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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE PSICOLOGIA
POLITICA SOCIAL E QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL
PROFa. ANA MARIA CARDOSO
SERVIÇO SOCIAL – 4º SEMESTRE

MARIANA LAVINE G. TAVARES

ESTUDO DIRIGIDO

FONTE: YAZBEK, Maria Carmelita. Proteção Social e crise no Brasil contemporâneo. In:


RAICHELIS, Raquel; VICENTE, Damares e ALBUQUERQUE, Valéria (Orgs.).A nova
morfologia do trabalho no Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2018.

1 - Historicamente, como se estruturou a proteção social no Brasil? Quais suas


principais características e destaques nos diferentes momentos históricos que
marcam sua trajetória ao longo do século XX e primeiras décadas do século XXI?
(5,0)

A proteção social no Brasil, assim a latino-americana, se desenvolveu de forma


diferente daquela dos países europeus. Uma das principais explicações para isso é o
ranço brasileiro com a escravidão e a experiência colonial que foi arrastada na
realidade brasileira até muito depois da proclamação da república, fazendo com que se
popularizasse a ponto de se tornar regra a visão de que tudo que o estado ou alguma
instituição pública ou privada fizesse, fosse considerada como benevolência, como um
ato nobre. Desde começo da história do Brasil como república democrática, a idéia de
direitos, principalmente de direitos sociais, sempre foi algo muito vago e esquecido pela
sociedade em geral.
Até a década de 1930, todas as ações sociais, sejam aquelas apoiadas ou não pelos
diferentes governos brasileiros, eram realizadas por instituições privadas de cunho
familiar e religioso, sendo muito comum a igreja ou as mulheres da alta burguesia
(enfatizando aqui também o ranço machista presente no país também que prega que a
mulher, por ser a mãe, é a mais indicada para cuidar dos “fracos e oprimidos”) serem as
responsáveis por aquelas ações; a titulo de exemplo: a entrega de sopas ou a doação de
roupas usadas.
A partir de 30, com as lutas sociais, o crescimento da população urbana e do operariado,
se estabelece um governo que teoricamente se propunha a atender as necessidades da
classe trabalhadora, levando assim a questão social para o âmbito do estado. Assim com
a institucionalização da Consolidação das Leis Trabalhistas, o sistema de proteção
brasileiro, pelo menos em parte, finalmente saiu da dimensão privada da sociedade,
ocorrendo assim uma dualização: de um lado, o trabalhador que tinha a carteira assinada
ia ter acessos a diversos direitos trabalhistas garantidos pelo estado, do outro, o
trabalhador pobre, desempregado iria continuar tendo que recorrer às instituições
privadas de caridade.
Com a chegada da década 40 e o desenvolvimentismo de Kubitschek, que faz o estado
focar na área econômica e acaba gerando uma dívida enorme, e a década de 60, com o
golpe e a instauração do regime militar, que implanta estratégias concentradoras de
capital, a situação acaba piorando e o sistema protetivo brasileiro vai sentir isso. A
desigualdade social se acentua e a questão social nesse período será tratada pelo
binômio assistência∕ repressão.
As décadas seguintes se observam no país um avanço organizativo da sociedade civil,
os trabalhadores e a população em geral, irritada com a situação que o país se encontra,
vão se organizar em torno de sindicatos e movimentos populares exigindo mudanças e
respostas adequadas do estado. E depois de muita luta, essa resposta vem em forma de
uma nova constituição, a constituição federal de 1988, também chamada de
constituição-cidadã, que legitima em seu texto não somente os direitos sociais para
todas as pessoas do país como também estabelece o obrigação do estado com o mínimo
existencial, representando uma grande conquista para o país.
O estado agora tem o dever de proporcionar aos cidadãos condições mínimas para que
eles possam ter uma vida dignas, e isso se concretiza mais rapidamente com a
seguridade social (tripé da seguridade social: saúde, previdência e assistência). O
problema é que, ao mesmo tempo em que foi outorgada a CF, o Brasil entrava numa
perspectiva neoliberal de corte dos gastos públicos e diminuição do estado, o que era o
contrário que a constituição pregava.
Esse embate (economia voltada para o mercado X políticas sociais que concretizem os
princípios constitucionais) vai perdurar, sendo que somente anos depois, a partir de
2002, se verá alguns avanços em relação a seguridade e a materialização dos direitos
sociais em políticas públicas, com a criação e regulamentação do SUAS (sistema único
de assistência social), a criação de programas sociais como o Bolsa-família e ampliação
do BPC (responsável pela diminuição da pobreza e extrema pobreza do país). Mas,
infelizmente, o sistema de proteção brasileiro ainda carece de cuidado e atenção, e sofre,
atualmente, forte ameaças de diminuição e até extinção.

2 - Considerando a atual correlação de forças no cenário político social brasileiro e


os elementos apresentados por Yazbek (2018) no item 3, sistematize suas reflexões
sobre os atuais desafios à proteção social no Brasil. (5,0)

Vivemos num país que guarda, apesar de não se reconhecer como tal, um forte ranço
colonialista escravocrata, e a seguridade social brasileira por partir e ser para a
sociedade, acaba refletindo e sendo influenciada por isso. Atualmente, apesar de a
constituição vigente impor deveres e direitos bastante avançados na direção de um tipo
de sociedade social-democrata, o que vemos é que a maioria das partes da sociedade
real (se não todas) caminham, mesmo que fortuitamente, na direção contrária, por causa
do compromisso que o estado tem adotado com a agenda neoliberal neoconservadora,
que vem ganhando força em alguns dos países de “primeiro mundo” e agora querem
conquistar por completo os outros.
Um exemplo disso são as políticas sociais existentes no país, que além de serem poucas,
são fragmentadas e focalizadas para uma pequena parte da população mais necessitada.
Essas, na maioria das vezes, são políticas de governo (e não de estado) feitas não na
perspectiva de dá autonomia e suporte para o usuário, e sim para transformá-los em
eternos dependentes e, comumente chamado, de “massa de manobra”. Aquelas que tem
caráter mais universalista, dificilmente são aprovadas e quando o são, não se
materializam como deveria, as verbas são desviadas e∕ou há um recorte da população
alvo.

E como se a situação já não fosse complicada, agora estamos adentrando um governo


que, assumidamente, não tem nenhum tipo de preocupação e interesse em políticas
publicas sociais que concretizem no mínimo os direitos consagrados na constituição.
Muito pelo contrário, seus principais representantes, em seus discursos eleitorais,
diversas vezes desrespeitaram a constituição como também as parcelas da população
que historicamente são deixadas de lado, oprimidas pela sociedade (parcelas essas, que
por estarem justamente na situação que estão, são os maiores usuários das políticas e
programas públicos sociais).

Assim, torna-se evidente que os próximos anos serão bastante complicados para a
sociedade em geral, em principal a parcela mais pobre, rebatendo diretamente no
sistema de proteção social brasileiro. Os cortes que já vinham acontecendo nos
governos anteriores poderão aumentar (que é uma grande probabilidade) e isso vai
exigir o posicionamento forte dos diversos profissionais responsáveis ligados a
formulação e concretização dessas políticas, no qual os assistentes sociais têm destaque.

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