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GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA NA REALIDADE DO HOSPITAL REGIONAL

MATERNO INFANTIL DE IMPERATRIZ

Benice Gomes Leão∗


Edina Rêgo de Holanda
Maria do Socorro Costa Almeida
Terezinha Araújo Fernandes

RESUMO

Este trabalho tem o intuito de apresentar a ocorrência do fenômeno gravidez na adolescência


no contexto nacional, relacionando o tema as principais causas mundiais. De acordo com esse
cenário, situar a realidade do Hospital Regional Materno Infantil de Imperatriz no que diz
respeito ao atendimento de casos de adolescentes grávidas, através de pesquisa no local,
utilizando a observação e entrevistas para coletar dados. Por fim, este estudo pretende
contribuir para a criação de políticas públicas e afins para minimizar as conseqüências da
gravidez na adolescência em Imperatriz-MA.

Palavras-chave: Adolescência, Gravidez, Hospital Regional Materno Infantil de Imperatriz.

∗∗
Acadêmicas do 4º período do curso de Serviço Social da Unidade de Ensino Superior do Sul do
Maranhão.

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1 INTRODUÇÃO

Os meios de comunicação muito têm falado que a sociedade está vivendo uma
inversão em relação aos valores de poucas décadas atrás. Alguns mencionam que a violência
ocupa o lugar do respeito, a vida independente no lugar da família reunida, ao invés do amor,
o interesse financeiro e muitos outros exemplos.
Os mais velhos, digamos assim, lembram com saudades da geração de filhos
obedientes que rendiam muitos elogios aos pais. Hoje, as crianças amadurecem mais cedo,
tanto fisicamente como mentalmente, emocionalmente. Temos a geração da informação, as
crianças de hoje dominam quase que completamente as tecnologias recém-lançadas. Elas têm
acesso a informações que até mesmo os pais e educadores desconhecem, seja através da
internet, por meio de jogos, etc. A verdade é que isso tem mudado o interesse da juventude
como um todo. Cada vez mais cedo, também, eles começam a estudar, a trabalhar, a namorar
e a se relacionarem sexualmente.
Como tudo chega mais cedo pra essa geração, não deveríamos nos aterrorizar com
a imagem de uma adolescente grávida.
E é diante desse retrato de sociedade que viemos abordar esse tema tão recorrente,
já que acreditamos que seu estudo ajudará leitores comuns, estudantes e profissionais a
entenderem melhor esse fenômeno percebido em vários países nos dias atuais. Porém,
abordaremos essa questão em âmbito nacional, mais precisamente sobre suas ocorrências na
cidade de Imperatriz e como essa incidência reflete no atendimento do Hospital Regional
Materno Infantil de Imperatriz. Que fatores influenciam para que tantas adolescentes se
tornem mães tão cedo na cidade de Imperatriz?
Ao conhecer o perfil das pacientes adolescentes grávidas que dão entrada no
Hospital Regional Materno Infantil, acredita-se que serão levantados os fatores que propiciam
esse acontecimento na cidade de Imperatriz.
Pretende-se com essa pesquisa, levantar informações suficientes para a
organização de políticas de atendimento para esse público, envolvendo campanhas
educacionais, acompanhamento de adolescentes e o máximo de informações que puderem ser
divulgadas com o objetivo de advertir os “pretensos candidatos” ao cargo de pai e mãe para os
riscos de uma gravidez precoce.
Para alcançar tais resultados, achamos importante consultar teóricos renomados
no assunto, bem como aproveitar o conhecimento empírico do grupo de autores deste estudo.

