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Operativos do Serviço
Social
Professora Carolina Camilo da Silva Gois
http://lattes.cnpq.br/8067909675546312
2
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
3
SUMÁRIO
UNIDADE I....................................................................................................... 6
A Relação Entre Teoria e Prática no Trabalho do Assistente Social
UNIDADE II.................................................................................................... 22
Método, Metodologia e Prática Profissional
UNIDADE III................................................................................................... 37
Dimensão Investigativa e Conhecimento Crítico no Cotidiano
Profissional
UNIDADE IV................................................................................................... 52
A Instrumentalidade no Trabalho do Assistente Social
4
UNIDADE I
A Relação Entre Teoria e Prática no
Trabalho do Assistente Social
Professora Carolina Camilo da Silva Gois
Plano de Estudo:
● Crítica à visão hegemônica da instrumentalidade
como referida aos instrumentos operativos.
● Saber profissional e poder institucional.
● Prática social/prática profissional: a natureza complexa
das relações profissionais cotidianas.
● A relação teoria/método: base do diálogo profissional com a realidade.
Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar o método e a relação com a prática profissional
● Estabelecer a importância da instrumentalidade
5
INTRODUÇÃO
O serviço social é uma profissão generalista que atua nas mais diversas políticas
sociais, como saúde, educação, habitação e assistência social, sendo o Estado o maior
empregador de profissionais. Porém, com a desresponsabilização do Estado pelas ne-
cessidades sociais ao longo do tempo, a sociedade civil passou a ganhar cada vez mais
espaço no atendimento à população com a oferta de serviços em diferentes áreas. Então, a
partir da adoção de políticas neoliberais que priorizam a mínima intervenção do estado na
garantia dos direitos sociais, instituições privadas sem fins lucrativos passaram a ganhar
cada vez mais espaço na sociedade.
Porém, o atendimento às demandas de saúde, educação, habitação e assistência
social continua sendo dos órgãos públicos, continua tendo o Estado como o principal res-
ponsável, conforme previsto na Constituição Federal de 1988 e das leis orgânicas de cada
política social. Assim, houve um vasto campo de atuação para os assistentes sociais, a
partir da intervenção pública no social, mas também do aumento das iniciativas privadas da
população em torno das expressões da questão social.
Dessa forma, a prática profissional do assistente social é permeada por interes-
ses diversos, do estado, instituições, usuários e do próprio profissional, sendo necessário
refletir sobre esse conflito de interesses entre os sujeitos para ter uma ação condizente
com o previsto na lei da regulamentação da profissão, nº 8.662/1993. Estamos falando da
instrumentalidade do serviço social, mas não pense que estamos falando daqueles instru-
Essa reflexão é pautada no chamado método de Marx, que iremos nos aproximar
no próximo item, que a totalidade significa a realidade social a ser desvendada. É esse
movimento que torna específico o trabalho do assistente social em relação aos demais
profissionais de uma determinada equipe, que é capaz de olhar o todo e compreender que,
conforme nos ensina Marx, não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas
sim o ser social que faz a sua consciência.
O exercício da mediação também envolve a transformação da queixa imediata
na demanda que será o objeto da intervenção do assistente social. O usuário pode ser
encaminhado para o assistente social ou o procurar espontaneamente e traz uma queixa,
pode ser o acesso a um benefício ou serviço, solicitando conversar com o profissional. Já o
assistente social, enquanto profissional analítico-interventivo, compreende que realizará um
atendimento social com o usuário e a partir da “queixa” e diante do problema apresentado,
tem o seguinte questionamento: o que é necessário para responder essa queixa (requisição
imediata)? Então, ele mobiliza uma série de conhecimentos necessários para compreensão
da situação, fazendo a relação com os fenômenos sociais, o modo de produção capitalista
e a sociabilidade do capital. A partir disso, busca a articulação com os direitos e políticas
sociais e propõe ações e estratégias para aquele atendimento, escolhendo instrumentos
técnico-operativos para atender aos objetivos propostos. Esse processo que acontece
quando há um “simples” atendimento e/ou resposta imediata, sendo a instrumentalidade o
campo de mediação, de passagem, para desvendar a realidade daquele usuário, que não
é individual, mas está dentro da totalidade que é a realidade social. Além disso, a partir
O/a Trabalhador Social ou Assistente Social atua no âmbito das relações entre os sujei-
tos sociais e, entre eles, o Estado. Desenvolve um conjunto de ações de caráter socioe-
ducativo que incidem na reprodução material e social da vida, com indivíduos, grupos,
famílias, comunidades e movimentos sociais numa perspectiva de transformação social.
