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ECONOMIA E

POLÍTICA SOCIAL
Profa. Ariana Celis Leite
BLOCO 5. POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL

5 Apresentação
No bloco anterior, tivemos a oportunidade de entender como as políticas sociais se
configuraram no mundo e acredito que você ficou com a seguinte dúvida: Será que no
Brasil as políticas sociais foram inseridas e operacionalizadas da mesma maneira?
Vamos descobrir neste bloco!

5.1 Ditadura x Democracia


Com o final do período de ditadura militar, ingressamos em um período democrático,
todavia, passados mais de 30 anos surge a seguinte questão: Nossa democracia é
plena? Vamos conferir nesta reportagem.

Trinta anos após fim da ditadura, Brasil tem “democracia imperfeita”

Por: Mariana Schreiber – BBC Brasil em Brasília. 14 mar. 2015.

O Brasil completa neste domingo 30 anos de democracia. Os avanços acumulados nesse


período são evidentes: o processo eleitoral é confiável, a liberdade de expressão e de
manifestação aumentou, a economia hoje tem mais estabilidade do que no passado e a
pobreza vem recuando.
No entanto, cientistas políticos apontam diferentes fatores que reduzem a qualidade do
regime democrático brasileiro, como o poder limitado da população de monitorar e
influenciar as decisões do governo, a corrupção elevada e a desigualdade social ainda alta,
que limita os direitos de parte da população.
“A nossa democracia ainda é muito pouco democrática”, afirma Marcos Nobre, professor
de filosofia da Unicamp.
“Uma coisa é você falar de instituições formais da democracia. Há um Judiciário
relativamente independente, todos têm direito ao voto etc. Mas democracia não é só isso.
Não são só instituições democráticas em funcionamento formal”, ressalta.
A consultoria britânica Economist Intelligence Unit (EIU) produz um índice que classifica os
países de acordo com a qualidade da sua democracia. O ranking coloca o Brasil como o 44o.
país mais democrático entre 167 nações analisadas. Noruega, a mais democrática, e Coreia
do Norte, a menos, ocupam as pontas do ranking.
Com essa posição, o Brasil está no grupo das “democracias imperfeitas”. Segundo a EIU,
nos países que recebem essa classificação há eleições livres e justas e as liberdades civis

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básicas são respeitadas (como liberdade de expressão e religiosa). Por outro lado, costuma
haver problemas de governança (como corrupção e pouca transparência em órgãos
públicos) e baixos níveis de participação política.

Democracias “completas”
Há 24 democracias com nota superior a 8 e por isso consideradas “completas” pela
consultoria. Vale notar que os países que ocupam as melhores posições geralmente têm
uma história mais longa de democracia continuada do que o Brasil, como Dinamarca,
Austrália, Reino Unido e Estados Unidos.
Mas há também casos como o do Uruguai (17o. lugar), cuja ditadura também acabou em
1985, e da África do Sul (30o.), onde o regime de segregação racial (apartheid) terminou em
1994.
Ao subir uma posição em 2014, o Brasil foi o único país da América Latina a melhorar sua
classificação no ranking. A nota brasileira – que desde 2010 estava estagnada em 7,12 –
subiu no ano passado para 7,38 (a avaliação vai de zero a dez).
No caso do Brasil, o país tem melhor performance nos critérios eleitorais (9,58) e de
liberdades civis (9,12), e vai pior em participação política (4,44). Já o funcionamento do
governo recebeu 7,5.
O que puxou a melhora em 2014 foi o aumento da nota em cultura política (de 5,63 para
6,25), quesito que mede, por exemplo, qual apoio da população ao sistema democrático ou
militar, a tolerância com a impunidade e a separação entre Estado e religião.
Para o cientista político Sérgio Praça, professor da Universidade Federal do ABC, o fato de
hoje a ideia de golpe militar ter apoio “irrisório” da população é um sinal de que a
democracia avançou mais do que o esperado em três décadas.
“Ninguém sério fala mais nisso. Antes, qualquer coisa era motivo de golpe no Brasil. Hoje,
discute-se impeachment em vez de golpe. Há uma crise política no país, é verdade, mas a
democracia não está em risco”, disse, ressaltando que não considera correto o
impedimento da presidente Dilma Rousseff sem que haja provas de que ela cometeu algum
crime.
Por outro lado, o professor aponta a enorme dimensão da corrupção no país, que atinge
diversos partidos, como um grave problema do nosso sistema político. Na sua opinião, “a
operação Lava Jato (que investiga desvios na Petrobras) será um enorme teste para nossa
democracia”.

