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“OUTROS CAMPOS, OUTROS GAFANHOTOS”: REINVENÇÕES DA ANTROPOLOGIA

NA PESQUISA EM EDUCAÇÃO

Sueli Teresinha de Abreu Bernardes


Universidade de Uberaba (UNIUBE/REDECENTRO).

Fernanda Telles Márques


Universidade de Uberaba (UNIUBE/REDECENTRO).

Leonora de Abreu Bernardes


Universidade de Uberaba (UNIUBE/REDECENTRO).

Apoio:
FAPEMIG/CAPES

RESUMO: O objetivo deste artigo é analisar a metodologia desenvolvida nas produções acadêmicas
sobre a educação básica, defendidas no período (2012-2014) no Programa de Pós-Graduação em
Educação da UNIUBE. Sob a perspectiva do método fenomenológico, a análise revelou que há uma
significativa relação entre os procedimentos utilizados e o processo investigativo da Antropologia,
expressando interação de saberes e reinvenção de trajetórias de pesquisa.
Palavras-chave: Procedimentos de pesquisa educacional; Investigação antropológica; Método
fenomenológico; Interdisciplinaridade; Educação básica.

OTHER FIELDS, OTHER GRASSHOPPERS: REINVENTIONS OF ANTHROPOLOGY IN


RESEARCH IN EDUCATION

ABSTRACT: The objective of this article is to analyze methodology developed in academic


productions about basic education, defended into the period from 2003 to 2014 in UNIUBE Education
Post graduation Program. Under phenomenological method perspective, analysis revealed that there
is a significant relation between the procedures used and the Anthropology investigative process,
expressing interaction of knowledge and reinvention of research trajectories.
Keywords: Educational research; Proceedings of educational research; Anthropological investigation;
Phenomenological method; Interdisciplinary; Basic education.

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1. Introdução estudo e de outras áreas do conhecimento. Os


métodos e técnicas dessa ciência social
atendem à manifestação da diferença que se
O objetivo deste estudo é analisar os
faz presente, também, na pesquisa em
resultados já obtidos acerca do processo
educação: “outros campos, dizem os
metodológico das produções sobre a educação
javaneses, outros gafanhotos” (GEERTZ,
básica no Programa de Pós-Graduação em
1989, p. 65).
Educação da UNIUBE, período 2003-2014, no
Assim, compreendendo a necessidade
qual algum nível de apropriação da pesquisa
de conversar com outros campos de
antropológica é reconhecido. De caráter
conhecimento, dada, inclusive, a formação dos
colaborativo, este estudo integra-se ao
professores da linha de pesquisa “Processos
Observatório da Educação Interdisciplinaridade
educacionais e seus fundamentos”, adotou-se
na Educação Básica, à Rede de Pesquisadores
uma perspectiva interdisciplinar. Tal ponto de
sobre Professores do Centro-Oeste –
vista é entendido como a convergência de
REDECENTRO, ao Observatório Internacional
saberes comuns a um ou mais ramos do
de la Profesión Docente (OBIPD) da
conhecimento, dimensão que se considera
Universidade de Barcelona, ao Círculo
necessária a qualquer projeto acadêmico que
Latinoamericano de Fenomenología e à
se pretenda desenvolver visando alcançar
Sociedade de Estudos e Pesquisas Qualitativos-
avanços em termos teóricos e práticos no
SE&PQ.
campo da educação. Tosta (1999) reflete que
O intuito de partilha da investigação
interações disciplinares têm sido tema de
permite agregar professores pesquisadores do
constantes diálogos entre pesquisadores de
PPGE-UNIUBE, mestrandos, egressos,
diferentes áreas. Dentre elas, a Antropologia,
doutorandos, professores da graduação, da
reconhecendo que esta ciência vem se
educação básica e alunos de iniciação científica
constituindo numa esfera que oferece muitas
na equipe responsável pelo estudo apresentado
possibilidades para o aprofundamento desse
neste artigo.
debate, por sua reconhecida capacidade de
A investigação realizada seguiu os passos
abordar a cultura como dimensão fundadora
do método fenomenológico, segundo Bicudo,
da sociedade e, historicamente, por tomar
Baumann e Mocrosky (2011), o que significou
como objeto de estudo os homens e as razões
interrogar as dissertações em diversos
pelas quais uns e outros fazem o que fazem.
momentos, procurando novas dimensões dos
procedimentos em análise. A questão diretriz foi:
2. A investigação realizada
o que se sobressai nas opções metodológicas
relacionadas aos procedimentos utilizados nas
dissertações que têm como foco a educação Inicialmente, considera-se relevante
básica, defendidas no período 2012-2014 no esclarecer ao leitor o interesse que os estudos
PPGE-UNIUBE? relacionados à educação básica têm
O discurso desvelado nas dissertações despertado no PPGE-UNIUBE. Do conjunto
mostrou que é significativo o uso de de 61 trabalhos defendidos no período em
procedimentos de pesquisa oriundos da área de análise, 42 tiveram como foco principal o
investigação antropológica. Há uma apropriação estudo sobre essa temática.
de metodologias oriundas das ciências sociais, Pautando-se em reflexões de trabalhos
ou, para ser mais fiel à natureza da ciência, é a anteriores do grupo de pesquisa, como Abreu-
Antropologia que se oferece a outras Bernardes, Silva e Silva (2012); Abreu-
possibilidades de investigação, de objetos de