Essas ações visam: fortalecer a autonomia, a participação e o exercício da cidada-
nia; capacitar, mobilizar e organizar os sujeitos, individual e coletivamente, garantindo
o acesso a bens e serviços sociais; a defesa dos direitos humanos; a salvaguarda das
condições socioambientais de existência; e a efetivação dos ideais da democracia e o
respeito à diversidade humana. Os princípios de defesa dos direitos humanos e da jus-
tiça social são elementos fundamentais para o Trabalho Social, para que esse trabalho
se realize com vistas a combater a desigualdade social e as situações de violência, de
opressão, de pobreza, de fome e de desemprego.
REFLITA
Será que o serviço social brasileiro continua a desenvolver ações de garantia de acesso
a bens e serviços sociais na atual conjuntura? Pense em quais ações seriam necessá-
rias quando você se inserir no mercado de trabalho, poderá colocá-las em prática.
Fonte: a autora.
LIVRO
Título: Introdução ao Método de Marx
Autor: José Paulo Netto
Editora: Expressão Popular
Sinopse: Para iniciantes na pesquisa científica, José Paulo Netto
introduz o método na teoria social de Marx, questionando as inter-
pretações equivocadas que foram sendo disseminadas ao longo
do tempo. Também apresenta a vida de Karl Marx e o método
utilizado no seu objeto de estudo, a sociedade capitalista.
FILME/VÍDEO
Título: O jovem Karl Marx
Ano: 2017
Sinopse: Aos 26 anos, Karl Marx e sua esposa Jenny embarcam
para o exílio. Na Paris de 1844, ele conhece outro jovem: Friedrich
Engels, que sendo filho de um industrial, acompanhou de perto
o nascimento da classe trabalhadora britânica. Assim, oferece ao
jovem Marx a peça que faltava para completar a sua nova visão de
mundo. Entre a censura, a repressão e os tumultos, eles lideram e
renovam os ideais do movimento operário da era moderna.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=2M5vo2n6G7Y
Plano de Estudo:
● Correlação de forças: uma proposta de formulação teórico-prática.
● Estratégia de fortalecimento e articulação de trajetórias
● Articulação estratégica e intervenção profissional.
● Questionar a metodologia do Serviço Social: re-produzir-se e re-presentar-se.
● Desafios da construção do método.
● Relações sociais e sujeitos históricos da ação profissional. A categorização dos pobres.
Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender os desafios da construção do método e como se materializa no coti-
diano profissional.
● Identificar as relações sociais que estão inseridas no serviço social e suas implica-
ções no trabalho profissional.
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INTRODUÇÃO
Sabemos que os assistentes sociais atuam na execução das políticas sociais, mas
com o desmonte dessas políticas o caos instaurado é “amenizado” pelas iniciativas de or-
ganizações filantrópicas, instituições religiosas que tentam “tapar o buraco” das demandas
e necessidades sociais, atuando para saciar a fome, o que é imediatamente necessário.
Porém, as ações de cunho filantrópico não são capazes de construir ações efetivas de
mudanças das condições de vida da população.
As muitas expressões da questão social que se apresentam de forma imediata e
aparente no cotidiano profissional são dotadas de múltiplas determinações, em que devem
ser desvendadas a partir de uma análise da realidade social. Assim, a partir da totalidade
dessa realidade, é necessário realizar o exercício da universalidade-particularidade-singu-
laridade, que possibilita a compreensão da origem da questão social, das suas expressões
em determinada realidade e como se manifesta em cada situação, sem perder a generali-
dade dos problemas sociais.
