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sociais
Apresentação
Pobreza, vulnerabilidade social e direitos sociais são conceitos que você vai aprender nesta
Unidade de Aprendizagem. A população pobre está de forma visual em cada rua das cidades, sejam
elas pequenas, médias ou grandes. Cobranças da sociedade sobre a atuação dos profissionais de
Serviço Social junto a essas pessoas é algo rotineiro.
Nesta Unidade de Aprendizagem você vai aprender sobre o que é pobreza, não como algo natural e
indivualizado, mas sim como uma expressão da questão social e composta por diversos fatores que
não estão focados na renda, mas no acesso aos direitos sociais negados por diversas gerações.
Bons estudos.
Neste Infográfico, você pode perceber o Programa Bolsa Família (PBF) como o resultado da
construção de uma política pública de transferência de renda, um programa revolucionário no
atendimento à probreza, que está regulamentado em lei, trazendo, assim, a perspectiva de direito
no atendimento à pobreza.
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Conteúdo do livro
A relação entre Estado e sociedade civil no atendimento à pobreza e ao acesso ao trabalho é
relevante ao tratar a pobreza de forma histórica, uma vez que, ao analisar as legislações anteriores
ao capitalismo até as lutas por direitos sociais após a Revolução Industrial, entra-se em um debate
conceitual de pobreza, vulnerabilidade e direitos sociais, por meio de um conteúdo teórico que
observa além de causas individuais ou fenômeno natural, ou seja, como uma expressão da questão
social.
No capítulo Pobreza, vulnerabilidade e direitos sociais, da obra Seminários de políticas urbanas, rurais
e de habitação e movimentos sociais, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai
estudar o conceito de classe social e como a pobreza é entendida, problematizando as classes no
Brasil, que são, muitas vezes, apresentadas em gradações focalizadas em renda, e não em sua
inserção de classe e suas especificidades e seus sofrimentos em contextos de crises econômicas.
Além disso, você vai ver uma análise sobre como o Brasil vem atendendo a pobreza com o foco nas
ações primeiro-damistas da Legião Brasileira de Assistência (LBA) até as ações de transferência de
renda que chegam ao Programa Bolsa Família.
Boa leitura.
SEMINÁRIOS DE
POLÍTICAS URBANAS,
RURAIS E DE
HABITAÇÃO E
MOVIMENTOS SOCIAIS
Introdução
O conceito de pobreza — tão naturalizado — apresenta-se no nosso
cotidiano por sentimentos que podem ir da repulsa à pena, os quais
acabam por apresentar ações e discursos caritativos ou de culpabilização
individual. Na história do mundo, a pobreza é um elemento comum, não
sendo específico da sociedade burguesa.
Neste capítulo, você vai estudar a pobreza a partir da sua inserção
de classe e da sua função no processo produtivo capitalista. Assim, você
vai ver a pobreza para além de uma relação entre renda e consumo, mas
como uma expressão da questão social multifatorial que se apresenta
pelo não acesso a direitos sociais básicos.
Nesse sentido, você vai ler sobre a vulnerabilidade no seu caráter
processual, determinado pela inserção subalterna dessa população em
um mercado de trabalho excludente e precário. Por fim, verá o debate
sobre as políticas públicas brasileiras recentes para o combate à pobreza,
mediadas por um histórico clientelista e assistencialista de controle da
população pobre, que está em constante ameaça à conquista de direitos.
2 Pobreza, vulnerabilidade social e direitos sociais
Figura 1. Evolução das classes no Brasil, de 2003 a 2018, considerando três blocos de classe.
Fonte: Bôas (2019, documento on-line).
O sociólogo salienta que não é apenas a renda que deve ser considerada
para a análise de classes sociais. Um exemplo é o acesso à cultura, que é uma
prerrogativa da classe média, mas não da classe trabalhadora, visto que esta
usa todo o seu tempo para o desenvolvimento de atividades laborativas. Em seu
livro A Classe Média no Espelho, Souza desenvolve a narrativa sobre como a
classe trabalhadora se vê como classe média, e apenas “[...] os pobres excluídos
e marginalizados” (SOUZA, 2018, p. 17) são realmente considerados pobres.
Assim, percebemos como o debate de classes sociais está cada vez mais difícil,
em tempos de capitalismo financeiro e globalizado, que tem como premissas o
individualismo e a competitividade. Souza (2018, p. 16) aponta ainda que “[...]
classe social é, antes de tudo, reprodução de privilégios, sejam eles positivos os
negativos”, e que esses privilégios são, na maioria da vezes, invisíveis, sendo
o acesso ao capital cultural um privilégio da classe média. Isso significa que,
mesmo que, na faixa de renda, uma família da classe trabalhadora esteja na
mesma faixa de uma família da classe média, existe um repertório de privilégios
garantidos à classe média, principalmente em tempos de crise. Por outro lado,
a classe trabalhadora não tem essa sustentação econômica para se manter e é a
primeira a sofrer os impactos, em momentos de crise econômica no país.
