Você está na página 1de 203

Uma exposição do projeto da salvação,

desde a sua concepção "antes da fundação


do m undo" até a sua conclusão nos
"n ovos céus e nova terra".

ADÃO CARLOS NASCIMENTO


Adão Carlos Ferreira do Nascimento é casado com dona H ilda
e o casal tem dois filhos. O Reverendo Adão foi ordenado em 1975
e pastoreia a I a I.P. de Governador Valadares. Sua participação
na vida da igreja é intensa e j á publicou seis obras, com m ilhares
de exemplares vendidos.

C D ITO R A CULTURA C RISTÃ


R u a Miguel Telles Júnior, 382/394 - Cam buci
CEP 01540-040 - São Paulo - SP - Tel.:(011) 270-7099
Fax:(0-"l) 279-1255 - Cx. Postal 15.136 - CEP 01599-970
H Bíblia é nossa
T E S T E M Ü N H fl
Um a exposição do projeto da salvação>
desde a sua c o n c e p ç ã o "a n te s da
Fundação do m u n d o " até sua conclusão
nos " novos céus e nova terra".

A d ã o Carlos Nascimento
A B íb l ia é N o ssa T e s t e m u n h a
ADÃO CARLOS NASCIMENTO
© 1998, Editora Cultura Cristã.

Ia edição— 1998
Tiragem 3.000 exemplares

Revisão:
Maria da Graça Rego Barros

Editoração:
Rissato Editoração

Capa:
Missão Evangélica de Comunicação Visual

Conselho Editorial:
Cláudio Marra (Presidente),
Aproniano Wilson de Macedo.
Augustus Nicodemus Lopes,
Fernando Hamilton Costa,
Sebastião Bueno Olinto

CDITORO cu inm n cr istã


Caixa Postal 15136 - Cambuci
01599-970 - São Paulo - SP
Fone: (011) 270-7099 - Fax: (011) 270-1255
Superintendente: Haveraldo Ferreira Vargas
Editor: Cláudio Antônio Batista Marra
Í101 IfrCiOH §O H N t ZVIAI
COMECT .........

1. D e ETERNlBpE A ETERNIDADE ........... , l r............

2. D eu s c o m u r ic a seu p l a n o ................................................

3. Q uem é D eus ........................................................................................

4 A c r ia ç ã o d o u n iv e r s o e d o h o m e m .......................

5. A salva çã o n o A n t ig o T estam ento .........................

6. O povo de D eus n o A n t ig o T estam ento ....................

7. O po v o de D eu s n o IN o v o T e s t a m e n t o ...........................

8 . O VFRBO SE FEZ CARNE .............................................................._J.

9. P ro feta , S acerdote e R e i .........................................................

10. A v i n d a d o E s p í r i t o S a n t o ..................................................

11. A obra do p s p iR iT O S a n t o .....................................................

12. D e u s s a l v a p a r a s e m p r e ............................................................

13. S alvação: pa r a t o d o s o u só pa r a o s e l e it o s ? .......

1 4 . A I g r e j a .......... . 1 ...................................................................................

15. A o r ig e m d o P r e s b i t e r i a n i s m o ............................................

16. O P r e s b it e r ia n is m o n o B r a s il ...........................................

17. O b a t is m o c r i s t ã o .........................................................................

18.0 b a t i s m o d o s f i l h o s d o s c r e n t e s ...................................

19. A S anta C e ia .................................................................................

20. D í z i m o e o f e r t a s .............................................•'

21. A id e n t id a d e d o v e r d a d e ir o c r is t ã o

2 2 . A VIDA d f p o i s d e s t a v id a ..............................
COMECE 0QCII
“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos
tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regi­
ões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu, nele, antes
da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis
perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a ado­
ção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito
de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele
nos concedeu gratuitamente no Amado, no qual temos a re­
denção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a
riqueza da sua graça, que Deus derramou abundantemente so­
bre nós em toda a sabedoria e prudência, desvendando-nos o
mistério da stia vontade, segundo o seu beneplácito que pro­
pusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da
plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as
da terra; nele, digo, no qual fom os também feito s herança,
predestinados segundo o propósito daquele que fa z todas as
coisas conforme o conselho da sua vontade, a fim de sermos
para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos
em Cristo; em quem também vós, depois que ouvistes a pala­
vra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele
também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promes­
sa; o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua
propriedade, em louvor da sua glória. ”

Epístola de Paulo aos Efésios 1.3-14


1
DE ETERNIDADE 0
ETERNIDADE
“Ó profundidade da riqueza, tanto da sa­
bedoria como do conhecimento de D eus!
Quão insondáveis são os seus juízos, e
quão inescrutáveis, os seus caminhos!
Quem, pois, conheceu a mente do Senhor?
Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem
primeiro deu a ele para que lhe venha a
ser restituído? Porque dele, e por meio
dele, epara ele são todas as coisas. A ele,
pois, a glória eternamente. Amém. ”

Romanos 11.33-36

Em 1984, dois jornalistas norte-americanos lançaram um li­


vro que, na tradução para o português, recebeu o título de Falam
os Especialistas. A obra, embora registrando as opiniões de
especialistas, é “um magnífico compêndio de enganos, preconcei­
tos, mentiras e asneiras em geral, proferidos ao longo dos sécu­
los”. Ela registra, por exemplo, que Aristóteles declarou que a “sede
da alma e dos movimentos voluntários deve ser procurada no co­
ração. O cérebro é um órgão de importância secundária” . Que
tremendo equívoco do grande filósofo! Outro registro interessante
é a declaração do presidente da Twentieth Century Fox, empresa
cinematográfica que, em 1946, afirmou que a televisão não ficaria
seis meses no mercado; e acrescentou: “Quem agüenta ficar em
frente a uma caixa de madeira todas as noites?” Os anos passa­
ram, e a caixa de madeira arrasou a Fox! O livro é uma prova
incontestável do quanto o ser humano se engana.
Mas os maiores enganos e equívocos têm sido encontrados
na análise das relações do ser humano com o Criador, especial­
mente quando o assunto é a salvação. A idéia popular sobre a
salvação apresenta Deus sendo surpreendido pelo pecado de Adão
e Eva. A seguir, o Criador faz um plano para salvar a humanidade.
Inicialmente são feitos sacrifícios de animais. Deus vocaciona os
profetas para pregar a necessidade de uma volta para o Criador.
Tudo fracassa. E Deus envia Jesus para morrer na cruz, numa últi­
ma e desesperada tentativa de salvar a humanidade perdida. Mas,
o que Deus nos ensina através da Escritura Sagrada é bem diferente.
A História da Salvação tem as suas raízes na eternidade, an­
tes da fundação do mundo, antes da criação do homem. “O Pai, o
Filho e o Espírito Santo, antes que o mundo existisse, planejaram
juntos a salvação dos pecadores. Neste plano, Deus o Pai devia
enviar seu Filho ao mundo para resgatá-lo; Deus o Filho haveria de
vir voluntariamente ao mundo para se tomar merecedor da salva­
ção por sua obediência até à morte; e Deus o Espírito aplicaria a
salvação aos pecadores, instilando neles a graça renovadora”.1

O PACTO DA REDENÇÃO
Os teólogos chamam esse plano divino de pacto da reden­
ção (pactum salutis, em latim). Embora não exista na Bíblia Sa­
grada nenhum texto que fale explicitamente desse pacto, há evi­
dências claras de uma aliança entre as três pessoas da Trindade
para a salvação dos pecadores.
O apóstolo Pedro, no discurso feito no dia de Pentecostes,
afirmou que Jesus foi entregue para ser crucificado por mãos de
iníquos “pelo determinado desígnio e presciência de Deus” (At
'R . B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, p. 7.

8
2.23). A igreja, em oração, declarou que se ajuntaram Herodes e
Pôncio Pilatos, com gentios e povos de Israel, para fazerem contra
Jesus tudo que “ a mão e o propósito (de Deus) predeterminaram’’'
(At 4.28). As palavras desígnio e propósito (ambas tradução de
boitlê em grego) indicam uma deliberação tomada anteriormente.
Isto é confirmado em Efésios 3.11, onde está escrito que esse pro­
pósito é eterno, isto é, vai de eternidade a eternidade.
O apóstolo João escreveu que Deus “nos amou e enviou o
seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1 Jo 4.10).
E o apóstolo Paulo fala desse amor resultando numa deliberação
de nos salvar, decisão tomada “antes da fundação do mundo”
(Ef 1.4).
Outro fator importante a ser considerado é que Jesus se refe­
ria à sua missão salvadora como uma tarefa recebida do Pai (veja
Jo 5.30,43; 6.38-40; 17.4-12).
O plano de Deus para salvar o pecador tem a mais estreita
relação com a sua onisciência. “Há em Deus um conhecimento
necessário, que inclui todas as causas e resultados possíveis. Deste
conhecimento de todas as coisas possíveis, ele escolheu, por um
ato da sua vontade perfeita, levado por sábias considerações, o
que desejava levar à realização, e assim formulou o seu propósito
eterno.” 2 Mas devemos ter cuidado para não confundir o pacto
da redenção com o conhecimento prévio de Deus a respeito das
coisas que iriam acontecer. Deus deliberou não porque as coisas
iriam acontecer naturalmente, mas elas acontecem naturalmente
porque Deus deliberou que elas deviam acontecer.

O PAPEL DAS PESSOAS DA TRINDADE NO PACTO DA


REDENÇÁO
Cada uma das três pessoas da Trindade tem um papel espe­
cial no pacto da redenção. “Na redenção, em certo sentido, há
uma divisão de trabalho: o Pai é o originador, o Filho o executor e
-’Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p. 103.
o Espírito Santo o aplicador. Isto só pode ser resultado de um
acordo voluntário entre as pessoas da Trindade.”3

O Papel do Pai
Deus, o Pai, é o autor do pacto da redenção. “Na eternida­
de ele comissionou o Filho para se fazer merecedor da salvação
em favor dos pecadores. Ele inspirou os antigos profetas a predi­
zerem a vinda do Filho de Deus - na carne. Ele ordenou os sacri­
fícios cruentos da velha dispensação para prefigurarem o sacrifício
salvador do Filho na cruz do Calvário.”4
Deus, o Pai, enviou seu Filho, na “plenitude do tempo”, “nas­
cido de mtdher, nascido sob a lei, para resgatar os que esta­
vam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filh o s”
(G14.4,5). Ele preparou para o Filho um corpo não contaminado
pelo pecado (Lc 1.35; Hb 10.5). Dotou-o dos dons egraças ne­
cessários para a realização de sua tarefa. Enviou-lhe o Espírito
Santo (Is 61.1; Lc 3.22). O Pai apoiou o Filho na realização da
sua obra, livrou-o do poder da morte, habilitou-o a destruir os
domínios de Satanás e a estabelecer o reino de Deus. Por fim, o
ressuscitou dentre os mortos e o exaltou sobremaneira (At 2.22­
24; Fp 2.9-11).

O Papel do Filho
Deus, o Filho, tem uma dupla função na aliança da redenção:
ele é o fiador e o chefe de seu povo. EmHebreus 7.22 está escri­
to que “ Jesus se tem tornado fiador de superior aliança1'. A
palavra “fiador” é eggyos em grego, e significa “aquele que se faz
responsável pelo cumprimento das obrigações legais de outrem” .
Na aliança da redenção, Cristo se encarregou de expiar os peca­
dos do seu povo, sofrendo pessoalmente a punição necessária, e
de satisfazer as exigências da lei pelo mesmo povo. E, ao tomar o

’Louis Berkhof, obra citada, p. 268.


*R. B. Kuiper, obra citada, p.8.
lugar do homem delinqüente, ele se fez o último Adão e, como tal,
é o Chefe da aliança, o Representante de todos quantos o Pai lhe
deu. Então, na aliança da redenção, Cristo é o Penhor ou Fiador e
o Chefe.”5
O Filho assumiu a natureza humana com suas fraquezas, mas
sem pecado, nascendo de uma mulher (G14.4,5). Colocou-se sob
a lei, guardando-a perfeitamente (Fp 2.6-8). Sofreu a penalidade
de nossos pecados e conquistou a vida eterna para todos quantos
nele crêem. Por isso, o Pai lhe deu todo poder no céu e na terra
(Mt 28.18) para governo do mundo e de sua igreja; e o fez “Medi­
ador, com a glória que, como Filho de Deus, tinha com o Pai antes
de existir o mundo”6

O Papel do Espírito Santo


A função de Deus, Espírito Santo, no pacto da redenção, é
aplicar aos pecadores eleitos para a salvação a obra redentora de
Cristo. Isto pode dar uma falsa idéia de que a obra do Espírito
Santo é pequena e limitada - mas não é assim.
Quando os profetas do Antigo Testamento predisseram o
nascimento, o ministério, a morte e a ressurreição do Salvador,
eles o fizeram “movidospelo Espírito Santo” (2Pe 1.21).
O Espírito Santo atuou em Jesus durante toda a sua vida
terrena. Jesus foi gerado no ventre da virgem Maria, por obra do
Espírito Santo (Lc 1.30-35; Mt 1.20). Jesus foi ungido com o Espí­
rito Santo para realizar o seu ministério (L c4.14-21). Ao assumir
a natureza humana, Jesus abriu mão do uso de seus poderes divi­
nos. Por isso, seus milagres foram realizados pelo poder do Espí­
rito Santo. Deus, o Pai, ressuscitou Jesus dentre os mortos, medi­
ante a atuação do Espírito Santo (Rm 8.11).
“O Espírito Santo ... é o único agente eficaz na aplicação da
redenção. Ele convence os homens do pecado, leva-os ao arre-
5Louis Berkhof, obra citada, p. 268.
6Louis Berkhof, obra citada, p. 272.

u
pendimento, regenera-os pela sua graça e persuade-os e habilita-
os a abraçar a Jesus Cristo pela fé. Ele une todos os crentes a
Cristo, habita neles como seu Consolador e Santificador, dá-lhes o
espírito de adoção e de oração, e cumpre neles todos os graci­
osos ofícios pelos quais eles são santificados e selados até ao
dia da redenção.” 7
O PACTO DA GRAÇA
Baseado nesse pacto ou aliança da redenção, Deus esta­
beleceu com o homem pecador um pacto de amizade e salvação,
denominado pelos teólogos de pacto ou aliança da graça. Nesse
pacto, Deus oferece ao pecador a salvação e a vida eterna através
de Jesus Cristo. O teólogo Louis Berkhof definiu esse pacto como
“o acordo feito, com base na graça, entre o Deus ofendido e o
pecador ofensor, porém eleito, no qual Deus promete a salvação
mediante a fé em Cristo, e o pecador a aceita confiantemente, pro­
metendo uma vida de fé e obediência.”8
O pacto ou aliança da graça foi revelado pela primeira vez
logo após a queda, quando Deus disse à serpente: “Este (o des­
cendente da mulher) teferirá a cabeça (da serpente)” (Gn 3.15).
Este texto é chamado de proto-evangelho. Mas o estabelecimento
formal da aliança da graça foi feito com Abraão. “O estabeleci­
mento da aliança com Abraão marcou o início de uma igreja
institucional. Nos tempos anteriores a Abraão havia o que se pode
denominar ‘a igreja em casa’. Havia famílias nas quais a religião
verdadeira achava expressão, e sem dúvida havia também reuni­
ões de crentes, mas não havia definidamente um corpo assinalado
de crentes separado do mundo e que pudesse chamar-se igreja.
Havia ‘filhos de Deus’ e ‘filhos dos homens’, mas não eram ainda
separados por uma linha de demarcação visível. Na época de
Abraão, porém, foi instituída a circuncisão como ordenança si­
nalizadora, como insígnia de membro e selo da justiça da fé.”9
7Confissão de Fé de Westminster, capítulo XXXIV, parágrafo IH.
8Louis Berkhof, obra citada, p. 278.
’Louis Berkhof, obr.a citada, p. 296.
O pacto feito com Abraão foi ratificado com a nação israelita
- a descendência de Abraão - no Monte Sinai. Ali Deus deu a lei
e estabeleceu normas que deviam ser observadas pelo seu povo.
O pacto da graça foi administrado no Antigo Testamento de
modo diferente do Novo Testamento. No Antigo Testamento o
povo de Deus era formado por Israel. No Novo Testamento é a
Igreja de Jesus Cristo, isto é, o conjunto formado por todos aque­
les que têm Jesus como Salvador e Senhor. Podemos afirmar que
o Antigo Testamento representa uma situação transitória do pacto,
uma preparação para a vinda do Salvador.
A revelação de que Deus enviaria seu Filho para morrer em
lugar do pecador foi dada aos poucos. “Devemos sempre lembrar
que a revelação de Deus no Velho Testamento é verdadeira e váli­
da, mas representa um processo histórico, e assim se adapta ao
povo do dia. A criança sabe que dois e dois são quatro. O matemá­
tico sabe muito mais, mas ainda concorda com a criança de que a
soma de dois e dois é quatro.” 10 O processo de conscientização
da vinda de um Salvador levou séculos. “ Vindo, porém, a pleni­
tude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nas­
cido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de
que recebêssemos a adoção de filhos” (G14.4,5).

CONCLUSÃO
A nossa salvação não é resultado do acaso, nem da improvi­
sação. Assim como Deus fez um plano perfeito para a criação e
funcionamento do universo, ele fez também um plano perfeito para
a nossa salvação. Tudo começou “antes da fundação do mun­
do”, foi motivado pelo grande amor de Deus, e tem como objetivo
nos levar a ser “santos e irrepreensíveis perante ele” (Ef 1.4).
Ao único Deus - Pai, Filho e Espírito Santo - autor e
consumador da nossa salvação, “mediante Jesus Cristo, Senhor
nosso, glória, majestade, império e soberania, antes de todas
as eras, e agora, e por todos os séculos. Amém” (Jd 25).
10A. R. Crabtree, Teologia do Velho Testamento, p. 184.

13
PERGUNTAS PARA FIXAÇÃO E APLICAÇÃO
1. Qual é a idéia popular sobre a salvação?
2. O que é pacto da redenção?
3. Cite duas evidências bíblicas do pacto da redenção.
4. Qual é o papel do Pai no pacto da redenção?
5. Qual é o papel do Filho no pacto da redenção?
6. Qual é o papel do Espírito Santo no pacto da redenção?
7. O que é pacto ou aliança da graça?
8. Quem era o povo de Deus na antiga aliança?
9. Quem é o povo de Deus na nova aliança?
10. Qual é para o crente a importância da doutrina do pacto da
redenção?
z
DEUS COMUNICA
SEU PL0NO
“Havendo Deus, outrora, falado, muitas
vezes e de muitas maneiras, aos pais, p e ­
los profetas, nestes últimos dias, nos f a ­
lou pelo Filho, a quem constituiu herdei­
ro de todas as coisas, pelo qual também
fez o universo. ”
Hebreus 1.1,2

Deus tomou a iniciativa de comunicar ao homem o plano de


salvação. Ele fez isto falando “muitas vezes e de muitas manei­
r a i (Hb 1.1).
“O homem é uma criatura insaciavelmente curiosa. Sua men­
te foi feita de tal maneira que não pode descansar. Está sempre
perscrutando o desconhecido. Mas quando a mente humana co­
meça a se preocupar com Deus torna-se perplexa. Tateia na escu­
ridão. Tropeça. Não é de estranhar que assim ocorra, porque Deus
é um Ser infinito e imortal, enquanto nós somos mortais e finitos.
Ele está totalmente fora de nosso alcance. Deste modo, nossa mente,
que é um instrumento maravilhosamente efetivo em outros setores,
não nos pode ajudar de pronto. Não pode subir à infinita mente de
Deus.”11 Mas - felizmente - Deus não permitiu que todos os alta­
res fossem “ao deus desconhecido” (At 17.23). Ele se revelou.

John Stott, Cristianismo Básico, p. 10, 11.

15
A REVELAÇÃO
O ser humano jamais conheceria a Deus, nem tomaria conhe­
cimento do seu plano de salvação, se o próprio Criador não to­
masse a iniciativa de se revelar à criatura. Felizmente Deus tomou a
iniciativa de se revelar ao homem. Esta revelação é um ato “cons­
ciente, voluntário e intencional por meio do qual o mesmo Deus
revela ou comunica ao homem a verdade referente a si mesmo em
relação com suas criaturas” .12
Deus se revela através das obras da criação e da providên­
cia, na preservação e no governo do universo. Davi escreveu que
“Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia
as obras das suas mãos” (SI 19.1). E o apóstolo Paulo, falando
aos habitantes de Listra, afirmou que Deus “não se deixou ficar
sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do
céu chuvas e estações frutíferas” (At 14.17). E na Epístola aos
Romanos ele tratou do mesmo assunto de modo ainda mais claro,
afirmando: “Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu
eterno poder, como também a sua própria divindade, clara­
mente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo per­
cebidos por meio das coisas que foram criadas” (Rm 1.20).
“Deus fala ao homem através de toda a sua criação, nas forças e
nos poderes da natureza, na constituição da mente humana, na voz
da consciência, e no governo providencial do mundo em geral e da
vida dos indivíduos em particular. ”13 Essa revelação é chamada de
revelação geral, por ser dirigida a todos os homens. Ela é suficiente
para deixar os homens indesculpáveis diante de Deus. Mas é insu­
ficiente para a salvação. Toda a criação foi atingida pelo pecado.
Tornou-se imperfeita. Como instrumento da auto-revelação de
Deus, ela deve ser considerada um livro incompleto, com algumas
páginas rasuradas. O homem também foi atingido. Espiritualmente
ele tomou-se ignorante e embrutecido como um irracional. E, as­
'*Louis Berkhof, Introduccion a la Teologia Sistematica, p. 126.
13Louis Berkhof, M anual de Doutrina Cristã, p. 29.
sim, ficou impossível compreender corretamente o que Deus nos
fala através da natureza.
Mas o plano eterno de Deus inclui também a revelação espe­
cial, que tem o objetivo de levar o pecador de volta ao Criador. O
autor da Epístola aos Hebreus escreveu sobre esta revelação es­
pecial o seguinte: “ Havendo Deus, ouírora, falado, muitas vezes
e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos
dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas
as coisas, pelo qual também fe z o universo” (Hb 1.1,2). Deus
falou. Falou através de manifestações especiais. Falou diretamente
a alguns de seus servos, como, por exemplo, a Moisés. Falou atra­
vés dos profetas. Falou através de milagres.
A revelação especial é progressiva, atingindo o seu ápice em
Jesus Cristo. “As grandes verdades da redenção aparecem a prin­
cípio apenas obscuramente, mas aumentam gradualmente em cla­
reza, e finalmente se destacam em toda a sua grandeza na revela­
ção do Novo Testamento.” 14

A INSPIRAÇÃO
Deus falou “muitas vezes e de muitas maneiras". “E de­
pois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o
mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção
da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido
fazê-laescrevertoda.” 15 E assim surgiu a Bíblia Sagrada, livro ins­
pirado pelo Espírito Santo.
Quando falamos em inspiração da Bíblia, estamos afirmando
que Deus levantou homens e os fez registrar, sem erro, a sua reve­
lação especial. Estes homens, sob inspiração divina, escreveram
os livros que compõem a Bíblia Sagrada, “...jam ais qualquer
profecia fo i dada por vontade humana; entretanto, homens
santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo ”
(2Pe 1.21). “Toda Escritura é inspirada por Deus” (2Tm3.16).
"Louis Berkhof, M anual de Doutrina Cristã, p. 36.
" Confissão de F é de Westminster, capítulo I, parágrafo I.
Os escritores dos livros da Bíblia Sagrada escreveram sob
inspiração divina. Escreveram por determinação divina. Alguns
autores registraram ter recebido ordem direta de Deus para es­
crever (Êx 17.14; 34.27;N m 33.2;I s 30.8; Jr 30.2; 36.2). Outros
certamente sentiram-se impulsionados a escrever. Era Deus agin­
do em suas mentes e corações. Mas não devemos imaginar que
Deus ia ditando e eles escrevendo. Eles não foram apenas escribas.
Pelo contrário, Deus os usou precisamente como eles eram. Deus
certamente guiou-os na escolha das palavras, na construção das
frases, para que os fatos e as idéias fossem corretamente registra­
dos. Mas cada um escreveu usando o seu próprio vocabulário e
de acordo com o seu próprio estilo. Por isso, cada livro, embora
inspirado por Deus, traz a marca pessoal de seu autor e as marcas
do tempo em que ele vivia.
A Bíblia Sagrada é uma coleção de 66 livros. Divide-se em
duas partes: Antigo Testamento, com 39 livros; e o Novo Testa­
mento, com 27. A palavra testamento vem do latim, e seu signifi­
cado original é acordo, aliança, pacto. E é neste sentido que ela é
usada para dar nome às duas partes da Bíblia Sagrada. O Antigo
Testamento é assim chamado porque é formado pelos livros que
registram o antigo pacto feito por Deus com seu povo. Este pacto
foi feito com Abraão, pai do povo israelita, e ratificado por meio
de Moisés, quando foi dada a lei ou os dez mandamentos. O
Novo Testamento recebe este nome porque é formado pelo con­
junto dos livros que registram a nova aliança que Deus fez com o
seu povo, por meio de Jesus Cristo. No antigo pacto, o povo de
Deus era formado pelos israelitas. Na nova aliança, é constitu­
ído por todos aqueles que crêem em Jesus Cristo como Salva­
dor e Senhor.
Os livros da Bíblia foram escritos por, no mínimo, 36 autores,
num período que pode chegar a 1.600 anos. Mas existe uma ex­
traordinária harmonia em todas as suas partes. Milhões de pessoas
têm sido transformadas por meio da leitura da Bíblia. E cada cren-
te, ao ler a Bíblia, sente Deus falando com ele. Tudo isso é evidên­
cia de que a Bíblia Sagrada é realmente inspirada por Deus.
Mas a plena convicção dessa inspiração divina é questão de fé,
e não de prova científica. Por isso, só a operação do Espírito
Santo em nós é que nos dá a convicção de que a Bíblia é re­
almente a Palavra de Deus.
A divisão em capítulos e versículos foi feita bem mais tarde.
“Não foi trabalho de uma só pessoa ou equipe. Os massoretas
(especialistas judeus que produziram um complexo e utilíssimo sis­
tema de sinais vocálicos e outros sinais para a preservação da lín­
gua hebraica - puramente consonantal - ) fizeram também a divi­
são do Antigo Testamento em versículos, no século IX da era cris­
tã. Entretanto, alguns atribuem ao cardeal Hugo de São Caro, e
outros atribuem a Stephen Langton, arcebispo de Cantuária, Ingla­
terra, a divisão da Bíblia em capítulos, no século XIII. Essa divisão
foi aplicada à Vulgata, e, por volta de 1440, foi aplicada à Bíblia
Hebraica pelo rabino Nathan. A divisão em versículos apareceu
pela primeira vez na Vulgata em 15 55, trabalho de Robert Stephen,
em Gênova. Em 1551, Robert Stephen tinha lançado, em Gênova,
uma edição do Novo Testamento grego. A primeira Bíblia inglesa,
com divisão em capítulos e versículos, foi publicada em Gênova,
em 1560.” 15
A Bíblia editada sob a chancela da Igreja Católica tem sete
livros a mais do que a Bíblia editada pelos evangélicos. Até o sécu­
lo XVI não havia uma definição oficial sobre a situação desses
livros. Alguns os aceitavam como inspirados; outros, não. Mas, no
dia 15 de abril de 1546, o Concílio de Trento anexou-os, por de­
creto, à Bíblia. Os evangélicos chamam esses livros de apócrifos e
não os aceitam como inspirados por Deus.
Os livros apócrifos, comparados com os livros inspirados,
revelam uma grande pobreza de estilo e conteúdo. Além disso,
ensinam doutrinas e práticas que se contradizem com os livros ins-
lTOdayr Olivetti, BRASIL PRESBITERIANO, ano 37, n° 499, abril de 1996, p. 2.
pirados. Por exemplo:justificam a mentira (Judite 10.11-17; 11.1­
23; 15.8-10) e o suicídio (2Macabeus 14.37-46); ensinam feiti­
çaria (Tobias 6.1-9) e oração pelos mortos (2 Macabeus 12.38­
45). Uma simples leitura é suficiente para nos mostrar que eles não
são inspirados por Deus.
A revelação especial está totalmente contida na Bíblia Sagra­
da. Por meio dela, Deus nos diz quem ele é, quem somos nós, de
onde viemos e para onde vamos, e seu plano geral para a nossa
vida. No passado, Deus falou a Moisés “boca a boca" (Nm 12.8).
Hoje, Deus nos fala através da Bíblia Sagrada.

A ILUMINAÇÃO
Tudo que precisamos saber para a nossa salvação e para
uma vida correta, justa, em comunhão com Deus, está registrado
na Bíblia Sagrada. Mas “o homem natural não aceita as coisas
do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode en­
tendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Co 2.14).
Isto significa que o homem, apenas com os seus recursos naturais,
sem a assistência do Espírito Santo, não pode compreender a Bí­
blia Sagrada. Ela só poderá ser compreendida com a iluminação
do Espírito Santo. Quando falamos em iluminação, estamos nos
referindo à atuação de Deus na mente e no coração do homem,
através do Espírito Santo, capacitando-o a compreender o ensino
da Bíblia Sagrada.
A Confissão de Fé de Westminster ensina que “Todo o con­
selho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a
glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente
declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido
dela” . Mas acrescenta: “... reconhecemos, entretanto, ser neces­
sária a íntima iluminação do Espírito Santo para a salvadora com­
preensão das coisas reveladas na palavra”.17

17Confissão de Fé de Westminster, capítulo I, parágrafo VI.


No registro da conversão de Lídia temos um exemplo de
iluminação. Muitas mulheres ouviram a pregação, mas apenas Lídia
se converteu. E ela só se converteu porque “O Senhor lhe abriu o
<oração para atender às coisas que Paulo dizia” (At 16.14).
O Espírito Santo iluminou a mente e abriu o coração de Lídia,
levando-a a compreender e a aceitar a mensagem que estava
sendo pregada.
A iluminação, contudo, não dispensa o esforço sério e piedo­
so para compreendermos corretamente a Palavra de Deus. A Bí­
blia Sagrada deve ser examinada com seriedade e interpretada com
fidelidade. “A regra infalível de interpretação da Escritura é a pró­
pria Escritura. Portanto, quando houver questão sobre o verdadei­
ro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura - o qual não é
múltiplo, mas único - esse texto pode ser estudado e compreendido
por outros textos que falem mais claramente.”18

CONCLUSÃO
Deus tomou a iniciativa de se revelar a nós. Através de uma
revelação especial ele nos deu a conhecer o seu plano para a
nossa vida e o modo como devemos viver e servi-lo. Ele também
inspirou homens para registrar, sem erro, a sua revelação especial.
II pela iluminação, através da atuação do Espírito Santo em nossas
mentes, ele nos capacita a compreender a sua revelação especial,
registrada na Bíblia.
A Bíblia Sagrada é a nossa única regra de fé e prática. Por
isso, devemos examiná-la continuamente. E o estudo deve ser
seguido da prática. Pois viver o ensino bíblico resulta em cresci­
mento espiritual. Não que a Bíblia seja um livro mágico. Mas,
sendo ela a Palavra de Deus, somos aperfeiçoados na medida
de nossa prontidão em responder aos apelos que ele nos faz
através da sua Palavra.

n Conjissão de Fé de Westniinster, capítulo I, parágrafo IX.

21
PERGUNTAS PARA FIXAÇÃO E APLICAÇÃO
1. Como você define a revelação que Deus fez de seu plano?
2. O que é revelação geral?
3. A revelação geral é suficiente para a salvação? Por quê?
4. O que é revelação especial?
5. Em que consiste a inspiração da Bíblia Sagrada?
6. Por que o Antigo Testamento tem este nome?
7. Por que o Novo Testamento tem este nome?
8. De onde vem a nossa convicção de que a Bíblia Sagrada é a
Palavra de Deus?
9. Por que é necessária a iluminação do Espírito Santo para a
compreensão da Bíblia Sagrada?
10. Por que a vivência dos ensinos da Bíblia Sagrada gera cresci­
mento espiritual?
3
QUEM É DEUS
“Porventura, desvendarás os arcanos de
Deus ou penetrarás até à perfeição do
Todo-poderoso? ”
Jó 11.7

Se Deus não tivesse tomado a iniciativa de se revelar, nin­


guém jamais o conheceria. Mas, felizmente, ele se revelou “através
de toda a sua criação, nas forças e nos poderes da natureza, na
constituição da mente humana, na voz da consciência, e no gover­
no providencial do mundo em geral e das vidas dos indivíduos em
particular” 19. Deus também falou “muitas vezes e de muitas ma­
neiras” (Hb 1.1). E hoje ele nos fala através da Bíblia Sagrada.
Mas, quem é Deus? Não é possível definir Deus. A mente
humana, embora prodigiosa, não dispõe de recursos para cap­
tar toda a grandeza do Criador. O máximo que podemos fazer
é a descrição analítica de Deus, a partir do que ele nos revela
na Bíblia Sagrada.
Deus não é uma idéia abstrata ou uma força impessoal que
atua no universo, como afirmam algumas pessoas. Deus é uma
pessoa. Ele tem sentimento. Ele nos ama. Ele nos sustenta em nos­
sas provações e dificuldades. Ele nos dá alegria e vitória. Nós po­
demos compartilhar com ele nossas experiências. Podemos falar
com ele e estarmos certos de que ele nos ouve e nos atende. Ele
cuida de nós e quer o nosso bem. Mas Deus é uma pessoa diferen­
te de nós. Ele é espírito (Jo 4.24). Ele não tem um corpo físico
'’Louis Berkhof, M anual de Doutrina Cristã, p. 29.

23
como o nosso (Lc 24.39). Por isso, não podemos vê-lo, assim
como não podemos ver o nosso próprio espírito ou o espírito das
pessoas que estão ao nosso lado.
O S NOMES DE DEUS
Os nomes atribuídos a Deus, na Bíblia, são instrumentos ou
meios que o Criador usa para revelar a nós quem ele é. Eles devem
ser estudados e compreendidos à luz dos costumes da época em
que foram escritos. Hoje os nomes das pessoas têm pouca impor­
tância. Se alguém tem o nome de José, João ou Joaquim, não faz
diferença. Mas na época em que a Bíblia foi escrita era diferente.
O nome era uma descrição da pessoa. Por isso, quando uma pes­
soa passava por uma mudança significativa em sua vida ou em seu
caráter, podia também ter o seu nome mudado. Veja, por exem­
plo, o caso de Jacó. Ele era um enganador astucioso. E era exata­
mente isto o que significava o seu nome (Gn 27.36). Mas ele pas­
sou por uma grande transformação. Deixou de ser um enganador.
E o seu nome foi mudado para Israel (Gn 32.28; 35.10). No Novo
Testamento temos o caso de Pedro. Ele se chamava Simão, mas
Jesus lhe deu o nome de Pedro (Ce/as, em aramaico), antecipando
assim que ele passaria por uma grande mudança e ocuparia um
lugar de destaque entre os apóstolos. Assim também os nomes ou
títulos atribuídos a Deus na Escritura Sagrada são instrumentos da
providência divina para nos revelar qualidades, atributos e modo
de agir do nosso Criador. Vejamos, agora, alguns desses nomes,
as circunstâncias ou situações em que aparecem e o que eles nos
revelam sobre Deus.
O primeiro versículo da Bíblia Sagrada diz que “Noprincí­
pio, criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). O nome Deus
(Elohim, em hebraico, plural de Eloah) descreve o Criador como
um ser forte e poderoso, que deve ser temido e cultuado. “O plural
deve ser considerado como intensivo e, portanto, serve para indi­
car plenitude de poder.” 20
20Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p. 50.

24
Quando Melquisedeque abençoou a Abraão (Gn 14.18-20),
cie o fez em nome do Deus Altíssimo (Elyon, em hebraico). Este
nome descreve Deus como um ser supremo, que está acima das
divindades locais.
A Abraão (Gn 17.1), Deus se apresentou como o Deus Todo-
poderoso (El-Shaddai, em hebraico). Este nome descreve Deus
como um ser poderoso, que tem poder no céu e na terra; o sustenta-
tlor, nutridor, aquele que é capaz de satisfazer.
Deus apareceu a Moisés, no monte Horebe, e lhe disse: “ Vem,
agora, e eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os
filhos de Israel, do Egito” (Êx3.10). “Disse Moisés a Deus: Eis
que, quando eu vier aos filhos de Israel e lhes disser: O Deus
de vossos pais me enviou a vós outros; e eles me perguntarem:
O uai é o seu nome? Que lhes direi? Disse Deus a Moisés: Eu
Sou o q u e Sou. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: Eu
Sou me enviou a vós outros. Disse Deus ainda mais a Moisés:
Assim dirás aos filhos de Israel: O S e n h o r , o Deus de vossos
pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, me
enviou a vós outros; este é o meu nome” (Ex 3.13 -15). O nome
Siínhor (com todas as letras maiúsculas, Yahweh, em hebraico)
significa “Eu Sou o que Sou”. Através dele Deus se revela como o
Deus da graça, que sempre existiu e sempre existirá, que não fica
velho, não muda, é eternamente o mesmo.
Quando convocou o povo para atravessar o Jordão, e
entrar na terra prometida, Josué lhes disse: “Tomai, pois, ago­
ra, doze homens das tribos de Israel, um de cada tribo; p o r­
que há de acontecer que, assim que as plantas dos p é s dos
sacerdotes que levam a arca do S e n h o r , o Senhor de toda a
terra, pousem nas águas do Jordão, serão elas cortadas, a
saber, as que vêm de cima, e se amontoarão” (Js 3.12,13). O
nome S enhor (com a inicial maiúscula e as demais letras mi­
núsculas, Adonai, em hebraico) descreve Deus como o dono e
o governador de todos os homens.
Deus (Elohim), Deus Altíssimo (Elyon), Deus Todo-pode-
roso (El-Shaddai), S e n h o r (Yahweh) e Senhor {Adonai) são no­
mes ou títulos do Criador, registrados na Bíblia Sagrada. Eles são
meios usados por Deus para nos revelar quem ele é. Através deles
sabemos que Deus é um ser supremo, forte e poderoso, tem poder
no céu e na terra, é o dono e o governador de todos os homens.
Mas ele é também o Deus da graça, sustentador, nutridor, capaz
de satisfazer todas as nossas necessidades. Ele sempre existiu e
sempre existirá. Ele não fica velho, não muda, não sofre variação,
é eternamente o mesmo.

A TRINDADE
A Bíblia Sagrada ensina que há um só Deus, mas ele subsiste
em três pessoas.
Em Deuteronômio 6.4 está escrito: “Ouve, Israel, o Senhor,
nosso Deus, é o único S e n h o r ” . E em Isaías 44.6 o próprio Deus
declara: “Eu sou o primeiro e eu sou o último, e além de mim
não há Deus”. Mas, por outro lado, a Bíblia afirma que Jesus
também é Deus: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava
com Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1 .1 ) 0 Verbo é Jesus Cristo.
A Bíblia ensina que o Espírito Santo também é Deus. Quando Ana­
nias mentiu a respeito da venda de sua propriedade, Pedro o re­
preendeu, dizendo: “Ananias, por que encheu Satanás teu cora­
ção, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte
do valor do cam po?... Não mentiste aos homens, mas a Deus”
(At 5.3,4). Mentir ao Espírito Santo é mentir a Deus, prova de que
o Espírito Santo é Deus. 0 Pai é Deus; o Filho é Deus; o Espírito
Santo é Deus. Três pessoas, um só Deus. Uma trindade, ou triuni-
dade. A palavra Trindade não está na Bíblia; mas é inegável que
ela ensina que existe um único Deus, que subsiste em três pessoas:
Pai, Filho (Jesus Cristo) e Espírito Santo.
A doutrina da Trindade é um mistério. Está além da nossa
compreensão. Mas podemos descrevê-la, conforme é ensinada na
I iíblia. Em síntese, a doutrina pode ser descrita assim: existe um só
Deus; Deus subsiste em três pessoas distintas: Pai, Filho (Jesus
Cristo) e Espírito Santo; cada pessoa da Trindade é Deus com­
pleto, e não parte de Deus; as três pessoas da Trindade são
iguais em poder e glória.
No registro do batismo de Jesus as três pessoas da Trindade
aparecem, distintamente. O Pai se manifesta do céu, dizendo: “Este
é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.17). O
r ilho estava sendo batizado. E o Espírito Santo desceu sobre ele
“como pom ba” (Mt 3.16).
Muitas pessoas fazem uma grande confusão com as três pes­
soas da Trindade. Tal conllisão pode ser observada especialmente
nas orações. Num culto alguém orou assim: “Senhor, nosso Deus e
Pai, nós te agradecemos, Senhor Jesus, porque tu morreste na cruz
em nosso lugar e porque tu habitas em nós”. Quanta confusão! O
Pai não é o Filho. Não foi o Pai quem morreu na cruz, foi o Filho.
1í quem habita em nós é o Espírito Santo. Na oração nós nos diri­
gimos a Deus, o Pai, em nome de Jesus, o Filho.

OS ATRIBUTOS DE DEUS
Os atributos são propriedades ou qualidades de Deus, men­
cionados na Bíblia Sagrada, ou deduzidos de seus atos. Como
Deus é perfeito, seus atributos são chamados também de perfei-
ções divinas.
Os atributos que só Deus possui, como, por exemplo, a
im utabilidade, são chamados de atributos incomunicáveis. São
assim denominados para caracterizar que eles não foram concedi­
dos aos homens. Aqueles que os homens também possuem, como,
por exemplo, o amor, são chamados de atributos comunicáveis. A
diferença é que as qualidades humanas são imperfeitas e os atribu­
tos de Deus são perfeitos.
Atributos Incomumcáveis
A auto-existência ou independência é um atributo inco­
municável de Deus (Êx 3.13,14; Jo 5.26; At 17.25). Deus não
depende de nada e nem de ninguém para existir ou agir. Um outro
atributo é a eternidade (SI 90.2; 102.12; 2Pe 3.8). Deus sempre
existiu e sempre existirá, ele não está limitado pelo tempo. Outro
atributo incomunicável é a imensidade ou onipresença (lRs 8.27;
SI 139.7-10; Is 66.1). Deus não está limitado pelo espaço, ele está
presente ao mesmo tempo em todos os lugares. Outro atributo é a
imutabilidade (Ml 3.6; Tg 1.17). Deus não muda em seu ser, em
sua essência, em seus atos, nem em seus propósitos. Quando a
Bíblia diz ou dá a entender que Deus mudou, na realidade a situa­
ção é que mudou. A linguagem usada é a do observador, como,
por exemplo, quando alguém afirma que o sol surgiu ou se pôs a
determinada hora, dando a idéia de que o sol se movimenta, quan­
do a terra é que se move.
Atributos Comunicáveis
A bondade é um atributo comunicável de Deus (SI 145.9,
15, 16; Jo 3.16,17; Ef2.1-9; IJo 4.7-10). O homem também
recebeu do Criador esta qualidade. Mas a bondade de Deus é
diferente da bondade humana. Deus é absolutamente bom. Ele tra­
ta benévola e generosamente todas as suas criaturas. Esta bonda­
de, em relação às criaturas racionais, chama-se amor. “Deus è
amor” (1 Jo 4.8). Por causa do pecado, o homem perdeu o direito
de ser amado por Deus, mas o Criador continua a nos amar. Deus
é misericordioso, por isso ele tem compaixão de nós. Ele é
longânimo, por isso nos tolera. A santidade é outro atributo co­
municável (Êx 15.11; 1Sm 2.2; Is 6.3; Hc 1.13; Ap 4.8). Deus é
perfeitamente puro em sua pessoa e em seus atos e, conseqüente­
mente, ele é contra toda e qualquer forma de impureza. Um outro
atributo comunicável é a justiça (SI 71.19;Mt 10.42; Rm 1.32).
Deus é absolutamente justo, ele governa o mundo com justiça,
recompensa todos os atos dos homens e pune os seus erros. A
soberania também éum atributo comunicável (SI 115.3; Mt 10.29).
Deus “faz todas as coisas conforme o conselho da sua vonta­
de'" (Ef 1.11).
É importante conhecer Deus através do estudo da sua auto-
i evelação registrada na Escritura Sagrada. Mas, além desse co­
nhecimento teórico, precisamos também do conhecimento espiri­
tual. E tal conhecimento só se adquire através de uma vida de co­
munhão com ele. “Só conhecemos verdadeiramente a Deus em
nossa alma, quando nos rendemos a ele, quando nos submetemos
à sua autoridade e quando os seus preceitos e mandamentos regu­
lam todos os pormenores da nossa vida.”21

CONCLUSÃO
Zofar perguntou a Jó: “Porventura, desvendarás os arcanos
de Deus ou penetrarás até àperfeição do Todo-poderoso ?” (Jó
11.7). Realmente o homem não tem condições para desvendar os
arcanos de Deus. E quando tentamos compreender racionalmente
muitos atos de Deus registrados na Bíblia Sagrada percebemos
que eles não se harmonizam com a nossa lógica. As nossas limita­
ções não nos permitem compreender Deus, nem seus atos. Contu­
do, aquilo que é necessário para a nossa salvação e para a nossa
vida em comunhão com ele, Deus nos revelou e está registrado na
Bíblia Sagrada com tanta clareza, que qualquer pessoa, culta ou
não, no uso de suas faculdades mentais, pode compreender.
Nas alegrias e nas lutas da vida, em todos os lugares e em
todos os momentos, nós não estamos sozinhos. Deus está sempre
conosco. “Como em redor de Jerusalém estão os montes, as­
sim o Senhor, em derredor do seu povo, desde agora e para
sempre” (SI 125.2).
uAo Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e
glória pelos séculos dos séculos. Amém” (lT m 1.17).