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Bernardes e Pereira (2012); Melo, Silveira e iniciais de educação escolar formal.


Abreu-Bernardes (2012); Abreu-Bernardes, A esse contexto acadêmico soma-se a
Márques, Batista (2013); Abreu-Bernardes e realidade do local de trabalho do mestrando,
Bernardes, (2014), é possível afirmar que, na geralmente uma escola desse nível de ensino,
investigação aqui relatada, a compreensão da em que ele reconhece necessidades, apelos e
gênese de escolha de um tema passa pela exigências.
análise dos desejos e perguntas subjetivas do Os estudos foram realizados a partir de
investigador, e do mesmo modo, responde ao uma leitura das 42 dissertações em sua íntegra.
campo científico, ao campo social, ao campo Para o registro dessas leituras, foi utilizada
educacional, enfim à pluralidade dos mundos uma ficha de análise, adaptada do instrumento
[lembrando aqui a linguagem bourdiana] em criado pelos membros da Rede de
que o investigador se insere. Pesquisadores sobre Professores do Centro-
A formação de ideias é Oeste-REDECENTRO. Após o
tributária de seu contexto de preenchimento dessas fichas e a tabulação dos
produção. Assim, o pós- dados, foi observado que os procedimentos de
graduando faz sua escolha pesquisa que se desvelaram apontavam, de
inserido em um campo com
modo significativo, para um tipo de
valores, fatos, objetos, tensões,
apropriação metodológica oriunda de
disputas e interesses
específicos, que na
processos da pesquisa antropológica. Mas,
universidade se traduzem em poder-se-ia denominar essa atitude acadêmica
linha de pesquisa do de apropriação dos métodos, técnicas,
orientador, grupos de pesquisa procedimentos e instrumentos dessa ciência
existentes, área de social? Ou seria apenas uma aproximação? Ou,
concentração, critérios e ainda, um uso quase irreverente de um campo
instrumentos de avaliação da investigativo? Ou, como dito anteriormente
CAPES e do curso, bibliografia neste texto, uma extensão natural dos
a que é apresentado e novas propósitos da Antropologia para abarcar a
experiências em eventos e no
diversidade?
próprio Programa. (ABREU-
A análise dos dados desvelados até o
BERNARDES E COSTA,
2011, apud PEREIRA e
momento não possibilita uma resposta com
ABREU-BERNARDES, 2013, argumentação rigorosa a nenhuma dessas
p. 121). indagações. O que os dados dizem serve mais
Torna-se, portanto, relevante, salientar a para fundamentar essas questões, mostrar
existência de quatro projetos do programa caminhos e tendências para um
federal “Observatório da Educação”, da aprofundamento do assunto.
CAPES, todos voltados aos estudos e à atuação Os procedimentos de pesquisa foram,
junto ao ensino fundamental e médio, e, de então, organizados, e são aqui apresentados.
modo especial, no “Observatório da Educação Mas, antes de relatá-los, alguns conceitos
Interdisciplinaridade na educação básica”, de precisam ser explicitados. O primeiro diz
onde se origina este texto. A partir de 2012 os respeito ao sentido de apropriação. Esse termo
projetos de pesquisa que deram origem a esses é utilizado neste texto no sentido dado pelo
observatórios foram elaborados, aglutinando a historiador francês vinculado à atual
eles projetos de mestrado, de iniciação historiografia da Escola dos Annales, Roger
científica e de ensino-aprendizagem nos níveis Chartier (1998, p. 74):

