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CAPÍTULO 10

A PRÁTICA COMO ESTRATÉGIA NO ENSINO E APRENDIZAGEM DE


METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA EM SAÚDE

Claudia ReinosoAraujo de Carvalho, Professora Adjunta, UFRJ


Breno Henrique Rocha dos Santos, Graduando de Terapia Ocupacional, UFRJ
Daiane Souza Viana, Graduanda de Terapia Ocupacional, UFRJ
Jacyane Albuquerque da Silva, Graduanda em Terapia Ocupacional - UFRJ
Mayra Brandão Bandeira, Graduanda de Terapia Ocupacional, UFRJ
José Valdir Nogueira da Silva Junior, Graduando em Terapia Ocupacional, UFRJ
Monyque Evans Souza Lima, Graduanda em Terapia Ocupacional , UFRJ
Raphael Aguiar Leal Campos, Graduando de Terapia Ocupacional, UFRJ

RESUMO
Práticas de ensino que requerem participação ativa do estudante e maior envolvimento com a
temática a ser aprendida mostram-se mais efetivas, pois, implicam na construção do
conhecimento por meio da análise de suas experiências concretas. O objetivo desse artigo foi
analisar a estratégia de ensino proposta no âmbito de uma disciplina de metodologia de
pesquisa científica, que consistiu no desenvolvimento de uma pesquisa empírica, incluindo
trabalho de campo, realizada pela professora e pelos estudantes da turma em um hospital
universitário. A pesquisa modelo, enquanto estratégia didática, é discutida em profundidade
em seu percurso de desenvolvimento coletivo, suas etapas e impactos no acompanhamento
da disciplina bem como em outras atividades acadêmicas inerentes à graduação. Entre as
potencialidades da estratégia destacaram-se a oportunidade do primeiro contato com a
metodologia necessária para o desenvolvimento de uma pesquisa científica; a interação com
os participantes da pesquisa e com os estudantes de períodos distintos; a troca de experiências
através da conciliação de conteúdos teóricos e práticos no processo de aprendizagem; e a
produção de conhecimento para o campo da Terapia Ocupacional por meio da própria
“pesquisa modelo”.

Palavras-chave: Hospitais de Ensino, Metodologia, Pesquisa Qualitativa, Pesquisa sobre


Serviços de Saúde, Terapia Ocupacional.

INTRODUÇÃO

As disciplinas de metodologia da pesquisa científica versam sobre os procedimentos a


serem adotados para conduzir uma pesquisa que tem como finalidade o conhecimento
científico, o que envolve, entre outros aspectos: a delimitação do objeto de estudo, a decisão
do desenho metodológico, a busca por referências bibliográficas, as técnicas de coleta e
interpretação dos dados, além dos elementos inerentes ao estilo de escrita e formatação de
texto científico.

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Entre as disciplinas de um campo científico há uma certa hierarquia e os diferentes
temas e questões não apresentam a mesma rentabilidade simbólica no meio universitário. Há
no campo científico, um sistema de classificação em vigor, nem sempre explícito, que trata
determinados domínios, objetos, métodos e teorias como “dignos” ou “indignos” de receber o
interesse e o investimento dos agentes do campo (BOURDIEU, 2011). Nesse sentido, em se
tratando de cursos da área de saúde, as disciplinas relacionadas à metodologia científica
muitas vezes tendem a gozar de menos prestígio quando comparadas às disciplinas mais
específicas voltadas à prática profissional, o que demanda investimento no sentido de se
pensar formas de ensinar mais motivadoras.

A maneira sob a qual o conhecimento acerca da metodologia científica é transmitido


para os estudantes, inclusive as estratégias didático-pedagógicas empregadas, são capazes de
promover, ou não, o aumento de interesse e os ganhos de aprendizagem. Especialmente no
que se refere às disciplinas de metodologia e pesquisa, a formação dos profissionais de saúde,
bem como a dos demais profissionais de nível superior, tem sido orientada por metodologias
conservadoras, com muito conteúdo teórico e pouca inovação.

