Você está na página 1de 15

SEMINÁRIO NO ENSINO MÉDIO: POSSIBILIDADES DE

CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS ATRAVÉS DA PESQUISA

Gracieli Dall Ostro Persich1 - UFSM


Luthiane Miszak Valença de Oliveira 2 - UFFS

Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

O trabalho apresenta discussões e resultados de uma investigação qualitativa desenvolvida


através da realização de seminários de pesquisa com alunos da educação básica. A presente
investigação preocupou-se em subsidiar uma reflexão acerca das possibilidades didáticas e
das limitações que se apresentam ao longo do encaminhamento da estratégia do seminário,
sob a visão dos estudantes envolvidos. O trabalho se desenvolveu sob o cenário de uma escola
pública estadual no Rio Grande do Sul, durante o primeiro semestre de 2015, envolvendo 31
alunos do Ensino Médio Politécnico. Para proceder a análise qualitativa dos dados obtidos
através de questionamentos abertos, foram definidos eixos temáticos que se originaram dos
indicativos emergidos com as respostas às questões apresentadas. Os resultados da análise
apontaram que os alunos reconhecem a relevância do seminário para a construção de novos
conhecimentos, ressaltando que essa é uma prática importante que promove integração,
interação, busca de novos conhecimentos e encontra-se pautada na pesquisa como princípio
educativo. Na prática investigada todas as etapas do seminário encontram-se referenciadas
segundo Balzan (1995), fato que trouxe aprendizagem significativa para os estudantes. No
contexto dos desafios emergentes que surgem na educação básica brasileira, especialmente no
que se refere à formação humana integral pautada na e para a cidadania no Ensino Médio
Politécnico, os desafios que permanecem giram em torno de alguns aspectos: formação
continuada em metodologias inovadoras; pesquisa como princípio educativo; dinâmicas
interativas e integradoras (seminários), habituando os alunos como protagonistas;
contextualizar o ensino científico conforme realidade dos alunos; professor como mediador
no ensino-aprendizagem, interagindo com os alunos em todas as etapas das atividades

1
Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI
Campus Santo Ângelo). Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências: Química da Vida
e Saúde na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Professora no Magistério Público Estadual do Rio
Grande do Sul. E-mail: gracielidp@hotmail.com.
2
Licenciada em História pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI Campus
Santo Ângelo). Especialista em Orientação Educacional, pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS,
Campus Cerro Largo). Mestranda no Programa de Pós Graduação em Educação na Universidade Federal da
Fronteira Sul (UFFS Campus Chapecó). Professora no Magistério Público Estadual do Rio Grande do Sul. E-
mail: luthimv@hotmail.com

ISSN 2176-1396
29608

propostas, guiando a busca de informações científicas e promovendo espaços para a


construção de novos conhecimentos embasados nas teorias científicas.

Palavras-chave: Seminários. Educação Básica. Ensino Médio Politécnico. Pesquisa como


princípio educativo.

Introdução

É uma agenda de grande relevância na educação brasileira discutir sobre a qualidade


da educação básica, pensando estratégias para que o acesso, a permanência e o sucesso dos
estudantes sejam garantidos nas suas diferentes etapas e modalidades. No que se refere ao
Ensino Médio Politécnico, na perspectiva da formação humana integral, torna-se relevante o
planejamento do trabalho pedagógico que leve em conta a diversidade, ao passo que desafia
os educandos utilizando as tecnologias e metodologias inovadoras.
No contexto atual dos desafios relacionados ao ensino científico no âmbito escolar,
faz-se necessário que cada vez mais os professores coloquem-se na posição de orientadores
dos processos de ensino-aprendizagem. Os alunos têm a sua frente um leque de fontes de
informação, tendo consciência de que a sala de aula não é ambiente exclusivo de
aprendizagem, muitas vezes fazendo uso da tecnologia nessa busca por informações.
Entretanto, é preciso da mesma forma reconhecer que a escola é o local propício para a
formação cidadã no sentido de fornecer aos estudantes as habilidades necessárias para que
saibam onde obter explicações válidas, usando a criticidade e os conhecimentos científicos
para interpretar a realidade e tomar decisões no cotidiano fora da escola.
Nesses termos, para que haja aprendizagem significativa na escola, os alunos devem se
identificar com os conteúdos abordados, sendo capazes de estabelecer relações entre os
conhecimentos prévios e os novos conceitos científicos apresentados. Dessa forma, os
conteúdos caracterizam-se como potencialmente significativos, fazendo sentido na vida dos
educandos (AUSUBEL, 2003). É por meio desse parâmetro que se considera válido o
investimento no uso de metodologias inovadoras.
Ao levar em conta o papel do professor como mediador nos processos de ensino-
aprendizagem, a educação científica faz sentido no momento em que oportuniza ao aluno uma
formação cidadã, priorizando o ensino que problematiza a realidade. Esse ensino baseado em
evidências e fatos é voltado à crítica e à reflexão, provendo subsídios para a tomada de
consciência sobre o papel de cada cidadão no mundo, através da compreensão acerca do modo
de produzir ciência na modernidade (BIZZO, 2012).
29609

