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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

CARLA ANIELY ROCHA MONTEIRO


DANIELLY SANTOS MENEZES
EMILY SOUZA DE OLIVEIRA
GABRIEL RIBEIRO COSTA
GABRIELA BARRETO ROCHA
MARIA ANIRALDA SANTANA SOUZA
MARIA LUANA SANTOS MELO

Uma reflexão sobre o filme “Amor e Fúria”

São Cristóvão, SE
2023
CARLA ANIELY ROCHA MONTEIRO
DANIELLY SANTOS MENEZES
EMILY SOUZA DE OLIVEIRA
GABRIEL RIBEIRO COSTA
GABRIELA BARRETO ROCHA
MARIA ANIRALDA SANTANA SOUZA
MARIA LUANA SANTOS MELO

Uma reflexão sobre o filme “Uma história de amor e fúria”

Trabalho apresentado à disciplina Formação sócio-histórica do


Brasil, ofertada pelo curso de Serviço Social da Universidade
Federal de Sergipe e ministrada pelo Prof. Me. Rafael João
Mendonça de Albuquerque, como requisito para nota da unidade
final.

São Cristóvão, SE
2023
“Viver sem conhecer o passado é caminhar no
escuro.”
(Uma história de amor e fúria)
1. INTRODUÇÃO

Uma História de Amor e Fúria é uma obra cinematográfica dirigida por Luiz Bolognesi em
05 de abril de 2013 no Brasil. Ela retrata a história de um indígena Tupinambá de 600 anos
vivendo entre o presente e o passado, mediante uma luta eterna contra Anhangá - espírito da
morte - segundo o filme. Em primeiro lugar, enquanto o indígena procura o seu amor
platônico, Janaína, presume-se que esse sistema de desigualdade social permanecerá até 2096.
De forma assíncrona, o filme tem sua narrativa contextualizada com acontecimentos que
embasaram a Formação sócio-histórica do Brasil, acontecimentos os quais se distanciam em
diversos parâmetros, mas se unem por um marco em comum: opressão da parte dos que detém
o poder ao longo da história do povo brasileiro e da mestiçagem que compõem o país. “Uma
história de amor e fúria”, também é uma história da nossa história, a qual exploraremos a
seguir. Logo, para entender toda esta construção histórica atual é necessário passar por todo
entendimento das particularidades sócio-históricas do Brasil, que se configuram como
particular/singular na sua formação.

Essas condições estarão presentes nos principais episódios e processos históricos do


país, marcando a colonização, a fase do império, a república velha, o
estabelecimento do regime do Estado Novo de Getúlio Vargas, à rápida volta da
democracia em suas fases desenvolvimentistas, os levantes populares por reformas
de base no início dos anos 1960, o duro golpe empresarial-militar e as duas décadas
de ditadura a partir de 1964, a luta e ratificação da redemocratização do país nos
anos 1980 e o estabelecimento do neoliberalismo em nossa estrutura estatal nos
1990, passando pela faceta social-liberal dos anos 2000 e 2010 até o golpe
parlamenta-jurídico e midiático para a retomada do neoliberalismo radical
(PINHEIRO, p. 9, 2019).

1.1 Período Colonial

O Período Colonial aconteceu entre 1500 e 1822, quando os portugueses colonizaram


o Brasil, explorando e apropriando-se das riquezas alheias, para atender a população burguesa
europeia. Este fato tem forte papel na formação étnico-social brasileira com a
chegada/invasão dos portugueses, os quais trouxeram consigo, de maneira violenta/opressora,
os povos africanos (tráfico negreiro), para serem escravizados, juntamente com a população
indígena que residia no Brasil. Todos esses acontecimentos foram responsáveis pela
miscigenação brasileira atualmente, que consiste na mistura de raças/etnias de povos diversos
Além de ser também, um tempo de extermínio indígena, não apenas do corpo em si, mas dos
seus costumes, da sua cultura, para aderir-se aos costumes e leis dos povos colonizadores,
incluindo a religião. Pois a catequese foi uma das armas usadas pelos europeus através dos
padres, que trouxeram para as terras brasileiras, para fuzilar a cultura indígena e africana. No
filme, apresenta-se uma fala a qual se relaciona com exatidão a tais massacres: “as crianças
Tupinambá foram levadas como escravas, foram trabalhar nas plantações de açúcar dos
portugueses. A nação tupinambá foi dizimada. Desapareceu completamente da face da terra”
(17’18”).