O assistente social se insere nos processos de trabalho de cada campo profissional,
o que irá diferenciá-lo é o como fazer esse trabalho. A metodologia hegemônica atual da
categoria é a utilização do método dialético, que não prevê a aplicação do conhecimento, o
que não descarta as metodologias de trabalho. Assim, o como fazer envolve o planejamento
das ações a partir do estabelecimento de objetivos da profissão e da política em que atua;
Então a construção do conhecimento deve partir da realidade social que passa a ser
apropriada pelo pensamento, identificando o movimento dinâmico e contraditório do real,
o que chamamos de pensar o concreto. Diferente da orientação positivista que antes da
reconceituação do serviço social direcionava as ações, do ponto de vista da dialética o co-
nhecimento teórico não é aplicação, conforme reforça Faleiros (2001, p. 91) “a metodologia
não é um conjunto de regras mas uma consciência dos processos globais historicamente
dados numa relação contraditória e globalizada”.
Você sabia que a publicação dos livros: Relações sociais e Serviço Social no Brasil;
Serviço Social: identidade e alienação; Ditadura e Serviço Social; Capitalismo monopo-
lista, (1983 -1991) foi um marco para a aproximação do método da teoria social crítica,
em que os profissionais tiveram oportunidade de aprofundar o conhecimento crítico e
dialético?
Fonte: a autora.
REFLITA
“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem arbitrariamente, nas condições
escolhidas por eles, mas nas condições diretamente dadas e herdadas do passado”.
Nesta unidade aprendemos um pouco das relações sociais que o assistente social
está inserido e a correlação de forças, diferença de interesses que permeiam o trabalho
profissional. A partir disso, identificamos possíveis estratégias no atendimento com os usuá-
rios dos serviços capaz de problematizar com eles a realidade a qual estamos inseridos.
Essa problematização se dá a partir do método da teoria social crítica, adotada pelo serviço
social a partir da sua reconceituação, o que é um desafio para os profissionais, devido à
perspectiva da não aplicação do conhecimento, mas da análise da realidade social e de
suas múltiplas determinações.
Também retomamos a discussão das expressões da questão social que o assistente
social se depara cotidianamente, em que a pobreza faz parte da realidade e os profissionais
são chamados a executar ações para combatê-la. Nos primórdios da profissão, esse com-
bate se dava pela caridade, hoje, por meio da execução das políticas sociais, mas a partir
da compreensão de que na sociedade capitalista elas não vão acabar com a pobreza, que
é fruto da exploração de classe.
Assim, finalizamos a unidade e esperamos que você tenha compreendido um pouco
mais sobre as relações sociais e da realidade profissional.
Renda média com o auxílio emergencial é maior que a habitual entre domicí-
lios mais pobres
Em todo o país, houve recuperação de parte das perdas salariais dos meses anteriores
Cerca de 4,4 milhões de domicílios brasileiros sobreviveram, em julho, apenas com
a renda do Auxílio Emergencial concedido pelo governo federal. A ajuda financeira também
foi suficiente para superar em 16% a perda da massa salarial entre as pessoas que perma-
neceram ocupadas. Entre os domicílios mais pobres, os rendimentos atingiram 124% do
que seriam com as rendas habituais, aponta estudo publicado nesta quinta-feira (27) pelo
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
A análise utiliza como base os microdados da pesquisa PNAD Covid-19 do IBGE.
“Pela primeira vez, desde o início da pandemia, o Auxílio Emergencial compensa em média
mais que a diferença entre a renda efetiva e a habitual. Ou seja, entre os que permaneceram
empregados, a renda média com o auxílio já é maior do que seria habitualmente”, destaca o
economista Sandro Sacchet, autor da pesquisa intitulada Os efeitos da pandemia sobre os
rendimentos do trabalho e o impacto do auxílio emergencial: os resultados dos microdados
da PNAD Covid-19 de julho.
