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Azevedo, P. W. A mística de Simone Weil e a análise dos sonhos: aproximações entre a Fenomenologia e a
Psicologia Analítica

A mística de Simone Weil e a análise dos sonhos: aproximações entre a


Fenomenologia e a Psicologia Analítica

The mystic of Simone Weil and the analysis of dreams: approximation


between the Phenomenology and the Analytical Psychology

El místico de Simone Weil y la analisis de los sueños: acercamiento entre la


Fenomenologia y la Psicologia Analítica

Patrick Wagner de Azevedo1


Resumo

Neste trabalho, pretendemos fazer dialogar âmbitos da existência que raramente são vistos reunidos: a
análise de sonhos, numa abordagem da Psicologia Analítica num encontro com a daseinsanálise, e a
experiência mística. Para tanto, lançamos mão de um sonho de um de meus pacientes e os relatos de
Simone Weil, mística judia do século XX. Nesse sentido, meu paciente trouxe um sonho emblemático
no qual se evidencia que o âmbito espiritual de sua existência estava recebendo pouca atenção. Vemos
que os sonhos podem assumir o papel de apontar ao Dasein que diferentes âmbitos existenciais estão
sendo negligenciados. De modo semelhante, para a Psicologia Analítica, a individuação apresenta-se
como encontro de âmbitos inconscientes da existência não considerados pelo caráter unilateral da
consciência. A experiência mística, entendida como relação de pessoalidade com Deus, no cristianismo,
é um desses âmbitos e, quando negligenciada, pode produzir uma limitação na liberdade existencial do
indivíduo. O mundo técnico parece desqualificar experiências não apreensíveis pela razão lógica, mas a
existência pode sustentar sua essencial liberdade e permanecer aberta, plural e afeita às explosões de
possibilidades que o Dasein, em última instância, é. A daseinsanálise é prática psicoterápica apoiada na
Fenomenologia Hermenêutica de Heidegger e aponta para o acolhimento da diversidade infindável de
possibilidades existenciais que perpassam o Dasein. Para a Psicologia Analítica, o processo de
individuação, que recebe dos sonhos sentidos próprios, aponta na direção de diálogo profícuo entre a
consciência e o universo plural, dinâmico e aberto do inconsciente. O mistério, doador de sentidos, pode
ser um ângulo donde é possível um encontro entre a Fenomenologia e a Psicologia Analítica.

Palavras-chave: Mística. Análise de sonhos. Daseinanálies. Psicologia Analítica.

Abstract

In this work, we intend to make ambits of existence that are rarely seen together dialogue: dream
analysis, in an approach of Analytical Psychology in an encounter with daseinsanalysis, and the mystical
experience. To this end, we made use of a dream from one of my patients and Simone Weil’s reports, a
mystical Jew from the 20th Century. In this sense, my patient brought an emblematic dream which
revealed that the spiritual ambit of his existence was receiving little attention. We see that dreams can
assume the role of pointing to Dasein that different existential ambits are being neglected. Similarly, for

1
Doutor em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Mestre em Cognição e Linguagem pela
Universidade Estadual do Norte Fluminense, Darcy Ribeiro (Uenf). Especialista em Psicologia Existencial pelos
Institutos Superiores de Ensino do Centro Educacional Nossa Senhora Auxiliadora (Isecensa). Psicólogo clínico
com atuação em abordagem junguiana com diálogos com a Fenomenologia Hermenêutica de Heidegger. Professor
de Psicologia e Filosofia dos Institutos Superiores de Ensino do Centro Educacional Nossa Senhora Auxiliadora
(Isecensa) em Campos dos Goytacazes, RJ. Analista judiciário do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

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Analytical Psychology, individuation presents itself as an encounter of unconscious ambits of existence


not considered by the unilateral feature of consciousness. The mystical experience, understood as the
personal relationship with God, in Christianity, is one of these ambits and, when neglected, can produce
a limitation on the existential liberty of the individual. The technical world seems to disqualify
experiences that are not apprehensible by logical reason, but the existence can sustain the essential
liberty and remain open, plural and prone to the explosion of possibilities that Dasein, ultimately, is. The
daseinsanalys is a psychotherapeutic practice sustained by Heidegger’s Hermeneutic Phenomenology
and points to welcoming the everlasting diversity of existential possibilities that cross Dasein. For the
Analytical Psychology, the process of individuation, which receives from dreams its own senses, points
towards a fertile dialogue between consciousness and the plural universe, dynamic and open from the
unconscious. The mystery, donor of meanings, can be an angle from which a meeting between
Phenomenology and Analytical Psychology is possible.

Keywords: Mystic. Dream analysis. Phenomenology. Daseinsanalysis. Analytical Psychology.

Resumen

En el presente trabajo pretendemos hacer dialogar diferentes ámbitos de la existencia que raramente son
vistos juntos: el análisis de los sueños en un abordaje de la Psicología Analítica en encuentro con el
análisis existencial (daseinanálise) y la experiencia mística. Para esto, tomamos un sueño de uno de mis
pacientes y los relatos de Simone Weil, mística judía del siglo XX. En este sentido, mi paciente trajo un
sueño emblemático en el cual se evidencia que el ámbito espiritual de su existencia estaba recibiendo
poca atención. Observamos que los sueños pueden asumir el papel de señalar al Dasein que diferentes
ámbitos existenciales están siendo descuidados. De modo similar, para la Psicología Analítica, la
individuación se presenta como el encuentro de ámbitos inconscientes de la existencia no considerados
por el carácter unilateral de la consciencia. Por otra parte, la experiencia mística, entendida como la
relación de la personalidad con Dios, en el cristianismo, es uno de esos ámbitos y cuando es descuidada
puede producir una limitación en la libertad existencial del individuo. El mundo técnico parece
descalificar las experiencias no comprensibles por la razón lógica, sin embargo, la existencia puede
mantener su esencial libertad y permanecer abierta, plural y afectiva ante las explosiones de
posibilidades que el Dasein, en última instancia es. El análisis existencial es una práctica
psicoterapéutica apoyada en la Fenomenología Hermenéutica de Heidegger y apunta al acogimiento de
una infinita diversidad de posibilidades existenciales que atraviesan el Dasein. Para la Psicología
Analítica, el proceso de individuación – que recibe de los sueños sentidos propios–, señala en dirección
a un diálogo prolífico entre la consciencia y el universo plural, dinámico y abierto del inconsciente.
Finalmente, el misterio, donador de sentidos, puede ser un ángulo por el cual es posible un encuentro
entre la Fenomenología y la Psicología Analítica.

Palabras clave: Mística. Análisis de sueños. Análisis existencial. Psicologia Analítica.

