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CS Lewis e a Igreja Católica

Indice

Capa
Folha de rosto
direito autoral
Dedicaçã o
Conteú do
Prefá cio
Introduçã o
Introduçã o à primeira ediçã o
Agradecimentos
Prefá cio
1. Fuja da Puritâ nia
2. Um ateu sadio
3. “Nunca con ie em um papista” ...
4. Conhecendo a Mã e Kirk
5. Tintas e reaçõ es
6. Teologia do contrabando
7. Lewis no Purgató rio
8. Mero Cristianismo
9. Mais Cristianismo
10. O Mero e o Mire
11. Mire Christianity
Apê ndice: CS Lewis e os convertidos cató licos.
Notas
Sã o Benedito

Copyright © 2013 Joseph Pearce


Todos os direitos reservados. Com exceçã o de pequenos trechos usados
em artigos e revisã o crı́tica, nenhuma parte desta obra pode ser
reproduzida, transmitida ou armazenada em qualquer forma, impressa
ou eletrô nica, sem a pré via autorizaçã o por escrito do editor.
Este livro foi publicado pela primeira vez nos Estados Unidos pela
Ignatius Press em 2003. Esta ediçã o da Saint Benedict Press foi
redigitada e revisada. As revisõ es incluem correçõ es ocasionais de
ortogra ia, pontuaçã o e tipogra ia. Esta ediçã o també m inclui uma nova
introduçã o de pe. Dwight D. Longenecker e um novo apê ndice do autor.
Editado por Lapiz.
Design da capa por Caroline Kiser.
Imagens da capa: Basílica de São
Pedro © iStockphoto.com/ToniFlap . Retrato de CS Lewis (1898–1963),
Reino Unido, 1958. (Foto de Wolf Suschitzky / Pix Inc./Time & Life
Pictures / Getty Images).
ISBN: 978-1-61890-230-6
Publicado nos Estados Unidos pela Saint Benedict Press, LLC PO Box
410487 Charlotte, NC 28241 www.SaintBenedictPress.com
Impresso e encadernado nos Estados Unidos da Amé rica.
para
WALTER HOOPER

CONTEÚDO

Prefá cio
Introduçã o
Introduçã o à primeira ediçã o
Agradecimentos
Prefá cio
1. Fuja da Puritâ nia
2. Um ateu sadio
3. “Nunca con ie em um papista ...”
4. Conhecendo a Mã e Kirk
5. Tintas e reaçõ es
6. Teologia do contrabando
7. Lewis no Purgató rio
8. Mero Cristianismo
9. Mais Cristianismo
10. O Mero e o Mire
11. Mire Christianity
Apê ndice: CS Lewis e os convertidos cató licos
Notas

PREFÁCIO

T
A PERGUNTA sobre a habilidade de Igreja de CS Lewis é uma questã o
que nã o vai embora. Quando ele se declarou, na dé cada de 1940, um
“mero” cristã o, isso pareceu um golpe de gê nio. sim. Por que nã o fazer
uma apologia da fé antiga que evita todos os assuntos partidá rios e
expõ e para o incré dulo (e para o crente també m) a natureza da fé cristã
e o raciocı́nio subjacente a esse corpo de fé ? Certamente, o sucesso do
trabalho apologé tico de Lewis parece testemunhar a sabedoria da
abordagem que ele escolheu. Quantas pessoas (milhõ es?) Dariam a
Lewis o cré dito por tê -los ajudado a alcançar a fé cristã verdadeira e
regeneradora?
E mesquinho, entã o, levantar, quarenta anos apó s a morte de Lewis,
a questã o de sua igreja particular? Nã o podemos simplesmente deixá -lo
onde ele desejava? Ele nunca tentou esconder seu anglicanismo; mas
ele nunca quis dar à sua descriçã o da Fé qualquer matiz anglicano mais
remoto. Certamente isso é louvá vel?
De fato. Mas surgem di iculdades. Lewis queria deixar de lado
vá rios tó picos “perifé ricos”. Mas e se esses tó picos nã o forem
perifé ricos ao mais imenso e antigo corpo de cristã os? A natureza da
Eucaristia (e de todos os Sacramentos, na verdade); e o papel da
Santı́ssima Virgem no drama da Redençã o; e o sacerdó cio apostó lico; e
o escritó rio de Pedro; e a Comunhã o dos Santos; e a doutrina do
purgató rio - estes podem ser chamados de “perifé ricos” apenas por um
partidá rio declarado, a saber, um protestante. E o protestantismo
chegou tarde no cená rio cristã o. Entã o. Há uma anomalia aqui: Lewis
deseja que aceitemos sua identidade como um “mero” cristã o; mas
descobrimos que a verdade da questã o é que ele era um mero
protestante. De forma bastante feroz, na verdade. Sua origem no Ulster
coloria suas atitudes de maneira mais espalhafatosa do que ele, em seus
momentos friamente racionais, gostaria de admitir. (Ele ica furioso,
por exemplo, quando uma editora cató lica de um de seus livros parece
querer vendê -lo para “ralé de Dublin”.)
Mas existem mais anomalias. Embora ele detestasse todo o negó cio
de igreja “alta”, “ampla” e “baixa” na Igreja da Inglaterra, ele nã o podia
evitar tudo. Ele nã o tinha nada alé m de desprezo pelos clé rigos de
Broad que diluı́ram a fé até que se tornou um mero mingau doentio
(veja seu bispo anglicano em O Grande Divórcio). E ele detestava os
“cheiros e sinos”, lace-cotta, tipo de biretta que se encontram nos
santuá rios anglo-cató licos, e que formavam o mé tier de TS Eliot. Ele só
queria ser deixado sozinho, ir à igreja e terminar com isso.
Mas nã o era tã o simples. Apesar de si mesmo, Lewis avançou cada
vez mais em direçã o ao que só pode ser chamado de anglicanismo
“cató lico”. Mais uma vez - ele odiava o epiceno punctilio
do partido anglo-cató lico : mas sua fé passou a abraçar todos os tipos
de doutrinas e prá ticas que seus leitores evangé licos (que sã o sua
clientela mais entusiá stica) devem ignorar diligentemente. Ele falava da
“Santı́ssima Virgem” e fazia regularmente a sua con issã o ao seu
sacerdote, e acreditava no purgató rio, e até passou a referir-se à
Eucaristia como - que o cé u nos ajude a todos - a Missa!
O anti-romanismo de Lewis permaneceu com ele até sua morte, no
entanto. O objetivo de um livro como este nã o é reclamar. Joseph Pearce
é um dos fortes aliados de Lewis. Mas o pú blico de Lewis encontrará
aqui, eu acho, uma enorme quantidade de material que é fascinante e -
deve-se admitir - pertinente.
Thomas Howard
Manchester, Massachusetts

INTRODUÇÃO

UM SERIO CASO DE ANGLO-PHILIA

UMA

S AN estudante universitá rio americano no inal da dé cada de 1970, fui


acometido de um caso grave de uma doença perigosa chamada Anglo-
philia - o amor por todas as coisas inglesas - e CS Lewis era o grande
culpado. Fui criado em uma famı́lia evangé lica fundamentalista e,
depois do colé gio, visitei a Inglaterra durante uma viagem missioná ria à
Europa.
Fiquei cativado pela vida robusta de Londres, o humor irô nico das
pessoas, a antiguidade singular das aldeias inglesas, os vı́nculos vivos
com a histó ria literá ria e a beleza suave do campo. Cheguei em casa e
disse aos meus pais: “Vou morar lá um dia!”
A religiã o protestante em nossa casa era uma fé tranquila, sincera e
profunda. Nosso cristianismo era a “velha, velha histó ria” de uma raça
humana perdida no pecado e no amor salvador de Deus que enviou seu
ilho para nossa redençã o. Eramos crentes fervorosos, mas nossa fé nã o
era ardente. Depois do colegial, no entanto, frequentei a Bob Jones
University (a faculdade fundamentalista da Carolina do Sul) e lá a
temperatura da religiã o estava bem mais quente.
O Dr. Bob Jones pregou contra a Igreja Cató lica, que era "a grande
prostituta da Babilô nia". Os liberais eram o inimigo, os “meninos
pregadores” seminaristas estavam prontos para rolar, e o inferno era
real. Esta religiã o farejante nã o era para mim. Eu já havia absorvido
profundamente a cultura inglesa e, como formadora de Fala e Inglê s, fui
mais e mais longe. Estava descobrindo uma forma de cristianismo que
era mais profunda, ampla e antiga do que qualquer outra que já
conhecia. O problema era que os fundamentalistas consideravam esse
"outro cristianismo" das principais denominaçõ es protestantes como
"liberal" e "mundano". Fomos ensinados como o modernismo infectou
as igrejas protestantes e que nã o eram con iá veis. Em meio a essas
á guas intelectualmente tempestuosas, CS Lewis me lançou uma tá bua
de salvaçã o.
Lewis forneceu uma ponte entre o cristianismo bı́blico histó rico que
aprendi quando menino e as verdadeiras raı́zes dessa fé na tradiçã o
europeia. Os escritos de Lewis eram ortodoxos e aceitá veis, mas
també m eram inteligentes, espirituosos e novos. Ele defendeu algo que
chamou de “Mero Cristianismo”, que era a fé cristã histó rica e bı́blica
bá sica. Era nisso que eu acreditava, mas Lewis claramente nã o era um
fundamentalista, batista do sul. Que religiã o ele era? Como TS Eliot,
George Herbert, John Donne e outros, descobriu-se que Lewis era
membro da Igreja da Inglaterra e que acreditava ser possı́vel ser um
“mero cristã o” dentro da Igreja Anglicana.
Fiquei muito feliz ao descobrir que existia uma igreja anglicana em
Greenville, Carolina do Sul, e que tı́nhamos permissã o para ir para
lá . Entã o, com alguns outros alunos, comecei a frequentar a igrejinha de
pedra na parte ruim da cidade, e fui imediatamente levado com o Livro
de Oraçã o Comum, acendendo velas, cantando hinos decentes e
ajoelhando-me para orar. Esta era a igreja de CS Lewis! Algué m me deu
um livro de iguras chamado CS Lewis : Imagens de seu mundo. Estava
cheio de fotos de quadrantes verdes dourados de Oxford e pessoas
passeando no rio Cam. Havia fotos de Lewis e os Inklings fumando
cachimbo e bebendo cerveja em aconchegantes pubs ingleses. O livro
era todos os campos enevoados, rios ingleses tranquilos, as colinas
semelhantes a hobbitons da Inglaterra rural, as gló rias celestiais das
capelas de Cambridge e as gló rias caseiras das igrejas rurais.
Estava preso. Foi naquela pequena Igreja Anglicana no coraçã o da
Amé rica do Sul que fui batizado e con irmado na Igreja Anglicana e ouvi
meu pró prio chamado para o ministé rio ordenado.

O APELO DO ANGLICANISMO
O anglicanismo de CS Lewis é atraente para muitos evangé licos
americanos porque dá raı́zes histó ricas e ilosó icas à experiê ncia
subjetiva, luida e ampla do protestantismo americano moderno. A
posiçã o anglicana clá ssica é que a Igreja da Inglaterra (e, por extensã o,
as outras igrejas da Comunhã o Anglicana) sã o a antiga Igreja Cató lica
devidamente reformada. Os anglicanos gostam de insistir que sua igreja
é uma das trê s antigas igrejas apostó licas junto com a Cató lica Romana
e a Ortodoxa Oriental, mas que a irmou tudo o que é bom da Reforma
Protestante.
Os anglicanos a irmam que mantiveram a fé antiga enquanto
eliminavam os excessos e excrescê ncias do catolicismo romano. O
anglicanismo, eles argumentam, é uma forma cató lica de
protestantismo e une as partes boas de ambos por meio da mídia - um
meio-termo. Uma das razõ es pelas quais CS Lewis estava
comprometido com o anglicanismo foi porque ele acreditava que
isso via mídia era o melhor lugar para pregar a fé cristã simples que ele
chamou de "mero cristianismo".
Esse foi o principal apelo do anglicanismo para mim. Senti que
poderia ser cató lico sem ser cató lico romano . Eu poderia compartilhar
a antiga tradiçã o, cultura e espiritualidade do catolicismo, sem toda a
confusã o estrangeira, bagunça e desordem. Eu poderia ser cató lico sem
todas as regras e regulamentos cansativos, ou as doutrinas, decretos e
dogmas adicionais desnecessá rios. Dentro do anglicanismo, eu poderia
ser um “mero cristã o” com CS Lewis.
No entanto, quando me tornei primeiro um anglicano, depois um
padre anglicano, achei cada vez mais difı́cil de inir em que consistia o
“mero cristianismo”. Havia muitos outros dilemas a serem considerados
na vida de fé e na vida da igreja, e como algué m deveria tomar uma
decisã o? CS Lewis propô s "mero Cristianismo", mas em seu
sermã o Transposição, Lewis alerta contra a "mera mentalidade". A
pessoa que determina tudo por “meramente” ou “apenas” ou “nada
alé m de” vê todos os fatos, mas nã o o signi icado. Qualquer tentativa de
reduzir algo grande a algo pequeno deve ser rejeitada.
Lewis argumentou corajosamente que seu “mero cristianismo” era
o “fator comum mais elevado” entre os cristã os, mas nã o é tã o fá cil
de inir exatamente em que consiste o “mero cristianismo”. O mero
cristianismo é de inido apenas pelos credos histó ricos ou existem
certos ensinos morais que sã o exigidos? Em caso a irmativo, quais sã o
obrigató rias e quais nã o sã o? Sã o necessá rias certas disciplinas e
devoçõ es? Se nã o, porque nã o? E quanto aos sacramentos? Se sim, quais
e quantos? Quem decide? A de iniçã o de mero cristianismo depende do
indivı́duo? Depende da igreja particular e de sua liderança? Em caso
a irmativo, como decidimos qual igreja é a melhor?

IGREJA? QUE IGREJA?


Os bió grafos nos dizem que JRR Tolkien tentou persuadir Lewis a
passar do anglicanismo ao catolicismo. Lewis tinha outros amigos
cató licos e um deles estava convencido de que Lewis nunca pensou em
se converter. Fr. Charles Smith diz que Lewis nunca se tornou cató lico
“porque havia muito do protestante da Irlanda do Norte nele. Sempre
houve esse anti-romanismo. ”
Para entender este comentá rio, devemos entender um pouco sobre
a histó ria da terra natal de Lewis. Por cerca de 500 anos apó s a invasã o
normanda da Grã -Bretanha em 1066, a Irlanda foi ofuscada pelos
governantes ingleses, mas só depois que Henrique VIII rompeu com o
papa que um rei inglê s tentou dominar completamente a
Irlanda. Henrique procurou impor sua nova religiã o protestante nã o
apenas ao povo da Inglaterra, mas també m aos irlandeses. Ele falhou.
Como nã o conseguiram tornar o irlandê s protestante, os monarcas
ingleses decidiram importar protestantes da Escó cia e da Inglaterra. Os
colonos ingleses e escoceses nas plantaçõ es reais expulsaram os
irlandeses de suas terras e estabeleceram uma fortaleza protestante na
parte nordeste da Irlanda. A ocupaçã o do que agora é chamado de
Irlanda do Norte gerou con litos é tnicos, polı́ticos e religiosos que
continuaram por mais de 450 anos. Lewis nasceu no meio disso, no
lado protestante da linha.
Apesar de sua inteligê ncia e mente aberta, Lewis manteve um
preconceito contra os cató licos - equiparando-os aos irlandeses, que
eram o inimigo histó rico.
Embora esse seja um aspecto da relutâ ncia de Lewis em se tornar
cató lico, acho que a resposta é explicada de forma mais simples. A
medida que seu mundo se expandia, Lewis veio a entender as raı́zes de
seu pró prio preconceito e Joseph Pearce explica como ele passou a
apreciar o culto cató lico e a espiritualidade. Mais importante do que
qualquer preconceito anticató lico que ele possa ter nutrido, a contı́nua
lealdade de Lewis à Igreja da Inglaterra tinha mais a ver com sua
compreensã o protestante da igreja.
Como Lewis concebeu o Corpo de Cristo? Quem exatamente eram
membros da Igreja de Cristo e como algué m se tornou membro? Lewis
atribuiu aos credos histó ricos em que professou fé na "Igreja Una,
Santa, Cató lica e Apostó lica", mas o que ele quis dizer com essas
palavras se ele nunca deu o passo para se tornar um membro pleno da
ú nica igreja que tem uma reivindicaçã o ser “Um, Santo, Cató lico e
Apostó lico”?
De acordo com a clá ssica eclesiologia protestante, o Corpo de Cristo
- a Igreja - é invisı́vel. Com isso, um protestante quer dizer que a igreja é
composta de todos os verdadeiros crentes em todos os lugares e em
todos os tempos ao longo dos tempos que colocaram sua con iança em
Jesus Cristo. Seu nú mero e identidade sã o conhecidos apenas por Deus
e nã o podem ser determinados por registros de batismo, formulá rios
de membresia, frequê ncia à igreja ou lealdade denominacional.
Para o protestante, esta igreja invisı́vel é “Uma” porque todos os
verdadeiros crentes estã o unidos em sua fé sincera e compromisso com
Jesus Cristo. E “Santo” porque todos os verdadeiros crentes foram
“lavados no sangue do Cordeiro” e participam da justiça de Cristo pela
fé . Este corpo invisı́vel de crentes é “cató lico” porque é universal e
difundido pela idelidade da fé em todos os continentes e todos os
tempos e lugares ao redor do mundo. A igreja invisı́vel de Jesus Cristo é
“apostó lica” na medida em que prega e vive a mensagem simples do
evangelho primeiro pregada pelos apó stolos e registrada na Bı́blia. A
crença protestante clá ssica é que todos esses verdadeiros crentes sã o
unidos pela fé em um conjunto central de crenças fundamentais
compartilhadas e pela obediê ncia a um conjunto compartilhado de
valores do evangelho. Esses valores e crenças sã o tã o bá sicos e ó bvios
que nem precisam ser declarados. Eles sã o o que Lewis apelidou de
"mero cristianismo".

O HALL E AS SALAS LATERAIS


Uma irme convicçã o de que a Igreja de Cristo é invisı́vel - que é
composta de todos os verdadeiros crentes em todos os lugares e em
todos os tempos - deve signi icar que denominaçõ es particulares sã o,
na melhor das hipó teses, um mal necessá rio. Nã o importa se algué m é
metodista ou menonita, anglicano ou da Assemblé ia de Deus, batista,
crente na Bı́blia, presbiteriano ou pentecostal. O que importa é que
você realmente tenha fé em Jesus Cristo e tente segui-lo.
Essa indiferença intencional à religiã o denominacional está na raiz
da ideia de CS Lewis de "Mero Cristianismo". Como ele explicou no
prefá cio de Mero Cristianismo :
O leitor deve ser avisado de que nã o ofereço ajuda a ningué m que
esteja hesitando entre duas "denominaçõ es" cristã s. Você nã o
aprenderá comigo se deve se tornar anglicano, metodista,
presbiteriano ou cató lico romano. Esta omissã o é intencional ... Nã o
há misté rio sobre minha pró pria posiçã o. Sou um leigo muito comum
da Igreja da Inglaterra, nã o especialmente “alto” nem especialmente
“baixo” nem especialmente qualquer outra coisa ... Desde que me
tornei um cristã o, tenho pensado que o melhor, talvez o ú nico serviço
que eu poderia fazer por meus vizinhos descrentes deveriam explicar
e defender a crença que sempre foi comum a quase todos os cristã os.

A ideia da apologé tica de Lewis é de inir e defender as crenças


centrais da fé cristã de uma forma simples para o homem comum. Sua
tentativa de fazer isso revela as suposiçõ es protestantes inatas de Lewis
sobre a igreja. Como cristã o, espera-se que ele “compartilhe o
evangelho” e “apresente seu pró ximo a Jesus Cristo” e ele pretende fazê -
lo no mesmo estilo simples e vencedor tı́pico dos melhores cristã os
evangé licos.
Lewis quer fazer com que as pessoas acreditem em Jesus Cristo sem
o estorvo dos debates denominacionais sobre a doutrina, e em seu
prefá cio ao Cristianismo Mero ele chega a dar trê s razõ es pelas quais
nã o se envolve em debates teoló gicos mais complexos. Seus protestos
de que ele nã o é um especialista em teologia e que tais tó picos estã o
fora de sua cabeça sempre me pareceram hipó critas. Lewis nã o tinha
di iculdade em lidar com ideias complexas quando queria. Na verdade,
ele era muito há bil nã o apenas em dominar difı́ceis idé ias ilosó icas ou
teoló gicas, mas també m em traduzi-las em linguagem simples.
Sua segunda e terceira razõ es para nã o se aprofundar nas
diferenças denominacionais e doutriná rias foram mais persuasivas: ele
nã o achava que debates sobre doutrina ajudavam a ganhar nã o crentes
e sentia que havia uma necessidade mais urgente de defender e
explicar o "mero cristianismo" em vez de enfocar nos pontos mais sutis
da doutrina. “Aquela parte da linha”, escreveu ele, “em que achei que
poderia servir melhor també m foi a parte que parecia ser mais tê nue. E
eu fui naturalmente. ”
Lewis tentou limitar a de iniçã o para concordar com o Credo do
Apó stolo. No entanto, existem vá rias interpretaçõ es do Credo dos
Apó stolos. O que um Anglicano ou Metodista quer dizer com a frase
“Um, Santo, Cató lico e Apostó lico” é muito diferente do que um Batista
ou Cató lico quer dizer. A mesma lexibilidade de interpretaçã o se aplica
a quase todas as fó rmulas do credo. Você pode a irmar que “Deus Pai
Todo-Poderoso” é “criador do cé u e da terra”? Mas o que você quer
dizer com “Deus Pai” e de que forma ele é “criador do cé u e da
terra”? Você deve ser um criacionista? E a evoluçã o? E o que você quer
dizer com “cé u”, a inal? ”
Para que haja uma de iniçã o do que é o mero Cristianismo, deve
haver uma autoridade consensual para fazer a de iniçã o e defendê -
la. Lewis se recusou veementemente a enfrentar essa questã o de
autoridade, e é essa questã o fundamental que é o elefante no corredor.
Lewis explica no prefá cio de Mero Cristianismo que aceitar a fé
cristã e se comprometer com Cristo é como entrar em uma sala a partir
da qual se entra em vá rias salas laterais - as salas laterais sendo a
comunidade cristã à qual se decide entrar.
Espero que nenhum leitor suponha que o “mero” Cristianismo é
apresentado aqui como uma alternativa aos credos das comunhõ es
existentes - como se um homem pudesse adotá -lo em preferê ncia ao
Congregacionalismo ou Ortodoxia Grega ou qualquer outra coisa. E
mais como um corredor de onde as portas se abrem para vá rios
quartos. Se eu puder trazer algué m para aquele salã o, terei feito o
que tentei. Mas é nos quartos, nã o no corredor, que há lareiras,
cadeiras e refeiçõ es. O salã o é um lugar para esperar, um lugar de
onde se pode experimentar as vá rias portas, nã o um lugar para
morar. (…) Você deve continuar orando por luz; e ... acima de tudo
você deve estar perguntando qual porta é a verdadeira; nã o o que
mais lhe agrada por sua pintura e painé is. Em linguagem simples, a
pergunta nunca deve ser: "Eu gosto desse tipo de serviço", mas,
"Essas doutrinas sã o verdadeiras?"
Lewis está correto ao dizer que nã o se deve escolher uma
comunidade cristã de acordo com o gosto ou preferê ncia pessoal, mas
mesmo o mais ardente dos admiradores de Lewis deve ver o elefante no
corredor - a pergunta sem resposta, o enigma que se aproxima e o
enigma recusados.
Se for necessá rio escolher um quarto nã o por preferê ncia pessoal,
mas porque as doutrinas sã o verdadeiras, entã o os quartos nã o podem
ter o mesmo valor. As doutrinas em algumas salas devem ser mais
razoá veis, mais verdadeiras e mais completas do que em outras. Caso
contrá rio, por que haveria quartos diferentes? De acordo com o pró prio
ditado de Lewis, deve-se buscar a expressã o do Cristianismo que seja
mais verdadeira, mais sagrada, mais historicamente con iá vel, mais iel
à s Escrituras e mais completa em sua explicaçã o e aplicaçã o do
Cristianismo.
Devemos partir nessa busca e tomar essa decisã o por conta
pró pria? Como decidir qual sala lateral é a mais ampla e
completa? Onde o pesquisador pode encontrar nã o apenas mais
cristianismo, mas a maior parte do cristianismo? Se cada novo simples
cristã o toma sua pró pria decisã o, como ele pode evitar fazer uma
escolha que é meramente subjetiva? Em algum momento, ele terá que
aceitar orientaçã o. Ele enfrentará a necessidade de se submeter a uma
autoridade maior do que ele mesmo, e essa busca deve levar o mero
cristã o a enfrentar a questã o da autoridade ou "Como posso decidir
qual sala lateral é a mais verdadeira?"

CS LEWIS E A IGREJA CATÓLICA


Se todo mero cristã o tiver de enfrentar esse elefante no corredor, o
enigma permanece: "Por que o incrivelmente brilhante CS Lewis evitou
tã o diligentemente essa mesma pergunta?" Joseph Pearce nos leva na
jornada que explora esse famoso enigma. Ele faz isso com habilidade e
pesquisa meticulosa - conduzindo-nos em uma jornada de exploraçã o e
permitindo-nos encaixar as peças do complexo quebra-cabeça.
Este livro explica as in luê ncias sociais, familiares, intelectuais e
teoló gicas na vida de Lewis e traça os elementos cató licos muito reais
no pensamento brilhante de Lewis, bem como as persistentes
suposiçõ es protestantes que o impediram de ver a necessidade de
"voltar para casa em Roma".
Muitas vezes me perguntam se CS Lewis teria se tornado cató lico se
tivesse vivido por mais vinte anos. Se Lewis tivesse visto as mudanças
na Igreja Cató lica provocadas pelo Concı́lio Vaticano II, e se ele
testemunhasse a capitulaçã o indiscriminada ao modernismo em sua
pró pria Igreja da Inglaterra, ele teria se juntado a seu amigo JRR
Tolkien e entrado em plena comunhã o com a Igreja Cató lica ?
Talvez sim, mas um dos outros aspectos da compreensã o
protestante da igreja é que toda igreja é imperfeita e incompleta. Cada
igreja é prejudicada pela fraqueza humana. E por isso que tantos
“meros cristã os” permanecem em igrejas feridas pelo pecado e
divididas pela heresia e pelo cisma. Eles aceitam o quebrantamento e,
com um pragmatismo resignado, sentem que nã o poderiam fazer muito
melhor em outro lugar, e que a verdadeira demanda é a santidade
pessoal, e nã o a conversã o institucional. Acreditando que qualquer
outra igreja seria igualmente falha, eles permanecem onde estã o por
lealdade e pragmatismo, e sinto que CS Lewis pode ter feito o mesmo.
Fr. Dwight D Longenecker
Greenville, Carolina do Sul

INTRODUÇÃO À
PRIMEIRA EDIÇÃO

eu
F ONE deseja um esboço resumido da atitude de CS Lewis em relaçã o
ao con lito secular entre protestantes e cató licos, pode-se re letir sobre
o par de epı́grafes pelas quais ele escolheu apresentar The Screwtape
Letters.
A melhor maneira de expulsar o diabo, se ele nã o ceder aos textos
das Escrituras, é zombar e zombar dele, pois ele nã o pode suportar o
desprezo.
—Luther
O diabo ... o espı́rito bravo ... nã o suporta ser ridicularizado.
—Thomas More

Ambas as citaçõ es dizem basicamente a mesma coisa; parafraseando


Sã o Paulo: “Ria do diabo e ele fugirá de você ”. Alé m desse conselho
extraordiná rio, o que é notá vel na escolha das epı́grafes de Lewis é a
identidade dos dois autores. Nã o apenas Lutero é protestante e More
cató lico, mas esses dois homens també m sã o considerados campeõ es
de seus respectivos partidos, cada um tendo lutado destemidamente
por sua pró pria posiçã o. Alé m disso, muitos de seus confrontos mais
ferozes foram travados uns contra os outros, muitas vezes em cartas e
tratados mordazes. O fato de Lewis, ele mesmo um anglicano, escolher
essas duas vozes para sua epı́grafe cria uma impressã o
inconfundı́vel. Aqui estã o lado a lado dois homens, um protestante e um
cató lico, que se opuseram implacavelmente durante suas vidas
terrenas, parecendo agora falar com uma voz tranquilizadora, "unidos
em um ú nico partido". O fato de que ambas as vozes recomendam o riso
do absurdo do mal é um testamento para uma convicçã o, vista em
outras partes das obras de Lewis, de que a perspectiva cristã da
comé dia, tanto no sentido alegre quanto no có smico, no inal vencerá o
divisõ es trá gicas que historicamente afetaram o Corpo de Cristo na
terra.
Essa justaposiçã o harmoniosa de Lutero e More pode dizer mais
sobre a abordagem de Lewis da questã o protestante / cató lica do que a
maioria de seus comentá rios explı́citos, que na verdade sã o
esparsos. Ele nã o apenas parece desejar o reencontro, mas també m
sugere que já existe um tipo de uniã o sob a superfı́cie, mesmo na
amarga desuniã o. Lewis nã o era estranho a tal amargura, tendo sido
criado na protestante Belfast em meio a con litos acirrados entre
protestantes e cató licos. Suas razõ es para evitar discussõ es abertas
sobre a questã o, como o presente livro deixa claro, podem ser
parcialmente explicadas por meio de uma compreensã o de seus anos
de formaçã o no Ulster protestante.
Embora Lewis tenha conseguido evitar discutir abertamente a
questã o protestante / cató lica durante a maior parte de sua vida, a
questã o nem sempre o evitou. Quando sua alegoria autobiográ ica The
Pilgrim's Regress foi publicada em 1933, suas imagens ricamente
tradicionais e trama sacramental levaram muitas pessoas em Oxford a
especular que Lewis, de fato, já havia se tornado cató lico. Em certo
sentido, a questã o de sua relaçã o com o catolicismo o perseguiria pelo
resto de seus dias. Em 1952, quando Mere Christianity foi publicado
pela primeira vez como um livro, Lewis tinha se tornado tã o sensı́vel a
questõ es sobre sua postura denominacional que escreveu um Prefá cio
no qual confessa antecipadamente ser anglicano, e entã o procede com
muito cuidado e longamente para defender seu silê ncio ininterrupto
sobre essas questõ es ao longo do resto do livro.
Suas razõ es declaradas para evitar contrové rsias eclesiá sticas
no Cristianismo Mero sã o simples. Ele diz, antes de tudo, que é um mero
leigo e que nã o está quali icado para navegar em á guas tã o
profundas. Em segundo lugar, ele diz que evitou discutir tais disputas
precisamente porque elas “nã o tê m nenhuma tendê ncia de trazer um
estranho para o rebanho cristã o. Enquanto escrevermos e falarmos
sobre eles, temos muito mais probabilidade de impedi-lo de entrar em
qualquer comunhã o cristã do que atraı́-lo para a nossa. ” 1 Sua missã o
neste livro, como ele o entendia, era apresentar o Cristianismo como
uma frente uni icada para um mundo incré dulo, falando aos nã o-
cristã os sobre o profundo testemunho e poder da fé cristã ao longo dos
sé culos. Essa missã o, ao que parece, també m caracterizaria muitos de
seus outros trabalhos. No que diz respeito à questã o da reuni icaçã o da
Igreja Cristã , Lewis vai tã o longe neste Prefá cio que diz que “se eu nã o
ajudei diretamente a causa da reuniã o, talvez eu tenha deixado claro
por que devemos nos reunir”. 2
Em alguns aspectos, o projeto de Lewis foi duplamente bem-
sucedido. Legiõ es de descrentes testi icaram que foram levados à fé em
Cristo lendo as obras de CS Lewis. Alé m disso, no entanto, as obras de
Lewis també m ressoaram profundamente no seio cristã o global. O
Padre Joseph Fessio, SJ, comentou sobre o fenô meno marcante do apelo
universal de Lewis aos cristã os em todo o mundo, que era considerá vel
nos dias de Lewis, e que só cresceu desde sua morte em 1963. O Padre
Fessio fez essas observaçõ es durante uma conferê ncia teoló gica no
meados da dé cada de 1990, que Peter Kreeft lembrou em 1998 como “o
momento mais memorá vel da conferê ncia mais memorá vel de que já
participei”. Assistindo à reuniã o, diz Kreeft, estavam “dezenas de
cató licos romanos de alta octanagem, anglicanos, ortodoxos orientais e
evangé licos protestantes” que, apesar de suas diferenças teoló gicas
notadas, convergiram perto do inal da conferê ncia em um crescendo
de concordâ ncia. Kreeft continua:
Na sessã o de encerramento, o padre Fessio se levantou e propô s [ironia]
que emitı́ssemos uma declaraçã o conjunta de acordo teoló gico entre todos
os ramos ortodoxos histó ricos da cristandade, dizendo que o que nos unia
era a Escritura, o Credo dos Apó stolos, os seis primeiros ecumê nicos
conselhos e as obras coletadas de CS Lewis. A proposta foi aplaudida
universalmente. 3

Como este espetá culo de aplausos alé m das linhas partidá rias pode
sugerir, protestantes, cató licos e ortodoxos orientais conseguiram
encontrar á reas de concordâ ncia substancial nas obras de Lewis, e um
estudo separado poderia ser feito somente sobre esse tó pico. Areas de
amplo consenso incluem assuntos como a centralidade da histó ria da
salvaçã o da morte expiató ria de Cristo na Cruz, a historicidade da
Ressurreiçã o, a autoridade da Sagrada Escritura, a realidade objetiva da
lei moral, a natureza imutá vel (e beleza) da sexualidade humana , e o
valor da famı́lia cristã .
Alé m disso, protestantes e cató licos tendem a ler Lewis de maneiras
que mostram uma versatilidade engenhosa da parte de Lewis. Cada um
pode encontrar passagens em Lewis que parecem ressoar
profundamente com sua pró pria tradiçã o. Lewis tem, por exemplo, uma
habilidade incrı́vel para falar dramaticamente de conversã o, de tomar a
decisã o de entregar a vida a Cristo, o que entã o leva à transformaçã o
em santidade. O clı́max comovente em sua histó ria de conversã o,
contada em sua autobiogra ia Surprised by Joy, foi celebrado por muitos
protestantes que tendem a entender a salvaçã o como um dramá tico, e
até mesmo singular, ato de fé salvador:
Você deve me imaginar sozinho naquele quarto em Magdalen, noite apó s
noite, sentindo, sempre que minha mente se afastava do meu trabalho,
mesmo por um segundo, a abordagem irme e implacá vel daquele a quem
eu tanto desejava nã o encontrar. Aquilo que tanto temia inalmente veio
sobre mim. No Termo da Trindade de 1929, cedi e admiti que Deus era
Deus, ajoelhei-me e orei: talvez, naquela noite, o convertido mais abatido e
relutante de toda a Inglaterra. 4

Aqueles cristã os que chegaram à fé por "orar para receber a Cristo
como seu Senhor e Salvador pessoal" muitas vezes se identi icam
profundamente com a narrativa da conversã o de Lewis - embora, na
passagem acima, Lewis tenha se convertido apenas à fé em Deus, e
ainda nã o a fé em Cristo, que ele narra em um capı́tulo posterior. Nesse
sentido, Lewis apelou historicamente aos "cristã os nascidos de novo" e,
posteriormente, a muitos de seus primos evangé licos, embora os
evangé licos modernos tenham se movido nos ú ltimos anos em direçã o
a uma visã o mais complexa da salvaçã o, enfatizando nã o apenas o ato
inicial de fé , mas subsequente conversã o de cará ter també m. Este é um
tó pico ao qual voltarei.
Se os cı́rculos protestantes tenderam a ver Lewis como um
catalisador para uma conversã o dramá tica, també m os cı́rculos
cató licos enfocaram o assunto de Lewis e a conversã o, embora sob uma
luz ligeiramente diferente. Em um desdobramento que intrigou
profundamente alguns de seus campeõ es protestantes, Lewis foi
creditado (ou culpado) nos ú ltimos anos por colocar vá rias pessoas na
estrada para Roma. Esses convertidos cató licos incluı́ram muitos dos
estudiosos sé rios e discı́pulos de Lewis, alguns dos quais o conheceram
antes de sua morte e que o consideravam um amigo e mentor. Muitos
desses convertidos tornaram-se renomados escritores, editores e
professores cató licos por seus pró prios mé ritos, e suas ileiras incluem
Walter Hooper, Sheldon Vanauken, Thomas Howard, Peter Kreeft e
outros. A presença onipresente do nome de CS Lewis entre os
convertidos cató licos americanos també m é observada na introduçã o
de Walker Percy em Os novos católicos: os convertidos contemporâneos
contam suas histórias, de Daniel O'Neill. A certa altura, Percy resume a
ladainha de livros e autores cató licos que na maioria das vezes induzem
as pessoas a investigar as a irmaçõ es da Igreja Cató lica. Em todos esses
relatos, diz ele, havia um nome imprová vel que sempre reaparecia:
Livros e leituras aparecem aqui tã o amplamente quanto se poderia esperar,
e os escritores, como se poderia esperar, de Aquino a Merton. Mas adivinhe
quem aparece com mais frequê ncia? CS Lewis! Quem, se nã o conseguiu
chegar até o im, certamente entregou uma boa tripulaçã o. 5

Alguns cató licos podem corar e acusar Percy de um triunfalismo


excê ntrico aqui, mas sua observaçã o lança luz sobre um fenô meno
estranho. Dada essa onda de convertidos na Igreja Cató lica no inal do
sé culo XX, muitos dos quais citam os escritos teoló gicos de Lewis como
uma estrela-guia comum, pode-se razoavelmente fazer duas
perguntas. Primeiro, o que há nas obras de Lewis que faz o catolicismo
parecer tã o atraente para tantos? Em segundo lugar, dada essa atraçã o
gravitacional em direçã o ao catolicismo em sua obra, por que o pró prio
Lewis nunca se converteu?
Joseph Pearce é o escritor ideal para responder a essas duas
perguntas. Em seu estudo detalhado sobre o tema dos convertidos
ingleses do sé culo XX ao catolicismo, Literary Converts: Spiritual
Inspiration in a Age of Unbelief, Pearce narra e analisa convertidos entre
os homens e mulheres ingleses mais proeminentes do sé culo passado,
incluindo GK Chesterton, Ronald Knox, Evelyn Waugh, Edith Sitwell e
JRR Tolkien. Sua abordagem integra perfeitamente a biogra ia com
comentá rios espirituais e teoló gicos, mostrando como as vidas desses
cató licos literá rios foram profundamente entrelaçadas ao longo do
tempo, por meio da palavra escrita e falada. Nos relatos de Pearce,
como na introduçã o de Percy, o nome de CS Lewis també m aparece com
destaque. Novamente, surge a pergunta: por que, dada a rede de
convertidos cató licos em cuja sociedade ele se mudou, o pró prio Lewis
nunca se converteu? Daı́ o assunto do presente livro, CS Lewis e a Igreja
Católica, sobre o qual ningué m está mais quali icado para falar do que
Joseph Pearce.
Para ver mais claramente a pungê ncia da pergunta que Pearce se
propõ e a responder, valerá a pena examinar brevemente dois assuntos
teoló gicos tradicionalmente cató licos, como tratados nas pá ginas de
Lewis. Esses dois assuntos sã o o purgató rio e a presença real de Cristo
na Eucaristia, ambos os quais Lewis parece ter compreendido muito
bem e nos quais acreditava fortemente. Alé m disso, à medida que Lewis
trata esses dois assuntos, emerge em seus escritos uma compreensã o
decididamente cató lica da graça, que é talvez a dimensã o mais sutil,
mas psicologicamente mais poderosa de sua obra.
Em termos gerais, o desenvolvimento mencionado anteriormente
em algumas comunidades evangé licas, de pensar na salvaçã o como um
evento ú nico, mas també m como um processo contı́nuo, perigoso e
freqü entemente doloroso, també m destaca uma tensã o nos melhores
escritos de Lewis. Por um lado, Lewis enfatiza a natureza dramá tica da
fé em Cristo e a necessidade de conversã o pessoal. Por outro lado, seus
escritos també m mostram uma compreensã o profunda do processo
gradual e freqü entemente doloroso dessa transformaçã o, já que a
pessoa inteira é refeita à imagem e semelhança de Cristo por meio da
atuaçã o do Espı́rito Santo. Com incrı́vel precisã o, Lewis delineia as
voltas e reviravoltas psicoló gicas pelas quais a graça opera suas
mudanças, tanto na conversã o inicial, como na conversã o diá ria, à
medida que as virtudes cristã s lentamente emergem com o tempo,
muitas vezes atravé s do sofrimento. Essa complexidade psicoló gica na
abordagem de Lewis para a graça atraiu protestantes e cató licos, todos
os quais encontraram uma nova luz sobre o que signi ica tomar suas
cruzes diariamente e seguir a Cristo.
A transformaçã o real da alma pela graça, que cató licos e
protestantes chamam de “santi icaçã o”, é um assunto ao qual ambas as
partes tendem a atribuir um alto grau de importâ ncia. Quanto à
maneira pela qual essa transformaçã o ocorre, no entanto, amplas
divergê ncias tê m surgido historicamente, nã o apenas entre
protestantes e cató licos, mas també m dentro das ileiras de ambos os
partidos. E esse assunto difı́cil em particular sobre o qual Lewis escreve
com espantosa clareza de visã o interior. Em The Screwtape Letters, por
exemplo, em vez de especular sobre o modo teoló gico de transformaçã o
da alma, ou a falta dela, Lewis desce ao assunto mais prá tico e
esclarecedor de dramatizar os movimentos psicoló gicos do bem e do
mal dentro da pró pria alma, retratando as aberturas da graça feitas
pelo inimigo (Deus), junto com as defesas engenhosas e enganosas do
Diabo contra a graça que sussurram atravé s da alma com mais
freqü ê ncia do que a maioria dos cristã os gostaria de admitir. Ao
retratar esses movimentos de graça dentro da psique humana, Lewis
apela tanto aos protestantes quanto aos cató licos no que equivale a
uma linguagem comum.
O dom de Lewis para descrever os efeitos transformadores da graça
també m é evidente em seu retrato do que ele chama de “vida de Cristo”
no Cristianismo Mero. Quando fala da missã o universal de Cristo na
Encarnaçã o, o faz, como era seu há bito, por analogia. Ele faz uma
distinçã o entre bios, o termo grego para vida bioló gica, "o tipo que vem
por meio da Natureza", e zoē, outro termo grego para "vida", pelo qual
ele signi ica "a vida espiritual que vem de Deus desde toda a
eternidade, e que fez todo o universo natural. ” 6 Bios, em outras
palavras, é vida natural e zoē é vida sobrenatural. Cristo, em resumo,
veio infundir a raça humana caı́da, cujos números estã o se esgotando,
com uma dose salvadora de Seu pró prio zoē, ou “vida de Cristo”, que
nã o pode morrer. Para ajudar os leitores a entender a promessa de vida
eterna de Cristo “a todos os que O recebem”, Lewis desenvolve a
analogia ao imaginar um soldadinho de chumbo sendo trazido à vida,
aos poucos, dolorosamente, para se tornar um menino de verdade.
E precisamente porque Lewis viu a transformaçã o e puri icaçã o da
alma pela graça em termos tã o claros e dramá ticos que ele acabou por
achar a doutrina do Purgató rio cada vez mais essencial, e até
iluminadora. Ele escreveu sobre o conceito com certa profundidade em
seu ú ltimo livro, Letters to Malcolm: Chie ly on Prayer, publicado
postumamente em 1963:
Nossas almas exigem o purgató rio, nã o é ? Nã o quebraria o coraçã o se
Deus nos dissesse: "E verdade, meu ilho, que seu há lito cheira e seus
trapos gotejam lama e lodo, mas somos caridosos aqui e ningué m vai
repreender você com essas coisas, nem puxar longe de você . Entre na
alegria ”? Nã o deverı́amos responder: “Com submissã o, senhor, e se
nã o houver objeçã o, eu sim ser limpo em primeiro lugar.” “Pode doer,
você sabe” - “Mesmo assim, senhor.”

O tratamento de Lewis aqui, como em outros lugares, da puri icaçã o da


alma tende a levantar sobrancelhas em todo o espectro protestante, do
baixo batista ao alto anglicano. A crença no Purgató rio é , obviamente,
expressamente proibida no artigo 22 dos Trinta e Nove Artigos do Livro
Anglicano de Oraçã o Comum . O fato de Lewis acreditar em tal doutrina
cató lica mesmo em face da oposiçã o explı́cita de sua pró pria
denominaçã o fez com que o leitor mé dio, compreensivelmente,
perguntasse: "Por que entã o CS Lewis nã o era cató lico?"
Alé m de acreditar nos efeitos puri icadores e, em ú ltima instâ ncia,
purgativos da graça sobre a alma, tanto nesta vida quanto na pró xima,
Lewis tendia a pensar na operaçã o da graça como trabalhando em
cooperaçã o com o corpo e a vontade do homem, em vez de vê -lo em
termos exclusivamente espirituais, como o Espı́rito Santo, por exemplo,
misteriosamente habita no “templo” de cada corpo cristã o. E verdade
que alguns cristã os entenderam a graça dessa forma lendo 1 Corı́ntios
3:16 , onde Sã o Paulo nos lembra: “Nã o sabes que sois templo de Deus e
que o espı́rito de Deus habita em ti?” Lewis, entretanto, tendia a
entender a graça també m como uma força misteriosa que atua nã o
apenas dentro do corpo, mas por meio do corpo, como a vida de uma
lor abre seu caminho por meio do caule para gerar seu
desabrochar. Para muitos protestantes, a Sagrada Comunhã o e o
batismo apenas simbolizam a açã o espiritual da graça, que o crente
alcançou somente pela fé . Eles acreditam que essas açõ es fı́sicas nã o
participam nem facilitam essa graça. Os cató licos, entretanto, tendem a
entender a graça tanto em termos espirituais quanto corporais, vendo
tais açõ es sacramentais como a sagrada comunhã o e o batismo nã o
como meros sı́mbolos, mas como meios e icazes e geralmente
necessá rios de infundir graça na alma. A tradiçã o cató lica tem,
portanto, defendido o dogma de que a graça é mediada por elementos
fı́sicos da mesma forma que o corpo humano de Cristo media Sua
presença divina para aqueles a quem Ele isicamente tocou.
Em uma passagem bem conhecida do Cristianismo Mero, Lewis é
in lexı́vel sobre a natureza fı́sica dos sacramentos em sua capacidade
de transmitir o zoē, ou vida de Cristo, tanto para o indivı́duo cristã o
quanto para todo o Corpo de Cristo em geral. “Esta nova vida é
espalhada”, diz ele, “nã o apenas por atos puramente mentais como a fé ,
mas por atos corporais como o batismo e a Sagrada
Comunhã o”. 8 Esses sacramentos cristã os, diz ele, sã o evidê ncia do
amor de Deus pela maté ria em geral e pelo corpo em particular. Ele
enfatiza seu ponto ao dizer que “nã o adianta tentar ser mais espiritual
do que Deus. Deus nunca pretendeu que o homem fosse uma criatura
puramente espiritual. E por isso que Ele usa coisas materiais como pã o
e vinho para colocar uma nova vida em nó s. Podemos pensar que isso é
um tanto grosseiro e nã o espiritual. Deus nã o: Ele inventou o comer. Ele
gosta de maté ria. Ele o inventou. ” 9
A visã o de Lewis da graça como a vida sobrenatural de Deus,
infundida na alma cristã por meio da açã o fı́sica dos sacramentos,
demonstra uma perspectiva notavelmente cató lica, que mais uma vez
estava fadada a levantar questõ es quanto à sua a iliaçã o
denominacional. Uma de iniçã o de graça muito semelhante à de Lewis
aparece no Dicionário Católico Moderno, onde o Padre John A. Hardon,
SJ, se refere à "Graça Santi icante" como "o estado sobrenatural de ser
infundido por Deus". Ele continua, parecendo até ecoar Lewis,
chamando-o de “um princı́pio vital da vida sobrenatural ... E chamado
de graça santi icadora porque torna santos aqueles que possuem o
dom, dando-lhes uma participaçã o na vida divina. E zoē (vida), que
Cristo ensinou que ele tem em comum com o Pai e que aqueles que
estã o em estado de graça compartilham. ” 10 Alé m disso, ao longo do
caminho cristã o, a Eucaristia, o Pã o da Vida, foi sempre vista pelos
cató licos como «fonte e á pice» desta vida divina, que nutre e restaura a
graça na alma.
Dado o que parece ser uma compreensã o marcadamente cató lica
da graça em Lewis, especi icamente em seu pensamento sobre o
purgató rio e sobre a Eucaristia, nã o é difı́cil entender por que tantos
convertidos cató licos se referiram a Lewis como uma "indicaçã o para o
catolicismo", dando-lhe cré dito principal por colocá -los na estrada para
Roma. A questã o entã o permanece: se ele era teoló gica e
espiritualmente simpá tico ao catolicismo a ponto de induzir outras
pessoas a se converterem, por que CS Lewis nunca se tornou um
cató lico romano? Thomas Howard recentemente deu uma resposta
sucinta e dupla a essa pergunta em seu ensaio apropriadamente
intitulado "Por que CS Lewis nunca se tornou um cató lico romano?" A
primeira razã o, diz Howard, é simples. “Ele nã o queria. Perı́odo." 11 O
segundo, diz ele, é semelhante ao primeiro. “Lewis pensou que Rome
estava errado.” 12 Especi icamente, as duas á reas em que Lewis
encontrou mais di iculdade parecem ter sido a autoridade do papa e a
devoçã o mariana. Por que essas doutrinas serviram como barreiras
para Lewis, ao passo que o purgató rio e a presença real de Cristo na
Eucaristia aparentemente nã o o izeram? A forma do quebra-cabeça
torna-se cada vez mais curiosa.
Em vez de tentar resolver o quebra-cabeça de uma vez por todas,
Joseph Pearce prestou um serviço tremendo a cató licos e protestantes
ao colocar todas as peças na mesa e deixar que o leitor as montasse por
si mesmo, com apenas sugestõ es ocasionais do autor de onde uma certa
peça pode caber. Algumas das peças sã o biográ icas, algumas peças sã o
histó ricas, algumas peças sã o literá rias e algumas peças sã o
teoló gicas. De especial interesse é o tratamento de Pearce da amizade
duradoura de Lewis com JRR Tolkien, que constituiu uma presença
profundamente cató lica ao longo da vida de Lewis. També m sã o
discutidas as relaçõ es literá rias e teoló gicas de Lewis com
predecessores cató licos, como Newman e Chesterton, os quais afetaram
profundamente a compreensã o e prá tica de Lewis da fé cristã . O
resultado aqui é um livro que consegue estabelecer a forma objetiva
das obras teoló gicas e espirituais de Lewis em sua relaçã o com a Igreja
Cató lica, enquanto ao mesmo tempo nã o faz nenhuma pretensã o de
permanecer totalmente desapaixonado. A inal, o assunto é apaixonado.
Em certo sentido, o livro de Pearce torna seguro para protestantes e
cató licos se reunirem e discutirem os enigmas teoló gicos que surgem
nas obras de Lewis, devido tanto à clareza e pertinê ncia das
informaçõ es que ele apresenta, quanto ao bom humor e simpatia que
ele traz para a discussã o. Ao fazer isso, Pearce adiciona sua voz a uma
conversa animada iniciada em 1981 pelo livro de Christopher
Derrick, C. S. Lewis and the Church of Rome, que examina muitas das
mesmas questõ es levantadas por Pearce. Derrick, um amigo de longa
data de Lewis e ele pró prio cató lico, escreve de uma perspectiva
inequivocamente cató lica, e freqü entemente sujeita os escritos de
Lewis ao mesmo tipo de aná lise ló gica que o pró prio Lewis parece ter
valorizado muito. Como tal, o livro de Derrick encontra Lewis de muitas
maneiras em seu pró prio terreno intelectual elevado e, ocasionalmente,
no pró prio estilo combativo de Lewis. O livro de Pearce, em contraste,
pode dar a um pú blico mais amplo novos insights sobre a questã o da
relaçã o de Lewis com a Igreja Cató lica, de maneiras que irã o inspirar
re lexã o e diá logo frutı́fero de seu pró prio tipo.
Se o livro de Pearce torna seguro para cató licos e protestantes ler e
discutir Lewis juntos, també m torna Lewis mais perigoso do que nunca
ler sentado sozinho em casa. A ameaça de conversã o pessoal espreita
em cada pá gina. Em seu primeiro livro, The Allegory of Love, Lewis
destacou as maneiras perigosas pelas quais cató licos e protestantes
tendem a dar errado:
Quando o catolicismo vai mal, ele se torna a velha religião mundial de
amuletos, lugares sagrados e artes sacerdotais; O protestantismo, em sua
decadê ncia correspondente, torna-se uma vaga né voa de banalidades
é ticas. 13

Lewis permaneceu perpetuamente vigilante contra essas corrupçõ es,


tanto em si mesmo quanto em seus leitores. Sua paixã o pelas prá ticas
cristã s tradicionais sempre foi animada pela caridade cristã prá tica. Por
essa razã o, nenhum cató lico ou protestante que seja culpado de
qualquer um dos erros acima mencionados está seguro ao ler CS
Lewis. Ao abordar Lewis, os protestantes que a irmam defender uma
versã o meramente "espiritual" do cristianismo, seja liberal e
"vagamente é tica", ou conservadora e "cheia do espı́rito", estarã o em
perigo perpé tuo de ter seu dualismo puro e organizado entre o espı́rito
e a carne desa iada pelo sacramentalismo de Lewis, seu senso litú rgico
e sua potente compreensã o do muitas vezes minucioso processo de
santi icaçã o. As formas mais tradicionais de cristianismo sacramental
podem começar a parecer atraentes para esses leitores, e quem pode
ver aonde essas seduçõ es nos levarã o? Por outro lado, os cató licos de
berço que caı́ram no ritualismo vazio, sejam excessivamente
supersticiosos ou pouco zelosos mecâ nicos, estarã o em perigo contı́nuo
de descobrir o verdadeiro signi icado e espı́rito que anima tanto a
liturgia quanto os sacramentos, e correrã o o risco de mergulhar de
cabeça no genuı́no Espiritualidade cató lica. Na medida em que o livro
de Joseph Pearce nos aproxima do verdadeiro CS Lewis, ele torna esses
perigos de iluminaçã o para ambas as partes cada vez mais presentes, e
o perigo de crescimento em santidade cada vez mais real.
RA Benthall
Ave Maria College
Ypsilanti, Michigan

AGRADECIMENTOS

S
UCH E a popularidade de CS Lewis que qualquer autor que embarque
em um estudo de sua vida e obra pode encontrar uma fonte rica em
muitos especialistas que estã o dispostos a oferecer sua assistê ncia a um
custo considerá vel em termos de tempo e compromisso - e sem custo
para o autor, exceto sua sincera gratidã o por seus trabalhos em seu
nome. E, portanto, com sincera gratidã o que derramo esses
reconhecimentos.
Nã o pela primeira vez, sinto-me em dı́vida com a amá vel ajuda de
Walter Hooper. Tendo oferecido sua ajuda durante minha pesquisa em
livros anteriores, como Literary Converts e Tolkien: A Celebration, ele foi,
como o maior especialista do mundo em Lewis, mais valorizado do que
nunca durante meu trabalho neste volume em particular. Nã o seria
exagero dizer que ele foi a inspiraçã o para a redaçã o deste estudo em
primeiro lugar, e estou em dı́vida com ele por seu encorajamento e por
sua perı́cia.
Sou grato a Brad Birzer e Philip Nielsen por compartilharem comigo
sua meticulosa pesquisa no Wheaton College, e ao primeiro, em
particular, por sua disposiçã o em oferecer assistê ncia e
aconselhamento sempre que solicitado. O padre Peter Milward, SJ, teve
a gentileza de permitir-me citar extensamente seu livro A Challenge
to C. S. Lewis, cujo trecho, assim citado, enriqueceu meu volume com a
força de seu argumento.
Fui abençoado ao longo de meu trabalho neste volume com a ajuda
de meus colegas do Ave Maria College. Mais particularmente,
Christopher e Sarah Beiting, William Riordan e Al Benthall tê m sido
incansá veis em seus conselhos, experiê ncia e trabalho honesto em meu
nome. Sou especialmente grato ao ú ltimo deles, cuja avaliaçã o
cuidadosa do manuscrito me ajudou a corrigir os vincos durante a
revisã o inal. Ele també m foi bom o su iciente para agraciar este volume
com uma introduçã o.
Agradeço indiretamente ao Padre Jerome Bertram, do Orató rio de
Oxford, por sua experiê ncia no conceito de Refrigerium. Sua pesquisa
sobre este assunto nã o foi realizada com o presente livro em mente,
mas, no entanto, foi extremamente ú til para ajudar a desvendar o pano
de fundo inspirador do delicioso livro de Lewis, O Grande
Divórcio. Outros que ajudaram este volume indiretamente incluem
Barbara Reynolds, Christopher Derrick e Owen Bar ield, cujas
entrevistas comigo durante minha pesquisa para livros anteriores
foram ressuscitadas para uso no presente trabalho. Devo també m
confessar uma dı́vida para com Dwight Longenecker por ser o autor, até
onde eu sei, do jogo de palavras entre “mero cristianismo” e “mais
cristianismo” que usei em vá rias ocasiõ es.
Minha esposa, Susannah, tem apoiado incessantemente, nã o apenas
na assistê ncia especı́ ica que ela ofereceu durante a escrita desta obra,
particularmente em sua leitura de cada capı́tulo conforme foi escrito,
mas també m no sentido mais geral de ser uma companheira constante
e inspiraçã o. Nosso ilho, Leo Patrick, nascido no dia de Sã o Patrı́cio de
2002, estava em gestaçã o no perı́odo em que esta obra estava em seus
está gios embrioná rios. Paradoxalmente, ele atuou como uma grande
fonte de inspiraçã o, mesmo nas ocasiõ es em que foi uma grande fonte
de distraçã o!
O penú ltimo reconhecimento deve ser reservado ao Padre Joseph
Fessio, SJ, Mark Brumley, Tony Ryan e outros trabalhadores destemidos
da Ignatius Press. Um agradecimento especial ao Padre Fessio por sua
fé e apoio em meu trabalho.
O reconhecimento inal pertence ao pró prio CS Lewis, sem o qual
este trabalho seria, é claro, impossı́vel. Estou em dı́vida com ele, assim
como muitos milhõ es de outras pessoas em todo o mundo, e espero que
este volume sirva como um tributo a seus dons eternos.
Alé m de oferecer uma reiteraçã o retumbante de meus
agradecimentos a todos aqueles que me ajudaram a pesquisar e
escrever a primeira ediçã o deste livro, gostaria de oferecer um
agradecimento adicional à queles que tornaram possı́vel esta nova
ediçã o ampliada.
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao pessoal da Saint
Benedict Press por seu apoio entusiá stico, especialmente Robert e
Conor Gallagher, Rick Rotondi e Christian Tappe. Foi ideia de Rick
Rotondi que deverı́amos aprimorar a nova ediçã o com um apê ndice
sobre os convertidos cató licos que foram ajudados em seu caminho
para Roma pelas obras de Lewis. Essa adiçã o realmente aumentou o
escopo e o alcance do livro e acrescentou um grau de seriedade ao seu
conteú do. Como algué m cuja pró pria conversã o foi signi icativamente
in luenciada pela leitura da obra de Lewis (veja meu livro Race with the
Devil: A Journey from Racial Hatred to Rational Love ), tive a ideia de
reunir os ilustres convertidos de Lewisian em um só lugar. Nessa tarefa
grati icante, recebi uma ajuda signi icativa de John Beaumont, autor
de Roads to Rome (St. Augustine's Press), que é o maior especialista do
mundo em convertidos cató licos.
O agradecimento inal deve ser dado aos cató licos conhecidos que
responderam ao meu pedido para que me enviassem seus pró prios
relatos sobre o papel de Lewis em suas conversõ es. Fiquei muito
emocionado com a preciosa dá diva de tempo que esses homens e
mulheres muito ocupados me concederam. E, portanto, com a mais
profunda gratidã o que reconheço a generosidade de Mark Brumley,
Ronda Chervin, Michael Coren, Thomas Howard, Peter Kreeft, Al Kresta,
Jef e Lorraine Murray, Kevin O'Brien, Carl Olson e Thomas
Storck. Espero que este volume, que é em parte fruto de seu trabalho,
sirva como recompensa adequada por seu sacrifı́cio de tempo.

