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Curso Básico de Teologia 1

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

PANORAMA DO NOVO TESTAMENTO


A NOVA ALIANÇA

1. INTRODUÇÃO

O objetivo desta disciplina é promover uma visão geral e ampla sobre a teologia,
a história, a estrutura e os temas do Novo Testamento. Para isso, dividimos o estudo
em quatro seções que serão discutidas em cinco encontros.

1ª Seção Panorama Teológico Que discute o significado e a necessidade da


existência de um Novo Testamento.
2ª Seção Panorama Histórico Ambiente e antecedentes históricos do
Novo Testamento
3ª Seção Panorama dos Livros Qual é a estrutura literária do Novo
Testamento?
4ª Seção Panorama Temático Quais os temas e assuntos abordados
no Novo Testamento?

A maioria das denominações chamadas cristãs estabelecem em um mesmo


cânone 27 livros para compor o Novo Testamento. Veremos nesse livro didático que
estes 27 livros se dividem nas quatro narrativas do ministério de Jesus Cristo,
chamadas "Evangelhos"; seguida de uma narrativa dos ministérios dos apóstolos
denominada de Atos dos Apóstolos; e 21 cartas – epístolas escritas por vários
autores e consistindo principalmente de conselhos cristãos e orientações
doutrinárias. Por fim, o livro do Apocalipse que se caracteriza por sua profecia.

Veremos que cada um dos Evangelhos narra o ministério de Jesus de Nazaré.


Nenhum dos Evangelhos originalmente tinha um nome de autor associado a ele,
mas cada um deles foi atribuído a um autor de acordo com a tradição.

Os três primeiros Evangelhos são comumente classificados como os evangelhos


sinóticos. Eles contêm relatos muito semelhantes de eventos na vida de Jesus,
embora diferindo em alguns aspectos. O Evangelho de João se destaca por seus
registros únicos de vários milagres e acontecimentos de Jesus, somente relatados
no seu Evangelho. Sua cronologia do ministério de Jesus também difere
significativamente dos outros Evangelhos, e sua perspectiva teológica também é
única.
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O estudo do Livro de Atos dos Apóstolos irá demonstrar que desenvolve uma
narrativa do ministério dos apóstolos após a morte de Cristo. Veremos também sua
proximidade com o Evangelho de Lucas.

Vamos também estudar as epístolas paulinas, cartas tradicionalmente atribuídas


a Paulo, embora a autoria de algumas delas seja contestada. Também veremos as
chamadas Epístolas Pastorais, vistas por muitos estudiosos modernos como tendo
sido escritas por um autor posterior em nome de Paulo. Logo após, veremos o grupo
de cartas denominadas epístolas gerais ou universais.

Por fim, o Apocalipse, livro que encerra o Novo Testamento. Veremos que esse
livro consiste principalmente em uma mensagem de Jesus para sete igrejas cristãs,
acrescido de uma visão de João dos últimos dias, a segunda
Espero que você compreenda a força e a importância desse conjunto de Escritos
sagrados, aplicando-os em sua vida e nas vidas das pessoas que lhe cercam.

A minha oração é que este estudo, feito com uma leitura integrada das Escrituras,
possa aprofundar os seus conhecimentos sobre a “boa, agradável e perfeita vontade
de Deus” (Rm 12:2b), capacitando-lhe para as boas obras que “Deus preparou de
antemão para que nós as praticássemos” (Ef 2:10b).
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2. PANORAMA TEOLÓGICO

Um breve panorama teológico do Novo Testamento nos ajudará a entender o que


significa a palavra Testamento, por que esse testamento é considerado Novo, qual
a sua relação com o Antigo Testamento e o que mudou de um testamento para outro.

2.1 Por que um Novo Testamento?

A palavra ‘testamento’ é uma das traduções possíveis para o termo grego


‘diathekes’ e para termo hebraico ‘berith’. Outras possibilidades de tradução para
esses mesmos termos seriam as palavras ‘aliança’ ou ‘pacto’. Creio, inclusive, que
essas duas últimas traduções possam demonstrar com maior clareza que o termo
‘Novo Testamento’ não se refere apenas a um conjunto de livros, mas sim a uma
nova Aliança, ou um novo Pacto, realizado entre Deus e os homens.

Você já deve ter percebido, contudo, que é mais comum encontrarmos a


expressão ‘Novo Testamento’ do que ‘Nova Aliança’ ou ‘Novo Pacto’. Por que essa
preferência? Por que associamos ao significado de diathekes e berith o termo grego
kleronomias que segundo Luz (2003, p. 785) se refere à ‘ação de lei de partilha’,
mas é mais comumente traduzida como herança. Assim, como veremos adiante, a
palavra ‘aliança’ se associa à ‘herança’ e nos faz optar pelo uso da palavra
testamento que, em nossa língua e cultura, representa um ato jurídico por meio do
qual uma pessoa dispõe de seus bens (herança) em favor de outrem (herdeiro) para
depois de sua morte (ver Hb 9:16-17).

Esse esclarecimento sobre o significado da palavra ‘testamento’, entretanto,


suscita uma nova dúvida: por que Deus precisaria fazer uma nova aliança com a
humanidade? Por que um Novo Testamento seria necessário?

Algo teria falhado no projeto divino? Vamos buscar a resposta para essas
perguntas no lugar mais propício para um esclarecimento legítimo, a saber: nas
Escrituras.

2.2. Características da Antiga Aliança

Uma aliança, mesmo quando feita sob a forma de testamento, é um tratado entre
duas partes, onde cada um dos envolvidos tem que cumprir suas obrigações sob
pena de torná-la sem efeito (ver Tg 2:10). A aliança que chamamos de antiga está
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registrada no livro de Êxodo. Particularmente na passagem Êx 20:3-17, estão


registrados os chamados 10 Mandamentos, os quais funcionam como um resumo
da Lei. Em Êxodo 24, Moisés leu a Lei para o povo de Israel e eles responderam:
“Faremos tudo que o Senhor ordenou” (v.3), firmando, assim, um pacto, um contrato,
com o Deus. Essa aliança tinha as seguintes características:

1) A aliança que Deus fez com o seu povo consistia de duas partes: Deus e
os israelitas firmaram um compromisso solene com base no conteúdo do Livro
da Aliança (Êx 24:7).

2) A aliança foi selada pela morte de animais que foram oferecidos a


Deus. O sangue desses animais foi aspergido sobre o altar e sobre o povo (Êx
24:8).

3) A aliança foi ratificada pelo povo que prometeu obediência a Deus (Êx
24:3 e 7).

Adaptado de KISTEMAKER, 2003, p. 357.

Essa aliança foi, portanto, firmada com o cumprimento de todos os pressupostos


de um acordo válido: foi registrada (Dt 31:24; Js 8:32); foi ditada por Deus (Êx 20:1)
e foi solenemente aceita pelo povo israelita (Êx 24:3,7). Não haveria como
descaracterizar a sua validade sob qualquer alegação.

No entanto, essa Lei não era capaz de libertar a consciência do pecador (ver
Hebreus, capítulos 8 e 9), não era capaz de fazê-lo perceber a presença de Deus
em todos os seus passos e o deixava sem o amparo do Espírito Santo. Em outras
palavras, a Lei não é capaz de aliviar as lutas internas, que acontecem nas
profundezas de nossa alma e consciência (ver Rm 7), assim, precisamos da graça
que veio por meio de Cristo na nova aliança.

2.3 Voltando à questão

Jesus, na última ceia com os seus discípulos “tomou o cálice, deu graças e o
ofereceu aos discípulos, dizendo: ‘Bebam dele todos vocês. Isto é o meu sangue da
[nova] aliança, que é derramado em favor de muitos, para perdão de pecados’” (Mt
26:27,28; Lc 22:20), estabelecendo, portanto, uma nova aliança, firmada no seu
próprio sangue e sustentada pela sua mediação (Hb 12:24).
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A questão que nos persegue é: por que foi necessário realizar essa nova aliança?
O autor da Carta aos Hebreus, fazendo uma longa citação de Jeremias 31, nos
oferece uma explicação nos capítulos 8 e 9. Ali, ele nos ensina que “as regras para
adoração e o tabernáculo terreno” (Hb 9:1) são “uma ilustração para os nossos dias,
indicando que as ofertas e os sacrifícios oferecidos não podiam dar ao adorador uma
consciência perfeitamente limpa” (Hb 9:9).

Entendendo que antes mesmo da Lei, a vinda de Jesus e a nova aliança firmada
através do seu sangue já estava nos projetos de Deus (conforme Gn 3:15), podemos
compreender em que sentido a palavra ‘ilustração’ é utilizada nesse contexto. O
autor quer nos mostrar que a Lei, com todas as suas regras de adoração e de
conduta pessoal e social, serviu, e serve até hoje, para mostrar a incapacidade do
ser humano de ser santo pelos seus próprios esforços. Assim, ela ‘ilustra’,
simultaneamente, a santidade de Deus e a incapacidade humana de restaurar, por
si mesmo, a imagem e semelhança com a Trindade.

Assim, era necessário que um sacrifício único e definitivo fosse feito para que o
Plano de Salvação dos Filhos de Deus fosse cumprido em sua totalidade. Em Hb
9:22, aprendemos que “quase todas as coisas são purificadas com sangue, e, sem
derramamento de sangue, não há perdão”.
13Ora, se o sangue de bodes e touros e as cinzas de
uma novilha espalhadas sobre os que estão
cerimonialmente impuros os santificam de forma que se
tornam exteriormente puros, 14quanto mais, então, o
sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu
de forma imaculada a Deus, purificará a nossa
consciência de atos que levam à morte, de modo que
sirvamos ao Deus vivo!
15Por essa razão, Cristo é o mediador de uma nova
aliança para que os que são chamados recebam a
promessa da herança eterna, visto que ele morreu
como resgate pelas transgressões cometidas sob a
primeira aliança. (Hb 9:13-15, grifo nosso).

Na primeira aliança, o sacrifício era de bodes e touros, e tinha efeito exterior, sem
atingir as mentes e corações humanos; na nova aliança, o sacrifício é feito com o
sangue do próprio Filho de Deus e tem, por meio do Espírito Santo, efeito eterno na
purificação da nossa consciência, tornando-nos servos de Deus.

Os grifos do versículo 15 foram feitos para chamar a nossa atenção para algumas
questões importantes:
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1) Há uma distinção clara entre aquilo que o autor chama de ‘nova aliança’ e ‘primeira
aliança’. Logo, podemos entender que as duas
porções das Escrituras estão separadas de maneira coerente com a própria Palavra
de Deus;

2) A ‘nova aliança’ é realizada através um ‘Mediador’ por meio de quem ela ganha
eficácia. Assim, sendo Cristo o Mediador, é impossível se falar de uma aliança com
Deus sem a presença d’Ele;

3) A ‘nova aliança’ tem um objetivo claro, “que os que são chamados recebam a
promessa da herança eterna”. Entendemos, então, que a nova aliança está relacionada
com a primeira aliança naquilo que se
remete ao seu objetivo final: a salvação dos filhos de Deus.

