p a z (2 6 .1 -4 )
Seguindo a introdução da canção (la) há quatro estrofes de três linhas: a
cidade forte (lb-d), as qualificações de entrada (2), a paz perfeita e seu funda-
mento (3) e um chamado para manter a confiança no Senhor digno de confian-
ça (4).
Senhor é o que ele se revela ser). Sua lembrança (zèker , “lembrança, memorial”;
cf. Ex 3.15) é a preservação na memória do que ele revela que ele mesmo é. O
desejo do nosso coração (nepes) significa “nosso desejo mais profundo, desejo
mais verdadeiro”.
9 A mudança para a primeira pessoa do singular é inesperada, mas apro-
priada. Não existe essa coisa de povo de Deus à parte dos indivíduos que o
compõem; não há espiritualidade coletiva genuína a menos que ela seja verdade
para cada membro. Por conseguinte, a m inha alm a casa com a “alma” (ARC) co-
letiva do versículo 8, e suspira é o verbo cognato do “desejo” do versículo 8. A
alm a é o indivíduo possivelmente com referência particular ao aspecto afetivo;
0 espírito é a energia para realizar os desejos de buscar de fato a Deus. A alma
anelante aqui é emparelhada pelo (lit.) “meu espírito em meu íntimo”, que é
uma ênfase notável na natureza interior da verdadeira religião, da mesma ma-
neira que o contraste entre noite e logo cedo enfatiza a constância. O versículo 9b
começa com ’ap (ver v. 8a) e, por conseguinte, é (lit.) “c sim, na manhã como
meu espírito em meu interior [...]”. O versículo 9c começa com ‘“pois”, omiti-
do em algumas versões. Uma das coisas que mantém o povo de Deus em sua
paciente persistência e anseio espiritual é o fato de que as ordenanças do Senhor
na terra capacitam seus h a b ita n tes/ “moradores do mundo” a aprende[r] ju stiça .
Mais uma vez as ordenanças são ou a lei de Deus como vivida pelo seu povo ou
as providências morais de Deus como aceitas por seu povo. A obediência, uma
forma diferente de vida fundamentada em um código sobrenatural, é um tes-
temunho eficaz (Dt 4.5,6); também é um comportamento pacífico em meio às,
com frequência, inexplicáveis providências de Deus.
A cegueira impenetrável (26.10,11)
O povo de Deus, ao tentar capacitar os “habitantes do mundo” a “aprendejr]
justiça”, têm uma tarefa difícil pela frente! O mundo está impenetravelmente
inconsciente de Deus. Na sequência do poema essa seção inesperada forma
uma ponte essencial do versículo 12 (a obra única de Deus em trazer o povo à
paz) com os versículos 16-19 (improdutividade do povo de Deus no mundo).
10,11a Esses versículos exemplificam três “estilos” de Deus com o mun-
do: com paixão , seu favor e bondade; terra da retid ã o / “direito” (NTLH), circuns-
tâncias favoráveis em que tudo vai de “vento em popa”; e erguida está a tua m ão)
algum ato sinalizador de Deus para o benefício ou para a perdição. Esses “es-
tilos” encontram-se, respectivamente, com uma mente sem compreensão (não1
1 O te m a d a m ã o le v a n ta d a e x p re s s a p o d e r tr iu n f a n te ( D t 3 2 .4 0 ; SI 8 9 .1 3 ,4 2 < 1 4 ,4 3 > ) , afir-
m a n d o o p o d e r c o n tr a ( l R s 1 1 .2 7 ), fa z e n d o u m ju r a m e n to ( G n 14.22) e c o n f ia n ç a o u
s u p e rio rid a d e , in c lu in d o o m a u s e n s o d c ag ir c o m u m s e n s o c o m p la c e n te d e im p u n id a d e
(E x 14.8; N m 1 5.3 0; 3 3 .3 ). A q u i é u s a d o p a ra o S e n h o r a g in d o d e a lg u m a s m a n e ira s ó b -
v ias q u e m e s m o a ssim c o n tin u a m irre c o n h e c ív e is.
289 ISAÍAS 2 6 .1 - 2 1
que diga respeito a nós” alguém pode ser trazido das trevas para a luz. A salva-
ção tem de ser toda de Deus.
13 O Senhor tem sido leal com seu povo em tempos de adversidade. A re-
ferència a outros senhores inclui o faraó e muitos outros governantes estrangeiros
no período dos juizes, os filisteus e, mais próximamente, os assírios. Em outra
parte, o advérbio além (zü la t) só é usado seguindo uma negação.1 E possível
que pudéssemos acomodar esse uso geral ao traduzir por: “Outros senhores
nos governaram? Nenhum além de ti!”, ou seja, mesmo em tempos em que os
poderes estrangeiros dominaram, o Senhor não dnha abdicado nem desistido
de seu senhorio supremo. Talvez devamos apenas deixar além de ti como um
uso aceitável, mesmo que excepcional. As palavras só ao teu nome atribuem uma
lealdade ao Senhor em desacordo com os fatos. O hebraico exige de fato “só
por ti mantemos seu nome na memória”; a fidelidade não é um atributo nato
ao povo de Deus, mas um dom que ele os capacita a exercer.
14 O Senhor realizou uma libertação total. Sobre eles estão m ortos (ι'ρ ά Ίη ι,
“os obscuros/fantasmagóricos”) veja 14.9. A frase tu os castigaste é (lit.) “por-
tanto, tu visitaste” (veja comentário sobre 24.21). Essa completa obliteração
só pode ser explicada por um ato de Deus, apagando-os de qualquer lembrança.
Que, por exemplo, é o faraó do éxodo?
15 O Senhor ocasionou aumento e expansão para seu povo (cf. 9.3<2>)
e ele, por intermédio disso, de gloria te revestiste. Ezequiel diría que, do começo
ao fim da historia de seu povo, o Senhor “por amor do meu nome, eu agi” (Ez
20.9,14,22). Nem mesmo aqui eles podem reivindicar mérito. Não foi pelo va-
lor deles que ele agiu para aumentar o povo e expandir a terra, mas apenas por
motivos em sua própria natureza.
Do pó (26.16-19)
Essa estrofe, como a última (12-15), começa com o vocativo Senhor. Essa
ligação intensifica o contraste entre os dois: o que o Senhor realizou (12-15)
e o que seu povo realizou (16-18). Também salienta a similaridade: o Senhor
tem feito tudo que é necessário (12) e ele fará tudo que é necessário (19). Além
disso, há uma ligação com os versículos 5 e 6. Ali, o Senhor rebaixou o altivo e
0 lançou ao pó; aqui (19) ele ainda tirará seu povo do pó.
16 A NVI troca a ordem do versículo 16bc. A expressão te buscaram é de
ip ã q a d (“visitou”; veja 24.21) e não há outro exemplo dele sendo usado para
pessoas vindo a Deus. A frase “eles te cultivaram” adequaria o verbo e o senti-
do dele aqui. Talvez Isaías tenha o período dos juizes em mente com os recor-
rentes episódios de penitência e de busca de Deus daquele período. E possível
1 A fo rm a sãqün é p o s s iv e lm e n te u m a f o r m a ç ã o p a ra g ó g ic a d e isUq, a q u a l KB se re c u s a a
re c o n h e c e r, m a s B D B tr a d u z p o r “ d e r r a m a r ” . D h o r m e (s o b re J ó 28.2) p o d e r ía p a re c e r
c o n c o r d a r c o m isso . S o b re a fo rm a ç ã o , veja G K C 441 e D riv e r, p. 6. O s u b s ta n tiv o lahas
é re a lç a d o c o m o u m a d ific u ld a d e n o fa to d e q u e é u s a d o a p e n a s e m o u t r o lu g a r p a ra
“ m ag ia” , m a s o s u b s ta n tiv o m e s m o sig n ifica “ s u s s u r r o ” e p o d e b e m s e r u s a d o a q u i p a ra
a lam ú ria a b a fa d a e n ã o e x p re s s a , p e d in d o p o r a ju d a , q u e e ra tu d o q u e p o d ia m c o n se g u ir.
W atts c o m e n ta o en thlipsei (“ e m a fliç ã o ”) d a L X X , e s c o lh id a a p a r e n te m e n te n o lu g a r d o
v e rb o qãsun, e o f e re c e “ e les [te n ta ra m ] im p e d ir tu a p u n iç ã o c o m u m e n c a n ta m e n to su s-
s u rra d o ” . A f o r a a e x tr e m a im p ro b a b ilid a d e d isso , e o ris c o e n v o lv id o e m r e c o r r e r à L X X
em q u e o h e b r a ic o é d e to d o je ito difícil, o s e n tid o s u g e rid o p a r a o v e r b o e s tá lo n g e d e se r
seguro. M u ito m e n o s a rris c a d o é s u g e rir b'sar p'qítdat'ka sa a q n ü t f lahas ... (“ n a a fliçã o d e
tua v isita c la m a m o s ; n a a fliçã o d e tu a p u n iç ã o p a ra v o c ê s ” ). Q u a n d o t u d o v e m p a ra to d o s ,
o te x to a tu a l p a re c e n ã o s e r m a is q u e a lic e n ç a p o é tic a p o d e p e rm itir.
2 O te r m o nnãpal p o d e s ig n ific a r “ s e r d e r r o t a d o ” (L v 26.7s.); “ d e s e r ta r p a ra o p o v o in im i-
g o ” (2R s 2 5 .1 1 ); “ s o f r e r p e r d a s ” (P v 1 1 .1 4 ,2 8 ); o u “ s e r in f e r io r a ” (jó 1.3). O s u b s ta n tiv o
nèpel (u m n a s c im e n to p o r in te r m é d io d e a b o r to e s p o n tâ n e o ; J ó 3 .1 6 ; E c 6.3) a p o ia n a
se n tid o v e rb a l d e n a sc er.
O LIVRO DO REI 292
singular (cf. 5.25; Dt 14.8; SI 79.2). A palavra é escolhida para enfatizar a morte.
Portanto, falar que eles viverão e ressuscitarão é falar da ressurreição, embora isso
também possa ser figurativo (do que o N ovo Testamento chamaria de o novo
nascimento ou tendo sido ressuscitado com Cristo; E f 2.6) como literal. O cha-
mado a despertar para a alegria (19d) é explicado (v. 19e começa com “porque”
[ARC]) pelo tema de orvalho é “luz” {m anhã). O termo orvalho tem uma ampla
cobertura metafórica,1 mas está, de forma muito relevante, ligado ao maná de
Êxodo 16 (w. 13,14; cf. Nm 11.19), o dom divino que cancelou a ameaça de
morte (Ex 16.3). O termo “luz” é um singular com o sentido amplo de “plena
luz”. A morte é treva, a vida é luz (Jó 3.16; SI 49.19<20>; 56.13<14>), a luz da
salvação (SI 27.1).1 2 A associação da luz com a vida (SI 36.9<10>) e de orvalho
com vida (Os 14.5<6>) é digna de nota. Veja também, no oráculo paralelo, a
referência à presença do Senhor como orvalho e luz (18.4). Aqui, à medida que
o orvalho desce, ele também virá a sua morte, trazendo refrigério e vitalidade
celestiais; com a luz da presença dele ele transmitirá a luz da salvação. Para dará
à lu% / “lançará de si" veja comentário sobre o versículo 18. Sobre os seus mortos
{r'p a 'im , “seus obscuros”) compare com o versículo 14.
Em suma, o versículo, portanto, é uma promessa de vida para o mundo, o
cumprimento de 25.6-10a. Mas se esse é o caso, então embora o principal impe-
to da terminologia seja usado de forma figurativa para a ressurreição do ímpio
na salvação e da cidade forte, precisamos nos lembrar que 25.7,8 aguardava a
abolição da própria morte. Em relação a isso, os termos do versículo atual vão
além do figurativo para o literal e declaram uma ressurreição plena, incluindo a
ressurreição do corpo. Na revelação progressiva do Antigo Testamento, só Da-
niel 12.2 é comparável a isso. A hipótese reinante data Daniel no século II a.C.
e isso, junto com a contínua suposição de que a doutrina do Antigo Testamento
está sujeita a um desenvolvimento evolucionário de um começo ruim a um fim
brilhante, levou alguns a propor uma data muito posterior para o versículo 19.
Como isso é insatisfatório! Os egípcios tinham uma mitologia da morte e da
vida intrincada e muitíssimo desenvolvida para vir séculos antes de Isaías. Até
mesmo a religião cananeia, com toda sua brutalidade, atribuía a seu deus exe-
cutivo uma vitória anual sobre a morte. N o entanto, espera-se que aceitemos
que a “ênfase [de Israel] em lavé como o Deus vivo” deixe “o sombrio reino da
morte [...] fora da jurisdição dele” (Herbert). Em nome da lógica, como podería
ser isso? Mauchline observa que
E m u m a palavra, p o r q u e p ro c u ra r u m g ra n d e d e sc o n h e c id o q u a n d o é
n o sso h u m ild e privilégio te r o m a io r de to d o s d ian te d e n ó s?
S eg u ro s c o n tra a ira (2 6 .2 0 ,2 1 )
20 O c h a m a d o p a ra q u e “ ab ram as p o rta s ” co m o qual o p o e m a c o m e -
ç o u (2) é e m p a re lh a d o aqui p elo se tranque as portas. A seg u ran ça n a p az (1 -4)
é e m p a re lh a d a pela seg u ran ça c o n tra a ira. A ex p ressão vá [...] tranque le m b ra
G ên esis 7.1,16, e a seg u ran ça d a c o m u n id a d e d e N o é n o dilúvio. A im ag em de
ir p a ra d e n tro d e casa le m b ra E x o d o 12.22,23 e a seg u ran ça d a c o m u n id a d e d a
P ásco a e n q u a n to o ju lg am en to estava em p ro cesso . O v e rb o passarei é o v e rb o
da Páscoa, cã ba r (Ê x 12.12,23).
21 E sse v ersículo co m e ç a co m u m a exclam ação, vejam , explicativa. S o b re
castigar/ “ v isitar” veja 24.21. Iniquidades Çãwôri) é a p alav ra m ais “ in te rio r” n o
v o cab ulário de p e c a d o (veja c o m e n tá rio so b re 1.4; 6.7) e o sangue derram ado é
a m ais flagrante violação e x te rio r d a lei de D eu s. O p e c a d o o c u lto , n ã o d e se o -
b e rto p o r m u ito tem p o , será ex p o sto . A ssim , Isaías in dica u m a rra n jo d iv in o
co m to d o e q u a lq u e r pecado. A terra é vista c o m o p a rtic ip a n d o ativ am en te co m
D e u s p a ra e x p o r o q u e está e sc o n d id o . Isso faz p a rte da “v italid ad e m o ra l” da
criação, q u e está in ev itav elm en te in fe c ta d a c o m o p e c a d o h u m a n o , m as n u n c a
deixa de estar d o lad o d o s sa n to s p ro p ó sito s d e seu C ria d o r (cf. so b re 1.2,3;
24.5).
N o s cap ítu lo s 13— 27, as passag en s parceiras são o s cap ítu lo s 19,20 e 23,
am bas co m o p o n to c u lm in a n te n o p e n s a m e n to d o p o v o u niversal d o S e n h o r
(19.24,25; 23.18). É essa c o m p a ra ç ão q u e justifica o títu lo su g erid o acim a, “A
Israel universal” (veja c o m e n tá rio so b re v. 13, abaixo). A c o n stru ç ã o d essa se-
ção, faz e n d o a o b ra có sm ica d o S e n h o r fo c a r o q u e ele p ro p õ e fazer p o r seu
povo (w . 7-11) fo rm a u m inclusio [criar um a e stru tu ra ao p ô r m aterial sim ilar
1 D h o r m e s o b r e J ó 3.8.
297 ISAÍAS 2 7 .I-I3
1 W ild e rb e rg e r faz a e x p re s s ã o “ m in h a fo r ç a ” se re fe r ir a o te m p lo e v ê a p a s s a g e m c o m o
u m c o n v ite a o s ú ltim o s s a m a rita n o s a a b a n d o n a r se u te m p lo c a u s a d o r d e d is c ó rd ia p e lo
v e rd a d e iro s a n tu á r io d e J e ru s a lé m . J o h n s o n o b s e r v a q u e a re u n ific a ç ã o id eal seria b e m
e s ta b e le c id a p e lo p e r ío d o e x ílico (Jr 3 1 .1 -9 ,1 5 -2 2 ; F.z 3 7 .1 5 ss.) e q u e n ã o h á m o tiv o p a ra
p r o p o r u m a d a ta p o s te rio r. E le a c re s c e n ta q u e o “ c is m a [sa m a rita n o ] p o d e r ía fa z e r tu d o
m e n o s im p e d ir a n o ta d e re c o n c ilia ç ã o p r o p o s t a n e s s e s v e rs íc u lo s ” . O fa to in e g a v e lm e n te
v e rd a d e iro , n o e n ta n to , é q u e o s p r o f e ta s (d e E lia s e m d ia n te ; l R s 18.31) se re c u s a ra m a
a p o ia r a s e p a ra ç ã o d o n o r t e e d o sul.
2 U m a t r a d u ç ã o p o r “ e ssa s c o is a s e s tã o v in d o ” se ria b a s ta n te a d e q u a d a n o c o n te x to , m as
ex ig iría u m p a rtic ip io fe m in in o n o p lu ral.
3 S o b re o Senhor in te r r o g a tiv o se g u id o d e D aghesforte veja G K C p. 1001.
299 ISAÍAS 2 7.I-I3
rência d a palavra “ ai” o u “ ó, v ejam ” (28.1; 29.1,15; 30.1; 31.1; 33.1). Λ ap resen -
tação é eq u ilib rad a e n tre os três p rim eiro s ais, o fe re c e n d o p rin cíp io s d a ação
divina, e o s três seg u n d o s, fo rn e c e n d o aplicações p arelh as p a ra a h istó ria e a
escatologia.
P r in c íp io s A plic a ç õ es
1 Veja Watts para um a corajosa tentativa dc elucidar linha a linha o exame crítico desse ca-
pítulo. C om pare com os resultados m uito mais relevantes que J. C. Exum conseguiu por
meio de cuidadosa análise retórica (“A Literary approach to Isaiah28”, A rt and Meaning.
Rhetoric in Biblical literature, cd. D. |. Clines et a¡., /SOTS, 19 [1982], p. 108-139).
O LIV RO DO REI 306
' F.m vez de “vale fértil” etc., G. R. Driver (“A nother little drink— Isaiah 28:1-22”, Words
and Meanings, ed. P. R. Ackroyd |CUP, 1968], p. 47-67) sugere, com alteração minima,
“aqueles rios com ungüentos”, depois do que “dom inados” etc. c uma segunda descrição.
307 ISAÍAS 2 8 .1 6 ־
1 A expressão será pisoteada (teràmasnâ) está na terceira pessoa do fem inino (com enfático
-nâ); cf. )7. 5.26; O b 13. Veja Driver, “A nother little drink” , p. 50.
2 Em F.7 7.7,10 ocorre a palavra s'pirá com o sentido de algo com o “m aldição” .
3 Tirado da oração para o dom ingo de Pcntccoste no livro de O ração C om um (1662) da
Igreja da Inglaterra.
O LIVRO D O REI 308
Introdução (28.7,8)
Será q u e Isaías foi u m a te ste m u n h a o cu lar d essa cena? E le n ã o diz isso,
m as seria fácil escrev er um cen ário para um b a n q u e te de lideran ça c e le b ra n d o a
volta d o s em b aix ad o res d o E g ito (cf. 30.1-7), segu ros d o a c o rd o q u e assin aram
(14,15), co m Isaías se in tro m e te n d o c o m o um o b s e rv a d o r d e sc o n te n te . E le
vê a ind ulg ência deles c o m o p e sso a lm e n te trágico. E les estão desorientados/ “ se
d e se n c a m in h a m ” (cf. 3.12), o u seja, o q u e eles en g o lem está, na realidade, en-
g o lin d o -o s, c o m o aco n te c e se m p re na h istó ria secreta d a in d u lg ên cia c o rp o ra l.1
Isso ta m b é m é e sp iritu a lm e n te d esastro so . O p ro fe ta era o veículo d a revelação
im ediata (visões) / o sa c e rd o te dá “ ju ízo ” (A RC), a ap licação da lei aos in d iv íd u o s
e às situ ações (veredicto; cf. Ml 2.5-7). N o e n ta n to , eles, n essa fu n ção , cambaleiam
e tropeçam, eles são n o m in istério o q u e são em sua vid a p articular. C o m p a re
co m c o m e n tá rio so b re 5.8-23 (em especial vv. 11,12,22,23), p o is a insistência
de Isaías d e q u e a in d u lg ên cia co m o c o rp o c o n so m e a p e rc e p ç ã o espiritual. A
coisa to d a é d e g ra d a n te , c o m o m o stra o versículo 8.
1 “ N ã o q u is e ra m o u v ir ” é lô ' 'ã b ú ' s‘’m ô a '. O u s o d o in fin itiv o se m o p re fix o l' g e n e ra liz a a
d e c la ra ç ã o : eles n ã o s ó n ã o e s ta v a m d is p o s to s a o u v ir n e s s a o c a s iã o o u a e ssa m e n s a g e m ,
m a s e sta v a m a b s o lu ta m e n te se m v o n ta d e d e o u v ir alg o, d e s o b e d iê n c ia p u ra .
311 ISAÍAS 2 8 . 7 2 2 ־
A q u e stã o é deixada clara pelas seções in terv en ien tes: a p alav ra d a qual n ão
se p o d e esc a p a r (9-13) e a rejeição da segurança (14-19). A ssim , so m o s pre-
p arad o s p a ra a co n c lu sã o de q u e o S e n h o r d e te rm in o u u m cu rso estranhio / e
misterios[ 0] d e ação decisiva (21,22cd). A inda assim há e sp a ç o p a ra u m ap elo aos
z o m b a d o re s (22ab).
20 O porque (A RC) inicial in tro d u z esse versículo c o m o ex p licação d o ver-
sículo 19. P a rte d o te rro r da m en sag em será a ex p o sição d a in ad eq u ação d o
esfo rço deles n a b u sca d e segurança. A m e tá fo ra d a cama reflete d e m o d o sar-
cástico a recusa d o lugar de repouso d o versículo 12. E les fizeram a p ró p ria cam a
e ag ora têm de se d e ita r nela, m as apenas p a ra d e sc o b rir q u e, caso se estiquem
na cam a, ela é c u rta dem ais, c caso se e n c o lh a m , o c o b e rto r é e stre ito dem ais!
Cobrir-se é “ q u a n d o a p e sso a se e n c o lh e ” .
21 E sse versícu lo ta m b é m co m e ç a co m “ p o rq u e ” (A R C ), acre sc en ta n d o
um se g u n d o m o tiv o p ara o te rro r d o versículo 19:1 a im p re ssio n a n te realidade
da h o stilid ad e divina. N a frase 0 Senhor se levantará o v e rb o yãqíim reflete será
anulado (10'tàqâm , “ n ã o lev an tará [em c u m p rim e n to ]”) n o v ersícu lo 18. N a d a
se levanta p a ra n o ssa d efesa se o S e n h o r se levanta c o n tra nós. O c o n te x to da
referência ao m onte Peraqjm é 2Sam uel 5.17-20, e a d o vale de Gibeom é 2Sam uel
5.22ss. (cf. l C r 14.16).12 ( ) S en h o r, o u tro ra , o rg a n iz o u os triu n fo s davídicos os
quais fo ra m um p o n to de p a rtid a para a seguran ça n acio n al e a fu n d ação de
Sião c o m o a capital nacional (2Sm 6), m as aqueles q u e ag o ra rejeitam o fun-
d am e n to davídico-S iào das p ro m e ssa s divinas d e sc o b rirá q u e sua p o rç ã o é, na
m esm a escala, a ira, de fato u m a obra m uito estranha e m isteriosa.
22 A palavra sçombaria (tí/ϊ.ν) é a m esm a d o versículo 14, m as aqui ela sig-
nifica “ m o s tra n d o a si m e sm o s c o m o se n d o os z o m b a d o re s ” ; o se n tid o de
hithpoel in d o além d o a to exterior, in d o ao c a rá te r d a pesso a. A frase se não, as
suas correntes ficarão m aispesadas é “ p ara q u e suas c o rre n te s n ã o fiq u em p e sa d a s” .
A ação delib erad a d e te rm in a o ca rá te r e o p o n to d o qual n ã o h á volta, o p o n to
da escravidão. A destruição p o r vir é “ o S e n h o r ] ‘“dõnc1y \ , o S e n h o r d o s E x ército s
[o D e u s T o d o -P o d e ro so ; N T L H ], falo u -m e da d e stru iç ã o d e c re ta d a c o n tra o
territó rio in te iro ” . O ch a m a d o d e Isaías à m u d a n ç a é fu n d a m e n ta d o n o q u e ele
sabe q u e está p o r vir (ele o u v iu isso d o S enhor); o p ro fe ta d e fe n d e o arrep en -
d im e n to n ã o p o rq u e o a rre p e n d im e n to im p ed irá isso (isso é d efinitivo), m as
p o rq u e n ã o h á o u tra fo rm a de se prep arar. A única fo rm a d e fugir d e D eu s é
fugir para ele.
1/י׳hapli’ [...] haple' w ip ele‘ sig n ific a “ [A c resce n tare i] a to m a ra v ilh o s o [...] a g in d o d e fo rm a
m a ra v ilh o s a e [com ] a s s o m b r o ” .
O LIV RO DO REI 322
que o oleiro é igual ao barro), sua so b eran ia (não m ej'e\ [ARC]) e sua sab ed o ria (ele
nada sabir, '¡bin, “ ele n ã o d isc e rn e ”). Isso fo rm a u m a ligação e n tre essa passag em
de “ ai” e a p re c e d e n te (veja v. 14).
rais (cf. 28.14,22). Todos osde olhosinclinadospara omal/ “ an d a m à esp reita p ara
fazer o m al” (BJ) são aqueles q u e e stã o alertas p a ra cau sar to rm e n to , aqueles
cujos in teresses são satisfeitos c o m o co la p so d a lei e d a o rd e m .
21 São m e n c io n a d o s trê s d ep rav açõ es d o sistem a legal: falso te ste m u n h o ,
trap aça co m as te ste m u n h a s e n eg ação ao in o c e n te d a p ro te ç ã o d a lei. N a fra-
se impedem que sefaçajustiça ao inocente, o v e rb o (o hiphald e hãtãj n ã o é u sa d o
em o u tra passagem co m se n tid o forense. O u so c o m u m exigiría “ d esv iar um a
p e sso a p o r m eio de u m a p alavra” , o u seja, in citar os o u tro s ao e rro e ao c o m -
p o rta m e n to a b e rra n te n a vida. M as o u so fo ren se se ajusta m e lh o r ao co n tex to .
O defensor/ “ q u e re p re e n d e ” é a p e sso a q u e se levanta na c o rte (lit. “ n a p o r ta ”
(A RC), o lu g ar em q u e os casos são o uvidos) a fim d e se o p o r ao erro . A frase
com testemunhofalso (tõhu; veja 24.10) aqui significa “ sem n e n h u m fu n d a m e n -
impedem/ “ p õ e m d e p a rte ”
to ” , “ p o r algum a b o b a g e m sem se n tid o ” . O te rm o
(ARC) é u m u so c o m u m p a ra a recu sa de u m caso. N a s três frases d o versícu-
lo 21, e n c o n tra m o s, p o r sua vez, o falso te ste m u n h o , o d e fe n so r te n d e n c io so
e o juiz c o rru p to . Q u a n d o o s valores e n tra m em declínio na so cied ad e c o m o
um to d o (20), o s p ro c e sso s e os d e fe n so re s legais n ã o ficam im unes. P ara o
cen ário d e tu d o isso n a Israel pré-exílio veja O seias 4.1,2; A m ó s 2.6-8; 5.10,11;
M iqueias 2.1,2.
1 B H S podería m udar ,el (para) para ,êl (Deus), ou seja, “o S e n h o r , o D eus da casa” . Kissa-
ne reorganiza a palavra para dizer “ o D eus de A braão que redimiu a casa” . Skinner omite
a expressão “que redimiu” p o r considerá-la um comentário. N ão há evidência objetiva
para qualquer uma dessas interpretações. A m esma estranheza ocorre em A m ós 1.1, em
que mais uma vez a dificuldade está na complexidade do que está sendo expresso.
325 ISAÍAS 2 9 . 2 2 - 2 4
1 Com o uso geral de “redim ir” (um verbo que se refere, em essência, a aguentar as conse-
quências de seus atos) cf. nosso uso do conceito de pagar o preço da “ fiança” no sentido
mais abrangente de “resgate do problem a” .
2 Com esse uso de tfqereb com o sufixo singular cf. Êx 10.1, passagem em q u e /“entre eles”
refere-se diretam ente ao faraó, mas associa-o com a totalidade de seu povo com o a comu-
nidade na qual os sinais do Senhor serão realizados. Da mesma maneira aqui, a expressão
“em seu m eio” sugere “associado com ele em uma com unidade” .
O L IV R O D O REI 326
' O u “tecer um a teia”, ou seja, a teia da intriga diplomática que leva a um a aliança. O ver-
bo (יInãsak) é usado para derram am ento da oferta de bebida, talvez a ratificação dc uma
aliança com a cerimônia religiosa apropriada.
2 Λ expressão buscar proteção traduz duas raízes assonantes, mas distintas — k Y ô z b'mckoz■
Sobre a form a l a ò z veja GKG~12<\. B H S corrigiría isso para o term o l ã 'â z que é mais co-
mum.
3 N o entanto, K aiser torna o versículo 3 secundário, descrevendo-o com o “ um com entário
explicativo posterior” . Isso é desnecessário, não m enos im portante à luz da própria ad-
missão de Kaiser de que “não há motivo real para não atribuir” os versículos 1-5 a Isaías.
329 ISAÍAS 3 O .I - 7
1 .Si? envergonharão traduz h b y s , que podería parecer ser hib'Ts (“ com certeza adquire mau
cheiro” ; cf. ISm 27.12). Mas Q re ordena a leitura p o r hõbTs, que deveria ser na form a um
h ip h il de ly ã b ê s. Mas a form a h ip h ii podería dar o sentido inadequado de “ fazer secar” . Por
isso, considera-se em geral que um term o lyãba~sy só encontrado aqui, tem de ser entendí-
do com o uma form a variante de ib ó s (“ser envergonhado”). !H I.S c K aiser corrigem para
k o lh a b h ‘a h õ b ls (“é certo que todos que com certeza colherão vergonha”).
O L IV R O D O REI 330
' Uma coisa/alguém pervertido traduz nàlòz, um participio mphalde ·¡luz (cf. Pv 2.15; 3.32; 14.2).
333 ISAÍAS 3 0 . 1 8 - 2 6
S m ith , p. 128.
O LIVRO DO REI 334
b. A o b r a d e tr a n s f o r m a ç ã o ( 3 1 .6 — 3 2 .1 8 )
C o rre s p o n d e n d o à revelação em 29.9-14 de q u e o S e n h o r tem em m e n te
“ m aravilha e m ais m arav ilh a” p ara lidar co m o p ro b le m a esp iritu al d e o lh o s e
o u v id o s fech ad o s e u m co ra ç ã o sem d isc e rn im e n to , Isaías ag o ra o lh a ad ian te,
o lh a p ara um rei q u e rein ará co m retid ão (32.1) e p a ra o E sp írito q u e será der-
ra m a d o (32.15). M as a visão n ã o é p u ra e sim p le sm e n te declarada. E la é in tro -
d u zid a na relação (co m o o s p ro g n ó stic o s m essiânicos n o s c a p ítu lo s 9 e 11) co m
os te m p o s d o s assírios (31.8), co m os c h am ad o s ao a rre p e n d im e n to (31.6) e ao
o u v ir (32.9) e c o m o s ev e n to s fu tu ro s além d a am eaça assíria (31.7; 32.12-14).
A passag em 29.9,10 sugere o c o n h e c im e n to de Isaías d e q u e os dias q u e leva-
riam à inv asão assíria co n stitu iríam o p o n to espiritu al sem re to rn o e a re sp e ito
d o qual ele foi a d v e rtid o n a é p o c a de seu c h a m a d o (veja o c o m e n tá rio so b re
6.9s.). O elem en to d e apelo aqui (31.6; 32.9,11) p o d e b e m refletir a urgência d o
m inistério d e Isaías nesse período, m as, em um p lan o m ais p ro fu n d o , lem b ra-n o s,
c o m o o m in istério d e Jo ã o B atista, q u e a p e n itê n c ia e o o u v ir a palavra d o Se-
n h o r c o n stitu e m a única v erd ad eira p re p a ra ç ã o p a ra a v in d a d e D e u s e os ato s
escato ló g ico s dele.
1 O T M assin ala / p a ra o s u b s ta n tiv o “ p rín c ip e s ” (veja 67/70.143c; l C r 7.1; 2 4 .20; SI 16.3; Lie
9.4). T e m o e fe ito d e e n fa tiz a r “ c c o m relação a o s p rín c ip e s ” . GKC e fít/S o m itiría m isso.
2 N . 11. S n a ith , N otes on the H ebrew Text o f Isaiah x x v iii- x x x ii ( l ip w o r th , 1 9 45), p. 2 5 1 2 5 7 ־.
3 P ara fechados, o T M , n a v e rd a d e , tra z “ v e r” (tiYeynà) d e ¡sã'ãh (veja 3 1 .1 ), m a s o t e r m o
d e v e s e r lid o a n te s c o m o f s õ leynâ d e ¡sã’a' (“ s e r p re ju d ic a d o , s e r c e g ó ”).
345 ISAÍAS 3 i . 6 - 3 2 . l 8
E s tro fe 1
a Pois o in se n sa to — ele fala co m in sen satez;
b e seu co ra ç ã o p ratica a iniquidade:
c p ratica a difam ação
e fala m en tiras so b re o S e n h o r
deixa o fa m in to sem nada
e priva o se d e n to de água
E s tro fe 2
a E o sem ca rá te r — seus m é to d o s são ruin s
b ele? A s artim a n h a s são o q u e ele planeja:
c d e stru ir o p o b re co m fala falsa
e ao falar (para arru in ar) o in d efeso na co rte.
E s tro fe 3
a E u m a p esso a n o b re — a v erd ad eira n o b re z a é o q u e ele planeja
b e ele é aquele q u e p e rm a n e c e firm e graças à v erd ad eira n o b re z a
A 1 O p o v o d e Sião (14-16)
U m a séria co n sciên cia d o p e c a d o (14)
A exigência d e u m a vida sa n ta (15)
A segurança e a p ro v isão
B1 A p re se n ç a d o rei, a te rra p o ssu íd a, to d o s o s in im ig o s se vão
(17-19)
C A Sião cm paz, em p e rp é tu a seg u ran ça (20)
B2 A p re se n ç a d o rei, o S e n h o r cm p o d e r, au sên cia de am eaça,
v itó ria para o in d efeso (21-23)
A 2 O p o v o d e Sião, c u ra d o e p e rd o a d o (24)
a 1 A p re se n ç a d o S e n h o r em p o d e r (21a)
b1 M u ita água, ausência d e navegação (21b-d)
a2 A p re se n ç a d o S e n h o r c o m o rei (22)
b2 O navio in ad eq u ad o , o esp ó lio a b u n d a n te (23)
Isaías, n o versículo paralelo 17, viu a terra; aqui ele avalia o m ar. Ali ele o b -
serv o u ap en as a e sp le n d o r d o rei; aqui te m o s u m a d escrição m ais c o m p le ta da
p esso a dele e d e suas funções. O v ersículo 21 explica o v ersícu lo 20 c o m estas
palavras: “ M as o Senhor ali” (ARC). Isaías ain d a está n o s e n c o ra ja n d o a o lh a r
para Sião (20), a v e r suas assem bléias religiosas e seg uran ças e v er o fu n d a m e n -
to dessas coisas na p re se n ç a d o S e n h o r (21). A frase será 0 Poderoso pa ra nós é
(lit.) “ n o s será g ra n d io so [um adjetivo atributivo, veja c o m e n tá rio so b re 53.11]
(A R C )/” estará c o n o s c o ” (TB). A palavra Poderoso Ç addir) significa “ so b eran o ,
d o m in a n te ” (cf. SL 93.4). O s rio s/ “ largos rio s” (TB) são a b u n d a n te s, águas
inesgo táveis (30.25; cf. so b re 7.3; 8.6; 22.9). E m relação ao navio a remo /.../ nau
poderosa, a su g estão d a p assagem p arece exigir u m a referên cia a o n av io d e guer-
ra (ou seja, a p esar d e to d a a água a b u n d a n te n ã o hav erá n e n h u m a taq u e naval),
m as a fo rm a de e x p re ssa r essa ideia n ã o é explícita. Fala de “ n av io a re m o [...]
n au p o d e ro s a ” . Poderosa é ‘a d d ir, te rm o u sa d o a n te rio rm e n te n esse versícu lo
para o S en h o r, m as o p e n s a m e n to é d e fo rça (capaz d e “ d o m in a r” o s m ares),
n ã o de hostilidade. Será e n tã o q u e a ideia é a ausên cia d e n av io s m e rc a n te s e,
p o rta n to , da au to ssu ficiên cia da n o v a Sião? Isso se adq u iria à ex p licação o fe -
recida n o v ersículo 22. T e m o s o S en h o r, e n ã o p re c isa m o s d e m ais nad a, ele é
a b so lu ta m e n te suficiente. E le é ta n to j u f ? (e x tre m a m en te d o ta d o em lid eran ça e
g o v e rn o ; le m b ra n d o J z 2— 16) q u a n to legislador (o leg islad o r d o dia a d ia e ch efe
tribal; J z 5.14; cf. Is 10.1). E le, c o m o rei, é p e rm a n e n te n o carg o ; o v a lo r b u s-
cad o n o p e d id o inicial p o r u m rei, c o n tra s ta n d o co m o g o v e rn o p e rió d ic o d o s
juizes (IS m 12.10-12). S a lv a re ra a fu n ç ã o d o juiz (Jz 2.16). O p ro n o m e ele n a
359 ISAÍAS 3 4 .I-17
frase é ele que nos vai salvar é enfático: n o ssa lib ertação em to d a s as situ açõ es de-
p e n d e ap enas dele. E ssa ênfase é elab o rad a n o versículo 23, c o n tin u a n d o o u so
da im ag em de navegação. Sião, c o m o u m “ navio d o E s ta d o ” , está avariada —
as c o rd a s frouxas, o m a stro b a m b o , as velas arriadas — ain d a assim esse navio
claudicante leva o despojo! Λ vitória, p o r co n seg u in te, é c o n q u ista d a p o r o u tro
em seu favor. O s despojos (cf. v. 9; 9 .3 < 2 > ) são os fru to s d e um a c o n q u ista q ue
já é passado. A palavra então é a p artícu la enfática de tem p o . h . grande quantidade
é p re c e d id a d e u m p ro n o m e e n fá tic o (ad, co m o se n tid o d e “ a té /ta n to q u a n to
os a b u n d a n te s d e sp o jo s” .
