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PREPARATÓRIO CONCURSOS

SERVIÇO SOCIAL

QUESTÃO SOCIAL, FORMAÇÃO


SÓCIO-HISTÓRICA DO BRASIL E
OS REBATIMENTOS NO SÉC. XXI

Flávia Florêncio de Albuquerque – Agosto/2014


Questão Social
Iamamoto (2003, 2005):
Relações e Serviço Social no Brasil
O Serviço Social na Contemporaneidade
Mota (2010):
Questão social e Serviço Social: um debate
necessário
Netto (2001):
Cinco notas a propósito da questão social
Questão social
 Surgimento com o capitalismo - marco da industrialização (século XIX);
 Parte constituinte do capitalismo e da sociedade burguesa – nunca vai
acabar enquanto o capitalismo for o meio de produção e reprodução
das relações sociais;
 Conceito de classes sociais antagônicas (contradição capital x
trabalho) – desigualdade entre as classes sociais, exploração da força
de trabalho pelo capital, diferente de fragmentar e classificar os
“problemas” da classe por gênero, etnia, saúde, educação (despolitiza a
questão social);
 Pauperização absoluta da classe trabalhadora;
 Lutas dos trabalhadores – rebeldia e resistência;
 Protagonismo político da classe trabalhadora – tornou público as
precárias condições de vida e de trabalho;
 Respostas do Estado e da soc. para o enfrentamento da questão social.
Conceito

 “Conjunto das expressões das


desigualdades da sociedade capitalista
madura, que tem raiz comum: a produção
social é coletiva, o trabalho torna-se mais
amplamente social, enquanto a
apropriação dos frutos mantém-se
privada, monopolizada por uma parte
da sociedade” (IAMAMOTO, 2005, p. 27).
Questão social

 “O desenvolvimento capitalista produz,


compulsoriamente, a ‘questão social’ – diferentes
estágios capitalistas produzem diferentes
manifestações da ‘questão social’; esta não é uma
sequela adjetiva ou transitória do regime do
capital: suas existência e suas manifestações são
indissociáveis da dinâmica específica do capital
tornando potência social dominante. A ‘questão
social’ é constitutiva do desenvolvimento do
capitalismo. Não se suprime a primeira
conservando-se o segundo” (NETTO, 2005, p. 157).
Dessa forma...

 Netto nos ensina que:

 “... Inexiste qualquer ‘nova questão social’.


O que devemos investigar é, para além da
permanência de manifestações ‘tradicionais’
da ‘questão social’, a emergência de novas
expressões da ‘questão social’ que é
insuprimível sem a supressão da ordem do
capital” (NETTO, 2005, p. 160).
Questão social e as Diretrizes Curriculares
para o Curso de Serviço Social (1997)
 Anos 1980: emergência de discussões teoricamente
fundadas sobre a relação Serviço Social/Questão
Social, tendo como marco o livro Relações Sociais e
Serviço Social no Brasil (IAMAMOTO e CARVALHO,
1982);
 Nas Diretrizes Curriculares, a questão social é posta
como eixo fundante da profissão e articulador dos
conteúdos da formação profissional, a qual deve
ter em vista formular respostas profissionais para o
enfrentamento da questão social.
Questão social e as Diretrizes Curriculares
para o Curso de Serviço Social (1997)
 Em termos histórico-conceituais, a expressão questão
social foi utilizada para designar o processo de
politização da desigualdade social inerente à
constituição da sociedade burguesa. Sua emergência
vincular-se-ia ao surgimento do capitalismo e à
pauperização dos trabalhadores, e sua constituição,
enquanto questão política, foi remetida ao século XIX,
como resultado das lutas operárias, donde o
protagonismo político da classe trabalhadora – à qual
se creditou a capacidade de tornar públicas as suas
precárias condições de vida e trabalho, expondo as
contradições que marcam historicamente a relação
entre o capital e o trabalho. (MOTA, 2010, p. 35)
Outras compreensões sobre
questão social...
 Pierre Rosanvallon (1998): “A nova questão social”.

 O crescimento do desemprego e das novas formas de


pobreza, por serem responsáveis pela implosão dos
históricos modelos de proteção social (Welfare State),
também configuram uma nova questão social.