Sobre a nova aliança firmada em Cristo, Kistemaker (2003, p. 358) escreveu:

“Qual é o significado da palavra “nova” na expressão nova


aliança? Primeiro, a nova vem da antiga, isto é, a nova aliança
tem a mesma base e características da antiga aliança. E, em
ambas as alianças, sacrifícios foram apresentados a Deus;
mas enquanto os sacrifícios oferecidos para expiar as
transgressões do povo na época da primeira aliança não
podia libertar o pecador, o supremo sacrifício da morte de
Cristo redimiu o povo de Deus e pagou por seus pecados.
Além do mais, na estrutura da primeira aliança, o mediador
(isto é, o sumo sacerdote) era imperfeito. Na nova aliança
Cristo é o mediador que garante a promessa da salvação.
Deus põe suas leis na mente e as escreve no coração de seu
povo redimido, para que como resultado eles conheçam a
Deus, experimentem remissão de pecados e gozem uma
comunhão pactual com ele.”

Por esta razão, não podemos dizer que a antiga aliança está invalidada, mas que
ela está sendo perfeitamente cumprida em Cristo Jesus que se torna o perfeito
mediador e, ao mesmo tempo, o perfeito sacrifício. “Não pensem que vim abolir a
Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir” (Mt 5:17).

Em que medida a antiga aliança continua válida? Na concepção moral do povo


de Deus, no exemplo prático de vida dos seus personagens, na doutrina profética,
na comprovação histórica dos feitos divinos e ilustração para sempre lembrarmos
que não seremos capazes de alcançar a Deus sem a graça.
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2.4 Abordando o Novo Testamento

Em nossas Bíblias modernas, os livros do Novo Testamento não estão arranjados


na ordem cronológica em que foram escritos. Exemplificando, as primeiras epistolas
de Paulo foram os primeiros livros do Novo Testamento a ser escritos (com a única
exceção possível da epístola de Tiago), e não os evangelhos. E mesmo o arranjo
das epístolas paulinas não segue a sua ordem cronológica, porquanto Gálatas (ou
talvez I Tessalonicenses) foi a epístola escrita bem antes daquela dirigida aos
Romanos, a qual figura em primeiro lugar em nossas Bíblias pelo fato de ser a mais
longa das epístolas de Paulo; e entre os evangelhos, o de Marcos, não o de Mateus,
parece ter sido aquele que primeiro foi escrito.

A ordem em que esses livros aparecem, por consequência, é uma ordem lógica,
derivada somente das tradições cristãs. Os evangelhos estão postos em primeiro
lugar porque descrevem os eventos cruciais da carreira de Jesus. Entre os
evangelhos, o de Mateus vem apropriadamente antes de todos devido à sua
extensão e ao seu íntimo relacionamento com o Antigo Testamento, que o precede
imediatamente. (Mateus amiudadas vezes cita o Antigo Testamento e principia com
uma genealogia que retrocede ao mesmo.) Ato contínuo encontra-se a triunfal
colheita da vida e do ministério de Jesus, no livro de Atos dos Apóstolos, uma
envolvente narrativa do bem-sucedido surgimento e expansão da Igreja na Palestina
e daí por toda a Síria, Ásia Menor, Macedônia, Grécia e até lugares distantes como
Roma, na Itália. (No ato mesmo de sua composição, o livro de Atos foi a segunda
divisão de uma obra em dois volumes, Lucas-Atos.) Bastam-nos essas idéias quanto
aos livros históricos do Novo Testamento.

As epístolas e, finalmente, o livro de Apocalipse, explanam a significação


teológica da história da redenção, além de extraírem daí certas implicações éticas.
Entre as epístolas, as de Paulo ocupam o primeiro lugar - e entre elas, a ordem em
que foram arranjadas segue primariamente a ideia da extensão decrescente,
levando-se em conta a grande exceção formada pelas Epístolas Pastorais (I e II
Timóteo e Tito), as quais antecedem a Filemom, a mais breve das epístolas paulinas
que chegaram até nós. A mais longa das epístolas não-paulinas, aos Hebreus (cujo
autor nos é desconhecido), aparece em seguida, depois da qual vêm as epístolas
Católicas ou Gerais, escritas por Tiago, Pedro, Judas e João. E por fim, temos o livro
que lança os olhos para o futuro retorno de Cristo, o Apocalipse, livro esse que leva
o Novo Testamento a um mui apropriado clímax.
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3. PANORAMA HISTÓRICO

Quando “Jesus nasceu em Belém da Judéia, nos dias do rei Herodes” (Mt 2:1),
ele encontrou um ambiente social, político cultural estabelecido através de fortes
influências dos povos que dominaram Israel nos últimos quatrocentos anos. Esse
ambiente foi determinante para a propagação do evangelho e para a expansão da
igreja cristã no mundo antigo. Assim, vamos começar esse capítulo estudando os
antecedentes históricos do Novo Testamento.

3.1 Antecedentes Históricos do Novo Testamento

Durante os três anos do seu ministério, Jesus ficou conhecido em todo o território
de Israel. E menos de trinta anos depois da sua morte já havia igrejas cristãs em um
vasto território (Grécia, Ásia e Europa). Você já se perguntou como a mensagem de
Cristo pode ter se expandido tão ampla e rapidamente em uma época em que não
havia rádio, televisão, jornais ou Internet? Ou como Paulo e seus amigos viajavam
distâncias tão grandes para pregar o evangelho e fundar novas igrejas?

Deus criou um ambiente propício para que o seu Reino se expandisse de acordo
com os seus planos. Uma grande sucessão de importantes eventos históricos
preparou o caminho do Messias.

Alguns fatores que Favoreceram o Ministério de Jesus


Retorno do povo judeu, que estava cativo na Babilônia, a Israel;
Desenvolvimento logístico do sistema de correios;
Globalização da língua grega;
Propagação da cultura e filosofia gregas;
Construção de um grande número de estradas;
Dispersão dos judeus e estabelecimento de várias sinagogas no
mundo antigo;
Anseio de liberdade dos judeus.

A conjuntura que possibilitou tudo isso foi criada no chamado período Interbíblico,
também conhecido como Intertestamentário ou período do Silêncio de Deus. Esse
último nome se deve ao fato de que os acontecimentos aos quais nos referimos
ocorreram entre o final do ministério do profeta Malaquias (último profeta do Antigo
Testamento) e o início do ministério de João Batista (profeta que precede à chegada
de Cristo).
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Cronologia Panorâmica das Escrituras


Antigo Período Novo Testamento
Testamento Interbíblico
1700 a.C. – 430 a.C. 430 a.C. – 30 d.C. 30 d.C. – 100 d.C.

Embora muitos historiadores e teólogos chamem os quatrocentos e sessenta


anos que separam o livro de Malaquias do início do ministério de João Batista de
Período de Silêncio, o que podemos perceber é que Deus preparou tudo para que o
Messias viesse; e para que a Sua presença fosse rapidamente anunciada. Nessa
época, Israel passou por quatro períodos políticos importantíssimos, incluindo três
dominações por outros povos e um tempo de independência promovido pelos
Macabeus. Veja o quadro abaixo:

Situação Política Datas


Domínio Persa 555-331 a.C.
Domínio Grego 331-167 a.C.
Independência (Período dos Macabeus) 167-63 a.C.
Domínio Romano 63 a.C. ao tempo de
Cristo.

Cada uma das situações políticas vividas pelo povo de Israel teve importantes
influências para a preparação do ambiente em que o nosso Salvador nasceria,
vamos a elas:

3.2 Influências do Império Persa (555 a 331 a.C)

O Império Persa teve seu início muito antes do Período Interbíblico, por volta do
ano 555 a.C., quando começaram as grandes conquistas do rei Ciro. No entanto,
Deus já tinha planos muito especiais para eles Em 588/7 a.C., por causa da sua
grande idolatria, o povo de Deus foi dominado pelos babilônios e levado cativo,
cumprindo a profecia anunciada por Jeremias (Jr 25 12-13; 29 10-11).
Mas, era necessário que o povo voltasse para a terra de Israel, pois o Messias
deveria nascer em Belém, segundo vaticinaria mais tarde o profeta Miqueias (Mq
5:2).
Então, Deus usou o Império Persa da seguinte forma:
1) Libertando os judeus do cativeiro na Babilônia, que durou 70 anos, conforme
havia sido prenunciado pelo profeta Jeremias (Jr 25 12-13; 29 10-11);
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2) Permitindo que o povo judeu reconstruísse o


Templo de Jerusalém na época de Esdras;
3) Autorizaram o povo judeu a restaurar a Lei e o
Sinédrio (Ed 6-10);
4) Permitindo que os muros da Cidade Santa fossem
reconstruídos por Neemias;
5) Desenvolvendo um avançado sistema de correios.
6) Todas essas ações do Império Persa tiveram
reflexos importantes no cumprimento dos planos de
Deus para a formação do ambiente em que o Messias
viria a nascer e para a rápida propagação da sua Santa
Igreja.

3.3 Influências do Império Grego – filosofia e cultura


(331 a 167 a.C.)

O Império Grego teve início com as conquistas de


Alexandre, o Grande (também conhecido como
Alexandre Magno). E se caracterizou por uma
administração diferente de todos os grandes impérios
que o antecederam.
Se os persas foram usados por Deus para permitir
que o povo voltasse a Jerusalém e restaurasse a sua
religião, criando a atmosfera religiosa4 e geográfica
adequada para o nascimento de Jesus, os gregos deram
as seguintes colaborações:
1) A Língua Grega – A rápida propagação do
Evangelho carecia de uma língua universal que
permitisse a circulação da Palavra sem necessidade de transmitir para outras
línguas;
2) A Filosofia Grega –os filósofos gregos desmascararam as falsas ideias
religiosas daquela época, levando as pessoas a procurarem uma religião que
não fosse baseada em mitos. Eles ensinaram, também, que:
2.1) A realidade não era temporal, nem material; mas, eterna e
espiritual (ver o Timeu de Platão);
2.2) Há uma forte distinção entre o bem e o mal, o certo e o
errado; isto é, já discutiam sobre ética e moral;
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2.3) o futuro eterno do homem é uma reflexão importante para


o ser humano (ver Apologia a Sócrates e Críton de Platão).
3) Enfraquecimento do politeísmo e do misticismo através da racionalidade
materialista, criando um ambiente perfeito para a mensagem de Cristo,
oferece uma perspectiva espiritual que não abandona a razão.

Enfim, os gregos cooperaram para a criação de um ambiente intelectual propício


à fé cristã. A valorização do conhecimento lógico e do caráter crítico de avaliação do
mundo colaborou com o desenvolvimento de uma mensagem que supre, de fato, as
necessidades espirituais e racionais do povo antigo e de todas as épocas.

3.4 Influências Religiosas dos Judeus

Embora seja um período de grande importância histórica, a influência religiosa


dos judeus não está restrita ao período de independência política (167 a 63 a.C.).
Nessa época, o povo já estava restabelecido no território de Israel, Jerusalém estava
murada e protegida, o Templo estava reconstruído e em pleno funcionamento.

Então, as colaborações dos


judeus foram as seguintes:
1) Monoteísmo – O
judaísmo estava
solidamente vinculado ao
Deus único, que lhes falou
por meio da Lei (Moisés) e
dos profetas;
2) O Antigo
Testamento – O alicerce
fundamental do
cristianismo está no AT,
com seus ensinos morais e
suas profecias acerca da
vinda de Cristo;
3) Sistema Ético –
Diferentemente da ética
prevalecente na Grécia, os judeus não consideravam que o pecado fosse
apenas um fracasso moral externo, mas a violação da vontade de Deus;
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4) As Sinagogas – Para os judeus o lugar certo para adorar era o Templo


(Único), mas, no tempo do cativeiro babilônico, as sinagogas se tornaram
lugar de adoração, dando início à doutrina que ensina que Deus pode ser
adorado em todo lugar;
5) A Esperança Messiânica – O judaísmo, embora não tenha reconhecido
a Cristo, acreditava vigorosamente na vinda do Messias que estabeleceria
justiça sobre a terra;
6) a Filosofia da História – Para o judeu a história tem significado. Para
eles, o Soberano Deus triunfará na história a despeito da falha humana,
trazendo a era duradoura e o triunfo eterno.