A pesquisa realizada por Leite e Andrade (2015) com 100 estudantes de cinco
instituições de ensino superior, obteve como resultado que 70% dos entrevistados relataram
que ou não souberam efetuar em prática o conhecimento obtido, ou acharam a disciplina de
metodologia chata ou alegaram que o professor ensinou mal e não tinha domínio do conteúdo.

Taquette e Minayo (2014) em estudo sobre o processo de ensino-aprendizagem de


pesquisa qualitativa para médicos, relataram que os entrevistados consideraram que o
principal elemento para o ensino do método e, consequentemente, para ampliação do seu uso
é fazê-lo de modo concreto, ou seja, ensinar fazendo pesquisa. Ainda segundo o referido
estudo, esta também é a opinião de diferentes pesquisadores que destacaram que a melhor
forma de aprender é fazendo.

Learning bydoing (ou “aprender fazendo”), nos remete ao filósofo norte americano
John Dewey (1997), para quem o conhecimento humano só tem importância desde que sirva
de instrumento para a resolução de problemas reais. Dewey defende que o ser humano tem
mais êxito ao aprender fazendo. Para ele, o aprendizado se dá pela ação e não pela instrução e
defendia que a instituição de ensino deveria ser um ambiente de experiências instigadoras no
qual o professor deve ser o incentivador, propiciando um espaço de descobertas em que o
conhecimento não seja, exclusivamente, apresentado por si, mas que o estudante
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conjuntamente busque e construa seu aprendizado baseado no desenvolvimento do raciocínio
e do espírito crítico-reflexivo. Desta forma, Dewey (1997) compreende a educação como
práxis transformadora, o que implica na formação de cidadãos criativos e com capacidade
para gerenciar sua liberdade em uma sociedade democrática.

Há elementos em comum entre as concepções de Dewey e Paulo Freire, este último


em sua obra “Educação como prática da liberdade” (1999) defende para a educação
contemporânea, o estudante capaz de autogerenciar e autogovernar seu processo de formação,
cuja problematização, diálogo, liberdade e conscientização são elementos-chave. Para Freire
(1999) a curiosidade do professor e estudante, em ação, se encontra na base do ensinar –
aprender.

A disciplina “Pesquisa em Terapia Ocupacional”, ministrada aos estudantes do


terceiro período do curso de graduação em Terapia Ocupacional da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), é a primeira disciplina relacionada à pesquisa científica apresentada
aos estudantes. Esse momento curricular do curso coincide juntamente com as primeiras
disciplinas específicas relacionadas a profissão, visto que no primeiro e o segundo períodos o
estudante tem contato com disciplinas introdutórias das áreas básicas de Ciências Biológicas,
Ciências da Saúde, Ciências Humanas e Ciências da Ocupação Humana, que produzem um
conhecimento interdisciplinar diverso. Sendo assim, é um momento de grande curiosidade em
relação às possibilidades de pesquisa e os campos de atuação da profissão. O que é
demasiadamente motivador e, de certa forma, contribui com o estabelecimento de um terreno
fértil para o cultivo da curiosidade; para as práticas horizontais mediadas pelo diálogo; e, por
consequência, no processo de construção e reconstrução do conhecimento.

O processo coletivo de desenvolvimento do conhecimento, fortemente ancorado na


perspectiva de Dewey e Freire, encorajou a professora e os estudantes a realizarem juntos uma
pesquisa de campo ao longo da disciplina, aqui denominada “pesquisa modelo”, como
estratégia didática objetivando facilitar a aprendizagem do conteúdo para a própria turma e
para as turmas subsequentes.

