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Instrumentos Técnicos

Operativos do Serviço
Social
Professora Carolina Camilo da Silva Gois

UNIDADE I A Relação Entre Teoria e Prática no Trabalho do Assistente Social 1


AUTOR

Professora Carolina Camilo da Silva Gois

● Mestranda em Política Social e Serviço Social pela UEL


(Universidade Estadual de Londrina).
● Bacharel em Serviço Social (UEL).
● Especialista em Saúde da Família (UEL).
● Assistente Social em Hospital Oncológico.

http://lattes.cnpq.br/8067909675546312

Experiência na política de saúde, com desenvolvimento de projetos de pesquisa,


extensão, estágio, na atenção básica e alta complexidade, sendo atual campo de trabalho a
área oncológica. Cursando o último semestre do mestrado de política social e serviço social
e já ministrou disciplina em EAD em curso de pós-graduação sobre a instrumentalidade do
serviço social na saúde. Participações em eventos, congressos e cursos de aprimoramento
profissional e de embasamento teórico-metodológico.

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APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Seja muito bem-vindo(a)!


Prezado(a) aluno(a), esse é um início de uma jornada rumo a preparação para uma
carreira profissional brilhante. Proponho, junto com você, construir nosso conhecimento
sobre os conceitos fundamentais sobre a dimensão técnico-operativa do assistente social,
assim como os instrumentos e técnicas utilizados no cotidiano profissional.
Na Unidade I começaremos a nossa jornada para compreender a instrumentalidade
do serviço social a partir da teoria social crítica de Marx, que subsidia o profissional para
o alcance dos objetivos profissionais. Além disso, discutiremos sobre a diferença entre o
saber profissional frente ao poder institucional, evidenciando suas possibilidades e limites.
Já na Unidade II vamos continuar o processo de compreensão da teoria social crítica
a partir da metodologia do serviço social para a reconstrução das demandas profissionais.
Além disso, abordaremos as relações sociais em que o assistente social está inserido e as
demandas históricas que são desafios para a profissão.
Depois, nas Unidade III e IV vamos tratar da dimensão técnico-operativa do serviço
social, em específico dos conceitos dos instrumentos e técnicas mais utilizados na prática
profissional, além de identificarmos os objetivos e intencionalidades desses instrumentos.
Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer essa jornada
de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em
nosso material. Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e profissional.

Muito obrigado e bom estudo!

3
SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 6
A Relação Entre Teoria e Prática no Trabalho do Assistente Social

UNIDADE II.................................................................................................... 22
Método, Metodologia e Prática Profissional

UNIDADE III................................................................................................... 37
Dimensão Investigativa e Conhecimento Crítico no Cotidiano
Profissional

UNIDADE IV................................................................................................... 52
A Instrumentalidade no Trabalho do Assistente Social

4
UNIDADE I
A Relação Entre Teoria e Prática no
Trabalho do Assistente Social
Professora Carolina Camilo da Silva Gois

Plano de Estudo:
● Crítica à visão hegemônica da instrumentalidade
como referida aos instrumentos operativos.
● Saber profissional e poder institucional.
● Prática social/prática profissional: a natureza complexa
das relações profissionais cotidianas.
● A relação teoria/método: base do diálogo profissional com a realidade.

Objetivos da Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar o método e a relação com a prática profissional
● Estabelecer a importância da instrumentalidade

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INTRODUÇÃO

Bem-vindo(a) à Unidade I da disciplina Instrumentos Técnico-operativos do serviço


social.
Neste primeiro momento, vamos conhecer um pouco mais sobre a prática profissio-
nal do assistente social e sua atuação nas políticas sociais, nos aproximando mais dessa
profissão escolhida por você.
Também será apresentado o debate da instrumentalidade do serviço social e sua
relação com a “famosa” teoria social crítica, utilizando autores referência em nossa catego-
ria profissional.
Vamos lá?

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1. A PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

O serviço social é uma profissão generalista que atua nas mais diversas políticas
sociais, como saúde, educação, habitação e assistência social, sendo o Estado o maior
empregador de profissionais. Porém, com a desresponsabilização do Estado pelas ne-
cessidades sociais ao longo do tempo, a sociedade civil passou a ganhar cada vez mais
espaço no atendimento à população com a oferta de serviços em diferentes áreas. Então, a
partir da adoção de políticas neoliberais que priorizam a mínima intervenção do estado na
garantia dos direitos sociais, instituições privadas sem fins lucrativos passaram a ganhar
cada vez mais espaço na sociedade.
Porém, o atendimento às demandas de saúde, educação, habitação e assistência
social continua sendo dos órgãos públicos, continua tendo o Estado como o principal res-
ponsável, conforme previsto na Constituição Federal de 1988 e das leis orgânicas de cada
política social. Assim, houve um vasto campo de atuação para os assistentes sociais, a
partir da intervenção pública no social, mas também do aumento das iniciativas privadas da
população em torno das expressões da questão social.
Dessa forma, a prática profissional do assistente social é permeada por interes-
ses diversos, do estado, instituições, usuários e do próprio profissional, sendo necessário
refletir sobre esse conflito de interesses entre os sujeitos para ter uma ação condizente
com o previsto na lei da regulamentação da profissão, nº 8.662/1993. Estamos falando da
instrumentalidade do serviço social, mas não pense que estamos falando daqueles instru-

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mentos e técnicas utilizadas no cotidiano profissional, e sim da capacidade da profissão de
concretizar seus objetivos, possibilitando que os profissionais objetivem sua intencionalida-
de em respostas profissionais (GUERRA, 2000).
O profissional, então, está inserido nas relações sociais do cotidiano, relações
essas com os seus empregadores, outros trabalhadores, instituições e os usuários e a
instrumentalidade proporciona a alteração do seu próprio cotidiano e das classes sociais as
quais atua. “Deste modo, a instrumentalidade é tanto condição necessária de todo trabalho
social quanto categoria constitutiva, um modo de ser, de todo trabalho”. (GUERRA, 2000,
p. 2).
Faleiros (1997) coloca que a prática profissional do assistente social não deve ser
reduzida aos seus instrumentos técnico-operativos, iremos detalhar eles em outra unidade,
como visitas, entrevistas e reuniões, mas deve desenvolver ações que considerem o con-
texto global a qual estão inseridas, bem como as especificidades do contexto institucional,
a fim de utilizar os recursos em favor da população atendida, o que é um grande desafio,
dados os interesses dos empregadores e das próprias instituições que, muitas vezes, não
são as mesmas da população.
Para compreender o serviço social na contemporaneidade é necessário situá-la
dentro da sociedade capitalista, com suas contradições inerentes da relação capital-traba-
lho, sendo que a racionalidade capitalista influencia diretamente à profissão. Nesse sentido,
o assistente social atua na reprodução da força de trabalho ocupada e excedente, que é
fruto da exploração de classes, chamados a desenvolver estratégias de controle da ordem
social e atender as necessidades mínimas dos trabalhadores, a fim de não morrerem.
Além da racionalidade burguesa que tem relação direta com a prática profissional,
a contrarreforma do Estado brasileiro, a desregulamentação dos direitos trabalhistas e a
tendência de privatização das políticas sociais, da atual década, têm interferido diretamente
no trabalho do assistente social. Isso porque atua como executor e também na gestão
dessas políticas.
O serviço social é constituído por múltiplas dimensões e também determinações.
Nos dizeres de Guerra (2016), são dimensões constitutivas da profissão: ético-política,
teórico-metodológica, técnico-operativa, investigativa e interventiva.
A dimensão técnico-operativa se configura como a forma de aparecer da profissão,
em que Guerra (2016) aponta continuamente que é ela que dá visibilidade social à profis-
são, respondendo aos problemas apresentados. De acordo com a autora, o debate sobre

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os instrumentos e técnicas tem sido negligenciado pela categoria profissional, devendo ser
resgatado, dado a sua importância para a profissão.
Porém, não há como pensar isoladamente a dimensão técnico-instrumental, pois
as dimensões teórico-metodológica, ética-política e investigativa se articulam, sendo que
nenhuma substitui a outra, pois as técnicas e ações são resultados dos valores, princípios
e escolhas dos meios pelo profissional (GUERRA, 2016).
Torres e Almeida (2014) contribuem na discussão sobre as dimensões da profissão
constitutivas da profissão reafirmando a compreensão de que sua natureza é analítica e inter-
ventiva, colocando a realidade social tanto como seu campo de análise quanto de intervenção,
sendo por meio delas, reconhecido socialmente. Conforme é explicitado pelas autoras,
A partir da perspectiva crítica, o assistente social é reconhecido como o sujeito
agente, que, coloca em movimento seu acervo de saberes para a construção
de respostas de natureza analítica, ética e interventiva, capaz de interpretar
a realidade social e os fenômenos sociais decorrentes do modo de produção
capitalista (TORRES, ALMEIDA, 2014, p. 165).

Essas respostas tendem a ser, muitas vezes, de caráter técnico-instrumental, da-


das as requisições das instituições, políticas sociais e usuários. Porém o cotidiano também
é espaço da instrumentalidade, em que são requisitados aos assistentes sociais respostas
aos problemas apresentados. Como campo de mediação, ela possibilita que os aportes
teóricos, políticos, sejam transformados em ações profissionais, instrumentos técnico-ope-
rativos.

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2. O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NAS POLÍTICAS SOCIAIS

Historicamente, os assistentes sociais atuam como executores das políticas sociais,


seja da saúde, educação, infância e juventude e assistência social. As políticas sociais são
tidas como respostas e ações para o atendimento das necessidades humanas. Em certos
momentos e/ou localidades, essas respostas são dadas majoritariamente pelo Estado, ora
pela própria sociedade organizada, e tiveram mudanças no decorrer da história.
Anterior à Constituição Federal de 1988, as políticas sociais não eram executadas
pelo poder público, sendo a filantropia e a caridade principais responsáveis pelos atendi-
mentos das necessidades humanas. Com a promulgação da nova Constituição, um modelo
de proteção social começou a ser construído. Porém, as instituições ainda se constituem
como um grande campo de trabalho para o assistente social. Conforme nos explica Faleiros
(1997) as instituições sociais são organizações específicas de política social, mas se apre-
sentem como organismos autônomos com base em normas e objetivos manifestos.
Porém o autor citado também traz a reflexão que essas instituições não são neutras,
mas também podem ser utilizadas para atender os interesses do capital,
Elas se organizam como aparelhos das classes dominantes para desenvolver
e consolidar o consenso social necessário à sua hegemonia e direção sobre
os processos sociais. As classes dominantes necessitam do consentimento
das classes dominadas para exercer sua hegemonia (FALEIROS, 1997, p.
31).

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Essas classes dominadas são a massa de trabalhadores que, devido à exploração
ocasionada pela acumulação capitalista, se deparam com as expressões da questão social,
como a pobreza e violência.
Para atuar de forma assertiva e de acordo com as necessidades sociais da popu-
lação, é necessário o conhecimento profundo dos processos sociais, por meio do desen-
volvimento de pesquisas e projetos que proporcionem a identificação da realidade social.
Iamamoto (2011) afirma que, no âmbito da prática profissional, para o desenvolvimento de
ações que ultrapassam as demandas institucionais, é importante o levantamento de dados
sobre os sujeitos e as expressões da questão social que vivenciam.
Porém, para além das requisições instituições, partindo da compreensão do
Estado como um espaço contraditório, e que as políticas sociais também são campo de
relações de poder, Nogueiro e Tumelero (2015) consideram que isso é margem para a re-
lativa autonomia do Estado. Neste sentido, as autoras discutem que a compreensão dessa
contradição no interior do aparelho estatal possibilita que os agentes estatais desenvolvam
práticas democráticas, que afrontem os posicionamentos autoritários, patrimonialistas den-
tre outras características tão antigas visualizadas nos representantes do Estado. Nogueiro
e Tumelero (2015, p. 215), sobre os profissionais atuantes nas políticas sociais, afirmam:
[...] reconhece a concepção não só de executores, mas da capacidade de
criar, gestar e executar; requisitos fundamentais para o entendimento do
“pessoal de Estado” em sua condição potencial de trabalhador não alienado.
Um sujeito político que vivencia a contradição da ação fetichizada, porém não
naturalizada, mas como “possibilidade”, como “devir” de sujeito histórico-so-
cial.

Além dessa possibilidade de relativa autonomia no trabalho estatal, as autoras


trazem a discussão do trabalho do assistente social nos serviços, que possuem algumas
particularidades. Em geral, o trabalho em serviços possui algumas características próprias,
como a troca entre sujeitos singulares, sendo uma troca de valores, história de vida e
cultura; também se caracteriza pela produção imediata e de difícil mensuração. Nogueira e
Tumelero (2015) utilizam Braverman (1981, p. 48) para explicar as finalidades dos serviços
na sociedade capitalista, sendo elas a de atender as demandas da sociedade; servir de
controle das contradições sociais capitalistas e favorecimento indireto a acumulação do
capital.
O assistente social, enquanto um agente político, a partir da sua relativa autono-
mia, pode atuar de forma a incentivar a emancipação política, que vai além de apenas
executor das políticas sociais, mas desenvolve proposta de trabalho criativa e para além
das requisições institucionais. Nos espaços de trabalho do assistente social, seja no âmbito
privado quanto público, as necessidades sociais dos usuários são incorporadas em partes
por essas instituições, gerando as demandas aos profissionais.

