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MODELOS ECONÔMICOS E

QUESTÃO SOCIAL
Expedito Leandro Silva
SUMÁRIO
1 O SURGIMENTO DO CAPITALISMO .......................................................... 3
2 MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA E CLASSES SOCIAIS.......................... 7
3 MATERIALISMO HISTÓRICO E DIALÉTICO .............................................. 11
4 A QUESTÃO SOCIAL E SUAS DIFERENTES MANIFESTAÇÕES ................... 14
5 APREENSÃO DAS PARTICULARIDADES DO DESENVOLVIMENTO DO
CAPITALISMO NO BRASIL ......................................................................... 18
6 LUTAS MOVIMENTOS SOCIAIS E MARCADORES DE CLASSE ................... 22

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1 O SURGIMENTO DO CAPITALISMO

O sistema capitalismo ao da sua trajetória evidencia-se em meio as diversas


experiências políticas, sociais e econômicas. No entanto, é compreensivo que seu
ressurgimento deveu-se ao modelo comercial experimentado inicialmente no período
da baixa Idade Média. Haja vista que o sistema feudal sofre as primeiras mudanças e
rupturas, consequentemente, o caráter autossuficiente das propriedades feudais, ou
seja, as terras começam a ser arrendadas e a mão de obra começou a ser remunerada
com um salário.

Nesse sentido, a burguesia medieval, firma-se enquanto categoria dominante,


implantando um novo sistema econômico, onde o lucro e a circulação de bens a serem
comercializados se faziam presentes praticamente em todas as regiões e grande parte
da Europa. Com base na experiência e nova lógica de mercado, onde o comerciante
substituía o valor de uso das mercadorias pelo seu valor de troca. Essa dinâmica
provocou um modelo de economia que se pautava em cima de quantias que
determinavam numericamente o valor de cada mercadoria. Dessa maneira, o
comerciante deixou de julgar o valor das mercadorias tendo como base sua utilidade e
demanda, para calcular custos e lucros a serem convertidos em uma determinada
quantia monetária.

Por outro lado, esse processo produtivo gerou e acentuou-se na expansão das
desigualdades sociais. Sendo assim, pode-se dizer que se as mercadorias são trocadas
de acordo com a quantidade de trabalho investido nelas, como se deriva a
desigualdade do sistema de igualdade? Seguinte o pensamento de Marx, vimos que a
natureza e o universo da circulação das mercadorias, tornam-se a base de todas as
outras; nesse caso a força do trabalho é a grande expoente desse processo. Haja vista
que o proprietário dos meios de produção, o capitalista, compra a força de trabalho.
Logo, como toda e qualquer mercadoria, a força de trabalho, a força produtiva passa a

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ser valorizada, seguindo as regras do mercado, ou seja, seu investimento caminha de
acordo com aquilo que é suficiente para a vida e a reprodução do trabalhador.

Assim sendo, o usufruto dessa mercadoria, a força bruta do trabalhador, dar-se-á no


mundo do trabalho em meio a instituição de novos valores, sociais e econômicos,
carregados de sentidos e significados. Sendo assim, a importância desses atributos,
valores, torna-se maior que aquela recebida pelo trabalhador para se manter
dignamente. Nesse processo, o proprietário dos meios de produção compra a força de
trabalho para explorá-la, gerando mais lucro e expandindo seu negocio. Esse modelo
de negociação e exploração é denominado modelo gerador das desigualdades sociais.

Vale dizer que as desigualdades sociais, estão inseridas no contexto do


desenvolvimento humano que se processa em meio a ampliação das liberdades das
pessoas, incluindo as dinâmicas sociais, econômicas, políticas e ambientais que são
importantes para se ter a garantia das oportunidades entre os indivíduos. Por outro
lado, o desenvolvimento humano deve ser centrado no desenrolar das pessoas e na
ampliação do bem-estar social, cultural, político econômico.

A miséria e pobreza

Ao longo da historia humana não se sabe ou não há registros de experiências de


alguma sociedade realmente igualitária, onde todos desfrutavam de bens e
oportunidades iguais. A exclusão social compreende uma junção de problemas que
levam ao isolamento e afastamento de uma pessoa da sociedade em que está inserida,
ou de um determinado grupo social.

No decorrer da história o homem vem buscando espaços de sociabilidade e também


distinguindo e descriminalizando grupos sociais. Em meio a esse processo
discriminatório em relação a condição de pobreza por exemplo, acentua-se em face do
contingente de populações de excluídos, carentes e desprovidas de acesso e usufruto
dos bens e serviços básicos para seu bem – estar. Inicialmente, isso se deve ao
desenvolvimento da sociedade moderna, que na sua totalidade difunde a ideia de que
todos são iguais.

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Quando se pensa ou justifica que no contexto social, todos são iguais perante a lei, ou
que todos são considerados iguais, torna difícil perceber ou identificar o sujeito em
dificuldade ou em situação de pobreza ou em condição de miserabilidade. Haja vista
que para muitos a pobreza é um incomodo e para outros pode ser algo natural,
normal.

Na sociedade contemporânea, a discussão relevante, tem sido o desenvolvimento da


indústria de massa e do seu mercado como geradores de oportunidades por meio do
consumo. Esse discurso é contraditório e preocupante, considerando o caráter
perverso do sistema capitalista que exclui por completo, o sujeito que não disponha de
poder de compra. Ou seja, o estilo consumista imposto a vida social é excludente,
provocando uma maior concentração e crescimento da pobreza.

No sistema social globalizado, onde se privilegia a economia como sendo o ponto


máximo de toda nação. Em contrapartida os agrupamentos sociais, vivem um estágio
de desequilíbrio sociocultural e econômico, onde a renda per capta e os índices de
classificação se fragilizam, diante das contradições e exigências do próprio mercado
competitivo. Por vezes a pobreza e a riqueza caminham juntas e atuam em meio ao
universo do relativismo. Por exemplo, os meios de comunicação de massa,
especialmente a publicidade e propaganda, difundem e seduz a todos, explorando
desejos e criando novas necessidades de consumo. Consequentemente, a pobreza se
depara diante de uma sociedade, consumista, mecanizada e informatizada que
expõem antigos e novos valores como sendo algo prioritário na vida do sujeito e do
grupo, além de criar uma imagem e sentimento de inferioridade aos outros que não
dispõem de recursos para a obtenção daquele produto ou serviço.