Nesse sentido, partimos da compreensão de classe de Marx e Engels (1999)
de que existem apenas duas classes: burguesia e proletariado. Os autores
afirmam, nessa mesma obra, que a história da sociedade é baseada na luta de
classes, tendo sempre um opressor e um oprimido — na sociedade burguesa,
o proletariado é a classe oprimida. O proletariado, que é a classe trabalhadora,
não é homogêneo. Assim, uma parte dessa classe não tem acesso ao emprego
formal e, dessa forma, torna-se mais difícil de se unir em causas políticas, na
luta de classes definidas no Manifesto.
Portanto, Marx e Engels (1999) definem como lumpemproletariado essa
parte da classe trabalhadora que, em função das suas condições de vida, dificil-
mente estará no processo revolucionário. Trata-se de trabalhadores marginais,
não organizados e miseráreis que, pela sua necessidade iminente de recursos
e alimentação, não se predispõem à luta de classes. Excluindo-se esse grupo,
temos o exército industrial de reserva, que se apresenta como parte da classe
trabalhadora superexplorada e está disponível como mão de obra extremamente
barata, ou seja, funcional ao capital. Yazbek (2012) afirma que esse é o trabalhador
pobre que não pode, livremente, colocar a sua força de trabalho no mercado. Por
consequência, acaba não se percebendo como classe trabalhadora.
Pobreza, vulnerabilidade social e direitos sociais 5
[...] a pobreza como uma das manifestações da questão social, e dessa forma
como expressão direta das relações vigentes na sociedade, localizando a
questão no âmbito de relações constitutivas de um padrão de desenvolvimento
capitalista, extremamente desigual, em que convivem acumulação e miséria.
foi marcado pelo liberalismo, que é definido por Behring e Boschetti (2011,
p. 61-62) como um período que compreende meados do século XIX até mais
ou menos 1930 e pode ser sintetizado a partir das seguintes características:
predomínio do individualismo;
bem-estar individual acima do bem-estar coletivo;
predomínio da liberdade e competitividade;
naturalização da miséria;
predomínio da lei da necessidade;
manutenção do Estado mínimo;
políticas sociais com estímulo ao ócio e desperdício;
política social como paliativo.
Na Constituição de 1988, o Brasil instituiu a Seguridade Social por meio das políticas de
previdência, saúde e assistência social (BRASIL, 1988). O financiamento ficou tripartite,
no qual contribuem os empresários, trabalhadores e o Poder Público. Logo, a nossa
seguridade fica entre o direito e o seguro.
O vídeo O que é seguridade social?, do canal Alerta Social (2017), no YouTube, apresenta
a diferença do financiamento de políticas de seguridade a partir do direito e a partir
do seguro, e como o Brasil se organizou para ficar entre as duas questões.
Segundo Yazbek (2012), o PBF foi criado pelo primeiro mandato do governo
Lula (2003–2007) e consistia na união de diversos benefícios de transferência
de renda, desenvolvidos na gestão de Fernando Henrique Cardoso (1995–2003).
Este também teve a sua atuação junto à pobreza por meio de ações que con-
jugavam esforços em diversos programas. Assim, o Programa Bolsa Família:
14 Pobreza, vulnerabilidade social e direitos sociais
ALERTA SOCIAL. O que é seguridade social? [S. l.]: YouTube, 2017. 1 vídeo. Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=xkUcg6Xt7Cw. Acesso em: 4 jun. 2020.
ALGEBAILE, E. B. Escola pública e pobreza: expansão escolar e formação da escola dos pobres
no Brasil. 2004. Tese (Doutorado) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2004.
BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política social: fundamentos e história. 9. ed. São Paulo: Cortez,
2011. (Biblioteca Básica de Serviço Social, v. 2).
BÔAS, B. V. Classes A e B voltam a crescer e atingem 14,4% da população. Valor Econômico,
29 out. 2019. Disponível em: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2019/10/29/classes-a-e-
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BOVOLENTA, G. A. Cesta básica e assistência social: notas de uma antiga relação. Serv Soc
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FALEIROS, V. de P. Renda mínima: uma avaliação. In: SPOSATI, A. (org.). Renda mínima e crise
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SOUZA, P. H. G. F. et al. TD 2499: os efeitos do Programa Bolsa Família sobre a pobreza e a
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pdf. Acesso em: 4 jun. 2020.
16 Pobreza, vulnerabilidade social e direitos sociais
Leituras recomendadas
BRASIL. Lei nº 12.435, de 6 de julho de 2011. Altera a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993,
que dispõe sobre a organização da Assistência Social. Brasília, DF, 2011. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12435.htm. Acesso em: 4 jun. 2020.