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2 GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA

O fato de existirem mães cada vez mais jovens não é um fenômeno apenas dos
tempos atuais. Ainda na Antigüidade, meninas casavam-se com idade entre 13 e 14 anos,
inclusive é provável que esta fosse a faixa etária da Virgem Maria quando tornou-se mãe, de
acordo com Riccioti (apud SILVA e MOTTA, 1993, p.886).
O mesmo aconteceu à filha da vizinha que apareceu grávida na semana passada, é
o caso da filha da amiga, da colega de sala de aula. Esse comentário fictício é para demonstrar
que estamos discutindo um problema da família brasileira. Os adolescentes mudaram para
acompanhar o ritmo da sociedade que amplia suas exigências, que por sua vez é ditado pelo
próprio comportamento humano. Essa reciprocidade empurra a “bola de neve” ladeira a
baixo.
“Hoje os meninos e as meninas entram na adolescência cada vez mais cedo. O
início da ejaculação e da menstruação indicam que eles estão começando a sua vida fértil, isto
é, que chegaram àquela fase da vida em que são capazes de procriar.” (FONTES, 1999, p.1)
Essa capacidade, somada à falta de informação e a enorme curiosidade comum a essa idade
resultam em um número cada vez maior de adolescentes grávidas. O interesse pelo assunto
“sexo” e o estímulo proveniente do meio em que vivemos, levam esses jovens a um contato
cada vez mais prematuro com a relação sexual.

“As profundas transformações da puberdade começam aos 10 anos, quando a


criança conhece também a prática da masturbação. A partir de então, acentua-se o
desejo de relacionamento com o outro. O Dr. Leonardo Goodson explica que,
normalmente, os adolescentes com 14 anos têm um amigo íntimo e canalizam o
erótico para histórias, confidências e piadas. Com 15 anos, ocorre a abertura para a
heterossexualidade e o adolescente começa a ter sua identidade sexual afirmada”.
(BIBLIOMED, 2004, p.1)

Além de ser uma fase de curiosidade, a adolescência é um período de


transformações, de dúvida, é o estabelecimento de um norte para onde esse jovem irá rumar,
assim:

Ao engravidar, a jovem tem de enfrentar, paralelamente, tanto os processos de


transformação da adolescência como os da gestação. Isto, nesta fase, representa uma
sobrecarga de esforços físicos e psicológicos tão grandes que para ser bem suportada
necessitaria apoiar-se num claro desejo de tornar-se mãe. (FONTES, 1999, p.1)

Quando ocorre a gravidez na adolescência, normalmente, a menina está ainda


cursando seus estudos de ensino fundamental ou médio, provavelmente pensando para qual

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curso fazer vestibular, paralelamente, é nesta faixa etária que ela está tendo seu primeiro
namoro “sério”, aquele que os pais aprovam, permitem ao namorado visitar a casa dela e
outras regalias, ditas como normais, nos dias de hoje. Conforme detalha o Dr. Goodson, “dos
17 aos 23 anos, essa identidade é consolidada e o jovem passa a ter um objeto amoroso único,
com quem mantém intercâmbio amoroso. Neste período, ele passa a dar e a receber”.
(BIBLIOMED, 2004, p.1).
Com este pensamento, mas esperando a qualquer momento sua iniciação sexual, a
garota entra naturalmente nesse processo. Mas, sem esperar, o que pode estar acontecendo
como um passo à frente dentro do namoro pode resultar num amadurecimento forçado para
essa jovem assumir seu novo papel: o de mãe. Isso “não implica necessariamente em gravidez
indesejada ou em crianças não-desejadas. Muitas são rapidamente aceitas ou se transformam
ao longo do processo gestacional, em claramente desejadas, resultando em situações felizes e
equilibradas”. (SILVA, 1998, p.828)
Felizes ou não, é nesta situação que os pais de adolescentes podem atuar de
maneira a coibir a ocorrência dessas conseqüências num namoro.