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3. NOTAS SOBRE O MÉTODO NA TEORIA SOCIAL CRÍTICA E O SERVIÇO SOCIAL

O serviço social, a partir do importante Movimento de Reconceituação, no Brasil,


iniciado na década de 1960, que redirecionou a categoria profissional e seus fundamentos,
adotou uma perspectiva crítica, rompendo com o serviço social conservador. Essa nova
perspectiva foi pautada a partir do materialismo histórico dialético, de Karl Marx (1818-
1883), que está presente nas Diretrizes Curriculares de 1996, que conduzem a formação
profissional do assistente social. Assim,
As diretrizes da ABEPSS asseguram o pluralismo teórico, mas possuem uma
clara orientação da formação profissional pautada na teoria social crítica de
Marx e na tradição marxista, que orienta a compreensão da sociedade capi-
talista de modo crítico, que considera as expressões da questão social como
objeto de intervenção do serviço social e o trabalho como categoria-chave
para compreender as relações econômicas e sociais (BOSCHETTI, 2004, p.
21).

Para Marx, a teoria é uma modalidade do conhecimento, “o conhecimento teórico


é o conhecimento do objeto tal como ele é em si mesmo, na sua existência real e efetiva,
independentemente dos desejos, das aspirações e das representações do pesquisador”
(NETTO, 2009, p. 7), sendo o movimento real do objeto. Para ele, a aparência é um nível
da realidade, mas é necessário apreender a essência desse objeto, captando sua estrutura
e dinâmica. O objeto de estudo de Marx foi a sociedade burguesa, ou seja, a sociedade
capitalista, que ainda estamos inseridos.
O método em Marx começa pelo real, pelo concreto, para então criticá-lo e ques-
tioná-lo. “A realidade é concreta exatamente por isto, por ser “a síntese de muitas determi-

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nações”, a “’unidade do diverso’ que é própria de toda totalidade” (NETTO, 2009, p. 20). O
método em Marx não explica a realidade social a partir de um único determinante, mas por
múltiplos determinantes que formam a totalidade da realidade social.
Netto (2009) coloca que para partir da teoria social da sociedade burguesa de Marx
o fundamento da análise teórica deve ser a produção das condições materiais da vida
social. Isso é algo importante para o processo de investigação, tanto quando falamos em
pesquisa científica, quanto a investigação como parte do trabalho profissional.
A partir dessas considerações sobre o método em Marx, você poderá aprofundar
esse estudo pelo livro indicado neste material. Um grande equívoco acometido por muitos
estudantes e profissionais é de tentar aplicar esse método no cotidiano profissional, e como
não conseguem, divulgam que na “prática a teoria é outra”. A questão é que esse método
não é aplicável, mas fornece a base para compreender a realidade e a partir da mobilização
dos conhecimentos teóricos, éticos e técnicos, atuar sobre dada realidade.
Assim, quando o assistente social está em seu campo de atuação, é necessário
observar essas condições materiais que formam a vida social. Os usuários com que nos
deparamos estão inseridos na sociedade capitalista, e esta, por sua vez, tem como carac-
terísticas a exploração da força de trabalho, a acumulação da riqueza, a divisão de classes,
ou seja, os usuários estão implicados por esses fatores, assim como todos nós.
Portanto, se faz necessário essa análise ao se deparar com situações do cotidiano
profissional, entendo que as condições que se encontram os sujeitos não são de responsa-
bilidade individual, mas a pobreza, o desemprego, a violência, entre outros, são expressões
da questão social causadas pela sociedade burguesa.

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4. INSTRUMENTALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL

O assistente social, em seu exercício profissional, intervém nas condições objetivas


e subjetivas dos usuários, e a partir da sua intervenção por meio de instrumentos e técnicas,
objetivam suas intencionalidades nas respostas profissionais.
Guerra (2000) indica três níveis da instrumentalidade do serviço social: da instru-
mentalidade do serviço social frente ao projeto burguês, que significa que o assistente social
é contratado pelo Estado burguês para servir aos seus interesses, sendo o principal deles
a reprodução das relações capitalistas. Já a instrumentalidade das respostas profissionais
diz respeito ao instrumental-operativo das respostas imediatas às necessidades sociais
postas, e são essas respostas que conferem o reconhecimento social da profissão.
É por meio desse nível de instrumentalidade que os outros trabalhadores, empre-
gadores e usuários das políticas sociais reconhecem o trabalho do assistente social, pois
demonstra a capacidade de resolução dos problemas apresentados, das solicitações das
instituições. Portanto, é um importante componente do trabalho.
A autora coloca como o terceiro nível, a condição da instrumentalidade como
mediação , ou seja, sendo compreendida como um campo de passagem que permite ao
assistente social ir além das ações imediatas que respondem demandas emergenciais, e
construir um agir profissional crítico e consciente de sua intencionalidade, articulando as
dimensões da profissão, sendo a dimensão ético-política, teórico-metodológica e técnico-
-operativa.

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Pontes (1999) discute a categoria da mediação a partir da relação da tríade
singularidade-universalidade-particularidade, que expressa a mediação como processo
interventivo do serviço social. No plano da singularidade, o assistente social se depara com
diferentes realidades, que estão postas de forma singular e demandam uma ação imediata,
mas essas demandas estão no campo da aparência, sendo demandas institucionais. No
campo da universalidade estão as grandes determinações que expressam as “relações so-
ciais de produção, a relação capital trabalho; relação Estado-sociedade, lei de acumulação
capitalista, políticas social, etc.” (PONTES, 1999, p. 12). A partir disso, a particularidade é o
espaço reflexivo e de articulação da universalidade e da singularidade, como afirma o autor,
significa que as leis tendencias capturadas na esfera da universalidade, [...]
como que tomassem vida (se objetivassem) e se tornassem presentes na obje-
tividade da vida singular das relações sociais cotidianas, dessingularizando-as
e tornando-as relações particulares dentro de uma totalidade social. A parti-
cularidade é a categoria reflexiva que propicia que a universalidades ganhem
sentido objetivo-operacional na vida singular dos usuários dos serviços sociais
públicos, nos seus problemas pessoais e psicossociais (PONTES, 1999, p. 13).

Essa reflexão é pautada no chamado método de Marx, que iremos nos aproximar
no próximo item, que a totalidade significa a realidade social a ser desvendada. É esse
movimento que torna específico o trabalho do assistente social em relação aos demais
profissionais de uma determinada equipe, que é capaz de olhar o todo e compreender que,
conforme nos ensina Marx, não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas
sim o ser social que faz a sua consciência.
O exercício da mediação também envolve a transformação da queixa imediata
na demanda que será o objeto da intervenção do assistente social. O usuário pode ser
encaminhado para o assistente social ou o procurar espontaneamente e traz uma queixa,
pode ser o acesso a um benefício ou serviço, solicitando conversar com o profissional. Já o
assistente social, enquanto profissional analítico-interventivo, compreende que realizará um
atendimento social com o usuário e a partir da “queixa” e diante do problema apresentado,
tem o seguinte questionamento: o que é necessário para responder essa queixa (requisição
imediata)? Então, ele mobiliza uma série de conhecimentos necessários para compreensão
da situação, fazendo a relação com os fenômenos sociais, o modo de produção capitalista
e a sociabilidade do capital. A partir disso, busca a articulação com os direitos e políticas
sociais e propõe ações e estratégias para aquele atendimento, escolhendo instrumentos
técnico-operativos para atender aos objetivos propostos. Esse processo que acontece
quando há um “simples” atendimento e/ou resposta imediata, sendo a instrumentalidade o
campo de mediação, de passagem, para desvendar a realidade daquele usuário, que não
é individual, mas está dentro da totalidade que é a realidade social. Além disso, a partir

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do momento em que é realizado esse processo, a queixa do usuário é transformada em
demanda para a intervenção do assistente social.
É parte da instrumentalidade o ato de responder às demandas que nos che-
gam, buscando captar determinações e necessidades das classes sociais
que as engendraram, donde se faz necessário buscar seus fundamentos
sócio-históricos e políticos identificando as racionalidades e as teorias aí acio-
nadas, bem como os valores presentes nas escolhas no ato de responder. Aí
sim, visando assumir compromissos ético-políticos (GUERRA, 2016, p. 296).

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SAIBA MAIS

A definição de serviço social de vários países foi aprovada na Assembleia da Fe-


deração Internacional de Trabalhadores Sociais (FITS), em Montreal - Canadá, em
julho de 2000, para o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), deu-se a se-
guinte definição:

O/a Trabalhador Social ou Assistente Social atua no âmbito das relações entre os sujei-
tos sociais e, entre eles, o Estado. Desenvolve um conjunto de ações de caráter socioe-
ducativo que incidem na reprodução material e social da vida, com indivíduos, grupos,
famílias, comunidades e movimentos sociais numa perspectiva de transformação social.
Essas ações visam: fortalecer a autonomia, a participação e o exercício da cidada-
nia; capacitar, mobilizar e organizar os sujeitos, individual e coletivamente, garantindo
o acesso a bens e serviços sociais; a defesa dos direitos humanos; a salvaguarda das
condições socioambientais de existência; e a efetivação dos ideais da democracia e o
respeito à diversidade humana. Os princípios de defesa dos direitos humanos e da jus-
tiça social são elementos fundamentais para o Trabalho Social, para que esse trabalho
se realize com vistas a combater a desigualdade social e as situações de violência, de
opressão, de pobreza, de fome e de desemprego.

Fonte: FITSS, 2000.

REFLITA

Será que o serviço social brasileiro continua a desenvolver ações de garantia de acesso
a bens e serviços sociais na atual conjuntura? Pense em quais ações seriam necessá-
rias quando você se inserir no mercado de trabalho, poderá colocá-las em prática.

Fonte: a autora.

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CONSIDERAÇÕES
INTRODUÇÃOFINAIS

A partir da leitura realizada, podemos compreender o conceito de instrumentalidade


que foi adotado pela categoria profissional e sua importância para a prática profissional.
Não se refere, então, somente aos instrumentos e técnicas utilizados no cotidiano profis-
sional, mas as intencionalidades presentes na atuação. Como vimos, o assistente social
historicamente atua nas políticas públicas e sociais, inseridos também em instituições
que requisitam ações a serem cumpridas com objetivos já estabelecidos. Porém, cabe ao
profissional reconhecer essas intenções e também colocar em movimento seus objetivos.
Dessa forma, é importante conhecer o método da teoria social crítica adotada pela matriz
de formação, que fornece a capacidade de analisar a realidade social de forma crítica,
desvendando as aparências apresentadas fazendo o exercício da mediação.

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LEITURA COMPLEMENTAR

Karl Marx - GRUNDRISSE: Manuscritos econômicos de 1857-1858


Esboços da crítica da economia política
Editorial Boitempo, 2011
Disponível em: https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/208/o/Karl_Marx_-_Grundris-
se_(boitempo)_completo.pdf

O livro em questão apresenta e analisa os manuscritos de Karl Marx, escritos em


1857 e 1858, e busca traduzir, o mais fielmente possível, as obras originais, o legado de
Marx e Engels acerca da crítica à economia política. Fazem parte do livro textos e manuscri-
tos do economista que irão ajudar a compreender as ideias desenvolvidas por ele. Por isso,
indicamos esse livro para aprofundar o conhecimento sobre a base teórica-metodológica
do serviço social.

UNIDADE I A Relação Entre Teoria e Prática no Trabalho do Assistente Social 19


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Introdução ao Método de Marx
Autor: José Paulo Netto
Editora: Expressão Popular
Sinopse: Para iniciantes na pesquisa científica, José Paulo Netto
introduz o método na teoria social de Marx, questionando as inter-
pretações equivocadas que foram sendo disseminadas ao longo
do tempo. Também apresenta a vida de Karl Marx e o método
utilizado no seu objeto de estudo, a sociedade capitalista.

FILME/VÍDEO
Título: O jovem Karl Marx
Ano: 2017
Sinopse: Aos 26 anos, Karl Marx e sua esposa Jenny embarcam
para o exílio. Na Paris de 1844, ele conhece outro jovem: Friedrich
Engels, que sendo filho de um industrial, acompanhou de perto
o nascimento da classe trabalhadora britânica. Assim, oferece ao
jovem Marx a peça que faltava para completar a sua nova visão de
mundo. Entre a censura, a repressão e os tumultos, eles lideram e
renovam os ideais do movimento operário da era moderna.
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=2M5vo2n6G7Y

UNIDADE I A Relação Entre Teoria e Prática no Trabalho do Assistente Social 20


UNIDADE II
Método, Metodologia e Prática Profissional
Professora Carolina Camilo da Silva Gois

Plano de Estudo:
● Correlação de forças: uma proposta de formulação teórico-prática.
● Estratégia de fortalecimento e articulação de trajetórias
● Articulação estratégica e intervenção profissional.
● Questionar a metodologia do Serviço Social: re-produzir-se e re-presentar-se.
● Desafios da construção do método.
● Relações sociais e sujeitos históricos da ação profissional. A categorização dos pobres.

Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender os desafios da construção do método e como se materializa no coti-
diano profissional.
● Identificar as relações sociais que estão inseridas no serviço social e suas implica-
ções no trabalho profissional.