SUPLICY, E. M.; MARGARIDO NETO, B. A. Políticas sociais: o Programa Comunidade Solidária
e o Programa de Garantia de Renda Mínima. PPP, n. 12, p. 39-63, 1995. Disponível em: https://
www.ipea.gov.br/ppp/index.php/PPP/article/view/140/142. Acesso em: 4 jun. 2020.
TOMAZINI, C. G.; LEITE, C. K. S. Programa Fome Zero e o paradigma da segurança alimentar:
ascensão e queda de uma coalizão? Rev Sociol Polit, v. 24, n. 58, p. 13-30, 2016. Disponível
em: https://www.scielo.br/pdf/rsocp/v24n58/0104-4478-rsocp-24-58-0013.pdf. Acesso em:
4 jun. 2020.
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cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
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local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
Dica do professor
Os benefícios eventuais são antigos no Brasil e eram ligados à política de previdência em casos de
natalidade ou morte, com um pecúnio com base na contribuição prévia. A partir da sanção da Lei
Orgânica de Assistência Social, em 1993, os benefícios eventuais são de responsabilidade da
política de assistência social. Além dos benefícios para nascimento e morte, podem ser
implementados outros.
Nesta Dica do Professor, veja o debate sobre os benefícios eventuais que devem ser
regulamentados por todos os entes federativos para atendimento à população em vulnerabilidade
temporária ou em calamidades públicas.
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Exercícios
1) No Brasil, quando se fala de classe alta, média ou pobre, usam-se graduações apresentadas
por letras A, B, C, D e E. Diversos institutos se utilizam das pesquisas do Instituto Brasileira
de Pesquisa e Estatística (IBGE) sobre dados de renda e consumo para
informar o crescimento, a estagnação ou a queda dessas classes.
A) O IBGE não define classes sociais; apresenta a renda organizando classificações a partir do
salário mínimo.
B) O IBGE define as classes sociais a partir da renda, considerando de 0 salário mínimo até 10
salários mínimos.
C) Classe social é definida pelo IBGE em cada censo decenal. Assim, quem percebe de 0 a 2
salário mínimos é pobre, quem ganha mais de 10 é considerado classe alta.
D) O debate de classe é trazido a cada 10 anos pelo IBGE, no qual pode-se perceber como o país
está em níveis de desigualdade.
E) Classe social é trazida pelo IBGE a partir da Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio
(PNAD), a qual apresenta a renda e o acesso a bens de consumo.
2) Marx e Engels, na obra O manifesto comunista, de 1848, apresentam que a história do mundo
é uma eterna luta de classes.
C) desde a classe alta até a extrema pobreza, sendo a mais forte a classe média.
D) as classes que convivem com a burguesia e proletariado, mais os senhores feudais, que são
herança da sociedade anterior.
C) assistência mínima e restrita, sustentada pelo dever moral cristão, sem perspectiva de direito
de caráter punitivo e restritivo.
4) A crise do capital, a partir dos anos 1970, mudou o atendimento à pobreza por meio das
políticas de transferência de renda e sua análise sobre os mínimos sociais.
C) no controle realizado pelo Estado para utilização do benefício financeiro, no qual cada
beneficiário deve guardar as notas e informar como gastou.
D) no debate que, sem debater mínimos sociais, estimula a individualidade, no qual cada um
garanta o mínimo a partir do seu esforço.
5) O Programa Bolsa Família (PBF) é a primeira ação estatal pública unificada de atendimento
à pobreza. A inovação dessa política pública é compreender a pobreza em suas múltiplas
faces, assim não naturalizando as condições de vida dessas pessoas, mas na verdade
compreendendo as desigualdades produzidas e a necessidade de acesso dessa população às
políticas de saúde e educação e apresentando, dessa forma, condicionalidades pelo acesso
aos direitos sociais, para o recebimento de uma transferência monetária.
A) foi criado na ditadura militar, cancelado no processo de redemocratização, e nos anos 2000
voltou com o debate sobre a pobreza, mas sem lei específica.
B) Getúlio Vargas sempre organizou políticas assistenciais dessa natureza. A inovação do PBF
está mais centrada no marketing político dessas políticas assistenciais.
D) o PBF foi criado por lei, o que é uma mudança significativa para ações de combate à pobreza,
pois dificulta processos de descontinuidade de outros governos.
Neste Na Prática, você vai ver a importância de Assistentes Sociais para a garantia de direitos da
população pobre. O estudo social e o acompanhamento realizado por profissionais que atuam nos
Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) e nos Centros de Referência Especializados da
Assistência Social (CREAS) são imperscindíveis para idosos e pessoas com deficiência que atendem
aos critérios de elegibilidade para o Benefício de Prestação Continuada.
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
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