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COMO SER UM BOM

TEÓLOGO?

Os dois tipos de teólogos 

Q uem entra em contato com o estudo teológico logo percebe que


ele se trata de uma ciência, mas é bom entender, como dizia
Guilherme de Ockham, que a teologia não pode ser chamada de
ciência, visto que seus argumentos não se fundamentam em proposições
racionais e sim por meio da fé, nesse particular ela é ciência apenas no
sentido de um saber adquirido pela leitura e meditação da Palavra de Deus
(Js 1.8; Sl 1.2; 119.18). 
Falando do ensino teológico como ciência faremos a citação de dois
renomados teólogos, o primeiro é Charles Hodge1, o qual diz: 

Se, pois, a teologia é uma ciência, então ela deve incluir algo
mais do que o mero conhecimento de fatos. Deve abranger
uma exibição da relação interna desses fatos, um com o
outro, e cada um com um todo. Deve ser capaz de
demonstrar que, se um for admitido, os outros não podem
ser negados.  

Com tais palavras compreendemos que a ciência, a qual é caracterizada por


dois aspectos: fatos e mentes. Falando dos fatos históricos, quando
analisados pelo prisma cronológico, eles servem como sinais, ou seja, toda e
qualquer matéria como história, física, química têm seus fatos, é por isso que
um astrônomo, por exemplo, pode até predizer a posição dos corpos celestes
por muito tempo; o químico pode a rmar com veracidade o efeito de
determinada composição física.
Trazendo tudo isso para o campo da teologia, assim como os estudiosos da
história, astrônoma, química, física, dentre outras ciências, encontram na
natureza tais fatos e através deles podem analisar as leias por meio das quais
são determinados, o teólogo, semelhantemente, de posse do conhecimento,
em especial de suas verdades, ele pode organizar e rati car e relacionar o
natural com outras questões, por exemplo, uma análise do Salmo 19 é
singular nesse sentido. 
O outro teólogo que iremos citar é R. C. Sproul, em sua obra: Somos Todos
teólogos2, a qual fala da teologia como ciência ele declara que: 

Teologia é uma ciência. Muitos discordam veementemente e


a ram que há um grande abismo entre ciência e teologia. A
ciência, eles dizem, é aquilo que aprendemos por meio de
inquirição e investigação empírica, enquanto a teologia brota
de pessoas in amadas por emoções religiosas.
Historicamente, porém, a teologia sistemática tem sido
entendida como ciência.  

Pelo exposto acima, ainda a luta continua, porém, cremos que a teologia
pode gurar como ciência no seu aspecto em que se classi ca como um
estudo sério e cuidadoso das páginas das Sagradas Escrituras, em especial da
questão de relacionar os fatos visíveis com aquilo que o próprio texto expõe.
Proceder assim é relevante para que a gura dos dois tipos de teólogos
venha surgir: 

a. O natural. Todos nós somos teólogos, pois meditamos na


Palavra de Deus, conhecemos algo sobre Ele. O teólogo natural
é livre, seus estudos não partem de uma pesquisa exaustiva,
técnica.

b. O cientista. É aquele que estuda, compra livros sobre teologia,


faz um curso na área teológica, seu saber não é assistemático,
livre, mas fundamenta-se na pesquisa, é feito de modo analítico,
meticuloso.

Qualquer pessoa pode ser teólogo nesses dois sentidos, mas alguém poderia
perguntar: mas como ser um bom teólogo? Esse é o grande problema, pois
eu posso ser um teólogo livre, bom ou ruim, como posso também ser um
teólogo formado, bom ou ruim.
Para responder a essa pergunta, quanto à questão do bom teólogo, posso
dizer que o bom teólogo é aquele que tem no coração o temor de Deus, que
se aproxima Dele com total reverência, que sabe tirar as sandálias dos seus
pés, são esses teólogos que podem ter mais conhecimento de Deus, porque
amam de fato a Palavra do Senhor (Êx 3.5; Pv 1.7. Sl 119.99).
Portanto, quem deseja ser um bom teólogo precisa render-se diante da
Palavra de Deus, pois nela Deus concedeu ao homem o registro de suas
revelações, que se deu das mais diversas formas (Hb 1.1). Richard J. Sturz3
está certo quando diz:

Cabe ao teólogo ouvir o que Deus disse, e, além disso,


transmitir a mensagem divina que lhe foi dada na Bíblia.
Ora, reconhecendo que a Bíblia foi inspirada por Deus, o
teólogo precisa também reconhecer a autoridade máxima
dela em relação à fé que ele transmitirá aos seus alunos e
leitores.

A teologia como um estudo racional

Aurélio de ne teologia como sendo o estudo racional dos textos sagrados,


das tradições e dogmas do cristianismo, estudo das questões referentes ao
conhecimento das divindades, de seus atributos e relações com o mundo e
com os homens. No Dicionário de Teologia a de nição que se tem é esta:
Sistema de crença religiosa acerca de Deus ou da realidade
suprema. Geralmente a teologia se refere à fé cristã e à
experiência de Deus com base na autorrevelação divina. A
teologia também busca aplicar essas verdades à experiência
ao pensamento humano como um todo.4

Observe que nessa de nição os autores não se prendem apenas na de nição


em si da palavra, mas evidencia que ela é também uma expressão de fé que
se constata na experiência cristã que resulta da revelação da Palavra.
Segundo o teólogo Charles Ryrie, teologia pode ser entendida como um ato
de se pensar sobre Deus e expressar esse pensamento de alguma maneira,
quer seja pela vida ou atitudes. Através dessa de nição de Charles podemos
concluir que qualquer pessoa pode ser teóloga, pois muitas pensam sobre
Deus: o católico, o ateu, os umbandistas etc.
Todo cristão verdadeiro deve ser consciente que Deus nos deu uma mente,
uma razão, sendo assim, não podemos estudar a Bíblia somente
espiritualizando, mas é preciso também atentar para o nosso lado pensante,
racional. Paulo diz que devemos orar com o Espírito, mas também com a
mente (1 Co 14.15). Ele disse que até nosso culto não pode ser irracional,
mas racional (Rm 12.1).
No que tange ao quesito entre fé e razão é importante analisar as palavras de
Boaventura de Bagnoregio5, ele dizia:

A razão é subordinada à fé, a loso a à teologia. Mesmo sem


a fé, a razão poderia conhecer as verdades mais importantes
da ordem natural. Mas, de fato, historicamente, a razão
sozinha jamais chegou a descobrir a verdade sobre Deus e a
alma. Ela só pode conseguir guiada pela fé.

Por meio da razão o homem tem a capacidade de perceber, julgar, avaliar,


são seus poderes cognitivos, ora, se Deus concedeu tal capacidade ao
homem, o que não pode é ele con ar nela, ou seja, tê-la como um
instrumento capaz de resolver todos os seus problemas. Sabe-se que durante
a existência humana, dando crédito demasiado à razão surgiu o
racionalismo panteísta, ateísta e teísta. Como um dom de Deus, podemos
dizer que a razão coloca o homem nas seguintes condições:

a. Ele pode por meio dela ter acesso à verdade.

b. Saber se algo é verdadeiro ou não.

c. Julga a apresentação de alguma coisa.

d. A razão organiza as coisas.

Estudar sobre Deus é algo que deve ser feito com fé, mas também com a
mente, note que o salmista falou que devemos olhar para a criação com a
nossa razão, e glori car ao Deus criador por tudo o que Ele fez (Sl 19.1.1-4).
Assim como fé as obras devem andar juntas, fé e razão não podem separar-
se, especialmente no que tange ao estudo da Palavra de Deus. Pedro disse
que nós temos que estar preparados para responder com mansidão os que
pedirem “razão” da nossa fé (1 Pe 3.15).

Como pensar sobre Deus?

Por causa do pecado o homem passou a pensar errado sobre Deus, isso está
provado na própria Bíblia (Rm 1.18-32). O teólogo A. B Langston6 nesse
particular pontua com precisão, quando esclarece que os poderes mentais do
homem, tudo foi corrompido pelo pecado:

Os pensamentos, os desejos, a vontade, tudo se tornou


corrompido. O homem arruinou o poder de direção própria,
perdeu aquela comunhão íntima que tinha com Deus. Já não
sentia a presença de Deus consigo. Finalmente, todas as
tendências da sua personalidade tornaram-se para o pecado.
O homem tornou-se carnal.
O apóstolo Paulo diz que para pensar de modo correto o homem precisa ter
sua mente transformada (Rm 12.1, 2), isto é, ele recebe uma nova mente,
que é a de Cristo (1 Co 2.16). Para pensar correto sobre Deus é preciso uma
transformação do alto, um nascer de novo, uma ação de cima (Jo 3.3).
Sabemos que o verdadeiro cristão sempre está pensando sobre Deus, suas
obras, seu divino poder, mas às vezes o que lhe falta é uma sistematização
desse pensar, por isso ele precisa estudar teologia para colocar tudo em boa
ordem.
Jamais devemos estudar teologia pensando em ter um espírito de crítica, que
é totalmente diferente de alguém que tem espírito crítico. Quem possui o
Espírito crítico é um homem amadurecido que busca com verdade e
sinceridade a virtude da mente.
O Espírito crítico busca o progresso, procura tranquilizar uma razão
exigente, deseja sair da ignorância.7 Já o Espírito de crítica é aquele que
busca a contradição, a desorganização mental, conduz à inquietação de
muitos, conduz ao ceticismo; é algo que nasce do nada e que conduz ao
nada.
Existem pessoas que procuram estudar a Bíblia com o espírito crítico, na
busca por um conhecimento, crescimento espiritual; já outros buscam ter
um conhecimento teológico apenas para criar confusão, desestruturar a fé
de alguns, perturbar a ordem mental, não é com esse propósito que devemos
estudar teologia, pois conhecimento que incha, que não desperta para o
bem, para a salvação, jamais deve ser aceito (1 Co 8.1).
Para se pensar corretamente sobre Deus é preciso ter a mente transformada
(Rm 12.1.2), desse modo iremos pensar do jeito certo (Fp 4.8), pois
conforme disse Paulo, agora nós passamos a ter a mente de Cristo (1 Co
2.16). Tiago falou de dois tipos de sabedoria: uma terrena, diabólica; a outra
é puramente divina, que pode nos levar ao verdadeiro crescimento espiritual
(Tg 3.13-17).
Uma pessoa que tem um pensamento correto sobre Deus, pensamento este
que é oriundo da meditação na Palavra e obras de Deus, fará com que ele
expresse sua teologia de modo correto e com atitudes certas, não será
irreverente, descuidado, pois sabe que o seu Deus é el, e que brevemente
estará diante de sua presença para prestar contas com Ele.
Quem não tem conhecimento disso não levará a sério suas ações, sua vida
será descomprometida com a verdade, sinceridade, a salvação, pois a sua
mente não se abre para as coisas de Deus, ele não pensa correto sobre ele, é
para esse tipo de pessoas que o salmista dizia, “Diz o louco: não há Deus” (Sl
14.1; Gn 6.11; Rm 3.10).
Então, diante de tudo o que acabamos mencionar acima, podemos ver que
existem teólogos que seguem uma linha de interpretação dominada por uma
mente mundana, são ignorantes e, conforme falou o apóstolo Paulo, eles não
podem entender o que é espiritual, e teologia é mais do que um amontoado
de letras, no seu teor está aquilo que é espiritual. A espiritualidade na
teologia poderá vir de duas fontes:

a. Deus (2 Tm 3.16).

b. Diabo (1 Tm 4.1-4)

Muitos estudiosos da área teológica procuram apresentar as verdades


bíblicas de modo bem complicado, usam termos e palavras que são quase
desconhecidas da maioria dos leitores da Palavra de Deus.
Podemos dizer que as verdades de Deus não nos foram apresentadas de
maneira difícil, complicada, até mesmo o hebraico e o grego são idiomas
fáceis de serem compreendidos, portanto, basta uma lida nas palavras do
maior teólogo de todos os tempos, Jesus, que logo veremos sua simplicidade
em nos trazer as verdades de Deus, pois seus ensinos não buscam criar um
espírito de crítica nas pessoas, mas tinha como alvo maior despertar as
consciências mortas para Deus (Jo 8.32).
A verdadeira teologia não procura apenas criar um ambiente de crítica,
confusão, mas busca levar o cristão a um verdadeiro crescimento espiritual,
a pensar corretamente sobre Deus, por isso todo o seu conteúdo deve estar
alicerçado nas páginas áureas das Escrituras sagradas.
A fonte onde o teólogo deve buscar o seu conhecimento é a Palavra de Deus,
visto que Ela é pura e, como disse Paulo: Ela é útil para tudo e é saudável (2
Tm 3.16-17; 4.3; Tt 1.9). Só mesmo a Santa palavra de Deus pode criar um
santo teólogo, pois o conteúdo da Bíblia é capaz de desenvolver no homem
uma consciência perfeita, desse modo ele poderá ter uma vida segundo o
querer de Deus, pois seus ensinamentos denunciam isso.
Quem cresce no conhecimento bíblico, sempre buscando por meio da
oração entender os “mistérios de Deus”, será capaz de viver como Deus
deseja (Fp 1.9-11; Cl 1.9,10; 2 Pe 3.18).

O ensino teológico como benção

O ensino teológico só é uma benção na vida do cristão quando ele produz


resultado, isto é, quando o leva não somente a pensar sobre Deus, mas
colocar em prática os seus ensinos, expressando um viver santo, produzindo
frutos para a glória de Deus. Paulo louvou a Deus pela vida da igreja de
Tessalônica porque ela tinha recebido o Evangelho, e tinha dado prova disso
por meio do seu viver (1 Ts. 5.1-10).
Você pode ser um teólogo cheio de erudição, conhecer muitas obras, ter
conhecimento das línguas originais, tudo isso é bom, mas isso não faz de
você um verdadeiro teólogo. Nas palavras de Paulo o que vale a pena é ter na
vida a essência da Palavra de Deus, expressar a mesma através de um viver
frutescentes, por isso ele orava para que a igreja de Filipos pudesse ser assim
(Fp 1.9-11).
Na obra de J. B Libanio e Afonso Murad, abordando sobre a questão do
saber teológico ambos pontuam:
O saber teológico tem de levar em contas suas implicações
políticas e manter vigilância epistemológica diante das
suspeitas ideológicas. Outro elemento nessa crise da verdade
é levantado pela relação entre a questão da verdade e a da
justiça. Ambas são mutuamente relacionadas. O interesse
pela justiça estritamente universal pertencente às premissas
da busca da verdade. O conhecimento da verdade tem
fundamento prático.

Além de ser um saber teórico, a teologia busca sua realização no aspecto


prático, o que podemos dizer que ela se relaciona com a teoria e a prática.
Teologia para ser de fato teologia envolve o lado prático, e a prática precisa
da luz da teologia. Cl. Bo está certo quando formulou muito bem o
problema da práxis como critério da verdade, desvendando os equívocos e
explicitando o duplo movimento da teologia à prática e da práxis à teologia.
No primeiro movimento, uma teologia necessita da credibilidade da práxis
do teólogo. E no segundo, a práxis necessita da luz da teologia (J. B. Libanio,
Afonso Murad. 1996. p.156)
Qualquer obra e teologia poderá lhe dar muitas informações históricas,
losó cas, mas só quem pode fazer de você um perfeito servo de Deus e um
teólogo puro é a Santa Palavra de Deus.
Um grande teólogo não é conhecido apenas por sua erudição, produção
literária, mas sim pelos frutos que produz, pois, como disse Jesus: Por seus
frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros ou gos
dos abrolhos? (Mt 7:16). Um teólogo bíblico procura não ser reconhecido,
mas fazer conhecido o nome de Cristo Jesus.

1 HODGE, Charles, Teologia Sistemática, São Paulo, Hagnos, 2001, p.1,


2 SPROUL R. C. Somos todos teólogos: uma introdução à teologia sistemática. São José dos
Campos, SP: Fiel, 2017. p.24.
3 STURZ, Richard J Teologia sistemática, São Paulo: Vida Nova, 2012.
4 Dicionário de teologia: mais de 300 conceitos de Teologia e De nidos de Forma Clara e Concisa.
Vida: 2001.
5 MONDIN, Battista. São Paulo: Edições Paulinas, 1981.p. 188
6 Lan-Esb Langoston, A B. Esboço de Teologia Sistemática, Rio de Janeiro: JUERP, 1986.
7 Álvaro, João Ruiz, Metodologia Cientí ca: Guia para e ciência nos estudos, Editora Atlas, 1990, 2
Edição, São Paulo,
PROLEGÔMENOS TEOLÓGICO

Prolegômenos e teologia

A palavra prolegômenos do grego quer dizer prefácio, muitas teologias


começam suas páginas introdutórias com ela. Essa palavra procura expressar
os princípios de uma ciência ou arte, também aponta os pontos principais de
uma obra de um autor, seria na verdade uma introdução expondo os pontos
e subpontos do trabalho do escritor, buscando ajudar os leitores a conhecer
melhor as ideias e como procura esclarecer melhor o seu pensamento
teológico. O teólogo Richard J. Sthrz de ne prolegômenos da seguinte
maneira:

São as primeiras palavras. Na realidade, são as palavras,


conceitos e parâmetros que precisam ser compreendidos
antes de iniciarmos qualquer discussão. Começar
diretamente pela teologia é o mesmo que entrar em terra de
ninguém, onde não há como recorrer a qualquer recurso
para remediar erros cometidos. As conclusões alcançadas
estariam fundamentadas em premissas obscuras cujas
amplas in uências não poderiam ser nem compreendidas
nem avaliadas.

Por meio dos prolegômenos entendemos que ca fácil para o iniciante


começar do básico, ou seja, nadar na beira da praia para poder nadar em
águas profundas. A princípio, o que podemos dizer é que para uma
compreensão lúcida dos assuntos teológicos mister se faz partir de pontos
abordados na teologia, é isso que se percebe nos prolegômenos, em que cada
ponto ou subponto da teologia procura apresentar.

A teologia
A palavra teologia vem do grego, ela expressa não apenas um estudo sobre
Deus, mas procura fazer isso de modo que envolva a fé e a razão (Mc 12.30).
eos quer dizer Deus, lógica que diz estudo; assim, podemos dizer que
Teologia é um estudo sobre a pessoa de Deus, envolvendo o lado racional (Sl
19.1-3). Nas palavras do teólogo R. C Sproul8 a teologia é de nida da
seguinte maneira:

A palavra teologia compartilha de um su xo - logia, como


ocorre na designação de muitas disciplinas e ciências, tais
como biologia, siologia e antropologia. O su xo vem da
palavra grega logos, que achamos no começo do Evangelho
de João: “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com
Deus, e a Palavra era Deus” (Jo 1.1). O vocábulo grego lógos
signi ca “palavra” ou ideia, ou, como um lósofo a traduziu,
“lógica” (é também desta palavra que obtemos a nossa
palavra lógica). Portanto, quando estudamos biologia,
estamos considerando a palavra ou a lógica da vida.
Antropologia é a palavra ou a lógica sobre os humanos,
sendo antropos a palavra grega que signi ca homem. A
primeira parte da Palavra teologia vem do vocábulo grego
theos, que signi ca “deus”. Portanto, a teologia é a palavra ou
a lógica sobre Deus mesmo.

Interessante que nessa propositura apresentada por Sproul há uma


interpretação do logos com theos, de modo que ele deixa claro que na
de nição da teologia ela pode ser entendida como um estudo lógico sobre
Deus.
Os que se dedicam ao estudo teológico devem entender que isso deve ser
feito de modo racional, mental, inteligível, e não apenas mitológico,
emocional (Jo 4.22). Também precisamos estudar teologia de maneira
sistemática, buscando uniformização nas ideias. Isso deve ser feito por meio
das explicações vindas da hermenêutica e exegese, e, por último, tudo deve
estar pautado na Palavra de Deus, pois é Ela que nos dá elementos
su cientes para compreender realmente a pessoa de Deus (2 Tm 3.16; Hb
4.12).
Seguindo as exposições das várias áreas da teologia
Quem entra em contato com o estudo teológico logo verá que ele não se
trata apenas de uma matéria em si, mas envolve muitas outras áreas de
conhecimento, inclusive a questão do tempo, pois temos teologia Patrística,
Medieval, Reformada, Contemporânea.
Para uma compreensão melhor sobre as várias áreas da teologia vamos
tomar de empréstimo as palavras do teólogo M. James Sawyer, atente para
sua colocação sobre esse assunto:

O termo “teologia” é amplo em sua abrangência. Em seu


emprego mais extenso, ele é aplicado a qualquer tópico que
esteja de alguma forma relacionado com Deus e com as
coisas divinas. Ouvimos falar da “teologia da educação
cristã”, da “teologia do ministério urbano” e até de uma
“teologia da arquitetura da Igreja”. Em cada caso, a disciplina
em questão tenta de algum modo aplicar os princípios das
Escrituras a áreas especí cas da vida. Num sentido formal,
referimo-nos a todas as áreas do estudo que dizem respeito
às Escrituras, sua interpretação e sua aplicação com domínio
dos estudos teológicos.

A teologia pode ser estudada atentando-se para as opiniões dos teólogos:


teologia barthiana, arminiana, calvinista, teologia da libertação. Essas
teologias são opiniões de homens que devem ser analisadas pelo estudante,
atentando para a Palavra de Deus. Por m, pode-se estudar teologia
observando a sua ênfase, que é aquela que envolve o aspecto histórico,
sistemático, apologético, exegético etc.
Quando um estudante de teologia entra em contato com a história
eclesiástica, irá entender a importância da “teologia histórica”, pois
compreenderá o empenho dos primeiros servos de Deus em manter sempre
em primeiro lugar a Palavra de Deus em evidência. Os Concílios, e muitos
outros servos de Deus, lutaram para fazer a separação entre aquilo que era
verdadeiro e aquilo que era falso.
A verdadeira teologia deve ser totalmente bíblica, jamais ela pode ser
losó ca, nem apenas ter aparência de ser bíblica, mas precisa ser
verdadeiramente estruturada, fundamentada na Palavra de Deus (2 Pe 1.21;
3.18). Quando se fala que a teologia deve ser bíblica, ela tem que ser
alicerçada na exegese bíblica, para não se respaldar em meras especulações,
ideias próprias dos homens.
Falar sobre teologia bíblica é dizer que tudo se volta para o que está inserido
e revelado na Palavra de Deus, portanto, estudar uma teologia bíblica é
apresentar a verdade de maneira sistemática, buscando sempre apresentar o
contexto histórico, geográ co onde ocorreu a revelação. Novamente vamos
usar M. James9, veja o que ele diz:

Em vista de nossos propósitos, presumimos que as


disciplinas teológicas formais (teologia bíblica, teologia
histórica e teologia sistemática), constroem sobre o
fundamento lançado pelas disciplinas dos idiomas bíblicos,
contextos, arqueologia e exegese. O processo teológico
começa com a teologia bíblica, que sintetiza os resultados
mais amplos do processo exegético num todo coerente. O
passo seguinte no processo, de uma perspectiva lógica, é a
teologia histórica, que envolve o estudo do desenvolvimento
da compreensão teológica ao longo da história da Igreja. O
último estágio do processo é a teologia sistemática, que
sintetiza os resultados de todo o processo num todo coerente
e contextualiza a verdade de Deus na língua, categoria e
formas de pensamentos compreensíveis contemporâneos.

A teologia bíblica atenta para os motivos pelo qual determinado texto foi
escrito, procura conhecer a vida de cada autor, a quem se dirigiu o livro. Por
último, quem se detém ao estudo da teologia bíblica sistemática, deve saber
que ela tem o seu lado progressivo, por isso as revelações não foram
concedidas todas em uma só vez, mas que envolveu muitas outras questões:
tempo, diversas pessoas, lugares diferentes, culturas diferentes. Só que hoje o
que está na Bíblia já foi concluído.
Vamos encerrar esse ponto dizendo o seguinte: a teologia deve ser bíblica,
sua fonte não pode ser outra coisa senão a Palavra viva de Deus. Um
estudante de teologia pode buscar outras fontes de estudos, mas a que pode
realmente gerar uma doutrina sadia e verdadeira é a Bíblia Sagrada.
A teologia sistemática procura mostrar de modo organizado às revelações de
Deus contidas na Bíblia, jamais ela deve procurar desfazer das verdades
escriturística, pois ninguém tem essa autoridade, nem mesmo os anjos ou
qualquer outro obreiro (Gl 1.8).

8 SPROUL, R. C. Somos todos teólogos: uma introdução à teologia sistemática, São José dos Campos,
São Paulo: Fiel, 2017. p. 16.
9 SAWYER, M. James, Uma Introdução à Teologia: das questões preliminares, da vocação e do labor
teológico, São Paulo: Editora Vida, 2009.p. 222.
FUNDAMENTOS DA TEOLOGIA

O que é fundamento?

F undamento trata-se de base, alicerce, segundo Paulo, o fundamento


da Igreja é Jesus Cristo, visto como a pedra (Ef 2.20). Do grego a
palavra fundamento é themeleon, fala de assentado como
fundamento, fundamento de uma construção, parede, cidade,
metaforicamente fala de fundamentos, bases, princípios básicos de
instituição ou sistema de verdades.
Não existe teologia sem qualquer fundamento, seja ela certa ou errada, mas
é claro que existe algo em que determinada fé se alicerça. O ateísmo se
fundamenta em sua própria negação: “a a rmação de que não existe Deus”.
O ateu precisa crer nesse seu pressuposto, caso contrário sua negação não
seria verdadeira.
O agnóstico, quando a rma que o homem é incapaz de conhecer a Deus
também precisa ter base sólida para fazer essa a rmação; o teísta, quando
diz que Deus existe, faz isso baseado em algo, que é a sua fé. O fundamento
do cristão é a Palavra de Deus, através Dela ele rma a sua fé, sua crença em
Deus (Gn 1.1; Hb 11.6).
Charles Ryrie10 falando dos pressupostos básicos, ou seja, do fundamento
necessário para a Teologia pontua:

O teísta acredita que existe um Deus. Reúne evidências para


con rmar e apoiar essa crença, mas a base de tudo é sua fé.
O trinitariano acredita que Deus é uma trinidade. Sua fé está
baseada na Bíblia, portanto também acredita que a Bíblia é
verdade. Esses são os pressupostos fundamentais. Se a Bíblia
não é verdadeira, então o trinitarismo é falso, e Jesus Cristo
não é quem a rma ser. Nada aprendemos sobre a Trindade
ou sobre Cristo apenas por meio da natureza ou com a
mente humana. Não podemos ter certeza de que aquilo que
aprendemos na Bíblia sobre o Deus triuno é verdade, a
menos que acreditemos que nossa fonte é digna de
con ança. Logo, a crença na veracidade da Bíblia é um
pressuposto básico.