Em sintonia com os interesses do sistema econômico, o Estado moderno, assume a


condição de agente responsável pela política econômica nacional e gestor das ações
sociais, internas e externas. Nesse sentido, o estado pode ser um ator indireto e
também responsável pelas péssimas condições de vida e aumento da pobreza. Em
suma, a postura de uma política econômica, em cabeçada pelos governos neoliberais,
revela e acentua-se na redução do papel do estado, ou seja, os programas sociais, as

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políticas públicas, os direitos sociais, a distribuição de renda, entre outros, tem
provocado o aumento acelerado da pobreza e a expansão da miserabilidade.

No entanto, as políticas públicas priorizam ações ligadas ao desenvolvimento humano,


ou seja, atuam em meio ao processo de ampliação das liberdades das pessoas,
incluindo as dinâmicas sociais, políticas, econômicas, culturais e ambientais. Tendo em
vista garantir oportunidades aos sujeitos, por meio de programas associados a ideia do
desenvolvimento social humano, que deve ser centrado nos grupos e pessoas e na
ampliação do bem-estar-social, cultural, econômico e político. Nesse aspecto, vale
lembrar que as partes inseridas à renda, devem ser vista como um dos elementos que
proporcionam uma vida melhor, com qualidade assegurada e seu bem – estar. Haja
vista que quando as capacidades das pessoas são restringidas, assim são também suas
oportunidades.

Compreendendo que as teorias que norteiam o desenvolvimento, consideram como


causa, o universo e as consequência do universo do subdesenvolvimento. Seguindo
esse pensar, a política econômica tem vigorado em meio a ação governamental que
seguindo as normas do sistema capitalista, legitima o acúmulo de capital. Haja vista
que o estado desempenha uma conduta de um agente monopolizador, diante de sua
intervenção na vida econômica.

Por vezes, ao centralizar ou difundir as ideias de desenvolvimento social, econômico e


político, o estado transforma-se em instrumento e apoio as correntes, as forças
produtivas. Logo, o estado coloca-se como mediador da economia de marcado,
garantindo principalmente a estabilidade do setor produtivo privado. Em suma, faz
necessário, compreender as teorias do desenvolvimento, associadas ao ideário ou as
causas geradoras do subdesenvolvimento. Ou seja, a conivência do poder público com
o universo dos miseráveis, sem teto, sem terra, deslocados das suas casas e por vezes
refugiados em seu próprio país. São sujeitos anônimos, residentes nas periferias, no
mundo da exclusão, vivendo na marginalidade, adaptando-se ao submundo. Esses são
atores sociais, vitimas do estado capitalista burguês.

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2 MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA E CLASSES SOCIAIS

Para entendermos um pouco o que é modo de produção, partiremos da seguinte


indagação: o que eu preciso para viver? Em seguida a resposta poderia ser se
alimentar. No entanto, os mais adultos e conscientes diriam, para viver é preciso
trabalhar, exercer uma atividade laboral. Pois bem, a combinação do trabalho com os
meios de produção é denominada de força produtiva. Por vezes atividade produtiva
está associada ao cultivo da terra ou no trabalho da fabrica, entre outros. Haja vista
que todo elemento ou atividade material que produz qualquer tipo de riqueza passa a
ser considerado como meio de produção.

Portanto, meio de produção é tudo aquilo que gera patrimônio e riqueza. Assim sendo,
o dono do capital, dos bens e produtos, assegura que meios de produção, advêm da
matéria-prima que o torna instrumentos de produção. Enquanto que os trabalhadores
garantem a mão de obra, vendendo a força de trabalho.

Recapitulando um pouco a história do indivíduo e sua capacidade laboral, observa-se


que o modo de produção do homem primitivo, era baseado em atividade simples,
coletiva, comunal ou Comunitário.

Em outro momento da história ocorreu o domínio da propriedade privada por meio do


poder legal, religioso ou das armas; surgiu o modo de produção denominado
escravista que determinava as relações de domínio e de sujeição entre senhores e
escravos.

Postaeriormente, surge o modo de produção feudal que imperou por um longo


período da Idade Média, entre os séculos V e XVI. Esse modelo de produção
consolidou-se por mil anos, tornando-se não só o mais perfeito e sistemático pelos
senhores feudais, como também o mais puro e divino pela Igreja Católica da época.

Dando sequência a linha de tempo, temos o período do sistema mercantilista que


perdurou entre os séculos XI e XVI, dando surgimento a uma nova classe econômica e

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um pensar político e social. Ou seja, tem-se o inicio de um novo modelo econômico
que posteriormente, denominou-se modo de produção capitalista burguês.

O modelo econômico e industrial, ora testado incorporou a denominada burguesia


industrial que possibilitou ao mercado maior expansão e enorme demanda por
mercadorias. Instala-se a maquina a vapor que propicia uma verdadeira revolução na
produção industrial.

Conduto observa-se que burguesia moderna apresenta-se ao longo do seu


desenvolvimento como parte do seu produto que incorpora uma série de mudanças
no modo de produção e de troca.

Nota-se também que o processo evolutivo da classe burguesa ensejava demanda


política correspondente. Ou seja, rompia com a ideia de classe oprimida pelo
despotismo feudal e firmava-se como classe ideologicamente burguesa liberal, onde a
grande indústria e a expansão do mercado mundial estabelecem regras de conquista e
soberania na institucionalização de um estado moderno. Logo, o governo moderno, o
estado burguês é um gestor do modelo capitalismo.

É compreensivo que o modo de produção capitalista, consolida-se em duas forças


produtivas consideradas básicas para sua dinâmica e funcionalidade, isto é, temos o
capital privado, garantido e assegurado pelo empresariado que se realiza por meio de
ações particulares ou privadas para a compra e manutenção dos meios de produção.