21
INTRODUÇÃO

Olá, aluno(a)! Seja bem-vindo(a) à mais uma unidade da disciplina de Instrumentos


técnico-operativos do serviço social.
Para conhecermos propriamente os instrumentos e técnicas utilizadas no cotidiano
profissional, precisamos conhecer a metodologia adotada pela profissão a partir do movi-
mento de reconceituação do serviço social, o seu direcionamento e objetivos. Por isso, aqui
você encontrará a importante discussão sobre o método da teoria social crítica, como ela
foi sendo apropriada pelo serviço social e como ela se materializa no cotidiano profissional.
Além disso, discutiremos sobre as estratégias utilizadas para que os objetivos profissionais
sejam alcançados.

UNIDADE II Método, Metodologia e Prática Profissional 22


1. CORRELAÇÃO DE FORÇAS: UMA PROPOSTA DE FORMULAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA

O assistente social, desde os primórdios da profissão, está inserido na realidade


social, atuando com as expressões da questão social, entre elas a pobreza, fome, violência,
desemprego e tantas outras mazelas sociais que atingem a população. Assim, para com-
preender a atuação profissional é necessário saber a origem da questão social, tendo esta
como matéria de trabalho.
No texto Cinco notas a propósito da Questão Social, José Paulo Netto traz consi-
derações sobre o surgimento do conceito e da questão social, situando-a historicamente e
de acordo com a compreensão da teoria social crítica de Marx. Com a onda industrializante
que iniciou na Inglaterra, no século XVIII, a pobreza começou a crescer, na mesma medida
que crescia a capacidade social de produzir a riqueza, sendo designada como pauperismo,
sendo esta a pobreza generalizada que se instaurava já no início do século XIX.
Nesse período, em que a sociedade burguesa se fortalecia e a pobreza crescia, é
que os trabalhadores não se conformaram com a sua situação, “foi a partir da perspectiva
efetiva de uma eversão da ordem burguesa que o pauperismo designou-se como ‘questão
social’” (NETTO, 2001, p. 43). Isso se deu pelo avanço da sociedade capitalista, que tem
como pilar a exploração da classe trabalhadora, a acumulação de riquezas e o avanço das
forças produtivas, um terreno fértil para que esses “explorados” pudessem reconhecer a
sua condição.

UNIDADE II Método, Metodologia e Prática Profissional 23


A questão social surge, então, quando os trabalhadores tomam consciência de clas-
se, consciência da condição de exploração e isso passa a ser uma questão a ser discutida,
exigindo o atendimento a suas necessidades. Pereira (2001, p. 51) diz que “[...] sujeitos
estrategicamente situados assumiram papéis políticos fundamentais na transformação das
necessidades sociais em questões – com vista a incorporá-las na agenda pública e nas
arenas decisórias.”
No Brasil, esse processo se deu anos mais tarde, quando começaram a surgir os
movimentos sociais e a luta dos trabalhadores pelo reconhecimentos dos seus direitos a
partir da década de 1980-90. A partir disso, o Estado brasileiro passou a assumir a sua
responsabilidade no provimento das necessidades da população, em que a Constituição
Federal de 1988 foi aprovada como a Carta Magna dos Direitos Sociais. Assim, foi preciso a
contratação de profissionais, dentre eles o assistente social, que executassem as políticas
públicas e sociais.
Esse movimento do Estado em assumir sua responsabilidade foi sendo enfraque-
cido pelo ideário liberal, de privatização da coisa pública, abertura ao mercado e incentivo
às iniciativas da sociedade civil para executar as políticas sociais. É nesse espaço contra-
ditório que o assistente social é chamado a atuar, contratado para defender os interesses
do Estado, ou das entidades filantrópicas, que muitas vezes não são os mesmos interesses
dos sujeitos atendidos.
Apesar da garantia de direitos pela CF/1988 e das leis orgânicas, eles não são ma-
terializados em sua totalidade, em que podemos observar que grande parte dos brasileiros
vivem em condição de pobreza, miséria, violência, negligência do Estado, ocasionadas
pela desigualdade de classe e exploração da classe trabalhadora, princípios da sociedade
capitalista. Assim, faz parte do cotidiano profissional essa realidade, em que os empregado-
res nos contratam para desenvolver ações que podem não ir de encontro às necessidades
dos usuários, porém, somos trabalhadores assalariados, uma correlação de forças que
deve ser considerada na atuação cotidiana. Neste sentido, Yasbeck (2001, p. 39) parece
nos indicar um caminho a ser seguido,
Para finalizar (e como nota de esperança nesse “caos”) gostaria de assinalar
que entendo que a reprodução ampliada das contradições sociais, que não
há rupturas no cotidiano sem resistências, sem enfrentamentos e que se a
intervenção profissional do assistente social circunscreve um terreno de dis-
puta, é aí que está o desafio de sair de nossa lentidão, de construir, reinventar
mediações capazes de articular a vida social das classes subalternas com o
mundo público dos direitos e da cidadania.

Conforme aponta a autora devemos enfrentar esses dilemas que encontramos no


cotidiano de trabalho, realizando a devida leitura de realidade social, na qual os sujeitos
estão inseridos, e também nós, enquanto trabalhadores, para trabalhar na perspectiva da
efetivação dos direitos.

UNIDADE II Método, Metodologia e Prática Profissional 24


2. INTERVENÇÃO PROFISSIONAL E ESTRATÉGIAS DE FORTALECIMENTO

Sabemos que os assistentes sociais atuam na execução das políticas sociais, mas
com o desmonte dessas políticas o caos instaurado é “amenizado” pelas iniciativas de or-
ganizações filantrópicas, instituições religiosas que tentam “tapar o buraco” das demandas
e necessidades sociais, atuando para saciar a fome, o que é imediatamente necessário.
Porém, as ações de cunho filantrópico não são capazes de construir ações efetivas de
mudanças das condições de vida da população.
As muitas expressões da questão social que se apresentam de forma imediata e
aparente no cotidiano profissional são dotadas de múltiplas determinações, em que devem
ser desvendadas a partir de uma análise da realidade social. Assim, a partir da totalidade
dessa realidade, é necessário realizar o exercício da universalidade-particularidade-singu-
laridade, que possibilita a compreensão da origem da questão social, das suas expressões
em determinada realidade e como se manifesta em cada situação, sem perder a generali-
dade dos problemas sociais.
O assistente social se insere nos processos de trabalho de cada campo profissional,
o que irá diferenciá-lo é o como fazer esse trabalho. A metodologia hegemônica atual da
categoria é a utilização do método dialético, que não prevê a aplicação do conhecimento, o
que não descarta as metodologias de trabalho. Assim, o como fazer envolve o planejamento
das ações a partir do estabelecimento de objetivos da profissão e da política em que atua;

UNIDADE II Método, Metodologia e Prática Profissional 25


as atividades e a decisão dos instrumentos para executar as ações, que envolvem também
os procedimentos e estratégias.
O sistema de proteção social brasileiro, a partir da reforma no governo de Fernando
Henrique Cardoso, tem como foco central a pobreza e não a redução das desigualdades
sociais. Isso ocasiona o desenvolvimento de programas que têm seguido a lógica da admi-
nistração gerencial e burocrática, sendo predominante o ideário neoliberal na gestão das
políticas sociais. Sendo que o assistente social, assim como outros profissionais, é requi-
sitado a trabalhar na execução desses programas seguindo a lógica das políticas sociais.
Nesse sentido, o profissional de serviço social atua na reprodução da força de
trabalho ocupada e excedente, que é fruto da exploração de classes, chamados a desen-
volver estratégias de controle da ordem social e atender as necessidades mínimas dos
trabalhadores, a fim de não morrerem.
O reconhecimento da profissão se dá por meio das respostas que são dadas pelas
demandas imediatas e emergenciais, Matos (2015) compartilha a ideia de que uma profis-
são só se afirma pelas respostas dadas aos diferentes segmentos da sociedade. Por isso,
há a necessidade de atender às requisições das instituições e também das solicitações dos
usuários, desde que não fira o Código de Ética profissional (1993) e as competências e
atribuições previstas na lei de regulamentação da profissão.
Porém, a autora problematiza que essas demandas aparentes não são neces-
sariamente a demanda real daquele usuário. As respostas às demandas imediatas são
a exigência das instituições e das políticas sócias, que se configuram como requisições
profissionais. Essas respostas possuem uma dimensão política, escondida no instrumental,
em que é possível a profissão buscar uma mudança nas relações de poder tanto a nível
institucional, quanto em aspectos macropolíticos.
[...] E as transformações desses problemas em questão não seria uma impor-
tante tarefa dos setores progressistas, incluindo as profissões – uma tarefa
talvez mais urgente e complexa do que procurar encontrar respostas técnicas
para os males causados por eles? Eu penso que sim, e vejo o serviço social
brasileiro como uma das profissões afeitas a abraçar essa tarefa (PEREIRA,
2001, p. 57).

Os assistentes sociais, no cotidiano profissional, possuem capacidade técnica


e política para problematizar com os usuários dos serviços os problemas sociais atuais,
incentivando a reflexão e a tomada de consciência da realidade social. Essa capacidade
profissional se deve, principalmente, pela formação profissional, que tem como foco central
a discussão da questão social amparada na teoria social crítica.

UNIDADE II Método, Metodologia e Prática Profissional 26


3. METODOLOGIA DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL

O Movimento de Reconceituação do Serviço Social no Brasil, período de 1960 até


primórdios da década de 90, provocou uma crise política, teórica e metodológica no interior
da profissão, com movimentos de permanências e rupturas de aspectos que direcionam a
profissão. Um dos grandes questionamentos que permeou esse movimento foi o método
de trabalho, que se fundava na solução de problemas caso a caso. Não somente a base
teórica do serviço social passou a ser questionada, mas também a metodologia das ações.
O materialismo histórico dialético então passou a ser uma opção teórica e metodo-
lógica a ser considerada na prática do assistente social. Faleiros (2001, p. 91) pontua que
a dialética como forma de pensar o concreto através da construção de cate-
gorias abstratas que tratem de apropriar o real pelo pensamento, busca com-
preender o movimento do real enquanto processo dinâmico e contraditório e
não como uma série de etapas rígidas e preestabelecidas.

Então a construção do conhecimento deve partir da realidade social que passa a ser
apropriada pelo pensamento, identificando o movimento dinâmico e contraditório do real,
o que chamamos de pensar o concreto. Diferente da orientação positivista que antes da
reconceituação do serviço social direcionava as ações, do ponto de vista da dialética o co-
nhecimento teórico não é aplicação, conforme reforça Faleiros (2001, p. 91) “a metodologia
não é um conjunto de regras mas uma consciência dos processos globais historicamente
dados numa relação contraditória e globalizada”.

UNIDADE II Método, Metodologia e Prática Profissional 27


Quando o assistente social realiza um atendimento social, o usuário traz uma “quei-
xa” que pode ser a necessidade de alimentação, moradia, saúde, educação, lazer, nesse
momento o profissional mobiliza os conhecimentos teórico-metodológico que possibilita
desvendar o que está por trás das necessidades de subsistência. Então são propostas
ações e utilização de instrumentos técnico-operativos para resposta a sua “queixa”, que
com esse movimento de colocar em movimento os objetivos do assistente social para res-
ponder aquele problema, se torna uma demanda.
Assim, o processo é de uma articulação global do particular ao geral e do geral ao
particular, movimento este que já foi abordado na primeira unidade, quando falamos da
mediação.
A partir do avanço da dialética no interior da profissão, começou a surgir a crítica
à visão idealista da dialética, que entendia a prática profissional capaz de transformar a
realidade pelo pensamento, em que os conversadores tinham como uma desvinculação
das realidades institucionais. Com uma prática idealizadora, o assistente social poderia
conscientizar os usuários dos serviços, como um agente ideológico, que os levaria à orga-
nização e contra o Estado opressor e os capitalistas.
Esse entendimento, conforme nos explica Faleiros (2001), levou muitos trabalha-
dores do Estado a não se comprometerem com a transformação, pois implicaria em sua
própria ruína, já que o objetivo seria a transformação da realidade, o que geraria uma luta
de classe contra classe. Porém, ambas as visões não estavam de acordo com a dialética,
pois isso supõe a unidade dos contrários entendendo a transformação social como um
processo de mediações complexas e não oposições rígidas.
A transformação social consiste em um processo permanente de mediações a partir
do estabelecimento de estratégias e práticas democráticas.
O assistente social atua na reprodução das relações sociais na medida em que atua
na reprodução da força de trabalho. Ao propiciar aos trabalhadores melhores condições de
vida e trabalho, o profissional está contribuindo indiretamente para a produção da mais-
-valia, mesmo não vinculados diretamente com a esfera produtiva. Mas seguindo somente
essa lógica, de que o serviço social nada mais é do que a reprodução da força de trabalho
e das relações capitalista. Então, conforme aponta Faleiros (2001) não teria espaço para a
transformação, restando uma impotência frente às expressões da questão social.
Porém o trabalho social é complexo, pois está inserido em relações sociais contra-
ditórias, pois essas mesmas ações em favor dos trabalhadores também podem atender às
suas necessidades de subsistência, essenciais para continuar a viver, proporcionando que

UNIDADE II Método, Metodologia e Prática Profissional 28


esses trabalhadores possam refletir sobre sua condição de explorado e lutar pelos seus di-
reitos. Ou seja, “o trabalho social é contraditório e heterogêneo, apresentando-se de forma
diversificada nas instituições, com tarefas variáveis e um objeto de ação permanentemente
construído” (FALEIROS, 2001, p. 104).
Guerra (2012) aponta que um dos problemas do exercício profissional é quando
o assistente social se utiliza de estudos e experiências sistematizadas para tomar como
modelo em uma determinada realidade, atuando de acordo com os modelos que deram
certo e replicando-os. Para a superação dessa tendência ocasionada pelo cotidiano é
imprescindível que a postura profissional seja de busca por algo novo, de investigação
da realidade concreta. Então, o conhecimento teórico não deve ser um receituário para a
intervenção, mas sim a teoria que ilumina a análise da realidade social.
“Nestes procedimentos, a centralidade nas experiências anteriores obscurece o
que a realidade em questão apresenta como novo” (GUERRA, 2012 p. 58). Isso porque,
conforme a contribuição de Luckas (1978), sobre a singularidade, totalidade e particula-
ridade, em que na realidade em que se apresenta é necessário realizar o movimento de
mediação entre essas categorias e que resulta na identificação da particularidade, sendo
isto o algo novo que a prática com base na experiência ocasiona a perda.