Contudo, o ensino tradicional oferecido em grande parte das escolas brasileiras não vai
além das expectativas dos alunos. Ou seja, a configuração das metodologias utilizadas pelos
educadores em sala de aula muito frequentemente não contribui para a formação humana
integral voltada para a cidadania. É preciso ir além daquilo que os livros didáticos oferecem.
Há necessidade urgente de oferecer cada vez mais aos alunos oportunidades para que pautem
seu aprendizado na pesquisa crítica, na busca por soluções aos problemas reais do seu
cotidiano, buscando para isso os conhecimentos científicos construídos. Nas palavras de Thier
e Daviss (2001, p. 7):

Na educação, discursos e livros-texto não dão mais conta de ir ao encontro das


necessidades de todos os estudantes. Novas definições estão emergindo em relação
ao significado de educar e ser educado, medindo as aprendizagens não pelo que os
estudantes são capazes de relatar ou os livros que a eles foram designados, mas pelo
que eles são capazes de fazer. Isso significa que aprender não pode mais ser definido
como participar de cursos e passar em testes, mas somente como o domínio de um
assunto ou aptidão demonstrada pela habilidade de aplicar conceitos e processos
flexivelmente e corretamente fora da sala de aula (THIER; DAVISS, 2001, p. 7,
tradução nossa).

É neste sentido que se pensa a realização de seminários como uma estratégia


inovadora no processo de ensino-aprendizagem. Para discutir o desenvolvimento dessa
dinâmica de ensino, coloca-se como referencial as “asserções inaceitáveis sobre inovação
educacional” de Balzan (1995). Segundo o autor, a maioria dos seminários que são realizados
nas escolas nada mais é que “aula expositiva dada pelos alunos”, onde cada membro do
grupo expõe a sua “parte”, sem conseguir ter conhecimento ou se quer fazer ligação com a
“parte” do outro, dessa maneira o assunto de cada grupo acaba não tendo ligação entre si e
muito menos com o tema central (BALZAN, 1995).
Dessa maneira, acontece uma extrema divisão do trabalho, com descontinuidade e
ausência de uma integração entre os diferentes assuntos, o tema central e os conceitos
estudados anteriormente, sendo que os demais educandos apenas assistem uma exposição de
algo que não conhecem e, portanto, não conhecem estabelecer relações e diálogo e nem
construir efetiva aprendizagem. Como se pode perceber na escrita de Balzan (1995): “na
maioria dos casos, o que se apresenta como sendo produto de reflexão e ação do grupo, na
realidade não passa de resultado da atividade de um único sujeito, ou da soma das partes
elaboradas isoladamente por vários indivíduos” (BALZAN, 1995, p. 292).
O autor destaca ainda que é uma falsa asserção na realização de seminários pensar que
“agrupar fisicamente indivíduos é condição suficiente para realização de trabalho escolar em
grupos psicológicos” (BALZAN, 1995, p. 292). Uma simples organização em grupos não é
29610

condição para que um trabalho inovador aconteça e para que um seminário seja realizado de
maneira a garantir aprendizagem, nesse sentido, o autor afirma que:

Esquece-se de que o grupo precisa de uma situação problema, de um roteiro para


discussão e de diferentes tipos de estimulação por parte do professor, para que a
coesão se torne possível, isto é, a fim de que realmente exista um grupo e não
somente indivíduos fisicamente próximos (BALZAN, 1995, p. 292).