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A apropriação tal como a revisão e aprimoramento do problema inicial da


entendemos visa a uma história pesquisa (gráfico 1). Essas opções desvelam-se
social dos usos e interpretações em estudos etnográficos, peculiares à
referidos a suas determinações investigação antropológica, os quais não são
fundamentais e inscritos nas
assumidos como tais nos trabalhos analisados,
práticas específicas que os
embora tenham se desvelado aos olhos das
produzem. Dar, assim, atenção
às condições e aos processos
pesquisadoras.
que, muito concretamente, Gráfico 1 - Procedimentos de pesquisa utilizados
conduzem as operações de nas dissertações com foco na educação básica,
construção do sentido [...], é PPGE-UNIUBE, 2012-2014.
reconhecer, [...], que nem as
inteligências nem as ideias são
8
descarnadas e, contra os
7
pensamentos do universal, que as
6
categorias dadas como
5
invariantes, [...], estão por se
construir na descontinuidade das 4

trajetórias históricas. 3

Por apropriações da pesquisa 2


1
antropológica, entende-se, assim, a variedade de
0
formas particulares de recepção, de
entendimento e de uso que os pesquisadores da
área educacional da UNIUBE fazem da
metodologia de investigação da Antropologia.
Assim, buscou-se explicitar, nas produções 2012
sobre a educação básica, os procedimentos de Fonte: Portal da UNIUBE, Banco de dissertações,
pesquisa utilizados no período em análise, PPGE, 2015.
comentando os que são peculiares aos Em “outros” incluem-se os procedimentos
antropólogos e mostrando alguns dos nos quais não se identifica a natureza
indicadores de seu uso. antropológica em sua constituição e uso, pelo
Foram identificados 54 diferentes menos não de modo comum. São eles o plano de
procedimentos de pesquisa. Desses, 43 são unidade didática, o questionário, o fichamento,
comuns ou oriundos da pesquisa antropológica. o estudo bibliográfico, a leitura hermenêutica e
Nessas dissertações analisadas observam- os jogos, que se sobressaem em 2014. Observa-
se metodologias que propõem o contato direto se que esses procedimentos convivem com a
do pesquisador com a realidade estudada, com observação, a entrevista, o uso do caderno de
procedimentos de pesquisa usualmente campo e de imagens, os quais predominam na
identificados com a Antropologia como: investigação antropológica.
observação direta, entrevistas, fotografias, As atividades de participação no contexto
vídeos, gravação de áudio, construção de pesquisado revelaram que, na interação entre as
cadernos de campo, entre outros; a busca do pessoas envolvidas nos estudos, buscam-se
sentido que o sujeito atribui ao que está sendo transformações sociais, envolvem-se os
investigado; a exposição e análise de vários participantes em todos os processos e enfatiza-
dados primários produzidos pelos informantes se a formação da consciência política do
(depoimentos, frases, imagens e desenhos) e a coletivo.

