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Iago Morbi
Base Teórica
Contexto histórico
A Alemanha possui uma história bem distante do padrão europeu. Surgindo apenas em
1871. Por conta desse surgimento tardio sob pressão do capitalismo, a Alemanha acabou se
desenvolvendo sob a influência de ciências como história, economia e antropologia, cada vez
mais especializadas dentro do contexto do positivismo. Max Weber nasce em Erfurt, em uma
família liberal. Estudou filosofia, história e direito. Foi professor da Universidade de
Heidelberg e acompanhou a organização da Alemanha como Estado Nacional.
Weber elaborou uma interpretação da origem e do significado do sistema capitalista,
acreditando que o mesmo era fruto de determinada característica do desenvolvimento humano
e produto da organização dos indivíduos. O capitalismo foi produzido a partir de uma postura
perante a vida, postura que surgiu antes da edificação do capitalismo como sistema. Weber
acreditava que os processos sociais não eram explicados apenas pelo fator econômico:
percebendo a importância de crenças, valores e ideias individuais e sociais como também
necessários para a compreensão dos fenômenos.
O positivismo possui caráter universalista ou seja, aceita a industrialização e
urbanização como padrão e modelo a ser seguido. Weber era contrário a isso, posicionando-se
como particularista, demonstrando a importância da compreensão da diversidade, fugindo de
comparações. Weber buscava associar a perspectiva histórica e sociológica. A primeira
respeitando individualidades de cada sociedade e a segunda destacando elementos mais
gerais. É importante ressaltar que o foco de Weber era estudar as estruturas sociais,
preocupando-se também em estudar as religiões, relacionando-as com crenças e formações
políticas. Mas foi nas ações sociais que encontrou seu objeto de estudo.
Ação Social
De acordo com Weber, cada indivíduo age por uma razão ou motivos, quer dizer que
as regras só se tornam regras quando o indivíduo as aceita sob forma de motivação (adesão
íntima). O motivo que leva o indivíduo a agir ocorre por meio da tradição, emoção ou
interesses racionais. É o indivíduo quem dá sentido à sua ação social. Com Weber
acreditando que o cientista social deve descobrir os possíveis sentidos das ações humanas. O
objetivo da ação do sujeito é compartilhado entre os participantes do ato, aí se encontra uma
ação social, que permite ao cientista compreender as tendências dos indivíduos e compreender
os agentes que dão sentido à ação social.
Weber vai contra a maioria dos pressupostos positivistas, especialmente o que pede
um posicionamento de neutralidade. Weber acreditava que o cientista também podia ser
guiado por motivações, tradições, costumes e cultura o impedindo de descartar o que já
possuía. Basicamente, sempre existe uma parcialidade do cientista social.
Para a construção das explicações sociais, Weber sugere um instrumento que ele
chama de tipo ideal. Uma construção abstrata a partir de casos particulares já vividos por uma
sociedade, permitindo observar afinidades e diferenças entre o que já foi estudado e o que se
quer comprovar. Por exemplo, quando falamos em “políticos”, pensamos em um tipo ideal:
pessoa que se ocupa de assuntos públicos, eleito por voto popular e etc. Quando falamos de
professores, imaginamos aulas, espaço escolar, avaliação e etc. Esses e outros exemplos são
construções mentais, não correspondem totalmente à realidade mas se aproximam. Quando
estabelecemos tipos ideais, realçamos características mais comuns.
O tipo ideal não é um modelo perfeito, mas sim um instrumento de análise científica e
construção do pensamento que torna possível conceituar fenômenos e manifestações, sem a
pretensão de reproduzir fielmente. Sendo possível ainda que cada pesquisador social
estabeleça suas próprias construções teóricas de acordo com os aspectos da realidade.