Nesses termos, conforme o autor supracitado, um seminário representa uma


inovação educacional, quando apresenta as condições necessárias para que este se efetive e
consequentemente possibilite a aprendizagem dos sujeitos envolvidos, não apenas do “seu
assunto”, mas de todos os conceitos postos em pauta pelo educador nesta etapa de ensino.
Condição essa que é: a participação de todos os sujeitos, com todos os elementos nas várias
etapas do trabalho, que segundo o referido autor são: planejamento, execução e avaliação.
Assim, o objetivo desta pesquisa centrou-se na investigação da realização de
um seminário com uma turma de Ensino Médio Politécnico de uma escola pública, de
maneira a identificar se o mesmo atende as condições necessárias para que represente uma
inovação educacional promovendo a aprendizagem significativa dos educandos. Essa
pesquisa, de maneira geral, centraliza a indagação de como a proposta de realização de
seminários, no contexto das aulas na educação básica, tem evidenciado certa ruptura com o
paradigma da transmissão do conhecimento e da visão do professor como detentor do saber.
Nas sessões seguintes será apresentada a pesquisa realizada, estabelecendo-se o
diálogo do seminário desenvolvido com as condições necessárias, de acordo com o referencial
teórico escolhido, bem como as análises de discussões dos resultados pelos sujeitos
envolvidos nesse processo.

Metodologia

O seminário escolhido como objeto de pesquisa foi desenvolvido com 31 alunos os


quais constituem uma turma de terceiro ano do Ensino Médio Politécnico, de uma escola
pública localizada na cidade de Santo Ângelo, a noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. A
escolha pela dinâmica pedagógica apresentada faz parte da metodologia de ensino-
aprendizagem adotada na prática da docente investigada, a qual é uma das autoras do presente
trabalho, sendo professora regente na disciplina de Biologia na turma investigada.
Apresenta-se o seminário desenvolvido apoiado nos referenciais de Balzan (1995),
atentando para as três etapas do processo: 1) planejamento, 2) execução e 3) avaliação, assim
29611

como preocupa-se em destacar as condições para que exista um grupo de trabalho: situação-
problema, roteiro de discussão e diferentes tipos de estimulação por parte do professor.

Planejamento do seminário

Ao reconhecer a relevância do ensino contextualizado, no sentido de considerar a


realidade do aluno e incentivá-lo à aprendizagem de conceitos relacionada ao cotidiano,
Delizoicov et al. (2011) destacam a possibilidade de atender a essa necessidade através da
organização curricular a partir de temas. Nesse sentido, o seminário realizado teve como
temática principal “Os ciclos biogeoquímicos e as ações antrópicas sobre o ambiente”, sendo
planejado inicialmente pela docente regente do componente curricular Biologia, a qual elegeu
diferentes atividades estimuladoras para que a partir destas os grupos pudessem planejar e
conduzir o seu trabalho.
Dentre as atividades desenvolvidas nesta primeira etapa destaca-se: 1) esclarecimentos
acerca dos conceitos básicos em Ecologia também por meio de pesquisa em dicionário online;
2) saída ao pátio da escola para aplicação dos conceitos através da observação de seres vivos,
componentes abióticos de um ambiente natural, estabelecendo relações entre os seres vivos e
o meio; 3) questões de vestibulares e ENEM como forma de compreensão e aplicação do
conteúdo relacionado às observações feitas no ambiente natural; 4) aula interdisciplinar
abrangendo o conteúdo “Ecologia de Populações” envolvendo os componentes curriculares
Biologia, História, Geografia e Sociologia.
Em seguida foram realizadas instruções teóricas sobre a pesquisa para o seminário
envolvendo os “Ciclos biogeoquímicos” e foram definidos os grupos para pesquisa e
apresentação dos resultados à escolha dos alunos conforme afinidade. Os temas foram pré-
definidos pela professora de Biologia e sorteados pelos grupos, sendo os seguintes: 1) ciclo
hidrológico e falta de água potável no Brasil e no mundo; 2) ciclo do carbono e efeito estufa
no planeta Terra; 3) ciclo do oxigênio e a importância da camada de ozônio; 4) a ocorrência
da magnificação trófica e poluição química; 5) ciclo do nitrogênio e relações com a poluição
do solo; 6) a problemática do lixo relacionada à coleta seletiva e à poluição ambiental
provocada pela deposição de resíduos poluentes.
29612

