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Instrumentos e

técnicas do Serviço
Social
Profa. Alessandra Medeiros
SUMÁRIO

BLOCO 1. TRABALHO E PROCESSOS EM QUE SE INSEREM OS ASSISTENTES SOCIAIS ..... 3


BLOCO 2. A DIMENSÃO TÉCNICO-OPERATIVA NOS PROCESSOS DE TRABALHO DO
ASSISTENTE SOCIAL ........................................................................................................ 10
BLOCO 3. A OBSERVAÇÃO E ENTREVISTA....................................................................... 19
BLOCO 4. A VISITA DOMICILIAR E INSTITUCIONAL ......................................................... 26
BLOCO 5. O TRABALHO COM GRUPOS, COMUNIDADES E REDES ................................. 32
BLOCO 6. A DOCUMENTAÇÃO NO COTIDIANO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL 39

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BLOCO 1. TRABALHO E PROCESSOS EM QUE SE INSEREM OS ASSISTENTES SOCIAIS
Apresentação
Neste primeiro bloco, abordaremos alguns conceitos que precisam ser considerados,
antes de falarmos propriamente sobre os instrumentos e técnicas que são utilizados
pelos assistentes sociais no cotidiano de suas ações. A primeira categoria de conceitos
será o trabalho, já que o assistente social, embora tenha como característica ser um
profissional liberal, em sua maioria trabalha com algum tipo de vínculo, seja como
funcionário público, ou mesmo com registro formal em organizações sociais ou
empresas. Dessa maneira, temos como objetivo deste primeiro bloco, contextualizar
as situações em que o profissional poderá estar inserido e ainda quais as implicações
disso e o impacto direto no trabalho que ele/ela poderá realizar. Outro importante
objetivo deste bloco será resgatar as legislações específicas do Serviço Social, que
também norteiam a ação profissional e não podem estar descoladas da prática
profissional.

Assistente Social: trabalhador assalariado x profissional liberal


É característica das profissões liberais: o caráter não rotineiro das ações e a presença
de um código de ética. Podemos entender também como uma profissão que pode ser
exercida livremente por aqueles que obtiveram a formação específica para tal.
No entanto, como o assistente social pode exercer essa liberdade se atua no contexto
de uma sociedade capitalista, se colocando também na condição de trabalhador?

Nesse sentido, Marilda Vilela Iamamoto (2005) diz que


[...] ainda que disponha de relativa autonomia na efetivação de seu
trabalho, o assistente social depende, na organização da atividade, do
Estado, da empresa, de entidades não governamentais que viabilizam aos
usuários o acesso a seus serviços, fornecem meios e recursos para sua
realização, estabelecem prioridades a serem cumpridas, interferem na
definição de papéis, e funções que compõem o cotidiano do trabalho
institucional. Ora, se assim é, a instituição não é um condicionante a mais do
trabalho do assistente social. Ela organiza o trabalho do qual ele participa.
(IAMAMOTO, 2005, p. 63).

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Antes de considerarmos as técnicas e instrumentos que devemos utilizar, não
podemos esquecer que estamos inseridos em um determinado contexto e que, muitas
vezes, esse mesmo contexto poderá direcionar a escolha de qual a melhor forma de
intervenção, dependendo da realidade que iremos encontrar.

1.1 Competências do assistente social no cenário contemporâneo


Para que possamos desempenhar nossa profissão com efetividade, deveremos pensar
nas competências que precisaremos desenvolver durante a graduação e continuarmos
a desenvolvê-las mesmo quando concluirmos a primeira etapa de nossos estudos.
Vale começarmos pela lei que regulamenta a nossa profissão, ou seja, a lei que cria a
profissão de assistente social. Temos que lembrar que uma lei surge de uma
necessidade da população, ou seja, de uma demanda social. Nesse sentido, em 7 de
junho de 1993, a lei 8.662 dispõe sobre a profissão do assistente social.
Essa não foi a primeira lei que regulamentou nossa profissão. A primeira foi em 1957,
sendo revogada e entrando em vigor a de 1993, que, mesmo atualizada em 2010,
continua em vigência até hoje.
A lei está dividida em 24 artigos. Destes, merecem destaque:
O art. 2º que indica que:
Somente poderão exercer a profissão de Assistente Social:
I - Os possuidores de diploma em curso de graduação em Serviço Social,
oficialmente reconhecido, expedido por estabelecimento de ensino superior
existente no País, devidamente registrado no órgão competente; (BRASIL,
1993)

Aqui, já podemos refletir sobre a importância desta disciplina. Para atuarmos como
assistentes sociais, precisamos de quatro anos de formação e, nesse processo, um
conjunto de instrumentais são apresentados aos alunos e alunas para que atuem
futuramente pautados em técnicas, diferenciando-os de outros trabalhadores pela sua
especificidade. Outro artigo que merece nossa atenção neste momento é:
Art. 4º Constituem competências do Assistente Social:
I - elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a
órgãos da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e
organizações populares;

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II - elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos
que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da
sociedade civil;
III - encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos,
grupos e à população;
IV - (Vetado);
V - orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no
sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e
na defesa de seus direitos;
VI - planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais;
VII - planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a
análise da realidade social e para subsidiar ações profissionais;
VIII - prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública
direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, com relação às
matérias relacionadas no inciso II deste artigo;
IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria
relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis,
políticos e sociais da coletividade;
X - planejamento, organização e administração de Serviços Sociais e de
Unidade de Serviço Social;
XI - realizar estudos socioeconômicos com os usuários para fins de
benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e
indireta, empresas privadas e outras entidades. (BRASIL, 1993)

Uma competência pode ser entendida como uma capacidade e dentre as indicadas
acima, trabalharemos os incisos: III, V e XI nesta disciplina.

1.2 Orientações éticas e resoluções do Conselho Federal de Serviço Social


Antes de retomarmos a lei de regulamentação da profissão, também se torna
necessário que conheçamos as resoluções do nosso Conselho Federal.
Por isso, o(a) convidamos a navegar pelo site, pois será um forte aliado no seu
cotidiano profissional: <http://www.cfess.org.br/>
Também devemos consultá-lo para nos atualizarmos sobre novas resoluções da
categoria (que estarão no link:
http://www.cfess.org.br/visualizar/menu/local/resolucoes-do-cfess) .

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Essas resoluções vão desde o funcionamento interno do conselho federal, como os
regionais, além de subsidiar parâmetros de atuação sobre diversas temáticas.
Vale conhecer, por exemplo:
- Resolução CFESS n. 845: dispõe sobre atuação profissional do/a assistente social em
relação ao processo transexualizador, ou seja, demonstra como deverá ser o
atendimento dos profissionais aos usuários que passarão pelo processo de mudança
de sexo. Disponível em: <http://www.cfess.org.br/arquivos/ResolucaoCfess845-
2018.pdf>. Acesso em: maio 2019.
- Resolução CFESS n. 559: que dispõe sobre a atuação do Assistente Social, inclusive na
qualidade de perito judicial ou assistente técnico, quando convocado a prestar
depoimento como testemunha, pela autoridade competente. Disponível em:
<http://www.cfess.org.br/arquivos/Resolucao_CFESS_559-2009.pdf>. Acesso em:
maio 2019.
- Resolução CFESS n. 557: que dispõe sobre a emissão de pareceres, laudos, opiniões
técnicas conjuntos entre o assistente social e outros profissionais e está diretamente
ligada à nossa disciplina. Disponível em:
<http://www.cfess.org.br/arquivos/Resolucao_CFESS_557-2009.pdf>. Acesso em:
maio 2019.
O parágrafo terceiro, do artigo 4º, da Resolução 557 de 2009, por exemplo, indica que:
No atendimento multiprofissional, a avaliação e discussão da situação
poderá ser multiprofissional, respeitando a conclusão manifestada por
escrito pelo assistente social, que tem seu âmbito de intervenção nas suas
atribuições privativas.

Assim, não podemos esquecer que, além da Lei de Regulamentação e do Código de


Ética Profissional, essas resoluções precisam ser constantemente pesquisadas e
estudadas.

1.3 A dimensão técnico-operativa nos processos de trabalho do assistente social


Temos de considerar que o assistente social atua pautado em três dimensões: a ético-
política, a teórico-metodológica e a técnico-operativa.
A técnico-operativa pode ser entendida como

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[...] o espaço de trânsito entre o projeto profissional e a formulação de
respostas inovadoras às demandas que se impõem no cotidiano dos
assistentes sociais implica destacar categorias que possibilitem realizar esse
trânsito. Propõe-se então, neste trabalho, adotar a ação profissional como o
vetor fundamental para o desvelamento dos processos do fazer profissional.
Sua eleição vincula-se ao entendimento de que a ação é a menor unidade de
análise, e, ao mesmo tempo, condensa todas as dimensões constitutivas do
exercício profissional. (MIOTO; LIMA, 2009, p. 36)

O que as autoras Mioto e Lima querem dizer com isso? Não adianta pensarmos
exclusivamente na ação concreta que será desempenhada no cotidiano profissional,
mas como ela representa o projeto ético-político da própria profissão, e como pode
interferir na conjuntura mais ampla da própria sociedade.

1.4 Competências profissionais no âmbito da lei de regulamentação e suas


atribuições privativas
Retomando a lei de regulamentação profissional (8.662/1993) já indicada no início
deste bloco, vamos apresentar agora o Art. 5º que apresenta as atribuições privativas
do Assistente Social:
I - coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos,
pesquisas, planos, programas e projetos na área de Serviço Social;
II - planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade
de Serviço Social;
III - assessoria e consultoria e órgãos da Administração Pública direta e
indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço
Social;
IV - realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e
pareceres sobre a matéria de Serviço Social;
V - assumir, no magistério de Serviço Social, tanto em nível de
graduação como pós-graduação, disciplinas e funções que exijam
conhecimentos próprios e adquiridos em curso de formação regular;
VI - treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço
Social;
VII - dirigir e coordenar Unidades de Ensino e Cursos de Serviço Social,
de graduação e pós-graduação;

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VIII - dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de
pesquisa em Serviço Social;
IX - elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões
julgadoras de concursos ou outras formas de seleção para Assistentes
Sociais, ou onde sejam aferidos conhecimentos inerentes ao Serviço Social;
X - coordenar seminários, encontros, congressos e eventos
assemelhados sobre assuntos de Serviço Social;
XI - fiscalizar o exercício profissional através dos Conselhos Federal e
Regionais;
XII - dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou
privadas;
XIII - ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão
financeira em órgãos e entidades representativas da categoria profissional.

As atribuições privativas são aquelas que são exclusivas do assistente social, ou seja, só
esse profissional pode fazer e, em caso contrário, podemos denunciar no conselho
regional.