''A rthur W. Pink, Os Atributos de Deus, p. 5.

29
PERGUNTAS PARA FIXAÇÃO E APLICAÇÃO
1. Podemos definir Deus? Por quê?
2. Deus, S e n h o r , Senhor, Deus Todo-poderoso são alguns dos
nomes de Deus na Bíblia. Eles são importantes porque revelam
algo sobre o Criador. O que revelam os nomes citados?
3. Descreva, em síntese, a doutrina da Trindade.
4. Você compreende a doutrina da Trindade? Por quê?
5. Que são atributos de Deus?
6. Como se dividem os atributos de Deus? E por quê?
7. Dos atributos mencionados neste capítulo, qual lhe chamou mais
a atenção? Por quê?
8. Como entender os textos bíblicos que dizem que Deus se arre­
pendeu ou que parecem dar a atender que Deus mudou o seu
plano?
9. Por que não podemos ver Deus?
10.“Como em redor de Jerusalém estão os montes, assim o Senhor
em derredor do seu povo, desde agora e para sempre” (SI 125.2).
O que isto representa para você?
4
fl CRIfiÇffO DO UNIVERSO
E DO HOMEM
" S ó tu és S e n h o r , tu fizeste o céu, o céu
dos céus e todo o seu exército, a terra e
tudo quanto nela há, os mares e tudo quan­
to há neles; e tu os preservas a todos com
vida, e o exército dos céus te adora. ”
Neemias9.6

Deus sempre existiu e sempre existirá. Ele não teve princípio


nem terá fim. Ele é eterno, imutável, infinito. Mas o homem e o
universo tiveram um princípio, foram criados por Deus. “Ao prin­
cípio aprouve a Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo, para a
manifestação da glória do seu eterno poder, sabedoria e bondade,
criar ou fazer do nada, e tudo muito bom, o mundo e tudo que nele
há, visíveis ou invisíveis. Depois de haver feito as outras criaturas,
I)eus criou o homem, macho e fêmea, com almas racionais e imor-
lais, e dotou-as de inteligência, retidão e perfeita santidade, segun­
do a sua própria imagem.”22

A CRIAÇÃO DO UNIVERSO
O primeiro livro da Bíblia Sagrada começa assim: “Noprin­
cípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). A Bíblia afirma que
Deus é o criador, preservador e governador do universo. No livro
de Neemias está escrito: “S ó tu és S e n h o r , tufizeste o céu, o céu
r'Confissão de Fé de Westminster, - capítulo IV, parágrafos I c II.

31
dos céus e todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela há,
os mares e tudo quanto há neles; e tu os preservas a todos com
vida, e o exército dos céus te adora” (Ne 9.6). E Davi declarou.
“Nos céus, estabeleceu o S e n h o r o seu trono, e o seu reino domi­
na sobre tudo” (SI 103.19). As declarações de que Deus criou,
preserva e governa todas as coisas, visíveis e invisíveis, estão pre­
sentes em todas as partes da Bíblia Sagrada.
Existem inúmeras teorias filosóficas e científicas sobre a ori­
gem do universo. Muitos livros apresentam essas teorias como se
fossem a última palavra da Ciência ou da Filosofia. Mas não é
possível dizer que a Filosofia ou a Ciência encampe qualquer de­
las, pois não passam de teorias, isto é, elas não foram comprovadas
- nem pelo método filosófico, nem pelo método científico. Elas
representam apenas o pensamento de alguns filósofos ou cien­
tistas sobre a origem do universo. Mas a Bíblia Sagrada afirma
categoricamente que Deus é o criador do universo. Não é teo­
ria, é revelação !
Todas as teorias científicas e filosóficas sobre a origem do
universo afirmam que ele surgiu por acaso. Mas, imagine a seguinte
situação: você encontra um relógio e passa a examiná-lo. Vê que
as suas peças têm formas diferentes e foram feitas de vários tipos
de matéria-prima. E todas elas se encaixam e combinam de tal
maneira que todas funcionam harmoniosamente. E marcam as ho­
ras. E cumprem um papel relevante. Formam um todo que tem
sentido e propósito. Se alguém lhe dissesse que aquele relógio sur­
giu por acaso, você acreditaria? Então, como acreditar que o
universo, muito mais complexo que um relógio, surgiu por aca­
so?23 Merece mais crédito a afirmação bíblica de que Deus
criou todas as coisas.
Nem a Ciência nem a Filosofia dispõe de meios para dizer
como se originou o universo. Por que então muitos homens da
23Versão simplificada do clássico argumento do relógio, formulado por William Paley
(1743-1805), filósofo moral e teólogo britânico.
Ciência ou da Filosofia negam a existência de um Criador?
Christiano P. da Silva Neto, Mestre em Ciência pela Universidade
de Londres, responde: “Talvez a principal razão que leve tantos
homens de ciência a rejeitar o modo criacionista seja, na verdade,
bem outra. Crer num Criador traz consigo um compromisso ... Via
de regra, porém, as pessoas desejam viver suas vidas segundo as
suas próprias conveniências, e evitam, portanto, este tipo de
comprometimento”.24
A Bíblia é a Palavra de Deus. E, embora usando a linguagem
do observador, a linguagem comum do dia-a-dia, sem entrar em
detalhes técnicos, ela afirma que Deus criou todas as coisas, visí­
veis e invisíveis.

A CRIAÇÃO DO HOMEM
O registro da criação do homem, na Bíblia Sagrada, começa
assim: “ Também disse Deus: Façamos o homem à nossa ima­
gem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre
os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais
domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que
rastejam pela terra” (Gn 1.26). E continua assim: “Criou Deus,
pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; ho­
mem e mulher os criou” (Gn 1.27). Os vegetais e os animais fo­
ram criados “segundo as suas espécies”, mas o homem foi criado
à imagem e semelhança do Criador.
A imagem e semelhança de Deus no homem, no sentido res­
trito, consiste no verdadeiro conhecimento, retidão e santidade com
que o homem foi dotado na criação. E, num sentido mais abrangente,
inclui também o fato de o homem ser um ente espiritual, racional,
moral e imortal.
Após a queda, por causa do pecado, o homem perdeu a
imagem de Deus no sentido restrito, ficando apenas com a imagem
no sentido mais abrangente. Isto é, o homem perdeu o verdadeiro
J'Origens do Universo e da Vida, Módulo 1, p. 24.

33
conhecimento, retidão e santidade, mas continuou sendo um ente
espiritual, racional, moral e imortal, embora imperfeito em todas
essas áreas.
Detalhando mais a criação do homem, a Bíblia Sagrada afir­
ma que “ formou o S e n h o r Deus ao homem do p ó da terra e lhe
soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser
alma vivente” (Gn 2.7). O corpo do homem foi feito de material
que Deus havia criado antes, que no texto bíblico é chamado de
“p ó da terra". Mas a alma surgiu como resultado do sopro divino.
O primeiro homem era formado por um elemento material, o cor­
po, e por um elemento imaterial, a alma. E todos os demais seres
humanos também são constituídos de corpo e alma.
O conceito de que o homem é constituído de duas partes
distintas, a saber, corpo e alma, é denominado, teologicamente,
dicotomia. Existe, também, um outro conceito denominado
tricotomia, segundo o qual o homem é constituído de três elemen­
tos: corpo, alma e espírito. De acordo com este conceito, o corpo
é a parte material do ser humano; a alma é o princípio da vida
animal; e o espírito é o elemento racional, imortal, através do qual
o homem se relaciona com Deus.
Os dicotomistas defendem seu ponto de vista afirmando que
a Escritura Sagrada usa as palavras alma e espírito, “uma pela ou­
tra, em permuta recíproca”, para referir-se ao elemento superior
ou espiritual do homem. Logo, alma e espírito, quando des­
crevem o elemento espiritual do homem, na Escritura Sagrada,
são sinônimos.
Os tricotomistas citam dois textos bíblicos onde aparecem
alma e espírito como os elementos superiores do ser humano. O
primeiro é 1 Tessalonicenses 5 .23, que diz: “O mesmo Deus da
paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo
sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nos­
so Senhor Jesus C r i s t o E o outro é Hebreus 4.12: “Porque a
palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qual-
quer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir
alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os
pensamentos e propósitos do c o r a ç ã o Os dicotomistas res­
pondem a esse argumento afirmando que: “A simples menção dos
termos espírito e alma um ao lado do outro não prova que, segun­
do a Escritura, são duas substâncias distintas, como também Ma­
teus 22.37 não prova que Jesus considerava o coração, a alma e o
entendimento como três substâncias distintas. Em 1 Tessalonicen-
ses 5.23, o apóstolo deseja simplesmente fortalecer a afirmação:
"O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo\ como uma de­
claração epizegética,25na qual se resumem os diferentes aspectos
da existência do homem, e na qual o apóstolo se sente perfeita­
mente livre para mencionar os termos alma e espírito um ao lado
do outro, porque a Bíblia distingue entre ambos.... (O que o texto
diz é que a palavra de Deus) produz uma separação entre os pen­
samentos e as intenções no coração” .25 O teólogo Louis Berkhof
afirma que a tricotomia “não resultou do estudo da Escritura, mas
nasceu com o estudo da filosofia grega”.27
Deus criou o homem com capacidade de reprodução, e lhe
ordenou: “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra” (Gn
1.28). Mas aqui surge uma pergunta: a capacidade humana de se
reproduzir inclui também a alma? Ou apenas o corpo? Este assun­
to não está claro na Bíblia Sagrada. Por isso, existem várias teorias
sobre a origem da alma em cada indivíduo. As principais teorias
são: preexistencialismo, criacionismo etraducianismo.
A teoria preexistencialista afirma que a alma de cada pes­
soa já existia antes que o seu corpo fosse formado. A teoria criacio-
nista afirma que Deus cria uma alma para cada pessoa que é gera­
da. Esta teoria se baseia especialmente em Eclesiastes 12.7, onde
está escrito que, logo após a morte, “o p ó volta à terra, como o
Epizeuxe é uma figura de retórica pela qual há repetição de palavras, ou de seus
sinônimos, para maior veemência ou ênfase.
Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p. 1 94e 195.
’ Louis Berkhof, M anual de Doutrina Cristã, p. 110.
era, e o espírito volta a Deus, que o d e u e em Hebreus 12.9,
onde está registrado o seguinte: “Além disso, tínhamos os nossos
pais segundo a carne, que nos corrigiam, e os respeitávamos;
não havemos de estar em muito maior submissão ao Pai espi­
ritual, e então viveremos?” A teoria traducianista afirma que a
alma é gerada junto com o corpo, e, portanto, é transmitida pelos
pais aos filhos. Segundo essa teoria, quando Deus capacitou o ho­
mem para se reproduzir, deu-lhe a capacidade para gerar seres
humanos completos, e não apenas corpos que deveriam receber
uma alma para se completarem. Os seus defensores argumentam
que, quando Deus criou a mulher, usou uma parte do homem, e
não soprou-lhe nas narinas o fôlego de vida. Portanto, o corpo e a
alma de Eva procederam de Adão. Assim também o corpo e a
alma dos filhos procedem de seus pais.
A teoria preexistencialistaé rejeitada por quase todos os evan­
gélicos. As teorias criacionista e traducianista são aceitas por mui­
tos. Mas todas elas apresentam algumas dificuldades. Isto significa
que este é um assunto que só será esclarecido quando estivermos
com o Senhor.

A QUEDA DO HOMEM
Na criação, Deus estabeleceu uma aliança com o homem,
que os teólogos chamam de pacto ou aliança das o b ras. O Cri­
ador colocou o homem no jardim do Éden e lhe deu esta ordem:
“De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore
do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no
dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.16,17).
A ameaça de morte, no caso de desobediência, deixa implícito que
havia também uma promessa de vida. “Adão foi, de fato, realmen­
te criado num estado de santidade positiva, e não estava sujeito à
lei da morte. Mas não possuía ainda os mais elevados privilégios à
espera do homem; ainda não havia sido elevado acima da possibi­
lidade de errar, de pecar e de morrer. Ainda não possuía o mais
alto grau de santidade, nem gozava a vida em toda a sua pleni­
tude.”28 Se ele obedecesse, alcançaria a plenitude de vida, ou seja,
estaria acima de qualquer possibilidade de errar, pecar ou morrer.
A promessa tinha uma condição: perfeita obediência. Se o homem
falhasse, a penalidade seria a morte. A obediência consistia em
não comer do fruto da árvore do bem e do mal. Era o teste para
provar se Adão estava disposto a submeter a sua vontade à von­
tade de Deus.
Mas o homem não passou no teste. Caiu. Deus lhe havia
dado uma variedade enorme de frutas, verduras, legumes e cereais
para sua alimentação (Gn 1.29). Mas ele preferiu comer da árvore
proibida, desobedecendo ao Criador. Assim, rejeitava a vontade
de Deus e fazia a sua própria vontade. Abandonava o Criador e
tomava o seu próprio caminho. A sentença de morte pairava sobre
o homem. Morte, na Bíblia Sagrada, significa basicamente sepa­
ração. Ao pecar, o homem separou-se de Deus. Morreu espiritual­
mente. E as sementes da morte física começaram imediatamente a
agir no seu corpo. Ele passou a viver sob a tirania da morte, que
finalmente o alcançaria.
Adão arrastou para o pecado toda a sua descendência. Ele
era o cabeça e o representante de toda a raça humana. Por isso,
todos se tornaram pecadores quando ele pecou. Nós não somos
responsabilizados pelo pecado de nosso pai ou de nossa mãe. “O
filho não levará a iniqüidade do p a i” (Ez 18.20). Mas somos
responsabilizados pelo pecado de Adão, porque ele era nosso re­
presentante. O apóstolo Paulo escreveu que “por uma só ofensa,
veio ojuízo sobre todos os homens para condenação” (Rm 5.18).
Além de herdarmos a culpa do pecado de Adão, herdamos
também a corrupção moral. Por isso, temos uma inerente disposi­
ção para o pecado. O próprio apóstolo Paulo confessou: “...vejo,
nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da
minha mente, me fa z prisioneiro da lei do pecado que está nos
"Louis Berkhof, M anual de Doutrina Cristã, p. 118.

37
meus membros” (Rm 7.23). “Porque nem mesmo compreendo
o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro e sim
o que detesto... Porque não fa ço o bem que prefiro, mas o mal
que não quero, esse fa ç o ” (Rm 7.15,19).

CONCLUSÃO
Felizmente Deus não executou de imediato a sentença de morte
que pairava sobre o homem. Ao invés de eliminar o homem, Deus
lhe fez uma promessa de restauração. O descendente da mulher
feriria a cabeça da serpente (Gn 3.15). É o proto-evangelho. É a
promessa bendita de que o inimigo seria vencido e o homem res­
taurado à comunhão com o Criador.
O primeiro livro da Bíblia Sagrada mostra o homem send
expulso do paraíso, da presença de Deus. Mas o último livro, o
Apocalipse, mostra o homem de volta ao paraíso. No primeiro
livro está escrito que Deus disse ao homem: “ Visto que atendeste
a voz de tua mídher e comeste da árvore que eu te ordenara
não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas
obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela produ­
zirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo.
No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes ã terra,
pois delafoste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás” (Gn
3.17-19). Mas no último livro está escrito que Deus habitará com
os homens. “Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará
com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte j á
não existirá, j á não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque
as primeiras coisas passaram” (Ap 21.3,4). O plano de Deus
para o homem não se esgotava no Éden.
“Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do
conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e
quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a
mente do Senhor? Ou quem fo i o seu conselheiro? Ou quem
primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque
dele, e por meio dele, epara ele são todas as coisas. A ele, pois,
a glória eternamente. Amém” (Rm 11.33-36).

PERGUNTAS PARA FIXAÇÁO EAPLICAÇÃO


1. Por que a declaração bíblica de que Deus criou todas as coisas
merece mais crédito do que as teorias filosóficas e científicas?
2. Em que consiste a imagem e semelhança de Deus no homem?
3. O que ainda é a imagem e semelhança do Criador no homem?
Por quê?
4. Quais são as teorias sobre a origem da alma em cada indivíduo e
o que diz cada uma?
5. Qual dessas teorias você julga mais correta? Por quê?
6. Que é pacto das obras?
7. Por que somos responsáveis pelo pecado de Adão?
8. Além da culpa, o que mais herdamos do pecado de Adão?
9. No dia em que pecou o homem morreu? Explique sua resposta.
10. Quando se dará, no homem, a completa restauração da imagem
e semelhança de Deus?
5
(f SffLVfiÇÃO NO
fíNTIGO TESTfiMENTO
“Não fo i mediante coisas corruptíveis,
como prata ou ouro, que fostes resgata­
dos do vosso fú til procedimento que vos­
sos pais vos legaram, mas pelo precioso
sangue, como de cordeiro sem defeito e
sem mácula, o sangue de Cristo, conheci­
do, com efeito, antes da fun d a çã o do
mundo, porém manifestado no fim dos
tempos, por amor de vós. ”
1 Pedro 1.18-20

Deus criou o homem à sua imagem, conforme a sua seme­


lhança. “Homem e mulher os criou” (Gn 1.27). E os cercou de
tudo o que necessitavam para uma vida feliz. Deu-lhes uma enor­
me variedade de frutas, verduras, legumes e cereais para sua ali­
mentação. E os uniu num casamento tão perfeito, numa identidade
tão completa, que os dois se tomaram uma só carne (Gn 2.23,24).
Mas o homem foi reprovado no teste da perfeita obediência. Que­
brou o pacto ou aliança das obras. Afastou-se de Deus. Esco­
lheu o seu próprio caminho. Tomou-se pecador.

PECADO E CASTIGO
Por causa do pecado de Adão, todas as pessoas nascem
pecadoras. Davi reconheceu isso e declarou: “Eu nasci na ini­
qüidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (SI 51.5).
Herdamos do primeiro casal a culpa e a corrupção. Não con­
seguimos fazer o bem que queremos, mas fazemos o mal que,
às vezes, até detestamos.
Mas, o que é pecado? “É qualquer falta de conformidade
com a lei de Deus, ou qualquer transgressão dessa lei.”29 Se ana­
lisarmos algumas palavras gregas usadas pelos escritores do Novo
Testamento para designar o pecado, fica mais fácil compreender a
sua extensão e abrangência. Veja algumas destas palavras:
ham artia (Rm 5.12; Tg 2.9; Uo 1.7) significa errar o alvo,
paraptom a (Rm 5.15-18; 2Co 5.19; E f 2.1) significa escorregar
ou cair, desviar da verdade e da justiça; adikia (Rm 9.14; ICo
13.6; 1Jo 5.17) significa injustiça; parabasis (Rm 2.23; G1 3.19;
Hb 2.2) significa transgressão, ato de passar além da linha;
anom ia (1 Jo 3.4) significa desobediência e desrespeito à lei.
Podemos afirmar, portanto, que o pecado consiste em errar
o alvo da vida, não ser o que devia ou poderia ser, desviar-se da
verdade e da justiça, praticar a injustiça, ultrapassar a linha que
limita os nossos direitos e liberdade, desobedecer e desrespeitar
as leis. Mas, como o pecado sempre tem relação com Deus e sua
vontade, podemos dizer que pecar é ser, pensar, falar, desejar ou
fazer o que desagrada a Deus.
O homem trata o pecado levianamente, mas Deus o trata de
modo severo. O pecado é uma violação da justiça de Deus e um
insulto à sua santidade. Por isso Deus o castiga nesta vida e na
futura. “O pecado é a desgraça do homem. Todo o seu sofrimento
e miséria são devidos ao pecado. O pecado é a causa básica das
dores, perdas, angústias de coração e frustrações.” 30
Cada pecado recebe ajusta punição. Podemos ver na Bíblia
Sagrada castigos naturais e disciplinares. Mas nenhum pecado
fica impune. Os castigos naturais consistem em conseqüências

29Breve Catecismo de Westminster, resposta à pergunta 14.


“ Manford George Gutzke, Palavras Chaves da Fé Cristã, p. 57.
diretas das faltas cometidas. “Aquilo que o homem semear, isso
também ceifará’' (G16.7). Cada homem colhe os frutos do seu
pecado. O preguiçoso passa privações. O mentiroso cai em total
descrédito e, muitas vezes, paga caro por suas mentiras. A lei de
causa e efeito aplica-se também aos pecados cometidos por nós.
Mesmo que a pessoa tenha sido agraciada com o arrependimento
e o perdão divino, ainda assim sofrerá as conseqüências naturais
de seu pecado. Mas há, também, os castigos disciplinares, que
são impostos diretamente por Deus. Quando tais castigos são aplica­
dos aos crentes, o objetivo é discipliná-los para que eles abando­
nem o pecado e se voltem para o Senhor. Podemos citar como
exemplo o caso de Himeneu e Alexandre, os quais, “tendo rejei­
tado a boa consciência, vieram a naufragar na f é ”, pelo que o
apóstolo Paulo os entregou “a Satanás, para serem castigados, a
fim de não mais blasfemarem” (lTm 1.19,20). Quando os castigos
disciplinares são aplicados aos ímpios, o objetivo é refrear o mal.
O castigo na vida futura consiste no sofrimento eterno no in­
ferno. Jesus pintou esse lugar de tormento com cores vivas, quan­
do falou sobre ele ao povo. O Mestre não deu muitos detalhes,
mas deixou claro que o inferno é um lugar de terríveis sofrimentos.
Jesus o chamou de inferno de fogo (Mt 5.22; 18.9), fogo eterno
(Mt 18.8,25.41), castigo eterno (Mt 25.46) e fogo inextinguível,
que nunca se apaga (Mc 9.43,44).

JESUS CRISTO, O ÚNICO SALVADOR


Algumas pessoas perguntam: Já que Deus é onisciente e, por­
tanto, sabia que o homem ia pecar, por que não impediu que isso
acontecesse? A resposta honesta é que não sabemos por que Deus
não impediu o homem de pecar. Mas sabemos que o Criador não
estava alheio à situação da criatura. Antes de criar o mundo ele já
havia estabelecido uma aliança com o Filho para salvar o homem.
Nessa aliança, que os teólogos chamam de pacto ou aliança da
redenção, o Filho “se colocou no lugar do pecador e incumbiu-se
de fazer a expiação do pecado, suportando o castigo necessário, e
de satisfazer as exigências da lei em lugar de todo o seu povo” .31
Baseado nesse pacto ou aliança da redenção, Deus estabeleceu
com o homem, agora pecador, um pacto de amizade e salvação,
denominado pelos teólogos de pacto ou aliança da graça. Nesse
pacto, Deus oferece ao pecador a salvação e a vida eterna através
de Jesus Cristo. Felizmente o plano de Deus para o homem não se
esgotava no Éden.
O pacto ou aliança da graça foi revelado pela primeira vez
logo após a queda, quando Deus disse à serpente: “Este (o des­
cendente da mulher) teferirá a cabeça (da serpente)” (Gn 3.15).
Este texto é chamado de proto-evangelho. Mas o estabelecimento
formal da aliança da graça foi feito com Abraão. “O estabeleci­
mento da aliança com Abraão marcou o início de uma igreja
institucional. Nos tempos anteriores a Abraão havia o que se pode
denominar ‘a igreja em casa’. Havia famílias nas quais a religião
verdadeira achava expressão, e sem dúvida havia também reu­
niões de crentes, mas não havia definidamente um corpo assina­
lado de crentes separado do mundo e que pudesse chamar-se igre­
ja. Havia ‘filhos de Deus’ e ‘filhos dos homens’, mas não eram
ainda separados por uma linha de demarcação visível. Na época
de Abraão, porém, foi instituída a circuncisão como ordenança
sinalizadora, como insígnia de membro e selo da justiça da fé.”32
O pacto feito com Abraão foi ratificado com a nação israelita
- a descendência de Abraão - no Monte Sinai. Ali Deus deu a lei
e estabeleceu normas que deviam ser observadas pelo seu povo.
Deus mesmo, movido pelo seu grande amor, providenciou
um meio para a salvação do pecador. “Deus amou ao mundo de
tal maneira que deu o seu Filho unigénito, para que todo o que
nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). Mas...
e aqueles que viveram e morreram antes do sacrifício de Jesus,
como seriam salvos?
31Louis Berkhof, M anual de Doutrina Cristã, p. 140.
32Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p. 296.
Todas as pessoas salvas, de todas as épocas e de todos os
lugares, só recebem a salvação mediante o sacrifício de Cristo.
Aqueles que viveram no período do Antigo Testamento, e que fo­
ram salvos, só foram salvos porque Cristo morreu numa cruz em
lugar deles. O livro do Apocalipse se refere a Jesus como o “Cor­
deiro que fo i morto desde a fundação do mundo” (Ap 13.8). E
o apóstolo Pedro escreveu que o sacrifício de Cristo era “conhe­
cido\ com efeito, antes da fundação do mundo, porém mani­
festado no fim dos tempos” (IPe 1.20). Isto significa que antes
da fundação do mundo já estava definido que o Filho viria ao mun­
do morrer para a salvação dos pecadores. E, desde o momento
em que foi feito o pacto da redenção, o sacrifício de Cristo já
estava valendo para a salvação dos pecadores.

CONDIÇÃO PARA SER SALVO


A revelação de que Deus enviaria seu Filho para morrer em
lugar do pecador foi dada aos poucos. “Devemos sempre lembrar
que a revelação de Deus no Antigo Testamento é verdadeira e
válida, mas representa um processo histórico, e assim se adapta ao
povo do dia.”33 O processo de conscientização da vinda de um
Salvador levou séculos. “Vindo, porém, a plenitude do tempo,
Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei,
para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que rece­
bêssemos a adoção de filhos” (G14.4,5).
Mas a salvação mediante o sacrifício de Cristo não significa
uma anistia universal. Deus exige que os homens respondam
favoravelmente ao chamado divino para a salvação e que, “pelo
princípio da nova vida gerada dentro deles, se consagrem a Deus
para uma nova obediência’.34 E só serão salvos os que responderem
positivamente ao chamado divino.

J3A. R. Crabtree, Teologia do Velho Testamento, p. 184.


'4Louis Berkhof, M anual de Doutrina Cristã, p. 147.
Responder ao chamado divino, hoje, significa crer em Jesus
Cristo e recebê-lo como Salvador pessoal e Senhor. Mas... e no
Antigo Testamento?
A condição para ser salvo, no Antigo Testamento, é a mesma
do Novo Testamento: crer! “É o caso de Abraão, que creu em
Deus, e isso lhe fo i imputado para justiça. Sabei, pois, que os
da fé é que são filhos de Abraão” (G13.6,7).
Mas, se as pessoas que foram salvas antes da vinda de Jesus
Cristo não tinham um conhecimento muito claro da vinda de um
Salvador, em que consistia, então, a fé dessas pessoas? A fé exigida
no Antigo Testamento está registrada em Deuteronômio 6.4,5 :
“Ouve, Israel, o S e n h o r , nosso Deus, é o único S e n h o r . Ama­
rás, pois, o S en h o r teu Deus, de todo o teu coração, de toda a
tua alma e de toda a tua força”. Além de crer no S e n h o r como
único Deus, o israelita devia aceitar, pela fé, sua condição de mem­
bro do povo de Deus, por força da aliança que Deus fez com
Abraão, e consagrar-se a Deus através de uma vida de obediência
e adoração. Os gentios - povos de outras nacionalidades e raças -
deviam também crer no S e n h o r como único Deus e tomar-se par­
te do povo israelita, já que Israel era o povo escolhido. Como
membro do povo de Deus, devia consagrar-se ao S e n h o r .
Cada israelita - seja por nascimento ou adoção - devia estar
consciente de que, embora pertencendo a Deus, era um pecador.
Por isso, foram estabelecidos meios pelos quais o pecador podia
aproximar-se de Deus. Um desses meios era o sacrifício de ani­
mais. “O homem devia levar um animal limpo, sem defeito, que
nada tinha a ver com o seu pecado, e entregava-o para ser morto.
A vida e o sangue do animal inocente tomavam o lugar do pecado
do adorador. Levava-se o animal vivo até ao altar, que era o lugar
de adoração. A pessoa impunha a mão sobre a cabeça dele e
confessava seus pecados. Compreendia-se, por isso, que os pe­
cados eram impostos à criatura viva, de modo a ser considerada
culpada, e, então, era ela tratada como se fosse o pecador. Natural­
mente, o adorador sabia muito bem que o cordeiro não era res­
ponsável pelo que ele fizera. Deus também sabia disso, mas era
essa a maneira de representar alguma coisa que, um dia, tinha de
acontecer de fato. Apontava para aquele dia no futuro, quando
Jesus Cristo apareceria como o Cordeiro de Deus, e o pecador
poria seus pecados sobre ele.”35

CONCLUSÃO
A Bíblia deixa claro que não existe nenhum meio de salvação
fora de Jesus Cristo. O Senhor Jesus declarou: “Eu sou o cami­
nho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por
mim” (Jo 14.6). E Pedro, inspirado pelo Espírito Santo, afirmou:
“E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu
não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo
qual importa que sejamos salvos" (At 4.12). Tanto no período
do Antigo Testamento, quanto no período do Novo Testamento,
Jesus é o único Salvador.
“Ora, àquele que é poderoso parafazer infinitamente mais
do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder
que opera em nós, a ele seja a glória, na Igreja e em Cristo
Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém” (Ef
3.20,21),

3íManford George Gutzke, Palavras Chaves da Fé Cristã, p. 75.

47
PERGUNTAS PARA FIXAÇÃO E APLICAÇÃO
1. 0 que é pecado?
2. O que são castigos naturais?
3. 0 que são castigos disciplinares?
4. As pessoas salvas no período do Antigo Testamento foram
salvas por obras da lei ou mediante a graça? Explique sua
resposta.
5. Qual era a condição para ser salvo no período do Antigo Testa­
mento?
6. Que tipo de fé era exigida para a salvação no período do Antigo
Testamento?
7. Qual era o objetivo (ou objetivos) do sacrifício de animais no
Antigo Testamento?
8. Pode haver um outro meio de salvação além da graça de Deus,
mediante a fé em Cristo?
9. As religiões não-cristãs podem apontar alguma outra alternativa
para a salvação? Por quê?
10. 0 que significa para você viver após a vinda de Jesus ao mundo?
6
0 POVO DE DEUS NO
6NTIGO TESTAMENTO
“Ora, irmãos, não quero que ignoreis que
nossos pais estiveram todos sob a nuvem,
e todos passaram pelo mar, tendo sido
todos batizados, assim na nuvem como no
mar, com respeito a Moisés. Todos eles
comeram de um só manjar espiritual e be­
beram da mesmafonte espiritual; porque
bebiam de uma pedra espiritual que os
seguia. E a pedra era Cristo. Entretan­
to, D eus não se agradou da m aioria
deles, razão por que ficaram prostrados
no deserto.
E stas coisas lhes sobrevieram como
exemplos eforam escritas para advertên­
cia nossa. ”
1 Coríntios 10.1-5,11

A nossa salvação é um processo que começou antes da fun­


dação do mundo, quando o Pai e o Filho estabeleceram o pacto
da redenção. O Filho “se colocou no lugar do pecador e incum­
biu-se de fazer a expiação do pecado, suportando o castigo
necessário, e de satisfazer as exigências da lei em lugar de todo o
seu povo” .36
“ Louis Berkhof, M anual de Doutrina Cristã, p. 140.

49
O plano de Deus inclui também uma organização para reunir
e congregar o seu povo. No princípio essa organização era a famí­
lia. Podemos citar como exemplo a família de Jó. O patriarca, além
de chefe da família era também o seu sacerdote. Ele liderava os
filhos na vida religiosa; levantava-se de madrugada e ofere­
cia holocaustos segundo o número de todos eles” (Jó 1.5). Após
o êxodo, a nação israelita passou a ser a instituição que reunia e
congregava o povo de Deus. Israel era uma teocracia.

OS PATRIARCAS
Adão e Eva foram expulsos do Éden, mas continuaram te­
mendo e cultuando o S e n h o r . Quando nasceu o primeiro filho, a
mãe o recebeu como uma dádiva de Deus. Ela declarou: “Adquiri
um varão com o auxílio do S e n h o r ” (Gn 4.1). Seus filhos Caim e
Abel ofereceram “uma oferta ao S e n h o r ” (Gn 4.3-5). Esse ato
mostra que os pais procuravam passar aos filhos a idéia de temor,
reverência e gratidão a Deus.
A população crescia... e se corrompia. “ Viu o S e n h o r que a
maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era
continuamente mau todo desígnio do seu coração; então, se
arrependeu o S e n h o r de ter feito o homem na terra, e isso lhe
pesou no coração. Disse o S e n h o r : Farei desaparecer da face
da terra o homem que criei, o homem e o animal, os répteis e
as aves dos céus; porque me arrependo de os haver feito. Po­
rém Noé achou graça diante do S e n h o r ” (Gn 6.5-8). Deus man­
dou o dilúvio. Destruiu homens e animais. Mas, felizmente, preser­
vou Noé e sua família e os animais que ele colocou na arca. E,
assim, a humanidade teve um novo começo.
Os homens deviam se espalhar por toda a terra. Mas eles
não obedeceram ao S e n h o r . Por isso as línguas foram confundi­
das. Cada família ou tribo passou a falar uma língua diferente da
outra. Uma não compreendia o que a outra dizia. E assim se espa­
lharam pela terra.
Os homens continuaram se corrompendo. Mas Deus sempre
teve os seus servos fiéis. Jó era um deles. Sua história é bem co­
nhecida.
Um outro fiel servo de Deus foi Abraão, que vivia em Ur,
capital do antigo reino da Suméria, cerca de 2.000 anos antes de
Cristo. Deus o chamou para ser o pai de um novo povo, de uma
nova nação, na qual seriam “ benditas todas as famílias da terra”
(Gn 12.3).
Abraão teve muitos filhos. Mas Isaque era o filho da promes­
sa e foi o sucessor do pai. Isaque teve dois filhos: Esaú e Jacó.
Por volta do ano 1876 a.C.,37 Jacó foi para o Egito, onde
seu filho José era o governador geral. Toda a família do patriarca
somava apenas setenta pessoas. Mas Deus os fez multiplicar no
Egito, tornando-os um povo numeroso. Tudo isto está registrado
no livro de Gênesis, que se inicia com o relato da criação e termina
com o registro da morte de José.
O ÊXODO E A CONQUISTA DE CANAÂ
Muitos anos após a morte de José, o rei do Egito passou a
oprimir e a escravizar os descendentes de Jacó. Mas Deus levan­
tou Moisés para tirar seu povo do Egito e conduzi-lo a Canaã - a
terra que havia prometido a Abraão dar à sua descendência.
O povo de Deus saiu do Egito por volta do ano 1446 a.C.
Inicialmente Moisés os conduziu para a região do Sinai. Ali ficaram
dois anos se preparando para a nova realidade que passariam a
viver. Eles eram ex-escravos. Agora precisavam de uma prepara­
ção especial para ser uma nação. Deus, através de Moisés, deu-
lhes as instruções de que necessitavam. Os livros de Êxodo e
Levítico registram a saída do Egito e as leis que Deus deu ao
povo no Sinai.
17Todas as datas citadas neste capítulo são tiradas da cronologia adotada no livro O
Ú undo do Antigo Testamento, escrito por J. I. Packer, Merril C. Tenney e Wiliam
White Júnior. Contudo, deve ficar claro que não é possível confirmar com exatidão
nenhuma dessas datas.
Devidamente preparado, o povo poderia chegar a Canaã
dentro de muito pouco tempo - possivelmente com menos de três
meses de caminhada. Mas o povo se rebelou contra Moisés e contra
Deus. E como resultado ficaram peregrinando pelo deserto por
mais 38 anos. Todos os rebeldes morreram no deserto. Apenas os
seus filhos entraram no terra prometida. O livro de Números conta
essa história. E Deuteronômio registra os discursos feitos por
Moisés, recordando ao povo tudo o que Deus havia feito por eles
naqueles quarenta anos.
O próprio Moisés morreu no deserto. Mas Deus colocou
Josué na liderança do povo. Por volta do ano 1406 a.C., eles en­
traram em Canaã. A luta para expulsar os habitantes da terra foi
longa. Eles venceram 31 reis. “Josué dividiu a terra entre as tribos
israelitas segundo as instruções de Deus, e pouco antes de morrer
insistiu com o povo a continuar confiando em Deus e obedecendo-
lhe às ordens. Porém, não foi isso o que fizeram. Após a morte de
Josué, ‘cada um fa zia o que achava mais reto’ (Jz 21.25). Os
grandes líderes desse período atuaram à semelhança de Moisés e
de Josué; eram heróis militares e juizes que presidiam os tribunais
de Israel, daí a denominação que lhes damos de ‘juizes’. Os mais
dignos de nota foram: Otniel, Débora (a única mulherjuíza), Gideão,
Jefté, Sansão, Eli e Samuel.”38 Foi também nesse período que vi­
veu Rute.

O REINO UNIDO
Por volta do ano 1043 a.C., foi instituída a monarquia em
Israel. Deus fez co'm que a transição fosse pacífica. O novo rei
pertencia à tribo de Benjamim. “Uma escolha muito lógica, pois, é
o jovem Saul (ISm 10.23); este não é somente alto e hábil, mas
também é da tribo central e mais fraca entre as tribos (1 Sm 9.21);
assim sua escolha não incitará inveja entre as tribos.”39

38J. I. Packer e outros, O M undo do Antigo Testamento, p. 28.


39William S. Smith, Deus e Seu Povo, Volume 1, p. 166.
“Em seus primeiros anos, Saul apareceu como um homem
revestido de humildade e autodomínio. Contudo, com o correr dos
anos seu caráter mudou. Tomou-se obstinado, desobediente a Deus,
ciumento, odiento e supersticioso.”40 Sua morte foi trágica (ISm
31.1-13).
Davi foi o segundo rei de Israel. Ele começou a reinar sobre a
tribo de Judá por volta do ano 1011 a.C. Ao mesmo tempo, Is-
Bosete, filho de Saul, reinava paralelamente sobre outras tribos.
Esta situação durou sete anos e seis meses (2Sm 2.11), até o as­
sassinato dels-Bosete, por seus adversários. “ Assim, pois, todos
os anciãos de Israel vieram ter com o rei, em Hebrom; e o rei
Davi fe z com eles aliança em Hebrom, perante o S e n h o r . Ungi­
ram Davi rei sobre IsraeF (2Sm 5.3). “Davi reunia as qualidades
que o povo buscava - habilidade militar, sagacidade política e agu­
do senso de dever religioso.”41 No seu reinado, Israel se tornou
uma nação forte e consolidou suas fronteiras.
O terceiro rei foi Salomão, que começou a reinar por volta
do ano 971 a.C. “A despeito da lendária sabedoria de Salomão,
ele nem sempre viveu sabiamente. Ele executou o plano político de
Davi, fortalecendo seu poderio sobre os territórios conquistados
pelo pai. Ele era um arguto homem de negócios, e fez alguns acor­
dos comerciais que proporcionaram grande riqueza a Israel (lR s
10.14,15). Deus também usou Salomão para construir o grande
lemplo em Jerusalém. Mas o pródigo estilo de vida de Salomão
aumentou o peso dos impostos sobre o povo em geral. Salomão
herdou do pai a atração por mulheres,... e formou um harém de
esposas oriundas de muitas terras (lR s 11.1-8). Essas esposas
pagãs induziram-no a adorar deuses pagãos, e não demorou para
que ele estabelecesse seus ritos e cerimônias em Jerusalém.” 42
Salomão escreveu os livros de Provérbios, Eclesiastes e Can­
tares. Em Eclesiastes ele mostra a sua grande frustração no final de
"’J. I. Packer e outros, O M undo do Antigo Testamento, p. 30.
11J. I. Packer e outros, O M undo do Antigo Testamento, p. 31.
'• J. I. Packer e outros, O M undo do Antigo Testamento, p. 31.
sua vida, quando afirma: “Eu, o Pregador, venho sendo rei de
Israel, em Jerusalém. Atentei para todas as obras que se fazem
debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade e correr atrás do
vento” (Ec 1.12,14).

O REINO DIVIDIDO
Salomão faleceu por volta do ano 931 a.C. A sua morte de­
sencadeou uma sangrenta luta pelo trono. De um lado estava Roboão,
seu filho; do outro lado estava um ex-exilado político, chamado
Jeroboão, que tinha o apoio da maioria dos chefes militares. 0
reino foi dividido. Roboão ficou com a parte sul do país, reinando
sobre as tribos de Judá e Benjamim, tendo Jerusalém como capi­
tal. Essa parte passou a denominar-se reino de Judá. E Jeroboão
ficou com dez tribos, tendo a capital sucessivamente em várias ci­
dades na parte norte do país. Por volta do ano 879 a.C., Onri
estabeleceu a capital definitivamente em Samaria. Essa parte do
reino conservou o nome de Israel.
O reino de Israel teve dezenove reis. Nenhum deles serviu ao
Senhor. Pelo contrário, todos cooperaram para que o povo e o
reino se afastassem mais e mais do Senhor. Deus levantou profetas
para advertir as autoridades e o povo, mas a impiedade imperava.
Um dos primeiros profetas foi Elias, que travou grande luta com
Acabe e Jezabel. Elias foi sucedido por Eliseu. Outros profetas
deste período foram Amós, Jonas, Miquéias e Oséias. Amós pro­
fetizou contra a idolatria, a corrupção e as injustiças sociais. Jonas
foi enviado por Deus a Nínive para anunciar o julgamento contra
aquele povo; houve conversão e a cidade foi poupada. Miquéias
denunciou os erros dos governantes de Israel e Judá e os falsos
líderes religiosos. Oséias denunciou a prostituição espiritual de Is­
rael e o julgamento inevitável.
No ano 721 a.C., o rei da Assíria tomou Samaria e destruiu o
reino de Israel. Sua população foi levada cativa para várias cida­
des do império dos medos. “O rei da Assíria trouxe gente de
Babilônia, de Cuta, de Ava, de Hamate e de Sefarvaim e a
fez habitar nas cidades de Samaria, em lugar dos filh o s de
Israel; tomaram posse de Samaria e habitaram nas suas ci­
dades” (2Rs 17.24). Acabou-se o reino de Israel.
O reino de Judá durou um pouco mais. Ele teve vinte reis.
Quase todos andaram longe dos caminhos do Senhor. Apenas os
reis Asa, Josafá, Joás (Jeoás), Amazias, Azarias, Jotão, Ezequias
e Josias foram fiéis ao Senhor.
Deus levantou grandes profetas para advertir Judá. Isaías foi
um deles. Seu ministério durou cerca de sessenta anos. Ele denun­
ciou o pecado, aconselhou reis, advertiu quanto ao julgamento do
Senhor e, também, falou sobre a vinda do Messias e um futuro
glorioso. Um outro grande profeta desse período foi o sacerdote
Hilquias, que redescobriu a lei e conduziu a reforma do templo,
acompanhada de uma reforma religiosa. Habacuque, Jeremias,
Joel, Naum e Sofonias também exerceram seu ministério profé­
tico nesse período.
Judá permaneceu insensível espiritualmente. E sofreu as con­
seqüências do julgamento divino. Em 609 a.C., o rei Josias foi
morto pelo exército egípcio, emMegido. Em 605 a.C., Nabucodo-
nosor subjugou Judá e ocupou a planície costeira. Muitos judeus
foram levados cativos para a Babilônia; entre estes estavam Daniel
e seus amigos. No ano 597 a.C., Jerusalém foi invadida pelos
babilônios. Mais um grupo de judeus foi levado para a Babilônia.
Entre estes estava o profeta Ezequiel. Em 586 a.C., Jerusalém foi
queimada pelos babilônios. O rei foi preso e teve os seus olhos
vazados. A população de Judá foi levada cativa para a Babilônia.
Assim chegava ao fim o reino de Judá.