Desenvolvimento do seminário

Cada grupo foi instruído a elaborar uma apresentação sobre o seu tema para expor em
forma de seminário na turma. Para isso, contaram com auxílio da professora no
esclarecimento de dúvidas, montagem teórica do trabalho, busca de informações em fontes
científicas, orientações sobre as atividades que deveriam ser realizadas extraclasse, como:
construção de maquetes, cartazes, material informativo, experimentos e demonstrações. Além
disso, cada grupo elaborou duas perguntas sobre a temática pesquisada em grupo e entregou
para a professora, para que esta pudesse utilizá-las na avaliação do trabalho desenvolvido
pelos grupos.
No dia marcado para o desenvolvimento dos seminários, os educando trouxeram
prontos seus materiais expositivos: slides em Power Point, cartazes, experimentos concluídos,
folhetos explicativos e as duas questões solicitadas. Durante a realização do seminário a
professora interviu nas explicações, fazendo contribuições, questionamentos para toda a
turma, exemplificando com aspectos locais. Essa participação da professora como mediadora
durante o seminário foi de extrema importância para que os alunos se sentissem amparados e
tivessem segurança na explanação do conteúdo, pois a mesma provocou discussões sobre
temáticas relacionadas à realidade dos alunos e incitou reflexões acerca do comportamento
dos alunos frente às problemáticas ambientais levantadas.
A turma participou dando exemplos, fazendo perguntas, sugerindo assuntos para
contribuir com a ampliação dos conhecimentos dos grupos sobre os temas pesquisados. As
perguntas formuladas pelos grupos foram corrigidas pela professora e em seguida
disponibilizadas para que todos pudessem respondê-las.

Avaliação do seminário

A avaliação feita no dia da apresentação dos grupos, assim como das demais fases do
seminário, passou por várias etapas, de maneira que todos os envolvidos pudessem participar
efetivamente do planejamento, execução e avaliação do próprio trabalho.
A avaliação inicial foi feita com anotações da professora a partir da análise da
apresentação dos alunos. Em seguida foi realizada uma auto-avaliação individual de cada
aluno e em relação ao grupo de trabalho. Além destas análises, foi realizada uma avaliação
entre os grupos, onde todos tiveram a oportunidade de avaliar os colegas que apresentaram,
discernindo aspectos como postura, comunicação com a turma, domínio do conteúdo,
29613

interesse na participação. Finalmente, foi realizada uma avaliação teórica para verificar a
aprendizagem conceitual em forma de questões de múltipla escolha e questões discursivas.
Ressalta-se que, embora uma das atividades envolvidas foi a realização de uma aula
interdisciplinar, a avaliação teórica final foi realizada em cada componente curricular
envolvido, destacando-se a avaliação no componente Biologia, a qual abarcou a maioria dos
conceitos científicos vistos durante o seminário.

Análise dos resultados

A análise dos resultados foi realizada através de um questionário semi-estruturado


composto de perguntas abertas, destinado a fornecer informações pertinentes ao objeto de
pesquisa (MINAYO, 1993), as quais foram instrumentos da presente pesquisa como uma
atividade científica dedicada ao descobrimento da realidade (DEMO, 1995). A análise dos
questionários delineou-se conforme os pressupostos da abordagem qualitativa com o objetivo
de responder a questões muito particulares, levando em conta um nível de realidade que não
pode ser quantificado (MINAYO, 1994), tendo como principal característica o fato de que
seguir a tradição “compreensiva” ou “interpretativa” (PATTON, 1986).
O questionário era composto pelas seguintes perguntas:
1) Como foi sua participação na apresentação do trabalho, considerando sua postura,
comunicação, domínio do conteúdo, estudo do assunto antes da apresentação, relacionamento
com os colegas do grupo e participação na elaboração do trabalho?
2) Como você avalia a apresentação dos demais grupos no seminário, considerando os
aspectos positivos e negativos?
3) Como você avalia as atividades realizadas desde a proposta inicial do seminário até sua
culminância?
4) Considere a sua participação, o envolvimento dos colegas, o andamento das aulas, o
comprometimento da turma, o seu resultado individual na avaliação sobre o conteúdo
realizado na disciplina e responda: você aprendeu de forma significativa por meio da
participação e envolvimento no seminário? A realização do seminário foi útil para a
construção das aprendizagens?
Para proceder a escolha da amostragem para análise, elegeu-se a pergunta número 4
para o presente estudo devido às possibilidades de discussão quanto à validade da realização
do seminário sob a ótica dos estudantes. Nessa perspectiva, foram criadas categorias a
posteriori, sendo elas:
29614

- Aprender de forma dinâmica;


- Aprendizagem de novos conhecimentos;
- Perspectiva construtivista;
- Aprendizagem por meio da pesquisa;
- Aprendizagem conforme envolvimento;
- Professora como orientadora;
- Promover integração e interação.
As categorias denominadas serão explanadas no decorrer do texto contando com
exemplos nas falas dos próprios alunos, recortadas das respostas aos questionários entregues.
Tendo em vista a impossibilidade de expressar neste trabalho todas as falas dos sujeitos da
pesquisa, optou-se por dar destaque para fragmentos das respostas que da melhor forma
representem subsídios para a análise nos eixos acima citados. Para fins de organização, os
interlocutores são identificados no corpo do texto com as siglas A1 a A12.