24 A qui, c a sa n d o co m a v o z d a lei d o s versículo s 14-16, está o c o n fo rto d o
evangelho. E m Sião n ã o haverá d o e n ç a n em pecado. É p o ssív el tra ta r a refe-
rência à d o e n ç a (co m o o aleijado d o v. 23) c o m o figurativa (cf. 53.4; SI 107.17-
20). N o e n ta n to , é preferível m a n te r a d o e n ç a e o s pecados em eq u ilíb rio (o físi-
co e o espiritual) c o m o c o n tra s ta n d o in cap acid ad es q u e re p re se n ta m o fim de
to d a incapacidade. M as, em p articular, “ os p e c a d o s d o s q u e ali h a b ita m serão
p e rd o a d o s” /(lit.) “ o p o v o q u e h a b ita r nela será a b so lv id o d e su a in iq u id ad e”
(ARC). A e x p re ssã o idiom ática “ a b so lv id o s de sua in iq u id a d e ” , o u seja, “ tirar
a in iq u id ad e” está en raizad a n a d o u trin a de tirar o p e c a d o n o D ia d a E x p iação
(Lv 16.21,22; cf. Is 53.4,14). S o b re “ in iq u id ad e” (ARC) (jâwôri) veja 1.4; 6.7.
1 E m S alm os, são fam iliares os ch a m a d o s sem elh an tes a esse, dirigidos ao
m u n d o to d o (96.1-3; 97.1; 98.1,2,4ss.). O re c o n h e c im e n to d o ju lg am en to p o r
vir faz p a rte de um p a c o te d iv in o para o m u n d o , e esse p a c o te inclui, p rim eiro ,
o c o n h e c im e n to da salvação que, a p esar d e a lei de D e u s p e rm a n e c e r (33.14-
16), h á u m p e rd ã o m ise ric o rd io so q u e triu n fa so b re o ju lg am en to (33.24; cf.
T g 2.13). O b s e rv e o e sc o p o da co n v o cação : nações, povos, terra e m undo m ais as
frases qu alificad o ras e tudo 0 que nela h á / “ e a sua p le n itu d e ” (ARC) e tudo 0 que
dele procede.
2-4 Isaías, c o m e ç a n d o c o m a im agem m ais am pla, revela a q u e d a da terra
(2,3) e d o céu (4) p e lo a taq u e da in d ig n ação divina. A m o rte das p esso as (3ab),
a c o rru p ç ã o da n a tu re z a (3c) e o d e fin h a m e n to d o u n iv erso (4de) tu d o isso ao
m e sm o tem p o .
2 E ssa é a p rim eira explicação (com eça co m “ p o rq u e ” [ARC]) da convoca-
ção d o versículo 1. A frase 0 Senhor está indignado é “Jeov á tem indignação” (TB).
S obre indignado (qesep ) veja 54.8; 60.10; para o verbo, veja 8.21; 47.6; 54.9; 57.16s.;
6 4 .5 < 4 > ,9 < 8 > . O te rm o ira (hem à ) é o “ fu ro r” o u “ severidade” d a raiva (27.4;
42.25; 59.18) e n q u a n to qesep p o d e sugerir sua súbita exp lo são (cf. 54.8). A ex-
p ressão seus exércitos/ “ to d o o exército delas” (ARC) é a p o p u lação total das na-
ções. D estruirá totalmente e dará são tem p o s perfeitos d e certeza co m o sen tid o de
“d ecidiu” o u “está d e te rm in a d o a” . O prim eiro v e rb o (v1hãram ) fo rn ece o n o m e
d o harém , o lugar de total segregação d o m undo. O verbo, em c o n tex to s de jul-
g am en to , sugere a rem o ção total de algo de to d o c o n ta to h u m a n o (11.15; cf. N m
21.2; Js 2.10; so b re o su b stan tiv o herem , veja o v. 5 ;Js 6.17,18).
3 A referên cia a cadáveres e sua d e te rio ra çã o m o stra q u e os p e c a d o re s são,
p o r fim , e n v o lv id o s n o ju lg am en to p o r causa de seu p ecado. E n fim o adágio
so b re o d ia r o p e c a d o e am ar o p e c a d o r su cu m b e. O s p e c a d o re s p ag am o p re ç o
p o r seu p ecad o : o S e n h o r exige isso. O te rm o encharcarão/ “ in u n d a rã o ” (ARA)
refere-se a u m a nova e tem ível e ro sã o n o solo, d esastre esse n ã o c au sad o pelo
v e n to n em pela água, m as pela to rre n te de sangue d o s m o rto s.
O L IV R O D O REI 362
d. A v o lta p a r a c a s a , p a r a S iã o (3 5 .1 -1 0 )
E sse é o ápice v isio n ário da passagem final d e “ ai” (caps. 33— 35) e, em
particular, a c o n tra p a rte específica d o terceiro “ ai” p a re lh o (29.15-24). A dis-
ereta referên cia inicial à re d e n ç ã o (29.22) se tra n sfo rm a n o p in á c u lo d e to d a
a seq u ên cia (35.9,10). N e n h u m diagram a c o n seg u e fazer justiça à sutileza da
c o m p o siç ã o d esse p o e m a v e rd a d e iram e n te deleitável. O re d u z id o e sb o ç o a se-
g uir o ferece a p en as u m a base p a ra o c o m e n tá rio detalh ad o :
365 ISAÍAS 35. I-IO
segura para a Sião, c o n tra s ta n d o e /.../ haverá (w ritãyã sãrri) n o versícu lo 8a e não
haverá (/ó1yih yeh sám ) n o versículo 9a.
1,2b O tem a dessa estrofe de abertura é a tran sfo rm ação espontânea: as pa-
lavras d e crescim en to e florescim ento junto co m as de alegria e cântico. Isaías está
vivendo em te rm o s de êxodo. O p o v o de D eu s é um p ov o peregrino. N o passado,
o deserto fo rn eceu um a vez água para a necessidade deles (E x 17) e u m indubitável
florescim ento m o m e n tâ n e o , m as virá o dia em q u e a p ereg rin ação final será fei-
ta através d e u m d e s e rto tra n sfo rm a d o . O tem a d e u m m u n d o tra n sfo rm a d o ,
c o m o sem p re, fala d o fim d o re in a d o d o p e c a d o e d a rev ersão d a m ald ição d o
S e n h o r (G n 3.17ss.). A ex p ressão se regozijarão devia se r “ aleg rem -se p o r eles” .1
A inda n ã o foi declarado q u e m são “eles” . “ E les” reap arecem n o s v ersícu lo s 2 e
8, e o d esenlace a c o n te c e co m a revelação d o s redim idos d o S e n h o r n o s versícu-
los 9 e 10. P ara o p ro fe ta , p arece c o m o se o fato d o d e se rto florescido, p o r fim
lib e rta d o d a escrav id ão (R m 8.22s.), é na verd ad e o reg o zijo d e b o as-v in d as,
reg o zijan d o -se (lit.) “ co m exultação de fato e c a n to a lto ” .12
2 c - f U m a m u d a n ç a d e ên fase m arca u m a n o v a estro fe. N a p rim e ira e stro -
fe, o d e se rto se rego zija para exibir sua n o v a natu reza; n a seg u n d a, so m o s in fo r-
m ad o s q u e to d a essa glória é u m a dádiva. A s m esm as palavras são u sad as para
o o u tro ra d e se rto e p a ra a glória d o S e n h o r (glória, resplendor), su g e rin d o q u e d e
c o m p a rtilh a a si m e sm o c o m seu m u n d o e q u e n a d a q u e ag o ra atrap alh a a p len a
d e m o n stra ç ã o d a glória d o S e n h o r nas o b ra s deste. O a n tig o d e se rto terá a be-
leza e x isten te d e lo n g a d a ta da fertilidade natu ral {L íbano), d o cu ltiv o o rd e n a d o
{Carmelo) e d a atrativ id ad e inata {Sarom) (veja 33.9). M as eles (A RC), o e le m e n to
h u m a n o n ã o id en tificad o n o m u n d o ren o v ad o , e sta rã o p re o c u p a d o s c o m u m a
visão distinta: a glória e o resplendor A o S enhor. Se essas p alavras tê m d e se r dife-
renciadas, a glória (kãbôd) é um valor in eren te, a im p o rtâ n c ia d o m e re c im e n to ,
e resplendor {hãdãr; 2.10,19,21; 53.2) é o sinal e x te rn o d e m ajestad e e d ig nidade.
3,4 O s im perativos sem sujeitos declarados (co m o em 40.1) in tro d u z e m essa
seção b elam ente equilibrada co n sistin d o d e dois c o n ju n to s de q u a tro linhas co m ,
em cada caso, a q u arta linha co n sistin d o d e dois verbos: “Sejam fortes, não tem am !
Seu D eus [...] virá p ara sa lvá -lo s/ “ eis q u e o v o sso D e u s [...] virá, e v o s salvará”
(ARC). O p rim e iro c o n ju n to tem os v erb o s fortaleçam e sejam fortes (ih ã za q ) c o m o
seu inclusio [criar u m a e stru tu ra ao p ô r m aterial sim ilar n o início e n o final de
um a seção], e n o se g u n d o c o n ju n to a ex p ressão seu D eus c eq u ilib rad a p elo p ro -
n o m e e n fá tic o ele (A RC). A su g estão da e stro fe é q u e o p o v o d e D e u s ain d a está
em u m p e río d o d e carência e p recisa se r en c o ra ja d o n o re in o d a ação (mãos),
da estabilidade (joelhos) e da co n v icção (coração). O e n c o ra ja m e n to p ro fe rid o é a
esp eran ça p o sta d ian te deles: seu D eu s virá. E u m c h a m a d o à firm eza d e fé, não
da d e te rm in a ç ã o au stera e am arga, m as da d e te rm in a ç ã o q u e acredita. E les já
po ssu em neles m e sm o tu d o de que precisam para e n fre n ta r as exigências d o pe-
ríodo; eles n ão são ch am ad o s a receber um a nova bênção, m as a intensificar o que
já é deles. O s v erbos usados p o r Jo su é (fh ã za q , “ seja fo rte ” , e V ã m a s, “ tem b o m
ân im o ” |A R C ];Js 1.6) são ap ro p riad o s. O s leitores d e Isaías são en co rajad o s a
ad o tar Jo su é , co m a te rra p ro m e tid a d ian te dele, c o m o um m o d elo . A palavra
temam significa, de um lado, im p e tu o sid a d e (veja 32.4 so b re precipitado) e (4c) e,
de o u tro lad o (co m o aqui), pânico. P o d er-se-ia inserir o te rm o “ v ejam ” an tes da
ex pressão seu D eus, e o te rm o virá (4c) p o d e ría se r rem ov id o . O p rim e iro m ovi-
m e n to p a ra re sta b e le ce r a c e rteza é apenas “vejam seu D e u s ” , o D e u s q u e ainda
está p re p a ra d o p a ra ser “ se u ” a p esar d e to d as as suas fraquezas. O seg u n d o
m o v im e n to é re c o n h e c e r q u e ele en d ireitará tudo: a vingança (nãqãm-, veja 34.8)
pela “o fe n sa so frid a ” (nesse caso, p o r seu p ovo) e a retribuição (g 'm u l, “ rev id e”)
pelo “ feito e rra d o ” (aqui, para seu po v o ). T erceiro , ele vem p ara realizar a sal-
vação, a lib ertação total. O b se rv e as frases paralelas: “ [ele] virá co m v in g an ça”
(o q u e ele fará c o n tra seus adversários) e “ ele virá, e vos salvará” (ARC) (o que
ele fará p o r seu povo).
5 ,6 b E ssa q u a rta (do m eio) e stro fe é m arcad a p o r u m d u p lo “ e n tã o ” . A
fraqueza atual (3) foi-se e o q u e é ag o ra esp e ra n ç a (4) será vivenciada. A qui
está o c o n te x to d o A n tig o T e sta m e n to p ara a d o u trin a d o N o v o T e sta m e n to da
reden ção d o co rp o . O c o n tra ste e n tre as d u as faculdades d e rec e p ç ão (olhos e
ouvidos) e as d u as de ação (saltando e can tan d o ) e x p ressam to talidade.
6 c ,7 O “ p o rq u e ” inicial devia se r restaurado. A su g estão é q u e a m esm a
nova vida co m n a tu re z a ren o v ad a ta m b é m fluiu n o p o v o d o S en h o r. O tó p ic o
de água a b u n d a n te (30.25; 33.21) u n e essa estrofe. S o b re essa ligação co m o
versículo 1, veja a n o ta in tro d u tó ria e o e sb o ç o acim a. S o b re o v e rb o bãqcd
(irromperão) cf. 48.21 ;Ju iz e s 15.19; S alm os 74.15; 78.15. A qui Isaías d escrev e a
tra n sfo rm a ç ã o (água no deserto)·, rev ersão (lugares q u e a b so rv e ra m a u m id ad e,
areia abrasadora e terra seca, ag o ra ab astecid o s co m lago e fo n tes); e restau ração
(chacais, q u e c o m ta n ta freq u ên cia são os h a b ita n te s d e lugares d e sa b ita d o s,1
se foram ). Só e n c o n tra m o s a ex p ressão areia abrasadora (sãrãb) em 49.10 (pas-
1 Λ re fe rê n c ia a o 14° ano d e E x e q u ia s p e r m a n e c e u m p r o b le m a n ã o re so lv id o . N ã o re s ta a
m e n o r d ú v id a d e q u e o a n o e m q u e s tã o e ra 701 a.C ., m a s 7 1 5 c o m o a d a ta d a a s c e n s ã o d e
E x e q u ia s a o t r o n o e n tr a c m c o n f lito c o m a in f o r m a ç ã o f o rn e c id a e m 2 R eis 1 8 .1 ,9 , p a ssa -
g e m q u e e x ig e u m a a s c e n s ã o p o r v o lta d e 7 2 9 / 8 . D u a s s u g e s tõ e s p r e d o m in a m e m u m a
v e rd a d e ira te m p e s ta d e d e teo rias. Λ p rim e ira s u g e s tã o é q u e , e m v ez d e 14 o a n o , d e v e m o s
le r “ 2 4 ” a n o s , e n v o lv e n d o u m a ju s te m u ito m e n o r d o te x to h e b r a ic o d e ' a r b a ‘ ‘esrèh
p a ra ’a r b a ' ‘os’rim . (V eja a a b r a n g e n te a n álise e d e c is ã o d c 11. H . R ow ley c m fa v o r d e sse
c u r s o e m se u e n s a io “ H e z e k ia h ’s r e f o r m a n d r e b e llio n ” , M en o f God, e d . H . 11. R ow ley
(N e ls o n , 1 9 6 3 ), p. 9 8 ss.; ta m b é m O s w a lt e Y o u n g .) E s s a te o ria , a fim d e c o n s e g u ir te r o s
c á lc u lo s a p r o x im a d a m e n te c o r r e to s , e x ig e q u e e n te n d a m o s q u e foi n o 14 o d o re in a d o d e
E z e q u ia s q u e ele p r o m o v e u o p a d r ã o d e re v o lta c o n tr a a A ssíria e q u e h o u v e u m la p s o
d e a lg u n s a n o s a n te s d c S e n a q u e rib e p a r tir p a ra a ação. C o n f o r m e R o w ley o b s e r v a , u rn a
re v o lta p a le s tin a , p a ra te r a lg u m a c h a n c e d c s u c e sso , tc m d e te r a c o n te c id o e n q u a n t o S e-
n a q u e rib e a in d a e sta v a o c u p a d o n a M e s o p o ta m ia . P o r ta n to , é s e n s a to a s s u m ir u m la p s o
d e te m p o e n tr e a re b e liã o e o c o n tr a - a ta q u e . E s tá t u d o m u ito b e m , m a s t a n to 2 R cis 18.13
q u a n to Isa ías 36.1 d iz c m q u e o 14° a n o foi o a n o e m q u e S e n a q u e rib e c h e g o u à c e n a . A
o u tr a p e r c e p ç ã o tc m o m é r ito d e e x p lic a r o s fa to s q u e c o n h e c e m o s , m a s e s tá o b r ig a d a a
fa z e r isso t e o r iz a n d o c m á re a s n a s q u a is n ã o te m o s o s fa to s d isp o n ív e is. E s s e p a re c e s e r o
c a s o d e q u e o s reis d a v íd ic o s e s ta v a m a c o s tu m a d o s a p ô r se u s s u c e s s o re s e s c o lh id o s e m
c o rre g e n c ia a fim d e a s s e g u ra r u m a tra n s m is s ã o fácil d a c o ro a . O p r in c íp io d a p rim o g e -
n itu ra n u n c a foi a d o ta d o , e n o s d ias d e D a v i e s p e ra v a -s e q u e ele n o m e a s s e s e u s u c e s s o r
( l R s 1 .5 -3 0 ). N a s u p o s iç ã o d e q u e j o t ã o , A c az , E z e q u ia s c M a n a ssé s, t o d o s eles, tiv e ra m
371 ISAÍAS 3 6 . I - 3 7 .7
p e r ío d o s d e c o rre g e n c ia c o m se u s p r e d e c e s s o r e s e ta m b é m d e re in a d o s o z in h o , o s d a d o s
d isp o n ív e is p o d e m s e r h a r m o n iz a d o s . N e s s e c aso , p r e s u m e - s e q u e E z e q u ia s foi c o rre -
g e n te c o m A c a z d e 7 2 9 -7 1 5 e re in o u s o z in h o d e 7 1 5 -6 9 6 , q u a n d o ele t o m o u M a n a ssé s
e m u m a c o r re g e n c ia q u e d u r o u a te 687. V eja K . A. K itc h e n e T. C. M itc h e ll, “ C h r o n o lo g y
(O ld T e s ta m e n t) ” , c m IB D .
' J. B rig h t, A H istory o f Israel (S C M , 1 960), p. 269.
O LIV RO DO REI 372
dos c u m p rim e n to s d e ín te rim n o s cap ítu lo s 13— 27; aquí ele vai d ire to p ara o
ju lg am en to q u e cairá so b re o p ró p rio b lasfem ad o r. Se E z eq u ias ap en as tivesse
crido n a palavra q u a n d o esta foi d ita pela prim eira vez.
c o m o um a g aran tia p ara a sob rev iv ên cia política; ag o ra (10) n ã o h á referên cia a
frau de p o r p a rte de E xequias. É o S e n h o r q u e m o s fará cair! E zeq u ias alcan ço u
a u m a fé sincera, p esso al e inequívoca.
S enaq ueribe, a p a re n te m e n te , dirigiu-se a E z eq u ias n a fo rm a verbal (10)
e escrita (14); a ta c a n d o a in sen satez de sua re c é m -e n c o n tra d a p o siç ã o d e fé
(10b); a firm a n d o a invencibilidade da A ssíria ta n to so b re as n açõ es (11) q u a n to
so b re os d eu ses (12); e e n fa d z a n d o o risco em p articu lar p ara o s reis q u e se
o p u n h a m à A ssíria (13). O b se rv e o te m p o p re se n te d o v e rb o co n fia / “ d e q u e m
d e p e n d e ” (10). A re sp o sta n ã o registrada d e E z eq u ias deve te r sid o ineq u ív o ca
q u a n to ao a ssu n to d a fé d e que Jerusalém não será entregue nas m ãos do rei da A ssíria ,
e ele ta m b é m d eve te r alu d id o à p ro m e ssa d e 38.6. A im ag em re su lta n te d e u m
h o m e m sim p le sm e n te c o n fia n d o na palavra d a p ro m e ssa div in a é co n v in c e n te .
A palavra ih ã ra m , as destruíram p o r completo (11; cf. 34.2,5), é u sad a p ara re m o v e r
to d o c o n ta to h u m a n o e d esig n ar algo c o m o p o sse de D eu s. A ssim , a peleja
seg uin te se tra n sfo rm a em u m a peleja e n tre o S e n h o r e o(s) deus(es) d a A ssíria.
S en aqu eribe e n tre g o u o u tra s cidades a seu deus; será qu e, d esse m o d o , a cid ad e
d e D e u s p o d e se tra n s fo rm a r em algo d ev o tad o ? G osfi etc. e stã o to d a s n a região
d e cim a d o E u frates. N o versículo 13, S en aq u erib e in tro d u z u m n o v o e le m e n to
n a c o n fro n ta ç ão . E le te n ta jo g ar co m o in stin to de so b rev iv ên cia d e E z eq u ias
c o m o rei, m as n a v erd ad e está te sta n d o o h o m e m d e fé em ain d a o u tra direção.
E zeq u ias, c o m o o rei davídico, é u m h e rd e iro das p ro m essas. Será q u e ele co n -
fiará ag o ra nas p ro m e ssa s para si m e sm o em face d o p o d e r assírio? H en a e Iva
são lugares d esco n h ecid o s.
1 S o b re o “ a n jo d o S e n h o r ” , v eja J. A . M o ty e r, N B C ., p. 29.
O LIV RO DO REI 382
C le m e n te s, p. 2 8 8 -2 8 9 .
O LIVRO DO SERVO 390
1 M a u c h lin e p r o p õ e u m a d a ta d e c e rc a d e 7 1 0 p a ra a d o e n ç a d e E z e q u ia s , m a s n ã o in d ic a
c o m o e ssa d a ta se a ju s ta a o s q u in z e a n o s e x tra s d e v id a p r o m e tid o s a ele. N o q u e d iz res-
p e ito à d o e n ç a d e E z e q u ia s , q u a lq u e r d a ta a n te r io r a 701 f o rn e c id a p a ra a d o e n ç a cai e m
u m o u o u t r o d o s p e r ío d o s d o g o v e r n o d e M e ro d a q u e -B a la d ã n a B a b ilô n ia . A p e s a r d e al-
g u n s e s tu d io s o s su g e rire m q u e m e s m o fo ra e sse s d o is p e r ío d o s ele a in d a e ra u m a g ita d o r
c o n tr a a A s síria d e u m a alta o r d e m . D a ta r a d o e n ç a n o c o m e ç o d e 7 0 2 ex ig e u m a ta b e la
d c te m p o a p e r ta d a , m a s n ã o im p o ssív el.
391 ISAÍAS 3 8 . I -8
tudo, ele diz ouvi sua oração. A v erdadeira in te rc e ssã o d e E z eq u ias foi in trín seca à
situação. O S en h o r, em re sp o sta à o ração , p rim e iro tra to u d a n ecessid ad e espe-
cífica e, a seguir, foi ad ian te para satisfazer as necessid ades q u e n ã o fo ra m m en -
clonadas, m as das quais ele tem c o n h e c im e n to . E im p o rta n te o b se rv a r q u e n ão
foi d ad a n e n h u m a co n d iç ã o p ara a satisfação da necessid ad e. E ssas p ro m essas
são afirm ad as c o m o um fato q u e n ão p o d e se r confiscad o . (Cf. 2R s 20.6, a pas-
sagem em q u e as palavras acrescen tad as “ p o r causa de m im m e sm o e d o m eu
servo D a v i” to rn a m a in co n d icio n al in teg rid ad e da p ro m e ssa d o S e n h o r ainda
mais explícita.) S o b re defenderei (igãnan) veja 31.5; 37.35.
7,8 E m relação à ex p ressão 0 sinal, as in certezas tex tu ais d o versícu lo 8 1 não
o b scu rccem o q u e foi p ro m e tid o . A escadaria de A c a % (lev an d o ao seu “ q u a rto
su p erio r” ?; 2R s 23.12), q u e r p o r acaso q u e r p o r desígnio, re g istro u o m o v im en -
to da so m b ra na passag em d o sol e o sinal c o n firm a to rio ligado à p ro m e ssa d o
S en ho r era q u e a so m b ra re tro c e d ería d ez degraus. Seria tã o im p ró p rio para
nós se rm o s d o g m á tic o s a re sp e ito de c o m o isso foi feito q u a n to n e g a r o que
é claram en te afirm ad o. A E sc ritu ra a p re se n ta o D e u s C ria d o r c o m o o S en h o r
so b eran o de su a criação, e a m e n te q u e crê aceita q u e ele p o d ia, d e a c o rd o co m
sua v o n ta d e , ac re sc en ta r dez unid ad es de te m p o àquele dia. A caz é q u e foi con-
vidado a p e d ir p o r u m sinal tão alto q u a n to o céu (7.11) p ara su ste n ta r o co m -
p ro m isso d o S e n h o r co m a casa de D avi e, p o rta n to , foi a p ro p ria d o q u e o Se-
n h o r m o v esse o céu para c o n firm a r sua p ro m e ssa d e p ro te g e r a cid ad e d e D avi.
A exigência e x p o sta n o versículo era q u e a so m b ra m o v esse, e n v o lv e n d o um a
m anipulação divina da luz d o sol p o r m eio da qual a so m b ra re tro c e d e u (e feito
isso, en tão , ela re to m a sua p o siç ã o anterior?). M as d e to d o jeito, u m m ilagre de
D eus foi o p e ra d o p ara c o n firm a r sua palavra p ara o rei. E m 2R eis 20.9ss., Isaías
discute c o m o rei (veja c o m e n tá rio so b re v. 22) as p o ssib ilid ad es alternativas d o
sinal, m as aqui ele ad a p ta a n arrativ a para revelar suas p ró p ria s p e rc e p ç õ es d o
evento, u sa n d o palavras q u e lem b ram 7.14. E le n ã o está falsificando n em re-
c o rre n d o a d isto rç õ e s ten d en cio sas, m as iso lan d o o fa to r crucial: u m sinal (lit.)
“de [estar] c o m /d a p ró p ria p re se n ç a d o S e n h o r” . E z eq u ias c o n tin u a , c o m o
S o b re e sse p e r ío d o to d o , v eja E r la n d s s o n .
397 ISAÍAS 3 9 -1 - 8
é m ais d o q u e c o n se g u im o s p e rc e b e r em um d a d o m o m e n to . S im o n ad ap ta
isso ao p re se n te caso ao d iz e r q u e “ lav é re sp o n d e a to d o s seus fde Jerusalém ]
p e c a d o s [...] n ã o c o m a escala de p e so e m ed id a c o m u m , m as c o m um p a d rã o
d u p lo [...] o p a d rã o d a g ra ç a ” , q u e p re su m iv e lm e n te significa “ d e fo rm a m u ito
am pla e m u ito g e n e ro sa ” .1 N o e n ta n to , se o su b sta n tiv o significa “ o d o b ro ” ,
0 u so d u p lo sugere as duas m etad es de algo d o b ra d a s n o m eio, u m a se n d o a
réplica d a o u tra . Isso a p o n ta p ara um se n tid o c o m o “ o eq u iv alen te” o u “ aquele
q ue c o m b in a e x a ta m e n te ” (cf. W hybray).12 A palav ra p o r é um a p re p o siç ã o de
p re ç o co m o se n tid o de “ em p a g a m e n to p o r ” . S o b re iniquidade Çãwôri) e pecados
(h a tta j) veja 6.7.
1 Simon, p. 37.
2 A p a la v ra sim ila r misneh é u s a d a n o s e n tid o d e “ u m s e g u n d o / d o b r o ” , o q u e s u b s titu i a
p rim e ira (veja 6 1 .7 ; D t 17 .18; J r 16.18).
3 H e r b e r t c o m e n ta o h in o b a b ilô n io : “ F a ç a q u e o c a m in h o d e [N a b u | seja m u ito b o m ,
re n o v e su a e stra d a . T o r n e se u c a m in h o re to , faça u m a via p a ra e le ” .
O LIVRO DO SERVO 402
1 E m u ito c o m u m c o r ta r o v e rs íc u lo 7 c c o m o u m c o m e n tá rio . W c s tc r m a n n d iz q u e c “ o
c o m e n tá r io d e u m le ito r q u e fic o u p r o f u n d a m e n te c o m o v id o ” . ( ) c o m e n tá r io d e N o r t h
d e q u e é “ u m ta n to p r o s a ic o [...| q u a s e c o m c e rte z a n ã o o rig in a l” é tã o e x tra v a g a n te s o b r e
trê s p a la v ra s q u a n to o c o m e n tá r io d e D c litz s c h d e q u e “ [...| d o c o m e ç o a o fim é o e s tilo
[g e n u ín o ] d e Isa ía s” . O ú n ic o a r g u m e n to s ó lid o a fa v o r o u c o n tr a é se a frase i n te r r o m p e
o u c o m p le ta o e q u ilib ra d o p a ra le lis m o d o to d o .
2 P a ra h a sd ô a L X X tra z doxa e, d a í, a tra d u ç ã o p o r “ g ló ria ” d a אV I. B U S a lte ra a p a la v ra
p a ra h"dãrô (“ se u e s p le n d o r ” ); B t l tra z h em dô (“ su a b e le z a ” [A R C ]). N ã o h á n e c e s s id a d e
d e sc a fa s ta r d o T M .
403 ISAÍAS 4 0 . I - I I
É seu D eus mesmo que, como dõnãy yhw h (“o lavé soberano”), vem em poder1
(lit., “como um poderoso”).
10 O braço do Senhor faz sua estreia aqui nos capítulos 40— 55 (cf. 30.30;
33.2), o símbolo da força pessoal em ação (48.14; 51.5,9; 52.10, observe a metá-
fora de “arregaçar as mangas, preparar-se para o trabalho pesado”; 53.1; 59.16;
62.8; 63.5,12). () braço aparece muito mais em Isaías que em qualquer outro
profeta. As palavras recompensa e galardão são sinônimas (salvo que a última,
¡f*ullâ, pode significar “trabalho” e também “recompensa pelo trabalho”). Nos
locais em que a palavra recompensa (sa kã r , “salário, recompensa”) é usada com
um pronome (como aqui), o pronome representa a pessoa que recebe o “sa-
lário” (cf. Ez 29.18s., em que o termo é usado para o vitorioso recebendo os
frutos de sua vitória). Aqui também o Senhor recebe os frutos de sua vitória, e
a recompensa que 0 acom panha/ “diante dele” (ARA), “diante da sua face” (ARC)
é o rebanho de seu povo que sua vitória conquistou.
11 A mudança de soberano para pastor não é abrupta com pode parecer
à medida que a última é um tema de Davi (2Sm 5.2; 7.7s.; cf. Mq 5.4<3>; Ez
34.2ss.,23s.). Esse pastor pratica o cuidado geral de seu rebanho {cuida de seu
rebanho), está vigilante para as necessidades particulares {ajunta os cordeiros) e se
identifica com as preocupações do rebanho {os cordeirinhos [ARC]). O termo
braços (ARC) devia ser “braço” (observe o equilíbrio entre o braçofo rte do versí-
culo 10 e o “entre os seus braços ajuntará” [TB] aqui). A frase no colo é “em seu
peito”, simbolizando o cuidado amoroso e íntimo.
b. O incomparável Deus de Israel: o Criador (40.12-31)
Essa passagem, quanto ao estilo, é um “debate”, uma discussão proposta
para contrapor uma posição adotada por alguém. A “situação” é declarada no
versículo 27. A discussão é que essa posição não pode ser sustentada em rela-
ção àquele que é o Deus Criador, e os versículos 28-31 apresentam a conclusão
correta.
Isaías usa aqui a doutrina de Deus Criador a fim de assegurar o povo de
sua segurança e da certeza de que as promessas divinas serão cumpridas (essa
é a relação entre os w . 12-26 e 1-11). Ele continua a usar a doutrina da cria-
ção dessa maneira para renovar a confiança de Israel em sua posição especial
(43.1,21; 44.1ss.), na reunião (43.7), na libertação (43.15), na permanência na
mente divina (44.21), na redenção (44.22) e no relacionamento seguro (54.5).
A ênfase particular está no Senhor como o único Criador. Ele está sozinho na
obra da criação (12), não precisando da sabedoria de ninguém (13s.). Nem a
humanidade coletiva nem os maiores aspectos do mundo físico (16) desafiam
A e x p re s s ã o “ c o m p o d e r ” é b 'h d ze q , a o p a s s o q u e o T M tra z fr h ã zã q (“ n o c a r á te r \beth
essential[ d e u m f o r t e ”).
405 ISAÍAS 4O.12-31
sua supremacia única. Ele, como único Criador, exerce o governo executivo no
mundo (22-24) e no universo (26) -— até os mínimos detalhes (príncipes e ju izes
no v. 23 e u m p o r u m [TB] no v. 26).1
O caso afirmado (40.12-26)
O debate aparece em duas partes, assinaladas estruturalmente por ques-
tões. Os versículos 12 e 18-20 dividem a primeira parte; e os versículos 21 e
25,26, a segunda. Cada parte contém quatro estrofes (A-D) em paralelo:
forças rivais antes de o caminho se abrir para a obra de criação. O Antigo Tes-
tamento, ao contrário, não só relata a história da criação de uma maneira que
exige uma doutrina monoteísta de Deus (Gn 1), mas também usa o conceito
de criação a fim de apontar para o fato de que existe só um Deus (SI 96.5). No
versículo 12, o Criador estava sozinho na obra de criação; aqui ele também está
sozinho na sabedoria necessária para a obra.
13 Sobre definiu (Jtãkan) veja o versículo 12. Aqui o termo significa “ajus-
tar” o Espírito do Senhor de modo que ele fique “no curso” para fazer sua par-
te ou “avaliar” o que o Espírito estivera fazendo “para compreender a mente
do Senhor”. A mente (NTLH )/ “Espírito” foi o agente executivo de Deus na
criação: em Gênesis 1.2, pairando em estado de prontidão; em Salmos 33.6, é o
agente de sua vontade expressa.
14 Os termos esclarecê-lo e conheámento pertencem ao grupo de palavras de
discernimento (cf. 29.14) e têm o sentido de ver o cerne de uma coisa. A frase
as veredas doj u f i o (ARC)/ “o caminho do direito” (CNBB) (m isp ã t ; cf. 28.26) é
fazer o julgamento correto ou tomar a decisão no tempo correto.
1 5 1 7 ־Essa estrofe vai da obra e sabedoria da criação para o resultado final.
Seu propósito é aplicar a percepção da “imensidão” do Criador que emergiu
das duas primeiras estrofes, primeiro para a força humana coletiva (15ab) e,
a seguir, por alguns aspectos impressionantes da estrutura da criação (15cd),
depois, para o exercício religioso (16) e finalmente para a totalidade da humani-
dade (17). A criação da humanidade, com tudo que é especial a respeito dessa
obra criativa culminante, não constitui nenhum desafio ou obstáculo para o
Criador.
15 Mas como será uma^ofe caindo de um balde podería limitar aquele que
mede os mares na concha de sua mão (12)? Como será que o p ó que sobra na
balança pode influenciar aquele para quem as ilhas não passam de u m grão de areia ?
Sobre ilhas veja 11.11; 20.6; 24.15. A palavra ,iyyim parece significar primei-
ro “ilha” no sentido estrito; depois, terra estendida ao longo do mar, ou seja,
“costa” e, por isso, terra acessível pela água; finalmente a palavra é usada para
massas de terra (como aqui), partes do mundo e dos países em geral.
16 Aqui é levantado outro aspecto da criação cm relação ao Criador. Será
que o Criador, ao convidar a adoração (nos moldes babilônios; cf. SI 50.9-13),
fica dependente do que as pessoas proveem? De maneira alguma! Na verdade,
até mesmo o maior empenho religioso ficaria aquém da dignidade do Criador
— suponha que todo o 1abano se tornou o fogo do altar; e todo seu gado, a
oferta queimada! Contudo, Isaías, antes de terminar essa seção, descreverá no
capítulo 53 um sacrifício digno de Deus.
