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Rosani Sgari
Vice-Reitora de Graduação
Leonardo José Gil Barcellos
Vice-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
UPF Editora
Karen Beltrame Becker Fritz
Editora
CONSELHO EDITORIAL
CORPO FUNCIONAL
Alvaro Della Bona
Cinara Sabadin Dagneze
Carme Regina Schons Revisora-chefe
Cleci Teresinha Werner da Rosa
Daniela Cardoso
Denize Grzybovski Revisora de textos
Elci Lotar Dickel Graziela Thais Baggio Pivetta
Giovani Corralo Revisora de textos
2a Edição
2014
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meio sem autorização expressa e por escrito do(s) autor(es). A exatidão das informações e dos conceitos
e opiniões emitidas, as imagens, as tabelas, os quadros e as figuras são de exclusiva responsabilidade
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Associação Brasileira
das Editoras Universitárias
Agradecimentos
Apresentação............................................................................................ 10
Considerações iniciais............................................................................. 20
Nossas intenções............................................................................................. 20
Primeira parte
As cercanias da memória: conceitos, noções e campos afins / 27
CAPÍTULO 1
Uma guinada historiográfica?................................................................ 28
Passado e presente intencionalizados.......................................................... 32
Capítulo 2
Memória e lembrança.............................................................................. 37
Memória como fragmento histórico-social.................................................. 40
Capítulo 3
A memória no cotidiano.......................................................................... 44
Capítulo 4
A dimensão fenomenológica da memória............................................ 50
Memória e experiência de percepção........................................................... 57
Memória e vida cotidiana na perspectiva da fenomenologia................... 60
Capítulo 5
Memória, modernidade e mudança social........................................... 62
Capítulo 6
Memória e pós-modernidade................................................................. 71
Capítulo 7
Memória e patrimônio............................................................................. 81
Monumento/documento................................................................................ 83
Sociedade, tradição e suas simbologias....................................................... 91
Mobiliário social.............................................................................................. 95
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
7
Capítulo 8
Tempo, espaço e experiência da memória.......................................... 101
Memória e identidade.................................................................................. 103
O tempo na memória.................................................................................... 105
Memória e experiência................................................................................. 109
Memória, tempo e poder.............................................................................. 118
Capítulo 9
Memória e oralidade: intenções, problemas e expectativas............. 122
Buscar a totalidade........................................................................................ 123
Sua base histórica.......................................................................................... 123
Pressupostos teóricos.................................................................................... 125
Os pressupostos da narração....................................................................... 128
Dimenticare per vivere Intencionalidades pessoais e históricas................ 133
Lembrar e esquecer: dinâmicas dialetizadas............................................. 135
A consciência histórica, social e individual se reconstrói sob
um fundo de esquecimento......................................................................... 138
Selecionar memórias..................................................................................... 140
Memória e história........................................................................................ 142
Algumas precauções..................................................................................... 147
O manuseio e a concepção de documento oral......................................... 150
Humanizar a história?.................................................................................. 158
SEGUNDA parte
Tempos, espaços e signos:a correlação entre memória coletiva e
individual no processo de lembrança / 162
Capítulo 10
A natureza social do pensar e do relembrar....................................... 163
Premissas........................................................................................................ 163
A dimensão coletiva de memória em Halbwachs.................................... 165
A linguagem como manifestação do coletivo........................................... 168
O entourage sociale e a dependência da memória individual................... 174
Contratualidade cultural e histórico-social............................................... 178
O encontro/desencontro entre memória social e coletiva....................... 182
Memória e o quadro familiar....................................................................... 189
Espaços e tempos do quadro coletivo........................................................ 192
8 João Carlos Tedesco
Capítulo 11
Memória e velhice (fragmentos de empiria)...................................... 195
A afetividade na memória............................................................................ 198
Capítulo 12
Ambiguidade de memória: o laudatário, o ufanismo e os
ressentimentos........................................................................................ 201
O sentimento do vivido em temporalidades entrecruzadas................... 205
Capítulo 13
A objetualidade de memória grupal................................................... 208
Memórias de quadros simbólicos............................................................... 210
A genealogia de um passado coletivo........................................................ 211
Exteriorização pública e local de memórias coletivas e individuais..... 214
Temporalidades contínuas........................................................................... 216
Desejo de transmissão, de experiência e de visibilidade........................ 219
Fidelidade, experiência e filiação de memória.......................................... 229
Capítulo 14
Filtragem de memória........................................................................... 235
Dialética entre memória, esquecimento e silêncio................................... 236
Memória como valor de uso e o uso como valor simbólico.................... 240
TERCEIRA parte
Ressignificação de memórias / 247
Capítulo 15
Memória, cultura e identidade étnica................................................. 248
O cenário empírico: fonte e base de memória de idosos......................... 256
Capítulo 16
Ritualização verbal e não verbal da cultura na memória................. 275
Memória e etnia............................................................................................. 276
A centralidade da família............................................................................. 280
O mundo do trabalho................................................................................... 282
O ambiente de vida social e o espaço construído..................................... 284
A força do simbólico..................................................................................... 287
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
9
3
Idem, p. 356.
4
‘Este debate está dimensionado por vários autores em CHAUVEAU, A.; TÉ-
TARD, Ph. (Org.). Questões para a história do presente. Bauru: Edusc, 1999.
5
CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense, 1982.
6
CHESNEAUX, Jean. Devemos fazer tábua rasa do passado? São Paulo: Ática,
1995.
16 João Carlos Tedesco
7
BODEI, Remo. A história tem um sentido? Bauru: Edusc, 2001.
8
FONTANA, Josep. História: análise do passado e projeto social. Bauru: Edusc, 1998.
p. 267s; Idem. História depois do fim da história. Bauru: Edusc, 1998.
9
Em termos gerais, tais aspectos são discutidos em diversas perspectivas, as
quais carregam em si a característica propositiva. Ver SEMPRINI, Andrea.
Multiculturalismo. Bauru: Edusc, 1999; CUCHE, Denys. A noção de cultura nas
ciências sociais. Bauru: Edusc, 1999; WARNIER, Jean-Pierre. A mundialização
da cultura. Bauru: Edusc, 2000.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
17
10
WEHLER, Hans-Ulrich. Historisches Denken am Ende des 20. Jahrhunderts.
Göttingen: Wallstein Verlag, 2001. p. 69-86.
11
São exemplos dessas posturas propositivas, em termos de busca de sentido, os
trabalhos de DOSSE, François. A história à prova do tempo: da história em
migalhas ao resgate do sentido. São Paulo: Ed. da Unesp, 2002; RÜSEN, Jörn.
Perda de sentido e construção de sentido no pensamento histórico na virada
do milênio. Revista História: Debates e Tendências, Passo Fundo, v. 2, n. 2,
p. 9-22, dez. 2001.
12
Em termos gerais, essas mudanças ainda podem ser conectadas às posturas
de KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. 2. ed. São Paulo:
Perspectiva, 1987. Na história esse debate está em CARDOSO, Ciro Flamarion.
História e paradigmas rivais. In: CARDOSO, Ciro F.; VAINFAS, Ronaldo (Org.).
Domínios da história. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
13
O termo “topoanálise” é de BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. São
Paulo: Martins Fontes, 1996. Essa análise também pode percorrer os caminhos
da cultura e identidade. Ver então MATHEWS, Gordon. Cultura global e iden-
tidade individual. Bauru: Edusc, 2002. Ou, ainda, pela globalização e meios de
comunicação, ver MATTELART, Armand. A globalização da comunicação. Bauru:
Edusc, 2000; SARTORI, Giovanni. Homo videns. Televisão e pós-pensamento.
Bauru: Edusc, 2001.
18 João Carlos Tedesco
14
A produção de imagens na atualidade é objetivo do livro de KELLNER, Douglas.
A cultura da mídia. Bauru: Edusc, 2001.
15
Idem, p. 21-29. Para uma análise diferenciada, ver JAMESON, Fredric. As
sementes do tempo. São Paulo: Ática, 1997.
16
Discutimos isso recentemente em DIEHL, Astor Antônio. Cultura historiográ-
fica: memória, identidade e representação. Bauru: Edusc, 2002.
17
O termo “descrição densa” é de GEERTZ, Clifford. A interpretação das cultu-
ras. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1989. Ver debate em KUPER, Adam.
Cultura: a visão dos antropólogos. Bauru: Edusc, 2002, p. 105-159.
18
Conforme MOSER, Walter. Spätzeit. In: MIRANDA, Wander (Org.). Narrativas
da modernidade. Belo Horizonte: Autêntica, 1999. p. 33-54.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
19
Nossas intenções
20
De parte desse material, surgiram dois livros, um deles intitulado Colonos,
carreteiros e comerciantes. O Alto Taquari no final do século XIX e início do
Século XX. Porto Alegre: EST, 2000; o outro, Memória e cultura. Porto Alegre:
EST, 2002.
21
Ver a relação de alguns deles, os que mais estivemos em contato, no final, após
a bibliografia geral.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
23
23
Falando sobre a questão do imaginário, é bom já dizer que o entendemos como
um conjunto de representações que vão além dos limites dados pela experiência
e pelas associações que resultam. A realidade de cada um, de cada grupo, de
cada sociedade produz, possui, convive e dinamiza imaginários, crenças, curio-
sidades, sonhos, desconhecidos, desejos, repressões, utopias, imagens abstratas,
fantasmas, construções míticas, sistemas de representação. O imaginário é uma
espécie de “contato” que os homens estabelecem entre o visível e o invisível.
