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"Às vezes, doutrinas que pensamos que conhecemos são aquelas em que
precisamos ser fundamentados de novo e a paternidade de Deus é uma
delas. Reconhecemos que em Jesus, Deus é nosso pai, e que a graça em
Cristo nos deu acesso ao Pai pelo Espírito. Mas quais são os contornos
desta doutrina bíblica rica e preciosa? Esta coleção de ensaios ajudará a
responder a essa pergunta enquanto somos conduzidos à glória do ser
trino de Deus, bem como a ver o Pai na face de Jesus Cristo e a confiar
novamente nos cuidados de nosso Pai celestial por nós. Este é um livro
para iluminar a mente e aquecer o coração."
Rev. Dr. lain D. Campbell, pastor, Free Church of Scotland em Point,
Ilha de Lewis, Escócia
s
m ISBN: 978-85-7622-695-6
Conselho Editorial
A n tô n io C o in e Produção Editorial
C lá u d io M a rra (P resid en te) T rad u ção
H e b e r C a rlo s d e C a m p o s Jr. Ja d e r San to s
M a rc o s A n d ré M arq u es R ev isão
M a u ro F ern an d o M eister M au ro F ilgu eiras
M isa el B a tista d o N ascim e n to S eb a stian a G o m e s d e P au la
T arcízio Jo sé d e F reitas C arv alh o D e n is B e n ja m in Silveira
E d ito ra ção
F elipe M arqu es
C ap a
O M D e sign e rs G ráficos
B414b Beeke, Jo el R.
IS B N 978-8 5 -7 6 2 2 -6 9 5 -6
T rad u ção The b e au ty a n d g lo ry o f th e father
C D U 27-584
A posição doutrinária da Igreja Presbiteriana do Brasil é expressa em seus “símbolos de fé”, que apresentam o modo
Reformado e Presbiteriano de compreender a Escritura. São esses símbolos a Confissão de Pé de Westminster e seus
catecismos, o M aior e o Breve. Como Editora oficial de uma denominação confessional, cuidamos para que as obras
publicadas espelhem sempre essa posição. Existe a possibilidade, porém, de autores, às vezes, mencionarem ou mesmo
defenderem aspectos que refletem a sua própria opinião, sem que o fato de sua publicação por esta Editora represente
endosso integral, pela denominação e pela Editora, de todos os pontos de vista apresentados. A posição da denomina
ção sobre pontos específicos porventura em debate poderá ser encontrada nos mencionados símbolos de fé.
€
6DITORR CUlTURfi CRISTÃ
Prefácio......................................................................................................... 9
A visão da glória do Pai em seu Filho unigênito
1. O amor do Pai para com seu Filho........................................................15
2. Pai e Filho no êxodo................................................................................ 31
A adoração dos atributos belíssim os do Pai
3. A santidade do Pai no Antigo Testamento............................................43
4. A misericórdia do Pai............................................................................... 51
5. Richard Sibbes sobre a misericórdia e fidelidade do P ai....................59
C onhecendo D eus o Pai co m o Salvador
6. Vendo o Pai na face de Jesus....................................................................75
7. A visão do apóstolo João e dos puritanos sobre o amor adotivo e
transformador do Pai.................................................................................87
Descansando nas mãos amorosas do Pai
8. Seu Pai no céu ......................................................................................... 115
9. Aconselhamento e a paternidade de Deus..........................................125
10. A linda mão do Pai na sua abençoada correção................................ 133
C onclusão
11. A necessidade de uma piedade trinitária.............................................145
Contribuições............................................................................................157
Prefácio
C
risto veio para dar a pecadores acesso ao Pai (Ef 2.18). Deus enviou
seu Filho para redimi-los para adoção como filhos de Deus, e ele
enviou seu Espírito para tornar essa adoção uma realidade sentida
(G1 4.4-6). Portanto, quando o Senhor Jesus ensinou seus discípulos a orar,
suas primeiras palavras foram “Pai nosso” (Mt 6.9). A paternidade de Deus
é um consolo de doçura infinita àquele que crê.
Conhecer Deus como nosso Pai por adoção enfatiza os privilégios
abundantes de todo cristão. William Perkins (1558-1602) disse que um
crente deveria estimar sua adoção como filho de Deus acima de ser filho
ou herdeiro de qualquer rei mundano, já que o filho do maior imperador
pode estar debaixo da ira de Deus, mas o filho de Deus tem Cristo como
seu irmão mais velho, o Espírito Santo como seu confortador, e o reino
dos céus como sua herança. Porém, poucas pessoas experimentam isso.
Perkins disse: “ Homens se maravilharão com nomeações mundanas; mas
raramente se encontrará um homem que exulta em ser o filho de Deus.
Mas... temos que aprender a ter mais alegria em sermos filhos de Deus, do
que sermos herdeiros de qualquer reino mundano” .1
Tivemos o privilégio de nos regozijar no Pai na conferência do Seminário
Reformado Puritano em agosto de 2012. Quase quinhentas pessoas sentaram
aos pés de Jesus Cristo e ouviram enquanto ele revelava seu Pai. Nós agra
decemos a Deus por ter trabalhado durante a pregação das Escrituras, pela
administração, pelos professores visitantes e pelos amigos do seminário. Cada
capítulo desse livro representa uma mensagem apresentada na conferência.2
Nós vimos a beleza do Pai brilhar em seu Filho amado, Jesus Cristo.
Rev. Bartel Elshout nos levou a exaltar sobre vários testemunhos bíblicos
que todas as coisas, da criação à redenção e à glorificação final, giram em
torno do amor do Pai por seu Filho. Dr. Jerry Bilkes desenhou a imagem
vivida de Deus chamando seu filho do Egito (Os 11.1), da vida do Egito
antigo para a vida de Cristo e para nossas vidas hoje em dia.
Nós adoramos o Pai por sua glória. Dr. Derek Thomas colocou em
nosso coração o temor do Senhor e o conhecimento do Deus Santo como
foi revelado na visão de Isaías (Is 6). Dr. WilliamVan Doodewaard fez uma
exposição do presente misericordioso do Pai da regeneração para uma he
rança indestrutível (lPe 1.3-5). Rev. Paul Smalley refrescou a nossa alma
com o poço dos ensinamentos de Richard Sibbes sobre a misericórdia e a
fidelidade de nosso Pai.
Crescemos em nosso conhecimento do Pai como nosso Deus salvador.
Dr. Thomas nos guiou a uma meditação teologicamente rica sobre ver o
Pai na face de Jesus. Eu apresentei nossa adoção por Deus e, com a assistên
cia dos Puritanos, apresentei várias aplicações práticas dela.
Encontramos descanso nas mãos orientadoras e providenciais de nosso
Pai celestial. Dr.VanDoodewaard nos ensinou sobre nosso Pai no contexto
do sermão do monte. Dr. David Murray nos mostrou algumas implicações
da paternidade de Deus para o aconselhamento bíblico. Rev. Burk Parsons
nos mostrou a beleza do amor na disciplina do Pai para com seus filhos.
Nós também resumimos o tema trinitário das últimas três conferências
sobre a beleza e glória do Pai, Filho e Espírito Santo.3 Rev. Ryan McGraw
nos desafiou a moldar toda a nossa piedade —a antiga e preciosa palavra
para santidade de coração e vida —com o caráter trinitário de nosso Deus.
Ele também nos desafiou a nos examinarmos para discernirmos se nós,
como indivíduos, somos salvos por esse Deus através do único Mediador.
A paternidade de Deus está inegavelmente entrelaçada com o evange
lho de nosso Senhor Jesus Cristo. Perkins disse que o propósito do evange
lho é “ revelar Deus não somente como Criador, mas como Pai” , e de nos
levar a conhecê-lo como “nosso Pai em Cristo; e, consequentemente, nos
portarmos como filhos obedientes a ele em todos os aspectos. Aqueles que
não fazem isso, não conhecem a intenção do evangelho” .4
4 P E R K I N S . A Commentarie or Exposition vpon the Five First Chapters o f the Epistle to the Galatians, em
Workes72:\ 64.
PREFÁCIO .rt 11
O
terceiro capítulo do evangelho de João recorda a conversa de
Jesus com Nicodemos sobre a necessidade de um novo nasci
mento (v. 1-13), sua articulação do evangelho bíblico (v. 14-21)
e o testemunho profundo de João, o Batista, sobre Cristo (v. 22-36) -
palavras que marcaram a conclusão do ministério público de João Ba
tista. Nesse segmento final do capítulo, em meio à confissão comovente
de João Batista de que Cristo deve crescer e ele diminuir (v. 30) e a
declaração solene de que a ira de Deus está sobre todos que não creem
no Filho (v. 36), nós encontramos essas palavras profundas: “ o Pai ama o
Filho” (v. 35). Essa declaração se destaca por sua simplicidade elegante,
mas a verdade contida nela é tão extraordinária que excede todas as
outras coisas nesse capítulo — até mesmo o fato de que Deus amou o
mundo de tal maneira que entregou seu Filho unigênito. Essas palavras
nos dizem por que Deus o Pai se comoveu ao entregar seu Filho para
ser o Salvador de um mundo caído: porque ele ama seu Filho!
Filho. Paulo escreve em Colossenses 1.16 que todas as coisas foram cria
das não somente pelo Filho, mas para ele. O universo todo, com todas as
suas realidades visíveis e invisíveis, foi criado para o Filho —tudo foi uma
expressão do amor infinito do Pai para com seu Filho. Foi seu presente de
amor. Portanto, ao concluir o trabalho da criação, o Pai viu que tudo “ era
muito bom” (Gn 1.31).
eles. João 1.18 nos diz que “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho uni-
gênito, que está no seio do Pai, este o fez conhecer” . Se nenhum homem
jamais viu a Deus em sua essência espiritual, então isso inclui Adão e Eva.
Portanto, o Filho unigênito de Deus, estando presente eternamente no
coração de seu Pai, declarou o Pai a Adão e Eva. Foi na pessoa de seu Filho
que o Pai iniciou um relacionamento paternal com Adão e Eva, e tinha
comunhão diária com eles.
Portanto, podemos concluir que, antes da queda, Adão e Eva se deleita
vam no mesmo Filho de Deus no qual o Pai eternamente se deleita. Sendo
portadores da imagem de seu Filho, amando-o e adorando-o, Adão e Eva
foram os destinatários do amor que o Pai tem para com o seu Filho. O Pai
contemplou o reflexo de seu Filho eterno e os amou com o mesmo amor
pelo qual ama seu Filho, pois em João 14.21, Jesus nos diz que, “ aquele que
me ama será amado de meu Pai” . Se isso é verdade para pecadores redi
midos que amam o Filho com um amor imperfeito, quão mais verdadeiro
isso deveria ter sido para Adão e Eva, que amavam o Filho de Deus com
um amor perfeito.
Resumindo, o Pai criou o homem para seu Filho e a sua imagem para
que o homem pudesse conhecer e amar seu Filho e viver para a sua glória.
Isso verdadeiramente agrada ao Pai, que ama seu Filho, o que explica seu
deleite nos filhos dos homens (Pv 8.31).
o irmão mais velho dos filhos adotivos do Pai. Nele, sempre permanecerão
membros da família de seu Pai.
Aqui falham palavras, e devemos clamar em espanto santo com o após
tolo Paulo, “ O profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do
conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão ines-
crutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor?
Ou quem foi o seu conselheiro?” (Rm 11.33-34).
pelo Pai através do seu Espírito; assim foi com o ministério dos apóstolos,
sobre o qual lemos: “E todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam
de ensinar e de anunciar a Jesus Cristo” (At 5.42).
O Pai escolhe usar esse tipo de ministério fiel e cristocêntrico para for
mar um povo para si mesmo, para que Cristo, seu Filho, seja supremamente
glorificado e formado dentro deles - tudo porque o Pai ama seu Filho. Por
essa razão, e somente por ela, é que ele escolheu seu povo em seu Filho,
o deu a ele no conselho eterno de paz, o redime nele, o une a ele, o con
forma a ele, o molda em pessoas que se deleitarão eternamente nele —um
povo que adorará o Filho para sempre, dizendo: “ com grande voz diziam:
Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabe
doria, e força, e honra, e glória, e ações de graças” (Ap 5.12).
* N ã o há c o m u m acordo quanto a essa tese. A graça salvadora de D eu s, p o r exem plo, tam bém só se tor
n ou m anifesta após a queda, e ainda assim é reconhecida co m o atributo. Para m ais in form ações consulte
B E R K H O F , Louis. Teologia Sistemática. C A M P O S , H e b e r C arlo s de. O ser de Deus e seus atributos (am bos
da editora C u ltu ra C ristã) (N .d o R .) .
28 ** A B E L E Z A E A G L Ó R IA D O P A I
assim por dizer; antes, é a resposta de todos os seus atributos àqueles que
odeiam seu Filho e rejeitam a sua Palavra. Se não houvesse pecado algum,
não haveria manifestação da ira de Deus, pois não haveria ocasião para ela.
Porém, o pecado do homem, em particular a rejeição descrente de seu Fi
lho, provoca o Pai à ira —uma ira que é tão infinita quanto seu amor por seu
Filho. Nada ofende mais o Pai do que o nosso fracasso em amar e honrar o
Filho a quem ele ama.
Há então uma correlação direta entre o amor do Pai e sua ira. Podemos
dizer que a ira do Pai é uma manifestação negativa de seu amor por seu
Filho. A intensidade de seu amor por seu Filho demanda uma intensidade
de sua ira contra todos aqueles que odeiam e rejeitam seu Filho - e, espe
cialmente, contra todos que fazem dele um mentiroso por não acreditarem
no registro que ele nos deu de seu Filho em sua Palavra (ljo 5.10). Foi isso
o que levou Paulo a escrever, “ Se alguém não ama o Senhor Jesus Cristo,
seja anátema [Isso é, amaldiçoado]; maranata!” (IC o 16.22).
Quão terrível será para aqueles que rejeitarem o Filho de Deus em
descrença cair nas mãos do Deus vivo! Quão temeroso ser confrontado
pela ira de Deus que ama seu Filho (Hb 10.31)! Isso explica a admoes-
tação solene do apóstolo quando ele escreve: “Vede que não rejeiteis ao
que fala [a Palavra Viva]; porque, se não escaparam aqueles que rejeitaram
o que na terra os advertia [Moisés], muito menos nós, se nos desviarmos
daquele que é dos céus [o Filho do Pai]... Porque o nosso Deus é um fogo
consumidor” (Hb 12.25,29). Isso também explica por que, imediatamente
após o nosso texto (Jo 3.35), João o Batista conclui sua doxologia magní
fica sobre o Filho, dizendo: “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna,
mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre
ele permanece” (v. 36).
Isso nos leva a uma conclusão inescapável: a existência do inferno tem
tudo a ver com o amor do Pai para com seu Filho. O inferno é criado pelo
Deus a quem João diz ser amor —um amor que tem o Filho de Deus como
seu objeto último. O inferno é a afirmação do Pai de que ele ama seu Fi
lho —e que ele o ama tanto que ele derramará a sua ira para sempre sobre
todos que o odeiam. O inferno é a única punição adequada para todos que
rejeitarem o Filho.
Essa ira queimará mais intensamente contra aqueles que viveram sob
o evangelho e a quem o amado Filho de Deus, o Senhor Jesus Cristo, foi
oferecido gratuitamente. Ser culpado de não crer nesse Cristo, o Filho
amado do Pai, é o crime de todos os crimes! O Senhor Jesus endereçou
essa rejeição aos descrentes das cidades a quem pregou, dizendo:
O A M O R D O P A I P A R A C O M S E U F IL H O * * 29
O ardor da ira de Deus contra aqueles que rejeitam a Cristo, que lhes
foi oferecido, de fato, será um inferno no inferno, pois o Pai ama seu Filho.
CONCLUSÃO
Tudo isso faz da conclusão do Salmo 2 marcante e adequado como
uma conclusão para esse capítulo: “Beijai o Filho para que se não irrite, e
não pereçais no caminho; porque dentro em pouco se lhe inflamará a ira.
Bem-aventurados todos os que nele se refugiam” (SI 2.12). Que todos nós
confiemos no Filho amado do Pai para a nossa salvação, e que nossa vida
confirme que nós conhecemos, amamos e servimos a esse Cristo precioso.
Que haja também uma ânsia santa para o dia em que o Pai criará um
novo céu e uma nova terra por meio de e para o seu Filho - o dia sobre
o qual Paulo escreve que será, “ de fazer convergir nele, na dispensação da
plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra;
nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo
o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua
vontade, a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão
esperamos em Cristo” (Ef 1.10-12).
Que esse prospecto abençoado nos leve a orar com a igreja de todos
os tempos, “Venha Senhor Jesus, venha rapidamente” . Que dia será aquele,
quando o Filho amado do Pai apresentar a sua noiva amada, comprada
pelo seu sangue, ao seu Pai, e quando o Deus trino e todos os crentes ver
dadeiros vierem a celebrar a ceia com o Cordeiro para sempre! Os filhos
e filhas adotivos do Pai habitarão para sempre naquela cidade sobre a qual
está escrito, “A cidade não precisa nem do sol, nem da lua, para lhe darem
claridade, pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a sua lâmpada”
(Ap 21.23). Esse será o dia em que o Pai e seus filhos adotivos se deleitarão
no Filho de sua boa vontade, e ele será tudo em todos para sempre!
C A P ÍT U L O 2
da escuridão, que prende o povo de Deus e tenta destruí-lo. Pode ser visto
como um símbolo de poder satânico, de Satanás, a serpente antiga, cujo
desígnio era destruir a semente da mulher (Gn 3.15). Pense em como os
bebês masculinos israelitas foram lançados ao R io Nilo, em acordo com
o mandamento de Faraó (Ex 1.22). Não foi esse um trabalho de Sata
nás? Porém, assim como Deus havia prometido, a serpente não teria êxito.
Na verdade, seus planos teriam que servir o propósito de Deus. O Nilo,
que deveria ter destruído a semente, foi o mesmo rio que entregou Moisés,
o futuro redentor do povo, à casa de Faraó, onde ele seria educado pela
filha de Faraó (2.1-10).
Quando Faraó finalmente se voltou contra Moisés, Deus chamou Moi
sés do Egito como um padrão do que viria a acontecer com a nação inteira
quarenta anos depois. Para usar uma imagem diferente, Moisés saiu pri
meiro como a cabeça da nação (nominalmente, Israel), mas, logo depois, o
corpo não tinha o que fazer senão segui-lo.
Tudo isso foi exposto em uma metáfora de pai e filho quando Deus
disse, “ Israel é meu filho, meu primogênito” (Ex 4.22). A Faraó, Moisés
recebeu as instruções para dizer, “ Deixa ir o meu filho, para que me sirva;
mas tu recusaste deixá-lo ir; eis que eu matarei a teu filho, o teu primogê
nito” (v. 23). Em Êxodo, Deus estava chamando o seu filho, seu primogê
nito, da escravidão, para que os israelitas pudessem ser livres para servi-lo,
seu Pai, no deserto.