PREFÁCIO

UMA CONFISSAO

M
Os comentá rios PREFATORIOS sobre o seguinte trabalho terã o que ser
uma espé cie de con issã o. Sempre tive esperança de poder escrever um
livro sobre o assunto de CS Lewis e a Igreja Cató lica que pudesse ser
lido com igual prazer, ou pelo menos com igual fecundidade, tanto por
protestantes quanto por cató licos. Tendo agora escrito o livro, continuo
esperançoso de que ainda possa ser o caso. A tarefa, poré m, nã o foi
fá cil. Ao escrever a maioria das obras de nã o- icçã o, um autor diligente
e honesto precisa apenas se preocupar com sua adesã o à verdade
objetiva. Se ele for diligente em sua pesquisa e honesto na maneira
como a pesquisa chega à pá gina escrita, ele terá feito seu trabalho. Com
este livro especı́ ico, no entanto, essa dimensã o constitui apenas uma
parte - e, de fato, a parte mais fá cil - do trabalho.
Alé m da necessidade de aderir à objetividade, há a necessidade de
discutir as questõ es controversas e controversas que um livro como
este inevitavelmente levanta em uma linguagem que irá envolver, mas
nã o enfurecer, o leitor. Isso é muito mais difı́cil de conseguir de forma
satisfató ria.
Nã o é possı́vel ao autor permanecer neutro sobre essas
questõ es; nem é prová vel que muitos de seus leitores, se houver, sejam
neutros sobre essas questõ es. Alguns argumentarã o, sem dú vida, que
Lewis era anticató lico; outros que, ao contrá rio, ele era um cató lico
enrustido; ainda outros argumentarã o que a Igreja Cató lica é
irrelevante para a compreensã o de Lewis e sua obra; outros
argumentarã o que a in luê ncia do catolicismo é central para a vida e
obra de Lewis. Para alguns, Lewis era cató lico demais; para outros, nã o
era cató lico o su iciente.
Falando logicamente, as partes em con lito que podem ter pontos de
vista opostos sobre todo o assunto controverso de CS Lewis e a Igreja
Cató lica se enquadram em quatro categorias distintas. Primeiro,
existem aqueles que desprezam Lewis e a Igreja Cató lica. Aqueles que
se enquadram nesta categoria di icilmente perderã o tempo e se darã o
ao trabalho de ler qualquer livro sobre o assunto e, conseqü entemente,
nã o nos preocupam. Em segundo lugar, existem aqueles que admiram
Lewis, mas nã o gostam da Igreja Cató lica. Os membros deste grupo
irã o, espero, aprender muito com as pá ginas seguintes. Terceiro, estã o
aqueles que admiram a Igreja Cató lica, mas nã o gostam de Lewis. Eles
podem ter algo a aprender com o presente trabalho, mas,
enfaticamente, nã o foi escrito com esse grupo em mente. Finalmente,
existem aqueles que admiram Lewis e a Igreja Cató lica. Assim como o
segundo grupo, espero que este grupo tenha muito a aprender com este
livro.
O livro foi escrito com o segundo e o quarto grupos em
mente. Escrevi para aqueles que compartilham meu amor por Lewis,
independentemente de compartilharem meu amor pela Igreja
Cató lica. Isso me leva a outro assunto para con issã o. Confesso, aqui e
agora, que sou cató lico, tendo sido recebido na Igreja no dia de Sã o José
de 1989. Minha conversã o foi amplamente in luenciada por Chesterton
e Belloc, embora o papel de Lewis nã o tenha sido insigni icante. Até
certo ponto, portanto, meu trabalho nã o é apenas um trabalho de amor,
mas també m um ato de agradecimento.
Sei que alguns protestantes podem icar um tanto descon iados ao
ler um livro sobre o assunto escrito por um cató lico. Eles argumentarã o,
nã o injustamente, que o autor será tendencioso. Talvez por isso. Para
reiterar, é impossı́vel para qualquer autor escrever sobre este assunto
de uma perspectiva neutra. Se ele for cató lico, verá as coisas de uma
perspectiva cató lica; se protestante, ele os verá de uma perspectiva
protestante. No entanto, ambos os lados concordarã o, como amantes de
Lewis devemos, que nã o vivemos em um universo relativista. A verdade
está lá fora. Nosso dever nã o é valorizar nossa pró pria posiçã o, mas
descobrir a verdadeira.
Qual, exatamente, era a relaçã o de Lewis com a Igreja Cató lica? Esta
é a pergunta que iz, e é a pergunta que iz o meu melhor para
responder. Tentei ser objetivo; Tentei ser equilibrado; Tentei ser
justo. Eu tentei, mas nã o tenho certeza se sempre consegui. Isso me leva
a mais uma con issã o. Confesso um elemento de culpabilidade na
maneira como busquei a resposta à pergunta. Ocasionalmente, quando
senti que o pró prio Lewis era culpado, destaquei sua culpabilidade de
uma forma um tanto retó rica. Nã o foi minha intençã o consciente
apenas para marcar pontos para a Igreja Cató lica, na verdade, tem sido
a minha intençã o consciente de evitar fazê -lo, mas estou ciente de que
pode parecer que isso é algo a que os tenho, por vezes, se abaixou. Se
isso for ofensivo, lamento profundamente que o tenha feito.
Por que, portanto, pode-se perguntar, deixei de remover essas
passagens potencialmente ofensivas? Minha resposta é aquela que
tenho certeza de que teria conquistado a aprovaçã o de Lewis, e é por
isso que nã o tenho nenhum sentimento de culpa por tê -los deixado. Há ,
como Chesterton disse e como Lewis demonstrou, um mundo de
diferença entre uma discussã o e uma briga. . “Fico feliz em pensar”,
escreveu Chesterton sobre seu relacionamento com o irmã o, “que
durante todos aqueles anos nunca paramos de discutir; e nunca
brigamos. ” 1
Esforcei-me para tratar o contencioso e a contrové rsia que
inevitavelmente cercam este assunto como um argumento edi icante e
e icaz. Nunca é (Deus me livre!) Uma briga. Se a pergunta deve ser feita
e respondida, devemos aceitar a necessidade de um argumento. O
silê ncio nã o é uma opçã o. Na verdade, seria um pecado de omissã o. O
argumento, bem compreendido e sujeito sempre à caridade, é apenas
um diá logo em que ambas as partes pretendem chegar à verdade, ou
pelo menos chegar mais perto dela. O argumento nunca deve se
deteriorar em uma briga, algo que deve ser considerado escandaloso
entre os cristã os de qualquer convicçã o, mas se nã o discutirmos essas
questõ es, como poderemos concordar - mesmo que, em ú ltima aná lise,
apenas concordemos em discordar?
A questã o central que este livro faz e tenta responder é aquela que
nenhum cristã o tem o direito de evitar. Cristo pediu que todos sejamos
um. Nossas diferenças, como Lewis nunca deixou de nos lembrar, sã o
uma falha em fazer a vontade de Deus. Vive la différence nã o é uma
opçã o. A unidade é um imperativo. Lewis buscou essa unidade em sua
defesa do "mero cristianismo". Este volume, à sua maneira humilde,
tem a mesma intençã o. Lewis icaria, espero, satisfeito que tenha sido
escrito. Espero que meus leitores gostem da discussã o!

ESCAPE DA PURITÂNIA
Sonhei com um menino que nasceu na terra da Puritâ nia e se
chamava John.
- O retrocesso do peregrino 1
T

A frase de abertura de The Pilgrim's Regress, a primeira tentativa de


autobiogra ia de CS Lewis, serve como um lugar apropriado para
começar nossa busca para entender a relaçã o complicada e
freqü entemente problemá tica de Lewis com a Igreja Cató lica. O menino
com quem Lewis estava sonhando era na verdade ele mesmo. No
prefá cio da terceira ediçã o de The Pilgrim's Regress, Lewis descreveu o
“Regress” de John como “minha jornada” 2, indicando inequivocamente
que ele era o Pilgrim no centro da alegoria autobiográ ica. També m é
signi icativo que Lewis tenha escolhido o meio da alegoria como o
meio pelo qual escrever sua autobiogra ia, uma vez que a justaposiçã o
de alegoria e autobiogra ia signi ica que há
um signi icado subjacente para a vida. Nosso objetivo, portanto, será
seguir Lewis da maneira como ele pretendia nos liderar. Devemos nos
esforçar para compreender o sentido de sua vida, tentando entendê -la
como uma peregrinaçã o em busca do sentido da pró pria vida. Essa foi
sua intençã o ao escrever The Pilgrim's Regress e també m sua intençã o
ao escrever suas outras obras autobiográ icas, Surprised by Joy e A Grief
Observed . Devemos tomá -lo como ele pretendia ser levado e seguir
seus passos e passos mentais, enquanto ele viajava em busca da
Verdade.
A jornada de Lewis começa na Puritâ nia, um lugar que possui dois
nı́veis de signi icado. No nı́vel alegó rico ou metafı́sico - o nı́vel da
Verdade - representa o puritanismo; no nı́vel fı́sico - ou no nı́vel do Fato
- representa a infâ ncia de Lewis na atmosfera puritana da Belfast
protestante.
Seria um grave erro ignorar a importâ ncia do local de nascimento
de Lewis na formaçã o subsequente de sua mente, coraçã o e
vida. També m seria um erro ignorar a extensã o em que os gê meos
venenosos do orgulho e do preconceito exercem um controle vicioso
sobre aqueles criados à sombra sectá ria do Ulster em geral, e de Belfast
em particular. Para aqueles que nunca estiveram em Belfast, e que
nunca saborearam a amargura que desce como uma né voa onipresente
sobre seus habitantes cansados e preocupados com a guerra, nenhuma
palavra irá transmitir o poder que o preconceito generalizado exerce
em ambos os lados do divisã o religiosa. 3 No entanto, tendo começado
com a insistê ncia de que seria um erro grave ignorar a importâ ncia das
raı́zes protestantes do Ulster de Lewis, é necessá rio insistir, com igual
veemê ncia, que é possı́vel errar no sentido de superenfatizar sua
importâ ncia. Há um perigo real de enfatizar o poder da Puritâ nia a tal
ponto que ela se torna um substituto para qualquer consideraçã o sé ria
da posiçã o religiosa de Lewis. Há o perigo de acreditar que a Puritâ nia
predestinou Lewis a se tornar o tipo de cristã o que seus admiradores e
detratores passaram a amar ou odiar. Lewis, cujas obras estã o
inundadas com a importâ ncia e a potê ncia do livre arbı́trio, teria icado
horrorizado com uma interpretaçã o tã o determinista de sua vida e
crenças. Como tal, estaremos cometendo uma grave injustiça a ele se
cairmos na armadilha de traduzir a importâ ncia da Puritâ nia em uma
suposta onipotê ncia. E importante, mas nã o é que importante.
Em essê ncia, embora a Puritâ nia tenha permanecido uma presença
poderosa na vida de Lewis, nã o foi de forma alguma uma presença
todo-poderosa. Seria mais verdadeiro dizer que Puritâ nia lançou uma
sombra em toda a extensã o de sua vida. As vezes era uma sombra da
qual ele procurava escapar para descobrir o brilho alé m de seu
domı́nio; em outras ocasiõ es, era uma sombra, ou escudo, bem-vindo,
no qual, e atrá s do qual, ele se escondia do calor do debate polê mico.
Há , no entanto, pouca dú vida de que os primeiros vinte anos da
vida de CS Lewis foram dominados pela in luê ncia da Puritâ nia e por
seu desejo de escapar dela. Seu avô , o reverendo Thomas Hamilton, era
um clé rigo da Igreja da Irlanda, cuja visã o da minoria cató lica em
Belfast era in luenciada pela teologia da intolerâ ncia. Os cató licos eram,
em sua opiniã o, os pró prios ilhos do diabo, 4 e ele "nunca se cansava
de depreciar a Igreja Cató lica de seu pú lpito". 5 Lewis insistiu, no
entanto, que seu pai, distinto de seu avô materno, estava “longe de ser
especialmente puritano”, mas, ao contrá rio, “era, pelos padrõ es do
sé culo XIX e da Igreja da Irlanda, bastante 'alto'. ” 6 Para aqueles nã o
versados na posiçã o eclesial da Igreja da Irlanda, as palavras de Lewis
podem ser enganosas. Embora a Igreja da Irlanda faça parte da Igreja
Anglicana, ela é muito “inferior”, ou seja, muito mais protestante, do
que a Igreja da Inglaterra. A chave para entender as palavras de Lewis é
encontrada na subclá usula "pelos padrõ es do sé culo XIX e da Igreja da
Irlanda". A verdade é que o que poderia ser considerado “bastante
'alto'” pelos padrõ es da Igreja da Irlanda no sé culo XIX seria
considerado muito “baixo” pelos padrõ es da Igreja da Inglaterra da
é poca. Certamente nã o havia dú vida de que o pai de Lewis adotou a
posiçã o de “alta igreja” do Movimento de Oxford e seus seguidores. Ao
contrá rio, ele teria desaprovado fortemente o “papado” de Pusey e
Keble e icaria indignado com o “papado” de Newman. As palavras de
Lewis devem, portanto, ser consideradas no contexto. Seu pai
“bastante 'alto'” era, na verdade, bastante “baixo” no espectro mais
amplo da igreja anglicana. Ele també m era, aparentemente, bastante
morno na prá tica de sua fé e falhou em transmitir qualquer grau de fé
ou fervor a seu ilho. “Aprendi as coisas habituais, tive que fazer minhas
oraçõ es e, no tempo devido, fui levado à Igreja”, escreveu Lewis. “Eu
naturalmente aceitei o que me foi dito, mas nã o me lembro de ter
sentido muito interesse nisso.” 7 Relembrando sua infâ ncia, Lewis
observou que “as experiê ncias esté ticas eram raras” e que “as
experiê ncias religiosas nã o ocorreram de forma alguma”. 8 Tamanha
era a aparente indiferença de seus pais em relaçã o à sua instruçã o
religiosa que Lewis lembrou que recebeu sua primeira noçã o da
verdade espiritual de sua governanta presbiteriana, Annie Harper, que,
durante "uma longa palestra", transmitiu "a primeira coisa que eu
posso lembrar que trouxe o outro mundo à minha mente com qualquer
senso de realidade. ” 9 Em resumo, a educaçã o religiosa de Lewis
parece ter sido caracterizada por um anticatolicismo herdado,
implı́cito ou explı́cito, combinado com um anglicanismo morno de
baixa igreja temperado com presbiterianismo.
Consciente ou inconscientemente, Lewis reagiu contra as
restriçõ es mais puritanas do protestantismo do Ulster,
particularmente na maneira como ele se manifestava na vida familiar
de seu amigo Arthur Greeves. A famı́lia Greeves era quacre há vá rias
geraçõ es, mas quando Arthur tinha cerca de 12 anos o velho seu pai,
Joseph, tornou-se membro dos Irmã os de Plymouth, talvez a mais
puritana das seitas puritanas. Insistindo para que sua esposa e ilhos
seguissem seu exemplo, ele ordenou que toda a famı́lia fosse batizada
na banheira. Lewis lembrou que Joseph Greeves “era tı́mido, afetado,
azedo, ao mesmo tempo oprimido e opressor. Ele era um marido
severo e um pai despó tico ... Meu pró prio pai descreveu seu funeral
como 'o funeral mais alegre a que ele já compareceu'. ” 10 anos depois,
Lewis reiterou em uma carta a Arthur Greeves sua reaçã o hostil ao
puritanismo:
Começo a ver o quanto o puritanismo conta em sua constituiçã o - que
tanto a repulsa quanto a atraçã o de volta a ele sã o elementos fortes ... sinto
que posso dizer com certeza absoluta ... que se você sentir que todo o
espírito e sistema no qual você foi criado era, a inal de contas, certo e bom,
entã o você pode ter certeza de que esse sentimento é um erro ... Minhas
razõ es para isso sã o 1. Que o sistema negava prazer aos outros , bem como
aos devotos si mesmos: quaisquer que sejam os mé ritos da abnegaçã o, esta
é uma interferê ncia imperdoá vel. 2. Ele inconsistentemente
manteve alguns prazeres mundanos, e sempre selecionou os piores - gula,
avareza, etc. 3. Ele era ignorante ... Suas relaçõ es foram encontradas muito
mal fundamentadas na pró pria Bı́blia e tã o ignorantes quanto selvagens do
histó rico e a leitura teoló gica precisava tornar a Bı́blia mais do que uma
superstiçã o. 4. “Pelos seus frutos os conhecereis.” Eles tê m as marcas de
paz, amor, sabedoria e humildade em seus rostos ou em suas
conversas? Realmente, você nã o precisa banhista sobre esse tipo de
puritanismo. 11

E interessante notar a crı́tica de Lewis nesta carta ao que poderia ser


denominado bibliola try - a adoraçã o supersticiosa e idó latra da Bı́blia
que resulta de sua leitura sem a devida deferê ncia e referê ncia à
tradiçã o teoló gica.
Tal era o apartheid sectá rio, de facto, senã o necessariamente de
jure, que existia na Irlanda durante os primeiros anos do sé culo XX que
é prová vel que Lewis mal tivesse conhecido um cató lico antes de sua
chegada à Inglaterra. Sendo assim, pode ser ú til comparar suas raı́zes
culturais e psicoló gicas com as de outro irlandê s protestante, George
Bernard Shaw.
“Todas as in luê ncias que cercaram Bernard Shaw na infâ ncia nã o
foram apenas puritanas”, escreveu GK Chesterton, “mas tais que
nenhuma força nã o puritana poderia perfurar ou neutralizar. Pertenceu
à quele grupo irlandê s que, segundo o catolicismo, endureceu o
coraçã o, que, segundo o protestantismo, endureceu a cabeça, mas que,
imagino, endureceu principalmente a pele, perdeu a sensibilidade ao
contato das coisas. em torno dele. Ao ler sobre sua juventude, esquece-
se que foi passado na ilha que ainda é uma chama diante do altar de
Sã o Pedro e Sã o Patrı́cio ”. 12 A avaliaçã o de Chesterton serve como um
lembrete oportuno de que o orgulho e o preconceito sã o sempre
obstá culos ao bom senso e à sensibilidade: “Nunca poderia passar pela
cabeça de um homem da Garrison que antes de se tornar ateu ele
poderia entrar em uma das igrejas de seu pró prio paı́s , e aprender algo
da iloso ia que satisfez Dante e Bossuet, Pascal e Descartes. ” 13
Em outro lugar em seu estudo de Shaw, Chesterton discutiu a
mentalidade de fortaleza dos Unionistas Protestantes:
Bernard Shaw nã o é apenas um irlandê s; ele nem mesmo é tı́pico. Ele é um
certo tipo de irlandê s separado e peculiar, o que nã o é fá cil de
descrever. Alguns irlandeses nacionalistas se referiram a ele com desprezo
como um "britâ nico ocidental". Mas isso é realmente injusto. ... Seria muito
mais pró ximo da verdade colocar a coisa nos termos ousados e carecas da
velha cançã o irlandesa e chamá -lo de "O irlandê s anti-irlandê s". ... Este
protestante bastante culto e bastante rico cunha que é introduzida no paı́s
... é algo que nã o é fá cil de resumir super icialmente em quaisquer
termos. Nã o pode ser descrito apenas como uma minoria; pois uma
minoria signi ica a parte de uma naçã o que é conquistada. Mas essa coisa
signi ica algo que conquista e nã o é totalmente parte da naçã o ... Há apenas
uma palavra para a minoria na Irlanda, e essa palavra que a fraseologia
pú blica encontrou; Quero dizer a palavra “Garrison”. Os irlandeses estã o
essencialmente certos quando falam que os sindicalistas protestantes do
Muro viviam dentro de “O Castelo”. Eles tê m todos os valores e limitaçõ es
de uma guarniçã o literal em um forte. 14

As opiniõ es de Chesterton sã o re letidas por Michael Holroyd, o


bió grafo de Shaw: “Nenhum Shaw poderia estabelecer relaçõ es sociais
com um cató lico romano ou comerciante. Eles ergueram seus
poderosos narizes wellingtonianos e falavam de si mesmos, embora
queixosos, em um espı́rito coletivo (como pessoas mencionando os
Bourbons ou Habsburgos) usando a terceira pessoa: 'os Shaws'. ” 15
E claro que existe o perigo de levar os paralelos entre Shaw e Lewis
longe demais. Shaw nasceu e foi criado em Dublin, uma cidade
predominantemente cató lica na qual os protestantes eram a minoria
privilegiada; Lewis nasceu e cresceu em Belfast, uma cidade
predominantemente protestante na qual os cató licos eram uma minoria
muito difamada - e, em conseqü ê ncia, cada vez mais maligna. No
entanto, os sindicalistas protestantes em ambas as cidades
compartilhavam o mesmo senso arrogante de superioridade em relaçã o
a seus vizinhos cató licos.
O preconceito profundamente arraigado e onipresente da infâ ncia
de Lewis foi lembrado, com humor extravagante, por seu irmã o,
Warnie. “Iamos à igreja regularmente em nossa juventude, mas mesmo
entã o sentı́amos o fato de que ir à igreja nã o era tanto um direito
religioso quanto polı́tico, a a irmaçã o semanal do fato de que você nã o
era um nacionalista cató lico romano. Nosso açougueiro e nosso dono
da mercearia atenderam um suspeito principalmente para chamar a
atençã o dos clientes para o fato de que em suas lojas podiam ser
comprados alimentos protestantes decentes, nã o contaminados pelas
malditas heresias de Roma. ” 16 Warnie també m se lembrou de como
ele e seu irmã o jogavam um jogo chamado “Cató licos versus
Protestantes”, da mesma forma que as crianças na Inglaterra jogavam
“Cowboys versus Indians” ou “British versus Germans”. Nesses jogos
sectá rios, Lewis sempre insistia em icar do lado protestante. 17
Outras evidê ncias do anticatolicismo que Lewis herdou quando
criança sã o fornecidas em uma carta que escreveu a seu pai no inı́cio
de outubro de 1908. Escrita logo apó s sua chegada à Escola Wynyard
em Watford, Lewis, de nove anos, informou ao seu pai que icou
chocado com a “alteza” do ritual na igreja anglicana local. “Eu nã o gosto
de igreja aqui porque é tã o assustadoramente alta que poderia ser
cató lica romana.” 18 Esses sentimentos, obviamente expressos com a
suposiçã o implı́cita de que seu pai aprovaria seu desprezo queixoso
pelos serviços "terrivelmente altos", devem questionar a a irmaçã o de
Lewis, muitos anos depois, de que seu pai era "bastante 'alto'" em seu
igreja. Em novembro de 1909, mais de um ano apó s sua queixa inicial
ao pai, ele registrou a seguinte avaliaçã o antipapista em seu diá rio:
“Fomos obrigados a ir a St. John's, uma igreja que queria ser cató lica
romana, mas era medo de dizer isso. Uma espé cie de igreja detestada
pelos respeitá veis protestantes irlandeses ... Neste lugar abominá vel de
hipó critas romanos e mentirosos ingleses, o povo se benzeu, curvou-se
diante da mesa do Senhor (que eles tê m a vaidade de chamar de altar)
e orou à Virgem. ” 19
Agora, entretanto, vem a primeira pista do enigma das aparentes
contradiçõ es que parecem ter acompanhado Lewis, ao longo de sua
vida, em sua relaçã o de amor e ó dio com o catolicismo. Compare a
virulê ncia das palavras escritas em seu diá rio com a lembrança de
Lewis do efeito que mais tarde ele a irmou que o anglo-catolicismo em
St. John's teve em seu desenvolvimento juvenil.
Mas ainda nã o mencionei a coisa mais importante que me aconteceu em
[Wynyard]. Lá primeiro me tornei um crente efetivo. Pelo que eu sei, o
instrumento era a igreja para a qual é ramos levados duas vezes todos os
domingos. Isso era altamente “anglo-cató lico”. No nı́vel consciente, reagi
fortemente contra suas peculiaridades - eu nã o era um protestante do
Ulster e esses rituais desconhecidos nã o eram uma parte essencial da
odiada atmosfera inglesa? Inconscientemente, eu suspeito, as velas e
incenso, as vestimentas e os hinos cantados em nossos joelhos, podem ter
tido um efeito considerá vel e oposto em mim. Mas nã o acho que fossem o
importante. O que realmente importava era que eu aqui ouvia as doutrinas
do Cristianismo (distintas da “elevaçã o” geral) ensinadas por homens que
obviamente acreditavam nelas. Como nã o tinha ceticismo, o efeito foi
trazer à vida o que eu já diria que acreditava. 20

O que fazer com a tensã o palpá vel causada pelo efeito do anglo-
catolicismo sobre o jovem Lewis? Talvez a pessoa tenha pouca opçã o a
nã o ser repetir as palavras, citadas anteriormente, que Lewis escreveu
a Arthur Greeves: "Começo a ver o quanto o puritanismo conta em sua
maquiagem - que tanto a repulsa quanto a atraçã o por ele sã o
elementos fortes .… ”Essas palavras podem dar algum sentido ao
enigma contraditó rio. A repulsa do puritanismo pode ter alimentado a
atraçã o pelo anglo-catolicismo, ao passo que a repulsa arraigada do
catolicismo teria atraı́do Lewis de volta à s suas raı́zes puritanas. O
resultado, de qualquer forma, foi uma confusã o de crenças que se
confundiam mutuamente.
Em ú ltima aná lise, talvez, o apelo do anglo-catolicismo pode ter
residido em nada mais, ou menos, do que um desejo profundo de
escapar da Puritâ nia de uma vez por todas. Isso foi alcançado,
aparentemente, pelo menos, em algum momento entre 1911 e 1913,
nã o pela adoçã o do anglo-catolicismo, mas pela rejeiçã o de todas as
formas de cristianismo. “E assim, pouco a pouco, com lutuaçõ es que
agora nã o consigo rastrear, tornei-me um apó stata, abandonando
minha fé sem nenhum sentimento de perda, mas com o maior
alı́vio.” 21 Ele havia escapado das garras da Puritâ nia ou pelo menos se
enganou com a ilusã o de que o havia feito. Mal sabia ele que a Puritâ nia
nã o poderia ser afastada tã o facilmente. Ele, ou pelo menos sua
sombra, continuaria a assombrar Lewis, como um fantasma de seu
passado, em cada passo de sua busca pela verdade.

UM SOM ATEU
Um jovem que deseja permanecer um ateu só lido nã o pode ser muito
cuidadoso com sua leitura.
- Surpreso com Joy 1

No dia 6 de dezembro de 1914, Lewis, agora um ateu convicto, foi


con irmado na igreja anglicana de Saint Mark's em Belfast. Mais tarde,
ele descreveria esse ato de hipocrisia e blasfê mia, embora
impulsionado por um desejo genuı́no, embora covarde, de evitar
ofender seu pai, como "um dos piores atos da minha vida".
Eu me permiti ser preparado para a con irmaçã o, e con irmado, e para
fazer minha primeira comunhã o, em total descrença; representando um
papel, comendo e bebendo minha pró pria condenaçã o. Como Johnson
aponta, onde nã o existe coragem, nenhuma outra virtude pode sobreviver,
exceto por acidente. A covardia me levou à hipocrisia e a hipocrisia à
blasfê mia. E verdade que eu nã o sabia e nã o podia saber entã o a verdadeira
natureza do que estava fazendo: mas sabia muito bem que estava
mentindo com a maior solenidade possı́vel. 2

Em 1916, Lewis estava escrevendo a Arthur Greeves que ele nã o


acreditava em nenhuma religiã o, acrescentando que nã o havia
"absolutamente nenhuma prova para qualquer um deles, e de um ponto
de vista ilosó ico o Cristianismo nem mesmo é o melhor." Todas as
religiõ es eram meramente mitologias da pró pria invençã o do homem,
"Cristo tanto quanto Loki". O Cristianismo era apenas "uma mitologia
entre muitas, mas aquela em que por acaso fomos criados". Lewis
reforçou seu ateı́smo com o tipo de cienti icismo e esnobismo
cronoló gico que ele mais tarde condenaria nos termos mais
francos. Suas opiniõ es eram simplesmente um re lexo do "relato
cientı́ ico reconhecido do crescimento das religiõ es". A superstiçã o
sempre "segurou as pessoas comuns, mas em todas as é pocas os
educados e pensantes icaram de fora". Como um autodenominado
"educado e pensante", o precoce jovem de dezessete anos expressou
um leve desapontamento por seu amigo nã o ter seguido seu exemplo
ao se tornar "emancipado das velhas crenças". 3 Embora admitindo que
"Jesus realmente existiu", a igura de "Cristo" era apenas "o ser
mitoló gico em que ele foi posteriormente convertido pela imaginaçã o
popular" e em torno do qual surgiram "lendas sobre suas performances
má gicas e ressurreiçã o" e "todos a outra bobagem sobre nascimento
virginal, cura má gica, apariçõ es e assim por diante. ... ” 4
Evidentemente, a se acreditar em suas cartas a Arthur Greeves, sua
rejeiçã o ao cristianismo foi percebida como uma libertaçã o. “Por mais
estranho que possa parecer, estou muito contente de viver sem
acreditar em um bicho-papã o que está preparado para me torturar
para todo o sempre se eu falhar em chegar a um ideal quase impossı́vel.
... Na verdade, eu deveria achar isso horrı́vel sentir que se a vida
piorasse, nã o ousaria fugir por medo de um espı́rito mais cruel e
bá rbaro do que qualquer homem. ... A ú nica razã o pela qual iquei triste
foi porque iquei desapontado com a esperança de que aos poucos você
estivesse escapando de crenças que , no meu caso, sempre diminuiu
consideravelmente a minha felicidade. ... ” 5
Paradoxalmente, ou talvez perversamente, a “libertaçã o” de Lewis
nã o se mostrou muito libertadora. Ele confessou ter descoberto dentro
de si “uma veia de ascetismo, quase de prá tica puritana sem o dogma
puritano. Nã o acredito em nenhum Deus, muito menos em um que me
castigue pelas 'concupiscê ncias da carne': mas acredito que tenho em
mim um espı́rito, uma lasca, digamos, do espı́rito universal; e que, uma
vez que todas as coisas boas e alegres sã o espirituais e imateriais, devo
ter cuidado para nã o deixar a maté ria (= natureza = Sataná s, lembre-
se) se apoderar de mim demais e embotar a ú nica centelha que tenho.
” 6 Parece que Lewis, tendo escapado da Puritâ nia, vagou para uma
selva de heresia semidigida, um deserto espiritual de gnosticismo
deturpado e pseudo-maniqueı́smo. Seu reducionismo teoló gico levara
a uma reductio ad absurdum ló gica . Acreditando em “nenhum Deus”,
ele aparentemente acreditava de todo o coraçã o em
Sataná s. Recusando-se a acreditar em qualquer deus que o puniria
pelas “concupiscê ncias da carne”, ele se recusou a sucumbir a essas
mesmas concupiscê ncias porque eram satâ nicas. A melhor, ou pelo
menos a mais divertida, ré plica ao credo peculiarmente incrı́vel de
Lewis pode ser encontrada na zombaria satı́rica de GK Chesterton
sobre o "paganismo" puritano em seu poema "The Song of the Strange
Ascetic".

Se eu fosse um pagã o,
Eu teria elogiado a videira roxa,
Meus escravos deveriam cavar as vinhas,
E eu bebia o vinho.
Mas Higgins é um pagã o,
E seus escravos icam magros e cinzentos,
Para que ele possa beber um pouco de leite morno
Exatamente duas vezes ao dia
Se eu fosse um pagã o,
Eu teria coroado os cachos de Neaera,
E encheu minha vida de casos de amor,
Minha casa com dançarinas;
Mas Higgins é um pagã o,
E para salas de aula é forçado,
Onde suas tias, que nã o sã o casadas,
Exija o divó rcio.

Certamente a representaçã o de Chesterton de "Higgins, o pagã o"


poderia servir igualmente como uma sá tira de Lewis e todos aqueles
estranhos ascetas que "pecam sem prazer",
Daqueles que nã o tê m fé ,
E nã o vai se divertir. 7

Em setembro de 1918, o ateı́smo puritano de Lewis se desenvolveu,


ou se dissolveu, no que quase pode ser denominado um agnosticismo
quase satâ nico. Ele agora acreditava "que a natureza é totalmente
diabó lica e malé vola e que Deus, se existe, está fora e em oposiçã o aos
arranjos có smicos." 8 No inı́cio do ano seguinte, Warnie escreveu ao
pai, denegrindo o “ateı́smo” do irmã o, mas descartando-o como uma
aberraçã o juvenil que passaria com o tempo. “Mesmo aos 23 anos
percebe-se que as opiniõ es e convicçõ es de 20 sã o coisas
transitó rias. Tenho certeza de que o ateı́smo de Jack é puramente
acadê mico, mas, mesmo assim, nenhum propó sito ú til é servido em
tentar se anunciar como ateu ”. 9 Seu pai concordou: “Ele é jovem e
aprenderá com o tempo que um homem nã o resolveu absolutamente o
enigma dos cé us em cima, da terra embaixo e das á guas embaixo da
terra aos vinte anos.” Na mesma carta, aludindo ao fato de que seu ilho
estava agora no University College, Oxford, Albert Lewis expressou a
esperança de que “Oxford nã o o estrague.” 10
Oxford teria, de fato, muito a ver com o amadurecimento de
Lewis. A atmosfera eclesial “elevada” que cercava suas torres onı́ricas e
a mistura eclé tica de ideias que colidiam cataliticamente dentro de
suas paredes levariam o jovem estudante para mais longe do que nunca
dos con ins provinciais da Puritâ nia. A inal de contas, Oxford fora o
bastiã o do realismo durante a guerra civil inglesa, enquanto seu
arquirrival, Cambridge, fora uma fortaleza das forças puritanas de
Cromwell. Ciente dessas conexõ es histó ricas, Lewis, logo depois de
saber que havia sido eleito para uma bolsa na University College
Oxford, escreveria sobre Macaulay que ele era "whig e puritano demais
para o meu gosto: os velhos cavaleiros estavam em de qualquer
maneira, senhores. ” 11 Essas opiniõ es di icilmente seriam endossadas
por qualquer um dos parentes de Lewis no Ulster. Pelo
contrá rio. Quando ele se aventurou a expressar algumas crı́ticas
moderadas a Cromwell, foi lembrado por sua tia Kittie que “a mã e de
Cromwell era uma espé cie de conexã o nossa”. 12 Tal era a posiçã o
cultural e religiosa arraigada das famı́lias da Ascensã o Protestante na
Irlanda que as brigas e guerras surgidas da Reforma Inglesa nã o eram
meramente questõ es de histó ria familiar, eram questõ es de honra
familiar.
Havia, no entanto, muito mais "whig e puritano" em Lewis do que
ele gostaria de admitir. Na mesma semana em que havia escrito
elogiando os “velhos cavaleiros”, ele escreveu a Arthur Greeves
observando com opró brio que Obadiah Walker estivera no University
College, enquanto observava com aprovaçã o que Shelley també m. 13 A
difamaçã o de um e os elogios do outro eram signi icativos. Eles
constituı́ram, da parte de Lewis, uma a irmaçã o de seu ceticismo
recé m-descoberto e uma reiteraçã o de seu anticatolicismo desgastado
pelo tempo. Obadiah Walker foi Mestre do University College entre
1676 e 1688, mas, com o advento da Revoluçã o “Gloriosa” e a
destruiçã o da monarquia cató lica, foi preso na Torre de Londres por
causa de suas crenças cató licas romanas. Shelley, por outro lado, havia
sido expulso do University College em 1811 por divulgar um pan leto
intitulado The Necessity of Atheism. Em sua defesa de Shelley, ele estava
pregando suas cores no mastro ateu, enquanto, ao tratar Walker com
escá rnio, ele ainda se apegava ao antipopismo de sua
juventude. Conseqü entemente, as cores que Lewis pregou no mastro
ateu eram enfaticamente laranja; isto é , com ironia contraditó ria, que
eles eram enfaticamente “whig e puritanos”! 14 Ele pode ser ateu, mas
queria que soubessem que era pelo menos um ateu protestante leal.
No entanto, o sabor cató lico (e cató lico) de Oxford começou a
exercer uma in luê ncia crescente nos gostos de Lewis, removendo o
apetite pelo provincianismo do puritanismo. A laranja começou a
desbotar na luz quente do dia intelectual. Assim, logo apó s chegar em
Oxford, ele poderia escrever para Arthur Greeves que "em parte devido
ao interesse em Yeats e na mitologia celta, em parte por causa de uma
repulsa natural a batidas barulhentas de tambores, agressores Orange-
men e em parte por associaçã o com Butler, começo a tenho um
sentimento muito caloroso pela Irlanda em geral. Re iro-me à
verdadeira Irlanda de Patsy Macan etc., nã o tanto ao nosso norte
protestante. Na verdade, se eu algum dia me interessar por polı́tica,
provavelmente serei um nacionalista (outro assunto para discutirmos,
você vê ). ” 15 O homem chamado Butler, mencionado nesta carta, era
Theobald Richard Fitzwalter Butler, que Lewis conhecera durante seu
primeiro semestre no University College. Embora Butler fosse "um
irlandê s e nacionalista" e "um governante domé stico violento", Lewis
escreveu que gostava dele "excessivamente" e, por meio dele, foi
apresentado à obra de Joseph Mary Plunkett, "um dos Sinn
recentemente executado Poetas Fein. ” 16 Claramente Butler, que era
quatro anos mais velho que Lewis, havia exercido uma in luê ncia
profunda, equilibrando na consciê ncia polı́tica e nacional de Lewis o
lealismo Laranja do Ulster com o Verde do nacionalismo irlandê s. Seus
horizontes foram se ampliando.
Os horizontes de Lewis foram ampliados ainda mais por sua
associaçã o com John Robert Edwards, descrito por Lewis como “a
outra pessoa mais interessante” do Colé gio. “[O] que me interessa nele
é que ele era ateu até recentemente e agora está empenhado em se
tornar cató lico, ou está muito perto disso”. 17 Edwards era “um
newmanita fervoroso” e ele e Lewis discutiram “religiã o, budismo,
poesia e tudo mais”. 18
Apesar de ser apresentado a verdadeiros cató licos e aspirantes a
cató licos pela primeira vez (ao contrá rio dos bogey-cató licos da
imaginaçã o amarga e preconceituosa da protestante Belfast), Lewis
estava longe de desejar se tornar um cató lico. Em vez disso, as
impressõ es do catolicismo que ele recebeu de seus amigos foram
jogadas no caldeirã o catalı́tico, impregnando-se com todas as outras
in luê ncias que lutaram pelo domı́nio na mente faminta de Lewis. Um
resultado dessa estranha mistura de in luê ncias con litantes foi uma
abordagem um tanto confusa das questõ es da é poca, particularmente
no que diz respeito aos turbulentos desenvolvimentos polı́ticos na
Irlanda. Assim, por exemplo, ele escreveu a seu pai em julho de 1916,
logo apó s as ileiras da Força Voluntá ria do Ulster terem sido dizimadas
durante a Batalha do Somme, que a "Divisã o do Ulster o que há deles
agora - deve ter silenciado os latidos polı́ticos para sempre.
” 19 Compare este apoio inequı́voco ao sindicalismo militante do UVF
com a atitude simpá tica ao nacionalismo irlandê s que caracterizou
suas cartas apó s sua chegada a Oxford e sua familiaridade com
simpatizantes do Sinn Fein, como Butler. Para aumentar o enigma e a
confusã o com relaçã o à verdadeira natureza da posiçã o de Lewis, havia
uma referê ncia enigmá tica em uma carta a Arthur Greeves “quanto ao
assunto sobre cató licos e protestantes”, evidentemente em resposta a
alguns comentá rios de Greeves sobre o assunto. Lewis recusou-se a ser
atraı́do para a discussã o, a irmando simplesmente que "temo que
minhas opiniõ es apenas incomodem você ". 20
A breve estada de Lewis em Oxford terminou abruptamente em
novembro de 1917 quando, depois de se alistar na Somerset Light
Infantry, ele embarcou para a França. Ele chegou à s trincheiras da linha
de frente em seu dé cimo nono aniversá rio. No inı́cio de fevereiro de
1918, ele adoeceu com o que os mé dicos chamavam de PUO (pirexia,
origem desconhecida), mas que era conhecido pelas tropas
simplesmente como “febre das trincheiras”. Ele foi enviado para
convalescer em um hospital de campanha da Cruz Vermelha britâ nica
em Le Treport, e foi aqui que, pela primeira vez, ele se deparou com a
escrita de GK Chesterton.
Eu nunca tinha ouvido falar dele e nã o tinha ideia do que ele
representava; nem consigo entender por que ele me conquistou tã o
imediatamente. Era de se esperar que meu pessimismo, meu ateı́smo e
meu ó dio ao sentimento o tornassem o menos compatı́vel de todos os
autores. Quase parece que a Providê ncia, ou alguma “causa secundá ria” de
um tipo muito obscuro, supera completamente nossos gostos anteriores
quando decide reunir duas mentes. Gostar de um autor pode ser tã o
involuntá rio e imprová vel quanto se apaixonar. Eu era agora um leitor
su icientemente experiente para distinguir entre concordâ ncia e
concordâ ncia. Nã o precisei aceitar o que Chesterton disse para
desfrutar. Seu humor era do tipo que eu mais gosto - nã o “piadas”
embutidas na pá gina como groselha em um bolo, menos ainda (o que eu
nã o agü ento), um tom geral de leviandade e jocosidade, mas o humor que
nã o está em qualquer forma separá vel do argumento, mas é antes (como
diria Aristó teles) a “ lor” da pró pria dialé tica. A espada brilha nã o porque
o espadachim se propô s a fazê -la brilhar, mas porque está lutando por sua
vida e, portanto, movendo-a muito rapidamente. Para os crı́ticos que
pensam que Chesterton é frı́volo ou “paradoxal”, tenho que trabalhar muito
para sentir pena; simpatia está fora de questã o. Alé m disso, por mais
estranho que possa parecer, gostei dele por sua bondade. Posso atribuir-
me esse gosto livremente (mesmo nessa idade) porque era um gosto pelo
bem que nada tinha a ver com qualquer tentativa de ser eu mesmo ... Era
uma questã o de gosto: senti o “encanto” do bem como um homem sente o
encanto de uma mulher, nã o tem intençã o de se casar. 21
A bondade, no entanto, pode ser contagiosa. Lewis descobriria nos
anos seguintes que sua leitura de Chesterton o levaria cada vez mais
perto do Deus que Chesterton adorava, um amor pela prosa
Chestertoniana levando irresistivelmente a um amor pelo louvor
Chestertoniano. “Ao ler Chesterton, como ao ler MacDonald, eu nã o
sabia no que estava me metendo. Um jovem que deseja permanecer um
ateu só lido nã o pode ser muito cuidadoso com sua leitura. Existem
armadilhas por toda parte ... Deus é , se assim posso dizer, muito
inescrupuloso. ” 22
Lewis havia descoberto George MacDonald, a outra igura literá ria
importante responsá vel por sua eventual conversã o ao cristianismo,
quase dois anos antes. “Tive uma grande experiê ncia literá ria esta
semana”, escreveu ele com entusiasmo a Arthur Greeves em 7 de março
de 1916. “Eu descobri outro autor para adicionar ao nosso cı́rculo -
nosso pró prio conjunto: nunca desde que li pela primeira vez 'O poço
no im do mundo 'gostei tanto de um livro - e, de fato, acho que meu
novo' achado 'é tã o bom quanto Malory ou o pró prio Morris. O livro,
para ir direto ao ponto, é 'Faerie Romance,' Phantastes , de George
MacDonald . ... De qualquer forma, seja qual for o livro que você está
lendo agora, você simplesmente DEVE pegá -lo imediatamente. ... ” 23
“Nunca escondi o fato de que o considero meu mestre”, Lewis
escreveria sobre MacDonald trinta anos depois; “Na verdade, imagino
que nunca escrevi um livro em que nã o tivesse citado
dele.” 24 Descrevendo o impacto imediato de sua leitura
de Phantastes, Lewis deu a entender que ela havia batizado sua
imaginaçã o e o salvado de uma possı́vel queda do Romance para a
Decadê ncia.
Eu sabia que havia cruzado uma grande fronteira. Eu já estava mergulhado
na cintura do Romantismo; e bastante prová vel, a qualquer momento, para
tropeçar em suas formas mais sombrias e mais malignas, deslizando pela
descida ı́ngreme que leva do amor da estranheza ao da excentricidade e
daı́ ao da perversidade. Agora Phantastes era româ ntico o su iciente em
todas as consciê ncias; Mas havia uma diferença. Naquela é poca, nada
estava mais longe de meus pensamentos do que o Cristianismo e, portanto,
eu nã o tinha noçã o do que essa diferença realmente era. Eu só estava
ciente de que, se esse novo mundo era estranho, també m era caseiro e
humilde; que se isso era um sonho, era um sonho no qual a pessoa pelo
menos se sentia estranhamente vigilante; que todo o livro tinha sobre isso
uma espé cie de inocê ncia matinal legal ... O que ele realmente fez comigo
foi converter, até mesmo batizar ... minha imaginaçã o. Nã o fez nada ao meu
intelecto nem (naquela é poca) à minha consciê ncia. A vez deles chegou
muito depois, com a ajuda de muitos outros livros e homens. 25

MacDonald, como Chesterton, transmitiu ao aparentemente “ateu


correto” o contagiante “encanto” da bondade, plantando sementes
ocultas, ou sugestõ es insinuadas, de virtude inesperada e despercebida
que viria a ser concretizada anos depois.
Em seu romance purgatorial, The Great Divorce, publicado em 1945,
Lewis prestou a MacDonald o tributo literá rio de initivo ao colocá -lo no
papel do Virgı́lio de Dante, quase talvez sua Beatriz. MacDonald aparece
no sonho de Lewis do purgató rio como seu “Professor” e guia,
ajudando-o a dar sentido à s visõ es mı́sticas apresentadas a ele. “Eu
tentei, tremendo, dizer a este homem tudo o que seus escritos izeram
por mim. Tentei contar como foi numa certa tarde gelada na estaçã o
Leatherhead quando comprei pela primeira vez um exemplar
de Phantastes. fora para mim o que a primeira visã o de Beatrice fora
para Dante: Aqui começa a nova vida. Comecei a confessar quanto
tempo aquela Vida havia demorado meramente na regiã o da
imaginaçã o: quã o lenta e relutantemente eu tinha vindo a admitir que
sua cristandade tinha mais do que uma conexã o acidental com ela,
quã o duro eu havia tentado nã o ver que o nome verdadeiro da
qualidade que me encontrou pela primeira vez em seus livros é a
santidade ”. 26
A extensã o do impacto direto de Dante em Lewis neste momento
nã o é clara. Embora a in luê ncia do mestre italiano crescesse em
profundidade ao longo da dé cada seguinte, há relativamente poucas
mençõ es dele na correspondê ncia de Lewis durante os anos de sua
formaçã o literá ria juvenil. Em fevereiro de 1917, ele informou ao pai
que estava aprendendo italiano e que havia lido as primeiras duzentas
linhas do Inferno em sua lı́ngua original. 27 Ele també m expressou
aprovaçã o de que Dante estava entre os poetas favoritos de seu amigo
nacionalista irlandê s Theobald Butler. 28 Nã o há , entretanto, nenhuma
exposiçã o da resposta crı́tica de Lewis à Divina Comédia. Talvez,
portanto, seja justo presumir que ele ainda nã o adquiriu o gosto pelo
que Dorothy L. Sayers chamou de "intelecto apaixonado" de Dante,
muito menos o gosto pela fé apaixonada que inspirou sua visã o
infernal, purgatorial e beatı́ ica .
A introduçã o de Lewis à visã o cató lica do purgató rio, uma visã o
que se provaria inspiradora e instrumental em sua escrita de O grande
divórcio, parece ter vindo de sua leitura de John Henry Newman. Lewis
tinha lido os poemas de Newman já em 1914, quando ainda estava no
Malvern College, declarando a seu pai que eles eram "muito, muito
delicados e bonitos ... quase delicados demais para o meu gosto: é um
tipo de beleza que posso" agradeço muito. ” Signi icativamente, no
entanto, ele acrescenta vigorosamente que "Devo excluir desta crı́tica o
'Sonho de Gerô ncio', que está escrito de forma muito forte." 29 A
presença vigorosa do “Sonho” purgatorial de Newman permaneceu
com Lewis ao longo de sua vida. Meio sé culo depois, ele escreveria em
seu ú ltimo livro publicado que a “visã o correta” do Purgató rio “retorna
magni icamente no Sonho de Newman . Lá , se bem me lembro, a alma
salva, aos pé s do trono, implora para ser tirada e puri icada. Nã o pode
suportar por mais um momento 'Com sua escuridã o para afrontar
aquela luz.' ” 30
As obras de MacDonald, um ministro nã o-conformista, e as de
Newman e Chesterton, ambos cató licos, formaram um poderoso
coquetel cristã o na imaginaçã o de Lewis, batizando o romantismo em
um nı́vel subconsciente. Conscientemente, ele ainda se considerava
ateu, lutando contra a fé que inspirava suas obras. Ele continuou,
obstinadamente, em sua tentativa de nã o ver que o verdadeiro nome da
qualidade que ele havia encontrado pela primeira vez em seus livros
era Santidade.
Talvez, no entanto, haja evidê ncias de que a primeira introduçã o de
Lewis a Chesterton suavizou sua atitude em relaçã o à fé
cató lica. Caminhando pelo campo ao redor do hospital de campanha
em Le Treport dias apó s ter lido Chesterton pela primeira vez, Lewis
icou impressionado com as marcas fı́sicas do catolicismo pontuando a
paisagem. “Os telhados sã o todos de telhas velhas e há muitos
cruci ixos de pedra antigos, com suas pequenas ofertas de grama e
contas e coisas sobre eles. O cristianismo cató lico é certamente mais
pitoresco do que o puritanismo. ” 31 Ainda mais surpreendente foram
suas observaçõ es em uma carta a Arthur Greeves, escrita de Le Treport
e també m alguns dias apó s sua primeira leitura de Chesterton, sobre o
anticatolicismo na obra de George Borrow. “As vezes nã o simpatizo
com o autor - quando ele é ruidosamente patriota ... ou quando se
entrega a invectivas vulgares contra a igreja
mã e. Claro que provavelmente é agradá vel o su iciente para você - hein
?, velho puritano. " 32 Esta passagem é particularmente intrigante, nã o
tanto pelo antipuritanismo implı́cito, mas pela referê ncia reveladora ao
catolicismo como "a igreja-mã e".
Retornando a Oxford apó s a guerra, Lewis encontrou seu pró prio
ateı́smo imaturo sendo jogado mais uma vez no caldeirã o eclé tico de
ideias concorrentes. Seu tutor de histó ria, George Hope Stevenson, era
um devoto anglo-cató lico, enquanto seu tutor de iloso ia, Edgar
Frederick Carritt, rejeitava o cristianismo e colocava toda sua fé na
causa do socialismo de esquerda. Nessa companhia, Lewis icou preso
entre o proverbial demô nio e o profundo mar azul, ou, mais
literalmente, entre o Deus cristã o e o profundo abismo
vermelho. Embora, como Carritt, ele tivesse rejeitado o Cristianismo,
ele també m sentia uma aversã o declarada ao bolchevismo e ao
materialismo dialé tico que defendia. Se o cristianismo permanecesse
sem atrativos, a alternativa socialista seria um aná tema. Encontrando-
se na terra de ningué m entre as duas partes, ele poderia ter sido
perdoado por ecoar o Mercutio de Shakespeare no apelo lamentá vel
para que uma praga fosse colocada em ambas as casas.
Lewis, no entanto, estava se tornando mais simpá tico ao
catolicismo ou, pelo menos, mais sensı́vel a ataques puritanos
preconceituosos contra a Igreja Cató lica. Com justiça, senã o com fé , ele
se sentiu obrigado a defender a Igreja contra seus inimigos. Voltando
ao trabalho de George Borrow, Lewis escreveu que "ainda nã o gosto da
propaganda anticató lica", acrescentando que pensava ter "encontrado
uma explicaçã o que poderia explicar o protestantismo desenfreado de
Borrow - reside no extremo norte ou saxonismo de sua natureza. Ele
vibrou, como nó s antes, com tudo que era nó rdico ... Fico feliz em saber
que ele conhecia o Kalevala. Portanto, é claro, uma coisa totalmente
sulista, latina e mediterrâ nea como a Igreja era antipá tica. ... ” 33
Apesar de sua simpatia pela Igreja, ou melhor, de suas tentativas de
empatia para com ela, ele nã o tinha intençã o de abandonar sua
abordagem cé tica em relaçã o à religiã o. A fé religiosa, escreveu ele em
uma carta a um amigo em 1921, era “inadequada para nó s que vivemos
agora: sabemos demais e vemos a vida de maneira muito ampla e é
culpá vel nã o fazer uso de nossa paisagem alargada”. Deles nã o era o
"pequeno universo confortá vel com o cé u acima e o inferno abaixo, um
sobe e desce absolutos e apenas seis mil anos de histó ria
registrada." Com efeito, Lewis parecia estar dizendo que a soma da
experiê ncia humana era muito pequena para a geraçã o jovem e que as
geraçõ es anteriores tinham muito pouco a ensinar. “Acho que devemos
usar nossos pró prios dados, mesmo que eles levem apenas à
destruiçã o.” 34
Percebe-se nesse exemplo adicional de esnobismo cronoló gico a
in luê ncia de HG Wells, um escritor que Lewis lia e apreciava desde a
infâ ncia. Em 1920, Wells publicou o primeiro volume de The Outline of
History, um projeto que pretendia ser um relato objetivo da histó ria do
mundo, mas que, na verdade, era uma recontagem da histó ria de
acordo com a iloso ia do determinismo materialista do pró prio
Wells. Embora o presunçosamente ateu Lewis nã o pudesse saber disso
na é poca, a contrové rsia em torno deste livro em particular provaria ser
um marco signi icativo em sua conversã o inal ao cristianismo.
Em essê ncia, a História de Wells começou com a presunçã o de que a
sociedade humana estava “progredindo” em direçã o à perfeiçã o e que,
em consequê ncia, o passado sempre foi inferior ao presente. Isso era
esnobismo cronoló gico consagrado como bolsa de estudos, arte
disfarçada de ciê ncia. Wells acreditava que o “progresso” humano era
cego, bené ico e totalmente impará vel e inexorá vel. Ele percebeu a
histó ria como o produto de forças evolutivas invisı́veis e imutá veis que
estavam se concretizando no sé culo XX. A histó ria do homem havia
começado nas cavernas e estava atingindo o clı́max na era moderna
com o triunfo da ciê ncia sobre a religiã o. Isso, por sua vez, anunciou um
novo amanhecer, um admirá vel mundo novo onde a felicidade seria
introduzida pela tecnologia. O Esboço da História de Wells també m era
tacitamente anticristã o, dedicando muito menos espaço ao impacto
histó rico de Cristo do que à campanha dos persas contra os gregos.
O livro de Wells teve um impacto enorme. Foi anunciada como uma
visã o totalmente moderna da histó ria, uma visã o da histó ria livre dos
preconceitos e superstiçõ es do passado. Era uma histó ria como se Deus
nã o importasse. Em 1923, Joy Davidman (que muitos anos depois se
tornaria a esposa de Lewis) leu The Outline of History como uma
impressioná vel criança de oito anos e imediatamente se declarou ateia.
O crı́tico mais veemente da "histó ria" de Wells foi Hilaire Belloc,
cujos muitos artigos atacando o "provincianismo" e a "ignorâ ncia" de
Wells foram coletados e publicados em 1926 como Um companheiro
para o "Esboço da História" do Sr. Wells. Wells respondeu com o Sr.
Belloc Objetos, ao qual Belloc, determinado a dar a ú ltima palavra,
respondeu com o Sr. Belloc Objetos Parados. No inal da contrové rsia de
seis anos, Belloc a irmou ter escrito mais de 100.000 palavras em
refutaçã o dos argumentos centrais do livro de Wells. Nã o foi,
entretanto, a resposta de Belloc à História de Wells que se provou
in luente em aproximar Lewis de Cristo, mas o livro que o amigo de
Belloc, GK Chesterton, escreveu em resposta à contrové rsia.
No meio da acrimô nia e da contrové rsia gerada pela luta de seis
anos entre Wells e Belloc, Chesterton escreveu The Everlasting
Man. Pretendido como uma resposta a Wells, mas em tom totalmente
diferente da belicosidade de Belloc, o livro representou a pró pria
tentativa de Chesterton de um "esboço da histó ria". Foi, em muitos
aspectos, um antı́doto para o livro de Wells. Enquanto Wells tornara
Cristo perifé rico, Chesterton O tornara central: “Eu ... dividi este livro
em duas partes: a primeira sendo um esboço da principal aventura da
raça humana na medida em que permaneceu pagã ; e a segunda um
resumo da diferença real que foi feita por ele se tornar cristã o. ” 35
O capı́tulo de abertura de The Everlasting Man começa com uma
discussã o sobre a evoluçã o e os limites de sua aplicaçã o a qualquer
compreensã o da histó ria humana.
A maioria das histó rias modernas da humanidade começa com a
palavra evoluçã o, e com uma exposiçã o bastante prolixa da evoluçã o
... Há algo lento, calmante e gradual na palavra e até na ideia. Na
verdade, nã o é , tocando nessas coisas primá rias, uma palavra muito
prá tica ou uma ideia muito proveitosa. Ningué m pode imaginar como
nada pode se transformar em algo ... E realmente muito mais ló gico
começar dizendo "No inı́cio Deus criou o cé u e a terra", mesmo que
você queira dizer apenas "No inı́cio, algum poder impensá vel iniciou
algum processo impensá vel." ...
Mas essa noçã o de algo suave e lento, como a subida de uma encosta, é
uma grande parte da ilusã o. E tanto uma ilogicidade quanto uma
ilusã o; pois a lentidã o realmente nã o tem nada a ver com a pergunta. Um
evento nã o é mais intrinsecamente inteligı́vel ou ininteligı́vel por causa do
ritmo com que se move ... No entanto, permeia todo o tratamento
racionalista da histó ria essa ideia curiosa e confusa de que a di iculdade é
evitada, ou mesmo o misté rio eliminado, por se deter no mero atraso ou
em algo dilató rio no processo das coisas. 36

O efeito da leitura de The Everlasting Man em Lewis foi


impressionante. Desde a descoberta de Chesterton, Lewis continuou a
ler suas obras e as de George MacDonald, desfrutando do encanto de
sua bondade, mas recusando-se a se encantar com seu
cristianismo. “George MacDonald tinha feito mais por mim do que
qualquer outro escritor; claro que era uma pena que ele tivesse aquela
abelha em seu chapé u sobre o cristianismo. Ele era
bom, apesar disso. Chesterton tinha mais bom senso do que todos os
modernos juntos; matando, é claro, seu cristianismo ”. 37 Essa tinha
sido sua opiniã o durante sete anos, desde a primeira vez em que leu
Chesterton no hospital de campanha em Le Treport. Nesse ı́nterim, ele
continuou a ler suas obras vorazmente, permitindo que a ortodoxia
religiosa de Chesterton gotejasse em seu coraçã o sem nunca,
conscientemente, admitir isso em sua cabeça. “Entã o eu li o Homem
Eterno de Chesterton e pela primeira vez vi todo o esboço da histó ria
cristã apresentado de uma forma que me pareceu fazer sentido.” 38
O ateı́smo de Lewis foi abalado em seus alicerces pelo livro de
Chesterton. Ainda se passariam seis anos antes que, sob a in luê ncia de
outro cató lico, ele inalmente aceitasse a fé cristã como sua. No entanto,
nã o havia como voltar à ingenuidade de seu ateı́smo juvenil. A vida
depois do Homem Eterno nunca mais seria a mesma.

“NUNCA CONFIE EM UM PAPISTA ...”