24
CERTEAU, M. A invenção do cotidiano (Artes de fazer). Petrópolis: Vozes, 1994.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
25
cialidade-temporalidade e da subjetividade-objetividade, da
memória individual e coletiva. É por isso que, para o grande
estudioso da memória Pierre Nora, os lugares “são lugares
mistos, híbridos e mutantes, intimamente entrelaçados de
vida e de morte, de tempo e de eternidade, numa espiral do
coletivo e do individual, do prosaico e do sagrado, do imóvel e
do móvel”.25
Falando empiricamente de lugares, sabemos que, da dé-
cada de 1960 até a de 1980, junto com o processo modernizan-
te da agricultura, com o cenário visível e atrativo da urbani-
zação, com a necessária alteração dos processos produtivos
tradicionais, com a redefinição da ordem moral e vivencial
da família, dentre outras, muitas famílias foram deslocadas
para o meio urbano, ou, então, permaneciam próximas a al-
gum filho, porém não mais coabitando.
Sabemos que o deslocamento não significa meramente
uma alteração espacial; altera-se muita coisa e, acima de
tudo, alteram-se os referenciais de memória. Na década de
1990, e com mais intensidade nos seus últimos anos, consta-
ta-se uma certa alteração dessa trajetória, ou seja, há uma
certa redução da intensidade do fluxo migratório para a cida-
de e apresenta-se uma maior possibilidade de coabitação de
idosos nas famílias.
Vários fatores estão contribuindo para essa possível pre-
sença de idosos nas famílias: recursos financeiros provenien-
tes da aposentadoria, possibilidade de cuidar de filhos libe-
rando mulheres/esposas para atividades promotoras de remu-
neração financeira, uma maior consciência de valorização do
espaço e das alterações provenientes do horizonte cotidiano
dos idosos. Com isso, reestruturam-se a memória e o conteúdo
da lembrança no seio familiar pela presença dos idosos.
As cercanias da memória:
conceitos, noções e
campos afins
CAPÍTULO 1
26
PASSERINI, L. Storia e soggettività: le fonti orali, la memoria. Bologna: La
Nouva Italia, 1988. Ver, também, da autora Storia orale. Torino: Rosenberg &
Sellier, 1978.
27
PASSERINI, op. cit.
30 João Carlos Tedesco
28
Como diz Jedlowski e também Le Goff, os homens não recordaram sempre
do mesmo jeito, não atribuíram à memória o mesmo significado, não tiveram
à disposição os mesmos instrumentos para auxiliar na lembrança. Isso é im-
portante para poder constituir uma história social da memória que tanto Le
Goff quanto Nora, Rossi e outros desenvolveram. A passagem de sociedades
de cultura oral para a de escrita, a difusão
29
BOURDIEU, P. apud PESAVENTO, S. J. Fronteiras do milênio. Porto Alegre:
Editora da Universidade, 2001. Ver JEDLOWSKI, P. Memorie. Temi e problemi
della sociologia della memoria nel XX secolo. Rassegna Italiana di Sociologia,
ano XLII, n. 3, lug./set., 2001. p. 373-392. Ver, também, do mesmo autor Il
sapere dell’esperienza. Milano: Il Saggiatore, 1994.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
31
32
O campo de análise biográfica é muito intenso na historiografia atual. Há uma
vontade manifesta pelos vários estudos (históricos, jornalísticos, empresariais,
midiáticos etc.) de contar a vida de personagens marcantes em vários campos da
sociedade, muitos deles com objetivos de expressão personalista, autocentrista
(self-made-man); outros, com a intenção de prestar contas à sociedade; outros,
ainda, intencionando servir de fonte histórica. Há os que, após um tempo de
silêncio, publicam fatos, envolvimentos pessoais, como forma de romper com
silêncios, ressentimentos e más interpretações. A indústria cultural, no caso
brasileiro, dinamiza esse horizonte e transcreve-o para os meios midiáticos e
jornalísticos, obtendo grande aceitação do público consumidor.
33
LEROI-GOURHAN. Il gesto e la parola. Milano: Mondadori, 1978. Tomo II.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
33
34
LE GOFF, J. Memoria. Enciclopedia Einaudi. Torino: Einaudi, 1979.
35
MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia della percepzione. Milano: Il Saggiatore,
1987. p. 157 e 217.
36
LE GOFF, J. Op. cit., p. 1068.
34 João Carlos Tedesco
Ver ARIÉS, Ph. I segretti della memoria. Firenze: La Nuova Italia, 1996; ver,
37
também, TADIE, J. Y.; TADIE, M. Il senso della memoria. Bari: Dedalo, 2000.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
35
38
Ver sobre isso um excelente texto de A. THOMSON, Quando a memória é um
campo de batalha. Entrevistas com militares: envolvimentos pessoais e políticos
com o passado do Exército Nacional. Projeto História, São Paulo: PUC, n. 3, 1998.
39
O autor mostra como o contexto europeu dos primeiros anos pós-guerra foi
fundamental para que não fosse posto em prática os processos de crime de
guerra de Noremberg, principalmente para os comandantes fascistas italianos
e parte de nazistas alemães. O autor mostra como foi possível relativizar as
indulgências, cristalizar uma lembrança unilateral distorcida e parcial da tra-
gédia, construir uma memória funcional ao cenário da restauração europeia e
hegemonia americana em meio ao cinismo, a injustiças e à falsa consciência
(inclusive contra os responsáveis pela “limpeza étnica” colocada em prática nos
territórios polonês, soviético, do Leste europeu... contra centenas de milhares de
alemães no pós-guerra). “A Europa do pós-guerra se arbitrou logo a distinguir
e a separar as novas formas de violência e de limpeza étnica pós-bélica reali-
zada pelos alemães daquela perpetrada pelos nazistas nos anos precedentes,
predispondo-se a conviver com duas memórias: aquela dos crimes cometidos
pelos nazistas durante a guerra e aquela dos alemães culpados coletivamen-
te.” BATTINI, M. Peccati di memoria: la mancata Norimberga italiana. Bari:
Laterza, 2003. p. 151-152.
36 João Carlos Tedesco
Memória e lembrança
A memória coletiva é o que resta do passado no
vivido dos grupos, ou, então, o que esses grupos
fazem do passado.
P. Nora
41
JEDLOWSKI, P. Memoria. Rassegna Italiana di Sociologia, XXXVIII, n. 1,
gen./marz. 1997. p. 135-146.
42
BADDLEY, A. La memoria. Roma-Bari: Laterza, 1993, p. 3.
38 João Carlos Tedesco
43
ROSSI, P. Il passato, la memoria, l’oblio. Sei saggi di storia delle idee. Bologna:
Il Mulino, 1991.
44
NORA apud MONTESPERELLI, P. Memoria e ricerca social. Roma: Carocci,
2000. p. 173.
45
JEDLOWSKI, P. Storie comuni. La narrazione nella vita quotidiana. Milano:
Mondadori, 2000. p. 78-79.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
39
46
BENJAMIN, W. Il narratore. Torino: Einaudi, 1976. p. 248.
47
NORA, P. (Sous la direction de). Les lieux de mémoire. Paris: Gallimard, 1997.
v. I. p. 20-22.
48
Sobre essa questão, ver BLOCH, M. Apologia della storia. Torino: Einaudi,
1969.
49
Ver O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela
Inquisição. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
40 João Carlos Tedesco
51
Ver BOSI, E. Memória e sociedade: lembrança de velhos. São Paulo: Companhia
das Letras, 1994.
52
VEYNE, P. (Org.). História da vida privada: do Império Romano ao ano mil.
São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
43
A memória no cotidiano
54
DOSSE, F. A história em migalhas: dos Annales à Nova História. São Paulo:
Ensaio, 1992; ver, também, LEFEBVRE, H. Critique de la vie quotidienne.
Paris: L’ Arche, 1981. v. III.
55
PASSERINI, L. (a cura di). Storia orale, vita quotidiana e cultura materiale
delle classi subalterne. Torino: Rosenberg e Sellier, 1978.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
45
56
MATOS, M. Z. S. de. Cotidiano e cultura: história, cidade e trabalho. Bauru:
Edusc, 2002. p. 24.
57
HELLER, A. O cotidiano e a história. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985. Sobre
os vários paradigmas, no campo social, que compõem os estudos do cotidiano,
ver TEDESCO, J. C. Paradigmas do cotidiano. Introdução à constituição de um
campo de análise social. Passo Fundo/Santa Cruz: UPF Editora/Edunisc, 2002,
2. ed.; ver, também, JEDLOWSKI, P. Il tempo dell’esperienza. Milano: Franco
Angeli, 1986; ver BRAUDEL, F. Le struture del quotidiano. Torino: Einaudi,
1982.
58
THOMPSON, P. A voz do passado: história oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1992; ARIÉS, Ph. O tempo da história. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1989.
46 João Carlos Tedesco
59
MATOS, M. I. S. de., op. cit.
60
HELLER, A. Teoria della storia. Roma: Editori Riuniti, 1983. p. 84.
61
SIMMEL, G. La metropoli e la vita dello spirito. Milano: Armando, 1995.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
47
Zahar, 1984.
48 João Carlos Tedesco
Aqui não faremos mais do que uma simples síntese de alguns dos pressupostos
65
66
Para uma análise mais aprofundada sobre os autores e as abordagens do campo
da fenomenologia do cotidiano, ver TEDESCO, J. C. Paradigmas do cotidiano.
Introdução à constituição de um campo de análise social. Passo Fundo/Santa
Cruz: UPF Editora/Edunisc, 2002, 2. ed.
67
JEDLOWSKI, P. Il sapere dell’esperienza. Milano: Franco Angeli, 1991.
52 João Carlos Tedesco
75
SIMMEL, G. La metropoli e la vita spirituale. In: MALDONADO, T. (a cura
di). Tecnica e cultura. Milano: Feltrini, 1979.