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Qualidade
Professor da USP e coordenador do portal Qualidade da Democracia, José Álvaro Moisés
detalha os critérios utilizados para medir quão bom é um regime democrático.
Segundo ele, é importante analisar se as normas são produzidas por representantes eleitos
e valem para todos, garantindo direitos iguais.
Outro fator é o alcance dos direitos políticos (poder votar e ser votado), sociais (salário
mínimo, por exemplo) e civis (liberdade de expressão, de ir e vir). Além disso, avalia-se a
qualidade da resposta do governo às demandas da população e como se dá a
responsabilização dos governos por seus atos.
“São três dimensões fundamentais, que incluem a escolha de governantes, o
funcionamento dos poderes e, principalmente, a capacidade de fiscalização e controle da
sociedade sobre quem exerce o poder”, explica.
Moisés nota que hoje há grande confiabilidade no sistema eleitoral brasileiro, mas que isso
não basta para uma democracia de qualidade. Ele cita a população de comunidades pobres,
nas periferias, que está mais vulnerável à violência e a ter seus direitos desrespeitados.
“Essas pessoas não estão totalmente excluídas da democracia, pois podem votar e podem
recorrer ao Ministério Público. Mas, por causa da desigualdade educacional, muitos não
têm nem pleno conhecimento de quais são seus direitos”.
O professor acredita que “há uma série de outras deficiências que tornam a qualidade da
nossa democracia baixa”. Ele nota, por exemplo, que a população tem pouco poder de
monitorar e influenciar as decisões do governo.
“Não há dúvida de que houve uma evolução nesses 30 anos. Não há repressão como na
ditadura, não há proibição de sindicatos. A questão é como incorporar as pessoas nos seus
direitos”, destaca.
O filósofo Marcos Nobre classifica o processo de transição após a ditadura como “lento e
conservador”, o que resultou numa “democracia muito pouco democrática”.
Segundo ele, isso aconteceu porque, após os traumas com o fracasso do regime
democrático iniciado com a Constituição de 1946 (pós-ditadura Getúlio Vargas) e do golpe
de 1964, as lideranças políticas tentaram de toda forma evitar conflitos.
A redemocratização, observa ele, foi liderada pelo PMDB, que passou a abarcar uma gama
muito variada de visões políticas, desde opositores ao regime militar até apoiadores, como
José Sarney.
“O diagnóstico era: todo mundo tem que ficar no mesmo barco, por isso que o PMDB era
um pouco o emblema disso – aquele partido que carrega todo mundo, não importa se você

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é comunista, se você é democrata cristão, se você é um conservador de direita quase
autoritário”.
“Então, você cria a ideia de que todo mundo tem que fazer todas as concessões possíveis
para evitar o confronto, porque o confronto leva à dissensão", destaca.
Isso é um problema, na avaliação de Nobre, porque o confronto aberto está na raiz da
democracia. E o que ocorre no Brasil, diz, é que as decisões acabam sendo tomadas em
“acordos de gabinete”, sem envolvimento da população.
O filósofo defende, por exemplo, que questões como o casamento gay deveriam ser alvo de
consultas por meio de plebiscito ou referendo, e não legalizadas por uma decisão do
Supremo Tribunal Federal.
“Não é uma lei que vai convencer as pessoas que elas devem reconhecer e aceitar um
projeto de vida homossexual como algo valioso. Isso depende de uma parte da sociedade
tentar convencer o conjunto da sociedade de que isso (direitos iguais) é uma maneira de
conviver que é superior a todas as outras. E isso faz a democracia uma forma superior a
todas as outras”, argumenta.
“Mas hoje o debate público no Brasil é um lixo. É meramente formal, retórico, vazio”,
critica.