“Os pais precisam esforçar-se para deixar de lado o medo de ser taxados de caretas,
autoritários, ou de serem acusados de estar invadindo a vida pessoal de seus filhos.
Conversando e orientando-os não apenas sobre reprodução e sexualidade humana
mas também sobre valores como afeto, amizade, amor, intimidade e respeito ao
corpo e à vida, permitirão que sintam mais preparados para assumir as alegrias e
responsabilidades inerentes à vida sexual.” (FONTES, 1999, p.2)

A comunicação entre pais e filhos é citada como a melhor solução para a


desinformação dos adolescentes sobre o sexo. Mas o avanço dessa comunicação necessita de
uma quebra de tabus e preconceitos. Para começar, os pais precisam se informar também, já
que os mesmos foram igualmente não instruídos sobre esta questão. A partir do momento que
os pais assumirem a postura de orientadores, estarão contribuindo para a exclusão do risco de
consequentemente serem avós mais jovens, tomando para si, a responsabilidade hoje
assumida por amigos, educadores e pelos meios de comunicação de massa.

“[...] em uma sociedade que erotizou o sexo, incentivando sua prática a qualquer
custo, as pessoas perderam o referencial. Muitas acreditam que os únicos riscos do
sexo são físicos, como uma gravidez indesejada ou a contaminação pelo vírus HIV.
Os especialistas, no entanto, alertam que viver plenamente as experiências sexuais
pode trazer outros problemas: traumas que, sem tratamento adequado, serão
carregados por toda vida”. (BIBLIOMED, 2004, p. 1)

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A ausência de esclarecimentos e de uma comunicação suficiente dentro da família
sobre sexualidade e gravidez, pode afetar valores mais profundos do adolescente, como afeto,
amizade, amor, intimidade e respeito ao corpo e à vida. As doenças sexualmente
transmissíveis são a motivação mais forte para as conversas entre pais e filhos, que com muito
esforço, dizem ao filho (sexo masculino) “use camisinha”. É importante saber que o sexo sem
compromisso e sem o devido conhecimento de seus efeitos pode gerar muito mais que
doenças, mas deixar marcas que acompanhem esse adolescente por toda a vida,
principalmente as meninas que se tornam mães tão cedo. Para elas, “quando se pensa em
adolescência, as recomendações mais comuns são a pílula para a gravidez indesejada e a
camisinha para as DSTs” (BIBLIOMED, 2004, p.2).
As conversas que podem fazer diferença entre pais e adolescentes são no sentido
de esclarecer como funciona o seu sistema reprodutor, ainda que sejam explicações
desprovidas de profundo conhecimento científico. Enquanto isso, alguns jovens buscam por
conta própria essas informações e descobrem que é possível tomar algumas precauções, que
vão, muitas vezes, além do conhecimento dos pais.

“Para evitar a gravidez, é possível adotar ainda métodos como o coito interrompido,
a temperatura basal e a tabelinha. No entanto, são opções menos confiáveis. Os
métodos chamados de barreiras são os preservativos masculino e feminino, o
diafragma e o Dispositivo Intra-uterino (DIU). Há ainda os anticoncepcionais orais
(pílula) e os injetáveis (mensal e trimestral), além da laqueadura tubária e a
vasectomia.” (BIBLIOMED, 2004, p.2)

Quando essas informações são valorizadas, a emoção de fazer sexo sem


compromisso e responsabilidade dá lugar a uma consciência de sexo seguro e maduro, ainda
que seja entre adolescentes.

“estar maduro para a primeira relação sexual é compreender o que ela significa e
saber lidar com os problemas que ela pode trazer. A gravidez indesejada, as DSTs e
os problemas relacionais são algumas das dificuldades que podem aparecer. No
entanto, vivido de forma adequada, o sexo possibilita que a pessoa usufrua de
imensos prazeres.” (BIBLIOMED, 2004, p.2)

A sociedade tem andado na contramão das medidas que podem minimizar essa
questão social, pois tem favorecido e até induzido os adolescentes à prática sexual prematura.
Muitas vezes, as pessoas que começam a se relacionar sexualmente na adolescência, só
conhecerão a importância e o prazer desse ato anos mais tarde, na fase adulta.