A RESTAURAÇÃO DE JUDÁ
Os descendentes de Abraão deviam ser uma bênção para
todas as famílias da terra. Mas o reino de Israel tinha sido destruído,
sua população foi espalhada no meio de vários povos e as dez
tribos desapareceram. E Judá estava no exílio.
Mas Deus não mudou o seu plano. Ele continuou falando ao
povo através dos profetas. Jeremias foi um profeta que Deus usou
para falar ao povo no período que antecedeu ao cativeiro e, tam­
bém, nos primeiros anos do exílio. Logo após a queda de Jeru­
salém, ele foi levado para o Egito. Mas antes escreveu a famosa
carta aos cativos da Babilônia (Jr 29).
Ezequiel foi outro profeta que Deus usou para falar ao seu
povo no cativeiro. Ele animou os exilados com a esperança da
volta à sua pátria. Enquanto isso, o profeta Daniel atuava no go­
verno da Babilônia. Obadias profetizou contra Edom, que tinha
atacado Judá no tempo da invasão babilónica.
Como Deus havia predito através dos profetas, Judá voltou
do cativeiro. O primeiro grupo voltou em 538 a.C., sob a liderança
de Sesbazar eZorobabel (Ed 1.8-2.70). Em 536 a.C., eles inicia­
ram a reconstrução do templo de Jerusalém. A reconstrução de
Jerusalém e do templo teve períodos de euforia e de desânimo.
Por isso, Deus levantou profetas para animar o povo a completar a
obra. Ageu e Zacarias foram os profetas que atuaram nesse perío­
do. Em 516 a.C., foi inaugurado o templo.
A história de Ester se passou nesse período. Ela se casou
com o rei Assuero, conhecido na história como Xerxes, que reinou
nos anos 486-464 a.C.
O segundo grupo voltou em 458 a.C., sob a direção de Esdras
e Neemias (Ed 8.1-14). Neemias foi nomeado governador geral
do seu país. Seu principal trabalho foi a reconstrução dos muros
de Jerusalém. A missão de Esdras foi restaurar o serviço religioso
no templo de Jerusalém. Ele compilou os hinos que o povo can­
tava, desde a época de Moisés, e preparou um hinário. Este hiná­
rio está na Bíblia Sagrada - é o Livro dos Salmos. Foi também
nesse período que foram escritos os dois livros das Crônicas.
O Antigo Testamento termina com o livro de Malaquias, es­
crito mais ou menos 400 anos antes do nascimento de Jesus Cris­
to. O livro traz severas advertências ao povo, que estava voltando
às antigas práticas pecaminosas.
CONCLUSÃO
A história do povo de Deus no Antigo Testamento é uma
grande advertência para nós. “Estas coisas se tornaram exem­
plos para nós” (IC o 10.6), como afirmou o apóstolo Paulo. O
nosso Deus é Deus zeloso (Êx 20.5,6). “O S e n h o r é tardio em
irar-se, mas grande em poder e jam ais inocenta o culpado”
(Na 1.3).
“Ora, a nosso Deus e Pai seja a glória pelos séculos dos
séculos. Amém” (Fp 4.20).

PERGUNTAS PARA FIXAÇÃO EAPLICAÇÃO


1. Qual era a instituição que reunia e congregava o povo de Deus
no Antigo Testamento?
2. Quais são as evidências de que Adão e Eva, depois de expulsos
do Éden, continuaram temendo e cultuando o S e n h o r ?
3. Como foi que os israelitas foram parar no Egito?
4. Quanto tempo os israelitas ficaram na região do Sinai e com que
objetivo?
5. Como foi instituída a monarquia em Israel?
6. Quem foi o primeiro rei de Israel?
7. Quando e por que foi dividido o reino?
8. Quando e como chegou ao fim o reino de Israel?
9. Quantos anos Judá ficou no cativeiro e como foi sua restauração?
10. O que significa para você a história do povo de Deus no Antigo
Testamento?
Apêndice N Q1

CRONOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO


O bservações:
1. Este apêndice tem como objetivo apresentar em ordem crono­
lógica os livros e fatos narrados no Antigo Testamento.
2. A maioria das datas são aproximadas; outras são apenas conjec­
turas. Na antigüidade cada povo tinha o seu próprio calendário
- não havia um calendário universal - e isto dificulta muito o
estabelecimento das datas dos eventos históricos.
3. A coincidência de período de reinado entre reis que se sucede­
ram acontece porque alguns reis colocaram seus filhos para rei­
nar ao lado deles. Por exemplo: Uzias começou a reinar no ano
791 a.C.;noano751 a.C., colocou seu filho Jotão ao seu lado,
como rei; no ano 744 a.C., Jotão colocou Acaz, seu filho, como
rei ao seu lado. Nesse período Judá tinha três reis: Uzias (avô),
Jotão (pai) e Acaz (neto).
4. A duração do reinado também precisa ser entendida segundo
os critérios da época. O ano em que o rei assumia o trono era o
primeiro ano de seu reinado, mesmo que ele assumisse o trono
no final do ano. Como conseqüência, um rei que assumisse o
trono faltando dois meses para o ano terminar e o deixasse oito
meses depois de iniciado o ano seguinte seria mencionado no
Antigo Testamento como tendo reinado dois anos, quando, na
realidade, o reinado fora de apenas dez meses.
5. Todas as datas mencionadas seguem a ordem decrescente, ten­
do em vista que se referem ao período antes de Cristo.
DA CRIAÇÃO À MORTE DE SALOMÃO
Data Evento Registro Bíblico
? Criação Gênesis 1,2
? Queda do homem: o pecado entra para a
história humana; corrupção do gênero humano. Gênesis 3-6.10
? Dilúvio: novo começo com Noé e sua família. Gênesis6.11-10.32
? Babel: confusão das línguas e início das nações. Gênesis 11
2000-1850 a.C. Período em que viveu Abraão. Gênesis 12-25.11
? Período em que viveu Jó. Jó 1-42
1900-1750 a.C. Período em que viveu Isaque, Gênesis 21-35
1876 a.C. Chegada de Jacó ao Egito. Êxodo 12.40
1520 a.C. Nascimento de Moisés. Êxodo 1-2
1446 a.C. Os israelitas saem do Egito (êxodo), passam Êxodo 3-40
dois anos na região do Sinai, aprendendo as Levítico1-27
leis que deviam obedecer como “povo de Números 1-36
Deus, nação santa”. Depois seguiram para Deuteronômio 1-34
Cades-Barnéia, onde deviam preparar a invasão
da terra prometida. Doze espias foram enviados
a Canaã para trazer informações sobre a terra e
sobre a posição dos inimigos. Dez deram
informações pessimistas. O povo se rebelou
contra Moisés e contra Deus. Por isso, Deus
determinou que nenhum adulto daquela geração
entraria em Canaã, exceto Josué e Calebe.
O povo ficou vagando pelo deserto mais 38
anos, até que morresse aquela geração.
1406 a.C. Os israelitas entram em Canaã, a terra prometida, Josué 1-24
sob a liderança de Josué, e tomam posse da terra.
1386 a.C. Josué morre. O povo deixa de ter um governo Josué 24.29-33;
central. Inicia-se o período dos juizes. Juizes 1.1-10
1386-1043 a.C. Período dos juizes. Vários juizes lideram o povo Juizes 1-21;
ao mesmo tempo, em diferentes regiões do país. 1 Samuel 1-8;
Foi também nesse período que viveu Rute. Rute 14
1043 a.C. Início da monarquia. 1 Samuel 9,10
1043 a.C. Início do reinado de Saul. Ele reinou 33 anos, de 1 Samuel 11-31
1043-1011 a.C.Atos13.21 registra que Saul reinou
40 anos, mas a conclusão a que se chegou é que,
no texto referido, estão incluídos os7 anos do
reinado de Is-Bosete, filho de Saul.
1011 a.C. Morte de Saul. Seu filho Is-Bosete assume o trono 2 Samuel 1-3
e reina 7 anos. Logo após a morte de Saul, Davi
foi proclamado rei de uma das tribos - Judá - e
começou a reinar sobre essa tribo, instalando a
sede do reino em Hebrom, onde reinou 7 anos.
1004 a.C. Inimigos matam Is-Bosete. Davi é ungido rei de 2 Samuel 4,5
todo o Israel.
1011-971 a.C Reinado de Davi. Ele reinou 40 anos, de 1011 -971 2 Samuel 2-24;
a.C., sendo 7 anos sobre a tribo de Judá e 33 1 Reis 1-2.11;
anos sobre todo Israel. Davi faleceu no ano 971 1 Crónicas 11-29
a.C.
971-931 a.C. Reinado de Salomão, filho e sucessor de Davi. 1Reis2.12-11.43;
Ele reinou 40 anos. Nesse período Salomão 2 Crónicas 1-9
escreveu os livros de Provérbios, Eclesiastes e Provérbios, Eclesiastes
Cantares. e Cantares
931 a.C. Morre Salomão. O pais mergulhou numa 1 Reis 12
sangrenta guerra civil em que os filhos de Salomão 2 Crónicas 10,11
e os generais do exército brigavam pelo trono.
Jeroboão, com o apoio dos chefes militares, divide
o reino e se torna o rei de dez tribos. Roboão, filho
de Salomão, fica reinando sobre duas tribos: Judá
e Benjamim. O seu reino recebe o nome de Judá
ou reino do sul, por ocupar a parte sul do país.
A capital desse reino é Jerusalém. A outra parte
recebe o nome de reino de Israel ou do norte, por
ocupar a parte norte do país. Inicialmente a capital
foi instalada em Siquém.

REINO DIVIDIDO
DATA EVENTOS DO EVENTOS DO REGISTRO
REINO DE JUDÁ REINO DE ISRAEL BÍBLICO

931-914 a.C. Reinado de Roboão. Seu 1 Reis 11.42-14.31;


reinado durou 17 anos. 2 Crónicas 12

931-910 a.C. Reinado de Jeroboão 1 Reis 11.26-14.20


I. Seu reinado durou
22 anos.
914-911 a.C. Reinado de Abias, filho 1 Reis 14.31-15.8;
e sucessor de Roboão. Seu 2 Crónicas 13
reinado durou apenas 3 anos
911-870 a.C. Reinado de Asa, filho e 1 Reis 15.8-24;
sucessor de Abias. Seu 2 Crônicas 14-16
reinado durou 41 anos.

910-909 a.C. Reinado de Nadabe, 1 Reis 15.25-28


filho e sucessor de
Jeroboão I. Seu reinado
durou apenas 2 anos.
Ele foi morto por Baasa.
909-886 a.C. Reinado de Baasa, 1 Reis 15.27-16.7
assassino de Nadabe.
Seu reinado durou 24 anos.
886-885 a.C. Reinado de Elá, filho e 1 Reis 16.6-14
sucessor de Baasa. Seu
reinado durou 2 anos.
Ele foi morto por Zinri.
885 a.C. Zinri, assassino de Elá, 1 Reis 16.9-20
reinou 7 dias. 0 povo
conspirou contra ele e o
matou.
885-874 a.C. Reinado de Onri, que antes 1 Reis 16.15-28
era o comandante do exército.
Seu reinado durou 12 anos.
885-880 a.C. Reinado de Tibni, um rival 1 Reis 16.21-24
de Onri. Ele reinou sobre
algumas partes do reino do
norte, enquanto Onri era o
rei “oficial”. Depois de
alguns anos de reinado,
Tibni foi morto pelos
seguidores de Onri.
880 a.C. Onri muda a capital do reino 1 Reis 16.24
do norte de Tirza para Samaria.
874-853 a.C. Reinado deAcabe, filho e 1 Reis 16.28-22.40
sucessor de Onri. Seu 1 Reis 17-2 Reis 2
reinado durou 21 anos.
Foi nesse período que o
profeta Elias realizou o seu
ministério.
873-848 a.C. Reinado de Josafá, filho 1 Reis 22.41-51;
e sucessor de Asa. Seu 2 Crônicas 17-20
reinado durou 25 anos.
853-841 a.C. Reinado de Jeorão, 2 Reis 8.16-24;
filho e sucessor de 2 Crônicas 21
Josafá. Seu reinado
durou 8 anos, sendo
5 destes ao lado de
seu pai.
853-852 a.C. Reinado de Acazias, filho e 1 Reis 22.40-2 Rei:
sucessor de Acabe. Seu 1.18
reinado durou apenas 1 ano.
852-841 a.C. Reinado de Jorão, irmão e 2 Reis 3.1-9.25
sucessor de Acazias (que não 1 Reis 19.19-2 Reis
tinha filhos). Seu reinado durou 13.21
11 anos. Ele foi morto por Jeú.
Foi nesse período que o profeta
Eliseu, sucessor de Elias,
realizou o seu ministério.
841 a.C. Reinado de Acazias, 2 Reis 8.24-9.29;
filho e sucessor de 2 Crônicas 22.1-9
Jeorão. Seu reinado
durou apenas 1 ano.
Ele foi morto por Jeú,
quando lutava ao lado
de Jorão, rei de Israel,
que era parente de sua
esposa.
841-835 a.C. Reinado de Atalia, 2 Reis 11.1-20;
mãe e sucessora de 2 Cr 22.10-13
Acazias. Ela era filha
de Onri, rei de Israel,
e uma das esposas
de Jeorão. Acazias
faleceu aos 22 anos
de idade, sem deixar
filho que pudesse
assumir o trono. Sua
mãe assinou os filhos
de Jeorão (com as
outras esposas) e
usurpou o trono.
841-814a.C. Reinado de Jeú, que havia 2Reis9.1-10.36
matado Jorão, rei de Israel,
e Acazias, rei deJudá.
Seu reinado durou 28 anos.
835-796 a.C. Reinado de Joás, filho de 2 Reis 11.1-12.21;
Acazias. Quando seu pai 2 Crônicas 23,24
faleceu, sua tia o escondeu
para que ele não fosse morto
pela avó, Atalia, que havia
usurpado o trono. Ele ficou
escondido 6 anos, quando
Atalia foi morta e ele assumiu
o trono, sob a tutela do
sacerdote Joiada. Seu reinado
durou 40 anos. Ele foi assas­
sinado numa conspiração,
liderada por dois de seus
auxiliares.
814-798 a.C. Reinado de Jeoacaz, filho 2 Reis 13.1-9
e sucessor de Jeú. Seu
reinadoduroulôanos. i
798-782 a.C. Reinado de Jeoás, filho e 2Reis 13.10-14.16
sucessor de Jeoacaz. Seu
reinado durou 16 anos.
796-767 a.C. Reinado de Amazias, 2 Reis 14.1-20;
filho e sucessor de 2 Crônicas 25
Joás. Seu reinado >
durou 29 anos.
794-753 a.C. Reinado de Jeroboão II, 2 Reis 14.23-29
filho e sucessor de Amós 1-9
Jeoás. Seu reinado Jonas 1-4
durou 40 anos. Foi nesse
periodo que os profetas
Amós e Jonas realizaram
seus ministérios.
791-739 a.C. Reinado de Azarias (Uzias), 2 Reis 15.1-7;
filho e sucessor de Amazias. 2 Crônicas 26
Seu reinado durou 52 anos. Joel1-3
Foi nesse período que o Isaías 6
profeta Joel realizou o seu Oséias 1.1
ministério. No ano da morte
do rei Uzias (739 a.C.), o
profeta Isaías iniciou o seu
ministério. 0 profeta Oséias
também iniciou o seu
ministério nesse período.
753-752 a.C. Reinado de Zacarias, filho e 2 Reis 14.29-15.12
sucessor de Jeroboão II.
Seu reinado durou apenas
6 meses. Ele foi morto por
Salum.
752 a.C. Reinado de Salum, assassino 2 Reis 15.10-15
de Zacarias. Seu reinado durou
apenas 1 mês. Ele foi morto
por Manaém.
752-742 a.C. Reinado de Manaém, assassine 2 Reis 15.14-22
e sucessor de Salum. Seu
reinado durou 10 anos.
752-732 a.C. Reinado de Peca. Ele 2 Reis 15.27-31
reinou paralelamente a
Manaém, como um rei
rival. Depois da morte de
Manaém, aliou-se a Pecaías,
filho e sucessor de Manaém,
a quem assassinou mais tarde.
0 reinado de Peca durou
20 anos. Ele foi assassinado
porOséias.
751-735 a.C. Reinado de Jotão, filho 2 Reis 15.32-38;
e sucessor de Azarias 2 Crônicas 27;
(Uzias). Seu reinado Miquéias 1.1
durou 16 anos, sendo
parte desse período
comoco-regente.ao
lado de Azarias.
Foi nesse periodo
que o profeta
Miquéias iniciou o
seu ministério.
744-728 a.C. Reinado deAcaz, filho 2 Reis 16.1-20;
e sucessor de Jotão. 2 Crônicas 28
Seu reinado durou 16
anos, sendo parte desse
período como co-
regente de Jotão.
742-740 a.C. Reinado de Pecaías, filho de 2 Reis 15.23-26
Manaém. Seu reinado durou
2 anos. Ele foi morto por Peca.
732-722 a.C. Reinado de Oséias, assassino 2 Reis 15.30-17.6
e sucessor de Peca. Seu
reinado durou 9 anos.
729-696 a.C. Reinado de Ezequias, 2 Reis 18.1-20.21;
filho e sucessor de 2 Crônicas 29-32
Acaz. Seu reinado
durou 29 anos. Foi
nesse período que
chegou ao final o
ministério dos profetas
Isaías, Oséias e
Miquéias.
722 a.C. FIM DO REINO DE ISRAEL. 2 Reis 17
0 povo foi levado para o
cativeiro pelos assírios.

REINO DE JUDÁ
696-641 a.C. Reinado de Manassés, filho e sucessor de Ezequias. 2 Reis 21.1-18;
Seu reinado durou 50 anos. Foi nesse período que o 2 Crônicas 33.1-2C
profeta Naum realizou seu ministério. Naum 1-3
641-639 a.C. Reinado de Amom, filho e sucessor de Manassés. Seu 2 Reis 21.19-26;
reinado durou 2 anos. Foi morto numa conspiração 2 Crônicas 33.21-2í
liderada por seus servos.
639-608 a.C. Reinado de Josias, filho e sucessor de Amom. Seu 2 Reis 22.1-23.30;
reinado durou 31 anos. Foi morto pelo Faraó Neco, rei 2 Crônicas 34-35
do Egito, numa batalha em Megido. Foi nesse período Obadias
que os profetas Obadias e Sofonias realizaram seus Sofonias 1-3
ministérios. Início do ministério do profeta Jeremias. Jeremias 1.1-10
608 a.C. Jeoacaz, filho de Josias, reinou 3 meses. A seguir foi 2 Reis 23.31-33;
preso pelo Faraó Neco e levado para o Egito. 2 Crônicas 36.1-4
608-597 a.C. O Faraó Neco constituiu como rei Eliaquim, filho de 2 Reis 23.34-24.5;
Josias, mudando-lhe o nome para Jeoaquim. Seu 2 Crônicas 36.5-8
reinado durou 11 anos. Foi nesse periodo que o profeta Habacuque 1-3
Habacuque realizou seu ministério.
605 a.C. Nabucodonosor veio a Jerusalém pela primeira vez e 2 Reis 24.10-14;
submeteu o reino de Judá ao domínio da Babilônia. Daniel 1
Jeoaquim foi confirmado no trono. Daniel e seus
companheiros foram levados cativos para a Babilônia.
Iniciava-se assim o cativeiro de Judá na Babilônia,
que durou 70 anos.
597 a.C. Reinado de Joaquim, filho de Jeoaquim. Seu reinado 2 Reis 24.8-16;
durou apenas 3 meses. As tropas de Nabucodonosor 2 Crônicas 36.9;
atacaram Jerusalém pela segunda vez, levaram o Ezequiel 1-48
rei Joaquim cativo para a Babilônia e colocaram
Matanias, tio paterno do rei, em seu lugar. A Matanias
deram o nome de Zedequias. 0 profeta Ezequiel foi
levado para a Babilônia, onde realizou o seu ministério
entre os cativos.
597-586 a.C. Reinado de Zedequias, que durou 11 anos. 2 Reis 24.17-25.30;
2 Crônicas 36.10-16
586 a.C. As tropas de Nabucodonosor vieram a Jerusalém pela 2 Reis 24.20-25.22;
terceira vez, destruíram o templo e colocaram fim ao 2 Crônicas 36.17-21
reino de Judá. 0 rei Zedequias teve os seus olhos
vazados e foi levado cativo para a Babilônia. Gedalias foi
nomeado governador do povo que ficou em Judá. Sete
meses depois Gedalias foi assassinado e o povo fugiu
para o Egito, levando, à força, o profeta Jeremias.
FIM DO REINO DE JUDÁ.

RESTAURAÇAO DE JUDA
DATA EVENTO REG. BÍBLICO
539 a.C. Queda da Babilônia. Ciro, rei persa, domina a Babilônia. ?
538 a.C. Ciro autoriza os judeus a voltar ao seu país. Mais de 2Cr 36.22,23;
quarenta mil voltaram a Jerusalém, sob a liderança de Esdras 1,2
Zorobabel e Sesbazar príncipe de Judá.
537 a.C. Inicia-se a reconstrução do templo de Jerusalém. Algum Esdras 3-5;
tempo depois a reconstrução pára por pressão dos Ageu 1,2;
inimigos e descaso do povo. Foi nesse período que os Zacarias 1-14
profetas Ageu e Zacarias exerceram seu ministério.
520 a.C. Reinicia-se a reconstrução do templo. Esdras 6.1-13
516 a.C. Conclui-se a reconstrução do templo, no dia 10 de março. Esdras 6.14-22
483 a.C. Ester se casa com Assuero, conhecido na história como
Xerxes t. Ester 1-3
479 a.C. Ester livra seu povo de ser massacrado. Ester 4-10
458 a.C. Esdras vai a Jerusalém ensinar ao povo a lei de Deus. Esdras 7-10;
Esdras prepara o livro de Salmos para ser o hinário do Salmos 1-150
templo. Provavelmente ele escreveu o Salmo 1 para ser
o cântico introdutório do hinário. Os demais salmos foram
apenas compilados por ele.
445-433 a.C. Neemias governa Judá, nomeado pelo rei Artaxerxes Neemias 1-13
(persa), de quem fora copeiro.
430 a.C. Ministério de Malaquias. FIM DO ANTIGO Malaquias 1-4
TESTAMENTO. Começa o penodo intertestamentário.
0 período do Novo Testamento só começaria cerca de
400 anos depois de Malaquias.
7
0 POVO DE DECIS NO
NOVO TEST6MENTO
“(Deus) não se deixou ficar sem testemu­
nho de si mesmo, fazendo o bem, dando-
vos do céu chuvas e estações frutíferas. ”
Atos 14.17

Desde a criação do homem até a consumação de todas as


coisas houve e sempre haverá pessoas que adoram a Deus em
espírito e em verdade. A Assembléia de Westminster reconheceu
isso e afirmou: “haverá sempre sobre a terra uma igreja para ado­
rar a Deus segundo a vontade dele mesmo”.43 Esse grupo de ver­
dadeiros adoradores foi maior em alguns períodos da história, e
inenor em outros. Na época em que Jesus nasceu parece que o
número de verdadeiros adoradores era tão pequeno que é até di-
licil identificá-los na história. Contudo, mesmo nos momentos de
maior apostasia ou indiferença, sempre houve um remanescente
liei a Deus. Isso foi visto no Antigo Testamento; e é isso mesmo
que pode ser observado também no Novo Testamento.
O PERÍODO INTERTESTAMENTÁRIO
Quando estamos lendo a Bíblia Sagrada e chegamos ao final
do Antigo Testamento, simplesmente viramos duas folhas e entra­
mos no Novo Testamento. Isso não nos permite perceber que es­
sas poucas páginas em branco cobrem um período de aproxi­
madamente quatrocentos anos.
'' Confissão de Fé de Westminster, XXV.V.

69
O Antigo Testamento termina com os judeus novamente em
sua terra, depois de setenta anos de cativeiro na Babilônia. Mas a
independência de Judá durou pouco tempo. No ano 333 a.C.,
Alexandre, o Grande, iniciou sua escalada de conquistas de vários
países. Dez anos depois, quando ele faleceu, seu expansionismo
tinha conquistado até a índia. Com sua morte, seu reino permane­
ceu unido poucos anos e, a seguir, foi dividido entre os seus quatro
generais. SoterPtolomeu, conhecido na história como Ptolomeu í,
um dos generais favoritos de Alexandre, apoderou-se do Egito,
assumindo o título de rei daquele país. Seus descendentes reina­
ram durante séculos sobre o Egito. Em 320 a.C., Ptolomeu I do­
minou a Judéia. Esse domínio durou até o ano 198 a.C., quando
Antíoco III conquistou a Judéia. Esse rei era descendente de outro
general de Alexandre, chamado Seleuco, que havia dominado a
Síria. Assim, a Judéia deixou de ser dominada pelo Egito para ser
dominada pela Síria. ' .
No ano 166 a.C., osjudeus, sob o comando do sumo sacer­
dote Matatias, se revoltaram contra seus dominadores. Houve muita
luta durante vários anos. No ano 129 a.C., a Judéia alcançou sua
completa independência.
Novamente a independência da Judéia durou pouco. No ano
63 a.C., os romanos dominaram o país. E, em 37 a.C., nomearam
Herodes, o Grande, como rei da Judéia, sujeito ao Império Roma­
no, mas com toíal autonomia nos assuntos internos do país. Quan­
do Jesus nasceu, Herodes reinava sobre osjudeus.

A PREPARAÇÃO DO MUNDO PARA A VINDA DE JESUS


O país onde Jesus nasceu era, naquela época, como um cor­
redor ligando vastas porções da Europa, Ásia e África. Ele estava
localizado entre as duas grandes potências da época: Egito, no
norte da África, e Síria, na Ásia.
Jesus nasceu em Belém, mas foi criado em Nazaré, no norte
de Israel. Por esta região passava uma das mais importantes estra-
das - a que ligava Damasco, capital da Síria, ao Egito. Era a liga­
ção por terra entre dois continentes: Ásia e África.
Deus preparou o mundo para a vinda de seu Filho. Qual­
quer observador da história perceberá que Deus dirigia os des­
tinos das nações, preparando o mundo para o estabelecimento
de uma nova ordem.
Todo o mundo civilizado da época, exceto o pouco conheci­
do reino do Oriente, estava sob o domínio dos romanos. Com
isso, o cidadão podia viajar por todo o vasto império sem ser mo­
lestado. “Esses vastos territórios, que abrangiam toda a civilização
então conhecida pelo homem comum, eram dominados por um
tipo único de cultura. Em nenhum outro período da história anterior
ou posterior se encontra exemplo de predomínio cultural que se
possa comparar ao exercido por Roma nessa época.”44
Na área da comunicação também o mundo foi preparado
para a vinda de Jesus. O latim, língua falada em Roma, foi aprendi­
do pelos povos submetidos. Cada povo adaptava o seu vocabulá­
rio e os seus dialetos à língua dos conquistadores. O grego, por
sua vez, era a língua da cultura, familiar a todas as pessoas de
melhor nível intelectual. Essa língua era muito conhecida no Oriente
Médio. É provável que Jesus e os apóstolos a tenham usado no
contato com os povos não judeus. Portanto, ao invés de centenas
de línguas e dialetos como antes, naquela época predominavam duas
línguas, o que facilitou muito a divulgação dos ensinos de Jesus.
Deus preparou também os transportes. Os romanos constru­
íram e implantaram um excelente sistema de estradas. Com isso,
tinham o objetivo de agilizar o deslocamento das legiões para aba­
far motins e insurreições nos diferentes pontos do Império. Polici­
avam tais estradas para proteção das caravanas de comerciantes
que transitavam por elas. A navegação também evoluiu muito. Foi
essa melhoria nos transportes que facilitou as viagens missionárias
do apóstolo Paulo.
MWilliston Walker, História da Igreja Cristã, vol. I, p. 16.

71
O JUDAÍSMO
O judaísmo, que era a religião dos judeus, havia ultrapassado
os limites do país e tinha prosélitos em quase todo o mundo civili­
zado daquela época. Judeus e prosélitos freqüentavam, semanal­
mente, a sinagoga, um centro social que cuidava da instrução dos
adultos e da educação das crianças na fé judaica.
O judaísmo, especialmente em Israel, estava dividido em sei­
tas que iam do liberalismo ao racionalismo, e do misticismo ao
oportunismo político.
Os fariseus formavam a maior e mais influente seita. Eram
separatistas e procuravam prestar obediência a todos os preceitos
da lei escrita e oral. Entre eles havia hipócritas, mas a grande mai­
oria era constituída de homens virtuosos e bons, de elevados pa­
drões morais. O grande problema dos fariseus é que eles viam na
lei um fim em si mesmo, e não um instrumento para levar o homem
a viver em harmonia com o Criador. Embora declarassem que seu
único Deus é o Senhor, o seu deus de fato era a lei. Viviam para a
lei, e não para aquele que lhes dera a lei.
Os saduceus eram menos numerosos do que os fariseus, mas
tinham poder político e constituíam o grupo dominante na direção
da vida civil. “Os saduceus eram oportunistas e estavam sempre
prontos a aliar-se com o poder dominante, desde que, por esse
meio, pudessem manter o seu prestígio e influência.”45
Havia, também, os essênios. Essa seita era “uma fraternidade
ascética para a qual só podiam entrar aqueles que se submetessem
aos regulamentos do grupo e às cerimônias de iniciações. Absti-
nham-se do casamento e mantinham as suas fileiras por adoção ou
pela recepção de neófitos. As suas comunidades mantinham em
comum as suas propriedades, de sorte que nenhum era rico nem
era pobre. Cada um se sustentava a si próprio por meio do traba­
lho manual. Comiam os alimentos mais simples e vestiam-se habi­
tualmente de branco, quando não estavam a trabalhar” .46
45Merrill C. Tenney, O Novo Testamento, Sua Origem e Análise, p. 140.
“ Merrill C. Tenney, obra citada, p. 140.
Havia, também, os zeloles, que formavam um grupo diferen­
te. Eram nacionalistas fanáticos, que advogavam a violência como
método de luta contra os dominadores romanos.
O centro da religião judaica era Jerusalém. Lá estava o tem­
plo, e para lá se voltavam as atenções de todos os religiosos judai­
cos, independentemente da seita a que pertenciam. Mas Jerusalém
era, também, o centro do mau exemplo na prática da religião. As
famílias sacerdotais e os dirigentes rabinos tinham em suas mãos o
poder religioso, “dirigiam o movimento comercial relacionado com
o templo e tinham sociedade nos lucros provenientes da venda de
animais para os sacrifícios e do câmbio de dinheiro envolvido nos
tributos do templo”.47 Para esses dirigentes religiosos, a religião
era um negócio, uma fonte de lucro.

OS SERVOS DO SENHOR
Apesar da degradação espiritual do judaísmo, existiam os
verdadeiros adoradores em todos os segmentos religiosos. Deus
se serviu do sacerdote Zacarias e sua esposa Isabel, que “eram
justos diante de Deus, vivendo irrepreensivelmente em todos
os preceitos e mandamentos do Senhor ” (Lc 1.6), para gerar e
educar João Batista, o precursor do Messias. Esse “crescia e se
fortalecia em espírito. E viveu nos desertos até ao dia em que
havia de manifestar-se a IsraeF (Lc 1.80). Maria, a jovem es­
colhida para ser a mãe do Salvador, era outro exemplo de que
Deus sempre tem os seus verdadeiros adoradores. Ao receber a
notícia de que ficaria grávida e daria à luz um filho, ela respondeu:
"Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim confor­
me a tua palavra” (Lc 1.38).
Jesus nasceu em Belém, para onde Maria e José haviam se
dirigido para recensear-se. Quando a criança foi apresentada no
templo, em Jerusalém, conforme o costume da época, lá estava
Simeão, “homem este justo e piedoso que esperava a consola-
1 Merrill C. Tenney, obra citada, p. 77.
ção de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele” (Lc 2.25). Lá
estava também a profetisa Ana, “avançada em dias, que vivera
com seu marido sete anos desde que se casara, e que era viúva
de oitenta e quatro anos. Esta não deixava o templo, mas ado­
rava noite e dia em jejuns e orações'''’ (Lc 2.36,37).

JESUS, OS APÓSTOLOS E A IGREJA PRIMITIVA


Jesus iniciou seu ministério aos trinta anos de idade. Teve um
ministério curto, de apenas três anos e meio. Os evangelhos não
nos contam tudo sobre Jesus. “Imaginemos alguém escrevendo uma
carta a um amigo para apresentar-lhe uma pessoa importante. Es­
taria o autor da carta em condições de descrever tudo acerca da
vida dessa pessoa? Claro que não. Ele só podia escrever acerca
daquilo que conhecia - e provavelmente não tentaria, também, es­
crever tudo o que soubesse. Ele se concentraria no que, a seu ver,
o amigo deseja e precisa conhecer. Os homens que escreveram os
Evangelhos fizeram a mesma coisa. Eles tinham em mira explicar a
pessoa e a obra de Jesus, registrando o que ele fez e disse. E cada
autor apresenta uma perspectiva ligeiramente diferente acerca de
Jesus e de suas obras.”4*
Após a ressurreição, Jesus apareceu aos discípulos durante
quarenta dias. Findo esse período, foi elevado às alturas, à vista
dos apóstolos, mas deixou-lhes a seguinte promessa: “Recebereis
poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas
testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e
Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8). A promessa se
cumpriu no dia de Pentecostes, com a descida do Espírito Santo.
E, a partir daí, o grupo de seguidores de Jesus, sob a liderança dos
apóstolos, experimentou um extraordinário crescimento.
“A medida que a igreja continuava a crescer, as autoridades
governamentais começaram a perseguir abertamente os cristãos.
Pedro e alguns dos apóstolos foram presos, mas um anjo os liber­
48J. I. Packer e outros, O M undo do Novo Testamento, p. 18.

74
tou; convocados pelas autoridades, estas lhes deram ordens de
parar com a pregação a respeito de Jesus. Os cristãos, porém,
recusaram-se a obedecer; continuaram pregando, muito embora
as autoridades religiosas judaicas os espancassem e os lançassem
na prisão diversas vezes.”451
Inicialmente a igreja funcionava como uma seita judaica. Mas
aos poucos ela foi se diferenciando do judaísmo e adquirindo iden­
tidade própria.
“A segunda fase do crescimento da igreja começou com uma
violenta perseguição dos cristãos em Jerusalém. Quase todos os
crentes fugiram da cidade. Por onde quer que fossem, os cristãos
davam testemunho, e o Espírito Santo usava esse testemunho a fim
de conquistar outras pessoas para Cristo.”50
Por volta do ano 42, o evangelho chegou a Antioquia, capital
da Síria. Lá nasceu uma igreja forte e operosa. E foi de lá que
partiu o apóstolo Paulo e seus companheiros, levando o evangelho
para vários países. O livro dos Atos dos Apóstolos conta a história
de três viagens missionárias, e termina com o apóstolo Paulo em
Roma, preso, porém com certa regalia, pregando o evangelho.
O último livro da Bíblia a ser escrito foi o Apocalipse, por
volta do ano 96. Naquela época, os cristãos estavam sendo mas­
sacrados pelos romanos, mas o livro traz promessas de vitória dos
servos de Jesus sobre todos os seus inimigos. Isso de fato aconte­
ceu. E um pouco mais de duzentos anos depois, o cristianismo
estava espalhado em todos os cantos e em todos os segmentos do
Império Romano. E o Imperador Constantino, em sua luta para
unificar o Império, resolveu dar proteção ao Cristianismo.

CONCLUSÃO
O Novo Testamento - do nascimento de João Batista ao
Apocalipse - abrange um período de, aproximadamente, cem anos.
Historicamente é um período curto, porém decisivo para a huma­
19J. I. Packer e outros, obra citada, p. 22.
411.T. I. Packer e outros, obra citada, - p. 23.
nidade. Foi nessa época que Deus cumpriu a promessa feita ainda
no Éden, e o descendente da mulher esmagou a cabeça da serpente.
Nesse curto período, a mensagem de salvação, pregada por
homens indoutos - com exceção de Paulo venceu o fanatismo
judaico, a pretensa sabedoria dos gregos e o orgulho dos roma­
nos, e conquistou multidões para o reino dos céus.
Quando o Senhor age, “quem o impedirá?” (Is 43.13).

PERGUNTAS PARA FIXAÇÃO EAPLICAÇÃO


1. Quantos anos durou o período entre o Antigo e o Novo
Testamento?
2. Cite algumas informações que mostram Deus preparando o mun­
do para a vinda de Jesus.
3. Quais eram as principais seitas judaicas da época de Jesus?
4. Diante da degradação espiritual do judaísmo, onde estavam os
verdadeiros adoradores na época de Jesus?
5. Quais eram os objetivos dos autores dos evangelhos?
6. Como e quando começou a fase de expansão do cristianismo?
7. Como começou a segunda fase do crescimento da igreja cristã
no período do Novo Testamento?
8. Qual foi a Igreja que enviou missionários para evangelizar os
gentios?
9. Quanto tempo durou o período do Novo Testamento e qual o seu
significado para a Igreja?
10.Qual o período que você julga mais favorável para o cultivo da fé:
o do Antigo ou do Novo Testamento? Justifique sua resposta.
Apêndice A /fi 2

CRONOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO


OBSERVAÇÕES:
1. Este apêndice tem como objetivo apresentar em ordem crono­
lógica os livros e fatos narrados no Novo Testamento.
2. A maioria das datas são aproximadas; outras são apenas
conjecturas.
3. A maior dificuldade encontrada quando se tenta descobrir a
data dos acontecimentos narrados no Novo Testamento está
na multiplicidade de calendários usados naquela época. Cada
povo tinha o seu próprio calendário. Os romanos haviam insti­
tuído o Calendário Juliano, no ano 46 a.C. Mas cada povo
continuava usando o seu próprio calendário. Com o triunfo do
cristianismo, aos poucos surgiram e foram crescendo pressões
para a adoção de um calendário cristão. Dionysios Exiguus, um
frade, fez uma grande campanha nesse sentido, afirmando ser
um absurdo os cristãos usarem um calendário pagão. A partir
de 533, os anos passaram a ser contados tomando como ponto
de partida o nascimento de Jesus. O calendário passou a ser
misto: dias, semanas e meses seguiam o Calendário Juliano; mas
os anos eram contados a partir do nascimento de Cristo. Con­
tudo, ao estabelecer o ano do nascimento de Jesus, cometeu-
se um erro que pode ter sido de 4 a 8 anos. Ou seja: o nasci­
mento de Jesus deve ter ocorrido de 4 a 8 anos antes da data
estabelecida no calendário. Sabe-se que Herodes, o Grande,
morreu no ano 4 a. C. E quando Jesus nasceu ele ainda estava vivo.
4. O calendário que usamos atualmente chama-se Calendário
Gregoriano. Ele foi instituído pelo papa Gregório XIII, medi­
ante bula pontifícia datada de 24 de fevereiro de 1582; mas só
entrou em vigor no dia 15 de outubro daquele ano, quando o
calendário foi adiantado 10 dias: 5 de outubro de 1582 passou
a ser 15 de outubro de 1582. Por isso, as datas de hoje têm
uma diferença de 10 dias em relação às datas anteriores a 15
de outubro de 1582.
5. Embora as datas desta cronologia não sejam precisas, ela é
muito útil para nos dar a seqüência dos livros do Novo Tes­
tamento, bem como dos principais fatos ali narrados.

PERÍODO INTERTESTAMENTÁRIO
DATA EVENTOS HISTÓRICOS
333 a.C. Alexandre, o Grande, inicia sua escalada de conquista de
vários países.
323 a.C. Morte de Alexandre, o Grande. Seu reino foi dividido entre
seus quatro generais: Sóter, Filadelfo, Evérgetese Filópater.
Sóter, conhecido na história como Ptoiomeu I, apodera-se
do Egito, assumindo o titulo de rei daquele país
320 a.C. Ptoiomeu I anexa a Judéia ao Egito.
198 a.C. Antíoco III conquista a Judéia, que passa a ser dominada
pela Síria.
167 a.C. Antíoco IV, Epifânio, profana o templo de Jerusalém.
Revolta dos judeus, sob o comando do sumo sacerdote
Matatias.
166 a.C. Judas Macabeu assume a liderança da revolta dos judeus.
161 a.C. Morre Judas Macabeu e Jônatas Macabeu assume seu
lugar.
144 a.C. Jônatas é assassinado e Simão Macabeu assume seu
lugar.
129 a.C. Independência da Judéia.
63 a.C. Os romanos conquistam a Judéia.
37 a.C. Herodes, o Grande, nomeado pelos romanos governador
da Judéia.
4 a.C. Morre Herodes, o Grande. Jesus havia nascido pouco
tempo antes.
PERÍODO DO NOVO TESTAMENTO
DATA EVENTOS REF. BÍBLICA
6/4 a.C. Nascimento de João Batista Lucas 2.57-66
Nascimento de Jesus Mateus 1.18-25;
Lucas 2.1-20
4 a.C. Morte de Herodes, o Grande. Seu Mateus 2.19,20
reino foi dividido entre seus três filhos:
Arquelau (Judéia, Samaria e Iduméia),
Herodes Antipas (Galiléia e Peréia) e
Herodes Filipe (Ituréia e Traconites).
6 Arquelau foi deposto pelos romanos.
A Judéia passou a ser governada por
procuradores nomeados pelo
Imperador Romano.
6/8 Jesus completa doze anos, vai a Jerusa­ Lucas 2.41-52
lém e fica no templo, entre os doutores.
26 Pôncio Pilatos, procurador romano,
nomeado governador da Judéia. Início Lucas 3.1-14
do ministério de João Batista.
27 Batismo de Jesus. Mateus 3.13-17
Início do ministério de Jesus. Mateus 4.12-17
28 Prisão e morte de João Batista, por Mateus 14.1-12
ordem de Herodes Antipas.
30 2 de abril - Entrada triunfal de Jesus Mateus 21.1-11
em Jerusalém (domingo).
6 de abril - Celebração da Páscoa e Mateus 26.17-30
Instituição da Santa Ceia (quinta-feira).
7 de abril - Crucificação de Jesus
(sexta-feira).
9 de abril - Ressurreição de Jesus Mateus 28.1-10
(domingo).
8 de maio - Ascensão de Jesus Atos 1.6-11
(40 dias após a ressurreição)
19 de maio - Pentecostes
(50 dias após a Páscoa). Atos 2.1-41
36 Morte de Estêvão. Perseguição e Atos 6.8-7.60
dispersão dos cristãos de Jerusalém. Atos 8.1-3
Conversão de Saulo. Atos 9.1-19
37-40 Saulo na Arábia (três anos). Gálatas 1.17,18
40 Saulo visita Jerusalém. A seguir Gálatas 1.21
vai para a Síria e Cilicia.
41 Conversão de Comélio. Atos 10.1-48
42 0 evangelho chega a Antioquia. Atos 11.19-26
44 Morte do apóstolo Tiago, filho de Atos 12.1,2
Zebedeu. Prisão e libertação Atos 12.3-19
miraculosa de Pedro.
46 Barnabé leva Saulo para Antioquia. Atos 11.25,26
47 Barnabé e Saulo levam a Jerusalém Atos 11.29,30
a oferta da Igreja de Antioquia. Na
volta, Marcos os acompanha para
Antioquia.
48-49 Barnabé e Saulo, enviados pela Igreja Atos 13-14.26
de Antioquia, fazem a primeira viagem
missionária. Pregam em Chipre
(Salaminas e Pafos), Perge, Antioquia
da Pisídia, Icônio, Listra e Derbe.
Depois voltam "fortalecendo as almas
dos discípulos... e promovendo em
cada igreja a eleição de presbíteros",
Saulo adota o nome de Paulo.
Escrita a Primeira Epístola de Tiago Tiago 1.1;
(entre os anos 45 e 50), por Tiago, irmão Mateus 13.55
de Jesus. Paulo escreve a Epístola Atos 14.27,28;
aos Gaiatas, em Antioquia, logo após Gálatas 1.1
voltar desta viagem missionária.
50 Reúne-se, em Jerusalém, o primeiro Atos 15.1-35
presbitério, para tratar da controvérsia
sobre a circuncisão dos gentios.
Marcos escreve o Evangelho Segundo
Marcos.
51-53 Segunda viagem missionária. Paulo e Atos 15.36-18.23
Barnabé se separam, por causa de
Marcos. Paulo escolhe Silas para ser
seu companheiro. Timóteo viaja com
Paulo, a partir de Listra, sua terra natal.
Paulo chega a Filipos, primeira cidade
européia a ser atingida pelo evangelho.
Passa por Tessalônica e Beréia. Prega
em Atenas. Em Corinto, Paulo escreve 1 Atos 18.1-11
e 2 Tessalonicenses, no ano 52.
Viaja para Éfeso, levando Áquila e Priscila.
0 casal fica em Éfeso e Paulo se dirige
para Jerusalém e, de lá, volta a Antioquia.
54-57 Terceira viagem missionária. Paulo e Atos 18.24-21.26
seus companheiros passam pela região
da Galácia e da Frigia, confirmando as
igrejas. Chegam a Éfeso, onde
permanecem mais de dois anos.
Em Éfeso, Paulo escreve 1 e 2 Atos 19.1-20
Coríntios (entre os anos 54 e 57).
Paulo sai de Éfeso, passa pela
Macedônia fortalecendo as igrejas.
Em Corinto, Paulo escreve a Epístola Atos 20.1
aos Romanos, no ano 56.
Chega à Grécia, onde permanece três
meses. Começa a viagem de volta,
passando pela Macedônia, Mileto, Rodes,
Pátara, Ptolemaida, Cesaréia e chega a
Jerusalém.
58 Paulo é preso em Jerusalém. A seguir Atos 21.27-26.32
é levado para Cesaréia, onde fica dois
anos preso.
60 Paulo é enviado para Roma. Lucas Atos 27.1-28.15
escreve o Evangelho Segundo Lucas. Lucas 1.1-4
61 Paulo chega a Roma, onde permanece Átos 28.16-31
dois anos na sua própria casa.
Escreve as Epístolas a Filemom, aos
Colossenses, aos Efésios e aos Filipenses
63 Segundo a tradição e notas de alguns
escritores antigos, Paulo foi libertado da.
prisão em Roma e “pregou o evangelho
até às extremidades do Ocidente”. Mas
alguns estudiosos do Novo Testamento
julgam que Paulo perdeu o direito de
prisão domiciliar e foi colocado na
Prisão Mamertina, onde foi executado.
Nesta cronologia vamos partir do
pressuposto de que Paulo foi libertado
da prisão. Lucas escreve o livro dos
Atos dos Apóstolos.
64 Escrita a Primeira Epístola de Pedro. h Pedro 1.1
66 Escrita a Segunda Epístola de Pedro. 2 Pedro 1.1
67 Paulo, na Macedônia, escreve 1 Timóteo 1.1,2
1 Timóteo. Paulo, em Nicópolis, Tito 1.1-4
escreve a Epístola a Tito. Paulo é
preso na Macedônia e mandado para
Roma. Paulo, na prisão em Roma, 2 Timóteo 1.1,2
escreve a Segunda Epístola a Timóteo.
Paulo é julgado, condenado e
executado em Roma. Escrita a Epístola
aos Hebreus. Escrita a Epístola de Judas 1;
Judas, por Judas, irmão de Jesus. Mateus 13.55
70 Destruição de Jerusalém. Os judeus
são dispersos pelo mundo.
75 Escrito o Evangelho Segundo Mateus.
85/90 Escrita a Primeira Epístola de João.
90/100 João escreve o Evangelho Segundo João.
96 Escrito o Apocalipse, pelo apóstolo João. Apocalipse 1.1-3
Escrita a Segunda Epístola de João 2 João 1
97 Escrita a Terceira Epístola de João. 3 João 1
8
0 VERBO SE
FEZ C6RNE
“No princípio era o Verbo, e o Verbo
estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus. To­
das as coisas fo ram fe ita s p o r in­
termédio dele, e, sem ele, nada do que
foi feito se fez. A vida estava nele e a
vida era a luz dos homens.
E o Verbo se fe z carne e habitou entre
nós, cheio de graça e de verdade, e vi­
mos a sua glória, glória com o do
unigénito do Pai. ”
João 1.1-4,14

O plano de Deus para a nossa salvação foi elaborado na


eternidade, antes da fundação do mundo. Mas a sua execução tem
um cronograma, tem uma história. “ Vindo, porém, a plenitude do
tempo, Deus enviou seu Filho” (G14.4). No tempo próprio, na
hora certa, “o Verbo se fe z carne e habitou entre nós, cheio de
graça e de verdade” (Jo 1.14). E esse momento oportuno foi cri­
ado pelo próprio Deus.