Essa seria a ida ou vinda do Egito mais notória até essa data. O chamado
de Deus trouxe a liberdade do filho. Quão poderosa é a voz de Deus! Seu
chamado atraiu seu filho de forma irresistível. Mesmo quando Israel resistiu
à própria liberdade, com murmúrio e reclamação contra Moisés, o chamado
de Deus prevaleceu, e Israel saiu dali. O êxodo foi um dia importante para a
nação. Antes desse tempo, os israelitas eram escravos ou servos, como Paulo
diz, “reduzidos à servidão” e “ debaixo de tutores e curadores” (G1 4.2-3).
O êxodo foi a sua grande redenção. Podemos dizer que o êxodo foi o ama
durecimento de Israel —o dia em que o povo foi apresentado ao mundo
como o filho adulto de Deus, servindo como seu herdeiro.
Que figura a Bíblia nos dá da paternidade de Deus durante o êxodo!
Encontramos aqui uma alternativa para a confusão de hoje em dia. Aqui
temos um Pai que se envolve com seu filho. Ele se importa profundamente
com ele, e se deleita nele. Ele o entrega da escravidão com seu chamado
poderoso. Seu chamado causa uma mudança na vida do filho que o traz ao
palco da história como um filho livre, adulto e preparado para servir seu
Pai. Que identidade isso deu aos Israelitas! Eles eram as crianças preciosas
de Deus, chamados à liberdade de uma vida de serviço ao seu Pai gracioso.
34 *# A B E L E Z A E A G L Ó R IA D O P A I
* [N. do R .] Essa form a de interpretação leva em conta n ão apenas as citações diretas feitas pelo evangelista,
mas todo o cenário descrito p o r M ateus, especificam ente, os paralelos de similaridade entre os eventos do nas
cim ento de Jesus c o m aqueles narrados em E xo d o . Esse m éto d o de interpretação recebe o nom e de tipologia.
36 «s# A B E L E Z A E A G L Ó R IA D O P A I
1. É um chamado poderoso. Deus diz que ele chama seu Filho do Egito.
Eu destaquei acima que muitos pais hoje em dia não estão se co
municando significativamente com seus filhos. Porém, esse Pai não
somente se comunica, mas chama. U m chamado é diferente de uma
declaração. E uma diretiva que possui poder. E uma exortação que
demanda resposta. Pais são muitas vezes fracos e insípidos; temos di
ficuldade em falar com autoridade e em receber uma resposta. Mas
esse Pai é forte, e suas palavras geram mudança.
2. Como é o chamado de Deus hoje em dia? Ele envia mensageiros
do evangelho que dizem: “ Saiam do Egito. Saiam da escuridão” .
38 A B E L E Z A E A G L Ó R IA D O P A I
A santidade do Pai
no Antigo Testamento
Derek W. H . Thomas
Isaías 6
I
saias 6 é uma passagem muito conhecida; tão conhecida que muitas
pessoas conseguem recitar os primeiros versículos de memória.
Muitos cristãos a compreendem como uma visão do Cristo pré-en-
carnado. Até mesmo o apóstolo João apoia essa visão. João nos informa
que: “ Isaías disse isso quando viu a sua glória e falou dele” (Jo 12.41),
referindo-se a Jesus.
Mas talvez haja um problema quanto a isso. Quando lemos o Antigo
Testamento do ponto de vista do Novo Testamento, conseguimos enxergar
o que nenhum judeu —nem Moisés, Davi, Isaías, Ezequiel ou Daniel —ja
mais enxergou: a doutrina da Trindade! Podemos ler as palavras de Deus
no relato da criação, “ Façamos o homem à nossa imagem, conforme a
nossa semelhança” (Gn 1.26), e vermos que o pronome plural (“ nossa”)
está em perfeita harmonia com o fato de que existe deliberação dentro da
Trindade: o Pai e o Filho estão em comunicação um com o outro, deli
berando a criação de Adão e Eva. Mas Moisés não tirou qualquer tipo de
conclusão. Aliás, nenhum judeu jamais sugeriu que existisse qualquer plu
ralismo no único Deus. Isso deveria nos fazer pausar e maneirar nossas ten
tativas exageradamente zelosas de ler no Antigo Testamento mais do que o
texto diz. A interpretação padrão judia entendia o uso plural do nome de
Deus (Elohim ) e o uso de “ nossa” em Gênesis 1.26
Portanto, é um erro ler João 12.41 e depois voltar a Isaías e dizer, “isso
é tudo sobre Jesus” . Na verdade, essa é uma revelação de Deus. Calvino
escreve sobre isso em seu comentário sobre Isaías:
4 4 «-* A BELEZA E A GLÓRIA DO PAI
Quem era aquele Deus? João nos diz que era o Cristo, (Jo 12.41) e, justa
mente, pois Deus nunca se revelou aos pais da igreja primitiva senão em
sua Palavra eterna e em seu Filho Unigênito. Porém, creio que é errado
limitar isso, como alguns o fazem, à pessoa de Cristo... portanto, nessa pas
sagem, Deus é indefinidamente mencionado, e mesmo assim, é correto
afirmar que Isaías enxergou a glória de Cristo, pois naquele momento, ele
era a imagem do Deus invisível (Cl 1.15).'
1C A L V I N Jo h n . C alvin’s Commentaries, v. 2 2 , v.VII: Commentary on the B ook o f the Prophet Isaiah. T rad.W il
liam P ringle. G ran d R a p id s: B aker, 1981, p. 201.
A SANTIDADE DO PAI NO ANTIGO TESTAMENTO & 4 5
SANTIDADE
A revelação de Isaías é recebida tanto na sua visão quanto na sua audi
ção. Ele escuta o som de serafins cantando o trisagion, “ Santo, santo, santo,
é o S e n h o r dos exércitos” (Is 6.3). O Deus pactuai de Israel, o Deus dos
exércitos, o grandioso Deus, é, nas palavras de Alec Motyer,“ o super super-
lativamente Santo” .2
Santidade, no Antigo Testamento, tem dois significados ou origens. Um
é pureza — clara e brilhante. Outro significado, o mais predominante no
Antigo Testamento, é a ideia de separação. Naquele tempo, muitas coisas
eram classificadas como santas, até mesmo coisas como panelas e tigelas,
colheres, facas, garfos e todo tipo de utensílios de cozinha. Eles eram santos
porque eram usados para propósitos especiais no templo. Não havia nada
particularmente diferente neles, por assim dizer; eram diferentes porque
eram categorizados como “fabricados somente para isso” .
Deus está se revelando aqui em uma categoria diferente. E uma cate
goria que pertence a ele. E difícil classificar ou categorizar Deus. Falamos
sobre Deus por analogias porque ele é diferente de nós. Ele é o Criador;
nós somos as criaturas. Nós sabemos algumas coisas, mas Deus sabe coi
sas que são completamente diferentes da maneira que nós sabemos delas.
Nós conhecemos coisas discursivamente. Nós conhecemos algumas coisas
porque racionalizamos de A a B, de C a D. Deus conhece tudo de uma só
vez. Ele é eterno, infinito, imutável em seu ser, sabedoria, poder, santidade,
justiça, bondade e verdade.3 Deus está dando ao seu profeta uma revelação
2M O T Y E R , A lec. L ook to the R ock: A n O ld Testament Background to our Understanding o f Christ. Leicester,
E nglan d: IVP, 1996, p. 67.
3 C atecism o M e n o r de W estm inster, questão 4.
4 6 .<■* A BELEZA E A GLÓRIA DO PAI
JULGAMENTO
Há algo intimidador sobre Deus, mesmo para criaturas sem pecado.
Eles devem reconhecer seu lugar como parte de sua criação e se oferecer
para servi-lo com todo seu ser. Com duas asas eles voam, prontos a irem
a qualquer lugar que Deus os mandar. Eles enxergam seu papel como um
serviço. Eles existem para cumprir a sua vontade.
Mas para Isaías é pior, bem pior do que isso. A santidade de Deus para um
pecador significa somente uma coisa —julgamento. Ele clama, “ ai de mim!
Estou perdido! Porque eu sou um homem de lábios impuros e habito no
meio de um povo de impuros lábios” (v. 5). Com certeza não! Isaías? Ele é
um dos profetas mais santos, um homem usado por Deus para pregar a reis
e profetizar sobre a vinda de Jesus. Certamente, Isaías tem os lábios mais
puros de Israel. Então por que ele está dizendo que é “ um homem de lábios
impuros” ? Ele fala sobre si mesmo como “ desfeito” por essa experiência,
pois o olhar de Deus penetrou a sua alma e o rasgou por inteiro. Se isso é
verdade sobre Isaías, que esperança há para o resto de nós?
O pecado tem somente uma resposta - julgamento. E quando vemos
um vislumbre de pecado em nosso coração, a santidade de Deus ameaça se
desconectar de dentro de nós. Essa foi minha experiência no fmal de 1971
quando li a Bíblia pela primeira vez. Eu nunca havia considerado quem
Deus era de uma forma séria, mas quando o examinei à luz da sua revela
ção nas Escrituras, eu também fui desfeito. Eu me conheci como pecador
e, fora da graça, merecedor somente de condenação e inferno. Santidade
faz isso.
A igreja tem perdido de vista a santidade de Deus. Para muitas pessoas,
Deus é um pouco como “Jeeves” nos livros de P. G.Wodehouse —um servo
um tanto quanto excêntrico, pronto a fazer a nossa vontade. Deus não é
Papai Noel. Ele não é um avô bondoso que nos dá presentes. O Deus e Pai
de nosso Senhor Jesus Cristo se revela de tal forma que a única resposta
que o profeta consegue nos dar é, “ ai de mim! Estou perdido! Porque eu
sou um homem de lábios impuros” .
E muito interessante que Isaías menciona seus lábios. Afinal de contas, ele
é alguém que depende da fala para sua sobrevivência. Ele percebe seu maior
pecado onde ele tem a sua maior utilidade. Isso é a verdade de todos nós.
Nossos atos mais pecaminosos geralmente são no chamado que Deus nos
deu. N o ponto de maior graça, nós enxergamos a nossa maior ingratidão.
Eu me pergunto se você conhece alguma coisa sobre o seu pecado. Ele
te perturba suficientemente para que você queira correr da presença de
Deus e dizer “ todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças,
4 8 «f A BELEZA E A GLÓRIA DO P A I
como trapo da imundícia” (Is 64.6)? Lembre, Isaías fez essa descoberta
como um crente que havia estado a serviço de Deus por alguns anos! Sin
clair Ferguson escreve: “Alguns cristãos nunca parecem fazer essa desco
berta sobre si mesmos. Eles nunca são trazidos para o lugar onde eles veem
que é em seus ‘pontos fortes’, ou ‘qualidades’ e ‘dons’ que necessitam mais
da purificação de Deus. Nenhuma descoberta pode ser mais devastadora.
E se a percepção da presença do Deus Santo fiz er alguma coisa, ela devasta um
homem ou mulher”.* Você sabe alguma coisa dessa devastação? Você já expe
rimentou a santidade de Deus dessa maneira?
GRAÇA
Na mesma hora em que Isaías reconhece a sua miséria, há uma de
monstração extraordinária de graça —e graça sempre é extraordinária! Um
serafim é visto voando com uma brasa viva (Is 6.6), uma brasa que ele tirou
do altar do sacrifício, onde vítimas são mortas e queimadas como ofertas.
É necessário que notemos que Isaías 6 começa e termina com morte,
o que chamamos inclusio. O capítulo começa com a morte de Uzias e
termina com a figura de uma árvore abatida. E uma árvore morta. Dessa
morte virá vida. Perceba também que a brasa viva do altar nos lembra a
morte —a morte de uma vítima sacrifical, um substituto que se deparou
com a santidade de Deus e morreu. Em uma demonstração gráfica da
expiação e justificação, uma brasa viva toca os lábios de Isaías - o mesmo
lugar onde ele expressou o seu pecado.
Quando você se sente condenado, quando você se conscientiza de ter
quebrado a lei de Deus, e quando você é desequilibrado pela realidade de
sua santidade, pureza, justiça, soberania e distinção completa de você, que
coisa gloriosa saber que há perdão nele, e que ele seja temido!
Martinho Lutero, ao descrever sua própria narrativa sobre uma conversa
surpreendente, disse: “Eu sinto como se tivesse sido dissolvido na presença
de Deus” . Quando isso acontece com Isaías, Deus se aproxima com uma
palavra de perdão, lhe encosta os lábios, e diz, “ Eis que ela tocou os teus
lábios; a tua iniquidade foi tirada, e perdoado, o teu pecado” (v. 7).
O que é preciso para perdoar pecado? Deus não poupa seu próprio
Filho, mas o oferece gratuitamente como sacrifício por nós, em nosso lu
gar. Nicholas Wolterstorff, um filósofo cristão, escreveu um pequeno livro,
Lamentfo r a son, após seu filho ter morrido em um acidente de escalada. Ele
tinha pouco mais que 20 anos. Wolterstorff descreve isso no livro. Quando
COMISSÃO
Seguindo a visão, Deus chama o profeta para lhe servir, dizendo:
“A quem enviarei, e quem há de ir por nós?” .A resposta de Isaías é imediata
e definitiva: “ eis-me aqui, envia-me a mim” (v. 8). Esse não é o primeiro
chamado que Isaías recebe. E concedido a ele um vislumbre do evangelho
de uma forma nova, e a visão disso o compele ao ministério com zelo e
convicção renovados. E necessário que experimentemos o evangelho to
dos os dias. E necessário que preguemos o evangelho todos os dias.
Mas qual é o chamado de Isaías? A santidade de Deus o compele a fazer
o quê? A resposta é tanto humilhante quanto perturbadora. Ele é enviado à
Missão ImpossíveLVemos isso nos versículos 9-13:“Vai e dize a este povo...” .
Dizer-lhes o quê? Efetivamente, Deus diz a ele: “ Isaías, eu vou te chamar
para ser o pregador mais bem sucedido que o mundo jamais viu, e deze
nas de milhares, não, milhões de pessoas virão para te ouvir. Você será um
tele- evangelista, e sua face será transmitida ao redor do mundo. Você terá
sucesso como você nunca imaginou” .
Obviamente, o chamado de Deus não tem nada a ver com isso. Sua
missão será totalmente infrutífera. Esse é um tempo de julgamento na
A misericórdia do Pai
W illiam VanDoodewaard
nosso Pai! Seu coração ressoa com isso? Você vive consciente, em admi
ração e louvor como filho, de Deus o Pai como seu Pai? Se você está em
Cristo, isso é seu: Deus o Pai é seu Pai. Junte-se a Pedro, regozijando-se e
adorando —vocês são filhos do Pai.
Não permita que o pecado entristeça o seu coração e mente para
pensar pensamentos mesquinhos dele quando ele é o Pai da misericórdia
abundante! Não deixe o pecado aborrecer você, te separando do Pai que
o “regenerou” , que fez com que nascesse de novo. Não desculpe uma falta
de comunhão íntima com seu Pai celestial, usando de falsa humildade,
como se a sua indignidade fosse uma barreira impossível de transpor: seu
Pai lhe tem dado gratuitamente um custo infinito. Ele tem feito tudo para
a sua salvação e bênção infinita por meio do presente de seu Filho eterno,
tem feito de tudo para arrancar a barreira de seu pecado e, como seu Pai,
ele gratuitamente liberou tudo o que você necessita para ter uma doce
comunhão com ele.
Ao mesmo tempo, se, ao pensar na sua vida passada, você percebe que
nunca conheceu o Pai como seu Pai, que você nunca se encheu de amor
e admiração por ele, então você precisa desesperadamente alinhar a sua
vida e teologia com a sua Palavra.Você precisa se aproximar de Cristo para
receber graça e vida, um novo nascimento. É o deleite de Cristo, assim
como seu ministério e missão soberana, redimir e salvar homens, mulheres
e crianças da alienação do pecado para um novo nascimento, para ver a
vida como filhos do Pai. Ele nos traz a conhecer o Pai —assim como ele faz
com sua Palavra em 1 Pedro.
E essa conexão com o Pai, por e em Cristo, que Pedro declara a nós
como povo de Deus na segunda parte do verso 3:“Deus e Pai... nos regene
rou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre
os mortos” . Nosso novo nascimento, nossa vida como filhos de Deus, é
resultado da morte e ressurreição de Jesus. Vocês que são mães sabem, pela
experiência, e pais, pela observação, que dar à luz custa caro. E um sacrifício
tremendo de vida, energia e esforço. E doloroso e difícil —agonizante. Nas
cimento envolve sofrimento e derramamento de sangue. Talvez essa seja a
ilustração terrena mais próxima sobre o custo de nascer de novo.
Deus o Pai, que possibilitou o nosso renascimento, fê-lo sabendo que o
nosso renascimento e adoção não seria barato. Foi infinitamente mais caro
que o nascimento humano. Nós fomos comprados com o preço de san
gue, com os sofrimentos de ira, na morte do eterno, unigênito Filho do
Pai! Como crentes, nós fomos nascidos na vida nova mediante a agonia do
sofrimento de Cristo: seu derramamento de sangue. E o poder de Deus
que nos fez renascer, que nos sustenta na nova vida, vivendo e crescendo
5 4 «g# A B E L E Z A E A GLÓRIA DO PAI
como filhos do Pai, é o mesmo poder pelo qual Jesus foi ressurreto de
dentre os mortos.
A ressurreição de Jesus é prova da realização de seu sacrifício pelos
nossos pecados, e também mostra o poder que ele tem para salvar e pre
servar, para santificar e glorificar; um poder dado a ele pelo Pai. Como
diz em Apocalipse 5.12, “ Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber
o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de
graças” . lCoríntios 1.24 nos diz: “ Cristo, poder de Deus e sabedoria
de Deus” . Deus dá “ a suprema grandeza do seu poder para com os que
cremos” (Ef 1.19). E essa expiação invencível —o poder da ressurreição
seladora de Jesus Cristo e de Deus o Pai que nos gerou, promovendo
sermos “ nascidos de novo” , para uma vida nova e eterna como filhos de
Deus! O Espírito nos diz pela Palavra que é isso que dá uma esperança
viva ao cristão —uma confiança viva, uma fé viva em Deus como nosso
Pai, contentamento na certeza de suas promessas e uma esperança certa
para o futuro, uma esperança que é viva.
Incorruptível / imperecível
Não passa da validade ou repentinamente se perde, como é possível com
uma herança na terra. Antes da grande queda do mercado de capitais de 1929,
várias famílias haviam investido suas heranças de maneiras que pensavam ser
seguras; suas esperanças e seguranças estavam baseadas em algo que, repenti
namente, se revelou perecível. Foi subitamente tirado deles. Aconteceu quase
o mesmo com a minha bisavó na Holanda: ela era dona de imobiliária na
cidade de Roterdã, antes da Segunda Guerra Mundial. A guerra veio; a força
aérea da Alemanha bombardeou grande parte da cidade, destruindo sua ri
queza e herança, deixando-a uma mulher vazia e amarga. Seu coração estava
fundamentado em uma vida com herança terrena que fora destruída. Mas
Deus nos diz aqui, em sua Palavra, que nós nascemos de novo para obter nma
herança que é imperecível. Não perecerá porque é guardada pelo Pai.