 Além das desigualdades prevalecentes, teriam surgido


novas desigualdades, como as condutas incivis,
resultantes da desagregação do modelo familiar, de
novas formas de violência, expressões da crise da
civilização e do indivíduo, que seriam resolvidas com
um novo “contrato social” (reinventar novas formas de
solidariedade social sem “mexer na base econômica”).
Outras compreensões sobre
questão social...
 Robert Castel (1998): “As metamorfoses da
questão social: uma crítica ao salário”.

 Define a questão social como “uma aporia


(dificuldade aparentemente sem saída)
fundamental sobre a qual uma sociedade
experimenta o enigma de sua coesão e tenta
conjugar o risco de sua fratura”.
 Centralidade da questão social, que sempre
existiu para além da ordem do capital – é
possível encontrar a questão social em qualquer
sociedade onde contradições e tensões ponham
em jogo os vínculos sociais.
Outras compreensões sobre
questão social...
 “Embora por vetores de análises distintos, as construções de
Rosanvallon (1998) e Castel (1998), (...) baniram do horizonte
histórico e teórico qualquer possibilidade de ruptura com a
ordem social vigente. E mais, dotam a crise capitalista de um
caráter genérico, sem classes, como um problema de todos e
não como uma crise do projeto de sociabilidade do capital,
sustentado pela hegemonia da classe dominante. (...)
 Suas construções se afastam (...) das referências à questão
social inscritas no texto das Diretrizes. De outra forma,
aquelas elaborações passam a ter grande peso no âmbito do
Serviço Social pela identidade que têm com as tendências
atuais da política social brasileira, particularmente a
centralidade dada à Assistência Social. Por isso, (...) elas
reduzem a questão social às manifestações da pobreza e
consideram o seu enfrentamento como uma questão às
políticas de inserção”. (MOTA, 2010, p. 45)
Outras compreensões sobre
questão social...
 A expressão questão social tem comportado
significados distintos no debate profissional,
dentre eles, como sinônimo de “exclusão social”,
problemática social, pobreza, desigualdade,
desproteção social ou ausência de direitos.

 As novas conceituações de questão social


passam a ser chaves para negar qualquer
tentativa de vinculação entre pobreza e
acumulação de riqueza.
Surgimento da Questão Social
no Brasil
Iamamoto (2003):
Relações Sociais e Serviço Social no
Brasil
Questão Social no Brasil
 Intensificação da urbanização e início da industrialização no Brasil
nos principais centros urbanos - crescimento numérico do operariado,
ameaça aos valores da moral, da religião e da ordem pública;
 Fins do século XIX e primeiras décadas do século XX, com ênfase
na década de 30 (incremento da industrialização no Brasil – Governo
Vargas);
 Lutas e resistências do recém-formado operariado e dos
trabalhadores de forma geral dos centros urbanos;
 Respostas do Estado e da sociedade burguesa (igreja católica,
empresariado) para o enfrentamento da questão social nos centros
urbanos – legislações, políticas sociais, iniciativas caritativas, vilas
operárias, cidadania social dos trabalhadores, etc.
 Necessidade do controle social da exploração da força de trabalho
– regulamentação jurídica e social do mercado de trabalho através
do Estado.
Questão Social no Brasil

 “O desdobramento da questão social (no


Brasil) é também a questão da formação
da classe operária e de sua entrada no
cenário político, da necessidade de seu
reconhecimento pelo Estado e, portanto, da
implementação de políticas que de alguma
forma levem em consideração seus
interesses” (IMAMOTO, 2003, p. 126).
Questão Social no Brasil
 Vamos analisar como se deu o desdobramento da
questão social no Brasil nos três períodos:
 República Velha (fins do séc. XIX a 1930);
 República Nova (1930-1937 TRANSIÇÃO);
 Estado Novo – Ditadura Vargas (1937-1945).

 Considerando os três aspectos essenciais para o


entendimento da questão social no Brasil:
 1. Base de produção econômica e de acumulação;
 2. Características da classe trabalhadora;
 3. Respostas do Estado e da sociedade no
enfrentamento da questão social.
República Velha (fins do séc. XIX a 1930)

Base de produção Atividades de agro-exportação (grandes oligarquias – complexo


econômica e de cafeeiro);
acumulação Poucas empresas industriais.