Já falamos que a fonte da nossa teologia é a Bíblia, sendo assim, temos que
buscar a sua compreensão da melhor maneira possível, usando bem a
exegese e a hermenêutica, pois somente desse modo iremos construir bem a
nossa fé.
Não se começa uma estrutura espiritual estudando livros exaustivos de
teologias, pensamentos de renomados teólogos, pois sabemos,
historicamente, que os grandes estudiosos do passado se converteram com a
simples mensagem da Palavra do Senhor. Antes de fazer o prédio
precisamos primeiro dos alicerces, depois vêm os pequenos tijolos. Nossa fé
começa com as pequenas passagens dos textos bíblicos (Ef 2.20-22).
Não podemos negar a grande contribuição dos teólogos patrísticos e
medievais no campo teológico, mas também somos cônscios dos muitos
erros que ainda hoje afetam a nossa fé e que vieram de suas interpretações
complicadíssimas, por isso precisamos seguir o mesmo método de Jesus no
uso dos ensinos da Palavra de Deus: Ele fazia de maneira bem simples
usando as parábolas, dando exemplo de coisas que as pessoas faziam no seu
viver diário.
Nós temos em nossas Bíblias dois testamentos: O Velho e o Novo. O Velho
Testamento estava em processo de construção, era progressivo, apontava
para tudo o que iria acontecer. O Novo Testamento é fechado, o
complemento cabal, sendo assim, sua importância para a questão
doutrinária é mais relevante. O Velho Testamento seria como uma
introdução para o Novo, pois no Novo Testamento nós temos o
complemento de tudo.
Como falamos acima, é importante que as nossas opiniões quanto à questão
da fé sejam provenientes das páginas áureas da Palavra de Deus. Os teólogos
neo-ortodoxos e liberais discordam disso, e procuram atacar os
conservadores, que buscam fundamentar tudo na Bíblia.
Quem sempre recorre às Escrituras Sagradas terá opiniões conservadoras.
Uma pessoa que sempre está atenta para as notas de rodapé de uma Bíblia
vai encontrar opiniões de determinados teólogos que confrontam a Palavra
de Deus, então perguntamos: Ficaremos com o renomado teólogo ou com a
Bíblia?
Nossas exposições teológicas, pareceres, tudo deve estar bem ligado e
fundamentado com a Palavra de Deus, o próprio Paulo falou que só
entregava aquilo que havia recebido do Senhor (1 Co 11.25). Não procure
inventar, criar coisas que estão fora do texto bíblico; seja el, pois Deus só
tem promessa para aqueles que são éis à sua Palavra profética (Ap 22.19).

A teologia sistemática e o exegeta

Primeiramente vamos começar de nindo o que seja teologia sistemática e


exegese, para isso faremos uso das palavras de Alister E. Mcgrath11, que no
tocante à teologia sistemática diz:

A expressão “teologia sistemática” veio a ser entendida como


a organização sistemática da teologia”. Mas o que signi ca a
expressão sistemática? Surgiram duas correntes principais
em relação ao signi cado desse termo. Conforme a primeira
corrente, o termo signi ca algo organizado com base em
interesses educacionais ou explicativos. Em outras palavras,
signi ca a preocupação fundamental de apresentar uma
visão clara e organizada dos principais temas da fé cristã,
normalmente conforme o modelo do credo apostólico. De
acordo com a segunda corrente, o termo pode signi car algo
organizado com base em pressupostos metodológicos. Isto é,
as ideias losó cas acerca de como adquirir conhecimento
determinam a forma como o material está organizado. Essa
abordagem é especialmente relevante no período moderno,
no qual houve uma maior preocupação a respeito do método
teológico.

Note que nas palavras de Alister o que se percebe é que essa sistematização
se dá do ponto de vista da fé por meio do credo apostólico. Na segunda
conotação a de nição é mais metodológica, esclarecendo como tudo está
organizado.

A teologia exegética

Fazer essa distinção é bem simples, enquanto o exegeta busca o sentido


original do texto, procurando responder o que o autor original procurava
dizer lá atrás, nesse particular as palavras de Henry Clarence iessen (1999,
p.21) é oportuna, ele diz: A Teologia Exegética se ocupa diretamente do
estudo do Texto Sagrado e assuntos relacionados, tais como auxílio na
restauração, orientação, ilustração, e interpretação daquele texto. Inclui ela o
estudo das línguas da Bíblia, da Arqueologia Bíblica, Introdução Bíblica
(Geral e Especial), Hermenêutica Bíblica e Teologia Bíblica o teólogo busca
tão somente sistematiza a verdade revelada, ele apenas procura organizar os
assuntos que estão revelados na Bíblia. Quanto ao exegeta podemos
novamente recorrer ao teólogo Charles Ryrie, que diz:

Se nossa fonte é tão importante, então devemos nos


preocupar com a maneira como a encaramos e como a
utilizamos. Uma teologia correta baseia-se na exegese
correta. Os estudos exegéticos devem ser feitos antes de uma
sistematização teológica, assim como os tijolos precisam ser
fabricados antes de serem usados na construção de um
prédio.

Um grande perigo encontrado na teologia sistemática, é que às vezes o


teólogo procura ir além daquilo que o texto revela, desse modo ele pode cair
no erro de acrescentar, interpretar coisas que jamais nos foram reveladas, e
quanto a esse assunto Moisés foi bem claro: “As coisas encobertas pertencem
ao Senhor, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos
lhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei”. (Dt
29.29).
O teólogo jamais deve tentar ser ousado a ponto de querer criar uma
verdade que não existe no texto, frente a algo que está encoberto ele deve
permanecer calado, quieto, e não procurar fazer suas deduções lógicas, claro,
se tais deduções não ferem o texto, nem estão acima daquilo que está
implícito, então tudo bem!
Portanto, se você deseja ser um bom estudante de teologia, tenha em sua
mente os seguintes pontos:

a. Procure ser um homem de oração e fé, pois somente assim


entenderá realmente que as verdades de Deus estão reveladas em
sua Palavra. O ímpio jamais chegará a isto, por isso que ele
precisa ser iluminado pelo Espírito Santo (1 Co 2.10-16). A
verdadeira fé em Deus é que nos levará a nos rmar em muitos
assuntos bíblicos, até mesmo àqueles que não têm resposta, por
isso Jesus disse: Tendes fé em Deus (Mc 11.22).

b. Deve ter uma mente transformada. Em Romanos 12.2 Paulo fala


que já temos uma mente transformada. Em 1 Coríntios 2.16, ele
diz que nós temos a mente de Cristo, assim podemos melhor
entender o que é espiritual, como no caso da Palavra de Deus.
Só pode pensar no espiritual quem é espiritual. Uma exegese
para ser bem pensada, organizada, e ter os seus frutos
espirituais, precisa partir de pessoas que pensam
espiritualmente. Esse pensar envolve os seguintes passos:
Pensar exegeticamente: signi ca entender o real sentido do
texto.

Pensar sistemicamente: signi ca encadear os fatos de


maneira ordeira.

Pensar criticamente: signi ca determinar as evidências


relacionadas.

Pensar sinteticamente: quer dizer abordar os assuntos


como um todo.

Mesmo quem é doutor em exegese jamais conseguirá responder todos os


assuntos bíblicos, inclusive aqueles que tratam sobre a soberania de Deus, o
dever do homem, assuntos que envolvem a origem do pecado, a queda dos
anjos, até que ponto o sacrifício de Cristo pode alcançar crianças que
morreram. Nos assuntos polêmicos devemos estar abertos para as
discussões, e não sermos fechados, nem adotarmos pontos de nitivos, e
aquilo que não sabemos deixemos com Deus.
Um bom e verdadeiro teólogo quem faz não são os livros, uma mente
arguta, mas tudo depende da ação do Espírito Santo de Deus (Jo 16.12-15).
O melhor currículo que tem é o Espírito Santo de Deus, Ele tem toda a
verdade de Deus e sabe como transmitir o que precisamos saber sobre
Cristo, coisa que nenhum teólogo possui.
Quem deseja desenvolver bem o seu conhecimento bíblico, seus estudos,
precisa deixar-se dominar pelo Espírito Santo, sabemos que qualquer
método de estudo é maravilhoso, mas será inútil se desprezarmos a pessoa
do Espírito Santo de Deus.
Hoje muitos teólogos estão apenas repetindo o que outros já disseram, em
suas aplicações não tem nenhuma ligação nova para transmitir, isso pelo
fato de não fundamentar seus estudos nos métodos divinos, apenas na
indução ou dedução.
Por m, quero deixar claro o seguinte: nunca estude teologia apenas
pensando em ser um grande erudito, ou destacar-se como grande
acadêmico; precisamos ir mais além, olhando para o aspecto espiritual,
somente assim seremos impactados pelas verdades divinas, que nos libertará
do nosso egoísmo, da orgulhosa erudição.
O Estudo da Teologia deve nos dar prazer, provocar mudança em nossas
vidas, nos levar a uma verdadeira adoração a Deus, e glori car a Ele pela sua
sabedoria divina (Rm 11.33; 1 Tm 3.16). É a reverência para com a Palavra
de Deus que gera em nós o verdadeiro temor (Pv 1.7).
10 RYRIE, Charles, Teologia Básica- Ao alcance de todos, São Paulo: Mundo Cristão, 2004, p. 21.
11 MCGRATH, Alister E. Teologia Sistemática histórica e losó ca: uma introdução à teologia cristã,
São Paulo: Publicações Shedd, 2005. p. 181.
QUESTIONÁRIO MÓDULO 1

a. Diferencie os tipos de teólogos e, segundo as Sagradas


Escrituras, discorra sobre o que é necessário para ser um bom
teólogo?

b. Por qual motivo não podemos estudar a Bíblia somente espiritualizando? (1 Co 14.15)
(Rm 12.1)

c. O que entendemos por prolegômenos?

d. O que é Teologia? De que maneira deve ser feito os estudos teológicos, segundo Mc
12.30 e Sl 19.1-3?

e. O que entendemos por Teologia Sistemática?

f. De que se ocupa a Teologia Exegética?

g. Se alguém desejar ser um bom estudante de teologia, quais pontos que deve ter em
mente, biblicamente?

h. “Um bom e verdadeiro teólogo quem faz não são os livros”, discorra sobre essa
a rmativa tendo como base Jo 16.12-15.
A AUTORIDADE DIVINA NO
ESTUDO TEOLÓGICO

O cristão deve ter consciência que ao entrar em contato com qualquer


ciência, inclusive a ciência teológica, tudo deve partir de uma
centralidade na autoridade da Palavra de Deus, pois Paulo disse que ela é
útil para tudo, por se tratar das Escrituras Sagradas, que foram sopradas por
Deus (2 Tm 3.15.16; 2 Pe 1.21.22; Hb 4.12). A Bíblia é um livro normativo
para nós, Ela tem essa autoridade porque foi soprada por Deus. No quesito
da autoridade teológica M. J. Sawyer12 diz:

A Bíblia permanece no coração do cristianismo como sua


fonte de nitiva e normativa de autoridade. A autoridade das
Escrituras é reconhecida pelos cristãos de todas as tradições.
Até o catolicismo, que no Concílio de Trento, em 1546,
estabeleci a tradição como fonte de autoridade idêntica à das
Escrituras, retornou no Concílio Vaticano II à antiga posição
de que a tradição interpreta as Escrituras, em vez de ser igual
e independente dela. Hoje, a Bíblia de ne o cristianismo e a
teologia cristã. McGrath observa de forma sucinta: “Embora
o teólogo possa sentir-se livre para explorar outras fontes de
interesse potencial, a doutrina é historicamente ligada às
Escrituras.

Os liberais

Nenhuma corrente losó ca ou pensamento teológico defendido por um


homem pode ser digno de aceitação no mesmo nível da Palavra de Deus,
visto que a Bíblia foi inspirada por Deus, ao passo que muitas interpretações
teológicas são apenas pensamentos expostos por homens.
Devemos tomar todo o cuidado para não sermos individualistas,
particularistas, como foram os liberais, que tentaram olhar para a Palavra de
Deus de maneira subjetiva, deixando que cada pessoa entenda livremente o
processo da comunicação entre Deus e o homem. Antes de prosseguirmos
precisamos saber o que realmente era o liberalismo.

Movimento ocorrido nos círculos protestantes dos séculos


XIX e XX, baseado na suposição de que o cristianismo pode
ser conciliado com as aspirações humanas positivas, dentre
as quais a busca de autonomia. O liberalismo deseja adaptar
a religião ao pensamento e à cultura moderna.
Consequentemente, vê o amor divino como realizado-
básico, se não totalmente- no amor ao próximo, vendo o
Reino de Deus como uma realidade presente encontrada
sobretudo na sociedade transformada sob o aspecto ético.
Um dos teólogos liberais mais importantes foi Albrecht
Ritschl.

O posicionamento do liberalismo fez com que a questão da autoridade


divina casse a mercê da razão, claro que reconhecemos a razão como uma
benção de Deus para todos nós, por meio dela podemos chegar ao
conhecimento, entendimento, e sem razão não existe compreensão da
verdade, mas a razão que não deve ser aceita como autoridade, na questão
da Palavra de Deus, é aquela que é apresentada como dona da verdade, ou
até mesmo criadora dela. A Nossa razão deve estar sujeita à Palavra santa de
Deus, e precisamos entender que a razão humana é limitada, tem falhas, e
jamais pode ser autônoma. No liberalismo, existem três coisas que o
caracterizam:

a. A con ança na razão, que já explicamos acima.

b. A busca do sentimental. Pensamento que vem de


Schleiermacher (1768-1834), que confrontou o racionalismo. O
sentimentalismo destacou a importância das experiências
religiosas, desse modo a autoridade da religião estaria rmada
nas experiências.

Para o teólogo suíço Karl Barth o apogeu do liberalismo se expressava na


pessoa de Schleiermacher, que fez com que a teologia se transpusesse para
uma interpretação apenas antropológica, vendo o homem como o ponto
central de tudo e, em se tratando de sentimentos, a psicologia não cou de
fora.

c. Por último, sabemos que o liberalismo colocou também a


consciência como sendo uma autoridade, se esquecendo de que
o nosso conhecimento é limitado e falho, através dela o homem
pode ter noções ideias, pode fazer julgamentos morais. Merece
destacarmos aqui a pessoa do lósofo Kant (1724-1804), ele é
considerado o iniciador desse tipo de pensamento.

O grande problema do liberalismo é o seu particularismo, seu subjetivismo,


pois coloca a Bíblia apenas como sendo um objeto produzido pela razão
humana. Por meio do seu julgamento racional, pela sua consciência, pelos
seus sentimentos, o homem pode expressar suas ideias sobre Deus, Homem,
Mundo. A Bíblia seria apenas um diário do homem, nele contém apenas as
ideias e experiências dos homens, suas crenças, essa interpretação não ver a
Bíblia como sendo a Palavra inspirada de Deus.

Neo-ortodoxia

Na busca pela autoridade teológica, três correntes de pensamentos precisam


ser bem entendidas, isso para que não gere no estudante de teologia
concepções erradas sobre as Escrituras, já mencionamos o liberalismo, que
se respalda na razão e nos sentimentos, falaremos agora sobre a neo-
ortodoxia e a ortodoxia. Vamos então começar de nindo a neo-ortodoxia:
Movimento protestante do início do século XX (que contou
com a participação, entre outros, de Karl Barth, Emil
Brunner e Reinhold e H. Richard Niebuhr) nascido a partir
da percepção de que o liberalismo protestante tinha ajustado
o Evangelho à ciência e à cultura moderna de forma
ilegítima e no processo tinha perdido o realce clássico sobre
a Transcendência de Deus bem como sobre a Palavra. Nessa
situação, os pensadores da neo-ortodoxia promoveram um
retorno aos princípios fundamentais da teologia da Reforma
e da igreja primitiva (sobretudo com respeito à primazia das
Escrituras, à depravação humana e à obra de Deus em
Cristo) como base para a proclamação do Evangelho nos
seus dias, embora levando a sério a crítica do Iluminismo
contra a ortodoxia e rejeitando o Escolasticismo protestante.
Os teólogos neo-ortodoxos muitas vezes usavam uma
perspectiva dialética que buscava o entendimento teológico
justapondo formulações aparentemente contraditórias como
verdades paradoxais (e.g, o homem é caído de depravado,
mesmo assim é livre e responde diante de Deus).

A autoridade da neo-ortodoxia tem o seu ponto de vantagem, primeiro


porque ela procura deixar claro que Deus é quem inicia o processo da
revelação, contrariando desse modo o liberalismo. Muitos estudiosos fazem
confusão entre o liberalismo e a neo-ortodoxia, isto pelo fato da neo-
ortodoxia ensinar certo tipo de liberalismo bíblico.
Na neo-ortodoxia a autoridade não está na razão, sentimento, mas no verbo,
a Palavra de Deus revelada por meio de Cristo Jesus, Karl Barth. Deus se
revela ao homem através de Cristo, nesse caso os neo-ortodoxos creem que a
Bíblia tem a revelação de Deus para o homem, mas eles dizem que essa
Bíblia não tem autoridade absoluta, ela serve apenas como um conjunto de
instrumentos para o homem encontrar a Cristo, mas é falha.
Neo-ortodoxia e barthianismo são a mesma coisa, o grande erro dessa
corrente é procurar revelar a perfeição de Deus na subjetividade humana,
onde o homem entra em uma crise de fé, é aí que Deus entra em contato
com ele surgindo à verdade absoluta.
Os neo-ortodoxos a rmam que a Bíblia, como instrumento que pode
provocar essa crise, gerando novas experiências, jamais deve ser tomada
como autoridade máxima, ela apenas apresenta o testemunho da Palavra,
mas ela é falha.

Os ortodoxos

Em prosseguimento daremos agora a de nição dos ortodoxos, nesse ponto o


objetivo é levar cada leitor a ter uma compreensão desses segmentos para
que possa melhor entender o assunto ora em pauta. Por ortodoxia se diz:

Literalmente “louvar correto” ou “crença correta” (tem


oposição à Heresia). Ser ortodoxo implica identi car-se de
forma sistemática com a crença e com a adoração da fé cristã
(na tradição católica, também com a própria igreja),
conforme o testemunho das Escrituras, dos Credos e da
Liturgia da Igreja. Às vezes o termo ortodoxo é usado em
sentido mais restrito, referindo-se à Ortodoxia oriental. Por
ortodoxia oriental o que se pode entender é o seguinte:

Rami cação do cristianismo comprometida com a


preservação das doutrinas formuladas pelos pais da Igreja
primitiva, conforme esboçado nos sete concílios ecumênicos
entre o século IV e o VIII. Embora concorde em alguns
pontos teológicos com o catolicismo romano e com o
Protestantismo (como na doutrina da Trindade), a ortodoxia
oriental apresenta pelo menos três características: 1)
Teologia Apofática, segundo a qual pelo fato de Deus está
além do entendimento racional, o indivíduo só pode
conhecê-lo como uma visão de luz interior. 2) o
entendimento trinitário segundo o qual Espírito procede
apenas do Pai (conforme o teor original do Credo Niceno) e
3) a Salvação como processo de dei cação, isto é, de
participação da natureza divina.

Os ortodoxos podem ser de nidos como sendo aquelas pessoas éis no


cumprimento da doutrina, que sempre agem de acordo com ela, que são
intransigentes a tudo quanto é novo, que não aceitam novos princípios e
ideias em relação à Palavra de Deus.
Sabemos que, quando falamos sobre os ortodoxos, tal termo atualmente não
está fechado. Hoje temos os ortodoxos católicos, mas eles acreditam que a
autoridade deles vem da própria igreja, nesse caso a Bíblia está sujeita à
interpretação deles, o que envolve também suas tradições. Os católicos
entendem que a igreja e suas tradições devem ser interpretadas pelos
Concílios, deles virão às interpretações corretas para que os éis possam
colocar em prática e cumpri-los.
Nessa mesma linha de pensamento segue a igreja católica ortodoxa, mas veja
uma coisa interessante: o catolicismo não pauta sua autoridade no homem,
como fazem os liberais.
Concluiremos esse tópico falando sobre os ortodoxos conservadores
protestantes, eles são diferentes dos liberais e dos católicos. Quando nos
referimos aos conservadores protestantes, estamos apenas querendo dizer
que eles não são subjetivos nem liberais, a base de sua autoridade não é nem
a tradição nem a igreja, mas sim a Palavra de Deus.
Os conservadores acreditam na Bíblia como a revelação de Deus aos
homens, ele pode fundamentar-se nela, con nar nela, compreendê-la por
meio da razão, só que uma razão transformada pelo poder de Deus (Rm
12.2).
Uma razão transformada, lapidada pelo Espírito Santo, fará com que o
homem se volte para Deus com um verdadeiro comprometimento, pois não
dependerá de suas interpretações próprias, nem colocará em descrédito o
que está escrito nas páginas da Bíblia, pois a sua fé é resultado de uma ação
direta do Espírito Santo, provocado pela pregação da santa Palavra de Deus
(Rm 10.17; Jo 16.6-8).
Quero dizer o seguinte: as lições da história, os credos, as tradições, as
experiências cristãs, tudo tem certa base de autoridade, só que eles são
falíveis, jamais devem ser comparados com a autoridade da Palavra de Deus,
somente Ela tem a orientação certa para o homem.
Quando a igreja deixa de buscar a autoridade da Palavra, seja para um
estudo teológico, um culto, um ritual, ou qualquer outra atividade,
compromete a verdadeira fé em Deus. Os apóstolos deixaram claro que não
iriam mudar nada, mas que viveriam e seguiram tudo de acordo com as
Escrituras (1 Co 11.23; Ef 2.20-22; Ap 22.19).

12 SAWYER, James M. Uma Introdução à teologia: das questões preliminares, da vocação e do labor
teológico, São Paulo: Editora Vida, 2009. p. 133.
DOIS MOMENTOS HISTÓRICOS
DA TEOLOGIA

O momento da Teologia Alemã

H istoricamente, sabe-se que a teologia alemã, do século dezenove,


foi quem dominou, devido a isto, diversos teólogos ingleses
manifestaram temores no tocante à interpretação do texto
bíblico. Os americanos buscaram uma reformulação da teologia tradicional,
desejando combater a forte teologia alemã.
Alguém pode perguntar: mas o que tem de errado na teologia alemã? De
modo bem simples podemos responder essa pergunta: eles apenas
procuraram adaptar o teor bíblico para o homem moderno, pois entendiam
que o mundo da Bíblia estava bem distante do mundo do homem moderno.
Falando desse momento histórico podemos recorrer a Alister Mcgrath13, que
diz:

O protestantismo liberal é, sem dúvida alguma, um dos


momentos mais importantes que surgiram dentro do
pensamento cristão moderno. Suas origens são complexas.
No entanto, ca mais fácil compreendê-lo se consideramos
como seu ponto de partida a reação ao programa teológico
elaborado por F. D. E Schleiermacher, particularmente no
que diz respeito à sua ênfase sobre o sentimento humano e à
necessidade de relacionar a fé cristão à situação do ser
humano. O protestantismo liberal clássico surgiu na metade
do século XIX, na Alemanha, em meio à crescente percepção
de que a fé e a teologia cristã necessitavam, ambas, ser
revistas à luz do conhecimento moderno [...]. Desde o início,
o movimento liberal se comprometeu a lançar pontes para
suprir a lacuna que havia entre a fé cristã e o conhecimento
moderno. Era necessário que o programa liberal
apresentasse um grau signi cativo de exibilidade em
relação à teologia cristã tradicional. Seus principais
escritores alegavam que essa renovação dogmática era
essencial, se o cristianismo tinha a pretensão de continuar
sendo uma opção intelectual viável em meio ao mundo
moderno. Por essa razão eles exigiram um certo grau de
liberdade, por um lado, quanto ao legado doutrinário do
cristianismo e, por outro lado, quanto aos tradicionais
métodos de interpretação bíblica.

Não parece nada de mais tentar adaptar as verdades da Bíblia para o povo de
sua época, nesse caminho andou os apóstolos, e o grande teólogo do terceiro
século, Orígenes. Mas é bom entender o seguinte: os apóstolos procuraram
falar do mesmo Evangelho apenas usando metodologia diferente para outras
pessoas, sem alterar o seu conteúdo, conforme fez Paulo. Fiz-me como fraco
para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para pôr
todos os meios chegar a salvar alguns. (1Co 9:22).
Os servos de Deus no passado procuravam levar a verdade divina
adaptando-a a cada situação dos seus ouvintes. Assim, os teólogos alemães
tiveram a intenção de romper com o abismo existente entre a Bíblia e o
homem moderno, daí buscaram adaptar essas verdades tornando-as
acessíveis à modernidade.
No século dezoito o que se dava ênfase demasiada era a con ança na razão
do homem, é bom lembrar que ainda no século 18 dezoito o pietismo seguia
esse caminho, pois dava-se ênfase ao homem e suas experiências. Entende-
se então que o iluminismo e o pietismo estavam a nados na questão de se
con ar no homem.
A teologia alemã não vai ser diferente, ela toma o homem como o seu ponto
de partida para sua teologia, valorizando seus sentimentos, sua razão, sua
moral. Alguns teólogos alemães passaram a a rmar que a fé era fruto do
espírito humano, assim, deixou-se de lado a Palavra de Deus e a tônica
maior é o homem.
Já anteriormente falamos de Friedrich Schleiermacher (1768-183), ele deu
muita munição para a teologia do século dezenove, o que posteriormente
causará grande in uência, ele foi o mais destacado.
No pensar de Schleiermacher, a religião não estaria ligada a questão da
praticidade, ou seja, do fazer, conhecer, mas ela seria apenas intuitiva, um
desejo muito forte pelo eterno, in nito, um sentimento de dependência por
um ser absoluto, é nesse prisma que se diz que para ele a religião baseava-se
simplesmente nos sentimentos.
Tendo sua teologia baseada nos sentimentos, Schleiermacher confrontou as
especulações teológicas, moralismo e o racionalismo. Para entendermos
bem a dita teologia dos sentimentos, note que para esse teólogo alemão o
pecado não é entendido como nós entendemos, apenas consistia na falta da
consciência da dependência divina ou absoluta.
Para Schleiermacher nenhum homem mortal teria a capacidade de uma
consciência plena da dependência absoluta de modo constante, somente
Jesus tinha essa capacidade, razão pela qual ele era considerado perfeito. Ele
a rmava que o trabalho de Jesus estava presente na igreja, isto porque o os
seus sentimentos religiosos foram desenvolvidos.
Jesus Cristo salva os crentes pelos sentimentos religiosos, os quais estão
presentes ou embutidos no poder da sua consciência de Deus. Obras de
destaque desse teólogo foram veiculadas: Discurso sobre a Religião para os
desenhadores de cultos (1799), A fé cristã segundo os princípios da Igreja
Evangélica (1821). Nessas obras estão presentes seus pensamentos sobre a
teologia dos sentimentos.
Teologia Racional

Essa teologia brotou da análise feita por um grupo de teólogos, que de modo
racional buscaram dar uma interpretação da existência da igreja. Eles diziam
que a igreja surgiu porque se apegou a um mestre do judaísmo denominado
de Jesus, o qual não era Deus, mas que os seus seguidores, especialmente
seus discípulos o tornaram Deus.
É bom lembrar que foi nesse tempo também, do século XIX que a Bíblia foi
totalmente marginalizada, na verdade, se fazia a leitura e estudo dela,
porém, sua leitura não era feita com o objetivo de se viver o que ela pregava,
mas para criticá-la. Sabemos que desde o momento do Iluminismo, a Bíblia
passou a ser lida não mais como Palavra de Deus, no seu aspecto dogmático,
mas tão somente como um documento qualquer, assim, claramente no
século XIX a Bíblia será analisada e estudada por homens anti-
sobrenaturais.
Foi nesse tempo que o Velho Testamento foi seriamente combatido,
sofrendo críticas severas, que dentre muitas coisas que começaram a criticar
a Bíblia, passaram a dizer que os livros de Moisés, o Pentateuco, jamais
foram escritos por Moisés, e que esses cinco livros na verdade foram escritos
em tempos posteriores, ou seja, em um período tardio na história de Israel,
fundamentado em documentos antigos, de modo que tal conteúdo
originou-se de muitas outras fontes, o que é denominado de hipótese
documentária ou então a dita teoria JEDP14. Eles passaram a dizer que o
livro do profeta Isaías foi escrito por dois autores, o livro de Daniel era
intertestamentário.
Também o Novo Testamento não cou de fora, ele sofreu críticas pesadas,
em especial no tocante a Jesus Cristo, que para Ele deram diversas vidas,
pois buscou-se voltar para Ele através do homem histórico na apresentação
dos textos dos Evangelhos.
Um nome de destaque desse tipo de pensamento foi Fernando Cristiano
Baur (1792-1860). A ênfase desse teólogo pautava-se na razão, ele teve
diversos seguidores, os quais deram origem à denominada Escola de
Tubingen. Podemos dizer que a Escola de Tubingen rmou-se no
pensamento de Hegel, pois segundo Baur a igreja primitiva foi construída
em três bases:

a. Cristianismo judaico-tese.

b. Cristianismo gentílico universal- antítese.

c. A igreja católica antiga-síntese.

