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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS


DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

QUEM SÃO ELES? O PERFIL DOS ADOLESCENTES QUE COMETEM ATOS


INFRACIONAIS NO ESTADO DE MATO GROSSO
Análise acerca das condições sociais como fatores que contribuem para o
envolvimento no ato infracional.

CUIABÁ - MT
2015
MAYARA MASCARROZ BELFORT MATTOS

QUEM SÃO ELES? O PERFIL DOS ADOLESCENTES QUE COMETEM ATOS


INFRACIONAIS NO ESTADO DE MATO GROSSO
Análise a acerca das condições sociais como fatores que contribuem para o
envolvimento no ato infracional.

CUIABÁ - MT
2015
MAYARA MASCARROS BELFORT MATTOS

QUEM SÃO ELES? O PERFIL DOS ADOLESCENTES QUE COMETEM ATOS


INFRACIONAIS NO ESTADO DE MATO GROSSO
Análise a acerca das condições sociais como fatores que contribuem para o
envolvimento no ato infracional.

Trabalho de Curso ao Departamento de Serviço Social da Universidade Federal


Mato Grosso, como requisito parcial para obtenção do titulo de bacharel em Serviço
Social.
Orientada: Profª Drª Leana Oliveira Freitas.

BANCA EXAMINADORA:

_________________________________________________
Profª Drª Leana Oliveira Freitas
(Orientadora)

_________________________________________________
Profª
(Examinadora)

_________________________________________________
Profª
(Examinadora)
Aprovada em____de________________de 2016

Dedicatória
AGRADECIMENTOS
Frase.....
RESUMO
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico I -
Gráfico II -
Gráfico III -
Gráfico IV -
Gráfico V -
Gráfico VI -
Gráfico VII -
Gráfico VIII -
Gráfico IX -
Gráfico X -
Gráfico XI -
LISTA DE QUADROS
Quadro I -
LISTA DE SIGLAS
SUMARIO
INTRODUÇÃO
1. CAPÍTULO 1: PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA

1.1. A APROXIMAÇÃO COM O OBJETO DA PESQUISA

As desigualdades sociais em nosso país possuem particularidades históricas,


integrando-se o “moderno” e o “arcaico”, nas palavras de Iamamoto (2011, p. 128),
própria da nossa herança histórico colonial e patrimonialista, onde tal formação
social imprime “[…] um caráter peculiar à organização da produção, às relações
entre o Estado e a sociedade, atingindo a formação do universo político-cultural das
classes, grupos e indivíduos sociais”.
Nessa relação entre herança histórica e o presente, a formação social e as
desigualdades podem afetar a economia, a política e a cultura. Temos aí a
reprodução ampliada da riqueza e das desigualdades sociais, aumentando a
pobreza e a concentração e centralização do capital, onde “[…] tensão entre o
movimento da realidade e as representações sociais que o expressam estabelece
descompassos entre o ser e o aparecer”. Nas palavras de Demo (1955), “[…] para
além das condições objetivas, a realidade social é movida igualmente por
condições subjetivas, que não são maiores e nem menores (p, 88)”. Reforçando
tal pensamento, completa Iamamoto (2011, p. 156)

[…] a questão social condensa o conjunto das desigualdades e lutas sociais,


alcançando plenitude de suas expressões e matizes em tempo de capital
fetiche. As configurações assumidas pela questão social integram tanto
determinantes históricos objetivos que condicionam a vida dos indivíduos,
quanto dimensões subjetivas, frutos da ação dos sujeitos na construção da
história. Ela expressa, portanto, uma arena de lutas políticas e culturais na
disputa em projetos societários, informados por distintos interesses de
classe na condução das políticas econômicas e sociais, que trazem o selo
das particularidades históricas e nacionais.

Tal procedimento, nas palavras de Demo (1995), nos permite argumentar a


favor da dialética-histórico-estrutural, porque equilibra o jogo das condições
objetivas e subjetivas, onde a realidade e a própria organização social, suas
instituições engendram unidades de contrários, onde os fenômenos singulares
devem ser tratados em sua totalidade. Tendo em vista, também que todo conflito
social é tomado como estrutura da própria sociedade, inseridos em antagonismos,
contradições próprias do movimento da sociedade capitalista (p. 89 a 91).
No atual cenário brasileiro do início do século XXI, observa-se grande
destaque dos noticiários em torno do tema adolescência em razão da possibilidade
da redução da maioridade penal de menores em conflito com a lei, um cenário que
remete a reflexão sobre violência/adolescência, em que os adolescentes tanto são
vítimas da violência quanto reprodutores do comportamento violento.
Adolescência é um estagio do desenvolvimento humano que se caracteriza
pela passagem da fase infantil para a adulta, um período no qual se vivencia duvidas
e consolidam-se valores, de modo que se ficam mais expostos, tanto as influências
internas quanto externas, ou seja, mais propenso aos impulsos e mais exposto às
condições do ambiente.
Os problemas que cercam os adolescentes são resultados das condições
sociais, que em várias formas, em seu cotidiano influenciam em seu
desenvolvimento. Entre elas, dificuldade de acesso e permanência na educação
básica de qualidade, falta de acesso a serviços básicos, a bens culturais e materiais
socialmente produzidos, decorrente das desigualdades sociais típicas de uma
economia capitalista que concentra renda, eleva índices de pobreza e exclui a maior
parte da população da possibilidade de acesso as condições mínimas para a
dignidade humana e o exercício da cidadania.
As crianças e os adolescentes constituem aquela parcela da sociedade que
mais sofre com a desigualdade, vítimas da iniquidade que decorre dela, seja no
âmbito da família, da sociedade civil ou do Estado que, sendo omisso as suas
necessidades, à medida que não assegura as garantias básicas, contribuindo para
uma marginalização crescente, através do sub-financiamento das políticas públicas
que garantiriam os direitos sociais através da vinculação das famílias em situação de
vulnerabilidade.
Ante a situação de abandono e maior exposição às condições de
vulnerabilidade, ficam as crianças e os adolescentes ainda mais sujeitos ás
insidiosas propostas de melhorar suas condições de vida, na ilegalidade, para a qual
serão mais facilmente aliciadas quanto mais desatendidas pelo Estado. Muitos
adolescentes são coagidos a se prostituírem, a entrarem para o ramo do comércio
ilícito de drogas e armas, o mundo com leis próprias, do tráfico, onde encontram
oportunidades de trabalho e ganhos informais, onde são explorados e violentadas
através do trabalho irregular e outras formas de exploração de seus corpos.
O processo de mudanças no mundo do trabalho, cujos estão inseridos os
adolescentes são, cada vez mais precários, cujos direitos são casa vez mais
destituídos, em nome do maior ganho do capital e da menor consideração à pessoa,
aumentando o subemprego, o desemprego, a pobreza e a miséria, e, por
conseguinte, os índices de exploração do trabalho infantil, vantajoso por ser trabalho
ilegal e barato, livre de impostos e à margem da vigilância necessária ao
asseguramento da legalidade.
Apesar de iniciativas governamentais no sentido de conter o avanço da
exploração do trabalho infantil a situação recorrente ainda merece atenção e se
constitui prioridade quando se trata de alcançar justiça social. Crianças e
adolescentes submetidos a trabalho forçados, atividades insalubres e perigosas,
jornadas excessivas, expostas a ambientes degradantes que prejudicam seu
desenvolvimento físico, mental e social tornam evidentes a violação de direitos
humanos, constitucionais, civis e sociais. Um dos fatores que contribuem é a
vulnerabilidade social em que as próprias famílias se inserem.
A exploração sexual de crianças e adolescentes ainda e um problema de
difícil solução; os índices de notificação das ocorrências continuam crescendo em
todo o país, apontando para a necessidade de ações de controle mais consistentes,
que envolvam toda a sociedade, através de um esquema de parcerias entre Poder
Publico, as organizações sociais e a mídia. É cada vez mais obvia a necessidade de
incentivar e fortalecer a rede de proteção social para o combate ao abuso e a
exploração sexual infanto-juvenil através da divulgação dos meios de denúncia
anônimos, uma vez constatado que este é um crime que pode partir de qualquer
pessoa e quase sempre é cometidos exatamente por aquelas pessoas responsáveis
pela segurança das crianças. De modo que a sociedade construa esforços na
promoção da vida comunitária, nos projetos de cidadania e em políticas públicas que
promovem a garantia dos direitos, a superação das desigualdades sociais.
O Atual cenário político, representado pelos inúmeros discursos alarmistas de
parlamentares, divulgados pela mídia, concentra seu interesse não nas péssimas
condições de vida da população, decorrente de toda a falta e em especial da falta de
uma boa educação, mas, nos números que quantificam o envolvimento de
adolescentes em crime hediondos, de extrema gravidade, como o estupro, o
latrocínio e o homicídio, em que pretendem justificar-se para alterar o disposto no
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), quanto ao comprimento das medidas
socioeducativas, substituindo-as pelo encarceramento através da redução da
maioridade penal, em presídio comum. Tal discurso leva a sociedade a crer que o
menor, que se envolve em ato infracional, não esteja sendo suficientemente
responsabilizado por seus atos ao cumprir medidas em instituições sob regime de
privação de liberdade.
O caráter desta proposta, de redução da maioridade penal, é de que é preciso
aumentar a repressão, a ser exercida pelo Estado, como solução para a violência
cometida por adolescentes como se aumentando a violência praticada pelo estado
fosse possível diminuir a violência cometida por adolescentes que, então seriam
inibidos, porque atemorizados ante a perspectiva do endurecimento da penalidade.
Ainda não se põe em perspectiva a violência da sociedade brasileira em
geral, omitindo-se nesta discussão o fato amplamente estudado de que, embora não
tenhamos guerra declarada, nos brasileiros somos um dos povos que mais se mata.
Os números da ONU para o Brasil são estratosféricos quando comparados às
quantidades de mortos anualmente na Síria, por exemplo, que vive sob guerra
aberta; e podem nos ajudar a entender quanto da violência juvenil é culturalmente
transmitida, quanto ela é, em última análise, uma violência reproduzida, socialmente
determinada por fatores escamoteados, que não têm sido postos na perspectiva
necessária a uma solução adequada, como se bastasse eleger o adolescente como
único responsável, desonerando a culpa do próprio estado, por omitir-se de suas
responsabilidades.
Toda essa discussão tem sido feita em fatias e a mídia sensacionalista se
beneficia do anseio social por uma justiça vingativa, contribuindo para a manutenção
de uma ideologia individualista que se vale da ignorância das causas das
iniquidades sociais, de toda a forma de exclusões e injustiças sociais que são
diariamente cometidas.
Por último, não se pode deixar de mencionar que o estado é, ele próprio,
responsável pela manutenção da mentalidade que alimenta a crença na eficiência
de uma justiça vingativa, na medida em que submete àquele a quem falaciosamente
chama de “reeducando” a condições degradantes, nos presídios, sem chance
nenhuma de estudar, trabalhar ou e reeducar por qualquer meio que seja, estado já
próximo de oferecer as mesmas condições aos jovens privados de liberdade em
instituições próprias, o que, para muitos parlamentares e tido como adequado.
1.2. METODOLOGIA DA PESQUISA