A segunda força de produção revela-se por meio do trabalho assalariado, onde o


operário, o trabalhador qualificado ou não qualificado, garante a manutenção da
atividade laboral como força. Por vezes a relação se dá pela “venda” da força do
trabalho humano por um salário.

Notadamente, essa relação produtiva não garante a definitiva funcionalidade e


segurança do sistema, principalmente no quando se refere à exploração dessa mão de
obra por parte do empresariado. Vale lembrar que a expressão relação é de suma
importância para os estudos da sociologia. Por isso, o fundamento dessa teoria é a
discussão e identificação dessas relações. Considerando que é impossível viver em

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sociedade sem a presença do setor produtivo, sem sua produção, as relações de
produção, tornam-se essenciais para o convívio e manutenção da sociedade. Sendo
assim, é compreendido que ninguém vive sem comer, sem vestir. Portanto sem
produção não se pode existe vida social.

Quanto as relações políticas, Marx pensa em modelos padronizados, produzidos no


interior do universo capitalista. Nesse sentido, é visível que as contradições entre as
classes sociais não se limita a uma diferença em relação ao número de bens e
produtos, mas também externam uma diferença de existência material. Haja que os
sujeitos de uma mesma categoria ou classe social comungam de ações que inclui
valores, comportamentos, regras de convivência e interesses.

Em suma, vimos o desenrolar dos interesses antagônicos das classes sociais,


especialmente no que se refere a produção econômica, política e ideológica. Seguindo
a interpretação de Marx, pode-se dizer que as condições exclusivas geradas pela
dinâmica do trabalho e consequentemente pelo sistema industrial em geral propagam
um discurso de que existem interesses comuns para o conjunto total da classe
assalariada. Nesse aspecto, tende a movimentar ações em prol da organização política
e social de classe subalterna.

O desempenho do assalariado em quanto classe trabalhadora, está associado a


condição de sujeito explorado que ao longo da história vem penando e empobrecendo
em razão do seu trabalho mau pago. Resta a esse sujeito, juntar-se aos demais
empobrecidos e constituir de forma consciente e organizada mobilização política de
independência.

Finamente, Marx entendeu que seria necessária a existência de um sistema que


viabilizasse e garantisse um equilíbrio entre as forças produtivas. Daí a sociedade
Comunista, idealizado por ele, seria possuidora de um modo de produção socialista.
Assim sendo, o sistema capitalismo, aliado ao seu modelo de produção específico e
estratégico, estaria entrando em colapso dada as contradições que são típicas do
sistema produtivo de mercado.

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As novas Forças Produtivas seriam, segundo Marx e Engels, a intervenção do proprio
estado e mais o proletariado. Seguramente, o proletariado seria a vertente socialista
do trabalhador assalariado capitalista. Por outro lado o estado assegura em sua
funçãoo que antes estava ao comando do empresariado e do estado burguês.

A ação do estatal viabilizada por meio do modo de produção socialista, levaria ao


conjunta da sociedade a percorrer, experimentar um sistema mais harmonioso e
socialmente mais humano.

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3 MATERIALISMO HISTÓRICO E DIALÉTICO

Para compreender o desenvolvimento do sistema capitalista e explicar a essência de


sua natureza na organização social e econômica, Marx instituiu uma teoria que norteia
os princípios básicos por meio de um método específico de análise. Que denominou de
materialismo histórico.

Enquanto teoria, o materialismo histórico atua sob a perspectiva da transformação do


sujeito e sua capacidade organizacional nos meios institucionais e na própria
sociedade. No decorrer do processo histórico, essa capacidade de produção tem se
revelado em meio às relações sociais de produtividade. Tendo em vista que as
transformações sociais não se materializam por meio das ideias, ou seja, considera que
o universo de valores materiais se efetua nas condições econômicas.

O pensar norteador do materialismo histórico está em compreender o processo


evolutivo da sociedade, envolvendo a sua dimensão histórica e social, bem como
referendar as mais diversas categorias e classes sociais, contextualizando a ideia
central de Marx que é "exploração do homem pelo próprio homem".

Vale dizer que a linha que orienta o materialismo histórico, evoca que em todos os
setores do sistema econômico e especificamente o modo de produção, se concretiza
por meio das contradições sociais, econômicas e políticas, isto é, o sistema de
contradição provoca em seu desenrolar a extinção e consequentemente, irá ser
substituído por outro modelo de sistema, considerado tecnologicamente mais
aprimorado ou avançado para maior desempenho da vida social e econômica.

Portanto, sendo um método cientifico, o materialismo histórico e dialético,


fundamenta-se no rigor da ciência e nos conceitos pertinentes sobre natureza,
sociedade e leis de seu desenvolvimento, entre outros. A dinâmica da produção social,
para Marx, envolvia dois fatores primordiais: as forças produtivas e as relações de
produção.

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Como vimos anteriormente, as forças de produção se encarregam e estão aliadas as
condições materiais de todo o sistema produtivo. Haja visto que a estrutura de uma
dada sociedade ou instituição social qualquer, é o reflexo e a maneira de como os
sujeitos, atores históricos e sociais, organizam a produção social de bens e serviços.

Por vezes, o caráter revolucionário de transformação, é subsidiado pelos meios que


constitui o despertar da consciência de classe que funciona como instrumentos para se
chegar ao conhecimento, e instituir o processo de transformação revolucionária.

Finalmente os conceitos que orientam o saber filosófico em relação ao denominado


socialismo científico, estão associados ao pensamento orienta e interpreta
materialismo histórico e dialético.

Marx e Engels conceituaram o socialismo cientifico, sob a perspectiva de mudança e


transformação, ou seja, refletir com precisão a maneira de como fazer para realizar a
mudança e implantar uma sociedade mais igualitária. São eles que difundem e
notabilizam-se com o ideário do socialismo cientifico, isto é, sistematizam e institui
uma ciência que possibilite por em prática as suas teorias.