Segundo Baur, a primeira fase da igreja era petrina, tendo seu fundamento
em Mateus e Apocalipse. A segunda fase seria paulina, fundamentando-se
nas cartas de Paulo: Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas e Lucas. A terceira
fase estaria rmada em Atos e João. Entende-se então que Baur, segundo
suas análises racionais, pôde mudar a mensagem do Novo Testamento.
Consubstanciando esse seu pensamento, M. J. Sawyer, diz:

F. C. Baur aplicou a dialética hegeliana ao NT e conclui que


havia uma tese, o cristianismo petrino; uma antítese, o
cristianismo paulino; uma síntese, o cristianismo joanino,
que se tornou dominante na Igreja pós-apostólica. Baur
também concluiu que muitas das epístolas de Paulo não
foram escritas pelo apóstolo, mas por seguidores dele,
algumas delas no século II. O Texto das Escrituras foi
estudado com muito cuidado e avidamente, mas como
documento histórico, não como a Palavra de Deus. Como
documento histórico, faltava-lhe autoridade. Representava o
pensamento religioso dos judeus e da igreja primitiva em
evolução, e, dessa forma, não supria a base normativa para a
Teologia.
Baur e seus seguidores diziam que o nascimento da igreja, seria importante
dar atenção aos intervalos que aconteceram entre Jesus e a produção dos
escritos do Novo Testamento, os quais vieram surgir do segundo século em
diante. Essa explicação racional coloca Jesus e seus escritos bem distante um
do outro, de modo que somente racionalmente é que se pode falar da
existência da Igreja.
No demais, com tais explicações o que se passou a ver é que a Bíblia para
muitos não tinha grande valor, sentido, a teologia cou presa tão somente ao
estudo do homem, ou seja, o aspecto antropológico, como também
losó co. De modo geral, a Bíblia passou a estar relegada a uma obra
qualquer, sendo desprezada por muitos.

Opondo-se ao naturalismo

Um nome de destaque também do século dezenove, que aqui merece ser


estudado, sendo ele também alemão, é o teólogo Albrecht Ritschl (1822-
1889). Esse homem estava atrelado a Kant, segundo ele, a religião poderia
ser vista tão somente na questão da moralidade e de esforço pessoal no
estabelecimento do reino de Deus, mas apenas em um aspecto moral e ético.
No caso dele ter tomado de empréstimo a loso a de Kant, atente para essa
citação:

Ao empregar a epistemologia de Kant (modi cada pelo


lósofo do século XIX Rudolph Lotze) como fundamento, o
ritschlianismo tentou separar religião e teologia de loso a e
metafísica, baseando a religião rigorosamente na experiência
fenomenológica da experiência, o fenomenológico. Os
ritschlianos concordavam com essa proposição. Teologia
sem metafísica tornou-se o lema da escola. Seguindo a
tradição kantiana, os ritschlianos a rmavam que o
conhecimento humano era rigorosamente limitado ao
mundo dos fenômenos, que abrangia o domínio da história
veri cável e o domínio da experiência pessoal. Conhecer a
Deus como ele é, sua essência e seus atributos, era algo que
estava além das possibilidades da experiência humana.
Assim, asserções positivas acerca da natureza divina não
podiam ser articuladas. Dessa forma, o ritschlianismo
representava um agnosticismo teológico. O próprio Ritschl
a rmou (concordando com Kant) que ninguém podia
conhecer as coisas em si mesmas, apenas suas relações
fenomenológicas. Uma vez que o ser humano não era capaz
de perceber Deus no mundo, o conhecimento de Deus
estava fora do domínio do teórico (cientí co/empírico), e
uma vez que o ritschlianosmo era rigorosamente empírico, o
estudo histórico passou a ser valorizado, como meio de
descobrir a revelação de Deus na história: a pessoa de Jesus
Cristo.

Albrecht Ritschl no seu ensino a rmava que através da revelação de Jesus


Cristo era o único meio para garantir que poderia garantir e salvar a
personalidade da natureza impessoal que ameaçava. Por meio dessa sua
a rmação ele estava combatendo o naturalismo.
O ensino de Ritschl fundamentava-se nas necessidades morais do homem,
ele dizia que o homem poderia experimentar a redenção de Cristo, posto
que Ele se revelou com essa verdade. Jesus, segundo Hitschl, ele foi o alvo
moral mais abrangente: o reino de Deus como comunhão de personalidades
livres que dominam o mundo.
Podemos dizer que o ensino sobre a religião cristã no pensamento de Ritschl
era as necessidades morais do homem. Jesus é um modelo de revelação
porque Ele manteve delidade à sua vocação, de modo que o mesmo pode
ser reconhecido por sua personalidade moral como sendo a revelação de
Deus, o que pode ser tratado como um ser divino maior que o homem e os
seres angelicais.
O homem, vivendo neste mundo, segundo dizia Ritschl, estava ameaçado
pelo naturalismo, mas olhando para Jesus Cristo consegue enxergar uma
personalidade moral e livre, o qual traspassou o que é natural, material,
desse modo pode ter suas necessidades morais supridas Nele.
A teologia de Ritschl foi bem aceita por muitos, na verdade ela teve um
apogeu até maior do que a de Schleiermacher, de modo que muitos acharam
que ele de fato tinha conseguido resolver o problema do mundo da Bíblia
com o moderno, o que não era verdade, pois ele seguiu o mesmo
posicionamento do Iluminismo, tendo como ponto de partida o próprio
homem.
Tendo o homem como ponto de partida, para Ritschl o homem pode
reconhecer a revelação divina simplesmente porque ela diz propriamente
aquilo que ele tem ciência por causa dos seus interesses morais.

Seguindo os passos do mestre

Adolf von Harnack (1851-1930) foi aluno de Ritschl, esse andou nos passos
do seu mestre, a rma-se que ele é o maior emblema da teologia liberal. Diz-
se que Adolf foi o maior historiador do cristianismo em sua época, sua obra
tornou-se um modelo padrão para o outro século vindouro, uma de suas
obras de destaque é a História Dogmática (History of Dogma), apesar dos
seus méritos, ele caminhou grandemente na estrada do liberalismo.
Para Adolf Von Harnack, o original do Evangelho era puramente
corrompido, no período do Novo Testamento, ele transforma a religião de
Jesus acerca de Jesus. Segundo ele, tudo ca ainda mais corrompido desde
que o cristianismo vai deixando sua gênese judaica e entrando para o
contexto do mundo helenista, visto que é aí que a mensagem tanto em
referência a trindade e as duas naturezas de Cristo será plenamente
distorcida. Para Adolfo o que o teólogo precisava fazer era tão somente
buscar um retorno ao Evangelho tirando os elementos do helenismo e
buscando apresentar somente aquilo que fosse real e permanente. Na
verdade, concedeu o credo do liberalismo, pois ensinava que Jesus pregou a
paternidade de Deus e o valor in nito da alma humana.
Segundo Harnack o Evangelho não tinha ligação direta com Jesus, o Filho
de Deus, mas apenas com o Pai, com essa posição passa a se dizer algo muito
absurdo, que aquilo que Jesus pregava não demandava nenhum tipo de
crença em sua pessoa e nem tão pouco dava autoridade aos seus ditos
mandamentos, de modo geral, ele ensinava que os ensinos ou doutrina
referente à Jesus Cristo era fundamentado no próprio Cristo, porém, tudo
foi alterado, modi cado pelos seus discípulos, seus seguidores, inclusive
Paulo. Nesse particular vamos novamente fazer uso das palavras de M. J.
Sawyer, que diz:

Segundo Harnack, foi o trabalho de Paulo que apresentou


Jesus Cristo numa estrutura além da compleição humana.
Paulo introduziu modi cações no cristianismo pelas quais o
Evangelho simples de Jesus foi nalmente substituído pela
adesão a doutrinas relativas à pessoa de Cristo. Além disso,
Paulo é considerado o responsável por investir na morte e na
ressurreição de Cristo de signi cância redentora.

Para Harnack o reino de Deus realiza-se na alma do homem, o que


determina toda a sua vida. Com tal ensino até a velha ortodoxia chegou a
trilhar o caminho da centralidade do homem, a rmando que nele estava a
revelação e a experiência do novo nascimento, que deveria ser ao contrário,
que a fé deveria pautar-se na revelação de Jesus Cristo.

13 MCGRATH E. Alister, Teologia Sistemática: sistemática, histórica e losó ca- uma introdução à
teologia cristã. P. 138.
14 J-Javé como nome de Deus. E- Elohim. D- Deuteronomista. P- Sacerdotal.
A TEOLOGIA HISTÓRICO-
CRÍTICA

C onforme relatamos acima, a dita teologia do século 19 não teve


tanto êxito, pois já no nal do mesmo século seus representantes
tinham perdido sua in uência, foi então que para não ser extinta
de uma vez entra em cena o método histórico-crítico.
Mencionamos a intenção de Baur em colocar em crédito o Novo
Testamento, inclusive a dita escola de Tubingen. Agora essa empreitada será
feita contra o Velho Testamento pela pessoa de Julius Wellhausen com
outros.
Logo a tese de alguns vai girar em torno da nação de Israel, os quais
a rmaram que esse povo tem um começo ou uma evolução bem natural, na
verdade a princípio eles eram politeístas, mas logo depois se tornaram
monoteístas.
Através dessa teoria, em dizer que a evolução de Israel foi natural,
logicamente eles estariam dizendo que esse povo nos legou uma religião
natural, e não por revelação divina. Sendo já bem desenvolvidos, ou seja, no
término da evolução, esse povo imprimiu então um monoteísmo moralista,
o qual posteriormente seria ensinado e pregado pelos profetas. Nas palavras
de Wellhausen, a fé monoteísta e moralista dos israelitas desenvolveu-se por
meio de uma evolução natural. São Oportunas aqui as palavras de Clyde T.
Francisco15:

Muitos dos críticos têm dado sua contribuição a esta


maneira de entender o Velho Testamento e de criar uma
antipatia de todo desnecessária. Muitos deles
decompuseram-no em pedaços, como se estivessem fazendo
um estudo anatômico, tirando-lhe toda conexão histórica e
destruindo a verdade ou relegando-a a um plano de segunda
categoria. Um grande escritor disse: “eles começaram com
um canivete e terminaram com um machado”; ou como
outro a rmou: “eles foram atiçados pelas fascinantes
cavilações da vaidade humana”. Todavia, valiosa
contribuição foi feita ao estudo do Velho Testamento no
sentido de que é impossível interpretar uma passagem
deslocada do seu lugar e do sentido histórico; e o estudo
destes críticos tem sido feito de tal modo que todo o peso e
valor das verdades espirituais foram totalmente
negligenciados. A sua ênfase evolucionista levou-os à
convicção de que apenas pequenas porções do Velho
Testamento são dignas de estudo: as dos profetas do oitavo
século antes de Cristo, quando o Velho Testamento alcançou
o seu ponto culminante. Entretanto, para os escritores do
Novo Testamento, o Velho tinha outro valor muito diferente.
Não se detiveram apenas nos livros do Velho Testamento
que mais se aproximavam dos ensinos de Jesus, mas
contemplaram a história dos hebreus no seu todo,
culminando com a revelação de Deus ao Israel espiritual, por
meio da encarnação do Filho. Em Jesus mesmo encontramos
essa atitude. Ele sempre considerou as Escrituras como um
todo, nunca como uma compilação.

Esse pensamento exposto pelo método histórico-crítico fez com que se


estudasse a fundo a relação das demais culturas do Oriente Médio, de modo
que se deu um encontro semelhante entre a religião de Israel com as
religiões de outras nações vizinhas, o que se pôde dizer que toda religião
tinha uma evolução bem natural.
Com esse método a rmou-se categoricamente que toda religião existente no
mundo tem sua gênese em um processo natural, inclusive Jesus é produto do
seu próprio tempo. Diante disso, Ernesto Troeltsch, com o qual nda tal
teologia, diz: O cristianismo é a religião mais desenvolvida.
Note que o movimento teológico do século dezenove começa com o homem
e termina com o homem, não evoluindo em nada, pois em tudo descartaram
a verdadeira revelação da Palavra de Deus, a qual só pode ser entendida por
meio da fé. Negando de toda forma o surgimento do cristianismo no seu
aspecto revelativo, espiritual, antes colocando no mesmo nível de qualquer
outra religião, que tem uma evolução natural.
A teologia do século dezenove foi puramente teoria de homens que
desprezaram a revelação divina, a rmando que a fé dos cristãos era apenas
um processo evolutivo natural, mas, como já dizia Paulo, quem não é
espiritual não pode discernir as coisas espirituais, ao contrário daquele que
é, o qual pode entender e discernir tudo bem. Mas o que é espiritual
discerne bem tudo, e ninguém é discernido. (1Co 2:15).

Crendo na revelação divina

Por vezes pensamos que nesse período não havia ninguém que alçasse sua
voz contra tais ensinos, na verdade, tinha os ortodoxos que atentavam
seriamente para a Palavra de Deus. Citaremos alguns que foram guras
célebres, os quais, em suas teologias tinham a Palavra de Deus como a
verdade revelada.
Primeiramente falaremos do Holandês Hermann Frederico Kohl Brugge
(1803-1875). Ele atuou no seu ministério na Alemanha, em seus ensinos,
reagiu fortemente contra o posicionamento do pietismo, o qual dava ênfase
no homem devoto, deixando bem claro que tudo deveria estar plenamente
rmado na Palavra de Deus, é Dela que se deve dar maior ênfase.
Essa ênfase dada a Palavra aconteceu porque esse teólogo não procurou
criar ideias de sua própria mente, antes rendeu-se ao Estudo da Palavra,
especialmente o livro de Romanos, que no capítulo 7.1, entendeu que até o
homem que é regenerado é carnal, apenas Jesus é verdadeiramente
espiritual, de modo que Ele é tanto a nossa justi cação como santi cação.
Kohl Brugge entendia que o homem deveria voltar-se plenamente para
Cristo, pois caso ele tentasse viver uma santidade por seus próprios esforços,
então já estaria em uma ação pecaminosa, pois nesse caso ele estaria
colocando de ser algo em si mesmo.
Kohl Brugge e seus seguidores eram apegados à Palavra, sempre eles
estavam fazendo citações do Salmo 81.11; Is 55.1; Mt 10.8. A tônica de Kohl
Brugge era a fé, como também fez Lutero, dentre outros reformadores.
O segundo nome é o do dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855), ele
também reagiu contra o posicionamento do pietismo, porém, em sua ação
confrontou a secularização do cristianismo, ele dizia que para ser cristão
exige-se muito do homem. Pelo pensamento desse pensador cristão se
entende:

16
Como pensador cristão, Kierkegaard defendeu o
conhecimento da fé contra a supremacia da razão. Ele
a rmava que a existência humana possui três dimensões: a
dimensão estética, na qual se procura o prazer; a dimensão
ética, na qual se vivencia o problema da liberdade e da
contradição e entre o prazer e o dever; a dimensão religiosa,
marcada pela fé. De acordo com Kierkegaard, cabe ao
homem escolher em que dimensão ele quer viver, já que se
trata de dimensões que se excluem entre si. Essas dimensões
podem ser entendidas, também, como etapas pela qual o
homem passa durante a sua existência: primeiro viria a
estética, depois a ética, e, por último, a religiosa, que seria a
mais elevada.
Para Kierkegaard, no campo da relação religiosa, o que era importante é que
no relacionamento do homem com Deus aconteceria algo importantíssimo,
que seria a superação da angústia e do desespero, porém, isso seria marcado
por um paradoxo, pois a pessoa deveria viver tendo de compreender pela fé
o que é incompreensível pela razão.
Seguindo o pensamento de Cristo exposto no Evangelho, que para ser
discípulo tem que perder tudo. Porque aquele que quiser salvar a sua vida,
perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á. (Mt
16:25). Ele dizia que crer em Cristo era colocar a vida em risco, sofrer,
sacri car-se. Essa verdade havia sido esquecida pela Igreja.
Esse teólogo e lósofo procurou evidenciar que um verdadeiro cristão tem
que sofrer. Sua missão como docente era despertar a igreja para essa
verdade. Hoje estamos precisando de teólogos e lósofos que procurem
ensinar também o que é verdadeiramente ser um cristão.
Os ensinos de Kierkegaard impactou profundamente a teologia, loso a,
psicologia do século seguinte, posto que seu ensino era de que ser cristão
envolve sofrimento. Essas verdades ele tirou das próprias páginas das
Sagradas Escrituras, pois os apóstolos, inclusive a comunidade de Cristo,
sempre foram todos sofredores.

15 FRANCISCO, Clyde T. Introdução ao Velho Testamento, Rio de Janeiro: JUERP, 1990, p.13,14.
16 COTRIM, Gilberto, Fundamentos da Filoso a, p 198
QUESTIONÁRIO MÓDULO 2

a. Qual a importância para o cristão ter a consciência que ao


entrar em contato com qualquer ciência, inclusive a ciência
teológica, ter a consciência da centralidade na autoridade da
Palavra de Deus? (2 Tm 3.15.16; 2 Pe 1.21.22; Hb 4.12)

b. Segundo a autoridade teológica, quais as três correntes de


pensamentos existentes?

c. Como é o olhar dos liberais para as Sagradas Escrituras e porque


devemos ter cuidado para não sermos como eles?

d. Por qual razão o particularismo e o subjetivismo é o grande


problema do liberalismo?

e. Diferencie a corrente neo-ortodoxia e da ortodoxia pontuando


seus principais aspectos.

f. Discorra sobre a a rmativa: “O protestantismo liberal é, sem


dúvida alguma, um dos momentos mais importantes que
surgiram dentro do pensamento cristão moderno”.

g. O que entendemos por Teologia Racional?

h. Por que dizemos que a teologia do século dezenove foi


puramente teoria de homens que desprezaram a revelação
divina? (1Co 2:15).

i. Resuma sobre a visão teológica dos kantianos e ritschlianos.

j. Soren Kierkegaard (1813-1855) tinha o posicionamento contra


o pietismo, porém, em sua ação confrontou a secularização do
cristianismo, ele dizia que para ser cristão exige-se muito do
homem. Mediante o exposto, por qual motivo Kierkegaard
defendeu o conhecimento da fé contra a supremacia da razão?
A REVIRAVOLTA TEOLÓGICA

O s anos de 1914-1918 vão acontecer uma grande reviravolta na


teologia, foi um acontecimento que mudou grandemente a
esperança e o otimismo no Ocidente. O acontecimento que
estamos falando é o da I Guerra Mundial, ela implicou seriamente na
teologia, isso pelo fato de até então, quando Schleiermacher tentava conciliar
o Evangelho com a modernidade.
Com a I Guerra Mundial entrando no cenário humano muita coisa em
relação ao Evangelho e o homem moderno foi totalmente modi cado, isso
porque agora a preocupação maior era como esse Evangelho poderia ser
ouvido diante de um acontecimento tão horrendo.
Sabe-se que a Primeira Guerra Mundial foi resultado da ganância do
homem, como sempre (Tg 4.1), e lamentavelmente muitos teólogos só se
preocuparam em dar ênfase no homem e sua capacidade racional, já
imaginou se todos tivessem aplicado a pregar o Evangelho em sua pureza,
quantos homens não teriam sido poupados desse acontecimento malé co.
Na obra de História Geral e História do Brasil de S.E.I, esclarece:

O Grande Salto capitalista do século XIX e ambição por


mercados consumidores foram responsáveis por algumas
tensões entre as principais potências europeias, o que acabou
ocasionando a Primeira Guerra Mundial.

Isso aconteceu porque primeiramente alguns teólogos se preocuparam


simplesmente em modernizar o teor bíblico para relacionar com o homem
moderno, de modo que de agora em diante, tendo tudo centrado no
homem, e que ele não mudou nada, como a verdade da Bíblia poderia ser
encarada?
Atualmente está acontecendo o mesmo, o Evangelho está sendo ensinado
segundo a concepção de certos “doutores, pregadores, que torcem o
conteúdo da Palavra para encaixar-se com os seus, de modo que isso traz
sérias consequências e decepção para muitos, quando o esperado não é
cumprido, é isso que tem acontecido em relação a cura, riqueza,
prosperidade (2 Pe 2.1).

Os teólogos entraram em cena

Diante do cenário criado pela I Guerra Mundial, procurando dar um novo


realce as verdades do Evangelho, alguns teólogos entraram em cena,
podemos dividi-los em dois grupos:

a. O grupo dos alemães. Rudolf Bultmann, Friedrich Gogarten,


Paul Tillich.

b. O grupo dos suíços. Karl Barth, Emil Brunner, Eduard


urneysen.

Começando pelos suíços, destacamos primeiramente o teólogo Karl Barth,


ele sendo um pastor congregacional, lançou uma obra em relação à carta de
Paulo aos romanos (1919), o qual teve repercussão em todo o mundo. Por
meio desta carta, fazendo sua própria leitura, pôde perceber a desigualdade
grandiosa entre Deus e o homem (Ec 5.2).
Em sua Obra Barth evidencia a soberania de Deus e sua graça, mas destaca
que esse ser absoluto, mas escondido do homem, diferente do homem, só se
revela por meio da encarnação, ou seja, em Cristo, tão somente assim é que
o homem poderá conhecer a Deus.
O fundamento ou a norma para a teologia é Cristo Jesus, jamais o cristão.
De modo linear, Barth ensina que partindo da criação até a consumação,
deve-se visibilizar a encarnação de Cristo. Por meio desse posicionamento
teológico Barth consegue destacar em toda doutrina a luz de Cristo, é isso
que ele ensina em sua Dogmática17, onde Cristo torna-se o centro de sua
teologia. Falando dessa dogmática, Sawyer18 diz:

Em 1927, Barth publicou a Dogmática cristã, obra na qual


tomou posição oposta ao catolicismo romano e ao
liberalismo, porque ambos permitiam a possibilidade da
teologia natural. Ele também rejeitou qualquer metafísica ou
loso a como ponto de partida para o método teológico. Ele
insistia em que a teologia fosse fundamentada apenas na
Palavra de Deus, conforme comunicada ao ser humano.
Nesse estágio inicial da dogmática, ele concebia a Palavra em
três formas: a Palavra revelada, (encarnada), a Palavra
Escritura e a Palavra proclamada. Ele era incisivo em a rmar
que a Palavra de Deus não poderia jamais ser domesticada
sob o controle humano, pois não é uma propriedade
humana. A teologia não está baseada no Gefuhl de
Schleiermacher, mas na Palavra de Deus. Também não é
uma exposição da experiência humana de fé. Ao contrário,
ela tem prioridade sobre a fé humana. A revelação vem
apenas por meio de Jesus Cristo, a Palavra de Deus revelada.
Entretanto, para aprender a Palavra de Deus objetiva, o
Espírito é uma exigência, a possibilidade subjetiva da
revelação.

Para muitos estudiosos de Barth, sua dogmática foi considerada como a


Suma Teológica de Tomás de Aquino, e as Institutas de Calvino. Em seu
posicionamento, tendo Cristo como o centro de sua teologia, Barth descarta
toda e qualquer teologia natural, inclusive o socialismo alemão. Confrontou
também com o antigo liberalismo, a ortodoxia, que considerava a revelação
com a Bíblia, ademais, ele reagiu contra o catolicismo.
Para a teologia de Barth vários nomes foram dados: neo-ortodoxia, teologia
da crise, teologia dialética, para esse teólogo Cristo era o centro de tudo, era
o Eleito, o aprovado, pronto.

Uma nova análise da Bíblia pós-guerra

Logo após a I Guerra Mundial, uma nova leitura da Bíblia começou a ser
feita, de modo que aconteceu uma renovação no aspecto teológico. Antes a
leitura era feita com base ou na centralidade do homem, doravante tudo se
pautará em Cristo, especialmente na mensagem da unidade da Bíblia.
Os estudiosos entenderam que havia unidade e diversidade na Bíblia, sendo
assim, não se poderia negar o Velho Testamento diante do Novo, e não
existia distorção de pensamento entre Pedro e Paulo.
Com essa nova leitura do texto, passou então a entender que de modo geral
a Bíblia procura mostrar no seu conteúdo a mensagem geral das boas novas
da salvação. Portanto, conclui-se que o alvo das Escrituras era apresentar
Jesus Cristo como salvador e Senhor.
Esse entendimento removeu de vez aquela concepção de que se deveria ler
os Evangelhos apenas como fatos históricos, para depois se tentar escrever
um tipo de biogra a sobre a vida de Jesus Cristo. A ênfase dos evangelistas,
especialmente João, deixou claro o propósito do Evangelho: Estes, porém,
foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para
que, crendo, tenhais vida em seu nome (Jo 20:31).
A reviravolta do período pós-guerra, no tocante ao ensino teológico, e que
doravante a Bíblia começou a ser vista na sua unidade e com o propósito
principal de proclamar Jesus Cristo como Salvador e Senhor, ponto muito
forte na teologia de Karl Barth.
Ninguém, especialmente os estudiosos de Barth, podem negar sua grande
in uência no campo teológico, mas não demorou para que ele, isso em 1950,
comece a ter um pouco de descrédito.

A in uência de Rudolf Bultmann no estudo bíblico


Depois de Barth quem se destaca grandemente é Rudolf Bultmann, ele
destacou-se grandemente na área de estudo do Novo Testamento. Frente à
renovação dos estudos bíblicos, ele vai caminhar na mesma perspectiva do
movimento pós-guerra, acreditando piamente que o alvo da Escritura é
proclamar Cristo. Falando de Rudolf Bultmann, na obra de Teologia
Contemporânea, como muita precisão esse teólogo é quali cado da seguinte
maneira:

Se é verdade que, em certo sentido, Karl Barth foi o maior


teólogo do século XX, não há dúvida de que, em certo
sentido, Rudolf Bultmann (1884-1976), foi o maior
estudioso do Novo Testamento. Isto não signi ca,
naturalmente, que todos tenham concordado com o que ele
dizia. Di cilmente. Contudo, suas opiniões – por vezes
extremamente controversas -- lançaram as bases que
determinariam o caráter da pesquisa acadêmica em torno do
Novo Testamento até os dias de hoje. Além disso, seus
insights metodológicos e exegéticos não só comportam
implicações óbvias para o mundo da teologia em geral, como
também deram à própria teologia contribuições
signi cativas. Ele foi um dos principais mentores de uma das
vertentes dominantes da teologia do século XX: a teologia
existencial. Nascido em Bremen, na Alemanha, lho de
pastor luterano, frequentou as universidades de Tubingen,
Berlim e Marburg. Fez carreira acadêmica na Universidade
de Marburg e teve in uência decisiva sobre todo o mundo
teológico de 1922 até sua aposentadoria, em 1951.

