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Weber: a racionalização e a

burocratização da sociedade

Sociedade Cultura e Educação.


Profa. Dra. Rosângela Maria Pereira
PORQUE ANALISAR WEBER?
 As questões que levantou são relevantes ainda na
atualidade.
 É considerado um dos grandes teóricos sociais da
modernidade.
 Sua tese é de fundamental importância para o
reconhecimento da origem do capitalismo como
sistema histórico.
A CIÊNCIA
 Toda abordagem do real é parcial.
 A realidade é inesgotável e infinita.
 O conhecimento da realidade é parcial e fragmentário.
 Dom da eterna juventude – Ciência sempre será superada,
sempre surgirão novas visões e descobertas.
 A realidade é caótica – nós e que atribuímos significação a
partir de nossos interesses e valores.
 A ciência pode falar do que é não do que vai acontecer –
não cria a capacidade de prever o que vai acontecer no
máximo indicar algumas tendências.
  Explicações multicausais => um fenômeno tem inúmeras
causas => contra o determinismo econômico, a priorização de
uma causa: o econômico
SOCIOLOGIA
 Relação indivíduo e sociedade: A sociologia, na
interpretação de Weber, é uma ciência que tem por objeto
compreender claramente a conduta humana e fornecer
explicação causal de sua origem e resultados. A compreensão
social deve envolver a análise dos efeitos que o ser humano
procura conseguir. Busca entender a ação social tendo,
portanto, como unidade de análise básica os indivíduos e suas
condutas. Para a interpretação compreensiva as formações
sociais são o entrelaçamento de pessoas individuais.
 Dentro da sociologia, Weber dedica-se ao estudo dos
indivíduos na sociedade. Concentra a explicação na ação dos
atores individuais (Micro-Sociologia).
SOCIOLOGIA
 Weber vai orientar toda a sua produção sociológica
com base no primado do sujeito.
 Critica a idéia de que toda realidade social só poder ser
explicada mediante a descoberta de um sistema de leis
inerentes ao funcionamento da sociedade (crítica de
Weber ao positivismo).
JUÍZO DE FATO E JUÍZO DE
VALOR
 Juízo de Fato – próprio da análise científica, a qual, não cabe
função doutrinária.
 O sociólogo deve evitar tomar posições doutrinárias.
 O sociólogo só pode emitir juízos de fato, ou seja, mostrar
rigorosamente o desenvolvimento de um determinado
fenômeno, sem procurar julgá-los, ou, tomar posição sobre o
problema”.
 Juízo de valor – próprias da esfera ética, religiosa e política,
não incorporam julgamentos científicos.
O OBJETO
 O objeto da sociologia é compreender o sentido da ação.
Deste modo, a compreensão da ação social implica a
apreensão do seu sentido, isto é, do sentido que é dado à ação
pelo próprio indivíduo. Uma ação é compreensível e passível
de interpretação quando é possível apreender seu sentido.
Naturalmente, nem toda ação que ocorre no mundo é social,
algumas ações são de fato apenas condutas reativas, pois não
estão orientadas pela conduta dos outros. Outras ações são
irracionais, pois nem mesmo o próprio indivíduo é capaz de
explicar o sentido subjetivo da sua ação. Estas ações estão
fora do domínio da sociologia.
  
AÇÃO SOCIAL
 A ação social orienta-se pelas ações dos outros, que podem
ser outros individualizados ou indeterminados. Nem todo
contato entre os homens é social, ele deve envolver uma ação
com sentido dirigido a outrem.
 Tipos de ação social analisados por Weber. Exatamente
porque os limites entre ação racional e irracional são difíceis
de serem estabelecidos é que Weber utiliza o racionalismo
como recurso metodológico. Em Weber, os tipos de ação estão
apresentados em uma hierarquia de acordo com o grau de
racionalidade da ação. Os tipos são: Ação social referente a
fins, ação social referente a valores, ação social afetiva e
ação social tradicional.
  
RELAÇÃO SOCIAL
 Weber chama de relação social a conduta de vários
agentes reciprocamente orientada, logo, sendo
característica fundamental a existência de
reciprocidade na ação. A relação social pode ter caráter
transitório ou permanente e o conteúdo significativo
da relação pode variar e pode ser pactuado.
TIPOS PUROS E TIPO IDEAL
 Os chamados tipos puros ou tipos ideais são um recurso
metodológico que consiste na elaboração de categorias
que tendem a acentuar e expor de forma mais intensa
ou extrema as características do objeto em análise,
assim a taxonomia criada não se encontra na realidade
em sua forma pura.
DOMINAÇÃO
 A discussão que Weber propõe a respeito da dominação
na sociedade pode ser de muito interesse para pensarmos
como a dominação ocorre em diversas instâncias, desde
o Estado até empresas e outras instituições sociais
como escola e família.
 O ponto de partida que orienta sua análise da
dominação é os indivíduos e a ação social. Poder é
diferente de dominação.
PODER E DOMINAÇÃO.