Pode-se dizer que a partir do pensar filosófico fundado no socialismo cientifico, Marx
apropria-se de três coisas que eram bastante propagadas em sua época e botou
juntas:

• A dialética que assume seu caráter teórico, onde afirma que tudo contem em si
a própria contradição. Ou seja, tudo que é temporal é também imperfeito,
devendo aperfeiçoasse para garantir o caráter permanente da mudança.
• A economia política, orientada principalmente pelos pensadores ingleses, entre
eles a ideia de Adam Smith e David Ricardo, onde afirmam que todo valor
resulta do trabalho humano, portanto, é o gerador das riquezas;
• O socialismo, que propõe um sistema social político, baseado no espírito de
igualdade, solidariedade e justiça social para todos.

Em suma, a junção dessas três linhas de pensar, ele denominou de socialismo


cientifico. Haja vista que a possibilidade de mudança está associada a dinâmica da

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dialética; a atividade laboral, onde o trabalho é o que produz tudo, é identificado com
a teoria do valor; e o espírito coletivo, onde a igualdade é princípio de tudo, é a prática
do socialismo.

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4 A QUESTÃO SOCIAL E SUAS DIFERENTES MANIFESTAÇÕES
As questões sociais estão inseridas no universo da luta de classe e suas contradições,
geradas pelo sistema capitalista e a exploração da mão de obra (capital e trabalho).
Desse modo tem-se uma categoria que atua e se define estrategicamente no cerne do
modo de produção e do seu mercado competitivo.

O processo que envolve a questão social nada mais é do que as ações que constituem
um formato, um modelo de desenvolvimento das classes trabalhadoras, e sua
intervenção, ou ascendência no campo político da sociedade propriamente dita.
Melhor dizendo, isso ocorre através da apropriação da consciência de classe, que exige
seu reconhecimento por parte da elite capitalista e também do Estado, como
categoria, classe social e sujeito da história.

A complexidade retratada nesse cenário resulta das manifestações, das reivindicações


projetadas cotidianamente, entre trabalhadores e proprietários, ou seja, proletários e
burgueses.

É bom lembrar que as manifestações sociais, provocam transformações no interior da


sociedade. Assim sendo, devem ser interpretadas através da dinâmica social e da
compreensão do individuou na sua ação política, econômica e cultural, ou seja, na
perspectiva da transformação da sociedade. Vale dizer que a ruptura e transformação
dependem das relações contraditórias que sucedem entre as forças produtivas e as
relações ou forças de produção, acentuadas com o desenrolar das lutas de classes.

Nesse sentido, tomamos como referencia os movimentos sociais, que envolvem suas
ações coletivas, em uma dimensão social, político e cultural, isto é, onde os sujeitos
envolvidos participam de atividades e ações concretas, cuja força acentua-se na
capacidade de organização social.

Observa-se que a capacidade de organização das pessoas, diante de uma demanda


social, vem associada uma experiência de luta, que pode ser considerada como um dos
elementos de força e resistência. Vale dizer que o sentido da luta, se refaz ou recria

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novas práticas de aprendizagem e significados entre os mais variados atores dos
movimentos sociais.

Compreende-se que o processo de transformação social, está em sintonia com as


contradições e também com as lutas de classes que se desenvolvem no universo real,
firmando-se materialmente sua base social. Por isso, o sujeito passa a ser considerado
como individuo atuante do processo histórico e dialético. Por vezes a transformação
social, acontece na medida em que as contradições se revelam em meio a estrutura ou
base material da sociedade.

A origem e consciência de determinadas forças, podem atuar no sentido de transforma


ou conservar a realidade social. Recorrendo ao pensar de Marx, poderíamos dizer que
o processo de transformação social, orienta-se pelo ideário do desenvolvimento das
forças produtivas e interligando-se com as relações de produção e ideológicas.

Imaginando que as questões sociais se afirmam como uma espécie de incertezas no


contexto da civilização moderna, e que sua presença provoca um desequilíbrio, entre o
universo do consumo, particular e individual e a vida coletiva, partilhada comum a
todos. E podemos acrescentar outro aspecto da questão social, que se faz presente
entre as exigências de condutas éticas e de direitos.

Nessa definição a questão social, estrutura uma dinâmica que incorpora


categoricamente as contradições do modo de produção capitalista. Por vezes, o
modelo contraditório vigente, justifica a produção e apropriação do lucro ou de toda
riqueza, oriunda de uma atividade laboral, socialmente produzida. Logo, os detentores
dessa mais valia são os trabalhadores. No entanto, o proprietário dos veículos de
produção se apropria de todo o lucro e riqueza. Restando ao trabalhador a exclusão e
não participação das riquezas que ele mesmo produziu.

Veja bem, a questão social insere-se numa perspectiva de estudos e reflexão do


contexto social contemporâneo. Haja vista que a ideia de um consenso de pensamento
e atitude, onde o fundamento básico que constitui a questão social não existe. Melhor
dizendo, não são todos os estudiosos que compreendem e analisam as contradições
sociais, geradas pela relação capital trabalho.
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Isso aponta que para se fazer a análise da sociedade, mas especificamente da
categoria questão social, é preciso está ciente de uma atitude reflexiva, onde a
situação em que se encontra a maioria da população, sobretudo, os atores que só
disponibiliza a venda de sua força de trabalho os meios para garantir sua
sobrevivência. É revelar as diferenças entre trabalhadores e patrões, no que diz
respeito ao acesso a direitos, ao modo de vida de cada classe social; é também
verificar as desigualdades e encontrar novos modelos para de superá-las. Em síntese,
isso significa entender as causas geradoras das desigualdades, e o que esse universo de
exclusão provoca, resultando na sociedade e na subjetividade dos homens.

A conjuntura, as causas geradoras dos fenômenos sociais, situam-se mas mais variadas
circunstancias e objetos situacionais, entre os quais destacamos: desemprego, fome,
violência em geral, analfabetismo, condições de moradia precárias, analfabetismo
político, alienação, entre outros. Ou seja, tem-se a instituição de um modelo
profissional que em geral resulta da condição de miserabilidade gerada pelo
capitalismo competitivo. Entre essas novas ocupações laborais ou de trabalho, citamos
como exemplo algumas: vendedores ambulantes em semáforos, guardadores de
carros, catadores de papel; limpadores de vidro em semáforos; entregam propagandas
nos semáforos; sacoleiros que vende mercadorias contrabandeadas, vendedores
ambulantes de frutas; etc. Outros que também integram esse mesmo contingente
populacional costumam frequentar igrejas no intuito de encontrar saída para condição
de miserabilidade em que se encontram.