Em minha primeira vinda ao mundo, fui (implicitamente) advertido
para nunca con iar em um papista, e em minha primeira vinda para a
faculdade de inglê s (explicitamente) para nunca con iar em um
iló logo. Tolkien era ambos.
- Surpreso por Joy 1

Em 18 de janeiro de 1927, Lewis registrou em seu diá rio que estava


lutando para desemaranhar as iloso ias con litantes que lutavam pela
supremacia em sua mente e coraçã o.
Estava pensando sobre a imaginaçã o e o intelecto e a confusã o profana em
que estou atualmente a respeito deles: restos nã o digeridos de
antroposo ia e psicaná lise se chocando com o idealismo ortodoxo sobre
um pano de fundo do bom e velho racionalismo kirkiano. Senhor, que
bagunça! E o tempo todo (comigo) há o perigo de cair na maioria das
superstiçõ es infantis, ou de correr para o materialismo dogmá tico para
escapar delas. 2
No dia seguinte, Lewis parece ter buscado uma soluçã o para a
“confusã o profana” no frescor perene dos poetas româ nticos. Ele
resolveu estudar “toda a doutrina da imaginaçã o em Coleridge” assim
que tivesse tempo - “e a ideia de Wordsworth era de alguma forma
muito reconfortante. Essa é a imaginaçã o real, sem truques, sem
Karmas, sem gurus, sem psiquismo maldito aı́. " Ele esteve "perdido
entre as ideias de segunda categoria por muito tempo. ..." 3
Ao buscar o antı́doto româ ntico para o veneno da parapsicologia ou
da psicaná lise, Lewis estava mais uma vez pisando em terreno
perigoso. Tal como acontece com sua leitura de Chesterton, o som Ateu
que virou teı́sta nã o poderia ser "muito cuidadoso com sua leitura". O
Romantismo de Coleridge e Wordsworth, anunciado por sua
colaboraçã o nas Lyrical Ballads de 1798, foi uma reaçã o contra o
arrogante “racionalismo” do chamado “Iluminismo”. A revoluçã o
româ ntica que eles instigaram foi a reaçã o do coraçã o à idolatria da
cabeça. Havia, no entanto, um perigo inerente a tal revoluçã o; o perigo
de que a reaçã o se torne uma reaçã o exagerada. Os româ nticos sempre
foram propensos à tentaçã o de transplantar a idolatria da cabeça com a
idolatria do coraçã o, a adoraçã o do coraçã o suplantando a adoraçã o da
cabeça, uma tentaçã o à qual os poetas româ nticos mais sombrios -
Byron, Shelley e Keats - sucumbiram. A melancolia auto-indulgente dos
româ nticos sombrios levou ló gica e inexoravelmente à experimentaçã o
auto-indulgente dos Decadentes; Byron, Shelley e Keats servindo como
os precursores de Baudelaire, Verlaine e Wilde. E signi icativo,
portanto, que Lewis buscou a sobriedade dos româ nticos da luz,
Wordsworth e Coleridge, e nã o a embriaguez dos româ nticos das trevas
ou decadentes.
Ao contrá rio de muitos dos que o seguiram, Wordsworth e
Coleridge perceberam o perigo de separar o coraçã o da cabeça. Eles
entenderam a loucura de a irmar a fé sem razã o como um antı́doto para
a razã o sem fé do sé culo anterior, a loucura de substituir um absurdo
evidente por outro. Ambos os homens buscaram, e acreditaram ter
encontrado, uma sı́ntese entre as sugestõ es do coraçã o e os predicados
da cabeça, um casamento de fé e iloso ia. Em ambos os casos, sua
busca pelo sentido da vida os levou do proto-comunismo agnó stico ou
ateı́sta, na forma de um fervor pelo anticlericalismo da Revoluçã o
Francesa, à aceitaçã o do Cristianismo Anglicano. No caso de Coleridge,
seu anglicanismo estava tã o impregnado de uma compreensã o real da
teologia ortodoxa que serviu para plantar as sementes do
tradicionalismo e do anglo-catolicismo que loresceriam nos anos apó s
sua morte no lorescimento do Renascimento Gó tico e do Movimento
de Oxford. Sua robusta defesa ilosó ica da ortodoxia religiosa o coloca,
em relaçã o ao renascimento literá rio cató lico do sé culo XIX, em uma
posiçã o paralela à de Chesterton no sé culo XX. No inı́cio dos dois
sé culos, Coleridge e Chesterton foram os catalisadores de muito que se
seguiu.
Certamente é mais do que intrigante que Lewis tenha descoberto
uma soluçã o para sua “confusã o profana” nas obras e na iloso ia de
Samuel Taylor Coleridge, um poeta e iló sofo cujo Romantismo levaria
outros aos pró prios portõ es de Roma.
Lewis també m foi in luenciado durante esse perı́odo crucial de
“descompressã o” pela obra de Coventry Patmore, um poeta cató lico
convertido cujo romantismo o havia levado alé m dos pró prios portõ es
de Roma para o abraço plenamente satisfató rio da Igreja. Em junho de
1930, Lewis tinha lido O anjo na casa de Patmore e icou muito
impressionado com as "odes meio ilosó icas, meio religiosas sobre a
teoria do autor do casamento como uma imagem mı́stica e abordagem
do amor divino". Embora partes do poema "fossem muito fá ceis de
parodiar", foi "surpreendente como a pessoa se sente cada vez menos
inclinada a zombar", especialmente porque o poema era "muitas vezes
sublime". 4 “Poeta incrı́vel! Como tudo é uma peça - como a mé trica
rebitada expressa e ilustra seu amor quase faná tico pela encarnaçã o.
”5
Duas semanas depois, um “poeta incrı́vel” estava tendo um efeito
ainda maior. No inı́cio de julho, Lewis e seu amigo Owen Bar ield
terminaram de ler o Paraíso de Dante . “Acho que atinge alturas de
poesia que você nã o consegue em nenhum outro lugar: um é ter quase
ino demais para respirar”, escreveu ele com entusiasmo a Arthur
Greeves. “E uma pena que eu nã o posso dar a você nenhuma idé ia de
como é . Você pode imaginar Shelley em sua forma mais extá tica
combinada com Milton em sua forma mais solene e rı́gida? Parece
impossı́vel, eu sei, mas é o que Dante fez. ” 6 A visã o beatı́ ica do poeta
divino em Paradiso tinha “realmente aberto um novo mundo para
mim”:
Eu nunca tinha visto como Dante era antes ... a impressã o é tã o diferente
de qualquer outra que eu mal posso descrever ... - uma espé cie de mistura
de complexidade intensa, até mesmo ranzinza na linguagem e pensamento
com (o que parece impossı́vel) em ao mesmo tempo, uma sensaçã o de
amplo movimento deslizante, como uma dança lenta ou como voar. E
como a sutileza matemá tica sem im das estrelas de orbe, ciclo, epiciclo e
elı́ptica, impensá vel e imprevisı́vel e, ainda assim, ao mesmo tempo, a
liberdade e a liquidez do espaço vazio e a certeza triunfante do
movimento. Eu deveria descrevê -lo como um sentimento mais importante
do que qualquer poesia que já li ... Raramente é caseiro: talvez nã o
seja sagrado em nosso sentido - é cató lico demais para isso: e, claro, sua
mistura de complexidade e beleza é muito parecida com a teologia
cató lica - roda dentro de roda, mas rodas de gló ria, e o Um irradiou atravé s
dos Muitos. 7

Em meio à “confusã o profana” e ao processo produtivo de


“desembaraçar”, Lewis estava forjando uma amizade com um jovem
professor de anglo-saxã o, JRR Tolkien. A amizade com Tolkien, Lewis
escreveria em Surprised by Joy, marcaria "o colapso de dois velhos
preconceitos": "Na minha primeira vinda ao mundo, fui
(implicitamente) advertido para nunca con iar em um papista, e na
minha primeira vinda ao mundo a Faculdade de Inglê s (explicitamente)
a nunca con iar em um iló logo. Tolkien era ambos. ” 8
Tolkien chamou a atençã o de Lewis pela primeira vez em 11 de
maio de 1926, durante uma discussã o sobre assuntos do corpo docente
em um “Chá Inglê s” no Merton College. “Eu conversei com ele depois”,
Lewis registrou em seu diá rio “Ele é um rapazinho suave, pá lido e
luente. ... Nã o há mal nele: só precisa de um tapa ou algo assim.” 9 A
partir desse inı́cio indiferente e nada auspicioso, logo se desenvolveu
uma amizade que se tornaria cada vez mais importante para os dois
homens.
Pouco antes desse primeiro encontro, Tolkien formou os Coalbiters,
um clube entre os dons dedicado à leitura das sagas e mitos
islandeses. Seu nome deriva do islandê s Kolbitar, um termo alegre para
quem ica tã o perto do fogo no inverno que morde o carvã o. A a iliaçã o
a este clube informal havia sido restrita inicialmente à queles com um
conhecimento razoá vel de islandê s, mas as restriçõ es foram
dispensadas para permitir que iniciantes entusiastas como Lewis
participassem. Em janeiro de 1927, Lewis era um freqü entador regular
das reuniõ es dos Coalbiters, achando revigorante a companhia de
estudiosos com ideias semelhantes.
Por meio de sua amizade com Tolkien, e por ser um membro dos
Coalbiters, Lewis reavivou seu amor pelo “norte” que tanto inspirou a
imaginaçã o de sua juventude. Nã o demorou muito para que Tolkien,
seis anos mais velho de Lewis, se tornasse nã o apenas um amigo, mas
també m um mentor. Em 3 de dezembro de 1929, Lewis escreveu a
Arthur Greeves que ele tinha icado acordado até 2:30 da manhã
"conversando com o professor anglo-saxã o Tolkien ... discorrendo
sobre os deuses e gigantes de Asgard por trê s horas", acrescentando
que "o o fogo estava forte e a conversa foi boa. ” 10
Poucos dias depois dessa conversa tarde da noite, Tolkien decidiu
mostrar a Lewis seu poema de Beren e Luthien. Em 7 de dezembro,
Lewis escreveu a Tolkien, expressando seu entusiasmo:
Posso dizer com toda a franqueza que faz muito tempo que nã o tenho uma
noite de tanto prazer: e o interesse pessoal de ler o trabalho de um amigo
tinha muito pouco a ver com isso - eu teria gostado muito bem se o tivesse
escolhido em uma livraria, de um autor desconhecido. As duas coisas que
surgem com clareza sã o o senso de realidade em segundo plano e o valor
mı́tico: a essê ncia de um mito é que ele nã o deve ter qualquer mancha de
alegoria para o criador e, ainda assim, deve sugerir alegorias incipientes
ao leitor. 11

Se Lewis tinha descoberto em Tolkien um mentor muito valioso,


Tolkien encontrou em Lewis uma audiê ncia apreciativa e simpá tica
para seu, ainda nã o publicado, trabalho. “A dı́vida impagá vel que tenho
com ele”, Tolkien escreveu sobre Lewis anos depois, “nã o foi
'in luê ncia' como normalmente se entende, mas puro incentivo. Ele foi
por muito tempo minha ú nica audiê ncia. Só dele eu tive a ideia de que
minhas 'coisas' poderiam ser mais do que um hobby privado. ” 12 Esta
visã o da importâ ncia de Lewis como um “encorajador” foi reiterada
por Tolkien em uma carta ao Professor Clyde Kilby em 18 de dezembro
de 1965. “Eu nunca tive muita con iança em meu pró prio trabalho,”
Tolkien escreveu, “e mesmo agora quando eu Estou certo (para minha
grata surpresa ainda) de que tem valor para outras pessoas, sinto-me
acanhado, relutante como que em expor meu mundo de imaginaçã o a
olhos e ouvidos possivelmente desdenhosos. Se nã o fosse para o
encorajamento de CSL, nã o acho que deveria ter completado ou
oferecido para publicaçã o O Senhor dos Anéis. ” 13
A “dı́vida impagá vel” de Tolkien para com Lewis seria na verdade
paga integralmente por meio da profunda dı́vida que Lewis tinha para
com Tolkien. Especi icamente, Lewis estava em dı́vida com Tolkien por
sua conversã o inal ao Cristianismo. De acordo com Walter Hooper,
amigo e bió grafo de Lewis, “uma compreensã o da verdade nas
mitologias desencadeou a conversã o de Lewis” ao Cristianismo:
Isso aconteceu apó s uma longa discussã o em 1931 com Tolkien e Hugo
Dyson que continuou até as quatro horas da manhã . No inal dessa
maratona de discussã o, Lewis acreditava que os mitos eram reais e que os
fatos tiravam o brilho da verdade, esvaziando a verdade de sua
gló ria. Depois disso, ele se tornou um excelente apologista cristã o. 14

Essa reuniã o, que teria um impacto revolucioná rio na vida de Lewis,


ocorreu em 19 de setembro de 1931, depois que Lewis convidou
Tolkien e Dyson para jantar em seus quartos no Magdalen
College. Depois do jantar, os trê s homens foram dar um passeio à beira
do rio e discutir a natureza e o propó sito do mito. Lewis explicou que
sentia o poder dos mitos, mas que, em ú ltima aná lise, eles eram
falsos. Como ele expressou a Tolkien, mitos eram “mentiras, mesmo que
mentiras respiradas atravé s da prata”.
“ Não ,” Tolkien respondeu enfaticamente. “ Eles não são. ”
Tolkien retomou, argumentando que os mitos, longe de serem
mentiras, eram a melhor maneira de transmitir verdades que de outra
forma seriam inexprimı́veis. “Viemos de Deus [continuou Tolkien] e,
inevitavelmente, os mitos tecidos por nó s, embora contenham erros,
també m re letirã o um fragmento estilhaçado da verdadeira luz, a
verdade eterna que está com Deus.” Visto que fomos feitos à imagem de
Deus, e visto que Deus é o Criador, parte da imagem de Deus em nó s é o
dom da criatividade. A criaçã o - ou, mais corretamente, a subcriaçã o -
de histó rias ou mitos é apenas um re lexo da imagem do Criador em
nó s. Como tal, embora “os mitos possam ser mal orientados, (…) eles se
dirigem, ainda que vacilantes, para o verdadeiro porto”, enquanto o
“progresso” materialista leva apenas ao abismo e ao poder do mal.
“Ao expor essa crença na verdade inerente da mitologia”, escreveu o
bió grafo de Tolkien, Humphrey Carpenter, “Tolkien revelou o centro de
sua iloso ia como escritor, o credo que está no coraçã o
do Silmarillion. ” 15 Ele també m havia revelado a fatuidade da“ confusã o
profana ”em que Lewis ainda se encontrava. Ouvindo quase fascinado
enquanto Tolkien expunha sua iloso ia do mito, Lewis sentiu os
fundamentos de sua pró pria iloso ia teı́sta virarem pó diante da força
dos argumentos de seu amigo.
Apoiado pelo apoio de Dyson, que compartilhava substancialmente
suas crenças, Tolkien desenvolveu seu argumento para explicar que a
histó ria de Cristo era o Mito Verdadeiro, um mito que funciona da
mesma maneira que os outros, mas um mito que realmente aconteceu -
um mito que existia tanto no reino dos fatos quanto no reino da
verdade. 16 Da mesma forma que os homens desvendaram a verdade
por meio da trama da histó ria, Deus revelou a verdade pela trama da
histó ria.
A linha de raciocı́nio de Tolkien atingiu uma nota particular de
pungê ncia com Lewis porque ele examinou a historicidade dos
Evangelhos e chegou à conclusã o quase relutante de que ele estava
“ quase certo de que realmente aconteceu”. 17 De fato, a discussã o com
Tolkien e Dyson havia sido prenunciada por uma conversa anterior
cinco anos antes. Pouco depois de ler The Everlasting Man,
de Chesterton , o livro que abalou seu agnosticismo até os alicerces,
“algo muito mais alarmante” aconteceu com ele.
No inı́cio de 1926, o mais fervoroso de todos os ateus que já conheci
sentou-se em meu quarto do outro lado do fogo e observou que a
evidê ncia da historicidade dos Evangelhos era realmente
surpreendentemente boa. “Coisa de rum,” ele continuou. “Todas
aquelas coisas de Frazer sobre o Deus Moribundo. Coisa de
rum. Quase parece que realmente aconteceu uma vez. ”

“Para entender o impacto devastador” da admissã o do ateu, Lewis


escreveu, “você precisaria conhecer o homem (que certamente nunca
mais mostrou interesse pelo Cristianismo).” Ele era “o cı́nico dos
cı́nicos, o mais durã o dos durõ es”. 18
Agora, cinco anos depois, parecia que Tolkien estava entendendo
tudo. Ele havia mostrado que os mitos pagã os eram, na verdade, Deus
se expressando atravé s da mente dos poetas, usando as imagens de sua
“mitopé ia” para revelar fragmentos de Sua verdade eterna. Ainda assim,
o mais surpreendente de tudo, Tolkien sustentou que o Cristianismo
era exatamente o mesmo, exceto pela enorme diferença de que o poeta
que o inventou era o pró prio Deus, e as imagens que Ele usou eram
homens reais e histó ria real. A morte e ressurreiçã o de Cristo foi o
antigo mito do “deus agonizante”, exceto que Cristo era
o verdadeiro Deus agonizante, com uma localizaçã o precisa e veri icá vel
na histó ria e consequê ncias histó ricas de inidas. O antigo mito tornou-
se um fato, embora ainda retenha o cará ter de um mito.
Os argumentos de Tolkien tiveram um efeito indelé vel em Lewis. O
edifı́cio de sua incredulidade desmoronou e as bases de seu
cristianismo foram lançadas. Doze dias depois, Lewis escreveu a Arthur
Greeves que ele tinha “acabado de deixar de acreditar em Deus para
de initivamente acreditar em Cristo no cristianismo”, acrescentando
que sua “longa noite de conversa com Dyson e Tolien teve muito a ver
com isso”. 19
A extensã o total da in luê ncia de Tolkien pode ser avaliada na carta
de Lewis a Greeves em 18 de outubro:
Ora, a histó ria de Cristo é simplesmente um verdadeiro mito: um mito que
atua sobre nó s da mesma forma que os outros, mas com esta importante
diferença de que realmente aconteceu: e é preciso contentar-se em aceitá -
lo da mesma forma, lembrando-se de que ele é o mito de Deus onde os
outros sã o mitos de homens: isto é , as histó rias pagã s sã o Deus se
expressando atravé s das mentes dos poetas, usando as imagens que Ele
encontrou lá , enquanto o Cristianismo é Deus se expressando atravé s do
que chamamos de "coisas reais". Portanto, é verdade, nã o no sentido de
ser uma “descriçã o” de Deus (que nenhuma mente inita poderia
compreender), mas no sentido de ser a maneira pela qual Deus escolhe (ou
pode) aparecer para nossas faculdades. As “doutrinas” que extraı́mos do
verdadeiro mito sã o, obviamente, menos verdadeiras: sã o traduçõ es em
nossos conceitos e idéias daquilo que Deus já expressou em uma
linguagem mais adequada, ou seja, a encarnaçã o, a cruci icaçã o e a
ressurreiçã o reais. 20

Tolkien també m foi profundamente afetado pela longa discussã o


com Lewis, sentindo-se su icientemente inspirado por seu encontro
para escrever o poema “Mythopoeia”, sua melhor realizaçã o em verso. O
poema assume a forma da resposta de "Philomythus", ou seja, o amante
do mito, a "Misomythus", o odiador de mitos, e é dedicado "Aquele que
disse que os mitos eram mentiras e, portanto, sem valor, embora
respirado atravé s da prata. ' ”A alusã o a Lewis como“ Misomythus ”é um
pouco injusta. Ele nunca foi um odiador de mitos. Pelo contrá rio, ele
compartilhou com Tolkien um amor apaixonado pela mitologia, um
amor que se estendia muito alé m de sua “longa conversa noturna” até
os dias de sua infâ ncia. Agora, graças à exposiçã o de Tolkien de sua
iloso ia do mito, os dois homens compartilhavam mais do que
um amor pela mitologia; eles també m compartilhavam a crença de que
a mitologia era um transmissor da verdade.
Tendo encontrado um acordo em uma iloso ia compartilhada, a
amizade entre Tolkien e Lewis loresceu como nunca antes. Em
outubro de 1933, Tolkien registrou a seguinte entrada em seu diá rio: “A
amizade com Lewis compensa muito e, alé m de dar prazer e conforto
constantes, me fez muito bem pelo contato com um homem ao mesmo
tempo honesto, corajoso, intelectual - um erudito, um poeta e um
iló sofo - e um amante, pelo menos depois de uma longa peregrinaçã o,
de Nosso Senhor. ” 21
Para Lewis, a amizade era ainda mais importante. Se ele nunca
tivesse conhecido Tolkien, é possı́vel que sua “longa peregrinaçã o”
nunca tivesse chegado ao im. Assim como aconteceu com a in luê ncia
de Chesterton cinco anos antes, Lewis estava descobrindo que a velha
noçã o preconceituosa de que ele “nunca deveria con iar em um papista”
era uma mentira maligna e rabugenta. Se ele nunca tivesse con iado em
um papista, é pelo menos possı́vel que ele nunca tivesse conhecido a
Cristo. Certamente, o caminho que ele tomou para o “mero
cristianismo” foi em grande parte a estrada romana ao longo da qual
guias como Chesterton e Tolkien, e Patmore e Dante e Newman, o
conduziram.

ENCONTRO A MÃE KIRK


No chã o de Peccatum Adae estava Mã e Kirk coroada e ceteada no
meio do cı́rculo iluminado pela lua deixado pelo povo
silencioso. Todos os rostos estavam voltados para ela, e ela estava
olhando para o leste, onde John descia lentamente o penhasco. ...
“Eu vim para me entregar”, disse ele.
“Está tudo bem”, disse Mã e Kirk. “Você percorreu um longo
caminho para chegar a este lugar, para onde eu o teria levado em
alguns momentos. Mas está muito bem. ”
"O que devo fazer?" disse John,
“Você deve tirar seus trapos”, disse ela, “como seu amigo já fez, e
entã o você deve mergulhar nesta á gua”.
“Infelizmente”, disse ele, “nunca aprendi a mergulhar”.
“Nã o há nada a aprender”, disse ela. “A arte de mergulhar nã o é
fazer nada de novo, mas simplesmente parar de fazer algo. Você só
precisa se deixar ir. ”
—The Pilgrim's Regress 1

eu

NA mesma semana Lewis e Owen Bar ield terminaram de ler


o Paradiso de Dante , o poema que levou Lewis à s "alturas da poesia
que você nã o consegue em nenhum outro lugar", ele experimentou
outro marco importante em seu caminho para a conversã o que o
mergulharia em profundidades profundas que ele nunca tinha
experimentado anteriormente. Tendo alcançado as alturas com Dante,
as profundidades foram sondadas, literal e igurativamente, enquanto
se banhava com Bar ield no rio Thame. Foi aqui que Lewis aprendeu a
mergulhar, um evento que ele descreveu como “uma grande mudança
em minha vida” que teve “importantes conexõ es (religiosas)”. 2 O ato
de mergulhar e, mais especi icamente, o ato de aprender a fazê -lo pela
primeira vez, foi, para Lewis, uma metá fora encarnada para o salto de
fé exigido para a conversã o religiosa. A incapacidade de mergulhar
estava ligada ao desejo de autopreservaçã o, em si uma metá fora para o
pecado do orgulho, enquanto o primeiro mergulho bem-sucedido
exigia o abandono do medo egocê ntrico, uma metá fora para a virtude
da humildade. Seu signi icado foi destacado com um efeito dramá tico
em The Pilgrim's Regress, a alegoria autobiográ ica publicada em 1933
na qual Lewis mapeou sua “longa peregrinaçã o” ao Cristianismo
atravé s do processo de desaprender ou “desembaraçar” os
preconceitos herdados e acumulados de sua vida. No ponto culminante
de sua peregrinaçã o, a igura da Madre Kirk (isto é , a Madre Igreja) lhe
diz que ele deve mergulhar nas á guas vivas se quiser realizar o desejo
de seu coraçã o. Ela nã o se impressiona com os protestos de John (isto
é , de Lewis) de que ele nunca aprendeu a mergulhar. “Nã o há nada para
aprender ... A arte de mergulhar nã o é fazer nada de novo, mas
simplesmente parar de fazer algo. Você só precisa se deixar ir. ” Nã o era
uma questã o de aprender, mas de desaprender. Nã o se aprendeu
humildade; ganhava-se humildade abandonando o orgulho. Orgulho
desaprendizado era a chave para a humildade e, sob a graça, o pré -
requisito para a conversã o.
A “grande mudança” em Lewis provocada por ele ter aprendido a
mergulhar pode ser discernida a partir da natureza de suas cartas nas
semanas que se seguiram a esse evento crucial em sua vida. Depois
disso, Lewis valoriza a humildade acima de tudo e denigre o lugar da
ambiçã o mundana, insistindo que o desejo de obter aprovaçã o como
escritor nã o era o lado de seu personagem que "realmente valia muito":
E pode ter certeza, a menos que Deus nos tenha abandonado, ele
encontrará meios de cauterizar esse lado de uma forma ou de outra ... E
honestamente, o ser curado, com toda a dor, també m tem prazer: a pessoa
se arrasta para casa, cansada e machucada, em um estado de espı́rito que é
realmente repousante, quando todas as ambiçõ es da pessoa foram
abandonadas. Entã o, pode-se realmente pela primeira vez dizer “Venha o
Teu reino.” ... 3

Nesse estado de espı́rito, ou coraçã o, Lewis começou a se


interessar pela teologia, lendo a obra do Barã o von Hugel, o teó logo
cató lico e estudioso da Bı́blia, e de Thomas Traherne, o poeta mı́stico
do sé culo XVII. Detecta-se a in luê ncia de ambos os escritores, e talvez
particularmente de The Mystical Element in Religion de von Hugel , na
exposiçã o de Lewis de um esteticismo mı́stico. “A beleza desce de Deus
para a natureza: mas ali ela pereceria e desaparece, exceto quando um
homem a aprecia com adoraçã o e assim, por assim dizer, a envia de
volta a Deus: para que atravé s de sua consciê ncia o que desceu sobe
novamente e o cı́rculo perfeito seja feito. ” 4
Tendo aprendido a verdade paradoxal do mito com Tolkien e Dyson,
e tendo aprendido a mergulhar, isicamente, com Bar ield, e
meta isicamente, com Humildade, Lewis inalmente “passou da crença
em Deus para de initivamente acreditar em Cristo - no
Cristianismo”. 5 “Depois disso”, como a irma Walter Hooper, “ele se
tornou um excelente apologista cristã o”.
A vocaçã o de Lewis como apologista cristã o começou com sua
escrita de The Pilgrim's Regress durante agosto de 1932. Este livro, o
primeiro de Lewis e um dos melhores, apresenta insights tentadores
sobre o processo "descomplicado" que levou à sua
conversã o. Escrevendo com clareza e franqueza desarmadoras, Lewis,
por meio do personagem "John", seu autorretrato alegó rico, leva o
leitor a uma jornada intelectual na qual descobrimos como o autor
inalmente conseguiu dar um sentido sagrado a sua "confusã o
profana". A medida que “John” progride em sua “Regressã o” do
equı́voco e preconceito para a concepçã o da realidade cristã , o leitor
começa a compreender a pró pria posiçã o religiosa de Lewis nos meses
imediatamente apó s sua conversã o.
A ideia inicial de algo semelhante a The Pilgrim's Regress parece ter
surgido na mente de Lewis antes de ele atingir o está gio de "crer
de initivamente em Cristo". Já em 1930, quando ele havia voltado a
acreditar em Deus, mas ainda estava para se reconciliar com a
concepçã o cristã Dele, Lewis tentou uma descriçã o em prosa de "o
processo pelo qual eu voltei, como tantos de minha geraçã o, de
materialismo para uma crença em Deus. ” 6 Aludindo à s recentes
conversõ es de escritores como TS Eliot ao anglo-catolicismo, em 1928,
e Evelyn Waugh ao catolicismo romano, em 1930, Lewis traiu um
elemento de irritaçã o pelo fato de que o renascimento religioso da
é poca foi tendendo ao "classicismo na arte, realismo na polı́tica e
catolicismo na religiã o". Claramente desconfortá vel com essa
tendê ncia papista, Lewis rebateu a a irmaçã o de que poderia haver
"uma via media entre silogismos e psicoses" e que "Tomá s de Aquino e
DH Lawrence nã o dividem o universo entre eles". 7
A referê ncia a “classicismo na arte, realismo na polı́tica e
catolicismo na religiã o” foi uma citaçã o direta de Eliot. Essas foram as
palavras que Eliot escolheu para anunciar sua conversã o ao anglo-
catolicismo e foram elas mesmas uma reiteraçã o da posiçã o do mentor
de Eliot, Charles Maurras, cujas opiniõ es foram descritas na ediçã o de
março de 1913 da Nouvelle revue francalse como a personi icaçã o de
um trindade tradicionalista: “classique, catholique,
monarchique”. Lewis nã o gostava da poesia de Eliot intensamente e
claramente nã o gostava da forma "cató lica" que sua conversã o havia
assumido com igual intensidade
Ele era, no entanto, muito mais favorá vel em relaçã o a Evelyn
Waugh. Ele havia escrito uma resenha altamente favorá vel da biogra ia
de Waugh de Dante Gabriel Rossetti em 1928 e sem dú vida estava
ciente da recepçã o muito divulgada de Waugh na Igreja Cató lica em
setembro de 1930. Comentando sobre a conversã o de Waugh, um
escritor no Bystander observou que “ jovem autor brilhante ”foi“ o mais
recente homem de letras recebido na Igreja Cató lica. Outras pessoas
bem conhecidas da literatura que foram para Roma incluem Sheila
Kaye-Smith, Compton Mackenzie, Alfred Noyes, Padre Ronald Knox e
GK Chesterton. ” 8 A lista estava longe de ser exaustiva. Na dé cada de
1930, a maré de convertidos romanos havia se tornado uma torrente e,
ao longo dessa dé cada, havia cerca de 12 mil convertidos por ano
somente na Inglaterra. Este, entã o, foi o pano de fundo para a
preocupaçã o de Lewis de que o universo estava sendo dividido em dois
extremos de “silogismos” cató licos, representados por Santo Tomá s de
Aquino, e “psicoses” materialistas e sensuais, conforme sintetizado por
DH Lawrence. Sua tarefa, ele sentia, era descobrir uma via media entre
esses dois extremos. Sua pró pria posiçã o estava tã o em estado de
mudança em 1930, no entanto, que a tarefa teve de ser
abandonada. Somente dois anos depois, apó s sua transiçã o do teı́smo
para o cristianismo ter sido completada, ele foi capaz de retornar à
tarefa que havia se proposto.
Durante a primavera de 1932, Lewis começou outro esforço
abortado ao escrever um relato autobiográ ico de sua conversã o, desta
vez em verso. Apenas trinta e quatro linhas sobreviveram do que os
bió grafos de Lewis Roger Lancelyn Green e Walter Hooper rotularam de
sua “'viagem' de Chesterton”: “Como Lewis tinha lido a maioria dos
livros de teologia de Chesterton nessa é poca, nã o parece fantasioso
supor que a ideia de Lewis de uma “viagem” espiritual foi baseada em
uma ideia sugerida por Chesterton em seu livro sobre a Ortodoxia. ” 9
Quando Lewis voltou ao mapeamento de sua conversã o espiritual
em agosto de 1932, ele havia abandonado qualquer pensamento de
traduzi-lo em verso. Em vez disso, ele escolheu o meio da alegoria
estrita ou formal. O tı́tulo que ele selecionou, The Pilgrim's Regress, é ,
claro, fortemente sugestivo da alegoria de Bunyan. A parte a
semelhança do tı́tulo, entretanto, e a escolha da alegoria formal como
meio, há pouca semelhança entre o Progresso de Bunyan e o Regress de
Lewis . O puritanismo do primeiro era um aná tema para as
sensibilidades esté ticas do ú ltimo. Como tal, a in luê ncia de Bunyan em
Lewis, alé m das semelhanças super iciais de forma, nã o deve ser
exagerada. A in luê ncia de Bunyan em The Pilgrim's Regress é
semelhante à in luê ncia de HG Wells na Trilogia Espacial de Lewis. O
fato de Lewis ter sido in luenciado por Wells em sua escolha da icçã o
cientı́ ica como meio para a Trilogia nã o indica que Wells teve qualquer
in luê ncia na dimensã o teoló gica dos romances. Ao contrá rio, os
romances foram escritos como uma resposta ao cienti icismo de Wells e
como um antı́doto para seu veneno. Da mesma forma, The Pilgrim's
Regress foi uma resposta ao puritanismo de Bunyan no sentido de que o
Pilgrim de Lewis escapa da tristeza da Puritâ nia e descobre a Alegria
alé m de suas fronteiras. Na verdade, considerando os comentá rios
implicitamente anticató licos de Lewis durante seu primeiro esforço na
autobiogra ia espiritual em 1930, descobriremos que as in luê ncias
mais profundas na escrita de The Pilgrim's Regress foram
surpreendentemente “cató licas”.
A visã o de Lewis sobre o que constituı́a os “extremos” e o que
constituı́a a via media mudou consideravelmente em relaçã o ao que
caracterizava sua postura teı́sta dois anos antes. Em The Pilgrim's
Regress , parecia que o catolicismo, longe de ser um dos extremos, havia
se tornado, em alguma expressã o vaga e mal de inida de “ortodoxia”,
a pró pria via mídia . Os “silogismos” agora eram representados como
ı́dolos da cabeça, enquanto as “psicoses” eram os ı́dolos do
coraçã o. Entre os “silogismos” ao “norte” da via mídia, descritos na
alegoria como lugares fı́sicos que simbolizam a ideia que representam,
estavam a Puritâ nia, representando o espı́rito do
puritanismo; Zeitgeistheim, representando o espı́rito da é poca ou a
escravidã o da moda; e Superbia, representando o pecado do
Orgulho. Ao “sul” da via media, entre as “psicoses”, estã o Orgiastica,
representando a Luxú ria consagrada; Quietismus, representando o
quietismo dos Quakers e outros, dentro dos quais podem ser
encontrados Luxinterna e Hunch, representando os perigos de seguir
os impulsos da fé cega sem a luz da razã o; Occultica, representando o
Oculto; Esté tica, representando o culto da Beleza ou da Arte por si
mesma; e Sodoma, representando, bem, Sodoma!
A in luê ncia de Coleridge e Wordsworth está claramente presente
na colocaçã o da via media da ortodoxia entre os extremos da heresia ou
idolatria. No verdadeiro estilo coleridgeano, Lewis agora acreditava que
o verdadeiro caminho entre os “silogismos” da cabeça e as “psicoses”
do coraçã o era atravé s do estabelecimento da relaçã o correta entre fé e
razã o. A via media, ou o caminho da verdade, representava
o casamento da fé e da razã o, enquanto as heresias ao “norte” e “sul” do
verdadeiro caminho eram ideias que se divorciaram deste
casamento. Para o “norte” está a razã o sem fé do “Iluminismo” do
sé culo XVIII, contra o qual Wordsworth e Coleridge reagiram; ao “sul”
está a fé sem razã o e a auto-indulgê ncia dos Româ nticos Negros e
Decadentes, representando a reaçã o exagerada ao racionalismo do
sé culo XVIII que Wordsworth e Coleridge també m rejeitaram.
Ainda mais poderoso do que a presença de Wordsworth e Coleridge
na estrutura de The Pilgrim's Regress e , portanto, por inferê ncia sobre o
estado de espı́rito de Lewis logo apó s sua conversã o, é a presença de
Dante. A colocaçã o de Lewis dos pecados da cabeça ao “norte” e os do
coraçã o ao “sul” representa um re lexo pró ximo da divisã o e
categorizaçã o dos sete pecados capitais na Divina
Comédia. No Inferno, Dante coloca os culpados de pecados de
incontinê ncia ou apetite (como o luxurioso, o glutã o, os acumuladores e
os perdulá rios) no Inferno Superior; ele coloca os culpados de pecados
de fraude ou malı́cia no Inferno Inferior. Em termos gerais, e
permitindo a inadequaçã o de nosso “tesouro de palavras” como
ferramenta para apreender essas nuances metafı́sicas, as primeiras
seguem as loucuras do coraçã o, as ú ltimas as loucuras da cabeça. Da
mesma forma, no Purgatório, Dante coloca no Purgató rio Superior os
culpados de Amor Excessivo aos Bens Secundá rios, como o Avarento, o
Guloso e o Luxuoso; ele coloca no Purgató rio Inferior os culpados do
Amor Pervertido, isto é , o amor ao mal do pró ximo, como o Orgulhoso,
o Invejoso e o Colé rico. Novamente, e falando de maneira geral, os
primeiros eram seguidores das loucuras do coraçã o, os ú ltimos das
loucuras da cabeça. Uma vez que o pró prio Dante estava meramente
seguindo a categorizaçã o desses pecados por seu mentor, Santo Tomá s
de Aquino, na Summa Theologiae deste ú ltimo , pode-se ver que Santo
Tomá s de Aquino emerge como a in luê ncia proeminente e elevada na
estrutura da alegó rica "Regressã o" de Lewis. Assim, podemos ver que
Tomá s de Aquino nã o estava mais em um dos “extremos”, mas agora
exercendo uma forte atraçã o no pró prio centro de Lewis via mídia. Se
Lewis estava consciente da centralidade de Tomá s de Aquino talvez seja
questioná vel. E pelo menos possı́vel que Dante tenha conseguido
“contrabandear” a teologia de seu Mestre para os pensamentos de
Lewis sem que Lewis percebesse completamente o fato. Se for assim,
há , é claro, uma deliciosa ironia, ou o que Dante poderia ter chamado de
Divina Comé dia ou Simetria, no fato de Lewis ter sucumbido ao pró prio
“contrabando teoló gico” que se tornaria um dos propó sitos de sua
pró prias obras de icçã o. Talvez indiretamente, Lewis claramente
percorreu um longo caminho nos dois anos desde que sua ideia de
escrever a histó ria de sua conversã o fora inicialmente concebida.
Alé m da in luê ncia ó bvia de Coleridge e Wordsworth, e da in luê ncia
imponente de Dante e, por meio dele, de Aquino, outras in luê ncias
també m abundam nas pá ginas de The Pilgrim's Regress. E difı́cil ver a
obra como um todo, panoramicamente, sem ser lembrado
insistentemente, da Ética de Aristó teles , e as pistas para algumas das
outras in luê ncias sã o fornecidas pelo pró prio Lewis nas epı́grafes que
ele emprega no inı́cio de cada livro da Regressão. Isso inclui citaçõ es de
Platã o, Boethius, Spenser, Milton, Pascal, Virgil, Bunyan e George
MacDonald.
Signi icativamente, um epigrama do teó logo anglicano Richard
Hooker está incluı́do no inı́cio do Livro Um, indicando que Lewis já
estava familiarizado com o trabalho do teó logo que se tornaria, e
permaneceria, possivelmente o mais importante para ele ao longo de
sua vida. Embora Hooker seja um teó logo da Igreja da Inglaterra, sua
posiçã o dentro do contexto da igreja anglicana é singularmente
“cató lica”. Foi Hooker, talvez mais do que qualquer outro teó logo
anglicano, que argumentou contra a posiçã o puritana de sua é poca e a
posiçã o protestante fundamentalista e “evangé lica” de hoje, que a
Escritura é o ú nico guia da conduta humana. Contra este credo de sola
scriptura, ou o que pode ser denominado bibliolatria, Hooker sustentou
em sua magnum opus, Laws of Ecclesiastical Polity, que os sacramentos
eram centrais para o culto cristã o e que a tradiçã o sagrada, sancionada
pela autoridade da Igreja, era uma parte integrante parte do depó sito
da fé . Certamente nã o há como escapar do fato, embora Lewis à s vezes
se esforçasse por fazê -lo, que ao selecionar Hooker como o teó logo a
quem ele devia a maior dı́vida, Lewis estava pendurando seu casaco de
lealdade dentro da Igreja da Inglaterra irmemente no Gancho "alto" do
anglo-catolicismo.
A postura anti-puritana de The Pilgrim's Regress é aparente desde o
inı́cio, na verdade desde a primeira frase do livro: “Sonhei com um
menino que nasceu na terra da Puritâ nia e seu nome era Joã o”. 10 Até
mesmo o tı́tulo do capı́tulo de abertura, “As Regras”, signi ica que Lewis
igualou o puritanismo ao farisaı́smo, aqueles que conhecem a letra da
lei, mas sã o cegos para seu espı́rito. Deus é conhecido como “o
Senhorio”. Ele é , no entanto, visto como um Senhorio ausente, mais
notá vel por Sua ausê ncia do que por Sua presença. Ele é amado apenas
em teoria, mas temido na prá tica e, suspeita-se, odiado em segredo. As
regras sã o rı́gidas, mas sã o distorcidas pela aceitaçã o tá cita da
hipocrisia. A prá tica religiosa é realizada com o uso de má scaras,
ilustrando sua arti icialidade, e com o uso de “roupas feias e
desconfortá veis”, ilustrando sua tristeza. 11 Em suma, o “Senhorio”
puritano emerge como um “Grande Irmã o” orwelliano, um tirano
teoricamente benigno.
Nã o é de se surpreender que John tente escapar. Ele sai da Puritâ nia
e, antes de viajar para muito longe, encontra o Sr. Iluminismo, o espı́rito
do racionalismo ateu, que o informa com a maior solenidade de que o
Landlord nã o existe. 12 Ele continua vagando, entrando no “darkest
Zeitgeistheim”, uma terra governada pelo “Espı́rito da Era”. Aqui ele
conhece Sigismundo Enlightenment, uma personi icaçã o do
Freudianismo, que é ilho do Sr. Enlightenment. Sigismundo fala de seu
pai com desprezo como "um velho vaidoso e ignorante, quase um
puritano". 13
John é aprisionado pelo Espı́rito da Idade, mas é libertado pela
Razã o, uma bela mulher em um garanhã o negro: “... ela era tã o alta que
parecia para ele uma Titã , uma virgem brilhante vestida de aço
completo, com uma espada nua em sua mã o. " 14 A potente imagem da
Razã o como Sempre Virgem, pureza personi icada, nã o precisa de mais
explicaçõ es. Ela destró i o Espı́rito da Idade e leva John à
liberdade. Explicando os erros da é poca, Razã o explica que aqueles que
sã o escravizados pelo Espı́rito da Era “deixaram de ouvir as ú nicas
pessoas que podem dizer-lhes algo sobre isso”.
"Quem sã o eles?" pergunta John.
“Elas sã o minhas irmã s mais novas, e seus nomes sã o Filoso ia e
Teologia.” 15
Depois que Reason o levou de volta à estrada principal, a via
media, John se encontra com Vertue e eles seguem juntos pela
estrada. Logo, poré m, “a estrada subia sem aviso até a beira de um
grande des iladeiro ou abismo e terminava no ar, como se tivesse se
quebrado? 16 Vertue e John começam a discutir sobre qual é o melhor
caminho para baixo quando sã o interrompidos por “uma terceira voz”:
“Nenhum de você s tem chance, a menos que eu o carregue para
baixo”. A voz é de uma velha, Mã e Kirk, ou seja, Mã e Igreja. “Algumas
pessoas do interior dizem que ela é curiosa”, sussurra Vertue para John,
“e alguns dizem que ela é louca”.
"Eu nã o deveria con iar nela", John sussurra em resposta. "Ela me
parece muito mais com uma bruxa." Considerando quã o velha e frá gil
ela parece, John pergunta à velha como ela pretende carregá -los,
acrescentando que, se alguma coisa, eles seriam mais capazes de
carregá - la . Mã e Kirk responde que ela poderia fazer isso “pelo poder
que o Senhorio me deu”.
"Entã o você acredita no Landlord també m?" disse John.
"Como nã o posso, querido", disse ela, "quando sou sua pró pria
nora?" 17
Tendo se declarado, implicitamente, a Esposa de Cristo, Madre Kirk
explica que o grande abismo no caminho foi causado por uma
catá strofe, ou seja, a Queda: “E no momento em que ele estendeu a mã o
e arrancou o fruto houve um terremoto, e o paı́s se abriu em toda a
extensã o de norte a sul: e desde entã o, em vez da fazenda, existe aquele
des iladeiro, que o povo do campo chama de Grand Canyon. Mas na
minha lı́ngua seu nome é Peccatum Adae . ” 18
E intrigante, talvez até um pouco estranho, que Lewis tenha feito
questã o de encerrar o monó logo da Mã e Kirk com a a irmaçã o de que a
lı́ngua da Mã e Igreja é o latim. A Igreja Anglicana, à qual Lewis se uniu
apó s sua conversã o, há muito sucumbiu ao verná culo, enquanto a
liturgia da Igreja Cató lica na é poca em que Lewis estava escrevendo era
conduzida exclusivamente em latim, sua lı́ngua o icial.
També m é mais do que intrigante que Lewis inclua uma sá tira,
atravé s da introduçã o dos personagens “Sr. Amplo ”e“ neo-angular ”,
das divisõ es na Igreja da Inglaterra entre os clé rigos da Igreja ampla e
os anglo-cató licos da alta Igreja. També m é estranho que John só
encontre esses personagens depois que ele deixou Mã e Kirk para seguir
seu pró prio caminho. Escrevendo a um conhecido irlandê s, o cô nego
Claude Chavasse, em fevereiro de 1934, sobre o propó sito da
abordagem satı́rica que ele havia adotado em relaçã o à s facçõ es dentro
da Igreja da Inglaterra, Lewis escreveu que a Broad Church sofria de
uma “confusã o entre a mera bondade natural e a Graça que nã o é
cristã o ”e era“ o que mais odeio e temo no mundo ”. Se, entretanto, ele
odiava e temia a confusã o nã o-cristã dentro da Igreja Ampla, ele
també m estava menos do que apaixonado pela Igreja Alta. “O que estou
atacando em Neo-Angular é um conjunto de pessoas que me parecem ...
estar tentando fazer do pró prio Cristianismo mais uma moda do tipo
arrogante, Chelsea, burguê s-bajulador” e “TS Eliot é o ú nico homem
que soma a coisa contra a qual estou lutando. ” 19
Escrevendo à sua amiga, a irmã Penelope, depois de ela també m ter
indagado sobre o signi icado da sá tira sobre a igreja anglicana em The
Pilgrim's Regress, Lewis escreveu: “Para mim, a diferença real nã o é alta
e baixa, mas entre religiã o com um sobrenaturalismo real e
Salvacionismo de um lado e todas as versõ es modernistas diluı́das do
outro. ” 20 Claramente, se forçado a escolher entre o diabo do
modernismo da Broad Church e o azul profundo "C" do conservador-
Chelsea- "Cató lica" High Church, e "high-brow", Anglicanism à la Eliot,
Lewis iria, relutantemente, escolha o ú ltimo. Ele nã o estava, entretanto,
em casa com nenhum deles.
A preferê ncia relutante de Lewis pela igreja alta em vez da baixa
torna-se aparente no inal de The Pilgrim's Regress, quando John
inalmente se entrega aos braços de Mã e Kirk e se prepara para
mergulhar na piscina do batismo. Enquanto ele se esforça para
encontrar a coragem de morrer para si mesmo para que possa
mergulhar na vida, os espectros dos cé ticos que ele conheceu em sua
jornada tentam dissuadi-lo de dar o passo decisivo inal de
conversã o. O velho Iluminismo e seu ilho, Sigismundo, aparecem
diante dele, este ú ltimo descartando seu desejo de conversã o como um
caso de “melancolia religiosa”: “Pare enquanto há tempo”, ele avisa. “Se
você mergulha, mergulha na loucura.” 21 Vá rios outros també m
aparecem, o ú ltimo dos quais é Broad, a personi icaçã o do
anglicanismo da Broad Church, que busca dissuadir John de se juntar a
Madre Kirk: “Meu caro menino, você está perdendo a cabeça. Essas
conversõ es repentinas e lutas violentas nã o alcançam nada. Tivemos
que descartar tantas coisas que nossos ancestrais acharam
necessá rio. E tudo muito mais fá cil, muito mais gracioso e bonito do
que eles supunham. ” 22 Em ú ltima aná lise, no entanto, nã o é a presença
do Sr. Broad entre os cé ticos que é signi icativa, mas a ausê ncia de neo-
angular. No inal, relutantemente, Lewis admite que Eliot e os anglo-
cató licos estã o pelo menos procurando Mã e Kirk, mesmo que nã o a
tenham encontrado.
Depois que John inalmente mergulha nas á guas do batismo, ele
ouve "outra voz ... atrá s dele", a pró pria Palavra de Deus, que explica o
enigma da existê ncia em termos notavelmente semelhantes aos
empregados por Tolkien durante a "longa conversa noturna" do ano
anterior:
Criança, se quiser, é mitologia. E apenas verdade, nã o fato: uma imagem,
nã o o muito real. Mas entã o é Minha mitologia ... esta é Minha invençã o,
este é o vé u sob o qual escolhi aparecer desde o inı́cio até agora. Para isso
criei seus sentidos e para isso sua imaginaçã o, para que você pudesse ver
Meu rosto e viver. O que você teria? Você nã o ouviu entre os pagã os a
histó ria de Semele? Ou houve alguma é poca em alguma terra em que os
homens nã o sabiam que o milho e o vinho eram o sangue e o corpo de um
Deus moribundo, mas vivo? 23

Assim, em um golpe inal de graça, Lewis tem a Palavra do pró prio Deus
explicando a profunda importâ ncia do Santı́ssimo Sacramento de Seu
Corpo e Sangue. Signi icativamente, no entanto, ele o faz na linguagem
da iloso ia do mito de Tolkien. Talvez, portanto, como um paralelo
esclarecedor ao tratamento de Lewis do assunto, pode ser ú til e
apropriado citar as pró prias palavras de Tolkien sobre a importâ ncia do
Santı́ssimo Sacramento, escritas em uma carta a um de seus ilhos.
Da escuridã o da minha vida, tã o frustrado, coloco diante de você s uma
grande coisa para amar na terra: o Santı́ssimo Sacramento. ... Lá você
encontrará romance, gló ria, honra, idelidade e o caminho verdadeiro de
todos os seus amores. na terra, e mais do que isso: Morte: pelo paradoxo
divino, que acaba com a vida e exige a rendiçã o de todos, e ainda pelo
sabor (ou antegozo) de que só pode o que você busca em suas relaçõ es
terrenas (amor, idelidade, alegria) ser mantida, ou assumir aquela
aparê ncia de realidade, de resistê ncia eterna, que o coraçã o de cada
homem deseja. 24

Apó s a publicaçã o de The Pilgrim's Regress, vá rios revisores


presumiram que Lewis deveria ser outro na lista crescente de
convertidos ao catolicismo romano. The Downside Review, publicado
pelos beneditinos, saudou Lewis por sua “notá vel contribuiçã o à
literatura cató lica”. Uma crı́tica na Blackfriars, uma publicaçã o
dominicana, foi igualmente efusiva, descrevendo o "renascimento do
mé todo alegó rico" de Lewis como "muito bem-sucedido". Catholic
World, publicado pelos Paulist Fathers em Nova York, elogiou The
Pilgrim's Regress como um "volume brilhantemente escrito" e "uma
crı́tica cá ustica e devastadora da iloso ia, religiã o, polı́tica e arte
modernas". W. Norman Pittenger, um padre anglicano ensinando no
Seminá rio Teoló gico Geral de Nova York, escrevendo em The Living
Church, presumiu, com base apenas no livro, que o peregrino “acaba no
inal em um lugar de descanso que imaginamos nã o é outro senã o a
Igreja de Roma. Os anglicanos podem desejar que ele tivesse vindo em
sua direçã o, mas o Sr. Lewis, que é cató lico romano, nã o vê isso. ...
Temos certeza de que o livro encontrará muitos leitores encantados,
mesmo que nem todos cheguem no feliz refú gio do catolicismo
romano. ” 25
Nã o foi surpresa que muitas pessoas perceberam que Lewis havia
se tornado cató lico. Todas as evidê ncias de seu encontro com Mã e Kirk
em The Pilgrim's Regress parecem sugerir que ele nã o poderia ser outra
coisa. Os cató licos poderiam de fato desejar que ele tivesse vindo em
sua direçã o, mas o Sr. Lewis, que era anglicano, nã o via isso.

