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Instrumentos e

técnicas do Serviço
Social
Profa. Alessandra Medeiros
BLOCO 1. TRABALHO E PROCESSOS EM QUE SE INSEREM OS ASSISTENTES SOCIAIS
Apresentação
Neste primeiro bloco, abordaremos alguns conceitos que precisam ser considerados,
antes de falarmos propriamente sobre os instrumentos e técnicas que são utilizados
pelos assistentes sociais no cotidiano de suas ações. A primeira categoria de conceitos
será o trabalho, já que o assistente social, embora tenha como característica ser um
profissional liberal, em sua maioria trabalha com algum tipo de vínculo, seja como
funcionário público, ou mesmo com registro formal em organizações sociais ou
empresas. Dessa maneira, temos como objetivo deste primeiro bloco, contextualizar
as situações em que o profissional poderá estar inserido e ainda quais as implicações
disso e o impacto direto no trabalho que ele/ela poderá realizar. Outro importante
objetivo deste bloco será resgatar as legislações específicas do Serviço Social, que
também norteiam a ação profissional e não podem estar descoladas da prática
profissional.

Assistente Social: trabalhador assalariado x profissional liberal


É característica das profissões liberais: o caráter não rotineiro das ações e a presença
de um código de ética. Podemos entender também como uma profissão que pode ser
exercida livremente por aqueles que obtiveram a formação específica para tal.
No entanto, como o assistente social pode exercer essa liberdade se atua no contexto
de uma sociedade capitalista, se colocando também na condição de trabalhador?

Nesse sentido, Marilda Vilela Iamamoto (2005) diz que


[...] ainda que disponha de relativa autonomia na efetivação de seu
trabalho, o assistente social depende, na organização da atividade, do
Estado, da empresa, de entidades não governamentais que viabilizam aos
usuários o acesso a seus serviços, fornecem meios e recursos para sua
realização, estabelecem prioridades a serem cumpridas, interferem na
definição de papéis, e funções que compõem o cotidiano do trabalho
institucional. Ora, se assim é, a instituição não é um condicionante a mais do
trabalho do assistente social. Ela organiza o trabalho do qual ele participa.
(IAMAMOTO, 2005, p. 63).

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Antes de considerarmos as técnicas e instrumentos que devemos utilizar, não
podemos esquecer que estamos inseridos em um determinado contexto e que, muitas
vezes, esse mesmo contexto poderá direcionar a escolha de qual a melhor forma de
intervenção, dependendo da realidade que iremos encontrar.

1.1 Competências do assistente social no cenário contemporâneo


Para que possamos desempenhar nossa profissão com efetividade, deveremos pensar
nas competências que precisaremos desenvolver durante a graduação e continuarmos
a desenvolvê-las mesmo quando concluirmos a primeira etapa de nossos estudos.
Vale começarmos pela lei que regulamenta a nossa profissão, ou seja, a lei que cria a
profissão de assistente social. Temos que lembrar que uma lei surge de uma
necessidade da população, ou seja, de uma demanda social. Nesse sentido, em 7 de
junho de 1993, a lei 8.662 dispõe sobre a profissão do assistente social.
Essa não foi a primeira lei que regulamentou nossa profissão. A primeira foi em 1957,
sendo revogada e entrando em vigor a de 1993, que, mesmo atualizada em 2010,
continua em vigência até hoje.
A lei está dividida em 24 artigos. Destes, merecem destaque:
O art. 2º que indica que:
Somente poderão exercer a profissão de Assistente Social:
I - Os possuidores de diploma em curso de graduação em Serviço Social,
oficialmente reconhecido, expedido por estabelecimento de ensino superior
existente no País, devidamente registrado no órgão competente; (BRASIL,
1993)

Aqui, já podemos refletir sobre a importância desta disciplina. Para atuarmos como
assistentes sociais, precisamos de quatro anos de formação e, nesse processo, um
conjunto de instrumentais são apresentados aos alunos e alunas para que atuem
futuramente pautados em técnicas, diferenciando-os de outros trabalhadores pela sua
especificidade. Outro artigo que merece nossa atenção neste momento é:
Art. 4º Constituem competências do Assistente Social:

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I - elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a
órgãos da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e
organizações populares;
II - elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos
que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da
sociedade civil;
III - encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos,
grupos e à população;
IV - (Vetado);
V - orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no
sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e
na defesa de seus direitos;
VI - planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais;
VII - planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a
análise da realidade social e para subsidiar ações profissionais;
VIII - prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública
direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, com relação às
matérias relacionadas no inciso II deste artigo;
IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria
relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis,
políticos e sociais da coletividade;
X - planejamento, organização e administração de Serviços Sociais e de
Unidade de Serviço Social;
XI - realizar estudos socioeconômicos com os usuários para fins de
benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e
indireta, empresas privadas e outras entidades. (BRASIL, 1993)

Uma competência pode ser entendida como uma capacidade e dentre as indicadas
acima, trabalharemos os incisos: III, V e XI nesta disciplina.