76
Para Schutz, o mundo social e o natural são bem diferentes. A noção de com-
preensão envolve método, epistemologia e vivido experienciado no conhecimento
cotidiano, permite compreender as ações do ser humano em correlação e em
situação (o ator e seus problemas) com o mundo social. Uma análise nesse
sentido encontra-se em JUAN, S. Les formes élémentaires de la vie quotidienne.
Paris: PUF, 1996.
56 João Carlos Tedesco
77
SCHUTZ, A. Fenomenologia del mondo social. Buenos Aires: Paidós, 1972.
p. 142.
78
SANTOS, B. de S. Um discurso sobre as ciências. Porto: Afrontamento, 1987.
p. 56-57.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
57
Simmel nos faz pensar no dinheiro como articulador de formas sociais de in-
80
87
JEDLOWSKI, P. Memorie. Temi e problemi della sociologia della memoria nel
XX secolo. Rassegna Italiana de Sociologia, p. 373-391. Ver, também, ROSA,
A. et al. Tracce. Studi sulla memoria collettiva. Napoli: Liguori, 2001.
88
JEDLOWSKI, P. Memoria. Rassegna italiana di sociologia, XXXVIII, n.1, p.135-
47, mar. 1997, p. 52.
64 João Carlos Tedesco
89
LE GOFF, J. Memoria. In: Enciclopedia, v. VIII, Torino: Einaudi, 1979.
90
BERMAN, M. Tudo o que é solido desmancha no ar. São Paulo: Companhia
das Letras, 1994.
91
JEDLOWSKI, P. Memoria, esperienza e modernità: memorie e società nel XX
secolo. Milano: Franco Angeli, 1989. p. 47.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
65
94
Não obstante a vasta literatura sobre a crise da duração, que caracteriza a
modernidade, há também uma vasta bibliografia que analisa a possibilidade
de convivência, em conflito, entre a chamada “tradição” e a sua consequente
modernidade. Não há dúvida sobre as profundas transformações que se operam
na vida cotidiana, no campo tecnológico, nas formas de organização social, no
progresso industrial, ou seja, alterações no mundo objetivo. Porém, na esfera
da subjetividade, os processos não andam com a mesma velocidade. Família,
etnia, moralidade, tradição, religião, ética social, parentesco [...] aglutinam-se à
dimensão objetiva da transformação para, ainda que em grau menor, encontrar
espaços de atuação, estratégias de convivência. Nesse sentido, percebemos que
modernidade e tradição não se excluem, mas se retroalimentam, em sinergia,
ainda que movidos, em grande parte, pelos pressupostos da primeira. No âm-
bito da memória, não há dúvidas de que a perda da faculdade de narrar, de
intercambiar experiências produziu a crise da continuidade. A intelectualização
da experiência promoveu a racionalização e a burocratização da memória e seu
resguardo em lugares institucionalizados social, política e culturalmente, como
bem observou e analisou Pierre Nora.
95
JEDLOWSKI, P., op. cit., p. 71.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
67
96
ADORNO, T. W. apud CARRERA, L. Il futuro della memoria. Milano: Franco
Angeli, 2001. p. 39.
97
SIMMEL, G. La metropoli e la vita dello spirito. Milano: Armando, 1995. p.
36. O autor fala da hipertrofia da consciência, do indivíduo a-histórico, do
aventureiro, da pobreza de experiência, da intelectualização da experiência,
da distância do mundo, etc., como expressões fortes da realidade produzida
pelos referenciais econômicos, culturais e sociais da modernidade na sociedade
capitalista.
68 João Carlos Tedesco
98
HALBWACHS, M. A memória coletiva…
99
JEDLOWSKI, P. Il testimone e l’eroe. La società della memoria. In._______;
RAMPAZI, M. (a cura di), op. cit., p. 21.
100
JEDLOWSKI, P. op. cit., p. 80.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
69
101
A pós-modernidade, principalmente com Maffesoli, vai utilizar muitas noções
da crítica à modernidade de Simmel para constituir seu arcabouço teórico. As
noções de efêmero, presentismo, proximia, fugacidade e transitório são suas
peças-chave.
102
TRAPINO, A. Sentimenti del passato. La dimensione esistenziale del lavoro
storico. Firenze: La Nuova Italia, 1997. p. 249.
70 João Carlos Tedesco
p. 23-24.
Capítulo 6
Memória e pós-modernidade
A pós-modernidade social104 move-se baseada em alguns
conceitos básicos, entre os quais diversidade de interpreta-
ção, flexibilidade e liberdade de manifestação, importância da
localização e da identificação dos atores em seu contexto, o
cuidado com a emotividade, a subjetividade e a aproximação.
Para a pós-modernidade, ainda que nós pensemos es-
tar buscando a objetividade do conhecimento acerca do real,
estaremos assumindo uma postura relativista. Em outras
palavras, estaremos fazendo “leituras do real”. Por isso, sua
tendência de defesa do antigrande relato, da antitradição, a
defesa das traduções, em vez de tradições contemporaneiza-
das. Nessa perspectiva, a memória entra em cheio!
A pós-modernidade defende a chamada destruição criado-
ra das identidades; seus princípios básicos são a redução da
identidade à subjetividade, à pluralidade e à transitoriedade.
As identidades sociais são feitas e refeitas a partir das novi-
dades culturais e das mudanças sociais. Nesse processo, estão
em constante confronto o velho e o novo, em reelaboração os
critérios de autovalidação pública dos sujeitos, estes, variá-
veis de acordo com a multiplicidade de situações sociais do
cotidiano e com as transformações econômicas e culturais que
caracterizam as sociedades contemporâneas e que proporcio-
nam um contínuo reajustamento das matrizes identitárias
dos sujeitos (por isso, um fato qualquer pode ganhar significa-
105
FORTUNA, C. As cidades e as identidades. Narrativas, patrimônios e memória.
RBCS, a. 12, n. 33, 1997. p. 126-141.
106
Id. ibid.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
73
Memória e patrimônio
As imagens do passado em cada época se corres-
pondem com os pensamentos dominantes.
Halbwachs
117
Ver na Revista Ciências & Letras, Porto Alegre, n. 31 e 32, 2001, vários textos
sobre educação patrimonial.
118
LE GOFF, J. Memoria...
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
83
Monumento/documento
A memória torna-se sempre suspeita para a
história: a história é a deslegitimação do pas-
sado vivido.
Nora
119
Bourdieu nos oferece um quadro interessante desse horizonte do campo das
disputas pela legitimidade discursiva dos objetos simbólicos. Ver, do autor, A
economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1974.
120
GOURARIER, Z. Le musée entre le monde de morts et celui des vivants.
Ethnologie Française, n. 1, t. 14, jan. 1984. p. 67-76.
84 João Carlos Tedesco
Einaudi, 1981.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
85
122
FEBVRE, L. apud LE GOFF, J. Documento/monumento, p. 41.
123
Ver LE GOFF, J. Documento...; ver BARTHES, R. La camera chiara. Torino:
Einaudi, 1980. Uma análise sobre os monumentos imagéticos e sobre especi-
ficamente a fotografia na história; ver D’AUTILIA, G. L’indizio e la prova:
la storia nella fotografia. Milano: La Nuova Italia, 2001.
124
FEBVRE, L. por Le Goff, J., op. cit., 1981. p. 41. Febvre insiste na análise
crítica do documento como monumento, na necessidade de perceber as con-
dições de sua produção histórica, sua(s) intencionalidade(s), a mentalidade
que o gerou, a percepção de uma memória coletiva cristalizada ou projetiva,
a desmistificação de sua significação aparente, de desmembrar os tempos
86 João Carlos Tedesco
126
GARBINATTO, V. O historiador e as imagens. Ciências & Letras, n. 31, p.
273-283. Ver também em outros volumes da referida revista excelentes aná-
lises sobre educação patrimonial, sobre o papel dos símbolos de memória, da
educação para a memória, etc.
127
ASSMANN, A. Ricordare. Forme e mutamenti della memoria cultural. Bologna:
Il Mulino, 2001.
128
ASSMANN, A., op. cit.
88 João Carlos Tedesco
129
CHARTIER, R. O mundo como representação. Estudos Avançados, n. 11,
v. 5, 1991. p. 173-191.
130
LUPORINI, T. J. Educação patrimonial: projetos para a educação básica.
Ciências & Letras, n. 32, p. 325-338.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
89
137
BETTINI, L. Il perdono storico. Dono, identità, memoria, oblio. Il Mulino,
a. XLIX, n. 389, mag./giu. 2000. p. 425.
138
Ver, nesse sentido, vários textos do número 31, da revista Ciências & Letras.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
93
139
Ver excelente contribuição, nesse sentido, na obra de GREGORY, T. (a cura
di). L´eclisse delle memorie. Roma: Laterza, 1994; ver, também, CHIARETTI,
G. et al. Conversazioni, storie, discorsi. Roma: Carroci, 2001.
140
JEDLOWSKI, P. Memoria, esperienza e modernità.
94 João Carlos Tedesco
141
SCHONEN, S. La mémoire: connaissance active du passé. Paris: Mouton,
1974.
142
PASSERINI, L. Memoria e utopia. Il primato dell´intersoggettività. Milano:
Il Saggiatore, 2003.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
95
Mobiliário social
150
Não obstante, a carreta pode significar, para alguns, possibilidade e facilidade de
extração de sobretrabalho do colono, para outros, manifesta labuta, sacrifício,
dominação. Os significados da memória, assim como do esquecimento, refletem
fatores biológicos, sociais, objetais e imateriais profundamente imbricados.
Uma análise sobre o significado simbólico e material da carreta em meio aos
imigrantes italianos ver nosso livro, Colonos, carreteiros e comerciantes. Porto
Alegre: EST, 2001.