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Outro modo de pesquisar, comum aos 3. Reflexões apartir dos resultados


antropólogos, exprime-se na procura de dar voz
aos sujeitos e de conhecer aspectos da vida dos
Excetuando esses estudos do tipo
depoentes, suas representações, percepções,
etnográfico, não se pode afirmar, contudo, que
ideias e significados. Igualmente, propala-se na
os demais procedimentos sejam de fato
busca de testemunhos de pessoas que
originários da Antropologia, ainda que nela
presenciaram acontecimentos ou participaram
possam estar bem representados.
de situações ou experiências que possam
Por outro lado, as relações da
retratar fatos, instituições, vivências de
Antropologia com, por exemplo, o registro de
categorias profissionais, grupos, movimentos
imagens, podem ser encontradas tão logo essa
sociais, dentre outros, favorecendo a
ciência se constituiu enquanto tal, ainda no
constituição de memórias ou identidades.
século XIX, sob certa influência do
Como é realizado por um dos acadêmicos em
Evolucionismo Cultural.
sua investigação
Se inicialmente os precursores das
A imersão em campo, realizada
“pesquisas de campo” sentiam a necessidade de
por meio de visitas semanais à
escola, ao longo de um semestre divulgar as imagens daqueles seres sobre os
letivo, que ocorreu entre agosto quais falavam, com o passar do tempo, na
e dezembro de 2013, permitiu medida em que o campo original de
não apenas a realização de investigação antropológica demonstrava
entrevistas. Antes disso, a “encolher” face à voracidade do capitalismo
permanência em salas, pátios e industrial, o registro fotográfico tornou-se
corredores, foi fundamental expressão de uma urgência em documentar
para a devida caracterização do “para preservar”. Do reconhecimento de que
locus, que não se limita ao aqueles povos e práticas culturais estavam sob
bosquejo pela história da cidade
ameaça, veio o aumento da produção de
ou da instituição de ensino. E,
documentos fotográficos e, mais tarde,
mais que isso, além da
observação das dinâmicas que audiovisuais, que não apenas tornavam-se
se estabelecem entre os vários registros históricos como também permitiam
sujeitos que constituem a leituras e análises.
comunidade escolar, o trabalho Para evitar que seja entendido como
de campo esteve diretamente simples ilustração, o “dado fotográfico”, a ser
relacionado ao acesso a fontes assim considerado na pesquisa em
secundárias, como o Projeto Antropologia, também precisa ser tratado.
Político Pedagógico (2013) e Torna-se necessário, então, que a fotografia
Resoluções internas, que seja pensada (na sua
colocamos em cruzamento com concepção), analisada e
dados disponibilizados pelo montada (como texto
INEP (Dissertação 39/2014, p. etnográfico) para que se
56-57). visualize a interpretação
Observa-se, ainda, uma variedade de proposta pelo pesquisador em
recursos, o que é coerente às apropriações sua descrição densa. Só quando
desenvolvidas. Os procedimentos são a fotografia é disposta de forma
utilizados de modo conjugado, quando a ordenada (num texto visual ou
influência antropológica é percebida. Nesses escrito) e, geralmente, acrescida
casos, nas dissertações declara-se a intenção de de um texto escrito ou falado,
triangulação dos dados para análise. para situar alguns dos elementos

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visíveis, é que o conjunto ganha Outro o estabelecimento de uma relação