17 Esse versículo não diz que a humanidade não vale nada “para ele”, mas
diante dele, ou seja, em relação e em comparação ao que ele é. O termo nada é
407 ISAÍAS 40.12-31
“não existencia” e menos que nada é ־epes (“participante da não entidade”, “ex-
tremidade”, “término”, “o ponto em que a coisa passa de ser para não ser”.).
A expressão sem valor (tòhü) significa sem sentido e sem propósito (cf. 24.10).'
Deidade, ídolo e idólatra (40.18-20)
E o ponto culminante do primeiro conjunto de quatro estrofes. As per-
guntas iniciais (18) admitem apenas uma resposta e, depois, continuam sem
comentários até o ponto em que enfatiza essa resposta implícita ao expor a
patética inadequação da idolatria (um tópico central nos caps. 40— 48).12 O Se-
nhor criou todas as coisas ao passo que o ídolo é o produto de um artesão
humano (19a), e sua glória é apenas a que os seres humanos e o mundo (ambos
os elementos da criação divina) podem lhe dar (19b). Apenas reflete os recursos
daquele que o comissionou; o ídolo, em contraste com o Criador vivo e ativo, é
construído para ficar imóvel (20).3
18 A palavra ־ê/ {Deus) é a palavra mais transcendente daquelas usadas para
se referir a Deus, conotando domínio sobre tudo (42.5), divindade absoluta
(43.10,12; 46.9), a singularidade do Deus de Israel (45.14) e o Deus de prop()-
sito inescrutável (45.15). Contraste com esse o uso sarcástico em 44.10,15,17;
45.20; 46.6.
19 É possível que essa seja uma expostulação em resposta à pergunta do
versículo 18: “Com quem vocês compararão Deus? f...| Com uma imagem que
0 artesão funde, e que o ourives cobre de ouro e para a qual modela correntes
de prata?” O termo imagem (pesei) (BS) é específicamente uma imagem “eseul-
pida” ou “entalhada”, ao que passo que fu n d e / “grava” (ARC) refere-se a uma
1 P a re ce p ro v á v e l q u e a N V 1 , n o v e rsíc u lo 17, a lte ro u a o r d e m d o T M . O s e q u iv a le n te s sã o
f o rn e c id o s c m c im a d e ssa su p o s iç ã o .
2 S o b re a in s e n s a te z d a id o la tria v eja 4 1 .5 -7 ,2 1 -2 4 ,2 9 ; 4 2 .8 ,1 7 ; 4 4 .6 -2 0 ; 4 6 .1 -7 . A té 4 2 .1 7 , o
a rg u m e n to é c o m o íd o lo s se m s e n tid o s ã o c o m p a r a d o s c o m a g ló ria d o S e n h o r; d e 44 .6
c m d ia n te , o a r g u m e n to é c o m o o g lo rio s o S e n h o r é c o m p a r a d o c o m íd o lo s.
נM u ito s e s tu d io s o s c o n s id e ra m o s v e rsíc u lo s 19 e 2 0 in tru s iv o s n a e s tr u tu r a e in a d e q u a d o s
p a ra o te m a , i n t e r r o m p e n d o o p o n t o c u lm in a n te c ria d o p e lo v e rsíc u lo 18 e (de a c o r d o
c o m W h y b rav ) i n te r p r e ta n d o d e f o r m a e r rô n e a o v e rs íc u lo 18, “ q u e n ã o e s tá p r e o c u p a d o
c o m a in s e n s a te z d e fa z e r íd o lo s , m as c o m in c o r r e ç ã o d e c o m p a r a r o v e rd a d e iro D e u s
c o m o u tr o s d e u s e s ” . M as, e s tr u tu r a lm c n tc , a d ic io n a r o s v e rsíc u lo s 19 c 2 0 a o v e rsíc u lo 18
é o e q u ilíb rio e x a to d e a c r e s c e n ta r o v e rsíc u lo 2 6 às q u e s tõ e s d o v e rsíc u lo 25. A s q u e s tõ e s ,
e m c a d a c aso , tra z e m o v e rs íc u lo p r e c e d e n te a u m c o n tu n d e n t e p o n t o c u lm in a n te c fa ze m
u m a c o n e x ã o c o m u m a a p lic a ç ã o a d ic io n a l e final d o m e s m o tem a . N o s v e rsíc u lo s 19 e 20
o te m a é q u e a g ló ria d o C r ia d o r n ã o é d e f o r m a a lg u m a d e sa fia d a p e lo s d ito s d e u se s; n o
v e rsícu lo 2 6 o te m a é q u e o g o v e r n o d e ta lh a d o d o C r ia d o r n a h is tó ria é v is to e m se u g o -
v e rn o d e ta lh a d o n a s e strelas. A q u e s tã o n o v e rsíc u lo 18 n ã o c o n v id a d e fa to a c o m p a ra ç ã o
d o S e n h o r c o m q u a lq u e r c o isa, m as é u m a a s s e rç ã o in te rro g a tiv a d e su a in c o m p a ra b ilid a -
de. P o r fim , o s v e rsíc u lo s 19 e 2 0 n ã o e s tã o p r e o c u p a d o s c o m o p e c a d o d e fa z e r íd o lo s,
m as c o m a in u tilid a d e d o p r o d u to .
O LIVRO DO SERVO 408
(12). A pergunta com que essa estrofe final inicia é idêntica às perguntas dos
versículos paralelos 18-20. As estrofes também têm estrutura paralela: as ques-
tões iniciais, em cada caso, são seguidas de um exemplo ilustrativo. A relação
entre os versículos 18-20 e 25,26 é bem expressa por Salmos 96.5.
25 O verbo pergunta é “condnuar dizendo” (veja v. 1). O Santo é o sopro
fatal para qualquer pensamento de comparação! Não é apenas seu poder (12),
sabedoria (13,14), dignidade (15-17), soberania (22,23) e autoridade (24) que
o colocam além de qualquer comparação. Ainda muito mais relevante é sua
inatingível e incontestável perfeição moral. O Santo aqui, no original, é adje-
tivo sem o artigo definido como se Santo fosse outro nome para o Senhor:
“pergunta o Santo”. (Cf. o adjetivo múltiplo como um epíteto divino em
Oseias 11.12< 12.1 >; Pv 9.10; 30.3).
26 A palavra ergam é usada para adoração astral em Deuteronômio 4.19,
que era uma tentação para Israel já nesse período (2Rs 17.16; 21.3) e uma imen-
sa preocupação na religião babilônia. Mas por mais impressionantes que as
estrelas sejam, elas são criaturas. Elas podem ter nome em seus respectivos
cultos, mas o verdadeiro nome delas é aquele pelo qual o Criador as convoca
e as dirige. As estrelas existem e estão no lugar certo apenas pela vontade dele.
O termo criou (ib ã ra ) é o verbo que o Antigo Testamento (ao contrário das
literaturas cognatas) reserva para a ação divina (veja 4.5). Apesar de as estre-
las poderem ser incontáveis para nós (Gn 15.5), não existe uma a mais ou a
menos do que ele determina. A administração diretiva de Deus não é apenas
para a totalidade, mas para o individual (ele chama todas as estrelas pelo nome).
A tradução por grande é 0 seu poder adota a Q a, mas o TM devia ser mantido (“e
como alguém grande em poder”) para enfatizar que isso não foi revelado (lit.)
“abundância de poder” (não há o “seu” como na NV1), mas é um exercício
pessoal de soberania. Em relação à quarta estrofe (18-20), o objetivo dessa es-
trofe é indicar onde deve ser encontrada a verdadeira divindade — não no ídolo
feito pelo homem, mas naquele que fez os céus (SI 96.5). Em relação ao ponto
da disputa (27), seu propósito é trazer o argumento todo dos versículos 12-16
ao seu ponto culminante: o Deus Criador conhece pelo nome cada item em
sua complexa criação. Como ele, que é o Deus de Israel, pode ser acusado de
esquecer seu povo?
Desânimo e renovação (40.27-31)
A medida que Isaías examina a mensagem do desastre por vir (39.6) to-
mando posse de seu povo, ele dirige-se ao desânimo que inevitavelmente se ins-
talará. De um lado, da mesma maneira que a grande asserção da glória de Deus
Criador (12-26) tinha o objetivo de validar as promessas dos versículos 1-11
também, de outro lado, ela agora é aplicada como a cura para o coração desani-
mado que clama: “O Senhor não se interessa pela minha situação; o meu Deus
411 ISAÍAS 40.12-31
1 K id n e r, a d loc.
2 S o b re J a c ó / I s r a e l v eja 9 . 8 < 7 > ; 1 0 .2 1 ,2 2 , 14.1; 2 7 .6 ; 2 9 .2 3 ; 4 1 .8 ; 4 2 .2 4 ; 4 3 .1 ,2 2 ,2 8 ;
4 4 .1 ,5 ,2 3 ; 4 5 .4 ; 4 6 .3 ; 4 9 .5 ,6 . E s s e títu lo in d ic a c o m m u ita fre q u ê n c ia a p e s s o a p ra g m a ti-
c a m e n te c o n s id e r a d a c o m o u m a e n tid a d e te r r e n a , e n q u a n to “ S iã o ” su g e re u m a e n tid a d e
a o s o lh o s d e D e u s.
O LIVRO DO SERVO 412
da porção da vida, mas, em outro sentido, ele era tão poderoso quanto seu se-
nhor, pois se ele fosse molestado alguma vez, o senhor, o molestador, teria de
prestar contas disso.
8 Ser esse servo é um assunto de escolha divina (8b) e surge da fidelidade
divina. A promessa divina para Abraão continha um princípio de família en-
volvendo um compromisso igual com os descendentes/ “semente” de Abraão,
selados na circuncisão (Gn 17.7). A expressão meu amigo é (lit.) “quem me ama”.
Deuteronômio 7.7,8 diz que a eleição teve origem no amor divino, mas resulta
em amor que corresponde (ljo 4.19). N o entanto, o ponto aqui é provável-
mente apenas a intimidade do relacionamento e sua persistência na família da
aliança.
9 Ser esse servo é implementado pela ação divina. A frase dos confins da
terra [...] eu os chamei é uma expressão poética que se refere ao tirar Abraão de
Ur e Israel do Egito. É um sinal da influência divina toda a terra e da seleção
deliberada desse homem e dessa família. A eleição também é expressa pela
palavra divina {eu disse), e não é um assunto de pensamento obstinado nem
mesmo de opinião humana bem fundamentada, mas uma verdade da revelação.
O tempo perfeito disse ilustra o ambiente do tempo verbal hebraico: “eu disse”
(no momento em que a condição de eleito foi revelada pela primeira vez); “eu
tenho dito” (e continua a ser verdade); “eu digo” (definitivamente, como uma
questão de decisão estabelecida). Essa eleição carrega consigo uma garantia de
perpetuidade. A expressão não [...] rejeitei (h nã^as, “repudiado com desdém”) é
um tempo perfeito de determinação: “não determinei”.
10 A ordem para renunciar ao medo fundamenta-se na presença divina (a fra-
se estou com vocêé lit. “com vocé [pronome enfático eu] estou”) e no compromisso
divino pessoal (sou 0 seu Deus). A expressão não tenha medo (·Jsã‘â, “observar”; aqui
no tempo hitpael) significa “lançar olhares dessa e daquela maneira” como se
não soubesse para onde olhar em busca de segurança (17.7,8; 22.4; 29.9; 32.3).
Mais um motivo para não temer é a promessa de ajuda divina: fortalecerei, ajudarei
c segurarei são todos eles verbos no tempo perfeito de determinação. Cada um
deles é prefaciado pela partícula ,ap que sobrepõe um pensamento sobre o
outro: “Sim, o fortalecerei! Na verdade, o ajudarei! Porque o segurarei”. Sobre
segurarei (jtãm ak) veja Êxodo 17.12. A retidão moral e a imutabilidade de Deus
dão ainda mais garantia: m inha mão direita é “a mão direita da minha retidão”, ou
seja, aquela que implementa (a mão é o órgão de ação pessoal) meus propósitos
e caráter justos.
11,12 Esses versículos são a peça central dessa seção. Eles formam quatro
linhas de padrão equilibrado: “Eles amontoarão vergonha e desgraça — todos
que se enfurecerem com você!” Há um arranjo do tipo a-b-a-b: a experiência
do oponente (lia); o desaparecimento total (11b); a experiência do servo (12a);
419 ISAÍAS 41.8 -2 0
o desaparecimento total (12b). O todo da seção abre com a expressão hen que
significa “eis” (ARC) ou “veja” (NVI, certamente), exigindo atenção dramática.
O progresso da oposição é traçado da emoção {odeiam), da formulação de uma
queixa {os que o odeiam é lit. “os homens de seu processo”, ou seja, “aqueles que
têm um caso contra você”) e do envolvimento na luta {seus inimigos é lit. “os
homens de sua luta”, ou seja, “aqueles que se opõem ativamente a você”) até
a guerrja / declarada. N o entanto, da mesma maneira que a oposição aumenta,
também o faz sua ineficácia suprema: a raiva semeia “humilha[ção]” (11a), o
processo judicial fracassa (11b), os oponentes desaparecem (12a) e o inimigo é
reduzido a nada (12b, o mesmo vocabulário de 40.17). É uma coisa temerária
se intrometer com o servo de um senhor desses!
13 Esse versículo casa com o versículo 10 e completa a seção. C) compro-
misso do Senhor com seu servo é ser seu Deus, segurá-lo, falar em confiança e
ajudar. Os termos segura e di% são participios significando condição imutável. O
verbo ajudarei é um perfeito de determinação, aqui intensificado pelo pronome
enfaüzador, com o sentido de “eu mesmo me determinei a ajudá-lo”.
O verme transformado (41.14-16)
A segunda imagem de consolo é a de um indivíduo fraco que acaba por ser
dominante. Os três versículos são três estrofes de quatro linhas.
() resumo do juiz
A não entidade dos deuses; Os ídolos inúteis em
a condição dos idólatras (24) palavra e obra; a condição
dos idólatras (28,29)
1 N ã o h á e x e m p lo p a ra le lo d e s s e u s o d e “ p o n t o s f o r te s ” . SI 10.10, “ se u p o d e r ” , in d ic a a
p e rm is s ib ilid a d e d e p e r m itir q u e o c o n te x to p r o je te u m s e n tid o a d e q u a d o . S im o n ace ita
a c o r re ç ã o d e <asu m ô jêkem p a r a 'a zzfb ò jékem (“ se u s íd o lo s ”). E s s a f o r m a n ã o o c o r r e n a
B íb lia, a p e s a r d e o c o r r e r o t e r m o t־sabtíim (ls 10.11; 46.1).
423 ISAÍAS 4 1 . 2 1 - 2 9
para os idólatras trazerem seus deuses — com mais que um olhar de esguelha
nos “deuses” que têm de ser “tra[zidos]”l O desafio geral é nos diferem o que
vai acontecer e, a seguir, isso é dividido em dois aspectos específicos. Primeiro,
será que eles podem nos cont a r como eram as coisas anteriores e seu resultado (omite
o termo fin a l)} O convite é para explicar o fluxo da historia e a tendência dos
eventos passados. Q u e é o uso qualitativo do pronome interrogativo md\ “Que
tipo de coisas?” Em outras palavras, será que os deuses ídolos têm um senso
da história? Será que eles conseguem examinar um evento com discernimento
e dizer para onde ele levará? Será que eles, ao entender o passado, conseguem
predizer o futuro? Segundo, será que eles têm um poder absoluto de predição
(23)? Essa questão passa da capacidade para discernir o fluxo dos eventos para
a capacidade de controlar o fluxo dos eventos de modo que uma predição seja
cumprida. Responder de forma afirmativa a essas questões é provar que eles são
deuses. A frase façam alguma coisa, com a partícula 'a p prefixada, é como um urro
de escárnio. Uma vez que as palavras boa ou m á é uma expressão idiomática com
0 sentido de “o que quer que seja” (Gn 31.24), seria preferível ter “por que/na
verdade, façam qualquer coisa”! A expressão cheios de temor (sã'a) é “olhar com
espanto” (cf. v. 10). O segundo verbo é ou “temer” (w 'riira‘) ou “ver ( v fm r ie h f
com entendimento”, dependendo se seguimos o texto Ketiv ou Qeri. Ambos
os verbos se ajustam ao contexto. Os verbos são enfatizados pela última palavra
da frase “juntamente” (ARA) (yahdáw ), omitida pela NVI.
24 A suposição é que os desafios (22,23) são seguidos pelo silêncio dos
ídolos-deuses, e o juiz intervém para recapitular o que já fora dito. Esse ver-
sículo inicia com a palavra “vejam” (hên), que o liga com o versículo parelho
29 e torna-o uma preparação para a passagem 42.1. (Veja o esboço e a nota
introdutória.) A frase sois menos que nada (mê 'ayin) (ARA) podería ser traduzida
por “parceiros da não existência”. A expressão totalmente nulas ( m e 'e p a ) é uma
construção paralela. A palavra 1*e p a ‘ não é conhecida, mas pode derivar de ip ã 'ã
(“ofegar”; cf. 42.14) daí “gemo”, aqui simbolizando o que é insubstancial e
imperceptível. N o entanto, a maioria dos estudiosos corrige para 'ep es (como
em 40.17), com o sentido de “parceiro de inexistência”. As palavras os escolhe
contrasta com o versículo 8. O termo detestável é usado para o que aborrece o
Senhor (por exemplo, D t 7.25,26); as pessoas ficam como seus deuses (SI 115.8;
Jr 2·5)·
2 5 2 7 ־O Senhor registra sua declaração de que é ele quem inicia os mo-
vimentos históricos (25) e prediz o que acontecerá (26,27). Mas o mundo de
Isaías era cheio de prognosticadores e estava ávido para prever o futuro. Isso
levanta um problema psicológico de considerável dimensão se o Isaías dessas
passagens tem de ser datado nos anos babilonios (e, na verdade, de Ciro). Urna
asserção branda de que o Senhor prediz, mas os ídolos não podem merecer
apenas o comentário de Duhm de que o “Deuteroisaías não tem o mais leve
traço de autocrídca”. (Veja Whybray, que adiciona comentários de que “o pro-
feta não tenta ser justo com as religiões pagãs, cujos adeptos poderíam com
certeza produzir argumentos em defesa de seus deuses”.)1 Claramente, os as-
suntos não podem ser deixados assim, pois o profeta não dá a impressão de
ilusão paranoica nem suas apresentações equilibradas nos permitem achar que
ele negligenciou uma contestação óbvia. Para ele, fazer isso não só o marcaria
como alguém que “não tem o mais leve traço de autocrídca”, mas muito mais
simplesmente como um tolo.
N o entanto, nessa passagem, como de fato em 44.24— 45.7, a precisão da
declaração do Senhor merece mais atenção. E ele que desperta o conquistador
como se do sono para fazer sua vontade pré-determinada (25). A mente do Se-
nhor está por trás disso tudo. Ele predisse tudo antes de qualquer evento acon-
tecer (26,27). A palavra antedpadamente (ppãríim) (26) sempre tem seu sentido
definido pelo contexto, às vezes (como cm ISm 9.9) significando apenas “and-
gamente”, mas com mais frequência “dantes” (Js 11.10; 14.15; Jó 42.11, ARC).
De todo jeito, a sugestão é que a predição aqui antecedeu o “despert[arj”. No
versículo 27, levando em consideração a ordem das palavras, o entendimento
mais natural do hebraico não é “eu sou o que primeiro” (ARC) (isso, com certe-
za, exigiría hãrV sôn, na analogia de Jr 50.27), mas “a primeira coisa que aconte-
ceu foi que eu” (conforme sugere rV sôn). A argumentação dos versículos 5-7 é
que os ídolos-deuses expostos pelo fato de que só são sábios depois do evento;
a afirmação do Senhor é que só ele é sábio antes do evento e diz isso.2
25 O verbo desperteié um perfeito de certeza (cf. v. 2). Uma vez que esse con-
quistador anônimo se tornará de fato Ciro não é irrelevante o fato de que ele se
origina do leste {desde 0 nascente) da Babilônia, mas veio como um atacante do norte.
Mas o ponto principal é como no versículo 2. Aqueles (por exemplo, Whybray)
1 W h y b ray , p. 69.
2 W h y b ra y o b s e r v a e sse p o n t o e m se u s c o m e n tá r io s s o b r e o v e rs íc u lo 2 7 e e x p lic a -o ao
a s s u m ir a e x is tê n c ia d e p r e d iç õ e s n ã o re g is tra d a s n o A n tig o T e s ta m e n to . “ É e v id e n te q u e
a a u d iê n c ia d o p r o f e ta sa b ia is s o ” . E le s p o d e m a té m e s m o te r “ p ro fe c ia s a n te r io r e s d o
p r ó p r io D e u te r o is a ía s ” . S m a r t o b s e r v a q u e “ p o d e r ía s e r tra p a ç a d a p a r te d o p r o f e ta fa ze r
p re d iç õ e s c o n c e r n e n te s a C iro c o m b a se e m re la to s d e [seu] c a r á te r e t r iu n f o s c, a seguir,
r e p r e s e n ta r e sse s tr iu n f o s c o m o p r o v a d o p o d e r d o D e u s d e Isra e l p a r a re v e la r e c o n tr o -
lar o f u t u r o ” (p. 6 5 ). I s s o e n fa tiz a d e f o r m a m u ito c o n tu n d e n t e o s p r o b le m a s in e re n te s
à h ip ó te s e D e u te ro is a ía s e m re la ç ã o a o a rg u m e n to d e p re d iç ã o . A re c u s a e m e s tim u la r
a p r e d iç ã o d e u m n o m e p e s s o a l (4 4 .2 8 ; 45.1) p re c is a d e u m a d a ta n a c a rre ira d e C iro e,
p o r c o n s e g u in te , as p r e d iç õ e s “ d e s d e o p r in c íp io ” (tu “ d a n te s ” d e v e m s e r e x p lic a d a s in-
v o c a n d o as p ro fe c ia s p e rd id a s. A luz d e su a ê n fa s e n o a r g u m e n to d a p re d iç ã o , a fa lh a d o
“ D e u te r o is a ía s ” e m p re s e rv á -la s é u m p r o b le m a sério.
425 ISAÍAS 4 1 . 2 1 - 2 9
que introduzem Ciro nesse contexto com frequência argumentam que as palavras
proclamará 0 meu nome 1significam que ele se tornaria um adorador do Senhor, mas
esse é apenas um dos quatro sentidos das palavras q ãrahfY em (Gn 12.8; 13.4). Os
outros sentidos são: nomear uma pessoa ou coisa para uma função específica
(40.26; Êx 35.30); entrar em especial intimidade (43.1) e proclamar (Ex 33.19;
34.5). As próprias palavras e o contexto se ajustam ao entendimento de que
porque a ascensão e a carreira do conquistador casam com as predições pre-
cedentes, ele proclamará por meio de seus atos o nome do Senhor. (Veja mais
em 45.1-7.) Na frase piscd em governantes a última palavra {segãrüm) só é encon-
trada aqui em Isaías (cf. Ne 2.16; Jr 51.23,28). Não é uma palavra tardia, mas
é emprestada do acadiano e significa “governador provinciano”. Os termos
argamassa , oleiro e barro são, como sempre, uma imagem da soberania sobre um
objeto submisso (22.11; 27.11; 29.16; 43.1; 44.2).
26 Veja acima a nota introdutória sobre os versículos 25-27. A frase ele
estava certo é o uso forense de “justo”: “Ele tinha os direitos do assunto”/ “Ele
estava no direito”. O Senhor é recompensado com o veredicto, sendo seu caso
sustentado pela evidência do poder profético. Cada uma dessas três sentenças
começa com a partícula enfática e cumulativa ’ap (cf. 40.24) com o sentido
de “na verdade [...] sim, de fato [...] ó, sim, de fato” (Cf. a construção ’ap no
versículo 23 paralelo.) O primeiro verbo é genérico, “ninguém o revelou”; o
segundo (0 fe% ouvir) sugere um informante trazendo uma palavra do deus; e o
terceiro {ouviu) é o ápice, não há nada a relatar porque não há nenhuma voz a
ouvir! Ainda assim o mundo de Isaías estava cheio de mensagens de ídolo. A
força dramática é que ele vê os ídolos reduzidos ao silêncio pela evidência do
poder profético sem precedentes do Senhor.
27 Os comentaristas se apressam em corrigir esse versículo porque o he-
braico é staccato. Mas isso, conforme observa Simon, é evidência apenas de
intensidade dramática: “Desde o principio, eu disse a Sião: Veja, estas coisas
acontecendo! A Jerusalém eu darei um mensageiro de boas-novas”. Sobre o
termo princípio veja acima a introdução aos versículos 25-27. A expressão estas
coisas acontecendo é uma referência aos dramáticos eventos por vir. A frase um
mensageiro de boas-novas é o participio p ie l de ib a s a r , com o sentido característico
de “um evangelista”, alguém trazendo as boas-novas (veja 40.9; mas cf. ISm
4.17). A predição aqui se torna interpretação, não só profetizando eventos por
vir, mas formulando seu sentido para o povo do Senhor.12
1 O Antigo T estam ento usa o term o “servo” para descrever a relação do povo do Senhor
com o Senhor (SI 19.11 <12>). O s indivíduos se descrevem dessa maneira (por exemplo,
Moisés, Êx 4.10; Josuc, Êx 5.14; Davi, 2Sm 7.19 [cf. o paralelo com lC r 17.17ss.] e são
descritos dessa maneira po r outros (por exemplo, Moisés, Ê x 14.31; Abraão, Êx 32.13;
Davi, lR s 8.24). O título “servo do Senhor” é usado 24 vezes para Moisés e vinte para
Josué. O Senhor fala do “meu servo”, significando o povo de Israel (por exemplo, Lv
25.42), quatorze vezes, incluindo sete vezes em Is 40— 55. Ele tam bém se refere dessa
maneira a Moisés (seis vezes, p o r exemplo, N m 12.7), a Davi (21 vezes, p o r exemplo, 2Sm
3.18), aos profetas (nove vezes, p o r exemplo, 2Rs 9.7), a Jó (sete vezes, p o r exemplo, Jó
1.8) e a N abucodonosor (duas vezes, p o r exemplo, J r 27.6).
429 ISAÍAS 42.I-9
viam ao S e n h o r co m serv iço verdadeiro. E sse serv iço é an tes m o d e sto , sem
o ste n ta ç ã o , e altruísta, sem a u to p ro m o ç ã o . C aso se te n h a em vista um a d istin -
ção n o s três v erb o s ,gritará (¡saaq, “ b e rra r”) sugere aquele q u e assusta; clamará
(“le v a n ta r [a voz]”) indica u m a tentativa d e d o m in a r, calar os o u tro s; e erguerá
a vo£ (“ fazer sua v o z se r o u v id a ”) talvez sugira a u to p ro m o ç ã o . M as essas face-
tas n ã o d eviam se r im p o stas; a in te n ç ã o é criar u m a ên fase cu m u lativ a so b re
um m in istério tran q u ilo , n ã o agressivo n e m am eaçad or. Para esse se rv o n ad a é
inútil, n e m m e sm o o caniço rachado (seja c o m o fo r q u e ele foi rach ad o , esse n ão
é o p o n to ), caniço esse q u e é inútil c o m o a p o io o u para q u a lq u e r o u tra coisa.
T a m p o u c o , n ada (p o r exem plo, 0 paviofumegantè) av an ço u m u ito em d ireção ao
an iqu ilam ento. A s palavras n o s relatam , c o n fo rm e diz N o r th , “ n ã o o q u e o
serv o temd e fazer, m as apenas o q u e ele não temd e fazer. [E sse é] u m excelente
ex em p lo d e litotese, co m isso, a p re se n ta -n o s a alguém cuja tarefa é sem p rece-
d en tes e, p o r isso, só p o d e ser d escrita em te rm o s n eg ativ o s” .1
3c,4 A seg u n d a declaração de justiça (3c) en fatiza comfidelidade. O s dois
lados d a palavra ,'m et n ã o estão n u n c a se p a ra d o s e aqui se c o m b in a m para
a firm ar a fidelidade d o se rv o em sua tarefa e a seu sujeito. O “ fará” dele da
revelação divina (Justiça, v. 1) é feito co m fidelidade e d e a c o rd o co m a verdade.
As e x p re ssõ e s não mostraráfraqueja e nem sedeixaráferiru sam os v erb o s trad u -
zidos p o r rachado e fumegante n o versículo 3ab. ( ) serv o se e n c o n tra sujeito às
m esm as p re ssõ e s q u e fizeram o u tro s “ fu m e g a r” (fumegante,kêhã), m as ele não
“ fu m eg a” ( não mostraráfraqueja, ikãha). Files, d a m esm a fo rm a , ta m b é m estão
rachadofsj (p articip io passivo de ¡rasas), m as ele n ã o “ se d eix ará ferir” (não desa-
nimará |A R A |) n o se n tid o in tran sitiv o de re c e b e n d o ferim en to .12 N o c o n te x to , a
in te n ç ã o n ã o é d izer q u e o se rv o n ã o e n fre n ta rá so frim e n to , m as ap en as q u e as
p ressõ es e g o lp e s q u e im obilizam os o u tro s n ã o o deterão . E ste s o e n c o n tra rã o
an tes co m o s recu rso s in te rn o s a d e q u a d o s (não mostrarájraquetçà) e c o m u m a re-
siliência c o n tra os g o lp e s e x te rn o s ( nem sedeixaráferir).O te rm o estabeleça('¡sim,
“ a ssen tar o u p ô r”) é u sa d o em D e u te ro n ô m io 4.44 p a ra a “ a p resen tfação ]”
da lei d o S en h o r, p o r M oisés, d ian te de Israel. O q u e até aqui foi privilégio de
terra,a palavra en fatizad a n essa declaração final de
p o u c o s se to rn a rá a p o sse d a
justiça. A /«’está “ e n sin a n d o ” (veja 1.10). ( ) te rm o ilhasé relev an te aqui, indi-
can d o “ os lim ites m ais re m o to s da te rra ” (cf. 40.15). U m a tra d u ç ã o alternativa
da frase porãosuaesperançaé “ e sp e ra r” . Isso leva Y o u n g a v er o m u n d o se agitan-
d o c o m expectativa em a n tecip ação à v inda d o servo. A lex an d er p re fe re “ tem
de e sp e ra r” , p o is n e n h u m a o u tra revelação válida jam ais virá d essa m aneira. A
A O S e n h o r d a criação: o S e n h o r c o m o D eu s,
C ria d o r e d o a d o r de vida (5)
B O S e n h o r d o servo: o p ro p ó s ito universal d o S e n h o r d e aliança,
luz e lib erd ad e (6,7)
C O S e n h o r d o s falsos deuses: o S e n h o r dirige a histó ria,
o p a ssa d o e o fu tu ro (8,9)
1 Sobre a form a desses verbos com o “primeira pessoa do im perativo” veja Driver, 46 N4.
Cf. 41.23,28; ISm 14.36; 2Sm 17.12. O im perativo com a letra va!■· simples expressa pro-
pósito ou consequência.
O LIVRO DO SERVO 432
A C o n v o c a ç ã o para o m u n d o c a n ta r (10-12)
B O fu n d a m e n to d o cântico: o s a to s d o S e n h o r (13-17)
B1 O S e n h o r p o d e ro s o (13)
a1 O silêncio d iv in o (14ab)
b A s ilu straçõ es (14ab)
b1 A gravidez: in ten cio n alid ad e
(14cd)
b2 A d ev astação : ju lg am en to
(15)
b3 A liderança: salv am en to
(16a-d)
a2 O c o m p ro m isso d iv in o (16ef)
B2 A q u e d a d o s íd o lo s e d o s idólatras (17)
A seção A in tro d u tó ria (10-12) é sep arad a p elo inclusio [criar um a e stru tu ra
ao p ô r m aterial sim ilar n o início e n o final de u m a seção] “ seu lo u v o r d esd e os
co n fin s d a te rra ” (10) e “ nas ilhas p ro c la m e m seu lo u v o r” (12). O re sta n te do
p o e m a co n siste de cin co e stro fe s d e q u a tro linhas (13, 14, 15, 16a-d, 17) e a
afirm ação divina d e duas linhas (16ef). N ã o é possível d iz e r se o m aterial teve
o rig em n essa fo rm a o u foi tra z id o à fo rm a atual a fim d e c u m p rir sua função
c o m o u m p o n to c u lm in a n te da seção lid an d o co m o c o n so lo d o m u n d o gentio.
A m an eira c o m o a fala d o S e n h o r na p rim eira p e sso a (14-16) sep ara os versícu-
los 13 e 17 sugere um a re o rd e n a çã o d elib erad a de p o e m a s o rig in alm en te sepa-
rados, m as, se esse fo r o caso, a in serção foi feita c o m g ra n d e ta le n to artístico
e eficácia.
Smart, p. 89.
435 ISAÍAS 42.IO-I7
1 A s c o n s o a n te s d o T M ( / v í ) p r o d u z e m m a is p r o n t a m e n t e u m s e g u n d o sin g u la r (r ã Ita )
q u e o in fin itiv o a b s o lu to d o s m a s s o re ta s in d ica.
2 S o b re a c o n s tr u ç ã o d o v e r b o im p e r f e ito se m p a rtíc u la c o n e c tiv a e x p r e s s a n d o p r o p ó s ito
veja G K C 120c; D riv e r, p. 163 o b s.
441 ISAÍAS 42.18-25
profeta que vivesse entre eles podia falar assim, mas um profeta que olha adían-
te para a Babilonia através das lentes da queda de Jerusalém não podería falar de
outra maneira (6.9-12; 21.10).
Não “por quê?” mas “quem?” (42.23.24d)
Quando estamos em dificuldade nos apressamos a perguntar: “Por quê?”,
pergunta essa provocada pelo orgulho que clama: “Eu não merecia isso” e que
assume a capacidade da mente humana de avaliar todas as coisas por intermé-
dio de sua lógica. N o entanto, conforme Jó descobriu, sempre há dimensões
da condição humana não acessíveis à atual lógica humana e não há nenhuma
garantia de que o fato de entender a razão pela qual o problema veio sirva de
consolo e conforto para o indivíduo atormentado. Λο contrário, a verdadeira
questão é “quem?” — descobrir o agente do evento e, por meio desse conhe-
cimento, adotar uma posição de aceitação, confiança e esperança. A frase q u a l
de vocês/ “quem há entre vós” (ARC) mantém o equilíbrio dos termos “quem?
[...| quem?” do versículo 19. Isaías quer estabelecer um testemunho para o tempo
vin dou ro/ “depois”, ou seja, o futuro. Mais uma vez é difícil perceber como o
Deuteroisaías, vivendo entre os exilados na Babilônia, teria essa preocupação
com o futuro. Mas talvez o Isaías de Jerusalém quisesse preparar o povo para
estar em uma posição na qual pudesse interpretar os eventos indesejáveis con-
forme eles se desenrolavam. Que o Senhor é o agente por trás dos eventos é
a percepção exata da Bíblia, da história e da experiência pessoal. Não é uma
negação ou ignorância das “segundas causas”, mas um entendimento da “causa
primeira”: a constatação de que o Senhor não abdica da direção executiva so-
berana quando ele alcança seus propósitos por intermédio de outros e também
a insistência que é sempre com ele (e não com agentes secundários) de que
devemos lidar com tudo ao longo da vida. Por isso, os fatores morais (pecado,
não quiseram seguir, não obedeceram) são o ponto de articulação no qual a vida gira,
e não a esperteza em manipular as situações e “controlar” as coisas. Mas os
55 anos de Manassés no trono só merecem dezoito versículos do historiador
bíblico (2Rs 21.1ss.), pois qual é a importância final da astúcia política, do bri-
lhantismo na economia e das habilidades militares quando é a justiça que exalta
um povo e é o pecado que traz desgraça (Pv 14.34)? O pecado, como afronta
pessoal (0 Senhor, contra quem temos pecado \ih ã tã ^\, 1.4; 6.7) traz toda ruína. Não é
de surpreender que as perguntas: “Quem? [...] quem?” expressem um elemento
de dúvida se alguém vir as coisas desta maneira: ainda prevalece a relutância em
ver o Senhor como o agente e os fatores morais como decisivos.
S m art, p. 97.
445 ISAÍAS 4 3 .I - 7
O futuro (43.4)
A expressão visto que é “como resultado do fato que”. As palavras precioso,
honrado e amo são todas tempos perfeitos significando aqui o passado que conti-
nua no presente: “foste e ainda é”. Essas palavras falam do valor que o Senhor
vê em seu povo (precioso: cf. E f 1.18), a dignidade (honrado) que ele lhes conferiu
ao chamá-los de seu e o am [orj (Dt 7.7,8) que embasa tudo. Esse amor faz parte
da natureza imutável de Deus e, por essa razão, garante que, aconteça o que
acontecer, o relacionamento continua. O termo darei pode ter o mesmo sentido
do versículo 3 ou talvez, hipoteticamente, “daria” — o Senhor, caso surgisse
a situação similar à do êxodo e a fim de libertar seu povo, tivesse de destinar
todos os outros à ruína (homens é adam “humanidade”), ele está preparado para
fazer a escolha. Isaías nos mostra agora que escolha o Senhor fez nessa even-
tualidade (cap. 53) e, a seguir, que temos de esperar que o N ovo Testamento
esclareça toda a realidade (veja Jo 3.16; Rm 5.8). A expressão em seu lugar é “em
vez de” (veja v. 3).
