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DISCIPLINA

NA IGREJA
Uma Marca em Extingao
Estudos Sobre uma das Marcas da Verdadeira Igreja de Cristo

E SOLANO PORTELA
VALDECI S. SANTOS
AUGUSTUS NICODEMUS
GEORGE KNIGHT III

V)
DAR-TE-EI AS CHAVES DO REINO DOS CEUS;
0 QUE LIGARES, P01S, NA TERRA SERA
UGADO NOS CEUS, E 0 QUE DESUGARES NA
TERRA SERA DESUGADO NOS CEUS.
IMT.16.19]
DISCIPLINA
NA IGREJA
Uma Marca em Extingao
Estudos Sobre uma das Marcas da Verdadeira Igreja de Cristo
Disciplina na Igreja: Uma Marca em Extingao —
Estudos sabre uma das caracteristicas da verdadeira igreja

14 Edi?ao — Junho de 2001


E proibida a reproduÿao total ou parcial desta publicaÿao, sem autorizaÿao
por escrito dos editores, exceto cita(;6es em resenhas.

Editor Responsavel
Manoel Sales Canuto
mscanuto@uol.com.br
ospuritanos@uol.com.br

Traduÿao do Capitulo “Disciplina Bfblica: 0 Que Significa e Como Aplica-la”


de George Knight III
Alaide Bermeguy

Revisao:
F. Solano Portela

Editoraÿao Eletronica e Capa:


Heraldo Almeida
heraldodesign@ieg.com.br

Editora:
Os Puritanos
Fone/fax: (11) 6957-1111/(11) 6957-3148
facioligrqfica@aol.com
www.puritanos.com.br

Impressao:
Facioli Grafica e Editara Ltda
Rua Canguaretama, 181 - Vila Esperanto
CEP 03651-050 - Sao Paulo - SP
Sumario

Sobre os Autores 7

Prefacio 9

I- Disciplina Preventiva: Resolvendo Controversies na Igreja 13

-
II Discipline! Eclesiastica: Ordenanga e Bengao 27
Ill -Corinto: Uma Igreja com Problemas de Disciplina 37
IV - Disciplina: Uma das Marcas da Verdadeira Igreja 53

V - Disciplina Biblica: 0 Que Significa e Como Aplica-la 77


FILHO MEU, NAO REJEITES A
DISCIPUNA DO SENHOR,
NEM TE ENOJES DA SUA
REPREENSAO;
[Pv.3.11]
Sobre os
Autores

F. Solano Portela:
Conferencista, pregador leigo, Presbitero da Igreja Presbiteriana de San¬
to Amaro - Sao Paulo. Fez mestrado em Teologia Sistematica no Biblical
Theological Seminary.
Valdeci S. Santos:
Ministro presbiteriano; mestrado em Teologia Sistematica e doutorado
em Estudos Interculturais (Ph.D.) pelo Reformed Theological Seminary,
emJackson, Mississipi, USA. Pr. da Primeira Igreja Presbiteriana de Vito¬
ria, ES.
Augustus Nicodemus:
Ministro Presbiteriano, mestre em Novo Testamento e doutor em
Hermeneutica. Professor de Novo Testamento do Centro de Pos Gradua-
fdo Andrew Jumper e no Seminario Jose Manoel da Conceigao em Sao
Paulo-SP.
George Knight III:
Professor de Novo Testamento no Seminario Teologico Presbiteriano de
Greenville. Bacharel e Mestre em Teologia pelo Seminario Teologico de
Westminster, e doutor em Teologia pela Universidade Livre de Amsterda.

1
E PARA D1SC1PUNA QUE
S0FRE1S; DEUS VOS TRATA
COMO A F1LHOS; POIS QUAL
£ 0 FILHO A QUEM 0 PA1
NAO CORRIJA?
HB.12.7
Prefacio
Disciplina:
Mantendo a
Pureza da Igreja
de Cristo
POR: MANOEL SALES CANUTO

stamos sempre afirmando que a igreja anseia por uma re¬

% forma. Anseia porque e uma necessidade. So os que estao


de olhosvendados, porque lhesforam colocadas estas ven-
dasou porque se auto vendaram, e que nao vem esta necessidade.
Estamos fazendo esta afirmaÿao porque queremos denunciar o fra-
casso da igreja em varias areas. A culpa nao e so do povo ignoran-
te da Palavra, nem dos Seminarios (triste situaÿao), nem de teolo-
gos liberais ou acomodados, mas tambem dos pastores e
presbiteros.
Em que temos fracassado? (1) Temos negligenciado a doutri-
na na pregaÿao. 0 povo de Deus nao esta sendo doutrinado. Os
delegados de Westminster afirmavam com respeito aos pastores e
baseados na Palavra, que eles deviam “pregar a sa doutrina”. Os
pastores estao em falta com os credos e confissoes sobre os quais
juraram. Seus sermoes tern “forma de piedade” antes de serem
doutrinarios e confessionais, para que a igreja se robusteq:a na ver-
dade. (2) Esta negligencia doutrinaria tern atingido as crianÿas e
jovens. Que instruÿao tern tido? Que gera<;ao e a de hoje?
J. MacArthur afirmou que “nunca se viu uma geraÿao mais
desconhecedora da verdade biblica do que a de hoje”. Por isso sao
presas faceis das heresias e nao sabem responder as questoes da

2
sua fe. (3) Mas quero enfatizar uma falha grande no seio da igreja:
A falta de disciplina Eclesiastica. 0 capftulo 30 da Confissao de
Westminster trata exatamente desta questao fundamental a igre¬
ja. Esta e uma das marcas da igreja verdadeira, afirmam os refor-
mados. A Confissao de Fe de Westminster declara: “0 Senhor Je¬
sus, como Rei e Cabe$a de sua Igreja, nela instituiu urn governo
nas maos dos oficiais dela...A esses oficiais estao entregues as cha-
ves do Reino do Ceu. Em virtude disso, eles tern, respectivamente,
o poder de reter ou cancelar pecados; de fechar esse reino a impe-
nitentes, tanto pela Palavra quanto pelas censuras; de abri-lo aos
pecadores penitentes, pelo ministerio do Evangelho e pela absol-
viÿao das censuras, quando as circunstancias o exigirem”.
Em vista desta negligencia as igrejas de hoje tern se tornado
urn aglomerado “misturado” de crentes e falsos crentes, crentes
apenas nominais. Dr. Machen, de Princeton, afirmou que “Urn dos
maiores males da vida religiosa de hoje, parece-me, e a recepÿao
na igreja de pessoas que apenas repetem uma formula como ‘Acei-
to Cristo como meu Salvador pessoal’” sem que ao menos saibam
o que isso significa ou que muitas vezes e o resultado do "trejeito”
evangelfstico dos pregadores “apeladores” de hoje. 0 que se pre-
cisa ter e uma “confissao confiavel”. Isso nao e simples. Significa
que os presbfteros tern de estar certos de que as pessoas que con-
fessam sua fe, o fazem com conhecimento. Uma confissao verda¬
deira respaldada numa vida crista real e a base para que alguem
seja recebido como membro de uma igreja.
Este ponto e importante quando se aborda a questao de dis¬
ciplina: a qualidade dos crentes que freqtientam as igrejas. Muitos
estao no rol de membros, mas suas vidas contrariam a fe que con-
fessam e estao em atividades contrarias a Palavra de Deus. A Igreja
e uma comunidade de fieis e temos de zelar pela conduta dos seus
membros para que a honra de Cristo nao seja maculada. A Igreja
cumpre exercer a disciplina crista. Esta e uma atividade dos
presbfteros e estes nao devem deixar os ministros sozinhos nesta
tarefa (e verdade que alguns pastores preferem ficar a sos nesta
atividade por razoes as mais estranhas - isso caracteriza urn siste-
ma episcopal). Fico pensando se nos reformados, nao ja perdemos

IQ
a “gloria” do presbiterato- Nao e verdade que muitas pessoas pen-
sam que os presbfteros sao apenas administradores da igreja? Os
presbfteros sao pastores do rebanho junto com o ministro; visi-
tam, aconselham exortam, advertem e sao aptos para o ensino. Se
houver necessidade de disciplina, os presbfteros, junto com o pas¬
tor, devem atuar com amor, na intenqiao de recuperar o pecador,
mesmo que tenha de “entrega-lo a Satanas” para que sua alma seja
ganha.
Na luta para que a igreja retorne e se firme na teologia bfbli-
ca da reforma, a disciplina e uma dos pilares que devemos fincar.
Este livro e fruto deste desejo. Igreja pura e igreja onde existe
disciplina “porque o Senhor corrige a quern ama, e cigoita a todofilho a
quern recebe” (Hb. 12.6).

n
MAS, SE ESTAIS SEM
D1SCIPUNA, DA QUAL TODOS
SE TfM TORNADO PARTICI-
PANTES, S01S ENTAO
BASTARDOS, E NAO FILHOS.
[HB. 12.8]

12
Disciplina
Preventiva:
Resolvendo
Controversies
na Igreja
POR: F. SOLANO PORTELA

uando pensamos na igreja, como Corpo de Cristo, e nas


C. virtudes que a caracterizam, com freqiiencia temos a
expectativa de encontrar nela bastante harmonia e amor
cristlicYyerdadeiramente, a igreja deveria se destacar pela unida-
de registrada no capftulo 17 do Evangelho dejoao. Ali, no versicu-
lo 23, temos o trecho da oraqio sacerdotal de Cristo, pelos seus
discfpulos.e por sua igreja, na qual ele expressa o seu amor pelos
seus e faz a seguinte peti<;ao ao Pai — "... para que eles sejam
perfeitos em unidade...". 0 teologo Francis Schaeffer escreveu so-
bre essa unidade e chamou a atenÿao dos seus leitores para o fato
de que o texto continua, com Jesus dando urn proposito a essa
unidade, dizendo, a fim de que o mundo conhefa que tu me envi-
aste...”. Por essa razao, Schaeffer chamou esse amor entre os ir-
maos, evidenciado e demonstrado pela harmonia, de a “marca do
cristao”. Estamos certos, portanto, quando esperamos que a igre¬
ja seja o local onde as seguintes caracterfsticas estejam evidente-
mente presentes:
•Amabilidade no trato
•Ausencia de discordia
•Trabalho conjunto
•Proposito comum
13
Solano Portela

tudo o que ligardes na terra tera sido ligado nos ceus, e tudo o que
desligardes na terra terd sido desligado nos ceus. 19 Em verdade
tambem vos digo que, se dois dentre vos, sobre a terra, concorda-
rem a respeito de qualquer coisa que, porventura, pedirem, ser-
Ihes-a concedida por meu Pai, que esta nos ceus. 20 Porque, onde
estiverem dois ou tres reunidos em meu nome, ali estou no meio
deles. 21 Entao, Pedro, aproximando-se, Ihe perguntou: Senhor,
ate quantas vezes meu irmao pecara contra mim, que eu Ihe per-
doe? Ate sete vezes? 22 Respondeu-lhe Jesus: Nao te digo que ate
sete vezes, mas ate setenta vezes sete.

Os passos ensinados pelo Nosso Senhor Jesus Cristo, para


aplica<;ao em nossa vida comunitaria, como membros da
igreja visfvel, sao esses:
a. Passo 1 - Contato individual, um a um. Em Mt 18.15, lemos;
"Se teu irmao pecar contra ti, vai argiii-lo entre ti e e/e so. Se e/e te ouvir,
ganhaste a teu irmao". Nao devemos esperar que a parte ofensora
venha pedir perdao, quando pecar contra nos. Jesus nos ensina
que nos, quando ofendidos, devemos tomar a iniciativa para ter
uma conversa discreta e individual com o nosso ofensor. Essa ad-
moestaqiao, em si so, ja e importante para o nosso crescimento em
santificaÿao. Abordar ao ofensor vai contra o nosso orgulho, mas e
uma atitude tipica da humildade que Cristo requer de nos, como
cristaos. Cristo nao oferece garantias de que teremos sucesso, mas
se o ofensor der ouvidos a nossa admoestaÿao individual, ganha-
mos o irmao, no sentido de que o impedimos de que ele cometes-
se pecados mais serios contra outros, bem como no sentido de
que construimos um relacionamento mais solido, em Cristo, com
aquele irmao ou irma. Tiago 5.20 nos ensina: “Aquele que convene o
pecador do seu caminho errado salvara da morte a alma dele e cobrira
multidao de pecados".
b. Passo 2 - Contato com dois ou tres. 0 versiculo 16 aprofunda
o contato e o envolvimento corporativo no processo de disciplina.
Ele deve ocorrer se o contato individual for infrutifero, se o irmao
ou irma nao der ouvidos a abordagem prescrita anteriormente. 0
v. 16 diz; “Se, porem, nao te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas

63
Solano Portela

Notem como a abordagem se processou. Eles estavam ali para


tratar de uma seria controversia. Eles tinham uma disputa e um pro-
blema. Pior ainda: o problema era com pessoas “safdas da Judeia",
como diz o verso 1. Deveriam chegar de cara feia? Ou sera que nao
deveriam, sem perda de tempo, tratar logo da questao e resolve-la
de uma vez por todas? Nao nos esque<;amos que temos aqui os Atos
do Espfrito Santo na solidificaÿao de sua Igreja. Procuremos aprender
do que ocorreu nessa ocasiao. A primeira coisa que fizeram foi nar-
rar a conversao de almas, a conversao de gentios! Isso era motivo de
regozijo. 0 resultado dessas narrativas foi a ocorrencia de uma “gran¬
de alegria" entre os irmaos! 0 principio que aprendemos parece
ser: A concentragao nos pontos essenciais e nas bengaos comuns de Deus,
gera alegria - e essa alegria e um solo jertilpara a harmonia!
Muitas vezes estamos nos esforqiando para obter harmonia e
para resolver controversias, mas nos esquecemos que ela e o
subproduto de uma serie de passos previos. Muitas vezes nos es-
meramos em ser portadores de mas notfcias. Muitas vezes nos
esquecemos das bengaos de Deus, no meio da controversia. Nossa
visao e curta e nao enxergamos aquilo que Deus ja fez por nos e
que continua a fazer pelo Seu Reino. Esquecemos que a verdadei-
ra unidade vem como consequencia de uma visao e abordagem
correta, nas coisas de Deus.
0 verso quatro traz um detalhe adicional, mas ele nao nos
deveria passar desapercebido. Lemos: “Tendo eles chegado a Jerusa¬
lem, foram bem recebidos pela igreja, pelos apostolos e pelospresblteros
e relataram tudo o que Deus fizera com eles". Notem que alem de,
mais uma vez, darem o testemunho e relatarem as coisas que Deus
havia operado no campo distante, o verso registra, em tres pala-
vrinhas uma questao importantissima: "...foram bem recebidos". A
concordia e a obten<;ao da unidade verdadeira e algo promovido
por dois lados. A necessidade de comunhao, a predisposiÿao a
seriedade no tratamento das coisas espirituais, a concentra<;ao na
essencia da fe, o reconhecimento do trabalho de Deus na transfor-
maÿao de vidas, estava presente no grupo que se achegava a cida-
de. Por outro lado, foram alvo de hospitalidade, de boa acolhida,
foram “bem recebidos", como diz a Palavra, por aqueles que os
21
Disciplina
Biblica:
O Que Significa e
Como Aplica-la
POR: GEORGE KNIGHT III

disciplina bfblica na igreja e um ensino presente em todo

s4 o Novo Testamento. Os princfpios foram estabelecidos,


inicialmente.pelo nosso Senhor, e depois ensinados e
encorajados nas igrejas pelos apostolos. Por isso, e importante,
para aqueles que querem obedecer o ensino e a pratica apostoli-
ca, ouvir o que nosso Senhor e os apostolos tern ensinado para
que possamos, com o mesmo espfrito benevolentemente franco e
amoroso, por em pratica este zelo que Cristo tern por Seu povo.
Vamos come<;ar com o Cabeq:a e Rei da Igreja examinando
Suas explana<;6es acerca da igreja e disciplina desta, e particular-
mente a Sua exposiq:ao com relaÿao ao ato de utilizar “as chaves
do reino”.
As Questao das Chaves do Reino
As references a igreja nos evangelhos e as chaves do reino e
o uso destas sao encontradas em apenas dois relatos ambos no
Evangelho segundo Mateus. Um desses esta nos versos 17-19 do
capitulo 16:
Bem-aventurado es, Simao Barjonas, porque naofoi came e san -
gue quern to revelou, mas meu Pai que esta nos ceus. Tambem eu te
digo que tu es Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e
Solano Portela

los. 19 Pelo que, julgo eu, nao devemos perturbar aqueles que,
dentre osgentios, se convertem a Deus, 20 mas escrever-lhes que se
abstenham das contaminates dos udolos, bem como das relates
sexuais ilfcitas, da came de animais sufocados e do sangue. 21
Porque Moises tern, em cada cidade, desde tempos antigos, os que
o pregam nas sinagogas, onde e lido todos os sabados. 22 Entao,
pareceu bem aos apostolos e aos presbiteros, com toda a igreja,
tendo elegido homens dentre eles, envia-los, juntamente com Paulo
e Barnabe, a Antioquia: foram Judas, chamado Barsabas, e Silas,
homens notaveis entre os irmaos, 23 escrevendo, por mao deles: Os
irmaos, tanto os apostolos como os presbiteros, aos irmaos de en¬
tre os gentios em Antioquia, {Antioquia: capital da Stria} Stria e
Cilicia, saudates. 24 Visto sabermos que alguns que satram de
entre nos, sem nenhuma autorizato, vos tern perturbado com pa-
lavras, transtornando a vossa alma, 25 pareceu-nos bem, chega-
dos a pleno acordo, eleger alguns homens e envia-los a vos outros
com os nossos amados Barnabe e Paulo, 26 homens que tern expos-
to a vida pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo. 27 Enviamos,
portanto, Judas e Silas, os quais pessoalmente vos dirao tambem
estas coisas. 28 Pois pareceu bem ao Esptrito Santo e a nos nao vos
impor maior encargo alem destas coisas essenciais: 29 que vos
abstenhais das coisas sacrificadas a tdolos, bem como do sangue,
da carne de animais sufocados e das relates sexuais ilfcitas; des¬
tas coisas fareis bem se vos guardardes. Saude. 30 Os que foram
enviados desceram logo para Antioquia e, tendo reunido a comuni-
dade, entregaram a eptstola. 31 Quando a leram, sobremaneira se
alegraram pelo conforto recebido. 32Judas e Silas, que eram tam¬
bem profetas, consolaram os irmaos com muitos conselhos e os
fortaleceram. 33 Tendo-se demorado ali por algum tempo, os ir¬
maos os deixaram voltar em paz aos que os enviaram.
Peÿo perdao aos queridos irmaos batistas, mas e praticamen-
te impossfvel ler este capftulo sem vermos as bases do presbiteri-
anismo refletidas no modus operandi historico da igreja. 0 que te-
mos aqui e uma verdadeira reuniao conciliar: lfderes de Igrejas,
atingidos por ensinamentos conflitantes, congregam-se e se reu-
nem para discutir os rumos dos ensinamentos que deveriam ser

12
Disciptina Preventiva: Resalvendo Controversies no Igreja

reforÿados. Cristaliza-se a mensagem a ser propagada a igreja, que


adentrava a sua nova era de internacionalizaÿao, no momento em
que ela se desvinculava da identidade nacional (com Israel) que a
caracterizara ate a vinda de Cristo.
Se queremos aprender urn pouco sobre a resolugao de con¬
troversies em nossas igrejas e sobre a verdadeira harmonia que
deve subsistir, e possfvel que este seja um bom trecho da Palavra
de Deus. Os ensinamentos que podemos extrair do texto podem
ate nos surpreender, na medida em que aprofundamos o nosso exa-
me e procuramos aplicar os seus prinefpios a nossa situaÿao atual.
Gostaria neste capftulo, de examinar tres pontos que nos
chamam a atenÿao, encontrados aqui nessa “reuniao de presbiterio”.
Refiro-me a uma “reuniao de presbiterio” porque envolve mais de
uma igreja, porque o sfnodo ainda nao havia sido organizado e,
como Pedro ainda nao estava em Roma, o Supremo Concflio ainda
levaria alguns anos ate ser convocado e instalado... Mas, brinca-
deiras anacronicas a parte, vemos que a grande questao que moti-
vou a reuniao relatada em Atos 15, esta colocada de forma bem
objetiva e resumida, no versfculo 1. Essa colocaÿao objetiva
condensada, em si, ja seria uma grande liÿao para nos, acostuma-
dos a discursos quilometricos que, via de regra, sao dispersivos e
carentes de precisao. Vemos aqui, rapidamente, que o problema
era o ensinamento de “alguns individuos que desceram da Judeia”.
Esses ensinavam que a salvagao dependia de alguma prdtica pessoal.
Mais especificamente, o ensinamento era: “Se nao vos circuncidar-
des segundo o costume de Moises, nao podeis ser salvos”.
Ora, esse ensinamento contrariava o ensino dos apostolos,
que a salvaÿao procedia unica e exclusivamente da graÿa soberana
de Deus, sem a interference do esforq:o humano. Ate o proprio ato
da crenfa, ensinavam os apostolos, era um reflexo do trabalhar so-
berano do Espfrito Santo no coraÿao de pecadores. Paulo ja estava
a escrever essas coisas, corretamente interpretando o ensino do
Antigo Testamento. Temos aqui, portanto, um ensino estranho sen-
do introduzido na igreja e que atingia o proprio cerne do Evange-
Iho. A situaÿao nao poderia ficar por isso mesmo. Um pronuncia-

Ifi
Solano Portelo

mento maior era necessario. E e no relato que se segue que temos


o primeiro ponto, que muito nos ensina sobre a resoluÿao de con¬
troversias e sobre a instalaÿao da verdadeira harmonia na igreja.
1. Controversias existem e o consenso e a opiniao de muitos e
necessario para resolve-las! (v. 2)
Chamo a atenÿao para as primeiras palavras do versi'culo
2: "Tendo havido, da parte de Paulo e Barnabe, contenda e nao pe-
quena discussao com eles...” Dado ao carater objetivo, academi-
co e direto da linguagem de Lucas, podemos imaginar a inten-
sidade e inflamaÿao do debate que ocorreu em torno dessas
questoes. 0 que desejo ressaltar e exatamente esse principio:
Nao e realista esperarmos a inexistencia de controversias ou a ausen-
cia de diferengas de opinides na Igreja. A Controversy vem, as vezes
com muita intensidade.
E necessario que tenhamos essa compreensao. As vezes de-
senvolvemos uma visao utopica e idealista do que seja harmonia
na igreja. Ao menor sinal de controversy, jogamos a toalha, aban-
donamos a expectativa de uma integraÿao de urn trabalho conjun-
to, passamos a criticar mais e a trabalhar menos. Passamos a nos
sentir trafdos, perdidos, desamparados, com a smdrome de Elias (so
eu, Senhor...). Teremos muito maior possibilidade de promover-
mos a verdadeira harmonia se adotarmos uma postura realista. Se
esperarmos a controversy. Se nos preparamos para ela. Se abor-
damos as questoes da forma adequada. Se nao jogarmos todas as
esperanÿas numa harmonia pre-existente que pode ser falsa, mas
se, pelo contrario, nos engajarmos na promo<;ao de uma harmonia
gerada pelo Espfrito, que se processa ao redor da verdade.
Na continuidade do versfculo, lemos: "... resolveram que esses
dois e alguns outros dentre eles subissem a Jerusalem, aos apdstolos e
presbfteros, com respeito a esta questao". Peÿo que notem a grada<;ao
do consenso. Primeiro, apos a realidade da controversy, da con¬
tenda, da nao pequena discussao, diz o texto que resolveram...
Quern resolveu? Paulo e Barnabe? Nao! 0 texto diz que “esses
dois...” deveriam ir a Jerusalem. A narrativa, falando deles como
destacados a parte de urn grupo, nos da a nitida impressao que a

12
Disciplina Preventive: Resolvendo Controversies no Igrejo

resoluÿao aqui nao foi pessoal. Ela ja se constitui em um primeiro


pronunciamento conciliar. A igreja resolve enviar os dois princi¬
pals mestres e “alguns outros dentre eles...”, para tratar da questao.
Notem que a harmonia pretendida nao era a ausencia da con¬
troversy, mas a predisposigao de trata-la adequadamente. 0 grande
prindpio aqui e que questdes polemicas devem ser tratadas em consen-
so. Lfderes integrados representam o melhorforo para, sob a orientagao
do Espirito, abordar e aclarar os ensinamentos de Deus.
Somos, em muitas ocasioes, tentados a desprezar o conselho
de muitos e a confiar em nosso proprio discernimento. Dentro da
Igreja de Cristo isso se traduz em uma falta de fe na a<;ao do Espf-
rito, como Consolador e preservador da Igreja. Individualismo nao
promove integra<;ao. Mais grave ainda: o individualismo pode ate
dar a aparencia de maior lideran<;a ao que o emprega, mas resulta-
ra em menor autoridade junto aos irmaos que aguardam de nossa
parte o ensinamento seguro e consensual que procede do Espfri-
to. 0 pecado sempre cobra pesados dividendos daqueles que se
atrevem a realizar voos independentes, desprezando o consenso e
o conselho dos irmaos.
2. A enfase na Fe Comum gera um ambiente favoravel e hospita-
leiro para o tratamento das controversias! (vs. 3e4)
0 nosso segundo ponto ancora o contexto da controversia
na fe comum, que deve existir no seio da igreja. A continuidade do
relato nos mostra que a determinaÿao dos irmaos era intensa. Fi-
zeram uma longa e penosa viagem. Lemos: “Enviados, pois, e ate
certo ponto acompanhados pela igreja, atravessaram as provfncias da
Fenfcia e Samaria”. E interessante que o consenso ainda se revela
na expressao “ate certo ponto acompanhadospela Igreja". Certamente
foram sempre, e nao “ate certo ponto” acompanhados em oraÿao.
0 texto fala de um acompanhamento fTsico, mesmo, ou seja - uma
demonstraÿao maior de apoio durante uma certa por<;ao da jorna-
da. Mas e para a segunda parte do verso que quero chamar aten-
(;ao, pois a harmonia objetivada tern grande dependency das coi-
sas que sao comunicadas. Diz o texto que eles "... narrando a con-
versao dos gentios, causaram grande alegria a todos os irmaos".

m
Solano Portela

Notem como a abordagem se processou. Eles estavam ali para


tratar de uma seria controversia. Eles tinham uma disputa e um pro-
blema. Pior ainda: o problema era com pessoas “safdas da Judeia",
como diz o verso 1. Deveriam chegar de cara feia? Ou sera que nao
deveriam, sem perda de tempo, tratar logo da questao e resolve-la
de uma vez por todas? Nao nos esque<;amos que temos aqui os Atos
do Espfrito Santo na solidificaÿao de sua Igreja. Procuremos aprender
do que ocorreu nessa ocasiao. A primeira coisa que fizeram foi nar-
rar a conversao de almas, a conversao de gentios! Isso era motivo de
regozijo. 0 resultado dessas narrativas foi a ocorrencia de uma “gran¬
de alegria" entre os irmaos! 0 principio que aprendemos parece
ser: A concentragao nos pontos essenciais e nas bengaos comuns de Deus,
gera alegria - e essa alegria e um solo jertilpara a harmonia!
Muitas vezes estamos nos esforqiando para obter harmonia e
para resolver controversias, mas nos esquecemos que ela e o
subproduto de uma serie de passos previos. Muitas vezes nos es-
meramos em ser portadores de mas notfcias. Muitas vezes nos
esquecemos das bengaos de Deus, no meio da controversia. Nossa
visao e curta e nao enxergamos aquilo que Deus ja fez por nos e
que continua a fazer pelo Seu Reino. Esquecemos que a verdadei-
ra unidade vem como consequencia de uma visao e abordagem
correta, nas coisas de Deus.
0 verso quatro traz um detalhe adicional, mas ele nao nos
deveria passar desapercebido. Lemos: “Tendo eles chegado a Jerusa¬
lem, foram bem recebidos pela igreja, pelos apostolos e pelospresblteros
e relataram tudo o que Deus fizera com eles". Notem que alem de,
mais uma vez, darem o testemunho e relatarem as coisas que Deus
havia operado no campo distante, o verso registra, em tres pala-
vrinhas uma questao importantissima: "...foram bem recebidos". A
concordia e a obten<;ao da unidade verdadeira e algo promovido
por dois lados. A necessidade de comunhao, a predisposiÿao a
seriedade no tratamento das coisas espirituais, a concentra<;ao na
essencia da fe, o reconhecimento do trabalho de Deus na transfor-
maÿao de vidas, estava presente no grupo que se achegava a cida-
de. Por outro lado, foram alvo de hospitalidade, de boa acolhida,
foram “bem recebidos", como diz a Palavra, por aqueles que os
21
Disciplina Preventivo: Resolvendo Controversial no Igreja

aguardavam. 0 princfpio que aprendemos e exatamente esse: Re-


ceber bem, pavimenta o caminho para a harmonia.
Como isso muda as coisas e amolda os coraÿoes a aÿao do
Espfrito. Temos nos apercebido da importancia desse “pequeno
detalhe” em nossos encontros? Temos sido formais, distantes?
Como esperamos promover a verdadeira unidade, se, as vezes,
nem a educaÿao basica, no “bom recebimento" e praticada?
3. Considere os passos necessarios a solugao da controversia,
notando que comegam com a precisa identificafao da fonte e
terminam com uma declaragao consensual, (vs. 5-26)
0 terceiro ponto diz respeito aos passos seguidos na resolu-
$ao da controversia. No versfculo cinco, verificamos que a reuniao
comeÿa a “esquentar". 0 ensinamento original, que havia gerado a
necessidade do concflio, comeÿa a ser explicitado e os proponentes
da mensagem controvertida passam ao ataque. 0 texto desse verso
nos tras urn dado adicional que nao estava presente no primeiro
versfculo. La lemos que o ensino partia de “alguns indivfduos que
haviam descido da Judeia”, mas aqui temos: “Insurgiram-se, entretan-
to, alguns da seita dosfariseus que haviam crido, dizendo: E necessdrio
circuncida-los e determinar-lhes que observem a lei de Moises".
Gostaria de chamar a atenÿao para a qualificaÿao desses des-
critos como sendo “da seita dos Fariseus". Logo a seguir temos a
expressao: “que haviam crido”. Eles nao eram perturbadores, ape-
nas. Eles nao estavam querendo simplesmente deturpar o Evan-
gelho para destruir o esforÿo dos apostolos. A Palavra e clara
quando os identifica como crentes\ Mas nem por isso estavam
ensinando o que era certo, nem praticando o Evangelho em sua
pureza.
Isso nos leva ao aprendizado de urn outro princfpio, quando
confrontamos controversies e procuramos resolve-las: A falta de
harmonia doutrinaria e de opiniao vem nao necessariamente dos des-
crentes, mas dos que sao da casal Com freqiiencia somos acusados
de estarmos questionando a crenÿa daqueles com os quais discor-
damos, de estarmos julgando o que nao podemos julgar. Creio
que devemos aprender que o erro subsiste dentro de nos, dentro

22
Salatio Portela

dos evangelicos, ou, sendo mais especi'fico, dentro da nossa igre-


ja. Questiona-lo, argUi-lo, identifica-lo, nao significa promovermos
dissociaÿao, difamaÿao ou estarmos lutando contra a harmonia e
unidade que deveria existir.
A harmonia verdadeira nunca se processa pela conivencia com
o erro. 0 amor verdadeiro acha a forma correta de apontar o erro,
no sentido de corrigi-lo e de atrair para si o que esta em falta para
com Deus e para com a sua igreja.
No desenrolar do texto e dos debates, vemos como esta sen¬
do gerada a harmonia, como a controversy esta sendo abordada e
resolvida. Mas ela nao se processa em urn vacuo. Notem que nessa
reuniao dos "... apostolos e os presbfteros para examinar a questao..."
(v. 6), como se chegou a uma posi<;ao harmonica:
(1) Primeiro, com grande debate. O versfculo 7 diz: "Havendo
grande debate, Pedro tomou a palavra e Ihes disse: Irmaos, vos sabeis
que, desde ha muito, Deus me escolheu dentre vos para que, por meu
intermMio, ouvissem os gentios a palavra do evangelho e cressem..." e
da andamento a sua expositor
8 Ora, Deus, que conhece os corafdes, Ihes deu testemunho, conce-
dendo o Espfrito Santo a eles, como tambem a nos nos concedera.
9 E nao estabeleceu distinfdo alguma entre nos e eles, purificando-
Ihes pela fe o coragao. 10 Agora, pois, por que tentais a Deus,
pondo sobre a cerviz dos discfpulos urn jugo que nem nossos pais
puderam suportar, nem nos? 11 Mas cremos quefomos salvos pela
grafa do SenhorJesus, como tambem aqueles oforam. 12 E toda a
multidao silenciou, passando a ouvir a Barnabe e a Paulo, que con-
tavam quantos sinais e prodfgios Deus fizera por meio deles entre
os gentios .
(2) Segundo, em torno das Escrituras. Tiago falou apos Pedro.
Nos versfculos 13 em diante (13-19) lemos: “...falou Tiago, dizendo:
Irmaos, atentai nas minhas palavras: expos Simao como Deus, primeira-
mente, visitou os gentios, a fim de constituir dentre eles urn povo para o
seu nome. Conferem com isto as palavras dos profetas, como esta escri-
to: Cumpridas estas coisas, voltarei e reedificarei o tabernaculo cai'do de
Davi; e, levantando-o de suas ruinas, restaura-lo-ei. Para que os demais