De modo geral, os trabalhadores receberam em julho 87% dos rendimentos habi-
tuais (4 pontos percentuais acima do mês anterior) – R$ 2070 em média, contra uma renda
habitual de R$ 2.377. A recuperação foi maior entre os trabalhadores por conta-própria,
que receberam em julho 72% do que habitualmente recebiam, contra 63% em junho, alcan-
çando rendimentos efetivos médios de R$ 1.376. Já os trabalhadores do setor privado sem
carteira assinada receberam 85% do habitual (contra 79% no mês anterior). Trabalhadores
do setor privado com carteira e funcionários públicos continuaram a obter, em média, mais
de 90% do rendimento habitual.
A redução da diferença entre a renda efetiva e a habitual foi generalizada. No Nor-
deste, a renda efetiva subiu de 81,3% do habitual em junho para 86,7% em julho, enquanto
o Centro-Oeste continua a região menos impactada (89,7%). A pesquisa traz os dados por
região, gênero, idade e escolaridade.
Acesse: https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=arti-
cle&id=36489&catid=3&Itemid=3.
LIVRO
Título: 30 anos do Congresso da Virada
Autor: Conselho Federal de Serviço Sociall - Cfess (orgs.)
Editora: CFESS
Sinopse: O livro, lançado em 2009 como parte das comemorações
dos 30 anos do “Congresso da Virada” – como ficou denominado o
3º Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS) de 1979 –,
busca resgatar e registrar na história a memória desse Congresso,
que teve um impacto incomensurável para as mudanças que se
seguiram na profissão. É a partir desse Congresso que o Serviço
Social, do ponto de vista teórico, assume hegemonicamente sua
veia crítica, amparada na teoria marxista, que favorece no enfren-
tamento ao conservadorismo e na análise da sociedade capitalista
“e suas inflexões nas demandas e desafios postos à profissão”.
FILME/VÍDEO
Título: Documentário Abepss 70 anos
Ano: 2017
Sinopse: Retrata a trajetória dos 70 anos da ABEPSS por meio
dos depoimentos dos sujeitos que construíram com afinco essa
associação. O documentário trata dos acontecimentos históricos,
da virada crítica da profissão, das convenções da ABESS que mar-
caram essa virada nos anos de 70 e 80, e da construção coletiva
que essa entidade vem realizando nas últimas décadas.
O filme é também uma homenagem a esses sujeitos e, tantos ou-
tros, que dedicaram sua militância na formação profissional crítica
e de qualidade no Serviço Social. “Ele já é parte do patrimônio
construído pelo Serviço Social no Brasil.” Como bem expressou
Raquel Santos Sant’Ana - presidente da ABEPSS gestão 2015-
2016.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=j1f9a_9NLiw
Plano de Estudo:
● Atitude investigativa e prática profissional.
● O conhecimento crítico na reconstrução das demandas profissionais contemporâneas.
● Sentido e direcionalidade da ação profissional: projeto ético-político em Serviço Social
● Cotidiano: conhecimento e crítica.
● Conceitos e Definições da dimensão investigativa do serviço social
● Reconstrução das demandas profissionais a partir do conhecimento crítico
Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender o Projeto Ético-Político do serviço social
● Conhecer o conceito de cotidiano a partir da matriz crítica
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INTRODUÇÃO
Olá, aluno(a), você já deve ter escutado que o profissional de serviço social possui
uma peculiaridade em seu trabalho, que é o conhecimento crítico. Nesta unidade você
começará a entender o que significa a atuação a partir desse conhecimento e a sua relação
com a atitude investigativa do assistente social.
A prática profissional não consiste somente na intervenção, mas também na inves-
tigação que, a partir da leitura deste material, você reconhecerá a essencialidade dessa
dimensão, que proporciona ações mais assertivas e de qualidade.
Bons estudos!
Dado os fatos apresentado e tendo em vista a direção que vêm assumindo o Esta-
do brasileiro na condução das políticas sociais, é de extrema importância o conhecimento
crítico, a leitura profissional dessa realidade, para que o assistente social siga a direção
hegemônica da categoria em trabalhar na perspectiva de ampliação do acesso aos direitos
sociais e não na focalização da pobreza e culpabilização das famílias.
