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A PESQUISA ETNOGRÁFICA NO CONTEXTO INDÍGENA APINAJÉ

Severina Alves de ALMEIDA (Sissi)1


Francisco Edviges ALBUQUERQUE2
Rosineide Magalhães de SOUSA3
Ângela Maria SILVA4
Renato dos Reis FERREIRA5

Resumo

Este artigo delineia os trâmites metodológicos na condução de um trabalho que vem se realizando nas
aldeias indígenas Apinajé “São José e Mariazinha”. Os Apinajé são um povo indígena integrante do Tronco
Macro-Jê, pertencem à Família Linguística Jê e habitam nas terras Apinajé situadas no extremo norte do
estado do Tocantins, numa zona de transição entre o Cerrado e a Amazônia, na região do Bico do Papagaio.
O objetivo da pesquisa é estudar, conhecer e analisar o processo de formação dos professores de
alfabetização intercultural e bilíngue das escolas indígenas Apinajé “Matyk e Tekator”, com ênfase no
Professor de Língua Materna. Através de uma proposta metodológica Transdisciplinar, acionamos os
pressupostos que tratam das pesquisas qualitativa, etnográfica e participante, tanto no contexto da
antropologia social quanto da etnografia educacional. Discorremos sobre a pesquisa etnográfica, suas fases,
procedimentos e técnicas, elegendo a observação participante como um dos procedimentos vitais da
etnografia no contexto escolar Apinajé. Nessa mesma direção, agrupamos a entrevista semidirigida
enquanto técnica que promove a interação e a microanálise etnográfica como aporte facilitador no
momento da análise e interpretação dos dados, na realidade específica da Sociedade Indígena Apinajé.

Palavras Chave: Apinajé; Pesquisa Qualitativa; Pesquisa Etnográfica; Contexto Escolar Apinajé.

THE ETHNOGRAPHIC RESEARCH IN THE INDIGENOUS CONTEXT APINAJÉ

ABSTRACT

This paper outlines the methodological procedures in conducting a work that is taking place in the
indigenous villages Apinajé "São José e Mariazinha." The Apinaye are an indigenous member of the
Tronco Macro-Je, belong to the Family and Linguistics Jê Apinajé inhabit the lands situated in the far
northern state of Tocantins, in a transition area between Cerrado and Amazonia in the region of the “Bico
do Papagaio”. The goal is to study, understand and analyze the process of training teachers of literacy and
intercultural bilingual indigenous schools Apinajé "Mãtyk and Tekator" with emphasis on the teacher of
language. Through a methodology Interdisciplinary we put assumptions dealing with qualitative research,
ethnographic and participatory, both in the context of social anthropology as the ethnography of education.
We discuss the ethnographic research, stages, procedures and techniques, choosing the participant
observation as one of the vital procedures of ethnography in the school context Apinajé. In this direction,
1
Pedagoga. Mestranda do MELL – Mestrado em Língua e Literatura do PPGL – Programa de Pós Graduação em
Letras da UFT - Universidade Federal do Tocantins, Campus de Araguaína e bolsista do Programa do “Observatório
de Educação Escolar Indígena” CAPES/UFT. e-mail: sissi@uft.edu.br.
2
Professor Adjunto da UFT - Universidade Federal do Tocantins – Campus de Araguaína e orientador da pesquisa. e-
mail: fedviges@uol.com.br.
3
Doutora em Linguística; Professora Adjunta da Faculdade da UnB de Planaltina FUP. Coordenadora do grupo de
estudos CNPq SOLEDUC. E-mail: rosimaga@uol.com.br.
4
Mestre em Educação; Pedagoga; Bacharel em Odontologia; Diretora geral da Faculdade de Ciências do Tocantins
FACIT. E-mail: angela_ortoface@hotmail.com.
5
Coordenador e Professor do Curso de Análise e Desenvolvimento de Sistema da Faculdade de Ciências do Tocantins
FACIT. e-mail: ads@faculdadefacit.edu.br.

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we grouped the semistructured interview as a technique that promotes interaction and ethnographic
microanalysis as a support facilitator at the time of analysis and interpretation of data, the specific reality of
the Indigenous Society Apinajé.

Keywords: Apinajé, Qualitative Research, Ethnographic Research, School Context Apinajé.

Introdução objetivo descrever as bases teóricas


metodológicas que norteiam sua execução.
A década de 1990 veio consolidar os
O texto está estruturado da seguinte
dispositivos da Constituição Federal
forma: primeiro fazemos uma apresentação
(CRFB/88) quando foi promulgado um
dos passos metodológicos, identificando seu
Decreto Lei que delegou ao MEC - Ministério
teor numa concepção Transdisciplinar. Em
da Educação - a execução de políticas
seguida fazemos uma análise teórica da
públicas voltadas para a educação escolar
pesquisa etnográfica e da observação
indígena em substituição à FUNAI, órgão
participante, sendo estas associadas à pesquisa
responsável pelo setor até então no País,
qualitativa enquanto excelência da
delegando sua organização aos Estados e
investigação científica sobre a educação
Municípios, a qual passa a figurar nos
Apinajé. Outro tópico trata dos fundamentos
documentos educacionais posteriores: LDB -
da etnografia aplicada à educação, bem como
Lei de Diretrizes e Bases para a Educação
suas fases de execução, com destaque para as
Nacional (1996); PDE - Plano Nacional de
entrevistas, a redação, a interpretação e a
Educação (1998) e no RCNEI - Referencial
análise dos dados, quando elegemos a
Nacional para as Escolas Indígenas (2002).
microanálise etnográfica como procedimento.
Nesse sentido, e considerando a
Para concluir, tecemos algumas considerações
importância de se estudar a educação escolar
retomando o que foi discutido no texto.
no contexto Apinajé, bem como a necessidade
de compreender a ação e as práticas
1– Uma proposta Metodológica
pedagógicas de professores bilíngues das Transdisciplinar
escolas Mãtyk e Tekator das aldeias São José e
A Transdisciplinaridade, segundo
Mariazinha, em consonância com o
Nicolescu (2008:53), diz respeito àquilo que
desenvolvimento de um projeto
está ao mesmo tempo entre as disciplinas,
interdisciplinar que auxilie no processo
através das diferentes disciplinas e além de
educativo intercultural, idealizamos a pesquisa
qualquer disciplina, sendo seu objeto de estudo
que originou este artigo, o qual tem por
a compreensão do mundo presente, para o qual
um dos imperativos é a unidade do