22
Disciplina Preventiva: Resolvendo Controversias no Igreja

homens busquem o Senhor, e tambem todos os gentios sobre os quais


tem sido invocado o meu nome, diz o Senhor, quefaz estas coisas conhe-
cidas desde seculos. Pelo que, julgo eu, nao devemos perturbar aqueles
que, dentre os gentios, se convertem a Deus.
0 que faz Tiago? Vai as Escrituras, como os bereanos, para
mostrar que as coisas eram realmente como estavam sendo ex-
postas. Aqui ele cita Amos 9:11-12. Vemos que aquele concflio nao
era apenas uma reuniao de opinioes pessoais; uma vitrine para a
vaidade dos participantes. 0 debate, em si, poderia nao resultar
em nada, mas a ancora das Escrituras era o ponto comum de aferi-
<;ao a todos. Nao podemos pensar na resolu<;ao das controversias,
dentro da igreja, se esquecemos das Escrituras como nosso ponto
de partida e de chegada.
(3) Terceiro, em pleno acordo. 0 versfculo 25 diz: "... pareceu-
nos bem, chegados a pleno acordo, eleger alguns homens e envia-los a
vos outros com os nossos amados Barnabe e Paulo...”. 0 pleno acordo
e possfvel e deve ser alvo de nossas oraÿoes. Nao devemos cair
presa de uma visao meramente humana e pessimista. Nosso Deus
e o Deus todo poderoso que opera maravilhas. Jesus nos disse que
as portas do inferno nao haveriam de prevalecer sobre a igreja.
lsso significa que a manutenÿao do testemunho, da harmonia e da
unidade nao sao situates utopicas e inacessfveis, mas perfeita-
mente atingfveis, sob a divina providencia.
(4) Quarto, com dedicagao e sacriftcio. Assim lemos no versf¬
culo 26 que Paulo e Silas eram: "... homens que tern exposto a vida
pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo". Se realmente desejamos re¬
solver controversias e promover a harmonia, temos que ter a dedi-
caq:ao necessaria e estarmos dispostos a fazer os sacriffcios que
Deus venha a requerer, em nossas vidas.
(5) Quinto, com base no interesse pelas ovelhas. 0 versfculo 24,
diz: “...Visto sabermos que alguns que safram de entre nos, sem nenhu-
ma autorizagao, vos tern perturbado com palavras, transtornando a vos-
sa alma..." Notem a forma amorosa de tratamento. 0 interesse pelas
almas transtornadas. A motivaÿao para a harmonia, para que a con-
troversia seja resolvida, tambem deve ser o amor que temos pelas

24
Solano Portela

nossas ovelhas. A preocupa<;ao com o exemplo que esta sendo


apresentado a elas. Com os ensinamentos que estao recebendo e
que podem destruir-lhes o animo, causando transtorno a igreja e a
propagaÿao do evangelho.
Conclusao - A aplicaÿao imediata e a permanente (20 e 28-29)
A verdadeira harmonia gerada no meio da controversy, por
homens dedicados ao seu ministerio, desejosos de extrair da Pala-
vra de Deus o verdadeiro ensinamento necessario as ovelhas, dirige-
se tanto as questdes imediatas quanto as permanentes. Ou seja, ela
se reflete na contextualiza<;ao das diretrizes divinas que abrange
tanto as coisas temporals quanto as questoes eternas.
Acho importante a resoluqio integrada tomada nesse concf-
lio, registrada nos versfculos 20 e 28-29: "... mas escrever-lhes que se
abstenham das contaminates dos idolos, bem como das relates sexu-
ais ilicitas, da carne de animals sufocados e do sangue" e “...Pois pareceu
bem ao Espirito Santo e a nos nao vos impor maior encargo alem destas
coisas essenciais: que vos abstenhais das coisas sacrificadas a idolos, bem
como do sangue, da carne de animais sufocados e das relates sexuais
ilicitas; destas coisas fareis bem se vos guardardes. Saude".
Aparentemente a reso!u<;ao mistura coisas heterogeneas de
diferente relevancia —carne sacrificada aos idolos, de animais
mortos sem a sangria caracterfstica da lei levftica, e sobre a pro-

miscuidade relaqoes sexuais ilicitas — pornografia. Mas, nao e
esse o caso! Eles estavam, na realidade, se dirigindo tanto as ques¬
toes de costumes, da epoca, quanto as questoes morais, permanen¬
tes. Ambas representavam indagaijoes legftimas dos fieis e proble-
mas confrontados pela igreja.
Essa e tambem a nossa responsabilidade em nossa igreja, quer
como Ifderes, quer como membros, temos que estar empenhados
em fornecer aos irmaos as respostas que eles precisam para as
questoes que estao a transtornar as suas almas —
tanto as transi-
torias, relativas ao costume, como as morais, de carater perma¬
nente. Tais respostas devemos aqueles que nos procurarem, aos
que Deus colocar em nossos caminhos. Nao podemos fugir dessas
responsabilidades.
25
Discipline Preventive: Resolvendo Controversies na Igreja

Os versfculos 30 a 33, encerram a narrativa da reuniao,


30 Os que foram enviados desceram logo para Antioquia e, tendo
reunido a comunidade, entregaram a epistola. 31 Quando a leram,
sobremaneira se alegraram pelo conforto recebido. 32Judas e Silas,
que eram tambem profetas, consolaram os irmaos com muitos con-
selhos e osfortaleceram. 33 Tendo-se demorado alipor algum tem¬
po, os irmaos os deixaram voltar em paz aos que os enviaram.
Temos entao o resultado do encontro e o relato maior aos
irmaos das igrejas representadas. Temos novo registro de grande
alegria, pela resoluÿao da controversia.
Nossa oraÿao e que possamos, mesmo com muita controver¬
sia, desenvolvermos o tipo de harmonia que nos faÿa dizer, como
eles; “...pareceu-nos bem a nos e ao Espirito Santo...” Assim fazendo,
com certeza, estaremos evitando muitos problemas de disciplina
que poderiam aflorar se as controversies continuarem a proliferar e
se a doutrina falsa continuar a ser propagada. Com essa abordagem
positiva, estaremos estimulando a verdadeira disciplina preventiva.
Oramos, tambem, para que sejamos consoladores comojudas
e Silas o foram. Que estejamos abertos a ouvir os dois lados e ate
a reconsiderar a nossa posiÿao, com humildade, a luz das escritu-
ras, seguindo o exemplo de Tiago. Que estejamos dispostos a nos
sacrificar como Barnabe e Paulo o fizeram. Que tenhamos intenso
amor pelos irmaos, como esses, que se reuniram nesse condlio,
vieram a demonstrar. Sobretudo, que aprendamos com a forma
pela qual essa controversia foi tratada: devemos notar a seriedade
e consagraÿao dos h'deres envolvidos; o respeito uns para com os
outros; a ausencia de sarcasmo e ironia nas palavras registradas —
que Deus nos auxilie a termos essa postura e testemunho, para a
Sua gloria.

26
Discipline
Eclesiastica:
Ordenanÿa
e Ben9ao
POR: VALDECI DA SILVA SANTOS

isciplina eclesiastica e um termo em risco de extinÿao no


atual vocabulario cristao. Desde que os princfpios do pos-
modernismo encontraram lugar no seio da igreja,1 qual-
quer conceito que ameace o individualismo e a liberdade de esco-
lha quanto ao estilo de vida, comportamento, etc., e logo taxado
de arcaico, passe. A dicotomia pratica de muitos cristaos gera a
ilusao de que a igreja nao tem nada a ver com o procedimento
“secular” de seus membros. Nessa “nova era” antropocentrica, a
igreja e vista como uma organizaÿao altamente dependente do
individuo, e que precisa conserva-lo ao custo de varias excesses.
0 medo da impopularidade leva muitos lfderes a cumplicidade e
pecados sao justificados em nome de uma atitude mais “huma-
na.”2 Por outro lado, o que dizer daqueles que, em nome do zelo
pela disciplina, cometeram injustiqas e causaram mais males que
bens?3 Em todo esse contexto, a disciplina tem uma vida curta e a

'Ver Os Guinness, Dining With the Devil: The Megachurch Movement Flirts With Modernity (Grand
Rapids: Baker, 1993).
JVer Guilherme de Barros, “0 Pastor da Esquerda Evang£lica," Vinde (Julho 1997):7-12. Nessa en-
trevista, o bispo Robson Cavalcanti teoriza sobre casos em que a poligamia poderia ser conside-
rada uma atitude mais humana. 0 presente autor discorda do bispo e ere que a questao retorica
a ser levantada nao e se condenar a poligamia “seria humano,” mas sim se a pratica atual da
mesma “e biblica.”
3Essa e uma constante referenda a obra dassica de Nathaniel Howthorne, The Scarlet Letter.

27
Disciplina: Uma da Marcas da Verdadeira Igreja

tanto, para"... tirar do meio” o que havia praticado aquilo que o


proprio Paulo chama de “ultraje” e “infdmia” (v.3).
Quando a disciplina nao e exercitada, nossas consciences vao
sendo cauterizadas. Nos conformamos ao modo de comportamento
do mundo. Deixamos de nos chocar, de identificar o contraste,
com a forma de vida prescrita ao servo de Deus. Paulo prescreve
que a aÿao correta era a exdusao daquele membro (v. 5) - ele de-
veria ser “entregue a Satanas", ou seja considerado como descren-
te, pois o seu modo de vida nao testemunhava qualquer conver-
sao verdadeira. Nessa condiÿao estaria, portanto, nao sob o domf-
nio da igreja visfvel, mas sob o dominio de Satanas. Neste momen-
to, devemos enfatizar uma outra questao importante. Essa
constataÿao e formalizaÿao nao era para ser feita individualmente;
nao cabia a urn determinado membro da igreja, ou a qualquer urn,
pronunciar o julgamento. A inference, e que essa decisao era uma
decisao corporativa. Nesse sentido, creio, as nossas decisoes con-
ciliares, as decisoes do Conselho da Igreja, observam e preservam
esse espfrito, ou seja, a igreja representada, reunida corpora-
tivamente, pela autoridade e no poder de Cristo. No versfculo 4
Paulo se inclui nesta reuniao, quando escreve, “...em nome do Se¬
nior Jesus, reunidos vds e o meu espirito, com o poder de Jesus, nosso
Senhor...".
d. 0 perigo especificado - Qual a conseqiiencia, para a igreja,
se continuasse abrigando o pecado em seu seio? 0 que acontece
com nossas igrejas, quando convivemos pacificamente com o pe¬
cado? Paulo escreve (vs. 6 e 7): “...Nao sabeis que urn pouco de fer-
mento leveda a massa toda? Lanfaifora o velho fermento, para que
sejais nova massa, como sois, defato, sem fermento.” A igreja era para
ser uma “massa sem fermento" - pura. A admissao de urn pouco de
fermento, apenas, atingiria toda a massa. Como analogia, pode-
mos dizer que uma igreja, nesta situaÿao, semelhantemente a massa
levedada, pode ate inchar e ter a aparencia muito saudavel e atra-
ente, mas deixa de ser “massa pura”. 0 ensino claro e que deixar
que o comportamento incompatfvel com a fe crista permaneÿa no
seio da igreja, sem disciplina, significa por em risco a saude espiri-
tual de toda a comunidade.
58
Voided da Silva Santas

despotismo.8 Seria isto apenas um fenOmeno do passado? Infeliz-


mente basta familiarizar-se com os cfrculos eclesiasticos para se
descobrir que o espfrito medieval ainda esta vivo e ativo na mente
e atitude de alguns Ifderes modernos. Ha aqueles que, como resul-
tado da ganancia pelo poder, seguem o caminho de Balaao e amam
a injustiÿa (2 Pe 2.13,15). Estes estarao sempre prontos a “discipli-
nar” por motivos interesseiros (Jd 16). Nao se deve esquecer, po-
rem, que a culpa de Edom consistiu no fato de que “perseguiu o
seu irmao a espada, e baniu toda a misericordia; e a sua ira nao
cessou de despeda<;ar, e reteve a sua indignaÿao para sempre”
(Amos 1.11).
B. Disciplina e Discriminate)
A confusa identiflcaqiao entre disciplina e discriminate pode
ser vista sob dois aspectos: 1) no abandono do disciplinado por
parte da igreja, e 2) na recusa do disciplinado em receber a disci¬
plina. Para se evitar o primeiro erro e imprescindfvel que a farmTia
crista nao desista de um dos seus membros que caiu. Paulo exorta
a igreja para que manifeste perdao, conforto e reafirmato de amor
para com o arrependido, para que “o mesmo nao seja consumido
por excessiva tristeza" (2 Co 2.7-8). Outra razao para esta exorta-
to e para que “Satanas nao alcance vantagem” sobre a igreja,
criando amargura, discordia e dissensao (v. 11).
Ha sempre a possibilidade de que o disciplinado nao se sub-
meta a disciplina, e acuse a igreja de discriminate!. Tal atitude
apenas manifesta ignorancia e estupidez (Pv 12.1 — tradugao lite¬
ral). Segundo as Escrituras, e o pecado e a determinate em segui-
lo que gera discriminate, e nao a disciplina (1 Co 5.5 e 1 Tm
1.20).
C. Disciplina e Arbitrariedade
“Com que direito fizeram isso?” Tal e a pergunta que cons-
tantemente se ouve em casos de disciplina. Essa pergunta revela
um mal-entendido comum entre disciplina e arbitrariedade. Ou
seja, e como se aqueles que aplicam a disciplina nao tivessem ne-

“Justo L. Gonzalez, The Story of Christianity (Nova York: HarperSanFrancisco, 1984), 277-359.

29
Discipline: Eclesiastica: Ordenanfa e Bcnfaa

nhum direito de fazer tal coisa debaixo do sol. “Alias,” alguns argu-
mentariam, “nao somos todos pecadores?”
Primeiramente, e preciso lembrar que toda atitude pecami-
nosa precisa ser corrigida, mas ha algumas que requerem corregao
publica. Por exemplo, em Mateus 18.16-17 o evangelista fala da-
queles que se recusam a abandonar o pecado mesmo diante de
uma amorosa exorta<;ao pessoal. Na sua Primeira Carta aos Corfntios
5.1-13, Paulo descreve as pessoas cujas praticas trazem escandalo
a igreja, e na Primeira Carta a Timoteo 1.20, na Segunda Carta a
Timoteo 2.17-18 e na Segunda Carta dejoao 9-11 sao menciona-
dos os que dissimulam ensinos contrarios ao Evangelho. Por outro
lado, na Carta aos Romanos 16.17 o apostolo recomenda disciplina
aos que causam divisoes na igreja e, ao escrever a Segunda Carta
aosTessalonicenses 3.6-10 ele prescreve disciplina eclesiastica para
aqueles que se deleitam na pregui<pa. Ha urn principio claro: “Os
pecados que foram explicitamente disciplinados no Novo Testa-
mento eram conhecidos publicamente e externamente evidentes,
e muitos deles haviam continuado por urn periodo de tempo.”9
Com relaÿao a autoridade, e importante lembrar que a auto-
ridade na disciplina nunca vem daquele que a aplica, mas daquele
que a ordenou, ou seja, o Cabeÿa e Senhor da Igreja (Ef 1.22-23).
Alem do mais, a pergunta a ser feita dever ser: “Com que direito
urn membro da Igreja do Cordeiro profana o sangue da alianga e
ultraja o Espfrito da graga?” (Hb 10.29). Tambem, “Que direito te-
mos nos de tomar o corpo de Cristo e faze-lo urn com a prostitui-
?ao?” (1 Co 6.15). Nenhum direito nos e dado, mas sim a responsa-
bilidade de amar o pecador e vigiar para que tambem nao caiamos
(1 Co 10.12).
Concluindo, somente a ignorancia, equivocos, ou dureza de
cora<;ao poderiam levar alguem a deturpar os prinefpios biblicos
sobre a disciplina eclesiastica e justificar sua ausencia entre os
membros do corpo de Cristo.

9Wayne Grudem, Systematic Theology (Grand Rapids: Zondervan, 1994), 896, Minha tradu?3o. A uni-
ca excefSo a esse principio foi “o pecado secreto de Ananias e Safira (At 5.1-11). Nesse sentido a
atuaÿao extraordinaria do Espfrito Santo resultou em grande temor entre os membros da igreja."

2Q
Valdeci da Silva Santos

II. O Ensino Bfblico


A. A Necessidade da Disciplina
Aquele que ordena a disciplina na igreja e o mesmo que esta-
belece o padrao a ser seguido no exercicio da mesma. Esse padrao
consiste primeiramente em amor paternal (Hb 12.4-13). E certo
que o mundo ve a disciplina como expressao de ira e hostilidade,
mas as Escrituras mostram que a disciplina de Deus e um exercicio
do seu amor por seus filhos. Amor e disciplina possuem conexao
vital (Ap 3.19). Alem do mais, disciplina envolve relacionamento
familiar (Hb. 12.7-9), e quando os cristaos recebem disciplina divi-
na, o Pai celestial esta apenas tratando-os como seus filhos. Deus
nao disciplina bastardos, ou seja, filhos ilegitimos (v. 8). 0 padrao
de disciplina divina revela tambem maravilhosos beneffcios. A dis¬
ciplina que vem do Senhor “e para o nosso bem (v. 10).” Ainda que
seja inicialmente doloroso receber disciplina, a mesma produz paz
e retidao (v. 11). 0 v. 13 ensina que o proposito de Deus em disci-
plinar nao e o de incapacitar permanentemente o pecador, mas
antes de restaura-lo a saude espiritual.
0 termo hebraico rasllm e usado no Antigo Testamento como
sinonimo de “instruir” (Pv 1.3, 8), “corrigir” (Pv 22.15 e 23.13) ou
“castigar” (Is 53.5). No Novo Testamento, o grego TtaiSeta possui
sentido semelhante e e frequentemente usado na analogia entre a
disciplina dos filhos por seus pais e a corre<;ao que vem do Senhor
(ver Hb 12.1-10 e Ap 3.19). Nesse sentido, disciplina e sabedoria
estao intimamente ligadas nas Escrituras (SI 50.17; Pv 1.1-2 e 15.32).
A corre<;ao e fonte de esperanÿa para os que a aplicam e vida para
aqueles que a recebem corretamente (Pv 19.18 e 4.13). A correta
disciplina deve ser sempre aplicada com amor e nao com ira (Pv
13.24).
Segundo as Escrituras, a disciplina na igreja esta fundamen-
tada nao apenas no exercicio do bom senso, mas principalmente
nos imperatives do Senhor. 0 mandato bfblico referente a discipli¬
na e encontrado especialmente no ensino de Jesus (Mt 18.15-17) e
nos escritos de Paulo (1 Co 5.1-13). Tambem, ha clara referenda
bfblica de que a igreja que negligencia o exercicio desse mandato

21
Discipline! Eclesiastica: Ordenanfa e Benfdo

compromete nao apenas sua eficiencia espiritual mas sua propria


existencia. A igreja sem disciplina e uma igreja sem pureza (Ef 5.25-
27) e sem poder (Js 7.11-12a). A igreja de Tiatira foi repreendida
devido a sua flexibilidade moral (Ap 2.20-24).
B. Os Passos da Disciplina
Biblicamente, a disciplina na igreja tern urn triplo objetivo: 1)
restabelecer o pecador (Mt 18.15; 1 Co 5.5 e G1 6.1); 2) manter a
pureza da igreja (1 Co 5.6-8) e 3) dissuadir outros (1 Tm 5.20). E
este triplo proposito que aponta para os passos a serem seguidos
em uma aplica<;ao correta da disciplina eclesiastica. Esses passos
sao especialmente mencionados em Mateus 18.15-17.
1. Abordagem individual
0 v. 15 (Se teu irmao pecar vai argui-lo entre ti e e/e so...) ensina
que a confrontaÿao e urn tarefa crista. Uma das melhores coisas a
se fazer por urn irmao em pecado e confronta-lo em amor (Pv 27.5-
6). Mas e sempre arriscado confrontar alguem, pois nunca se pode
prever a rea<;ao do mesmo. Jesus, todavia, dirige nossa aten<;ao
para a alegre possibilidade de que tal irmao nos ouÿa. Alem do
mais, o termo grego feAeyÿov (“arguir, instruir, confrontar,” v. 15)
tambem pode ser traduzido como “trazer a luz, expor.”10 E signifi¬
cative o fato de que esse e o mesmo termo usado em Joao 16.8
para descrever o ministerio do Espirito em rela<;ao aqueles que
estao no mundo, em convenc§-los (confronta-los) “do pecado, da
justiÿa, e do juizo.” Assim, antes de confrontar urn irmao, pode-
mos sempre clamar por socorro Aquele cujo ministerio de con-
fronta<;ao e sempre eficaz.
2. Admoestafdo privada
No caso de o ofensor nao atender a confronta<;ao individual,
Jesus ordena que haja admoestaÿao privada (v. 16). Nesse caso, urn
numero maior de pessoas e envolvido. A prindpio, pode parecer
que o objetivo desse passo e intimidar o ofensor. Uma aten<;ao
maior, porem, leva-nos a entender que o proposito do mesmo pode

l0F. F. Bruce, ed., Vine's Expository Dictionary of Old and New Testament Words (Nova Jersey: Fleming
H. RevelI, 1981), 283-4.

22
Voided da Silva Santos

ser o de conscientizar o ofensor quanto aos prejufzos de sua atitu-


de para com a comunidade do corpo de Cristo. Em outras pala-
vras, nosso pecado traz consequencias pessoais e coletivas. Alem
do mais, Jesus afirma que as outras pessoas envolvidas nesse pro-
cesso serao testemunhas. Isto e uma referenda a pratica vetero-
testamentaria de nao se condenar alguem com base apenas em
uma opiniao pessoal (ver Nm 35.30, Dt 17.6 e 19.15). Com isto, a
objetividade do caso e preservada, o que diminui as chances de
injustiÿa, e o ofensor e beneficiado.
3. Pronunciamento publico (v. 17)
Tal proceder nunca e violaÿao de segredos, pois o ofensor
deliberadamente recusou os caminhos previos do arrependimen-
to. Diante de tal pronunciamento cada membro do corpo de Cris¬
to deve orar pelo pecador, evitar comentarios desnecessarios (2 Ts
3.14-15) e vigiar a si proprio (1 Co 10.12). Tal oficializaÿao publica
da disciplina traz implicates temporarias em relaÿao aos sacra-
mentos (1 Co 11.27)."
4. Exclusao publica
0 ultimo recurso da disciplina e o da excomunhao (do latim
ex, “fora,” e communicare, “comunicar”), na qual o ofensor e priva-
do de todos os beneffcios da comunhao. Nesse caso, o ofensor e
tido como gentio (a quern nao era permitido entrar nos atrios sa-
grados do templo do Senhor) e publicano (que eram considerados
traidores e apostatas: Lc 19.2-10). Com estes nao ha mais comu¬
nhao crista, pois deliberadamente recusam os princfpios da vida
crista (1 Co 5.11). Se o seu pecado e heresia, ou seja, o desvio
doutrinario das verdades fundamentais ensinadas nas Escrituras,
eles nao devem nem mesmo ser recebidos em casa (2 Jo 10-11).
E claro que cada urn desses passos envolve dor, tempo, amor
e transparency. Nenhum deles e agradavel e eles so prosseguem
diante de dureza de cora<;ao do ofensor, ou seja, a recusa ao arre-
pendimento. Ha porem o conforto de saber que a present e o

"R. N. Caswell, "Discipline," em New Dictionary of Theology, eds. S. B. Ferguson, D. F. Wright, ej. I.
Packer (Downers Grove: InterVarsity, 1988), 200.

33
Discipline! Eclesiastica: Ordenanfa e Blnfao

poder de Jesus sao reais mesmo no contexto desse processo (Mt


18.19-20). Assim, a disciplina eclesiastica “nao e uma atividade a
ser realizada facilmente, mas algo a ser conduzido na present do
Senhor.”12
III. Implicates teologicas
Sem a intenÿao de limitar, mas tao somente de elucidar, ofe-
recemos tres topicos teologicos que estao vitalmente ligados ao
processo da disciplina eclesiastica.
A. Disciplina e a Adoragao Crista
A verdadeira adoraÿao “e a mais nobre atividade de que o
homem, pela graÿa de Deus, e capaz.”'3 A exclusiva adoraÿao a
Deus e urn mandato divino (Mt 4.10 e Ap 19.10), e uma marca da fe
salvadora (Fp 3.3), e deve seguir os prindpios revelados por Deus
em sua Palavra.'4 Urn prindpio essencial da adoraÿao crista e o
zelo pela santidade do nome do Senhor (Ex 20.7 e Mt 6.9). A negli-
gencia do povo de Deus quanto aos mandamentos do Senhor mo-
tiva os incredulos a blasfemar o nome de Deus (Rm 2.24). Assim, o
zelo pela santidade do nome de Deus implica diretamente no exer-
ci'cio da disciplina eclesiastica. Uma igreja adoradora e ao mesmo
tempo tolerante para com o pecado no seu seio e uma contradi-
?ao de termos e recebe a repreensao do Senhor (Ap 2.18-29).
B. Disciplina e as Marcas da Igreja
A Reforma Protestante do seculo XVI considerou importan-
tfssima para a teologia crista a seguinte questao: Como distinguir
entre a igreja verdadeira e a falsa? Em outras palavras, quais sao as
marcas da verdadeira igreja crista? Para o reformador Joao Calvino,
tais marcas consistem da prodama<;ao da Palavra, da administra¬
te dos sacramentos e do exerdcio da disciplina eclesiastica. Se-
gundo ele, “aqueles que pensam que a igreja pode sobreviver por
longo tempo sem disciplina estao enganados; a menos que pense-
mos que podemos omitir urn recurso que o Senhor considerou
l2Grudem, Systematic Theology, 898. Minha tradufgo.
,3John R. W. Stott, Christ the Controversialist: A Study in Some Essentials of Evangelical Religion (Lon-
dres: Tyndale Press, 1970), 160. Minha traduÿao.
14
ConfissBo de FE de Westminster, XXI.i.

24
Voided da Silva Santos

necessario para nos.”15 Nesse sentido, "a disciplina eclesiastica e


tao necessaria quanto os ligamentos do corpo humano, ou como a
disciplina em famflia.”16
Sendo que Cristo deseja sua igreja “sem macula, nem ruga,
nem coisa semelhante, porem santa e sem defeito” (Ef 5.27), a
disciplina eclesiastica e altamente relevante, pois e urn meio insti-
tufdo por Deus para manter pura a sua igreja. 0 servo de Deus
sempre deve almejar a pureza da noiva do Cordeiro (2 Co 11.1-3),
mesmo diante da possibilidade da sua contaminate pelo mundo.
C. Disciplina e Evangelismo
A disciplina evidencia o amor cristao pelo pecador, ainda que
esse pecador seja urn dos membros da igreja. Esse amor pelo pe¬
cador cristao tambem reflete o amor da mesma pelo pecador in-
credulo. A disciplina eclesiastica ressalta a seriedade do pecado.
Sem a visao dessa seriedade, a igreja nao e corretamente motiva-
da a buscar a redenÿao do pecador. Ha uma relaÿao entre discipli¬
na eclesiastica e evangelismo.
Uma igreja sem disciplina torna-se urn impecilho para o avan-
<;o do evangelho. Essa relaÿao vital entre evangelismo e discipli¬
na e clara a luz de 1 Co 5.12-13. 0 evangelismo e dirigido aos
que estao fora dos portoes da igreja e que estao escravizados
pelo pecado. A disciplina e dirigida aqueles que estao dentro dos
portoes da igreja e que estao se sujeitando ao dornmio do peca¬
do. Assim, ambos (evangelismo e disciplina) almejam a liberdade
do pecador e a concretizagao do triunfo historico da gra<;a sobre
o pecado na vida do mesmo (Rm. 6.1-23). Uma igreja sem disci¬
plina proclama uma liberdade desconhecida, ou rejeitada, pelos
seus proprios membros. Como diz Barnes, "ha pouca vantagem
em uma greja que tenta veneer o mundo se ela ja tern se rendido
ao mundo.”17

l5John Calvin, Institutes of the Christian Religion, ed. John T, McNeill (Filadelfia: Westminster, 1960),
4.7.4. Minha traduÿo.
“Caswell, “Discipline," 200. Minha tradu(So.
"Peter Barnes, “Biblical Church Discipline,” The Banner of Truth 414 (Mar<;o 1998): 20. Minha tra-
du(3o.

35
Discip tina Eclesiastica: Ordenanfa e BinfBo

Conclusao
Laney adverte para o fato de que “a disciplina e como um
medicamento muito forte: pode trazer a cura ou causar maior
dano."18 Nenhum profissional medico, porem, se recusa a aplicar
um medicamento que pode curar o seu paciente apenas porque o
mesmo e forte. Tambem, nenhum doente faz opÿao pela morte ou
pela continuidade da doemja se a vida e a cura podem estar tao
proximas.
Uma seria reflexao bfblica sobre a disciplina eclesiastica evi-
dencia dois principios basicos. Primeiro, que a disciplina na igreja
nao e uma op<;ao, mas sim uma ordenanfa e, conseqiientemente,
uma benÿao divina (Hb 12.5-7). Segundo, que a disciplina requer
profundo amor por parte da igreja que a aplica e semelhante hu-
mildade e quebrantamento por parte daquele que e disciplinado
(2 Co 2.5-11).

l8Laney, “The Biblical Practice of Church Discipline," 363.

3g
Corinto:
Uma Igreja
com Problemas
de Disciplina
POR: AUGUSTUS NICODEMUS LOPES

Contexto de Corinto
\fL/J A igreja de Corinto era uma igreja que havia sido muito
vLÿ'abensoada por Deus em diversos aspectos. Quando Pau¬
lo inicia esta carta ele reconhece, no capftulo primeiro, que Deus
havia abenÿoado a igreja com toda sorte de benÿaos espirituais,
de dons espirituais, ao ponto de “nao Ihes faltar dom nenhum”.
Corinto era uma igreja carismatica no sentido biblico da palavra,
ou seja, tinha os “carismas” do Espirito de Deus, os dons, atraves
dos quais desenvolvia seu serviÿo prestando culto a Deus e cum-
prindo a sua missao neste mundo. Infelizmente, por motivos que
desconhecemos, esta igreja de Corinto, que havia sido fundada
pelo apostolo Paulo, com menos de tres anos de fundada come-
<;ou a desviar-se dos padroes de conduta e de doutrina que o apos¬
tolo havia estabelecido por ocasiao de sua funda<;ao.
Os Problemas de Corinto
1) Divisoes.
Paulo estava no seu ultimo ano de ministerio na cidade de
Efeso, quando recebe informaÿoes de que a igreja de Corinto nao
estava indo muito bem. As informa<;6es eram muitas e poucas
delas eram boas. Paulo soube que havia divisoes na igreja, que

27
Corinto: Uma Igreja cam Pmblemas de Discipline

estava dividida em 4 grupos. Grupos que se formaram em torno


de personalidades, de pessoas que tinham tido uma participant)
no passado recente da igreja, com o proprio Paulo e Apolo (cap.
3:4). Havia ate urn grupo que talvez fosse o mais perigoso deles
que era o “grupo de Cristo” (‘...e eu, de Cristo" Cap 1:12). Eles dizi-
am que n3o eram seguidores de homem algum e sim de Cristo.
Era como se dissessem: nao queremos estar debaixo da orienta¬
te ou da instruto e autoridade de qualquer homem porque re-
cebemos tudo diretamente de Cristo. Alguns estudiosos tern iden-
tificado este grupo como o “grupinho dos espirituais” que fala-
vam em lrnguas e se gloriavam por terem experiences extraordi-
narias; que nao aceitavam a autoridade de Paulo na igreja e ou-
tras coisas mais.
2) Problemas doutrinarios
A igreja tinha todas estas divisoes e alem disso tinha proble¬
mas de ordem doutrinaria. Urn grupo nao aceitava a ressurreito
dos mortos (cap. 15). Havia urn espirito faccioso naquela igreja;
existiam problemas com respeito a doutrina da Iiberdade crista (
10:28). “Sera que posso comer carne sacrificada aos fdolos"? Os
“fortes” diziam que sim e subestimavam os “fracos”. Havia proble¬
mas com respeito as questoes do casamento (cap. 7): 0 que & mais
espiritual? Casar ou ficar solteiro?
A igreja estava dividida por uma serie de problemas que se
refletiam no culto. Os “espirituais” falavam lrnguas sem interpre-
tato para a igreja e de$ta forma nao edificavam (14:5); os profetas
falavam, mas nao havia ordem de quern deveria falar primeiro
(14:29, 32); as mulheres entusiasmadas estavam querendo tirar
qualquer sinal de que ha uma diferent entre homem e mulher
dentro da ordem da criaÿao de Deus (11:8-9); na hora da Santa
Ceia havia pessoas que ate se embriagavam (11:21) e participavam
do sacramento sem ter o espirito apropriado. Corinto era uma
igreja com graves complicates. Mas, mesmo considerando isso,
era uma igreja que se gloriava de ser “espiritual”. Afinal, muitos,
na concep<;ao deles, nao tinham os dons que indicavam a presentÿ
do Espirito Santo? Muitos nao estavam falando em linguas duran-


Augustus Nicodemus Lopes

pre atentamos para esta maneira de Paulo abordar o problema em


vista do nosso individualismo. Mais freqiientemente do que dese-
jariamos ouvimos falar de piedade em termos individuals, ou seja,
piedosa e a pessoa que se fecha no seu quarto para ler e orar
gastando tempo a sos com Deus. E santidade seria algo que se
desenvolveria individualmente. Quando falamos em santificagao
geralmente temos a figura de uma pessoa em mente e nos esque-
cemos que Novo Testamento geralmente estas coisas sao contem-
pladas a Iuz da comunidade. Piedade e algo que eu exer<;o junto
com o povo de Deus; culto nao e algo que eu presto individual¬
mente a Deus, somente, mas algo que faÿo com meus irmaos. San¬
tidade e algo comunitario. Nos crentes caminhamos a vida de san¬
tidade juntos. Perdemos de vista este aspecto corporativo da Igre-
ja apresentado no NT. E tao importante, salutar, equilibrado e
abengoador para cada urn de nos a ideia de andarmos juntos, vi-
vermos juntos e nos santificarmos com a ajuda uns dos outros. E
neste contexto que o apostolo tras estas palavras.
0 Texto
No versfculo 1 e 2 encontramos o apostolo Paulo apresentan-
do o assunto que vai falar. Ele coloca o problema com palavra muito
claras. 0 problema e duplo:
O Primeiro Aspecto do Problema
Primeiro, Paulo inicia dizendo que “Geralmente se owe que ha
entre vos imoralidade..." (v. 1) e depois especifica que imoralidade e
esta. O pecado e de incesto que esta proibido pela Lei mosaica em
Deuteronomio 2:30 e outras passagens do VT onde Deus revela
Sua repulsa ao adulterio e muito menos que urn homem fa<;a isso
com a mulher do seu pai. Era urn caso claro de transgressao da Lei
de Deus. E importante notarmos que para o apostolo Paulo, a Lei
de Deus sempre estava em vigor para o cristao. Paulo caracteriza
bem esta imoralidade, e, muito embora nao fa?a uma referenda
clara ao Antigo Testamento, ha evidences na passagem, de toda
legislaÿo do VT sobre a conduta moral e sexual do povo de Deus.
E bom enfatizar isso numa epoca em que as pessoas tern demons-
trado descaso para com a Lei de Deus e para com os padroes mo-

41
Corinto: Uma Igreja com Problemas de Disciplino

0 interessante e que Paulo nao se dirige a lideranÿa da igreja.