O presente ensaio monográfico contou com o lócus central de pesquisa o


Centro Socioeducatico de Cuiabá: POMERI, Instituição responsável pelo
atendimento a adolescentes envolvidos em ato infracionais no Estado de Mato
Grosso que tem como objetivo o acolhimento e a execução de medidas
socioeducativas de acordo com as diretrizes e normas previstas pelo ECA e
complementado pelo Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE.
No ano de 2013, na qualidade de acadêmica do curso de Serviço Social da
Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, tive a oportunidade de inserir-me no
Centro Socioeducativo de Cuiabá como estagiaria, ocasião em que conheci a
instituição e observei seu funcionamento de perto, participando do desafio que
representa tanto para os profissionais quanto para outros atores que lidam
diretamente e indiretamente com os adolescentes. Conforme o SINASE; todos esses
atores têm importância igual no sucesso do processo de reintegração dos
adolescentes.
Durante tal período tive a oportunidade de aproximação com os adolescentes
em cumprimento de medidas e em privação de liberdade, o que me permitiu entrar
em contato não apenas com eles próprios, mas também com seus responsáveis.
Presenciar os atendimentos foi fundamental para suscitar-me interesse nos
parâmetros sociais relativos às suas origens, cultura, condições de vida, e, fortalecer
minha motivação para o objetivo de analisar o perfil dos adolescentes em
cumprimento de medidas socioeducativas sob internação, identificando-os por faixa
etária, grau de escolaridade, grupo familiar, classe social, quantidade de residência,
tipo de delito cometido, etc.
Refletindo-se sobre o problema colocado não se pode deixar de considerar a
premissa básica de que condições sociais sejam fatores contributivos importantes
para o envolvimento em atos infracionais, uma vez em que somos seres sociais que
vivem em determinado tempo e lugar, ou seja, inseridos em determinado contexto
histórico e social, não sendo possível isolar, portanto, atos individuais.
Assim, considerando os setores sociais ainda excluídos, é preciso produzir
conhecimento científico, com intuito de desvelar fluxos de forças políticas para o
enfrentamento às múltiplas questões de ordem social, nossa pesquisa é de caráter
qualitativo, visto que propõe a investigação das condições de vida desses
adolescentes que comentem atos infracionais, reconhecendo a singularidade desses
sujeitos, sua experiência social e cultural.
Ademais, é quantitativa, visto que buscamos analisar documentos referentes
a esses adolescentes com intuito de fazer interpretação dos dados para uma crítica
centrada nas próprias dimensões singulares que esses adolescentes convivem (ou
seja, classe, raça/etnia, escolaridade, renda familiar). Esperamos que através
desses dados possamos traçar um perfil de quem são essas pessoas privadas de
liberdade.
A contextualização do comportamento infracional relacionada ao perfil do
adolescente que se envolve em ato infracional busca reconhecer contradições e
elementos que potencializam a violência e a vulnerabilidade social além de outros,
que expliquem as dificuldades para a efetivação das Políticas Sociais, entre eles
aqueles que devem ser desenvolvidos pelos próprios sistemas de atendimento ao
adolescente, já que também este é refém da tendência à precarização geral dos
vínculos de trabalho. Neste sentido, faz-se necessário um breve resgate histórico
das políticas sociais direcionadas a crianças e adolescentes, e, das categorias para
análise desse objeto – adolescência, medidas socioeducativas e ato Infracional.
A construção metodológica que se pretende é através da pesquisa de campo,
no qual, é documental exploratória de caráter qualitativo e quantitativos, em que
todos os dados referentes aos adolescentes sejam retirados das Fichas de
identificação preenchidas no ato de ingresso no Centro Socioeducativos de Cuiabá
com formato de questionário. Trata-se, portanto, de considerar informações ainda
não analisadas, que é o que define a natureza da pesquisa. Conforme Gil, a
pesquisa documental assemelha-se muito à bibliográfica “[…] vale-se de materiais
que não receberam ainda tratamento analítico, ou que podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (1991, p. 45)”. Entretanto, devido à falta de
alguns dados que deveriam ser preenchidos na Ficha de Identificação, fizesse
necessário à busca de algumas informações no banco de dados do Sistema de
Informação para Infância e adolescência (SIPIA).
Vale ressaltar que nem todas as Fichas de Identificação contém,
necessariamente, a documentação completa. Destaca-se, ainda, que cada
adolescente possui diferentes tipos e fichas, entre elas, as que contêm documentos
oficiais que entram e saem da unidade, os prontuários próprios da Gerência de
Saúde, e os que ficam sob a guarda da equipe de referência dos adolescentes,
contendo informações do acolhimento, dos atendimentos individuais e de grupos e
outras abordagens da equipe técnica.
Os dados dos adolescentes foram extraídos com a ajuda de um roteiro para
análise documental, com o intuito de levantar o perfil dos adolescentes que cumpre
medida de internação na unidade. Ao longo da análise foram feitas anotações com o
objetivo de reunir informações uteis a construção da trajetória da vida destes
adolescentes. Sendo assim, estas informações retratarão dados relacionados com:
Idade, Escolaridade, Ato Infracional envolvido, entrada e saída da unidade, medidas
recebidas, local de residência e grupo familiar.
Alguns cuidados éticos foram adotados durante toda a construção deste
ensaio, tais como técnica de pesquisa que possibilitem uma menor exposição dos
adolescentes, pois já está em situação de grande vulnerabilidade social, razão
porque se deve garantir o maximo sigilo relacionado as suas identidades. No
procedimento de coleta de dados em nenhum momento foram anotados nomes dos
adolescentes ou de qualquer um de seus responsáveis; e, na etapa de análise de
dados e da redação não foram utilizadas quaisquer formas de identificação dos
adolescentes.
Para tornar possível o acesso à Instituição e para consultar os arquivos
contidos na secretaria técnica da Unidade, com as Fichas de Identificação e o banco
de dados do SIPIA, foram encaminhados Ofícios de Solicitação de Autorização para
a Superintendente do Socioeducativo, contendo um resumo do projeto, objetivos,
justificativa e a metodologia da pesquisa. (Apêndice)
A pesquisa será compartilhada com a equipe da unidade e ficará à disposição
da instituição que poderá a seu turno, identificar o perfil dos adolescentes através da
reconstrução de sua trajetória. Com isso, o complexo POMERI poderá utilizar os
dados como forma de subsidiar suas ações e projetos voltados para a melhoria do
atendimento dos adolescentes.
2. A REGULAMENTAÇÃO DO SISTEMA DE GARANTIAS DE DIREITOS PARA O
ADOLESCENTE EM SITUAÇÃO INFRACIONAL