A partir disso, é possível visualizar o equívoco que muitos sujeitos da categoria pro-
fissional cometem quando realizam tentativas de aplicar o Projeto Ético-Político do serviço
social. E, quando se deparam com esses “limites”, passam a acreditar que não há serventia
no projeto da profissão.
Mas, ainda de acordo com as autoras, não é necessário que o profissional faça um
estudo sociológico e sim que aquele objeto demande conhecimentos diferentes, não ne-
cessariamente somente aquele ligado a profissão, mas também daqueles construídos por
várias ciências. Sendo assim, você, aluno(a), precisa dedicar-se a conhecimentos diversos
para que seja prática e de acordo com o aprendizado em sua formação profissional.
Fonte: a autora.
REFLITA
Deste modo, o ser social se apresenta na e para a vida social enquanto ser particular e
genericamente humano, como também singular, enquanto síntese de múltiplas determi-
nações – particular e genérica – real e dinâmicas, sendo um dínamo criador, represen-
tante do desenvolvimento e substância da história, portanto, um ser que constrói a sua
própria história, mas em condições previamente dadas.
O serviço social é uma profissão analítica e interventiva, pois para atuar na reali-
dade social é necessário o conhecimento crítico para realizar uma análise de conjuntura,
o que proporciona uma ação mais próxima às necessidades da população atendida. Essa
atitude investigativa é prevista nas atuais diretrizes curriculares do curso, isso demonstra a
sua importância para a formação profissional.
No decorrer da unidade pudemos compreender a reconstrução das demandas a
partir do conhecimento crítico, devido às múltiplas determinações dos fenômenos sociais
que são fruto do modo de produção capitalista. Neste sentido, essa ideia corrobora com o
Projeto Ético-Político da profissão, que não é executivo, mas direciona o fazer profissional.
Não há um documento somente que define o que é esse projeto, mas sua base se
encontra nas diretrizes curriculares do curso de serviço social, na lei de regulamentação da
profissão e do código de ética, que nos fornece subsídios éticos e político para direcionar
a nossa atuação, assim pudemos compreender a sua importância para a categoria profis-
sional.
RESUMO
O artigo trata da atitude investigativa no trabalho do assistente social - AS. Para tanto,
discorre sobre os componentes do trabalho do AS, dando visibilidade às suas competências
e especificidades. Na sequência, discute a atitude investigativa no exercício profissional.
Propõe que, além da articulação entre investigação/ação no cotidiano de trabalho, torna-se
fundamental uma atitude interdisciplinar. Finalmente, sugere o trabalho do assistente social
envolto numa equação tensionada pelo pragmatismo - atitude investigativa, mediada pela
intervenção, que só adquire alcance social quando pautada pela interdisciplinaridade.
LIVRO
Título: O cotidiano e a história
Autor: Agnes Heller
Editora: Paz e Terra
Sinopse: O primeiro livro de Agnes Heller traduzido para o portu-
guês, agora em nova edição A filósofa húngara – aluna de Georg
Lukács, de quem posteriormente se tornou assistente, seguidora
e colaboradora – é uma das principais representantes da Escola
de Budapeste, conhecida pela sistemática oposição de pensar
dirigida tanto contra o historicismo subjetivista quanto às versões
estruturalistas da filosofia da práxis, consideradas uma episte-
mologia formalista e anti-histórica. Para que se desenvolva uma
inteligência crítica do nosso tempo, é preciso o conhecimento em
extensão e em profundidade de todas as ideias que o formam e
que por ele são informadas, dando-lhe o que poderíamos chamar
de seu perfil cultural. Sem isso não entenderemos os pensamentos
e as emoções de humanidade que nos envolvem e definem.
FILME/VÍDEO
Título: GERMINAL
Ano: 1993.