Nesse sentido, a contradição e os interesses das categorias sociais, inseridas no


sistema capitalista, isto é, entre produção e consumo, resulta de um longo processo,
onde os capitalistas buscam atender suas expectativas de lucro. Dessa forma, tem-se
um modelo de desenvolvimento que impera, sob o prisma da classe dominante, as
forças produtivas. Seguidamente, o predomínio da classe dominante, tenta manter
seus privilégios, porém a classe subalterna, os trabalhadores, atua em promover
mudanças e rupturas no modelo excludente, ou seja, pretendem libertar-se das
amarras do explorador.

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Frente a essa ruptura, tem-se o desenvolvimento da revolução social que resultaria de
um modelo de conscientização e uso da força do próprio trabalhador, ou seja, o
assalariado conquistaria o poder político. Sendo assim, a propriedade privada, os
meios de produção, seriam transformados em propriedades coletivas e
consequentemente a transformação do homem capitalista em um homem do pensar
coletivo, cuja prática centraliza-se na sociedade comunista.

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5 APREENSÃO DAS PARTICULARIDADES DO DESENVOLVIMENTO DO
CAPITALISMO NO BRASIL

Ao longo da história do Brasil, especificamente a discussão em torno do


desenvolvimento econômico brasileiro, tem-se pautado em questões que engloba
modelo de desenvolvimento econômico e as desigualdades que vigoram direta e
indiretamente na economia brasileira.

No decorrer do seu desenvolvimento social e histórico o Brasil vem passando por


várias transformações econômicas e sociais, especialmente a transição de econômico
agrário-exportador para o sistema econômico industrial, ao longo do século XX.
Mesmo considerando um elevado crescimento econômico vivenciado nesse período,
ou seja, também se acentuou um aumento nas desigualdades sociais, tanto entre os
indivíduos, como também nas esferas regionais. Ou seja, essas mudanças e
transformações não contemplaram o sistema de distribuição entre seus beneficiários.

Entende-se que a composição do capitalismo industrial brasileiro não se revela


isoladamente, seu desenvolvimento encontra-se em sintonia com o sistema de
produção e expansão do capitalismo global, sediado nos países denominados de
primeiro mundo ou nações desenvolvidas economicamente. Nesse contexto, o lugar
do Brasil e demais países da América Latina, assim como os países africanos, entre
outros. Foram demarcados ao longo da sua história por políticas econômicas de
exploração colonial, típico do modelo pré-capitalista.

Como decorrência desse modelo estrutural de desenvolvimento, as desigualdades


sociais e econômicas, centradas nos centros urbanos das metrópoles, tendem a
aumentar e aprofundar ainda mais a distancia entre as classes sociais. O que preocupa
nessa breve reflexão, tem sido o modelo econômico da acumulação primária ou
mesmo primitivo que no desenrolar do capitalismo brasileiro, destacou-se em meio às
relações econômicas, atuantes nesse sistema contraditório e perverso, que propaga
um discurso moderno, mas atua sob o prisma de uma sociedade arcaica.

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Em face de isso, o capitalismo é um sistema econômico internacional, que se
consolidou em meio a diferentes períodos, entre os quais destacamos: capitalismo
comercial, capitalismo industrial, capitalismo financeiro e capitalismo estatal
monopolista e atualmente capitalismo pós-industrial. Notadamente, cada país ou
nação teve que se adequar ao modelo da divisão internacional do trabalho sob a
orientação e diretriz do sistema mundial de mercado.

Retomando um pouco da historicidade do capitalismo ou do sistema mercadológico no


Brasil, temos a composição de um capitalismo nacional datado desde a época da
chegada do português as terras brasileiras (1500). Grosso modo, pode-se afirmar que
os homens conduzidos por Pedro Álvares Cabral em suas caravelas ao desembarcarem
em solo brasileiro, automaticamente aquele povo – os indígenas – foram introduzidos
na divisão internacional do trabalho.

A história narra que foram dezenas de caravelas, portuguesas, francesas e holandesas,


que embarcavam o principal produto brasileiro, o Pau-Brasil. Como é sabida, toda
madeira era negociada em altíssimo valor, por que dela podia extrair-se uma tinta que
ornamentava e coloria as obras de arte e os tecidos em geral.

Essa madeira era cortada, processada estocada por meio da Mão de obra dos índios
que formavam um contingente de sujeitos explorados, pelo estranho que proporia as
relações de troca, onde o índio, um trabalhador nato, adentrava na mata dias e mais
dias em troca de objetos manufaturados como tecidos ou objetos insignificantes
trazidas da Europa.

Em outro momento, presencia-se o surgimento de uma elite agrária rural que firma-se
em sintonia com o pensar ideológico do capitalismo urbano da metrópole que cresce
de maneira desordenada, desigual no Brasil.

O modelo emplacado no capitalismo rural faz parte da grande concentração de terras


que desde a colonização veio sendo distribuída sem precedentes: primeiro foram às
capitanias hereditárias, aos donatários, depois aos grandes latifúndios, coronéis
exploradores da cana-de-açúcar para a metrópole. A elite rural tenta se impor como
classe dominante que impera em relação aos interesses urbanos, porém não consegue
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e sua posição tem um menor alcance, um reconhecimento reduzido em comparação a
vida na metrópoles que almeja o desenvolvimento, fundado no modelo exportador
seguindo os moldes do capitalismo industrial da Europa.

Outro dado relevante na constituição do capitalismo brasileiro, foi o período da


mineração de ouro na região das Minas Gerais, possibilitou uma relativa melhoria no
setor da infraestrutura e consequentemente um estilo de vida e urbanização, ligado as
artes em geral.