Bultmann não se prendeu ao Jesus Histórico, segundo ele, o que mais


importava era proclamar o Cristo da Salvação. Mas nota-se algo na maneira
da proclamação da salvação feita por esse teólogo, ele ensinava que os relatos
milagrosos envolvendo a pessoa de Jesus Cristo, como por exemplo:
nascimento virginal, túmulo vazio, apenas expressava um aspecto místico,
isto é, algo que literalmente não era verdadeiro. Frente a tudo isso, para ele o
que valia era a proclamação de Jesus Cristo para a vida do homem em sua
existência. Atente para a colocação do teólogo, que diz:

Para Bultmann, embora a cruz e a ressurreição sejam, de


fato, fenômenos históricos (pois ocorreram no âmbito da
história humana), devem, contudo, ser discernidos pela fé
com atos divinos. No querigma, a cruz e a ressurreição estão
interligadas como ato do juízo de Deus e o ato da salvação de
Deus. São precisamente estes atos divinos que possuem um
signi cado constante, e não o fenômeno histórico que lhes
serviu de suporte. Portanto, o querigma não se preocupa
com questões históricas, mas sim em comunicar a
necessidade de uma tomada de decisão por parte daqueles
que ouvem a proclamação do Evangelho transferindo, assim,
o momento escatológico de um passado distante para o aqui
e agora da proclamação em si.

Para Bultmann, não interessava o que tinha acontecido com o Jesus


Histórico, mas o que valia era a proclamação feita Dele. Na sua concepção,
a rmava que os milagres do Novo Testamento, que era um universo de três
pavimentos: Os céus, A terra, Debaixo da terra, na verdade era tudo mítico.
Com tais a rmações, o ensino de Bultmann era que diante de um mundo
moderno essas verdades precisam ser desmitologizadas, ele dizia que não
era preciso se acreditar na ressurreição de Cristo como a rmava o Novo
Testamento.
O ato de se fazer essa desmitologização através da teologia, era interpretar a
mitologia presente nos Evangelhos na linguagem de verdades eternas. Dessa
maneira poderia se proclamar a Cristo, o qual libertaria o ser humano de
seus medos, ansiedade. Se assim essa proclamação fosse feita, era o que
bastaria, pois assim zeram os apóstolos, inclusive Pedro, Paulo. Para
entendermos o que seria de fato essa desmitologização19, novamente
faremos uso da teologia de Alister20:

A controvérsia proposta de “demitologização” defendida por


Bultmann mostrou-se particularmente signi cativa no que
tange às convicções relativas ao m da história. Bultmann
alegava que essas crenças eram apenas “mitos” as quais
necessitavam ser interpretadas existencialmente. O Novo
Testamento relata diversas “histórias” que dizem respeito a
tempos e lugares remotos inacessíveis (como no princípio ou
no céu), as quais envolviam a atuação de agentes e fatos
sobrenaturais, Bultmann a rma que tais histórias, possuem,
na verdade, um signi cado existencial subjacente, que pode
ser captado e apropriado mediante um processo de
interpretação adequado.

Para entendermos melhor tudo isso, segundo Bultmann o juízo nal, do


qual o Novo Testamento fala, não pode ser entendido como se diz, mas sim
como um momento de crise existencial, quando os homens são desa ados
com a mensagem do kerigma de Deus
Para o homem moderno que se encontra neste mundo os cristãos devem
fazer valer a proclamação do Evangelho, pois o que vale é o seu resultado na
atualidade, libertando o homem dos males presentes nesta terra.
O desprezo que Bultmann fez pelo Jesus histórico colocou em pânico até
mesmo os seus discípulos. A concepção de Bultmann acerca do Evangelho
não era apenas radical, mas tinha notas cépticas, razão pela qual foi criticada
e rejeitada por muitos.
Nesse ínterim, frente ao movimento que estava dando nova leitura ao estudo
bíblico, os bultianos evidenciaram a diversidade nos escritos bíblicos, e
destacaram a questão da igreja criadora, sendo a mais primitiva na formação
dos Evangelhos, em oposição a tarefa de apenas transmitir os fatos
históricos, como os tais realmente aconteceram.

Paul Tillich: O teólogo da ontologia21

Podemos dizer prontamente que na obra de Paul Tillich há semelhante com


o sistema da teologia barthiana, todavia, podemos dizer que de modo geral
ela é bem diferente. Paulo Tillich nasceu na Alemanha (1886-1965),
lecionou em Frankfurt, ele teve uma grande in uência nos Estados Unidos,
pois ali lecionou em Harvard dentre outras instituições.
No conteúdo do seu ensino pode-se dizer que vem embasado de uma
tradição losó ca alemã, que concordava com ela, que de certo modo eram
marcadas por ideias existencialistas de Edmundo Husserl e demais lósofos.
Paulo Tillich era lósofo e teólogo da religião, em sua abordagem, como se
nota nos seus livros, girava acerca da relação da teologia e loso a, revelação
e realidade empírica, teologia e cultura.
Quando Kierkegaard atacou o sistema hegeliano, logo cou certo de que a
loso a do idealismo e o pensamento que se fundamentava a experiência
humana concreta passaram a ser vista como incompatíveis e sem conciliação
entre si. Diz-se que Tillich baseou-se sua obra nisso, construindo seu
sistema puramente idealista e acoplando mais nele uma análise
existencialista, que buscava utilizar os estímulos do pensamento
existencialista.
Especialistas que estudam Tillich a rmam que apesar do que ele escreveu
quanto a situação do homem no tocante às questões atinentes à vida ou
existência do homem, na verdade é bem contrário ao conteúdo do seu
sistema, o que parece indicar que o sistema é o fator dominante, o que
declara o conteúdo da análise existencial. Bengt Hagglund, em sua obra
História da Teologia, falando do pensamento de Paul Tillich diz:
De acordo com Tillich, aquilo que constitui nossa
preocupação última é o objeto da teologia. A m de
determinar o que esta é, empregou a terminologia da antiga
ontologia. Nossa preocupação última é o que determina
nosso ser ou não ser. Deus, que é o Ser em si, é a resposta às
questões últimas do homem. A própria situação do homem é
de alienação relativamente à realidade verdadeira. Mas uma
vez que Deus ingressou na existência humana, deu ao
homem a possibilidade de descobrir seu destino no Novo
Ser, que se realiza em Cristo. O sistema de Tillich se baseia,
portanto, em uma espécie de ontologia que, presume-se, dá a
resposta absoluta às questões que os homens levantam como
resultado de seu sentimento de alienação. A suposição que
pergunta e resposta, sistema e análise existencial,
relacionam-se mutuamente é a essência da abordagem
metodológica que Tillich emprega. A substância dos dogmas
cristãos está incluída no sistema de Tillich, mas seu caráter
genuíno de algum modo perdeu-se nele. Foi inteiramente
reinterpretada e reduzida a símbolos que são usados para
ilustrar a transição do homem do estado de alienação ao
Novo Ser. O fato que a união entre Deus e o homem, entre
ser e existência, é ilustrado na gura neotestamentária de
Jesus de Nazaré é coincidência. A historicidade da vida
terrena de Jesus, sua morte e ressurreição, deixam de ter
signi cado no contexto do sistema. (K. Hamilton, e
system, and the Gospel, 1963).

Frente a toda essa linha pensamento de Paul Tillich, o que se pode dizer é
que ele estava fortemente dominado pela loso a existencialista de
Kierkegaard, no demais, também ele estava dominado também pela
percepção da base histórica do cristianismo, no seu sistema teológico Tillich
torna-se para alguns por meio do seu sistema antiquado da tradição
idealista.
Por m, falando ainda de Paul Tillich, podemos nalizar destacando o seu
método da correlação, que nas palavras Ed. L. Miller e Stanley J. Grenz, se
pode dizer:

O sistema elaborado por Tillich cou conhecido como


teologia da cultura, o que mostra bem seu caráter
abrangente. Na verdade, a expressão foi usada como título de
uma coleção de ensaios sobre temas como ciência, moral,
arte e educação. Revela também a crença de Tillich de que a
vida política, cientí ca e artística de todas as culturas é
re exo de uma situação existente e de uma preocupação
última, seja ela digna ou idólatra. Disso se segue, para
Tillich, que a expressão da mensagem cristã deve ser
traduzida para uma situação cultural especí ca em
consonância com as questões existenciais que tal situação se
propõe.

Por m, para o teólogo Paul Tillich a verdade do cristianismo não depende


de forma alguma de Jesus ter existido ou não, se Ele tiver morrido e
ressuscitado. Jamais podemos pensar que a fé seja independente da história
sobre o problema epistemológico da verdade do cristianismo, porém,
segundo o apóstolo Paulo, a fé cristã era inseparável de suas bases históricas
(1 Co 15.14).

Rejeitando os sistemas de Karl Barth e Rudolf Bultmann

A partir de 1960, as duas interpretações teológicas ditas por Barth e


Bultmann foram sendo descartadas, quem passou a ser grande fonte de
inspiração para muitos foi Dietrich Bonhoe er.
Vamos começar falando de Dietrich Bonhoe er, ele estava ligado a corrente
pensante da teologia do século XX. O que se pode se dizer dele é que foi
visto como um mártir moderno por causa de Cristo Jesus. Nasceu em 1606,
seu pai era psiquiatra e neurologista bem considerado, de grande destaque.
Dietrich Bonhoe er fez curso de teologia e loso a em Berlim, e Tubingen,
foi educado na tradição da dita teologia liberal do século XIX, inclusive foi
aluno de Harnack, Deissmann Seeberg. Na sua postura rejeitou o
imanentismo da teologia liberal e andava primeiramente na linha do suíço
Karl Barth, quando concluiu seu curso foi ordenado ao pastorado luterano
passando a servir na congregação de Barcelona; ele estudou posteriormente
no Seminário União, em Nova York, tempos depois voltou para Alemanha,
mas enquanto esteve nos Estados Unidos a teologia liberal não lhe causou
impacto algum. Na Alemanha ele tornou-se professor de Teologia, em
Berlim. Falando desse pensador teológico M, James Sawyer, diz:

O pensamento e a contribuição de Bonhoe er para a


teologia é controvertido e muito debatido. Ele não era um
pensador sistemático. Pelo contrário, era caracterizado por
uma mente criativa e crítica. Muitas das teologias radicais se
declaram inspiradas nele. Bonhoe er é tido por alguns como
a fonte das teologias seculares e dos movimentos radicais da
década de 1960 e até mesmo como inspiração para o
movimento da morte de Deus. Ele consumava propor uma
ideia e especular a respeito, depois a abandona sem ter
trabalhado suas implicações. A morte de Bonhoe er em tão
tenra idade interrompeu qualquer desenvolvimento
potencial de longa duração. Graça barata, cristianismo
mundano e cristianismo sem religião num mundo que
alcançou a maioridade são expressões que ecoavam a
teologia de Bonhoe er e que adquiriram vida própria. Seu
pensamento provocante despertou a imaginação de muitos e
resultou em movimentos como o ecumenismo, a teologia da
morte de Deus, a teologia da libertação e a resistência cristã
à opressão política. Como continuação de Barth, Bonhoe er
não tinha espaço para a religião. Ele considerava idólatra a
religião tradicional. O pensamento de Bonhoe er girava em
torno da realidade de um Deus transcendental em Jesus
Cristo e do fato de que a Igreja se tornou uma presença
contínua da revelação de Deus no mundo, como veículo da
revelação de Jesus Cristo à humanidade. O que importa é o
encontro pessoal com Deus em Jesus Cristo.

Na concepção de Bonhoe er, o homem moderno, presente nesta vida, iria


viver sem Deus, ele deixaria o aspecto sobrenatural, não contaria mais com
Deus para lhe ajudar, sendo assim, ele via um mundo cristianizado sem
religião.
Não tendo religião, Bonhoe er propôs então pregar o Evangelho de modo
secularizado, a salvação da existência humana. Apresentando um
cristianismo sem religião, esse homem não estava oportunizando uma graça
barata, a qual era oportunizada pelo cristianismo comum, ou algo fácil.
Bonhoe er a rma que a verdadeira igreja só é igreja quando ela existe por
outros, o cristão é o homem por outros, quando imita a Jesus Cristo. Vale
dizer que esse teólogo destaca por ser um pioneiro do ecumenismo, e ainda
que tenha sido discípulo de Barth, não deixou de fazer suas críticas a ele.
Vale dizer que Bonhoe er não foi apenas um teólogo que buscasse conforto,
estando no estrangeiro, preferiu voltar para Alemanha, opondo-se
ferrenhamente contra o socialismo de Hitler. Em ١٩٤٣, quando já estava
perto do m da II Guerra Mundial, esse homem foi enforcado.
Bonhoe er deixou como legado grandes obras, entre elas estão em destaque
Resistência e Submissão. Essas obras foram escritas da prisão de modo
poético, mas é bom lembrar que sua tônica teológica era a de que a igreja
deveria pregar ao homem moderno em cristianismo sem religião.
O ensino de Bonhoe er in uenciou muitas pessoas, mas é claro, algumas
tornaram-se muito radicais, por exemplo, um discípulo seu, chamado
Harvey Cox, chegou a a rmar que Deus estava morto.

Emil Brunner

Por m, o último teólogo que iremos apresentar é Emil Brunner, que nasceu
em 1889, bem próximo a Zurique, educou-se na Universidade de Zurique e
em Berlim, recebendo o título de Ph. D (1913). Foi pastor atuando na
congregação de uma vila nas montanhas de Obstalden.
Depois de pastorear por 3 anos, Brunner deixa a congregação e vai para o
Seminário União, em Nova York, pois queria avançar ainda mais nos
estudos, logo então volta para as funções pastorais. Ele foi convidado a
lecionar na Universidade de Zurique teologia sistemática (1924), tornou-se
grande palestrante viajando pelos países da Europa e dos Estados Unidos.
Ele foi professor visitante em Princeton desde 1939-1940.
Tempos depois Brunner vai para o Japão, deixando Zurique, ali passou dois
anos para estabelecer a Universidade Cristã Internacional em Tóquio. Ao
retornar, ele sofre uma hemorragia cerebral que o torna quase debilitado,
mesmo assim continua a escrever até o dia da sua morte, que aconteceu em
1965.
Os estudiosos de Brunner dizem que ele tinha pensamento semelhante ao de
Barth, mas era totalmente independente quanto a isso, seus pensamentos
eram alicerçados e enraizados na tradição da Reforma, mas também bebeu
da fonte da tradição suíça e de sua herança da Reforma. Diz-se que quando
o movimento socialista penetrou na Suíça, provocou em Brunner uma
sensibilidade grandiosa, de modo que ele se voltou para as massas e as
indústrias.
Diz-se que Brunner mudou sua visão no aspecto socialista e cristocêntrico
através de Blumhardt, inclusive o método dialético, por meio do qual
evidenciou seu pensamento por toda a sua vida. Para Bruner a teologia
dialética tinha sua gênese no Espírito Santo, opondo-se então ao sistema do
pensamento losó co, teológico.
Como relatado anteriormente, é crível que quando Brunner encontrou o
teólogo Karl Barth, seu pensamento já estava bem rmado. Brunner, Barth e
Eduard urneysen dedicaram a estudar certos estudos de Lutero, depois
passaram a estudar João Calvino, eles a rmaram que nos estudos de Lutero
tiveram grande prazer, alegria, tudo foi feito com muito entusiasmo, o que
não poderiam dizer o mesmo quanto aos de Calvino.
Pelos estudos que zeram esses teólogos chegaram à conclusão de que que as
pequenas percepções no tocante à ménage bíblico tinha sido restauradas,
claro por pouco tempo, isso por meio da primeira geração de reformadores,
porém essa mensagem cou mais uma vez poluída, perdida, nas gerações
vindouras.
Não se pode negar que Brunner manifestava grande admiração pelos
reformadores, como também sua teologia se fundamentava neles, mas diz
que ele não era um admirador acrítico de Calvino e Lutero, respeitava a
autoridade deles, em todos os níveis, mas isso só quando dependia da
delidade que manifestaram para com as Escrituras ou a revelação bíblica.
Ainda podemos dizer que Brunner foi in uenciado pelo movimento
denominado Rearmamento Moral, que era denominado de Grupo de
Oxford, a rma que esse movimento chegou a revitalizar a igreja, inclusive a
teologia. Para Brunner, esse movimento, deixando de lado os excessos,
recuperou alguma coisa da Igreja Primitiva do Novo Testamento, o qual
estava perdido desde a sua história. Brunner dizia que agora via uma ligação
da realidade espiritual com a comunhão.
Outra coisa que in uenciou Brunner foi a loso a denominada o eu-tu, que
estava ligada ao lósofo judeu alemão Martin Buber. No seu pensamento,
que estava baseado em Kierkegaard, que para Bruner estava rmado nas
Sagradas Escrituras. Por meio desse pensamento Bruner pôde evidenciar sua
nova antropologia, deixando de lado o tradicional sujeito-objeto (eu coisa).
Tratando do relacionamento do homem como um ser responsável perante
Deus, passou a estender esse conceito para o campo do domínio da verdade,
desse modo, pôde dizer que o conceito da Bíblia quando a verdade envolve o
encontro. Para Bruner, não se podia de modo algum compreender o
Evangelho sem que houvesse um encontro do eu-tu com Deus, o que passou
a se falar verdade como encontro. Esse era o ponto central da teologia de
Brunner.
A teologia natural passou a ser defendida por Brunner, no demais, ele dizia
que a imagem de Deus continuava no homem caído, o que era rejeitado por
Barth. Posteriormente Brunner afastou-se de Barth e continuou sua busca
pela natureza espiritual, rejeitando a institucionalidade da Igreja, rmando-
se sempre no testemunho da Bíblia, negando veementemente o
antropoteísmo da dita teologia liberal. Falando de Brunner e seu
pensamento M. J Sawyer pontua:

O pensamento de Bruner, como de Barth, revelava uma


cristologia alta, mas com esta diferença. Brunner destacava o
encontro pessoal com Jesus como o aspecto central da fé
cristã. Fluía daí uma perspectiva ética que tentava reter a
tensão entre a liberdade individual e a vida em comunidade.
A isso, era acrescentado o conceito de Igreja como uma
comunhão dinâmica, baseada na existência individual em
Cristo, e não em organização externa. A contribuição mais
importante e duradoura de Bruner é a da ideia de que Deus
só pode ser conhecido por meio de um encontro pessoal. A
verdade sobre Cristo não é para ser descoberta em
discussões a respeito de sua natureza, mas num encontro
vivo com ele.
Não se pode negar a grande in uência e importância de Brunner, por
exemplo, foi ele que restaurou no século XX a doutrina do pecado,
ressurreição de Cristo, e buscou centralizar tudo em Cristo, a rmando que
era necessário um relacionamento pessoal com Ele. Foi singular seu trabalho
no quesito da restauração das Escrituras como normativas para a vivência
normativa e prática da fé cristã. Brunner locou à neo-ortodoxia atos de fala
inglesa, esse homem chegou a escrever aproximadamente 396 livros.

17 Que exprime uma opinião de forma categórica.


18 p. 468
19 Demitologização é a conhecida tentativa hermenêutica de analisar o signi cado real da linguagem
mitológica usada na Bíblia, em especial no Novo Testamento. A demitologização foi um ponto central
da obra do teólogo alemão Rudolf Karl Bultmann.
20 p.634.
21 Parte da metafísica que estuda o ser em geral. O dicionário de teologia, falando da preocupação
suprema, a rma que a ideia desenvolvida por Paul Tillich de que todas as pessoas têm algo que
consideram da mais alta importância. Para Tillich, a preocupação suprema do indivíduo ou o que é da
mais elevada importância, é o seu Deus. Nesse sentido, todas as pessoas são inerentemente religiosas.
DEUS E O HOMEM

A stemível;
Escrituras revelam Deus como o grande criador, poderoso, forte,
já o homem aparece nas páginas da Bíblia como sendo mera
criatura, ele está abaixo dos anjos (Hb 11.7), é um ser falível e mortal, diante
disso podemos dizer o seguinte: como pode um ser mortal, falível,
compreender o seu próprio criador, que está acima de tudo e de todos?
Entre Deus e o homem existe uma grande distância, teologicamente, a
pessoa de Deus é marcada de mistério, nenhum ser humano pode descrevê-
lo em sua essência (Jó 11.7; Is 40.8), nem analisar os seus caminhos (Sl
139.6). Quando falamos que Deus não pode ser entendido, compreendido
pelo homem, não estamos dizendo que ele não pode chegar ao
conhecimento de Deus, o que seria contrário à sua própria Palavra, que diz
que o homem deve conhecê-lo (Os ٤.٦). Falando dessa grandeza de Deus e a
distância Dele entre o ser humano, Millard J. Erickson, na sua Introdução à
Teologia sistemática diz:

Sendo os seres humanos nitos e Deus in nito, não


podemos conhecer a Deus, a menos que ele se revele para
nós, ou seja, a menos que ele se manifeste aos humanos de
tal forma que estes possam conhecê-lo e ter comunhão com
ele [...].

O homem pode conhecer a Deus (Jo 14.7; 1 Jo 5.20), mas ele deve saber que
não pode compreendê-lo de modo completo, pois uma mente nita jamais
poderá chegar ao conhecimento de um Deus grande e in nito como o nosso
Deus.

Quem é Deus?
Às vezes procuramos saber quem é Deus, onde Ele nasceu, onde mora,
quem lhe deu vida, segundo João, Deus é um ser que tem vida em si mesmo,
Ele mesmo é a fonte de sua existência e nada existe fora Dele (Jo ٥.٢٦), a sua
morada está no Céu (Mt ٦.٩). Deus é a verdade absoluta, pois toda a verdade
que vem do homem é avaliada por sua mente pecaminosa, isto é, ele mesmo
cria a sua verdade, por vezes descaracterizando a verdade divina, é isso que
diz o apóstolo Paulo (Rm ١.٢١). Nesse particular, falando sobre quem é
Deus, Russel e. Joyner22, destaca:

Muitas teologias sistemáticas do passado tentaram classi car


os atributos morais e a natureza de Deus. O supremo Ser,
porém, não se revelou simplesmente para transmitir-nos
conhecimentos teóricos a respeito de si mesmo. Pelo
contrário: a revelação que ele fez de si mesmo está vinculada
a um desa o pessoal, uma confrontação e a oportunidade de
o homem reagir positivamente a essa revelação. Isso ca
evidente quando o Senhor se encontra com Adão, com
Abraão, com Jacó, com Moisés, com Isaías, com Maria, com
Pedro, com Natanael, e com Marta. Juntamente com estas e
muitas outras testemunhas (Hb 12.1), podemos testi car que
estudamos a m de conhecê-lo experimentalmente, e não
somente para saber a respeito dEle.

A verdade na qual devemos con ar hoje está na Palavra de Deus, ela revela
os seus planos, seus propósitos eternos, mas para que o homem possa
interpretá-la bem, ele precisa da orientação do Espírito Santo (Jo 16.13.15),
visto que sua mente, seu coração está contaminado, fazendo com que o
mesmo, frente à sua verdade, entenda da forma que quiser, que que bem
claro o seguinte: na interpretação da Palavra, o homem não pode:

a. Con ar em sua mente

b. Nas religiões
c. Judaísmo

Como conhecer verdadeiramente a Deus?

Se o homem deseja conhecer verdadeiramente a Deus, ele precisa se voltar


para as Escrituras, pois nela está contida a revelação necessária para o
conhecimento de Deus e para a salvação. Daniel Kau man23, falando sobre a
Bíblia como revelação divina diz:

A Bíblia é o único livro dado por revelação direta de Deus ao


homem. A palavra Bíblia deriva-se do grego biblos, que
signi ca livro. A Bíblia é o nosso livro sagrado porque não
há nenhum outro que tenha tal autoridade ou autor
semelhante.

O pastor e teólogo pentecostal Antônio Gilberto24 falou com muita precisão


quando abordou sobre a razão e a necessidade da Bíblia para o homem:

A Bíblia é a revelação de Deus a humanidade. Tudo que


Deus tem para o homem requer do homem, e tudo que o
homem precisa saber espiritualmente da parte de Deus,
quanto a sua redenção, conduta cristã e felicidade eterna,
está revelado na Bíblia. Tudo o que o homem tem a fazer é
tomar o Livro e apropriar-se dele Pela Fé. O autor da Bíblia é
Deus, seu real intérprete é o Espírito Santo e seu tema
central é o Senhor Jesus Cristo.

Para o homem chegar ao conhecimento de Deus, ele precisa tomar


conhecimento de suas obras, mas também conhecer suas obras sem
conhecer sua pessoa, pode cair em um grande e grave erro, o conhecimento
não será puro nem verdadeiro, daí a importância de voltar-se para a grande
revelação divina que consta nas Sagradas Escrituras, por meio da qual
tomamos conhecimento do amor e do plano do Pai para nos levar a ser
como Seu Filho Jesus Cristo.
No conhecimento sobre Deus podemos desenvolver dois tipos de
relacionamentos, um pessoal, o outro factual. Quanto mais o homem
desenvolve um relacionamento pessoal com Deus, mas ele deseja conhecer
suas obras, seu poder, sua glória, isso aconteceu como Moisés, que desejou
ver a sua glória, devido ao seu grande poder manifestado no Egito (Êx
33.18).
Por meio das páginas das Sagradas Escrituras o homem pode tomar
conhecimento das obras de Deus, pois é por meio dela que recebemos a vida
eterna (Jo 17.3), a liberdade (Jo 8.23), amadurecimento cristão (2 Pe 3.18; Ef
1.18); transformação de vida (Fp 1.9-10), prática de uma verdadeira
adoração (Rm 11.33-36), e despertamento sobre o julgamento (Hb 10.26).
Através de uma experiência própria com o homem poderá desenvolver um
bom e maravilhoso relacionamento.

Como Deus se comunica com o homem

O homem se comunica com outro homem por meio da linguagem, que


tanto pode ser falada como escrita, mas como entender um Deus que não
faz parte do nosso mundo? Para o homem se comunicar com Deus é preciso
que ele seja humilde, quebrantado, esteja pronto a deixar-se dominar por Ele
e sua Palavra.
Deus é quem se propõe a se revelar ao homem, pois se assim não fosse
jamais ele poderia entrar nesse campo; os que se dizem detentores,
possuidores de grandes saberes, que tentam estar acima de Deus, jamais
poderão conhecê-lo, mas é importante se aproximar Dele tirando as
sandálias dos pés, assim como fez Moisés (Êx. 3.5). Quanto a revelação de
Deus, as palavras propostas por Henry Clarence iessen25 são
maravilhosas:
Pascal falou de Deus como um Deus Absconditus (Um Deus
escondido); mas a rmou que este deus escondido se revelou
e, portanto, pode ser conhecido. Isto é verdade. Certamente,
nunca poderíamos conhecer a Deus se ele não Se tivesse
revelado a nós. Mas o que queremos com revelação? Para
nós, é o ato pelo qual Ele se mostra ou comunica a verdade à
mente; pelo qual Ele torna manifesto às Suas criaturas aquilo
que não pode ser conhecido de nenhuma outra maneira. A
revelação pode ocorrer através de um ato único, instantâneo
ou pode se estender por um longo período; e esta
comunicação de Si próprio e de Sua verdade pode ser
percebida pela mente humana.