Aprender de forma dinâmica

Por meio de alguns discursos analisados, evidencia-se a percepção do seminário como


uma dinâmica que promove a aprendizagem de forma divertida, prazerosa e envolve a turma
para a construção de conhecimentos de maneira coletiva. Os excertos a seguir descrevem tal
categoria: “O seminário foi muito aproveitado, não só para mim, mas também para todos os
alunos, pois é uma aula divertida em que a professora explica de uma maneira que pude
entender” (A1); “Para mim foi tudo bem útil e uma maneira mais fácil e legal de entender o
assunto; a participação dos colegas nas aulas é bem legal, conseguimos ter aulas bem
agradáveis” (A2).

Aprendizagem de novos conhecimentos

Através das respostas dos alunos ao último questionamento feito, percebeu-se a


presença de consenso entre a turma a respeito da utilidade do seminário para a aprendizagem
de conceitos científicos e construção de novos conhecimentos, conforme evidenciado no
seguinte fragmento: “Com certeza aprendi muito mais com o seminário, foi bastante útil não
só para mim, mas também para a maioria” (A3). “O seminário foi muito útil para mim; eu
consegui aprender bastante sobre o conteúdo tendo mais conhecimento sobre o assunto” (A4).
“Foi muito útil esse seminário, aprendi coisas novas e redescobri outras” (A5).
29615

Perspectiva construtivista

Essa visão traz a perspectiva de que o seminário torna a aula construtiva porque
prioriza participação e interação dos alunos na aprendizagem do conteúdo, pois ao mesmo
tempo em que aprendem, ensinam num processo coletivo de construção de conhecimentos.
Conforme assinalam os estudantes: “É uma aula construtiva que não é cansativa” (A3); “As
aulas são bem aproveitadas [...] principalmente quando fizemos círculo e debatemos um
assunto, onde se torna legal e diferente e onde nos traz o conhecimento de uma só vez. [...] Os
trabalhos são as formas mais legais, pois temos interação com o grupo e aprendemos mais,
pois temos que explicar o que nem nós sabemos direito para todos, onde aprendemos e
ensinamos ao mesmo tempo” (A6); “O seminário ajuda no aprendizado, pois é como se as
aulas fossem feitas por nós mesmos e foi muito útil para o melhor entendimento do conteúdo”
(A7).

Aprendizagem por meio da pesquisa

Os alunos reconhecem a importância da pesquisa como ferramenta didática no


enriquecimento da aprendizagem contextualizada. Partindo de uma reportagem ou situação
real, o conteúdo pode ser mais facilmente abordado com o uso de conceitos e termos
científicos para a interpretação da realidade.
Para exemplificar a categoria traz-se os seguintes relatos: “Aprendi muito com o
seminário, pois eu tinha pouco conhecimento sobre o tema que peguei e, após ter feito várias
pesquisas, tive um ótimo entendimento do assunto” (A8); “Para mim foi útil, eu aprendi
bastante [...]; eu achei de extrema importância, por exemplo, sobre as reportagens que a gente
leu sobre a conscientização das pessoas com o meio ambiente” (A9).
Houve uma noção explicitada de aprendizagem através de transmissão de
conhecimentos adquiridos, ao mesmo tempo em que o aluno reconheceu a importância da
pesquisa para os processos de ensino-aprendizagem como uma atividade diferenciada e
dinâmica, o mesmo mantém uma ideia de aprendente passivo diante das explicações dos
outros grupos durante o seminário: “Este seminário foi bom, pois aprendemos de forma
diferente, tivemos a oportunidade de cada grupo pesquisar sobre seu assunto e depois
transferir para os colegas. Faltou comprometimento de alguns, mas em tudo foi muito bom o
seminário, pois aprendemos de outra maneira, saindo da sala de aula e pesquisando” (A10).
29616