A ideia da pesquisa modelo aconteceu na segunda aula da disciplina durante o


exercício coletivo de se pensar em temas e questões norteadoras igualmente hipotéticas,
visando avaliar se delas poderiam decorrer pesquisas viáveis. Em meio às inúmeras sugestões,
um tema e uma questão norteadora emergiram com mais consistência. Respectivamente: “a
atuação do terapeuta ocupacional no ambiente hospitalar” e “como se dá a inserção dos
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terapeutas ocupacionais no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF)?”. A
partir dessa questão foram pensados ao longo da aula o objetivo geral, os objetivos
específicos, o método, os critérios de buscas por referências e as técnicas de coleta e análise
dos dados. Havia então, um esboço para a elaboração de um projeto de pesquisa, e levá-lo a
cabo seria um exemplo e bom exercício para as aulas. Como a construção do projeto e seu
trâmite exigiria a aprovação em Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), demandando nesse
processo mais tempo do que o próprio semestre da disciplina. A pesquisa também serviu de
exemplo para as turmas seguintes. Desse modo, foi também possível a participação dos
estudantes envolvidos nas aulas das turmas seguintes, com a finalidade de explicarem a
pesquisa e auxiliarem na elaboração de novos temas e de novas pesquisas com as outras
turmas.

A iniciativa da pesquisa foi formalizada como uma pesquisa de iniciação científica


(IC) que garantiu a sua legitimidade no meio acadêmico. Legitimidade esta outorgada pelos
pares, visto sua necessidade de aprovação nas instâncias universitárias. A partir de então,
constituiu-se enquanto um dos produtos acadêmicos valorizados no campo universitário,
gerando outros produtos, materializados sob a forma de publicações, orientações, coordenação
ou participação em projetos e pesquisas (BOURDIEU, 2011).

O objetivo deste artigo foi analisar a implementação da pesquisa modelo enquanto


estratégia de ensino-aprendizagem de metodologia científica.

BREVE APRESENTAÇÃO DA PESQUISA MODELO

A pesquisa recebeu o seguinte título “A inserção da Terapia Ocupacional no Hospital


Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro”. Tratou-se
de uma pesquisa exploratória, de abordagem qualitativa envolvendo análise documental da
legislação referente a Terapia Ocupacional na área hospitalar, além de observação das
atividades desenvolvidas por terapeutas ocupacionais no hospital e entrevistas com
professores, técnicos administrativos e residentes multiprofissionais da área de Terapia
Ocupacional, com atuação no hospital universitário. Por envolver seres humanos, a pesquisa
foi submetida ao CEP por meio da Plataforma Brasil pelo CAAE: 02261318.0.0000.5257.

A pesquisa propriamente dita foi iniciada em fevereiro de 2019, após sua aprovação no
comitê de ética, com reuniões periódicas da equipe de pesquisa e com o desenvolvimento de

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suas ações que incluíram: organização do cronograma, revisão bibliográfica e análise da
legislação pertinente e a busca por informações institucionais sobre o Hospital. A coleta de
dados, através das entrevistas, teve início no final do mês de março de 2019. Foram realizadas
11 entrevistas, 5 com professores, 4 com residentes e 2 técnicas. Segundo os entrevistados,
suas ações profissionais envolvem a assistência a pacientes em diferentes enfermarias, a
supervisão de estagiários e o desenvolvimento de pesquisas. Os principais desafios relatados
dizem respeito ao excessivo enfoque biomédico, ao pouco tempo de implementação do
serviço e o consequente desconhecimento da profissão. Ademais, a pouca quantidade de
terapeutas ocupacionais lotados no hospital também foi referida como um dos problemas
enfrentados.

O desenvolvimento da pesquisa, além de uma estratégia didática de ensino, propiciou


o mapeamento das ações e a análise das práticas que envolvem terapeutas ocupacionais no
HUCFF/UFRJ, a análise das diferentes dimensões envolvidas na prática terapêutica
ocupacional hospitalar, e a abordagem de aspectos relevantes para a formação na área e para a
produção do conhecimento em Terapia Ocupacional.