A segunda jornada (43.5,6)
Se o compromisso de entregar a humanidade, se necessário, recebe agora
um contexto: o povo do Senhor espalhado pelo mundo. Da mesma maneira
como antes a escolha fora entre o captor, Egito, e a ameaçada Israel, o mesmo
aconteceria se o mundo também se tornasse o captor, e Israel ainda seria a
escolhida, pois assim é o amor do Senhor por seu povo. Isaías, portanto, está
olhando muito além de qualquer ameaça que a Babilônia possa representar. O
exílio babilônio, em princípio, não foi maior que a jornada egípcia e, na prática,
foi muito mais tolerável e menos ameaçador. Um chamado para voltar da Babi-
lônia não envolvería discursos divinos para alcançar os quatro pontos cardeais.
Smart observa que essa outra reunião universal pressupõe “pelo menos na ima-
ginação” um ponto de vista palestino. Confinar essas expectativas da volta da
Babilônia “reduz suas bombásticas concepções escatológicas à banalidade”.1
Isaías raramente, se é que o fez alguma vez, lida com a história sem se lançar
naquelas visões que para ele são a solução final para as situações históricas di-
ficéis do povo de Deus. Isso também acontece aqui. Ele está para mencionar
a Babilônia (14), mas, caso seus ouvintes cultivassem percepções equivocadas
sobre essa libertação (cf. Lc 19.11), ele puxa a cortina mais para trás a fim de
expor uma outra reunião universal. A frase trarei seus filh o s ajuntarei você indi-
ca a continuidade do povo do tempo escatológico com aqueles a quem Isaías
falava. As expressões m eus filh o s, m inhas filh a s indicam a continuidade da relação
com o Senhor, fundamentado na redenção (Ex 4.21).
S m art, p. 97.
O LIVRO DO SERVO 446
A A promessa (14,15)
a1 O Senhor, o santo Redentor (14b)
b A destruição da Babilônia (14c-e)
a2 O Senhor, o santo Criador e Rei (15)
O LIVRO DO SERVO 450
B O padrão (16-21)
a1 Um caminho através das águas; um povo destruído (16,17)
b1 As novas coisas prometidas (18-19b)
b2 As novas coisas descritas (19c-20b)
a2 A água no deserto; um povo salvo (20c-21)
1 Q u a n t o Isa ía s p r e te n d ia q u e se u s o u v i n te s / l e i t o r e s e x p lo ra s s e m o s e n tid o d o in c id e n te
d o m a r V e rm e lh o ? T u d o s o b r e ele é re le v a n te p a ra e ssa p a s s a g e m . F o i o d e s f e c h o d a vi-
tó ria d o S e n h o r s o b r e o E g ito (E x 1 4 .1 -4 ), u m a d e m o n s tr a ç ã o p a ra se u p o v o d a sa lv aç ão
final (E x 1 4 .1 3 ,1 4 ,3 0 ,3 1 ) e u m a im a g e m d a s o b e r a n ia d o S e n h o r ta m b é m s o b r e as fo rç a s
h u m a n a s e n a tu ra is . E le m o s t r o u q u e as a p a rê n c ia s p o d e m s e r e n g a n a d o r a s (E x 1 4 .10-12)
e q u e o q u e p a re c ia d e s e rç ã o d iv in a e ra , n a v e rd a d e , o m e io d o b e n e fic io su p re m o .
2 E m v e z d e n 'h ã rô t (“ r io s ” ), Q a tra z n’ ñ b ó t (“ v e re d a s ” ), u m p a ra le lis m o c o m “ c a m in h o ”
q u e m e re c e e x am e.
O LIVRO DO SERVO 452
N ã o fica c la ro o q u e o te x to d a N V 1 e s tá s e g u in d o aq u i. P a ra o T M , v eja o c o m e n tá r io
s o b r e o v e rs íc u lo 22.
O LIVRO DO SERVO 454
que eles talvez esperassem agradar a Deus, eles o cansaram (24; 1.14); no ponto
em que eles assumiram com mais zelo estarem corretos, provaram apenas que
ainda estavam em seu pecado.
Os versículos consistem de cinco parelhas de versos destinadas a mostrar
como as obras humanas contradizem a vontade de Deus:
24 A cana arom ática era usada no óleo de unção (Êx 30.23; Jr 6.20). A ex-
pressão m e saciou é (lit.) “me saturaste”, ou seja, tens me enchido (TB) ou satis-
fez-me. K gordura era a porção do Senhor (Lv 3.16,17). A verdade (aqui expres-
sa de forma antropomórfica) de “satisfazer” o Senhor está no cerne de toda
religião. O ponto não é que ela deve agradar, ajudar, etc. as pessoas, mas que
deve agradar e satisfazer a Deus. “A verdadeira religião tem de se conformar à
vontade de Deus conforme seu padrão inerrante”.1 Sobre sobrecarreguei/^ncm
me saciou” (BJ) veja o versículo 23c. Eles achavam que pela técnica do sacrifí-
cio podiam fazer Deus atender seu pedido. Os termos pecados é h a lla ’/ e ofensas
é 'ã w ô n (veja 6.7).
A b ê n ç ã o so b re os d e sc e n d e n te s (44.3c-4)
O te rm o derramarei n ã o só tra n sp o rta a verdade expressa pelo m e sm o verbo
na estrofe p reced en te, m as é um c o n traste planejado co m envergonharei na estrofe
paralela (28). A im agem d o versículo 3ab é substituíd a pela realidade d e m eu E sp í-
rito (cf. 59.21). D a m esm a m aneira, a realidade negativa de p u rificar e esq u ecer o
p assado (25) se to rn a a realidade positiva da nova vida vinda d e D eus. E m 3ab, a
ilustração é d e n o v a vida tran sm itid a; ag o ra a im agem (4) se d esen v o lv e naq u ilo
d e m o n stra d o pela n o v a vida. N ã o é fácil n o to d o p e rc e b e r c o m o a N V 1 che-
g o u à frase como relva nova [...] junto a regatos, m as o te x to Q fb ên hãsir) d o T M tem
sido o su jeito de m uitas c o rre ç õ es sugeridas.1 É v erd ade q u e o te rm o hên, na
m aio ria d o s ex em p lo s, é u sa d o c o m o u m a p re p o siç ã o (“ e n tre ”), m as ele, c o m o
m u itas p re p o siç õ e s h ebraicas, é o rig in alm en te u m su b sta n tiv o (“ u m [lugar] en-
tre ” , “ u m ‘e n tre -m e io s’ ”), e este ta m b é m é b e m ex em plificado.2 A qui, “ en tre
a erv a” (ARC) significa “ em m eio à relva n o v a ” e é u m a im ag em geral d e n o v o
cre sc im e n to e fertilidade b em irrigada.
m es, um /... / outro /.../ ainda outro (peh /.../ %eh [...] %eb), fo rm a m u m inclusio [criar
u m a e stru tu ra a o p ô r m aterial sim ilar n o início e n o final d e u m a seção] co m
o e n fá tic o “ eu, eu m e s m o ” de 43.25,26. O b se rv e ta m b é m o m e sm o u so de
t(eh n o salm o c o n te x tu a lm e n te id ê n ü c o 87.4-6. A asso ciação d o p o v o d e D e u s
(no p a d rã o d o re m a n e sc en te d e Isaías; 8.11-20) é u m a ssu n to d e c o m p ro m isso
p essoal. A o b ra d o E sp írito de D e u s (3) está ev id en te na re sp o sta individual e
em u m p o v o co n fessio n al. V oltar-se p a ra o S e n h o r (5ac) en v o lv e v o lta r para seu
p o v o (5bd); u m é in separável d o o u tro . O s v e rb o s dirá, chamará e escreverá são,
resp ectiv am en te, te ste m u n h o s pessoais de p e rte n c e r ao S e n h o r, a identificação
c o m seu p o v o e o c o m p ro m isso da vida ded icad a ao S en h o r. (S obre a mão c o m o
a p esso a, c o m o agente, veja D t 6.8.) A ex p ressão tomará p a ra si 0 nome (íkã n â ) é
u sada para p e g a r um n o m e adicional a fim de reg istrar u m a n o v a situ ação o u
co n d ição . O fluxo d o c o n te x to até esse p o n to exige q u e a referên cia aqui seja
à d e sc e n d ê n c ia de J a c ó /I s r a e l, o u seja, n ã o os g e n tio s v in d o à fé n o S e n h o r e à
asso ciação co m seu p o v o (co m o SI 87), m as os israelitas fo rm ais se to rn a n d o
v erd ad eiro s israelitas; o p o v o de D e u s, p o r in te rm é d io d o E sp írito d e D eu s,
to rn a n d o -s e tu d o q u e eles dev em ser.
A l Rei e R e d e n to r, o ú n ic o D e u s (6)
B O D e u s in co m p aráv el, o S e n h o r da h istó ria (7)
A 2 C o n fo rta d o r, R evelador, R ocha, o ú n ic o D e u s (8)
6 S o b re o s títu lo s rei /.../ e [...) redentor veja 43.14,15. O títu lo Senhor dos
E xército s/ “T o d o -P o d e ro s o ” (N T L H ) (veja 1.24) o c o rre aqui p ela p rim e ira vez
n o s cap ítu lo s 38— 55 e d á início ao c o n tra ste e n tre o S e n h o r e os íd o lo s. E le é,
em si m esm o , to d o p o d e r possível (e u sa-o c o m o re i/p a i e re d e n to r /p a r e n te
m ais p ró x im o p a ra a b ê n ç ã o d e seu p o v o ; v. 8). O s íd o lo s têm o rig em n o p o d e r
h u m a n o e n ã o exercem n e n h u m p o d e r em troca. O último n ã o é aqui c o m o
“ co m os ú ltim o s” em 41.4 (em q u e o p e n sa m e n to é d e d ireção in te n c io n a l da
história). A qui a d eclaração to d a, eu sou 0 primeiro e eu sou 0 últim o, diz resp eito
à n a tu re z a d e D eu s. E le, c o m o o primeiro, n ã o deriva sua vid a d e o u tro lugar
(co n trasta c o m o s ídolos; vv. 10-17), m as é a u to e x iste n te e au to ssu ficien te; ele,
c o m o o ú ltim o , p e rm a n e c e n o fim , su p re m o e to ta lm e n te c u m p rid o . O te rm o
>elõh~1m é o su b sta n tiv o c o m u m para D eu s, m as à luz d e u m a palavra d istin ta
na frase p arelh a n o versícu lo 8, é provável q u e d ev am o s d a r a ela u m sa b o r
característico c o m o u m plural d e am p litu d e: “ D e u s na p le n itu d e e to talid ad e
d o s a trib u to s d iv in o s” .
7 U m d esafio (quem há, como eu [ARA]) é seg u id o das c o n d iç õ e s q u e têm de
ser satisfeitas a fim d e a firm a r a co m p arab ilid ad e. O te rm o anuncie/ “ c h a m a rá ”
(sem n e n h u m o b je to declarado) é o v e rb o iq ã ra u sad o (c o m o em 40.26) para
rístic a d c lo u v o r ” , e W e s te r m a n n re c la m a q u e o m e s m o la v é e s tá a u s e n te , c o m o e s tá c m
q u a lq u e r r e fe rê n c ia d a c o n d u ta d o S e n h o r c o m Isra el. M as o s d o is c o m e n ta r is ta s tira ra m
o s v e rsíc u lo s d e se u c o n te x to , e m q u e s o b e ja m t o d o s e sse s tó p ic o s . CD f a to é q u e n ã o c o -
n h c c c m o s o c o n te x t o o rig in a l d e s s e s v e rsíc u lo s e n ã o te m o s o d ir e ito d e a s s u m ir q u e falta
a e sse c o n te x to as n o ta s d e lo u v o r, e tc. E le s, p o r s u a v e z , e s tã o m u itís s im o b e m s itu a d o s
e m se u c o n te x to a tu a l c o m u m a c lara f u n ç ã o a c u m p rir. D iz e r c o m N o r t h q u e se e les es-
tiv e ss e m a u s e n te s n ã o fa ria m fa lta é n ã o to m a r c o n h e c im e n to d a a p re s e n ta ç ã o c o e r e n te ,
d e 4 2 .1 8 c m d ia n te , d a d u p la n e c e s s id a d e d c Isra el e d a d u p la r e s p o s ta d o S e n h o r.
461 ISAÍAS 4 4 .6 -2 0
1 P a ra m issü n íl (“ d c s d c / c m c o m p a r a ç ã o c o m m e u d e s i g n a d o ” ), K is s a n e p r e f e r e m a s m ia ‘
m e ‘ô la m (“ a q u e le q u e a n u n c io u e m te m p o s a n tig o s o q u e s u c e d e u ta m b é m d e c la ra rá o
q u e e s tá p o r v ir” ). B I I S ( cf. o RSV ) tra z rríi h is m ia ’ m ê'òU 1m õ tiyyô t... lãnit.
2 W e s te r m a n n , ad loc.
3 O te rm o alfírhít (n ã o te r m e d o ) a p r e s e n ta u m v e r b o n ã o e n c o n t r a d o e m o u tr a p a ssa g e m .
B D B p r o p õ e , c o m o te n ta tiv a , ■irãhci (te m e r), o q u a l D e litz s c h a firm a . D o á ra b e , KB o fe -
re c e iyãrâ (“ e s ta r e s tu p e f a to d e m e d o ”). Q a tra z ,a l t i r ’i , a f o r m a p a d r ã o p a ra “ n ã o te r
O LIV RO DO SERVO 462
0 íd o lo n ã o p o d e se elevar a c im a d o m e ra m e n te h u m a n o (44.10-13)
Isaías a p o n ta p a ra a m era h u m a n id a d e d o s a rtesão s (10,11), sua fragilidade
(12) e as c o n c e p ç õ e s c o n tro la d a s p elo h o m e m c o n d u z e m sua teo lo g ia (13).
1 A p e s a r d e o s e n tid o d o v e rsíc u lo 12 n ã o le v a n ta r d ú v id a s , o te x to le v a n ta q u e s tõ e s . E le
c o m e ç a c o m a d e c la ra ç ã o : “ O f e rre iro a p a n h a u m a fe rr a m e n ta c tra b a lh a c o m ela n a s b ra -
s a s” . M e s m o se s u p o r m o s u m s e n tid o m ais a b r a n g e n te p a ra ma “sad ( te r m o e n c o n tr a d o
a p e n a s c m J r 10.3) c o m o a lg u m tip o d e “ c o r ta d o r , fe rr a m e n ta d e c o r te ” , n ã o c h e g a m o s
a u m a s in ta x e p a ra as p a la v ra s iniciais. C) instrumento (T b ) p o d e s e r u m su je ito s e c u n d á rio
d e n o ta n d o a c o is a u sa d a c o m o fe rr a m e n ta c, e fe tiv a m e n te , c o m o s e n tid o d e “ c o m u m a
f e rr a m e n ta ” (cf. SI 4 4 .3 ; G K C 144 1, m ; veja 4 1 .7 ). O t e r m o “ tr a b a lh a ” p o d e se r e n te n -
d id o c o m o a s e p a ra ç ã o d o v e r b o p rin c ip a l d e u m su je ito e n f á tic o p r e c e d e n te p o r u m m m ׳
apodisis·. “ P e g u e u m f e rre iro c o m u m a fe rr a m e n ta — ele tr a b a lh a ” . N o e n ta n to , m u ito s in-
sis te m n a n e c e s s id a d e d e f o r n e c e r u m n o v o v e r b o c o m o s s u b s ta n tiv o s iniciais e s u g e re m
a a d a p ta ç ã o d a ú ltim a p a la v ra (yahad , “ ju n ta m e n te ” [A R C ]) d o v e rsíc u lo 11 p a ra yàhèd (o
hiphil d e ·!hadad, “ e s ta r a fia d o ” e, d aí, “ a fia r” ), tr a d u z in d o - a p o r: “ afia su a fe rr a m e n ta e
tr a b a lh a ” (veja BUS). K is s a n e e S im o n a lte ra m nudasãd p a ra n f ’asseh (“ o f e rre iro c o r ra ”).
D e litz s c h in s e re /o, “ o f o r ja d o r d e m e ta is te m u m a f e rr a m e n ta ” .
O LIVRO DO SERVO 466
um a lin h a ”), os três im p e rfe ito s m o stra m o p ro g re sso d o tra b a lh o (faz u m es-
b o ç o co m u m tra ç a d o r; ele o m o d ela to sc a m e n te co m fo rm õ e s e o m arca co m
c o m p a sso s) e o p e rfe ito final (fa!$ n ã o o v e rb o tra d u z id o assim n o v. 12) m o stra
q u e o tra b a lh o c o n tin u a “ [até] faz[er]” o ídolo. O s v erb o s fasç u m esboço e modela
são a m esm a palavra ( f_ ta “reh ü ) e deviam te r a m e sm a tra d u ç ã o {{fasç u m esboço
\—\J a Z um esboço”), d o c o n trá rio a ênfase p re te n d id a na ap arên cia final d a coisa
se p e rd e e, c o m ela, a sen sação d e cu lm in ân cia à m ed id a q u e ch e g a m o s à frase
na form a de homem. N ã o h á n ada co n ceitu ai a se extrair d o p ro d u to te rm in a d o a
n ã o ser a n o ç ã o d e m ais elevado q u e o a rte sã o co n h ece: de u m homem em toda a
sua belesça/à semelhança e beleza de u m homem (A RA ). O santuário é “ casa” e p ro v a-
v elm en te é u sa d o aqui em seu se n tid o c o m u m ; n isso ta m b é m o “ d e u s” é c o m o
u m a p e sso a co m u m estilo d e vida m o d e la d o se g u n d o seu fab rican te.
1 A f o r m a tinnãsêríi é u m p a s s iv o c o m u m s u fix o e x p r e s s a n d o u m o b je to in d ir e to (D a v id s o n ,
7 3 / 4 ; cf. SI 1 0 9 .3 ; Z c 7 .5. G K C \ 17x o b s e r v a q u e “ às v e z e s o o b je to m ais d is ta n te [...] e s tá
in d ir e ta m e n te s u b o r d in a d o n a f o r m a d e u m s u fix o a c u s a tiv o ” . G A L ’re je ita se m e x p lic a-
ç ã o o e x e m p lo atu a l, f a z e n d o a m e s m a c o r re ç ã o q u e a R H S (o n ã o e n f á tic o lõ ' tin'seríi,
“ n ã o m e e s q u e ç a ”).
2 W e s te rm a n n , p. 144.
D. A grande libertação
(44.24— 48.22)
E ssa n o v a seção, ju n to co m sua seção paralela 49.1— 53.12, c o n stitu i o
p ró x im o p a sso lógico na a p re se n ta çã o d e Isaías, e os p aralelo s e n tre os dois
ag en tes en v o lv id o s são d e se n v o lv id o s de fo rm a m u ito próxim a:
A In tro d u ç ã o : o an ú n c io de si m e sm o d o S e n h o r (24a-c)
B O p rim e iro m o v im en to . O passado: só u m D e u s (24d-f)
C O seg u n d o m o v im en to . O se m p re p resen te: só u m a p alav ra (25,26)
D O terceiro m o v im en to . O fu tu ro : só u m p ro p ó s ito (27,28)
1 W ad e a c h a q u e é u m a r e fe rê n c ia à s e c a g e m d o m a r c o m o n a c ria ç ã o p a ra d e ix a r a te rra
se c a a p a re c e r, m a s b e m à p a r te d o fa to d e q u e G ê n e s is n ã o faz re fe rê n c ia a s e c a r o m ar,
q u a l se ria a re le v â n c ia d is s o aq u i? D e litz s c h e n c o n tr a u m a a lu s ã o a o e s tra ta g e m a d e C iro
d e d e s v ia r as á g u a s d o E u f r a te s p a ra g a n h a r a c e s s o à B a b ilô n ia , m as, d e a c o r d o c o m
Y o u n g , o s “ re g is tro s c u n e if o r m e s d e m o n s tr a m q u e o re la to d e H e ro d e s [so b re o d e sv io
d o E u fra te s ] n ã o é d e fe n s á v e l” .
2 O s reis e ra m c h a m a d o s d e “ p a s to r e s ” p o r s e re m o s g u a rd iõ e s d e se u p o v o (veja 2 S m
2 4 .1 7 ; l R s 2 2 .1 7 ; Is 5 6 .1 1; J r 2.8; E z 3 4 .2 ,5 ,7 ,2 3 ).
5 W h y b ra y a r g u m e n ta q u e se o v e rsíc u lo 27 se re fe re a o ê x o d o , e n tã o ele e stá fo ra d a o r d e m
c r o n o ló g ic a . P o r q u ê ? S e g u in d o a d e c la ra ç ã o d e le d e q u e J e ru s a lé m se rá h a b ita d a (26), o
S e n h o r g a r a n te a o s n o v o s h a b ita n te s p a s s a g e m se g u ra p a ra casa (27). E s s a é a “ c r o n o lo -
g ia ” d a p a s s a g e m . O v e rsíc u lo 2 8 c re s e r v a d o p a ra s e r o p o n t o c u lm in a n te final.
O LIVRO DO SERVO 476
1 N o r t h , Isa ia h , p. 89.
2 D O T I] p. 82.
יN o r t h , Isa ia h , p. 8 7 -8 9 ; Second Isa ia h , p. 148 -1 5 1 .
4 D O IT , p. 92ss.
O LIV RO DO SERVO 478
1 S k in n e r, p. 59.
2 J. A. M o ty e r, “A n o in tin g ” , IB D .
479 ISAÍAS 4 5 - 1 - 8
A lid e ra n ç a d iv in a (45.2)
( ) p ro n o m e eu é enfático, “ eu m e s m o ” (BJ). O te rm o m ontes (h“dür~1m ) 1 n ão
é c o n h e c id o em o u tro s lugares c o m o um su b sta n tiv o e p arece u m p a rticip io
p assivo q a l de i ha da r (“ h o n ra r”). O adjetivo hã d ãr tem às vezes u m se n tid o
físico; é u sa d o para á rv o res altas (Lv 23.40) e d e ap arên cia im p re ssio n a n te , b em
c o n stitu íd a (Is 53.2). P o rta n to , é possível q u e o v e rb o te n h a u m a am b iên cia
paralela e p o ssa significar (na v o z passiva) “ le v a n ta d o ” , daí, seu u so aqui para
barreiras, natu rais o u artificiais, n o c a m in h o d o c o n q u ista d o r.
O p ro p ó sito d iv in o p a ra o m u n d o ( 4 5 .5 b 6 ־c)
Λ ex p ressão além de m im inicia um a n o v a e stro fe aqui. E la re p e te o p en sa-
m e n to final da e stro fe p re c e d e n te e, depois, alça a carreira d e C iro a u m a nova
dim ensão. Se ele tivesse c o n h e c im e n to d o ú n ico D eu s, q u e tã o p ro n ta m e n te
critica o s deu ses q u e são apenas p a rte da reação da h u m a n id a d e ao q u e a vida
lhes im p õ e (41.1-7), se seguiría u m a revelação universal. U m p a sso tão sim ples
co m u m a tre m e n d a c o n se q u ê n c ia foi su spendido! A frase eu 0fortalecerei é um
te m p o im p e rfe ito de ação c o n tín u a (“ eu te cingirei” [ARC], o u seja, lhe darei a
valentia para c u m p rir m eu s p ro p ó sito s). A qui C iro está n a m e ta d e d a carreira,
cingido pela ação m ilitar, m as ainda sem o c o n h e c im e n to d o D e u s de q u e m é
u m in stru m e n to . A so b eran ia d o S e n h o r é ab so lu ta, n ã o anula a resp o n sab ili-
d ad e n em exige c o o p e ra ç ã o co n scien te. O c o n h e c im e n to d e D e u s n o m u n d o
to d o {do nascente ao poente) foi p ro m e tid o p o r in te rm é d io d e A b ra ã o e seus des-
c e n d e n te s (G n 12.1ss.; 22.18) e d o rei davídico (SI 72.8-11), e Isaías está ligando
essas idéias m u ito p recio sas a Ciro. T e m o s de te r isso em m e n te q u a n d o passar-
m o s p ara o s versículos 9-13.
A o ra ç ã o e a re sp o sta (45.8)
E sse versículo é o u tro caso em q u e as dificuldad es te x tu a is1 n ã o o b scu re-
cem o se n tid o global. E le, em essência, é u m a o ra ç ã o pelas ch u v as celestiais que
p ro d u z irã o fru to s de b ê n ç ã o s so b re a terra. N o c o n te x to (seja qual fo sse seu ce-
n á rio original n o m in istério de Isaías) é o p ro d u to de u m a m e n te e co ração que
n ã o p o d e m ag u e n ta r n e n h u m a d ia m e n to nas realizações d o s b en efício s que
v irão a Israel p o r in te rm é d io d e Ciro. Λ N V I segue o Q a n a leitu ra d e u m v erb o
sin g u lar (brote) o n d e o T M traz o v e rb o n o plural. Sua tra d u ç ã o p o r cresça com
ela re p re se n ta um v e rb o (um hiphil de isãm ah) q u e é invariav elm en te transitivo
n o se n tid o (“ c rescer” , “ p ro d u z ir”). N o e n ta n to , o T M p o d e se r p re se rv a d o se
tra n s fo rm a rm o s “ salvação” e “ re tid ã o ” n o s sujeitos d o v e rb o n o p lural “ eres-
ç a m ” e e n te n d e rm o s “ te rra ” c o m o o sujeito d o v e rb o fe m in in o n o singular
“ c r e s ç a /p r o d u z a ” (ARC) em 8e:
A A o ra ç ã o (8a-e)
a1 A im agem da chuva
chova, ó céus, d o alto (figura)
e deixe q u e as p ró p ria s n u v e n s d estilem retid ão
(realidade)
a2 A im ag em d e cre sc im e n to
deixe a te rra se ab rir (figura)
a retid ão ser p ro d u tiv a (realidade)
deixe fazê-los crescerem ju n to s
B A g a ra n tia (8f)
E u m esm o , o S en h o r, co m c e rteza criarei isso (p ro m essa)
1 A s m e s m a s id éia s d c s u b m is s ã o e ig u a ld a d e s ã o e n c o n tr a d a s , p o r e x e m p lo , n o s a lm o 47.
N o sa lm o , o s v e rs íc u lo s l - 5 < 2 - 6 > e 6 - 9 < 7 - 1 0 > , c o r r e m e m p a ralelo . N a p rim e ira seção ,
a re alez a d o S e n h o r sig n ifica q u e “ ele su b ju g a rá o s p o v o s s o b n ó s ” (v. 3 < 4 > ) ; n o v e rsíc u lo
p a ra le lo 8 < 9 > , o s n o b r e s d o s p o v o s se r e ú n e m “ c o m o o p o v o d o D e u s d e A b r a ã o ” . O
p e n s a m e n to d e Isa ías e s tá e n r a iz a d o n a a d o r a ç ã o d e Israel.
483 ISAÍAS 4 5 . 9 1 3 ־
a. O oleiro e o pai (4 5 .9 -1 1 )
9 O te rm o contende/ “ e n tra na justiça, e n tra c o m ação c o n tra ” n ã o ex p ressa
0 p e n s a m e n to d e re sistir ao q u e D e u s está fazendo, m as o d e d iscu tir o d ireito
dele d e fazer isso. A palavra C riador i/y à sa r) é usad a e sp ecíficam en te p ara um
“ o le iro ” (43.1). O a rte fa to {um caco [om ite p a ra aquele que é, mas]) n ã o p o d e ques-
tio n a r o artesão , n ã o p o rq u e n ã o fala, m as p o rq u e a a u to rid a d e d este n ã o p o d e
ser q u e stio n a d a . N e sse sentido, n e n h u m a peça de argila é d ife re n te de q u alq u er
o u tra. T o d o s o s cacos o c u p a m a m esm a p o siç ã o d e total su b o rd in a ç ã o a um a
so b e ra n ia total. A p erg u n ta: “O que você está fazen d o ? ", q u e stio n a ria a in te n ç ã o do
o leiro ; e a frase: “você não tem m ãos”,' sua habilidade. E m relação ao p la n o Ciro,
essa crítica era inevitável. O q u e o S e n h o r estaria p e n sa n d o ao d e stru ir n o ssas
esp eran ças? C o m o ele p o d e ría ser b e m -su c e d id o ao u sa r um c o n q u ista d o r para
libertar? Pois, ao u sa r um c o n q u ista d o r g e n tio para lib e rta r Israel, colocava so b
am eaça n ã o só o o rg u lh o da nação, m as ta m b é m as p ro m e ssa s d o S en h o r. O
povo, so b o c o m a n d o de u m lib e rta d o r g en tio , p o d e ría em p rin c íp io v o ltar à
m esm a situ ação da qual tin h a m sido d e p o rta d o s. O s te m p o s d o s g e n tio s co n -
tinu ariam em Jeru salém . N ã o havería E s ta d o so b e ra n o , n e n h u m reav iv am en to
davídico! O p la n o C iro era o d o b ra d o d e finados p a ra to d as essas esperanças. É
claro q u e te m o s o b en efício d o o lh a r em re tro sp ectiv a e sab em o s q u e a q u e b ra
d o m o ld e d a n a ç ã o d o p o v o d e D e u s foi delib erad a a fim de q u e a fo rm a der-
radeira d e Israel em ergisse na igreja d o S e n h o r Jesu s C risto. T a m b é m sab em o s
q u e a su b m issã o d o s g e n tio s (14-25) é asseg u rad a pela su b m issão d o s te m e n te s
a D e u s n o m u n d o in teiro ao ev an g elh o (A t 15.13-18; 1C o 14.24s.). M as o pes-
soai de Isaías co n seg u ia ver apenas u m g o lp e cruel às esp eran ças q u e tin h a m , a
tro c a d e u m a su b ju g ação p o r o u tra , e sua lógica estav a c o rreta. O a n d g o m o ld e
1 F a lta à tra d u ç ã o p o r “ n ã o te m m ã o s ” q u a lq u e r e x e m p lo d e te r m in a d o d a p a la v ra y ã d c m
a p o io . E m to d o c aso , u m a a c u s a ç ã o d e tr a b a lh o in c o m p le to n ã o é p a r tic u la r m e n te rele-
v a n te aq u i.
O LIVRO D O SERVO 484
1 A s m e s m a s id éia s d e s u b m is s ã o e ig u a ld a d e s ã o e n c o n tr a d a s , p o r e x e m p lo , n o s a lm o 47.
N o sa lm o , o s v e rs íc u lo s l - 5 < 2 - 6 > e 6 - 9 < 7 - 1 0 > , c o r r e m e m p a ralelo . N a p rim e ira seção ,
a re a le z a d o S e n h o r sig n ific a q u e “ ele s u b ju g a rá o s p o v o s s o b n ó s ” (v. 3 < 4 > ) ; n o v e rsíc u lo
p a ra le lo 8 < 9 > , o s n o b r e s d o s p o v o s se re ú n e m “ c o m o o p o v o d o D e u s d e A b r a ã o ” . O
p e n s a m e n to d e Isa ías e s tá e n r a iz a d o n a a d o r a ç ã o d e Israel.
487 ISAÍAS 4 5 .1 8 -2 5
b. A s a lv a ç ã o g e n tia , a g ló r ia d e Is ra e l (4 5 .1 8 -2 5 )
E sses versículos falam d o S e n h o r n a criação (18), n a revelação (19), na
salvação (20-22) e n a afirm ação (23-25).
18 O pois inicial d esse versículo to rn a essa seg u n d a seção u m a explicação
da p rim eira e, em p articular, d a o b se rv a ç ã o d e salvação m u n d ial, a “ Israel m u n -
dial” em q u e a seção conclui. Q u a tro v erb o s d escrev em a o b ra d o C riad o r: ele
iniciou {criou), m o d e lo u {moldou, c o m o um oleiro) até q u e tu d o estivesse feito
{fes/)e c o n c e d e u estabilidade {fundou) à o b ra concluída. O valor c o m p ro b a to rio
O LIVRO DO SERVO 488
1 O s d e f e n s o r e s d a h ip ó te s e D e u te ro is a ía s tê m d ific u ld a d e e m e n c o n t r a r p ro fe c ia s a n te rio -
re s p a ra ju stific a r o q u e é d e c la ra d o a q u í, s u s te n ta n d o c o m o s u s te n ta m q u e a re fe re n c ia c
a C iro . N o r t h te m e m m e n te o c a p ítu lo 13 (q u e ele n e g a s e r d e Isaías); W h y b ra y re c o rre
a J r 3 0 .3 ; 3 1 .8 . N a v e rd a d e , n ã o h á o u tr a s p ro fe c ia s q u e sa tis fa ç a m b e m e ssa n e c e ssid a d e .
Isa ías 13 se ria a m e lh o r, m a s as p a s s a g e n s d e Je re m ia s s ã o a b r a n g e n te s d e m a is. Λ q u e s tã o
n o v e rsíc u lo 21 e x ig e d e ta lh e — o n o m e , a o rig e m , a c a rre ira , a v itó ria d o c o n q u is ta d o r
— e a c o r o a ç ã o s u rp re s a d a lib e rta ç ã o d o s d e p o r ta d o s .
489 ISAÍAS 4 5 . 1 8 - 2 5
1 A . S c h o o r s I am Godyour Savior: A form-critical Study of the Main Genres in Isaiah xl-lv, V T S24
(1 9 7 3 ), p. 2 3 -2 6 . M u ito s e s tu d io s o s c o n c o r d a m q u e a p e s a r d a s p a la v ra s p a r e c e r e m in d ic a r
u m p r o p ó s ito sa lv ífic o u n iv e rs a l, isso é in a d m issív e l. O s m o tiv o s p a ra e ssa p e rc e p ç ã o sã o
q u e a sa lv aç ão u n iv e rs a l n ã o é e v id e n te e m o u tr o s tre c h o s d o s c a p ítu lo s 4 0 — 55, e q u e ,
n o v e rsícu lo 2 4 , o s in im ig o s d e Isra el e s tã o d e s tin a d o s à v e rg o n h a e m c o n tra s te à salvação
d e Israel (25). M as Isaías p e n s a m u ito n a salv ação d o m u n d o (cf. s o b r e 4 1 .2 1 — 42.17). N ã o
re p o u s a a p e n a s c m v e rsícu lo s in d iv id u ais, m as m u ito m ais n a fo rça p r o p u ls o ra d o a rg u m e n -
to to d o . E m 5 2 .1 0 , o s “ c o n fin s d a te rra ” (a ú n ica o u tr a o c o rrê n c ia d a frase e n c o n tra -s e n o s
c ap s. 40 — 55) s ã o c o n v id a d o s a o b s e r v a r o s a to s sa lv ífic o s d o S e n h o r, n ã o c o m o u m a to
c ru e l d e d a r á g u a n a b o c a d e le s, m a s c o m o u m a p re lim in a r d o c o n v ite u n iv e rs a l d e 55.1.
A lé m d isso , fica c la ro n a p r e s e n te p a s s a g e m q u e a q u e le s q u e “ c o n te n d c f m ] ” (9) r e p re s e n -
ta m a p e n a s u m a s e ç ã o d o m u n d o g e n tio ; h á ta m b é m a q u e le s q u e b u s c a m a D e u s (14) e o s
q u e fo g e m (20). C o m re la ç ã o a “ Isra e l” (1 7 ,2 5 ), S c h o o rs fa lh a e m v e r q u e a in te r p r e ta ç ã o
n a c io n a l d e s tr ó i t o d o o m o v im e n to d o p e n s a m e n to n o s v e rsíc u lo s 1 4 -1 7 e 18-25.
491 ISAÍAS 4 5 . 1 8 - 2 5
1 H in o d e J o h n N e w to n , “ B e g o n e , u n b e li e f ” .
2 D e w 'h i t ‘os'll p a ra w 'h i t ‘ass'mtt.
O LIV RO DO SERVO 496
A A d e g ra d a ç ão d a B abilônia (1 -7)
a1 A v in g an ça divina aplicada (1-4)
a2 A v in g an ça divina explicada (5-7)
B O diagnóstico: o rg u lh o (8-11)
b1 S u p e rio r a to d o s (8,9)
b2 R esp o n siv o a n in g u ém (10,11)
497 ISAÍAS 4 7 . 1 1 5 ־
A v in g a n ç a d iv in a a p licad a ( 4 7 .1 4 )־
E sses versículos afirm am dois p rin cíp io s q u e re p o u sa m n o âm ag o d o go-
v e rn o d iv in o p ro v id en cial d o m u n d o : a retrib u ição (3cd) e a cen tralid ad e do
p o v o d e D e u s (4). A B abilônia, para sua p erd a, d e sp re z o u a a m b o s (respectiva-
m e n te w . 7, 8-11 e v. 6).