2.1. A ADOLESCÊNCIA UMA FASE DE DESCOBERTAS E TRANSIÇÕES: UM


ENFOQUE SOBRE O COMETIMENTO DE ATOS INFRACIONAIS

Na busca de compreender o adolescente1, é necessário que façamos uma


reflexão com perspectivas amplas, como segundo Becker (1999, p.11), “[…] não
existe uma adolescência, e sim várias. O próprio conceito de que ela é um fenômeno
universal é muito duvidoso”. Desta forma, este processo se dá em contextos em que
atuam fatores pessoais, familiares, sociais e culturais, possibilitando vivências
diferentes dessa fase para cada adolescente, ou seja, mesmo com características
comuns, os adolescentes vivenciam cotidianos desiguais, está decorrência das
classes sociais distintas, das origens e trajetória familiar. Sendo assim não existe um
modelo de adolescente universal, apenas sabemos que é fase da vida que antecede
a fase adulta, cuja fase o indivíduo está mais vulnerável a influências internas e
externas.
Esse fenômeno vem se transformando com o tempo, ou seja, o adolescente deve
ser inscrito em suas múltiplas determinações, seu tempo histórico, seu contexto
cultural, a nova geografia do mundo globalizado, e mais, outros fenômenos culturais.
Como segundo Trassi (2006, p.4)

[…] visibilidade e repercussões em várias áreas da vida social e em grande


parte do mundo está ainda em movimento. A crescente universalização e
ampliação da escolaridade, as novas profissões, a liberação sexual, a
disseminação do uso de drogas, a constituição de uma cultura juvenil –
vestuário, música, alimentação –, a transformação da política em
micropolítica, a política do desejo.

Desta forma, a própria definição de adolescente está em constante


modificação, seja pelas mudanças no convívio social, pela própria relação e
definição da família, seja pelo processo de globalização. Portanto as mudanças nas
relações humanas afetam diretamente na formação dos adolescentes. Afinal são
construções sociais frutos de determinadas sociedades e épocas, marcada por um
complexo processo de crescimento e desenvolvimento.
1
O Estatuto da Criança e do Adolescente define que são consideradas crianças
aqueles com até 12 anos incompletos e adolescentes aqueles entre 12 e 18 anos.
Ainda neste sentido, podemos dizer que na fase da adolescência, não se tem
uma personalidade formada e se está passando por diversas transformações, tanto
no comportamento como na formação de identidade. E, sobretudo, é o momento em
que o lidamos com transformações corporais e comportamentais.
As crianças e os adolescentes estão na condição simbólica de pessoa em
desenvolvimento. Como cita Volpi (2011. P. 14) “A criança e o adolescente são
considerados como pessoa em desenvolvimento, sujeitos de direito e destinatários
de proteção integral.” Portanto, são de responsabilidade do estado, da sociedade e
da família a segurar as garantias para o desenvolvimento integral de todas as
crianças e adolescentes, como sujeitos de direito, como define o Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA) aplica no artigo 1º, a doutrina da proteção integral, partindo
da concepção de que devem garantir como cidadãos todas as crianças e os
adolescentes, deste modo, devem garantir a proteção prioritária, tendo em vista que
são pessoas em pleno desenvolvimento físico, psicológico e moral. Nesta
perspectiva do direito possuem direitos e deveres. E fica a responsabilidade do
Estado, da família e da sociedade garantir o desenvolvimento e que seus direitos
sejam cumpridos.
No entanto, podemos observar que a apesar das políticas destinadas às
crianças e aos adolescentes, eles ainda representam à parcela mais exposta as
violações desses direitos sejam pela família, pelo estado ou pela sociedade.
Conforme Pimentel (2010, p.41)

Na realidade, muitas crianças não têm infância em razão de sua miséria, o


que faz com que a adolescência envolvida com a criminalidade se construa
a partir, não somente, de uma negação de direitos, tais como escola, saúde,
família, dentre outros, mas também de uma não efetivação desses direitos
como um todo.

Contudo, no que se refere à situação de vulnerabilidade que se encontram


grande parte dos cidadãos, logo as crianças e adolescentes se inserem também
nesse ambiente hostil e cheio de contradições. Seja devido à má distribuição de
renda, que consequentemente, expõe parte da população a situação de miséria,
seja ela agravando pela falta de garantias de seus direitos. O reflexo da
precarização dos serviços públicos aliado a precarização dos direitos e a intensa
desigualdade social, reflexo da concentração de renda são fatores que incidem na
vida dos adolescentes. Traz à reflexão a condição de vítima que o adolescente se
encontra, graças a negligências do Estado em não efetivar de fato a garantia de
direitos. Como acrescenta Scarelli, Nespoli e Oliveira (p.3)

[…] existe o descaso do Estado em relação a execução desses direitos e da


sociedade civil em lutar pela efetivação na íntegra desses direitos
constitucionalmente garantidos. […] o aumento da desigualdade social que
coloca o adolescente a mercê da violência, da má distribuição de renda,
educação e saúde de má qualidade, a falta de profissionalização e entre
outros fatores que os fazem vítimas da exclusão social. O início da
delinquência muitas vezes se explica na violência social, na precarização
das condições mínimas de desenvolvimento e sobrevivência.

Ao que se refere o envolvimento de adolescentes em ato infracional – Dispõe


ECA no Título III, Cap. I, Art. 103, considera-se ato infracional a conduta descrita
como crime ou contravenção penal. Ou seja, adolescentes que se envolve em
contravenção penal são responsabilizados pelos seus atos como dispõem no ECA.
No entanto, quando o adolescente se envolve em ato infracional é porque
ocorreu falha em todo o Sistema: política de proteção, familiar, sociedade e o
estado, pois isso implica na responsabilidade que se tem a doutrina de proteção
integral. Visto que adolescentes são penalmente inimputáveis, quando ocorre o
cometimento em ato infracional são encaminhados a cumprirem medida
socioeducativas como prevista no ECA capítulo IV, seja ela: Reparo ao dano,
Prestação de serviço, Liberdade assistida, Liberdade Assistida, semi-liberdade e
Internação. A aplicação destas medidas são aplicadas levando em conta a
capacidade do adolescente de cumpri-las. Ao verificar o envolvimento com ato
infracional, o adolescente e encaminhado à autoridade competente para o
cumprimento de medida socioeducativa. Como observa Volpi (2011, p. 20)

As medidas socioeducativas comportam aspectos de natureza coercitiva,


uma vez que são punitivas aos infratores, e aspectos educativos no sentido
de proteção integral e oportunizarão, e do acesso à formação e informação.
Sendo que em casa medida esses elementos apresentam graduação de
acordo com a gravidade do delito cometido e/ou sua reiteração.