O sistema mercantil do ouro e o processo de escoamento para a metrópole


concentravam uma elite economicamente fraca, ou seja, sem muita repercussão
localmente. Diante desse quadro surge uma parcela minoritária, mas significante,
economicamente, comercialmente e ideologicamente. Ou seja, nasce a figura do
pequeno-burguês, encarnada na figura de médicos, os advogados, os professores,
anteriormente só encontrados na Europa ocidental.

Com o passar do tempo, o sistema produtivo e a economia brasileira volta-se ao


cultivo da agricultura cafeeira. Tem-se o café como a maior e mais rentável atividade
econômica do Brasil, tornando-se o produto mais valioso para exportação.

Sua produção permaneceu por longas décadas firmadas na mão de obra escrava. Onde
seu potencial, sua carência de um sistema mais aprimorado com uma infraestrutura,
mais aprimorada, fez surgir as primeiras ferrovias do pais, ligando ao porto de Santos,
ou seja, agilizando o escoamento de toda.

Por outro lado, a dinâmica da economia cafeeira, provoca investimentos em outras


áreas e demandas, tais como: instalação de pequenas e médias indústrias, e também,
grande indústria do ramo têxtil, entre outras. Todas destinadas ao usufruto de bens de
consumo não duráveis.

Esse processo histórico da economia brasileira revelou um país que ainda não
conquistara o titulo de uma sociedade capitalista, aos moldes de um capitalismo
moderno e competitivo. Haja vista que a década de 1930 é identificada pelos analistas
econômicos como um período pré-capitalista com afinidades de um sistema

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econômico e ideológico que lembra o sistema semifeudal. Ou seja, ainda encarecia de
uma revolução industrial a moda da casa, brasileira.

Vale ressaltar que a década de 1930 é mundialmente demarcada por uma crise
econômica que foi desencadeada por meio da queda da bolsa de valores de Nova
Iorque. Nessa mesma época, no Brasil, Getúlio Vargas assume a presidência e passa a
investir no ideal nacionalista e no desenvolvimento de uma política de industrialização.
Porém não abandonou o setor mais forte da economia brasileira que se destacava no
ramo da produção agroexportadora e ao mesmo tempo enfrentava uma crise sem
precedentes.

O processo da crise econômica que se instalou no setor cafeeiro, contribuiu para o


aumento do processo migratório, ou seja, os trabalhadores do café da região Sudeste e
também os trabalhadores da região do Nordeste, foram paulatinamente se
transformando em operários. Seu deslocamento do campo para os centros urbanos
provocou um crescimento e uma grande concentração de pessoas nos centros
urbanos, principalmente nas cidades do rio de Janeiro e São Paulo.

Finalmente, pode-se dizer que a primeira fase da formação capitalista no Brasil, deveu-
se aos investimentos governamentais no que diz respeito a infraestrutura produtiva,
onde a denominada indústria de base demarca o capitulo inicial da história política e
econômica de grandes proporções, tais como: as grandes companhias estatais aqui
destacamos: a C S N - Companhia Siderúrgica Nacional, a Petrobrás, a Companhia de
Mineração Vale do Rio Doce, entre outras.

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6 LUTAS MOVIMENTOS SOCIAIS E MARCADORES DE CLASSE

Quando nos referimos as “lutas”, é necessário entender que fazem parte de um


conjunto de ações, onde os sujeitos atuam coletivamente, priorizando a mudança e
transformação da sociedade. As lutas sociais se reportam por meio de uma
necessidade sociopolítica que impulsiona o modo de pensar, o saber fazer no universo
das práticas sociais.

Nesse sentido, as lutas são partes da ação política de cada pessoa ou de todos que
integram o grupo social, a comunidade, a categoria e etc. Por isso, cabe-nos pensar
que as lutas existem e são motivadas pelo ideal emancipatório daqueles que
constituem os movimentos reivindicatórios, se impondo historicamente no
reconhecimento dos direitos legítimos. Essas lutas se emanam nas mais variadas
categorias e manifestações, como por exemplo, o movimento feminista, o ideário
multiculturalista, onde suas bandeiras de lutas se revelam em meio as questões
étnicas, raciais e culturais, a luta contra a ideologia colonial presente ainda hoje nos
países emancipados, os movimentos contra todo tipo de opressão e autoritarismo, a
luta contra a marginalização e o preconceito, entre outros. Estas bandeiras de lutas se
efetuam nas reivindicações e também na construção de identidades plurais coletivas,
que se firmam na luta por igualdade de direitos e modos de vida.

A pauta das lutas inclui uma dinâmica própria, um discurso especifico ensejado nos
conflitos sociais que orienta questões de reconhecimento e ações inovadoras em
relação a política e o direito. Haja vista que as lutas instituem na busca por
reconhecimento que possibilitem aos sujeitos o sentido de romper com a política
individualista e hierárquica do Estado liberal.

O Estado moderno se orienta por constituições inovadoras, onde reza o ideário do


Estado Democrático e de Direito, onde os cidadãos associam-se a experiência do
direito coletivo, do usufruto dos direitos sociais, ou seja, aqui o direito é visto como
instituição social, com fundamentos do pensamento jurídico liberal. Ao ser
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questionado em face às demandas, as necessidades e conflitos de interesses, o direito
em vigor passa a ser enfrentado no duelo da política, com os integrantes dos
movimentos coletivos que lutam em torno de objetivos comuns, acentuados na
distribuição de bens ou de direitos iguais.

Compreendendo que a política adotada pelo estado é fundada no modelo liberal.


Consequentemente a constituição e o próprio direito é o retrato desse sistema estatal
capitalista que privatiza o direito como instituição normativa. Logo, a luta social se faz
oportuna na medida em que questiona a conduta daqueles que desconsideram e
oprimem os demais que se encontram a margem das benesses do Estado do bem estar
social. Notadamente, é visível que a distribuição justa ou mais equilibrada de bens e
serviços coletivos tem sido mantida sob práticas ou maneiras de reivindicações e
exigências no contexto de um reconhecimento público. Melhor dizendo, pela defesa
da própria integridade de maneiras de viver a sua vida, as tradições, os costumes, onde
os integrantes do movimento se identificam enquanto sujeitos e atores sociais.