1.2 Orientações éticas e resoluções do Conselho Federal de Serviço Social


Antes de retomarmos a lei de regulamentação da profissão, também se torna
necessário que conheçamos as resoluções do nosso Conselho Federal.
Por isso, o(a) convidamos a navegar pelo site, pois será um forte aliado no seu
cotidiano profissional: <http://www.cfess.org.br/>

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Também devemos consultá-lo para nos atualizarmos sobre novas resoluções da
categoria (que estarão no link:
http://www.cfess.org.br/visualizar/menu/local/resolucoes-do-cfess) .
Essas resoluções vão desde o funcionamento interno do conselho federal, como os
regionais, além de subsidiar parâmetros de atuação sobre diversas temáticas.
Vale conhecer, por exemplo:
- Resolução CFESS n. 845: dispõe sobre atuação profissional do/a assistente social em
relação ao processo transexualizador, ou seja, demonstra como deverá ser o
atendimento dos profissionais aos usuários que passarão pelo processo de mudança
de sexo. Disponível em: <http://www.cfess.org.br/arquivos/ResolucaoCfess845-
2018.pdf>. Acesso em: maio 2019.
- Resolução CFESS n. 559: que dispõe sobre a atuação do Assistente Social, inclusive na
qualidade de perito judicial ou assistente técnico, quando convocado a prestar
depoimento como testemunha, pela autoridade competente. Disponível em:
<http://www.cfess.org.br/arquivos/Resolucao_CFESS_559-2009.pdf>. Acesso em:
maio 2019.
- Resolução CFESS n. 557: que dispõe sobre a emissão de pareceres, laudos, opiniões
técnicas conjuntos entre o assistente social e outros profissionais e está diretamente
ligada à nossa disciplina. Disponível em:
<http://www.cfess.org.br/arquivos/Resolucao_CFESS_557-2009.pdf>. Acesso em:
maio 2019.
O parágrafo terceiro, do artigo 4º, da Resolução 557 de 2009, por exemplo, indica que:
No atendimento multiprofissional, a avaliação e discussão da situação
poderá ser multiprofissional, respeitando a conclusão manifestada por
escrito pelo assistente social, que tem seu âmbito de intervenção nas suas
atribuições privativas.

Assim, não podemos esquecer que, além da Lei de Regulamentação e do Código de


Ética Profissional, essas resoluções precisam ser constantemente pesquisadas e
estudadas.

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1.3 A dimensão técnico-operativa nos processos de trabalho do assistente social
Temos de considerar que o assistente social atua pautado em três dimensões: a ético-
política, a teórico-metodológica e a técnico-operativa.
A técnico-operativa pode ser entendida como
[...] o espaço de trânsito entre o projeto profissional e a formulação de
respostas inovadoras às demandas que se impõem no cotidiano dos
assistentes sociais implica destacar categorias que possibilitem realizar esse
trânsito. Propõe-se então, neste trabalho, adotar a ação profissional como o
vetor fundamental para o desvelamento dos processos do fazer profissional.
Sua eleição vincula-se ao entendimento de que a ação é a menor unidade de
análise, e, ao mesmo tempo, condensa todas as dimensões constitutivas do
exercício profissional. (MIOTO; LIMA, 2009, p. 36)

O que as autoras Mioto e Lima querem dizer com isso? Não adianta pensarmos
exclusivamente na ação concreta que será desempenhada no cotidiano profissional,
mas como ela representa o projeto ético-político da própria profissão, e como pode
interferir na conjuntura mais ampla da própria sociedade.

