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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE RIBEIRÃO PRETO


DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
ANTROPOLOGIA

PICHAÇÃO EM RIBEIRÃO PRETO: UMA PROPOSTA DE COMPREENSÃO

Docente: Profa. Dra. Francirosy Campos Barbosa


Discentes: Alexandre Pavan (11371012)
Ana Carolina Mossini (11274390)
Júlia Córdoba (8521207)
Pedro Borsari (10767895)
Victória Carvalho (11274320)
Wagner Luís (11274337)

RIBEIRÃO PRETO
2019
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TRABALHO DE ETNOGRAFIA

Trabalho apresentado como requisito


para obtenção de aprovação na
disciplina de Antropologia, no Curso
de Psicologia, na Universidade de São
Paulo.

Profa. Dra. Francirosy Campos Barbosa

Ribeirão Preto

2019
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RESUMO

A presente etnografia procurou identificar com quais finalidades as pichações na cidade


de Ribeirão Preto eram realizadas, buscando estabelecer um contato com os pichadores
de modo que eles se sentissem confortáveis em mostrar a significação que cada um deles
coloca no ato de pichar. Como o contato foi informal, a abrangência das informações foi
ampla de modo que outros detalhes desse estilo de vida ficaram evidentes. Conclui-se que
o anonimato desse nicho é colocado de forma muito criteriosa, que o grupo é fechado
para quem é apenas do movimento, onde é valorizado a identidade e a vivência no picho
do participante em meio ao seu grupo, que realizam protesto contra o sistema, servindo
de inspiração e até como forma de se ter status dentro desse nicho, que hierarquia na tribo
se vê presente na questão de aceitação e visibilidade, sendo isso uma forma de crescer
com prestígio no movimento, sendo representada pela busca de pichar locais mais altos e
de maior dificuldade com intuito de ser aceito e respeitado. Além disso, os pichadores se
demonstram, em geral, unidos em prol do movimento.

Palavras-chave: Picho; Pichação; Ribeirão Preto; Etnografia.


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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 5

QUESTÃO....................................................................................................................... 7

OBJETIVO...................................................................................................................... 8

METODOLOGIA........................................................................................................... 9

RELATOS DE CAMPO .............................................................................................. 11

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 15

REFERÊNCIAS............................................................................................................ 17
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1. INTRODUÇÃO

A pichação, segundo o documentário Pixo (2010), teve início no Brasil no período


da ditadura militar, em que era utilizada como forma de protesto em muros, carros etc.
As letras e assinaturas monocromáticas nascem da inspiração do movimento punk da
década de 1980, em que as capas dos discos vinham com logos em formatos
diversificados e com um estilo único. As logos das bandas de rock eram baseados nas
runas anglo-saxônicas que deram início ao primeiro alfabeto da europa.
Segundo Spinelli (2007), a pichação pode ser caracterizada por letras e assinaturas
de caráter monocromático que possuem traços retos feitos de signos convexos e côncavos,
de ângulos agudos, de improvisadas acelerações, com subidas e descidas dos signos que
lembram arestas em forma homogeneizadora. A fonte tipográfica ficou conhecida como
‘’Iron Maiden’’ devido à influência da banda de rock. Como diz Maffesoli no texto de
Spinelli:

A linguagem serve de senha, de signo de reconhecimento, e permite


fora dos limites do seu território (bairro, escola, relações amigáveis) de,
se agregar a grupos que compartilham o mesmo “estilo tipo”.
(MAFFESOLI apud SPINELLI, 2007, p.113)

Ainda em Spinelli (2007), os pichadores, como forma de identificação,


demonstram lateralmente ao seu logo o nome do seu grupo ou de quem realizou a obra,
de forma que, por meio de uma repetição de piches é possível chegar ao seu nível de
“status”, em que quanto mais pichações existirem do artista e quanto mais difícil for a
pichação que ele for realizar, mais IBOPE ele terá, o que afeta a hierarquia dos crews ou
do pichador.
De acordo com Costa (2007), pichação é o termo usado especificamente no Brasil
para designar as inscrições que usam o spray e rolos de tinta, diferindo-se do grafite na
forma. Essa diferenciação ficou mais evidente na medida em que o sistema de arte passou
a considerar o grafite. Ademais, a pichação é originária do piche, que é o resíduo da
destilação de diversos alcatrões. É extraído do petróleo e é usado na pavimentação de ruas
e estradas. No entanto, com o surgimento das latas de tinta spray, o piche saiu de cena,
mas a pichação não, como podemos ver atualmente. E assim, passou-se a chamar de
pichação as intervenções feitas também com spray. Cabe observar, então, que esse
instrumento criou o elo entre o grafite e a pichação nas últimas quatro décadas, tanto por
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questões formais quanto técnicas, a ponto de em alguns casos se confundirem. O autor


ainda completa:

“Pixação: arte contemporânea. Não aquela. Esta que está aí por toda
parte em todas as cidades. Sem rosto. Sem dentes. Sem holofotes. Vão
e vejam. (COSTA, 2007, p. 182)

O ato de pichar, conforme Pereira (2012), cria uma rede de sociabilidade e


reconhecimento, em que os praticantes exploram diversas partes da cidade, estabelecendo
contato com diversos pichadores. E a prática dessa atividade carrega consigo uma
importância que vai além da estética aceita socialmente, ela, consoante Furtado & Zanella
(2005), implica em uma discussão de como os espaços podem ser utilizados e por quem.

Para os pichadores, que passam por um processo de iniciação no


próprio movimento, aprendendo a fazer as letras e decodificá-las, essas
palavras também significam, referem-se às suas crews, à sua
existência, às suas escolhas, enfim, a tudo que a ordem simbólica
dominante na cidade não viabiliza, renega, esconde, oculta.
(FURTADO; ZANELLA, 2005, p. 150)

Portanto, devido a carga e diversidade de significados que podem ser atribuídos


ao ato de pichar, julga-se válido o estudo etnográfico das pichações na cidade de Ribeirão
Preto como forma de tentar compreender essa forma de expressão. Além do mais, por ser
um movimento periférico, que envolve uma expressão cultural suburbana, tal fato nos
leva a tentar compreender, por meio de sua própria vivência e cultura, um pouco mais de
seu sentido, o que pode levar a novas descobertas sobre esse nicho.

[...] somente quando se observa estas inscrições na paisagem urbana e


se é capaz de remeter seus significados ao contexto das relações sociais
de onde elas vêm é que se torna possível entender, ou ler, esta tão
diferente e, para muitos, também perturbadora manifestação [...]
(PEREIRA, 2012, p. 68)
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2. QUESTÃO

A questão que se coloca é: com quais finalidades as pichações na cidade de


Ribeirão Preto são realizadas?
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3. OBJETIVO

Como objetivo geral, esse trabalho busca compreender os aspectos políticos,


sociais e culturais do ato de pichar. E como objetivo específico, busca apreender o
processo de criação de sentido que os pichadores atribuem ao realizar tais atividades.
Objetivo específico esse apontado por Geertz como finalidade do estudo etnográfico,
ficando claro no seguinte trecho:

Acreditando, como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a


teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo
essas teias e a sua análise; portanto, não como uma ciência experimental
em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do
significado. (GEERTZ, 1989, p. 15)
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4. METODOLOGIA

O presente trabalho se apoiará na metodologia descrita por Geertz (1989), em que


o mesmo afirma que realizar uma etnografia não é uma questão de método, mas, sim de
um esforço intelectual para realizar o que ele chama de “descrição densa”.
Segundo o autor, em seu livro-texto “Uma descrição densa: por uma teoria
interpretativa da cultura”, realizar tal descrição:

[...] está o objeto da etnografia: uma hierarquia estratificada de


estruturas significantes em termos das quais os tiques nervosos, as
piscadelas, as falsas piscadelas, as imitações, os ensaios das imitações
são produzidos, percebidos e interpretados, e sem as quais eles de fato
não existiriam. (GEERTZ, 1989, p. 17)

Portanto, ainda de acordo com Geertz (1989), analisar, nesse caso, o ato de pichar
é “escolher entre as estruturas de significação e determinar sua base social e sua
importância” (GEERTZ, p. 19, 1989).
Para complementar a visão etnográfica exposta por Geertz (1989), Malinowski
(1986) aponta para a questão do rigor científico que, apesar de sua utilidade
inquestionável para produção de pesquisas, possui como falha, no seu próprio princípio
básico, o excesso de precisão, pois esta não existe na vida real. Portanto, podemos
aprender muito sobre as estruturas sociais, mas não sobre a vida humana.
Ainda em Malinowski (1986):