Sem que Deus procurasse se comunicar com o homem, isso jamais poderia
ser possível, tanto envolvendo Deus como Cristo Jesus. Deus concedeu aos
homens a capacidade de se expressarem, então podemos dizer o seguinte: a
linguagem foi um meio que Deus usou para se comunicar com o homem
(Gn 1.28.30). Não foi apenas para esse m que a linguagem foi outorgada,
mas por meio dela o homem exerceria o seu poder e controle sobre todas as
coisas do Universo (Gn 3.8-13).
Em Gênesis capítulo 11 está claro que a linguagem foi dada para que os
homens se comunicassem, destarte, por meio dela muitas outras nações
poderiam ouvir a mensagem divina, pregada pelos servos de Deus.
No processo da comunicação Deus dotou o homem com certas capacidades
para que ele se comunicasse, já falamos que Deus o capacitou com a
linguagem, mas ele também fez o homem com a capacidade para raciocinar,
pensar, criar, isso pode ser visto na criação do homem, que foi feito a
imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26).
A razão faz do homem um ser capaz de emitir juízos, pareceres, mas é bom
que se entenda o seguinte: sendo um ser racional e pensante, jamais o
homem estará no mesmo nível de Deus, ele pode entender, criar, pensar,
desenvolver, mas ele é falível. Também precisamos ser conscientes que os
homens, mesmo possuindo a razão, o pecado maculou a sua razão, por isso
não pode ser digno de toda con ança suas verdades. Que que bem claro
uma coisa: Depois que o homem pecou Deus não tirou de si a capacidade
cognoscente, pensante, racional.
Linguagem, capacidade racional, tudo isso foi dado por Deus ao homem
para que ele pudesse entrar em comunicação com Ele, mas como o pecado
arruinou tudo, Deus agora envia o seu Espírito Santo, através Dele o homem
chega ao conhecimento de Deus e suas obras (Jo 16.13-15; 1 Co 2.10).
Sem o Espírito Santo na vida o homem pode adorar qualquer Deus, praticar
rituais apenas fundamentados em mitos, tradições, mas quando ele passa a
ser guiado, dirigido, ensinado pelo Espírito Santo, não pratica uma crença
errônea, pois o Espírito Santo lhe livrará desses erros (1 Jo 2.27).

22 HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. CPAD, 125.


23 KAUFFMAN, Daniel, Doctrines of the Bible, Mennonite Publishing House, Scottdale,
Pennsylvania, 1928. p. 113.
24 GILBERTO, Antonio, Bibliologia: Introdução ao Estudo da Bíblia. São Paulo: Campinas, p. 6
25THIESSEN, Henry Clarence, Palestra em Teologia Sistemática, São Paulo: Editora Batista
Regular, 1999. p.10
DEUS SE REVELANDO AO
HOMEM

O s estudiosos da Teologia sabem que Deus se manifesta ao homem


por meio da revelação geral, que envolve tudo o que Ele criou,
isso pode ser chamado também de “teologia natural”. A revelação
especial é a maneira pela qual Deus procurou os meios de se comunicar com
o homem através de sua mensagem, Sua Palavra, também denominada de
Teologia Revelada.
Muitos estudiosos fazem distinção entre essas duas teologias, a Geral e a
Especial, o que é preciso, mas que que claro uma coisa: Ambas vêm do
mesmo Deus, ou seja, sempre tratam sobre sua pessoa e obra. Na Geral é
possível encontrar fundamentos claros para a existência de Deus; na especial
pode-se presumir a existência de Deus.
Vamos tomar de empréstimo as palavras de Louis Berkhof para
entendermos bem a de nição precisa sobre os dois aspectos da Teologia
Natural, veja:

A REVELAÇÃO GERAL E A ESPECIAL. A Bíblia atesta


uma dupla revelação de Deus: uma revelação na natureza
que nos cerca, na consciência humana, e no governo
providencial do mundo; e uma revelação encarnada na
Bíblia com a Palavra de Deus. A primeira atesta com as
seguintes passagens: “Os céus manifestam a glória de Deus, e
o rmamento anuncia as obras das suas mãos’. Um dia
discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a
outra noite, (Sl.19.1,2.” Contudo, não se deixou car sem
testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu
chuvas e estações frutíferas, enchendo o vosso coração de
fartura e alegria, At 14.17. Porquanto o que Deus pode
conhecer é manifesto entre eles, porque Deus os manifestou.
Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno
poder, como também a sua própria divindade, claramente se
reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos
por meio das coisas que foram criadas, Rm 1.19-20. Da
revelação especial temos abundantes provas no Antigo e no
Novo Testamento. O senhor advertiu a Israel e a Judá por
intermédio de todos os profetas e de todos os videntes,
dizendo: voltai-vos dos vossos maus caminhos e guardai os
meus mandamentos e os meus estatutos, segundo toda lei
que prescrevi a vosso pais e que vos enviei por intermédio
dos meus servos, os profetas, 2 Rs 17.13. Manifestou os seus
caminhos a Moisés e os seus feitos aos lhos de Israel,
Sl.103.7. Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que
está no seio do Pai, é quem o Pai revelou, Jo 1.18. Havendo
Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos
pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho
Hb, 1,1.2. (BERKHOF, 2007, p 35).

Aspectos importantes sobre a revelação geral

Podemos dizer que a revelação geral assim se denomina por causa de sua
abrangência, que pode ser:

a. Pessoal (Mt 5.45; At 14.17)

b. Geográ co (Sl 19.2)

c. Metodologia. Por meios universais ela se torna sensível e atinge a


consciência humana (Sl 19.4,6 Rm 2.14.15)

Existem meios pelos quais a revelação geral é possível, isso pode acontecer
através do argumento cosmológico, entendemos que o mundo ao nosso
redor tem um Criador, tem uma causa. A natureza não é autoexistente, ela
foi criada por alguém. Os que não creem em Deus vão a rmar que o Cosmo
tem origem em si mesmo, nesse caso ele seria eterno e autoexistente, os que
acreditam na Palavra a rmam que Deus é o criador do mundo. Uma coisa
que a ciência não pode provar é a autogeração.
Existe uma teoria, quanto à criação, que precisa ser analisada, ela é
denominada de “Teoria do Estado Eterno”. Essa teoria a rma a eternidade
da matéria. Ela diz que a matéria é invariavelmente criada perto do centro
do universo e destruída na linha mais externa do espaço. Essa dita teoria não
tem tanto apoio, pois desse modo a lei da conservação da massa e energia
seria contrariada.
Outros estudiosos, tentando encontrar uma causa para a criação do
universo, tem falado de um “tipo de princípio eterno ocasional ou uma
inteligência cega”. Podemos descartar essa teoria, pois diante da simetria que
existe no universo, a criação do homem, tudo isso não poderia ser produto
do acaso ou de uma inteligência cega.
O argumento aceitável para a a rmação categórica do Universo é o Teísmo.
26É uma doutrina que admite a existência de um deus pessoal, causa do
mundo. Deus é o Ser Eterno que criou o universo, claro que a sua criação
não de ne conclusivamente todo o seu ser, seu caráter, mas revela que Ele é
um ser inteligente, vivo, poderoso.
Quando a rmamos que Deus é vivo, é porque um ser que não tem vida não
pode gerar vida; ao dizermos que Ele é poderoso estamos revelando o que
de fato Ele é. Em se tratando de sua inteligência, demonstra sua capacidade
intelectual, pois criou um mundo com ordem e harmonia. Um acaso não
daria origem a um universo tão lindo e maravilhoso! Sobre a revelação geral,
veja o que diz o teólogo R.T. Kendall:

Este é um modo um pouco diferente de descrever a


revelação geral. Ela se torna acessível a todos os homens. Ao
está centrada na natureza, a revelação não se refere
meramente à consciência, mas ao que sabemos, por meio da
natureza. E que deve ser verdadeiro sobre Deus. (KENDALL,
1996, p. 24).

O salmista Davi deixa claro que o Universo revela a pessoa de Deus


expressando sua glória (Sl 19.1-6). A extensão da glória de Deus aqui é
universal: Toda a terra. Esse todo é bem inclusivo, até mesmo as pessoas
com de ciência visual podem sentir o impacto do sol, do vento. Nessa
revelação geral de Deus o homem pode concluir que Ele é Deus de glória e
de poder.
A teologia da revelação geral, mesmo não sendo redentora, carrega certo
peso, pois o apóstolo Paulo fala da ira de Deus sobre aqueles que não fazem
caso dessa revelação (Rm 1.18-32). Observe que essa ira vem ao homem
pelo fato dele rejeitar o que poderia lhe possibilitar um conhecimento sobre
Deus, mas o homem se deixa levar pelo pecado, rejeitando a verdade de
Deus, pervertendo-a.
Como já falamos que o universo expressa a glória e o poder de Deus, nessas
verdades o homem poderia tomar conhecimento de uma grande causa que
causou o universo, Deus. Mas o homem suprimiu essa verdade, atribuindo a
outros deuses a criação do universo. Quando Paulo diz que Deus os
entregou aos seus próprios pecados, é porque ele é condenado porque
rejeitou toda a revelação de Deus e sua pessoa.

O argumento Cosmológico

Charles Hodge de niu o argumento cosmológico da seguinte maneira:

Este se fundamenta no princípio de uma causa su ciente. Se


Logicamente declarado, o argumento ca assim: todo efeito
deve ter uma causa adequada. O mundo é um efeito.
Portanto, o mundo deve ter tido uma causa fora de si mesmo
e adequada para dar razão à sua existência. (HODGE,
Charles, 2001, p. 156).

Por meio desse argumento podemos entender que existem os seres


limitados, mutáveis, se não aceitarmos isso, então temos que dizer que o ser
que causou o ser criado não existe. Entendemos também que existe uma
causa para a criação dos seres, essa causa é eterna, necessária, imutável e
única.
Todo o mundo que está diante de nós deixa claro que existe um criador,
como a rma William Paley (1802) no seu livro Natural eology, um
relógio para existir precisa de um relojoeiro, assim, o Universo, para sua
existência, precisa de um criador.
O argumento Teleológico, que é uma explicação que relaciona um fato com
sua causa nal, tem como prioridade explorar os aspectos gerais da
natureza, não apenas pautando-se nos detalhes dela. Analisando o texto de
Atos 14.15-18, vemos um pequeno esboço de um argumento teleológico de
Paulo, para deixar claro que nem ele nem Barnabé eram deuses.
Na criação é possível perceber a glória de Deus, como também na natureza,
nela está presente os ciclos e as bênçãos que ela proporciona ao homem,
nisso tudo se percebe a presença do Deus criador, entendendo assim que o
mundo não foi feito de modo aleatório ou por acaso.
Não somente a criação do Universo pode expressar a presença do Deus
criador, mas a criação do homem é uma prova clara da existência de Deus.
O homem é um ser que expressa inteligência, vida e moral, tudo isso vem de
Deus.
Em se tratando de perceber a presença do divino na criação do homem,
muitos teólogos dizem que isso é possível por meio do argumento
antropológico. Buswell diz que o argumento antropológico expressa que
Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, e no argumento moral é
que surgiu a ideia do certo e do errado.
Alguns estudiosos, em se tratando desse argumento antropológico, a rmam
que ele pode ser dividido em quatro partes:

a. Moral

b. Existência da mente

c. A alma

d. Consciência religiosa

Essa divisão segue o pensamento exposto por Dale Moody, mas podemos
dizer que tudo isso está presente no homem, portanto, tal divisão é tão
somente teórica. O homem é um ser que sempre sua existência foi
questionada: moralidade, inteligência, vida etc. Principalmente os elementos
que o constitui. Nele existem tanto elementos materiais como imateriais, é
isso que prova a existência de Deus nele.
Nenhuma outra força qualquer poderia ter dado origem ao homem; nem
mesmo a teoria da evolução poderia produzir a alma, ou qualquer outro tipo
de deus. A Bíblia é clara em sua de nição: Deus criou o homem (Sl. 94.9). O
universo e suas criaturas expressam tanto beleza como inteligência,
deixando claro que por trás de tudo existe um Criador, Deus!
O apóstolo Paulo esclarece ao Areópago, que nenhum ídolo seria capaz de
criar as coisas, mas a rmar categoricamente que nós somos seres criados
por Deus, coisa que nenhum outro deus ou ser poderia fazer (At 17.28,29).
Tanto o universo como o homem foram formados por um Deus inteligente.
No argumento ontológico, que estuda o ser, tem suas variadas opiniões,
seguindo a linha de Anselmo, Descartes, Hegel, só que Kant o rejeitou.
Nessa argumentação é que se apresenta a noção de um Ser perfeito. Esse ser
mais perfeito tem sua própria existência, pois se um ser é perfeito, mas que
não existe, não seria perfeito. Falando desse argumento podemos fazer uso
da citação de iessen27, que diz:
Como é comumente enunciado, este argumento encontra na
própria ideia de Deus a prova de Sua existência. A rma que
todos os homens têm a ideia de Deus intuitivamente, e daí
tentam encontrar prova de Sua Existência na própria ideia.
Anselmo (1033-1109), Descarte (1596-1650) e Clarke (1675-
1729) declaram isso, cada um de uma maneira diferente.
Nenhuma das declarações é realmente satisfatória, mas a de
Anselmo é melhor que a dos outros dois. No monologium,
ele focaliza a questão da existência de Deus do ponto de vista
de causa e efeito. No proslogium ele focaliza do ponto de
vista da razão. Seu argumento nesse último pode ser
enunciado assim: Temos a ideia de um Ser absolutamente
perfeito: mas existência é um atributo da perfeição; um Ser
absolutamente perfeito deve, portanto, existir.

Os teólogos a rmam que o argumento ontológico é dedutivo, ou seja,


classicamente, ele parte de uma premissa geral até chegar aos particulares,
mas que ele também tem um ponto indutivo. As ideias que muitos possuem
sobre Deus nem sempre vêm da realidade ontológica. As ideias têm suas
origens, causas, desse modo precisam ser comprovadas. Certo teólogo disse
que alguém pode ter a ideia da Páscoa atentando para a imagem de um
coelhinho, só que isso de modo algum rati ca a verdadeira ideia da real
páscoa. Todos possuem uma ideia da existência de Deus, o que entra em
questão é quanto à sua prova.
Ainda podemos apresentar o argumento da congruidade, que nas palavras de
Henry Clarence iessen pode ser visto como rmado na crença de um
princípio que serve melhor para esclarecer os fatos ligados é provavelmente
real, verdadeiro. Na verdade, pode se dizer que esse argumento diz que a
crença rmada na existência de Deus melhor explica os fatos de nossa
natureza mental, moral e religiosa, bem como os fatos do universo material;
portanto Deus existe. Diz-se que sem esse princípio os fatos relacionados
são quase inexplicáveis.
Argumento Moral. Por meio do lósofo alemão Kant camos sabendo que as
provas teóricas jamais podem nos levar ao conhecimento verdadeiro de
Deus como um ser verdadeiramente moral, assim, quem deseja chegar nesse
conhecimento precisa voltar-se para a crítica da razão prática. Segundo esse
lósofo, no tocante ao fato da obrigação e do dever isso era tão grande como
o fato da existência de Deus. O que podemos entender é que quanto ao
argumento moral, isso se con gura muito bem nas páginas das Sagradas
Escrituras (Rm 1.19,32; 2 14.16).
Por meio do argumento moral, a própria consciência humana reconhece a
existência de uma lei moral que tem poder supremo, qualquer violação dessa
lei moral conhecida logo vem o sentimento de desmerecimento, medo,
julgamento. Crer-se que essa lei não é autoimposta nem autoexecutável no
seu julgamento, de modo que se crer que uma vontade santa colocou essa
lei, de modo que há uma consciência de que por quebra dessa lei moral
haverá punição. Não se pode negar que um ser superior colou essa lei dentro
do homem, de modo pode se dizer que a vontade que se evidencia no
imperativo moral é maior que a nossa, pois se assim não fosse não emitiria
as ordens.
Portanto, que que bem claro uma coisa, ao estudarmos sobre a revelação de
Deus, precisamos atentar para os seguintes argumentos:

a. Argumento Cosmológico

b. Argumento Teleológico

c. Argumento Antropológico

d. Argumento Ontológico

e. Argumento de Congruidade
f. Argumento Moral

Aspectos importantes sobre a revelação geral de Deus

A Bíblia é a santa Palavra, por meio dela é que entenderemos claramente


quem é o Deus Criador, e como Ele se revela a todos nós. Claro que essa
posição só pode ser aceita por aqueles que realmente acreditam Nela como
sendo um livro inspirado por Deus e, nesse particular, concluirá que Ela é
útil para tudo (2 Tm.3.15-16), pois é através Dela que Ele se comunica com o
Homem (Hb 1.1.3).
A Bíblia fala da glória de Deus (Sl 19.1), do seu poder criador, de sua
soberania e natureza divina (Rm 1.20), seu cuidado com a natureza e
provisão para com o sustento do homem, expressando assim sua bondade
(At 14.17; Mt 5.45); fala também de sua inteligência e existência (At 17.28).
Desse modo podemos assimilar a importância dessa revelação geral, é claro
que muitas suposições são contrárias em torno da revelação geral, não lhe
dando algum valor. Muitos acreditam que na revelação geral se encontra
provas claras da existência de Deus, conforme está na Palavra, mas podemos
dizer o seguinte: a revelação geral prova algumas coisas:

a. Como Deus revela sua graça. Às vezes soa estranho pensar na


graça de Deus nas páginas do Velho Testamento, visto que elas
estão marcadas de assuntos pesados, como por exemplo: a
expulsão do homem do jardim do Éden (Gn 3.24), mas veja
bem: se Deus não tivesse feito isso o homem morreria nos seus
próprios pecados. Veja que a graça de Deus é tão visível na
Antiga aliança, que Deus nunca deixou de falar com o homem.
Na teologia natural o homem pode ver tanto a bondade de Deus
como aspectos gerais de sua própria pessoa, nessa teologia pode
ser encontrada a graça comum (Mt 5.45), que revela aspectos
gerais da moral de Deus e outras verdades, que podem ser
buscadas pelos homens.
b. Comprovação do Teísmo. Pela revelação geral de Deus na
natureza, o homem passa a admitir que o mundo tem uma
causa, ou seja, que tudo depende da existência de um Deus
pessoal, desse modo, tanto o ateísmo como o agnosticismo
podem ser confrontados.

c. Possibilita ao homem um julgamento justo. Por meio dessa


revelação o homem toma conhecimento da existência e bondade
de Deus, assim, podem responder positivamente, acreditando
nesse ser perfeito, inteligente, vivo, que criou todas as coisas,
sem o qual tudo seria imperfeito. Se o homem não faz caso
dessa revelação, ou nega a existência de Deus, o julgamento que
será aplicado pela justiça divina não será arbitrário, despótico.
Uma coisa interessante deve ser observada aqui: ao rejeitar a
revelação de Deus, o homem passa a ter culpa, sua condenação é
justa, mas a aceitação da revelação geral não lhe garante a
salvação eterna, pois ele não tomou consciência da revelação da
morte de Jesus como o cordeiro de Deus (Jo 1.29). O assunto da
salvação pela morte do cordeiro é tratado antes da criação do
mundo (Ap 13.8), por isso que a revelação geral não pode salvar,
pois o plano de Deus se deu de outro modo: a Morte de Jesus!

26 Dicionário Aurélio.
27 THIESSEN, Henry Clarence, Palestra em Teologia Sistemática, São Paulo: Editora Batista
Regular, 1999. p.31
QUESTIONÁRIO MÓDULO 3

a. Fale sobre o grupo dos teólogos suíços e alemães e sua


importância diante do cenário criado pela I Guerra Mundial.

b. Após a I Guerra Mundial, uma nova leitura da Bíblia começou a


ser feita, de modo que aconteceu uma renovação no aspecto
teológico. Qual a importância dessa análise pós-guerra para os
estudiosos?

c. Rudolf Bultmann (1884-1976), foi o maior estudioso do Novo Testamento. Como ele
in uenciou o estudo bíblico?

d. Fale sobre a “demitologização” defendida por Bultmann.

e. Segundo Paul Tillich, o que é Teologia das Culturas?

f. Brunner foi in uenciado por um movimento denominado Rearmamento Moral, que


era denominado de Grupo de Oxford. De que maneira foi estabelecida essa in uência
sobre a visão teológica de Brunner?

g. Como as Escrituras revelam Deus? essência (Jó 11.7; Is 40.8; Sl 139.6)

h. O que é um atributo quando relacionado à Deus?

i. Segundo o pastor e teólogo pentecostal Antônio Gilberto, qual a razão e a necessidade


da Bíblia para o homem?

j. O que é Revelação segundo as Sagradas escrituras?

k. Discorra sobre os aspectos importantes sobre a revelação geral.

l. Ao estudarmos sobre a revelação de Deus, quais argumentos precisamos nos atentar?


A DEFINIÇÃO DE DEUS

I números seminários e faculdades, tratados teológicos e losó cos, ao


longo do tempo, tem procurado de todos os meios de nirem a pessoa
de Deus, o que é impossível, pois nas próprias páginas da divinal da
Bíblia, o nosso Deus jamais se de niu, mas para cada pessoa e situação se
mostrou de modo diferente, daí a razão dos seus variados nomes (Êx 3.14).
Fazendo uso das palavras de Langston, ele faz uma de nição de Deus da
Seguinte maneira:

O tema é por demais vasto e sublime para uma de nição


completa e satisfatória; temos, porém, na revelação cristã, o
material necessário para uma de nição cristã de Deus.
Estamos justi cados, portanto, em tentar essa de nição,
sabendo, embora, desde o princípio, que, forçosamente, ela
há de ser um tanto imperfeita. Ao nito não cabe de nir o
in nito. Ainda assim, tem valor a tentativa, porque ainda
que não se consiga inteiramente atingir o alvo colimado, só o
ato de procurar de nir alguma coisa sempre a torna mais
clara ao que empreende. A nossa justi cação, por isso, está
em que, tentando-nos de nir Deus, poderemos alcançar a
respeito dele uma ideia mais clara e adequada. Entende-se
por de nição de Deus aquilo que se baseia na revelação
cristã, ou em Cristo. Descobrir a ideia que Jesus tinha com
referência a Deus é nossa tarefa. Sabemos que Jesus veio a
este mundo a m de revelá-lo aos homens, e sabemos
também, com certeza, que cumpriu a sua missão, porque ele
mesmo disse aos discípulos certa ocasião: Quem me vê a
mim, vê o pai.” Devemos, pois, trabalhar com denodo a m
de descobrir o que Jesus revelou acerca de Deus, por isso
que, se alcançarmos isto, estaremos seguros de haver
atingido a verdadeira ideia de Deus e um fundamento sólido
para nossa teologia sistemática.

Na verdade, o que os seminários e teólogos propõem não é uma de nição


precisa sobre a pessoa de Deus, mas sim uma descrição de sua pessoa,
seguindo os pressupostos bíblicos que dizem: Deus é Espírito[...] (Jo 4.24).
As obras teológicas, como também alguns catecismos, como no caso o de
Westminster, fazem algumas de nições de Deus, mas isso apenas em caráter
descritivo, revelando assim os seus atributos, revelando algumas de suas
qualidades, sua perfeição.

Particularidades sobre os atributos de Deus

Falando dos atributos de Deus escreve Langston:


Segundo a ideia cristã, Deus é o Espírito e a pessoa. Deus possui, portanto,
os poderes essenciais de um espírito, que são: pensar, querer, sentir. O ser
que se compõe desses poderes pessoais tem certo modo de proceder e certas
qualidades morais. Quais são então estes modos de perceber e estas
qualidades morais que vamos atribuir a este Deus que é Espírito Pessoal? As
coisas que atribuímos a este ser chamam-se atributos. Atributo, pois, é uma
qualidade atribuída a um ser que existe. Os atributos de Deus são: modos de
atividade e qualidade do seu caráter.
Jamais devemos estudar os atributos divinos em partes separadas, pois eles
fazem parte de um todo divino, por exemplo, Deus não é amor em algumas
partes, mas Ele é o amor em essência, verdade em essência etc.
Diante de todas as perfeições de Deus nós nos perdemos, e não podemos
compreender e de nir por completo sua pessoa, como já falei antes, pois
somos seres nitos. Partes dos atributos divinos nos são revelados pela
Palavra, e é por meio do Espírito Santo que eles são con rmados, pois não
basta apenas o homem saber que Deus é amor, verdade, justiça, santidade,
sem que isso seja aplicado no seu coração por meio do Espírito Santo
(Mt.١٦.١٧). O doutor Bancro de ne os atributos divinos da seguinte
maneira:

Os atributos de Deus, portanto, são aquelas características


essenciais, permanentes e distintivas que podem ser
a rmadas a respeito de Seu Ser. Seus atributos são Suas
perfeições, inseparáveis de sua natureza e que condicionam
seu caráter. (2001, p.29).

Quando nos debruçamos na busca pela compreensão dos atributos divinos,


concluímos que Deus é um ser perfeito, e chegamos à conclusão da
igualdade de Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo.

Categorias dos atributos divinos

Por categoria podemos falar tanto de caráter como também de natureza e


série ou grupo, assim, muitas obras teológicas especi cam os atributos de
Deus da seguinte maneira:

a. Naturais e Morais. Esses dois expressam a pessoa de Deus, sua


existência própria e eternidade. Os morais estão relacionados
com a sua vontade: justiça, santidade etc.

b. Absolutos e relativos. Na categoria dos absolutos expressam a


eternidade de Deus, já em relação aos relativos, declaram o
modo como esse ser divino se relaciona com o homem.
Diversos teólogos são da opinião que é quase impossível fazer
distinção precisa sobre essa relatividade, pois todos os atributos
divinos estão relacionados com os homens.

c. Comunicáveis e incomunicáveis. Os comunicáveis são os que


podem se comunicar aos homens: sabedoria, verdade etc. Já o
segundo pertence somente a Deus. Essa questão de relacionar os
atributos comunicáveis não é tão simples, podemos ver que a
santidade que o homem tem não é a mesma santidade de Deus,
a onisciência que o homem tem não é a mesma de Deus, pois
em certo sentido o homem tem consciência, só que limitada.

Vamos agora analisar os atributos divinos à luz da Palavra de Deus, e


entender o que tudo isso quer dizer para nós.
AMOR
Jamais um dicionário pode dissecar o real sentido da palavra amor, seu
signi cado é amplíssimo. Mas como diz Ryrie, o amor pode ser tanto afeição
como correção, pois quem ama e deseja o bem corrige (Hb 12.6). O alvo do
amor é o bem, por isso Deus é perfeito, pois em tudo busca o bem de todos
os homens. A Palavra de ne Deus como amor (1 Jo 4.8).
Jamais podemos a rmar que o amor é Deus, mas que Deus é amor. Por ser
amor é que Deus permite amar os pecadores (Ef. 2.4-8). No amor de Deus
está expresso sua graça, sua bondade, sua compaixão, sua paciência tudo
isso porque Ele deseja o bem de todos (At 14.17; Tg.5.11; 2 Pe.3.15).
O doutor Ryrie deixa claro que algumas seitas entendem de modo
equivocado o amor de Deus, uma é a seita Ciência Cristã, que diz que o
amor é Deus. A outra é uma heresia provinda do universalismo, que a rma
o seguinte: como Deus é amor, Ele salvará o mundo por inteiro, não
deixando que ele se perca. Entender desse modo é contrariar outros
atributos divinos, como no caso a justiça, verdade e santidade. Se Deus
agisse da forma como pensa o universalismo, Ele estaria sendo contra sua
própria natureza.
ETERNO
Charles Hodge falando da eternidade de Deus diz:

A in nitude de Deus, relativamente ao espaço, é sua


imensidão ou onipresença; relativamente à duração, é sua
eternidade. Como ele é isento de todas as limitações do
espaço, assim ele é exaltado acima de todas as limitações do
tempo. Como ele não está mais em um lugar do que em
outro, mas está igualmente presente em toda a parte, assim
ele não existe por um período de duração mais que em
outro. Para ele não há distinção alguma entre o presente, o
passado e o futuro; mas todas as coisas estão igual e
perenemente presentes para ele. Para ele, a duração é um
eterna agora. Este é o conceito popular que a Escritura
mantém sobre a eternidade de Deus. Antes que os montes
nascessem e se formasse a terra e o mundo, de eternidade, tu
és Deus (Sl 90.2). Em tempos remotos, lançastes os
fundamentos da terra; e os céus são obras das tuas mãos.
Eles perecerão, mas tu permanecerás; todos eles
envelheceram como uma veste, como roupa mudarás. E
serão mudados. Tu, porém, és sempre o mesmo, e teus anos
jamais terão m (Sl 102.25-27).