TINTAS E REAÇÕES
As reaçõ es de CSL foram estranhas. Nada é uma homenagem maior à
propaganda Vermelha do que o fato de que ele (quem sabe eles sã o
em todos os outros assuntos mentirosos e tra icantes) acredita em
tudo o que é dito contra Franco, e nada do que é dito por ele ... Mas o
ó dio à nossa igreja está atrá s todo o real ú nico fundamento inal do
Dó de E - tã o profundamente estabelecido que permanece mesmo
quando toda a superestrutura parece removida (CSL, por exemplo,
reverencia o Santı́ssimo Sacramento e admira as freiras!). No entanto,
se um luterano é colocado na prisã o, ele ica em pé de guerra; mas se
padres cató licos sã o massacrados - ele nã o acredita (e ouso dizer
que realmente pensa que eles pediram isso).
- JRR Tolkien 1

OST CRITICS supô s que Lewis era mais cató lico do que ele acreditava
ser ”, escreveram os bió grafos de Lewis Green e Hooper, comentando
sobre a reaçã o à publicaçã o de The Pilgrim's Regress . 2 Alé m da
presunçã o dos revisores de que o autor do livro deve ser cató lico,
rumores começaram a circular pelos corredores sagrados de Oxford de
que Lewis havia se convertido ao catolicismo. Paul Elmer More, o
crı́tico literá rio e iló sofo americano, visitou Oxford em julho de 1933,
logo apó s ter lido The Pilgrim's Regress. Intrigado com a natureza da
alegoria de Lewis, ele perguntou a seu amigo John Frederick
Wolfenden, um professor de iloso ia no Magdalen College, se Lewis
havia sucumbido à contrataçã o de Roma. “Eu perguntei a ele sobre
Lewis, qual era a histó ria de sua experiê ncia e se ele havia se tornado
um cató lico romano, e o que signi icava 'Mã e Kirk' para a qual sua
Peregrina retorna. Wolfenden disse que nã o sabia muito sobre tudo
isso, mas tinha certeza de que Lewis nã o havia se tornado um RC ” 3
Christopher Derrick, em C. S. Lewis e a Igreja de Roma, observou que
era de fato “compreensı́vel” que a igura da Mã e Kirk levasse muitos à
suposiçã o de que Lewis devia ser cató lico.
Muito pouco é provado, é claro, pelo fato de que a lı́ngua de Mã e Kirk
parece ser o latim. Mas é certamente signi icativo que ela reivindique
obediê ncia como por direito, que o melhor caminho do peregrino é
encontrá -la "desde o inı́cio" e "desde a infâ ncia"; que Deus (“o
Senhorio”) continua conduzindo os homens de volta para ela; que
“se tudo correr bem” o pagã o a encontrará ; que o peregrino é , em
ú ltima instâ ncia, dirigido a ela pelo fato da morte, e “deve” ir a ela se
deseja encontrar Cristo; e que embora miserá vel e feiticeira à
primeira apariçã o, ela está “coroada e cetro” e com todos os rostos
voltados para ela quando inalmente chega o momento de decisã o do
peregrino.
Tudo isso aponta para uma noçã o muito elevada e até mesmo
especi icamente cató lica romana do que é “a Igreja”. Até o nome da Madre
Kirk carrega uma sugestã o desse tipo, uma vez que “nossa santa Mã e a
Igreja” é uma expressã o que vem natural e tradicionalmente aos cató licos
romanos, mas raramente aos lá bios anglicanos. Nem ela deve ser
simplesmente equiparada a Cristo, que faz uma apariçã o pessoal na
histó ria, breve mas crucialmente, e é claramente distinto dela; ela é de fato
sua Noiva, como a Igreja, quando nã o é chamada de seu corpo, é
tradicionalmente chamada de ser. 4

Talvez o aspecto mais surpreendente de The Pilgrim's Regress nã o


seja a impressã o obtida pela maioria de seus leitores de que era
cató lico, mas a surpresa do autor de que seus leitores pensassem
assim. Em The Allegory of Love, Lewis aludiu a "um homem em nosso
pró prio tempo que escreveu o que pretendia ser uma alegoria
apologé tica geral para 'todos os que professam e se chamam cristã os',
e icou surpreso ao descobrir que isso foi elogiado e acusado de defesa
de Roma. ” 5 Claramente, esse “homem” era uma icçã o literá ria e Lewis
estava se referindo à sua pró pria experiê ncia com The Pilgrim's
Regress. Seus esforços para se distanciar do suposto catolicismo de The
Pilgrim's Regress foram explicitados no prefá cio da terceira ediçã o,
publicada em 1943. “O nome Mãe Kirk ” , ele insistiu, “foi escolhido
porque 'Cristianismo' nã o é muito convincente nome. Seu defeito era
que nã o era incomum que levasse o leitor a atribuir-me
uma posiçã o eclesiástica muito mais de inida do que eu poderia
realmente me orgulhar. O livro se preocupa apenas com o Cristianismo
contra a descrença. Perguntas 'denominacionais' nã o entram. ” 6 A
insistê ncia de Lewis na ambivalê ncia do signi icado de Mã e Kirk nã o é
"muito convincente" e, como Christopher Derrick observou, "seu
argumento aqui era nitidamente fraco." 7 Ao longo de The Pilgrim's
Regress, Derrick observou, Lewis “demonstrou grande engenhosidade
ao inventar nomes pessoais e topô nimos alegó ricos para signi icar
todo tipo possı́vel de posiçã o ilosó ica ou religiosa; e se ele tivesse
escolhido, ele poderia facilmente ter concebido tal nome para 'mero
cristianismo', visto como de alguma forma distinto do pró prio Cristo,
mas sem qualquer implicaçã o eclesiá stica. 'Evangelia', 'Faith' e
'Christina' estã o entre as possibilidades ó bvias. Sua escolha de 'Mã e
Kirk' como um nome para este personagem nã o foi feita lute de
mieux, como ele tentou sugerir ”. 8 Derrick conclui, de forma
convincente em meu julgamento, que a "explicaçã o real" quanto à
escolha de "Mã e Kirk" em particular, e o tom onipresente do
catolicismo em geral, ao longo das pá ginas de The Pilgrim's
Regress, está no fato que foi escrito em um luxo ininterrupto de
consciê ncia no espaço de menos de duas semanas. “Essa escrita em
alta velocidade deve necessariamente ajudar a parte menos consciente
da mente de um autor a se trair mais francamente do que o lazer e a
deliberaçã o permitiriam; e parece prová vel que, em 1932, a
compreensã o natural ou instintiva de Lewis da 'Igreja' era muito mais
cató lica do que sua mente consciente sabia ou desejava. ” 9 Assim, sua
leitura recente de Dante, Coleridge e Chesterton, e suas recentes
discussõ es com Tolkien e Dyson, haviam se reunido no caldeirã o
conceitual do qual The Pilgrim's Regress emergiu como uma expressã o
composta de desejo catá rtico (e cató lico). “Mas”, Derrick acrescenta
signi icativamente, “a mente consciente de Lewis parece ter
recuperado o controle”.
O problema, entretanto, era que a mente consciente de Lewis estava
sob a poderosa in luê ncia do preconceito subconsciente.
A extensã o em que a presença ameaçadora e preconceituosa da
Puritâ nia estava impedindo a fuga de Lewis de sua sombra pode ser
vista no relacionamento de Lewis com Sheed and Ward, a editora
cató lica que publicou a segunda ediçã o de The Pilgrim's Regress. “Nã o
gostei muito de ter um livro meu, e especialmente um livro religioso,
publicado por uma editora papista, mas como eles pareciam pensar
que poderiam vendê -lo, e Dent claramente nã o poderia,
desisti.” 10 Frank Sheed escreveu a có pia para a sobrecapa da ediçã o
Sheed and Ward, elogiando o trabalho como cheio de humor e
declarando que Lewis era certamente mais engraçado do que
Bunyan. Gafe de Sheed, na medida em que Lewis estava preocupado,
era ligar Puritania com Ulster: “Esta histó ria começa em Puritania (Mr.
Lewis foi criado em Ulster) ....” Uma vez que a histó ria se começar em
Puritania, uma vez que foi em grande parte autobiográ ica , e como
Lewis nasceu em Ulster, pode-se pensar que a a irmaçã o é bastante
inó cua. No entanto, havia in lamado as sensibilidades preconceituosas
de Lewis. "Se você encontrar algué m que possa estar interessado",
Lewis escreveu a Arthur Greeves, "explique o mais alto que puder que
eu nã o fui consultado e que a sinopse é uma maldita mentira para
tentar fazer com que o ralé de Dublin comprasse o livro." 11 A reaçã o
furiosa de Lewis é quase chocante em sua estridê ncia. Onde,
exatamente, estava a “mentira condená vel”? Por que a presunçã o de
que a populaçã o “papista” de Dublin era “ralé ”?
A luz de tal reaçã o exagerada estranha, o julgamento de Tolkien
quanto à resposta preconceituosa de Lewis a todas as coisas "papistas"
é certamente digno de nota, embora no inal das contas um pouco
injusto:
Nã o demorou muito para que eu percebesse que havia mais no
tı́tulo Pilgrim's Regress do que eu havia entendido (ou o autor també m,
talvez). Lewis iria regredir. Ele nã o entraria no Cristianismo por uma nova
porta, mas pela velha; pelo menos no sentido de que, ao retomá -lo, ele
també m retomaria, ou despertaria, os preconceitos tã o diligentemente
plantados na infâ ncia. Ele se tornaria novamente um protestante da
Irlanda do Norte. 12

A injustiça da declaraçã o de Tolkien se relaciona à a irmaçã o de que


Lewis voltaria a ser um protestante estereotipado do Ulster, ou seja, um
virulentamente anticató lico e puritano “cristã o”. Lewis, de fato, nã o se
tornaria nada disso. Como veremos, sua concepçã o de “mero
cristianismo” era muito mais “cató lica” em seu sacramentalismo e em
sua defesa da tradiçã o e autoridade eclesiá stica do que seria tolerá vel
para o presbiteriano tı́pico ou calvinista de igreja inferior. Na realidade,
o posicionamento cada vez mais estranho de Lewis sobre si mesmo em
um autodenominado "campo central" de "mero cristianismo" entre as
alas protestante e anglo-cató lica da Igreja da Inglaterra seria o
resultado de um compromisso pessoal entre o "catolicismo de fato" ”De
suas crenças centrais e dos protestantes“ preconceitos tã o
diligentemente plantados na infâ ncia ”.
Ao longo das dé cadas de 1930 e 1940, Lewis e Tolkien travaram
suas batalhas religiosas, um com o outro e com outros, dentro do
cı́rculo de comunhã o conhecido como Inklings, um grupo de almas que
geralmente pensam da mesma maneira que se encontravam
regularmente, nos quartos de Lewis no Magdalen College e no Eagle
and Child, um pub no centro de Oxford.
“Os Inklings”, escreveu Warnie Lewis em sua biogra ia nã o
publicada de seu irmã o,
pede uma palavra de explicaçã o. Falando propriamente, nã o era nem um
clube nem uma sociedade literá ria, mas participava da natureza de
ambos. Nã o havia regras, o iciais, agenda ou eleiçõ es formais, a menos que
se aceite como regra o fato de que nos encontramos nos quartos de Jack
todas as quintas-feiras à noite apó s o jantar.… De vez em quando,
aumentá vamos nosso nú mero original, mas sem formalidades.…
Raramente era proposto um nome que nã o fosse geralmente aceitá vel, pois
todos nó s ... conhecı́amos o tipo de homem que querı́amos - e nã o
querı́amos. No topo da ú ltima classe, Jack coloca o tipo que dogmatismo
sem evidê ncias e entã o, quando desa iado, recai no clichê da
fanfarronice. 13

A falta de formalidade torna difı́cil apontar a data em que os


Inklings começaram a se reunir. E prová vel que o grupo tenha
começado a se formar no inı́cio dos anos 1930, mais ou menos na
é poca em que os Coalbiters deixaram de se reunir. Este ú ltimo teve um
im natural depois que sua razã o de existê ncia, a leitura de todas as
principais sagas islandesas culminando no Elder Edda, foi
alcançada. Os Inklings, portanto, preencheram uma necessidade
preenchendo o vá cuo deixado pela dissoluçã o do grupo anterior. “Nã o
há som que eu goste mais do que o riso de um homem adulto”, escreveu
Lewis, 14 ilustrando a necessidade que sentia pela comunhã o relaxada
e relaxante de amigos que pensam da mesma maneira. Escrevendo
sobre amizade em The Four Loves, Lewis oferece uma pista de por que
os Inklings se tornaram uma parte tã o central de sua vida desde o
inı́cio até sua morte, um terço de sé culo depois. “Neste tipo de amor”,
escreveu ele, “ Você me ama? signi ica Você vê a mesma verdade? ” Ou,
pelo menos,“ Você se preocupa com a mesma verdade? ” O homem que
concorda conosco que alguma questã o, pouco considerada pelos
outros, é de grande importâ ncia, pode ser nosso Amigo. Ele nã o precisa
concordar conosco sobre a resposta. ” 15
Desde o inı́cio, os Inklings nunca foram meramente um substituto
para os Coalbiters. Considerando que o grupo anterior foi formado por
Tolkien com um propó sito especı́ ico, os Inklings se centraram em
Lewis e nã o tinham uma agenda especı́ ica alé m de um vago interesse
compartilhado pela literatura entre seus membros e uma vaga noçã o de
um parentesco de espı́rito existente entre eles. Lewis era o nú cleo, sem
o qual qualquer reuniã o teria sido inconcebı́vel, mas Tolkien també m
estava quase sempre presente. Bar ield era considerado um membro
importante do grupo, embora seu trabalho como advogado em Londres
o impedisse de comparecer regularmente. Outros membros principais
incluı́ram Warnie Lewis; RE Havard, cató lico convertido e mé dico de
Oxford; Charles Williams, estudioso ecleticamente excê ntrico e autor de
"thrillers teoló gicos"; e Hugo Dyson, professor de inglê s na Reading
University, que junto com Tolkien foi fundamental na conversã o de
Lewis.
Normalmente, os Inklings se reuniam duas vezes por semana. Em
uma manhã de dia de semana, eles se encontravam em um pub,
normalmente em uma terça-feira no Eagle and Child, conhecido
familiarmente e carinhosamente pelos membros como o “Pá ssaro e
Bebê ”. Nas noites de quinta-feira, eles se reuniam no ambiente
espaçoso da grande sala de estar de Lewis no Magdalen College, onde
um dos membros produzia um manuscrito - um poema, uma histó ria
ou um capı́tulo de um trabalho em andamento - e começava a lê -lo em
voz alta. Isso seria seguido por crı́ticas dos outros membros. “Sairia um
manuscrito e nó s nos sentarı́amos para julgá -lo”, relembrou Warnie
Lewis. “Julgamento real e imparcial també m, pois sobre os Inklings nã o
havia nada de uma sociedade de admiraçã o mú tua; conosco, o elogio
ao bom trabalho era irrestrito, mas a censura ao mau, ou mesmo nã o
tã o bom, costumava ser brutalmente franca. Ler para os Inklings foi
uma provaçã o formidá vel, e ainda posso me lembrar do medo e do
tremor com que ofereci o primeiro capı́tulo do meu primeiro livro - e
també m me lembro do meu deleite com a recepçã o. ” 16 Nos primeiros
encontros dos Inklings, Tolkien leu o manuscrito de O Hobbit e mais
tarde leria o manuscrito de O Senhor dos Anéis, capı́tulo por capı́tulo,
conforme estava sendo escrito. Da mesma forma, Lewis leu os
manuscritos de suas pró prias obras, como The Screwtape Letters, The
Problem of Pain e Out of the Silent Planet.
Quando Lewis dedicou The Problem of Pain, publicado em outubro
de 1940, a “The Inklings”, seu ex-aluno e amigo de longa data, Dom
Bede Grif iths, escreveu para perguntar quem exatamente eles
eram. Lewis respondeu que “Williams, Dyson of Reading e meu irmã o
(anglicanos) e Tolkien e meu mé dico, Havard (sua Igreja) sã o os“
Inklings ”a quem meu Problema da Dor foi dedicado”. 17 Embora a
vocaçã o religiosa de Grif iths com os beneditinos tenha impedido seu
pró prio envolvimento com os Inklings, ele foi uma igura importante na
vida de Lewis. Ele foi, na verdade, outra peça importante no quebra-
cabeça de in luê ncias que se juntaram para forjar a conversã o de Lewis
ao cristianismo.
Foi uma discussã o entre Bar ield, Lewis e Grif iths que provou ser
fundamental para aproximar Lewis da conversã o. Bar ield e Grif iths
estavam almoçando no quarto de Lewis quando Lewis por acaso se
referiu à iloso ia como "um assunto". "Nã o era um assunto para
Platã o", retrucou Bar ield, "era uma maneira." “O acordo silencioso,
mas fervoroso de Grif iths, e o rá pido olhar de compreensã o entre os
dois, revelaram-me minha pró pria frivolidade. O su iciente foi pensado,
dito, sentido e imaginado. Já era hora de que algo fosse feito. ” 18
Mesmo que eles involuntariamente tenham desempenhado um
papel tã o crucial no golpe de misericó rdia da conversã o de Lewis, nem
Bar ield nem Grif iths eram cristã os na é poca desta conversa
providencial. Por uma estranha coincidê ncia, poré m, Lewis e Grif iths
se converteram ao cristianismo e receberam suas respectivas primeiras
comunhõ es com um dia de diferença no Natal de 1931, Grif iths como
cató lico na vé spera de Natal e Lewis como anglicano no dia de Natal.
Antes de sua conversã o ao catolicismo, Grif iths havia passado por
uma curta fase anglicana e estava se preparando para o ministé rio na
Igreja da Inglaterra quando uma leitura do Ensaio de Newman sobre o
Desenvolvimento da Doutrina Cristã mudou seu conceito de
Cristianismo e da Igreja.
Eu acreditava que a Igreja fundada por Cristo era uma realidade histó rica,
que tinha uma histó ria contı́nua desde o tempo dos Apó stolos até os dias
de hoje. Eu pensei que essa continuidade poderia ser encontrada na Igreja
da Inglaterra, mas agora o peso esmagador da evidê ncia para a
continuidade da Igreja Romana foi apresentada a minha mente. 19

Poucos meses depois de sua recepçã o, Grif iths decidiu tentar sua
vocaçã o como monge em Prinknash, o Priorado Beneditino em
Winchcombe, e em 20 de dezembro de 1932, ele foi vestido como um
noviço. Ele fez seus votos solenes em 21 de dezembro de 1936.
Desde a é poca de sua conversã o, Grif iths começou a tentar discutir
com Lewis os mé ritos de suas respectivas posiçõ es. Lewis, no entanto,
foi reticente, recusando-se a discutir as diferenças doutriná rias entre o
catolicismo e o anglicanismo. “O resultado”, escreveu Grif iths, “foi que
concordamos em nã o discutir mais nossas diferenças ... havia sempre
uma certa reserva, portanto, em nossa amizade”. 20
Embora reservada, sua amizade permaneceu, assim como suas
respectivas amizades com Owen Bar ield, o ú nico do trio original que
ainda resistia à conversã o. Sessenta anos depois, Bar ield lembrou-se
de sua amizade com um afeto nostá lgico.
Lewis, Grif iths e eu izemos longas caminhadas juntos. Conversamos
muito sobre teologia ... Eu estava com Grif iths e disse a ele que era um
agnó stico e conversamos sobre ser amaldiçoado e alguma observaçã o que
ele fez suscitou a minha resposta: “Nesse caso, suponho que estou
condenado. ” E nunca esquecerei a maneira calma e controlada com que
ele se virou e disse “mas é claro que você está ”. Isso divertiu muito Lewis,
é claro, quando lhe contei depois. 21

Embora Grif iths nã o pudesse comparecer à s reuniõ es dos Inklings,


havia um nú mero surpreendentemente grande de cató licos entre seus
membros. Alé m de Tolkien e Havard, outros membros cató licos
incluı́am James Dundas-Grant, George Sayer, o padre Gervase Mathew,
OP e o ilho de Tolkien, Christopher. A signi icativa presença cató lica foi
fonte de alguma tensã o, principalmente por parte de Hugo
Dyson. Embora um "alto" anglicano, Dyson se ressentiu do grande
nú mero de "papistas" em seu meio, um fato ao qual Warnie aludiu em
seu diá rio em 15 de agosto de 1946. Depois que Tolkien convidou JAW
Bennett, um cató lico do Queen's College, para uma reuniã o dos Inklings,
Warnie escreveu:
Uns pequenos Inklings, apenas Ronald [Tolkien], Humphrey [Havard], nó s
[os irmã os Lewis] e [Bennett] ... trazidos por Ronald do Queens. ... Ouvi
com consternaçã o que Ronald falou desde entã o em “trazê -lo
ocasionalmente ; ” com consternaçã o por duas razõ es: em primeiro lugar,
por ser um cã o enfadonho e, em segundo lugar, por ser um RC [cató lico
romano]. Nã o me importo que ele seja um, no mı́nimo, mas Hugo, que tem
opiniõ es intrigantemente fortes sobre o assunto, ameaçou vá rias vezes
ultimamente que se mais papistas se unirem aos Inklings ele
renunciará . 22

Bennett tornou-se um membro ocasional dos Inklings, no entanto,


e, embora Dyson nã o tenha renunciado, está claro que ele estava
icando cada vez mais descontente com a presença cató lica. A tensã o
entre Dyson e Tolkien encontrou expressã o na intensa antipatia de
Dyson por O Senhor dos Anéis. Em uma reuniã o em 24 de abril de 1947,
Tolkien e seu ilho Christopher, junto com o Dr. Havard, o Padre Mathew
e os irmã os Lewis, estavam se acomodando para ler o ú ltimo capı́tulo
quando Dyson chegou. Warnie escreveu que Dyson “entrou bem
quando está vamos começando ... e como ele agora exerce um veto
sobre ele - o que é mais injusto, eu acho - tivemos que parar”. 23
O exemplo mais intrigante das tensõ es que existiam entre os
elementos cató licos e nã o cató licos dentro dos Inklings surgiu trê s anos
antes, em outubro de 1944, apó s a chegada inesperada do polê mico
poeta cató lico Roy Campbell ao Eagle and Child durante um dos
encontros regulares reuniõ es de Lewis, Tolkien e os outros. O encontro
com Campbell é particularmente signi icativo como meio de obter
percepçõ es valiosas sobre as complexidades do relacionamento de
Lewis com a Igreja Cató lica.
Quando Tolkien chegou ao Eagle and Child na companhia de Charles
Williams naquela manhã de terça-feira em particular, ele icou surpreso
ao descobrir os irmã os Lewis “já instalados”. A conversa foi “muito
animada” e Tolkien notou “um estranho homem alto e magro meio
vestido de cá qui meio mufti com um grande chapé u bem acordado,
olhos brilhantes e um nariz adunco sentado no canto. Os outros
estavam de costas para ele, mas pude ver em seus olhos que ele estava
se interessando pela conversa bem diferente do espanto comum e
dolorido do pú blico britâ nico (e americano) com a presença dos
Lewises (e de mim) em um bar." 24 O estranho lembrou a Tolkien
Passolargo em O Senhor dos Anéis, o misterioso Ranger que escutou a
conversa dos hobbits no Pô nei Saltitante em Bri.
De repente, ele se intrometeu, com um sotaque estranho e indecifrá vel,
falando sobre Wordsworth. Em alguns segundos, ele foi revelado como Roy
Campbell ... Tableau! Especialmente porque CSL nã o o satirizou há muito
tempo na Oxford Magazine ... Há muito Ulster ainda deixado em CSL,
embora oculto de si mesmo. Depois disso, as coisas icaram rá pidas e
furiosas e cheguei atrasado para o almoço. Foi (talvez) grati icante
descobrir que esse poderoso poeta e soldado desejava em Oxford
principalmente ver Lewis (e eu). 25

A “sá tira” à qual Tolkien se referiu foi a resposta poé tica de Lewis ao
longo poema Flowering Ri le de Campbell . O poema de Campbell,
publicado cinco anos antes, foi um elogio robusto e muitas vezes
embaraçosamente chato para as forças nacionalistas vitoriosas na
Guerra Civil Espanhola. Em um poema intitulado simplesmente "Para o
autor do ri le de lor " , publicado na revista The Cherwell em 6 de maio
de 1939, Lewis condenou a falta de caridade de Campbell, lembrando-o
de que "os misericordiosos ainda recebem a promessa de
misericó rdia". Campbell era um "idiota barulhento" que aprendeu a
arte de mentir com seus inimigos de esquerda,
... já que foi deles que você aprendeu
Como o jargã o pode transformar o branco em preto ...

Lewis admirava os poderes poé ticos de Campbell, declarando que seu


verso “supera com orgulho de á guia” os “ritmos desregrados” dos
poetas de esquerda. No entanto, sua "polı́tica de covarde estridente" e
de seus inimigos eram "duas ervilhas em uma ú nica vagem":
… Quem se importa
Que tipo de camisa o partido assassino usa?

Embora a crı́tica de Lewis da rudeza e falta de caridade de Campbell


em Flowering Ri le fosse justi icada, sua abordagem simplista da
dinâ mica religiosa e ilosó ica da guerra na Espanha expô s sua pró pria
ingenuidade polı́tica. Campbell estava morando na Espanha quando a
guerra começou, e ele e sua famı́lia tiveram a sorte de escapar com
vida. Muitos de seus amigos nã o tiveram tanta sorte. O padre que
recebeu Roy e sua esposa, Mary, na Igreja Cató lica em 1935, foi
assassinado a sangue frio no ano seguinte por milicianos comunistas,
assim como os monges carmelitas com quem Roy e Mary haviam feito
amizade em Toledo. 26 Ao ver a guerra na Espanha como uma luta até a
morte entre o Cristianismo tradicional e o ateı́smo secular, Campbell
estava mais perto da realidade do que Lewis com sua descriçã o
simpli icada de uma batalha entre "esquerda" e "direita". A guerra
estava alé m da polı́tica. Foi uma luta pelo coraçã o e alma religiosos da
Europa.
Campbell tinha lido o ataque de Lewis sobre ele, mas parece, pela
interpretaçã o dos eventos de Tolkien, que ele recebeu as crı́ticas com
bom humor e que foi Lewis quem se tornou agressivo durante a
discussã o “rá pida e furiosa” em Bird and Baby. Apesar de suas
diferenças, Lewis convidou Campbell para uma reuniã o dos Inklings
nos quartos de Lewis no Magdalen College dois dias
depois. Novamente, foi Lewis quem se tornou agressivo. De acordo
com Tolkien, Lewis “tinha pego um bom vinho do porto e era um pouco
beligerante”. 27 Ele insistiu em ler sua sá tira novamente, mas Campbell
riu da provocaçã o à parte.
Se Lewis era beligerante em relaçã o a Campbell, Tolkien icou
paralisado por ele, ouvindo atentamente enquanto os Inklings reunidos
“eram principalmente obrigados a ouvir o convidado”. Paradoxalmente,
Tolkien sentiu que Campbell era “gentil, modesto e compassivo”,
embora ele e os outros passassem a maior parte da noite ouvindo o
relato embelezado e altamente romantizado de Campbell sobre sua
pró pria vida. O relató rio de Tolkien do monó logo biográ ico está
inundado com os efeitos combinados do exagero de Campbell e da
memó ria defeituosa de Tolkien.
O que ele fez ... mendiga a descriçã o. Aqui está um descendente de um prot
do Ulster. famı́lia residente na Africa do Sul, a maioria dos quais lutou nas
duas guerras, que se tornou cató lica depois de abrigar os padres
carmelitas em Barcelona em vã o, eles sã o pegos e massacrados, e RC quase
perdeu a vida. Mas ele conseguiu os arquivos carmelitas da biblioteca em
chamas e os levou atravé s do paı́s vermelho. Ele fala espanhol
luentemente (foi toureiro pro issional). Como você sabe, ele lutou durante
a guerra ao lado de Franco e, entre outras coisas, estava na van da empresa
que expulsou os Reds de Má laga ... Mas ele é um homem patriota e lutou
pelo Exé rcito B. desde entã o. Eu gostaria de poder me lembrar de metade
das histó rias picarescas, sobre poetas e mú sicos, etc., de Peter Warlock a
Aldous Huxley. ... No entanto, nã o é possı́vel transmitir a impressã o de um
personagem tã o raro, um soldado e um poeta, e um convertido
cristã o. Quã o diferente da esquerda - os “panzers de veludo cotelê ” que
mentiram para a Amé rica (Auden entre eles, que com seus amigos teve as
obras de RC “banidas” ...). 28

Se Campbell causou uma impressã o favorá vel em Tolkien, que o


considerava “parecendo velho com cicatrizes de guerra” e “mancando
por causa de ferimentos recentes”, a atitude de Lewis permaneceu tã o
combativa como sempre, para evidente desgosto de Tolkien.
As reaçõ es de CSL foram estranhas. Nada é uma homenagem maior à
propaganda vermelha do que o fato de que ele (que sabe que eles sã o em
todos os outros assuntos mentirosos e tra icantes) acredita em tudo o que
se diz contra Franco, e nada que se diz por ele ... Mas o ó dio à nossa igreja é
a inal, o real ú nico fundamento inal do C. de E. - tã o profundamente
estabelecido que permanece mesmo quando toda a superestrutura parece
removida (CSL, por exemplo, reverencia o Santı́ssimo Sacramento e admira
as freiras!). No entanto, se um luterano é colocado na prisã o, ele ica em pé
de guerra; mas se padres cató licos sã o massacrados - ele nã o acredita (e
ouso dizer que realmente pensa que eles pediram isso). Mas RC o abalou
um pouco ... 29

Apó s a reuniã o, Lewis declarou que “detestava ... a mistura


particular de Catolicismo e Fascismo de Roy Campbell, e disse isso a
ele”. 30 Seu julgamento foi injusto. Campbell nunca se considerou um
fascista e seu apoio aos nacionalistas de Franco baseava-se no desejo
simples e laudató rio de defender a cultura cristã tradicional do ateı́smo
destrutivo dos comunistas. Durante a Guerra Civil, os republicanos
comunistas e anarquistas cometeram atrocidades horrı́veis contra
padres, monges e freiras. Os padres tiveram suas orelhas cortadas, os
monges tiveram seus tı́mpanos perfurados por contas de rosá rio, e a
mã e idosa de dois jesuı́tas teve um rosá rio en iado em sua
garganta. Antes que a guerra acabasse, doze bispos, 4.184 padres, 2.635
monges e cerca de 300 freiras foram mortos. As igrejas foram
sistematicamente destruı́das, e George Orwell registrou que em
Barcelona "quase todas as igrejas foram destruı́das e suas imagens
queimadas". Em Homenagem à Catalunha, Orwell escreveu:
Alguns dos jornais antifascistas estrangeiros chegaram mesmo à
lamentá vel mentira de ingir que as igrejas só eram atacadas quando eram
usadas como fortalezas fascistas. Na verdade, as igrejas foram pilhadas em
todos os lugares e como uma coisa natural ... Em seis meses na Espanha, vi
apenas duas igrejas intactas e, até cerca de julho de 1937, nenhuma igreja
tinha permissã o para reabrir e realizar cultos, exceto para uma ou duas
igrejas protestantes em Madrid. 31
Tendo sido recebido na Igreja Cató lica no ano anterior ao inı́cio da
guerra, nã o era de se surpreender que Campbell considerasse seu dever
defender a cultura e as tradiçõ es que havia recentemente descoberto e
abraçado. Alé m disso, tendo testemunhado o assassinato a sangue frio
de seus amigos, nã o é surpreendente que Campbell fosse um tanto
vociferante em seus ataques ao comunismo. Ele foi, no entanto, tã o
vociferante em seus ataques ao nazismo. Antes do inı́cio da guerra
espanhola, ele conheceu dois noruegueses, també m residentes na
Espanha. Um era comunista e o outro nazista, mas, Campbell observou,
"os dois estavam irmemente unidos em seu ó dio a Cristo e ao
cristianismo". 32 “Desde o inı́cio, minha esposa e eu entendemos as
verdadeiras questõ es na Espanha”, escreveu Campbell em sua
autobiogra ia, “... agora era a hora de decidir se ... permanecer meio
apá tico à grande luta que obviamente se aproximava - ou se devemos
entrar nas primeiras ileiras do Exé rcito Regular de Cristo. O pró prio
Hitler já havia dito, já naquela é poca, como os protestantes eram muito
mais fá ceis de escravizar e enganar do que os cató licos ”. 33 Pode-se
imaginar Tolkien concordando sabiamente com as palavras de
Campbell, percebendo-as como um exemplo da sabedoria de
Strideresque de Campbell em comparaçã o com a credulidade ingê nua
de Lewis e o preconceito anticató lico residual.
Foi possivelmente Campbell a quem Lewis estava aludindo em seu
Prefá cio à ediçã o de 1943 de The Pilgrim's Regress quando escreveu que
“Pode-se até encontrar homens adultos que nã o tê m vergonha de
atribuir sua pró pria iloso ia à 'Reaçã o' e nã o pensam na iloso ia assim
desacreditado. ” 34 Se fosse Campbell que Lewis tinha em mente
quando essas palavras foram escritas, e considerando seu ataque
polê mico a Campbell em “To the Author of Flowering Ri le ” nã o parece
imprová vel, ele estava novamente fazendo uma injustiça com
ele. Campbell notou que um corpo sem reaçõ es é um cadá ver, e ele nã o
escondeu sua crença de que a reaçã o do povo "conservador" da
Espanha à insurreiçã o comunista e anarquista era a prova de que a
cultura espanhola era vibrante e viva. Tal crença na "reaçã o saudá vel" é ,
no entanto, di icilmente a marca de um reacioná rio estú pido, e Lewis
presumivelmente teria concordado com Campbell que a "reaçã o" dos
Aliados à agressã o militarista dos nazistas nã o foi "assim
desacreditada", mas, pelo contrá rio, era altamente credı́vel. Em
qualquer caso, há uma sensaçã o real de que Lewis era o proverbial
caldeirã o que chama a chaleira de preto ao acusar os outros de
tendê ncias reacioná rias. Alé m da convicçã o de Tolkien de que o
julgamento de Lewis sobre Campbell em particular, e a Guerra Civil
Espanhola em geral, foi o resultado de uma reaçã o instintiva
decorrente de seu anticatolicismo, é difı́cil ver a contı́nua rejeiçã o de
Lewis da poesia do TS Eliot “neo-angular” como outra coisa senã o uma
cegueira intencional e reacioná ria. Ainda em setembro de 1947, Lewis
estava declarando que a poesia de Eliot era "porcaria" e continuava a
insistir que Eliot "nã o tinha nada a dizer que valesse a pena ser dito em
qualquer caso". 35 Independentemente de saber se algué m poderia
entender (se nã o necessariamente simpatizar com) a crença de Lewis
de que o verso anterior de Eliot era "porã o", que "nã o tinha nada a
dizer", 36 é difı́cil conceber como ele poderia deixar de apreciar a
sublime poesia cristã posterior anos. Em face da “quarta-feira de
Cinzas ”, “The Rock” Murder in the Cathedral , e Quatro Quartetos, todos
os quais tinha sido publicado em 1947, mendigos recalcitrâ ncia crença
de Lewis. Como se pode ver sua obstinada recusa em aceitar os ó bvios
mé ritos da obra de Eliot como outra coisa senã o o resultado de uma
cegueira crı́tica singular ou entã o o fruto amargo de pura reaçã o, seja
contra o poeta como indivı́duo ou contra o “catolicismo” de seu crença?
Felizmente, as diferenças entre Campbell e Lewis nã o impediram o
desenvolvimento de uma amizade genuı́na. O respeito de Campbell por
Lewis foi ilustrado por seu pedido de conselho de Lewis sobre quais
seleçõ es de Milton seriam mais adequadas para transmissã o na BBC,
onde Campbell estava trabalhando como produtor. Lewis, retribuindo a
expressã o de respeito, respondeu que Campbell era “tã o capaz quanto
eu de escolher”, embora continuasse a fazer sugestõ es mesmo
assim. “Curiosamente”, Lewis escreveu na mesma carta, “está vamos
todos falando sobre você na noite passada. No pró ximo semestre, você
deve passar uma noite de quinta-feira conosco na faculdade. (Eu posso
jantar, dormir e tomar café da manhã .) ” 37
Em 28 de novembro de 1946, Campbell voltou a Oxford para
participar de outra reuniã o dos Inklings nos quartos de Lewis no
Magdalen College. O irmã o de Lewis registrou em seu diá rio que
Campbell foi a atraçã o principal da noite. “Uma reuniã o bem cheia dos
Inklings para conhecer Roy Campbell ... que iquei feliz em ver
novamente; ele está mais gordo e domesticado do que costumava ser,
eu acho. ” 38 Lewis també m havia se tornado um pouco mais
domesticado - e certamente muito menos agressivo. Ele parece, de
fato, ter perdoado Campbell pelo ri le de loração e tê -lo abraçado tanto
como amigo quanto como companheiro Inkling. Eles ainda cruzavam
espadas nessas animadas reuniõ es literá rias, mas agora discutiam
como amigos, nã o como inimigos. A diferença em seu relacionamento
pode ser percebida no tom de outro poema de Lewis, “Para Roy
Campbell”, no qual ele se queixava de que Campbell estava errado ao
descartar poetas româ nticos como Coleridge ou Wordsworth apenas
porque foram elogiados por crı́ticos indignos de con iança. Esses
poetas, escreveu Lewis, eram “muito mais nossos do que deles”,
indicando que Campbell agora era aceito por Lewis como “um de nó s”
na batalha contra inimigos literá rios comuns.
Algué m se pergunta, enquanto Tolkien observava a lenta aceitaçã o
de Campbell no santuá rio interno dos Inklings, se ele alguma vez
re letiu sobre os paralelos entre Campbell e Strider. Os paralelos sã o
certamente impressionantes. Os hobbits haviam olhado para o
Arqueiro com profunda suspeita quando o encontraram pela primeira
vez no ambiente alegre, poré m ameaçador, do Pô nei Saltitante em
Bri; Lewis havia considerado a chegada do Estranho com a mesma
suspeita quando se encontraram no ambiente igualmente alegre,
embora di icilmente ameaçador, do Bird and Baby em Oxford. Em
ambos os casos, as suspeitas deram lugar a uma con iança calorosa. Roy
“Strider” Campbell havia saı́do da imaginaçã o do Pô nei Saltitante de
Tolkien para o mundo do Pá ssaro e Bebê de Lewis. Ele havia saı́do da
Sociedade do Anel para o cı́rculo de comunhã o conhecido como
Inklings.

TEOLOGIA DO SMUGGLING
… Qualquer quantidade de teologia agora pode ser contrabandeada
para a mente das pessoas sob a capa de romance, sem que elas
percebam.
—Letters of C. S. Lewis 1

eu

EM MAIO DE 1944, Lewis recebeu “uma carta divertida” da Sociedade


para a Prevençã o do Progresso, de Walnut Creek, Califó rnia,
convidando-o a se tornar membro e solicitando que ele “encaminhasse
suas credenciais”. Respondendo com satisfaçã o humorı́stica e evidente
prazer, por ter recebido o convite, Lewis respondeu o seguinte:
Caro senhor,
Embora sinta que nasci um membro de sua sociedade, estou, no
entanto, honrado em receber o selo externo de membro. Espero que,
com a ortodoxia contı́nua e a prá tica incessante de Reaçã o,
Obstruçã o e Estagnaçã o, você nã o tenha motivo para se arrepender
de seu favor.
Eu humildemente proponho que em minhas palestras Riddell
intituladas “A Aboliçã o do Homem” você encontrará outra obra nem
todas indignas de consideraçã o para admissã o ao câ none.
Seu regressivamente,
Bebidas, nã o Beveridges
(Meu lema). 2
A assinatura, ou lema, que Lewis anexou à sua resposta foi instigada ou
inspirada por uma das regras da Sociedade para a qual sua atençã o foi
chamada: “A iliação e os privilégios da Sociedade são negados a
indivíduos como Henry A. Wallace e este companheiro
Beveridge. ” Risibilidade lado, havia uma seriedade por trá s da razã o
para sentimento de a inidade com ele da Sociedade e Lewis. Nã o era
apenas uma desculpa para a Reaçã o em si mesma, o que, como vimos,
Lewis criticou especı́ ica e explicitamente no prefá cio da nova ediçã o
de The Pilgrim's Regress um ano antes. Em vez disso, foi a “reaçã o
saudá vel” daqueles que viram as crescentes invasõ es do estado de bem-
estar social ou “babá ” com suspeita. Na é poca em que Lewis recebeu
seu "convite", Henry A. Wallace era vice-presidente de Franklin D.
Roosevelt, cuja polı́tica do New Deal ele apoiou, e William Beveridge
estava sendo aclamado como o arquiteto do estado de bem-estar social
da Grã -Bretanha, apó s a publicaçã o do Beveridge Relató rio em 1942.
Ambos os homens se tornaram bêtes noires para aqueles que
perceberam que suas polı́ticas representavam uma nova mudança de
poder em direçã o ao Grande Governo e, como resultado inevitá vel, a
maior interferê ncia do Grande Governo nas vidas de indivı́duos,
famı́lias e comunidades locais.
Em essê ncia, o Relató rio Beveridge clamava por um envolvimento
mais amplo do aparato do estado na vida da populaçã o, principalmente
por meio de um esquema de “seguro social” cobrindo toda a
populaçã o. Tal visã o, saudada na Grã -Bretanha como um projeto para a
recuperaçã o e renovaçã o do pó s-guerra, foi vista por seus oponentes,
dos quais Lewis era representante, como o prenú ncio de um futuro
igualitá rio monó tono dirigido por burocratas em que o senso de dever
e responsabilidade seria nã o tê m lugar em meio à s demandas egoı́stas
por "direitos".
Como a “carta divertida” da Califó rnia indicou, Lewis nã o estava
sozinho em seu ceticismo em relaçã o a essa intrusã o adicional de um
estado superpoderoso, burocrá tico e de engenharia social nas vidas e
liberdades dos indivı́duos. Roy Campbell compartilhou a "reaçã o
saudá vel" de Lewis, ridicularizando o Relató rio Beveridge em um
poema conciso intitulado simplesmente "O Plano Beveridge", que
consistia em uma quadra solitá ria de vitrı́olo em que seus princı́pios
subjacentes sã o atacados como "Fascidemokshevismo". Nessa palavra
construı́da de maneira morosa, Campbell demonstrou que, longe de ser
um "fascista", ele era, no fundo, um libertá rio que acreditava que os
estados modernos, quer se intitulassem fascistas, democrá ticos ou
bolcheviques, estavam exercendo muito poder sobre a vida de
indivı́duos e famı́lias. Na verdade, tendo em mente seu agrupamento
um tanto paradoxal de fascismo, democracia e bolchevismo, Campbell
sem dú vida teria se divertido ironicamente, embora talvez nã o
totalmente surpreso, ao descobrir que Josef Goebbels, o ministro da
propaganda de Hitler, estava su icientemente interessado no Relató rio
Beveridge para fazer um estudo minucioso disso. Contra os
mecanismos complexos e burocracias poderosas defendidos por
Beveridge - e, nesse caso, Goebbels - Campbell contrapô s pequenas
comunidades autossustentá veis de famı́lias que cooperavam
livremente, muito como ele tinha visto e experimentado durante os
anos que passou vivendo entre os rú sticos de Provença e Espanha.
O antagonismo de Lewis em relaçã o ao "admirá vel mundo novo" do
secularismo liberal, com sua centralizaçã o crescente, capitalismo
multinacional, socialismo internacional e cienti icismo arrogante, foi
informado, sem dú vida, por sua leitura de Chesterton, cuja defesa do
credo do "distributismo" estava ela pró pria enraizada no ensino social
da Igreja Cató lica, particularmente nas Encı́clicas Papais Rerum
Novarum (Leã o XIII, 189 I) e Quadragesimo Anna (Pio XI, 1930). O que
Chesterton chama de “distributismo”, a Igreja Cató lica chama de
“subsidiariedade”. Em qualquer dos casos, a rosa da pequenez polı́tica
e econô mica, por qualquer outro nome, teria o mesmo cheiro doce em
meio aos espinhos do gigantismo. Solzhenitsyn - defendendo a mesma
resposta à engenharia social centrada no estado como Lewis,
Chesterton ou Campbell - falou da necessidade de "autolimitaçã o"; EF
Schumacher, respondendo à presunçã o de Beveridge de que grande é
melhor, cunhou o antı́doto anedó tico de que “pequeno é belo”. Talvez o
mais memorá vel de tudo, Tolkien contrapô s o cienti icismo
imperialista de Sauron e Saruman em O Senhor dos Anéis com a
humildade dos hobbits e seu desejo de serem deixados em paz para
cultivar o solo do Condado. Sauron e Saruman sã o movidos pela
vontade de poder; Frodo e Sam pelo desejo de liberdade e paz. Em uma
carta a seu ilho, Tolkien declarou que “o trabalho mais impró prio de
qualquer homem, mesmo os santos (que de qualquer forma nã o
estavam dispostos a assumi-lo), é mandar em outros homens. Nem um
em um milhã o é adequado para isso, e muito menos aqueles que
buscam a oportunidade. ” 3
A extensã o em que Lewis compartilhava a visã o de Tolkien do
Condado e defendia, pelo menos implicitamente, o distributismo de
Chesterton e a subsidiariedade da Igreja, pode ser avaliada a partir de
sentimentos expressos em uma carta a Arthur Greeves em 1930.
Escrevendo sobre os esforços de Grif iths, antes de Com sua conversã o
ao catolicismo no ano seguinte, para viver autossu icientemente com
dois amigos em uma cabana nas Cotswolds, Lewis tornou-se lı́rico em
sua resposta positiva ao esforço deles.
Seu objetivo é , na medida do possı́vel, nada usar que seja produto do
sistema fabril ou da indú stria moderna em geral; pois pensam que
essas coisas sã o tã o inı́quas que cada um é mais ou menos parte em
um crime ao usá -las ... Certamente há algo atraente sobre a idé ia de
viver o mais longe possı́vel da produçã o da terra ao seu redor: para
ver em a cada caminhada, as pastagens onde seu carneiro pastava
quando era ovelha, o jardim onde seus vegetais cresciam, o moinho
onde sua farinha era moı́da e a o icina onde suas cadeiras eram
serradas - e sentir aquele pedaço de paı́s real e literalmente em suas
veias .
Tolkien uma vez comentou para mim que o sentimento sobre o lar
deve ter sido bem diferente nos dias em que uma famı́lia se alimentava da
produçã o dos mesmos poucos quilô metros de paı́s por seis geraçõ es, e que
talvez seja por isso que eles viram ninfas nas fontes e drı́ades na loresta -
nã o foram confundidas, pois havia, de certo modo, uma conexã o real (nã o
metafó rica) entre elas e o campo. O que tinha sido terra e ar e depois
milho, e mais tarde ainda pã o, realmente estava neles. Nó s, é claro, que
vivemos com uma dieta internacional padronizada (você pode ter comido
farinha canadense, carne inglesa, aveia escocesa, laranjas africanas e vinho
australiano hoje) somos seres realmente arti iciais e nã o temos nenhuma
conexã o (exceto no sentimento) com qualquer lugar em terra. Somos
homens sinté ticos, desenraizados. A força das colinas nã o é nossa. 4

Em seu anseio pelo reencontro da pessoa com o lugar, ou da alma


com o solo, e sua crı́tica à arti icialidade da modernidade e aos “homens
sinté ticos” que ela produziu, Lewis estava compartilhando a “reaçã o
saudá vel” de Campbell, Chesterton, Leã o XIII, Pio XI, Tolkien, Grif iths,
Schumacher e Solzhenitsyn, todos os quais eram (ou estavam em
processo de se tornar) cató licos, embora Solzhenitsyn seja “ortodoxo” e
“cató lico” em russo e nã o em romano. Isso, é claro, nã o quer dizer que
tal reaçã o seja a ú nica preservaçã o ou prerrogativa dos cató licos, mas
coloca a resposta de Lewis dentro de uma esfera de in luê ncia
especi icamente cató lica. Ele foi inspirado por sua leitura de
Chesterton, por falar com Tolkien e pelo exemplo prá tico de Grif iths
em sua chegada a essas conclusõ es. Chesterton (de initivamente) e
Tolkien (provavelmente) foram inspirados pela doutrina social da
Igreja Cató lica, e especi icamente pelo ensino dos Papas Leã o XIII e Pio
XI, no desenvolvimento de suas pró prias reaçõ es à modernidade e à
mecanizaçã o social e cultural e padronizaçã o (ou o que Chesterton
chamou de “padronizaçã o por um padrã o baixo”) que foi uma das
caracterı́sticas principais da modernidade.
A antimodernidade de Chesterton encontrou seu caminho em seus
romances, mais particularmente em O Napoleão de Notting Hill e A Bola
e a Cruz, enquanto Tolkien encontrou seu caminho em O Senhor dos
Anéis por meio do que ele chamou de "aplicabilidade" de eventos na
Terra Mé dia à queles no mundo em que vivemos. A antimodernidade de
Lewis já havia emergido no tratamento alegoricamente satı́rico de
“Zeitgeistheim” e vá rias outras “heresias” modernas em The Pilgrim's
Regress. Em setembro de 1938, Out of the Silent Planet, o primeiro de
seus romances espaciais, foi publicado, no qual o personagem de
Weston foi apresentado como uma personi icaçã o do materialismo
moderno e seus fantasmas ilosó icos “progressistas” aos quais Lewis
tinha forte aversã o.
Escrevendo para a irmã Penelope, uma freira anglicana e amiga de
con iança, sobre sua motivaçã o para escrever Out of the Silent
Planet, Lewis enfatizou o verdadeiro “perigo do 'westonismo'”:
O que me levou a escrever o livro foi a descoberta de que um aluno meu
levava muito a sé rio todo aquele sonho de colonizaçã o interplanetá ria, e a
compreensã o de que milhares de pessoas de uma forma e de outra
dependem de alguma esperança de perpetuar e melhorar a raça humana
para o todo o signi icado do universo - que uma esperança "cientı́ ica" de
derrotar a morte é um rival real do Cristianismo. ... 6

Na mesma carta, Lewis explicou que pretendia se opor a essa iloso ia


materialista por meio do contrabando de teologia para seus pró prios
romances.
Você icará triste e divertido ao saber que, de cerca de 60 comentá rios,
apenas 2 mostraram algum conhecimento de que minha ideia da queda do
Dobrado era tudo menos uma invençã o minha. Mas acho que esta grande
ignorâ ncia pode ser uma ajuda para a evangelizaçã o da
Inglaterra; qualquer quantidade de teologia agora pode ser
contrabandeada para a mente das pessoas sob a capa de romance, sem que
elas percebam. 7

Vá rias in luê ncias parecem ter convergido para a colisã o catalı́tica
que levou Lewis a tentar o que, no sentido mais amplo, poderia ser
chamado de icçã o cientı́ ica. Em 1935, ele havia lido Viagem a
Arcturus, de David Lindsay , que o bió grafo de Lewis, Walter Hooper,
descreveu como uma "histó ria horrı́vel e profana". 8 Embora o pró prio
Lewis pensasse que o romance “estava no limite do diabó lico”, 9 ele o
leu com uma curiosidade mó rbida e amargamente fecunda. “Com
Lindsay eu primeiro aprendi para que outros planetas na icçã o sã o
realmente bons; para aventuras espirituais ”, escreveu ele à poetisa
Ruth Pitter em janeiro de 1947.“ Só eles podem satisfazer o desejo que
faz nossa imaginaçã o sair da terra. Ou, colocando de outra forma, nele
eu vi pela primeira vez os resultados extraordiná rios produzidos pela
uniã o dos tipos de icçã o até entã o mantidos separados: o gê nero
Novalis, G. Macdonald, o gê nero James Stephens e o gê nero HG Wells, o
gê nero de Jú lio Verne. Minha dı́vida para com ele é muito grande. ” 10
Em resposta à pergunta de Roger Lancelyn Green sobre o ı́mpeto
por trá s de Out of the Silent Planet, Lewis escreveu em dezembro de
1938 que o que o havia "estimulado imediatamente" a escrever
foi Últimos e primeiros homens de Olaf Stapledon e um ensaio intitulado
"O ú ltimo julgamento" no JBS Os Mundos Possíveis de Haldane , “ambos
parecem levar a sé rio a ideia de tal viagem e tê m a perspectiva
desesperadamente imoral que tento pelourear em Weston. Gosto de
toda a ideia planetá ria como uma mitologia e simplesmente queria
conquistar para o meu pró prio ponto de vista (cristã o) o que sempre
foi usado pelo lado oposto. ” 11
Uma in luê ncia mais antiga, que remonta à sua infâ ncia e à qual ele
se referiu em sua autobiogra ia, Surprised by Joy, foi o que ele chamou
de “cienti icaçã o” de HG Wells:
A ideia de outros planetas exerceu sobre mim entã o uma atraçã o peculiar
e inebriante, que era bem diferente de qualquer outro de meus interesses
literá rios ... Isso era algo mais grosseiro e mais forte. O interesse, quando o
ataque caiu sobre mim, era voraz, como uma luxú ria ... Posso talvez
acrescentar que meus pró prios romances planetá rios nã o foram tanto a
grati icaçã o daquela curiosidade feroz quanto seu exorcismo. O exorcismo
funcionava reconciliando-o com, ou submetendo-o a, outro impulso, o
mais evasivo e genuinamente imaginativo. 12

Uma vez que Lewis disse ter usado Tolkien como o modelo para o
personagem virtuoso de Ransom, que é o heró i da Trilogia Espacial e
arquiinimigo de Weston e, em ú ltima instâ ncia, seu nê mesis, é tentador
ver Weston como a personi icaçã o de Wells, em um sentido especı́ ico ,
e nã o apenas no sentido abstrato geral em que Wells representa o
cienti icismo e a “cienti icaçã o” que Lewis procurou
condenar. Certamente parece haver pouca dú vida de que Ransom, um
professor de ilologia, foi modelado em parte em Tolkien. “Como
iló logo, posso ter alguma parte nele”, Tolkien escreveu a seu ilho
Christopher em 1944, “e reconhecer algumas de minhas opiniõ es e
ideias lisi icadas nele”. 13 Quanto à conexã o entre Wells e Weston,
Christopher Beiting, em seu ensaio “Ciê ncia e Tentaçã o na Trilogia
Espacial de CS Lewis”, detecta uma correlaçã o de initiva. “O romance
[ Out of the Silent Planet ] ecoa muito conscientemente as obras de HG
Wells, particularmente The First Men in the Moon, e na pessoa de
Weston, o fı́sico do mal, apresenta uma crı́tica de muitas das ideias de
Wells e dos suposiçõ es da ciê ncia. ” 14
Um exemplo grá ico da weltanschauung Wellsian de Weston é
exibido no inal de Out of the Silent Planet. Diante de Oyarsa, a igura
arcangé lica que governa Malacandra (Marte), Weston trata o ser
espiritual superior com desprezo, sendo incapaz na cegueira teoló gica
de seu materialismo ilosó ico de ver as realidades espirituais, e
transmite, com uma arrogâ ncia autocon iante que é alheia de sua
ignorâ ncia, o credo do esnobismo cronoló gico que anima as obras de
Wells e foi o animus ateı́sta por trá s do Esboço de História de Wells :
Carrego nos ombros o destino da raça humana. Sua vida experimental com
suas armas da idade da pedra e cabanas de colmeias, seus corá culos
primitivos e estruturas sociais elementares, nã o tem nada que se compare
com nossa civilizaçã o - com nossa ciê ncia, medicina e direito, nossos
exé rcitos, nossa arquitetura, nosso comé rcio e nosso sistema de transporte
que está aniquilando rapidamente o espaço e o tempo. Nosso direito de
substituı́-lo é o direito do superior sobre o inferior. 15

Ao ver os dois primeiros romances da Trilogia Espacial como uma


guerra entre a sabedoria perene de Ransom / Tolkien e o arrogante
esnobismo cronoló gico de Weston / Wells, vê -se uma reapresentaçã o
da batalha entre Belloc e Wells sobre o Esboço da História deste
ú ltimo do qual emergiu The Everlasting Man, de Chesterton , cuja leitura
permitiu a Lewis "pela primeira vez" ver "todo o esboço cristã o da
histó ria apresentado de uma forma que me pareceu fazer
sentido". Quer seja intencionalmente consciente ou inconscientemente
- ou na verdade seja intencional - há certamente uma "aplicabilidade"
surpreendente entre a luta de Ransom para superar a "cienti icaçã o" de
Weston e a luta do jovem Lewis - habilmente auxiliado por Belloc,
Chesterton e Tolkien — para superar a “cienti icaçã o” de Wells e o
materialismo ilosó ico e a modernidade “progressiva” que ele
representou.
Em Perelandra, o segundo romance da Trilogia Espacial, a luta entre
Ransom e Weston torna-se mais profunda e sombria. A ciê ncia nã o é
mais apenas um substituto da religiã o; na verdade, tornou - se uma
religiã o, ou pelo menos imagina em seu orgulho que o tenha feito. “Eu
mergulhei na Biologia”, Weston explica a Ransom depois que eles se
reuniram em Perelandra (Vê nus), “e particularmente no que pode ser
chamado de iloso ia bioló gica ... Tornei-me um crente convicto na
evoluçã o emergente. Tudo é um. A maté ria-prima da mente, o
dinamismo inconscientemente intencional, está presente desde o
inı́cio. ” 16 Mais tarde, Weston explica que todas as noçõ es de Deus e o
diabo, ou cé u e inferno, sã o apenas "retratos do Espı́rito, da energia
có smica ... pois é a pró pria Força da Vida que os depositou em nossos
cé rebros." 17 Nesta exposiçã o de um coquetel inventado de ciê ncia,
iloso ia e teologia, as idé ias de Weston emergem alé m das de Wells
para se fundir em um amá lgama composto das idé ias do bió logo
marxista. JBS Haldane e os de Bernard Shaw. Em ú ltima aná lise, Weston
resume o otimismo progressivo que caracteriza as divagaçõ es mal
de inidas de todos aqueles que colocam sua fé na bene icê ncia inal da
ciê ncia.
O westonismo é o epı́tome alegó rico do cienti icismo, a idolatria da
ciê ncia como um deus ao qual todos os joelhos devem se dobrar. No
entanto, é mais do que isso. E diabó lico. E adoraçã o ao diabo. Ao seguir
deuses e nã o a Deus, os idó latras estã o na verdade, mesmo que
inconscientemente, seguindo o Anti-Deus. Ao virar as costas para Deus,
nã o se encontra o cé u, nem a terra, nem o progresso, nem a ciê ncia,
nem a força vital; encontra o que sempre encontrou. O caminho do
“Progresso” sem religiã o é o caminho para o inferno. Assim, Weston nã o
é apenas um homem perdido no erro, ele é um homem possesso por
demô nios:
Entã o coisas horrı́veis começaram a acontecer. Um espasmo como o
anterior a um vô mito mortal torceu o rosto de Weston,
irreconhecı́vel. Conforme passou, por um segundo algo como o velho
Weston reapareceu - o velho Weston, olhando com olhos de horror e
uivando, “Ransom, Ransom! Pelo amor de Deus, nã o os deixe ... ”e
instantaneamente todo o seu corpo girou como se tivesse sido atingido por
uma bala de revó lver e caiu no chã o, rolando aos pé s de Ransom, babando,
tagarelando e rasgando o musgo por punhados. 18

E de se perguntar se a possessã o de Weston resultou de uma


“oraçã o” satâ nica que ele exclamou no inal do livro anterior, Out of the
Silent Planet. Tendo sido informado por Oyarsa que a idolatria da Vida,
com exclusã o da aceitaçã o da Morte, era contrá ria à vontade de
Maleldil (Deus) e era, de fato, a vontade do Curvado (Sataná s), Weston
responde desa iadoramente em pidgin Malacandrian: “Você diz que seu
Maleldil deixou todos morrerem. Outro, Bent One, ele luta, pula, vive -
nem todo talkee-talkee. Eu nã o me importo, Maleldil. Como Bent One
melhor: eu do lado dele. ” 19 Tendo expressado o desejo de vender sua
alma ao Curvado, seu desejo é concedido. Ele entra no inferno ou, mais
precisamente, o inferno entra nele. “Eu sou o Universo”, ele exclama
imediatamente antes de entrar em colapso com os espasmos da
possessã o demonı́aca. “Eu, Weston, sou seu Deus e seu Diabo! Eu
chamo essa Força em mim completamente ... ”Com simetria irô nica, a
proclamaçã o de mim-eu-eu-eu como Deus nã o resulta na obtençã o da
divindade, mas na pró pria perda da individualidade. Daı́ em diante,
Weston se torna o “Nã o-homem”, uma concha dentro da qual Sataná s
se in iltrou no mundo nã o caı́do de Perelandra, uma ferramenta para
provocar a Queda de um novo mundo.
O restante de Perelandra é essencialmente uma recontagem da
histó ria da Queda no Gê nesis, com o possuı́do Weston se esforçando
para corromper a “Eva” de Perelandra enquanto Ransom tenta impedi-
lo de ter sucesso. Explicando as di iculdades de caracterizar e
descrever a “Eva” nã o caı́da, Lewis escreveu à irmã Penelope em
novembro de 1941, enquanto ele estava escrevendo os primeiros
capı́tulos do livro. “Eu tenho Ransom para Vê nus e atravé s de sua
primeira conversa com a 'Eva' daquele mundo; um capı́tulo difı́cil ...
posso ter embarcado no impossı́vel. Esta mulher deve ser em alguns
aspectos como uma deusa pagã e em outros aspectos como a
Santı́ssima Virgem. ” 20 Sua di iculdade foi semelhante à
experimentada por Tolkien em sua caracterizaçã o de Galadriel em O
Senhor dos Anéis. Depois que o padre Robert Murray, um amigo jesuı́ta,
comparou a imagem de Galadriel com a da Virgem Maria, Tolkien
respondeu que o padre tinha sido "mais perceptivo ... do que qualquer
outra pessoa. ... Acho que sei exatamente o que você quer dizer ... com
suas referê ncias a Nossa Senhora, sobre a qual toda a minha pequena
percepçã o da beleza, tanto em majestade e simplicidade, está baseada.
” 21
A sombra da Puritâ nia obscureceu a habilidade de Lewis de ver a
Santı́ssima Virgem da mesma maneira que aquela concedida a
Tolkien. Confundindo marianismo com mariolatria, isto é , veneraçã o
por adoraçã o, Lewis excluiu-se da visã o da Primeira Eva que o prisma
claro e imaculado da Nova Eva poderia ter fornecido. A majestosa
simplicidade da Imaculada estava alé m de sua
concepçã o. Consequentemente, Lewis tirou sua inspiraçã o para Tinidril,
a “Eva” de Perelandra, do poeta “divino” que viu a Imaculada como
nenhum outro. Foi para Dante que Lewis se voltou enquanto se
esforçava para dar vida a sua “Eva”.
Em uma carta a um crı́tico americano, Lewis escreveu que “Tinidril
em sua segunda apariçã o deve algo a Matilda no inal
do Purgatório. ” 22 Matilda, uma assistente e amiga de Beatrice, aparece
no canto vinte e oito dessa obra. Ela é descoberta no Paraı́so Terrestre,
que Dante coloca no cume do Monte Purgató rio, um lugar alé m dos
efeitos do Pecado. Quando Dante entra na Floresta Sagrada dentro do
Paraı́so Terrestre, que é a pró pria contraparte "divinamente simé trica"
nã o caı́da da Floresta Negra do Pecado, da qual Dante havia
originalmente iniciado seu caminho atravé s do Inferno, ele vê uma
Senhora, cantando e colhendo lores na outra margem de um riacho.
Com os pé s iquei, e com os meus olhos passei
Alé m do riacho, para olhar
A grande variedade do fresco pode.
E lá apareceu para mim (assim como parece
De repente, algo que muda de lado
Com muita admiraçã o, todos os outros pensamentos)
Uma senhora sozinha, que ia junto
Cantando e abatendo loweret apó s loweret,
Com o qual seu caminho foi todo pintado. 23

Compare a visã o assim representada por Dante no Purgatório com a


visã o de Lewis em Perelandra:
E aı́ ele parou de espanto. A ilha da Senhora estava lutuando ao lado dele,
dividida apenas por mais ou menos um metro e meio de á gua ... Nã o havia
nenhuma extensã o de mar agora visı́vel - apenas uma paisagem plana e
arborizada até onde a vista alcançava em todas as direçõ es. ... E lá
caminhando diante dele , como se do outro lado do riacho, estava a pró pria
Senhora - caminhando com a cabeça um pouco curvada e as mã os
ocupadas em entrançar algumas lores azuis. Ela estava cantando para si
mesma em voz baixa. ... 24

Há certamente, como Lewis admite, uma grande semelhança na


descriçã o de Dante de seu encontro com a Senhora na Floresta Sagrada
e na descriçã o de Lewis do encontro de Ransom com sua “Senhora”
em Perelandra. Talvez, entretanto, a semelhança seja mais profunda do
que meramente descritiva; talvez, de fato, a semelhança
seja prescritiva, no sentido de que Lewis deve muito da inspiraçã o para
todo o seu romance à natureza alegó rica do Paraı́so Terrestre
no Purgatório de Dante .
No Purgatório, a Senhora Matilda responde à s perguntas de Dante
sobre o Paraı́so Terrestre, explicando que é o lugar onde o Homem foi
inocente e feliz. “Na alegoria ”, escreveu Dorothy L. Sayers em seu
comentá rio a este Canto em particular, “o Paraı́so Terrestre é o estado
de inocência. E daqui que o Homem, se nunca tivesse caı́do, teria
iniciado a sua viagem ao Paraı́so Celestial que é o seu destino inal; mas
por causa do pecado, sua saı́da é daquela outra Floresta que é a
degradada e horripilante paró dia desta. Toda a sua jornada atravé s do
Inferno e do Purgató rio é , portanto, uma jornada de retorno em busca
de seu verdadeiro ponto de partida - o retorno à inocê ncia original. A
inocê ncia natural nã o é um im em si mesmo, mas a condiçã o
necessá ria para o inı́cio: nunca se pretendeu que Adã o nã o caı́do
permanecesse está tico, mas que progredisse da perfeiçã o natural à
sobrenatural ... Uma vez que nos lembramos que o Eden é , e sempre foi
destinado a ser, um ponto de partida e nã o um ponto de parada,
teremos pouca di iculdade em encontrar um signi icado consistente e
inteligı́vel para a alegoria. ” 25
Na mesma carta em que Lewis confessou a semelhança entre as
respectivas descriçõ es de Tinidril e Matilda, ele insinuou que Dante
havia exercido uma in luê ncia mais geral sobre Perelandra. Tendo
aludido aos paralelos ó bvios entre Perelandra e Paradise Lost, Lewis
minimizou a importâ ncia de Milton e pareceu sugerir que estes eram
em grande parte super iciais e fundamentados meramente no fato de
que os dois trabalhos compartilhavam as
mesmas raı́zes genéticas . “Milton, acho que você possivelmente
superestimou: é difı́cil distingui-lo de Dante e Santo Agostinho.” 26
Quanto à in luê ncia de Santo Agostinho na escrita de Perelandra, os
bió grafos de Lewis Green e Hooper nã o tê m dú vidas quanto à sua
centralidade:
Todo o capı́tulo nove é baseado em uma das grandes questõ es
teoló gicas. No sé culo IV, Santo Agostinho deu uma formulaçã o clá ssica à
crença da Igreja de que a queda de Adã o trouxe mais bem do que mal. Sua
expressã o, Felix peccatum Adae, é traduzida “O feliz culpa, ó pecado
necessá rio de Adã o” na liturgia pascal da Igreja Cató lica. O Nã o-homem
tenta convencer a Senhora de que somente desobedecendo a Maleldil ela
emergirá de sua “pequenez” presente para a “Vida Profunda, com toda sua
alegria, esplendor e dureza”. Por im, Ransom se volta contra o Nã o-
homem e, dirigindo-se a ele como o Diabo, diz: “Conte tudo a ela. O que foi
bom para você ? Você se alegra que Maleldil se tornou um homem? " A
lembrança do que a Encarnaçã o ainda signi ica para ele faz com que o
Nã o-homem uive como um cã o, e ele abandona a tentaçã o. 27