HUMANIDADE E DIVINDADE DE JESUS


Mateus inicia a narração do nascimento de Jesus com as se­
guintes palavras. “Ora, o nascimento de Jesus Cristof o i assim:
83
Estando Maria, sua mãe, desposada com José, sem que tives­
sem antes coabitado, achou-se grávida pelo Espírito Santo”
(Mt 1.18). A palavra desposada descreve a situação conjugal de
Maria, quando ficou grávida. O casamento entre os judeus tinha
três etapas. A primeira era o compromisso, geralmente feito pelos
pais, às vezes até sem o conhecimento do casal. A segunda etapa
era o desposório, que corresponde mais ou menos ao nosso ca­
samento civil. Quando o rapaz e a moça estavam na idade própria
para o casamento - moças a partir de doze anos e meio, e rapazes
a partir de 18 fazia-se o desposório. A partir daí o rapaz e a
moça eram considerados marido e esposa, mas ainda continuavam
vivendo separados, cada um na casa de seus pais. A seguir vinham
as bodas, a terceira etapa. Esta era uma grande festa, geralmente
feita na casa do noivo. E, a partir daí, os dois passavam a viver
como marido e esposa. Maria estava desposada com José quando
ficou grávida. E ele “sendo justo e não a querendo infamar, re­
solveu deixá-la secretamente. Enquanto ponderava nestas coi­
sas, eis que lhe apareceu, em sonho, um anjo do Senhor, dizen­
do: José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher,
porque o que nela fo i gerado é do Espírito Santo. Ela dará ã
luz um filh o e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o
seu povo dos pecados deles. Despertado José do sono, fe z como
lhe ordenara o anjo do Senhor e recebeu sua mulher. Contudo,
não a conheceu, enquanto ela não deu ã luz um filho, a quem
pôs o nome de Jesus’’ (Mt 1.19-21,24,25). A ordem era dupla:
José devia levar Maria para sua casa e assumir a paternidade legal
da criança que estava para nascer. A ordem para dar nome ao
menino implicava em assumir a paternidade legal de Jesus, pois só
o pai podia dar nome a uma criança.
“Os evangelhos de Mateus e de Lucas contam com detalhes
como o Filho de Deus veio ao mundo. Ele nasceu fora de um pe­
queno hotel, em uma obscura aldeia da Judéia, nos grandes dias
do Império Romano. A história é geralmente embelezada quando
a contamos Natal após Natal, mas na realidade ela é rude e cruel.
A razão de Jesus ter nascido fora do hotel é que este estava cheio
e ninguém ofereceu uma cama para a mulher que estava para
dar à luz, de modo que ela teve seu nenê no estábulo e o deitou
em uma manjedoura.”51
As pessoas que estavam em Belém não sabiam que aquela
criança era o Filho de Deus. “O Verbo se fez carne: um corpo
humano real. Ele não deixou de ser Deus; não era menos Deus do
que havia sido antes, mas começou a tornar-se homem. Ele não
era Deus com menos elementos de sua divindade, mas Deus e
mais tudo que havia tomado seu ao assumir a forma humana.”52
Jesus era, ao mesmo tempo, verdadeiramente Deus e verda­
deiramente homem. Este é um mistério que está além de nossa
compreensão. Mas as duas naturezas de Cristo aparecem clara­
mente na Bíblia Sagrada. “Deus tomou-se homem; o Filho Divino
tornou-se judeu; o Todo-poderoso apareceu na terra como um
bebê indefeso, incapaz de outra coisa qualquer além de ficar deita­
do, olhar, mexer-se e fazer ruídos, precisando ser alimentado e
trocado, e ensinado a falar como qualquer outra criança. E não
havia ilusão ou decepção nisto, a infância do Filho de Deus foi
uma realidade. Quanto mais se pensa sobre isso, mais surpre­
endente se torna. Nada na ficção é tão fantástico como a ver­
dade da encarnação.” 53
No plano de Deus para a nossa salvação, o Salvador devia
ser verdadeiro Deus e verdadeiro homem. “Desde que o homem
pecou, era necessário que o homem sofresse a penalidade. Além
disso, o pagamento da pena envolvia sofrimento de corpo e alma,
sofrimento somente cabível ao homem. Era necessário que Cristo
assumisse a natureza humana, não somente com todas as suas pro­
priedades essenciais, mas também com todas as debilidades a que

']J. I. Packer, O Conhecimento d e Deus, p. 45.


'2J. I. Packer, obra citada, p. 48.
33J. I. Packer, obra citada, p. 44.
está sujeita, depois da queda, e, assim, devia descer às profundezas
da degradação em que o homem tinha caído. Ao mesmo tempo,
era preciso que fosse um homem sem pecado, pois um homem que
fosse, ele próprio, pecador e que estivesse privado da sua própria
vida, certamente não poderia fazer expiação por outro. No plano
divino de salvação era (também) absolutamente necessário que o
Mediador fosse verdadeiro Deus. Era necessário que (1) ele pu­
desse apresentar um sacrifício de valor infinito e prestar perfeita
obediência à lei de Deus; (2) ele pudesse sofrer a ira de Deus
redentoramente, isto é, para livrar outros da maldição da lei; e (3)
ele pudesse aplicar os frutos da sua obra consumada aos que o
aceitassem pela fé.” 54

HUMILHAÇÃO E EXALTAÇÃO DE CRISTO


Ao tomar-se homem, Jesus ua si mesmo se esvaziou,... a si
mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte, e morte
de cruz” (Fp 2.7,8). A humilhação de Cristo teve cinco estágios:
(1) encarnação; (2) sofrimento; (3) morte; (4) sepultamento e (5)
descida ao hades.
Foi grande humilhação para a Segunda Pessoa da Trindade
encarnar-se, assumir a natureza humana, “enfraquecida e sujeita
ao sofrimento e à morte, embora isenta da mancha do pecado”.55
A vida terrena de Jesus foi uma vida de sofrimento. Ele, Se­
nhor, se fez servo; não tinha pecado, mas tinha que viver o dia-a-
dia com pecadores; era absolutamente santo, e tinha que viver num
mundo dominado pelo pecado. “Ele sofreu com as repetidas in­
vestidas de Satanás, com o ódio e a incredulidade do seu povo, e
com a perseguição dos seus inimigos. Visto que ele pisou sozinho o
lagar, a sua solidão só tinha que ser deprimente e o seu senso de
responsabilidade, esmagador.”56 O Catecismo de Heidelberg en­

i4Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p. 319.


5íLouis Berkhof, obra citada, p. 337.
’6Louis Berkhof, obra citada, p. 337.
sina que “todo o tempo em que ele viveu na terra, mas especial­
mente no fim da sua vida, ele suportou, no corpo e na alma, a ira de
Deus contra o pecado de toda a raça humana”.57
O ponto culminante do sofrimento de Jesus foi a sua morte.
Ele jamais pecou, mas teve que pagar o salário do pecado. Ele foi
submetido a um julgamento injusto. Foi torturado, e crucificado
entre dois ladrões. A crucificação era reservada aos piores ban­
didos; e o pior deles ocupava a cruz do centro. Os algozes de
Jesus certamente intentaram ligar a sua imagem aos ladrões, que
eram as pessoas mais odiadas e desprezadas daquela época. Além
de todo o sofrimento físico e moral, Jesus sofreu também a ira do
Pai contra o pecado que estava sobre a raça humana, o que o
levou a clamar: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparas­
te?” (Mt 27.46).
O sepultamento foi outro estágio da humilhação de Cristo. O
sepultamento era um instrumento para simbolizar a humilhação do
pecador, era voltar ao pó.
O último estágio da humilhação de Jesus foi sua descida ao
hades. Hades é uma palavra que pode ser traduzida como sepul­
tura, inferno ou mundo dos mortos. A descida de Jesus ao hades
tem sido interpretada de várias formas. Louis Berkhof, grande te­
ólogo, afirma que “parece melhor combinar dois pensamentos: (a)
que Cristo sofreu as angústias do inferno antes da sua morte, no
Getsêmani e na cruz; e (b) que ele adentrou a mais profunda humi­
lhação do estado de morte”.58
Tudo isso aconteceu porque “e/e tomou sobre si as nossas
enfermidades e as nossas dores levou sobre si; ... fo i traspassa­
do pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüida-
des; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas
pisaduras fom os sarados” (Is 53.4,5).
Mas Deus o exaltou. E a exaltação de Cristo tem quatro es-

i7Catecismo de Heidelberg, resposta à pergunta 37.


Louis Berkhof, obra citada, - p. 343.
tágios: (1) ressurreição; (2) ascensão; (3) sessão à destra do Pai e
(4) regresso físico para julgar vivos e mortos.
A ressurreição de Jesus não foi uma simples volta à vida. Isto
já havia acontecido com Lázaro, com o filho da viúva da aldeia de
Naim e com a filha de Jairo. E iria acontecer com outras pessoas.
A ressurreição de Jesus significa que a sua natureza humana foi
restaurada à sua pureza, força e perfeição originais. O corpo res­
suscitado não estava mais sujeito às limitações de antes - era um
corpo glorificado, perfeito instrumento da alma. Além disso, sua
ressurreição equivale a uma declaração do Pai de que todas as
exigências da lei tinham sido cumpridas.
Jesus ressuscitou e voltou para o Pai. “Na ascensão vemos
Cristo como o nosso grande Sumo Sacerdote entrando no santuá­
rio interior para apresentar ao Pai Seu sacrifício consumado.”59
Voltando ao céu, Jesus foi entronizado à direita do Pai. “Na­
turalmente, a expressão ‘mão direita de Deus’ não pode ser toma­
da no sentido literal, mas deve ser tomada como uma indicação
figurativa do lugar de poder e glória. Que Cristo está assentado à
mão direita do Pai significa que as rédeas do governo da Igreja
e do universo lhe estão confiadas, e que ele foi feito participan­
te da glória correspondente a isto. E a sua investidura pública
como Deus-Homem.”60
Mas o estágio mais avançado da exaltação de Cristo será a
sua volta gloriosa na condição de Juiz. Jesus “está no fim da estra­
da da vida de todas as pessoas, sem exceção. ‘Prepara-te, ó Is­
rael, para te encontrares com o teu Deus' (Am 4.12) foi a men­
sagem de Amós a Israel. ‘Prepara-te para te encontrares com Je­
sus ressuscitado’ é a mensagem de Deus hoje ao mundo (At 17.31).
E podemos ter a certeza de que aquele que é verdadeiro Deus e
homem perfeito será um juiz perfeitamente justo”. Ele julgará vivos
e mortos. Os ímpios serão condenados ao sofrimento eterno; e os

39Louis Berkhof, M anual de Doutrina Cristã, p. 177.


“ Louis Berkhof, Manual de Doutrina Cristã, p. 178.
redimidos entrarão na bem-aventurança eterna. E assim estará con­
sumada sua obra redentora.

CONCLUSÃO
“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também
em Cristo Jesus" (Fp 2.5). Ser cristão não é apenas receber Jesus
como Salvador; é também recebê-lo como Senhor. Isto significa
fazer o que ele nos manda (Jo 15.14). O cristão deve seguir o
Mestre no sentido de tomar-se pobre para enriquecer seu próxi­
mo; e buscar, de todas as formas lícitas e possíveis, promover o
bem dos outros.
Ser cristão é viver de tal maneira que os homens “vejam as
vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus”
(Mt 5.16).
PERGUNTAS PARA FIXAÇÃO E APLICAÇÃO
1. Quais eram as três etapas do casamento entre os judeus?
2. Quando Maria ficou grávida qual era a sua situação conjugal?
3. Por que o Salvador devia ser verdadeiro Deus e verdadeiro
homem?
4. Quantos e quais são os estágios da humilhação de Cristo?
5. Qual desses estágios lhe parece o mais humilhante? Por quê?
6. O que significa a declaração de que Jesus desceu ao hades'1
7. Quantos e quais são os estágios da exaltação de Cristo?
8. Qual desses estágios lhe parece o mais glorioso? Por quê?
9. A ressurreição de Jesus foi diferente das outras ressurreições
registradas na Bíblia Sagrada? Explique sua resposta.
10.O que significa para você a recomendação do apóstolo Paulo:
“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em
Cristo Jesus? (Fp 2.5)?
9
PROFETA,
SfiCERDOTE E REI
“É Cristo Jesus quem morreu ou, antes,
quem ressuscitou, o qual está à direita de
Deus e também intercede por nós. ”
Romanos 8.34

Jesus Cristo é verdadeiramente homem e verdadeiramente


Deus. Ele possui as duas naturezas - divina e humana - inteiramen­
te perfeitas e distintas, inseparavelmente unidas em sua pessoa.
Como homem, Jesus é o homem perfeito, como todos os
homens seriam se o pecado não tivesse entrado para a história da
raça humana. “O homem, como foi criado por Deus, devia funcio­
nar como profeta, sacerdote e rei. Dai ter sido dotado de conhe­
cimento e entendimento, de retidão e santidade, e de domínio so­
bre a criação inferior. A entrada do pecado no mundo afetou o
homem todo e o impossibilitou de funcionar propriamente na sua
tríplice capacidade de profeta, sacerdote e rei. Ficou sujeito ao
poder do erro e do engano, da injustiça, da poluição moral, do
sofrimento e da morte. Cristo veio como o homem ideal e com o
propósito de restaurar o homem à sua condição original, e, como
tal, necessariamente funcionou como profeta, sacerdote e rei.”61
Como profeta, ele é o representante de Deus junto aos homens.
Como sacerdote, ele representa os homens perante Deus. Como
rei, ele exerce domínio sobre o homem e sobre o universo.
‘'Louis Berkhof, M anual de Doutrina Cristã, p. 183.

91
Os ofícios de Cristo não podem ser contundidos com cargos.
Cargo é uma função exercida por uma pessoa, por delegação ou
por imposição. “Ofício é, antes de tudo, uma dignidade, um minis­
tério, uma missão, todos em grau acima do comum. E um mandato
com confiança e autoridade. 0 seu desempenho é um serviço e
não uma obrigação tabelada. ...O ofício é contínuo, éum estado.”62

O OFÍCIO DE PROFETA
“Cristo exerce o ofício.de profeta, revelando-nos, pela sua
Palavra e pelo seu Espírito, a vontade de Deus para a nossa
salvação.”63
O profeta é alguém que traz uma mensagem da parte de Deus
para os homens. Esse conceito está bem claro no livro do Êxodo.
Deus chama Moisés e ordena que ele tire os israelitas do Egito.
Moisés, porém, responde: “Ah! Senhor! Eu nunca fu i eloqüente,
nem outrora, nem depois que falaste a teu servo; pois sou p e ­
sado de boca e pesado de língua” (Êx 4.10). Então, Deus lhe
respondeu: “Não éArão, o levita, teu irmão? Eu sei que elefa la
fluentemente; e eis que ele sai ao teu encontro e, vendo-te, se
alegrará em seu coração. Tu, pois, lhe falarás e lhe porás na
boca as palavras; eu serei com a tua boca e com a dele e vos
ensinarei o que deveis fazer. Ele falará por ti ao povo; ele te
será por boca, e tu lhe serás por Deus” (Êx 4.14-16). “Vê que te
constituí como Deus sobre Faraó, e Arão, teu irmão, será teu
profeta. Tu falarás tudo o que eu te ordenar; e Arão, teu ir­
mão, falará a Faraó, para que deixe ir da sua terra os filhos de
IsraeF (Êx 7.1). Arão seria a boca de Moisés, isto é, através dele
Moisés falaria a Faraó e aos israelitas. Assim também é o profeta:
ele é a boca de Deus, sua função é falar aos homens o que Deus
mandar. No Antigo Testamento “era dever dos profetas revelar a
vontade Deus ao povo. Isto podia ser feito na forma de instrução,

“ Francisco Martins, O Oficio de Presbítero, p. 14 e 15.


63Breve Catecismo, resposta à pergunta 24.
admoestação e exortação, promessas gloriosas ou censuras seve­
ras. Eles eram os monitores ministeriais do povo, os intérpretes da
lei, especialmente nos seus aspectos morais e espirituais” .64
A Bíblia Sagrada mostra, de modo bem claro, que Jesus exer­
ceu e exerce o ofício de profeta.
No Antigo Testamento, Jesus foi anunciado como profeta.
Em Deuteronômio 18, está registrada a promessa do grande Pro­
feta: “O S e n h o r , teu Deus, te suscitará um profeta do meio de
ti, de teus irmãos, semelhante a mim; a ele ouvirás” (Dt
18.15). E, em Atos 3.22-26, Pedro afirma que tal promessa se
referia a Jesus.
Jesus fez referência a si mesmo como profeta. Quando foi
rejeitado em Nazaré, ele afirmou: “Não há profeta sem honra,
senão na sua terra e na sua casa" (Mt 13.57). E, pouco antes de
sua morte, voltou a referir a si mesmo como profeta. Isto acon­
teceu quando alguns fariseus sugeriram que ele saísse de onde es­
tava para fugir da perseguição de Herodes. “E/e, porém, lhes res­
pondeu: Ide dizer a essa raposa que, hoje e amanhã, expulso
demônios e curo enfermos e, no terceiro dia, terminarei. Im ­
porta, contudo, caminhar hoje, amanhã e depois, porque não
se espera que um profeta morra fo r a de Jerusalém ” (Lc
13.32,33).
O povo reconhecia Jesus como profeta. A mulher samaritana
lhe disse: “ Vejo que tu és profeta’' (Jo 4.19). Na primeira multipli­
cação dos pães, as pessoas presentes disseram: “Este é,
verdadeiramente, o profeta que devia vir ao mundo” (Jo 6.14).
Quando ele ressuscitou o filho da viúva da aldeia deNaim, “ todos
ficaram possuídos de temor e glorificavam a Deus, dizendo:
Grande profeta se levantou entre nós” (Lc 7.16). A mesma de­
claração foi feita em outras ocasiões. E, por fim, na entrada triunfal
em Jerusalém, “as multidões clamavam: Este é o profeta Jesus,
de Nazaré da Galiléia” (Mt 21.11).
MLouis Berkhof, Teologia Sistemática, p. 359.

93
0 exercício do oficio profético de Jesus não se limita ao pe­
ríodo de sua vida terrena. Ele agiu como profeta na antiga
dispensação, nas revelações especiais do Anjo do Senhor e na
iluminação dos profetas do Antigo Testamento, pois sobre eles
estava o Espírito de Cristo (IPe 1.11). “Enquanto estava na terra,
ele exerceu este ofício em seus ensinos e por meio de sinais que os
seguiam. E sua obra profética não cessou quando ascendeu ao
céu. Continuou-a pela operação do Espírito Santo através dos en­
sinos dos apóstolos; e ainda a continua pelo ministério da Palavra e
na iluminação espiritual dos crentes. Mesmo assentado à mão di­
reita do Pai está sempre ativo como nosso grande profeta.”65

O OFÍCIO DE SACERDOTE
“Cristo exerce o ofício de sacerdote, oferecendo-se a si mes­
mo, uma só vez, em sacrifício, para satisfazer a justiça divina, para
reconciliar-nos com Deus e para fazer contínua intercessão por nós.”66
No Antigo Testamento, Deus instituiu o sacerdócio, como
um meio para que o pecador se aproximasse dele, A função do
sacerdote era oferecer sacrifícios e fazer intercessão pelo pecador.
“Aquele que ia ao templo adorar, se estava cônscio de que era
pecador, tinha de levar um animal vivo para ser sacrificado pelo
sacerdote. Deus requeria da parte do homem uma obediência per­
feita, mas falhando nisso, o mesmo Deus fazia provisão de um meio
pelo qual o pecador se aproximasse dele: era o sacrifício. O ho­
mem devia levar um animal limpo, sem defeito, que nada tinha a ver
com o seu pecado, e entregava-o para ser morto. A vida e o san­
gue do animal inocente tomavam o lugar do pecado do adorador.
O animal a ser sacrificado costumava ser um cordeiro, mas, algu­
mas vezes, também se oferecia um novilho, um bode ou uma pom­
ba. Levava-se o animal vivo até ao altar, que era o lugar de ado­
ração. A pessoa impunha a mão sobre a cabeça dele e confessava

6íLouis Berkhof, M anual de Doutrina Cristã, p. 184.


“ Breve Catecismo, resposta à pergunta 25.
seus pecados. Compreendia-se por isso que os pecados eram
impostos à criatura viva, de modo a ser considerada culpada, e
então era ela tratada como se fosse o pecador.”67 Tanto o sacer­
dote como o animal inocente sacrificado apontavam para Jesus.
Em Isaías 53 está descrito, profeticamente, o sofrimento
vicário do Servo do S e n h o r . Esse Servo “foi traspassado pelas
nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o cas­
tigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras
fomos sarados” (v. 5). O Novo Testamento mostra que o Servo
Sofredor é Jesus Cristo, que se ofereceu como sacrifício para a
nossa salvação (Mt 8.17; Mc 15.28;Lc 22.37; Jo 12.38; At 8.32­
35; Rm 10.16; IPe 2.22-25; Ap 5.6). João Batista o apresentou como
“o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (Jo 1.29).
Mas o livro da Bíblia que fala mais diretamente sobre o ofício
sacerdotal de Cristo é a Epístola aos Hebreus. Nela está escrito
que Jesus é o grande sumo sacerdote (4.14-16), superior ao sa­
cerdócio da antiga aliança (5.1-10), que seu sacerdócio é eterno
(7.11-19) e que seu sacrifício não se repete, porque é perfeito e
eficaz (9.11-22). O que é peculiar no sacerdócio de Jesus é que
ele é, ao mesmo tempo, o sacerdote e o sacrifício. Ele ofereceu a si
mesmo como sacrifício para a nossa eterna salvação. Ele declarou:
‘"Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me
conhecem a mim, ... e dou a minha vida pelas ovelhas. ...Nin­
guém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a
dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-
la. Este mandato recebi de meu Pai” (Jo 10.14-18).
Mas a obra sacerdotal de Cristo não se limita ao seu auto-
oferecimento como sacrifício pelos nossos pecados. Ele continua a
sua obra sacerdotal como nosso intercessor junto ao Pai. O após­
tolo Paulo ensinou que .. Cristo Jesus... está à direita de Deus
e também intercede por nós” (Rm 8.3 4). O autor da Epístola ao s
Hebreus afirmou que Jesus tem um sacerdócio eterno e imutável,
l,?Manford George Gutzke, Palavras Chaves da Fé Cristã, p. 74 e 75.

95
“vivendo sempre para interceder” pelos salvos (Hb 7.23-25). E
o apóstolo João recomendou: “Filhinhos meus, estas coisas vos
escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, te­
mos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo; e ele é a
propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos
próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (lJo 2.1,2).
“Agora, pois, não há mais sacerdotes, nem sacrifícios
expiatórios, na Igreja de Jesus Cristo!”68 Cada crente é o seu pró­
prio sacerdote. Cada crente pode dirigir-se diretamente a Deus,
sem intermediários, em nome de Jesus.

O OFÍCIO DE REI
“Cristo exerce o ofício de rei, sujeitando-nos a si mesmo,
governando-nos e protegendo-nos, reprimindo e subjugando to­
dos os seus e os nossos inimigos.”69 Como Filho de Deus e segun­
da Pessoa da Santíssima Trindade, Jesus tem poder e domínio so­
bre todo o universo. Mas o seu ofício de rei não é apenas o exer­
cício desse domínio. É a sua realeza original “revestida de nova
forma, com uma nova aparência, administrada para um novo fim”.
Isto pode ser dito também com estas palavras: “Podemos definir a
realeza de Cristo como o seu poder oficial de governar todas as
coisas do céu e da terra, para a glória de Deus e para a execução
do seu propósito de salvação.”70
Os teólogos, quando tratam do oficio real de Cristo, falam
em dois reinos: reino da graça e reino de poder (em latim: regnum
gratiae e regnum potentiae). O reino da graça é o governo de
Cristo sobre seu povo. E o reino de poder é o domínio de Jesus
Cristo sobre o universo.
O governo de Cristo sobre o seu povo é um reinado espiritu­
al. É espiritual por três razões principais:

“ Álvaro Reis, As Sete Palavras da Cruz, p. 86.


''’Breve Catecismo, resposta à pergunta 26.
™Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p. 407.
Primeira, porque está estabelecido no coração e na vida de
seus servos. O ponto de partida para se pertencer a este reino é o
novo nascimento, que leva o pecador a uma adesão incondicional
a Jesus Cristo. “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova
criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram
novas” (2Co 5.17). O apóstolo Paulo testemunhou sobre esse
reinado de Cristo em sua vida, afirmando: “Porque eu, mediante
a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou
crucificado com Cristo; logo, j á não sou eu quem vive, mas
Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne,
vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se
entregou por mim ” (G12.19,20).
A segunda razão do caráter espiritual desse reinado de Jesus
Cristo é que ele tem um objetivo essencialmente espiritual, que é a
salvação do seu povo. Após declarar aos apóstolos que toda a
autoridade lhe havia sido dada na terra e no céu, Jesus deu-lhes a
seguinte ordem: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as na­
ções, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito
Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho
ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até á consu­
mação do século” (Mt 28.19,20). Jesus tem toda autoridade no
céu e na terra, e ele usa toda essa autoridade para salvar.
A terceira razão do caráter espiritual do reinado de Cristo
sobre seu povo é a sua administração essencialmente espiritual.
Ele não usa a força da espada, nem a força da lei. Ele usa a Palavra
a Bíblia Sagrada - e o Espírito para dirigir o seu povo. A Palavra
testifica sobre ele (Jo 5.39). E também pela Palavra que ele orienta
o seu povo, pois ela é “inspirada por Deus e útil para o ensino,
para a repreensão, para a correção, para a educação na ju sti­
ça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamen­
te habilitado para toda boa obra” (2Tm 3.16,17). E através do
Hspírito ele guia o seu povo “a toda a verdade ” (Jo 16.13). Atra-
vés da Palavra e do Espírito Santo, Jesus reúne o seu povo em um
só corpo - a igreja - e o dirige, protege e aperfeiçoa.
Além de reinar espiritualmente sobre sua igreja, Jesus reina
também sobre o universo. “Como Rei do universo, o Mediador
guia de tal maneira os destinos dos indivíduos, dos grupos sociais e
das nações, que promove o crescimento, a purificação gradual e a
perfeição final do povo que ele remiu com o seu sangue. Nessa
capacidade, ele também protege os seus dos perigos a que são
expostos no mundo, e vindica a sua justiça com a sujeição e des­
truição de todos os seus inimigos.”71

CONCLUSÃO
O que significam para o crente os três ofícios de Cristo?
Significam que Jesus, como profeta, nos deu uma revelação
completa sobre Deus e sobre sua vontade para nossas vidas. “Nin­
guém jam ais viu a Deus; o Deus unigénito, que está no seio do
Pai, é quem o revelou” (Jo 1.18).
Como sacerdote, Jesus ofereceu-se a si mesmo como sacri­
fício para a nossa salvação; e o seu sangue “nospurifica de todo
pecado” (1 Jo 1.7). Estamos livres de condenação, porque Jesus
morreu, ressuscitou e está à direita de Deus intercedendo por nós
(Rm 8.33,34).
Como rei, Jesus nos chamou, através da Palavra e do Espíri­
to Santo, nos reuniu no seu corpo - que é a igreja -, nos dirige, nos
protege e nos aperfeiçoa. Jesus tem todo o poder etoda autorida­
de no céu e na terra. Por isso, não precisamos temer bruxaria,
feitiçaria, macumbaria, maldições - hereditárias ou não -, possessão
demoníaca ou coisas parecidas. Só temos de temer uma coisa:
afastarmo-nos de Jesus.
“Ora, aquele que é poderoso para vos guardar de trope­
ços e para vos apresentar com exultação, imaculados diante
da sua glória, ao único Deus, nosso Salvador, mediante Jesus
71Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p. 411.

98
Cristo, Senhor nosso, glória, majestade, império e soberania,
antes de todas as eras, e agora, e por todos os séculos. Amém”
(Jd 24,25).

PERGUNTAS PARA FIXAÇÃO EAPLICAÇÃO


1. Qual é a diferença entre ofício e cargo?
2. Profeta, sacerdote e rei são ofícios ou cargos de Cristo?
3. Qual era a função do profeta?
4. Como Cristo exerce o ofício de profeta?
5. Qual era a função do sacerdote?
6. Como Cristo exerce o ofício de sacerdote?
7. Como Cristo exerce o ofício de rei?
8. Cite as três razões especiais por que o governo de Cristo sobre
o seu povo e a sua igreja é um reinado espiritual.
9. Quem reina sobre este mundo: Cristo ou Satanás?
10.O crente precisa temer bruxaria, feitiçaria, macumbaria, maldi­
ções — hereditárias ou não —, possessão demoníaca ou coisas
parecidas? Por quê?
10
0 VINDfl DO
ESPÍRITO SfitiTO
“Quando vier, porém, o Espírito da ver­
dade, ele vos guiará a toda a verdade;
porque nãofalará por si mesmo, mas dirá
tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará
as coisas que hão de vir. Ele me glorifica­
rá porque há de receber do que é meu, e
vo-lo há de anunciar. ”
João 16.13,14

Jesus Cristo, verdadeiramente Deus e homem, realizou uma


obra completa para a nossa salvação. Como profeta, ele nos deu
uma revelação completa sobre Deus e sobre sua vontade para nossa
vida. “ Ninguém jam ais viu a Deus; o Deus unigénito, que está
no seio do Pai, é quem o revelou” (Jo 1.18). Como sacerdote,
ofereceu-se a si mesmo como sacrifício por nós; e o seu sangue
‘nos purifica de todo pecado” (1 Jo 1.7). E está à direita de Deus
intercedendo por nós (Rm 8.33,34). Como rei, Jesus nos chamou,
através da Palavra e do Espírito Santo, nos reuniu no seu corpo -
que é a igreja -, nos dirige, nos protege e nos aperfeiçoa. Por isso,
quando estava morrendo na cruz ele pôde dizer: “Está consuma-
do\” (Jo 19.30). Estava completa a obra que ele viera fazer por
nós. Agora só restava a obra a ser feita em nós.
A obra de Jesus por nós é completa, mas ela não alcança o
seu objetivo de salvação sem a obra do Espírito Santo em nós.
101
Por isso, Jesus disse aos discípulos: “Convém-vos que eu vá,
porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros;
se, porém, eufor, eu vo-lo enviarei” (Jo 16.7). O Espírito Santo
aplica em nós a obra redentora de Cristo. Ele atua nos corações
dos pecadores e os leva a receber Jesus como Salvador e Senhor.
Atua, também, na vida daqueles que foram salvos, levando-os a
crescer na graça e no conhecimento de Jesus Cristo.
O ESPÍRITO SANTO NO ANTIGO TESTAMENTO
A atuação do Espírito Santo não se limita ao período do Novo
Testamento. Ele está presente e atuante na história da humanidade
desde a criação. “Noprincípio, criou Deus os céus e a terra....
e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas” (Gn 1.1,2). O
Espírito Santo estava sobre Moisés e Josué, quando eles guiavam
o povo de Israel para a terra prometida. Foi ele quem deu habili­
dade a Bezalel para fazer as obras de artes para o tabernáculo (Êx
35.30-35). Foi ele quem capacitou os setenta anciãos para ajuda­
rem a Moisés (Nm 11.16-25). Foi ele quem revestiu os juizes de
poder e autoridade para libertar e julgar o povo de Israel (Jz 3.10;
6.34; 11.29; 13.25; 14.6,19; 15.14). Quando Saul e Davi foram
ungidos reis, o Espírito Santo veio sobre eles para qualificá-los
para a importante missão (1 Sm 10.6,10; 16.13,14).
O Espírito Santo falou através dos profetas (Ne 9.30; 2Pe
1.21). Inspirou os escritores daBíblia Sagrada(2Tm 3.16). Mas
foi no dia de Pentecostes que o Espírito Santo veio para ficar para
sempre com o povo de Deus.
“E importante notar a linguagem empregada no Antigo e Novo
Testamentos. No Antigo se diz que o Espírito Santo vinha sobre
indivíduos. No Novo - e a partir do Pentecostes - o espírito San­
to habita nas pessoas. No Antigo Testamento, o Espírito Santo
vinha sobre seres humanos e fazia uso deles. No Novo, o Espírito
Santo habita no crente e estimula-o a realizar de coração a vonta­
de de Deus.” 72
72Manford George Gutzke - Palavras Chaves da Fé Cristã - p. 170

102
O ESPÍRITO SANTO NO MINISTÉRIO DE JESUS
O Espírito Santo agiu e sempre agirá em função do pacto da
redenção. Ele preparou o caminho para a vinda do Salvador, este­
ve com ele em sua vida, morte e ressurreição. Ele está conosco
como selo e “penhor da nossa herança” (Ef 1.14).
Jesus declarou: “O Filho nada pode fazer de si mesmo” (Jo
5.19). Quando disse isso ele se referia ao seu relacionamento com
o Pai. Mas essas mesmas palavras lançam luz sobre a dependência
que o Filho tinha do Espírito Santo.
Jesus foi gerado no ventre da virgem Maria pelo Espírito San­
to. Quando o anjo disse a Maria: “Eis que (tu) conceberás e da­
rás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus” (Lc
1.31); ela respondeu: “Como será isto, pois não tenho relação
com homem algum? Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o
Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua
sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será
chamado Filho de Deus” (Lc 1.34,35). Jesus, como Segunda
Pessoa da Santíssima Trindade, sempre existiu; mas como ho­
mem passou a existir a partir do momento em que foi gerado
pelo Espírito Santo.
João Batista veio como precursor de Jesus, para preparar-
lhe o caminho. Ele foi preparado para isto, sendo cheio do Espírito
Santo desde o ventre materno (Lc 1.15).
Toda a vida terrena de Jesus foi vivida sob a ação do Espírito
Santo. Quando ele foi batizado por João Batista, o Espírito Santo
desceu sobre ele em forma de pomba (Mt 3.13-17). “A seguir, fo i
Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo
diabo” (Mt 4.1). E, com a assistência do Espírito Santo, ele ven­
ceu o tentador. Quando expulsava demônios, Jesus o fazia pelo
poder do Espírito (Mt 12.28). Seus milagres eram feitos pela un­
ção do Espírito (Lc 4.18; At 10.38). Jesus se ofereceu como sa­
crifício por nós, sob a assistência do Espírito Santo (Hb 9.14). E,
por fim, o Pai, por intermédio do Espírito Santo, “ressuscitou a
Cristo Jesus dentre os mortos” (Rm 8.11).
O ESPÍRITO SANTO NA VIDA DOS APÓSTOLOS
A atuação do Espírito Santo sobre os apóstolos, antes do
dia de Pentecostes, é bem semelhante à atuação do Espírito no
Antigo Testamento.
Quando Jesus prometeu aos discípulos o Consolador, disse-
lhes: eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a
fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da verda­
de, que o mundo não pode receber, porque não no vê, nem o
conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará
em vós” (Jo 14.16,17). Embora o Espírito Santo habitasse com
os apóstolos, ele ainda não estava para sempre com eles. Como
no Antigo Testamento, a presença do Espírito ainda não era uma
dádiva permanente.
Embora o Espírito Santo já habitasse com os apóstolos, logo
após a ressurreição Jesus “soprou sobre eles, e disse-lhes: Recebei
o Espírito Santo” (Jo 20.22). Mas essa ainda não era a posse
definitiva do Espírito. Jesus havia acabado de comissioná-los para
pregar o evangelho e exercer autoridade espiritual. E, a seguir, deu-
lhes o Espírito Santo como equipamento para realizarem a tarefa
que haviam recebido.
O Espírito Santo só habitaria permanentemente nos apósto­
los após a glorificação de Jesus (Jo 7.39). Ele precisaria ir para o
Pai para que o Espírito viesse. Ele disse aos discípulos: “Convém-
vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá
para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei” (Jo 16.7).

A DESCIDA DO ESPÍRITO SANTO NO PENTECOSTES


No dia de Pentecostes, o Espírito Santo veio para ficar para
sempre com os servos de Jesus Cristo, conforme ele havia prome­
tido (Jo 14.16). O livro de Atos dos Apóstolos registra que “ao
cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no
mesmo lugar; de repente, veio do céu um som, como de um
vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assenta-
dos. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de
fogo, e pousou uma sobre cada um deles. Todosficaram cheios
do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, se­
gundo o Espírito lhes concedia que falassem” (At 2.1-4).
Como era um dia especial para os judeus, Jerusalém estava
cheia de pessoas de diferentes países. Alguns eram judeus nasci­
dos fora da Palestina. Outros eram prosélitos do judaísmo. Uma
enorme multidão dirigiu-se para o local onde os apóstolos e t
vam. E o maravilhoso é que os apóstolos receberam o dop^a^
falar línguas que não conheciam, e, assim cada pessoa ouyia i pFè-r
gação do evangelho em sua própria língua materna.^M É^a/«,
pois, atônitos, e se admiravam, dizendo: Vede! NãaMm porven­
tura, galileus todos esses que aí estãofa lã k d ^ E v o m o os ou­
vimos falar, cada um em nossa própfíçi. guc- materna ...a s
grandezas de Deus?” (At 2.7,8,1
As “línguas como de fogo” (üç)pousaram sobre cada um
deles podem ter sido um meiòvOm^Péus usou para dissipar a des­
confiança que podia existir no gfti d. Judas Iscariotes tinha traído
o Mestre; Pedro<ò^r5çga:ra^e Tomé, a princípio, descreu da sua
ressurreiç p. R^riss ■\ pòdia haver um clima de desconfiança den­
tro dc 3Q\;Sern:>um sinal visível de que cada um recebera o
E sp írte^itò ^U m poderia questionar se o outro também o tinha
rece {ddJÓom aquela manifestação visível, ficou patente que to-
SéDeram o Espírito. E as línguas que passaram a falar eram
)olo da universalização do evangelho. Em Babel, Deus havia
confundido a linguagem do povo. Por causa da rebeldia contra o
Criador, cada um passou a falar uma língua que o outro não enten­
dia; e, assim, foram dispersos pela terra (Gn 11.1-9). Mas, agora,
estava sendo inaugurada uma nova era de salvação, e todos podi­
am ouvir as grandezas de Deus em sua própria língua.
“O ministério do Espírito Santo foi ampliado por ocasião do
Pentecostes, sem ser de forma alguma diminuído em termos do
que era anteriormente. Antes do Pentecostes, como vimos, o Es-
pírito sustentava a criação e a vida natural, renovava corações,
dava entendimento espiritual e dons para serviço tanto de lideran­
ça como de outra sorte, e ele ainda faz tudo isto. A diferença des­
de o Pentecostes é que todo o seu ministério atual para com os
crentes relaciona-se não ao Cristo que haveria de vir, como acon­
tecia quando ele ministrava aos santos do Antigo Testamento, nem
se relaciona mais com o Cristo presente na terra, como aconteceu
quando Simeão e Ana o reconheceram, e durante os três anos do
seu ministério público; relaciona-se agora com o Cristo que veio,
morreu e ressuscitou e agora reina na glória.”73

CONCLUSÃO
O Espírito Santo veio para aplicar em nós a obra perfeita e
completa que Cristo fez por nós. Ele “prepara o caminho para o
evangelho, acompanha-o com seu poder persuasivo e recomenda
a sua mensagem à razão e à consciência dos homens, de ma­
neira que os que rejeitam a oferta misericordiosa ficam não so­
mente sem desculpa, mas também culpados de terem resistido
ao Espírito Santo”.74
O Espírito Santo é Deus. Mas, no processo da redenção, ele
não chama a atenção para a sua Pessoa, nem para a sua obra. Ele
atua em função da obra feita por Jesus Cristo. Por isso, J. I. Packer,
um dos maiores teólogos deste século, nos faz a seguinte advertên­
cia: “Perguntamos: Você conhece o Espírito Santo? Não devíamos
estar perguntando isso. Pelo contrário, deveríamos perguntar: Você
conhece a Jesus Cristo? Você conhece o suficiente em relação a
ele? Você o conhece bem? Estas são as interrogações que o pró­
prio Espírito deseja que façamos. Pois ele é auto-obliterador. O
seu ministério é um ministério de holofote em relação a Jesus, uma
questão de focalizar a glória de Jesus diante dos nossos olhos espi­
rituais e de estabelecer a ligação entre nós e ele. Ele não chama

1:J. I. Packer, Na Dinâmica do Espírito, p. 86.