População operária reduzida (mais imigrantes europeus);


Trabalhadores do campo nas grandes culturas de café.
Péssimas condições de trabalho e moradia (mulheres e crianças no
trabalho, grande carga horária, etc.);
Classe
“Cidadãos de segunda linha”
trabalhadora
Incipiente organização, luta e conquistas dos trabalhadores – defesa do
poder aquisitivo dos salários, jornada de trabalho, regulamentação do
trabalho de mulheres e menores, direito a férias, reconhecimento de suas
entidades, etc.
Estado se nega a reconhecer a questão social (questão operária);
Questão Social = Questão de Polícia (repressão contra as ameaças à
Respostas do ordem);
Estado e Empresariado e Igreja Católica com ações assistenciais voltadas para
sociedade “adequar a classe trabalhadora à ordem, aos bons costumes e ao
trabalho fabril” (“protoformas do Serviço Social”, vilas das fábricas);
Poucas mudanças nas legislações trabalhistas e sindicais.
República Nova (1930-1937 – Vargas – TRANSIÇÃO)
Decadência da economia cafeeira (Crise de 1929 – os países da Europa
não podiam mais importar café e outros produtos agrários do Brasil);
Base de produção Necessidade de diversificação do aparato produtivo e da reforma
econômica e de política;
acumulação Diversificação das exportações e setor produtivo também para o mercado
interno (agro-indústria, indústria de transformação, etc.);

Êxodo rural (trabalhadores do café para os principais centros urbanos);


Classe
Crescimento do movimento popular e organização político-sindical do
trabalhadora
operariado (idéias do Comunismo, Socialismo);

Estado assume paulatinamente uma organização corporativa (canalizar os


interesses divergentes das classes, “colaboração entre as classes, harmonia social e
desenvolvimento”);
Repressão à organização autônoma e vinculação dos direitos do trabalho à
Respostas do
aceitação do sindicalismo controlado (vincular a organização da classe operária ao
Estado e
controle estatal);
sociedade Coibir a mobilização das classes exploradas urbanas, integrando suas
reivindicações à estrutura corporativa do Estado;
Início das legislações sindicais, trabalhistas e políticas sociais (Ministério do
Trabalho);“Ação Católica”, “Círculos Operários”;
Estado Novo – Ditadura Vargas (1937-1945)
Nítida política industrialista;
Base de Incentivo às indústrias básicas pelo Estado;
produção Expansão da produção industrial estimulada pelo crescimento das encomendas
econômica e de externas e pela necessidade de substituição dos bens anteriormente importados (2ª
acumulação Guerra Mundial– 1939-1945);

Sindicalismo controlado (oficial) – “figura do pelego”;


Sindicatos oficiais com capacidade de reivindicação condicionada a uma rede de
normas burocráticas do Ministério do Trabalho;
Classe
Sindicatos transformados em agências de colaboração com o poder público, centros
trabalhadora
assistenciais complementares à Previdência Social;
Movimentos dos trabalhadores autônomos e revolucionários que não aderiam ao
sindicalismo controlado pelo Estado foram duramente reprimidos;

Reconhecimento legal da cidadania social do proletariado pelo Estado, direitos e benefícios