A ideia para o terceiro romance da Trilogia Espacial, That Hideous


Strength, parece ter surgido na mente de Lewis da contrové rsia sobre a
fundaçã o de uma usina atô mica perto de Blewbury a quinze milhas de
Oxford, ou, se nã o a ideia do livro em si , pelo menos a concepçã o do
Instituto Nacional de Experimentos Coordenados, o sinistro e
ironicamente acrô nimo NICE, que representa o espectro do
cienti icismo dentro do romance. O lançamento da bomba atô mica
sobre Hiroshima e Nagasaki semanas apó s a publicaçã o do romance em
1945 deve ter adicionado potê ncia a essa conexã o “atô mica”.
A medida que a guerra mundial se transformava em Guerra Fria, o
frio do “admirá vel mundo novo” introduzido pela ciê ncia causou
arrepios nos literatos do pó s-guerra, levando muitos outros escritores
a compartilhar a descon iança desdenhosa de Lewis no
cienti icismo. Em setembro de 1945, Edith Sitwell leu uma descriçã o de
uma testemunha ocular do efeito imediato da bomba atô mica sobre
Hiroshima. “Aquela testemunha”, escreveu ela, “viu um totem de poeira
subir ao sol como uma testemunha contra o assassinato da
humanidade ...” 28 Sitwell respondeu escrevendo um de seus melhores
poemas, A Sombra de Caim, o primeiro dela “Trê s poemas da Idade
Atô mica” nos quais ela lamentou que “o ú tero do qual toda a vida
começou” havia sido rompido.
Os horrores de Hiroshima també m inspiraram Siegfried
Sassoon. Em 1945, ele escreveu "Litany of the Lost", um verso que
ecoou as preocupaçõ es expressas por Lewis e Sitwell e empregou
imagens religiosas ressonantes semelhantes como contrapeso ao
pessimismo e alienaçã o do pó s-guerra. A ladainha listava os efeitos dos
pecados do cienti icismo, a "quebra da crença no bem humano", a
"escravidã o da humanidade à má quina" e o "terror da condenaçã o
atô mica prevista". O mundo, escreveu Sassoon, estava acorrentado à
"roda do progresso descontrolado" e "sem lı́der e de alma
cé tica". Armados apenas "com nossas maravilhosas inovaçõ es de
macacos", é ramos "nã o regenerados ainda na cabeça e no coraçã o". O
refrã o no inal de cada versı́culo servia de forma assombrosa como uma
oraçã o: Livra-nos de nós mesmos.
Em novembro de 1945, Sheed e Ward, os editores “papistas” que
lançaram a segunda ediçã o de Lewis's The Pilgrim's
Regress, publicaram God and the Atom de Ronald Knox, cujo capı́tulo de
abertura era intitulado “Trauma: Hiroshima”. No mesmo ano, Orwell
publicou Animal Farm, o primeiro de sua dupla de romances que
encapsularia a angú stia pó s-guerra de toda a geraçã o da Guerra Fria. O
outro, Mil novencentos e oitenta e quatro, publicado quatro anos depois,
imortalizaria e sintetizaria o pessimismo do pó s-guerra com mais força
do que qualquer outro romance de sua geraçã o. Na é poca de sua morte
repentina e prematura em 1950, Orwell planejava escrever um estudo
sobre Evelyn Waugh, cujo Brideshead Revisited, també m publicado em
1945, era outro exemplo de “reaçã o” antiprogressiva. Orwell acreditava
que o gê nio de Waugh havia exposto a falá cia marxista de que a arte só
pode ser "boa" se for "progressiva".
Curiosamente, todos esses escritores ou se converteram ao
catolicismo ou se converteriam na pró xima dé cada ou mais - com a
notá vel exceçã o de Orwell, cuja morte repentina deixa um ponto de
interrogaçã o sedutor sobre seu prová vel destino se o "ladrã o da noite"
nã o tivesse intervindo . Lewis, é claro, nã o se converteria, mas
continuaria a se considerar um cristã o “ortodoxo” e “tradicional”, com a
intençã o de “contrabandear teologia” para seus romances. Como, por
exemplo That Hideous Strength, que merece um lugar de destaque ao
lado Nineteen Eighty-Four, Animal Farm , e Brideshead Revisited na
literatura plaintive de reaçã o pó s-guerra contra o mito do “progresso”,
oferece algumas pistas interessantes quanto à posiçã o religiosa de
Lewis na o im da Segunda Guerra Mundial.
A reaçã o contra a modernidade que valeu a Lewis o convite para se
tornar membro da Sociedade para a Prevençã o do Progresso perpassa
o terceiro romance da Trilogia quase como um leitmotiv. Ao explicar o
propó sito do NICE, um dos personagens, Lord Feverstone, explica que
“O homem tem que se encarregar do homem. Isso signi ica, lembre-se,
que alguns homens tê m que se encarregar do resto. ” 29 Aqui se ouve
ecos da Fazenda de Animais de Orwell , com todos os seus animais
sendo iguais, mas alguns sendo mais iguais do que outros. Uma vez que
o NICE rejeita os conceitos cristã os de moralidade, nã o há dú vida de
que eles sã o "mais santos do que você ", eles sã o simplesmente mais
sá bios do que você . Já que, como babá , o NICE sabe melhor, os
cientistas demonı́acos e dogmá ticos planejam todas as maravilhas
"progressivas" do estado eugenicamente correto: esterilizaçã o dos
inaptos, liquidaçã o de raças atrasadas, reproduçã o seletiva, educaçã o
pré -natal, vivissecçã o, condicionamento bioquı́mico dos cé rebro e, em
ú ltima aná lise, a substituiçã o do orgâ nico pelo quı́mico, a vida real por
seu substituto sinté tico. Aqui estã o todos os ingredientes da aversã o
de Lewis pela engenharia social centralizada no estado e pelos
“homens sinté ticos” que ela produz. Na verdade, nã o nos
surpreendemos que ele conjure, ou ressuscite, a antiga igura de Merlin
para fornecer um antı́doto arturiano para o veneno
“progressivo”. Lewis, como membro da Sociedade para a Prevençã o do
Progresso, preferia beber hidromel com Merlin a tomar o remé dio da
modernidade. Bebidas, nã o Beveridges!
A atribuiçã o de poderes demonı́acos de Lewis aos homens da
ciê ncia em That Hideous Strength trazia mais do que uma semelhança
marcante com o tratamento de Tolkien das mesmas questõ es em O
Senhor dos Anéis. Na verdade, a descriçã o de Lewis de That Hideous
Strength serve, involuntariamente, como uma das melhores descriçõ es
sucintas do é pico de Tolkien: “Eu acho que That Hideous Strength é
sobre um con lito triplo: Graça contra a Natureza e Natureza contra
Anti-Natureza (industrialismo moderno, cienti icismo e polı́tica
totalitá ria): 30 Este con lito triplo entre o sobrenatural, o natural e o
nã o natural foi, sem dú vida, a chave para ambos os livros.
Havia, no entanto, outras a inidades entre That Hideous Strength e o
trabalho de Tolkien, especi icamente no “empré stimo” de Lewis do
trabalho nã o publicado de seu amigo, O Silmarillion. No capı́tulo seis
de That Hideous Strength, um dos personagens, Frost, se refere a “algo
muito mais remoto” do que o sé culo V. “Algo que vem desde muito
antes do Grande Desastre, mesmo antes do druidismo primitivo; algo
que nos leva de volta a Numinor, aos perı́odos pré -glaciais. ” 31 “Com
relaçã o a 'Numinor'”, Tolkien escreveu em resposta a uma pergunta do
bió grafo de Lewis, Roger Lancelyn Green,
nos primeiros dias de nossa associaçã o, Jack costumava vir à minha casa e
eu li em voz alta para ele O Silmarillion até onde ele tinha ido, incluindo
um longo poema: Beren e Luthien. Numinor era sua versã o de um nome
que ele nunca vira escrito (Nú menor) e sem dú vida foi in luenciado
por numinoso. Outras coisas em outras obras també m sã o derivadas de
mim: por exemplo, Tor e Tinidril sã o claramente Tor e sua esposa elfa Idril
combinada com Tinuviel (o segundo nome de Lú thien). Os Eldils també m
devem algo aos Eldar em meu trabalho. 32

Claramente, Lewis nã o estava apenas “introduzindo teologia” em seu


trabalho; ele també m estava "contrabandeando mitologia". Talvez,
entretanto, nã o seja caridoso sugerir que Lewis alguma
vez plagiou intencionalmente a obra de seu amigo. Visto que Tolkien
tinha lido muito de sua mitologia para Lewis, nã o é surpreendente que
parte da magia “é l ica” de Tolkien tenha encontrado seu caminho nos
livros de Lewis.
O aspecto mais intrigante de That Hideous Strength, pelo menos da
perspectiva do presente estudo, nã o gira em torno de algo que Lewis
contrabandeou para a histó ria, mas em torno de algo que ele parece ter
contrabandeado para fora dela. Este curioso caso de “contrabando”
ocorre durante um diá logo entre Ransom e Merlin, este ú ltimo tendo
sido chamado de volta do tú mulo apó s quinze sé culos de sono. Uma vez
que esses dois homens parecem ter toda a “força hedionda” do inferno
voltada contra eles, Merlin, sem surpresa, pergunta a Ransom se eles
nã o podem buscar aliados poderosos em sua luta. "Este seu rei saxã o
que está sentado em Windsor, agora, nã o há ajuda nele?" Assim começa
uma ladainha de futilidades na qual Merlin percorre uma lista de
possı́veis aliados, sempre para ser informado por Ransom que eles nã o
podem oferecer ajuda na luta contra a "força hedionda". Os padres e
bispos nã o podem ajudar porque “a pró pria fé do Nilo está
despedaçada desde os seus dias e fala com uma voz dividida”. Nã o há
mais prı́ncipes cristã os que possam vir em seu auxı́lio.
“Entã o devemos ir mais alto. Devemos ir até aquele cujo ofı́cio é
colocar tiranos palhaços e dar vida a reinos moribundos. Devemos
chamar o Imperador. ”
"Nã o existe nenhum imperador."
"Nã o, imperador ..." A voz de Merlin morre no deserto da
desolaçã o. “Ele icou quieto por alguns minutos lutando com um
mundo que ele nunca havia imaginado.” 33
Christopher Derrick, em CS Lewis and the Church of Rome, refere-se
a "uma falsidade signi icativamente ilustrativa" neste diá logo, "uma
falsidade de alguma relevâ ncia para o tema deste livro."
Merlin está em busca de aliados, de pessoas que ele poderia esperar
que fossem crucialmente ú teis em sua luta pela cristandade; e à
medida que sua investigaçã o avança progressivamente, ele lança sua
rede mais ampla e olha mais alto. Podemos obter ajuda do rei e de
seus nobres? Se nã o, podemos obter ajuda dos padres e bispos? Se
nã o, podemos obter ajuda do Imperador? Se nã o, podemos obter
ajuda de ...? Mas a pergunta inal e culminante ó bvia nã o é feita. Em
vez disso, obtemos uma pausa, um breve silê ncio que considero ser o
silê ncio do constrangimento, da parte de Lewis e nã o de Merlin. ...
O efeito apresentado é o de um crescendo ao qual foi negado
arti icialmente seu clı́max natural. Quase qualquer outro romancista que
se descobrisse inventando tal sequê ncia, qualquer que fosse sua crença ou
descrença pessoal, teria considerado artisticamente correto fazer Merlin
perguntar a Ransom sobre o Bispo de Roma, o Papa: “Certamente podemos
recorrer lá em busca de ajuda?” No que dizia respeito à cristandade, era
para essa ú ltima questã o que o crescendo apontava, como Lewis
certamente deve ter percebido. Mas havia algo dentro dele que o levou a
substituı́-lo, quase como se autoconscientemente, pelo silê ncio e, assim,
in ligir um estresse palpá vel ou falsidade em uma sequê ncia que de outra
forma seria e icaz. 34

A razã o ó bvia para esse pecado artı́stico de omissã o parece ser o


protestantismo residual de Lewis no Ulster. “Nenhum Papa de Roma”
signi icava “Nenhum Papa de Roma”, mesmo quando consideraçõ es
artı́sticas pareciam apontar insistentemente para sua presença. Isso, no
entanto, é para simpli icar demais a curiosa ausê ncia do Papa. “Se
Lewis tivesse mantido toda a con iança do anticatolicismo que Belfast
confere a alguns de seus cidadã os”, continua Derrick, “ele poderia ter
encontrado um bom escopo para isso na seqü ê ncia citada”.
Ele poderia facilmente ter representado Merlin como estando ciente
do papado ... e fazendo a pergunta ó bvia a Ransom com toda a
inocê ncia: "Entã o, se tudo o mais falhar, nã o podemos invocar o
Papa?" E na resposta desiludida de Ransom, Lewis, se ele tivesse
escolhido, poderia ter embalado todas as piores coisas que já foram
ditas sobre a Mulher Escarlate, a Prostituta da Babilô nia, talvez
associando aquele poder maligno com o pró prio NICE, a organizaçã o
que ele criou para representar a operaçã o de Sataná s neste mundo ...
Mas seu romance deu-lhe a oportunidade de dizer coisas duras sobre
o papado, ou, alternativamente, de dizer coisas amigá veis sobre
ele; e ele preferiu o que chamei de silê ncio da vergonha. ”

O silê ncio constrangedor era o silê ncio ensurdecedor, o grito no


vá cuo, de uma alma presa na terra de ningué m entre a a irmaçã o e a
negaçã o. O poder da Puritâ nia continuou a ofuscá -lo, nã o mais forte o
su iciente em sua in luê ncia para desencadear as maldiçõ es
anticató licas de um faná tico de Belfast, mas poderoso o su iciente para
colocar o dedo protestante em seus lá bios para impedi-lo de dizer
qualquer coisa que pudesse ser considerada "papista . ” Nesse ı́nterim,
a presença real do catolicismo, contrabandeada para os livros de Lewis
atravé s da in luê ncia duradoura dos dois mais importantes Doutores da
Igreja, Santo Agostinho (diretamente) e Santo Tomá s de Aquino
(indiretamente via Dante), torceu o nariz para a ausê ncia embaraçosa
de a admissã o do autor do fato de que estava lá . A inal, o contrabando é
uma questã o de sigilo.

LEWIS NO PURGATÓRIO
“Mas eu nã o entendo. O julgamento nã o é inal? Existe realmente
uma saı́da do Inferno para o Cé u? ”
“Depende da maneira como você está usando as palavras. Se eles
deixarem aquela cidade cinzenta para trá s, nã o terá sido o
Inferno. Para qualquer um que o deixe, é o Purgató rio. E talvez seja
melhor você nã o chamar este paı́s de Paraı́so. Nã o Deep Heaven, você
entende. " (Aqui ele sorriu para mim.) "Você pode chamá -lo de Vale
da Sombra da Vida."
- O Grande Divórcio 1

eu

N 1945, o mesmo ano em que o ú ltimo romance da Trilogia Espacial foi


publicado, o purgató rio “Sonho” de Lewis, O Grande Divórcio, també m
foi publicado. Neste livro, mais do que em qualquer outro, a igura de
Dante surge como a principal fonte de inspiraçã o. “Embora nã o possa, é
claro, se comparar em escopo e plenitude com o grande poema de
Dante”, escrevem Green e Hooper, “o livro pode certamente ser
considerado a Divina Comédia de Lewis e os paralelos entre as duas
obras sã o numerosos”. 2
Os paralelos sã o realmente numerosos, mas as diferenças entre o
“sonho” de Dante e o de Lewis sã o signi icativas. A principal diferença é
que Lewis derivou inspiraçã o do que Tolkien descreveu como "a
fantasia medieval do Refrigerium, pela qual almas perdidas tê m fé rias
ocasionais no Paraı́so". 3 Lewis tinha originalmente deparado com a
noçã o do Refrigerium em agosto e setembro de 1931 durante sua
leitura das obras do divino anglicano do sé culo XVII Jeremy Taylor. Em
um de seus "Sermõ es", Taylor escreveu sobre o "Refrigerium" como um
exemplo de superstiçã o "papista":
A igreja de Roma, entre outras opiniõ es estranhas, inseriu este em seus
escritó rios pú blicos; que as almas que perecem no inferno podem à s vezes
ter remissã o e refrigé rio, como os acessos de uma febre intermitente: pois
assim está no missal romano impresso em Paris, 1626, na missa pelos
mortos; Ut quia de ejus vitae qualitate dif idimus, etsi plenam veniam
anima ipsius obtinere non potest, saltem vel inter ipsa tormenta quae
forsan patitur, refrigerium de abundantia miserationum tuarum
sentiat. 4
O latim pode ser traduzido assim: E visto que não temos certeza sobre o
caráter de sua vida, mesmo que sua alma seja incapaz de obter ... a
abundância de tuas grandes misericórdias, entre quaisquer sofrimentos
esmagadores que ele suporta. 5 O texto é tal que, ao contrá rio da
a irmaçã o de Taylor, pode-se dizer que está relacionado à s almas
sofredoras do purgató rio e nã o tem relaçã o com as almas dos
condenados.
No mesmo sermã o, Taylor menciona outra fonte do Refrigerium - o
poeta latino do sé culo IV e escritor de hinos Prudentius Aurelius
Clemens, que escreveu: “Freqü entemente, abaixo do Estige, os feriados
de suas puniçõ es sã o mantidos, mesmo pelos espı́ritos culpados. ...
Inferno enfraquece com tormentos mitigados e a naçã o sombria, livre
de fogos, exulta no lazer de sua prisã o; os rios param de queimar com
seu enxofre usual. ” 6
O conceito de Refrigerium despertou a imaginaçã o de Lewis a tal
ponto que seu irmã o registrou em seu diá rio em 16 de abril de 1933,
que Lewis teve “uma nova ideia para uma obra religiosa, baseada na
opiniã o de alguns dos Padres, que enquanto puniçã o pois o condenado
é eterno, é intermitente: ele se propõ e a fazer uma espé cie de excursã o
de um dia infernal ao Paraı́so ”. 7
A “nova ideia” durou mais de uma dé cada em gestaçã o, inalmente
se concretizando em 1944 e sendo publicada no ano seguinte. 8 Apesar
de tanto tempo passar, a noçã o do Refrigerium permaneceu central
para a histó ria, como foi explicitado pelo espı́rito de George
MacDonald, que aparece no “sonho” de Lewis como seu guia, assim
como Virgil e Beatrice. apareceu a Dante.
“Senhor”, disse eu, “… E sobre esses fantasmas. Algum deles ica? Eles
podem icar? Existe alguma escolha real oferecida a eles? Como eles
vieram parar aqui? ”
“Você nunca ouviu falar do Refrigerium? Um homem com suas
vantagens pode ter lido sobre isso em Prudentius, para nã o
mencionar Jeremy Taylor. ”
"O nome é familiar, senhor, mas lamento ter esquecido o que
signi ica."
"Isso signi ica que os condenados tê m excursõ es de fé rias, você
entende." 9

Nesta conjuntura, um exame mais preciso da noçã o de Refrigerium


é necessá rio. E, como Jeremy Taylor a irmou, apenas mais um exemplo
da superstiçã o papista, uma das muitas “opiniõ es estranhas”
sustentadas pela Igreja de Roma, da qual os anglicanos se distanciaram
com razã o? O texto do Missal Romano, citado acima, nã o prova que a
Igreja subscreveu tal doutrina? Alé m disso, alé m do status heterodoxo
ou ortodoxo do Refrigeriurn, por que exerceu uma in luê ncia tã o
poderosa sobre as faculdades imaginativas de Lewis? Finalmente, o
tratamento que Lewis deu a essa “fantasia medieval” estava em
harmonia com os ensinamentos da Igreja Cató lica sobre o cé u, o inferno
e o purgató rio?
Lewis provavelmente estava ciente da velha tradiçã o do
Refrigerium por causa de sua leitura da Viagem de São Brendan
do sé culo IX , em que o heró i encontra Judas durante um de seus dias
ocasionais de folga do Inferno, concedido "como indulgê ncia". 10 Isso,
ao lado da leitura subsequente de Taylor e Prudentius, provavelmente
foi uma das sementes imaginativas das quais O Grande Divórcio teria
brotado. Embora The Voyage of Saint Brendan sugira que a ideia do
Refrigerium se tornou algo comum na tradiçã o do inal do primeiro
milê nio, o padre Jerome Bertram do Orató rio de Oxford 11 a irma que
era "geralmente considerado como datar do Apocalipse apó crifo de
Paulo " no inal do sé culo IV, “no qual Cristo concede um dia e uma noite
de refrigé rio para sempre no dia de Pá scoa”. Signi icativamente, no
entanto, e em resposta à primeira e segunda das questõ es colocadas
acima, "a Igreja nunca deu qualquer aprovaçã o o icial à ideia."
Quanto à a irmaçã o de Taylor de que a sançã o o icial para a ideia do
Refrigerium pode ser encontrada em um missal parisiense do inı́cio do
sé culo XVII, o padre Bertram enfatiza que este missal em particular
“nã o foi rastreado”. No entanto, “uma caracterı́stica dos primeiros
missais galicanos era uma missa para algué m cuja alma estava em
dú vida, Missa pro cuius anima dubitatur, para a qual vá rias fó rmulas sã o
citadas. ... O tema comum é uma oraçã o, se possı́vel pela salvaçã o do
falecido, mas falhando nisso, pelo menos para alguma mitigaçã o do
Inferno. ” Essa missa chegou aos missais italianos no inal do sé culo XV,
o que pelo menos admitiria a possibilidade de que o missal parisiense
nã o rastreado pudesse ter incluı́do o texto citado por Taylor. Esta missa
em particular foi, no entanto, eliminada na reforma de 1570 do Missal
Romano.
Talvez a fonte mais con iá vel para a possibilidade do Refrigerium,
de uma forma ou de outra, seja encontrada nas obras de Santo
Agostinho, especi icamente em seu Enchiridion ad Laurentium de ide,
spe, et caritate liber inus, escrito em 421 DC. Nesta obra, Agostinho
a irma a possibilidade de que a misericó rdia de Deus pode até mesmo
se estender, se Ele assim escolher, até os condenados no inferno:
Em vã o, portanto, alguns homens, na verdade, muitos, por causa do
sentimento humano, lamentam o castigo eterno dos condenados e seus
tormentos perpé tuos e interminá veis, sem realmente acreditar que assim
será . ... Mas que eles suponham, se assim for. agrada-lhes que as puniçõ es
dos condenados sejam, em certos perı́odos de tempo, um tanto
atenuadas. Pois mesmo assim pode ser entendido que eles permanecem na
ira de Deus, isto é , na pró pria condenaçã o, - pois é isso que é chamado de
ira de Deus, nã o algum distú rbio na mente divina: - que em Sua ira, isto é ,
por permanecerem em Sua ira, Ele nã o cala Suas misericó rdias; ainda
assim, Ele nã o acaba com seu castigo eterno, mas apenas aplica ou
interpõ e algum alı́vio aos seus tormentos. 12

Tendo discutido a fonte do Refrigerium na tradiçã o cristã , e a


sançã o menos do que o icial concedida a ele pela Igreja, algué m
pareceria ter a liberdade de aceitar a "suposiçã o" de Santo Agostinho de
que alguma forma de mitigaçã o de puniçã o para os condenados é
possı́vel ou para aceitar a visã o aparentemente mais cé tica, ou pelo
menos mais caprichosa de Tolkien de que era uma mera “fantasia
medieval”. A questã o permanece, entretanto, quanto à importâ ncia do
Refrigerium na escrita de Lewis de O Grande Divórcio e se seu
tratamento do assunto é heterodoxo ou ortodoxo em relaçã o ao ensino
da Igreja. Para ser franco, Lewis toma liberdades que o cató lico nã o
teria permissã o de tomar sem cair na heresia, ou ele lida com todo o
assunto de uma maneira que receberia a sançã o da Igreja?
Lewis responde a essa pergunta ele mesmo, ou melhor, ele o faz por
meio das palavras do espı́rito de George MacDonald, seu guia. Depois
que MacDonald menciona o Refrigerium e cita Prudentius e Taylor, ele
de ine, já na pá gina seguinte, a realidade mais profunda da situaçã o
dessas almas “em excursã o” em termos certamente ortodoxos, embora
coloridos pelo uso da licença imaginativa.
“Mas se eles vierem aqui, eles podem realmente icar?”
"Sim. Você s ouviram que o imperador Trajano fez. ”
“Mas eu nã o entendo. O julgamento nã o é inal? Existe realmente
uma saı́da do Inferno para o Cé u? ”
“Depende da maneira como você está usando as palavras. Se eles
deixarem aquela cidade cinzenta para trá s, nã o terá sido o Inferno. Para
qualquer um que o deixe, é o Purgató rio. E talvez seja melhor você nã o
chamar este paı́s de Paraı́so. Nã o Deep Heaven, você entende. " (Aqui ele
sorriu para mim.) "Você pode chamá -lo de Vale da Sombra da Vida." 13

Neste diá logo sucintamente sublime, Lewis apresentou uma visã o


teoló gica do purgató rio que é quase dantesca em sua ortodoxia e
profundidade. As almas que parecem ter estado no inferno descobrem,
uma vez que se arrependem, que na verdade estiveram no purgató rio o
tempo todo. Somente os teimosamente impenitentes estã o verdadeira e
realmente no inferno. Eles nã o podem escapar do inferno porque nã o
querem. O “feriado do inferno” é em si um inferno para eles (já que eles
nã o suportam estar no purgató rio ou no cé u) e eles retornam ao
inferno por sua pró pria vontade e por sua pró pria vontade. O inferno é
seu verdadeiro lar, embora eles o desprezem. E onde eles pertencem.
Algumas pá ginas depois, a sombra de MacDonald elucida a mesma
verdade de forma ainda mais sucinta e sublime.
Nunca tema. Existem apenas dois tipos de pessoas no inal: aqueles que
dizem a Deus: "Seja feita a tua vontade" e aqueles a quem Deus diz, no
inal, " seja feita a tua vontade". Todos os que estã o no Inferno,
escolha. Sem essa escolha, nã o poderia haver Inferno. 14
Este diá logo representa o ponto cardeal de toda a obra, em ambos
os sentidos. Ele surge no meio do livro, na metade, e é o ponto em que,
e sobre o qual, toda a histó ria se articula. Curiosamente, no entanto, o
diá logo crucial conté m um passo em falso que destaca a natureza
anô mala da pró pria posiçã o de Lewis. “Mas existe uma escolha real
apó s a morte?” Lewis pergunta a MacDonald. “Meus amigos cató licos
romanos icariam surpresos, pois para eles as almas do purgató rio já
estã o salvas. E meus amigos protestantes nã o gostariam mais, pois
diriam que a á rvore ica deitada quando cai. ” 15 Suspeita-se, de fato,
que os amigos cató licos romanos de Lewis podem ter icado um pouco
surpresos com a presunçã o de Lewis de que icariam
surpresos. Embora as almas no purgató rio sejam de fato “salvas” -
como, de fato, elas sã o salvas em O Grande Divórcio de acordo com a
pró pria de iniçã o de MacDonald - elas nã o perdem seu livre arbı́trio ou
“escolha real” apó s a morte. Seria implausível para os que estã o no
purgató rio ou no cé u escolherem o inferno, por causa da plenitude de
seu conhecimento da Presença de Deus e do horror que a realidade de
seu pró prio pecado evoca, mas isso nã o nega seu livre arbı́trio. Pode
colocar um limite ao livre arbı́trio, mas esses limites estã o sempre em
vigor, tanto antes como depois da morte. Algué m pode ser
tecnicamente “livre” para chamar um cı́rculo de quadrado, mas aquele
que possui sua sanidade nã o o fará ! Pelo mesmo princı́pio, aquele que
obteve a salvaçã o, com toda a percepçã o adicional que ela oferece em
relaçã o à realidade primordial, nã o vai escolher a danaçã o. Certamente,
o mentor cató lico romano de Lewis, Dante, icaria surpreso ao saber
que Lewis acreditava que seus penitentes no purgató rio nã o eram
verdadeiramente penitentes, uma vez que a ausê ncia de livre arbı́trio,
ou “escolha real”, teria tornado seu arrependimento impossı́vel. (Se
Lewis, como personagem do livro, está realmente implicando que
aqueles que morreram tê m, efetivamente, uma segunda chance de
acertar, ele é heterodoxo de todos os â ngulos, protestante e cató lico,
mas supõ e-se que este nã o é o seu intençã o. Mesmo que seja, seu guia,
que é a voz da ortodoxia; claramente nã o pretende que ele acredite
nisso.)
Apesar da aparente falta de compreensã o de Lewis dos
ensinamentos da Igreja, ele parece ter tropeçado, evidentemente,
parcialmente inconscientemente, na verdadeira posiçã o da Igreja. Em
suma, e para responder à quarta das questõ es colocadas acima, Lewis
lida com toda a questã o do cé u, inferno e purgató rio de uma maneira
com a qual os cató licos nã o precisam se sentir estranhos.
No entanto, se Lewis dominou a verdadeira natureza do purgató rio
dentro do esquema de salvaçã o, o que dizer do Refrigerium? Os
cató licos deveriam se sentir confortá veis com essa pseudo ou quase
doutrina problemá tica, essa “fantasia medieval”, que parece estar no
centro de O Grande Divórcio? A resposta, claro, é “claro”! A ideia do
Refrigerium foi usada por Lewis como um "suposto", um artifı́cio
literá rio que Green e Hooper descrevem como "a marca registrada de
seus romances". 16 Assim, por exemplo, o “supor” no cerne dos dois
primeiros romances da Trilogia Espacial se apoiava na doutrina da
Queda: Suponha que existam criaturas racionais em outros
planetas? Suponha que eles nã o tenham caı́do? E claro que nã o
precisamos acreditar que existe vida racional em Marte e Vê nus para
desfrutar de Out of the Silent Planet e Perelandra. E claro que a
sabedoria teoló gica, ou verdade, dentro dos romances nã o depende do
suposto ser literalmente factual. Da mesma forma, nã o é preciso aderir
à noçã o do Refrigerium para desfrutar do Grande Divórcio. Nem a
existê ncia ou inexistê ncia do Refrigerium tem qualquer in luê ncia
sobre a validade da relaçã o entre o cé u, o inferno e o purgató rio, que
está no centro do "sonho" de Lewis. Aqueles que desejam sugerir que O
Grande Divórcio depende para sua validade inal, seja como literatura
ou como um transmissor da verdade, da validade do Refrigerium, estã o
argumentando, ipso facto, que o Inferno de Dante é invalidado por ele
colocar Sataná s no centro de a terra, ou que seu Purgatório é invá lido
porque descreve o purgató rio como uma montanha fı́sica, ou que
seu Paradiso carece de validade porque o cé u é estruturado como um
re lexo dos cé us astronô micos. Dante nã o acreditava que essas
imagens fı́sicas, empregadas como artifı́cios literá rios, fossem
representaçõ es factualmente precisas do inferno, purgató rio e cé u,
mais do que Lewis imaginava que sua alegoria especulativa sobre a
natureza da salvaçã o e da condenaçã o em O Grande Divórcio dependia
da realidade verdade ou falsidade de seu “suposto” do Refrigerium.
Colocando o Refrigerium de lado, podemos nos concentrar em
Lewis no purgató rio e descobrir o que ele viu lá . Percebe-se
instantaneamente que os Salvos, aqueles que alcançaram o cé u, sã o “as
pessoas só lidas”, enquanto os Amaldiçoados sã o transparentes, como
fantasmas. Quem vive na virtude, isto é , na Presença de Deus, é mais
Real, pois Deus é a Fonte de toda a Realidade; ao passo que aqueles que
negam a Deus seguindo uma vida de pecado sã o incompletos,
insubstanciais, espiritualmente desnutridos.
Vemos, no encontro do assassino que alcançou o cé u e o fantasma
hipó crita que de inha no inferno auto-imposto, a perene diferença
entre o publicano e o fariseu. O pecador arrependido é abraçado por
Deus; o mais santo-que-tu-defensor das regras recusa o
abraço. “Pre iro ser condenado a ir junto com você ”, diz o fantasma
hipó crita ao assassino que virou santo. “Eu vim aqui para ter meus
direitos, entendeu? Para nã o icar choramingando com a caridade
amarrada aos cordõ es do avental. Se eles estiverem muito bem para me
ter sem você , vou para casa. ” 17 Virando as costas para sua chance de
salvaçã o, o fantasma se afasta, na misé ria triunfante, rumo a casa. A
“casa” que é o inferno.
O pró ximo encontro é entre um cristã o ortodoxo e um teó logo
modernista; o primeiro salvo, o ú ltimo condenado. O modernista,
obstinado em seu erro, queixa-se de que seu amigo cristã o havia se
tornado um tanto “tacanho” no inal de sua vida. "Ora, meu querido
menino, você estava começando a acreditar em um verdadeiro Cé u e
Inferno!" O cristã o pergunta ao modernista de onde ele pensa que
acabou de sair. Ele diz que nã o tinha pensado em dar ao lugar pardo e
cinza onde ele tem residido qualquer nome. “Você esteve no Inferno”,
ele é informado; "Embora se você nã o voltar, pode chamá -lo de
purgató rio." Nã o impressionado, o modernista, aparentemente nã o
acreditando na existê ncia de qualquer um desses lugares, orgulha-se de
como, antes de se tornar um bispo anglicano, ele rejeitou
“destemidamente” a Ressurreiçã o. “Você viu o inferno: você está à vista
do cé u. Você vai, mesmo agora, se arrepender e acreditar? "
“Nã o tenho certeza se entendi exatamente o que você está tentando
fazer”, responde o fantasma modernista. Nã o havendo ningué m tã o
cego, etc., o modernista informa a seu amigo cristã o que ele deve voltar
para o lugar de onde veio, porque deve apresentar um artigo à
Sociedade Teoló gica sobre como “Jesus ... teria superado algumas de
suas visõ es anteriores ... se ele tivesse vivido ”:“ Vou pedir ao meu
pú blico para considerar quais teriam sido as suas visõ es maduras. Uma
pergunta profundamente interessante. Que cristianismo diferente
poderı́amos ter se apenas o Fundador tivesse atingido sua estatura
plena! ” 18
Algum tempo depois, Lewis encontra o fantasma de uma mulher
pudica que tenta se esconder nos arbustos do Só lido que foi enviado
para tentar salvá -la do inferno - ou, mais corretamente, é enviada para
ajudá -la a se salvar do inferno. “Como posso sair assim entre tantas
pessoas com corpos realmente só lidos? E muito pior do que sair sem
nada teria sido na terra. Faça com que todos olhem através de mim.
” “Amigo”, responde o Espı́rito, “Você poderia, apenas por um
momento, ixar sua mente em algo que nã o seja você mesmo?” Assim,
em um exemplo da verdadeira psicologia profunda que Lewis já havia
exibido com grande efeito em The Screwtape Letters, ele iguala
puritanismo a orgulho. Ainda mais profundo, no entanto, é a imagem
que ele emprega para curar o fantasma de seu pudor. O Só lido, incapaz
de salvá -la com palavras, coloca um chifre nos lá bios e sopra uma
convocaçã o para uma manada de unicó rnios, “brancos como cisnes,
exceto pelo brilho vermelho nos olhos e narinas e o ı́ndigo cintilante de
seus chifres”: “ Ainda me lembro do barulho de esmagamento da turfa
macia e ú mida sob seus cascos, o rompimento da vegetaçã o rasteira, os
roncos e relinchos; como suas patas traseiras subiam e suas cabeças
chifrudas abaixavam em uma batalha simulada. Mesmo assim se
perguntou para que batalha real poderia ser o ensaio. Ouvi o grito do
Fantasma e acho que ele saiu correndo dos arbustos ... talvez em
direçã o ao Espı́rito, mas nã o sei. ” 19 As imagens fortemente eró ticas
sã o justapostas com a pureza branca como a neve que o unicó rnio
sempre representou na tradiçã o da tipologia cató lica. O eró tico e o
puro, nã o como opostos, mas como noiva e noivo em um abraço
nupcial criando humildade. Assim, vemos como Lewis iguala pudor
com orgulho, mas també m, por meio da insinuaçã o do ı́ntimo, pureza
com paixã o. Por implicaçã o, o pudico e o lascivo - e o puritano e o
pornográ ico - sã o expostos como o reverso da moeda do amor sexual
desordenado. 20 Em vez da frieza gelada do puritanismo, Lewis busca a
paixã o calorosa da pureza. Nunca Lewis escapou com tanto sucesso da
Puritâ nia. 21
Signi icativamente, Lewis parece sugerir que o fantasma da mulher
pudica foi de fato salvo de retornar ao "Inferno", caso em que, para
ecoar as palavras da sombra de George MacDonald, a quem Lewis
conheceu imediatamente apó s este episó dio, ela nã o poderia Na
verdade, já estiveram no inferno, mas apenas no purgató rio. “Se eles
deixarem aquela cidade cinzenta para trá s, nã o terá sido o Inferno. Para
qualquer um que o deixe, é o Purgató rio. ”
“E talvez seja melhor você nã o chamar este paı́s de Paraı́so”,
continua MacDonald. "Nã o é o Céu Profundo, você entende ... Você pode
chamá -lo de Vale da Sombra da Vida." 22 Com essas palavras,
MacDonald está dizendo, de fato, que o lugar em que o “sonho” de
Lewis está ocorrendo é o pró prio purgató rio. No Purgatório de Dante ,
o purgató rio é encontrado alé m do "Portã o de Pedro", isto é , alé m dos
"portõ es do cé u". No entanto, nã o é o "Cé u Profundo", que pode ser
encontrado no Paraı́so, mas "o Vale da Sombra da Vida" ou, para
empregar as imagens de Dante em oposiçã o à s de Lewis, "a Montanha
da Sombra da Vida".
Há um outro paralelo com o Purgatório de Dante em O Grande
Divórcio de Lewis , e que se harmoniza de maneira intrigante com a
inspiraçã o de Lewis no Purgatório de Perelandra. Enquanto
em Perelandra Lewis confessou ter derivado inspiraçã o do canto xxviii
do Purgatório para o encontro de Ransom com a "Eva" de Perelandra,
há um paralelo claro entre o des ile da santa, Sarah Smith, apresentado
a Lewis no capı́tulo 12 de O Grande Divórcio e o Des ile do Sacramento
apresentado a Dante nos cantos xxix e xxx do Purgatório. Parece, de
fato, nã o haver limite para a inspiraçã o que Lewis extraiu do poço
insondá vel da imaginaçã o de Dante.
Tendo vagado pelo purgató rio respirando em profundas correntes
de ar de sua atmosfera teoló gica cató lica, Lewis conclui O Grande
Divórcio com um ataque explı́cito ao Calvinismo. “Cada tentativa de ver
a forma da eternidade, exceto atravé s das lentes do Tempo, destró i seu
conhecimento da Liberdade”, explica o espı́rito de
MacDonald. “Testemunhe a doutrina da Predestinaçã o que mostra
(com bastante exatidã o) que a realidade eterna nã o está esperando por
um futuro no qual seja real; mas ao preço de remover a Liberdade, que
é a verdade mais profunda das duas. ” 23
E uma ironia e um paradoxo, embora nã o totalmente
surpreendente, que Lewis mergulhou mais fundo nas verdades do
Cristianismo no “sonho” imaginá rio de O Grande Divórcio do que em
grande parte de sua didá tica em prosa. Como um escritor e contador de
histó rias verdadeiramente talentoso, ele irradiou mais luz sobre as
"terras das sombras" do alto de sua imaginaçã o - de Marte, Vê nus,
Ná rnia e do "Purgató rio" - do que de suas prosaicas exposiçõ es de
"mero cristianismo". E, entretanto, para o “meramente cristã o” que
agora voltamos nossa atençã o.

MERO CRISTÃO
Se algué m é tentado a pensar ... que “Cristianismo” é uma palavra
com tantos signi icados que nã o signi ica nada, ele pode aprender,
sem sombra de dú vida, saindo de seu pró prio sé culo, que nã o é
assim. Comparado com os tempos, o “mero cristianismo” nã o é uma
transparê ncia interdenominacional insı́pida, mas algo positivo,
consistente e inesgotá vel.
—Introdução à Encarnaçã o da Palavra 1
eu

EWIS FIRST empregou o termo “mero cristianismo” em 1944, na


introduçã o a um livro de sua amiga irmã Penelope. Desde o inı́cio, ele
insistiu que nã o era “nenhuma transparê ncia interdenominacional
insı́pida”, uma indicaçã o clara de sua oposiçã o resoluta a todas as
formas de “ecumenismo” envolvendo a diluiçã o dos princı́pios centrais
da cristandade. Depois disso, a bandeira do “mero cristianismo” tornou-
se o padrã o pelo qual ele convocou todos os cristã os a se unirem em
defesa de sua fé comum.
Já em 1933, em uma resposta a Dom Bede Grif iths, que havia
procurado envolvê -lo em um debate sobre as diferenças entre o
catolicismo e o anglicanismo, Lewis escreveu: “No inal das contas ...
sobre as divisõ es da cristandade, resta, por A misericó rdia de Deus, um
enorme terreno comum. ” 2 “Mero Cristianismo” era, portanto, o
“enorme terreno comum” que era compartilhado por cristã os de todas
as denominaçõ es. O desa io que Lewis se propô s foi mapear esse
terreno para que os cristã os pudessem ver e entender o que eles
tinham em comum. Este objetivo aparentemente laudató rio foi, no
entanto, sempre repleto de di iculdades.
Talvez a melhor maneira de começar uma discussã o sobre os
esforços de Lewis para de inir “mero cristianismo” seja citar, e entã o
analisar, a passagem que primeiro trouxe o nome e a noçã o de “mero
cristianismo” à mente de Lewis. Parece que Lewis encontrou o termo
“mero cristã o” pela primeira vez nas obras do escritor cristã o do sé culo
XVII Richard Baxter. Em sua História da Igreja do Governo dos
Bispos, publicada em 1680, Baxter escreveu:
Você nã o sabe de que Partido eu sou, nem como me chamar; Estou mais
triste por você do que por mim mesmo; se você nã o sabe, eu lhe direi, sou
um cristã o, um Mero cristã o, de nenhuma outra religiã o; e a Igreja da qual
eu pertenço é a Igreja Cristã , e tem sido visı́vel onde quer que a Religiã o e
a Igreja Cristã s tenham sido visı́veis: Mas você deve saber de que seita ou
Partido eu pertenço? Eu sou contra todas as seitas e partidos divisores:
Mas se algué m chamar Mero Cristão pelo nome de um Partido, porque eles
seguem o mero Cristianismo, Credo e Escritura, e nã o serã o de qualquer
seita divisó ria ou contenciosa, eu sou de aquele partido que é tã o contra
partidos: se o nome de cristã o nã o bastasse, chame-me de cristã o
cató lico; nã o como essa palavra signi ica uma maioria heretizante de
bispos, mas como signi ica aquele que nã o tem religiã o, mas aquilo que por
Cristo e os apó stolos foi deixado para a Igreja Cató lica, ou o corpo de Jesus
Cristo na Terra. 3

Olhando para o texto, desencarnado de seu contexto, mero


Cristianismo; assim de inido, poderia ser visto como a apresentaçã o da
imagem de um Cristianismo ideal. Alé m do subtexto curto, mas
crucialmente importante, sobre a “maioria heretizante dos bispos”, a
passagem poderia ser uma descriçã o clara da posiçã o de um membro
da Igreja Cató lica Romana. Mesmo com o subtexto retido, a passagem
poderia servir como uma de iniçã o de um cató lico romano na Inglaterra
em 1680 que se recusou a se prostrar à “maioria herege dos bispos” na
igreja anglicana. Na verdade, Baxter estava de fato se referindo
principalmente aos bispos anglicanos, com os quais estava em
desacordo. Baxter nã o era, entretanto, um cató lico romano, mas um
divino puritano.
O fato de que a primeira pessoa a cunhar a frase "mero cristã o" foi
um protestante puritano que se autodenominava cató lico destaca as
di iculdades envolvidas na discussã o e de iniçã o de "mero
cristianismo". També m serve como um aviso de que o ecletismo e a
excentricidade, os inimigos perenes da ortodoxia, sã o uma tentaçã o
recorrente para aqueles que procuram encontrar o terreno comum que
une todos os cristã os.
No caso de Baxter, o ecletismo e a excentricidade emergem quando
voltamos ao contexto em que suas palavras foram realmente
escritas. Ele nasceu em uma Inglaterra dilacerada pela divisã o
religiosa. Quando nã o estavam discutindo entre si, as seitas e partidos
cristã os em con lito estavam catando os restos da fé abandonada. A
Inglaterra do sé culo XVII foi a herdeira do caos causado pela ruptura de
Henrique VIII com seu reino da unidade da cristandade. Essa ruptura
levou a uma nova ruptura. A fratricida Guerra Civil, durante a qual os
conformados anglicanos lutaram contra seus conterrâ neos nã o-
conformistas até a morte, foi o resultado da ascensã o do puritanismo
linha-dura, de um lado, e da desuniã o perene dentro da igreja
anglicana, do outro. Baxter tomou o lado da “Seita ou Partido” puritano
e atuou como capelã o do exé rcito para as forças de Cromwell, estando
presente nos cercos de Bridgewater, Bristol, Exeter e Worcester. Na
Restauraçã o da Monarquia, ele foi nomeado Capelã o Real, mas em
1662, quando o Ato de Uniformidade buscou unir todos os anglicanos
dentro de uma estrutura uniforme de adoraçã o “meramente cristã ”, ele
discordou e deixou a Igreja da Inglaterra. Assim, vemos que o “mero
cristã o” original di icilmente era um modelo de virtude no que se
referia à unidade cristã .
Sem querer descer a um argumentum ad hominem, a aparente
dicotomia entre as palavras laudató rias de Baxter e suas açõ es prá ticas
é extremamente relevante. Aquele que fala de unidade cristã enquanto
contribui para a desuniã o é um pouco semelhante a quem fala de
castidade enquanto pratica adulté rio. Tomado no contexto, em oposiçã o
a fora dele, vemos que Richard Baxter simplesmente decidiu que sua
pró pria visã o eclé tica e excê ntrica do que constituı́a o “mero
cristianismo” era a verdadeira. Tendo selecionado os aspectos do
Cristianismo de que mais gostava pessoalmente, e tendo descartado
aqueles que desaprovava, ele se afastou ao longo de sua vida do centro
da tradiçã o cristã . O “mero cristianismo” de Baxter era realmente o
cristianismo “faça você mesmo” que se sente livre para escolher do
depó sito da fé . O resultado, trezentos anos depois, é que as “seitas ou
partidos” cristã os, apenas vá rios em nú mero durante a é poca de Baxter,
agora sã o vá rios milhares; uma in inidade de "partidos ou seitas", todos
alegando representar "mero cristianismo".
O paradoxo no cerne do “mero cristianismo” de Lewis é que ele está
tentando resolver a anarquia de “verdades” con litantes causadas pelo
ecletismo cristã o sem abandonar o ecletismo em si. Ele icou
horrorizado com os efeitos da divisã o, mas nã o conseguiu ou nã o quis
identi icar a causa.
A questã o que confronta qualquer estudante consciencioso de
Lewis é até que ponto sua de iniçã o de “mero cristianismo” está de
acordo com crité rios objetivos e até que ponto ela sucumbe ao
subjetivismo do preconceito pessoal. Quando o “meramente cristã o” é
claramente cristã o? Um estudo do Cristianismo Mero de Lewis ajudará a
fornecer as respostas.
Mere Christianity foi uma "ediçã o revisada e ampliada ... dos trê s
livros Broadcast Talks, Christian Behavior and Beyond Personality" e
representa o esforço de Lewis "para explicar e defender a crença que
tem sido comum a quase todos os cristã os em todos os tempos". 4 Este
foi certamente um esforço ousado e louvá vel e segue a nobre tradiçã o
de GK Chesterton, que, em sua Ortodoxia, publicada em 1908, procurou
fazer exatamente a mesma coisa. No inı́cio de seu livro, Chesterton
de iniu o que ele quis dizer com "ortodoxia" em termos que eram
semelhantes aos que mais tarde seriam usados por Lewis para de inir
"mero cristianismo":
Esses ensaios estã o preocupados apenas em discutir o fato real de que a
teologia cristã central (su icientemente resumida no Credo dos Apó stolos)
é a melhor raiz de energia e é tica só lida. Eles nã o pretendem discutir a
questã o muito fascinante, mas bastante diferente, de qual é a atual sede de
autoridade para a proclamaçã o desse credo. Quando a palavra “ortodoxia”
é usada aqui, ela signi ica o Credo dos Apó stolos, como entendido por
todos que se chamavam de cristã o até pouco tempo atrá s e a conduta
histó rica geral daqueles que sustentavam tal credo. 5

Chesterton era, como Lewis, um anglicano na é poca em que delineou


sua "ortodoxia / mero cristianismo", mas, ao contrá rio de Lewis,
respondeu "a muito fascinante ... questã o de qual é a atual sede de
autoridade para a proclamaçã o desse credo" por seu eventual recepçã o
na Igreja Cató lica Romana. Na verdade, a diferença mais notá vel entre
Chesterton e Lewis é a extensã o em que um perseguiu a “questã o muito
fascinante” e o outro a evitou.
Aludindo à sua aparente reticê ncia em discutir tais assuntos, Lewis
escreveu no prefá cio de Mero Cristianismo que esperava que "as
pessoas nã o tirassem inferê ncias fantasiosas do meu silê ncio sobre
certos assuntos em disputa":
… Tal silê ncio nã o signi ica necessariamente que eu mesmo estou sentado
em cima do muro. As vezes estou. Existem questõ es em disputa entre os
cristã os para as quais nã o creio que tenhamos respondido. (…) Mas há
outras questõ es sobre as quais estou de initivamente de um lado da cerca
e, no entanto, nã o digo nada. Pois eu nã o estava escrevendo para expor algo
que poderia chamar de “minha religiã o”, mas para expor o “mero”
Cristianismo, que é o que é e era o que era muito antes de eu nascer, quer
eu goste ou nã o. 6

E claro que algué m é obrigado a tirar inferê ncias de qualquer um


que escolha a Quinta Emenda, o direito de permanecer em silê ncio
implicando o direito de outros de inferir um signi icado para a
escolha. E, no entanto, nã o o que Lewis tenha falhado a dizer neste um
pará grafo curto que é de interesse mas o que ele tem dito ou, mais
corretamente, a maneira que ele escolheu para dizer isso. De acordo
com Lewis, as “questõ es em questã o” nã o sã o aquelas para as quais
devemos tentar encontrar respostas, sã o questõ es para as
quais não temos respostas. Em outras palavras, presumivelmente,
podemos ignorar as perguntas e as respostas e, assim, evitar a
di iculdade, porque aquelas coisas sobre as quais nã o concordamos
nã o foram de fato “reveladas”, presumivelmente por Deus, e sã o,
portanto, irrelevantes. Visto que Lewis insiste em seu direito de
permanecer em silê ncio sobre a qual dessas “questõ es em questã o” ele
está se referindo, é difı́cil saber exatamente do que ele está falando. No
entanto, uma vez que as questõ es em questã o di icilmente sã o um
segredo, podemos deduzir que as questõ es de autoridade, ou o papel e
signi icado da Igreja, ou o lugar da Santı́ssima Virgem, ou o papel dos
sacramentos, ou dos santos, ou a liturgia estã o entre as "questõ es"
para as quais Lewis "nã o acha que nos foi dito a resposta". Evitar lidar
com tais questõ es nã o é explicar o “mero cristianismo”, é explicá -lo. Ao
adotar tal abordagem, Lewis certamente corre o risco de confeccionar
o “mero cristianismo” à sua pró pria imagem. No mı́nimo, a confecçã o é
uma fudge. Ele está falsi icando as questõ es centrais para tentar
agradar a maioria das pessoas na maior parte do tempo. Ele está
sucumbindo à abordagem de um polı́tico ao cristianismo. O beijo do
bebê , mas a recusa em reconhecer sua mã e! Diante disso, é mais do que
irô nico que Lewis a irme que seu objetivo é “a defesa do que Baxter
chama de 'mero' cristianismo”. 7 Claramente, o que Baxter chama de
“mero cristianismo” nã o é o que muitos cristã os chamam.
Imediatamente apó s essa explicaçã o geral para sua reticê ncia em
discutir doutrinas disputadas, Lewis defende seu silê ncio sobre a
posiçã o da Santı́ssima Virgem, declarando que ela é o ú nico sujeito que
"pode ser invocado para destruir um livro sobre 'mero'
Cristianismo." 8 Assim, em um intrigante ato de pragmatismo, o
assunto da Mã e de Cristo é descartado como um destruidor do "mero
cristianismo".
Pode haver mais no “pragmatismo” de Lewis em relaçã o à
Santı́ssima Virgem do que sua rejeiçã o desapaixonada no prefá cio
de Mero Cristianismo poderia sugerir. Peter Milward, SJ, um ex-aluno de
Lewis que manteve uma longa correspondê ncia com ele durante os
anos 1950, fez a seguinte observaçã o sobre seu estranho silê ncio sobre
o assunto:
Nã o tenho grande disputa com o que Lewis diz em Mere
Christianity. Minha disputa é antes com o que ele nã o diz, nã o tanto
no Cristianismo Mero, mas em seus escritos sobre literatura medieval
e renascentista. Pois é nesses escritos que se poderia esperar que ele
dissesse mais sobre uma igura tã o central na arte e na literatura
medieval e renascentista como a Virgem Maria. No entanto, o que
encontramos neles? Em A Alegoria do Amor, ele apenas fala,
incorretamente, uma ou duas vezes sobre "a adoraçã o da Virgem
Maria". Ele deixa de notar que na terminologia cató lica e medieval
“adoraçã o” ( latria ) pertence somente a Deus, e é claramente distinta
da devoçã o ou veneraçã o ( hiperdulia ) paga à Virgem Maria. Alé m
disso, ele contrasta este “culto à Virgem Maria” com o culto à
Senhora, ou Frauendienst, que ele nã o pode ver como in luenciado de
forma alguma pelo culto mais difundido de Nossa Senhora, embora
esteja preparado para conceder uma in luê ncia no outro direçã o. Em
segundo lugar, em seus Ensaios Literários Selecionados, há apenas uma
entrada no ı́ndice de “Santa Maria”; e isso acaba sendo uma citaçã o
do Rei Horn, que serve para ilustrar nã o qualquer doutrina ou
devoçã o, mas a mé trica aliterativa. Terceiro, em sua Literatura Inglesa
no Século XVI, a Virgem Maria é deixada de lado em completo silê ncio,
como se fosse para dar lugar à Virgem Rainha, que assumiu muitas
das prerrogativas da Virgem Maria, principalmente na Faery Queene
de Spenser .
Entã o, novamente, nã o posso deixar de me surpreender com a
insensibilidade desse estudioso que, em sua Conferê ncia
Inaugural De Descriptione Ternporurn, a irma falar como um nativo da
Inglaterra medieval e conhecer “seu jeito de lidar com a casa de seu
pai” (p. 13), no entanto, nã o tem apreço por ela, a quem o povo da
Idade Mé dia, incluindo Dante e Chaucer, saudou como sua rainha e
mã e. Nã o que ele tenha algo a dizer contra ela ou contra a devoçã o
medieval a ela. Ele simplesmente a passa em silê ncio. E neste
silê ncio nã o posso deixar de sentir nã o tanto reverê ncia, ou mera
indiferença, quanto a supressã o de um profundo preconceito
protestante. Para ele, como protestante, a Virgem Maria nã o tem
lugar no “mero cristianismo”, apesar da mençã o dela no Credo dos
Apó stolos. Ele també m nã o a admite no que chama, em seu Prefácio
ao Paraíso Perdido, de "a grande tradiçã o central" (p. 92). ...
Mas entã o, considerando o quã o impressionante é o desenvolvimento
da doutrina e do culto de Nossa Senhora na histó ria cristã , tanto na Igreja
Grega quanto na Latina, nã o apenas na Idade Mé dia, mas també m nos
perı́odos Renascentista e Barroco, qualquer exposiçã o de “mera O
Cristianismo ”sem mençã o a ela está fadado a ser protestante, ou mesmo
puritano, e assim separado da“ grande tradiçã o central ”da Igreja. 9

A crı́tica do Padre Milward à incapacidade ou falta de vontade de


Lewis de compreender a proeminê ncia da Virgem Santı́ssima na
literatura e na cultura da Idade Mé dia e do Renascimento serve para
minar o status de Lewis como um crı́tico do perı́odo. Um crı́tico
certamente deve aprender a ter empatia, mesmo que seja incapaz de
simpatizar, com seu assunto e deixar de fazê -lo deve ser fatal para
quaisquer crité rios objetivos nos quais o julgamento se baseie. Aquele
que nã o só é incapaz de amar as coisas que seus sú ditos amavam, mas
també m é incapaz de compreender o amor que eles tinham, a tal ponto
que nem mesmo consegue mencioná -lo, nã o é um juiz muito
con iá vel. E o que é verdade para o crı́tico literá rio é verdade para o
crı́tico de religiã o. Deixar de simpatizar, ter empatia, ou mesmo
mencionar, a Mã e de Cristo ou, nesse caso, a multidã o de santos
menores que foram venerados ao longo dos sé culos, nã o é colocar-se no
centro do que “quase todos os cristã os estã o em todos os tempos
”acreditavam, é colocar-se nas ileiras de uma minoria iconoclasta que
só alcançou proeminê ncia em tempos relativamente recentes nas
franjas externas da opiniã o cristã dominante. Um “mero cristianismo”,
assim formulado e propagado, está fora da “grande tradiçã o central” e
nã o pode pretender ser representativo dela.
A principal diferença entre o “mero cristianismo” de Lewis e a
“ortodoxia” de Chesterton é uma diferença de princı́pio. Chesterton
colocou no centro de sua busca pela essê ncia do Cristianismo, o Credo
dos Apó stolos; Lewis colocou no centro de sua busca, o Livro de Oraçã o
Comum. Para citar mais uma vez o prefá cio de Mero Cristianismo: “Tudo
isso é dito simplesmente para deixar claro que tipo de livro eu estava
tentando escrever; nem um pouco para ocultar ou fugir da
responsabilidade por minhas pró prias crenças. Sobre eles, como disse
antes, nã o há segredo. Para citar o tio Toby: 'Eles estã o escritos no
Livro de Oraçã o Comum.' ” 10 Chesterton começou com o Credo dos
Apó stolos e descobriu a Igreja dos Apó stolos; Lewis começou com o
Livro de Oraçã o Comum e icou entre a Igreja dos Apó stolos e o
Compromisso de Cranmer.
Em ú ltima aná lise, entretanto, apesar das limitaçõ es que o “mero
cristianismo” impô s a ele, Lewis avançou progressivamente em direçã o
a “ mais cristianismo”, aceitando como parte integrante da fé cristã
doutrinas e dogmas que teriam feito Cranmer se encolher. Lewis pode
ter falhado em escapar completamente da Puritâ nia de seus
preconceitos, mas ele iria evoluir para um tipo de protestante muito
cató lico ou, talvez, um tipo de cató lico muito protestante. De qualquer
forma, como veremos, "mero cristianismo" abriria caminho para "mais
cristianismo".
9

MAIS CRISTANDADE
Ao lado do pró prio Santı́ssimo Sacramento, seu vizinho é o objeto
mais sagrado apresentado aos seus sentidos.
- O Peso da Glória 1

