Você está na página 1de 6

A sociologia de Weber – Contrafatual 24/08/22, 17:45

Contrafatual
O que poderia ter sido

A sociologia de Weber

Um resumo da sociologia de Max Weber.

Embora o método de Weber seja comumente pensado como contraposto ao de


Marx, seu método sociológico está em diálogo com Durkheim e a sociologia
francesa, numa tentativa de responder ao método positivista e inverter o foco
principal para o sentido subjetivo da ação social. Este sentido subjetivo não é

https://contrafatual.com/2019/06/26/a-sociologia-de-weber/ Página 1 de 6
A sociologia de Weber – Contrafatual 24/08/22, 17:45

algo dado. Ele depende de uma análise das relações sociais. Além do conceito de
ação social, a ação em relação ao outro, alguns conceitos importantes de Weber
são: afinidade eletiva, tipos ideais, desencantamento, esferas sociais e
burocracia.

Weber, assim como Marx e Durkheim, está analisando o advento da


modernidade, que para ele é caracterizada como a burocratização e a
racionalização das relações sociais. O princípio de análise é a interação entre os
agentes, sendo que o sujeito determina o objeto. A teoria é racional e o método é
compreensivo. Para Weber, a história não tem sentido imanente, ela é aberta e
não naturalizada. A política é uma luta entre equivalentes, e é voluntarista. O
Estado é um aparelho burocrático sem conteúdo político próprio. Seu ideal de
sociedade é liberal progressista, e ele acredita na reforma como meio de atingir
esse ideal.

Diferente de Durkheim e Marx, Weber não se foca na estrutura ou na visão


global da sociedade. Ele se foca no indivíduo enquanto sujeito da ação social, e
não exatamente na realidade histórica do objeto. Pois nenhum conceito pode
ser totalmente definido, só é possível ter uma noção geral. Portanto, se trata de
compreender interpretativamente um aspecto da sociedade, tendo em vista que
a realidade não é permanente, está sempre mudando.

Para Weber, toda ação tem um sentido próprio. Este sentido é internalizado na
crença e externalizado na ação. Esse sentido não é reconhecido segundo regras
definidas, mas interpretado segundo relações causais. A ação se volta para a
relação com outro, o que significa que há uma dependência mútua. A realidade é
sempre maior que a teoria, nossa compreensão dela é sempre parcial. O
sociólogo seleciona aspectos da realidade social para estudar. Weber não
apresenta conceitos fechados, mas sim conceitos em desenvolvimento.

Assim, é preciso diferenciar as afinidades eletivas das relações causais. Ambas


são ferramentas para entender aspectos da realidade, mas são diferentes. A

https://contrafatual.com/2019/06/26/a-sociologia-de-weber/ Página 2 de 6
A sociologia de Weber – Contrafatual 24/08/22, 17:45

afinidade eletiva representa a influência mútua entre aspectos bastante


diferentes da realidade, e a relação causal é uma relação mais direta. Outra
ferramenta para compreender a realidade é o tipo ideal. Tipos ideais são
proposições ideais criadas para medir fenômenos reais, de modo a facilitar as
comparações.

A base filosófica de Weber é a filosofia kantiana e alemã, e o contexto cultural é


o alemão. A visão de mundo de Weber é de que a natureza e a origem das
atitudes dos indivíduos são modificadas ou afetadas pelas atitudes de outros
indivíduos. Assim, é preciso entender o papel do indivíduo na sociedade e como
este indivíduo produz o sentido de sua ação. Existe uma relação mútua de
produção e reprodução de sentido social. A sociedade é um complexo integrado
de ações sociais.

Weber se preocupou com o fenômeno da racionalidade na modernidade. Ele


classificou a realidade social nas seguintes esferas: econômica, política,
intelectual, estética, erótica e religiosa. Na sociedade tradicional, a esfera
religiosa dominava sobre as outras. Na modernidade ocorre uma
autonomização das esferas sociais, o que altera a lógica interna de
funcionamento da sociedade. Fenômenos como o capitalismo, a democracia, a
ciência, a arte moderna e o prazer superam a dominação religiosa. Porém, essa
autonomização é relativa, pois a esfera religiosa continua influenciando as
outras de certo modo. As atitudes dos indivíduos são irregulares, o complexo
social é infinito e emaranhado, sem ordenação prévia.

Weber distingue quatro tipos ideais de ação social: A racional com relação a
fins, a racional com relação a valores, a afetiva e a tradicional. O tipo
predominante na modernidade seria a ação racional com relação a fins. As duas
primeiras são ações racionais, e por tanto representam relações sociais
associativas. As duas últimas são ações não racionais, e representam relações
comunitárias. Logo, se distingue o tipo de relação entre comunitária e
associativa, sendo estas são representadas respectivamente pela pessoalidade e

https://contrafatual.com/2019/06/26/a-sociologia-de-weber/ Página 3 de 6
A sociologia de Weber – Contrafatual 24/08/22, 17:45

pela impessoalidade das relações.