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Introdução referida cancela, Paulo viu no cercado


vizinho, para onde os animais seguiriam,
Neste trabalho, pretendemos refletir uma mulher também montada a cavalo que
e articular a experiência mística, aguardava a passagem das rêses para que
especialmente de Simone Weil, com a ela assumisse a condução e o pastoreio. Era
daseinsanálise e a Psicologia Analítica. uma amazona montada num belo animal e
Para tanto, utilizamos um sonho de um de ela mesma muito bonita. Riu-se um pouco e
meus pacientes que, por sinal, enfrentava emendou que se tratava de sua própria
questões espirituais em sua psicoterapia. mulher. Fiz menção de perguntar algo, mas
Como psicólogo, acredito que a análise de ele, com um gesto, pediu-me para aguardar
sonhos continua sendo instrumento e prosseguiu o relato. Agora, não via mais
extremamente criador de aberturas e os animais nem sua mulher. Seguia ainda
apropriações que levam o paciente a uma montado em seu cavalo e dirigia-se para a
ampliação de possibilidades existenciais. cerca lateral do campo onde estava. Apeou
Assim, vamos começar dialogando com e amarrou o animal em um mourão. Pulou a
Paulo, pseudônimo de meu paciente. cerca e seguiu a pé através do campo, agora
Estávamos no fim de maio, o em um novo cercado. Caminhou bastante
inverno ainda não tinha descido sobre nós, sobre o capim alto até se encontrar ao lado
ainda fazia calor, mas já se sentia uma leve de uma outra cerca, uma cerca verde, ou
brisa. Paulo costumava ser o último melhor, uma cerca viva com uma vegetação
paciente do dia e já era noite quando ele bem espessa que impedia que fosse
chegou. Confesso que, apesar de meu ultrapassada. Circundou o lugar e percebeu
cansaço, alegrava-me de recebê-lo, pois na caminhada que se tratava de um
vínhamos fazendo um trabalho interessante quadrado. Durante sua caminhada junto a
que me deixava feliz. Paulo entrou, sentou- esse quadrado, descobriu uma pequena
se e demorou um pouco para começar a passagem através da cerca verde.
falar. Fiz as perguntas de costume, como Ao dar alguns passos pelos arbustos,
tinha sido a semana, se ele estava bem, etc. sentiu um forte assombro ao ver que, de
Enfim, ele iniciou sua fala dizendo que fato, era um cercado quadrangular, com o
havia um sonho importante para narrar. Um chão de areia branca bem fina, mas bem no
gesto meu com a mão teve o condão de centro do quadrado havia uma grande cruz
liberá-lo para a narrativa do sonho. O sonho negra. Mesmo assustado andou até a cruz
fora ambientado na fazenda Mangal, deixando suas pegadas na areia e postou-se
fazenda de sua família em que sempre diante dela. A cruz era mais alta que ele, e
estava quando criança e no início da no travessão estava escrito com letras
adolescência. Ele estava montado em um góticas: “São Francisco”. Permaneceu ali
cavalo e conduzia várias reses num grande por algum tempo e, de súbito, resolveu sair
campo. Os animais eram levados até um do quadrado. Ao atravessar de volta os
canto da pastagem onde havia uma cancela. arbustos, encontrou do lado de fora uma
Seu cavalo parecia relativamente estressado mulher de uns 40 anos segurando pela mão
e por vezes custava a obedecer aos um menino de uns cinco anos. Ao vê-la,
comandos do cavaleiro, e ele, apesar de seu perguntou-lhe: Por que você não foi até lá?
cavalo aparentar agitação, estava Apontando para dentro do quadrado onde
concentrado em emitir os sons típicos de um estava a cruz. Em seguida a mulher lhe
condutor de boiada, com gritos e também respondeu: Ninguém me disse que eu
emitindo sons ritmados e quase cantados. deveria entrar.
Quando os animais se aproximavam da

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Após narrar o sonho, Paulo seria justamente me auxiliar a harmonizar-


permaneceu em silêncio, mas sem olhar me e superar os contrários? De fato, são
para mim. De súbito, voltou a falar e disse vários aspectos contraditórios, sob a
que não sabia se era uma informação irradiação da cruz de São Francisco. São
relevante, mas que no sonho já era de tarde, Francisco era um santo da igreja e talvez
por volta de umas 18h e o sol se punha. tenha sido um dos primeiros a apresentar as
Continuou e narrou como na fazenda o pôr chagas de Jesus em seu corpo. E há mais
do sol era lindíssimo, o amarelo vai aos contrários: sou homem e há mulheres no
poucos se convertendo em um vermelho sonho. Há também a presença do
rubi e o astro segue descendo, mergulhando, crepúsculo, é de dia, mas é também quase
num mar verde dos campos, campos de noite, luz e sombras. Fiquei em silêncio um
Campos. Arrematou dizendo que no sonho tempo e percebi algo no sonho que Paulo
o pôr do sol era assim também. Novamente ainda não tinha visto e comentei com ele:
o silêncio se fez ouvir. Mas eu o rompi Você notou que seu sonho é ambientado em
dizendo que o sonho apresentava traços região rural, uma planície, uma fazenda,
bem interessantes: havia elementos onde, obviamente, o contato com a terra e a
religiosos, caminhos percorridos montado natureza é mais presente? E mais, há fortes
sobre animais e percorridos a pé, passagens, elementos religiosos e nenhuma igreja?
revelações, surpresas. Há contradições Nem padres, nem pastores, nem liturgia,
nítidas, como ser o sonhador um homem e nem missa? Isso, talvez, não fosse a
no sonho haver mulheres bem marcantes; o contradição fundamental? Eu continuava
sonho acontecer no crepúsculo, nem noite, devaneando e voltei a pensar em Jung: Será
nem dia. A cruz negra, maciça, e a areia que o inconsciente de Paulo apontava para
nada moldável e branca. E o mais intrigante, uma forma de religião? Religião no sentido
o nome que parece ser o sentido central do mesmo de religare. Deveria Paulo realizar
sonho, São Francisco. Perguntei a ele que uma religação consigo mesmo, com
sentido tem tudo isso para você? Paulo aspectos abandonados de sua
demorou um certo tempo para responder e personalidade? Ainda, nesse sentido,
finalmente disse: É difícil dizer, mas fico preferi não comentar, por enquanto, com ele
pensando: o que São Francisco teria a ver a presença do “quaternio”, o quadrado, a
com minha vida? Intuo o que seja, mas mandala que estava em seu sonho, pois
precisamos desdobrar tudo isso aqui. tratava-se de um quadrado com uma cruz
Não costumo falar de teorias central. Cruz que tem quatro pontos, quatro
psicológicas para meus pacientes, mas direções. Vê-se que o sonho desvelava a
lembrei-me de Jung, que sempre se referia indicação da totalidade, da quaternidade,
à presença de aspectos contrários nos daquilo que Jung mostrava como o
sonhos. O inconsciente desvela, elemento divino em nós. A individuação
especialmente nos sonhos, infindáveis seguia seu curso?
âmbitos de possibilidades contraditórias Paulo voltou a falar e parecia pensar
que a psiquê contém. E mais, sempre algo semelhante ao que eu mesmo pensava:
pressiona no sentido de compensar a Talvez você tenha razão e a contradição
unilateralidade da consciência. Apresentei fundamental do sonho é justamente a
esse quadro para Paulo, e ele pareceu presença de elementos religiosos num
concordar que seus sonhos são ricos de ambiente não institucional, fora da igreja,
contrários. Em seguida perguntou: Se são das liturgias. E isso, acredito, tem muito
tantos contrários, haveria algum tipo de mesmo a ver comigo, pois experimento
harmonização? Seu trabalho aqui, Patrick, Deus na minha vida, mas não é o Deus das

