Presidente da ABEPSS
No que se refere à dimensão da ética, pode-se afirmar que houve um avanço radical.
Através do nosso código de Ética constituiu-se democraticamente as suas normatizações,
estabelecendo direitos e deveres dos Assistes Sociais segundo princípios e valores
humanistas, guias para o exercício cotidiano.
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Professora adjunta da Faculdade e do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul/Brasil – Presidente da Associação Brasileira de Ensino e
Pesquisa em Serviço Social/ ABEPSS
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Destaca-se:
A efetivação destes princípios nos remete à luta pela construção de uma nova ordem
societária. Os princípios éticos impregnam o exercício cotidiano e indicam um modo de
operar o exercício profissional, diferente do já desenvolvido até então. Citaria ainda outros
pilares da profissão: a lei de regulamentação da profissão, que representa a defesa da
profissão na sociedade e guia para a formação acadêmico-profissional, e as diretrizes
curriculares para a área do SS propostas pela ABEPSS e aprovadas pelo Conselho Nacional
de Educação.
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sinalizam novos espaços ocupacionais e de trabalho, que reeditam dilemas éticos presentes
nas tensões historicamente enraizadas na inscrição da profissão nas estratégias de respostas
a questão social (Iamamoto, 2003).
Os espaços ocupacionais, por sua vez, sofrem significativas mutações nos trazendo
imensos desafios. Ampliam-se as exigências de estratégias políticas, clareza teórica e
metodológica apoiadas em criterioso trabalho de pesquisa sobre as novas expressões da
questão social, sobre as condições e relações de trabalho do AS, qualificação profissional,
exercício e ações cotidianas. Atentos a tais exigências, os Assistentes Sociais sedimentam
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sua identidade profissional na contemporaneidade e, como diz Yasbeck (2003), tecendo-a
no tempo miúdo do trabalho cotidiano.
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aquelas categorias teóricas são entendidas como expressões, na esfera da razão, ”de modos
de ser, determinações da existência” (Marx, 1974:127), dadas na realidade efetiva.
Com a compreensão de que uma revisão curricular exigia uma profunda avaliação
do processo de formação profissional face às exigências da contemporaneidade, a então
ABESS (que posteriormente veio a constituir-se em ABEPSS) promoveu e coordenou com
o Centro de Documentação e Pesquisa em Políticas Sociais e Serviço Social - CEDEPSS,
órgão acadêmico que na época articulava a Pós-Graduação em Serviço Social, um intenso
trabalho de mobilização das Unidades de Ensino de Serviço Social no país. Este processo de
mobilização contou com o apoio decisivo da Entidade Nacional representativa dos
profissionais de Serviço Social, através do CEFESS - Conselho Federal de Serviço Social,
bem como, dos estudantes, através da ENESSO - Executiva Nacional dos Estudantes de
Serviço Social.
Entre 1994 e 1996 foram realizadas aproximadamente 200 (duzentas) oficinas locais
nas 67 Unidades Acadêmicas filiadas a ABESS, 25 (vinte e cinco) oficinas regionais e duas
nacionais.
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Consultores de Serviço Social e a Consultoria Pedagógica elaboraram a “Proposta Nacional
de Currículo Mínimo para o Curso de Serviço Social”. Proposta esta apreciada e aprovada
em Assembléia Geral da ABESS durante a II Oficina Nacional de Formação Profissional,
realizada no Rio de Janeiro, em novembro de 1996.
Neste processo, ao mesmo tempo em que se procede a (re) construção das origens
históricas e do desenvolvimento da profissão, resgata-se a história da expansão e
desenvolvimento do capitalismo, com destaque para a fase monopolista, projetos
societários, papéis do Estado e da sociedade civil, o movimento das classes e também os
paradigmas teóricos em seus fundamentos epistemológicos.
A proposta, portanto, de acordo com as Diretrizes, foi a de resgatar as construções
teórico-metodológicas a partir de uma compreensão do processo de “constituição e
desenvolvimento da sociedade burguesa, apreendida em seus elementos de continuidade e
ruptura” (...). “A configuração da sociedade burguesa, nesta perspectiva, é tratada em suas
especificidades quanto à divisão social do trabalho, à propriedade privada, à divisão de
classes e do saber, em suas relações de exploração e dominação, em suas formas de
alienação e resistência. Implica em reconhecer as dimensões culturais, ético-políticas e
ideológicas dos processos sociais em seu movimento contraditório e elementos de
superação” (ABEPSS, 1997).
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Conforme descreve o documento das diretrizes curriculares “O pressuposto central
das diretrizes é a permanente construção de conteúdos (teóricos, éticos, políticos, culturais)
para a intervenção profissional nos processos sociais que são apreendidos de forma
dinâmica, flexível, assegurando elevados padrões de qualidade na formação do assistente
social” (ABEPSS, 1997). Isto nos remete a um conjunto de conhecimentos indissociáveis,
traduzidos nas diretrizes curriculares como núcleos de fundamentação: fundamentos
teórico-metodológicos da vida social; fundamentos da formação sócio-histórica da
sociedade brasileira e fundamentos do trabalho profissional.