151
Ver LUCENA, C. T. Artes de lembrar e de inventar: (re)lembranças de mi-
grantes. Belo Horizonte: Arte e Ciência, 1999.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
99
156
RAMPAZI, M. Tempo e spazio della memória. In: ________; BELLONI, M. C.
Tempo, spazio, attore sociale. Milano: Franco Angeli, 1999.
157
BACHELARD, G. La dialectique de la durée. Paris: PUF, 1950. p. 34.
158
Ver LUCENA, C. T., op. cit.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
103
Memória e identidade
Diz Ferrarotti que, pelo acúmulo das lembranças, a me-
mória constrói a pessoa como conjunto de ideias e valores com
tendência de coerência, ou seja, como a “personalidade da pes-
soa”. A identidade não é dada de uma vez por todas; não é, nun-
160
HALBWACHS, M. Les cadres... p. XVIII.
161
FERRAROTTI, F. L´Italia tra storia e memoria. Roma: Donzelli, 1997.
162
BLONDEL, C. apud CARRERA, L. Il futuro della memoria. Milano: Franco
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
105
O tempo na memória
Quem tem experiência sabe aconselhar, narrar
e escutar.
Benjamin
165
DELEUZE, G. Diferença e repetição. Rio de Janeiro: Graal, 1988. p. 46.
166
MONGARDINI, C. Il problema del tempo nella società contemporanea. In:
BELLONI, C.; RAMPAZI, M., op. cit., p. 35.
167
LUHMANN apud MONGARDINI, C., op. cit., p. 35.
168
JEDLOWSKI, P. Il tempo dell’esperienza. Milano: Franco Angeli, 1986.
169
GROSSI, W. Les temps de la vie quotidienne. Paris: Mouton, 1974.
170
JEDLOWSKI, P. Tempo del quotidiano, tempo dell’esperienza. In: BELLO-
NI, C.; RAMPAZI, M., op. cit., p. 138.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
107
171
GUIMARÃES, C. Imagens da memória: entre o legível e o invisível. Belo
Horizonte: Ed. UFGM, 1997. p. 46.
172
BENJAMIN, W. Il Narratore...
173
CASTELLO BRANCO apud GUIMARÃES, op. cit.
174
FOUCAULT, M. As palavras e as coisas. São Paulo: Martins Fontes, 1990.
p. 347.
108 João Carlos Tedesco
Memória e experiência
O invisível pode tornar-se visível por meio do
discurso.
Bachelard
177
ELIAS, N. Saggio sul tempo. Bologna: Il Mulino, 1986.
178
RAMPAZI, M. Tempo e spazio della memoria. In: _______; BELLONI, C. op.
cit., p. 247.
179
LYNCH, K. apud RAMPAZZI, op. cit., p. 247.
110 João Carlos Tedesco
180
Sabedores de sua complexidade, não vamos aqui nos alongar muito nem tentar
fazer uma análise hermenêutica dos significados variados de experiência. Nem
para isso teríamos condições. Aqui a indicamos apenas no sentido de relacionar
com o vivido histórico, seja pessoal, seja grupal/coletivo e que fornece maté-
ria-prima para os relatos significativos de memória. Não a entendemos em
seu sentido pragmático, mas, sim, em seu universo simbólico e significativo
de vivido que quer e adota estratégias de reprodução num cenário de limites
de lembrança. Segundo Gadamer, em Verità e metodo, (p. 68), “a verdade das
experiências contém sempre uma referência a novas experiências. Por isso,
aquilo que chamamos de especialista não é só o que conseguiu ser através
das experiências feitas, mas quem está ainda aberto a outras experiências”.
181
JEDLOWSKI, P. Il sapere dell’esperienza... p. 82.
182
O cenário da modernidade começa com o final do século XVIII quando do
surgimento da grande indústria, da mercadoria, do novo e sempre idêntico.
Benjamin diz que nenhum período histórico conheceu a reprodução do idêntico
como o promovido pela indústria. A alma da modernidade é a indústria; o
mercado é seu órgão sensorial mais importante; a mercadoria é seu ambiente
construído.
183
BENJAMIN, W. Di alcuni... p. 88.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
111
185
BENJAMIN, W. L’opera d’arte nell’epoca della sua reproducibilità tecnica.
Torino: Einaudi, 1966.
186
BENJAMIN apud JEDLOWSKI, P. Il tempo dell’esperienza. Milano: Franco
Angeli, 1986. p. 108.
187
JEDLOSKI.P. Il tempo...
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
113
JEDCOSKI, op cit.
188
114 João Carlos Tedesco
p. 228; ver, também, sobre isso PAOLUCCI, G. Una figura della temporalità
moderna: la scarsità di tempo. In: BELLONI, C.; RAMPAZZI, M., op. cit.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
115
192
SIMMEL apud Jedlowski, 1986, op. cit., p. 94.
193
JEDLOWSKI, P. Tempo del quotidiano, tempo dell’esperienza. In: BELLONI,
C.; RAMPAZI, M. op. cit.; ver, também, BRAUDEL, F. Le strutture del quoti-
diano. Torino: Einaudi, 1982.
194
BENJAMIN, W. Il narratore. Torino: Einaudi, 1976.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
117
195
SORGENTINI, H. Reflexión sobre la memória y autorreflexión de la historia.
Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 23, n. 45, 2003. p. 103-128.
196
Ver THOMPSON, E, P. Senhores e caçadores: a origem da Lei Negra. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1987; ver, também, A miséria da teoria. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
119
apresentam risco para a ditadura. Desse modo, como diz Jedlowski (1990), a
memória tem sempre uma dimensão crítica que pode ser desestabilizante.
HELLER, A. O cotidiano e a história. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.
199
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
121
202
JEDLOWSKI, 1986, op. cit., p. 162.
203
Muitos autores não utilizam mais a expressão “história oral” e, sim, “fonte
oral”, por ser aquela excludente de outro tipo de fazer história. No entanto,
devido ao seu uso comum, continua seu emprego, ressalva-se, porém, seu
sentido de não exclusividade.
204
MATOS, op. cit., ver também LUCENA, op. cit.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
123
Buscar a totalidade
Passerini coloca em ressalva o fato de que não é porque
esse campo se voltou mais para os oprimidos, os esquecidos e
escondidos, os marginalizados que sua legitimidade se funda.
Para a autora, corre-se o risco de tornar uma ideologia po-
pulista exaltadora do passado e justificadora da ideologia do
presente.
O novo papel que ela introduz na história são discursos, os quais as
referências à realidade podem ser múltiplas e devem ser decifra-
dos. A história oral não trata só do discurso escolhido, mas tem a
ambição de afrontar a linguagem na sua totalidade, não só aquela
dos homens ilustres, mas aquela da gente comum, não só as línguas
cultas, mas os dialetos, não só a expressão explícita, mas os códigos
não-articulados de qualquer um que não tem voz oficial e que essa
o impede de falar e de deixar testemunho de sí e da própria vida. 205
205
FERREIRA, M. de M. História oral e tempo presente. In: BOMMEIHY, I. E.
(Org.). (Re)introduzindo a história oral no Brasil. São Paulo: USP, 1996. p. 16.
206
PASSERINI, L. Storia e soggettività. Firenzi: La Nuova Italia, 1988. p. 33.
124 João Carlos Tedesco
207
PASSERINI, op. cit., 1988. p. 48.
208
FREITAS DUTRA, E, de. Para uma sociologia histórica dos testemunhos:
considerações preliminares. Locus. Revista de História, v. 6, n. 2, Juiz de
Fora: EDUFJF, 2000. p. 75-82.
209
PASSERINI, L. (a cura de). Storia orale, vita quotidiana e cultura materiale
delle classi subalterne. Torino: Rosenberg e Sellier, 1978. Ver também VAN-
SINA, J. La tradizione orale. Roma: Officina, 1977.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
125
Pressupostos teóricos
210
Ver também PASSERINI, L., 1977, op. cit., uma análise histórica da história
oral, suas implicações, preocupações, focos de análise, tendência e polêmicas.
Em A. Portelli e F. Ferrarotti, também é possível encontrar análises nesse
sentido, bem como estudos de casos com referenciais de uso da oralidade como
fonte histórica.
211
FERREIRA, M. M. História oral e multidisciplinaridade. Rio de Janeiro:
Diadorim, 1994. p. 32.
126 João Carlos Tedesco
Edizioni, 1977.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
127
Ver PASSERINI, L. Sette punti sulla memoria per l’interpretazione delle fonti
213
orali. In: Italia Contemporanea, 1981. n. 143. p. 83-92; ver, também, nesse
sentido, PORTELLI, S. La memoria e l’evento. Senso critico, n. 4, 1980.
128 João Carlos Tedesco
Os pressupostos da narração
A minha presença, as minhas perguntas, podem
fazer ver de um outro ponto de vista.
Bermani
215
MIRANDA, W. (Org.). Narrativas da modernidade. Belo Horizonte: Autêntica,
1999.
216
LEFEBVRE, H. La presence et l’absence. Paris: Casterman, 1980.
217
HANDKE apud GUIMARÃES, C., p. 61.
218
GUIMARÃES, C., op. cit.
130 João Carlos Tedesco
224
PASSERINI, L. Vita quotidiana e potere nella ricerca storica. Padova: Marsilio,
1983. p. 100. Ver também sobre essa questão MACIOTI, M. Biografia, storia
e società. Napoli: Ligouri, 1985.
225
RAMPAZI, M., op. cit.
226
THOMSON, A. Desconstruindo a memória: questões sobre as relações da
história oral e da recordação. São Paulo: PUC, 1995. Texto.
227
Ver PASSERINI, L. Storia e soggettività. Firenze: La Nouva Italia, 1988.
132 João Carlos Tedesco
228
JEDLOWSKI, P., op. cit., p. 59
229
JANOTTI, M. L. M. O desafio da história oral. Ciência Hoje, v. 8, n. 48, 1988.
p. 32.