Nesse processo de enfrentamento, as lutas estabelecem metas no tocante ao


reconhecimento das políticas públicas de afirmação e das diferenças para as quais o
pensamento liberal comporta-se como agente de individualista. Contrapondo as lutas
sociais, o Estado liberal propaga a ideia da liberdade individual e comunitária, ou seja,
o comunitarismo liberal defende o principio de que o sujeito deverá ser assistido,
segundo a determinação jurídica. Em síntese, a doutrina do Estado liberal, exclui o
caráter reivindicatório das lutas sociais.

A luta por direitos iguais acentua-se na ideia de que não é possível existir direitos sem
autonomia, e não se pode conceber, vivenciar experiências democráticas sem a
existência do direito. Diante disso, caso se queira implantar um modelo ou até mesmo
um sistema fundado nos direitos efetivos por meio do processo democrático e
participativo, faz necessário considerar, o contexto sociocultural das diferenças, sob o
olhar da sensibilidade, do desdobramento de cada grupo social existente. A conjuntura
política, as lutas que objetivam seu reconhecimento, constitui uma apropriação que
leva a uma identidade real, crítica e reflexiva das próprias origens, das maneiras, dos

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modos de vida nos quais os cidadãos e cidadãs, nasceram, e a partir da qual desejam
decidir quem é e quem se afirma em atores sociais.

Atualmente, os movimentos reivindicatórios se alinham em torno de diferentes lutas e


bandeiras, ambos ficam suas demandas por reconhecimento e reparos causados pelo
sistema de desigualdade social. Esses grupos de lutas se mobilizam, sob os mais
variados temas: reconhecimento da sua nacionalidade, etnicidade, raça, gênero e
sexualidade, entre outros. Em suma, são lutas emancipatórias que participam e se
fazem presentes, emanados de políticas públicas, culturais e sociais.

Movimentos Sociais

O movimento social pode ser definido como um conjunto de ações coletivas com perfil
social, político e cultural que mobilizam as diversas camadas da população a se
organizar e expressar seus desejos, demandas e preocupações. Na realidade essas
maneiras de agir coletivamente adotam diferentes estratégias que se revelam entre
uma simples denúncia, ou uma pressão maior, ligada a uma passeata, marcha,
concentração, acampamento, atos de desobediência civil, negociações, entre outras.

As experiências coletivas e a memória grupal são elementos referenciais que


propiciam força na organização dos movimentos sociais, dando sentidos de resistência
e vitalidade a luta, ou seja, é o oxigênio da sociedade. Os movimentos sociais externam
resistência ao modelo socioeconômico que o oprime, e se fortalecem na perspectiva
de uma nova sociedade. No entanto, não se pode esquecer a existência de
movimentos sociais, cuja sua ação social é centrada na linha conservadora e liberal,
defensores de ideologias fundamentalistas, xenofobias nacionalistas, religiosas, raciais
e etc. Em geral esses movimentos utilizam-se da força e da violência, alguns contam
com o amparo estatal para justificar ou firmar suas ações.

Em contra partida, os movimentos sociais denominados progressistas se pautam por


uma agenda emancipatória de independência e liberdade, onde a realidade social se
firma como proposta. Suas ações inserem-se em redes de articulações coletivas como
instrumentos de resistência a exclusão e também a luta pela inclusão social. Pode-se
dizer que as redes sociais estruturam novas ferramentas que objetivam o
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fortalecimento das bandeiras de lutas do próprio movimento. Com o advento das
tecnologias digitais, esses movimentos têm ampliado sua atuação, especialmente por
meio das redes virtuais, via online. Haja vista que as associações de bairros do tipo
comunitárias e outros movimentos de grandes proporções, como por exemplo, a
marcha de mulheres, assim como outras entidades que atuam contra a globalização,
debate questões de gênero, questões ecológicas, etnicidade, religiosas, e até mesmo
praticas tradicionais e contemporâneas, se constituem em redes socioculturais, que
credenciam seus integrantes ao universo de sentimentos e pertença social.

Os movimentos atuais tem buscado sua autonomia e estão cientes que não se pode
ser contra tudo e contra todos, mas ser possuidor de independência que se
fundamenta em projetos e interesses que envolvam sujeitos, munidos de atitudes e
estratégias, isto é, possuidores de uma criticidade em meio a ação política que priorize
o exercício da cidadania. O ideário de igualdade e as experiências das diversidades
culturais se movem em direção de uma sociedade democrática munida de justiça
social. Por isso, uma vida cidadã requer uma interação entre direitos e deveres, oposta
ao conceito de cidadania neoliberal propagado pelos defensores do mercado, onde diz
que ser cidadão e ser consumidor em potencial. Contrapondo ao mercado, entende-se
que ser cidadão é alinha-se a ideia de civilidade, é a prática do espírito republicano.

A trajetória atual dos movimentos populares e sociais no Brasil demarca sua existência
nos fins da década de 1970 e primeiros anos da década de 1980, a época esses
movimentos instituíram-se em grupos de oposição ao regime ditatorial civil militar,
especialmente os grupos de orientação cristã, cuja inspiração foi a Teologia da
Libertação. Ainda na década de 1980 os movimentos populares como eram
identificados a época assumiram um papel de grande importância para a sociedade
brasileira que foi a mobilização nacional de forma organizada, pressionando lideranças
públicas e políticas para a conquista de novos direitos sociais e sobretudo na
elaboração da nova Constituição brasileira de 1988.

Posteriormente, surgiram outras experiências de organização popular, entre as quais


destacamos: Fóruns Nacionais de Luta pela Moradia, Fórum pela Reforma Urbana,
Fórum Nacional de participação Popular, Movimento Nacional de Direitos Humanos,
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Central de Movimentos Populares, entre outros. Estes fóruns e entidades agregaram
experiências nacionais, englobando diagnósticos e problemas sociais. Seguidamente
outros atores sociais foram surgindo e os grupos de mulheres é o que mais se destacou
nos anos de 1990, especificamente na atuação política de conscientização dos seus
direitos e nas lutas contra o processo discriminatório. Juntaram-se a esses grupos, o
movimento dos homossexuais, denominados inicialmente de LGBT, que ganhou força
e destaque com a marcha do orgulho gay. Seguindo essa lógica o movimento afro-
brasileiro se firma em meio as manifestações culturais e reivindicações de políticas
afirmativas e políticas identitárias. Além dos movimentos indígenas, ecológicos, dos
sem terras e sem teto, e etc. Na virada do século XX para o XXI, suas bandeiras de lutas
tem sido a ruptura do modelo neoliberal, desenhado pelos defensores do Estado
mínimo.