1AConfissão de Fé de Westminster, XXXIV.II.
atenção para si próprio, nem se apresenta a nós como objeto de
comunhão direta, como o fazem o Pai e o Filho; o seu papel e a sua
alegria é aumentar a nossa comunhão com os dois, glorificando o
Filho como objeto da nossa fé e, então, testemunhando da nossa
adoção, através do Filho, na família do Pai.”75
Façamos nossas as palavras do cântico espiritual:
Ao único que é digno de receber
a honra, a glória, a força e o poder,
ao Rei Eterno, imortal,
invisível, mas real,
A ele ministramos o íouvor.

75J. I. Packer, Na Dinâmica do Espirito, p. 87 e 88.

)07
PERGUNTAS PARA FIXAÇÃO EAPLICAÇÃO
1. Por que a obra de Jesus por nós, embora completa, não alcança
o seu objetivo de salvação sem a obra do Espírito Santo em nós!
2. Cite alguns exemplos da atuação do Espírito Santo no Antigo
Testamento.
3. Cite alguns exemplos da atuação do Espírito Santo sobre a vida
terrena de Jesus.
4. Antes de sua morte na cruz, Jesus disse aos discípulos: O Espí­
rito Santo “habita convosco” (Jo 14.16,17). Após a ressurrei­
ção, Jesus “soprou sobre eles, e disse-lhe: Recebei o Espírito
Santo” (Jo 20.22). E, finalmente, “ao cumprir-se o dia de Pente­
costes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de repente veio
do céu um som como de um vento impetuoso, e encheu toda a
casa onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas en­
tre eles, línguas como de fogo, e pousou uma sobre cada um
deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo” (At 2.1-4). Como
você explica essas aparentes contradições?
5. No Pentecostes os apóstolos receberam o dom de falar línguas
que não conheciam, e assim cada pessoa ouvia a pregação do
evangelho em sua própria língua materna. “Estavam, pois, atô­
nitos, e se admiravam, dizendo: Vede! Não são, porventura,
galileus todos esses que aí estão falando? E como os ouvimos
falar, cada um em nossa própria língua materna... as grandezas
de Deus? (At 2.7,8,12). Isto é símbolo de quê?
6. Por que os que “rejeitam a oferta misericordiosa (de salvação),
ficam não somente sem desculpa, mas também culpados de
terem resistido ao Espírito Santo”?
7. Qual é a diferença fundamental entre o ministério do Espírito
Santo antes e depois do Pentecostes?
8. Por que o ministério do Espírito Santo “é um ministério de holo­
fote em relação a Jesus”?
9. O que mais agrada ao Espírito Santo: que nós o louvemos ou que
louvemos a Jesus?
10. Você tem medo do Espírito Santo? Por quê?
11
A OBRA DO
ESPÍRITO SANTO
“(O Espírito Santo) convencerá o mundo
do pecado, da justiça e do juízo. ”
João 16.8

A obra de Jesus por nós é completa, mas ela não alcança o


seu objetivo de salvação sem a obra do Espírito Santo em nós.
Pois é o Espírito que aplica em nós a obra redentora de Cristo. Ele
atua no coração dos pecadores e os leva a receber Jesus como
Salvador e Senhor. Atua, também, na vida daqueles que foram
salvos, levando-os a crescer na graça e no conhecimento de
Jesus Cristo.

VOCAÇÃO EFICAZ
O Espírito Santo usa a Bíblia Sagrada, a palavra de Deus,
para chamar o pecador para receber a salvação. Tiago escreveu
que o Pai, “segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da
verdade, para que fôssemos como que primícias das suas cria­
turas” (Tg 1.18). A palavra da verdade é, sem dúvida, a palavra
de Deus. E em 1 Pedro 1.23,25 está escrito: “poisfostes regene­
rados não de semente corruptível, mas de incorruptível, me­
diante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente. ... Ora,
esta é a palavra que vosfoi evangelizada” , Somos feitos novas
criaturas mediante a palavra de Deus, a palavra que nos fo i
evangelizada. A palavra de Deus pode chegar ao pecador por
diferentes meios: através da pregação, da leitura da Bíblia Sagra­
da, de um livro ou até de um folheto, de um hino ou outros meios.
Qualquer que seja o meio usado pelo Espírito Santo para
aplicar em nós a obra redentora de Jesus Cristo, a palavra de Deus
é o instrumento que ele usa para nos chamar para a salvação. “E,
assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de
Cristo” (Rm 10.17). Mas a simples pregação do evangelho, sem a
atuação do Espírito, é insuficiente para levar o pecador a Jesus
Cristo. A Bíblia traz vários registros de pregação seguida de rejei­
ção. Paulo fez uma veemente pregação em Antioquia, mas muitos
rejeitaram a palavra de Deus (At 13 .16-46). E isto repetiu-se em
vários lugares.
A palavra de Deus só se torna eficaz para a nossa salvação
quando o Espírito Santo atua através dela. Foi o que aconteceu
com Lídia. Paulo pregava; ela e outras mulheres ouviam; e Deus,
através do Espírito Santo, abriu o coração dela “para atender às
coisas que Paulo dizia” (At 16.14). Os teólogos chamam isto de
vocação eficaz, que é a atração irresistível que Deus, por meio
da palavra e do Espírito Santo, exerce sobre o pecador, le­
vando-o a aceitar a Cristo como seu único Salvador.

REGENERAÇÃO
Deus vocaciona eficazmente o pecador para a salvação e o
regenera. A regeneração consiste na implantação do princípio da
nova vida espiritual na pessoa que está sendo chamada, pela pala­
vra, para a salvação. Podemos definir regeneração como a ação
do Espírito Santo, na mente e no coração do pecador, dando-
lhe uma disposição santa de servir a Deus em espírito e em
verdade. Esta definição é compartilhada por grandes teólogos e
confirmada pela Bíblia Sagrada. Strong ensina que a “regeneração
é aquele ato de Deus pelo qual a disposição dominante da alma é
tornada santa e o primeiro exercício santo da disposição é assegu­
rado” .76 Gordon definiu regeneração como “um ato drástico,
76Augustus Hopkins Strong, Systematic Theology, p. 809.

110
operado sobre a natureza humana caída, por parte do Espírito Santo,
que produz uma alteração na atitude inteira do indivíduo” .77 E
Berkhof ensina que “regeneração é o ato de Deus pelo qual o princí­
pio da nova vida é implantado no homem, e a disposição domi­
nante da alma é tornada santa e o primeiro exercício santo desta
nova disposição é assegurado” .78 Esse primeiro exercício de que
falam Strong e Berkhof é o novo nascimento. Este novo nascimen­
to - o nascer do Espírito (Jo 3.5,6), o nascimento espiritual - en­
troniza Jesus Cristo na alma do pecador e o leva a se mover em
direção a Deus.
O diálogo de Jesus com Nicodemos mostra claramente o
que é a regeneração. Nicodemos, um dos principais dos judeus,
disse a Jesus: “Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de
Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se
Deus não estiver com ele. A isto, respondeu Jesus: Em ver­
dade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo,
não pode ver o reino de Deus. Perguntou-lhe Nicodemos: Como
pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, vol­
tar ao ventre materno e nascer segunda vez? Respondeu Je­
sus: Em verdade, em verdade te digo: Quem não nascer da
água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é
nascido da carne, é carne; e o que é nascido do Espírito, é
espírito” (Jo 3.2-6). Nascer da água ou nascer da carne eram
expressões usadas pelosjudeus para falar do nascimento físico. E
Jesus afirma que para entrar no reino de Deus é preciso nascer
mais uma vez: nascer do Espírito. O processo de nossa vida ini­
ciou-se no momento de nossa concepção. Assim também o pro­
cesso da aplicação da obra de Cristo em nós se inicia com a nossa
concepção espiritual, isto é, no momento em que o Espírito Santo
implanta em nós a semente da nova vida. E a regeneração, isto é,
somos gerados de novo pelo Espírito Santo.

77Citado em Novo Dicionário da Bíblia, verbete Regeneração, p. 1379.


78Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p. 471.
Antes da regeneração, a atração pelo pecado domina o pe­
cador. A partir da regeneração, ele passa a desejar o que é bom,
reto e justo.

CONVERSÃO: ARREPENDIMENTO E FÉ
Este toque regenerador do Espírito Santo leva o pecador à
conversão. “Esta conversão é apenas a expressão externa da obra
da regeneração, ou a mudança que a acompanha, efetuada na vida
consciente do pecador. Esta conversão tem dois aspectos, um ati­
vo, o outro passivo. No primeiro, a conversão é contemplada como
a mudança efetuada por Deus, na qual ele muda o curso conscien­
te da vida do homem. E no último, é considerada como o resultado
desta ação divina. ... (E) aquele ato de Deus pelo qual ele faz o
regenerado, na sua vida consciente, voltar para ele com fé e
arrependimento.” 79 Conversão, portanto, é o resultado da ação
do Espírito Santo que leva o pecador a arrepender-se de seus
pecados e a crer em Cristo como Salvador e Senhor.
Não podemos confundir arrependimento com remorso. O
remorso não é tanto um lamento pelo que fizemos, mas o medo
das conseqüências do que fizemos. Já o arrependimento é um sen­
timento de tristeza e pesar pelo erro cometido, acompanhado da
disposição de mudar de vida. Os rabinos judeus diziam que o ver­
dadeiro penitente (arrependido) é aquele que se voltar a ter a opor­
tunidade de cometer o mesmo pecado, nas mesmas circunstânci­
as, não o fará. Mas o ponto fundamental no arrependimento dos
pecados é a volta para Deus. Judas Iscariotes reconheceu o seu
pecado, pois ele mesmo declarou: “Pequei, traindo sangue ino­
cente”. Sentiu tristeza pelo pecado cometido. E, quando ele atirou
para o santuário as moedas de prata que recebera para trair o
Mestre, estava abominando o erro cometido; mas não voltou para
Deus. Foi suicidar-se (Mt 27.3-5). Pedro, por sua vez, arrepen­
deu-se, voltando para Jesus.
/9Louis Berkhof, M anual de Doutrina Cristã, p. 220.

112
As constantes exortações que a Bíblia faz aos homens para
que se arrependam e creiam em Jesus Cristo podem dar a idéia de
que o homem é capaz de arrepender-se e crer por si mesmo. A
verdade, todavia, é que o verdadeiro arrependimento e a fé sal­
vadora são dádivas de Deus. Os crentes de Jerusalém, ao ouvirem
a explanação que Pedro fez sobre a conversão de Cornélio e de
seus familiares, glorificaram a Deus, dizendo: “Logo, também aos
gentios fo i por Deus concedido o arrependimento para a vida”
(At 11.18). Eles reconheciam que o verdadeiro arrependimento é
concedido por Deus, mediante a atuação do Espírito Santo. Por
meio do profeta Jeremias, Deus disse a seu povo: “Pode, acaso, o
etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? En­
tão, poderíeis fazer o bem, estando acostumados a fazer o maF
(Jr 13.23). O homem, morto em transgressões e pecados - ou em
conseqüência do pecado - é incapaz de arrepender-se; ele só se
arrepende quando é tocado pelo Espírito Santo.
Mediante o arrependimento, o pecador se desvincula da
antiga vida de pecado; e através da fé ele se vincula à nova vida
em Cristo.
A fé que leva à salvação pode ser definida como “uma confi­
ante entrega a Cristo para a salvação”.80 Calvino afirmou que “po­
demos ter uma definição perfeita da fé, se afirmamos que é um
conhecimento firme e certo da vontade de Deus a nosso respeito,
fundado na verdade da promessa gratuita feita em Jesus Cristo,
revelada ao nosso entendimento e selada em nosso coração pelo
Espírito Santo”. Berkhof define a fé salvadora como “uma firme
convicção, efetuada no coração pelo Espírito Santo, quanto à ver­
dade do evangelho, e uma confiança sincera e entusiástica nas pro­
messas de Deus em Cristo” .81 O apóstolo Paulo deu testemunho
de sua fé, afirmando: “Sei em quem tenho crido e estou certo de
que ele é poderoso para guardar o meu depósito até aquele
Dia” (2Tm 1.12).
80José Martins, O Homem e a Salvação, p. 100.

113
À semelhança do verdadeiro arrependimento, a fé salvadora
também procede de Deus, através da atuação do Espírito Santo.
O apóstolo Paulo escreveu: “ Porque pela graça sois salvos, me­
diante a fé ; e isto não vem de vós; é dom de Deus” (E f 2.8). A
fé é dom de Deus!
Devemos ter cuidado para não debitarmos a Deus a culpa
por pessoas não receberem Jesus como Salvador e Senhor. Quando
o homem manifesta a fé salvadora é porque o Espírito Santo ope­
rou em seu coração. Mas quando ele ouve o evangelho e não o
aceita, age consciente e deliberadamente. Não aceita por sua livre
e espontânea vontade. A este respeito, Jesus declarou: “... a luz
veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a
luz; porque as suas obras eram más” (Jo 3.19).

SANTIFICAÇÃO
O propósito de Deus em nos salvar não é apenas nos levar
para o céu após a nossa morte. Ele pretende também estabelecer
conosco um relacionamento vital e produzir em nós um caráter que
esteja de acordo com este relacionamento. Por isso, o mesmo Es­
pírito que nos chamou eficazmente para a salvação, nos regenerou,
nos concedeu o arrependimento para a vida e a fé salvadora, tam­
bém nos santifica.
Algumas pessoas pensam que santidade é um conjunto de
qualidades morais do indivíduo, com o qual ele satisfaz a Deus.
Outros pensam que a santificação consiste num prolongamento da
nova vida, implantada na alma pela regeneração. Isso, entretanto,
não corresponde à verdade. A santificação é, essencialmente, obra
de Deus, através do Espírito Santo. Strong define santificação como
“aquela operação contínua do Espírito Santo, pela qual a disposi­
ção santa implantada na regeneração é mantida e fortalecida” .82 E
Berkhof a define como “a graciosa e contínua operação do Espíri-

slLouis Berkhof, M anual de Doutrina Cristã, p. 227.


s: Augustas Hopkins Strong, obra citada, p. 869.
to Santo, pela qual ele liberta o pecador justificado da corrupção
do pecado, renova toda a sua natureza à imagem de Deus, e o
capacita a praticar boas obras” .83
O conceito básico de santificação na Bíblia é separação para
Deus. No Antigo Testamento, Israel é apresentado como povo
santo porque foi separado para Deus. No Novo Testamento, os
crentes são chamados santos porque foram separados para Deus
(Rm 1.7; ICo 1.2; 2Co l.l;E f l.l;F p l.l).Porisso, a santificação
do crente tem três aspectos: (1) Quando o Espírito Santo regenera
uma pessoa, ela crê em Cristo e todos os seus pecados são perdo­
ados. Não é mais considerada culpada de pecado algum. Isto é a
santificação definitiva, e significa que esta pessoa foi definitiva­
mente separada para Deus. (2) A partir da regeneração, o crente
começa a crescer espiritualmente, e este crescimento continua a
vida toda: é a santificação progressiva. Esta santificação, nesta
vida, é sempre incompleta; ninguém chega aos cem por cento de
santidade nesta vida. (3) Mas na hora da morte, o crente é aperfei­
çoado em santidade, a fim de comparecer diante de Deus: é a
santificação final.

CONCLUSÃO
Jesus declarou que o Espírito Santo convenceria “o mundo
do pecado, dajustiça e do juízo: do pecado, porque não crêem
em mim (Jesus); da justiça, porque vou para o Pai, e não me
vereis mais; do juízo, porque o príncipe deste mundo j á está
julgado” (Jo 16.8-11). Isto significa, em outras palavras, que o
Espírito Santo convenceria os homens de que eles não estão em
situação correta diante de Deus; colocaria no coração deles o de­
sejo de serem corretos diante de Deus e os levaria a se conscienti­
zarem da realidade do juízo vindouro. A partir desse convenci­
mento, o Espírito Santo os guiaria a toda a verdade (Jo 16.13).
Sem o Espírito Santo não haveria salvação, pois só ele pode
“ Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p. 536.

115
convencer o homem do pecado, da justiça e do juízo. Só ele pode
levar o homem a Jesus Cristo. E Jesus é o único Salvador.
“Ora, o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos
a Jesus, nosso Senhor, o grande Pastor das ovelhas, pelo san­
gue da eterna aliança, vos aperfeiçoe em todo o bem, para
cumprirdes a sua vontade, operando em vós o que é agradável
diante dele, por Jesus Cristo, a quem seja a glória para todo o
sempre. Amém” (Hb 13.20,21).

PERGUNTAS PARA FIXAÇÃO EAPLICAÇÃO


1. A pregação do evangelho, por si só, é insuficiente para levar o
pecador a Jesus Cristo? Por quê?
2. O que é vocação eficaz?
3. O que é regeneração?
4. O que significa, no diálogo de Jesus com Nicodemos, nascer da
água e nascer do Espírito?
5. O que é conversão?
6. Qual é a diferença entre remorso e arrependimento?
7. Como pode ser definida a fé que leva à salvação?
8. O que é santificação?
9. Quais são os três aspectos a santificação do crente?
10.A quem você deve a sua salvação?
12
DEUS SflLVfl
PfSRfl SEMPRE
“Estou plenamente certo de que aquele
que começou boa obra em vós há de
completá-la até ao Dia de Cristo Jesus. ”
Filipenses 1.6

O Espírito Santo aplica em nós a obra redentora de Jesus


Cristo. Ele usa a Bíblia Sagrada, a palavra de Deus, para chamar o
pecador para receber a salvação; e opera em nós a vocação efi­
caz, a regeneração, a conversão e a santificação. Mas isso não é
suficiente para definir todo o processo de salvação.
O apóstolo Paulo declara que “se alguém está em Cristo, é
nova criatura; as coisas antigas j á passaram; eis que se fiz e ­
ram novas” (2Co 5.17). O Espírito Santo abriu o coração do
pecador, e ele deu ouvido à Palavra de Deus. O Espírito implantou
nele a semente da nova vida, ele se arrependeu de seus pecados,
creu em Jesus Cristo, recebendo-o como Salvador e Senhor, e
iniciou a caminhada da santificação, que vai construir o seu caráter
cristão. Mas... e os pecados do passado? E a segurança de que o
processo de salvação chegará ao fim?

A JUSTIFICAÇÃO
Quando o pecador recebe Jesus Cristo como Salvador, ele é
justificado diante de Deus, mediante a obra redentora de Cristo.
“A justificação é um ato judicial de Deus, no qual ele declara, com
base na justiça de Jesus Cristo, que todas as reivindicações da lei
são satisfeitas com vistas ao pecador.”84 Isto significa que todos os
seus pecados - do passado, do presente e do futuro - são perdo­
ados, ele é restaurado como filho de Deus e passa a ter direito à
herança da vida eterna. O apóstolo Paulo ensinou: “Nenhuma con­
denação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). Esta
justificação, embora operada fora do homem, isto é, no tribunal de
Deus, se faz sentir também no interior do homem. “Justificados,
pois, mediante a fé, temos paz com Deus” (Rm 5.1).
A justificação, contudo, não impede o homem de continuar
pecando. Todo ser humano é pecador. Nasce em pecado, pecou
no passado, peca no presente e continuará pecando até o momen­
to de sua morte. O apóstolo João, escrevendo a crentes, afirmou:
“Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos
nos enganamos, e a verdade não está em nós. Se dissermos
que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua
palavra não está em nós’’' (1 Jo 1.8,10). E o apóstolo Paulo de­
clarou: “Não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero,
essefa ço ” (Rm 7.19). Por isso Jesus nos ensinou a orar: “perdoa-
nos as nossas dívidas” (Mt 6.12). E o apóstolo João escreveu:
“Se confessarmos os nossos pecados, ele éfie l ejusto para nos
perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1.9).
Aqui surge uma questão séria: se na justificação todos os nos­
sos pecados do passado, do presente e do futuro são perdoados,
se nenhuma condenação há para os que estão Cristo, por que te­
mos que pedir perdão pelos pecados que cometemos?
Se nos lembrarmos de que a justificação restaura o nosso
direito de filhos de Deus - direito perdido por causa do pecado-,
fica mais fácil compreender essa situação. A nossa identidade de
filho é permanente e inalterada. O filho não deixa de ser filho pelo
fato de fazer coisas que desagradam ao Pai. Mas ao fazer tais
coisas ele quebra a comunhão com o Pai. Por isso, o pecado pro­
duz no crente um sentimento de culpa, de tristeza e de separação
**Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p. 517.
de Deus. E, quando o crente toma consciência do seu pecado, ele
sente uma compulsão que o impele a confessar o pecado, abandoná-
lo e pedir perdão a Deus. A experiência de Pedro nos dá um exem­
plo disso. Ele negou o Senhor Jesus, mas quando tomou cons­
ciência de seu pecado “chorou amargamente” (Mt 26.75). Aqui
está a diferença entre o verdadeiro crente e aquele que, embora se
declarando crente, ainda não foi transformado pelo Espírito Santo.
O verdadeiro crente não tem prazer no pecado. O apóstolo João,
na mesma epístola em que declarou que se dissermos que não
temos pecado, a verdade não está em nós, afirmou também que
todo aquele que permanece em Jesus Cristo “não vive pecando;
todo aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu” { Uo
3.6). Isto significa que o pecado é um acidente na vida do crente; e
que se alguém vive deliberadamente no pecado é porque não é
verdadeiramente crente.

A SEGURANÇA DA SALVAÇÃO
Aquele que recebe Jesus como Salvador e Senhor com toda
a certeza chegará ao céu. Isto não significa que o crente não esteja
sujeito a pecar e a quebrar sua comunhão com Deus. Mas o ver­
dadeiro crente jamais cairá completamente; isto significa que sua fé
e seus hábitos cristãos jamais desaparecerão inteiramente. Mas
essa perseverança também é obra do Espírito Santo. Os teólogos
chamam isto de perseverança dos santos, e a definem “como a
contínua operação do Espírito Santo no crente, pela qual a obra da
graça divina, iniciada no coração, tem prosseguimento e se com­
pleta”.85 O apóstolo Paulo declarou a mesma coisa, porém com
palavras diferentes: “Estou plenamente certo de que aquele que
começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de
Cristo Jesus" (Fp 1.6).
O Rev. José Martins, em seu livro O Homem e a Salva­
ção ,86 aponta sete razões bíblicas para a nossa segurança de sal­
8íLouis Berkhof, Teologia Sistemática, p. 550.
“ José Martins, O Homem e a Salvação, p. 137-143.
vação. Duas se relacionam com o Pai, três com o Filho e duas com
o Espírito Santo. Essas razões são as seguintes:
a) O propósito e o poder do Pai garantem a nossa salvação.
Paulo escreveu aos efésios que “fomos também feitos he­
rança, predestinados segundo o propósito daquele que fa z to­
das as coisas conforme o conselho da sua vontade ” (Ef 1.11). E
João escreveu: “Filhinhos, vós sois de Deus e tendes vencido os
falsos profetas, porque maior é aquele que está em vós do que
aquele que está no mundo” (1 Jo 4.4). O Pai tem o propósito de
nos salvar. Como ele não muda, podemos ter segurança da salva­
ção. Satanás tem um propósito diferente. Ele quer nos levar para o
inferno. Mas o poder do Pai garante a nossa salvação. Nós ven­
ceremos porque maior é aquele que está em nós do que aquele
que está no mundo.
b) A m o rte, a ressurreição e a intercessão de Cristo ga­
rantem a nossa salvação.
O apóstolo Paulo escreveu: “Quem intentará acusação con­
tra os eleitos de Deus? E Deus quem os justifica. Quem os
condenará? E Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem res­
suscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por
nós” (Rm 8.33,34). Jesus m o rreu em nosso lugar, ressuscitou
como prova de que o Pai aceitou o seu sacrifício, e está constante­
mente intercedendo por nós. Ele é o nosso advogado diante do
Pai. Por isso, podemos ter a certeza da salvação.
c) O selo e o p e n h o r do Espírito Santo garantem a nossa
salvação.
O apóstolo Paulo ensinou também que “depois que ouvistes
a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo
nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da pro­
messa; o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da
sua propriedade, em louvor da sua glória” (E f 1.13,14). Na
antigüidade, uma das funções do selo era garantir a propriedade
de um objeto ou de um escravo. O selo era uma marca ou uma
tatuagem. O penhor era um objeto que garantia o pagamento de
uma dívida. O Espírito Santo vem habitar em nós, a partir do mo­
mento em que recebemos Jesus como Salvador, assim ele nos sela
como propriedade de Deus e, ao mesmo tempo, é o p e n h o r de
que o Pai cumprirá a promessa de nos salvar.

A CERTEZA DA SALVAÇÃO
Quem se arrepende de seus pecados e crê em Jesus Cristo
como Salvador e Senhor tem a vida eterna. Jesus garantiu: “Em
verdade, em verdade vos digo: Quem ouve a minha palavra e
crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em
juízo, mas passou da morte para a vida” (Jo 5.24). Observe
que Jesus disse “tem a vida eterna”, e não “terá a vida eterna''.
Ele usou o presente, enão o futuro. E o apóstolo João escreveu:
"Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o
Filho de Deus não tem a vida. Estas coisas vos escrevi, a fim
de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes
em o nome do Filho de Deus” (IJo 5.12,13).
A Bíblia Sagrada é muito realista; ela não esconde a fraqueza
e a miséria do homem. Ela diz que somos fracos, frágeis, incapazes
até de entender as coisas de Deus. Mas, apesar de tudo isso, ela
nos garante que em Cristo podemos ter a certeza da salvação.
Jesus afirmou categoricamente: “As minhas ovelhas ouvem a
minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a
vida eterna; jam ais perecerão, e ninguém as arrebatará da
minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo;
e da mão do Pai ninguém pode arrebatar’’’ (Jo 10.27-29).
Podemos ter certeza completa e absoluta do cumprimento
das promessas que Deus nos faz em sua Palavra. “O caráter de
Deus paira acima de toda suspeita. Ele é justo. Ele é santo. E a
palavra de Deus é tão digna de confiança quanto o seu caráter.”87
“Deus não é homem, para que minta; nem filh o de homem,
para que se arrependa. Porventura, tendo ele prometido, não
o fa r á ? Ou, tendo falado, não o cumprirá?” (Nm 23.19).
^Clyde M. Narramore, Como Ser Feliz, p. 187.
CONCLUSÃO
A nossa salvação depende da graça divina, e não dos esfor­
ços humanos. Se dependesse de nós, não poderíamos ter seguran­
ça, pois somos fracos, imperfeitos e instáveis. Mas como depende
só da graça de Deus, a situação é diferente. “Quando o próprio
Deus é o guardião de nossa alma, podemos ficar tranqüilos, na
certeza de que estamos de fato seguros - sem o mínimo resquício
de dúvida.”88
Deus nos chamou para a salvação, através de sua palavra e
do Espírito Santo. Deus nos regenerou, nos converteu, nos justifi­
cou, nos santifica e garante a nossa salvação.
“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação san­
ta, p o v o de propriedade exclusiva de D eus, a fim de
proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas
para a sua maravilhosa luz” (IPe 2.9).

PERGUNTAS PARA FIXAÇÃO EAPLICAÇÃO


1. O que é justificação?
2. O crente, após a justificação, continua pecando? Justifique sua
resposta, inclusive citando textos bíblicos.
3. Se na justificação todos os nossos pecados do passado, do pre­
sente e do futuro são perdoados, por que temos que pedir per­
dão pelos pecados que cometemos?
4. O que significa dizer que o verdadeiro crente jamais cairá com­
pletamente?
5. O que é perseverança dos santos?
6. O crente pode perder a salvação? Por quê?
7. A pessoa que, embora se declarando crente, vive deliberadamente
no pecado pode ser considerada verdadeiramente crente?
8. Cite algumas razões bíblicas para a nossa segurança de salvação.
9. O crente pode ter certeza da salvação?
10.Você tem certeza de sua salvação? Por quê?

“ Clyde M. Narraniore, obra citada, p. 191.

122
13
SALVAÇÃO:
PARA TODOS Oü
SÓ PARA OS ELEITOS?
“Porquanto aos que de antemão conhe­
ceu, também os predestinou para serem
conformes à imagem de seu Filho, a fim
de que ele seja o primogênito entre mui­
. • ~ )}
tos irmaos.
Romanos 8.29

“Passava Jesus por cidades e aldeias, ensinando e cami­


nhando para Jerusalém. E alguém lhe perguntou: Senhor, são
poucos os que são salvos?” (Lc 13.22,23). Essa mesma pergunta
tem sido feita inúmeras vezes. A salvação é para todos ou só para
os eleitos?
Kuiper nos adverte que, quando tratamos de quem será sal­
vo, estamos tocando na secreta vontade de Deus, e, portanto,
devemos “lembrar que estamos lidando comum profundo misté­
rio, que estamos em terra santa, onde os anjos temem pisar, que o
homem finito não pode nem começar a compreender o Deus infini­
to, e que, portanto, temos que ser sóbrios, evitando escrupulosa­
mente qualquer especulação humana e apoiando-nos estritamente
na segura Palavra de Deus”.89

89R. B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, p. 23.

123
O DESEJO DE DEUS: QUE TODOS SEJAM SALVOS
O versículo mais conhecido da Bíblia afirma que “Deus amou
ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito, para
que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”
(Jo 3.16). Qualquer que seja a interpretação dada a esse versí­
culo, é inegável que ele afirma a universalidade do amor de Deus.
O apóstolo Paulo declarou que Deus “deseja que todos os
homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da
verdade” (lTm 2.4). E Pedro escreveu que Deus é longânimo e
não quer “que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao
arrependimento” (2Pe3.9).
Jesus, em várias ocasiões, tornou clara a universalidade do
amor de Deus. De braços abertos, ele disse às multidões que o
rodeavam: “ Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobre­
carregados, e eu vos aliviareF (Mt 11.28). Ele declarou também:
“Em verdade, em verdade vos digo: Quem ouve a minha pala­
vra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra
em juízo, mas passou da morte para a vida” (Jo 5.24). Ele a
ninguém rejeita: “...o que vem a mim, de modo nenhum o lança­
reifo ra ” (Jo 6.37). João declarou que “ele é a propiciação pelos
nossos pecados, e não somente pelos nossos próprios, mas ain­
da pelos do mundo inteiro” (lJo 2.2).

A REALIDADE DO HOMEM:
MORTO EM DELITOS E PECADOS
O homem tem sido insensível ao grande e imensurável amor
de Deus. Criado à imagem e semelhança do Criador, o homem
preferiu dar ouvido a Satanás e afastar-se de Deus. Foi expulso do
Éden. E afundou de tal maneira no pecado que “viu o S i:\hor que
a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era
continuamente mau todo desígnio do seu coração” (Gn 6.5).
Deus levanta Israel para ser o seu povo. Mas esse povo pas­
sa a maior parte de sua história vivendo na incredulidade, na deso­
bediência e na idolatria. Através do profeta Isaias, Deus disse:
“ Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, ó terra, porque o S e n h o r é quem
fala: Criei filh o s e os engrandeci, mas eles estão revoltados
contra mim” (Is 1.2).
Deus enviou os profetas para chamar o povo de volta à co­
munhão com ele. Mas, além de não darem ouvido à mensagem
dos profetas, cometeram contra eles as maiores atrocidades. “Al­
guns foram torturados, ... outros, por sua vez, passaram pela
prova de escárnios e açoites, sim, até de algemas e prisões.
Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos ao
fio da espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ove­
lhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados (homens
dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos,
pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra" (Hb 11.35­
3 8). E quando veio Jesus, o Messias prometido, crucificaram-no
entre dois ladrões.
O apóstolo Paulo descreveu a situação espiritual do homem,
afirmando: “Não há justo, nem um sequer, não há quem enten­
da, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma
se fizeram inúteis; não há quem fa ç a o bem, não há nem um
sequer. Não há temor de Deus diante de seus olhos" (Rm 3.10­
12,18). O homem está morto em seus delitos e pecados, e nada -
absolutamente nada - pode fazer para ser salvo (E f 2.1 -9).

DESEJO E PLANO IMUTÁVEL DE DEUS


O Rev. Blaine Smith, pastor presbiteriano em Washington,
nos Estados Unidos da América, ensina que precisamos fazer dis­
tinção entre o desejo de Deus e o seu plano imutável.90 Ele afirma
que quando o Novo Testamento fala do desejo de Deus, usa a
palavra grega thélema. Um exemplo pode ser visto em 1 Tessaloni-
censes4.3: “Pois esta é avontade de Deus, a vossa santificação1'.
Vontade aqui é thélema e significa que Deus deseja que tenhamos
,>0M . Blaine Smith, Conhecendo a Vontade de Deus, p. 20 c 21.
uma vida santificada. Esta vontade de Deus requer a nossa colabora­
ção para que seja realizada. Ou seja, Deus deseja mas não nos
impõe essa sua vontade. Mas o Novo Testamento fala também de
um plano imütável de Deus que será realizado, quer colaboremos
ou não com ele. Para falar dessa vontade intencional de Deus, o
Novo Testamento usa a palavra grega boulê. Em Atos 2.23 está
escrito que Jesus foi entregue para ser crucificado “pelo determi­
nado desígnio e presciência de Deus”. Desígnio aqui é boulê,
isto é, o plano imutável de Deus.

A PREDESTINAÇÃO
O desejo de Deus é que todos os homens sejam salvos, mas
o homem não quer colaborar com o Criador no processo de sal­
vação. E, se depender dessa colaboração, ninguém será salvo. Por
isso, Deus, movido pelo seu profundo amor, incluiu no seu plano
imutável a salvação daqueles que lhe aprouve salvar. A Bíblia Sa­
grada chama isso de eleição ou predestinação.
A predestinação está presente em todo o Novo Testamento.
Nos evangelhos encontramos várias declarações de Jesus onde
ele fala em eleitos e escolhidos, o que confirma a predestinação.
Ele disse que os falsos profetas procurariam enganar, se possível,
até os eleitos (Mt 24.24). E, falando da grande tribulação, afirmou
que se o Senhor não tivesse “abreviado aqueles dias, e ninguém
se salvaria; mas, por causa dos eleitos que ele escolheu, abre­
viou tais dias” (Mc 13.20). Disse também que, na sua segunda
vinda, “enviará os seus anjos, com grande clangor de trombe­
ta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de
uma a outra extremidade dos céus” (Mt 24.31).
O apóstolo Paulo, na epístola aos Romanos, perguntou:
“Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus?” (Rm
8.33). Aos efésios, ele escreveu que Deus nos escolheu em Cristo,
para a salvação, antes da fundação do mundo, “e em amor nos
predestinou para ele, para a adoção de filhos” (E f 1.3-5). Aos
colossenses, ele recomendou: “Revesti-vos, pois, como eleitos
de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de
bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade” (Cl
3.12). Aos tessalonicenses, ele escreveu: ''Deus vos escolheu desde
o princípio para a salvação” (2Ts 2.13). Na segunda epístola
a Timóteo, ele declarou: “Tudo suporto por causa dos eleitos”
(2Tm2.10).
O apóstolo Pedro também escreveu sobre a predestinação.
Ele inicia a sua primeira epístola se dirigindo “aos eleitos que são
forasteiros da Dispersão..., eleitos, segundo a presciência de
Deus Pai” (IPe 1.1,2).
O último livro do Novo Testamento chama os salvos de elei­
tos (Ap 17.14).
Algumas pessoas, apesar de a Bíblia Sagrada ensinar clara­
mente a predestinação, tentam levantar objeções contra essa dou­
trina. As duas principais objeções dizem respeito à evangelização
e àjustiça de Deus.
Quanto à evangelização, afirmam que, sejá estão escolhidos
os que serão salvos, não é necessário evangelizar. Mas a Bíblia
ensina o contrário. Paulo estava pregando o evangelho em Corinto,
quando alguns judeus passaram a fazer-lhe oposição e a blasfe­
mar. A noite teve Paulo “uma visão em que o Senhor lhe disse:
Não temas; pelo contrário, fa la e não te cales; porquanto eu
estou contigo, e ninguém ousará fazer-te mal, pois tenho mui­
to povo nesta cidade” (At 18.9). Deus tinha muitos predestinados
naquela cidade, e Paulo devia permanecer ali pregando o evange­
lho, pois os predestinados precisavam conhecer o evangelho para
serem salvos. Na epístola a Tito, Paulo se apresenta como “após­
tolo de Jesus Cristo, para promover a f é que é dos eleitos de
Deus” (Tt 1.1). Jesus afirmou: “ As minhas ovelhas ouvem a mi­
nha voz; eu as conheço, e elas me seguem” (Jo 10.27). Os pre­
destinados para a salvação precisam ouvir o evangelho, a voz do
Bom Pastor, para segui-lo.
Quanto à alegação de que Deus seria injusto se escolhesse
uns e não escolhesse outros, o argumento é até infantil. Quando um
rapaz vai se casar, ele escolhe uma moça e deixa de escolher outra.
Às vezes, deixa até de escolher uma que tem melhores qualidades
e que, além disso, é apaixonada por ele. Ao fazer isso, ele está
cometendo injustiça? De modo nenhum; está apenas usando o seu
direito de escolha. Se a humanidade toda está perdida, e Deus
escolhe alguns para a salvação, onde está a injustiça? Mas, como
queremos tratar desse assunto com os ensinos da palavra de Deus,
vejamos o que a Bíblia diz sobre isso: “Que diremos, pois? H á
injustiça da parte de Deus? De modo nenhum!... Quem és tu, ó
homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o obje­
to perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? Ou não
tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer
um vaso para honra e outro para desonra? Que diremos, pois,
se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu
poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, pre­
parados para a perdição, a fim de que também desse a conhe­
cer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que
para glória preparou de antemão, os quais somos nós, a quem
também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre
os gentios?" (Rm 9.14,20-24).
A questão séria que está por detrás das objeções à predesti­
nação é esta: quem é deus? É Deus ou é o homem? Quando o
homem questiona a Deus, ele quer ser deus. Ele quer dizer ao Cri­
ador o que é certo e o que é errado; o que deve ser feito e o que
não deve ser feito. Mas, quando o homem se coloca no seu lugar
de criatura, ele reconhece humildemente que Deus é soberano e,
portanto, pode fazer o que quiser.

CONCLUSÃO
O Rev. James Kennedy, criador do método de evangelização
conhecido como Evangelismo Explosivo, é autor de uma ilustração
magistral sobre a predestinação. Diz ele: “Imaginemos cinco pes­
soas que estejam planejando assaltar um banco. Mas eles eram
meus amigos. Eis que descubro o plano e rogo diante deles que
não o levem avante. Imploro-lhes que desistam. Finalmente, eles
me empurram para um lado e dão inicio à execução do plano.
Agarro-me com um deles e luto com ele, rolando pelo chão. Po­
rém, os demais prosseguem, assaltam o banco, um guarda é mor­
to, e eles são capturados, declarados culpados, sentenciados à
cadeira elétrica e executados. E o único homem do grupo que não
se envolveu no assalto fica livre.”91 Em seguida, ele pergunta se
teve alguma culpa na morte dos quatro amigos. E responde que
não teve, pois insistiu com eles para que não fizessem o assalto. E
pergunta também se o amigo que permaneceu vivo escapou por­
que era bonzinho. E responde que o amigo que ficou vivo era tão mau
como os que morreram, e só escapou porque foi salvo por ele.
Sem querer explicar a predestinação, a secreta vontade de
Deus, a ilustração do Rev. Kennedy mostra aquilo que a Bíblia
ensina, isto é, que todos os homens estão perdidos, condenados
ao inferno; que ninguém quer saber de Deus; que Deus quer que
todos sejam salvos e proclama que não leva em conta os tempos
da ignorância, “agora, porém, notifica aos homens que todos,
em toda parte, se arrependam; porquanto estabeleceu um dia
em que há de julgar o mundo com justiça’’’ (At 17.30,31); mas
ninguém se arrepende. Logo, Deus não é responsável pela perdi­
ção de quem quer que seja. Diante dessa recusa em aceitar o seu
amor, Deus escolheu alguns para a salvação. E, através do Espírito
Santo, Deus leva estes a receber Jesus como Salvador e Senhor.
Eles serão salvos não porque são bons, mas porque foram alcan­
çados pela misericórdia de Deus.
O apóstolo Paulo, diante desta maravilha da graça divina,
declarou: “ O profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como
do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos,
91D. James Kennedy, Verdades que Transformam, p.42.

129
e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu
a mente do Senhor? Ou quem fo i o seu conselheiro? Ou quem
primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restitiddo? Porque
dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois,
a glória eternamente. Amém” (Rm 11.33-36).

PERGUNTAS PARA FIXAÇÃO EAPLICAÇÃO


1. Por que, ao tratarmos da doutrina da predestinação, “devemos
ser sóbrios, evitando escrupulosamente qualquer especulação
humana e apoiando-nos estritamente na segura Palavra de
Deus”?
2. O que é “vontade de Deus”?
3. O que é “plano imutável de Deus”?
4. A salvação do pecador faz parte da ‘ vontade de Deus” ou do
“plano imutável de Deus”? Justifique sua resposta.
5. Cite alguns textos bíblicos que evidenciam a predestinação.
6. Se já estão escolhidos os que serão salvos, é necessário evangeli­
zar? Justifique sua resposta.
7. Como você responde a alegação de que Deus seria injusto se
escolhesse uns e não escolhesse outros?
8. Qual é a questão decisiva que está por detrás das objeções à
predestinação?
9. Deus é responsável pela perdição dos que vão para o inferno?
Por quê?
10.Você é um(a) predestinado(a) para a salvação? Justifique sua
resposta.
14
6 IG R EJfl
“Edificarei a minha igreja, e as portas do
inferno não prevalecerão contra ela. ”
Mateus 16.18

O plano de Deus para a nossa salvação inclui uma organiza­


ção para nos arrebanhar. Na antiga aliança feita com Abraão e
ratificada quando Deus deu a lei, através de Moisés, esta organiza­
ção era constituída pelos israelitas. Deus havia prometido a Abraão:
“... de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engran­
decerei o nome” (Gn 12.2).
Mas Israel quebrou a aliança com o Senhor. E negou-se a
receber o Messias. Rejeitaram o Filho de Deus. “ Veiopara o que
era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o
receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filh o s de Deus, a
saber, aos que crêem no seu nome” (Jo 1.11,12). Felizmente,
Deus fez uma nova aliança, através de Jesus Cristo. E “a todos
quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feito s filhos
de D e u s E com estes Jesus edificou a sua igreja, conforme ele
mesmo prometeu: “... edificarei a minha igreja, e as portas do
inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18). Assim, a na­
ção de Israel, como organização instituída para congregar o povo
de Deus, foi substituída pela igreja.

CONCEITO BÍBLICO DE IGREJA


Mas, o que é igreja?
“Posso usar essa palavra para significar um edifício, como
131
quando digo: ‘Há três igrejas neste quarteirão’. ABíblia não em­
prega a palavra igreja neste sentido. Posso também usar a palavra
para significar uma denominação, assim: ‘A Igreja Metodista tem
muitas congregações nesta cidade’. A Bíblia não se refere a deno­
minações, de modo nenhum. Posso empregar a palavra para signi­
ficar um fator cultural que opera na comunidade. Posso, então,
dizer: ‘A igreja opõe-se ao vício e à venda de bebidas alcoólicas’.
Porém, neste sentido, a Bíblia nunca emprega a palavra. Posso
usá-la para me referir a todas as atividades públicas dos cristãos
como um grupo na sociedade. Poderia, então, dizer: ‘A igreja, na
comunidade onde me criei, era certamente fraca’. Com este senti­
do, a Bíblia jamais emprega a palavra. Ou poderia usá-la para
aludir a uma causa. Diria então: ‘Por certo sou a favor do desenvolvi­
mento da Igreja5. Mas o Novo Testamento não emprega a palavra
com este sentido.”92
Os escritores do Antigo Testamento usaram duas palavras
hebraicas para designar a igreja. A primeira é kahal, que vem de
uma raiz que significa chamai-, e é traduzida em nossa língua por
assembléia. A segunda é ‘edhah, que vem de uma raiz que si­
gnifica indicar ou encontrar-se ou reunir-se num lugar indicado.
No Novo Testamento a palavra igreja vem de ekklesia, pa­
lavra grega usada para designar a assembléia da população das
cidades gregas, que se reunia para tratar de questões administrati­
vas. No Novo Testamento a palavra igreja é usada com vários
significados; os principais são:
a) Um grupo de crentes de uma determinada localidade, uma
igreja local. Por exemplo: “igreja que estava em Jerusalém” (At
11.22); “igreja de Antioquia” (At 13.1). Veja também Atos 5.11
e 11.26.
b) Um grupo de crentes que se reunia na casa de uma deter­
minada pessoa, uma igreja doméstica (1 Co 16.19; C14.15;Fm2).
c) Vários grupos de crentes, em diferentes lugares, unidos
pela mesma fé (At 9.31).
“ Monford George Gutzke, Palavras Chaves da Fé Cristã, p. 219.