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conhecimento. Nessa perspectiva situamos novas questões para futuras investigações


nossa proposta metodológica numa concepção numa realidade específica.
transdisciplinar, apresentando as bases teóricas As características ou princípios
de: Kuhn (1992); Laplantine (2005); Laburthe- associados à etnografia e à observação
Toira e Warnier (1997); Brandão (1982); Filho e participante superpõem-se às características
Gamboa (2009); (Cardoso, 2009); Bogdan e gerais da pesquisa qualitativa e, segundo
Biklen (1994); Zpeleta e Rockwell (1989); Cardoso (2009), tais procedimentos são um
Gatti (2001); Michelat (1980); Geertz, (1989); meio de organizar os dados, preservando do
Ferreira (1997); Oliveira (2000); André (1995; objeto estudado o seu caráter unitário.
2004); Fonseca (1998); Viégas (2007); Mattos Considera a unidade como um todo, incluindo o
(2001); que tratam das pesquisas qualitativa, seu desenvolvimento (pessoa, família, conjunto
etnográfica e participante, tanto no contexto da de relações ou processos etc.). Vale lembrar, no
antropologia social quanto da etnografia entanto, que a totalidade de qualquer objeto é
educacional. uma construção mental, pois concretamente não
Priorizamos os procedimentos da há limites se não forem relacionados com o
etnografia e da observação participante porque objeto de estudo da pesquisa no contexto em
estas ciências apresentam aspectos que que será investigada. Portanto, por meio da
possibilitam investigar um fenômeno dentro observação participante e da etnografia
de seu contexto escolar Apinajé, observando- aplicados ao método qualitativo, o que se
o, mas não interferindo diretamente. Não pretende é investigar, como uma unidade, as
obstante, estes tipos de pesquisa apresentam características importantes para o objeto de
um forte cunho descritivo, no qual o estudo da pesquisa. Daí o caráter
pesquisador não pretende intervir sobre a Transdisciplinar deste trabalho.
situação detectada, mas conhecê-la, tal como Em relação ao corpus investigado, este
ela surge, podendo utilizar vários instrumentos recai sobre os professores indígenas Apinajé e
e estratégias metodológicas. Entretanto, tais suas práticas pedagógicas nos anos iniciais do
procedimentos não precisam ser meramente Ensino Fundamental nas Escolas Mãtyk e
descritivos. Antes, podem ter um alcance Tekator das aldeias Apinajé São José e
analítico profundo, podendo interrogar a Mariazinha, e contempla:
situação, confrontando-a com outras já
conhecidas e/ou com as teorias existentes. Estudos Teóricos: Este procedimento,
Pode também contribuir para novas teorias e utilizado com bastante propriedade, se
caracteriza por revisão bibliográfica

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voltada para os autores destinados às Pesquisa Etnográfica: Esta consiste em


pesquisas etnográficas e à educação nossa inserção no ambiente da pesquisa,
escolar indígena de base específica, nas aldeias e em suas escolas, observando
bilíngue e intercultual, e se dá durante os atores educacionais (diretores,
todo o período da pesquisa, de forma que coordenadores, professores, alunos, etc.)
subsidie as demais etapas da investigação. em suas atividades cotidianas na sala de
A ênfase maior está nas produções aula e também fora dela. Isso porque
etnográficas da Educação Indígena; da consideramos o ambiente externo e seu
Educação Bilíngue e Intercultural; da entorno parte importante para a edificação
sociedade Apinajé; e da formação do de uma educação intercultural, e está
professor indígena que atua nas escolas de sendo sistematizada por um diário de
suas aldeias, bem como dos documentos campo com transcrições, anotações,
legais e normativos que tratam da gravações, fotografias e filmagens.
educação diferenciada para os povos
indígenas. Pesquisa de campo: Esta, que se
configura, também, como a parte
Pesquisa Documental: Tal procedimento empírica, realiza-se de forma
se faz necessário uma vez que, para exploratória, ocorrendo por meio de um
entendermos o universo do professor roteiro básico de entrevistas com
indígena alfabetizador bilíngue e questionários aplicados às escolas,
intercultural, precisamos mapear englobando: diretores, coordenadores,
historicamente o contexto em que o professores e alunos indígenas. Quanto
mesmo está inserido, ou seja, a escola na aos professores indígenas, investigamos
qual leciona; levantando dados que sua trajetória, nomeadamente em relação
registrem e investiguem a trajetória da ao bilinguismo. Dessa forma, os dados
instituição e dos professores que por lá coletados e as informações obtidas
passaram e também dos que lá atuam, durante a pesquisa, os quais se encontram
estendendo-se, também, aos indicadores em fase de sistematização, posteriormente
relativos ao fluxo de alunos, considerando serão analisados e descritos à luz da
que a categoria tempo pode elucidar pesquisa qualitativa, utilizando a
questionamentos importantes. microanálise etnográfica.

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Além destes aspectos, consultamos a interpretação puramente etimológica. “A


Diretoria Regional de Ensino de Tocantinópolis etnografia tem por vocação, de origem, dar
– DRET, no que tange ao monitoramento e palavra aos humildes, àqueles que, por
avaliação das escolas por esta entidade definição, nunca têm a palavra: tribos isoladas
responsável e representativa no Estado que em campo exótico, povos colonizados, classes
abarca em sua jurisdição as escolas dominadas ou grupos em vias de extinção nas
pesquisadas; bem como representações sociedades desenvolvidas”, (Beaud e Webe,
indígenas local, considerando a cultura e o Apud Fonseca, 1998:3), ou seja, a etnografia
processo de contato desse povo com a pode ser vista como metodologia
sociedade envolvente. Tais procedimentos e característica de uma ciência calcada no
suas análises estão sendo realizados com rigor, concreto e arquétipo do “qualitativo”, com
visto que as conclusões serão sistematizadas em ênfase no cotidiano e no subjetivo, o que
relatórios qualificados, além de um descritor favorece sua utilidade na educação.
analítico das informações levantadas com os Para Mattos (2001), etnografia
resultados obtidos. significa escrever sobre um tipo particular –
um etn(o) ou uma sociedade em particular -
2 - Etnografia e Observação Participante: A
como é o caso dos Apinajé envolvidos nesta
Pesquisa Qualitativa enquanto excelência
da Investigação Científica no Contexto pesquisa. Todavia, antes de pesquisadores
Escolar Apinajé
iniciarem estudos mais sistemáticos sobre uma
A etnografia, pesquisa qualitativa por determinada sociedade eles descreviam outros
excelência, e sua aplicabilidade em educação, povos por eles desconhecidos. A etnografia é,
tem sido considerada como uma lógica de portanto, uma atividade da Antropologia que
investigação por se tratar de teoria orientadora tem por fim o estudo e a descrição dos povos,
e método investigativo da cultura de sua língua, raça, religião, educação, cultura e
determinadas comunidades sociais, sobretudo manifestações materiais de suas atividades. É
comunidades escolares (Green, Dixon e a forma de descrição da cultura material de
Zaharlic, Apud Fonseca, 1998). A etnografia, um determinado povo, realizada geralmente
como método de pesquisa originária da por meio de informantes cuidadosamente
antropologia, poderia ser vista como selecionados.
estritamente descritiva. Entretanto, o método Geertz (1989:15) adverte que praticar
de pesquisa concebido hoje propõe resultados etnografia não é somente estabelecer relações,
interpretativos, de caráter crítico, que lhe selecionar informantes, transcrever textos,
confere uma intencionalidade distinta de sua levantar genealogias, mapear campos, manter