1 A B abilônia, em posição, é h u m ilh ad a(sente-senopô) — p rivada d a antiga
glória(sem um trono) e da re p u ta ç ã o (não serámais chamada). O pó (veja 4.1) — e
é u m sím b o lo de h u m ilh ação e pesar. A ex p ressão mimosa e delicada/ “ te n ra ”
(ARC) sugere algo q u e é ferid o co m facilidade e p recisa se p ro te g e r das aspe-
rezas da vida.
2 ,3 A B abilôn ia ta m b é m so fre m u d an ças na experiên cia, de m u lh e r mi-
m ad a (1,2) p ara escrava (p eg an d o pedrasdemoinho e faz e n d o farinhd),u m a cativa
co m d e stin o ao exílio(atravesse) e um a m o ç a violada (sua nudesçseráexposta). O s
cativos ficavam c o stu m e ira m e n te nus o u p ra tic a m e n te nus. O te rm o atravesse/
“ p assa” (ARC) é u m a im agem de p a rtir para o exílio (4.3.2). N o v o c ab u lário de
vin gan ça, a palavra nãqãtn (aqui vingarei; cf. 1.24) ex p ressa equivalência e n tre a
o fe n sa e a punição. N a p re se n te sen ten ça, a palavra é enfática: o q u e o S e n h o r
faz é ex a ta m e n te a coisa ap ro p ria d a para a situação. O te rm o pouparei significa
“ e n c o n tra r” (IS m 10.5), “ e n c o sta r” ((s 16.7), “ atacar” (lR s 2.32) e “ in te rc e d e r”
O LIVRO DO SERVO 498
A v in g an ça d iv in a ex p licad a (47.5-7)
A in te rv e n ç ã o d o “ S an to d e Israel” em v in g an ça so b re a B abilônia ag o ra
é justificada pela referên cia ao tra ta d o d a d o a Israel pela B abilônia. C o n fo rm e
o b se rv a d o acim a, essa seção te m um a ligação c o m as d u as seçõ es seg u in tes
(8 -9 ,1 0 -1 1 ) em q u e cada u m a c o n té m um te ste m u n h o para a B abilônia. O pri-
m eiro te ste m u n h o (7) é q u e a B abilônia tem o d ire ito a x io m ático d e g o v e rn a r
p e rp e tu a m e n te.
5 A B abilônia diz re sp e ito à p e rd a de a u to rid a d e (silêncio, c o m p a ra d o co m o
p e río d o an terio r, q u a n d o ditava as regras), d a lib erd ad e (as trevas d o cativ eiro e
d a prisão, cf. 42.7) e d a p o sição (não será mais chamada rainha/ “ s e n h o ra ” [ARC]).
S u p e rio r a to d o s (47.8,9)
A e x p re ssã o agora, então faz u m a ligação lógica e n tre os versículos 5-7 e 8,9.
A B abilônia vivera c o m o se n ã o h o u v e sse c o n seq u ên cias m o rais d e co n d u ta
(7cd), m as, c o n fo rm e so m o s in fo rm a d o s agora, há con seq u ên cias.
8 O te ste m u n h o aqui (8cd) é u m a ssu n to p a rtic u la r (a si m esm a/ “ n o teu
c o ra ç ã o ” [ARC]): c o m efeito, n in g u ém m ais im p o rta (eu) e n ão há n in g u ém
p ara m e desafiar (somente eu, e mais ninguérri). D e ssa atitu d e in te rio r n asceu a su-
p o sição d e seguran ça (8b) e im u n id ad e (8f). A cim a de tu d o em criatura pro-
vocadora (N o rth , “ v ocê m u lh e r de m á fam a m im a d a ”) 1 está o p e n sa m e n to de
in d u lg ên cia c o n sig o m esm a. F ica r! ...] / “ se n ta re i” (TB) viúva rep resen tav a ficar
sem p ro v isão , p ro te ç ã o e po sição ; sofrerei a perda de filhos era ficar sem seg u ran ça
(SI 127.5) e e sp eran ça futuras. Sofrerei é “ e n ã o c o n h e c e re i” . E ssa tra d u ç ã o tem
d e se r p re se rv a d a para efe tu a r a ligação c o m você não saberá n o versícu lo 11b.
A religião q u e fa lh o u (47.1 2 -1 5 )
1 D u h m p a re c e te r d e riv a d o a p e r c e p ç ã o d e q u e o s te r m o s d o c a p ítu lo 4 8 n ã o se a d e q u a m à
m e n s a g e m d e u m “ p r o f e ta d o c o n f o r t o ” e e x clu iu o s v e rsíc u lo s o fe n s iv o s c o m o s e c u n d á -
rio s. E s s a c o n tin u a a s e r a p e rc e p ç ã o d e m u ito s , e m b o r a m e n o s c o m b a se n o a r g u m e n to
d o “ p r o f e ta d o c o n f o r t o ” e m ais p o r c a u s a d a s m u d a n ç a s a p a r e n te m e n te a b r u p ta s d e
e s ta d o d e e sp írito . N e m t o d o s s e g u ira m e sse c u rso . M u ile n b u rg c o rta ria a p e n a s o ver-
síc u lo 2 2 e fica im p r e s s io n a d o c o m a u n id a d e d o r e s to d o c a p ítu lo , o b s e r v a n d o c o m o
u m v o c a b u lá rio c o n s is te n te ( p o r e x e m p lo , “ e s c u te , c h a m a m , d iz e r, a n u n c io u , c o n te i” )
liga o c o n te ú d o . S m a rt a c h a a p o s iç ã o d e D u h m u m a “ ilu s tra ç ã o p e rfe ita d e c o m o u m a
falsa p r e s s u p o s iç ã o p o d e fa z e r u m a i n te r p r e ta ç ã o se d e s v ia r” , o u seja, a p r e s s u p o s iç ã o d e
q u e o “ c o n f o r t o ” é o f a to r d e te r m in a n te . N o r t h c o n c o r d a , in s is tin d o q u e o p r o f e ta n ã o
é a p e n a s u m “ e n tu s ia s ta in d u lg e n te ” . C la ro q u e é e sse n c ia l p e r g u n ta r (e p a ra a q u e le s q u e
e x clu iría m v e rs íc u lo s p a ra e x p lic ar) p o r q u e u m e d ito r p o s te r io r te ria s e q u e r in c lu íd o e sse
m a te ria l se ele e sta v a tã o c la ra m e n te m a l lo ca liz ad o .
503 ISAÍAS 4 8 . 1 - 2 2
1 S k in n e r, p. 7 9 -8 0 .
2 W h y b ray , p. 12 8-12 9.
505 ISAÍAS 4 8 . 1 - 2 2
O s m o tiv o s d o S e n h o r (48.8-11)
Israel n ã o tem o c o n h e c im e n to declarado (8a) n em já teve u m o u v id o re-
cep tiv o à v erd ad e divina (8b). A sim ulação d e c o n h e c im e n to é ev id ên cia de trai-
ção (8c); e o o u v id o fe c h a d o é evidência de u m a n a tu re z a reb eld e d e n ascim en -
to (desde 0 nascimento, 8d). E o q u e m ais? Será q u e o ju sto ju lg am en to virá? E les
estão fo ra da esfera d a salvação (1,2) e devem p erecer? N ã o , d e jeito n e n h u m ,
p ois h á o u tro fa to r n a situação. A ira, em razão d e sua p ró p ria n a tu re z a (por
amor do meu próprio nome, 9a), é c o n tid a, o castig o está d e n tro d o s lim ites (10a), a
esco lh a divina ain d a está e m v ig o r (10b); po is n o co ra ç ã o d o S e n h o r (por amor
de m im mesmo, 11a) está um c o m p ro m isso c o m su a p ró p ria re p u ta ç ã o (1 lb c ).
8 A s três declarações conhecimento, entendimento e fo i aberto (A RC) são cada
um a delas p re c e d id a p o r gam, u m a p artícu la de adição (“ ta m b é m ”) q u e é co m
frequ ên cia usada, c o m o aqui, p ara a c re sc en ta r ênfase. U m a vez q u e os três fa-
to s c o n tra sta m c o m o q u e o S e n h o r queria, p o d e m o s tra d u z ir p o r “ ah m a s”
an tes de cada verbo. A frase tem se fechado é “ n ã o ab riu ” . E ssa tra d u ç ã o d o piei
d e 4p0tah é justificada p o r C â n tic o d o s C ân tico s 7 .1 2 < 1 3 > . E n tã o , o p o n to
p rin cip al d a acusação é a im p e n etrab ilid ad e para a v erd ad e revelada. O S e n h o r
falou, m as n ã o foi ouv id o , n ã o h o u v e re sp o sta m e n ta l lev an d o ao c o n h e c im e n -
to (entendim ento/ “ c o n h e c e ste s” [ARC]), n e n h u m a recep tiv id ad e fu n d a m e n ta l
à palavra d o S enhor. E sse fa to é re su m id o n a acu sação d e “ tra iç ã o ” . O te rm o
■¡bagad significa re n e g a r u m a o b rig a ç ã o c o n h e c id a (IS m 14.33), p ro v a r se r um
d e sa p o n ta m e n to (Jó 6.14), v o lta r atrás n a palavra (Is 33.1) e é u sa d o p a ra des-
lealdade em fam ília (Jr 12.6) e para ad u ltério espiritual (O s 5.7). A acu sação de
que essa teim o sia (rebelde é um p articipio, “ aquele q u e se reb ela” ; cf. 1.2) v inha
desde 0 nascimento, era u m p e c a d o original, em vez d e u m a atitu d e ad q u irid a le-
v an ta u m a q u estão : se o S en h o r, p o r c o n seg u in te, estava cien te d o q u e esco lh e-
ra, será q u e ele n ã o p o d e ag o ra exercer seu p o d e r altíssim o p ara p erse v e ra r até
seus p ro p ó sito s serem cu m p rid o s, em vez d e v isitar Israel co m a m erecid a ira?
9 E sse v ersículo revela q u e o q u e apenas o u sa m o s lev an tar c o m o um a
possib ilid ade, na verdade, é u m a lógica na n a tu re z a divina. O nome d o S e n h o r
(a declaração resu m id a d o q u e ele revela so b re si m esm o ) o c o m p e le a “ adi [ar]
m in h a ira” (o lad o subjetivo d o d o m ín io p ró p rio divino, 9a) e seu louvor (a re-
507 ISA ÍA S 4 8 . 1 - 2 2
O S e n h o r d e sc rito (48.12,13)
N o v ersícu lo 1, Israel foi ch am ad a p elo n o m e , m as sem realidade; aqui
eles são os ch am ad o s, o u o s eleitos, d o Senhor. A infidelidade deles n ã o anula
a fidelidade d e D eu s. O u so d o m e sm o v e rb o (“ c h am ar”) significa q u e o versí-
culo 12 n ão negligencia o versículo 1. A m u d a n ç a de ên fase, d e q u e Israel n ão
é c o n d e n a d a pelas c o n se q u ê n c ia s de suas p ró p ria s falhas, m as m a n tid a n a p o si-
ção a c o rd ad a p e lo S e n h o r, leva em co n sid eração o q u e o n o m e d o S e n h o r é (2),
as im plicações d esse n o m e em seu p la n o para Israel (9) e a realidade im utável
d e sua e sc o lh a (10). O c h am ad o de D e u s reap arece n o v ersícu lo 13c (quando eu
os convoco/ “ eu o s cham arei e ”) co m to d o seu irresistível p o d er. O q u e é v erd ad e
p ara o s céus é v e rd a d e p ara Israel. O c h a m a d o d iv in o n ã o p o d e falhar. E u sou
sempre 0 mesmo (41.4), o u seja, im utável e c o n siste n te em si m esm o . C o m o D eu s,
o primeiro, n ão foi p re ssio n a d o p o r q u a lq u e r ação e x te rn a n o q u e iniciara, e ele,
o ú ltim o , co n tin u a in co n testáv el p o r q u a lq u e r fo rça q u e p o ssa te n ta r se o p o r
a ele; e traz a u m a co n c lu sã o triu n fa n te o q u e c o m e ç o u . N o início, havia sua
lib erd ade sem lim ite de fazer c o m o ele escolhia; n o fim , o o u ro im acu lad o de
sua o b ra concluída. A mão d e D e u s inicia (13a), e o ch a m a d o d e D e u s d e te rm in a
d e fo rm a so b e ra n a o re su lta d o (13cd).
0 serv o (48.16)
( ) S e n h o r diz a palavra inicial (16a) e está p re se n te p ara p resid ir seu cu m -
p rim e n to (16b). A palavra secretamente é “ em se g re d o ” (cf. 45.19). E ssa é a ex-
plicação d o p o d e r p re se n te n a palavra de D eu s: ela p ro c e d e dele e ele n ão a
deixa p o r c o n ta p ró p ria , m as a a c o m p a n h a p e sso a lm e n te . M u ito s e stu d io so s
c o n sid e ra m q u e 16cd é u m a adição, m as, c o n fo rm e ad m ite N o r th , “ n ã o há
ev idência te x tu a l” p a ra essa co n clu são .5 A p assag em , c o m o u m a in serção p o s-
terio r, p ro v av elm en te tin h a o o b jetiv o de validar o p ro fe ta c o m o v erd ad eiro
m en sag eiro d o S enhor. O u tro s e stu d io so s (p o r exem plo, S im on) a v eem c o m o
u m a o b se rv a ç ã o biográfica d o D e u te ro isa ía s a firm a n d o suas credenciais.6 W es-
te rm a n n o b se rv a os indícios c o rre to s q u a n d o o b se rv a a sim ilaridade co m 61.1
e “ p re c isa m e n te os m e sm o s se n tim e n to s” d e 49.1-6. Isso to rn a a palavra um a
in terjeição an te c ip a tó ria p elo S ervo d o S e n h o r c o m o u m a g en te nas “ coisas no-
O s atos d o S e n h o r (48.17-22)
1 Λ o r d e m d a s p a la v ra s p õ e p r im e ir o “ o S e n h o r D e u s ” (n a p o s iç ã o e n fá tic a ) c o m o e m
5 0 .4 ,5 ,7 ,9 .
2 11.2; 30.1; 32.15; 42.1; 44.3; 48.16; 59.21; 61.1; 63.11.
511 ISAÍAS 48.1-22
D e litz s c h , p. 2 5 9 .
O LIV RO DO SERVO 514
E p ro v a v e lm e n te a e n ig m á tic a p a s s a g e m J r 3 1.22?
515 ISAÍAS 49.1-6
A B
1cd A n te s de eu n ascer o S e n h o r D e sd e as e n tra n h a s da m in h a m ãe,
m e ch am o u ; fez m e n ç ã o d o m eu n o m e (ARC)
O d e sâ n im o e o a n tíd o to (49.4)
O S erv o está d esa n im a d o p o rq u e ap esar de n ã o te r p o u p a d o n e n h u m es-
fo rç o (tenho me afadigado /.../ tenho gastado minhaforça) n ã o alcan ço u n ad a (sem qual-
querpropósito, em vão, para nada). M as esse é apenas o p rim eiro p e n sa m e n to , não
0 últim o; p e rm a n e c e r aqui é p e rm a n e c e r d esan im ad o , a fu n d a r na d ep ressão . A
palavra contudo Çãkên, “ m as d e fa to ”), um a c o n ju n ç ã o c h a m a n d o ate n ç ã o para
a v erd ad e c o n trária, u m c o n tra ste ao que talvez te n h a sid o im aginado, é usada
p ara tra n sm itir o p e n s a m e n to d e q u e o S e n h o r (não eu) tem d e d ecid ir qual
é a minha recompensa, e d e q u e ele (não eu) d istrib u i a recompensa p elo trabalho.
P rim eiro, o a n tíd o to para o d e sâ n im o é a sab ed o ria de D e u s (minha recompensa/
“ m e u g ala rd ã o ” [ARC] significa q u e é c e rto d ecid ir a m eu resp eito ). Para o
Servo, tu d o p arece u m d e sp e rd íc io de energia, m as ele se afasta d e sua p ró p ria
A salvação m u n d ia l (49.6)
A ex p ressão ele disçj “ d isse” (ARC) recapitula o v ersícu lo 5a.1 O q u e o Se-
n h o r diz aqui é essencial p ara a q u e stã o de se é possível id en tificar o S e rv o co m
a nação, o u c o m o re m a n e sc en te o u se deve ser u m in d iv íd u o — e se a últim a
o p ç ã o fo r o caso, se ele p o d e se r au to b io g rá fic am e n te id en tificad o o u n ã o co m
0 p ro fe ta . P rim eiro , é n ecessário d iz e r q u e é difícil v er c o m o Ja c ó p o d e trazer
Ja c ó d e volta. A p e rfe ita frase de N o r th de q u e “ a p rim eira m issão d a igreja é
para a igreja” 2 é ap en as u m a fo rm a co n cisa de d iz e r q u e h á algum as pesso as
“ na igreja” (o “ v e rd a d e iro ” p o v o d e D eu s) q u e têm a re sp o n sab ilid ad e de m i-
n istrar para o s q u e se associam fo rm a lm e n te à igreja. A ssim q u e alg u ém ten ta
aplicar a “ visão c o rp o ra tiv a ” , ela se to rn a d essa m an eira u m a “ v isão rem an es-
c e n te ” oculta. S egundo, q u e m são aqueles de Israel que eu g u a rd e i/ “ os g u ard ad o s
d e Israel” (A RC)? D e u te ro n ô m io 32.10 usa o m e sm o v e rb o (in à sa r) p ara a
p ro te ç ã o d o S e n h o r d e seu povo, e Salm os 32.7b usa o v e rb o p ara a p ro te ç ã o
d o p e n ite n te p elo S enhor. Isaías é o ú n ico d o s p ro fe ta s q u e usa o v e rb o para
a p re se rv a ç ão d o c ren te p elo S e n h o r (26.3), seu cu id ad o c o m sua v in h a (27.3)
e sua p re se rv a ç ã o d e seu S ervo (42.6; 49.8). N ã o h á ev id ên cia su ficien te para
d izer q u e Isaías, c o m a palavra povo, sem p re p e n sa cm u m p o v o individual
o u g ru p o (um re m a n e sc en te ), m as, fu n d a m e n ta d o na ad eq u ab ilid ad e, esse é o
m e lh o r se n tid o aqui, c o n fo rm e refletido n a N V I (c f 10.21: “ U m re m a n e sc en te
voltará, sim , o re m a n e sc e n te d e Jacó vo ltará p ara o D e u s P o d e ro s o ”). E sse
g ru p o p re se rv a d o de fo rm a so b re n a tu ra l é trazid o de v olta ao S e n h o r p o r in-
1 S o b re a f o r m a b'zóh veja G n 4 8 .1 1 , P v 16.16; (,Κ (.Ί 5 η . Q·' tra z b'zíty (o p a rtic ip io passi-
v o ), q u e faz c o m q u e o s e n tid o seja o m e s m o .
2 A e x p re s s ã o “ d e te s ta d o p e la n a ç ã o ” é a d e q u a d a p a ra o c o n te x to e é difícil d u v id a r q u e
seja e ssa a in te n ç ã o d a s p a la v ras, m a s o t e r m o m'ta eb é u m p a rtic ip io piel, c o m o s e n tid o
d e “ a lg u é m d e te s ta d o ” , n ã o d e “ a lg u é m d e te s ta n d o ” . T e o ric a m e n te , s o b r e a s u p o s iç ã o d e
q u e o qal (n ã o e x e m p lific a d o n a B iblia) é u m v e r b o e s tá tic o (“ s e r d e te s tá v e l” ), o piel p o d ia
e x p re s s a r u m a in te n s ific a ç ã o (“ s e r r e a lm e n te d e te s tá v e l”), m as e sse u s o n ã o é ex em p lifi-
c a d o . O m o v im e n to p a d rã o , n o s v e rb o s e stá tic o s , d e qal p a ra piel é d e d e s c riç ã o d o e s ta d o
p a ra u rn a s e n tid o tra n s itiv o c o r r e s p o n d e n te (de “ s e r d e te s tá v e l” p a ra “ d e te s ta r ”). M e sm o
se o t e r m o m 'la ib fo ss e e n tã o tr a ta d o c o m o u m s u b s ta n tiv o , n a a n a lo g ia d e su b s ta n tiv o s
f o r m a d o s d e f o r m a sim ilar, ele sig n ificaría “ u m d e te s ta d o ” , n ã o “ u m a a v e rs ã o ” . P o r essa
ra zã o , d e v e h a v e r r e c u r s o p a ra a sim p le s a lte ra ç ã o d o a tiv o p a r a o p a ssiv o n fto'ab (veja
N o r t h , W h v b ray , BKS, KH).
O LIV RO DO SERVO 522
q u á d ru p la d e segurança (8f), alegria (8g), lib ertação (8h) e tra n sfo rm a ç ã o (8i).
C) S en h o r, em re sp o sta à o ração , pro v ará ele m e sm o ser tu d o d e q u e seu S ervo
precisa. O p ro n o m e “ m in h a ” n a frase 0 tempo de m ostrara m inha bondade (N T L H )
deve ser o m itido. O adjetivo favorável (rãsôn ) e seu v e rb o (Irasa) n a m aio ria de
seu u so se re fe re m ao S e n h o r e àquele que está em h a rm o n ia co m a v o n ta d e
dele, aquele q ue, ao fazer o u ao receber, o deleita. P o r isso, u m “ te m p o favorá-
vel” é u m te m p o Çêt; cf. 13.22) q u e está em h a rm o n ia ab so lu ta c o m a v o n ta d e
d o S enhor. A d efin ição final, dia da salvação, é um dia m arc a d o pela salvação
co n su m a d a e disponível. A in d a n ã o sab em o s c o m o o S erv o tem de se en v o lv er
nisso, m as ele receb e a g aran tia d e que, q u a n d o esse m o m e n to d iv in am en te
a p ro p ria d o c h eg ar e o dia p ara c o n su m a r a salvação raiar, sua o ra ç ã o será res-
p o n d id a. O s v erb o s responderei e ajudarei são a m b o s p e rfe ito s d e c erteza, “ estar
d e te rm in a d o a” . A té esse te m p o vir o S e n h o r o guardar¡á] (so b re “g u a rd a r” veja
v. 6) e, d ep o is, o fa r á tu d o q u e ele p recisa ser. E m 42.6, a qualificação “ luz para
os g e n tio s” foi n ecessária para indicar u m a referên cia a tra z e r os g e n tio s para a
aliança d o S en h o r. A qui o c o n te x to faz u m a clara referên cia a Israel. M as o Ser-
vo é m ais q u e um o fician te o u in stig ad o r da aliança; ele é em sua p ró p ria p esso a
a aliança d o S enhor. A qui está m ais um a vez a declaração q u e exalta o S ervo
acim a d e q u a lq u e r p ro fe ta (cf. v. 6). A aliança, n o p e n sa m e n to bíblico, é um
p e d id o unilateral e a c o n se q u e n te o b ra d e D eu s. Falar d o S erv o c o m o o m eio
da aliança naquele p e río d o de tem p o , c o n fo rm e sab em o s, significa q u e é p o r
m eio de sua o b ra q u e as b ên ção s da aliança fo ram disp o n ib ilizad as, é ap en as
nele, na u n ião da relação pessoal, q u e essas b ê n ç ã o s p o d e m ser u su fru íd as. O s
p ro fe ta s p regavam a aliança e ap o n ta v a m p ara lon ge d e si m esm o s, ap o n ta v a m
para o S en h o r; o S ervo atualizará as b ê n ç ã o s e a p o n ta rá para si m esm o . S o b re
terra , propriedades, cativos e trevas cf. 42.6,7. A coisa física é o te m a d o espiritual:
restaurar/ “ lev an tar” é u sa d o n o se n tid o de to rn a r seguro, estab ilizar (co m o , p o r
exem plo , em 2 C r 7.18); d istribuir/ “ dares em h e ra n ç a ” (A RC) significa to m a r
p o sse e d e sfru ta r; aos cativos/ “ aos que estão em cadeias” (TB ), o S erv o significa
lib erd ade; s a ia m / “ ap arecei” é d e sfru ta r a re c é m -e n c o n tra d a liberdade.
(ii) P ro teção (lü ab ). E les serão protegidos d e to d a falta de força in terio r (Jome
e sede) e de to d a am eaça exterior {calore sol). P rovavelm en te o calor (sãrãb-, 35.7) é a
terra seca abaixo, c o m o o so lé o calor im p ied o so acim a, fo rm a n d o um a im agem
de p ro teção total. A pesar de Y oung decidir c o n tra o sen tid o d e sãrãb ser aquí
“ m irag em ” , ele faz isso acred itan d o q u e o s e n ü d o n ã o se aju sta ao co n tex to .
P o r sua vez, a ideia d e p ro te ç ã o d o d e sa p o n ta m e n to é u m p e n sa m e n to adicio-
nal eficaz.1
(iii) 'I'utela (lü c d ). T odas as b ên ção s an te rio re s são explicadas: a jo rn a d a é
feita so b a co m p assiv a liderança divina. A passag em é rep leta d e pares, signifi-
c a n d o c o m p le tu d e : a lim e n to /á g u a , fo m e /s e d e ; calo r d o d e s e r to /s o l d o deser-
to. A g o ra te m o s guiará e conduzirá e n ão p o d e ser feita n e n h u m a d istin ção en tre
o p rim e iro J n ã h a g ) e o ú ltim o (inãhal)-, a ideia é sim p le sm e n te d u p licad a para
e n fatizar um a liderança total. A compaixão {¡rãham ) é o a m o r in d u z id o em o cio -
n alm en te ta n to característicam en te m a te rn o (lR s 3.26) q u a n to v erd ad eiram en -
te p atern al (SI 103.13).
A re u n iã o m u n d ia l (49.11,12)
O e le m e n to d o cu id ad o é in ten sificad o pela v olta à p rim eira p esso a d o
sin g u lar (cf. v. 8).
11 O S e n h o r ad m in istra so b e ra n a m e n te to d as as coisas, m e sm o a p o n to de
ser p ossível para o s p ereg rin o s tra n sp o r co m co n fian ça os m o n te s q u e p o d iam
p a re c e r instransponíveis. A final, eles são os meus montes , e n ão u m a b a rre ira es-
tra n h a , m as fazem p a rte d o m u n d o d o C riad o r, q u e estã o ali para c u m p rir sua
o rd e m e fazer sua v o n tad e. O s b o c a d o s feitos p elo h o m e m ta m b é m são dele
{meus caminhos) e serão fáceis de ver {serão erguidos) d e m o d o q u e os p e reg rin o s
n ão p o ssa m se desviar. N e n h u m o b stá c u lo n e m in certeza os im p ed irão d e vir
para casa.
12 N e n h u m a co n sid eração d e distância {de bem longe) n em de localização
{norte /... / oeste /.../ A ssu ã ) im pedirá a p eregrinação. N ã o h á referên cia ao leste (a
m e n o s q u e esteja incluído na “ terra d e S inim ” (ARC]), d e sc o n h e c id a p ara nós;
veja a n o ta d e ro d a p é d a N V 1), talvez p o rq u e Isaías n ã o quisesse q u e essa jor-
n ada fosse c o n fu n d id a co m a volta da B abilônia. A citação de A ssu ã , d a N V I, é
apen as um p alpite (veja E z 29.10; 30.6). A Q" traz swnyym, e isso p o d e aju d ar a
c o n firm a r Sinim c o m o s'w enéh ou A ssuã, m as, o m ais provável, é q u e isso tam -
b em seja um p alpite a ceitan d o en tre o d e sc o n h e c id o e o lu g ar em q u e se sabia
q u e alguns exilados se estabeleceram . A identificação m ais antiga de Sinim co m
a C h in a carece d e co n firm ação . Talvez Isaías estivesse se n d o d elib erad am en te
o b sc u ro , a p re se n ta n d o o p o n to de que os lugares d e sc o n h e c id o s são co n h ecí-
d o s p ara D eu s, e ele, m e sm o a p a rtir deles, reu n irá seus p ereg rin o s.
Y o u n g , p. 2 80.
O LIV RO DO SERVO 524
Λ O S e n h o r q u e n ào esquece (49.14-21)
a1 A reu n ião fam iliar (14-18b)
b1 A fam ília reunida, um enig m a (18c-21)
B C) S e n h o r q u e c o n q u ista (22-26)
a2 O s c ap to res su b serv ien tes: a reu n ião fam iliar (22,23)
b2 O s c a p to re s d o m in a d o s: a fam ília explicada (24-26)
C O S e n h o r q u e redim e ( 5 0 .1 3 )־
c1 A fam ília n ã o resp o n siv a (1 -2b)
d1 O S e n h o r c o m p e te n te (2c-3)
D O S e n h o r so b e ra n o (4-11)
c2 O S ervo resp o n siv o (4-6)
d2 O S e n h o r c o m p e te n te (7-9)
e O S ervo e o re m a n e sc en te (10,11)
A re u n iã o fa m ilia r (49.14-18b)
N e sse s versículos, a palavra “ a m o r” n ã o é usad a para o S en h o r, m as eles
dificilm en te p o d ia m ser m ais fragrantés d e realidade. As palavras d e d esân im o
im p e n sa d o (14) são c o n tra p o sta s pela refu tação d ireta (15,16) c pela palavra
d e p ro m e ssa (17,18b). O a n tíd o to p ara o d esân im o é, prim eiro , dirigir a m en te
para D e u s e, segundo , d escan sar na palavra dele.
O LIVRO DO SERVO 526
A fa m íli a re u n id a , u m e n ig m a (4 9 .1 8 c -2 1 )
A ú ltim a e stro fe te rm in o u co m a im in en te cheg ad a “ deles to d o s ” ; essa
e stro fe c o m eça co m Sião o s receb en d o . N o e n ta n to , v o ltaram m ais d o cjue os
O S e n h o r c o m p e te n te (50.2c-3)
O ú ltim o “ veja” da série devia ser restaurado. E ste, d e um a m an eira par-
ticular, casa c o m o “ veja” de 49.16, c o n tra b a la n ça n d o o p o d e r d e D e u s co m
seu am or. O ap elo à criação aqui é sem elh an te ao de A m ó s 4.13; 5.8s.; 9.5s. O
S en h o r, p o r m e io de sua o b ra na criação e seu p o d e r so b re a criação, é d em o n s-
trav elm en te capaz de fazer o que q u e r que p ro m e ta (ou am eace). N a criação é
d e m o n stra d o , em particular, seu p o d e r p a ra fazer m u d a n ç a s drásticas: o m ar
seca; o s rios viram d e se rto ; o céu p assa da luz para a escuridão. Será q u e um
D e u s assim n ã o p o d e igualm ente tra n s fo rm a r a so rte d e seu p o v o ? E le secou o
m a r V e rm e lh o (E x 14); tra n sfo rm o u a água d o N ilo em sangue, e o s peixes d o
rio m o rre ra m e ficaram co m m au ch eiro (E x 7.17,18); ele v isito u o E g ito co m
trevas palpáveis (E x 10.21), m as d eu luz ao seu p o v o (E x 10.23). T u d o isso indi-
ca o p o d e r s o b e ra n o d e D e u s, seu d o m ín io das forças h o stis e sua p re o c u p a ç ão
fu n d a m e n ta l co m seu povo. N ã o é de a d m ira r q u e aqui as palavras ten h am
fluído em re p re e n sã o indignada q u a n d o os filhos d o êx o d o , a g ra n d e redenção,
recu saram seu R ed en to r. N a realidade, n ã o h á d e scu lp a p ara n ã o resp o n d er.
O S e n h o r c o m p e te n te (50.7-9)
7 Se os v e rb o s d o versículo 6 são p e rfeito s d e d e te rm in a ç ão , e n tã o o v erb o
ajuda aqui deve ser tra d u z id o p o r “ ajudará” , m o s tra n d o q u e o c o m p ro m isso
para o fu tu ro (6) fu n d a m e n ta -se na co n fian ça cm D e u s p ara o fu tu ro (7). Se
0 versículo 6 revê o p assad o , então, ajuda deve se r “ estava m e a ju d a n d o [do
c o m e ç o ao fim |” . D e ssa co n fian ça na ajuda vem a c e rteza d o re su lta d o (“ p o r
isso ” não serei constrangido/ “ fim da c o n fu sã o ”) e a reso lu ta d e te rm in a ç ã o (por isso
eu me opus firm e como um a dura rocha) cm ser b e m -su c e d id o na realização das coi-
sas (sei que não ficarei decepcionado; cf. % ombaria/ “ o p ró b rio s ” [TB] n o v. 6). T a n to
decepcionado q u a n to constrangido u ltrap assam o em b araço , tra n sm ite m a ideia de
“ c o lh e r v e rg o n h a ” — d e sc o b rir o que alguém a firm o u ser falso, e x p re ssa n d o
u m a e sp eran ça que n ão foi cu m p rid a, ag indo co m u m a co n fian ça q u e p ro v a ser
in fu n d ad a.
8 E sse versículo retrata a co n tro v érsia p o r vir e n tre o S erv o e seus o p o n e n -
tes co m um p ro c e sso legal, m as é m ais que um retrato. O b se rv a m o s em 45.21
e em 49.24,25 u m a ênfase na m a n u te n ç ã o da justiça. Isso se aplica ta m b é m ao
Servo: se sua c o n d u ta fosse julgada na lei, n in g u ém p o d e ría c o n d e n á -lo d e te r
c o m e tid o p e c a d o ; ele, d ian te de D e u s e d a h u m a n id a d e , n ã o tem m ácu la em
seu registro. Λ palavra defende é um te rm o fo ren se co m o se n tid o d e “ tra z e r
um v ered icto d e in o cen te: aquele que defende 0 meu nome é ‘aquele q u e m e co n si-
d era ju sto ’ ” . Λ palavra perto2 é um paralelo n o se n tid o co m g ó ’é l (cf. L v 21.2s.;
25.25; N m 27.11; R t 2.20; 3.12). P o r c o n seg u in te, significa n ã o ap en as a pre-
sença p ró x im a d o S e n h o r c o n so la n d o , m as o S e n h o r p a rtic ip a n d o ativ am en te
1 S m a rt, p. 165.
2 O a d je tiv o q ã rò b c u s a d o p rin c ip a lm e n te p a ra p o s iç ã o n o e s p a ç o ( G n 19.20) o u te m -
p o ( N m 2 4 .1 7 ); p a ra “ p r ó x im o ” (Ê x 3 2 .27) e e s ta r e s p iritu a lm e n te “ p e r t o ” d e D e u s (L v
10.3).
535 ISAÍAS 4 9 . i 4 - 5 O .il
c o m o p a re n te ; n ã o “ o S e n h o r está c o m ig o ” , m as “ o S e n h o r está ao m e u la d o ” .
S o b re tra zer acusações veja brigam em 49.25. Λ frase encaremo-nos um ao outro signi-
fica e n c o n tra r na c o rte , e acusador/ “ m estre d o m eu ju lg am en to ” refere-se ao
p ro c e sso de p ro v a r te r perícia em p ro c e sso legal.
9 O c en ário fo ren se co n tin u a, m as a ênfase m u d a. N o v ersículo 8, o S ervo
estava co n fia n te d e q u e o veredicto seguiría seu cam in h o , ele está igualm ente
co n fia n te da ro ta de seus o p o n e n te s. A s palavras id ên ticas 0 Soberano, 0 Senhor,
que me ajuda são en fatizad as aqui p elo “eis” (A RC) inicial (o m itid o pela NV1)
re p e tid o an tes d e eles se desgastam em um c o n tra ste d o tip o “ o lh e isso, ag o ra olhe
aq u ilo ” . U m a vez que o S e n h o r D e u s ajuda, n e n h u m a acu sação se su sten ta. O
p e n sa m e n to n ã o é q u e o so b e ra n o p ro te g e seu favorito, m as q u e a d isp o sição
d o S e n h o r d e ser o p a re n te para o S ervo é p ro v a da justiça d e ste e d a c o rreção
de su a causa d ia n te d o ju lg am en to divino. E n tã o será q u e o a n ta g o n ista te rre n o
p o d e se sair b em ? O te rm o condenar/ “ p ro v a r m in h a cu lp a” , n a term in o lo g ia
fo ren se, é o o p o s to de “ d efe n d e o m eu n o m e ” (8a). O s a c u sad o s são co m p ara-
d o s à tra n sito rie d a d e in te rn a de um a ro u p a q u e se desg asta e à im p o tê n c ia d o
m aterial in e rte d ian te de seu p re d a d o r natural ex tern o , as traças (cf. 51.6,8; SI
3 9 .1 1 < 1 2 > ).
O S ervo e o re m a n e sc en te (50.10,11)
E sse terceiro cântico, c o m o to d o s os o u tro s, é seguido d e um a vinheta.