Paulo, ao escrever, nao se refere aos Ifderes mas fala a igreja como
urn todo. Porque, mesmo que no sistema presbiteriano, estes ca-
sos tenham a ver inicialmente com o Conselho, o fato e que na
base do problema, alem de urn caso notorio, pecado e urn proble-
ma de toda igreja. E uma questao que afeta todos os membros e
que nao e somente responsabilidade do Conselho olhar para a vida
dos outros membros e tomar algum tipo de decisao, mas que e
responsabilidade de cada membro do corpo de Cristo zelar para
que haja pureza, santidade, que haja no convfvio da comunidade,
verdadeira santidade ao Senhor. E uma responsabilidade de nos
todos e nao somente do pastor e dos presbfteros. E importante,
portanto, que Paulo trata da questao dirigindo-se a toda comuni¬
dade. Talvez alguns estranhem este fato. Nas denominates batis-
tas e congregacionais as questoes disciplinares sao resolvidas pela
assembled. Apesar de acharmos beneficios no sistema de gover-
no representativo, atraves de pastores e presbfteros, a interpreta-
<;ao desta passagem so pode ser neste sentido: Paulo nao esta se
referindo aos pastores e presbfteros porque ele sabe que a res¬
ponsabilidade de vivermos uma vida santa na igreja, e de cada urn
dos seus membros. Devemos n§o so zelar por nos mesmos mas
tambem pelo nosso irmao refletindo as palavras de Jesus: ‘‘Se o
teu irmao pecar, vai repreende-lo entre ti e ele so, se ele nao te
ouvir, leva mais alguem, se nao te ouvir, comunica a lideramja da
igreja para que tomem as providencias”. Mas, antes de chegar a
este ponto existe todo um processo intra comunitario desenvolvi-
do pelos membros, cada um participando e sendo responsavel para
que a vida da igreja ande corretamente. Se nao for assim corremos
o risco de sermos participates dos pecados alheios e incorrer-
mos na culpa de cumplicidade.
Assim, o apostolo Paulo, no capftulo 5, chama a igreja a or-
dem e nos fala de forma apaixonada, fala com amor pela igreja;
nos fala da responsabilidade que todos temos de cuidar de nos
mesmos, de vivermos vidas santas e, de como comunidade, zelar-
mos para que o nome de Cristo seja honrado e glorificado atraves
da vida santa da comunidade dos santos. Infelizmente nem sem-

40
Augustus Nicodemus Lopes

pre atentamos para esta maneira de Paulo abordar o problema em


vista do nosso individualismo. Mais freqiientemente do que dese-
jariamos ouvimos falar de piedade em termos individuals, ou seja,
piedosa e a pessoa que se fecha no seu quarto para ler e orar
gastando tempo a sos com Deus. E santidade seria algo que se
desenvolveria individualmente. Quando falamos em santificagao
geralmente temos a figura de uma pessoa em mente e nos esque-
cemos que Novo Testamento geralmente estas coisas sao contem-
pladas a Iuz da comunidade. Piedade e algo que eu exer<;o junto
com o povo de Deus; culto nao e algo que eu presto individual¬
mente a Deus, somente, mas algo que faÿo com meus irmaos. San¬
tidade e algo comunitario. Nos crentes caminhamos a vida de san¬
tidade juntos. Perdemos de vista este aspecto corporativo da Igre-
ja apresentado no NT. E tao importante, salutar, equilibrado e
abengoador para cada urn de nos a ideia de andarmos juntos, vi-
vermos juntos e nos santificarmos com a ajuda uns dos outros. E
neste contexto que o apostolo tras estas palavras.
0 Texto
No versfculo 1 e 2 encontramos o apostolo Paulo apresentan-
do o assunto que vai falar. Ele coloca o problema com palavra muito
claras. 0 problema e duplo:
O Primeiro Aspecto do Problema
Primeiro, Paulo inicia dizendo que “Geralmente se owe que ha
entre vos imoralidade..." (v. 1) e depois especifica que imoralidade e
esta. O pecado e de incesto que esta proibido pela Lei mosaica em
Deuteronomio 2:30 e outras passagens do VT onde Deus revela
Sua repulsa ao adulterio e muito menos que urn homem fa<;a isso
com a mulher do seu pai. Era urn caso claro de transgressao da Lei
de Deus. E importante notarmos que para o apostolo Paulo, a Lei
de Deus sempre estava em vigor para o cristao. Paulo caracteriza
bem esta imoralidade, e, muito embora nao fa?a uma referenda
clara ao Antigo Testamento, ha evidences na passagem, de toda
legislaÿo do VT sobre a conduta moral e sexual do povo de Deus.
E bom enfatizar isso numa epoca em que as pessoas tern demons-
trado descaso para com a Lei de Deus e para com os padroes mo-

41
Discipline! Biblica: 0 Que Signified e Como Aplica-la

estao associados com a entrada no reino, ou com a abertura deste


a alguem. E ha o paralelo para perdoar alguem — que e o de des-

ligar desligar alguem de seus pecados. Se uma pessoa e perdo-
ada ou desligada de seus pecados, essa pessoa entra no Reino.
Perdoar e o “Desligar"
Dessa forma, desligar e perdoar sao duas formas de dizer a
mesma coisa. Similarmente, as duas segundas metades dos tre-
chos dos Evangelhos de Mateus ejoao sao duas formas de dizer a
mesma coisa. Nao perdoar (as palavras em Joao 20:23) e fechar ou
ligar (Mateus 18:18), isto e, manter os pecados intactos. Este
paralelismo analogo comeÿa a abrir nosso entendimento de como
as chaves funcionam. 0 desligar, abrir, perdoar e urn lado — e o
ligar, nao perdoar, e nao abrir e o outro lado. Portanto, a Confissao
de Fe de Westminster, cap. XXX, seÿao II, sumariza o significado
bfblico das chaves nas seguintes palavras:
A esses oficiais sao confiadas as chaves do reino do ceu. Em virtude
disso, eles tem, respectivamente, o poder de reter e remitir peca¬
dos; de fechar esse reino aos impenitentes, tanto por meio da Pala-
vra quanto por meio das censuras; de abri-lo aos pecadores peni-
tentes, pelo ministe'rio do evangelho e pela absolvigao das censu¬
ras, quando as circunstancias o exigirem.
A partir desta perspectiva bfblica e confessional, torna-se evi-
dente que as chaves do reino sao usadas pelo ministerio inteiro da
igreja conquanto seja fiel ao evangelho. Ao admitir alguem no qua-
dro de membros, os oficiais estao comprovando que aqueles que
sao admitidos, se sua profissao de fe e genufna, entraram verda-
deiramente no Corpo de Cristo e no Reino dos Ceus. E assim as
chaves sao cruciais e essenciais. E exatamente assim como os ofi¬
ciais devem estar interessados acerca da realidade da fe daqueles
que sao admitidos ao quadro de membros da igreja, exatamente
tambem e certo que toda reuniao de conselho deve estar propen-
sa a usar as chaves de maneira apropriada ao admitir pessoas no
rol de membros, procurando descobrir se a confissao e genufna,
sincera, se ha entendimento das verdades, e se a vida nao contra-
diz tudo isso, isto e, se ela e digna de credito. Semelhantemente,

M
Solono Portela

ao primeiro sinal da ofensa. A igreja e surpreendida com o pecado


realizado, divulgado e comentado. Resta, aos oficiais, retomar o
processo a partir deste passo. Humanamente falando, quern sabe,
pecados maiores nao teriam sido evitados se a abordagem individu¬
al, prescrita por Jesus, tivesse sido realizada.
d. Passo 4 - Exclusao. No final do versfculo 17, Jesus diz
“...se recusar ouvir tambem a igreja, considera-o como gentio e
publicano". A recusa no atendimento das admoestagoes, a atitu-
de de arrogancia e desafio as autoridades, retratada em 2 Pe
2.10-11 e Judas 7-8, deve levar o faltoso a exclusao da igreja
visfvel. Ele ou ela deve ser considerado como urn descrente {“gen¬
tio’’) e deve cair da comunhao pessoal da mesma forma que os
coletofes de impostos ("publicanos ") eram desprezados pelos
judeus. Somente evidencias de arrependimento e conversao real po-
derao restaurar essa comunhao cortada pela disciplina. Com essa
exclusao vao-se tambem os privileges de membro, como a par-
ticipagao na Santa Ceia, e os demais. Jesus demonstra a neces-
sidade de respaldar essa drastica atitude na sua propria autori-
dade e na do Pai. Isso ele faz nos vs. 18-19, mostrando o seu
acompanhamento e o do Pai, nas questoes da igreja que envol-
vem a preservagao de sua pureza. Ele fecha essas instrugoes
com a promessa de sua presenga na congregagao do Povo de
Deus (v. 20). Essas sao palavras de grande encorajamento para
que a igreja nao negligencie a aplicagao do processo de disci¬
plina, em cada urn desses passos.
1. Outros textos e pontos importantes sobre a disciplina na
igreja.
Necessitamos abordar outros pontos adicionais sobre a dis¬
ciplina na igreja. Na igreja contemporanea encontramos a aplica¬
gao de disciplina (quando exercitada) quase que exclusivamente
por pecados sexuais publicos. Alguns ds textos seguintes, entre-
tanto, mostram que a disciplina nao se restringe apenas ao corn-
portamento imoral ou que deve ser exercitada somente contra
aqueles que se envolvem no desvio da pratica correta da sexuali-
dade. Varias situagoes clamam pelo exercicio da disciplina:

65
Corinto: Uma Igreja com Problemas cle Disciplina

presenÿa do Senhor e em Seu nome deveria exercer o “poder das


chaves”; de admitir alguem no Reino de Deus ou entao excluir
atraves da disciplina. Paulo esta ecoando o ensino de Jesus quan-
do diz: [Eu, juntamente com voces] “em nome do SenhorJesus, reuni-
dos vos e o meu espfrito, com o poder de Jesus, nosso Senhor..." (v. 4).
Dessa forma Paulo sentencia o membro daquela igreja.
0 que significa “entregar a Satanas ”? Isto tern sido bastante
debatido e nao vai fazer muita diferenÿa na interpreta<;ao geral
da passagem. Em linhas gerais se acredita que Paulo estava di-
zendo o seguinte: Uma vez que a pessoa nao queira ouvir a voz
da igreja, nao aceita a repreensao do Espfrito Santo, e, sendo
exclufdo da comunidade, sera como uma ovelha que foi colocada
para fora do aprisco. La fora estao os lobos a espera. Satanas vai
cirandar, vai colocar sua mao em cima. 0 objetivo de Paulo com
isso nao e destruir a pessoa como muitos pensam em relaÿao ao
ato disciplinar. Em termos eclesiasticos alguns pensam de disci¬
plina como algo que tras simplesmente puni<;ao ou destruiÿao do
pecador. Mas nao e este o objetivo da disciplina. Apesar de todo
rigor e firmeza de Paulo em tratar o assunto, ele diz: “...a Jim de
que o espfrito seja salvo" (v. 5). Este e o objetivo que Paulo revela
na sua carta; o amor por aquele pecador e seu desejo de recupera-
lo, mesmo que para isso medidas drasticas tenham de ser toma-
das. Paulo nao fica vacilante. Se tern de ser entregue a Satanas,
que seja, para que o espfrito seja salvo. Se for o unico meio, que
assim seja exclufdo da igreja, ficando fora da prote<;ao do Senhor
e ficando exposto aos ataques do diabo. Ataques que sao descri-
tos no livro de Jo, quando este servo de Deus experimentou na
carne a atividade satanica como doen<;as, afliÿoes, perdas dos
bens, etc. Em fim, toda sorte de afliÿoes que com o decreto de
Deus Satanas as vezes pode infligir as pessoas para que o propo-
sito de Deus seja feito. No caso, para este membro da igreja, o
proposito era traze-lo de volta ao seio da igreja atraves das afli-
qoes, angdstias, dificuldades, e tribulaÿoes que Deus permitiria
(decreto permissivo) que Satanas trouxesse a este membro em
pecado. Ele deveria ser levado ao arrependimento, cair em si e
voltar ao convfvio da igreja.

44
Augustus Nicodemus Lopes

Nao sabemos se a “estrategia” funcionou. Na Segunda carta


que Paulo escreve a Igreja de Corinto ha uma menqao de alguem
que se arrependeu, que mudou sua atitude. Paulo nao diz quern
foi esta pessoa. Mas Paulo recomenda que a igreja o receba, que o
aceite, que nao prolongue demasiadamente a disciplina para que
ele nao desfaleqia. Alguns entendem que seja exatamente este ho-
mem citado por Paulo no v. 5.1. Se for o caso, a disciplina teria
funcionado e o pecador voltado arrependido, recuperado, restau-
rado, e a igreja o teria recebido com alegria. Paulo passa para uma
postura final e so depois explica o porque desta atitude. Pode pa-
recer aos ouvidos pos-modernos uma atitude muito radical. Mas
Paulo explica o porque de sua atitude.
As Raz5es de Paulo Para a Disciplina Rfgida
1) Porque o pecado e como o fermento (v. 6). Se nao cuidar-
mos ele se alastra e contamina toda a massa: “Ndo sabeis que um
pouco de fermento leveda a massa todal". Paulo usa uma linguagem
muito comum no VT. No VT uma das coisas usadas para tipificar o
pecado e o fermento. Tanto e que na celebraÿao da pascoa era
proibido se comer pao com fermento (o pao era “asmo” - sem
fermento). 0 fermento era sfmbolo do pecado. Uma das proprie-
dades do fermento pelas quais ele tornou-se sfmbolo do pecado, e
sua capacidade de aumentar e dominar o ambiente onde se en-
contra. Se colocado um pouco de fermento no pao que esta sendo
preparado logo levedara toda a massa. 0 apostolo diz que o peca¬
do e exatamente assim. Paulo pergunta se os crentes de Corinto
nao sabem disso: Que o pecado e como o fermento, que leveda
toda a massa? A ideia e que, se deixado sem correÿao, no seio da
igreja, sem que as devidas solutes sejam tomadas, o pecado se
propaga. 0 que pensar dos jovens da igreja de Corinto? 0 que eles
estavam aprendendo quando viam aquele homem vivendo com a
madrasta e ninguem dava importancia? 0 que eles estavam
aprendendo? Aprendiam, que aquela atitude nao faz diferenÿa na
vida crista e que nao importa nosso comportamento sexual. Pode-
mos continuar em pecado e como um cristao normal. Era essa a
mensagem que estava sendo passada para os membros da igreja;
que o pecado realmente nao importava porque a igreja parecia
45
Corinto: Uma lgrejo com Problemas de Disciplina

aceitar normalmente. Qual a mensagem que esta sendo passada


para os jovens e novos convertidos? Que o pecado nao afeta meu
estado, o meu relacionamento e minha comunhao com Deus e
nem a vida da igreja. Ou seja, o que e pregado no pulpito e total-
mente desfeito por este tipo de atitude. Nos podemos pregar san-
tidade, e se temos deviver vidas santas mas nao acrescentarmos a
Palavra pregada as medidas corretas para que todos nos trilhemos
este viver santo, a mensagem deixa de ter seu efeito.

Quando Calvino comeÿou sua obra em Genebra ele tinha a


ideia de que se houvesse apenas pregaÿao fiel da Palavra de Deus
e administrate correta dos sacramentos, a igreja seria edificada,
os crentes ouviriam e os problemas se resolveriam. Algum tempo
depois, Calvino reconheceu que era necessario e bfblico acrescen-
tar urn terceiro elemento: a disciplina eclesiastica.

Ha necessidade do exerdcio da disciplina eclesiastica feita


em amor para recuperaÿao do pecador e para que se coloque em
pratica o que a Palavra de Deus nos recomenda e exige. 0 mais
importante e que Paulo nao esta aqui falando para a lideranÿa. Ele
esta falando para toda a igreja. Nao caiamos no erro de interpre¬
tar mal o apostolo Paulo pois o que ele fala e para todos nos; e
responsabilidade de toda a igreja zelar pela vida da comunidade
seguindo os princi'pios biblicos. Porque o pecado e como o fer-
mento. Se deixarmos ele contamina a massa toda. Que mensagem
estamos passando para o mundo? Qual a mensagem que a
“Tiazinha”, que se diz evangelica, passa para o mundo? Sua men¬
sagem e que nao importa seu comportamento sexual, sua profis-
sao corrupta. Assim, se conclui que cabe tudo na igreja.
Estamos vivendo urn momento de crise de referenda na igre¬
ja brasileira. Ou seja, precisamos de pessoas que sejam referenciais.
A pouco tempo a revista “Isto E” publicou urn suplemento sobre
os maiores religiosos do seculo e citava Dorn Evaristo Arnes, Alziro
Zarur, Chico Xavier, Madre Tereza, Leonardo Boff, Frei Beto, Mar-
celo Rossi, mas nenhum evangelico, Pode ser apenas preconceito
contra os evangelicos, mas pensemos qual evangelico poderia es-
tar nesta lista? Soubemos depois que o candidato dos evangelicos

46
Augustus Nicodemus Lopes

seria o Bispo Macedo. Se ha um momento em que a igreja precisa


fazer diferenÿa no Brasil, e hoje. E temos de comeÿar nos lembran-
do de que o pecado e como o fermento. Ele destroi a reputaÿao da
igreja, a sua credibilidade, seu ensino, e por isso temos de trata-lo
com firmeza. Devemos comeÿar conosco mesmo, sendo implaca-
veis com nos mesmos e brandos com os outros, mas firmes no
geral. Tudo isso para evitar que o pecado se alastre. Este e o cami-
nho. Nao estou me referindo a fazermos cruzadas de moralidade;
nao creio nisso. Mas devemos pregar o ensino simples do evange-
Iho e como lemos nos salmos “que os que temem ao Senhor odei-
em o pecado", se afastem do pecado pois este e o ensino de toda
a Biblia. 0 primeiro ensino e este: 0 pecado e como o fermento e
se nos nao cuidarmos ele tomara conta de tudo corrompendo as
consciences.
2) 0 segundo argumento de Paulo esta baseado na Pascoa
(tambem vem do Velho Testamento). Aqui no v. 7 Paulo se refere a
Cristo como sendo nossa Pascoa e que ele ja foi imolado por nos.
Paulo compara a vida da igreja a uma grande Pascoa, a uma eterna
festa. O nosso Cordeiro Pascal ja foi imolado e nos ja nos alimenta-
mos dele e se vivemos em uma eterna Pascoa, nao deve haver
fermento. Tern de ser lanÿado fora os fermentos, a massa velha.
Por isso Paulo diz: “Lan$aifora o velho fermento, para que sejais nova
massa..." (v.7). A Igreja e a comunidade Pascal liderada, salva e res-
gatada por aquele que e a nossa Pascoa. Na festa da Pascoa nao
podia se ter pao com fermento. Essa e a figura que Paulo usa. Se
ha pao fermentado ja nao e mais Pascoa. No v. 8 Paulo diz da vida
crista que “celebremos a festa, nao com o velho fermento, nem com o
fermento da maldade e da mah'cia; e, sim, com os asmos da sinceridade
e da verdade". E so quando a sinceridade e a verdade prevalecem
que nos verdadeiramente celebramos. Somos uma comunidade que
celebra, que vive na alegria, no gozo da santidade do nosso Cor¬
deiro.
E daro que Paulo nao esta pregando o perfeccionismo. Mas
alguns podem ter esta ideia; Paulo nao esta pedindo que a igreja
seja perfeita, mas sim que a igreja de Corinto tome as atitudes
certas quando o pecado aparecer. 0 pecado vai aparecer, e verda-

4Z
Corinto: Uma Igreja com Problemas de Discipline

de, e pode ser em minha vida e na sua, mas que a comunidade


ajude o pecador com interesse de auxilia-Io. Nao devemos ficar
falando mal e criticando mas que tomemos as providencias bibli-
cas para ajudar aquele que caiu vftima do pecado. Celebremos a
festa com os “asmos” da sinceridade e da verdade.
3) Vemos urn outro prinefpio nos versos 9-12. Ha urn momen-
to para uma separaÿao santa. Infelizmente ha momentos em que
somente uma separaÿao resolve. A separa<;ao da comunidade co-
locada aqui por Paulo e daquele membro impenitente que nao
deseja arrepender-se. Parece que Paulo coloca este ponto em des-
taque (ele gasta varios versfculos nisso) provavelmente porque ele
sente que foi mal compreendido. Paulo ja havia escrito uma pri-
meira carta aos cormtios. Essa primeira carta que conhecemos e,
na verdade, uma segunda carta, porque Paulo ja havia escrito uma
carta antes que foi perdida. Paulo faz menÿao desta primeira carta
perdida no v. 9. Nesta primeirfssima carta ele ja havia falado da
necessidade de separaÿao, de nao haver associaÿao entre o cristao
e a impureza. "Ja em carta vos escrevi que nao vos associasseis com os
impuros".
Aparentemente os cormtios haviam entendido que Paulo es-
tava falando que os cristaos nao deveriam ter qualquer contato
com incredulos. Por isso os cormtios conclufram que nao haveria
problema de ter associaÿao com aquele irmao, mesmo que em
gravfssimo pecado, visto que era “irmao”. Eles haviam pensado da
primeira carta de Paulo que nao deveriam se associar apenas com
quern nao fosse cristao. Paulo, entao, corrige este equfvoco e diz:
“Ja em carta vos escrevi que nao vos associasseis com os impuros; refiro-
me com isto nao propriamente aos impuros deste mundo, ou aos avaren-
tos, ou roubadores, ou idolatras; pois, neste caso terieis de sair do mun¬
do". Paulo, aqui, esta dizendo que nao estava dizendo que nao se
associassem, ou mantivessem contato com este tipo de gente, com
os pecadores deste mundo, porque, se assim fosse, teriam de sair
do mundo. Paulo nunca sugeriu urn gueto ou mosteiro, nem ao
menos estava sugerindo que nao convivessem com os nao cris¬
taos. O que Paulo diz e: “Mas agora vos escrevo que nao vos associeis
com alguem que, dizendo-se irmao, for impuro, ou avarento, ou idola-

43
Augustus Nicodemus Lopes

tra ou maldizente, ou beberrao, ou roubador; com este tal nem ainda


comais" (v.10). 0 que Paulo esta dizendo e que nao devemos nos
associar com aquele que “dizendo-se irmao’’, se fazendo passar por
cristao, no meio da comunidade se comportem como nao cris-
taos. A estes nem devemos convidar para uma refeiÿao em nossas
casas. Em outras palavras, ha urn momento em que e necessaria
uma separa<;ao clara e firme.
Muitos podem estar pensando nas palavras dejesus quando
disse: “Nao julgueis, para que nao sejais julgados” (Mt 7:1). E claro
que Paulo e Jesus nao estao em contradiÿao. Quando Jesus disse
estas palavras ele o fez no contexto do julgamento indevido. Ou
seja, alguem julgar o comportamento de uma pessoa e nao jul-
gar-se a si mesmo. Lembremo-nos que nesta mesma passagem
Jesus diz: “Por que ves tu o argueiro no olho de teu irmao, porem nao
reparas na trave que esta no teu proprio" (Mt 7.3). 0 que Jesus proi-
biu foi o julgamento desproporcional, sendo pesado para com os
outros e nao para consigo mesmo. Isto nao e correto! Mas quan¬
do Jesus fala estas palavras condenando o julgamento precipita-
do, no versfculo 6 Ele diz: “Nao deis aos caes o que e santo, nem
lanceis ante os porcos as vossas perolas...’’ (Mt 7:6). Para eu cumprir
este mandamento eu tenho de saber quern e “cao” e quern e
“porco”. Ou seja, tenho de exercer julgamento. E claro que Jesus
nao esta proibindo que nos, pelas evidences, pelo comportamen¬
to, por aquilo que esta evidente e claro, cheguemos a uma con-
clusao de que uma pessoa nao esta se comportando como urn
cristao deve se comportar. Assim sendo podemos tomar as devi-
das providencias.
Paulo termina este terceiro prindpio dizendo: “Pois com que
direito haveria eu de julgar os de fora?'' (5:12a). Paulo esta dizendo
que nao vai julgar os de fora que nao sao cristaos e que vivem em
outro contexto. E entao pergunta: “Nao julgais vos os de dentroT
(v.l2b). Paulo aqui deixa muito claro que julgar os “de dentro” e
competencia da igreja. Nao vamos julgar os de fora, pois Deus os
julgara. E isso que Paulo diz no versfculo 13: “Os de fora, porem,
Deus os julgara” (v.l3a). Mas os de dentro sim; a comunidade julga
os de dentro e toma as providencias para recuperar o faltoso, o
49
Corinta: Uma Igreja com Problemas de Discipline:

extraviado, para trazer de volta o que se desviou. E, se necessario


for, para isso, a santa separaÿao, que haja separaÿao.
Paulo conclui no v.13 dizendo: “Expulsai, pois, de entre vos o
malfeitor".
Conclusao
Estamos vivendo uma epoca em que se Paulo viesse expor
esta mensagem, desta forma, nao seria bem recebido.
1) Hoje se diz que a verdade e relativa e que cada pessoa tern
sua propria verdade. Estamos vivendo a relativizaÿao dos valores
morais.
2) Se diz que a vida de cada urn e governada por aquilo que a
pessoa sente que e melhor. Se a pessoa esta se sentindo bem em
determinado lugar, se algo esta fazendo-lhe bem, entao, nao im-
porta outras questoes, outros criterios. 0 criterio que e usado e
sentir-se bem e passa a ser o principal para governar a conduta
das pessoas. 0 que valida uma situaÿao ou uma conduta e eu estar
ou nao me sentindo bem no que estou fazendo.
Esses conceitos tern predominado em nossa sociedade e em
muitas igrejas. A relativizagao na midia, nas musicas, nos escritos
modernos, nas universidades, nos debates da etica e da moralidade.
Os formadores de opiniao publica nacional estao totalmente en-
volvidos na pos modernidade que resume tudo que foi dito. Tudo
isso acaba rriinando a vida da igreja, a literatura, os seminarios, os
congressos. As vezes, de forma sutil, nos tornamos avessos aquilo
que venha nos contrariar, que venha nos obrigar a dizer: “Isso esta
erradol”.
Mas temos de fazer a escolha. E urn momento serio de deci-
sao da Igreja, se vamos viver a luz da Palavra de Deus e de seus
valores absolutos ou se vamos nos deixar levar pelos “ventos” da
epoca.
A Palavra de Deus nos chama a viver vidas santas e retas. Nos
chama a aborrecer o pecado e se necessario, tomar as devidas
providencias para que ele nao tenha livre curso em nosso meio,
nas nossas vidas, nas nossas famflias. Tomar a providencia neces-

5Q
Augustus Nicodemus Lopes

saria em amor, em espfrito de brandura, olhando por nos mesmos


para que nao sejamos tambem levados pelo pecado mas ajudan-
do-nos mutuamente, levando as cargas uns dos outros para que a
comunidade toda viva vida de santidade e de alegria. 0 problema
nao e o pecado somente, mas o pecado nao resolvido. Para o peca¬
do ha perdao, resgate, redenÿao e libertaÿao. 0 problema nao e so
o pecado mas o pecado nao confessado, nao reconhecido e nao
tratado. E contra isso que Paulo fala. Que Deus nos ajude.
Lembremo-nos que esta mensagem e para a igreja e nao para
os lideres. Sempre fico admirado com Paulo pelo fato de que quan-
do fala de disciplina eclesiastica ele nao se dirige aos pastores e
aos presbfteros apenas mas fala para a comunidade toda. E nossa
responsabilidade de orarmos e vivermos vidas santas ajudando-
nos uns aos outros a nos livrar do inimigo das nossas almas. Esse e
o pior inimigo: o pecado nao tratado.
Que Deus nos de graÿa e misericordia para vivermos segun-
do o padrao da Palavra de Deus.

Adaptado de sermSo pregado pelo Pr. Augustus Nicodemus Lopes, na Primeira Igreja Presbiteriana do
Recife/2000

51
HA DISQPLINA SEVERA PARA
0 QUE ABANDONA A
VEREDA; E 0 QfJE ABORRECE
A REPREENSAO MORRERA.
{Pv.15.WJ

a,

52
Disciplina:
Uma das
Marcas da
Verdadeira Igreja
POR: F. SOLANO PORTELA


v/*ÿI—
*alvez voce nao tenha percebido, mas nossas igrejas es-
tao sempre confrontando problemas relacionados com
f'O a disciplina de membros. Se uma igreja e fiel e bfblica
em sua aplicaÿao, e exercita disciplina, quando necessario, ha a
necessidade de que os membros compreendam as bases bibli-
cas da disciplina, para que essa alcance o resultado bfblico al-
mejado. Por outro lado, se a igreja e falha na sua aplicato, e
necessario que todos se conscientizem das razdes dadas pelas
Escrituras para a aplicato da disciplina e dos perigos e conse-
qiiencias quando ela e negligenciada, para que nao sejamos
culpados de estarmos enfraquecendo o corpo de Cristo. Disci¬
plina eclesiastica e, portanto, urn tema sempre relevante. Nao
se trata de urn caminho opcional a administrate da igreja, mas
uma trilha necessaria, que deve ser entendida, acatada, apoia-
da e aplicada, para que tenhamos saude espiritual em nosso
meio.
0 exercicio da disciplina na igreja e algo tao importante
que os reformadores consideraram esta questao, ao lado da pro-
clamato da Palavra e da administrate dos sacramentos, uma
das marcas que distinguem a igreja verdadeira da falsa. Esta posi-
to ficou formalizada na Confissao de Fe Belga (1561), um dos

52
Disciplinei: Umo da Marcos da \ferdadeira igreja

documentos historicos mais importantes da Fe Reformada.' Ou


seja, a igreja falsa nao somente se caracteriza pela distorqao ou
ausencia da prega<;ao das inspiradas Escrituras; ou porque nela
os sacramentos sao anti-bfblicos, ou incorretamente adminis-
trados; mas ela e tambem negligente na preservaÿao de sua
pureza moral e doutrinaria —
nao da a importancia a questao
da disciplina que a Palavra de Deus da.
As vezes o problema esta contido no processo, na maneira
pela qual a igreja exercita disciplina. Ou seja, ela nao segue os
passos e objetivos de disciplina eclesiastica delineadps na Palavra
de Deus. Quando existe negligencia nessa area, a igreja passa a
abrir mao da identidade peculiar dos seus membros perante o
mundo, eles passam a se confundir, em carater e procedimento
com os descrentes. 0 resultado disso e que o testemunho do Evan-
gelho e a autoridade na pregaÿao, sao prejudicadas.
Nao queremos desenvolver urn espirito de censura gratuita,
no qual enxerguemos sempre o argueiro no olho do irmao antes da
trave que esta no nosso. Mas precisamos despertar urn senso de
comportamento biblico que faÿa justiÿa ao nome de Cristo e que
nao envergonhe ao Evangelho. Isso comeÿa com o cuidado sobre as
nossas proprias vidas e deve se estender pela nossa igreja local.
A disciplina, aplicada em amor, pelas razoes especificadas na
Bfblia e com os objetivos que ela prescreve, deve ser exercitada na
esfera pessoal e apoiada e compreendida, quando ja se encontra na
esfera do Conselho da Igreja, ou de outras autoridades Superiores.
Nosso proposito e o de examinar alguns textos biblicos que
se relacionam com a disciplina na igreja, entendendo o que eles
pretendem nos ensinar. Alguns outros textos tratam igualmente
1
A ConfissSo de Fd Belga d urn dos tres documentos conhecidos como “As Trds Formas de Unida-
de” (os outros dois sao o Catedsmo de Heidelberg, 1 563, e Os Canones de Dordrecht, ou Dordt,
1619) adotados por muitas igrejas Reformadas. Ela diz o seguinte, sobre essa questao, em seu
Artigo 29: 'As marcas pelas quais a verdadeira igreja ( cohhecida, sSo estas: Se nela se prega a pura
dautrina do evangelho; se os sacramentos sSo administrados de maneira pura, conforme institufdos por
Crista; se a disciplina eclesidstica e exercida como punifSa ao pecado: resumindo, se todas essas questSes
s3o administrados de acordo com a pura Palavra de Deus, rejeitando-se todas as coisas que contrariam
isso; e se Jesus Cristo for reconhecido como o unico Cabefo do Igreja. Por essas caracterfsticas pode-se,
com certeza, conhecer a verdadeira igreja, da qual nenhuma pessoa tern o direito de se separar".