Se os gregos e os persas trouxeram uma estrutura ambiental e cultural para o


Novo Testamento, os judeus nos deram as raízes da teologia neotestamentária. O
AT, contando a história da relação de Deus com o Povo; a Lei, formando o mais
perfeito sistema ético de todos os tempos; a profecia, antecipando o ensino e a
história do Messias, e a Esperança na vinda de Cristo e no Triunfo eterno de Deus
dão sustentação à doutrina que aprendemos no Novo Testamento.

3.5 Influências do Império Romano (63 a.C. ao tempo de Cristo)

O Império Romano foi o sistema político prevalecente durante todo o período do


Novo Testamento. Manteve um sistema escravocrata. Teve característica
essencialmente comercial, deixando a agricultura em segundo plano, fato que gerou
desemprego rural, trazendo as famílias para as cidades. Organizou-se politicamente
em um modelo de república, parecido com o nosso, dividindo o império em
províncias que tinham seus próprios governadores.
As principais colaborações desse império para o ambiente do NT e para a
propagação da mensagem de Jesus foram:

1) A Cidadania Romana – Os romanos desenvolveram um sentido de


unidade e pertencimento que serviu de luz para a agregação do povo de Deus.
Além disso, a cidadania romana possibilitava a circulação do povo de Deus
em todo o Império, facilitando a pregação da Palavra;

2) A Paz Romana – Além da cidadania que dava o direito legal da livre


circulação, o exército romano garantia a paz e a segurança nas estradas da
Ásia, África e Europa, tornando as viagens mais seguras para todos;
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3) O Sistema de Estradas – As estradas romanas eram feitas de estruturas


que duraram séculos (ainda se pode trafegar pela Via Appia nos dias atuais)
e facilitaram as viagens dos comerciantes, das tropas militares e, também, dos
missionários na sua época;

4) O Exército Romano – Roma recebia como soldados os homens das


áreas conquistadas, fazendo deles soldados romanos. Isso ajudou a propagar
a mensagem do cristianismo dentro do próprio exército;

5) A Tolerância Religiosa dos Romanos – Os romanos permitiam que os


povos conquistados mantivessem os seus cultos. Muitos desses povos não
conseguiram sustentar as suas crenças diante da filosofia greco-romana e
acabaram entrando em ‘vácuo’ espiritual que foi, mais tarde, em larga medida,
preenchido pelo cristianismo.

O Império Romano abrangeu todo o período da vida de Cristo e dos autores do


Novo Testamento e, também, de grande parte dos chamados Pais da Igreja. As
estruturas, a cultura e o sistema político-religioso desenvolvido por Roma foi crucial
para que o Novo Testamento alcançasse tamanha amplitude em tão pouco tempo.

3.6 Revisão da História Posterior

Veterotestamentária
Século - Poder Dominante - Eventos Importantes
IV (300s) – Grécia-Macedônia - Conquista por Alexandre o Grande e helenização
intensa do Oriente Médio
IV (300s) - Morte de Alexandre o Grande, em 323 A.C. e divisão do seu império.
IV (300s) - Egito - Hegemonia dos Ptolomeus sobre a Palestina, 320-198 AC.

III (200s) - Primórdios da Setuaginta, com tradução do Pentateuco do hebraico para


o grego

II (100s) - Síria - Hegemonia dos Selêucidas sobre a Palestina, 198 - 167 A.C.
II (100s) - Desenvolvimento dos partidos helenista e hasidim, dentro do judaísmo
II (100s) - Antíoco Epifânio fracassa em anexar o Egito.
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II (100s) - Tentativa violento de Antíoco Epifânio por forçar a completa helenização


ou paganização dos judeus, em 168 A.C.
II (100s) - Irrompimento da revolta dos Macabeus, em 167 A.C., e obtenção da
independência judaica, sob a liderança sucessiva de Matatias, Judas Macabeu,
Jônatas e Simão.

I (100s) - Independência judaica - Dinastia Hasmoneana, 142 - 17 A.C.

I (99-1) - Inquietações intestinas


I (99-1) - Desenvolvimento das seitas judaicas Saduceus, Fariseus e Essênios.
I (99-1) - Roma - Subjugação da Palestina pelo general romano Pompeu, em 63 A.C.
I (99-1) - Antipater e seu filho, Herodes o Grande, ascendem ao poder na Palestina,

Intertestamentária e Neotestamentária
Século - Poder Dominante - Eventos Importantes
I (99-1) – Roma - Assassinato de Júlio César
I (99-1) – Roma - Augusto torna-se imperador romano (27 A.C. - 14 D.C.), às
expensas de Marco Antônio e Cleópatra
I (99-1) – Belém - Nascimento de Jesus, cerca de 6 A.C.
I (99-1) – Judéia - Morte de Herodes, o Grande, em 4 A.C.

DC I (1-99) - Roma - Imperador Tibério (14 - 37 D.C.); Pilatos, governador da Judéia.


DC I (1-99) - Ministério público, morte e ressurreição de Jesus (cerca de 27 - 30 D.C.)
DC I (1-99) - Primórdios da Igreja Cristã, sob a liderança de Pedro, Paulo e outros.
DC I (1-99) - Imperadores Calígula e Cláudio (37 - 41 e 41 - 54 D. C.,
respectivamente) DC I (1-99) - Expansão da Igreja Cristã
DC I (1-99) - Primórdios da literatura do Novo Testamento DC I (1-99) - Imperador
Nero (54 - 68 D.C.)
DC I (1-99) - Perseguição aos cristãos, em escala limitada DC I (1-99) - Martírio de
Pedro e Paulo (64 - 68 D.C.)
DC I (1-99) - Galba, Oto e Vitélio, imperadores por breve tempo (68 - 69 D.C.) DC I
(1-99) - Imperador Vespasiano (69 - 79 D.C.)
DC I (1-99) - Primeira Guerra dos Judeus (66 - 73 D.C.)
DC I (1-99) - Destruição de Jerusalém e seu Templo por Tito, em 70 D.C.
Curso Básico de Teologia 15

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

DC I (1-99) - Imperador Tito (79 - 81 D.C.)


DC I (1-99) - Imperador Domiciano (81 - 96 D.C.)
DC I (1-99) - Reconstituição do Judaísmo em Jamnia, com quase total ênfase sobre
a Torá, após a perda do Templo.
DC I (1-99) - Produção final da literatura neotestamentária com os escritos joaninos
DC I (1-99) - Primórdios de outras perseguições dos romanos contra a Igreja

II (100s) - Imperadores Nerva e Trajano (96 - 98 e 98 - 117 D.C., respectivamente)


II (100s) - Imperador Hadriano (117 - 138 D.C.)
II (100s) - Segunda Guerra dos judeus, sob o líder rebelde Bar Cochba (132 - 135
D.C.)
II (100s) - Reconstrução de Jerusalém, como cidade romana e banimento dos judeus
da cidade.
Curso Básico de Teologia 16

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

4. PANORAMA DOS LIVROS

A Bíblia é uma biblioteca! Ela é composta por 39 livros do Antigo


Testamento e por 27 livros do Novo Testamento, totalizando 66 livros. Com
temáticas especialmente desenvolvidas por Deus para servirem de orientação
para a Igreja e para cada indivíduo em todos os tempos.

4.1 Características e estrutura

A Tabela 1 nos ajuda a compreender as principais características das duas


coleções que compõem a biblioteca completa:

Antigo Testamento Novo Testamento


Livros 39 livros 27 livros
Língua Hebraico e aramaico Grego
Aliança Lei Graça
Local da Aliança Sinai Calvário
Selo Sangue de animais Sangue de Cristo
Ministério Deus Pai O Filho e o Espírito Santo
Tabela 1 – Características dos Testamentos

Os livros do Novo Testamento são centralizados na pessoa de Cristo, mas


mantém profunda relação com o Antigo Testamento. Eles são uma continuação
da história do Povo de Deus e do ensino perfeito de Deus para toda a
humanidade.

Os focos na Lei e na Graça são a grande distinção entre os dois


testamentos, mas isso não implica que não haja graça no AT. Apenas que o AT
mostra o quanto a graça é necessária para pecadores que não podem alcançar
as exigências da Lei.

Quando afirmamos que no AT encontramos o Ministério de Deus Pai e no


NT o de Jesus e do Espírito Santo, estamos fazendo menção ao fato de que cada
pessoa da Trindade se mostra mais presente em determinados momentos da
história e do ensino. Evidentemente, os três, como indissolúveis, estão juntos em
todos os tempos e lugares, gozando dos mesmos atributos, do mesmo poder e
da mesma glória.
Curso Básico de Teologia 17

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

No que tange à forma e a ideia principal, os 27 livros do Novo Testamento


estão dispostos em seis seções, conforme mostra a Tabela 2.

Livros Autores Ideia Principal


Mateus Mateus Jesus, o Messias Prometido
Marcos Marcos Jesus, o Servo de Deus
Evangelhos
Lucas Lucas, o médico Jesus, o Filho do Homem
João João Jesus, o Filho de Deus
Histórico Atos dos
Lucas, o médico A Igreja
Apóstolos
Romanos A vida pela fé
I Coríntios As desordens na Igreja
II Coríntios A autoridade apostólica
Gálatas A graça
Paulinas

Gerais

Efésios Unidade da Igreja


EPÍSTOLAS

Filipenses Alegria em Cristo


Colossenses Paulo Caráter de Jesus
I Tessalonicenses A segunda vinda de Cristo
II A segunda vinda de Cristo
Tessalonicenses
I Timóteo Orientações para liderança
PastoraI

II Timóteo Cuidado com o falso ensino


Tito Orientação para liderança
s

Filemon Conversão de um fugitivo


Hebreus Desconhecido Cristo, mediador de uma nova
aliança.
Tiago Tiago, irmão de Jesus A verdadeira religião
Não-paulinas

I Pedro Pedro Carta a uma igreja perseguida


II Pedro Pedro Alerta contra o perigo dentro da
igreja
I João João, o evangelista Vida de comunhão com Deus
II João João, o evangelista Precação com os falsos mestres
III João João, o evangelista Orientações de liderança
Judas Judas Alerta contra a apostasia
Profecia Apocalipse João, o evangelista Triunfo final de Cristo

4.2 Um pouco dos Evangelhos

A palavra evangelho (euaggeloj) significa o ‘anúncio de boas novas’. Então,


quando, por exemplo, falamos no Evangelho de Lucas, estamos falando das boas
novas contadas por Lucas. Assim, entendemos que os quatro evangelistas
contaram, cada um da sua própria forma, as boas novas que receberam de Deus
Curso Básico de Teologia 18

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

para deixar para todos nós. O evangelho de João segue uma estrutura diferente, por
isso costuma ser estudado à parte. João, talvez por ter sido o apóstolo mais próximo
de Cristo, é o evangelho que apresenta o maior conteúdo exclusivo, isto é, no
evangelho de João encontramos o maior volume de ensinos e histórias que não
estão presentes nos outros três evangelhos.