ANÁLISE DO PERCURSO DE CONSTRUÇÃO DA PESQUISA E SUA


REPERCUSSÃO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

A própria ideia da pesquisa só foi possível a partir de um exercício coletivo que


consistia na leitura (em grupo) de artigos científicos com o objetivo de identificar neles, as
etapas das respectivas pesquisas que os originavam. Foi graças a esse método que os
estudantes puderam fazer inferências e idealizar o caminho oposto. Ao imaginar a pesquisa
em cena nos artigos, foi possível reunir elementos suficientes que culminaram na ideia de
desenvolver pesquisas semelhantes. O ensino baseado na investigação e na solução de
problemas, é mais efetivo e gera a motivação do aluno para o engajamento nas atividades
propostas e o processo de aprendizagem torna-se bem-sucedido (KHALAF E ZIN, 2018).

Especificamente ao desvendarem as questões de pesquisa que originavam os estudos


retratados nos artigos, os estudantes passaram ao exercício coletivo de se pensar questões
viáveis de pesquisa. Dessa forma, a turma chegou-se questão norteadora da pesquisa modelo
“Como se dá a atuação dos terapeutas ocupacionais no HUCFF?” A partir da questão
norteadora, ainda em sala, as outras etapas – objetivos gerais e específicos, método,
referencial teórico- foram se desenhando e o rascunho do projeto foi se construindo

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coletivamente por meio da discussão grupal. Aquele hospital tão próximo fez sentido ao
grupo como cenário de estudo, era algo ali próximo e presente para todos. Nesse sentido,
quando o estudante encontra significado, para desenvolver o saber, a curiosidade é aguçada,
enfim, desenvolve uma aprendizagem significativa e não memorística. A mecânica é o
oposto, é memorativa, facilmente esquecida.

O processo de desenvolvimento da pesquisa teve duração de três semestres, desde a


sua concepção, até a finalização das entrevistas. Esse processo foi muito rico em aprendizado
para todos os estudantes e envolveu também alguns desafios. A Iniciação Científica (IC) foi
constituída e com isso compromissos firmados com os oito alunos que se interessaram por
desenvolver a pesquisa e explicar todas as suas etapas na disciplina. Ao fim do terceiro
período fazer parte de uma iniciação científica foi algo com certa representatividade para os
estudantes.

A iniciação científica é o primeiro contato do estudante com a forma prática da


pesquisa no universo acadêmico, incentivando o desenvolvimento de habilidades como busca
em base de dados, seleção de descritores da saúde, os diferentes desenhos metodológicos,
análises de dados, saber estruturar um planejamento, trabalhar em grupo, entre outros.
Segundo Silva (2012), como consequência, o estudante desenvolve noções básicas do método
científico, torna-se mais crítico na leitura de um artigo, sabendo pontuar pontos fortes e fracos
dos trabalhos publicados. Esses conhecimentos são pré-requisitos na área da saúde, tendo em
vista que o profissional deve sempre estar a par das evidências científicas mais atuais. Dessa
maneira, toda a vivência proporcionada no grupo de pesquisa ofereceu um diferencial na
constituição do graduando, o preparando desde cedo.

Os encontros de IC eram semanais com duração de uma hora. Nessas reuniões


discutia-se os passos e etapas da pesquisa. As primeiras reuniões foram dedicadas a
construção e escrita do projeto de pesquisa, tendo em vista sua submissão ao comitê de ética
bem como a busca pelas autorizações e sua submissão a chefia do serviço de Terapia
Ocupacional do HUCFF e a direção geral do hospital. Esse processo de validação da pesquisa
foi vivenciado com muita expectativa e empenho de todos os estudantes envolvidos.