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igrejas, das liturgias ou ao menos não é Século em que ideologias totalitárias


exclusivamente esse Deus instituído, prevaleceram, ideias materialistas
glorificado em altares e púlpitos. Até pode expulsaram Deus da cena social e em seu
sê-lo, mas não é totalmente isso, não é lugar foram postos o progresso e a técnica.
exclusivamente isso. Nesse momento, A expansão capitalista se intensificava e
Paulo sorriu largamente e emendou: Será elementos religiosos eram vistos com
que eu posso ser franciscano, católico, mas desconfiança. O ateísmo e o agnosticismo
fora da igreja? Não seria isso muito assumiam a dianteira e falar de Deus e de
contraditório? Fui eu quem sorriu agora e religião tornou-se quase ridículo. Por outro
pensei em mim mesmo quando nunca lado, foi o século em que mais se viu
consegui conciliar as contradições demonstrações brutais de violência, como
existentes entre o pensamento de Heidegger duas guerras mundiais que dizimaram
e o de Jung. Talvez, seja uma pretensão milhões de pessoas. É nesse contexto sócio-
arrogante insistir nisso. Ou será que histórico que Simone Weil viveu e
sustentar a contradição é o estímulo à escreveu. E levou toda sua vida tentando
pesquisa e estudo? Respondo à contradição realizar um diálogo entre cultura e
com respostas contraditórias. Mas Paulo santidade. Ela sempre se perguntava se
seguiu falando e me perguntou se eu já tinha poderiam haver pontes dialógicas entre a
lido algo sobre Simone Weil, mística do cultura contemporânea e Deus.
século XX. E logo me fez uma provocação Nesse sentido, Simone Weil, pelos
perguntando se a saída para ele não seria idos de 1938, sente fortes dores de cabeça e
uma aproximação do que fosse a mística. suas agruras físicas a debilitam muito. É
Agora, provocado, fiquei intrigado: Seria a nesse tempo que ela tem suas primeiras
experiência mística uma forma de experiências místicas. A primeira em Póvoa
compreensão dos contrários? Será a de Varzim em Portugal e a segunda em
experiência mística possuidora de uma Assis. O Cristo a toma e ela sente um
disposição afetiva que lançasse o Dasein profundo amor por todas as criaturas. Tais
numa abertura às explosões de contradições experiências reforçam sua mística martirial.
mundanas? A experiência mística seria Com martirial, quero dizer uma espécie de
radicalmente incompatível com o princípio vocação a partilhar o sofrimento dos outros.
da não contradição e romperia com toda A dor e a miséria humana devem ser
lógica aristotélica e cartesiana? partilhadas, o cristão deve sentir e viver o
Como meu paciente trouxe à que seus irmãos mais humildes sentem.
presença Simone Weil, lancei-me a estudá- Simone viverá sempre em busca desse
la para que a mística, professora e filósofa encontro com tudo e todos a partir de uma
viesse ao nosso encontro. mística da partilha do sofrimento. Ela diz:

Simone Weil e a atenção criadora O governo de meu país não poderia me


fazer um bem maior do que me proibir nas
profissões intelectuais e fazendo do
Simone Weil, judia francesa, pensamento uma coisa gratuita como deve
nascida em 1909, em uma família de classe ser. Desde a adolescência, eu sonhava com
média, seu pai era médico e sua mãe dona o casamento de São Francisco com a
de casa. O ambiente familiar era culto e o pobreza, mas sentia que não devia ter o
amor ao conhecimento extremamente trabalho de desposá-la, porque um dia ela
viria tomar-me à força e que seria melhor
valorizado. Weil era também filha do século assim. (Weil in Bingemer, 2007. p. 64)
XX, século que para Bingemer (2007) foi o
século no qual Deus esteve mais ausente.

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Para Simone Weil, Deus é a núcleo do cristianismo, pois entregamos


fraqueza do amor, obediente e missioneiro. àquele que não a tem nossa própria
Amor esse que deseja partilhar a dor do humanidade, como Jesus entregou-se para
outro e nunca infligir nele a dor. Weil diz: iluminar de amor toda dor da humanidade.
“O amor de quem é feliz, é querer partilhar Entregando-se, Simone encontra Cristo.
a dor do amado infeliz”. Simone crê que só Aqui vemos como ressoam em
partilhando a dor e a desgraça do outro Simone as palavras de São Paulo, pois é
infeliz poderá compreender e viver o Cristo. Cristo que vive em Simone agora. Simone
Jesus doou-se inteiramente à humanidade, é Weil (Bingemer, 2007) tem atenção especial
o pastor que deu a vida pelo rebanho, dessa a uma contradição fundamental: como o
forma, não é possível compreender-se Deus sofrimento humano provocado pelo mal
como poder, que impõe e inflige dor, mas só pode se harmonizar com a perfeição de
há divindade no despojamento, na entrega, Deus? Ela não consegue explicar e dar
especialmente que essa entrega seja conta dessa contradição de modo racional,
martirial. Aqui, Simone nos contempla com lógico, mas só a mística da cruz de Cristo a
seu conceito de atenção, o amor exige faz saber e viver tal contradição. Pois, é a
atenção, atenção à desgraça alheia, à dor do contradição mais radical ver-se o inocente
próximo. Só há amor ao próximo quando pagar, sofrer, morrer, sem culpa e receber
temos atenção à infelicidade que nos cerca. sobre si mesmo todo mal que não provocou.
E é uma atenção que nos constrange a De certa forma, sem explicações teológicas,
vivermos inteiramente a dor que nos vêm ao Simone percebe que estar ao pé da cruz a
encontro. Antes da piedade, calor humano, faz compreender o sentido de tal
solidariedade, ou de outra qualquer virtude, contradição insolúvel: apenas um Deus que
a atenção, prestar atenção na infelicidade do sofre, e um Deus inocente pode dar sentido
próximo é o ponto de partida para uma a toda dor da humanidade. Seu amor que o
experiência cristã. Doar-se ao desgraçado, faz viver a dor, banha toda a miséria
dar-se inteiramente ao que sofre, transladar humana de amor caloroso e de ternura
sua existência àquele que a perdeu, pois o acolhedora por tudo e todos. Simone vai
desgraçado, infeliz que sofre, já não tem seguir a tradição mística cristã que, ao estar
mais humanidade, pois a perdeu pela na luz do Encontro, ama a tudo e todos,
violência imposta, é a imitação do que Jesus percebe e compreende Deus como tudo e
fez ao entregar-se voluntariamente à morte. nada, como diria o Mestre Eckhart. E o mais
Jesus, apesar de Deus, assume inteiramente importante: as contradições deixam de ser
a condição humana vivendo-a até as últimas um problema e elas mesmas são amadas e
consequências e, assim, entregando-se à sua solução nunca é racional e lógica. Elas
humanidade. A respeito de Jesus ser Deus, nem mesmo têm solução, apenas
trata-se de um dos dogmas centrais do compreensão e experiência.
cristianismo, senão o mais importante e A experiência mística em Simone
fundamental; se Jesus não é Deus, não há Weil e em outras mulheres de seu tempo e
cristianismo. Por sinal, o que é chamado de também judias, como Edith Stein, por
transdescendência, isto é, de Deus assumir exemplo, se caracterizam por uma radical
a condição humana e encarnar-se e habitar transformação vital (Bingemer, 2007). O
entre nós, só acontece no cristianismo, é sua amor de Deus, a experiência desse amor, faz
marca fundamental; em nenhuma outra com que Simone realize uma nova ética,
religião o Deus encarna-se. Quando, para uma ética de responsabilidade por toda
Simone, nos doamos ao sofredor infeliz, humanidade, uma ética que nos
partilhando de sua dor, compreendemos o compromete com a dor do outro, é