N o s dois p rim e iro s cânticos, as vin h etas eram c o n firm a ç õ es divinas da tarefa
d o S ervo ; as v in h etas, n esse e n o cân tico final (52.13— 53.12), são ex o rtaçõ es
p ara re s p o n d e r ao S ervo — aqui, p ara aceitá-lo c o m o m o d elo . E sses versículos
casam co m o e n sin a m e n to d e 8.9-20 so b re a criação d e u m ab ism o e n tre duas
classes d e pessoas: os q u e se m o d elam se g u n d o o S erv o (10) e os cjue seguem
o c a m in h o da au to ssu ficiên cia (11). C ada versículo tem seis linhas, e ju n to s
c o n tra sta m duas classes e duas fo rm a s de vida. As d u as “ c a m in h a d a s” , um a
nas trevas (10c) e a o u tra em um a luz acessa p o r si m esm a (11c). A p rim eira
n ã o tem luz (lO d), e a o u tra é ro d ead a de to ch as q u e ele acen d e ( l l b d ) . U m a
d e p e n d e de D e u s e c o n fia nele (lOf), a o u tra deita em to rm e n to (11 f). N ã o é
p ro m e tid o n e n h u m resu ltad o o u b ê n ç ã o em p a rtic u la r c o m o re su lta d o d o ca-
m in h o d e o b ed iên cia c da co n fian ça (lO bef), m as a su g estão é q u e aqueles q ue
o segu em escap am de “ se deitar[...] a to rm e n ta d o s ” so b a d e sa p ro v a ç ão divina.
A ssim , o S erv o n ã o só é o m e n to r deles (10b), m as ta m b é m , p o r co n clu são , o
S alv ad o r deles. E le, c o m o a id en tid ad e d o S ervo, n ã o p o d e ser ele m e sm o um a
p erso n ificação d o re m a n e sc en te c ren te e c o n fia n te , pois ele é o fe re c id o objeti-
v am en te aqui a eles c o m o seu p ro fe sso r e aquele p o r m eio de q u e m a p ren d em
o q u e é te m e r o S enhor. (9 te m o r era u m sinal p articu lar d o re m a n e sc en te em
8.12s., d a m esm a m aneira q u e as trevas eram a sina daq u eles q u e rejeitavam a
palavra e o cam in h o d o S e n h o r (8.22). E les fo ram ch a m a d o s a se c o n c e n tra r na
O LIVRO DO SERVO 536
S k in n e r, p. 105.
537 ISAÍAS 5 1 .1 - 8
A 1 O ouvir: a v o z a o u v ir (lab)
B1 A ro c h a q u e se to rn o u u m a m u ltid ão (lc -2 b )
C A explicação: a b ên ção divina (2cd)
B2 O e rm o q u e se to rn a rá o É d e n (3a-d)
A 2 A canção: u m a v o z a lev an tar (3ef)
1 O p ro n o m e m e é id en tificad o n o versículo 2c c o m o S e n h o r q u e c h a m o u
A braão. R etidão é to d o a sp e c to da vida que está “ c e rto co m D e u s ” . O te rm o
olhem (cf. D t 4.29) n ã o está à p ro c u ra de algo p e rd id o , m as v em c o m to d a de-
te rm in a ç ã o de alguém q u e b u sca p re o c u p a d o o n d e se sabe q u e 0 Senhor está.
539 ISAÍAS 5 1 .1 8 ־
1 Λ a lte ra ç ã o d e wa^bár'kéhü (im p e rfe ito c o m a le tra vav sim p le s) p a ra a le tra vav c o n s e c u tiv a
foi s u g e rid a (fíH S ), m as é p re fe rív e l n ã o m u d a r o te x to . O im p e rfe ito sim p le s é u s a d o
p a r a tra n s m itir v iv a c id a d e a a ç õ e s p a s s a d a s iso la d a s (veja G K C \ 10 7 b ; D riv e r, 2 7 a , 84a).
A lte rn a tiv a m e n te , a f o r m a aq u i é e x a ta m e n te c o m o e m G n 12.2 e, p o r e sse m o tiv o , p o d e
te r s id o u s a d a d e f o r m a d e lib e ra d a .
2 O te x to h e b r a ic o u sa “ c o n s o la r á ” d u a s v e z e s (“ c o n s o la r á S ião [...] c o n s o la r á t o d o s o s se u s
lu g a re s a s s o la d o s ” [A R C ]), m a s a N V I d e s tr ó i e ssa le m b ra n ç a d o d u p lo “ c o n s o lo ” d e 40.1
a o tr a d u z ir d e f o r m a a rb itrá ria p o r “ c o m p a ix ã o ” .
O LIVRO no SERVO 540
A 1 A c o n v o c a ç ão a o u v ir (4ab)
B1 A luz p a ra os p o v o s, a salvação a c a m in h o (4c-5b)
C O b ra ç o d o S e n h o r (5c-e)
A2 A c o n v o c a ç ão a o lh a r (6ab)
B2 O s h a b ita n te s tra n sitó rio s d o m u n d o , a salvação e te rn a (6c-f)
d u rab ilid ad e da salvação está em sua c o n stitu iç ã o (durará é lit. “ ser”). A ex p res-
são ja m a is falhará é “ n ã o será d e stru íd a ” . ( ) n egativo refo rça o p o sitiv o “ se r” e
ta m b é m alude (p o r m eio de um v erb o d iferen te) ao “ d e sa p a re c[im e n to |” (6c)
d o a p a re n te m e n te só lid o universo e, em particu lar, o b se rv a que n e n h u m a força
ex te rn a p o d e d e stru ir o q u e o S e n h o r está para fazer.
A 1 A re tid ã o c o n h e c id a (7ab)
B1 A o p o siç ã o e n fre n ta d a (7cd)
B2 A o p o siç ã o ex p o sta (8ab)
A 2 A re tid ã o e te rn a (8cd)
1 S m a rt, p. 182.
2 O “ b r a ç o ” d o S e n h o r é u m te m a d e ê x o d o (Ê x 6.6; D t 4 .3 4 ; 5.15; 7 .1 9 ). S o b re as 2 8 re fe -
rê n c ia s n o A n tig o T e s ta m e n to , o n z e s ã o e m Isa ías (3 0 .3 0 ; 4 0 .1 0 ; 4 8 .1 4 ; 5 1 .5 ,9 ; 5 2 .1 0 ; 53.1;
5 9 .1 6 ; 62 .8; 6 3 .5 ,1 2 ).
3 W h y b ra y o b s e r v a q u e n a lite ra tu ra u g a rític a ( n o s s o te x to - f o n te p a r a a re lig ião c a n a n e ia ),
o “ d r a g ã o ” (tannin) (A R C ) é o a d v e rs á rio m o r to p o r B aal, m a s q u e R a a b e “ é, a té o n d e
te m o s c o n h e c im e n to , p e c u lia r à v e rs ã o isra e lita ” . P o r q u e is s o e p o r q u e R a a b e é u sa d a
c o m o u m n o m e irris ó rio p a ra o E g ito ? S e rá q u e a p r e te n s ã o d o E g ito (R a a b e sig n ifica
“ o s te n ta ç ã o a r r o g a n t e ”) v e io a n te s e, e n tã o , a p ó s u m a re fle x ã o s o b r e o d o m ín io h is tó ric o
d o S e n h o r s o b r e a s á g u a s d o m a r V e rm e lh o , fo i fe ita u m a lig a ç ão c o m a m ito ló g ic a R a ab e ,
q u e e n tã o fa c ilito u a tra n s iç ã o p a ra o e x ib ic io n is m o d o E g ito ?
547 ISAÍAS 5 1 .9 - 1 6
(51.9) s u rg e d a fé (n a s p r o m e s s a s q u e a c a b a m d e s e r re g is tra d a s e m 51 .1 -8 ) e g e ra u m a fé
firm e q u e se rá a ssim (5 1.11).
1 N o r t h , Second Isaiah, ρ. 2 14.
549 ISAÍAS 5 1 . 9 - 1 6
u m a e s t á c i t a n d o u m h i n o c o n h e c i d o ( o u t r a s p a r t e s d o q u a l s ã o e n c o n t r a d a s e m A m 4 .1 3 ;
5 .8 ; 9 .5 s .) o u q u e t o d a s e s s a s p a s s a g e n s v ê m d a m e s m a c o le tâ n e a d e h in o s . H á i d e n t i d a d e
s u f ic ie n te d e f o r m a p o é t i c a p a r a p e n s a r m o s c m u m h i n o / h i n o s p a r a D e u s o C r ia d o r .
1 R H S p o d e r í a a l te r a r lintôa' (“ p l a n t a r ” ) p a r a lintòt (“ e s t e n d e r ” ), s u b s t i t u i n d o o i m p r e s s i o -
n a n te p e lo lu g a r c o m u m .
2 O v e r b o “ p l a n t a r ” é u m a m e t á f o r a b e m e s ta b e le c id a — p a r a f u n d a r d e n o v o r e in o s ( |r
1 .1 0 ; d e p r o v e r / p e r m i t i r lu g a r p a r a (J r 1 2 .2 ); e s t a b e l e c e n d o e m u m a p o s i ç ã o a s s e n t a d a (J r
2 4 .6 ; A m 9 .1 5 ) , e tc .
O LIVRO DO SERVO 552
d e q u a tro linhas cada u m a co m a referên cia aos filhos na p rim eira e n a terceira
linhas fo rm a n d o um inclusio [criar um a e stru tu ra ao p ô r m aterial sim ilar n o iní-
cio e n o final d e um a seção]. A ausência de ajuda e c o n so lo h u m a n o s nas duas
prim eiras e stro fe s p re p a ra para o p o n to c u lm in a n te n a terceira, em que to d a
essa ag o n ia é explicada pela ira d o S enhor. D e ssa m an eira, a ira (17d,20d,22e)
é o te m a d e ligação. N a c o m b in a ç ã o 51.1-3, a p ro m e ssa era o É d e n restau rad o ;
isso é realizado agora pela rem o ção da m ald ição d e D e u s so b re o p e c a d o e os
p ecado res.
17 E sse versículo com eça com um a convocação urgente para “ levant[ar]-se”
(co m o n o v. 9 e 52.1, m as aqui na fo rm a reflexiva). E les c o n v o caram o S en h o r
(9) c o m o se ele estivesse ad o rm ecid o , m as, na verdad e, fo ram eles q ue ad o rm e -
ceram e n q u a n to coisas im p o rta n te s aco n teciam . A exp licação segue o portanto
n o versículo 21. 'Io d a s as experiências da vida são m istu rad as em um cálice
para n ó s p elo S en h o r, m as esp ecialm en te o d e v id o a q u in h o a m e n to d e sua ira
(SI 11.6; 7 5 .8 < 9 > ; J r 2 5 .1 5ss.; Fiz 23.31ss.). O cálice re p re se n ta a decisão e co m -
p ro m isso p e sso ais dele (M t 26.39; J o 18.11). A frase da taça que jasç os homens
cambalearem/ “ cálice da vacilação” (ARC) é u m a d u p la ex p ressão para e n fatizar
a ideia.1 A palavra cambalearem/ “ a to rd o a m e n to ” (TB) n ão se refere ao p asso
titu b e a n te d o in to x icad o co m bebida, m as os estágios finais d a trcm ulação: um a
im agem d e e sta r d e se sp e ra n ç ad o e irre p a ra v elm e n te so b a ira de D eus.
18 As rep etiçõ es p ro c u ra m fazer co m q u e a ideia seja e n ten d id a: filh o s/.../
filhos; teve {...¡guiá-la; criou {...] tomá-la. F alan d o da p ersp ectiv a h u m a n a (SI 127.5),
Je ru sa lé m devia e sta r b em p ro teg id a c o n tra a calam idad e — u m a situ ação da
qual se o cu p a ria ao te r e criar filhos de fo rm a diligente. Fila devia esp e ra r ser
a m p a ra d a pela sab ed o ria para guiá-la e o fe re c er fo rça para tomá-la pela mão, m as
n e n h u m re c u rso h u m a n o auxilia c o n tra a ira divina (cf. 50.2; 59.16; 63.3; 65.12).
19 A d u p licação é a ex p ressão idiom ática q u e tra n sm ite totalidade. P or
essa razão, e m b o ra to d o recu rso h u m a n o d e e sfo rço , pesso al e assistência (18)
estivessem ali, a ruína e destruição (desastre total to c a n d o a p ro p ried ad e) e a fom e
e espada (d estru ição to tal c o n tra o povo) n ã o d eixo u n em m e sm o um a voz para
consolá-la. A cidade d e stru íd a retrata o efeito d e v a sta d o r da ira divina em ação.
Fila u ltrap assa o p o d e r h u m a n o de resistir (18) e a capacid ad e da te rn u ra hu-
m an a d e a b ra n d a r (19). O tex to h eb raico (veja a n o ta d e ro d ap é da N V I) é lit.
“ Q u e m , eu, p o ssa te co n so lar?” . Isso sugere o u “ c o m o p o d e alguém , ex ceto
eu, te c o n so la r? ” , o u seja, o S en h o r, o c o m a n d a n te e o p ro m e te d o r d e c o n so lo
(40.1; 51.3,12) ch am a aten ção para ele m e sm o c o m o o ú n ico q u e p o d e lidar
c o m sua p ró p ria ira. C) p rim e iro se n tid o talvez seja o m ais usual para a ex p res-
são idiom ática.
20 E ssa terceira im ag em d e p e rd a volta ao tem a d o s filhos d e Je ru sa lé m e,
em particu lar, a razão p o r q u e eles n ã o p o d e m trazer a ajuda su g erid a n o versí-
culo 18. As duas d u p licaçõ es, desmaiaram e jasçem, ira e repreensão, in tercalam um a
ilustração terrível: o anim al sem esp eran ça ca p tu ra d o , ch eio d e te r r o r e sem a
capacid ad e o u o p o rtu n id a d e p ara fugir. O s filhos de Sião estã o d u p la m e n te
sem e sp eran ça (20ab), a ira é a p o rç ã o d u p la deles (20de). E c o m o p a ra Sião, se
seus filhos caírem , n ã o h á n e n h u m a esp eran ça para o futuro.
21 O s três versículos seguintes d escrev em o fim e a re m o ç ã o d a ira. A
c o n ju n ç ã o portanto in tro d u z as co n clu sõ es d o S e n h o r surgidas d a situ ação de
d e sa m p a ro (18), d e s c o n fo rto (19) e d e sesp eran ça (20) so b a ira d o S en h o r. A
palavra aflita, n esse c o n te x to , é “ h u m ilh ad a” , o u seja, esp e z in h a d a pela ira divi-
na. A frase embriagada, mas não com vinho (cf. 29.9 para esse te m a isaiano) v o lta à
m e tá fo ra d o cálice, a m e d id a deliberada da ira.
22 A d u p la d escrição d a cidade (21) n ã o fo rn e c e n e n h u m in d ício d e a o q u e
o portanto levava. O su sp e n se a u m e n ta co m a d u p la d escrição d o lo c u to r d iv in o
co m o : (i) Soberano Çadõnãy). Isaías, de m o d o excepcion al, usa aqui o plural, em
geral re se rv a d o para o s “ se n h o re s” h u m a n o s, p o ssiv e lm e n te a fim d e en fa tiz a r
que esse se n h o rio n ã o é apenas o d o D e u s tra n sc e n d e n te , m as u m se n h o rio
p rá tic o p a ra to d o s os dias, c o m o o d o m a rid o co m a esp o sa (lR s 1.17) e d o s
pais co m o filho (G n 31.35). (ii) O Senhor ( y a h w e h ) . R evelado, p o r sua p ró p ria
escolh a, c o m o o D e u s q u e salva seu p o v o e julga seus inim igos, (iii) Seu Deus. O
D e u s q u e se c o m p ro m e te u c o m você e seu b em -estar, (iv) O D e u s da ju stiça e
d a legalidade ab so lu tas q u e defende ('¡ñb, “ d e fe n d e r a causa d e ”) 0 seu povo e leva
o caso ao tribunal. Q u a lq u e r coisa q u e ele faça é legalm en te a p ro v ad o ; n ã o é
arb itrária n em u m a b o n d o s a indulgência o u c o n c e ssã o n e m , ta m p o u c o , p o r
o u tro lado, um a sen ten ça extravagante, m as apenas o q u e a p ró p ria ju stiça dita.
A frase veja que eu tirei p e rte n c e à vivacidade da ilustração. O p o b re em b ria-
g a d o cam b a le an te é despertiadoj (17) agora para q u e veja q u e o cálice d a ira foi
a fastad o da mão q u e o segurava. D e algum a m aneira, e n q u a n to d u ro u o e stu p o r
p ro v o c a d o pela b eb id a, o S e n h o r agiu em favor d o d esam p arad o . O S e n h o r d eu
(17), o S e n h o r tiro u ; a b e n ç o a d o de fato seja o n o m e d o S enhor! E c o m o v e n te
o fato de Isaías re p e tir as palavras d o versículo 17df. A ira tão m erecid a, a ira
d istrib u íd a co m ta n ta precisão, é essa ira q u e se foi. A ex p ressão do cálice é u m a
adição in te rp re ta tiv a e devia se r om itida: a taça (c o m o n o v. 17, “ d a taça”) é um a
ap o sição a “ cálice q u e faz ca m b a le ar” n o versículo 22d. E im p o rta n te p re se rv a r
essa id en tid ad e e n tre o q u e foi d a d o (17) e o q u e foi re m o v id o — e re m o v id o
de u m a vez p o r todas, po is (lit.) “ você jam ais b e b e rá dele d e n o v o ” . A ira de um
D eu s q u e o d eia o p e c a d o n ã o p o d e te r n ad a q u e ver co m eles. E sse, p o r c o n se-
555 ISAIAS 5 1 . 1 7 - 5 2 . 1 2
1 “ S e n te - s e e n t r o n i z a d a f...| ó c a t iv a ” (p b ~1 [ . . . ] Y b ly y ã ) c u m b e l o jo g o d e p a la v r a s , s o n s
i d ê n tic o s c o m s e n t i d o s o p o s t o s ! F .ss c a s p e c t o c p e r d i d o , p o r e x e m p lo , n a i n s is t ê n c ia d e
R S V e m a l te r a r a p r i m e i r a p a la v r a p a r a “ c a tiv a ” .
557 ISAÍAS 5 1 . X7 - 5 2 . I 2
1 O s c o m e n t a r i s t a s d i f e r e m a r e s p e i t o d o s v e r s íc u l o s 3 -6 . A lg u n s v e e m e v id e n c ia d e u m e s -
c r i t o r p o s t e r i o r , o u t r o s v e e m Is a ía s c m s e u v i g o r o s o m e lh o r . S e m d ú v id a , e s s e s v e r s íc u l o s
n ã o s ã o o q u e p o d e r i a m o s e s p e r a r c o m o u m a e x p lic a ç ã o d o s v e r s íc u l o s 1 c 2. H s p e r a r í -
a m o s u m a d e s c r i ç ã o d e u m a t o p a s s a d o , n ã o u m a p r o m e s s a d a v in d a d e u m a to . M a s o
p l a n o d e Is a ía s é i n te n s if ic a r a t e n s ã o e a u m e n t a r o s u s p e n s e .
O LIV RO DO SERVO 558
1 Λ tr a d u ç ã o d e tre p e s c o m o “ p o r n a d a ” , “ p o r n e n h u m m o t i v o ” (cf. a R S V ) n ã o t e m s u -
p o r t e b íb lic o . A N V I t r a d u z c o r r e t a m e n t e p o r últimamente, a t r a d u ç ã o m a is lite ra l s e r ia “ n o
fim ” .
2 ( לc o n t r a s t e e n t r e o E g i t o c a A s s ír i a c o m o o s o p r e s s o r e s e x ig e u m a p e s s o a c o m o Is a ía s
d e J e r u s a l é m . C o m o p o d e r í a u m p r o f e t a d o e x ílio i g n o r a r a B a b ilô n ia ?
נA e x p r e s s ã o id io m á t i c a mahtiipôh (“ o q u e t e m a q u i p a r a m im ? ” ) t e m m u ita s n u a n ç a s d e
s e n ti d o : “ o q u e v o c ê e s tá f a z e n d o a q u i? ” (1 R s 1 9 .9 ); “ O q u e a a flig e ? ” ( G n 2 1 .1 7 ) ; “ Q u a l é
o s e u p e d i d o ? ” ( E t 5 .3 ); “ C o m q u e d i r e i t o ? ” (Is 3 .1 5 , N T L H ) ; “ C o m o v o c ê p o d e fic a r a í? ”
( |n 1 .6 ); “ Q u e [v o c ê ] a in d a te m c o m ? ” ( O s 1 4 . 8 < 9 > ) ; “ O q u e s ig n if ic a e s t a c e r i m ô n i a ? ”
(Ê x 1 2 .2 6 ).
559 ISAÍAS 5 1 . 1 7 - 5 2 . 1 2
1 C o m u m e n tc o te rm o Yhêlilü (“ l a m e n t a r ” ) c a l t e r a d o p a r a yhdl'ló (“ f a z e r d e t o l o / z o m -
b a r ” ). A a lte r a ç ã o é m í n i m a e é s u s t e n t a d a p e l o Q '.
2 Λ s u g e s tã o d e q u e o s e g u n d o portanto é u m e r r o n o t e x t o é s u s t e n t a d a p e l o Q J e d e f e n d i d a
por B I IS. M a s r e m o v ê - l o d e s t r ó i a e s t r u t u r a d e s s e p o e m a d e “ d u p l a d e c l a r a ç ã o ” . É m a is
fá c il v e r c o m o e la p o d i a s e r p e r d i d a d o q u e e x p lic a r c o m o p o d i a t e r e n t r a d o n o te x to .
’ E a m p la m c n tc a s s u m id o q u e as p alav rasnaquele dia d e v e m sin alizar a o b r a d e u m e d ito r p ó s-exílico
( p o r e x e m p lo , M o w in c k e l, He that Cometh, ρ . 1 4 7 ). M a s Ρ. R . H o u s e d e v e s e r o u v id o q u a n d o
o b s e r v a q u e “ n e n h u m a e v id ê n c ia te x tu a l o u c o n te x tu a l s u s te n ta e s s a d e c la r a ç ã o ” e ( o n d e
a s p a la v ra s s ã o o m itid a s c o m f u n d a m e n t o n a m é tr ic a ) q u e “ a i n te n ç ã o d o p o e ta p a r a s u a
f o r m a r ítm ic a é d e s c o n h e c i d a ” . N e n h u m m a n u s c r i to o m i t e a s p a la v ra s , e o c o n t e x t o n ã o
ju s tific a a m u d a n ç a . (Zephaniah: A Prophetic Drama, )SO TS 6 9 [1 9 8 8 ], p. 1 2 7 -1 2 8 ). O q u e
H o u s e a r g u m e n ta p a r a S o f o n ia s se a p lic a ig u a lm e n te a Is a ía s . N o A n tig o T e s ta m e n to , a
f ó r m u la o c o r r e q u a t o r z e v e z e s n o s a u to r e s p r é - e x ílic o s c 2 6 v e z e s n o s a u to r e s p ó s -e x ílic o s .
A s s im , a f ó r m u la e s tá b e m e s ta b e le c id a e m a m b o s o s p e r ío d o s . K a is e r c o n s id e r a u m “ a rtifi-
c io e s tilís tic o f a v o r ito d o r e d a t o r a c r e s c e n t a r m a is d ito s a o m a te ria l já p r e s e n t e ” , m a s n ã o h á
e v id ê n c ia p a r a is so . S e a lite r a tu r a is a ia n a é le v a d a e m c o n s id e r a ç ã o c o m o p ré -e x ílic a , e n tã o
o u s o p r é - e x ílic o e x c e d e o p ó s -e x ílic o , a q u e le c o m 4 7 u s o s e e s te c o m 2 6 . C o m c e r te z a , vai
O LIV RO DO SERVO 560
c o n t r a to d a r a z ã o q u e u m a m a n e ir a t ã o ó b v ia d c d iz e r a lg o ( v e n d o q u e o “ d ia d o S e n h o r ” é
u m lu g a r c o m u m p r é - e x ílic o ) s e ja u m s in a l d e e d iç ã o p ó s -c x ílic a !
561 ISAÍAS 5 1 . 1 7 - 5 2 . 1 2
1 S im o n , p. 19 6-19 7.
2 A te o ria é c m g e ra l p ro te g id a p e la s u p o s iç ã o d e q u e o p r o f e ta , p a ra o s p r o p ó s ito s d e sse
o rá c u lo , s itu o u -s c “ id e a lm e n te ” c m Sião.
O LIVRO DO SERVO 564
B A revelação: o te ste m u n h o h u m a n o , fu n d a m e n ta d o na
revelação divina, testifican d o o fato e o sen tid o d o so frim e n to
e d a m o rte d o S ervo (53.1 -9)
1 ( ) b s e r v e ta m b é m q u e as c in c o e s tro fe s d o p o e m a , c o n f o r m e in d ic a d o n o e s b o ç o , p o d e m
s c r a rra n ja d a s c o m n o v e , d e z , o n z e , d o z e c tre z e lin h a s re s p e c tiv a m e n te , c a s a n d o c o m o
e s p ír ito d o p r ó p r i o p o e m a d e a p r e s e n ta r o e n tu s ia s m o c m u m c re sc e n d o .
O LIV RO DO SERVO 566
B1 O so frim e n to o b se rv a d o e m al e n te n d id o (1-3)
B2 O so frim e n to explicado (4-6)
B3 O so frim e n to , v o lu n tá rio e im erecid o (7-9)
1 D. J. Λ. C lin e s, l, He, We and they: A I Jterary Approach to Isaiah 53, JSOTS, 1 (19 7 6 ), p. 11.
O I.IVRO DO SERVO 568
1 M u ile n b u rg , p. 617.
2 N o r t h , Second Isaiah, p. 227 .
569 ISAÍAS 5 2 . 1 3 - 5 3 . 1 2
A 1 U m a co n g re g a ç ão c re n te trazida à existência p o r in te rm é d io da
revelação (1)
B' O n a sc im e n to d o Servo: in ex p ressiv o e n ã o p ro m is s o r (2ab)
A2 As prim eiras reações daqueles que depois acreditariam : inexpressiva (2cd)
B2 A ex periência d e vida d o Servo: rejeição p o p u la r (3ab)
A3 D esv alo rizad o p o r aqueles q u e d e p o is cre ra m (3cd)
1 W e s te rm a n n , p. 26 2.
2 D. W. T h o m a s , Record and Revelation (O U P , 1 938), p. 393ss.
יY o u n g , p. 345.
O LIV RO DO SERVO 574
não responde ao hypo grego, mas ao apo [...] não que ten h am sido nossos
pecados e iniquidades que o transpassaram , [...] m as que foi transpassado
e esm agado p o r conta dos nossos pecados [...], os nossos, que ele tom ou
sobre si m esm o, [...] que foram a causa dele ter sofrido um a m o rte tão cruel
e d o lo ro sa.1
D e litz s c h , p. 31 8 .
O LIV RO DO SERVO 576
1 S m a rt, p. 1 75, 1 9 9 -2 0 0 , 21 1.
2 C lin e s e o u tr o s e s tu d io s o s p r e fe r e m s e g u ir a leitu ra d e Q ad o t e r m o 'am m ãw (“ se u p o v o ”),
e m v e z d e ‘ am m i (“ m e u p o v o ” ). M as as rá p id a s m u d a n ç a s d e p e rs p e c tiv a sã o h e m c o n h e -
c id as n o s p ro fe ta s . N o r t h su g e re a le itu ra d e am m ê (“ p e s s o a s d e u m g o lp e p a ra e le s” /
“ q u e m e r e c e m elas m e s m a s s e r g o lp e a d a s ”).
3 S ã o s u g e rid a s c o r re ç õ e s p a ra ‘ a s ir (“ r ic o ”), p o r e x e m p lo ( N o r t h , W h y h ray , C lin e s) ‘ o s e ra ‘
(“ m a lfe ito re s ”), ( B I IS ) s ' Ί rim (“ d e m ô n i o s ”).
583 ISAÍAS 5 2 . 1 3 5 3 . 1 2 ־
1 D o com eço ao fim da Bíblia, é ordenado o cuidado com a fala (Pv 22.21; Mt 5.37); a men-
tira é proibida (Lv 19.11; Cl 3.9); e a língua é descrita com o um perigo (|ó 5.21; T g 3.6) e
tam bém com o uma bênção (Pv 12.24; lP e 3.10). A fala é um indicador do coração (Mt
15.18); um sinal de inconstância (Tg 3.9ss.); um fator no dia do julgamento (Mt 12.36s.);
e pode ser a marca da perfeição (Tg ■3.2).
585 ISAÍAS 5 2 . 1 3 5 3 . 12 ־
1 Skinner reconhece que se o Servo é um indivíduo então “sua ressurreição tem de ser
aceita com o um fato literal, da mesma maneira com o sua m orte deve ser entendida de
form a literal” . Whybray tenta salvaguardar sua visão autobiográfica do Servo ao negar
que o Servo m orreu de fato: “As supostas referências ao sofrim ento vicario, m orte c
ressurreição do Servo são ilusórias” . lile observa que, em um salmo individual de ação
de graças, o princípio da inquietação é descrita em term inologia de “m orte”, e seu pas-
sarnento é visto com o libertação da m orte. N esse sentido, o Servo era considerado “ tão
bom quanto m o rto ”, “mas na verdade não se afirm a que ele m orreu”. F.le tem de admitir
que a expressão elefoi eliminado, se entendida de form a literal, deve significar m orte, mas
ele alude ao clamor: “ E stou cortado” (Lm 3.54, ARC) com o indicando que o verbo pode
ser usado para ameaça de m orte. N o entanto, W hybray leva em consideração a diferença
entre um clam or de alarme na aproximação direta da m orte e uma declaração factual de
que elefoi eliminado da ierra dos vívenles, que essa experiência foi infligida ao Servo porque
O LIV RO DO SERVO 586
versículos 13-15. O s fato s d o s versículos 1-3 (sua vida e so frim e n to ) são expli-
cad o s n o s versículos 4-6; e o s fatos d o s versículos 7-9 (sua m o rte v o lu n tária e
injusta) são explicados n o s versículos 10-12; passag em n a qual se d iz a últim a
palavra so b re o Servo.
“ meu povo” tinha com etido o crime capital da rebelião, e que a experiência foi seguida
pelo sepultam ento. O vocabulário de expiação usado p o r Isaías para o Servo, cm essência,
é um vocabulário de m orte. C om o vamos entender que o Senhor fez cair sobre ele a ini-
quidade de todos nós salvo se ele pagou o preço do pecado ao entregar sua vida? Dizer,
conform e o faz Whybray, que a frase “levará a iniquidade” (¡יnasa ’ ‘ãwôn) não ocorre no
poem a é um esquivar-se indigno, pois as expressões equivalentes “ fez cair sobre ele a
iniquidade” (isãbal ‘ãwôn ) e “levou o pecado” (Ίnãsã ’ hêt") ocorrem ali. D izer que, nem
m esm o se a expressão nãsã* ‘ãwôn ocorresse, ela podia não se referir a “punição e sofri-
m ento vicarios” é ignorar o uso de Vnãsã’ em K m 18.1,2 e de יisàbal cm Lm 5.7. Cheyne
estava correto em entender o versículo 11 com o “uma asserção enfática da expiação vicá-
ria com o o fundam ento de sua justa realização da obra” . C) vocabulário e o ritual do Dia
da F.xpiação (I.v 16), claramente, estão p o r trás do pensam ento de Isaías no capítulo 53.
Se ele quisesse usar toda essa imagem de carregar o pecado, voltando uma vez após a
outra às palavras que apenas podem lembrá-la e, ao m esm o tem po, não pretendesse que
entendéssem os que o Servo m orreu com o os animais na m orte ritual, ele teria de dizer
isso de fato com muita clareza. Λ m esma consideração se aplica à imagem da oferta pela
culpa do versículo 10, pois, cm todos os aspectos da oferta pela culpa (I.v 5.14— 6.7), a
m orte c exigida, e não há provisão concessionária de uma oferta sem sangue (com o cm
Lv 5.11-13).
587 ISAÍAS 5 2 . 1 3 - 5 3 . 1 2
1 Veja em especial SI 40.6-8<7-9>, passagem em que Davi teve um sinal de libertação (vv
1,2) e está confuso para encontrar um meio adequado de dar ação de graças. As formas
autorizadas falharam cm ser compatíveis com o prazer divino (lõ’ hapastii: v. 6 < 7 > ), mas
o cam inho para a obediência consagrada está à mão (v. 8<9>). Km Isaías 53, o Servo for-
nece a perfeita expressão dessa obediência (cf. 50.4-9) e a expressão lô ‘ hãpastã de Salmos
40 pode se tornar a form a yhwh hãpês (“ao Senhor agradou”, [ARA]) do versículo 10. Por
interm édio desse versículo em Isaías, Salmos 40 continua para atingir seu surpreendente
ponto culm inante em Hebrcus 10.5-18.
2 O verbo é ■ihãlâ (“estar doente”), mas a raiz é encontrada na form a hala’, com o é frequen-
tc cm verbos l-b (cf. 2Cr 16.12). Ksse últim o Aleph pode facilmente se afastar com o em
heh'ti para heh'fí' (2Rs 13.6; 6Á'G 74k). Assim, aqui tem os heh'íi para h e k lV .
O LIVRO DO SERVO 588
1 A l.X X inclui o pensam ento de o Senhor m ostrará a “luz” do Servo, c muitos estudio-
sos acham útil inserir isto no TM: “ele, depois de ressuscitar do trabalho árduo de sua
alma, verá a luz, ficará sadsfeito” . () fato de Q a trazer “vê a luz” tende a ser aceito com o
a confirm ação de que esse deve ser o texto hebraico correto, daí, a tradução da N VI. A
introdução é inofensiva, mas não acrescenta nada que não seja sugerido pelo TM com o
ele perm anece. A expressão “verá a luz” acontece em Jó 33.28; 37.21; Salmos 36.9<10>;
Is 9.2<1>. O utra m udança sugerida para o texto hebraico é alterar o term o '¡rá'á (“ver”)
para ·iràwà (“ saturar”), por essa razão, Clines (/, He, Weand They) traz “depois de ele ter be-
bido fundo da aflição” , e G. R. Driver (“ Linguistic [...] problem s”) diz: “ Lie será banhado
em luz” . N o entanto, o texto, com o perm anece, é idiomático, tem estilo e é mais emotivo
do que as alternativas sugeridas.
2 D. W. T hom as (Words and Meanings [CUP, 1968], ρ. 13) argum enta que aqui o term o ·iyada‘
é o verbo “ser hum ilhado” . Isso nos daria “e m /p o r meio de sua humilhação” , que c um
pensam ento aceitável.
גPara esse uso de / com o expressando a direção da ação verbal ou o recipiente déla veja
6.10 (“sejam curados”); 14.3 (“der descanso”); G n 45.7 (“ salvar-lhes a vida”).
O LIV RO DO SERVO 592
aqui é um participio, “ aqueles cm situação de reb elião ” ; cf. v. 5a). (iii) E le agiu
c o m o um su b stitu to ao lev an tar e tirar (^/1« i ã ;־cf. v. 42) o verd ad eiro d elito (um
su b stan tiv o de \h ã !ã K, cf. 6.7) d e muitos, (iv) ele agiu c o m o m e d ia d o r e intercedeu.
Para o v erb o (ip ã g a ') veja o versículo 6. O se n tid o básico é “ fazer alcan çar”
e, p o r essa razão, “ fazer o p e d id o de alguém alcançar o o u v id o d e o u tre m ”
(interceder) o u “ in tro d u z ir alguém na p re se n ç a de o u tre m ” (m ediar). P o r co n -
seguinte, o S ervo é u m in te rm e d iá rio , in te rp o n d o -se e n tre as d u as p a rte s c o m o
um a p o n te , n ã o c o m o u m a b arreira. N o versículo 6, o S e n h o r p ô s seu S ervo
n o m eio, u sa n d o -o c o m o um m eio de d isp o r daquilo (n ossa iniq u id ad e) q u e o
alienou d e nós. A qui o S erv o vem v o lu n ta ria m e n te p a ra ficar c o n o sc o p ara q ue
q u a n d o carre g ar n o sso p ecad o , ele p o ssa n o s tra z e r a D eus.
1 W e s tc rm a n n , p. 2 74.
2 U m a p a la v ra sim ila r setep (“ d ilú v i o / in u n d a ç ã o ” ) é u m t e r m o f a v o rito d e Isa ías (8.8;
2 8 .2 ,1 5 ,1 7 ,1 8 ; 3 0 .2 8 ; 4 3 .2 ; 6 6 .1 2 ). T alv ez te n h a m o s a q u i u m c o lo q u ia lis m o c m q u e u m a
p a la v ra a tra ia a o u tr a e m u m s o m rim a d o .
3 A m u d an ça d e “ p o rq u e as águas d e N o é ” (ki m e nõah; RV) para como os dias de N o é (fcmê nõah) c
m ínim a, e o s e n tid o , e m e ssê n c ia , p e r m a n e c e in a lte ra d o , m a s u m a re fe rê n c ia à re al fo rm a
d o ju lg a m e n to (águ as) c m ais in d ic a tiv a d o q u e u m a re fe rê n c ia a b r a n g e n te a o p e río d o .