1.5 Reflexões sobre o trabalho e processos correlatos


Também devemos refletir a partir dos segmentos populacionais que atenderemos no
nosso cotidiano profissional e buscar o aprofundamento de outros temas que são
inerentes à complexidade da sociedade capitalista.
Assim, se o assistente social atuar com crianças e adolescentes, deverá conhecer
detalhadamente o Estatuto da Criança e do Adolescente. Caso essa
criança/adolescente tenha alguma deficiência, as legislações específicas ao deficiente
também precisarão ser do conhecimento do profissional. Outro exemplo que podemos
citar é o atendimento ao idoso, que deverá ser atendido por um profissional que
domine o Estatuto do Idoso, como base fundamental para uma orientação e
encaminhamentos adequados.
Outras questões importantes e contemporâneas são os atendimentos específicos a
públicos como: pessoas em situação de rua, dependentes químicos, refugiados,
mulheres, dentre outros, que requerem conhecimentos especializados e linguagens
próprias na utilização dos instrumentais e técnicas do Serviço Social.

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SAIBA MAIS
Vamos ler um texto?
Sugerimos: Os espaços sócio-ocupacionais do assistente social, de Marilda Vilela
Iamamoto. Ela é Professora Titular (aposentada) da Escola de Serviço Social da Universidade
Federal do Rio de Janeiro.

Para lê-lo, acesse o link: http://www.abepss.org.br/arquivos/anexos/os-espacos-socio-


ocupacionais-do-assistente-social-marilda-201608200501015865260.pdf
Acesso em: maio de 2019.

Conclusão
Muitas vezes, o assistente social gostaria de ter um manual com os instrumentos e
técnicas para serem utilizados nos atendimentos. No entanto, não existem receitas
prontas e sim diretrizes. Como parte desses direcionamentos, devemos considerar os
conteúdos estudados neste bloco. Assim, devemos considerar que a profissão está
inserida na sociedade capitalista e que a maioria dos profissionais vende sua força de
trabalho, sendo também assalariados. Dessa maneira, o assistente social irá atuar
considerando essa correlação de forças e deverá levar em conta também a instituição
em que está inserido.
Merece destaque também todo o arcabouço legal que o assistente social deverá
conhecer para que suas ações estejam em consonância com a legislação específica da
área, como também com o que existe produzido para o segmento que será atendido
cotidianamente.

Referências
IAMAMOTO, Marilda Villela; CARVALHO, Raul. Relações sociais e serviço social no
Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 10. ed. São Paulo:
Cortez; Lima (Peru): CELATS, 2005.

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MIOTO, Regina C. T.; LIMA, Telma C. S. A dimensão técnico-operativa do Serviço Social
em foco: sistematização de um processo investigativo. Revista Textos & Contextos.
Porto Alegre, v. 8, n.1, p. 22-48, jan./jun. 2009.

BRASIL. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Presidência da República. Casa Civil. Lei
no 8.662, de 7 de junho de 1993. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8662.htm>. Acesso em: 16 maio 2019.

Glossário

Profissional liberal: é aquele que possui formação, seja universitária seja técnica, e
pode exercer sua função por conta própria, ou trabalhar para o governo, para uma
empresa, por exemplo, médicos, dentistas, arquitetos, advogados, entre outros
profissionais. (Disponível em: https://www.guiatrabalho.com.br/profissional-liberal-e-
autonomo.html. Acesso em: maio 2019.)

Competência: conjunto de características/habilidades. Quando falamos em


competência profissional, relacionamos essas habilidades ao profissional que as
desempenha.

BLOCO 2. A DIMENSÃO TÉCNICO-OPERATIVA NOS PROCESSOS DE TRABALHO DO

2 ASSISTENTE SOCIAL
Apresentação
Neste bloco, continuaremos a traçar o panorama no qual o assistente social está
inserido e deverá levar em consideração ao planejar suas ações e intervenções. Para
tanto, abordaremos a conjuntura atual e seus rebatimentos na prática profissional,
como também introduziremos os instrumentos e técnicas para o Serviço Social,
compondo a instrumentalidade.

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INSTRUMENTALIDADE NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL
Trata-se da compreensão de um conceito muito importante e norteador sobre o qual
esta disciplina foi proposta.
Para Yolanda Guerra,
À primeira vista, o tema instrumentalidade no exercício profissional do assistente social parece ser algo
referente ao uso daqueles instrumentos necessários ao agir profissional, através dos quais os assistentes
sociais podem efetivamente objetivar suas finalidades em resultados profissionais propriamente ditos.
Porém, uma reflexão mais apurada sobre o termo instrumentalidade nos faria perceber que o sufixo
“idade” tem a ver com a capacidade, qualidade ou propriedade de algo. Com isso podemos afirmar que
a instrumentalidade no exercício profissional refere-se, não ao conjunto de instrumentos e técnicas
(neste caso, a instrumentação técnica), mas a uma determinada capacidade ou propriedade constitutiva
da profissão, construída e reconstruída no processo sócio-histórico.

Fonte: Disponível em:


<http://www.unirio.br/unirio/cchs/ess/Members/altineia.neves/instrumentos-e-
tecnicas-em-servico-social/guerra-yolonda-a-instrumentalidade-no-trabalho-do-
assistente-social/view>. Acesso em: 16 maio 2019.
Assim, para que um profissional dê conta das demandas impostas ao exercício
profissional, ele precisa da INSTRUMENTALIDADE.

INSTRUMENTALIDADE = CAPACIDADE OU PROPRIEDADE CONSTITUTIVA DA


PROFISSÃO, CONSTRUÍDA E RECONSTRUÍDA NO PROCESSO SÓCIO-HISTÓRICO

2.1 Mudanças no mundo do trabalho e repercussão sobre a atuação dos assistentes


sociais
Devemos levar em consideração todas as mudanças que acontecem no mundo do
trabalho, primeiro porque impactam diretamente na vida do assistente social
trabalhador, como também nas consequências que podem sofrer os usuários que são
atendidos.
Vivemos, após 2018, o impacto da reforma trabalhista e a flexibilização das relações de
trabalho. Trata-se da Lei 13.467 de 13 de julho de 2017 e disponível no link:

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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13467.htm>. Acesso
em: maio 2019.

Se quiser, aqui você pode encontrar uma Síntese dos principais pontos da reforma:
<http://fetropar.org.br/conheca-as-principais-ameacas-da-reforma-trabalhista/>.
Acesso em: maio 2019.

Fonte: SENADO FEDERAL.

Como sugestão, você pode também acessar o Blog da Biblioteca do Ministério Público
do Trabalho do Rio Grande do Norte e ver nos quadros a comparação de como era e o
que mudou:
<https://bibliotecaprt21.wordpress.com/2017/07/17/reforma-trabalhista-confira-o-
que-vai-mudar-fonte-cnj/>. Acesso em: maio 2019.

2.2 Aspectos legais para o exercício profissional


Já mencionamos no primeiro bloco a necessidade de o assistente social dominar a Lei
de Regulamentação da Profissão e o Código de Ética Profissional para subsidiar as
intervenções realizadas.

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Aqui focaremos no Código de Ética, em especial, alguns artigos que diretamente
impactam na utilização dos instrumentos e técnicas.
A indicação desses artigos não significa que não haja a necessidade de conhecer o
documento por inteiro e acessá-lo cotidianamente, ou sempre que se fizer necessário.
Vamos começar pelo Título II, referente aos DIREITOS E DAS RESPONSABILIDADES
GERAIS DO/A ASSISTENTE SOCIAL, ou seja, aquilo que precisa ser garantido em sua
prática profissional. Dentre os artigos, destacamos:
Art. 2º Constituem direitos do/a assistente social:
a- garantia e defesa de suas atribuições e prerrogativas, estabelecidas
na Lei de Regulamentação da Profissão e dos princípios firmados neste
Código;
b- livre exercício das atividades inerentes à Profissão; (BRASIL, 2012)

Podemos perceber nos incisos indicados que o assistente social tem liberdade para o
exercício da profissão. Nesse sentido, precisa saber claramente o que lhe cabe em
cada contexto no qual poderá estar inserido. Aqui, novamente, destacamos a
importância desta disciplina.
Outros incisos que reforçam os anteriores são os:
h- ampla autonomia no exercício da Profissão, não sendo obrigado a prestar
serviços profissionais incompatíveis com as suas atribuições, cargos ou
funções;
i- liberdade na realização de seus estudos e pesquisas, resguardados os
direitos de participação de indivíduos ou grupos envolvidos em seus
trabalhos.

Mais uma vez mostramos a importância desta disciplina. O assistente social tem
autonomia e não precisa se colocar em funções não condizentes com sua profissão. Ao
mesmo tempo, tem liberdade para se posicionar nos estudos realizados, resguardados
os direitos dos usuários atendidos.
Outro artigo que consideramos importante é o art. 4º que indica que é vedado ao/à
assistente social:
f- assumir responsabilidade por atividade para as quais não esteja
capacitado/a pessoal e tecnicamente;

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Assim, o assistente social deve estar capacitado para exercer sua função e quando não
estiver, não poderá assumir a responsabilidade de realizar a função. Isso é muito
importante, uma vez que atuamos diretamente na vida das pessoas e poderemos
ocasionar muitas consequências, dependendo de alguma ação que seja equivocada.
Outra importante parte de nosso Código de Ética está no Título III que fala das relações
profissionais em seu CAPÍTULO I e dentre elas, aborda as relações com os/as
Usuários/as, das quais destacamos:
Art. 5º São deveres do/a assistente social nas suas relações com os/as
usuários/as: [...]
b- garantir a plena informação e discussão sobre as possibilidades e
consequências das situações apresentadas, respeitando democraticamente
as decisões dos/as usuários/as, mesmo que sejam contrárias aos valores e
às crenças individuais dos/as profissionais, resguardados os princípios deste
Código;
Art. 6º É vedado ao/à assistente social:
[...]
c- bloquear o acesso dos/as usuários/as aos serviços oferecidos pelas
instituições, através de atitudes que venham coagir e/ou desrespeitar
aqueles que buscam o atendimento de seus direitos.

O assistente social tem o dever de, no seu atendimento, informar o contexto que o
usuário(a) está inserido e as alternativas que se apresentam, para que a própria pessoa
decida sobre sua própria vida, sem a interferência dos valores e crenças do profissional
nem tampouco julgando quem está sendo atendido.
O Capítulo V apresenta um assunto muito importante e muito cobrado também em
provas de concurso: o sigilo profissional.
Art. 15 Constitui direito do/a assistente social manter o sigilo profissional.
Art. 16 O sigilo protegerá o/a usuário/a em tudo aquilo de que o/a
assistente social tome conhecimento, como decorrência do exercício da
atividade profissional.
Parágrafo único: Em trabalho multidisciplinar só poderão ser prestadas
informações dentro dos limites do estritamente necessário.
Art. 17 É vedado ao/à assistente social revelar sigilo profissional.