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um diário; o que a define é o tipo de esforço as origens da etnografia estão nas


intelectual que ela representa: um risco investigações antropológicas realizadas no
elaborado para uma "descrição densa". Para início do século XX, período em que os
esse autor, a maior preocupação da etnografia pesquisadores começaram a se fazer presentes
é obter uma descrição densa, a mais completa no campo de investigação.
possível, sobre o que um grupo particular de Com efeito, a pesquisa qualitativa, tal
pessoas faz e o significado das perspectivas qual esta etnografia que impetramos junto aos
imediatas que eles têm e de como eles agem. Apinajé é, segundo Filho e Gamboa (2009),
Esta descrição é sempre escrita com a aquela que busca entender um fenômeno
comparação etnológica em mente. O objeto da específico em profundidade e, ao invés de
etnografia é esse conjunto de significantes em dados estatísticos, regras e outras
termos dos quais os eventos, fatos, ações, e generalizações, trabalha com descrições,
contextos, são produzidos, percebidos e comparações e interpretações. A pesquisa
interpretados, e sem os quais não existem qualitativa é mais participativa e, portanto, os
como categorial cultural. pesquisadores podem direcionar o rumo da
averiguação em suas interações com o objeto
2.1 - Os Fundamentos da Etnografia
pesquisado. O trabalho adquire um caráter de
Segundo Zpeleta e Rockwell (1989), a parceria e a interação sujeito/objeto assume
etnografia vem à tona no final do século XIX aspecto primordial, favorecendo o diálogo
e início do século XX e tem sua origem na necessário para o exercício da alteridade,
abordagem qualitativa em pesquisa. Para os edificado nos fundamentos da observação
autores, sua aplicabilidade na educação se participante.
justifica pela constatação de que os métodos No tocante aos fundamentos da
de investigação próprios das ciências naturais pesquisa etnográfica aplicados à educação
não serviam ao estudo dos fenômenos encontramos em André (2004) a base teórica
humanos e sociais. Surge, então, o interesse que pode ser aplicada ao contexto Apinajé.
pelo desenvolvimento de metodologias mais Isso porque, segundo essa autora, deve-se
adequadas ao entendimento do complexo e estar atento para o fato de que o etnógrafo se
dinâmico fenômeno humano, considerado não ocupa da descrição da cultura de grupos
como uma relação de causa/efeito, mas, sociais, e quando ele se volta para o campo
sobretudo, como relação que enseja a educacional, se detém sobre um processo onde
atividade interpretativa dos contextos nos é possível identificar diferenças entre essas
quais se concretizam. Para Laplantine (2005) duas áreas – a educação e a etnografia - razão

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pela qual, certos requisitos da etnografia não o homem enquanto objeto e ator; enfatiza a
precisam ser necessariamente cumpridos pelos centralidade do significado, considerando-o
investigadores das questões educacionais. como produto da interação social; entende a
Em se tratando das pesquisas de verdade como relativa e subjetiva e aceita a
abordagem qualitativa Gatti (2001:73) entende teoria do conflito. É, portanto, nessa dialética
que estas, aplicadas no campo da educação, que concebemos nossa pesquisa.
podem materializar-se por meio do uso de
2.3 – Etnografia e Educação
variados métodos e técnicas, sendo a pesquisa
etnográfica, metodologicamente, um dos Não obstante os primeiros registros
caminhos possíveis. Sendo assim, as etnográficos terem surgido no período que
alternativas apresentadas pelas análises compõe as ultimas décadas do século XIX e
chamadas qualitativas compõem um universo os primeiros anos do século XX, (Zpeleta e
heterogêneo de métodos e técnicas, que vão Rockwell, 1989), é só na década de 1970 que
desde a análise de conteúdo com toda sua os pesquisadores em educação começam a se
diversidade de propostas, passando pelos interessar pela aplicabilidade da etnografia na
estudos de caso, pesquisa participante, estudos dinâmica que compõe o trabalho do professor
etnográficos, etc. na sala de aula. Para André (2004:36), tais
Não obstante, devemos estar atentos, estudos são realizados a partir de fundamentos
sobretudo, à escolha metodológica, momento da psicologia comportamental, apresentando-
em que o pesquisador deve ter definido o se mesmo como “análises de interação” e,
paradigma (Kuhn 1992) sobre o qual nesse caso, objetivavam estudar as interações
construirá sua investigação. Para André da/na sala de aula, bem como treinar
(2004:23) “um estudo etnográfico, por professores ou medir a eficiência de
exemplo, pode seguir uma linha funcional- programas de treinamento.
estruturalista ou pode situar-se nos diferentes Essa mesma autora cita Stubbs e
matizes da fenomenologia ou ainda pode Delamont que publicaram em 1976 a obra
vincular-se à teoria crítica ou ao materialismo “Explorations in classroom observation”6
histórico”. Em nosso caso, o paradigma (Apud, André, 2004:36), anunciando os
fenomenológico está presente, pois de acordo pressupostos da etnografia, identificando as
com Taylor & Bogdan (apud, Filho e Gamboa interações da sala de aula como um lócus de
2009:39), na fenomenologia a realidade é cultura específica que deve ser apreendido por
socialmente construída por meio de definições meio de densas observações, (Geertz, 1989),
individuais ou coletivas da situação; concebe 6
Observação e exploração na sala de aula – tradução
nossa.

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impetrado por meio de entrevistas e análises etnografia aplicada à educação, identificando


documentais da escola. Tal procedimento foi seu teor etnográfico desde que:
incorporado à dinâmica investigativa nas Faz-se uso de técnicas tradicionalmente
escolas Mãtyk e Tekator das aldeias Apinajé associadas à etnografia, tais como:
São José e Mariazinha, quando assumimos, observação participante, entrevista
nesta perspectiva, o objetivo de descrever a intensiva e análise de documentos;
cena que é observada, ao mesmo tempo em O pesquisador estabelece uma relação de
que buscamos revelar suas múltiplas e diálogo e interação com o objeto
variadas significações, além da realização de pesquisado, afetando-o e, por ele,
uma análise dos documentos das escolas. deixando-se afetar;
Com efeito, a partir da década de 1980, O pesquisador é o instrumento principal
no âmbito da metodologia do tipo etnográfica, na coleta e na análise dos dados.
se intensificam os estudos sobre as atividades A ênfase do estudo encontra-se, não em
de observação dentro da sala de aula, seus possíveis resultados, mas no
nomeadamente em relação à interação e à processo, no continuum que se estabelece
intersubjetividade. No entanto, nos anos que durante a investigação;
compõem a década de 1990, se percebe um Há uma evidente preocupação com o
movimento que converge para uma produção significado atribuído pelos sujeitos a si
“regular e consistente”, anunciando a próprios e às suas experiências no
possibilidade de se “fazer um balanço crítico contexto em que estão inseridos;
dessa produção e identificar não só suas Desenvolve-se por meio de uma pesquisa
contribuições, mas também seus principais de campo e assume um caráter descritivo
problemas” (ANDRÉ, 2004:40). e indutivo;
Nesse sentido, é possível identificar Busca-se formular hipóteses, conceitos,
alguns pressupostos que caracterizam o fazer abstrações, teorias e não a testagem.
etnográfico na educação e que se aplica ao Todas estas peculiaridades que
contexto das escolas Apinajé ora estudadas. caracterizam o fazer etnográfico e sua
Para tanto, recorremos a André (2004), que aplicabilidade na sala de aula podem ser
estabelece conjecturas importantes acerca dos identificadas na ação investigativa que ora
estudos da etnografia que tem como objeto o desenvolvemos junto à sociedade indígena
complexo educacional. Essa autora elenca um Apinajé e suas escolas. Isso se evidencia nas
grupo de características relacionadas à atividades já concluídas e/ou em andamento,
uma vez que os procedimentos estão em