Aprendizagem conforme envolvimento

De acordo com a interpretação de algumas respostas, compreende-se que, para grande


parte dos alunos envolvidos, o seminário promove bons resultados na aprendizagem se houver
comprometimento de todos em todas as etapas da atividade, conforme relado do estudante:

“Com certeza um trabalho de êxito, com seus poréns, apesar do empenho de poucos,
alguns deixaram a desejar e como algo desta magnitude é tão importante, acabou por
prejudicar alunos que por culpa de grupos despreparados ficaram desprovidos de
conhecimento. Uma solução para tal seria uma inserção mais forte da orientadora
nos trabalhos para avaliar suas apresentações com mais êxito e deste modo não
prejudicar o próximo” (A11).

Professora como orientadora

Alguns alunos, como a fala citada anteriormente pelo estudante A11, destacam a
importância da intervenção da professora para que as atividades do seminário sejam melhor
aproveitadas, especialmente deixando explícita a forma de avaliação individual em relação ao
domínio do conteúdo.

Promover integração e interação

A promoção da integração da turma e a interação dos alunos entre os grupos de


trabalho e o objeto de pesquisa de cada grupo é ressaltada em algumas falas investigadas:
“Acho que foi muito bom, aprendemos e interagimos com as aulas e as atividades, o
seminário veio em boa hora, pois nos integramos como turma. [...] Foi muito útil para
explanar os conhecimentos” (A12).

Discussão dos resultados

O trabalho em grupo surge no cenário pedagógico do movimento da Escola Nova, o


qual se contrapõe aos paradigmas do ensino tradicional na educação básica, sobre o qual se
dava privilégio para o processo ensino-aprendizagem pautado na autoridade, controle e
disciplina em detrimento das construções coletivas (ZANON; ALTHAUS, 2010).
Sob essa perspectiva, Bonals (2005, p. 13) define que o trabalho em grupo tem o
potencial de fomentar a qualidade dos processos de ensino-aprendizagem, favorecendo a
conquista de conhecimento por meio da interação entre os estudantes, sendo assim, “[...]
somente por esta razão, estaria justificada sua utilização de maneira sistemática nas salas de
29617

aula. Não podemos desconsiderar as enormes possibilidades surgidas pela interação entre
eles” (BONALS, 2005, p. 13).
Ainda segundo Bonals (2005), na sala de aula há determinadas funções que são
inerentes ao trabalho em pequenos grupos, como: a regulação das aprendizagens, quando os
próprios alunos do grupo organizam-se no seminário para cumprir as atividades propostas e a
função socializadora da atividade, favorecendo o diálogo, criando possibilidades de interação
e participação de todos, expressando verbalmente suas opiniões sobre o trabalho realizado em
algum momento durante a atividade. No mesmo sentido, Gil (2008, p. 171-172) traz que a
maneira de conduzir o seminário como uma forma de debate, possibilita aos estudantes
desenvolverem, dentre outras habilidades, a capacidade de trabalhar em equipe.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais e as Diretrizes Curriculares Nacionais
caminham no mesmo sentido ao referenciarem a importância de oferecer aos estudantes um
ensino que proporciona a compreensão dos conteúdos relacionados às situações cotidianas,
envolvendo o aluno de tal forma que ele se reconheça como agente da aprendizagem e
transformador do seu meio e/ou da comunidade:

Na Educação Básica, a organização do tempo curricular deve ser construída em


função das peculiaridades de seu meio e das características próprias dos seus
estudantes, não se restringindo às aulas das várias disciplinas. O percurso formativo
deve, nesse sentido, ser aberto e contextualizado, incluindo não só os componentes
curriculares centrais obrigatórios, previstos na legislação e nas normas educacionais,
mas, também, conforme cada projeto escolar estabelecer, outros componentes
flexíveis e variáveis que possibilitem percursos formativos que atendam aos
inúmeros interesses, necessidades e características dos educandos (BRASIL, 2013,
p. 27).