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Art. 18 A quebra do sigilo só é admissível quando se tratarem de situações
cuja gravidade possa, envolvendo ou não fato delituoso, trazer prejuízo aos
interesses do/a usuário/a, de terceiros/as e da coletividade.
Parágrafo único: A revelação será feita dentro do estritamente necessário,
quer em relação ao assunto revelado, quer ao grau e número de pessoas

que dele devam tomar conhecimento.

Podemos perceber que a revelação do que é dito em um atendimento só é permitida


em casos graves, em que a não revelação poderá trazer prejuízos para a própria
pessoa ou para terceiros.
Vamos agora estudar os espaços onde o assistente social está inserido e quais as
possibilidades de intervenção em que ele poderá ser requisitado.

2.3 Os espaços sócio-ocupacionais e as requisições contemporâneas aos assistentes


sociais
O assistente social pode atuar no chamado primeiro setor, ou seja, órgãos públicos na
esfera municipal, estadual e federal, no segundo setor, que é a iniciativa privada e
ainda o terceiro setor, que representa as organizações sociais.
No setor público, o assistente social poderá atuar nas políticas sociais, como saúde,
assistência social, educação, habitação, dentre outras e ainda:
- na esfera Estadual: nos Tribunais de Justiça, no Ministério Público e na Defensoria
Pública;
- na esfera Federal: na Previdência Social, por exemplo.
Para que atue no serviço público, torna-se necessário que preste concurso. Durante
muito tempo, o setor público foi o maior empregador do assistente social. Atualmente,
com a diminuição dos concursos, tem ganhado espaço a atuação em organizações
sociais, que acabam se mantendo por verbas públicas, atuando diretamente no
atendimento das demandas da população. Essas organizações também atuam em
diferentes áreas, inclusive a da saúde, que por meio das organizações sociais (OSs) tem
assumido o serviço de hospitais e outros serviços de saúde.
A iniciativa privada, embora não seja o maior campo de trabalho para o assistente
social, pode ser uma área a ser ainda explorada, em razão das demandas que os

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funcionários das empresas podem requisitar como situações relacionadas à qualidade
de vida no trabalho, dependência química etc.
Vale ainda esclarecermos que ainda em uma mesma área o assistente social poderá
atuar com crianças e adolescentes, com idosos, com deficientes, com pessoas em
situação de rua, com refugiados, com adolescentes que cometeram ato infracional e
muitos outros segmentos.
A vasta possibilidade de campos profissionais nos remete a uma requisição de grande
importância: a necessidade de formação permanente para responder às novas
demandas que vão surgindo pela própria complexidade que é a área social, inserida
em uma sociedade capitalista e repleta de contradições.
Ao entrar no site do Conselho Federal de Serviço Social, você pode escolher dentre as
opções a seguir a que mais chame sua atenção para o aprofundamento da atuação do
assistente social:

LINK para a seção de Livros, Brochuras e Outros do CFESS:


<http://www.cfess.org.br/visualizar/livros>. Acesso em: maio 2019:

- Atuação de assistentes sociais na Política Urbana: subsídios para reflexão;


- Atuação de assistentes sociais no sociojurídico: subsídios para reflexão;
- Subsídios para a atuação de assistentes sociais na Política de Educação;
- Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de Assistência Social;
- Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Saúde.

2.4 Perfil do assistente social no cenário contemporâneo


Atualmente, o Conselho Federal de Serviço Social está realizando um recadastramento
dos profissionais para que possam atualizar um estudo sobre o perfil dos profissionais.
O estudo mais recente foi publicado em 2005.
Pesquise a publicação no link:
<http://www.cfess.org.br/pdf/perfilas_edicaovirtual2006.pdf>. Acesso em: maio 2019.

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Vale esclarecer que no período da pesquisa a lei que regula o trabalho do assistente
social em 30 horas ainda não havia sido aprovada.
Como sugestão, que traçar o perfil dos estudantes de sua sala e comparar com o perfil
dos assistentes sociais brasileiros?

2.5 Os instrumentos e técnicas para o exercício profissional


Vamos agora introduzir de fato os instrumentos e técnicas para o exercício
profissional. E na parte final deste bloco não poderíamos deixar de destacar alguns
elementos intrínsecos que deverão fazer parte do repertório de habilidades dos
assistentes sociais: o saber ouvir e o saber enxergar.
Nesse sentido, como sugestão e aquecimento, você pode assistir aos vídeos indicados
no SABIA MAIS, a seguir, e estabelecer uma relação com a atuação do assistente social.

SAIBA MAIS
Aceite o serviço:
Disponível em: <https://youtu.be/-S4rdbOIi8s>. Acesso em: maio 2019.

Encontro:
Porta dos fundos. Disponível em: <https://youtu.be/BxlfjHl9XUE>. Acesso em: maio
2019.

Conclusão
Podemos concluir neste bloco a grande qualidade de conhecimentos que precedem o
uso de técnicas e instrumentais pelos assistentes sociais.
Não adianta um profissional dominar a técnica da entrevista ou de realizar grupos, por
exemplo, se ele possui uma visão conservadora da realidade, deixa de usar o Código de
Ética ou ainda não compreende e analisa o contexto mais amplo em que vive a
sociedade. Com certeza, toda essa bagagem fará com que o profissional exerça sua
profissão com muito mais eficiência.

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Referências
BRASIL. Código de Ética do/a assistente social. Lei 8.662/93 de regulamentação da
profissão. 10. ed. rev. e atual. Brasília: Conselho Federal de Serviço Social, 2012.
Disponível em: <http://www.cfess.org.br/arquivos/CEP_CFESS-SITE.pdf>. Acesso em:
maio 2012.
CFESS. Assistentes Sociais no Brasil: elementos para o estudo do perfil profissional.
Brasília: Conselho Federal de Serviço Social, 2005.

GLOSSÁRIO
Terceiro Setor: é composto por associações e fundações que geram bens e serviços
públicos, mas sem fins lucrativos, que suprem as falhas deixadas pelo Estado. É uma
junção do setor público com o setor privado, ou seja, dinheiro privado para fins
públicos. (...)
Mas o Terceiro Setor não pode ser substituto da função do Estado: ele é apenas uma
complementação e um auxílio na resolução de tantos problemas presentes na
sociedade. É uma alternativa eficiente e democrática e toda essa parceria com a
sociedade permite a ampliação e mobilização de recursos, para iniciativas de interesse
público.

Atributos Estruturais das Organizações:


» Não governamentais: não são ligadas institucionalmente a governos;
» Gestão própria: não são controladas externamente, realizam sua própria gestão;
» Sem fins lucrativos: não buscam lucro algum e caso tenham excedentes financeiros,
esses são reinvestidos integralmente na organização;
» Formalmente constituídas: são institucionalizadas, com uma formalização de regras e
procedimentos.
Fonte: BLOG TERCEIRO SETOR. Disponível em: <http://terceiro-setor.info/o-que-e-
terceiro-setor.html>. Acesso em: maio 2019.

Ética: ramo da filosofia que tem por objetivo refletir sobre a essência dos princípios,
valores e problemas fundamentais da moral, tais como a finalidade e o sentido da vida

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humana, a natureza do bem e do mal, os fundamentos da obrigação e do dever, tendo
como base as normas consideradas universalmente válidas e que norteiam o
comportamento humano. Por extensão, é o conjunto de princípios, valores e normas
morais e de conduta de um indivíduo ou de grupo social ou de uma sociedade.
Fonte: MICHAELIS UOL. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/busca?id=OmqE>.
Acesso em: maio 2019.

Ética profissional: é a que abrange todos os setores profissionais da sociedade


industrializada e tem por objetivo interrogar mais amplamente o papel social da
profissão, sua responsabilidade, sua função, e sua atitude frente a riscos e ao meio
ambiente.
Fonte: MICHAELIS UOL. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/busca?id=OmqE>.
Acesso em: maio 2019.

BLOCO 3. A OBSERVAÇÃO E ENTREVISTA

3 Apresentação
Não por acaso, acabamos nosso bloco anterior falando sobre a importância da escuta e
da visão. Assim, o objetivo deste bloco será aprofundar tais requisitos, utilizando-os já
nas técnicas de observação e de entrevista, ambas muito presentes no cotidiano
profissional dos assistentes sociais.

3.1 A observação como técnica de atuação profissional


Inicialmente, vale esclarecermos que essas técnicas são frequentes tanto na
intervenção do assistente social, como também compõem o leque de possibilidades
para a coleta de dados em pesquisa, ou seja, servem tanto como instrumento de
mudança da realidade, como também para coleta de informações e produção do
conhecimento.
Nesta disciplina, daremos o enfoque nesses instrumentos como forma de intervenção
na realidade.

19
A observação, quando realizada sem intenção, não pode ser considerada um
instrumento para o assistente social. O que queremos dizer com isso? Pense no trajeto
que você realizou hoje e todos os lugares por onde caminhou. Muito provavelmente
você já tenha percorrido esses espaços antes ou retornará a eles em algum outro
momento. Você presta mais atenção no caminho quando passa por ele pela primeira
vez ou quando passa várias vezes? Geralmente, andamos com mais cautela ‒ até pelo
medo de nos perdermos ‒ ou quando algo nos chama atenção quando passamos pela
primeira vez.
O mesmo acontece com a observação. Quando estamos com o olhar atento para o que
desejamos observar, mais chances teremos de prestar atenção em dados que,
cotidianamente, na correria, nos passariam despercebidos.
Vamos exercitar nosso olhar para comprovar esse raciocínio? Observe a imagem a
seguir. Consegue identificar uma taça e dois perfis? Ela é muito utilizada em
treinamentos. Quando dividimos uma sala em dois grupos e para um deles mostramos
apenas taças e para o outro apenas perfis, ao juntarmos todos e mostrarmos essa
imagem, acreditem: quem viu perfil, verá dois rostos, e quem viu apenas taças e vasos,
verá uma taça. Isso mostra a tendência que temos em condicionar nosso olhar. De
tanto enxergarmos a mesma coisa, existe a tendência a reproduzirmos o que vimos
anteriormente.

Fonte: Wikimedia
Disponível em: <https://www.terra.com.br/noticias/ciencia/conheca-15-ilusoes-de-
otica-que-vao-dar-um-no-no-seu-
erebro,7a70ed24a5668410VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html>. Acesso em: maio
2019.

20
Vamos tentar outra imagem?

Fonte: en1gm4t1c4
Disponível em: <http://en1gm4t1c4.blogspot.com/2015/02/moca-ou-velha-ou-ate-
um-homem-na-mesma.html>. Acesso em: maio 2019.