que variavam com as categorias de trabalhadores urbanos – “cidadania regulada” (Seguro
Social, Justiça do Trabalho, salário-mínimo, Institutos de Previdência e Assistência Social, etc.);
Ideologia do Estado apresenta os direitos conquistados como doados;
Respostas do
Expansão da produção industrial acompanhada do aumento da exploração da força de
Estado e
trabalho (produzir mais para exportar para países da Europa em guerra, “campanha pelo
sociedade
esforço da guerra”); Estado restringe a aplicação de alguns pontos da legislação trabalhista
(jornada para 10h/dia, suspensão da lei de férias, etc.);
Legião Brasileira de Assistência (LBA), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI,
necessidade de qualificação do operariado);
Debate atual sobre a Questão Social
Behring e Santos (2009):
Questão Social e Direitos
Iamamoto (2009):
O Serviço Social na cena contemporânea
Questão Social na Era das Finanças
 PROCESSO DE FINANCEIRIZAÇÃO: um modo de
estruturação da economia mundial. Não se reduz à
mera preferência do capital por aplicações
financeiras especulativas em detrimento de
aplicações produtivas – FETICHISMO DOS
MERCADOS.
 Os dois braços em que se apoiam as finanças – as
dívidas públicas e o mercado acionário das empresas
–, só sobrevivem com decisão política dos Estados e o
suporte das políticas fiscais e monetárias.
 A mundialização financeira unifica a reforma do
Estado, a reestruturação produtiva , a questão social,
a ideologia neoliberal e as concepções pós-
modernas.
Questão Social na Era das Finanças
 CENÁRIO:
 Profundas repercussões nas políticas públicas
(focalização, descentralização,
desfinanciamento e regressão dos direitos do
trabalho;
 Afeta radicalmente as condições de vida, de
trabalho, radicalização das desigualdades em
um contexto de retração das lutas sociais;
 Investida ideológica por parte do capital e do
Estado voltada à cooptação dos
trabalhadores (“parceiros” solidários)
Questão Social na Era das Finanças

 CENÁRIO:
 “Assistencialização” da pobreza contra o
direito ao trabalho, transversal às políticas e
programas sociais focalizados, dirigidos aos
segmentos mais pauperizados dos
trabalhadores;
 Noção de Cidadania descaracterizada ao
associá-la ao consumo, ao mundo do dinheiro
e à posse das mercadorias;
 Resistências e lutas travadas no dia-a-dia de
uma conjuntura adversa para os
trabalhadores.
Questão Social na Era das Finanças
QUESTÃO DE
PROVA!!!
 QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL:
 A transição do capitalismo competitivo ao
monopolista no Brasil NÃO foi presidida por uma
burguesia com forte orientação democrática e
nacionalista voltada à construção de um
desenvolvimento capitalista interno autônomo
(“democracia restrita”, “democracia dos oligarcas”,
“democracia do grande capital”);
 Ao contrário, verificou-se traços elitistas e
antipopulares da transformação política e
modernização econômica do país;
 HOJE: criminalização da “questão social” e das lutas
dos trabalhadores, assistencialização das políticas
sociais e reforço do Estado Penal .
Questão Social na Era das Finanças
QUESTÃO DE
PROVA!!!
 RAIZ DA QUESTÃO SOCIAL NA ATUALIDADE:
 Políticas governamentais favorecedoras da esfera
financeira e do grande capital produtivo.
 Estreita relação entre a responsabilidade dos
governos, nos campos monetário e financeiro, e a
liberdade dada aos movimentos do capital
transnacional para atuar, no país, sem
regulamentações e controles;
 A “questão social” é mais do que pobreza e
desigualdade. Ela expressa a banalização do
humano, resultante de indiferença frente à esfera
das necessidades das grandes maiorias e dos direitos
a elas atinentes.
Questão Social na Era das Finanças