230
JANET, P. Evolution de la mémoire et de la notion de temps. Paris: Desclée
de Bourvier, 1978. p. 69.
231
VALERY, P. apud TADIE; TADIE, op. cit.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
133
235
POLLAK, M. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Históricos, Rio de
Janeiro, v. 2, n. 3, 1989. p. 3-15.
236
JADLOWSKI, P. Il testimone e l’eroe: la socialità della memoria. In:_______,
op. cit., p. 27.
136 João Carlos Tedesco
237
GADAMER, H. G. Verità e metodo. Milano: Bompiani, 1983. p. 38-39.
238
Idem, p. 93.
239
MONTESPERELLI, P. Memoria e ricerca social, p. 182.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
137
240
LE GOFF, J. Memoria. Enciclopédia Einaudi, p. 1070.
241
OLIVIERO, A. Ricordi individuali, memoria collettiva. Torino: Einaudi, 1994.
242
TODOROV, S. Les abus de la mémoire. Paris: Arléa, 1995. p. 46-47.
138 João Carlos Tedesco
244
TODOROV, S. op. cit.
245
CARRERA, L. Il futuro della memoria. Milano: Franco Angeli, 2001. p. 66.
246
CAVALLI, A. Lineamenti di una sociologia della memoria. In: JEDLOWSKI,
P.; RAMPAZI, M. (a cura di), op. cit., p. 34.
247
ELIAS, N. Saggio sul tempo. Bologna: Il Mulino, 1986. p. 67.
140 João Carlos Tedesco
Selecionar memórias
Depois da guerra civil tiveram direito de ter
memória só aqueles que venceram.
J. Semprun
Memória e história
Uma vez registrada, a palavra se destaca da fon-
te e ganha vida própria na mão do pesquisador.
A. Portelli
ROSSI, P. Il passato, la memoria, l’oblio. Sei saggi di storia delle idee. Bologna:
252
Ibidem.
256
duto de um processo de diferenciação cultural e se desenvolve
através da emancipação da memória.257
Para De Certeau, a história é uma narração, na qual es-
paço e tempo se cruzam, produzindo novos tempos e novos
espaços. Nesse cruzamento não existe univocidade nem estabi-
lidade. A narração é um movimento linguístico de espaço/tempo
criativo, sem fronteiras, “topológico” – para usar um termo seu
– é sempre enunciador. Desse modo, a história será reduzida
a espaço linguístico, a uma experiência narrativa de eventos
intercruzados sobre uma base móvel de tempos.258
Alguns autores, dentre os quais Halbwachs, já visto, ex-
pressam que é difícil aproximar história de memória em vir-
tude da racionalidade e da distância crítica de uma e da par-
ticipação emotiva, fragmentada, incompleta e presentificada
de outra. No entanto, Philipe Ariès defende a tese de uma
necessária e possível integração, de uma espécie de dialética
entre história e memória, na qual o recurso à memória cole-
tiva e às memórias privadas permite aos historiadores aban-
donarem o terreno dos eventos públicos, da cronologia oficial
para fixar-se no mundo da vida privada, nas “mentalidades”,
na história local, as quais, segundo o autor, foram submetidas
e derrotadas no momento do triunfo da história sobre a “me-
mória”, sobretudo a memória cultural.259
O encontro entre culturas, geralmente, foi representado
de forma dramática, como evento traumático responsável por
modificar a memória histórica, cultural e identitária. Porém,
isso não basta. As culturas são hoje complexas, não são en-
tidades homogêneas, definidas e descritas em sua totalidade.
As culturas não param; há processos escondidos, silenciados
e imperceptíveis que, todavia, provocam consistentes “derive
257
Idem, p. 153.
258
Apud ASSMANN, A., op. cit., p. 158-159.
259
Ver DE CERTEAU, M. L’ écriture de l’histoire. Paris: Gallimard, 1975.
146 João Carlos Tedesco
260
A ideia e/ou imagem de uma história que sufoca e destrói os vividos, as memó-
rias privadas e locais exercerá uma sedução imensa, uma difusão e persistente
clima de polêmica entre memória e história, no campo da literatura comparada
e da narrativa, da história oral, da história das mentalidades. Ariès é uma
grande referência nesse campo de discussão. Ver ARIÈS, Ph. Historia da vida
privada III. Da Renascença aos Séculos das Luzes. São Paulo: Companhia
das Letras, 1995.
261
FABIETTI, U., op. cit.
262
MONTENEGRO. A. T. História oral e interdisciplinaridade. A invenção do
olhar. In: VON SIMSON, O. (Org.). Os desafios contemporâneos da história
oral. Campinas: Unicamp, 1996. p. 197-212.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
147
Algumas precauções!
1998.
148 João Carlos Tedesco
Thompson, segundo análises revisadas, foi um dos que melhor usou, inovou,
264
265
ALBERTI, V. História oral: a experiência do CPDOC. Rio de Janeiro: CPDHC,
1989.
266
AUGRAS, M. História oral e subjetividade. In: VON SIMSON, O. (Org.). Os
desafios contemporâneos da história oral. Campinas: Unicamp, 1996. p. 27-36.
267
AUGRAS, op. cit., p. 29.
150 João Carlos Tedesco
268
FÉLIX, L. O.; GRIJÓ, L. A. Histórias de vida: entrevistas e depoimentos de
magistrados gaúchos. Porto Alegre: Tribunal de Justiça do Estado do Rio
Grande do Sul, 1999.
269
BRAND, A. História oral: perspectivas, questionamentos e sua aplicabilidade
em culturas orais. In: História – Unisinos, v. 4, n. 2, 2000. p. 195-227.
270
LUCENA, op. cit.
271
PORTELLI, A. Problemi di metodo: sulla diversità della storia orale. In:
BERMANI, C. Introduzione alla storia orale. Toma: Odradek, 1999. v. I.
p. 150.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
151
272
Portelli afirma que a fonte oral é mais caracterizada em espaços e sujeitos
que não possuem a hegemonia da escrita, em estratos socioculturais centrados
na tradição narrativa popular, nas quais a capacidade de se informar e de se
significar intersubjetivamente é mais desenvolvida.
273
MATOS, op. cit., p. 82; ver também LUCENA, op. cit.
274
PORTELLI, A. Memoria collettiva e raconto orale. In: LAZZARIN, G. (a cura
de). Tempo, memoria, identità. Firenze: La Nuova Italia, 1986.
152 João Carlos Tedesco
275
PASSERINI, L., 1986, op. cit., p. 65.
276
Idem, p. 66.
277
LEVI, G. Usos da biografia. In: AMADO, J.; FERREIRA, M. de M., op. cit.,
p. 167-182.
278
LEVI. G. Usos da biografia, p. 169.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
153
279
ROUSSO. H. A memória não é mais o que era. In: AMADO, J.; FERREIRA.
M. de M., op. cit., p. 93-101, cit., p. 94-95.
280
Idem, op. cit., p. 97.
281
PORTELLI. A. O massacre de Civitella Val di Chiana: mito e política, luto
e senso comum. In: AMADO, J.; FERREIRA. M. de M., ob. cit., p. 108.
154 João Carlos Tedesco
284
PORTELLI, A., op. cit., 1999. p. 162.
285
PORTELLI, op. cit., 1999. p. 159.
286
THOMPSON, P. op. cit., p. 48.
287
Um grande estudo que se tornou polêmico no campo historiográfico dos anos
1970, pelo uso e crítica histórica das fontes orais encontra-se em JOUTARD. P.
Trata-se do livro Légende des Camisards. O autor propõe um uso rigoroso das
fontes orais no sentido de estabelecer objetividade na análise. O livro retrata
o movimento dos Camisards contra Luis XIV pela defesa de sua forma de
expressão religiosa protestante. O autor defende a ideia da concomitância da
oralidade com o documento, com a pesquisa arquivística e uma etnologia no
156 João Carlos Tedesco
289
BRAND, A. História oral: perspectivas, questionamentos e sua aplicabilidade
em culturas orais. História – Unisinos, v. 4, n. 2, 2000. p. 205.
290
BRAND, op. cit., p. 208.
158 João Carlos Tedesco
Humanizar a história?
Quem controla o passado, controla o futuro;
quem controla o presente, controla o passado.
G. Orwell
fonti orali per la storia. In:_______ Storia orale (Org.). Torino: Rosenberg e
Sellier, 1978. p. VIII.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
159
292
Paul Thompson analisa muito bem as implicações críticas atribuídas à história
oral, como também presentes ou passíveis de presença na história escrita/
documental sobre suas possíveis deformações, sobre a pretendida veracidade
da quantificação estatística, da autobiografia, do uso de jornais, de dados
censitários, etc. Ver THOMPSON, P. Problemi di metodo nella storia orale.
In: PASSERINI, L. Storia orale. Torino: Rosenberg e Sellier, 1978. p. 31-68.
Portelli diz que é necessário deixar de lado a ideia de que a narração indivi-
dual seja uma ilha e que os grandes fatos coletivos não tenham comunicação
com isso. Ginzburg trabalha com a noção de cultura popular na esfera da
circularidade com a cultura hegemônica, numa perspectiva que pode estar em
diferenciação, mas também uma constante relação de troca e de interpretação.
293
PORTELLI, A. Memoria collettiva e raconto orale. In: LAZZARIN, G. (a cura
di). Tempo, memoria, identità. Firenze: La Nuova Italia, 1986. p. 136.
294
Ver também GRIBAUD, M. Storia orale e struttura del racconto autobiografico.
Quaderni Storici, n. 39, 1978.
160 João Carlos Tedesco
295
LE GOFF, J. Storia. In: Enciclopedia Einaudi, Torino: Einaudi, 1981. p. 1055.