Sem mácula
Algumas heranças mundanas são obtidas e mantidas pelo pecado; elas
são inerentemente corruptas e corruptíveis. Mas a herança dos filhos do
Pai é uma herança perfeita. Ela não é manchada pelo pecado. E boa e santa
porque é o tesouro, o presente do santo Deus, que a está guardando em um
lugar sagrado.
Imarcescível
Assim como é imperecível, nossa herança como filhos do Pai não irá
desvanecer. Ela não irá desaparecer vagarosamente por meio do tempo ou
pela eternidade. Nós não vamos usá-la somente até o seu vencimento. Ou
tros não vão poder usá-la. Algumas vezes nesse mundo, heranças são gastas
por taxas jurídicas quando famílias brigam por ela. A nossa herança não é
assim. Como seus filhos, nós apreciaremos as grandes riquezas de nosso Pai
celeste para sempre —sem nunca diminuírem.
como diz em lCoríntios 2.9, “ Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram,
nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para
aqueles que o amam” ; a herança está pronta e nos esperando, sendo guar
dada por Deus para nós, até o dia em que estaremos diante dele.
O ensinamento da Palavra de Deus aqui em 1 Pedro faz paralelo com
o Antigo Testamento. Quando Deus fez dos antigos israelitas seus filhos
— trazendo-os a um relacionamento pactuai consigo mesmo — ele lhes
prometeu uma herança. Para a nação de Israel, essa herança era a terra
prometida de Canaã: uma terra fértil e linda. Em um sentido tangível e
imediato, Canaã foi a herança dada por Deus para eles, apesar de Hebreus
nos dizer que os crentes fiéis de Israel sabiam que mesmo a herança de
Canaã era somente uma figura terrena de uma realidade melhor que estava
por vir. A medida que viam Canaã, desejavam mais e mais a sua herança
celestial em Cristo (Hb 11).
Da mesma forma como os santos do Antigo Testamento, nós desfrutamos
de experiências mundanas, tangíveis, pequenos “tira-gostos” da herança por
vir. Para nós, na era do Novo Testamento, esses tira-gostos não são na terra de
Canaã ou na cidade de Jerusalém da Palestina, mas na igreja de Cristo, na co
munhão com Deus em Cristo e com seus santos. Adoração em comunhão,
o batismo, a ceia do Senhor e a comunhão espiritual com o próximo, todos
antecipam e demonstram a completude de nossa herança que está por vir.
Essas são partes da bondade do Pai para conosco como seus filhos. São
encorajamentos, assim como ele nos encoraja na sua Palavra. Nós, como
filhos do Pai, somos nascidos de novo para receber uma herança segura que
é imperecível e imaculada, que não se desvanecerá e que está reservada nos
céus para nós. Deus é pessoal e direto em sua Palavra.
Caros santos, caros filhos do Pai, isso está reservado nos céus para vocês.
É isso o que o Pai fez para você, seu propósito maravilhoso, sua intenção e
objetivo. Mas ouça enquanto o Senhor fala um pouco mais pelo seu apóstolo.
e protegendo, nós, seu povo, para aquele dia, quando a plenitude da sua
salvação será revelada: “ que sois guardados pelo poder de Deus, mediante
a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo” (lPe 1.5).
Nosso Pai celestial está fazendo isso para a realização completa da nossa
salvação —nossa restauração, glorificação, segurança eterna, a nova terra e
novos céus, onde iremos viver e nos deleitaremos para sempre na presença
do Senhor, em comunhão doce com o Pai, o Filho e o Espírito Santo!
Irmãos e irmãs no Senhor, vocês estão regozijando e descansando no
trabalho salvador de Deus em Jesus Cristo? Vocês amam o seu Pai celes
tial? Vocês estão cheios de gratidão ao considerarem a sua vida nova como
filho do Pai, sua herança segura e certa como filho do Pai, e sua proteção
poderosa como filho do Pai? Seu coração clama: “ Pai nosso que estais nos
céus, santificado seja o teu nome, venha a nós o teu reino, seja feita a tua
vontade, assim na terra como nos céus” ?
Amigos, se vocês estão separados de Cristo, não vivendo pela fé nele,
você leu sobre o que o povo de Deus possui. Eles são filhos do Pai. E é para
isso que o evangelho de Jesus Cristo lhe convida: para mudar a sua posição
de inimigo de Deus para se tornar filho de Deus, por causa e por meio da
morte e ressurreição de seu Filho eterno. Mediante a graça de Deus, venha a
Deus em Cristo para que você se junte a nós, com Pedro e a igreja de todos
os tempos dizendo: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que,
segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança...
para uma herança... guardados pelo poder de Deus... para a salvação” .
Irmãos e irmãs em Cristo, estando tão seguros, tão abençoados com
uma herança sublime, e trazidos a um relacionamento com o Pai por meio
do Filho, recipientes de uma nova vida como filhos de Deus o Pai, e tudo
isso por causa da misericórdia do Pai — como então deveriamos viver?
Como o apóstolo Pedro, nós devemos romper em adoração e reverência a
Deus o Pai, cheios de amor entusiasmado e grato. Deixe a adoração ao seu
nome fluir de seu coração, de seus lábios: “ Santificado seja o Deus e Pai de
nosso Senhor Jesus Cristo!” .
CAPÍTULO 5
R por sua vida doce e piedosa.1 Seu ministério ocorreu nas primeiras
três décadas e meia do século XVII. Ele treinou muitos ministros
puritanos. Após sua morte em 1635, Izaac Walton escreveu:
Sobre esse homem bendito, deixe somente esse louvor ser dado,
O céu esteve nele, antes que ele estivesse no céu.2
1Para saber sobre a vida e teologia de R ic h a rd Sibbes, veja D E V E R , M ark E . Richard Sibbes: Puritanism and
Calvinism in Late Elizabethan and Early Stuart England. M aco n , G a.: M ercer U niversity Press, 2 0 0 0 ; R O O Y ,
Sidn ey H . “ R ic h a rd S ib b e s:T h e T h e o lo g ic al F oundation o f the M ission ” . In: TheTheology ofM ission in the
PuritanTradition:A Study ofRepresentative Puritans:Richard Sibbes, Richard Baxter,John Eliot, Cotton Mather, and
Jonathan Edwards. G ran d R ap id s: Eerdm ans, 1965, p. 15-65. Para dissertações e teses relacionadas a Sibbes,
veja F A R R E L , Frank E . “ R ic h a rd Sibbes: A Study in Early Seventeenth C en tu ry English P uritanism ” .
P h D diss., U n iversidade de E d im b urgo , 1 9 5 5 ;A F F L E C K ,B e r t,Jr . “ T h e T h e o lo g y o f R ich ard Sibbes, 1577-
1635” (PhD d iss.,D rew University, 1969); H arold P. Shelly,“ R ic h a rd Sibbes: E arly Stuart Preacher o f P iety”
(PhD diss., Tem ple University, 1972); B eth E Tum bleson, “ T h e B rid e and B rid e g ro o m in the W ork o f
P âch ard Sibbes, E nglish P uritan ” .Tese M A ,T rin ity Evangelical D ivin ity S ch ool, 1 9 8 4 ;W E IS IG E R , C ary
N . “ T h e D o c trin e o f the H o ly Spirit in the P reaching o f R ic h a rd Sibbes” . P h D diss., Fuller T h eo lo g ical
Sem inary, 1984; W O N , Jo n ath an Jo n g - C h u n .“ C o m m u n io n w ith C hrist: A n E xp o sitio n and C o m p ariso n
o f the D o c trin e o f U n io n and C o m m u n io n w ith C h rist in C alvin and the English Puritans” . P h D diss.,
W estm inster T h eo lo g ical Sem inary, 1989, p. 1 3 2 - 1 7 8 ;B E C K , Stephen P.“ T h e D o ctrin e o f Gratia Praepa-
rans in the So terio lo g y o f R ic h a rd S ibbes” . P h D diss.,W esm inster T h eo lo g ical Sem inary, 1994; W IL L IA M S,
Je an D. “ T h e P uritan Q u est fo r E n joym en t o f G o d ” . P h D diss., U niversity o f M elbou rn e, 1997.
2 C itad o em M A R T I N , Stapleton. Iz a a k Walton and H is Friends. L ondres: C h ap m an & H all, 1903, p. 174.
6 0 ■<* A BELEZA E A GLÓRIA DO PAI
Seus livros foram muito populares. David Masson escreveu: “Do ano
1630 em diante, mais ou menos uns vinte anos, nenhuma obra literária
sobre teologia prática parece ter sido tão Hda entre a classe média piedosa
inglesa como os de Sibbes” .3 Os sete volumes dos trabalhos de Sibbes, edi
tados no século X IX por Alexandre Grosart, receberam nova impressão e
estão disponíveis hoje.4
Ao considerarmos a beleza e glória do Pai celestial, nosso objetivo aqui
será ouvir Sibbes sobre o assunto da misericórdia e fidelidade do Pai. Apesar
de eu retirar trechos de vários sermões e obras literárias, nossa fonte prin
cipal será a exposição de Sibbes de 2Coríntios l ,5 especialmente a sua ex
posição dos versículos 2-3 e 18, “graça a vós outros e paz, da parte de Deus,
nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Bendito seja o Deus e Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias e Deus de toda consolação!...
Antes, como Deus é fiel, a nossa palavra para convosco não é sim e não” .
Organizarei os ensinamentos de Sibbes sobre misericórdia divina atra
vés de três descrições de Deus nas Escrituras: O Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo, o Pai de misericórdia e o Deus que é verdadeiro.
7 S C H A E F F E R , Paul R ., Jr. T he Spiritual Brotherhood: Camhriàge Puritans anã the Nature o f Christian Piety.
G ran d R ap id s: R e fo r m a d o n H e ritag e B o o k s, 2 0 1 1 , p. 171.
8S IB B E S . Bruised R eede and Smoaking Flax, p. 7.V eja Works, 1:43.
9 S IB B E S . Learned Commentary [sobre 2 C o 1], p. 43.V eja Works, 3 :49.V eja tam bém Works, 4:293.
10S IB B E S . Heavenly Conference, p. 112.Veja Works, 6:4 5 0 .
‘ 'S I B B E S . Learned Commentary [sobre 2 C o l ] ,p . 43.V eja Works, 3 :48
12 S IB B E S . Christians Portion, p. 153.V eja Works, 4 :3 2 .
13 S IB B E S . Learned Commentary [sobre 2 C o 1], p. 21 .Veja Works, 3 :2 7 . Sibbes tam bém afirm o u a d outrina
da reprovação (D E V E R . Richard Sibbes, p. 1 0 3 -105). S obre Supralapsarianism o e Infralapsarianism o, D ever
com en ta, “ Sibbes era agn óstico nessa discussão” (Richard Sibbes, p. 102).Veja o resum o de Sibbes sobre as
p osiçõ es e seus com en tários sobre n osso presente co n h ecim en to lim itado em Sibbes, “ To the R e a d e r ” .
In: B A Y N E S . Commantarie, A 2 r-3r. P orém , e m p elo m en o s u m lu gar Sibbes pareceu falar e m term os
Inffalapsarianos, escrevendo qu e D e u s elegeu os h om ens, v e n d o -o s “ corrom p id os, largados em nossa
im u n d ície” (Works, 1:9).
,4S IB B E S . Learned Commentary [sobre 2 C o l ] ,p . 2 1 .Veja Works, 3 :27.
15 S IB B E S . Heavenly Conference, p. 122.Veja Works, 6 :4 5 3 .
6 2 os# A BELEZA E A GLÓRIA DO PAI
Nosso pecado requer que tenhamos uma segurança para pagar a nossa
dívida a Deus, ou a pagaremos no inferno. Deus é misericordioso, mas ele
também é justo. Sua ira queima contra o pecado. Não porque Deus é mal:
“Ele mesmo é bom, nós provocamos a sua severidade” .16 Deus não pode
mostrar misericórdia à custa da justiça: “ Um atributo de Deus não pode
devorar outro; o todo deve ter satisfação, sua justiça não pode ter erro” ,
escreve Sibbes. Ele disse que Deus, “ tendo punido nossos pecados através
de nossa segurança, Cristo” , ele é agora o “nosso Pai, ele é o Pai das mi
sericórdias” , e “não há perda em sua justiça por isso” .17 Isso é crucial para
nós, pois a menos que a justiça de Deus se satisfaça e nossos pecados sejam
perdoados, todos os presentes de Deus a nós estão somente “ alimentando o
traidor até o dia da execução” .18
Portanto, é necessário que nos juntemos a Jesus para chamar seu Pai de
nosso Pai. União com Cristo é “ a base de todo conforto” .19 Tudo que é
de Cristo passa a ser nosso também. A história de Cristo se torna a nossa
história, por meio da nossa união com ele.20 Sibbes explica que como nosso
Mediador e Fiador, toda a obra de Cristo e todas as bênçãos de Deus sobre
Cristo pertencem ao povo unido com Cristo:
Cristo possui tudo primeiramente, e nós temos tudo por meio dele: ele é
o primeiro Filho, e nós somos filhos, ele é o primeiro amado de Deus, e
nós somos amados nele; ele é pleno primeiramente com toda a graça, e nós
somos plenos nele, de sua plenitude recebemos graça por graça [Jo 1.16]: ele foi
primeiramente absolvido pelos nossos pecados, como nosso fiador, e então
somos justificados; porque ele é justificado pelos nossos pecados, sendo a
nossa garantia; ele é ascendido aos céus, nós ascenderemos; ele senta à mão
direita de Deus, e nós sentamos com ele nos lugares celestiais; ele julga, nós
julgaremos com ele; qualquer coisa que fazemos, Cristo fez primeiro, nós
temos tudo em Cristo, e por meio de Cristo e oriundo de Cristo; ele é o Pai
de Cristo, e nosso Pai.21
Então pela sua graça, o Senhor Jesus é capaz de nos incluir nas mara
vilhosas palavras: “meu Pai e seu Pai” . Cristo em “sua misericórdia infi
nita” nos chama “ irmãos” , irmãos e irmãs sob seu Pai. Sibbes disse: “Deus
O PAI DE MISERICÓRDIAS
Deus é misericordioso por natureza. Misericórdia é graça ou favor
gratuito a uma pessoa em miséria.37 A miséria é o imã da misericórdia.38
E Deus está cheio de misericórdia; é seu coração e sua alma —seu pró
prio nome (Ex 34.6).39 Sibbes disse:“ Aquele que é grande em majestade
é abundante em misericórdia” .40 O mar não é mais naturalmente fluido e
molhado, o sol não emite mais naturalmente o calor como Deus é natu
ralmente misericordioso.41 Misericórdia “ é sua natureza, é sua pessoa” .42
O Senhor “ tem prazer na benignidade” (Mq 7.18).43
Sibbes escreveu, “Misericórdia é o atributo mais doce de Deus, que
adoça todos seus outros atributos; se não fosse por misericórdia, todos os
outros atributos de Deus seriam um terror para nós” .44 Porém, em Cristo,
escreveu Sibbes: “Ele será glorificado ao demonstrar misericórdia” .45 “ Ele
faz tudo para a glória de sua misericórdia, na criação e no evangelho” .46
O amor e a misericórdia de Deus são temas principais na teologia de
Sibbes. Mark Dever escreve que ele retratou o cristianismo como “ a his
tória do amor de Deus” , onde o Pai escolhe pecadores para ser seu povo,
de fato, para serem seus “melhores amigos” .47 Esse é o “favor principal” do
pacto da graça.48
Deus não é somente misericordioso, mas é o Pai da misericórdia. Sibbes
considerou a palavra Pai como somador de todas as promessas do evange
lho.49 Geoffrey Nuttal escreveu: “Ao longo do puritanismo, a paternidade
37S IB B E S . Learned Commentary [sobre 2 C o 1], p. 2 4 .Veja Works, 3 :28. A d efinição de m isericórdia vis-à-vis
m isericórdia surge de C ícero e Sêneca, foi usado p o r A gostinh o e depois p o r reform adores co m o W olfgang
M usculus ( M U L L E R , R ich ard . Post-Reformation Reformed Dogmatics. G rand R ap id s: Baker, 2 0 0 4 ,3 :5 7 5 ).
38 “ M iséria sen do a m agnetista da m isericó rdia” (S IB B E S . Learned Commentary [sobre 2 C o 1], p. 37. Veja
Works, 3 :4 2 ). A co n ex ão entre m iséria e m isericórdia é ainda m ais clara e m seus equivalentes n o Latim :
miséria et misericórdia.
39S IB B E S . Learned Commentary [sobre 2 C o 1], p. 3 0 .Veja Works, 3 :3 5 .
40 S IB B E S . Retum ing Backslider, p. lOó.Veja Works, 2 :2 9 2 .
41 S IB B E S . Learned Commentary [sobre 2 C o 1], p. 21 .Veja Works, 3 :27.
42 S IB B E S . Learned Commentary [sobre 2 C o 1], p. 23.V eja Works, 3 :28.
43 S IB B E S . Learned Commentary [sobre 2 C o 1], p. 3 0 .Veja Works, 3 :35.
44 S IB B E S . Returning Backslider, p. lO ó.V eja Works, 2:2 9 2 .
45 S IB B E S . Learned Commentary [sobre 2 C o 1], p. 2 4 .Veja Works, 3 :2 9 -3 0 .
46 S IB B E S . Learned Commentary [sobre 2 C o 1], p. 2 5 .Veja Works, 3:31.
47 D E V E R . Richard Sibbes, p. 1 0 6 -1 0 7 . E ie cita S IB B E S . Works, 1:9; 2 :7 3 ; 6 :2 4 1 ; 5:5 1 6 ; 4 :9 8 ; 2 :2 1 6 ; 6 :232;
235; 1:262.
48 D E V E R . Richard Sibbes, p. 11 4 -1 1 5 . E le cita S IB B E S . Works, 6:8 ; 20 ; 5 :2 6 3 ; 2 :2 5 3 -2 5 4 .
49 S IB B E S . Exposition [Phil, 3, etc.], 2:97.V eja Works, 5:25.
66 & A B E L E Z A E A G L Ó R IA D O P A I
5(1N U T T A L , G eoffrey F. The H oly Spirit in the Puritan Faith and Experience. O x fo rd : B asil B lackw ell, 1946, p.
6 3 .Veja B E E K E ,J o e l R . Heirs with C hrist:T he Puritans onA doption. G ran d R ap id s: R e fo rm a tio n H eritage
B o o k s, 2008.
51 S IB B E S . Lightfrom Heaven, 2 :20.V eja Works, 4:5 0 2 .
52 S IB B E S . Heavenly Conference, p. 1 1 4 -1 1 5 .Veja Works, 6 :4 5 1 .
53 S IB B E S . Heavenly Conference, p. 149.V eja Works, 6:4 6 1 .
54S IB B E S . Learned Commentary [sobre 2 C o 1], p. 24.V eja Works, 3:30.