 E PARA ENFRENTAR A QUESTÃO


SOCIAL?
 Ações filantrópicas e de benemerência;
 Programas focalizados de combate à
pobreza;
 Ampla privatização da política social
pública = execução pelas ONGs e outras
organizações do “terceiro setor”;
 Compra e venda de bens e serviços (Ex.:
saúde e segurança privadas).
E a relação entre
Questão Social e
Direitos?
Questão Social e Direitos
 COMO É ENTENDIDA A QUESTÃO SOCIAL
NESSA RELAÇÃO?
 Na perspectiva reducionista e positivista, a
questão social aparece como problema social,
fato social, fenômeno social desvinculado da
forma com que a sociedade produz e reproduz as
relações sociais;
 Já na perspectiva da teoria social crítica, presente
nas Diretrizes Curriculares do Curso...
 A questão social é o elemento que dá concretude
à profissão = é “sua base de fundação histórico-
social na realidade” = eixo ordenador da
formação profissional.
Questão Social e Direitos
 COMO É ENTENDIDA A QUESTÃO SOCIAL
NESSA RELAÇÃO?
 A questão social se apresenta como um eixo central
capaz de articular:
 a origem das expressões inerentes ao modo de
produzir-se e reproduzir-se do capitalismo
contemporâneo;
 suas manifestações e expressões concretas na
realidade social;
 as estratégias de seu enfrentamento articuladas
pelas classes sociais e o papel do Estado nesse
processo, em que se destaca A POLÍTICA SOCIAL E
OS DIREITOS SOCIAIS.
Questão Social e Direitos
 “Estabelecer as RELAÇÕES ENTRE QUESTÃO
SOCIAL E DIREITOS implica no reconhecimento
do indivíduo social com sua capacidade de
resistência e conformismo frente às situações
de opressão e de exploração vivenciadas (...)
Trata-se, portanto, de pensarmos a vida e os
indivíduos em suas relações concretas e
densas de historicidade. E, nesse sentido,
trata-se de apreender a assertiva de que a
essência humana encontra-se no conjunto das
relações sociais historicamente determinadas”
(BEHRING; SANTOS, 2009, p. 276).
Os rebatimentos da Questão Social
no Brasil no séc. XXI
Netto (2012):
Crise do capital e consequências societárias
Santos (2012):
Particularidades da “questão social” no
Brasil: mediações para seu debate na
“era” Lula da Silva
Questão Social no séc. XXI
 Um pouco sobre o capitalismo neste século
por Netto (2012):
 “(...) o último terço do século XX e a abertura
do séc. XXI assinalaram – juntamente com os
indicativos da emergência da crise sistêmica
– o exaurimento das possibilidades
civilizatórias da ordem do capital. Em todos
os níveis da vida social, a ordem tardia do
capital não tem mais condições de propiciar
quaisquer alternativas progressistas para a
massa dos trabalhadores e mesmo para a
humanidade” (p. 426).
Questão Social no séc. XXI

 Especificidade do tardo-capitalismo
(Mészáros): produção destrutiva.
 Leque de fenômenos que indicam o
exaurimento das possibilidades
civilizatórias da ordem tardia do
capital (“soluções barbarizantes
para a vida social”)...
Rebatimentos no enfrentamento
da Questão Social no séc. XXI
 Especificidades desses fenômenos e
rebatimentos nas formas contemporâneas de
enfrentamento da “questão social”:

 1. “Militarização da vida social e repressão


às classes perigosas”: o belicismo passa a
incluir as políticas de segurança pública em
períodos de paz formal e se estende como
negócio capitalista privado à vida na paz e
na guerra (indústria bélica dinamizadora da
economia).
Rebatimentos no enfrentamento
da Questão Social no séc. XXI
 “(...) a repressão estatal se generaliza sobre as “classes
perigosas”, ao mesmo tempo em que avulta a utilização das
“empresas de segurança” e de “vigilância” privadas – assim
como a produção industrial, de alta tecnologia, vinculada a
esses “novos negócios” (e não se esqueça do processo de
privatização dos estabelecimentos penais).

 (...) A repressão deixou de ser uma excepcionalidade —


vem se tornando um estado de guerra permanente, dirigido
aos pobres, aos “desempregados estruturais”, aos
“trabalhadores informais”, estado de guerra que se instala
progressivamente nos países centrais e nos países periféricos
(...) (NETTO, 2012, p. 427).
Rebatimentos no enfrentamento
da Questão Social no séc. XXI
 2. Assistencialiação minimalista das
políticas sociais: a política social para
os “excluídos” não tem a pretensão
formal de erradicar a pobreza, mas de
enfrentar apenas a indigência, a miséria
extrema (“pobreza absoluta”);
 “Novo assistencialismo”, “nova
filantropia”, iniciativas estatais, privadas
e estatal/privadas;
Rebatimentos no enfrentamento
da Questão Social no séc. XXI
 “Pois é precisamente esse minimalismo que tem
factualmente caracterizado os vários programas que, por
via de transferências de renda — “programas de rendas
mínimas” —, têm sido implementados em alguns países
capitalistas centrais e em muitos países periféricos.
 A experiência de mais de uma década, especialmente na
América Latina, é muito pouco promissora: na medida em
que não se conjugam efetivamente com transformações
estruturais (e esta é uma das condições políticas para que
o tardo-capitalismo os suporte), eles acabam por
cronificar-se como programas emergenciais e
basicamente assistencialistas” (NETTO, 2012, p. 428-429).
Rebatimentos no enfrentamento
da Questão Social no séc. XXI
Características que particularizam
a Questão Social no Brasil