É importante frisar que estas distinções servem apenas para explicar um


fenômeno, que na realidade quase sempre se apresenta como uma mistura de
características de dois ou mais tipos ideais. Assim, por exemplo, também existe
um elemento não racional na ação economicamente orientada. Na
modernidade, a esfera econômica acaba gerindo outros tipos de associação,
além daquelas voltadas primariamente para a economia. A proeminência de
ações racionais com fins econômicos significa a racionalização da sociedade,
que é o desencantamento do mundo. É a remoção do aspecto mágico do mundo
que funcionava como obstáculo para o progresso capitalista.

O desencantamento ocorre tanto por meio da própria religião quanto por meio
da ciência. Quando a religião é jogada para o reino da irracionalidade, perde o
sentido que permeava as ações. Weber distingue três tipos de dominação: a
racional, a tradicional e a carismática. A modernidade é caracterizada pelo
domínio racional, que se deu no processo de burocratização do poder.
Dominação é a probabilidade de encontrar obediência a uma ordem de
determinado conteúdo. Disciplina é a probabilidade de encontrar obediência
pronta, automática e esquemática a uma ordem entre uma pluralidade indicável
de pessoas, em virtude de atividades treinadas.

Na modernidade existe uma dominação econômica, porém nem toda


dominação moderna é econômica ou racional. A submissão pressupõe crença e
valor. As mudanças na constituição, por exemplo, pressupõem a crença na
constituição. Quanto à dominação tradicional, ela não funciona com base na
legitimação, mas sim na sacralidade das tradições. A dominação carismática
quebra a ordem cotidiana e tradicional, e se baseia na crença sobre o carisma de
um indivíduo. A dominação carismática tende a ser temporária, levando a outra
ordem racional ou tradicional.

A dominação indireta é aquela exercida de modo impessoal, pela obediência ao

https://contrafatual.com/2019/06/26/a-sociologia-de-weber/ Página 4 de 6
A sociologia de Weber – Contrafatual 24/08/22, 17:45

direito estatuído. A dominação legal é racional, se volta à precisão e ao


rendimento. A burocracia seria a melhor forma de poder na modernidade. Já a
dominação tradicional coloca o senhor acima das regras, e se trata de uma
dominação direta. A dominação carismática é afetiva e funciona sem rotina,
sem instituições fixas e é alheia à economia.

Diferente de Marx, Weber não pensa que o conflito de classes seja o motor da
história. Ele pensa em estratos sociais separados por critérios objetivos. Para
Weber, essa objetividade representa também uma neutralidade necessária à
ciência social. O uso de tipos ideais não compromete a objetividade. Ao
contrário, tipos ideais são instrumentos metodológicos que ajudam a
compreender a realidade por meio de proposições que devem ser confirmadas
na experiência. Representa um quadro de pensamento, e não a realidade como
ela é. Não é hipótese nem média, mas um meio de obter conhecimento.

Em Ética protestante e o espírito do capitalismo, Weber faz uma interpretação


racional do credo calvinista. Seu objetivo é interpretar o sentido das práticas de
um viver religioso. Práticas que recorrem à aquisição de capital como forma de
obtenção de indicativos de eleição por parte de Deus. Com a secularização, a
prática do aumento das posses permanece, mas se torna um fim em si mesmo.
Weber também acaba analisando um contexto bem mais amplo. Fala da
transformação do camponês em operário, das crenças no valor do trabalho
como forma de dignificar a vida humana, e consequentemente da entrada no
capitalismo moderno, que abandona a ética protestante, mas preserva algo
dela, que é a virtude profissional.

“E se apesar de tudo empregamos provisoriamente aqui a expressão ‘espírito


do capitalismo (moderno)’ para designar aquela disposição que nas raias de uma
profissão de forma sistemática ambiciona o ganho (legítimo e racional), tal
como ilustrado no exemplo de Benjamin Franklin, isso se deve à razão histórica
de que aquela disposição encontrou sua forma mais adequada na empresa
capitalista (moderna), e a empresa capitalista, por sua vez, encontrou nela sua

https://contrafatual.com/2019/06/26/a-sociologia-de-weber/ Página 5 de 6
A sociologia de Weber – Contrafatual 24/08/22, 17:45

força motriz espiritual mais adequada” (WEBER, 2004).

A sociologia weberiana é fundamental para o entendimento dos fenômenos


sociais como provenientes de “disposições” dos indivíduos, e da relação
estreita entre fenômenos como a economia capitalista e as crenças que dão
sentido às ações sociais.

Referências:

WEBER, Max. Economia e sociedade. Vol. 1. Brasília: Ed. UNB, 1991, p. 3-35.

WEBER, Max. Ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Cia das


Letras, 2004.

Autor: Janos Biro


Você não existe, e eu também não. Ver todos posts por Janos Biro

Janos Biro / 26/06/2019 / Resumos / sociologia

Contrafatual / Site desenvolvido com WordPress.com.

https://contrafatual.com/2019/06/26/a-sociologia-de-weber/ Página 6 de 6

Você também pode gostar