Confira a reportagem em:


https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/03/150313_democracia_30anos_pai
_ms. Acesso em: ago. 2018.

5.2 Institucionalização da política social no Brasil e o Serviço Social


Para entender como foi o processo de institucionalização da política social no Brasil e
sua relação com o Serviço Social, acompanhe agora uma adaptação do texto Análise
histórica da relação do Serviço Social com as políticas sociais de autoria de Adinari
Moreira de Sousa, Alcinélia Moreira de Sousa e Maria Stella Pereira Accioly.

Análise histórica da relação do Serviço Social com as políticas sociais


A conexão entre política social e serviço social está presente na própria institucionalização
da profissão, surgida através da intervenção estatal pela via da modernização conservadora
do projeto político getulista dos anos 1930.

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Década de 1930 – Os primeiros passos
As políticas sociais brasileiras têm sua origem no estado getulista, período da gênese e
institucionalização do Serviço Social, nascendo com características ainda hoje presentes: a
cultura do não direito, do clientelismo, paternalismo e destinadas prioritariamente aos
trabalhadores urbanos inseridos no processo de regulação salarial.

Década de 1940 – Políticas sociais e Serviço Social


O Estado impulsiona a profissionalização dos assistentes sociais através de um mercado de
trabalho nacional, posto pela política social nesse período, com a criação em 1946 da
Legião Brasileira de Assistência (LBA); os Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPS) e o
SESC, o SENAI e o SESI.
A contradição fundamental residia na falta de problematização ausente na formação e no
seio dos debates na categoria sobre a temática da política social, muito embora, como
ressalta Netto (1991), esses profissionais estivessem sendo executores terminais das
políticas sociais.

Década de 1960 – Somente com carteira assinada


O Estado estrategicamente irá atender à questão social posta pelo processo de
urbanização, crescimento das classes sociais urbanas, através das políticas sociais como
respostas para a reprodução social das classes trabalhadoras nas cidades.
As principais políticas eram destinadas a quem tinha trabalho e eram fragmentadas. Como
no caso dos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPS), que se destinavam a categorias
específicas e não eram responsáveis somente pela política previdenciária, mas a
habitacional e a de saúde. Assim, os trabalhadores rurais, maioria da população brasileira, e
os trabalhadores urbanos sem carteira assinada, não tinham qualquer tipo de proteção
social.
A ampliação das políticas sociais para outros sujeitos irá somente se reverter no período da
ditadura militar no final dos anos 1960 e início dos anos 1970, onde os IAPS irão se unificar
em INPS (1967) e, em 1971, a criação do FUNRURAL, uma espécie, mesmo que precária,
diferenciada dos trabalhadores urbanos, de um tipo de aposentadoria rural de meio salário
mínimo aos trabalhadores rurais e a incorporação dos autônomos e empregados
domésticos como segurados da previdência social.

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Lembrete
Vale ressaltar que as políticas sociais brasileiras não nasceram sob o princípio da
universalidade e sua ampliação se deu em períodos ditatoriais tanto no Estado Novo (1937 a
1945), como no período da ditadura militar (1964 a 1979), sob forte centralização política,
ausência da participação social dos trabalhadores em sua gestão e planejamento,
configurando-se mais uma proposta do Estado para proporcionar a adesão das classes
subalternas ao Estado ditatorial.