esse ‘sentido’ (GODOLPHIM, marcada pela disposição para aprender.
1995, p.183, destaque do autor). Tive de aprender a comportar-
Se fotografia e cinema foram bem me como eles e desenvolvi uma
incorporados à Antropologia —– o que pode certa percepção para aquilo que
ser visto na interessante produção feita pela eles consideravam como “boas”
Antropologia visual, revigorada no Brasil após ou “más” maneiras. Dessa
os anos 80 —– cabe dizer que, desde o final da forma, com a capacidade de
década de 1930, essa ciência também se tornou aproveitar sua companhia e
participar de alguns de seus
usuária de recursos iconográficos produzidos
jogos e divertimentos, fui
pelos próprios sujeitos. A partir da utilização
começando a sentir que entrara
que Margaret Mead e Gregory Bateson fizeram realmente em contato com os
de 1.200 desenhos produzidos ao longo de três nativos. Isso constitui, sem
anos por membros adultos de uma comunidade dúvida alguma, um dos
balinesa, outros pesquisadores passaram requisitos preliminares
também a incorporar o desenho a seus essenciais à realização e ao bom
instrumentos. Desenvolveram-se, assim, êxito da pesquisa de campo
técnicas de análise e/ou de interpretação de (MALINOWSKI, 1978, p.22).
desenhos que, não obstante diferentes umas das Como se pode perceber, na Antropologia
outras, têm em comum o entendimento de que clássica, aqui representada por Malinowski, a
a produção iconográfica dos sujeitos pode ser etnografia é o trabalho de campo por
lida como uma estrutura narrativa tecida por excelência, não se tratando, portanto, de
imagens (MÁRQUES, 1997). metodologias distintas. E esse trabalho, do qual
Em sentido inverso ao da história oral, deverá resultar um texto com a descrição
que foi apropriada pela Antropologia enquanto detalhada não de algum fenômeno esparso, mas
técnica, a Etnografia tem origem antropológica do modus vivendi e da cosmogonia de uma
e hoje pode ser vista em pesquisas realizadas coletividade, dependerá da qualidade da
por outras áreas do conhecimento. observação participante realizada.
Proposta enquanto método nas primeiras Assim, até que o processo de pesquisa
décadas do século XX, a etnografia tem sido, esteja materializado no texto etnográfico, muito
desde então, uma importante referência do trabalho terá sido realizado: o recenseamento
fazer e do pensar antropológicos. É na da comunidade/grupo e o mapeamento das
introdução da obra “Os argonautas do pacífico redes de parentesco; o aprendizado da língua
ocidental” publicada em 1922 por Bronislaw e/ou de outras formas de comunicação; a
Malinowski, que se encontra a sistematização compreensão das tramas que tecem as redes de
desse método em sua versão original. sociabilidade; o acompanhamento cotidiano
Descontente não só com as teorias do dos sujeitos em atividades diversas (das mais
Evolucionismo cultural, então em voga, mas solenes às triviais); a coleta de narrativas e o
também com a metodologia utilizada por outros registro de gestos, sons, expressões, enquanto
antropólogos de seu tempo que não iam a elementos importantes para a compreensão da
campo ou que o faziam em incursões breves e visão de mundo dos sujeitos. É a essa
um tanto superficiais, Malinowski estabeleceu totalidade, a ser registrada sem pressa em
como ponto de partida para a pesquisa cadernos de campo e só mais tarde organizada
etnográfica uma profunda imersão em campo. em texto científico, que se denomina pesquisa
Ao pesquisador caberia, desde então, afastar-se
de seu grupo de origem e buscar no grupo do

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etnográfica. Ressalta-se, ainda, que, enquanto campo; e “a formulação de hipóteses,