Você vê uma idosa ou uma moça? Nessa imagem, as pessoas apresentam mais
dificuldade de distinguir as duas. Observe com calma.
Vamos agora ao nosso último exemplo:

Fonte: Disponível em: <http://piciesazul.blogspot.com/2010/07/maravilhas-da-ilusao-


de-otica.html>. Acesso em: maio 2019.

Você consegue enxergar um idoso ou um casal se beijando? Essa imagem precisa ser
observada com muita atenção. Há tanto o idoso quanto o casal!

21
Outro fator extremamente importante precisa ser considerado quando estamos
falando em observação. Será que as outras pessoas estão observando as mesmas
coisas que eu? Veja o exemplo:

Fonte: João Anatalino.


Disponível em:
<http://www.joaoanatalino.recantodasletras.com.br/visualizar.php?idt=6271268>.
Acesso em: maio 2019.

No exemplo, podemos afirmar que ao observarmos algo, precisamos também levar em


consideração a opinião do outro, que pode estar enxergando coisas diferentes, em
ângulos e perspectivas distintas das nossas.
Na prática, observamos a todo instante, e correlacionamos o conhecimento estudado
na graduação. Podemos observar a dinâmica das instituições, os posicionamentos das
pessoas, como elas reagem em uma entrevista ou na situação que estivermos
avaliando, por exemplo.

3.2 A entrevista no processo de trabalho dos assistentes sociais


A entrevista é um dos instrumentos mais utilizados pelo assistente social e realizado na
maioria dos campos de atuação.
Medina (2004) refere-se à entrevista como um momento épico, único e especial, de
encontro entre sujeitos, no qual se faz presente o embate democrático e saudável de
ideias, trajetórias e singularidades. Nesse sentido, também podemos perceber a
existência de uma intenção, ou seja, não é um mero bate-papo ou simplesmente
conversar sobre banalidades. É o momento em que o profissional se coloca diante de

22
um sujeito, não apenas para coletar informações, mas também para que ele tome
conhecimento de seus direitos e saiba as alternativas que possui dentro dos limites
impostos pelas circunstâncias vividas.
A entrevista poderá ter um roteiro prévio, sendo conhecida por entrevista estruturada.
Também pode ser semiestruturada, quando temos alguns questionamentos iniciais
para um direcionamento da entrevista, mas não limitada às questões postas
inicialmente, além da entrevista livre, na qual não se tem um roteiro preestabelecido.

3.3 Entrevista e segmentos populacionais


Um detalhe bastante importante, ao planejarmos a entrevista, é o segmento
populacional que será atendido. Entrevistar uma criança é completamente diferente
de entrevistar um adolescente, que por sua vez também é muito diferente de
conversarmos com um idoso.
Considerar quem será entrevistado exige, do entrevistador, estratégias diferenciadas.
Por exemplo: para entrevistar crianças, torna-se mais viável o uso de materiais lúdicos
que auxiliem a abordagem, como lápis de cor, folhas para desenhos, ou ainda,
brinquedos e cenários como casa e bonecos que representem seus familiares.
Já no atendimento de adolescentes, é importante o entrevistador se adequar a uma
linguagem mais contemporânea e própria para esse público, a fim de que haja a
compreensão do assunto que está sendo discutido; caso contrário, poderá acontecer
equívoco principalmente nas expressões que eles utilizam.
Outro exemplo que podemos dar é o atendimento para idosos que demandam, por
exemplo, um tempo maior para a entrevista, em especial pela característica da
narrativa deles, com riqueza de detalhes.

Curiosidade: Veja algumas gírias utilizadas por adolescentes e jovens:


MARTINS, Geiza. “Só no computer”: 40 gírias atuais que estão “hitando” nas redes
sociais... Universa Uol, 27 nov. 2018. Disponível em:
<https://universa.uol.com.br/noticias/redacao/2018/11/27/conheca-35-girias-atuais-
que-sao-sucesso-entre-os-jovens-nas-redes-sociais.htm>. Acesso em: maio 2019.

23
3.4 Aspectos instrumentais e técnicos da entrevista no contexto de atuação do
assistente social
Magalhães (2003) elucida que um bom entrevistador ouve muito e fala pouco. Isso diz
respeito à habilidade de escuta, questionamento e observação do que não é dito, mas
que se configura no sujeito para quem se dirige o trabalho do assistente social.
Inicialmente, torna-se necessário o planejamento da entrevista. Para Lewgoy e Silveira
(2007), planejar significa organizar, dar clareza e precisão à própria ação; transformar a
realidade numa direção escolhida; agir racional e intencionalmente; explicitar os
fundamentos e realizar um conjunto orgânico de ações. Nesse sentido, é importante
que o assistente social se organize para realizar a entrevista, considerando que sua
ação esteja sustentada pelos eixos teórico, técnico e ético-político.
O segundo passo é estabelecer o objetivo da entrevista, ou seja, sua finalidade. O
terceiro passo é delimitar o horário e o espaço físico onde a entrevista ocorrerá.
Devemos lembrar que um espaço adequado é muito importante para que a pessoa se
sinta acolhida e tenha mais chances de estabelecer um vínculo de confiança com o
entrevistador.

3.5 O atendimento social


O atendimento social, atribuição privativa do assistente social, é a concretização dos
instrumentos descritos neste bloco. Nele você utilizará a entrevista e a observação
como principais ferramentas para a coleta de informações, orientações e
encaminhamentos que você realizará durante a intervenção profissional.
O atendimento social poderá ser individual, familiar e também em grupo. Assuntos
estes que serão abordados nos próximos blocos.

SAIBA MAIS
Leia o texto: A entrevista nos processos de trabalho do assistente social.
De Alzira Maria Baptista Lewgoy e Esalba Maria Carvalho Silveira
Disponível em: <
http://revistaseletronicas.pucrs.br/fo/ojs/index.php/fass/article/view/2315/3245>.
Acesso: maio 2019.

24
Conclusão
Podemos concluir que para que tenhamos eficácia em nossos atendimentos,
deveremos inicialmente saber enxergar o que nos está sendo colocado, indo além das
aparências. Nesse sentido, também não podemos analisar por meio de julgamentos ou
juízo de valores a partir do que acreditamos ser o correto. Devemos ter em mente
todo o respaldo teórico que tivemos no decorrer de nossa formação, nos
resguardando nas leis e políticas públicas existentes ao público que será atendido.
Não podemos esquecer que todas as nossas ações precisam ter uma intenção, ou seja,
um objetivo a ser atingido.

Referências
LEWGOY, Alzira M. B.; SILVEIRA, Esalba M. C. A entrevista nos processos de trabalho do
assistente social. Revista Textos & Contextos. Porto Alegre, v. 6, n. 2, p. 233-251.
jul./dez. 2007.
MAGALHAES, Selma Marques. Avaliação e linguagem – Relatórios, laudos e
pareceres. São Paulo: Veras, 2003.
MEDINA, Cremilda A. Entrevista: diálogo possível. São Paulo: Ática, 2004.

GLOSSÁRIO
Condicionar: tem muitos significados, e neste bloco, devemos entender como: colocar
algo como fator determinante para que outra coisa aconteça.
Fonte: DICIO.
Disponível em: <https://www.dicio.com.br/condicionar/>. Acesso em: maio 2019.
Épico: no texto apresentado, tem relação com acontecimentos heroicos e de grande
dimensão.
Fonte: CONCEITOS.COM
Disponível em: <https://conceitos.com/epico/>. Acesso em: maio 2019.
Enxergar e ver: podem ter o mesmo significado presentes nos dicionários: perceber
pela visão. No entanto, compreendemos que perceber está relacionado a tomar

25
consciência de, por meio dos sentidos, compreender, ou seja, ir além do que está
apenas na dimensão visual.
Intenção: o que se pretende fazer; propósito.
Fonte: DICIO.
Disponível em: <https://www.dicio.com.br/intencao/>. Acesso em: maio 2019.

BLOCO 4. A VISITA DOMICILIAR E INSTITUCIONAL

4 Apresentação
Neste item, abordaremos a utilização da visita domiciliar e institucional como técnicas
utilizadas no cotidiano profissional do assistente social. Além dos esclarecimentos
conceituais, também apontaremos as vantagens e desafios desses instrumentos. A
visita é bastante conhecida pela população usuária que já traz em seu imaginário a
figura do assistente social “investigando” se a pessoa está falando a verdade, abrindo
portas de armários, dentre outros exemplos equivocados sobre sua utilização.

Visita domiciliar:
A visita domiciliar é um instrumento técnico-metodológico que é empregada na práxis
da profissão, pois facilita a aproximação do profissional à realidade do usuário.
Fonte: ÂMBITO JURÍDICO.
Disponível em:
<http://ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=14704>. Acesso em:
maio 2019.

Visita institucional:
É realizada nas instituições. Pode acontecer em diferentes ocasiões, como: para
verificar vaga na rede socioassistencial para transferência de algum usuário, visita de
fiscalização do serviço etc.

26
4.1 Concepções e procedimentos técnicos da visita domiciliar
A visita domiciliar é um instrumento técnico-operativo que Amaro (2003, p. 13) define
como “uma prática profissional, investigativa ou de atendimento, realizada por um ou
mais profissionais, junto ao indivíduo em seu próprio meio social ou familiar”. A visita
domiciliar é realizada pelo assistente social e precisa ser pautada pelos princípios
éticos.
Geralmente, é utilizada quando existe a necessidade de se complementar alguma
informação no estudo social, já iniciado por entrevista ou ainda quando precisam ser
avaliadas condições de vida e a relação entre os membros da família, que dificilmente
daria para ser avaliada exclusivamente por entrevista.
Amaro (2003, p. 13) afirma que
A visita como técnica se organiza mediante o diálogo entre visitador e
visitado, no geral organizado em torno de relatos do indivíduo ou grupo
visitado.

A observação também é muito utilizada durante uma visita domiciliar, não no sentido
de “checagem” das informações, mas para auxílio na compreensão da dinâmica
familiar de maneira mais ampla.
É muito comum a dúvida sobre o que observar na visita domiciliar como: a limpeza e
organização, o que os membros da família estão fazendo no momento da visita etc.
Para respondermos ao que se torna relevante ser observado e considerado na visita
domiciliar, precisamos:
- resgatar o objetivo da visita;
- responder se a informação coletada implica diretamente a conquista do direito
pleiteado;
- existência de maus tratos e negligência.
É relevante observarmos se existe louça na pia para ser lavada? Da mesma forma, é
importante saber se algum membro da família encontra-se dormindo no momento da
visita? Tratam-se de assuntos que, analisados separadamente, não implicam a
finalidade principal de o assistente social estar na moradia.
Identificar a presença de maus tratos, ou negligência, pode ser muito mais importante
do que a mera descrição de como se encontra a moradia.