54
George Knight III

e pela mesma razao, se a confissao se torna aquem da credibilidade


devido a algum pecado persistente, impenitente, a forma de aÿao
analoga e correspondente deve ser tomada, ou seja, a excomunhao.
Cristo aguarda nosso uso das chaves pelo desligar e pelo ligar.
A Base e o Dever do Exercfcio da Disciplina
Alguem pode dizer: “Como os presbfteros podem dizer as
pessoas que elas estao presas aos seus pecados? Como os
presbfteros podem dizer-lhes que elas nao estao no Reino?”. Eles
podem dize-lo com base na autoridade da Palavra de Deus. Nosso
Senhor Jesus Cristo diz na Bfblia que os homens estao perdidos, e
que continuarao perdidos, se nao confiarem nEle. Ele tambem diz
no Sermao do Monte que, mesmo que alguem venha a dizer-lhe
“Senhor, Senhor", a menos que faÿa a “vontade de meu Pai que
esta nos ceus", Ele Ihe dira “Nunca vos conheci”, e essa pessoa nao
entrara no reino dos ceus. Jesus trata a manifestaÿao externa da
vida de uma pessoa exatamente como Jesus e os apostolos pedem
que faÿamos na disciplina na igreja.
E esse e o nosso dever. Na disciplina da igreja, nao e nosso
dever tratar com os sentimentos interiores ou com a submissao
interna e secreta do coraÿao; apenas Deus pode fazer isto. Somos
ordenados a tratar ou com palavras de repudio ao evangelho (“Eu
nao creio mais nisto”) ou com uma vida que manifeste rejei<;ao. A
aÿao dos presbfteros, havendo possibilidade da disciplina prosse-
guir ate a excomunhao, ou trara a pessoa ao arrependimento e a
restauraÿao, ou sera urn ato que provara ser permanente. Nos nao
devemos tecer avaliaÿoes quanto as questoes da eleiÿao e perse-
veranda. A disciplina esta inserida no piano de Deus, e nos deixa-
mos com Ele o desfecho. Nos temos apenas que agir de acordo
com aquilo que evisfvel e descoberto e pelo qual somos responsa-
veis.
Desta forma, resumindo, se trouxermos as palavras de Joao
20:23 e as colocarmos ao lado das palavras de Mateus 16 e 18,
podemos dizer que as chaves do reino incluem ambos: tanto o
abrir do reino atraves da pregaÿao do evangelho e admissao na
comunhao da igreja, como tambem a exclusao do reino pelo fe-

85
Disciplina Biblica: 0 Que Signified e Como Aplica-la

pessoa e ela tentou fugir de nos e nao queria nada conosco. Na


verdade nos queria fora de sua vida. Nos persistimos porque a
amavamos e estavamos preocupados com ela. Na hora apropriada,
nos a intimamos a comparecer perante o conselho. Achamo-la cul-
pada e a repreendemos, e pedimos a congregaÿao que orasse pelo
seu arrependimento e restauraqiao. E ela se arrependeu.
No decorrer da questao, parecia que era urn caso absoluta-
mente sem esperanÿa no qual nao viamos nenhum bom resultado.
Mas aqueles momentos de duvida foram dias de desconfian<;a, sim,
beirando a incredulidade, acerca do modo prescrito por Cristo para
se alcan<;ar urn pecador obstinado. Entao encorajamo-nos uns aos
outros a crermos no Senhor e em Sua Palavra. E isso aconteceu.
Aconteceu unicamente porque a promessa de Mateus 18:19-20 foi
cumprida em nosso meio. E sera cumprida no meio de voces, tam-
bem. Eu nao estou lhes dizendo que o desfecho e sempre arrepen¬
dimento e restauraÿao. Lembrem que ate mesmo no tratamento
de nosso Senhor diretamente com os homens, Pedro foi restaura-
do ejudas nao, e que tambem Demas abandonou Paulo. Nos preci-
samos agir com credulidade, e deixar o resultado nas maos de
Deus. Nos nao somos responsaveis pelo desfecho. A nossa respon-
sabilidade e como nos conduziremos em obediencia ao nosso Se¬
nhor Jesus Cristo. Nos manuseamos a disciplina na igreja com fide-
lidade a Palavra de Deus e com uma atitude e relacionamento ade-
quados, para com nosso Senhor, para com os outros, para com a
igreja, e para com a pessoa?
Os Encorajamentos Para o Exercfcio da Disciplina
Agora, deixem-me apenas ampliar isto fornecendo-lhes aqui
tres coisas para lembrar. Quais sao os encorajamentos para a disci¬
plina? Eles sao triplos. Agora precisamos apenas de um. Vou dar-
lhes este primeiro. Disciplina e mandamento explfcito de Cristo.
Este e o primeiro encorajamento de nosso amoroso Senhor.
Segundo, a promessa de que a disciplina e significativa e efi-
caz. Ora, o que quero dizer com isto? Ou<;am o modo como nosso
Senhor nos diz estas palavras: “...tudo o que ligardes na terra, tera
sido ligado no ceu, e tudo o que desligardes na terra, tera sido desligado

94
Solano Portela

b. Muitos pecados atingem um estagio publico e notorio. A ques-


tao de chocar ate os descrentes, nao era uma mera possibilidade
academica. Semelhantemente ao que muitas vezes ocorre em nos-
so meio evangelico, para nossa vergonha, o escandalo, naquela
igreja, ja era publico. Extrafmos isso da forma como Paulo inicia
esse mesmo versiculo 1. Ele comeÿa com as palavras: “Geralmertte,
se owe que ha entre vos...”. Isso quer dizer que a questao nao era
mais privada, de mais facil resoluÿao e aconselhamento, mas ja se
espalhara, chegando ate ao conhecimento de Paulo, que se encon-
trava distante. “Geralmente”, de uma maneira generalizada, difun-
dida; “se ouve" - diz-se, falam por ai, comentam pelas ruas, ou
abertamente nas pranas. Multiplicam-se os boatos. Afloram as evi¬
dences das falhas cometidas, aqui e ali.
Para tristeza da igreja, muitos pecados sao verdadeiros es-
candalos publicos. Por mais que muitos pecadores em desrespeito
as diretrizes divinas queiram afirmar - “a vida e minha’’! Por mais
que muitos desses se revoltem com a “intromissao” alheia em suas
vidas, a verdade e que o pecado no seio da igreja raramente tern
conseqtiencias meramente individuals. Alem das pessoas mais pro-
ximas atingidas pelo pecado, as reverberates contrarias ao teste-
munho tern um longo raio de a<;ao.
c. Acomodaÿao e orgulho - Na igreja de Corinto a falta de aÿao
contra aquele escandalo publico revelava acomodato da consci-
encia individual e coletiva ao pecado. Este e um solene aviso, para
nossas igrejas, tambem - a acomodaÿao termina sendo uma for¬
ma de rebeldia e soberba. No versiculo 2, Paulo se espanta que
aqueles irmaos, "... nao chegaram a lamentar” toda aquela demons¬
trate) de vida em pecado. Paulo diz ainda que eles se achavam
“ensoberbecidos", ou seja, se orgulhavam da postura tomada em
vez de estarem conscientes do pecado e do mal que era causado
ao testemunho do evangelho. Quern sabe, diziam - “a nossa igreja
e pacifica, vivemos todos em harmonia, cada um cuida de sua
vida...” Tudo essas afirmates podem revelar acomodato com o
pecado, fundamentada em um orgulho mortal. Por isso e que Pau¬
lo, referindo-se a ausencia de disciplina naquela igreja, escreve:
“... nao e boa a vossa jactancia..." (v.6). Eles nada haviam feito, por-
57
Disciplina: Uma da Marcas da Verdadeira Igreja

tanto, para"... tirar do meio” o que havia praticado aquilo que o


proprio Paulo chama de “ultraje” e “infdmia” (v.3).
Quando a disciplina nao e exercitada, nossas consciences vao
sendo cauterizadas. Nos conformamos ao modo de comportamento
do mundo. Deixamos de nos chocar, de identificar o contraste,
com a forma de vida prescrita ao servo de Deus. Paulo prescreve
que a aÿao correta era a exdusao daquele membro (v. 5) - ele de-
veria ser “entregue a Satanas", ou seja considerado como descren-
te, pois o seu modo de vida nao testemunhava qualquer conver-
sao verdadeira. Nessa condiÿao estaria, portanto, nao sob o domf-
nio da igreja visfvel, mas sob o dominio de Satanas. Neste momen-
to, devemos enfatizar uma outra questao importante. Essa
constataÿao e formalizaÿao nao era para ser feita individualmente;
nao cabia a urn determinado membro da igreja, ou a qualquer urn,
pronunciar o julgamento. A inference, e que essa decisao era uma
decisao corporativa. Nesse sentido, creio, as nossas decisoes con-
ciliares, as decisoes do Conselho da Igreja, observam e preservam
esse espfrito, ou seja, a igreja representada, reunida corpora-
tivamente, pela autoridade e no poder de Cristo. No versfculo 4
Paulo se inclui nesta reuniao, quando escreve, “...em nome do Se¬
nior Jesus, reunidos vds e o meu espirito, com o poder de Jesus, nosso
Senhor...".
d. 0 perigo especificado - Qual a conseqiiencia, para a igreja,
se continuasse abrigando o pecado em seu seio? 0 que acontece
com nossas igrejas, quando convivemos pacificamente com o pe¬
cado? Paulo escreve (vs. 6 e 7): “...Nao sabeis que urn pouco de fer-
mento leveda a massa toda? Lanfaifora o velho fermento, para que
sejais nova massa, como sois, defato, sem fermento.” A igreja era para
ser uma “massa sem fermento" - pura. A admissao de urn pouco de
fermento, apenas, atingiria toda a massa. Como analogia, pode-
mos dizer que uma igreja, nesta situaÿao, semelhantemente a massa
levedada, pode ate inchar e ter a aparencia muito saudavel e atra-
ente, mas deixa de ser “massa pura”. 0 ensino claro e que deixar
que o comportamento incompatfvel com a fe crista permaneÿa no
seio da igreja, sem disciplina, significa por em risco a saude espiri-
tual de toda a comunidade.
58
Solano Portela

e. As marcas da lgreja - Como e que a igreja deve ser conhe-


cida, pelos demais fieis e pelos observadores do mundo? Sabemos
que a igreja abriga pecadores. Muitas vezes ela e referida como
urn “hospital de pecadores”. Sera que esta expressao esta correta?
Se falamos do predio, do local, verdadeiramente, na igreja, temos
tanto os convertidos pelo evangelho da graga, como nao converti-
dos; temos tanto os interessados, como os interesseiros. Mas se
por "igreja” nos referimos a membresia na igreja visfvel, creio que
estaria faltando a palavra “arrependidos” na expressao - ou seja, a
igreja poderia ser apresentada como urn "hospital de pecadores
arrependidos”. Descrever a igreja apenas como urn hospital, pode
confundir urn pouco a questao. A igreja nao e a UT1 de um hospi¬
tal, nao e o abrigo de pacientes terminals sobre os quais nao resta
mais a minima esperanga; nao e a ala de isolamento de uma doen-
ga contagiosa e incuravel, sobre a qual nao existe a menor pers¬
pective de cura.
Se vamos utilizar a analogia de que a igreja e um “hospital de
pecadores”, deveri'amos reconhecer que ela seria a ala de recupe¬
ragao desse hospital. Uma ala cheia de pecadores anteriormente
marcados e condenados por sua condigao incuravel, mas agora
milagrosamente em fase de recuperagao por causa do sangue de
Cristo Jesus. Nao havia esperanga ate que a intervengao milagrosa
foi realizada pelo Salvador. Esses pecadores, convictos de que o
mal foi extirpado, se esmeram no reconhecimento daquele que
operou neles e se empenham nas segoes de recuperagao, de fisio-
terapia, de higiene mental que o prdprio autor da cura prescre-
veu. Alguns negligenciam os passos de recuperagao ou voltam aos
focos de contdgio e sao por isso advertidos e encaminhados de
volta aos pontos que devem observar. Outros, inscrevem-se nessa
ala, declaram-se curados, mas a evidencia transparece que a cura
auto-proclamada nao e real. Os sintomas e os efeitos da doenga
estao presentes. Os responsaveis pelos setores daquela ala devem
reconhecer a ausencia de cura, naquele paciente, declarar isso
publicamente aos demais e preservar o carater de recuperagao que
caracteriza aquele ambiente, com a exdusao do doente cronico e
terminal. Paulo nao admite a contaminagao e, portanto, ensina (v.
59
Disciplina: Uma da Marcas da Verdadeira Igreja

8) que a igreja deve ser conhecida pela “...sinceridade e verdade..." e


nao pelo “...fermento da maldade e da malicia”.

f 0 esclarecimento quanto a associagao - Paulo reconhece que


o mundo e constitufdo de impuros. Ele diz que nao esta ensinan-
do que a igreja deva se isolar do mundo. Existindo no mundo ela
tera contato com “...avarentos, ou roubadores, ou idolatras...” (v.10).
Mas ele reforÿa que nao deve haver “associagao com impuros” (v.9) e
explica quern e a quern ele chama de impuro, no versfculo 11 e -
aquele que “...dizendo-se irmao, for impuro, ou avarento, ou idolatra,
ou maldizente, ou beberrao, ou roubador...”. Ou seja, e aquele que
professa a fe crista, mas que tern comportamento imoral (“impu¬
ro”); ou o que tern afeiÿao descabida pelas suas proprias posses
materiais (“avarento"); ou o que distorce a religiao verdadeira por
sua pratica ou ensinamentos (“idolatra"); ou o que tern o habito de
caluniar ou de espalhar boatos (“maldizente”); ou o que esta sob o
dominio de substancias que impedem o comportamento racional
(“beberrao”) - nas quais estao a bebida alcoolica e, certamente, no
nosso contexto, as drogas em vez de sob o controle do Espirito
Santo; e, finalmente, o que demonstra ganancia e nao respeita a
propriedade alheia (“roubador").
Infelizmente essa relaÿao de pecados parece descrever mui-
tos dos nossos membros, em seus estados atuais, nao nas situa¬
tes previas a conversao. Nos esquecemos que a distin<;ao e colo-
cada muito claramente pelo proprio Paulo, no capitulo seguinte
(6) desta mesma carta a igreja em Corinto, quando ele, apos des¬
crever varias classes de pecadores, nos versos 9 e 10, coloca, no
verso 11: "... e taisfostes alguns de vos; masfostes lavados, masfostes
santificados, mas fostes justiftcados em nome do Senhor Jesus Cristo e
no Espirito do nosso Deus". Paulo era realista e sabia que a igreja era
constituida de pecadores, mas pecadores resgatados e converti-
dos de seus pecados. Tanto naquela epoca, como hoje, a distinq:ao
entre a igreja e o mundo necessita ser clara e preservada pela apli-
caÿao da disciplina, nos moldes da Palavra de Deus.

g. A rigidez da disciplina - A disciplina, portanto, nao era algo


opcional. Havia a necessidade de se exercitar “julgamento interno"

6Q
Disciplina: Uma da Marcos da Verdadeira Igreja

na aplicada deve ser divulgada a toda igreja, com toda seriedade e


propriedade que o caso requer. Paulo da uma razao para isso —
"para que tambem os demais temam”. A disciplina tern essa caracte-
rfstica didatica de proclamar e provocar o temor do Senhor, livran-
do membros do pecado para uma vida em santidade e conformi-
dade com a pureza de Cristo.
Os cuidados exagerados, nos dias de hoje, com “os direitos
do disciplinado”, com a imagem pessoal do indivfduo, terminam
por levar a aplicaÿao de uma disciplina em segredo, que contraria
essas determinates da Palavra de Deus, e que contribui para di-
minuir a sua eficacia.
Urn outro aspecto deve ser abordado aqui. Trata-se do caso
de pessoas que foram protagonistas de pecados publicos e notori-
os, as vezes serios e comprometedores do testemunho, mas que,
ao serem chamadas a disciplina, ja se encontram acometidas do
verdadeiro arrependimento. Sera legitima a aplica<;ao de discipli¬
na, nesses casos? Nao e o arrependimento evidente e suficiente?
Nao ha injustiÿa, no afastamento da comunhao, nesses casos? Se o
arrependimento real faz parte da postura desse crente em ques-
tao, concordamos que urn dos objetivos da disciplina ja teria sido
atingido. Entretanto, a responsabilidade da igreja institucional e

aferir as manifestaÿoes externas ela nao pode penetrar no foro
intimo, so Deus. Nesse sentido e apropriado urn perfodo de obser¬
vant), para que haja a constata<;ao e permanencia da contriÿo
verdadeira; para que se verifique a verdadeira humildade, na sub-
missao ao governo da igreja. Acima de tudo, acreditamos, se o
pecado foi publico e causou danos ao testemunho, o objetivo abor¬

dado por este ponto que estamos discutindo a disciplina como
uma a<;ao desencorajadora ao pecado dos outros fieis ("para que
tambem os demais temam") ainda podera ser atendido, com a disci¬
plina mesmo do arrependido (que devera ser branda, mas notoria).
Nesse sentido, muitos Conselhos entendem que o Codigo de
Disciplina da igreja faculta a suspensao, ou afastamento, por tem¬
po determinado. Este e um ponto controvertido, pois varios en¬
tendem que o afastamento deveria ser sempre indeterminado. Mas

m
Disciplina: Uma da Marcas da Verdadeira Igreja

seu objetivo/ina/ nunca pode ser esquecido ou perdido de vista - a


restauraÿao, a salvaÿao do pecador restaurado. Paulo especifica isso,
no versfculo 5: "...a fun de que o espirito seja salvo no Dia do Senhor
Jesus." 0 objetivo era a salvaÿao daquela alma disciplinada. Essa
deve ser tambem, a nossa visao: (1) consciencia da necessidade da
disciplina; (2) percepÿao dos perigos da falta de aplicaÿao; (3) apoio
a sua aplica<;ao precisa, no comportamento anti-cristao contumaz;
(4) oraÿao e desejo de arrependimento ao disciplinado. Assim foi
na igreja de Corinto. Assim continua a ser ate os nossos dias.
1. A autodisciplina e o ensino de Jesus sobre os passos da
disciplina na igreja.
Jesus Cristo, em Mateus 18.15-22, nos deu de uma forma bem
detalhada e inteligfvel os passos necessarios ao exercfcio da disci¬
plina corporativa (na igreja). Entretanto, antes que o pecado se
concretize em a0es contra alguem e antes que atinja urn carater
publico, a Palavra de Deus nos da admoestaÿoes sobre o exercfcio
da auto-disciplina. A palavra grega traduzida como temperanÿa ou
autocontrole (egkratea - urn dos aspectos do fruto do Espfrito, em
G1 5.23) signiflca, apropriadamente, a disciplina exercitada pela
propria pessoa, quer como o estabelecimento de limites proprios,
que nao devem ser ultrapassados, quer na avaliaÿao dos proprios
pensamentos e atitudes que, se concretizados, prejudicarao alguem
e desagradarao a Deus. 0 livro de Proverbios nos fala sobre a im-
portancia de controlar nosso proprio espfrito (16.32), nossa lin¬
gua (17.27 - “reter as palavras”) e nossa ira (19.1 1 - “tardio em
irar-se” na Corrigida). Certamente o exercfcio coerente da
autodisciplina, na vida dos membros da igreja, reduz a necessida¬
de da disciplina eclesiastica.
0 texto de Mateus 18.15-22, diz o seguinte:
15 Se teu irmao pecar contra ti, vai argiii-lo entre ti e ele so. Se ele
te ouvir, ganhaste a teu irmao. 16 Se, porem, nao te ouvir, toma
ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de
duas ou tres testemunhas, toda palavra se estabelega. 17 E,se ele
nao os atender, dize-o a igreja; e, se recusar ouvir tambem a igreja,
considera-o como gentio e publicano. 18 Em verdade vos digo que

62
Solano Portela

tudo o que ligardes na terra tera sido ligado nos ceus, e tudo o que
desligardes na terra terd sido desligado nos ceus. 19 Em verdade
tambem vos digo que, se dois dentre vos, sobre a terra, concorda-
rem a respeito de qualquer coisa que, porventura, pedirem, ser-
Ihes-a concedida por meu Pai, que esta nos ceus. 20 Porque, onde
estiverem dois ou tres reunidos em meu nome, ali estou no meio
deles. 21 Entao, Pedro, aproximando-se, Ihe perguntou: Senhor,
ate quantas vezes meu irmao pecara contra mim, que eu Ihe per-
doe? Ate sete vezes? 22 Respondeu-lhe Jesus: Nao te digo que ate
sete vezes, mas ate setenta vezes sete.

Os passos ensinados pelo Nosso Senhor Jesus Cristo, para


aplica<;ao em nossa vida comunitaria, como membros da
igreja visfvel, sao esses:
a. Passo 1 - Contato individual, um a um. Em Mt 18.15, lemos;
"Se teu irmao pecar contra ti, vai argiii-lo entre ti e e/e so. Se e/e te ouvir,
ganhaste a teu irmao". Nao devemos esperar que a parte ofensora
venha pedir perdao, quando pecar contra nos. Jesus nos ensina
que nos, quando ofendidos, devemos tomar a iniciativa para ter
uma conversa discreta e individual com o nosso ofensor. Essa ad-
moestaqiao, em si so, ja e importante para o nosso crescimento em
santificaÿao. Abordar ao ofensor vai contra o nosso orgulho, mas e
uma atitude tipica da humildade que Cristo requer de nos, como
cristaos. Cristo nao oferece garantias de que teremos sucesso, mas
se o ofensor der ouvidos a nossa admoestaÿao individual, ganha-
mos o irmao, no sentido de que o impedimos de que ele cometes-
se pecados mais serios contra outros, bem como no sentido de
que construimos um relacionamento mais solido, em Cristo, com
aquele irmao ou irma. Tiago 5.20 nos ensina: “Aquele que convene o
pecador do seu caminho errado salvara da morte a alma dele e cobrira
multidao de pecados".
b. Passo 2 - Contato com dois ou tres. 0 versiculo 16 aprofunda
o contato e o envolvimento corporativo no processo de disciplina.
Ele deve ocorrer se o contato individual for infrutifero, se o irmao
ou irma nao der ouvidos a abordagem prescrita anteriormente. 0
v. 16 diz; “Se, porem, nao te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas

63
Disciplina: Uma da Marcas da Verdadeira Igreja

pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou tres testemunhas, toda


palavra se estabeleÿa ”. Quando e a hora certa de passar do passo 1
ao passo 2? Devemos pedir a Deus discernimento e sabedoria para
ver quando nao ha mais progresso no contato individual e esta
caracterizado que a parte ofensora nao “quer ouvir”. Nesse caso, a
abordagem deve ser exercitada com mais uma ou duas pessoas,
como “testemunhas”. Serao testemunhas do problema ocorrido, ou
testemunhas do contato que esta sendo realizado? Creio que nao
sao testemunhas do problema, pois se existissem a questao ja se-
ria publica e nao segregada as duas pessoas, como indica o v. 15.
Sao pessoas que deverao testemunhar e participar do encaminha-
mento do processo de disciplina, da exortaqiao, do aconselhamento,
objetivando que o faltoso “oupa”. Nao sao testemunhas silentes. 0
verso fala do “depoimento” delas. As vezes esses irmaos podem ate
discernir e esclarecer mal-entendidos, falta de percepÿao ou senti-
mentos e ate motivates erroneas (como ira, intolerance, inveja
ou vinganÿa) na pessoa que se considera ofendida. Sendo esse o
caso verifica-se a necessidade de que essas questdes e sentimen-
tos sejam biblicamente trabalhados, antes que o processo de con-
frontaÿao seja levado a frente.
-
c. Passo 3 Contato com a Igreja. 0 versiculo 17 apresenta
uma mudanÿa enorme no encaminhamento da questao. 0 faltoso
recusou a admoestaÿao individual e conjunta de dois ou tres mem-
bros. Jesus entao determina: "... se e/e nao os atender, dize-o a igre¬
ja...". 0 “dizer a igreja”, em uma estrutura presbiteriana, equivale a
relatar ao Conselho. Em uma estrutura congregacional, a relatar a
Assembled. Em qualquer situaÿao, o relato, agora, deve ser feito
pelo primeiro irmao ou irma e pela outra ou outras testemunhas,
envolvidas no Passo 2. A continuidade da frase, neste mesmo versf-
culo, mostra que o proposito de “dizer a igreja" continua sendo o
de admoestaÿao. Nao e so uma questao de veicular notfcias, mas
visa a exortagao do ofensor, que agora sera feita “pela igreja”, ou
pelos representantes constituidos e eleitos pela Igreja. Infelizmen-
te, muitos pecados publicos e ja amplamente divulgados no seio
da comunidade sao tratados a partir deste estagio. Possivelmente
aqueles mais proximos ao faltoso nao aplicaram os passos 1 e 2,

64
Solono Portela

ao primeiro sinal da ofensa. A igreja e surpreendida com o pecado


realizado, divulgado e comentado. Resta, aos oficiais, retomar o
processo a partir deste passo. Humanamente falando, quern sabe,
pecados maiores nao teriam sido evitados se a abordagem individu¬
al, prescrita por Jesus, tivesse sido realizada.
d. Passo 4 - Exclusao. No final do versfculo 17, Jesus diz
“...se recusar ouvir tambem a igreja, considera-o como gentio e
publicano". A recusa no atendimento das admoestagoes, a atitu-
de de arrogancia e desafio as autoridades, retratada em 2 Pe
2.10-11 e Judas 7-8, deve levar o faltoso a exclusao da igreja
visfvel. Ele ou ela deve ser considerado como urn descrente {“gen¬
tio’’) e deve cair da comunhao pessoal da mesma forma que os
coletofes de impostos ("publicanos ") eram desprezados pelos
judeus. Somente evidencias de arrependimento e conversao real po-
derao restaurar essa comunhao cortada pela disciplina. Com essa
exclusao vao-se tambem os privileges de membro, como a par-
ticipagao na Santa Ceia, e os demais. Jesus demonstra a neces-
sidade de respaldar essa drastica atitude na sua propria autori-
dade e na do Pai. Isso ele faz nos vs. 18-19, mostrando o seu
acompanhamento e o do Pai, nas questoes da igreja que envol-
vem a preservagao de sua pureza. Ele fecha essas instrugoes
com a promessa de sua presenga na congregagao do Povo de
Deus (v. 20). Essas sao palavras de grande encorajamento para
que a igreja nao negligencie a aplicagao do processo de disci¬
plina, em cada urn desses passos.
1. Outros textos e pontos importantes sobre a disciplina na
igreja.
Necessitamos abordar outros pontos adicionais sobre a dis¬
ciplina na igreja. Na igreja contemporanea encontramos a aplica¬
gao de disciplina (quando exercitada) quase que exclusivamente
por pecados sexuais publicos. Alguns ds textos seguintes, entre-
tanto, mostram que a disciplina nao se restringe apenas ao corn-
portamento imoral ou que deve ser exercitada somente contra
aqueles que se envolvem no desvio da pratica correta da sexuali-
dade. Varias situagoes clamam pelo exercicio da disciplina:

65
Disciplina: Uma da Marcas da Verdadeira Igreja

a. A disciplina deve ser aplicada contra os que causam dissensao


e divisao. Paulo, em Ti 2.15-3.11, diz o seguinte:
2.15 Dize estas coisas; exorta e repreende tambem com toda a
autoridade. Ninguem tedespreze. (...) 3.1 Lembra-lhes que se su-
jeitem aos que governam, as autoridades; sejam obedientes, este-
jam prontos para toda boa obra, 2 nao difamem a ninguem; nem
sejam altercadores, mas cordatos, dando provas de toda cortesia,
para com todos os homens. 3 Pois nos tambem, outrora, eramos
nescios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de pai-
xoes e prazeres, vivendo em malicia e inveja, odiosos e odiando-nos
uns aos outros. 4 Quando, porem, se manifestou a benignidade de
Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, 5 nao por
obras de justiga praticadas por nos, mas segundo sua misericordia,
ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espiri-
to Santo, 6 que ele derramou sobre nos ricamente, por meio de
Jesus Cristo, nosso Salvador, 7 a fim de que, justificados por grafa,
nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperanga da vida eterna.
8 Fiel 6 esta palavra, e quero que, no tocante a estas coisas, fagas
afirmagao, confiadamente, para que os que tern crido em Deus se¬
jam solicitos na pratica de boas obras. Estas coisas sao excelentes
e proveitosas aos homens. 9 Evita discussoes insensatas, genealogias,
contendas e debates sobre a lei; porque nao tern utilidade e sao
futeis. 10 Evita o homemfaccioso, depois de admoesta-lo primeira
e segunda vez, pois sabes que tal pessoa esta pervertida, e vive
pecando, e por si mesma esta condenada.
Note que Paulo esta comissionando a Tito para que exerÿa
sua autoridade, como Ifder da igreja, ensinando, exortando e re-
preendendo os membros da igreja para que nao sejam difamado-
res e briguentos. Antes, devem ser obedientes, cordatos, Corte¬
ses, nao somente para com os crentes, mas para com os descren-
tes tambem. Ele relembra a Tito que caracterfsticas condenaveis ja
fizeram parte da personalidade e do modo de vida de muitos de
nos, antes da salvagao, mas pela graÿa e misericordia de Deus fo-
mos regenerados pelo Espfrito Santo e transformados para as boas
obras. Devemos, portanto evitar discussoes fUteis e sobre assun-
tos secundarios ou que nao levam a lugar nenhum. Nesse sentido,

66
Disciplina: Uma da Marcas da Verdadeira Igreja

que sejais sabios para o bem e sfmplices para o mat. 20 Eo Deus


da paz, em breve, esmagara debaixo dos vossos pes a Satanas. A
gra<;a de nosso Senhor Jesus seja convosco.
Paulo especifica o perigo existente nas palavras daqueles que
procuram os seus proprios interesses, mas falam suavemente, com
palavras de elogio, enganando o coraÿao dos incautos. Os que
ensinam “em desacordo com a doutrina” devem ser alvo de cuida-
dosa disciplina, especialmente se estao em posiq:oes de lideranÿa
na igreja, com o potencial de desencaminhar a muitos. No livro de
Malaquias (2.8-9) temos uma menÿao sobre essa responsabilidade
dos lfderes: “Mas vos vos desviastes do caminho; a muitos fizestes tro-
pegar na lei; corrompestes o pacto de Levi, diz o Senhor dos exercitos.
Por isso tambem eu vos fiz despreziveis, e indignos diante de todo o
povo, visto que nao guardastes os meus caminhos..."
No livro de Apocalipse, 2.12-16, Joao registra as palavras de
Cristo, advertindo a Igreja de Pergamo contra aqueles que procu¬
ram incitar o povo de Deus a praticas contraditorias a fe Crista. 0
versiculo 17, do mesmo capitulo, mostra que o aviso e para todas
as nossas igrejas. 0 trecho diz:
12 Ao anjo da igreja em Pergamo escreve: Estas coisas diz aquele
que tern a espada afiada de dois gumes: 13 Conhego o lugar em
que habitas, onde esta o trono de Satanas, e que conservas o meu
nome e nao negaste a minha fe, ainda nos dias de Antipas, inha
testemunha, meu fiel, o qual foi morto entre vos, onde Satanas
habita. 14 Tenho, todavia, contra ti algumas coisas, pois que tens
aios que sustentam a doutrina de Balaao, o qual ensinava a Balaque
a armar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem coisas
sacrificadas aos fdolos e praticarem a prostituigao. 15 Outrossim,
tambem tu tens os que da mesma forma sustentam a doutrina dos
nicolaftas. 16 Portanto, arrepende-te; e, se nao, venho a ti sem
demora e contra eles pelejarei com a espada da minha boca.
A men<;ao a doutrina de Balaao, no v. 14, identifica o
ensinamento dos que possuem motivos pessoais, rasteiros, aque¬
les que, mesmo com linguajar que aparenta honrar a Deus, nao
estao preocupados com a santificaÿao da igreja, mas se empenham

