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A interpretação dos sonhos, obra na qual nos apoiaremos nesta dissertação, é considerada a
obra fundadora da psicanálise, e, além disso, possui grande valor na literatura universal ,sendo
ela considerada um clássico.
Segundo Ítalo Calvino - Por que ler os Clássicos: “Clássico é um livro que nunca terminou de
dizer aquilo que tinha para dizer” (p.11).
Clássicos também são explicados como obras que não envelhecem e não perdem sua validade
no decorrer dos anos.
Por esse motivo, nos debruçamos sobre “A interpretação dos sonhos”, A fim de aprender
aquilo que não cessa de nos falar através de suas incríveis páginas.
Publicada em 1899, a interpretação dos sonhos foi datada de 1900 porque Freud desejava que
ela representasse um marco para o século XX.
E, assim se deu, essa obra está entre as principais obras do século supracitado. No início, não
teve o reconhecimento esperado, mas ele veio no decorrer dos anos.
Embora o livro tenha sido publicado em 1899, ele começou a ser escrito por volta de 1897, e é
o livro mais revisado da obra freudiana, de modo que é difícil de se encontrar os originais em
nossos dias.
Suas teorias revolucionaram o campo das ciências mentais, e em sua época, foi alvo de muitos
preconceitos por seus pares, na verdade, ainda hoje é objeto de muitas controvérsias.
O inconsciente fora estudado desde a antiguidade, mas, a partir da obra freudiana, ele toma
um novo rumo. Pois é a partir dela que se estabelece um conceito do que é o inconsciente. O
livro A interpretação dos sonhos junta ideias pré-psicanalíticas, relatadas, por exemplo, na
obra “Estudo sobre histeria” de Freud e Breuer, com as ideias desenvolvidas por Freud sobre
os sonhos a partir de sua auto análise e da análise de casos que recebia em seu consultório.
“A minha auto análise cuja necessidade surgiu com toda a nitidez, foi realizada com auxílio de
uma série dos meus sonhos, que me conduziram através de todos os acontecimentos da
minha infância; e mantenho a opinião de que essa espécie de análise pode bastar a quem for
um bom sonhador.
“Quando me perguntam como pode alguém tornar-se psicanalista, respondo: pelo estudo dos
seus próprios sonhos”.
(Vocabulário de psicanálise, p. 7)
A tese central da obra é o sonho como realização de um desejo. Acontece que esses desejos
estão reprimidos e não podem ser aceitos e realizados conscientemente. Buscamos esquecê-
los e os recalcamos, no entanto, desejo recalcado não é desejo neutralizado, e ele, mesmo
“guardado”, continua a encontrar meios de descarga através dos sonhos e sintomas.
Os sonhos e os sintomas são, então, realizações substitutivas dos desejos que não podem ser
realizados conscientemente.
“ É fácil provar que os sonhos amiúde se revelam, sem qualquer disfarce, como realizações de
desejos, de modo que poderá parecer surpreendente que a linguagem dos sonhos não fosse
compreendida desde há muito. Por exemplo, existe um sonho que eu posso produzir em mim
mesmo quantas vezes eu queira – experimentalmente, por assim dizer. se eu comer anchovas
ou azeitonas ou qualquer outro alimento muito salgado à noite fico com sede durante a noite,
e esta me despertará. Porém, meu despertar é precedido por um sonho, e isso sempre possui
o mesmo conteúdo, a saber que estou bebendo. Sonho estar engolindo água em grandes
goles, com o sabor delicioso que nada pode igualar a não ser água fresca quando se está
ressequido de sede. Em seguida acordo e tenho realmente que beber. Esse sonho simples é
ocasionado pela sede da qual me torno cônscio quando desperto. A sede dá lugar ao desejo de
beber, e o sonho me indica esse desejo realizado.”
Esta obra de interpretação dos sonhos apresenta a primeira estruturação de conteúdos que
visa uma interpretação científica dos conteúdos oníricos. O método freudiano, para tal,
consiste em uma análise do conteúdo manifesto: aquele que se mostra a observação e que se
faz na fala do sonhador; e, através da análise do conteúdo manifesto é possível chegar ao
conteúdo latente, ou seja, conjunto de significados vindos do inconsciente. Símbolos que vão
sendo decifrados em análise e representam restos diurnos, recordações da infância,
impressões corporais, alusões a situações de transferência e daí por diante. Estes conteúdos
chamados latentes são os conteúdos reais da composição do sonho e são distorcidos pelos
mecanismos de defesa como meio de proteção dos conteúdos inconscientes do sonhador.
Podemos resumir que o conteúdo manifesto é o conteúdo tal qual o sonhador se lembra, e o
conteúdo latente é o conteúdo tal qual o sonho se dá durante o sono.
“Uma das Fontes da qual os sonhos retiram material que, em parte, não é nem recordado nem
utilizado nas atividades do pensamento de vigília é a experiência da infância.”
“ mesmo o homem mais amante da verdade, raramente pode relatar um sonho digno de nota
sem nenhum acréscimo ou retoque.”
Embora ‘o livro de ouro' de Sigmund Freud não ter sido bem recebido nos primeiros anos, o
que causou, ao pai da psicanálise, muito desconforto no decorrer dos anos e décadas a obra
teve o seu valor reconhecido não apenas no campo psicanalítico, mas em todas as esferas de
estudos humanísticos. Hoje, um clássico da literatura mundial, a obra ainda nos fala sobre
coisas que precisamos ouvir.
Essa importância da obra freudiana “A interpretação dos sonhos” é fácil de se perceber uma
vez que passados mais de um século a obra continua sendo estudada por muitos, a fim de,
desbravar o universo onírico e inconsciente do ser humano.
Referências:
FREUD, Sigmund Freud. A interpretação dos sonhos. Imago: Edição Standard Brasileira das
obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol IV (primeira parte). Ed 2. Rio de Janeiro,
1969.
FREUD, Sigmund Freud. A interpretação dos sonhos. Imago: Edição Standard Brasileira das
obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol V (segunda parte). Ed 2. Rio de
Janeiro,1969.
CALVINO, Ítalo Calvino. Por que ler os clássicos. Companhia das letras. São Paulo, 2° Edição,
1993.