1.2 Período Regencial

Em um Brasil escravocrata, naquele período histórico no intermédio entre o primeiro e


segundo reinado entre os anos de 1831 e 1840, foi onde ocorreu o golpe da maioridade de
Dom Pedro II. Nesse intervalo histórico foi marcado pela intensa movimentação política no
país, que impulsionou diversas revoltas populares, levando em consideração ao filme,
destaca-se a revolta da Balaiada no Maranhão.
A Balaiada foi uma revolta popular que ocorreu no Maranhão, após uma crise
econômica de sua principal fonte de acúmulo do capital, o algodão, cujo valor sofrera perdas
de compradores no exterior, devido aos Estados Unidos, forte concorrente na produção de
algodão. As questões sociais e econômicas advindas dessa crise, eram apregoadas mais
fortemente na população pobre e trabalhadora, composta por escravos, vaqueiros e sertanejos.
Esses trabalhadores, instigados pelo racismo, a pobreza, a desigualdade e o recrutamento, se
uniram e iniciaram uma revolta contra os grandes fazendeiros das províncias em prol dos
menos favorecidos.
Alguns nomes que marcaram esse movimento citados no filme, são: Manoel Francisco
dos Anjos, artesão fazedor de balaios, que levou ao nome da revolta Balaiada; Cosme Bento
das Chagas, chefe de um quilombo, e Raimundo Gomes, o vaqueiro. Estes homens
conseguiram tomar Caxias, porém, foram parados pelo exército de Napoleão. Após a morte de
Balaio, a revolta perdeu potência mediante os duelos entre as forças armadas. Então, a cidade
teve o seu duque e a classe branca/burguesa da população encaminhada para a anistia
(concessão de perdão para um ou mais indivíduos, de maneira que sua ficha criminal seja
zerada), e mais uma vez, os pobres/pretos foram postos defronte a escravidão e os maus
tratos, incluindo agressões físicas e estupros.
O filme traz de maneira poética na fala do Balaio, doenças gritantes provenientes do
trabalho escravo e insalubre: “dizem que quem nasce em liberdade não sobrevive em
cativeiro. Poucos anos as três morreram de febre amarela, malária” (34’28”).
1.3 Ditadura militar

No Rio de Janeiro em 1968, após 130 anos em busca de Janaína, o guerreiro imortal
encontra mais uma versão. Dessa vez, em um cenário de regime militar, sendo resistência e
lutando pela democracia. A ditadura é explanada diretamente no filme, os personagens
principais são presos, sem saídas, são conduzidos a anistia e depois morrem lutando. Em 31
de Março de 1964 com um golpe de Estado, dava início a ditadura militar, mais um período
da história brasileira marcado por atrocidades a humanidade, tais como:

1.3.1 Tortura e ausência dos direitos

As pessoas que se opuseram ao regime militar eram torturadas de maneira padronizada


com choque elétrico, afogamento e sufocamento, pelos militares nos porões do exército, a fim
de extrair confissões desta parte da população. Os direitos humanos eram um sonho naquela
época e sem esses a tortura era próspera e continua, até hoje não se sabe o número exato de
vítimas do autoritarismo militar e o Brasil convive com um legado de violência e impunidade
deixado pela militarização.

1.3.2 Censura e ataque a impressa

Existia um conselho superior de censura responsável por fiscalizar toda junção


midiática e impedir que as regras fossem violadas. Além desse controle, eles usavam os meios
de comunicação para burlar a sociedade com comerciais mentirosos sobre o regime. Um meio
de manifestação nesta época eram as canções de artistas como Caetano Veloso e Gilberto Gil.

1.3.3 Amazônia e índios sob risco

No governo militar, a Amazônia sofreu um amplo processo de devastação, a população


indígena era reprimida cruelmente com autoritarismo dos militares, pois eles ignoravam a
existência desses povos e chamavam a Amazônia de terra sem homem.

1.3.4 Baixa representação política e sindical


Os direitos do cidadão e o multipartidarismo foram suspensos. As representações
sindicais foram enfraquecidas e até existiam as leis trabalhistas, mas os sindicatos não podiam
não podiam judicializar ou intervir.