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verdadeiramente uma ética da alteridade. expressão da dor e do sofrimento dos mais


Sim, uma ética que se reconhece fundada frágeis, aqueles que nada possuíam e que
num Deus que ama a vida, que abomina a amavam suas famílias e seus homens que se
violência e quaisquer formas de imposição. lançavam ao mar, sem nenhuma garantia de
Notamos que a experiência mística, retorno. Um trabalho árduo, difícil,
caracterizada como Encontro amoroso com perigoso, mas que era acalentado por
o Absoluto, tendo uma disposição afetiva aquelas mulheres que com profundo amor e
própria, apresenta aproximações com a dor oravam e cantavam. O Cristo desceu
espiritualidade (Boff, 2001), pois sobre ela naquela noite e a transformou por
compreendo que espiritualidade é inteiro.
justamente essa nova postura ética de Simone diz:
responsabilidade pelo mundo, acolhedora
da alteridade e amante da vida. Espírito que [...] Num estado físico miserável entrei
é pneuma, sopro, sopro de um Deus avesso nessa pequena aldeia portuguesa – que era,
ai! tão miserável também – sozinha à noite,
ao poder e à violência. sob a lua cheia, no dia da festa do padroeiro.
A mística tem uma disposição, como As mulheres dos pescadores faziam a volta
vimos, pois disposição é dis-posição, isto é, aos barcos em procissão, levando círios e
algo que nos desloca, nos retira da cantando cânticos, certamente, muito
familiaridade do mundo (Holanda, 2014) e antigos e de uma tristeza dilacerante. [...]
Ali tive de repente a certeza de que o
nos desvela algo novo, novos sentidos e cristianismo é, por excelência, a religião
modos de ser no mundo. Pois o prefixo dis dos escravos, que os escravos não podem
é negação, ou seja, a disposição é a negação não aderir a ela, e eu entre os outros. (Weil
da posição, do lugar habitual. Vê-se in Bingemer, p. 274)
claramente em Simone essa disposição,
esse novo lugar de sentido e amor. Simone Weil (1993) prossegue
Nesse mesmo sentido, Edith Stein dizendo que quando tomado pela Graça de
afirma que ter conhecimento não é Deus o homem não está totalmente sujeito
suficiente, mas importante é a capacidade às puras leis da natureza, mas quando essa
de doar a própria pessoa. E vai além Graça não está presente, nos abandonamos
dizendo que: “Quem busca a verdade, no às puras leis mecânicas. Ou estamos na
fundo, busca a Deus” (Bingemer, 2007). Graça ou nos abandonamos à gravidade e às
Simone Weil realizava sua mística, como leis de queda dos corpos prevalece. E diz
dissemos, na partilha absoluta da dor do mais: a atenção criadora vê o que não existe.
próximo. Ela mesma dizia que não há O samaritano viu a humanidade naquele
poesia sobre o povo que não seja fruto da que estava caído à beira da estrada, quando
fadiga, da fome e da sede vividas em si os que passaram antes nem o notaram ou ao
mesmo. Dar o próprio corpo e alma na menos não viram sua humanidade.
participação do sofrimento dos infelizes é A fé é crer no que não se vê
para ela uma mediação, uma Eucaristia. Sua (Hebreus 11:1), e Deus é mesmo invisível,
primeira e radical experiência de Deus se dá só o notamos, por vezes, no encontro de
em Portugal numa pequena aldeia de dois olhares e no sorriso de quem amamos.
pescadores, Póvoa de Varzim. Simone Weil, como já vimos antes, dá forte ênfase à
chega lá no dia da festa do padroeiro. À atenção, e aqui ela fala do olhar. O olhar, a
noite acompanha uma procissão cantada de atenção, é a própria presença de Deus. No
mulheres de pescadores. Cânticos e orações Antigo Testamento, a serpente de bronze foi
que a tocaram e a transformaram erguida para salvar os que jaziam doentes
profundamente, pois era a própria (Números 21:8). É o olhar, a atenção que
salva. E mais ainda, é a experiência de Deus

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o verdadeiro sacramento. Os sacramentos é o modo como ela pensa as contradições.