27
Qual o espaço que a criança ocupa na família? Em quais condições ela foi encontrada?
Essas respostas podem significar aspectos mais relevantes do que meramente
constatar a existência de limpeza ou equipamentos eletrodomésticos.
[...] é preciso ver fundo. Não é apenas especular, mas é descodificar, é
compreender as inter-relações causais. É ver fundo o singular sem desprezar
o geral, é aproximar-se da realidade observada para ver o aparente,
identificando, e ser capaz de ver além do que se apresenta, do que é dado
ao observador, mediante o movimento do abstrato ao concreto.
(SARMENTO, 1994, p. 266)

4.2 Dimensões a serem observadas no contexto da visita domiciliar


A primeira dimensão que julgamos ser importante considerarmos no momento da
visita domiciliar é o fator tempo x local da visita.
Amaro (2003, p. 57) diz que não se deve ter
[...] a pretensão, portanto de realizar aquela visitinha rápida, de meia hora
ou até menos! Dificilmente, num tempo tão resumido, você terá chances de
perceber algo mais que a cor do móvel [...].

Ponderarmos com relação ao tempo utilizado para a visita é de suma importância.


Assim como a autora acima indicou a impossibilidade de realizarmos uma visita em
menos de trinta minutos, problematizamos que visitas longas também poderão ser
prejudiciais pela invasão e constrangimento que podem gerar na família.
Também devemos levar em consideração o local onde a visita será realizada e como o
assistente social chegará até o local, prevendo questões de segurança e também
colocando um horário limite para visitar determinados territórios que poderão contar
com fatores externos determinantes como: presença do tráfico etc.
A entrevista também será prejudicada pelo fator tempo, pois teve todo um
planejamento o qual possui um intermédio teórico-metodológico para condução da
mesma, que segundo Amaro (2003, p. 13) é
[...] guiada por uma finalidade específica, pode-se dizer que geralmente as
visitas domiciliares são entrevistas semiestruturadas, dado que orientadas
por um planejamento ou roteiro preliminar.

28
As dimensões a serem consideradas na visita requerem a utilização de um roteiro que
deverá compor o momento de planejamento da mesma. Além de considerar como o
assistente social chegará ao local e o tempo de deslocamento, por exemplo, torna-se
fundamental que ele tenha clareza das informações a serem coletadas e observadas
no momento da visita.

4.3 A visita institucional


A visita institucional pode acontecer em diferentes situações, inclusive para discussão
de casos, em que vários profissionais se reúnem em um dos serviços para conversarem
e pactuarem estratégias de intervenção.
A visita institucional que trataremos aqui será a de cunho fiscalizatório, já que em
determinados campos de atuação o assistente social é convocado a se manifestar
sobre a adequação da prestação de serviços à população, visitando, em conjunto com
outros profissionais, serviços de acolhimento, dentre outros.
Para exemplificarmos esse tipo de visita, apresentamos no link o instrumental utilizado
pelo Ministério Público do Paraná, disponível em:
MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ. Disponível em:
<http://www.direito.mppr.mp.br/arquivos/File/Roteiro.pdf>. Acesso em: maio 2019.

4.4 Procedimentos técnicos da visita institucional


Inicialmente, destacamos que a visita institucional também precisa ser planejada.
Como estamos nos referindo a uma visita fiscalizatória, nesses casos, geralmente não
se avisa o local antecipadamente, já que assim poderemos ter um retrato mais
fidedigno do que acontece no cotidiano institucional.
Em todos os outros casos, convêm o agendamento para que os profissionais se
organizem para recebê-lo.
O primeiro ponto a ser considerado no planejamento dessa visita é o conhecimento
sobre o local a ser visitado e o estabelecimento de um parâmetro sobre o que é ideal
ser encontrado.

29
Vamos a um exemplo: caso você precise realizar uma visita institucional em um serviço
de acolhimento, é imprescindível que conheça o funcionamento deste, para que possa
comparar com o que encontrou no momento da visita.

Acesse o link e conheça orientações sobre o serviço de acolhimento:


MINISTÉRIO PÚBLICO DE RONDÔNIA. Disponível em:
<http://www.mpgo.mp.br/portal/arquivos/2013/07/15/13_24_37_815_Orientações_s
obre_Acolhimento_Institucional.pdf>. Acesso em: maio 2019.

4.5 Avaliação situacional para utilização das visitas


Na prática, a escolha pela visita tanto domiciliar como institucional deverá preceder a
discussão sobre seus objetivos e finalidades, ou seja, por qual razão estou optando por
esse instrumento?
Com o objetivo claro, você pode traçar um planejamento para que possa atingi-lo e
problematizar as informações que seriam de relevância para seu estudo, inclusive
sobre o acesso que o usuário ou a família tem das políticas públicas no território, pois
nunca podemos nos esquecer que as famílias vivem a vulnerabilidade social de
diferentes maneiras, dependendo do território onde estiverem inseridas.

SAIBA MAIS
Leia o artigo disponível em:
Visita domiciliar, um instrumento que potencializa a atuação do assistente social.
De Diana Galone Somer e Reidy Rolim de Moura
Disponível em:
<http://ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=14704>

30
Conclusão
A visita domiciliar e também a visita institucional são estratégias que poderão ser
utilizadas pelo assistente social, dependendo do objetivo que se quer atingir com o
estudo social a ser realizado.
Nesse sentido, precisam de um planejamento prévio para que tenham o êxito
esperado e possam, de fato, ser utilizadas em benefício da população atendida.

Referências
AMARO, Sarita. Visita domiciliar: guia para uma abordagem complexa. Porto Alegre:
AGE, 2003.
SARMENTO. Hélder Boska de Moraes. Instrumentais e técnicas em serviço social:
elementos para uma rediscussão. Dissertação (Mestrado em Serviço Social). Programa
de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social, Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo. São Paulo, 1994.
SOMER, Diana Galone e MOURA, Reidy Rolim de. Visita domiciliar, instrumento que
potencializa a atuação do Assistente Social. Disponível em: <http://ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=14704>.

GLOSSÁRIO
Práxis: é uma palavra com origem no termo grego práxis, que significa conduta ou
ação.
Fonte: SIGNIFICADOS.COM. Disponível em:
<https://www.significados.com.br/praxis/>. Acesso em: maio 2019.

Vulnerabilidade social: a concepção de vulnerabilidade denota a multideterminação


de sua gênese não estritamente condicionada à ausência ou precariedade no acesso à
renda, mas atrelada também às fragilidades de vínculos afetivo-relacionais e
desigualdade de acesso a bens e serviços públicos.
Fonte: BRASIL. Secretaria Nacional de Assistência Social. Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Resolução do Conselho Nacional de
Assistência Social – CNAS n. 145, de 15 de outubro de 2004. Aprova a Política

31
Nacional de Assistência Social – PNAS. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome, 2009. Disponível em: <
http://www.mds.gov.br/cnas/legislacao/resolucoes/arquivos-2004/resolucoes-cnas-2004/>.
Acesso em: maio 2019.

BLOCO 5. O TRABALHO COM GRUPOS, COMUNIDADES E REDES


Apresentação
Neste bloco, vamos estudar outra abordagem que o assistente social pode ter em sua
prática profissional que é a atuação com grupos. Também trabalharemos um pré-
requisito a todo o trabalho que poderá ser realizado pelo profissional: a perspectiva de
atuação em rede. Como já falamos em blocos anteriores, a intervenção grupal pode
ser uma excelente opção para otimizarmos tempo e atendermos um maior número de
pessoas que, por vezes, passam por situações similares. Nesse sentido, o assistente
social se utiliza de conhecimentos da Psicologia Social e também da Socioeducação,
para que consiga organizar as intervenções coletivas que irá realizar.

TRABALHO EM REDE:
Inicialmente, vamos esclarecer esse conceito importante de trabalho em rede. Para
facilitar, vamos imaginar: uma pessoa, uma área ou uma política pública, sozinha, daria
conta de resolver ou minimizar algum problema vivido por uma família ou
comunidade? Não, pois os problemas são muito complexos e, por vezes, requerem
interfaces entre as políticas, na ótica do trabalho intersetorial.
Vamos ver o que dizem os autores a esse respeito:
Para Sanicola (2008, p. 13), redes são malhas, muito ou pouco densas, compostas de
pontos que se cruzam e promovem “trocas sinérgicas”. Elas são permeadas por
conflitos, alianças, polarizações e tensões. Podem assumir alguns tipos de orientações
metodológicas (orientação terapêutica; organização em rede; communitycare; e
intervenção em rede), assim como podem desenvolver dois movimentos: do individual
para a partilha e da dependência para a autonomia.

32
O que podemos destacar da colocação dessa autora? Que as redes estão ligadas por
cordões invisíveis e que neles poderão conter contradições e forças opostas.
Para Guará (1998), existem dois conceitos de Rede: o tradicional e o moderno. O
conceito tradicional de rede está relacionado a um conjunto de serviços similares,
organizados de forma hierarquizada e, portanto, atrelado a uma gestão centralizada.
Já as redes modernas “mantêm-se num processo contínuo de busca de legitimação
através de fluxos ativos de informação e interação” (GUARÁ, 1998, p.13).

5.1 O processo grupal segundo Pichon Riviére


Vamos conhecer agora um psiquiatra suíço, que viveu na Argentina e que muito
contribuiu para o trabalho com grupos, nos apresentando um conceito chamado de
grupo operativo: Enrique Pichon-Rivière.
De acordo com Pereira (2013), nas áreas de atuação do psicólogo, do assistente social,
do enfermeiro e de outros profissionais que coordenam grupos, temos uma crescente
utilização do termo grupo operativo, como técnica de intervenção. Pereira (2013)
pontua ainda que o grupo operativo se afina com os paradigmas atuais em saúde e
educação, que colocam o sujeito no centro de seu processo de aprendizagem, como
sujeito ativo e protagonista na produção de sua saúde, na construção do
conhecimento e dos sentidos que dão significado à sua experiência humana.
Notamos então que a autora nos remete a grupo operativo como aquele que coloca o
sujeito no processo de aprendizagem.
A autora indica, assim, que o objetivo do trabalho com grupos é promover um
processo de aprendizagem para os sujeitos envolvidos. Aprender em grupo significa
uma leitura crítica da realidade, uma atitude investigadora, uma abertura para as
dúvidas e para as novas inquietações.
Acreditamos que o assistente social deverá encarar o trabalho em grupos com esse
desafio, de se garantir um espaço criativo, onde a população usuária reflita sobre suas
condições de vida e pense alternativas para a transformação da situação.

