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POLÍTICA SOCIAL
Profa. Ariana Celis Leite
BLOCO 5. POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL
5 Apresentação
No bloco anterior, tivemos a oportunidade de entender como as políticas sociais se
configuraram no mundo e acredito que você ficou com a seguinte dúvida: Será que no
Brasil as políticas sociais foram inseridas e operacionalizadas da mesma maneira?
Vamos descobrir neste bloco!
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básicas são respeitadas (como liberdade de expressão e religiosa). Por outro lado, costuma
haver problemas de governança (como corrupção e pouca transparência em órgãos
públicos) e baixos níveis de participação política.
Democracias “completas”
Há 24 democracias com nota superior a 8 e por isso consideradas “completas” pela
consultoria. Vale notar que os países que ocupam as melhores posições geralmente têm
uma história mais longa de democracia continuada do que o Brasil, como Dinamarca,
Austrália, Reino Unido e Estados Unidos.
Mas há também casos como o do Uruguai (17o. lugar), cuja ditadura também acabou em
1985, e da África do Sul (30o.), onde o regime de segregação racial (apartheid) terminou em
1994.
Ao subir uma posição em 2014, o Brasil foi o único país da América Latina a melhorar sua
classificação no ranking. A nota brasileira – que desde 2010 estava estagnada em 7,12 –
subiu no ano passado para 7,38 (a avaliação vai de zero a dez).
No caso do Brasil, o país tem melhor performance nos critérios eleitorais (9,58) e de
liberdades civis (9,12), e vai pior em participação política (4,44). Já o funcionamento do
governo recebeu 7,5.
O que puxou a melhora em 2014 foi o aumento da nota em cultura política (de 5,63 para
6,25), quesito que mede, por exemplo, qual apoio da população ao sistema democrático ou
militar, a tolerância com a impunidade e a separação entre Estado e religião.
Para o cientista político Sérgio Praça, professor da Universidade Federal do ABC, o fato de
hoje a ideia de golpe militar ter apoio “irrisório” da população é um sinal de que a
democracia avançou mais do que o esperado em três décadas.
“Ninguém sério fala mais nisso. Antes, qualquer coisa era motivo de golpe no Brasil. Hoje,
discute-se impeachment em vez de golpe. Há uma crise política no país, é verdade, mas a
democracia não está em risco”, disse, ressaltando que não considera correto o
impedimento da presidente Dilma Rousseff sem que haja provas de que ela cometeu algum
crime.
Por outro lado, o professor aponta a enorme dimensão da corrupção no país, que atinge
diversos partidos, como um grave problema do nosso sistema político. Na sua opinião, “a
operação Lava Jato (que investiga desvios na Petrobras) será um enorme teste para nossa
democracia”.
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Qualidade
Professor da USP e coordenador do portal Qualidade da Democracia, José Álvaro Moisés
detalha os critérios utilizados para medir quão bom é um regime democrático.
Segundo ele, é importante analisar se as normas são produzidas por representantes eleitos
e valem para todos, garantindo direitos iguais.
Outro fator é o alcance dos direitos políticos (poder votar e ser votado), sociais (salário
mínimo, por exemplo) e civis (liberdade de expressão, de ir e vir). Além disso, avalia-se a
qualidade da resposta do governo às demandas da população e como se dá a
responsabilização dos governos por seus atos.
“São três dimensões fundamentais, que incluem a escolha de governantes, o
funcionamento dos poderes e, principalmente, a capacidade de fiscalização e controle da
sociedade sobre quem exerce o poder”, explica.
Moisés nota que hoje há grande confiabilidade no sistema eleitoral brasileiro, mas que isso
não basta para uma democracia de qualidade. Ele cita a população de comunidades pobres,
nas periferias, que está mais vulnerável à violência e a ter seus direitos desrespeitados.
“Essas pessoas não estão totalmente excluídas da democracia, pois podem votar e podem
recorrer ao Ministério Público. Mas, por causa da desigualdade educacional, muitos não
têm nem pleno conhecimento de quais são seus direitos”.
O professor acredita que “há uma série de outras deficiências que tornam a qualidade da
nossa democracia baixa”. Ele nota, por exemplo, que a população tem pouco poder de
monitorar e influenciar as decisões do governo.
“Não há dúvida de que houve uma evolução nesses 30 anos. Não há repressão como na
ditadura, não há proibição de sindicatos. A questão é como incorporar as pessoas nos seus
direitos”, destaca.
O filósofo Marcos Nobre classifica o processo de transição após a ditadura como “lento e
conservador”, o que resultou numa “democracia muito pouco democrática”.
Segundo ele, isso aconteceu porque, após os traumas com o fracasso do regime
democrático iniciado com a Constituição de 1946 (pós-ditadura Getúlio Vargas) e do golpe
de 1964, as lideranças políticas tentaram de toda forma evitar conflitos.
A redemocratização, observa ele, foi liderada pelo PMDB, que passou a abarcar uma gama
muito variada de visões políticas, desde opositores ao regime militar até apoiadores, como
José Sarney.