Nesse sentido, ao se envolver na pesquisa do conteúdo curricular através da busca de


explicações para situações cotidianas e fenômenos da natureza, os alunos sentem-se seguros
quanto ao aprendizado desenvolvido e aprendem porque visualizam utilidade no novo
conhecimento construído.
Para que o ensino seja significativo, é importante que a atividade de pesquisa faça
sentido para o aluno, o qual precisa reconhecer os motivos que o levam a estudar as questões
apresentadas, sendo importante que o professor apresente problemas sobre os quais a turma
deve investigar (CARVALHO, 2004, p. 21) organizada em grupos de trabalho. Assim, o
papel do professor é o de ser responsável pela criação de problemas que levem os alunos a
discutirem, refletirem sobre um conhecimento científico e, se possível, propor alternativas
para a melhoria de sua vida bem como de toda a sociedade, um dos aspectos que caracteriza o
debate promovido por meio da atividade de seminários.
29618

Partindo do contexto da realização de seminários na educação básica, a prática de


trabalho em grupo exige muito mais do professor que o normalmente imposto para uma aula
expositiva. Este fato básico parece ser ignorado pela maioria daqueles que se propõem a
recorrer a esta forma de atividade, pois “erroneamente supõem que não é preciso estar tão
‘por dentro’ do conteúdo quanto se fosse expô-lo à classe, mal suspeitando que é exatamente
na discussão de pequenos grupos que poderão surgir tipos de questionamentos totalmente
imprevisíveis” (BALZAN, 1995, p. 292-293).
Apesar do reconhecimento acerca da importância dos seminários para validar os
processos de ensino-aprendizagem, tornando-os significativos e envolvendo os alunos na
busca de respostas para problemas que envolvem a própria realidade, destaca-se que a pouca
duração dos períodos de aula e a baixa quantidade dos mesmos na grade curricular do ensino
médio deixam a desejar quanto ao acompanhamento das atividades. Isso faz com que muitas
tarefas propostas no decorrer do seminário sejam realizadas fora do ambiente escolar,
restringindo a intervenção da professora.
Da mesma forma, a carga horária excessiva dos professores que, muitas vezes,
cumprem horário trabalhando em diversas escolas ou em diferentes atividades relacionadas à
docência (incluindo dedicação exclusiva para planejar as atividades em sala de aula, atender
os alunos fora do horário de aula, corrigir atividades propostas e elaborar novas atividades),
limita a presença dos professores na escola onde o seminário é realizado, trazendo prejuízo
aos alunos quanto ao auxílio no desempenho das tarefas de pesquisa.
Vale considerar que por falta de hábito na realização de atividades de pesquisa como
instrumento aliado na busca de novos conhecimentos, bem como a ausência de atividades
frequentes envolvendo seminários, esse tipo de dinâmica causa um estranhamento por parte
dos alunos em um primeiro momento. Esse fato reflete-se na necessidade que muitos
estudantes explicitaram de ter o professor mais próximo dos grupos, reproduzindo a noção
habitual de ensino tradicional através da transmissão de conhecimentos do professor para os
alunos, caracterizando a indispensabilidade de se continuar investindo em metodologias
inovadoras.

Considerações Finais

O trabalho de investigação apresentado nesta oportunidade se propôs a investigar as


possibilidades de construção efetiva de aprendizagem através de uma prática pedagógica
inovadora que é a realização de seminários. É possível perceber na prática investigada que
29619

todas as etapas do seminário encontram-se referenciadas segundo Balzan (1995), sendo


realizadas por todos os sujeitos envolvidos, fato que trouxe aprendizagem significativa para
os estudantes.
Torna-se relevante ressaltar ainda que um trabalho como este, vem ao encontro das
políticas curriculares nacionais e regionais, as quais vêm sendo discutidas nos diferentes
âmbitos educacionais de nosso país e/ou de nosso estado. Nesses termos, o Regimento do
Ensino Médio Politécnico, implantado no Rio Grande do Sul em 2012, tem como um dos
principais pilares a “pesquisa como princípio educativo”, de maneira que busca qualificar o
estudante enquanto cidadão, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia
intelectual e do pensamento crítico e a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos
dos processos produtivos, relacionando teoria e prática nas práticas pedagógicas.
Da mesma maneira, em vários trechos dos cadernos de estudos que orientaram a
formação do “Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio”, encontra-se a defesa de
uma formação humana integral, que leve em conta as dimensões do trabalho, ciência, cultura
e tecnologia, um currículo integrado e de construção coletiva, o trabalho interdisciplinar, bem
como considere o jovem com sujeito do Ensino Médio. Sendo assim, a realização de
seminários possibilita este espaço de participação para que os jovens sejam sujeitos
protagonistas das próprias aprendizagens.
Como se encontra no Caderno Dois do “Pacto Nacional pelo Fortalecimento do
Ensino Médio”:

O engajamento participativo pode aumentar seu estímulo para novas aprendizagens,


melhorar a escrita e provocar o desenvolvimento da capacidade de argumentação
para a defesa de pontos de vista. Nesse sentido, a participação pode ser entendida
enquanto um processo educativo que potencializa os processos de aprendizagem no
interior da escola. E, da mesma forma, pode contribuir para a constituição de amplos
processos formativos (BRASIL, 2013, p. 47-48).

