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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS – UEMG DIVINÓPOLIS

CURSO DE BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL

DISCIPLINA: Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social I


PROFESSORA: LILIAN FERNANDA SILVA

JANAINA SILVA MAIA NUNES


MICHELINE APARECIDA PEREIRA
PABLO HENRIQUE DE MIRANDA BIATA
RAFAELA LOPES DOS SANTOS
VANDA APARECIDA FERNANDES MARTINS

SEMINÁRIO SOBRE OS ARTIGOS POBREZA, “QUESTÃO SOCIAL” E SEU


ENFRENTAMENTO ESCRITO POR CARLOS MONTAÑO E QUESTÃO SOCIAL,
TRABALHO E CRISE EM TEMPOS DE PANDEMIA ESCRITO POR MARIA
CARMELITA YAZBEK, RAQUEL RAICHELIS E RAQUEL SANT’ANA

Divinópolis
Julho/2022
No artigo Pobreza, “questão social” e seu enfrentamento, o autor Carlos Montaño
explica que o termo “questão social”entrou em uso intenso, a partir da separação positivista, no
pensamento conservador, desarticulando problemas econômicos típicos das “questões sociais”.
Deste modo, o “social” pode ser visto como “fato social”, algo natural, sem fundamento
estrutural, assim, a solução para o problema social não passaria por transformação do sistema.
A “questão social”, a miséria, a pobreza e todas as suas manifestações começam a ser vistos
não como resultado da exploração econômica, mas como fenômeno da autonomia e da
responsabilidade individual ou coletiva dos setores por ela afetados.
Desse ponto de vista, as causas da miséria e da pobreza estariam relacionadas a pelo
menos três tipos de fatores: a pobreza no pensamento burguês está ligada a um déficit educativo;
a pobreza é vista como um problema de planejamento e finalmete, este flagelo é visto como
uma questão de comportamento moral (desperdício de recursos, tendências preguiçosas,
alcoolismo, perambulação, etc.). Assim, o tratamento das chamadas “questões sociais” torna-
se segmentado, filantrópico, moralizador e comportamental. No entanto, em vez de tratar da
pobreza por meio de ações filantrópicas/ assistenciais, ela passa a ser reprimida e punida.
No segundo pós-guerra com a expansão capitalista uma nova estratégia foi
desenvolvida, denominada: a “estratégia hegemônica” do capital, que incluía a classe
trabalhadora urbana industrial. Nesta nova fase de acumulação capitalista, o Estado assume
importantes funções e tarefas no conflito social da classe trabalhadora.
As questões sociais deixam de ser tratadas como casos de polícia, quando qualquer
forma de reivindicação de direitos sociais tinha como resposta a repreensão, e passa a fazer
parte da esfera política, sendo tratada de forma segmentada e sistemática, dentro das políticas
sócias estatais. Isto é, as expressões da questão social, pobreza, miséria deixam de ser vistas
como um problema individual, mas como um problema de distribuição do mercado, “déficit de
demanda efetiva no mercado” onde segundo Keynes, parte da população fica excluído do
mercado de trabalho e não possui fonte de renda.
Keynes acreditava que, para enfrentar o problema da distribuição, o Estado precisa
responder às necessidades da população carente e criar condições para produção e consumo
promovendo a contenção do desemprego, garantindo mediante políticas e serviços sociais, o
acesso a bens e serviços. (p. 276)
O pensamento neoliberal considera o pauperismo como problema individual e coloca a
responsabilidade da intervenção social na filantropia substituindo o direito constitucional do
cidadão. Contrariamente à perspectiva Keysiana, o pensamento neoliberal vincula a pobreza a