1970 – Intensificação do fordismo e período de ditadura militar


É nos anos 1970 que o Brasil acelera o processo de urbanização e industrialização,
intensificação do fordismo, para alargar as bases de acumulação do capital, criando uma
classe média consumidora, modernizando a agricultura, ampliando o setor de serviços e
estruturando um conjunto de políticas sociais, tendo como objetivo humanizar as relações
sociais do capitalismo e integrar a política social à economia. Tal proposta era mais para
abrir novos espaços para a expansão do capital do que caminhar na direção do bem-estar
da população. Nessa conjuntura, os assistentes sociais irão se organizar para rever sua
metodologia e sua teoria com a finalidade de adequá-las às políticas sociais da ditadura
militar.
A introdução da Política Social enquanto temática nas pautas profissionais do Serviço Social
Brasileiro (BEHRING; BOSCHETTI, 2009) irá se dar nos anos 1970 em plena ditadura militar,
com o viés característico desse período: tecnocrático, com ênfase no planejamento e nos
programas sociais.

1967 - 1970 – Modernização conservadora no Serviço Social


É no primeiro seminário de teorização do serviço social, ocorrido em Araxá em março de
1967 que os assistentes sociais formularam sua concepção sobre a política social
(Documento de Araxá, 1967):
Conceito de Política Social: esta consiste numa tomada de posição face aos
problemas de subsistência, desenvolvimento harmonioso do homem
(indivíduos, grupos e comunidades), segurança e equilíbrio sociais,
consubstanciada em um sistema e num instrumental técnico-administrativo
para sua efetivação. Nesse sentido, cabe ao Serviço Social contribuir para o
equacionamento dos problemas de bem-estar social (em suas dimensões
locais, regionais e nacionais) e a formulação de diretrizes da política social.

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É, portanto, no Documento de Araxá (1967) e Teresópolis (1970), o que Netto (1991)
denominou de modernização conservadora em que encontraremos as primeiras
abordagens teóricas do Serviço Social com relação à temática da política social,
basicamente permeada da visão tecnocrática e pragmática, funcionalmente benéfica à
ordem burguesa ditatorial.

1979 – Congresso da Virada


Parcela dos assistentes sociais passa a participar de movimentos sociais, no que Netto
(1991) identificou como uma identidade política com os de baixo. São esses profissionais
que impulsionarão a crítica à ditadura militar no Congresso da Virada em 1979. Isso
impulsionará uma revisão crítica nos fundamentos do serviço social brasileiro que será
materializada na revisão curricular de 1982, posteriormente na construção do código de
ética de 1986 e sua revisão em 1993.

Década de 1980 – Intenção de ruptura do Serviço Social e fim da ditadura militar


Assim, o Serviço Social levou quase três décadas para perceber seu vínculo estrutural com
as políticas sociais. No entanto, a concepção crítica sobre as políticas sociais dar-se-á
somente nos anos 1980, com a introdução do pensamento de Gramsci, onde irá ser
criticada a visão meramente instrumental do Estado e a teoria do engodo que restringia a
política social à estratégia do estado burguês para dominação/cooptação dos trabalhadores
e obter a docilidade do movimento operário popular, configurada na concepção de
Althusser.
A era ditatorial gerou a maior concentração operária no ABCD Paulista, com a introdução
do fordismo à brasileira, acirrando as contradições sociais e impulsionando a radicalização
da questão social. Nesse aspecto, surge um movimento social organizado, liderado pelas
grandes greves do ABCD Paulista, que impulsiona a contestação ao regime militar, aliado a
outros movimentos de base social contestadores à ordem, como os movimentos urbanos,
estudantis. Emerge uma sociedade civil complexa, uma classe trabalhadora organizada com
uma agenda de luta por uma sociedade democrática de direitos, materializada na
constituição de 1988.

Fonte: SOUSA, A. M. de; SOUSA, A. M. de; ACCIOLY, M. S. P. Política social e projeto


ético-político profissional dos assistentes sociais: relação histórica contraditória. In:

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V Jornada Internacional de políticas públicas. Universidade Federal do Maranhão. São
Luís, Maranhão. 2011. Disponível em:
<http://www.uece.br/lapess/index.php/arquivos/doc_download/27->. Acesso em:
ago. 2018.