UNIDADE II Método, Metodologia e Prática Profissional 29


4. A POBREZA COMO EXPRESSÃO DA QUESTÃO SOCIAL HISTÓRICA NO TRA-
BALHO PROFISSIONAL

A questão social surge quando os trabalhadores tomam consciência de classe,


consciência da condição de exploração e isso passa a ser uma questão a ser discutida,
exigindo o atendimento a suas necessidades. Pereira (2001, p. 51) diz que “[...] sujeitos
estrategicamente situados assumiram papéis políticos fundamentais na transformação das
necessidades sociais em questões – com vista a incorporá-las na agenda pública e nas
arenas decisórias.”
A sociedade capitalista, conforme economistas indicam, passa por fase como
a concorrência, e no momento atual é a monopolista que, essas constantes mudanças
implicam na permanência e emergência de novas expressões da questão social, e não
uma nova questão social. Pastorini (2010) contribui com essa discussão ao afirmar que os
diferentes estágios do modo de produção capitalista favorecem diferentes expressões da
questão social.
O que Netto (2001) aponta é que a cada novo estágio da sociedade capitalista são
instaurados expressões sócio-humanas diferentes. Além disso, há de se considerar que
as expressões da questão social possuem particularidades histórico-culturais e nacionais,
como as relações de gênero, geracionais, de etnia que são construídas em formações
sociais específicas.

UNIDADE II Método, Metodologia e Prática Profissional 30


Pobreza e exclusão social são duas das principais expressões da questão social em
que o serviço social se depara cotidianamente. A pobreza não se refere apenas à ausência
de renda, mas ausência de possibilidades, esperanças e de direitos, assim como a exclusão
social e a subalternidade que, de acordo com Yasbeck (2001), envolvem várias desigual-
dades, injustiças e opressões. Além disso, o aumento do desemprego, do subemprego,
das precárias condições de trabalho, vínculos de trabalho flexibilizados, o acirramento da
competição entre os trabalhadores são grandes problemas sociais decorrentes da desigual
divisão da riqueza socialmente produzida.
Tudo isso influencia nas condições e qualidade de vida da população e até mesmo
dos próprios trabalhadores que atendem em sua prática os subalternizados. Associado
a essas expressões da questão social, temos um sistema de proteção social organizado
por meio das políticas públicas e sociais, que a cada dia, restringem o acesso aos direitos
historicamente conquistados. Essa restrição se dá pelo aumento dos critérios de seleção
aos programas e projetos sociais, insuficiência de recursos destinados a, principalmente,
seguridade social e políticas setoriais, sobrecarga de trabalho que impossibilita os profissio-
nais a atenderem de forma qualificada os usuários dos serviços e pelas estratégias políticas
do poder público para dificultar a organização dos trabalhadores.
Yasbeck (2001, p. 35) explicita claramente o que as profissões que estão inseridas
nas políticas sociais vivenciam: “A violência da pobreza é parte de nossa experiência diária”.
Não somente na atual conjuntura, mas a pobreza também foi “matéria prima” de atuação
do assistente social nos primórdios da profissão, respondida de forma diferente do que é
pretendido hoje, com o sistema de proteção social brasileiro.
Tanto a resposta à pobreza, à miséria, que faz parte do processo de acumulação
capitalista, e no Brasil, um país profundamente desigual, grande parte da população vive
em condição de pobreza, a sua compreensão pela profissão, pautada no humanismo cris-
tão, era de um preceito divino que todos deveriam desenvolver a caridade aos pobres. Mas
com a mudança do direcionamento teórico e metodológico do serviço social, a pobreza,
então, é reconhecida como resultado da divisão de classes, mas continua sendo necessário
combatê-la, por meio da execução das políticas sociais e pela luta da materialização dos
direitos sociais.

UNIDADE II Método, Metodologia e Prática Profissional 31


SAIBA MAIS

Você sabia que a publicação dos livros: Relações sociais e Serviço Social no Brasil;
Serviço Social: identidade e alienação; Ditadura e Serviço Social; Capitalismo monopo-
lista, (1983 -1991) foi um marco para a aproximação do método da teoria social crítica,
em que os profissionais tiveram oportunidade de aprofundar o conhecimento crítico e
dialético?

Fonte: a autora.

REFLITA

“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem arbitrariamente, nas condições
escolhidas por eles, mas nas condições diretamente dadas e herdadas do passado”.

Fonte: Karl Marx - O 18 Brumário.

UNIDADE II Método, Metodologia e Prática Profissional 32


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade aprendemos um pouco das relações sociais que o assistente social
está inserido e a correlação de forças, diferença de interesses que permeiam o trabalho
profissional. A partir disso, identificamos possíveis estratégias no atendimento com os usuá-
rios dos serviços capaz de problematizar com eles a realidade a qual estamos inseridos.
Essa problematização se dá a partir do método da teoria social crítica, adotada pelo serviço
social a partir da sua reconceituação, o que é um desafio para os profissionais, devido à
perspectiva da não aplicação do conhecimento, mas da análise da realidade social e de
suas múltiplas determinações.
Também retomamos a discussão das expressões da questão social que o assistente
social se depara cotidianamente, em que a pobreza faz parte da realidade e os profissionais
são chamados a executar ações para combatê-la. Nos primórdios da profissão, esse com-
bate se dava pela caridade, hoje, por meio da execução das políticas sociais, mas a partir
da compreensão de que na sociedade capitalista elas não vão acabar com a pobreza, que
é fruto da exploração de classe.
Assim, finalizamos a unidade e esperamos que você tenha compreendido um pouco
mais sobre as relações sociais e da realidade profissional.

UNIDADE II Método, Metodologia e Prática Profissional 33


LEITURA COMPLEMENTAR

Renda média com o auxílio emergencial é maior que a habitual entre domicí-
lios mais pobres

Em todo o país, houve recuperação de parte das perdas salariais dos meses anteriores
Cerca de 4,4 milhões de domicílios brasileiros sobreviveram, em julho, apenas com
a renda do Auxílio Emergencial concedido pelo governo federal. A ajuda financeira também
foi suficiente para superar em 16% a perda da massa salarial entre as pessoas que perma-
neceram ocupadas. Entre os domicílios mais pobres, os rendimentos atingiram 124% do
que seriam com as rendas habituais, aponta estudo publicado nesta quinta-feira (27) pelo
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
A análise utiliza como base os microdados da pesquisa PNAD Covid-19 do IBGE.
“Pela primeira vez, desde o início da pandemia, o Auxílio Emergencial compensa em média
mais que a diferença entre a renda efetiva e a habitual. Ou seja, entre os que permaneceram
empregados, a renda média com o auxílio já é maior do que seria habitualmente”, destaca o
economista Sandro Sacchet, autor da pesquisa intitulada Os efeitos da pandemia sobre os
rendimentos do trabalho e o impacto do auxílio emergencial: os resultados dos microdados
da PNAD Covid-19 de julho.
De modo geral, os trabalhadores receberam em julho 87% dos rendimentos habi-
tuais (4 pontos percentuais acima do mês anterior) – R$ 2070 em média, contra uma renda
habitual de R$ 2.377. A recuperação foi maior entre os trabalhadores por conta-própria,
que receberam em julho 72% do que habitualmente recebiam, contra 63% em junho, alcan-
çando rendimentos efetivos médios de R$ 1.376. Já os trabalhadores do setor privado sem
carteira assinada receberam 85% do habitual (contra 79% no mês anterior). Trabalhadores
do setor privado com carteira e funcionários públicos continuaram a obter, em média, mais
de 90% do rendimento habitual.
A redução da diferença entre a renda efetiva e a habitual foi generalizada. No Nor-
deste, a renda efetiva subiu de 81,3% do habitual em junho para 86,7% em julho, enquanto
o Centro-Oeste continua a região menos impactada (89,7%). A pesquisa traz os dados por
região, gênero, idade e escolaridade.
Acesse: https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=arti-
cle&id=36489&catid=3&Itemid=3.

UNIDADE II Método, Metodologia e Prática Profissional 34


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: 30 anos do Congresso da Virada
Autor: Conselho Federal de Serviço Sociall - Cfess (orgs.)
Editora: CFESS
Sinopse: O livro, lançado em 2009 como parte das comemorações
dos 30 anos do “Congresso da Virada” – como ficou denominado o
3º Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS) de 1979 –,
busca resgatar e registrar na história a memória desse Congresso,
que teve um impacto incomensurável para as mudanças que se
seguiram na profissão. É a partir desse Congresso que o Serviço
Social, do ponto de vista teórico, assume hegemonicamente sua
veia crítica, amparada na teoria marxista, que favorece no enfren-
tamento ao conservadorismo e na análise da sociedade capitalista
“e suas inflexões nas demandas e desafios postos à profissão”.

FILME/VÍDEO
Título: Documentário Abepss 70 anos
Ano: 2017
Sinopse: Retrata a trajetória dos 70 anos da ABEPSS por meio
dos depoimentos dos sujeitos que construíram com afinco essa
associação. O documentário trata dos acontecimentos históricos,
da virada crítica da profissão, das convenções da ABESS que mar-
caram essa virada nos anos de 70 e 80, e da construção coletiva
que essa entidade vem realizando nas últimas décadas.
O filme é também uma homenagem a esses sujeitos e, tantos ou-
tros, que dedicaram sua militância na formação profissional crítica
e de qualidade no Serviço Social. “Ele já é parte do patrimônio
construído pelo Serviço Social no Brasil.” Como bem expressou
Raquel Santos Sant’Ana - presidente da ABEPSS gestão 2015-
2016.
Link: https://www.youtube.com/watch?v=j1f9a_9NLiw

UNIDADE II Método, Metodologia e Prática Profissional 35


UNIDADE III
Dimensão Investigativa e Conhecimento
Crítico no Cotidiano Profissional
Professora Carolina Camilo da Silva Gois

Plano de Estudo:
● Atitude investigativa e prática profissional.
● O conhecimento crítico na reconstrução das demandas profissionais contemporâneas.
● Sentido e direcionalidade da ação profissional: projeto ético-político em Serviço Social
● Cotidiano: conhecimento e crítica.
● Conceitos e Definições da dimensão investigativa do serviço social
● Reconstrução das demandas profissionais a partir do conhecimento crítico

Objetivos da Aprendizagem:
● Compreender o Projeto Ético-Político do serviço social
● Conhecer o conceito de cotidiano a partir da matriz crítica

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INTRODUÇÃO

Olá, aluno(a), você já deve ter escutado que o profissional de serviço social possui
uma peculiaridade em seu trabalho, que é o conhecimento crítico. Nesta unidade você
começará a entender o que significa a atuação a partir desse conhecimento e a sua relação
com a atitude investigativa do assistente social.
A prática profissional não consiste somente na intervenção, mas também na inves-
tigação que, a partir da leitura deste material, você reconhecerá a essencialidade dessa
dimensão, que proporciona ações mais assertivas e de qualidade.
Bons estudos!

UNIDADE III Dimensão Investigativa e Conhecimento Crítico no Campo Profissional 37


1. ATITUDE INVESTIGATIVA E PRÁTICA PROFISSIONAL

O serviço social é reconhecido a partir das respostas imediatas e do domínio dos


instrumentos de trabalho, como visita domiciliar, entrevista, parecer social entre outros. É
considerado o executor terminal das políticas sociais, onde atua majoritariamente, apesar
de muitos profissionais atuarem na gestão dessas políticas. Assim, o assistente social pos-
sui uma dimensão interventiva e analítica que pressupõe uma atitude investigativa.
Quando falamos em atitude investigativa, pode haver uma confusão em que so-
mente ela é possível no meio acadêmico, no desenvolvimento de projetos de pesquisa ou
como se os únicos atores de “investigação” fossem os professores. Mais um equívoco. Os
assistentes sociais que estão no atendimento direto ao usuário também podem desenvol-
ver essa atitude investigativa que tem como premissa a produção de conhecimento sobre
a realidade em que atua.
As Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social da Associação Brasileira de
Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), de 1996, dá o direcionamento da formação
profissional e tem como um dos princípios “Estabelecimento das dimensões investigativa
e interventiva como princípios formativos e condição central da formação profissional, e
da relação teoria e realidade” (ABEPSS, 1996, p.6). Portanto, a investigação é parte da
categoria profissional como um princípio fundamental para a prática.
Muitos são os desafios para que isso ocorra, sobrecarga de trabalho, falta de tempo,
dificuldade no domínio de ferramentas tecnológicas. Porém, esse conhecimento proporciona

UNIDADE III Dimensão Investigativa e Conhecimento Crítico no Campo Profissional 38


uma prática mais efetiva e que se aproxima da realidade social. Além disso, pode fornecer
subsídios para a elaboração de novas políticas públicas ou de aprimoramento delas.
A prática decorrerá do conhecimento produzido, que, de acordo com Baptista e
Battini (2009), os novos conhecimentos são construídos a partir do movimento da pesquisa.
Assim, os procedimentos investigativos devem proporcionar a viabilização de conhecimen-
tos que permita ao profissional ultrapassar as práticas espontâneas. As ações e solicita-
ções da atuação profissional são direcionadas pelas relações institucionais, mas com o
instrumento da investigação é possível questionar essa prática.
Torres e Almeida (2014) contribuem na discussão sobre as dimensões da profissão
constitutivas da profissão, reafirmando a compreensão de que sua natureza é analítica e
interventiva, colocando a realidade social tanto em seu campo de análise quanto de interven-
ção, sendo, por meio delas, reconhecido socialmente. Conforme é explicitado pelas autoras,
a partir da perspectiva crítica, o assistente social é reconhecido como o sujeito
agente, que, coloca em movimento seu acervo de saberes para a construção
de respostas de natureza analítica, ética e interventiva, capaz de interpretar
a realidade social e os fenômenos sociais decorrentes do modo de produção
capitalista (TORRES; ALMEIDA, 2014, p. 165).

