RESUMO
O objetivo deste artigo é investigar a importância da pesquisa e da produção do conhecimento
no Serviço Social. Após uma breve descrição histórica do tema, procurando identificar as
mudanças ético-politicas e teórico-metodologicas, o artigo problematiza a relação teoria /
prática no Serviço Social na atualidade. E por fim, indica a necessidade de se aprofundar essa
discussão, apontando alguns desafios postos à profissão na realidade contemporânea.
ABSTRACT
The purpose of this article is to investigate of research and the production of knowledge in
Social Work. After a brief historical description of the theme, trying to identify the ethico-
political and the theoretical methodological changes,the article problematizes the realtion
theory/practice in the Social Work in the present time. And finally,it indicates the need to
deepen this discussion, pointing out some challenges posed to the profession in contemporary
reality.
1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos os termos pesquisa e conhecimento tem suscitado inúmeras discussões
e estudos na área do Serviço Social, sobretudo, a partir do que ficou configurado como as
“diretrizes gerais para o curso de Serviço Social” em que a pesquisa surge como princípio e
condição da formação do assistente social. A postura investigativa aparece como algo
permanente a todo o processo de formação profissional. O pressuposto é de que pesquisa
consista em todo um trabalho histórico, metodológico e teórico da realidade social de maneira
que se compreenda os problemas sociais e os desafios da produção e reprodução da vida social.
De modo geral, porém, são precárias as condições objetivas para o cumprimento dessas
exigências e o enfrentamento desses desafios. Em relação aos profissionais de Serviço Social
nem sempre o discurso de valorização da pesquisa alcança a prática. Diante de tais indicativos
e reconhecendo a particularidade da pesquisa no Serviço Social, o presente estudo objetivou
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não apenas analisar sua trajetória histórica, mas apresentar os desafios da pesquisa na atualidade
e críticas quanto a produção do conhecimento. Para atingir tais objetivos, este artigo foi
construído através da leitura e analise de outros artigos publicados em revistas cientificas que
discutem o tema em questão como Serviço Social e Katálysis, disponíveis on-line.
A prática da pesquisa, com a ênfase e conotações críticas que vemos hoje, não fazia
parte nos primórdios da profissão de assistente social. As primeiras escolas, na década de 1930,
tinham um referencial teórico-metodologico na Doutrina Social da Igreja e no neotomismo, ou
seja, a questão social era um problema moral e religioso. Sob tal influência, que era uma mescla
das escolas francesa e belga, o Serviço Social
inicia um trabalho fundamentado em suas perspectivas ética, social e técnica da
formação profissional. Trabalho que voltava para adaptação do indivíduo ao meio e do
meio ao indivíduo, na perspectiva de restaurar e normalizar a vida social. Sua
contribuição incidia sob valores e comportamentos de seus “clientes” na busca de sua
integração às relações sociais vigentes. Tratava‑se de um enfoque psicologizante e
moralizador da “questão social”, centrado no indivíduo e na família. (MORAES, 2013,
p.244).
Mas de acordo com Moraes (2013) o fato da universidade ser encarada como negócio
na atualidade, descaracterizando-se de princípios que lhe são caros, cabe aqui refletir sobre o
tipo de formação que está em pauta nas universidades diante da desvalorização e
descaracterização da pesquisa. No caso do Serviço Social, este debate torna-se fundamental
visto que vincula-se muito pesquisa à atuação do assistente social. Se durante o processo de
formação, o discente não tem acesso a disciplinas de pesquisa articuladas a outras do currículo;
se essas não abordem a particularidade da produção do conhecimento em Serviço Social; se
falta ao discente a oportunidade de participar de projetos e grupos de pesquisa, além de não ter
acesso a bolsas de iniciação cientifica torna-se complexo plasmar a pesquisa na prática
profissional.
Embora a pesquisa, conforme explicitado por Moraes (2013) seja o princípio e condição
da formação profissional e que a postura investigativa deva ser inerente e permanente a todo o
processo, permitindo avanços quanto a consistência das produções acadêmicas das ciências
sociais aplicadas, por outro lado, alguns desafios se colocam e ampliam na formação e exercício
da pesquisa em Serviço Social, sobretudo, direcionados as unidades de ensino no Brasil e aos
assistentes sociais. De modo geral, aponta-se precariedade de enfrentar tais desafios e
exigências. Em relação ao ensino, é possível perceber os impactos das políticas neoliberais na
redução de recursos para pesquisa e na ampliação de universidades públicas sem qualidade em
ensino, pesquisa e extensão, além do crescimento de universidades particulares e cursos de
graduação à distância sem compromisso com qualidade e pesquisa. Em relação aos
profissionais de Serviço Social,
É possível identificar, não raras vezes, que o discurso de valorização da pesquisa nem
sempre alcança a prática. As justificativas são muitas: falta de tempo, excesso de
atribuições, pouca disponibilidade de pessoal, ausência de recursos... Mesmo com
essas restrições, nos deparamos com situações em que a pesquisa é incorporada ao
trabalho do profissional, sobretudo por motivo de cursos de especializações. Nesses
casos, é vinculada a ideia de que a pesquisa está estritamente relacionada a normas,
prazos e obrigações a ser cumpridas, aprisionando uma prática que deveria ter ousadia,
desafiar, investigar e gerar prazer com as novas descobertas e possibilidades de ação.