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“A sociedade como um todo mostra-se pesudopermissiva, permitindo e estimulando
o exercício da atividade sexual dos jovens, proibindo porém a gravidez precoce,
como se a capacidade reprodutiva pudesse ser analisada de modo isolado e
independente da sexualidade. Pressões que vão ao encontro da mídia influenciam a
conduta dos jovens, através de mensagens dúbias e contraditórias. Valores familiares
conservadores são confrontados com os meios de comunicação que banalizam e
vulgarizam o sexo, criando espaço para atividades de auto-afirmação e desafio, que
podem redundar na gravidez indesejada”. (SILVA, 1998, p.828)

Os pais e educadores são afrontados pela mídia ao apresentarem, quando


apresentam, suas instruções aos adolescentes. São julgados como atrasados, ultrapassados em
relação aos seus conceitos, que provavelmente funcionaram quando viveram esta mesma fase.
Uma das questões vinculadas à gravidez na adolescência é a virgindade, um tema polêmico,
que não deixa as rodas de conversa desses jovens.

“Como as pessoas desconhecem este verdadeiro sentido da virgindade, torna-se


antiquado ser virgem. Atualmente, muitos adolescentes preferem dizer diante da
turma que já tiveram a primeira relação sexual, para não ser massacrados diante de
comentários e piadas dos colegas.” (BIBLIOMED, 2004, p.2)

Todos os fatores mencionados contribuem para que os adolescentes experimentem


o sexo sem o devido preparo, que traz conseqüências principalmente à nova mamãe, enquanto
envolve de forma irrisória o menino. Além das famílias que são afetadas por esse fenômeno, a
estrutura da saúde pública brasileira é afetada. Ainda como conseqüência, imagina-se que o
número de novas famílias que são formadas sem a devida estrutura também aumenta,
ocasionando miséria, crianças que viverão em condições subumanas, sem contar o número de
abortos que essa situação alimenta. “O fenômeno no Brasil tem se mostrado estabilizado
numericamente para a faixa de 15 a 19 anos.” (SILVA, 1998, p.825)
O mesmo autor ainda ressalta que:

“No Brasil, em nossos hospitais públicos, 15% a 25% dos nascimentos são de
adolescentes, principalmente na faixa de 15 a 19 anos. Considerando a dimensão
numérica da população adolescente brasileira, em torno de 35 milhões,
aparentemente em expansão, pode-se imaginar a importância do problema”.
(SILVA, 1998, p.825)

As questões de saúde que envolvem a gravidez de adolescentes gira em torno da


estrutura física e psicológica das mães, que não estão totalmente prontas para gerar o bebê,
bem como não podem dispor de um parto totalmente tranqüilo, e no pior dos casos a
ocorrência de um aborto espontâneo. Segundo Silva, há outros problemas que agravam essa
situação:

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“Incidência maior de aborto, anemia, doença hipertensiva específica da gravidez
(pré-eclâmpsia), distócias de parto, funcionais e de trajeto (desproporção feto-
pélvica), partos operatórios, são complicações apontadas em grande número de
trabalhos na literatura pertinente. Para o lado do concepto, prematuridade, baixo
peso ao nascer e malformações congênitas, seriam patologias mais prevalentes neste
grupo etário. Também há indicativos de maior mortalidade materna, perinatal e
infantil, principalmente entre adolescentes de mais baixa idade”. (SILVA, 1998,
p.826)

Mas a decisão do aborto não é simples, seja para que mulher for, independente da
sua condição social e idade. Essa decisão é pessoal e dolorosa, agravada pela rejeição social,
principalmente quando familiares e amigos não dão o apoio esperado. As conseqüências
podem mudar a vida dessas jovens.
Para a Igreja, especificamente a católica, que há poucos dias apresentou
abertamente sua opinião em relação ao aborto, através de sua autoridade máxima, o Papa, essa
prática deve ser combatida radicalmente, em respeito á vida, que é uma dádiva de Deus, e só
Ele tem autoridade para retirá-la. Seu discurso só aumentou a polêmica sobre o aborto ao
redor do mundo.
Apesar dos esforços do poder público, que considera essa uma questão de saúde
pública, juntamente com as DSTs, as medidas adotadas, como a recente distribuição de
preservativos nas escolas tem enfrentado críticas e gerado discussões tanto favoráveis quanto
contrárias. Ainda assim, acredita-se que tais medidas abrem oportunidades para essa discussão
que precisa estar presente nas esferas sociais que o adolescente participa.