ganham real sentido quando iluminados As contradições não são superáveis no
pela presença de Deus em nossas almas. A plano da inteligência ou no plano
Graça é o Espírito Santo presente na alma representacional, devemos “subir mais”
das pessoas. Lembrei-me que após a para alcançarmos algum tipo de
ressurreição Jesus aparece para os compreensão. Mas não podemos subir por
discípulos e sopra neles o Espírito Santo nós mesmos, devemos ser “puxados”,
(João 20: 19-23). A partir de então, eles puxados por Deus. Ela usa uma metáfora da
estão renovados e são outros homens. A montanha: se começamos a subir uma
mística, notadamente a mística cristã, é esse montanha e de um lado temos uma floresta
desvelamento que tem o condão de fazer o e do outro um lago, devemos escolher entre
mundo aparecer de certa forma, uma forma a floresta e o lago, de onde estamos não
salvífica e de espera pela volta de Jesus. Vê- conseguimos ver os dois ao mesmo tempo,
se uma disposição afetiva, um afeto que nos só poderíamos ver se subíssemos mais.
desloca, desfamiliariza-nos de tudo que era Contudo, a “montanha” a que ela se refere
“antigo” e nos põe abertos a uma não existe, é feita de “ar”, e só podemos
compreensão diversa. subir se formos puxados por Deus. Tentar
Voltando à Simone Weil (1993), superar as contradições ou ao menos as
notamos que sua forma de pensar é deveras mais radicais, usando da inteligência
radical, pois para estarmos na Graça representacional, é degradante (Weil,
nenhum consolo pode existir. A judia 1993). Nesse sentido, a Verdade implica
francesa insiste que, para alcançarmos o necessariamente em contradições.
vazio absoluto, uma infelicidade sem A compreensão e harmonia ou união
consolo deve se abater sobre nós. Sem entre contrários só se dão com a Graça. A
consolo, pois tudo que dá consolo ou que contradição é a ponta da pirâmide. Antes de
justifica o mal vivido nos afasta do vazio passarmos a outro tema, é importante que
onde Deus de fato pode entrar. Viver a dor saibamos que Simone morreu jovem, em
inteiramente, sem explicações ou Londres, tentando voltar à França em plena
justificativas, eis o que Simone nos propõe. segunda guerra mundial. Voltar à França
E vai além, insistindo que a imaginação e para lutar contra o nazifascismo, contra
muitas crenças tentam criar sentidos para a tudo aquilo que ameaçava a liberdade e o
dor e a infelicidade. Tentemos não amor. Doou toda sua vida ao que acreditava
preencher esse vazio, buscar isso é ser e tentou, sempre, compreender a vontade de
medíocre e nos afasta de Deus. O vazio Deus para sua vida.
referido é noite escura e a inteligência não
vai nos salvar, pois a inteligência é servil, só A daseinsanálise, a Psicologia Analítica, a
tem função de desobstruir o caminho que mística e os sonhos
está entulhado e que nos afasta do vazio
(Weil, 1993). Aqui vemos como Simone se Para Heidegger (Carneiro Leão,
aproxima de Mestre Eckhart (2004), pois o 2000), o Dasein é o guardião do Ser. Como
desapego, ser pobre de espírito é condição, guardião, o Dasein é abertura na qual os
necessária para a experiência de vazio, pré- envios do Ser se manifestam. Mas o Ser
requisito para que a Graça nos tome. Deus envia ao mesmo tempo que se retrai. O Ser
só pode estar onde nada há. Nossa alma é mistério, não há como dizer nada dele,
precisa estar desprendida do mundo para apenas há uma tentativa de apropriação de
que Deus se aproxime. Uma das temáticas seus envios, de seus sentidos. Mas como
mais importantes referidas por Simone Weil mistério o Ser se retrai em sua abissalidade.

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Contudo, para uma apropriação dos envios meu paciente, o sonho parecia indicar um
do Ser, faz-se necessário um silêncio, conflito existencial que se referia à
silêncio que permita ouvir o nada. É do nada espiritualidade. Nesse sentido, pode-se
e do mistério que o Ser envia e doa seu perguntar se os sonhos atuam como
sentido. Sem o silêncio próprio, só escuta- indicativos de abandono de possibilidades
se a técnica, sua produção e exigências. existenciais. Jung (1985) diria, pela
O Dasein é quem escuta, mas Dasein Psicologia Analítica, que os sonhos têm um
é essencialmente uma abertura, uma caráter compensatório. Compensatório no
clareira onde os entes podem aparecer e sentido de tentar reequilibrar o fluxo
onde são desdobrados seus significados. O energético, homeostase psíquica, que nos
próprio sentido de homem é desdobrado na neuróticos atua fortemente num sentido de
clareira do Dasein. Como ser-aí, o Dasein unilateralidade da consciência e uma recusa
não é um “lugar” fisicamente determinado da abertura aos processos inconscientes. Os
ou objetivado, mas a clareira onde o Ser doa sonhos, ao menos os “grandes sonhos”,
sentidos (Heidegger, 2001). segundo Jung, são atividades psíquicas que
Como abertura fundamental, o serviriam, por assim dizer, como “alarmes
Dasein redimensiona as representações de incêndio”. Assim, quando todo sistema
comumente relacionadas à Psicologia como psíquico está em crise de sobrecarga,
consciência, psique, etc., pois os conceitos especialmente quando há uma sobrecarga
tradicionalmente considerados devem ser de unilateralidade dimensional, os sonhos
olhados a partir do âmbito de desvelamento podem indicar ao ego a necessidade de
de sentido que o Dasein é. Em outras abertura a novas possibilidades existenciais,
palavras, representar, conceituar, significa requestionar-se e, talvez, iniciar o processo
objetivar, como se tais “objetos” fossem em de individuação.
si mesmos independentes de um Na daseinsanálise, o sonho pode ser
acontecimento de apropriação. interpretado, mas sempre tendo como
Enquanto a metafísica considera que referência o próprio paciente ou analisando.
o real pode ser capturado por conceitos, a A existência concreta do analisando é que
Fenomenologia volta à experiência e ao interessa na análise dos sonhos. Uma
fenômeno, pois os conceitos, as análise sobre o que os sonhos são, em geral,
representações sempre laçam os entes e os não cabe à daseinsanálise e sim a uma
paralisam em uma posição qualquer, mas análise ontológica, pois a daseinsanálise é
isso nada diz propriamente sobre os ôntica (Heidegger, 2001).
próprios entes ou ao menos diz muito Estabelecer leis gerais sobre os
superficialmente, sempre como perspectiva. sonhos dos homens não é o âmbito de
Como perspectiva, o mundo se atuação do daseinsanalista. O aspecto
apresenta extremamente fluido, dinâmico, fenomênico é central e importa
mutante, e o que se vislumbra abaixo e além compreender os sonhos naquele Dasein em
dele é a referida inospitalidade movediça, o particular. De modo semelhante, para a
nada. Nada, pois as coisas em si mesmas Psicologia Analítica, a vida do paciente, os
não são nada, são sempre dependentes da sentidos pelos quais vive o paciente,
trama de sentidos que os homens mobilizam forças inconscientes que
constituem e assim formam-se as simbolicamente surgem nos sonhos. Os
“tradições”. Tradições que se sedimentam a sonhos, assim, indicariam os padrões
partir e pelo modo representacional existenciais do paciente e até apontariam
metafísico de se pensar. Mas como a para possíveis sentidos não assumidos e que
daseinsanálise lida com os sonhos? Com o poderiam auxiliar na lida com as