132
d) A totalidade daqueles que, no mundo inteiro, professam a
Cristo e se organizam para fins de culto, chamada genericamente
de igreja de Deus {ICo 10.32; 11.22; 12.28).
e) A totalidade dos crentes, quer no céu quer na terra, que se
uniram ou ainda se unirão a Cristo como Salvador e Senhor, cha­
mada de corpo de Cristo (Ef 1.22; 3.10,21; 5.23-32; Cl 1.18,24).

A ESSÊNCIA E O CARÁTER MULTIFORME DA IGREJA


Jesus declarou: “edificarei a minha igreja” (Mt 16.18); e a
partir dessas palavras surge a pergunta: que tipo de igreja Jesus
edificou? A resposta é que a igreja edificada por Jesus é um orga­
nismo espiritual, formado pelo conjunto dos salvos de todos os
tempos, raças e lugares. Ela não pode ser discernida pelos olhos
físicos porque é essencialmente espiritual. O seu rol de membros é
olivro da vida (Lc 10.20; Ap 20.15; 21.27). Uma outra pergunta
é: quando foi que Jesus edificou a sua igreja? A resposta é que
Jesus edificou sua igreja com sua morte na cruz do Calvário (ver E f
5.22-29; Tt 2.11-14; At 20.28; ICo 6.20 e Ap 5.9).
Mas a igreja de Cristo tem também um lado visível, que são
as comunidades de crentes, organizadas e compostas por seus ser­
vos. Jesus reconheceu e aprovou, antecipadamente, essas comu­
nidades locais, quando ordenou que o irmão impenitente deve ser
levado perante a igreja (Mt 18.15-18).
A igreja de Cristo é uma só, mas pode ser vista de diferentes
ângulos. Ela pode ser vista como igreja militante e igreja triun­
fante. Militante é o segmento da igreja que ainda está na terra,
lutando “contra os principados e potestades, contra os
dominadores deste mundo tenebroso, contra as fo rça s es­
pirituais do m a r (Ef 6.12). Triunfante é o segmento da igreja que
está no céu com Cristo (Ap 7.9-17).
A igreja pode ser descrita como visível e invisível. Visível é
o segmento da igreja que se manifesta numa “sociedade composta
de todos quantos, em todos os tempos e lugares do mundo, pro­
fessam a verdadeira religião, juntamente com seus filhos”.93 É a
igreja como a vemos, isto é, os membros, a pregação da Palavra,
a administração dos sacramentos, a organização, a vida comunitá­
ria, o testemunho público dos crentes e a oposição ao mundo. Igreja
invisível é o conjunto de todos os salvos do presente, do passado
e do futuro. É invisível porque só Deus a conhece.
A igreja pode ser considerada também como organismo e
oiganização. Esta distinção é aplicada apenas à igreja visível. Como
organismo, a igreja é a união dos fiéis, sob o vínculo do Espírito.
Paulo fala desse aspecto da igreja em 1 Coríntios 12, onde com­
para os membros da igreja aos membros do corpo humano. Como
organização, a igreja é uma agência para a conversão dos pecado­
res e para o aperfeiçoamento dos salvos.
Apesar dessas distinções, devemos ter em mente que a igreja
de Cristo é uma só. A sua essência está na comunhão espiritual e
invisível dos verdadeiros crentes.
Já que a igreja de Cristo é uma só, o que dizer, então, do
grande número de denominações? As denominações são uma con­
cessão de Deus à dureza de nossos corações, são uma contingên­
cia das nossas limitações humanas. O desejo de Deus é que pen­
semos a mesma coisa, tenhamos o mesmo amor, sejamos unidos
de alma, tendo o mesmo sentimento (Fp 2.2). O ideal seria a exis­
tência de uma só denominação. Mas, infelizmente, não atendemos
a esse desejo nem atingimos esse ideal. Nossas limitações e ten­
dências pessoais influenciam nossa maneira de ver e sentir nossos
compromissos com Deus e o modo correto de servir ao Senhor.
Por isso, surgiram as denominações. Porém, o mais importante é
que existe uma única igreja de Cristo, da qual fazem parte todos os
verdadeiros crentes.

OS ATRIBUTOS DA IGREJA
A igreja tem os seus atributos, isto é, as suas qualidades que
a distinguem de outras instituições. Os atributos da igreja são: uni­
dade, santidade e catolicidade.__________________
93Catecismo M aior de Westminster, resposta à pergunta 62.

134
A u n id ad e da igreja é de caráter interno e espiritual. “Esta
unidade implica que todos os que pertencem à igreja participam da
mesma fé, são solidamente interligados pelo comum laço do amor,
e têm a mesma perspectiva gloriosa do futuro.”94 O apóstolo Pau­
lo falou dessa unidade, afirmando . “Há somente um corpo e um
Espírito, como também fostes chamados numa só esperança
da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo;
um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio
de todos e está em todos” (Ef 4.4-6).
A santidade da igreja significa que todos os seus membros
foram separados para Jesus Cristo. O apóstolo Paulo costumava
dirigir-se aos crentes chamando-os de santos. Evidentemente ele
sabia que os membros da igreja não são perfeitos, mas são santos
no sentido de pertencerem a Jesus Cristo. A santidade completa
só é encontrada na igreja triunfante.
A cato licid ad e da igreja ressalta a sua universalidade. Na
antiga aliança, os servos de Deus pertenciam a um único povo: a
nação israelita. Os gentios só poderiam tornar-se povo Deus atra­
vés da adoção da nacionalidade israelita. Na nova aliança, os ser­
vos de Deus pertencem a “todas as nações, tribos, povos e lín­
guas” (Ap 7.9).
Além desses três atributos, alguns teólogos incluem um quar­
to: a apostolicidade. Este atributo tem dois elementos: a igreja é
apostólica porque foi edificada sobre o fundamento dos apóstolos
(Ef 2.20) e porque tem um compromisso de fidelidade à doutrina
dos apóstolos (G11.8,9; ICo 3.10,11).

AS MARCAS DA IGREJA
A igreja visível se compõe de denominações e comunidades
locais de crentes. Nenhuma denominação ou igreja é perfeita ou
completa. “As igrejas mais puras debaixo do céu estão sujeitas à
mistura e ao erro.”95 Mas a Escritura Sagrada aponta alguns sinais
''’Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p. 576.
95Confissão de Fé de Westminster, XXV.V.
que nos permitem distinguir uma igreja verdadeira de outra que
não passa de um ajuntamento de pessoas. As principais marcas de
uma igreja verdadeiramente cristã são: a correta pregação da Pa­
lavra de Deus, a correta administração dos sacramentos e o fiel
exercício da disciplina eclesiástica.
A pregação de uma verdadeira igreja cristã está fundamenta­
da na Escritura Sagrada, a Palavra de Deus. Pode haver divergên­
cia entre as doutrinas de uma igreja e outra. Umas batizam por
aspersão, outras por imersão. Umas batizam os filhos de crentes,
outras só batizam adultos. Mas é imprescindível que todas as doutri­
nas estejam alicerçadas na Escritura Sagrada. Quando a igreja deixa
a Palavra de Deus e passa a pregar filosofias humanas ou expe­
riências pessoais, ela está deixando de ser uma verdadeira igreja
cristã. A Igreja Católica Romana atribui à tradição a mesma au­
toridade da Bíblia Sagrada. A Igreja Adventista do Sétimo Dia
considera inspirados pelo Espírito Santo os escritos de Helen Write,
portanto, com a mesma autoridade da Escritura Sagrada. Os Tes­
temunhas de Jeová tiveram o atrevimento de adulterar a Escritura
Sagrada, fazendo uma tradução que se adapte às suas doutrinas.
Por isso, essas igrejas não são consideradas verdadeiramente cris­
tãs. Os pentecostais dão muita ênfase às revelações e às experi­
ências pessoais, colocando-as, às vezes, acima da Escritura Sa­
grada, por isso correm o risco de serem desqualificados da condi­
ção de verdadeira igreja cristã.
A correta administração dos sacramentos não significa que
todas as igrejas devem seguir o mesmo ritual. Mas implica na obe­
diência a três princípios fundamentais: (1) o conteúdo e a forma de
administração dos sacramentos precisam estar de acordo com o
ensino da Escritura Sagrada; (2) a pessoa que administra os
sacramentos deve estar revestida de autoridade espiritual e ecle­
siástica; (3) os participantes dos sacramentos precisam estar
devidamente qualificados.
O fiel exercício da disciplina eclesiástica é outra marca de
uma verdadeira igreja cristã. Onde não há disciplina, até os ver-
dadeiros crentes correm o risco de se corromperem. “As igrejas
que relaxarem na disciplina descobrirão mais cedo ou mais tarde
em sua esfera de influência um eclipse da luz da verdade e abusos
nas coisas santas.”95 O apóstolo Paulo ordenou à igreja de Corinto
que exercesse a disciplina eclesiástica (ICo 5.1 -5,13). E ele mes­
mo exerceu a disciplina (lTm 1.20). A igreja de Efeso foi elogiada
porque não suportava “homens maus” e porque odiava “as obras
dos nicolaítas” (Ap 2.2,6). Mas as igrejas de Pérgamo e de Tia-
tira foram duramente condenadas por não exercerem a disciplina
de seus membros (Ap 2.14,15,20). A ordem clara de Jesus é que
o irmão que pecar deve ser confrontado; se ele não der ouvido à
advertência, deve ser considerado como “gentio epublicano” (Mt
18.15-18). As palavras de Jesus indicam a necessidade de exclu­
são daqueles que permanecem no pecado, já que gentios e
publicanos não faziam parte do povo de Deus na época de Jesus.

CONCLUSÃO
Igreja não é edifício, não é tijolo, não é pedra. Igreja é gente.
Igreja é “povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de pro­
clamar as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a
sua maravilhosa luz” (IPe 2.9).
Três palavras gregas apontam a missão da igreja: kérigma,
diaconia e koinonia. A palavra kérigma significa mensagem,
proclamação. A igreja existe para proclamar a salvação e a nova
vida em Jesus Cristo. Diaconia é serviço. A igreja tem a obriga­
ção de prestar serviço aos indivíduos e à sociedade. O exemplo foi
dado por Jesus, que veio buscar e salvar os perdidos, mas que, ao
mesmo tempo que pregava, alimentava, consolava, curava e liber­
tava. Koinonia geralmente é traduzida por comunhão. Harvey Cox,
um teólogo moderno, afirma que koinonia é o “aspecto da res­
ponsabilidade da igreja que exige uma demonstração visível daqui-

96Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p. 581.

137
lo que a igreja está dizendo no kérigma (proclamação) e apon­
tando na sua diaconia (serviço)”.97
A Igreja foi instituída por Jesus Cristo, e “asportas do infer­
no não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18).

PERGUNTAS PARA FIXAÇÁO EAPLICAÇÃO


1. Por que Israel, como organização instituída para congregar o
povo de Deus, foi substituída pela igreja?
2. Cite alguns usos da palavra igreja na linguagem popular.
3. Com que sentido é usada a palavra igreja no Novo Testamento?
4. Que tipo de igreja Jesus edificou?
5. Qual é o lado visível da igreja de Cristo?
6. Como você entende a existência do grande número de denomi­
nações?
7. O que é e quais são os atributos da igreja?
8. Quais são as marcas da igreja?
9. Por que é necessária a disciplina na igreja?
10.O que a igreja significa para você?

,7Citado por Abival Pires da Silveira, em Revista de E ducação Cristã, Tomo II,
Lição 12.
15
fl ORIGEM DO
PRESBITERIfiNISMO
“Eu sei que, depois da minha partida,
entre vós penetrarão lobos vorazes, que
não pouparão o rebanho. E que, dentre
vós mesmos, se levantarão homens fa la n ­
do coisas pervertidas para arrastar os
discípulos atrás deles. Portanto, vigiai. ”
Atos 20.29-31

A Igreja de Cristo é invisível, não pode ser discernida pelos


olhos físicos porque é essencialmente espiritual. O seu rol de mem­
bros é o livro da vida (Lc 10.20; Ap 20.15; 21.27). Mas a Igreja
de Cristo tem, também, um lado visível, que são as comunidades
de crentes, as igrejas locais, organizadas e compostas pelos servos
de Jesus Cristo. “Justamente como a alma humana se adapta a um
corpo e se expressa por meio do corpo, assim a igreja invisível,
que consiste não de almas, mas de seres humanos que têm alma e
corpo, assume necessariamente forma visível numa organização ex­
terna, por meio da qual se expressa.”98
A igreja visível foi fundada pelos apóstolos e se ramificou em
vários grupos. Um desses grupos é denominado protestantismo
reformado ou presbiterianismo.

^Louis Berkhof, Teologia Sistemática, - p. 570.

139
A IGREJA PRIMITIVA
Historicamente a igreja cristã nasceu no dia de Pentecostes.
A princípio ela era considerada apenas uma seita do judaísmo
(At 24.14; 28.22). Mas, com o passar do tempo, adquiriu iden­
tidade própria.
Os cristãos foram violentamente perseguidos pelos judeus e
pelos romanos. A perseguição, contudo, ajudava a igreja. Os crentes
tornavam-se mais ousados, e os falsos cristãos não suportavam a
pressão e saíam. Assim, a igreja ia, ao mesmo tempo, se fortale­
cendo e se purificando.
No século IV cessaram as perseguições. No ano 313,
Constantino e Licínio, concorrentes ao trono imperial, se encon­
traram e assinaram o Edito de Milão, concedendo plena liberdade
ao cristianismo. Em 323, Constantino finalmente derrotou Licínio,
tomando-se o único governante do mundo romano. Com seu tino
político, sentiu a necessidade de unificar o Império. “Havia uma só
lei, um só imperador e uma única cidadania para todos os homens
livres. Era necessário que houvesse também uma só religião.”93 E
o cristianismo passou a ter proteção do Império Romano.
A partir daí, a igreja cristã passou a receber um grande nú­
mero de adesões. Muitas pessoas, sem a verdadeira conversão,
entraram para a igreja. A atuação de tais pessoas e a influência do
mundo pagão levaram a igreja a adotar doutrinas e práticas que se
chocam brutalmente com os ensinos bíblicos. Eis alguns exemplos:
no ano 375 foi instituído o culto aos santos; no ano 431 instituiu-se
o culto a Maria, a partir do Concílio de Efeso, cidade em que
pontificava a grande Diana dos efésios, divindade feminina pagã;
em 503 surgiu a doutrina do purgatório; em 783 foi adotada a
adoração de imagens e relíquias; em 1090 inventou-se o rosário;
em 1229 foi proibida a leitura da Bíblia. Há muitas outras inova­
ções que se tomaria longa a sua menção aqui.

"Wiliston Walker, História da Igreja Cristã, Volume I, p. 154.

140
Algumas pessoas afirmam que a igreja organizada pelos após­
tolos é a Igreja Católica Romana. Quanto a isto, devemos esclare­
cer o seguinte:
a) A igreja dos apóstolos não adotou nenhum nome espe­
cífico. Ela é chamada no Novo Testamento simplesmente de
igreja. Historicamente ela é denominada Igreja Primitiva, por
ter sido a primeira.
b) O sistema de governo e a organização da Igreja Primiti­
va, suas doutrinas e sua liturgia eram bem diferentes do que é pra­
ticado pela Igreja Católica Romana.
c) A verdade é que a Igreja Católica Romana surgiu das trans­
formações ocorridas na Igreja Primitiva. Transformações que,
lamentavelmente, só afastaram a igreja dos ensinos de Jesus Cristo.
As heresias mencionadas, aliadas à corrupção e imoralidade
do clero, levaram a igreja a perder suas principais características
de igreja cristã. Mas ainda existiam pessoas sinceras, tementes a
Deus, que clamavam por uma reforma.

A REFORMA PROTESTANTE
A partir do ano 1300, o mundo ocidental experimentou um
sentimento crescente de nacionalismo. Os povos não queriam su­
jeitar-se a Roma. Aspiravam ver surgir uma igreja nacional. Esse
clima favoreceu o surgimento dos Precursores da Reforma. Eram
homens cultos, de vida exemplar, que tinham prazer na leitura e na
exposição da Bíblia Sagrada. São chamados precursores porque
antecederam aos reformadores e, principalmente, porque não con­
seguiram superar o legalismo religioso - não descobriram a graça
salvadora. Queriam fazer alguma coisa para alcançar a salvação,
quando a Bíblia afirma: “Pela graça sois salvos, mediante a fé ;
e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que
ninguém se glorie ” (Ef 2.8,9).
Os principais precursores da Reforma foram: João Wyclif
( 13287-13 84), professor na Universidade de Oxford, na Inglater­
ra; JoãoHuss (13737-1415), professor na Universidade de Pra­
ga, que foi queimado por causa de sua fé; e Girolano Savonarola
(1452-1498), monge dominicano, que foi enforcado e queimado
por ordem do Papa Alexandre VI, em Florença, na Itália.
Além dos movimentos liderados pelos Precursores da Re­
forma, ocorreram outras tentativas de reformar a igreja, mas
sem êxito.
No século XVI, a situação era bastante propícia a uma refor­
ma da igreja. A Europa estava no limiar de uma nova época políti­
ca e social. Gutenberg revolucionara o processo de impressão do
livro; Colombo descobrira a América... E o descontentamento com
a igreja persistia. Tudo isso preparava o terreno para a reforma. E
Lutero foi o Homem que Deus levantou para desencadear o movi­
mento que resultou na Reforma Religiosa do Século XVI.

MARTINHO LUTERO (1483-1546)


Martinho Lutero nasceu no dia 10 de novembro de 1483.
Sua família era pobre e ele lutou com muita dificuldade para estu­
dar. Preparava-se para ingressar no curso de Direito, quando re­
solveu tornar-se monge. Entrou para o mosteiro agostiniano de
Erfiirt, em 1505, antes de completar 22 anos de idade. Dois anos
depois foi ordenado sacerdote. No ano seguinte foi para Wittenberg
preparar-se para ser professor na recém-criada universidade da­
quela cidade. Foi lá que Lutero dedicou-se ao estudo das Escritu­
ras. E, ao estudar a Epístola aos Romanos, descobriu que “0 ju s­
to viverá p o r fé ” (Rm 1.17). Ele já havia feito tudo o que a igreja
indicava para alcançar a paz com Deus. Mas sua situação interior
só piorava. Ao descobrir a graça redentora, entregou-se a Jesus
Cristo, pela fé, e encontrou a paz e a segurança da salvação.
No dia 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero afixou na porta
da capela de Wittenberg as suas 95 teses. Era o início da Reforma.
Lutero tentou reformar a igreja, mas Roma não quis se refor­
mar. Antes, o perseguiu violentamente. Em 1521 ele foi excomun-
gado. Nesse mesmo ano teve que se esconder durante dez meses
no castelo de Wartburgo, perto de Eisenach, para não ser morto.
Depois voltou para Wittenberg, de onde comandou a expansão do
movimento de reforma.
Lutero faleceu emEisleben, no dia 18 de fevereiro de 1546.

ÚLRICO ZWÍNGLIO (1484-1531)


Paralelamente à reforma de Lutero, surgiu na Suíça um
reformador chamado Úlrico Zwínglio. Era mais novo do que Lutero
apenas 50 dias, mas tinha formação e idéias diferentes do refor­
mador alemão.
Úlrico Zwínglio nasceu na Suíça, no dia I2 de janeiro de
1484. Seu pai era magistrado provincial. Sua família tinha uma boa
posição social e financeira, o que lhe permitiu estudar em impor­
tantes escolas daquela época. Estudou na Universidade de Viena,
de Basiléia e de Berna. Graduou-se Bacharel em Artes, em 1504,
e Mestre dois anos depois.
Em 1506 Zwínglio tornou-se padre, embora o seu interesse
pela religião fosse mais intelectual do que espiritual.
Em 1520 Zwínglio passou por uma profunda experiência es­
piritual, causada pela morte de um irmão querido. Dois anos de­
pois iniciou um trabalho de pregação do evangelho, baseando-se
tão-somente na Escritura Sagrada. O Papa Adriano VI proibiu-o
de pregar. Poucos meses depois, o governo de Zurique, na Suíça,
resolveu apoiar Zwínglio e ordenou que ele continuasse pregando.
Em 1525 Zwínglio casou-se com uma viúva chamada Ana
Reinhard. Nesse mesmo ano, Zurique tomou-se, oficialmente, pro­
testante. Outros cantões (estados) suíços também aderiram ao
protestantismo. As divergências entre estes cantões e os que per­
maneceram fiéis a Roma iam-se aprofundando.
Em 1531 estourou a guerra entre os cantões católicos e os
protestantes, liderados por Zurique. Zwínglio, homem de gênio forte,
também foi para o campo de batalha, onde morreu no dia 11 de
outubro de 1531.
Zwínglio morreu, mas o movimento iniciado por ele não mor­
reu. Outros líderes deram continuidade ao seu trabalho. Suas idéi­
as foram reestudadas e aperfeiçoadas.
As igrejas que surgiram como resultado do movimento inicia­
do por Zwínglio são chamadas de igrejas reformadas em alguns
países, e igrejas presbiterianas em outros.
Dentre os líderes que levaram avante o movimento iniciado
por Zwínglio destacam-se Guilherme Farei e João Calvino.

GUILHERME FAREL (1489-1565)


G u ilh e rm e F a re i nasceu em Gap, província francesa do
Delfinado, no ano de 1489. Os seus biógrafos o descrevem como
um pregador valente e ousado. Embora sua família fosse aristocrática,
ele era rude e tosco. Sua eloqüência era como uma tempestade.
Farei converteu-se em Paris. O homem que o levou a Jesus
Cristo era seu professor na universidade e se chamava Jacques
LeFévre. Parece que Farei inicialmente não pretendia deixar a Igreja
Católica, pois em 1521 ele iniciou um trabalho de pregação sob a
proteção do bispo de Meaux, Guilherme Briçonnet. Mas logo de­
pois foi proibido de pregar e expulso da França, acusado de estar
divulgando idéias protestantes.
Em 1524 estava em Basiléia fazendo as suas pregações. Mas
a sua impetuosidade o levou a ser expulso da cidade.
Em 1526, Farei iniciou o seu trabalho de pregação na Suíça
de fala francesa. Ligou-se aos seguidores de Zwínglio. Conseguiu
implantar o protestantismo em vários cantões (estados) suíços. E
em 1532 entrou em Genebra pela primeira vez. Sua pregação cau­
sou tumulto na cidade. Teve que se retirar. Mas voltou logo depois.
E no dia 21 de maio de 1536, a Assembléia Geral declarou a cida­
de oficialmente protestante.
Mas Genebra aceitara o protestantismo mais por razões po­
líticas que espirituais. E agora Farei tinha uma grande tarefa pela
frente: reorganizar a vida religiosa da cidade.
Guilherme Farei era um homem talhado para conquistar uma
cidade para o protestantismo. Mas se perdia completamente no
trabalho que vinha a seguir. Não sabia planejar, nem organizar, nem
liderar, nem pastorear. Mas, felizmente, conhecia suas limitações e
convidou João Calvino para reorganizar a vida religiosa de Genebra.
No dia 23 de abril de 1538, Farei e Calvino foram expulsos
da cidade. Calvino foi para Estrasburgo, onde pastoreou uma igre­
ja formada por refugiados franceses. Farei foi paraNeuchâtel, uma
cidade que havia sido conquistada por ele para o Evangelho. Calvino
voltou para Genebra em 1541. Farei permaneceu em Neuchâtel,
onde faleceu em 1565, com 76 anos de idade.

JOÃO CALVINO (1509-1564)


O homem responsável pela sistematização doutrinária e pela
expansão do protestantismo reformado foi João Calvino. O “pai
do protestantismo reformado” é Zwínglio. Mas o homem que mol­
dou o pensamento reformado foi João Calvino. Por isso, o sistema
de doutrinas adotado pelas Igrejas Reformadas ou Presbiterianas
chama-se calvinismo.
João Calvino nasceu emNoyon, Picardia, França, no dia 10
de julho de 1509. Seu pai, Geraldo Calvino, era advogado e se­
cretário do bispado de Noyon. Sua mãe, Jeanne le Franc, faleceu
quando ele tinha três anos de idade.
A família Calvino tinha amizade com pessoas importantes. E
a convivência com essas famílias levou João Calvino a aprender as
maneiras polidas da elite daquela época.
Geraldo Calvino usou o seu prestígio junto ao bispado para
conseguir a nomeação de seus filhos para cargos eclesiásticos,
conforme os costumes daquela época. Antes de completar doze
anos, João Calvino foi nomeado capelão de Lá Gesine, próximo
de Noyon. Não era padre, mas seu pai pagava um padre para
fazer o trabalho de capelania e guardava os lucros para o filho.
Mais tarde essa capelania foi trocada por outras mais rendosas.
Em agosto de 1523, logo depois de ter completado 14 anos,
João Calvino ingressou na Universidade de Paris. Ali completou
seus estudos de pré-graduação, no começo de 1528. A seguir foi
para a Universidade de Orléans, onde formou-se em Direito.
Em maio de 1531, faleceu Geraldo Calvino. E João, que es­
tudara Direito para satisfazer o pai, resolveu tomar-se pesquisador
no campo da literatura e filosofia. Para isso, matriculou-se no Co­
légio de França, instituição humanista fundada pelo rei Francisco I.
Estudou Grego, Latim e Hebraico. Tomou-se profundo conhece­
dor dessas línguas.
Em 1532, João Calvino lançou o seu primeiro livro: Comen­
tários ao Tratado de Sêneca sobre a Clemência. Os intelectuais
elogiaram muito a obra. Era um trabalho de grande erudição. Mas
o público ignorou o lançamento - poucos compraram o livro.
João Calvino converteu-se a Jesus Cristo entre abril de 1532
e o início de 1534. Não se sabe detalhes da sua experiência. Mas
a partir daí Deus passou a ocupar o primeiro lugar em sua vida.
No dia 1£ de novembro de 1533, Nicolau Cop, amigo de
Calvino, tomou posse como reitor da Universidade de Paris. O
seu discurso de posse falava em reformas, usando linguagem se­
melhante às idéias de Lutero. E o comentário geral era que o dis­
curso tinha sido escrito por Calvino. O rei Francisco I resolveu agir
contra os luteranos. Calvino e Nicolau Cop foram obrigados a
fugir de Paris.
No dia 4 de maio de 1534, Calvino compareceu ao palácio
do bispo de Noyon, a fim de renunciar ao cargo de capelão. Foi
preso, embora por um período curto. Libertado logo depois, achou
melhor fugir do país. E no final de 153 5 chegava a Basiléia, cidade
protestante, onde se sentiu seguro.
Em março de 1536, Calvino publicou a sua mais importante
obra - Instituição da Religião Cristã. O prefácio da obra era
uma carta dirigida ao rei da França, Francisco I, defendendo a
posição protestante. Mas a Instituição era apenas uma apresen­
tação ordenada e sistemática da doutrina e da vida cristã. A edição
definitiva só foi publicada em 1559.
A Instituição da Religião Cristã, conhecida como Instituías
de Calvino, é a mais completa e importante obra produzida no
período da Reforma.
Em julho de 1536, Calvino chegou a Genebra. A cidade ha­
via se declarado oficialmente protestante no dia 21 de maio da­
quele ano. E Guilherme Farei lutava para reorganizar a vida religi­
osa da cidade.
Calvino estava hospedado em uma pensão, quando Farei
soube que ele estava na cidade. Foi ao seu encontro e o conven­
ceu a permanecer ali para ajudá-lo na reorganização da cidade.
Calvino era bemjovem - tinha apenas 27 anos. A publicação
das Instituías fizera dele um dos mais importantes líderes da Re­
forma na França. Mas o seu início em Genebra foi muito modesto.
Inicialmente ele era apenas um preletor de Bíblia. Um ano depois
foi nomeado pregador. Mas, enquanto isso, elaborava as normas
que pretendia implantar e fazer de Genebra uma comunidade modelo.
João Calvino teve muitos adversários e opositores em Gene­
bra. A medida que ele ia apresentando as normas que pretendia
implantar na cidade, a fim de tomá-la uma comunidade modelo, a
oposição ia crescendo. Finalmente a oposição venceu as elei­
ções. E, no dia 23 de abril de 1538, Calvino e Farei foram
banidos de Genebra.
Calvino foi para Estrasburgo, onde pastoreou uma igreja cons­
tituída de refugiados franceses. Ali viveu os dias mais felizes de sua
vida. Casou-se. A escolhida se chamava Idelette de Bure. Era ho­
landesa; e viúva.
Genebra, enquanto isso, passava por várias mudanças. Os
adversários de Calvino foram derrotados. E, no dia 13 de setem­
bro de 1541, ele entrava novamente em Genebra. Voltava por in­
sistência de seus amigos. Voltava fortalecido. E, enfim, pôde re­
organizar a vida religiosa da cidade.
Calvino introduziu o estudo do seu catecismo, o uso de uma
nova liturgia, um governo eclesiástico presbiterial, disciplinou a vida
civil, estabeleceu normas para o funcionamento do comércio e fez
de Genebra uma cidade modelo.
No dia 29 de março de 1549, Idelette faleceu. Mas Calvino
continuou o seu trabalho. Pesquisava, escrevia comentários bíbli­
cos e tratados teológicos, administrava, pastoreava, incentivava.
Em 1559 fundou a Academia Genebrina - a Universidade
de Genebra. Jovens de vários países vieram estudar ali e levaram a
semente do evangelho na volta à sua terra. Esses jovens se espa­
lharam pela França, Países Baixos, Inglaterra, Escócia, Alemanha
e Itália.
João Calvino faleceu em Genebra, no dia 27 de maio de 1564.
Mas a sua obra permaneceu viva.

JOHN KNOX (1513-1587)


Os seguidores do movimento iniciado por Zwínglio e estrutu­
rado por Calvino se espalharam imediatamente por toda a Europa.
Na França, eles eram chamados de huguenotes; na Inglaterra,
puritanos; na Suíça e Países Baixos, reformados; na Escócia,
presbiterianos.
A Escócia é uma país muito importante na história do protes­
tantismo reformado. Foi lá que surgiu o nome presbiteriano. Por
isso, alguns livros de história afirmam que o presbiterianismo nas­
ceu na Escócia.
O grande nome da reforma escocesa é John Knox. Pouco
se sabe a respeito dos primeiros anos de sua vida. Supõe-se que
tenha nascido entre os anos 1505 a 1515. Estudou teologia e foi
ordenado sacerdote, possivelmente em 1536. Não se sabe quan­
do e em que circunstâncias ocorreu a sua conversão. Em 1547 foi
levado para a França, onde ficou preso dezenove meses, por cau­
sa de sua fé. Libertado, foi para a Inglaterra, onde exerceu o
pastorado por dois anos. Em 1554 teve que fugir da Inglaterra,
indo, inicialmente, para Frankfurt, e depois para Genebra, onde foi
acolhido por Calvino. Em 1559 voltou para a Escócia, onde lide­
rou o movimento de reforma religiosa. Sua influência extrapolou a
área religiosa, atingindo também a vida política e social do país.
Sob sua influência, o parlamento escocês declarou o país oficial­
mente protestante, em dezembro de 1567. A igreja organizada por
ele e seus auxiliares recebeu o nome de Igreja Presbiteriana. John
Knox faleceu no dia 24 de novembro de 1587.
O presbiterianismo foi levado da Escócia para a Inglaterra;
de lá, para os Estados Unidos da América.
Em 1726, teve início um grande despertamento espiritual nos
Estados Unidos. Este despertamento levou os presbiterianos a se
interessarem por missões estrangeiras. Missionários foram envia­
dos para vários países, inclusive o Brasil. No dia 12 de agosto de
1859, chegou ao nosso país o primeiro missionário presbiteriano:
Ashbel Green Simonton.

CONCLUSÃO
“Edificarei a minha igreja” - disse Jesus - “e as portas do
inferno não prevalecerão contra ela!" (Mt 16.18). Homens frau­
dulentos e a influência do mundo pagão desviaram a igreja dos
ensinos de Jesus. Mas sempre existiram servos fiéis, que não se
conformavam com o erro e clamavam por uma reforma. Lutero
deu início ao movimento vitorioso.
Lutero e Calvino tentaram um entendimento para unir suas
forças. Mas não foi possível. Lutero queria apenas reformar a igre­
ja. Mas Calvino entendia que a igreja estava tão degenerada, que
não havia como reformá-la. Por isso ele se propôs a organizar uma
nova igreja que, na sua doutrina, na sua maneira de prestar culto e
na sua forma de governo, fosse idêntica à Igreja Primitiva.
E foi assim que surgiu a Igreja Presbiteriana.
PERGUNTAS PARA FIXAÇÃO EAPLICAÇÃO
1. Quando e como foi que o cristianismo passou a ter proteção
oficial do Império Romano?
2. Cite algumas doutrinas heréticas introduzidas na igreja a partir
de sua oficialização como a religião do Império Romano.
3. A igreja organizada pelos apóstolos é a Igreja Católica Romana?
Justifique sua resposta.
4. Quais foram os principais precursores da Reforma?
5. Quem foi Martinho Lutero?
6. Quem foi Úlrico Zwínglio?
7. Quem foi Guilherme Farei?
8. Quem foi João Calvino?
9. Quem foi John Knox?
10. Por que Lutero e Calvino não se uniram no movimento de refor­
ma da Igreja?
16
0 PRESBITERIfilfISMO
NO BRflSIL
“E ele mesmo concedeu uns para apósto­
los, outros para profetas, outros para
evangelistas, e outros para pastores e
mestres, com vistas ao aperfeiçoamento
dos santos para o desempenho do seu ser­
viço, para a edificação do corpo de Cris­
to, até que todos cheguemos à unidade
da fé e do pleno conhecimento do Filho
de Deus, à perfeita varonilidade, à medi­
da da estatura da plenitude de Cristo. ”
Efésios4.11-13

A igreja cristã foi fundada pelos apóstolos, no dia de Pente­


costes. Ela é o lado visível da igreja invisível. Nem todos os mem­
bros da igreja visível são também membros da igreja invisível. Al­
guns ainda não passaram pela conversão; outros nunca experimen­
tarão o novo nascimento. E mesmo aqueles que nasceram de novo
em Jesus Cristo continuam pecadores. Por isso, a igreja tem mui­
tas falhas e imperfeições.
Como resultado das fraquezas de seus membros, a igreja cristã
está dividida em muitos ramos. Um desses ramos é o protestantis­
mo reformado ou presbiterianismo. No Brasil existem várias denomi­
nações presbiterianas: Igreja Presbiteriana do Brasil, Igreja
Presbiteriana Independente, Igreja Presbiteriana Conservadora,
Igreja Presbiteriana Fundamentalista e Igreja Presbiteriana Unida.
Todas elas têm a sua origem no trabalho missionário iniciado pelo
Rev. Ashbel Green Simonton, no século XIX.

PRIMEIRAS TENTATIVAS
A primeira tentativa de implantação do presbiterianismo em
nosso país foi feita pelos franceses, que invadiram o Rio de Janeiro
em 1557. Eles pretendiam fundar aqui uma colônia cujo nome se­
ria França Antártica. O grupo era composto por católicos e
huguenotes (nome dos presbiterianos franceses). A colônia devia
caracterizar-se pela tolerância religiosa. Três pastores acompanha­
vam o grupo, com o objetivo de dar assistência religiosa aos colo­
nos e pregar o evangelho aos nativos. A invasão fracassou e eles
foram expulsos em 1567.
Uma segunda tentativa foi feita pelos holandeses, que invadi­
ram o nordeste de nosso país. Em 1624, uma esquadra holandesa
chegou a Salvador, naBahia, onde permaneceu até março de 1625.
Expulsos da Bahia, os holandeses se reorganizaram e invadiram
Pernambuco em 1630. Em 1654 eles foram definitivamente expul­
sos de nosso país, e as comunidades reformadas que eles haviam
implantado no nordeste desapareceram.

A IMPLANTAÇÃO DEFINITIVA
A implantação do presbiterianismo em nosso país se deu atra­
vés do trabalho de missionários, que vieram especialmente para
evangelizar os brasileiros.
O primeiro missionário presbiteriano a vir para o Brasil se
chamava Ashbel Green Simonton. Ele chegou ao Rio de Janeiro
no dia 12 de agosto de 1859. Tinha apenas 26 anos de idade. Era
formado pelo Seminário de Princeton e ordenado pastor pelo Pres­
bitério de Carlisle. Embora tivesse estudado português em Nova
Iorque, Simonton não tinha domínio de nossa língua suficiente para
pregar aos brasileiros. Por isso, enquanto aprendia melhor o por-
tuguês, ele se dedicava ao trabalho de evangelização dos estrangei­
ros que aqui residiam ou que por aqui passavam.
No dia 22 de abril de 1860, Simonton dirigiu o primeiro tra­
balho em português. Era uma escola dominical. A assistência total
somava cinco pessoas: três crianças e duas moças. Dois anos de­
pois, recebia os dois primeiros membros: um norte-americano e
um português. O primeiro brasileiro a se tornar membro da Igreja
Presbiteriana se chamava Serafim Pinto Ribeiro. Ele foi recebido
por profissão de fé e batismo, no dia 22 de junho de 1862.
O segundo missionário presbiteriano a chegar ao Brasil foi
Alexander Blackford, que era casado com uma irmã de Simonton.
Ele e a esposa chegaram ao Rio de Janeiro no dia 25 de julho de
1860. O terceiro missionário era alemão naturalizado norte-ameri­
cano, chamado Francis Schneider. Ele chegou no dia 7 de dezem­
bro de 1861. A missão estabeleceu sua sede no Rio de Janeiro,
mas os missionários viajavam pelo Brasil todo, procurando conhe­
cer o país e, ao mesmo tempo, divulgar o evangelho.
Em 1863, o Rev. Alexander Blackford foi para São Paulo,
com o objetivo de evangelizar a capital e o interior.

AS PRIMEIRAS ORGANIZAÇÕES
Os missionários consideravam que uma igreja estava organi­
zada a partir do dia do batismo dos primeiros convertidos. A Igre­
ja Presbiteriana do Rio de Janeiro foi organizada no dia 12 de
janeiro de 1862, quando foram batizados os dois primeiros converti­
dos. Dentro desse mesmo critério, a Igreja Presbiteriana de São
Paulo foi organizada no dia 5 de março de 1865; a Igreja
Presbiteriana de Brotas, interior de São Paulo, no dia 13 de novem­
bro de 1865; a Igreja Presbiteriana de Lorena, também no interior
de São Paulo, no dia 17 de maio de 1868; e a Igreja Presbiteriana de
Borda daMata, interior de Minas Gerais, em 23 de maio de 1869.
Em 1865 foi organizado o primeiro presbitério - Presbitério
do Rio de Janeiro. Na primeira reunião desse presbitério foi orde­
nado o primeiro pastor brasileiro, um ex-padre, chamado José
Manoel da Conceição. No dia 14 de janeiro de 1867 começou a
funcionar o primeiro seminário, localizado no Rio de Janeiro, fun­
dado para preparar os pastores brasileiros.
O Rev. Simonton faleceu em São Paulo, no dia 8 de dezem­
bro de 1867. Mas o trabalho de evangelização e organização de
igrejas continuou.
O segundo presbitério - Presbitério de São Paulo - foi orga­
nizado no dia 13 de janeiro de 1872. E, em 1888, foi organizado o
Sínodo. Nesse ano já havia igrejas organizadas em quatorze Esta­
dos. Havia quatro presbitérios e trinta e dois pastores, sendo vinte
estrangeiros e doze brasileiros.
No dia 7 de janeiro de 1909 foi organizada a Assembléia
Geral que, a partir de 1937, passou a se chamar Supremo Concílio
da Igreja Presbiteriana do Brasil.

O SISTEMA DOUTRINÁRIO
A Igreja Presbiteriana do Brasil adota, como exposição das
doutrinas bíblicas, a Confissão de Fé de Westminster, o Catecis­
mo Maior e o Catecismo Menor ou Breve Catecismo. Nossa
única regra de fé e prática é a Bíblia Sagrada. Mas, em virtude de
a Bíblia não trazer as doutrinas já sistematizadas, adotamos a Con­
fissão de Fé e os Catecismos como exposição do sistema de
doutrinas ensinadas na Escritura.
A Confissão de Fé e os Catecismos são conhecidos, histo­
ricamente, como Símbolos de Westminster. Eles foram prepara­
dos por uma assembléia de clérigos anglicanos, congregacionais,
independentes, batistas e presbiterianos. Essa assembléia foi
convocada pelo Parlamento Inglês para elaborar os princípios de
governo, doutrina e culto que deviam reger as atividades religiosas
na Inglaterra, Escócia e Irlanda. A assembléia foi instalada no dia
l 2 de julho de 1643, com a presença de 69 membros. Fez 1.163
sessões, sem contar as reuniões de comissões e subcomissões. A
participação média variava entre 60 e 80 membros. A maior presença
foi de 96 membros. O local da reunião foi a Abadia de Westminster e,
por isso, ficou conhecida como Assembléia de Westminster.
A Confissão de Fé e os Catecismos foram aprovados pelo
Parlamento Inglês em 1648. A Igreja Presbiteriana da Escócia, a
da Inglaterra e a dos Estados Unidos da América adotaram a
Confissão de Fé e os Catecismos como padrão doutrinário. A
Igreja Presbiteriana do Brasil, na organização do Sínodo em 1888,
também fez o mesmo.