 O poder é probabilidade de impor sua própria vontade, em


uma relação social, mesmo contra a resistência do outro(s). O
fundamento para este exercício de poder é muito amplo e
variado, pois pode ser o resultado de arranjos e qualidades do
agente que o coloca em situação de conseguir impor sua
vontade.
 O conceito de dominação é mais preciso e significa a
probabilidade de encontrar obediência entre pessoas a um
determinado mandato ou ordem. Este conceito implica uma
pretensão de legitimidade na relação de dominação, pois se de
um lado há um dominador que manda em determinadas
pessoas, de outro, há pessoas que aceitam este mandato por
considerá-lo legítimo. Sobre o que repousa o fundamento da
legitimidade da dominação exercid 
TIPOS PUROS DE DOMINAÇÃO

 Legal ou racional. Neste caso há uma crença na legalidade dos ordenamentos


estabelecidos no direito de mando daquele que exerce a autoridade. A burocracia é o tipo
mais puro, mas nenhuma dominação é exclusivamente burocrática. A burocracia não é o
único tipo de dominação legal, também o são funcionários designados por eleição, sorteio,
turno (rodízio), administração pelos parlamentos, comitês e órgãos colegiados, desde que
sua competência esteja fundada sobre regras estatuídas e que o domínio esteja em acordo
com o tipo de administração legal.
 Tradicional. Ocorre em virtude da crença nas tradições que regeram desde há muito
tempo as relações e também o reconhecimento da legitimidade daqueles que são indicados
por esta tradição para exercer a autoridade. O tipo puro é do tipo é a patriarcal . No quadro
administrativo há os dependentes pessoais do senhor (familiares ou funcionários
domésticos) ou de parentes e de amigos pessoais (favoritos), ou de pessoas que lhe estejam
ligadas por um vínculo de fidelidade (vassalos, príncipes tributários). Não há o conceito
burocrático de competência, mas de fidelidade pessoal do servidor.
 Carismática. A autoridade carismática baseia-se na crença no profeta, ou no
reconhecimento que encontram o herói e o demagogo. A expressão Carisma é aplicada
neste sentido sem juízos de valor, tanto se aplica a pessoas boas, quanto más. O quadro
administrativo é escolhido segundo carisma e vocação pessoal, e não devido à sua
qualificação (funcionário), ou à sua dependência pessoal (patriarcal), ou à sua
posição/privilégio (estamental). A administração (se assim se pode dizer) carece de regras,
sejam estatuídas ou tradicionais, caracteriza-se pelo irracional (revelações, decisões
particulares)
“A ÉTICA PROTESTANTE E O
ESPÍRITO DO CAPITALISMO”
 Concentra-se no MODO DE VIDA
 Ao capitalismo, são criadas pelas forças da tradição (Igreja
Católica), formas de resistência para seu desenvolvimento (a
igreja condena o juro – pecado -, é a favor de uma vida mais simples
– votos de pobreza, prega como recompensa a vida após a morte, a
acumulação de riquezas só para igreja, entre outros).
 Analisa então a importância do protestantismo para mudar esse
modo de vida. Há algo no estilo de vida daqueles que professam
o Protestantismo que favorece o espírito do capitalismo (as
pessoas podem acumular riqueza, não condena os juros, a busca
constante de formação acadêmica, galgam novos postos de trabalho,
engajados nas atividades econômicas, entre outros).
 “Coma ou durma bem” Neste caso o protestante prefere comer
bem, e o católico, dormir sossegado.” p.39
“A ÉTICA PROTESTANTE E O
ESPÍRITO DO CAPITALISMO”
 Em “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, analisa a
influência do protestantismo no desenvolvimento do Sistema
Capitalista.
 Vinculação entre o puritanismo e a gênese do capitalismo.
 Puritanismo: Protestantes. Rigorosos na aplicação de princípios
morais.
 Contra os argumento baseados em uma determinação econômica
unidirecional para explicar a origem da sociedade burguesa,
reconhecerá a importância exercida pelo protestantismo na
construção do ethos (aquilo que é característico e predominante nas
atitudes e sentimentos dos indivíduos de um povo, grupo ou
comunidade, e que marca suas realizações ou manifestações
culturais), mundano e materialista do próprio capitalismo.
“A ÉTICA PROTESTANTE E O
ESPÍRITO DO CAPITALISMO”
 O racionalismo econômico moderno que permite, orienta e
justifica a acumulação de lucros encontrará na ética racional
do protestantismo ascético sua base de sustentação
normativa.
 A origem do capitalismo pode assim ser reconhecida a partir
de um deslocamento moral puritana para dentro da
própria racionalidade econômica, e não como um elemento
externo à mesma.
 A Ética protestante fornece o fundamento da ação
daqueles que acumulam capital e não princípios morais
externos (Igreja Católica) dirigidos a corrigir os abusos e os
vícios que podem se derivar da acumulação de riquezas.
“A ÉTICA PROTESTANTE E O
ESPÍRITO DO CAPITALISMO”
 A afinidade entre o puritanismo e o capitalismo permite
compreender a mentalidade empreendedora, laboriosa,
esforçada; em suma, o espírito de acumulação do homem
burguês, como parte indissociável de um estilo de vida
ascético.
 Ascetismo: Exercício prático que leva à efetiva realização da
virtude, ou seja, a qualidade própria para que se produzam
certos efeitos à plenitude da vida moral.
 Weber atribui à construção sócio-histórica do ethos
empresarial um papel de destaque na gênese do capitalismo e,
consequentemente, da própria modernidade.
 “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, foi
considerado no final do último século, o livro do século XX.
“A ÉTICA PROTESTANTE E O
ESPÍRITO DO CAPITALISMO”
 Weber não vê perspectiva de superação do capitalismo como via
Marx.
A economia capitalista moderna é um imenso cosmos no qual o
indivíduo nasce, e que se lhe afigura, ao menos como indivíduo, como
uma ordem de coisas inalterável, na qual ele tem de viver. Ela força o
indivíduo, à medida que esse esteja envolvido no sistema de relações de
mercado, a se conformar às regras de comportamento capitalistas. O
fabricante que se opuser por longo tempo a essas normas será
inevitavelmente eliminado do cenário econômico, tanto quanto um
trabalhador que não possa ou não queira se adaptar às regras, que será
jogado na rua, sem emprego. (WEBER, Max. A Ética Protestante e o
Espírito do Capitalismo. São Paulo: Editora Martin Claret, 2001. p
48).