1.3.5 Saúde pública fragilizada

A saúde pública era restrita a trabalhadores formais e as massas pobres eram excluídas
dos cuidados básicos à saúde, com isso surgiu o sistema de saúde privada. Ademais, não
existia plano de saúde e o saneamento básico chegava a poucas localidades.

1.3.6 Linha dura na Educação

As informações e ideologia eram limitadas, as matérias que contavam as raízes dos


problemas sociais como filosofia, sociologia foram substituídas pelas ideologias do regime
autoritário, exaltando o nacionalismo e o civismo. O método de José Paulo Freire para
erradicar o analfabetismo, foi exilado pelo regime militar, ao mesmo tempo que não investia
na educação.

1.3.7 Corrupção e falta de transparência


Não existiam conselhos fiscalizatórios e as contas públicas não eram analisadas. Outro
modo de corrupção era nas obras públicas, pois essas eram feitas demasiadamente e seus
gastos não eram divulgados obrigatoriamente como é feito hoje.

1.3.8 Nordeste mais pobre e migração

A economia do nordeste sofreu fortes quedas com o governo militar, o que fez a
população migrar para a cidade. Consequentemente, a migração gerou mais pobreza nas
cidades, entretanto, a miséria no campo não foi reduzida.

1.3.9 Desigualdade

“É preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo”. – Delfim Netto


O Ministro da Fazenda, Delfim, marcou a ditadura militar com essa frase utópica,
contrária com a realidade das massas durante o “Milagre Brasileiro”, que aconteceu quando a
economia teve um aumento significativo e o bolo de fato cresceu. Entretanto, poucas pessoas
comeram as fatias desse bolo, já que os ricos estavam ainda mais ricos, enquanto os pobres
perdiam o seu poder de compra.

1.3.10 Precarização do trabalho

No regime militar os trabalhadores tiveram os seus salários defasados e uma vez que
as leis eram ignoradas naquele período, a lei da greve, que havia sido instituída há pouco
tempo, era pouco usada.
“Nada é tão atrativo ao capital do que a possibilidade de exercício de um poder
monolítico, sem questionamentos”, diz Sakamoto, que cita a asfixia dos sindicatos, a falta de
liberdade de imprensa e política foram “tão atraentes a investidores que isso transformou a
ditadura brasileira e o atual regime político e econômico chinês em registros históricos de
como crescimento econômico acelerado e a violência institucional podem caminhar lado a
lado”.
A obra “Uma história de amor e fúria” também relata uma parte despótica, enfatizando
o avanço tecnológico e intitulando a cidade do Rio de Janeiro (RJ), como a mais segura do
país. Porém, mediante as violências vividas na ficção em comparativo com a realidade atual
do RJ, pensando também nos direitos básicos garantidos pela constituição de 1988, é de suma
importância a reflexão crítica de que somos sujeitos políticos. A cidade do Rio de Janeiro se
divide em favelas com falta de água, sem saneamento básico, de difícil acesso à educação e o
lazer, compostas por famílias pretas e pobres; por outro lado, temos as praias de Copacabana,
um dos pontos de lazer, com policiamento, saneamento básico, e de frente para elas, em
prédios luxuosos e caríssimos, geralmente construídos pelas massas que residem nas favelas,
estão os brancos e detentores do poder. Mediante tal comparação entre ficção e fatos reais, o
Rio de Janeiro é a cidade mais segura do mundo para quem? Atualmente, em um governo
democrático, como as autoridades responsáveis têm reagido no que diz cumprimento das leis?
Todas as partes fictícias relatam a história do Brasil pelo olhar do povo brasileiro, que
mesmo em diferentes épocas, algo parece imutável: A LUTA. Mudam-se os nomes e os anos,
mas as raízes dos problemas são as mesmas e nós estamos SEMPRE lutando contra suas
mazelas que tentam nos engolir vivos a todo custo.
2. QUESTÃO RACIAL