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consonância com a proposta de André, desde 2.4 – Identificando as Fases de


Desenvolvimento da Etnografia no
que utilizamos os seguintes procedimentos:
Contexto Escolar Apinajé
Realizamos uma investigação a partir de
A investigação que se realiza nas
pesquisa documental, com entrevistas
escolas das aldeias indígenas Apinajé São José
sistematizadas e observação participante;
e Mariazinha é, conforme já enunciado, uma
Conduzimos as atividades a partir de uma
etnografia. Sua execução pauta-se no modelo
postura dialógica, dando vez e voz aos
da observação participante e se caracteriza
nossos interlocutores, sensíveis às suas
especificamente pela presença do pesquisador
carências, construindo um trabalho
no campo. Assim sendo, e de acordo com as
pautado em solidariedade e afeto, cientes
bases teóricas de Cardoso (2009), a pesquisa
que estamos do papel que assumimos ao
etnográfica que realizamos compreende várias
interagir enquanto corpo estranho em sua
fases visando à coleta dos dados para a
realidade;
efetivação do trabalho. Entretanto, no estágio
Projetamos nossas expectativas na
em que a pesquisa se encontra, estamos
condução do processo investigativo, em
conscientes de que a interação entre o
detrimento dos resultados a serem
pesquisador e o objeto deve acontecer de
alcançados;
forma consensual, para que as singularidades
Por se tratar de uma realidade específica
da sociedade que está sendo estudada sejam
do universo indígena, a ênfase recai sobre
preservadas.
os sujeitos e suas significações,
considerando a tênue fronteira das
2.4.1 – O Contexto Escolar Apinajé: O
intencionalidades presentes com mais Universo da Pesquisa
veemência na fronteira étnica;
As bases metodológicas expostas neste
A pesquisa é eminentemente um trabalho
artigo têm o contexto Apinajé como objeto do
de campo, e os resultados serão
estudo, sendo que a educação escolar é o foco
sistematizados através de documentos
da pesquisa. Nesse sentido é importante
analítico-descritivos;
conhecermos um pouco desse grupo indígena,
Dá-se especial atenção às abstrações,
pois segundo Albuquerque (2007), para que
formulações de hipóteses e teorias,
tenhamos sucesso num trabalho que vise a
sempre atentos às subjetividades que
contribuir para a prática de um modelo
permeiam as relações entre sociedades de
educativo que reflita as necessidades e anseios
diferentes culturas.
da sociedade Apinajé, é imperativo o
conhecimento das comunidades que estão

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sendo estudadas, em nosso caso, as aldeias No que concerne à integração dos


São José e Mariazinha. Para Albuquerque Apinajé com a sociedade envolvente,
(Ibid. p. 45) este conhecimento é de Albuquerque (2007:8) informa que esses
fundamental importância, já que ele fornece povos “começaram a ser integrados à história
subsídios para se conhecer as atuais situações do Brasil com a ocupação do sertão nordestino
dessas comunidades, uma vez que as e com a intensificação da navegação do rio
sociedades são dinâmicas ao mesmo tempo Tocantins”, de sorte que “a ocupação do sertão
em que estabelece diferentes níveis e tipos de do Maranhão, da Bahia e do Piauí é
contato entre indígenas e não-indígenas, conseqüência da criação extensiva de gado
resultando na integração entre estas duas que, no período Colonial, servia para
sociedades. alimentar as populações dos engenhos
Ainda de acordo com Albuquerque litorâneos” (ibidem, p. 8), sendo que esse gado
(2007:22), o primeiro contato entre os Apinajé avançou pelos sertões até chegar ao sertão
e os não-índios aconteceu em 1774 quando goiano, atual Tocantins, na região onde se
Antônio Luiz Tavares empreendeu uma achavam os índios.
viagem de Goiás ao Pará, pelo Rio Tocantins, Com efeito, os indígenas Apinajé
sendo que na Cachoeira das Três Barras viu-se contemplados com a pesquisa habitam as
rodeado por um grande número de índios que aldeias São José e Mariazinha, considerada
disparavam flechas. Para esse autor, nesse por suas lideranças como as mais importantes,
primeiro contato com os não-índios os Apinajé o que contribuiu para que essas duas
já possuíam embarcações próprias, estando comunidades fossem escolhidas, num total de
familiarizados com as navegações dos Rios 19 aldeias, para nosso objeto de estudo. A
Araguaia e Tocantins, atestando a autonomia aldeia São José é uma das mais antigas, pois
desse povo, o que favorecia sua empreitada Nimuendajú (1983) já a mencionava em seus
frente aos colonizadores. Nimuendaju relatos, só que com o nome “Bacaba”. É,
(1983:3) (Apud, Albuquerque, 2007:22) relata atualmente, uma das aldeias Apinajé que mais
que os Apinajé eram a única tribo Timbira a apresentam aspectos da tradição e cultura da
fabricar tais embarcações e que, Tribo, evidenciado na confecção de
provavelmente, aprenderam a arte de navegar artesanato, bem como da pintura corporal,
dos Xambioá-Karajá, sendo que, mais tarde, enquanto elementos significativos da
com a colonização desses grandes Rios, os identidade cultural dessa sociedade.
Apinajé teriam recuado para as matas ciliares, Segundo Albuquerque (2007) aldeia
abandonando a navegação. Mariazinha, fundada por Alexandre Apinajé,