Quão formosos são, sobre os montes, os pés do


que anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz, do que
anuncia o bem, que faz ouvir a salvação. Ele diz a Sião:
"O teu Deus reina!" (Isaías 52:7)

4.2.1 Qual o significado do “Evangelho” em hebraico?

Várias partes do Novo Testamento foram escritas por judeus vivendo no


Império Romano em algum momento durante o século um depois de Cristo. Um
dos conceitos mais importantes do Novo Testamento é o εὐαγγέλιον (pronunciado:
euangelion), que em português geralmente é traduzido como "o Evangelho". A
palavra Evangelho tem uma conotação significativa para nós cristãos. No entanto,
o significado original em Hebraico ainda não é exatamente esse.

4.2.2. O Reino do Deus de Israel

Em Koine Greco-Judaico, a palavra euangelion é uma palavra composta de


duas palavras: "bom" e "mensagem". Proclamar o Evangelho significa literalmente
anunciar para alguém que algo (realmente) bom aconteceu.

Nos tempos antigos, quando os exércitos de Israel enfrentaram aqueles que


tentaram conquistar suas terras, os mensageiros ficavam prontos para levar as
notícias de derrota ou vitória sobre os seus inimigos. Quando o exército de Israel
era vitorioso, era claro que o Deus de Israel demonstrou seu poder e derrotou os
exércitos protegidos por outros deuses.

4.2.3 Os evangelhos sinóticos e Atos dos Apóstolos

Chamamos de Sinóticos os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, pois eles


narram a boa nova de Cristo dentro de uma mesma estrutura que, acredita-se, tenha
sido desenvolvida por Marcos. Assim, ao ler esses três evangelhos, podemos
encontrar as mesmas histórias e os mesmo ensinamentos de Jesus sendo contados
Curso Básico de Teologia 19

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

sob pontos de vista diferentes, mas divinamente inspirados. Mas, é importante


lembrar que cada um desses evangelhos, também, possui conteúdos exclusivos.

No plano geral dos sinóticos, apenas Mateus e Lucas narram a infância de


Jesus. Já a história do ministério público de Jesus segue a mesma ordem em todos
os sinóticos.

Quanto às diferenças mais marcantes no arranjo dos resultados materiais da


narrativa de uma longa série de eventos relacionados com o ministério de Jesus,
que é peculiar a Mateus e Marcos, Mt 14, 22; 16, 12; em Mc 6, 45; 8, 26; e também
de uma série de eventos relacionados com a viagem a Jerusalém que é encontrada
somente em Lucas 9, 51 e 18, 14.

Como o evangelho de Marcos, cronologicamente, foi o primeiro a ser redigido,


vamos recorrer a ele para identificar suas peculiaridades e suas coincidências em
relação a Mateus e Lucas, ficando assim disposto:

• Marcos tem sete peculiaridades e 93 coincidências.


• Mateus tem 42 peculiaridades e 58 coincidências.
• Lucas tem 59 particularidades e 41 coincidências.

Se a medida de todas as coincidências for representada por 100, teremos


então sua distribuição na seguinte proporção:

• Mateus, Marcos e Lucas – 53


• Mateus e Lucas – 21
• Mateus e Marcos – 20
• Marcos e Lucas 6

Observe o quadro a seguir para ter uma ideia mais clara do que há em comum
entre os Sinóticos:
Curso Básico de Teologia 20

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

Veja, que essas considerações trazem consigo uma gama de teorias com o
objetivo de explicar a composição dos Evangelhos. Para cada teoria, temos a crítica.
Para cada grupo de estudiosos defensores de uma teoria, temos outro grupo de
estudiosos que podem recusar ou podem levantar críticas para determinada teoria.
Ou seja, não há, até o momento, uma unanimidade. Vamos rapidamente elencar
essas teorias e também apresentar as críticas mais evidentes.

Há a teoria da dependência mútua, que indica uma dependência de um


evangelho para o outro. Já a tradição oral leva em conta o que se falava a respeito
de Jesus, dos apóstolos como primeiro estágio que se supõe, para num segundo
momento servir de base para os primeiros escritos. Outra teoria aponta que houve
um Evangelho primitivo, que serviu de base para “consulta” dos autores.
Curso Básico de Teologia 21

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

Atos dos Apóstolos é incluso nesse grupo, por que se trata de uma
continuação do Evangelho de Lucas (veja Lc 1:1-4 e At 1:1-3). Em Atos, Lucas busca
apresentar a forma como os ‘doze’, juntamente com os demais discípulos de Cristo,
deram continuidade à propagação do Reino de Deus. É a história magna do início
da Igreja. Onde o treinamento que Jesus lhes deu durante os três anos de ministério
é aplicado na vida da nova comunidade que se inicia.

Vejamos algumas análises sobre cada um dos livros que compõem esse grupo:

a) Evangelho de Mateus
Perspectiva do Autor: Mateus, um judeu escrevendo para os colegas
judeus, visa fornecer razões suficientes para crer em Jesus como Messias.

Data: desconhecida (visto que ele usou Marcos, muito provavelmente foi
na década de 70 ou 80 d.C.).

Propósitos Implícitos: Apresentar provas que Jesus é o Messias prometido


no Antigo Testamento e fornecer, a partir de uma testemunha ocular, uma
narrativa de Sua vida e de Seus ensinamentos para incutir a crença em Jesus
como Messias e Rei.

Conteúdo: a história de Jesus, incluindo seções extensas de ensino, indo do


anúncio do seu nascimento até o comissionamento dos discípulos para fazer
discípulos entre os gentios.

Receptores: desconhecidos; mas quase certamente cristãos judeus


comprometidos com a missão aos gentios, sendo a opinião mais comum que
tenham vivido em Antioquia da Síria e arredores.

b) Evangelho de Marcos
Perspectiva do Autor: João Marcos, antigo companheiro de Paulo, é um
repórter imparcial, mas sua seleção de material é suficiente para mostrar que
ele é um crente em Jesus e deseja que seus leitores também sigam a Cristo.
É possível perceber um subjacente propósito apologético e evangelístico.

Data: cerca de 65 d.C. (de acordo com Papias, logo depois da morte de
Paulo e de Pedro em Roma).

Propósitos Implícitos: Relatar uma seleção do que Jesus fez e disse


durante a sua vida pública, com vistas a transmitir a verdade sobre quem é
Curso Básico de Teologia 22

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

Ele e o significado espiritual de Sua vida, morte e ressurreição.

Conteúdo: história de Jesus, do batismo até a ressurreição. Dois terços da


narrativa relatam seu ministério na Galileia, enquanto o último terço relata a
sua última semana em Jerusalém.

Receptores: a igreja em Roma, o que explica sua preservação junto com os


Evangelhos de Mateus e de Lucas, mais extensos.

c) Evangelho de Lucas
Perspectiva do Autor: Lucas, um médico amado (Cl 4.14), acompanhou
Paulo em algumas viagens missionárias. Apesar de não ser testemunha
ocular dos fatos que narra, ele escreve como um historiador cauteloso que
realizou uma pesquisa meticulosa.

Data: incerta; os estudiosos se dividem entre uma data anterior à morte


de
Paulo (64 d.C., ver At 28:30-31) e outra depois da queda de Jerusalém
(70 d.C., pelo uso que o autor faz do Evangelho de Marcos).

Propósitos Implícitos: Apresentar um relato organizado da vida, morte e


ressurreição de Cristo, para que os leitores conheçam a certeza das coisas
(Lc 1.4)

Conteúdo: A história de Jesus como a primeira parte de Lucas-Atos, que é


a história da salvação de “Israel”, que Cristo e o Espírito realizaram; essa
parte começa com o anúncio do nascimento de Jesus e continua até a sua
ascensão.

Receptor(es): Teófilo é de outro modo desconhecido; seguindo o costume


dos prefácios desse gênero na literatura greco-romana, ele provavelmente
foi o patrocinador do livro de Lucas-Atos, subscrevendo portanto a sua
publicação; os leitores implícitos são cristãos gentios, cujo lugar na história
de Deus é assegurado por meio da obra de Jesus Cristo e do Espírito Santo.

d) Atos dos Apóstolos


Perspectiva do Autor: Lucas vê o livro como uma extensão de seu
Evangelho, e assim, contando toda a história de Cristo em dois volumes (At
1.2). O livro é tanto uma interpretação ou explicação dos acontecimentos na
igreja primitiva como é uma história.
Curso Básico de Teologia 23

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

Data: ver informações sobre o Evangelho de Lucas.

Propósitos Implícitos: Oferecer um relato minucioso da origem e do


desenvolvimento inicial da igreja cristã, enfatizando o papel do Espírito Santo
ao gerá-la e no ministério fiel de indivíduos centrais (nos eventos das histórias
narradas).

Conteúdo: a parte 2 do relato de Lucas sobre as boas-novas de Jesus; de


que maneira, pelo poder do Espírito, as boas-novas se espalharam de Jesus
até Roma.

Receptor(es): Ver Lucas.

4.2.3. O Evangelho de João


João escreveu atestando a veracidade da encarnação de Deus. Assim, João
apresenta, logo no primeiro capítulo, Jesus como a Palavra, o autor da criação (vs.
1:1-4, 10) e como aquele que veio ao mundo em missão de amor ao mundo criado
(3:16). Outra figura forte que João apresenta, ainda no primeiro capítulo, é a de
“Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (1:29), indicando o caminho
sacrificial do Deus encarnado.
Perspectiva do Autor: João escreve como um discípulo de Jesus – na
verdade, como o discípulo que Jesus amava (Jo 21.7). João acompanhou
Cristo em suas viagens como uma testemunha ocular dos fatos, diálogos e
falas que ele registra, e quer que seus leitores compartilhem de sua própria
crença em Jesus.

Data: provavelmente entre 90-95 d.C.

Propósitos Implícitos: Registrar os fatos e os sermões da vida de Jesus


que levarão o leitor ou ouvinte a crer nele como Salvador do mundo.

Conteúdo: a história de Jesus, Messias e Filho de Deus, contada a partir de


uma perspectiva pós-ressurreição; na sua encarnação, Jesus revelou a Deus
e tornou sua vida disponível a todos por meio da cruz.

Receptor(es): parece-nos ter sido enviada a uma comunidade cristã


bastante conhecida do apóstolo, provavelmente a mesma a quem se dirige
em I João.
Curso Básico de Teologia 24

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

4.3 As cartas e epístolas


É comum, mas não pacífico, entre os estudiosos aceitar que cartas são
aquelas correspondências que são enviadas a uma pessoa específica sem a
intensão de que deva ser mostrada à comunidade. Enquanto epístolas seriam
justamente o contrário, aquelas correspondências que se destinam a uma
comunidade, sem direcionamento pessoal.
As cartas e epístolas são um subconjunto precioso no NT, são nove
epístolas e quatro cartas atribuídas a Paulo; mais Hebreus, Tiago, I e II Pedro e
I e II João que são epístolas e III João que é uma carta endereçada a Gaio.
Vamos dividi-las da seguinte maneira:

4.3.1 Epístolas Paulinas


As epístolas Paulinas são, sem dúvida, a maior fonte de ensino do
Novo Testamento, toda a doutrina cristã emerge desse conjunto de livros.
Obviamente, elas são um complemento aos evangelhos e somam-se com as
outras obras da Bíblia. Enfatizo, portanto, a grande importância desse pequeno
grupo de livros para o amadurecimento da fé cristã nos corações dos dias atuais.
ROMANOS
Perspectiva do Autor: Há muito tempo incapaz de fazer uma visita
missionária, Paulo se apresenta aos romanos escrevendo-lhes um relato
completo de sua teologia madura. Ele escreve com uma profunda aflição
espiritual pelos judeus que ainda não vieram a Cristo, e também pelos gentios
que buscam um entendimento mais profundo do Evangelho.