Vale ressaltar que as medidas socioeducativas têm o cunho predominante


pedagógica, no entanto sua natureza é sancionatória – ou seja, uma medida
imposta, coercitiva quanto ao delito praticado pelo adolescente e decorrente a uma
decisão judicial. Como reafirma o SINASE (2006, p.47)

[…] sobretudo, uma natureza sócio-pedagógica, haja vista que sua


execução está condicionada à garantia de direitos e ao desenvolvimento de
ações educativas que visem à formação da cidadania. Dessa forma, a sua
operacionalização inscreve-se na perspectiva ético-pedagógica.

Reafirmando a condição de pessoa em desenvolvimento, o adolescente deve


receber obrigatoriamente condição de participar de atividades pedagógicas, levando
em considerações suas potencialidades, sua subjetividade, suas capacidades e
suas limitações, garantindo a particularização no seu acompanhamento. Assegurado
pelo SINASE (2006, p.48)

Exigir dos adolescentes é potencializar suas capacidades e habilidades, é


reconhecê-los como sujeitos com potencial para superar suas limitações. No
entanto, a compreensão deve sempre anteceder a exigência. É preciso
conhecer cada adolescente e compreender seu potencial e seu estágio de
crescimento pessoal e social. Além disso, devem-se fazer exigências
possíveis de serem realizadas pelos adolescentes, respeitando sua
condição peculiar e seus direitos.

A unidade de atendimento socioeducativo se sustenta em três pilares: o


respeito aos direitos fundamentais ao adolescente a fim de garantir sua integridade
(física, moral e piscológico), A ação socioeducativa para a reintegração ao convívio
social e o desenvolvimento pessoal e social, e a de segurança.
O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) reafirma a
posição do adolescente enquanto sujeito em desenvolvimento, e reafirma a que as
condições sociais os quais são impostas exercem influência no seu desenvolvimento
social, logo que afirma em parâmetros com o Eca no seu artigo 227, (sinase, p.26)

Em nossa sociedade a adolescência é considerada momento crucial do


desenvolvimento humano, da constituição do sujeito em seu meio social e
da construção de sua subjetividade. As relações sociais, culturais, históricas
e econômicas da sociedade, estabelecidas dentro de um determinado
contexto, são decisivas na constituição da adolescência. Portanto, para o
pleno desenvolvimento das pessoas que se encontram nessa fase da vida,
é essencial que sejam fornecidas condições sociais adequadas à
consecução de todos os direitos a elas atribuídos.

Ressaltando, que mesmo que o adolescente se envolva em ato infracional, fica


assegurando a garantias de todos os direitos revisto pelo ECA (Art. 227), não
restringindo aos princípios constitucional de prioridade absoluta, ficando a
responsabilidade do estado, a sociedade e a família a garantias de acesso as
políticas de proteção. Seja eles (sinase, p.26)
[…] o direito à vida e à saúde (Título II, Capítulo I); o direito à liberdade, ao
respeito e à dignidade (Capítulo II); o direito à convivência familiar e
comunitária (Capítulo III); o direito à educação, à cultura, ao esporte e ao
lazer (Capítulo IV) e o direito à profissionalização e proteção no trabalho
(Capítulo V) devem estar contemplados na elaboração das políticas públicas
que envolvem os adolescentes em conflito com a lei.

Neste presente ensaio se destaca a medida de Internação, esta medida dentro


de uma hierarquização deve ser última aplicada, ou seja, destinado a adolescente
que cometeram infrações graves, ou o não cumprimento de outra medida imposta.
Como previsto no ECA no Artigo 121 “A internação constitui medida privativa da
liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à
condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.” A natureza desta medida está na
privação da liberdade do adolescente em Instituições especifica, enfatizando os
aspectos pedagógicos que visem proporcionar a reintegração social do adolescente.
Ressaltando a importância do envolvimento familiar no processo de reintegração
social.
Quando a medida de internação são aplicadas é dever exclusivo do Estado
garantir ao adolescente os aspectos de seguranças, a orientação e oportunidades
afim de superar as condições de exclusão em que o adolescente esta inserido.
Ficando sobre responsabilidade restritamente do Estado a garantia de bem-estar
físico e mental do adolescente.
. Sob a perspectiva do Serviço Social, ao abordar as problemáticas da violência
juvenil, trata se de uma expressão da questão social, que são fruto das
desigualdades econômicas, políticas e sociais. E ressaltar a necessidade da
efetivação de políticas públicas eficientes. Como menciona Santos (2001 apud
Garcia e Pereira, 2014. p.143):

A marginalização da juventude é a primeira e mais evidente consequência


de relações sociais desiguais e opressivas garantidas pelo poder político do
Estado e legitimadas pelo discurso jurídico de proteção da igualdade e
liberdade. A segunda consequência é a desumanização da juventude
marginalizada: relações desumanas e violentas produzem indivíduos
desumanos e violentos como inevitável adequação pessoal às condições
existenciais reais.

Ao Compreendemos que os fatores que contribuem para o cometimento de


atos infracionais pelos adolescentes compõem a gama das expressões da ‘questão
social’ como complementa Volpi (2011, p. 52) “A presença de crianças e
adolescentes lutando pela sobrevivência nas ruas das cidades denuncia os efeitos
que a pobreza exerce sobre as famílias de baixa renda e o fracasso dos modelos de
desenvolvimento econômico concentradores e excludentes.” Podemos observar que
a conjuntura social em que os adolescentes vivem, agem como fatores
determinantes para o envolvimento no ato infracional, seja por influências externas,
consequências de suas condições sociais. Como complementa Scarelli, Nespoli e
Oliveira (p.4)

[…] sendo claro que grande porcentagem dos adolescentes em conflito com
a lei possui um histórico de vida semelhante, ou seja, encontra-se em
núcleos familiares disfuncionais, com pais alcoólatras, desempregados,
vítimas das injustiças sociais.

Os adolescentes que cumprem as medidas socioeducativas, em geral, são


pessoas advindas de famílias que tiveram seus direitos violados ou em risco de o
serem, e de baixa renda. Como define Pimentel (2010, p 70) “E o caminho que se
toma é punir a pobreza, em vez de se investir em atuações contra a mesma. Este é
um tipo de gestão que persiste em criminalizar a questão social e suas expressões.”
refletindo em diversas consequências, inclusive no agravamento da violência.
Buscar compreender os fatores que levam adolescentes a se envolverem em ato
infracional, esta ligada diretamente em compreender seu contexto social.
Ao analisar (decifrar) o tema violência-adolescência, Trassi (2006) diz ser
necessário ir para além da aparência (do sintoma), e mais, em tal contexto, as
próprias representações sociais falseadoras da realidade. Tal percurso deve estar
ligado a todos os aspectos da vida social, onde objeto/sujeito e objeto/movimento
implica um conhecimento transdisciplinar, ou seja, transitar por vários saberes (fato
econômico, fato antropológico, fato político, fato psicológico, fato cultural, fato
jurídico). Tais saberes, afirma a autora sobre a adolescência-violência:

[…] é um ponto crítico, de saturação, condensação de múltiplas


determinações, pois revelador das mutações, transformação da cultura, dos
padrões de relações entre os humanos, da fragilidade dos vínculos
amorosos, do modo de pensar, sentir, agir – estar no mundo – dos
indivíduos, neste momento histórico. Revela o que é comum e o que é
singular, o que permanece e o que flutua, o estrutural e o conjuntural.