Sinopse: Um jovem sem trabalho se estabelece em Montsou, onde
se torna mineiro e descobre um mundo de homens condenados
a sofrer pela falta de dinheiro. Com os problemas, ele acaba se
comprometendo com as causas socialistas
Plano de Estudo:
● Instrumentalidade técnico-operativa (observação, escuta, estudo, pesquisa, registros,
entrevista (estruturada, semiestruturada, aberta) visita domiciliar, visita institucional, acolhimen-
to, plantão social, atendimento individual, atendimento familiar, atendimento coletivo, acompa-
nhamento individual, acompanhamento familiar, acompanhamento coletivo, encaminhamentos,
articulações, mobilizações, reuniões, grupos – dinâmica de grupos –, entre outras).
● Registros e elaboração de documentos técnicos (registro e o sigilo profissional, perfil so-
cioeconômico, cadastros folhas/cadernos de acompanhamentos, atas, relatórios informativos,
relatórios circunstanciados, relatórios de monitoramento e avaliação de políticas, programas e
projetos, estudo social, laudo social, parecer social, relatório social (inclusive, avaliação e lin-
guagem de relatórios), perícia social, entre outros).
● Diferentes formas de organizações, mobilizações e eventos (congresso, semana, jor-
nada, simpósio, conferências, colóquio, oficinas, minicursos, seminários, posters, painéis, pa-
lestras, ciclos de palestras, exposições, feiras, fóruns, assembleias, plenárias, conselhos de
direitos, grupos de estudos, associação de moradores, entre outras).
Objetivos de Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar a articulação entre as dimensões da profissão.
● Compreender os principais tipos de instrumentos e técnicas.
● Estabelecer a importância do planejamento para as ações profissionais.
51
INTRODUÇÃO
A entrevista, instrumento que faz parte da história do serviço social, mas nem
sempre com o mesmo objetivo, foi caracterizada como um instrumento utilizado diaria-
mente pelo assistente social a fim de colher e entender informações dos usuários para o
desenvolvimento de outras ações e procedimentos posteriores. Trindade (2013) faz uma
classificação das ações, procedimento e instrumentos do assistente social como de caráter
individual, coletivo, administrativo-organizacional e de capacitação e pesquisa, e a entre-
vista é analisada pela autora como um instrumento de caráter individual, apesar de poder
ser utilizado no coletivo, pois permite um levantamento de dados da realidade de qual o
usuário está inserido.
Lewgoy e Silveira (2007) descrevem o que chamam de etapas da entrevista, que
colocam como o primeiro momento o seu planejamento, tendo em vista os eixos teórico,
metodológico, ético e político. Feito isso a entrevista se materializa por meio da coleta de
dados, em que são identificadas as necessidades que serão elencadas prioridades para
serem aprofundadas ao término da entrevista, o profissional deve registrar as informações
fornecidas, seja em ficha social e/ou prontuário como um direito do usuário a ter ser atendi-
mento documentado e disponibilizado para ele, caso assim o querer. É importante ressaltar
o papel da ética nesse processo, principalmente em espaços sócio-ocupacionais, onde
tenham registros multiprofissionais, como na política de saúde, para que os usuários não
sejam expostos e ridicularizados.
A reunião também foi debatida e entendida como um instrumento, que pode ser
utilizada para a socialização de informações e tantos outros objetivos. Já a abordagem,
nesse simpósio, não teve um consenso de ser considerada instrumento, mas sim como um
componente do trabalho fazendo parte dos procedimentos. A abordagem na perspectiva da
horizontalidade, sem abuso de poder, exige o acolhimento do usuário, a escuta e o respeito,
podendo ser uma estratégia de aproximação com a realidade da população.
Porém, a escuta qualificada não se refere apenas a uma escuta atenta do sofrimen-
to humano, mas ele está implicado nessa realidade, tendo compromisso e responsabilidade
em realizar propostas viáveis, a partir do seu saber específico, para o problema apresentado.
As autoras problematizam a escuta no sentido em que ela deve ser um espaço
para subsidiar os usuários com informações que esclareça sobre os serviços oferecidos
pelas políticas sociais, tanto das próprias intuições quanto de outras políticas, sobre os
atendimentos e recursos que podem ser ofertados, sobre os meios para consegui-los, o
que permite não responsabilizar os usuários pela sua condição e escolhas, mas o papel
do Estado, e das estruturas da sociedade capitalista nesse processo (PORTES; PORTES,
2016).