33
5.2 Habilidades e técnicas necessárias para o trabalho com grupos
A primeira habilidade que o assistente social precisa ter para trabalhar em grupo é a
desenvoltura para falar em público. Claro que essa habilidade poderá ser desenvolvida
com o tempo, e, quanto mais grupos fizerem, mais dominarão técnicas para esse tipo
de intervenção.
Nos grupos, podemos perceber uma incidência maior de atuação interdisciplinar, em
que o assistente social forma duplas com outros profissionais, como por exemplo, da
psicologia e da pedagogia.
Várias técnicas poderão ser utilizadas nesse tipo de intervenção, e deverão ser
pensadas de acordo com o objetivo que se quer alcançar com os participantes.
Recomendamos ainda que os grupos sejam pensados a partir da realidade vivida pela
população, ou seja, que, além de discutirem temáticas relevantes, também sejam
planejados em dias e horários nos quais as pessoas possam participar.
Dessa forma, um primeiro encontro deverá, necessariamente, prever um espaço de
acolhida e de levantamento das expectativas dos participantes, denotando a seriedade
do trabalho e a preocupação com o que a população pensa e sente.

5.3 As atividades socioeducativas: habilidades e técnicas para seu desenvolvimento


Inicialmente, precisamos compreender o que são atividades socioeducativas e para
tanto, vamos recorrer ao conceito de socioeducação.
De acordo com Bisinoto et al. (2015), a socioeducação, portanto, situa-se nesse vasto
campo da educação social, apoiando-se na concepção de uma educação fortemente
social, pautada na afirmação e efetivação dos direitos humanos, com compromisso
com a emancipação e autonomia de cada sujeito em sua relação com a sociedade. A
socioeducação se orienta por valores de justiça, igualdade, fraternidade, entre outros,
tendo como objetivo principal o desenvolvimento de variadas competências que
possibilitem que as pessoas rompam e superem as condições de violência, de pobreza
e de marginalidade que caracterizam sua exclusão social.
Dessa maneira, podemos relacionar o termo socioeducação a um espaço de educação
não formal, em que as ações socioeducativas são espaço de reflexão e transformação
da realidade.

34
O que queremos dizer com espaço não formal? Aquele que não possui o rigor do
ensino tradicional, como uma escola, uma sala de aula, por exemplo. A socioeducação
pode se dar em espaços alternativos, como um serviço de acolhimento, grupos de
famílias atendidas no Centro de Referência e Assistência Social, trabalhadores da área
social reunidos em capacitação profissional, entre outros exemplos.
Não podemos confundir esse trabalho como sendo exclusivo de ações relacionadas a
medidas socioeducativas. Todo grupo realizado, em diferentes áreas como saúde e
assistência social, poderá ter a conotação socioeducativa. Já o termo medida
socioeducativa é aquele utilizado para adolescentes que cometeram ato infracional, e
precisam cumprir as medidas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Para que isso seja garantido, torna-se necessário o planejamento adequado e a
escolha das dinâmicas de grupo, pensadas com coerência e objetividade como
veremos a seguir.

5.4 Dinâmica de grupo e serviço social


Muitas pessoas pensam que a utilização de dinâmicas de grupos é algo restrito para a
área da psicologia. No entanto, cresce a necessidade do assistente social se preparar e
conhecer as diversas maneiras de sua utilização para o Serviço Social.
Nesse sentido, disponibilizamos o Manual de Dinâmicas como exemplo. Suas
dinâmicas podem ser utilizadas em diferentes contextos.

Oficina de ideias ‒ Manual de dinâmicas. Rio de Janeiro, Universidade do Estado do


Rio de Janeiro (UERJ), 2003.
Disponível
em:<https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3003146/mod_resource/content/1/Ma
nualDinamicas.pdf>. Acesso em: maio 2019.

Cada dinâmica deverá ser encarada como um facilitador para que os participantes dos
grupos manifestem seus anseios, seus sentimentos e pensamentos sobre as questões
que estarão sendo discutidas.

35
Dessa maneira, o planejamento do momento grupal é de suma importância para que
seus objetivos sejam atingidos, partindo-se do levantamento dos objetivos, da escolha
da dinâmica mais adequada, da separação do material que será utilizado etc. Também
vale lembrarmos a importância de avaliarmos o grupo ao final, ou seja, perguntarmos
aos participantes como chegaram e como estão saindo, o que acharam e o que
agregaram em termos de conhecimento no tempo em que passaram juntos.

5.5. Mobilização de comunidade e rede socioassistencial


Para falarmos em mobilização, devemos retomar o assunto redes já apresentado no
início deste bloco.
As ditas redes podem ser classificadas de diversas formas, conforme Guará (1998).
Destacamos:
 redes sociais espontâneas: as quais se dão a partir das relações primárias entre
familiares, de vizinhança ou comunidade, que se ligam por afinidade, afeto
solidariedade e cooperação;
 redes de serviços público-institucionais: relacionadas à estrutura
governamental, sendo direcionadas ao atendimento dos direitos positivados
através de programas e serviços desenvolvidos pelas políticas públicas;
 redes sociocomunitárias: que são as organizadas no espaço da comunidade
quando as políticas sociais não são efetivadas para atender demandas
coletivas;
 redes de serviços privados: compostas por serviços privados;
 redes sociais movimentalistas: referem-se aos movimentos sociais, os quais se
organizam de forma horizontal e as redes promovem a articulação entre seus
membros.

As redes também podem ser setoriais ou intersetoriais. É importante o assistente


social conhecer os tipos de redes, para, antes mesmo de pensar na mobilização em si,
conseguir localizar no próprio atendimento individual os apoios que o usuário pode
contar em sua vida.

36
Como consequência da própria organização popular, a mobilização poderá acontecer,
a partir das redes primárias, em especial as comunitárias, e união destas, com o
objetivo de lutarem pela transformação e melhoria das condições de vida de todos.
Além disso, a rede socioassistencial deverá trabalhar em rede, no sentido de
complementaridade dos atendimentos, como falamos no início do bloco. O que isso
significa? Que um setor apenas ou uma política pública de maneira isolada não dará
conta da demanda apresentada pelo usuário em sua totalidade, necessitando que, em
rede, de maneia intersetorial, os serviços se complementem e ofereçam condições
efetivas de mudanças na realidade.

Conclusão
Podemos perceber que, para trabalhar em grupos, precisamos ter a clareza que ele
deverá servir como espaço de análise da realidade e também de transformação social,
a partir da participação das pessoas nele envolvidas.
Também podemos concluir que os grupos devem ser planejados adequadamente para
que cumpram seu papel e não simplesmente sejam encarados como uma forma de
atender mais pessoas, em menos tempo.
Outro conceito importante do bloco foi a compreensão da atuação em rede. Esta se
apresentou em duas dimensões: as redes que o usuário atendido constitui à sua volta
e pode contar com ela como apoio, como também a atuação do assistente social, em
rede, com outros serviços que também atendem o usuário, visando a
complementaridade do atendimento à satisfação mais integral de suas necessidades.

Referências
BASTOS, Alice Beatriz B. A técnica de grupos-operativos à luz de Pichon-Rivière e Henri
Wallon. Psicólogo. inFormação, ano 14, n. 14, jan./dez. 2010.
BISONOTO et al. Socioeducação: origem, significado e implicações para o atendimento
socioeducativo. Psicologia em estudo. Maringá, v.20, n.4. p 575-585, out./dez. 2015.
GONÇALVES, A. S.; GUARÁ, I. M. R. Redes de proteção social na comunidade. In:
GUARÁ, I. M. R. (Coord.). Rede de proteção. São Paulo: Associação Fazendo História,
2010.

37
GUARÁ, I. M. R. Gestão municipal dos serviços de atenção à criança e ao adolescente.
São Paulo: IEE/PUC-SP; Brasília: SAS/MPAS, 1998.
LOLIS, Dione; MOREIRA, Fernanda de Souza. Trabalho em rede. Um olhar sobre a
garantia da integralidade dos direitos da criança e do adolescente. Serv. Soc. Rev.,
Londrina, v. 19, n.1, p. 109-130, jul./dez. 2016.
PEREIRA, T. T. S. O. Pichon-Rivière, a Dialética e os Grupos Operativos. Revista da
SPAGESP, v. 14, n. 1, p. 21-29. 2013.
SANICOLA, L. As dinâmicas da rede e o trabalho social. Tradução de Durval Cordas.
São Paulo: Veras, 2008.

GLOSSÁRIO
Atuação interdisciplinar: para compreendermos essa atuação, devemos recorrer ao
conceito de interdisciplinaridade: pode ser traduzida em tentativa do homem
conhecer as interações entre mundo natural e sociedade, criação humana e natureza,
e em formas e maneiras de captura da totalidade social, incluindo a relação
indivíduo/sociedade e a relação entre indivíduos. Consiste, portanto, em processos de
interação entre conhecimento racional e conhecimento sensível, e de integração entre
saberes tão diferentes, e, ao mesmo tempo, indissociáveis na produção de sentido da
vida. Há que se afirmar interdisciplinaridade como um conceito historicamente e
socialmente produzido, apresentando no campo epistemológico, no mundo do
trabalho, e na educação, movimento de continuidade e ruptura em relação às
questões que busca elucidar, e que simultaneamente a constituem.
Fonte: PEREIRA, Isabel Brasil. Interdisciplinaridade. Dicionário da Educação
Profissional em Saúde. Disponível em:
<http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/int.html>. Acesso em: maio
2019.

Medida Socioeducativa: refere-se às medidas previstas pelo Estatuto da Criança e do


Adolescente (ECA) aos adolescentes que cometem ato infracional, sendo: advertência,
prestação de serviço à comunidade, liberdade assistida, semi-internação e internação.

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BLOCO 6. A DOCUMENTAÇÃO NO COTIDIANO DE TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL

6 Apresentação
Neste item, abordaremos como serão realizados e apresentados os registros das
entrevistas, das visitas domiciliares e também de grupos. Também estudaremos o
conceito de estudo social e sua diferença entre relatórios, laudos, pareceres e perícia
social.

ESTUDO SOCIAL
O estudo social, que antigamente era conhecido como estudo socioeconômico, é uma
das atribuições mais antigas do assistente social.
Era utilizado quando um “cliente” pedia auxílio, e era necessária a realização do estudo
social de caso, numa primeira etapa, posteriormente o diagnóstico e por último o
tratamento, quando ainda tínhamos uma perspectiva teórica que analisava a realidade
no viés positivista. Eram fatores importantes a serem observados: no indivíduo:
aparência física, capacidade mental e habilidades; no ambiente: tipo de emprego, tipo
de casa e companheiros de que mais gostava.
A desigualdade social era um fator natural e a responsabilidade da situação era do
próprio indivíduo; o acesso a auxílios e serviços estava vinculado a julgamentos morais
sobre a personalidade e os modos de vida dos indivíduos mais do que de suas
condições objetivas de vida. Primeiro, ele tinha que esgotar recursos próprios.
A observação, a entrevista e a visita domiciliar faziam parte do processo de
averiguação dos modos de vida.
Atualmente, o estudo social deve ser encarado como um meio de acesso e garantia de
direitos. As técnicas não são usadas para investigar e averiguar a veracidade dos fatos
e sim como meios de intervir na realidade, buscando a análise da situação de maneira
mais ampla, sob influência da teoria marxista.