Weber definiu o Estado em seu texto “Política como Vocação de 1919, quando afirmou “é
preciso conceber o Estado contemporâneo como uma comunidade humana que, nos limites
de um determinado território [...], reivindica com sucesso para si próprio o monopólio
legítimo da violência física”. Partindo dessa afirmação, podemos apontar que o Estado tem
três características enquanto instituição social:
CONTROLE BUROCRACIA
DA FORÇA
ESTADO
DOMÍNIO
SOBRE UM
TERRITÓRIO
Quando Weber afirma que o Estado detém o monopólio legítimo da violência ele
demonstra a ligação direta entre o Estado e força. Não que o Estado deva necessariamente
agir com violência. O uso da palavra legítima usada por Weber limitaria a atuação de um
governo, visto que este precisaria receber o comando a partir do consentimento da sociedade
que representa. Resumindo os três tipos de dominação que legitimam o monopólio da força:
Weber acredita que o que dá legitimidade para o uso de força do Estado é o aval da
sociedade em que se edifica. O mesmo também repensou o modelo de classes sociais
preferindo o termo situações de classe, as quais se encontravam ligadas à situações de acesso
a bens materiais e renda. A variação e o posicionamento de uma pessoa em uma classe social
se encontra condicionada a educação, propriedade, qualidade individuais e habilidades. Weber
acreditava que classificar uma sociedade somente por classes de proprietários e não
proprietários dos meios de produção seria insuficiente, falando sobre o conceito de classe
média.
Contribuição da antropologia
A sociologia nasce como ciência para estudar os fenômenos sociais europeus
decorrentes do processo produtivo industrial. Novos mercados, áreas fornecedoras de
matérias-primas e fontes de energia, a necessidade da montagem de novos meios de produção
fora do continente europeu, trouxe também a necessidade da partilha da África e Ásia, o
imperialismo europeu em si. A partir do novo colonialismo, as nações industrializadas
europeias começaram a ocupar os continentes africano e asiático.
E o que foi encontrado nesses continentes? Características totalmente diferentes dos
padrões europeus: agricultura de subsistência, poligamia, analfabetismo amplo, disputas
territoriais, brigas entre tribos rivais, rituais diferentes, basicamente padrões de vida
totalmente diferentes dos encontrados na Europa urbana, industrial, capitalista e imperialista.
Funcionalismo de Malinowski
Quando surgem as ciências humanas e a antropologia, elas servem aos interesses do
capitalismo industrial. Com as teorias de Darwin se fazendo presentes e utilizadas como base
para que o europeu acreditassem que os seres humanos estivessem em diferentes estágios do
desenvolvimento. Segundo a teoria evolucionista, os europeus urbanizados estavam em graus
mais avançados e complexos de existência, e os não europeus em condição de atraso e
primitivismo. Devendo serem estudadas em sua evolução genética e social.
A escola antropológica do estruturalismo surge no século XX em oposição ao
evolucionismo. O pioneiro do funcionalismo antropológico foi Bronislaw Malinowski,
polonês viveu por 4 anos entre os habitantes das Ilhas Trobriand em Nova Guiné. De acordo
com essa teoria funcionalista, as sociedades não deveriam ser comparadas, mas sim estudadas
de maneira particular. Visto que cada sociedade possui sua totalidade de acordo com as
necessidades essenciais de seus integrantes. Não se pode julgar o diferente do europeu como
atrasado porque sua visão de vida é diferente.
Malinowski acreditava que o antropólogo deveria observar cada detalhe da estrutura
social que se quer estudar, e em seguida apontar o que há de mais importante para o
entendimento da sociedade. Outro adepto do funcionalismo foi Radcliffe-Brown, estudou os
nativos das Ilhas Andaman no Golfo de Bengala, confirmando as teorias de relativismo
cultural de Malinowski. Ambos autores conseguiram acabar com a tese evolucionista ao
demonstrarem os não europeus como membros de sociedades com culturas e instituições, que
sofreriam aculturação quando em contato com o europeu e a visão capitalista. A crítica ao
funcionalismo é a ausência da análise dos conflitos sociais nas sociedades estudadas,
compreendendo-as como harmônicas.
Estruturalismo antropológico
Claude Lévi-Strauss nasceu em 1908 e lecionou na USP entre os anos de 1935 e 1938.