Nesse contexto dos desafios emergentes que surgem na educação básica brasileira,
especialmente no que se refere à formação humana integral pautada na e para a cidadania no
Ensino Médio Politécnico, os desafios que permanecem giram em torno de alguns aspectos:
- investimento na formação continuada para aprimoramento em metodologias inovadoras;
- reconhecimento da importância da pesquisa como princípio educativo na educação básica;
- promover na escola o uso de dinâmicas interativas e integradoras como os seminários,
habituando os alunos como sujeitos importantes no processo de ensino-aprendizagem;
29620

- contextualizar o ensino científico de acordo com as características específicas da realidade


dos alunos, envolvendo esses aspectos na metodologia da aula;
- promover ambientes escolares para que o aluno sinta-se o sujeito central na construção do
próprio conhecimento, envolvendo-se como protagonista nas atividades propostas;
- identificar o professor como mediador nos processos de ensino-aprendizagem, interagindo
com os alunos em todas as etapas das atividades propostas, guiando a busca de informações
científicas e promovendo espaços para a construção de novos conhecimentos embasados nas
teorias científicas.

REFERÊNCIAS

AUSUBEL, D. Aquisição e retenção de conhecimentos: uma perspectiva cognitiva. Lisboa:


Plátano Edições Técnicas, 2003.

BALZAN, N. C.. Sete asserções inaceitáveis sobre a inovação educacional. In: GARCIA,
Walter E. (Org.). Inovação Educacional no Brasil: problemas e perspectivas. (pág. 287-300)
Campinas: Editora dos Autores Associados. 1995.

BIZZO, N. Pensamento científico: a natureza da ciência no ensino fundamental. São Paulo:


Editora Melhoramentos, 2012.

BONALS, J. O trabalho em pequenos grupos em sala de aula. Porto Alegre: Artmed,


2005.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Secretaria de Educação


Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Conselho Nacional da Educação.
Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica / Ministério da Educação.
Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral. – Brasília: MEC,
SEB, DICEI, 2013.

BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Formação de professores do Ensino Médio, etapa


I - Caderno II: o jovem como sujeito do Ensino Médio/ Ministério da Educação, Secretaria
de Educação Básica. Curitiba: UFPR/Setor de Educação, 2013.

BRASIL. Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio: Portaria nº 1.140, de 22


de novembro de 2013. Brasília: Ministério da Educação, 2013.

CARVALHO, A. M. P. (Org.). Ensino de Ciências: unindo a pesquisa e a prática. São Paulo:


Thomson, 2004.

DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A.; PERNAMBUCO, M. M. Ensino de Ciências:


fundamentos e métodos. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

DEMO, P. Metodologia Científica em Ciências Sociais. São Paulo: Atlas, 1995.


29621

GIL, A. C. Didática do ensino superior. São Paulo: Atlas, 2008.

MINAYO, M. C. S.; SANCHES, O. Quantitativo-Qualitativo: Oposição ou


Complementaridade? Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 9 (3): 239-262, jul/set, 1993.

MINAYO, M. C. S. Ciência, técnica e arte: o desafio da pesquisa social. In: MINAYO, M. C.


S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 18. ed. Petrópolis: Vozes, 1994.

PATTON, M. Q. Qualitative Evaluation Methods. 7. ed. Beverly Hills, CA: Sage, 1986.

RIO GRANDE DO SUL. Projeto Lições do Rio Grande. Secretaria Estadual de Educação,
SEDUC - RS, 2009.

RIO GRANDE DO SUL. Regimento Padrão do Ensino Médio Politécnico: Parecer CEED
nº 310/2012. Secretaria Estadual de Educação, SEDUC - RS, 2012.

THIER, H. D.; DAVISS, B. Developing Inquiry-Based Science Materials: A guide for


educators. California: Teachers College Press, 2001.

ZANON, D. P., ALTHAUS, M. T. M. Possibilidades didáticas do trabalho com o seminário


na aula universitária. In: VIII Encontro de Pesquisa em Educação da Região Sul –
ANPEDSUL, 2010, Londrina.

Você também pode gostar