“Vários estudos consideram que a gravidez indesejada na população jovem indica


falta de propostas educacionais das famílias e das escolas. Quando uma menina
atinge a idade fértil sem o conhecimento de seu corpo e do seu funcionamento, não
compreende as aceleradas modificações do período pós-puberal, dificilmente poderá
incorporar os elementos necessários para conseguir adequado controle de sua
fertilidade”. (SILVA, 1998, p.827)

A situação atual do Brasil em relação à gravidez na adolescência é apresentada


através de dados do Ministério da Saúde, que “mostram que uma em cada dez mulheres
brasileiras de até 19 anos já tem 2 filhos. No país, está diminuindo o número de gravidez em
mulheres adultas e aumentando entre as adolescentes”. (HILL, 2003, p.1).
Certamente, a situação da cidade de Imperatriz, especificamente no Hospital
Regional Materno Infantil de Imperatriz não está diferente do quadro nacional, já que as
políticas públicas que norteiam a saúde pública no Brasil são uma só, embora possa haver
projetos isolados no intuito de contornar o problema em questão.

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3 HOSPITAL REGIONAL MATERNO INFANTIL DE IMPERATRIZ - HRMI

A cidade de Imperatriz foi contemplada com o Hospital Regional de Imperatriz


(este foi seu primeiro nome) ainda quando o estado tinha João Castelo como governador, em
1982. A intenção inicial era atender a população do município e da Região Tocantina. No
começo trabalhavam 200 funcionários, entre médicos, enfermeiras (os), auxiliares e outras
funções, atendendo com 70 leitos.
O hospital chegou a atender todas as clínicas recebendo apenas recursos do
Estado, até que em 1991, através do Dr. Arnaldo Alencar, aconteceu o credenciamento da
instituição pelo SUS (Sistema Único de Saúde), daí veio a origem do nome Hospital Regional
Materno Infantil de Imperatriz, que com um maior incentivo de recursos passou a progredir
mais rapidamente.
Mesmo com esse progresso, havia dificuldades: faltava alimentação, remédios,
alguns profissionais médicos, laboratório especializado para diagnósticos eficazes. Mas
felizmente, foi implantado um posto de coleta para realização de exames especializados,
embora fosse localizado fora das dependências do hospital, contribui sobremaneira no
atendimento.
O ano de 2001, exatamente no mês de novembro, o hospital foi agraciado com o
título de amigo da criança pela UNICEF e finalmente, em dezembro de 2005 recebeu seu
próprio laboratório especializado que veio atender a contento ás necessidades da instituição.
Muitas foram as conquistas que vieram em seguida: a criação de um refeitório
para fornecer alimentação de qualidade aos funcionários, gestantes, puérperas,
acompanhantes; a contratação de três médicos obstetras, dois pediatras e um anestesista para
atuar 24 horas; a farmácia foi revitalizada, bem como o ambulatório, do banco de leite,
serviços de odontologia, ultra-sonografia, raios-X, teste da orelhinha e USFT (Ultra-
sonografia Transfontanela) para os recém-nascidos, criação do Serviço Social, alojamentos
para mães com recém-nascidos internados na UTI Neonatal, fisioterapeuta para o pré-parto,
efetivação do GTH (Grupo de Trabalho de Humanização) em 2001.
Não se pode deixar de destacar a criação da Central de Registros de Nascimentos,
aquisição de profissionais para atuar na Comissão de Controle de Infecção Hospitalar –
CCIH, e do PROAME (Programa de Orientação, Incentivo e Apoio ao aleitamento Materno
Exclusivo). Assim como enfatizar a instalação da UTI-Neonatal, que possibilitou cuidados
especiais que pouparam vidas; a criação do alojamento mãe-canguru.