Possuir um bom treinamento teórico e estar familiarizado com os seus


mais recentes resultados não é o mesmo que estar sobrecarregado com
idéias preconcebidas. Se alguém inicia uma expedição disposto a provar
determinadas hipóteses, mas não for capaz de modificar e de rejeitar
constantemente suas perspectivas sob pressão, seu trabalho não terá
valor. (MALINOWSKI,1986, p.32)

Diante disso, e de acordo com DaMatta (1986), é necessário observar quão exótica
ou familiar é a situação para prosseguir com o estudo, que, na etnografia em questão, é
de grande estranhamento por parte do grupo de pesquisadores. Nesse sentido, a pesquisa
tomada como exótica deve ser pautada pelo questionamento e pela coerência interna da
sociedade, sendo que a coerência interna não significa absolutamente uma supressão ou
ausência de conflitos, de contradições ou de posições divergentes e diferenciadas, mas
que, no entanto, contribui para o entendimento do estudo.
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Para tanto, utilizaremos de entrevistas e manteremos um diário de campo visando


compreender a significação do ato de pichar para os praticantes. A pesquisa de campo
poderá evidenciar comportamentos através das interpretações por via da observação
participante, desta forma, destaca DaMatta:

O controle de experiência vem da comparação entre sociedades e pela


convivência com o mundo social que se deseja conhecer
cientificamente. (DaMATTA, 1986, p. 144).

Através dessa observação, então, será possível compreender a arte do picho e sua
importância social, acima de dúvidas metodológicas.
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5. RELATOS DE CAMPO

Com a base teórica pronta, o grupo precisou buscar por contatos para realizar

entrevistas. Também, através do diálogo com indivíduos que estão inseridos na cultura,

foram obtidas informações a respeito de eventos, que eram denominados por “encontros”,

e os respectivos lugares onde se reuniam com frequência.

De início foi necessário localizar pessoas que estavam inseridas na cultura através

das redes sociais. Com dificuldade para localizar diretamente os pichadores foi necessário

entrar em contato com grupos de grafiteiros no Facebook para, então, alcançar os

pichadores; sabendo da correlação cultural entre Hip-Hop e pichação, os pesquisadores

obtiveram, através do Instagram, contato com organizadores de encontros de batalhas de

rima os quais, por sua vez, tinham contato com pichadores. Dessa forma, foram

agendadas datas para que o grupo de pesquisadores pudesse conversar pessoalmente com

os contatos obtidos, totalizando 3 encontros.

Além dos encontros, em uma sexta-feira à noite (08/11/2019) foi visitada a praça

XV de Novembro, localizada na região central de Ribeirão Preto. Trata-se de uma praça

onde ocorrem, com certa regularidade, encontros de batalhas de rima, os quais possuem

como público, com frequência, pessoas que conhecem ou são pichadores. Os

pesquisadores, então, procuraram obter, através do diálogo informal, informações a

respeito da cultura com os frequentadores.

Na maioria dos discursos dos pichadores a palavra “point” aparece. Alguns

descrevem esse termo como um local de encontro, em que os pichadores trocam suas

experiências e suas assinaturas (nomeadas de “tag”) e assim, fazem amizades,

aumentando o alcance de entendimento dos seus pichos. Nessa perspectiva, o apreço por

esses encontros foi notado através dos relatos, visto que, como o universo dos pichos só

é entendido pelos próprios pichadores, encontros como esses proporcionam significado


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para essa atividade. O reconhecimento e a noção de status foi bem destacado na conversa,

caracterizando o ato de pichar como uma forma de adquirir visibilidade daqueles que já

estão inseridos nesse grupo, mas também para atingir a sociedade. Nesse sentido, a

reflexão ocorreu em torno do fato de que muitas pessoas criticam o picho por não entender

o que significam, quando na verdade, essa é a intenção. O fato do picho só ser

decodificado pelos pichadores, torna a prática e a interpretação totalmente exclusiva,

permitindo, assim, que se crie um mundo de comunicação fechado entre os mesmos.

Em um momento da conversa, foi citado o documentário “A letra e o Muro”

(2002) para questionar a importância das “pastas”, trocadas nesses tipos de eventos, que

servem de armazenamento das assinaturas dos pichadores.

Na verdade, não é todo pichador que tem. Mas tipo,


elas servem tipo
como se fosse o dicionário do cara, tá ligado. É assim
que a gente manja o
picho do outro, sabe que já trombou, é doidera. Quando alguém pede
sua folha tipo, o pichador se sente importante. Eu até acho interessante
que as pessoas guardem uma recordação dos role. Eu acho que é isso
mesmo, as pessoas têm que se sentir importante.