produção textual, uma etnografia deve não conceitos, abstrações, teorias e não sua
apenas descrever minuciosamente o campo da testagem” (ANDRÉ, 1995, p.30).
investigação (dos sujeitos ao objeto constituído, Estando entre os autores da metodologia
passando pelo processo de pesquisa), como mais citados em trabalhos de pós-graduação em
também apresentar e interpretar categorias educação, a contribuição de André é bastante
nativas, e discutir as proposições hipotéticas significativa. Quando alerta para o fato, nem
(elaboradas em campo, e não antes dele) em sempre observado, de que a pesquisa de tipo
suas relações com o quadro teórico adotado etnográfico é uma adaptação de outro método
(MÁRQUES, 1997). que vem sendo incorporado sem muita crítica,
Diferente dela, que exige, como visto, essa autora favorece uma reflexão mais
uma imersão muito específica na cultura que se aprofundada sobre as aproximações possíveis
pretende desvelar em suas várias dimensões, os entre os dois campos do conhecimento.
“estudos de tipo etnográfico”, tal como Na década de 1990, pesquisadores como
caracterizados por André (1989), têm sido uma Fonseca (1999) e Valente (1996, 2003) deram
opção cada vez mais encontrada nas pesquisas início a oportunos questionamentos sobre a
em educação. crescente apropriação, muitas vezes ligeira e
Como se referem a técnicas que descontextualizada, de categorias e
envolvem uma forma peculiar de relação entre procedimentos antropológicos por áreas como
quem pesquisa e quem é pesquisado, outra a educação. Na ocasião, chamavam a atenção
característica desses estudos do tipo relatos de pesquisas educacionais em que a
etnográfico seria o entendimento de que o ausência de rigor metodológico parecia ser
pesquisador é também um instrumento da vista pelos autores como uma característica da
pesquisa: pesquisa de base antropológica. Da mesma
Os dados são mediados pelo forma, era possível encontrar um número
instrumento humano, o crescente de trabalhos acadêmicos
pesquisador. O fato de ser uma identificados como “pesquisas etnográficas”
pessoa a põe numa posição bem em razão apenas do reduzido número de
diferente de outros tipos de
sujeitos envolvidos.
instrumentos, porque permite
É certo que a Antropologia em geral
que ele responda ativamente às
circunstâncias que o cercam,
envolve usualmente um número reduzido de
modificando técnicas de coleta, sujeitos, contudo, para que o método seja
se necessário, revendo questões considerado como etnográfico, deve-se atentar
que orientam a pesquisa, bem mais à intensidade da imersão em campo,
localizando novos sujeitos, à natureza qualitativa da análise, ao vínculo
revendo toda a metodologia estabelecido entre pesquisador e sujeitos da
ainda durante o desenrolar do pesquisa e à relação disso tudo com o quadro
trabalho (ANDRÉ, 1989, p. 28). teórico.
Como parte desse contexto, de desejável Em “Quando cada caso não é um caso”,
interação entre pesquisador e pesquisado, e Fonseca (1999) reforça que, enquanto em
estando ambos inseridos no ambiente deste outras ciências sociais os sujeitos são
último, outros três elementos são vistos pela escolhidos com base em critérios fixos,
autora como heranças relevantes da etnografia: esperando-se deles que sejam “representativos”
a preocupação com a visão de mundo do sujeito do universo investigado ou das categorias
investigado; a realização de um trabalho de

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analíticas que foram empregadas na elaboração psicológicos, registro de imagens fotográficas,


do projeto, o mesmo não ocorre em pesquisa entre outros; f) elaboração de um texto final em
antropológica, seja ela etnográfica ou não. que as descrições feitas pelo pesquisador estão
Contrariando o entendimento de boa parte dos presentes tanto quanto o vasto material
manuais de metodologia científica e de Comitês produzido pelos informantes (LÜDKE;
de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, o ANDRÉ, 1986).
trabalho de campo em Antropologia não pode Como visto, o material produzido pelos
ser iniciado apenas quando o projeto já está sujeitos pode ser obtido de diversas formas.
pronto. Ao contrário, é preciso que o projeto Contudo, considerando o campo a que se volta
seja construído levando em conta as a pesquisa etnográfica, a observação direta e
modificações impostas pelo contato com os participante tem um papel central no adequado
sujeitos: desenvolvimento da metodologia, o que pode
O pesquisador escolhe primeiro ser mais bem compreendido conforme expressa
seu “terreno” e só depois um dos fundadores da antropologia social:
procura entender sua Em certos tipos de pesquisa
representatividade. Chega ao científica – especialmente o que
campo com algumas perguntas se costuma chamar de
ou hipóteses, mas é sabido que “levantamento de dados”, ou
estas devem ser modificadas ao survey – é possível apresentar,
longo do contato com os sujeitos por assim dizer, um excelente
pesquisados. Muitas vezes o esqueleto da constituição tribal,
“problema” enfocado sofre uma mas ao qual faltam carne e
transformação radical em sangue. Aprendemos muito a
função de preocupações que só respeito da estrutura social
vêm à tona através da pesquisa nativa, mas não conseguimos
de campo. É o dado particular perceber ou imaginar a
que abre o caminho para realidade da vida humana, o
interpretações abrangentes fluxo regular dos
(FONSECA, 1999, p.60, acontecimentos cotidianos, as
destaque da autora). ocasionais demonstrações de
Estes aspectos ressaltados por Fonseca excitação em relação a uma
(1999) como fundamentais à identidade da festa, cerimônia ou fato peculiar
pesquisa em Antropologia (etnográfica ou não) (MALINOWSKI, 1978, p.27,
também aparecem nas reflexões de Lüdke e destaque do autor).
André (1986). Ao apresentar a abordagem Dependente da qualidade da imersão em
etnográfica na pesquisa educacional, as autoras campo, é nessa modalidade de observação, a ser
recorrem a Wolcott (1975) para elencar seus realizada em meio a um processo de
critérios. Em síntese, são eles: a) redescoberta participação do dia a dia do grupo ou
do problema em campo (o que implica o comunidade investigados, que o pesquisador
reconhecimento da flexibilidade do projeto de terá condições de acessar o mencionado “fluxo
pesquisa); b) imersão pessoal em campo; c) regular dos acontecimentos cotidianos”
extensão do campo por, no mínimo, um ano (MALINOWSKI, 1978, p.27).
escolar; d) experiência prévia com outros povos Para chegar a esse ponto, em que é
ou culturas; e) emprego da observação direta e possível usufruir do cotidiano como quem
da entrevista, que podem ser aliadas a histórias passa despercebido, e não mais como o
de vida, análise documental, testes “estranho que nos observa”, é necessário,