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Podemos perceber nesse breve histórico que muitas das mudanças citadas
contribuíram para uma maior atenção ao aspecto social das pacientes, com relevância para a
criação do Serviço Social, no ano de 2001. Até os dias atuais, acredita-se que esse
departamento tem feito atendimentos de muita importância, inclusive ao público alvo desta
pesquisa: as adolescentes grávidas.

3.1 Os casos de adolescentes grávidas no HRMI

A fim de se conhecer com propriedade a realidade do HRMI em relação ao


atendimento de casos de adolescentes grávidas, achou-se conveniente lançar mão de
instrumentos metodológicos de pesquisa com a observação, levantamento de dados,
bibliografia e entrevista para obtermos dados consistentes que possam responder a
problemática levantada.
Primeiramente solicitou-se do hospital registros recentes, tais como estatísticas,
sobre a ocorrência do fenômeno ora debatido presenciados na instituição. Para surpresa da
equipe de autores da pesquisa, o hospital não mantém nenhum banco de dados capaz de
informar os atendimentos de parto ou internamento de pacientes por idade, o que
impossibilitou o levantamento de número e perfil das pacientes que tem dado entrada na
instituição pesquisada, com as características ressaltadas no presente estudo (as adolescentes
grávidas). Ainda assim, a instituição cedeu os números de partos do ano de 2006 (ANEXO A)
e 2007 (ANEXO B), classificados apenas por tipo, mas não por idade.
Diante desse fato, optou-se pelo estudo de casos de pacientes adolescentes que
passaram pelo hospital devido à gravidez. A direção do hospital permitiu o contato dos
pesquisadores com essas ex-pacientes.

3.1.1 1º Caso: F.S.S. – 14 anos

A jovem, de iniciais F.S.S. tem 14 anos e já é mãe. Ela ficou grávida de seu
namorado e segundo ela, quando descobriu sentiu muito medo. Primeiramente revelou a sua
mãe o que se passava, esta demonstrou compreensão, já o pai, que ficou sabendo
posteriormente, não aceitou a idéia com facilidade.
Daí por diante, F.S.S. fez todo o acompanhamento necessário no HRMI, através
dos exames pré-natais, contou com o serviço social e psicológico do hospital para tirar as
dúvidas.

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Antes do tempo esperado, F.S.S. deu à luz a criança por meio de parto normal,
mas se recuperou bem.
“Esse acontecimento marcou minha vida”, diz ela, “tão cedo não quero ter outro
filho”.

3.1.2 2 Caso: E.R.S. – 15 anos

O caso desta adolescente de 15 anos, identificada pelas iniciais E.R.S. foi relatado
pela mesma através de uma carta entregue em mãos às pesquisadoras, cujo conteúdo é
apresentado integralmente a seguir:
“Eu tenho 15 anos sou uma menina jovem adolescente, que sofre muito na vida
por não ter o que realmente eu queria. Eu tinha tudo, família, amigos, roupas boas, e tudo
que uma adolescente precisa, tinha amor e era muito feliz. Mas pra mim não o suficiente fui
busca uma vida que não existe e viver em um mundo de ilusões, conheci um jovem bonito e
muito educado, me ensinou amar, mas nunca a ser amada vivi nesse mundo e tive desilusões.
Aquilo que eu queria pra mim, não existia, o mundo que eu mesma inventei se acabou.
O jovem bonito foi embora e deixou a marca do amor em mim a dor de não ser
amada.
Desse amor eu queria só distancia e também fui embora, só que eu não sabia que
dessa ilusão foi gerado uma criança dentro de outra que não sabe nem viver, tentei esconder
mas já era tarde todos já desconfiavam, senti a distância e a saudade de ser criança mas o
que adiantaria o erro já foi feito.
Não tenho mas o carinho que eu tinha, tenho sofrido, e sei que ninguém mas vai
querer lembrar de mim, eu choro e penso no futuro do meu filho o que vai ser dele, sem um
pai e com uma mãe assim, sei que posso ser feliz de novo, e que a vida ainda tem esperança.
Eu só queria que as jovens que tem passado o que eu passo olhassem pro futuro e
pensassem que a vida não é só mais dela mais de outra vida que existe dentro de nós.