Ainda nessa discussão, o grupo de pichadores comentou sobre como essas pastas
espalham o picho deles.

Uma vez um parça meu de Cravinho comentou de um outro parça que


falou de mim. E assim, vai indo. Nois de dentro que tem que se
valorizar, entende? Tem muita richa no meio da pichação, mas o certo
é assim. Vai espalhando, espalhando e os cara vai vendo que nois é
firmeza.

Questionou-se aos pichadores, também, o que eles sentiam ao estarem pichando

Mano, na hora o bagulho é pura adrenalina, por que ce sabe, qualquer


momento pode dar merda, surgir os polícia, alguém caguetar. Mas essa
é a melhor parte, a adrenalina te faz sentir vivo, eu vivo pra isso.

Outro relatou:

Bagulho doido memo é quando é prédio de morador, grande, na avenida


movimentada. Quando é prédio comercial também é daora, mas quando
tem morador, nossa… aí é louco.
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Um deles ainda relatou sua opinião sobre o grafite

Pra mim é só pichação, não tem nada de grafite não, eu nem gosto de
grafite. Grafite é um bagulho comercial, pra querer ganhar uma moeda.
Não tem nada a ver com nossas ideia.

Sobre a diferença entre as categorias de picho, um deles declarou

Tem uns cara que faz janela, tem uns cara que faz mais prédio, uns que
faz só muro, uns que faz janela, uns cara que faz escalada, uns que faz
tudo. Mas o fundamental aqui na pichação, independente disso, é fazer
pichação pra tudo que é lado. Mas pra mim, a adrenalina do baguio é
subir no baguio. Não vou sair por aí de madrugada pra pichar muro, não
desmerecendo ninguém, mas a fita é subir nos barato, se jogar mesmo,
e fazer prédio e essas parada aí. Eu penso assim né, tem quem pense de
outra forma.

Questionou-se a um deles sobre o que ele pensava das opiniões contrárias ao pixo:

Nóis pixa memo, tá nem aí, vê esse bando de burguês e tamo nem aí,
aqui é expressão memo, bagulho é anarquia e cabô.

Reparou-se, então, no pequeno número de mulheres presentes dentre vários


pichadores homens. A elas, foi perguntou-se como ela enxergava o papel da mulher no
picho, suas maiores dificuldades e o quais eram suas motivações.

Na verdade é bem difícil conviver com um monte de homem, os mano


tá nem aí pra respeito, não botam fé no nosso trampo, então cabe a gente
se impor. Ainda que a cena tá mudando bastante, antes era bem pior,
hoje a galera já respeita mais, e assim tamo crescendo. O que motiva é
a adrenalina mesmo, a vontade de ser vista, mesma coisa de todo
pixador.

Outra pichadora comentou:

Os mano nunca chama e quando chama acha que a gente vai dar uma
moral pra eles depois. Foda ainda é sair sozinha na rua, no escuro, e às
vezes trombar com um mano mal intencionado... mas é isso, tamo na
cena sabendo de todos os perigos e na luta contra eles.

Perguntou-se aos pixadores sobre a forma como eles viam o picho protesto.

O governo parece que quer ver a gente burro… Nóis aqui é pixador
mas ninguém é burro, tá todo mundo vendo o que tá acontecendo
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Outro completou:

A gente tá aqui pra ser visto memo, pra sair no jornal, pra pixar muro e
aparecer na tv...

O grupo, então, questionou aos pixadores como era a vida durante o dia, quem
eles eram quando não estavam pichando. Descobriu-se que a maioria deles trabalham
formalmente, alguns fazem faculdade e outros possuem até mesmo o diploma de ensino
superior.

Não é porque eu sou formado que eu deixo de ter opinião. Tenho a


minha vida, sou cidadão, pago meus impostos, mas não deixo de
protestar.