Essas respostas tendem a ser, muitas vezes, de caráter técnico-instrumental,


dadas as requisições, diariamente, das instituições, políticas sociais e usuários. Porém, o
cotidiano também é espaço da instrumentalidade, em que são requisitados aos assistentes
sociais respostas aos problemas apresentados. Como campo de mediação, ela possibilita
que os aportes teóricos, políticos sejam transformados em ações profissionais, instrumen-
tos técnico-operativos.
Faz parte também da atitude investigativa o desenvolvimento de pesquisas reforça-
do por Martinelli (2011, p. 504),
É preciso, portanto, qualificar o conhecimento para qualificar a intervenção,
o que exige:

• realizar a pesquisa a partir da prática;

• construí‑la a partir do lugar da experiência;

• trabalhar a partir de uma proximidade crítica com os sujeitos;

• ter sempre no horizonte o valor social do conhecimento produzido, seu


retorno ao campo da intervenção e aos sujeitos que dele partilham;

• intercambiar experiências, dialogar pela via interdisciplinar, para ser criativo


na construção do conhecimento;

• ancorar esse modo de produzir conhecimento nas próprias vivências, na


experiência social cotidiana, dando‑lhe visibilidade e transformando o “co-
nhecimento silencioso” em “conhecimento partilhado” (Polanyi, 1983), por
meio de sua socialização.

Portanto, o conhecimento que parte da experiência, dos dados do cotidiano profis-


sional é um importante instrumento de qualificação da prática, de novas possibilidades de
atuação e de subsídios para a elaboração e execução das políticas sociais.

UNIDADE III Dimensão Investigativa e Conhecimento Crítico no Campo Profissional 39


2. O CONHECIMENTO CRÍTICO NA RECONSTRUÇÃO DAS DEMANDAS PROFIS-
SIONAIS

A realidade social é complexa, com múltiplas determinações, econômicas, sociais,


políticas, culturais, ou seja, não está dada no primeiro momento. Para trabalhar nos pro-
blemas apresentados e atender as requisições dos usuários, é necessário desvendar essa
realidade a qual estão inseridos a partir do conhecimento crítico, pelo exercício da mediação
universalidade-particularidade-singularidade, como já vimos em outra unidade. Baptista e
Battini (2009, p. 34) nos explicam que esse exercício é parte do movimento dialético, assim,
realiza, portanto, o tríplice movimento dialético: de crítica, de construção de
conhecimento novo e de nova síntese no plano do conhecimento e da ação,
em uma dinâmica que vai do particular para o universal e retornar ao parti-
cular em outro patamar, desenhando um movimento em espiral na relação
ação/conhecimento/ação.

Esse movimento de criticidade da realidade apresentada é importante para a su-


peração do senso comum, de uma prática pautada em julgamentos morais, que não irão
cumprir com os objetivos iniciais. Assim, as “Capacidades de análise totalizantes que pos-
sibilitem a compreensão global do processo e a apreensão do seu movimento” (BAPTISTA;
BATTINI, 2009, p. 34).
Neste sentido, Nogueira e Tumeleiro (2015, p. 206) evidenciam que para superar
uma atuação que não vá de encontro aos objetivos profissionais é necessária a “reconstru-
ção do objeto da ação a partir do aporte de referências teórico-metodológicas críticas que

UNIDADE III Dimensão Investigativa e Conhecimento Crítico no Campo Profissional 40


subsidiam a prática profissional”. Isto é, para que o profissional tenha clareza do seu objeto
de trabalho, das possibilidades e limites e também de suas particularidades, é necessário
o embasamento teórico crítico apreendido durante a formação que possibilita a análise e
desvendar a realidade social a partir de mediações.
No cotidiano profissional nos deparamos com requisições, seja do Estado e das
instituições em que atuamos, que muitas vezes não possuem relação direta com o trabalho
do assistente social, mas são necessárias para a permanência no campo sócio-ocupacio-
nal. Deste modo, o conhecimento crítico também pode contribuir para transformar essas
requisições em demandas profissionais por meio da análise e leitura que o assistente social
faz do problema apresentado.
Na cena contemporânea, o Estado assume um papel de mediador dos neoliberais,
o que resulta em uma diminuição de recursos para a área social; aumento da seletividade
nas políticas públicas; além do aumento dos critérios e condicionalidades para o acesso às
políticas públicas e sociais; ações estatais focalizadas na pobreza extrema; culpabilização
do pobre pela sua condição por meio de argumentos de ordem moral e a centralidade das
ações na família.
Segundo Yazbeck (2016), tanto no Brasil quanto na América Latina, as políticas
sociais têm assumido uma característica focalizada e individualista, conforme os preceitos
neoliberais. Neste sentido,
O bem-estar social, direito inalienável de todo cidadão, sustentável, coletivo
e universal, é colocado sob a responsabilidade dos indivíduos e das famílias,
recaindo principalmente sobre a mulher a obrigação de administrar a família
com valores monetários insuficientes para aquisição da cesta básica. É essa
lógica, que sustenta a prevalência dos programas de transferência de renda
na América Latina e no Brasil, substituindo serviços por transferência mo-
netária, tendo o foco nas famílias pobres e extremamente pobres, a quem é
requerido o cumprimento de condicionalidades no campo da educação e da
saúde (YAZBECK, 2016, p. 10).

Dado os fatos apresentado e tendo em vista a direção que vêm assumindo o Esta-
do brasileiro na condução das políticas sociais, é de extrema importância o conhecimento
crítico, a leitura profissional dessa realidade, para que o assistente social siga a direção
hegemônica da categoria em trabalhar na perspectiva de ampliação do acesso aos direitos
sociais e não na focalização da pobreza e culpabilização das famílias.

UNIDADE III Dimensão Investigativa e Conhecimento Crítico no Campo Profissional 41


3. PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL

Para entendermos o projeto ético-político do serviço social, é necessário pensar


sobre os projetos societários e projetos profissionais. Sobre essa questão, Netto (2006)
coloca que os projetos societários são projetos coletivos, mas que contém aspectos ma-
croeconômicos, pois visam à construção de uma imagem de sociedade a ser construída.
Nesse sentido, possuem uma dimensão política, em que na sociedade capitalista, há proje-
tos de classe, sendo que até a reabertura política na década de 80 e 90, o único projeto em
questão era o da classe dominante, em que a partir do regime democrático, outros projetos
societários puderam disputar a hegemonia. Porém, tendo em vista a ordem do capital,
mesmo com a democracia, os projetos que envolvem os interesses da classe trabalhadora
possuem menos condições objetivas de se tornarem predominantes.
Dentro dos projetos coletivos, há os projetos profissionais, que se relacionam com
os projetos de sociedade. Esses buscam construir uma autoimagem da profissão, definindo
valores, princípios, normas, objetivos da profissão que são elaborados pela categoria pro-
fissional. Além dos trabalhadores que discutem os projetos profissionais, no caso do serviço
social, há as instituições pertencentes à profissão que contribuem nessa discussão, como
o conjunto CFESS/CRESS, ABEPSS, ENESSO e demais organizações de profissionais
(NETTO, 2006).
Nesse sentido, vemos que há projetos macroeconômicos que defendem uma
perspectiva de classe, e também projetos profissionais que estão imbricados com esses

UNIDADE III Dimensão Investigativa e Conhecimento Crítico no Campo Profissional 42


projetos societários. O serviço social, depois do Movimento de Reconceituação, adotou a
defesa da classe trabalhadora, e, por isso, defende um projeto de uma sociedade diferente
da capitalista. No próximo item você vai compreender melhor sobre o projeto profissional
que está sendo construído pelo serviço social.
A discussão sobre o projeto ético-político da profissão teve como contexto histórico
as grandes transformações políticas e econômicas no final das décadas de 70 e 80, em
um momento de efervescência política em torno da redemocratização do estado brasileiro,
consequência da ditadura militar. É nesse momento que o serviço social começa a ter
abertura para o pluralismo, em que no interior da categoria é repensado qual projeto de
sociedade a profissão vai defender.
Esse novo projeto do serviço social, se vincula a uma nova ordem societária,
em que não haja exploração de classe. De acordo com a análise de Netto (2006),
esquematicamente, esse projeto tem em seu núcleo o reconhecimento da liberdade como
valor central — a liberdade concebida historicamente, como possibilidade de escolha entre
alternativas concretas; daí um compromisso com a autonomia, a emancipação e a plena
expansão dos indivíduos sociais.
Portanto, o projeto possui princípios e valores que devem ser adotados pelos
assistentes sociais no exercício da profissão, como o respeito à diversidade, equida-
de e justiça social, ampliação e consolidação da cidadania, universalização e igualdade no
acesso aos bens e serviços, o posicionamento em favor dos trabalhadores e a participação
dos usuários (NETTO, 2006). Além disso, o projeto abrange também os posicionamentos
políticos da categoria profissional.
Não há um documento que se denomine de “Projeto Ético-Político do Serviço So-
cial”, ele está incutido principalmente na lei de regulamentação da profissão nº 8662/1993,
o Código de Ética Profissional de 1996 e nas Diretrizes Curriculares também de 1996 em
1996. Nessas legislações é possível identificar os princípios, valores, deveres, direitos,
formação profissional, parâmetros para atuação e tudo o que forma esse projeto.
Entretanto, Teixeira (2009) traz uma importante contribuição para a discussão do
projeto ético político, elencando outros componentes importantes que dão materialidade
ao projeto profissional, sendo eles: a produção dos conhecimentos produzidos pelo serviço
social que sistematiza a prática e reflete sobre o fazer profissional. Outro elemento é a
existência das organizações profissionais, como o conjunto Conselho Federal de Serviço
Social e Conselho Regional de Serviço Social (CFESS/CRESS), além de outras entidades

UNIDADE III Dimensão Investigativa e Conhecimento Crítico no Campo Profissional 43


da categoria, como a Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social (ENESSO), que
discutem coletivamente os compromissos e direção a ser seguida pelos assistentes sociais.
O outro fator discutido pela autora é o aparato jurídico-político da profissão, que
consiste nas legislações principais elencadas anteriormente, também de outras
regulações que foram sendo elaboradas pelas instâncias deliberativas da profissão. Além
dessas, há uma série de leis que são essenciais para o assistente social como um tra-
balhador das políticas sociais, como as leis advindas da Ordem Social da Constituição
Federal de 1988, a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) e demais legislações pertinentes ao exercício profissional.
Teixeira (2009) avalia que não é possível executar todo o projeto da profissão, pois há
aspectos da realidade que não dependem apenas da ação do profissional e também pelo fato
de que os valores e princípios incutidos no projeto são incompatíveis com a sociabilidade do
modo de produção capitalista. Mas, como afirma a autora, é possível a sustentar projetação
do ético-político, pois ele permite “escolher caminhos, construir estratégias político-profissio-
nais e definir os rumos da atuação e, com isso, projetar ações que demarquem claramente os
compromissos (ético-políticos) profissionais” (TEIXEIRA, 2009, p. 11).
Dizemos que a teoria não se gesta, não brota na prática, mas da reflexão
sobre a prática. Constitui outro nível do conhecimento que se testa na prá-
tica. Tampouco a teoria produz transformações prático-materiais. O que ela
transforma são percepções, concepções. Permite enfrentar conhecimentos
previamente determinados, preconceitos e superar o senso comum (GUER-
RA, 2005, p. 9).

A partir disso, é possível visualizar o equívoco que muitos sujeitos da categoria pro-
fissional cometem quando realizam tentativas de aplicar o Projeto Ético-Político do serviço
social. E, quando se deparam com esses “limites”, passam a acreditar que não há serventia
no projeto da profissão.