55 S IB B E S . Learned Commentary [sobre 2 C o 1], p. 3 0 .Veja Works, 3 :35.
56 S IB B E S . Learned Commentary [sobre 2 C o 1], p. 5 6 -5 7 .Veja Works, 3:61.
57 S IB B E S . Learned Commentary [sobre 2 C o 1], p. 25.V eja Works, 3 :30.
58 S IB B E S . Learned Commentary [sobre 2 C o l ] ,p . 11.V eja Works, 3:16.
RICHARD SIBEES SOBRE A MISERICÓRDIA E FIDELIDADE DO PAI 67
haver algo exterior que necessite de conforto” .59 Esse conhecimento não
vem por uma visão mística, mas pela fé que vem do coração do Pai como
ele se revelou em Cristo. Existem graus de experiência do Espírito da ado
ção que almejemos mais.60
Nada nos transformará mais do que um conhecimento experimental
do amor de Deus por nós em Jesus Cristo. Sibbes escreveu: “Uma olhada
do semblante paternal em Jesus Cristo abolirá todos os terrores existentes e
fará até da mais escura masmorra um paraíso” .61 Quando o nosso coração
se sente “frio e morto” , é necessário que trabalhemos para abraçar a mise
ricórdia do Pai pela fé. Sua afeição nos aquecerá em “ novo amor, e novos
afetos uns pelos outros” . Sibbes nos convida: “ Que nos aproximemos dessa
luz do amor de Deus em Cristo, e pela meditação constante da Palavra de
Deus, vejamos como ele se apresenta a nós como um Pai de aliança; não
somente um amigo, mas um Pai, um Pai gracioso” .62
Em segundo lugar, o conhecimento das misericórdias do Pai move os
filhos do Pai à adoração e louvor. Sibbes escreveu: “E a disposição dos
filhos de Deus (após terem provado da doce misericórdia, conforto e amor
de Deus) moverem-se em direção à adoração a Deus e à ação de graças” .
Isso é natural para eles como é “para os pássaros cantarem na primavera” .63
A “misericórdia maravilhosa” , que o Deus majestoso adotaria “traidores,
rebeldes, inimigos, para os tornarem seus filhos” 64 nos inspira “uma afeição
misturada de medo e amor” , pois nosso Pai é assustador em sua grandeza e
amável em sua bondade.65
Em terceiro lugar, os filhos de Deus devem imitar seu Pai mostrando
misericórdia aos outros. Se não nos igualarmos ao Pai de misericórdia,
então não temos direito algum de chamá-lo de Pai. Se fomos adotados
pelo Pai, fomos enxertados no Filho, e estamos nos tornando como Cristo:
pacientes, obedientes, humildes, “ cheio de bondade, cheio de amor” .66 Ele
disse: “ Isso deveria atiçar em nós uma imitação de nosso Pai gracioso: pois
todo pai gera à sua própria imagem, e todos os filhos desse Pai são como o
Pai, eles são misericordiosos” . Lucas 6.36 diz: “ Sede, pois, misericordiosos,
como também vosso Pai é misericordioso” . Precisamos lidar com pessoas
em necessidade com “ misericórdia doce” .67
O Pai das misericórdias gera uma família espiritual de misericórdia. A
união com Cristo nos torna cristãos verdadeiros, mas cada cristão deve ser
“um membro de uma congregação em particular” .68 E o jeito de Deus
confortar seu povo por meio de cristãos que compartilham seu conforto
uns com os outros: “ nenhum homem é para si mesmo” .69Todos os cristãos
são irmãos e irmãs e, essencialmente, iguais.70 O orgulho fecha o nosso co
ração à ajuda que necessitamos dos outros, de tal maneira que “ sangramos
internamente” mas não temos quem nos ajude.71 Portanto, deixe os filhos
amados de Deus amarem uns aos outros humildemente (Cl 3.12).
Em quarto lugar, cristãos podem confiar seus filhos às mãos do Pai de
misericórdias. Quando defender sua crença em Cristo lhe custa caro, cris
tãos perguntam: “ O que será dos meus queridos filhos se eu fizer assim e
assim?” ; Sibbes nos lembrou que Deus é o Pai dos órfãos e defensor das
viúvas (SI 68.5). Ele disse que pais precisam perceber que Deus se importa
com seus filhos: “Nós somos meros instrumentos, Deus é o Pai chefe, me
lhor e último” .72
Em quinto lugar, as misericórdias de Deus nos convidam a chorar com
ele mesmo nas profundezas da miséria (SI 130.1). Sibbes escreveu: “Temos
miséria profunda... porém não eterna, sua graça é mais profunda que nossa
miséria” .73 Uma razão pela qual Deus permite que seus filhos caiam em
profundo arrependimento e dificuldades é para que ele possa lhes mostrar
que independentemente da profundeza de suas misérias, sua graça é sem
pre mais profunda.74 N o final, Deus “fará como uma mãe de coração doce,
limpando as lágrimas dos nossos olhos” .75
Que oremos com confiança ao nosso Pai, que cuidará das nossas neces
sidades temporárias e eternas.76 Cristo disse em Lucas 12.32, “Não temas,
E quando tudo for tirado de nós em perdas e cruzes, para pensar, Bem;
nossos pais podem morrer, e nossas mães podem morrer, e nossos amigos
mais próximos e mais queridos... podem morrer; mas temos um Pai de mi
sericórdia, que tem misericórdia eterna nele, suas misericórdias são doces e
eternas, assim como ele é... Quando tudo for tomado de nós, Deus não se
esconde, ele permanece como Pai da misericórdia.79
“Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde mis e como
podemos saber o caminho?... Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta.”
João 14.5,8
S
eguindo a morte do R ei EduardoVI em 1553, sua irmã Maria, uma
católica, se tornou a rainha da Inglaterra. U m padre descobriu um
jovem, William Hunter, que estava lendo sua Bíblia em inglês e foi
preso. Durante os próximos vinte meses, ele foi incitado a negar a sua
fé ou seria executado. A despeito de torturas e brutalidades inimaginá
veis, ele se recusou a negar a sua fé. N o dia 26 de Março de 1555, ele
foi levado a Brentwood, onde seu irmão mais velho recordou a conversa
entre William, de dezenove anos, e seu pai. Respondendo aos apelos de
seu pai, William citou as palavras de Jesus em João 14.1: “ Não se turbe o
vosso coração; credes em Deus, crede também em mim” . Ele continuou,
“ Deus estará contigo, bom pai, e te confortará quando estivermos todos
juntos novamente e seremos felizes” . Correntes o ataram. Seu pai apelou
para que pensasse na paixão de Cristo. Momentos antes de sua morte,
William disse ao seu pai:“Eu não tenho medo” . Então, como Estevão no
livro de Atos, ele clamou, “ Senhor, receba meu espírito” .1
Há um sentido no qual as palavras de João 14.1-3 são “ fundamento
santo” .Você sente, quando você lê as Escrituras, que existem lugares que
são especialmente “ santos” , e que é necessário que você retire os sapa
tos dos pés para conseguir andar por esses caminhos? E claro que toda a
Escritura é a Palavra de Deus (2Tm 3.16-17; 2Pe 1.20-21), mas existem
A TRINDADE
Não é fascinante que a resposta a essa pergunta é a doutrina da Trindade?
O que Jesus ensina aos seus discípulos na última tarde de sua vida terrena
são os contornos de como o Pai, o Filho e o Espírito Santo estão todos
engajados no que os teólogos têm expressado como sendo as operações
externas da redenção (opera ad extra trinitatis indivisa sum). Ele não explica
o envolvimento trinitário na redenção da maneira como os grandes credos
da igreja primitiva o fizeram. Ele não a caracteriza no formato do credo
Niceno ou o do Constantinopolitano de 325 e 385 a.C. Ele não a carac
teriza como a confissão de Westminster, a Confissão Batista de 1689, ou a
Declaração de Savoy o fizeram. Mas se analisarmos João 14 a 16, nós temos
a doutrina da Trindade. Jesus diz coisas como, “Eu e o Pai somos um” e “ Se
eu for embora, eu voltarei; eu enviarei outro Consolador, outro intercessor
a vocês” . Em particular, Jesus diz que o Espírito Santo, o agente represen
tativo de Cristo, virá e continuará o ministério do (agora) exaltado Jesus.
Efetivamente, Jesus está falando sobre a doutrina da Trindade, explicando-a
por termos pessoais e práticos.
É fascinante que a doutrina da Trindade não é uma verdade oculta que
usamos para ensinar seminaristas em algum dia do ano e, depois, esquece
mos para sempre. A doutrina da Trindade é uma verdade essencial. E a aula
básica sobre Cristianismo. Muitas vezes me vem à mente que devemos
realizar um teste surpresa na igreja de vez em quando: entregar papel e
V E N D O O PAI N A FA C E D E JE S U S « * 77
caneta a todos e dizer: “Vocês têm três minutos; escreva tudo que você
sabe sobre a doutrina da Trindade, sem cometer uma heresia enorme” .
E provável que as respostas fossem mais ou menos como, há somente um
Deus, mas existem mais do que Um, que são o mesmo Deus porque Deus
o Pai é Deus, Deus o Filho é Deus, e Deus o Espírito Santo é Deus; mas
mesmo assim, há somente um Deus. Os resultados seriam fascinantes ou
talvez decepcionantes.
O que está acontecendo no começo desse discurso? Jesus está falando
aos seus discípulos: “ Deixe eu lhes confortar. Deixe eu trazer uma palavra
de segurança a vocês, uma palavra que se aprofundará na alma de vocês
e será a fibra de força e vitalidade que lhes permitirá enfrentar os dias e
semanas que virão, antes da chegada do Espírito Santo. Tempos obscuros
estão adiante para mim e para vocês, e vocês precisarão de força sobrena
tural para enfrentá-los, assim como eu também vou precisar. Deixe eu lhes
contar sobre a Trindade” .
O PAI
Recentemente, eu estava lendo uma obra muito grande chamada A his
tória do povo americano, de Paul Johnson, um historiador secular conservador
que escreveu algumas obras importantes como comentarista social con
temporâneo. Eu pensei que deveria ler tal história já que moro nos Estados
Unidos! Havia algo naquela obra que me deixou estupefato. Ao escrever
sobre George Washington, Johnson comentou que existem 17.000 cartas e
papéis existentes de George Washington, mas seu pai é mencionado em so
mente duas delas.2 Aparentemente, a consciência cotidiana de Washington
sobre o seu relacionamento com seu pai terreno era quase nula.
Isso nunca, nunca poderia ter sido dito sobre o nosso Senhor Jesus. Ele
sempre foi consciente sobre seu Pai celestial, todos os dias, todos os mo
mentos, desde quando ele era um bebê nos braços de Maria. Maria, e pre-
sumidamente José, o instruiu e o lembrou de quem ele era. A medida que
Jesus começou a ler e assimilar informações, memorizar porções das Escri
turas do Antigo Testamento; quando foi à sinagoga de Nazaré, e depois via
jou a Jerusalém para os dias de festas; ao começar a assimilar uma apreensão
clara sobre a sua identidade e o que ele realmente era, e sua mãe lhe disse
sobre a maneira extraordinária em que foi concebido e nascido, ele de
senvolveu um relacionamento profundamente enraizado e imensamente
2J O H N S O N , Paul. A History o f the American People. N o v a Y ork: H arp erC ollin s, 1998, p. 122.
78 «* A B E L E Z A E A G L Ó R IA D O P A I
pessoal com seu Pai celestial. E aqui, nessa passagem conclusiva, na véspera
de sua traição e crucificação, é com o seu Pai celestial que ele fala.
Existem duas coisas que eu quero observar, duas questões que surgem
dos discípulos. Parece que esses discípulos estão sempre o interrompendo.
Como professor, eu sinto que, quando os alunos estão constantemente in
terrompendo e fazendo perguntas, algumas vezes sou obrigado a dizer:
“Basta; me deixe concluir o meu ponto. Haverá tempo para perguntas
depois” . Mas parece que naquela sala, os discípulos estão constantemente
fazendo perguntas, e Jesus é maravilhosamente paciente. Tomé interrompe,
depois Filipe; em apenas seis ou sete versículos, dois discípulos o interrom
pem. Pensaríamos que eles se assentariam ali silenciosamente, recebendo
tudo o que está sendo dito, assimilando cada palavra, mas eles estão cheios
de perguntas. Eles não entendem o que está acontecendo. Eles estão com
medo. Apesar de terem passado três anos extraordinários na presença de
Jesus, em sua escola de teologia, eles ainda permanecem ignorantes de
muitas coisas, especialmente das razões pelas quais Jesus está, naquele mo
mento, falando sobre a sua morte.
Eles fazem duas perguntas, e cada uma delas tem uma consequência
seguinte. Então eu tenho dois pontos principais e duas consequências.
PERGUNTA #1:
COMO PODEMOS SABER O CAMINHO PARA O PAI?
Em primeiro lugar, Jesus diz aos discípulos e a Tomás em particular:
“Você não vê que eu sou o único caminho ao Pai?” . Essa é a primeira coisa
que ele quer lhes ensinar.
Tomé o interrompeu no versículo 5: “ Senhor, nós não sabemos para
onde vais e como podemos saber o caminho?” . Jesus já lhes havia dito
que ele tinha de ir a Jerusalém, onde ele seria traído, entregue aos escribas
e fariseus e crucificado (Mt 16.21). Isso ocorreu em Cesareia de Filipe.
Jesus deixou muito claro que sua viagem estava na direção de Jerusalém,
que ele veio para ser o Messias, o Salvador, e que ele entregaria a sua vida
em prol de pecadores. Mas Tomé não entendeu isso. Algumas vezes Tomé
é visto como um realista. Na verdade, eu não acho que ele seja nem um
pouco realista, mas pessimista. Ele está sempre triste. Seu temperamento é
sombrio. Seu copo está sempre meio vazio.
Eu tenho uma figura emoldurada de Bisonho o burro, o personagem ado
rável, porém triste de A. A. Milne, em Ursinho Poof, que minha filha me deu
quando ela tinha mais ou menos doze anos. Ela estava resumindo seu pai. Na
cena, Bisonho está dizendo: “Tenha um bom dia, se é que será um bom dia,
V E N D O O PA I N A FA C E D E JE S U S 79
que eu duvido que seja” . Esse é Tomé! Ele tem uma propensão a duvidar, a
ter falta de fé. Por isso que o chamamos de “Duvidoso Tomé” . Depois, Jesus
o incitou a encostar seu dedo em seu lado, com as marcas da ferida da lança
(Jo 20.26-28). Dessas dúvidas, dessa melancolia, Tomé disse: “Jesus, o senhor
está nos dizendo que está indo para o Pai, e como podemos segui-lo para lá se
nós não sabemos o caminho; e como vamos saber o caminho?” . Esse é o pro
blema de Tomé: ele não conhece o caminho ao Pai. E Jesus lhe disse: “Eu sou
o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim” (14.6).
Jesus é o caminho ao Pai. Para ser salvo, é necessário que você esteja em
um relacionamento de amor com o Pai. Salvação é em primeiro lugar um
relacionamento com Deus, no qual nós somos seus filhos e ele é nosso Pai
celestial. Por natureza, nós somos “filhos da ira” (Ef 2.3). Por graça, me
diante a fé somente em Cristo, nós nos tornamos filhos do Pai celestial —
filhos adotivos que podem chamar Deus de “Abba, Pai” (Rm 8.15; G1 4.6).
A lógica da salvação nas Escrituras é que nos aproximamos do Pai através
da mediação do Filho e pela ajuda do Espírito Santo. E sempre dessa ma
neira. Jesus está dizendo a Tomé: “Você vem ao Pai. Essa é a coisa mais
importante —relacionamento com o Pai celestial” . Então quando os dis
cípulos se aproximam dele, pedindo, “Ensina-nos como se deve orar,” ele
diz: “ Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome.Venha o teu
Reino. Seja feita a tua vontade, tanto na terra como no céu... porque teu é
o Reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém!” (Mt 6.9-13).
Cristãos frequentemente perguntam: “ Por que Jesus não é mencionado
na oração do Pai Nosso?” . Essa pergunta revela um equívoco fundamental
sobre a natureza da maneira que o evangelho trabalho no Novo Testa
mento. Ela nos leva a um relacionamento com o Pai celestial. A autocons-
ciência que Jesus tem em seu estado encarnado é um relacionamento com
o Pai celestial. “Eu sou o caminho ao Pai, e eu sou a verdade no sentido
em que ele é verdadeiro, como o Antigo Testamento era somente uma
sombra,” diz Jesus. “ Se você quer conhecer a vida verdadeira, então esteja
em um relacionamento com Deus, o nosso Pai celestial, e você adquire essa
vida, essa verdade e esse caminho através de mim” .
Você possui um relacionamento salvador com o Pai celestial? Você tem
a consciência que é um filho dele, adotado em uma família na qual Jesus é
seu irmão mais velho?
mostra-nos o Pai, o que nos basta” (Jo 14.8). Se Jesus fizesse aos discípulos o
que fez apenas a Moisés e lhes revelasse um pouco da glória do Pai.
Em sua resposta a Felipe, Jesus parece estar desapontado. Como Salva
dor encarnado,Jesus demonstrou afeições humanas e limitações sem nunca
comprometer a sua impecabilidade. Ele foi tentado em todos os aspectos,
como nós somos, porém, sem pecado (Hb 4.15). Jesus ficou desapontado
com seus discípulos porque eles o deveríam conhecer melhor. Ele os en
sinou e esteve com eles por três anos, porém, eles parecem entender tão
pouco. Ele diz, “Você esteve ao meu lado por tanto tempo e ainda não en
tende?” (Jo 14.9). Na verdade, se eles tivessem realmente entendido quem
Jesus era, eles teriam compreendido que ele lhes explicou o Pai celestial:
“Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do
Pai, este o fez conhecer” (1.18).5“ Filipe, se você tivesse me conhecido,” Je
sus diz efetivamente, “você teria visto um pouco de como o Pai é, e através
de mim você o conhecería” (14.7). Ele então adiciona: “ Crede-me que
estou no Pai, e o Pai, em mim” (v. 11).
A declaração que Jesus faz no versículo onze é facilmente traduzido
do grego. Alguém poderia estudar grego por três ou quatro horas e con
seguir traduzir esse versículo para a sua língua nativa: “Eu estou no Pai, e
o Pai, em mim” . O uso de preposições pequenas aqui é similar ao seu uso
no prólogo do evangelho de João: “N o princípio, era o Verbo... e o Verbo
era Deus. Ele estava no princípio com Deus” (1.1-2). N o princípio era o
Verbo: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (v. 14). E um grego
muito simples. N o princípio, antes da criação, antes que houvesse qualquer
coisa, havia Deus. Ele já existia. E havia Deus com Deus —Deus com Deus e
somente um Deus.