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entretanto, superar algumas etapas. A depender caderno de campo se tem


do grupo em questão, a primeira e mais delicada a dimensão do que é o processo
delas pode ser a abordagem ou tentativa inicial de imersão que caracteriza a
de aproximação. Em outros casos, as pesquisa etnográfica: trata-se de
dificuldades podem manifestar-se um pouco uma experiência que nenhuma
outra abordagem proporciona,
mais adiante, quando o grupo aceita a
pois tem como pressuposto o
aproximação, mas segue controlando o fluxo de
contato com o Outro, nos termos
informações, mantendo, assim, o pesquisador - espaço, temporalidade,
em uma postiça condição de “hóspede” códigos - deles; é uma
(MÁRQUES, 1997, 2011). experiência-limite, que
Para conseguir a desejada visão dos transforma uns e outros
vários elementos que constituem uma (MAGNANI, 1997, p. 3).
totalidade, é esperado que o pesquisador tenha Diferente do que foi encontrado nas
superado a fase anterior. A observação direta e produções analisadas, na pesquisa
participante não é, portanto, qualquer antropológica é esperado que o caderno de
observação realizada em um cenário no qual o campo também seja utilizado quando se fizer
pesquisador também pode inserir-se. Trata-se uso de um tipo de observação reconhecida
de um processo que não prescinde da sincera como “participante”.
aceitação do sujeito que pesquisa por parte dos Cumpre dizer que a ausência do registro
sujeitos da pesquisa (MÁRQUES, 1997). E tradicional em caderno de campo não chega a
essa é uma transformação do estranho em ser um problema quando este é substituído por
familiar que não pode ser assegurada – e tão instrumento similar, como o webblog ou
pouco reduzida – a uma assinatura em um mesmo o portfólio. Para Fonseca (1999), o que
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. mais preocupa é o momento anterior ao
Como a observação direta e participante registro, ou seja, a própria imersão em campo.
é o sustentáculo da abordagem etnográfica, as Não é raro que trabalhos que anunciam o
questões aqui apresentadas tornam-se emprego da observação participante tenham
fundamentais ao adequado desenvolvimento da recorrido, quando muito, a algumas idas a
metodologia proposta (seja em sua forma campo seguidas de uma entrevista estruturada
original, seja como estudo “de tipo” realizada em lugar isolado e com um sujeito de
etnográfico). É só assim que conseguimos que cada vez. Em tais condições, questiona a autora,
o “esqueleto vazio das construções abstratas” como se pode esperar que o pesquisador
seja preenchido pela “carne e o sangue da vida consiga captar a dimensão social da emoção,
real” antes reclamados por Malinowski (1978, tão relevante em uma perspectiva
p.27). antropológica?
Para que isso aconteça, entretanto, os Neste tipo de pesquisa, o peso
cadernos de campo tornam-se instrumentos todo está no discurso verbal do
fundamentais. Redigidos quase sempre na entrevistado. Não vemos assim
forma de diários íntimos, os cadernos (ou as inevitáveis (e nada
repreensíveis) discrepâncias
diários) de campo recebem o registro não
entre discurso e prática.
apenas de fatos e situações observados. Neles,
Perguntando “o que você faz”
são anotados também as percepções dos ou “o que você acha”,
pesquisadores, suas impressões e recebemos respostas
desassossegos, seu arrebatamento, seu interessantes, que refletem uma
desânimo. Através da releitura do próprio dimensão idealizada da