A questão racial e o racismo são temáticas presentes no decorrer de toda a trama do


filme. É notório como a desigualdade racial serviu – e ainda serve nos dias atuais – como um
dos motores sociais. No decorrer da história humana as ideologias racistas desempenharam a
função de justificar as relações de poder e a dominação dos povos não-brancos. No início do
filme, como já descrito, é mostrado como se deu a colonização européia nas terras brasileiras.
Foi um período sangrento, e conforme mostrado na obra, comunidades inteiras de povos
nativos foram dizimadas por portugueses, franceses e outros povos europeus na busca sedenta
pela conquista daquele território.
A extrema violência provocada pelo sistema colonial foi justificada em parte pelo
Darwinismo Social, teoria difundida pelo filósofo Herbert Spencer, que afirmava a existência
de algum tipo de superioridade natural de uma raça - a raça branca – em detrimento das
demais. Sendo assim, não foi diferente com o povo preto africano que, trazidos à força de sua
terra natal e transformados em escravos, também passaram por um longo processo de
desumanização e negação de toda sua cultura.
Esse período histórico é demostrado no filme quando Abeguar se transforma em
Manoel Balaio, um homem negro que vivia na miséria e sofria com a violência exercida pelas
autoridades da época. Inconformado com o sistema político e social vigente, Balaio promoveu
uma revolta conhecida como Balaiada, revolta esta que reivindicava melhores condições de
vida e a libertação do povo negro escravizado. A Balaiada conseguiu tomar a cidade de
Caxias, porém, durou pouco, até que os revoltosos foram reprimidos pelo exército brasileiro, e
o então comandante Luís Alves, conhecido como Duque de Caxias, foi apelidado como “O
Pacificador”, mesmo depois do massacre.
A sociedade contemporânea carrega as marcas da violência e de todo o sangue
derramado. De acordo com Silvio Luiz de Almeida (2019), em seu livro Racismo Estrutural

Os diferentes processos de formação nacional dos Estados contemporâneos


não foram produzidos apenas pelo acaso, mas por projetos políticos. Assim,
as classificações raciais tiveram papel importante para definir as hierarquias
sociais, a legitimidade na condução do poder estatal e as estratégias
econômicas de desenvolvimento. Demonstra isso a existência de distintos
modos de classificação racial: no Brasil, além da aparência física de
ascendência africana, o pertencimento de classe é explicitado na capacidade
de consumo e na circulação social. (ALMEIDA, 2019, p. 37)
Os “projetos políticos” citados por Almeida são retratados no filme, de forma
alegórica, como Anhangá - o espírito de morte e destruição -, que assombra toda a conjuntura
da sociedade perseguindo os mais fracos e protegendo a classe dominante e, assim, Abeguar
seria o espírito de justiça que habita nos seres humanos de todas as épocas e que os instiga a
lutar por um mundo mais justo e igualitário.

3. RELAÇÃO DE GÊNERO

Ao desvendar um pouco mais sobre a formação sócio-histórica do Brasil, observa-se,


dentre as particularidades existentes, as desigualdades de gênero, que foi muito
violenta/perversa principalmente com as mulheres, pobres e pretas, indígenas e quilombolas.
Diante do florescimento do capitalismo na determinação de valores/relações humanas, esse
sistema utilizou por meio da ideologia a opressão existente entre os gêneros para se fortalecer,
por meio da exploração do trabalho e da apropriação de diversas estruturas de dominação e
reprodução da opressão diante do imaginário do valores patriarcais cis-heteronormativo e
conservador burguês na história do Brasil. No entanto, com o passar do tempo, há algumas
mudanças significativas no rompimento desse conservadorismo no modelo das relações
/configurações familiares.
Com base nisso, vê-se durante o filme o esboço da cultura patriarcal refletida na
colônia rural e escravocrata, construindo um modelo de família baseado em relações
estruturais do patriarcado. Tal família era caracterizada pela figura de um homem como centro
deste grupo e a mulher como submissa às necessidades dele. Esta dominação manifesta
setores da sociedade na produção, reprodução, sexualidade e na socialização de novos
indivíduos.

4. CLASSE OPERÁRIA

A formação da classe operária começou com o desenvolvimento das grandes potências


industriais na Europa a partir do século XVIII, “graças” a um fenômeno denominado
Revolução Industrial, no século XIX, que contribuiu para o movimento de formação dos
trabalhadores que passaram a ser explorados e atuar nas fábricas, sem nenhuma condição
humana de trabalho.
No Brasil, a luta da classe operária por direitos trabalhistas começou no início do
século XX, influenciados pelas ideias de liberdade comunista e anarquista vindas da Europa,
naquela época, a maior parte dos trabalhadores estava situada em São Paulo e no Rio de
Janeiro - conhecidas como grandes cidades. Nesse sentido, sabemos que o sistema capitalista
visa a exploração da força de trabalho para produção de superlucros e apropriação da
mais-valia, ou seja, com a intenção de aumentar a produção as fábricas começaram a ter uma
alta demanda de serviços, exigindo, assim, um número cada vez maior de trabalhadores, foi
isso que deu o surgimento da classe operária, vale ressaltar que eles recebiam salários baixos
e as condições de trabalho eram péssimas que colocava em risco a vida dos indivíduos
trabalhadores. Segundo Karl Marx:

A relação capital pressupõe a separação entre os trabalhadores e a


propriedade das condições de realização do trabalho. Tão logo a produção
capitalista se apóie sobre seus próprios pés, não apenas conserva aquela
separação, mas a reproduz em escala sempre crescente. Portanto, o processo
que cria a relação-capital não pode ser outra coisa que o processo de
separação de trabalhador da propriedade das condições de seu trabalho, um
processo que transforma, por um lado, os meios sociais de subsistência e de
produção em capital, por outro, os produtores diretos em trabalhadores
assalariados. (MARX, [s.d], p. 262)

Diante disso, os operários sentiram a necessidade de reivindicar as condições a que


estavam submetidos e deram início aos movimentos contra a realidade vivida naquele
momento. Para isso, foi preciso a formação dos sindicatos, grupos de profissionais
organizados que lutam a favor dos reconhecimentos trabalhistas previstos em lei. Sendo
assim, a classe operária é marcada por muita luta e resistência, que luta constantemente pelos
seus direitos, reconhecimento e igualdade.

5. CAPITALISMO

O filme traz de forma dinâmica as variadas expressões do capitalismo desde a sua


gênese até o que seria o futuro da realidade econômica e social do Brasil. Vê-se que a luta dos
protagonistas está diretamente atrelada a representação da desigualdade, destacando as
disparidades entre classes sociais e as lutas dos trabalhadores por direitos e melhores
condições de vida como já citado no processo da Revolução Industrial.
Além disso, a obra também aborda a alienação causada pelo consumo que se promove
através da valorização do excesso como um fator que faz separação de indivíduos, mostrando
personagens que se sentem desconectados de suas próprias vidas e desiludidos com a
sociedade em que vivem. Os detalhes trazem semelhança com os dias atuais e premeditam o
reflexo do hoje no amanhã da vida enquanto sociedade. Conclui-se a reflexão da temática
abordada na obra tendo como base as palavras de Arthur Bispo em seu livro “Capital e
trabalho na formação econômica do Brasil”

[...] bilhões de seres humanos continuarão a viver abaixo da linha de pobreza e


a não usufruir dos elementos necessários para a reprodução de sua existência
biológica e social. [...] como se não bastasse, para garantir a reprodução do
sistema do capital, essa classe, enquanto personificação do capital, coloca em
risco a existência das futuras gerações e o destino do planeta. O caráter senil e
perdulário do sistema do capital coloca na ordem do dia a necessidade de uma
ofensiva socialista, na perspectiva de superação dessa forma de sociabilidade”.
(BISPO, 2015, p. 275)

6. CONCLUSÃO

Mediante as pautas exploradas neste trabalho, vê-se a importância de conhecer a


formação sócio histórica do país, para compreender as gritantes questões sociais que
enfrentamos diariamente. Além disso, conhecer o nosso passado é um grande passo para não
retornar a ele e sobretudo, indispensável na formação do sujeito político.
O passado nos conscientiza e instiga a sociedade a honrar direitos que conquistamos
com luta, como por exemplo, o voto eleitoral e principalmente, a participação da figura
feminina em um momento como este.
A obra cinematográfica "Uma história de amor e fúria" traz à mídia, de certa forma,
um panorama do futuro que reflete o passado, dando ênfase a luta de classes e escancarando
as marcas do facismo. Fazendo uma analogia com a censura e a prepotência no período da
ditadura militar, que mesmo com o país subjugado por tal regime, os artistas posicionaram se
e através da Cultura, da arte convidam os povos a resistir e lutar, seguindo essa comparação,
pode-se dizer que esse filme, também é um manifesto cultural a história que estão tentando
apagar e um convite a resistência.

Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição
De morrer pela pátria
E viver sem razão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
(Geraldo Vandré, 1968)
REFERÊNCIAS

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