A lé m d isso , n ã o h á e x ig ê n c ia d e m u d a n ç a d e sn e c e ssá ria . F. o s “ t r a d u to r e s ” d e v ia m p e lo
m e n o s r e c o n h e c e r a o b r ig a ç ã o d e re g is tra r e m u m a n o ta d e ro d a p é o q u e e s tã o fa ze n d o .
601 ISAÍAS 5 4 . I - 5 5 . I 3
e stro fe d o p o e m a , está ligada à prim eira e stro fe p elo tem a d o s filh o s d e Sião
(1,13) e à seg u n d a e stro fe pela m e n ç ã o a pa% (10,13). D e ssa m an eira, essa es-
tro fe é um re su m o e um a co n clu são d o todo. E stá ligada ao cân tico d o S ervo
p re c e d e n te p elo c o n c e ito de retid ão (53.11; 54.14,17). N o versícu lo 10, a paz
foi g aran tid a pela aliança; n o versículo 14, ela é d e sfru ta d a p elo p o v o d a cidade;
em 53.11, a retid ão é g a ra n tid a àqueles p o r qu em o S erv o m o rre u e c o n c e d id a a
eles; n o versículo 14, é o c h ã o so b re o qual eles re p o u sa m e, n o v ersícu lo 17, é a
p o sse pessoal d e q u e eles d e sfru ta m . Λ p ró p ria seção é um d e se n v o lv im e n to do
p ro g ra m a d efin id o n o versículo 11. A quela a flita / “ d e sc o n so la d a ” é em b eleza-
da ( llb - 1 2 ) ; aquela açoitada p o r tem pestades/ “ castigad a” (N T L H ) (ou seja, pelas
circu n stân cias e h o stilid ad es da vida) fica segura so b re a fu n d a ç ã o de retidão
(13-17ab); e aquela não consolada (ou seja, p elo S en h or) p e rm a n e c e d ia n te dele,
um a serva v estid a em retid ão (17cd). E ssa un id ad e d e d e se n v o lv im e n to é apre-
sen tad a em um p a d rã o a-b-a-b. As palavras “ eis q u e e u ” (ARC) (hinneh ’ã«õ£/;
1 lb ,1 6 a) ligam as duas seções “ a” , e retidão/defesa (14a,17d) liga as seçõ es “ b ” .
1 P o r e x e m p lo , L v 2 5 .2 0 . V eja G K C 15 9 w e D h o r m e s o b r e J ó 4.18.
2 A f o r m a m é ’d fi é a m e s m a d e m e 'itti, e o s e n tid o “ c o m m in h a a u to r id a d e ” é b e m e x em -
p lific a d o e m l R s 1.27.
605 ISAÍAS 5 4 . I - 5 5 . I 3
S m a rt, p. 2 20.
O LIV RO DO SERVO 606
2 A frase por que gastar dinheiro naquilo que não é pão (cf. 44.20) refere-se ao pa-
g ao ig n orante d esp erd içan d o o trabalho árd u o e a riqueza a fim de se alim en tar de
cinzas! A c o n stru ç ã o escutem, escutem ó. um infinitivo ab so lu to (sim'ú sã m õ a ) signi-
fican d o “ o u ç a m c o m p ersisten cia” . E ssa c o n s tru ç ã o en fatiza o o u v ir e ta m b é m
o q u e tem exclusivam en te d e ser ouvido. A ex p ressão 0 que é bom é o v erd ad eiro
alim en to , n ã o o a lim en to sem valor nutritivo, o a lim en to q u e não épão de 2a. A
frase a alma de vocês se deliciará indica u m a satisfação de co ração , da p ró p ria pes-
so a e c o n tra sta c o m a e x p ressão não satisfa
3 A frase deem-me ouvidos e venham refere-se a re s p o n d e r p rin cip alm en te ao
o u v ir, su rg in d o d a esco lha deliberada d e fazer isso (lit. “ incline seu o u v id o ”).
E ança na ação (venham) p o r m eio da qual a palavra é o b e d e c id a e o co n v ite
e n c o n tra resp o sta. O q u e era m e táfo ra, venham às águas (1), ag o ra é realidade,
venham a mim. O S e n h o r é ele m e sm o o b an q u ete. O me d e p o is d e ouçam devia
ser o m itido. A alma é a essência total da p esso a. D a m esm a m an eira c o m o o
v e rd a d e iro alim e n to restau ra o c o rp o d e b ilita d o p o r m eio d o a lim en to q u e não é
pão, ta m b é m o alim en to da palavra d o S e n h o r traz a pesso a integral para a vida
q u e é d e fato vida.
3 c -5 O “ e ” inicial d o versículo 3c (o m itid o pela N V I) in tro d u z u m a ex-
p licação d a p ro m e ssa feita em 3b de q u e a vida é e n c o n tra d a nas b ê n ç ã o s de
u m a aliança eterna, d efinida adiante c o m o as p ro m e ssa s feitas a D avi, o rei d o
m u n d o (4). A ex p ressão firmes beneficencias (ARC) tra d u z u m a palavra h eb raica
n o plural (hos'd~e\ “ b o n d a d e infalível” , “ a m o r im utáv el”) q u e o c o rre treze vezes
n o A n tig o T e sta m e n to ; apenas S alm os 8 9 .1 < 2 > ,3 3 < 3 4 > ,4 9 < 5 0 > é relevante
aqui. A e stru tu ra d esse salm o é vital para n o sso e n te n d im e n to d essa palavra n o
plural, (i) O “ a m o r im utável” d o S e n h o r e s tru tu ra o salm o. O versículo 1 < 2 >
an u ncia-as c o m o o tem a; o versículo 4 9 < 5 0 > ad v o g a sua restauração, (ii) O s
v ersícu los l- 4 < 2 - 5 > defin em esses “ a m o re s” c o m o a aliança d o S en h o r, pc-
d in d o a D a v i (v. 3 < 4 > ) a c o n tin u a ç ã o e d o m ín io d e sua m o n a rq u ia (v. 4 < 5 > ).
(iii) D e a c o rd o co m o s versículos 5 -1 4 < 6 -1 5 > , o céu e a te rra ex u ltarão nisto:
Israel é o p o v o a b e n ç o a d o so b o rei d o S e n h o r (w . 1 5 -1 8 < 1 6 -1 9 > ). (iv) Isso
p o rq u e D avi tem u m lugar p articu lar n o esq u e m a d iv in o c o m o o u n g id o d o
S e n h o r (w . 1 9 -2 1 < 2 0 -2 2 > ). N a verdade, ele terá d o m ín io so b re o m u n d o (w .
2 2 -2 7 < 2 3 -2 8 > ) p o rq u e “ a m in h a fidelidade e o m eu a m o r [no singular, hasdi\ o
a c o m p a n h a rã o ” (v. 2 4 < 2 5 > ). A lém disso, ele p o ssu i um a linhagem d u ra d o u ra
(w . 2 8 -3 7 < 2 9 -3 8 > ) p o rq u e “ m an terei m eu a m o r [hasdi\ p o r ele p ara se m p re ” .
E sses d o is uso s ju n to s da palavra n o singular (hasdi, w . 2 4 < 2 5 > ,2 8 < 2 9 > ) de-
finem os plurais {has'd¿, w . 1 < 2 > , 4 9 < 5 0 > ) com os quais o salm o c o m e ç a e
term in a: D avi terá d o m ín io m undial e o c u p a rá um tro n o eterno.
A aliança, ta n to em Isaías 55.3 q u a n to em Salm os 89, é “ em fav o r” d o
recip ien te (aqui, “ farei u m a aliança e te rn a co m v o cês” ; Salm os 8 9 .3 < 4 > : “ Fiz
O LIV RO DO SERVO 608
1 O s c o m e n ta r is ta s (p o r e x e m p lo , W e s te rm a n n ) às v e ze s e n c o n tr a m a q u i u m a n o v a in -
te r p r e ta ç ã o d a id e ia d a a n tig a alian ça. A s b ê n ç ã o s fo c a d a s a n te s n a v in d a d e D a v i sã o
tra n s fe rid a s p a r a Isra e l, o p o v o q u e d e s f r u ta r á d e d o m ín io m u n d ia l. E x c e to n a m e d id a
e m q u e isso p o d e n e g a r a v in d a d e u m a p e s s o a m e s siâ n ic a (e, d aí, c o n tr a d iz e r o q u e Isaías
d isse a n te s ) n ã o h á n a d a a la rm a n te a r e s p e ito d o p e n s a m e n to d c u m p o v o d o m in a n te
( p o r e x e m p lo , A p 5.9 ,1 0 ). N o e n ta n to , n o c o n te x to , e ssa in te r p r e ta ç ã o é im p ro v á v e l, n a
v e rd a d e , im p o s sív e l. E la fo rç a ria o v e rsíc u lo 3 c d a se a lin h a r c o m o s v e rsíc u lo s l- 3 b . A
p r o m e s s a é q u e as n e c e s s id a d e s d a a lm a p e sso a l s e rã o sa tisfeitas. A aliança (3c) d e v e se r
u m a p r o m e s s a d e s s a s b ê n ç ã o s . C o m o seria p o ss ív e l e ssa s b ê n ç ã o s s e re m c o n c e d id a s p e la
m e ra g a ra n tia d e d o m ín io m u n d ia l? A lé m d isso , p o r q u e u m a m u d a n ç a tã o m a r c a n te d o s
p lu rais d o s v e rsíc u lo s 1-3 p a ra o s v e rsíc u lo s 4 ,5 , já q u e e ste s se o c u p a m to ta lm e n te c o m
u m a p e s s o a tra ta d a p o r v e rb o s e p r o n o m e s n o sin g u lar?
2 N o r t h , Second Isaiah, ρ. 2 58.
609 ISAÍAS 5 4 . I - 5 5 . 1 3
U m c h a m a d o ao a rre p e n d im e n to (55.6-13)
O breve te x to reescrito d o S ervo (49.1-6) surgiu d o re c o n h e c im e n to (48.22)
d e q u e n ã o há paz para o ím pio. P o rta n to , n ã o p o d e haver n e n h u m c h am ad o
in co n d icio n al à bênção. A m aldade, c o n sid erad a de fo rm a ob jetiv a, é tratad a
p o r m eio da m o rte d o Servo; a m aldade, c o n sid erad a d e fo rm a su bjetiva, exige
a rre p e n d im en to . Se p o d e m o s d iz e r q u e o c a p ítu lo 54 d e ta lh a o s b e n efício s o b -
jetivos d a m o rte d o S ervo c o n c e d id o s p o r D eu s, o c a p ítu lo 55 re sp o n d e a sua
sub jetivid ade ao en fa tiz a r a re sp o sta q u e traz esses b e n efício s p ara a ex p eriên -
cia pessoal. H á livre e n tra d a n a vida (1-5) p o r in te rm é d io da re sp o sta m o ral e
espiritual d e v o lta r para D e u s (6-11).
E ssa passagem c o n siste d e um ch a m a d o em três p a rte s so b re o te m a do
a rre p e n d im e n to (6,7) seguido d e um a c o m p ro v a ç ã o em três p a rte s d o ch a m a d o
(8,9, 10,11, 12,13). O b se rv e q u e os versículos 8, 10 e 12, to d o s c o m e ç a m co m
o “ p o rq u e ” explicativo, e cada um a das c o m p ro v a ç õ e s c o n té m u m a ilustração
tirada d a natureza.
expõem o abismei entre D eus e a com unidade [...], o abism o que prim eiro
alarm ou Isaías q u ando a santidade de D eus revelou a ele a profanidade de
Israel; o abism o m ortal entre eles m esm os e D eus que só p o d e ser trans-
p o sto pela resposta deles com todo seu ser à o ferta de p erd ão feita p o r
D eus.
su b stitu íd o s p elo s sím b o lo s d e vida. A frase isso resultará e>71 renome para o Senhor
é “ e se to rn a rá um n o m e para o S e n h o r” . A palavra “ n o m e ” resu m e o q u e é
revelado so b re a n a tu re z a divina.
N o e n ta n to , p a ra se r um to q u e m ais preciso, n ão é o p o d e r d o S e n h o r
q u e é revelado d essa m an eira, m as o “ n o m e ” d o S en h o r, sua p ró p ria n a tu re z a
in terio r, o tip o de D e u s q u e ele é. O p o v o tra n sfo rm a d o em u m m u n d o trans-
fo rm a d o será u m sinal eterno, “ significará” q u e m e o q u e o S e n h o r é. Q u a n d o o
p o v o re sp o n d e à palavra d o S e n h o r ch a m a n d o -o s a bu scar, a b a n d o n a r e vol-
ta r (6,7), o p o d e r eficaz d essa palavra (10,11) os traz para u m a ex p eriên cia d o
am or, d o p e rd ã o (7) e da paz (12) de D e u s e os eleva à m e m b re sia d e u m n o v o
m u n d o d e d u ra ç ã o etern a. Foi isso q u e o S ervo realizou.
S m a rt, p. 2 2 8 .
Isaías 56—66
O livro do Conquistador Ungido
Para u m a in tro d u ç ã o geral aos cap ítu lo s 56— 66, veja a página 29s. Λ in-
ten ção , na un id ad e editorial da literatu ra isaiana, é q ue leiam os d ire to d e 55.13
a 56 e o b se rv e m o s q u e 5 6 .Id e recapitula 51.5, a im inên cia d a “ re tid ã o ” e da
“ salvação ” d o S enhor. P o d em o s, p o rta n to , in titu la r esses cap ítu lo s finais de “As
características de um p o v o à e sp era” . M as ao ler m ais, d e sc o b rim o s q u e Isaías
te m em m e n te u m p o v o universal (p o r exem plo, 56.1-8; 65.1; 66.18ss.) e que
e n q u a n to eles, n esse ín terim , se envolvem co m a b u sca das b ê n ç ã o s d e um a
vida d e o b e d iê n c ia ( 5 6 . 1 5 8 . 1 - 1 4 ;8 )־, eles ta m b é m têm d e vigiar p o r n o v o s atos
d o S en ho r. Pois n o c e rn e desses capítulos está a visão de u m U n g id o (59.21;
61.1-3; 61.10— 62.7; 63.1-6) co m a d u p la tarefa de salvar e v in g ar (p o r exem -
pio, 61.2; 63.4,5). E esse p erso n ag em , o C o n q u ista d o r U n g id o , q u e, co m o Rei
n o s c a p ítu lo s 1-37 e o S ervo n o s cap ítu lo s 38-55, grava sua p e sso a e o b ra n o
m o v im e n to final d o p e n sa m e n to de Isaías c o n fo rm e m o stra o seg u in te e sb o ç o
d iagram ático.
b2 Λ b ê n ç ã o m ais q u e c o m p e n sa d o ra (4,5)
a2 A alegria de ser aco lh id o na fam ília d o S e n h o r (6,7)
A 2 A b ê n ç ã o ainda p o r vir: o p o v o re u n id o (8)
com certeza sido observados p o r m uito tem p o em Israel [...] enq u an to vi-
viam no exílio em m eio a um povo que não praticava a circuncisão, o bom
e antigo costum e, de repente, se to rn a aqui um sinal de diferença. O mes-
m o é verdade para o sábado, |...J foi no exílio que o sábado e a circuncisão
conquistaram um status confessionis que eles perseveran) d epois.1
(9). E ssa peça é a te m p o ra l em sua aplicabilidade aos reis d av íd ico s e aos aventu-
reiro s o p o rtu n ista s q u e se a p o d e ra ram d o tro n o d o R eino d o N o rte . Pois cada
u m d o s anim ais, c e d o o u tarde, c h e g o u para o ban q u ete.
9 O v e rb o devorar (TB) é u m a trad u ção b e m feita em vista d o fato q u e é
dirigido aos anim ais; a palavra hebraica é o “ p o lid o ” v e rb o c o m u m “ c o m e r” .
A final, lhes é p e d id o q u e vão ao palácio! O tem a d o a d v e n to e d o d o m ín io dos
anim ais sim b o liza o a b a n d o n o d a lei d o S e n h o r (Lv 26.22; D t 28.26; 32.24; 2Rs
17.25) e aqui an u n cia o tem a de julgam ento, q u e o s versículos 10 e 11 justificam
e q u e o inclusio |criar u m a e stru tu ra ao p ô r m aterial sim ilar n o início e n o final
d e u m a seção] n o versículo 12 conclui.
10,11 O s títu lo s aqui q u e a b re m a prim eira e a terceira e stro fe s, sentinelas
(10a) e pastores (11c), c o n tra sta m do is asp ecto s d o v erd ad eiro líd er — p ro teg er
d o p erig o e x te rn o e cu id ar d a n ecessid ad e in tern a. E m u ito te n ta d o r seguir o
Q ‘ e p e rm itir q u e a e stro fe d o m eio n ã o c o m ece co m hõzim (deitam/ “ so n h ad o -
res” [ARA]), m as c o m hõzim (“ v id e n te ”), p o r m eio d isso c o m p le ta a im agem
co m u m a referên cia “ p a ra cim a” d a liderança espiritual d e tra z e r u m a palavra
d o S enhor. M as a m u d a n ç a é m u ito ó bvia para cau sar im p ressão , e, n o todo,
o equilíbrio d o v o cab u lário nas três estro fe s vai c o n tra isso, em especial a re-
ferência aos cães q u e liga a seg u n d a e stro fe à prim eira. D u a s p alavras postas
lado a lado n o versículo 10a, sentinelas e cegas, e n o versícu lo 10c, cães e mudos.
S o m o s co n v id a d o s a se n tir o a b su rd o da im ag em , a rir se isso n ã o fo sse trági-
co. A inv estida n o v ersículo 10 é a sim ples acu sação “ n ã o tê m c o n h e c im e n to ”
(10b, veja acim a), falta-lhes as qualificações básicas para seu cargo. A expressão
deitam-se é u m p a rtic ip io ('¡haza) q u e n ã o é u sa d o em o u tra p assag em . W atts,
se g u in d o o enbypnia^omai d a L X X , d e fe n d e o te rm o “ s o n h a d o re s ” , m as a KB
o ferece “ p a lp ita n te ” . Sonham c “ d e ita r” . A essa im ag em d e indo lên cia, as linhas
finais d a e stro fe ( l l a b ) a crescen tam gan ân cia insaciável. O s o lh o s d o s líderes,
que dev eríam se v o lta r p a ra o ex terio r, q u e r em vigilância (lO a-d) q u e r em cui-
d a d o ( llc - f ) , estão v o lta d o s para o in terio r, para o p ró p rio b e m -e sta r deles. A
terceira e stro fe inicia (11c) co m u m a ex p lo são indignada: “ E eles são pastoreé
(ARC). D a m e sm a m an eira c o m o n ã o c o n seg u em v er a ap ro x im ação d o perigo
(10a), p o rta n to “ n a d a c o m p re e n d e m ” (ARC) (11c); eles n ã o têm a v erdadeira
sensibilidade d o p a s to r para as n ecessid ad es d o reb an h o . A ex p ressão todos se-
g uem / “ to d o s eles se to rn a m ” (ARC) é rem in iscen te de 53.6. A palavra vantagem
(besa*), palavra essa usada c o m regularidade co m se n tid o ru im , d e n o ta g a n h o
c o n se g u id o p o r m eio d e violência, sem escrú p u lo . O te x to h eb ra ic o acrescen-
ta q ue cada um procura [ab solutam ente], o u seja, está to ta lm e n te a b so rv id o na
b u sca.1
1 S m a rt, p. 241 .
2 O u s o fig u ra tiv o d a “ p r o s titu iç ã o ” o c o r r e 4 3 v e z e s n o A n tig o T e s ta m e n to . O s d e s e n -
v o lv im e n to s m ais e x te n s o s e s tã o e m E z 16 e 23, e o e x a m e m ais p r o f u n d o d o te m a e m
O se ia s. A s o u tr a s o c o r rê n c ia s e m Isa ías s ã o 1.21 e 2 3 .1 5 -1 7 . N ã o h á r e fe re n c ia à a c u s a ç ã o
d e p r o s titu iç ã o s e r d irig id a c o n tr a o p o v o p ó s-e x ílic o .
631 ISAÍAS 5 6 .9 - 5 7 . 2 i
Y o u n g , p. 4 0 2 -4 0 3 .
O LIVRO DO C O N Q U ISTA D O R U N G ID O 632
A frase descobriu seu leito significa tirar da p riv acid ad e d o q u a rto c tra z e r à vista
d o p ú b lico ; as palavras subiu nele significam ficar disp on ív el; a e x p ressão 0 deixou
escancarado/ “ alargas” (ARC) significa alargar para to d o s os cantos. A frase fe%
acordo com aqueles é “ v ocê fez u m a aliança p a ra v o cê a p a rtir deles” , o u seja, em
seu p ró p rio favor e à cu sta deles.1 A ideia d e fazer u m a aliança, re m e m o ra n d o
q u e a aliança era o c ern e da relação co m o S e n h o r, enfatiza d e fo rm a delib erad a
a ideia d e ap o stasia e concessão. A c o n d u ta d o p o v o afeta o c e rn e d a g raça e
g racio sid ad e divinas. A frase aqueles cujas camas você am a m o stra q u e a van tag em
fin an ceira era apenas u m a p a rte d o m o tiv o ; m ais n o c e rn e está o d esejo d o
co ra ç ã o p ela vida de pecado. O se n tid o literal d e dos quais contemplou a nude% é
“v o cê viu u m a m ã o ” . A su p o sição p o r trás da tra d u ç ã o d a N V I é q u e “ m ã o ” é
u m e u fe m ism o p a ra o falo, m as n ão há ex em p lo (ou su gestão ) d isso n o A n tig o
T estam en to . O te rm o “ m ã o ” p o d e ser u m a m e tá fo ra para p o d e r o u recu rso s
p essoais, o u seja, a p ro stitu ta , antes de aceitar u m cliente, p ru d e n te m e n te avalia
sua c o n ta b an cária (não sua perícia sexual). Isso casaria co m a referên cia a “ fez
a c o rd o ” . O u m ais u m a vez em 1Sam uel 15.12 e 2Sam uel 18.18, a palavra “ m ã o ”
significa “ m o n u m e n to ” o u “ m em o rial” e, p o r co n seg u in te, u m a p o ssibilidade
de n o m e e fam a etern o s. P o r essa razão aqui: “ V ocê tin h a visões de estabilidade
e te r n a /f a m a d u ra d o u ra ” . Isso se ajustaria ao d e se n v o lv im e n to n o versículo 9
e ta m b é m se ajusta ao e sta d o de esp írito d o s reis q u e b u scav am aliança co m as
su p e rp o tê n c ia s d e sua ép o c a (p o r exem plo, a ilusão lu n ática de E zcq u ias em
relação a M erodaque-B aladã; 39.1ss.).
9,10 Isaías, em geral, explica suas m e tá fo ra s (p o r ex em p lo , 7.17,20; 8.7),
p o r isso, aqui ele a crescen ta a realidade c o rre s p o n d e n te à h istó ria da p ro stitu ta.
A queles q u e in te rp re ta v am de fo rm a equivocada o q u e ele está fazen d o m u d am
o te x to d e fo rm a a ficar vocêfo i até M oloque (m õlek ), em vez d e “ você foi até o
rei” (m elek ). A m u d an ça m a n té m o tex to em c o n ta to co m o e le m e n to religioso
d o s v ersículos 6 e 7, m as d e algum p o n to d e vista n o versículo 8 (com certeza
de acordo/ “ c o n c e rto ” [ARC] em diante) o o u tro lad o d a m e tá fo ra vem à tona:
a p ro stitu iç ã o de si m e sm a de Israel a fim de g a ra n tir q u e o “ p o d e r” m ilitar das
g ra n d e s p o tên cias estivesse a seu lado. E zeq u iel 16 e 23 exem plificam esses dois
lad o s da m e tá fo ra d e “ p ro s titu ta ” . Se n ã o c o n se rv a rm o s o te rm o “ rei” aqui,
n ã o h á c o n te x to para em baixadores — a m e n o s q u e p e n se m o s em um a ten tativ a
literal d e ir ao m u n d o d o Sheol (não ao sepulcro [ARA])! M as o c o n te x to para
essa referên cia são os capítulos 7 e 28— 35, o s p erío d o s d e d e sa stro so s flertes
c o m a A ssíria e o E gito, resp ectiv am en te. E m 28.14,15, Isaías u so u a m e tá fo ra
d o S h eol p a ra e x p o r os po lítico s q u e v o ltaram acen an d o seu p e d a ç o d e papel e
falan d o so b re “ paz em n o sso te m p o ” — eles tin h am apen as assin ad o a o rd e m
d e m o rte nacional! A m esm a coisa a c o n te c e aqui. E ssa n ão é u m a ten tativ a de
esse te m p o vier, eles “ clam arão ” , m as sua coleção (de ídolos é u m acréscim o expli-
cativo) será e x p o sta c o m o inútil (cf. 2.20; 31.7). E m c o n tra p a rtid a ao S en h o r,
c o m p ro m e tid o em “ re u n ir” (iq ã b a s) um p o v o universal p ara ele m e sm o (56.8),
o p o v o g u iad o pela p ro stitu ta reú n e (iq ã b a s) falsos deuses. P o r m ais sólidos
q u e eles p u d e sse m parecer, m as um vento , um sim ples sopro , u m “ a sso p ro ” (TB) é
su ficien te para os arrebatar [...].
O S e n h o r e su a fam ília ( 5 7 .1 5 1 9 ) ־
P o rta n to , essas forças n ã o são externas, elas são as forças de sua p ró p ria n atu re-
za. Λ e x p re ssã o incapasç de sossegar/ “ n ã o p o d e a q u ietar” (ARC) é m u ito enfática,
“ po is n ã o p o d e ficar q u ie to ” (TB). O v e rb o expelem c o ativo d o v e rb o i ga ras
c o m o se n tid o d e “ agitado, re v o lto ” ; to d a sujeira é trazid a a céu a b e rto (cf. M c
7.20-23). E ssa é a im ag em d a c o n d ição d o ím pio, m as a terrível realidade é pela
palav ra divina (di% 0 m eu D eus), o ím p io n ã o te m pasç. E ssa g ra n d e palavra de
inclusio [criar u m a e stru tu ra ao p ô r m aterial sim ilar n o início e n o final de um a
seção] (veja v. 2) o lh a além d este m u n d o para o p ró x im o m u n d o , o lh a além da
h u m a n id a d e p a ra D eu s. A ex p ressão os ím pios n ã o têm p a ^ c o m D e u s n em en-
tra m n a pasç n a m o rte.
A 1 A v o z d e re p re e n sã o (1)
B1 U m jejum sem u m a b ên ção : o falso ex p o sto ,
a ên fase n o aflito (2-5)
C O co n tra ste : o jejum d o e sc o lh id o d o S e n h o r
e as b ê n ç ã o s d essa disciplina esp iritu al (6-12)
a1 A ên fase social (6,7)
b1 As recompensas pessoal e espiritual (8-9b)
a2 A ên fase social (9c-10b)
b2 As re c o m p e n sa s p esso al e espiritual
(10c-12)
B2 U m a festa c o m u m a b ên ção : a v erd ad e elogiada,
a alegria en fatizad a (13-14a)
A 2 A v o z d a p ro m e ssa (14b-d)
A voz d e re p re e n sã o (58.1)
O p ro p ó s ito d o p o e m a é p ro d u z ir a co n v icção d o p ecado. D e a c o rd o co m
57.19, o a rre p e n d im e n to é u m a o b ra criativa d o S en h o r, m as a p ro c la m a ç ão de
S m a rt, p. 2 47.
641 ISAÍAS 5 8 . 1 5 9 . 1 3 ־
sua palavra é o m eio q u e ele usa para criar p e n ite n te s (os quais e n c o n tra re m o s
em 59.1-13). A ex p ressão grite a lto / “ clam e em v o z alta” (ARC) é um a ex p ressão
ún ica e n fa tiz a n d o o real e v erd ad eiro u so da v o z h u m a n a , ex atam en te c o m o o
versículo 14d e n fa ü z a rá q u e a p ro clam ação re su lta n te é a boca do Senhor (v. 14,
A R C ). A trom beta (sôpãr ) era p ro e m in e n te nas narrativ as d o Sinai (Ê x 19.16,19;
20.18). A v o z p ro fé tic a aqui é a voz da lei, te n ta n d o e x p o r a rebelião (p esa ‘;
53.5,8) e o s pecados (h a ttõ "ot, falhas reais o u específicas; 6.7; 53.12).
ra m e n te h á algo m ais en volvido nas q u e stõ e s a p resen tad as aqui. Sem dúvida,
na a tm o sfe ra religiosa form alista indicada em 1.1 Oss. havia m u ito d o espírito
farisaico de L ucas 18.12' em q u e o e le m e n to d e “ deleite” n o S e n h o r p o r meio
d a o b ed iên cia resp o n siv a se tra n s fo rm o u na realização d e o b ra s m eritórias. O s
versículo s 3e e 4a co m eçam co m hên (“ e is /a c a s o ” (TB]), c h a m a n d o a atenção,
resp ectiv am en te, p ara o trab alh o e x te rn o p rá ú c o (3ef) e “ esp iritu al” (4ab) do
dia religioso deles. Isso n ão invalida um ato religioso se o p o v o e n c o n tra prazer
n o q u e e stã o fazen d o , m as eles estavam u sa n d o o dia d e jejum c o m o se fosse
um feriado — um ta n to c o m o o d o m in g o d o s n o sso s dias se tra n s fo rm o u em
u m seg u n d o sá b a d o sem anal. (4 que era um dia de d e sc a n so p ara o em prega-
d o r p a sso u a ser u m dia d e “ ex p lo ra ç ã o ” , o u “ o p re ssã o ” , p ara sua equipe. N ão
so m o s in fo rm a d o s c o m o isso se resolve; m as em c o n tra p a rtid a ao “ a g ra d o ”,
d e u m lado, havia ex p lo ração d o pró x im o , e, de o u tro lado, '¡nagas é o v e rb o do
“ fe ito r” de Ê x o d o 3.7. O s empregados (a ssa b d e V ãsab, “ estar em so frim e n to ”
e, p o r isso, en fatiza a q u alidade trab alh o sa d o tra b a lh o deles) é u m substantivo,
d o c o n trá rio , n ã o usado.12
4 a b “ E is” (ARC) q u e seu jejum termina em discussão é (lit.) “ v o cê jejua para
d iscu tir” e apenas aqui o v e rb o “ jejuar” é seg u id o da p re p o siç ã o “ p a ra ” . A iro-
nia é c o n tu n d e n te : u m a vez q u e seu jejum se m p re te rm in a em b riga, co m certe-
za é “ p a ra ” isso q u e serve! O q u e foi feito co m a in te n ç ã o d e in flu en ciar a D eus,
o b v ia m e n te , tro u x e à to n a o p io r d o e sp írito h u m a n o , p o is é fácil im ag in ar a
in q u ietu d e q u e resultaria se um a fam ília b asic a m e n te n ã o esp iritu al passasse o
dia ju n ta s e n tin d o cada vez m ais fom e! O lado p o sitiv o d essas acu saçõ es é que
os exercícios religiosos p ro v am sua validade ao serem p ro d u tiv o s em cu id ad o
(3f) e san tid ad e pessoais (4ab).
4 c -5 A ú ltim a e stro fe é a rejeição explícita d o S e n h o r d o s exercícios religio-
sos deles. O jejum — u m a su g estão calculada dirigida ao S e n h o r (3a-d), u m dia
de p ra z e r d o p ró p rio in d iv íd u o para a d e sv an tag em d e o u tro s (3ef) e p ro v o ca-
d o r d o s p io res e le m e n to s d o esp írito h u m a n o (4ab) — n ã o traz re su lta d o espi-
ritual (4cd) p o rq u e n ã o p assa de um a to fo rm al (5a-d); n ã o tem n e n h u m valor
n o céu (5ef). A frase e esperar que a sua vo^seja ouvida no alto é (lit.) “ a fim d e fazer
A a cu sação (59.1-4)
A falha p a ra a qual a passagem 58.3,4 ch am a a ten ção n ão está n o S en h o r,
m as n a reb elião e n o pecado, que causaram u m a sep aração (2ab) e alienação
(2cd). H á, em p articular, p ecad o s pessoais d e ação (3ab) e de fala (3cd) e peca-
d o s n o d o m ín io p ú b lic o (4ab). E m su m a, falta à vida u m só lid o fu n d a m e n to
(.apoiam-se) e in teg rid ad e pessoal (m entiras)·, as am b içõ es e m o tiv açõ es d a vida
(concebem) e seu e fe ito e resu ltad o (geram) ta m b é m são o e rro (4).
1 O te rm o eis (ARC) é “ vejam ” . A palavra braço devia ser “ m ã o ” , o sím b o lo
de ação, hab ilid ad e e recu rso pessoais. N ã o é c o m o se o S e n h o r o u v isse, m as
O LIVRO DO C O N Q U ISTA D O R U N G ID O 648
d o o que o p o v o achava nem o que achava que eles estavam fazendo, m as explica
as im plicações d e qualquer confiança que não seja a confiança n o Senhor. Talvez
eles te n h a m vin d o a um a posição planejada de confiança n o g overno, co n fian d o
na segurança coletiva de alianças defensivas arm adas, c o n fia n d o b o m senso fun-
dam en tal de to d a pessoa de boa-vontade; m as o fato é q u e to d a co n fian ça, exce-
to a p o sta n o S en h o r, é c o n fia r n aq u ilo q u e n ão faz sen tid o , n em é confiável. O
te rm o tõhu tra n sm ite um estad o de fluxo. Λ palavra m entiras n ã o é a m esm a do
versícu lo 3c, m as o te rm o m ais ab ra n g e n te s a w \ o esp írito d a inco n fiab ilid ad e,
to d a a aura de in d iferen ça à verdade. S o b re iniquidade Ç ãm ãl) veja 53.11 e so b re
m aldade Çãwen, “ e r r o ” e o p ro b le m a q u e ele causa) veja 55.7.
A d e sc riç ã o (59.5-8)
Λ a p re se n ta çã o m u d a para a terceira p esso a e é um a declaração objetiv a da
situação, ta n to da p ersp ectiv a figurativa (5a-6b) q u a n to da real (6c-7). A s linhas
iniciais (5ab) c o n tin u a m a p a rtir d o versículo 4d e a seção é co n clu íd a p o r um a
d eclaração sum ária (8). O s versículos iniciais {chocam [...j sai) e final (pa%[...jpa%)
são p alistró fico s, fo rn e c e n d o u n id ad e form al para a seção.
5 a -6 b O p rim e iro p a r de linhas o ferece as duas ilustrações, ovos e teias. O s
pares seg uintes d e linhas d esen v o lv em cada um a das ilu straçõ es cm sequência.
A s d u as ilu straçõ es são de u m “ p ro d u to ” , o p rim e iro prejudicial aos o u tro s
(5acd) e o se g u n d o inútil para o c ria d o r dele (5b,6ab). O v e rb o chocam está n o
te m p o p e rfe ito d e n o ta n d o ca rá te r fixo; tecem está n o te m p o im p erfeito , d en o -
ta n d o c o n d u ta habitual. H á um fa to r c o n sta n te em n ó s, c o m o p ecad o res, q ue
é u m a am eaça para os o u tro s e q u e nos deixa c o n tin u a m e n te ineficazes n o que
fazem o s p o r n ó s m esm os. O p e c a d o é um co n tág io e u m a fru stração . N o s ter-
m o s d a m e tá fo ra , comeré, c o m p a rtilh a r o s fru to s d o p e c a d o e, p o r c o n seg u in te,
c o m p a rtilh a r sua c o n d e n a ç ão {morre). O q u e b ra r1 d o o v o p o d e se referir à pre-
p aração p ara c o z in h a r e c o m e r o u p o d e re p re se n ta r o p o siç ã o aos p e cad o res e
seus cam inh os. D e to d o jeito, a m u d an ça de cobra (5a) p a ra víbora (5d) (as tra-
d u ç õ e s são um ta n to titu b e a n te s, ex p erim en tais), p ro v av elm en te, indica q ue o
q u e c o m e ç a m al se m p re fica p io r, q u e r nas m ão s d o am ig o (co m en d o ) q u e r nas
m ão s d o in im ig o (esm agando). A frase 0 quefa% em é (lit.) “ suas o b ra s” (com o
n o v. 6c). A ex p ressão “ tecem teias” é um a m e tá fo ra p ara fazer p lan o s (30.1)
e p ara c o b e rtu ra in ad eq u ad a (28.20). O m e lh o r e sfo rç o d o p e c a d o r deixa-o
insatisfeito, sem provisão.
6 0 7 E típ ico de Isaías explicar suas ilustrações, e os três pares seguintes de
linhas são d ed icad o s a isso. As palavras iniciais, suas obras, fo rm a m um a ligação
A confissão (59.9-13)
A p rim eira p e sso a d o plural indica q u e h á aqueles q u e vêm a se a rrep en d er.