UMA

APOS ANALISAR as anomalias do "mero cristianismo", é apropriado


que agora nos concentremos na busca genuı́na de Lewis por "mais
cristianismo". No prefá cio de Mero Cristianismo, Lewis enfatizou que
sua intençã o era enfatizar os fatores comuns mais elevados que uniam
os cristã os, e nã o, portanto, os denominadores comuns mais baixos
das denominaçõ es comuns mais baixas. Presumivelmente, a ló gica da
posiçã o de Lewis, pelo menos implicitamente, é que aquelas
denominaçõ es que nã o a irmam os fatores comuns mais elevados nã o
estã o quali icadas para se chamarem de "meros cristã os". Assim, em
outro lugar no Cristianismo Mero, Lewis rejeitou o que chamou de
"Cristianismo e á gua, a visã o que simplesmente diz que há um Deus
bom no Cé u e que tudo está bem - deixando de fora todas as doutrinas
difı́ceis e terrı́veis sobre o pecado e o inferno e o diabo, e a redençã o.
” 2 Essa forma de Cristianismo era “muito simples” e foi equiparada ao
ateı́smo como sendo uma explicaçã o inadequada da realidade. O
ateı́smo e o cristianismo diluı́do foram ambos rejeitados por Lewis
como " iloso ias de meninos". 3 Aqueles que denegrem o dogma e
diluem a doutrina estã o transformando o vinho da verdade cristã na
á gua da descrença. Ao fazer isso, a iloso ia do cristianismo e da á gua
dos meninos realmente se torna, eventualmente, a iloso ia do ateı́smo
dos meninos. Diluiçã o e ilusã o sã o irmã s gê meas do engano.
Se o cristianismo diluı́do era inaceitá vel, o que Lewis considerava a
forma nã o diluı́da? Quais foram os fatores comuns mais elevados
essenciais para algué m que deseja ser “meramente cristã o”? “Há trê s
coisas que espalham a vida de Cristo para nó s”, a irma Lewis: “batismo,
fé e aquela açã o misteriosa que diferentes cristã os chamam por nomes
diferentes - Sagrada Comunhã o, a Missa, a Ceia do Senhor”. 4 Sabemos
pela rejeiçã o de Lewis do Cristianismo e da á gua que ele nã o quis dizer
"crença" para representar alguma "opiniã o" vaga e nebulosa; ele
pretende ser uma a irmaçã o de initiva de, e adesã o a, um conjunto de
princı́pios cristã os que tê m sido acreditados por aqueles que se
chamam de cristã os ao longo dos tempos. Crença nã o é “opiniã o”,
é Credo, Credo, Eu Acredito. Em suma, e em essê ncia, Lewis está
declarando que os fundamentos bá sicos do “mero Cristianismo” sã o o
Credo (crença) e pelo menos alguns dos sacramentos (batismo e a
Eucaristia) como agentes da graça. Imediatamente, portanto, Lewis
está excluindo a doutrina protestante de sola ide do "meramente
cristã o".
A visã o sacramental do Cristianismo é reiterada por Lewis em
outro lugar no Mero Cristianismo. Tendo declarado que "toda a massa
de cristã os é o organismo fı́sico atravé s do qual Cristo atua", Lewis
conclui que isso "explica por que esta nova vida é espalhada nã o
apenas por atos puramente mentais como a fé , mas por atos corporais
como o batismo e a Santa Comunhã o, … Deus nunca pretendeu que o
homem fosse uma criatura puramente espiritual. E por isso que Ele usa
coisas materiais como pã o e vinho para colocar uma nova vida em
nó s. Podemos pensar que isso é um tanto grosseiro e nã o
espiritual. Deus nã o: Ele inventou o comer. Ele gosta de maté ria. Ele o
inventou. ” 5
Lewis mostra uma a inidade ainda mais profunda com a doutrina
cató lica em seu capı́tulo sobre as virtudes cardeais, um esteio da
teologia moral cató lica durante sé culos. Estranhamente, no entanto, ele
acha adequado apontar que a palavra “cardeal” nã o tem nada a ver com
“cardeais” na “Igreja Romana”. 6 Isso, é claro, é tecnicamente
verdade; mas por que, pode-se perguntar, Lewis achou necessá rio
inserir esse parê ntese em particular? Pode-se argumentar, e sem
dú vida Lewis o teria feito se perguntado, que era simplesmente para
evitar qualquer confusã o a esse respeito. A impressã o que se poderia
ter, no entanto, e quer Lewis pretendesse isso ou nã o, é que as pró prias
virtudes cardeais nã o tê m nada a ver com a “Igreja Romana”, que de
Santo Agostinho a Santo Tomá s de Aquino as explicou tã o
cuidadosamente ao longo de sua histó ria . Algué m poderia ter
perdoado Lewis por nã o mencionar tal realidade cardeal, mas é difı́cil
aceitar o insulto adicionado à injú ria implı́cita em seu distanciamento
das virtudes dos cardeais que sempre as ensinaram como parte do
depó sito da fé cató lica.
Afundando cada vez mais em dı́vida com o ensino cató lico, Lewis
conclui o capı́tulo sobre "Moralidade Sexual" no Cristianismo Mero ,
enfatizando que a impureza nã o é o "vı́cio supremo". Pelo contrá rio,
embora os “pecados da carne sejam maus”, Lewis insiste que “eles sã o
os menos maus de todos os pecados”. Em sua insistê ncia de que os
piores pecados eram “puramente espirituais”, Lewis estava seguindo o
ensino da Igreja, que se baseia em parte na tradiçã o sagrada e nã o
apenas na sola scriptura. Em particular, sua teologia ressoa com a de
Santo Tomá s de Aquino, e també m, é claro, re lete a hierarquia dos
pecados empregada por Dante na Divina Comédia. Lembramo-nos
també m do excelente livrinho The Other Six Deadly Sins, de Dorothy L.
Sayers, que Lewis conhecia e respeitava. Visto que o livro de Sayers foi
a transcriçã o publicada de uma palestra que ela proferiu em outubro de
1941, é possı́vel que Lewis tenha se inspirado por essa obra anterior
para dizer algo semelhante. No entanto, como Sayers era mais tomista
do que Lewis, e um admirador ainda maior de Dante, sua pró pria
inspiraçã o estava pelo menos tã o profundamente enraizada na Summa
Theologiae via Divina Comédia quanto a de Lewis. E, é claro, ao declarar
no Cristianismo Mero que uma igreja que vai "hipó crita hipó crita" pode
estar "mais perto do inferno do que uma prostituta", Lewis estava
apenas seguindo o caminho profundamente cató lico e anti-puritano
que havia seguido em O Grande Divórcio . E de se perguntar, de fato, se
Lewis recordou suas palavras sobre “idiotas hipó critas” alguns anos
depois, apó s ter sido banido da “Rede da Hora Protestante” nas rá dios
americanas por sua “franqueza surpreendente” sobre o amor
sexual. “Professor Lewis”, foi-lhe dito, “temo que você incluiu o sexo em
sua conversa sobre Eros”, ao que ele respondeu perguntando como
poderia falar sobre Eros “e deixá-lo de fora? ” 7
Perto do inal de Mero Cristianismo, Lewis defende a disciplina da
teologia em termos robustos. “Nã o adianta reclamar que essas
declaraçõ es sã o difı́ceis. O Cristianismo a irma estar nos falando sobre
outro mundo, sobre algo por trá s do mundo que podemos tocar, ouvir e
ver. Você pode achar que a a irmaçã o é falsa; mas se fosse verdade, o
que nos diz seria difı́cil - pelo menos tã o difı́cil quanto a fı́sica
moderna, e pelo mesmo motivo. ” 8 Esta passagem é uma
reminiscê ncia das palavras memorá veis de Chesterton na Ortodoxia.
A complicaçã o de nosso mundo moderno prova a verdade do credo mais
perfeitamente do que qualquer um dos problemas simples dos tempos de
fé ... E por isso que a fé tem aquela elaboraçã o de doutrinas e detalhes que
tanto angustia aqueles que admiram o Cristianismo sem crer nele.
isto. Quando se acredita em um credo, ica-se orgulhoso de sua
complexidade, como os cientistas se orgulham da complexidade da
ciê ncia. Mostra como é rico em descobertas. Se estiver certo, é um elogio
dizer que está elaboradamente certo. Um pedaço de pau pode encaixar em
um buraco ou uma pedra em um buraco por acidente. Mas uma chave e
uma fechadura sã o ambas complexas. E se uma chave se encaixa na
fechadura, você sabe que é a chave certa. 9

Lewis estava ciente da "verdade do credo", como disse Chesterton,


e insistiu que o "mero cristianismo" nã o era "uma alternativa aos
credos das comunhõ es existentes" 10, mas apenas um meio de
compreender o que as comunhõ es existentes mantinham comum. O
dever de todos os buscadores da verdade cristã era passar alé m do
“mero cristianismo” para “mais cristianismo”. O problema, entretanto,
era que Lewis achava difı́cil abordar o assunto da Igreja, ou igreja, ou
igrejas, por medo de abrir a caixa de Pandora de diferenças
denominacionais e di iculdades. Eric Fenn, o chefe assistente de
radiodifusã o religiosa da BBC, expressou sua preocupaçã o de que a
falha de Lewis em fazer qualquer referê ncia à “igreja” estivesse
comprometendo a plenitude de sua mensagem durante as
transmissõ es de rá dio que mais tarde seriam publicadas
como Cristianismo Mero. Em dezembro de 1943, Fenn, um
presbiteriano, sugeriu que Lewis deveria “falar um pouco mais sobre a
comunidade cristã ”:
Com exceçã o de uma ou duas referê ncias, você parece nã o mencionar isso
de forma alguma, e os roteiros dã o, portanto, a impressã o de uma
abordagem puramente individualista ... Você está pensando o tempo todo
em um homem em relaçã o a Deus, e nada sobre a conexã o que isso sempre
estabelece com outros homens. Acho que fortaleceria a sé rie dizer algo
mais sobre a Igreja. 11

Lewis respondeu que era "difı́cil continuar muito" sobre a Igreja "sem
levantar a questã o denominacional" 12 e, embora ele tenha prometido
tentar dizer algo sobre isso, toda a questã o da Igreja é evidente, na
maior parte, por sua ausê ncia do Mero Cristianismo. Visto que muitos
cristã os - e cristã os cató licos em particular - subscrevem uma
eclesiologia que vê a Igreja como o Corpo Mı́stico de Cristo no mundo, e
visto que a pró pria abordagem sacramental de Lewis sugere que esta
era uma visã o que ele subscreveu, a ausê ncia de qualquer a discussã o
do papel da Igreja deve ser vista como um pecado de omissã o.
“Depois que Lewis começou a transmitir para a BBC, ele caiu na
armadilha de seu pró prio sucesso”, a irma Walter Hooper, esforçando-
se para explicar essas omissõ es curiosas e evidentes. “Ele de repente
se tornou o apologista cristã o de todos. Depois disso, o Mero
Cristianismo tornou-se um cerco e ele preferiu icar fora das brigas
teoló gicas. ” 13 No entanto, embora possa ser assim, é curioso que
houvesse alguns acré scimos estranhos à receita do “mero
cristianismo” que eram singular e decididamente cató licos. Considere,
por exemplo, a alusã o ao purgató rio na mençã o de Lewis da
"puri icaçã o ... apó s a morte", 14 ou sua referê ncia ao "Santı́ssimo
Sacramento" como "o objeto mais sagrado apresentado aos seus
sentidos." 15 Esses acré scimos curiosamente cató licos foram devidos,
em parte, ao apego de Lewis ao anglo-catolicismo, um apego que ele
sentia apesar de seu antagonismo para com TS Eliot e aqueles aspectos
do anglicanismo da alta igreja que ele percebeu que Eliot e sua laia
representavam.
A simpatia de Lewis por essa ala particular da igreja anglicana
podia ser avaliada pelo fato de ele ser um assinante de longa data
do The Guardian, um jornal anglo-cató lico semanal que nã o deve ser
confundido com o atual jornal liberal secular de mesmo nome. Fundado
em 1846 por RW Church e outros para defender os princı́pios da High
Church Tractarian de Pusey, Keble e Newman (antes de sua conversã o,
no ano anterior, ao catolicismo romano), The Guardian continuou a ser
o defensor de tais princı́pios até que deixou de ser publicado em 1951.
O respeito e apego de Lewis por este jornal em particular é evidente
pelo fato de que duas de suas melhores obras, The Screwtape
Letters e The Great Divorce, foram publicadas pela primeira vez em suas
pá ginas.
Outra in luê ncia anglo-cató lica forte e duradoura sobre Lewis foi
sua amizade de longa data com a irmã Penelope, do Convento da
Comunidade de Santa Maria, a Virgem. A comunidade da qual a irmã
Penelope era membro foi fundada em 1848 no perı́odo posterior ao
Movimento de Oxford e foi uma das primeiras ordens religiosas
anglicanas a ser fundada desde a Reforma. Em um de seus primeiros
livros, The Wood for the Trees: An Outline of Christianity, ela defendeu a
Igreja da Inglaterra como uma "verdadeira via mídia, mantendo todos
os fundamentos da catolicidade". Lewis descreveu a irmã Penelope
como sua “irmã mais velha” na fé e, de acordo com Walter Hooper, “ela
mais do que ningué m o ajudou a apreciar o lado cató lico do
anglicanismo”. 16 Ela lhe enviou uma fotogra ia do Sudá rio de Turim e, a
partir daı́, ele a manteve na parede de seu quarto pelo resto da vida,
venerando a relı́quia como qualquer bom cató lico poderia ter feito. 17
Quando desenfreado pela camisa-de-força do “mero cristianismo”,
Lewis freqü entemente loresceu na plenitude do catolicismo, ou pelo
menos no desabrochar do quase catolicismo, como foi claramente o
caso em The Pilgrim's Regress e The Great Divorce. Seu trabalho de
teologia popular, The Problem of Pain, foi descrito pelo dominicano
Benet O'Driscoll, em Blackfriars, como estando “alinhado com a
doutrina cató lica” e “tendo muito em comum com o ensino cató lico
aceito” sobre o outono. 18 Uma resenha do mesmo livro no Church
Times, um jornal anglicano, declarou que Lewis era um “defensor da fé ”
que havia assumido “a posiçã o cató lica”. 19 Um crı́tico de
Lewis's Beyond Personality o comparou com Jacques Maritain, o grande
tomista francê s, 20 e Lewis declarou de si mesmo que ele era “um
cristã o dogmá tico sem reservas modernistas”. 21
O dogmatismo “cató lico” de Lewis estava em evidê ncia em uma
carta a seu velho amigo Arthur Greeves, escrita no inal de 1944, na
qual Lewis rejeita a defesa de seu amigo do unitarismo e seu ceticismo
sobre a divindade de Cristo:
Nã o acho que posso concordar que as igrejas estã o vazias porque ensinam
que Jesus é Deus. Em caso a irmativo, aqueles que ensinam o contrá rio, ou
seja, os unitaristas, estariam cheios, nã o é ? Sã o eles? Parece-me que os que
ensinam a teologia mais completa e dogmá tica sã o precisamente os que
retê m o seu povo e fazem convertidos, enquanto os liberalizantes e
modernizadores perdem terreno a cada dia. Assim, os RCs estã o
lorescendo e crescendo, e no C. de E. as igrejas "altas" estã o mais cheias
do que as "baixas". 22

Clyde S. Kilby, em The Christian World of C. S. Lewis, enfatizou o


fundamento doutriná rio do cristianismo de Lewis, enfatizando nã o
apenas sua luta pela "ortodoxia", mas sua oposiçã o incessante ao
"modernismo":
Doutrinariamente, Lewis aceitou os credos de Nicé ia, Ataná sio e
Apó stolos. Ele nunca falhou em sua oposiçã o ao "modernismo"
teoló gico. Algumas de suas sá tiras mais acerosas sã o empregadas contra
ela, tanto em suas obras de icçã o quanto em obras expositivas. E tã o
ridı́culo, ele declara, acreditar que a Terra é plana quanto acreditar na
diluı́da teologia popular da Inglaterra moderna. Em The Screwtape
Letters, um grande emprego do pró prio inferno é encorajar os teó logos a
criar um novo “Jesus histó rico” em cada geraçã o. 23

De forma perplexa, no entanto, Lewis continuou a oscilar entre


exposiçõ es de “ortodoxia” e proclamaçõ es de preconceito protestante
residual. Por exemplo, ele a irma em uma ocasiã o que seus argumentos
sã o baseados em trê s suposiçõ es, a saber, "a divindade de Cristo, a
verdade dos credos e a autoridade da tradiçã o cristã "; 24 ainda, em
outra ocasiã o, ele escreveu para se opor aos movimentos na igreja
anglicana para incluir a veneraçã o dos santos dentro da prá tica
religiosa da Igreja da Inglaterra. “Milhares de membros da Igreja da
Inglaterra duvidam se dulia [a veneraçã o dos santos] é lı́cita”, escreveu
ele ao Church Times em 1952. 25 Onde, nesta “dú vida” estranhamente
nã o ortodoxa, estava a suposiçã o de Lewis da “verdade dos credos ”,
todos os quais incluem a necessidade da crença na“ comunhã o dos
santos ”, ou onde estava sua a irmaçã o na“ autoridade da tradiçã o
cristã ”que sempre venerou as almas no cé u? Algué m ica tentado, de
fato, a sugerir que a Screwtape and Company está pelo menos tã o
ocupada em criar um "Grande Divó rcio" entre a comunhã o dos santos
no cé u e a comunhã o dos supostos santos na terra quanto estã o
persuadindo teó logos modernistas a criar um novo "Jesus histó rico".
Na mesma carta ao Church Times em que ele duvidava da legalidade
de dulia , ele advertiu sobre os “terrı́veis riscos” de cisma dentro da
Igreja da Inglaterra, caso a veneraçã o dos santos fosse encorajada. A
melhor resposta à postura peculiar de Lewis em relaçã o à “legalidade”
de venerar os santos seria suas pró prias palavras de advertê ncia do
capı́tulo sobre “Esperança” no Cristianismo Mero. “Desde que os
cristã os em grande parte pararam de pensar no outro mundo, eles se
tornaram tã o ine icazes neste. Mire no cé u e você terá a terra “jogada
dentro”: mire na terra e você nã o conseguirá nenhum. ” 26
Se era perigoso venerar santos como santos, era seguro venerá -los
como escritores. Sã o Francisco de Sales foi, na avaliaçã o de Lewis, o
autor dos “ mais doces escritos religiosos” em prosa. 27 També m era
seguro admirar um santo antes de ele se tornar santo (ou, pelo menos,
antes de ser reconhecido como tal pela autoridade da Igreja), como era
o caso da amizade calorosa e frutı́fera de Lewis com Sã o Joã o da
Calá bria. , que foi canonizado pelo Papa Joã o Paulo II em 18 de abril de
1999. Escrevendo a Lewis em setembro de 1947, Don Giovanni Calabria
levantou o “problema” dos “irmã os dissidentes cujo retorno à unidade
do Corpo de Cristo, que é a Igreja , é muito desejado. ” 28 Isso deu inı́cio
a uma longa correspondê ncia entre Lewis e Calá bria, conduzida em
latim como a ú nica lı́ngua que eles tinham em comum, que durou até a
morte deste ú ltimo em 1954. “Se ao menos aquela 'Renascença' praga
que os humanistas trouxeram nã o tivesse destruído o latim , ”Lewis
escreveu para a Calá bria,“… ainda devemos ser capazes de nos
corresponder com toda a Europa ”. 29
A esperança da Calá bria era que Lewis “pudesse realizar algo de
maior importâ ncia na vinha do Senhor, para que, inalmente, pudesse
ser visto que 'há um rebanho e um Pastor'. ” 30 Se, no entanto, fosse o
desejo de Don Calabria que o pró prio Lewis fosse recebido na Igreja e
que, por meio de sua conversã o, muitos outros pudessem ser
conduzidos a“ um só redil ”, Lewis nã o estava disposto a obedecê -
lo. Ele nã o estava pronto para ser persuadido, ou orado, para a Igreja,
mesmo por um santo. “Nã o tenho certeza de que toda a causa do cisma
está no pecado”, Lewis respondeu a outra carta da Calá bria,
acrescentando que “discordamos sobre nada mais do que a autoridade
do Papa: de qual discordâ ncia quase todas as outras dependem . ” 31
Mais ou menos na é poca em que Lewis começou a se corresponder
com Giovanni Calabria, ele se envolveu em um debate acalorado com
outra cató lica, a professora Gertrude Elizabeth Anscombe, que é
principalmente lembrada na esfera dos estudos de Lewis como a ú nica
pessoa que se diz tê -lo derrotado em um debate aberto . Vinte anos
mais novo que Lewis, nascido em 1919, Anscombe se converteu ao
catolicismo quando adolescente. Ela era pesquisadora no Somerville
College, com apenas 28 anos, quando deu um artigo no Socratic Club
intitulado “Uma resposta ao argumento do Sr. CS Lewis de que o
'naturalismo' é auto-refutá vel”. Como resultado da linha de raciocı́nio
do professor Anscombe, Lewis alterou o capı́tulo trê s de seu
livro Milagres, que havia sido o objeto de sua crı́tica.
Alé m das discussõ es amigá veis de Lewis com santos padres
cató licos como Don Giovanni Calabria, ou seus argumentos sobre os
fundamentos da iloso ia com robustos iló sofos cató licos como o
professor Anscombe, permanece a natureza elusiva da pró pria posiçã o
de Lewis dentro do espectro teoló gico. Exatamente o quã o pró ximo ele
estava da posiçã o cató lica? Será que suas explosõ es ocasionais contra a
veneraçã o dos santos ou a primazia do Papa signi icam um vié s
protestante dominante, ou sua busca pela "ortodoxia" e seu
antagonismo em relaçã o ao modernismo, relativismo e outras formas
de Cristianismo e á gua sugerem um forte tendê ncia na direçã o do
cristianismo cató lico?
Talvez a melhor maneira de responder a essas perguntas seja
retornar aos sacramentos e considerar a atitude de Lewis em relaçã o a
eles. Já vimos que Lewis considerava os sacramentos do batismo e da
Sagrada Comunhã o elementos essenciais do “mero cristianismo”. Visto
que, no entanto, a Igreja Cató lica ensina que existem sete sacramentos,
a atitude de Lewis para com os outros cinco fornecerá evidê ncias
valiosas quanto à sua posiçã o.
Apesar do casamento polê mico de Lewis com Joy Gresham, nã o há
dú vida de que ele entendia o sacramento cristã o do casamento como
sendo obrigató rio perante Deus "até que a morte nos separe". Nã o há ,
portanto, nenhuma diferença signi icativa entre sua posiçã o e a da
Igreja Cató lica no que diz respeito a este sacramento particular. 32 O
mesmo poderia ser dito de sua atitude para com o sacramento da
con irmaçã o. Mais intrigante e surpreendente é a atitude de Lewis em
relaçã o à con issã o. “Vou fazer minha primeira con issã o na pró xima
semana”, Lewis informou à irmã Penelope em 24 de outubro de 1940 e,
depois disso, ele foi regularmente ao equivalente anglicano da
con issã o. 33 Escrevendo “Con issã o e absolviçã o” a outro
correspondente em janeiro de 1941, ele pediu-lhe que “lembrasse que
nã o é o psicanalista de novo; o confessor é o representante de Nosso
Senhor e declara Seu perdã o - seu conselho ou 'compreensã o' ... é de
importâ ncia secundá ria. ” 34 Doze anos depois, Lewis diferenciou entre
a visã o anglicana e a cató lica da con issã o:
Acho que nossa visã o o icial da Con issã o pode ser vista no formulá rio
para a Visitaçã o do Doente, onde diz: "Entã o o doente será movido (isto é ,
aconselhado, instigado) a fazer uma ... Con issã o ... se ele sentir sua
consciê ncia incomodado com qualquer assunto importante. ” Ou seja, onde
Roma torna a con issã o obrigató ria para todos, nó s a tornamos
permissı́vel para qualquer um; nã o “geralmente necessá rio”, mas lucrativo
... A enorme vantagem de vir realmente a acreditar no perdã o vale bem a
pena os horrores (concordo que sã o horrores) de uma primeira
Con issã o. Alé m disso, há o ganho de autoconhecimento ... Certamente,
sinto que tirei muito proveito dessa prá tica. 35

Apesar de diferenciar a maneira como os anglicanos percebiam a


con issã o e a maneira como o sacramento da penitê ncia é praticado na
Igreja Cató lica Romana, permanece o fato de que Lewis estava se
colocando em uma posiçã o altamente excê ntrica dentro de sua pró pria
igreja. Ao confessar-se, ele nã o estava apenas acima dos limites no que
se referia à s igrejas nã o-conformistas; ele també m estava participando
de uma prá tica que certamente era desaprovada pela maioria dos
membros da Igreja da Inglaterra. Em teoria, Lewis ainda era visto pelos
cristã os de todas as convicçõ es como um “mero cristã o”, fazendo com
que Tolkien se referisse a ele depreciativamente como “o teó logo de
todos os homens” 36 ; na prá tica, poré m, e em particular, ele estava se
entregando ao que seria considerado indubitavelmente e
“condenadamente” papista. També m é interessante notar que, em uma
carta a um correspondente americano escrita alguns meses apó s a
carta exaltando os benefı́cios da con issã o, ele se referia à Sagrada
Comunhã o descaradamente como "Missa", completa com a letra "M"
maiú scula ! 37 A linguagem e a prá tica da fé de Lewis certamente
percorreram um longo caminho desde as ruas da Puritâ nia ou de
Belfast protestante!
Tendo sucumbido a alguma forma de aparente cripto-catolicismo na
prá tica da con issã o e a alguma concepçã o da Sagrada Comunhã o como
sendo a Santa Missa, Lewis també m estava se aproximando de uma
compreensã o cató lica da natureza do sacerdó cio. Em julho de 1948,
Lewis escreveu a Dorothy Sayers sobre o assunto da ordenaçã o
feminina:
Acabo de chegar-me notı́cias de um movimento ... para exigir que as
mulheres devam ter permissã o para as ordens sacerdotais. Estou supondo
que, como eu, você desaprova algo que nos separaria de forma tã o
acentuada de todo o resto da cristandade, e que seria o pró prio triunfo do
que eles chamam de princı́pios "prá ticos" e "iluminados" sobre a
necessidade muito mais profunda que o Sacerdote no Altar deve
representar o Noivo para quem somos todos, em certo sentido,
femininos. Bem, se você izer isso, realmente acho que você terá que dar
lı́ngua. 38

A resposta de Sayers foi uma mistura de contradiçõ es, ao mesmo tempo


simpá tica e antipá tica à posiçã o de Lewis, que parecia ilustrar, ou
profetizar, o potencial explosivo de uma questã o que mais tarde
causaria tal turbulê ncia na igreja anglicana:
Obviamente, nada poderia ser mais tolo e impró prio do que erguer
uma barreira nova e totalmente desnecessá ria entre nó s e o resto da
cristandade cató lica. (Seria mais um vı́nculo do que o contrá rio com
algumas das Igrejas Livres, já que tende a enfatizar um ministé rio do
Evangelho ao invé s de um ministé rio dos Sacramentos e envolve uma
ruptura com a tradiçã o Apostó lica.)
Temo que você me ache um aliado incô modo. Nunca consigo
encontrar nenhuma razã o ló gica ou estritamente teoló gica para isso. Na
medida em que o sacerdote representa Cristo, é obviamente mais
dramaticamente apropriado que um homem seja, por assim dizer, escalado
para o papel. Mas se eu fosse encurralado e perguntado à queima-roupa se
o pró prio Cristo é o representante da humanidade masculina ou de toda a
humanidade, eu seria obrigado a responder "de toda a humanidade"; e para
citar a autoridade de Santo Agostinho para dizer que a mulher també m é
feita à imagem de Deus. 39

Em outras ocasiõ es, ao discutir a questã o da ordenaçã o feminina,


Sayers foi menos petulante. Ela disse a sua amiga Barbara Reynolds que
“considerando que Nosso Senhor teve a sabedoria de nascer como um
homem na é poca em que estava na terra, acho que provavelmente tudo
icou melhor como está ”. 40 No decorrer da ediçã o das cartas de Sayers,
Reynolds encontrou mais exemplos de sua oposiçã o à ordenaçã o de
mulheres: “Encontrei outras cartas nas quais ela disse de initivamente
que ... quando as igrejas agora estã o mostrando sinais de querer se
unir, isso é algo que alienará tanto a Igreja Cató lica Romana ... que nã o é
algo que eu gostaria de promover ”. 41 Esta opiniã o també m foi
expressa em sua carta a Lewis, embora fosse acompanhada de uma
recusa total de falar sobre o assunto: “Seria uma pena voar na cara de
todas as Igrejas Apostó licas, especialmente agora, quando estamos
inalmente tendo alguma perspectiva de entendimento com os
ortodoxos orientais, e assim por diante ... O má ximo que posso fazer é
manter silê ncio em qualquer lugar onde as ilhas dos ilisteus possam
me ouvir. ” 42
Para Lewis, o silê ncio foi ensurdecedor, forçando-o com relutâ ncia a
abordar o assunto sozinho. Pouco depois de receber a rejeiçã o de
Sayers, ele escreveu um artigo intitulado “Sacerdotisas na Igreja?” 43 O
tom de Lewis era incomumente apologé tico, possivelmente devido ao
medo de ser acusado de misoginia, que estava na raiz de seu desejo de
que uma mulher tivesse escrito o artigo. Possivelmente com a resposta
de Sayers em mente, ele enfatizou que “ningué m entre aqueles que nã o
gostam da proposta está sustentando que as mulheres sã o menos
capazes do que os homens de piedade, zelo, aprendizagem e tudo o
mais que pareça necessá rio para o ofı́cio pastoral”. Se as mulheres
podiam pregar tã o bem quanto os homens, perguntou Lewis, por que
nã o poderiam fazer “todo o resto da obra de um sacerdote”? A resposta
que Lewis deu a tal pergunta estava enraizada em uma concepçã o
cató lica da natureza do sacerdó cio: “Começamos a sentir que o que
realmente nos separa de nossos oponentes é uma diferença entre o
signi icado que eles e nó s damos à palavra ' padre.' ”Em linha com o
ensino da Igreja Cató lica, Lewis acreditava que o sacerdó cio nã o era
apenas mais um“ trabalho ”, mas uma vocaçã o mı́stica, de natureza
sacramental, que havia sido pré -ordenada pelo pró prio Deus como uma
funçã o masculina como a maternidade havia sido pré -ordenado como
uma funçã o feminina. A maternidade era eternamente feminina; o
sacerdó cio era eternamente masculino:
Os inovadores estã o realmente sugerindo que o sexo é algo
super icial, irrelevante para a vida espiritual ... Um dos ins para os
quais o sexo foi criado era simbolizar para nó s as coisas ocultas de
Deus. Uma das funçõ es do casamento humano é expressar a natureza
da uniã o entre Cristo e a Igreja. Nã o temos autoridade para pegar as
iguras vivas e seminais que Deus pintou na tela de nossa natureza e
movê -las como se fossem meras iguras geomé tricas.
Isso é o que o bom senso chama de "mı́stico". Exatamente. A Igreja
a irma ser portadora de revelaçã o. Se essa a irmaçã o for falsa, nã o
queremos fazer sacerdotisas, mas abolir os sacerdotes. 44

A medida que Lewis se aproximava do im de sua vida, há poucas


dú vidas de que ele estava continuando a ascensã o em direçã o aos
princı́pios da “Alta Igreja” do anglo-catolicismo. També m há pouca
dú vida de que a ascensã o foi causada por seu assentimento aos
princı́pios verdadeiramente cató licos que representavam nã o
meramente, mas mais cristianismo.

10

A MERE E A MIRE
Ainda resta muito do Ulster em CSL, embora escondido de si mesmo
—JRR Tolkien 1

eu

N SEUS livros inais, Lewis voltou à in luê ncia poderosa de Dante, o


escritor cató lico por excelê ncia que foi uma fonte de inspiraçã o ao
longo de sua carreira literá ria. A Grief Observed, inspirado
principalmente e mais fortemente pela morte de sua esposa em julho
de 1960, també m foi inspirado pela visã o de Dante do inferno e alé m. “A
estrutura disso”, Lewis explicou a Walter Hooper, “é baseada na Divina
Comédia de Dante . Você desce e desce e desce. Entã o, como em Dante,
quando você atinge o fundo e passa pela cintura de Lú cifer,
você sobe em defesa da bondade de Deus. ” 2 Em seu ú ltimo
livro, Letters to Malcolm, Lewis proclamou que “o paraı́so de Dante é
tã o certo, e o de Milton, com sua disciplina militar, é tã o bobo”. 3 Ele
també m empregou Dante como um antı́doto para "o ambiente da igreja
'baixa' em que cresci." Tendo lembrado que seu avô costumava dizer
que "esperava ter algumas conversas muito interessantes com Sã o
Paulo quando ele chegasse ao cé u", Lewis comentou sobre a
absurdidade do cená rio assim imaginado: "Dois cavalheiros clericais
conversando à vontade em um clube!" Nunca parece ter passado pela
cabeça de seu avô que “um encontro com Sã o Paulo pode ser uma
experiê ncia avassaladora, mesmo para um clé rigo evangé lico de boa
famı́lia. Mas quando Dante viu os grandes apó stolos no cé u, eles o
afetaram como montanhas . ” 4
O efeito mais ó bvio da in luê ncia persistente de Dante nas pá ginas
de Cartas a Malcolm emerge na reiteraçã o de Lewis de sua crença no
purgató rio. “E claro que rezo pelos mortos”, a irma categoricamente,
descrevendo suas oraçõ es pelos amigos falecidos como
“espontâ neas”. Ele mal sabia como o resto de suas oraçõ es
sobreviveriam "se aqueles pelos mortos fossem proibidos". “Na nossa
idade, a maioria das pessoas que mais amamos está morta. Que tipo de
relaçã o com Deus eu poderia ter se o que eu mais amo nã o pudesse ser
mencionado por Ele? ” 5 Nesta conjuntura, considerando a injunçã o de
Lewis contra a veneraçã o dos santos, é tentador perguntar por que
Deus tornaria aqueles que Ele ama os melhores nã o mencioná veis para
Ele!
Como de costume, Lewis nã o pode anunciar sua crença em uma
doutrina "papista" sem atacar os "papistas". Ele pode estar rejeitando o
protestantismo e aceitando uma doutrina "papista" apó s a outra, mas
ele nã o toleraria ser chamado de "romano". Assim, depois de a irmar
descaradamente que "Eu acredito no Purgató rio", ele defende os
Reformadores por lançar dú vidas sobre "a doutrina romanista sobre o
Purgató rio". “Se você passar do Purgatório de Dante para o sé culo XVI,
icará horrorizado com a degradaçã o”, a irma. Enquanto Dante tinha a
visã o correta do purgató rio, escritores “romanistas” posteriores, como
Saint Thomas More e Saint John Fisher enfatizaram a “puniçã o
retributiva” do purgató rio, nã o sua “puri icaçã o”. Independentemente
de saber se a crı́tica de Lewis a More e Fisher é justi icada, sua ló gica é
lamentavelmente errada. Os “reformadores” nã o questionaram se a
visã o de Dante sobre o purgató rio estava correta, enquanto as de More
e Fisher estavam erradas; eles simplesmente rejeitaram a pró pria
existê ncia do purgató rio. Lewis está defendendo aqueles que jogaram o
bebê fora com a á gua do banho com base no fato de que aqueles que
foram anteriormente encarregados de cuidar do bebê nã o conseguiram
mantê -lo tã o limpo quanto deveriam.
A “visã o correta” do purgató rio “retorna magni icamente” no Sonho
de Gerôncio de Newman , Lewis continua. O Sonho de Newman mostra a
alma salva implorando para ser retirada e puri icada, restabelecendo a
pureza purgativa do purgató rio. “A religiã o reivindicou o Purgató rio”,
Lewis proclama triunfante. Qual “religiã o”, algué m se pergunta? Nem os
protestantes, nem os anglicanos. Os cató licos, por outro lado, nunca o
rejeitaram em primeiro lugar, entã o nã o precisaram reclamar o que
nunca estivera fora de sua posse. A qual “religiã o”, portanto, Lewis está
se referindo? Seu pró prio? Lewis está cometendo o erro inal, de acordo
com seus pró prios crité rios, ao escolher as doutrinas de que gosta,
assim como um homem em um supermercado seleciona produtos nas
prateleiras? Ele está inventando uma religiã o do tipo faça você mesmo
para atender à s suas pró prias preferê ncias? Nesse caso, ele é diferente
dos modernistas que critica? Na verdade, é irô nico que Lewis tenha
escrito em outro lugar em Cartas a Malcolm sobre os perigos de tal
escolha e escolha para se adequar a si mesmo: “Deixado por conta
pró pria, algué m poderia facilmente deslizar para longe da 'fé uma vez
concedida' para um fantasma chamado 'minha religiã o. ' ” 6
Certamente Newman nã o acreditava que sua "visã o correta" tivesse
reivindicado o purgató rio para a "religiã o". Pelo contrá rio, ele
acreditava que a “visã o correta” da religiã o o havia reivindicado. Ele
aceitou a “visã o correta” do purgató rio e a autoridade da religiã o que o
proclamou como doutrina. Ao contrá rio de Lewis, Newman viu a ló gica
de sua posiçã o teoló gica. Ele respondeu iliando-se à Igreja de Dante,
More e Fisher. Newman aderiu à Fé dos Padres; Lewis agarrou-se
obstinadamente, mas sem acreditar, à fé de seu avô . Newman fez uma
genu lexã o perante a Autoridade e seu Autor; Lewis prostrou-se diante
das tradiçõ es de sua famı́lia e seus preconceitos, nã o mais acreditando
no que eles acreditavam, mas sem vontade ou incapaz de romper com
eles. Em ú ltima aná lise, esta é a realidade tragicô mica por trá s do
compromisso meramente cristã o de Lewis.
Em julho de 1963, trê s meses apó s terminar de escrever Cartas a
Malcolm, Lewis sofreu um ataque cardı́aco e entrou em
coma. Acreditando que ele estava morrendo, seus amigos anglo-
cató licos arranjaram para que um clé rigo anglicano administrasse a
extrema unçã o, ou os ú ltimos ritos, o sacramento da unçã o com ó leo
quando um paciente está em situação extrema . Uma vez que pode ser
seguramente presumido que os amigos de Lewis sabiam que teria sido
seu desejo receber o equivalente anglo-cató lico dos ú ltimos ritos, isso
pode ser considerado como a aceitaçã o de Lewis do sé timo e ú ltimo
sacramento da Igreja Cató lica.
Para a surpresa de todos, Lewis acordou do coma e teve uma
recuperaçã o parcial, embora de curta duraçã o. “Eu fui
inesperadamente reanimado de um longo coma”, Lewis informou à
irmã Penelope, “e talvez as oraçõ es quase contı́nuas de minhas amigas
tenham feito isso - mas aconteceria. tem sido uma passagem
luxuosamente fá cil, e quase se arrepende de ter a porta fechada na cara
... Ser trazido de volta e ter tudo o que se estava morrendo de novo foi
bastante difı́cil. ” Evidentemente, ele nã o esperava esperar muito antes
de ter sua “vontade de morrer de novo”, porque suas palavras para a
irmã Penelope transmitiam a sensaçã o de que ele estava se despedindo
e se despedindo de um velho amigo: “Quando você morrer, e se 'a
prisã o visitar 'é permitido, desça e me procure no Purgató rio. ” 7
Durante sua doença inal, Lewis foi visitado por Tolkien, o que,
considerando sua amizade, nã o foi surpreendente. Foi, no entanto, um
pouco surpreendente que Tolkien trouxesse seu ilho, o Padre John
Tolkien, um padre cató lico, com ele. Considerando o desapontamento
freqü entemente expresso de Tolkien por Lewis nunca ter se convertido
ao catolicismo, e sua crença de que a alma de Lewis poderia estar em
perigo se ele falhasse em fazê -lo antes de sua morte, é difı́cil ver o fato
de ele estar acompanhado de seu ilho como outra coisa que nã o uma
ilustraçã o de sua esperança de que Lewis, inalmente, pediria para ser
recebido na Igreja Cató lica. Lewis, no entanto, nã o mostrou nenhuma
inclinaçã o ó bvia para se converter e os dois amigos e o padre passaram
o tempo discutindo a Morte d'Arthur. 8
Lewis morreu em 22 de novembro de 1963. Duas semanas depois,
uma carta de um padre jesuı́ta, o padre Guy Brinkworth, publicada
no Tablet, sugeria que Lewis, durante a dé cada de 1940, havia chegado
perto da conversã o.
Nas cartas que recebi dele, ele repetidamente pedia especi icamente
oraçõ es para que Deus lhe desse “a luz e a graça para fazer o gesto
inal”. Ele chegou ao ponto de pedir em um pó s-escrito a uma de suas
cartas "oraçõ es para que os preconceitos instilados em mim por uma
enfermeira do Ulster pudessem ser superados". 9

Infelizmente, quando, dezessete anos depois, Christopher Derrick,


durante o curso de sua pesquisa para C. S. Lewis e a Igreja de
Roma, pediu para ver essas cartas, o padre Brinkworth as havia
perdido. Hesita-se em sugerir qualquer desonestidade por parte do
padre Brinkworth, entã o talvez seja mais seguro, na caridade, presumir
que Lewis estava de fato considerando a conversã o durante os anos
1940. De qualquer forma, Lewis nunca fez o “gesto inal” e, pelo menos
até certo ponto, os preconceitos instilados pela enfermeira do Ulster
prevaleceram. Sendo assim, talvez seja apropriado examinar um pouco
mais de perto a conexã o de Belfast. Até que ponto o senso e a
sensibilidade de Lewis foram comprometidos pelo orgulho e
preconceito?
Escrevendo em The Month in May 1964, seis meses apó s a morte de
Lewis e logo apó s a publicaçã o pó stuma de Letters to Malcolm, George
Scott-Moncrieff, poeta, romancista e nacionalista escocê s, escreveu
que Lewis, em seu ú ltimo livro, estava "preocupado ... com ... tirando o
protesto do protestantismo ”. O problema, é claro, nã o foi tanto até que
ponto Lewis teve sucesso em tirar o protesto do protestantismo, mas
até que ponto ele falhou em tirar o protestantismo de si mesmo. Scott-
Moncrieff estava, no entanto, em melhor posiçã o do que a maioria para
julgar a luta em Lewis entre bom senso e sensibilidade, de um lado, e
orgulho e preconceito, do outro. Como um convertido ao catolicismo de
uma origem fortemente protestante, suas pró prias experiê ncias se
assemelharam à s de Lewis em um grau notá vel. Nascido em 1910, ele
era o segundo ilho do reverendo CW Scott-Moncrieff, ministro da
Igreja da Escó cia. Seus avó s eram presbiterianos e seus ancestrais
covenanters, embora seu tio Charles Scott-Moncrieff, o tradutor de
Proust, Pirandello e Stendhal, tivesse quebrado a tradiçã o familiar ao se
converter ao catolicismo quando seu sobrinho ainda era criança. Scott-
Moncrieff, como Lewis, embebeu a retó rica “sem papado” com o leite
de sua mã e. Ele compartilhava o “pavor sobrenatural” do catolicismo
ao qual George Mackay Brown, outro literá rio convertido ao
catolicismo, se referiu em seu conto “O Tarn e o Rosá rio”. 10 Mackay
Brown lembrou quando criança que “havia algo sinistro na pró pria
palavra cató lico; todas as palavras agrupadas sobre ele - rosá rio, papa,
con issã o, relı́quias, purgató rio, monges, penitê ncia - tinham as
mesmas conotaçõ es sinistras. ” 11 Scott-Moncrieff relembrou, quando
era um jovem de 25 anos, testemunhando um motim anticató lico em
Edimburgo:
Lembro-me amargamente do horror de ver seres humanos, em sua
maioria adolescentes e mulheres de semblante decepcionante,
possuı́dos alé m do alcance da razã o, gritando e correndo, prontos
para o assassinato, sobre o carro em que o arcebispo Andrew Joseph
Macdonald dirigiu até a Câ mara Municipal. ... Isso era “protesto” e,
como tal, era da gê nese do protestantismo. Tudo o que o
protestantismo reteve do cristianismo ... parecia-me, entã o, existir
em distinçã o apenas como uma negaçã o, um protesto contra algo
que parecia nem mesmo querer compreender ...
Nã o fui a ú nica testemunha protestante daquelas cenas horrı́veis no
verã o de 1935 que, em poucos anos, deixou de ser protestante, tendo
progressivamente descoberto o quanto da histó ria do meu paı́s era mero
mito. 12
Se esse grau de ó dio e intolerâ ncia podia existir nas Orcadas da infâ ncia
de Mackay Brown ou nas reminiscê ncias de Edimburgo de Scott-
Moncrieff, quanto mais isso foi um fator na psicologia formativa
daqueles com raı́zes na protestante Belfast? Fazer tal pergunta é
absolutamente necessá rio para qualquer compreensã o de por que
Lewis falhou, onde Mackay Brown e Scott-Moncrieff tiveram sucesso,
em superar os preconceitos da infâ ncia. Infelizmente, fazer tal pergunta
nã o é o mesmo que respondê -la. Há , no entanto, pistas a serem colhidas
da vida de Lewis e seu irmã o, Warnie, que lançam alguma luz sobre a
sombra da Puritâ nia e seu lugar remanescente em suas respectivas
psiques.
De acordo com Christopher Derrick, 13 Warnie Lewis, em “algum
momento do inı́cio dos anos 1950” estava prestes a fazer o “gesto inal”
ele mesmo. Sofrendo de alcoolismo, ele se viu, nã o pela primeira vez, se
recuperando sob os cuidados das freiras irlandesas no Hospital Our
Lady of Lourdes em Drogheda, County Louth, na Repú blica da
Irlanda. “Nesta ocasiã o em particular ... ele se sentiu motivado a
implementar um antigo ataque ao catolicismo e realmente embarcou
no processo de 'instruçã o', preparató rio para ser recebido na Igreja
Cató lica Romana.” Assim que seu irmã o soube que ele estava prestes a
sucumbir à s seduçõ es da “Mulher Escarlate”, ele correu para a Irlanda
para resgatá -lo de suas garras. Em seus esforços para dissuadir Warnie
de sua intençã o, Lewis envolveu-se “em um longo debate com o padre
local, um debate no qual (de acordo com Warren) Jack foi
completamente derrotado”. Apesar de aparentemente nã o ter sido
questionado sobre seu desejo de conversã o, Warnie se permitiu ser
"coagido a um retorno imediato à Inglaterra".
A questã o é que aqui, bem tarde em sua vida, vemos Lewis tratando o
catolicismo como um destino do qual seu pobre irmã o precisava ser
resgatado. Naquela crise, ele parecia ter agido mais como um neto de
Hamilton de Belfast do que como amigo de Tolkien e amante de Dante. 14

A fonte desta histó ria, citada por Derrick, é que se tratava de


“informaçõ es recebidas, atravé s de George Sayer, de Warren Lewis”. Em
outras palavras, a fonte é a proverbial “boca de cavalo”, embora duas
vezes removida. E pelo menos possı́vel que a memó ria de George Sayer
estivesse com defeito. Compare, por exemplo, o relato dado por Derrick
com a entrada no diá rio de Warnie de 30 de junho de 1947, que nã o foi
publicado até 1982, um ano apó s o livro de Derrick e, portanto,
presumivelmente, desconhecido para ele:
Na sexta-feira, dia 20, percebi que era um homem muito doente e, pela
primeira vez, de certa forma demonstrei bom senso; [procurou o mé dico
local, que me internou no Hospital Convento Nossa Senhora de Lourdes
em Drogheda. ... Rack] cheguei, ansioso e manchado de viagem, na segunda-
feira de manhã , e vê -lo me fez mais bem do que qualquer remé dio. (…) A
partir desse momento, comecei a me curar rapidamente e, embora ainda
esteja fraca e trê mula, estou obviamente curada graças a Deus e à s Irmã s
das Missioná rias Mé dicas de Maria. Uma vez convalescente, comecei a ter
um grande interesse pelo meu entorno. Para o protestante - ou pelo menos
para mim - sempre houve algo sinistro, um pouco repulsivo, quase ogro, na
prá tica da religiã o RC. Pelo que eu tinha idé ia de um convento, era de algo
cinza e secreto, com mulheres de rostos tristes deslizando
silenciosamente; raramente falando e nunca sorrindo, espionando e
espionado. Nã o poderia haver nada mais absurdamente diferente da
verdade: a primeira coisa que impressiona é a felicidade radiante dessas
mulheres santas e muito amá veis, desde Madre Mary Martin, sua
superiora, até a noviça mais jovem: seja o que for, é uma vida de alegria e
um lugar de riso. A medida que os fui conhecendo melhor e lhes dei as
minhas ideias preconcebidas de vida conventual, explodiram numa alegria
deliciosa ... Nã o esquecerei tã o cedo ou facilmente esta pequena fortaleza
do feliz e valente cristianismo. O ú nico enfadonho era o padre Quin, o
capelã o, que vinha ao meu quarto e tentava me converter em uma oraçã o
de cena: alé m disso, ele era um homem do Co. Tyrone, e eu nã o poderia
explicar a ele que ele tinha a lı́ngua de homens e anjos, seria ridiculamente
impossı́vel para mim ser convertido por algué m que falasse com sotaque
do Ulster! Encontrando J tomando chá comigo uma tarde, ele o abordou,
mas aqui é claro que ele pegou um tá rtaro; o seu ponto principal, se o
compreendi, parece-me absurdo a honra de “Nossa Senhora” como mã e
de Deus . 15
Embora Derrick a irme que o "resgate" de Lewis de seu irmã o da
tentaçã o de conversã o foi durante uma estadia subsequente de
convalescença no convento, há paralelos su icientes na entrada do
diá rio de Warnie para 1947 para levantar a possibilidade, pelo menos,
de uma memó ria falha em Parte de Sayer. Vemos os preconceitos de
Warnie sendo confrontados pelo santo exemplo das freiras, mas nã o
vemos a tentaçã o de nos converter; vemos uma discussã o entre Lewis e
o padre da paró quia, embora nenhuma sugestã o de que Lewis foi
"derrotado".
Há també m uma outra possı́vel incongruê ncia no relato de
Derrick. Se algué m deve aceitar sua versã o como verdadeira, o que
fazer com as crı́ticas posteriores de Warnie Lewis contra a Igreja
Cató lica e sua batida no tambor laranja do Ulster? No dia 12 de julho de
1969, por exemplo, chafurdando na pompa e nas circunstâ ncias do
orgulho e preconceito protestante do Ulster, Warnie escreveu sobre seu
sentimento de a inidade com o fanatismo de sua cidade natal, Belfast:
Hoje é o maior dia do calendá rio para nó s, povo do Ulster, o aniversá rio da
Batalha de Boyne em 1690, quando Guilherme III e seus homens do Ulster
derrotaram Jaime II e seus sulistas - e é de fato algo para comemorar, pois
se tivé ssemos perdido terı́amos nos oferecido a alternativa de nos
tornarmos cató licos romanos ou sermos enforcados. Por direito, eu
deveria ter um lı́rio laranja na minha casa de botã o esta manhã , mas eles
nã o parecem crescer por aqui. 16

Alguns meses antes, ele havia escrito a outro correspondente que,


embora fosse "totalmente a favor da colaboraçã o mais estreita entre as
vá rias igrejas", ele nã o queria "diluir a fé ". Visto que "uniã o sem tal
diluiçã o" era impossı́vel, ele adotou uma visã o sectá ria, a saber, que "a
comunhã o administrada por qualquer pessoa que nã o fosse um
sacerdote ordenado de minha pró pria igreja nã o seria um sacramento
de forma alguma." 17 Assim, partindo do pressuposto de que a histó ria
sobre seu desejo anterior de conversã o é verdadeira, Warnie se
metamorfoseou de algué m que queria se tornar um cató lico em algué m
que acreditava que os sacramentos da Igreja Cató lica nem mesmo eram
vá lidos!
Tendo assumido a posiçã o sectá ria, se suas palavras forem
tomadas ao pé da letra, de que a igreja anglicana é a ú nica igreja
verdadeira, Warnie parecia singularmente desconfortá vel como
membro dela. “Nã o simpatizo com todas as formas de Igreja Baixa, se
nã o por outra razã o, entã o por causa de seu ó dio faná tico à Cruz; e
quanto aos anglo-cató licos, eles me parecem mais royaliste que
roi, mais romanos do que os romanos. ” 18
O mais chocante de tudo foram as palavras de Warnie sobre a
situaçã o no Ulster em agosto de 1969, logo apó s a recorrê ncia dos
“Problemas” que se agravariam de forma tã o trá gica nos anos que se
seguiram.
Sim, meu pobre Ulster está passando por uma fase ruim, mas já vi muitos
antes. A tragé dia é que protestantes e cató licos ... nascem se odiando. Eu
sou a 3ª geraçã o do Ulster do lado do meu pai e da minha mã e, da 5ª; Moro
fora do Ulster há cinquenta anos: e outra noite, quando vi na televisã o os
meninos protestantes marchando e ouvi a banda tocando “The Boyne
Water”, senti como se pudesse lançar uma bomba com o melhor deles. E
claro que eu disse uma oraçã o instantâ nea de perdã o, mas se eu puder
reagir assim, imagine como devem ser as bochechas e bochechas vivas e
incultas de seus vizinhos detestá veis! Um negó cio muito triste. 19

Claro, seria perverso atribuir as opiniõ es de Warnies à s de seu


irmã o, mas, considerando que somos levados a acreditar que, pelo
menos em um ponto, Warnie estava muito mais perto de Roma do que
Lewis, suas palavras podem ser mais indicativas da intuiçã o de ambos
os homens do que poderı́amos suspeitar. Certamente, a estranha
esquizofrenia cismá tica que está presente em um grau tã o alarmante
nas cartas de Warnie estava presente, embora de forma mais moderada,
em grande parte da confusa eclesiologia de Lewis també m.
Em uma carta recentemente descoberta por George Sayer para
Dame Felicitas Corrigan, 44 Sayer parece con irmar a crença de Tolkien
de que Lewis nunca conseguiu se livrar de seus preconceitos
protestantes do Ulster:
Ele [Lewis] nunca se recuperou de sua atitude NI Prot [isto é , protestante
da Irlanda do Norte] para com Nossa Senhora. Seu avô Hamilton, o vigá rio
local de Belfast, era violentamente anti-RC [isto é , cató lico romano]. Mas
Tolkien em uma carta para mim (ainda nã o publicada) escreveu: “Eu
atribuo tudo o que há de beleza e bondade em meu trabalho à in luê ncia da
Santa Mã e de Deus.” 45

A triste verdade é que Lewis, no que diz respeito ao Ulster


protestante, nunca conseguiu imitar o exemplo de George
ScottMoncrieff, no que diz respeito à Escó cia. Enquanto Scott-Moncrieff
havia “descoberto progressivamente quanto da histó ria do meu paı́s era
mero mito”, a escravidã o de Lewis ao “mero cristianismo” foi um
produto de sua escravidã o ao “mito mito” de Orange Ulster. Visto que a
opçã o “papista” era impensá vel para um protestante do Ulster, “mero
cristianismo” foi o esforço de Lewis para escapar do atoleiro do
modernismo sem se submeter à “Igreja de Roma”. Infelizmente, poré m,
e ironicamente, o compromisso meramente cristã o o colocaria em uma
posiçã o cada vez mais comprometedora. A medida que a lama do
modernismo avançava implacavelmente dentro da igreja anglicana, CS
Lewis, o protestante mais “cató lico” que o protestante de Belfast já
havia produzido, se encontrava cada vez mais isolado como um cató lico
“protestante” dentro da comunhã o anglicana. O teó logo de todos os
homens se encontraria na terra de ningué m. O mero se encontraria na
lama.