Foi perguntado ao grupo de pichadores se algum deles já havia sido flagrado


pela polícia e o que aconteceu na abordagem:

Já fui, aí na hora os cara já chega peitando, apavorando… já levei jato


de tinta na cara, no tênis, tapa na cabeça, foi suave até, conheço mano
que já levou surra e tiro.
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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante as entrevistas com os participantes e principalmente na busca pelo grupo


social escolhido, foi possível perceber que o anonimato desse nicho é colocado de forma
muito criteriosa, evitando a exposição e possível contato com quem não é do movimento.
Isso acontece devido ao medo de ser exposto à polícia ou a algum órgão institucional que
chegue na vida cotidiana desses membros. Além disso, constatou-se, também, que o
grupo é fechado para quem é apenas do movimento, onde é valorizado a identidade e a
vivência no picho do participante em meio ao seu grupo. Desta forma, foi necessário um
relato de campo paciente e participativo para alcançar afinidade com o grupo estudado,
em que, por meio de conversas e relações sociais com os participantes, passando por
diversos contatos, os pesquisadores realmente estabelecessem ligação com os membros
sólidos que participam do picho.
Após isso, através de contato com os points, foram adquiridos os relatos inseridos
nesse trabalho, no qual, devido a busca de anonimato, foi preferido pelos grupos que
fossem ocultados os nomes e suas relações. Todos os depoimentos ocorriam na parte da
noite, a partir das 20:00, pois era o momento que estavam mais abertos e dispostos ao
diálogo.
Os membros dos grupos participantes se demonstravam com grande identidade e
pertencimento em relação ao movimento do picho, o que nos confirma a comprovação do
picho como um estilo de vida, em que se leva uma dupla rotina, visto que de dia o membro
do picho é estudante ou trabalhador dentro da lei e da sociedade e de noite um pichador
com todo o seu status e influência buscando uma forma de protesto.
Quanto aos participantes questionados, a relação pessoal de campo com eles foi
rápida, o que fazia com que não perguntássemos de forma constante prezando por uma
abertura maior e contato com mais pessoas do nicho estudado. Em certos momentos,
alguns participantes se esquivaram de certas questões por medo de exposição, mesmo
com a explicação sobre a ética etnográfica, fato que foi respeitado pelos pesquisadores
no trabalho de campo.
Em relação ao material do relato de campo acima descritos, foi possível analisar
que o protesto contra o sistema é predominante no movimento, servindo de inspiração e
até uma forma de se ter status dentro desse nicho. A hierarquia na tribo se vê presente na
questão de aceitação e visibilidade, sendo isso uma forma de crescer com prestígio no
movimento, ela é representada na busca de pichar locais mais altos e de maior dificuldade
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procurando aceitação, respeito e influência dentro do movimento do picho. A busca de


usar a arte como um impacto social é utilizada para atingir as pessoas e o sistema, forma
utilizada pelo movimento para alavancar a sua ideologia.
Além disso, os pichadores se demonstram em geral unidos em prol do movimento,
por mais que existam rixas entre alguns deles, fato que é superado pelo respeito a “tag”
e a vivência na rua, sendo isso importante para a continuidade do grupo e da mensagem
por trás do nicho e sua representação.
Por fim, acreditamos que seria interessante a abordagem em outros locais, como
cidades vizinhas, ou grupos mais afastados para alavancar relatos mais divergentes,
baseados na cultura local e sua vivência, o que pode nos demonstrar uma opinião ou ação
dos grupos distintas, sendo possível um frutífero material de estudo etnográfico.
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6. REFERÊNCIAS

A LETRA E O MURO. Direção: Lucas Fretin. São Paulo (SP): NTSC, 2002.

COSTA, L. P. Grafite e Pixação: institucionalização e transgressão na cena


contemporânea. III ENCONTRO DE HISTÓRIA DA ARTE – IFCH / UNICAMP-
2007

DAMATTA, R. Trabalho de Campo. In: Relativizando: uma introdução à antropologia


social. Rio de Janeiro: Rocco, 1987.

DURHAM, E. R. Introdução: o assunto, o método e o objetivo desta investigação. In:


Malinowski. Antropologia. São Paulo: Ática, 1986.

FURTADO, J. R.; ZANELLA, A. V. Graffiti e Pichação: Relações estéticas e


intervenções urbanas. Visualidade: Revista do programa de mestrado em cultura
visual - FAV/UFG, 2005.

GEERTZ, C. Uma descrição densa: por uma teoria interpretativa da cultura. In: A
interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Guanabara, 1989.

PEREIRA, A. B. Quem não é visto, não é lembrado: sociabilidade, escrita, visibilidade


e memória na São Paulo da pixação. Cadernos de Arte e Antropologia, n° 2/2012,
pág. 55-69.

PIXO. Direção: João Wainer, Produção: Roberto T. Oliveira. São Paulo (SP): Sindicato
Paralelo Filmes, 2009.

SPINELLI, L. Pichação e comunicação: um código sem regra. LOGOS 26: comunicação


e conflitos urbanos. Ano 14, 1º semestre 2007.

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