5.3 Seguridade Social


A seguridade social foi instituída no Brasil a partir da Constituição de 1988. O tripé da
seguridade social é composto pelas políticas de saúde, assistência social e previdência
social. É importante frisar que ela foi fruto de lutas sociais.
No modelo de seguridade brasileiro, ocorre um sistema híbrido, pois a previdência
social segue o modelo bismarckiano, com direitos derivados e dependentes do
trabalho, enquanto a saúde e a assistência social seguem o modelo beveridgiano, com
direitos de caráter universal na saúde e direitos seletivos na assistência.
No art. 194, consta que
a seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos
poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à
saúde, à previdência e à assistência social.
A política de saúde é universal.
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação.
A previdência social é contributiva.
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de
caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem
o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a:
I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada;
II - proteção à maternidade, especialmente à gestante;
III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;
IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa
renda;
V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou
companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2o.

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Já a assistência social é a quem dela precisar.
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar,
independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a
promoção de sua integração à vida comunitária;
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de
deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.

A lógica do seguro impõe um limite estrutural para a universalização da


seguridade social em todos os países em que se efetivou. O acesso à seguridade
social pela via do trabalho pôde garantir uma proteção mais universalizada nos
países que garantiram uma situação de quase pleno emprego entre as décadas de
1940 e 1970. Sabe-se que nem os países nórdicos e nem os países da Europa
Central garantiram o pleno emprego para todos os seus trabalhadores, de modo
que esse padrão de seguridade social, fundado na lógica do seguro, só
universaliza direitos se universalizar, igualmente, o direito ao trabalho, já que os
benefícios são condicionados ao acesso a um trabalho estável que permita
contribuir para a seguridade social. (BOSCHETTI, 2009)

5.4 Programas de transferência de renda


Transferência de Renda é uma transferência monetária direta a indivíduos ou a
famílias, originando programas condicionados e focalizados em famílias pobres e
extremamente pobres. (SILVA E SILVA, 2011)
É um benefício sem contribuição prévia, componente do Sistema de Proteção Social no
Brasil e na América Latina, e sua ideia é a articulação entre uma transferência
monetária e políticas educacionais, de saúde e de trabalho. (SILVA E SILVA, 2011)
A transferência monetária para famílias pobres complementa a renda dessas famílias
permitindo a retirada de crianças e adolescentes da rua e de trabalhos precoces e

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penosos, interrompendo o ciclo vicioso e intergeracional de reprodução da pobreza
(SILVA E SILVA, 2011)
O programa Bolsa Família tem se configurado como um dos principais programas de
transferência de renda no Brasil.
Em entrevista, Herika Chagas, analista de políticas sociais, conta um pouco sobre o
Programa Bolsa Família.

Assista à entrevista neste link:


https://www.youtube.com/watch?v=VaEU3bXbpyc

Políticas Sociais em Rede: Bolsa Família


Adaptado da entrevista com Herika Chagas

10 abr. 2017.

O programa Bolsa Família (PBF) foi criado pelo governo federal em 2003. A Lei no. 10.836,
de 9 de janeiro de 2004, cria o programa Bolsa Família e o Decreto 5.209, de 17 de
setembro de 2004, o regulamenta.
Trata-se de um programa de transferência direta de renda com condicionalidades, alocado
na política de assistência social.
A ideia era criar estratégias para promover a inclusão social e desenvolvimento econômico.
Ele tem como base a crença de que a pobreza é um fenômeno multidimensional, portanto,
não basta simplesmente enfrentar a questão econômica, é preciso agregar outros fatores
que permitam às pessoas saírem da situação de vulnerabilidade.
Então, quando falamos das condicionalidades, por exemplo, do programa em educação e
saúde, estamos falando do compromisso das famílias, mas também do poder público em
assumir um compromisso, que é ofertar serviços de qualidade.

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Condicionalidades

Saúde

Pré-natal para gestantes

Acompanhamento do calendário vacinal

Acompanhamento do crescimento e desenvolvimento de crianças até 7 anos.