1.4 Competências profissionais no âmbito da lei de regulamentação e suas


atribuições privativas
Retomando a lei de regulamentação profissional (8.662/1993) já indicada no início
deste bloco, vamos apresentar agora o Art. 5º que apresenta as atribuições privativas
do Assistente Social:
I - coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos,
pesquisas, planos, programas e projetos na área de Serviço Social;
II - planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade
de Serviço Social;
III - assessoria e consultoria e órgãos da Administração Pública direta e
indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço
Social;
IV - realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e
pareceres sobre a matéria de Serviço Social;
V - assumir, no magistério de Serviço Social, tanto em nível de
graduação como pós-graduação, disciplinas e funções que exijam
conhecimentos próprios e adquiridos em curso de formação regular;

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VI - treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço
Social;
VII - dirigir e coordenar Unidades de Ensino e Cursos de Serviço Social,
de graduação e pós-graduação;
VIII - dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de
pesquisa em Serviço Social;
IX - elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões
julgadoras de concursos ou outras formas de seleção para Assistentes
Sociais, ou onde sejam aferidos conhecimentos inerentes ao Serviço Social;
X - coordenar seminários, encontros, congressos e eventos
assemelhados sobre assuntos de Serviço Social;
XI - fiscalizar o exercício profissional através dos Conselhos Federal e
Regionais;
XII - dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou
privadas;
XIII - ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão
financeira em órgãos e entidades representativas da categoria profissional.

As atribuições privativas são aquelas que são exclusivas do assistente social, ou seja, só
esse profissional pode fazer e, em caso contrário, podemos denunciar no conselho
regional.

1.5 Reflexões sobre o trabalho e processos correlatos


Também devemos refletir a partir dos segmentos populacionais que atenderemos no
nosso cotidiano profissional e buscar o aprofundamento de outros temas que são
inerentes à complexidade da sociedade capitalista.
Assim, se o assistente social atuar com crianças e adolescentes, deverá conhecer
detalhadamente o Estatuto da Criança e do Adolescente. Caso essa
criança/adolescente tenha alguma deficiência, as legislações específicas ao deficiente
também precisarão ser do conhecimento do profissional. Outro exemplo que podemos
citar é o atendimento ao idoso, que deverá ser atendido por um profissional que
domine o Estatuto do Idoso, como base fundamental para uma orientação e
encaminhamentos adequados.

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Outras questões importantes e contemporâneas são os atendimentos específicos a
públicos como: pessoas em situação de rua, dependentes químicos, refugiados,
mulheres, dentre outros, que requerem conhecimentos especializados e linguagens
próprias na utilização dos instrumentais e técnicas do Serviço Social.

SAIBA MAIS
Vamos ler um texto?
Sugerimos: Os espaços sócio-ocupacionais do assistente social, de Marilda Vilela
Iamamoto. Ela é Professora Titular (aposentada) da Escola de Serviço Social da Universidade
Federal do Rio de Janeiro.

Para lê-lo, acesse o link: http://www.abepss.org.br/arquivos/anexos/os-espacos-socio-


ocupacionais-do-assistente-social-marilda-201608200501015865260.pdf
Acesso em: maio de 2019.

Conclusão
Muitas vezes, o assistente social gostaria de ter um manual com os instrumentos e
técnicas para serem utilizados nos atendimentos. No entanto, não existem receitas
prontas e sim diretrizes. Como parte desses direcionamentos, devemos considerar os
conteúdos estudados neste bloco. Assim, devemos considerar que a profissão está
inserida na sociedade capitalista e que a maioria dos profissionais vende sua força de
trabalho, sendo também assalariados. Dessa maneira, o assistente social irá atuar
considerando essa correlação de forças e deverá levar em conta também a instituição
em que está inserido.
Merece destaque também todo o arcabouço legal que o assistente social deverá
conhecer para que suas ações estejam em consonância com a legislação específica da
área, como também com o que existe produzido para o segmento que será atendido
cotidianamente.

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Referências
IAMAMOTO, Marilda Villela; CARVALHO, Raul. Relações sociais e serviço social no
Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 10. ed. São Paulo:
Cortez; Lima (Peru): CELATS, 2005.

MIOTO, Regina C. T.; LIMA, Telma C. S. A dimensão técnico-operativa do Serviço Social


em foco: sistematização de um processo investigativo. Revista Textos & Contextos.
Porto Alegre, v. 8, n.1, p. 22-48, jan./jun. 2009.

BRASIL. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Presidência da República. Casa Civil. Lei
no 8.662, de 7 de junho de 1993. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8662.htm>. Acesso em: 16 maio 2019.

Glossário

Profissional liberal: é aquele que possui formação, seja universitária seja técnica, e
pode exercer sua função por conta própria, ou trabalhar para o governo, para uma
empresa, por exemplo, médicos, dentistas, arquitetos, advogados, entre outros
profissionais. (Disponível em: https://www.guiatrabalho.com.br/profissional-liberal-e-
autonomo.html. Acesso em: maio 2019.)

Competência: conjunto de características/habilidades. Quando falamos em


competência profissional, relacionamos essas habilidades ao profissional que as
desempenha.

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