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polaridades energizadas entre consciente e procure nada por trás dos fenômenos, eles
inconsciente. próprio são a lição”.
Heidegger (2001) nos diz que não Nesse sentido, a experiência do
podemos tomar o sonho como um âmbito paciente ou analisando é central para a
objetivo independente do ser no mundo. Fenomenologia. Desse modo, os conteúdos
Sonhar é ser no mundo e está intimamente que aparecem nos sonhos indicam o modo
relacionado com o estado de vigília. A de existir do Dasein, para que
vigília é pré-requisito para se sonhar, pois possibilidades existenciais ele está aberto
só se fala e só se interpreta um sonho ou não. Assim, uma imagem onírica pode
estando acordado. A historicidade cotidiana levar o Dasein a analisar como ele mesmo
do Dasein é o âmbito não objetivo em que o se relaciona em seu mundo; com que
sonho se ancora. Em outras palavras, posso afinações o Dasein está vivendo; quais seus
dizer que interpretar um sonho é interpretar modos de relacionamento com os entes
o mundo do Dasein, sua existência como intramundanos, especificamente com o
um todo. Mas é possível que o sonho possa conteúdo significativo que a imagem
tematizar algum aspecto ou aspectos da onírica aponta. Pode-se perguntar então:
existência pouco apropriados ou nada que significados estão relacionados com a
apropriados pelo Dasein. Assim, o sonho imagem sonhada pelo Dasein? Que aspecto
seria um indicativo de possibilidades fenomênico está aberto para a apropriação
existenciais não apropriadas pelo Dasein. do Dasein? Quando desperto, o Dasein
Diferentemente de Jung, o sonho na poderá voltar sua atenção para âmbitos de
daseinsanálise não teria um caráter seu mundo que não estavam apropriados
objetivamente compensatório, podendo anteriormente.
assumir tal característica num analisando Para Boss (1979), não podemos
concreto, mas poderia ser compreendido abandonar o mundo do Dasein, seus modos
como âmbito de ampliação de uma reflexão de relação e sua experiência com os entes.
sobre possibilidades existenciais. Os sonhos Entes que podem aparecer nos sonhos e
mostram-se por si mesmos, são o mundo do assim apontar para possibilidades que
analisando. Ainda sobre sonhos, deve-se merecem atenção e apropriação pelo
compreender que eles não ocultam Dasein. Neste trabalho, Boss talvez
propriamente nada, nem são consequência perguntasse a Paulo de que modo ele
de nenhum processo causal, eles são o que relaciona-se com o divino, a espiritualidade
mostram, e mostram o Dasein em seu e como esse fenômeno faz parte de seu
mundo. mundo; sob que afinação ou disposição
Pensando como Heidegger, Boss afetiva Paulo experimenta a
(1979) indica-nos como um daseinsanalista espiritualidade? Podia perguntar também:
deve lidar com os sonhos. Caso tentemos como a religião ingressa em suas
realizar interpretações que levam a experiências?
explicações e teorias que sustentam a noção No universo da psicoterapia,
de que há algo, por assim dizer, por trás e Heidegger compreende a “doença” como
escondido sob a imagem aparente dos uma limitação das possibilidades
sonhos, como se eles fossem “coisas em si existenciais do analisando. A questão
mesmos”, não compreenderemos o fundamental nesse âmbito é a liberdade.
significado de uma interpretação A limitação da liberdade é fonte de
fenomenológica dos sonhos. Devemos, adoecimento. Nesse sentido, o que a
afinal, seguir o aforismo de Goethe: “Não daseinsanálise entende por psicossomática
diz respeito a um modo próprio que o

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Dasein está no mundo e não propriamente à conveniente uma análise de uma sequência
referência a duas dimensões do homem. O de sonhos, pois, assim, o terapeuta poderá
Dasein é ser no mundo, desse modo, quem olhar para uma gama maior de perspectivas
adoece é a existência, a maneira que o referidas à vida do paciente. Desse modo,
Dasein é no mundo, suas relações de sentido tanto para Jung quanto para a daseinsanálise
é que estão limitadas a dimensões pouco é razoável uma análise de um número maior
flexíveis, fechadas em sentidos fixos e de sonhos. Assim, tomei a decisão, com
impróprios. Os significados disponíveis dos meu paciente, de analisar os sonhos em
entes intramundanos estão aprisionados a conjunto e não isoladamente, mas, como
um horizonte de sentido e tais entes sempre disse anteriormente, aqui neste trabalho não
surgem em condições unidimensionais. foi possível uma análise de uma sequência
Assim, para Sá (2017), referindo-se a de sonhos. Novos trabalhos virão que
Medard Boss, problemas respiratórios, por poderão complementar o conteúdo deste
exemplo, podem estar associados a âmbitos artigo.
vitais do analisando; não há vida sem Um aspecto do sonho que não pode
respiração. Respirar, sopro vital, são os passar desapercebido é a ligação com a
sentidos originários para a alma, psychê. terra. Há um ambiente rural, de ligação com
Therapeia quer dizer cuidado. a natureza, parece remeter a um
Desse modo, psicoterapia significa enraizamento que precisa ser resgatado.
cuidado pela vida, pela alma (Sá, 2017). Talvez possamos encontrar em Heidegger
Vida que se mostra por si mesma, em que alguns apontamentos para um entendimento
não há representações explicativas que a do aparecimento da “terra” nos sonhos de
julgam, determinam, condicionam, limitam. Paulo. Para Heidegger (Bornhein, 2001), há
No caso de meu paciente, o sonho uma distinção fundamental entre mundo e
indicava que âmbitos existenciais terra. No primeiro, trata-se do que se expõe,
fundamentais para ele estavam soterrados e do que aparece, que se sustenta em abertura
sob pouca atenção. Referimo-nos e na luz. Ele cita por exemplo o templo
especialmente à espiritualidade. Dogmas, grego que mantinha na “luz” os sentidos
regras e leis podem literalmente matar o mais centrais da cultura daquele tempo e
espírito, matar a vida ao assumir uma encontrávamos no templo toda a atmosfera,
unilateralidade dimensional própria da o estilo e modo de ser do mundo grego. No
metafísica e da verita. mundo vemos, vemos os sentidos, os
E quanto ao sonho da cruz de São significados disponíveis num certo
Francisco? Como seria sua análise? horizonte. Na terra está o mistério, o que se
Precisamos discutir, antes, com Jung recolhe nas sombras, nas raízes, o que se
(1985), que os sonhos são melhor oculta e de onde poderá advir outros
compreendidos numa sequência e não é tão mundos. Mundo e terra estão sempre em
bom analisá-los isoladamente. Meu conflito, o eterno conflito entre luz e
paciente apresentou uma série de sonhos sombra, o conflito entre o que se conhece e
com a temática espiritual, mas, para o o mistério. Esse conflito é ontológico, não
objetivo deste artigo, resolvi selecionar um poderá se resolver em nenhuma dialética no
único que parece condensar sentidos sentido hegeliano. A tensão permanece
fundamentais para a existência de Paulo. sempre. É uma tensão que demanda
Para a daseinsanálise, a atenção, pois dela pode advir o que há de
interpretação isolada é possível. Mas, se os mais criativo e produtor de variações. Nesse
sonhos apontam para a existência do sentido, pode-se afirmar que luz e sombra,
analisando (Boss, 1979), é bastante mundo e terra, numa linguagem junguiana,