6.1. Documentação e trabalho profissional


Pensar a documentação, ou seja, o registro do atendimento social por meio de um
relatório requer algumas ponderações. Convém inicialmente pensarmos que

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comunicar é um dos objetivos das informações e ao compartilhar com alguém uma
informação, elas são permeadas de sentimentos, ideias, nossa opinião; enfim, nossa
reflexão sobre a situação apresentada.
Alguns autores pontuam vícios encontrados nos registros do Serviço Social: como
obscuridade; ausência de critérios para seleção de dados significativos; subjetividade,
além do senso comum. Não se trata simplesmente de descrever os fatos e sim de
interpretá-los.
Também não podemos esquecer que a comunicação escrita é passiva, ou seja, não há
possibilidade de interrupção ou clarificação caso se percebam contradições,
distorções, equívocos ou falta de clareza.
Além disso, um texto pode ser interpretado de várias formas, dependendo da ótica de
leitura e de análise do leitor.
A documentação exigirá do profissional uma linguagem formal e técnica, o uso da
norma culta da língua, a não utilização de linguagem coloquial ou do senso comum,
além de apresentar uma identidade com uma atuação e um saber, uma área do
conhecimento, no nosso caso, o Serviço Social (MAGALHÃES, 2015).
Essa mesma autora coloca que a mensagem enunciada nesses documentos subsidiará
decisões a respeito da vida de um indivíduo ou grupo social. O documento elaborado
pelo assistente social irá intermediar o “diálogo” entre a realidade do usuário e de
demais profissionais que terão acesso a ele: juiz, promotor, psicólogo, advogado etc.
Dessa maneira, essa comunicação será interpretada por outros profissionais que
deverão compreender o que o assistente social quer dizer.
Para ter certeza de ter elaborado um texto que esteja em consonância com sua
necessidade, Magalhães (2015) indica que façamos as seguintes perguntas, como
sugestões/questões para avaliarmos a coerência e consistência de um registro:
- O texto que escrevi está claro, coerente, completo?
- As informações e os relatos são precisos e necessários ou, ao contrário,
dizem respeito à minha tendência à prolixidade?
- Tudo o que escrevi é essencial à compreensão do texto, ou alguns dados
interessariam apenas, a mim, como subsídios para a avaliação?
- A linguagem que utilizei está adequada?
- A forma de expressão condiz com a linguagem escrita?

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- Os pronomes e as expressões de tratamento foram usados
adequadamente?
- Ao me referir à análise que fiz, utilizei a mesma pessoa em todo o texto,
isto é, usei sempre o impessoal [percebeu-se...] ou a primeira pessoa do
plural [percebemos...]? (MAGALHÃES, 2015)

Considere sempre para quem é o relatório, pois quanto mais souber sobre seu leitor
melhor será a comunicação, os motivos pelos quais quer ou precisa do relatório e que
informações espera encontrar e em que nível de detalhes. Também convém
pontuarmos o que não espera encontrar no texto, já que muitas vezes colocamos
informações desnecessárias.
Pense em uma estrutura composta por:
- Introdução: que visa esclarecer o assunto e o tema, estabelecer os objetivos e a
proposta, iniciar o processo de entrar no assunto e criar uma linha de pensamento “o
início do relatório deve fisgar o leitor”, “o começo fala muito sobre o autor”;
- O meio: que por ser mais extenso requer maior cuidado com a estrutura e a
consistência (estrutura lógica, sinalização das intenções “a seguir, iremos abordar...”,
utilização de títulos e subtítulos, recursos visuais);
- O fim: que tem três objetivos: chegar a uma conclusão e apresentá-la; agrupar e
resumir o conteúdo, terminar com um fecho interessante.
Não esqueça que o layout deverá ser bem apresentado, considerando o espaço, o tipo
de letra, títulos, ênfase, recuo, parágrafos, ilustração, gráfico, inclusive com uma
formatação adequada. A “embalagem” também precisa ser cuidada, como o tipo de
papel, grampo, clipes, encadernação, capa etc. Essas recomendações aumentam as
chances de seu texto ser lido e compreendido.
Lembre-se: mais do que a forma é o conteúdo que você apresenta. Caso não tome
cuidado, alguns juízos de valor ou palavras erroneamente colocadas poderão interferir
na compreensão de quem lê sobre as condições de vida da população atendida. Por
exemplo: dizer que uma pessoa escolheu ou optou morar na rua pode dar uma
conotação que aquela situação esteja relacionada à própria vontade dela e não às
circunstâncias de sua vida e fatores mais amplos como a desigualdade e exclusão
social.

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6.2 Registro no prontuário de atendimento
Nem sempre um registro de atendimento vira imediatamente um relatório. Na maioria
das vezes, os serviços possuem um arquivo onde são organizados prontuários,
geralmente com pastas separadas por famílias ou pessoas. Vale destacarmos que esses
registros são de propriedade do local, e não do profissional que deverá deixá-lo para
ser utilizado pelo próximo profissional a ser contratado. Com vistas a mantermos o
sigilo profissional, o prontuário deverá ser lacrado e aberto quando o próximo
profissional assumir.

O Conselho Regional de Serviço Social – SP, nesse sentido, publicou:


É dever do/a Assistente Social (com vistas a garantir o direito do usuário ao
sigilo das informações prestadas) manter o caráter confidencial das
informações que recebe em função do seu trabalho, bem como do material
técnico produzido. Em caso de demissão/exoneração, o assistente social
deverá repassá-lo ao assistente social que vier a substituí-lo. Se não houver
outro assistente social no local, esse material deverá ser lacrado na
presença de representante ou Agente Fiscal do CRESS, para somente vir a
ser utilizado pelo assistente social substituto. Este, ao assumir as ações do
Serviço Social, deverá romper o lacre, comunicando a providência ao CRESS.
A Resolução CFESS nº 556/2009 estabelece os procedimentos para a
realização da lacração do material técnico.

CONSELHO REGIONAL DE SERVIÇO SOCIAL DE SÃO PAULO, 9ª. REGIÃO. Lacração do


material técnico-sigiloso do Serviço Social. Dúvidas sobre o exercício da profissão.
Disponível em: <http://cress-sp.org.br/fiscalizacao/duvidas-sobre-o-exercicio/>.
Acesso em: maio 2019.

Outra questão importante é que o relatório não será a cópia do prontuário! O


prontuário deve ser um registro dos atendimentos e encaminhamentos realizados,
indicando as respectivas datas. Já o relatório deverá ser um documento elaborado a
partir do prontuário, já que será nele onde as principais informações serão buscadas.
O relatório deverá indicar, por exemplo, o número de atendimentos realizados, os
encaminhamentos realizados, há quanto tempo a pessoa ou a família é atendida etc.

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6.3 Perícia social: estudo social, parecer, laudo social e avaliação socioeconômica
Abordaremos agora todos os conceitos indicados neste item para que haja a
compreensão do conteúdo em sua totalidade.
Perícia social: é quando um assistente social é requisitado para contribuir, geralmente
por determinação de um Juiz, para auxiliá-lo a formar a sua convicção para tomar uma
decisão na ótica social. É bastante comum nas Varas da Família em situações de litígio,
ou seja, disputa de guarda, em que o assistente social poderá ser nomeado como
perito, ou seja, um especialista, detentor de conhecimento em alguma área, no nosso
caso, a social. Ajuda o Magistrado a aplicar as leis, com vistas a reduzir erros ou
injustiças.
Destacamos os artigos 150 e 151 do Estatuto da Criança e do Adolescente que indicam
a necessidade de assessoria de equipe interprofissional nos atendimentos à infância e
juventude, ou seja, a própria legislação prevê a atuação do assistente social como
perito.
Estudo social: tem por finalidade conhecer com profundidade, e de forma crítica uma
determinada situação ou expressão da questão social, objeto da intervenção
profissional especialmente nos seus aspectos socioeconômicos e culturais (FÁVERO,
2006, p. 42).
A construção do estudo social relaciona-se a:
- “o quê” se quer conhecer por meio dele; qual o “objeto” a ser conhecido; “por quê e
para que” realizar o estudo, ou seja, quais os “objetivos” a alcançar e com quais
“finalidades”.
- “como” fazer: a metodologia operativa compõe esse processo, enquanto indicadora
dos passos e dos instrumentos e técnicas a serem utilizados (FÁVERO, 2003).
O trabalho realizado tem um conteúdo e é guiado por uma intencionalidade, com
vistas a um resultado, já que em toda intervenção na realidade o profissional projeta o
resultado a ser alcançado, direção condicionada pela visão de mundo, pelos valores,
crenças, hábitos, fundamentos teóricos, princípios éticos que constroem o agir
profissional (FÁVERO, 2003).

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Nesse processo de trabalho, elabora-se um “saber” a respeito da população usuária.
Saber que pode se constituir numa verdade: as pessoas são examinadas, avaliadas,
suas vidas e condutas interpretadas e registradas. Constrói-se uma verdade a respeito
delas.
Chamamos, então, a atenção para pensarmos a responsabilidade que temos ao colocar
no papel nossas impressões e como poderá impactar diretamente na vida de pessoas.
O estudo social consiste em um conjunto de procedimentos, atos, atividades realizadas
de forma responsável e consciente. Pressupõe um processo de conhecimento, análise
e interpretação de uma determinada situação social. A finalidade imediata do estudo
social é a emissão de um parecer.
Não podemos esquecer que as famílias são geralmente os sujeitos dos estudos. Nesse
sentido, todas as implicações atuais, como os diferentes arranjos familiares devem ser
considerados.
É um processo metodológico específico do Serviço Social, que tem por finalidade
conhecer com profundidade, e de forma crítica, uma determinada situação ou
expressão da questão social, objeto da intervenção profissional. Para realizá-lo, o
assistente social utiliza-se de entrevista(s), observação, visita domiciliar, contato com a
rede, reuniões, análise de documentos e o resultado de todos esses procedimentos
culmina em um documento, similar a um relatório, intitulado estudo social. O que o
diferencia é a necessidade de emissão de um parecer social.

Estudo Visita domiciliar,


entrevistas, análises
Social
= etc.