“O diagnóstico era: todo mundo tem que ficar no mesmo barco, por isso que o PMDB era
um pouco o emblema disso – aquele partido que carrega todo mundo, não importa se você
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é comunista, se você é democrata cristão, se você é um conservador de direita quase
autoritário”.
“Então, você cria a ideia de que todo mundo tem que fazer todas as concessões possíveis
para evitar o confronto, porque o confronto leva à dissensão", destaca.
Isso é um problema, na avaliação de Nobre, porque o confronto aberto está na raiz da
democracia. E o que ocorre no Brasil, diz, é que as decisões acabam sendo tomadas em
“acordos de gabinete”, sem envolvimento da população.
O filósofo defende, por exemplo, que questões como o casamento gay deveriam ser alvo de
consultas por meio de plebiscito ou referendo, e não legalizadas por uma decisão do
Supremo Tribunal Federal.
“Não é uma lei que vai convencer as pessoas que elas devem reconhecer e aceitar um
projeto de vida homossexual como algo valioso. Isso depende de uma parte da sociedade
tentar convencer o conjunto da sociedade de que isso (direitos iguais) é uma maneira de
conviver que é superior a todas as outras. E isso faz a democracia uma forma superior a
todas as outras”, argumenta.
“Mas hoje o debate público no Brasil é um lixo. É meramente formal, retórico, vazio”,
critica.
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Década de 1930 – Os primeiros passos
As políticas sociais brasileiras têm sua origem no estado getulista, período da gênese e
institucionalização do Serviço Social, nascendo com características ainda hoje presentes: a
cultura do não direito, do clientelismo, paternalismo e destinadas prioritariamente aos
trabalhadores urbanos inseridos no processo de regulação salarial.
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Lembrete
Vale ressaltar que as políticas sociais brasileiras não nasceram sob o princípio da
universalidade e sua ampliação se deu em períodos ditatoriais tanto no Estado Novo (1937 a
1945), como no período da ditadura militar (1964 a 1979), sob forte centralização política,
ausência da participação social dos trabalhadores em sua gestão e planejamento,
configurando-se mais uma proposta do Estado para proporcionar a adesão das classes
subalternas ao Estado ditatorial.
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É, portanto, no Documento de Araxá (1967) e Teresópolis (1970), o que Netto (1991)
denominou de modernização conservadora em que encontraremos as primeiras
abordagens teóricas do Serviço Social com relação à temática da política social,
basicamente permeada da visão tecnocrática e pragmática, funcionalmente benéfica à
ordem burguesa ditatorial.
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V Jornada Internacional de políticas públicas. Universidade Federal do Maranhão. São
Luís, Maranhão. 2011. Disponível em:
<http://www.uece.br/lapess/index.php/arquivos/doc_download/27->. Acesso em:
ago. 2018.
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Já a assistência social é a quem dela precisar.
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar,
independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a
promoção de sua integração à vida comunitária;
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de
deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.
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penosos, interrompendo o ciclo vicioso e intergeracional de reprodução da pobreza
(SILVA E SILVA, 2011)
O programa Bolsa Família tem se configurado como um dos principais programas de
transferência de renda no Brasil.
Em entrevista, Herika Chagas, analista de políticas sociais, conta um pouco sobre o
Programa Bolsa Família.
10 abr. 2017.
O programa Bolsa Família (PBF) foi criado pelo governo federal em 2003. A Lei no. 10.836,
de 9 de janeiro de 2004, cria o programa Bolsa Família e o Decreto 5.209, de 17 de
setembro de 2004, o regulamenta.
Trata-se de um programa de transferência direta de renda com condicionalidades, alocado
na política de assistência social.
A ideia era criar estratégias para promover a inclusão social e desenvolvimento econômico.
Ele tem como base a crença de que a pobreza é um fenômeno multidimensional, portanto,
não basta simplesmente enfrentar a questão econômica, é preciso agregar outros fatores
que permitam às pessoas saírem da situação de vulnerabilidade.
Então, quando falamos das condicionalidades, por exemplo, do programa em educação e
saúde, estamos falando do compromisso das famílias, mas também do poder público em
assumir um compromisso, que é ofertar serviços de qualidade.
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Condicionalidades
Saúde
O Bolsa Família cresceu ao longo de 14 anos, tanto com relação à sua cobertura, das
estratégias, da busca ativa, como também em tornar visíveis públicos que não eram até
então.
Estamos falando do atendimento não somente da população da cidade, da população
urbana, mas de uma população que está espraiada pelo país. Assim, o programa tem uma
capilaridade muito grande.
O Bolsa Família está embasado muito na lógica da intersetorialidade e também da gestão
descentralizada.
Isso é extremamente importante para que o programa exista como existe hoje. Foi um
processo muito bonito de diálogo com os parceiros das outras políticas, da saúde, da
educação, da assistência social e outros. Então, essa articulação é muito necessária não só
para o acompanhamento das condicionalidades e para uma boa gestão do programa, mas
também porque entendemos como estão sendo ofertados os serviços e para que possamos
qualificar.
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Em relação à gestão descentralizada, também nos baseamos muito no pacto federativo.