(Moraes, Juncá e Santos, 2010 apud Moraes, 2013).
contribuído para que as pesquisas não atinjam as projeções almejadas. Esses fatores podem
estar comprometendo tanto a criticidade no cotidiano de trabalho quanto a capacidade de
desvelar as contradições estruturais. (MORAES, 2013).
Embora não seja diferente das demais áreas do saber, o desenvolvimento de pesquisas
no Serviço Social é recente. Com os primeiros programas de pós-graduação na década de 1970
e a inserção dos pesquisadores do Serviço Social nas agências de fomento brasileiras (CNPq e
Capes) nos anos de 1980, avançaram-se em muito na interlocução entre a pós-graduação, a
produção do conhecimento e a pesquisa no Serviço Social, mas existe um longo caminho a
partir dos desafios e dificuldades que perpassam o Serviço Social e sua relação com a dinâmica
dessas instituições de fomento a pesquisa no Brasil. No campo da pesquisa em Serviço Social
os desafios se avolumam: redução do número de pesquisadores vinculados a agências de
fomento tanto nacionais quanto internacionais; predominância de estudos de caso, de natureza
investigativa restrita; projetos sem domínio teórico-metodológico; circulação da produção do
conhecimento limitada aos periódicos de pós-graduação. (MENDES; ALMEIDA, 2014).
Para Simionatto (2014) esses desafios resumem em três: o primeiro relaciona-se ao
ensino de qualidade, como aquele que transforma conhecimento em capacidade de atuação, a
teoria por si só, não basta, é necessário investir em formação universitária com qualificação não
só teórica mas também política que permita a compreensão de problemas e confrontos na
profissão, inserida a totalidade da vida social. um ensino pautado na razão crítica; o segundo
desafio diz respeito a investigação, base legitima da excelência universitária. A pesquisa de
qualidade favorece o espirito crítico e capacidade de análise das condições sócio históricas da
profissão. Ao lado do ensino e pesquisa deve estar a extensão, enquanto compromisso de
devolver a sociedade o saber construído pela universidade e por último, o terceiro desafio
refere-se a atuação política e o compromisso com a vida pública. Nesse sentido, os projetos
profissionais podem tanto afirmar alternativas quanto fortalecer a hegemonia dominante. A
pratica profissional deve estar comprometida com a emancipação humana e política.
A profissão de assistente social, embora tenha avançado nos últimos trinta anos e se
consolidado como área produtora de conhecimento tem enfrentado uma série de desafios
vinculados a dois aspectos principais de acordo com Moraes (2017): teórico-metodológicos e
ético-político/organizativos. Os desafios teórico-metodológicos relacionam-se a capacidade
de proposição e apreensão da teoria crítica, aos caminhos metodológicos na construção do
conhecimento e ao distanciamento crítico do objeto de estudo, tanto no debate interno quanto
com as demais áreas. Os desafios ético-político/organizativos manifestam-se numa maior
participação do Serviço Social em órgãos de pesquisa nacionais ou internacionais, na crítica e
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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O Serviço social atravessa nos dias atuais, várias dificuldades e desafios principalmente
no âmbito das políticas sociais, com o retorno de conhecidas tendências dos tempos neoliberais
como focalização, terceirização, descentralização, desfinanciamento e regressão dos direitos
trabalhistas. No âmbito acadêmico, convive-se com uma lógica de mercado e utilitarista que
atinge a prática investigativa. Ocorre uma incorporação do ensino superior a dinâmica
capitalista, produzindo um “capitalismo universitário”, isto é, a produção do conhecimento
direcionada à funcionalidade do mercado.
A prática da pesquisa ainda está muito atrelada aos cursos de pós-graduação, ainda que
nos últimos anos, tenha começado a ocupar os espaços de graduação. Nesse sentido, a
realização de pesquisas não ocorre de forma linear em todas as áreas do conhecimento, pois
conforme vimos, os investimentos em pesquisas tecnológicas superam, em muito, os destinados
as ciências humanas e sociais. A situação torna-se mais preocupante nas instituições privadas e
a distância, revelando uma subjunção da formação visada ao mercado, a educação transforma-
se em mercadoria de alto valor.
Em meio a tantas limitações, somente alimentados pela postura investigativa, o
exercício profissional cotidiano pode vislumbrar novas alternativas de trabalho num momento
de profundas mudanças na vida em sociedade. A pesquisa é o caminho essencial para o
desvelamento da realidade e construção de ações compatíveis com as necessidades dos
usuários. Nesse processo, contudo, como bem observou Moraes (2017) efetivar o acesso do
usuário a um benefício, ao atendimento médico, a uma passagem para sua cidade de origem,
embora importantes na garantia dos seus direitos, ainda não é o suficiente.
REFERENCIAS
FREITAS, M.A.; REIS, E.J.X. Pesquisa em Serviço Social: para onde caminhamos? Revista
Katálysis, Florianópolis, v. 20, n. 2, p. 196-206, maio/ago. 2017. Disponível em:
http://www.scielo.br.php?script=sci_arttex&pid=S14144980201700200196&Ing=en&nrm=is
o.
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