A visita domiciliar, realizada historicamente pelo assistente social, mas também por
outros profissionais, foi entendida como um instrumento que deve ser utilizado somente em
algumas situações, já que invade a privacidade da família, sendo necessária justificativa e
cuidado para sua realização.
Ela é mais utilizada em determinados campos de trabalho e tem por finalidade a
aproximação com a realidade e o cotidiano dos usuários e sua abordagem deve responder
as seguintes questões: Quando a visita é necessária? Quando ela é dispensável? Quando
pode ser marcada previamente ou não? Assim, como a postura do assistente social é im-
portante durante a visita para que ela favorece um diálogo aberto e os sujeitos saibam os
motivos dela.
A partir da classificação de Trindade (2013), o encaminhamento é colocado como
um instrumento essencial no trabalho do assistente social para a articulação intra e interins-
titucional. O encaminhamento possibilita o acesso dos usuários atendidos a outras políticas
sociais, a fim de atender necessidades que, talvez, não podem ser supridas somente
naquele serviço ou instituição de origem. Mas para a garantia desse acesso, é necessário
que o encaminhamento seja acompanhado, se possível, de contato com o outro serviço,
com os profissionais que irão receber o encaminhado, para que a situação atendida seja de
conhecimento do serviço e sejam realizadas as articulações necessárias para a efetividade
do atendimento.
Neste sentido, Nogueira e Mioto (2006) destacam que avaliar o trabalho desen-
volvido permite pensar a partir dos resultados concretos das ações, e não somente de es-
peculações. Além disso, a avaliação contribui para o aperfeiçoamento profissional, a partir
da identificação das fragilidades de suas ações ou até mesmo de aspectos externos. Essa
avaliação, então, é possível a partir da construção de indicadores, que são as unidades
que permitirão medir o alcance dos objetivos e metas estabelecidos no planejamento. De
acordo com Nogueira e Mioto (2006, p. 301),
Um bom indicador deve apresentar os seguintes requisitos, para ser adequa-
do: ser compreensível, abrangente e de fácil aplicação, permitir uma única
interpretação, adequar-se ao processo de coleta de dados existentes, ser
passível de ser implementação, ser preciso e oferecer subsídios para futuras
decisões.
A partir dos dados obtidos, que são mensurados pelos indicadores, é importante
a divulgação dos resultados a partir de determinado projeto e/o planejamento, pois isso
favorece o controle social.
REFLITA
“Cada um de nós deve ser um atento leitor do cotidiano, deve ter um olhar nítido como
um girassol para poder desvendar a conjuntura, as forças sociais aí presentes, pois para
quem fez uma opção pelo social esse deciframento é indispensável”
Com a leitura do material, você conheceu um pouco mais sobre o exercício profis-
sional do assistente social, das dimensões que o constitui, sendo que a articulação entre
a dimensão teórico-metodológica, ética-política e técnico-operativa constituem o fazer
profissional. Não é possível dissociar a dimensão técnico-operativa, que envolve os proce-
dimentos, ações, instrumentos e técnicas dos outros elementos, pois toda atividade possui
uma finalidade e direção.
Sobre a dimensão técnico-operativa, focamos nos instrumentos e técnicas que são
mais utilizados no cotidiano profissional, sem excluir tantos outros que também são im-
portantes. É importante relembrar que eles não são exclusivos do serviço social, podendo
ser utilizados também por outros profissionais, porém, o que diferencia é a competência
teórico-metodológica e ético-política imbricada.
Para aprofundar o conhecimento sobre esses instrumentos, você poderá ler os
artigos indicados, que serão úteis em sua atuação profissional.
LIVRO
Título: Avaliação e Linguagem: relatório, laudos e pareceres
Autor: Selma Marques Magalhães
Editora: Veras
Sinopse: O livro apresenta reflexões sobre o uso do instrumental
técnico, com enfoque na linguagem como instrumento privilegiado
dos profissionais que atuam na área dos cuidados e da inter-
venção, e no caráter avaliativo que perpassa esse trabalho, em
especial no espaço forense. Distingue os instrumentos utilizados
nas interações diretas (entrevista, visita, grupo), dos utilizados nas
interações indiretas (relatórios, laudos) e oferece estratégias para
a produção de um texto, quanto ao seu conteúdo e à redação.