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diferentemente da São José não possui pátio, eram compatíveis às práticas pedagógicas
mas apenas uma casa denominada de desenvolvidas pelas escolas das comunidades
Redondo, local onde são feitas as reuniões da rurais brasileiras” (IBIDEM, P. 83).
comunidade. Notamos, assim, que esta se Ainda de acordo com Albuquerque
difere das demais aldeias indígenas (1999), ao longo dos anos de contato com a
pertencentes ao Tronco Macro-Jê7 e os sociedade majoritária a educação escolar
Apinajé são, segundo Da Matta (1976), Apinajé transcorria de modo contrário aos
integrantes do grupo Jê do Norte, sendo que anseios e interesses da comunidade. Todavia,
uma das características desse grupo são nas últimas décadas ocorreram avanços
aldeias circulares com uma praça no centro. importantes, sendo que atualmente a situação
No tocante à educação indígena no escolar desse povo pauta-se nos pressupostos
Brasil, esta, segundo Mattos (1958) (Apud, da interculturalidade e a educação bilíngue é
Albuquerque, 2007), tem seu início em 1549, uma realidade, o que vem ao encontro do que
quando os Jesuítas iniciaram seu trabalho de determina a Constituição Federal do Brasil
catequese visando à conversão dos nativos ao (CRFB/88) que no Cap. III Seção I, Art. 210,
cristianismo ou mesmo seu aliciamento para § 2º determina que “o ensino fundamental
servir de mão de obra escrava para os regular será ministrado em língua portuguesa,
colonizadores. Em relação à educação escolar assegurado às comunidades indígenas também
para os Apinajé, seus indícios ocorrem na a utilização de suas línguas maternas e
década de 1960, quando a norte americana processos próprios de aprendizagem”.
Patrícia Ham realizou os primeiros trabalhos, Atendendo a este dispositivo, a Lei de
produzindo os primeiros materiais didáticos e Diretrizes e Bases da Educação Nacional -
pedagógicos que até hoje servem como LDB 9394/96, nas suas Disposições Gerais
referência para novos trabalhos. Segundo dedica dois artigos à educação escolar
Albuquerque (2007), Patrícia Ham, que era indígena, e em seu artigo 78 diz que “o
membro do SIL, introduziu a educação escolar Sistema de Ensino da União desenvolva ações
entre os Apinajé nas aldeias de São José e integradas de ensino e pesquisa para a oferta
Mariazinha, sendo que “naquela época, as de educação escolar bilíngue e intercultural
políticas educacionais, voltadas para os aos povos indígenas”.
Apinajé, não eram diferentes daquelas Com efeito, nas escolas Mãtyk e
oferecidas aos demais grupos indígenas, que Tekator os professores dos anos iniciais do

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ensino fundamental utilizam um material de
Os Apinajé são, segundo Albuquerque (2007),
pertencentes ao Tronco Macro-Jê e à Família apoio pedagógico bilíngue Apinajé/Português,
Linguística Jê.

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elaborado por eles mesmos, sob coordenação educação bilíngue e intercultural é um direito
do Prof. Francisco Edviges Albuquerque da dos povos indígenas contemplado por
UFT – Universidade Federal do Tocantins - instrumentos jurídicos nacionais e
contemplando: Matemática e Ciências internacionais, além de ser um tipo de
Apinajé, História e Geografia Apinajé, Livro pesquisa essencialmente de campo,
de Narrativas e Cantigas Apinajé, Revista de pressuposto indispensável para a investigação
Medicina Tradicional Apinajé e um Livro de do tipo etnográfica aplicada à educação. Além
Alfabetização, trazendo conteúdos muito bem disso, as aldeias São José e Mariazinha,
contextualizados, com ilustrações dos próprios escolhidas para a pesquisa, são as mais
professores e também de pessoas da importantes e populosas, principalmente em
comunidade. relação às suas escolas, desde que estas
Nessa perspectiva, a etnografia que ora mantêm sob sua coordenação as escolas de
fazemos nas escolas indígenas Apinajé se outras 12 aldeias Apinajé, funcionando mesmo
realiza por meio da observação participante, como escolas-sede.
favorecendo a interação nas relações Não obstante, a escolha se deu também
intergrupo (pesquisadora e indígenas), e se em função de termos um histórico de estudo
desenvolve em fases bem distintas, por meio nesta sociedade, pois entre agosto de 2008 e
de técnicas e procedimentos, os quais que julho de2009, realizamos uma pesquisa de
passamos a descrever a seguir. iniciação científica8 que estudou a Educação
Infantil das escolas Mãtyk e Tankak das
2.4.2 – 1ª Fase: A Escolha do Tema e do
aldeias São José e Bonito, numa concepção
Campo
antropológica, a qual foi sistematizada em
Segundo Cardoso (2009), a escolha do
forma de uma monografia para a conclusão do
tema é um momento crucial, capaz de
curso de pedagogia. Assim sendo, não
interferir em todo o trabalho posterior. “Para
passamos pelo “momento de perplexidade e
alguns, será um momento de perplexidade e
de inquietação” apontado por Beaud e Weber e
de inquietação. Em qualquer caso é
citado por Cardoso. Contudo, o fato de
imperativo assegurar-se de que seu tema de
situarmos nossa pesquisa numa comunidade
pesquisa possa ser abordado no contexto de
indígena, e trabalharmos pautados nos
uma pesquisa de campo”, sustentam Beaud e
pressupostos da etnografia, com certeza teve
Weber (Apud, Cardoso 2009:5). Nesse
no contexto da pesquisa de campo um aspecto
sentido, a escolha do tema aqui trabalhado 8
Projeto de Pesquisa de Iniciação Científica CNPQ/UFT
assume relevância desde que o estudo da “Educação, Cultura, Infância e Ludicidade: Um estudo da
Cultura Apinajé”, desenvolvido entre agosto de 2008 e julho
de 2009.

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primordial, e fomos favorecidos por já etnógrafo se origina a partir de suas