Hoje, temos mais de 16 milhões de estudantes, crianças e adolescentes do PBF
acompanhados. Foi uma vitória, porque aí conseguimos também entender como essas
crianças estão na escola e conseguimos ter uma dimensão da frequência delas e, inclusive,
pensar em formas de melhorar o estado dessas crianças na escola junto com os parceiros,
no caso o parceiro de educação.
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Recebemos algumas críticas de que estaríamos onerando ainda mais a mulher,
sobrecarregando ainda mais a mulher por ela ser a responsável, por outro lado, temos
estudos que revelam a importância de a mulher ser a responsável familiar e a possibilidade,
inclusive, de ela conseguir ter uma renda, não depender tanto do marido e conseguir,
através dessa renda, alcançar outras rendas e se profissionalizar.
Os desafios do Programa
Diante do cenário político e econômico que estamos vivenciando hoje no país,
primeiramente, o bolsa não pode ser uma pauta de ajuste fiscal, justamente para que não
haja retrocesso. A ideia também é não perder a nossa rede, não podemos perder essa
capacidade de articulação com os parceiros que fazem a política, o nosso programa
funcional, e não só entre as intersetorialidades quando falamos dos parceiros da saúde,
educação, assistência, mas também quando pensamos nos conselhos e na participação
social.
E um desafio nosso muito grande, dentro do bolsa, é a qualificação dos nossos canais de
comunicação, porque o bolsa, é importante dizer isso, ainda é motivo de preconceito, o
nosso público é estigmatizado, os setores da população. Então, temos um reforço através
da comunicação de mostrar para a sociedade como um todo que as pessoas são sujeitos de
direito e que não estão recebendo nenhuma benesse, estão de fato acessando os direitos
delas.
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5.5.2 Conselhos, conferências e audiências públicas
Alguns dos espaços previstos pelo legislador, fundamentados na Constituição
Federal, para participação dos cidadãos, por iniciativa dos entes públicos, são os
conselhos gestores de políticas públicas. Esses conselhos são instituídos por lei, e
a participação da sociedade é sempre garantida. Como exemplos, podemos citar o
Conselho de Saúde, o Conselho de Educação e o Conselho de Assistência Social.
Os participantes desses conselhos, chamados de conselheiros, são nomeados pelo
Executivo (no município, pelo prefeito), que segue o que está determinado na lei
que os instituiu.
Além dos conselhos, há outras oportunidades previstas em lei que são de
iniciativa do ente público e que promovem a participação cidadã, como as
audiências públicas e as conferências. (ENAP, 2015)
Saiba mais:
Acesse: http://polis.org.br/publicacoes/conferencias-de-politicas-publicas/
Mas não para por aí. A sociedade também pode ter a iniciativa. As redes sociais e
as manifestações na rua são exemplos atuais de controle social que surgiram na
sociedade. A organização de grupos voltados a atividades de controle, atuando de
maneira coletiva, atentos a questões específicas, é outra forma de atuação.
(ENAP, 2015)
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Portal da transparência
O que é? É uma página da internet na qual são apresentados, no mínimo, dados
sobre as receitas e despesas. É um instrumento para o cumprimento do que está
previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal. (ENAP, 2015)
Referências do bloco 5
BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política social: fundamentos e história. 6. ed. São Paulo:
Cortez, 2009. (Biblioteca Básica de Serviço Social; v.2).
BOSCHETTI, I. Seguridade social no Brasil: conquistas e limites à sua efetivação.
Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), 2009. Disponível em: <
http://www.unirio.br/unirio/cchs/ess/Members/morena.marques/disciplina-servico-
social-e-processos-de-trabalho/bibliografia/livro-completo-servico-social-direitos-
sociais-e-competencias-profissionais-2009/view>. Acesso em: 18 set. 2018.
ENAP. Escola Nacional de Administração Pública. Controle Social. Módulo 1. Brasília.
2015.
NETTO, J. P. Ditadura e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 1991.
SILVA E SILVA, M. O. Os Programas de Transferência de Renda (PTR): o Bolsa Família no
enfrentamento à pobreza e na garantia de renda. In: VIII Conferência Nacional de
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Assistência Social (CNAS). Anais... Brasília, dez. 2011. Disponível em: <
http://www.mds.gov.br/cnas/conferencias-nacionais/viii-conferencia-nacional>.
Acesso em: 19 set. 2018.
SOUSA, A. M. de; SOUSA, A. M. de; ACCIOLY, M. S. P. Política social e projeto ético-
político profissional dos assistentes sociais: relação histórica contraditória. In: V
Jornada Internacional de políticas públicas. Universidade Federal do Maranhão. São
Luís, Maranhão. 2011. Dísponível em:
<http://www.uece.br/lapess/index.php/arquivos/doc_download/27->. Acesso em:
ago. 2018.
SCHREIBER, M. Trinta anos após fim da ditadura, Brasil tem 'democracia imperfeita'.
BBC Brasil em Brasília. 14 mar. 2015. Disponível em:
<https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/03/150313_democracia_30anos_p
ai_ms>. Acesso em: ago. 2018.
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