Com as referidas anuências, foi iniciada a elaboração do roteiro das entrevistas que
seriam usadas para coleta de dados, do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e dos
demais documentos inerentes à pesquisa. Nesse momento o grupo já estava funcionando
como um grupo de pesquisa o que foi claramente um ensaio para experiências futuras. A
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submissão do projeto e sua posterior aprovação na Plataforma Brasil conferiu mais
credibilidade ao projeto.

Decorrentes da aprovação, vieram outras tarefas como enviar convites aos


entrevistados, agendar horários e lidar com remarcações, constrangimentos frente à uma ou
outra pergunta. Tais experiências foram antecipadas devido a participação na pesquisa e eram
compartilhadas com os estudantes das novas turmas. “Como fazer diante de uma ou outra
reação?” “Como perguntar algo delicado?”. São questões práticas e operacionais que jamais
poderiam ser respondidas se não fosse essa experiência.

Os desdobramentos da pesquisa e sua relevância possibilitaram a produção de material


científico voltado a prática de ensino-aprendizagem dos pesquisadores no âmbito do
desenvolvimento da pesquisa, pelo qual registraram suas experiências através da produção de
dois trabalhos, onde vivenciaram a realidade do processo de escrita, discussão, revisão e
finalização do resumo, como também se aproximaram da leitura do edital e suas regras de
aceite de trabalhos para o evento. Dois trabalhos com os resultados parciais da pesquisa foram
apresentados na 10ª Semana de Integração Acadêmica da UFRJ- SIAC 2019, sendo
intitulados: “Práticas alternativas para o ensino e aprendizagem de metodologia da pesquisa
científica”; “A inserção da Terapia Ocupacional no HUCFF da Universidade Federal do Rio
de Janeiro”. Os dois trabalhos submetidos e apresentados receberam o prêmio de Menção
Honrosa por excelência de conteúdo, apresentação e desempenho. Tais resultados foram
significativos e motivadores para os estudantes durante a pesquisa e na construção do
currículo acadêmico, visto ter-lhes garantido certa distinção entre os demais.

Em um estudo de revisão sistemática comparando o ensino tradicional ao ensino


baseado na investigação/na solução de problemas, Khalaf e Zin (2018) perceberam que a
motivação do estudante para o engajamento nas atividades propostas e o gerenciamento
dessas atividades são fatores fundamentais que precisam ser vencidos pelos participantes de
um modo de ensino pautado na investigação. Porém, quando estes aspectos são superados, o
processo de aprendizagem torna-se bem-sucedido.

A implementação da pesquisa modelo influenciou não só a turma na qual foi


idealizada como também as turmas subsequentes. A pesquisa modelo em si (para além do
projeto) iniciou-se de fato, no semestre seguinte a disciplina de metodologia que originou a
pesquisa, e viabilizou que o grupo de estudantes pudesse dar continuidade aos conhecimentos
adquiridos durante as aulas ao longo de três semestres. Desse modo, foi possível ter o contato
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com os trâmites advindos de uma pesquisa científica de forma prática, extrapolando os
exemplos que foram vistos durante as aulas, contribuindo, assim, para a elucidação do
conteúdo ministrado anteriormente. Em contrapartida, o descompasso entre o início da
“pesquisa modelo” e a disciplina de metodologia provocou a dificuldade de reunir todos os
componentes do grupo, tendo em vista que após o período da disciplina, os estudantes
dedicaram-se a distintas atividades acadêmicas, acarretando a dificuldade de encontrar um
turno viável para todos. Apesar de tal impasse, foram encontradas soluções através da
reorganização dos encontros para um horário possível para a maioria a cada período, além da
utilização de meios virtuais que viabilizaram um constante contato entre o grupo.

A cada semestre subsequente os integrantes da pesquisa se organizaram e


participaram, como convidados nas turmas seguintes da disciplina “Pesquisa em Terapia
Ocupacional”, com propósito de compartilhar o processo teórico-prático de aprendizado, suas
vivências durante a pesquisa e a atualização das etapas da pesquisa. Auxiliando as novas
turmas em suas possibilidades de pesquisa.