conhecermos este campo, e sermos íntimos de preferências e escolhas e não existe um
alguns professores, líderes e habitantes das ‘modelo’ de diário de campo e nem um tipo
aldeias, facilitando as demais etapas da ideal de registro” (Ibidem, p. 9). Entretanto,
investigação. há aquele modelo escolhido pelo pesquisador
a partir de sua forma de redigir suas
experiências e sua forma de perceber o
2.4.3 – 2ª fase: Preparar a Pesquisa:
O Trabalho de Documentação Prévia fenômeno estudado. É, portanto, uma escolha
pessoal.
Após a elaboração do projeto9,
No tocante às técnicas de pesquisa
passamos a sistematizar todo o processo
empregadas na pesquisa do tipo etnográfica,
relativo à documentação prévia. Nesse
identificamos aqueles que oferecem ao
momento fomos beneficiados pela inclusão de
pesquisador possibilidades de explorar o
nosso projeto num projeto maior10, e dessa
campo a partir dos sujeitos e das situações que
forma toda burocracia que envolve a inserção
surgem ao decorrer da investigação. De forma
de um pesquisador numa aldeia indígena já
recorrente, em nossa pesquisa são utilizadas
havia sido realizada, principalmente em
observação participante e entrevistas
relação à FUNAI – Fundação Nacional do
semidirigidas.
Índio, à SEDUC – Secretaria da Educação - e
a lideranças da sociedade Apinajé.
2.4.4 - 3ª fase: Observação Participante -
Passamos então a nos preparar para Múltiplos Olhares
irmos a campo e o primeiro procedimento foi
A observação participante é uma fase
idealizar um “diário de campo”. Segundo
da pesquisa etnográfica que se caracteriza por
Beaud e Weber (Apud, Cardoso, 2009:65), “o
permitir ao pesquisador um contato pessoal –
diário de campo é a principal ferramenta do
face a face – com o fenômeno pesquisado,
etnógrafo”, sendo mesmo um elemento de
mediante uma descrição detalhada da
vital necessidade. “É um diário de bordo, onde
perspectiva dos sujeitos, o que pressupõe uma
dia após dia o pesquisador anota os eventos e
estadia “longa” em campo. Nesse sentido, “é
o processo de coleta de seus dados O diário do
interessante atentar para situações cotidianas
9 que rompem com o cotidiano, as quais irão
Projeto de Pesquisa do Mestrado: “Interculturalidade e
Educação Escolar Apinajé: uma experiência bilíngue nas orientar o delineamento metodológico
escolas das aldeias São José e Mariazinha”, a partir do qual
será escrita a nossa Dissertação. (VIÉGAS, 2007:112).
10
“Projeto de Educação Escolar Apinajé na Perspectiva
Bilíngue e Intercultural do Programa do Observatório de
Educação Indígena/CAPES”, sob coordenação de nosso
orientador Prof. Dr. Francisco Edviges Albuquerque.

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Segundo Brandão (1982), a pesquisa estabelecermos o diálogo necessário para a


participante é um importante instrumento de efetivação da investigação.
trabalho na construção do conhecimento desde Segundo Beaud e Weber (Apud,
que tem como objetivo compreender uma CARDOSO 2009:7) os eventos públicos, os
realidade. Para ele, o pressuposto é simples, ritos e/ou cerimônias, funcionam como uma
pois todo ser humano é em si mesmo e por si espécie de “abre-te-sésamo” para o trabalho
mesmo uma fonte original e insubstituível de do pesquisador no campo – momento em que
saber. Neste sentido, ela oferece um repertório ele poderá fazer contatos e observar postos.
de experiências destinadas a superar a Para esses autores, observar interações sociais
oposição sujeito/objeto, sobre as quais os sujeitos estão postos é a
pesquisador/pesquisado, estratégia de recolha de dados do etnógrafo
conhecedor/conhecido no interior dos por excelência, desde que a observação
processos de produção coletiva do saber, continua sendo a principal ferramenta da
visando, geralmente, a ações transformadoras. etnografia, sua melhor estratégia. Por isso, se
Sendo assim, a pesquisa do tipo justifica a necessidade de se observar
etnográfica exige que se recorra aos constantemente também o entorno,
procedimentos da observação participante e é desvelando o cotidiano dos sujeitos
isso que fazemos em nosso trabalho. Para investigados por meio de um olhar atento.
sistematizar o evento damos prioridade à ida e Este olhar atento tem sido uma
permanência nas aldeias, nos fixando em suas constante na etnografia que realizamos com a
escolas e fazendo contato com seu entorno. sociedade Apinajé. Segundo Da Matta
Por seu teor descritivo, esse tipo de (1976:68) (Apud, Albuquerque (2007:37)
investigação requer um cuidado maior no que “falar em sociedade Apinajé, implica para
diz respeito à contemplação dos atores esses indígenas tomar a aldeia como ponto de
envolvidos, dos lugares que se freqüenta, das referência e, posteriormente, fazer oposições
atividades corriqueiras, isto é, de todos que entre grupos sociais e categorias, utilizando
interagem no seu interior. Isso porque, se um eixo diametral ou eixo concêntrico”, sendo
estamos diante de uma realidade bem peculiar, que a ordem social é, pois, obtida pelas
e se esta mesma realidade se reproduz oposições e o dinamismo do sistema é dado
mediante uma estrutura social onde pela passagem de uma a outra dimensão
prevalecem valores intrínsecos à sua antitética. Para Albuquerque, “falar sobre o
sociedade, precisamos estar atentos aos seus grupo social Apinajé é de certa forma,
costumes, ritos e cerimoniais para, a partir daí, estabelecer tais divisões e revelar o

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significado das passagens de um domínio a os acontecimentos são registrados no ato. Isso


outro domínio do sistema” (Ibidem, p. 37). porque, em muitas situações, para evitar
Com efeito, a etnografia aplicada ao constrangimentos, optamos por fazer as
contexto escolar Apinajé, enquanto base anotações quando estamos de volta ao
metodológica de nossa pesquisa está alojamento.
sistematizada através de um diário de campo
2.4.5 – Entrevista: Diálogo Entre Iguais
com os relatos ampliados. Visando à eficácia
das observações, estamos, dentro do possível, A entrevista é uma técnica utilizada
anotando tudo que observamos. No entanto como complemento na pesquisa etnográfica e
nem tudo é possível anotar no momento em está sendo um instrumento importante em
que está acontecendo. Segundo Viégas (2007), nossa investigação. Para André (2000), em
há determinadas situações em que é melhor trabalhos etnográficos em instituições
abrir mão das anotações de campo e se dedicar educativas geralmente são realizadas longas e
integralmente à convivência com os sucessivas entrevistas com as pessoas que
participantes da pesquisa, mesmo que sejam trabalham nestes locais a fim de perceber suas
momentos fundamentais à pesquisa. E é assim concepções, de sorte que este procedimento é
que agimos. bastante conhecido por parte dos
Não obstante, tão logo seja encerrado pesquisadores. No caso da pesquisa
cada período de observação, “o diário de etnográfica que ora realizamos a entrevista
campo, bem como os momentos vivenciados não se caracteriza por um esquema fixo, mas
nos quais se abre mão das anotações, devem flexível, passível de transformações, onde nos
ser transformados em relatos ampliados tornamos um interlocutor, nutrindo-nos de
(recomenda-se que a distância temporal entre uma relação dialógica, conforme Paulo Freire
a observação e o relato ampliado não supere (1997) - entre iguais - desde que
48 horas)” (Ibidem, p. 113). Tais relatos, que discorreremos sobre o tema a partir das
tomam ao menos o triplo do tempo da próprias informações e interesses de nossos
observação para serem feitos, “englobam tanto entrevistados.
aspectos descritivos quanto reflexivos e Sobre a entrevista no fazer etnográfico,
comentários pessoais, ou seja, o maior número Cardoso (2009:8) entende que “este é o
de detalhes possível sobre as atividades e momento em que os participantes da pesquisa
situações observadas, incluindo as sensações refletem acerca daquilo que foi ‘observado’
atribuídas ao vivido” (Viégas, 2007:113). Em pelo pesquisador, deixando que ele se
nosso trabalho, como já dissemos, nem todos aproxime de suas significações”. Todavia, a