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é compreendido como consciência e Não podemos deixar de fora dessa


inconsciência. Afinal, a sombra é por discussão o Mestre Eckhart (Giachini,
excelência o arquétipo do mistério, do que 2009), pois ele se refere à terra, origem,
se oculta, do que está em tensão com a “luz” humus, informe que de onde tudo poderá
da consciência. E aqui posso antecipar o que advir, forma que se sustenta no que não tem
entendo como intersecção entre a forma. Novamente fala-se de tensão entre
daseinsanálise e a Psicologia Analítica: o opostos, forma e informe, ser e nada. Com
mistério. Sim, o mistério que é ontológico, o mistério em jogo, não há vida sem tensão,
isto é, não será “esvaziado” por nenhum sem angústia, sem perpétuo jogo de luz e
trabalho terapêutico. O que efetivamente o sombra, morte e vida, amor e dor.
referido trabalho terapêutico poderá fazer é Polaridades que não desaparecerão, mas
apontar para um olhar atento aos envios poderão receber sobre si sentidos que
criativos do inconsciente que polarizam auxiliem o paciente a lidar com elas,
com a consciência unilateral. sustentando-as. A individuação como
Nos sonhos de Paulo, parece haver processo, diria de modo arriscado e talvez
um apelo para uma atenção à “terra”. Terra precipitado, pode ser vista como uma
que sustenta e ambienta os sonhos, mistério experiência espiritual, pois, afinal,
que Paulo não deve mais recusar a olhar. individuar-se é abrir-se para os sentidos
Paulo deve assumir seu Hades, seu reino doados pelo inconsciente.
dos mortos, lidar com a morte, abrir-se para É importante deixar claro que toda
o mistério em última instância. interpretação sugerida aqui foi amplamente
Nessa mesma trilha de pensamento, discutida com meu paciente, nada é
Von Franz (1985) afirma que o encontro do resultado de mera especulação teórica de
feminino, da criatividade, da abertura, é minha parte. Assim, prosseguindo com a
talvez a principal demanda de nosso tempo, análise, o sonho da cruz de São Francisco
pois o mundo lógico, racional, científico, parece ser fundamental para uma
debilitou âmbitos existenciais que não são compreensão mais geral de como Paulo é no
de imediato apreensíveis, como o próprio mundo, de como ele acolhe e dá sentido a
inconsciente. Feminino tem a ver com toda trama de significados que o envolve,
mistério, aquilo que não se toma e controla, seu mundo em última instância.
o que escapa e, por isso mesmo, é criativo. O sonho se inicia na mesma fazenda
Criatividade que encontramos no dogma da de sua infância, Mangal. Paulo foi muito
assunção de Maria. Sim, Maria, âmbito feliz lá, nada o preocupava propriamente,
feminino que entra em relação com o divertia-se, relacionava-se, projetava seu
masculino do Deus judáico-cristão. A futuro, amava. Amava sua vida de menino e
Trindade não tem nenhum elemento de adolescente. E nesse tempo era um
feminino, e Maria, a mãe de Deus, mesmo menino que sentia Deus, rezava e acreditava
não sendo deusa para a dogmática cristã, na presença de uma intenção amorosa em
agrega o elemento terra, carnal, feminino, à tudo que vivia. Foi dessa forma que Paulo
divindade e, mais uma vez, o “quaternio” descreve para mim esse período de sua vida.
está composto. Considerando que a Acontece que ao crescer, ao enfrentar um
quaternidade remete à totalidade, ao âmbito grave problema de saúde e vivendo numa
de mistério que é pano de fundo da família nada religiosa, todo esse “espírito”
existência (Jung,1987). A totalidade místico parece ter sido posto de lado, ou ao
misteriosa está simbolizada no sonho de menos Paulo cessou de olhar para ele.
Paulo e sua consciência está convocada a A partir do que foi dito sobre mundo
lidar com isso. e terra, tem-se a impressão que o âmbito de

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mistério inerente à vida de Paulo, menino, Se, como vimos, a espiritualidade é


foi sendo esquecido. Certamente, esse olhar uma postura existencial de plena abertura, a
místico sobre o seu mundo tem a ver com explosão criativa do mundo, se é uma
todas as indicações imagéticas responsabilidade pelo que vivemos e um
contraditórias que o sonho apresenta: responsabilizar-se pelo mundo que
mística sem templos; presença de homens e construímos, a mística pode ser vista como
mulheres no sonho; não é exatamente dia uma experiência que está intimamente
nem exatamente noite; a cruz negra está relacionada à espiritualidade. Certamente
fincada sobre a areia branca; cruz de há espiritualidade sem mística e, diria até,
madeira maciça sobre uma areia permeável. mística sem espiritualidade, mas há uma
Talvez possamos pensar que uma possibilidade de ambas surgirem na
disposição afetiva, como a que tem a experiência de alguém, e parece ser assim
experiência mística, exige a presença de com Paulo. Pelo que escrevemos até aqui,
contradições que o pensamento lógico acontece o mesmo com Simone Weil e com
representacional não poderá dar conta. Mestre Eckhart. Ambos experimentam
A experiência mística faz o mundo Deus e ambos transformam-se
abrir-se em todos os seus âmbitos de radicalmente, abrindo-se para um amor
variabilidade conflitiva, contraditórios. pleno pela humanidade, pela vida e um
Assim, pode ser que Paulo tenha tentado acolhimento do sofrimento como algo
“livrar-se” da dúvida, da angústia dos próprio ao homem.
conflitos, assumindo uma lógica metafísica Ao ouvir e ver as mulheres dos
antirreligiosa familiar, o que fez a afetação pescadores em Portugal, Simoni Weil
dispositiva da mística recuar e um caráter transforma-se e a partir de então ama e
unidimensional se apresentou em sua vida, entrega-se à partilha do sofrimento. De
adverso ao mistério. A consciência assume modo semelhante, Mestre Eckhart entrega-
um caráter unilateral e os sonhos se, abandona-se à vontade de Deus. O
compensam tal escolha existencial. E talvez homem é abrigado na vontade de Deus,
o mistério que mais nos amedronte seja buscada, encontrada e sustentada. Nesse
justamente a morte. sentido, o encontro da cruz de São
Abrir-se para o si mesmo mais Francisco é significativo para Paulo. Ali
próprio era o caminho que Paulo procurava. estamos diante de um chamamento. Sim,
Redimensionar sua existência para âmbitos chamamento a viver uma espiritualidade
que ele mesmo abandonou era fundamental franciscana. Para Paulo, essa vocação não
para uma mais ampla compreensão de seu significava entrar para a Ordem ou assumir
sofrimento. A espiritualidade não podia uma vida propriamente religiosa no sentido
permanecer esquecida na vida de Paulo. institucional, mas sim tinha o sentido de não
Mas, para um amplo Encontro com abandonar e, ao contrário, buscar valores
espiritualidade, ele precisava apropriar-se que perpassem o modo de vida franciscano.
de sua disposição mística de abertura de Neste trabalho, não poderemos
mundo. Experiência mística que desenvolver tudo que significa um “modo
simbolicamente assumia imagens do de vida franciscano”, utilizando as palavras
feminino (Von Franz, 1985), com a de Paulo, mas, superficialmente,
presença de mulheres, da noite, da areia, da identificamos, mesmo em seus sonhos,
cruz negra, da terra. Imagens que alguns aspectos centrais: uma relação
polarizavam com outras imagens como o amorosa com a natureza, acolhimento das
dia, o menino e o próprio sonhador. diferenças, desapego a bens materiais, não
institucionalização, entre outros.