£8
Disciplina: Uma da Marcas da Verdadeira Igreja

que sejais sabios para o bem e sfmplices para o mat. 20 Eo Deus


da paz, em breve, esmagara debaixo dos vossos pes a Satanas. A
gra<;a de nosso Senhor Jesus seja convosco.
Paulo especifica o perigo existente nas palavras daqueles que
procuram os seus proprios interesses, mas falam suavemente, com
palavras de elogio, enganando o coraÿao dos incautos. Os que
ensinam “em desacordo com a doutrina” devem ser alvo de cuida-
dosa disciplina, especialmente se estao em posiq:oes de lideranÿa
na igreja, com o potencial de desencaminhar a muitos. No livro de
Malaquias (2.8-9) temos uma menÿao sobre essa responsabilidade
dos lfderes: “Mas vos vos desviastes do caminho; a muitos fizestes tro-
pegar na lei; corrompestes o pacto de Levi, diz o Senhor dos exercitos.
Por isso tambem eu vos fiz despreziveis, e indignos diante de todo o
povo, visto que nao guardastes os meus caminhos..."
No livro de Apocalipse, 2.12-16, Joao registra as palavras de
Cristo, advertindo a Igreja de Pergamo contra aqueles que procu¬
ram incitar o povo de Deus a praticas contraditorias a fe Crista. 0
versiculo 17, do mesmo capitulo, mostra que o aviso e para todas
as nossas igrejas. 0 trecho diz:
12 Ao anjo da igreja em Pergamo escreve: Estas coisas diz aquele
que tern a espada afiada de dois gumes: 13 Conhego o lugar em
que habitas, onde esta o trono de Satanas, e que conservas o meu
nome e nao negaste a minha fe, ainda nos dias de Antipas, inha
testemunha, meu fiel, o qual foi morto entre vos, onde Satanas
habita. 14 Tenho, todavia, contra ti algumas coisas, pois que tens
aios que sustentam a doutrina de Balaao, o qual ensinava a Balaque
a armar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem coisas
sacrificadas aos fdolos e praticarem a prostituigao. 15 Outrossim,
tambem tu tens os que da mesma forma sustentam a doutrina dos
nicolaftas. 16 Portanto, arrepende-te; e, se nao, venho a ti sem
demora e contra eles pelejarei com a espada da minha boca.
A men<;ao a doutrina de Balaao, no v. 14, identifica o
ensinamento dos que possuem motivos pessoais, rasteiros, aque¬
les que, mesmo com linguajar que aparenta honrar a Deus, nao
estao preocupados com a santificaÿao da igreja, mas se empenham

£8
Solano Portela

em destruir as linhas demarcatorias de comportamento que iden-


tificam o povo de Deus e os distingue do mundo. Na ocasiao a
questao era o comer “coisas sacrificadas aos fdolos” e o
envolvimento nos festivals pagaos que envolviam a “pratica da
prostituiÿao”. Em nossos dias nao seria a adoÿao da cultura mun-
dana do prazer e da cobiÿa, no seio da igreja?
No trecho, a doutrina dos nicolaitas e igualmente condenada
(v. 15). Essa e tambem uma menq:ao aos que advocavam uma vida
dissoluta e imoral no seio da igreja. Na carta anterior (a igreja de
Efeso) as obras dos nicolaitas foram condenadas. Agora a menÿao
e contra a sua doutrina. Tanto o ensinamento dissoluto como a
pratica mundana caem sob a condenaq:ao. E importante verificar-
mos que a condenaÿao e a chamada ao arrependimento vem para
toda a igreja (v. 14 e 16), por nao exercitar a disciplina e por con-
servar tais pessoas em seu meio, nao apenas para os seus Ifderes.
Nao adianta colocar a culpa nos presbfteros e pastores; a respon-
sabilidade e individual, de cada urn de nds.
c. A disciplina deve ser exercitada com precaugao e deve ser
divulgada. Em 1 Tm 5.19-22, temos o ensinamento de que as de¬
nuncias devem ser substanciadas. Elas nao devem ser aceitas levi-
anamente:
19 Nao aceites denuncia contra presbitero, senao exclusivamente
sob o depoimento de duas ou tres testemunhas. 20 Quanto aos que
vivem no pecado, repreende-os na presenga de todos, para que tam¬
bem os demais temam. 21 Conjuro-te, perante Deus, e CristoJesus,
e os anjos eleitos, queguardes estes conselhos, sem prevengao, nada
fazendo com parcialidade. 22 A ninguem imponhas precipitada-
mente as maos. Nao te tornes cumplice de pecados de outrem. Con-
serva-te a ti mesmo puro.
Cautela e prescrita especificamente para as denuncias contra
os oficiais (v. 19 — "duas ou tres testemunhas"), mas o princfpio de
que deve haver substancia e provas, nas denuncias, e generico. 0
outro ensino deste trecho, e de que a disciplina dos que "vivem no
pecado ” (v. 20) se exercite "na presenga de todos". Isso significa que
ela nao deve ser alvo de uma resoluÿao velada, apenas. A discipli-

62
Disciplina: Uma da Marcos da Verdadeira Igreja

na aplicada deve ser divulgada a toda igreja, com toda seriedade e


propriedade que o caso requer. Paulo da uma razao para isso —
"para que tambem os demais temam”. A disciplina tern essa caracte-
rfstica didatica de proclamar e provocar o temor do Senhor, livran-
do membros do pecado para uma vida em santidade e conformi-
dade com a pureza de Cristo.
Os cuidados exagerados, nos dias de hoje, com “os direitos
do disciplinado”, com a imagem pessoal do indivfduo, terminam
por levar a aplicaÿao de uma disciplina em segredo, que contraria
essas determinates da Palavra de Deus, e que contribui para di-
minuir a sua eficacia.
Urn outro aspecto deve ser abordado aqui. Trata-se do caso
de pessoas que foram protagonistas de pecados publicos e notori-
os, as vezes serios e comprometedores do testemunho, mas que,
ao serem chamadas a disciplina, ja se encontram acometidas do
verdadeiro arrependimento. Sera legitima a aplica<;ao de discipli¬
na, nesses casos? Nao e o arrependimento evidente e suficiente?
Nao ha injustiÿa, no afastamento da comunhao, nesses casos? Se o
arrependimento real faz parte da postura desse crente em ques-
tao, concordamos que urn dos objetivos da disciplina ja teria sido
atingido. Entretanto, a responsabilidade da igreja institucional e

aferir as manifestaÿoes externas ela nao pode penetrar no foro
intimo, so Deus. Nesse sentido e apropriado urn perfodo de obser¬
vant), para que haja a constata<;ao e permanencia da contriÿo
verdadeira; para que se verifique a verdadeira humildade, na sub-
missao ao governo da igreja. Acima de tudo, acreditamos, se o
pecado foi publico e causou danos ao testemunho, o objetivo abor¬

dado por este ponto que estamos discutindo a disciplina como
uma a<;ao desencorajadora ao pecado dos outros fieis ("para que
tambem os demais temam") ainda podera ser atendido, com a disci¬
plina mesmo do arrependido (que devera ser branda, mas notoria).
Nesse sentido, muitos Conselhos entendem que o Codigo de
Disciplina da igreja faculta a suspensao, ou afastamento, por tem¬
po determinado. Este e um ponto controvertido, pois varios en¬
tendem que o afastamento deveria ser sempre indeterminado. Mas

m
Discipline/: Uma da Marcas da Verdadeira Igreja

Paulo enfatiza a necessidade de afastamento de “qualquer ir-


mao que ande desordenadamente", contrario aos ensinamentos que
recebeu (v. 6). 0 exemplo dado por Paulo e para aqueles que se
acomodam no ocio, se tornam um peso para os outros e passam a
ocupar suas vidas se “intrometendo na vida alheia" (v.ll). Esses, e
aqueles que “nao prestarem obediencia" a palavra dada por Paulo, na
sua carta, deve ser disciplinado (v. 14). Paulo indica que nao deve
haver “associa$ao" com o faltoso e ele da uma razao para tal: “para
que fique envergonhado", ou seja, para que se conscientize de sua
falha e, sob humilhaÿao perante a disciplina exercitada pela igreja,
se arrependa. Esse trecho e encerrado com as seguintes palavras
de cautela (v. 15): “Todavia, nao o considered por inimigo, mas adverti-
o como irmao”.
Notemos que um ponto chave ao arrependimento verdadei-
ro, e a vergonha, na face da igreja e de Cristo, pelo pecado come-
tido. Vemos, tambem, que nao ha lugar para odio, para julgamen-
to apressado, para vinganÿa rasteira. A disciplina, aplicada da for¬
ma biblica, e disciplina exercitada em amor e na esperanÿa de que
Deus concedera a convicÿao e o arrependimento.
0 segundo texto e 2 Tm 2.22-26:
22 Foge, outrossim, das paixoes da mocidade. Segue a justga, afe,
o amor e a paz com os que, decoratfo puro, invocam o Senhor. 23
E repele as questoes insensatas e absurdas, pois sabes que so en-
gendram contendas. 24 Ora, e necessario que o servo do Senhor
nao viva a contender, e sim deve ser brando para com todos, apto
para instruir, paciente, 25 disciplinando com mansidao os que se
opoem, na expectativa de que Deus ihes conceda nao so o arrepen¬
dimento para conhecerem plenamente a verdade, 26 mas tambem
o retorno a sensatez, livrando-se eles dos la$os do diabo, tendo sido
feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade.
Nesse trecho Paulo volta a reforÿar que o caminhar cristao
deve ser o seguir "a justifa, afe, o amor e a paz com os que, de cora-
f ao puro, invocam o Senhor" (v. 22). Nesse sentido as “questdes insen¬
satas e absurdas" devem ser nao somente evitadas, como repelidas,
quando introduzidas no seio da igreja (v. 23), pois so geram con-

72
Discipline/: Uma da Marcas da Verdadeira Igreja

Paulo enfatiza a necessidade de afastamento de “qualquer ir-


mao que ande desordenadamente", contrario aos ensinamentos que
recebeu (v. 6). 0 exemplo dado por Paulo e para aqueles que se
acomodam no ocio, se tornam um peso para os outros e passam a
ocupar suas vidas se “intrometendo na vida alheia" (v.ll). Esses, e
aqueles que “nao prestarem obediencia" a palavra dada por Paulo, na
sua carta, deve ser disciplinado (v. 14). Paulo indica que nao deve
haver “associa$ao" com o faltoso e ele da uma razao para tal: “para
que fique envergonhado", ou seja, para que se conscientize de sua
falha e, sob humilhaÿao perante a disciplina exercitada pela igreja,
se arrependa. Esse trecho e encerrado com as seguintes palavras
de cautela (v. 15): “Todavia, nao o considered por inimigo, mas adverti-
o como irmao”.
Notemos que um ponto chave ao arrependimento verdadei-
ro, e a vergonha, na face da igreja e de Cristo, pelo pecado come-
tido. Vemos, tambem, que nao ha lugar para odio, para julgamen-
to apressado, para vinganÿa rasteira. A disciplina, aplicada da for¬
ma biblica, e disciplina exercitada em amor e na esperanÿa de que
Deus concedera a convicÿao e o arrependimento.
0 segundo texto e 2 Tm 2.22-26:
22 Foge, outrossim, das paixoes da mocidade. Segue a justga, afe,
o amor e a paz com os que, decoratfo puro, invocam o Senhor. 23
E repele as questoes insensatas e absurdas, pois sabes que so en-
gendram contendas. 24 Ora, e necessario que o servo do Senhor
nao viva a contender, e sim deve ser brando para com todos, apto
para instruir, paciente, 25 disciplinando com mansidao os que se
opoem, na expectativa de que Deus ihes conceda nao so o arrepen¬
dimento para conhecerem plenamente a verdade, 26 mas tambem
o retorno a sensatez, livrando-se eles dos la$os do diabo, tendo sido
feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade.
Nesse trecho Paulo volta a reforÿar que o caminhar cristao
deve ser o seguir "a justifa, afe, o amor e a paz com os que, de cora-
f ao puro, invocam o Senhor" (v. 22). Nesse sentido as “questdes insen¬
satas e absurdas" devem ser nao somente evitadas, como repelidas,
quando introduzidas no seio da igreja (v. 23), pois so geram con-

72
Solano Portela

tendas. Contenda nao deve fazer parte da postura do servo de


Deus. Esse deve ser brando e capaz de ensinar com paciencia (v.
24). A disciplina deve ser exercitada em mansidao (v. 25), com o
objetivo de que Deus conceda aos disciplinados “nao so o arrepen-
dimento para conhecerem plenamente a verdade, mas tambem o retorno
a sensatez, livrando-se eles dos logos do diabo, tendo sidofeitos cativos
por e/e para cumprirem a sua vontade” (v. 26).
Esse retorno a sensatez significa, se estamos fora dos cami-
nhos de Deus, a percep<;ao de que o pecado, na vida do cristao,
representa urn corpo estranho, urn modo de vida incompativel com
o seu chamado e com a sua missao. Significa o reconhecimento de
que nada somos. Significa abrirmos maos de todos os nossos
pretensos direitos. Significa reconhecermos que merecemos real-
mente o pior e que fizerrios por merecer ate a incompreensao e
rejeiÿao de muitos. Significa nos jogarmos, sem reservas e sem
demandas, nas misericordias de Deus, suplicando o derramarabun-
dante de sua bondade sobre as nossas vidas, mas sem qualquer
reivindicagao de nossa parte.
Como essa sensatez e difTcil de ser atingida, por alguns que
se dizem arrependidos! Muitas vezes, em paralelo a admissao de
pecado, ouve-se quase que simultaneamente uma justificativa qual¬
quer: “Errar e humano...”; “Mas Davi tambem pecou...”; “Conheÿo
tantos que tern o mesmo pecado...”; “Ninguem foi me visitar...”.
Temos a tendencia de achar justificativas mil, de racionalizarmos
nossas aÿoes, de procurarmos explicates para o inexplicavel.
Damos uma de “revoltados”, quando somos alvo de disciplina. Jo-
gamos a culpa no pastor, no Conselho, nos amigos, procurando e
denunciando suas areas de fraqueza para tirar o enfoque do fato
que, naquela situa<;ao, aqueles que nos advertem estao anuncian-
do e cumprindo a Palavra de Deus, e nao exercitando suas propri-
as opinioes. Tudo isso e evid£ncia de que ainda estamos trilhando
o caminho de Satanas; ainda estamos presos aos la<;os do diabo; o
verdadeiro arrependimento ainda se encontra a frente.
O objetivo final da disciplina e a restaurato do disciplina-
do e isso se da, com o retorno a sensatez; com a constata<;a° da

73
Disciplina Biblico: 0 Que Signified e Como Aplica-la

ser averiguado tanto quanto e humanamente possfvel; mas nos


precisamos fazer todo o esforqio para tirar as duvidas de maneira
que possamos aceitar quem se arrepende. Se nao tomamos — ou
nao tomarmos — essa atitude, essa e a ocasiao em que Satanas,
usando seus desfgnios, dira: “Voce esta vendo? Nao faz nenhuma
diferenÿa. Voce vai sofrer desse jeito e as pessoas vao sempre abor-
recer voce, dizendo que voce tern que fazer isto ou aquilo, ou nao
fazer isto ou aquilo. Voce tambem pode sair dessa igreja de uma
vez. Agora, pense, nao estava melhor antes, enquanto voce estava
no pecado, do que agora quando voce esta se corrigindo? Esqueÿa
essas bobagens! Continue no pecado”.
Paulo diz que a igreja nao deve e nao pode deixar que al-
guem l>seja consumido por excessiva tristeza" (verso 7). Nao o deixem
sofrer excessivamente. Nao deixem Satanas alcanqiar vantagem
sobre nos (v. 1 1). Nos temos que agir o mais rapido possfvel para
que haja restauraÿao. Isto pode ser diffcil. Suponha que a pessoa
em pecado tenha ofendido alguem gravemente na congregaÿao.
Ainda assim, temos que perdoa-lo. E essa pessoa mais diretamen-
te afetada deve ser encorajada a pelo menos estar na igreja quan¬
do esta demonstrar seu perdao e restauraÿao. Porque, senao, nes-
te aspecto de pecado e disciplina, essa pessoa contra quem se
pecou esta caindo numa cilada do maligno, e nos estamos perden-
do vantagem, sendo vencidos pelo engano.
Observe que o mesmo tipo de coisa nos e ensinada em 2
Corfntios 7, trecho que ja vimos antes. Vamos concluir lendo a
passagem, e entao muito brevemente comenta-Ia, come<;ando com
o verso 8: “Porquanto, ainda que vos tenha contristado com a carta,
nao me arrependo; embora ja me tenha arrependido". (Nao e interes-
sante como Paulo pode dizer isso?) — “Vejo que aquela carta vos
contristou por breve tempo, agora me alegro, nao porque fostes contris-
tados, mas porque fostes contristados para arrependimento; pois fostes
contristados segundo Deus, para que de nossa parte nenhum dano
sofresseis. Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para
a salvagao que a ninguem traz pesar; mas a tristeza do mundo produz
morte. Porque, quanto cuidado nao produziu isto mesmo em vos que
segundo Deus fostes contristados! Que defesa, que indignagao, que te¬

rn
George Knight III

Agora vejamos alguns itens especfficos que estao nesta pas-


sagem que ainda nao comentamos. Um e sobre o que significa
entregar esse homem a Satanas (verso 5 - o unico outro lugar no
Novo Testamento onde esta expressao e usada e em 1 Timoteo
1:20). Na minha opiniao, isto tem o mesmo significado que um
conceito similar em 1 Joao 5:19, que afirma que “o mundo inteiro
jaz no maligno”. E esta a definiÿao que Joao da. Por conseguinte, se
um homem e posto para fora do meio povo de Deus, onde ele esta
sendo posto? Ele e retirado da igreja e posto no mundo, que jaz
no maligno, ou — para usar a expressao de Paulo —, ele e entre-
gue a Satanas, isto e, posto sob seu dommio. Ha apenas dois rei-
nos — um esta liberto do “imperio das trevas”, (para usarmos a
expressao paulina de Colossenses 1:13) e e trazido para “o reino do
Filho do Seu amor". Se alguem e retirado da manifestaÿao terrena
do reino do Filho do Seu amor, a igreja, pelos meios da disdplina
na igreja, entao ele e recolocado no dommio das trevas, que e o
reino do maligno. Este conceito e na verdade estarrecedor para
nos. E tambem nos e estranho, primeiro por Paulo dizer que ele
esta entregando individuos a Satanas a fim de que aprendam a nao
blasfemar (1 Timoteo 1:20). Mas observe que Jesus ora por Pedro,
quando este ira ser peneirado por Satanas, visando que Pedro pos-
sa ser melhor capacitado atrav£s dessa experiencia para fortalecer
seus irmaos (Lucas 22:31-32). Essa "peneirada” de Satanas foi usa¬
da por Deus para beneficio de Pedro? Sim, deveras. A soberania de
Deus utilizou ate mesmo as maquina<;6es de um Satanas que bus-
caria seu melhor piano a fim de destruir e esmagar um Jo, ou pe-
neirar meticulosamente um Pedro, e Deus assim faz com aqueles a
serem disciplinados. Deus pode usa-lo para fins bons, e, portanto,
nos nao devemos recuar diante desta expressao de Paulo, nem
diante da implicaÿao dela com relaÿao a igreja hoje em suas aÿoes
disciplinares.
Agora, em segundo, o que quer dizer “para a destruiÿao da
carne" (natureza pecaminosa) (2 Co 5:5)? Ha varias possibilidades
do que isto pode significar, claro. Um e que ele esteja tao domina-
do pela imoralidade que implica em sua existencia ffsica; que sua
carne fTsica precise ser destrufda, de modo que ele venha a ver a

HI
COMPRA A VERDADE, E NAO
A VENDAS; SIM, A SABEDO-
RIA, A DISC1PUNA, E 0
ENTENDIMENTO.
[Pv.23.23j

Mf
11
mm

Zfi
Disciplina
Biblica:
O Que Significa e
Como Aplica-la
POR: GEORGE KNIGHT III

disciplina bfblica na igreja e um ensino presente em todo

s4 o Novo Testamento. Os princfpios foram estabelecidos,


inicialmente.pelo nosso Senhor, e depois ensinados e
encorajados nas igrejas pelos apostolos. Por isso, e importante,
para aqueles que querem obedecer o ensino e a pratica apostoli-
ca, ouvir o que nosso Senhor e os apostolos tern ensinado para
que possamos, com o mesmo espfrito benevolentemente franco e
amoroso, por em pratica este zelo que Cristo tern por Seu povo.
Vamos come<;ar com o Cabeq:a e Rei da Igreja examinando
Suas explana<;6es acerca da igreja e disciplina desta, e particular-
mente a Sua exposiq:ao com relaÿao ao ato de utilizar “as chaves
do reino”.
As Questao das Chaves do Reino
As references a igreja nos evangelhos e as chaves do reino e
o uso destas sao encontradas em apenas dois relatos ambos no
Evangelho segundo Mateus. Um desses esta nos versos 17-19 do
capitulo 16:
Bem-aventurado es, Simao Barjonas, porque naofoi came e san -
gue quern to revelou, mas meu Pai que esta nos ceus. Tambem eu te
digo que tu es Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e
Disciplina Biblica: 0 Que Signified e Como Aplic6-ia

as portas do inferno nao prevalecerao contra ela. Dar-te-ei as cha-


ves do reino dos ceus: o que ligares na terra, tera sido ligado nos
ceus; e o que desligares na terra, tera sido desligado nos ceus.
Depois da confissao de fe de Pedro, nosso Senhor indicou-
lhe, como porta-voz dos apostolos, que Ele iria construir Sua igreja
sobre essa sua confissao; bem como sobre aqueles apostolos, como
pedras fundamentals, que faziam essa confissao de forma unfssona
(Mateus 16:15-19). Essas verdades sao ainda mais corroboradas no
comentario que Pedro fez sobre pedras que vivem (porque creem)
sendo edificadas em uma casa espiritual sobre A Pedra Que Vive,
em I Pedro 2:4. 0 mesmo tema foi desenvolvido por Paulo, quando
ele fala sobre o fundamento dos apostolos e profetas unido a pe¬
dra angular principal, nosso Senhor Jesus Cristo, em Efesios 2:20.
Quando Cristo diz, entao, que Ele dara as chaves do reino dos ceus,
essa e a primeira referenda a igreja, a natureza de sua edificaÿao, e
a atividade correlativa do uso das chaves do reino.
0 segundo relato esta onde nosso Senhor aplica e explica um
aspecto do uso dessas chaves esta em Mateus 18:15-20.
Se teu irmao pecar (contra ti), vai argui-loentre ti e ele so. Se ele
te ouvir, ganhaste a teu irmao. Se, porem, nao te ouvir, toma
ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento
de duas ou tres testemunhas, toda palavra se estabelega. E, se ele
nao os atender, dize-o a igreja; e, se recusar ouvir tambem a
igreja, considera-o como gentio e publicano. Em verdade vos digo
que tudo o que ligardes na terra, tera sido ligado no ceu, e tudo o
que desligardes na terra, tera sido desligado no ceu. Em verdade
tambem vos digo que, se dois dentre vos, sobre a terra, concorda-
rem a respeito de qualquer cousa que porventura pedirem, ser-
Ihes-a concedida por meu Pai que esta nos ceus. Porque onde esti-
verem dois ou tres reunidos em meu nome, ali estou no meio de¬
les.
Estas sao as unicas passagens nos Evangelhos onde a palavra
“igreja" e usada, e em cada caso referem-se as “chaves do reino” e
seu uso. Em Mateus 16, Jesus utiliza a frase descritiva “as chaves
do reino dos ceus”, e entao relata o que deve ser feito com essas

78
George Knight III

chaves — ligar e desligar na terra, relacionado com o ligar e desli-


gar nos ceus.
Em Mateus 18, a frase “as chaves do reino” nao e utilizada,
mas, apesar disso, elas aparecem porque a descrigao da agao das
chaves e dada no verso 18, onde nosso Senhor diz: “tudo o que
ligardes na terra, tera sido ligado no ceu, e tudo o que desligardes na
terra tera sido desligado no ceu". Cristo liga a referenda a chave e
ao uso desta a Sua declaragao sobre edificar Sua igreja e cuidar
de Sua igreja. Esta correlagao demonstra que o uso das chaves
do reino e considerado como de importancia central para o Ca-
bega e Rei da igreja, com relagao a edificagao de Sua querida
igreja, do Seu Corpo.
0 conceito das “chaves do reino” ja era conhecido no
Antigo Testamento. E um sfmbolo utilizado em Isafas 22:22:
“Porei sobre o seu ombro a chave da casa de Davi; e/e abrira, e
ninguem fechara, fechara e ninguem abrira”. A importancia des-
sa referenda do Antigo Testamento e que ela ja tern uma
conotagao messifinica, como ela fala sobre a casa de Davi. A
expressao simbolica, “a chave”, e usada em Isafas, embora ela
nao inclua a palavra “reino”; mas a referenda a casa de Davi
implica a mesma coisa —ou seja, uma casa, um reino sobre a
qual Ele deve governar. Isafas tambem usa o conceito da ma-
neira como o nosso Senhor o faz, em ambos os relatos de
Mateus 16 e 18 —“abrir" e “fechar”, os dois conceitos nor¬
mals associados a uma chave.
0 conceito "chaves do reino” e tambem encontrado no Li-
vro de Apocalipse. Em Apocalipse 3:7 nos lemos: “Estas cousas diz
o santo, o verdadeiro, aquele que tern a chave de Davi.” Veja a se-

qUencia e elo do cumprimento a primeira referenda nas Escri-
turas sendo a chave da casa de Davi, a ultima referenda sendo a
chave de Davi.
E, claro, a pessoa em questao que tern as chaves e nosso
Senhor Jesus Cristo. “...que abre e ninguem fechara, e que fecha e
ninguem abrira”. Novamente, a imagem e abrir e fechar; a chave
carregada pelo nosso Senhor — a chave de Davi.
22
Disciplina Biblica: 0 Que Signified e Como Aplica-la

Esse conceito e tambem encontrado nos evangelhos em duas


outras partes, alem de Mateus 16 e 18. E utilizado em Mateus
23:13, numa referenda interessante ao seu uso pejorativo, ou seja,
demonstrando como ele e usado inadequadamente, “Ai de vos,
escribas efariseus, hipocritas! Porquefechais o reino dos ceus diante dos
homens; pois, vos nao entrais, nem deixais entrar os que estao entran-
do”. Observe que Jesus esta dizendo que o reino dos ceus e fecha-
do pelos atos e ensino inadequados deles, de modo que outros
nao podem entrar, e nem mesmo eles proprios.
Outra referenda as chaves e registrado em Lucas 11:52 (con-
tendo palavras similares ao relato de Mateus 23): "Ai de vos, inter-
pretes da lei! Porque tomastes a chave da ciencia; contudo, vos mesmos
nao entrastes e impedistes os que estavam entrando”. Esta passagem
narra que as chaves tern a ver com o trazer verdade e o conheci-
mento a atenÿao dos ouvintes —
indica que eles podem reagir de
forma apropriada a ela e, portanto, ter benefidos com relaÿao ao
reino.
“Ligar” e “Desligar” e o Conceito de Disciplina.
Certamente o exame do uso em outros lugares e util para
estabelecer o contexto. Entretanto, precisamos procurar com muito
cuidado a resposta a questao: 0 que Jesus quer dizer e o que Ele
pretende transmitir pelas palavras “as chaves do reino dos ceus" e
pelas palavras “ligar na terra, ligar no ceu, desligar na terra, desligar
no ceu”? Penso que comegamos a apreender a resposta clara em
Mateus 18: uma das coisas que Ele quer dizer e o exerdcio da
disciplina na igreja. Essa disciplina pode culminar na excomunhao
de alguem que persista no erro e nao venha a se arrepender de
seus pecados e, portanto, precisa ser tratado como alguem que se
encontra completamente fora da comunhao do povo de Deus. Esse
tratamento e analogo ao modo como a comunidade judaica trata-
va o pecador e pagaos impenitentes e os fiscais de impostos, de
seus dias. Essa compreensao e claramente evidente pelo fato de
que Jesus aplica o conceito desta forma em Mateus 18. Realmente,
e impressionante que Jesus explique primeiro o lado ligante das
chaves. Talvez Ele o faÿa nessa ordem porque sabe quao hesitante

m
George Knight 111

que as chaves significam com respeito aos seus dois elementos,


isto e, com respeito ao “ligar" e “desligar”? Considerando que Es-
critura interpreta Escritura, vamos voltar a uma passagem analoga
que faz um paralelo dos conceitos contidos nos textos de Mateus
16 e 18 nesse ligar e desligar. Vamos deixar de lado outras ques-
toes que possam ser levantadas ao se olhar esta passagem e va¬
mos nos concentrar na compara<;ao dos conceitos.
Essa passagem e Joao 20:22-23: “E, havendo dito isto, soprou
sobre eles, e disse-lhes: Recebei o Espmto Santo. Se de alguns perdoardes
os pecados, sao-lhes perdoados; se Ihos retiverdes, sao retidos." Na mi-
nha opiniao, esta e outra forma de expressar a verdade e a realida¬
de das chaves do reino. Eu nao concordo com aqueles que pensam
que este pronunciamento e restrito aos apostolos e unicamente
aplicavel a eles. Por que? Bern, porque os apostolos nao podem
perdoar pecados no sentido basico da palavra, isto e, em nenhum
modo que seja diferente do que outros homens podem. Em outras
palavras, ainda que os apostolos sejam unicos, fundamentais, ins-
trumentos de revela<;ao, e foram-lhes dados poderes sobrenatu-
rais que nao permaneceram na vida da igreja, nao lhes foi dado o
poder de perdoar pecados em qualquer outro sentido alem da-
quele que o evangelho constantemente indica. E qual e esse senti¬
do? 0 que Jesus quer dizer nas passagens de Mateus e Joao, se
posso associa-las e parafrasear aquelas palavras e: “Estou lhe afir-
mando que lhe dou as chaves do reino dos ceus de modo que voce
pode dizer a alguem ‘Creia no Senhor Jesus Cristo e voce sera sal¬
vo’”. Ao fazer isto,Jesus esta dando autoridade para fazermos uma
declara<;ao divina com base na finalidade de Sua obra na cruz. E da
essentia do evangelho que os embaixadores de Cristo afirmem
esta verdade para um crente genufno. E isto o que Paulo faz em I
Corintios 15:2: “Por e/e tambem sois salvos, se retiverdes a palavra tal
como vo-la preguei".
No Evangelho de Joao, perdoar pecados e o primeiro de dois
fenomenos (nao perdoar e o segundo). Perdao no Novo Testamen-
to pressupoe arrependimento, reconhecimento dejesus como Sal¬
vador, e esta relacionado a entrada no reino de Deus (ver Atos
2:38,39; 1 Joao l:9-2:2; Mateus 4:17). Arrependimento e perdao
83
Discipline! Biblica: 0 Que Signified e Como Aplica-la

estao associados com a entrada no reino, ou com a abertura deste


a alguem. E ha o paralelo para perdoar alguem — que e o de des-

ligar desligar alguem de seus pecados. Se uma pessoa e perdo-
ada ou desligada de seus pecados, essa pessoa entra no Reino.
Perdoar e o “Desligar"
Dessa forma, desligar e perdoar sao duas formas de dizer a
mesma coisa. Similarmente, as duas segundas metades dos tre-
chos dos Evangelhos de Mateus ejoao sao duas formas de dizer a
mesma coisa. Nao perdoar (as palavras em Joao 20:23) e fechar ou
ligar (Mateus 18:18), isto e, manter os pecados intactos. Este
paralelismo analogo comeÿa a abrir nosso entendimento de como
as chaves funcionam. 0 desligar, abrir, perdoar e urn lado — e o
ligar, nao perdoar, e nao abrir e o outro lado. Portanto, a Confissao
de Fe de Westminster, cap. XXX, seÿao II, sumariza o significado
bfblico das chaves nas seguintes palavras:
A esses oficiais sao confiadas as chaves do reino do ceu. Em virtude
disso, eles tem, respectivamente, o poder de reter e remitir peca¬
dos; de fechar esse reino aos impenitentes, tanto por meio da Pala-
vra quanto por meio das censuras; de abri-lo aos pecadores peni-
tentes, pelo ministe'rio do evangelho e pela absolvigao das censu¬
ras, quando as circunstancias o exigirem.
A partir desta perspectiva bfblica e confessional, torna-se evi-
dente que as chaves do reino sao usadas pelo ministerio inteiro da
igreja conquanto seja fiel ao evangelho. Ao admitir alguem no qua-
dro de membros, os oficiais estao comprovando que aqueles que
sao admitidos, se sua profissao de fe e genufna, entraram verda-
deiramente no Corpo de Cristo e no Reino dos Ceus. E assim as
chaves sao cruciais e essenciais. E exatamente assim como os ofi¬
ciais devem estar interessados acerca da realidade da fe daqueles
que sao admitidos ao quadro de membros da igreja, exatamente
tambem e certo que toda reuniao de conselho deve estar propen-
sa a usar as chaves de maneira apropriada ao admitir pessoas no
rol de membros, procurando descobrir se a confissao e genufna,
sincera, se ha entendimento das verdades, e se a vida nao contra-
diz tudo isso, isto e, se ela e digna de credito. Semelhantemente,