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transcrição da entrevista simboliza a escuta Tekator, buscamos a primazia da qualidade do


em detalhe e “é mister considerar, na depoimento colhido, dando voz e vez a todos
transcrição, não apenas as falas, mas também os envolvidos, deixando-os falar sem interferir
as hesitações, risos, silêncios, lapsos, ou, segundo Oliveira (2000), sabendo ouvir,
interrupções, etc., muitas vezes reveladores de isto é, estando aberto à compreensão do
conteúdos” (VIÉGAS, 2007:114). Daí a sentido do que foi observado juto aos
importância do engajamento do pesquisador, participantes da pesquisa, bem como, quando
sua entrega, sua incondicional interação e for preciso, também ser ouvido. Com isso,
integração com ambiente pesquisado. tanto André (2004) quanto Oliveira (2000)
O tipo de entrevista que impetramos acreditam existir uma relação de interação, na
em nossa etnografia é a do tipo qual, a influência entre quem pergunta e quem
“semidirigida”. Para Viégas (2007), a responde é recíproca. “Na entrevista
entrevista, principalmente a semidirigida, semidirigida não há imposição de perguntas;
desempenha papel primordial na construção ao contrário, nela o depoente é convidado a
da pesquisa etnográfica. Para Oliveira (2000), discorrer sobre o tema a partir de suas próprias
a entrevista semidirigida, principalmente a que informações e interesses (VIÉGAS,
é gravada, é vista como um momento em que 2007:113). Todavia, embora haja um esquema
se reflete acerca daquilo que foi observado básico, este não é aplicado com rigidez. Antes,
pelo pesquisador, deixando que ele se permite transformações.
aproxime das significações dos entrevistados.
2.5 – Redigir, Interpretar e Analisar os
Partindo do pressuposto de que geralmente há
Dados
assimetrias entre pesquisador e grupo
Este procedimento da nossa pesquisa
pesquisado, Oliveira (2000:23) sugere “uma
está em pleno desenvolvimento, uma vez que
modalidade de relacionamento na qual o
a investigação está em andamento. Por
pesquisado não seja um informante da
enquanto, estamos transcrevendo os dados
pesquisa, e sim um interlocutor com o
levantados até então e a interpretação e a
pesquisador”, o que viria no sentido de tornar
análise vem se dando paulatinamente. No
possível o verdadeiro encontro etnográfico
entanto, redigir e interpretar dados de uma
numa relação de diálogo efetivo entre iguais.
pesquisa etnográfica como esta que
E é assim que procedemos na nossa pesquisa
realizamos é, segundo Beaud e Weber Apud,
com os Apinajé e suas escolas.
Cardoso (2009:7) “o momento de retornar do
Com efeito, na nossa interação com o
campo e fazer um caminho do universo da
corpo docente das escolas Apinajé Mãtyk e

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pesquisa pra o seu universo”. Para Cardoso, observações, análises de entrevistas) são mais
esta fase é identificada como propulsora de ou menos volumosas”. Resta ao pesquisador
angústia, pois o pesquisador diante de seus “associá-las elaborando um relatório de
inúmeros materiais coletados pergunta-se o pesquisa, não deixando o campo desaparecer
que deve fazer. “E, consciente que os dados sob os conceitos, mas, pelo contrário, os
que possui lhe são familiares porque foram conceitos devem iluminar o campo e fazer
por ele colhidos, inicia a fase seguinte, onde a justiça aos casos singulares” (CARDOSO,
interpretação dos dados possibilitará a redação 2009: 8).
de um texto capaz de publicizar sua Depreendemos da constatação da
investigação” (CARDOSO, 2009: 8). autora, que uma das peculiares contribuições
Segundo Laburthe-Toira e Warnier da pesquisa etnográfica está no campo de
(1997:437), a apresentação dos resultados de pesquisa que dispõe e oferece o tema; o
uma pesquisa visa, em geral, à produção de pesquisador insere-se neste lócus e empenha-
novos conhecimentos, os quais devem ser se em tornar-se nativo daquele contexto.
apresentados na forma de relatórios de “Assim, as verdades para aqueles sujeitos
pesquisa, de tese, de publicação, de filmes, de poderão ser apreendidas e relatadas, podendo-
exposições, de romance etnográfico, de diário, se constituir não uma lei universal, mas uma
ou seja, sob a forma de um documento que generalização parcial onde o que importa não
também pode ser considerado como um texto. são as ações individuais, mas a forma de
Para os autores, este documento é um relação interpessoal construída” (IBIDEM, P.
“artefato” (Ibidem, p. 438), resultado de um 9).
trabalho de produção, de escrita no sentido Mas, afinal, como fazer para analisar e
amplo. Em nosso caso, além de artigos para interpretar os dados colhidos e recolhidos na
publicações e relatórios qualificados, será árdua tarefa do etnógrafo em seu trabalho?
elaborada uma Dissertação visando à obtenção Segundo Viégas (2007), devemos estar atentos
do título de mestre. a alguns aspectos. Primeiro: a análise do
Neste momento o pesquisador redige material construído a partir da pesquisa
suas observações e origina um material não etnográfica é qualitativa e não se inicia apenas
mais de investigação, mas de constatação, ao final do trabalho de campo. Segundo: esta
assinala Cardoso. Já Beaud e Weber (Apud, análise acontece ao longo de toda a pesquisa,
Cardoso, 2009:7) afirmam que neste ínterim, o desde quando são realizadas a delimitação
pesquisador “está de posse de um quebra- progressiva do foco, a formulação de questões
cabeça, cujas peças (narrações de analíticas, o uso de comentários e até mesmo

Facit Business and Technology Journal 172 2017;2(1):172


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as leituras e o aprofundamento da pesquisa de fora para dentro, mas devem ser


