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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL - INSTITUTO DE

PSICOLOGIA

FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E TEÓRICO-METODOLÓGICOS DO SERVIÇO


SOCIAL II - PAPER 2

Eduarda Rosa da Silva


Glória Silveira Darski
Jenifer Amaral da Hora

Porto Alegre, 2019


Os anos iniciais da ditadura foram marcados principalmente pelas cassações,
expurgos, demissões e prisões, esse período ficou conhecido como “Operação
Limpeza”. As operações utilizavam de IPM’s (Inquérito Policial Militar), ou seja, a
abertura de um inquérito era o necessário para que algum cidadão fosse processado
por crimes contra a segurança nacional. Naquele momento ir contra a segurança
nacional era fácil, ser contra a ditadura ou se opor a qualquer política militar era o
suficiente para ser condenado por tal ato.
Muitos civis, políticos e militares se exilaram em países da América Látina
para se proteger da ditadura, como Brizola e João Goulart no Uruguai, por exemplo.
Durante o exílio, civis e militares que estavam junto de Brizola confabulavam com
outros que estavam no Brasil, no intuito de formar guerrilhas para acabar com a
ditadura. Os homens se organizavam em guerrilhas, estudavam e alguns chegaram
a ir para Cuba com o intuito de se instruir.
No Brasil também se formaram guerrilhas que se localizavam em pontos
estratégicos do país e que resistiram muitos anos, como a do Araguaia, por
exemplo, que se localizava na região amazônica e durou cerca de 7 anos.
Nas cidades grandes a resistência se fazia em qualquer ambiente em que os
cidadãos se opunham a repressão, durante toda a década de 60 o movimento
estudantil e a UNE se propuseram a lutar contra a ditadura em forma de
manifestações. O movimento estudantil organizou ao longo dos anos inúmeras
passeatas e atos de reivindicação, a mais popular foi a Passeata dos Cem Mil, que
ocorreu no Rio de Janeiro e contou com a presença de artistas e intelectuais da
época.
Inserindo-se no contexto sócio-histórico, o serviço social inclui-se nas tramas
societárias vigentes. Até o então marco, a profissão ainda tinha como traço
predominante de sua identidade a alienação perante o sistema estatal guiado
fielmente nos moldes do capital, mais precisamente, neste momento, no período
ditatorial, sob os marcos da autocracia burguesa. Deste modo, o sentido de suas
aspirações e de seus horizontes, enquanto categoria, caminhara constantemente na
direção norteadora dos interesses dessa classe dominante.
O caminho societário é delineado por frequentes reorganizações em todos os
campos. Partindo desse pressuposto, faz-se necessário novas delimitações e
mudanças de papéis. Assim, surge a demanda de profissionais aptos e
instrumentados a executar e planejar as maneiras mais viáveis de materializar os
projetos definidos para representar os interesses de classe. Não obstante grande
parte das mutações societárias se realizem no percorrer, existem exigências
burocráticas se transformando e, com isso, a necessidade dos profissionais, de
diversas áreas, se moldarem em prol dessas transformações impostas.
Cabe enfatizar a nacionalização destes projetos de mudanças societárias,
carecendo de profissionais por todo o território nacional. Com um aumento de
demanda a novas aptidões, vem a tona as precariedades implícitas ao sistema
capitalista quando se fala das relações trabalhistas, constantemente carentes de
uma institucionalização.
Com base no que fora supracitado, buscou-se contextualizar o terreno que
propiciou, muito embora sob solo conservador e regime ditatorial, diversos feixes e
alternativas de mudança no campo do serviço social. O conjunto dessas
transformações, sendo o movimento de renovação do serviço social, cujo
caracteriza-se enquanto um processo global e plural.
Para Netto (1990. p.172):
Entendemos por renovação o conjunto de características novas que,
no marco das constrições da autocracia burguesa, o Serviço social articulou,
à base do rearranjo de duas tradições e da assunção do contributo de
tendências do pensamento social contemporâneo, dotada de legitimação
prática, através de respostas a demandas sociais e da sua sistematização.
e de validação teórica, mediante a remissão às teorias e disciplinas sociais.