M
George Knight 111

que as chaves significam com respeito aos seus dois elementos,


isto e, com respeito ao “ligar" e “desligar”? Considerando que Es-
critura interpreta Escritura, vamos voltar a uma passagem analoga
que faz um paralelo dos conceitos contidos nos textos de Mateus
16 e 18 nesse ligar e desligar. Vamos deixar de lado outras ques-
toes que possam ser levantadas ao se olhar esta passagem e va¬
mos nos concentrar na compara<;ao dos conceitos.
Essa passagem e Joao 20:22-23: “E, havendo dito isto, soprou
sobre eles, e disse-lhes: Recebei o Espmto Santo. Se de alguns perdoardes
os pecados, sao-lhes perdoados; se Ihos retiverdes, sao retidos." Na mi-
nha opiniao, esta e outra forma de expressar a verdade e a realida¬
de das chaves do reino. Eu nao concordo com aqueles que pensam
que este pronunciamento e restrito aos apostolos e unicamente
aplicavel a eles. Por que? Bern, porque os apostolos nao podem
perdoar pecados no sentido basico da palavra, isto e, em nenhum
modo que seja diferente do que outros homens podem. Em outras
palavras, ainda que os apostolos sejam unicos, fundamentais, ins-
trumentos de revela<;ao, e foram-lhes dados poderes sobrenatu-
rais que nao permaneceram na vida da igreja, nao lhes foi dado o
poder de perdoar pecados em qualquer outro sentido alem da-
quele que o evangelho constantemente indica. E qual e esse senti¬
do? 0 que Jesus quer dizer nas passagens de Mateus e Joao, se
posso associa-las e parafrasear aquelas palavras e: “Estou lhe afir-
mando que lhe dou as chaves do reino dos ceus de modo que voce
pode dizer a alguem ‘Creia no Senhor Jesus Cristo e voce sera sal¬
vo’”. Ao fazer isto,Jesus esta dando autoridade para fazermos uma
declara<;ao divina com base na finalidade de Sua obra na cruz. E da
essentia do evangelho que os embaixadores de Cristo afirmem
esta verdade para um crente genufno. E isto o que Paulo faz em I
Corintios 15:2: “Por e/e tambem sois salvos, se retiverdes a palavra tal
como vo-la preguei".
No Evangelho de Joao, perdoar pecados e o primeiro de dois
fenomenos (nao perdoar e o segundo). Perdao no Novo Testamen-
to pressupoe arrependimento, reconhecimento dejesus como Sal¬
vador, e esta relacionado a entrada no reino de Deus (ver Atos
2:38,39; 1 Joao l:9-2:2; Mateus 4:17). Arrependimento e perdao
83
Discipline! Biblica: 0 Que Signified e Como Aplica-la

estao associados com a entrada no reino, ou com a abertura deste


a alguem. E ha o paralelo para perdoar alguem — que e o de des-

ligar desligar alguem de seus pecados. Se uma pessoa e perdo-
ada ou desligada de seus pecados, essa pessoa entra no Reino.
Perdoar e o “Desligar"
Dessa forma, desligar e perdoar sao duas formas de dizer a
mesma coisa. Similarmente, as duas segundas metades dos tre-
chos dos Evangelhos de Mateus ejoao sao duas formas de dizer a
mesma coisa. Nao perdoar (as palavras em Joao 20:23) e fechar ou
ligar (Mateus 18:18), isto e, manter os pecados intactos. Este
paralelismo analogo comeÿa a abrir nosso entendimento de como
as chaves funcionam. 0 desligar, abrir, perdoar e urn lado — e o
ligar, nao perdoar, e nao abrir e o outro lado. Portanto, a Confissao
de Fe de Westminster, cap. XXX, seÿao II, sumariza o significado
bfblico das chaves nas seguintes palavras:
A esses oficiais sao confiadas as chaves do reino do ceu. Em virtude
disso, eles tem, respectivamente, o poder de reter e remitir peca¬
dos; de fechar esse reino aos impenitentes, tanto por meio da Pala-
vra quanto por meio das censuras; de abri-lo aos pecadores peni-
tentes, pelo ministe'rio do evangelho e pela absolvigao das censu¬
ras, quando as circunstancias o exigirem.
A partir desta perspectiva bfblica e confessional, torna-se evi-
dente que as chaves do reino sao usadas pelo ministerio inteiro da
igreja conquanto seja fiel ao evangelho. Ao admitir alguem no qua-
dro de membros, os oficiais estao comprovando que aqueles que
sao admitidos, se sua profissao de fe e genufna, entraram verda-
deiramente no Corpo de Cristo e no Reino dos Ceus. E assim as
chaves sao cruciais e essenciais. E exatamente assim como os ofi¬
ciais devem estar interessados acerca da realidade da fe daqueles
que sao admitidos ao quadro de membros da igreja, exatamente
tambem e certo que toda reuniao de conselho deve estar propen-
sa a usar as chaves de maneira apropriada ao admitir pessoas no
rol de membros, procurando descobrir se a confissao e genufna,
sincera, se ha entendimento das verdades, e se a vida nao contra-
diz tudo isso, isto e, se ela e digna de credito. Semelhantemente,

M
George Knight III

e pela mesma razao, se a confissao se torna aquem da credibilidade


devido a algum pecado persistente, impenitente, a forma de aÿao
analoga e correspondente deve ser tomada, ou seja, a excomunhao.
Cristo aguarda nosso uso das chaves pelo desligar e pelo ligar.
A Base e o Dever do Exercfcio da Disciplina
Alguem pode dizer: “Como os presbfteros podem dizer as
pessoas que elas estao presas aos seus pecados? Como os
presbfteros podem dizer-lhes que elas nao estao no Reino?”. Eles
podem dize-lo com base na autoridade da Palavra de Deus. Nosso
Senhor Jesus Cristo diz na Bfblia que os homens estao perdidos, e
que continuarao perdidos, se nao confiarem nEle. Ele tambem diz
no Sermao do Monte que, mesmo que alguem venha a dizer-lhe
“Senhor, Senhor", a menos que faÿa a “vontade de meu Pai que
esta nos ceus", Ele Ihe dira “Nunca vos conheci”, e essa pessoa nao
entrara no reino dos ceus. Jesus trata a manifestaÿao externa da
vida de uma pessoa exatamente como Jesus e os apostolos pedem
que faÿamos na disciplina na igreja.
E esse e o nosso dever. Na disciplina da igreja, nao e nosso
dever tratar com os sentimentos interiores ou com a submissao
interna e secreta do coraÿao; apenas Deus pode fazer isto. Somos
ordenados a tratar ou com palavras de repudio ao evangelho (“Eu
nao creio mais nisto”) ou com uma vida que manifeste rejei<;ao. A
aÿao dos presbfteros, havendo possibilidade da disciplina prosse-
guir ate a excomunhao, ou trara a pessoa ao arrependimento e a
restauraÿao, ou sera urn ato que provara ser permanente. Nos nao
devemos tecer avaliaÿoes quanto as questoes da eleiÿao e perse-
veranda. A disciplina esta inserida no piano de Deus, e nos deixa-
mos com Ele o desfecho. Nos temos apenas que agir de acordo
com aquilo que evisfvel e descoberto e pelo qual somos responsa-
veis.
Desta forma, resumindo, se trouxermos as palavras de Joao
20:23 e as colocarmos ao lado das palavras de Mateus 16 e 18,
podemos dizer que as chaves do reino incluem ambos: tanto o
abrir do reino atraves da pregaÿao do evangelho e admissao na
comunhao da igreja, como tambem a exclusao do reino pelo fe-

85
Disciplinei Biblica: 0 Que Signified e Como Aplica-la

char da porta a pecadores impenitentes que jamais abraÿaram a


Cristo, ou a exclusao daqueles que persistem em seus pecados,
nao se arrependendo e vivendo uma vida que, por suas palavras
ou fa<;anhas, mostra que eles, durante este periodo de impenitencia
persistente pelo menos, nao estao vivendo a profissao de fe que
eles declararam (ver novamente Mateus 7:21-23).
As Chaves no Livro de Atos
Nos podemos ver as chaves sendo usadas na propria pri-
meira proclamagao do evangelho feita pelos apostolos no livro
de Atos. Em Atos 2:41, nos lemos: “Entao os que Ihe aceitaram a
palavra foram batizados; havendo um acrescimo naquele dia de qua-
se tres mil pessoas". Eles foram acrescentados a membresia e a
comunidade dos crentes ao receberem o ritual de iniciaÿao do
batismo, e ao serem arrolados e incluidos no rol de membros,
que era um rol de membros que fazia uma delineaÿao entre
aqueles que estavam dentro da comunhao e aqueles sem a co¬
munhao.
Entao continuamos lendo: “Eperseveravam na doutrina dos apos¬
tolos e na comunhao, no partir do pao e nas oragoes" (v. 42). Assim,
eles exerceram como uma de suas primeiras a<;oes o uso das cha¬
ves do reino, ao pregarem essa mensagem naquele dia, aplicando
o sinal do reino/do pacto aos que obedeciam, e ao acrescenta-los
ou admiti-los a comunhao do povo de Deus.
A Igreja Atual, Realmente Possui as Chaves?
Ora, o que precisamos inquirir a seguir, me parece, e: a auto-
ridade e o uso das chaves se estende alem de Pedro e dos aposto¬
los a igreja, e continua ate o final dos tempos? Deixe-me salientar
varias consideraÿoes que apontam para a continuagao. Esta impli-
cito nas palavras de Mateus 16:18: “Edificarei a minha igreja, e as
portas do inferno nao prevalecerao contra ela”. Obviamente, quando
nosso Senhor fala de edificar Sua igreja e as portas do inferno nao
prevalecerem contra ela, Ele nao esta falando apenas de uma igre¬
ja do primeiro seculo quando os apostolos ainda estavam presen-
tes. Ele esta falando sobre uma igreja que esta em andamento na
qual os apostolos nao estao mais vivos ou presentes. E, por isso,
86
George Knight III

nos devemos corretamente presumir que o dom das chaves a igre-


ja tambem ainda continua.
Isto tambem esta imph'cito na linguagem de Mateus 18. 0
que Jesus diz em Mateus 18, Ele diz como regra geral, sem qual-
quer limitaÿao necessaria aos apostolos. “Se teu irmao fizer isto”
(nao “se teu irmao fizer isto no periodo apostolico”) “faÿa assim e
assim”, e “se ele nao der atenÿao, aqui esta outra coisa para voce
fazer”, e “se isso nao funcionar, aqui esta outra coisa para voce
fazer — voc£ dira a igreja e entao a igreja em ultimo caso fara
isso”. Nao ha nenhuma delimitaÿao aos apostolos. E Cristo estabe-
lecendo a planta, o fundamento, de como os cristaos e a igreja
devem agir.
E sendo assim, nos nao devemos presumir por nossa propria
conta que essas chaves se restringem aos apostolos ou a epoca
dos apostolos. E verdade que as chaves podem ser mal usadas.
Mas isto nao significa que, em reaq:ao ao mau uso das chaves, nos
nao devamos usa-las. Se formos jogar fora tiido que e feito mau
uso, nao vamos ficar com muita coisa do Novo Testamento. Pode-
se fazer mau uso do batismo, da ceia do Senhor, da ora<;ao, dons,
culto, etc. Esta e exatamente a nossa tendencia como pecadores.
Mas nao devemos deixar que isso impecja nossa obediencia aquilo
que Jesus diz a igreja para fazer.
Ora, voce pode dizer: “Estou meio preocupado com este en-
sino porque ele quer dizer que posso vir estar envolvido no exercf-
cio da disciplina, em alguma ocasiao”. Sim, este nao e urn ensino
facil de se colocar em pratica. De fato, pode ser urn dos mais difi-
ceis. E pode haver repercussoes mesmo quando exercida pelos
mais capazes dos lideres. Ate Calvino foi expulso de Genebra. Mas
lembre-se tambem que ele foi convidado a voltar, pois reconhece-
ram que o modelo bfblico dele era melhor que o receio que senti-
am. Nao estou sugerindo que todos voces precisam imitar Calvino
em algum momento de seus ministerios para que assim fique de-
monstrada sua fidelidade ao nosso Senhor. Havia outros fatores
acontecendo pelos quais Calvino nao foi responsavel. Ele nao sus-
citou aquela situaÿao.

8Z
Disciplina Biblica: 0 Que Signified e Como Aplic6-la

Como Disciplinar — Os Passos Prescritos porJesus


Como entao devemos executar a disciplina e usar as chaves
do reino? Vamos a Mateus 18. Aqui nosso Senhor nos ensina como
devemos fazer isso. E isto e de forma gradual, urn metodo passo a
passo no qual procuramos tratar com o pecado no seu nfvel mais
vil e ficamos contentes sempre que houver arrependimento e mu-
danÿa sem importar qual seja a demora. Nao e obrigatorio que a
disciplina seja feita por uma reuniao judicial do conselho. 0 con-
selho tern sempre a responsabilidade de fazer isso, se preciso for.
Mas lembre-se que nosso Senhor comeÿa Seu ensino em Mateus
18:15 dizendo a todo irmao e irma crista que, se alguem pecou
contra voce, e sua responsabilidade ministrar a essa pessoa.
Isto nao significa que urn cristao deve reter todo desrespeito
e ofensa e criar caso por isso. HS vezes em que o amor cobre mul-
tidao de pecados; nos devemos sempre perdoar, sustentar e su-
portar. Mas se ha algo que precisa ser falado com a pessoa, e da
responsabilidade crista como individuo faze-lo. E essa atitude por
parte de urn indivfduo e parte integrante da disciplina na igreja.
Este e urn aspecto de como ministramos uns aos outros, nos im-
portamos e amamos uns aos outros, e interagimos uns com os
outros.
Nosso Senhor dispoe os passos a serem seguidos: primeiro,
pessoa a pessoa; segundo, com dois ou tres outros; terceiro, le-
vando a igreja; e, finalmente, a igreja, nao sendo bem sucedida na
primeira instancia, tratara com a pessoa e com o pecado atraves
dos presbfteros (implfcito na expressao “duas ou tres testemunhas”
e revelado em passagens posteriores no Novo Testamento). Se o
conselho decidir pela “excomunhao”, isto e, expulsar essa pessoa
da igreja e trata-la como estranha, entao a congregaqiao deve ser
informada, pois nosso Senhor esta se dirigindo a todo o povo de
Deus quando diz: “considera-o comogentio e publicano" (Mt 18:17).
Estes sao os passos que nosso Senhor prescreve para tratar-
mos com os pecados pessoais e privados, pois Ele quer tratar com
a disciplina crista em sua forma mais elementar. Ele nao nos apre-
senta apenas o pior cenario. Ele nos apresenta urn cenario sim-


George Knight III

Como Disciplinar — 0 Arrependimento e a Restauragao


Ao (Tatar com arrependimento, o conselho tem o direito de
fazer a mesma coisa que Joao Batista fez e disse antes de restaurar
certa pessoa (cf. Mt 3:7-8). Alguem pode dizer: “Estou arrependi-
do"; mas o conselho pode entao dizer, como Joao Batista disse:
“Produzi, pois.fruto digno do arrependimento". Uma pessoa pode ter
se ausentado completamente da casa do Senhor, ele pode ter tra-
balhado no dia do Senhor, ele pode ter tido uma relagao ilfcita
com alguem, pode ter roubado — ha uma serie de coisas que al¬
guem pode ter feito. Alem disso, o conselho pode precisar encon-
trar meios criativos para se assegurar do arrependimento dessa
pessoa, meios que indiquem que ela nao ira novamente se envol-
ver ou considerar sobre tal pecado, assim como para mostrar indf-
cios de que ela realmente tem cessado, desistido de tal pecado e
nao o cometera novamente. Esta e a obra interna, sabia e apropri-
ada do conselho em uma situagao especffica.
Como, pois, o conselho vai ter sabedoria para fazer tudo isso
desde o infcio ate o fim? 0 conselho tera sabedoria para executar
a disciplina na igreja pelo fato de que eles nao estao agindo sozi-
nhos — pelo fato de que o Senhor e Rei da igreja prometeu em
Seus ultimos versfculos do texto de Mateus 18, nos versos 19 e 20:
“...ali estou no meio deles”. Ele dara a sabedoria, orientagao e per-
cepgao necessarias aos presbfteros alem de qualquer capacidade
humana. E eles precisam confiar nEle e crer nesta verdade porque,
humanamente falando, este e urn trabalho desesperador e ingra-
to. Isto e, humanamente falando, uma forma de afastar aquela
pessoa da igreja e perde-la para sempre — a menos que o Espfrito
de Deus esteja agindo. E e isto que demonstra o poder da discipli¬
na e a veracidade de seu carater espiritual.
Urn Exemplo PrStico
Deixe-me ilustrar com urn exemplo concreto no qual eu esti-
ve envolvido com o conselho da igreja ha algum tempo. Os
presbfteros, como indivfduos, em pequenos grupos, e finalmente
como urn corpo, procuraram tratar com uma pessoa obstinada.
Esses contatos produziram algumas palavras afiadas da parte da

22
Discipline! Biblica: 0 Que Signified e Coma Aplica-la

Ao dizer que esta instruÿao dejesus em seus estagios iniciais


e para pecados privados, nao quero dar a impressao que em toda
situagao o conselho deva imediatamente chamar a pessoa e trata-
la oficialmente. Ha ocasioes em que pode ser necessario ser sabio
e prudente —
e esta pode ser uma necessidade por causa de ou-
tras consideragoes. Mas, vemos, comparando esta passagem a Tito
3:10-11, que uma abordagem de tres passos e utilizada no caso de
um pecado publico. “Evita o homem faccioso (herege) depots de
admoesta-lo primeira e segunda vez, pois sabes que tal pessoa esta per-
vertida e vive pecartdo, e por si mesma esta condenada". Observe a
analogia em Mateus 18: advirta-o uma vez, advirta-o uma segunda
vez, e afinal, “evita-o” —
nao ha mais nada a fazer com ele. Mas
perceba que, embora haja duas advertencias e depois a a<;ao, eles
nao sao exatamente os mesmos tres passos encontrados em Mateus
18. Por isso, nao devemos tomar como absolutos os passos de
Mateus 18 porque, se o fizermos, nos estaremos em desacordo
com o proposito de Jesus, e tambem culparemos as atitudes dos
apostolos em outras partes do registro bfblico como um todo, tal
como I Cormtios 5 e mesmo o trecho similar, mas com diferenÿas,
Tito 3:10-11 (cf. tambem Galatas 2:11-14).
0 mesmo e verdadeiro para outras ocasioes onde Paulo re-
preende ou adverte em suas cartas acerca de certos indivfduos.
Nao parece que primeiro ele os procurou privadamente, pois o
pecado deles era publico, isto e, um grande erro explicito e grave;
e a pecaminosidade explicita e impenitente — tais como Himeneu,
Alexandre e Fileto (I Timoteo 1:20 e 2 Timoteo 2:17-18).
A expressao de Mateus 18, “ten irmao pecar contra ti”, e o fato
de que ha casos em que os apostolos nao seguem este esquema,
juntos nos ensinam que este e um modelo geral, ordenado na ver-
dade para pecados privados e pessoais, um modelo para ser segui-
do com sensatez em muitas situates, mas nao um modelo abso¬
lute a ser seguido no caso de pecados publicos.
Como Disciplinar — A Responsabiltdade da Exclusao.
Agora vamos as palavras que concluem Mateus 18:15-17 e
aprendamos dejesus no versol7. Antes de tudo, observe que nos-

9Q
George Knight III

so Senhor e quern fala de excomunhao. Ele diz: “Se e/e recusar ouvir
tambem a igreja, considera-o como gentio e publicano". 0 que Ele quer
dizer com isto? Trata-lo como estranho a comunidade crista, que
e como os crentes judeus entenderiam, ja que esta era a forma
que eles tratariam gentios e publicanos. Nao devfamos titubear
por causa do pensamento vago que diz: “Jesus comeu com essas
pessoas, logo Ele quer nos falar que devemos ser mais simpaticos
com eles que com os membros da igreja”. Fazer esta comparaÿao
e forÿar o termo alem do seu contexto. Ele nao quer dizer que
devemos ter a atitude de hostilidade e superioridade as vezes re-
presentada pelos judeus, o que Ele quer e comunicar a diferenÿa
da relagao. Paulo repetira esse mesmo ensino de Jesus quando diz
que os corintios nao deviam se associar com urn irmao persistente
no pecado e “com esse tal nem ainda comais” (I Corintios 5:9-13). E
nosso Senhor quern nos diz que devemos de uma vez por todas
tomar essa atitude final quando alguem “se recusar ouvir tambem a
igreja” (Mt 18:17).
Qual a base para tomarmos essa atitude? A primeira parte da
base para esta atitude e o pecado a ser tratado. Observe que nos¬
so Senhor nao define, ou delimita, ou restringe o pecado. Logo,
nao podemos fazer uma lista restrita de pecados com os quais
trataremos, pois nosso Senhor nao faz isso. E verdade que alguns
pecados sao mais flagrantes, mais publicos, mais notorios, e de-
vem ser tratados justamente por causa do seu dano para os outros
na igreja. Nao estou tentando negar isso. Mas temos que ter cui-
dado em nao fazer nossa propria lista — sejam pecados sexuais,
ou de nao se submeter ou hostilizar o conselho ou o pastor, ou
discordias, ou de qualquer outra categoria. Jesus falou de pecado
simplesmente: “Se teu irmao pecar contra ti...”. Ele nao diz “deste
jeito, daquele ou daquele outro”, e, por isso, se vamos seguir o
ensino de Jesus, nao devemos estabelecer nenhum limite na for¬
ma como Ele distingue que devemos lidar uns com os outros. Isso
nao quer dizer que vamos nos tornar urn grupo de pessoas que
vive procurando os pecados dos outros para podermos corrigir
suas faltas. Urn crente deve sempre exercer muita discriÿao, reser-
va, e temperanÿa ao lidar com os outros; mas nao podemos dizer

91
Discipline Biblico: 0 Que Significo e Como Aplica-la

que um pecado esta isento do ensino de Jesus visto que nao se


insere numa categoria especial.
E referindo-se genericamente a um pecado, impenitente, que
Jesus diz que a pessoa deve ser tirada do meio da igreja. Aqui o
segundo ponto da base deve ser sublinhado. Na expressao do tex-
to, a pessoa persistente e repetidamente se recusa “a ouvir”. Ela
nao os ouvira alertS-la acerca da sua “culpa” ou pecado, que se
arrependa. Ela se “recusa” a “ouvir”.
Que atitude deve ser tomada? Nosso Senhor demonstra que
a pessoa deve ser posta para fora da igreja. Mas como seres huma-
nos podem ter o direito e a autoridade para colocar alguem para
fora da igreja de Cristo? Bern, sejam motivados pelos fatores
encorajadores dados nesta passagem. Jesus Cristo, o Senhor da
Igreja, ordena a Sua igreja que tome esta atitude. Este e um man-
damento Seu e temos que obedecer. Esta atitude deve ser tomada
simples e exclusivamente pelo fato de que a pessoa nao se arre-
pendera e persiste em seu pecado ou em defende-lo. E um grande
alfvio, pois, conforme as palavras em Tito 3:10, isso significa que
essa pessoa “porsi mesma esta condenada”. Em outras palavras, nao
e obriga<;ao do conselho, em ultima analise, fazer caso do quanto
o pecado e notorio. A questao e se a pessoa vai ouvir a admoesta-
<;ao de Cristo e Sua igreja e se arrepender, ou se ira persistir em
seu pecado e/ou justificar a retidao da atitude que ela tomou.
E esta a consideragao com a qual devemos lidar quando so-
mos levados a um caso de excomunhao. A pessoa com a qual esta-
mos tratando e uma pessoa que se arrepende e procura o perdao
de Deus, ou e alguem que esta determinada a viver como uma
pessoa que nao ira se arrepender? E do cardter do cristianismo
que nos somos um povo que se arrepende, e e uma contradiÿao do
cristianismo que uma pessoa diga que pode viver em pecado sem
se arrepender, sem confessar, voltando a pecar novamente. Se essa
pessoa se arrepender, nos devemos perdoa-la e restaura-la. Mas o
que vai determinar se a igreja enfim decide acerca da excomunhao,
de acordo com o proprio ensino de Jesus, e se a pessoa ira dar
atengao e ouvira o apelo para que se arrependa e mude.

92
George Knight III

Como Disciplinar — 0 Arrependimento e a Restauragao


Ao (Tatar com arrependimento, o conselho tem o direito de
fazer a mesma coisa que Joao Batista fez e disse antes de restaurar
certa pessoa (cf. Mt 3:7-8). Alguem pode dizer: “Estou arrependi-
do"; mas o conselho pode entao dizer, como Joao Batista disse:
“Produzi, pois.fruto digno do arrependimento". Uma pessoa pode ter
se ausentado completamente da casa do Senhor, ele pode ter tra-
balhado no dia do Senhor, ele pode ter tido uma relagao ilfcita
com alguem, pode ter roubado — ha uma serie de coisas que al¬
guem pode ter feito. Alem disso, o conselho pode precisar encon-
trar meios criativos para se assegurar do arrependimento dessa
pessoa, meios que indiquem que ela nao ira novamente se envol-
ver ou considerar sobre tal pecado, assim como para mostrar indf-
cios de que ela realmente tem cessado, desistido de tal pecado e
nao o cometera novamente. Esta e a obra interna, sabia e apropri-
ada do conselho em uma situagao especffica.
Como, pois, o conselho vai ter sabedoria para fazer tudo isso
desde o infcio ate o fim? 0 conselho tera sabedoria para executar
a disciplina na igreja pelo fato de que eles nao estao agindo sozi-
nhos — pelo fato de que o Senhor e Rei da igreja prometeu em
Seus ultimos versfculos do texto de Mateus 18, nos versos 19 e 20:
“...ali estou no meio deles”. Ele dara a sabedoria, orientagao e per-
cepgao necessarias aos presbfteros alem de qualquer capacidade
humana. E eles precisam confiar nEle e crer nesta verdade porque,
humanamente falando, este e urn trabalho desesperador e ingra-
to. Isto e, humanamente falando, uma forma de afastar aquela
pessoa da igreja e perde-la para sempre — a menos que o Espfrito
de Deus esteja agindo. E e isto que demonstra o poder da discipli¬
na e a veracidade de seu carater espiritual.
Urn Exemplo PrStico
Deixe-me ilustrar com urn exemplo concreto no qual eu esti-
ve envolvido com o conselho da igreja ha algum tempo. Os
presbfteros, como indivfduos, em pequenos grupos, e finalmente
como urn corpo, procuraram tratar com uma pessoa obstinada.
Esses contatos produziram algumas palavras afiadas da parte da

22
Disciplina Biblica: 0 Que Signified e Como Aplica-la

pessoa e ela tentou fugir de nos e nao queria nada conosco. Na


verdade nos queria fora de sua vida. Nos persistimos porque a
amavamos e estavamos preocupados com ela. Na hora apropriada,
nos a intimamos a comparecer perante o conselho. Achamo-la cul-
pada e a repreendemos, e pedimos a congregaÿao que orasse pelo
seu arrependimento e restauraqiao. E ela se arrependeu.
No decorrer da questao, parecia que era urn caso absoluta-
mente sem esperanÿa no qual nao viamos nenhum bom resultado.
Mas aqueles momentos de duvida foram dias de desconfian<;a, sim,
beirando a incredulidade, acerca do modo prescrito por Cristo para
se alcan<;ar urn pecador obstinado. Entao encorajamo-nos uns aos
outros a crermos no Senhor e em Sua Palavra. E isso aconteceu.
Aconteceu unicamente porque a promessa de Mateus 18:19-20 foi
cumprida em nosso meio. E sera cumprida no meio de voces, tam-
bem. Eu nao estou lhes dizendo que o desfecho e sempre arrepen¬
dimento e restauraÿao. Lembrem que ate mesmo no tratamento
de nosso Senhor diretamente com os homens, Pedro foi restaura-
do ejudas nao, e que tambem Demas abandonou Paulo. Nos preci-
samos agir com credulidade, e deixar o resultado nas maos de
Deus. Nos nao somos responsaveis pelo desfecho. A nossa respon-
sabilidade e como nos conduziremos em obediencia ao nosso Se¬
nhor Jesus Cristo. Nos manuseamos a disciplina na igreja com fide-
lidade a Palavra de Deus e com uma atitude e relacionamento ade-
quados, para com nosso Senhor, para com os outros, para com a
igreja, e para com a pessoa?
Os Encorajamentos Para o Exercfcio da Disciplina
Agora, deixem-me apenas ampliar isto fornecendo-lhes aqui
tres coisas para lembrar. Quais sao os encorajamentos para a disci¬
plina? Eles sao triplos. Agora precisamos apenas de um. Vou dar-
lhes este primeiro. Disciplina e mandamento explfcito de Cristo.
Este e o primeiro encorajamento de nosso amoroso Senhor.
Segundo, a promessa de que a disciplina e significativa e efi-
caz. Ora, o que quero dizer com isto? Ou<;am o modo como nosso
Senhor nos diz estas palavras: “...tudo o que ligardes na terra, tera
sido ligado no ceu, e tudo o que desligardes na terra, tera sido desligado

94
George Knight III

ro, 2 Co 2:2: “Porque, se eu vos entristeÿo, quern me alegrard, senao


aquele que esta entristecido por mim mesmo? E isto escrevi para que,
quandofor, nao tenha tristeza da parte daqueles que deveriam alegrar-
me; confiando em todos vos de que a rninha alegria e tambem a vossa.
Porque no meio de muitos sofrimentos e angustias de corafao vos escre¬
vi, com muitas lagrimas, nao para que ficasseis entristecidos, mas para
que conhecesseis o amor que vos consagro em grande medida.” Nos nao
sabemos se ele esta se referindo a esse episodio de 1 Cormtios 5
ou algum outro caso. Isso nao faz diferen<;a no nosso entendimen-
to do que ele diz aqui. Aqui voce ve a agonia e comoÿao envolvi-
das em ter que contender com eles, persuadi-los, em ter que
repreende-los e corrigi-los. E, entao, ele continua: “Ora, se alguem
causou tristeza nao o fez apenas a mim, mas, para que eu nao seja
demasiadamente dspero, digo que em parte a todos vos; basta-lhe a pu-
ni0o pela maioria. De inodo que deveis, pelo contrario, perdoar-Jhe e
conforta-lo, para que nao seja o mesmo consumido por excessiva triste¬
za. Pelo que vos rogo que confirmeis para com e/e o vosso amor. Efoi por
isso tambein que vos escrevi, para terprova de que em tudo sois obedien-
tes. A quern perdoais alguma coisa, tambem eu perdoo; porque defato o
que tenho perdoado, se alguma coisa tenho perdoado, por causa de vos o
fiz na present de Cristo; para que Satanas nao alcance vantagem sobre
nos, pois nao Ihe ignoramos os desfgnios” (versos 5-11). Nao vamos
repetir aquilo que ja vimos nesta passagem: puniÿao pela maioria,
restauraÿao, amor, etc. Ele tambem nos lembra que precisamos
rapidamente restaurar, a fim de nao perdermos na interagao com
Satanas. Veja isto. Verso 7: “De modo que deveis, pelo contrario, per-
doar-lhe e conforta-\o, para que nao seja o mesmo consumido por exces¬
siva tristeza". E veja a ultima parte do verso 10: "...se alguma coisa
tenho perdoado, por causa de vos o fiz na present de Cristo; para que
Satanas nao alcance vantagem sobre nos, pois nao Ihe ignoramos os
desfgnios”.
Entenda a que oportunidade Paulo se refere. A pessoa vem a
arrepender-se com tristeza genuma. E depois ele encontra um con-
selho ou uma igreja dizendo: “Nao, nao estamos dispostos a aceita-
lo de volta”. E compreensivel que um conselho ou uma igreja pos-
sa cogitar se o arrependimento e verdadeiro, e, claro, isso deveria