A o b ra secreta d a cap acitação divina (57.19a) e o efeito d a p re g a ç ã o d a lei de
D e u s (58.1-14) o s tra z e m ao lugar em q u e são p re p a ra d o s para c o n fe ssa r as
trevas(9), a im p o tê n c ia (10), a am arg u ra (1 la b ), a d e se sp e ra n ç a (1 le d ) e a culpa
p esso al (12,13) d o pecado. N o s versículos 9-11, a ên fase é n a n ecessid ad e; n o
v ersículo 12, n a culpa. A s d istin tas fo rm as gram aticais (infinitivos ab so lu to s)
d o versículo 13 (veja abaixo) indicam q u e (co m o n o s w . 4 cd e 8) ele é u m su-
m ário q u e e n c e rra a estrofe.
651 ISAÍAS 5 8 . l - 5 9 . i 3
1 S m a rt, p. 2 54.
2 ( רte rm o ‘asmannim n ã o é e n c o n tra d o e m o u tra p a ssa g em , m as o se c o “ n ã o e x p lic ad o ” d e Kfí
é u m lap so su rp re e n d e n te . A palavra i~sãmên significa “ e star g o rd o , saudável” (cf. nusmanriim,
“ fo rte, saudável, v ig o ro so ” ; 10.16). O h e b raico te m m u ito s su b stan tiv o s fo rm a d o s c o m o aleph
d e p r ó te s e c o m o a q u i; p o r isso , “ o fo rte , v ig o r o s o ” .
O LIV RO D O C O N Q U ISTA D O R U N G ID O 652
P r e f á c io : a s i tu a ç ã o
( 5 9 .1 4 -1 5 a ) e a re a -
ç ã o (5 9 .1 5 b -2 0 )
O U n g i d o m e d i a d o r (3 U n g i d o
d a a lia n ç a (5 9 .2 1 ) A s b o a s-n o v a s na C) o b r a d e s a lv a ç ã o O d ia d a v i n g a n ç a
é p o c a d a s a lv a ç ã o e e ju s tiç a e m p r e e n - e o a n o d a s a lv a ç ã o
d a v i n g a n ç a ( 6 1 . 1 3 )־d i d a c o m a le g ria (6 3 .1 -6 )
(6 1 .1 0 — 6 2 .7 )
A g l o r io s a S iã o A g l o r io s a S iã o A g l o r io s a S iã o
A r e u n iã o d o p o v o O p o v o r e s id e n te : S e g u ra n ça p a ra sem -
d e to d o o m u n d o , as o s s a c e rd o te s d o p r e , a r e u n iã o d o s
n a ç õ e s s e r v a s (6 0 .1 - S e n h o r, as n a ç õ e s p o v o s , o S a lv a d o r
22) s e r v a s (6 1 .4 -9 ) p o r v ir (6 2 .8 -1 2 )
655 ISAÍAS 5 9 . 1 4 - 2 0
a ssu n to decidido. A s ex p ressõ es meu Hspírito e minhas palavras são, resp ectiv a-
m e n te , a vida d o S e n h o r e a verd ad e d o S enhor. O U n g id o c o m p a rtilh a d a vida
divina e vive so b a v erd ad e divina, e o q u e ele d e sfru ta , ele m a n té m em cu stó d ia
p ara c o m p a rtilh a r co m sua “ p o ste rid a d e ” (A RC). A p esar de d o ta d o d o E sp írito
e d a p alavra, a ênfase, c o m o em 61.1-3, está na p o sse e m in istério d a palavra.
E ssa p alavra divina n ã o partirá, o u seja, ela p e rm a n e c e rá n o sinal c o n tín u o d o
U n g id o e das g eraçõ es p o r vir. O s filh o s/ “ tua p o ste rid a d e ” (ARC) e seus deseen-
dentes/ “ p o ste rid a d e da tua p o ste rid a d e ” (ARC) n ã o só ligam a passagem com
53.10, m as re m o n ta m a G ên esis 22.18 e m ais para trás ain d a à “ d escen d ên cia
dela [a m u lh er]” (N T L H ) em G ên esis 3.15 (cf. o s “ d e sc e n d e n te s” d e Sião em
54.3 e a “ p ro le ” d o ta d a d o E sp írito em 44.3). A d u p la afirm ação , di% 0 Senhor
(veja acim a), em um esp a ç o de te m p o tã o breve é m u ito enfática.
V eja W ad e e C h e y n e.
O LIV RO DO C O N Q U ISTA D O R U N G ID O 660
aqui. P rim eiro, em relação à salvação, o q u e o S e n h o r faz p o r Sião ele faz para
o m u n d o . A o b ra p a rtic u la r é de relevância universal, o m u n d o é salvo n a sal-
v ação d e Sião. S eg u n d o , ap esar d o e sfo rç o m issio n ário para alcançar as p esso as
n ã o ser d e sc o n h e c id o n o A n tig o T e sta m e n to , D e u te ro n ô m io 4.5-8, Jo su é 2.10
(R aabe) e 2R eis 5 (N aam ã) falam m ais tip icam en te d a qualid ad e m ag n ética d o
S e n h o r e das p esso as e n tre as quais ele é e n c o n tra d o . A s trevas c o n stitu e m ta n to
as circu n stân cias da vida q u a n to a experiência d o p o v o , m as a so lu ção está n o
q u e a c o n te c e a você. A experiência d o p o v o d o S e n h o r é su p e rio r e privilegiada,
m as n ã o exclusivista.
3 As nações c o s reis, os do is asp ecto s da vida o rg an izad a — as g o v e rn a d a s
e os g o v e rn a n te s — significam re sp o sta total. E les ta m b é m figuram n a o b ra
d o S erv o (49.7; 52.15). A qui ta m b é m é o c u m p rim e n to d o c h a m a d o universal
em itid o em 55.1.
4 O c o m e ç o d esse versículo é idêntico, palavra p o r palavra, a 49.18a em
u m c o n te x to paralelo. A s ex p ressõ es todos [...] os seus filh o s c suas filh a s são enfá-
ticas — as n açõ es e ta m b é m os filhos d e Sião se ju n tam n essa g ra n d e m arch a
p a ra casa na qual a distância n ão é u m a b a rre ira {de longe) e a fragilidade (carre-
g a d a s/ “ n o s b ra ç o s das m ães” [N T L H ]) n ã o é um im p ed im en to . C o n fin a r um a
p ro fe c ia c o m o essa à volta da B abilônia significa n ã o o u v ir o q u e Isaías está
d izen d o . E le p ro c u ra um a reu n ião universal (en v o lv en d o até m e sm o viagem
p o r m ar, veja v. 9).
5 A visão da g ra n d e pro cissão en co rajará Sião, q u e ficará radiante (in ã h a r,
“ irradiar” ; SI 3 4 .5 < 6 > ). E ssa reação é explicada pelo reco n h ecim en to de Sião
(v. 5c co m eça co m “e n tã o ”) de que tu d o é para seu enriquecim ento. A frase a
riquetça/ “ ab u n d ân cia” (ARC) dos mares é provavelm ente u m a alusão às terras que
só p o d e m ser alcançadas p o r mar. N o en tan to , o te rm o m ar pc >de ser u sado m e-
tafo ricam ente para tu d o que se o p õ e ao g o v e rn o d o S en h o r (51.10; SI 93) e, p o r
co n seg uin te, a in ten ção aqui p o d e m ser seus antigos inim igos se to rn a n d o alegres
pag ado res d e im posto. A expressão será tra fid a é “ se v oltar para” ('íhãpak; co m o
em L m 5.2; S f 3.9). U m a vez que Isaías está p e n sa n d o n o fu tu ro em te rm o s de
cidade, a re u n iã o d o m u n d o na aceitação d o p o v o de D e u s é vista n atu ralm en te
n o s tem as d e p e re g rin a çã o e d e p a g a m e n to de trib u to . A realidade é a co n q u is-
ta das n açõ es p elo ev an g elh o e a reu n ião de to d o s na Sião celestial q u a n d o o
S e n h o r Jesu s voltar.
A nova posição das nações: aceitas material e espiritualmente pelo Senhor (60.6,7)
E m q u e te rm o s as n ações se reú n em ? D o lado delas, elas vêm “ p ro c la m a n -
d o o lo u v o r d o S e n h o r” (6e); d o lado d o S en h o r, ele aceita to ta lm e n te as o fe rta s
(7c) e os p re se n te s (7d) delas. M idiã, Fifá, Sabá, Q u eda r e N ebaiote são n o m es
re u n id o s de fo rm a im p ressio n ista p ara criar a sen sação de um m o v im e n to uni-
O LIVRO DO C O N Q U ISTA D O R U N G ID O 662
versal p ara Sião. M idiã fica n o e x tre m o sul, H fá fica a leste d o g o lfo p ersa; Sabá,
n o e x tre m o sul; Q uedar e Nebaiote, a leste n o n o rte e alcança o d e se rto árabe.
6 S o b re M idiã veja Juizes 6.1, passag em q u e teria e sta d o na m e n te de Isaías.
O an tig o sa q u e a d o r a m e d ro n ta d o r é agora o b e m -v in d o ad o rad o r. Proclamando
é “ traz[er| b o a s-n o v a s” (·¡basar; 40.9). As n ações n ã o vêm c o m o m eras recep-
cion istas d o s filhos de Sião, m as c o m o c o n v e rtid o s ao S e n h o r e c o m o “ evan-
gelistas” dele.
7 D a m esm a m aneira, os rebanhos deles são aceitos como ofertas n o p ró p rio
d ireito deles c o m o p articip an tes d o s b e n efício s d o altar, e n ã o n o se n tid o de
E sd ra s 6.9,10, passagem em q u e um g o v e rn a n te g e n tio fo rn e c e anim ais para o
sacrifício ex ecu tad o p o r Israel. O S e n h o r está p re p a ra d o para aceitar os p resen -
tes deles p ara adornar¡...¡ 0 meu glorioso templo/ “ e eu glorificare¡ a casa d a m in h a
gló ria” (ARC). N e sse capítulo, são usadas duas palavras d istin tas p ara a abran-
g e n te ideia de “glória” . O g ru p o de ■ikãbêd (1,2,13), em q u e a ideia é d e “ p e so ”
e, daí, “ im p o rtâ n c ia ” , e o g ru p o d e i p a ê r (7,9,13,19,21), em q u e a ideia é de
“ b eleza” . As palavras ex p ressam , resp ectiv am en te, a g lória q u e im p re ssio n a e a
glória q u e atrai.
1 A f o r m a “ a s e r v ir ã o ” n o s v e rsíc u lo s 7 e 10 e n v o lv e o a c ré s c im o d o su fix o p r o n o m in a l à
le tra nun p a ra g ó g ic a . G Ã T .'60e c o m e n ta d o z e p a s s a g e n s e m q u e isso o c o r re ( p o r e x e m p lo ,
J ó 19.2; P v 1.28).
2 Λ e x p re s s ã o permanecerão abertas é o p ie i d o v e r b o e a s u p o s iç ã o d e q u e é n e c e s s á ria u m a
f o r m a p a ssiv a faz a B U S a lte ra r p a ra o niphal. N o T M , a f o r m a é s u s te n ta d a p o r Q “ e é
e n c o n tr a d a e m 4 8 .8 e e m C t 7 .1 2 < 1 3 > , c o m u m s e n tid o p assivo.
O LIV RO DO C O N Q U ISTA D O R U N G ID O 664
lib e rta r das restriçõ es im p o sta s pelas p esso as (cativos é u m a d escrição negativa
d a criação d e um a so cied ad e h arm o n io sa) e a retificação das circu n stan cias (//-
bertação /.../ aos prisioneiros).
2 A re p e tiç ã o d o v e rb o proclam ar sinaliza q u e o q u e se segue recap itu la o
q u e p re c e d e u d e u m n o v o p o n to d e vista. O q u e está p o r vir é u m ano de favor,
um dia de ira. E m 49.8, o “ te m p o favorável” era a p re p a ra çã o e v in d a d o Servo;
em 60.7,10, o favor d o S e n h o r foi e ste n d id o à o fe rta trazid a p elo s g e n tio s e
ex p re sso n a co m p a ix ã o q u e ele d e m o n stro u c o m Israel e q u e atraiu o m u n d o
p ara Sião. O U n g id o p ro clam a que esse an o ch eg o u ago ra. A palavra dia, em
c o n tra ste co m o te rm o ano, expressa a c o n tu n d e n te e ráp id a o b ra d e vingança
realizada. M ais u m a vez, o q u e o S e n h o r p ro p õ e fazer, o U n g id o p ro clam a (cf.
59.17). Todos os que andam tristes serão c o n fo rta d o s, c o n fo rm e o S e n h o r p ro m e -
teu em 57.18. (O te rm o tristeza de 60.20 p e rte n c e ao m e sm o g ru p o d e palavra.)
M ais u m a vez, u m a in te n ç ã o divina é realizada p elo U ngido. O p e n sa m e n to de
vin gan ça é d eix ad o d e lado, e o fo co cai n o favor. P rim eiro , a re m o ç ã o d e to d o
m o tiv o d e tristeza (2c) e, d ep o is, a o b ra p ositiva d e tra n sfo rm a ç ã o (3a-g). A
palavra “ triste s” c o b re to d as as tristezas d a vida (p o r exem plo, G n 50.10,11),
m as o elo c o n te x tu a l co m 57.18 tra n sfo rm a a tristeza p elo p ecad o n o principal
p e n s a m e n to e n o m eio de e n tra r nas b ên ção s q u e se seguem .
3 A ex p ressão dar a é u m a tra d u ç ã o d u v id o sa na qual o te rm o isü m n ã o é
u sa d o a b so lu ta m e n te d essa m an eira em n e n h u m o u tro lugar, m as se m p re co m
u m o b je to afirm a d o o u im plícito. P o r essa razão, W atts o ferece “ d e te rm in a r
d ireito s a” p o rq u e acha q u e a tristeza d o versículo 2c era a re sp e ito d a p e rd a de
d ireito s d a te rra .1 A p e sa r d essa in te rp re ta çã o se r im prov áv el, ela está g ram ati-
calm e n te n a lin h a certa. E possível q u e d ev am o s e n te n d e r c o m o u m a referên cia
ao p ró p rio c o n so lo (“ d e te rm in a d o p a ra ”). D o c o n trá rio , um a vez q u e o te rm o
isitm e o in fin itiv o seguinte dar (■¡nãtan, “ c o n c e d e r”) c o m p a rtilh a m o significa-
d o de “ p ô r, colocar, d e te rm in a r, d esig n ar” , p o d e m o s tra n sfo rm a r o seg u n d o
em u m re su m o d o p rim eiro , e n fa tiz a n d o assim a ideia de “ d a r a to d o s os que
c h o ra m em Sião u m a bela c o ro a ” . D e to d a m aneira, a p en itên cia traz tra n sfo r-
m ações. P rim eiro , um a bela coroa em vecç de cincas. A s palavras-chave e n v o lv em as
m e sm a s letras: ¡ f'e r (lit. “ to u c a d o ” ; cf. Ê x 39.28; Is 3.20; 61.10; E z 2 4.17,23),12
em vez d e ’êper (“ cin zas” ; 2Sm 13.19; Is 58.5). A ssim , a lo c u ç ã o p rep o sitiv a
em ve% de (tahat), e x p re ssa n d o “ equivalência exatas, su b stitu iç ã o ” (p o r exem plo,
G n 22.13), é ace n tu a d a pela quase id en tid ad e das palavras. O S e n h o r su b stitu i
ex a ta m e n te a ferida p elo rem éd io e, um a vez q u e as cin zas d e p e sa r foram
p assad as na cabeça, ele aplica sua cura p recisam en te n o p o n to necessário. O
ó leo era p a ra m o m e n to s de alegria (SI 23.5), n ã o de d o r (2Sm 14.2). E m Sal-
1 W atts, v o l.2 , p. 30 3 .
2 A tra d u ç ã o d a N V I p o r bela coroa s u rg e p ro v a v e lm e n te d a s u p o s iç ã o d e q u e p r e r (“ to u ca -
d o , c o r o a ”) d e riv a d e Ί ρ ά ’αΓ (“ s e r b e lo ” )■
O LIVRO DO C O N Q U ISTA D O R U N G ID O 670
ciais c não c usado dessa maneira cm outras passagens. N a verdade, seu constante uso
abrangente, com o desvio de toda e qualquer maneira da norm a, resiste a esse estreitamen-
to de referência.
O LIVRO DO C O N Q U ISTA D O R U N G ID O 674
1 O bserve com o a expressão '"dõnãy yahweh (1,11) soa com o um inclusio [criar uma estru-
tura ao pôr material similar no início e no final de uma seção] em to rn o do poem a. Se os
versículos 5-9 não estivessem ali a form ação resultante seria m uito bem lida com o uma
unidade. Dividir um poem a dessa form a, usando as peças sabiamente separadas em seus
novos contextos, é exatam ente o que Isaías fez em 5.24ss.
675 ISAÍAS 6 1 . 1 0 - 6 2 .1 2
Smart, p. 263.
O LIV RO D O C O N Q U ISTA D O R U N G ID O 678
O ju ra m e n to d o S e n h o r (62.8,9)
8 Se fo r im p o sta u m a d istin ção de sim b o lism o , mão é in te rfe rê n cia p esso al,
o en v o lv im e n to d ire to d a p esso a, e braço c p o d e r pessoal. J u n to s eles a p o n ta m
para alguém q u e é fo rte o b a sta n te p ara a tarefa e está p re p a ra d o “ a ssu m ir a res-
p o n sab ilid ad e p o r ela” . Ju izes 6.1-4 oferece um ex em p lo h istó ric o d a situ ação
d o ju ra m e n to c o n te m p la d o (cf. 37.30s.); L evítico 26.16 e D e u te ro n ô m io 28.30-
33 o fe re c em u m c o n te x to co nceituai.
A p o sse e o g o z o estão c o n d ic io n a d o s à o b ed iên cia n a aliança. A n te rio r-
m e n te , o p o v o estivera ap en as sujeito aos atos d iv in os de p u n iç ã o e se via fra-
co d ian te d o inim igo. A g o ra a justiça de D e u s é satisfeita e n ã o h av erá m ais
p u n iç ã o severa n e m fraq u eza e m face d o inim igo. Q u a n d o a aliança se to rn a
realidade (o te m a d e c a sa m e n to n o c â n tic o p re c e d e n te; cf. 54.10; 55.3; 61.8) e
q u a n d o os a to s d ivinos d e justiça e salvação estim u lam re sp o sta s d e lo u v o r, a
isso, seg u em -se a p az e a segurança.
9 O v e rb o louvarão fala d o co ra ç ã o h u m a n o , sensível ao fa to d e q u e to d a
dádiva b o a e p e rfe ita é d o alto; a ex p ressão meu santuário fala d o co ra ç ã o d e
D eu s, d isp o sto e satisfeito em c o m p a rtilh a r festas de c o m u n h ã o c o m seu p o v o
c o m o n o s an tig o s dias das p rim icias (E x 34.26; N m 18.13; D t 26.1-11) e ofer-
tas d e p az (Lv 7.1 lss.). N o e n ta n to , ag o ra é a colheita to d a e a v in d im a q u e são
d e sfru ta d a s nas c o rte s d o S enhor. E m u m a palavra, os pátios do meu santuário
deix aram d e se r locais e lim itados para se to rn a re m u m sím b o lo d e to d a vida
c o m o aquela vivida na p re se n ç a d o S an to e d e to d a refeição c o m o a sagrada
c o m u n h ã o . S o b re santuário veja 60.13.
A g ra n d e p e re g rin a ç ã o ( 6 2 .1 0 1 2 ) ־
10 Para o s d u p lo s im perativos, veja 51.9,17; 52.1,11; 57.14; p ara o te m a d o
c a m in h o p re p a ra d o , veja 40.3ss.; 57.14; e para a p e re g rin a çã o p ara Sião, veja
24.16; 25.1ss.,6ss.; 27.12,13; 35.1-10. A im agem é de u m a cid ad e p re p a ra d a e
receptiva. O co n v ite foi feito, as p o rta s estão abertas, as e strad as fo ra m pavi-
m e n ta d a s d e novo. T u d o q u e foi d ito so b re a reu n ião d o s p e re g rin o s d o m u n d o
em Sião (quer c a rre g a n d o os filhos de Sião, q u e r tra z e n d o p re se n te s, q u e r vin-
d o p o r si só) é c o n su m a d o agora. N e m o b stá c u lo n e m in c e rte z a fru stra rã o a
jo rn ad a; a estra d a foi aplainada, a estra d a foi elevada. N ela, ta n to 0povo q u a n to
679 ISAÍAS 6 3 . 1 6 ־
1 O verbo nTyéz é derivado de ■inãzâ (respingar; cf. 2Rs 9.33; ls 52.15). f í H S lería uma letra
waw consecutiva aqui. Λ form a logicamente seria w ayyêz, mas ela aparece em 2Reis com o
wayyicç (veja G K C 76c). Driver (83; cf. G K G \(Ώ \Ρ ) observa casos com o esse, em que uma
O LIV RO D O C O N Q U ISTA D O R U N G ID O 682
simples letra waw se conecta com o que a precedeu, e o verbo im perfeito contribui sua
vitalidade para a cena e aponta para 43.28; 51.2; 57.17. N a seção 174, no entanto, ele trata
a presente form a com o “quase certam ente” um erro de im pressão para um a letra waw
com a form ação consecutiva.
1 O term o “m anchadas” traduz uma form ação verbal incom um ’eg'aln. G K C 56p afirma
que o questionável aleph inicial se sustenta, em vez de ele; mas 56k (observe J r 25.3) con-
sidera esse detalhe um erro de algum escriba. K B trata esse caso com o um exem plo de
uma form ação aphel, mas sugere que leiamos um niphal Çeggaêl). Q a traz g ‘Ity, presumi-
velmente g e‘aíí'1. Delitzsch frisa que a form a é um hiphilcom “ uma inflexão aramaica” e
observa 2Cr 20.35; SI 76.6< 5> (cf. CAT.'54a2).
2 A tradução por minha redenção (NVI, RSV) supõe um substantivo que não é
encontrado em nenhum a outra passagem e que não acrescenta nada para o sentido aqui.
Antes, o inverso, pois “meus redim idos” contém a ênfase correta nas pessoas e no rela-
cionam ento.
683 ISAÍAS 6 3 . I -6
K n ig h t diz:
1 G. A. K Knight, A BiblicalApproach to the Doctrine of the Trinity (Oliver and Boyd, 1953), p.
29.
2 Delitzsch, vol. 2, p. 456.
687 ISAÍAS 6 3 . 7 - 1 4
T u do com ido sob a palavra “santo” [...], que D eus está vivo, é transcen-
dente, im ánente, justo e totalm ente sem pecado, é aplicado p o r Isaías 63
e Salm os 51 para o E spírito de D eus. [...| O E spírito, com isso, recebe a
personalidade e o p ró p rio caráter de D eus m esm o.1
cessar (9a), a iniquidade ser esquecida (9b) e a aten ção favorável v o lta r (9c). A
e stro fe c o rre s p o n d e n te 63.17-19 lam entava um “ p o v o ” q u e n u n ca p o ssu ira de
fato suas p o sse s (18a).
8 0 te rm o contudo é “ m as a g o ra ” . O filho n ã o estaria ali a n ã o ser p e lo pai;
n em o p o te , a n ã o ser pelo oleiro; ta m p o u c o , o a rte fa to , a n ão ser p e lo artesão.
É n esse se n tid o q u e as três im agens são usadas. N ã o se d eve c u lp a r o pai pelo
q u e seus filhos fazem , n e m o oleiro pelo p o te danificad o , etc., m as a firm a r u m
re la c io n a m en to de d escan so n o a m o r divino (Pai), n a so b e ra n ia (oleiro) e no
cu id ad o (obra das tuas mãos). E sse re lacio n am en to faz p a rte d a realidade im utável
d e D eu s. P o r co n seg u in te, os filhos p o d e m v o ltar e p e d ir p a ra ser lev ad o s p ara
casa, o p o te p o d e b u sc a r o oleiro para o refazer. O c o rre d u as vezes na ú ltim a
e stro fe a palavra kullãnü (todos nós [6a, A R C |; todos nós [6c,8c,9d]) c o m o co n fis-
são; ela o c o rre duas vezes n essa e stro fe c o m o súplica.
9 D eseja-se u m a m u d a n ç a ab ra n g e n te em D eus: n ão ires (iqãsap, “ fu ro r,
raiva” ; um a palavra de significado g enérico, cf. v. 5c; 47.6; 57.17) e p ara não
re le m b ra r as o fe n sa s q u e n u tre m a raiva. O te rm o demais su g ere q u e a ira divina
p o d ia exceder o s lim ites perm issíveis, m as o tex to h eb raico é (lit.) “ em g ra n d e
q u a n tid a d e ” , significando “ co m to d a sua força in e re n te ” , o u seja, “ n ã o n o s
deixe se n tir to d o o p e so de sua ira” . E les, em vez disso, te n ta m co n se g u ir um a
nov a a titu d e de D eus. O te rm o olha é “ veja, o lh a ” (para nós e por d ev iam ser
o m itid os): “ O lh e , veja, n ó s oram os! S o m o s seu p ovo !”
W e s te rm a n n , p. 40 5 .
O LIV RO DO C O N Q U ISTA D O R U N G ID O 706
U m p ov o c a ra c terístic o e m u m m u n d o d e b ê n ç ã o (65.13-16)
U m u m a série de c o n tra ste s, e n c o n tra m o s o p o v o c o m ex p eriên cias d istin -
tas (13,14) e um n o m e d istin to (15), ao qual está asso ciad a a b ê n ç ã o universal
(16a-d). A explicação é u m a nova a titu d e p o r p a rte de D e u s (16ef).
13,14 A c o n ju n ç ã o portantorefere-se às p ro m e ssa s (8-10) e am eaças (11,12)
p reced en tes. O b s e rv e c o m o a ex p ressão meus servos faz u m elo c o m o versícu-
lo 9, e o tem a da fo m e e d a sede c o n tra sta co m o p ô r a m esa d o v ersícu lo 11. O s
v erb o s comerão e beberão têm de ser e n te n d id o s c o m o na p assag em 25.6; 55.1,2,
ou seja, o s e le m e n to s c o n tra sta n te s n ecessário s p ara a c o m p le ta n u triç ã o co r-
poral u sad a c o m o u m a im agem d a satisfação d e to d as as n ecessid ad es d a p es-
soa. A isso se so m a o e le m e n to d e (lit.) “ alegria de c o ra ç ã o ” , satisfação in terio r,
b em c o m o p ro v isã o exterior. P o r c o n tra ste , os q u e a b a n d o n a m o S e n h o r e se
v o ltam para os cu lto s (2-5,11,12) d e sc o b rirã o q u e fo ram c o n d e n a d o s p o r si
m e sm o s ao total n ã o c u m p rim e n to , à vergonha,o u seja, às esp eran ças fru strad as,
à angústia a g a rra n d o o c ern e (coração) d a p e sso a e ao quebrantamento de espírito,o
co lap so de to d a energia vital e atividade in ten cio n al.
15-16d N o versículo 15, o tó p ic o d o nome é esco lh id o , e o s d o is v ersícu lo s
são ligados p o r um p ro n o m e relativo (o m itid o n a N V I): “ o u tro n o m e , em co -
nex ão c o m o qual q u e m q u e r q u e seja” . A ssim , surg e um p ad rão . (3 n o m e q u e
leva àmaldiçãoc à miarte: na m ã o d o Soberano, 0 Senhor(15a-c) e o outronome (não
revelad o aqui) q u e liga co m b ê n ç ã o e sujeição ao Deus da verdade (15d,16a-d).
O “ n o m e ” significa tu d o q u e é essen cialm en te verd ad e em u m a p esso a. E m
re tro sp ectiv a, os escolhidoso s v erão c o m o os exem p lares d aq u eles so b re q u e m
cai ju sta m e n te a c o n d e n a ç ã o d e D eu s (p o r exem plo, J r 29.22) te rm in a n d o em
mforte]. O s p ro n o m e s na seg u n d a p e sso a d o plural (13b-15a) são su b stitu íd o s
pela seg u n d a p e sso a d o singular, tematará (TB), d e ix a n d o claro p ara o in d iv íd u o
a am eaça d e ju lg a m e n to (cf. um singular se m e lh a n te n o ju lg am en to d a p assa-
g em d e D t 28.48). A ex p ressão id io m ática de um “ singular in d iv id u alizad o r”
é c o m u m . S o b re seusservos, veja 54.17. A ação de d a r u m n o v o n o m e lem b ra
G ên esis 17.5, o fu n d a m e n to d o p la n o ab raâm ico d o S en h o r. O n o m e d iferen -
te, n aq u ela é p o c a c o m o aqui, “ significa” se to rn a r u m a p e sso a d ife re n te co m
707 ISAÍAS 6 5 . 1 1 2 5 ־
A vida n a n o v a c id ad e e n o m u n d o (65.21-25)
T rês im agens, p in tad as nas cores d esta vida, p ro je ta m a p e rfe iç ão d a vida
p o r vir. H averá g aran tia de p o sse p e rm a n e n te (21-22b), co m u m a explicação
(22c-f); c u m p rim e n to (23ab), co m um a explicação (23cd); e p az c o m D e u s
(24ab) cm to d a a nov a criação (25a-c), co m a im plícita ex p licação de q u e essa
p u re z a surge d o fato de q u e to d a a nova criação é meu santo monte (25de). A
fam ília fo rn e c e u m inclusio [criar um a e stru tu ra ao p ô r m aterial sim ilar n o iní-
cio e n o final d e um a seção] tó p ic o para as duas prim eiras seçõ es relacio n ad as
(21a,23cd). Isso está a lin h ad o co m a aliança abraâm ica (G n 17.7): “T i e a tua
s e m e n te ” (ARC).
2 1 ,2 2 A qui te m o s duas d eclarações positivas (21) co m suas c o n tra p a rte s
negativas (22ab). O p e n sa m e n to n ão é de co m e ç a r a c o n s tru ir e n ã o c o m p le ta r
a o b ra , m as d e c o n s tru ir e n ão se regozijar nisso p o rq u e o fru to d o trab alh o
foi ro u b a d o p o r um inim igo. Plsse era o d e stin o d o d e so b e d ie n te (D t 28.30).
Sua invalidação fala d e um a vida to ta lm e n te ce rta co m D e u s ta n to em casa
{construirão casas) q u a n to n o cam p o {vinhas), o u seja, em to d o lugar. A s vinhas
são o ex em p lo esco lh id o p o rq u e elas levam ta n to te m p o para ser cultivadas e
p ro d u z ir fru to q u e exigem co n d içõ es assentadas (p o r isso em Z c 8.12, a v in h a
é c h am ad a [lit.] “ se m e n te da p a z ”). A frase como osdias da árvore (ARC) é um a
im agem de du rab ilid ad e e longevidade, d o q u e tem lo n g o te m p o d e vida e está
firm e em seu lugar (cf. 16.14; 21.16). A sen ten ça gomarãopor longo tempo (TB) é
O LIV RO D O C O N Q U ISTA D O R U N G ID O 710
O ju lg a m e n t o e a e s p e r a n ç a (6 6 .1 - 2 4 )
1 D a m e s m a m a n e ira , A g e u é ju lg a d o d e f o r m a e q u iv o c a d a p e la in te r p r e ta ç ã o c o m u m d c
q u e ele e ra u m fo rm a lis ta d o te m p lo q u e e n sin a v a q u e a sa lv aç ão gira e m t o r n o d o te m p lo
c o m o tal. A n te s , su a p re o c u p a ç ã o e ra q u e o p o v o o b e d e c e s s e às e x ig ê n c ia s d iv in a s rela-
c lo n a d a s à p re s e n ç a d o S e n h o r e n tr e se u p o v o . N ã o c o n s tr u ir a casa eq u iv a lia a d iz e r q u e
e ra in d ife re n te o S e n h o r e s ta r (tu n ã o e n tr e eles.
O LIV RO DO C O N Q U ISTA D O R U N G ID O 714
1 W e s te rm a n n , p. 4 1 5 -4 1 6 .
2 W e s te rm a n n d ife re n c ia e ssa p a s s a g e m d a d e 5.1 9 n o fa to d e q u e ali “ o a n ú n c io d e Isa ías é
d e c o n d e n a ç ã o e a q u i é d e s a lv a ç ã o ” . M as, c m a m b a s as se ç õ e s, h á a m e s m a c o m b in a ç ã o
d e c o n d e n a ç ã o p a r a a q u e le s q u e re je ita m a p a la v ra e d e sa lv a ç ã o p a ra a q u e le s q u e se vo l-
ta m p a r a a p alav ra.
717 ISAÍAS 6 6 . 5 - 1 4
H in o d e J o h n N e w to n , “ B e g o n e , u n b e li e f ” .
719 ISAÍAS 6 6 . 5 - 1 4
O p ov o u n iv ersal d o S e n h o r (66.18-24)
O h o lo fo te b alan ça d e v o lta p a ra o o u tro g ru p o , o g ru p o d aq u eles q u e o
S e n h o r re u n irá n a n o v a Jeru salém . N e ssa p assag em , p a ssa m o s o círcu lo c o m -
pleto , ta n to p a ra 65.1 (veja o e sb o ç o na p. 698) q u a n to , n a im ag em co m p le ta ,
para 56.1-8 (veja o e sb o ç o n a p. 617). N a p ersp ectiv a d o N o v o T e sta m e n to ,
essa seção final tra n sp õ e a p rim eira e a seg u n d a vin d as d o S e n h o r Je su s C risto:
seu p ro p ó s ito p a ra o m u n d o (18), e seu m eio para realizá-lo (19-21), o sin a l
estab elecid o e n tre as nações, o re m a n e sc en te en v iad o p a ra ev angelizá-los (19)
e a reu n ião d e seu p o v o em “Je ru sa lé m ” (20) co m os g e n tio s em p len a m e m -
bresia (21). A Je ru sa lé m n ã o é a cidade literal, m as a cid ad e d e G álatas 4.25,26;
H e b re u s 12.22; A p o calip se 21. E x a ta m e n te isso, m as para Isaías — sem o p ri-
vilégio q u e te m o s d e v er em re tro sp e c to — foi u m a v isão d e p ro p o rç õ e s estar-
recedoras. D e algum a m a n e ira em relação aos p ro p ó s ito s d a n o v a criação d o
S e n h o r p a ra Sião, e seria tra n sfe rid o p ara aqueles q u e já fo sse m seu s c id ad ão s a
tarefa d e re u n ir d e to d o o m u n d o aqueles q u e seriam iguais a eles m e sm o s em
cid ad an ia e privilégio n o dia em q u e Je ru sa lé m seria o c e n tro d e p e re g rin a çã o
p ara to d a a criação; e q u a n d o to d o fa to r e p e sso a d e o p o siç ã o já fo ssem u m a
coisa d o passado.
E sse s versículos, d o p o n to d e vista literário, são em g eral im p re sso s c o m o
p ro sa , m as p o d e m se r arra n ja d o s c o m o v erso livre o u p ro sa rítm ica co m for-
m açõ es u n in d o o to d o . N o s versículos 18,19, o S e n h o r an u n cia q u e c h e g o u a
723 ISAÍAS 6 6 . 1 8 - 2 4
h o ra d e e stab elecer seu sinal e n tre as nações e de env iar em issário s p ara aqueles
que n ã o o u v ira m sua m e n sa g e m n e m viram sua glória. O s m en sag eiro s decía-
rarão a glória d o S enhor. N o s versículos 20-22, o s em issários tra z e m d e v olta
a Je ru sa lé m aqueles q u e são ch am ad o s seus “ irm ã o s” , e estes serão receb id o s
p elo S e n h o r c o m o m e m b ro s p len o s da c o m u n id a d e cultual. N o s v ersículos 23
e 24, o s fesdvais m ensais e anuais verão “ to d a a c a rn e ” (ARC) re u n id a em ado-
ração, d e sfru ta n d o os privilégios aos quais fo ram trazid o s e cien tes d o d e stin o
d o qual fo ram salvos.
A 1 U m a c o m u n id a d e universal é c o n te m p la d a (18,19)
B U m a co m u n id a d e de irm ão s é aceita em Je ru sa lé m (20-22)
A2 U m a c o m u n id a d e universal de a d o ração em sessão co n stan te(2 3 ,2 4 )
1 Y o u n g , p. 5 33.
2 V eja o s re le v a n te s a rtig o s e m I B D e ID B .
3 S o b re a m in h a , F. D . K id n e r esc re v e : “ O s in g re d ie n te s sã o o s d a c o z in h a . [...] F.ssas c o isas
se t o r n a m tã o in d is p e n s á v e is n o re in o d o sa c rifíc io q u a n to o s ã o n o d a h o s p ita lid a d e . [...]
P o r isso , D e u s ex ig e d e se u s a d o r a d o r e s n ã o s ó a c u s to s a d e c isã o d e d e d ic a ç ã o to ta l d e si
m e s m o s ( c o n fo r m e r e tr a ta d o n a o f e rta q u e im a d a ), m as, c o m ela, a o f e rta d o s in g re d ie n te s
c o r riq u e ir o s d a v id a d o m é s tic a e la b o r io s a ” (Sacrifice in the O ld Testament [T yndale P re ss,
1 9 5 2 ], p. 15ss.).
O LIV RO DO C O N Q U ISTA D O R U N G ID O 726
S m a rt, p. 2 92.
O LIVRO DO C O N Q U ISTA D O R U N G ID O 728