O SISTEMA DE GOVERNO
A Igreja Presbiteriana do Brasil, como organização eclesiás­
tica, adota um sistema representativo de governo. É um meio ter­
mo entre o sistema de governo episcopal, onde o governo é exer­
cido pelo bispo, e o sistema congregacional, onde as decisões são
tomadas em assembléias ou sessões, com a participação de todos
os membros. No sistema episcopal uma só pessoa decide e, por
isso, os erros são mais freqüentes. No sistema congregacional to­
dos tomam parte em todas as decisões; e os erros também são
mais freqüentes, pois nem todos estão preparados para todos os
níveis de decisão. No sistema presbiteriano, os membros reunidos
em assembléia elegem os seus representantes. E estes formam os
concílios, que são assembléias formadas por pastores e presbíteros,
que cuidam do governo da igreja em todos os níveis. Os concílios,
em ordem crescente, são. conselho, presbitério, sínodo e su­
premo concilio.

a) Governo da igreja local


Os membros da igreja elegem os presbíteros e os diáconos
para um mandato de cinco anos. Os presbíteros, juntamente com
o pastor, formam o conselho, que cuida do governo e da discipli­
na daquela igreja. Os diáconos formam a junta diaconal, que cui­
da da ordem no templo e seus arredores e da assistência social. A
ju n ta diâconal funciona sob a orientação do conselho. Alguns
atos do conselho dependem da aprovação dos membros da igre­
ja, reunidos em assembléia. Por exemplo: a aquisição ou transfe­
rência de imóveis de propriedade da igreja só poderá ser feita
mediante aprovação da assembléia.

b) Governo da igreja no nível regional


Um conjunto de igrejas forma o presbitério. As decisões do
presbitério são tomadas em assembléias constituídas por pasto­
res e presbíteros. Os pastores são membros natos do presbitério,
mas os presbíteros são representantes dos conselhos das igrejas.
Cada igreja tem um representante no presbitério.
O presbitério supervisiona o trabalho dos pastores e dos
conselhos. É ele quem faz a designação dos pastores para as igre­
jas - por iniciativa própria ou atendendo a solicitação das igrejas.
O presbitério julga os atos dos conselhos, podendo aprová-los
ou não. Qualquer membro da igreja poderá impetrar recursos no
presbitério contra decisões do conselho. Em caso de necessida­
de, o presbitério poderá intervir na igreja, interditando ou dis­
solvendo o conselho. No caso de dissolução do conselho, os
membros da igreja serão oportunamente convocados para eleger
novos presbíteros.
Acima do presbitério está o sínodo, que é constituído por
um conjunto de presbitérios. As decisões do sínodo são tomadas
em assembléias constituídas por pastores e presbíteros - repre­
sentantes dos presbitérios. O sínodo supervisiona o trabalho dos
presbitérios.
O governo da igreja no nível nacional é exercido pelo supre­
mo concílio. As decisões do supremo concílio são tomadas em
assembléias constituídas por pastores e presbíteros - representan­
tes dos presbitérios.
Os concílios exercem funções administrativas e judiciárias.
Os membros da igreja e os oficiais estão sujeitos à disciplina, apli­
cada pelo conselho. A disciplina pode ser: adm oestação, que
consiste em chamar à ordem o culpado, verbalmente ou por es­
crito, de modo reservado, exortando-o a corrigir-se; afastam en­
to da comunhão, que consiste no impedimento de participar da
santa ceia, das assembléias e de exercer qualquer atividade na igreja;
exclusão, que consiste na eliminação do membro do rol da igreja. Os
pastores estão sujeitos à disciplina, aplicada pelo presbitério.
O conselho e o presbitério, quando vão tratar de disciplina
de seus membros, transformam-se em tribunais. A pessoa discipli­
nada, se julgar a disciplina injusta, poderá recorrer ao concilio
imediatamente superior, pedindo anulação de sua disciplina. Se o
recurso for encaminhado ao presbitério, este se reunirá em tribunal
para julgá-lo. O sínodo e o supremo concílio têm o seu tribunal de
recursos, cuja função é julgar em nível de recurso os processos de
disciplina que subirem a eles.
Para se orientar no governo e na disciplina, os concílios têm a
Constituição, o Código de Disciplina e os Princípios de L itu rg ia
da Igreja Presbiteriana do Brasil. A C onstituição traz as normas
administrativas; o Código de D isciplina, as normas para discipli­
na eclesiástica dos membros da igreja, dos pastores e dos concíli­
os; e os P rin c íp io s de L itu rg ia , as normas para o culto, a
ministração dos sacramentos e das cerimônias eclesiásticas. Com­
pete a cada concílio observar essas normas em seus próprios atos
e verificar se elas estão sendo observadas pelos concílíos que es­
tão sob sua jurisdição.
Cada concílio cuida de assuntos de sua competência e super­
visiona, orienta, inspeciona e disciplina o concílio imediatamente
inferior. Um concílio não poderá determinar a maneira do concílio
imediatamente inferior agir em nenhuma matéria de sua exclusiva
competência. Mas poderá fazê-lo retroceder, reformar ou anular
qualquer deliberação que fira algum princípio doutrinário ou cons­
titucional da Igreja Presbiteriana do Brasil.
De toda reunião de cada concílio lavra-se ata pormenoriza­
da, que periodicamente é submetida à apreciação do concilio su­
perior. Isto é, as atas do conselho são submetidas ao presbitério;
as do presbitério, ao sínodo; e as do sínodo, ao supremo concílio.
Através do exame das atas, o concílio verifica se o concílio imedi­
atamente inferior está agindo dentro das normas da Igreja
Presbiteriana do Brasil.

CONCLUSÃO
Cada igreja cristã é uma parte visível da invisível Igreja de
Cristo. Uma igreja local é uma organização eclesiástica. Como or­
ganização, ela necessita de princípios e normas para se conduzir.
Mas a Igreja é mais do que uma simples organização. Ela é um
organismo. E o Corpo de Cristo. “Ora, vás' sois corpo de Cristo;
e, individualmente, membros desse corpo” (ICo 12.27). No
corpo existem muitos membros, com funções diferentes. Mas to­
dos constituem um só corpo. Por isso, não pode haver divisão,
discórdia ou porfia entre os membros do corpo. O mesmo se apli­
ca aos membros da igreja. Inimizades, porfias, ciúmes, iras, dis­
córdias, dissensões, facções e coisas semelhantes a estas não po­
dem existir na igreja. A comunhão entre os membros de uma igreja
deve gerar também comunhão entre as igrejas.
Jesus Cristo é a cabeça do corpo, da Igreja. Por isso, cada
membro, como parte desse corpo, deve ser obediente ao Senhor
Jesus Cristo.
PERGUNTAS PARA FIXAÇÃO EAPLICAÇÃO
1. Quando e por quem foi feita a primeira tentativa de implantação
do presbiterianismo em nosso país?
2. Quando e por quem foi feita tentativa de implantação do
presbiterianismo em nosso país?
3. Quem foi Ashbel Green Simonton?
4. Quem foi o segundo missionário presbiteriano a chegar ao Brasil?
5. Qual foi a primeira Igreja Presbiteriana a ser organizada em
nosso país e quando se deu tal organização?
6. Quando foi organizado o primeiro Presbitério? Qual o seu nome?
7. O que significa para a Igreja Presbiteriana do Brasil a Confis­
são de Fé de Westminster, o Catecismo Maior e o Catecismo
Menor ou Breve Catecismo?
8. Como é o sistema de governo da Igreja Presbiteriana do Brasil?
9. O que é concílio? E quais são os concílios da Igreja Presbiteriana
do Brasil?
10. Para você existe alguma diferença entre ser membro da Igreja
Presbiteriana ou ser membro de qualquer outra igreja evangéli­
ca? Justifique sua resposta.
17
0 BfiTISMO CRISTÃO
“Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizen­
do: Toda a autoridade me fo i dada no céu
e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos
de todas as nações, batizando-os em nome
do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
ensinando-os a guardar todas as coisas
que vos tenho ordenado. ’’
Mateus 28.18-20

A igreja é a organização instituída por Deus para arrebanhar


o seu povo. E o batismo é a porta de entrada na igreja.
“O batismo é um sacramento do Novo Testamento, instituído
por Jesus Cristo, não só para solenemente admitir na igreja a pes­
soa batizada, mas também para servir-lhe de sinal e selo do pacto
da graça, de sua união com Cristo, da regeneração, da remissão
dos pecados e também da sua consagração a Deus por Jesus Cristo
a fim de andar em novidade de vida.” 100
A palavra sacramento não está na Bíblia. Ela foi usada em
relação ao batismo e à ceia do Senhor, pela primeira vez, por
Tertuliano, um teólogo que viveu muitos anos após a morte de Cristo
e dos apóstolos. Mas isso não significa que ela seja imprópria para
designar as duas ordenanças deixadas por Jesus para serem
observadas por seus servos. Sacramento era o nome dado ao
juramento que o soldado fazia de fidelidade ao imperador até à
morte. E é neste sentido que nós usamos este termo. No batismo o
m Confissão de Fé de Westminster, XXVEI.I.
crente faz um juramento de fidelidade a Cristo até a morte; e quan­
do participa da Santa Ceia o crente reafirma este juramento. Por­
tanto, quando falamos em sacramento, estamos nos referindo a
uma ordenança sagrada, instituída por Jesus Cristo, para simboli­
zar, selar e aplicar ao crente os benefícios da salvação.
Jesus instituiu dois sacramentos: o batismo e a Santa Ceia.
Iremos, agora, estudar o batismo.

O SIGNIFICADO DO BATISMO
O batismo foi instituído por Jesus Cristo após a sua ressurrei­
ção. Ele ordenou aos discípulos: “Ide, portanto, fazei discípulos
de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho,
e do Espírito Santo” (Mt 28.19). “Quem crer e fo r batizado
será salvo; quem, porém, não crer será condenado” (Mc 16.16).
O batismo corresponde à circuncisão praticada na antiga ali­
ança. A circuncisão foi instituída como sinal e selo do pacto esta­
belecido com Abraão (Gn 17.9-14; Rm 4.11-13). E o batismo é o
sinal e o selo da nova aliança, estabelecida por Jesus Cristo. Mas o
batismo, por ser um sacramento da nova aliança, é ainda mais rico
de significado do que a circuncisão. Após ouvir o sermão de Pedro,
no dia de Pentecostes, quase três mil pessoas se sentiram tocadas
e lhe perguntaram: “Que farem osV (At 2.37). E a resposta foi:
“Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado” (At 2.38).

a) O batismo significa e sela a nossa união com Cristo


No capítulo 5 da Epístola aos Romanos, Paulo traça um pa­
ralelo entre Adão e Cristo. Ele mostra que, quando nascemos, nos
identificamos com Adão. E, em virtude da queda de nossos pri­
meiros pais, nascemos pecadores; “... por um só homem entrou
o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a
morte passou a todos os homens, porque todos pecaram ” (Rm
5.12). Mas quando recebemos Jesus como nosso Senhor e Salva­
dor, nós nos identificamos com ele. “Porque, como, pela desobedi-
O batismo cristão

ência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim


também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão
justos” (Rm 5.19). Por isso, a Bíblia afirma que fomos crucifica­
dos (Rm 6.6), morremos (Rm 6.8; Cl 3.3; 2Tm 2.11) e ressuscita­
mos (E f 2.6; Cl 2.12; 3.1) com Cristo. “ ... Um morreu por todos;
logo, todos morreram" (2Co 5.14), afirmou o apóstolo Paulo. E
o batismo significa e sela a nossa união com Cristo. “Fomos, pois,
sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como
Cristo fo i ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai,
assim também andemos nós em novidade de vida. Porque, se
fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente, o
seremos também na semelhança da sua ressurreição” (Rm 6.4,5).

b) O batismo significa e sela a nossa participação nas bên


çãos do pacto da graça
Antes da fundação do mundo, o Pai e o Filho estabeleceram
o pacto da redenção. O Filho “se colocou no lugar do pecador e
incumbiu-se de fazer a expiação do pecado, suportando o castigo
necessário, e de satisfazer as exigências da lei em lugar de todo o
seu povo”.101 Baseado neste pacto, Deus estabeleceu com o ho­
mem o pacto da graça. “Pode-se definir a aliança (pacto) da graça
como o acordo feito, com base na graça, entre o Deus ofendido e
o pecador ofensor, porém eleito, no qual Deus promete a salvação
mediante a fé em Cristo, e o pecador a aceita confiantemente, pro­
metendo uma vida de fé e obediência.”102 A promessa principal do
pacto da graça é que Deus será o nosso Deus e também da nossa
descendência. Esta promessa inclui bênçãos temporais e eternas.
Através dela Deus garante nos conduzir nesta vida e nos receber
no céu, após a nossa morte. E o batismo significa e sela essas
promessas. “De sorte que j á não és escravo, porém filho; e,
sendo filho, também herdeiro por Deus" (G14.7).

101Louis Berkhof, M anual de Doutrina Cristã, p. 140.


102Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p. 278.
c) O Batismo significa e sela a promessa de pertencermos ao
Senhor
Na cerimônia de recepção de membros, o celebrante costu­
ma dizer às pessoas que estão professando a fé: “A profissão de fé
e as solenes promessas que acabais de fazer diante de Deus e
desta igreja, sendo sinceras, importam em uma aliança entre vós e
Deus, na qual ele promete ser o vosso único Deus, e vós prometeis
pertencer-lhe. No batismo que agora vai ser ministrado, Deus vos
dá um penhor desta santa aliança.” 103 Nós pertencemos ao Se­
nhor. “ Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação san­
ta, povo de propriedade exclusiva de Deus” (IPe 2.9). E o ba­
tismo é o selo da propriedade divina.

d) O batismo é um meio de graça


O batismo é um meio que Deus usa para nos transmitir bên­
çãos. A Confissão de Fé nos lembra que “a eficácia do batismo
não se limita ao momento em que é administrado”.104 E o Catecis­
mo Maior nos ensina que “o dever necessário, mas muito negligenci­
ado, de tirar proveito do nosso batismo deve ser cumprido por nós
durante a nossa vida, especialmente no tempo da tentação e quan­
do assistimos à administração desse sacramento a outros” .105

BATISMO POR IMERSÃO


A forma do batismo não está claramente definida na Bíblia.
Homens piedosos, cultos e fiéis, examinando a Escritura, têm con­
cluído que o modo correto de se ministrar o batismo é a aspersão.
Outros, igualmente piedosos, cultos e fiéis, têm concluído que a
forma bíblica é a imersão.
Vamos examinar, a seguir, a interpretação imersionista.

103M anual do Culto, p. 18.


""Confissão de Fé de Westminster, XXVUIVI.
103Resposta à pergunta 167.
O batismo cristão

a ) Os im ersionistas a firm a m que a p a la v ra batismo sig­


n ific a imersão; e que o verbo batizar significa imergir. L o g o -
afirmam o batism o deve ser aplicado p o r im ersão.
A forma mais simples de testar se duas palavras são sinôni­
mas é substituir uma pela outra; se o sentido não se alterar, fica
provado que as duas têm o mesmo significado. Vamos aplicar este
teste a um texto bíblico onde aparece o verbo batizar '. “Ora, ir­
mãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos
sob a nuvem, e todos passaram pelo mar, tendo sido todos
batizados, assim na nuvem como no mar, com respeito a Moisés"
(1 Co 10.1,2). Substituindo batizar por imergir, fica assim: “... tendo
sido todos imersos, assim na nuvem como no mar, ..." Alterou o
sentido? É claro. Os israelitas atravessaram o mar a pés enxutos
(Êx 14.15-22,29). Não foram imersos no mar, nem na nuvem.
Concluímos, pois, que, neste texto, o verbo batizar não é sinôni­
mo de imergir. O argumento imersionista perde a sua força, pois o
seu pressuposto é que batizar significa sempre imergir.

b ) Os im ersionistas a rg u m e n ta m ta m b é m que o v e rb o
batizar deriva do grego bapto e baptizo, que significam imergir.
Vamos examinar dois textos onde aparecem estes verbos. O
primeiro é Daniel 4.25: e serás molhado do orvalho do céu".
Na versão grega do Antigo Testamento, chamada Septuaginta, o
particípio ‘molhado’ é bapto. E possível imergir alguém no orvalho
do céu? Claro que não é. Logo, aqui, bapto não significa, em hi­
pótese nenhuma, imergir. O segundo texto é Lucas 11.38: “O
fariseu, porém, admirou-se ao ver que Jesus não se lavara p ri­
meiro, cmtes de comer". No texto grego, lavava é o verbo baptizo.
Os judeus se lavavam antes das refeições. Mas, se lavavam como?
Marcos registrou esse costume assim: “Os fariseus e todos os
iudeus, observando a tradição dos anciãos, não comem sem
lavar cuidadosamente as mãos; quando voltam da praça, não
comem sem se aspergirem" (Mc 7.3,4). Comparando estes dois
textos, podemos afirmar que em Lucas 11.3 8 o verbo baptizo sig­
nifica aspergir e não imergir. Em alguns textos bapto e baptizo
significam imergir, em outros significam molhar, tingir e aspergir.
Novamente o argumento imersionista perde a sua força, pois eles
partem do pressuposto de que bapto e baptizo significam imergir,
e só imergir.

c) Os imersionistas afirmam também que o fato de João Ba­


tista batizar no Rio Jordão significa que ele batizava por imersão.
A expressão bíblica “João batizava no Rio Jordão” apenas
identifica a região onde João batizava, sem ter nada a ver com o
modo ou a forma como João batizava. Isto fica comprovado pelo
registro de João 10.40: “Novamente, se retirou para além do
Jordão, para o lugar onde João batizava no principio; e ali
peimaneceu”.

d) Argumentam também que se João Batista batizava em


Enom, “porque ali havia muitas águas”, isto prova que ele batizava
por imersão.
Quanto ao registro de que “ João estava também batizando
em Enom, perto de Salim, porque havia ali muitas águas, e
para lá concorria o povo e era batizado” (Jo 3.23), D. J.
Wiseman, professor de Assiriologia na Universidade de Londres,
afirma que Enom é, em árabe, Ain, que significa fonte.106 Muitas
águas aqui, portanto, significa muitas fontes de água. Enom era o lugar
apropriado para João batizar, já que multidões iam até ele, e essas
multidões precisavam de água para beber e para higiene pessoal.

e) Os imersionistas afirmam que Jesus foi batizado por


imersão, porque o registro bíblico afirma que, após ser batizado,
Jesus saiu da água.
O fato de Jesus ter saído da água após o batismo não
106Novo Dicionário da Bíblia, p. 1451.
O batismo cristão

significa que ele tenha sido batizado por imersão. Nem todas as
vezes que uma pessoa entra e sai da água configura-se uma
imersão. Às vezes uma pessoa entra e sai da água sem molhar
nada mais além dos pés.

f) No batismo do eunuco, ele e Filipe desceram á água. Por


isso os imersionistas afirmam que o eunuco foi batizado por imersão.
No caso do eunuco, ele seguia pelo caminho. E este, normal­
mente, fica num nível acima da água. Logo, para ir até onde havia
água ele teria que descer. Se descer à água significasse imersão,
teríamos que concluir que Filipe também foi imerso, pois o texto
bíblico afirma que “ambos desceram à água” (At 8.38).

g) Paulo compara o batismo a um sepultamento. Logo, con­


cluem os imersionistas, o batismo deve ser feito por imersão.
Quando Paulo afirmou que fomos sepultados com Cristo na
morte pelo batismo (Rm 6.4; Cl 2.12), ele estava se referindo ao
significado do batismo, e não ao modo de ministrá-lo. Nos mes­
mos capítulos Paulo afirma também que fomos circuncidados (Cl
2.11) e crucificados (Rm 6.6) com Cristo, prova de que ele está
tratando da nossa identificação com Cristo na sua morte, e não da
forma de se ministrar o batismo.
Além do que já foi exposto, temos outras dificuldades para
aceitar o batismo por imersão. Por exemplo: João Batista batizava
multidões (Mt 3.5,6), além de pregar. Será que ele dispunha de
tempo e energia física para imergir tanta gente? No dia de Pente­
costes foram batizadas quase três mil pessoas em Jerusalém. Não
havia rio na cidade. Apenas reservatórios de água para uso da
população. Seriam tais reservatórios suficientes para imergir três
mil pessoas? E se fossem, as autoridades deixariam os apóstolos
imergir pessoas em tais reservatórios? O carcereiro de Filipos foi
batizado logo depois da meia-noite, provavelmente no pátio da
prisão onde residia, após um terremoto que fendeu as paredes da
prisão (At 16.23-33). É possível pensar em imersão num caso como
este? Uma pessoa doente ou muito idosa não dispõe de condições
físicas para ser batizada por imersão; será que Jesus adotaria uma
forma de batismo que excluiria os doentes e idosos?

O BATISMO POR ASPERSÃO


Embora a forma do batismo não esteja clara na Bíblia, cre­
mos que muitas evidências apontam para a aspersão, ou seja, para
o derramamento de água sobre a cabeça das pessoas que estão
sendo batizadas.
Examinemos algumas destas evidências:

a) O p ro feta M a la q u ia s escreveu o seguinte: “ Eis que


eu envio o meu mensageiro, que preparará o caminho diante
de mim ” ( M l 3 .1). E Jesus a firm o u que esta profecia se re fe ­
re a João B a tis ta ( M t 11.10). A m esm a profecia d iz q u e o
m ensageiro “ purificará osfilhos deLevi ” ( M l 3 .3 ). E sta p u ­
rificação e ra fe ita aspergindo água sobre eles (N m 8 .5 -7 ). A
linguagem da profecia é simbólica. Mas a figura usada é a asper­
são. Muitos sacerdotes, filhos de Levi, foram batizados por João
Batista. E o mais provável é que tenham sido batizados por asper­
são, conforme dá a entender a profecia de Malaquias.

b ) O profeta E zequiel, profetizando sobre a restauração


de Is ra e l, disse: “Então, aspergirei água pura sobre vós, e
ficareis purificados” (E z 3 6 .2 5 ). E o p ro feta Isaías, q uand o
profetizou que o Senhor d e rra m a ria o seu E s p írito , a firm o u
tam bém que ele d e rra m a ria água “ sobre o sedento” (Is 44.3).
N o v a m e n te trata-se de linguagem fig u ra d a ; mas a fig u ra
usada é a aspersão. Isto nos leva a concluir que a aspersão de
água é o modo escolhido por Deus para marcar o seu povo. O
batismo de João era, entre outras coisas, a marca de uma nova
era. Era o selo colocado sobre as pessoas que se arrependiam de
seus pecados. Logo, provavelmente era feito por aspersão.
O batismo cristão

c) Jesus fa lo u aos discípulos sobre o batism o com o Es­


p írito S anto que eles re c eb e ria m , usando a m esm a co n s tru ­
ção g ra m a tic a l usada p a ra fa la r sobre o batism o com água.
Ele disse: “João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis
batizados com o Espírito Santo" (At 1.5). No dia de Pentecostes
eles receberam este batismo: “Ao cumprir-se o dia de Pentecos­
tes, estavam todos reunidos no mesmo lugar;... Todosficaram
cheios do Espírito Santo” (At 2.1,4). Pedro se referiu a esta ex­
periência ao defender-se por ter batizado Comélio e seus familia­
res. Ele disse: “Quando, porém, comecei afalar, caiu o Espírito
Santo sobre eles, como também sobre nós, no princípio. Então,
me lembrei da palavra do Senhor, quando disse: João, na ver­
dade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espí­
rito Santo" (At 11.15,16). O bserve que no batism o com o E s­
p írito Santo, o E s p írito caiu sobre as pessoas. J á que a cons­
trução g ram atical é a mesma, no batism o com água, esta deve
c a ir sobre a pessoa que está sendo b a tiza d a .

d ) A in d a que ficasse provado que João B atista b a tiza v a


p o r im ersão, q u e Jesus foi b a tiza d o p o r im ersão e q u e os
apóstolos b a tiza v a m p o r im ersão, poderíam os c o n tin u a r b a ­
tizand o por aspersão, sem desobedecer à B íb lia Sagrada. Pois
no batismo a água é símbolo. Logo, não importa a quantidade.
Pois é desse modo que procedemos na Ceia do Senhor. Usamos
uma pequena quantidade de pão e vinho, mesmo sabendo que Je­
sus usou quantidades normais desses elementos. A Ceia celebrada
por Jesus era uma refeição. A que celebramos hoje faz parte do
culto. E nem por isso estamos desobedecendo ao Senhor.
Como a Bíblia não diz explicitamente a forma como o ba­
tismo deve ser feito, praticamos a aspersão, pois ela é mais prática
- pode ser praticada em qualquer lugar, em qualquer circunstância
e com qualquer pessoa, mesmo que o batizando seja um enfermo,
uma pessoa muito idosa ou um paralítico. Nós cremos que Deus
não determinaria uma forma de batismo que discriminasse qualquer
pessoa por deficiência física. E a aspersão não discrimina ninguém.

CONCLUSÃO
A pessoa que recebeu Jesus como Salvador e Senhor está
salva, quer tenha sido batizada ou não. Quem salva é Jesus, e não
o batismo. Mas quem recebe Jesus deve também receber o batis­
mo. Jesus e os apóstolos falaram do batismo como uma obriga­
ção, e não como uma opção. A nossa Confissão de Fé afirma que
é “grande pecado desprezar ou negligenciar esta ordenança”.
A experiência tem mostrado que, assim como o sedento an­
seia pela água, o verdadeiro convertido anseia pelo batismo.

PERGUNTAS PARA FIXAÇÃO EAPLICAÇÃO


1. Que é sacramento?
2. Quantos e quais são os sacramentos instituídos por Jesus Cristo?
3. O batismo corresponde a que ordenança da antiga aliança?
4. Cite três significados do batismo.
5. O verbo batizar significa imergir? Por quê?
6. O fato de João Batista batizar no rio Jordão significa que ele
batizava por imersão? Por quê?
7. O fato de Jesus ter saído da água após o seu batismo significa
que ele foi batizado por imersão? Por quê?
8. Cite algumas de nossas dificuldades para aceitar o batismo por
imersão.
9. Se ficasse provado que Jesus foi batizado por imersão, podería­
mos continuar batizando por aspersão, sem desobedecer à Bí­
blia Sagrada? Por quê?
10.Quais são as vantagens práticas da aspersão?
18
O BfiTISMO DOS
FILHOS DOS CRENTES
“Pois para vós outros é a promessa, para
vossos filhos e para todos os que ainda
estão longe, isto é, para quantos o Senhor,
nosso Deus, chamar. ”
Atos 2.39

Deus faz tudo perfeito. Quando ele fez o plano para a nossa
salvação, incluiu uma organização para nos arrebanhar, Na antiga
aliança, essa organização era a congregação de Israel, formada
pela nação israelita. Na nova aliança, é a igreja, formada pelos
servos de Jesus Cristo.
A essa altura surge uma pergunta: E as crianças? Elas herda­
ram a culpa de Adão e já nasceram pecadoras. E ainda não dis­
põem de maturidade psíquica e emocional para entender o evan­
gelho e receber Jesus como Salvador e Senhor. Qual é a situação
espiritual das crianças?
A Bíblia Sagrada mostra que as crianças são herdeiras espi­
rituais de seus pais. Quando os pais se rebelam contra Deus, as
crianças também sofrem as conseqüências. Mas, quando os pais
são fiéis, elas também são beneficiadas.
Os filhos de crentes são herdeiros espirituais de seus pais.
Pertencem ao Senhor. Por isso têm direito de receber o batismo e
pertencer à igreja.
As crianças que morrem na infância são salvas, independente
171
da situação espiritual de seus pais. Elas são regeneradas e sal­
vas por Cristo, “mediante o Espírito que opera quando, onde e
como quer” .107

O BATISMO EA CIRCUNCISÃO
O apóstolo Paulo mostra que o batismo equivale à circunci­
são. Ele escreveu: “Nele, também fostes circuncidados, não por
intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne,
que é circuncisão de Cristo; tendo sido sepultados, juntamente
com ele, no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados
mediante a f é no poder de Deus que o ressuscitou dentre os
mortos” (Cl 2.11,12).
Na antiga aliança as crianças eram circuncidadas. Quando
Deus estabeleceu a aliança com Abraão, ele instituiu a circuncisão
como sinal e selo do pacto. “Disse mais Deus a Abraão: Guar­
darás a minha aliança, tu e a tua descendência no decurso das
suas gerações. Esta é a minha aliança, que guardareis entre
mim e vós e a tua descendência: todo macho entre vós será
circuncidado. ...O incircunciso, que não fo r circuncidado na
carne do prepúcio, essa vida será eliminada do seu povo; que­
brou a minha aliança" (Gn 17.9,10,14), A circuncisão, por sua
natureza, se aplicava apenas às pessoas do sexo masculino. De
acordo com os costumes da época, as mulheres não tinham au­
tonomia para tomar as sua próprias decisões. Elas eram sempre
representadas por um homem: quando solteiras, pelo pai; quando
casadas, pelo marido. Por isso, elas não precisavam receber ne­
nhum sinal do pacto.
Quando Jesus estabeleceu a nova aliança, ele instituiu o ba­
tismo como sinal e selo deste novo pacto. Ele ordenou: “Ide, por­
tanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome
do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guar­
dar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mt 28.19,20).
107Confissão de Fé de Westminster, Declaração Explicativa, parágrafo II.

172
“Quem crer e fo r batizado será salvo; quem, porém, não crer
será condenado” (Mc 16.16).
A equivalência entre circuncisão e batismo é bem clara.
Lembremo-nos de que a antiga aliança foi feita com Abraão; e
para fazer parte dessa aliança a pessoa tinha que pertencer à des­
cendência de Abraão - por nascimento, por adesão ou por ter
sido comprada. Mas Deus estabeleceria uma nova aliança, me­
diante Jesus Cristo, onde a consangüinidade seria substituída pela
fé. Discorrendo sobre essa nova aliança, o apóstolo Paulo, inspi­
rado pelo Espírito Santo, mostrou que, nela, a descendência de
Abraão ocorre mediante a fé, e não mediante laços consangüíne-
os. Ele escreveu: “Sabei, pois, que os da fé é que são filh o s de
Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria
pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti,
serão abençoados todos os povos. De modo que os da f é são
abençoados com o crente Abraão. Cristo nos resgatou da mal­
dição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar,
porque está escrito: Maldito todo aquele que fo r pendurado
em madeiro; para que a bênção de Abraão chegasse aos genti­
os, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pelafé, o Espí­
rito prometido’'1(G1 3.7-9,13,14). Portanto, para fazer parte da
nova aliança a pessoa precisa crer em Jesus Cristo como Salvador
e Senhor. O sinal e selo da antiga aliança era a circuncisão. O sinal
e selo da nova aliança é o batismo. Na antiga aliança, o Senhor
mandou circuncidar (Gn 17.9-14); na nova aliança, o Senhor man­
dou batizar (Mt 28.18-20; Mc 16.15-18; Lc 24.44-49). Se os
filhos dos crentes da antiga aliança recebiam o sinal e selo da alian­
ça, somos levados a concluir que os filhos dos crentes da nova aliança
devem receber o batismo, que é o sinal e selo dessa aliança.
Algumas pessoas perguntam: se o batismo equivale à circun­
cisão, por que Jesus e os apóstolos foram batizados, se eles tinham
sido circuncidados? A resposta é que Jesus e os apóstolos vive­
ram no período de transição entre a antiga e a nova aliança. Eles
foram circuncidados porque eram descendentes de Abraão e perten­
ciam à antiga aliança. Foram batizados porque pertenciam à nova
aliança, estabelecida por Jesus Cristo. Eles pertenceram às duas
alianças e receberam o sinal e selo de ambas: a circuncisão e o
batismo. Da mesma forma, eles celebravam a páscoa, que fazia
parte da antiga aliança, e a ceia do Senhor, que faz parte da
nova aliança.
O BATISMO DOS FILHOS DOS CRENTES NO NOVO TES­
TAMENTO
Apesar de todas essas evidências, algumas pessoas ainda in­
sistem na pergunta: Onde está escrito na Escritura Sagrada que os
filhos dos crentes devem ser batizadas? Explicitamente não está
escrito em lugar nenhum. Mas a ausência de tal determinação explí­
cita não anula aquilo que se pode deduzir através de outros ensi­
nos. Caso dependêssemos de uma ordem explícita, registrada na
Escritura, para estabelecermos práticas na igreja, não poderíamos
permitir que as mulheres participassem da ceia do Senhor, pois
quando a ceia foi instituída só homens participaram, e não existe
nenhum texto que afirma explicitamente que as mulheres também
devem participar da ceia. No entanto, ninguém questiona o direito
que as mulheres têm de participar desse sacramento.
O Novo Testamento não diz explicitamente que os filhos dos
crentes devem ser batizadas. Mas implicitamente isso. Veja estas
três inferências bem claras:
a) O apóstolo Paulo relaciona o batismo com a circuncisã
sem afirmar que as crianças estão excluídas do batismo. A equiva­
lência entre batismo e circuncisão é muita clara, conforme já vi­
mos. Na antiga aliança, as crianças que nasciam dentro do pacto,
isto é, os descendentes de Abraão, eram circuncidadas ao oitavo
dia. Já que o batismo é “a circuncisão de Cristo” (Cl 2.11) na
nova aliança, seria necessária uma ordem explícita para que as cri­
anças que nascem no pacto, isto é, filhos de crente, fossem im­
pedidas de recebê-lo.
b) O Novo Testamento registra o batismo de pelo menos três
famílias inteiras, sem mencionar que as crianças não foram batizadas.
Lídia foi batizada juntamente com toda a sua casa (At 16.15); o
carcereiro foi batizado, e também todos os seus (At 16.33). Paulo
declara ter batizado “a casa de Estéfanas” (1 Co 1.16). Será que
nessas famílias não havia criança?
c) No batismo da casa de Lídia está claro que as crianças
foram batizadas. “Certa mulher, chamada Lídia, da cidade de
Tiatira, vendedora de púrpura, temente a Deus, nos escutava;
o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo
dizia. Depois de ser batizada, ela e toda a sua casa, nos rogou,
dizendo: Se julgais que eu sou fie l ao Senhor, entrai em minha
casa e aíficai. E nos constrangeu a isso” (At 16.14,15). Lídia e
toda a sua casa receberam o batismo. Nesse mesmo capítulo está
registrado o batismo do carcereiro e de todos os seus. No caso do
carcereiro, está registrado que “ele, com todos os seus, mani­
festava grande alegria, por terem crido em Deus” (At 16.34).
Logo, entre os filhos do carcereiro havia adultos que também cre­
ram e foram batizados. Mas, no caso de Lídia, o registro bíblico
cita apenas a conversão dela. Mas ela e toda a sua casa foram
batizados. Se seus filhos eram adultos, então foram batizados sem
conversão. Paulo não faria isso. Logo, os filhos de Lídia eram cri­
anças, que foram batizadas juntamente com sua mãe.
Mas existe ainda uma outra objeção a ser respondida. E a
que se refere à necessidade de fé para se receber o batismo. Jesus
afirmou: “Quem crer efor batizado será salvo”. E algumas pes­
soas, baseadas nesse texto, afirmam que as crianças não podem
ser batizadas porque não têm maturidade psíquica e emocional para
exercer a fé. Só que tais pessoas se esquecem de que o texto diz
também:.. quem, porém, não crer será condenado”. Se o tex­
to se referisse também às crianças, teríamos que concluir que elas
serão condenadas. Mas Jesus disse que delas “é o reino de Deus”
(Mc 10.14). Logo, o texto se refere aos adultos que iam ouvir o
evangelho. Se eles cressem e recebessem o batismo, estariam sal­
vos. Se não cressem, seriam condenados.
O batismo de criança é praticado na igreja cristã desde o seu
início, como parte da doutrina dos apóstolos. Existem registros
históricos da maior confiabilidade mostrando a prática do batismo
infantil na igreja, desde o seu início. Orígenes, grande teólogo e
escritor cristão, nascido no ano 185, em suas Homilias em Lucas,
afirma: “portanto as crianças são também batizadas”; em seus Ser­
mões sobre Levítico ensina que “as crianças também, segundo o
costume da igreja” eram batizadas; e em seu Comentário de Ro­
manos registra que “a igreja recebeu dos apóstolos a tradição de
batizar também as crianças”. Hipólito, outro grande teólogo e es­
critor cristão do século II, em sua obra Tradição Apostólica,
testemunha que a igreja cristã daquela época batizava crianças.
Tertuliano, considerado o primeiro teólogo latino, em sua obra De
Baptismo, escrita por volta dos anos 200-206, embora tenha co­
metido alguns desvios doutrinários, também testemunha que a igreja
cristã batizava crianças.108 Só a partir do século XVI, com o
surgimento dos anabatistas, é que o batismo de crianças passou a
ser contestado.

OS BENEFÍCIOS DO BATISMO DOS FILHOS DOS CRENTES


Alguns pais perguntam: o que vou ganhar batizando meus filhos?
Esta pergunta deveria ser acompanhada de uma outra: o que
vou perder se não batizar meus filhos?
Na antiga aliança, a criança que não fosse circuncidada era
excluída do pacto, não pertencia ao Senhor (Gn 17.14). Por ana­
logia, somos levados a concluir que os pais que não apresentam
seus filhos para o batismo os estão excluindo da nova aliança. Isto
não significa que esses pais estão condenando seus filhos ao in­
ferno. Mas os estão colocando na mesma condição dos filhos da­
queles que não têm Jesus como Salvador e Senhor. É a mesma
108Áureo Rodrigues de Oliveira, O Estandarte, março de 1998, p. 14.

176
situação de um pai muito rico que deixa de reconhecer um filho.
Esse filho fica excluído da herança, a não ser que ele provoque
esse reconhecimento por via judicial. Em Cristo nós temos uma
grande herança de bênçãos espirituais; e não é justo privarmos os
nossos filhos dessa herança.
Os nossos filhos, como nossos herdeiros espirituais, têm di­
reito às mesmas bênçãos que nos estão reservadas. Eles perten­
cem ao Senhor, por isso são guiados e protegidos pelo Senhor.
Eles só perderão o direito a tais bênçãos se nós os excluirmos do
pacto. Quando se tomam adultos, eles passam a responder espiri­
tualmente por eles próprios. Aí compete a eles decidir se vão per­
manecer na fé em que foram criados e confirmar isso através da
aceitação de Jesus como Salvador pessoal e Senhor, ou se vão
renunciar às bênçãos de pertencer ao Senhor. Não existe meio
termo. Jesus afirmou: “Quem não é por mim é contra mim; e
quem comigo não ajunta, espalha’'’ (Mt 12.30).
Alguns pais alegam que não apresentam seus filhos para o
batismo porque religião é algo muito pessoal, cuja escolha deve
ser feita pelo próprio indivíduo. Preferem instruir seus filhos e dei­
xar que eles mesmos, na idade apropriada, escolham o caminho
que devem seguir. Mas esses mesmos pais “não sentem o mesmo
embaraço quando lhes escolhem um nome, vestuário, alimento,
medicamentos, educação, etc. Qual pai ou mãe que espera o filho
ou a filha crescer para decidir sozinho se quer ir à escola, comer
determinado alimento indispensável à saúde, decidir se toma ou
não vacina, se quer ou não ir ao médico? Ora, se nós, no propósito
de fazer o melhor para o bem-estar dos filhos, tomamos decisões
que irão afetá-los por toda a vida, por que não consagrá-los a
Deus pelo batismo, quando Deus tem promessas e deseja salvar
toda a família?” 109
Mas as bênçãos espirituais que nossos filhos irão receber
como nossos herdeiros, não dependem apenas do batismo, mas
l0’Ãureo Rodrigues de Oliveira, O Estandarte, fevereiro de 1998, p. 14.

177
também da nossa fidelidade ao Senhor. Acã tinha sido circuncida­
do, circuncidara seus filhos, mas se tornou infiel ao Senhor. Como
resultado, morreu juntamente com toda a sua família (Js 7.16-26).
Crentes infiéis não têm herança de bênçãos espirituais para legar
aos seus filhos, mesmo que os apresentem para receber o batismo.

CONCLUSÃO
O povo de Deus é formado por adultos e crianças. Os adul­
tos receberam Jesus como Salvador e Senhor. São filhos de Deus.
Pertencem ao Senhor. As crianças, seus filhos, são herdeiras espi­
rituais dos pais. Como herdeiras espirituais, têm direito às mesmas
bênçãos. Por isso devem ser batizadas. Deixar de batizá-las é ex­
cluí-las dessa herança bendita.
O nosso Deus é também o Deus de nossos filhos.

PERGUNTAS PARA FIXAÇÃO EAPLICAÇÃO


1. Qual é a situação espiritual das crianças?
2. Qual é o destino da alma das crianças que morrem na infância?
Por quê?
3. Por que as mulheres não recebiam nenhum sinal ou selo na
antiga aliança?
4. Por que Jesus e os apóstolos foram circuncidados e também
batizados?
5. Marcos 16.16 se refere a crianças? Por quê?
6. Quando e como surgiu a contestação do batismo de filhos de
crentes?
7. Qual é o grande prejuízo que os pais crentes causam aos seus
filhos quando deixam de apresentá-los para o batismo?
8. Nossos filhos são nossos herdeiros espirituais? Por quê?
9. O filho de crente tem assegurada a sua salvação? Por quê?
10.Além do batismo, de que mais dependem as bênçãos espirituais
que nossos filhos podem receber?
19
6 SflNTfi CEIfl
“Porque eu recebi do Senhor o que
também vos entreguei: que o Senhor
Jesus, na noite em que fo i traído, to­
mou o pão; e, tendo dado graças, o
partiu e disse: Isto é o meu corpo, que
é dado por vós; fazei isto em memória
de mim. Por semelhante modo, depois
de haver ceado, tomou também o cáli­
ce, dizendo: Este cálice é a nova ali­
ança no meu sangue; fazei isto, todas
as vezes que o beberdes, em memória
de mim. ”
1 Coríntios 11.23-25

Jesus Cristo instituiu dois sacramentos: o batismo e a ceia do


Senhor. O batismo é a porta de entrada na igreja. E a ceia do
Senhor tem como objetivo fortalecer espiritualmente os crentes e
manter a unidade da igreja. “Os crentes comungam recebendo juntos
o emblema do corpo partido do Senhor e bebendo do vinho, sím­
bolo do seu sangue derramado, significando com isso que lhes cum­
pre como igreja pensar unanimemente na fonte - Cristo - de onde
promana a salvação.” 110
Assim como o batismo é o sucessor da circuncisão, a ceia do
Senhor é a sucessora da páscoa.

110 Manford George Gutzke, Palavras Chaves da Fé Cristã, p. 244.

179
A PÁSCOA
Quando Deus chamou Abraão para servi-lo, fez-lhe várias
promessas: de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e
te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção/ Abençoarei os
que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem;
em ti serão benditas todas as fam ílias da terra” (Gn 12.2,3).
Mais tarde Jacó, a quem Deus deu o nome de Israel, neto de
Abraão, foi com sua família para o Egito. Eram apenas setenta
pessoas (Gn 46.27). “Mas osfilhos de Israelforam fecundos, e
aumentaram muito, e se multiplicaram, e grandemente seforta­
leceram, de maneira que a terra se encheu deles” (Ex 1.7). E o
rei, Faraó, resolveu escravizá-los.
Quando Deus ordenou a Moisés que retirasse os israelitas do
Egito e os conduzisse para Canaã, o rei se opôs. Não queria per­
der a mão de obra gratuita. Então Deus mandou uma série de pra­
gas sobre o Egito. A última delas foi a morte dos primogênitos.
“Moisés disse: Assim diz o S e n h o r : Cerca da meia-noite passa­
rei pelo meio do Egito. E todo primogênito na terra do Egito
morrerá, desde o primogênito de Faraó, que se assenta no seu
trono, até ao primogênito da serva que está junto à mó, e todo
primogênito dos animais. Haverá grande clamor em toda a
terra do Egito, qual nunca houve, nem haverá jamais; porém
contra nenhum dos filhos de Israel, desde os homens até aos
animais, nem ainda um cão rosnará, para que saibais que o
S en h o r fa z distinção entre os egípcios e os israelitas” (Ex 11.4-7).
Os israelitas deviam sacrificar um cordeiro sem defeito, ma­
cho de um ano, e, com o seu sangue, marcar as ombreiras e a
verga da porta de sua casa. Cada família devia sacrificar um cordeiro.
Se a família fosse pequena, podia convidar o vizinho mais próximo.
O que Deus prometeu realmente se cumpriu. “Aconteceu que,
ci meia-noite, feriu o S e n h o r todos os primogênitos na terra do
Egito, desde o primogênito de Faraó, que se assentava no seu
trono, até ao primogênito do cativo que estava na enxovia, e
todos os primogênitos dos animais. ... Não havia casa em que
não houvesse morto” (Êx 12.29,30). Mas na casa dos israelitas
nada acontecera, nem o rosnar de um cão.
Deus deu a este acontecimento o nome de páscoa (pesah,
em hebraico, que vem de um verbo que significa passar por cima,
poupar). E ordenou que ela fosse comemorada todos os anos.
“Páscoa significa, naturalmente, duas coisas: o acontecimento his­
tórico e sua posterior comemoração repetida.” 111
Mas a páscoa tem ainda um terceiro significado: o cordeiro
sacrificado era um tipo de Jesus Cristo, “nosso CordeiropascaF
(1 Co 5.7). Assim como o sangue do cordeiro livrou os primogêni­
tos dos israelitas da morte, o sangue de Jesus, “nosso Cordeiro
pascaF, nos livra da morte eterna, da condenação ao inferno.