Propósitos Implícitos: Oferecer um resumo completo das grandes doutrinas


da salvação com suas implicações práticas para a Igreja; preparar o caminho
para uma visita pessoal a Roma; e estabelecer as bases para uma junta
missionária para a Espanha.

Conteúdo: instrução e exortação apresentando a compreensão que Paulo


tem do evangelho – de que judeus e gentios, juntos, formam o povo de Deus,
com base na justiça recebida pela fé em Jesus Cristo e na dádiva do Espírito.

Receptores: a igreja em Roma, que não foi fundada por Paulo nem estava
sob sua jurisdição – embora ele saúde ao menos vinte e seis pessoas
conhecidas suas (16:3-16).

I CORÍNTIOS
Perspectiva do Autor: Paulo sente uma profunda ligação pessoal com a
igreja e com os líderes. Ele tem plena consciência das situações que
Curso Básico de Teologia 25

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

enfrentam e responde com um amor estável diante da rejeição aberta ao seu


ensino e padrão de ministério.

Propósitos Implícitos: Paulo fundou a igreja de Corinto em sua segunda


viagem missionária (At 18). Ele escreve em resposta a um relatório de
problemas na igreja e responde às dúvidas colocadas pelos membros dela.

Conteúdo: uma carta de correção, uma exortação ao comportamento


dos membros daquela igreja que afrontava o evangelho de Cristo e a
vida no Espírito.

Receptores: a igreja em Corinto, composta principalmente por gentios (12:2;


8:7).

II CORÍNTIOS
Perspectiva do Autor: Paulo escreve como alguém intimamente ligado à
igreja à qual ele escreve, tendo ministrado ali por um ano e meio. Ele tinha
testemunhado o arrependimento dos coríntios e a persistência de certos
elementos de divisão na igreja.

Propósitos Implícitos: Elogiar os destinatários pelo progresso espiritual que


alcançaram; levantar fundos para os cristãos necessitados; e reafirmar a
autoridade apostólica de Paulo em resposta aos ataques recentes.

Conteúdo: é possível que se trate de duas cartas (1-9 e 10-13) combinadas


em uma, tratando principalmente do relacionamento tênue de Paulo com a
igreja coríntia, e de várias outras questões: o ministério de Paulo, a coleta
para os pobres de Jerusalém e a questão referente a alguns cristãos
judeus itinerantes que invadiram a igreja.

Receptores: os mesmos de I Coríntios.

GÁLATAS
Perspectiva do Autor: Paulo está agitado e alarmado, muito mais do que
em qualquer outra de suas cartas. Ele imediatamente elabora uma defesa
vigorosa de sua autoridade apostólica, não por que isso seja importante para
ele pessoalmente, mas porque está ligado àquilo que lhe importa mais do
que qualquer outra coisa no mundo: a graça de Deus, que não vem observar
alguma lei, mas comente confiar em Cristo.

Propósitos Implícitos: Abordar uma crise repentina na Galácia (uma região


na parte sul da Ásia Menor), onde os missionários cristão judeus estavam
dizendo aos gentios que estes tinham que receber a marca judaica da
circuncisão para pertencer totalmente a Cristo. Para combater esse ataque
Curso Básico de Teologia 26

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

legalista no evangelho, e proteger as igrejas que ele fundou de abandonar a


ortodoxia cristã, Paulo defende a doutrina da justificação somente pela fé.

Conteúdo: uma argumentação contra alguns ‘missionários’ cristãos judeus


que insistem em que os gálatas (por serem originalmente gentios) deviam se
circuncidar para ser parte do povo de Deus.

Receptores: cristãos gentios da Galácia.

EFÉSIOS
Perspectiva do Autor: Livre da necessidade de abordar situações
específicas na vida de uma igreja local, Paulo escreve para os cristãos em
geral e tem um ponto de vista cósmico. Um professor, por natureza, busca
aumentar a compreensão de seus interlocutores confirmando que se
tornaram crentes em cristo.

Propósitos Implícitos: Louvar as maravilhas que Deus tem feito pelos


crentes em Cristo; engrandecer a consciência dos cristãos e da identidade
deles em Cristo; chamar os cristãos para aceitarem os deveres que
acompanham o status elevado como crentes em Jesus.

Conteúdo: encorajamento e exortação, situada contra o pano de fundo dos


‘poderes’ (6:12 NVI, outras versões trazem poderios ou potestades), que
retrata Cristo unindo judeus e gentios como o único povo de Deus e como
seu triunfo e glória máximos.

Receptores: talvez uma epístola circular para muitas igrejas na província da


Ásia, de que Éfeso é a capital.

FILIPENSES
Perspectiva do Autor: Paulo escreve da cela de uma prisão romana, a qual
ele considera ser um lugar tão bom como qualquer outro para viver por Cristo,
compartilhar o evangelho, alegrar-se na provisão divina e escrever uma carta
exuberante de encorajamento espiritual aos seus colegas de ministério.

Propósitos Implícitos: Expressar ação de graças pela generosa dádiva do


apoio missionário, fornecer notícias pessoais e abordar os problemas
práticos de uma igreja local.

Conteúdo: ação de graças, encorajamento e exortação da parte de Paulo à


comunidade de cristãos em Filipos, que passa por aflição e experimenta
alguns conflitos internos.

Receptores: igreja em Filipos, fundada por Paulo, Silas e Timóteo.


Curso Básico de Teologia 27

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

COLOSSENSES
Perspectiva do Autor: Paulo escreve com intensa preocupação pessoal aos
cristãos que ele aborda e com paixão pela verdade em oposição ao erro.

Propósitos Implícitos: Afirmar que Cristo é supremo em todas as coisas,


corrigir as doutrinas falsas específicas e as práticas, com base na suficiência
de Cristo, e exortar os cristãos a viver de forma prática (segundo o evangelho.

Conteúdo: encorajamento aos cristãos relativamente novos a continuar na


verdade de Cristo que recebera, e os advertindo contra influências religiosas
externas.

Receptores: os cristãos (principalmente gentios) em Colossos e Laodiceia


(Cl 4:16).

I TESSALONICENSES
Perspectiva do Autor: Nenhuma carta paulina expressa mais carinho e
entusiasmo pessoal aos destinatários do que esta carta aos preciosos
amigos cristãos. Além do mais, Paulo volta as suas admoestações para uma
vida piedosa em torno da doutrina da segunda vinda de Cristo.

Propósitos Implícitos: Paulo quer dizer por carta aquilo que ele não pode
dizer pessoalmente porque fora impedido de fazer outra visita a Tessalônica.
O apóstolo quer expressar um agradecimento pelo bom relatório sobre o
progresso dos Tessalonicenses na vida cristã, exortá-los a viver uma vida
santificada e esclarecer a doutrina da volta de Cristo.

Conteúdo: ações de graças, encorajamento, exortação e informação para


cristãos gentios recém-convertidos.

Receptores: recém-convertidos a Cristo em Tessalônica, a maioria deles


gentios (I Ts1:9-10).

II TESSALONICENSES
Perspectiva do Autor: Paulo escreve novamente como um missionário
exilado com uma preocupação pastoral e pessoal de que os convertidos de
Tessalônica cresçam na vida cristã e “fiquem espertos” teologicamente.
Entretanto, a escrita é menos generosa em sentimentalismo pessoal e mais
eficiente do que em I Tessalonicenses, como se Paulo escrevesse uma
resposta curta.

Propósitos Implícitos: Proporcionar direção e encorajamento à nova igreja


de Tessalônica e dar mais instruções sobre as questões que tinham surgido
Curso Básico de Teologia 28

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

na primeira carta, mas que não foram entendidas e/ou aplicadas da forma
correta, principalmente com respeito ao fim dos tempos.

Conteúdo: Paulo continua a encorajar a congregação em face do sofrimento;


é também uma advertência contra ser confundido com respeito à vinda do
Senhor, e de exortação a certos indivíduos a trabalhar com as próprias mãos
em vez de abusar da generosidade alheia.

Receptores: veja I Tessalonicenses.

Nas epístolas Paulo se dirigiu com ênfase à Igreja de Cristo em sua


coletividade, ele nos ensinou a ser Igreja. Sua mensagem permeou temas
importantes como, por exemplo, os dons do Espírito (I Co 12-14 e Ef 4) como
forma permanente da ação da Trindade na evangelização dos povos (cf. At 1:8);
a necessidade da pregação aos gentios (Gl 1:16; 2:7-9) de um evangelho
exclusivamente vindo de Deus (Gl 1:6-9; 2:2; Cl 1:5-6). Seu ensino sempre teve
como fundamento e alvo o Cristo crucificado e ressuscitado (I Co 2:2; 15:3-4; Gl
3:1) e a expectativa da Segunda vinda (I Ts 4:13-511; II Ts 2).

4.3.1 Cartas Pastorais


As cartas formam um conjunto de correspondências íntimas, em que Paulo,
sob a divina inspiração (ver I Tm 1:1-2; II Tm 1:1-2; Tt 1:1-4; Fl 1-2), se reporta
diretamente aos amigos/discípulos, trazendo orientações sobre caráter, vida
prática, serviço cristão, ânimo para enfrentar as dificuldades, exercício de
liderança e muito mais.
Essas cartas são atualmente lidas por todas as igrejas cristãs e, obviamente,
não se trata de invasão de privacidade, nem de curiosidade sobre a vida dos
outros, mas de profundos ensinos sobre temas de extrema relevância para a
nossa ‘cidadania celestial’.
Basicamente, podemos dizer, nessas cartas, Paulo nos ensina a ser cristãos
na nossa intimidade, já que nas suas epístolas ele havia nos ensinado a ser
cristão na igreja e na sociedade.
Vamos a elas:

I TIMÓTEO
Perspectiva do Autor: Paulo escreve como um missionário experiente,
como um pastor e plantador de igreja (e é claro, um apóstolo) que vem ao
Curso Básico de Teologia 29

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

auxílio de uma das igrejas fundadas por ele, compartilhando algumas


preciosas lições que aprendera em seu ministério. Paulo tinha uma
preocupação igual tanto pelo pastor quanto pelo seu povo, pela crença, bem
como pela conduta.

Propósitos Implícitos: Ajudar um jovem pastor a saber o que dizer e o que


fazer quando confrontar os desvios e outras dificuldades em uma nova
congregação.

Conteúdo: uma acusação contra alguns falsos mestres – reprovando o seu


caráter e ensino, com instruções quanto a várias questões comunitárias que
esses mestres colocaram em crise, intercaladas com palavras de
encorajamento.

Receptores: Timóteo, jovem companheiro de longa data do apóstolo.

II TIMÓTEO
Perspectiva do Autor: Enquanto aguardava no corredor da morte, Paulo
escreveu como um apóstolo prestes a morrer, que havia terminado a grande
luta da fé e estava transmitindo o seu último legado espiritual (a seus irmãos
na fé). Enquanto o tom de I Timóteo era persistentemente prático, nessa
segunda carta Paulo escreve com mais afeição pessoal passional.

Propósitos Implícitos: Inspirar os servos de Deus a perseverar em meio aos


sofrimentos da vida cristã e ministério, até morte.

Conteúdo: um apelo a Timóteo para que se mantenha fiel a Cristo, ao


evangelho e a Paulo, incluindo uma última investida contra os falsos mestres
de quem ele falou na primeira carta.

Receptores: Ver I Timóteo.