115
Disciplina Biblica: 0 Que Signified e Como Aplic6-la

na na igreja a qual o apostolo teve que argumentar com eles, su-


plicar-Ihes e tentar influencia-los a fim de que a cumprissem. Ape-
nas uma maioria, imagine vocS. Mas foi eficaz.
Portanto, a disciplina biblica na igreja sera sempre importan-
te e significativa, qualquer que seja o resultado. E ha sempre duas
possibilidades. Uma: vergonha, arrependimento e restauraÿao; e a
outra: persistence no pecado. Mas ate mesmo este ultimo resulta¬
do como consequencia da disciplina e valido, pois remove o leve-
do que leveda a massa. Ela tern conservado o nome de Cristo ar-
rastado pela lama, a igreja desonrada e alojado hipocritas! Em
ambos os resultados, a disciplina foi eficaz. Nos deixamos qual
seja o resultado para o Soberano Senhor e Seu Espfrito gracioso.
E o terceiro encorajamento e a promessa explicita de Jesus
de que Ele estara com a igreja nessas ocasioes de disciplina quan-
do o invocarem (Mt 18:20).
0 Tratamento da Confissao de Fe
Sumarizemos, pois, nosso progresso utilizando novamente a
declaraÿao resumida da Confissao de Fe de Westminster, capftulo
XXX, seÿao 11: “A esses oficiais sao confiadas as chaves do reino
dos ceus...”. Observe que a Confissao diz que as chaves sao confi¬
adas aos oficiais, nao apenas aos apostolos: “...Em virtude disso,
eles tern, respectivamente, o poder de reter e remir pecados...”.
Observe que a Confissao usa palavras analogas as palavras dejoao
20 e Mateus 18 (as de joao sao “nao perdoar” e “perdoar" — e as
de Mateus sao “ligar” e “desligar”) para indicar que as chaves sao:
reter e remir, isto e, os pecados. A Confissao declara o significado
das chaves em duas categorias porque as chaves mesmas foram
estabelecidas em duas categorias. Entao, segundo a Confissao, reter
pecados implica em que? “...fechar o reino aos impenitentes, tan-
to por meio da Palavra quanto por meio das censuras...”. Observe
que a Confissao segue a ordem de nosso Senhor em Mateus 18 e,
por isso, eles colocaram o ligar e fechar em primeiro.
Depois a Confissao recomeÿa pelo outro lado, o do remir
pecados: “...de abri-lo aos pecadores penitentes, pelo ministerio
do evangelho” (esta e a obra primordial da pregaÿao do evangelho
26
George Knight III

e de se trazer pessoas a comunhao da igreja) “e pela absolviÿao


das censuras, quando as circunstancias o exigirem” (quando a pes-
soa disciplinada se arrepende, o reino que e manifestado na igreja
e aberto a essa pessoa e e declarado que as censuras acabaram).
Assim, o uso das chaves inclui ambos os aspectos, e particular-
mente quando a disciplina foi aplicada e o arrependimento e ma¬
nifestado.
A Confissao de Westminster refere-se a censuras. 0 que sao
elas, e a que elas se propoem? A Confissao resume o ensino bfbli-
co nesta questao no capftulo XXX, seÿao III:
As censuras eclesiasticas sao necessarias para apelar aos irmaos
transgressores e reconquista-los, para dissuadir outros de pratica-
rem transgressoes semelhantes; para purgar daquele fermento que
poderia contaminar a massa inteira; para vindicar a honra de Cris-
to e a santa profissao do evangelho; e para evitar a ira de Deus,
que poderia com justa razao cair sobre a Igreja, se ela permitisse
que Seu pacto e Seus selosfossem profanados por transgressores
notorios e obstinados.
Com alguma modificaÿao na ordem e urn pouco de expan-
sao, estarei seguindo esta declaraÿao da Confissao como modelo
para nossa apresentaÿao no restante do texto. Como podemos
discernir ao analisarmos a declaraqiao da Confissao, ha tres pesso¬
as ou grupos de pessoas em vista, por quern deveriamos nos inte-
ressar ao implementarmos a disciplina na igreja.
O Transgressor — Punigao
Antes de tudo, ha o transgressor. Observe onde comeÿa a
Confissao: “...para apelar aos irmaos transgressores e reconquista-
los”. Eu quero lembrar a voces que, ao tratarmos com o transgressor,
na verdade nos punimos o transgressor; e assim o fazemos a fim
de traze-lo ao arrependimento e, assim sendo, a restauraÿao; mas,
se nao, para que ele seja exclufdo. Agora, eu admito que, quando
usamos a palavra puniÿao, nos temos que usa-la com muito cuida-
do. Ha pessoas que argumentam que, porque Cristo carregou to-
dos os nossos pecados, nao podemos nunca mais ser punidos.
Agora Deus apenas nos tratara de forma diferente. E, claro, isto e

97
Disciplina Biblica: 0 Que Signified e Como Aplic6-la

verdade no sentido absoluto, que nao havera nenhuma punigao


para nos na vida apos a morte. Contudo, eu nao acredito que isto
seja verdade no sentido temporal. Tome o caso classico de Davi.
Mesmo depois que ele ja havia se arrependido de seus pecados, e
Nata lhe dissera que seus pecados haviam sido perdoados, e ele
fora aceito por Deus, o que aconteceu? Foi-lhe dito que seu filho
morreria, como puniÿao, para mostrar de forma publica a comuni-
dade que Deus nao trata levianamente com o pecado de tal forma
flagrante. E, ainda assim, a graÿa de Deus e estendida pelo fato de
que Deus abenÿoa aquele casamento e traz, atraves desse casa-
mento, o Prometido. Isto e maravilhoso! E nao devemos esquecer
este aspecto.
Mas, se alguem ainda nao estiver satisfeito com este apelo ao
Antigo Testamento, escrito para nossa instruÿao, vamos rememorar
a expressao completa encontrada no Novo Testamento, a qual, com
sua terminologia, pode ser demonstrado que seja a mais persuasi-
va. A passagem e 2 Cormtios, capftulo 2, verso 6: “Basta-lhe a puni-
gao pela maioria". Aqui vemos Paulo usando a palavra “puniÿao” em
conexao com uma disciplina imposta sobre urn transgressor pela
maioria. Portanto, uma palavra usada para descrever a disciplina na
igreja no Novo Testamento e uma palavra que deverfamos usar ao
reafirmarmos o ensino do Novo Testamento.
E por causa deste tipo de expressao, e tambem por causa da
atitude do Senhor com relaÿao a Davi, que alguns livros
presbiterianos sobre disciplina tern indicado que, particularmente
no caso de urn ministro, mesmo quando ele se arrepende e e de-
clarado seu perdao pelo presbiterio, certa censura pode ainda ser
pronunciada. Isto nao quer dizer que deve ser feito em toda situa-
<;ao, mas e uma opÿao aberta ao presbiterio ou outra autoridade
de modo que possa ser evidente aos olhos do mundo, como no
caso de Davi, que no perdao de Deus a urn pecador a dor e o
impacto do pecado nao sao ignorados.
O Transgressor — Perdao e Restaurafao
Quando lidamos com pecados de oficiais da igreja, temos
que fazer uma distinÿao entre perdao e restauraÿao a comunhao

2S
George Knight HI

do Corpo de Cristo, e restauraÿao ao officio na igreja, a qual requer


que o padrao que ele violou seja demonstrado a igreja de forma
clara e publica como sendo evidente na sua vida antes de retornar
ao officio. E absolutamente imperativo que a igreja observe esta
distinÿao bfblica importante. Tome, como exemplo, urn homem
que tenha problemas com a ira, que geralmente explode numa
reuniao de conselho, e pode ate querer brigar fisicamente. Ele sem-
pre diz: “Desculpem-me, por favor. Que coisa hornvel eu fiz ou
dissel". E nos sempre dizemos, como nosso Senhor nos ordena,
setenta vezes sete: “Voce esta perdoado”. Urn dia ele se recusa a
pedir desculpas, e em conseqiiencia, para resumir urn longo pro-
cesso, ele e suspenso do officio. Mas entao ele se abranda e diz:
“Me perdoem, por favor!’’. Nos devemos restaura-lo ao officio? A
questao nao e se ele se desculpa, se esta arrependido e e perdoa¬
do; a questao e: ele tern manifestado possuir a qualificaq:ao para
um presbftero que nao seja pugnaz? Seu arrependimento e per-
dao nao significam que ele agora manifesta a qualifica?ao(ÿoes)
que precisa(m) ser demonstrada(s) (cf. 1 Timoteo 5:22, 24, 25).
Estamos tratando com o primeiro dos tres grupos, pessoas,
ou grupos de pessoas envolvidos na disciplina da igreja, a saber, o
transgressor. E usamos a palavra “puniÿao” porque esta e a lingua-
gem do Novo Testamento. Claro, esta e uma outra forma de dizer
aquilo que a Confissao diz quando fala de censura. Geralmente, as
censuras sao aplicadas pelos presbfteros quando a pessoa ainda
nao esta arrependida. Esses presbfteros estao tentando, por meio
disso, despertar arrependimento, conduzindo a restauraÿao. Isto
deve estar firme na linha de frente do nosso raciocfnio: Nos quere-
mos provocar arrependimento e restauraÿao. E obvio, nos nao
podemos produzir arrependimento, mas esse e o nosso alvo —
que a pessoa possa ser trazida a Deus para arrependimento.
Este alvo e esta preocupaÿao sao claramente evidentes em
varias passagens. Em I Corfntios 5:5, o apostolo Paulo diz, rogan-
do a igreja que discipline a pessoa, “...entregue a Satanas para a
destruiÿao da came” (voltaremos a todas estas palavras e ao signifi-
cado delas), “a fim de que o espfrito seja salvo no dia do Senhor". E
claro que o apostolo tern em mente o desfecho final, a saber, que
29
Disciplinei Btblica: 0 Que Signified e Coma Aplica-la

o seu espi'rito seja salvo no dia do Senhor. Isto e o que nos sempre
queremos ter em mente, que ele seja retirado desta entrega ao
pecado e ao maligno, e seja restaurado, de modo que ele nao caira
em condena<;ao, que nao seja um dos que retrocedem, professe
ser crente e de fato nao o seja, mas seja um dos que abandonam
seu pecado e manifestam sua salvaÿao.
Vemos este zelo em 2 Corfntios 2, e tambdm a eficacia da
disciplina. “Basta-lhe a punigao pela maioria. De modo que deveis,
pelo contrario, perdoar-lhe e conforta-lo, para que nao seja o mesmo
consumido por excessiva tristeza. Pelo que vos rogo que confirmeis
para com ele o vosso amor" (vs. 6,7). Obviamente, este perdao,
conforto e confirmagao do amor e uma atitude de restauraÿao.
Observe bem os elementos envolvidos. Eles sao muito relevan-
tes. Ha o perdao genui'no, apesar da gravidade do pecado e
contra quern foi dirigido entre os seres humanos (tanto quanto
contra Deus). Todas essas partes, todas essas pessoas, devem
estar prontas para perdoar, confortar e conflrmar o amor. E muito
importante que entendamos este alvo e que estejamos preocu-
pados em tomar uma atitude publica de restauraÿao quando a
disciplina for eficaz, assim como e necessario anunciar publica-
mente, por exemplo, quando acontece um ato de excomunhao.
Como pastor na lgreja Presbiteriana Ortodoxa, tenho visto isto
acontecer e posso dizer-lhes que isto pode surtir o mais pro-
fundo efeito, nao apenas nas partes envolvidas, mas em toda a
congregaÿao.

Vemos tambem este mesmo cuidado em duas outras pas-


sagens. Em I Timoteo 1:20, mesmo quando Paulo esta tratan-
do com um dos mais terrfveis adversaries, ele tern esse cuida¬
do, apesar de tudo, ao dizer sobre eles: “£ dentre esses se con-
tam Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanas, para se-
.
rem castigados, a fim de nao mais blasfemarem” Ele nao quer
apenas advertir Timoteo e a igreja e tambem publicamente
reprova-los e, de fato, excomunga-los e dizer-lhes que eles
nao tern nenhum direito de oficiar ou ensinar, mas ele tam¬
bem quer que esta aÿao tenha um efeito eficaz — que eles
“nao mais blasfemem".
100
George Knight III

Finalmente, com relaÿao ao transgressor, temos as palavras


de 2 Tess 3:14: “Caso alguem nao preste obediincia a nossa palavra
dada poresta epi'stola, notai-o; nem vos associeis com de, para quefique
envergonhado". De que ele devia sentir vergonha? De seu pecado, e
sua conseqiiencia, a saber, ser exclufdo da comunhao do povo de
Deus. Se a igreja falha em disciplinar urn pecador impenitente,
este nao ira experimentar a aÿao disciplinar que Deus ordenou
para produzir resultado. Ele pode, portanto, nao se arrepender, e
pode, portanto, nao ser readmitido na comunhao de Deus e de
Seu povo. E responsabilidade da igreja fazer com que ele sinta
essa vergonha, a vergonha no nfvel horizontal de ser exclufdo da
comunhao do povo de Deus de modo que ele possa ser levado a
vergonha no nfvel vertical e ser envergonhado de seu pecado di-
ante de Deus. Para usar a linguagem da Confissao, a censura e
“necessaria” para alcan<;ar este fim.
A Igreja Preservada — Dissuadindo Outros de Pecarem
0 segundo assunto que e objeto de atenÿao na disciplina
eclesiastica e a igreja. Isto e expresso de varias formas diferentes
na Confissao (Capftulo XX, seÿao III). Ela declara que “censuras sao
necessarias" “para dissuadir outros”, “para purgar daquele fermento
que poderia contaminar a massa inteira” e “para evitar a ira de
Deus, que poderia com justa razao cair sobre a igreja”. Este dissu¬
adir, purgar e evitar referem-se, claro, a igreja. Em nossa analise do
zelo pela igreja, n6s vamos utilizar as tres categorias afirmadas na
Confissao e uma quarta implfcita no capftulo como urn todo, e
especialmente na palavra "necessarias": (1) dissuadir outros, (2)
remover o fermento que contamina, (3) evitar a ira de Deus, e (4)
manifestar obediencia e cresCimento espiritual. A disciplina na igre¬
ja tern interesse nestas quatro coisas com relaÿao a igreja.
Em primeiro lugar, existe a necessidade de dissuadir outros.
0 texto primordial e I Timoteo 5:20: “Quanto aos que vivem no peca¬
do, repreende-os na presenga de todos, para que tambem os demais te-
mam". Paulo afirma que a repreensao pdblica deve ter o efeito de
fazer os outros terem temor. Como e que eles devem ter temor?
Tanto eles devem ter temor para nao cafrem no mesmo pecado ou

1Q1
Disciplinei Biblica: 0 Que Signified e Coma Aplicti-la

em algum outro similar como tambem devem temer que, se eles


cafrem em pecado, receberao o mesmo tipo de repreensao publi-
ca. Desse modo, eles sao contidos e dissuadidos pela natureza
publica da disciplina e sua repreensao. Aqui as Escrituras indicam
que a punigao ou a repreensao tern seu efeito dissuasivo, embora
haja algumas pessoas que gostem de nos ensinar que isto nao e
verdade.
A Igreja Preservada — Removendo o Fermento da Massa
Vamos a categoria da remogao do fermento que contamina
(esta questao e a de dissuadir outros sao muito similares, claro).
Aprendemos sobre isto em 1 Corfntios 5, onde urn homem e culpa-
do do pecado de “imoralidade” no qual ele “possui a mulher de seu
proprio pai" (v. 1). A igreja de Corinto nao retirou este homem de
seu meio conforme o ensino de nosso Senhor Jesus Cristo (Mt 18)
requeria (1 Co 5:2). Paulo adverte-os severamente e encarrega-os
de exercer essa disciplina e sua censura imediatamente (vs. 3-5).
Entao ele da como motivo, alem daquele cuidado pelo homem,
sua preocupagao pela igreja, de ela vir a ser contaminada por esse
pecado. "Nao e boa a vossa jactancia. Nao sabeis que um pouco de
fermento leveda a massa toda? Lant;ai fora o velho fermento, para que
sejais nova massa, como sois defato, sem fermento. Pois tambem Cristo,
nosso Cordeiro pascal, foi imolado. Por isso celebremos afesta, nao com
o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malicia; e, sim,
com os asmos da sinceridade e da verdade" (vs 6-8). (0 contra-argu-
mento que sempre sera feito e este: Nao devfamos estar discipli-
nando esta pessoa; nos devfamos estar mostrando maior amor e
afeto por ela. Nos devfamos estar colocando nossos bragos ao seu
redor, e acolhendo-a. Ora, evidentemente, o problema com esse
tipo de objegoes e que elas soam uma meia-verdade. Este e nor-
malmente o problema com as objegoes ao ensino bfblico. Claro
que devfamos ama-la e nos importar com ela. Mas nao e isto o que
Paulo esta fazendo?)
Paulo usa a figura do fermento, mas nos podfamos usar a
figura do apodrecimento em um saco de batatas. La no meio esta
uma batata que esta apodrecendo. Agora suponha que eu diga,

102
George Knight 111

com franqueza, a congregaÿao: “Nao tirem essa batata. Ponham


mais batatas boas junto dela, e isto ajudara a batata ruim. Com
certeza, o verme saira”. Qualquer pessoa saberia que este e urn
conselho ruim e que nao funcionaria. Esta e a figura que esta sen-
do transmitida por Paulo ao usar o fermento. Se ele nao for remo-
vido, ele comeÿara a influenciar os outros, contaminando toda a
massa. Se for deixado dentro, isto tera sua influencia em aprovar
outras agoes similares e em produzir uma visao menor do pecado,
permitira que outros raciocinem acerca do pecado (“Ele nao pode
ser muito prejudicial para nossa vida, pois nao tern nenhum im-
pacto espiritual em nos e em nossas relates com os outros e com
o nosso Senhor; ele nao compromete a veracidade — ou poe em

questao , a veracidade de nossa fe crista, se somos ou nao de
fato perseverantes e, portanto, se estamos verdadeiramente entre
os eleitos de Deus e se verdadeiramente somos salvos”). Pense
apenas no que pode estar acontecendo, tanto nessa igreja de
Corinto como em nossas proprias igrejas, quando uma situaÿao
assim acontece e, sentados numa fila atras estao dois adolescen-
tes, ou dois solteiros que gostariam, talvez, de viver juntos sem
ser casados, ou ter alguma relagao sexual. E eles assistem ao que a
igreja faz neste caso patente de infidelidade sexual. Se nos pisar-
mos na bola como oficiais na igreja, estaremos sendo grandemente
responsaveis perante Deus pelo ingresso deles numa relagao sexu¬
al ilfcita porque nos nao aproveitamos a oportunidade de deixar
uma mensagem clara sobre esse assunto.
A Igreja Preservada — Evitando a Ira de Deus
E, em terceiro lugar, neste aspecto da igreja, as censuras sao
necessarias para evitar a ira de Deus, “que poderia com justa ra-
zao cair sobre a Igreja...”. 0 aspecto da ira de Deus e inclusive
inserido na Bfblia em lugares onde nem mesmo esperavamos acha-
lo. Veja a passagem sobre a Ceia do Senhor, no versos 29ss do
capftulo 11 de 1 Cormtios: “...po/s quern come e bebe, sem discernir o
corpo, come e bebe jufzo para si. Eis a razao por que ha entre vos muitos
fracos e doentes, e nao poucos que dormem. Porque, se nos julgassemos
a nos mesmos, nao serfamos julgados.” Julgados por quern? Por que
algumas pessoas estavam doentes? Por que algumas pessoas esta-
103
Disciplina Biblica: 0 Que Signified e Como Aplica-la

vam parecendo morrer prematuramente? Porque Deus estava tra-


zendo jufzo sobre eles e, em particular, por causa da forma como
eles estavam abusando, fazendo mau uso, depreciando este gran¬
de rito que e urn memorial comemorativo da obra que o Filho de
Deus fez e que e um meio que Deus deu para nortea-Ios e atraf-los
cada vez mais para Si e uns para com os outros. Aquilo era o jufzo
de Deus. Este e um exemplo concreto. E o ministro repete as pala-
vras de advertencia de Paulo nesta passagem por causa deste mes-
mo fato. Ele usa as “chaves” desta forma.
0 exemplo classico do Antigo Testamento, como todos voces
sabem, e o exemplo em Josue 7 acerca de Aca. Por que os israelitas
tiveram tanta dificuldade ao tentarem conquistar aquela minuscu-
la cidade de Ai? Por que eles foram derrotados, e por que perde-
ram tantas pessoas? Por causa do pecado de um homem que nao
fora punido e nem se tratara de seu pecado. Um homem. E quan-
do foi tratado, Deus Ihes deu progresso. E bom lembrar esta pas¬
sagem e suas implicates para nos.

A Igreja Preservada A Necessidade de Crescimento Espiritual
0 quarto aspecto do interesse da disciplina para com a igreja
e que aquela manifesta obediencia piedosa e crescimento espiri¬
tual por parte de cada pessoa na igreja e seus oficiais como um
todo. Quando a igreja resiste a disciplina, ou quando presbfteros
resistem, eles manifestam desobediencia a Cristo e sufocam o cres¬
cimento e bem-estar da igreja. Claro, a igreja e seus oficiais po-
dem inicialmente recuar devido a todas as dificuldades envolvi-
das, todo o mal-entendido, todos os pesares — a mesma coisa
Paulo experimentou. Lembrem como ele relata essas mesmas coi-
sas na carta extremamente pessoal de 2 Corfntios onde ele fala de
te-los contristados e de nao se arrepender disso (embora ja tives-
se se arrependido antes), por causa do bom resultado (2 Co 7:8-9).
Ele se emociona quando lembra a resposta inicial deles para com a
disciplina e para com ele. Certamente, isto pode acontecer na dis¬
ciplina na igreja. Mas Paulo e tao corajoso em confiar em Deus
para dar o desfecho final que ele se mantem firme e tenaz com as
pessoas e com a a<;ao disciplinar (eles se arrependeram de have-
rem resistido, v. 9). Nos, tambem, nao deviamos perder o passo

104
George Knight III

com as primeiras rea<;6es. Esse e o mesmo tipo de tenacidade que


precisamos manifestar quando admoestamos alguem individual-
mente, um-a-um, quando ha algo incontestavel que precisamos
tratar na vida de alguem, e tambem quando compartilhamos o
evangelho. Nos temos que perseverar e procurar persuadir como
fez Paulo.
Onde a Biblia ensina que a disciplina na igreja manifesta obe-
diencia piedosa e crescimento espiritual? Ela ensina isto em duas
seÿoes ao tratar da disciplina na igreja. Primeiro, em 2 Corfntios 2,
especialmente no verso 9: "Efoipor isso tambem que vos escrevi, para
ter prova de que em tudo sois obedientes". Paulo pode dizer que esta
e a razao de ter-lhes escrito e rogar-lhes a aÿao disciplinar, embora
saibamos que outro motivo foi a restauragao da pessoa e a honra
de Cristo. Ele esta tao preocupado em transmitir esta verdade que
ele diz que a razao "que vos escrevi”, foi "para ter prova de que em
tudo sois obedientes".
A Igreja Preservada — Seguindo a Ordenanga Divina
A disciplina na igreja nao e urn assunto que escolhemos ou
nao escolhemos. A questao e esta: Cristo ordena que exerijamos
as chaves do reino? Ele nos instrui, atraves dos apostolos e das
Sagradas Escrituras que a apliquemos? Ele estabelece a forma para
fazermos isso? Ele nos encoraja, pela Sua presenÿa, pela present
do Seu Espirito, por nos dar poder, pela eficacia, pelo fato de que

isto e relevante nos ceus, e, em muitos casos mas nao em todos
— atraves de urn desfecho verdadeiramente positivo? A resposta
e “Sim!!!". Bern, entao, nos suportaremos a provaijao e em tudo
seremos obedientes?
Agora, observe que isto tambem e dito em 2 Corfntios 7:11,
e com a mesma severidade: "Em tudo destes prova de estar inocentes
neste assunto", isto e, voces provaram nao ser culpados, nao serem
pecaminosos, pois voces ouviram, deram atenÿao e cumpriram com
minha admoestagao apostolica. “Portanto, embora eu vos tenha es¬
crito, nao foi por causa do que fez o mal, nem por causa do que sofreu o
agravo ”. Observe o exagero hiperbolico com que ele sai varrendo
todas as partes com as quais ele de fato tambem esta preocupado

105
Discipline/ Biblica: 0 Que Signified e Como Aplica-la

malignidade de sua vida, e desse modo pelo menos seu homem


interior seja salvo no dia do Senhor conforme ele venha a se arre-
pender.
Penso que uma segunda possibilidade seja mais provavel, a
saber, que Paulo esteja usando a palavra “carne” no sentido de sua
“natureza pecaminosa”, como freqiientemente ele faz. Entao pen¬
so que a carne pode ser a natureza pecaminosa, e a disciplina deve
ter o efeito de destruir essa natureza pecaminosa. Isto e, destruir
no sentido de desviar esse tern'vel rumo pecaminoso, tao consu-
midor, tao irresistfvel.
Examinando 2 Tessalonicenses 3 — Vida Desordenada
Vamos voltar para 2 Tessalonicenses, capftulo terceiro. Neste
capftulo, comeÿando no versfculo 6, temos uma segao que esta
tratando sobre uma pessoa que e ociosa, no sentido que nao pro-
cura trabalho, e por isso esta vivendo desordenadamente, isto e,
de forma contraria as ordenanÿas de Deus. Observe as palavras
nos versos 6: 10-12: “...todo irmao que vive desordenadamente, e nao
segundo a tradi0o que de nos recebestes “Se alguem nao quer traba-
Ihar, tambem nao coma”. E entao, no verso 11, nos ouvimos que
“entre vos ha pessoas que andam desordenadamente, nao trabalhando;
antes se intrometem na vida alheia e finalmente: “trabalhando tran-
qiiUamente, comam o seu proprio pao". Isto e surpreendente, porque
aqui esta um pecado que nos podemos inicialmente nao conside-
rar como pecado. Ou seja, uma pessoa que nao trabalha. Ora, pon-
dere, ele nao esta falando de uma pessoa que e aposentada ou que
receba pensao por invalidez, ou de alguem que precisa de algum
tipo de assistencia porque nao consegue achar trabalho. Ele esta
falando de uma pessoa que se recusa a se comprometer com o
trabalho. Nao sabemos exatamente qual era o caso, e como isto
nao e dito, aparentemente nao e parte relevante do prindpio que
Paulo estabelece.
Assim sendo, Paulo diz que essa pessoa deve ser disciplina-
da. E bastante interessante que Paulo usa a mesma terminologia
ou palavras de 1 Corintios 5: “...nem vos associeis com ele..." (verso
14). Podemos nos sentir um pouco inquietos com isto, pois o

m
George Knight 111

do ele e publico, o conselho tem o direito e precisa trata-lo sem


esperar que os passos iniciais sejam tornados. Tenho mostrado
como nosso Senhor nos encoraja a por em pratica a disciplina ao
dizer que ela e efetiva nos ceus, e ao dizer que Ele estara presente
conosco em nossas reunifies. E eu tenho tentado mostrar os tres
grupos que estao envolvidos: a pessoa transgressora, a igreja, e o
proprio Senhor.
Agora, o que eu gostaria de fazer e considerar urn pouco mais
algumas passagens para finalizar. Observemos primeiro 1 Corfntios
5, depois 2 Tessalonicenses 3, e, a seguir, 2 Corfntios 2 e 7, nos
quais ja demos uma breve olhada.
Examinando 1 Corfntios 5 — Impureza Sexual
Vamos ver o texto completo de 1 Corfntios. Vou presumir
que voce esta familiarizado com esta passagem, e sabe qual e seu
teor. Vamos repassar o que esta envolvido nesta passagem, abor-
dar os princfpios destacados nela, e, por ultimo, extrair esses prin-
cfpios e aplica-los a nos.
Este e urn caso de imoralidade sexual por parte de urn ho-

mem e a mulher de seu pai pode ser sua madrasta. A situa<;ao e
esta: a igreja nao fez absolutamente nada a respeito disso. Se eu
pudesse ler nas entrelinhas, poderia ouvi-los dizer: "Podemos orar
por este irmao. Vamos deixar que o Senhor e Seu Espfrito faÿam a
obra”. Se eles disseram ou pensaram estas palavras ou nao, e mui-
to evidente que eles nao fizeram nada e, na realidade, Paulo diz

que eles estavam soberbos verso 2. Ha igrejas que dizem: “Nao
disciplinamos. Nos deixamos o problema com o Senhor”. Se os
apostolos acreditassem que este era o caminho correto, eles nun-
ca teriam incitado urn unico ato de disciplina.
Obviamente, nao era este o modo de pensar do apostolo Paulo
sobre essa questao. E, portanto, este nao deve ser o nosso modo
de pensar ou agir (ou deixar de agir). Eles nao fizeram nada. E
estavam orgulhosos disso. Paulo diz: “Nao seria melhor que voces
estivessem pesarosos e tirassem do vosso meio o homem que fez
isso? Pesar pelo pecado, pesar por voces, que nao tomaram uma
atitude e nao tiraram do meio de voces o homem que fez isso”. Ele
107
Disciplina Biblica: 0 Que Significa e Como Aplica-la

claramente afirma o que eles deviam fazer, isto e, tira-lo de seu


meio. Ele lhes ordena, muitas vezes mais, tanto no comedo como
no fim dessa passagem, que isto e o que eles deviam fazer. 0 apos-
tolo desce a ultima aÿao prescrita em Mateus 18, pois esse e urn
pecado publico, impenitente, que precisa ser tratado.
Em 1 Corintios 5:13, Paulo cita, ou faz alusao, no mi'nimo, a
uma das passagens em Deuteronomio: “Expulsai, pois, de entre vos o
malfeitor". Assim ele aplica, com o princfpio geral de eqiiidade, este
ensino do Antigo Testamento; mas ele nao aplica a sanÿao como
ela e aplicada no Antigo Testamento. 0 contexto do Antigo Testa¬
mento era que essa expulsao se daria com o apedrejamento. Paulo

apela para o princfpio geral “Voces seriam exdufdos da comu-
nhao de Deus se cometessem pecados hediondos ou impeniten-
tes”. Isto tern muito a nos ensinar — o que nao podemos conside-
rar agora —sobre como utilizarmos corretamente essas porÿoes
do Antigo Testamento. As Escrituras foram escritas para nossa ins-
truÿao, mas nos precisamos discernir a diferenÿa entre a organiza-
<;ao teocratica fisica e nacional, e a organizaÿao da igreja universal
espiritual, trans-nacional, trans-etnica, que nao tern nenhuma au-
toridade de puniÿao flsica tal como o apedrejamento em Israel.
Paulo reprova-lhes novamente o orgulho ou jactancia no verso 6;
ele fala sobre o fenomeno do fermento, do qual ja tratamos, nos
versos de 6 a 8; e ele reitera o fato de que ja lhes falara para que
nao se relacionassem ou se associassem com impuros (verso 9).
Paulo relembra-lhes que a pessoa com a qual eles “nao se associem”
e o homem que se diz irmao; e que ele nao esta falando para nao
se associarem com descrentes (“os impuros deste mundo” —
10-11). A expressao que ele usa para descrever a agao que eles
versos

devem tomar e bem grafada e especifica: “Expulsai”, no verso 13;


“nao vos associeis”, no verso 9; e “que fosse tirado do vosso meio”, no
verso 2. Ele esta descrevendo uma atitude de rompimento na rela-
com o irmao impenitente, que e mais do que urn simples rela-
cionamento social passageiro ou fortuito com pessoas nas ativida-
des do dia-a-dia. Isto e muito relevante. Logo, a disciplina na igreja
que ele prescreve aqui, seguindo o ensino de nosso Senhor em
Mateus 18, e uma aÿao coletiva praticada pela congregaÿao.

108
George Knight III

Nos nao teremos uma aÿao disciplinar eficaz, se a congrega-


achar que os presbfteros sao muito rfgidos, que sao muito
tensos, que sao isto e aquilo, e face a aq:ao disciplinar convidam a
pessoa para um almo<;o ou jantar, etc. Este tipo de conduta frustra
o processO benefico da disciplina. Deve haver um senso comum
de que o pecado impenitente precisa romper a rela<;ao em tal ex-
tensao (e Paulo continuar a dizer) que envolva tambem nao comer
com eles (verse 11), pois este e o mais proximo e o mais fntimo
relacionamento que experimentamos em nossas inter-relaÿoes
sociais — tao proximo, tao fntimo e tao significante que, entre os
cristaos, e normalmente precedida, as vezes seguida, com aÿoes
de gramas.
Alguns exegetas escrevem que o significado disto seria que
nao devemos permiti-lo participar da Ceia do Senhor. Ele nao pode
mais comungar como um membro da igreja. Certamente isto esta
inclufdo. Mas e disto que Paulo esta falando? Esta nao e uma expli-
caÿao a mais do que significa nao se associar com ele, explicaÿo
que esta inserida no contexto no qual Paulo relaciona esta associ-
agao ao convfvio com vizinhos pagaos? E neste cfrculo, nao no
ajuntamento da igreja para o culto, mas no cfrculo das relates
sociais. E, por isso, o comer deve ser entendido no mesmo cfrculo.
Os cristaos podem e comem com pagaos, mas nao devem comer
com o impenitente que proclama ser um irmao e esta sendo disci-
plinado.
Hoje as pessoas vao zombar disso — elas vao dizer que esta-
mos provocando o afastamento dessa pessoa, que somos como es-
sas pessoas que tern um jeito esquisito de se vestir. Mas se vamos
lanÿar fora o senhorio de Cristo na disciplina crista por causa da
opiniao das pessoas em geral, ou por causa da possibilidade de
haver julgamento, nos vamos ter que lanÿar fora a Bfblia toda. E nao
estou assim exagerando. A nossa necessidade de sermos fieis nao
quer dizer que nao devamos ser prudentes, sabios e cuidadosos.
Veja a situaÿao em que acontece esse pecado. Paulo esta tra-
tando com um caso de disciplina por causa de sexo talvez no pior
lugar para se tratar disso, no mundo greco-romano. Corinto era

109
Discipline/ Biblica: 0 Que Signified e Como Aplica-la

conhecida pela prostitui<;ao, pela imoralidade sexual. E veja que


ele esta tendo que convencer a congregaÿao que foi fundada por
ele mesmo. Nos podemos precisar fazer exatamente o mesmo que
o apostolo fez, ou seja, convencer a igreja a fazer o que ela deve. E
tao importante que reconhe<;amos este fato da vida da igreja. Nos
achamos que quando enfrentamos dificuldades parecidas, essa e
uma situaÿao sem esperanÿa e impossivel de se resolver. Mas Deus
e o Deus de todo o poder e toda a graÿa, e Ele nos tem chamado
para sermos Seus guardioes, Seus pastores, Seus presbiteros, Seu
povo — e para que vivamos nessa forÿa. Lembre, Paulo tem que
escrever outra carta a esses corintios, a maior parte dela tratando
do quao mal ambos tem se entendido, do quanto eles o compre-
enderam mal. E ele esta pesaroso de que seja assim, mas nao tan-
to que o fa<;a desistir de ser obediente a Cristo, como servo de
Cristo. Essa e a medida do amor dele por eles. 0 amor dele perse-
vera.
Lembrem de Paulo e sua atitude quando voces passarem por
algum caso de disciplina na igreja; e tao facil haver rea<;oes, ten-
sao, amarguras, sermos crueis. E nos precisamos lembrar que, em
todas essas situates, este e o caminho que o diabo esta usando
para danificar a obra. Voces tem que resistir a isso. Nos temos que
dizer: “Senhor, de-me a Tua gra<;a, o Teu amor, a Tua perseveranÿa
em todas estas coisas” para conseguirmos agir assim como o fize-
ram os apostolos.

