01) Encontrar uma definição para a pobreza é um desafio, visto que
pode ser observada a partir de diferentes perspectivas. O Estado Brasileiro e algumas organizações internacionais como a ONU, por exemplo, utilizam-se de critérios determinantes (no caso específico de ambos, a renda), esses critérios nos possibilitam aumentar o escopo de análise, podendo assim nos aprofundar nas causas, efeitos e na busca de soluções. Outros critérios de análise que podem ser utilizados são condições mínimas para se ter uma vida digna e acesso a saúde, educação, segurança, saneamento básico. Estudar a pobreza é de extrema importância, além do fator social evidente, por ser algo que afeta a todos na sociedade, mesmo que aparentemente afete apenas um grupo específico. A pobreza trata-se de um problema na distribuição de riquezas, onde poucos detêm muito e muitos detém pouco, com as constantes crises que o capitalismo necessita para manter-se os problemas de distribuição de riquezas tornam-se cada vez mais evidentes e alarmantes. Para tratar sobre como esse fenômeno afeta e é afetado pelos princípios típicos das sociedades modernas capitalistas, utilizo-me do texto de Bauman proposto na disciplina, no qual o autor traz justamente a questão da concentração de riquezas nas mãos de poucos, que acaba por gerar um ciclo vicioso, no qual os pobres dotados de certeza são submetidos a um sistema que não escolheram e acabam por se tornarem exemplos vivos as demais de como devem prezar por suas riquezas ou acabaram daquela maneira, e aqueles que detêm os meios de produção cercados por constantes incertezas e crises vivem sob o medo ambiente, para livrar a consciência em relação a situação de tantos outros brasileiros, praticam ações de caridade sazonal. Ao meu ver, com tudo que foi abordado em sala, bem como com o texto em questão, acabamos por compor as engrenagens de um sistema falho, os princípios sociabilizantes nos dizem que está tudo bem, afinal de contas em datas esporádicas estendem a mãos aos menos afortunados, mas sempre atentando-nos para não sermos os próximos a ocuparmos tal lugar. A abordagem “culturalista” acerca do tema da pobreza está ligada a uma visão que naturaliza os acontecimentos, culpabilizando, assim, os pobres por sua pobreza, como se estivessem confortáveis com sua situação e por vontade ou acomodação permanecem nela. A abordagem “estruturalista” por outro lado, visa a desculpabilização desses sujeitos, trazendo o contexto histórico, os sistemas sociais e econômico instituídos como forma de explicar a pobreza, utilizando-se de dados como o crescente índice de desemprego, por exemplo. Atualmente com o crescimento do pensamento neoliberal vem se difundindo a ideia da incapacidade do Estado, sendo assim, fica mais fácil eximi-lo da culpa, uma vez que não é capaz e todos sabemos como podemos cobrar algo? Através dessa ideia vem crescendo a corrente de pensamento que defende a privatização dos setores atualmente coordenados pelo Estado.
02) A tabela apresentada em conjunto com os dados trazidos no
enunciado pelo índice Palma é possível perceber quantitativamente a crescente desigualdade social brasileira. O fato de 10% com maiores rendimentos receberem cerca de três vezes e meia mais que 40% por cento com menos rendimentos, e o aumento na porcentagem de pessoas que se encontram na linha da pobreza ou abaixo dela entre 2016 e 2017, deixa esse problema bastante evidente. Infelizmente ainda temos forte em nossa sociedade a noção de meritocracia, do esforço recompensado, enquanto os dados mostram uma realidade bastante divergente. Outra onda crescente no Brasil, principalmente agora aos olhos de um governo neoliberal, é o afastamento do Estado visando a privatização, com o discurso de que o Estado não dá conta de suprir a necessidade do povo e do país como um todo, como única forma de solucionar os problemas da União, políticas públicas, remanejamento de verba, uma reforma política ficam cada vez mais em segundo plano. Prezando pelo que aparenta ser economicamente mais eficaz e indubitavelmente menos trabalhoso para a classe política, as decisões de cunho social são colocadas em segundo plano ou deixadas de lado. Questões como a desigualdade apresentada nos dados presentes nessa pergunta, o direito a dignidade que não alcança a população com menos rendimentos, condições básicas de sobrevivência sendo ignoradas ou mal guiadas pelo Estado, eventos de caridade esporádicos, políticas públicas sofrendo ataques de todos os lados, nos mostram como lidamos com a questão no Brasil, e como é perigosa essa abordagem, por ignorar não somente a situação de pessoas abaixo da linha da pobreza, como também toda a sociedade brasileira, mesmo que sem se dar conta disso.
03) Através de uma ótica Durkheimiana a pobreza e vulnerabilidade
social são fenômenos considerados “anormais” por serem uma quebra na ordem social e consequentemente na solidariedade orgânica e coesão social de modo que torna-se inviável o bom funcionamento da sociedade. Para que essa anomia seja solucionada seria necessária a instituições de normas e regras suficientes e eficazes. Através do pensamento Weberiano pode-se olhar a pobreza como consequência do capitalismo moderno, uma vez que o lucro aqui é visto como fim e meio ao mesmo tempo, a noção de trabalho como vocação e acúmulo de riquezas com fim último na vida corroboram para a manutenção deste capitalismo, e de todos os seus problemas estruturais que geram cada vez mais desigualdades sociais. Analisando o tema a partir do que é teorizado por Marx, a pobreza está intimamente ligada a luta de classes, de um lado o proletariado se vê obrigado a vender sua força de trabalho aos proprietários dos meios de produção, pela produção de riquezas através de seus serviços, que tem valor de uso, recebem, como valor de troca, o salário. Esse salário, porém, não leva em conta o excedente do lucro, esse valor é chamado de mais valia, Com o tempo esse excedente do lucro concentra-se cada vez mais nas mãos de empresários e a mão de obra torna-se mais barata, o desemprego cresce, uma nova crise tem início, e as desigualdades sociais aumentam.