Isso lhe permitiu fazer expedições pela região amazônica onde conviveu com indígenas
bororo e nambikwara, firmando as bases do que seria conhecido como estruturalismo
antropológico. Sendo uma extensão e complemento da escola funcionalista, que amplia a
visão da antropologia enquanto ciência no momento em que aceita a experiência de todas as
sociedades consideradas tradicionais (não capitalistas) e complexas (capitalistas) afirmando
que as diferenças entre elas só podem ser explicadas por meio da história de cada sociedade e
da relação que as mesmas mantém com o meio natural em que vivem.
Os estruturalistas afirmam que só viver entre os diferentes e observar funcionamento
de sua estrutura social não é o suficiente deve-se entender como funciona e porque funciona
de determinada forma. Cada sociedade possui diferenças referentes Às suas manifestações
culturais e no que consideram patrimônio cultural. A maneira como uma sociedade é
estruturada depende dos recursos naturais e dos instrumentos de trabalho de que ela dispõe
para se reproduzir.
Antropologia contemporânea
A antropologia nos dias atuais busca “desconstruir”, buscando entender a visão de
mundo do indivíduo perante o que vive o planeta, vendo como o global se articula com o
local. Desta forma, antropólogos contemporâneos tem buscado entender as consequências do
desenvolvimento do capitalismo e da globalização, que acabam aproximando modos de vida
que quebram com processos de identidade individuais e coletivos. Abandonando a busca por
formas de identidade regulares para focar em pesquisas de mecanismos de identidade cultural
e política.
A antropologia vem cada vez mais se integrando a outras disciplinas, como a
Sociologia, História, Psicologia e Economia, realizando pesquisas no mundo indígena, espaço
agrário ou meios urbanos, buscando a identificação dos problemas do país, estes que se
refletem sobre os indivíduos e grupos. Essa tendência é ligada ao propósito de se entender a
cultura popular, as questões de gênero, de identidade, família, religião e minorias. Focando
em demonstrar como fenômenos sociais são produzidos em países contraditórios, modernos,
com raízes tradicionais e étnica e socialmente injustos, a exemplo o próprio Brasil.
EXERCÍCIOS
1. (Uel 2019) Leia o texto a seguir. 16) é denominado “ideal” por representar um objetivo que
deve ser buscado pelas sociedades estudadas.
Após assinar o decreto que estabeleceu a intervenção
federal na segurança pública do Rio de Janeiro, o 3. (Ufu 2018) No século XVIII, Condorcet inventou a
presidente Michel Temer justificou a medida dizendo matemática social, com a qual pretendia aplicar o
“(...) que o crime organizado quase tomou conta do cálculo às ciências morais e políticas. No XIX, Comte
estado do Rio de Janeiro. É uma metástase que se definiu a Sociologia como física social, Spencer propôs
espalha pelo país (...)”. Destacam-se no crime o estudo do comportamento humano como órgão
organizado as milícias privadas, grupos formados para biológico e Durkheim definiu o fato social como coisa.
atuarem em comunidades urbanas de baixa renda, os Ao longo desse percurso intelectual, fundava-se a
quais, sob a alegação de “manter a ordem e a Sociologia como disciplina autônoma.
segurança”, praticam agiotagem, extorquem dinheiro
do comércio e de moradores e cometem assassinatos.
As milícias podem ser definidas por alguns traços
centrais: controle de um território e da população que Esse processo de desenvolvimento da nascente ciência
nele habita por parte de um grupo armado ilegal; sociológica firmou-se sobre uma matriz do
caráter coercitivo desse controle; a busca do lucro conhecimento positivista. Com base nela,
como motivação principal; a participação ativa de a) cite e explique três características do positivismo.
agentes do aparelho estatal legal; um discurso de
legitimação referido à proteção dos moradores e à b) cite e explique duas relações entre o evolucionismo
instauração da ordem. Apesar de se colocarem nas e o determinismo.
comunidades onde atuam como poder alternativo ao
poder legal, acabam atuando como uma espécie de
Estado paralelo ao Estado constitucional. Isto implica 4. (Ufu 2018) Weber conduziu uma investigação sobre
em assumir, alternativamente, traços semelhantes o “desenvolvimento do capitalismo no ocidente e a
àqueles que definem o Estado moderno constitucional. racionalização da conduta promovida por um sistema
ético, tendo como resultado sua obra mais conhecida.”