11

MIRE CHRISTIANITY
Os modernistas me parecem um perigo muito maior para o
cristianismo do que os ateus.
- Carta para Miss Breckenridge (1960) 1

Uma teologia que nega a historicidade de quase tudo nos Evangelhos


aos quais a vida, as afeiçõ es e o pensamento cristã os estã o presos
por quase dois milê nios ... se oferecida ao homem inculto, pode
produzir apenas um ou outro de dois efeitos. Isso o tornará um
cató lico romano ou ateu.
—Fern Seed and Elephants (1959) 2

eu

N SEU artigo “Sacerdotisas na Igreja?”, Lewis alertou sobre os perigos


prá ticos da ordenaçã o feminina. Alé m de suas objeçõ es de princı́pio a
tal movimento, ele advertiu seus companheiros anglicanos que a
ordenaçã o de mulheres teria consequê ncias de longo alcance: "nos
isolarmos" do passado cristã o e alargar as divisõ es entre nó s e outras
Igrejas, estabelecendo uma ordem de sacerdotisas em nosso meio
seria um grau quase arbitrá rio de imprudê ncia. E a pró pria Igreja da
Inglaterra seria despedaçada pela operaçã o. ” 3 Walter Hooper
descreveu essas palavras como “extraordinariamente profé ticas”, 4 e há
poucas dú vidas de que a questã o provou ser uma força explosivamente
divisora dentro da Igreja da Inglaterra nos quarenta anos desde a morte
de Lewis. A questã o em si era, entretanto, meramente sintomá tica de
um problema mais prevalente dentro da comunhã o anglicana - a
debilitante doença teoló gica do modernismo.
Lewis escreveu em 1960 que os modernistas eram "um perigo
muito maior para o cristianismo do que os ateus", uma crença que se
re letia em sua descriçã o sardô nica de modernistas como o Sr. Broad
em The Pilgrim's Regress e o fantasma do bispo obstinadamente nã o
dogmá tico em O Grande Divórcio. Esses personagens també m eram
“extraordinariamente profé ticos”, no sentido de que se encarnariam em
uma nova proliferaçã o de teó logos e bispos modernistas dentro da
Igreja da Inglaterra.
Em 1963, quando Lewis entrou em sua doença inal, a publicaçã o
de Honest to God pelo duvidoso Bispo de Woolwich, JAT Robinson, deve
ter elevado o espectro do Modernismo Ascendente ao enfermo
Lewis. Se o cristianismo signi icasse algo no futuro para mais do que
"um minú sculo remanescente religioso", argumentou o bispo, teria que
aprender uma nova linguagem em que "as categorias mais
fundamentais de nossa teologia, do sobrenatural e da religiã o em si -
deve ir para o caldeirã o. ” Ele sugeriu que o Cristianismo precisava de
uma "Revoluçã o Copernicana" na qual "o Deus da teologia tradicional"
deve ser abandonado "em qualquer forma". 5
Quando Lewis icou sabendo do notá vel sucesso de Honest to
God, um fenô meno editorial - o livro venderia quase um milhã o de
có pias em trê s anos -, ele pode ter sentido que estava realmente sendo
assombrado por uma de suas pró prias criaçõ es literá rias. O onipresente
Bispo de Woolwich era a sombra do Sr. Broad ou o fantasma do
incré dulo Bispo do Grande Divórcio que, nas “fé rias do Inferno”, tinha
vindo para atormentá -lo em seus ú ltimos dias?
As diferenças entre Lewis e o bispo de Woolwich foram discutidas
saliente e sucintamente por Adrian Hastings em sua História do
Cristianismo Inglês. “Neste [ Honesto com Deus ] , como em vá rios de
seus outros livros, John Robinson foi, sem dú vida, o escritor mais e icaz
da literatura religiosa popular desde CS Lewis, embora em muitos
aspectos o oposto de Lewis. Ambos foram altamente
persuasivos. Lewis estava ... descon iado da modernidade, nã o
querendo permitir que a menor partı́cula da doutrina tradicional fosse
jogada ao mar sem ser examinada. Robinson estava ... aparentemente
disposto a desmitologizar quase tudo de que a modernidade pudesse
suspeitar. ” 6
Descartando Robinson com um desprezo humorı́stico como "O
Bispo de Woolworth", 7 Lewis, no entanto, viu o perigo que ele
representava, ao mesmo tempo que se recusava a ser arrastado para a
contrové rsia em torno do livro. “Pre iro icar longe do livro do Bispo
Robinson”, escreveu Lewis em 22 de abril de 1963. “Acho difı́cil
escrever sobre tal homem com caridade, nem quero aumentar a
publicidade.” 8 E de se perguntar, entretanto, se Lewis começou a
perceber no best-seller de Robinson, Honest to God, seu pró prio
inimigo. Seus pró prios poderes estavam diminuindo; O Bispo Robinson
estava crescendo. Talvez ele tenha visto no “Bispo de Woolworth” a
forma horrı́vel das coisas por vir.
Já em 1945, Lewis havia alertado sobre os perigos do modernismo,
a lama do Cristianismo que era o inimigo mais mortal do “mero
Cristianismo”. “Um Cristianismo 'liberal' que se considera livre para
alterar a fé sempre que a fé parece perplexa ou repulsiva deve estar
completamente estagnado.” 9 O mero estava, portanto, ameaçado e em
perigo de afundar na lama. Essas palavras de Lewis, indubitavelmente
verdadeiras em si mesmas, foram uma reiteraçã o da ré plica
antimodernista de Chesterton de que nã o precisá vamos de uma Igreja
que se movesse com o mundo, mas de uma Igreja que movesse o
mundo. As palavras eram mais problemá ticas, entretanto, quando
vistas dentro do contexto da pró pria posiçã o singularmente “mera
cristã ” de Lewis. Embora, por exemplo, ele ocasionalmente colocasse
representaçõ es alegó ricas de “modernistas” modernos no inferno, ele
sempre nã o estava disposto a criticar aqueles “modernistas” durante a
Reforma que se sentiam “livres para alterar a fé ” porque a fé parecia
desconcertante e repelente. Essa pergunta desconcertante veio à tona
pouco antes da morte de Lewis, quando um agente literá rio e um editor
propô s que um livro sobre heresias fosse encomendado. Lewis foi
consultado e deu sua aprovaçã o ao projeto; no entanto, curiosamente,
ele procurou limitar o escopo do livro. “Uma limitaçã o, digamos até
1400, seria um bom plano, de modo que possa permanecer um livro de
fatos histó ricos e nã o se tornar controverso?” 10 Comentando essas
palavras, Christopher Derrick escreveu que Lewis “claramente queria
que o perı́odo da Reforma fosse excluı́do ... como se 'heresia' fosse uma
questã o de fato histó rico antes desse perı́odo, mas durante e apó s esse
perı́odo, um assunto lamentavelmente controverso sobre o qual seria
melhor icar em silê ncio. ” 11 Em essê ncia, Lewis estava declarando que
apenas heresias “mortas” deveriam ser escritas porque, estando
mortas, elas estavam seguras; as heresias vivas, aquelas decorrentes
das diferenças da Reforma, deveriam ser evitadas porque, estando
vivas, eram perigosas. Assim, o perigo permanece incontestá vel e,
presumivelmente, é deixado para prosperar. Considere, por exemplo, a
recusa de Lewis em ser arrastado para o debate sobre o modernismo
de Honesto com Deus. Recusando-se a comentar o livro do Bispo
Robinson, Lewis escreveu: “Grande parte da minha utilidade depende
de eu ter icado fora de todas as brigas de cã es entre escolas professas
de pensamento 'cristã o'. Pre iro preservar essa abstinê ncia até o im.
” 12 Nessas circunstâ ncias, a aceitaçã o tá cita dos limites do mero
cristianismo torna-se um obstá culo à guerra efetiva contra o erro. O
mero realmente se torna o lamaçal.
No que diz respeito à posiçã o atual do “mero cristianismo” de
Lewis, quarenta anos apó s sua morte, pode-se ver que seu lugar dentro
da igreja anglicana se tornou extremamente tê nue. A posteridade
mostrou que a guerra pelo coraçã o do anglicanismo entre o “mero
cristianismo” de Lewis e o “cristianismo da lama” do modernismo
resultou no triunfo deste ú ltimo.
Felizmente, talvez, Lewis morreu trinta anos antes de seus temores
sobre a ordenaçã o de mulheres se tornarem realidade. O "grau quase
arbitrá rio de imprudê ncia" de "estabelecer uma ordem de sacerdotisas
em nosso meio" se materializou e, como Lewis previu, a Igreja da
Inglaterra foi "despedaçada pela operaçã o". Uma vez que a igreja
anglicana decidiu se desligar do passado cristã o tornando o sacerdó cio
apenas mais um "trabalho" e nã o uma funçã o masculina pré -ordenada
instituı́da por Cristo, onde isso deixa o anglicanismo no contexto da
de iniçã o de Lewis de "mero Cristandade"? Tendo se movido tanto na
direçã o modernista desde a morte de Lewis, o anglicanismo se tornou
algo menos do que “meramente cristã o”? Se sim, onde estaria Lewis em
relaçã o à igreja anglicana se ele estivesse vivo hoje? Talvez isso seja
de initivamente irrespondı́vel, mas, mesmo assim, permanece uma
questã o perfeitamente pertinente.
A questã o certamente despertou a especulaçã o maliciosa do amigo
de Lewis, Christopher Derrick. Em 1996, Derrick re letiu sobre a
prová vel reaçã o de Lewis à vitó ria dos modernistas na Igreja da
Inglaterra.
Corria o boato de que ele havia aparecido ou que era um jesuı́ta
disfarçado ... literatos que se tornaram cató licos foi um fenô meno, e a
conversã o de Lewis pareceu prová vel para alguns, mas ... nã o acho
que ele gostaria de ter visto o seu pró prio infalibilidade desa iada
por outro Papa.
… E difı́cil imaginar o que ele faria com a Igreja da Inglaterra de
hoje. A Igreja da Inglaterra é um fantasma tã o paté tico hoje em dia ... Você
nã o pode concordar ou discordar dela. Nã o há nada aqui. 13

A imagem de Derrick da Igreja da Inglaterra como um “fantasma


paté tico” é particularmente potente. Algué m imagina Lewis retornando
ao Grande Divórcio, apó s sua morte real, e encontrando o fantasma do
bispo incré dulo pela segunda vez. Desta vez, no entanto, ele descobre
que o fantasma de alma cé tica nã o representa meramente um bispo
imaginá rio heré tico, nem mesmo o fantasma real do "Bispo de
Woolworth"; ele descobre, para seu horror, que representa a pró pria
igreja anglicana. O que, por exemplo, Lewis teria pensado do livro
recente do bispo anglicano de Oxford que critica a suposiçã o
“ultrapassada e chauvinista” de que Deus é um homem? Era necessá rio,
escreveu o reverendo Richard Harries, a im de encorajar uma maior
compreensã o das necessidades das mulheres, para “alterar nossa
linguagem e imagem mental de Deus”. Cristo pode ser visto "como
mã e" e o Espı́rito Santo "como feminino". Ann Widdicombe, uma
polı́tica britâ nica sê nior que deixou a Igreja da Inglaterra para se tornar
cató lica romana, respondeu ao feminismo do bispo de uma maneira
que se imagina que Lewis teria aprovado: “Acho que o bispo deveria se
lembrar que o pró prio Jesus se referiu a Deus Pai . Nã o tenho tempo
para discussõ es como essa, que simplesmente esvaziam os bancos
”. 14 Felizmente, sabemos exatamente como Lewis teria respondido ao
atual Bispo de Oxford porque, em agosto de 1948, ele havia escrito:
Suponha que o reformador pare de dizer que uma boa mulher pode ser
como Deus e comece dizendo que Deus é como uma boa mulher. Suponha
que ele diga que podemos tã o bem orar a "Nossa Mã e que está s no Cé u"
quanto a "Nosso Pai". Suponha que ele sugira que a Encarnaçã o pode
muito bem ter assumido uma forma feminina como uma masculina, e a
Segunda Pessoa da Trindade ser tã o chamada de Filha quanto de
Filho. Suponha, inalmente, que o casamento mı́stico fosse revertido, que a
Igreja fosse o Noivo e Cristo a Noiva. Tudo isso, ao que me parece, está
envolvido na a irmaçã o de que uma mulher pode representar Deus como
um sacerdote o faz. Ora, é certo que, se todas essas suposiçõ es algum dia
fossem levadas a efeito, deverı́amos ter embarcado em uma religiã o
diferente. 15

Acreditando na palavra de Lewis, parece que o anglicanismo nã o


está meramente afundando no reino do Cristianismo atoleiro, está
afundando completamente sob o Cristianismo em uma nova religiã o
sub-cristã - uma nova religiã o na qual os padres sã o substituı́dos por
sacerdotisas, e Deus, por uma deusa.
E claro que se pode argumentar que o bispo de Oxford é apenas
uma excentricidade bastante excê ntrica dentro da Igreja da Inglaterra e
que suas opiniõ es nã o precisam ser levadas muito a
sé rio. Presumivelmente, nã o se poderia desprezar tanto o Arcebispo de
Canterbury, o membro mais antigo da hierarquia anglicana e, pelo
menos em teoria, aquele que fala com maior autoridade. No inı́cio de
agosto de 2002, Rowan Williams, o novo arcebispo, tornou-se
o icialmente um druida, signi icando pelo menos uma conformidade
tá cita com o neopaganismo que os druidas modernos representam.
Ainda mais escandaloso foi o resultado de uma pesquisa com dois
mil clé rigos anglicanos realizada apenas uma semana antes de seu
membro mais antigo se tornar um druida. A pesquisa revelou que um
terço dos clé rigos da Igreja da Inglaterra nã o acredita na ressurreiçã o
de Cristo e que apenas metade acreditava no nascimento virginal. A
pesquisa també m revelou que as sacerdotisas eram mais propensas a
serem descrentes do que suas contrapartes masculinas, com apenas
um terço das entrevistadas professando a crença no nascimento
virginal. Embora um porta-voz de um grupo chamado Cost of
Conscience descreveu os resultados da pesquisa como "um escâ ndalo",
um representante da Modern Churchperson's Union observou que ela
simplesmente ilustrou que a igreja precisava "reavaliar" suas doutrinas
"em face de cada vez mais congregaçõ es educadas. ” 16 Novamente,
ouve-se ecos do bispo incré dulo de O Grande Divórcio, que pode ser
denominado o Fantasma do Passado do Modernismo, na presença da
“Uniã o da Igreja Moderna” representando o Espı́rito do Modernismo
Presente. Pode-se imaginar o Sr. Broad, de The Pilgrim's Regress, como
o “porta-voz” o icial da Modern Churchperson's Union (o pró prio nome
justi ica a atençã o alegó rica de Lewis ou, melhor ainda, o ridı́culo
satı́rico de Waugh). Considerando que o porta-voz do Churchpersons
havia falado arrogantemente de "reavaliar" a doutrina com base na
presunçã o preconceituosa de que as congregaçõ es "educadas
modernas" sabiam melhor do que seus ancestrais primitivos,
atrasados, bá rbaros e, o mais condená vel de todos, "incultos", o Sr.
Broad falou do “perigo muito real” de tornar as doutrinas “muito
de inidas” e do fardo de estar “acorrentado à s fó rmulas dos mortos”:
“Nã o digo que nã o fossem adequadas uma vez: mas deixaram de ser
adequadas para nó s com nosso conhecimento mais amplo.
” 17 També m se nota o fantasma do Bispo Incré dulo balançando a
cabeça sabiamente e citando seu artigo sobre a imaturidade de
Cristo. “Que cristianismo diferente poderı́amos ter se apenas o
Fundador tivesse atingido sua estatura total!” ele medita. 18 “Ou se Ele
fosse Ela”, interrompe a Igreja Moderna. "Ou um homossexual. ..."
Suspiros profundos em toda a volta. O que o Cristianismo poderia ter
sido se Deus tivesse sido mais educado ...
Talvez nã o seja surpreendente que o “mero cristianismo” de Lewis
esteja agora fora de moda na Igreja da Inglaterra. Isso nos traz de volta
à "questã o pertinente". Onde exatamente CS Lewis estaria se ele
estivesse vivo hoje? Russell Kirk, um iló sofo polı́tico americano, foi
questionado em uma conferê ncia em Seattle em 1990 se ele acreditava
que “TS Eliot e CS Lewis teriam permanecido na Igreja da Inglaterra se
estivessem vivos hoje”. Kirk respondeu que achava isso "extremamente
imprová vel para os dois, mas particularmente para Eliot". 19 O
julgamento de Kirk é compartilhado por Walter Hooper, amigo de
Lewis e defensor mais leal. Questionado em 1994 “se Lewis teria se
tornado cató lico se tivesse vivido mais”, Hooper respondeu:
Acho que sim ... Um dos ú ltimos artigos que ele escreveu foi para
seminaristas anglicanos em Cambridge. E naquele conhecido jornal -
chamado Fern-seed and Elephants ele aponta que, se eles continuarem a
falar aquele tipo de liberalismo que eles estavam falando - e cada vez mais
agora - ele disse que seus leitores e ouvintes deixariam o Anglicano igreja
e se tornar ateus ou cató licos romanos, eu acho que ele provavelmente
teria que se incluir naquele grupo. O que você faz quando, de fato, a igreja
anglicana se torna apó stata - como realmente se tornou agora? Muito
antes de o Vaticano nos dar o documento Inter insigniores em 1976, que é
a declaraçã o sobre a ordenaçã o de mulheres ao sacerdó cio, Lewis havia
escrito sobre o assunto. ... [H] sã o argumentos sobre a posiçã o do
sacerdote no lugar de Cristo ... sã o quase exatamente aqueles que você
encontra no documento do Vaticano. Mas eu enfatizaria o fato de que seu
ponto principal era que se você continuasse a falar sobre, digamos, Deus
Pai, como uma "ela", e se você tivesse a mulher ordenada, seria difı́cil
resistir a essa tendê ncia, e entã o você terá que mudar de religiã o ... E entã o,
pode ser que se você descobrir que sua religiã o acabou de mudar, o que
mais você pode fazer a nã o ser ir onde a fé ainda é cristã ? 20

Walter Hooper foi um clé rigo anglicano até sua conversã o ao


catolicismo em 1988, principalmente por causa da questã o das
sacerdotisas. Pode-se, portanto, argumentar que, como um devoto leal
de Lewis e de seu legado, ele mesmo é a personi icaçã o da posiçã o de
Lewis projetada no futuro, quarenta anos apó s a morte de seu mentor.
Nã o podemos saber com certeza o que Lewis teria feito se tivesse
vivido para ver o triunfo do modernismo na Igreja da Inglaterra e a
derrota do "mero Cristianismo". Nã o há dú vida, entretanto, de que ele
se sentiria estranhamente deslocado na igreja anglicana de
hoje. També m nã o há dú vida de que a igreja anglicana de hoje o vê
como uma parte um tanto embaraçosa de seu passado nã o esclarecido e
reacioná rio. A verdade sé ria é que, mesmo que Lewis nã o tivesse
escolhido deixar a Igreja da Inglaterra, a Igreja da Inglaterra optou por
deixá -lo. Se for assim, quem ainda está lendo os livros de CS Lewis? Se
nã o os anglicanos, quem é o responsá vel por sua popularidade
contı́nua? Walter Hooper, como executor literá rio do espó lio de CS
Lewis, é mais quali icado do que qualquer outra pessoa para responder
a essa pergunta:
Posso dizer com absoluta con iança que cada vez mais cató licos estã o
comprando seus livros agora porque a maioria das traduçõ es que vi nos
ú ltimos anos ... vieram de paı́ses cató licos. Em muitos casos, sã o os
editores cató licos que traduzem Lewis, como na Itá lia. O mesmo acontece
na Espanha, onde as traduçõ es sã o obra do Opus Dei - portanto, sabemos
que os cató licos as lê em em grande nú mero em todo o mundo. E claro que
sabemos que há muitos protestantes que lê em Lewis, mas acho que houve
uma mudança desde que ele morreu, na medida em que ele é muito lido
pelos protestantes evangé licos e cada vez menos pelos liberais. Nã o acho
que você descobriria que, como muitos anglicanos comuns lê em para ele e
nã o anglicanos liberais, eles nã o o leriam. Fiquei surpreso ao ver o que
costumava ser uma revista muito anglo-cató lica da Amé rica agora dizendo
"por que nó s lemos Lewis, ele é muito doutriná rio, ele é muito cató lico
romano para nó s agora." Mas ainda existem muitos protestantes por aı́,
neste paı́s, nos Estados Unidos e em muitos outros paı́ses, que admiram
Lewis pela mesma razã o que os cató licos. Eles sã o sobrenaturalistas e
precisam dele como seu aliado nesta batalha. Lewis disse em Mero
Christianity que o Cristianismo é uma religiã o combativa e parece que
apenas os protestantes evangé licos e os cató licos estã o dispostos a sujar as
mã os e lutar. Mas a batalha deve ter muitos soldados porque o nú mero de
livros de Lewis que sã o lidos hoje é muito maior do que qualquer coisa
que aconteceu em sua pró pria vida. 21

Lewis, ao que parece, foi abandonado por sua pró pria igreja, mas
abraçado por cató licos e protestantes evangé licos. E, portanto, um
pouco irô nico que seu “mero cristianismo”, pretendido como
uma via mídia ou base do cristianismo tradicional, seja abraçado por
duas tradiçõ es teoló gicas tã o diversas. Visto que Lewis insistia nos
sacramentos e no Credo como sendo partes necessá rias do “mero
Cristianismo”, é claro que os protestantes tê m que ir alé m de suas
pró prias crenças se quiserem abraçar plenamente as crenças de
Lewis. Para se tornarem “meros cristã os”, no sentido de Lewis, eles
precisam se tornar mais cristã os. Os cató licos, por outro lado,
enfrentam a ausê ncia no “mero cristianismo” de Lewis de certas
doutrinas que sã o centrais para a fé ensinada pela Igreja. Em outras
palavras, para um cató lico iel, o “mero cristianismo” de Lewis é
de iciente; é menos cristã o do que a Igreja.
Tanto para a posiçã o de protestantes e cató licos em relaçã o ao
"mero cristianismo"; e a posiçã o do pró prio Lewis em relaçã o a
isso? “Espero que nenhum leitor suponha que o 'mero' cristianismo
seja aqui apresentado como uma alternativa aos credos das
comunhõ es existentes”, escreveu ele na conclusã o do prefá cio de Mero
Cristianismo. Nã o é um lar, muito menos um Lar, mas apenas um meio
de encontrar o caminho para o Lar. Para usar a analogia especı́ ica de
Lewis, poderia ser comparado a "um corredor de onde as portas se
abrem para vá rias salas." O dever de todo aquele que chega ao corredor
é descobrir qual é a verdadeira sala: “E, acima de tudo, deves perguntar
qual é a porta verdadeira; nã o o que mais lhe agrada por sua pintura e
painé is. ” 22
A vida, portanto, é a Busca pela Verdadeira Porta que leva a pessoa
ao Verdadeiro Lar.
Lewis claramente acreditava que havia encontrado seu verdadeiro
lar no anglicanismo. No entanto, postumamente, ele icou sem-teto. Ele
nã o pertence ao quarto que ele acreditava ser o verdadeiro. Ele nã o é
bem-vindo lá . Onde entã o ele pertence? Onde ica sua casa? O Lar
De initivo está , é claro, com Deus no paraı́so; até ou a menos que
cheguemos a esse Lar, permaneceremos no exı́lio. Talvez, entretanto,
considerando que Lewis parece ter escolhido a porta errada, nã o é
muito fantasioso sugerir que ele terá que encontrar seu caminho para o
paraı́so atravé s do purgató rio. Tal sugestã o di icilmente é crı́tica,
considerando que Lewis, algumas semanas antes de morrer, havia
escrito caprichosamente e melancolicamente para a irmã Penelope que
ela deveria “me procurar no purgató rio”. Lewis claramente esperava ir
para lá .
Talvez Lewis pudesse vir a perceber, como parte de sua purgaçã o,
que a igreja anglicana nunca foi a verdadeira sala que ele acreditava
ser. Talvez, alé m das terras de sombra, ele seja exposto apenas como
uma ilusã o parafusada. Tendo profanado os “coros em ruı́nas onde
tarde os doces pá ssaros cantavam”, 23 a Igreja da Inglaterra pode
parecer aos olhos recé m-abertos de Lewis como “uma varanda
separada”. 24 afundando lentamente nos pâ ntanos do atoleiro
"Cristianismo".
As palavras inais nã o sã o minhas nem de Lewis, mas de Maurice
Baring. Intitulado “Vita Nuova” e escrito apó s a recepçã o de Baring na
Igreja Cató lica em 1909, eles servem tanto como um epitá io para Lewis
quanto como um epı́logo para meu livro sobre seu relacionamento
conturbado com a Igreja. Mais importante de tudo, eles servem como
uma epifania da nova vida que aguarda a alma iel “depois deste nosso
exı́lio”…
Um dia ouvi um sussurro: “Por que esperar?
Por que icar em uma varanda separada?
Por que alimentar a luz bruxuleante de uma tocha
cortada?
O fogo está lá , aceso alé m do portã o.
Por que tremer, alma tola? Por que hesitar?
Por mais fraca que seja a batida, ela será ouvida. "
Eu bati, e rapidamente veio a palavra de resposta,
O que me mandou entrar em minha pró pria
propriedade.
Eu me encontrei em um lugar familiar;
E lá minha alma quebrada começou a se curar;
Eu conhecia o sorriso de cada rosto há muito perdido -
Aqueles que eu tinha esquecido lembraram-se de mim;
Eu me ajoelhei, eu sabia - estava muito claro para ver -
As boas-vindas de um rei que era meu amigo.

APENDICE

CS LEWIS E CONVERSOS CATÓLICOS

T
ELE GRANDE convertido literá rio americano, Walker Percy,
comentando sobre os numerosos convertidos que chegaram ao
catolicismo atravé s dos escritos de CS Lewis, observou que "escritores
que se poderia esperar, de Tomá s de Aquino a Merton", sã o
mencionados frequentemente como in luê ncias ", mas adivinhe quem
aparece com mais frequê ncia? CS Lewis! —Que, se ele nã o conseguiu
chegar até o im, certamente entregou uma boa equipe. ” 1 Aqui está
uma visã o geral de alguns da “boa equipe” a quem Percy alude, aqueles
que foram in luenciados em seus caminhos para Roma por CS
Lewis. Como o presente autor deve sua pró pria conversã o, em parte, à s
obras e sabedoria de Lewis, é grati icante saber que ele é apenas um
dos muitos a quem Lewis liderou rumo a Roma.
Começando com proeminentes convertidos britâ nicos, o mais
famoso é o capitã o do grupo Leonard Cheshire , que alcançou a
posiçã o nú mero 31 em uma pesquisa da BBC em 2002 para encontrar
os 100 maiores britâ nicos de todos os tempos. Ele també m foi listado
em 1993 como um dos "20 cristã os proeminentes do sé culo XX", ao
lado de Joã o Paulo II, Dorothy Day, Thomas Merton, Simone Weil, Oscar
Romero, Edith Stein, Martin Luther King, Billy Graham, Dietrich
Bonhoeffer, Padre Pio, Albert Schweitzer, Desmond Tutu, Joã o XXIII,
Teilhard de Chardin, Jackie Pullinger, Charles de Foucauld, Malcolm
Muggeridge, Madre Teresa e, por ú ltimo, mas nã o menos importante,
CS Lewis. 2
O capitã o do grupo Cheshire é mais conhecido como o comandante
destemido do famoso esquadrã o “Dam Busters” durante a Segunda
Guerra Mundial, mais tarde o tema de um ilme premiado estrelado por
Richard Todd e Michael Redgrave. Ele recebeu a Victoria Cross, a mais
alta honraria militar concedida pelo monarca britâ nico aos membros
das forças armadas da Comunidade Britâ nica, por sua excepcional
bravura diante do inimigo. Ele també m foi o observador o icial
britâ nico do lançamento da bomba atô mica em Nagasaki em 1945.
Este evento, juntamente com a experiê ncia geral de guerra nos seis
anos anteriores, o levou a um profundo ceticismo sobre o futuro da
civilizaçã o moderna. Foi nesse estado de espı́rito e coraçã o que
Cheshire se sentiu receptivo à s obras dos apologistas cristã os,
incluindo os de Lewis, cujas palestras transmitidas pela BBC estavam
sendo publicadas naquela é poca. Lutando com o problema do mal e do
pecado, ele icou particularmente impressionado com The Screwtape
Letters, que ele descreveu como "uma boa introduçã o à Fé " e como
"muito convincente": "[R] e lendo The Screwtape Letters , eu poderia me
vejo nele e em muitas das coisas pelas quais passei. ” 3
Cheshire foi recebido na Igreja Cató lica na vé spera de Natal de
1948. Pelo resto de sua vida, até sua morte em 1992, ele seria um
trabalhador incansá vel de caridade, especialmente em favor dos
de icientes, e com sua esposa, Sue Ryder, també m convertido, com
quem se casou em 1959, ele estabeleceria algumas das instituiçõ es de
caridade mais conhecidas e bem-sucedidas do Reino Unido.
Um antigo convertido ao catolicismo sob a in luê ncia benigna de
Lewis foi Allan Grif iths, mais tarde Dom Bede Grif iths, OSB . Lewis e
Grif iths realmente contribuı́ram para a conversã o um do outro, tanto
que Lewis considerou Grif iths seu “companheiro principal” no
caminho para o Cristianismo. 4
Lewis relembrou em uma de suas cartas que Grif iths tinha sido
"todo bagunçado com naturalismo, DH Lawrence e assim por diante",
quando ele chegou pela primeira vez como estudante de graduaçã o no
Magdalen College em 1925. 5 Lewis foi o tutor de Grif iths, tornando-se
um importante in luê ncia em seu aluno, embora nã o, a princı́pio, na
direçã o do cristianismo. “Lewis era naquela é poca nã o mais cristã o do
que eu”, escreveu Grif iths, “mas ele havia passado pela mesma fase de
romantismo que eu estava passando, e havia alcançado uma iloso ia
de vida mais racional”. 6
No inı́cio de 1930, Lewis estava se referindo a Grif iths como "meu
amigo e ex-aluno" e estava escrevendo para ele longas cartas "sobre
assuntos ilosó icos". 7 Foi uma discussã o ilosó ica entre Grif iths,
Lewis e seu amigo comum, Owen Bar ield, que se revelaria
fundamental para aproximar Lewis do Cristianismo. Estava claro nesta
fase de suas respectivas viagens que o ex-aluno havia saı́do da sombra
de seu mestre e estava preparado para fazer o seu pró prio caminho
para a conversã o. A principal in luê ncia na abordagem inal de Grif iths
a Roma foi John Henry Newman. Grif iths seguiria uma vocaçã o
religiosa com os beneditinos, acabando por se estabelecer na India e
ser autor de muitos livros. Pouco antes de sua morte em 1993, uma
equipe de ilmagem australiana concluiu A Human Search , um ilme
sobre sua vida.
Outro dos ex-alunos de Lewis a seguir o caminho para Roma
foi George Sayer . No prefá cio de sua excelente biogra ia de Lewis,
Sayer relembrou seu primeiro encontro com seu novo tutor. Os dois
homens discutiram poesia e descobriram um amor comum pela Balada
do Cavalo Branco de Chesterton , que Lewis declamava com
gosto. Assim como Grif iths, Sayer se tornaria um amigo valioso e
con iá vel. Ele foi um dos relativamente poucos alunos que Lewis
convidou para sua casa. Anos mais tarde, depois que Sayer se tornou
um mestre em inglê s no Malvern College, Lewis o visitava com
frequê ncia, fazendo longas caminhadas com ele nas colinas de Malvern.
Sayer era ateu ao chegar a Oxford em 1933 e nã o é irracional
presumir que Lewis, que abraçou o cristianismo menos de dois anos
antes, in luenciou seu aluno na direçã o da fé cristã . Como aconteceu
com Grif ith, entretanto, Sayer começou a sentir a atraçã o do
catolicismo e foi recebido na Igreja em 1935, quando ainda era aluno de
Lewis. De acordo com Walter Hooper, era "quase certo" Sayer a quem
Lewis se referia em uma carta a Grif iths em janeiro de 1936:
“Neo-Escolá stica” tornou-se uma moda entre estudantes ignorantes que
estou farto de como isso soa. Um homem que era ateu há dois mandatos e
admitido na sua Igreja no ú ltimo semestre, e que nunca tinha lido uma
palavra de iloso ia, vem me pedir que leia a Summa e me oferece um
exemplar! 8

Outro graduado em Oxford que se converteu sob a in luê ncia de


Lewis foi Meriol Trevor , autor de quase quarenta romances, bem
como biogra ias de Joã o XXIII, Jaime II e Sã o Filipe Neri. Sua biogra ia
em dois volumes de John Henry Newman foi particularmente aclamada,
ganhando o Prê mio James Tait Black Memorial de Biogra ia em 1962.
Nascida em 1919 em Londres, Trevor já havia repudiado o
cristianismo quando chegou a Oxford, onde se formou em grandes
nomes em 1942. Foi principalmente por meio da leitura de CS Lewis
que ela se tornou cristã . Apó s a guerra, ela morou por um ano na regiã o
de Abruzzo, na Itá lia central, experimentando uma cultura cató lica
indı́gena pela primeira vez. Essa experiê ncia positiva a conduziu à
Igreja, na qual ingressou em 1950. Apó s sua morte em janeiro de 2000,
uma redatora do jornal britâ nico Guardian , prestando homenagem ao
seu trabalho, a irmou que as histó rias de seus ilhos “costumavam ter
mais sucesso em transmitir os princı́pios da fé cristã atravé s de um
formato de fantasia do que a icçã o de CS Lewis ”, 9 uma avaliaçã o
lisonjeira com a qual poucos provavelmente concordariam.
Embora a premiada biogra ia de Newman em dois volumes de
Meriol Trevor seja altamente respeitada, sua realizaçã o como estudiosa
de Newman foi eclipsada pela do pe. Ian Ker , autor de mais de vinte
livros sobre Newman, incluindo a biogra ia de initiva geralmente
reconhecida publicada pela Oxford University Press em 1990, no
centená rio da morte de Newman.
As vidas desses dois estudiosos de Newman sã o paralelas em vá rios
aspectos signi icativos. Como Trevor, embora cerca de vinte anos
depois, Ker foi para a Universidade de Oxford depois de repudiar o
cristianismo com o qual foi criado. Ele parou de frequentar a igreja apó s
sua chegada a Oxford, mas, enquanto era estudante de graduaçã o, caiu
sob a in luê ncia de Lewis, especialmente dos livros de Lewis, Surprised
by Joy and Mere Christianity . Como Trevor, ele teve uma experiê ncia de
conversã o na Itá lia, que o trouxe de volta à prá tica de sua fé
anglicana. Sua conversã o inal ao catolicismo seria in luenciada por sua
leitura contı́nua das obras de Lewis:
Pareceu-me que ou você segue a linha de que Cristo é de fato Deus, ou um
homem mau, como Lewis argumenta ... no Mero Cristianismo . E parecia-
me que o mesmo acontecia com o papado. Eu nã o conseguia ver como os
anglo-cató licos poderiam evitar o papado… Ou o Papa é o Vigá rio de
Cristo ou ele é o Anticristo…. Você nã o poderia assumir uma posiçã o
intermediá ria. Isso me pareceu totalmente irreal, porque o Papa fez certas
reivindicaçõ es e sua Igreja fez reivindicaçõ es por ele e estas tiveram que
ser levadas a sé rio. 10

Tendo seguido sua vocaçã o ao sacerdó cio, pe. Ker iria ensinar
teologia em universidades tanto na Grã -Bretanha quanto nos Estados
Unidos. Ele foi por um tempo capelã o cató lico da Universidade de
Oxford e agora é membro da Faculdade de Teologia da Universidade de
Oxford e é Pesquisador Sê nior da Blackfriars em Oxford.
Como o padre Ker, John Redford foi criado como anglicano,
abandonou a prá tica de sua fé quando era adolescente e voltou ao
anglicanismo depois de ler as obras de Lewis. Depois de se tornar
diá cono na Igreja da Inglaterra, ele se converteu ao catolicismo e foi
posteriormente ordenado ao sacerdó cio. Atualmente é professor de
Teologia das Escrituras e Revelaçã o e diretor dos programas de pó s-
graduaçã o em teologia e apologé tica do Instituto Maryvale em
Birmingham. Como foi o caso do Padre Ker, o argumento “louco, mau ou
Deus” empregado por Lewis em Mero Cristianismo foi fundamental na
conversã o do Padre Redford. Este aspecto-chave do pensamento de
Lewis foi central para o argumento do livro do Padre Redford, Bad, Mad
or God ?: Provando a Divindade de Cristo do Evangelho de São
João (2004) e també m foi parte integrante de seu pequeno livro, The
Truth About Jesus , publicado em 2006 para refutar o absurdo e o
exagero em torno de O Código Da Vinci . Neste ú ltimo livro, o Padre
Redford resume a persuasã o do argumento de Lewis:
O que convenceu [CS Lewis] sobre a verdade da fé cristã foi o
seguinte argumento, que ele chamou de “Mau, Louco ou
Deus?”. Jesus a irmou ser Deus, Lewis disse ... Se ele a irmasse isso,
você nã o poderia entender que ele era apenas um bom homem. Se
ele fez tal a irmaçã o estupenda, ele teve que ser mau, um
enganador; ou ele tinha que estar louco, como aqueles pacientes
infelizes em um hospital psiquiá trico que tê m delı́rios de grandeza.
Mas, argumenta Lewis, os Evangelhos nos mostram um homem
que nã o é mau nem louco. Pelo contrá rio, todos concordam que
Jesus de Nazaré era sá bio e sã o. Alé m disso, Lewis disse, se Deus
deseja nos dar uma revelaçã o para crer, um Deus que se tornou
homem, essa pessoa teria que fazer atos poderosos para provar suas
credenciais; como andar sobre as á guas e alimentar cinco mil
pessoas com cinco pã es e dois peixes; alé m de ser moralmente
bom. Isso é precisamente o que encontramos nos relatos dos
Evangelhos.
Depois de estudar os quatro Evangelhos por uma vida inteira, eu
aceito esse argumento. 11

Um dos mais imprová veis convertidos a ser ajudado por Lewis em


seu caminho para Roma foi o economista alemã o EF Schumacher , que
se tornou conhecido em todo o mundo no inı́cio dos anos 70 como o
autor do best-seller internacional Small Is Beautiful . Schumacher foi
in luenciado por santos cató licos, como Tomá s de Aquino, Agostinho,
Teresa de Avila e Joã o da Cruz, e por uma sé rie de escritores cató licos,
incluindo Dante, GK Chesterton, Jacques Maritain, Etienne Gilson e FC
Copleston. Sua weltanschauung foi transformada pelas encı́clicas sociais
de uma sucessã o de papas modernos, particularmente Leã o XIII, Pio XI,
Joã o XXIII e Paulo VI. Houve, no entanto, dois nã o cató licos muito
signi icativos que cutucaram Schumacher na direçã o da conversã o. A
primeira foi Dorothy L. Sayers, cujos escritos sobre a Divina Comédia
de Dante ajudaram a remodelar a compreensã o de Schumacher sobre a
natureza do homem; o segundo era CS Lewis, cujos livros eram uma
parte valiosa de sua biblioteca pessoal e que sua ilha lembrava como
algué m que seu pai admirava.
Trê s proeminentes jornalistas britâ nicos que se aproximaram do
catolicismo atravé s da leitura de Lewis, e que posteriormente se
converteram, foram William Oddie , ex-editor do Catholic
Herald , David Quinn , ex-editor do Irish Catholic , e Michael Coren ,
um conhecido Apresentador de talk show de TV e rá dio e colunista
regular de jornal no Canadá , para onde se mudou de sua Inglaterra
natal em 1987. Entre os livros publicados de Coren estã o biogra ias de
Lewis, Tolkien e Chesterton.
“Minha conversã o à Igreja ocorreu em etapas, culminando em
1985”, escreveu Coren. “Aos seis anos de idade, iquei maravilhada e
encantada enquanto uma professora lia O Leão, a Feiticeira e o
Guarda - Roupa para minha classe. Corri para casa e pedi à minha mã e
que comprasse o livro para mim. Ela o fez, eu li e estou convencido de
que as sementes da minha fé foram plantadas naquele momento. Levei
mais vinte anos para eu encontrar a coragem de caminhar por Ná rnia e
nadar atravé s do Tibre, mas a jornada sempre foi inevitá vel. ” 12 Coren
está convencido de que Lewis esteve muito perto do Tibre em seus
ú ltimos anos, sem nunca ter mergulhado em suas á guas promissoras:
“Meu grande amigo Walter Hooper, secretá rio de Lewis no im de sua
vida, sempre insiste que Jack foi efetivamente cató lico em seus ú ltimos
anos, embora nã o fosse formalmente um membro da Igreja. Acho que
isso é inevitá vel quando você entende genuinamente sua teologia e seu
desenvolvimento. Uma das muitas maravilhas de sua escrita é que, por
nã o ser considerado cató lico pela maioria dos evangé licos, eles ainda o
lê em; depois disso, eles se aproximam cada vez mais da Igreja e, entã o,
tomam a decisã o inal ”. 13
Tendo cruzado o Atlâ ntico com Michael Coren, é hora de mover-se
ao sul da fronteira com o Canadá para ver alguns dos mais conhecidos
cató licos americanos que nadaram no Tibre, tendo sido instigados a
fazê -lo atravé s das obras de Lewis.
Al Kresta , que, como Coren, é um apresentador de talk show de
rá dio experiente, relembra o papel de Lewis em sua pró pria conversã o:
Eu encontrei Lewis pela primeira vez em 1973, quando estava na
Michigan State University e sob a in luê ncia da “Nova Era” de Edna,
uma harpista idosa e Beulah, a grande avó de uma multidã o. Ambos
canalizaram mensagens dos Mestres Ascensionados, seres radiantes
e poderosos que governaram a evoluçã o espiritual da raça humana
de reinos superiores de consciê ncia. Nó s chelas , isto é , discı́pulos,
trabalhamos para puri icar nossos desejos, viver asceticamente e
alcançar a liberaçã o de nosso dé bito cá rmico. Depois de muitas
reencarnaçõ es, subirı́amos para a companhia desses Mestres. Eu vivi
a disciplina e li centenas de seus ditados canalizados; ainda assim,
nã o me encontrei mais perto da divindade. Pior, seus ditados eram
clichê s, insı́pidos e repetitivos. Nossos Mestres podem ter levantado
seus corpos desta terra, mas eles nunca iriam subir alé m de um D +
em qualquer aula de escrita criativa.
Encontrei Lewis em seu ensaio intitulado "Homem ou
Coelho?" Irritado, eu disse: "Que pergunta estú pida." Em seguida, sua
primeira linha perguntou: "Você nã o pode levar uma vida boa sem
acreditar no Cristianismo?" Essa foi uma boa pergunta. Eu ansiava
por reconciliar as instruçõ es dos Mestres Ascencionados nã o-
cristã os com o Cristianismo. Mas todas as religiõ es nã o poderiam ser
“uma”, como ensinaram os Mestres, se alguns lı́deres espirituais
fossem legitimamente apelidados de “falsos profetas”, como Lewis
ensinou. Mais tarde, seu “trilema” argumentou que Jesus era Deus
em carne humana, nã o apenas um dos muitos mestres
ascensionados. Era necessá rio um Salvador, escreveu ele, contra os
Mestres, que instavam todos a descobrir sua pró pria divindade. Os
Mestres menosprezaram a razã o. Lewis, no entanto, exerceu coragem
intelectual e enfrentou todas as objeçõ es. Alé m disso, as palavras de
Lewis abraçaram a realidade com uma simplicidade, clareza e cores
que eram sá bias, nã o meramente piedosas. Tendo uma vez pensado
que as verdades espirituais eram puramente subjetivas e alé m da
discussã o racional, eu me alegrei com a apresentaçã o racional de
Lewis. O cristianismo era iel ao modo como as coisas sã o, bom nã o
apenas pragmá tico, belo nã o apenas utilitá rio e verdadeiro nã o
apenas consolador.
Em março de 1974, principalmente por meio de Lewis, minha
lealdade inalmente mudou do Jesus da Nova Era para o Jesus do
Novo Testamento. Mais tarde naquele ano, enquanto eu estava
inconscientemente engajado na lectio divina , debruçado sobre
o Cristianismo Mero de Lewis e o Diário de uma Alma do Papa Joã o
XXIII , eu “ouvi” uma diretiva interior acompanhada por uma paz
avassaladora: “Divulgue a Fé ”. Por quarenta anos, este comando tem
guiado minha vida, trabalho, casamento e famı́lia, nã o perfeitamente,
mas verdadeiramente. O fato de Lewis e o Papa estarem envolvidos
desde o inı́cio me diverte e me fortalece.
“Mero Cristianismo” ainda nos convida a curar a comunidade cristã
quebrada por meio de uma visã o sacramental e litú rgica da vida. Lewis
respeitou a beleza da santidade expressa no Livro Anglicano de Oraçã o
Comum. Sem ele, provavelmente teria permanecido identi icado com o
evangelicalismo da igreja mais pragmá tico e baixo que me cercou quando
jovem. Na providê ncia de Deus, no entanto, o “ Mero Cristianismo ”
de Lewis loresceu em pe. “ More Christianity ” de Dwight
Longenecker . Sem o "mero", eu nunca poderia ter recuperado o
"mais". Lewis me formou como cristã o. Sua visã o geral, entretanto, achei
mais iel e concretamente incorporada na Igreja Cató lica. 14

Fr. Dwight Longenecker , a cujo livro More Christianity Al Kresta se


refere, é outro convertido que foi impelido e incitado na direçã o de
Roma por seu encontro com Lewis na juventude. Longenecker era um
estudante de graduaçã o na Bob Jones University, aquele centro e viveiro
do fundamentalismo protestante antipapista, quando ele conheceu as
obras de Lewis. Caindo no feitiço de Lewis, ele começou a frequentar
uma igreja episcopal pró xima ao campus de Bob Jones. Apó s a
formatura, obcecado pela anglo ilia e pelo desejo de conhecer a Oxford
dos Inklings, Longenecker mudou-se para a Inglaterra para estudar
para o sacerdó cio anglicano. Apó s um curto perı́odo como vigá rio de
uma paró quia na Ilha de Wight, ele e sua esposa se sentiram cada vez
mais atraı́dos pela Igreja Cató lica, na qual foram recebidos em 1995. Ele
retornou aos Estados Unidos dez anos depois e agora é um popular
escritor e autor de muitos livros.
Francis Beckwith cita Lewis como uma in luê ncia signi icativa em
sua jornada do protestantismo evangé lico ao catolicismo em seu
livro, Return to Rome: Confessions of an Evangelical Catholic , publicado
em 2009, dois anos apó s sua recepçã o na Igreja. Beckwith é mais
conhecido como um apologista cristã o infatigá vel e polê mico e é o autor
ou editor de mais de uma dú zia de livros. Atualmente, ele é professor
associado de estudos do Estado da Igreja na Baylor University, no Texas.
Mark Brumley , presidente e CEO da Ignatius Press, é outro
convertido do protestantismo que credita Lewis como um dos
principais contribuintes para seu progresso espiritual e intelectual:
CS Lewis fez de mim um cató lico. Bem, é claro, isso é muito
simples. Deus me fez um cató lico; Lewis foi um instrumento humano
no processo. E ele foi auxiliado e estimulado por GK Chesterton,
Frank Sheed, Louis Bouyer e outros. Ainda assim, Lewis começou
tudo para mim.
Lembro-me de quando encontrei Lewis pela primeira vez. O mero
cristianismo estava inocentemente sentado na estante de uma livraria
do bairro. Eu confundi Lewis com Lewis Carroll da fama de Alice no
País das Maravilhas . O que um tecelã o de contos infantis poderia me
ensinar sobre Cristo?
Uma pergunta estranha, visto que o pró prio Jesus disse que
devemos nos tornar como crianças para entrar no reino de
Deus. Irô nico, pois Lewis era, sem que eu soubesse, conhecido pelos
extraordiná rios livros infantis As Crônicas de Nárnia.
Lewis rapidamente se tornou meu melhor amigo, teologicamente
falando. Ele me desa iou a compreender Cristo e sua verdade. E ele me
levou alé m do mundo estreito de meu Cristianismo Fundamentalista para
o “Cristianismo histó rico”, que eventualmente passei a considerar como
encontrado inteiramente apenas na Igreja Cató lica. 15

Brumley a irma que o “mero cristianismo” de Lewis estimula as


pessoas a buscarem o “cristianismo pleno”, “o que leva algué m a
perguntar: O que é a Igreja? , uma questã o que Lewis aparentemente
nunca enfrentou totalmente, mas que muitos de seus leitores nã o
cató licos fazem. E quando o fazem, muitas vezes vê m com a resposta
cató lica - como eu. 16
Ao discutir o papel de Lewis em sua pró pria conversã o, Brumley se
refere a outro convertido bem conhecido, Sheldon Vanauken , cujo
livro extraordiná rio, A Severe Mercy , relata a amizade dele e de sua
esposa com CS Lewis e sua conversã o ao cristianismo. A Severe
Mercy foi publicado em 1977, quatro anos antes da recepçã o de
Vanauken na Igreja Cató lica. Este é Mark Brumley em Vanauken e
Lewis:
Sheldon Vanauken, amigo de Lewis e ex-anglicano, certa vez falou de seu
mentor como “Moisé s” - aquele que abriu o caminho para a terra
prometida da Igreja Cató lica, mas nunca entrou sozinho. O que o pró prio
Lewis nã o podia ver na Igreja Cató lica, outros que estavam sobre seus
largos ombros cristã os, viram. Daı́ o luxo constante de convertidos que
Lewis ajudou no rebanho cató lico. 17

H. Lyman Stebbins , fundador dos Cató licos Unidos pela Fé , foi
convertido ao catolicismo como resultado direto de sua
correspondê ncia com Lewis durante os meses inais da Segunda
Guerra Mundial. Criado como um episcopal de uma forma vaga e
morna, Stebbins recebeu um presente de The Screwtape Letters para o
Natal em 1942. "De repente", escreveu sua esposa muitos anos depois,
"uma luz se acendeu nele e sobre o sombrio paisagem de sua vida ...
Aquele livro, que obviamente o impressionou profundamente, abriu a
enorme porta de CS Lewis. Ele começou a ler todos os seus livros e
icou encantado. ” 18 Foi, portanto, como um devoto ou discı́pulo de
Lewis que Stebbins foi encorajado a escrever para seu mentor em abril
de 1945. Descrevendo-se a Lewis como “uma das muitas pessoas,
tenho certeza, que foram levadas por seus livros a uma reconsideraçã o
de Cristo, do Cristianismo e da Igreja ”, ele pediu a Lewis que o ajudasse
a refutar as a irmaçõ es da Igreja Cató lica de que era a verdadeira Igreja
e a sede da autoridade cristã .
A resposta de Lewis é esclarecedora, na medida em que ele
expressa suas razõ es para se opor ao catolicismo com uma franqueza
rara que raramente é vista em sua correspondê ncia privada e nunca em
seus livros. Ele rejeitou a teologia cató lica sobre a Virgem Santı́ssima, o
“papalismo” cató lico no que diz respeito à autoridade de Pedro e a
doutrina da transubstanciaçã o. “Em uma palavra, toda a con iguraçã o
do romanismo moderno parece-me ser uma variaçã o tanto
provinciana ou local da tradiçã o central antiga quanto qualquer seita
protestante em particular.” 19 Stebbins respondeu, defendendo a
posiçã o cató lica sobre a Santı́ssima Virgem e o Santı́ssimo Sacramento,
e argumentando que o "papalismo" era usado na autoridade que o
pró prio Cristo deu à Igreja:
A verdadeira seqü ência me parece ser a seguinte: Estou satisfeito de que o
Novo Testamento é historicamente con iá vel; ao ler essa histó ria, me
convenci de que Jesus Cristo era Deus; Estou convencido de que Ele
fundou uma Igreja infalı́vel que durará até o im dos tempos; com o passar
do tempo, esta Igreja declara a inerrâ ncia das Escrituras; portanto, tudo o
que pode ser provado nas Escrituras é verdade. Nã o consigo ver nenhuma
outra maneira pela qual se possa chegar a uma conclusã o, e tudo isso
requer uma autoridade infalı́vel. 20

Muitos anos depois, em 1987, Stebbins resumiu a importâ ncia dessa


correspondê ncia para convencê -lo de que ele nã o tinha nenhuma razã o
ló gica ou teoló gica para nã o se tornar um cató lico:
Escrevi para CS Lewis e recebi uma resposta fascinante e
interessante. Aquela carta de Lewis praticamente me colocou na Igreja,
porque aquele homem por cujo intelecto eu admirava sem limites com
muito cuidado escreveu uma carta estú pida, a coisa mais estú pida que ele
já escreveu. Ele convocou tudo o que poderia sonhar para dizer como um
argumento contra eu me tornar um cató lico romano e nã o havia
substâ ncia em nada disso. Minha resposta imediata foi que, se isso é o
melhor que este homem maravilhoso pode pensar como um argumento
contra, entã o sou totalmente a favor. Entã o, quando eu estava em Londres,
fui à igreja dos jesuı́tas em Farm Street em 28 de maio de 1946, dia
abençoado. Fui recebido na Igreja Cató lica. 21

O historiador Warren Carroll , fundador do Christendom College e


autor do livro History of Christendom em vá rios volumes , leu pela
primeira vez a Trilogia Espacial de Lewis quando menino. “Nestes
livros notá veis, Lewis esboça o universo cristã o sem dizer que é
cristã o”, explicou Carroll. “Portanto, quando os li com dez e onze anos,
nã o sabia que eram cristã os, mas nunca os esqueci.” 22 Redescobrindo
Lewis anos depois, ele leu Cristianismo Mero , Milagres e O Problema da
Dor , tornando-se convencido da Divindade de Cristo: “Lewis nã o
permite que você evite a questã o fundamental: Quem era este
homem? Ele mostra por que você deve responder que Ele é o pró prio
Deus. ” 23 Como aconteceu com os outros conversos inspirados por
Lewis, havia outros fatores em açã o, alé m da leitura de Lewis. No caso
de Warren Carroll, ele está convencido de que as oraçõ es de sua esposa,
uma cató lica de berço, o levaram a uma aceitaçã o inal e abraço das
reivindicaçõ es da Igreja.
Ronda Chervin , conhecida iló sofa cató lica e autora de mais de
cinquenta livros, foi trazida para Roma de uma origem judaica:
Quando li CS Lewis pela primeira vez, eu era ateu, tinha 21 anos, era
estudante de graduaçã o em iloso ia e tinha formaçã o cultural
judaica. Mero Cristianismo foi o livro que li. A famosa parte de Lewis sobre
como nã o podemos ver Jesus apenas como um grande pensador ou grande
homem santo, mas como divino, louco ou mentiroso, foi absolutamente
decisiva para minha conversã o ao cristianismo. Obviamente, eu nã o
poderia me tornar um cató lico se nã o acreditasse na divindade de
Cristo. Meus mentores foram Dietrich e Alice Von Hildebrand, que
posteriormente me apresentou a todos os livros de Lewis. Na verdade,
agora aos 76 anos de idade, quando todos os meus pertences cabem em
seis caixas, conforme eu vou para diferentes situaçõ es de ensino, os livros
de CS Lewis estã o entre os ú nicos que eu “tenho que ter” comigo. Eu
ensino O Problema da Dor , Os Quatro Amores , e freqü entemente
recomendo a Trilogia Espacial e Till We Have Faces . Surpreso pela
alegria també m é um dos favoritos devido à nossa origem ateı́sta
comum. Outro favorito é O Grande Divórcio . A Grief Observed foi de
grande ajuda para eu enfrentar o suicı́dio de meu ilho. Meus ilhos e netos
amam Ná rnia. 24

Ross Douthat , colunista do New York Times e colaborador do Wall


Street Journal , do Weekly Standard , da GQ e da National Review ,
converteu-se aos dezessete anos. Ele resumiu o papel de CS Lewis no
processo com clareza inequı́voca: “Você começa a ler CS Lewis, depois
lê GK Chesterton, depois é cató lico. Conheci muitas pessoas que faziam
isso na casa dos 20 anos - acabei de fazer isso antes, e com uma
estrutura de incentivos diferente ”. 25
Thomas Howard foi criado como evangé lico, tornou-se episcopal
em seus vinte e poucos anos e se converteu ao catolicismo em 1988, aos
cinquenta anos. Ele é um dos melhores estilistas de prosa escrevendo
nos Estados Unidos hoje e é o autor de muitos livros excelentes,
incluindo CS Lewis: Man of Letters e The Novels of Charles Williams . Sua
histó ria de conversã o, Lead Kindly Light: My Journey to Rome , foi
publicada pela Ignatius Press. Embora deva sua conversã o, sob graça, a
grandes intelectuais cató licos, como Newman, Knox, Chesterton,
Guardini, Ratzinger, Karl Adam, Louis Bouyer e Santo Agostinho, ele foi
acompanhado em sua jornada por Lewis, cuja presença permanente
guiada ele para Roma:
A questã o da possı́vel in luê ncia de CS Lewis no itinerá rio de algué m
em direçã o à Igreja Cató lica tem uma ironia, já que, como todos
sabem, Lewis nã o apenas nã o tinha nenhum interesse em exercer tal
in luê ncia, mas ele evitou discussõ es eclesiá sticas como a Peste
Negra. Certa vez, ele interrompeu seu irmã o Warnie, que
inocentemente abordou o assunto, com uma resposta curta e
acrescentou: "E essa é a ú ltima vez que falaremos sobre isso."
No entanto, há uma ironia composta aqui, uma vez que o efeito
lı́quido dos escritos de Lewis, ou, digamos, sua visã o - talvez tenha
atraı́do mais de um crente protestante na direçã o da Igreja
Antiga. Lewis di icilmente aceitaria tal testemunho; mas, apó s
re lexã o, ele pode ter admitido que seu trabalho poderia ter tido tal
efeito.
Sua in luê ncia em meu progresso na Igreja foi subliminar. Acho
que nunca pensei: “Oh, Lewis está evocando a visã o cató lica aqui” ao
ler sua apologé tica, seus ensaios gerais e suas obras
imaginativas. Talvez uma maneira de tentar localizar a coisa seria
dizer que Lewis fala, nã o tanto como um cristã o reformista
consciente, apesar de suas repetidas referê ncias a ser um ulsterman,
mas sim como um cristã o cató lico. (NB, aquele c minú sculo aqui.) Ele
estava em casa na liturgia anglicana, que re lete a liturgia da
Igreja. Ele usou termos como a Santı́ssima Virgem, o Santı́ssimo
Sacramento e assim por diante. E ele aparentemente fez uso do
confessioná rio. Minha imaginaçã o protestante notou detalhes como
esses, mas nã o consigo me lembrar de nenhuma agitaçã o eclesial
consciente em minha mente ao encontrá -los.
Foi a forma e a imensidã o radiante da visã o de Lewis que deve
ter funcionado, sem que eu soubesse, para me atrair para o que agora
conheço como catolicismo. Para começar, o protestantismo nã o corre
facilmente na direçã o da “fantasia”. A obra de Tolkien é cató lica, por
seu pró prio testemunho explı́cito. Se Ná rnia e a “trilogia espacial”
pudessem ter surgido de categorias estritamente reformacionais, eu
hesitaria em insistir. Acho que a rubrica sola scriptura em açã o na
religiã o reformada pode exercer uma certa restriçã o nas tentativas
dos autores de escrever fantasia, mas isso abre para uma questã o
muito pesada para abordar neste pequeno artigo.
Em qualquer caso, o alcance abençoado da alegria lú dica, da gló ria
titâ nica e da magni icê ncia absoluta que Lewis evoca, penso eu, acabou por
tornar inevitá vel o meu ser recebido na Igreja Antiga. 26

Ian Hunter , professor emé rito da Faculdade de Direito da Western


University em London, Ontá rio, e autor de Malcolm Muggeridge: A Life ,
listou Lewis como uma das quatro pessoas que tiveram uma in luê ncia
profunda em sua conversã o:
A histó ria de minha conversã o é a histó ria de quatro homens: Papa Joã o
Paulo II, meu pai (embora um guia involuntá rio), CS Lewis e Malcolm
Muggeridge. E a histó ria da decisã o da Igreja de publicar um Catecismo
abrangente da fé cristã e de um sacerdote disposto a ir alé m dos requisitos
de seu ofı́cio para buscar uma ovelha perdida no deserto. E a histó ria de
ié is cató licos que oraram. E, acima de tudo, primeiro, ú ltimo e sempre, é a
mesma velha histó ria que sempre é - uma histó ria da graça de Deus, do
perdã o e do amor. Deo gratias . 27

“Toda a minha vida cristã tenho lido e aprendido com os livros de CS


Lewis”, continua Hunter, “principalmente para escolher trê s - Mero
Cristianismo, Surpreendido pela Alegria e O Grande Divórcio ”. De forma
mais polê mica, Hunter está convencido de que Lewis també m seria
cató lico, se estivesse vivo hoje, e que qualquer pessoa que leia Lewis
está sendo movida para mais perto da conversã o:
Se CS Lewis estivesse vivo hoje, ele quase certamente seria um cató lico
romano. Essa é a resposta curta - e, acredito, a mais convincente - para o
paradoxo de Lewis. Quando descobri que acreditava nisso, minha ú ltima
justi icativa para permanecer anglicano - “Se foi bom para CS Lewis, entã o
é bom para mim” - se foi. Acredito agora que qualquer pessoa que leia e
compreenda Lewis está a caminho de Roma. 28

Bobby Jindal , o governador da Louisiana e presidente da


Republican Governors Association, converteu-se do hinduı́smo ao
catolicismo como estudante de graduaçã o na Brown University. Em
uma entrevista ao Christianity Today em 2011, ele revelou que “passou
muitos anos lendo livros de autores como CS Lewis” antes de sua
conversã o.
Peter Kreeft , professor de iloso ia no Boston College, é talvez o
apologista cató lico mais prolı́ ico e lú cido do mundo de lı́ngua
inglesa. Como Bobby Jindal, ele se converteu ao catolicismo como um
estudante de graduaçã o: “Embora minhas dú vidas tenham sido todas
resolvidas e a escolha tenha sido feita em 1959, meu ú ltimo ano na
Calvin, a adesã o efetiva veio um ano depois, em Yale.” 29 Como com
tantos outros, Lewis o conduziu em direçã o a Roma:
Descobri CSL como estudante de graduaçã o no Calvin College, nos
anos cinquenta. Meu professor de iloso ia atribuiu O problema da
dor , e eu me lembro claramente de minha reaçã o a ele. Nã o entendi
totalmente na primeira leitura, mas sabia que era totalmente minha
culpa, nã o dele. De alguma forma, mesmo em meio à minha confusã o,
sua clareza absoluta brilhou. Nunca tinha lido um autor que pensasse
e escrevesse isso com clareza. (Ainda nã o li.) Eu o reli pelo menos
mais dez vezes, e a cada vez ele se tornou mais claro do que
antes. (Eu acho que a luz do cé u deve ser assim.)
Uma segunda tarefa era fazer um esboço detalhado de A Abolição do
Homem ... Minha con iança de que a clareza estava lá , se eu pudesse
encontrá -la, me levou a hackear as selvas de minha pró pria confusã o e
chegar à luz. Nunca tinha lido ningué m que pudesse ser tã o
claro e profundo ao mesmo tempo . (Eu ainda nã o tinha descoberto Tomá s
de Aquino, um dos poucos autores que é ainda melhor do que Lewis
nisso.) 30

Tendo adquirido o há bito de Lewis, Kreeft entã o passou, por


recomendaçã o de seu colega de quarto, a ler Cristianismo Mero :
Nã o tive nenhum problema em entender este livro, como iz com os outros
dois, mas fui a idiota de pensar que qualquer livro tã o claro deve, no fundo,
ser super icial. (Claro que isso é uma contradiçã o, mas estudantes
universitá rios espertinhos acreditam em si mesmos, nã o na ló gica.) Mais
tarde, eu entendi que era uma obra-prima. Provavelmente foi responsá vel
por mais conversõ es do que qualquer outro livro no sé culo ... Nã o foi um
livro especi icamente cató lico, embora nã o haja nada nele em desacordo
com a doutrina ou espı́rito cató lico. Paradoxalmente, sua pró pria
“mesmice” me deu um bom motivo para me tornar cató lico, pois o
catolicismo, como pude ver, fazia mais justiça a cada um dos “meros”
elementos essenciais. (Esse foi o argumento inal do meu Manual de
Apologética Católica .) 31