bibliográfica. construídas ao longo do estudo, com base em
No tocante ao nosso trabalho com os um diálogo muito intenso com a teoria e em
Apinajé, desde o início da pesquisa este se um transitar constante dessa para os dados e
reveste de um cunho analítico, uma vez que vice-versa”.
cada ação desenvolvida exige momentos de Michelat (1980:80) entende que neste
profunda reflexão, porém temos a certeza de momento o pesquisador precisa ler e reler
que após ser concluída a fase de campo, esse todo material, de sorte que se sinta
processo se dará com mais intensidade, pois “impregnado” por seu conteúdo. Para esse
alguns dados levantados inicialmente são autor, as leituras gradativas possibilitam a
analisados e descritos, podendo surgir novas divisão do material em seus elementos
reflexões. Acreditamos ser este um momento componentes sem, contudo, perder de vista a
em que se retomam os questionamentos que relação desses elementos com todos os demais
movimentaram a pesquisa, ao mesmo tempo componentes do material coletado. Estes
em que o pesquisador se abre para novas mesmos procedimentos são recomendados por
perguntas, sendo acrescentadas novas Viégas (2007).
informações e preenchendo lacunas que De acordo com as teorias de Viégas
possivelmente foram identificadas. (Ibid.), as categorias de análise na pesquisa
Para Viégas (2007), diferentemente da etnográfica são construídas a partir da própria
análise que apenas classifica e/ou quantifica pesquisa e sendo assim devem basear-se em
com base em categorias prévias, na análise aspectos recorrentes, mas que também podem
etnográfica as categorias decorrem do próprio se apresentar contraditórios, ausentes,
processo de investigação. O foco não está na complementares etc. “Além do sentido
confirmação e/ou refutação de hipóteses. manifesto, também é considerado o sentido
Antes, estas são discutidas com base na inter- latente, que se refere não apenas ao contexto
relação das muitas peculiaridades do campo. psicológico, mas também sociológico, político
“Não se trata de montar um ‘quebra-cabeças’ ou cultural” (Ibidem, p. 119). Para Michelat
cuja forma final conhecemos de antemão. (1980:48). “É preciso que a análise não se
Está-se a construir um quadro que vai restrinja ao que está explícito no material, mas
ganhando forma à medida que se recolhem e procure ir a fundo, desvelando mensagens
examinam as partes”, sustentam Bogdan e implícitas, dimensões contraditórias e temas
Biklen (1994:50). Para André (1995:45), “as sistematicamente ‘silenciados’”.
categorias de análise não podem ser impostas

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Todavia, Viégas acredita que educacional. Segundo Lutz Apud, Mattos


determinados aspectos que freqüentemente se (2001:5), “é considerada como micro porque
apresentam sob forma de detalhe, “se enfatiza particularmente um evento ou parte
organizados e interpretados, apresentam dele, ao mesmo tempo em que se dá ênfase ao
grande significação” (2007:119). De acordo estudo das relações sociais em grupo como
com Michelat (1980:203), “isso não quer dizer um todo, holisticamente”.
que esses detalhes podem ser considerados De acordo com Mattos (Ibidem), em
isoladamente, como tendo uma significação microanálise, ao mesmo tempo em que a
fora de qualquer contexto, como uma ‘chave ênfase recai sobre o significado das formas de
dos sonhos’”. Antes, todos os elementos que envolvimento das pessoas como
compõem a acervo de dados levantados agentes/atores, exige-se do pesquisador um
durante a investigação, ao serem copilados, detalhamento criterioso na descrição do
discutidos e analisados, podem ser comportamento através da transcrição
considerados “a anatomia” do trabalho, desde linguística verbal e não-verbal de
que tudo tem uma função e tudo se inter comportamento, por exemplo, olhares, pausas,
relaciona numa ordem sistêmica. tom de voz, etc., isto é, detalhes da interação e
o que isto significa (ERICKSON 1982 E
2.5.1 - Microanálise Etnográfica
1992, KENDON,1977) (APUD, MATTOS,
No estágio em que se encontra nossa 2001). Sendo assim, enfatiza-se o significado
pesquisa estamos enfrentando alguns da interação como um todo; a relação entre a
impasses, pois precisamos determinar qual cena imediata da interação social de um grupo
procedimento metodológico será utilizado e o significado do fato social ocorrido em
para a análise e interpretação dos dados. Nesse grandes contextos culturais, por exemplo:
sentido, encontramos na “microanálise cultura da sala de aula, da escola, das escolas
etnográfica” uma possibilidade. Sendo assim, em geral.
buscamos em Mattos (2001) as bases teóricas Nesse sentido, e ainda pensando junto
necessárias. Para essa autora, a microanálise com Mattos, depreendemos que o pesquisador,
etnográfica é um instrumento da etnografia utilizando-se de uma teoria crítica de análise
frequentemente utilizado nos estudos sobre aliada à abordagem etnográfica, procura
educação e linguagem, e é recorrente seu uso identificar o significado nas relações sociais
em estudos sobre sociolingüística, análise de de classe, etnia, linguagem, bem como a cena
contexto, análise de discurso, análise da imediata onde estas relações se manifestam.
conversação, etc., aplicados ao contexto “A microanálise etnográfica leva em

Facit Business and Technology Journal 174 2017;2(1):174


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consideração não somente a comunicação ou Ensino Fundamental, nomeadamente no que


interação imediata da cena, como também a se refere ao bilinguismo. Discorremos sobre a
relação entre esta interação e o contexto social pesquisa etnográfica, suas fases,
maior, a sociedade onde este contexto se procedimentos e técnicas, elegendo a
insere” (MATTOS, 2001:5). observação participante como um dos
Para a autora, na microanálise procedimentos vitais da etnografia no
etnográfica se procede assim quando se estuda contexto escolar Apinajé. Nessa mesma
o professor na sala de aula. Observa-se, por direção, agrupamos a entrevista semidirigida
um longo período de tempo, uma escola, uma enquanto técnica que promove a interação e a
sala de aula, um professor, para depois microanálise etnográfica como aporte
particularizar um processo interacional ou um facilitador no momento da análise e
fato que se considere microanaliticamente interpretação dos dados.
relevante. Isto é, destaca-se um fato que numa Por se tratar de uma pesquisa em
micro-dimensão representa o todo do processo andamento e ser um trabalho que envolve a
estudado. Sendo assim, após um intensivo ação participante de seus atores, bem como
trabalho de observação, como este que uma pesquisa qualitativa e etnográfica com
desenvolvemos nas escolas Mãtyk e Tekator, o todas suas conotações subjetivas, o que neste
desafio do pesquisador é tentar organizar texto foi delineado não é nada pronto nem
todos os dados como num quebra-cabeça. acabado. Antes, outras informações podem ser
Partindo do contexto maior, olhando a incorporadas e/ou subtraídas. Mas se
comunidade como um todo, até poder destacar houverem mudanças, não interferirão no
uma particularidade generalizável deste modelo da pesquisa. Sua essência
contexto que possa ser estudada permanecerá. Ou então, tudo pode ficar como
microanaliticamente. Eis aqui o nosso maior está. Esta é uma dinâmica de trabalhos
desafio. etnográficos como este que desenvolvemos no
contexto escolar Apinajé.
Considerações Finais
REFERÊNCIAS
Neste artigo delineamos os passos
metodológicos que norteiam nossa pesquisa ALBUQUERQUE, Francisco Edviges.
Contato dos Apinajé de Riachinho e Bonito
em direção a compreender a ação e as práticas
Com o Português: Aspectos Da Situação
pedagógicas de professores das escolas Mãtyk Sociolingüística. Dissertação de Mestrado
apresentada ao Programa de Pós-Graduação
e Tekator das aldeias Apinajé São José e
em Letras e Lingüística da Faculdade de
Mariazinha, que atuam nos anos inicias do Letras da Universidade Federal de Goiás, sob

Facit Business and Technology Journal 175 2017;2(1):175


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