Educação / Frequência escolar mensal mínima

85% para faixa etária de 6 a 15 anos.

75% para jovens de 16 e 17 anos (BVJ)

O Bolsa Família cresceu ao longo de 14 anos, tanto com relação à sua cobertura, das
estratégias, da busca ativa, como também em tornar visíveis públicos que não eram até
então.
Estamos falando do atendimento não somente da população da cidade, da população
urbana, mas de uma população que está espraiada pelo país. Assim, o programa tem uma
capilaridade muito grande.
O Bolsa Família está embasado muito na lógica da intersetorialidade e também da gestão
descentralizada.

Isso é extremamente importante para que o programa exista como existe hoje. Foi um
processo muito bonito de diálogo com os parceiros das outras políticas, da saúde, da
educação, da assistência social e outros. Então, essa articulação é muito necessária não só
para o acompanhamento das condicionalidades e para uma boa gestão do programa, mas
também porque entendemos como estão sendo ofertados os serviços e para que possamos
qualificar.

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Em relação à gestão descentralizada, também nos baseamos muito no pacto federativo.
Hoje, temos mais de 16 milhões de estudantes, crianças e adolescentes do PBF
acompanhados. Foi uma vitória, porque aí conseguimos também entender como essas
crianças estão na escola e conseguimos ter uma dimensão da frequência delas e, inclusive,
pensar em formas de melhorar o estado dessas crianças na escola junto com os parceiros,
no caso o parceiro de educação.

Resultados e participação das mulheres no Bolsa Família

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Recebemos algumas críticas de que estaríamos onerando ainda mais a mulher,
sobrecarregando ainda mais a mulher por ela ser a responsável, por outro lado, temos
estudos que revelam a importância de a mulher ser a responsável familiar e a possibilidade,
inclusive, de ela conseguir ter uma renda, não depender tanto do marido e conseguir,
através dessa renda, alcançar outras rendas e se profissionalizar.

Os desafios do Programa
Diante do cenário político e econômico que estamos vivenciando hoje no país,
primeiramente, o bolsa não pode ser uma pauta de ajuste fiscal, justamente para que não
haja retrocesso. A ideia também é não perder a nossa rede, não podemos perder essa
capacidade de articulação com os parceiros que fazem a política, o nosso programa
funcional, e não só entre as intersetorialidades quando falamos dos parceiros da saúde,
educação, assistência, mas também quando pensamos nos conselhos e na participação
social.
E um desafio nosso muito grande, dentro do bolsa, é a qualificação dos nossos canais de
comunicação, porque o bolsa, é importante dizer isso, ainda é motivo de preconceito, o
nosso público é estigmatizado, os setores da população. Então, temos um reforço através
da comunicação de mostrar para a sociedade como um todo que as pessoas são sujeitos de
direito e que não estão recebendo nenhuma benesse, estão de fato acessando os direitos
delas.

5.5 Controle democrático

5.5.1 Controle social


A Constituição Federal de 1988, seguida de muitas outras leis, trata do tema
Controle, responsabilizando órgãos da estrutura do Estado pelo seu exercício e
dando oportunidade à participação ativa da sociedade. O controle exercido pela
própria Administração Pública é chamado de controle institucional, e o exercido
pela sociedade, controle social. (ENAP, 2015)
Saiba mais:
Acesse: http://polis.org.br/publicacoes/controle-social-das-politicas-publicas/

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5.5.2 Conselhos, conferências e audiências públicas
Alguns dos espaços previstos pelo legislador, fundamentados na Constituição
Federal, para participação dos cidadãos, por iniciativa dos entes públicos, são os
conselhos gestores de políticas públicas. Esses conselhos são instituídos por lei, e
a participação da sociedade é sempre garantida. Como exemplos, podemos citar o
Conselho de Saúde, o Conselho de Educação e o Conselho de Assistência Social.
Os participantes desses conselhos, chamados de conselheiros, são nomeados pelo
Executivo (no município, pelo prefeito), que segue o que está determinado na lei
que os instituiu.
Além dos conselhos, há outras oportunidades previstas em lei que são de
iniciativa do ente público e que promovem a participação cidadã, como as
audiências públicas e as conferências. (ENAP, 2015)