Lorraine Murray , escritora, romancista, ex-professora de iloso ia


e autora de Confessions of an Ex-Feminist , relembra o impacto de Lewis
sobre ela como literalmente uma mudança de vida:
Na faculdade, virei as costas ao catolicismo, minha fé de infâ ncia, e
me tornei uma feminista radical, voltada para o gê nero, e uma ateı́sta
apaixonada. Depois de obter um doutorado em iloso ia com
concentraçã o em é tica feminista, passei a lecionar iloso ia e inglê s
em faculdades em Atlanta. Embora eu estivesse bem ciente de que se
espera que os iló sofos examinem os dois lados de cada questã o - e
apresentem ideias de maneira neutra na sala de aula - eu
astutamente defendi minha pró pria agenda radical, que incluı́a o
"direito" da mulher ao aborto, a necessidade "compassiva" de
eutaná sia e aceitaçã o total do estilo de vida homossexual.
Quando exploramos o cristianismo em minhas aulas de iloso ia,
involuntariamente me tornei minha pró pria versã o de Sã o Paulo
antes de sua conversã o, deliciando-me em desmantelar cada
fragmento de evidê ncia da fé em Deus e da fé em Seu Filho. Ainda
assim, apesar de meus esforços para atrapalhar o cristianismo, havia
alunos cristã os em minhas aulas que sabiam melhor e que
silenciosamente conseguiram resistir aos meus ataques
ateı́stas. Uma delas, uma garota chamada Jill, timidamente me deu
um livro de presente um dia. Era uma versã o encadernada
do Cristianismo Mero , e ela escreveu que achava que eu "gostaria dos
argumentos". Agradeci educadamente e, em seguida, coloquei o livro
em uma prateleira, rindo da ideia de que algué m tã o iluminado como
eu gostaria de ter algo a ver com o cristianismo. Que surpresa
quando, muitos anos depois, este mesmo livro pareceu “iluminar-se”
na minha estante, implorando para que eu o pegasse e o lesse. E foi
exatamente isso que eu iz.
Como iquei surpreso ao descobrir uma explicaçã o brilhante e
ló gica para a fé que havia descartado com tanta paixã o e
arrogâ ncia! Lendo Lewis, descobri algo pelo qual devo ter ansiado
silenciosamente o tempo todo, que era uma abordagem racional à s
minhas crenças de infâ ncia, que se centraram quase inteiramente na
emoçã o. Ao virar as pá ginas deste livro, nã o pude mais ignorar a
Verdade, nem virar as costas ao Caminho e à Vida. Aos poucos,
centı́metro a centı́metro, encontrei meu caminho de volta para Jesus
Cristo e voltei para a Igreja Cató lica.
Anos mais tarde, descobri que, em Surprised by Joy , Lewis
escreveu que “a providê ncia anula completamente nossos gostos
anteriores quando decide juntar duas mentes”. Ele també m sugeriu
que o sentimento de atraçã o por um autor pode ser tã o involuntá rio
e imprová vel quanto se apaixonar. Era certamente imprová vel que
uma feminista ateı́sta e radical lesse Lewis com tanto zelo. Era
certamente imprová vel que ela se apaixonasse por Lewis por causa
de sua mente brilhante e sua defesa apaixonada do Cristianismo.
Mais tarde, quando li The Screwtape Letters , ajudou-me
consideravelmente a compreender como o diabo trabalha nas
circunstâ ncias normais de nossas vidas. Eu vi o quã o completamente o
prı́ncipe das trevas havia se in iltrado em meu coraçã o naqueles dias
sombrios em que persegui a Cristo na sala de aula, antes de ser
acidentalmente derrubado do meu cavalo acadê mico em minha pró pria
versã o da conversã o de Sã o Paulo. 32

Jef Murray , um artista de fantasia aclamado internacionalmente,


mais conhecido por suas ilustraçõ es das obras de Lewis e Tolkien, tem
uma dı́vida considerá vel para com ambos os escritores cujas obras sã o
os temas de sua Musa:
Para mim, posso dizer que CSL foi uma in luê ncia um pouco anterior,
mas talvez menos poderosa em minha pró pria conversã o do que
JRRT. Lembro-me de ter lido capı́tulos de O Leão, a Feiticeira e o
Guarda - Roupa pela primeira vez quase na mesma é poca em
que minha mã e leu O Hobbit ; isto é , na forma de histó rias para
dormir quando eu estava na segunda sé rie. E, desde entã o, confundi
os dois contos naquele reino encantado e misterioso do glamour da
infâ ncia que é a lembrança.
Mais tarde, quando estava no colé gio, li as Cartas do
Screwtape e iquei ao mesmo tempo fascinado e repelido pelas
iguras tanto de Screwtape quanto de seu infeliz sobrinho,
Absinto. Lewis me convenceu de que o mal era real e até mesmo que
assumia a forma de personalidade, mesmo que eu deixasse esse
conhecimento enterrado durante meus anos de faculdade.
Depois de um longo hiato do cristianismo ingê nuo que tive
quando criança e adolescente, o Cristianismo Mero , lido pela primeira
vez na idade adulta, causou uma enorme impressã o em mim; mas a
essa altura, o Cã o do Cé u já estava beliscando meus calcanhares, e a
ló gica brilhante de Lewis simplesmente reforçou o que meu coraçã o
já estava me dizendo.
Cheguei à fé cató lica, apropriadamente, quando tinha 33 anos, mas só
abracei totalmente toda a fé uma dé cada depois, quando encontrei
as Cartas de JRRT pela primeira vez e percebi, visceralmente, que “meu
Deus, é tudo verdade! !! ” Só entã o pude redescobrir, como artista e
ilustrador, a profundidade dos contos de Ná rnia de CSL. Descobri que
aquelas mesmas histó rias de ninar que primeiro me fascinaram sã o muito
mais profundas e bonitas do que pareciam até entã o, quando cercadas pela
inocê ncia e maravilha da infâ ncia. 33

Uma das conversõ es mais surpreendentes e dramá ticas do sé culo


XX, ou de qualquer sé culo, é a de Bernard Nathanson , um dos
pioneiros do movimento pela legalizaçã o do aborto nos Estados
Unidos. Por sua pró pria admissã o, Nathanson realizou pessoalmente
mais de 60.000 abortos antes de perceber que suas açõ es eram
intrı́nseca e barbaricamente má s. Em 1979, seu livro Aborting
America expô s a feiura e a desonestidade da indú stria do aborto. Em
1984, dirigiu e narrou The Silent Scream , um ilme que abriu os olhos
de muitos para os verdadeiros horrores do infanticı́dio in utero .
Nathanson, que sempre se descreveu como um ateu judeu, foi
recebido na Igreja Cató lica na Catedral de Sã o Patrı́cio em Nova York
em dezembro de 1996. Ecoando as palavras de GK Chesterton, que
havia dito a famosa frase que havia se tornado cató lico para ter
perdoados seus pecados, Nathanson respondeu à queles que
perguntaram por que ele se tornou cató lico que “nenhuma religiã o se
compara ao papel especial para o perdã o que é concedido pela Igreja
Cató lica”. 34
Surpreendentemente, Nathanson citou Lewis como uma in luê ncia
signi icativa em seu caminho para a conversã o. Em sua autobiogra ia, A
Mão de Deus: Uma Viagem da Morte à Vida , ele discutiu a dimensã o
intelectual de seu progresso espiritual: “No meu caso, fui levado a uma
profunda revisã o da literatura de conversã o, incluindo o Pilar de Fogo
de Karl Stern . També m li Malcolm Muggeridge, Walker Percy, Graham
Greene, CS Lewis, o cardeal Newman e outros. Era totalmente normal
para mim que eu conduzisse uma revisã o diligente da literatura antes
de embarcar em uma missã o tã o assustadora e ameaçadora quanto
esta busca por Deus. ” 35
Kevin O'Brien , fundador e diretor artı́stico do Theatre of the Word
Incorporated, é outro cató lico conhecido que fez a jornada do ateı́smo
ao catolicismo, por meio de CS Lewis:
Eu era ateu desde os nove anos - um ateu evangelizador, tentando
convencer qualquer pessoa que pudesse da loucura da crença
religiosa. Quando cheguei aos trinta e tantos anos, já havia me
acalmado o su iciente para admitir a existê ncia de algo fora de minha
existê ncia material que nã o conseguia explicar. Mas eu tinha
simplesmente me estabelecido na iloso ia da é poca - um
espiritualismo benigno que reconhecia o que eu chamava de
“intencionalidade” no universo, mas que estava longe de acreditar
em qualquer tipo de deus pessoal.
Peguei, quase ao acaso, um livro da biblioteca que me atraiu
- God in the Dock , uma antologia de escritos de CS Lewis, cujo tı́tulo
parecia indicar o processo que o homem poderia fazer contra seu
criador, como Jó tinha sonhado em fazer. Mas, para minha surpresa,
descobri que todas as evidê ncias estavam do lado de Deus e que esse
tal de Lewis era um crente - e, ao contrá rio dos cristã os que conheci,
era um pensador de primeira classe e um dos melhores escritores
que já conheci. “Talvez você nã o precise sacri icar seu intelecto para
ser um cristã o”, comecei a dizer a mim mesmo.
Quanto mais eu lia Lewis, mais gostava dele e mais comecei a ler
os escritores que ele lia - GK Chesterton em particular. Descobri que
Chesterton era de longe o melhor ensaı́sta que já sonhei em ler e um
dos pensadores mais penetrantes de qualquer é poca. E o amigo de
Chesterton, Belloc, foi mais direto e ainda mais convincente.
E entã o, pela graça de Deus, Lewis me levou a Chesterton,
Chesterton me levou a Belloc e todos os trê s me conduziram à fé
cató lica.
Minha esposa e eu fomos recebidos na Igreja Cató lica em 30 de julho
de 2000 - que mais tarde soube ser o 78º aniversá rio da recepçã o de
Chesterton. E, para ecoar Maurice Baring, esta foi “a ú nica açã o em minha
vida da qual tenho certeza de que nunca me arrependi”. 37

Carl Olson , autor de Will Catholics Be “Left Behind”? Uma Crítica


Católica do Arrebatamento e da Profecia de Hoje, Pregadores e coautor
de O Hoax Da Vinci: Expondo os Erros no Código Da Vinci , é enfá tico
sobre o papel de Lewis em sua pró pria conversã o: “Lewis foi muito ú til
para mim, em particular em ajudando-me a apreciar a profundidade
intelectual e espiritual da fé cristã , o que me ajudou mais tarde a buscar
a plenitude dessa fé na Igreja Cató lica. ” Olson, que també m é colunista
regular do Our Sunday Visitor e editor do Ignatius Insight , a irma que
“ Mero Cristianismo, A Abolição do Homem e O Grande Divórcio foram
especialmente importantes para mim quando jovem ( inal da
adolescê ncia, inı́cio dos vinte) tentando para dar sentido à s minhas
crenças e 'visã o de mundo'. ” 38
A histó ria de Olson é particularmente interessante porque suas
raı́zes estã o em uma forma radical de fundamentalismo protestante que
suspeita de Lewis e suas obras:
Ouvi o nome “CS Lewis” pela primeira vez quando tinha cinco
anos. Mas eu nã o li nenhum de seus livros por outros treze anos ou
mais. Meus pais eram lı́deres em um pequeno grupo
fundamentalista. Havia preocupaçã o no grupo sobre alguns dos
adolescentes lendo As Crônicas de Nárnia, uma vez que os livros
incluı́am bruxas e aparentemente usavam um leã o para representar a
pessoa de Jesus. Foi recomendado que The Chronicles fosse evitado
por medo de os adolescentes serem enganados.
Lewis, no entanto, provou ser um guia seguro para mim no inal
da adolescê ncia e inı́cio dos 20 anos, e a leitura de sua obra abriu o
caminho para a Igreja Cató lica no inal dos meus 20 anos. Existem
trê s razõ es para isso.
Primeiro, quando li o Cristianismo Mero, eu era um
fundamentalista comprometido, mas um tanto confuso. Por um lado,
queria fazer a coisa certa; por outro lado, muitas vezes me
encontrava à mercê de minhas emoçõ es e da atraçã o de atraçõ es
duvidosas. Embora eu tivesse sido bem educado nas Escrituras, os
fundamentos da minha fé eram fracos em muitos aspectos,
especialmente em termos de razõ es ló gicas e intelectuais para
acreditar nas Escrituras, em Jesus Cristo e em todo o
Cristianismo. Lewis ajudou a irmar essas á reas fracas e me mostrou
que eu nã o precisava sacri icar nem um pouco da curiosidade
intelectual para ser um cristã o sé rio - muito pelo contrá rio! Esse fato,
alguns anos depois, me encorajou a estudar e examinar a histó ria e
os ensinamentos da Igreja Cató lica.
Em segundo lugar, Lewis impressionou-me com a necessidade de
me envolver de forma ponderada com outros sistemas de crenças e
perspectivas - nã o com uma mentalidade relativista, mas com um
interesse perspicaz e, esperançosamente, rigoroso. A Abolição do
Homem certamente se destaca a esse respeito. Ele e Francis Schaeffer
instilaram em mim um interesse pelo “porquê ” e “como” do ateı́smo
e ceticismo. Por causa disso, eu acabaria descobrindo outros autores
- como Chesterton, Walker Percy e Joã o Paulo II - que me levariam
ainda mais fundo nesses assuntos. E aqueles grandes homens, é
claro, ajudaram a abrir a porta para a Igreja Cató lica.
Finalmente, descobri nos escritos de Lewis (especialmente
em Surprised by Joy e The Four Loves ) um sentimento de alegria,
admiraçã o e gratidã o que muitas vezes faltava em minha educaçã o
fundamentalista. Ele adorava o misté rio, e descobri que també m eu achava
que o misté rio da vida e da existê ncia, em vez de ser assustador ou um
caminho para a ruı́na, era um chamado para uma humildade e um
assombro mais profundos. Isso acabou me levando, novamente, a
Chesterton, que foi tã o vital em minha decisã o de me tornar
cató lico. Lewis, longe de ser enganoso, foi um membro-chave da comunhã o
dos santos cujo catolicismo apontou o caminho para o catolicismo. 39

Richard Purtill , Professor Emé rito de Filoso ia na Western


Washington University, é um conhecido escritor de icçã o de fantasia,
alé m de ser o autor de muitos livros de iloso ia. Alé m disso, ele é autor
de O Senhor dos Elfos e Eldils: Fantasia e Filoso ia em CS Lewis e JRR
Tolkien (1974), Caso de CS Lewis para a Fé Cristã (1981) e JRR Tolkien:
Mito, Moralidade e Religião (1984). Ele se converteu ao catolicismo
quando adolescente “em grande parte devido à leitura de The
Screwtape Letters de Lewis e muitas obras de GK Chesterton. Entã o,
Chesterton e Lewis meio que me guiaram para a Igreja Cató lica,
embora Lewis nã o fosse cató lico. ” 40 Purtill descreve Chesterton como
seu “pai na fé ” e Lewis como seu “irmã o mais velho no cristianismo”. 41
Existem paralelos notá veis entre a conversã o de Richard Purtill e a
de outro conhecido autor de fantasia, Gene Wolfe . Nascidos com
poucas semanas de diferença em 1931, os dois se converteram ainda
jovens sob a in luê ncia informativa de Chesterton e Lewis. Embora a
conversã o de Wolfe seja frequentemente rejeitada nos cı́rculos
seculares como sendo nada mais que a consequê ncia de seu casamento
com um cató lico, seu envolvimento intelectual com a Fé e aceitaçã o
ilosó ica e teoló gica de seus princı́pios sã o claros em suas obras de
icçã o e foram abundantemente esclarecidos em um entrevista que ele
deu em 1992:
Fiquei interessado nele, li e estudei e conversei com as pessoas sobre isso
e assim por diante, e eventualmente me converti. ... Eu nã o li muito de
teologia. ... Eu li o livro de Chesterton sobre Sã o Tomá s de Aquino ... e
acabei lendo tudo de Chesterton que pude encontrar. Eu havia passado
pela mesma coisa antes com CS Lewis. 42

Thomas Storck , autor de The Catholic Milieu (1987), Foundations


of a Catholic Political Order (1998) e Christendom and the West (2000) ,
é um dos mais conhecidos e respeitados escritores sobre o ensino
social cató lico. Ele credita a Lewis uma in luê ncia signi icativa em sua
jornada do ateı́smo ao catolicismo:
CS Lewis desempenhou um papel complicado, embora
principalmente indireto, em minha trajetó ria de ateu a teı́sta e a
cristã o (anglicano), que começou no verã o antes do meu primeiro
ano no colé gio e foi concluı́da no verã o seguinte quando recebi o
batismo na Igreja Episcopal.
Em primeiro lugar, foi a leitura de um artigo sobre Lewis que me
fez decidir investigar se a revelaçã o cristã poderia ser verdadeira
a inal. Fiquei impressionado que um intelectual e erudito ó bvio
pudesse ser um cristã o. Ele, no entanto, nã o teve nada a ver com a
minha compreensã o, cerca de um mê s depois, de que Deus existia,
pois foi outro autor que me apresentou alguns argumentos
rudimentares para a existê ncia de Deus. Lewis foi uma in luê ncia
direta na minha transiçã o de teı́sta para cristã o, no entanto, pois era
sua analogia (em Surprised by Joy , cap. XIV) de um dramaturgo
escrevendo um papel para si mesmo em seu pró prio drama, de como
“Shakespeare poderia ... fazer ele mesmo aparece como Autor dentro
da peça e escreve um diá logo entre Hamlet e ele mesmo ”, que me
ajudou a aceitar a Encarnaçã o, como Deus poderia ser o Criador
deste mundo, mas viver entre nó s nele por um tempo. Embora essa
analogia di icilmente constitua prova das a irmaçõ es da revelaçã o
cristã , na é poca era su iciente para mim.
Mas acho que o papel mais importante que Lewis desempenhou
em minha fé cristã incipiente foi me armar contra o ceticismo que eu
conheceria quando fosse estudante de graduaçã o. Entrei no Kenyon
College no outono de 1969, uma instituiçã o o icialmente a iliada à
Igreja Episcopal, mas cuja atmosfera intelectual predominante
simplesmente presumia que a revelaçã o cristã nã o era apenas falsa,
mas irrelevante e, portanto, nem mesmo digna de ser refutada. Nesse
ponto, Lewis foi de grande ajuda, especialmente em suas Cartas
Screwtape , ao expor o vazio dos muitos mé todos intelectuais e
morais de minar a fé religiosa. Historicamente, eu acho, muito mais
pessoas abandonaram sua fé cristã porque se encontraram em um
meio que tacitamente assumiu que a religiã o sobrenatural é tola e
irrelevante, do que foram convencidas por qualquer exposiçã o
brilhante de ateı́smo ou refutaçã o devastadora das a irmaçõ es
cristã s. Depois de ler o Screwtape , foi difı́cil para mim icar muito
impressionado com tal atmosfera e, como resultado, experimentei
muito poucos obstá culos intelectuais à minha fé cristã como
estudante de graduaçã o.
Lewis, é claro, nã o desempenhou nenhum papel na etapa inal de
minha conversã o, quando, alguns anos depois de me formar, entrei na
Igreja Cató lica. Na verdade, sua eclesiologia é provavelmente a parte mais
fraca de sua apresentaçã o da religiã o cristã , e mesmo no colé gio fui muito
mais in luenciado neste ponto por autores como Ronald Knox e
Newman. Assim, embora Lewis di icilmente seja o mé dico multifacetado
da igreja que alguns protestantes fazem dele, no entanto, como uma só lida
testemunha da razoabilidade da crença religiosa em meio ao ceticismo
acadê mico e intelectual moderno, ele era para mim, quanto a muitos
outros, um professor a quem sempre serei grato. 43

Nenhuma visã o geral dos convertidos Lewisianos celebrados estaria


completa sem referê ncia a Walter Hooper , que serviu como secretá rio
de Lewis nos meses inais da vida de Lewis e que se dedicou
incansavelmente a promover o legado de Lewis por meio sé culo desde a
morte de seu mentor. Ele é o autor, com Roger Lancelyn Green, de uma
das melhores biogra ias de Lewis e també m é o autor do Companion
and Guide to Lewis's work, um recurso indispensá vel para
estudiosos. Ele é o editor dos trê s volumes das cartas de Lewis, uma
magnı́ ica realizaçã o acadê mica por si só .
Como algué m que pode realisticamente ser considerado um
discı́pulo e devoto de Lewis ao longo da vida, é intrigante e certamente
digno de nota que Hooper foi recebido na Igreja Cató lica em 1988, vinte
e cinco anos apó s a morte de Lewis. Considerando que poucas pessoas,
se houver, estã o mais imersas nas idé ias de Lewis, a conversã o de
Hooper poderia ser vista como uma projeçã o do prová vel destino de
Lewis se ele tivesse vivido o su iciente para ver o triunfo do
modernismo na Igreja Anglicana. Hooper sentiu que nã o poderia mais
permanecer como um anglicano apó s a decisã o de ordenar mulheres ao
sacerdó cio, uma decisã o importante por parte da hierarquia anglicana
que explodiu qualquer a irmaçã o de que o anglicanismo era parte da
Igreja universal. A decisã o de Hooper foi a rati icaçã o da conclusã o a
que o pró prio Lewis chegou em seu ensaio, "Priestesses in the Church",
publicado em 1948, e na palestra "Fern-seed and Elephants", dada
pouco antes de sua morte, como o pró prio Hooper explica:
[W] ould CS Lewis teria se tornado cató lico se tivesse vivido? Acho que
sim ... Um dos ú ltimos trabalhos que ele escreveu para dar a uma audiê ncia
na Inglaterra foi a um grupo de seminaristas - seminaristas anglicanos -
em Cambridge. E naquele jornal - é um jornal muito conhecido -
chamado Fern-seed and Elephants - ele aponta que se eles continuarem a
falar esse tipo de liberalismo que eles estavam falando - e cada vez mais
agora - que seus leitores ou ouvintes eram cada vez mais propensos a se
dividir em dois grupos: eles deixariam a igreja anglicana e se tornariam
ateus ou cató licos romanos. Eu acho que ele provavelmente teria que se
incluir naquele grupo. O que você faz quando, de fato, a Igreja Anglicana se
torna apó stata - como realmente se tornou agora? Muito antes de o
Vaticano nos dar o documento Inter insigniores em 1976, que é a
declaraçã o sobre a ordenaçã o de mulheres ao sacerdó cio, Lewis já havia
escrito sobre o assunto já em 1948, em um ensaio intitulado Sacerdotisas
na Igreja, no qual seus argumentos sobre a posiçã o do sacerdote no lugar
de Cristo sã o anteriores aos da Santa Sé . Suas razõ es sã o quase exatamente
as que você encontra no documento do Vaticano. 44
Hoje, cinquenta anos apó s sua morte, a contrové rsia continua a
crescer sobre se Lewis teria se convertido ou nã o se tivesse vivido para
ver o im do anglicanismo. Independentemente da posiçã o de Lewis,
nã o há dú vida de que ele introduziu muitas pessoas na Igreja
Cató lica. Essa testemunha viva de seu poder como professor da
ortodoxia cristã é uma parte importante do surpreendente legado
desse homem notá vel.

NOTAS

INTRODUÇÃO À PRIMEIRA EDIÇÃO:


1 . CS Lewis, Mere Christianity (repr. New York: Simon and Schuster, 1996), p. 6
2 . Ibidem, p. 8
3 . Peter Kreeft, "The Achievement of CS Lewis: A Millennial Assessment",
discurso proferido no Boston College, 1998.
4 . CS Lewis, Surprised by Joy (Nova York: Harcourt Brace Jovanovich, 1955),
pp. 228-29.
5 . Walker Percy, introduçã o a The New Catholics: Contempormy Converts Tell
their Stories , ed. D. O'Neill (New York: Crossroad, 1987), p. xv.
6 . Lewis, Mere Christianity , p. 139
7. CS Lewis, Letters to Malcolm: Chie ly on Prayer (Nova York: Harcourt Brace
and World, 1963), pp. 108-9.
8 . Lewis, Mere Christianity , p. 64
9 . Ibid., Pp. 64-65.
10 . John A. Harcion, SJ, Dicionário Católico Moderno (Nova York: Doubleday,
1980).
11 . Thomas Howard, "Por que CS Lewis nunca se tornou um cató lico
romano?" Lay Witness (novembro de 1998), p. 8
12 . Ibidem, p. 9
13 . CS Lewis, The Allegory of Love (Oxford University Press, 1936), p. 323.

PREFÁCIO:
1 . GK Chesterton, Autobiography (1936), Collected Works, vol. 16 (San
Francisco: Ignatius Press, 5988), p. 187.
CAPÍTULO 1:
1 . CS Lewis, The Pilgrim's Regress , 3ª ed. (Londres: Geoffrey Bles, 1943), p. 20
2 . Ibidem, p. 5
3 . Talvez seja apropriado mencionar que experimentei a polı́tica
preconceituosa do Ulster em primeira mã o. Antes da minha conversã o,
durante algum tempo, estive envolvido na polı́tica do extremismo
legalista. Aos dezessete anos estive presente em um grande motim legalista
em Waterside em Derry e mais tarde me envolvi com paramilitares legalistas,
fazendo amizade com membros importantes da Força Voluntá ria do Ulster
(UVF) e da Associaçã o de Defesa do Ulster (UDA). Ver, Pearce, Race with the
Devil: My Journey from Racial Hatred to Rational Love (Charlotte, NC: Saint
Benedict Press, 2013).
4 . "Lewis Papers" nã o publicados, citado em Roger Lancelyn Green e Walter
Hooper, CS Lewis: A Biography , rev. ed. (Londres: HarperCollins, 2002), p. xx.
5 . Green e Hooper, CS Lewis: A Biography , p. 119
6 . CS Lewis, Surprised by Joy (Londres: HarperCollins, Fount ed., 1998), p. 4
7 . Ibid.
8 . Ibid.
9 . Ibidem, p. 7
10 . “Lewis Papers” nã o publicados, citado em Green and Hooper, CS Lewis: A
Biography , p. 119
11 . Walter Hooper, org., They Stand Together: The Letters of CS Lewis to Arthur
Greeves (1914–1963) (New York: Macmillan, 1979), pp. 432–33.
12 . GK Chesterton, George Bernard Shaw (1909), Collected Works, vol. II (San
Francisco: Ignatius Press, 1989), pp. 385-86.
13 . Ibidem, p. 386.
14 . Ibid., Pp. 374-75.
15 . Michael Holroyd, Bernard Shaw , vol. 1, The Search for Love (Loudon:
Chatto, 1988), p. 5
16 . WH Lewis, “CS Lewis: A Biography” (manuscrito nã o publicado); Coleçã o
Wade, Wheaton College, Wheaton, Illinois.
17 . WH Lewis em conversa com George Sayer, em Christopher Derrick, CS
Lewis e a Igreja de Roma (San Francisco: Ignatius Press, 1981), pp. 26-27.
18 . Walter Hooper, ed., CS Lewis: Collected Letters (Londres: HarperCollins,
2000), 17.
19 . Ibidem, p. 8
20 . Lewis, Surprised by Joy , pp. 24-25.
21 . Ibidem, p, 49.

CAPÍTULO 2
1 . CS Lewis, Surprised by Joy (Londres: HarperCollins, Fount ed., 1998), p. 148
2 . Ibidem, p. 124
3 . Walter Hooper, ed., CS Lewis: Collected Letters (London: HarperCollins,
2000), 1: 230-31.
4 . Ibidem, 1: 234.
5 . Ibidem, 1: 235.
6 . Ibidem, 1: 379.
7 . GK Chesterton, Collected Poetry , parte i, Collected Works, vol. 10 (San
Francisco: Ignatius Press, 1994), pp. 523–24.
8 . Hooper, CS Lewis: Collected Letters , 1: 397.
9 . Ibid., 1: 443.
10 . Ibid.
11 . Ibidem, 1: 281.
12 . Ibidem, 1: 311.
13 . Ibidem, 1: 277.
14 . Laranja é a cor da lealdade do Ulster protestante. A Ordem de Orange,
uma sociedade secreta anticató lica cujos membros estã o abertos apenas aos
protestantes e que ainda é uma organizaçã o extremamente in luente no
Ulster, foi nomeada em homenagem a William, Prı́ncipe de Orange, cuja vitó ria
na Batalha de Boyne em 1690 efetivamente garantiu o sucesso da Revoluçã o
“Gloriosa” e o im da Monarquia Cató lica.
15 . Hooper, CS Lewis: Collected Letters , 1: 330. Patsy Macan é uma
personagem de "The Crock of Gold", uma histó ria do poeta irlandê s James
Stephens, publicada em 1912.
16 . Ibid., 1: 303–6. Plunkett, junto com Padraic Pearse e outros, foi executado
por sua participaçã o no Levantamento da Pá scoa em Dublin em 19: 6, apenas
um ano antes de Lewis e Butler se conhecerem.
17 . Ibid., 1: 307.
18 . Ibidem, 1: 307, 315.
19 . Ibidem, 1: 212.
20 . Ibidem, 1: 285.
21 . Lewis, Surprised by Joy , pp. 147-48.
22 . Ibidem, p. 148
23 . Hooper, CS Lewis: Collected Letters , 1: 169–70.
24 . Do prefá cio de Lewis a George MacDonald: An Anthology (Londres: Geoffrey
Bles, 1946), citado em Roger Lancelyn Green e Walter Hooper, CS Lewis: A
Biography , rev. ed. (Londres: HarperCollins, 2002), p. 27
25 . Ibid.
26 . CS Lewis, The Great Divorce (Nova York: Macmillan, 1952), p. 61
27 . Hooper, CS Lewis: Collected Letters , 1: 275.
28 . Ibidem, 1: 303.
29 . Ibidem, 1: 65–66.
30 . CS Lewis, Prayer: Letters to Malcolm , centenary ed. (Londres:
HarperCollins, Fount ed., 1998), p. 104
31 . Hooper, CS Lewis: Collected Letters , 1: 359.
32 . Ibidem, 1: 353.
33 . Ibid., 1: 475-76,
34 . Ibid., 1: 520.
35 . GK Chesterton, The Everlasting Man (1925), Collected Works, vol. 2 (San
Francisco: Ignatius Press, 1986), p. 147
36 . Ibid., Pp. 156-57.
37 . Lewis, Surprised by Joy , p. 166
38 . Ibidem, p. 173

CAPÍTULO 3
1 . CS Lewis, Surprised by Joy (repr. London: HarperCollins, 1998), p. 168
2 . CS Lewis, All My Roads before Me: The Diary of CS Lewis, 1922–1927 (Nova
York: Harcourt Brace, 1991), pp. 431–32.
3 . Ibidem, p. 432.
4 . Walter Hooper, ed., CS Lewis: Collected Letters (Londres: HarperCollins,
z000), 1: 901.
5 . Ibidem, 1: 904.
6 . Ibidem, 1: 915.
7 . Ibid., 5: 857.
8 . Lewis, Surprised by Joy , p. 168
9 . Lewis, All My Roads before Me , pp. 392-93.
10 . Humphrey Carpenter, The Inklings (Londres: George Allen and Unwin,
1978), p. 28
11 . Ibidem, p. 30
12 . Ibidem, p. 32
13 . Carta de Tolkien para Clyde Kilby, 18 de dezembro de 1965; Coleçã o
Wade, Wheaton College, Wheaton, Illinois.
14 . Walter Hooper, entrevista com o autor, Oxford, 20 de agosto de 1996.
15 . Humphrey Carpenter. JRR Tolkien: A Biography (Londres: George Allen and
Unwin, 1977), p. 151
16 . Mais detalhes da exposiçã o de Tolkien sobre a natureza do mito e sua
relaçã o com o Cristianismo podem ser encontrados em muitos de seus
pró prios escritos, particularmente no ensaio "Sobre Histó rias de Fadas;" em
sua curta alegoria "Leaf by Niggle", em seu poema "Mythopoeia"; em suas
cartas publicadas; e no mito da criaçã o em O Silmarillion .
17 . Carpenter, The Inklings , p. 44,
18 . Lewis, Surprised by Joy , pp. 178-79.
19 . Carpenter, The Inklings , p. 45
20 . Waiter Hooper, ed., They Stand Together: The Letters of CS Lewis to Arthur
Greeves (1914–1963) (New York: Macmillan, 1979), pp. 427–28.
21 . Carpenter, The Inklings , p. 52

CAPÍTULO 4
1 . CS Lewis, The Pilgrim's Regress , 3ª ed. (Londres: Geoffrey Nes, 1943), p. 168
2 . Walter Hooper, ed., CS Lewis: Collected Letters (London: HarperCollins,
2000), 1: 915.
3 . Ibid., 1: 926.
4 . Ibidem, 1: 933.
5 . Ibid., 1: 974.
6 . CS Lewis, manuscrito nã o publicado na Biblioteca Bodleian, Oxford; citado
em Walter Hooper, ed., CS Lewis: A Companion & Guide (Londres: HarperCollins,
1996), p. 181.
7 . Ibid., Pp. 181-82.
8 . Bystander (8 de outubro de 1930), citado em Joseph Pearce, Literary
Converts (San Francisco: Ignatius Press, 1999), p. 167
9 . Roger Lancelyn Green e Walter Hooper, CS Lewis: A Biography ,
rev. ed. (London: HarperCollins, 2002), pp. 126-27.
10 . Lewis, The Pilgrim's Regress , p. 20
11 . Ibidem, p. 26
12 . Ibidem, p. 35
13 . Ibid., Pp. 57–58.
14 . Ibid., Pp. 63-64.
15 . Ibidem, p. 68
16 . Ibidem, p. 76
17 . Ibid., Pp. 77-78.
18 . Ibid., Pp. 80-81.
19 . Citado em Green e Hooper, CS Lewis: A Biography , p. 132
20 . Citado em William Grif in, CS Lewis: The Authentic Voice (Tring, Herts,
England: Lion Publishing, 1988), p. 167
21 . Lewis, The Pilgrim's Regress , p. 169
22 . Ibidem, p. 170
23 . Ibidem, p. 171
24 . Humphrey Carpenter, ed., The Letters of JRR Tolkien (Londres: George Allen
e Unwin, 1981), pp. 53-54.
25 . Este compê ndio de citaçõ es de vá rias resenhas foi extraı́do de citaçõ es em
Grif in, CS Lewis: The Authentic Voice , pp. 127-28; e Hooper, CS Lewis: A
Companion & Guide , p. 185
CAPÍTULO 5
1 . Humphrey Carpenter, ed., The Letters of JRR Tolkien (Londres: George Allen e
Unwin, 1981), pp. 95-96.
2 . Roger Lancelyn Green e Walter Hooper, CS Lewis: A Biography ,
rev. ed. (Londres: HarperCollins, 2002), p. 132
3 . Arthur Hazard Dakin, Paul Elmer More (Princeton University Press, 1960),
p. 327
4 . Christopher Derrick, CS Lewis e a Igreja de Roma (San Francisco: Ignatius
Press, 1981), pp. 148-49.
5 . CS Lewis, The Allegory of Love (Oxford: Clarendon Press, 1936), p. 322
6 . CS Lewis, The Pilgrim's Regress , 3ª ed. (Londres: Geoffrey Bles, 1943), p. 14
7 . Derrick, CS Lewis e a Igreja de Roma , p. 152
8 . Ibid.
9 . Ibidem, p. 153
10 . William Grif in, CS Lewis: The Authentic Voice (Tring, Heats, England: Lion
Publishing, 1988), p. 127
11 . Ibid.
12 . Humphrey Carpenter, The Inklings (Londres: George Allen and Unwin,
1978), p. 50
13 . WH Lewis, "CS Lewis, A Biography" (manuscrito nã o publicado, pp. 267-
68); Coleçã o Wade, Wheaton College, Wheaton, Illinois.
14 . A partir de um esboço que Lewis escreveu para a sobrecapa da primeira
ediçã o americana de Perelandra (Nova York: Macmillan, 1944); citado em
Walter Hooper, CS Lewis: A Companion & Guide (Londres: FlarperCollins, 1996),
p. 16
15 . CS Lewis, The Four Loves (Londres: Collins, Fontana ed., 1963), p. 62
16 . WH Lewis, "CS Lewis, A Biography," pp. 268-69.
17 . Citado em Green e Hooper, CS Lewis: A Biography , p. 166
18 . Lewis, Surprised by Joy , p. 180
19 . Bede Grif iths, The Golden String (Nova York: Kenedy, 1954), p. 120; citado
em Joseph Pearce, Literary Converts (San Francisco: Ignatius Press, 1999),
p. 220
20 . Hooper, CS Lewis: A Companion & Guide , p. 671.
21 . Owen Bar ield, entrevista com o autor; citado originalmente em Joseph
Pearce, Literary Converts , p. 220
22 . Clyde S. Kilby e Marjorie Lamp Mead, eds., Brothers and Friends: The
Diaries of Major Warren Hamilton Lewis (San Francisco: Harper and Row, 1982),
p. 193.
23 . Ibidem, p. 200
24 . Carpenter, The Letters of JRR Tolkien , p. 95
25 . Ibid., Pp. 95-96.
26 . Para obter mais detalhes sobre as experiê ncias de Campbell durante a
Guerra Civil Espanhola, consulte Joseph Pearce, Bloomsbury and Beyond: The
Friends and Enemies of Roy Campbell (Londres: HarperCollins, 2001).
27 . Carpenter, The Letters of JRR Tolkien , pp. 95-96.
28 . Ibid.
29 . Ibid.
30 . Carpenter, The Inklings , p. 192
31 . George Orwell, Homage to Catalonia , em Collected Works (Londres: Seeker
and Warburg / Octopus, 1980), p. 260
32 . Roy Campbell, Light on a Dark Horse (Londres: Hollis e Carter, 1951), pp.
320-21.
33 . Ibidem, p. 317.
34 . Lewis, The Pilgrim's Regress , p. 13
35 . Kilby e Mead, Brothers and Friends , p. 209.
36 . Muitos outros crı́ticos contemporâ neos, alé m de Lewis, deixaram de
apreciar as nuances ilosó icas e espirituais de The Waste Land e The Hollow
Men, de Eliot . Chesterton, por exemplo, foi vocal em sua desaprovaçã o do
verso anterior de Eliot, mas veio a reconhecer, especialmente apó s a
publicaçã o de Murder in the Cathedral , que ele e Eliot eram espı́ritos a ins que
compartilhavam os fundamentos de uma fé comum e um desejo comum de
comunicar sua beleza por meio da literatura.
37 . WH Lewis, "CS Lewis, A Biography," p. 265,
38 . Kilby e Mead, Brothers and Friends , p. 197.

CAPÍTULO 6
1 . WH Lewis, ed., Letters of CS Lewis (Nova York: Harcourt, Brace and World,
1966), p. 167
2 . WH Lewis, “CS Lewis, A Biography” (manuscrito nã o publicado, p.
302); Coleçã o Wade, Wheaton College, Wheaton, Illinois.
3 . Humphrey Carpenter, ed., The Letters off JRR Tolkien (Londres: George Allen
e Unwin, 1981), pp. 63-64.
4 . Walker Hooper, ed., CS Lewis: Collected Letters (Londres: HarperCollins,
2000) 1: 908–9
5. GK Chesterton, Culture and the Coming Peril (Londres: University of London,
1927), pp. 16-17.
6 . WH Lewis, Letters of CS Lewis , pp. 166-67.
7 . Ibidem, p. 167
8 . O prefá cio de Hooper para CS Lewis, Of This and Other Worlds (repr. London:
HarperCollins, Fount ed., 1984), p. 17
9 . Ibid.
10 . Ibid.
11 . Ibidem, p. 18
12 . CS Lewis, Surprised by Joy (repr. London: HarperCoLlins, Fount ed., 1998),
p. 26
13 . Humphrey Carpenter, JRR Tolkien: A Biography (Londres: George Allen and
Unwin, 1977), pp. 173.
14 . Christopher Beiting, "Ciê ncia e Tentaçã o da Trilogia Espacial de CS
Lewis", Saint Austin Review 2, no. 6 (junho de 2002).
15 . CS Lewis, The Cosmic Trilogy: Out of the Silent Planet , Perelandra , That
Hideous Strength (Londres: Bodley Head, 1990), p. 105
16 . Ibidem, p. 196
17 . Ibidem, p. 198.
18 . Ibidem, p. 201
19 . Ibidem, p. 109
20 . Roger Lancelyn Green e Walter Hooper, CS Lewis: A Biography ,
rev. ed. (Londres: Harpereollins, 2002), p. 198.
21 . Carpenter, The Letters off. JRR Tolkien , p. 172
22 . Walter Hooper, ed., CS Lewis: A Companion & Guide (Londres:
HarperCollins, 1996), p. 222.
23 . Dante, Purgatorio , canto xxviii, 11.34-42 (traduçã o de Henry Wadsworth
Longfellow).
24 . Lewis, Perelandra , em The Cosmic Trilogy , p. 171
25 . Dorothy L. Sayers, comentá rio ao canto xxviii do Purgatório de
Dante ; Dante, A Divina Comédia: Purgatório , trad. Dorothy L. Sayers (Londres:
Penguin Classics, 1955), pp. 293-94.
26 . Hooper, CS Lewis: A Companion & Guide , p. 222.
27 . Green e Hooper, CS Lewis: A Biography , pp. 200–201.
28 . Edith Sitwell, Taken Care Of: An Autobiography (Londres: Readers Union,
1965), p. 154
29 . Lewis, That Hideous Strength , em The Cosmic Trilogy , p. 338
30 . Green e Hooper, CS Lewis: A Biography , p. 212.
31 . Lewis, That Hideous Strength , em The Cosmic Trilogy , p. 544.
32 . Green e Hooper, CS Lewis: A Biography , p. 210.
33 . Lewis, That Hideous Strength , em The Cosmic Trilogy , p. 569.
34 . Christopher Derrick, CS Lewis e a Igreja de Roma (San Francisco: Ignatius
Press, 1981), pp. 23-24.
35. Ibid., Pp. 25-26.

CAPÍTULO 7
1 . CS Lewis, The Great Divorce (Nova York: Macmillan, 1952), p. 63
2 . Roger Lancelyn Green e Walter Hooper, CS Lewis: A
Biography, rev. ed. (Londres: HarperCollins, 2002), p. 282.
3 . Humphrey Carpenter, ed., The Letters of JRR Tolkien (Londres: George Allen e
Unwin, 1981), p. 71
4 . Reginald Heber, ed., Jeremy Taylor: Whole Works (London: 1822), 5:45,
citado em Walter Hooper, CS Lewis: A Companion & Guide (Londres:
HarperCollins, 1996), p. 279.
5 . Esta traduçã o, publicada pela primeira vez em CS Lewis: A Companion &
Guide , de Hooper , é do Padre Jerome Bertram do Orató rio de Oxford.
6 . Prudentius Aurelius Clemens, de seu “Hino para a Iluminaçã o da Lâ mpada”
em Liber Cathemerinon , citado em Hooper, CS Lewis: A Companion & Guide ,
p. 280
7 . Clyde S. Kilby e Marjorie Lamp Mead, eds., Brothers and Friends: The Diaries
of Major Warren Hamilton Lewis (San Francisco: Harper and Row, 1982), pp.
102–3.
8 . Para ser mais preciso, The Great Divorce foi publicado pela primeira vez em
quinze episó dios no The Guardian entre 10 de novembro de 1944 e 14 de abril
de 1945, e foi publicado em forma de livro por Geoffrey Bles em janeiro de
1946.
9 . Lewis, O Grande Divórcio , p. 62
10 . The Voyage of Saint Brendan , trad. John J. O'Meara (Dublin: Dolmen Press,
1978), p. 57
11 . Agradeço ao padre Bertram por sua exposiçã o de toda esta questã o, cujo
texto completo foi publicado em Hooper, CS Lewis: A Companion & Guide , pp.
280-81. As fontes do padre Bertram també m sã o fornecidas em
Hooper's Companion
12 . Citado em WA Jurgens, ed., The Faith of the Early Fathers (Collegeville,
Minn .: Liturgical Press, 1979), 3: 152.
13 . Lewis, O Grande Divórcio , p. 63
14 . Ibidem, p. 69
15 . Ibidem, p. 65
16 . Green e Hooper, CS Lewis: A Biography , p. 164
17 . Lewis, The Great Divorce , pp. 28-29.
18 . Ibid., Pp. 31–40.
19 . Ibid., Pp. 56-58.
20 . Isso é ainda mais evidente na maneira como, algumas pá ginas depois,
Lewis lida com o estado miserá vel do Fantasma lascivo ou lascivo, cujo
destino condená vel é uma representaçã o simbó lica de Magdalen Impenitente.
21 . Em toda esta passagem, Lewis apresenta, em imagens poé ticas, um
prenú ncio da profundidade mı́stica da “Teologia do Corpo” do Papa Joã o
Paulo II.
22 . Lewis, O Grande Divórcio , p. 63
23 . Ibidem, p. 129
24. Ibidem, p. 129

CAPÍTULO 8
1 . CS Lewis, introduçã o a The Encarnation of the Word , trad. Irmã Penelope
(Nova York: Macmillan, 1946); citado em Walter Hooper, CS Lewis: A
Companion & Guide (Londres: HarperCollins, 1996), p. 579.
2 . Ibid, pp. 295-96.
3 . Richard Baxter, “What History Is Credible, and What Not” , História da Igreja
do Governo dos Bispos e Seus Concílios (1680), p. xv; citado em Roger Lancelyn
Green e Walter Hooper, CS Lewis: A Biography , rev. ed. (Londres:
HarperCollins, 2002), p. 247.
4 . CS Lewis, Mere Christianity (Londres: Cof ins, Fontana ed., 1955), p. 6; As
palavras de Lewis sã o, é claro, um eco do Câ non Vicentino (434 DC), um dos
primeiros testes para a catolicidade: “aquilo que foi acreditado em todos os
lugares, em todos os tempos, por todas as pessoas”.
5 . GK Chesterton, Orthodoxy (San Francisco: Ignatius Press, 1995), p. 17
6 . Lewis, Mere Christianity , pp. 6-7.
7 . Ibidem, p. 6
8 . Ibidem, p. 7
9 . Peter Milward, SJ, A Challenge to CS Lewis (Londres: Associated University
Presses, 1995), pp. 61-63.
10 . Lewis, Mere Christianity , p. 8

CAPÍTULO 9
1 . CS Lewis, "The Weight of Glory", publicado em Screwtape Proposes a Toast
and Other Pieces (Londres: HarperCollins, Fount ed., 1977), pp. 109-10
2 . CS Lewis, Mere Christianity (Londres: Collins, Fontana ed., 1955), p. 42
3 . Ibid.
4 . Ibidem, p. 59.
5 . Ibidem, p. 62
6 . Ibidem, p. 70
7 . Roger Lancelyn Green e Walter Hooper, CS Lewis: A Biography ,
rev. ed. (Londres: HarperCollins, 2002), p. 388.
8 . Lewis, Mere Christianity , p. 133
9 . GK Chesterton, Orthodoxy (Londres: Sheed and Ward, Unicorn ed., 1939),
pp. 134-35.
10 . Lewis, Mere Christianity , p. 12
11 . Walter Hooper, CS Lewis: A Companion & Guide (Londres: HarperCollins,
1996), p. 311.
12 . Ibid.
13 . Walter Hooper, entrevista com o autor.
14 . Lewis, Mere Christianity , p. 168
15 . Lewis, Screwtape Proposes a Toast , pp. 109-10.
16 . Hooper, CS Lewis: A Companion & Guide , p. 719.
17 . Ibid., Pp. 719–20.
18 . Benet O'Driscoll, em Blackfriars 21 (dezembro de 1940): 718–20; citado
em Hooper, CS Lewis: A Companion & Guide , p. 302.
19 . Church Times 123 (29 de novembro de 1940). Citado em Hooper, CS Lewis:
A Companion & Guide , p. 302.
20 . Times Literary Supplement (21 de outubro de 1944). Citado em Green e
Hooper, CS Lewis: A Biography , p. 265.
21 . CS Lewis, Christian Re lections (Londres: HarperCollins, Fount ed., 1981),
p, 65.
22 . Walter Hooper, org., They Stand Together: The Letters of CS Lewis to Arthur
Greeves (1914–1963) (New York: Macmillan, 1979), p. 502.
23 . Clyde S. Kilby, The Christian World of CS Lewis (Appleford, Abingdon, Berks,
England: Marcham Manor Press, 1965), p. 157
24 . Lewis, Christian Re lections , p. 43
25 . William Grif in, CS Lewis: The Authentic Voice (Tring, Herts, England: Lion
Publishing, 1988), p. 313.
26 . Lewis, Mere Christianity , p. 116
27 . WH Lewis, ed., Letters of CS Lewis (Nova York: Harcourt, Brace and World,
1966), p. 235.
28 . CS Lewis e Don Giovanni Calabria, The Latin Letters of CS Lewis (South
Bend, Ind .: St. Augustine's Press, 1998), p. 31
29 . Ibidem, p. 37
30 . Ibidem, p. 31
31 . Ibidem, p. 41
32 . A apresentaçã o altamente romantizada do casamento de Lewis nas duas
versõ es cinematográ icas de Shadowlands nã o deve ofuscar as anomalias ou
irregularidades reais no modo de Lewis de proceder com seu casamento com
a Sra. Gresham. Ciente de que nã o se deve julgar para nã o ser julgado, nã o
tenho inclinaçã o ou desejo de discutir a retidã o ou nã o das açõ es de
Lewis. Há , no entanto, uma indicaçã o real da confusã o dentro da igreja
anglicana de que um bispo poderia se recusar a conduzir o casamento sob o
argumento de que a Sra. Gresham era divorciada, mas que outro clé rigo
anglicano poderia ignorar sua decisã o e se casar com eles de qualquer
maneira. E interessante notar que, no Direito Canô nico Cató lico, é prová vel
que o primeiro casamento de Joy Gresham teria sido anulado por ter sido
contraı́do entre dois ateus que nã o tinham noçã o da natureza sacramental de
sua uniã o (alé m do fato de que seu primeiro marido já era divorciada na
altura do casamento). E irô nico, mesmo que em ú ltima aná lise hipoté tico, que
Lewis pudesse ter, como cató lico, casado Joy sem a confusã o que ofusca a
forma como seu casamento foi celebrado como anglicano.
33 . Hooper, CS Lewis: A Companion & Guide , p. 755.
34 . WH Lewis, ed., Letters , p. 191.
35 . Ibid., Pp. 249–50.
36 . Humphrey Carpenter, JRR Tolkien: A Biography (Londres: George Allen and
Unwin, 1977), p. 155
37 . CS Lewis, Letters to an American Lady (Grand Rapids, Mich: William B.
Eerdmans, 1967), p. 23
38 . Barbara Reynolds, Dorothy L. Sayers: Her Life and Soul (Londres: Scepter,
1993), p. 406.
39 . Ibid., Pp. 406-7.
40 . Barbara Reynolds, entrevista com a autora, Cambridge, Inglaterra, 19 de
setembro de 1996; citado originalmente em Joseph Pearce, Literary
Converts (San Francisco: Ignatius Press, 1999), p. 272.
41 . Ibid.
42 . Reynolds, Dorothy L. Sayers , p. 407.
43 . CS Lewis, "Priestesses in the Church", em God in the Dock (Londres:
HarperCollins, Fount ed., 1979), pp. 88-94.
44 . Ibid.

CAPÍTULO 10
1 . Humphrey Carpenter, ed., The Letters of JRR Tolkien (Londres: George Allen e
Unwin, 1981), pp. 95-96.
2 . Walter Hooper, "CS Lewis e CS Lewises", em Michael H. MacDonald e
Andrew A. Tadie, eds., GK Chesterton e CS Lewis: The Riddle of Joy (Londres:
Collins, 1989), p. 45
3 . CS Lewis, Prayer: Letters to Malcolm , centenary ed. (Londres: HarperCollins,
Fount ed., 1998), p. 110
4 . Ibidem, p. 11
5 . Ibidem, p. 103
6 . Ibidem, p. 11
7 . WH Lewis, ed., Letters of CS Lewis (Nova York: Harcourt, Brace and World,
1966), p. 307.
8 . Roger Lancelyn Green e Walter Hooper, CS Lewis: A Biography ,
rev. ed. (Londres: HarperCollins, 2002), p. 430.
9 . The Tablet (7 de dezembro de 1963).
10 . George Mackay Brown, Hawkfall and Other Stories (Londres: Hogarth
Press, 1974), p. 191.
11 . George Macicay Brown, For the Islands I Sing (Londres: John Murray,
1997), p. 49
12 . George Scott-Moncrieff, The Mirror and the Cross: Scotland and the Catholic
Faith (Londres: Burns and Oates, 1960), pp. 153-54.
13 . Christopher Derrick, CS Lewis e a Igreja de Roma (San Francisco: Ignatius
Press, 1981), pp. 39-40.
14 . Ibidem, p. 40
15 . Clyde S. Kilby e Marjorie Lamp Mead, eds., Brothers and Friends: The
Diaries of Major Warren Hamilton Lewis (San Francisco: Harper and Row, 1982),
pp. 201-2.
16 . WH Lewis para Edward A. Allen, 12 de julho de 1969; Coleçã o Wade,
Wheaton College, Wheaton, Illinois.
17 . WH Lewis para Blanche Briggs, Dia da Pá scoa de 1969; Coleçã o Wade,
Wheaton College, Wheaton, Illinois.
18 . WH Lewis para Blanche Briggs, 23 de junho de 1969; Coleçã o Wade,
Wheaton College, Wheaton, Illinois.
19 . WH Lewis para Blanche Briggs, 28 de agosto de 1969; Coleçã o Wade,
Wheaton College, Wheaton, Illinois.

CAPÍTULO 11
1 . CS Lewis para Miss Breckenridge, 16 de agosto de 1960; citado em WH
Lewis, “CS Lewis: A Biography” (manuscrito nã o publicado, p. 442); Coleçã o
Wade, Wheaton College, Wheaton, Illinois.
2 . CS Lewis, “Tern Seed and Elephants,” repr. em Christian
Re lections (Londres: HarperCollins, Fount ed., 1981), p. 192. Em uma ediçã o
dos Estados Unidos (William B. Eerdmans, 1967), este ensaio foi intitulado
"Teologia Moderna e Crı́tica Bı́blica".
3 . CS Lewis, God in the Dock (Londres: HarperCollms, Fount ed., 1979), p. 88
4 . James T. Como, ed., CS Lewis at the Breakfast Table (London: Collins, 1980),
p. 147
5 . Citado em Roger Lancelyn Green e Walter Hooper, CS Lewis: A Biography ,
rev. ed. (Londres: HarperCollins, 2002), p. 425.
6 . Adrian Hastings, A History of English Christianity 1920–1990 , 3d
ed. (Londres: SCM Press, 1990), p. 537.
7 . Green e Hooper, CS Lewis: A Biography , p. 423.
8 . Ibidem, p. 422.
9 . Walter Hooper, CS Lewis; A Companion & Guide (Londres: HarperCollins,
1996), p. 607.
10 . Christopher Derrick, CS Lewis e a Igreja de Roma (San Francisco: Ignatius
Press, 1981), p. 53
11 . Ibid., Pp. 53-54.
12 . Green e Hooper, CS Lewis: A Biography , p. 422.
13 . Christopher Derrick, entrevista com o autor, setembro de 1996; citado em
Joseph Pearce, Literary Converts (San Francisco: Ignatius Press, 1999), p. 274.
14 . Ann Widdicombe, Sunday Telegraph (18 de agosto de 2002).
15 . Lewis, God in the Dock , pp. 83-84.
16 . Daily Telegraph (31 de julho de 2002).
17 . CS Lewis, The Pilgrim's Regress , 3ª ed. (Londres: Geoffrey Bles, 1943), pp.
118-19.
18 . CS Lewis, The Great Divorce (Nova York: Macmillan, 1952), p. 40
19 . Iain T. Benson, carta ao autor, 22 de agosto de 1996; citado em
Pearce, Literary Converts , p. 408.
20 . Crise (julho a agosto de 1994).
21 . “Tolkien e CS Lewis: Uma Entrevista com Walter Hooper,” em Tolkien: A
Celebration , ed. Joseph Pearce (San Francisco: Ignatius Press, 2001), pp. 196–
97.
22 . CS Lewis, Mere Christianity (Londres: HarperCollins, Fount ed., 1955),
p. 12
23 . William Shakespeare, “Soneto 73”.
24 . Maurice Baring, Collected Poems (Londres: William Heinemann, 1925),
p. 66

APÊNDICE
1 . Walker Percy, introduçã o a Dan O 'Neill, ed., The New Catholics:
Contemporary Converts Tell their Stories (Nova York: Crossroad Publishing
Company, 1987).
2 . Sheilah Ward Ling, Your Glory Re lected: 20 Outstanding Christians of the
Twentieth Century (Staten Island, NY: Alba House Books, 1993).
3 . Leonard Cheshire, onde está Deus em tudo isso? (Slough, Berkshire, Reino
Unido: St. Paul Publications, 1991), p. 26
4 . Lewis, Surprised by Joy , p. 182
5 . Walter Hooper, ed., CS Lewis: Collected Letters Volume 1 (Londres:
HarperCollins, 2000), p. 881.
6 . Dom Bede Grif iths, The Golden String (Nova York: PJ Kenedy & Sons,
1954); citado em Walter Hooper, ed., CS Lewis: Collected Letters Volume
2 (Londres: Harper Collins, 2004), p. 1044.
7 . Hooper, ed., CS Lewis: Collected Letters Volume 1 , pá g. 858.
8 . Walter Hooper, ed., CS Lewis: Collected Letters Volume 3 (Londres: Harper
Collins, 2007), pp. 1708–1709.
9 . Caitlin Matthews, The Guardian (31 de janeiro de 2000).
10 . Fr. Ian Ker, entrevista com Marcus Grodi para The Journey Home (Biblioteca
de Audio EWTN).
11 . Citado em John Beaumont, ed., Roads to Rome (South Bend, IN: St.
Augustine's Press, 2010), p. 353.
12 . Michael Coren, correspondê ncia com o autor (junho de 2013).
13 . Ibid.
14 . Al Kresta, correspondê ncia com o autor (junho de 2013).
15 . Mark Brumley, correspondê ncia com o autor (junho de 2013).
16 . Ibid.
17 . Ibid.
18 . Madeleine Stebbins, “A Ousadia de um Estranho: Correspondê ncia entre
CS Lewis e H. Lyman Stebbins”, Lay Witness (novembro de 1998).
19 . Ibid.
20 . Ibid.
21 . Ibid.
22 . Lorene Hanley Duquin, A Century of Catholic Converts (Huntington,
Indiana: Our Sunday Visitor 2003), p. 170
23 . Ibid.
24 . Ronda Chervin, correspondê ncia com a autora (junho de 2013).
25 . Mark Oppenheimer, “Ross Douthat's Fantasy World”, Mother
Jones (janeiro-fevereiro de 2010).
26 . Thomas Howard, correspondê ncia com o autor (junho de 2013).
27 . Ian Hunter, "My Path to Rome", em That Time of Year: The Best of Ian
Hunter , Ottawa, ON: Justin Press, 2010, pp. 16-31
28 . Ibid.
29 . Peter Kreeft, “Hauled Aboard the Ark,” www.peterkreeft.com .
30 . Peter Kreeft, correspondê ncia com o autor (junho de 2013).
31 . Ibid.
32 . Lorraine Murray, correspondê ncia com o autor (junho de 2013).
33 . Jef Murray, correspondê ncia com o autor (junho de 2013).
34 . Citado em “Dr. Bernard Nathanson, RIP ”em www.catholicleague.org (22
de fevereiro de 2011).
35 . Citado em pe. Crı́tica do livro por John McCloskey em L'Osservatore
Romano (ediçã o em inglê s) (20 de novembro de 1996).
36. Kevin O'Brien, correspondê ncia com o autor (junho de 2013).
37 . Kevin O'Brien, correspondê ncia com o autor (junho de 2013).
38 . Carl Olson, correspondê ncia com o autor (junho de 2013).
39 . Ibid.
40 . “Uma entrevista com o Dr. Richard Purtill,” Ignatius Insight (junho de
2005: www.ignatiusinsight.com ).
41 . Richard L. Purtill, "Chesterton, the Wards, the Sheeds, and the Catholic
Revival" em Michael H. Macdonald e Andrew A. Tadie, eds., GK Chesterton e CS
Lewis: The Riddle of Joy (Londres: Collins Religious Publications, 1989), p. 22.
Este excelente artigo també m foi republicado como um apê ndice em Richard
Purtill, Reason to Believe (San Francisco: Ignatius Press, 2009).
42 . Gene Wolfe, entrevista com James B. Jordan em 1992, republicada em
Peter Wright, org., Shadows of the New Sun: Wolfe on Writing / Writers on
Wolfe (Liverpool: Liverpool University Press, 2007), p. 102
42 . Thomas Storck, correspondê ncia com o autor (junho de 2013).
43 . John Mallon, “A Conversation with Walter Hooper”, Crisis (julho-agosto de
1994).
44 . Uma freira beneditina e escritora que serviu como conselheira espiritual
dos convertidos Siegfried Sassoon e Alec Guinness.
45. Carta nã o publicada, uma có pia da qual me foi enviada por Stratford
Caldecott em 22 de novembro de 2006, coincidentemente no aniversá rio da
morte de Lewis.

S AINT B ENEDICT┼ P RESS


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