UNIDADE III Dimensão Investigativa e Conhecimento Crítico no Campo Profissional 44


4. COTIDIANO: CONHECIMENTO E CRÍTICA

A construção da história se dá na vida cotidiana que o ser social - particular, singular


e genérico está sob uma alienação, devido às múltiplas determinações, econômicas, cul-
turais, políticas, espirituais que estão postas, mas reconhecer essa cotidianidade permite
a superação dessa alienação. O cotidiano, a partir dos escritos de Heller (1997 apud VE-
RONEZE; MARTINELLI, 2015) é a vida de todo homem, em que há as ações espontâneas
dos homens e a sucessão de fatos, acontecimentos, relações sociais, entre outros. Mas é
nesse cotidiano que é possível a sua suspensão, para a tomada de uma consciência ética
e política.
O conhecimento crítico proporciona que o ser social, e aqui podemos falar dos
usuários que são atendidos pelo profissional de serviço social, tome consciência da condi-
ção de individualidade. Para além disso, são necessários outros conhecimentos para uma
ação qualificada e que desperte para sua condição de sujeito de direitos. “Para tanto, em
cada ato profissional são mobilizados conhecimentos, saberes e práticas que, mediante
uma ampla cadeia de mediações e do uso adequado de instrumentais de trabalho, visam
alcançar os resultados estabelecidos” (MARTINELLI, 2011, p. 498).
Assim, o saber profissional é constituído pela formação acadêmica, do conhecimen-
to científico e também da experiência sistematizada, com análise dos dados da realidade
social que atua.

UNIDADE III Dimensão Investigativa e Conhecimento Crítico no Campo Profissional 45


O conhecimento produzido pode servir para subsidiar a prática profissional, em que
o objeto de pesquisa é o objeto da ação e/ou produzir conhecimentos científicos,
Isso significa que, para que haja uma ação efetiva sobre uma situação, é
preciso conhecê-la como uma totalidade que tem diferentes dimensões e se
relaciona com totalidades maiores. Uma mesma questão envolve dimensões
políticas, filosóficas, sociológicas, ecológicas, demográficas, institucionais
(BAPTISTA; BATTINI, 2009).

Mas, ainda de acordo com as autoras, não é necessário que o profissional faça um
estudo sociológico e sim que aquele objeto demande conhecimentos diferentes, não ne-
cessariamente somente aquele ligado a profissão, mas também daqueles construídos por
várias ciências. Sendo assim, você, aluno(a), precisa dedicar-se a conhecimentos diversos
para que seja prática e de acordo com o aprendizado em sua formação profissional.

UNIDADE III Dimensão Investigativa e Conhecimento Crítico no Campo Profissional 46


SAIBA MAIS

O serviço social aproximou-se de autores de outras ciências, como da sociologia, filoso-


fia, psicologia com base marxista, que contribuiu, ao longo da história, com aporte teó-
rico-metodológico para refletir sobre a realidade social. Uma das categorias importantes
para a atuação profissional é a do cotidiano desenvolvida pela filósofa húngara Agner
Heller, seguidora de Gerorge Luckas, que foi apropriada pelo serviço social brasileiro.
Esta estudiosa também contribui para a compreensão do modo como os indivíduos so-
ciais se colocam diante da realidade social. Para conhecer um pouco mais da influência
dela para nossa profissão, você poderá ler o artigo: Fundamentos para a consciência
ética e política do ser social: Ensaio sobre Agnes Heller, escrito por Renato Tadeu Ve-
roneze e Maria Lúcia Martinelli em 2015, sua referência pode ser encontrada no final
desse material.

Fonte: a autora.

REFLITA

Deste modo, o ser social se apresenta na e para a vida social enquanto ser particular e
genericamente humano, como também singular, enquanto síntese de múltiplas determi-
nações – particular e genérica – real e dinâmicas, sendo um dínamo criador, represen-
tante do desenvolvimento e substância da história, portanto, um ser que constrói a sua
própria história, mas em condições previamente dadas.

(HELLER, 2004; MARX, 1997; apud VERONEZE, MARTINELLI, 2015, p. 410).

UNIDADE III Dimensão Investigativa e Conhecimento Crítico no Campo Profissional 47


CONSIDERAÇÕES FINAIS

O serviço social é uma profissão analítica e interventiva, pois para atuar na reali-
dade social é necessário o conhecimento crítico para realizar uma análise de conjuntura,
o que proporciona uma ação mais próxima às necessidades da população atendida. Essa
atitude investigativa é prevista nas atuais diretrizes curriculares do curso, isso demonstra a
sua importância para a formação profissional.
No decorrer da unidade pudemos compreender a reconstrução das demandas a
partir do conhecimento crítico, devido às múltiplas determinações dos fenômenos sociais
que são fruto do modo de produção capitalista. Neste sentido, essa ideia corrobora com o
Projeto Ético-Político da profissão, que não é executivo, mas direciona o fazer profissional.
Não há um documento somente que define o que é esse projeto, mas sua base se
encontra nas diretrizes curriculares do curso de serviço social, na lei de regulamentação da
profissão e do código de ética, que nos fornece subsídios éticos e político para direcionar
a nossa atuação, assim pudemos compreender a sua importância para a categoria profis-
sional.

UNIDADE III Dimensão Investigativa e Conhecimento Crítico no Campo Profissional 48


LEITURA COMPLEMENTAR

Artigo: A atitude investigativa no trabalho do assistente social


Autora: Cristina Kologeski Fraga

RESUMO
O artigo trata da atitude investigativa no trabalho do assistente social - AS. Para tanto,
discorre sobre os componentes do trabalho do AS, dando visibilidade às suas competências
e especificidades. Na sequência, discute a atitude investigativa no exercício profissional.
Propõe que, além da articulação entre investigação/ação no cotidiano de trabalho, torna-se
fundamental uma atitude interdisciplinar. Finalmente, sugere o trabalho do assistente social
envolto numa equação tensionada pelo pragmatismo - atitude investigativa, mediada pela
intervenção, que só adquire alcance social quando pautada pela interdisciplinaridade.

Fonte: Fraga (2010).

UNIDADE III Dimensão Investigativa e Conhecimento Crítico no Campo Profissional 49


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: O cotidiano e a história
Autor: Agnes Heller
Editora: Paz e Terra
Sinopse: O primeiro livro de Agnes Heller traduzido para o portu-
guês, agora em nova edição A filósofa húngara – aluna de Georg
Lukács, de quem posteriormente se tornou assistente, seguidora
e colaboradora – é uma das principais representantes da Escola
de Budapeste, conhecida pela sistemática oposição de pensar
dirigida tanto contra o historicismo subjetivista quanto às versões
estruturalistas da filosofia da práxis, consideradas uma episte-
mologia formalista e anti-histórica. Para que se desenvolva uma
inteligência crítica do nosso tempo, é preciso o conhecimento em
extensão e em profundidade de todas as ideias que o formam e
que por ele são informadas, dando-lhe o que poderíamos chamar
de seu perfil cultural. Sem isso não entenderemos os pensamentos
e as emoções de humanidade que nos envolvem e definem.

FILME/VÍDEO
Título: GERMINAL
Ano: 1993.
Sinopse: Um jovem sem trabalho se estabelece em Montsou, onde
se torna mineiro e descobre um mundo de homens condenados
a sofrer pela falta de dinheiro. Com os problemas, ele acaba se
comprometendo com as causas socialistas

UNIDADE III Dimensão Investigativa e Conhecimento Crítico no Campo Profissional 50


UNIDADE IV
A Instrumentalidade no Trabalho do
Assistente Social
Professora Carolina Camilo da Silva Gois

Plano de Estudo:
● Instrumentalidade técnico-operativa (observação, escuta, estudo, pesquisa, registros,
entrevista (estruturada, semiestruturada, aberta) visita domiciliar, visita institucional, acolhimen-
to, plantão social, atendimento individual, atendimento familiar, atendimento coletivo, acompa-
nhamento individual, acompanhamento familiar, acompanhamento coletivo, encaminhamentos,
articulações, mobilizações, reuniões, grupos – dinâmica de grupos –, entre outras).
● Registros e elaboração de documentos técnicos (registro e o sigilo profissional, perfil so-
cioeconômico, cadastros folhas/cadernos de acompanhamentos, atas, relatórios informativos,
relatórios circunstanciados, relatórios de monitoramento e avaliação de políticas, programas e
projetos, estudo social, laudo social, parecer social, relatório social (inclusive, avaliação e lin-
guagem de relatórios), perícia social, entre outros).
● Diferentes formas de organizações, mobilizações e eventos (congresso, semana, jor-
nada, simpósio, conferências, colóquio, oficinas, minicursos, seminários, posters, painéis, pa-
lestras, ciclos de palestras, exposições, feiras, fóruns, assembleias, plenárias, conselhos de
direitos, grupos de estudos, associação de moradores, entre outras).

Objetivos de Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar a articulação entre as dimensões da profissão.
● Compreender os principais tipos de instrumentos e técnicas.
● Estabelecer a importância do planejamento para as ações profissionais.

51
INTRODUÇÃO

Nesta unidade iremos discutir sobre as dimensões constitutivas da profissão


com foco na dimensão técnico-operativa do serviço social, que se configura na forma de
aparecer da profissão. Nessa dimensão estão os instrumentos e técnicas utilizadas no
cotidiano profissional, e abordaremos algumas, entre elas a entrevista, visita domiciliar e
encaminhamento.
O conhecimento desses instrumentos e técnicas é importante para o trabalho do
assistente social, na medida que é através deles que se cumprem os objetivos e finalidades
das ações e sua competência técnica proporciona o reconhecimento social da profissão.
Por isso, dedique-se à leitura de forma atenta e aprofunde seu saber sobre a dimensão
técnico-operativa da profissão.

UNIDADE IV A Instrumentalidade no Trabalho do Assistente Social 52


1. A DIMENSÃO TÉCNICO-OPERATIVA DO SERVIÇO SOCIAL

O serviço social é entendido como uma profissão inscrita na divisão sociotécnica do


trabalho, possui algumas características e também dimensões constitutivas, sendo elas: di-
mensão teórico-metodológica, ético-política e técnico operativa. Nas diretrizes curriculares
essas dimensões estão colocadas explicitamente, “Estes princípios definem as diretrizes
curriculares da formação profissional, que implicam capacitação teórico-metodológica,
ético-política e técnico-operativa[...]” (ABEPSS, 1996, p.7).
Antes do processo do movimento de reconceituação, o foco da discussão estava
centralizado nos instrumentos e técnicas da profissão, sem reconhecer a direção ética e
política do instrumental. Ainda hoje, essas ideias fazem parte de um projeto que disputam a
hegemonia no interior da categoria profissional, que compreende que esses instrumentos e
técnicas não possuem intencionalidade e que é necessária a busca pela eficiência e eficá-
cia. Guerra (2012) aponta que esse projeto de profissão defende que o perfil do profissional
deve ser aquele que seja capaz de resolver os problemas da “prática” e que seja habilitado
tecnicamente.
A competência teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política são requisi-
tos fundamentais que permitem ao profissional colocar-se diante das situações com as quais
se defronta, vislumbrando com clareza os projetos societários, seus vínculos de classe e
seu próprio processo de trabalho. Os fundamentos históricos, teóricos e metodológicos são

UNIDADE IV A Instrumentalidade no Trabalho do Assistente Social 53


necessários para apreender a formação cultural do trabalho profissional e, em particular, as
formas de pensar dos assistentes sociais (ABEPSS, 1996).
Nesse sentido, essas dimensões devem ser compreendidas como uma totalidade,
sendo necessário mediações e articulações entre elas, estando em unidade, porém, não
são iguais. Para Guerra (2012), a dimensão teórico metodológica diz respeito à teoria
apreendida e sua relação com a prática profissional, além dos métodos e metodologias
de ação. Já a dimensão ético-política se refere aos elementos éticos, princípios e valores
que conduzem a profissão, bem como o posicionamento político da categoria profissional.
Por fim, a técnica-operativa compreende a capacidade de articulação dos instrumentos e
técnicas para o alcance dos objetivos profissionais.
A partir das ideias discutidas por Santos, Filho e Backy (2017), entende-se que a
dimensão técnico-operativa não pode ser reduzida aos instrumentos e técnicas, pois essa
dimensão mobiliza as dimensões teórico-metodológica e ético-política para fazer a com-
preensão da realidade social e definir prioridades e alternativas para o desenvolvimento
das ações. Nesse processo está incluso também o conjunto de ações, procedimentos,
estratégias, conhecimentos específicos do campo de trabalho que são mobilizados a fim do
objetivo profissional. Nesse sentido, os autores afirmam que,
a dimensão técnico-operativa é constituída dos seguintes elementos: as es-
tratégias e táticas definidas para orientar a ação profissional, os instrumentos,
técnicas e habilidades utilizadas pelo profissional, o conhecimento procedi-
mental necessário para a manipulação dos diferentes recursos técnicos-ope-
racionais, bem como a orientação teórico-metodológica e ético-política dos
agentes profissionais (SANTOS; FILHO; BACKY, p. 31, 2017).

Portanto, a dimensão técnico-operativa vai muito além do simples manejo de ins-


trumentos e técnicas que são utilizadas no cotidiano profissional, sendo necessário, ainda
de acordo com os autores, qualificar essa operacionalização, sendo que, essa qualificação
se dará pela reflexão da prática profissional.