TITO
Perspectiva do Autor: Paulo escreve com autoridade apostólica, e isso fica
evidenciado pela forma como ele redige a maior parte da carta no imperativo.
Para reunir todas as instruções que ele consegue pôr em uma carta, que é
curta até para o padrão epistolar do Novo Testamento, ele escreve de forma
breve e eficiente. Há certa urgência no tom (da forma de escrita usada pelo
apóstolo).

Propósitos Implícitos: Aconselhar um jovem pastor a como conduzir sua


obra na igreja e instruí-lo com respeito às prioridades que ele deveria
estabelecer para o seu ministério.
Conteúdo: instruções a Tito para colocar em ordem as igrejas em Creta,
Curso Básico de Teologia 30

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

incluindo a designação de presbíteros qualificados e instruções a vários


grupos sociais, situadas em contraste com os falsos
mestres.

Receptores: Tito, um gentio e antigo companheiro de viagem de Paulo (v. Gl


2:1-3; II Co 7:6-16).

FILEMOM
Perspectiva do Autor: Essa é a carta mais pessoal de Paulo, e
consequentemente, mais simples no estilo e foco. Dada a natureza sensível
da situação que ocasionou a carta, essa correspondência é uma obra-prima
de tato e persuasão indireta.

Propósitos Implícitos: Em seu contexto original, o propósito era instruir o


dono cristão de um servo fugitivo a respeito de como recebê-lo após ele ter
se convertido à fé em Cristo. Nesse momento histórico particular, tendemos
a ver um princípio mais universal governando o perdão e o relacionamento
dos cristãos uns com os outros em um amor fraternal.

Conteúdo: o propósito exclusivo dessa carta é garantir o perdão a um


escravo (provavelmente fugitivo) chamado Onésimo. Uma grande lição de
restauração de relacionamentos.

Receptores: Filemon é um cristão gentio em Colossos (Cl 4:9), em cuja casa


a igreja se reúne.

Os relacionamentos de Paulo com Timóteo, Tito e Filemon têm,


obviamente, graus de intimidade distintos, porém as cartas exalam amor e
cuidado com cada um deles na mesma intensidade. Aos jovens Timóteo e Tito,
que estão na liderança de igrejas locais, Paulo dá conselhos sobre vida, caráter e
doutrina que devem ser absorvidos por todos os líderes das igrejas cristãs.
Mas, no bilhetinho que Paulo escreve a Filemon, hospedeiro e,
provavelmente líder, da igreja na cidade de Colossos, contém um pedido que só
pode ser feito a quem possui Cristo no coração e na consciência. Paulo pede que
Filemon receba de volta um escravo que fugiu da sua casa, que o trate com a
mesma dignidade que trataria o próprio Paulo (v. 17) e que lhe perdoe os prejuízos
causados (v. 18, provavelmente roubo). É o bilhete do perdão radical. Uma linda
lição de cristianismo.
Curso Básico de Teologia 31

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

4.3.2 Epístolas Não-Paulinas


Vamos chamar de epístolas não-paulinas aquelas escritas por Pedro, Tiago
e Judas, bem como a epístola aos Hebreus. Excluímos deste grupo também, as
epístolas de João, pois serão tratadas separadamente. Não é uma nomenclatura
a que se deva nenhuma explicação, mas apenas uma forma de separar os livros
do Novo Testamento.
Esse conjunto de epístolas é especialmente diverso, dificilmente
caberia dentro de qualquer outra classificação que tentassem lhe atribuir. O que
podemos encontrar em comum entre elas? Muito pouco, mas, nessas epístolas,
de maneira geral, o Senhor nos comunica a profunda mudança da relação entre
Deus e a sua criação, ocorrida por ocasião do sacrifício de Cristo. Os temas
centrais dessas epístolas estão ligados ao abandono da visão imperfeita da
religião judaica e à aproximação com a plenitude de Deus em Cristo.
Vamos conhecê-las melhor?
HEBREUS
Perspectiva do Autor: Alarmado pela ameaça de perigos espirituais a seus
leitores, o autor une argumento teológico sustentável e apelo direto
fundamentado na pessoa e obra de Cristo, que serve de exemplo a ser
imitado (pelos cristãos).

Propósitos Implícitos: Avisar os leitores a não abandonar sua fé em Cristo,


mas a suportar as aflições e crescer como cristãos.

Conteúdo: uma “palavra de exortação” (Hb 13:22) enviada na forma de


epístola, encorajando à perseverança fiel à luz da suprema palavra final que
Deus falou por meio de Cristo.

Receptores: um grupo desconhecido, mas específico de cristãos de origem


judaica, por isso, chamados hebreus; não se sabe se esses cristãos estavam
em Roma (13:24), mas, aparentemente, estavam cortando relações com a
comunidade cristã mais ampla (10:25;13:7,17) e, por esta razão, são
exortados.

TIAGO
Perspectiva do Autor: O autor escreve segundo a tradição dos sábios
mestres da Bíblia, observando as verdades e ordenando certos
comportamentos em forma de provérbios. Quanto ao conteúdo, Tiago é mais
conhecido pela sua visão prática, pois ele afirma repetidamente que a fé deve
ser demonstrada. Ao argumentar isso, o autor demonstra uma energia e força
incomum na escrita.
Curso Básico de Teologia 32

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

Propósitos Implícitos: Por causa do famoso discurso sobre a fé e as obras


no capítulo 2, a visão universal é que Tiago escreveu para persuadir os
cristãos de que a vida cristã prática confirma a legitimidade da fé de todos.
Mas além desse discurso, o conteúdo do livro como um todo indica que o
propósito de Tiago era incutir a ideia e o comportamento corretos, assim
como as outras epístolas do Novo Testamento incutem.

Conteúdo: um tratado consistindo em uma série de pequenos ensaios


morais, enfatizando a perseverança no sofrimento e a vida cristã
responsável, com uma preocupação especial no sentido de que os cristãos
pratiquem o que pregam e vivam em harmonia.

Receptores: os fiéis em Cristo entre os judeus da Diáspora.

I PEDRO
Perspectiva do Autor: Pedro escreve com uma intensidade lírica sobre a
vida em Cristo e com um grande senso de autoridade apostólica, ao mesmo
tempo em que exorta e ordena os cristãos a respeito da vida deles no mundo.

Propósitos Implícitos: Instruir os crentes em Cristo a respeito de viver e


perseverar como cristãos em uma sociedade que é hostil aos valores e ao
estilo de vida deles, e encorajar os cristãos que estão sofrendo por causa da
fé.

Conteúdo: encorajamento aos cristãos passando por


sofrimento, instruindo-os sobre como responder de maneira cristã aos
perseguidores e exortando-os a viver uma vida digna do seu chamado.

Receptores: aos cristãos da dispersão, nas cinco províncias da Ásia


Menor (a Turquia moderna).

II PEDRO
Perspectiva do Autor: Extraindo uma pista a partir de II Pe 1.13, 14,
estudiosos consideram que esta epístola se encaixa no gênero do discurso
de despedida de um mentor espiritual (como o discurso que Jesus fez no
cenáculo e como os encontrados em livros de Deuteronômio e II Timóteo). O
autor afirma que está lembrando seu público da doutrina cristã familiar.

Propósitos Implícitos: Incentivar a persistência na fé cristã e no


desenvolvimento do caráter cristão, advertir contra falsos mestres e reforçar
a condenação sobre a profecia bíblica relacionada ao fim dos tempos.

Conteúdo: um discurso de despedida enviado em forma epistolar, exortando


Curso Básico de Teologia 33

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

ao crescimento e à perseverança dos cristãos no contexto de alguns falsos


mestres que quanto negam a segunda vinda de Cristo como vivem
descaradamente no pecado.

Receptores: um grupo de cristãos desconhecido, mas específico.

JUDAS
Perspectiva do Autor: O autor escreve com uma “ira santa” quando ataca
seus inimigos com mais veemência do que qualquer outro confronto que
encontramos no Novo Testamento, com exceção da denúncia de Jesus aos
líderes judaicos em Mateus 23.

Propósitos Implícitos: Denunciar os falsos mestres que conseguiram


adentrar à igreja, e exortar os crentes a perseverarem e manterem a verdade
do evangelho.

Conteúdo: uma carta pastoral de exortação, advertindo severamente acerca


de alguns falsos mestres que “se infiltraram” entre eles

Receptores: desconhecidos, provavelmente uma congregação constituída


predominantemente de cristãos judeus, em algum lugar na Palestina,
bastante familiarizado com o Antigo Testamento e com a literatura
apocalíptica judaica.

A autoria de três dessas epístolas precisa de cuidados especiais, vamos


entender melhor:
a) a autoria da epístola de Tiago: a tradição nos informa de que o autor dessa
epístola é mesmo o irmão de Jesus Cristo. Durante o ministério terrenos de
Jesus, Tiago e seus irmãos não criam nele (Jo 7:5). Tiago provavelmente
passou a crer depois que Jesus ressurreto apareceu a ele (I Co 15:7).
Depois a ascensão de Jesus, Tiago estava no cenáculo junto com os seus
irmãos e os apóstolos (At 1:13-14). Ele assumiu a liderança da igreja em
Jerusalém (At 12:17; 15:13) e foi reconhecido como líder da igreja (Gl 1:19;
2:9, 12) e até encontrou- se com Paulo para ouvir os seus relatos
missionários (At 21:18).
b) a autoria da carta aos Hebreus: embora haja uma insistência por parte de
alguns leigos em afirmar que esta carta foi escrita por Paulo, é senso
comum, entre os eruditos, que não foi. Já no ano 225 d.C. Orígenes, um
dos pais da igreja, dizia que só Deus sabe quem escreveu esse texto.
Obviamente, a única coisa que precisamos saber é que se trata de um
Curso Básico de Teologia 34

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

material divinamente inspirado;


c) a autoria da carta de Judas: para que não haja confusão, não é de Judas
Iscariotes, o traidor. Esse Judas se apresenta humildemente como irmão
de Tiago, portanto, estamos nos referindo a mais um irmão do próprio
Jesus.

4.3.4 Demais escritos joaninos


Além do evangelho, já comentado, João, também, escreveu três epístolas,
ou cartas, e o livro de Apocalipse. Uma de suas principais características é o uso
da experiência particular com Jesus e a ênfase no fato de que Ele é a Palavra
encarnada (veja Jo 1:1-14; I Jo 1:4), que Ele é a Verdade (Jo 14:6; II Jo 1,2; III Jo
1) e que Ele voltará (Ap 1:1-3).
As palavras emotivas, a abordagem mais sobrenatural e a ênfase nos
relacionamentos, também, são características joaninas. O Apocalipse é um
escrito particularmente diferente de todos os outros da própria Bíblia. Ali, João
registra uma mensagem recebida de Deus por meio oral e visual. Figuras
estranhas, aterrorizantes mesmo, aparecem no livro que revela “aos seus servos
o que em breve há de acontecer” (Ap 1:1).
Amor descrito de forma quase poética e a mais espantosa profecia sobre a
segunda vinda de Jesus são componentes marcantes dos escritos joaninos.
I JOÃO
Perspectiva do Autor: O relacionamento de João com os leitores é, sem
dúvida, carinhoso e íntimo. Ele os chama de filhinhos, amados, ou meus
irmãos e utiliza os pronomes nós e a forma oblíqua nos. Primeira João é uma
carta de família – ou talvez até uma carta de avô para a igreja primitiva.

Propósitos Implícitos: Oferecer parâmetros doutrinários e morais por meio


dos quais os cristãos possam saber se sua profissão de fé é genuína e ativa;
encorajar os cristãos a viverem de acordo com o elevado padrão de Deus na
vida espiritual e moral deles.