O processo de renovação do serviço social brasileiro, foi guiado pelas


necessidades impostas pelo movimento societário, de acordo com a
contextualização trazida anteriormente. Para além das mudanças buscando
adequação ao mercado de trabalho e as novas exigências profissionais, com igual
importância surgiam as necessidades de mudanças no que tange à formação
profissional. Fora neste contexto, que a profissão inseriu-se com força e vitalidade
no contexto acadêmico, caminhando na direção oposta dos nortes alienados e
movidos por justificativas morais que guiavam a profissão até então.
Foi neste terreno que o serviço social entrou na interlocução com as ciências
sociais, saindo da posição de apenas observador. Passou a fazer a fazer parte das
discussões como produtor de conhecimento em conjunto, permitindo e incorporando
a condição de questionamento como parte do processo social. Com isso, passou a
investigar a si próprio, a romper com o não-questionamento. Tornando, assim, os
espaços de troca como espaços de polêmicas e disputa de ideias. Rompendo com
homogeneidade. O padrão acadêmico passou a constituir parte da profissão, sendo
a validação teórica, um dos traços mais marcantes deste processo.
Por outro lado, solidificam-se pouco a pouco os métodos e fazeres
profissionais. O caráter investigativo assume formas no trabalho profissional e os
intervenções já não cabem mais nos moldes utilizados até então. Buscou-se
fundamentar os modos de intervir e as ferramentas de trabalho. Tudo isso, dentro
das possibilidades que o momento trazia e de acordo com os interesses da
autocracia burguesa.
Com base nas breves sínteses anteriormente referidas, é possível reconhecer
alguns traços característicos de processo renovador. O rompimento com a
homogeneidade profissional, onde abriu-se possibilidades para o questionamento e
para não mais, somente, aspirações morais e celebrações. Também, possibilitando
a crescente diferenciação de concepções profissionais. A interlocução com as
ciências sociais, adentrando concomitantemente no ambiente acadêmico crítico. E
as regulamentações e institucionalizações dos fazeres profissionais, de uma
maneira mais ampla.
Caracterizando-se enquanto um movimento plural dentro da profissão, é
necessário explicitar algumas de suas vertentes. Dentro das exigências do professor
responsável pela cadeira de fundamentos históricos e metodológicos do serviço
social II, a vertente da modernização conservadora e do reformismo reconceituador.
Sendo a modernização conservadora, uma das primeiras expressões da
renovação. Essa perspectiva veio a tona pela primeira vez no seminário que ocorreu
em 1995, em Porto Alegre. Foi formulado e solidificado nos seminários seguintes, de
araxá e teresópolis. Característica principal desta tendência é a adaptação
profissional às exigências do mercado. Principalmente no que tange a economia
capitalista mundial.
É uma tendência conservadora e que não rompe com o conservadorismo, apenas
adapta-se e passa a possuir aportes técnicos, visando a modernização da economia
sob o disfarce de contribuição para com as problemas sociais.É o tradicional sob
armaduras modernas.
Já sobre o reformismo reconceituador, é possível analisar que as mudanças
teórico-metodológicas e ético-políticas eram as principais características dessa
tendência. E, com isso, a compreensão das políticas sociais, a organização sindical
e a defesa da formação que fosse de acordo com a particularidade de cada
realidade, faziam parte do mesmo. Para além disso, foram diversas as etapas que
formalizaram e fizeram com que a luta resistisse e passasse a ganhar força. O
Manifesto do Povo efetuado pelo Sindicato dos Assistentes Sociais foi uma das
principais delas.
Todavia, indo ao encontro do Reformismo - contra -, a vertente da
modernização também ganhava ênfase. com uma ideologia neutra, com
planejamento tecnocrático, que ia ao encontro do pensamento ditatorial imposto.
Logo, as repressões contra o Reformismo surgiram, causando o fim do movimento.
Outrossim, é inviável analisar o Serviço Social, a sua construção e a sua
trajetória sem entrar no mérito dos processos governamentais e das conjunturas que
o Rio Grande do Sul encontrava-se no período em que a profissão ganhava forma e
força, já que o Estado foi um dos principais norteadores da formação profissional,
com os seminários latino-americanos, na escola de Serviço Social de Porto Alegre,
por exemplo, seminários esses que foram os estimuladores do processo de
reconceituação.
Para contextualizar, embora já tenha sido citado anteriormente, cabe salientar
que durante à esse processo, o país vivia dentro de um sistema ditatorial,
implantado através de um golpe militar. A parte Sul do país sofria fortes impactos
desse sistema, já que o seu governante era Leonel Brizola. Todavia, mesmo após
essa imposição, traços do governo de Brizola, ficaram marcados e auxiliaram em
todo o processo, como os aspectos anti-imperialistas, a consciência
nacional-popular, e práticas sociais de crítica e enfrentamento ao
subdesenvolvimento - como citado no texto…