Marcadores Sociais

Partindo do principio que as sociedades humanas têm suas especificidades em relação


às outras culturas, é pela manifestação cultural que se diferencia dos outros animais.
Portanto, a expressão cultural pertence unicamente a vida humana.

Os grupos sociais modernos relacionam-se em meio a complexidade dos seus afazes,


caracterizando num intenso processo interativo entre grupos e segmentos sociais.
Assim sendo, o processo social se revela por meio de mecanismos socializadores
básicos e diferentes ao mesmo tempo. Haja vista que os processos de aprendizagens
vivenciados pelos indivíduos interiorizam as práticas socioculturais, no modo de
organizar, pensar e agir, efetivamente.

Entendendo que os indivíduos participam de modos diferenciados da sua cultura, os


marcadores sociais correspondem aos diversos modos de integrar, ou participar de
outras experiências socioculturais. Assim sendo, os marcadores sociais permitem
identificar outros modos de vida que se revelam por meio da identidade cultural.
Pensando assim, a interação e o respeito às diferenças, exige uma reflexão sobre o
impacto causado pelo o mundo global e as ações locais. Ou seja, atuar localmente é
está conectado como as transformações do universo global. Por isso, quando se fala

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em marcadores sociais, reportam-se a marcas que definem a própria identidade de
cada pessoa, tais como: sexo, classe social, raça, idade ou etnia. Por vezes, os
marcadores sociais estão inseridos no mesmo de esquema de idade e gênero que
constituem critérios básicos de diferenciação biológica que nas sociedades humanas
tornam-se significativos pela sua apropriação cultural.

Ao observar o universo de gênero, tem-se um discurso que envolve a diferença entre


os sexos. Portanto, o critério ideológico é também inserido nas instituições, revelado
nas estruturas, nas práticas e nos rituais, onde tudo contempla as ações sociais. Em
suma, o discurso constrói o sentido daquela realidade. Vale dizer que o gênero é
culturalmente construído, podendo ser entendido como um marcador de diferença
social. Mais precisamente, o gênero é um marcador social, devido os distintos sistemas
de diferenciação social, que se encontram inseridos, isto é, tanto o masculino e o
feminino, assim como todas as formas de experiências homoafetivas. Notadamente, a
distinção de gênero acentua-se em marcadores sociais de diferença.

Vale dizer que o universo complexo da social, se revela não somente por meio da
diferença de sexo, porém, deve ser considerado as condições e suas estruturas que
propiciam aos sujeitos sociais a aceitar ou transformar os estilos e modos de ser do
gênero que são produzidos, criados ou reinventados pelos sujeitos coletivamente ou
de forma exclusiva, na sua individualidade. Diante disso, institui-se um modelo de
comportamento e ação questionadora no que diz respeito à desigualdade de gênero e
demais relações sócias. No setor profissional, por exemplo, o universo do preconceito
surge muitas vezes de maneira camuflada e perniciosas. Por vezes não se refere de
instituir uma ideia de igualdade perfeita, equilibrada e justa entre os sujeitos, isto é, o
ideário em questão é o conceito de equidade, acentuado nos direitos coletivos e iguais
a todos.

Desse modo, estabelecem as classes sociais que devem primar pela participação dos
indivíduos, no tocante a distribuição de bens e serviços, entre os grupos sociais que
historicamente são demarcados, em sistemas diferenciados, de renda, bens, prestígio,
poder, ideologia, entre outros.

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Em geral, setores sociais utilizam-se de critérios, sociais e econômicos para caracterizar
ou classificar as diferenças sociais. Logo, a categoria povo, ou mesmo a classe social
seria um tipo exclusivo de estratificação social. Lembrando que a ideia de classe social
aprece nas análises de Karl Marx, como uma ferramenta teórica da luta de classe que
compõem as transformações sociais e históricas no mundo da vivencia política,
econômica e da cultura. Esses são de fato os objetos reflexivos dos marcadores sociais.

Considerando que o termo que orienta a classe social não é objeto único, pertencente
ao pensar marxista, e sua dinâmica economicista pode ser vista, sob o olhar de
conceitos e definições não necessariamente econômicos. Parece normal e costuma-se
afirmar que as desigualdades sociais estão relacionadas a fatores do mundo da
economia. Outro marcador social relevante é o universo da pertença, as etnias que
manifestam, marcando suas diferenças, através do grupo social, especificamente pela
expressão da cultura. Por isso, compreender as etnias, é adentrar no mundo das
diferenças, é também reconhecer que o grupo étnico pertence e convive em meio ao
processo histórico e cultural, continuamente.

Ao analisarmos o contexto histórico e social dos grupos ou classes sociais, nota-se a


presença das desigualdades e a diversidade social. Entende-se que muitas das
diferenças são de natureza humana, Haja vista, o gênero, a cor da pele, idade, altura,
entre outras. Porém as desigualdades sociais são instituídas, por meio das relações
entre os indivíduos, que se conflitam em meio ao jogo de interesses, onde cada
indivíduo ou grupo atua no cenário de opressores e oprimidos. Na sociedade
capitalista o individuo se reporta no universo dos conflitos, das contradições, ou seja,
estabelece a luta de classe entre burgueses e proletários, entre patrão e empregado,
oprimido e opressor. No decorrer do século XX presenciamos outros modelos de
conflitos, gestados pelo sistema capitalista moderno, globalizado, denominado de
capitalismo neoliberal. Outra concepção da divisão da sociedade em classes, externa
conflitos dos mais variados tipos, destacamos alguns: conflitos de os gêneros (homens
e mulheres), adultos e jovens, brancos e não brancos, minorias étnicas, heterossexuais
e homossexuais, entre outros.

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