A Violência reitera a autora com V maiúsculo, criam um clima cultural


contaminado e contaminador, de difícil decifração. Pode estar referenciada humana
e cultural da nossa sociedade. E mais, a violência pode estar ligada na produção
das mentalidades, de padrões de sociabilidade, tanto na vida pública quanto privada
e mesmo as instituições (família, escola, Estado). Nesta perspectiva, devemos levar
em conta o fracasso dos mecanismos sociais de controle e regulação dos
indivíduos, onde "[…] em suas múltiplas expressões, invadiu e está presente nas
várias áreas de relação do homem com o mundo – as coisas, as pessoas – e
consigo próprio: seu corpo e sua mente. São múltiplas as suas expressões (TRASSI,
2006, p. 208).
As expressões da violência estão imbricadas com fatores como guerra,
preconceito e criminalidade. Tal fato mostra como o medo social, a insegurança das
pessoas pode reduzir o fenômeno da violência somente pelo crime, que por sua vez,
afirma Trassi (2006), pode fazer com que a população via Estado exija formas mais
repressivas de combatê-la. Ora, a mídia tem contribuído de forma sensacionalista a
própria criminalização da pobreza, onde o estigma da violência está ligado aos
pobres.
Uma mudança nesse cenário, a partir da década de 90, reitera a autora "[…]
começou a se romper o estereótipo do criminoso como negro, pobre, favelado […]",
onde a "[…] impunidade associada ao aumento da criminalidade produz a
constatação do fracasso ou descrença de que o Estado possa cumprir função de
assegurar a paz pública, de modo equânime, para todos (TRASSI, 2006, P.210)".
A adolescência em seus determinantes biológicos, psicológicos, culturais e
sociais, na preparação para ser adulto e sua preparação para o trabalho, e não
cumprimento dessas exigências é vista como um desvio. Tal premissa indica uma
busca pela sua autonomia, formação de sua identidade em "[…] contraposição ao
adulto está relacionada à sua busca de reconhecer-se e afirmar-se como identidade
única, singular, diferente do outro (TRASSI, 2006, p. 214)".
Atente-se a isso a própria inserção deste adolescente como vítima e agente
no cenário da violência. Assim, "[…] os aspectos estão inscritos no mesmo ambiente
sociocultural que produz, legitima e mantém a violência em seu grau extremo – a
morte (TRASSI, 2006, p.215)". Através de dados estatísticos e pesquisas, realizados
pela UNESCO no Brasil, nossa autora identificou, que as causas externas e
associadas à violência são: acidentes de trânsito, homicídio e suicídio, sendo o
homicídio o fator predominante.
Por muito, a criminalização dos adolescentes e a associação da juventude
com a violência, no marco de sua origem social, prevalecem a imagem do risco e
não do desafio, afirma Trassi. Pode ocorrer patologização das características
próprias do adolescente, os mais pobres por sua vez são tratados como perigosos
ou potencialmente perigosos. “A criança e o adolescente em situação de
vulnerabilidade, no qual, estão situados os adolescentes e também criança autores
de ato infracional, são um fenômeno histórico, universal e transversal na sociedade
(TRASSI, 2006, p.219)”.
No percurso histórico, já no século XIX, afirma Trassi (2006) a existência de
duas categorias de criança e adolescente: pobres abandonados e delinquentes, o
primeiro exprimindo dó e o segundo medo, podendo ser objeto compaixão e inclusão
social e de outro lado objeto de repressão. Já o século XX verifica-se entidades
religiosas de assistência protetiva e na década de 20 começa a surgir políticas de
intervenção do Estado. Podemos citar a criação em 1964 da Funabem, a Febem no
estado de São Paulo e até o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente
(1990).
No entanto, alerta Trassi (2006), que alguns estados brasileiros, mesmo com
a vigência do ECA, reproduzem o modelo prisional. A prática de delitos acrescenta a
autora, se trata de um fenômeno universal, pode estar numa concepção reducionista
e economicista, onde a criança em estado de vulnerabilidade são aquelas das
camadas pobres da sociedade. A desigualdade social no caso do Brasil é ainda
mais exacerbada, o que pode fazer com que “[…] os adolescentes coloca-se um
limite não só para exercício de direitos, do alcance do projeto de vida mas,
particularmente, para o consumo de bens que estão diante de seus e distantes de
sua posse (p.222).
Outro aspecto da criança e do adolescente é o fenômeno transversal, em
sua condição de vulnerabilidade, verificam-se na prática do crime, adolescentes de
todas as classes sociais. As drogas podem desencadear transformações sociais e
modificação do padrão conduta do adolescente, seja através do uso ou comércio.
Nesta relação prefigura-se o uso das drogas e o prazer, pode ser encarada como
uma alienação de si e do mundo, e mais, essa esperança pela felicidade, onde o
sofrimento continua sendo insuportável.
Sobre o mal-estar presente em nossa sociedade, Trassi (2006) afirma: “Está
infância e juventude ‘em perigo’ que vai se transmutando, sob nosso olhar e
convivência, em ‘perigosa’ sinaliza o estabelecimento de novos padrões de
convivência coletiva (p.226)”.
“O crime é um ato que fala do coletivo e do indivíduo, imbricados… é
necessário decifrar (TRASSI, 2006, p. 229)”. Tal afirmação nos leva a pensar a
criança em seu processo desenvolvimento a “[…] adquirir os códigos de decifração
do mapa do mundo depende de adultos e de agências/instituições que a socializam,
que façam essa mediação entre o privado e o público, entre o eu e os outros, a
coletividade (p. 230)”. Tais agências socializadoras, a família, a creche, escola, a
TV, tecnologias de comunicação podem assumir também esse papel. E mais, tais
tecnologias e a família podem fazer com que se rompa com a tradição e com os
poderes morais.
As desigualdades sociais, a perca dos direitos e exclusão social estão
intimamente ligadas a concentração de renda e poder. E mais, a família nuclear que
até então estávamos acostumados, vão ganhando novas nuances (a família
homossexual, a família chefiada por mulheres, a família chefiada por adolescentes
etc), essa dinâmica e organização familiar estão em processo de decomposição,
onde é significativa a perda moral sobre as novas gerações. Tal panorama, diz
Trassi (2006) “[…] a juventude deixa de ser vista como estágio preparatório para a
vida adulta e, em certo sentido, passa a ser vista como estágio ddo pleno
desenvolvimento humano – são consumidores”! São autônomos (p. 237)! Assim, tais
transformações indicam que

Uma das características é o estilo informal que lhe dá uma forma eficiente
de rejeitar os valores da geração paterna; por exemplo, a incorporação de
palavrões no vocabulário. Outra característica importante é seu
subjetivismo: o pessoal é político – a política do corpo, a política do desejo.
A liberação pessoal e a liberação social se integram e encontram nas
drogas e no sexo os símbolos para estilhaçar as cadeias da família, das leis
e do Estado. A rejeição dos padrões instituídos não ocorreu – como na
década de 60 – em nome de outro modelo de sociedade, da justiça social,
mas em nome da ilimitada autonomia do desejo individual levado ao limite.
O desejo são aqueles recriminados por serem moralmente inaceitáveis pelo
conjunto da sociedade e pelas gerações mais velhas, mas agora permitidos,
tolerados porque eram desejos comuns a muitos (TRASSI, 2006, p. 238).

Entende-se tal processo como o triunfo do indivíduo sobre a sociedade, que


alguns autores chamam de cultura do narcisismo, ou seja, um rompimento das
relações sociais e suas formas de organização, e ainda, a mudanças nos próprios
padrões de conduta entre as pessoas. “O fracasso de mecanismos tradicionais de
regulação da convivência coletiva – o sistema de justiça, as religiões, a famílias e
mesmo a escola –, controladores da conduta do cidadão, é outro sinalizador de
incertezas sobre o presente e o futuro”. “Os adolescentes são personagens dessa
transformação; é neles que se vê tatuada a mudança que se opera. Eles são
agentes do presente e de um futuro que ainda guarda ranços do passado – o ódio
(TRASSI, 2006, p. 239)”.
Ao relacionar a tortura e a adolescência, diz que o adolescente ao passar por
isso nas instituições ocorre “[…] efeitos pela identificação com o agressor e a
repetição como agente de violência; cria-se uma sociedade do medo [...]”, “[…] uma
experiência de horror que os fabrica […] (TRASSI, 2006, p. 242 e 243)”.
No entanto, Volpi (2011), ao se referir aos adolescentes que praticam atos
infracionais, é preciso considerar o papel dos meios de comunicação social e a
opinião pública que reproduz seu discurso estigmatizante, “[…] referindo-se a eles
como infratores, delinquentes, pivetes e, mais recentemente, importando uma
expressão dos EUA, uma revista semanal taxou-os de ‘pequenos predadores’ (p, 7).
Ademais, profissionais que consideram que o ato infracional é inerente à sua
identidade, e o próprio conceito de ato infracional, defino pelo Estatuto da Criança e
do Adolescente e a privação da liberdade. Nessas condições, Volpi (2011) afirma
que as crianças e os adolescentes estão mais exposta às violências de direitos pela
família, pelo Estado e pela sociedade, onde

[…] maus-tratos; o abuso e a exploração sexual; a exploração do trabalho


infantil; as adoções irregulares, o tráfico internacional e os
desaparecimentos; a fome; o extermínio, a tortura e as prisões arbitrárias
infelizmente ainda compõem o cenário por onde desfilam nossas crianças e
adolescentes (p, 8).