296
PASSERINI, L., op. cit., 1978. p. 113.
297
Ver BERMANI, C. La storia orale. Roma: Odradek, 2000.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
161
Premissas
299
Suas obras mais conhecidas são: La classe ouvrière et les niveaux di vie; La
morphologie sociale; La topographie légendaire des Evangiles en Terre Sainte;
Les cadres sociaux de la mémoire; La mémoire collective (ver melhor indicação
na bibliografia final).
300
Parisiense, filho de professor, nasceu em 1877; desde cedo seguiu a profissão
de seu pai ensinando em liceus; ganhou uma bolsa de estudos e foi estudar
em Berlim. Após uma breve estada em Berlim, retornou à França e passou
a lecionar em grandes universidades, como é o caso da Universidade de
Strasbourg, na Sorbonne e no Collége de France, neste último na cátedra
de Psicologia Social. Grande ativista político, foi, logo no início da Segunda
Guerra Mundial, alvo da Gestapo, tendo sido preso e deportado para o campo
de concentração de Buchenwald, local onde veio a falecer meses antes do
término do conflito mundial.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
165
301
JEDLOWSKI, P.; RAMPAZI, M. (a cura de). Il senso del passato. Milano:
Franco Angeli, 1991.
302
NAMER, G. Mémoire et société. Paris: Méridiens-Klincksieck, 1986; ver,
também, FERRAROTTI, F. La storia e il quotidiano. Roma-Bari: Sagittari
Laterza, 1986.
166 João Carlos Tedesco
P.; RAMPAZI, M. (a cura di). Il senso del passato. Milano: Franco Angeli,
1991.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
167
304
JEDLOWSKI, P. Introduzione (tradução italiana de La memoria collettiva).
Milano: Unicopli, 2001. p. 31.
305
JEDLOWSKI, op. cit.
306
CAVALLI, A. Lineamento di una sociologia della memoria. In: JEDLOWSKI,
P.; RAMPAZI, M. op. cit., p. 34.
168 João Carlos Tedesco
p. 399.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
169
308
Ou seja, Memória coletiva, Les cadres sociaux de la mémoire e Memoria di
Terrasanta (indicamos o título na tradução que revisamos. Ver na bibliografia
final a indicação completa dessas obras).
309
Ver sua Introdução à edição francesa de La mémoire collective...
310
PASSERINI, L. Postfazione (da tradução em italiano de La memoria collettiva).
Milano: Unicopli, 2001.
170 João Carlos Tedesco
311
CARRERA, L., op. cit., p. 17.
312
Ibidem.
313
HALBWACHS, M. Les cadres...
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
171
315
A noção de convencionalização permite-nos entender os mecanismos de
adaptação da memória e sua linguagem em relação ao universo cultural e
ideológico em questão. É uma espécie de modelagem no ato de transferência
de uma situação evocada para os que a evocam. Ver Bosi, op. cit.
316
HALBWACHS, M. A memória coletiva, p. 114.
317
BOSI, E., op. cit.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
173
318
Essa obra foi publicada em 1950 como obra póstuma, após o autor ter escrito,
em 1941, Topografie légendaire des Evangelis en Terre Sainte, no qual havia
recolhido análises empíricas que alimentariam a tese da memória coletiva.
319
LE GOFF, J., op. cit., p. 212.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
175
320
JEDLOWSKI, P., op. cit. p. 51.
321
HALBWACHS, M. Les cadres..., p. XV.
322
HALBWACHS, M. Les cadres..., p. 23.
176 João Carlos Tedesco
323
NAMER, G. L’affectivité du temps de la mémoire. In: L’ Homme et la société.
Paris: L’Harmattan, 1989.
324
PASSERINI, op. cit., 2001. p. 264.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
177
325
Ver TEDESCO, J. C. (Org.). Usos de memória.
326
Ver BOSI, op. cit.
327
Ver HOBSBAWM, E.; RANGER, J. T. A invenção das tradições...
178 João Carlos Tedesco
328
HALBWACS, M. A memória coletiva. p. 16.
329
Idem., p. 26.
330
NISIO, F. V. Comunità dello sguardo: la sociologia ethica di Maurice Halbwa-
chs. Rassegna Italiana di Sociologia, a. XLI, n. 3, lug./set., 2000. p. 323-360.
Sobre o pensamento de Halbwachs, ver, também, AMIOT, M. Le systéme de
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
179
333
HALBWACHS, M. Les cadres. p. 165-166.
334
THOMPSON, P. A transmissão cultural entre gerações dentro das famílias:
uma abordagem centrada em histórias de vida. Ciências Sociais Hoje, Anpo-
cs/Hucitec, 1993. p. 9-19; ver, também, do mesmo autor, A voz do passado:
história oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
335
LINS DE BARROS, M. M. Densidade de memória, trajetória e projeto de
vida. Estudos Feministas, n. 1, 1997. p. 140-147.
336
LINS DE BARROS, op. cit., p. 139.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
181
343
Id. ibid., p. 42.
344
HALBWACHS, M. Les cadres... p. 25.
345
Idem, p. 38.
346
NAMER, G. Mémoire et société. p. 23.
184 João Carlos Tedesco
349
DOMINGUES, J. M. Sociologia da cultura, memória e criatividade social.
Dados, Rio de Janeiro, n. 2, 1999. p. 303-339.
350
Idem, p. 308.
186 João Carlos Tedesco
353
HALBWACHS, M. A memória coletiva. p. 34.
354
COENEN-HUTHER, J. La mémoire familiale: un travail de reconstruction
du passé. Paris: L´Harmattan, 1994. p. 16.
355
LINS DE BARROS, M. M. Memória e família. Estudos Avançados, Rio de
Janeiro, v. 2, n. 3, 1989. p. 29-42.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
189
358
HALBWACHS, M. La memoria collettiva... p. 177.
359
HALBWACHS, op. cit., p. 147.
360
Id. ibid., p. 107.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
191
363
HALBWACHS, M. Les cadres... p. 152-153.
364
Ver NAMER, G., op. cit., 1986; ver, também, FARRUGIA, F. La crise du lien
social. Essai de sociologie critique. Paris: L’Harmattan, 1993.
365
Id. ibid., p. 136 e 159.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
193
Id. ibid., p. 9.
366
194 João Carlos Tedesco
Memória e velhice
(fragmentos de empiria)
É comum, nas análises da dimensão biológica, psíquica
e social da memória, a afirmação de que os idosos relembram
mais, têm mais presente em sua lembrança “coisas do passa-
do” e menos “coisas do presente”.
As pessoas idosas, se sabe, passam quantidade sempre maior de
tempo falando e pensando no passado. Parece natural que sendo
e/ou sentindo-se excluídos do andar das coisas, sua vida se torna
mais gratificante e prazerosa, nos quais os eventos possuíam um
impacto mais profundo. Quando o futuro parece pouco promissor,
e o pensar é, inevitavelmente, acompanhado da ideia de morte,
os interesses regridem em direção aos anos passados. A pessoa
torna-se incapaz de lembrar eventos recentes e vive sempre mais
em um remoto passado como se uma sombra fosse colada sobre os
eventos recentes.368
369
TADIE, J, I.; TADIE, M. Il senso della memoria. Bari: Dedalo, 2000. p. 213.
370
MONTPASSANT, G. apud TADIE; TADIE, op. cit., p. 215.
371
Uma excelente análise fenomenológica sobre a correlação entre tempo e me-
mória está em PROUST, M. Alla ricerca del tempo perduto. Torino: Einaudi,
1981.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
197
372
LUCENA, op. cit.
373
LINS DE BARROS, M. M. Densidade de memória, trajetória e projeto de
vida. Estudos Feministas, n. 1, 1997. p. 140-147.
374
Não é exagero afirmar que, em muitas famílias de colonos por nós visitadas,
a aposentadoria dos idosos é a maior receita da unidade, mesmo que gire em
torno de um salário mínimo. A aposentadoria e/ou pensão pela morte de um
dos cônjuges redefiniu relações de co-presença e obrigações entre pais, filhos
e netos no agrupamento familiar do colono. O pragmatismo de sua presença
reveste-se também para os “nonos” na perspectiva da autoridade, do poder,
de adotar estratégias para se fazer sentir e valer.
375
Ver nosso livro Memória e cultura...
198 João Carlos Tedesco
A afetividade na memória
Se pode sorrir, se pode sofrer, se pode morrer de
uma recordação.
Moustaki
RIBOT, Th. apud TADIE, J. I.; TADIE, M. Il senso della memoria. Bari:
376
n. 1, 1997. p. 182-192.
204 João Carlos Tedesco
italiana para o Rio Grande do Sul. In: SULIANI, A. (Org.). Etnias & carisma.
Porto Alegre: Edipucrs, 2001. p. 761-781.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
205
384
LINS DE BARROS, M, M. Memória e família. Estudos Históricos, Rio de
Janeiro, v. 2, n. 3, 1989. p. 35.
385
CARNEIRO, M. Memória, esquecimento e etnicidade na transmissão do pa-
trimônio familiar. In:_______ et al. Campo aberto. O rural no estado do Rio
de Janeiro. Rio de Janeiro: Contra Capa, 1998. p. 273-293.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
207
389
WOORTMANN, E. Árvore da memória. Anuário Antropológico, n. 92, 1994.
p. 113-131.
390
GIRON, L. S. Da memória nasce a história. In: A memória e o ensino de
história – Anpuh, Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2000. p. 23-38.
212 João Carlos Tedesco
Numa perspectiva mais ampla, tanto Le Goff quanto Nora afirmam que a
392
não dizem quase nada do que ouviam falar de seus pais e/ou
avós sobre a Itália. A fonte de sua memória é o espaço onde
viveram. Aspectos desse vivido manifestam-se como produto
desse espaço e como manipulação e presença de objetos, fatos
e representações desses no vivido em família, no trabalho e
nas atividades de visualização e de contato público, proces-
sos esses reconstrutores do passado e capazes de justificar, na
história, sua presença e seu vivido extemporâneo ao presente.