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mundo contemporâneo. Mundo que persiste


Considerações finais em delimitar fronteiras, estabelecer
protocolos, fixar afetos. Mas as
Para terminarmos, lembrei-me de experiências espirituais que aqui desfiamos
que o Mestre Eckhart costumava se referir e suas disposições afetivas insistem em se
“aos pobres de espírito”: “Bem-aventurados rebelar. Será que temos um Deus para nos
os pobres de espírito” (Mateus, 5:3). Para o salvar? Talvez tenhamos um Deus, o Ser ou
Mestre Eckhart, pobres de espírito são os mesmo o nada e o Nada.
que têm o coração desprendido. São os que Como dissemos algumas vezes
se desapegam das criaturas e não se mantém neste artigo, a Psicologia Analítica também
lançados, privilegiadamente, preocupados e apela para um questionar radical dos
ocupados com os entes. São os que mantêm padrões objetivantes que escravizam o
a “boa distância”. São aqueles que volvem homem em seus limites de sentido. A
o olhar para Deus, para a luz que faz os individuação como processo é a ruptura
entes aparecerem. Talvez Heidegger com sentidos assumidos, mas não tornados
pudesse fazer advertência similar, e acredito próprios. E é no caminho da individuação
que o faça, ao menos veladamente, ao nos que podemos encontrar e reencontrar
apontar para o mundo do impessoal, onde sentidos e, assim, redesenhar nossa
nos sustentamos deveras ocupados e existência, nos tornando quem somos. A
preocupados e afastados do Ser que desvela partir de quem nos tornamos, individuando-
e envolve tudo que há. nos, estamos, possivelmente, aptos a
Heidegger leva o mistério às suas mudanças e mais abertos para novos
últimas consequências. Faz assim por trazer tornares.
a Fenomenologia como método para se Este trabalho é um simples apelo
aproximar de tais experiências. Desse para que nosso olhar “veja criadoramente”,
modo, não há como estabelecermos um que vejamos a existência como esse
sentido objetivo para a mística e outras lançamento às explosões de significados, de
experiências espirituais. A mística poderá, encontros e Encontros. A daseinsanálise e a
talvez, neste artigo, ser vista como algo, não Psicologia Analítica podem ser boas
objetivável, que é guia, que aponta uma auxiliares para que nós, e os outros,
direção, mas que nunca compreenderemos estejamos “vendo”. E quem “vê” é
em absoluto, que não é alcançável, mas que necessariamente o espírito, não os olhos, a
permanecemos buscando. Nesse sentido, visão, e, sim, o olhar criador e atento do
seria bom pensarmos na atenção criadora de espírito volvido ao Ser. O Ser envia, mas
Simone Weil e olharmos para o mundo a não é. O Ser desvela, mas não pode ser
partir de novos vieses. A vida de Simone foi essencializado. Talvez em nossa vida
profundamente transformada, seu mundo permaneçamos onticamente trabalhando,
assumiu, como vimos, novos matizes, dores criando e recriando, copiando e usando
e amores. Também como Mestre Eckhart, técnicas, talvez tudo isso seja inevitável,
Simone Weil compreendia e apropriava-se mas não nos esqueçamos do Ser e de Deus.
de sentidos que ultrapassavam o cumprir Sim, de Deus, mas aquele Deus de Eckhart,
técnico e objetivo do mundo cotidiano. de Weil e de Paulo, Aquele que nos
Aqui talvez encontremos um sentido geral Encontra amorosamente, que nos
para este trabalho: apontar para âmbitos transforma em amor responsável por tudo e
espirituais da existência e suas disposições todos e se retrai e sustenta-se na
afetivas, que, possivelmente, fiquem abissalidade.
obscurecidos nesse furor calculador do

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Psicologia Analítica

Este trabalho é simples, simples Heidegger, M. (2001). Ensaios e


porque fala de algo pequeno e quase conferências. Petrópolis, RJ: Vozes.
invisível, que onde estivermos, e seja o que Heidegger, M. (2001). Seminários de
estejamos fazendo, lembremos que pode Zollikon. São Paulo: Educ; Petrópolis,
haver algo mais além, adiante, não visto, RJ: Vozes.
não ouvido, mutante, aberto, inconsciente, Holanda, A. F. (2014). Fenomenologia e
misterioso. Mistério do Ser, mistério do humanismo: reflexões necessárias.
inconsciente, ambos não conceituáveis e Curitiba: Juruá.
apropriáveis, ambos doadores de sentidos. Jung, C. G. (1985). Fundamentos de
Terminamos com mais contradições, pois Psicologia Analítica. Petrópolis/RJ:
Ser e inconsciente não são a mesma coisa, Vozes.
não são sinônimos, não são objetiváveis, Jung, C. G. (1987). Psicologia e religião.
diria até que são inconciliáveis, mas unem- Petrópolis/RJ, Vozes.
se na doação, no sentido entregue a nós. Marcondes, D. (1997). Iniciação à História
da Filosofia: dos pré-socráticos a
Referências Wittegenstein. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar.
Boff, L. (2001). Espiritualidade: um Otto, R. (2007). O Sagrado: os aspectos
caminho de transformação. Rio de irracionais na noção do divino e sua
Janeiro: Sextante. relação com o racional. São
Bíblia Sagrada. (2002). São Paulo: Editora Leopoldo: Sinoda/EST;
Ave Maria; Editora Claretiana. Petrópolis/RJ: Vozes.
Bingemer, M. C. L. (2007). Simone Weil: a Sá, R. N. (2017). Para além da técnica:
força e a fraqueza do amor. Rio de ensaios fenomenológicos sobre
Janeiro: Rocco. psicoterapia, atenção e cuidado. Rio
Bornheim, G. (2001). Metafísica e finitude. de Janeiro: Via Verita.
São Paulo: Editora Perspectiva S.A. Sapienza, B. T. (2007). Do desabrigo à
Boss, M. (1979). Na noite passada eu confiança: daseinsanályse e terapia.
sonhei... São Paulo: Summus. São Paulo: Escuta.
Carneiro Leão, E. (2000). Aprendendo a Sapienza, B. T. (2015). Encontro com a
pensar (Vol. 2). Petrópolis/RJ: daseinsanalyse: a obra Ser e Tempo,
Editora Vozes. de Heidegger, como fundamento da
Carneiro Leão. (2002). Aprendendo a terapia daseinsanalítica. São Paulo:
pensar (Vol. 1). Petrópolis/RJ: Escuta.
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sermões 1 a 60. Petrópolis: Vozes; Weil, S. (1987). Espera de Deus. São Paulo:
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desprendimento e outros textos. São
Paulo: Martins Fontes. Recebido em: 31/7/2019
Giachini, E. P. (2009). Introdução. In M. Aprovado em: 29/10/2019
Eckhart. Sermões alemães: sermões 1
a 60. Petrópolis: Vozes; Bragança
Paulista: Universitária São Francisco.

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