Os adolescentes ao cometer o ato infracional são desclassificados como


adolescentes, onde o afastamento da sociedade se justifica sua recuperação e
reinclusão, o que pode ser uma estratégia de criminalização da pobreza, onde as
pessoas negras neste contexto são as que mais sofrem.
Sobre a discussão do tema temos a existência indiscutível de atos infracionais
graves de relevância atribuídos a adolescentes. Considere-se, ainda, que é direito
indiscutível de toda a sociedade à segurança pública e individual, temos ainda a
diminuição da maioridade penal e aplicação indiscriminada das medidas privativas
de liberdade, relacione-se a isso a competências do poder público em relação ao
cumprimento das medidas socioeducativas, e também, a falta de orientações
técnicas e pedagógicas para a implementação do conjunto das políticas e suas
medidas (VOLPI, 2011, p. 13 e 14).
A concepção de criança e adolescente para Volpi (2011) é compreendida por
“[…] pessoas em desenvolvimento, sujeitos de direitos e destinatários de proteção
integral (p, 14)”. Compreende, ainda, que as medidas socioeducativas têm a missão
de proteger, garantir direitos e educar, visando ações que propiciem a educação
formal, profissionalização, saúde, lazer, sendo tais direitos constituídos por direitos
sociais, políticos e civis.
Recorrendo ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e outras leis,
políticas e convenções que direcionam as ações que corresponde sobre a natureza
do ato infracional em seu artigo 103, conduta prevista em lei como contravenção ou
crime, em correspondência absoluta com a Convenção Internacional dos Direitos da
Criança, de acordo com o ECA esse adolescente infrator como uma categoria
jurídica. Esse por sua vez, passa a ser sujeito dos direitos estabelecidos na Doutrina
da Proteção Integral. No entanto, tomando por essas bases afirma Volpi (2011), que
em relação ao Código de Menores houve rompimento como simples categoria
sociológica e sua medida como apenas como privação de liberdade.
Neste aparato, nosso autor apela para a necessidade de se distinguir o que é
ser infrator ocasional e o que é ser delinquente habitual, ou seja, “[…] a
‘delinquência não pode ser considerada uma categoria homogênea, nem um critério
exclusivo de definição de causa da transgressão da lei (VOLPI, 2011, p. 16)”. É
necessário levar em conta os aspectos da problemática social, saúde física e
emocional, e também, aspectos estruturais da personalidade. Passo disso, deve
haver contraposição “[…] à cultura predominante dos agentes de segurança, que
orientam-se por critérios extremamente subjetivos e preconceituoso, criminalizando
especialmente pobres e negros (p, 17)”.
Em consulta ao ECA, Volpi (2011) vê a necessidade do conhecimento da
atribuição do ato infracional pelo adolescente, e mais, onde a relação processual
não pode ser reduzida e relativizada. Permeia também, o direito à defesa técnica por
profissional habilitado (advogado), assistência judiciária gratuita e integral, sendo a
averiguação do ato infracional séria e imparcial. Tem o direito de ser ouvido e a
participação de seus pais ou responsáveis em qualquer fase do procedimento.
Onde, […] a aplicação da medida de internação deverá obedecer aos princípios da
brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar da pessoa em
desenvolvimento (p, 18).
Tendo o ECA como proposta a inclusão social do adolescente infrator, o
Estado (Unidade Federada) tem como função pública à gestão e competência
absoluta e intransponível das unidades de privação de liberdade.
As medidas socioeducativas têm como caracterização seu acordo com as
características da infração; comportam aspectos de natureza coercitivos e aspectos
educativos no sentido da proteção integral e oportunização, e do acesso à formação
e informação; tais regimes socioeducativos devem promover aos adolescentes
oportunidades de superação de sua condição de exclusão; sua operacionalização
deve promover envolvimento familiar e comunitário; os programas socioeducativos
devem estar relacionados com outros serviços, deve garantir segurança, proteção à
vida dos adolescentes; os programas socioeducativos devem promover formação
dos envolvidos; por fim, suas denominações devem estar pautadas na não-
discriminação e não estigmatização com intuito de facilitar a inclusão social desses
adolescentes (VOLPI, 2011, p. 20 a 22).

2.2. O processo histórico de legitimação do ECA e do SINASE

O Estatuto de Crianças e Adolescente (ECA) foi resultado de uma


mobilização social, que buscava criar um espaço político e jurídico para as crianças
e os adolescentes brasileiros. Deste modo pretendo resgatar de forma sucinta a
trajetória histórica que antecede a formulação e a sanção do ECA.
Primeiramente é necessário expor que as crianças e adolescentes eram visto
como pequenos adultos, ou seja, eram tratados sem nenhuma distinção, sem
garantias e sem direitos. “A abordagem jurídica da adolescência no Brasil traduz-se
numa verdadeira história de dominação, autoritarismo e, por que não, domesticação
dos chamados menores (Paiva, p.4)”. Entretanto, devemos destacar que o
tratamento que as crianças e adolescentes recebiam destingiu se de acordo com a
classe social em que eles e sua família ocupavam. Enquanto os filhos dos quais
detiam os meios de produção eram tratados com privilégios, os que eram de classes
menos favorecidos eram excluídos, obrigados a proverem seus sustentos.
Deste modo, a indústrias nascentes e a agricultura contavam com está mão
de obra infantil por serem vantajosos, porque eram menos remunerados. No entanto
apenas em 1891, sobre o decreto nº1.313 determina a idade mínima de 12 anos
para exercer o trabalho no Brasil, mas tal decreto não se fazia na pratica. De tal
modo, ate então não se tinha nenhuma legislação efetiva que promovesse a
proteção das crianças e adolescentes.
Apenas em 1927, surgiu a primeira tentativa de um documento legal de
proteção/ a criança e adolescente. O Código do menor, popularmente conhecido
como o Código Mello Mattos, no entanto regulamentava apenas os menores em
situação irregular e criando uma divisão entre os menores em situações de
abandonos e os em situações em conflito com a lei. Lopes e Ferreira afirmam que o
Código Mello Mattos, que regulava apenas os menores em situação irregular, “[…]
como trabalho infantil, abandono em instituições religiosas (antigas “rodas”), tutela,
pátrio poder, delinquência e liberdade vigiada, concedendo plenos poderes ao juiz
(2010 p. 73)”. As crianças e adolescentes que passavam pela situação do abandono
ou aqueles que cometerão qualquer tipo de infração eram encaminhados ao juízes,
que atuavam conforme sua conveniência aplicavam as medidas a serem cumpridas.
Não importava a situação do menor, não havia distinção da situação do menor, o juiz
que determinava o que poderia acontecer com eles, poderia ate ser internados em
instituições responsáveis.
No período da ditadura militar no Brasil, especificamente em 1967, ocorreu a
elaboração de uma nova Constituição Federal, determinando novas diretrizes à vida
civil, onde o Estado assumiu uma posição autoritária. Consequentemente
ocasionando um grande recuo no campo dos direitos sociais. No que se refere a
crianças e adolescentes neste período se sanciona duas novas legislações, a
primeira a criou a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (Lei 4.513 de 1964),
entidade responsável pelo atendimento de crianças e adolescentes, tinha como
objetivo formular e implantar a Política de Bem Estar do Menor. A FUNABEM
atendia os menores abandonados, os carentes e os menores envolvidos em atos
infracionais.
A segunda foi o Código de menores de 79 (Lei 6697 de 1979) que consistia
em uma nova revisão do código anterior, no entanto mantendo a linha repressiva do
código anterior. Sua reformulação foi toda pautada na Doutrina da situação irregular,
a qual se limitava apenas aos menores em situação irregular, que eram subdivididas
em quatro categorias; menores carentes, abandonados, inadaptados e o infrator.
"[..] a doutrina de Situação Irregular não se dirigia ao conjunto da
população infanto-juvenil, limitava-se, porém, aos menores em situação
irregular, [...]:
1.Carentes – menores em perigo moral em razão da manifestação
incapacidade dos pais para mantê-los;
2.Abandonados – menores privados de representação legal pela falta ou
ausência dos pais ou responsáveis;
3.Inadaptados – menores com grave desajuste familiar ou comunitário;
4.Infratores – menores autores de infração penal." (Brasil, 2006)