Note que na de nição de Charles Hodge ele segue a visão bíblica, pois
dentre outros muitos textos há menção dessa eternidade divina: Is 57.15;
44.6; Sl 90.4; Hb 3.8; 2 Pe 3.8; Ap 1.4). Nessa eternidade de Deus devemos
entender que ele é sem princípios de dias anos. Sempre Ele existiu e existirá.
Ele não tem passado, presente ou futuro.
Falar que Deus é eterno implica em dizer que Ele está fora do tempo, não
tem começo e nem m, para Ele não existe passado, presente, futuro. Deus
não está sujeito às causas naturais desse mundo, por isso se diz que Ele é
eterno.
A eternidade de Deus demonstra sua superioridade, grandeza, perfeição, um
ser ilimitado. Posso dizer que falar de um Deus que não está preso ao nosso
mundo, mas que é eterno, delimita espaços diferentes, pois o homem é um
ser nito, tem uma causa para sua existência, ao contrário de Deus, que
existe por si mesmo e que não conhecemos o seu início nem m (Sl 90.2.
Moisés o denomina de El Olam: o Deus eterno (Gn 21.33).
Já falamos que Deus não está preso ao nosso mundo, ou seja, aos eventos
que se sucedem, mas Ele controla e se interessa por tudo o que acontece
conosco (Ap 6.9-11). A eternidade de Deus declara sua imortalidade, jamais
Ele poderá deixar de existir.
IMUTÁVEL
Deus é um ser inalterável, Ele não está sujeito as mudanças, segundo a Bíblia
ele continua sempre sendo o mesmo (Nm 23.19; Sl 33.11; Pv 19.21; Is 46.9-
10 Ml3.6; Tg 1.17). Para nós é muito animador saber que Deus não muda,
pois desse modo assegura todas as suas promessas. Dizer que Deus não
muda, é falar que Ele continua sendo o mesmo constantemente, não
envelhece, não adoece, não se cansa, não se altera. Charles Hodge falando da
imutabilidade de Deus pontua:

A imutabilidade de Deus está relacionada à sua imensidão e


eternidade, e frequentemente se inclui nelas através das
declarações bíblicas concernentes à sua natureza. Portanto,
quando se diz que ele é o primeiro e o Último; o Alfa e o
Ômega, o mesmo ontem, hoje e para sempre; ou quando, em
contraste com o mundo sempre mutável e perecível, se diz:
Eles serão mudados, mas tu permaneces o mesmo; não é sua
eternidade mais que sua imutabilidade o que é posto em
evidência. Como um ser in nito e absoluto, autoexistente e
absolutamente independente, Deus é exaltado acima de
todas as causas de mudanças, e ainda acima da possibilidade
de mudanças. Espaço in nito e duração in nita não podem
mudar. Devem ser permanentes o que são. Assim Deus é
absolutamente imutável em sua essência e atributos. Ele não
pode aumentar nem diminuir. Não está sujeito a nenhum
processo de desenvolvimento, nem de evolução do Ego.
Precisamos entender que tudo em Deus é imutável e, quando as Escrituras
falam de que Deus se arrepende, é um recurso antropomór co usado para o
entendimento humano, mas que Ele sempre continua sendo o mesmo.
A expressão “arrependeu-se” apenas declara que Deus sentiu muito. A
imutabilidade divina assegura a perfeição de Deus (2 Tm 2.13), pois caso Ele
fosse mutável, tudo o que se diz sobre sua eternidade, amor, verdade,
santidade etc., cairia por terra. Saber que Deus é imutável concede ao
homem um grande consolo: “Ele é o Deus de perdão e misericórdia”.
INFINITO
Antes de seguirmos com a nossa de nição da in nidade de Deus, vamos
fazer uso da de nição de Wayne Grudem28, que fala o seguinte:

Nossa discussão da teologia do processo ilustra uma


diferença comum entre o cristianismo bíblico e todos os
outros sistemas teológicos. No ensinamento da Bíblia, Deus
é ao mesmo tempo in nito e pessoal: ele é in nito porque
não está sujeito a nenhuma das limitações da humanidade,
ou da criação em geral. É bem maior do que qualquer coisa
que tenha feito, bem maior do que qualquer coisa que exista.
Mas é também pessoal: relaciona-se conosco como uma
pessoa, e podemos nos relacionar com ele como pessoas.
Podemos orar a ele, adorá-lo, obedecer-lhe e amá-lo, ele
pode falar conosco, alegrar-se conosco e nos amar.

A eternidade diz que Deus não tem começo nem m, já a in nitude


expressa o lado ilimitado de Deus, nada prende a Deus, nada o impede de
agir, trabalhar, pois Ele está acima de tudo. A Bíblia fala dessa in nidade de
Deus: 1 Rs 8.27; At 17.24-28. A in nitude expressa a grandeza de Deus, já a
onipresença fala de sua imanência.
JUSTIÇA
Falando da justiça de Deus Millard J. Erickson em sua obra teológica diz:

Observamos que Deus mesmo age de acordo com sua lei. Ele
também administra seu reino de acordo com sua lei. Ou
seja, ele exige que os outros se conformem a ela. A retidão
descrita na seção precedente é a retidão pessoal ou
individual de Deus. Sua justiça é sua retidão o cial, sua
exigência de que outros agentes morais obedeçam
igualmente aos mesmos padrões. Em outras palavras, Deus é
como um juiz que segue pessoalmente a lei da sociedade, e,
em sua função o cial, promove a mesma lei, aplicando-a aos
outros [...] A justiça de Deus signi ca que ele é justo na
aplicação de sua lei. Ele não mostra favoritismo ou
parcialidade. Não importa quem somos. O que fazemos ou
deixamos de fazer é a única consideração na atribuição de
consequências ou recompensas. Uma prova da justiça de
Deus é que ele condenou os juízes que, nos tempos bíblicos,
embora fossem encarregados de ser seus representantes,
aceitavam suborno para alterar os julgamentos (1 Sm 8.3;
Am 5.12). A razão da condenação deles era que o próprio
Deus, sendo justo, esperava o mesmo tipo de
comportamento dos que deviam aplicar sua lei.

A santidade de Deus expressa sua separação de tudo aquilo que é


pecaminoso; a justiça fala de sua retidão, moralidade, um princípio legal. A
justiça divina é assegurada pela própria capacidade divina, não existe nada
que possa alterar a justiça de Deus, nem um sistema ou lei pode corrompê-
lo. A justiça divina alcança a humanidade (Sl 19.9; At 17.31). Deus jamais é
injusto para com os homens.
INDEPENDENTE
Falando de Deus como independente Wayne Grudem diz:
A independência de Deus é defendida assim: Deus não
precisa de nós nem do restante da criação para nada; porém,
tanto nós quanto o restante da criança podemos glori cá-lo
e dar-lhe alegria. Esse atributo de Deus é às vezes chamado
de existência autônoma ou asseidade (das palavras latinas a
ser, que signi cam de si mesmo). As Escrituras, em várias
passagens, ensinam que Deus não precisa de parte nenhuma
da criação para existir ou para qualquer outra coisa. Deus é
absolutamente independente e autossu ciente. Paulo
proclama aos homens de Atenas: “O Deus que fez o mundo e
tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra,
não habitaria em santuário feitos por mãos humanas. Nem é
servido por mãos humanas, como se de alguma coisa
precisasse, pois ele mesmo é quem a todos dá vida,
respiração, e tudo mais (At 17.24-25). A implicação é que
Deus não precisa de nada da humanidade.

É bom entender que Deus se distingue de sua própria criação, por isso pode-
se dizer que ele é independente (Is ٤٠.١٣,١٤). Falar da independência de
Deus não é dizer que Ele pode fazer o que quiser, inclusive pecar, mas Ele
está restrito apenas aquilo que fere sua própria Pessoa: Sua santidade. O
cristão precisa entender que Deus, em sua independência, não faz algo
porque nós queremos, mas simplesmente porque Ele livremente decidiu
fazer.
ONIPOTÊNCIA
Pela Bíblia sabemos que Deus é todo poderoso, mas Ele só faz algo de
acordo com a sua natureza. Por 56 vezes nas páginas da Bíblia Deus é
retratado como todo poderoso, veja algumas referências que aludem sobre
isso: Gn 17.1; Êx 6.3; 2 Co 6.18 Ap 1.8. A. B Langston falando da
onipotência de Deus diz:
O que aprendemos pela onipotência moral é que Deus é tão
poderoso que não pode praticar o mal, nem sequer pode ser
tentado. Devido à sua onipotência moral, ele não pode
mentir, enganar, nem deixar de cumprir as suas promessas,
nem pode praticar qualquer ato que discorde da sua
natureza moral. Praticar o mal é ser fraco; é carência de
poder moral. Quem pratica o mal é por ele vencido e dele
torna-se escravo. Deus, porém, não é assim, pois tem o
poder de não praticar o mal e nem mesmo pode ser por ele
tentado. Que poder maravilhoso!

Mesmo sendo o todo poderoso, esse grande poder é limitado, isso porque
Deus não pode ser contra algo que ra sua própria santidade (Tt 1.2; Tg
1.13). Os teólogos falam de dois tipos de limitações: a natural e a imposta. A
primeira está ligada à sua própria natureza, como explicado acima, a
segunda, é a imposta, fala de algo que o próprio Deus não quis incluir nos
seus planos, e que nós não devemos procurar entendê-las, visto que Ele
próprio não quis fazer. Jamais vamos entender por que Deus aceitou Jacó e
rejeitou a Esaú (Rm 9.13), salvar Pedro e deixar Tiago morrer (At 12.2).
Que que bem claro uma coisa para todos nós: Deus é perfeito, tudo o que
Ele faz é bom, sendo assim, não adianta car questionando uma série de
coisas, pois não vai mudar nada (Rm 9.20; Is 29.16; 45.9). Biblicamente
vemos que o poder de Deus se manifestou nas páginas do Velho Testamento
de modo maravilhoso, comprovando assim o grande poder de Deus (Sl
114;1 Co 6.14; Hb 1.3), mas a centralidade do poder de Deus e sua
conclusão está na ressurreição dos mortos (2 Co 13.4; Rm 1.16; 1 Pe 1.5)
ONIPRESENÇA
Deus está em todos os lugares. A Palavra de Deus deixa isso bem claro, veja:
Sl 139.7-11. É preciso entender que Deus não está em cada parte de uma
coisa, mas que tudo o que existe é obra Dele, desse modo pode-se sentir e
ver a sua presença. Langston falando da onipresença de Deus diz:
Por onipresença não se deve entender que Deus enche o
espaço como faz o universo. A relação de Deus com o espaço
não é a mesma que existe entre este e a matéria. E, por
conseguinte, não devemos a rmar que Deus está presente
em toda parte como o universo está em alguma parte. Sendo
que Deus Espírito não ocupa espaço. Só a matéria ocupa
espaço. Se a ideia da onipresença de Deus se baseasse na
relação da matéria, como o espaço, estaríamos
completamente errados, porque Deus não enche o espaço,
como a matéria. Se assim fosse, teríamos de julgar a Deus,
em seu modo de existência, maior do que o universo. A ideia
de que Deus está distribuído por todo o espaço, com a
atmosfera, é errônea. Tal ideia pertence ao materialismo, e
não ao cristianismo. O espaço não existe para Deus.

A onipresença de Deus jamais deve ser entendida como pensava o deísta


inglês John Toland (1670-1722), que usou pela primeira vez a expressão:
“Deus é a mente ou a alma do Universo”. Com isso ele ensinava que o
universo estava no mesmo nível de Deus, o que contraria o ensino bíblico,
pois desse modo tanto Deus como a natureza cam misturados, não se
sabendo quem é criador e criatura. A teologia do processo diz que Deus se
espalha por todo o universo e não se esgota.
A presença de Deus em todos os lugares não o consome, nem também ele
está se evoluindo, como ensina os propagadores da Teologia do Processo. A
presença de Deus é algo maravilhoso, pois declara o seu grande poder, à luz
da Bíblia, isso pôde ser visto no tempo dos reis, incluímos aqui a pessoa de
Salomão, pois o templo que ele construiu foi tomado pela glória de Deus (2
Cr 7.2).
João diz que Deus está sentado no trono (Ap 4.2), a sua presença está em
cada cristão que manifesta para com Ele uma verdadeira fé (Gl 2.20). Estar
separado da presença de Deus é não ter comunhão com Ele (Ap 14.10; 2 Ts
1.9) Nenhum homem pode escapar da gloriosa presença de Deus, isso está
provado também na história do profeta Jonas (Jn 1.1-17). Para o cristão é
maravilhoso e grati cante saber que serve a Deus que ninguém nem nada
foge do seu controle.
ONISCIÊNCIA
Deus sabe de todas as coisas, não existe nada que Ele não conheça. A Palavra
de Deus revela, em linguagem humana, o tamanho da onisciência de Deus:
Atos 15.18; Sl 147.4; 139.16, também Ele sabe até mesmo as coisas possíveis
(Mt 11.21). Na obra de Stanley Horton a onisciência divina é definida assim:

E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes, todas


as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem
temos de tratar (Hb 4.13). Deus conhece todos os nossos
pensamentos e intenções (Sl 139.1-4). Ele não se cansa na
sua atividade de discerni-los (Is 40.28). O conhecimento
divino não se acha limitado por nosso modo de entender o
futuro, pois ele conhece o m de um determinado
acontecimento antes mesmo deste ter início (Is 46.10).

A onisciência divina é maravilhosa para o crente, pois nenhuma acusação


pode ser feita de modo contrário para Deus (Rm 8.35), pois Ele conhece
tudo, para Ele não existe oculto, segredo, surpresa. Deus sabe da nossa
estrutura humana (Sl 103.14), mesmo assim nos chamou para sermos seus
servos. Diante das lutas, tribulações que nos sobrevém, devemos car rmes
e con antes, pois Deus sabe de tudo, desse modo, sabendo que Ele é
poderoso, santo e verdadeiro, não deixará que soframos além de nossas
forças (2 Co 21.8; 1 Co 15.32).
SANTIDADE
A santidade de Deus não apenas denota o conceito de separação, mas fala
que Ele é puro em sua própria natureza. Na pessoa de Deus não existe
maldade, impureza. João diz que Deus é luz (1Jo 1.5), ou seja, Nele não
existe uma parte boa e outra má, mas sua pureza é explícita. Fazendo
novamente uso da Teologia de Stanley Horton, no tocante à santidade de
Deus ele destaca:

Deus por sua própria natureza está separado do pecado e da


humanidade pecaminosa. A razão por que nós, seres
humanos, somos incapazes de nos aproximar de Deus, em
nosso estado e pecado, é porque não somos santos. Na
Bíblia, a questão da impureza não está relacionada à higiene,
mas à santidade (Is 6.5). As marcas da impureza
compreendem: algo quebrado ou defeituoso (ver Is
30.13,14), o pecado, a violação da vontade de Deus, a
rebelião e a permanência no pecado. Posto que Deus é
íntegro e reto, nossa consagração envolve tanto a separação
do pecado quanto a obediência a Ele.

A Palavra de Deus mostra como é a santidade de Deus (Lv 19.2; 11.44 Js


24.19; Sl 99.3,5 Is 40.25; Jo 17.11; 1 Pe 1.15; Ap 4.8). O pecador para se
aproximar da santidade de Deus precisa de um ser santo que lhe santi que, é
nesse particular que a presença de Jesus é importante (1 Tm 2.5). Quem tem
uma compreensão correta da pessoa de Jesus Cristo pode viver a verdadeira
santidade de Deus, pois essa é a Sua vontade (1 Ts 4.3).
O profeta Isaías, para viver em santidade, primeiramente teve que tomar
conhecimento da santidade de Deus, pois desse modo ele abandonou o
pecado (Is 6.3; Lc 5.8). O maior exemplo de santidade para o crente é o
próprio Cristo, e não o homem (1 Jo 1.7) e quem segue o seu modelo tem
plena condições de desenvolver nesse mundo uma vida de santidade. A
verdadeira santidade não se baseia na exclusão de coisas: faça isso, ou não
faça isso (Cl 2.21-23; Is 29.13; Mt 15.9; 1 Tm 4.8).
ESPÍRITO
A Bíblia não de ne “espírito”, limita-se a oferecer algumas
descrições. Deus, como espírito, é imortal, invisível e eterno,
digno de nossa honra e glória para sempre (1 Tm 1.17).
Como espírito, Ele habita na luz, da qual os seres humanos
são incapazes de aproximar-se: “A quem nenhum dos
homens viu nem pode ver (1Tm 6.16). Sua natureza
espiritual é-nos de difícil entendimento, pois ainda não o
temos visto conforme Ele é. E, à parte da fé, somos incapazes
de compreender o que não experimentamos. Nossa
percepção sensorial não nos oferece nenhuma ajuda para
discernirmos a natureza espiritual de Deus. Ele não está
preso à matéria. Adoramos aquele que é bem diferente de
nós, mas que deseja dar-nos o Espírito Santo como antegozo
do dia que o veremos conforme Ele é (1Jo 3.2). Então,
poderemos aproximar-nos da sua presença, porque a nossa
mortalidade será anulada, e nos vestiremos da gloriosa
imortalidade (1 Co 15.51-54).

Muitos têm procurado entender Deus, por essa razão as teorias quanto a
esse sentido são diversas, mas de modo simples a Bíblia descreve Deus
apenas como sendo Espírito (Jo 4.24). Com essa a rmação podemos dizer
que Deus não é três, nem tão pouco está dividido. Deus não será outra coisa
a não ser Espírito, Ele não é carne, osso, mas é Espírito (2 Co 3.17).
SOBERANO
A palavra soberania pode ser de nida como aquele que detém poder ou
autoridade. Supremo, absoluto. Aquele que governa um Estado como chefe
supremo. Rei, imperador. Na obra de Miriam Petri Lima de Jesus Giusti, a
soberania, no seu aspecto jurídico é definida assim:

A soberania consiste em um atributo ou qualidade do poder


que o torna superior aos demais e que faz com que ele
desconheça, dentro de seu território, outro que lhe seja
superior.

Lendo o livro de Gênesis, logo no seu começo podemos entender quem é


que manda no universo: Deus (Gn 1.1). Em se tratando de Deus como um
ser soberano, estamos dizendo que Ele é o Senhor, o chefe de todas as coisas.
Existem coisas que acontecem segundo as leis naturais, mas que são
permitidas por Deus, mas tudo o que acontece nesse mundo é por
permissão de Deus, pois Ele é o Deus soberano.
Atentando para as Escrituras Sagradas, Ela diz que Deus como chefe de tudo
não fez as coisas de modo desorganizado, mas tudo segue um planejamento
divino (Ef 11.1), não somente isso, Ele controla todas as coisas em suas mãos
(Sl 135; Pv 16.4). No controle de todas as coisas Deus demonstra o seu
poder, sua glória, por isso os seres humanos lhe adoram (Ef 1.14).
A soberania de Deus não interfere na liberdade do homem, o problema é
que a liberdade dada por Deus ao homem foi violada, de modo que hoje ele
entra em contradição com o plano estabelecido por Deus.
Muitas pessoas perguntam se Deus criou o mal, mas que que bem claro o
seguinte: Deus foi quem criou todas as coisas, não propriamente o mal, de
modo que é dito por muitos que no seu projeto o mal possa estar incluso,
isso no caso da criação de Satanás como também de Adão, mas de certa
forma o pecado estava incluso nos seus planos, pois se não for desse modo
Deus não é soberano. Norma Braga Venâncio falando da questão da criação
do mal, pontua:

Ora, Deus não é a causa das tragédias: a causa é o mal que


veio ao mundo por meio do pecado. O papel de Deus em um
mundo caído não é retirar todo o mal deste mundo de
imediato- isso é para o m dos tempos-, mas sim
administrá-lo segundo seus desígnios, aos quais muitas
vezes temos acesso.
Não adianta car questionado o porquê disso, jamais teremos a resposta,
pois somente Deus sabe, o certo é que Deus quis que fosse dessa forma,
porém, o mais importante, existindo o Satanás, o homem, o pecado, Deus
providenciou a salvação para todos por meio de Jesus Cristo.
Todas essas contradições, ou seja, assuntos que nossa mente ín ma não
pode entender devem ser aceitos por meio da fé, e deixar que no futuro a
eternidade nos revele todas essas coisas.
ÚNICO
J. A. ompson29, falando de Deus como único, diz:

A palavra um ou Único implica em monoteísmo, mesmo


que não o a rme com todas as sutilezas da formulação
teológica. O monoteísmo bíblico tinha uma expressão
prática e existencial que levaria ao abandono de pontos de
vista como a monolatria. Mesmo que alguém em Israel
admitisse a existência de outros deuses, a a rmação de que
somente Javé era Soberano e Único objeto da obediência de
Israel fazia soar o toque fúnebre para quaisquer posições
inferiores ao monoteísmo.

O doutor Miranda Júnior Erickson falando dessa passagem bíblica destaca o


seguinte:

Uma indicação mais clara da unidade de Deus é o Shema de


Deuteronômio 6, as grandes verdades que o povo de Israel
tinha a obrigação de absorver e inculcar em seus lhos. Eles
deviam meditar naqueles ensinamentos (Estas palavras), [...]
estarão no teu coração, v 6). Deviam conversar sobre eles-
em casa e pelo caminho, ao levantar-se e ao deitar-se (v7).
Deviam empregar auxílios visuais para lhes chamar a
atenção para tais verdades, usando-as nas mãos e na testa, e
escrevendo-as nos umbrais da casa e nos portões. E quais
são essas grandes verdades que deviam ser tão destacadas?
Uma delas é uma declaração a rmativa indicativa: O Senhor,
nosso Deus, é o único Senhor (v 4). A segunda grande
verdade que Deus desejava que Israel aprendesse e ensinasse
é um mandamento baseado em sua singularidade: Amarás o
Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e
de toda a tua força (v5). Por ele ser o único, não devia haver
divisão no compromisso de Israel.

Deus é único (Dt 6.4). Dizer que Deus é único faz contrastes com os deuses
existentes no paganismo, e que o homem não pode adorar a outro deus, pois
não se trata de um ser verdadeiro, mas simplesmente uma criação feita pelo
homem. Podemos dizer que Deus é singular, ou melhor, raro, especial, não
vulgar. Nos textos de Ef 4.6; 1 Co 8.6; 1 Tm 2.5, podemos notar essa
singularidade.
VERDADE
Falando de Deus como verdade estamos dizendo que Ele é tão el como
corresponde com o que as Escrituras falam sobre sua pessoa. A verdade de
Deus corresponde com o que de fato Ele é, por isso a Bíblia diz que Ele não
pode mentir (Tt 1.2), que Nele todos podem con ar (Rm 3.4). Falando desse
lado verdadeiro de Deus, com muita propriedade Millard Júnior Erickson
diz:

A veracidade é a segunda dimensão da natureza de Deus


verdadeira de Deus. Ele apresenta as coisas como de fato são.
Samuel disse a Saul: A glória de Israel não mente, nem se
arrepende, porquanto não é homem, para que se arrependa
(1Sm 15.29). Paulo fala do Deus que não pode mentir (Tt
1.2). E em Hebreus 8.18, lemos que quando Deus
acrescentou juramento à sua promessa, havia duas coisas
imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta. Devemos
notar que essas passagens não a rmam somente que Deus
não mentirá. Deus não pode mentir. A mentira é contrária à
sua própria natureza.

Como ser verdadeiro Deus não muda, não nega a si mesmo, nem faz algo
que vá de encontro com a sua própria natureza. Essas a rmações são
maravilhosas para todos os cristãos, pois desse modo todos podem
descansar em suas promessas (2 Tm 2.13), con ar em sua Palavra, que não
falha, e jamais tentar suborná-lo, pois Ele é verdadeiro.
FIDELIDADE
A palavra delidade pode ser definida assim:

Característica do que é el, do que demonstra zelo, respeito


por alguém ou algo; lealdade. Constância nos compromissos
assumidos com outrem. Constância de hábitos, de atitudes.
Compromisso rigoroso com o conhecimento; exatidão”. Do
hebraico é ‘emeth, rmeza, delidade, verdade, certeza,
credibilidade, estabilidade, constância, delidade,
con abilidade, verdade, referindo-se ao que foi dito,
referindo-se à testemunho e julgamento, referindo-se à
instrução divina, verdade como um corpo de conhecimento
ético ou religioso, doutrina verdadeira.

Pela delidade o que se entende é que de fato Deus se prova verdadeiro, em


momento algum você encontrará na Bíblia Deus procurando revisar alguma
palavra ou promessa sua, é isso que está bem claro em Número 23.19. O
apóstolo Paulo chama esse maravilhoso Deus de Fiel (1 Ts 5.24; 1 Co 1.9).
Como é maravilhoso para o cristão saber que serve a um Deus que prova
sua própria delidade, que cumpre aquilo que diz. Tudo que Deus falou a
Abraão, cumpriu, o que falou a Josué, cumpriu. Todos os crentes podem
estar seguros de que a delidade de Deus é algo certo. Falando dessa
delidade de Deus, na teologia organizada por Stanley Horton ele diz:

“O Senhor comprova a sua delidade ao cumprir as suas


promessas: Saberás, pois, que o Senhor, teu Deus, é Deus, o
Deus el, que guarda o concerto e a misericórdia até mil
gerações aos que o amam e guardam os seus mandamentos
(Dt 7.9). Josué, já no m de sua vida, declarou ao povo de
Israel que o Senhor nunca lhe faltará, nem se quer numa
única promessa (Js 23.14). O salmista confessa: “Tu con rma
a tua delidade até nos céus” (Sl 89.2).