Conteúdo: um tratado que oferece segurança a alguns cristãos específicos,


encorajando-os a serem leais à fé e prática cristãs – em resposta a alguns
falsos profetas que deixaram a comunidade.

Receptores: uma comunidade cristã, bem conhecida do autor, a quem ele


se reporta como ‘filhinhos’. A tradição aponta para Éfeso.

II JOÃO
Curso Básico de Teologia 35

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

Perspectiva do Autor: O autor se refere a si mesmo como o ancião (v.1) e


escreve com um tom sério e com autoridade apostólica sobre a diferença
entre o verdadeiro cristianismo e suas falsificações.

Propósitos Implícitos: Alertar os cristãos do primeiro século sobre os falsos


mestres que podem chegar à cidade, e fornecer um padrão de regras para
julgar o que é falso na mensagem daqueles mestres.

Conteúdo: advertência contra os falsos mestres que negam a encarnação


de Cristo.

Receptores: veja I João.

III JOÃO
Perspectiva do Autor: Chamando a si mesmo de presbítero, o autor é uma
pessoa e, sintonia com o lado prático da vida cotidiana, tais como a
necessidade dos viajantes (principalmente os cristãos) terem um lugar para
ficar.

Propósitos Implícitos: Convocar os cristãos a serem hospitaleiros para com


os outros irmãos na fé (principalmente aos trabalhadores cristãos itinerantes)
que estão passando pela região.

Conteúdo: a alegria de João em razão da fidelidade de Gaio, seu filho na fé.

Receptores: Gaio, filho na fé de João, que vive em outra cidade.

APOCALIPSE
Perspectiva do Autor: O autor escreve como um profeta (Ap 1.3) que
registrou as visões que contemplou. Ele é o intermediário entre Deus, de
quem se originam as visões, e os seus leitores (Ap 1.1, 10, 11). João escreve
como um narrador na primeira pessoa – Eu vi – mas ele é um observador em
vez de participante nas visões: o qual testificou da palavra de Deus, e do
testemunho de Jesus Cristo, e de tudo o que tem visto(Ap 1.2). A perspectiva
do autor é a de um visionário que percorre um passeio guiado ao céu e ao
futuro.

Propósitos Implícitos: Informar todos os cristãos, iniciando no século


primeiro d.C., a cerca das coisas que brevemente devem acontecer (Ap 1.1),
ou seja, nos últimos dias, que iniciaram com a vinda de Jesus em sua
encarnação.

Conteúdo: uma profecia cristã, apresentada na forma de epístola, tratando


dos dias vindouros e trazendo os temas da grande tribulação (sofrimento) e
Curso Básico de Teologia 36

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

do juízo que se abaterá sobre toda a terra.

Receptores: igrejas da província romana da Ásia (atual Turquia).

A abordagem joanina, em todos os seus escritos, é fundamentalmente


voltada para salvação e vida eterna. É nos escritos joaninos que encontramos a
centralidade da missão de Jesus. João é o único que registra o diálogo do Messias
com Nicodemos, em que Jesus declara que “Deus amou o mundo de tal maneira
que deu seu filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas
tenha vida eterna” (Jo 3:16).
É João que reiteradas vezes registra as declarações mais veementes do Cristo
sobre quem Ele é e o que veio fazer aqui: “eu vim para que tenham vida, e que a
tenham plenamente” (Jo 10:10). As suas epístolas, definitivamente, têm teor
confirmatório da mensagem do seu evangelho. E sua base está na certeza da
vida eterna.
João 20:31 I João 5:13
Mas estes foram escritos para que Escrevi-lhes estas coisas, a vocês
vocês creiam que Jesus é o Cristo, que crêem no nome do Filho de
o Filho de Deus e, crendo, tenham Deus, para que vocês saibam que
vida em seu nome. têm a vida eterna.

Nesses dois trechos, vemos que o propósito de João, tanto no evangelho


quanto nas cartas é o mesmo: comunicar que todo aquele que crê já tem a vida
eterna. Esse propósito não é distinto em Apocalipse, pois nele João anuncia aquilo
que “em breve há de acontecer” (Ap 1:1). E que razão haveria para uma profecia
sobre o fim dos tempos, se não para nos proteger do mal e nos guiar para a
eternidade?
Curso Básico de Teologia 37

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

5. PANORAMA TEMÁTICO

O tema dominante do Novo Testamento é a pessoa de Cristo apresentada


como “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14:6) e como a “luz do mundo” (Jo 8:12),
vinda para guiar os nossos passos fora das trevas. Mas, na pessoa de Jesus,
outros temas se tornam vivos no Novo Testamento, a salvação pela fé, a
perseverança como evidência da salvação e a expectativa do Dia Triunfal do
Senhor.
Esses temas estão permeando todo o Novo Testamento, não se encontram
sistematizados nas Escrituras, pois eles emergem juntamente com vivência de
Cristo e dos seus discípulos. Isso nos faz perceber os temas do Novo Testamento
como ensinos totalmente entranhados no sentido e significado de nossas próprias
vidas. Afinal, todas as profecias ali contidas estão diretamente vinculadas ao
desenvolvimento do nosso caráter por meio da santificação (Fl 2:12).

5.1 Humanidade e divindade de Cristo


O cristão deposita toda a sua esperança em Cristo, a salvação, a eternidade
da alma, a vida comunitária baseada em justiça e amor, o fim do sofrimento
terreno, o triunfo da vida sobre a morte; enfim, o cristão deposita muitas
expectativas na pessoa de Jesus Cristo.
Essas expectativas, evidentemente, só podem ser alcançadas se
estivermos falando de Deus e não de um simples homem. Por outro lado, ao
mesmo tempo, não podemos negar que Jesus Cristo foi plenamente humano, ele
andou pela terra, viveu um tempo cronológico como qualquer um de nós, comeu,
bebeu, sorriu, chorou e conviveu com pessoas.
O fato, contudo, é que Jesus realizou uma obra que seria impossível a um
homem que não fosse Deus e inacessível a um Deus que não fosse homem.
Brunner (1950, p. 339), citado por Boice (2011, p. 231) diz:

Somente quando eles [os discípulos] o entenderam como Senhor


absoluto, a quem pertence a plena soberania divina, a Páscoa, como vitória,
e a Paixão, como um fato da salvação, tornaram-se inteligíveis. Somente
quando conheceram Jesus como o Senhor celestial do presente, entenderam-
se como aqueles que teriam o seu quinhão no Reino messiânico como homens
do novo, da Era messiânica.
Curso Básico de Teologia 38

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

A Páscoa como vitória, a que Brunner (1939) se refere, é a entrega do


sacrifício único e perfeito que selaria toda a história cosmológica da obra divina
sobre a terra. Era necessário que a mais perfeita auto revelação de Deus viesse
em amor, pois essa é a sua essência (I Jo 4:8), para “dar a sua vida em resgate
de muitos” (Mc 10:45b), a saber, de todos os que creem (Jo 3:16).
Assim, Cristo se revela como o que veio para “buscar e salvar os que
estavam perdidos” (Lc 19:10). Fazendo da sua encarnação (Jo 1:14) o meio para
que Ele pudesse ser, simultaneamente, o redentor e o sacrifício perfeito e
inequívoco que tiraria o pecado do mundo (Jo 1:29). Vamos entender como Ele
pode ser, ao mesmo tempo, homem e Deus.

5.1.1 Cristo Homem: o sacrifício perfeito


Os evangelhos escritos por Mateus e Lucas iniciam a narrativa das boas
novas de Cristo a partir do seu nascimento virginal, dando certa ênfase à
genealogia de Cristo. A narrativa apresentada por Marcos ignora a infância do
Senhor Jesus e já começa com o ensinamento moral do seu evangelho,
convocando a todos, na voz de João Batista, para o arrependimento dos pecados.
O quarto evangelho, narrado por João, surpreende por uma narrativa inteiramente
voltada para o reconhecimento da natureza divina de Jesus e da espiritualidade
da Sua obra, mas, considera fundamental a informação de que Cristo foi homem.
Vejamos, então, quais os aspectos da humanidade de Cristo.

a) Sua vida plenamente humana


Jesus Cristo, como já mencionado, está nas listas das genealogias humanas (Mt
1:1-16; Lc 3:23-38). Excetuando-se a concepção divina, seu nascimento foi
totalmente humano (Mt 1:25; Lc 2:7; Gl 4:4). Ele cresceu e se desenvolveu como
qualquer pessoa (Lc 2:40-52; Hb 5:8). Ele apresentou as mesmas limitações que
qualquer um de nós: cansaço (Jo 4:6); fome (Mt 21:18), sede (Mt 11:19). O
sofrimento o afligiu como a qualquer outro ser humano (Mc 14:33-36; Lc 22:63;
23:33). Emocionou-se como qualquer um, demonstrando: tristeza (Mt 26:37);
supresa (Lc 7:9); alegria (Lc 10:21), compaixão (Mt 9:36) e até ira (Mc 3:5). E a
última prova de sua vida plenamente humana é o fato de ele ter padecido em
virtude de armas e de torturas humanas (Lc 22:44; Jo 19:33).

b) Sua vida de devoção ao Pai


Curso Básico de Teologia 39

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

Outra evidência da plena humanidade de Cristo é que Ele estudou, meditou e


explicou as Escrituras (Mt 4:4; 19:4; Lc 2:46; 24:47). Ele orava publicamente (Lc
3:21) e participava das cerimônias públicas de adoração (Lc 4:16). Apresentava-
se ao Pai na sua devoção íntima e pessoal (Lc 6:12).
c) Seu conhecimento limitado
Apesar de sua superioridade em relação à sabedoria de qualquer ser humano (Jo
1:47; 4:29; Lc 6:8; 9:47) e de ser um exímio conhecedor das Escrituras (Mt 22:29;
26:54,56; Lc 4:21ss; 24:27, 44ss), Jesus Cristo tinha limitações de conhecimento
(Mc 5:30ss; 6:38; 9:21; Lc 2:46; Mc 13:22).

d) Suas tentações
Apesar de jamais haver pecado, Cristo foi tentado em todas as coisas, assim
como qualquer um de nós (Hb 4:15).

Mas, em tudo, é preciso ressaltar, Jesus jamais pecou, apesar de ser


plenamente humano. Ele foi o substituto perfeito de Adão, o primeiro homem, que
introduziu o pecado no mundo (Rm 5). Ele nunca sucumbiu à depravação moral
oriunda da Queda (Hb 4:15; 7:26; II Co 5:21).
Por isso, Ele foi o sacrifício perfeito, o único que poderia tirar o pecado do
mundo (Jo 1:29), levar sobre si as nossas culpas (Is 53), trazendo-nos a paz que
era impossível por meio da nossa fragilidade humana (Ef 2).