A mente de vocês fica confusa enquanto pensam sobre como há so
mente um Deus e mesmo assim, há pluralidade, comunhão dentro de Deus
(o que os ancestrais da igreja chamavam, em grego, de perichoresis, ou,
em latim, circumincessio). Na véspera de sua crucificação, o nosso Senhor
está pensando sobre o seu relacionamento eterno com o Pai. Ele está no Pai
e o Pai está nele. Filipe diz: “ Senhor, mostra-nos o Pai” ; e Jesus responde:
“Você não entende que eu estou no Pai e que o Pai está em mim?”
Existe distinção, existe separação, há o Pai e há Jesus, eles são identida
des distintas e pessoas distintas. Um é o Pai, o outro é o Filho, e mesmo
assim Jesus está dizendo: “ O Pai está em mim, e eu estou no Pai” . O Pai
não é o Filho; o Filho não é o Pai; o Pai não é o Espírito Santo; o Espí
rito Santo não é o Pai, o Espírito Santo não é o Filho, o Filho não é o
Espírito Santo. Existem esses três, e eles estão dentro de cada um. Eles não
estão somente um ao lado do outro (Jo 1.1), mas dentro um do outro. Eles
estão em comunhão, em sociedade um com o outro. A única coisa que
remotamente se assemelha a isso em termos humanos é o relacionamento
de casamento, quando parceiros se conhecem tão bem que estão dentro
dos pensamentos um do outro.
A SEGUNDA CONSEQUÊNCIA:
O PAI É PARECIDO COM CRISTO
Foi perguntado a Agostinho: “ O que Deus estava fazendo antes de ele
ter criado o mundo?” . Agostinho respondeu: “ Criando o inferno para
pessoas que fazem perguntas assim” .6 Que resposta perfeita dada à bruta es
tupidez da pergunta! Deus estava em um relacionamento amoroso consigo
mesmo, e seu amor não era egocêntrico de nenhuma forma ou maneira,
porque há mais de um que é o único Deus. Há pluralidade na divindade.
Deus estava indo em direção a si mesmo. Ele estava em conversa, em co
munhão e em amor. O Pai estava apaixonado pelo Filho; o Filho estava
apaixonado pelo Pai. O Espírito Santo estava apaixonado pelo Pai e pelo
Filho.“Eu sou o Pai, e o Pai está em mim” .
Quando as crianças lhe fazem a grande pergunta,“ como é Deus?” , você
sente que precisa de um curso de três anos em teologia sistemática para
lhe responder? O cristão mais simples pode responder essa pergunta: ele é
como Jesus. Não há nenhuma des-semelhança entre Cristo e Deus. Jesus é a
exegese do Pai; ele nos diz como é o caráter do Pai. E por isso que lemos:
“ Seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade,
Príncipe da Paz” (Is. 9.6). Jesus é chamado de “ Pai da eternidade” porque
o Pai é como Jesus, e Jesus como o Pai. Ele nos mostra como é o coração
do Pai. O evangelho não é Jesus tentando ganhar do Pai um amor que ele
está relutante em lhe entregar. E uma paródia enxergar o evangelho dessa
maneira. O amor do Pai é demonstrado no evangelho porque ele entrega o
seu único Filho por nós (Jo 3.16; R m 8.32).
Jesus vai adiante para explicar a Filipe como é que ele revela o Pai. Ele
diz a Filipe que suas palavras e obras não são suas, mas são do Pai: “ Não
crês tu que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu
vos digo, não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem
faz as obras. Crede-me que estou no Pai, e o Pai, em mim; crede-me, ao
menos, por causa das mesmas obras” (Jo 14.10-11). Em João 5.17-19, Jesus
explicou o que ele quis dizer com isso:
Mas ele lhes disse: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também. Por
isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo,... Então, lhes falou
Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que o Filho nada pode fazer de si
mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai; porque tudo o que este
fizer, o Filho também semelhantemente o faz.
Jesus está dando uma descrição de seu relacionamento com o Pai. Tal
vez, do seu ponto de vista encarnado, ele esteja se baseando em seu relacio
namento com José. Algumas vezes nós não damos a devida importância à
influência de José na vida de Jesus porque ele vai aos bastidores e, presumi
velmente, morre quando Jesus ainda é um adolescente. Mas nós podemos
imaginar aqui que Jesus está se baseando naquele relacionamento terreno.
Ele estaria na marcenaria, pegaria um pedaço de madeira e perguntaria ao
José: “ O que é esse pedaço de madeira? O que podemos fazer com isso?” .
José o pegaria no colo e diria: “Deixe eu te mostrar” , e ele colocaria um
instrumento em sua mão, colocaria a sua própria mão em volta da mão de
seu Filho, o guiaria e direcionaria. E o relacionamento de Jesus com seu
Pai celestial era da mesma maneira.
Lembra da profecia em Isaías 50, quando, em um dos cânticos dos servos,
o profeta fala sobre antecipar ansiosamente a vinda de Jesus? E dado a Isaías
essa percepção: “ O S e n h o r Deus me deu língua de eruditos” (Is 50.4) .Jesus
deve ter ponderado muito sobre esses cânticos. Ele é ensinado por seu Pai
celestial. Dá para imaginarmos Jesus acordando pela manhã e perguntando:
“ O que será que meu Pai vai me ensinar hoje?” .
Quais foram os milagres, demonstrações do poder de seu Pai? Esses mi
lagres foram exibições do Espírito Santo na vida do Filho do Pai. Os mila
gres de cura e restauração foram como se Jesus dissesse: “Meu Pai celestial
quer restaurar esse mundo quebrado e trazê-lo de volta ao Éden e ao
Paraíso que fora concebido. Esse é o coração de meu Pai. Deixe eu lhe
mostrar como meu Pai é” . Esses milagres foram demonstrações do que a
reconstrução futura vai ser. São sinais da intenção do Pai para com a sua
criação caída. É isso o que Jesus está fazendo nos evangelhos —dando-nos
uma pequena degustação do que o Pai tem em mente, quando criará o
novo céu e a nova terra.
Então Jesus diz: “Tudo quanto pedirdes em meu nome, eu o farei, para
que o Pai seja glorificado no Filho” (João 14.13). Ele está claramente di
zendo alguma coisa sobre oração aqui. Ele não está dizendo que podemos
84 «-* A B E L E Z A E A G L Ó R IA D O P A I
pedir qualquer coisa, como um carro chique, e Deus logo nos dará. Claro
que não. Quanto mais próximos caminharmos de Jesus e do Pai celestial,
mais precisamente as nossas orações refletirão o que nosso Pai quer que
peçamos. Na verdade, as nossas orações são consertadas no caminho para
cima. Quando as enviamos, o Espírito Santo as corrige de tal maneira que
o que o Pai ouve são as orações que pediriamos se soubéssemos e enten
déssemos melhor. E essas orações são sempre correspondidas.
Note que no verso 13 lemos:“para que o Pai seja glorificado no Filho” .
Jesus não somente mostra as palavras do Pai e as obras do Pai, mas ele tam
bém mostra a glória do Pai.
APLICAÇÕES FINAIS
É possível perder as consequências do que Jesus está dizendo, assim
como Tomé e Filipe perderam. Podemos estar no mesmo ambiente que
Jesus e não conseguirmos apreciar quem Cristo é e como ele revela a gló
ria transcendente de seu Pai celestial.
Você já esteve distante de Jesus por tanto tempo que sente falta de seu
Pai celestial? Talvez seu relacionamento com seu pai terreno tem te posto
em um caminho errado, e você tem todos os tipos de consequência psico
lógicas disso. Algumas pessoas associam suas famílias terrenas com estresse
emocional. Eles não se sentem amados nem cuidados, de tal maneira, que
não entendem por que falar de um Pai celestial deveria nos encorajar.
E vitalmente importante para nós entendermos que o evangelho pode
quebrar essas emoções negativas e substituí-las por algo maravilhoso. Nos
evangelhos, você é apresentado, através da fé em Jesus, a um Pai celestial
gracioso e amoroso. Jesus se apresenta ao pecador mais vil, de braços aber
tos, dizendo: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados,
e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque
sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma”
(Mt 11.28-29). Jesus diz a você: “Deixe eu lhe apresentar ao meu Pai ce
lestial” , e, abrindo-lhe a porta, ele lhe apresenta ao amoroso e gracioso Pai
celestial que se deleita em dar coisas boas aos seus filhos.
Quando nos aproximamos de nosso Pai celestial dessa maneira, lava
dos, perdoados e adotados, nós ouvimos essas palavras que têm a intenção
de nos assegurar: “ Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede
também em mim” (Jo 14.1). Ser cristão não nos exclui de aflições e tribu-
lações. De fato, o caso é o contrário. Paulo aprendeu que, “por muitas tri-
bulações nos importa entrar no Reino de Deus” (At 14.22). Jesus conhece
tudo sobre dificuldade. Claro que ele conhece; ele disse essas palavras aos
V E N D O O PAI N A F A C E DE JE S U S v * 8 5
“Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos
chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus. Por essa
razão, o mundo não nos conhece, porquanto não o conheceu a ele mesmo.
Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o
que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos
semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele ê .E a si mesmo se
purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro. ”
ljoão 3.1-31
H
á muitos anos fui encarregado de escrever um capítulo para um
livro sobre como os puritanos enxergavam a adoção dos crentes
à família de Deus. Eu senti certa apreensão quando me deparei
com a observação de J.I. Packer, que diz: “ O ensinamento puritano sobre a
vida cristã, tão forte em outros assuntos, foi notavelmente deficiente” sobre
adoção.2 Minha apreensão aumentou quando eu li a afirmação de Erroll
Hulse que “ tirando alguns parágrafos aqui e acolá, os puritanos fizeram
pouco para explorar essa verdade” .3 Declarações como essas promovem
1P orções deste capítulo são adaptadas do m eu livro The Epistles o f John. D arlington , U .K .: E vangelical Press,
2 0 0 6 , p. 1 1 1 -1 2 0 , e do m eu outro, Heirs with Christ:The Puritans on Adoption. G ran d R ap id s: R e fo rm a tio n
H eritage B o o k s, 2 0 0 8 , p. 7 5 -1 0 2 .
2 P A C K E R , J . I. Knowing God. D o w n ers G rove, 111.: interVarsity, 1973, p. 2 07 [Publicado no Brasil pela
C u ltu ra C rista c o m o título O Conhecimento de Deus (N .d o E .)].
3 H U L S E , E rrol. “ R e c o v e rin g the D o c trin g o f A d o p tio n ” . In: Reformation Today p. 105 (1988): 10.
88 ç í A B E L E Z A E A G L Ó R IA D O P A I
4 A M E S , W illiam . The Marrow ofTheology, trad. e org. J o h n D. E usd en . B o sto n : P ilg rim Press, 1968, p.
1 6 4 -1 6 7 ; W A T S O N , T h o m as. A Body ofDivinity in a Series o f Sermons on the Shorter Catechism. L ondres:
A . Fullarton, 1845, p. 1 5 5 -1 6 0 [Publicado n o Brasil pela C u ltu ra C rista co m o título A Fé Cristã (N .d o
E .)];W IL L A R D , Sam uel. A Complete Body ofDivinity. N o v a Y ork: Jo h n so n R e p r in t C o rp ., 1969(reim pr.),
p. 4 8 2 -4 9 1 ; W IT S IU S , H erm an . The Economy o f the Covenants between God & Man. K in gsb u rg, C alifórn ia:
D e n D u lk C hristian F oundation, 1990(reim pr.), 1 :4 4 1 -4 6 8 .
5 The Workes o f that Famovs and VVorthy Minister o f Christ in the Vniuersitie o f Camhridge, Mr. William Perkins,
v. 3. L ondres: Iohn L eg att e C antrell L igge, 1 6 1 2 -1 6 1 3 ,1 :8 2 - 8 3 ; p. 1 0 4 -1 0 5 ; p. 3 6 9 -3 7 0 ; p. 430; 2 :2 7 7 -2 8 0 ;
3 :1 5 4 -1 5 5 ; p. 20 5 ; p. 138 e p. 3 8 2 da segu nd a pagin ação.
6 B A T E S , W illiam . The Whole Works o f the Rev. W. Bates, D.D., ed.W . Farm er. H arrison burg,V a.: Sprinkle,
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R e v iv al B o o k s, 1993 (reim pr.), 2 :1 3 1 -1 3 7 ; e para o C atecism o M en or, veja B R O W N , Jo h n (de H ad -
dington ). An Essay towards an easy, plain, practical, and extensive Explication o f the Assembly’s Shorter Catechism.
N o v a Y ork: R o b e r t C arte r & B rothers, 1849, p. 16 2 -1 6 5 ; F IS H E R ,Ja m e s . The Assemhly’s Shorter Catechism
Explained, by way o f Question and Answer. Lew es, E ast Sussex: B e rith Publications, 1998 (reim pr.), p. 184-
1 87;V IN C E N T ,T h o m a s. The Shorter Catechism o f the Westminster Assembly Explained and Provedfrom Scrip-
ture. E d im b u rg o : B an n er o fT ru th Trust, 180 (reim pr.), p. 9 6 -9 7 . Para declarações confissionais adicionais
sobre adoção, v e ja T R U M P E R ,T im . “ A n H isto rical Stu dy o f the D o ctrin e o f A d o p tio n in the Calvinistic
T radition ” . D issertação de PhD , U n iversity o f E dinburgh , 20 0 1 , p. 5-10.
90 A B E L E Z A E A G L Ó R IA D O P A I
amongst mankind. Or, The knowledge o f God revealed, which shews the way
from the bondage o f darkness into the liberty o f the Sons o f God.
• Simon Ford, The Spirit o f Bondage and Adoption: Largely and Practically
handled, with reference to the way and manner o f working both those Effects;
and the proper Cases o f Conscience belonging to them both.
• M. G., The Glorious Excellence o f the Spirit o f Adoption.
• Thomas Granger, A Looking-Glasse fo r Christians. O r,The Comfortable
Doctrine o f Adoption.
• Cotton Mather, The Sealed Servants o f our God, Appearing with Two
Witnesses, to produce a Well-Established Assurance o f their being the Chil-
dren o f the LordAlmighty or, the Witness o f the Holy Spirit, with the Spirit
o f the Beleever, to his Adoption o f God; briefly and plainly Described.
• Samuel Petto, The Voice o f the Spirit. Or, An essay towards a discoverie o f
the wtinessings o f the Spirit.
• Samuel Willard, The Child's Portion: Or the unseen Glory o f the Children
o f God, Asserted, and proved:Together with several other Sermons Occasionally
Preached.9
9 C R A B B . L o n d res:Jo h n G ain, 1682; F O R D . L ond resiT . M axy, para Sa. G ellibrand, 1655; M . G . L ondres:
Ja n e C o e , para H e n ry O v erto n , 1645; G R A N G E R . Londres: W illiam lon es, 1620; M A T H E R . B o so n :
D an iel H en ch m an , 1727; P E T T O . L ondres: Livew ell C hap m an , 1654; W IL L A R D . B o sto n : Sam uel G reen,
vendido p o r Sam u el Phillips, 1684.
... S O B R E O A M O R A D O T IV O E T R A N S F O R M A D O R D O P A I 91
este, (literalmente,‘de que domínio vem esse homem?’), que até os ventos
e o mar lhe obedecem?” .
A adoção de Deus dos crentes é algo sem paralelo nesse mundo. Esse
amor paternal chegou a nós de outro reino. O mundo não entende tama
nho amor, pois nunca viu algo parecido. E além do domínio da experiên
cia humana ordinária.
João está realmente admirado porque Deus revela tão grande amor,
mesmo quando somos, por natureza, banidos, rebeldes e inimigos dele e de
seu reino. Deus nos chama de filhos de Deus; isso é, ele nos aceita em sua
família, dando-nos o nome, os privilégios e todas as bênçãos próprias de
filhos. Ele nos convida a conhecê-lo como Pai e viver sob a sua proteção e
cuidado, e a nos aproximarmos dele com todas as nossas necessidades e an
siedades. João fica surpreso com o conceito de ser recebido e reconhecido
como membro da família de Deus.
Você já parou para considerar quão estupenda e maravilhosa é a ado
ção? Wilhelmus à Brakel (1635-1711) colocou dessa maneira: “De filho
de Satanás a filho de Deus, de filho da ira a objeto do favor de Deus, de
filho da condenação a herdeiro de todas as promessas e possuidor de todas
as bênçãos, e exaltado da maior miséria à alegria mais elevada —isso é algo
que excede toda compreensão e toda adoração” .10
Perkins (1558-1603) disse que um crente deveria estimar a sua adoção
como filho de Deus como sendo maior do que ser “ o filho ou herdeiro de
qualquer príncipe mundano [já que] o filho do maior potentado pode ser
um filho da ira: mas o filho de Deus, pela graça, tem Cristo Jesus para ser seu
irmão mais velho, com o qual é herdeiro nos céus; ele tem o Espírito Santo
como seu confortador, e o reino dos céus como sua herança infinita” . Perkins
lamentou que poucas pessoas percebam isso na experiência: “Homens se
maravilham com nomeações terrenas, mas é raro você encontrar um homem
que se deleita em maravilha e admiração pelo fato de ser filho de Deus” .11
Os puritanos acreditavam que o ato da adoção de Deus é espantosa
mente compreensivo. A maioria dos puritanos tratava a adoção, na ordo
salutis, entre a justificação e a santificação, seguindo a ordem proposta pe
los teólogos de Westminster. Logicamente, isso faz sentido, dadas as co
nexões inevitáveis entre a santificação e adoção. Porém, outros puritanos
apontavam que, apesar da adoção ser vista como um aspecto da salvação,
ou uma parte da ordo salutis, pode também ser entendida melhor como
10B R A K E L ,W ilh e lm u s à. The Christiatt’s Reasonablc Service, trad. B artel E lsh o u t.Jo e l R . B eek e, o rg. G rand
R ap id s: R e fo rm a tio n H e ritag e B o o k s, 1 9 9 9 ,2 :4 1 9 .
11 Workes o f Perkins, 3 :1 2 3 8 (2a pagin ação).
... S O B R E O A M O R A D O T IV O E T R A N S F O R M A D O R D O P A I * * 93
12 Works o f Stephen M arshall, p. 3 7 -3 8 . M arshall tam bém usa R o m a n o s 8 .2 3 e o co m eço de Gálatas 4 para
apoiar o uso abrangente frequente da B íb lia de adoção.
94 A B E L E Z A E A G L Ó R IA D O PA I
pelo qual o homem escolhia alguém fora de sua família para ser herdeiro
de seus bens. Da mesma maneira, crentes se tornam filhos de Deus através
do ato gracioso de Deus o Pai, que os torna herdeiros do reino de Deus e
de seu pacto. O Pai sela e testemunha que “ ele concretiza um pacto eterno
conosco e nos adota como seus filhos e herdeiros e, portanto, irá provi
denciar todas as coisas boas, e evitar o mal ou transformá-lo para o nosso
bem” . Portanto, os nossos filhos também são “feitos para serem batizados
como herdeiros do reino de Deus e de seu pacto” .13
Algumas vezes, pais adotivos anunciam a recepção de seus adotados
com palavras como “nosso filho escolhido” . Caro crente, da mesma ma
neira, Deus o Pai te amou quando você ainda era um estranho e um re
belde, e de nenhuma maneira, você era um membro de sua família. Ele te
chamou, te atraiu a ele mesmo, o trouxe à sua família, te declarou como
seu filho e, agora, reserva uma herança eterna para você no seu reino.