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um “déficit de oferta de bens e serviços”, em que o Estado não estimula o consumo, mas
incentiva o capital a investir.
Nas sociedades pré-capitalistas, a pobreza é o resultado subdesenvolvimento da
produção de bens de consumo, ou seja, da escassez de produtos. Contrariamente, no modo de
produção capitalista (MPC), a pobreza é o resultado da acumulação do capital privado pela
exploração, na relação entre capital e trabalho, entre donos dos meios de produção e donos de
mera força de trabalho, exploradores e explorados, produtores diretos de riqueza e usurpadores
do trabalho alheio.
No capitalismo, quanto mais as forças produtivas se desenvolvem e quanto mais capital
se acumula, maior a pobreza. Quanto mais riqueza um trabalhador produz, maior a exploração,
e mais riqueza é expropriada e apropriada. Portanto, não é a escassez que cria a pobreza, mas a
abundância que gera desigualdade e pauperização absoluta e relativa. O desenvolvimento no
capitalismo não promove maior distribuição de riqueza, mas maior concentração de
capital, portanto, maior empobrecimento.
Toda proposta de desenvolvimento econômico como forma de combate à pobreza não
faz outra coisa senão ampliar a pauperização, porém, no contexto da ordem do capital, a oferta
de bens e serviços é, em parte, fruto de demandas e lutas de classes sociais, caracterizando ‐se
assim um processo contraditório entre a sua funcionalidade com a hegemonia e a acumulação
capitalista portanto, não há novidade na “questão social” na atualidade.
As classes sociais surgem a partir da divisão social do trabalho.A sociedade se dividi
em donos do capital e meros trabalhadores que cada dia mais perdem a seu espaço, devido a
mecanização das produções e a desvalida da mão de obra, dando origem a um tipo de pobreza
nunca vista.
Por tais motivos é possível afirmar que enfrentar e superar a crise capitalista, com ações
que se direcionem para uma nova fase de expansão do capital, não resolve a pobreza, é preciso
ações que possibilitem que o pobre cresça mais e tenha uma maior educação popular com
objetivo de promover a equidade de classe.
O MPC tem como objetivo manter vantagens através de uma maneira organizada. Sendo
assim, no modo de produção capitalista a pobreza tem como lógica a produção e a crise é a
expansão. E assim vai alternando praticamente entre um e outro.
Na pobreza/acumulação segue o sentido das políticas de assistências sociais, como a
bolsa família. Esse tipo de assistência, tem como objetivo combater a fome, ou seja, a miséria
total, independentemente da acumulação capitalista. Já na crise/expansão, busca-se resolver a

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adversidade considerando como algo externo. Tenta-se humanizar o capitalismo com ações
voltadas à economia solidária e o empoderamento. Com isso, surge o terceiro setor, como
estímulo ao auto emprego e o empreendedorismo.
O capitalismo, por ser o sistema mais adotado atualmente, tem sua estrutura desigual,
onde uma classe é explorada por outra. Logo, conclui-se que os diretos sociais representam um
grande progresso para os setores subalternos, mas as desigualdades sociais não podem terminar,
porque são necessárias para a manutenção do MPC.
No artigo “Questão social, trabalho e crise em tempos de pandemia” os autores pontuam
que as desigualdades sociais, a cada dia estão se tornando mais evidentes, atingindo as periferias
e os bairros de classe nobre, os burgueses e os trabalhadores. A centralidade do capital
financeiro e seu domínio sobre o capital produtivo traz sérias consequências para a “classe que
vive do trabalho”.
As contrarreformas neoliberais, o (des) governo federal praticado no Brasil, agravou o
já precário funcionamento das políticas de Seguridade Social: SUS, SUAS, Previdência Social.
Políticas essas que no cenário da pandemia foram demandadas para estar na linha de frente do
atendimento à população, porém, sem condições materiais, técnicas de segurança e proteção
social da vida, indispensáveis para a realização do trabalho social.
A atual forma de acumulação capitalista, ligada à nova hegemonia liberal- financeira
tem levado ao agravamento da “questão social” e suas expressões na vida da classe trabalhadora
e dos usuários das políticas públicas, que segundo Imamoto (2018, p.72) estão: “numa luta
aberta e surda pela cidadania, no embate pelo respeito aos direitos civis, sociais e políticos e
aos direitos humanos”.
No caso dos Assistentes sociais da Previdência Social, houve um enxugamento drástico
no número de assistentes durante a pandemia, aumentou a eminência da extinção do Serviço
Social. Também no trabalho docente um rebaixamento salarial e desqualificação de trabalho de
pesquisa e produção intelectual. Ainda tratando dos desafios do trabalho profissional traz
relevante contribuição para problematizar a escuta especializada de crianças e adolescentes,
testemunhas ou vítimas de violência.
O artigo contribui para uma leitura critica das diferentes dimensões que constituem as
“questões sociais” no cenário contempoâneo, e incita assistentes sociais e outros profissionais
na difícil tarefa de repensar estratégias de trabalho em tempos de pandemia e devastação, pois
constata-se uma lacuna na produção acadêmica brasileira quanto ao relacionamento do Serviço
Social no circuito mundial nas últimas décadas.

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REFERÊNCIAS:

IAMAMOTO, Marilda V. Serviço Social, “questão social” e trabalho em tempo de capital


fetiche. In: RAICHELIS, R. Et al. (orgs.) A nova morfologia do trabalho no Serviço Social.
São Paulo: Cortez, 2018.

MONTANÕ, Carlos. Pobreza, “questão social” e seu enfrentamento. Serv. Soc. Soc., São
Paulo, n. 110, p. 270-287, abril/jun. 2012

YASBEK, Maria Carmelita; RAICHELIS, Raquel; SANT’ANA, Raquel Santos. Questão


social, trabalho e crise em tempos de pandemia. Serv. Soc. Soc., São Paulo. n 138, p. 207-
213, maio/ago. 2020

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