A INSTITUIÇÃO DA SANTA CEIA


Nos dias de Jesus, a páscoa era comemorada com o sacrifí­
cio do cordeiro, com os pães asmos (sem fermento) e mais quatro
elementos:
a) uma taça de água salgada, para relembrar as lágrimas der­
ramadas no Egito e as águas salgadas do mar Vermelho, que os
israelitas atravessaram a pés enxutos;
b) várias ervas amargas, para recordar a amargura da escra­
vidão, e o hissopo usado para borrifar o sangue do cordeiro nas
ombreiras e na verga da porta da casa dos israelitas, quando Deus
mandou a praga da morte dos primogênitos;
c) uma massa feita de maçã, romã, tâmara e nozes, chamada
carosheth, para recordar o barro que usavam no Egito para fazer
tijolos; pedaços de casca de canela eram colocados na sopa para
lembrar a palha que usavam para secar e queimar os tijolos.
d) quatro copos de vinho, para recordar-lhes as quatro pro­
messas registradas em Êxodo 6.6,7: “ Ew s o u o S e n h o r , e vos ti­
rarei de debaixo das cargas do Egito, e vos livrarei da sua
111 Novo Dicionário da Bíblia, p. 1206.
servidão, e vos resgatarei com braço estendido e com grandes
manifestações de julgamento. Tomar-vos-ei por meu povo e
serei vosso Deus; e sabereis que eu sou o S e n h o r , v o s s o Deus,
que vos tiro de debaixo das cargas do Egito”. Durante a celebra­
ção cantavam os Salmos 113 a 118 e, para encerrar, o Salmo 136.
Lucas registra que Jesus, aos doze anos de idade, participou
da comemoração da páscoa, em Jerusalém, em companhia de seus
pais (Lc 2.41-50). Provavelmente esta participação se repetiu du­
rante toda a vida terrena de Jesus.
Numa quinta-feira, possivelmente no dia 6 de abril do ano
30, Jesus celebrou a páscoa pela última vez e instituiu a Santa Ceia.
“Enquanto comiam, tomou Jesus um pão, e, abençoando-o, o
partiu, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o
meu corpo. A seguir, tomou um cálice e, tendo dado graças, o
deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o
meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em f a ­
vor de muitos, para remissão de pecados'''’ (Mt 26.26-28).
A páscoa apontava, ao mesmo tempo, para o passado e para
o futuro. Era a comemoração da saída do Egito e a prefiguração
do sacrifício do Messias. O cordeiro pascal apontava para Jesus.
Mas o futuro tinha chegado. Jesus seria sacrificado no dia seguinte,
como “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo
1.29). Seria estabelecida uma nova aliança entre Deus e seu povo,
onde os laços de sangue seriam substituídos por laços de fé. Na
antiga aliança, o povo de Deus era constituído pelos descendentes
de Abraão; na nova aliança, é constituído por todos aqueles que
recebem Jesus como Salvador e Senhor (Jo 1.11,12; G13.7-9).
Portanto, era necessário substituir a páscoa por uma celebração
que representasse a nova situação. E, por isso, Jesus instituiu a
Santa Ceia.
“A ceia do Senhor é o sacramento que comemora e procla­
ma o sacrifício único, perfeito e completo que Cristo fez para a
nossa redenção. Ela se caracteriza por apresentar uma ou mais
verdades espirituais mediante sinais visíveis e externos. A ceia do
Senhor é uma representação simbólica da morte de Cristo (1 Co
11.24-26), um símbolo da nossa participação no sacrifício e na
vitória de Cristo (Jo 6.53) e, também, um símbolo da união espi­
ritual de todos os crentes (IC o 10.17; 12.13). A ceia do Se­
nhor é um meio de graça, isto é, um meio que Deus usa para
nos alimentar espiritualmente, promovendo assim o nosso cres­
cimento espiritual.” "2

A PRESENÇA DE JESUS NOS ELEMENTOS DA CEIA


As palavras de Jesus “isto é o meu corpo” e “isto é o meu
sangue” têm sido interpretadas de quatro maneiras diferentes.
a) A Igreja Católica Romana afirma que, mediante a consa­
gração dos elementos, pelo sacerdote, a substância do pão (hós­
tia) se transforma em corpo de Cristo, e a substância do vinho se
transforma em sangue de Jesus. Por isso, esta doutrina é chamada
transubstanciação.
b) Os luteranos e afins rejeitaram a transubstanciação. Eles
entendem que o pão continua sendo pão e o vinho continua sendo
vinho. Mas Junto com as substâncias do pão e do vinho estão, no
ato da celebração, as substâncias da carne e do sangue de Jesus.
Por isso, esta doutrina é chamada consubstanciação.
c) Zwínglio rejeitou a transubstanciação e a consubstan­
ciação. Para ele, a ceia é um memorial do que Cristo fez pelos
pecadores e um ato de reafirmação de fé do participante. Esta
doutrina chama-se memorial. É a doutrina adotada pela maioria
das Igrejas Batistas e pentecostais.
d) Calvino, embora herdeiro do movimento de reforma inici­
ado por Zwínglio, não concordou com a interpretação de
memorial. Para ele, o pão e o vinho não se transformam em outra
substância, como afirma a transubstanciação. A substância do
corpo e do sangue de Jesus não se soma à substância do pão e do
112 Adão Carlos Nascimento, A Razão de Nossa Fé, p. 35.

183
vinho, como interpreta a consubstanciação. Mas, também, a ceia
não é um simples memorial. Jesus está presente espiritualmente
no pão e no vinho. Esta presença espiritual é tão real como o pão
e o vinho. Por isso, ao participar do pão e do vinho, o crente par­
ticipa espiritualmente do corpo e do sangue de Jesus. E, assim
como pão e vinho alimentam o corpo, a presença espiritual de Je­
sus nos elementos da ceia alimenta espiritualmente o participante.
Esta é a doutrina aceita pela Igreja Presbiteriana.
OS BENEFÍCIOS DA PARTICIPAÇÃO DA CEIA
A doutrina da presença espiritual de Jesus nos elementos da
Santa Ceia, que está intimamente ligada à concepção dos benefíci­
os da participação da Ceia, foi resumida pelo teólogo Charles
Hodge, da seguinte forma: “As virtudes e os efeitos do sacrifício
do corpo do Redentor na cruz se fazem presentes no sacramento
e, neste, são comunicados ao participante digno pelo poder do
Espírito Santo, que utiliza o sacramento como seu instrumento, se­
gundo sua vontade soberana.” 113
Reconhecemos que é muito mais cômodo adotar o ensino de
Zwínglio de que a Santa Ceia é apenas um memorial. Mas não é
possível sustentar tal doutrina diante do ensino de Paulo em 1 Corín-
tios 11.23-32. Se a Ceia é apenas um memorial, como sustentar
que “aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, in­
dignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor”? E que
“quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo
para « ”? E como entender que, em Corinto, havia muitas pessoas
fracas e doentes, e algumas até tinham falecido, pelo fato de have­
rem participado da Santa Ceia de maneira indevida? Tudo isso
evidencia que a Santa Ceia é mais do que um memorial do que
Cristo fez pelos pecadores e um ato de reafirmação de fé do parti­
cipante. Jesus está presente, espiritualmente, no pão e no vinho da
Santa Ceia. E, assim como pão e vinho são alimentos para o cor­
po, a presença espiritual de Jesus alimenta a nossa alma.
113citado por Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p. 660.
A ceia do Senhor é um meio de graça, isto é, um meio que
Deus usa para nos nutrir e fortalecer espiritualmente. Por isso, de­
vemos participar dela regularmente. Na antiga aliança, o israelita
que deixasse de participar da páscoa, sem justificativa, era eli­
minado do povo de Deus (Nm 9.13). Na nova aliança, o crente
que deixa de participar da ceia do Senhor, sem justificativa,
está fechando um canal de bênçãos para a sua vida e se aniqui­
lando espiritualmente.
Mas não basta participar, é necessário também que a partici­
pação seja correta. O apóstolo Paulo escreveu aos coríntios que a
causa de existir entre eles “muitosfracos e doentes” (1 Co 11.30)
era a falta de discernimento na participação da ceia do Senhor. O
crente deve examinar a si mesmo, preparar-se e participar da ceia
do Senhor. Quem se examina e deixa de se preparar e de partici­
par, está negando o Senhor Jesus Cristo; está dizendo “sim” ao
pecado e “não” a Cristo.
“Qual é, pois, a função da Santa Ceia? A de um balanço nas
contas, a de uma limpeza na casa, a de um banho no corpo... Isso
tudo não pode ser adiado, segundo interesses pessoais, sem gra­
ves prejuízos.” 114

CONCLUSÃO
Os dois sacramentos instituídos por Jesus Cristo - o batismo
e a ceia do Senhor - são sinais e selos do pacto da graça. Eles são,
também, o instrumento que Deus usa para fazer uma diferença visí­
vel entre os que pertencem à igreja e os de fora. Por isso, os que
são de Cristo devem receber o batismo e participar regulamente
da ceia do Senhor.

114Júlio Andrade Ferreira, - Antologia Teológica, UI Volume, p. 91.

185
PERGUNTAS PARA FIXAÇÁO E APLICAÇÃO
1. Qual é o objetivo da ceia do Senhor?
2. Que é que os israelitas deviam fazer para marcar suas casas na
noite da morte dos primogênitos?
3. Que é páscoa?
4. O cordeiro sacrificado na páscoa era um tipo de quem?
5. Que é ceia do Senhor?
6. Que é transubstanciação?
7. Que é consubstanciação?
8. Qual era o pensamento de Zwínglio sobre a ceia do Senhor?
9. Como a Igreja Presbiteriana entende a presença de Jesus nos
elementos da ceia do Senhor?
10.O que significa a ceia do Senhor para você?
20
DÍZIMO E OFERTfiS
“Roubará o homem a Deus? Todavia, vós
me roubais e dizeis: Em que te roubamos?
Nos dízimos e nas ofertas. ”
Malaquias3.8

Antes da fundação do mundo, Deus estabeleceu um plano


para a nossa salvação. E esse plano inclui uma organização para
nos arrebanhar. A congregação de Israel, constituída dos cidadãos
da nação israelita, era a instituição que reunia o povo de Deus na
antiga aliança. Quando Jesus estabeleceu a nova aliança, ele insti­
tuiu a igreja para arrebanhar e congregar o seu povo, substituindo,
assim, a congregação de Israel.
Todas as organizações necessitam de recursos financeiros para
funcionar. E a instituição que congrega o povo de Deus não é uma
exceção. A congregação de Israel precisava de recursos para man­
ter o santuário e sustentar os levitas. A igreja necessita de recursos
para manter o templo e suas instituições e para sustentar aqueles
que se dedicam ao seu serviço. Por isso, Deus requer do seu povo
o dízimo e as ofertas.

O DÍZIMO NO ANTIGO TESTAMENTO


Abraão foi o primeiro crente a dar o dízimo. Ele encontrou
Melquisedeque, sacerdote do Deus Altíssimo, e “c/e tudo lhe deu
... o dízimo” (Gn 14.20). Mais tarde, o seu neto, Jacó, após uma
experiência da presença de Deus, fez um voto ao Senhor, onde
incluiu o compromisso de entregar o dízimo (Gn 28.18-22).
Quando Deus deu a lei, através de Moisés, a entrega do dízimo
foi incluída entre as obrigações do povo de Deus. O que antes era
estabelecido pelo costume, foi incorporado à lei. “Também todas
as dízimas da terra, tanto dos cereais do campo como dos fr u ­
tos das árvores, são do S e n h o r ; santas são ao S e n h o r ” (Lv
27.30). Os dízímos seriam usados para o sustento da tribo de Levi,
que se dedicava ao serviço do santuário. “Aosfilhos de Levi dei
todos os dízimos em Israel por herança, pelo ser\>iço que pres­
tam, serviço da tenda da congregação” (Nm 18.21). Em
Deuteronômio 14.28,29 está escrito que o dízimo seria usado tam­
bém para amparo dos órfãos, das viúvas e de pessoas carentes.
“O dízimo era uma espécie de termômetro da vida espiritual
do povo de Deus. Nos tempos em que se mantinham fiéis a Deus,
davam também o dízimo. Quando, porém, vinham períodos de peca­
do e desobediência, negligenciavam o pagamento do dízimo.” 115
O último livro do Antigo Testamento traz uma repreensão
severa àqueles que não entregavam o dízimo e um apelo veemente
para que contribuíssem fielmente. “Roubará o homem a Deus?
Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos
dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, p o r­
que a mim me roubais, vós, a nação toda. Trazei todos os dízimos
à casa do Tesouro, para que haja mantimento na minha casa;
e provai-me nisto, diz o S e n h o r dos Exércitos, se eu não vos
abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós bênção sem
medida” (Ml 3.8-10).
O DÍZIMO NO NOVO TESTAMENTO
Jesus sancionou a doutrina do dízimo. Ele disse: “Ai de vós,
escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da horte­
lã, do endro e do cominho, e tendes negligenciado os preceitos
mais importantes da lei: ajustiça, a misericórdia e a fé ; devíeis,
porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas” (Mt 23.23). Ele
condenou os escribas e fariseus porque negligenciavam os precei­
tos mais importantes da lei, a justiça, a misericórdia e a fé; mas
u5Walter Kaschel, Não Sou M eu, p. 57.
reafirmou o dever da entrega do dízimo. Observe que Jesus afir­
mou: “... devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aque­
las”. Isto é, eles deviam praticar a justiça, a misericórdia e a fé,
sem omitir a fiel entrega do dízimo.
A congregação de Israel, como organização instituída para
arrebanhar o povo de Deus, foi substituída pela igreja. Mas esta
também tem pessoas a seu serviço, que devem ser sustentadas por
ela. “Não sabeis vós qae os que prestam serviços sagrados do
próprio templo se alimentam? E quem serve ao altar do altar
tira o seu sustento? Assim ordenou também o Senhor aos que
pregam o evangelho, que vivam do evangelho” (1 Co 9.13,14).

AS OFERTAS NO ANTIGO E NO NOVO TESTAMENTO


Além do dízimo, Deus exige de seu povo ofertas. Quando
Deus determinou que os israelitas fizessem três grandes festas anu­
ais de ação de graças, ordenou que em todas elas houvesse ofer­
tas: “... ninguém apareça de mãos vaziasperante mim” (Ex 23.15).
Os israelitas receberam ordens para dedicar ao Senhor vári­
os tipos de oferta. Havia as ofertas pelo pecado, ofertas votivas,
as primícias da colheita e do rebanho, oferta pelo nascimento e
resgate dos primogênitos, vários outros tipos de ofertas e também
as ofertas voluntárias. A ordem era bem clara: “Honra ao S e n h o r
com os teus bens e com as primícias de toda a tua renda” (Pv 3.9).
“A apresentação das várias ofertas e sacrifícios, com os hi­
nos e as orações de arrependimento e gratidão, contribuíam para
lembrar ao povo o Deus que lhe era invisível, e para ajudá-lo a não
se tornar escravo das coisas que via e com que lidava diariamente.
Fazendo ofertas, apresentando seus dízimos, o povo sentia melhor
a presença de Deus e o fato de ser povo seu. Sentia o dever que
tinha de prestar lealdade a este Deus que sempre atendia às suas
necessidades e que sempre estaria bem perto para guiá-lo e
abençoá-lo. Que melhor meio de evitar as tentações de egoísmo e
desobediência? Era esta a finalidade das ofertas e dízimos.” 116
U6Paul R. Lindholm, Mordomia Cristã e Finanças da Igreja, p. 107.

189
Jesus também deu grande importância às ofertas. “Assenta­
do diante do gazofilácio, observava Jesus como o povo lança­
va ali o dinheiro. Ora, muitos ricos depositavam grandes quan­
tias. Vindo, porém, urna viúva pobre, depositou duas pequenas
moedas correspondentes a um quadrante. E, chamando os seus
discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta viúva p o ­
bre depositou no gazofilácio mais do que o fizeram todos os
ofertantes. Porque todos eles ofertaram do que lhes sobrava;
ela, porém, da sua pobreza deu tudo quanto possuía, todo o
seu sustento” (Mc 12.41 -44).
Algumas pessoas afirmam que não dão ofertas porque são
dizimistas. Pensam que entregando o dízimo fielmente estão cum­
prindo todas as suas obrigações financeiras com a obra de Deus.
Mas o dízimo é o mínimo. Quem entrega fielmente o dízimo está
apenas cumprindo a sua obrigação de devolver ao Senhor a parte
que lhe cabe em nossa renda. Além do dízimo, devemos consagrar
ao Senhor as nossas ofertas, pois são elas que demonstram a nos­
sa gratidão a Deus e o nosso amor à sua igreja e à sua obra.

BÊNÇÃOS DECORRENTES DO DÍZIMO E DAS OFERTAS


Contribuir com o dízimo e com as ofertas é dever de todo
membro da igreja. Mas não se pode esquecer que a nossa contri­
buição é uma fonte de bênçãos.
Quando a igreja dispõe de mais recursos, mais pessoas são
beneficiadas. Com mais recursos haverá mais evangelização e mais
assistência aos necessitados. Mas, as maiores bênçãos estão re­
servadas para quem contribui. Quando Deus fez o apelo veemente
aos israelitas para serem fiéis na entrega do dízimo, fez-lhes tam­
bém um desafio: “... provai-me nisto, diz o S e n h o r dos Exérci­
tos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar
sobre vós bênção sem medida” (Ml 3.10). E Deus não falha
em suas promessas.
A simples condição de poder contribuir já é uma bênção.
Escrevendo sobre a oferta das igrejas daMacedônia, o apóstolo
Paulo declarou: “ Também, irmãos, vosfazemos conhecer a gra­
ça de Deus concedida às igrejas da Macedônia; porque, no
meio de muita prova de tribulação, manifestaram abundância
de alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em gran­
de riqueza da sua generosidade” (2Co 8.1,2). Os crentes da
Macedônia, apesar de pobres, glorificavam a Deus pela graça de
poderem contribuir. Eles entendiam que era uma bênção ter algu­
ma coisa para ofertar. Muitas pessoas gostariam de contribuir, mas
não têm com que contribuir. Muitos gostariam de entregar o seu
dízimo, mas não têm dízimo a entregar porque nada ganharam. Se
você tem dízimo a entregar é porque você ganhou alguma coisa.
Se o seu dízimo representa uma importância muita elevada é porque
você ganhou muito. Portanto, poder contribuirjá é uma bênção.
A contribuição leva o crente a ser mais consagrado e a ter
mais interesse na obra de Deus. E isto é mais uma bênção (Mt
6.19-21). Os crentes que contribuem mais para a igreja geralmen­
te demonstram também mais interesse para com a obra de Deus.
Por fim, Jesus afirmou que receberemos a recompensa até
por um copo de água fria que dermos a alguém, por este alguém
ser seu discípulo (Mt 10.42). A nossa contribuição será recom­
pensada com as bênçãos de Deus. E a experiência tem mostrado
que os dizimistas fiéis e os ofertantes generosos são crentes aben­
çoados, bem-sucedidos e felizes.

CONCLUSÃO
Todos nós naturalmente queremos que a nossa igreja tenha
um templo bonito, bem construído, bem mobiliado, bem cuidado.
Se o templo está feio, sujo, mal conservado, nós não gostamos. Se
os bancos estão cobertos de poeira, se a aparelhagem de som não
funciona bem, se os instrumentos são velhos e ultrapassados, nós
reclamamos. Mas, às vezes, nos esquecemos de que a igreja ne­
cessita de dinheiro para manter o templo como desejamos. A igre­
ja precisa de dinheiro também para pagar seus funcionários, so-
correr as pessoas carentes, manter suas obras sociais e educacio­
nais. Enfim, toda instituição precisa de dinheiro para funcionar, e a
igreja não é uma exceção. Foi por isso que Deus determinou que
os seus servos contribuam com o dízimo e com as ofertas.
O dinheiro que ganhamos é bênção de Deus. O Senhor nos
dá inteligência, saúde e energia para trabalhar, produzir e ganhar. E
ele nos ordena que entreguemos o dízimo de tudo, para o sustento
da igreja onde ele nos colocou. Deixar de entregar o dízimo é de­
sobedecer a Deus e menosprezar a igreja.

PERGUNTAS PARA FIXAÇÁO EAPLICAÇÃO


1. Quem foi o primeiro crente a entregar o dízimo?
2. Para que seria usado o dízimo dos israelitas?
3. Qual é o texto do Antigo Testamento que traz o apelo mais
veemente aos servos de Deus para que entreguem o dízimo?
4. Qual é a prova, em Mateus 23.23, de que Jesus sancionou a
doutrina da entrega do dízimo?
5. Qual é o texto do Novo Testamento que mostra o dever da igreja
de sustentar os pregadores do evangelho?
6. Que é que Jesus afirmou sobre a oferta da viúva pobre? Por
quê?
7. Quem recebe as maiores bênçãos decorrentes da entrega do
dízimo e das ofertas?
8. Cite algumas bênçãos recebidas por aquele que contribui.
9. Qual é a finalidade dos dízimos e das ofertas?
10.Quais são os seus motivos pessoais para ser dizimista?
21
6 IDENTIDADE DO
VERDADEIRO CRISTÃO
“Então, (Jesus) convocando a multidão e
juntamente os seus discípulos, disse-lhes:
Se alguém quer vir após mim, a si mesmo
se negue, tome a sua cruz e siga-me.
Quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-
la-á; e quem perder a vida por causa de
mim e do evangelho salvá-la-á
Marcos 8.34,35

Há alguns dias estamos caminhando juntos no estudo do pro­


cesso da salvação. Já vimos que esse processo começou antes da
fundação do mundo, quando ficou estabelecido pela Trindade que
o Filho viria ao mundo morrer em lugar do pecador. Vimos que só
Jesus Cristo é que pode salvar o pecador, que “não há salvação
em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum
outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que se­
jamos salvos” (At 4.12). Vimos, também, que para ser salvo o ser
humano precisa crer em Jesus Cristo e recebê-lo como Salvador e
Senhor. Mas, em que implica tudo isso?
William Bright comparou o relacionamento com Jesus Cristo
ao casamento. Na união matrimonial, do ponto de vista ideal, es­
tão incluídos o intelecto, a emoção e a vontade. O intelecto é
usado para avaliar se a pessoa com quem se pretende casar é a
pessoa certa. A emoção envolve a pessoa levando-a a amar o(a)
193
escolhido(a) de todo o seu coração. E por um ato de vontade os
dois se comprometem, perante a autoridade competente, a viver
como marido e mulher.
A seguir, veremos como esses mesmos três elementos se ex­
pressam na identidade do verdadeiro cristão.

O INTELECTO
A fé cristã é convicção baseada em fatos reais. Não é salto
no escuro. Tem bases sólidas. Quando os saduceus tentaram con­
testar a ressurreição dos mortos, Jesus lhes respondeu: “Errais,
não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” (Mt 22.29).
Em outra ocasião, Jesus desafiou os judeus, dizendo-lhes:
“Examinais as Escrituras,... e são elas mesmas que testificam
de mim” (Jo 5.39). E Lucas declarou, no prefácio do seu evange­
lho, ter feito “acurada investigação de tudo desde sua origem, ”
para que o leitor tenha “plena certeza das verdades” registradas
por ele(Lc 1.1-4).
O apóstolo Paulo citou a profecia de Joel de que“todo aquele
que invocar o nome do S e n h o r será salvo” (J12.32); e, a seguir,
perguntou: “Como, porém, invocarão aquele em que não cre­
ram? E como crerão naquele de quem nada ouviram?” (Rm
10.14). Com isso ele estava afirmando que para servir a Deus é
necessário conhecê-lo. A conversa de Jesus com a mulher
samaritana também aponta nessa mesma direção. Quando a mu­
lher quis tratar da questão relacionada com o lugar de adoração,
Jesus lhe disse: “Vós adorais o que não conheceis; nós adora­
mos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus”
(Jo 4.22). Implicitamente Jesus estava declarando que a adoração
dos samaritanos não era correta porque eles a faziam na ignorância.
Tentar servir a Deus na ignorância pode ser desastroso. Jesus
declarou que pessoas matariam seus servos, julgando com isto es­
tarem prestando um culto a Deus (Jo 16.2). E o apóstolo Paulo
testemunhou que os judeus de sua época tinham “zelo por Deus,
A identidade do verdadeiro cristão

porém não com entendimento” (Rm 10.2). A ignorância os leva­


va a se afastarem de Deus, mesmo quando julgavam servi-lo.
Para ser verdadeiramente cristão é preciso saber o que isto
significa. É preciso conhecer pelo menos os pontos fundamentais
da fé cristã.
Certa vez um senhor me disse que gostaria de ser crente, mas
não conseguia. E explicou a sua dificuldade, dizendo: “Eu sei que
para ser crente a gente precisa acreditar, mesmo sabendo que aquilo
não é verdade, mas eu não consigo fazer isso.” Ele estava inteira­
mente enganado. “Acreditar naquilo que a pessoa sabe não ser
verdade” é ser supersticioso, e não crente. “ A fé é a certeza de
coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem”
(Hb 11.1). A fé vê o invisível, mas não o inexistente. Nós somos
chamados a crer naquilo que Deus nos revelou em sua Palavra.
Não podemos crer em nada que vá além dessa Palavra, pois a
recomendação bíblica, através do apóstolo Paulo, é esta: “Mas,
ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue
evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja aná­
tema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos
prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja aná­
tema” (G1 1.8,9). Por isso, o verdadeiro cristão sabe em quem
tem crido e no que tem crido.

A EMOÇÃO
O conhecimento intelectual dos fundamentos da fé cristã é
muito importante, mas é insuficiente para a salvação. A Escritura
Sagrada fala muitas vezes sobre o conhecer, referindo-se ao co­
nhecimento experimental. Conhecer a Jesus, no sentido bíblico,
implica necessariamente em ter experiência com Jesus. Este é o
lado emocional do conhecimento de Deus. E ele que nos leva a um
envolvimento com Jesus. E através desse envolvimento que nós
nos alegramos com o Senhor e no Senhor, e também nos entriste­
cemos com o que entristece o Senhor. Salmos 119.136 e Atos
11,23 ilustram esse envolvimento emocional do cristão nas vitórias
e vicissitudes da causa de Deus no mundo. No primeiro texto o
salmista declara: “ Torrentes de água nascem dos meus olhos,
porque os homens não guardam a tua lei”. No segundo texto
temos o registro da alegria de Bamabé, ao ver que os gentios tam­
bém se convertiam ao Senhor.
Um outro aspecto desse conhecimento emocional é o amor.
Para ser verdadeiramente cristão não basta saber que Jesus é o
Filho de Deus, que veio ao mundo para nos salvar. É necessário
mais. É preciso amá-lo de todo o coração. Ele mesmo disse: “Aque­
le que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei
e me manifestarei a ele” (Jo 14.21). E quanto à intensidade desse
amor, ele afirmou o seguinte: “Quem ama seu pai ou sua mãe
mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filh o ou
sua filh a mais do que a mim não é digno de mim” (Mt 10.37).
Aqui também está uma área que deve ser tratada com muito
cuidado. O amor é um sentimento, portanto, faz parte das nossas
emoções. Mas a intensidade do nosso amor não pode ser medida
pela intensidade de nossas emoções.
A emoção é uma reação a um evento ou experiência. Emo­
cionalmente as pessoas reagem de maneiras diferentes. Assistindo
ao mesmo acontecimento ou participando da mesma experiência,
as pessoas podem reagir de maneiras bem diferentes. O eunuco,
ao ouvir o Evangelho de Jesus Cristo, creu e pediu para ser bati­
zado. Tudo naturalmente, sem grandes emoções. Mas o carcereiro
de Filipos experimentou um turbilhão de emoções. Lucas registrou
que ele “... entrou precipitadamente e, trêmulo, prostrou-se di­
ante de Paulo e Silas” (At 16.29). O eunuco e o carcereiro tive­
ram experiências e emoções diferentes; mas a conversão de am­
bos foi autêntica.
Não existe um padrão para medir as emoções de uma pes­
soa diante do Evangelho de Jesus Cristo. Algumas pessoas têm
uma experiência de conversão fortemente emocional. Outras têm
A identidade do verdadeiro cristão

uma experiência sem grandes emoções, mas igualmente real. Al­


guns têm uma vida cristã cheia de manifestações emocionais; ou­
tros têm uma vida cristã sem grandes arroubos emocionais, mas
igualmente sincera e autêntica. O verdadeiro crente tem um envol­
vimento emocional com o Senhor Jesus, mas não vive de emo­
ções. O crente que precisa de emoções para manter a sua fé estará
sempre inseguro, porque as emoções são muito instáveis e, tam­
bém, porque sempre precisará de emoções mais fortes para não
cair na rotina, no trivial e no desânimo. O que de fato evidencia a
intensidade do amor que uma pessoa tem por Jesus Cristo são os
seus atos (Mt 7.15-23). Quem ama a Jesus deve provar isto atra­
vés de suas palavras e suas atitudes.

A VONTADE
Além do intelecto e das emoções, ser um verdadeiro cristão
envolve também a vontade. Chamamos de vontade a faculdade
que leva a pessoa a querer alguma coisa e a se comprometer com
aquilo que quer. É a capacidade de agir com intencionalidade definida.
Para ser verdadeiramente cristã, a pessoa precisa assumir
com Jesus Cristo um compromisso de fé. Nesse compromisso, a
pessoa crê que o sacrifício de Jesus é suficiente para perdoar to ­
dos os seus pecados; por isso, entrega a Jesus o destino eterno de
sua alma, e se dispõe a, dia a dia, procurar viver de acordo com os
seus ensinos.
Mas a decisão de seguir a Jesus não é tão simples como
pode parecer. Ela implica numa tomada deposição radical. Jesus
exige que ela seja radical. Lucas registra que Jesus “dizia a todos:
Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia
tome a sua cruz e siga-me” (Lc 9.23). Na instrução aos doze
apóstolos, Jesus declarou: “Quem ama seu pai ou sua mãe mais
do que a mim não é digno de mim ; quem ama seu filh o ou sua
filha mais do que a mim não é digno de mim; e quem não toma
a sua cruz e vem após mim não é digno de mim ” (Mt 10.3 7,3 8).
Jesus fez declarações semelhantes em várias outras ocasiões.
Nicodemos, líder dos fariseus, membro da mais alta corte de justi­
ça da Judéia, procurou Jesus fazendo-lhe os maiores elogios: “Rabi,
sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque nin­
guém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver
com ele” (Jo 3.2). Mas Jesus não ficou impressionado com os
elogios, nem com a alta posição social de Nicodemos, e respon­
deu-lhe: “Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não
nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (Jo 3.3). Ao
homem que queria primeiro sepultar o pai, para depois seguir a
Jesus, o Mestre ordenou : “Deixa aos mortos o sepultar os seus
próprios mortos. Tu, porém, vai e prega o reino de Deus” (Lc
9.60). Aquele que queria primeiro despedir-se de seus parentes,
para depois segui-lo, Jesus disse: “Ninguém que, tendo posto a
mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus” (Lc
9.62), E a respeito da multidão que o aplaudia, mas sem com­
promisso, Jesus declarou: “Este povo honra-me com os lábios,
mas o seu coração está longe de mini'' (Mt 15.8). Em certa oca­
sião Jesus fez um discurso muito duro, e por isso muitos deixaram
de segui-lo. Diante disso seria natural que ele abrandasse suas exi­
gências. Mas Jesus não voltou atrás; pelo contrário, confrontou os
seus próprios discípulos, dizendo-lhes: “Porventura, quereis
também vós outros retirar-vos?” (Jo 6.67). Jesus não aceita
crente pela metade, porque ele não pode salvar o homem pela
metade. Ou somos inteiramente crentes, ou então estamos com­
pletamente perdidos.
O apóstolo Paulo tinha conhecimento das exigências de Je­
sus, por isso ele declarou: “Esmurro o meu corpo e o reduzo à
escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu
mesmo a ser desqualificado” (IC o 9.27).
Muitas pessoas se julgam cristãs, mas, na realidade, são ape­
nas admiradoras de Jesus Cristo. Outras gostam de Jesus e, por
isso, pensam ser cristãs. Mas o verdadeiro cristão é aquele que
tem compromisso com Jesus.
A identidade do verdadeiro cristão

CONCLUSÃO
Voltando à comparação da vida cristã com o casamento, per­
guntamos: o fato de um rapaz estar intelectualmente convencido de
que determinada moça é a pessoa ideal para ser sua esposa dá-lhe
o direito de ir viver com ela, como marido e mulher? E claro que
não. E se ele sentir por ela um grande amor, poderá levá-la para
sua casa para ser sua esposa? Ainda não. Os dois só poderão
viver como marido e mulher, com a aprovação de Deus e da soci­
edade, depois de assumirem o compromisso matrimonial perante a
autoridade competente.
No relacionamento com Jesus Cristo o processo é bem se­
melhante ao do casamento. A pessoa usa o intelecto para se con­
vencer de que Jesus Cristo é o Filho de Deus, que veio ao mundo
para nos salvar. Através da emoção ela é envolvida no amor que
ele manifestou pelo pecador perdido e passa a amá-lo de todo o
seu coração. Mas essa experiência intelectual e emotiva é insufici­
ente para fazer da pessoa um verdadeiro cristão. E necessário que
ela, por um ato de vontade, assuma com Jesus Cristo o com­
promisso de confiar nele para a sua salvação e de viver procuran­
do fazer a vontade dele. Verdadeiro cristão é aquele que tem com­
promisso com Jesus Cristo.
PERGUNTAS PARA FIXAÇÁO EAPLICAÇÃO
1. Quais são os três elementos que, do ponto de vista ideal, estão
incluídos na união matrimonial?
2. Para servir a Deus é necessário conhecê-lo? Justifique sua
resposta.
3. O que é conhecimento experimental?
4. Para ser verdadeiramente cristão é preciso amar a Jesus de
todo o coração? Justifique sua resposta.
5. A intensidade do nosso amor a Jesus pode ser medida pela
intensidade de nossas emoções? Por quê?
6. O que de fato evidencia a intensidade do amor que alguém tem
por Jesus Cristo?
7. O que é vontade?
8. Em que implica o compromisso com Jesus?
9. Por que Jesus não aceita “crente pela metade”?
10. Você concorda que só é verdadeiramente crente a pessoa que
tem compromisso com Jesus? Justifique sua resposta.
22
e VIDfi DEPOIS
DESTfi VIDfi
“Quando, porém, todas as coisas lhe es­
tiverem sujeitas, então, o próprio Filho
também se sujeitará àquele que todas as
coisas lhe sujeitou, para que Deus seja
tudo em todos. ”
1 Coríntios 15.28

A nossa salvação resulta de um processo que se iniciou antes


da fundação do mundo, antes de existir o tempo, portanto, na eter­
nidade, e se consumará também na eternidade. Deus nos contem­
plou com a sua graça, “assim como nos escolheu, nele, antes da
fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis p e ­
rante ele ; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção
de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de
sua vontade” (E f 1.4,5). E esse processo se consumará quando
estivermos vivendo nos “novos céus e nova terra, nos quais ha­
bita justiça” (2Pe 3.13).

A MORTE EA RESSURREIÇÃO
Deus criou o homem para viver para sempre. Adão foi criado
num estado de santidade positiva e era imortal, no sentido de não
estar sujeito à lei da morte. Se ele não pecasse, sua imortalidade
seria confirmada. Mas o homem pecou, e passou a viver sob o
jugo da morte. “Por um só homem entrou o pecado no mundo,
e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos
os homens, porque todos pecaram” (Rm 5.12).
Mas, que é morte? Morte é “a separação (seja natural ou
violenta) da alma do corpo, separação essa pela qual é terminada
a vida neste mundo”.117 Logo que ocorre essa separação, o corpo
entra em processo de decomposição. “Já cumpriu a necessidade
que dele tinha o espírito e, cumprida a necessidade, é posto de
lado.”118 Mas a alma ou espírito continua vivo e consciente. Na
morte, dormimos aqui e acordamos imediatamente no outro lado
desta vida. Se a pessoa durante a sua vida aceitou a salvação que
Deus oferece em Jesus Cristo, logo após a morte a sua alma entra
num estado de bem-aventurança consciente. Se rejeitou a oferta
de salvação, a sua alma entra imediatamente num estado de casti­
go consciente.
A Bíblia Sagrada ensina, de modo bem claro, que a alma do
verdadeiro crente, logo após a morte, entra imediatamente num
estado de bem-aventurança consciente. Quando o ladrão supli­
cou: “Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino. Je­
sus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comi­
go no paraíso” (Lc 23.42,43). E o apóstolo Paulo, quando sentiu
que sua morte se aproximava, declarou que morrer é “partir e
estar com Cristo” (Fp 1.23). Os mortos estão vivos. Os crentes
estão no céu, com Cristo; os ímpios estão no inferno.
O corpo volta ao pó, mas não desaparecerá para sempre
Ele entra em decomposição, mas um dia levantará do túmulo. “To­
dos os mortos serão ressuscitados com os seus mesmos corpos e
não outros, posto que com qualidades diferentes, ficarão reunidos
às suas almas para sempre.” 119
A doutrina da ressurreição do corpo faz surgir em nossas
mentes muitas interrogações. Uma delas é sobre as pessoas que
117 J. H. Thayer, A Greek-English Lexicon o f the New Testament, p. 282.
us Ray Summers, A Vida no Além , p. 21.
119 Confissão de Fé de Westminster, XXXII.II.
foram sepultadas mutiladas. No caso de pessoas que morrem em
desastre de avião, é possível que partes de seu corpo sejam sepul­
tadas muito distantes uma da outra. E como será a ressurreição
dessas pessoas? No grande capítulo da ressurreição dos mortos -
1 Coríntios 15 o apóstolo Paulo responde: “Masalguém dirá:
Como ressuscitam os mortos? E em que corpo vêm? In ­
sensatos! O que semeias não nasce, se primeiro não morrer; e,
quando semeias, não semeias o corpo que há de ser, mas o
simples grão, como de trigo ou de qualquer outra semente,
Mas Deus lhe dá corpo como lhe aprouve dar, e a cada uma
das sementes, o seu corpo apropriado. ... Pois assim também é
a ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo na corrupção,
ressuscita na incorrupção. Semeia-se em desonra, ressuscita
em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscita em poder. Semeia-
se corpo natural, ressuscita corpo espiritual” (ICo 15.35-38,42­
44). A ressurreição será operada pelo poder de Deus, e ele sabe
como resolver esse e outros problemas. O corpo ressuscitado será
o mesmo que foi sepultado, porém de substância diferente. O cor­
po que temos corresponde às necessidades deste plano físico de exis­
tência; o corpo ressuscitado será um corpo perfeitamente adaptado às
necessidades do tipo de vida que teremos na outra existência.
Devemos lembrar também que nem todas as pessoas passa­
rão pela morte. Os que estiverem vivos na segunda vinda de Cristo
não morrerão, mas serão transformados num abrir e fechar de olhos.
O apóstolo Paulo explicou este assunto assim: “Eis que vos digo
um mistério: Nem todos dormiremos, mas transformados sere­
mos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao
ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos res­
suscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Por­
que é necessário que este corpo corruptível se revista da
incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortali­
dade” (IC o 15.51-53).
A SEGUNDA VINDA DE CRISTO
A Bíblia Sagrada relaciona a ressurreição dos mortos com a
segunda vinda de Cristo. O apóstolo Paulo escreveu: “Não quere­
mos, porém, irmãos, que sejais ignorantes com respeito aos
1-------- .------- ~--------------------- 7---------------1---- --------
não têm esperança. Pois, se cremos que Jesus morreu e res­
suscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará, em suü
companhia, os que dormem. ... Porquanto o Senhor mesmo,
dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e res­
soada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em
Cristo ressuscitarão primeiro; depois nós, os vivos, os que f i ­
carmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nu­
vens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos
para sempre com o Senhor” (1 Ts 4.13 ,14,16,17).
Jesus prometeu voltar ao mundo para consumar sua obra.
Ele disse aos discípulos: “Não se turbe o vosso coração; credes
em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há mui­
tas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou
preparar-vos lugar. Ê^quando eu fo r e vos preparar lugar, vol­
tarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu es­
tou, estejais vós também” (Jo 14.1-3). Esta promessa foi repeti­
da várias vezes, de várias maneiras. No momento da ascensão de
Jesus, estando os discípulos “com os olhosfitos no céu, enquan­
to Jesus subia, eis que dois varões vestidos de branco se puse­
ram ao lado deles e lhes disseram: Varões galileus, por que
estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós fo i
assunto ao céu virá do modo como o vistes subir” (At 1.10,11).
As da vinda de Cristo será um fato maravilbos< traos
seus servos. Mas será terrível para os ímpios. “Haverá sinais no
sol, na lua e nas estrelas; sobre a terra, angústia entre as na­
ções em perplexidade por causa do bramido do mar e das on­
das; haverá homens que desmaiarão de terror e pela expecta­
tiva das coisas que sobrevirão ao mundo; pois os poderes dos
céus serão abalados. Então, se verá o Filho do homem vindo
numa nuvem, com poder e grande glória’'' (Lc 21.25-27).
A promessa da segunda vinda de Cristo é uma fonte de con­
forto e esperança para o cristão. Billy Grãham escreveu que “cris­
tão algum tem o direito de andar por aí torcendo as mãos, imagi­
nando o que devamos fazer diante da atual situação do mundo. A
Escritura diz que em meio à perseguição, confusão, guerras e boa­
tos de euerra devemos reconfortar-nos mutuamente com o co­
nhecimento de que Jesus Cristo está voltando em triunfo, glória e
majestade”.120
Quando se dará a segunda vinda de Cristo? Ningi “
Jesus afirmou que nem os anjos sabem o dia e ah r:a, , lasíáfíenas
o Pai (Mt 24.36). Por isso, a recomendaçãorie JeáhMesta: “Por­
tanto, vigiai, porque não sabeis em ;ue:<Èaycjji)o vosso Se­
nhor” (Mt 24.42).

O JUÍZO FINAL E O DESTlNOf


Jesus declarou também quenga sua segunda vinda, julgará os
homens: “Porque o bilho do ko nem há de vir na glória de seu
Pai, com os seuÇ qfím ^ejéntão, retribuirá a cada um confor­
me as sui , )b M ^ W Ír 16.27)
Algumas %çssòas perguntam: se os salvos estão no céu e os
ímpio&noMfi^o, por que haverá um juízo final? A resposta é que
fnão tem como objetivo definir o destino eterno dos
is. A Bíblia ensina que este destino é determinado na hora da
te de cada pessoa. Quem morre firmado em Jesus Cristo está
salvo; quem morre em seus pecados está eternamente perdido. O
propósito do juízo final é expor, diante de todas as criaturas racio­
nais, a glória de Deus num ato formal que engrandecerá a sua san­
tidade, justiça, graça e misericórdia. No juízo final, Deus manifes­
tará a sua graça e misericórdia, salvando os pecadores que se arre­
penderam e aceitaram Cristo; e a sua justiça, condenando aqueles
que permaneceram rebeldes e que morreram em seus pecados.
120 Billy Graham, Mundo em Chamas, p. 234.

205
No juízo final serão julgados os anjos decaídos, isto é, Sata­
nás e seus demônios, e todos os indivíduos da raça humana. Algu­
mas pessoas entendem que os crentes não serão julgados, já que
Jesus prometeu que aquele que dá ouvido à sua palavra “ tem a
vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a
vida” (Jo 5.24). Mas o contexto mostra que as palavras de Jesus
indicam que os salvos não entrarão em juízo condenatório, ou seja,
não serão condenados. Os ímpios serão julgados e condenados;
mas os salvos serão julgados e absolvidos, porque Jesus já sofreu
na cruz o castigo que merecemos, “o Senhorfe z cair sobre ele a
iniqüidade de nós todos” (Is 53.6).
Os ímpios sofrerão eternamente. Não sabemos, com preci­
são, em que consistirá o castigo dos ímpios. Mas é possível enten­
der, pela Bíblia Sagrada, que eles serão privados totalmente do
favor divino, experimentarão uma perturbação infindável, sofrerão
dores reais no corpo e na alma, e estarão sujeitos às dores de
consciência, à angústia, ao choro e ao desespero.
Os salvos herdarão o céu e também a nova criação. A Bíblia
não diz claramente como será esta nova criação. Mas o apóstolo
Pedro afirmou que Jesus ficará no céu “até aos tempos da restau­
ração de todas as coisas” (At 3.21). E que “esperamos novos
céus e nova terra, nos quais habita justiça” (2Pe 3.13). Sabe­
mos que toda a criação foi atingida pelas conseqüências do peca­
do. E cremos que Deus restaurará a criação, após o juízo final.
Muitos teólogos acreditam que Deus vai restaurar o universo às
condições originais em que foi criado. E os servos de Deus, com
corpos imortais e almas inteiramente aperfeiçoadas, habitarão na
terra e servirão ao Criador eternamente, em espírito e em verdade.

CONCLUSÃO
A perspectiva de habitarmos a terra totalmente restaurada
enche o nosso coração de grande alegria. Contudo, a Bíblia não
diz claramente que este é o futuro que nos espera. Mas, graças a
Deus, afirma que o nosso futuro será glorioso. O apóstolo João
descreveu a visão que lhe foi dada do nosso futuro assim: “Então,
ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de
Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão p o ­
vos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará
dos olhos toda lágrima, e a morte j á não existirá, j á não have­
rá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas pas­
saram'’'’ (Ap 21.3,4). E o apóstolo Paulo registrou que “nem olhos
viram, nem ouvidos ouviram, nem jam ais penetrou em cora­
ção humano o que Deus tem preparado para aqueles que o
amam" (ICo 2.9).

PERGUNTAS PARA FIXAÇÃO EAPLICAÇÃO


1. Quando se iniciou o processo da nossa salvação?
2. E quando se consumará?
3. 0 que é morte?
4. Que acontece com a alma do crente logo após a morte?
5. Todas as pessoas vão morrer? Por quê?
6. Quando se dará a segunda vinda de Cristo?
7. Qual é o propósito do juízo final?
8. Quem será julgado no juízo final?
9. Por que os servos de Jesus Cristo serão absolvidos no juízo
final?
10. Qual será a situação dos salvos após o juízo final?

Você também pode gostar