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sociedade. Mas não temos fronteiras que tem a Antropologia, a Educação


como comparar este com outros e a Epistemologia como disciplinas de
tipos de fala [...]. Estes discursos perspectivação, propondo um diálogo contínuo
também revelam algo sobre os e relacional com diferentes campos de
valores do grupo assim como os
conhecimento. Assim, ele pode ser
múltiplos atos do cotidiano
caracterizado, no nível teórico, pela
(FONSECA, 1999, p.63).
convergência de campos disciplinares; no nível
Se a observação ligeira pode acabar
metodológico, pela pesquisa qualitativa com a
substituindo a observação direta e participante
descrição e análise de processos investigativos
em uma pesquisa que se anuncia como tendo
em que a Antropologia é reinventada pela
orientação antropológica, o oposto também
pesquisa em educação.
pode ser encontrado: o entendimento de que “a
Sente-se, desde agora, a necessidade de
realidade cotidiana pode ser conhecida tão
investigar outras dimensões: as opções
somente a partir dos procedimentos de
metodológicas dos orientadores, sua formação
observação participante” (VALENTE, 2003,
e, querendo ampliar mais ainda o olhar, se e
p.60). Em casos assim, em que o texto
como existe uma apropriação da Antropologia
apresentado traz apenas o “registro seco” do
na pesquisa realizada na área de educação no
que foi visto e ouvido em campo, percebe-se
Brasil e se esse fundamento nas ciências sociais
um entendimento de que a realidade é
é comum nos estudos sobre a educação básica.
autoexplicativa, o que tornaria dispensável,
portanto, o quadro teórico.
5. Referências
Algumas questões podem concorrer para
a disseminação dessas leituras equivocadas de
ABREU-BERNARDES, S. T; BERNARDES,
procedimentos da Antropologia. Uma delas,
L. A. A produção acadêmica sobre a prática
apontada por Valente (1996, 2003), é o fato de
docente do professor universitário no Centro-
que a aparente simplicidade desses
Oeste brasileiro, 2006-2009. In: MEMBIELA,
procedimentos pode fazer com que as
P.; CASADO, N.; CEBREIROS, M. I. (Org.).
exigências do método não sejam claramente
Investigaciones en el contexto universitário
percebidas por aqueles que dele se apropriam.
actual. Ourense, Espanha: Educación Editora,
2014, v. 1, p. 643-648.
4. Considerações finais
______; SILVA, E. C. F.; SILVA, S. H. M.;
Saliente-se que a interação com a
Revista Encontro de Pesquisa em Educação,
pesquisa antropológica no campo educacional,
Uberaba, v. 1, n.1, p. 135-146, dez. 2013.
em diferentes níveis de abordagem, não é
acompanhada de um estudo, e consequente
PEREIRA, E. A. A.; ABREU-BERNARDES,
fundamentação dos pesquisadores que têm a
S. T. Opções metodológicas nas pesquisas em
Antropologia como espaço referencial para a
educação no Centro-Oeste, período 2006-2007.
construção do conhecimento, como o realizado
Revista Encontro de Pesquisa em Educação.
neste texto.
Uberaba, v. 1, n.1, p. 53-64, 2013.
A partir da reflexão sobre os pontos de
vista teóricos e metodológicos aqui discutidos,
______; MÁRQUES, F. T; BATISTA, G. A.
e consciente das articulações e desafios que eles
Abordagem qualitativa na pesquisa
apresentam, entende-se que o eixo das
educacional: um relato sobre as produções no
pesquisas analisadas se insere em uma região de

Revista Profissão Docente Uberaba, v. 15, n.33, p. 115-126, Ago. - Dez.-


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