Adaptado de MAIA, G.; AMARAL, L. O crime - A ética protestante e o “espírito” do capitalismo.
organizado quase tomou conta do Estado do Rio, diz
QUINTANEIRO, Tânia; BARBOSA, Maria Ligia de
Temer. UOL Notícias, Cotidiano. Brasília, 16/02/2018.
Oliveira; OLIVEIRA, Márcia Gardênia. Um toque de
noticias.uol.com.br.
clássicos: Marx, Durkheim e Weber. Belo Horizonte:
EdUFMG, 1999. p. 129.
Com base na teoria de Max Weber, indique e explique
três características definidoras do Estado moderno
constitucional sob o modelo da dominação racional-
legal.
Com base nessa informação, faça o que se pede.
2. (Uem 2018) Dentre os conceitos sociológicos a) Estabeleça, sinteticamente, uma relação possível entre a
construídos por Max Weber para compreender a vida ética protestante e o “espírito” do capitalismo que
social, figura o de tipo ideal. Sobre o conceito de tipo Weber apresentou nessa sua obra.
ideal em Max Weber, é correto afirmar que
01) representa uma construção metodológica, portanto é um b) A partir dessa relação, estabeleça, ao menos, três traços
modelo sobre o qual se constrói a análise sociológica. da análise weberiana.
02) inexiste na realidade empírica tal qual como é retratado
no modelo.
04) é um recurso de análise que permite conceituar 5. (Unisc 2016) Leia atentamente o texto e responda a
fenômenos e formações sociais e localizar suas questão assinalando uma das alternativas abaixo.
manifestações na realidade observada.
08) é uma ferramenta de busca de leis sociais.
GIDDENS, Anthony. Política, sociologia e teoria ARON, R. As etapas do pensamento sociológico. São
social: encontros com o pensamento social clássico e Paulo: Martins Fontes, 1993. p. 465.
contemporâneo. São Paulo: Fundação Editora da
UNESP, 1998, p. 58-59.
Segundo o texto acima, sobre o conceito de burocracia a) Defina o que é ação social para Weber.
de Max Weber, é correto afirmar que
b) Caracterize os quatro tipos puros de ação social para
a) a burocracia é um sistema eficiente de organização do Weber.
trabalho somente quando é aplicado em poucas
questões específicas.
b) a burocracia consiste em um sistema de divisão 8. (Interbits 2014) Segundo Max Weber, podem existir
especializada do trabalho que busca a eficiência a partir 4 tipos puros de ação social. Relacione a primeira
de atribuições impessoais, racionais e calculadas coluna com a segunda, de acordo com o tipo de ação
impostas aos seus funcionários. social mais adequado a cada uma das situações:
c) os funcionários burocráticos podem se expressar
livremente, desde que dentro de regras prescritas de ( 1 ) Homem que uma vez por ( ) Ação racional com
forma impessoal e calculada. semana vai à missa. relação a valores.
d) a burocracia é um sistema arcaico que deve ser ( 2 ) Mulher que deixa o ( ) Ação racional com
superado por outros processos de administração do marido por ele tê-la relação a fins.
trabalho típicos da modernidade. traído.
e) nenhuma das alternativas acima pode ser afirmada ( 3 ) Mulher correndo por 2 ( ) Ação tradicional.
corretamente sobre o conceito de burocracia. horas para poder
emagrecer.
6. (Unisc 2015) Max Weber estuda a sociedade de seu ( 4 ) Homem comendo comida( ) Ação afetiva.
tempo, buscando entender os mecanismos e processos vegetariana por respeito
relevantes da vida social; ele conclui que a sociedade aos animais.
contemporânea, tomada pela burocracia, substituiu as
antigas formas de dominação por uma nova, cuja
eficácia supera os controles das sociedades anteriores. 9. (Interbits 2012) Uma obrigação que o indivíduo
Alguns dos enunciados abaixo poderão estar deve sentir, e sente, com respeito ao conteúdo de sua
relacionados ao texto acima. atividade “profissional”, seja ela qual for.