SÁBIO
As Escrituras apresentam Deus não como um ser qualquer, com uma
sabedoria teórica, mas sim como Aquele expõe sua sabedoria na prática, não
somente no debate e na dita teoria. Do hebraico a palavra sabedoria é
chokmah, com os seguintes signi cados: habilidade (na guerra), sabedoria
(em administração), perspicácia, sabedoria, sabedoria, prudência (em
assuntos religiosos), sabedoria (ética e religiosa).
Podemos dizer que a sabedoria une tanto o conhecimento da verdade
juntamente com a experiência do viver diário, mas é bom entender que a
sabedoria tão somente como conhecimento capacita as pessoas, tendo sua
mente abarrotada de certos fatos, porém, sem uma compreensão ou
entendimento do seu real signi cado ou aplicação. Temos que entender que
a verdadeira sabedoria busca orientar.
Quando falamos que Deus é sábio estamos dizendo que Ele possui o
conhecimento de tudo, quer seja daquilo que existe como daquilo que vem a
existir. É bom ter em mente, nós meros seres humanos, que os
conhecimentos ou sabedoria de Deus estão além de tudo aquilo que
conhecemos, pois sabemos que Ele é autoexistente.
O salmista deixa claro que o conhecimento de Deus é ilimitado (Sl 147.5).
Pela Palavra de Deus entendemos que Deus é um ser sábio, isso se nota
claramente nas obras de Sua criação (Sl 104.24), e faz uso dessa sabedoria,
do seu conhecimento de modo perfeito, colocando e tirando reis (Dn 2.21).
Como é maravilhoso para o cristão saber que serve a um Deus que é sábio e
que pode participar de Sua sabedoria, pois isso é o que está claro na Palavra,
pois pela sabedoria divina podemos tomar parte nos seus planos, viver
segundo o Seu querer, ou seja, conforme sua vontade (Cl 2.2,3).
BOM
Apesar das Escrituras Sagradas falarem de Deus como um ser poderoso,
justo, el, Ela fala Dele também como um ser gracioso, bondoso, que age
segundo sua natureza, jamais devemos pensar em Deus como um ser
carrasco, sem amor, sem generosidade, pelo contrário, Ele sempre age bem
para com as suas criaturas, quando priorizam Seu querer.
Uma prova do quanto Deus é bom para todos nós, é que tudo o que Ele fez
para o homem foi bom, perfeito, maravilhoso (Gn 1.4, 10,12,18,21,25,31).
Essa bondade é vista no seu caráter (Sl 100.5), interessante analisar que
nessa parte da bondade de Deus Ele manifesta a sua graça para com todos
(Sl 145.8,9; Lm 3.25). Pela bondade divina se entende como Ele quer o nosso
bem em todos os aspectos, providenciando o necessário para o nosso
conforto social, físico (At 14.17; Tg 1.5). Enquanto em outras culturas os
deuses eram apresentados como seres maus, o nosso é declarado pela Bíblia
como bom. Tiago diz que Dele vem coisas boas (Tg 1.17).
PACIENTE
Compreender a paciência de Deus é imprescindível para que possamos
entender o quanto Ele é maravilhoso, sempre agindo para bene ciar a todos
nós. Todo cristão deveria atentar para o lado longânimo e paciente de Deus,
pois Ele não age de modo, nem dominado por uma ira irracional, mas
quando age o faz com justiça e no tempo certo. Nós seres humanos, por
vezes agimos sem re etir, pensar, dominados pela cólera, querendo o mal
dos outros, mas Deus é paciente, longânimo, dando tempo para que
possamos nos arrepender de todos os nossos pecados (Nm 14.18).
As Escrituras Sagradas descrevem a Deus como paciente, longânimo, que
quer dizer tardio em irar-se, o que com tal comportamento evidencia seu
lado gracioso, amoroso, compassivo (Sl 86.15). O lado longânimo de Deus
tem um propósito especial: nos conduzir ao arrependimento. Alguns
supõem que a demora de Deus é um descaso, não estar interessado nas
coisas, o que não é verdade, por isso é importante que o cristão tenha
conhecimento real sobre o signi cado da longanimidade do Senhor.
Pelo comportamento cristão, podemos dizer que por vezes parece um duelo,
um con ito interno que se passa em cada crente, pois eles desejam logo que
o Senhor venha para cumprir sua promessa, mas também todos entendem
que a demora de Cristo em não vir é uma oportunidade concedida para que
outros se arrependam e venham fazer parte da leira de salvos que vão subir
para o céu, foi isso que Pedro explicou isso muito bem (2 Pe 3.9).
Que haverá um julgamento para os que não procuraram viver segundo a
Palavra de Deus, isso é certo, mas tal julgamento não será arbitrário, injusto,
visto que Deus concedeu todo o tempo necessário para que o homem
pecador pudesse aproveitar de Sua longanimidade arrependendo-se dos seus
pecados, o que não o fez (2 Pe 3.15).
GRACIOSO
É claro que essas duas palavras, misericordioso e gracioso, são termos
distintos, porém, aplicadas ao caráter e obra de Deus são termos
semelhantes. Falando da graça, somos claros que recebemos um favor
imerecido, por nossa própria conta jamais poderíamos desfrutar da mesma,
no demais, dela jamais poderíamos ter direito, por isso que se fala que era
imerecível. Nas cartas de Paulo ele acentua com muita precisão a
importância dessa graça em nossa vida, através dela é que recebemos vida e
salvação (Ef ٢.٨,٩).
Do grego a palavra graça é charis, recebendo os seguintes signi cados: graça,
aquilo que dá alegria, deleite, prazer, doçura, charme, amabilidade: graça de
discurso, boa vontade, amável bondade, favor, da bondade misericordiosa
pela qual Deus, exercendo sua santa in uência sobre as almas, volta-as para
Cristo, guardando, fortalecendo, fazendo com que cresçam na fé cristã,
conhecimento, afeição, e desperta-as ao exercício das virtudes cristãs. O que
é devido à graça, a condição espiritual de alguém governado pelo poder da
graça divina. Sinal ou prova da graça, benefício, presente da graça,
privilégio, generosidade. Gratidão, (por privilégios, serviços, favores),
recompensa, prêmio.
MISERICORDIOSO
Deus é descrito nas páginas das Sagradas Escrituras como Deus
misericordioso, esse tema é por demais importante para os cristãos porque
através dessa misericórdia divina é que somos livres do castigo que éramos
merecedores por causa do pecado. Por causa do pecado estávamos
sentenciados, condenados à morte e, como Deus é justo, verdadeiro,
seríamos penalizados, porém, pelo envio de Seu Filho Jesus Cristo
recebemos o perdão de nossos pecados, da culpa, desfrutando assim do gozo
dessa misericórdia divina.
Por meio da misericórdia divina o cristão o cristão goza do livramento do
castigo divino, recebendo de Cristo a verdadeira paz (Is 53.5; Tt 2.11;3.5). O
salmo 103.8 fala muito bem do Deus misericordioso. Lendo o salmo 111.4,
está bem claro que o Senhor é misericordioso, que do hebraico é racham,
uma raiz primitiva que quer dizer amar, amar profundamente, ter
misericórdia, ser compassivo, ter afeição terna, ter compaixão. Qual, amar;
Piel, ter compaixão, ser compassivo, referindo-se a Deus, ao homem; Pual,
ser objeto de compaixão, ser compassivo.
Diz-se que os termos graça e misericórdia andam juntos, através do perdão
o cristão está desfrutando da misericórdia de Deus, recebendo o dom da
vida o cristão está desfrutando da graça, de modo que há um
relacionamento entre as duas palavras (Ef 2.4,5; Ne 9.17; Rm 9.16; Ef 1.6.

28 GRUDEM, Wayne, Teologia Sistemática, p. 115.


29 THOMPSON, J. A Deuteronômio: Introdução e comentário.
CONHECENDO DEUS PELOS
SEUS NOMES

O nome é uma de nição de caráter (Mt 1.21). Conhecer a Deus pelos seus
nomes é saber de fato sua boa fama, reputação. O nome expressa também a
questão familiar, ou seja, a linhagem, mas o nome designa uma pessoa. Ao
falarmos sobre o nome de Deus, não estamos apenas querendo fazer uma
coleção de frases de efeito, mas declarar verdadeiramente como Ele é. O
Dicionário Almeida, falando sobre o nome de Deus diz:

(hebr. El, Elah, Eloah, Elohim; gr. theós) O nome mais geral
da Divindade {Gn 1.1; Jo 1.1}. Deus é o Ser Supremo, único,
in nito, criador e sustentador do universo. É espírito pessoal
e subsiste em três pessoas ou distinções: Pai, Filho e Espírito
Santo. É santo, justo, amoroso e perdoador dos que se
arrependem. O ateu diz que Deus não existe; o agnóstico diz
que não podemos saber se Deus existe ou não; o crente sabe
que Deus existe e a rma: “nele vivemos, nos movemos e
existimos” {At 17.28}.

Quando a Bíblia fala que não se deve tomar o nome do Senhor em vão, não
é que exista nisso um código secreto divino, mas porque o seu nome revela o
seu caráter. Quando alguém chama pelo nome de Deus, está evidenciando
uma fé verdadeira para com Ele (Gn 21.33), mas ao tomar o seu nome em
vão, pode ser uma prática de desonra (Êx 20.7). Nenhum homem de Deus
no passado, incluindo os sacerdotes, faziam quaisquer atividades sem usar o
nome do Senhor, isso para expressar a todos o quanto o serviço era sério (Dt
21.5). Falando da importância do nome de Deus Russell E. Joyner, na obra
organizada por Stanley Horton30, diz:
Nas Escrituras, Deus demonstrou que o seu nome não era
mera etiqueta para distingui-lo das demais deidades das
culturas em derredor. Pelo contrário, cada nome que ele usa
e aceita revela alguma faceta do seu caráter, natureza,
vontade ou autoridade. Pelo fato de o nome representar a
Pessoa e a presença de Deus, invocar o nome do Senhor veio
a ser um meio de entrar em íntima comunhão com Deus.
Esse era um tema comum às religiões do Oriente Médio
Antigo. As religiões em derredor, porém, tentavam controlar
as suas deidades mediante uma manipulação de nomes, ao
passo que os israelitas eram proibidos de usar o nome de seu
Deus em vão ou com maus propósitos (Êx 20.7). Pelo
contrário, deviam manter um relacionamento puro com o
seu nome, como estabelecido por Deus, pois isto trazia
consigo a providência e a salvação.

Vamos agora analisar cuidadosamente alguns aspectos teológicos


importantes desses nomes divinos.
ELOHIM.

Trata do verdadeiro Deus. Ocorre 2.570 vezes no Antigo Testamento. Pode


ser usado também para com os deuses falsos (Gn 35.2-4). Aparece logo em
Gênesis 1.1, que no hebraico é ‘elohiym,1) (plural), governantes, juízes, seres
divinos, anjos, deuses. 2) (plural intensivo-sentido singular), deus, deusa,
divino, obras as possessões especiais de Deus, o (verdadeiro) Deus.
Em se tratando do signi cado desse nome, alguns estudiosos dizem que
pode expressar um sentido de medo, evidenciando assim um respeito para
com a divindade. Outros estudiosos a rmam que pode ser entendido como
forte, expressando grande poder. Na verdade, esse nome pode carregar esses
dois sentidos, o primeiro apontando para a reverência, o segundo
evidenciando sua grande força, seu grande poder. Na teologia de Stanley
Horton, falando de ´Elohim, o autor diz:
O sinônimo de ´Elohim é sua forma singular, ´Eloah, que
também é usualmente traduzida por Deus. Um exame dos
trechos bíblicos onde o nome ocorre, sugere que este assume
um signi cado adicional: re ete a capacidade de Deus em
proteger ou destruir (o que depende do contexto especí co).
É usado em paralelo com rocha- refúgio (Dt 32.15; Sl 18.31;
Is 44.8). Os que se refugiam nEle descobre que ´Eloah é um
escudo de proteção (Pv 30.5), mas um terror para os
pecadores: Ouvi, pois isto, vós que vos esqueceis de Deus
(´Eloah); para que vos não faça em pedaços, sem haver
nome, portanto, é um consolo para os que se humilham e
nEle buscam refúgio, mas castiga os que praticam a
iniquidade.

Muitos questionamentos têm sido levantados por causa do plural existente


nesse nome, a rma-se que antes havia nele um sentido politeísta, mas que
posteriormente obteve sua singularidade. Muitos teólogos a rmaram que
nesse plural podia-se a rmar a presença da trindade. Por m, diversos
estudiosos concluíram que o plural de Elohim destacava a superioridade de
Deus e sua majestade.
Teologicamente, o nome Elohim demonstra a força e soberania de Deus,
destacando-o como ser absoluto (Is 54.5; Ne 2.4; Dt 10.17). Fala de Deus
como sendo o criador de tudo (Gn 1.1; Jn 1.9), mas também o Deus que
evidencia sua sentença (Sl 58.11).
EL SHADDAI.

Na Torá o El Shaddai quer dizer o Deus todo-poderoso (Gn 17.1), que do


hebraico é Shadday, todo-poderoso, onipotente. Shaddai, o Todo-Poderoso
(referindo-se a Deus No acadiano fala de uma montanha, desse modo eles
dizem que Deus está assentado sobre uma grande montanha (Êx.6.3). Mas
esse nome pode também ser usado no sentido de punição (Rt 1.20.21. No
dicionário hebraico da Editora Vozes a palavra shad quer dizer seios.
No texto acima Deus revelou-se a Abraão como o ´El-Shaddai, em algumas
passagens bíblicas a expressão shaddai declara o poder que Ele tem de
devastar e destruir, isso porque shaddai procede de uma raiz primitiva,
shadad, fala de proceder violentamente com, despojar, devastar, arruinar,
destruir, espoliar.
A ação divina como o Shaddai pode ser vista em algumas passagens bíblicas:
Salmo 68.14; Is 13.6. Mas Shaddai fala que Deus é autossu ciente, o todo
poderoso (Gn 48.3,4). Por meio desse nome o que se entende claramente é
que Deus tem o poder tanto para abençoar como para castigar.
EL ELYON.

Primeiramente vamos começar falando de El, que do hebraico quer dizer


deus, semelhante a deus, poderoso, homens poderosos, homens de posição,
valentes poderosos, anjos, deus, deus falso, (demônios, imaginações), Deus,
o único Deus verdadeiro, Javé, coisas poderosas na natureza, força, poder.
Já a palavra altíssimo do hebraico é ‘elyown, adjetivo, superior, de cima,
referindo-se ao rei davídico exaltado sobre outros monarcas. O Mais Alto,
Altíssimo, nome de Deus, referindo-se a governantes, tanto reis como
príncipes mensageiros. Há diversos textos no Velho Testamento que falam
de Deus como o altíssimo: Gn 14.18; Sl 57.2; Dn 3.26; Mc 5.7; At 16.17; Hb
7.1.
Deus altíssimo. Fala que Deus é grande, soberano, que está acima de tudo e
de todos (Gn 14.19). Ninguém deve ousar querer ser maior do que Deus,
pois quando alguém tenta fazer isso, logo será derrotado. Sabemos que
Satanás queria ser como o altíssimo, por isso foi banido do céu (Is 14.14).
EL OLAM.

Esse nome expressa a eternidade de Deus (Gn 21.33). Falar de um Deus


eterno é revelar o seu caráter imutável e seu grande poder (Sl 100.5; Is
40.28). É maravilhoso para o cristão servir a um Deus que é perpétuo,
eterno (Sl 90.2).
´ELOHIM YISH´ENU.

Por meio desse nome entendemos que Deus é o nosso salvador, o que
podemos entender claramente como se expressa na Palavra de Deus (1 Cr
16.35; Sl 65.5; 68.19; 79.9.
EL ROI.

A palavra ro’iy do hebraico quer dizer aspecto, aparência, visão, vista, visão,
aparência, vista, espetáculo. A Bíblia não somente fala de um Deus eterno,
soberano, grande, poderoso, mas também de um Deus que vê (Gn 16.13).
Falando do texto de Gênesis, já citado anteriormente, Derek Kidner diz:

Deus como visto, mais do que como vendo, é que constitui o


tema dos dois versículos, que jogam com a raiz ra´a, ver. As
palavras de Hagar dizem literalmente: Tu és o Deus de vista
(ro ́î, aparência; isto é, um Deus visível (١ Sm ١٦.١٢), sobre a
aparência de Davi), seguidas de Não olhei eu neste lugar
para aquele (ou para as costas daquele) que me vê? Ro ́î, sito
é, o que me vê (Jó ٧.٨)

Ele vê nossas necessidades, atenta para nossas a ições, nada passa


despercebido diante dos seus olhos, que passam por toda terra (2 Cr 16.9).
YAHWEH.

Tratava-se do Deus existente, que está vivo e que atua na história. O


aparecimento desse nome nas escrituras é constante (Gn 4.1; 9.6; 12.8),
porém, seu real signi cado pode ser encontrado na pessoa de Moisés. Na
citação de Êxodo 3.14, a Torá diz assim: “Serei o que serei”. Vamos fazer uso
da citação da Torá hebraica, só para entendermos melhor essa colocação.
“Qual é o nome de Deus? Deus tem vários nomes e cada um deles representa
a forma como Ele se manifesta aos seres humanos. Quando é benevolente,
Deus é chamado de Eterno h w h y, o nome que representa Sua misericórdia
e eternidade, sendo formado pelas letras que compõem as palavras foi h y h
é, h w h será, h y h y em respeito à sua enorme santidade, o Tetragrama não
é pronunciado nas orações ou durante a leitura da Torá conforme está
escrito, sendo substituído por Ado-nai ou Hashem. Quando se manifesta
exercendo o Seu poder de juiz e soberano do Universo, Ele é chamado de
Elohim. Quando realiza milagres e atos sobrenaturais, como nos períodos
dos Patriarcas, manifesta-Se como Shadai (Todo poderoso...”. (Torá, p.159).
Podemos dizer que o nome Yahweh ocorre na Bíblia 6.828 vezes, num total
de 5.790 versículos no Antigo Testamento, desse modo claramente se
entende que é a designação ocorrente no Velho Testamento. Para os
hebraístas esse nome vem do verbo hebraico que quer dizer tornar-se,
acontecer, estar presente.
A sacralidade desse nome e o não uso do mesmo começaram no período
pós-exílio, motivo pelo qual ele foi substituído para Adonai31. Também a
inclusão das vogais nas consoantes citadas acima, que deram vocalização às
mesmas, começou no século VI ou VII a. C. Diante dessa vocalização e do
respeito ao nome Sagrado é que surge a palavra Jeová.
O mais importante nesses detalhes todos, é nós carmos cientes que esse
nome nos assegura que Deus é autoexistente, vive no meio do seu povo,
agindo com seu grande poder, e mantém Sua aliança (Êx. 6.6; Jo.8.58).

Yahweh com seus nomes compostos

a. Jireh. . O senhor proverá (Gn 22.14). yireh, O SENHOR proverá =” Jeová


proverá”1) nome simbólico dado por Abraão ao Monte Moriá, em comemoração à
intervenção do anjo de Javé que impediu o sacrifício de Isaque e providenciou um
substituto

b. Nissi. O Senhor é minha bandeira (Êx 17.15). nicciy, “Javé é minha


bandeira”, o nome dado por Moisés ao altar que ele construiu em comemoração à
frustração dos amalequitas.
c. Shalom. O Senhor é a paz, (Jz 6.24). shalom,”Javé é paz”, o nome de um
altar sagrado construído por Gideão em Ofra.

d. Sabaoth. Senhor dos exércitos, (1 Sm 1.3). o que vai adiante, exército,


guerra, arte da guerra, exército, tropa.

e. Meccadishkem. O Senhor que santifica, (Êx ٣١.١٣). qadash 1)


consagrar, santificar, preparar, dedicar, ser consagrado, ser santo, ser santificado, ser
separado 1a) (Qal), ser colocado à parte, ser consagrado, ser santificado, consagrado,
proibido.

f. Raah. O Senhor é meu pastor, (Sl 23.1). ra ‘ah,1) apascentar, cuidar, de


pastar, alimentar 1a) (Qal)1a1) cuidar, de apascentar, pastorear.

g. Tsidkenu. O Senhor é nossa justiça, (Jr23.6). tsidqenuw,”SENHOR, justiça


nossa”1) um nome sagrado simbolicamente aplicado a Jerusalém e ao Messias.

Theós, θεός.

eós é a tradução de Elohim da Septuaginta, sendo assim, o nome eós é


o que aparece no Novo Testamento. Mesmo que esse nome seja usado pelos
pagãos, referindo-se aos seus deuses falsos (1 Co 8.5;2 Ts 2.4), como
também ao Diabo (2 Co 4.4), sua aplicação no texto bíblico
neotestamentário fala somente sobre o Deus verdadeiro.
Podemos então de nir o theós da seguinte maneira: de a nidade incerta;
um deus, especialmente, a divindade suprema. Deus ou deusa, nome
genérico para deidades ou divindades, Deus, Trindade, Deus, o Pai, primeira
pessoa da Trindade, Cristo, segunda pessoa da Trindade, Espírito Santo,
terceira pessoa da Trindade. Dito do único e verdadeiro Deus, refere-se às
coisas de Deus, seus conselhos, interesses, obrigações para com ele. Tudo o
que, em qualquer aspecto, assemelha-se a Deus, ou é parecido com ele de
alguma forma, representante ou vice regente de Deus, de magistrados e
juízes. O eós declara três coisas importantes sobre Deus:
a. Ele é único e se contrapõe com os falsos deuses (Rm 3.30; Gl
2.20; 1 Tm 2.2.5).

b. Ele é incomparável. Esse é o motivo pelo qual nós devemos


servi-lo, pois não existe outro Deus como Ele (Mt 6.24; Jo 17.3;
1 Tm 1.17).

c. Ele é excelente. Deus está elevado, acima de tudo e de todas as


coisas, sua transcendência é bíblica, por isso devemos lhe adorar
de todo coração (At 17.24; Ap 10.6).

Jesus é Deus?

As páginas bíblicas falam de Jesus como sendo Deus (Jo 1.1,18; Tt 2.13). A
aplicação do termo Senhor, que é feita a Cristo (Jo 20.28), expressando
autoridade, hegemonia, teologicamente fala de Deus como o Ser Criador,
como Aquele que tem poder e domina tudo.
A Palavra Senhor, quando aplicada a Cristo, fala que Ele é Mestre, Senhor,
Criador, Dono (Jo 4.11; Lc.19.33,34; Cl 13.22; 1 Co 8.5; 1 Pe 3.6).
À luz das páginas do Novo Testamento, vemos que por diversas vezes Jesus
foi chamado de Senhor, dessa forma as pessoas que O tratavam assim
declararam seu poder, sua soberania, também o reconheciam como dono de
tudo. Não era apenas uma forma de tratamento convencional, mas resultava
do conhecimento que muitos tinham Dele como verdadeiro Deus (Mt ٨.٦;
Jo ٢٠.٢٨).
Depois da ressurreição de Cristo a Palavra Senhor ainda é vista com mais
precisão, pois dessa forma, muitos verão que para alguém vencer a morte só
mesmo sendo Deus. A partir de então o nome Senhor é aplicado a Cristo
por merecimento, pois Ele foi exaltado acima de todas as coisas (At 2.36; Fp
2.11).
Quem estuda o Velho Testamento, logo percebe que a palavra Senhor era
aplicada somente a Deus, então podemos concluir o seguinte, se ela é
aplicada a Cristo, logo também Ele é Deus (Rm 10.9).

Deus: o nosso Pai e o Dono

Lendo a Bíblia, vemos que Deus é o dono de nossas vidas, e o nosso Pai32 (Lc
2.29 Ap 6.10). Como Pai Ele concede as suas maravilhosas bênçãos, sua
graça, sua paz, sua Palavra, seus bens (Ef. 1.2; Tg. 1.17; 2 Jo. 4). Falando de
Deus como Pai, na oração que Jesus ensinou aos seus discípulos cou claro
que eles deveriam começar Ela se dirigindo a Deus como Pai, por isso
Homer A Kent. Jr., diz: Nosso Pai. Uma maneira incomum de começar uma
oração no V.T., mas preciosa a todos os crentes do N.T.
O dicionário falando de Deus como Pai Nosso a rma: A oração modelo
ensinada por Jesus (Mt 6.9-13; Lc 11.2-4). Ela se divide em duas partes. Na
primeira, após a invocação, há três petições referentes a Deus: ao seu ser, ao
seu Reino e à sua vontade. Na segunda parte, as petições são feitas na
primeira pessoa do plural (“nós”), pois o cristão ora como membro de uma
comunidade de salvos. Ele pede alimento, perdão e vitória na tentação. A
DOXOLOGIA nal foi acrescentada pela Igreja primitiva, re etindo a
oração de Davi registrada em (1Cr 29.11-13).
A palavra Pai do grego é pater, Deus é chamado o Pai das estrelas, luminares
celeste, porque Ele é seu criador, que as mantém e governa. De todos os
seres inteligentes e racionais, sejam anjos ou homens, porque Ele é seu
criador, guardião e protetor, de seres espirituais de todos os homens, de
cristãos, como aqueles que através de Cristo tem sido exaltado a uma relação
íntima e especialmente familiar com Deus, e que não mais o temem como a
um juiz severo de pecadores, mas o respeitam como seu reconciliado e
Amado Pai. Só pode realmente chamá-lo de Pai quem já tomou parte de
suas maravilhosas bênçãos (Mt 7.11; Ef 2.18).

30 HORTON, Stanley, Teologia Sistemática, p.141.


31 É um plural que fala da majestade de Deus. No singular refere-se a Deus como mestre e dono
(Gn.19.2; 1 sm.1.15). Esse nome trata do relacionamento entre Deus e o homem, Ele é o mestre,
enquanto o homem é seu aluno, escravo (Êx. 21.1,6). Nesse caso vemos que Deus é um ser que tem
autoridade sobre todos os homens (Js. 5.14; Is.6.8-11).
32 No Velho Testamento a palavra Pai usada para com Deus aparece 15 vezes. No Novo Testamento
ela aparece 245 vezes.
A TRINDADE DIVINA

A palavra trindade, trindade ou trinal, não aparece na Bíblia de modo


explícito, mas apenas implícito, todavia, podemos rati car dizendo que esse
assunto é escriturístico e tem total respaldo bíblico. De forma precisa
podemos de nir a trindade assim: A união das três pessoas-Pai, Filho e
Espírito Santo -formando um só Deus. Deus é ao mesmo tempo uno e trino
{Mt 3.13-17; 28.19; 2Co 13.13}. Desejo começar esse assunto fazendo uso da
obra de Roger Olson, que na página 265, fazendo uso da teologia de
Agostinho diz:

Agostinho sempre lutou pelo ideal do total consistência


sistemática. Da mesma forma que os pais capadócios,
reconheciam a existência do mistério. Supostamente,
Agostinho comentou que a doutrina da Trindade era
misteriosa e perigosa, pois se você a negar, perderá a
salvação, mas se tentar a compreendê-la perderá a cabeça.

A trindade no Velho Testamento

Nas páginas velhotestamentária está destacada a presença do único Deus


vivo e verdadeiro (Dt 6.4), mas também é revelado a distinção das pessoas
divinas, ou seja, da triunidade. Na Teologia sistemática de Wayne Grudem33,
falando da trindade no Velho Testamento ele pontua:

Às vezes se pensa que a doutrina da trindade se encontra


somente no Novo Testamento, e não no Antigo. Se Deus
existe eternamente com três pessoas, seria surpreendente
não encontrar indicações disso no Antigo Testamento.
Embora a doutrina da Trindade não se ache explicitamente
no Antigo Testamento, várias passagens dão a entender ou
até implicam que Deus existe como mais de uma pessoa. Por
exemplo, segundo Gênesis ١.٢٦, Deus disse: façamos o
homem à nossa imagem conforme a nossa semelhança. O
que signi cam o verbo (façamos) e o pronome (nossa),
ambos na primeira pessoa do plural? Alguns já a rmaram
tratar-se de plurais majestáticos, forma de falar que um rei
usaria ao dizer, por exemplo: temos o prazer de atender-lhe
o pedido. Porém, no Antigo Testamento hebraico, não se
encontram outros exemplos que um monarca use verbos no
plural ou pronome plural para referir-se a si mesmo nessa
forma de plural majestático. [...] A melhor explicação é que
já nos primeiros capítulos de Gênesis temos uma indicação
da pluralidade de pessoas no próprio Deus.