A abordagem desta lógica, que não separa história, teoria e método, é própria da
matriz critico-dialética, que possibilita a reconstrução de distintas realidades e do fazer
profissional em diferentes espaços sócio-ocupacionais a partir das mediações que vamos
fazendo. Afirmamos aqui a compreensão do método dialético, não apenas como uma
ferramenta de conhecimento e desvendamento da realidade ou como pano de fundo, mas
como pressuposto teórico-ideológico. Gostaria de destacar ainda, a importância de não
entender as teorias apenas como um quadro explicativo, mas como um conjunto de
conhecimentos vinculados a “projetos determinados de sociedade, a visões de homem e de
mundo, frente às quais o profissional assume uma posição” (Guerra, 2000).
É esse método que nos permite conhecer a sinuosidade do real, de um real que só é
desvendado a partir de um sistema de mediações que se renovam de forma dinâmica nos
permitindo incorporar o novo, não de forma espontânea, mas a partir de uma reflexão
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critica constante. É este também o caminho que nos permite compreender como a profissão
vai se auto-representando e se construindo na realidade e como se faz reconhecer
socialmente. É o resgate dessa conjunção - rigor teórico-metodológico e acompanhamento
da dinâmica societária - que permitirá atribuir um novo estatuto à dimensão interventiva da
profissão. Conforme tão bem expressou Maria Carmelita Yazbeck (2001) esta perspectiva
nos permite compreender a profissão polarizada pelos interesses das classes sociais,
resgatando as determinações econômicas, históricas, políticas e culturais que atravessam o
exercício profissional e como o Assistente Social constrói a sua intervenção, lhe atribui
significado, lhe confere finalidades e uma direção social.
Quais são, portanto, os pressupostos centrais que podem ser apontados como
exigência no ensino desses eixos?
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demarcada pelo solo histórico onde se desenvolve, dado as singularidades locais, que
também determinam a forma como a profissão se inscreve nessa realidade e como os
profissionais vão significando a profissão. É aí que reside a riqueza do método, de
reconstruir cada realidade com suas múltiplas determinações, especificidades e
particularidades;
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compõe a ementa de matérias e respectivas disciplinas: como Acumulação Capitalista e
Desigualdades Sociais, Fundamentos Sócio-Históricos do Brasil, Ciência Política; entre
outras.
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como: Sociologia, Filosofia, Economia Política, Acumulação Capitalista, etc que
trazem em suas ementas o aprofundamento desses conteúdos;
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predominando momentos históricos do passado em detrimento do presente; ou seja, “a
discussão cronológica se sobrepõe à reflexão histórica” (Cardoso e Abreu, 2000, p.206);
Isso não significa que os conteúdos sejam articulados na grade curricular mediante
periodizações tendo-se, no entanto, a preocupação em superar os vieses historicistas ou
epistemologitas. Quero marcar que é de fundamental importância re(construir) nossa
História em seus diferentes momentos, analisando as produções teóricas do Serviço Social
mediante um marco de mediações que permite situá-las em termos de matrizes teóricas que
as fundamentam e como estas subsidiam as respostas profissionais às demandas colocadas
naquele momento, o projeto profissional e societário defendido, as expressões do
capitalismo, etc. o que remete ao conhecimento da constituição do Estado brasileiro, seu
caráter, papel, trajetória e as configurações que ele assume nos diferentes momentos
conjunturais, seus vínculos com as classes e setores sociais em confronto. Trata-se,
portanto, de apreender as relações entre Estado e Sociedade, desvelando os mecanismos
econômicos, políticos e institucionais criados, em especial as políticas sociais, tanto no
nível de seus objetivos e metas gerais, quanto no nível das problemáticas setoriais a que se
referem (ABEPSS, 1997) e nesse contexto as produções do Serviço Social.
Ou seja, como recuperar, neste movimento, desde o Serviço Social tradicional, a
perspectiva desenvolvimentista, a perspectiva modernizadora, a aproximação com
referenciais críticos tanto de Marx como de toda a tradição marxista. A esses movimentos
evolutivos, entrecruzam-se “as concepções teóricas e as proposições profissionais” (Paulo
Netto, 1986,p.162).
Trata-se de resgatar estes movimentos evolutivos levando-se sempre em conta o
movimento macroscópico da sociedade. Ou seja, as formulações teórico-metodológicas e
seus avanços não podem ser pensados sem as mediações histórico-sociais, as tensões
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presentes em cada período, a inserção sócio-ocupacional da categoria inclusive no espaço
acadêmico. Mas também como o modo de pensar positivista e conservador presente em
momentos passados reaparece na contemporaneidade. Como o pensamento funcionalista de
Durkheim reaparece atualmente como fundamento da solidariedade mecânica presente na
vida política contemporânea, nos movimentos sociais e nas organizações da sociedade civil,
na relevância dada à participação social, que se esgota no próprio ato ritualista de
participar, no enquadramento da sociedade civil, nas abordagens comunitaristas e nas
diferentes expressões do individualismo. Conforme escreve Iamamoto (1992, p.173) “é
importante detectar os fundamentos e a critica dos modos de pensar a profissão
historicamente incorporada e que se encontram estreitamente imbricados à herança
intelectual e cultural do pensamento social na modernidade, especialmente na sua vertente
conservadora e positivista”.
A ABEPSS reafirma seu empenho por contribuir no sentido de que a formação e a
pesquisa em Serviço Social cada vez mais substancie e respalde a plataforma emancipatória
da profissão, na resistência as mais diversas formas de exclusão, opressão e violências que
no tempo presente se adensam e atualizam como demanda privilegiada ao ensino de
qualidade e à pesquisa no Serviço Social.
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