UNIDADE IV A Instrumentalidade no Trabalho do Assistente Social 54


2. INSTRUMENTOS TÉCNICO-OPERATIVOS E O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL

A dimensão técnico-operativa se configura como a forma de aparecer da profissão,


em que Guerra (2012) aponta continuamente que é ela que dá visibilidade social à profis-
são, respondendo aos problemas apresentados. De acordo com a autora, o debate sobre
os instrumentos e técnicas tem sido negligenciado pela categoria profissional, devendo ser
resgatado, dado a sua importância para a profissão.
O Simpósio A dimensão técnico-operativa no Serviço Social: Desafios contemporâ-
neos na formação profissional do Assistente Social frente aos novos padrões de proteção
social foi sistematizado por Santos, Filho e Backy (2017), e ajudou a compreender os instru-
mentos e técnicas utilizados historicamente pelos assistentes sociais. Foram consensuais a
definição e reconhecimento de instrumentos utilizados no cotidiano profissional.
Os instrumentos e técnicas possuem a capacidade de materializar as finalidades e
a direção social das ações, por isso a importância da escolha de determinados instrumentos
para ações específicas. Assim, “é através do uso competente e crítico dos instrumentos –
portanto, conscientemente parametrado nas demais dimensões do exercício profissional
– que as respostas são dadas” (SANTOS; FILHO; BACKY, 2017, p. 28).
Seguindo a discussão realizada nesse simpósio, sistematizado em um capítulo de
livro, são indicados os principais instrumentos utilizados pelos assistentes sociais no exer-
cício profissional. O primeiro mencionado foi a observação, caracterizada como uma impor-

UNIDADE IV A Instrumentalidade no Trabalho do Assistente Social 55


tante ferramenta de compreensão da realidade social e que é capaz, a partir de mediações,
superar a fragmentação e imediaticidade do fato apresentado. Segundo Portes e Portes (2016, p. 70):
Oportuno registrar que a observação pode se expressar em dois níveis:
primeiro, enquanto instrumento de intervenção, no atendimento direto aos
usuários através dos atendimentos sociais realizados; segundo, enquanto
ferramenta para ação investigativa, que não se limita à pesquisa acadêmica.
Diante disso, ressalta-se que a observação está presente nos demais instru-
mentos técnico-operativos, operacionalizando-se em conjunto.

A entrevista, instrumento que faz parte da história do serviço social, mas nem
sempre com o mesmo objetivo, foi caracterizada como um instrumento utilizado diaria-
mente pelo assistente social a fim de colher e entender informações dos usuários para o
desenvolvimento de outras ações e procedimentos posteriores. Trindade (2013) faz uma
classificação das ações, procedimento e instrumentos do assistente social como de caráter
individual, coletivo, administrativo-organizacional e de capacitação e pesquisa, e a entre-
vista é analisada pela autora como um instrumento de caráter individual, apesar de poder
ser utilizado no coletivo, pois permite um levantamento de dados da realidade de qual o
usuário está inserido.
Lewgoy e Silveira (2007) descrevem o que chamam de etapas da entrevista, que
colocam como o primeiro momento o seu planejamento, tendo em vista os eixos teórico,
metodológico, ético e político. Feito isso a entrevista se materializa por meio da coleta de
dados, em que são identificadas as necessidades que serão elencadas prioridades para
serem aprofundadas ao término da entrevista, o profissional deve registrar as informações
fornecidas, seja em ficha social e/ou prontuário como um direito do usuário a ter ser atendi-
mento documentado e disponibilizado para ele, caso assim o querer. É importante ressaltar
o papel da ética nesse processo, principalmente em espaços sócio-ocupacionais, onde
tenham registros multiprofissionais, como na política de saúde, para que os usuários não
sejam expostos e ridicularizados.
A reunião também foi debatida e entendida como um instrumento, que pode ser
utilizada para a socialização de informações e tantos outros objetivos. Já a abordagem,
nesse simpósio, não teve um consenso de ser considerada instrumento, mas sim como um
componente do trabalho fazendo parte dos procedimentos. A abordagem na perspectiva da
horizontalidade, sem abuso de poder, exige o acolhimento do usuário, a escuta e o respeito,
podendo ser uma estratégia de aproximação com a realidade da população.

UNIDADE IV A Instrumentalidade no Trabalho do Assistente Social 56


Neste sentido, para Portes e Portes (2016, p. 74),
[...] a abordagem implica em acolhimento. Para tanto, o acolhimento pressu-
põe que o assistente social deve manter uma postura receptiva, sem emitir
julgamentos de valor que incitem ao preconceito e à discriminação. A escuta
qualificada pressupõe compreender as necessidades sociais do usuário,
suas opiniões, suas experiências sociais e os motivos visíveis e também não
visíveis que o levaram a buscar o serviço.

Porém, a escuta qualificada não se refere apenas a uma escuta atenta do sofrimen-
to humano, mas ele está implicado nessa realidade, tendo compromisso e responsabilidade
em realizar propostas viáveis, a partir do seu saber específico, para o problema apresentado.
As autoras problematizam a escuta no sentido em que ela deve ser um espaço
para subsidiar os usuários com informações que esclareça sobre os serviços oferecidos
pelas políticas sociais, tanto das próprias intuições quanto de outras políticas, sobre os
atendimentos e recursos que podem ser ofertados, sobre os meios para consegui-los, o
que permite não responsabilizar os usuários pela sua condição e escolhas, mas o papel
do Estado, e das estruturas da sociedade capitalista nesse processo (PORTES; PORTES,
2016).
A visita domiciliar, realizada historicamente pelo assistente social, mas também por
outros profissionais, foi entendida como um instrumento que deve ser utilizado somente em
algumas situações, já que invade a privacidade da família, sendo necessária justificativa e
cuidado para sua realização.
Ela é mais utilizada em determinados campos de trabalho e tem por finalidade a
aproximação com a realidade e o cotidiano dos usuários e sua abordagem deve responder
as seguintes questões: Quando a visita é necessária? Quando ela é dispensável? Quando
pode ser marcada previamente ou não? Assim, como a postura do assistente social é im-
portante durante a visita para que ela favorece um diálogo aberto e os sujeitos saibam os
motivos dela.
A partir da classificação de Trindade (2013), o encaminhamento é colocado como
um instrumento essencial no trabalho do assistente social para a articulação intra e interins-
titucional. O encaminhamento possibilita o acesso dos usuários atendidos a outras políticas
sociais, a fim de atender necessidades que, talvez, não podem ser supridas somente
naquele serviço ou instituição de origem. Mas para a garantia desse acesso, é necessário
que o encaminhamento seja acompanhado, se possível, de contato com o outro serviço,
com os profissionais que irão receber o encaminhado, para que a situação atendida seja de
conhecimento do serviço e sejam realizadas as articulações necessárias para a efetividade
do atendimento.

UNIDADE IV A Instrumentalidade no Trabalho do Assistente Social 57


É necessário ressaltar que esses instrumentos e técnicas abordados não são pro-
priamente exclusivos do serviço social, o que diferencia de outro profissional são as suas
finalidades, objetivos, a teoria e o posicionamento político que os direcionam.
Trindade (2013, p. 91) define o prontuário como um instrumento de comunicação,
“O prontuário do usuário, ao mesmo tempo sumária procedimentos e avaliações da equipe
sobre os usuários, também é um importante instrumento de comunicação, evitando condu-
tas repetitivas e até danosas aos usuários”.
Outros instrumentos comumente utilizados pelo serviço social em, praticamente,
todos os campos de atuação, mas em especial nos serviços de saúde, são o relatório e
o parecer social. O primeiro consiste basicamente na sistematização das informações da
prática profissional com determinada situação e/ou família; o segundo, diz respeito além
da sistematização da situação, é também colocada uma opinião técnica da realidade e
situação identificada, que serve tanto para subsidiar as decisões de juízes sobre concessão
de guarda, quanto a fornecimento de medicamentos.
A dinâmica de grupo, instrumento que possui origem na psicologia, é utilizada para
a reflexão e discussão com um grupo de usuários, em que o assistente social é um facili-
tador daquele momento. É muito comum o uso desse instrumento nas unidades de saúde,
principalmente na área de saúde mental, pois está ligado a ações de educação em saúde,
sendo uma atividade muito requisitada ao assistente social.

2.1 Tecnologia da Informação e o Trabalho do Assistente Social


A dimensão técnico-operativa do serviço social não se refere apenas aos instrumen-
tos e técnicas que abordamos nos itens anterior, mas também a ferramentas que tornam o
trabalho mais efetivo. Assim, as tecnologias da informação também são ferramentas capa-
zes de potencializar o trabalho. As transformações econômicas, políticas e sociais a partir
do século XX também provocaram avanços das tecnologias a partir do desenvolvimento da
telecomunicação, ferramentas digitais para o armazenamento e processamento de dados,
ou seja, houve uma revolução tecnológica, assim a sociedade passou a ter acesso a novos
meios para atender às suas necessidades pessoais e no âmbito também do trabalho. Cas-
tells (1999, p. 67) aponta que:
As tecnologias da informação vão além do computador isolado e abrangem
as redes de comunicação, equipamentos de fax, impressoras e copiadoras
“inteligentes”, workstations (ou estações de trabalho), processamento de
imagem, gráficos, multimídia e comunicação em vídeo. Cada vez mais, os
problemas serão resolvidos não por um mainframe isolado ou um microcom-
putador, mas por um conjunto de dispositivos digitais dispostos em rede.

UNIDADE IV A Instrumentalidade no Trabalho do Assistente Social 58


Todas essas tecnologias passaram a fazer parte dos espaços de trabalho, assim
como nos espaços sócio-ocupacionais onde o serviço social está inserido. Gomes (2006,
p. 2) afirma que, as tecnologias de informação,
apresentam-se como ferramentas que surgem para auxiliar os processos de
trabalho do assistente social, pois não é um instrumento neutro da prática,
mas trazem inúmeros benefícios como facilitando e otimizando o processo de
gestão de serviços sociais.

A partir da compreensão da articulação entre as dimensões que constituem o


fazer profissional, a ético-política, teórico-metodológica e técnico-operativa, sendo esta o
foco desse texto, podemos concluir que as tecnologias da informação também não são
utilizadas de forma desassociada das ideologias presentes. Ou seja, qualquer tecnologia
utilizada, selecionada para desenvolver determinação ação, carrega as intencionalidades
e resultados pretendidos. Por isso é importante refletir sobre a escolha das ferramentas e
considerar sempre o direcionamento ético político da profissão.

UNIDADE IV A Instrumentalidade no Trabalho do Assistente Social 59


3. APONTAMENTOS SOBRE ESTUDO SOCIAL, PARECER E PERÍCIA SOCIAL

Dentre as atribuições privativas do assistente social, conforme o Art. 5 da lei nº


8662/1993, “IV - realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e parece-
res sobre a matéria de Serviço Social” (BRASIL, 1993). Portanto é necessário compreender
como realizar essas atribuições de forma competente e técnica.
A perícia social pode ser considerada um instrumento do serviço social na medida
em que é utilizado para alcançar determinados objetivos, ou mesmo uma ação, que se utili-
za de outros instrumentos técnicos para o seu desenvolvimento. Pode ser entendida como
um exame de uma situação social apresentada, que tem por objetivo conhecer e analisar
dada realidade e emitir uma opinião técnica de um profissional especializado, chamado de
perito, no caso da perícia social o responsável é o assistente social (MIOTO, 2001).
Em diversos campos de atuação é exigida a perícia social, como na saúde, para
fornecimento de medicamentos não padronizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS),
por exemplo, mas está presente no cotidiano do assistente social principalmente no poder
judiciário, a fim de concessão de guarda de crianças e/ou adolescentes, pensão alimentícia,
interdição, entre outras demandas.
Mioto (2001) considera que a perícia social possui quatro eixos de sustentação:
competência técnica, competência teórico-metodológica, autonomia e compromisso
ético. A primeira se refere ao manejo dos instrumentos para realização da perícia, que po-
dem ser a entrevista, a observação, visita domiciliar, análise de documentos que proporcio-

UNIDADE IV A Instrumentalidade no Trabalho do Assistente Social 60


nam compreender a dinâmica e estrutura das relações familiares da situação apresentada.
A partir disso, é produzido o relatório da visita ou entrevista que poderá ser analisado para
a construção do laudo social, assim como a análise de outros documentos, como o diário
de observações.
Já a competência teórico-metodológica diz respeito aos conhecimentos neces-
sários para dispor da perícia social, como leis, normatizações, conhecimento teórico-me-
todológico do serviço social, bem como os específicos de cada área de atuação. Neste
sentido, o assistente social deve ter autonomia nesse processo, prevista no código de ética
profissional, o que leva ao outro elemento da perícia, o compromisso ético. Este último
também está relacionado com o cumprimento do código de ética do assistente social, na
observação dos princípios fundamentais e atenção ao sigilo profissional (MIOTO, 2001).
É importante refletir sobre o processo de perícia, que envolve a formulação do estu-
do social, que toda situação é uma realidade a ser descoberta, sendo considerada também
um processo de intervenção. Assim, há muitas implicações decorrentes da perícia na vida
das pessoas envolvidas, o que faz com que o cuidado e responsabilidade seja ainda maior,
pois quando requisitada, subsidia decisões das autoridades requerentes.
O estudo social pode ser considerado uma etapa para a realização da perícia
social, ou pode ser realizado em outras situações em que o próprio assistente social identi-
fica a sua necessidade. Para isso, ele dispõe de instrumentos de abordagem das pessoas
envolvidas, como a entrevista individual e coletiva, contato com a rede de serviços, visita
domiciliar e/ou institucional, que possibilita o conhecer e aprofundar o conhecimento sobre
dada realidade. Esse processo é documentado, pois servirá para a análise a partir da des-
crição e a interpretação da situação social com base em referenciais teóricos.
A perícia também é constituída pelo parecer social, que é resultado do estudo
social, que se refere à opinião fundamentada do assistente social sobre a situação social
estudada. Nele também devem ser indicadas sugestões e alternativas para o problema
analisado com as implicações que elas poderão ocasionar na vida dos sujeitos. Quando se
tratar do sistema judiciário, todo esse processo resultará no laudo social, que contém os
aspectos pertinentes do estudo e do parecer social, que será encaminhado ao juiz (MIOTO,
2001).
Como vimos, o processo de realização de uma perícia social envolve algumas
etapas, mas não necessariamente o estudo e parecer social são realizados pela perícia
social, podendo ser utilizados em várias situações do cotidiano profissional.