5.1.2 Cristo Deus: o soberano sofredor


As Escrituras também nos revelam a divindade de Cristo. Mostrando que além
de sacrifício perfeito, Ele foi um soberano que teve a ousadia de sofrer como um
servo por seu povo. As Escrituras apresentam a sua divindade da seguinte forma:

a) Os milagres de Cristo
Os milagres de Cristo, considerando apenas os que foram narrados no Novo
Testamento - pois muitos não foram escritos (Jo 21:25)- tomariam muito espaço
aqui. Mas, a sua concepção divina (Mt 1:20; Lc 1:34, 35) e a sua ressurreição
testemunhada por muitos (Atos 1:3; veja Lucas 24:36-43) são provas
inquestionáveis da divindade e de Cristo.
Curso Básico de Teologia 40

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

b) As palavras de Cristo sobre a sua própria divindade


Severa (2010, p. 231) ensina: o próprio Cristo tinha consciência da sua divindade.
Ele mesmo se iguala ao Pai na vida (Jo 5:26), na honra (Jo 5:23), na glória (Jo
17:5), na eternidade (Jo 8:58), no nome (Jo 8:24), na fórmula batismal (Mt 28:19).
Ele declara sua união com o Pai (Jo 5:18; 10:33, 38). Portanto, não foram só os
discípulos que creram ser Jesus o Filho de Deus. O próprio Cristo sabia da sua
natureza divina.
c) Jesus tinha os atributos divinos
Severa (2010, p. 231-232), também, nos lembra que: Jesus Cristo exerce
atribuições que só cabem à divindade. Ele tem autoridade para perdoar pecados
(Mc 2:10), tem autoridade sobre o sábado (Mc 2:28); sobre a vida dos homens (Mt
16:24-26), e tem poder para salvar os homens dos seus pecados (Mt 1:21; Jo
8:34-36).

Estas são algumas das demonstrações de que, segundo a Bíblia, Jesus


realmente é Deus. Mesmo dotado de tamanho poder, Ele “embora sendo Deus,
não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas
esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens.
E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente
até à morte, e morte de cruz!” (Fl 2:6-8).

5.1.3 Cristo Homem-Deus: o salvador acessível


A dupla natureza de Cristo é fruto da encarnação. Quando “aquele que é a
Palavra tornou-se carne e viveu entre nós” (Jo 1:14a), o mundo mudou
eternamente e a própria concepção de história foi alterada, pois a eternidade
ganhou, definitivamente, espaço na vida cotidiana. Assim, “vimos a sua glória,
glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1:14b).
Desta forma, a encarnação e a imagem de Deus se revelam de maneira única na
pessoa de Cristo, que tornou a nossa salvação possível por meio da sua entrega
e nos deu pleno acesso ao Pai, quando nos ensinou a orar em seu nome. Ele nos
deu o sacerdócio santo (I Pe 2:9).

5.2 O Reino do poderoso Deus feito pelos homens mais fracos


Curso Básico de Teologia 41

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

A expressão grega basileia tou~ Qeou~ (basileia tou Theo) diz respeito ao
governo, ou domínio, absoluto de Deus sobre todas as coisas. Um reino que
estende por todo o céu e por toda a terra. Quando ouvimos falar de algo assim,
pensamos sobre a forma como o Senhor vai comandar tudo isso e que grande
exército Ele vai convocar. Mas, estranhamente, o Senhor tem convocado um
exército bastante diferente do que se imaginava.
De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus levantou-
se, saiu de casa e foi para um lugar deserto, onde ficou orando.
Simão e seus companheiros foram procurá-lo e, ao encontrá-
lo, disseram: "Todos estão te procurando!" Jesus respondeu:
"Vamos para outro lugar, para os povoados vizinhos, para que
também lá eu pregue. Foi para isso que eu vim". (Mc 1:35-38).

O jovem Messias viu-se diante de decisões importantes. Em meio à


vertigem da celebridade, ele tem de conversar com seu Mentor13. Ele precisava
orar. Como muitas vezes faria ao longo dos três anos seguintes, ele se levantou
antes do nascer do sol, caminhou até um lugar tranquilo e, antes que o resto do
mundo abrisse os olhos, teve uma conversa com seu Pai celestial. Afastou
distrações da sua mente, pediu direções e entendeu de forma renovada a visão
daquilo que havia sido envido para fazer. Quando Simão e os outros o
encontraram, ele soube qual deveria ser seu passo seguinte. Sua decisão
dissipou a cortina de fumaça do sucesso.

5.2.1 Revelando o sonho do Reino


Até aqui na narrativa da história de Jesus no Novo Testamento, o Reino de
Deus não foi definido. Os ensinos de Jesus e o exemplo de sua vida com seus
discípulos acrescentaram detalhes ao conceito do Reino. Jesus desafia as
expectativas extremamente nacionalistas dos judeus. Mostra aos seus seguidores
como entrar no reino e conhecê-lo. No processo, fica claro que o Reino de Deus
não é simplesmente algo que acontece no coração de cada indivíduo que se
acerta com Deus. Jesus está claramente decidido a ser líder da criação de uma
nova sociedade, uma nova nação, uma contracultura distinta que existe, prospera
e jura lealdade a Cristo como Rei, bem no meio dos reinos, sociedades, nações e
culturas deste mundo rebelde.
Cristo quebra todas as regras que normalmente regem onde e como um
reino obtém seu poder. A história mostrou que ele foi o monarca mais poderoso
que já reinou, mas todas as estratégias de Jesus refletem “Deus se humilhando
Curso Básico de Teologia 42

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

ao se tornar um servo”. A grandeza é medida em termos de disposição para servir


e sacrifício.
De acordo com a história contada por Mateus (4:23-24), Jesus pregava “as
boas novas do Reino” onde quer que as pessoas ouvissem. Logo se espalharam
notícias de que ele tinha poder para curar. De todas as partes da Galileia vinham
pessoas. Logo as multidões de Jesus adquiriram um perfume distinto: os doentes,
fustigados pela dor, perturbados mental e emocionalmente, epilépticos,
tetraplégicos e paraplégicos – os destruídos, fracos, atormentados, os que
sofriam, vulneráveis, confusos, compulsivos e viciados. Naquele dia, os mais
necessitados foram levados por amigos ou se arrastaram para sair da cama e dos
lugares de confinamento e solidão. Eles acharam o caminho até Jesus porque
ouviram de alguém que ele poderia ajudar. Que jeito de edificar um reino!

5.3 A Comunhão com o corpo de Cristo


Outro tema de grande importância do Novo Testamento é a ideia de Corpo.
Era muito comum na Grécia Antiga utilizar a analogia com o corpo para enfatizar
a necessidade de comprometimento de cada pessoa com o seu grupo social (ver,
por exemplo, o Organon de Aristóteles). Na Bíblia essa analogia é utilizada com
um sentido mais amplo, refletindo sobre a unidade em meio à diversidade.
O Novo Testamento, especialmente nas epístolas paulinas, nos faz
entender que a Igreja do Senhor é formada por muitas pessoas e,
consequentemente, há uma grande diferença entre cada indivíduo. No entanto,
essas diferenças individuais, chamadas de diversidade, não podem atrapalhar a
unidade da Igreja. Por isso, a metáfora do corpo é utilizada para dizer: somos
todos diferentes e por isso temos diferentes funções no corpo, somos todos
importantes e por isso precisamos uns dos outros, temos todos o mesmo valor
para Cristo e por isso Ele nos quer unidos.
Essa importante temática sobre o sentido de Corpo está largamente
presente na doutrina do Novo Testamento. Além da evangelização, que veremos
no tópico a seguir, a comunhão dos Santos é o principal eixo de manutenção da
Igreja de Cristo.

5.3.1 Unidade na diversidade


Desde o princípio, a Igreja de Cristo foi formada por pessoas de
nacionalidades diferentes, culturas diferentes e posições sociais diferentes (veja
At 13:1). Mas, os membros da nova Igreja estavam conscientes de que eles
Curso Básico de Teologia 43

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

faziam parte de um novo Reino e que suas nacionalidades, culturas e posições


terrenas nada significavam, pois algo maior os unia. Por isso, o sentido de corpo
é mais do que uma metáfora organizacional, ou política, é o sentimento de
pertencimento à família de Cristo.
Pois ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um e destruiu a barreira,
o muro de inimizade, anulando em seu corpo a lei dos mandamentos
expressa em ordenanças. O objetivo dele era criar em si mesmo, dos
dois, um novo homem, fazendo a paz, e reconciliar com Deus os dois
em um corpo, por meio da cruz, pela qual ele destruiu a inimizade (Ef
2:14-16).

Portanto, vocês já não são estrangeiros nem forasteiros, mas


concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados
sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, tendo Jesus Cristo
como pedra angular, no qual todo o edifício é ajustado e cresce para
tornar-se um santuário santo no Senhor (Ef 2: 19-21).

Esses dois trechos das Escrituras nos remetem ao tipo e à profundidade do


vínculo que o Senhor criou conosco através da Cruz do Calvário. Ele trouxe
unidade, inicialmente para dentro de nós. No primeiro trecho, Paulo nos fala sobre
a cura de nossa alma. Éramos pessoas divididas, havia, em um mesmo corpo,
dois homens que guerreavam dentro de nós. A primeira solução de Cristo foi
trazer paz para o nosso coração, acabando com a nossa esquizofrenia espiritual
e nos fazendo um só diante dele Ao transformar a nossa mente, Cristo nos
colocou em unidade com todos os irmãos que têm a mesma fé. Não somos mais
estrangeiros, somos concidadãos, participantes do mesmo Reino, membros da
mesma família. Mas, o que isso significa na prática?
5.3.2 A vida em comum
A vida em comunidade continua sendo um grande desafio para a Igreja de
Cristo. Apesar de tudo que manteve unida a Igreja primitiva, mesmo no meio de
suas imperfeições, a história da Igreja nos mostra verdadeiras tragédias de
convívio entre os irmãos, entre as lideranças e, consequentemente, entre o
homem e Deus. O convívio cristão é baseado naquilo que temos em comum,
viabilizando que estejamos juntos.
Mas, na igreja moderna, talvez tenhamos dificuldade de entender o que
temos em comum além do fato de nos reunirmos no mesmo templo. A palavra
grega para comunhão é koinonia, essa palavra era utilizada para sociedades
Curso Básico de Teologia 44

“Procura apresentar a Deus aprovado...” 2Tm 2.15

comerciais, para se referir à relação de Jesus com os discípulos e para apresentar


tudo o que a Igreja tinha em plena comunhão (At 2:42-47).

O que falta nos dias de hoje? Ray Stedman afirma o seguinte:


O que está terrivelmente faltando é a experiência da vida no Corpo;
aquela comunhão calorosa de cristão com cristão que o Novo
Testamento chama de koinonia, e que era uma parte essencial do
cristianismo primitivo. (STEDMAN, 1972, p. 107).

Infelizmente, a história da Igreja vem, de fato, nos mostrando que essa visão
de Stedman não é apenas um arrogo negativista, mas uma realidade triste se
consumando sob a forma de individualismo extremado dentro da casa de Deus.
O fato é que precisamos retomar o caminho através das Escrituras.
O apóstolo João nos ensina que a koinonia é, necessariamente, realizada
em duas vias, ou duas dimensões: precisamos estar ligados a Deus para que
possamos estar ligados aos irmãos Nós lhes proclamamos o que vimos e ouvimos
para que vocês também tenham comunhão conosco. Nossa comunhão é com o
Pai e com seu Filho Jesus Cristo. (I Jo 1:3).

Na mesma carta, ele insiste na necessidade de reconhecermos que nosso


relacionamento com os irmãos é um reflexo daquilo que vivemos com Deus.
Se afirmarmos que temos comunhão com ele, mas andamos nas
trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Se, porém, andamos na
luz, como ele está na luz, temos comunhão uns com os outros, e o
sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. (I Jo 1:6-7).

O pecado nos afasta de Deus e da própria comunidade divina, que é


sobrenatural. Estar perto da igreja física não implica estar próximo da Igreja de
Deus. Principalmente quando o pecado é a discórdia dentro ministério terreno.
Assim, é necessário confessar os pecados, purificar os nossos corações, corrigir
os nossos delitos e restaurar a nossa relação com o Pai para que possamos
restabelecer a vida íntegra na igreja de Cristo.

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