Existe uma história sobre um rei que achou o filho de um homem
pobre, o removeu da sarjeta, e o fez príncipe sobre a casa real, com todo
o seu status e privilégios. A história do evangelho não é ficção, pois as
Escrituras revelam que o Deus Todo-poderoso e Pai instou seu amor a
você (Jr 31.3), lhe tirou de uma cova terrível e profunda (SI 40.2), lhe
trouxe à sua casa (Hb 3.6) e lhe deu todos os privilégios e bênçãos de ser
seu filho (Rm 8.16-17).
João diz no versículo 2: “Amados, agora somos filhos de Deus” . Isso
não é meramente uma linguagem legal. Nós crentes somos, de fato, os
escolhidos por Deus, como diz em Efésios 1.5-7. Que surpreendente que
nós, como filhos adotados por Deus, compartilhamos os privilégios que
pertencem ao Filho unigênito de Deus! Você já compreendeu a verdade
surpreendente da oração de Cristo em João 17.23:“ ... para que o mundo
conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim” ?
Esse amor é a essência da paternidade de Deus. O amor do Pai para com
seu Filho se estende a todos que estão nele, como filhos e filhas adotivas
de Deus. Mostra-nos o quanto Deus está disposto a fazer quando ele nos
adota em sua família.
Nós nos tornamos filhos de Deus, isto é, Deus se torna nosso Pai, por
substituição, ou, como João diz, propiciação: “ Nisto consiste o amor: não
em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou
o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (ljo 4.10; ljo 2.2).
13 Essas ênfases, citadas da liturgia H olandesa reform ada para o batism o ( T he Psalter. G ran d R a p id s: R e -
form atio n H eritage B o o k s, 1999, p. 126), tam bém se m ostram nos direcion am entos da A ssem bléia de
W estm inster para a adm inistração d o batism o (W estm inster L arger C atech ism , questões 165-167).
... S O B R E O A M O R A D O T IV O E T R A N S F O R M A D O R D O P A I 95
Propiciação pode ser um termo estranho para nós, mas é vital, pois nele
está contido o coração do evangelho.
Deixe-me explicar. Nós não somos filhos e filhas de Deus por natu
reza. Muitos vivem com essa ideia falsa. Eles acham que todos são filhos
de Deus porque todos viemos do mesmo Pai. E verdade que todos somos
criaturas do divino Criador, mas em nenhum lugar a Bíblia nos diz que
somos filhos de Deus por natureza. Em vez disso, ela nos diz que somos
filhos da ira (Ef 2.3). Por causa da natureza caída e pecadora que herdamos
de Adão, somos objetos da ira, julgamento e raiva de Deus.14'
Deus possui somente um Filho natural, o Verbo eterno que se tornou
carne como o Senhor Jesus Cristo. Seu Filho Unigênito é o Filho de seu
amor. Agora, o amor maravilhoso de Deus para com os pecadores é re
velado na maneira em que ele transforma filhos da ira em filhos de seu
amor. O Pai ama o Filho, mas na substituição surpreendente, quando Deus
nos aceita no sacrifício expiatório de Cristo, a ira de Deus contra nós foi
derramada sobre seu Filho unigênito, que, portanto se tornou o sacrifício
expiatório, ou propiciação para os nossos pecados. Nós que éramos filhos
da ira nos tornamos filhos de seu amor, porque o Filho amado de Deus se
tornou portador de sua ira na cruz.
Essa é a surpreendente doutrina bíblica da substituição penal. Caros
crentes, Jesus Cristo, que merecia o céu eterno, obteve o inferno eterno
como a punição dos nossos pecados, para que os portões do inferno se
fechassem eternamente para nós e os portões dos céus se abrissem para
sempre a nós. Que preço Cristo teve que pagar para realizar essa tarefa! Ele
teve que permanecer na chama viva da ira de seu Pai e ser lançado à es
curidão completa, clamando, “Deus meu, Deus meu, porque me desampa
raste?” (Mateus 27.46) —tudo para que Deus pudesse, em Cristo, nos trazer,
nós, que éramos por natureza pecadores estranhos e rebeldes, à família de
Deus e nos reconhecer como seus filhos.
Esse é o único jeito de se tornar um filho de Deus —somente através da
propiciação de Cristo, o sacrifício expiatório, o substituto penal, o Cordeiro
de Deus, entregue por causa dos nossos pecados. Somente em Cristo é que
Deus se torna Pai de seu povo. De que país vem esse amor —um amor que
levaria o santo Deus de toda a eternidade a aceitar essa transação para os
pobres, sem esperança, pecadores dignos do inferno como nós somos?
Quão grande é o amor com que o Pai tem nos amado para que fôsse
mos chamados de filhos de Deus - nós que merecemos o seu julgamento,
o destronamos de nossa vida, rejeitamos o seu amor e desafiamos as suas
RELACIONAMENTOS TRANSFORMADOS
RESULTANTES DA ADOÇÃO
A adoção traz bênçãos em todas as áreas da vida do crente. Ela afeta o
seu relacionamento com Deus, com o mundo, com seu futuro, com ele
mesmo e com seus irmãos e irmãs na família de Deus. Portanto, a doutrina
da adoção é central a um entendimento correto de todo aspecto da vida
cristã. Os puritanos concordariam com Packer: “ Filiação tem que ser o
pensamento controlador —a categoria normativa —em todo ponto” .15To
dos os relacionamentos são inseridos no contexto correto somente quando
crentes conseguem entender o que Deus fez ao adotá-los como filhos.
Cristo por si é prova dessa verdade. A consciência de Jesus de sua fi
liação única com o Pai controlou todo o seu viver e o seu pensar. Como
Jesus diz em João 5.30: “ Não procuro a minha própria vontade, e sim a
daquele que me enviou” ; e em João 10.30: “Eu e o Pai somos um” . “ Se
não faço as obras de meu Pai, não me acrediteis” , diz Jesus em João 10.37,
e: “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20.21). Jesus
fala sobre Deus como “ meu Pai” mais de trinta vezes no evangelho de João.
Apesar do relacionamento entre Deus o Pai e Deus o Filho ser uma
verdade óbvia nos evangelhos, o que não é tão óbvio é como Jesus incita
seus discípulos a deixarem seus pensamentos e vida serem controlados pela
convicção de que Deus é o Pai deles e que eles são seus filhos. Jesus repeti
damente cita a filiação com o Pai como a fundação do discipulado cristão.
Ele fala aos seus discípulos que eles devem ser exemplos de confiança no
Pai, ensinando-os:“ (...) não vos inquieteis dizendo: Que comeremos? Que
beberemos? Ou: Com o que nos vestiremos?... pois vosso Pai celeste sabe
que necessitais de todas elas” (Mt 6.31-32). A vida inteira dos discípulos
deve ser direcionada a glorificar o Pai que está no céu e a fazer a sua von
tade, então Jesus os ensina a orar: “Pai nosso, que estás no céu, santificado
seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra
como no céu” (v. 9-10). O filho de Deus deve viver sua vida inteira em
relação ao seu Pai, lembrando-se de que o Pai prometeu dar-lhe seu reino.
De maneira prática, a adoção possui grandes impbcações, como o pu
ritano John Cotton (1584-1652) nos mostra em particular. Nossa adoção
transforma o seguinte:
disse em Mateus 7.11, “ Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas
aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas
aos que lhe pedirem?” .
A comparação está entre pais terrenos, que são maus (isto é, eles têm a
natureza caída, com falhas, fracassos e pecados), e o Pai celestial, que é bon
dade em si, e cujo amor nunca falha ou muda, a despeito de nossas falhas
que nos compelem a confessar com Cotton: “ Certamente, não sou filho
de Deus porque eu encontro muito orgulho em meu coração, e muita
rebelião e corrupção em meu espírito. Certamente, se eu fosse nascido de
Cristo eu deveria ser como ele. Mas, o que João diz aqui? Nós somos filhos
de Deus agora mesmo, apesar de haver muita incredulidade em nosso cora
ção, e muita fraqueza e corrupção em nosso ser” .16 Mesmo assim,Jesus nos
mostra que o amor de nosso Pai celestial para conosco é eterno, expansivo
e glorioso além da imaginação.
Eu não sei qual tem sido a sua experiência de paternidade terrena. Mui
tos de nós não tivemos nenhum relacionamento verdadeiro com o nosso
pai terreno; alguns tiveram ou têm relacionamentos bons com seus pais, e
outros podem ter relacionamentos ruins ou até amargos. Tudo que falha
na paternidade deste mundo é corrigida na paternidade de Deus. Tudo de
bom que experimentamos na paternidade deste mundo é somente uma
sombra da paternidade íntegra e perfeita de Deus.
Se você é um pai, você sabe como seu coração às vezes dói e clama
por amor aos seus filhos. Imagine multiplicar esse amor por infinito. Então
perceba como até mesmo isso não se compara ao amor que Deus tem para
com seu povo. Você já se entregou ao amor de seu Pai celestial? Oh! Que
você se permita participar de seu imensurável amor paternal!
Para aumentar a apreciação do seu povo pela paternidade de Deus, Jesus
os incita a pensar sobre seu próprio relacionamento com Deus o Pai. E neces
sário que pensemos na maravilha disso, especialmente no contexto das aflições
diárias, lembrando que Jesus experimentou o amor do Pai ao mesmo tempo
em que sofria as aflições diárias dessa vida. Quando você está sob a disciplina
de Deus e ele está permitindo que as aflições caiam sobre você, lembre-se de
que essas dificuldades são evidência do amor do Pai (Hb 12.5-11). Como um
Pai amoroso, Deus tem um plano, um propósito, uma visão para o seu povo
que inclui toda aflição e dor no coração, toda prova e dificuldade.
Como pais, nós sonhamos sobre o que os nossos filhos podem vir a se
tornar quando crescerem. Da mesma maneira, Deus possui uma visão para
16C O T T O N ,J o h n . An Exposition o f FirstJohn. EvansvÜle, Ind.: S overeign G race Publishers, 1962 (reim pr.),
p. 319.
... S O B R E O A M O R A D O T IV O E T R A N S F O R M A D O R D O P A I 99
seus filhos. Ele sabe precisamente o que ele quer que eles sejam e se tor
nem. Ele sabe como irá moldá-los e treiná-los de acordo com o seu plano
e, inevitavelmente, isso envolve disciplina, porque Deus não permitirá que
seus filhos se tornem menos do que ele pretende que sejam. Ele usa a sua
disciphna paternal para o bem deles (Lm 3.31-33; Hb 12.10). Se formos
crentes nascidos novamente, é necessário que peçamos sabedoria para en
xergar tudo em nossa vida como vindo não por acaso, mas através da mão
de Deus nosso Pai, que nos adotou como seus próprios filhos.
17 C O T T O N . First Jo h n , p. 318.
100 A B E L E Z A E A G L Ó R IA D O P A I
18 C O T T O N . First Jo h n , p. 3 2 0 -3 2 1 .
... SOBRE O AMOR ADOTIVO E TRANSFORMADOR DO PAI 101
comunhão com Deus. Nosso Pai celestial guarda as melhores surpresas para
seus filhos até o final, quando transformará todo pranto em alegria.
Da mesma maneira, hoje olhamos para Cristo pela fé. Apesar do
que vemos ser nebuloso e escuro (como que através de um vidro sujo,
IC o 13.12), nós estamos sendo transformados de glória em glória pelo
Espírito do Senhor (2Co 3.18). Um dia todas as sombras serão removidas.
Nós veremos a Cristo como ele é, em toda sua glória. Além do mais, Deus
está nos moldando para compartilharmos as glórias de nosso Senhor Jesus
Cristo. Como diz ljoão 3.2: “ quando ele se manifestar, seremos semelhan
tes a ele” . Deus está nos moldando agora, mas no futuro estaremos tão
mudados que portaremos sua imagem sem mancha ou ferrugem. Paulo
nos diz, em Romanos 8.19-23, que a criação toda espera o dia em que a
herança dos filhos de Deus será dada a eles. Que futuro!
damos nosso último suspiro, nós temos um objetivo: nos purificar diante
de nosso Pai para nos tornarmos mais como Cristo.
A palavra grega para “purificar” se refere ao ser restaurado à aliança in
tegral ou ter os olhos de alguém focado em uma coisa somente. Significa
orar como Davi orou: “ dispõe-me o coração para só temer o teu nome”
(SI 86.11c). Implica integridade e singularidade de propósito, o oposto de
ser “homem de ânimo dobre” (Tg 1.8). Significa ter motivos singulares
em nossa vivência e serviço, estando inteiramente dedicados a viver para
glorificar Jesus Cristo. Cristãos se tornam conhecidos como filhos de Deus
porque eles têm um objetivo novo para eles mesmos, um novo relaciona
mento com eles mesmos. Através da graça de Deus, eles se purificam da
mesma maneira que Cristo é puro.
20 C O T T O N , FirstJo h n , p. 316.
21 C O T T O N , FirstJo h n , p. 317.
... SOBRE O AMOR ADOTIVO E TRANSFORMADOR DO PAI 103
22 C O T T O N , First Jo h n , p. 372.
23 B U R R O U G H S , T he Saintss H appiness.p. 192.
24 G R A N G E R , A Looking-G lasse fo r Christians, p. 26.
25W IT S IU S . Economy o f the Covenants, 1 :4 5 2 -4 5 3 .
26 Worb.es o f Perkins, 1:82, p. 369.
104 A BELEZA E A GLÓRIA DO PAI
Nada nesse mundo se compara à herança dos crentes. Ela não conhece
nenhuma corrupção (lPe 1.4) —não “mediante coisas corruptíveis, como prata
ou ouro” (lPe 1.18). Ela não possui sucessão. O Pai celestial e seus filhos sem
pre vivem da mesma herança, então a herança dos crentes é tão imutável
como a eleição de Cristo (Hb 7.24). Ela não possui divisão. Todo herdeiro
aproveita da herança completa, já que Deus é “infinito e indivisível” . “Deus
entrega seu todo, não metade, mas seu reino por inteiro” (Gn 25.5;Ap. 21.7).27
Bênçãos específicas que nos são dadas de sua herança divina e adoção
espiritual incluem os privilégios mais maravilhosos que uma pessoa pode
ría imaginar, nesse mundo e no mundo por vir. Segue um resumo deles,
tirado dos puritanos:
Com respeito à oração, nós temos acesso ilimitado ao nosso Pai celes
tial. Filhos sempre têm direito de acesso aos pais, não importando o quão
ocupado ou importante ele seja —mesmo se ele for presidente da nação.
Mesmo assim, no Novo Testamento, os filhos adotivos são encorajados a se
aproximarem ousadamente do trono da graça em e através do Salvador dos
homens para obter misericórdia e achar graça, que os ajudará em tempos
de necessidade (Hb 4.14-16). O Espírito nos ensina que o Pai celestial se
alegra mais em ver seus filhos adotivos se aproximarem dele por meio da
porta da oração à sala do trono do que nós nos alegramos ao ver os nossos
filhos entrarem pela porta, em nossa sala de estar. Willard escreve que o
Espírito “ dá vida” à fé dos crentes, permitindo que eles “se aproximem de
Deus como um Pai, e clamem por essa relação e, ao clamarem, peçam para
ele aceitar a sua pessoa, que ouça suas orações, e atenda seus pedidos e a
súplica de todos os seus desejos” (Rm 8.15).36
Nosso Pai nos corrige para a nossa santificação: “ (...) o Senhor corrige
a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe” (Hb 12.6).Toda correção
envolve disciplina que vem da mão do nosso Pai e trabalha em conjunto
para o nosso aprimoramento (2Sm 7.14; SI 89.32-33; R m 8.28,36-37;
2Co 12.7). Nossos sofrimentos “ são para a nossa educação e instrução em
sua famíba” , escreve Owen;37 ou, como Willard diz: “Todas as nossas afli
ções são ajudas ao céu” . Elas contribuem para “ o aumento da glória eterna
de crentes: toda correção e machucado adiciona um peso à coroa que re
ceberão” .38 Podemos pensar tolamente que Deus nos repreende para nos
destruir, mas ICoríntios 11.32 nos ensina que: “ Somos repreendidos pelo
Senhor, para que não sejamos condenados com o mundo” .39
Nosso Pai nos conforta com o seu amor e piedade, e nos leva a rego
zijarmos em uma comunhão íntima com ele e com seu Filho (SI 103.13;
R m 5.5). Ele faz isso de várias maneiras, como Willard nota: “Ele aplica as
promessas preciosas às almas dos crentes, ele lhes dá conforto interminável,
comunica-lhes os vislumbres e provas da glória e os enche de alegrias e re
conciliações internas” .40 O Pai nos encomenda e nos encoraja mesmo para
o menor ato de obediência.41 Ele nos conforta de acordo com as aflições
que ele mediu para nós.42
Nosso Pai nos oferece liberdade espiritual como seus filhos e filhas (Jo
8.36). Essa liberdade nos liberta da escravidão (G1 4.7). Ela nos entrega da
sujeição, do ensinamento de servo, do poder condenatório, do peso intole
rável e das condenações pesadas da lei, do pacto das obras (G1 3.13), porém
não do poder regulamentador da lei.43
A liberdade cristã nos livra da condenação impugnante, e do poder do
reino do pecado (2Co 5.19; R m 8.1; 6.12), fazendo possível o usufruto da
paz com Deus como seus filhos. Mas essa liberdade não deve ser abusada.
Como Cole escreve: “E perigoso falar muito livremente sobre a liberdade
cristã, porque muitos, sob essa pretensão, se deixam levar por caminhos
perversos, se excedendo, deixando de lado todo tipo de moderação” .44
Liberdade espiritual nos livra do mundo e de todas as suas tentações
poderosas, perseguições e ameaças (ljo 5.4). Ela nos livra da escravidão
de Satanás, da hipocrisia e ansiedade, e das doutrinas e tradições dos ho
mens, para que possamos livremente nos ancorar no ensinamento de Deus.
Ela nos permite liberdade para viver de forma transparente perante Deus,
para servi-lo e amá-lo, e andar em seus caminhos com coração, mente e
força (SI 18.1), para que alegremente carreguemos o nosso peso e o sirva
mos com obediência filial todos os dias (lPe 1.14), confessando: “Esse é o
mundo de meu Pai” .45
Nosso Pai nos preserva e nos protege da queda (SI 91.11-12; lPe 1.5).