 E no Brasil do séc.
XXI, como está a
questão social?
Características que particularizam
a Questão Social no Brasil
 Joseane Soares Santos (2012) sustenta a
hipótese de que na “era” Lula da Silva o
neodesenvolvimentismo opera atualizando
as características históricas da “questão
social” no Brasil (superexploração do
trabalho pelo capital e passivização das
lutas sociais) e sua funcionalidade no
processo de modernização conservadora do
Brasil.
Continuidade e aprofundamento das
características na “Era Lula da Silva”
 “Neodesenvolvimentismo”: ideologia de Estado de
vários países latino-americanos, que reedita a
combinação discursiva de crescimento econômico e
desenvolvimento social a partir da ampliação e
formalização do emprego, intervenção do Estado, entre
outros aspectos que, pelo menos em tese, rechaçam
medidas neoliberais.

 Ideologia e pressupostos hegemonizados pelo capital


financeiro, que refreia os impactos mais ortodoxos do
neoliberalismo, fazendo os organismos internacionais
(Banco Mundial) incorporar na sua agenda de
proposições elementos de natureza política e social
para além dos econômicos.
Características que particularizam
a Questão Social no Brasil
 Alguns pressupostos da análise:
 A “flexibilização/precariedade” do trabalho
no Brasil não pode ser creditada à crise recente
do capitalismo, que apareceu como um dos
resultados da restauração do capital após a
crise dos anos 1970;
 As características de precariedade no trabalho
e passivização das lutas sociais são
encontradas na formação do mercado de
trabalho brasileiro desde o final da escravidão
até a ditadura militar.
Características que particularizam
a Questão Social no Brasil
 “Flexibilização/precariedade” do trabalho:
restrita regulação do trabalho (direitos e
benefícios diferenciados para as categorias
de trab. urbanos), alta rotatividade nos
postos de trabalho, subemprego,
informalidade, distinção entre assalariamento
formal e informal, baixos salários, etc.
 FGTS (1966 – Ditadura Militar) substituiu a
estabilidade decenal e aumentou a
rotatividade nas ocupações.
Características que particularizam
a Questão Social no Brasil
 Passivização das lutas sociais: lutas e
resistências historicamente foram
mantidas sob controle do Estado e das
classes dominantes;
 Sindicalismo controlado pelo Estado
Vargas (corporativismo sindical),
repressão e ilegalidade do movimento
sindical na Ditadura Militar.
Concluindo...
Referências bibliográficas
 BEHRING, E.; SANTOS, S. M. M. Questão social e direitos. In: Serviço Social: direitos
sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009.
 IAMAMOTO, M.V.; CARVALHO, R. de. Relações e Serviço Social no Brasil: Esboço de uma
interpretação histórico-metodológica. 15ª edição, São Paulo: Cortez Editora, 2003.
 IAMAMOTO, M.V. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação
profissional. 9ª edição, São Paulo: Cortez Editora, 2005.
 _____. O Serviço Social na cena contemporânea. In: Serviço Social: direitos sociais e
competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009.
 MOTA, A. E. Questão social e Serviço Social: um debate necessário. In: MOTA, A. E.
(org.). O Mito da Assistência Social: ensaios sobre Estado, Política e Sociedade. 4ª
edição, São Paulo: Cortez Editora, 2010.
 NETTO, J. P. Cinco notas a propósito da “questão social”. In: Revista Temporalis Ano II, nº
3, jan./jun. 2001. Brasília: ABEPSS, Grafline, 2001.
 _____. Crise do capital e consequências societárias. In: Revista Serviço Social &
Sociedade, nº 111, jul./set. 2012. São Paulo: Cortez Editora, 2012.
 SANTOS, J. S. Particularidades da “questão social” no Brasil: mediações para seu
debate na “era” Lula da Silva. In: Revista Serviço Social & Sociedade, nº 111, jul./set.
2012. São Paulo: Cortez Editora, 2012.
 INDICAÇÃO DE LEITURA:
 Revista Temporalis nº 3 – Questão Social. Brasília: ABEPSS, Grafline, Ano II, nº 3, Jan.-
Jun. 2001.

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