O mundo não acaba aqui


O que acaba só são as pessoa
que param de lutar

Nuca ame ninguém a ponto de se ver morto, e nunca viva sua vida, em função de ninguém
pois quando nasceu foi sozinho e quando morrer ninguém vai querer ir com você.

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E.R.S.”
Neste segundo caso percebemos as implicações de uma gravidez na adolescência
de uma menina de 15 anos. Ela apresenta suas aflições, as dificuldades que acompanham esse
momento de sua vida. O acompanhamento de um profissional de assistência social é
primordial para essa família.
Nas últimas linhas, podemos perceber um sentimento de mágoa demonstrado pela
adolescente, que diz “nunca viva sua vida em função de ninguém”, reflexo de um fato
comum, o abandono por parte dos pais, normalmente garotos, que ficam tão assustados
quanto as jovens mães.
Além destes dois casos acima relatados, foi possível conversar com funcionários
do hospital, que apontaram o perfil das adolescentes ali atendidas: idade entre 13 e 17 anos,
estudantes ou que abandonaram os estudos, a maioria vive com os pais, outras com parentes e
amigos. A maioria também engravidou de um parceiro fixo (namorado). Foram relatados
casos em que as jovens optaram pelo aborto e precisaram comparecer ao hospital para
procedimentos posteriores.

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4 CONCLUSÃO

Como constatou-se, a situação mundial em relação à gravidez na adolescência não


se difere muito da nacional. As causas e conseqüências se relacionam, com pequenas
variações culturais.
A cidade de Imperatriz, representada pelo HRMI não foge ao contexto nacional e
teve sua realidade ilustrada através dos casos apresentados, bem como da observação e
informações extra-oficiais levantadas no local.
Outro fato observado com facilidade é a presença de jovens nas escolas e outros
lugares públicos, dentro da faixa etária de adolescentes, evidenciando que são mães, através
das características físicas (barriga de grávida).
Acredita-se que uma ação conjunta do poder público, de educadores, da Igreja, de
profissionais e outros possíveis colaboradores pode contribuir para a reversão desse quadro
nacionalmente, nos próximos anos, através de políticas educacionais esclarecedoras, tais
como projetos que tratem o assunto com seriedade e sem hipocrisia. Imperatriz está nesse
contexto, e compreendemos que este estudo pode contribuir para o andamento dessas
iniciativas.

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REFERÊNCIAIS

BIBLIOMED, Inc. Adolescência e as primeiras experiências. 2004. Disponível em:


<sexuaishttp://boasaude.uol.com.br/lib/ShowDoc.cfm?LibDocID=4058&ReturnCatID=1781>
Acesso em 02/05/2007

FELISNAIDE, Santos. Informativo “o materno”. Nº 2, Edição comemorativa dos 25 anos


do Hospital Regional Materno Infantil de Imperatriz. Abril de 2007.

FONTES, Hélio A. F. Repercussões da Gravidez na adolescência. 1999. Disponível em:


<http://www.copacabanarunners.net/gravidez-na-adolescencia.html> Acesso em 02/05/2007

HILL, Mônica Flügel; URSO, Marilda Liliane. Gravidez na adolescência. 2003. Disponível
em:
<http://www.pastoraldacrianca.org.br/htmltonuke.php?filnavn=aprendendomais/aprendendo_
049.htm> Acesso em 02/05/2007

MOTTA, Magda Loureiro; SILVA, João Luiz Pinto e. Aspectos Médico-sociais: gravidez
na adolescência. vol 122, 1993.

SILVA, João Luiz Pinto e. Gravidez na adolescência: desejada x não desejada. Revista
Femina, vol 26, nº 10, novembro de 1998.

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ANEXOS

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ANEXO A: PARTOS REALIZADOS EM 2006

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ANEXO B: PARTOS REALIZADOS EM 2007

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ANEXO C: DEPOIMENTO DA ADOLESCENTE

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