Saiba mais:

Acesse: http://polis.org.br/publicacoes/conferencias-de-politicas-publicas/

5.5.3 Redes sociais e manifestações na rua

Mas não para por aí. A sociedade também pode ter a iniciativa. As redes sociais e
as manifestações na rua são exemplos atuais de controle social que surgiram na
sociedade. A organização de grupos voltados a atividades de controle, atuando de
maneira coletiva, atentos a questões específicas, é outra forma de atuação.
(ENAP, 2015)

Confira sobre as jornadas de junho de 2013:


https://www.youtube.com/watch?v=9RkCX_AEeDI

5.5.4 Instrumentos de Controle


Os instrumentos disponíveis para o exercício do controle pela sociedade são os
Portais da Transparência, a Lei de Acesso à Informação e a observação atenta aos
locais onde são executadas as políticas públicas. (ENAP, 2015)

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Portal da transparência
O que é? É uma página da internet na qual são apresentados, no mínimo, dados
sobre as receitas e despesas. É um instrumento para o cumprimento do que está
previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal. (ENAP, 2015)

O endereço do Portal da Transparência do Poder Executivo Federal é:


www.transparencia.gov.br. Acesse!
Confira mais informações em:
https://www.youtube.com/watch?v=Hhw5aSVTMJc&feature=youtu.be

Lei de Acesso à Informação


Lei de Acesso à Informação: É o nome dado para a Lei no. 12.527/2011, que
regulamenta o direito constitucional de acesso às informações públicas. Ela criou
mecanismos que possibilitam, a qualquer pessoa, física ou jurídica, sem
necessidade de apresentar motivo, o recebimento de informações públicas dos
órgãos e entidades. (ENAP, 2015)
Para mais informações sobre a Lei de Acesso à Informação, acesse a página:
www.acessoainformacao.gov.br

Referências do bloco 5
BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política social: fundamentos e história. 6. ed. São Paulo:
Cortez, 2009. (Biblioteca Básica de Serviço Social; v.2).
BOSCHETTI, I. Seguridade social no Brasil: conquistas e limites à sua efetivação.
Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), 2009. Disponível em: <
http://www.unirio.br/unirio/cchs/ess/Members/morena.marques/disciplina-servico-
social-e-processos-de-trabalho/bibliografia/livro-completo-servico-social-direitos-
sociais-e-competencias-profissionais-2009/view>. Acesso em: 18 set. 2018.
ENAP. Escola Nacional de Administração Pública. Controle Social. Módulo 1. Brasília.
2015.
NETTO, J. P. Ditadura e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 1991.
SILVA E SILVA, M. O. Os Programas de Transferência de Renda (PTR): o Bolsa Família no
enfrentamento à pobreza e na garantia de renda. In: VIII Conferência Nacional de

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Assistência Social (CNAS). Anais... Brasília, dez. 2011. Disponível em: <
http://www.mds.gov.br/cnas/conferencias-nacionais/viii-conferencia-nacional>.
Acesso em: 19 set. 2018.
SOUSA, A. M. de; SOUSA, A. M. de; ACCIOLY, M. S. P. Política social e projeto ético-
político profissional dos assistentes sociais: relação histórica contraditória. In: V
Jornada Internacional de políticas públicas. Universidade Federal do Maranhão. São
Luís, Maranhão. 2011. Dísponível em:
<http://www.uece.br/lapess/index.php/arquivos/doc_download/27->. Acesso em:
ago. 2018.
SCHREIBER, M. Trinta anos após fim da ditadura, Brasil tem 'democracia imperfeita'.
BBC Brasil em Brasília. 14 mar. 2015. Disponível em:
<https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/03/150313_democracia_30anos_p
ai_ms>. Acesso em: ago. 2018.

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