Algumas pessoas tem dito: “Bern, isto e imoralidade; obvia-


mente nos temos que tratar disso. Mas e apenas com este tipo de
pecado que temos que tratar”. Lembre, nosso Senhor, quando lida
com o pecado, nao faz nenhuma lista, nenhuma restri<;ao, nenhu-
ma delimitaÿao, quando Ele diz em Mateus 18: “Se teu irmao pecar
contra ti". Ele nao diz: “Se ele cometer urn pecado sexual”. E Paulo
relaciona outras situates que requeriam a mesma atitude no ver¬
.
so 11 Por exemplo, ele relaciona urn idolatra, que, obviamente,
esta na area do culto e da doutrina; e, ao irmos para 2
Tessalonicenses, veremos que ele trata com uma questao que esta
muito distante e e totalmente diferente da imoralidade sexual.

m
George Knight III

Agora vejamos alguns itens especfficos que estao nesta pas-


sagem que ainda nao comentamos. Um e sobre o que significa
entregar esse homem a Satanas (verso 5 - o unico outro lugar no
Novo Testamento onde esta expressao e usada e em 1 Timoteo
1:20). Na minha opiniao, isto tem o mesmo significado que um
conceito similar em 1 Joao 5:19, que afirma que “o mundo inteiro
jaz no maligno”. E esta a definiÿao que Joao da. Por conseguinte, se
um homem e posto para fora do meio povo de Deus, onde ele esta
sendo posto? Ele e retirado da igreja e posto no mundo, que jaz
no maligno, ou — para usar a expressao de Paulo —, ele e entre-
gue a Satanas, isto e, posto sob seu dommio. Ha apenas dois rei-
nos — um esta liberto do “imperio das trevas”, (para usarmos a
expressao paulina de Colossenses 1:13) e e trazido para “o reino do
Filho do Seu amor". Se alguem e retirado da manifestaÿao terrena
do reino do Filho do Seu amor, a igreja, pelos meios da disdplina
na igreja, entao ele e recolocado no dommio das trevas, que e o
reino do maligno. Este conceito e na verdade estarrecedor para
nos. E tambem nos e estranho, primeiro por Paulo dizer que ele
esta entregando individuos a Satanas a fim de que aprendam a nao
blasfemar (1 Timoteo 1:20). Mas observe que Jesus ora por Pedro,
quando este ira ser peneirado por Satanas, visando que Pedro pos-
sa ser melhor capacitado atrav£s dessa experiencia para fortalecer
seus irmaos (Lucas 22:31-32). Essa "peneirada” de Satanas foi usa¬
da por Deus para beneficio de Pedro? Sim, deveras. A soberania de
Deus utilizou ate mesmo as maquina<;6es de um Satanas que bus-
caria seu melhor piano a fim de destruir e esmagar um Jo, ou pe-
neirar meticulosamente um Pedro, e Deus assim faz com aqueles a
serem disciplinados. Deus pode usa-lo para fins bons, e, portanto,
nos nao devemos recuar diante desta expressao de Paulo, nem
diante da implicaÿao dela com relaÿao a igreja hoje em suas aÿoes
disciplinares.
Agora, em segundo, o que quer dizer “para a destruiÿao da
carne" (natureza pecaminosa) (2 Co 5:5)? Ha varias possibilidades
do que isto pode significar, claro. Um e que ele esteja tao domina-
do pela imoralidade que implica em sua existencia ffsica; que sua
carne fTsica precise ser destrufda, de modo que ele venha a ver a

HI
Discipline/ Biblica: 0 Que Signified e Como Aplica-la

malignidade de sua vida, e desse modo pelo menos seu homem


interior seja salvo no dia do Senhor conforme ele venha a se arre-
pender.
Penso que uma segunda possibilidade seja mais provavel, a
saber, que Paulo esteja usando a palavra “carne” no sentido de sua
“natureza pecaminosa”, como freqiientemente ele faz. Entao pen¬
so que a carne pode ser a natureza pecaminosa, e a disciplina deve
ter o efeito de destruir essa natureza pecaminosa. Isto e, destruir
no sentido de desviar esse tern'vel rumo pecaminoso, tao consu-
midor, tao irresistfvel.
Examinando 2 Tessalonicenses 3 — Vida Desordenada
Vamos voltar para 2 Tessalonicenses, capftulo terceiro. Neste
capftulo, comeÿando no versfculo 6, temos uma segao que esta
tratando sobre uma pessoa que e ociosa, no sentido que nao pro-
cura trabalho, e por isso esta vivendo desordenadamente, isto e,
de forma contraria as ordenanÿas de Deus. Observe as palavras
nos versos 6: 10-12: “...todo irmao que vive desordenadamente, e nao
segundo a tradi0o que de nos recebestes “Se alguem nao quer traba-
Ihar, tambem nao coma”. E entao, no verso 11, nos ouvimos que
“entre vos ha pessoas que andam desordenadamente, nao trabalhando;
antes se intrometem na vida alheia e finalmente: “trabalhando tran-
qiiUamente, comam o seu proprio pao". Isto e surpreendente, porque
aqui esta um pecado que nos podemos inicialmente nao conside-
rar como pecado. Ou seja, uma pessoa que nao trabalha. Ora, pon-
dere, ele nao esta falando de uma pessoa que e aposentada ou que
receba pensao por invalidez, ou de alguem que precisa de algum
tipo de assistencia porque nao consegue achar trabalho. Ele esta
falando de uma pessoa que se recusa a se comprometer com o
trabalho. Nao sabemos exatamente qual era o caso, e como isto
nao e dito, aparentemente nao e parte relevante do prindpio que
Paulo estabelece.
Assim sendo, Paulo diz que essa pessoa deve ser disciplina-
da. E bastante interessante que Paulo usa a mesma terminologia
ou palavras de 1 Corintios 5: “...nem vos associeis com ele..." (verso
14). Podemos nos sentir um pouco inquietos com isto, pois o

m
Disciplina Biblica: 0 Que Signified e Como Aplica-la

Observe, contudo, que quando Paulo lhes faz esta admoesta-


gao, ele o faz em termos genericos, de modo que essa passagem
se torna uma instrugao generica para a igreja e, portanto, para nos
hoje: “Caso alguem nao preste obediencia a nossa palavra dada por esta
epfstola, notai-o” (verso 14). Por isso, se alguem pecaminosa e im-
penitentemente transgride outras coisas nesta carta, as admoes-
tagoes dao autoridade para que essa pessoa seja disciplinada da
mesma forma. Lembre-se tambem que Paulo nao esta sempre nos
convocando a mover a agao judicial da disciplina e sua agao final,
porque ele nao faz assim, mesmo ao tratar com aquela pessoa
facciosa e herege em Tito 3:10. E apenas depois da primeira e
segunda admoestagao que a igreja deve “evita-lo”. E Paulo certa-
mente nao faz isso com a igreja de Corinto toda. Ele lhes suplica
que cessem aquelas desavengas. Ele lhes suplica que se ponha urn
fim em sua imoralidade. Ele lhes instrui acerca do abuso da Ceia
do Senhor, acerca de sua visao errada no uso dos dons espirituais,
acerca do envolvimento improprio da mulher no ensino e instru¬
gao da igreja inteira, e ate mesmo da ma compreensao com respei-
to a ressurreigao. Nos deviamos estar comprometidos acima de
tudo com esta forma aberta de convencer as pessoas com argu-
mentos — individualmente, ou pregando e ensinando que isto e
para toda a igreja. E, portanto, nao devfamos, e nao devemos mes¬
mo, imediatamente nos langarmos a agao disciplinar apresentada
em 1 Cormtios 5 e 2 Tessalonicenses 3. Porem, se a comunicagao
verbal, a exortagao, as visitas pessoais e as visitas de grupos de
presbiteros fracassam, e a pessoa cada vez mais se auto-condena
— a expressao de Tito 3:10 novamente, isto e, indisposigao para
se arrepender e mudar — entao somos levados ao ponto em que
temos que tratar com a pessoa como Paulo diz, notar a pessoa e
depois tomar esta atitude: “Nao vos associeis com ele”. Porem, nova¬
mente, lembre-se que nao devemos trata-lo como inimigo, mas
adverti-lo como irmao. Nos devemos sempre ter muita esperanga
de arrependimento e restauragao.
Encorajamentos a Restauragao — Arrependimento e Perdao
Vamos a alguns textos encorajadores sobre restauragao. Tra-
temos, antes de tudo, com os dois textos em 2 Cormtios. Primei-

114
Disciplina Biblica: 0 Que Signified e Como Aplica-la

Observe, contudo, que quando Paulo lhes faz esta admoesta-


gao, ele o faz em termos genericos, de modo que essa passagem
se torna uma instrugao generica para a igreja e, portanto, para nos
hoje: “Caso alguem nao preste obediencia a nossa palavra dada por esta
epfstola, notai-o” (verso 14). Por isso, se alguem pecaminosa e im-
penitentemente transgride outras coisas nesta carta, as admoes-
tagoes dao autoridade para que essa pessoa seja disciplinada da
mesma forma. Lembre-se tambem que Paulo nao esta sempre nos
convocando a mover a agao judicial da disciplina e sua agao final,
porque ele nao faz assim, mesmo ao tratar com aquela pessoa
facciosa e herege em Tito 3:10. E apenas depois da primeira e
segunda admoestagao que a igreja deve “evita-lo”. E Paulo certa-
mente nao faz isso com a igreja de Corinto toda. Ele lhes suplica
que cessem aquelas desavengas. Ele lhes suplica que se ponha urn
fim em sua imoralidade. Ele lhes instrui acerca do abuso da Ceia
do Senhor, acerca de sua visao errada no uso dos dons espirituais,
acerca do envolvimento improprio da mulher no ensino e instru¬
gao da igreja inteira, e ate mesmo da ma compreensao com respei-
to a ressurreigao. Nos deviamos estar comprometidos acima de
tudo com esta forma aberta de convencer as pessoas com argu-
mentos — individualmente, ou pregando e ensinando que isto e
para toda a igreja. E, portanto, nao devfamos, e nao devemos mes¬
mo, imediatamente nos langarmos a agao disciplinar apresentada
em 1 Cormtios 5 e 2 Tessalonicenses 3. Porem, se a comunicagao
verbal, a exortagao, as visitas pessoais e as visitas de grupos de
presbiteros fracassam, e a pessoa cada vez mais se auto-condena
— a expressao de Tito 3:10 novamente, isto e, indisposigao para
se arrepender e mudar — entao somos levados ao ponto em que
temos que tratar com a pessoa como Paulo diz, notar a pessoa e
depois tomar esta atitude: “Nao vos associeis com ele”. Porem, nova¬
mente, lembre-se que nao devemos trata-lo como inimigo, mas
adverti-lo como irmao. Nos devemos sempre ter muita esperanga
de arrependimento e restauragao.
Encorajamentos a Restauragao — Arrependimento e Perdao
Vamos a alguns textos encorajadores sobre restauragao. Tra-
temos, antes de tudo, com os dois textos em 2 Cormtios. Primei-

114
George Knight III

ro, 2 Co 2:2: “Porque, se eu vos entristeÿo, quern me alegrard, senao


aquele que esta entristecido por mim mesmo? E isto escrevi para que,
quandofor, nao tenha tristeza da parte daqueles que deveriam alegrar-
me; confiando em todos vos de que a rninha alegria e tambem a vossa.
Porque no meio de muitos sofrimentos e angustias de corafao vos escre¬
vi, com muitas lagrimas, nao para que ficasseis entristecidos, mas para
que conhecesseis o amor que vos consagro em grande medida.” Nos nao
sabemos se ele esta se referindo a esse episodio de 1 Cormtios 5
ou algum outro caso. Isso nao faz diferen<;a no nosso entendimen-
to do que ele diz aqui. Aqui voce ve a agonia e comoÿao envolvi-
das em ter que contender com eles, persuadi-los, em ter que
repreende-los e corrigi-los. E, entao, ele continua: “Ora, se alguem
causou tristeza nao o fez apenas a mim, mas, para que eu nao seja
demasiadamente dspero, digo que em parte a todos vos; basta-lhe a pu-
ni0o pela maioria. De inodo que deveis, pelo contrario, perdoar-Jhe e
conforta-lo, para que nao seja o mesmo consumido por excessiva triste¬
za. Pelo que vos rogo que confirmeis para com e/e o vosso amor. Efoi por
isso tambein que vos escrevi, para terprova de que em tudo sois obedien-
tes. A quern perdoais alguma coisa, tambem eu perdoo; porque defato o
que tenho perdoado, se alguma coisa tenho perdoado, por causa de vos o
fiz na present de Cristo; para que Satanas nao alcance vantagem sobre
nos, pois nao Ihe ignoramos os desfgnios” (versos 5-11). Nao vamos
repetir aquilo que ja vimos nesta passagem: puniÿao pela maioria,
restauraÿao, amor, etc. Ele tambem nos lembra que precisamos
rapidamente restaurar, a fim de nao perdermos na interagao com
Satanas. Veja isto. Verso 7: “De modo que deveis, pelo contrario, per-
doar-lhe e conforta-\o, para que nao seja o mesmo consumido por exces¬
siva tristeza". E veja a ultima parte do verso 10: "...se alguma coisa
tenho perdoado, por causa de vos o fiz na present de Cristo; para que
Satanas nao alcance vantagem sobre nos, pois nao Ihe ignoramos os
desfgnios”.
Entenda a que oportunidade Paulo se refere. A pessoa vem a
arrepender-se com tristeza genuma. E depois ele encontra um con-
selho ou uma igreja dizendo: “Nao, nao estamos dispostos a aceita-
lo de volta”. E compreensivel que um conselho ou uma igreja pos-
sa cogitar se o arrependimento e verdadeiro, e, claro, isso deveria

115
Disciplina Biblico: 0 Que Signified e Como Aplica-la

ser averiguado tanto quanto e humanamente possfvel; mas nos


precisamos fazer todo o esforqio para tirar as duvidas de maneira
que possamos aceitar quem se arrepende. Se nao tomamos — ou
nao tomarmos — essa atitude, essa e a ocasiao em que Satanas,
usando seus desfgnios, dira: “Voce esta vendo? Nao faz nenhuma
diferenÿa. Voce vai sofrer desse jeito e as pessoas vao sempre abor-
recer voce, dizendo que voce tern que fazer isto ou aquilo, ou nao
fazer isto ou aquilo. Voce tambem pode sair dessa igreja de uma
vez. Agora, pense, nao estava melhor antes, enquanto voce estava
no pecado, do que agora quando voce esta se corrigindo? Esqueÿa
essas bobagens! Continue no pecado”.
Paulo diz que a igreja nao deve e nao pode deixar que al-
guem l>seja consumido por excessiva tristeza" (verso 7). Nao o deixem
sofrer excessivamente. Nao deixem Satanas alcanqiar vantagem
sobre nos (v. 1 1). Nos temos que agir o mais rapido possfvel para
que haja restauraÿao. Isto pode ser diffcil. Suponha que a pessoa
em pecado tenha ofendido alguem gravemente na congregaÿao.
Ainda assim, temos que perdoa-lo. E essa pessoa mais diretamen-
te afetada deve ser encorajada a pelo menos estar na igreja quan¬
do esta demonstrar seu perdao e restauraÿao. Porque, senao, nes-
te aspecto de pecado e disciplina, essa pessoa contra quem se
pecou esta caindo numa cilada do maligno, e nos estamos perden-
do vantagem, sendo vencidos pelo engano.
Observe que o mesmo tipo de coisa nos e ensinada em 2
Corfntios 7, trecho que ja vimos antes. Vamos concluir lendo a
passagem, e entao muito brevemente comenta-Ia, come<;ando com
o verso 8: “Porquanto, ainda que vos tenha contristado com a carta,
nao me arrependo; embora ja me tenha arrependido". (Nao e interes-
sante como Paulo pode dizer isso?) — “Vejo que aquela carta vos
contristou por breve tempo, agora me alegro, nao porque fostes contris-
tados, mas porque fostes contristados para arrependimento; pois fostes
contristados segundo Deus, para que de nossa parte nenhum dano
sofresseis. Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para
a salvagao que a ninguem traz pesar; mas a tristeza do mundo produz
morte. Porque, quanto cuidado nao produziu isto mesmo em vos que
segundo Deus fostes contristados! Que defesa, que indignagao, que te¬

rn
George Knight III

ir a Cornelio, estar disposto a aceita-lo, pregar-lhe o evangelho e


tambem aos outros gentios, porque Deus lhe tinha mostrado, con-
forme Pedro deduziu da visao, que Deus nao e discriminador e
nao faz acep<;ao de pessoas (At 10:9-20, 27-29, 34-48). Foi esta
revelagao que motivou a atitude inicial de Pedro. Por isso ele fala
de sua atitude no texto de Atos 15 nestes termos: "Irmaos, vos
sabeis que desde ha muito Deus me escolheu dentre vos para que, por
meu intermedio, ouvissem os gentios a palavra do evangelho e cressem.
Ora, Deus que conhece os corafdes, Ihes deu testemunho, concedendo o
Espirito Santo a eles, como tambem a nos nos concedera" (At 15:7,8).
Similarmente, o mesmo ocorreu com Paulo. Paulo nao deci-
diu: “Estes apostolos sao antiquados e ultrapassados; eles nao sa-
bem estender a mao com liberalidade de maneira que possamos
ter uma igreja internacional, bem grande, entao eu vou partir em
viagens missionarias”. Nao. Quando Jesus o chamou, Ele disse para
e por de Ananias que “este e para mim urn instrumento escolhido para
levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos
de Israel" (Atos 9:15, 16). 0 Senhor tinha revelado o que ele devia
fazer. Barnabe e Paulo simples e obedientemente refletem o que
Deus havia feito quando atentam para o comando dado a Paulo na
revelaÿao de Deus, confirmado pela comunicaq:ao (revelaÿao) dire-
ta do Espirito Santo em Antioquia ao serem separados para a obra
(Atos 13:2). Assim, eles tambem “contaram quantos sinais e prodigios
Deus fizera por meio deles entre os gentios".
Portanto, o que Paulo e Pedro estao fazendo aqui e
relembrando o quanto eles tern visto a verdade, revelada a eles, se
concretizar em suas vidas. Pedro segue exatamente este exemplo
ao dizer: “Irmaos, vos sabeis que desde ha muito Deus me escolheu
dentre vos para que, por meu intermedio, ouvissem os gentios a palavra
do evangelho e cressem” (Atos 15:7); ou seja, Pedro estava fazendo
referenda ao que Deus tinha lhe mostrado em revelaq:ao.
Perceba, entretanto, que, embora eles tenham ouvido esse
relato de Pedro, como tambem ao testemunho de Barnabe e Paulo
no verso 12, eles nao encerraram a questao ate terem recorrido ao
relato escrito e permanente da vontade revelada de Deus. Mesmo

119
Discipline: Biblica: 0 Qiie Signified e Como Aplica-la

Ao agirem dessa forma, eles estao tentando chegar a um con-


senso com toda a igreja de modo que eles possam mutuamente se
submeter uns aos outros e, o mais importante de tudo, se subme¬
ter a Palavra de Deus e a seus principios. Este e o modo como a
igreja deve agir hoje. Na verdade, esta e uma das principals razoes
por que nos temos presbiterios e assemblers gerais, e por que na
Confissao de Fe de Westminster, Capitulo XXXI, Seÿao II, esta de-
clarado assim:
Aos sfnodos e condlios compete decidir, ministerialmente, contro-
versias quanto afe e casos de consciencia; estabelecer regras e dis-
posigoes para a melhor ordem do culto publico de Deus e governo
de sua Igreja; receber queixas em casos de md administragao e
autoritativamente sand-las. Seus decretos e determinagoes, sendo
consoantes com a Palavra de Deus, devem ser recebidos com reve¬
retida e submissao, nao so pela harmonia com a Palavra, mas tam-
bem pela autoridade sob a qual saofeitos, como sendo uma orde-
nagao de Deus, designada para isso em sua Palavra.(At 15:15, 19,
24, 27-31; 16:4; Mt 18:17-20).
Segundo, o texto indica que o assunto e tratado na forma de
discussao aberta, franca e livre, com todos os homens em igualda-
de. Nao apenas o partido dos fariseus foi permitido “insurgirem-se
...dizendo" (At 15:5), mas todos os apostolos e tambem os presbfteros
compareceram “para examinar a questdo”, e assim o fizeram com
“grande” debate (At 15:6 e 7, enfase nossa, apenas para ressaltar a
palavra “grande”, que e afirmada de forma tao espedfica no relato
biblico). As igrejas presbiterianas devem seguir este prindpio, se-
rem assemblers deliberativas, tornando este um ingrediente es-
sencial em nossos presbiterios e em nossas assembleias.
Terceiro, os apostolos Paulo e Pedro parecem apelar a certa
evidencia experimental e pragmatica, pelo menos superficialmen-
te eles podem parecer agir assim, quando contain a respeito do
que lhes tern acontecido. Todavia, nao e um apelo a experiencia
pragmatica pura e simples, antes e um apelo a revela<;ao que am-
bos receberam, e que os tern levado a agir daquela maneira. Que
revelaÿao foi essa? A revelaÿao que foi dada a Pedro, que ele devia

118
George Knight III

ir a Cornelio, estar disposto a aceita-lo, pregar-lhe o evangelho e


tambem aos outros gentios, porque Deus lhe tinha mostrado, con-
forme Pedro deduziu da visao, que Deus nao e discriminador e
nao faz acep<;ao de pessoas (At 10:9-20, 27-29, 34-48). Foi esta
revelagao que motivou a atitude inicial de Pedro. Por isso ele fala
de sua atitude no texto de Atos 15 nestes termos: "Irmaos, vos
sabeis que desde ha muito Deus me escolheu dentre vos para que, por
meu intermedio, ouvissem os gentios a palavra do evangelho e cressem.
Ora, Deus que conhece os corafdes, Ihes deu testemunho, concedendo o
Espirito Santo a eles, como tambem a nos nos concedera" (At 15:7,8).
Similarmente, o mesmo ocorreu com Paulo. Paulo nao deci-
diu: “Estes apostolos sao antiquados e ultrapassados; eles nao sa-
bem estender a mao com liberalidade de maneira que possamos
ter uma igreja internacional, bem grande, entao eu vou partir em
viagens missionarias”. Nao. Quando Jesus o chamou, Ele disse para
e por de Ananias que “este e para mim urn instrumento escolhido para
levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos
de Israel" (Atos 9:15, 16). 0 Senhor tinha revelado o que ele devia
fazer. Barnabe e Paulo simples e obedientemente refletem o que
Deus havia feito quando atentam para o comando dado a Paulo na
revelaÿao de Deus, confirmado pela comunicaq:ao (revelaÿao) dire-
ta do Espirito Santo em Antioquia ao serem separados para a obra
(Atos 13:2). Assim, eles tambem “contaram quantos sinais e prodigios
Deus fizera por meio deles entre os gentios".
Portanto, o que Paulo e Pedro estao fazendo aqui e
relembrando o quanto eles tern visto a verdade, revelada a eles, se
concretizar em suas vidas. Pedro segue exatamente este exemplo
ao dizer: “Irmaos, vos sabeis que desde ha muito Deus me escolheu
dentre vos para que, por meu intermedio, ouvissem os gentios a palavra
do evangelho e cressem” (Atos 15:7); ou seja, Pedro estava fazendo
referenda ao que Deus tinha lhe mostrado em revelaq:ao.
Perceba, entretanto, que, embora eles tenham ouvido esse
relato de Pedro, como tambem ao testemunho de Barnabe e Paulo
no verso 12, eles nao encerraram a questao ate terem recorrido ao
relato escrito e permanente da vontade revelada de Deus. Mesmo

119
Disciplinei Blblica: 0 Que Signified e Como Aplica-la

o chamado privado de Paulo e a palavra direta a Pedro atraves de


uma visao nao sao presumidos por Tiago e os apostolos como sen-
do adequadas para finalizar o assunto. 0 que eles fazem entao?
Nos entenderemos a condusao melhor se entendermos a si-
tuaÿao com a qual eles estao lidando e o argumento das pessoas
que estao insistindo na circuncisao. Pense na forma como eles pro-
vavelmente discutiram o caso. “Deus instituiu a circuncisao com
Abraao, e disse que este seria urn sinal perpetuo. Como voces ou-
sam dizer que nao devemos colocar esse sinal em todos que pro-
fessam crer no Deus de Abraao?! Voces estao violando a Palavra de
Deus e o ensino do Deus Soberano!”. E claro, eu estou colocando
palavras na boca deles, mas eu penso que essas ou palavras simila-
res seriam as palavras que eles teriam usado. E nos precisamos per-
ceber o argumento que eles pensaram que poderia ser montado.
A resposta final para qualquer argumento na igreja, e especi-
almente para alguem que recorre a Palavra escrita, e mostrar que a
propria Palavra de Deus prove a resposta. Entao, Tiago apela as
palavras dos profetas com as palavras introdutorias “esta escrito"
(Atos 15:15), e depois comeÿa a citar nos versos 16-18 as palavras
de Amos 9:11,12. Nessa citaÿao estao as palavras do Senhor
“reedificarei o tabernaculo cafdo de Davi’’ e “os demais homens bus-
quem o Senhor, e todos os gentios sobre os quais tem sido invocado o
men nome”. Tiago, de fato, diz que isto concorda com a revelaÿao
direta que Pedro e Paulo receberam porque, na passagem do Anti-
go Testamento, ja se diz que o Senhor vira a admitir gentios como
gentios na casa restaurada de Davi, com o entendimento de que
Cristo veio e esta fazendo essa obra aqui e agora.
A implicaÿao, portanto, e que a partir do fato de que o Se¬
nhor nosso Deus ja disse no Antigo Testamento que os gentios
iriam invocar Seu nome e vir a Sua casa como gentios ao se cum-
prirem os tempos, por conseguinte nao podemos argumentar que
eles devem ser circuncidados e devem tornar-se judeus para que
possam ser salvos e aceitos por Ele (e pelos cristaos). A conclusao
tirada por Tiago e que Deus nao apenas tem transmitido a Paulo e
a Pedro aquilo que Ele esta fazendo em Cristo, mas que Ele ja falou

120
George Knight III

dessas coisas em Sua Palavra no Antigo Testamento. A liÿao que a


igreja de Cristo deve aprender do exemplo dos apostolos (e
presbfteros) e que a verdade deve sempre ser fundamentada ape-
lando-se a Palavra de Deus como unica regra infalfvel de fe e prati-
ca. Neste caso particular, mesmo diante do exito espetacular dos
mais importantes li'deres da igreja, Pedro e Paulo, na area do evan-
gelismo e da implantaÿao de igrejas, a igreja tirou tempo para se
reunir com aqueles que questionavam a atividade daqueles gran-
des li'deres a fim de resolver o problema atraves de uma considera-
?ao paciente da Palavra de Deus. Ao fazerem assim, eles esclarece-
ram a verdade de Deus, avan<;aram o evangelismo e preservaram a
paz e unidade da igreja.
E, em quarto lugar, finalmente, meus irmaos, assim como a
decisao deve sempre ser conforme os princi'pios, assim tambem
ela deve ser de forma pastoral. Voces sabem que a sentenÿa e:
voces nao precisam circuncidar os gentios para que eles sejam
salvos e plenamente aceitos na igreja. Mas, ao ler-se cuidadosa-
mente a decisao, ela parece falar tanto (ou mais) a respeito do
trato com a consciencia dos judeus, seja na comunidade crista ou
fora dela, como a respeito do principio em si mesmo.
Veja voce mesmo a carta comunicando a sentenÿa. Nos a en-
contramos em Atos 15:23-29: “Os irmaos, tanto os apostolos como os
presbfteros, aos irmaos de entre os gentios em Antioquia, Stria e Cilicia,
saudagoes.Visto sabermos que alguns /que safrainj de entre vos, sem ne-
nhuma autorizagao, vos tem perturbado com palavras, transtornando
as vossas almas, pareceu-nos bem, chegados a pleno acordo, eleger ho-
mens e envia-los a vos outros com os nossos amados Barnabe e Paulo,
homens que tem exposto a vida pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo.
Enviamos, portanto, Judas e Silas, os quais pessoalmente vos dirao tam¬
bem estas cousas. Pois pareceu bem ao Espfrito Santo e a nos nao vos
impor maior encargo”. Ora, urn ponto final poderia ter sido coloca-
do aqui, pois isto declara o principio muito bem. Mas os apostolos
e presbfteros nao fizeram assim. Eles expuseram esse grande prin-
cfpio no contexto seguinte, no qual o amor e o cuidado pelos ou¬
tros e claramente expresso. E entao continuamos a ler: uPois pare¬
ceu bem ao Espirito Santo e a nos nao vos impor maior encargo alem
121
Disciplinei Biblica: 0 Que Signified e Como Aplica-la

destas cousas essenciais: Que vos cibstenhais das cousas sacriftcadas a


idolos, bem como do sangue, da came de animais sufocados e das rela¬
tes sexuais ilfcitas; destas cousas fareis bem se vos guardardes. Saude.”
Os crentes gentios deviam ser circuncidados? Nao, nos nao
vamos impor-lhes maior encargo. Isto significa que voces podem
depreciar totalmente seus amigos judeus e o zelo deles? Nao. Nos
os advertimos a nao menosprezar ou ignorar o zelo deles.
Portanto, esta e uma asseveraÿao conforme os prinefpios
recoberta e envolvida com uma compaixao pastoral por pessoas
que terao ainda dificuldades com a sentenÿa e com praticas
gentflicas pre-estabelecidas. E, por conseguinte, rogando que os
cristaos inclusive se disponham a abrir mao de alguns de seus di-

reitos e privileges comer carne oferecida a idolos, coisas que
mais tarde Paulo lhes dira que podem fazer, por exemplo para —
nao ofender a comunidade judaica e seu zelo por pureza ritual, os
judeus de dentro da comunidade crista e tambem os de fora.
Esta discussao pastoral dos apostolos e presbfteros enfatiza
a igreja de Cristo o prinefpio de se agir com amor e considerable
pelos outros, ate que a mais clara e aberta soluÿao de acordo com
os prinefpios seja alcanÿada. E nos encontramos esta resoluqao
nao apenas aqui em Atos 15, mas tambem como o prinefpio pasto¬
ral operativo que controla o modo de Paulo lidar com o fraco e
com o forte nas “questoes de controversy” em Romanos 14, 15 e
1 Corfntios 8, 9 e 10.
A igreja de Cristo deve exercer sua autoridade dada por Deus
conduzindo-se pelo padrao bfblico estabelecido para nos em Atos 15.

Adaptado de sermoes pregados por Dr. George Knight, Pr. da Igreja Presbiteriana Ortodoxa nos
Estados Unidos

122
DISCIPLINA
fytlliOS HoblC HIW das MOICQS do Verdadeira Igreja de Cristc

NA IGREJA
Umci Marca
A necessidade de disciplina no igreja tern sido enfatizada tanto nos
ensinamentos do proprio Jesus, como nos cartas de Paulo. A teologia
reformada considera a disciplina eclesiastica lima das marcas da verdadeira
igreja de Cristo!
Como e que inna doutrina tdo importante tem sido negligenciada, ao ponto de
estar virtualniente em exlinccio em vdrias igrejas e denominates? Qua! o
reflexo disso, na saiide da igreja ? QuaIo relacionamento desse desprezo a
disciplina e a pureza da igreja, com o inclusivismo verificado na igreja
contempordnea, onde prdticas e ideias ndo somerte mundanas, mas ate
imorais encontram abrigo e sdo propagadas sem o im'nimo de recato e criterio
cristao ?
Afinal, qua! e a base biblica da disciplina? Como aplicar correta e justamente
a disciplina na igreja ? Existe a disciplina preventiva - uma forma de resolver
problemas antes que se agravem mais ainda ? Quais sdo os casos que merecem
ser alvo de disciplina?
Quatro autores contempordneos apresentam, neste livro, em cinco capitulos,
respostas a essas questoes e ddo uma exposifdo totalmente coerente com os
ensinamentos biblicos e com a teologia da reforma, dissecando em detalhes a
doutrina da disciplina eclesiastica. Com esta publicafio, os editores objetivam
urn redespertar de lideres para esse tema tdo crucial, sabendo que isso
resultard na revitalizacdo da pureza e dos alicerces da igreja.

EDITORA Facioli Grafica e Editora Ltda


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