São pontos fundamentais de um estudo social: a identificação dos sujeitos


demandantes e dos sujeitos implicados; a descrição concisa da situação estudada que
deve trabalhar, de forma organizada, o conjunto de informações dos relatórios das

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entrevistas, documentos, visitas domiciliares, observações etc. Finalmente: o parecer
como uma opinião profissional com encaminhamentos possíveis.
O registro do estudo social é feito por meio de um relatório social ou laudo social; um
estudo social pode ser chamado de perícia social já que implica a atuação de um
perito, ou seja, um especialista no assunto.
Assim, o estudo social subsidia o parecer social, e deve ser encarado como um
instrumento de viabilização de direitos, um meio de realização do compromisso
profissional. É realizado nos mais diversos campos de intervenção profissional e está
vinculado ao acesso a determinados benefícios ou arbítrio de situações conflituosas,
como por exemplo: na Assistência Social: Benefícios de Prestação Continuada (BPC),
Programas de Transferência de Renda (PTR); Previdência: benefícios e subsídios para a
decisão médica; Saúde: acesso a serviços; Política urbana: isenção de impostos;
Habitação: acesso a programas; Empresas privadas: acesso a benefícios.
Parecer social: é uma manifestação sucinta, de caráter conclusivo ou indicativo,
apresentada no final do estudo ou laudo social.
Aqui, resgatamos a resolução do CFESS Nº 557/2009 de 15 de setembro de 2009, que
dispõe sobre a emissão de pareceres, laudos, opiniões técnicas conjuntos entre o
assistente social e outros profissionais, que irão indicar a necessidade de emissão de
pareceres separados de outros profissionais.
Destacamos o artigo 4º:
Parágrafo primeiro ‒ O entendimento ou opinião técnica do assistente
social sobre o objeto da intervenção conjunta com outra categoria
profissional e/ou equipe multiprofissional deve destacar a sua área de
conhecimento separadamente, delimitar o âmbito de sua atuação, seu
objeto, instrumentos utilizados, análise social e outros componentes que
devem estar contemplados na opinião técnica.
Parágrafo segundo ‒ O assistente social deverá emitir sua opinião técnica
somente sobre o que é de sua área de atuação e de sua atribuição legal,
para qual está habilitado e autorizado a exercer, assinando e identificando
seu número de inscrição no Conselho Regional de Serviço Social.
Parágrafo terceiro ‒ No atendimento multiprofissional, a avaliação e
discussão da situação poderá ser multiprofissional, respeitando a conclusão
manifestada por escrito pelo assistente social, que tem seu âmbito de
intervenção nas suas atribuições privativas. (CFESS, 2009)

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Laudo social: é considerado um elemento de prova e, nesse sentido, necessariamente
deve conter um parecer social. Não precisa detalhar todos os elementos do estudo,
mas deverá retratar a situação e o embasamento para ter se chegado ao parecer
indicado.
Relatório social: visa informar, esclarecer, subsidiar, com maior ou menor grau de
detalhamento (dependendo da situação) o que o demandante estiver solicitando.
Deve apresentar: objeto de estudo, sujeitos envolvidos, finalidade a qual se destina,
procedimentos utilizados, breve histórico, desenvolvimento e análise da situação.
Não podemos esquecer que os princípios éticos deverão nortear o que é pertinente ser
colocado no relatório. Um relatório pode ser solicitado em diversas situações como:
- Sendo assistente social de um abrigo, recebe a solicitação do Juiz, de relatório sobre
uma criança e sua família;
- Pode precisar emitir um relatório de acompanhamento para encaminhar alguma
pessoa ou família para determinado serviço etc.
Avaliação socioeconômica: embora alguns lugares ainda utilizem essa nomenclatura, o
estudo social contempla essa categoria. Vale dizermos apenas que a situação vivida
pela pessoa ou família não é mais compreendida como problema individual, como foi
inicialmente, no princípio de nossa profissão no Brasil. A situação é resultado das
expressões da questão social e a avaliação socioeconômica deve ser encarada como
um estudo social, sendo encarado como um meio para a transformação social e
também como base da ação profissional.
Os estudos socioeconômicos passaram a ser entendidos como ações significativas no
processo de efetivação, garantia e ampliação de direitos fundamentais e no
enfrentamento das expressões da questão social e com o tempo foram se afirmando
como estudo social, simplesmente.
O relatório social / o laudo social / o parecer social, que apresentam com menor ou
maior detalhamento, a sistematização do estudo realizado são instrumentos de poder:
são saberes, convertidos em poderes de verdade – que dão suporte à definição do
futuro de crianças, adolescentes, adultos, famílias (FÁVERO, 2003). Nunca poderemos
nos esquecer disso.

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PARA SUA REFLEXÃO PESSOAL
No trecho a seguir, vamos refletir sobre considerações que podem estar colocadas de
maneira equivocada:

Cabe-me declarar que, no ato da entrevista social realizada neste juízo, com a Senhora S., ora requerida,
percebi que a genitora estava mentindo deliberadamente e omitindo informações relevantes para sua
avaliação, uma vez que apresentava um discurso permeado de contradições. Por esse motivo, entrei em
contato com as técnicas: psicóloga e assistente social da Vara da Infância e da Juventude do Foro X, para
esclarecimento dos fatos negados pela Senhora S., ora requerida, que dizia ser mãe, apenas, de R. e S.,
quando na verdade, era genitora de mais cinco filhos de genitores distintos, que, nem sequer,
reconheceram a paternidade: F., 17 anos, solteiro, que mora com avó materna, Senhora D.; I., A., P. e
P1, que foram adotados por um casal estrangeiro, no ano de xxxx. Convém lembrar, também, que o
motivo da Adoção Internacional decorreu de negligência da mãe em relação aos filhos, pois deixava as
crianças sozinhas sob os cuidados de seu filho P. que, na época, contava com 11 anos de idade.

Vamos pensar: há como afirmarmos que uma pessoa está mentindo? Devemos
também lembrar que no contexto judiciário os entrevistados poderão omitir
informações até pelo fato de estarem sendo avaliados e literalmente julgados em suas
atitudes.

6.4 Relatórios de visita domiciliar e institucional


Os princípios para a redação de relatórios de visita domiciliar são os mesmos indicados
neste bloco no item 6.1, apenas com algumas ressalvas.
Retomamos a necessidade de reflexão sobre os conteúdos trazidos nos relatos, e a
ponderação da pertinência de serem colocados ou não.
Por exemplo, em um relatório de visita domiciliar, um assistente social descreveu a
presença de galinhas no quintal da família e no momento da visita uma delas estava
botando um ovo. Qual a relevância dessa informação?
O mesmo questionamos para outra situação: ao chegar ao domicílio, o profissional
percebeu que a pessoa havia acabado de acordar. Essa informação deverá ser
colocada no relatório? Com qual intenção? Em que contribuirá para a vida dessa
pessoa e dessa família?

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Também não podemos esquecer que todos os registros e documentos deverão ser
assinados pelo profissional, como bem pontua o CRESS-SP:

Identificação do profissional/carimbo
Todos os atos profissionais do/a Assistente Social devem ser
identificados/assinados. Ademais, é direito do/a usuário/a em ter acesso a
essa informação. Segundo o Código de Ética Profissional, em seu artigo 3º: é
dever do assistente social utilizar seu número de registro de inscrição no
CRESS no exercício da profissão. Assim, o assistente social deve se qualificar
com nome completo, a profissão, o número de sua inscrição no Conselho e
identificação do respectivo CRESS, que pode ser feito através de carimbo.
Caso não disponha de carimbo, o assistente social deve, igualmente, firmar
sua identidade (nome e número de inscrição) nas ações profissionais que
estiverem sob sua responsabilidade.

Fonte: CONSELHO REGIONAL DE SERIÇO SOCIAL DE SÃO PAULO, 9ª. REGIÃO. Lacração
do material técnico-sigiloso do Serviço Social. Dúvidas sobre o exercício da profissão
Disponível em: <http://cress-sp.org.br/fiscalizacao/duvidas-sobre-o-exercicio/>.
Acesso em: maio 2019.

Pense sempre: quais informações você deixaria atreladas ao seu nome e sua
assinatura?

6.5 O relato de trabalho com grupos


Geralmente, o trabalho em grupo é muito rico em informações e partilhas. Nesse
sentido, convém indicarmos a importância de sua realização em duplas ou que haja
profissionais de apoio, para além de auxiliarem nas dinâmicas, também possam
registrar impressões e comentários do que estão percebendo, já que nem sempre o
facilitador principal consegue fazer no momento da execução do grupo.
Outra recomendação é importante nesse sentido: todos os envolvidos precisam estar
alinhados na compreensão do que será feito e do objetivo do encontro. Para os
observadores, um roteiro do que anotar ou observar é de grande importância para que
informações mais qualificadas apareçam.

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Os registros dos grupos podem ser realizados como ata e, caso houver necessidade,
anotações individuais dos participantes poderão compor o prontuário de cada um.

SAIBA MAIS
Para complementar seus conhecimentos, entre no link e conheça outras dúvidas sobre
o exercício profissional:
<http://cress-sp.org.br/fiscalizacao/duvidas-sobre-o-exercicio/>. Acesso em: maio
2019.

Conclusão
Podemos perceber não apenas neste bloco, mas na síntese desta disciplina que as
decisões e sentenças podem determinar mudanças de histórias de vida. Não
conseguimos imaginar o poder que um assistente social detém em suas mãos, ao
relatar as vidas das pessoas atendidas.
Não podemos esquecer que o Estudo Social é um processo de trabalho do assistente
social para conhecer e interpretar a realidade social na qual está inserido o objeto da
ação e que deve ser encarado como um meio de acesso a direitos e não servir como
forma de punição ao indivíduo, por situações que, por vezes, o próprio profissional não
concorda.
Vale também frisarmos que o assistente social perito não é testemunha, não é
investigador de polícia, e deve atuar na garantia e defesa de direitos dos cidadãos, por
isso, é importante ressaltar que nem tudo o que é registrado no Estudo Social constará
no laudo.
É de extrema importância não expor os sujeitos constituintes do Estudo Social. Isso
pode aumentar o litígio, em casos de violência expor a vítima. O técnico enquanto
perito tem competência e expertise para caracterizar uma situação de violência, risco,
violação de direitos sem expor em demasia os sujeitos envolvidos.

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Referências
FÁVERO, E. T. Estudo Social ‒ fundamentos e particularidades de sua construção na
área judiciária. In: O estudo social em perícias, laudos e pareceres. 6. ed. São Paulo:
CFESS/Cortez, 2006.
FÁVERO, E. T. Instruções sociais de processos, sentenças e decisões. In: Serviço Social:
Direitos Sociais e Competências Profissionais. CFESS/ABEPSS, 2009.
MAGALHÃES, Selma M. Avaliação e Linguagem. Relatórios, Laudos e Pareceres. 4. ed.
São Paulo: Veras, 2015.
MIOTO, Regina Célia T. Estudos socioeconômicos. In: Serviço Social: Direitos Sociais e
Competências Profissionais. CFESS/ABEPSS, 2009.

GLOSSÁRIO

Cliente: vale esclarecermos aqui que o uso da palavra cliente foi exclusivamente uma
contextualização temporal, já que no período histórico indicado (década de 1940), o
que hoje identificamos como usuários das políticas públicas, naquele momento eram
chamados por clientes.

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