Os textos do Velho Testamento enfatizam a “unicidade” divina, que é a


qualidade de único, e contrapõe os falsos deuses, negando de vez o
politeísmo (Êx 20.3; Dt 4.35; Is 45.14). O nome Elohim pode expressar a
triunidade divina, isso devido a sua pluralidade (Gn 1.26; 11.7; Is 6.8).
Estudiosos têm procurado também con rmar a triunidade na pessoa do
Anjo do Senhor, esse anjo não seria um anjo qualquer, mas ele é chamado de
Deus (Gn 16.7-13; 19.1; Ml 3.1). O Anjo do Senhor pode denotar que
existem distinções de pessoas na divindade.
Diversos textos bíblicos apontam para a distinção das pessoas presentes na
idade. O senhor é distinto do Senhor (Gn 19.24), o Redentor também se
difere do Senhor (Is 59.20), também o Espírito é distinto do Senhor (Is
48.16).
Muitos estudiosos da teologia bíblica têm visto na sabedoria, que aparece em
Provérbio, como sendo ela a pessoa de Jesus Cristo, nesse caso ela indicaria a
presença da trindade, mas outros teólogos a rmam que isso não é possível,
mas que a sabedoria aqui tão somente trata de um atributo divino.
Tratar sobre a trindade presente na unidade é algo bem complicado, pois
conforme já falamos tal assunto não é explícito no Velho Testamento,
porém, apenas podemos dizer que esse assunto é apenas sugestivo na Velha
aliança, que ui como um pequeno canal de um rio, mas que logo se
transformará em um imenso mar.

A Trindade no Novo Testamento

A doutrina da Trindade pode ser encontrada no Novo Testamento,


novamente podemos fazer uso das palavras de Wayne Grudem, que diz:

Quando começa o Novo Testamento, entramos na história


34

da vinda do Filho de Deus à terra. Era de esperar que esse


grande acontecimento se zesse acompanhar de
ensinamentos mais explícitos, sobre a natureza trinitária de
Deus, e de fato é isso que encontramos. Antes de analisar a
questão com pormenores, podemos simplesmente listar
várias passagens em que as três pessoas da Trindade são
mencionadas.

Nas páginas do Novo Testamento esse assunto também não aparece de


modo explícito, e um dos textos que é usado, como 1 Jo 5.7, ele não aparece
em alguns manuscritos. Esse versículo é usado para apontar tanto a unidade
como a triplicidade divina, ou melhor, um Deus que se manifesta em
pessoas distintas.
A seita protestante do século XVI denominada de Unitarismo negava o
dogma da trindade, reconhecendo em Deus apenas uma só pessoa. Ao
pensarmos sobre a unidade na trindade, devemos entender que é um ser em
ser três, pois se adotarmos apenas a unicidade cairemos no erro do
unitarismo, e se enfatizarmos apenas a triplicidade, então iremos seguir o
mesmo posicionamento mormonista, o triteísmo.
As provas bíblicas do Novo Testamento que falam sobre a unicidade divina
são as seguintes: 1 Co 8.4-6; Ef 4.3,6; Tg 2.19. Mas existem textos que falam
da triplicidade divina (Jo 6.27; 1 Pe 1.2). Jesus é reconhecido como Deus (Mt
9.4), pois os mesmos atributos que são pertencentes a Deus, também são
aplicados a Cristo (Mt 28.18; Mc 2.1-12)
Referindo-se às obras da criação, que foram feitas por Deus, também elas
são aplicadas a Cristo, Ele sendo o criador e sustentador (Jo 1.1,3; 5.27; Cl
1.17). Vemos também que o Espírito Santo é reconhecido como Deus (Jo
3.5,6,8; At 5.3,4; 1 Co 2.10).
O Novo Testamento expressa a unidade e triunidade em alguns textos (Mt
28.19; Mt 3.16.17; 2 Co 13.113). O leitor pode ler essas passagens bíblicas e
fazer associação delas com as pessoas divinas.

Trindade, uma de nição difícil

Diversos livros de teologia tentam esclarecer a trindade em de nições bem


precisas, porém, em sua maioria, jamais conseguiram trazer uma de nição
óbvia, sendo assim, o importante é entendermos que a trindade revela um
único Deus, mas que existe a unidade na existência de três pessoas eternas
que são iguais e têm a mesma substância, mas que são distintas. Lan-Esb
Langston A. de niu a trindade mais ou menos assim:

No estudo que ora fazemos, deste assunto, a palavra


Trindade signi cará a tríplice manifestação de Deus ou a sua
manifestação no Pai, no Filho, e no Espírito Santo; e o termo
Triunidade, o tríplice modo da existência de Deus, que é a
existência de três em um. Temos a doutrina da Trindade
pelo fato de Deus se haver revelado como Pai, como Filho, e
com Espírito Santo. Há uma tríplice revelação porque há um
modo tríplice de existir. Ainda mais, a teologia a rma que a
Triunidade foi conhecida por causa da Trindade. Se não
houvesse uma tríplice manifestação própria de Deus, jamais
se revelaria ao homem a Triunidade de sua existência. [...]35

Nessa de nição duas palavras podem causar grande confusão, a primeira é a


palavra pessoa, que por vezes alguns entendem isso de modo bem natural, o
que pode entender três deuses. A segunda palavra é substância, que tanto
pode referir-se ao material como também características próprias de
alguém, por isso alguns acham melhor usar a palavra essência em vez de
substância.
A unidade na trindade é bem visível, de modo que nesse ajuntamento
ninguém pode ser confundido (Jo 10.30). Pai, Filho e Espírito Santo são
distintos, mas estão unidos, por isso podemos a rmar que nessa triplicidade
a ontologia é bem visível, pois concebe o ser como tendo uma natureza
comum como é inerente a todos e a cada um dos seres.
Pode-se notar no estudo da trindade o aspecto da economia divina, que fala
da arte de distribuir ou administrar os bens. Em tudo é perceptível o
trabalho da trindade: O Pai cria, o Filho redime, o Espírito santi ca (Ef 1.3,
7, 13.14. A economia da trindade pode ser vista nos seguintes textos: Mc
8.31; At 1.8;1 Pe 1.2; Jo 3.16; Gl 5.22,23; Tg 1.17; Tt 3.5; Hb 1.3. Que que
bem claro: o assunto da trindade envolve uma questão bem misteriosa, mas
que não tira a nossa fé (1 Tm 3.16).

Recursos ilustrativos aplicados ao assunto trindade

A mente humana, principalmente os espiritualistas, procura de todos os


meios encontrar uma ideia precisa sobre a Trindade, então, percorrendo
diversos pensamentos, chegam a apresentar as ilustrações de três em um.
Vamos enumerar algumas dessas ilustrações:

a. Água. Tem três estados: líquido, sólido e gasoso.

b. Sol. Tem luz, força, calor. A luz fala de Deus. Cristo expressa a
luz de Deus, que jamais Deus foi visto em sua essência, mas foi
revelado por Jesus (Jo 14.7,8; Hb 1.3); a força fala do Espírito
Santo, Ele tem poder para trazer vida às coisas (Gn 1.2). O sol é
quem dá vida às sementes, plantas, árvores.

c. O próprio homem. Ele é um só composto de três: alma, corpo e


espírito.

d. A vela. Ela queima por causa da estearina, pavio, ar atmosférico.

e. As funções legislativas. Executivo, legislativo, judiciário.

Diante dessas e de muitas outras analogias, podemos fazer uso das palavras
de Bancro , quando diz:

Apesar de que essas analogias mostram a possibilidade da


trindade na unidade, são, não obstante, analogias imperfeitas
da divindade. Em todas essas analogias as distinções são
impessoais, enquanto na divindade tais distinções são
pessoais. Nessas analogias há uma trindade de partes, de
aspectos ou de funções, enquanto no ser divino há uma de
pessoas. Tais analogias têm valor como ilustrações da
possibilidade da trindade; porém, não provam a doutrina da
divina trindade”. (Teologia Elementar, 2001, p.47).

A trindade na visão histórica dos pais da igreja

Não houve muita preocupação dos pais da igreja em tratar sobre a questão
da Trindade, na verdade, o que eles de fato valorizavam era a ação do
Espírito na vida dos cristãos. Podemos dizer também que, da mesma forma
como ainda hoje temos certas di culdades em entender o ensino em si, não
a negação dele, isto se dava a eles também. O fato de não entendermos um
assunto não quer dizer que ele não exista.
Quem primeiro começa a falar da trindade é Tertuliano (165-220). Ele
combateu seriamente o monarquianismo, o qual negava a trindade,
defendendo somente a unidade divina. Em se tratando do Monarquianismo,
tendo como seu representante Teodoro de Bizâncio (210), dizia que no
batismo Jesus recebeu grandes poderes através do Espírito Santo, esse
posicionamento é defendido pelos “monarquianismo dinâmico”.
Os que são monarquianismo modalista defendiam o “patripassianismo”,
rati cando que o Pai sofreu com o Filho na sua encarnação. Precisamos
entender que o pensamento central do modalismo não trata somente da
unidade divina, mas destaca com precisão o absolutismo de Jesus Cristo. No
Oriente o monarquianismo modalista passou a ser conhecido como
“sabelianismo”, devido ao seu representante Sabélio.
Entendemos que Sabélio tratava das pessoas da Trindade a rmando que
eram apenas manifestações de Deus, o termo pessoa tinha apenas o
propósito de evidenciar as manifestações divinas.

O entendimento do arianismo quanto à trindade

No arianismo, pensamento que surge com o presbítero Ário de Alexandria,


fazia distinção entre as pessoas divinas, segundo ele, Deus é único, eterno, o
Filho é gerado do Pai, ele teve um princípio, e o Espírito Santo foi criado por
Jesus Cristo. Tentando apresentar a inferioridade de Jesus em relação ao Pai
ele busca consolidar seu pensamento errado em algumas passagens das
Escrituras Sagradas: Mt 28.18; 1 Co 15.28.
Para rebater essa posição de Ário aparece Atanásio, ele destacou a unidade
de Deus, e realçou fermente as três naturezas presentes no Pai, por isso dizia
que Jesus era da mesma substância que o Pai. Em se tratando da geração de
Cristo Jesus, isso estava presente na própria eternidade de Deus.
No Concílio de Nicéia cou claro que o Filho era da mesma substância que
o Pai, tal substância era denominada de Homoousios. Os oposicionistas
preferiam uma substância da mesma natureza chamada de “Homoousios”.
Para outros denominados arianos radicais, a rmavam claramente que Jesus
não era da mesma natureza que o Pai, o que eles chamavam de “Hetero
Ousios”. Quem bate o martelo apoiando o pensamento de Atanásio é
Constantino, cando claro que o preferível era “Homoousios”.
Atanásio dizia que o Espírito Santo era da mesma natureza que o Pai, porém,
o arianismo ainda teve sua repercussão por causa do apoio que recebia do
imperador que sucedeu a Constantino, Constâncio, ele pendia mais para o
lado de Ário.
A derrota precisa do arianismo acontece fortemente com três capadócios:
Basílio de Cesaréia, Gregório de Nissa, que era seu irmão, e Gregório
Nazianzo. Esses três teólogos eram da Capadócia, e foram eles que deram
uma estrutura de nitiva sobre a Trindade.
Esses três procuraram de nir a trindade de modo preciso fazendo uso da
palavra grega “ousia”, que quer dizer ser, essência, a qual pode ser aplicada
diretamente a Deus, e “hypostases”, que signi ca estar sobre, de modo que
essa última palavra seria usada para tratar das pessoas. Na obra História da
Igreja36, abordando o assunto o autor pontua:

A linguagem escolhida para comunicar esse mistério, ainda


que biblicamente revelada e por essa razão necessariamente
ligando o conceito do Deus cristão, foi “Um ousia, [termo
grego para substancia ou essência] e três hypotases [termo
grego usado para signi car pessoas]. Em uma de suas cartas
Basílio expressou a integridade da fé da Igreja deste modo:
Se não temos nenhuma percepção distinta das características
separadas, isto é, paternidade, liação e santi cação, mas isso
forma nossa concepção de Deus através da ideia geral da
existência, não podemos dar conta possivelmente de nossa fé.
Por esta razão, temos que confessar a fé acrescentando o
particular ao comum. A divindade é comum; a paternidade,
particular. Portanto, temos que combinar os dois e dizer:
“Creio em Deus o Pai”. O mesmo procedimento deve ser
seguido na con ssão do Filho; temos que combinar a
peculiaridade com o comum e dizer: “Creio no Deus Filho”.
Portanto, no caso do Espírito Santo, temos que fazer nossa
declaração conforme o título e dizer: “Também creio no divino
Espírito Santo”. Por esta razão é que existe uma preservação
satisfatória da unidade pela con ssão de uma Divindade,
enquanto na distinção das propriedades individuais
consideradas mútuas existe a con ssão das propriedades
peculiares das pessoas.

Mas a questão sobre a trindade não para por aí, tudo porque o homem
sempre procurou entender esse assunto apenas do ponto de vista humano, e
não pela fé e revelação do Espírito Santo de Deus, posto que a Bíblia diz que
o Espírito penetra todas as coisas (1 Co 2.10). Existem questões no nível da
fé que não podem ser entendidas pela nossa lógica humana.

O ensino dos pneumatouianismo quanto à trindade

Falaremos agora de um homem que de modo acirrado combatia a pessoa do


Espírito Santo, Eustáquio, ele liderava um grupo denominado de
“pneumatoquianismo”, a rmavam que tanto o Espírito Santo como Jesus
Cristo como uma única substância com o Pai. Essa briga deu origem ao
Concílio de Constantinopla, quando o imperador Teodósio reuniu
aproximadamente 150 bispos da Igreja Oriental.
Para dirigir esses bispos coube a responsabilidade a Gregório Nazianzeno,
que deixou claro que o Espírito Santo procedia de Deus, sendo Ele também
criador, vivi cador e que estava em plena consonância com o Filho,
glori cando o Pai. Nesse credo, ao Espírito Santo foram atribuídas
atividades que só eram realizadas por Deus, provando assim sua deidade.
Estudiosos a rmam que nesse particular o Concílio de Constantinopla
encerrou a questão em relação a deidade do Espírito Santo, provando dessa
forma seu relacionamento com o Pai e o Filho.
Posso dizer que ainda hoje impera discussão sobre a trindade, todavia isso é
simplesmente uma questão de alguém querer ser superior em matéria de
Bíblia, pois tal assunto não é para debate, pois ninguém pode negar que os
que realmente se deixam dominar pelo Espírito Santo de Deus sabe qual é o
seu papel em nossas vidas.

A trindade em Santo Agostinho

No Ocidente quem dará um contorno de nitivo sobre a Trindade é


Agostinho, segundo ele, todas as pessoas da Santíssima Trindade tinham a
mesma substância e eram recíprocas em sua dependência. Ele deixou claro
que o Espírito Santo vem do Pai e do Filho.
Agostinho vai dar muita ênfase ao papel do Espírito Santo na vida do
cristão, pois é através Dele que a graça salvadora no homem tem sua
e cácia. Biblicamente, Agostinho vai muito bem no que Jesus Cristo
ensinou, no tocante ao trabalho do Espírito Santo na vida do pecador (Jo
16.7,8).
Faz-se necessário ainda falar do Filioque,37 que quer dizer “e Filho”. Já acima
mencionamos que os teólogos ocidentais a rmavam categoricamente que o
Espírito Santo se originava do Pai como do Filho, mas tudo só vai se resolver
com a inclusão deste Filioque, que foi acrescentado no Credo de Toledo
(589).
Mas a questão não parou por aí, pois a Igreja Ocidental não aceitou tal
posicionamento, a rmando que a inclusão de tal cláusula era na verdade
uma grande heresia. Pódio, que era de Constantinopla, foi contrário à
inclusão desta cláusula, pois ele era contra o Papa Nicolau, ele dizia que essa
cláusula na verdade era hereis, inovação doutrinária, pois feriu seriamente o
Credo de Constantinopla.
A trindade vista pelos reformadores e na visão moderna
Trataremos agora da trindade na visão dos reformadores e do ponto de vista
dos modernos. Não se pode negar que a doutrina da Trindade foi exposta
pelos reformadores de modo ortodoxo, seguindo os princípios doutrinários
conforme preconiza a Palavra de Deus.
Lutero defendia a doutrina da trindade presente na Bíblia, segundo seu
entendimento esse assunto não era para ser entendido seguindo apenas uma
exposição lógica, mas sim por meio da fé. Calvino, em suas Institutas, ainda
que não tendo uma compreensão clara do assunto trindade, sabia que este
assunto estava presente na Palavra de Deus.
A con ssão de Augsburgo (1530) dizia que existe uma só essência chamada
Deus, mas que nessa essência havia três pessoas, as quais eram iguais,
poderosas, eternas: Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo. A con ssão
de Westminster dizia: “Na unidade da Divindade há três pessoas de uma
mesma substância, poder e eternidade: Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito
Santo. Deus é único (Dt 6.4), Ele tem vida em si próprio (Jo 5.26), não é
gerado. O Filho vem do Pai, o Espírito Santo procede do Pai e do Filho.
Na visão socianista a essência era uma, sem qualquer participação de outra
pessoa, de modo que eles a rmavam que Jesus era um simples homem. Esse
posicionamento do socialismo deu surgimento ao unitarismo, que era uma
seita do Século XVI, que negava o dogma da trindade, reconhecendo em
Deus uma só pessoa.
A doutrina da trindade está implícita nas páginas das Sagradas Escrituras, é
um assunto que não deve ser buscado ou analisado pela mente humana, mas
sim pela fé, porém, ela tem sido combatida ferrenhamente por aqueles que
acham que nós adoramos três deuses ou três pessoas.
Na modernidade a trindade tem sido combatida não somente por algumas
seitas, mas também por lósofos, daí podemos entender que se trata de uma
ação maligna, para desfazer o trabalho da trindade santa na criação e
redenção do homem.
Os Filósofos Kant e Hegel negavam a doutrina da trindade e adotavam o
pensamento de uma seita do século II, denominada de adocionismo, que
dizia que Jesus foi adotado como o Filho de Deus desde o seu batismo no
Rio Jordão, negando assim a liação de Cristo no seu sentido próprio.
Na linha teológica alguns nomes surgiram como opositores da doutrina da
trindade, o primeiro que é citado é o teólogo suíço Karl Barth, para muitos
eles seguiam o posicionamento de Fotino (300-376), ele era um cristão
herético grego, bispo de Esmirna, ele reduzia as pessoas da trindade a
simples modo de uma única pessoa em Deus. Muitos estudiosos de Barth
a rmam que ele era ortodoxo, acreditava e defendia a doutrina da Trindade.
Paul Tillich era contra a doutrina da Trindade, ele dizia que esse assunto foi
formulado para o homem com pretexto, apenas para suas necessidades. Esse
teólogo dizia que não existia uma pessoa na deidade, e rejeitava o conceito
de três pessoas. Dentre algumas seitas que negam a doutrina da Trindade
citamos as Testemunhas de Jeová, na concepção deles Jesus não é Deus,
trata-se apenas de um ser intermediário.
Podemos dizer que os que se opõe à doutrina da trindade fazem isso por sua
própria iniciativa e interesses particulares, pois qualquer leitura simples das
páginas das Sagradas Escrituras deixa claro o papel da trindade:

a. Na redenção do pecador (Jo 3.6,16; Ap 13.8).

b. Na Transmissão das verdades divinas (Jo 1.18; 16.8).

c. Na comunhão que Ele cria dentro de nós com o Pai (Jo 14.17).

d. Na hierarquia (1 Co 11.3).

e. Na forma em que oramos. Pela oração nos dirigimos ao Pai em


nome de Jesus (Jo 14.14; Ef 1.6).

33 GRUDEM, Wayne, Manual de Doutrinas Cristãs, Teologia Sistemática ao alcance de todos, São
Paulo: Editora vida, 2007.p. 166.
34 GRUDEM, Wayne A. Teologia Sistemática, São Paulo: Vida Nova, 1999.p. 168.
35 Esboço de Teologia Sistemática, p.112.
36 BINGHAM, D. Je rey, História da Igreja, Rio de Janeiro: CPAD, 2007.p.55
37 Filioque (em latim: “e (do) Filho”) é uma frase encontrada na versão do Credo niceno-
constantinopolitano em uso na Igreja Latina. Ela não está presente no texto grego desse credo como
formulado originalmente no Primeiro Concílio de Constantinopla, onde se lê apenas que o Espírito
Santo procede «do Pai”:“ Καὶ εἰς τὸ Πνεῦμα τὸ Ἅγιον, τὸ κύριον, τὸ ζωοποιόν, τὸ ἐκ τοῦ Πατρὸς
ἐκπορευόμενον[1] E no Espírito Santo, Senhor e fonte de vida, que procede do Pai.”O texto, na versão
latina, fala do Espírito Santo como procedendo “do Pai e do Filho”: “Et in Spiritum Sanctum,
Dominum et vivificantem, qui ex Patre Filioque procedit
E no Espírito Santo, Senhor e fonte de vida, que procede do Pai e do Filho.[2]” Frequentemente diz-
se que o primeiro caso conhecido da inserção da palavra Filioque na versão latina do Credo niceno-
constantinopolitano ocorreu no Terceiro Concílio de Toledo (٥٨٩) e que a sua inclusão a partir daí se
espalhou espontaneamente[3] por todo o Império dos Francos[4]. No século IX, o Papa Leão III, ainda
que aceitando a doutrina da procedência do Espírito Santo do Pai e do Filho, se opôs à adoção da
cláusula Filioque[4]. Em 1014, porém, o canto do credo - com a Filioque - foi adotado na celebração
da missa em Roma[4].A inserção foi inspirada pela doutrina, tradicional no Ocidente é encontrada
também em Alexandria, que foi declarada dogmaticamente pelo Papa Leão I em ٤٤٧,[5] e que é
chamada filioquismo. A esta doutrina opõe-se a doutrina do monopatrismo, formulada
por Fócio (veja Cisma de Fócio), patriarca de Constantinopla, que manteve que a frase “que procede
do Pai” (τὸ ἐκ τοῦ Πατρὸς ἐκπορευόμενον) do Credo niceno-constantinopolitano deve ser
interpretada no sentido de “que procede do Pai sozinho (τὸ ἐκ μόνου τοῦ Πατρὸς ἐκπορευόμενον).[6]
[7][8]
Os conflitos entre os defensores dessas duas doutrinas contribuíram para o Grande Cisma do
Oriente de ١٠٥٤ e ainda constituem um obstáculo para as tentativas de reunião das Igrejas Católica e
Ortodoxa[9].
QUESTIONÁRIO MÓDULO 4

a. O que são atributos naturais de Deus? Usando as Escrituras,


mencionem cinco deles e comente-os.

b. O que são atributos morais de Deus? Usando as Escrituras,


mencionem cinco deles e comente-os.

c. O que são atributos absolutos e relativos de Deus? Usando as


Escrituras, mencione alguns e comente-os.

d. O que são atributos comunicáveis e incomunicáveis de Deus?


Usando as Escrituras, mencione alguns deles e comente-os.

e. De na o que é a Trindade e justi que biblicamente a Sua


existência no Antigo e Novo Testamento.

f. Quais os questionamentos levantados pelo nome Elohim está no


plural? E qual a justi cativa aceitável para teologia?

g. Jesus é Deus? Justi que através das Escrituras.

h. Por que o Velho Testamento enfatiza a “unicidade” divina? (Êx


20.3; Dt 4.35; Is 45.14)

i. Como era a trindade na visão histórica dos pais da igreja?

j. Como o arianismo entende a Trindade?

k. Qual o ensinamento dos pneumatouianismo quanto à Trindade.


NOTAS BIBLIOGRÁFICAS
BANCROFT, E.H. Teologia Elementar, Doutrinária e Conservadora, São Paulo: Editora Batista
Regular, 2001.
BERKHOF, Louis, Teologia Sistemática, São Paulo: Cultura Cristã, 2007.
BULTMANN, Rudolf, Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Editora Teológica, 2004.
CHAFER, Lewis Sperry, Teologia Sistemática, livro 1, São Paulo: Hagnos, 2003.
DAGG. John. Manual de Teologia, São Paulo, Editora Fiel, 1998.
EICHRODT, Walther, Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Hagnos, 2004.
ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997.
FERREIRA, Franklin, Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica, e apologética para o
contexto atual, São Paulo: Vida Nova, 2007.
FINNEY, Charles, Teologia Sistemática, Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus,
2001.
GRUDEM, Wayne, Manual de Doutrinas Cristãs, Teologia Sistemática ao alcance de todos, São Paulo:
Editora vida, 2007.
GRUDEM, Wayne A. Teologia Sistemática, São Paulo: Vida Nova, 1999.
HODGE, Charles, Teologia Sistemática, São Paulo, Hagnos, 2001.
HORTON, Stanley, Teologia Sistemática, Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus,
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LANGSTON, A. B. Esboço de Teologia Sistemática, Rio de Janeiro: Editora Juerp, 1986.
MCGRATH, Alister E. Teologia sistemática, histórica e Filosó ca, Shedd Publicações, 2007.
RYRIE. Charles C. Teologia Básica ao Alcance de Todos, São Paulo: Mundo Cristão, 2004.
STRONG, Augustus Hopkins, Teologia Sistemática, São Paulo: Hagnos, 2003.
THIESSEN, Henry Clarence, Palestra em Teologia Sistemática, São Paulo: Editora Batista Regular,
1999.
TILLICH, Paul, Teologia Sistemática, São Leopoldo: Sinodal, 2005.
Table of Contents
1. Como ser um bom teólogo?
1. Os dois tipos de teólogos
2. A teologia como um estudo racional
3. Como pensar sobre Deus?
4. O ensino teológico como benção
2. Prolegômenos teológico
1. Prolegômenos e teologia
2. A teologia
3. Fundamentos da Teologia
1. O que é fundamento?
2. A teologia sistemática e o exegeta
3. A teologia exegética
4. A autoridade divina no estudo teológico
1. Os liberais
2. Neo-ortodoxia
3. Os ortodoxos
5. Dois momentos históricos da Teologia
1. O momento da Teologia Alemã
2. Teologia Racional
3. Opondo-se ao naturalismo
4. Seguindo os passos do mestre
6. A Teologia Histórico-Crítica
1. Crendo na revelação divina
7. A reviravolta teológica
1. Os teólogos entraram em cena
2. Uma nova análise da Bíblia pós-guerra
3. A influência de Rudolf Bultmann no estudo bíblico
4. Paul Tillich: O teólogo da ontologia21
5. Rejeitando os sistemas de Karl Barth e Rudolf Bultmann
6. Emil Brunner
8. Deus e o homem
1. Quem é Deus?
2. Como conhecer verdadeiramente a Deus?
3. Como Deus se comunica com o homem
9. Deus se revelando ao homem
1. Aspectos importantes sobre a revelação geral
2. O argumento Cosmológico
3. Aspectos importantes sobre a revelação geral de Deus
10. A definição de Deus
1. Particularidades sobre os atributos de Deus
2. Categorias dos atributos divinos
11. Conhecendo Deus pelos seus nomes
1. Yahweh com seus nomes compostos
2. Theós, θεός.
3. Jesus é Deus?
4. Deus: o nosso Pai e o Dono
12. A Trindade divina
1. A trindade no Velho Testamento
2. A Trindade no Novo Testamento
3. Trindade, uma definição difícil
4. Recursos ilustrativos aplicados ao assunto trindade
5. A trindade na visão histórica dos pais da igreja
6. O entendimento do arianismo quanto à trindade
7. O ensino dos pneumatouianismo quanto à trindade
8. A trindade em Santo Agostinho
13. Notas Bibliográficas

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