A influência da iniciativa da pesquisa modelo se deu também no âmbito de outras


atividades acadêmicas, como por exemplo no Trabalho de conclusão de Curso (TCC).Ao
realizar o TCC é necessário um contato prévio com os tipos de metodologia de pesquisa, tema
este que fora abordado e tratado na disciplina “Pesquisa em Terapia Ocupacional” e que deu
origem a pesquisa em questão. A partir do estabelecimento de uma hipotética pesquisa que
veio a se tornar real como uma Iniciação Científica (IC), os estudantes, nesse período,
estavam entrando em contato com o que viria a ser um aprendizado em inúmeros aspectos.

Da teoria para a prática, os conceitos foram introduzidos a cada reunião realizada e


com as etapas concluídas. Ao começar a realizar o TCC os estudantes que participaram da
pesquisa já experimentam uma visão mais clara e definida sobre a estrutura de uma pesquisa
científica, já que no decorrer da IC tiveram contato a elaboração de um plano de trabalho
consistente, com a formulação de questionários, roteiros de entrevista, e em seguida a coleta
de dados e a organização e análise de seus resultados. Todas as etapas percorridas foram feitas
coletivamente considerando à opinião de todos. Dessa forma, o contato prévio com a pesquisa
contribui com o processo de elaboração do TCC, tendo em vista que os componentes
envolvidos na IC também estão presentes na elaboração desse trabalho.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer da disciplina “Pesquisa em Terapia Ocupacional” e do desenvolvimento


da pesquisa modelo, os estudantes foram gradualmente inseridos no campo científico, e
puderam, através do aprender-fazendo, compreender mais sobre o campo científico. Ao exigir
constantes elaborações e reelaborações coletivas, as etapas da pesquisa exercitaram o diálogo,
as interações e buscas por soluções. A participação em eventos científicos da área envolveu a
busca pela validação do saber produzido pela pesquisa modelo.

A prática da pesquisa possibilitou aos estudantes a experimentação potencializando a


inserção e aprendizado dos mesmos, em todas as etapas de sua realização, o que envolveu sua
estruturação metodológica, a coleta de dados, a tabulação de dados, assim como a análise e
discussão dos mesmos para a concretização de seus resultados e difusão através da elaboração
dos diversos produtos acadêmicos decorrentes.

Observou-se que a experiência proposta contribuiu de forma significativa para o


processo formativo dos estudantes. A estratégia da pesquisa modelo foi proposta, planejada e
implementada conjuntamente pelos estudantes e a professora, em uma ação coletiva, que
transformou as “limitações” do ensino de metodologia basicamente teórico em uma
investigação real, o que implicou no sucesso da estratégia, ao mobilizar os estudantes a se
aprofundarem no campo da Metodologia Científica.

REFERÊNCIAS

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DEWEY, J.Democracyandeducation. New York: Simon& Schuster, 1997.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 23ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999

KHALAF, B. K., ZIN, Z. B M. (2018). TraditionalandInquiry-Based Learning Pedagogy: A


SystematicCritical Review. InternationalJournalofInstruction, 11(4), 545-564.
https://doi.org/10.12973/iji.2018.11434a

LEITE, F.R.P , ANDRADE, J. R. Metodologia científica na universidade: o que estudantes


do ensino superior acham da disciplina de metodologia científica. REBES (Pombal - PB,
Brasil), v. 5, n. 1, p. 58-62, jan.-mar., 2015

SILVA, L.F.F. Iniciação científica–contexto e aspectos práticos. Revista de Medicina, v. 91,


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TAQUETTE, S.R , MINAYO, M. C. Análise de estudos qualitativos conduzidos por médicos
publicados em periódicos científicos brasileiros entre 2004 e 2013 .Physis Revista de Saúde
Coletiva, Rio de Janeiro, 26 [ 2 ]: 417-434, 2016

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