Desta forma, podemos observar que as crianças e adolescentes que


encontrava se em situação de abandonos, carentes inadaptados e infratores eram
encaminhados à justiça de menores, justiça essa que exclui ainda mais a pobreza,
atuando os menores em situação de risco por meio da repressão.
Quando levamos essa situação do menor carente e inadaptado a outro
patamar, podemos assim demonstrar que o mecanismo era utilizado para o controle
social da pobreza em que esses menores se encontravam. Ou seja, os problemas
de natureza social ou psicopedagógico passara as ser encaminhados aos tribunais
de menores.

Assim, para as crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e


social, fossem ou não autores de infrações penais, a aplicação das leis
baseadas na Doutrina da Situação Irregular significava, de acordo com a
legislação vigente nos anos 80 em todos os países da América Latina, uma
única e mesma realidade: O ciclo perverso da Institucionalização
compulsória – apreensão, triagem, rotulação, deportação e confinamento."
(Brasil, 2006)

Neste modelo, a Apreensão – constituía-se na apreensão e encaminhamento


aos juízes de menores, qualquer criança ou adolescentes em situação de rua,
considerando risco social e pessoal, independentemente de cometer ato infracional;
a Triagem – crianças e adolescentes eram encaminhados ao centro de triagem afim
de elaborar um estudo social, exames médicos e laudo psicopedagógico; a
Rotulação – enquadramento das crianças e adolescentes e umas das categorias da
situação irregular; a Deportação – decisão do juízes de menores a quaisquer
adolescentes encontradas nas categorias da situação irregular; e por fim o
Confinamento – a medida que era aplicada indistintamente aos menores.
Neste código os adolescentes não eram protagonistas de seus direitos,
tornaram-se objetos de intervenção juridico-social do estado, sem a distinção dos
casos sociais ligados diretamente a pobreza, daqueles com implicação de natureza
jurídica.
O que podemos constar é que o código de menores de 1979 já surgiu
defasado para sua época, Pois apesar de mobilizações mundiais que exigia uma
atenção especial aos direitos da criança e adolescente, este novo código de
menores não contemplava essa demanda, afinal ele representava os ideais dos
militares que estavam em crise, não satisfazia os interesses das forças politicas, da
sociedade civil e principalmente não representava os interesses das crianças e
adolescentes.
Com a falência do código de menores e as mobilizações sociais nacionais
buscavam criar um novo espaço politico e jurídico para as crianças e adolescentes.
Consequentemente O Estatuto de Criança e Adolescentes é sancionado em 1990, a
partir da Lei nº 8.069, que se deu origem no fórum Nacional de Entidades Não-
Gorvenamental de Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente, movimento este
que culminou na criação de um artigo que estabelecia direitos a crianças e
adolescentes na constituição federal de 1988. Deste modo rompem com a doutrina
da situação irregular e estabelecem a doutrina da proteção integral – visa assegurar
todos os direitos a todas as crianças e adolescentes, sem exceção.
A doutrina de situação irregular agia exclusivamente na proteção de crianças
e adolescentes carentes e abandonados e a vigilância para os infratores e os
pobres. Já a doutrina da proteção integral não se restringe a um determinado grupo
de criança e adolescente, mas todas as crianças e adolescentes. Tornando se dever
da família, da sociedade e do estado garantir a proteção e assegurar os direitos das
crianças e adolescentes, direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à
cultura, ao lazer e a profissionalização. Alem de garantir a liberdade, ao respeito, à
dignidade e á convivência familiar e comunitária. Acima de tudo, a doutrina de
proteção integral determina a adoção de medidas especiais de proteção de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência e opressão. Deste modo,
desenvolvendo uma política de proteção especial.
Com a implementação do ECA, a política infanto-juvenil deixou de ser punitivo
e passou a prever direitos e proteção a crianças e adolescentes. Podemos dividir a
política de atendimento em 4 eixos: A Política Sociais Básicas – educação e saúde,
A Política de Assistência Social – Programas de distribuição de renda, A Política de
Proteção Especial – adolescentes envolvidos em atos infracionais, e a Política de
Garantias – Conselho tutelas.
Assim sendo, a Proteção integral garante a todas as crianças e adolescentes.
Os adolescentes envolvidos em atos infracionais se encontram em situação de risco
pessoal e social, deste modo, destinado a programas que executam as medidas
socioeducativas.
3. QUEM ELES SÃO? O PERFIL DOS ADOLESCENTES QUE COMETEM ATOS
INFRACIONAIS NO ESTADO DE MATO GROSSO

3.1. O POMERI: HISTÓRIA E DESAFIOS


O atendimento institucional aos adolescentes que se envolve em ato
infracional no estado de Mato Grosso surge inicialmente com a criação da
Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor de Mato Grosso (FEBEMAT), em
1972 através da lei 3.137, no governo de Garcia Neto. Vinculada à Secretaria do
Interior e Justiça do Estado, seguindo diretrizes nacionais que determinava que a
responsabilidade pela política de assistência social ao menor estava a cargo da
Fundação Nacional do Bem Estar do Menor (FUNABEM) e orientada pelo Plano
Integrado de Assistência ao Menor e a Família (PIAMF) e Programas
preventivos: Programa Diversificado de Ação Comunitária – PRAC, Programa
Materno Infantil – PROMI, Programa Ocupacional de Menores – PROC. (plano)
Popularmente conhecido com Fazendinha, a FEBEMAT não tinha como
objetivo apenas implantar a política de atendimento ao menos mas como define
Oliveira (2007, p.04)
[…] tinha como objetivo formular e implantar no estado de Mato
Grosso, uma política de bem-estar do menor. Não competia à
FEBEMAT, apenas o atendimento ao adolescente em conflito com
a lei, mas também a execução de toda política de atendimento às
crianças, adolescentes em situação de risco, portadores de
necessidades especiais, ou seja, era o órgão responsável pela
política de assistência social.

A Criação do Complexo Pomeri, Lar Menina Moça e a Escola Meninos do


Futuro, deram se em no ano de 2001 com a extinção da FEBEMAT para se
adequar ao que se estabelece no ECA, centralizando assim todos os órgãos
governamentais do estado responsáveis pelo atendimento das questões relativas
a crianças e adolescentes. Em 2003, o atendimento socioeducativo foi
remanejado para a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública –
SEJUSP e ficou subordinado a Superintendência do Sistema Estadual
Socioeducativo – SUSED. Com a criação da secretaria pela Lei Complementar nº
413 de 20/12/2010, o sistema socioeducativo de atendimento em privação de
liberdade passou para a SEJUDH e sua gestão passou a ser de responsabilidade
da Secretaria Adjunta de Justiça e Superintendência do Sistema Socioeducativo
do Estado de Mato Grosso.
Atualmente o Centro Socioeducativo é uma das unidades responsáveis em
atender adolescentes com envolvimento em ato infracional, que são
encaminhados de todo o Estado de Mato Grosso através do juízo da Infância e
Adolescência. A finalidade do trabalho consiste em propor atividades e
alternativas que auxiliem os adolescentes a reintegrar-se na família e na
sociedade com o máximo possível de assertividade, como previsto no ECA e
assegurado pelo SINASE.