A rememoração de alguns fatos, relegando outros ao in-
significante e/ou esquecimento, cria imagens e produz senti-
dos que podem ser ideologizados, particularizados, manipula-
dos pelas circunstâncias, enquadrados pelo material fornecido
e, geralmente, legitimados no vivido, por meio da experiência.
Temporalidades contínuas
A memória é a continuidade do passado num
presente que dura.
Ferrarotti
Ver AUGÉ, M. Storie del presente. Per una antropologia dei modi contempo-
399
400
As narrativas de memória poderiam ser incorporadas ao discurso das ciên-
cias sociais e humanas no sentido da análise discursiva (hermenêutica), da
substituição do conteúdo, da localização temporal (contexto) da(s) visão(es)
de mundo e da comunicação, das ordens dos tempos (mudança e duração das
formas de existência social).
401
MAZZUCCHI FERREIRA, M. L. Memória e velhice: do lugar da lembrança.
In: LINS DE BARROS, M. M. (Org.). Velhice ou terceira idade? Estudos an-
tropológicos sobre identidade, memória e política. Rio de Janeiro: FGV, 1998.
p. 209-221.
402
Idem.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
221
403
Não nos interessamos aqui pela questão da veracidade, objetividade/subjetivi-
dade das fotos, mas, sim, tentamos refletir sobre sua comunicação simbólica, os
sentimentos no vivido dos nonos; manifestações essas, em geral, direcionadas
à vida camponesa, que se articula com a terra, com a sociabilidade dos “seus”
(os camponeses) na comunidade (nos momentos de festas e de rituais religiosos
públicos) na família (sentido de agrupamento dos membros reunidos e seus
rituais alimentares). Trabalho, família e sociabilidade, fragmentados e unidos,
em várias dimensões e ações, constituem o tripé expressivo, comunicativo da
ilustração fotográfica. Atualmente, encontram-se fotos de nonos com netos/
bisnetos pequenos. Esse processo é revelador de co-presença, coabitação e de
redefinições de funções dos primeiros nos agrupamentos familiares.
404
LINS DE BARROS, 1989, op. cit., p. 40.
222 João Carlos Tedesco
405
Bourdieu, analisando esse processo nos anos 1960, fala no uso e na reprodução
de massa da fotografia, vinculando-a a um sistema de disposição inconsciente,
histórico e significativo (habitus) de classe. O autor aprofunda e identifica
possíveis motivações psicológicas da fotografia: proteção contra a angústia da
passagem do tempo e de suas consequências corporais; possibilitar relações
afetivas e comunicativas com os outros; transferir prestígio pessoal (registro
de viagens, rituais de passagem sociais, culturais matrimoniais, vitórias…)
e distração. Para além das motivações psicológicas, os âmbitos econômico/
sociais e culturais estão presentes no uso instrumental da fotografia. Bourdieu
desenvolve essa questão junto a operários, camponeses, profissões médias
variadas e conclui que a fotografia é expressão de um ethos de classe, é um
símbolo e objeto material representante da pequena e média burguesia.
406
SONTAG, Sulla apud D’AUTILIA, G. L’indizio e la prova: la storia nella
fotografia. Milano: La Nuova Italia, 2001. p. 145.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
223
Sua fruição (mais ativa ou não) depende, além dos significados, de sua capa-
408
409
Bourdieu e Ariès já analisaram a ausência de crianças nas fotos de tempos
passados, os rituais sazonais que as legitimavam e demandavam, a relutância
camponesa de seu uso e o significado burguês a elas atribuídas, os momentos
de unidade e de reforço de consciência de grupo, o prestígio social muito mais
do que a individualidade que deve servir de memória, a comunicação simbólica
da família nuclear... Enfim, um instrumento para contar história. Ver BOUR-
DIEU, P. (a cura di). La fotografia. Uso e funzioni sociali di un’arte media.
Rimini: Guaraldi, 1972; ver, também, ARIÈS, Ph. Padri e figli nell’Europa
medievale e moderna. Roma-Bari: Laterza, 1991.
410
LANZARO, L. Note sull’uso delle fotografie nella ricerca storica. Italia Con-
temporanea, n. 228, set. 2002. p. 523-532.
226 João Carlos Tedesco
412
Antigamente, a memória histórica era privilégio só dos poderosos, expressa em
memória escrita, arquivos, bibliotecas, monumentos, genealogias, na forma de
retratos, esculturas, pinturas, etc. Com o avanço da burguesia, ampliou-se a
possibilidade de memória e a sua necessidade como expressão da afirmação de
identidade. Ver sobre isso, LE GOFF, J. Memoria. In: Enciclopedia Einaudi...
Ver BOURDIEU, P. La fotografia...
413
LE GOFF, J. Memoria. Op. cit., p. 1070.
414
SEGA, M. T. Lo specchio dotato di memoria: la fotografia. In: LAZZARIN,
G. (a cura di), op. cit., p. 187-189. Encontramos em DE LUNA, G. et al. (a
228 João Carlos Tedesco
Ibidem.
416
230 João Carlos Tedesco
Diz Halbwachs que “as sociedades, ao atribuir aos velhos a função de conservar
417
418
Sobre a noção de corrente de pensamento (como história escrita e vivida) e
sua lógica de lembrança e de reprodução pelos grupos, ver o texto de Halbwa-
chs “La mémoire collective chez les musiciens”, em La mémoire collective.
Nesse texto, a noção de “traços do passado” é de fundamental importância
para história oral, da conservação e exteriorização das correntes de memória
dominantes, de como determinados quadros sociais lançam mão de formas
que permitem a reconstrução do passado e fortalecimento da tradição e da
vontade de hegemonia de determinados grupos e dos conflitos entre grupos
e suas memórias.
419
NAMER, G. Mémoire et... p. 239.
420
SIMMEL, op. cit.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
233
421
GADAMER, op. cit., HUSSERL, op. cit., ao falar de experiência desenvolve
a noção de epochè e de mundo da vida. A primeira significa suspender os
juízos, colocar entre parênteses os significados e as categorias com os quais
cotidianamente se compreende o mundo; colocar em suspenso aquilo que
me parece saber já. O mundo da vida dá ideia de uma esfera vital na qual
o sujeito está inserido irrefletidamente, porém sensível e praticamente, pois
envolve o vivido, a experiência, a subjetividade; é a esfera que precede as
categorizações da realidade, do pensamento reflexivo, da ciência..., porém
que não pode ser descrito exaustivamente, pois envolve também sentidos.
Ver HUSSERL, La crisi delle scienze europee. In: JEDLOWSKI, P. Il sapere
dell’esperienza. Milano: Il Saggiatore, 1994.
422
FARRUGIA, F. Une brève histoire des temps sociaux: Durkheim, Halbwachs,
Gurvitch. Cahiers Internationaux de Sociologie, v. CVI, 1999. p. 101.
234 João Carlos Tedesco
Ibidem.
423
Capítulo 14
Filtragem de memória
426
FERRETTI, M. La memoria mutilata. La Russia ricorda. Milano: Corbaccio,
1993.
427
PASSERINI, L., op. cit., 2003. p. 39.
238 João Carlos Tedesco
428
PASSERINI, L. Soggettività e intersoggettività in sperimentazioni universi-
tarie di didattica e formazione. In: CIRIO, P. (a cura di). Individui, soggetti
e storia. Milano: Mondadori, 1991.
429
GIRON, L. S. Da memória nasce a história. In: A memória e o ensino da
história. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2000. p. 23-38.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
239
430
RICOEUR, P. La mémoire...
431
TODOROV, T. Les abus de la mémoire. Paris: Arléa, 1995. p. 13 e 150.
432
Ver RICOEUR, P. La mémoire, l’histoire, l’oubli (p. 108). Para uma análise
interessante sobre o uso ideológico do discurso como forma de manipulação
do poder, do “dever de memória”, em nome da justiça das vítimas de abusos
de ideologias repressivas, ver RICOUER, P. op., cit., na discussão que o autor
faz do livro de ROUSSO, H. Le syndrome de Vichy, de 1944 à nos jours. Paris:
Seuil, 1987.
240 João Carlos Tedesco
433
NORA, P. (Dir.). Les lieux de mémoire (III – Les France). Paris: Gallimard,
1986.
434
Ver, nesse sentido, ROSSI-DORIA, A. Memoria e storia: il caso della depor-
tazione. Soveria: Rubbettino, 1998.
435
RICOEUR, P. La mémoire, l’histoire, l’oubli, p. 584. Nessa obra (p. 536-589),
o autor faz uma excelente análise sobre a manipulação da memória, sobre
o esquecimento comandado principalmente durante a ocupação alemã na
França, sobre os movimentos de liberação, o anti-semitismo, a estrutura
política do país no período, a desmistificação do resistencialismo posterior, a
exortação ao esquecimento, à omissão, à cegueira, ao perdão, à anistia (essa
como esquecimento institucional e disseminado), à política de tolerância em
nome da unidade nacional e a uma “amnesia comandada” e privada da carga
traumática, um quadro de terapia social guiado pelo espírito do perdão.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
241
437
GIDDENS, A. A vida em uma sociedade pós-industrial. In: BECK, U. (Org.).
Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna.
São Paulo: Unesp, 1997. p.73-113.
438
GIDDENS (p. 112) tematiza o papel do ritual na preservação, garantia e
prática da tradição, no seu caráter moral, como medida de segurança. “O
ritualismo existe onde as atividades rituais estão ligadas a noções místicas.