Ele nos restaura de todo caminho pérfido, nos recuperando e nos humi
lhando, sempre evitando a nossa hipocrisia.46 Willard diz: “ Os filhos de
Deus na vida são como crianças pequenas, sempre tropeçando e caindo, e
tão fracos que eles não conseguem se levantar novamente se não for por
ele: mas pelo fato de que a sua mão está sobre eles e o seu braço eterno
os segura” .47
Nosso Pai envia seus anjos como espírito do ministério, para nos servir
para o bem (SI 34.7; Hb 1.14).48 Eles nos guardam e vigiam. Willard os
chama de “ anjos tutelares” que nos guardam e nos defendem do mal, e
que nos vigiam para o nosso bem (SI 91.11).“Eles armam suas barracas ao
redor dos crentes, Salmo 3 4 .1 ; eles trazem mensagens de paz dos céus, até
mesmo respostas das suas orações, Daniel 9 .2 3 ; os fortalece e os conforta
em seus conflitos secretos, Lucas 2 2 .4 3 , e quando morrem, formam um
comboio para levar suas almas ao descanso eterno, Lucas 16.22” .49
Nosso Pai providencia tudo de que precisamos como filhos dele, física e
espiritualmente (SI 34.10; Mt 6.31-33), e adverte de todo mal ou o muda
para o nosso bem. Ele nos defende de nossos inimigos —Satanás, o mundo,
e nossa própria carne —e endireita a nossa causa errada. Ele nos assiste e
fortalece, sempre oferecendo uma mão acolhedora para nos ajudar nas di
ficuldades e nas tentações (2Tm 4.17). Podemos seguramente deixar tudo
em suas mãos paternais, sabendo que ele nunca nos deixará (Hb 13.5-6).
você amar ao Senhor Jesus Cristo com toda sinceridade. Seja tole
rante sem sacrificar os aspectos essenciais da fé.
• Demonstre reverência e amor como o de criança ao seu Pai em tudo.
Reflita habitualmente sobre a grande glória e majestade dele.Admi-
re-o; renda louvores a Ele, adore-o e dê-lhe graças em todas as coisas.
Lembre-se, seu Pai santo vê tudo. Crianças, algumas vezes, cometem
atos horríveis na ausência de seus pais, mas seu Pai nunca está ausente.
• Seja submisso ao seu Pai em todo tipo de providência. Quando ele
te visitar com a vara, não resista, nem murmure. Não reaja dizendo:
‘“ Temo que não seja filho de Deus, Deus não é meu Pai, porque ele
lida comigo de maneira severa; se ele fosse meu Pai, ele teria compai
xão de mim; ele me livraria dessa cruz pecadora’ —falar dessa forma
não condiz com um filho reto” , escreve Brakel.Ao invés disso:“ Condiz
a um filho ficar quieto, submeter-se humildemente, e dizer,‘Eu sofrerei
a indignação do Senhor, porque eu pequei contra ele’” (Mq 7.9).50
• Burgess diz: “ Se tivesse uma disposição como a de uma criança, você
diria, apesar de sentir amargura, porém ele é Pai ainda. Eu tenho er
rado como filho, e isso o torna um bom Pai ao me corrigir” .51
• Obedeça e imite seu Pai, e ame os que portam a sua imagem. Lute
para ser como ele, para ser santo como ele é santo, para ser amável
como ele é amável. Nós devemos ser seguidores (“imitadores” ) de
Deus (Ef 5.1) para mostrar que portamos igualdade familiar.
• Portanto, devemos então amar a imagem do Pai onde quer que a
vejamos em nossos caros irmãos. Willard escreve: “ Os Santos estão
vivendo imagens do Senhor, podemos ver neles, não a igualdade, mas
a reflexão brilhante de suas perfeições comunicadas: portanto deve
mos amar todos os santos.”52 Devemos viver como filhos de Deus em
amor mútuo e paciência um com o outro, tendo o mesmo Pai, Irmão
mais velho e o Espírito interno.
• Regozije-se ao estar na presença de seu Pai. Deleite-se na comunhão
com ele. Burgess escreve: “ U m Filho se deleita ao ter as cartas de
seu Pai, ao ter um discurso sobre ele, especialmente para aproveitar
a sua presença” .53 Portanto, resista a tudo que atrapalha viver a graça
adotiva de seu Pai.
Nos céus, essa alegria será completa; nossa adoção então será aperfei
çoada (Rm 8.23). Então entraremos na “presença e palácio” do Pai, onde
estaremos “ infinitamente aproveitando, deleitando-nos e adorando a
Deus” .54 Que esperemos e desejemos isso, como filhos que antecipam sua
herança completa, onde o Deus trino será nosso tudo.55
APLICAÇÕES FINAIS
Os puritanos nos ensinam muito mais sobre a adoção espiritual e seu
poder transformador, bênçãos e responsabilidades do que é geralmente
percebido hoje em dia. Eles nos ensinam a importância de fugir do pecado
e procurar um senso consciente de nossa adoção.56 Eles nos mostram, como
Packer resume, que nossa adoção nos ajuda a entender melhor o ministério
do Espírito Santo, o poder da santidade do evangelho, nossa segurança na
fé e sobre a solidez da família cristã e a glória da esperança cristã.57
Os puritanos também nos avisam do perigo dos membros rema
nescentes da famíha de Satanás —especialmente quando estamos sob a
graça. “ Muitos chamados do evangelho soaram em seus ouvidos, ó pe
cador” , escreve Boston, “você não respondeu ao chamado? Então ainda
é um filho do diabo, Atos 13.10. E, portanto, um herdeiro do inferno e
da ira” . Quando o descrente se opõe, reponde Boston: “ Qual a imagem
que você porta? Santidade é a imagem de Deus, falta de santidade a do
diabo. Seus corações escuros e a vida imoral que tens dizem claramente
de que família és” .58
Com a mesma força que os puritanos admoestam, eles também con
vidam e encorajam. Willard escreve: “ O que você pensa dos que foram
muitas vezes convidados no evangelho para abraçarem [Cristo]? Não irá
a [adoção] se apresentar perante eles? Receba-o pela fé verdadeira, e ele o
fará não somente amigo, mas filho perante Deus” .59
Acima de tudo, os puritanos usam a verdade da adoção para transformar
os filhos necessitados de Deus dando-lhes conforto poderoso. Hooker nos
mostra como a adoção os conforta face à percepção de seu pouco valor,
pobreza externa, desprezo do mundo, enfermidades, aflições, perseguições
O
que nosso Senhor Jesus Cristo está nos ensinando sobre Deus o Pai
no Sermão do Monte (Mateus 5—7)? Que impacto isso deveria ter
em nosso coração e vida? Nesse capítulo, ao invés de focar em uma
passagem em particular, eu quero listar o Sermão do Monte de forma mais
ampla, seguindo um tema revelado específico.
Martin Lloyd-Jones declara: “É importante que entendamos o Sermão
do Monte como um todo, antes de entrarmos nos detalhes... [há] esse
constante perigo de ‘perder a [floresta] por causa das árvores’... O Ser
mão do Monte, se eu posso usar tal comparação, é como uma composição
musical grandiosa, uma sinfonia... o todo é maior que a coleção de partes,
e não devemos nunca perder essa integridade de vista” .1 Então, antes de
examinarmos o tema de Deus o Pai, nós vamos considerar seu contexto no
Sermão do Monte como um todo.
O SERMÃO DO MONTE
Sabemos dos evangelhos que nosso Senhor Jesus Cristo já estava ensi
nando e pregando “ o evangelho do reino” ; ele estava chamando homens,
L L O Y D - JO N E S , M artyn . Studies in the Sermon on the Mount. G ran d R ap id s: Eerdm ans, 20 0 0 , p. 22.
116 «* A BELEZA E A GLÓRIA DO PAI
Ele diz que seus herdeiros deverão deixar brilhar a sua luz perante os
outros para que suas boas obras possam se tornar evidentes e trazer glória
ao Pai. Porém, a quem Jesus está encorajando a ser testemunha por meio
do fazer o bem e então dar glória ao Pai? A quem ele está pregando ao
proclamar essas palavras? Ele está pregando à audiência ampla que inclui
seus discípulos e as multidões reunidas - a maioria deles, sem dúvida, des
cendentes do povo pactuai de Deus do Antigo Testamento. Eles são, sem
dúvida, uma multidão diversificada, crentes e descrentes —mesmo os dis
cípulos assentados a seus pés (Jo 6.70). Cristo, o Filho eterno, o Verbo feito
carne, como o Messias e Redentor de todo seu povo, através de sua palavra
graciosa e profundamente chama todos para viverem uma vida santa, para
fazerem o bem e darem glória ao Pai no céu —coisas que eles conseguem
fazer somente em e através dele mesmo, aproximando-se dele e vivendo
em arrependimento e fé. Lloyd-Jones comenta: “ São somente aqueles que
estão no Senhor Jesus Cristo que são verdadeiramente filhos de Deus” .2
David Dickson diz que “ nenhum trabalho bom pode ser feito senão por um
filh o de Deus, em obediência a seu Deus e ao comando do Pai, para o bem
do homem e glória de Deus” .3
Da mesma maneira, Cristo nos chama, o povo de Deus, por meio da
sua Palavra, para vivermos uma vida santa, para brilhar como luzes onde
moramos e trabalhamos, para fazer o bem, para que possamos dar glória ao
nosso Pai nos céus —fazendo isso em e através de Cristo, que fornece graça
suficiente para vivermos abundantemente para a glória do Pai!
que somos filhos de Deus. Por meio disso, demonstramos que ele é o nosso
Pai e que nós somos seus filhos. Isso se torna evidente porque estamos nos
esforçando para sermos amorosos —bons, graciosos, bondosos e pacientes —
como ele é amoroso —bom, gracioso, bondoso e paciente.
A motivação que Cristo dá para amar os inimigos é relacionai. Charles
H. Spurgeon diz: “ Como crianças, devemos nos assemelhar ao nosso Pai” .4
Você já viu isso em uma criança? Talvez seu filho já caminhou por aí em
seus tênis, querendo ser como seu pai? Isso não é verdade sobre filhos que
têm pais amáveis? Sobre pais que demonstram carinho amoroso aos filhos,
mesmo quando são pecadores e miseráveis? Jesus nos lembra que Deus o
Pai deixa o seu sol brilhar e a sua chuva cair sobre os justos e os injustos; se
nós somos seus filhos, nós também devemos dar sem a preocupação se re
ceberemos em troca.5Jesus está nos dizendo: “ Seu Pai nos céus é tão amo
roso, tão bom, tão gentil! Como ele é paciente com os maus, quão paciente
ele é com você” . Pense em João 3.16: “ (...) Deus amou ao mundo de tal
maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não
pereça, mas tenha a vida eterna” . Seja como seu Pai nos céus, se deleite em
fazer o que ele faz, para a sua glória! Ame seu vizinho, ame seus inimigos,
ame aqueles que o perseguem!
4 S P U R G E O N , C harles H . M atthew iThe G ospel o fth e Kingdom. P asadena,T ex.: P ilg rim P ublication s, 1974,
p. 32.
5 D O R I A N I , D an iel M . M atthew, v. 1. Phillipsburg, N . J .: Presbyterian and R e fo r m e d Publishing, 2008,
p. 191.
SEU PAI N O CÉU * * 119
(...) vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu
nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no
céu; o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas,
assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes
cair em tentação; mas livra-nos do mal [pois teu é o reino, o poder e a
glória para sempre].Amém.
Nosso Pai nos céus deseja que olhemos para ele e confiemos nele para
nossas provisões diárias na vida; pois é toda a graça e perdão que precisa
mos para a vida presente e para a vida eterna em sua presença; e para a pre
servação e perseverança que necessitamos, por meio do presente mundo de
pecado. Nosso Pai celestial deseja que conheçamos, e que lhe falemos que
conhecemos, que tudo é dele - o reino, o poder, e a glória, para sempre!
Seguindo esse chamado a uma comunhão pessoal de oração com o
nosso Pai celestial (aquele que é perfeitamente santo, e mesmo assim cheio
9 L E E , Sam uel. “ H o w to M an age Secret Prayer” em Puritan Sermons 1 6 5 9 -1 6 8 9 Being the Morning Exercises
at Cripplegate, v. 2 .W h eato n , 111.: R ic h a rd O w en R o b e r ts, Publishers, 1981, p. 165-167.
mS P U R G E O N . Matthew, p. 34.
SEU PAI NO CÉU <£* 121
sua vida com Deus como seu Pai, ele agora nos dá um aviso pactuai: “ Nem
todo o que me diz: Senhor! Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele
que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” .
Nem todos são filhos do Pai. Em Mateus 7.20,Jesus diz que os reconhe
cerá por seus frutos. Todos que são filhos de Deus são filhos somente pela
fé na justiça de seu Filho unigênito. Dentre os discípulos reunidos nesse
ponto, pela narração de Lucas, se encontrava Judas Iscariotes. Nós sabemos
também que é provável que havia descrentes na multidão —de fato, muitos
abandonaram Jesus ao longo de seu ministério. O Sermão do Monte, como
um todo, é profundamente condenatório e sonda o coração —um aspecto
que atinge o auge aqui, e é seguido por uma parábola de um construtor
sábio e um tolo. Lloyd-Jones declara:
Aconselhamento e a
paternidade de Deus
D avid Murray
N
ossa teologia dirige a nossa vida. O que sabemos e entendemos a
respeito de Deus impacta tudo que pensamos, falamos e fazemos.
Ela, especialmente, controla e direciona as atividades espirituais,
como a pregação e o aconselhamento. E o aconselhamento que quero
considerar neste capítulo, através das respostas a essas perguntas: Como a
paternidade de Deus impacta o nosso aconselhamento, nosso ministério
pessoal da Palavra a outras pessoas que estão em necessidade?
Analisaremos o impacto da paternidade de Deus no (1) conselheiro,
(2) aconselhado e (3) problemas específicos do aconselhamento.
IMPACTO NO CONSELHEIRO
Antes de entrarmos em uma situação de aconselhamento, é vital que
pausemos para refletir, em oração, sobre o que estamos fazendo. E neces
sário que busquemos a face de Deus antes que busquemos a face de um
estimado homem ou mulher.
Quando olhamos a face de Deus, através de Jesus Cristo, somos lem
brados de duas verdades: (1) Eu sou filho do Pai e (2) eu sou representante
do meu Pai.
Em comum com a raça humana inteira, eu sou filh o de Deus pela criação.
Apesar de negarmos a paternidade universal de Deus que é ensinada por
estudiosos liberais como Adolf von Harnack, o fato de Deus ser criador
de todos significa que, em um sentido limitado, Deus é o Pai de todo ser
humano (At 17.28).
N o aconselhamento, isso me lembra uma unidade fundamental, a igual
dade da raça humana toda, e me dá um sentimento de respeito para com
o meu próximo, uma simpatia com meus aconselhados, incluindo aqueles
que não são crentes. Assim como o Pai faz o sol brilhar e a chuva cair no
justo e no injusto (Mateus 5.44-45), também, pela imitação de meu Pai, eu
devo seguir o bem físico e espiritual do meu próximo.
Essa verdade também me lembra que conselheiro e aconselhado são
ambos dependentes do mesmo Pai para vida, saúde, força e todos os outros
recursos físicos:“ (...) nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (At 17.28).
Porém, como cristão, eu devo ir mais profundo. Eu devo ir além da pa
ternidade universal de Deus pela criação, porque, como crente em Cristo,
eu também sou filh o de Deus pela graça.
Isso é especialmente importante para lembrar quando eu estou aconse
lhando os queridos crentes, filhos e filhas de Deus o Pai. Isso muda o meu
relacionamento com ele de um relacionamento profissional para um fami
liar. Eu não vou à entrevista como um estranho dando ajuda profissional a
outro estranho. Eu sou um irmão da mesma família que meu aconselhado.
Isso também me ajuda a enxergar o aconselhado e eu mesmo como
sendo treinados simultaneamente pelo Pai. Deus fez dois de seus filhos se
encontrarem para treinar os dois, para nos mover da fraqueza à maturidade,
da ignorância ao conhecimento. E, claro, ao andar em união, eu dependo
do meu Pai para todo recurso espiritual, para mim e para o sucesso do meu
aconselhamento.
CONCLUSÃO
Eu espero que você consiga enxergar que a paternidade de Deus não é
um assunto acadêmico. E uma verdade prática que oferece várias opções de
ajuda com os problemas múltiplos da vida. E ela é muito mais efetiva que
o último Band-Aid ou livro de autoajuda.
C A P ÍT U L O 10
Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem
de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que
tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos esta
proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus,
o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não
fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus.
Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos
pecadores contra si mesmo, para que não vosfatigueis, desmaiando em
vossa alma. Ora, na vossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido
até ao sangue e estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre
convosco: Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem
desmaies quando por ele és reprovado; porque o Senhor corrige a quem
ama e açoita a todo filho a quem recebe. E para disciplina que perseverais
(Deus vos trata comofilhos); pois que filho há que o pai não.corrige?
Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo,
sois bastardos e não filhos. Além disso, tínhamos os nossos pais segundo
a carne, que nos corrigiam, e os respeitávamos; não havemos de estar em
muito maior submissão ao Pai espiritual e, então, viveremos? Pois eles
nos corrigiam por pouco tempo, segundo melhor lhes parecia; Deus, porém,
nos disciplina para aproveitamento, afim de sermos participantes da sua
santidade. Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo
de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos
que têm sido por ela exercitados,fruto de justiça. Por isso, restabelecei as
mãos descaídas e os joelhos trôpegos; e fazei caminhos retos para os pés,
para que não se extravie o que é manco; antes, seja curado.
Hebreus 12.1-13
134 A B E L E Z A E A G L Ó R IA D O P A I
entendamos que Deus, nosso Pai, não está conosco somente nas aflições
e nas tribulações, ele é o autor delas, trabalhando conosco para agirmos
conforme a sua boa vontade. Então o autor de Hebreus diz: “ Não se preo
cupe, não desmaie em vossa mente” , porque essa é a nossa tendência.
Ele continua no quarto verso, “ na vossa luta contra o pecado, ainda
não tendes resistido até ao sangue” . O ponto é muito simples: os hebreus
ainda estão vivos. Eles ainda estão respirando. O coração deles ainda está
pulsando. Eles ainda não foram mortos como o Senhor Jesus Cristo foi
morto. O sangue deles ainda não foi derramado ao lutarem contra o pe
cado. Os receptores originais dessa carta precisavam ser continuamente
encorajados para perseverar na mortificação do pecado na carne, assim
como nós precisamos perseverar ao darmos fruto de retidão e procurar
mos santidade através da graça mantenedora de Deus.
ele se sinta um pouco abatido após o culto. Nós saímos abatidos, ajoelha
dos com arrependimento, mas regozijando no fato de termos sido levados
a Jesus Cristo mediante o evangelho consolador e vivo.
Então, a cada dia do Senhor, tendo examinado a nós e o nosso coração,
vamos para receber exortação e disciplina graciosa que vem da Palavra de
Deus, que sempre nos leva a nossa necessidade pelo trabalho de Cristo.