As aspirações democráticas e lutas populares possuíam elementos


revolucionários e classistas que eram acompanhadas por requisições
contrárias ao imperialismo norte-americano e ao latifúndio, apontando para
uma mudança no padrão de desenvolvimento econômico e na
democratização da sociedade e do Estado (Netto, 2011). Portanto, a crise
da forma da dominação burguesa integra os antecedentes democratizantes
do início da década 1960 e as disputas regionais no país, o que se expressa
na atuação de Leonel Brizola, ex-governador do RS.

Contudo, percebe-se que o Serviço Social é uma profissão que precisa


adequar-se a movimentação política do país na atualidade. E sendo a ditadura
militar uma imposição extremamente marcante em toda a história brasileira, os
traços que foram moldados a época permanecem enquanto essenciais e presentes
na construção da identidade profissional, levando em consideração o projeto de
trabalho do assistente social enquanto um movimento continuo buscando
atualizar-se, mantendo os seus interesses em prol da classe trabalhadora e não
cedendo ao desmonte imposto pelo capital, das relações de trabalho, construção
universitária e direitos sociais conquistados com os novos aparatos. Seguimos,
principalmente na última década, cada vez mais cerceados pelo viés conservador
que vem crescendo com o neoliberalismo.
Não obstante, com isso, podemos exemplificar os pontos comuns com a
atualidade: o regime conservador, que embora não seja ditatorial, tem grande
influência na eficiência profissional, sendo o nosso modo de produção capitalista, os
interesses das classes dominantes como guia estatal, a força e a luta dos
movimentos sociais, e a necessidade constante de atualização profissional, já que,
ela é uma mediador dos interesses de classe, e inúmeras vezes, a voz da parte
marginalizada da sociedade, já que a busca por direitos, é o seu papel fundamental
social.
REFERÊNCIAS

RODEGHERO, Carla Simone, GUAZZELLI, Dante Guimaraes, DIENSTMANN,


Gabriel. ​Não calo, grito: memória visual da ditadura no Rio Grande do Sul. Porto
Alegre: Tomo Editorial, 2013.

NETTO, José Paulo. ​Ditadura e Serviço social: uma análise do Serviço Social
no Brasil pós 64.​ São Paulo: Cortez, 2004.

MACHADO, Graziela Scheffer; CLOSS, Thaisa Teixeira T.; ZACARIAS, Inez Rocha.
A Reconceituação Latino-americana na Ditadura Brasileira: a renovação do
Serviço Social gaúcho. ​Revista Serviço social e sociedade. São Paulo: Cortez,
2019.

Memória Histórica Serviço Social RS. ​Ditadura civil-militar no Brasil e no Rio


Grande do Sul: "Operação Limpeza". ​2019. (1h14m30s). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=8FNH02cRSrU&ab_channel=Mem%C3%B3riaH
ist%C3%B3ricaServi%C3%A7oSocialRS>.

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