 Regras são criadas pelos indivíduos e podem ser também mudadas.


Pensar por exemplo a escravidão e hoje a lei sobre racismo.
 Weber é um liberal em desespero, que chegou inclusive a ficar
internado.
“A ÉTICA PROTESTANTE E O
ESPÍRITO DO CAPITALISMO”
 Seu prognóstico e sua análise da sociedade industrial estavam corretos:
 Mundo racionalizado – abandono das concepções mágicas e tradicionais
como justificativas para o comportamento.
 Diferenciação das esferas (público – privado)
 Individualização e autonomização
A organização industrial racional, voltada para um mercado regular e não
para as oportunidades especulativas de lucro, tanto políticas como
irracionais, não é, contudo, a única peculiaridade do capitalismo ocidental.
A moderna organização racional das empresas capitalísticas não teria sido
possível sem dois outros fatores importantes em seu desenvolvimento: a
separação dos negócios da moradia da família, fato que domina
completamente a vida econômica e, estritamente ligada a isso, uma
contabilidade racional. (WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito
do Capitalismo. São Paulo: Editora Martin Claret, 2001. p. 27)
“A ÉTICA PROTESTANTE E O
ESPÍRITO DO CAPITALISMO”
De fato, o próprio Estado, tomado como uma associação política
com uma constituição racionalmente redigida, leis racionalmente
ordenadas e uma administração coordenada por regras racionais ou
leis, administrado por funcionários treinados, é conhecido, nessa
combinação de características, apenas no Ocidente, a despeito de
todas as outras que dele se aproximam. (WEBER, Max. A Ética
Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo: Editora
Martin Claret, 2001. p. 23-24)
O capitalismo, porém identifica-se com a busca do lucro, do lucro
sempre renovado por meio da empresa permanentemente, capitalista
e racional. Pois assim deve ser: numa ordem completamente
capitalista da sociedade, uma empresa individual que não tirasse
vantagem das oportunidades de obter lucros estaria condenada à
extinção (WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do
Capitalismo. São Paulo: Editora Martin Claret, 2001. p. 24)
“A ÉTICA PROTESTANTE E O
ESPÍRITO DO CAPITALISMO”
 Sua profecia mais sombria não se confirmou:
 Mundo mecanizado
 Mundo desencantado
 Mundo de burocratas sem espírito
 Mundo da jaula de ferro

Ninguém sabe quem viverá, no futuro, nesta prisão ou se, no final


deste tremendo desenvolvimento surgirão profetas inteiramente
novos, ou se haverá um grande ressurgimento de velhas idéias e
ideais ou se, no lugar disso tudo, uma petrificação mecanizada
ornamentada com um tipo de convulsiva auto-significância. Neste
último estágio de desenvolvimento cultural, seus integrantes
poderão de fato ser chamados de “especialistas sem espírito,
sensualistas sem coração; nulidades que imaginam ter atingido um
nível de civilização nunca antes alcançado”. (WEBER, Max. A
Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo: Editora
Martin Claret, 2001. p. 131)
EXPLICAÇÃO – CONSEQUÊNCIAS NÃO
ESPERADAS
 1. Tecnologias de comunicação: mais individualizadas e
menos vulneráveis aos controles centralizados.
 2. Multiplicaram-se os agentes políticos da utopia
democrática, ultrapassando as fronteiras do trabalho,
propriedade e classe.
 3. As mulheres libertaram-se do enclave familiar.
 4. Novas identidades, autoconstruídas e menos
determinadas pelo trabalho, religião e opção política.
 5. Individualismo e auto-estima forte preparam o homem
para respeitar o outro e tomar parte em empreendimentos
cooperativos.

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