UNIDADE IV A Instrumentalidade no Trabalho do Assistente Social 61


4. O PLANEJAMENTO E O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL

O planejamento, a partir da reconceituação do serviço social, passa a ser objeto de


estudo e preocupação para a profissão, pois ele proporciona que as ações sejam alinhadas
com a dinâmica da realidade e das necessidades sociais. Pode ser entendido como um ato
político, de tomada de decisões, definição de prioridades físicas e orçamentárias tendo em
vista a correlação de forças dos sujeitos envolvidos no processo. Neste sentido,
Esta apreensão levou a assumir a importância do caráter político do plane-
jamento e a necessidade de operá-lo de uma perspectiva estratégica, que
trabalhe sobre esse contexto de relações apreendendo sua complexidade,
enfatizando os ganhos do processo. Desta forma, o domínio e a orientação
do fluxo dos acontecimentos se pautam por um novo sentido de competência:
além da competência teórico-prática e técnico-operativa, há que ser desen-
volvida uma competência ético-política (BAPTISTA, 2007, p. 18).

Concordando com a citação, no seu cotidiano profissional, o assistente social é


requisitado pelas instituições a elaborar, operacionalizar e avaliar planos, programas e
projetos que são os meios pelos quais o planejamento se materializa nas diversas áreas e
setores.
De acordo com Baptista (2007), o planejamento é uma contínua tomada de deci-
sões, em dado momento e com base em conhecimentos teóricos, científicos e técnicos.
A partir do conhecimento aprofundado da realidade social, também das particularidades
em que os usuários daquela unidade de Saúde estão inseridos, é possível estabelecer os
objetivos das ações a serem desenvolvidas.

UNIDADE IV A Instrumentalidade no Trabalho do Assistente Social 62


A autora Bertollo (2016) nos relembra que, na Lei de Regulamentação da Profissão
n. 8662/1993, está estabelecido como atribuição e competência desse profissional, o plane-
jamento das ações, planos, programas e projetos, conforme pode ser verificado:
I - elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos
da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organiza-
ções populares;

II - elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que


sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade
civil; [...]

[...] VI - planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais;

VII - planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a


análise da realidade social e para subsidiar ações profissionais;

VIII - prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública dire-


ta e indireta, empresas privadas e outras entidades, com relação às matérias
relacionadas no inciso II deste artigo;

X - planejamento, organização e administração de Serviços Sociais e de


Unidade de Serviço Social (BRASIL, 1993).

A partir da lei de regulamentação da profissão e também do Código de Ética do


Assistente Social, que coloca como direito e dever do profissional planejar suas ações, é
visível a requisição do planejamento no cotidiano profissional.
Dessa forma, é necessário que o assistente social planejador, executor e
avaliador de planos, programas e projetos, se aproprie dessas metodologias
e as incorpore no seu exercício profissional nos diferentes leques de atuação.
Reconhecer a realidade considerando seus aspectos determinantes (econô-
micos, sociais e políticos, etc.) e reconhecer os usuários de suas ações como
sujeitos de direito e sujeitos políticos é o movimento primeiro para superar a
burocratização e a tecnificação do planejamento, ações estas que são fun-
cionais para a manutenção da ordem desigual e contraditória a sociabilidade
capitalista (BERTOLLO, 2016, p. 349).

Neste sentido, Nogueira e Mioto (2006) destacam que avaliar o trabalho desen-
volvido permite pensar a partir dos resultados concretos das ações, e não somente de es-
peculações. Além disso, a avaliação contribui para o aperfeiçoamento profissional, a partir
da identificação das fragilidades de suas ações ou até mesmo de aspectos externos. Essa
avaliação, então, é possível a partir da construção de indicadores, que são as unidades
que permitirão medir o alcance dos objetivos e metas estabelecidos no planejamento. De
acordo com Nogueira e Mioto (2006, p. 301),
Um bom indicador deve apresentar os seguintes requisitos, para ser adequa-
do: ser compreensível, abrangente e de fácil aplicação, permitir uma única
interpretação, adequar-se ao processo de coleta de dados existentes, ser
passível de ser implementação, ser preciso e oferecer subsídios para futuras
decisões.

A partir dos dados obtidos, que são mensurados pelos indicadores, é importante
a divulgação dos resultados a partir de determinado projeto e/o planejamento, pois isso
favorece o controle social.

UNIDADE IV A Instrumentalidade no Trabalho do Assistente Social 63


SAIBA MAIS

O documento produzido pelo CFESS, em 2020, com o título Sistematização e análise


de registros da opinião técnica emitida pelo assistente social em relatórios, laudos, pa-
receres, objetos de denúncias éticas presentes em recursos disciplinares julgados pelo
Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), é um importante documento de análise
para prevenir erros que podem ser cometidos durante o exercício profissional.

RESOLUÇÃO CFESS Nº 557/2009 de 15 de setembro de 2009

Ementa: Dispõe sobre a emissão de pareceres, laudos, opiniões técnicas conjuntos


entre o assistente social e outros profissionais.
CFESS. Resolução CFESS Nº 557/2009 de 15 de setembro de 2009. Disponível em:
<http://www.cfess.org.br/arquivos/Resolucao_CFESS_557-2009.pdf>. Acesso em: 02
out. 2020.

Fonte: Fávero, Franco e Oliveira (2020.

REFLITA

“Cada um de nós deve ser um atento leitor do cotidiano, deve ter um olhar nítido como
um girassol para poder desvendar a conjuntura, as forças sociais aí presentes, pois para
quem fez uma opção pelo social esse deciframento é indispensável”

(MARTINELLI, 2011, p.2).

UNIDADE IV A Instrumentalidade no Trabalho do Assistente Social 64


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a leitura do material, você conheceu um pouco mais sobre o exercício profis-
sional do assistente social, das dimensões que o constitui, sendo que a articulação entre
a dimensão teórico-metodológica, ética-política e técnico-operativa constituem o fazer
profissional. Não é possível dissociar a dimensão técnico-operativa, que envolve os proce-
dimentos, ações, instrumentos e técnicas dos outros elementos, pois toda atividade possui
uma finalidade e direção.
Sobre a dimensão técnico-operativa, focamos nos instrumentos e técnicas que são
mais utilizados no cotidiano profissional, sem excluir tantos outros que também são im-
portantes. É importante relembrar que eles não são exclusivos do serviço social, podendo
ser utilizados também por outros profissionais, porém, o que diferencia é a competência
teórico-metodológica e ético-política imbricada.
Para aprofundar o conhecimento sobre esses instrumentos, você poderá ler os
artigos indicados, que serão úteis em sua atuação profissional.

UNIDADE IV A Instrumentalidade no Trabalho do Assistente Social 65


LEITURA COMPLEMENTAR

Artigo: A entrevista nos processos de trabalho do assistente social


Autores: Alzira Maria Baptista Lewgoy e Esalba Maria Carvalho Silveira
No artigo a seguir as autoras propõem ressignificar o papel das entrevistas no
instrumental de trabalho de assistentes sociais, apresentando suas possibilidades e ressal-
tando que não há um modelo único de entrevista.
Fonte: BAPTISTA LEWGOY, Alzira Maria, CARVALHO SILVEIRA, Esalba Ma-
ria. A entrevista nos processos de trabalho do assistente social. Textos & Contextos
(Porto Alegre), 2007, 6(2), 233-251. Disponível em: https://www.redalyc.org/articulo.
oa?id=321527161003>. Acesso em: 2 out. 2020.

Artigo: Desvendando as determinações sócio-históricas do instrumental técnico-


-operativo do Serviço Social na articulação entre demandas sociais e projetos profissionais
Autora: Rosa Lúcia Prédes Trindade
No artigo a seguir a autora discute o significado do instrumental de trabalho do
assistente social, tanto num contexto histórico quanto social.
Fonte: TRINDADE, Rosa Lúcia Prédes. Desvendando as determinações sócio-his-
tóricas do instrumental técnico-operativo do Serviço Social na articulação entre demandas
sociais e projetos profissionais. Revista Temporalis, n. 4. Rio de Janeiro. ABEPSS, p. 21-42,
2002.

Artigo: Instrumentos e técnicas: intenções e tensões na formação profissional do


assistente social
Autora: Cláudia Mônica dos Santos
A autora propõe no artigo a seguir, discussões e reflexões a respeito do instrumen-
tal e das técnicas de Assistentes sociais, discutindo a importância dele no desempenho
profissional, bem como o que foi evoluindo com o passar do tempo.
Fonte: SANTOS, Cláudia Mônica dos. Instrumentos e técnicas: Intenções e Ten-
sões na Formação Profissional do Assistente Social. Libertas, Juiz de Fora, v. 4, 5. ed.
especial, p. 20-246, jan./dez. 2004, jan./dez. 2005. Disponível em: <https://periodicos.ufjf.
br/index.php/libertas/article/view/18140/9392>. Acesso em: 2 out. 2020.

UNIDADE IV A Instrumentalidade no Trabalho do Assistente Social 66


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Avaliação e Linguagem: relatório, laudos e pareceres
Autor: Selma Marques Magalhães
Editora: Veras
Sinopse: O livro apresenta reflexões sobre o uso do instrumental
técnico, com enfoque na linguagem como instrumento privilegiado
dos profissionais que atuam na área dos cuidados e da inter-
venção, e no caráter avaliativo que perpassa esse trabalho, em
especial no espaço forense. Distingue os instrumentos utilizados
nas interações diretas (entrevista, visita, grupo), dos utilizados nas
interações indiretas (relatórios, laudos) e oferece estratégias para
a produção de um texto, quanto ao seu conteúdo e à redação.

FILME/VÍDEO
Título: Especial Apresenta História da Assistência Social no Brasil
Ano: 2010
Sinopse: Comemorado em 15 de maio, o Dia do Assistente Social
foi lembrado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate
à Fome (MDS) neste vídeo que se propõe a contar um pouco da
história da profissão no Brasil e resgatar sua memória coletiva. A
produção foi realizada em 2010, antes da regulamentação atual
do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), grande marco da
área.
Link do vídeo: <https://www.youtube.com/watch?v=gq4YXI1pg-
gg>

WEB

No site do CFESS você encontrará notícias atuais sobre o trabalho do assistente


social, livros, textos, vídeos que possibilita a qualificação profissional. Nesse link também
terá acesso a Revista Inscrita que traz debates sobre temas pertinentes a categoria profis-
sional. Não deixe de conferir!
Link do site: <http://www.cfess.org.br/>

UNIDADE IV A Instrumentalidade no Trabalho do Assistente Social 67


REFERÊNCIAS

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71
CONCLUSÃO GERAL

Prezado(a) aluno(a),
Neste material, procurei aproximá-lo(a) da prática profissional do assistente social,
uma profissão que atua historicamente nas expressões da questão social, respondendo
essas expressões por meio das políticas públicas e sociais. Como vimos, tanto o Estado
como espaço majoritário de atuação quando as organizações sociais, contratam o profis-
sional com determinados objetivos que podem não ser os mesmos da profissão, mas ainda
assim vimos que há possibilidades de uma atuação que alcance os objetivos profissionais.
Assim, conhecemos o conceito de instrumentalidade do serviço social a partir de
uma autora referência para a profissão, Yolanda Guerra (2000), que coloca os três níveis
da instrumentalidade. O primeiro se refere aos objetivos do Estado burguês em contratar o
assistente social, o segundo ao instrumental técnico-operativo das respostas profissionais
e, por fim, o terceiro nível que consiste no exercício da mediação, que permite ao assistente
social avançar as ações imediatas para um agir profissional crítico e consciente.
Também adentramos ao método da teoria social crítica, que hoje é a base teórica da
formação profissional que coloca a possibilidade de desvendarmos a realidade a partir das
suas múltiplas determinações. Diante disso, aluno(a), você pode perceber a importância
desse método no conhecimento da realidade em que o assistente atua, não podendo pau-
tar a atuação em julgamentos morais e pré-conceitos, dada a complexidade das relações
capitalistas que formam a estrutura da sociedade.
Mas, para que essa atuação seja mais próxima possível do real, busquei evidenciar
a dimensão técnica-operativa do serviço social a partir da sua articulação com as demais
dimensões: teórico-metodológica e ético-política, que estão em movimento quando exe-
cutamos os instrumentos e técnicas profissionais. Por isso, apresentamos os principais
instrumentos utilizados na prática do assistente social, mas compete a você aprofundar o
conhecimento deles.
Com o estudo desse material, acredito que será o início de uma longa jornada
de pesquisa e aprendizado, pois o conhecimento que envolve a prática profissional não
termina aqui, mas continuará no decorrer de sua carreira enquanto assistente social.
Muito obrigada!

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