A ritualização das relações sociais existe onde a interação social tem uma
forma padronizada adotada como modo de definição dos papéis que as pessoas
representam em ocasiões cerimoniais.”
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
245
Ressignificação de memórias
falas estão nos estudos que antecederam o presente, tais como Terra, trabalho
e família; Memória e cultura e Um pequeno grande mundo: a família italia-
na no meio rural (ver referência mais completa na bibliografia). Aqui, parte
desse material será analisada com o objetivo de aprofundar os significados de
memórias, as reconstruções das formas de pensar e de viver, seja no horizonte
da fala, seja no âmbito do cotidiano vivido e no significado cultural para os
grupos de pertencimento étnico.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
249
442
As representações simbolizam traços de memória, reconstrução coletiva ou
individual, substituição e identificação objetal e simbólica de uma presença
ausente produzida na memória e passível de se fazer identificar. Nesse sentido,
ver CHARTIER, R. A história cultural entre práticas e representações. Rio de
Janeiro: Bertrand, 1990.
443
RASIA, op. cit.
252 João Carlos Tedesco
444
THOMPSON, E. P. A miséria da teoria ou um planetário de erros. Rio de
Janeiro: Zahar, 1981.
445
Idem., 1981. p. 263.
446
A noção de campo perpassa inúmeros trabalhos de Bourdieu, referindo-se,
sinteticamente, ao espaço de disposições dos agentes em lutas e conflitos por
posições, recursos, legitimidades, status, delimitados por esferas possíveis de
ação, nas quais atuam de acordo com os interesses em jogo. Portanto, é um
espaço de disputas de interesses de posições e correlações de classes, reforçador
de legitimidade da estrutura social.
447
O habitus é o “sistema de disposições duráveis e transponíveis, estruturas
estruturadas predispostas a funcionar como estruturas estruturantes, isto é,
enquanto princípios geradores e organizadores de práticas e representações
[...]; ele assegura a presença ativa das experiências passadas que, depositadas
em cada organismo, sob a forma de esquemas de percepção, de pensamento
e de ação tendem, mais seguramente que as regras formais [...] a garantir a
conformidade das práticas e sua constância no tempo”. Ver BOURDIEU, P.
O poder simbólico. Rio de Janeiro: Difel, 1989. p. 91.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
253
450
Ver algo nesse sentido em KRZYSZTOF, P. De l´histoire à la mémoire. Revue
de Métaphysique et de Morale, Paris: CNRS, n. 1, jan./mar. 1998. p. 63-110.
451
PAOLI, M. C. História e cidadania: o direito ao passado. In: Secretaria Muni-
cipal da Cultura/PMSP. O direito à memória: patrimônio histórico e cidadania.
DPH, São Paulo, 1991. p. 27.
256 João Carlos Tedesco
Ver ROCHE, J. A imigração alemã no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Globo,
455
1969. v. I.
262 João Carlos Tedesco
Ibidem.
456
Idem.
459
266 João Carlos Tedesco
gração. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 22, n. 44, 2002. p. 359.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
271
466
Ver WOORTMANN, E.; WOORTMANN, K., op. cit.
467
DAMASCENO, M. N. A construção do saber social pelo camponês na sua
prática produtiva e política. In:_______ (Org.). Educação e escola no campo.
Campinas: Papirus, 1993.
468
Idem.
274 João Carlos Tedesco
Memória e etnia
A memória dos lugares pode ser diferente dos
lugares de memória.
Lucena
470
YEATS, F. L’arte della memoria. Torino: Einaudi, 1972.
471
JEDLOWSKI, P. Storie comuni. La narrazione nella vita quotidiana. Milano:
Mondadori, 2000. p. 60.
472
A análise contida nesse item baseia-se em estudos anteriores, já informados,
bem como na literatura sobre imigração que aborda fatores de ordem simbó-
lica, de formas de organização da vida do grupo étnico em questão, bem como
de projeções midiáticas recentes sobre determinados aspectos da cultura e
etnia italiana. A bibliografia aqui é muito vasta. Independentemente de suas
formas de abordagem, há aqui uma produção, acadêmica ou não, de grande
envergadura.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
277
473
JEDLOWSKI, P. Memoria. Rassegna Italiana di Sociologia, v. XXXVIII, n. 1,
gen./marz. 1997. p. 135-146.
474
GUIMARÃES, C. Imagens de memória: entre o legível e o invisível. Belo
Horizonte: UFMG, 1997. p. 21 e 37.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
279
A centralidade da família
O saber que vem de longe encontra hoje menos
ouvintes que a informação sobre acontecimentos
próximos.
Benjamin
O mundo do trabalho
Já se foi o tempo em que o tempo não contava.
P. Valéry
481
LUCENA, op. cit.
482
Id. ibid.
483
ASSMANN, op. cit.
286 João Carlos Tedesco
A força do simbólico
Nossos braços e pernas estão cheios de lembran-
ças entorpecidas.
Proust
488
ZONABEND, F. La memoria lunga. I giorni della storia. Milano: Armando,
2000.
489
HANFF apud LOWENTHAL, D. Como conhecemos o passado. Projeto História,
São Paulo, n. 17, 1998. p. 161.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
289
490
LOWENTHAL, D. Como conhecemos o passado. Projeto História, São Paulo,
n. 17, 1998. p. 180.
491
VYGOTSKI, L. apud LEONE, G. I confini della memoria. I ricordi como
risorse sociali nascoste. Catanzaro: Rubbetino, 1998. p. 48-55.
290 João Carlos Tedesco
492
NORA, P. Mémoire collective. In: LE GOFF, P.; CHARTIER, R.; LADURIE,
Le Roy. La nouvelle histoire. Paris: CEPL, 1978. p. 401.
493
LOWENTHAL, D. Como conhecemos o passado. p. 94.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
291
496
JEDLOWSKI, P. Storie comuni. La narrazione nella vita quotidiana. Milano:
Mondadori, 2000. p. 25.
497
JEDLOWSKI, P. Storie comuni... p. 44.
498
Ibidem.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
297
ECO, U. Sei passeggiate nei boschi narrativi. Milano: Bompiani, 1994. p. 111.
499
p. 27-28.
304 João Carlos Tedesco
Ver sobre essa análise do capital simbólico que envolve reputação, respeitabi-
510
512
LÉVI-STRAUSS, C. já dizia que “cada matrimônio compromete o equilíbrio
do grupo social”. Ver Le cru et le cuit. Paris: Plon, 1976. p. 334.
513
Ver LUCENA, C. T. Artes de lembrar...
308 João Carlos Tedesco
para mostrar algo que possui sua marca, sua presença e sua
importância, dinamizam essa dialética da presença-ausência
que reflete a ideia de rastro.
O rastro é um signo inscrito (significado) e escrito (marca
material e visível), narrável ainda porque, para os idosos, tem
visibilidade e existência. Os idosos querem lhe dar um lugar;
querem, conscientemente, lhe propiciar uma digna sepultura
diante da ameaça do esquecimento e, consequentemente, de
sua insignificância. Uma idosa nos disse que chorou “dias e
dias” quando viu um vizinho que comprou uma chácara demolir
o moinho que seu “finado esposo levou mais de dois anos para
fazer” há cinquenta anos, pois, além de não funcionar mais, a
construção era feita de madeiras nobres, comercializáveis.
O rastro é consciente e intencionalmente passível de es-
quecimento, anulando sua existência, ou, é desejoso de sub-
sistir. Nessas duas dimensões entram critérios de verificação
e falsificação de experiências, enraizamento e esquecimento
de referências, sujeitos, fatos e objetos. No fundo, o que sem-
pre se reivindica é a presença da ausência ausente ou da au-
sência da presença; o que está em jogo é sempre a consciência
do poder da morte, ou para não ser mais lembrado, ou para
reconhecer sua vida e lhe permitir rastros de existência.
A apropriação humana da natureza pela mediação técni-
ca, e não pelas forças tradicionais e formas artesanais dos ido-
sos, deixa-os receosos, amedrontados, proféticos, apocalípticos
e um pouco negativistas. Com a mecanização da agricultura,
nem os homens, nem os animais tinham mais necessidade
de suar como antes; os cavalos e mulas foram eliminados da
agricultura e menos homens agora trabalham. “A técnica só
quer tirar e, qualquer dia, esgota”, em nome da racionalidade
do lucro, da redução do ciclo produtivo e de engorda, do au-
mento da produtividade e da diminuição do trabalho manual
e rústico.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
313
Idem, p. 55.
522
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
323
523
LUCENA, op. cit.
524
DURHAN E. R. A caminho da cidade: vida rural e migração para São Paulo.
São Paulo: Perspectiva, 1978. p. 130.
525
LUCENA, op. cit., 1999.
324 João Carlos Tedesco
LUCENA, 1999.
527
LUCENA, p. 139-140.
532
330 João Carlos Tedesco
Memória de gênero
A memória reescreve a realidade vivida.
Lucena
533
Ibidem.
534
MAGNANI, J. G. C. Festa no pedaço: cultura popular e lazer na cidade. São
Paulo: Brasiliense, 1984. p. 18-19.
535
LUCENA, C. T., op. cit.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
331
541
THOMPSON, E. P. Costumes em comum. São Paulo: Companhia das Letras,
1999.
542
TEDESCO, J. C. Ateliês industriais no meio rural: racionalidades empresariais
e dinâmicas familiares. Passo Fundo: Clio Livros e Méritos Editora, 2003.
543
VERDIER, I. apud LUCENA, op. cit.
336 João Carlos Tedesco
544
LOWENTHAL, D., op. cit.
545
LÉVI-STRAUSS, C. apud LOWENTHAL, D., op. cit., p. 112.
546
LOWENTHAL, D., op. cit., p. 116-117.
Nas cercanias da memória: temporalidade, experiência e narração
339