FILME/VÍDEO
Título: Especial Apresenta História da Assistência Social no Brasil
Ano: 2010
Sinopse: Comemorado em 15 de maio, o Dia do Assistente Social
foi lembrado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate
à Fome (MDS) neste vídeo que se propõe a contar um pouco da
história da profissão no Brasil e resgatar sua memória coletiva. A
produção foi realizada em 2010, antes da regulamentação atual
do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), grande marco da
área.
Link do vídeo: <https://www.youtube.com/watch?v=gq4YXI1pg-
gg>
WEB
68
FALEIROS, V. de P. Saber Profissional e poder institucional. São Paulo: Cortez,
2001.
GUERRA, Y. No que se sustenta a falácia de que “na prática a teoria é outra?”. Anais
n 2º. 2005. Disponível em: http://www.cressrn.org.br/files/arquivos/5psf5T389obx1M5sq112.
pdf. Acesso em: 01 out. 2020.
69
IAMAMOTO, M. V. Serviço Social em Tempo de Capital Fetiche – capital financeiro,
trabalho e questão social. 6. ed. São Paulo: CORTEZ, 2011.
70
PASTORINI, A. A Categoria “Questão Social” em debate. São Paulo: CORTEZ:
2010.
YAZBEK, C. O desafio da defesa das políticas públicas para o serviço social. Argu-
mentum, Vitória, v. 8, n. 1, p. 6-13, jan./abr. 2016. Disponível em: http://www.cressrn.org.br/
files/arquivos/2I88198t6Fh7674i54ZG.pdf. Acesso em: 03 set. 2020.
71
CONCLUSÃO GERAL
Prezado(a) aluno(a),
Neste material, procurei aproximá-lo(a) da prática profissional do assistente social,
uma profissão que atua historicamente nas expressões da questão social, respondendo
essas expressões por meio das políticas públicas e sociais. Como vimos, tanto o Estado
como espaço majoritário de atuação quando as organizações sociais, contratam o profis-
sional com determinados objetivos que podem não ser os mesmos da profissão, mas ainda
assim vimos que há possibilidades de uma atuação que alcance os objetivos profissionais.
Assim, conhecemos o conceito de instrumentalidade do serviço social a partir de
uma autora referência para a profissão, Yolanda Guerra (2000), que coloca os três níveis
da instrumentalidade. O primeiro se refere aos objetivos do Estado burguês em contratar o
assistente social, o segundo ao instrumental técnico-operativo das respostas profissionais
e, por fim, o terceiro nível que consiste no exercício da mediação, que permite ao assistente
social avançar as ações imediatas para um agir profissional crítico e consciente.
Também adentramos ao método da teoria social crítica, que hoje é a base teórica da
formação profissional que coloca a possibilidade de desvendarmos a realidade a partir das
suas múltiplas determinações. Diante disso, aluno(a), você pode perceber a importância
desse método no conhecimento da realidade em que o assistente atua, não podendo pau-
tar a atuação em julgamentos morais e pré-conceitos, dada a complexidade das relações
capitalistas que formam a estrutura da sociedade.
Mas, para que essa atuação seja mais próxima possível do real, busquei evidenciar
a dimensão técnica-operativa do serviço social a partir da sua articulação com as demais
dimensões: teórico-metodológica e ético-política, que estão em movimento quando exe-
cutamos os instrumentos e técnicas profissionais. Por isso, apresentamos os principais
instrumentos utilizados na prática do assistente social, mas compete a você aprofundar o
conhecimento deles.
Com o estudo desse material, acredito que será o início de uma longa jornada
de pesquisa e aprendizado, pois o conhecimento que envolve a prática profissional não
termina aqui, mas continuará no decorrer de sua carreira enquanto assistente social.
Muito obrigada!
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