3.2. O PERFIL DOS ADOLESCENTES DO POMERI: UMA ANÁLISE


DOCUMENTAL

A análise documental empreendida busca traçar o perfil desses adolescentes


em privação de liberdade, encaminhados à medida socioeducativa no POMERI. No
entanto, figuram em nossa análise dados referentes a raça/etnia, escolaridade,
frequência escolar, com quem reside, renda, participação em programas de
transferência de renda, situação no mercado de trabalho, uso de drogas, ato
infracional cometido, incidência, e residência (localidade). Faz-se necessário alerta
que alguns dados não foram identificados (N/I), ademais, que alguns adolescentes
são de outras cidades do estado de Mato Grosso: Tapura, Várzea Grande, Campo
Novo, Colíder, Tangara da Serra, Lucas do Rio Verde, Nova Olímpia, Santo Antônio
de Leveger, Nobres, Peixoto de Azevedo, Cáceres, Sinope, além da capital Cuiabá.
O número de fichas analisadas foram 44 no total, datadas do ano de 2013.

Grafico I - Adolescente que se envolve em atos infracional,


Idade
18 anos 19 anos 14 anos
5% 2% 7%

15 anos
11%

17 anos
43%
16 anos
32%

Fonte: "Produção individual "......

A idade desses adolescentes varia, dentre os quais, na data da análise


tinham idade 14 anos (3 adolescentes, 7%), 15 anos (5 adolescentes, 11%), 16 anos
(14 adolescentes, 32%), 17 anos (19 adolescentes, 43%), 18 anos (2 adolescentes,
5%), 19 anos (1 adolescentes, 2%). As idades são variadas, notamos a presença de
adolescentes com idade de 18 anos e 19 anos.Portanto a media de idade de
adolescentes que se envolve em ato infracional e entre 16 e 17 anos.

Grafico II: Adolescente que se envolve em atos infracional,


Se declaram
Amarelo
2%

Pardo
36% Branco
39%

Negro
20%
Não declarado
2%

Fonte: ....
Sobre a raça/etnia, 1 adolescente se declarou amarelo (2%), 17 se declaram
brancos (39%), 9 se declaram negros (20%), 16 se declaram pardos (36%), 1 não foi
declarado. Note-se que a maioria dos adolescentes privados de liberdade é parda e
negra, população mais sujeitas a exclusão dentro da sociedade, e que alguma forma
sofrem mais repressões por parte da polícia, esses representam 25 dos
adolescentes, ou seja, mais da metade representando 56% dos reeducados.

Grafico III: Adolescente que se envolve em atos infracional,

Nivel de Escolaridade
Não Identificado
2% Fundamental I
14%

Medio in-
completo
27%

Fundamental
II
57%

Fonte: .....
O nível de escolaridade, no entanto, 6 adolescentes possuem nível
fundamental I (14%), 25 adolescentes possuem nível fundamental II (57%) e 12
adolescentes possuem ensino médio incompleto. Sobre a frequência escolar,
anterior ao envolvimento no ato infracional, 8 adolescentes frequentavam a escola
(8), no entanto, 30 desses adolescentes não frequentavam a escola (68%), já seis
adolescentes não identificaram. O nível de escolaridade desses adolescentes é
baixo, e nenhum deles tem ensino médio completo, ademais, a frequência escolar é
baixa.
Grafico IV: adoles....

Frequencia escolar*
*Anterior ao envolvimento no ato In-
fracional
Não indentificado Frequenta
14% 18%

Não
Fre-
quenta
68%

Fonte:...
Graficos V: Adoles...

Residem com
Não Indentificado Avos
Sozinho 7%
2% 11%
Conjugue
Apenas com o Pai 2%
14%
Mãe e Pai
16%

Apenas
com a
Mãe
48%

Fonte:...
Na composição familiar (com quem residem), 5 adolescentes residem com os
avós (11%), 1 adolescente residia com cônjuge (2%), 7 adolescentes residiam com
mãe e pai (16%), 21 adolescentes residiam apenas com a mãe (48%), 6
adolescentes residiam apenas com o pai (14%), 1 adolescente morava sozinho
(2%), 3 adolescentes não identificaram (7%).

Gráfico VI:Adoles

Renda
Não Identiicado Menos que 1 salario
9% 9%

1 Salario Minimo
16%

Sem renda
36%

2 Salarios minimos
18%

3 Salarios minimos
4 Salarios minimos 2%
9%

Fonte:...

Já a renda familiar constatamos que 4 adolescentes possuíam renda familiar


menos que 1 salário mínimo (9%), 7 adolescentes possuíam renda de 1 salário
mínimo (16%), 8 adolescentes possuíam 2 salários mínimos (18%), 1 adolescente
tinha como renda 3 salários mínimos (2%), 4 adolescentes possuíam 4 salários
mínimos (9%), já 16 adolescentes não tinham renda (36%), 4 não identificam renda.

Grafico VII: Adoles...


Beneficio

Sim
16%

Não identi- Não


ficado 20%
64%

Fonte:...

Já a participação em algum benefício – programa de transferência de renda, 7


adolescentes disseram que recebiam algum benefício (16%), 9 adolescentes
disseram não receber nenhum benefício (20%), no entanto, 28 adolescentes não
declaram se recebiam algum benefício ou NÃO FORAM PERGUNTADOS

Grafico VIII: Adoles...

Trabalho
Carteira Assinada
Não Indentificado 5%
14%

Não Trabalha informal


32% 50%

Fonte: ,....
Sobre sua situação no mercado de trabalho, 2 adolescentes tinham carteira
assinada antes de cometer o ato infracional (5%), 22 adolescentes se encontravam
no mercado informal (50%), 14 adolescentes não trabalhavam (32%), 6
adolescentes não identificam sua situação de trabalho (14%).
Grafico IX: Adol...

Uso de Drogas
Não Identificado
9%

Não
16%

Sim
75%

Fonte: ,,,,

Sobre o uso de drogas/entorpecentes, 33 adolescentes disseram ser usuário


de algum tipo de droga (75%), 7 adolescentes disseram não fazer uso de
drogas/entorpecentes e 4 adolescentes não identificaram. Não há uma separação
entre quais e tipos de drogas, se eram ilícitas ou lícitas.

Grafico X: Adoles...

Ato Infracional
Sequestro Trafico
Furto 2% 2%
5%
Patrimonio
5%
Homicidio
7%

Latrocinio
9%
Roubo
Estupro 61%
9%

Fonte: ....
O ato infracional que levam sua privação de liberdade mostram que 27
adolescentes cometeram roubo (61), 4 adolescentes cometeram estupro (9%), 4
adolescentes cometeram latrocínio (9%), 3 adolescentes cometeram homicídio (7%),
2 adolescentes cometeram crime contra patrimônio (5%), 2 adolescentes cometeram
furto (5%), 1 adolescente cometeu sequestro (2%) e 1 adolescente foi cometeu
tráfico (2%).
Grafico XI: Adoles...

Reicidencia
3 ou mais
5%

Reicidencia 2 -
3
27%

Primario
68%

Fonte:...
Sobre reincidência desses adolescentes à medidas socioeducativas, 30
adolescentes são primário (68%), 12 adolescentes eram reincidentes duas ou três
vezes na instituição (27%), e 2 adolescentes eram reincidentes 3 vezes ou mais
(5%).
Grafico XII: Adoles
Residem em
Não Identificado
7%

Norte
14%

Leste
9%
Outras cidades
(Trasferido)
34%

Sul
20%

Várzea Grande
14%

Oeste
2%

Fonte:

Sobre a sua localidade de residência, separamos por zonas na cidade de


Cuiabá/MT, 6 adolescentes são da zona norte (14%), 4 adolescentes são da zona
leste (9%), 9 adolescentes são da zona sul (20%), 1 adolescente pertencia a zona
oeste (2%), 6 adolescentes advinham da região metropolitana – Várzea Grande/MT
(14%), 15 adolescentes eram transferidos de outra cidade do estado de Mato
Grosso (34%) e 3 adolescentes não foram identificados seu local de origem (7%).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERENCIAS

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