Não é um deleite quando vemos o povo de Deus entrar por entre as
portas de nosso templo dizendo: “Eu preciso de disciplina, eu preciso ser
relembrado de meu pecado, e eu preciso, mais desesperadamente, de ser
lembrado da graça de Deus em Jesus Cristo” ?
O versículo 5 continua, enquanto o autor cita versículos do livro de
Provérbios e Jó: “ Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Se
nhor, nem desmaies quando por ele és reprovado” . Muitas vezes responde
mos à disciplina com menosprezo. Nós nos tornamos amargos e irritados
contra Deus, pensando que ele não somente virou sua face contra nós, mas
que ele está se mantendo distante de nós. Na verdade, quando Deus está
nos disciplinando, ele não está longe de nós - sua mão não está contra nós;
ao invés disso, ele nos trouxe para perto dele. Ele nos trouxe ao seu lado; ele
nos tem em seus braços. Ao trazer sua mão amável de correção sobre nós,
é como se estivesse nos dizendo: “Eu estou fazendo isso para o seu bem e,
finalmente, para minha glória, pelo meu nome” .
Não é essa a razão pela qual disciplinamos nossos filhos? Nós o fazemos
não somente para o bem deles, mas também pelo nosso nome. Quando
disciplinamos nossos filhos, nós estamos preocupados não somente que
eles sejam instruídos da maneira correta, para que eles sejam obedientes e
se comportem como o Senhor os instrui, mas que possam representar o
nome de Cristo da maneira correta, e em segundo lugar, que eles possam
representar a família deles. Quando exortamos e disciplinamos os nossos
filhos, nós falamos a eles a verdade do amor, pois disciplina não é como o
trabalho de um médico do pronto-socorro, costurando-nos o mais rápido
possível, rapidamente suturando as nossas feridas. Disciplina é mais como
o trabalho de um cirurgião. Ele já tomou as medidas necessárias, fez todos
os exames, já estudou a ferida e cuidadosamente considerou todos os re
médios apropriados para que, ao começar a cortar e realizar a sua cirurgia,
ele possa esperar pela cura e restauração apropriada. E o que fazemos com
nossos filhos, e é o que Deus faz com os seus filhos.
O autor de Hebreus também diz que essa correção do Senhor não
deve nos deixar desanimados; isso é, não é para que a desprezemos, cresça
mos em amargura ou percamos esperança. Não devemos nos tornar com
placentes ou cínicos sobre a disciplina de nosso Pai celestial. Quando a
138 A BELEZA E A GLÓRIA DO PAI
Bridges para escrever um capítulo para aquele livro sobre um assunto com
o qual eu sabia que não conseguiría lidar bem, sendo eu um pastor jovem.
O nome do capítulo é :“A bênção da disciplina” . Alguns leitores pergun
taram: “ Por que incluir um capítulo sobre disciplina em um livro sobre se
gurança?” . Parecia contraditório para eles, mas eu acredito que a promessa
de Deus ao corrigir seus filhos é uma das seguranças mais práticas e obser
váveis de que nós estamos em Cristo. Nós podemos descansar seguros no
fato de que somos de Deus, quando a sua mão de disciplina vem sobre nós
para nos satisfazer. Isso revela que Deus nos ama. Revela que nós nunca
seremos separados dele. Revela que somos seus filhos eternos.
O autor escreve: “ Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos;
pois que filho há a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina,
da qual todos são feitos participantes, sois, então, bastardos e não filhos”
(v. 7-8). Essa linguagem é significativa: “bastardos” são filhos ilegítimos.
Sim, filhos ilegítimos têm pais, mas o autor de Hebreus está provando o
simples ponto que se não recebermos a correção de Deus, nós não somos
seus filhos. Não somente isso, mas Jesus disse: “Vós tendes por pai ao diabo”
(Jo 8.44). Se não recebermos a correção, nós não temos por Pai aquele que
nos dará vida eterna.
Ele continua dizendo: “ Além do que, tivemos nossos pais segundo a
carne, para nos corrigirem, e nós os reverenciamos; não nos sujeitaremos
muito mais ao Pai dos espíritos, para vivermos?” (v. 9). Jesus usa linguagem
similar e pinta um cenário similar em Mateus 7 :"... qual dentre vós é o
homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra? E, pedin
do-lhe peixe, lhe dará uma serpente? Se, vós, pois, sendo maus, sabeis dar
boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará
bens aos que lhe pedirem?” (v. 9-11). Nosso Pai está pronto para nos dar
pão, mas muitas vezes pedimos por pedras, e muitas vezes as esperamos. Ele
nos leva ao deserto algumas vezes para que, quando nos alimentarmos do
que ele nos providencia, sejamos gratos por ter aquilo que somente a mão
de Deus pode nos providenciar, o único pão que consegue verdadeira e
eternamente nos satisfazer.
OVSmDNOD
C A P ÍT U L O 11
A
Declaração de Savoy (1658) afirma que a “ doutrina da Trindade
é o fundamento de toda a nossa comunhão e uma dependência
confortável dele” .1 O teólogo holandês Gisbertus Voetius (1589-
1679) se referiu à Trindade como o fundamento de nossos fundamentos
(fundamentum fundamentí), e adicionou que todo artigo da fé está casada a
essa doutrina.2 Porém, hoje em dia, muitos crentes têm pouco ou nenhum
uso prático da doutrina da Trindade de Deus para o dia a dia deles. N o co
meço do século 18, a doutrina da Trindade entrou em declínio. Enquanto
algumas igrejas lutaram pela doutrina por décadas, aquelas disputas doutri
nárias perderam força na fé e na vida dos crentes. Eventualmente, algumas
pessoas da igreja começaram a perguntar o porquê de toda essa discussão.
Isso levou muitas igrejas a se tornarem Unitaristas.3
Será que a nossa geração está para cair no mesmo tipo de apostasia? Você
já se perguntou por que a Trindade é tão essencial para a fé cristã? Nós
11 Para u m exam e cuid adoso da T rin dade n o A n tig o Testam ento, veja L eth am , The H oly Trinity, p. 1 7 - 3 3 .0
tratam ento reform ado m ais extensivo da d o u trin a da T rin dad e no A n tigo Testam ento p erm an ece sendo
d o Je ro m e Z an ch i (1 5 1 6 -1 5 9 0 ), D e Tribus Elohim ,A eterno Patre, Filio, et Spirito Sancto, Uno Eodem que Iohova,
Librie X III, in Duas Distincti Partes (N estadii P alatinorum , 1597). E sse trabalho foi citado p o r virtualm ente
tod os os autores reform ados qu e escreveram sobre a Trin dade n o sécu lo 17.
12Jo h n O w e n (1 6 1 6 -1 6 8 3 ) teria con co rd ad o. E le citou E fésios 2 :1 8 frequentem en te e m seus trabalhos
im pressos.
13 0 ’B R I E N , Peter T. The Letter to the Ephesians. G ran d R ap id s: E erdm an s, 1999, p. 193.
14 0 ’B R I E N . Ephesians, p. 20 8 ; B R U C E , E E T he Epistles to the Colossians, to Philemon, and to the Ephesians.
G ran d R ap id s: E erdm an s, 1984, p. 301.
]5 L L O Y D - JO N E S , D. M artyn . G o d ’s Way o f Reconciliation: A n Exposition o f Ephesians 2. G ran d R ap id s:
Baker, 1998, p. 2 4 6 . Interessantem ente, po uq u íssim o s com entaristas bíblicos dem onstram , na prática, que
con co rd am c o m L loyd -Jon es. A m aio ria deles, in cluin do 0 ’B r ie n e B ru ce , fazem um a referência passa
geira à T rin dad e aqui c o m o que se não fosse a peça central ao raciocínio de Paulo.
1 4 8 ** A BELEZA E A GLÓRIA DO PAI
16 H o o rn b e e c k providencia tratam ento cuid adoso dos term os usados para descrever a in ter-relaçao das
pessoas divinas no trabalho da salvação. H O O R N E B E E C K . Theologiae Pmcticae, 1 :136-137.
17 Para m aiores in form ações sobre esse p onto, v e ja T O O N , Peter. OurTriune G o d :A Biblical Portrayal o f the
Trinity. V ancouver: R e g e n t C o lleg e P ublishing, 2 0 0 2 , p. 2 1 3 -2 2 9 .
,8E m term os teológicos, esse fato tem sido frequentem ente descrito e m term os de intim idade entre as pes
soas ( p e r i c h ê o r e s is ) e a ideia resultante, d e q u e as obras da divindade são sem pre o trabalho de três pessoas
(opera trinitatis ad extra indivisa sunt). O trabalho de cada pessoa é distinto e m term os de ênfase, m as cada um a
das três pessoas sem pre agem n o m esm o trabalho ao m esm o tem po.V eja G E N D E R E N J . van e V E L E M A ,
W. H . Coneise Reformed Dogmatics. Phillipsburg, N .J.: P & R Publishing, 2008, p. 1 5 3 -1 5 4 ,1 5 8 -1 6 0 .
19 Para um a avaliação sobre tentativas falsas da un ião cristã no sécu lo vinte, veja M U R R A Y , Iain H .
Evangelicalism D iv id ed :A Record o f Crucial Chatige in theYears 1 9 5 0 to 2 0 0 0 . E d im b u rgo: B an n er o fT ru th
Trust, 20 0 0 .
A NECESSIDADE DE UMA PIEDADE TRINITÁRIA 149
O Pai
Paulo colocou sua ênfase no aproximar-se do Pai.21 Cristo enfatizou
da mesma maneira na oração do Pai Nosso. Enquanto Estevão orou a
Cristo quando estava sendo apedrejado até a morte (“ Senhor Jesus recebe
o meu espírito” —At 7.59), e, enquanto podemos orar a qualquer um ou às
20B U N Y A N , Jo h n . T h e Pilgrim’s Progress From This World to That Which Is To Come, T he Second Parí. L ondres,
1687, p. 7 6 -7 7 . P ru dên cia diz a C ristian a: “ V ocê está d e parabéns p o r ter criad o seus filhos dessa m aneira.
E u su p o n h o qu e n ão preciso fazer o restante dessas perguntas, j á que o m ais novo con segue respondê-las
tão b e m ” (p. 7 7 , tradução nossa).
21Jo h n O w e n escreveu em Communion with God, em The Works o jJo h n Owen. E d im b u rg o: B an n ter o f
Truth , 1968 (reim pr.), 2 :1 7 , p. 19: “ E ssa é a gran de descoberta d o evangelho: porquanto o Pai, c o m o fonte
da dinvidade, não é co n h ecid o de outra m an eira senão c o m o ch eio d e ira, n ervosism o e in dign ação contra
o n osso p ecado, n em p o d e m o s filhos d os h o m en s ter q ualq uer outro p ensam ento sobre ele (R m 1 .1 8 ;
Is. 3 3 .1 3 - 1 4 ; H ab. 1. 13; Ps. v. 4 -6 ; E f 2 .3 ), - aqui ele é agora revelado pecu liarm ente c o m o am or, com o
cheio d ele perante nós; essa é a m anifestação pecu liar do evangelho, T ito iii. 4.” Veja L L O Y D - JO N E S .
G o d ’s Way o f Reconciliation, p. 250.
150 ■«# A BELEZA E A GLÓRIA DO PAI
três pessoas divinas, clamar pelo Pai é o padrão normal de nossas orações
(Mt 6.9; lPe 1.17).22 Chamar Deus de nosso Pai é o nosso maior privilégio.
A adoção é muitas vezes apresentada como um resumo de todos os
benefícios do evangelho (G1 4.4-6;Jo 1.12).23Jesus se dirigiu a Deus como
“Pai” (Mc 14.36). O Espírito Santo ensina os crentes a se dirigirem a Deus
como ele o fez (Rm 8.15; G1 4.6). Porque Cristo é o filho natural de
Deus, aqueles que estão reunidos nele pela fé são filhos adotivos de Deus
(Ef 1.5). Quando somos tentados a considerar Cristo como sendo um Sal
vador gentil e acolhedor, mas pensamos sobre o Pai como um juiz distante
e austero, nós não lembramos quem amou o mundo de tal maneira que
deu seu Filho unigênito para morrer pelo seu povo (Jo 3.16; Mt 1.21). O
amor eletivo do Pai e o propósito se firmam por trás de todo o evangelho.
Cristo é como um espelho no qual contemplamos o amor do Pai.24
A parte de Cristo, nós não podemos nos assegurar do amor do Pai,
mas em Cristo, como podemos duvidar do amor do Pai? O amor do Pai
deveria nos incitar a buscar a santidade pessoal pela gratidão a ele e pelo
respeito à sua autoridade paternal. Se o Pai nos amou de tal maneira, então
não deveriamos nós lhe responder da mesma maneira? Devemos amar o
Pai com nosso coração, mente, alma e força. O amor do Pai é o motivo
primário da nossa santidade pessoal.
O Filho
A pessoa e obra de Jesus Cristo formam a peça central do evangelho.
Ele é como uma joia grandiosa colocada proeminentemente em meio a
uma sala espetacular de troféus. Enquanto o quarto cheio de riquezas pode
nos cegar com seu brilho, a joia colocada no centro do quarto imediata
mente atrai a atenção de todos que entram. Da mesma maneira, é Cristo
em relação ao plano salvador de Deus.
Se tornou comum dizermos que precisamos ter um relacionamento
pessoal com Jesus Cristo se desejamos ser salvos. Essa declaração é, sem
dúvida, verdadeira, mas insuficiente. Crentes apreciam um relacionamento
pessoal com Cristo porque eles estão em união com Cristo. União inclui
um relacionamento pessoal com ele, mas é muito mais do que isso.25
A união com Cristo é mais fácil ser experimentada do que definida.26
Ela é comparável à diferença entre casamento e amizade. Independente
do quão próximos um homem e uma mulher podem ser em comunhão,
enquanto amigos, esse relacionamento se difere radicalmente da união que
existe entre marido e mulher. Esse é o único relacionamento terreno que
se aproxima ao descrever a união entre Cristo e sua igreja (Ef 5.32). Porém,
mesmo a união marital empalidece em comparação à união entre Cristo
e sua noiva. União com Cristo significa que sua obediência é a minha
obediência (Rm 5.19), que sua retidão é a minha retidão (2Co 5.21), que
a sua morte removeu a minha maldição e a ira de Deus de mim (G1 3.13),
que sua ressurreição resulta na minha santidade pessoal e na ressurreição do
meu corpo (Rm 6.1; IC o 15.12), e que sua ascensão assegura meu lugar
nos céus (Fp 3.20; Jo 14.1-2). Mesmo essas declarações não conseguem
descrever ao certo o que significa ter união com Cristo.
E por isso que Paulo diz que nos aproximamos do Pai mediante Cristo,
por um Espírito. Ele fez da pessoa e da obra de Cristo o foco central do
trabalho salvador de Deus em todos os relacionamentos entre divindade
e humanidade.27 Cristo é a base de nossa relação com Deus, assim como
da nossa relação com outros crentes. Em Cristo, nós temos tudo o que é
necessário para assegurar o direito de estar diante de Deus. Em Cristo, te
mos tudo o que é necessário para a vida e para piedade e retidão (2Pe 1.3).
A graça de Jesus Cristo é o fundamento ou a plataforma para a nossa san
tidade pessoal.
O Espírito Santo
O Espírito Santo é o vínculo de nossa união e comunhão com o
Pai e o Filho. Ele aplica Cristo ao nosso coração pela sua palavra. Ele
Juntando o quebra-cabeça
Todas as três pessoas da Trindade nos salvam. O trabalho distinto e
unido do Pai, do Filho e Espírito são o fundamento de nossa relação com
Deus, bem como a nossa relação com os outros. E por isso que devemos
ser trinitários em nossa piedade e em nossa santidade pessoal. Devemos
andar pela fé, não pela vista (2Co 5.7). A Trindade não é somente doutrina
fundamental e central do evangelho, mas o fundamento de todo aspecto da
vida cristã. Quando começamos a nossa vida cristã com base na obra das
três pessoas, então devemos continuar a nossa caminhada com Deus com
a mesma base. Quando não somos trinitários em nossa piedade, empobre
cemos a nossa experiência cristã bem como nosso crescimento em graça
e santidade.
Você descansa diariamente sobre a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor
de Deus e a comunhão do Espírito Santo (2Co 13.14)?Você adora o Pai, o
Espírito Santo, por meio de Cristo, que é a verdade (Jo 4.21-24)? Se você
quiser fazer essas coisas, então é necessário que comece a se familiarizar
com o trabalho de cada pessoa divina em sua salvação. E por isso que Paulo
fez do Deus trino a base da paz e da união na igreja.
“ P or exem plo, veja H O O R N B E E C K . Theologiae Practicae, 1:8. A m esm a ênfase estava presente e m obras
de Peter van M astrich t (1 6 3 0 -1 7 0 6 ), entre vários outros. Veja N E E L E , A driaan C . Petrus van Mastricht
(1 6 3 0 -1 7 0 6 ): Reform ed Orthodoxy: M ethod and Piety. L eid en : B rill, 2009.
31 R E Y N O L D S , E dw ard. Meditations on the Faill and Rising o f St. Peter. L ondres, 1677, p. 58.
32 C ita d o em K E LLY , D o u g las E “ T h e T rue and T riu ne G o d : C alv in ’s D o ctrin e o f the H o ly T rin ity” . In:
H A L L , D av id W. e L IL L B A C K , Peter A , orgs. A Theological G uide to Calvin** Institutes. P hillipsburg, N .J.:
P & R P ublishing, 2 0 0 8 , p. 6 4 -8 9 .
" “ Pois q uan d o a divindade é extraída d o Pai, F ilho e E spírito Santo, D e u s é tran sform ado em u m ídolo...
E a un idade da divindade te m que ser adorada na T rin dad e das pessoas” . P E R K IN S ,W illia m (1558-1602).
A n Instruction Against the Idolatry o f the Last Times, A n d an Instruction Touching Religious or Divine Worship.
C am b rid g e : lo h n L eg at, 1601 (tradução nossa), p. 26.
" V O S , Jo h an n es. The Westminster Larger Catechism: A Commentary. Phillipsburg, N . J .: P & R Publishing,
20 0 2 , p. 26.
154 «s* A BELEZA E A GLÓRIA DO PAI
39 E n q u an to seu trabalho para in tegrar estudos teo ló g ico s p o d e ser m uito am bicioso, R ic h a rd M u ller
providen cia u m a análise instigante desse problem a em T he Study ofTheology: From Biblical Interpretation to
Contemporary Formulation. G ran d R ap id s: Z o n dervan , 1991.
156 <s» A BELEZA E A GLÓRIA DO PAI
CONCLUSÃO
Meu objetivo tem sido lhe dar os fundamentos necessários para que
você se torne um autoconsciente trinitário em sua vida diária com Deus.
Que esses pensamentos comecem uma experiência gloriosamente enri-
quecedora de comunhão com Deus em sua vida. Que você comece a
pensar e a viver como o apóstolo Paulo ao se aproximar do Pai, por meio
de Cristo, pelo Espírito, em cada dia que você viver e em tudo o que fizer.
Contribuições